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AS “PRINCESINHAS” DO MAR
TURISMO SEXUAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL EM COPACABANA1
Pedro Henrique Lopes2

RESUMO
Trabalho sobre o desenvolvimento do bairro de Copacabana através do tempo,
abordando as causas e conseqüências da prostituição vista diariamente nas ruas do
bairro. Apresenta uma visão política, econômica, social, antropológica, histórica e
turística do assunto. Numa tentativa de não induzir os leitores a um ponto de vista, o
presente artigo possibilita que eles tirem suas próprias conclusões, partindo de
provocações feitas pelo autor.
Foi realizado baseado em pesquisa de gabinete e através de entrevistas feitas
pelo próprio autor com a população e as prostitutas.
Procura mostrar o crescimento do bairro como razão e explicação do
aparecimento de atividades ditas como indícios de falta de desenvolvimento humano e
social em áreas de alto status social.

PALAVRAS-CHAVE
Copacabana, Prostituição, Desenvolvimento Regional, Turismo Sexual

ABSTRACT
A study about the development of the neighborhood Copacabana through the
time, talking about the causes and consequences of the prostitution saw every day on
the streets of this territory. It shows the politic, economic, social, anthropologic and
touristic visions about this subject. Showing lack of favoritism, this paper make its
readers have their own conclusions.
It was produced based on books, web sites, other studies researches and with
interviews with the neighborhood population and the prostitutes, made by the author.
This work displays the neighborhood increase as a reason and an explanation
for the activities seen as a factor of non-human and social development showing up in
places of high social status level.

KEYWORDS
Copacabana, Prostitution, Regional Development, Sexual Tourism

1
Trabalho de Graduação apresentado para a disciplina Metodologia Científica e Técnicas de Pesquisa. Orientado
pela Professora Valéria Guimarães.
2
Pedro Henrique de Mendonça Lopes é acadêmico da Universidade Federal Fluminense, cursando o 3° período da
Graduação em Turismo.
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INTRODUÇÃO

É muito comum ouvirmos pessoas fazendo discursos contra ou a favor da


prostituição e de sua regulamentação. Mas, por que as pessoas insistem em
argumentar ou contra-argumentar sobre um assunto que é muito mais encarado pelo
lado “moral” do que com o foco antropológico, social, político, econômico e, até
mesmo, turístico?

O debate que este trabalho pretende gerar é em torno de uma análise de dados
e fatos encontrados nas pesquisas, deixando para que o leitor tire suas próprias
conclusões. Nosso objetivo, como pesquisadores sociais, é trazer e analisar dados e
relatos para tirar essas discussões do senso comum e, com embasamento científico,
contribuir para a reflexão sobre o tema.

Entende-se a prostituta, nesse trabalho, como uma pessoa comum que tem
controle sobre seus atos e sua vida, mas que, por opção ou falta dela, usa seu corpo
como forma de ganhar a vida. Fugimos da visão que põe a mulher como um ser
explorado ou vitimado pela mão do cliente ou de um terceiro elemento, representado
na figura de um “cafetão”. Como bem descrevem Ana Paula da Silva e Thaddeus
Blanchette, em seu artigo “Nossa Senhora da Help”, as prostitutas são trabalhadoras
sexuais e agentes ativas nas construções de suas vidas.

O que nós queremos “quebrar” com esse artigo são os antigos tabus que vêm
se mantendo com o passar do tempo. Idéias que colocam o turista como “monstro”
explorador do sexo, da sensualidade e da sexualidade das brasileiras. Mostrar que,
normalmente, ambas as partes sabem exatamente o que está acontecendo e têm
controle da situação.

Mas, agora pense você. Imagine que você mora numa das regiões mais bonitas
e luxuosas da sua cidade, uma zona basicamente turística. E você vê, diariamente,
essas negociações de serviços de sexo acontecendo em estabelecimentos próximos
e, até mesmo, na calçada da sua rua. Mesmo sabendo que esses “serviços extras”
atraem uma demanda alta para o seu bairro e que acabam por aumentar a geração de
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renda através do consumo de outros serviços, além dos já citados, como você
encararia essa situação?

DESENVOLVIMENTO DO BAIRRO

Baseados no livro de RIBEIRO (2002), pudemos ver que o bairro começou o


seu processo de ocupação em meados do século XIX quando pessoas que habitavam
o Centro da Cidade decidiram transferir suas residências para Copacabana, que, até
então, tinha sua estrutura imobiliária composta por casas de veraneio. Entre o fim do
século XIX e o início do XX é que começa a verdadeira ocupação do local, unindo
empresas imobiliárias e de transportes, para dinamizar a ocupação da área em
questão.

Em 1930, devido à alta inflação, os agentes imobiliários tiram a marca


“residencial elitista” do bairro, para transformá-lo em um centro comercial dentro de
uma cidade que já tinha o seu centro comercial. A construção de edifícios com vários
pavimentos possibilitou a classe média a morar lá.

O que aconteceu naquele momento foi um crescimento populacional e do setor


de serviços no bairro, fatores que podemos visualizar até hoje, já que é fácil conseguir
tudo em Copacabana, sem ter que ir ao centro da cidade. O desenvolvimento do setor
terciário trouxe grande contingente de mão de obra desqualificada para o bairro.

Citando RIBEIRO (2002, p. 118): “Copacabana ao longo de seus mais de 100


anos transformou-se de bairro de elite à uma heterogeneidade social bastante
expressiva.” O autor também mostra que a função de balneário mundial continuou no
aumento e atratividade do turismo, fazendo com que começassem a surgir atividades
informais, como a prostituição nas ruas do bairro. É possível perceber, ainda, que
convivem neste bairro, atualmente, grandes hotéis de luxo, de porte internacional,
muitos bares e restaurantes e uma população residencial de alto status social.
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POSICIONAMENTO DOS MORADORES

Segundo o IBGE – Censo 2000, somando a população de Copacabana e do


Leme, temos 161.178 habitantes, apresentando a maior densidade habitacional da
Cidade do Rio de Janeiro com 3,4 habitantes por m². É curioso perceber que 16,7%
dos moradores têm acima de 60 anos. Copacabana é o bairro que possui a maior
quantidade de idosos do município. Além disso, também abriga muitos viúvos: 10,8%
(média do Rio 6,7%) e divorciados: 6% (média do Rio 3%).

Visitando websites e fóruns virtuais de debate aberto sobre a Prostituição em


Copacabana, pudemos perceber opiniões bastante diferenciadas sobre a atividade
presente nas ruas do bairro. Por um lado, encontramos os “moralistas e/ou
conservadores” que são totalmente contra; outras pessoas que não são contra e nem
a favor, contando que não afete diretamente a elas e suas famílias; e, vimos ainda, os
que são a favor e acham que as prostitutas já fazem parte do bairro, vendo a atividade
como necessária para manter a imagem que o lugar já tem.

A “Sociedade Amigos de Copacabana” (SAC) defende um ponto de vista


conservador e mostra a indignação, principalmente, dos moradores que compartilham
dos mesmos pensamentos e opiniões contrárias à prostituição nas ruas. Abaixo,
vemos a opinião de Horácio Magalhães Gomes, presidente da SAC:

A Avenida Atlântica virou um verdadeiro bordel no período noturno! O


turismo sexual é uma prática constante e a ‘loja âncora’ é a Boate Help e o
restaurante Sobre as Ondas. Basta reparar que de todos os 36 restaurantes
situados na orla de Copacabana, somente o Sobre as Ondas não funciona
durante o dia.
O prefeito de Nova York e o de Paris fizeram uma verdadeira "faxina" no
bairro de Times Square e Pigalle, respectivamente. Ambos os lugares
voltaram a ser atrações turísticas. Por que o nosso prefeito não faz a mesma
coisa aqui? Ele bem que poderia desapropriar a Help e transformar numa
escola pública, que tal? A Help é sem dúvida um câncer no bairro de
Copacabana. No que depender de nós, vamos continuar lutando para ver
isso acontecer...
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Do mesmo modo que encontramos pessoas que fazem oposição total e


repudiam tais boates e atividades, existem também os moradores que encaram a
situação como um reflexo da situação do Brasil e entendem o cenário noturno do
bairro, como é o caso do ex-morador de Copacabana Elcio Xavier:

Em Copacabana se vê de tudo... É a cara de um Brasil desigual, injusto com


mais da metade da população... Em nenhum lugar do mundo se contrasta
tão bem a riqueza e a miséria... O problema não está no Bairro, e, sim, na
cidade, no país e, principalmente, nas pessoas... Não há como dividir ricos e
pobres, negar aos miseráveis de serem livres, de freqüentar este ou aquele
lugar...

Na dúvida sobre o que passa, exatamente, na cabeça dos moradores de


Copacabana e, principalmente, dos que moram na Avenida Atlântica, conversamos
com alguns habitantes que estavam caminhando pelo calçadão. As perguntas da
conversa eram sempre as mesmas, baseadas num formulário que visava caracterizar
o entrevistado quanto à idade, escolaridade, tempo que morava no bairro e renda
mensal bruta aproximada para, depois, saber a opinião deles sobre o bairro e, mais
especificamente, sobre a prostituição que ocorre diariamente ali.

O horário escolhido foi de 20h00min até 23h15min. Escolheu-se esse horário de


um dia comum da semana, uma quinta-feira, dia 20 de julho de 2006, por
encontrarmos pessoas de todos os tipos e faixas etárias a fim de conseguir pontos de
vistas diferenciados de diversos representantes da mesma sociedade. Além disso,
perto das 23h15min é o momento em que as ruas mudam de rostos e atores sociais, a
população local dá espaço a prostitutas, travestis e pessoas “curtindo” a noite.

Entrevistamos pessoas entre 15 e 68 anos, de sexos diferentes e segmentos


sociais também. Foram pouquíssimas as perguntas onde todos os entrevistados
responderam, praticamente, a mesma coisa, mostrando a diversidade de
pensamentos e opiniões da população.

Após fazermos a caracterização do entrevistado, passávamos para as


perguntas sobre o bairro, turismo e prostituição. Na primeira questão abordada,
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perguntamos o que Copacabana tem de “melhor”. A resposta que mais apareceu foi
“praia”, seguida de “calçadão”. A pesquisa mostrou que os moradores não valorizam,
de primeira, os hotéis ou os turistas que freqüentam o bairro. Mesmo assim, muitos
entrevistados citaram, não como primeira opção, “o astral, o clima e a mistura” que
existem em Copacabana como um fator de importante integração entre pessoas de
várias culturas e, assim, apresentando o bairro como um lugar de encontro para todo
tipo de gente.
TABELA 1 – O MELHOR DE COPACABANA

O que Copacabana tem de MELHOR?


Vida Astral / Clima /
Praia Calçadão Restaurantes Noturna Hotéis Turistas Comércio Negócios Mistura
59% 18% 6% 0% 0% 0% 6% 0% 12%

Caminhando pelas ruas de Copacabana, podemos perceber essa presença da


mistura citada na pesquisa. Vimos pessoas de todos os tipos, todas as tribos, todos os
estados do Brasil e várias nacionalidades. É incrível perceber como, num mesmo
calçadão, podem conviver idosos, roqueiros, esportistas, homossexuais miseráveis,
turistas, gente de negócios, prostitutas, religiosos e pessoas ditas “comuns”.

A jornalista Ana Maria Pinheiro, num texto para o cd-rom Circuito Copacabana
(2002), descreveu esse clima com clareza:

É o bairro tanto da aristocracia como das donas de casa "família" - típicas


representantes da classe média brasileira - e ainda de uma legião de
travestis, prostitutas, e diversos tipos de "excluídos". Copacabana serve
ainda de cenário para o maior reveillon do mundo; é também dos turistas,
dos pescadores, dos comerciantes, da terceira idade e do abandono de
meninos de rua.

Na segunda questão sobre o bairro, perguntamos aos moradores o que


Copacabana tem de “pior”. Colocamos nas respostas problemas comuns ao Estado e
ao País e outros mais específicos do bairro. A prostituição, um dos problemas mais
discutidos, abordados e estudados sobre o bairro apareceu em segundo lugar. Na
maioria das vezes, as pessoas citavam a prostituição após perguntar quais eram as
opções e pensar um pouco, a primeira resposta (top of mind) era sempre ligada à
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violência e aos moradores de rua, como mostra a tabela abaixo. Segundo o IBASE, a
população de rua de Copacabana é calculada em aproximadamente 350 pessoas.

TABELA 2 – O PIOR DE COPACABANA

O que Copacabana tem de PIOR?


Moradores de Rua /
Prostitutas Praia Drogas Turistas Policiais
Violência
89% 11% 0% 0% 0% 0%

Visando atingir o objetivo deste trabalho, não nos prolongamos sobre a


violência no bairro e, mesmo quando a resposta era ligada à população de rua e
violência, questionávamos sobre as prostitutas nas ruas. As respostas eram sempre
frases como:

“- Eu entendo que é o trabalho delas, mas poderiam se vestir um pouco mais.”


“- Mas isso não me afeta diretamente, eu não tenho contato com esses serviços.”
“- Tem um monte aí sim, mas elas são ‘gente boa’.”

Tendo em vista essas opiniões a respeito do número de “centros de


prostituição” no bairro e entendendo como “centro de prostituição” qualquer boate, bar,
terma e afins que tinham a prostituição acontecendo sempre, as respostas não foram
surpreendentes. Cerca de 88% dos entrevistados julgaram o número dessas casas no
bairro exagerado e 12%, suficientes. Nenhum dos entrevistados disse que deveriam
ter mais “Centros de Prostituição”.

Quando perguntamos sobre a “legalização” da prostituição como profissão, as


respostas e opiniões se dividiam, chegando quase a um empate técnico: 53% a favor
e 47% contra a legalização. O mais curioso foi a resposta de uma moradora, que
disse: “Sou a favor da legalização sim, mas bem longe de mim!”, mostrando uma
posição a favor e, ao mesmo tempo, de repúdio.

Baseados nisso, vamos levantar os dados sobre a “legalização” em função do


gênero dos entrevistados, mostrando que as mulheres são, percentualmente, contra a
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legalização da prostituição como profissão. Existem dois aspectos possíveis de


explicar tais números:

- A mulher é quem mais sofre preconceitos quando o país é


generalizado como antro de prostituição; e

- O homem é quem mais utiliza esses serviços, portanto, não


repugnam tais atividades.

TABELA 3 – LEGALIZAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO x SEXO DOS MORADORES

Você é a favor da Sexo


legalização da Prostituição
Masculino Feminino
como profissão?

Sim 37% 16%

Não 21% 26%

Passamos então para outra questão: as prostitutas nas ruas do bairro. Essa
questão é importante porque aproxima as “meninas” dos moradores, já que, ao
menos, transitam no mesmo meio. As opções de resposta envolviam problemas
governamentais, sociais e econômicos.

TABELA 4 – OPINIÃO SOBRE A PROSTITUIÇÃO NAS RUAS

O que você acha da Prostituição nas RUAS


do bairro?

Economicamente Necessária 11%

Fruto de um Descaso Político 11%

Reflexo da Desigualdade Social 47%

Turisticamente Importante 21%

Desnecessária 5%
Repugnante 5%
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A maioria dos entrevistados vê a prostituição de rua como fruto da, sempre


falada, desigualdade social e, de fato, é. Mesmo que a permanência das mulheres
nessa profissão seja uma escolha delas, muitas vezes elas entram por, realmente, não
terem condições de arrumar um emprego que pague bem e que dê dinheiro rápido.

Não podemos negar que estes “serviços” são necessários econômica e


turisticamente. Os clientes são, geralmente, homens que não querem ter um
compromisso mais sério e nem perturbação de ter que ligar no dia seguinte, mandar
flores, lembrar de datas e etc. É comum também o caso dos próprios moradores do
bairro e dos vizinhos que utilizam tais serviços. Quanto aos “gringos”, as “meninas”
afirmam que eles aparecem muito pouco durante o ano, no alto verão é que o bairro
fica cheio de turistas internacionais que querem contratar as prostitutas.

TURISMO EM COPACABANA

Como em todo destino de Sol e Praia, Copacabana tem seus meses de alta
estação entre outubro e março, passando pelo Reveillon e Carnaval. Junto com outros
bairros e cidades do estado do Rio de Janeiro, atrai um número muito grande de
turistas e visitantes. Mas o que será que esse bairro tem de tão peculiar que é capaz
de atrair, por si só, tantos turistas?

Contando com 74 hotéis, 137 redes de vôlei, 56 campos de futebol, o forte de


Copacabana, a praia e um clima inigualável, é possível perceber que o turismo no
local é bem desenvolvido. Atrai turistas do Rio de Janeiro, de outros estados e países.

Segundo o Jornal O DIA de 03 de junho de 2002, são 92.156 casas, edifícios,


escritórios e espaços comerciais. Copacabana sozinha representa 9% do total do
IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) arrecadado no Município do Rio de
Janeiro.

No sumário mensal dos indicadores da Indústria Hoteleira do Rio de Janeiro da


ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro) de abril de
2006, podemos ver que a taxa de ocupação nesse mês atingiu 64,56%, o maior índice
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nesse mês desde 2002. O destaque com relação à área de localização dos
estabelecimentos da cidade foi para os bairros de Copacabana e Leme que voltaram a
registrar a melhor taxa do mês (67,22%).

Tendo em mente todos esses números e estatísticas, não nos resta dúvidas de
que o bairro de Copacabana é um grande centro atrativo de turistas nacionais e
internacionais. O turismo também deu uma visibilidade muito maior à Copacabana,
mostrando que a atividade turística ajudou muito na divulgação, crescimento e
desenvolvimento do bairro, da cidade, do estado do Rio de Janeiro e do nosso país.

Um dos aspectos levantados no artigo “Nossa Senhora da Help”, já citado


anteriormente, é a existência real de um “turista sexual”, que atrai renda e
investimentos para Copacabana. Não se incluem nesta classificação os homens que,
mesmo quando utilizam o sexo comercializado, vieram ao Brasil por outros motivos. O
“turista sexual” é aquele que vai ao seu destino com objetivo único de manter relações
sexuais com a população nativa. Como esses turistas chegam aqui com uma visão
errada da população, achando que as mulheres comuns da sociedade são ávidas por
sexo e por “gringos”, acabam tendo que apelar para as profissionais do sexo.

PROFISSIONAIS DO SEXO

Entendendo a Prostituição em Copacabana como um adicional nos serviços de


apoio ao turista na cidade ou como o objetivo principal da viagem para alguns turistas,
decidimos entender o que acontece com as garotas de programa da Avenida Atlântica,
buscando saber como elas foram parar lá, como elas afetam a economia local, quanto
elas conseguem por noite e por mês, de onde elas vêm e como isso afeta o
desenvolvimento da região.

Copacabana não é o único “centro de lazer adulto” famoso no Rio de Janeiro,


existem outros, por exemplo, a Vila Mimosa. Mas escolhemos Copacabana por ser um
bairro onde a população tem um poder aquisitivo relativamente alto e, nem por isso,
deixa de apresentar uma das atividades vistas como reflexo de baixo índice de
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desenvolvimento. Uma das questões que nortearam a elaboração desse trabalho foi
essa: “Como uma atividade dita como uma conseqüência da falta de desenvolvimento
pode ser vista com tanta freqüência em zonas de alto desenvolvimento?”

A resposta para essa questão é simples e as pesquisas vieram para confirmar a


idéia pública comum. Das 31 profissionais do sexo entrevistadas (25 mulheres e 6
travestis) na madrugada do dia 21 de julho de 2006, pudemos perceber que todos
vinham de bairros mais pobres que Copacabana, geralmente Zona Oeste. Outras
vieram de outros estados, como: Bahia, Pará, São Paulo, Alagoas e do Distrito
Federal. Algumas delas passaram a morar em Copacabana devido ao trabalho.

No caso dos travestis, quase todos moram atualmente no bairro, devido a


brigas familiares e, não tendo como se sustentar, sem escolaridade e cercados de
preconceito, entraram para a prostituição. Existem casos de travestis que iniciaram a
sua vida na prostituição como profissionais masculinos (“michês”) e, mais tarde, se
tornaram travestis. A falta de escolaridade aparece nitidamente nas estatísticas e
ainda existem as que entraram para essa “vida” na tentativa de financiar seus estudos.

TABELA 5 – ESCOLARIDADE x SEXO DAS PROSTITUTAS

Escolaridade
1° grau 1° grau 2° grau 2° grau Superior Superior
Sexo incompleto completo incompleto completo Incompleto Completo

Feminino 6 5 2 9 1 0

Masculino
2 2 1 1 0 0
(travesti)

A faixa de idade das prostitutas na Avenida Atlântica varia entre 18 e 49. É claro
perceber que, da Avenida Prado Júnior até o Copacabana Palace, as mulheres são
mais jovens e, do Copacabana Palace até a Boate Help, as mulheres são mais velhas.
Na Boate Help, a faixa etária volta a ser baixa. Não apresentam nenhuma lógica ou
evidência sobre o tempo de profissão, mas pudemos conhecer “meninas” com mais de
15 anos de profissão e outras com apenas uma semana.
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TABELA 6 – TEMPO DE PROFISSÃO

Tempo de Profissão
Menos de De 1 a 3 De 3 a 5 De 5 a 10 De 10 a 15 Mais de 15
1 ano anos anos anos anos anos
23% 23% 16% 13% 13% 13%

Entraremos agora na parte econômica e financeira do questionário destinado às


profissionais do sexo. Perguntando sobre dinheiro, fundos de reserva e investimentos,
todas as prostitutas afirmaram que não têm muita noção sobre o dinheiro que ganham,
já que, além da quantidade ser inconstante, o dinheiro não costuma parar nas mãos
delas.

O preço é combinado, diretamente, com o cliente e costuma variar de


brasileiros para “gringos”. A faixa de preço do programa varia entre R$ 50,00 e R$
80,00 para brasileiros e entre R$ 100,00 e R$ 200,00 para os estrangeiros, mas, como
já foi dito, tudo depende da negociação com o cliente. No alto verão, esses preços
tendem a subir.

Quando perguntadas sobre a quantidade de programas por dia, algumas não


sabiam, já que isso é, também, muito inconstante. Outras dividiram a resposta em
baixa e alta estação, nos dando um número mais exato. Todas afirmaram que os
clientes internacionais só surgem nos meses de Alta Estação, salvo raríssimas
exceções, mostrando que os maiores consumidores dos serviços sexuais na Orla de
Copacabana são os próprios brasileiros, já que eles utilizam os serviços durante o ano
todo.

TABELA 7 – PROGRAMAS POR DIA (MÉDIA)

Quantos programas por dia? (média)


1 2 3 4 5
8% 48% 32% 4% 8%

TABELA 8 – PROGRAMAS POR DIA (ALTA TEMPORADA)


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Quantos programas por dia? (alta temporada)


4 5 6 7 8 11
16% 16% 26% 11% 26% 5%

A falta de preocupação com o futuro apresentada por essas mulheres se


mostrou mais clara nas perguntas relacionadas à Renda Bruta Mensal e a Planos de
Previdência, na maioria das vezes elas não tinham controle de seu dinheiro e não
sabiam o que é um Plano de Previdência, as que sabiam do que se tratava, diziam
que não possuíam ainda, mas que estavam pensando em fazer um. Das 31
entrevistadas, apenas 1 possuía um Plano de Previdência.

TABELA 9 – RENDA BRUTA MENSAL DAS PROSTITUTAS

Renda Bruta Mensal Aproximada

Menos de R$ 300 0%
De R$ 301 a R$ 500 0%
De R$ 501 a R$ 1000 35%
De R$ 1001 a R$ 1500 5%
De R$ 1501 a R$ 2000 15%
De R$ 2001 a R$ 3000 25%
De R$ 3001 a R$ 5000 15%
Mais de R$ 5000 5%

Apesar de muitas “meninas” não terem opinião formada sobre a regularização


da prostituição como profissão, os números percentuais das idéias das que opinaram,
por coincidência ou não, se aproximaram muito dos apresentados pelas respostas dos
moradores para essa questão. Dos Moradores: 53% a favor e 47% contra. Das
Prostitutas: 52% e 48%, respectivamente. A população também mostrou em suas
respostas sobre o assunto que também não se preocupam muito com isso, como se a
regularização da profissão fosse algo que não atingisse a elas.

O que pudemos perceber através desse contato mais direto com as


profissionais da Avenida Atlântica foi que cada uma delas tem a sua própria história e
seus próprios motivos para estar lá. O que elas todas têm em comum é que, direta ou
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indiretamente, contribuem para o crescimento, principalmente econômico, e fazem


girar a vida social e o comércio daquele bairro.

CONCLUSÃO

Buscamos, através desse trabalho, entender um pouco mais de todo o


misticismo que existe em torno do Turismo Sexual e os impactos que ele pode trazer
para uma sociedade. Percebemos, ainda, que os moradores não se mostram tão
incomodados como os jornais costumam retratar em suas matérias sobre “operações
limpeza na Orla”, vendo, assim, que os moradores já estão habituados a ter esses
serviços sendo oferecidos e negociados na porta de suas casas. Não estamos
afirmando que eles concordem com isso, mas, sim, que compreendem que isso já faz
parte do bairro.

O que aconteceria se as prostitutas fossem proibidas de circular pelas ruas de


Copacabana? O bairro perderia muito da sua essência, pois, bem ou mal, a vida
noturna da região perderia muito do seu glamour por não ter essas mulheres
circulando pelas ruas. Copacabana, hoje, precisa dessas “meninas” tanto (ou mais)
quanto elas precisam de Copacabana.

É muito fácil falar que a Avenida Atlântica precisa de uma “limpeza”. E qual vai
ser a opção de vida oferecida para as prostitutas “da pista”? Quem vai realizar os
serviços que elas fazem hoje para os turistas? Você pode até trabalhar com catálogo
de “meninas” como alguns hotéis e agências, hoje, já fazem. Mas, quem vai atender
aquele turista que quer ter a ilusão de que a mulher que ele está “pegando” na rua não
é uma profissional e, sim, uma mulher comum?

Alguns falam em opções aos moldes internacionais, como na cidade de Los


Angeles, onde é proibida a prostituição nas ruas, sendo, somente, permitida em
estabelecimentos voltados para esse tipo de serviço. Desse modo a população não
fica ofendida e nem a economia local. Parece simples, mas, será que assim nós não
estaríamos incentivando a “cafetinagem”, deixando que um terceiro elemento explore
o “trabalho” dessas mulheres?
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O fato é que Copacabana, hoje, é conhecida, mundialmente, pelo seu luxo,


beleza, praia, vida noturna e prostituição. Será que os governos e os empresários da
região realmente estão dispostos a perder esse “atrativo” por uma questão moral?

Praia, sol, calor, futebol e mulheres que se trocam por algumas notas de
dinheiro... Analisando assim, nós entendemos porque a população local e de bairros
vizinhos são os maiores clientes das prostitutas de Copacabana, já que, se fosse
depender dos “gringos”, as prostitutas só trabalhariam no verão. Copacabana é a
assim: síntese de muitos contrastes, espelho do Brasil. O produto final é perfeito.
Quem não gostaria de vir pra cá?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLANCHETTE, T.; SILVA, A. P.. Nossa Senhora da Help. Cadernos Pagu, número 25:
249-280, dezembro de 2005.

RIBEIRO, M. A.. Território e Prostituição na Metrópole Carioca. Rio de Janeiro: Editora


Ecomuseu Fluminense, 2002.

SOUSA, F.N.. O Turismo Sexual em Copacabana. Niterói: Monografia de Conclusão


do Curso de Turismo no Centro Universitário Plínio Leite, 2002.

http://tecnica.movimientos.org/show_text.php3?key=6560, em 15 de junho de 2006.

http://www.acadbrasil.com.br/documentos/Copacabana%20-%20Pedro%20Aquino.ppt,
em 23 de julho de 2006.

http://www.circuitos-do-rio.com.br/caleido.htm, em 23 de julho de 2006.

http://www.ibiss.com.br/combatesex.html, em 12 de julho de 2006.

http://www.orkut.com/, em 18 de julho de 2006, na Comunidade “Copacabana”, no


tópico “Prostituição no Bairro”.

http://www.riodejaneirohotel.com.br/estatisticas/abril06.asp, em 23 de julho de 2006.

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