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2.1 A teoria formal objectiva, segundo a qual autor é todo aquele que
leva a cabo ou executa, por si mesmo, total ou parcialmente a conduta
descrita no tipo legal de crime (cfr. Conceição Valdágua, ob. cit., pgs. 16, n. 3,
61, 135, n.311; Figueiredo Dias, ob. cit, p. 44 s.; Teresa Beleza, ob. cit., p. 430).
2.2 A teoria subjectiva que parte da ideia de que não é possível distinguir
entre autores e participantes recorrendo a critérios objectivos, porque é
igual a relevância causal dos contributos de todos eles. Por isso utiliza
um critério subjectivo de acordo com o qual é autor quem actua com
animus auctoris (quem quer o crime como seu) e participante quem
actua com animus socii (quem só quer participar no crime de outrem)
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(cfr. Conceição Valdágua, ob. cit., pgs. 53, n.65, 134 s., n.310; Figueiredo Dias, ob.
cit., ps. 45 s.; Teresa Beleza, ob. cit., ps. 432 ss.).
mas não exerceu o domínio positivo e por isso não pode ser autor do
homicídio de B.
2.5 Convém, desde já, notar que o critério do domínio do facto só vale para
fundamentar a autoria nos chamados crimes de domínio, ou seja,
naqueles crimes que podem ser realizados por qualquer pessoa. Nos
crimes de violação de dever (crimes específicos próprios e impróprios,
entre os quais se incluem as omissões impuras ou impróprias) o que
fundamenta a autoria é, precisamente, a violação de um dever especial
pela pessoa sobre a qual ele impende. No entanto, a nosso ver (ao
contrário do que sustenta Roxin e a maioria da Doutrina que o segue),
não basta a violação do dever: é necessário que a violação do dever se dê
pela forma descrita no tipo legal de crime ( em sentido semelhante se
pronuncia Stratenwerth).
(Sobre a teoria do domínio do facto cfr. ainda, na nossa Doutrina, Figueiredo Dias,
ob. cit., ps. 50 ss.; Teresa Beleza, ob. cit., ps. 439 ss.).
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rejeitar por três razões que Roxin aduz e que são, todas elas, válidas
também em face do nosso direito, dado o disposto no art. 26º, 3ª
proposição, do Código Penal .
outro lado, o agente mediato, que emite uma ordem de conteúdo criminoso
no âmbito de um aparelho organizado de poder que ele domina, bem
sabendo que pode confiar em que os seus subordinados porão inteiramente
nas mãos dele a derradeira decisão sobre a prática do facto, executando-o ou
não, consoante a ordem for mantida ou revogada.
4.8. De quanto fica exposto decorre já que a solução proposta por Roxin para as
situações em referência (autoria mediata do agente da retaguarda, por força
do domínio da organização, e autoria imediata do executor, por praticar o
facto por suas próprias mãos) tem um fundo incontornável de razoabilidade
e é de preferir às soluções concorrentes, que consideram o agente mediato
co-autor ou instigador do executor.
4.8.2 Respondendo a estas críticas, Roxin sustenta que, sempre que falta a
fungibilidade do executor, o agente da retaguarda não poderá ser autor
mediato, mas sim, apenas, instigador: “Quando os serviços secretos de um
regime criminoso ou o director de uma organização terrorista escolhem para
uma operação uma pessoa que é a única que dispõe do ‘know-how’
necessário para a execução ou a única que tem acesso à vítima, não há
autoria mediata, mas sim instigação, enquanto os agentes da retaguarda não
se tornarem autores mediatos através de coacção por eles exercida”.
(“Mittelbare Täterschaft kraft Organisationsherrschaft”, in: Colóquio Internacional de
Direito Penal: “Criminalidade Organizada, Universidade Lusíada (ed.),” (policopiado),
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não lhe garanta que o crime será cometido - o que, aliás, também não
acontece em nenhuma das outras situações de domínio do facto pelo agente
da retaguarda - , coloca-lhe nas mãos o poder de planear e dirigir, em larga
medida, o processo causal. Trata-se de uma forma de domínio do facto que,
na terminologia de Roxin, poderia ser denominada “domínio da vontade”,
paralelamente ao que acontece nos casos de coacção exercida sobre o
executor ou erro do executor e, em nosso entender, deveria substituir, no
sistema de Roxin, o “domínio da vontade em virtude do domínio da
organização”, pois abrange, além de outros, todos os casos a que esta
categoria roxiniana se aplica.
Bem se compreende, por isso, que esta posição de Puppe e Jakobs não tenha
encontrado acolhimento na literatura jurídico-penal alemã.
4.12. Passaremos agora a analisar algumas objecções que poderão ser aduzidas
contra a nossa posição, enunciada nos nºs 4.9.1 a 4.9.2 e 4.10, supra.
O argumento não procede, porque não tem em conta uma particularidade das
situações que temos em vista, para a qual já atrás apontámos e que iremos
agora pôr em destaque.
Ora, é isto mesmo que acontece nos casos de ordem de conteúdo criminoso
ou pacto criminoso, quando, depois de tomada a resolução pelo agente
imediato, no sentido de acatar a ordem ou cumprir o pacto, o agente da
retaguarda comunica atempadamente ao agente imediato que já não deseja o
cometimento do crime e o agente imediato, apesar disso, executa o facto
punível.
A definição legal do art. 26º do Código Penal (“executar o facto ... por
intermédio de outrem”) apoia, sem dúvida, a atribuição da qualidade de
figura central, no sentido apontado, ao agente da retaguarda, sempre que -
mas apenas quando - o agente imediato se subordina à decisão dele,
involuntariamente (devido a coacção ou erro) ou voluntariamente (nos
restantes casos de autoria mediata).
4.13.1 É o que acontece nos casos em que o agente mediato faz ao agente
imediato o pedido de que este pratique determinado facto punível.
É claro que se, numa situação como esta, o agente imediato cometer o crime
depois de o agente da retaguarda lhe ter comunicado que retira a promessa,
não será já a promessa a determinar ou co-determinar o agente imediato, no
momento decisivo do início da execução do crime. Valem também aqui,
portanto, “mutatis mutandis”, as considerações feitas no nºs 4.9.2 e 4.11.1,
supra.
4.14.2 Quando o agente imediato não chega a executar, nem sequer parcialmente,
o crime pretendido pelo homem da retaguarda, então sim, parece, pelo
menos à primeira vista, ter alguma plausibilidade a objecção em apreço,
segundo a qual a nossa posição levará a um alargamento indevido da
responsabilidade criminal do agente mediato. Efectivamente, para quem
entenda que, nos casos em que não existe execução, total ou parcial, do
crime pelo autor imediato, o agente da retaguarda poderá tornar-se punível
por autoria mediata tentada – embora, face ao nosso ordenamento jurídico-
penal, não possa ser punido por tentativa de instigação ( Ao contrário do que
propunha EDUARDO CORREIA, no art. 31º. do seu Código Penal, Projecto da Parte
Geral, 1963. Cfr. Conceição Valdágua, Início da Tentativa...cit., p. 21) -, a posição
Bem vistas as coisas, essa diferença de soluções a que pode conduzir, por um
lado, a nossa posição e, por outro, a doutrina dominante, não fundamenta,
porém, qualquer objecção procedente contra aquilo que atrás expusemos,
antes o reforça. Na verdade, nos casos de pacto criminoso, ordem, pedido ou
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Outra parte da Doutrina (Frank, Hegler, v. Hippel, Eb. Schimdt, Kühl, Küper,
Kadel, Vogler, Maurach/Gössel/Zipf, Stratenwerth) entende que a tentativa do
Assim, não haverá co-autoria, mas sim autorias paralelas se, por
exemplo, A e B decidem matar C, sem nenhum deles saber da intenção
do outro. Cada um deles, sem conhecimento do outro, coloca numa
bebida a tomar pela vítima, uma quantidade de veneno que julga
suficiente para matar. Prova-se, no entanto, que qualquer das doses,
isoladamente, era insuficiente para matar C, e que só adicionadas podem
produzir o resultado. Ambos serão puníveis como autores paralelos de
tentativa de homicídio e não como co-autores do crime consumado,
porque não existia entre eles nada que unificasse no plano subjectivo o
contributo de cada um deles para a execução do facto. Nem actuaram por
“acordo” nem “juntamente” um com o outro, como exige,
alternativamente, a terceira proposição do art. 26º( cfr. Conceição Valdágua,
Início da Tentativa do Co-autor,. cit., p. 124 ss.).
nenhum deles (in dubium pro reo), pelo que, todos responderão apenas
por tentativa.
5.6 O dolo do co-autor tem que abranger a consumação, caso contrário ele
será um mero agente provocador.
um dos agentes a todos os outros que não chegaram a fazer nada, pelo
simples facto de terem acordado vir a fazer.
3- Atribui ao acordo uma relevância que lhe não cabe, dado que este é um
acto preparatório que, nos termos do art. 21º em princípio não é punível,
podendo apenas fundamentar a punição pelo art. 27º. Também por aqui a
solução global viola o princípio da legalidade.