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ÍNDICE................................................................................................................................. 1
3. INDÚSTRIA ................................................................................................................... 39
SEM LUZ NO FIM DO TÚNEL ................................................................................................................ 39
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 2
SUMÁRIO EXECUTIVO
A economia brasileira fechará 2014 sob o signo da estagnação. O avanço previsto de 0,1%
frustrou até mesmo as estimativas mais pessimistas. Os fatores que ainda sustentavam o
crescimento perderam força e a atividade econômica, estruturalmente enfraquecida, foi incapaz de
superar os entraves e crescer. Desse modo, o ano termina com a confiança dos empresários e
consumidores em patamares muito baixos. A expectativa para 2015 é que um ajuste de política
econômica seja iniciado para uma retomada mais evetiva em 2016.
No cenário internacional, as notícias foram mais positivas do que negativas. O ano de 2014
ficará marcado pela aceleração das economias desenvolvidas. A recuperação da economia norte-
americana e a desaceleração da economia chinesa ocorreram na magnitude esperada. Porém, a
queda acentuada na cotação internacional das commodities e a intensificação da crise econômica
na Argentina prejudicaram mais intensamente os setores exportadores.
Nesse cenário de melhora disseminada na economia internacional, não podemos atribuir
ao ambiente externo a responsabilidade pelo Brasil ter estagnado em 2014. A crise não é externa,
e sim interna. Olhando para o futuro, é pouco provável um crescimento maior do que a média
mundial ou do que da América Latina no próximo ano.
A análise do mercado interno fornece os elementos para entendermos o nosso baixo
desempenho. O panorama atual é composto por um menor espaço para que estímulos fiscais
sejam concedidos, crescimento mais tímido do crédito, aumento nas taxas de juros e paralisia dos
investimentos. Esses fatores, quando somados à realização da Copa do Mundo e ao período
eleitoral, contribuíram para que muitas atividades e decisões fossem adiadas, fazendo com que os
investimentos caíssem acima do esperado.
Nesse contexto, segmentos importantes da estrutura industrial, como Veículos
automotores e Máquinas e equipamentos, exibiram fortes contrações e o Índice de Confiança do
Empresario Industrial (ICEI) atingiu seu piso histórico. Portanto, não é difícil diagnosticar que a
indústria esteve diante do cenário econômico interno mais adverso em cinco anos. A conjuntura
atual demanda a correção de rota, e o ajuste precisará ser ainda mais profundo. O Brasil
necessita se reinventar. O que surpreendeu não foi a desaceleração, mas a intensidade com que
ela ocorreu.
Para 2015, há muitas incertezas, pois os desequilíbrios macroeconômicos foram
aprofundados e restam muitas dúvidas sobre a magnitude e intensidade das correções para
reestabelecer a credibilidade da política econômica e a confiança dos agentes. Da mesma forma,
dois pilares que ainda sustentaram a economia fora de uma situação mais grave, quais sejam a
baixa taxa de desemprego e um confortável volume de reservas internacionais, estão mais
frágeis. O mercado de trabalho perdeu fôlego e é possível que nem mesmo o atual volume de
reservas seja suficiente para garantir a permanência do grau de investimento diante da
deterioração das contas públicas. Caso isso ocorra, a necessidade de investimentos encontrará
como restrição adicional as contas externas deterioradas pela impossibilidade de gerar saldos
comerciais maiores devido à baixa competitividade externa.
Para a indústria, espera-se a continuidade de uma conjuntura econômica que tráz grandes
dificuldades, mas as perspectivas para o setor são de recuperação de parte das perdas de 2014,
marcado pela reação conjuntural ao período recessivo que predominou neste ano.
Diante dessas diversas possibilidades, foram estimados três cenários para a economia
brasileira em 2015. O cenário base contempla um crescimento muito baixo, que está inserido no
contexto de uma continuidade do processo de estagnação da atividade. A reorientação da política
econômica e os ajustes necessários para restaurar o equilíbrio, no curto prazo, podem prejudicar
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ainda mais a já combalida atividade, de forma que os seus resultados em termos de crescimento
começarão a aparecer apenas em 2016.
No caso do Rio Grande do Sul, o cenário base indica um crescimento da atividade
levemente superior ao verificado em 2014, mas muito abaixo da média recente. A restrição
imposta pela crise fiscal do Estado, que impede maiores investimentos, e a perpectiva de um fraco
desempenho na agropecuária e nos serviços compõem o quadro para 2015. No caso da indústria,
haverá uma recuperação relativa, impulsionada pela baixa base de comparação de 2014.
No cenário superior, esperamos uma convergência para o crescimento potencial, que
consideramos significativamente baixo. Nesta projeção, o ajuste da política monetária e fiscal será
mais intenso, com influência positiva sobre a confiança dos agentes na recuperação a médio
prazo. Dessa forma, haverá um menor impacto no emprego do que o esperado no cenário de
referência. A manutenção do atual ritmo de geração de vagas no mercado de trabalho evitará uma
desaceleração maior no setor de serviços. Para a indústria, a taxa de câmbio mais desvalorizada
possibilitará algum alívio nas margens de lucro, há muito tempo em trajetória declinante. Portanto,
a expectativa de ajuste e o realinhamento dos preços relativos na economia tenderá a gerar uma
maior confiança dos agentes, o que possibilitará uma retomada da atividade a partir do segundo
trimestre de 2015.
Para o Estado, o contexto macro é semelhante. Além disso, é possível que a taxa de
crescimento se aproxime da média recente por meio de uma maior recuperação do setor
exportador e pela retomada nos investimentos. No caso do setor público, o ritmo de condução nas
concessões pode ocorrer de maneira mais rápida do que o esperado.
No cenário inferior, não está descartada uma recessão com deterioração significativa da
confiança. Nesse cenário, a recuperação do equilíbrio macroeconômico pode não ser crível, pois
há o risco de excesso de gradualidade na condução dos ajustes requeridos para dar mais
estabilidade para a economia brasileira. Nesse caso, o País perderá o grau de investimento, com
consequências negativas sobre a confiança dos agentes. No lado real da economia, considera-se
elevada a possibilidade de um racionamento de energia na região sudeste e centro-oeste, com
impactos moderados sobre a indústria.
O cenário inferior para o Rio Grande do Sul também contempla a possibilidade de um
quadro recessivo, contaminado pela conjuntura nacional e pelo pior desempenho no setor
primário, com implicações sobre a geração de renda das famílias e, consequentemente, sobre o
comércio e serviços. A crise fiscal pode se agravar e, na medida em que não existe alternativa
indolor para esse problema, as opções emergenciais podem representar um desafio a mais para o
crescimento da economia.
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CENÁRIOS MACROECONÔMICOS PARA 2015
emergentes Dólar
aperto da política monetária dos EUA
CENÁRIOS 2015
Continuidade da
estagnação da
PIB Base
atividade
Taxa de câmbio Continuidade do atual ritmo de desvalorização
econômica Desaceleração na geração de emprego e leve aumento na
Mercado de trabalho
taxa de desemprego
Aumento das exportações e melhora tímida do saldo
Setor externo
comercial
Inflação Se mantém próximo à banda superior da meta
média recente
Geração de empregos se mantém em ritmo lento e taxa de
Mercado de Trabalho
desemprego permanece baixa
CENÁRIOS 2015
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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2015
INTERNACIONAL
2012 2013 2014* 2015*
Produto Interno Bruto Real (% a.a.)
EUA 2,3 2,2 2,2 3,1
China 7,7 7,7 7,4 7,1
Japão 1,5 1,5 0,9 0,8
Zona do Euro -0,7 -0,4 0,8 1,3
Europa emegente 1,4 2,8 2,7 2,9
Reino Unido 0,3 1,7 3,2 2,7
Ásia emergente 6,7 6,6 6,5 6,6
América Latina e Caribe 2,9 2,7 1,3 2,2
Argentina 0,9 2,9 -1,7 -1,5
Brasil 1,0 2,5 0,1 0,6
Chile 5,5 4,2 2,0 3,3
México 4,0 1,1 2,4 3,5
Mundo 3,4 3,3 3,3 3,8
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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2015
BRASIL
2015**
2013 2014*
Inferior Base Superior
Produto Interno Bruto Real (%) a.a.
Agropecuária 7,2 0,8 -1,3 -0,2 1,0
Indústria 1,7 -1,5 -1,8 0,6 2,2
Serviços 2,2 0,7 0,4 0,8 1,9
Total 2,5 0,1 -0,3 0,6 1,9
Inflação (% a.a.)
IGP-M 5,5 3,6 3,7 5,7 7,5
INPC 5,6 6,3 5,7 6,0 6,8
IPCA 5,9 6,4 6,3 6,5 6,9
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DADOS E PROJEÇÕES PARA 2015
Indicadores Industriais
Faturamento real 9,1 -5,6 -1,0 2,8 4,5
Compras 11,1 -9,3 1,3 3,4 7,9
Utilização da capacidade instalada 0,6 -1,7 -1,6 0,1 2,0
Massa salarial 2,1 1,0 -1,3 0,5 2,4
Emprego 0,4 -1,4 -1,1 0,7 1,5
Horas trabalhadas na produção 2,0 -1,6 -0,6 1,2 3,0
Índice de Desempenho Industrial - IDI/RS 4,5 -3,6 -0,7 1,7 3,4
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1. CENÁRIO INTERNACIONAL
A crise financeira internacional de 2008 foi um evento marcante na história recente e que
ainda traz grandes repercussões sobre as decisões de política econômica em todo o mundo. O
impacto sobre o lado real e financeiro foi tão grande que um conjunto de medidas anticíclicas de
cunho fiscal e monetário sem precedentes foi utilizado para evitar um verdadeiro colapso global.
Naquela ocasião, os países emergentes dispunham de maior margem de manobra, uma vez que
os estrangulamentos no que tange, principalmente, ao nível de endividamento eram menores em
comparação com as nações desenvolvidas. Os primeiros saíram relativamente rápido da
turbulência, enquanto que, para o segundo grupo, os estímulos adotados ainda cobram um preço
consideravelmente elevado, pois limitam a capacidade de expansão da produção sem que isso
gere como contrapartida um recrudescimento dos desajustes econômicos.
O ano de 2014 ficará marcado pela aceleração das economias desenvolvidas (1,8% ante
1,4% em 2013), conforme as projeções do FMI. No entanto, a situação dos componentes desse
bloco é bastante heterogênea. De um lado, há países onde a retomada tem sido consistente,
como os Estados Unidos e o Reino Unido. Em função dos sinais de melhora, já está em marcha
um processo de retirada da liquidez, que tende a se aprofundar ao longo dos próximos anos. De
outro, a Zona do Euro e o Japão ainda apresentam sérios entraves, principalmente no que diz
respeito à questão fiscal, que fazem com que a recuperação da atividade econômica no período
pós-crise seja anêmica. Como resultado, os bancos centrais vêm sendo mais acomodatícios, e
parecem estar dispostos a promover estímulos ainda relevantes para tentar debelar a
possibilidade de deflação e dar maior credibilidade no sentido de restaurar a confiança dos
agentes.
No caso das nações emergentes, o avanço em 2014 (4,7%) deverá ser o mais baixo desde
2009. De uma maneira geral, o comportamento desse conjunto tem sido marcado pela
intensificação de uma série de desequilíbrios macroeconômicos. Com exceção da Índia, que
apresenta uma perspectiva positiva em função de uma série de reformas liberalizantes que têm
sido conduzidas, os demais países que compõem o chamado grupo do “BRIC” continuarão
apresentando desaceleração ou uma taxa de crescimento insuficiente para as suas necessidades.
A economia chinesa tem apresentado sinais mais evidentes de uma desaceleração, que pode
colocar em xeque o principal elemento de dinamismo do crescimento mundial, principalmente no
médio prazo. A Rússia já vem sofrendo com as sanções impostas pela União Europeia e pelos
Estados Unidos em função da crise política com a Ucrânia, enquanto a economia brasileira
apresenta um quadro de estagflação: inflação alta e economia estagnada. Por fim, o Brasil vem
sofrendo com a perda de credibilidade na condução da política econômica e dos entraves para a
expansão da oferta.
Para 2015, a atividade dos países avançados e emergentes deverá crescer 0,5 ponto
percentual cada frente 2014. Convém lembrar que o crescimento para o primeiro grupo é muito
mais difícil, uma vez que essa categoria já atingiu um padrão de desenvolvimento bem mais
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elevado. Ainda assim, a probabilidade de ocorrência de surpresas positivas em 2015 está mais
associada a esse grupo em relação ao primeiro.
Estados Unidos
Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previa um crescimento para economia
americana de 2,8% em 2014. Essa aceleração em relação à taxa de 2013 (1,9%) justificava-se,
em linhas gerais, pelo fato de que, ao longo do presente ano, o processo de saneamento das
finanças públicas, corporativas e familiares já não seria tão intenso em relação a outros, gerando
efeitos positivos em termos de crescimento. No entanto, o PIB do primeiro trimestre foi
atipicamente baixo, apresentando seu pior resultado (-2,1% em relação ao três meses anteriores,
já descontados os efeitos da sazonalidade) desde a eclosão da crise financeira internacional de
2007/2008. A partir da consolidação desse choque negativo, a perspectiva de incremento do nível
de atividade para o ano caiu 0,6 pontos percentuais, para 2,2%, conforme as expectativas mais
recentes do Fundo.
-2,1
2013T1
2013T2
2013T3
2013T4
2014T1
2014T2
2014T3
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 10
condições monetárias ainda continuam bastante frouxas, uma vez que as taxas de juros de curto
prazo (fed funds) mantiveram-se em um patamar próximo a zero e deverão se manter assim por
um período "suficientemente longo", conforme as atas das reuniões.
A taxa de desemprego continuou apresentando trajetória descendente em 2014,
alcançando 5,9% da população em outubro. Essa proporção está bastante próxima da taxa
natural de desemprego, ou seja, aquela que não provoca pressões sobre o nível de preços,
estimada pelo FED entre 5,25 e 5,5%. Em termos de geração de emprego, em oito dos dez meses
de 2014 o número foi superior a 200 mil, patamar que, segundo a própria autoridade monetária
americana, assegura uma queda na taxa de desocupação.
-750 5
-950 4
jan/04
jan/06
jan/08
jan/10
jan/12
jan/14
mai/11
mai/05
mai/07
mai/09
mai/13
set/04
set/06
set/08
set/10
set/12
1,7
-2,1 0,7
ago/05
ago/12
jan/05
mai/07
dez/07
mar/06
fev/09
nov/10
set/09
jun/11
jan/12
mai/14
mar/13
out/13
jul/08
abr/10
out/06
dez-07
nov-10
jul-08
ago-05
jan-05
mar-06
out-06
mai-07
ago-12
fev-09
set-09
jun-11
jan-12
mar-13
out-13
mai-14
abr-10
Fonte: Bureau of Labor Statistics. Elaboração: Fonte: Federal Reserve de Saint Louis. Elaboração:
FIERGS/UEE. FIERGS/UEE.
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A produção da indústria continuou crescendo de maneira sólida ao longo de 2014. No
acumulado do ano (entre janeiro e setembro), houve crescimento de 3,9% em relação ao mesmo
período do ano anterior, caracterizando a segunda maior taxa desde a crise de 2007/2008. A
tendência é de continuidade do avanço, uma vez que os dados da utilização da capacidade
instalada do setor demostram que o percentual na média de 2014 ainda está cerca de 1 ponto
percentual abaixo do nível pré-crise (entre 2004 e 2007). O gráfico 1.5 mostra que a recuperação
do setor secundário nos Estados Unidos é bastante sólida, ao contrário do que vem ocorrendo na
Zona do Euro.
O único setor que ainda apresenta uma retomada anêmica é o imobiliário. Seu dinamismo,
medido pelo número de novas construções, ainda é um dos mais baixos dos últimos 60 anos,
comparável aos piores momentos das recessões que atingiram os Estados Unidos ao longo desse
período. A recuperação do segmento deverá continuar ao longo de 2015, ajudando a sustentar o
crescimento.
Gráfico 1.5. Produção industrial dos Gráfico 1.6. Número de novas construções –
Estados e da Zona do Euro Estados Unidos
(Número-índice: jan/02 = 100) (Em milhares de unidades)
119,7
117,5 2.273
1.657
1.063
102,7
100,0
Estados Unidos
Zona do Euro 490
01/1959
02/1962
03/1965
04/1968
05/1971
06/1974
07/1977
08/1980
09/1983
10/1986
11/1989
12/1992
01/1996
02/1999
03/2002
04/2005
05/2008
06/2011
07/2014
jul-03
jul-06
jul-09
jul-12
jan-02
out-02
jan-05
out-05
jan-08
out-08
jan-11
out-11
jan-14
abr-04
abr-07
abr-10
abr-13
Fonte: Bureau of Labor Statistics e Eurostat. Elaboração: Fonte: U.S. Bureau of Census. Elaboração: FIERGS/UEE.
FIERGS/UEE.
Mesmo diante dos sinais de melhora, os juros dos títulos de 10 anos da dívida americana,
apresentaram clara tendência de queda ao longo de 2014, passando de 3,0% a.a. no início do ano
para algo próximo a 2,3% a.a. em outubro. Trata-se de um entendimento mais pessimista do
mercado sobre os rumos futuros da economia americana, sugerindo que o nível de atividade não
seguirá tão forte nos próximos anos, o que força o FED a manter as taxas de juros em patamares
baixos para estimular o crescimento. Convém lembrar que somente com a sustentação de um
crescimento acima do PIB potencial (algo em torno de 2,5%) por alguns anos é que a economia
americana conseguirá recuperar a lacuna deixada pela crise, retornando para a trajetória
verificada entre 1994 e 2007.
Zona do Euro
A economia da Zona do Euro apresentou uma melhora ao longo de 2014. Isso pode ser
verificado através da probabilidade de ruptura do bloco no horizonte de um ano, calculada a partir
de sondagens com investidores pela Sentix, que atingiu o valor mais baixo de toda a série
histórica em setembro (7,7%), iniciada em junho de 2012. Esses valores guardam uma boa
correlação com o inverso do índice de sentimento econômico, calculado pela Comissão Europeia,
que representa as condições atuais e as expectativas para os próximos três meses de vários
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setores das economias que compõem essa união. Isso porque quanto melhor (mais alto) o
sentimento, menor tenderá a ser a probabilidade da ocorrência de um evento extremo.
30 109
20
114
10
0 119
dez/12
dez/13
jun/12
jun/13
jun/14
fev/13
fev/14
abr/13
abr/14
ago/12
out/12
ago/13
out/13
ago/14
Fonte: Sentix e Comissão Europeia. Elaboração: FIERGS/UEE.
Todavia, o ritmo da retomada esteve abaixo do que o previsto anteriormente, uma vez que
se esperava que a Eurozona crescesse 1,0% esse ano, na previsão do FMI feita em outubro de
2013. Agora, essa taxa deverá ser de apenas 0,8%. A recuperação não tem ganhado fôlego em
função da permanência de uma série de desequilíbrios que ainda são marcantes na economia da
região.
-0,1
-0,2 -0,2
-0,3
-0,5
2012T3
2013T3
2012T1
2012T2
2012T4
2013T1
2013T2
2013T4
2014T1
2014T2
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 13
houve uma divisão da instituição em duas partes: o Novo BES, com ativos e depósitos saudáveis
(que já se encontra em funcionamento) e outra com as operações problemáticas.
A região apresentou avanços institucionais para a consolidação da união bancária, visando
ao fortalecimento do bloco. O Banco Central Europeu (BCE) assumiu o controle do chamado
Mecanismo Europeu de Supervisão Bancária (SSM, em inglês), com representatividade de 82%
dos ativos do segmento. Algumas das principais atribuições do SSM envolvem o estabelecimento
e o supervisionamento de requerimentos prudenciais, o licenciamento (ou fechamento) de
instituições bancárias, entre outras.
A Autoridade Bancária Europeia (EBA) conduziu em outubro testes de estresse em 130
bancos da Zona do Euro para avaliar a probabilidade de não cumprimento de suas obrigações
diante de supostos cenários econômicos adversos. O mais severo deles, por exemplo,
considerava uma sensível piora nos mercados financeiros e uma diminuição abrupta no valor dos
imóveis. Apesar das grandes instituições terem sido aprovadas, um total de 25 não obteve
sucesso, a maior parte nos chamados países “periféricos” do bloco, como Itália, Grécia e Chipre.
O valor a ser levantado para o suprimento das necessidades é de € 25 bilhões, acima do que o
originalmente previsto. Esses bancos deverão implementar medidas para o levantamento de
capital em até nove meses, o que deverá provocar uma diminuição significativa nas suas
operações de crédito, afetando a economia real.
O BCE continuou afrouxando as condições monetárias ao longo de 2014. Os meses de
junho e setembro foram marcados por reduções nas três principais taxas básicas de juros. A
primeira delas, conhecida por taxa de refinanciamento, ou seja, os juros a serem pagos pelos
bancos para a obtenção de fundos normais do BCE, passou de 0,25% a.a. para 0,05%. Ademais,
os juros cobrados para a captação de recursos de emergência (taxa de empréstimo marginal)
caíram de 0,75% para 0,3% a.a.. Da mesma forma, a remuneração dos depósitos das instituições
financeiras junto ao BCE também caíram. Em caráter inédito, estabeleceu-se uma taxa negativa,
que passou de 0% para -0,20% a.a.. Ou seja, para cada cem euros depositados, a autoridade
monetária se compromete a devolver € 99,80 no vencimento. A imposição dessa condição tem
como objetivo incentivar os bancos a realizar operações de crédito, e não reter os recursos junto
ao BCE. Outra política expansionista foi o fim da esterilização das compras de títulos soberanos
no mercado secundário emitidos a partir de 2010. Até então, a injeção de liquidez era temporária,
ou seja, havia o compromisso do BCE de desfazer a operação, revendendo os títulos em troca
dos recursos na data de vencimento dos mesmos.
Ademais, foi anunciado um programa de operações de longo prazo direcionadas (TLTRO,
em inglês), com valor estimado de € 400 bilhões. Essa modalidade oferece empréstimos baratos
para os bancos (a uma taxa fixa de 0,15% a.a. por até quatro anos) se os baixos custos também
forem repassados aos consumidores. No entanto, a primeira rodada desse esquema alocou
apenas € 82 bilhões, sendo que das 382 instituições financeiras elegíveis, apenas 255 tomaram
recursos. Uma segunda rodada será conduzida ainda em 2014 (dezembro), sucedida por outras
em 2015 e 2016.
O BCE, em breve, também pode fazer uso de políticas monetárias não convencionais,
repetindo o mesmo expediente adotado pelos Estados Unidos desde a eclosão da crise financeira
internacional. O Quantitative Easing (QE) é um programa para a aquisição de ativos financeiros
junto a bancos comerciais e outras instituições financeiras privadas através da emissão de moeda,
que se dá quando os instrumentos usuais (como as taxas de juros) já se encontram esgotados e
há necessidade de estimular a economia. A ideia do BCE é de que a compra de ativos lastreados
em títulos (ABS, na sigla em inglês) e de debêntures (corporate bonds) possa levar os bancos a
usar esse capital para conceder mais empréstimos. Com o QE, o BCE espera reverter a atual
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tendência de diminuição dos ativos do BCE, dando maior suporte para o processo de retomada do
bloco.
2,0
2,1
1,9
1,2
2008S29
2010S24
2011S12
2013S08
2007S01
2007S21
2007S41
2008S09
2008S49
2009S17
2009S37
2010S04
2010S44
2011S32
2011S52
2012S20
2012S40
2013S28
2013S48
2014S16
2014S36
Fonte: Banco Central da Europa. Elaboração: FIERGS/UEE.
2,3
0,3
-0,5
dez/05
dez/12
jun/06
dez/06
jun/07
dez/07
jun/08
dez/08
jun/09
dez/09
jun/10
dez/10
jun/11
dez/11
jun/12
jun/13
dez/13
jun/14
Japão
Em 2014, o PIB japonês sofreu um duro revés ao longo do segundo trimestre. Isso se
deveu pelo aumento do imposto sobre o consumo, cuja alíquota passou de 5% para 8% a partir de
primeiro de abril, provocando uma queda abrupta do consumo das famílias. Destaca-se que o
crescimento nos três primeiros meses do ano (o mais alto desde o segundo trimestre de 2009,
quando a economia japonesa se recuperava dos efeitos da crise internacional) foi provocado pelo
efeito da antecipação da aquisição de bens e serviços a preços mais baixos. Atualmente, o País
se encontra em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de retração na atividade
econômica). Trata-se de algo preocupante para uma economia de tamanha magnitude (a terceira
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maior do planeta), que vem apresentando grandes dificuldades para crescer há mais de duas
décadas.
0,0
-0,4 -0,4
-1,9
PIB
Consumo das famílias
-5,0
2013T1 2013T2 2013T3 2013T4 2014T1 2014T2 2014T3
Fonte: OCDE. Elaboração: FIERGS/UEE.
O intuito do governo com a elevação do imposto foi de reforçar o caixa para financiar os
elevados dispêndios com a previdência social do País, em função do envelhecimento da
população. Dessa forma, evitou-se recorrer a um menor financiamento através de dívida, que,
como proporção do PIB, é a mais elevada do mundo. Isso fará com que o resultado orçamentário,
que já inclui o pagamento dos juros que incidem sobre a dívida, melhore em 2014 em relação ao
ano passado (-7,1% ante -8,2% do PIB), conforme projeções do FMI. Entretanto, trata-se ainda de
uma situação fiscal delicada.
O gráfico 1.10 mostra um gráfico de dispersão do resultado orçamentário e da dívida bruta,
para um conjunto de países selecionados (ambos como proporção do PIB). Circunferências
menores indicam que a combinação entre ambas é baixa, ou seja, sinalizam que os países
apresentam menores restrições de ordem fiscal, e vice-versa. O Japão apresenta um
deslocamento desse conjunto, pois apresenta a maior dívida bruta do mundo e um dos piores
resultados orçamentários.
20
10
-10
Japão
-20
-30
0 50 100 150 200 250
Dívida Bruta / PIB
Fonte: FMI. Elaboração: FIERGS/UEE.
Se, por um lado, a política fiscal tem sido contracionista, a política monetária segue no
sentido diametralmente oposto. O “Abenomics” continua despejando liquidez no mercado, ao
anunciar políticas ultra expansionistas de compra de títulos do governo e de ativos de risco para
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 16
elevar a inflação para um patamar próximo a 2% ao ano, meta que foi dobrada pelo Banco Central
do Japão (BoJ) no ano passado. Recentemente, em decisão dividida, decidiu-se aumentar o ritmo
anual das aquisições para ¥ 80 trilhões por ano, ao invés dos ¥ 50 trilhões feitos até então
(incremento equivalente a 5,7% do PIB projetado para 2014).
Outro objetivo dessa política é o de dar continuidade ao processo de desvalorização da
taxa de câmbio, tornando o Iene mais fraco em relação ao Dólar, o que serviria para alavancar a
economia através do setor externo (incentivo para as exportações e desestímulo às importações).
A desvalorização no primeiro semestre de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior foi
de 7,2%. Contudo, essa desvalorização é bem inferior à registrada nos seis primeiros meses de
2013 ante a mesma base em 2012 (19,8%), quando os primeiros pacotes de estímulos em larga
escala foram anunciados.
O conjunto de medidas tem sido bem recebido pelo mercado financeiro. O Índice da Bolsa
de Valores de Tóquio (NIKKEI) vem subindo de maneira consistente ao longo dos últimos meses e
já se encontra próximo dos valores registrados antes da eclosão da crise financeira internacional
de 2008.
18.217
16.362 17.491
15.627
7.173 8.661
jul-11
jul-13
jul-06
jul-07
jul-08
jul-09
jul-10
jul-12
jul-14
jan-06
jan-07
jan-08
jan-09
jan-10
jan-11
jan-12
jan-13
jan-14
China
O ano de 2014 foi marcado pela continuidade do “pouso suave” do nível de atividade da
China. Vários indicadores colaboraram para manter o ritmo de crescimento em nível moderado.
As exportações, por exemplo, registraram o avanço mais lento desde a crise financeira
internacional (5,8% no acumulado entre janeiro a outubro em comparação com o mesmo período
do ano anterior). Além disso, a indústria também tem puxado o nível de atividade para baixo,
sobretudo em função da perda de ímpeto do setor imobiliário.
Diante de sinais mais claros do processo de desaceleração, o governo chinês, visando
garantir o cumprimento da meta de crescimento de 7,5% estabelecida para esse ano, lançou
alguns minipacotes de estímulo. O principal deles, ainda no primeiro semestre, teve foco na
ampliação da rede de ferrovias do País, através de empréstimos bancários via criação de um
fundo aberto para os investidores privados. Além disso, foi permitido que a companhia pública
ferroviária pudesse emitir um total de 150 bilhões de Yuans em dívidas para a construção de mais
de seis mil quilômetros de linhas ferroviárias. Também foram reduzidos os impostos para firmas
pequenas até o final de 2016.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 17
Gráfico 1.14. Crescimento do PIB da China
(Var. % trimestral em relação ao mesmo período do ano anterior)
14,5
12,1
9,0
7,4
6,6
1ºT/00
4ºT/00
3ºT/01
2ºT/02
1ºT/03
4ºT/03
3ºT/04
2ºT/05
1ºT/06
4ºT/06
3ºT/07
2ºT/08
1ºT/09
4ºT/09
3ºT/10
2ºT/11
1ºT/12
4ºT/12
3ºT/13
2ºT/14
Fonte: National Bureau of China. Elaboração: FIERGS/UEE.
Nesse sentido, um dos indicadores que mais chama a atenção é o Índice de Preços ao
Produtor (IPP), que registrou a trigésima primeira queda consecutiva na comparação interanual no
mês de setembro. Esse dado reflete o excesso de capacidade ociosa que foi gerada a partir do
mega pacote de estímulo posto em marcha pelo governo em 2010, para debelar os efeitos da
crise financeira internacional. Além disso, sinaliza que o ritmo dos investimentos produtivos futuros
não deverá acelerar enquanto as empresas não utilizarem a capacidade do maquinário instalado
em patamares adequados.
3,3
-1,8
-3,6
-8,2
dez/09
jan/07
jun/07
nov/07
fev/14
set/08
fev/09
mai/10
jan/12
mar/11
jun/12
nov/12
set/13
abr/08
jul/09
ago/11
abr/13
jul/14
out/10
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 18
Gráfico 1.16. Crescimento do crédito na China
(Var. % em relação ao mesmo mês do ano anterior)
94,3
Total
Bancário
63,4 Não-Bancário
33,0
20,9 20,4
13,2
mai/2010
abr/2006
abr/2013
jul/2004
ago/2008
jul/2011
dez/2003
nov/2006
mar/2009
out/2009
dez/2010
nov/2013
jun/2014
fev/2005
set/2005
jun/2007
jan/2008
fev/2012
set/2012
Fonte: CEIC. Elaboração: FIERGS/UEE.
América Latina
A América Latina deverá registrar um fraco crescimento em 2014, inclusive abaixo da
União Europeia. Isso se deve, em sua maior parte, ao Brasil, à Argentina e ao México que
desacelerarão em comparação com 2013. A recuperação prevista para o bloco em 2015 ainda é
tímida, uma vez que a taxa projetada (2,2%) é cerca de 1 ponto percentual abaixo do crescimento
potencial para o bloco, de 3,2%, conforme o FMI.
Argentina:
Os graves desequilíbrios dos últimos anos foram intensificados em 2014, com reflexos
cada vez mais evidentes sobre a atividade econômica da Argentina. O Índice Geral de Atividade
(IGA), proxy do PIB calculada pela consultoria privada OJF, apresentou clara tendência de queda
ao longo de todo o ano. O indicador, em setembro, está 3,8% abaixo do nível registrado em
janeiro, apresentando o mesmo nível de janeiro de 2011.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 19
Gráfico 1.18. Índice Geral de Atividade (IGA) - Argentina
(Número-índice: jan/11 = 100 – com ajuste sazonal)
107,0
105,1
103,8
100,0 100,0
set/11 97,9
mai/12
set/12
set/13
set/14
mai/11
mai/13
mai/14
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
Fonte: OJF. Elaboração: FIERGS/UEE.
Balanço de Pagamentos
10,9 Transações Correntes
7,3 Conta Capital e Financeira
7,9
3,7 2,0
-6,2
2010T3
2011T3
2012T3
2008T1
2008T3
2009T1
2009T3
2010T1
2011T1
2012T1
2013T1
2013T3
2014T1
Fonte: INDEC. Elaboração: FIERGS/UEE. *O resultado da conta “Erros e Omissões” não foi considerado. Por esse
motivo, o Balanço de Pagamentos não corresponde, exatamente, à soma das Transações Correntes com a Conta
Capital e Financeira.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 20
Gráfico 1.20. Reservas internacionais da Argentina
(Em US$ bilhões)
50,4 52,7
28,1
28,1
10,5
02/jan/03
02/jan/04
02/jan/05
02/jan/06
02/jan/07
02/jan/08
02/jan/09
02/jan/10
02/jan/11
02/jan/12
02/jan/13
02/jan/14
Fonte: Banco Central da Argentina. Elaboração: FIERGS/UEE.
Gráfico 1.21. Taxa de câmbio oficial e Gráfico 1.22. Inflação – Estimativas privadas
cotação no mercado paralelo – Argentina – Argentina
(Em pesos por dólar) (Var. % acumulada em 12 meses)
14,70 40,6
Oficial
Paralelo
13,06
10,45 12,65
8,01 25,1 25,4 25,4
6,70 8,52
3,86
4,57 5,24
14,7 18,0
04/01/10
04/05/10
04/09/10
04/01/11
04/09/11
04/01/12
04/05/11
04/05/12
04/09/12
04/01/13
04/05/13
04/09/13
04/01/14
04/05/14
04/09/14
jan/13
jun/13
fev/10
mai/11
nov/08
set/09
dez/10
out/11
mar/12
nov/13
set/14
abr/09
jul/10
abr/14
ago/12
Fonte: Banco Central da Argentina e Ámbito. Elaboração: Fonte: Inflación Verdadera. Elaboração: FIERGS/UEE.
FIERGS/UEE.
O efeito sobre a atividade econômica foi significativo, pois uma série de importantes
cadeias produtivas, como o setor de Veículos automotores, sempre dependeram de uma grande
quantidade de importações, em função da forte elevação dos custos de produção internos. A
diminuição das compras no exterior, fruto da desvalorização cambial, tem prejudicado ainda mais
os países do Mercosul (principalmente o Brasil). Pela primeira vez desde a sua criação, o bloco
das nações da América do Sul deixou de ser o principal demandante dos produtos da Argentina. A
maior participação dos países asiáticos no comércio exterior se explica pela aproximação com a
China, que ainda tem mantido linhas de crédito abertas para a tomada de empréstimos.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 21
Gráfico 1.23. Exportações da Argentina – blocos econômicos selecionados
(Em US$ bilhões – acumulado de janeiro a setembro)
13,8
O cenário em 2014 foi agravado a partir do default da dívida externa ocorrido em julho
desse ano. Essa questão remonta a moratória de 2001, provocada pela grave crise econômica
que assolava o País naquele momento. Nos anos de 2005 e 2010, foram conduzidas duas
reestruturações para quitar os débitos que somavam aproximadamente US$ 82 bilhões. Cerca de
93% do total aceitou uma proposta no qual foram oferecidas condições menos vantajosas em
relação aos termos iniciais (US$ 0,35 para cada US$ 1,00 da dívida original). O restante
(chamados de holdouts) entrou em litígio judicial com o País, sendo que o caso chegou à
Suprema Corte dos Estados Unidos. O total devido a esse grupo é de cerca de US$ 15 bilhões,
valor superior a mais da metade das reservas do País.
No dia 16 de junho, ficou determinado que a Argentina deveria pagar US$ 1,33 bilhão a
credores específicos para credores específicos, como os fundos Aurelius Capital Management e
NML Capital, que adquiriram aproximadamente 1% da dívida junto a antigos credores que não
haviam aceitado a reestruturação. O juiz determinou que o pagamento para aqueles que aderiram
as novas condições seria bloqueado enquanto não houvesse o pagamento para os holdouts. Sem
acordo entre as partes, a Argentina optou pelo calote, decretado a partir do dia 31 de julho, que
levou as agências de risco Standard & Poor’s e Fitch a rebaixar os títulos da dívida argentina em
moeda estrangeira para o patamar “default seletivo” e “default restrito”, respectivamente. A
Moody’s manteve a nota em Caa1, alterando apenas a perspectiva de “estável” para “negativa”.
Um dos motivos que justificou essa decisão por parte da Argentina foi a Cláusula Rufo
(Rights Upon Future Offers) nos contratos dos credores que aceitaram a negociação. Se um
acordo com condições mais vantajosas fosse oferecido aos holdouts, o outro grupo teria o direito
de exigir o mesmo, o que elevaria muito o montante devido. Muito provavelmente, essa foi a razão
pela qual o governo argentino preferiu o calote.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 22
que um acordo (pelo menos parcial) seja alcançado entre as partes. Outro evento esperado para
os EUA em 2015 é o primeiro incremento da taxa de juros de curto prazo (fed funds), que se
encontra num patamar excepcionalmente baixo (próximo a 0%) desde dezembro de 2008.
Segundo a minuta do último relatório do Federal Open Market Committee (FOMC), seus
dezessete membros (que possuem poder de decisão sobre os rumos da política monetária no
País) manifestaram, conforme seus respectivos entendimentos, que o ciclo de aperto deverá fazer
com que, ao final de 2015, os juros alcancem 2% a.a. (mediana). Tal fato deverá contribuir para a
continuidade do processo de mudança dos preços relativos ao longo do ano que vem.
Em relação à Zona do Euro, é bastante provável que o Banco Central Europeu (BCE)
implemente um programa de compra de ativos para estimular a economia e elevar a inflação no
ano que vem. Apesar de importante, o efeito em termos de crescimento do PIB e da inflação não
deve ser significativo. A Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, revisou para
baixo a perspectiva de crescimento em 2015 (de 1,2% para 0,8%), citando: (i) a desaceleração
mais intensa das grandes economias, como Alemanha, França e Itália; (ii) tensões entre a Ucrânia
e a Rússia e (iii) a escassez de investimentos.
No que diz respeito ao Japão, havia a expectativa de que o imposto sobre o consumo
fosse aumentado novamente em 2015, de 8% para 10%. No entanto, o cenário de recessão
técnica (dois trimestres consecutivos de queda no PIB) fez com que esse aumento fosse
postergado pelo governo para abril de 2017. Se, por um lado, essa decisão gera um quadro mais
animador para a atividade econômica no curto prazo (2015 e 2016), os estrangulamentos fiscais
existentes tendem a se tornar ainda mais fortes no futuro, limitando ainda mais o já baixo
crescimento potencial do País.
Os emergentes, de maneira geral, se encontram com uma capacidade limitada de
crescimento em função dos inúmeros desequilíbrios macroeconômicos que os caracterizam. Para
2015, os ajustes necessários devem fazer com que o crescimento não seja significativo, porém
ainda favorecido pela base de comparação baixa de 2014. A expansão do PIB potencial desse
subconjunto no médio e no longo prazo passa, necessariamente, pela adoção de reformas
estruturais que visem dar credibilidade à política econômica e previsibilidade aos investimentos.
No caso da Argentina, a situação econômica deve continuar preocupante no próximo ano,
em função do recrudescimento da inflação, da baixa confiança dos consumidores e da piora dos
indicadores de sustentabilidade externa. Todavia, convém lembrar que a cláusula RUFO vence no
fim de 2014, o que deixaria o País vizinho livre para negociar com os holdouts sem impactar na
outra parcela das suas obrigações. É provável, portanto, que um acordo (pelo menos parcial) seja
alcançado entre as partes, o que tornaria a situação um pouco menos desfavorável. No entanto,
os desequilíbrios macroeconômicos que caracterizam a economia devem provocar nova recessão
no ano que vem, sendo que uma retomada só deverá se verificar a partir de 2016.
A China já estuda a possibilidade de reduzir a sua meta de crescimento no ano que vem
para próxima a 7,0%. Será a primeira redução em três anos, uma vez que, entre 2012 e 2014, o
objetivo era de 7,5%. Isso mostra a preocupação do governo em conduzir a economia em um
ritmo mais lento, diminuindo a probabilidade de uma parada abrupta. Uma das principais
consequências é a continuidade da queda do preço das commodities no mercado internacional, o
que ajuda a diminuir as pressões inflacionárias em todo o mundo. Convém lembrar que essa
resultante beneficia os produtores que utilizam essas mercadorias como insumos, mas reduz o
dinamismo do comércio exterior de países cujo peso na pauta de exportação é considerável.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 23
Tabela 1.1. Projeções para o PIB
(Var. % em relação no ano anterior)
2014* 2015
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 24
2. NÍVEL DE ATIVIDADE
O ano de 2014 não deixará saudades para o setor produtivo, pois a estagnação da atividade
chegou, em maior ou menor grau, a todos os setores da economia. O Brasil precisa se reinventar,
e para isso deve retornar ao básico: alcançar a estabilidade macroeconômica perdida e adotar
uma agenda de reformas com o objetivo de alavancar investimentos e aumentar a
competitividade.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 25
Quando as perspectivas de futuro tornam-se mais nebulosas, nem mesmo condições de
financiamento muito atrativos e incentivos fiscais podem ser suficientes para tirar os projetos do
papel. Crédito é apenas um dos elementos da tomada de decisão, um meio e não um fim.
Podemos ver esse comportamento nos índices de confiança dos empresários industriais, do
comércio e dos consumidores.
No que se refere à indústria, percebe-se que o setor se ressente de perspectivas e
alternativas para o longo prazo. Em 2014, a Copa do Mundo e as eleições contribuíram para a
paralisia do País e, até mesmo durante as campanhas eleitorais, pouco foi planejado e discutido
sobre o avanço de uma agenda para a competitividade.
Porém, as medidas estruturais parecem ter sido abandonadas desde muito antes. A
política de estímulos setoriais e de crédito direcionado adotadas a partir de 2009, em decorrência
da crise internacional, foi aprofundada até 2013 e perdeu força em 2014, devido ao esgotamento
das contas públicas. Portanto, diante da necessidade de correção de rumo da política econômica,
taxas de crescimento maiores e mais sustentáveis só passarão a ocorrer quando esses problemas
estruturais começarem a ser endereçados.
Pelo lado da demanda, entende-se que as famílias encontrarão uma situação diferente no
próximo ano: aperto do mercado de crédito, aumento de carga tributária e/ou redução dos
subsídios e deterioração no mercado de trabalho. O processo de desalavancagem do setor
privado e público deverá continuar para corrigir os excessos dos últimos anos. Após esse período,
poderemos voltar para uma expansão econômica mais saudável e sustentável.
Para o Rio grande do Sul, o cenário nacional tende a ter um peso importante. Porém, há
peculiaridades na economia gaúcha. Uma delas se refere à maior influência que a crise da
Argentina exerce sobre a produção da indústria. Além disso, no Estado, realizar o ajuste fiscal
requerido para 2015 é ainda mais difícil do que em âmbito nacional, devido ao limitado número de
instrumentos de política econômica disponíveis.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 26
Gráfico 2.1. Crescimento do PIB Gráfico 2.2. Contribuição no crescimento do
(Var. % – trimestral) PIB
(var. %)
4,0
Agropecuária Indústria Serviços
2,0
3,0
2,0
2011/I
2012/I
2011/II
2012/II
2013/I
2014/I
2013/II
2014/II
2011/III
2012/III
2013/III
2011/IV
2012/IV
2013/IV
2011/IV
2012/IV
2013/IV
2013/I
2011/I
2011/II
2012/I
2011/III
2012/II
2012/III
2013/II
2014/I
2014/II
2013/III
2014/III
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IPEADATA. Elaboração: FIERGS/UEE.
Por sua vez, a agricultura, alcançou um ano com resultados positivos. A safra em valores
quantidade, acima de 194 milhões de toneladas, segundo as estimativas da CONAB (Companhia
Nacional de Abastecimento), representou um acréscimo de 3,2% na produção em comparação
com 2013. Esse crescimento foi determinado pelo avanço de 4,3% na produção da Região
Centro-oeste, responsável por 42% da colheita nacional. A Região Sul, que participa com 37% da
produção, apresentou retração de 0,9%, afetado pela queda de 2,4% na produção paranaense em
função da estiagem ocorrida na região. Porém, a seca atingiu mais fortemente a Região Sudeste,
que representa 9% da produção nacional, e registrou redução de 11,4% em sua safra. Por outro
lado, as Regiões Norte e Nordeste, que juntas respondem por 11,9% da lavoura nacional,
cresceram 14,3% e 40,0%, respectivamente.
Com relação aos preços dos produtos primários, os produtores não verificaram um avanço
no mesmo ritmo do registrado nas safras anteriores. A cotação média nacional para a soja em
grãos (saca de 60 kg) de janeiro a novembro de 2014 foi de R$ 59,22, o que representa um
crescimento nominal de 1,2% em relação ao mesmo período de 2013. Na mesma base de
comparação, chama à atenção a queda de 5,9% da cotação do Milho (saca de 60 kg).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 27
As perspectivas para 2015 da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam
para uma variação da safra de grãos entre -0,14% a 2,73%. No caso da soja em grãos, o
crescimento esperado é positivo e deve entre 3,7% e 6,5%, sendo que o aumento de
produtividade é estimado em 1,4%. Por outro lado, a expectativa da Conab é de que ocorra uma
retração entre -3,2% e -1,2% na safra total de milho (1ª e 2ª). Essa queda deve-se tanto a
retração projetada para a produção, quanto para a área plantada.
Em termos internacionais, a tendência é de estagnação dos preços das commodities no
patamar atual. No caso dos grãos, a pressão da entrada de uma safra recorde nos EUA e da
desaceleração da economia chinesa deve levar as cotações internacionais para baixo. Além
disso, observa-se que a recuperação da economia dos EUA e o menor ritmo de produção e
investimentos na China apontam para um período menos favorável aos preços internacionais de
grande parte das matérias-primas, bem como um fortalecimento do Dólar perante as demais
moedas.
A mesma conjuntura internacional que afeta o setor de commodities também tem ditado a
tendência para a indústria extrativa. A atividade, que representa 15% do PIB industrial, passa por
um processo recuperação. Depois de ter retraído 3,6% em 2013, a produção física do setor
cresceu 5,6% no acumulado de 2014 até setembro, conforme os dados da Pesquisa Mensal
Industrial do IBGE. Esse resultado é suficiente para repor as perdas de 2013 e atingir o maior
nível desde 2002, início da atual série. Esse desempenho foi impulsionado, em grande parte, pelo
aumento na extração de minérios de ferro pelotizados, minérios de ferro em bruto e óleos brutos
de petróleo.
Em termos de perspectivas de médio e longo prazo para o minério de ferro e demais
commodities siderúrgicas, espera-se a continuidade da atual trajetória de moderação. Os
estoques desses produtos no mercado chinês, o maior consumidor global, permanecem elevados,
o que vai continuar pressionando a cotação para baixo. No caso do petróleo, em que pese os
preços menores, a produção deve a continuar aumentando, determinada pela operação das novas
plataformas de extração de petróleo da Petrobrás, que atingiu um nível de produção recorde, mais
de dois bilhões de barril/dia. Por outro lado, a baixa no preço do petróleo pode ajudar alguns
ramos da indústria de transformação, que depende dos petroquímicos como matéria-prima.
Em 2013, a indústria transformação respirou por aparelhos, que eram os incentivos e
desonerações, e, naquele ano, o resultado do PIB se sustentou no campo positivo. Em 2014,
essas medidas foram sendo desligadas, pois a política fiscal encontrou o seu limite. Os impostos
foram sendo recompostos e o crédito subsidiado se tornou mais escasso. Com o fim desses
impulsos temporários, os fundamentos precários da competitividade brasileira prevaleceram.
Diante da conjuntura recessiva e da baixa expectativa quanto a uma recuperação mais
robusta no curto prazo, os ramos da indústria ligados aos investimentos foram os mais afetados.
Desse modo, a produção de bens de capital apresentou queda de 8,23% no acumulado de janeiro
a setembro de 2014 sobre o mesmo período do ano anterior. Esse resultado foi puxado pelas
retrações de 15,5% na fabricação de equipamentos de transporte industrial. Destaca-se que as
medidas de incentivo, como a redução do IPI e o Programa de Sustentação do Investimento,
incitaram a antecipação dos investimentos, o que explicou o crescimento de 26,8% desse mesmo
grupo em 2013 na comparação com 2012.
Situação semelhante se verificou no grupo de bens de consumo duráveis, que retraiu 9,6%
nos primeiros nove meses de 2014, devolvendo em parte o crescimento de 4,4% em 2013, que foi
impulsionado pela taxa de juros da economia em nível mais baixo e pelos incentivos tributários. A
queda de 17,1% da produção de Automóveis para passageiros foi o principal responsável pela
retração. A menor atividade afetou também os fabricantes de produtos intermediários,
principalmente aquelas indústrias que fornecem para o segmento de bens de capital e automotivo.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 28
Para 2015, existe alguns elementos que podem fazer o setor recuperar em parte as suas
perdas. A baixa competitividade e falta de demanda externa podem ser atenuadas com a taxa de
câmbio mais desvalorizada. A queda no preço das matérias-primas e a tendência de menores
reajustes salariais também podem ajudar o setor a recompor margem de lucro e melhorar a
deteriorada situação financeira.
O agravamento da estiagem na região sudeste é outro risco potencial, principalmente, para
o segundo trimestre. Caso o período de chuvas, que dura até o final do verão, for abaixo da média
histórica, há uma grande possibilidade de racionamento mais intenso de água e energia. A forma
e a extensão com que esse racionamento pode ser implementado ainda é desconhecida. De
qualquer modo, a produção daquelas indústrias intensivas em energia elétrica e consumidora de
água (papel e embalagens, químicos e tintas) poderá sofrer um revés maior, o que certamente
impactará o PIB do setor.
Por sua vez, o setor de serviços manteve a trajetória de crescimento em 2014, mas o ritmo
da atividade foi menor do que em anos anteriores. Mesmo diante do cenário relativamente mais
adverso, o volume de vendas no comércio varejista cresceu em 26 das unidades da federação no
acumulado de janeiro a setembro de 2014 frente ao mesmo período do ano anterior, a exceção foi
o Estado de Santa Catarina. As maiores taxas de crescimento foram observadas nos estados do
nordeste com destaque para o Maranhão (+6,7%), Ceará (+6,5%) e Bahia (+5,6%).
No indicador para o total do País, as vendas do varejo cresceram 2,6% até o terceiro
trimestre. Os principais incrementos foram verificados nos grupos de Artigos farmacêuticos,
médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+9,4%) e Outros artigos de uso pessoal e
doméstico (+7,9%). Porém, segmentos com participação importante no comércio apresentaram
resultados mais tímidos, como foi o caso de Hipermercados, supermercados, produtos
alimentícios, bebidas e fumo (+1,9%) e Combustíveis e lubrificantes (+3,0%).
Um sinal significativo do orçamento mais pressionado das famílias é verificado através da
retração nas vendas de produtos com demanda mais elástica. Por exemplo, as atividades com
maiores quedas foram Livros, jornais, revistas e papelaria (-7,1%), Equipamentos e materiais para
escritório, informática e comunicação (-4,1%) e Tecidos, vestuário e calçados (-1,1%).
Tabela 2.2. PIB Brasil - lado da oferta Tabela 2.3. PIB Brasil - lado da demanda
(Var. %) (Var. %)
Ac. no ano Ac. em 4
até setembro trimestres Ac. no ano Ac. em 4
Agropecuária 0,9 1,1 até setembro trimestres
Indústria -1,4 -0,5 Consumo das famílias 1,2 1,5
Extrativa mineral 7,3 5,3 Consumo da adm. pública 2,0 2,1
Transformação -3,3 -1,8 Formação bruta de capital fixo -7,4 -4,6
Construção civil -5,1 -3,3 Exportação de bens e serviços 2,8 3,5
Serviços 0,9 1,2 Importação de bens e serviços (-) -0,2 1,1
Comércio -0,7 0,3 PIB a preços de mercado 0,2 0,7
PIB a preços de mercado 0,2 0,7
Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.
Diversos fatores contribuíram para o arrefecimento do Comércio neste ano: (1) a inflação
mais elevada, que oscilou ao redor de 6,5%, o que retira poder de compra do consumidor; (2) taxa
de juros mais altos; (3) comportamento mais restritivo dos emprestadores, o que tende a reduzir
prazo e aumentar os encargos dos financiamentos; (4) elevado endividamento; (5) menor nível de
confiança do consumidor desde a crise de 2009; e, (6) Aumento do medo do desemprego. Esses
elementos contribuíram para um comportamento mais retraído do consumidor e acreditamos que
continuarão presentes em 2015.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 29
Por outro lado, pesa a favor da continuidade da expansão do setor de serviços, em
especial do comércio, a baixa taxa de inadimplência das pessoas físicas e a redução do
comprometimento da renda com o pagamento dos serviços da dívida. Aparentemente, o ciclo de
elevação do crédito não resultou no aumento da inadimplência e os consumidores parecem estar
buscando diminuir a sua alavancagem. Em resumo, a situação não é de descalabro, mas
despertou maior prudência das famílias na hora do consumo. O cenário para 2015 tende a ser
bastante semelhante ao de 2014. Porém, a intensidade da desaceleração vai depender do grau
de ajuste da economia brasileira e, principalmente, do comportamento do mercado de trabalho.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 30
1. Foco em políticas setoriais e menor esforço para realizar as reformas microeconômicas.
Em quatro anos, foram anunciados 35 pacotes de estímulo à economia.
2. Políticas de intervenções no mercado de capitais e cambial através da tributação do
fluxo de investimentos.
3. Tímida reorientação do modelo de investimentos baseado nas inversões públicas para
um modelo de concessões.
4. Alteração nos marcos regulatório do pré-sal, do sistema de ferrovias e do setor
energético.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 31
destacar que o investimento estrangeiro tem se mantido estável, o que tem decepcionado mais é
o investimento doméstico, principalmente o público.
13,0
20,6 20,5
20,0
8,0 5,9 19,2 19,0
20,7 18,7
3,0 19,6
3,7 18,8 17,4
-2,0
17,1
-7,0 -9,5
15,3 15,1
-12,0
-12,4 14,0
-17,0
ICEI ICC ICEC
-19,5 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
-22,0
mar/13
dez/13
dez/12
mar/11
jun/11
set/11
dez/11
mar/12
jun/12
set/12
jun/13
set/13
mar/14
jun/14
set/14
O conjunto dos elementos citados acima, adicionado aos tradicionais problemas estruturais
do País (o Custo Brasil, baixa qualificação da mão de obra, etc.), mostra de forma bastante nítida
que a economia brasileira diminuiu o seu potencial de crescimento de longo prazo.
Esse novo potencial de crescimento já foi consciente ou inconscientemente incorporado
pelos agentes. Um exercício para verificar esse comportamento consiste em apurar o que os
respondentes do Relatório Focus do Banco Central do Brasil imaginavam que seria o crescimento
do País quatro anos à frente. O horizonte de quatro anos é escolhido para descartar as influências
que a conjuntura de curto prazo tem sobre as previsões. Tal projeção é equivalente ao que se
prevê de crescimento de longo prazo, ou crescimento potencial.
Por exemplo, a expectativa média do mercado no ano de 2010 era que dali a quatro anos,
ou seja, em 2014 a economia estaria crescendo 4,5%. Essa expectativa de crescimento de longo
prazo foi caindo ao longo dos últimos anos. Atualmente, o mercado espera que o crescimento de
longo prazo seja próximo de 2,5% ao ano. Esse desempenho é dois pontos percentuais abaixo do
que era esperado antes da “nova matriz econômica” vigorar. Evidentemente, que essa piora
também está incorporando a inversão de tendência do mercado internacional.
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
nov/14
2014**
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 32
Portanto, uma questão que está colocada para todos os analistas é qual a atual taxa de
crescimento potencial da economia brasileira, ou seja, qual a taxa de crescimento de médio e
longo prazo que não gera pressões inflacionárias. Uma forma bastante rudimentar de responder
essa complexa questão é filtrar dos dados do PIB o que é a tendência de longo prazo para o que
é ciclo econômico. A tendência nos fornece uma ideia de crescimento potencial e o ciclo o hiato
do produto.
Para isso utilizou-se o método do Filtro de Hodrick-Prescott para traçar a tendência da
série do PIB brasileiro. O Gráfico 2.6 mostra, que a nos últimos anos, há uma diminuição na
tendência de crescimento. Atualmente, a tendência cresce a uma taxa de 1,9% ao ano, valor
bastante inferior ao verificado no início de 2011, que era de 3,5% ano. No Gráfico 2.7 verifica-se o
ciclo de curto prazo em relação ao crescimento de longo prazo. Nesse gráfico, chama a atenção
que o hiato é o maior verificado desde a crise de 2009.
4,0
2,0
0,0
-2,0
-4,0
PIB Tendência
-6,0
-8,0
2001Q1
2007Q2
2012Q2
1996Q1
1997Q2
1998Q3
1999Q4
2002Q2
2003Q3
2004Q4
2006Q1
2008Q3
2009Q4
2011Q1
2013Q3
1998Q1
2005Q1
2009Q1
1996Q1
1997Q1
1999Q1
2000Q1
2001Q1
2002Q1
2003Q1
2004Q1
2006Q1
2007Q1
2008Q1
2010Q1
2011Q1
2012Q1
2013Q1
2014Q1
Portanto, parece bastante claro que o potencial de crescimento se reduziu quase pela
metade nos últimos anos. Contudo, restam dúvidas se esse potencial continuará diminuindo ou se
já encontrou o seu novo ponto de equilíbrio. Caso a última alternativa seja positiva, podemos
observar um fechamento desse hiato no próximo ano. Contudo, isso se torna menos provável na
medida em que as políticas fiscal e monetária serão contracionistas e, conforme já mencionado,
os vetores que poderiam puxar o crescimento estarão bastante enfraquecidos.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 33
Atualmente, a economia avança sob uma base que é mais robusta. Assim, os principais
gargalos ao crescimento sustentável tornam-se mais evidentes e esbarramos em nosso baixo
potencial de crescimento de longo prazo. A economia do Rio Grande do Sul não está descolada
do contexto nacional. Os principais elementos que determinam a baixa competitividade e os altos
custos da produção da economia brasileira também estão presentes, em maior ou menor grau, na
economia gaúcha.
Por outro lado, existem especificidades locais que determinam o desempenho mais ou
menos robusto em relação à economia brasileira. Um desses elementos é a diferença de sintonia
no ciclo econômico. Por exemplo, em 2013, enquanto a economia brasileira desacelerava e
crescia abaixo de 1,4%, a economia do Rio Grande do Sul passava por um processo de
recuperação e cresceu 6%.
4,0
2,0
1,1
0,0
-0,4
-2,0 -1,5
-4,0
IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III IV I II III
03 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 34
conforme já mencionado anteriormente, tendem a estarem menos favoráveis do que em anos
anteriores.
2000/01
2001/02
2002/03
2003/04
2004/05
2006/07
2007/08
2008/09
2009/10
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2011/12
2012/13
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2014/15*
99/2000
2000/01
2001/02
2002/03
2003/04
2004/05
2006/07
2007/08
2008/09
2009/10
2010/11
2011/12
2012/13
2013/14
2014/15*
2005/06
2005/06
Fonte: IBGE. FEE-RS. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE. Elaboração: FIERGS/UEE.
A crise na economia Argentina também teve impacto para a economia do Estado em 2014
e deve continuar nos afetando em 2015. A menor integração do MERCOSUL prejudica a
realização de negócios no Rio Grande do Sul, que é um dos polos de encontro da região. Em
termos setoriais, sem dúvidas, a indústria manufatureira, que tem como o seu principal cliente
externo o país vizinho, é a parte da economia mais prejudicada.
Outro elemento peculiar da economia do RS, e que também afeta o setor industrial, é a
diminuição dos investimentos, principalmente da compra de máquinas e equipamentos. O setor de
bens de capital responde por uma parte importante da indústria e a elevada capacidade ociosa da
indústria nacional faz com que investimentos sejam postergados ou cancelados. A análise mais
profunda do desempenho da indústria de transformação será realizada no próximo capítulo deste
trabalho.
No caso da indústria da construção, o ano também foi de diminuição da atividade. A
desaceleração do setor ocorreu tanto na construção de edificações quanto nas obras de
infraestrutura. No agregado, os resultados mostram que o PIB do setor diminuiu por quatro
trimestres consecutivos e no primeiro semestre de 2014 acumulou perda de 4,6% em relação ao
mesmo período de 2013.
Porém, é importante salientar que o segmento veio de um período de quatro anos de
crescimento robusto. Portanto, a desaceleração do setor já era esperada. A partir de agora a
construção civil deve crescer de acordo com o resto da economia. O boom proporcionado pela
modernização na legislação, pelo controle da inflação, pela formalização da mão de obra e pela
disponibilidade de crédito vai perder força. A expectativa é que o setor comece a mostrar um
movimento mais cíclico e heterogêneo. Por enquanto, os resultados da Sondagem da Indústria da
Construção Civil indicam que a atividade continuará fraca. Tanto o índice de atividade em relação
ao mês anterior, quanto o índice de expectativa para os próximos seis meses ficam abaixo dos 50
pontos, o que indica que o setor permanece em desaceleração. Quando o índice de atividade é
comparado com o índice de expectativa adiantado em seis meses (Gráfico 2.13), a correlação das
duas séries é de 0,60, podemos esperar que, pelo menos, até o final do primeiro trimestre de 2015
essa tendência permaneça.
Para o segmento de obras de infraestrutura, a diminuição nos investimentos ocorrida em
todo o país em 2014 deixa incertezas quanto à retomada para o próximo ano. Porém, a grave
situação das finanças públicas certamente continuará sendo um fator negativo para o setor no RS.
Por outro lado, o governo que vai tomar posse em 2015 já sinalizou que irá resgatar o modelo de
concessões públicas, o que será positivo para esse segmento.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 35
Com relação à construção de habitações, a atividade depende da confiança do
consumidor, da manutenção da renda e da disponibilidade de crédito. Não é difícil perceber que a
atual conjuntura, em que a incerteza é crescente e as dispensas de trabalhadores começam a
crescer, os consumidores tendem a adotar um comportamento mais conservador na hora de
decidir por adquirir bens de maior valor. Esse raciocínio também vale para o comércio varejista,
principalmente no setor de bens de consumo duráveis e de venda de veículos. Além disso, o
crescimento demográfico do Estado é menor e não há mais um volume expressivo de pessoas
ingressando no mercado de trabalho formal.
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
Nível de atividade comparada ao mês anterior
10,0 Expectativas para os próximos 6 meses
0,0
fev/11
fev/12
fev/13
fev/14
fev/15
ago/10
nov/10
ago/11
nov/11
ago/12
nov/12
ago/13
nov/13
ago/14
nov/14
mai/11
mai/12
mai/13
mai/14
Fonte: FIERGS/UEE.
Ainda que exista uma rigidez de renda elevada, pois o estado possui um grande número
de servidores públicos, aposentados e pensionistas, que ameniza o ciclo de desaceleração do
comércio, o crescimento tende a ocorrer de maneira mais moderada.
Erechim: +3,3%
Pelotas: -3,9%
Rio Grande: +0,6%
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 36
O indicador de volume de vendas do comércio ampliado do IBGE indicou que houve um
avanço de 1,4% no acumulado de janeiro a setembro de 2014 frente ao mesmo período do ano
anterior. Contribuíram positivamente para esse resultado, as atividades de vendas de Artigos
farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (+6,6%), Combustíveis e
lubrificantes (+6,1) e Material de construção (+4,9%). Por outro lado, as maiores quedas foram
verificadas nas atividades de Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação
(-19,3%), Livros, jornais, revistas e papelaria (-3,8%) e Veículos, motocicletas, partes e peças (-
2,6%).
Essa heterogeneidade de resultados também foi verificada espacialmente. Os dados do
volume de vendas no comércio varejista apurados pela FEE/RS, que utiliza os dados do ICMS de
todo o Estado e para alguns dos principais municípios, revela que o crescimento do setor varejista
foi um pouco mais tímido, apenas 0,8% nos nove primeiros meses do ano em comparação com
2013. Conforme mostra a Figura 2.1, o desempenho na capital mostra estabilidade no período,
enquanto em Caxias do Sul e Bento Gonçalves houve uma queda mais intensa. Por outro lado,
diversas cidades do interior mostraram avanços significativos.
Em termos de expectativa, o comportamento do emprego e da renda, que mostraram forte
resiliência nos últimos anos, continuará sendo a variável chave para o setor. Caso a
desaceleração no emprego ocorra em ritmo mais forte do que o esperado, haverá um risco
adicional para o comércio varejista e o setor de serviços para as famílias.
A evolução demográfica mais desfavorável, implicando na menor entrada de novas
pessoas no mercado e no envelhecimento da população, indica que o setor crescerá em ritmo
mais moderado do que em anos anteriores e passar a crescer mais próximo do resto da
economia. Aquela gama de consumidores inseridos no mercado de consumo através da
formalização, dos programas de assistência e da estabilização da economia é um vetor que tende
a perder um pouco da sua força e ser menos determinante.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 37
política monetária e fiscal será mais intenso, com influência positiva sobre a confiança dos
agentes e na recuperação em médio prazo. Dessa forma, haverá um menor impacto no emprego
do que o esperado no cenário de referência. A manutenção do atual ritmo de geração de vagas no
mercado de trabalho evitará uma desaceleração mais intensa no setor de serviços. Para a
indústria, a taxa de câmbio mais desvalorizada possibilitará algum alívio nas margens de lucro, há
muito tempo em trajetória declinante. Portanto, a expectativa de ajuste e o realinhamento dos
preços relativos na economia tenderá a gerar uma maior confiança dos agentes, o que
possibilitará uma retomada da atividade a partir do segundo trimestre.
Para o Estado, o contexto macroeconômico é o mesmo. Além disso, é possível que a taxa
de crescimento se aproxime da média recente por meio de uma maior recuperação do setor
exportador e pela retomada nos investimentos. No caso do setor público, o ritmo de condução nas
concessões pode ocorrer de maneira mais rápida do que o esperado.
No cenário inferior, não está descartada uma recessão com deterioração maior da
confiança dos consumidores. Nesse cenário, o ajuste macroeconômico pode não ser crível. Corre-
se o risco de excesso de gradualidade na condução dos ajustes requeridos para dar mais
estabilidade para a economia brasileira. Nesse caso, a economia brasileira irá perder o grau de
investimento, com consequências negativas sobre a confiança dos agentes. No lado real da
economia, considera-se elevada a possibilidade de um racionamento de energia na região
sudeste e centro-oeste.
O cenário inferior para o Rio Grande do Sul contempla a possibilidade de um quadro
recessivo, contaminado pela conjuntura nacional e pelo pior desempenho no setor primário, com
implicações sobre a geração de renda e, consequentemente, no comércio varejista e nos serviços
para as famílias. A crise fiscal pode se agravar e, na medida em que não existe alternativa indolor
para o problema, as opções passam desde o aumento de impostos até o atraso no pagamento de
obrigações e salários de servidores públicos. Em um desses cenários mais extremos, todo o
andamento da economia do RS pode ser afetado.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 38
3. INDÚSTRIA
A atividade industrial no país em 2014 foi mais uma vez marcada pelas dificuldades impostas por
um cenário de extrema complexidade, que combina questões estruturais e conjunturais. A
projeção de crescimento bastante contido para esse ano, realizada no final de 2013, transformou-
se em recessão. Tinha-se uma clara ideia das dificuldades, mas foram subdimensionados,
sobretudo, os efeitos da crise na Argentina e da Copa do Mundo e a força da desaceleração
econômica, que levaram o setor a enfrentar as piores condições econômicas em cinco anos. Para
2015, espera-se uma recuperação de parte das perdas de 2014, mas que em nada muda o
quadro geral de estagnação do setor. A superação dessa fase fica adiada para 2016.
O cenário previsto no final de 2013 para indústria brasileira e gaúcha em 2014 frustrou as
expectativas de crescimento já bastante contidas. Sabia-se que o desempenho positivo verificado
no ano passado era tão somente uma reação conjuntural ao ciclo recessivo do ano anterior,
alicerçada em fundamentos frágeis, sem investimentos, inibidos pela baixa confiança dos
empresários, e baseada em incentivos governamentais de curto prazo. Sendo assim, havia
grandes dúvidas quanto a sua sustentabilidade.
Dessa forma, a aposta no cenário de crescimento da indústria para esse ano foi ancorada,
em boa parte, no carregamento estatístico do ano anterior. De fato, se a produção nacional
ficasse parada no nível de setembro de 2013, quando a projeção foi construída, a expansão anual
em 2014 teria sido de 1,0%. Ou seja, o setor não necessitaria crescer para gerar uma taxa
positiva na média anual. No último trimestre de 2013, porém, os fatores de dinamismo da indústria
perderam o vigor. Ainda que esperada, a dimensão desse movimento surpreendeu e inverteu com
tal força o impulso estatístico, que, no último mês do ano, passou a ser negativo em 3,0%. Assim,
parte da explicação para o desacordo entre os números negativos registrados no ano e o os
prognósticos está na drástica mudança da herança estatística para 2014 nos últimos meses de
2013. No Rio Grande do Sul, o cenário não foi diferente.
Além disso, é importante destacar que, no final do ano passado, tinha-se uma clara ideia
das dificuldades que o setor enfrentaria em 2014, mas escapou das projeções a sua intensidade.
Foram subdimensionados, sobretudo, os efeitos deletérios do agravamento da crise na Argentina,
da Copa do Mundo e da desaceleração da demanda interna. Nesse contexto, segmentos
importantes da estrutura industrial, como Veículos automotores e Máquinas e equipamentos,
exibiram fortes contrações e a confiança empresarial atingiu seu piso histórico. Portanto, não é
difícil diagnósticar: a indústria nacional esteve diante do cenário econômico mais adverso em
cinco anos. Na tendência atual, são esperadas quedas de 2,9% para a produção industrial do
Brasil e redução de 3,7% para a produção gaúcha em 2014. O Índice de Desempenho Industrial
do Rio Grande do Sul (IDI/RS) deverá cair 3,6%.
Para 2015, espera-se incertezas tão ou ainda maiores, mas as perspectivas para o setor
são de recuperação de parte das perdas de 2014. De certeza, a permanência dos mesmos
elementos estruturais e conjunturais, o que já permite antever mais um desempenho pífio. Os
problemas relacionados à questão energética (aumentos dos custos e possibilidade de
racionamento) e a crise hídrica podem ampliar as dificuldades do setor no ano que vem. Dessa
forma, a evolução da indústria em 2015 deverá ser mais uma reação conjuntural ao período
recessivo que predominou em 2014, sendo influenciada positivamente, sobretudo, pela base de
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 39
comparação baixa e beneficiada também pela maior previsibilidade com a definição eleitoral, pela
normalização dos estoques e por algum ganho de competividade com a desvalorização cambial..
Portanto, a indústria seguirá estagnada, inserida num cenário prospectivo semelhante ao de 2013,
porém sem a força dos estímulos governamentais, que a impulsionou naquele ano, e igualmente
distante da solidez ancorada por investimentos, inibidos pela falta de confiança dos empresários e
pela baixa competivividade.
O efeito carregamento para 2015, com base em setembro de 2014, é levemente negativo
para produção industrial brasileira. Ele mostra que se a indústria parar de crescer até o final de
2015, a média da produção do ano que vem será 0,5% menor do que a de 2014. Nesse cenário, a
indústria nacional, que já conta com alguma reação, deverá chegar ao final do ano com uma
elevação modesta de 1,3%. Para a indústria gaúcha, com a base mais deprimida pela queda mais
intensa neste ano, o impulso estatístico é positivo: 3,2% para a produção gaúcha e 0,2% para o
IDI/RS. Sendo assim, é esperado um desempenho regional um pouco melhor: a produção deve
crescer 2,1% e o IDI/RS, 1,7%. As projeções positivas, entretanto, não oferecem consolo, pois
sequer recompõem as perdas de 2014.
Vale ressaltar ainda que a possibilidade de nova queda da indústria no ano que vem não
está descartada. Há uma profusão de elementos com potencial para agravar o cenário. Diante da
necessidade de ajustes na política econômica, há perspectivas de adoção de políticas monetárias
e fiscais contracionistas de intensidade incerta. Pairam também no ar as ameaças de perda do
grau de investimentos do país e de mudança na política monetária americana. Em caso de
racionamento energético, uma nova recessão no setor será inevitável. Além disso, não se pode
desconsiderar uma intensificação da crise argentina. Nesse cenário, a produção brasileira pode
cair até 1,2% e a gaúcha, 0,5%.
Portanto, não será no ano que vem a indústria entrará na rota de crescimento sustentado,
mesmo se confirmado o cenário menos deteriorado. Sem competitividade, o setor continua preso
numa armadilha de estagnação. O desafio de superar essa fase fica adiado para 2016.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 40
especialmente para os segmentos automotivos e de máquinas, que lideram a queda da produção
no País e no Estado. As exportações do Brasil para Argentina caíram 27% nos dez meses de
2014 ante o mesmo período do ano passado. As quedas do setor automotivo chegaram a 40% e
das máquinas e equipamentos, 26,4%. Os números, no caso gaúcho, foram piores,
respectivamente, -28,3%, -55,8% e -34,1%. Além disso, sem competitividade para ocupar novos
mercados, o menor ritmo chinês, a retomada incipiente da economia norte-americana e o fraco
desempenho econômico europeu determinaram nova redução (-2,6%) nas exportações industriais
do Brasil, em dólar, no acumulado em doze meses encerrados em outubro. Já as vendas externas
gaúchas recuaram 4%, diferentemente de 2013 quando registraram pequena expansão de 3,7%.
O terceiro motivo é a escalada de importados na demanda doméstica. A indústria brasileira
nos últimos anos se voltou para o mercado interno e, sem competitividade, passou a enfrentar
maior presença de manufaturados importados. Este é um dos principais fatores que explica o
baixo dinamismo da indústria nacional nos últimos anos, sobretudo, após a crise de 2008, quando
grande parte da elevação da demanda interna foi suprida por importados, inclusive de
componentes e insumos usados na produção doméstica. De fato, divulgado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), o coeficiente de penetração de importações da indústria, que mede a
participação dos importados no consumo doméstico de produtos industriais no acumulado dos
últimos quatro trimestres, atingiu nível recorde no terceiro trimestre de 2014 (21,9%). O percentual
de manufaturados importados no consumo interno cresce desde o primeiro trimestre de 2010,
quando alcançava 15,9%.
A quarta razão é o colapso da confiança do empresário. Recompor a confiança dos
empresários, cuja erosão foi aprofundada em 2014, é peça-chave para tentar retomar o
crescimento industrial. A razão para o desalento é a conjunção de condições estruturalmente
desfavoráreis, desarranjos macroeconômicos e um longo período de paralisia. O pessimismo
atingiu níveis históricos em 2014, ainda maiores do que os registrados em 2009, quando a
indústria sofria os efeitos da última crise mundial. Vale destacar ainda que o ciclo atual de falta de
confiança é diferente dos anteriores, quando se instalou rapidamente, mas a recuperação também
foi rápida. O presente processo de perda da confiança começou em meados de 2010 e descreve
uma trajetória lenta e continua, que atinge seu ponto mínimo em junho de 2014, com a Copa do
Mundo. Em novembro, a indústria seguia sem confiança. O quadro não parece ser passageiro.
O menor investimento é a quinta razão. Há uma relação de causalidade entre confiança e
investimentos. Investir é uma convicção da empresa sobre futuro da economia. Quando os
empresários não tem confiança, adiam decisões de investimentos, pois necessitam de
previsibilidade de longo prazo e de otimismo com o futuro da economia. Portanto, a falta de
confiança explica em grande parte a queda do investimento no País. Os dados até setembro
mostram retrações na produção de bens de capital no Brasil de 8,2% e nas importações de
máquinas e equipamentos, -8,7%, indicando que as empresas adiaram seus projetos de
investimentos, o que prejudica não apenas a retomada do setor e sua sustentação, mas também o
aumento da competitividade.
A sexta causa são os estoques excessivos. A acumulação indesejada de estoques ocorre
devido ao descompasso entre o aumento da produção e a demanda abaixo do esperado pelas
empresas. Esse fenômeno, que vem se tornando comum nos últimos anos, reflete a dificuldade
das empresas com relação aos seus mercados. Os estoques de produtos finais se acumularam na
maior parte do ano, principalmente nas grandes empresas, e voltaram a ser importante obstáculo
para a atividade em 2014. Com maior excedente, a sinalização de produção industrial futura
também é pouco favorável, pois retarda a resposta a um crescimento da demanda, dado que as
empresas tendem a priorizar a sua desova, antes de aumentar a produção.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 41
A sétima explicação são os altos custos da mão-de obra. A evolução do custo do trabalho
se configura talvez no fator limitador central da competividade nos últimos anos. A questão
relaciona-se à combinação de salários crescentes, em razão da disputa com o setor de serviços
pela apertada oferta de mão de obra, sem a correpondência na mesma proporção da
produtividade num ambiente de inflação elevada, câmbio valorizado e políticas salariais
expansionistas. Esse fenômeno eleva os custos do fator trabalho, corroendo a competitividade
doméstica e internacional da indústria, especialmente, nas mais intensivas em mão de obra e
mais expostas à competição global. Vale lembrar que o setor industrial, ao contrário dos serviços,
encontra grandes limitações de repasses aos preços, diante da acirrada concorrência
internacional, deteriorando margens de lucro, limitando a expansão do setor e restringindo
investimentos.
Por fim, a esse conjunto de fatores foi adicionada uma combinação incomum de
elementos, como as paralisações parciais e totais por conta da Copa do Mundo, que diminuiu o
número de dias trabalhados, gerando um cenário ainda mais fraco para a produção nos meses de
junho e julho, e o panorama acirrado da disputa presidencial, que elevou a incerteza sobre a
condução futura da política econômica. Além disso, a forte estiagem em grande parte do País e a
questão energética (custos e risco de falta de energia e água) foram ingredientes suplementares,
que conferiram maior grau de imprevisibilidade ao cenário em 2014.
92,1
88,8 90,7
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 42
Em linhas gerais, no País, quedas importantes foram verificadas em setores intensivos em
mão de obra como Têxtil, Couros e calçados e Vestuário e acessórios, que sofreram com os
aumentos salariais dos últimos anos e a taxa de câmbio, perdendo a concorrência para os
importados. De fato, os saldos comerciais negativos dos setores de Vestuário e Têxtil
aumentaram no período, 506% e 269%, respectivamente. Já a balança comercial positiva do setor
de Calçados diminuiu 13%. O mesmo problema determinou a queda dos setores de
Equipamentos de informática, Eletrônicos e comunicações e Máquinas e materiais elétricos,
inclusive, componentes. A Metalurgia vive uma crise afetada, além da falta de competitividade,
pelo excesso de oferta mundial e pela demanda interna estagnada. O setor de Montagem de
veículos, reboques e carrocerias, associado a bens de capital e durável, recuou com a
desaceleração do consumo interno, investimentos e a crise argentina, sendo grande desse
movimento ocorrido em 2014. As indústrias de Máquinas e equipamentos repercutem a trajetória
dos investimentos e baixa confiança dos empresários. A cadeia de fornecedores, notadamente
produtos intermediários, como Produtos de metal e Borracha e plásticos, seguiu a tendência. O
setor de Tabaco também conta com uma conjuntura particularmente adversa, com restrições ao
produto e forte concorrência internacional.
Entre os setores que apresentaram crescimento, o aumento do emprego e dos salários e
as políticas governamentais de distribuição de renda foram determinantes. Estão nesse grupo os
setores de Móveis, que foi impulsionado também pela ascensão do mercado imobiliário,
Alimentos, Bebidas, Limpeza, cosméticos e perfumaria, Farmoquímicos e farmaceuticos. O setor
de Derivados de petróleo contou com o aumento da frota de veículos e estabilidade dos preços
dos combustíveis para alavancar seu crescimento. A maior demanda externa ajudou o setor de
Celulose e Minerais não metálicos, que também foi estimulado por segmentos associados à
construção civil, como cimentos e produtos cerâmicos. Outros equipamentos de transporte
contabiliza a maior produção de plataformas de exploração de petróleo com os investimentos para
o pré-sal.
Gráfico 3.3. Produção industrial – Brasil Gráfico 3.4. Produção industrial – Brasil
setores em queda setores em expansão
(Variação acumulada jan-set 2014/jan-set 2008) (Variação acumulada jan-set 2014/jan-set 2008)
Produtos diversos -4,1 Outros equip transporte 27,8
Borracha e plástico -8,0 Farmoquim. e farmaceut. 24,3
Máquinas e mat. elétricos -9,1 Bebidas 21,8
Produtos de metal -9,9 Limpeza, cosméticos, perfum. e… 15,8
Máquinas e equipamentos -12,3 Der. petróleo e de biocombust. 14,4
Vestuário e acessórios -14,3
Minerais não-metálicos 6,2
Couros e calçados -14,9
Móveis 5,7
Metalurgia -15,4
Veículos automotores Outros químicos 3,2
-17,1
Equips inform. e eletrônicos -18,5 Celulose e papel 3,1
Tabaco -24,6 Alimentos 1,5
Têxteis -27,9 Madeira 0,1
No ranking dos Estados, percebe-se que a produção recuou nos principais produtores do
País no período analisado. O Rio Grande do Sul registrou o terceiro pior resultado em treze, mas
o desempenho não foi muito diferente dos estados mais industrializados. São Paulo, exibindo
queda de 4,5%, foi o que mais contribuiu para a redução da produção industrial no país,
influenciado pela menor produção de Máquinas e equipamentos e Veículos automotores. O
segundo maior estado produtor, Minas Gerais, repercutiu, sobretudo, as reduções na Metalurgia e
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 43
Veículos automotores. No Rio de Janeiro, a indústria Extrativa, Minerais não metálicos e
Metalurgia determinaram a queda. Por fim, o Estado de Santa Catarina liderou a queda,
repercutindo a menor produção de Alimentos, Borracha e plásticos e Veículos automotores.
O estado de Goiás ponteou o crescimento da indústria nacional nos últimos seis anos com
o aumento da produção de Químicos, Alimentos e Minerais não metálicos. O segundo melhor
resultado foi obtido pela indústria paranaense, influenciada pelo crescimento dos setores de
Bebidas, Madeira e Minerais não metálicos. A indústria do estado de Pernambuco foi puxada pela
maior produção de Bebidas, Minerais não metálicos e Produtos de metal. Por fim, no Estado do
Pará, a produção industrial respondeu ao aumento dos setores Extrativo e de Bebidas.
Goiás 24,1
Paraná 9,0
Pernambuco 7,2
Pará 6,6
Amazonas 5,0
Bahia 1,4
Ceará -3,6
São Paulo -4,5
Rio de Janeiro -4,6
Minas Gerais -4,8
Rio Grande do Sul -5,2
Espírito Santo -6,2
Santa Catarina -8,2
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 44
Gráfico 3.6. Produção industrial – RS Gráfico 3.7. Produção industrial - RS
setores em queda setores em expansão
(Variação acumulada jan-set 2014/jan-set 2008) (Variação acumulada jan-set 2014/jan-set 2008)
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 45
A agenda para aumentar a competividade é amplamente conhecida. Investir em capital
físico, ampliando e melhorando a infraestrutura. Estimular o investimento em tecnologia e
inovação. Aumentar a participação da indústria nacional nas cadeias produtivas internacionais e
os acordos bilaterais de comércio com outros países. Por fim, mas não menos importante, a
solução estrutural contempla a redução e a simplificação da carga tributária, modernização da
legislação trabalhista e diminuição dos entraves burocráticos.
Infelizmente, apesar da urgência e da importância, é baixa a probabilidade de reformas
estruturais. Poucos também são os sinais concretos de que o Governo esteja disposto a fazê-las,
dada sua preferência por políticas de curto prazo, que privilegiam o consumo e deixam em
segundo plano as soluções efetivas aos crescentes custos de produção e aos entraves estruturais
que penalizam a oferta nacional. A continuidade nessa direção acarretará um futuro de
desempenhos medíocres para a indústria, como o atual.
Gráfico 3.8. Produção industrial – Brasil Gráfico 3.9. Faturamento real - Brasil
(Índice de base fixa mensal jan2013=100 - (Índice de base fixa mensal jan2013=100 -
dessazonalizado) dessazonalizado)
2014 2014
2013 2013
101,4
100,0
102,7
98,7
101,5 100,8
96,6 100,0 99,4
96,4
Mar
Abr
Ago
Out
Jul
Set
Jan
Fev
Jun
Nov
Dez
Mai
Abr
Ago
Set
Out
Jan
Fev
Mar
Mai
Jun
Jul
Nov
Dez
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 46
a queda chegou a 1,8% no mesmo período. Vale destacar que a forte desaceleração da indústria
nos últimos meses do ano passado, deve levar a uma melhora das taxas negativas nos próximos
meses, pela comparação com bases mais baixas. Dessa forma, os indicadores caminham para
devolver total ou parcialmente os crescimentos de 2,1% e 3,7% de 2013.
Gráfico 3.10. Produção industrial – Brasil Gráfico 3.11. Faturamento real – Brasil
(Var. % em 2014) (Var. % em 2014)
4,7 Mesmo mês ano anterior 10,2
Mesmo mês ano anterior
Acumulado no ano Acumulado no ano
1,7
Emprego -0,1
Utilização da capacidade
-1,6
instalada
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 47
na segunda. O desempenho do segmento de bens de capital reflete a queda dos investimentos
provocada pela grande incerteza e pela perda da confiança dos empresários com relação à
conjuntura econômica nacional.
A produção de bens intermediários, que retrata as operações entre indústrias, se ressente
dos efeitos da redução da atividade industrial no país e recuou 2,5%, pressionada pela redução de
insumos industriais básicos (-5,1%), peças e acessórios para bens de capital (-4,7%) e peças e
assessórios para equipamento de transporte (-14,3%). Esse segmento, produtor de insumos e
matérias-primas, também sofre a forte competição de importados e o cenário externo nada
favorável.
Por outro lado, o segmento de produtos de consumo semi e não-duráveis (+0,2%) foi o
único que não registrou queda, mas ficou muito próximo da estabilidade, pois tem um cenário
relativamente melhor dado seu forte vinculado com a evolução da renda e do emprego, que ainda
resistem em patamares razoáveis. De qualquer forma, o segmento também sente a concorrência
acirrada de importados, a elevação dos níveis de preços e o maior nível de endividamento das
famílias.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 48
acompanhando, no caso do segmento de máquinas e implementos agrícolas, mais um ciclo de
baixa global das principais commodities agrícolas que diminuiu a renda e, por consequência, a
demanda. Além disso, o setor também foi impactado negativamente pelos atrasos em programas
de financiamentos do BNDES no começo deste ano e, como é um setor sensível à confiança dos
empresários, sofreu com a queda dos investimentos no país.
Uma vez que essas duas atividades têm uma importância significativa na composição do
PIB setorial e fortes encadeamentos na matriz industrial brasileira, a disseminação desses
resultados negativos alcançou, em especial, os produtores de bens intermediários (insumos e
matérias-primas industriais) como Produtos de metal, Metalurgia, Químicos e Borracha e material
plástico. Esses setores registram queda em todos seus indicadores e se ressentem ainda da baixa
competitividade frente a concorrentes importados e mercados internacionais enfraquecidos.
Por outro lado, entre os setores que expandiram o nível de atividade em 2014, destaque
para a indústria Extrativa, que aumentou a produção em 5,4%, impulsionada pela maior produção
de minérios de ferro, e Derivados do petróleo e biocombustíveis, com 2,8% de crescimento na
produção e 7,4% no faturamento real. Os dois setores se recuperam de recuos expressivos no
ano passado e são menos dependentes da demanda interna do que os outros. Houve ainda a
entrada em operação de novas plataformas de petróleo da Petrobras do fim do ano passado. Vale
citar também a maior atividade no setor de Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e
óticos (+3,6% na produção), que está se recompondo de quedas expressivas em anos anteriores
e se beneficiou com a venda de televisores para a Copa do Mundo, embora mostre desaceleração
acentuada nos últimos meses.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 49
A indústria gaúcha em 2014: trajetória repete 2012 e ano fechará em queda
Após registrar crescimento em 2013, o desempenho da indústria gaúcha em 2014 voltou a
decepcionar. Com exceção da massa salarial, todos indicadores de conjuntura para o setor no
Estado apresentam queda. Os indicadores de produção e o Índice de Desempenho Industrial
(IDI/RS), que afere o nível de atividade através do comportamento médio de seis variáveis -
faturamento, massa salarial, compras industriais, emprego, horas trabalhadas na produção e
utilização da capacidade instalada - demonstram que o setor está em recessão. Nas suas
trajetórias, mostradas nos gráficos a seguir, percebe-se que a inversão da tendência ascendente,
que predominou no ano passado, ocorreu em novembro de 2013. De lá até o mês de setembro de
2014, última informação disponível, a produção caiu 9,1% e a atividade, 5,1% conforme as séries
ajustadas sazonalmente. Outra característica da evolução da indústria em 2014, sobretudo a partir
de março, é o nível sistematicamente abaixo do ano passado, bem como um esboço de
recuperação a partir de julho.
Gráfico 3.14. Índice desempenho industrial Gráfico 3.15. Produção industrial - Rio
(IDI) – Rio Grande do Sul Grande do Sul
(Índice de base fixa mensal jan/2013=100 - (Índice de base fixa mensal jan/2013=100 -
dessazonalizado) dessazonalizado)
2014 2014
2013 2013
104,6
102,3
99,6 100,0
100,0 99,3
98,0 96,7
Abr
Ago
Set
Out
Jan
Mar
Mai
Nov
Abr
Ago
Set
Out
Fev
Jun
Jul
Dez
Fev
Mai
Nov
Jan
Mar
Jun
Jul
Dez
Fonte: FIERGS/Indicadores industriais do RS. Fonte: IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE.
A evolução na margem impôs uma queda à indústria gaúcha também nas bases anuais.
Com efeitos carregamento negativos de 2013, de 2,4% e 7,5%, respectivamente, o IDI/RS e a
produção industral apresentaram recuos de 4,1% e 4,5% no acumulado de janeiro a setembro
ante o mesmo período do ano passado. Praticamente devolvem o crescimento apresentado em
2013, retornando a patamares de 2012.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 50
Gráfico 3.16. Índice de desempenho Gráfico 3.17. Produção industrial
industrial – IDI - Rio Grande do Sul (Var. %)
(Var. %)
1,3 Mesmo mês ano anterior Mesmo mês ano anterior
5,7
Acumulado no ano Acumulado no ano
2,6 1,9
-0,4
-1,7
-4,1
-2,7
-2,8
-2,6
-5,0
-6,4 -7,3 -7,4
-6,9
-7,5
-10,3 -10,7
-8,7
-12,2
jan/14 fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14 jan/14 fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 jul/14 ago/14 set/14
Fonte: FIERGS/Indicadores industriais do RS. Fonte IBGE/PIM-PF. Elaboração: FIERGS/UEE.
Produção -4,5
UCI -2,1
Emprego -1,0
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 51
Do ponto de vista setorial, a dinâmica em 2014 foi semelhante à brasileira. Em todos os
indicadores pesquisados, predominam as taxas negativas nos nove primeiros meses do ano em
relação ao período equivalente do ano passado. Em treze dos quatorze setores apurados houve
queda na produção, sendo as principais influências para o desempenho agregado, mais uma vez,
derivadas de Montagem de veículos e Máquinas e equipamentos, o segundo e terceiro maiores
setores da indústria gaúcha e com forte encadeamento na cadeia produtiva regional. As causas
desses movimentos são as mesmas já elencadas na análise setorial nacional.
O setor de Montagem de veículos, segundo mais importante na estrutura industrial,
exerceu o maior impacto negativo sobre a indústria em 2014, apresentando queda em todos os
indicadores pesquisados, com destaque para produção (-7,8%), faturamento real (-7,1%),
compras (-25,6%) e IDI setorial (-10,8%). O setor foi impactado, especialmente, pela menor
fabricação de reboques e semirreboques, eixos e semi-eixos para veículos automotores e
carrocerias para ônibus.
No terceiro maior setor industrial do estado, Máquinas e equipamentos, apenas o emprego
(+3,3%) e a massa salarial (+4,9%) registram crescimento. Todos os indicadores associados à
produção revelam retração: o faturamento caiu 6,8%, as compras, 15,9%, levando o IDI do setor a
contrair em 5,1%. A produção, por sua vez, recuou 2,1%. A queda nos preços das commodities
agrícolas diminuiu a renda no campo e, por consequência, a demanda por máquinas agrícolas.
O setor mais importante da indústria gaúcha, Alimentos, apresentou recuo na maioria dos
indicadores analisados. A produção caiu 1,9% e o faturamento, 1,3%, mas os indicadores de
mercado de trabalho, emprego (+3,8%) e massa salarial (+7,9%), levaram o IDI do setor a
registrar expansão de 2,9%. A corrosão da renda com a inflação acima do centro da meta
contribui para as dificuldades da indústria, juntamente com a redução das exportações do
complexo carnes, sobretudo, frangos e suínos, e de óleo de soja.
Os setores de Outros produtos químicos e Derivados de petróleo e biocombustíveis
apresentaram resultados ambíguos: queda na produção (-7,0% e -2,9%, respectivamente) e
expansão do faturamento (+4,9%) e do IDI setorial (+3,2%), nesses casos, sendo estimados em
conjunto com a denominação de Químicos e derivados de petróleo. O emprego do setor expandiu
3,1% no período. O baixo dinamismo de Químicos revela o avanço das importações e a falta de
competitividade do produto brasileiro. Os aumentos nos custos de produção, sobretudo, energia
elétrica e matérias-primas, também ajudam a explicar o cenário. Além disso, também pesam a
disponibilidade de produtos de baixo custo no exterior, devido à maior oferta a preços
competitivos. A expansão do faturamento e do IDI setorial reflete a recomposição parcial após três
anos seguidos de quedas, com maior receita de exportações devido à desvalorização cambial e
às maiores exportações de Derivados de petróleo.
Os setores de Couros e calçados, Produtos de metal, Móveis e Metalurgia, que, em
conjunto, detem um quinto do PIB do industrial gaúcho, apresentaram quedas em quaseo todos
os indicadores analisados. Os impactos negativos da atividade industrial na cadeia produtiva, a
inflação resistente, o comprometimento da renda dos consumidores e a concorrência de produtos
importados resumem o cenário.
Vale destacar que o setor de Tabaco foi o único a apresentar expansão da produção em
2014 em quatorze setores pesquisados (+2,5%). A queda do IDI setorial (-0,6%) expressa a forte
redução do faturamento (-41,8%), como resultado da queda expressiva das exportações, com a
menor demanda global e o aumento da concorrência. O nível da taxa de câmbio também deixa o
tabaco nacional mais caro, principalmente, diante do produto africano. A formação de estoques e
a distinção entre os períodos de produção e comercialização explicam a diferença entre os
indicadores de faturamento (exportações) e produção, que tendem a se equalizar com o tempo.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 52
Tabela 3.2. Indicadores conjunturais da indústria do RS - setores
(Var. % acum. até setembro)
Horas
Faturamento Compras Massa
UCI trabalhadas Emprego IDI Produção
real industriais Salarial
na produção
Alimentos -1,3 -0,9 -2,2 -0,3 3,8 7,9 2,9 -1,9
Bebidas 6,1 3,7 1,2 7,0 5,8 7,8 6,5 -2,6
Tabaco -41,8 15,4 - 1,9 10,7 6,8 -0,6 2,5
Celulose, papel e produtos de papel - - - - - - - -2,1
Têxteis -15,9 -2,1 -2,3 -5,8 -2,3 2,8 -6,3 -
Vestuário e acessórios -12,4 17,7 -5,1 -6,0 -2,4 -0,4 -1,3 -
Couros e calçados -6,6 -3,8 0,5 -2,8 -3,6 1,9 -2,6 -5,5
Couros 19,0 20,8 -3,0 9,4 11,7 -3,1 16,1 -
Calçados -8,9 -12,1 0,6 -3,4 -3,5 3,1 -3,9 -
Produtos de Madeira 4,6 2,4 -15,9 20,2 -3,5 1,4 2,5 -
Impressão e Reproduções de gravações -4,9 7,2 1,5 -10,4 -4,5 18,5 -0,5 -
Químicos, der. de petróleo e biocomb. 4,9 -1,4 3,0 4,7 3,1 -12,6 3,2 -
Derivados de petróleo e biocomb. - - - - - - - -2,9
Outros produtos químicos - - - - - - - -7,0
Borracha e de material plástico 1,5 -3,2 0,2 0,4 3,4 4,7 0,6 -4,2
Minerais não-metálicos - - - - - - - -2,9
Metalurgia -21,6 -16,8 -7,1 -16,3 -14,4 1,3 -14,8 -13,8
Produtos de metal -10,7 -21,2 -4,9 -1,5 -4,3 -3,3 -7,2 -4,1
Equip. inform, prod. eletrônicos e óticos 0,9 -1,9 26,9 -0,2 1,0 -2,8 2,1 -
Máquinas, aparelhos e mat. elétricos -27,2 -22,9 -3,6 -9,5 -8,9 13,8 -5,3 -
Máquinas e equipamentos -6,8 -15,9 -5,9 -2,8 3,3 4,9 -5,1 -2,1
Máquinas agrícolas -11,3 -18,7 -11,0 -2,1 7,7 8,7 -7,5 -
Veículos automotores -7,1 -25,6 -5,6 -4,4 -4,2 -0,6 -10,8 -7,8
Móveis -2,2 -12,9 -0,9 -1,6 -4,8 -3,4 -4,7 -5,4
Indústria total -6,5 -10,0 -2,1 -1,9 -1,0 1,7 -4,1 -4,5
A avaliação dos empresários gaúchos: piores condições econômicas em cinco anos levam
ao colapso da confiança
Além dos indicadores de conjuntura mostrados até aqui, há outro grupo de informações,
obtidas a partir de levantamentos de natureza qualitativa, que também devem ser considerados
por complementarem a avaliação do setor, fornecendo o cenário sob o ponto de vista dos
empresários. A Sondagem Industrial, realizada pela FIERGS em parceria com a CNI, é a pesquisa
de opinião empresarial no Estado, divulgando indicadores de tendência passada e futura. Esses
tipos de indicadores são utilizados no mundo inteiro como antecendentes da atividade.
Entre os indicadores divulgados, o principal é o Índice de Confiança do Empresário
Industrial do Rio Grande do Sul (ICEI/RS). Empresários confiantes tendem a aumentar o
investimento e a produção para atender o esperado crescimento na demanda. O ICEI/RS é
composto por um conjunto de itens: condições atuais sobre a economia brasileira e sobre a
empresa, considerando os últimos seis meses, além de expectativas para os próximos seis meses
também em relação à economia brasileira e à empresa. Os índices variam de zero a 100. Valores
abaixo de 50 denotam pessimismo. Acima dessa marca, otimismo.
Dessa forma, os resultados do ICEI/RS em 2014 avalizam a dimensão do cenário
recessivo. De fato, o principal indicador destinado a medir a confiança dos empresários gaúchos
diminuiu ao longo do ano, condicionado pela trajetória marcadamente declinante dos
componentes, sobretudo, com relação à economia brasileira. Todos os indicadores atingiram
patamares inferiores aos do auge da última crise global, mostrando que a indústria gaúcha
enfrentou as condições econômicas mais adversas dos últimos cinco anos.
Assim, iniciando o ano ainda no campo positivo, a confiança foi se dissipando mês a mês.
Em abril, o índice entrou na região de falta de confiança (abaixo dos 50 pontos) e em julho, aos
42,5 pontos, atingiu sua pontuação mínima histórica, ainda menor que as registradas em 2005 e
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 53
2009, quando o Estado sofria os efeitos de uma das maiores estiagem de sua história e da crise
financeira internacional de 2008. Em novembro, o indicador de confiança chegou a 44,0 pontos.
Os indicadores de Condições atuais e Expectivas registraram o mesmo movimento: a partir
de abril, o pessimismo se dissemina e os indicadores atingem a pontuação mínima em julho
quando o sentimento negativo se dissipa um pouco e ocorre uma ligeira recuperação nos meses
seguintes até novembro, sem, contudo, deixar a faixa do pessimismo. Outra característica
marcante em ambos indicadores foi o grande pessimismo com a economia brasileira. Em
novembro, 72,3% dos empresários percebiam piora nas condições atuais e 55,0% eram
pessimistas com o futuro.
A forte deterioração percebida na economia atingiu as empresas, embora de maneira
menos intensa, como mostrou a trajetória do indicador de condições das empresas, abaixo dos 50
pontos ao longo de todo o ano. Para a evolução futura da própria empresa, as perspectivas foram
melhores: o indicador ficou um pouco acima da linha dos 50 pontos durante o ano. Assim, a falta
de confiança sugere a manutenção do desaquecimento para os próximos meses.
54,7
51,4
44,9 46,7
44,0
38,7
fev/14
mai/14
jun/14
mar/14
set/14
abr/14
jul/14
ago/14
out/14
Vale destacar ainda que o ciclo atual de falta de confiança na indústria gaúcha é diferente
dos ciclos anteriores nos anos de 2005/2006 e 2008/2009. Nesses casos, o pessimismo se
instalou rapidamente num movimento típico de períodos de crises. No ciclo atual, a perda da
confiança é lenta e contínua. Começou em meados de 2010, se estabilizando em patamares
baixos ao longo de 2011 e 2012. A partir de 2013, descreve uma tendência quase ininterrupta de
queda. Em abril de 2014, atinge a faixa de falta de confiança (abaixo dos 50 pontos), chegando ao
ponto mínimo em junho de 2014, com a Copa do Mundo. Desde então, esboça uma tímida
reação, mas ainda em terreno negativo. Essa diferença ocorre porque, no ciclo atual, a
desconfiança é resultado de um período de estagnação tão longo que levou os empresários
perderem a crença em uma melhora. O quadro não parece ser passageiro.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 54
Gráfico 3.20. Indice de confiança do empresário industrial do RS
(em pontos)
49,2
44,0
dez/09
nov/12
jun/13
jan/14
mai/09
mar/08
fev/11
set/11
abr/05
jul/10
abr/12
ago/07
out/08
ago/14
Fonte: FIERGS/Sondagem Industrial do RS.
Entre a série de índices divulgados pela Sondagem Industrial do RS, outros dois se
destacam pela capacidade de mostrar a evolução da atividade do setor: utilização da capacidade
instalada (UCI) em relação ao usual e o nível de estoque de produtos finais em relação ao
planejado.
Em ambos, a escala varia de zero a cem pontos. No primeiro, valores inferiores aos 50
significam que os empresários, em média, consideraram o nível de UCI no mês abaixo do normal.
A evolução do indicador de janeiro a setembro atesta, mais uma vez, o desaquecimento do setor
industrial, ao permanecer abaixo da marca divisória ao longo de todo esse período, sobretudo no
primeiro semestre. Nos últimos meses, o indicador demonstra alguma recuperação, retornando
aos patamares anteriores a junho, quando atingiu seu valor mínimo por conta do efeito Copa do
Mundo. Em outubro, último dado divulgado, o valor foi de 42,0 pontos.
No caso do índice de estoques de produtos finais em relação ao planejado pelas
empresas, valores acima dos 50 pontos revelam acúmulo indesejado de estoques, sugerindo que
as vendas frustraram as expectativas das empresas e apontando para uma produção mais fraca
nos meses seguintes. De fato, a persistência do indicador acima da linha divisória, mostrou que o
excesso de estoques foi um fator limitador para o desempenho da indústria gaúcha em 2014. O
índice que chegou a atingir 56,4 pontos em julho, quando 40,0% das empresas reportavam
estoques excessivos, desacelerou na sequência e atingiu o mês de outubro em 52,3 pontos.
Por fim, a Sondagem Industrial revela também quais foram os maiores problemas que,
segundo os empresários, afetaram o setor em 2014. Este questionamento é feito aos
empresários trimestralmente.
Com larga vantagem sobre os demais, a elevada carga tributária continuou sendo o
obstáculo mais difícil de ser superado pelo setor em 2014, com uma assinalação média de 60,8%.
De cunho estrutural, o excesso de impostos é um dos fatores que mais compromete a
competividade da indústria brasileira. A falta de demanda, que ocupou a quarta posição nesse
ranking em 2013, com 29,9% das assinalações, emerge como o segundo maior problema em
2014, com 46,3% na média das respostas. A forte ascensão do item reflete a desacelação mais
intensa da economia doméstica e as condições externas adversas. A competição acirrada de
mercado, registrando a escolha de 41,0% dos empresários, foi o terceiro problema mais
importante a ser enfrentado pelo setor produtivo gaúcho, refletindo a forte concorrência com
importados num ambiente de desaceleração econômica. Outro entrave estrutural importante, a
falta de trabalhador qualificado, completa mais um ano entre as mais importantes dificuldades do
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 55
setor ao ser marcado por 27,1% das empresas, comprometendo ainda mais a nossa debilitada
competividade. Vale destacar que o item vem perdendo importância relativa nas duas últimas
edições. Completando o ranking dos cinco principais problemas enfrentados pela indústria gaúcha
em 2014, o alto custo da matéria-prima foi mais um elemento no quadro de baixa competividade,
com 26,8% das assinalações.
fev/14
mai/14
ago/14
jun/14
mar/14
set/14
abr/14
out/14
jul/14
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 56
No cenário inferior, compatível com um ambiente econômico mais deteriorado, a
possibilidade de nova queda da indústria não está descartada: a produção brasileira pode cair até
1,2% e a gaúcha, -0,5%. O IDI/RS corrobora o prognóstico negativo, cuja queda projetada é de
0,7%.
No cenário superior, com a conjuntura econômica menos deteriorada, o setor ganha
algum fôlego, levando a produção brasileira a recuperar a queda de 2014, registrando uma
expansão de 3,2%. O melhor cenário é compartilhado pelo setor no estado, levando a produção a
um crescimento de 3,5%, muito próximo da expectativa para o nível de atividade industrial
(+3,4%).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 57
4. EMPREGO E RENDA
O ano de 2014 foi marcado por uma brusca desaceleração na geração de empregos formais,
tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul. Embora os números tenham sido ruins, os mesmos
poderiam ser bastante piores, caso não tivessem entrado em vigor os sistemas de lay-off. A
despeito de menos empregos estarem sendo gerados, o expressivo crescimento da população
não economicamente ativa e as particularidades do mercado de trabalho nas regiões
metropolitanas permitiram que a taxa de desemprego seguisse em sua trajetória declinante (no
caso nacional) ou apresentasse apenas uma pequena elevação (no Rio Grande do Sul).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 58
Brasil: queda na geração de empregos foi amenizada por uso de programas sociais
Em 2014, a desaceleração da economia impactou fortemente o mercado de trabalho,
intensificando o processo de redução na geração de empregos formais, iniciado em meados de
2010. Considerando-se as declarações feitas fora do prazo1, em agosto daquele ano, o saldo de
geração de empregos no acumulado em 12 meses era de 2,8 milhões, montante que sofreu
quedas constantes até o início do ano passado. Na mesma base de comparação, em fevereiro de
2013 a geração de novas vagas foi de 1,24 milhão, tendo permanecido próximo a esse patamar
até fevereiro deste ano (1,25 milhão).
Desde então, observou-se uma intensa retração na criação de novos postos de trabalho
formal. Em outubro de 2014, o saldo no acumulado em 12 meses foi de apenas 473,8 mil, inferior
inclusive aos números registrados em 2009, quando a economia brasileira sentiu mais fortemente
os efeitos da crise internacional.
Observa-se no gráfico 4.2 que a diminuição do saldo ao longo de 2014 têm se dado não
apenas por um menor volume de contratações, mas também por um aumento no número de
trabalhores desligados. Na comparação com mesmo mês do ano anterior, apenas em fevereiro de
2014 o número de admitidos supera aquele observado em 2013. Por outro lado, no caso dos
desligados, o número de 2014 supera o de 2013 em seis dos dez meses para os quais há dados
disponíveis.
Os resultados ruins do mercado de trabalho formal são preocupantes não apenas por
demonstrarem uma redução de bem estar da população, causada pelas menores oportunidades
de trabalho e/ou pela perda de emprego, mas também por prenunciarem que os tempos
continuarão difíceis no futuro próximo. Dadas as características intrínsecas do mercado de
trabalho brasileiro, as empresas costumam evitar o processo de desligamento dos trabalhadores
quando há perspectivas de retomada da atividade no curto prazo, fenômeno cunhado como
“entesouramento da mão de obra”.
1.858 4,8
1.943 0,1
1.253
-1,8
1.236
Admitidos -6,7
622 -7,5
473,8 -9,6
Desligados
dez/13
dez/07
dez/08
dez/09
dez/10
dez/11
dez/12
abr/08
ago/08
abr/09
ago/09
abr/10
ago/10
abr/11
ago/11
abr/12
ago/12
abr/13
ago/13
abr/14
ago/14
mai/13
nov/13
mai/14
jan/13
mar/13
set/13
jan/14
mar/14
set/14
jul/13
jul/14
Os três principais fatores responsáveis por este comportamento são: (i) a rigidez das
relações trabalhistas e do entendimento jurídico a respeito das mesmas, que dificultam a
recontratação, pelo prazo de seis meses, de um funcionário que tenha sido demitido; (ii) a falta de
1
Dados coletados em 14/11/2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 59
mão de obra qualificada, que faz com que os empregadores queiram manter seus trabalhadores
mais capacitados, uma vez que será difícil tanto recontratá-los quanto encontrar outros
disponíveis no mercado; e (iii) os altos custos demissionais. Assim, as empresas costumam optar
pelo desligamento de seus trabalhadores em situações mais extremas e, principalmente, quando
não há expectativa de retomada das atividades no curto prazo.
Na comparação do saldo de empregos formais no acumulado do ano até outubro com o
mesmo período de 2013, a forte retração também é evidente. Em 2014, foram criadas 912,3 mil
novas vagas, contra 1.576,9 mil no mesmo período do ano passado. Em termos brutos, os
resultados deste ano representam um saldo menor em 664,6 mil postos de trabalho e, em termos
relativos, a queda é de 42,1%.
Tabela 4.1. Geração de empregos formais no Brasil por setores de atividade econômica
(Em pessoas – acumulado entre janeiro e outubro)
2013 (A) 2014 (B) (B)-(A) B/A (%)
Agropecuária 108.275 91.518 -16.757 -15,5
Indústria 575.367 119.249 -456.118 -79,3
Extrativa 4.294 1.765 -2.529 -58,9
Transformação 320.735 37.838 -282.897 -88,2
Alimentos 70.993 37.758 -33.235 -46,8
Bebidas 6.011 -2.507 -8.518 -141,7
Tabaco 833 1.846 1.013 121,6
Têxteis 10.235 5.853 -4.382 -42,8
Vestuário e Acessórios 31.519 10.816 -20.703 -65,7
Couro e Calçados 22.568 6.306 -16.262 -72,1
Produtos de Madeira 4.651 2.831 -1.820 -39,1
Celulose e Papel 6.338 3.843 -2.495 -39,4
Impressão e Reprodução -625 -975 -350 -56,0
Refino de Petróleo 21.909 10.072 -11.837 -54,0
Químicos 9.174 6.580 -2.594 -28,3
Farmacêuticos 4.769 4.640 -129 -2,7
Borracha e Plástico 16.080 2.937 -13.143 -81,7
Minerais não Metálicos 14.641 1.663 -12.978 -88,6
Metalurgia 3.996 -6.261 -10.257 -256,7
Produtos de Metal 13.485 -8.207 -21.692 -160,9
Equipamentos de Informática e Eletron. 6.914 -5.736 -12.650 -183,0
Material Elétrico 3.647 -3.279 -6.926 -189,9
Máquinas e Equipamentos 20.175 -10.897 -31.072 -154,0
Veículos Automotores 18.090 -34.612 -52.702 -291,3
Outros Equiptos de Transporte 9.004 -1.256 -10.260 -113,9
Móveis 8.902 73 -8.829 -99,2
Produtos Diversos 8.565 3.012 -5.553 -64,8
Manut e Rep de Maq e Equiptos 8.861 13.338 4.477 50,5
Serv. Ind. de Utilidade Pública 11.797 6.778 -5.019 -42,5
Construção 238.541 72.868 -165.673 -69,5
Construção de Edifícios 77.255 26.033 -51.222 -66,3
Obras de Infra Estrutura 86.868 986 -85.882 -98,9
Serviços Especializados para Constr. 74.418 45.849 -28.569 -38,4
Serviços 893.266 701.520 -191.746 -21,5
Total 1.576.908 912.287 -664.621 -42,1
Fonte: MTE/CAGED. Elaboração: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 60
Neste contexto, a análise dos três grandes setores na economia mostra que a Indústria é
aquele que tem encontrado maiores dificuldades, com queda de 79,3% na geração de empregos
formais, nessa base de comparação. Na Agropecuária e nos Serviços, embora também tenha
ocorrido retração, estas foram consideravelmente menores, de 15,5% e de 21,5%,
respectivamente.
A desagregação do setor secundário em seus quatro subsetores mostra que o quadro
recessivo é difundido, uma vez que a geração de empregos no acumulado deste ano até outubro
é menor na comparação com 2013 para todos os casos (tabela 4.1). Contudo, destaca-se que a
desaceleração é mais intensa na Indústria de transformação, cujo saldo neste período em 2014 foi
de apenas 37,8 mil, tendo sido gerados neste ano 282,9 mil empregos a menos na comparação
com o mesmo período do ano passado, o que representa uma queda de 88,2%.
Dos 24 segmentos que compõem a Indústria de transformação, nove apresentaram saldo
de geração de empregos negativo no acumulado de janeiro a outubro de 2014. Os principais
destaques são os oito segmentos integrantes do denominado Complexo metal mecânico2, dos
quais apenas um apresentou saldo positivo.
Em relação ao mesmo período de 2013, os resultados são ainda piores. Dos 24 segmentos
da Indústria de transformação, 22 apresentaram redução do saldo de geração de empregos nessa
base de comparação. Nos casos das indústrias de Veículos automotores e Metalurgia, a queda
ultrapassa os 200%. Outros seis setores – Material elétrico, Equipamentos de Informática e
Eletrônicos, Produtos de metal, Máquinas e equipamentos, Bebidas e Outros equipamentos de
transporte – têm retrações que superam os 100%.
Embora a situação do mercado de trabalho industrial esteja bastante deteriorada, com
aumento dos desligamentos e redução significativa nos saldos de geração de emprego, é
importante ressaltar que os resultados poderiam ter sido ainda piores. Diversas medidas foram
tomadas ao longo do ano por parte das empresas na tentativa de manter seus trabalhadores,
apesar do cenário adverso na economia.
Uma alternativa que passou a ser bastante utilizada nos últimos dois anos foi a adoção do
sistema de lay-off, que pode se dar de duas formas. A primeira é quando os trabalhadores são
suspensos (mas não desligados) e, durante o afastamento, realizam cursos de qualificação
profissional e têm seus salários pagos pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), por meio da
rubrica denominada “Seguro Desemprego – Bolsa Qualificação”. Cabe ressaltar que os
pagamentos realizados pelo FAT devem respeitar o limite do teto do seguro desemprego, sendo
que nos casos em que o salário do funcionário ultrapasse esse limite, a empresa paga a
diferença. O prazo máximo do afastamento é de cinco meses, mas já existem negociações entre
os sindicatos laborais, empresas e governo na direção de estender esse limite para dois anos –
num sinal claro de que não se espera retomada das atividades no curto prazo.
Os dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI)
dão uma dimensão da intensificação do uso desta medida: enquanto que ao longo de todo ano de
2013 foram gastos nesta rubrica R$ 36,2 milhões, apenas entre janeiro e outubro deste ano os
dispêndios já somam R$ 47,5 milhões, um aumento real de 31,5%3.
A outra forma de lay-off que tem sido utilizada é a redução das horas de trabalho
semanais, cujo corte pode chegar até 25%. Além disso, muitas empresas têm adotado férias
coletivas, na tentativa de reduzir seus custos sem precisar desligar os trabalhadores. Os números
do pessoal ocupado e das horas trabalhadas na Indústria brasileira (gráfico 4.3) evidenciam esses
2
O Complexo metal mecânico é formado pelos segmentos de: Metalurgia, Produtos de metal, Equipamentos de
informática e eletrônicos, Material elétrico, Máquinas e equipamentos, Veículos automotores, Outros equipamentos de
transporte e Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos.
3
Valores corrigidos pelo INPC de outubro de 2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 61
movimentos. Desde o início do ano, ambas as variáveis têm apresentado desaceleração na
variação acumulada em 12 meses.
Contudo, enquanto o emprego passou de um crescimento de 1,1% em março para 0,2%
em setembro – não alcançando, portanto, cifras negativas –, as horas trabalhadas passaram de
uma expansão de 0,8% para uma queda de 2,1%, na mesma base de comparação. No caso da
retomada do ritmo de produção não acontecer – o que é bastante provável –, os números do
mercado de trabalho industrial ainda têm bastante espaço para piorar.
0,8 10,0
0,2 2,8 9,6
8,1 8,3
-0,3 7,0
-0,3 6,2
5,7
Pessoal ocupado 4,9
-1,2 -1,4
Horas trabalhadas
-0,1
-2,1 2004 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
mai/13
mai/14
jan/13
nov/13
jan/14
mar/13
set/13
mar/14
set/14
jul/13
jul/14
4
A saber: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 62
Em outras palavras, para ser considerada desempregada, uma pessoa deve não apenas
estar sem trabalho, mas também estar procurando por um. O gráfico 4.5 mostra que, no
acumulado de janeiro a outubro de 2014, embora o crescimento da população em idade ativa
tenha sido semelhante à média anual observada entre 2004 e 2013, a população
economicamente ativa apresentou queda de 0,9%, num comportamento bastante diferente do
observado na média histórica recente, quando esta crescia a uma taxa de 1,5% ao ano. Por outro
lado, houve grande expansão no ritmo de crescimento da população não economicamente, tendo
a taxa se acelerado de 1,5% na média anual entre 2004 e 2013 para 4,0% em 2014.
Esses dados mostram que a taxa de desemprego vem aumentando não por motivos
relacionados ao nível de população ocupada ou de geração de empregos, mas sim pelo fato de
que as pessoas em idade ativa estão deixando de compor a força de trabalho e passando a fazer
parte da população não economicamente ativa. O gráfico 4.6 mostra que a participação da
população não economicamente ativa no total de pessoas sem trabalho vem aumentando, tendo
passado de 93,2% em outubro de 2013 para 94,2% em outubro de 2014.
4,0
2004-13 (média a.a.) 2014
95%
85%
-0,9
80%
mai/08
fev/03
nov/04
nov/11
set/03
jun/05
jan/06
dez/08
abr/04
mar/07
fev/10
set/10
jun/12
jan/13
abr/11
mar/14
ago/06
jul/09
ago/13
out/07
out/14
Pessoas em idade Pessoas Pessoas não
ativa economicamente economicamente
ativas ativas Pessoas não economicamente ativas Pessoas desocupadas
Outro fator com bastante peso sobre o baixo nível do desemprego no Brasil registrado por
esta pesquisa é o fato de que a mesma se limita às seis principais regiões metropolitanas do País,
conforme já mencionado anteriormente. Os resultados ali contidos não necessariamente retratam
de forma fidedigna a situação nacional, principalmente no que tange aos assuntos relacionados ao
mercado de trabalho. Nas menores cidades, em que a população possui menos oportunidades de
emprego e as vagas disponíveis são mais limitadas, o cenário é diferente. Esse argumento está
respaldado em duas pesquisas.
A primeira, Termômetros da Sociedade Brasileira, realizada trimestralmente pela
Confederação Nacional da Indústria, investiga o medo das pessoas em ser afetadas pelo
desemprego. Os resultados de setembro de 2014 mostram que, no acumulado em quatro
trimestres, o medo do desemprego no Brasil cresceu 4,3%. A desagregação pelo porte das
cidades mostrou que naquelas menores, que possuem até 20 mil habitantes, o aumento do medo
(+7,3%) foi muito superior à média e ao que foi registrado nos municípios maiores.
A segunda pesquisa é a PNAD Contínua, realizada trimestralmente também pelo IBGE.
Assim como a PME, ela visa captar movimentos do mercado de trabalho brasileiro, contudo seu
formato é diferente do apresentado por esta em alguns aspectos importantes. O primeiro deles é o
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 63
fato de que, na PNAD Contínua, uma pessoa é considerada em idade ativa para o trabalho se
possui 14 anos ou mais (ao invés dos 10 anos de idade levados em conta pela PME). O segundo
ponto importante é que a pesquisa trimestral conta com uma abrangência maior em termos
geográficos, trazendo resultados para o todo o Brasil, inclusive para Unidades da Federação que
são menores, saindo, portanto, do escopo limitado às grandes regiões metropolitanas.
A PNAD Contínua é uma pesquisa bastante recente, de modo que a série histórica se
inicia no primeiro trimestre de 2013 e possui apenas seis informações. No gráfico 4.8, é feita uma
comparação entre a taxa de desemprego mensurada por ambas as pesquisas. Nota-se que, em
média, a taxa de desemprego mensurada pela PNAD Contínua é 35,4% maior do que aquela
mensurada pela PME, esse diferencial chegou ao seu valor máximo de 43,5% no primeiro
trimestre de 2014.
Além disso, comparando-se os resultados entre os trimestres, nota-se que em ambas
houve redução da taxa de desemprego no primeiro e segundo trimestres de 2014 em relação aos
mesmos períodos de 2013. Contudo, enquanto que na PME a redução do índice entre o segundo
trimestre de 2013 e o mesmo em 2014 foi de 17%, esse diferencial cai para apenas 7,9% no caso
da PNAD Contínua.
É importante ressaltar que não há uma pesquisa certa e outra errada. O que temos no
Brasil são duas pesquisas sobre o mesmo tema e realizadas pelo mesmo instituto, mas com
metodologias e resultados diferentes. Pelo fato da PME ser realizada mensalmente e ter
defasagem de apenas um mês em sua publicação, seus resultados são os mais frequentemente
divulgados pelos veículos de comunicação, que tratam seus números como o retrato do País.
Como vimos, esse retrato é distorcido pela realidade dos grandes centros urbanos. Nesse
sentido, a PNAD Contínua, apesar de seu curto período histórico e grande defasagem de
publicação, acaba por retratar de forma mais fidedigna o mercado de trabalho brasileiro. Tanto
isso é verdade que, quando a mesma foi lançada, o objetivo do IBGE era utilizá-la para substituir a
PME. Para tal, precisariam encontrar uma forma de divulgar seus números mensalmente, se não
para todas as Unidades da Federação, ao menos para o agregado do País. Caso esse projeto
seja levado adiante, será um grande avanço para as estatítiscas que visam a construção do
cenário do mercado de trabalho nacional.
Gráfico 4.7. Medo do desemprego no Brasil Gráfico 4.8. Taxa de desemprego no Brasil
(Var. % acum. em 4 trimestres até 2014/3) (% no trimestre)
7,3 8,0
7,4 7,1
6,9 6,8
5,9 6,2
5,6 5,4
4,3 4,6 4,7 5,0 4,9
3,8
Até 20 mil Mais de 20 a Mais de 100 2013/1 2013/2 2013/3 2013/4 2014/1 2014/2
100 mil mil
6 principais RM's (PME) Total do País (PNAD Contínua)
Total Porte do muncípio (em número de hab.)
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 64
compasso de crescimento dos salários reais5, passando de 4,4% em outubro de 2012 a 1,5% em
dezembro de 2013, ao longo de 2014 essa tendência foi em boa parte revertida, tendo o aumento
dos salários reais chegado a 3,0% em setembro deste ano (gráfico 4.9).
Essa reversão é melhor entendida quando se analisa o aumento dos salários reais frente
ao mesmo mês do ano anterior (gráfico 4.10). Em nenhum dos meses de 2014 os salários reais
apresentaram queda frente aos mesmos meses de 2013.
Gráfico 4.9. Rendimentos médios reais Gráfico 4.10. Rendimentos médios reais
efetivamente recebidos – total das seis efetivamente recebidos – total das seis
principais RM’s do Brasil principais RM’s do Brasil
(Var. % acum. em 12 meses) (Var. % em relação ao mesmo mês do ano anterior)
6,5
4,6
4,4 4,7 4,5
4,0
3,0
3,0
2,9 2,5
1,5
1,5
-0,4 -0,8
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
abr/11
abr/12
abr/13
abr/14
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
out/11
out/12
out/13
abr/11
abr/12
abr/13
abr/14
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
out/11
out/12
out/13
Fonte: IBGE/PME. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: IBGE/PME. Elaboração: FIERGS/UEE.
Os ganhos reais de salários não são um problema caso estejam acompanhados por
ganhos de produtividade, pois, neste caso, não geram distorções na economia. Contudo, em um
contexto no qual os salários aumentem sem a contrapartida de avanços na produtividade, é
gerado um ciclo vicioso na economia, uma vez que esses ganhos se traduzirão em aumentos de
custos, em diminuição dos investimentos e em pressões inflacionárias, fatores que, quando
combinados, tendem a dificultar a retomada do nível de atividade.
É esse o processo em marcha na indústria de transformação brasileira. O gráfico 4.11
mostra o movimento da variação acumulada em 12 meses dos salários reais do setor
(deflacionados pelo INPC), de sua produtividade e de seu custo unitário do trabalho. Este último
indicador é calculado a partir da razão dos dois primeiros, e um aumento do mesmo indica perda
de competitividade, uma vez que só ocorre quando a magnitude do crescimento dos salários é
maior do que os ganhos de produtividade.
Entre o segundo semestre de 2012 e o primeiro semestre de 2013, com o arrefecimento do
ritmo de crescimento dos salários reais e com o aumento dos ganhos de produtividade, o custo
unitário do trabalho reduziu expressivamente seu crescimento, tendo alcançado a estabilidade em
julho do ano passado e se mantido desta forma até dezembro. Contudo, em 2014, os salários
reais voltaram a se acelerar e, como a produtividade apresentou queda, o custo unitário do
trabalho passou a aumentar a taxas crescentes, tendo a expansão do mesmo passado de 0,8%
no acumulado em 12 meses até janeiro para 5,6% em setembro, na mesma base de comparação.
5
Deflator: INPC.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 65
Gráfico 4.11. Salários*, produtividade e custo unitário do trabalho* na indústria brasileira
(Var. % acumulada em 12 meses)
9,4
8,1
7,2 7,5
5,6
4,3 4,8
3,1
2,4
1,4 0,8
-2,4 -2,0
ULC em R$ deflacionados pelo INPC Salários Médios em R$ deflacionados pelo INPC Produtividade
mar/11
mar/12
mar/13
mar/14
set/11
set/12
set/13
set/14
mai/11
mai/12
mai/13
mai/14
jan/11
nov/11
jan/12
nov/12
jan/13
nov/13
jan/14
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
Fonte: FIERGS/UEE. *Em R$ deflacionados pelo INPC.
15,3 13,1
200,8 12,0
9,7
146,2 5,9
109,2
89,3 -1,2
105,3
85,2 -6,0
Admitidos
-7,9 -7,3
21,8 32,8 -9,2
Desligados
dez/07
mai/08
out/08
mai/13
out/13
mar/09
jan/10
jun/10
nov/10
set/11
fev/12
dez/12
mar/14
abr/11
jul/12
ago/09
ago/14
mai/13
nov/13
mai/14
jan/13
mar/13
set/13
jan/14
mar/14
set/14
jul/13
jul/14
6
Dados coletados em 14/11/2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 66
No Estado, embora tenha ocorrido um aumento dos desligamentos (+1,3% no acumulado
de janeiro a outubro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado), a queda
do saldo se deve principalmente a uma queda significativa do volume de admissões (-2,8%, na
mesma base de comparação). No gráfico 4.13, podemos observar que em apenas um dos dez
primeiros meses de 2014, o número de admitidos superou aquele observado no mesmo mês em
2013 (fevereiro). No caso dos desligamentos, em metade dos meses o número foi maior neste
ano, na mesma base de comparação.
No acumulado de janeiro a outubro deste ano foram criados 51,6 mil novos postos de
trabalho formal, resultado que é 52,7% inferior ao observado no mesmo período de 2013. A
análise através dos grandes setores da economia (tabela 4.2) mostra que apenas a Agropecuária
apresentou aumento no saldo de geração de empregos frente ao ano passado. Entre janeiro e
outubro deste ano, o setor primário criou 519 novas vagas, um avanço de 109,3% frente ao
acumulado nos mesmos meses de 2013. Nos Serviços, por sua vez, a desaceleração foi de
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 67
35,1% na mesma base de comparação. Contudo, é na Indústria que se observa a maior queda no
saldo de empregos: -77,5%. Os dados desagregados mostram que a Indústria da construção (-
63,0%) e a da transformação (-86,3%) foram as principais responsáveis pela retração observada
para o total do setor secundário.
No agregado das atividades de transformação, entre janeiro e outubro deste ano foram
criadas apenas 4,5 mil novas vagas, frente a um resultado de quase 33 mil no mesmo período do
ano passado. Destaca-se que, dos seus 24 segmentos, nove tiveram mais trabalhadores
desligados do que admitidos no acumulado dos dez primeiros meses de 2014. Os piores saldos
do ano estiveram concentrados naqueles que formam o Complexo metal mecânico (Veículos
automotores, Produtos de metal, Máquinas e equipamentos, Metalurgia e Material elétrico), à
semelhança do que ocorre em nível nacional.
Além disso, na comparação com o mesmo período de 2013, registra-se queda na geração
de empregos em 17 dos 24 segmentos, mostrando que as dificuldades enfrentadas pelo setor
secundário estão bastante disseminadas. Em três deles (Refino de petróleo, Veículos
automotores, Material elétrico), a retração supera os 200% e, em outros seis (Metalurgia, Minerais
não metálicos, Produtos de metal, Couro e calçados, Equipamentos de informática e eletrônicos e
Máquinas e equipamentos), a queda é maior do que 100%.
A situação do mercado de trabalho na indústria gaúcha é de fato preocupante. No
acumulado em 12 meses, o número de desligados supera o de admitivos em 15 mil. É importante
ressaltar, contudo, que há um claro esforço por parte dos empregadores em manter sua mão de
obra empregada. Diferentemente do observado para o total da economia, na Indústria de
transformação o volume de desligamentos no acumulado de janeiro a outubro de 2014 foi 4,7%
menor na comparação com o mesmo período de 2013 – apesar de o número de trabalhadores
desligados superar aquele observado em 2013 em oito dos dez meses para os quais há dados
disponíveis (gráfico 4.15).
A intensa queda no saldo de geração de empregos se dá por uma forte desaceleração nas
contratações: entre janeiro e outubro deste ano, as admissões caíram 11,9% frente ao mesmo
período do ano passado. Na comparação com os mesmos meses de 2014 e 2013, apenas em
fevereiro foi registrado um número maior de trabalhadores admitidos pela Indústria de
transformação neste ano.
-5,3 -10,3
0,1 -10,7
-15,0 Admitidos
-39,8 -15,4 -17,5
Desligados
-19,1
mai/13
mar/14
mai/14
jan/13
nov/13
mar/13
set/13
jan/14
set/14
jul/13
jul/14
dez/07
mai/08
out/08
mai/13
out/13
mar/09
jan/10
jun/10
nov/10
set/11
fev/12
dez/12
mar/14
abr/11
jul/12
ago/09
ago/14
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 68
Diferentemente do observado no Brasil, em que o nível de emprego na Indústria de
transformação ainda registra crescimento no acumulado em 12 meses até setembro – embora
modesto (+0,2%) –, o indicador no Rio Grande do Sul atingiu a marca negativa na mesma base de
comparação (-0,4%). No Estado, apesar das horas trabalhadas apresentarem uma maior
volatidade na taxa de variação – padrão historicamente observado e que se deve, principalmente,
à rigidez das relações trabalhistas –, o diferencial desta em relação à observada no emprego é
menor na comparação com o âmbito nacional, numa clara sinalização de que a indústria gaúcha
não dispõe dos mesmos mecanismos de lay-off utilizados no restante do País para lidar com os
períodos de crise.
Nem mesmo no conjunto dos segmentos que formam o Complexo metal mecânico no Rio
Grande do Sul, para muitos dos quais foram anunciadas e aplicadas medidas como a redução da
jornada de trabalho e as férias coletivas ao longo de 2014, o emprego se manteve estável. No
acumulado em 12 meses até setembro, a queda do indicador é de 0,9% para este grupo.
Gráfico 4.16. Horas trabalhadas e pessoal Gráfico 4.17. Horas trabalhadas e pessoal
ocupado na Indústria de transformação – RS ocupado no Complexo metal mecânico – RS
(Var.% acumulada em 12 meses) (Var.% acumulada em 12 meses)
3,0 3,5
1,2 2,3
-0,4
-0,7 -0,9
-1,9 -1,0
-2,2 Pessoal Ocupado
-2,3
Pessoal Ocupado Horas Trabalhadas Horas Trabalhadas
-2,8
mar/13
mai/14
jan/13
mai/13
nov/13
set/13
jan/14
mar/14
set/14
jul/13
jul/14
mai/13
mai/14
jan/13
set/13
nov/13
mar/13
jan/14
mar/14
set/14
jul/13
jul/14
A análise da geração de empregos formais nas sete mesorregiões gaúchas mostra que,
para o total da economia, a redução na geração de empregos na comparação entre o acumulado
de janeiro a outubro de 2013 e 2014 foi bastante disseminada e homogênea, variando dos 50%
aos 63%, com excessão da região Centro Oriental, em que a queda foi de apenas 8,1%. Já na
indústria, dois comportamentos se destacam: (i) o saldo negativo registrado na região
metropolitana de Porto Alegre e (ii) as fortes quedas registradas nesta e nas regiões Noroeste e
Nordeste.
No caso da região metropolitana de Porto Alegre, contribuíram fortemente para a
desaceleração do saldo de geração de empregos na Indústria de transformação os resultados
negativos dos segmentos de Veículos automotores, Produtos de metal e Couro e calçados. O
primeiro também foi responsável por boa parte da queda observada nas regiões Noroeste e
Nordeste. No caso da região Noroeste, pesou ainda a forte queda no saldo da indústria de
Máquinas e equipamentos. Na região Nordeste, por sua vez, os outros segmentos que
contribuíram significativamente para o resultado agregado do setor foram os de Metalurgia e de
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 69
Tabela 4.3. Geração de empregos formais no RS por mesorregiões
(Em pessoas – acumulado entre janeiro e outubro)
TOTAL DA ECONOMIA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
2013 (A) 2014 (B) B/A (%) 2013 (A) 2014 (B) B/A (%)
Noroeste 21.668 8.039 -62,9 8.145 842 -89,7
Nordeste 17.999 8.914 -50,5 7.939 36 -99,5
Centro Ocidental 4.433 1.700 -61,7 716 400 -44,1
Centro Oriental 9.436 8.667 -8,1 4.200 4.031 -4,0
Metropolitana de POA 46.425 19.985 -57,0 11.816 -1.470 -112,4
Sudoeste 2.881 1.201 -58,3 131 161 22,9
Sudeste 6.179 3.051 -50,6 29 504 1.637,9
Total 109.021 51.557 -52,7 32.976 4.504 -86,3
Fonte: MTE/CAGED. Elaboração: FIERGS/UEE.
4,6 2,7
8,9
2004-13 (média a.a.) 2014
7,5 7,6 3,2
6,1 5,8 1,2 1,3
1,7 1,1
0,9
1,5 4,8 4,7
4,1
3,7 3,8
-0,6
-0,5
2004 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
Taxa de desemprego (média jan-out) Pessoas em idade Pessoas Pessoas não
ativa economicamente economicamente
Pop. Ocupada (var. % acum. até out.) ativas ativas
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 70
que na média histórica recente seu crescimento era de 1,1% a.a. Contudo, as magnitudes das
diferenças no padrão de comportamento são menores do que o observado no total das áreas, em
que a população economicamente ativa teve queda de 0,9% e a população não economicamente
teve crescimento de 4,0% (gráfico 4.6) no mesmo período.
O conjunto desses dois comportamentos resultou em um leve aumento da taxa de
desemprego na região metropolitana, movimento oposto ao observado no total das áreas
pesquisadas. De todo modo, cabe ressaltar que, caso a população não economicamente ativa
tivesse crescido em 2014 a uma taxa semelhante à registrada em sua média histórica, a elevação
da taxa de desemprego teria sido ainda maior.
O forte arrefecimento do mercado de trabalho não impactou os rendimentos reais
recebidos pelos trabalhadores da região metropolitana de Porto Alegre. O gráfico 4.20 mostra que
o crescimento acumulado em 12 meses, embora tenha apresentado uma desaceleração de seu
ritmo ao longo de 2014, ainda se expande a uma taxa bastante elevada: 5,2% em setembro. Cabe
ainda ressaltar que na comparação com o mesmo mês do ano anterior, apenas em fevereiro os
salários reais não apresentaram crescimento (gráfico 4.21).
Gráfico 4.20. Rendimentos médios reais Gráfico 4.21. Rendimentos médios reais
efetivamente recebidos – região efetivamente recebidos – região
metropolitana de Porto Alegre metropolitana de Porto Alegre
(Var. % acum. em 12 meses) (Var. % em relação ao mesmo mês do ano anterior)
12,3
6,8
6,4
5,2 7,1
5,4
5,7
3,7
1,1
-0,7
-3,1
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
abr/11
abr/12
abr/13
abr/14
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
out/11
out/12
out/13
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
abr/11
abr/12
abr/13
abr/14
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
out/11
out/12
out/13
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 71
acentuada, uma vez que o reajuste do Piso Regional será de 16%, afetando as negociações
coletivas do setor.
Assim como no restante do País, os números do mercado de trabalho gaúcho não são
animadores. No Estado, a menor geração de empregos já se refletiu em um aumento da taxa de
desemprego, cujo movimento de elevação deve apresentar continuidade ao longo dos próximos
meses. No contexto de menor produção com maiores salários, a indústria fica ainda mais
debilitada, vendo seus custos – já elevados – aumentarem. Isso resulta em redução de suas
margens de investimento, o que torna ainda mais difícil a recuperação do setor no médio prazo.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 72
transformação, que tem sido o mais afetado pela perda de competitividade, apresente geração de
emprego 15,2% menor do que a deste ano.
Ainda no cenário base, a expectativa é que o Rio Grande do Sul também apresente queda
na geração de empregos. Para 2015, espera-se que sejam criados 42,0 mil novos postos de
trabalho formal, o que significa uma redução de 16,8% em relação ao observado neste ano. Para
a indústria de transformação a queda esperada é mais intensa (-38,6%), refletindo – além da
conjuntura interna desfavorável – as dificuldades de exportação dos produtos industriais.
Já no cenário superior, projeta-se para o Brasil uma leve recuperação pautada na
convergência para o crescimento potencial e para o Rio Grande do Sul um crescimento de acordo
com a média recente. Neste caso, espera-se que a geração de empregos formais no País seja de
649,9 mil, 5,6% menor do que a registrada neste ano. Acreditamos que o crescimento moderado
esperado neste cenário contará com a contribuição da mão de obra já empregada, não havendo
espaço para aumento na criação de novos postos de trabalho. No Estado, por sua vez, espera-se
a criação de 49,1 mil novos postos de trabalho formal, 2,6% a menos do que o observado em
2014. Destaca-se que a maior restrição de oferta de mão de obra no Rio Grande do Sul fará com
que a geração de empregos seja menor em relação a este ano, mesmo no cenário em que a
economia gaúcha cresça mais.
Por fim, no cenário inferior, contabiliza-se tanto para o Brasil quanto para o Rio Grande
do Sul um quadro recessivo com deterioração da confiança. Nesse sentido, a geração de
empregos formais no País é projetada em 539,3 mil, 21,7% inferior à deste ano. No Rio Grande do
Sul, por sua vez, espera-se que sejam gerados 38,2 mil novos postos de trabalho formal, uma
queda de 24,2% frente a 2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 73
5. SETOR EXTERNO E CÂMBIO
A ANATOMIA DE UM DESEQUILÍBRIO
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 74
capital em comparação com o IED causaria, num cenário de maior incerteza, um movimento
relativamente rápido de fuga do Brasil, colocando em xeque nossas contas externas. A situação,
de fato, não está confortável: o déficit em Transações Correntes como percentual do PIB em 12
meses alcançou o valor mais alto dos últimos 12 anos.
A queda nas cotações das commodities no mercado internacional explica boa parte da
retração das exportações brasileiras em 2014. No mesmo período, as vendas externas do Rio
Grande do Sul sofreram um tombo, em função de dois grandes fatores: (i) a base elevada de
comparação, devido às três operações com as plataformas de petróleo contabilizadas como
exportação em 2013 e (ii) a diminuição da demanda externa da Argentina, causada pela
acentuação dos seus desequilíbrios macroeconômicos. As importações, tanto em nível nacional e
regional, sofreram diminuições em função da fraqueza do nível de atividade doméstico e da queda
da confiança dos empresários em relação ao futuro.
Para o ano de 2015, espera-se a continuidade do processo de desvalorização da taxa de
câmbio, seguindo o cenário de enxugamento da liquidez nos Estados Unidos. Isso deverá
provocar um leve ajustamento no Balanço de Pagamentos, através do incentivo para as
exportações e desincentivo para as importações. No caso do comércio exterior do Brasil e do Rio
Grande do Sul, haverá apenas uma recuperação parcial das perdas incorridas ao longo do ano de
2014.
Balanço de Pagamentos
O saldo do Balanço de Pagamentos brasileiro registrou superávit de US$ 20,3 bilhões de
janeiro a outubro de 2014. Trata-se de uma forte recuperação em relação a 2013, quando, no
mesmo período, registrou-se um déficit de US$ 2,2 bilhões.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 75
Déficit em Transações Correntes apresenta leve piora:
O saldo das transações de bens, serviços e rendas com o exterior apresentou uma
deterioração em 2014, ainda que modesta (variação negativa de US$ 3,3 bilhões). Em relação ao
tamanho da economia brasileira, o déficit dessa conta, no acumulado dos últimos 12 meses
terminados em outubro, aumentou para 3,73%, ante 3,65% no mesmo mês do ano passado.
Trata-se do pior resultado desde fevereiro de 2002 (-3,94%).
O saldo da Balança Comercial, principal componente dessa conta, se manteve
praticamente inalterado ao longo do ano (déficit de US$ 1,9 bi). Detalhes sobre a evolução das
exportações e importações nacionais se encontram na subseção “Comércio Exterior – Brasil”.
Um dos principais motivos que puxou a Balança de Serviços para baixo foi a conta
“Aluguel de Equipamentos” (aumento de US$ 3,2 bi no déficit). Convém lembrar que muitos dos
investimentos recentes da Petrobras estão calcados no uso de plataformas de exploração de
petróleo e gás através de contratos de aluguel. Trata-se da contrapartida da chamada
“exportação” ficta, autorizada pelo regime REPETRO, cujas normativas permitem que empresas
estrangeiras prestadoras de serviços no setor de Petróleo e Gás, a partir da chancela do Governo
Federal, recebam benefícios tributários (isenção de impostos federais, como IPI, PIS e COFINS).
Especificamente nesses casos, subsidiárias da Petrobrás no exterior realizaram a compra desses
equipamentos (crédito na Balança Comercial) sem que a transação envolvesse a saída da
mercadoria do território brasileiro. Posteriormente, houve a internalização via um contrato de
arrendamento (débito em Aluguel de Equipamentos).
Ainda sobre a Balança de Serviços, destaca-se que a rubrica “Viagens Internacionais”
apresentou uma pequena variação negativa: US$ 400 milhões. Esse resultado chama a atenção
porque nem mesmo a ocorrência de um evento extraordinário no Brasil como a Copa do Mundo
foi suficiente para ter provocado um choque positivo sobre os gastos dos estrangeiros com
turismo e cartão de crédito no Brasil: entre janeiro e outubro, os incrementos foram de apenas
US$ 400 mi e US$ 300 mi, respectivamente, frente o mesmo período do ano passado. Já os
dispêndios dos brasileiros com turismo no exterior aumentaram em US$ 400 milhões (a despeito
da fraqueza do nível de atividade e da desvalorização da taxa de câmbio), enquanto os gastos no
cartão de crédito se reduziram em US$ 500 milhões, fruto da elevação do IOF para 6,38% nessa
modalidade de pagamento desde o início desse ano.
Pelo lado da Balança de Rendas, houve uma piora de US$ 1,5 bi. Convém lembrar que a
subconta “Rendas de Investimentos”, responsável por praticamente a totalidade desse
grupamento, apresenta um déficit estrutural em função do elevado passivo externo líquido.
Especificamente em 2014, o Brasil enviou US$ 2 bi a mais de rendas (lucros) do investimento
direto. A situação ainda complicada de bancos e de empresas, especialmente da Zona do Euro,
faz com que as filiais instaladas no Brasil ajudem a recompor parte dos lucros perdidos pelas
matrizes.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 76
(ou US$ 6,7 bilhões a mais em termos absolutos). Isso se deveu à aquisição da Oi Brasil pela
Portugal Telecom.
Já a segunda secção representa os créditos das empresas matrizes localizadas no exterior
para as subsidiárias localizadas no Brasil. Aqui, houve recuo no saldo de 16,9% (ou redução de
US$ 2,8 bi). Esse resultado pode estar ligado ao processo de enxugamento da liquidez nos
Estados Unidos, com a diminuição gradual do Quantitative Easing ao longo de 2014. Muitas
empresas estrangeiras estavam se endividando em seus países de origem, onde há uma maior
liquidez, com custos muito atrativos e parte desses recursos era destinado para aplicações no
Brasil. Com a tendência de elevação das taxas de juros nos EUA, esse processo de redução no
déficit dessa subconta deverá se intensificar no futuro.
O Brasil tem registrado uma tendência de queda no ingresso de capitais via Investimento
Estrangeiro Direto (IED) desde 2012: -24,9% (de janeiro a outubro). Ainda assim, nosso País tem
se mantido como um dos principais destinos do IED em nível mundial, a despeito de sermos
relativamente mais fechados em comparação com outros importantes pares internacionais,
conforme o indicador calculado pela OCDE.
0,10
0,003
Noruega
Espanha
Marrocos
China
Holanda
Argentina
Indonésia
Colômbia
Arab. Saudita
Índia
Grã-Bretanha
Japão
Tunísia
Itália
Bélgica
Luxemburgo
Malásia
Austrália
Israel
Peru
EUA
Suíça
Ucrânia
Egito
Alemanha
Rep. Tcheca
Turquia
Chile
Islândia
Coreia
Brasil
Portugal
Rússia
Canadá
Suécia
Irlanda
Grécia
Áustria
França
Nova Zelândia
México
África do Sul
Dinamarca
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 77
suscetível a uma retirada brusca durante momentos de turbulência, sendo conhecida por
Necessidade de Financiamento Externo.
18,8 22,9
14,0 18,4
-27,7
-45,6
dez-95
dez-98
mar-01
dez-01
jun-09
mar-10
dez-10
mar-13
dez-13
set-14
set-96
jun-97
mar-98
set-99
jun-00
set-02
jun-03
mar-04
dez-04
mar-07
dez-07
set-05
jun-06
set-08
set-11
jun-12
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.
Taxa de câmbio
No cenário externo, o ano de 2014 foi marcado pela redução gradual do Quantitative
Easing 3 (QE3) nos Estados Unidos, que culminou com o seu encerramento definitivo (ocorrido no
mês de outubro). Entretanto, mesmo com esse enxugamento da liquidez, as taxas de juros dos
títulos da dívida americana (considerados os mais líquidos do mundo) apresentaram tendência
declinante ao longo de 2014, a despeito dos sinais de melhora da economia daquele País. Isso,
na realidade, configurou uma pressão para a valorização da taxa de câmbio: quanto menor o
retorno desse tipo de investimento, maior é o estímulo para a tomada de risco em mercados
emergentes (como o Brasil), onde existe a possibilidade de obtenção de maiores ganhos. A maior
entrada de capitais estrangeiros tende a fortalecer a moeda nacional.
A análise do comportamento de ambas as séries fornece uma boa ideia sobre o quanto os
determinantes externos afetam o preço do Real em relação ao dólar. Convém lembrar que a maior
parte do efeito sobre a reprecificação dos ativos em escala global (incluindo as taxas de câmbio)
dessa política monetária contracionista foi sentido antes mesmo da primeira diminuição no ritmo
do programa, quando o Federal Reserve anunciou (em maio de 2013) que estava estudando a
possibilidade de reduzir o QE3.
Gráfico 5.3. Taxa de câmbio e retorno dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos
(Em R$/US$ e % ao ano)
3,30 2,70
3,10 2,60
2,90 2,50
Retorno Títulos 10A - EUA
Taxa de Câmbio
2,70 2,40
2,50 2,30
2,30 2,20
2,10 2,10
1,90 Retorno Títulos 10A - EUA 2,00
1,70 Taxa de Câmbio 1,90
1,50 1,80
02-06-13
02-03-14
02-01-13
02-02-13
02-03-13
02-04-13
02-05-13
02-07-13
02-08-13
02-09-13
02-10-13
02-11-13
02-12-13
02-01-14
02-02-14
02-04-14
02-05-14
02-06-14
02-07-14
02-08-14
02-09-14
02-10-14
02-11-14
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 78
Outro fator que ajudou a segurar a cotação em boa parte de 2014 foi a manutenção e a
intensificação do programa de swaps cambiais tradicionais do Banco Central, iniciado em 2013,
com o intuito de fornecer liquidez ao mercado. Os dados disponibilizados pela autoridade
monetária mostram que a intervenção (posição vendida é representada com um sinal negativo)
alcançou em outubro 103,6 bilhões em dólares equivalentes, correspondendo a 27,6% das
reservas internacionais do Brasil. Esse valor é 61% superior em comparação com o mesmo mês
de 2013.
-11,5
-37,2
-103,6
out/2005
ago/2011
jul/2007
ago/2004
mai/2006
jul/2014
nov/2002
mar/2005
jun/2003
jan/2004
dez/2006
mar/2012
out/2012
mai/2013
fev/2008
nov/2009
abr/2002
set/2008
jun/2010
jan/2011
dez/2013
abr/2009
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 79
Aplicada da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (CEMAP-EESP), o câmbio encerrou 2013
num patamar 13,9% mais sobrevalorizado. Além disso, os resultados ao longo do primeiro
semestre (últimos dados disponíveis) mostram uma intensificação desse processo. As estimativas
realizadas levam em conta fundamentos econômicos como: (a) posição internacional de
investimentos líquida sobre o PIB; (ii) índice de termos de troca; (iii) balança de bens e serviços e
(iv) preços relativos entre bens transacionáveis e não transacionáveis.
jan/14
mai/14
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
mar/14
abr-14
fev-14
jun-14
Fonte: CEMAP/EESP. Elaboração: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 80
Gráfico 5.6. Termos de troca Gráfico 5.7. Razão de quantum
(Número-índice: 2000 = 100) (Número-índice: 2000 = 100)
134,2 165,2
123,4
100,0 98,8
100,0 85,5 83,0
2003
2004
2005
2000
2001
2002
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2002
2008
2000
2001
2003
2004
2005
2006
2007
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: FUNCEX. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: FUNCEX. Elaboração: FIERGS/UEE.
Entre janeiro e outubro de 2014, a corrente de comércio do Brasil (soma das exportações e
importações) registrou queda de 4,2% em comparação com o mesmo período de 2013. Destaca-
se que essa retração ocorreu a despeito da desvalorização da taxa de câmbio média (que atua
para encorajar as vendas externas e desestimula as compras no exterior) nessa base de
comparação: 8,5%.
No caso das exportações, a queda de 4,0% é ainda mais preocupante, uma vez que o
efeito estatístico criado para 2014 foi bastante favorável, em decorrência das bases de
comparação deprimidas: em 2012 e 2013, houve quedas de 4,6% e 0,9%, respectivamente,
considerando a variação dos dez primeiros meses do ano frente o mesmo período do ano anterior.
Um dos fatores que ajuda a explicar esse resultado é o arrefecimento da demanda externa. Os
dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que as importações de 70 países
que representam mais de 90% do total do comércio exterior cresceram em valor apenas 1,9% no
acumulado do ano até setembro. Apesar de servir como um atenuante para explicar o
desempenho brasileiro, convém notar que essa é a maior taxa de crescimento desde 2011.
32,3
16,6
21,1
14,4 1,9
-0,4
Exportações Totais BR
Importações mundiais
-26,5
mai-08
ago-09
ago-14
jul-12
dez-12
mai-13
dez-07
out-08
mar-09
jan-10
jun-10
nov-10
mar-14
abr-11
set-11
fev-12
out-13
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 81
brasileira – Extrativa mineral, com 19,6% –, registrou decréscimo de 2,6%. Por um lado, houve
redução de 19,6% no valor exportado de minério de ferro. Por outro, os embarques de petróleo
cresceram 40,8%. Em relação ao primeiro, destaca-se a queda da cotação da commodity no
mercado internacional, em função, sobretudo, da desaceleração da economia chinesa. No que
tange ao segundo, ressalta-se o aumento da produção interna em 2014 (ressaltada na linha
laranja), que gerou excedentes exportáveis. O resultado só não foi melhor porque houve forte
queda do preço do barril tipo brent ao longo dos últimos meses: depois de encerrar junho valendo
US$ 112,62, esse valor caiu para US$ 84,17 no fim de outubro, contrabalançando parte do efeito
sobre o valor da venda.
67,2
81,0
59,8
-5,9
jul-06
jul-07
jul-08
jul-09
jul-10
jul-11
jul-12
jul-13
jul-14
jan-06
jan-07
jan-08
jan-09
jan-10
jan-11
jan-12
jan-13
jan-14
mar/06
mar/09
mar/12
set/04
dez/09
dez/03
jun/05
dez/06
set/07
jun/08
set/10
jun/11
dez/12
set/13
jun/14
Fonte: Bureau of Labor Statistics. Elaboração: Fonte: ANP. Elaboração: FIERGS/UEE.
FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 82
resultado final foram em ordem de importância: Bens intermediários (-3,1%), Bens de capital (-
9,5%), Bens de consumo duráveis (-13,9%) e Combustíveis e lubrificantes (-3,4%). Os dois piores
resultados, portanto, foram nos segmentos ligados à indústria. Isso sinaliza que o Brasil não
deverá iniciar um novo ciclo de investimentos ao longo dos próximos meses.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 83
Tabela 5.3. Exportações do Rio Grande do Sul
(Em US$ milhões)
US$
jan-out/13 Part. (%) jan-out/14 Part. (%) Var. (%)
milhões
Alimentos 3.508 16,5% 3.473 21,4% -1,0% -35
Químicos 1.852 8,7% 1.736 10,7% -6,3% -116
Tabaco 2.060 9,7% 1.673 10,3% -18,8% -387
Couro e calçados 834 3,9% 934 5,8% 12,0% 100
Máquinas e equipamentos 986 4,6% 871 5,4% -11,7% -115
Veículos automotores 1.120 5,3% 782 4,8% -30,2% -338
Derivados do petróleo 295 1,4% 456 2,8% 54,6% 161
Produtos de metal 408 1,9% 337 2,1% -17,4% -71
Borracha e plástico 296 1,4% 292 1,8% -1,4% -4
Materiais elétricos 213 1,0% 181 1,1% -15,0% -32
Móveis 171 0,8% 179 1,1% 4,7% 8
Celulose e Papel 151 0,7% 138 0,9% -8,6% -13
Produtos diversos 110 0,5% 107 0,7% -2,7% -3
Madeira 100 0,5% 105 0,6% 5,0% 5
Metalurgia 149 0,7% 95 0,6% -36,2% -54
Minerais não-metálicos 78 0,4% 84 0,5% 7,7% 6
Têxteis 80 0,4% 72 0,4% -10,0% -8
Equiptos. de informática e eletr. 44 0,2% 46 0,3% 4,5% 2
Vestuário e acessórios 36 0,2% 40 0,2% 11,1% 4
Outros equiptos. de transportes 3.587 16,8% 22 0,1% -99,4% -3.565
Extrativa mineral 17 0,1% 15 0,1% -11,8% -2
Bebidas 15 0,1% 13 0,1% -13,3% -2
Farmoquímicos e farmacêuticos 19 0,1% 6 0,0% -68,4% -13
Impressão e reprodução 1 0,0% 1 0,0% 0,0% 0
Total da Indústria 16.130 75,7% 11.658 71,83% -27,7% -4.472
Básicos 4.979 23,4% 4.369 26,9% -12,3% -610
Transações Especiais 211 1,0% 204 1,3% -3,3% -7
Total Geral 21.320 100,0% 16.231 100,0% -23,9% -5.089
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 84
um resultado pior em 2014, enquanto apenas sete registraram crescimento e um teve
estabilidade.
O subsegmento de Outros equipamentos de transporte registrou grande influência sobre o
resultado, ao cair 99,4%. Convém lembrar que, em junho e outubro do ano passado, duas
plataformas de petróleo e gás (US$ 1,63 bi e US$ 1,94 bi, respectivamente) foram contabilizadas
como exportação, tornando a base de comparação bastante elevada. Ainda em 2013, no mês de
novembro, houve uma terceira operação, que resultou num acréscimo de US$ 1,21 bi para as
vendas externas.
Se as duas primeiras operações não fossem computadas, os resultados das exportações
totais e da indústria também registrariam queda: -8,6% e -7,2%. No caso do setor secundário,
trata-se do pior desempenho nesse tipo de comparação desde 2009, ano em que os efeitos da
crise financeira internacional foram sentidos por todo o mundo.
O segundo setor com a maior influência negativa sobre o resultado da indústria foi o de
Tabaco, com queda de -18,8%. Entre os fatores que explicam essa diminuição estão: (i) maior
concorrência com os países africanos – importantes players no mercado internacional –, que
apresentam custos baixos, principalmente aqueles relacionados à mão de obra; (ii) elevação dos
custos de produção internos; (iii) aumento dos estoques e (iv) diminuição da demanda
internacional.
A terceira categoria que mais puxou as exportações da indústria gaúcha para baixo foi
Veículos automotores, reboques e carrocerias (-30,2%). Na separação entre os principais
destinos, a Argentina foi o principal destaque negativo, a partir do forte declínio de -53,4%. Os
dados desagregados mostram que os embarques de automóveis, camionetas e utilitários caiu
ainda mais: -70,8%. Convém lembrar que o governo do País vizinho estabeleceu, ainda em 2013,
uma restrição específica às importações de automóveis e veículos comerciais leves, que deveriam
ser reduzidas em 27,5% ao longo do primeiro semestre de 2014 em comparação com o mesmo
período de 2013. Essa medida foi imposta como uma forma de evitar a acentuação da perda de
reservas internacionais na Argentina, em função do ainda elevado peso desse grupamento na
pauta de importação: 17,0% da pauta total (o maior entre todas as categorias da indústria). No
ano passado, essa proporção chegou a 22,1%.
Os Químicos apresentaram contração de 6,3%, a quarta principal influência negativa. Além
dos menores embarques para a Argentina (-7,7%), destaca-se a menor demanda externa advinda
da União Europeia (-25,2%). Cabe lembrar que o setor era um dos mais beneficiados com o
Sistema Geral de Preferências (SGP) do bloco, conforme estudo publicado pela FIESP. O Brasil
deixou de obter essa prerrogativa a partir de 1º de janeiro de 2014, o que fez com que a alíquota
tarifária total para os produtos elegíveis pela UE aumentasse em 3,5 pontos percentuais. Isso se
deveu ao fato de que o País passou a ser considerado de renda média alta (conforme
classificação da OCDE), o que, conforme interpretação do bloco europeu, sinaliza que apresenta
condições para competir no comércio exterior.
O setor de Máquinas e equipamentos apresentou diminuição de 11,7%. As duas principais
subcategorias apresentaram redução significativa: máquinas e implementos agrícolas (-12,5%) e
tratores (-15,8%). Mais uma vez, a Argentina puxou o desempenho para baixo: diminuições de -
40,0%% e -38,7%, respectivamente. Os dados disponíveis pelo Instituto Nacional de Estatísticas
(INDEC) evidenciam uma clara desaceleração do setor no País. Isso porque, entre janeiro e
setembro de 2014, houve uma queda de 25,3% na quantidade adquirida desse tipo de maquinário
em relação ao mesmo período de 2013. No entanto, destaca-se que a aquisição de máquinas
nacionais registrou um decréscimo bem menos intenso (-12,8%) em relação às importadas (-
54,1%). As restrições instituídas para as compras no exterior por parte do governo argentino tem
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 85
acelerado o processo de substituição do insumo importado pelo nacional por parte das empresas
lá instaladas.
O setor de Metalurgia caiu 36,2%, em função da elevada base de comparação em 2013,
quando houve (no mês de maio) uma exportação bastante acima da média de produtos
semimanufaturados de ferro ou aço (US$ 58,6 milhões) para os Estados Unidos. Para se ter uma
ideia da magnitude, essa única operação respondeu por 61,4% de tudo o que o setor exportou
entre janeiro e outubro desse ano. Por sua vez, o segmento de Produtos de metal registrou queda
de 17,4%, em função das menores vendas de armas de fogo também para os EUA (-52,7%).
Entre as subcategorias que apresentaram o maior crescimento, o setor de Coque,
derivados do petróleo e de biocombustíveis foi o destaque da indústria, ao registrar avanço de
54,6%. Isso se deveu ao crescimento de 559,8% nos embarques de gasolina para a Argentina.
Destaca-se que o País vizinho vem sendo atingido por uma severa crise energética, intensificada
ao longo do último ano, e isso tem provocado o aumento das importações, em função dos
problemas internos para o suprimento adequado da demanda.
O setor de Couro e calçados apresentou um avanço de 12,0% em 2014. Os dados
desagregados mostram resultados distintos. Enquanto as vendas externas de calçados cresceram
apenas 1,5%, os couros registraram forte avanço: 23,3%. No primeiro caso, fatores como a
elevação dos custos internos (sobretudo com mão de obra), a forte concorrência com os produtos
estrangeiros (principalmente a China) e as restrições impostas pela Argentina (demandando um
valor 19,2% inferior) ajudam a explicar o desempenho. No que tange aos couros, destaca-se que
os produtos, como bolsas, calçados e acessórios são considerados nobres nos países asiáticos
(as exportações cresceram 29,6% para esse conjunto de nações). Outro fator que explica esse
movimento é a diminuição da concorrência com o mercado externo: houve redução no rebanho
dos Estados Unidos, um dos principais concorrentes do setor.
Os Produtos alimentícios continuaram respondendo pela maior fatia da pauta de
exportação do Rio Grande do Sul (21,4%). O setor teve um desempenho praticamente estável ao
longo de 2014 (-1,0%). Houve redução nas vendas externas de óleo de soja (-9,2%), o que se
explica, em parte, pela menor cotação no mercado internacional (-6,25% na mesma base de
comparação, segundo dados do Banco Mundial). O resultado do segmento só não foi pior em
função dos importantes impulsos advindos da Venezuela e da Rússia, que aumentaram a
demanda por carne gaúcha. No primeiro caso, a elevação foi de 350,6%. No segundo, o
acréscimo foi de 120.060%, uma vez que praticamente não houve exportação desse tipo de
mercadoria em 2013.
Em relação ao primeiro, houve crescimento de 724% de carne de frango in natura.
Convém notar que os desequilíbrios macroeconômicos da economia venezuelana têm levado a
problemas cada vez mais severos de desabastecimento de uma série de produtos, incluindo
carne. O índice de escassez – que mede a ausência de bens e de produtos que possam substituí-
los – alcançou em janeiro desse ano (último dado disponível) 26,2% para alimentos básicos, oito
pontos percentuais a mais que o registrado no mesmo mês de 2013. Contudo, esse aumento foi
contrabalançado pela redução das vendas externas para o Oriente Médio: -25,2%, o equivalente a
uma perda de US$ 144 milhões para esse conjunto de países.
No que diz respeito à Rússia, o aumento da demanda pela carne gaúcha tem origem nas
restrições impostas ao comércio exterior pela União Europeia e pelos Estados Unidos, em
decorrência dos conflitos geopolíticos com a Ucrânia. Como medida retaliativa, o governo da
Rússia barrou importação de vários produtos alimentícios dessas duas origens, incluindo frutas,
carnes, vegetais, peixes, laticínios e carnes por um ano (a partir do mês de agosto). Para evitar
um forte crescimento dos preços internos, a Rússia permitiu que algumas unidades agroindustriais
de países como o Brasil suprissem essa oferta, minimizando grandes problemas de
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 86
desabastecimento. Isso elevou, principalmente, os embarques gaúchos de carne suína in natura
para esse destino em US$ 99 milhões, ante zero no mesmo período de 2013. Todavia, a elevação
foi compensada pela menor demanda da própria Ucrânia: -96,9% (perdas de US$ 106,5 milhões).
A Argentina, principal destino das exportações gaúchas de manufaturados, teve papel
fundamental ao restringir o comércio exterior de vários outras subcategorias do setor secundário.
O País vizinho explica cerca de 30% da queda das vendas externas totais e de metade da
redução dos embarques industriais ao longo de 2014 (ambos os cálculos desconsideram as
operações com as plataformas de petróleo realizadas em 2013).
Pelo lado das importações gaúchas, houve uma forte queda entre janeiro e outubro (-
12,1%, somando US$ 12,5 bilhões). Praticamente todas as categorias de uso registraram
decréscimo, sendo que a maior influência veio de Bens intermediários (-11,6%), em função da
diminuição das compras de naftas para petroquímica (-22,0%). A queda de Bens de consumo
duráveis foi puxada por veículos automotores com motor inferior a mil cilindradas (-46,0%). Na
subcategoria de Bens de capital (-13,3%), a diminuição das compras de guindastes de pórtico e
grupos geradores de energia eólica exerceu pressão negativa sobre o resultado (explicam cerca
de 25% da retração desse grupamento).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 87
Tabela 5.5. Importações do Rio Grande do Sul por categoria de uso
(Em US$ milhões)
US$
jan-out/13 jan-out/14 Var. (%)
milhões
Bens intermediários 6.956 6.146 -11,6% -809
Combustíveis e lubrificantes 3.153 2.926 -7,2% -227
Bens de capital 2.462 2.134 -13,3% -328
Bens de consumo duráveis 1.191 835 -29,9% -356
Bens de consumo não-duráveis 316 321 1,6% 5
Bens de consumo semiduráveis 112 110 -1,8% -2
Total Geral 14.190 12.472 -12,1% -1.717
Fonte: MDIC/SECEX. Elaboração: FIERGS/UEE.
Gráfico 5.11. Importações em US$ e índice de atividade econômica (IBC-RS) do Rio Grande
do Sul
(Var. % acumulada em 12 meses)
80,0 10,0
Var. % em 12M das import.
-60,0 -2,0
fev/11
set/11
mai/09
jan/07
mar/08
dez/09
nov/12
jun/13
jan/14
abr/12
ago/07
jul/10
ago/14
out/08
É possível ter uma medida do custo efetivo das importações gaúchas ao transformar o
valor dos desembarques em dólares para reais deflacionados pelo IPCA. Esse dispêndio guarda
uma correlação interessante com o Índice de Expectativas Futuras (para os seis meses
subsequentes ao período de referência) do empresário industrial gaúcho, calculados pela Unidade
de Estudos Econômicos da FIERGS. Na medida em que as perspectivas melhoram, o empresário
acaba importando mais. Todavia, a forte deterioração iniciada a partir do segundo trimestre desse
ano fez com que o indicador caísse, inclusive, para abaixo do patamar de 50 pontos (denotando
pessimismo), num movimento que foi acompanhado pelas importações.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 88
Gráfico 5.12. Importações em R$ deflacionados e índice expectativas futuras do
empresário industrial do Rio Grande do Sul
(Var. % acumulada em 12 meses e pontos)
37 Importações 67
Índice de Expectativas Futuras
27 62
22
57
17
12
52
7
2 47
out-11
out-12
out-13
jul-11
jul-12
jul-13
jul-14
jan-11
jan-12
jan-13
jan-14
abr-13
abr-11
abr-12
abr-14
-3
-8 42
Fonte: MDIC/SECEX. FIERGS/UEE. Elaboração: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 89
do Investimento em Carteira do Exterior, uma vez que o Banco Central do Brasil deverá continuar
promovendo um aperto da política monetária, especialmente ao longo do primeiro semestre de
2014. Caso ocorra uma desvalorização mais intensa do câmbio, a autoridade monetária também
poderá utilizar medidas macroprudenciais, como, por exemplo, elevações nas alíquotas de IOF
sobre investimentos estrangeiros.
Em 2015, o comércio exterior do Brasil e do Rio Grande do Sul deverá recompor, apenas
parcialmente, as perdas verificadas ao longo de 2014. De uma maneira geral, o avanço será
favorecido pelo efeito estatístico criado pela pequena base de comparação. O driver mais
importante das exportações brasileiras deve vir do aumento esperado na produção de petróleo,
superior ao que é projetado para 2014, conforme a Petrobrás. Contudo, os ganhos a partir dessa
geração de excedentes exportáveis serão limitados pelo aumento na margem esperado para o
preço da mesma no ano que vem. As importações também devem crescer, a despeito da
desvalorização da taxa de câmbio, uma vez que o processo de substituição de insumos e bens de
capital da indústria (que respondem por aproximadamente dois terços da pauta) leva algum
tempo.
No caso do Rio Grande do Sul, as exportações de produtos da indústria devem continuar
prejudicadas pela gravidade da crise econômica da Argentina, que continua sendo o principal
destino desse tipo de mercadoria. É provável que o País vizinho alcance um acordo em relação ao
pagamento de sua dívida com os credores que não aceitaram a reestruturação da dívida
(holdouts), o que talvez contribua para impedir uma acentuação das perdas das reservas
internacionais. Entretanto, o ano de 2015 continuará sendo difícil, e talvez o único fator favorável
seja o efeito estatístico provocado pela pequena base de comparação.
No cenário superior, a economia americana surpreenderá positivamente, o que fará com
as taxas de juros sejam elevadas antes do esperado. Essa surpresa faria com que os investidores
se sentissem ainda mais confiantes com os rumos econômicos do País e desvalorizaria
moderadamente a taxa de câmbio, contribuindo para um repasse mais significativo dos
importados sobre os índices de inflação (pass through). No entanto, o saldo comercial pouco
melhora, uma vez que a fraqueza da demanda externa contribui para um avanço apenas
moderado das exportações, enquanto as importações sobem pela retomada um pouco mais
acentuada do nível de atividade doméstico.
No cenário inferior, a economia americana crescerá menos que o esperado, o que
provocaria um adiamento do processo de início de elevação da taxa de juros. A ampla
deterioração da confiança brasileira faria com que o Banco Central atuasse fortemente através de
intervenções no mercado cambial, contribuindo para uma desvalorização modesta. A fraqueza do
nível de atividade contribuiria para segurar as importações, gerando assim o maior saldo
comercial entre todos os cenários.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 90
Tabela 5.7. Perspectivas para as variáveis de Comércio Exterior – Brasil
(Em US$ bilhões)
2015**
2013 2014*
Inferior Base Superior
Exportações 242,2 226,8 223,4 233,2 237,5
Importações 239,6 230,7 222,7 234,4 240,4
Saldo 2,6 -3,9 0,7 -1,3 -3,0
Elaboração: FIERGS/UEE. *Estimativa: FIERGS/UEE.
Tabela 5.8. Perspectivas para as variáveis de Comércio Exterior – Rio Grande do Sul
(Em US$ bilhões)
2015**
2013 2014*
Inferior Base Superior
Exportações 25,1 18,6 18,4 19,4 19,9
Industriais 19,7 13,8 13,5 14,3 14,6
Importações 16,8 14,7 15,1 15,5 16,1
Saldo Comercial 8,3 3,9 3,2 3,9 3,8
Elaboração: FIERGS/UEE. *Estimativa: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 91
6. INFLAÇÃO, JUROS E CRÉDITO
Os preços da economia chegam ao final de 2014 a níveis muito altos, acima inclusive, do
limite superior da banda de variação da meta de inflação. Nem mesmo a fraca atividade
econômica do país, que cresceu apenas 0,2% nos primeiros três trimestres de 2014, e o ciclo de
aperto monetário, que elevou a taxa Selic de 7,25% para 11,25%, foram capazes de impedir que a
inflação persistisse alta.
No ano, cinco principais fatores pesaram sobre a alta da inflação: a recuperação dos
preços administrados, a resiliência dos preços de serviços e dos alimentos, a política fiscal ainda
mais expansionista, a desvalorização cambial e, principalmente, a inércia inflacionária que
impacta a inflação futura uma vez que as expectativas dos agentes estão desancoradas.
Para 2015, é esperado que o (necessário) realinhamento de alguns preços, como energia
e combustíveis e, sobretudo, a continuidade da perda de poder de compra da moeda nacional
sigam exercendo pressão sobre o nível de preços, superando os efeitos deflacionários da baixa
atividade econômica que se espera para o próximo ano.
O cenário de juros sinaliza uma intensificação do aperto monetário atualmente em curso
como forma de não apenas conter os efeitos secundários de tais eventos que pressionarão a
inflação, mas também de retomar a credibilidade da autoridade monetária. Ademais, a
possibilidade de redução do grau de investimento do país exigirá juros ainda maiores do que
aqueles vistos no final de 2011, quando a Selic alcançou o seu pico anterior (12,5%).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 92
guardava em relação aos preços livres, que mantiveram pressionando a inflação em 2014 (7,3%
no final do ano passado e 6,9% na variação em doze meses até outubro desse ano).
Os monitorados representam parcela significativa dos serviços disponíveis na economia
brasileira. Em 2014, por exemplo, a média de sua participação na cesta de produtos e serviços
que compõem o IPCA foi de 23%, muito semelhante à registrada em 2013 (24%), tendo
registrado, portanto, um impacto importante sobre o índice cheio do IPCA deste ano.
A elevação dos preços administrados ocorrida no ano foi preponderantemente influenciada
pelo reajuste das tarifas de energia elétrica, cuja variação em 12 meses findos em outubro foi de
16,8%. Ao todo, a ANEEL concedeu reajustes a 49 companhias no ano para que pudessem
recompor parcela dos custos incorridos com o desequilíbrio entre receitas e despesas gerado pelo
novo marco regulatório do país.
Gráfico 6.1. IPCA - Preços livres versus Gráfico 6.2. IPCA – Preços administrados
administrados (Variação % acumulada em 12 meses até out/14)
(Variação % acumulada em 12 meses)
8,2 Energia elétrica 16,8
7,2 7,3
6,9 Plano de saúde 9,4
6,6
6,6 Óleo diesel 7,5
4,8 6,0 5,6 Gasolina 5,0
5,9
4,6 Outros 4,6
4,5 Ônibus intermunicipal 4,6
Meta de inflação 4,5
3,3
1,6 Gás de bujão 4,5
1,5 Ônibus urbano 3,5
Monitorados Livres IPCA
Metrô 2,4
Água e esgoto -1,5
mai-10
mai-11
mai-12
mai-13
mai-14
jan-10
set-10
jan-11
set-11
jan-12
set-12
jan-13
set-13
jan-14
set-14
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 93
Nacional, Previdência Social e Banco Central) continuaram expandindo. Em 2014 (até outubro), o
avanço foi equivalente a um ponto percentual do PIB, representando atualmente 19,9% do
produto da economia.
Em termos reais, as despesas avançaram 6,0% entre janeiro e outubro, ao passo que as
receitas ficaram estáveis no mesmo período (ou seja, não houve avanço nenhum acima da
inflação). Como consequência, a demanda agregada expandiu no período, uma vez que o
governo injetou mais dinheiro na economia (através dos seus gastos) do que retirou dela (via
arrecadação de tributos). O efeito sobre a inflação é tanto direto, pela contratação de serviços,
quanto indireto, por meio da ampliação dos pagamentos a funcionários e fornecedores, que
expandem seu consumo por diversos bens, exercendo forte pressão sobre seus preços,
sobretudo em períodos como o atual, em que a produção dos mesmos se encontra bastante
limitada em função dos problemas enfrentados atualmente pelo setor secundário, como a
precariedade da infraestrutura, ambiente macroeconômico incerto para a realização de novos
investimentos, custos em elevação (principalmente os trabalhistas), concorrência com importados,
entre outros.
Essa também é uma das razões pelas quais os serviços mantiveram grande influência
sobre a inflação deste ano, ao registrarem alta de 8,5% no acumulado em 12 meses até outubro.
O atual nível da taxa de desemprego, em seu mínimo histórico, bem como a contínua elevação da
renda das famílias, também explicam a resiliência desses preços. Além disso, o fato de serem
altamente indexados à inflação passada e guardarem relação direta com a evolução do salário
mínimo contribui em grande medida para os serviços ficassem mais caros.
Os preços industriais, que nos períodos mais recentes neutralizavam, em certa medida, a
alta dos preços dos produtos não transacionáveis (i.e. serviços) em função da concorrência
acirrada com os produtos importados, registraram alta de 5,1% nos últimos 12 meses,
repercutindo a desvalorização cambial ocorrida neste ano (8,3% entre janeiro e outubro). Com ela,
os produtos importados se tornaram mais caros, viabilizando a retomada, ainda que parcial, da
competitividade dos produtos internos, que puderam recompor preços.
Vale lembrar que ao longo de todo o ano o Banco Central brasileiro se valeu de diversas
intervenções no mercado de câmbio para que a desvalorização do real frente ao dólar não fosse
maior, evitando um impacto mais forte sobre o nível geral de preços. Ao todo, as operações de
swap cambial realizadas em 2014 já somam um valor equivalente a US$ 100 bilhões. Caso não
tivessem ocorrido, os preços administrados teriam registrado variações maiores em 2014. Para o
próximo ano, em que pese a maior dificuldade de contenção da desvalorização cambial, em
função da forte pressão que deve ser provocada tanto pela possível perda do grau de
investimento do Brasil, quanto pelo provável aumento das taxas de juros americanas, é esperado
que os efeitos da perda de poder de compra da moeda nacional sobre os preços sejam maiores.
Além disso, grande parte das pressões inflacionárias veio do grupo dos alimentos. Com
efeito, o crescimento mais lento da oferta agrícola em 2014 mais do que compensou a
desaceleração do consumo das famílias, fazendo o grupo avançar 7,6% no acumulado em 12
meses até outubro. Destaca-se, nesse segmento, o avanço da alimentação que se dá fora do
domicílio, cuja variação foi de 10,0% no mesmo período. Entre os principais grupos que formam o
IPCA, destaca-se ainda a elevação dos preços das despesas pessoais (9,1%), habitação (8,8%) –
impactado, sobretudo, pelo aumento das tarifas de energia e combustíveis –, e educação (8,3%).
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 94
Gráfico 6.3. IPCA – Inflação de serviços Gráfico 6.4. IPCA – índice geral e grupos
versus preços industriais (Variação % acumulada em 12 meses)
(Variação % acumulada em 12 meses)
Despesas pessoais 9,1
9,0 8,7
8,5 Habitação 8,8
8,0
Serviços Educação 8,3
7,0
Alimentação e bebidas 7,6
6,0
Saúde* 6,9
5,0 5,1
5,2 Artigos de residência 6,9
4,0
Índice geral 6,6
3,0 Industrializados
Tranportes 4,2
2,0
mai/13
nov/13
mai/14
jan/13
mar/13
set/13
jan/14
mar/14
set/14
jul/13
19,75 6,0
4,5 + 2 p.p.
4,5
13,75 - 2 p.p.
15,75 16,00 12,50 11,25
11,0
3,0 2,5
11,25
8,75
7,25
jul-03
jul-08
jul-13
jan-01
nov-01
mai-04
mar-05
nov-06
mai-09
mar-10
mai-14
set-02
jan-06
set-07
jan-11
nov-11
set-12
jul-09
jul-14
out-10
ago-11
mai-10
mar-11
jan-07
jun-07
nov-07
set-08
fev-09
dez-09
abr-08
jan-12
jun-12
nov-12
set-13
fev-14
abr-13
Entretanto, o aumento dos juros no ano não foi suficiente para ancorar as expectativas de
inflação. A análise da evolução recente do IPCA mostra que o Banco Central brasileiro tem agido
com bastante complacência nos últimos anos, tolerando a flutuação persistente do índice acima
da meta de 4,5% e, inclusive, permitindo que eventos de rompimento da banda superior se
tornassem mais comuns – afinal, a meta de inflação é anual, sem qualquer sanção para desvios
ao longo do ano.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 95
A falta de comprometimento da política fiscal, que permaneceu expansionista durante todo
o período de alta dos juros, e a desconfiança instaurada em relação à política econômica,
sobretudo a política monetária, contribuíram para que as expectativas permanecessem, ao longo
de todo o ano, em patamares bastante elevados.
Na verdade, a postura mais complacente com a inflação elevada, adotada pela autoridade
monetária, fez com que, desde 2010, as expectativas deixassem de oscilar ao redor da meta de
inflação, mostrando descrença em relação ao cumprimento do objetivo principal da política
monetária. As sinalizações do Banco Central, a partir de então, de preferência por crescimento
econômico em detrimento da elevação dos preços fez, inclusive, com que as expectativas
passassem a se acomodar ao redor de 5,5%, como se viu entre 2010 e 2013. Em 2014, contudo,
apesar do aumento da taxa de juros, as expectativas migraram para níveis mais elevados,
propagando um sentimento de que o verdadeiro comprometimento da autoridade monetária
passou a ser o limite da banda de variação da meta (6,5%).
6,6
6,2
5,7 5,7 5,8 5,7
5,5
5,3
5,0 4,5
4,1 4,0
3,4
02/01/2007
16/04/2007
26/07/2007
07/11/2007
21/02/2008
05/06/2008
12/09/2008
22/12/2008
06/04/2009
20/07/2009
29/10/2009
10/02/2010
26/05/2010
03/09/2010
17/12/2010
30/03/2011
12/07/2011
21/10/2011
01/02/2012
16/05/2012
24/08/2012
07/12/2012
22/03/2013
04/07/2013
11/10/2013
23/01/2014
09/05/2014
19/08/2014
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 96
Tabela 6.1. Componentes da inflação – IPCA
(Contribuição % do índice cheio)
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Inflação livres* 75,4 50,3 65,2 38,1 86,3 49,9 43,8 49,7 64,3
Inflação administrados** 58,2 51,0 21,5 17,8 27,4 18,6 25,2 13,5 2,5
Choque de oferta -15,5 5,7 47,5 25,8 -5,8 33,3 14,5 12,5 3,2
Repasse cambial -36,2 -17,5 -25,1 10,7 -5,6 -3,7 -3,4 10,3 5,9
Expectativa 4,7 -4,1 -9,6 3,7 -2,3 3,6 7,8 8,2 10,7
Inércia 13,5 15,0 0,2 3,9 0,0 -1,5 12,0 5,8 13,4
IPCA (variação %) 5,7 3,1 4,5 5,9 4,3 5,9 6,5 5,8 5,9
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.*Exclui choque de oferta, inércia, expectativa e repasse cambial. **Exclui inércia.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 97
representava 54,7% do PIB) tem efeitos diretos sobre os preços da economia, uma vez que
antecipa o consumo que seria realizado em etapa posterior.
Mais uma vez, o avanço da carteira de crédito direcionado (que inclui os desembolsos do
BNDES, crédito rural, financiamento imobiliário, entre outros) superou o aumento do crédito livre.
Na comparação em 12 meses até outubro, enquanto o primeiro variou 21,5%, o segundo
aumentou apenas 4,9%. Destaca-se o financiamento imobiliário, na carteira de pessoas físicas,
com avanço de 27,6% no mesmo período, e os investimentos com recursos do BNDES, no caso
das pessoas jurídicas que, apesar de não terem apresentado a maior variação dentro do grupo
(16,1%), foi aquele que mais teve impacto no período, dada a sua importância no desta carteira
(72% em outubro de 2014).
Esse movimento está alinhado com a participação relativa das instituições concedentes de
crédito. O crédito oferecido pelos bancos públicos avançaram 18,3% no mesmo período, enquanto
que o montante ofertado pelos bancos privados cresceu 5,9%.
Gráfico 6.8. Saldo de crédito – por tipo e Gráfico 6.9. Participação das instituições no
por instituição concedente total de empréstimos
(Variação % dos últimos 12 meses – setembro) (%)
21,5
66,2
18,3
58,6 53,4
56,4 50,7
12,2 Bancos Privados
Banco Públicos
43,7 49,5
41,5 46,6
5,9
4,9
33,8
mai/11
mai/12
mai/13
jan/08
mai/08
mai/09
set/08
jan/09
set/09
jan/10
mai/10
set/10
jan/11
set/11
jan/12
set/12
jan/13
set/13
jan/14
mai/14
set/14
Total Direcionados Livres Bancos Bancos
Públicos Privados
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 98
Além disso, a atual situação das contas públicas, que registram déficit primário no
acumulado entre janeiro e outubro desse ano (-0,3% do PIB), e que vêm se deteriorando desde
2012, quando mecanismos não ortodoxos passaram a fazer parte da contabilidade dos recursos
públicos, deve impor uma restrição importante para a continuidade do avanço dos bancos públicos
no mercado de crédito. Isso certamente restringirá a expansão do mercado pelo lado da oferta,
sobretudo porque será necessário, no ano que vem, um ajuste fiscal para que a situação, já
bastante delicada, da economia brasileira não seja ainda mais penalizada.
Ademais, o aperto monetário iniciado em 2013 e estendido para 2014 teve efeito sobre os
juros pagos pelos tomadores de empréstimos, aumentando o custo das dívidas. As taxas pagas
pelas famílias, por exemplo, chegaram a 28,1% em outubro, ante 24,3% pagas no final de 2012. O
mesmo movimento também ocorreu com as taxas cobradas das pessoas jurídicas, porém em
ritmo mais lento (passando de 13,3% para 15,9%). Em ambos os casos, os efeitos se traduzem na
redução da demanda por crédito, que deve persistir no próximo ano, uma vez que é esperada
uma elevação da taxa Selic.
Gráfico 6.10. Taxa média de juros Gráfico 6.11. Endividamento das famílias
(%) (% da renda acumulada em 12 meses)
32,1 Total PJ PF
30,0 45,8 45,9
28,1 45,4
25,6
24,3 24,3
22,8
19,7 21,3 43,8
43,6
18,0
18,7 15,9
17,4
42,1
15,1
13,3
dez/11
dez/12
dez/13
mar/11
jun/11
set/11
mar/12
jun/12
set/12
mar/13
jun/13
set/13
mar/14
jun/14
set/14
mai/12
nov/12
mai/13
mai/14
jan/12
mar/12
set/12
jan/13
nov/13
jan/14
mar/13
set/13
mar/14
set/14
jul/12
jul/13
jul/14
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.
Além disso, também contribuem para o arrefecimento da demanda por crédito a fraca
atividade econômica e o baixo nível de confiança dos empresários brasileiros, retrancando
investimentos e a própria necessidade de financiamento. Ademais, o atual nível de endividamento
das famílias brasileiras, que representa 45,9% da renda acumulada em 12 meses, continuará
restringindo a tomada de crédito dos consumidores.
dez/13
jan/14
mai/14
jun/14
out/14
set/13
out/13
fev/14
mar/14
set/14
abr/14
jul/14
ago/14
Total PJ PF
Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 99
A despeito da queda suave das taxas de inadimplência, tanto na carteira de pessoas
jurídicas como físicas, o ritmo de expansão das concessões de crédito reduziu bastante ao longo
de 2014, sinalizando a maior cautela, tanto dos tomadores de empréstimos, como dos
emprestadores, que passaram a ser mais criteriosos na análise de crédito, sobretudo as
instituições privadas. De fato, o indicador de dificuldade de acesso ao crédito da Sondagem
Industrial da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) do terceiro trimestre de 2014 aponta
para a pior avaliação nesse quesito desde a crise financeira de 2008.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 100
Tabela 6.2. Perspectivas para os índices de inflação e taxa de juros
(% a.a.)
Cenários 2015
2013 2014*
Inferior Base Superior
IPCA 5,9 6,4 6,3 6,5 6,9
INPC 5,6 6,3 5,7 6,0 6,8
IGP-M 5,5 3,6 3,7 5,7 7,5
Selic-Meta (Fim de Período) 10,00 11,75 12,25 13,00 14,00
Fonte: IBGE. BCB. * Estimativas: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 101
7. POLÍTICA FISCAL
Em 2014, ano de eleições presidenciais, as despesas públicas avançaram em ritmo muito mais
acelerado do que as receitas, arrefecidas com a atividade econômica combalida, resultando em
no pior resultado primário dos últimos 10 anos. Nem mesmo a contabilidade criativa conseguiu
impedir o déficit primário registrado no acumulado do ano até outubro. O ajuste fiscal exigido para
o ano que vem será imperioso sobre a possibilidade de crescimento da economia brasileira. No
Rio Grande do Sul, a ampliação acelerada do déficit orçamentário traz importantes desafios para
os próximos anos.
O ano de 2014 foi marcado pela irresponsabilidade fiscal tanto na esfera federal quanto na
estadual. No plano nacional, o resultado primário do setor público consolidado chega ao final do
ano bastante deficitário, registrando recordes históricos, fruto de uma política fiscal amplamente
expansionista. As despesas primárias do governo central ampliaram em ritmo muito mais
acelerado (5,9% acima da inflação) do que o incremento das receitas federais que, refletindo a
fraca atividade econômica do país e a política de incentivos e desonerações, ficaram estagnadas
no ano.
Esse quadro de deterioração das contas públicas nacionais ocorre mesmo depois do
governo ter se valido da mais nova vertente da contabilidade criativa das contas públicas, que
posterga repasses do Tesouro Nacional para instituições encarregadas de fazer os pagamentos
de diversos programas do governo federal, inclusive o Bolsa Família e o seguro-desemprego,
conhecida como “Pedalada fiscal”.
A saída encontrada pelo Poder Executivo para evitar a infração da Lei de
Responsabilidade Fiscal foi propor alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) a fim de
ampliar os descontos da meta de superávit primário que, em última instância, equivale a eliminar a
meta fiscal. A evolução decrescente do resultado primário, combinada com a possibilidade de
eliminação da meta de superávit primário e com a elevação da relação entre a dívida líquida do
setor público e o PIB, deve pautar a decisão das agências internacionais de risco sobre o rating da
dívida soberana do País, com a possibilidade de que o Brasil perca o grau de investimento.
No Rio Grande do Sul, os tempos de crescimento robusto da arrecadação parecem ter
ficado para trás. No ano, as receitas com o ICMS, principal tributo estadual, cresceram pouco a
mais do que a inflação, ao passo que as despesas, bastante vinculadas e rígidas, continuaram
crescendo em ritmo forte, o que não é o caso, entretanto, dos investimentos públicos. Estes, além
de terem pouca prioridade na lista de endereços das receitas estaduais, também estão fadados ao
baixo crescimento, uma vez que estão esgotadas as alternativas de financiamento, tanto pelo lado
dos empréstimos, impossibilitados em função do tamanho da dívida estadual que ultrapassa em
mais de duas vezes a receita corrente líquida, quanto pelo lado das receitas, já bastante
comprometidas.
Como resultado, a ampliação do déficit orçamentário gaúcho se dá de maneira bastante
acelerada. Nos primeiros oito meses do ano, o Estado acumulou déficit de R$ 1,7 bilhão frente ao
resultado negativo de R$ 396 milhões no mesmo período do ano passado. Para o próximo ano, o
orçamento anual sinaliza que, dadas as receitas fictícias e a subestimação das despesas, esse
resultado pode se deteriorar ainda mais.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 102
Para 2015, portanto, serão necessários ajustes fiscais profundos tanto no Brasil quanto no
Rio Grande do Sul. No primeiro caso, a tarefa se mostra bastante difícil pelo fato de que a maior
contribuição para o crescimento dos gastos públicos veio da política de ampliação de programas
sociais e incentivos. Qualquer ajuste que passe pela contenção dos mesmos exigirá um custo
político bastante alto. Ademais, é importante lembrar que cortes de despesas através de
modificações no seguro-desemprego, nas pensões e/ou nos auxílios doença, por exemplo, apesar
de importantes e necessárias, demandam mais tempo e não poderão ser colocados em prática já
no próximo ano. O gradualismo desse ajuste – necessário para que a economia, já combalida,
não entre em recessão por um período prolongado de tempo – dependerá de quão crível será o
projeto de curto e médio prazo da próxima equipe econômica para as contas públicas.
No caso do Estado, os benefícios já concedidos a algumas categorias do funcionalismo
público, que deverão ocorrer até 2018, bem como o potencial passivo trabalhista decorrente do
não cumprimento do piso nacional do magistério, comprometem os resultados dos próximos anos,
com efeito já para 2015, para quando se projeta um déficit potencialmente alto. No caso dos
investimentos, a única alternativa que se mostra viável é, portanto, uma agenda que priorize as
concessões de serviços públicos ao setor privado, especialmente no segmento de infraestrutura.
7
É bem verdade que em 2012 o Governo lançou mão de diversas medidas que desoneraram alguns tributos federais,
como IPI dos automóveis, móveis e linha branca, Cide-Combustíveis, IOF-Crédito Pessoa Física e que desoneraram
também a folha de pagamentos. Entretanto, isso não refuta a relação que a arrecadação tem com o PIB. Quando este
se expande, o Governo arrecada mais em função da ampliação do consumo, do faturamento das empresas, do
aumento das importações e da própria elevação do número de contratações.
8
Em 2009, as receitas caíram 2,7%.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 103
incremento não foi capaz de neutralizar o efeito negativo do Decreto nº 8.023, publicado no Diário
Oficial da União de cinco de junho de 2013 sobre as receitas federais.
Nele, o Governo reduziu de 6% para zero a alíquota do imposto cobrado sobre a aplicação
de estrangeiros em renda fixa no País. Assim, o montante arrecadado nos primeiros meses de
2014, quando comparados aos mesmos meses do ano passado (quando a alíquota ainda incidia),
se torna bem menor. Logicamente, com a isenção do IOF e com a elevação da taxa de juros
básica da economia, que remunera os títulos públicos federais – a Selic foi elevada de 8,0% a.a.
em junho de 2013 para 11,25% em outubro de 2014 –, as aplicações de estrangeiros em renda
fixa aumentaram expressivamente. Entre janeiro e outubro, o avanço foi de 47,8%, com destaque
para os investimentos de curto prazo, que dobraram de volume no período, ao passo que os de
longo prazo avançaram 36,4%.
Gráfico 7.1. Crescimento real das receitas Tabela 7.1. Arrecadação das Receitas
federais Federais
(Variação % real deflacionado pelo IPCA de out/14) (R$ bilhões a preços de out/14 – acum. até outubro)
Variação
2013 2014
11,3 % R$
9,8 10,1 Imposto de Renda 255,8 257,9 0,8 2,1
8,3 IPI 41,7 42,2 1,3 0,5
7,5
IOF 25,9 24,7 -4,9 -1,3
Imp. de Importação 33,1 31,2 -5,8 -1,9
4,1
Cofins 168,9 163,5 -3,2 -5,4
PIS/PASEP 44,7 43,5 -2,7 -1,2
0,7 0,5 CSLL 59,1 58,0 -1,9 -1,1
CIDE 0,0 0,0 -24 0
SUB TOTAL 629,3 621,0 -1,3 -8,3
-2,7 TOTAL TRIBUTAÇÃO 695,0 699,8 0,7 4,8
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014* TOTAL (com Previdência) 982,8 987,2 0,5 4,4
Fonte: SRF. *Acum. jan-out. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: SRF. Elaboração: FIERGS/UEE. *Deflator: IPCA
de out/2014. **Inclui receitas administradas por outros
órgãos além da Receita Federal do Brasil.
As contribuições sociais, que incidem sobre o faturamento mensal das empresas, como a
COFINS e o PIS/PASEP, mostraram claramente os efeitos do baixo crescimento sobre a
arrecadação, tendo registrado retração de 3,2% e 2,7%, respectivamente, nos primeiros dez
meses do ano, a despeito do crescimento moderado das vendas do comércio varejista (2,6%
entre janeiro e outubro). Em termos de influência, essas foram as principais contribuições
negativas para a arrecadação de 2014 até outubro. Contribuíram também para esse resultado a
redução dos dias úteis decorrente da Copa do Mundo e a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) de retirar o ICMS da base de cálculo de ambos os tributos em relação às mercadorias
importadas, ocorrida no ano passado (Lei 12.865 de outubro de 2013).
Para 2015, as expectativas são de continuidade de queda do recolhimento do PIS/PASEP
e COFINS, uma vez que o STF tenha decidido que a não incidência do ICMS na base de cálculo
das contribuições PIS/PASEP e COFINS valerá para todas as mercadorias e não apenas as
importadas.
Vale destacar que as desonerações tributárias também contribuíram para o arrefecimento
das receitas em 2014. De janeiro a outubro, segundo os dados da Receita Federal, o total que
deixou de entrar nos cofres públicos foi de R$ 84,5 bilhões, 34,3% superior ao total desonerado
em 2013 na mesma base de comparação, descontada a inflação (IPCA – out/14). Mesmo
representando um valor bastante significativo para as contas do governo, elas não foram
suficientes para reanimar a economia.
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Por outro lado, mesmo com a queda na produção industrial (-2,9% entre janeiro e
setembro, comparado ao mesmo período do ano passado), a arrecadação com Imposto sobre
Produto Industrializado (IPI) avançou 1,3% acima da inflação no período. Auxiliou para isso a
recomposição de algumas alíquotas desde o início do ano, ainda que não em sua totalidade,
como o caso dos carros, móveis e painéis de madeira9.
Além disso, o Governo pôde contar, em 2014, com as receitas extraordinárias do REFIS,
programa de parcelamento de débitos vencidos, que auxiliaram na recomposição das receitas. A
Lei n° 12.996/14 permitiu que os débitos vencidos até 31 de dezembro de 2013 pudessem ser
pagos ao longo desse ano, com possibilidade de desconto de 100% das multas de mora e de
ofício, 45% dos juros de mora e 100% do valor do encargo legal caso fossem pagos à vista, à
semelhança do que ocorrera em 2010, 2011 e 201310. No ano, o montante das receitas com o
REFIS foi de R$ 10 bilhões.
Vale ressaltar que o fato de o Governo necessitar desse programa de renegociação de
dívidas para aumentar a arrecadação em anos consecutivos, por si só, já demonstra a fragilidade
das contas públicas do Brasil. Além disso, a sua reincidência gera um incentivo contrário, uma vez
que se torna irracional pagar o imposto quando é possível renegociar a dívida tributária com
diversas concessões mais à frente.
Para 2015, a proposta orçamentária enviada ao Congresso Nacional pressupõe receitas
extraordinárias no montante de R$ 27,5 bilhões, o equivalente a 3,1% do total de receitas orçadas
para o ano, indicando que a necessidade de auxílio dessa fonte de recurso persistirá no próximo
ano, a exemplo do que vem ocorrendo em 2014.
9
A alíquota de IPI dos móveis e dos paineis de madeira subiu de 3,5% para 4% em dezembro de 2013, patamar que
será mantido até o final do ano. A alíquota cheia desses dois itens é 5%. No caso dos automóveis, a alíquota foi
aumentada de 2% para 3% para carros populares (1.0) e veículos utilitários, de 7% para 9% para veículos com motores
flex 1.0 e 2.0, e de 8% para 10% para carros 1.0 e 2.0 movidos à gasolina.
10
Leis n° 11.941/09 (Refis da Crise), 12.249/10 e 12.864/13.
11
Desconsideram as despesas financeiras e exclui as transferências a Estados e Municípios.
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subvenções econômicas, todos juntos. Vale lembrar que, dada a dificuldade do Governo de
produzir resultados primários superavitários, deixarão de ser pagos R$ 4 bilhões que tinham como
destino a rubrica da CDE, transferindo essa conta para os consumidores de energia.
2001
2006
2014*
1998
1999
2000
2002
2003
2004
2005
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: STN. BCB. *Acum. jan-ago. Fonte: SRF. Elaboração: FIERGS/UEE. *Deflator: IPCA
Elaboração: FIERGS/UEE. de out/2014. **Inclui receitas administradas por outros
órgãos além da Receita Federal do Brasil.
Mesmo com os aportes até agora realizados, que tiveram efeitos sobre o resultado do
Governo Federal, as tarifas de diversas companhias de energia elétrica sofreram reajustes
significativos ao longo do ano, recompondo os descontos determinados pela Lei 12.783/2013 e
mostrando que tais aportes se traduziram, no final das contas, em alocação ineficiente dos
recursos públicos. Isso porque tal medida causou, desnecessariamente, desequilíbrio entre as
receitas e despesas das distribuidoras de energia, além de gerar custos com indenizações às
empresas que aceitaram renovar, antecipadamente, os contratos de concessão de usinas e linhas
de transmissão. A escassez de chuvas intensificou os desequilíbrios iniciais, fazendo com que as
hidrelétricas deixassem de ser suficientes para a geração de toda a energia necessária,
provocando a utilização de usinas termoelétricas, consideravelmente mais caras.
Ao todo, conforme estudo conjunto do Centro Brasileiro de Infraestrutura e da consultoria
PSR, estima-se que o custo de tal medida ultrapassou R$ 100 bilhões. Desse total, a maior
parcela deve ser paga através de tarifas mais caras nos próximos anos. A outra parte continuará
exercendo pressão sobre as contas públicas.
Por outro lado, chama a atenção o crescimento mais ameno das despesas previdenciárias,
de apenas 2,3% acima da inflação nos primeiros dez meses do ano, bastante inferior ao restante
dos gastos em 2014 (5,9%) e também em relação ao crescimento médio dos últimos 10 anos
(7,7% a.a.). Ainda que se pense que neste ano o aumento real do salário mínimo tenha sido
inferior ao do período recente (1,2% frente 2,6% em 2013 e 7,6% em 2012), é importante lembrar
que o ano de 2011 também foi marcado por um reajuste baixo do salário mínimo, inclusive menor
do que concedido em 2014, e mesmo assim as despesas com previdência não cederam tanto,
dado seu caráter obrigatório e rígido.
Uma possível explicação para tal fenômeno pode ser revelada pelo o que se convencionou
chamar de “pedalada fiscal”, uma nova trama utilizada para ampliar o resultado primário do ano e
que será detalhada mais à frente.
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Gráfico 7.3. Evolução das despesas Gráfico 7.4. Reajuste real do salário mínimo
previdenciárias (Variação % real)
(Variação % real* – jan-out)
8,2 11,1
7,4 7,4
7,1
6,4 8,7
7,6
5,6 5,2 5,3
3,3 3,5
3,9
2,3 2,6
1,2
0,4
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: MTE. Elaboração: FIERGS/UEE. *Deflator: IPCA Fonte: MTE. BCB Elaboração: FIERGS/UEE.
(out/14).
12
Deflacionado pelo IPCA de out/2014.
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Tabela 7.3. Despesas primárias por grupo de despesa
(R$ milhões – valores de outubro de 2014)
Variação
2013 2014
% real R$
Pessoal 189.967 193.706 2,0 3.738
Juros e encargos da dívida 139.188 159.718 14,8 20.531
Outras despesas correntes 729.489 780.621 7,0 51.132
Investimentos amplos* 46.368 54.600 17,8 8.232
Amortização da dívida 615.746 769.246 24,9 153.500
Fonte: SIAFI. Elaboração: FIERGS/UEE. *Desconsidera concessão de empréstimos e financiamentos.
4,6 4,6
4,6 4,6
4,4
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
jul/05
jul/06
jul/07
jul/08
jul/09
jul/10
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
Fonte: SIAFI. Elaboração: FIERGS/UEE. *Até outubro. Fonte: SIAFI. BCB. Elaboração: FIERGS/UEE.
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fomentar o crescimento e pelos gastos sociais, onde estão incluídos o benefício do LOAS13 e do
Bolsa Família.
Portanto, qualquer ajuste pelo lado das despesas precisará, inevitavelmente, ser feito
através do controle desses gastos que mais cresceram nos últimos anos. Isso passa pela
moderação dos aumentos do salário mínimo, que impactam diretamente o seguro desemprego e o
abono salarial, o INSS e a maioria dos programas sociais. Além disso, os subsídios concedidos
nos últimos anos devem ser repensados, sobretudo porque não foram eficientes no seu objetivo
de reanimar a economia.
Destaca-se que há um agravante no que se refere aos gastos de custeio. Mesmo com todo
o avanço dessas despesas, ainda houve, em paralelo, o aumento dos dispêndios que foram
realizados, mas que ainda não foram pagos, razão pela qual não são contabilizadas na execução
orçamentária. Nesse caso, a despesa entra na conta chamada de “restos a pagar” (RP), que são
classificados em: i) RP não-processados, quando as despesas são autorizadas e empenhadas,
mas o ordenador das despesas não reconheceu o serviço e não houve o pagamento; e ii) RP
processados, quando as despesas são autorizadas, empenhadas e liquidadas (ou seja, houve a
entrega do bem ou serviço), mas falta a última etapa das despesas que é o pagamento. No último
caso, o pagamento não poderá deixar de ocorrer sob pena de descumprimento do princípio da
moralidade da Administração Pública.
Nesse ano, verificou-se um aumento expressivo dos RP não-processados, que passaram
de R$ 27,6 bilhões entre janeiro e outubro de 2013 para R$ 93,0 bilhões no mesmo período de
2014. Esse montante representa o “esqueleto orçamentário” que terá que ser pago em algum
momento e que está sendo adiado para que o resultado primário atual seja maior, como será visto
a seguir. Vale ressaltar que esta é uma prática que se tornou especialmente relevante no ano
passado, quando o pagamento de restos a pagar caiu consideravelmente (-21,4%, levando em
conta tanto os processados quando os não-processados).
O problema da formação desse tipo de “esqueleto orçamentário” reside no fato de que o
princípio da anualidade do orçamento deixa de existir, impondo muitas restrições para os
próximos períodos. Em muitos casos, pode significar a transferência de responsabilidade
orçamentária para outros mandatos.
13
LOAS: Lei Orgânica de Assistência Social.
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Nem mesmo a nova contabilidade criativa segurou o resultado primário de 2014
A desaceleração das receitas, combinada com o persistente avanço das despesas, gera,
invariavelmente, uma situação de desequilíbrio das contas públicas. No ano, entre janeiro e
outubro, o déficit nominal foi de R$ 242,2 bilhões, o que traduz a Necessidade de Financiamento
do Setor Público – NFSP. Isso representa um aumento de R$ 98,4 bilhões em relação ao mesmo
período do ano passado. Destaca-se o forte avanço da necessidade de financiamento do Governo
Central, que passou de 2,79% para 4,74% do PIB.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 110
receitas extraordinárias (de concessões de serviços públicos, de programas como o Refis da crise
e do leilão de Libra), (iii) a utilização de recursos do Fundo Soberano do Brasil, (iv) a postergação
de transferências aos estados e municípios; (v) retirada de restrições ao repasse de recursos do
BNDES para o Tesouro Nacional e, (vi) possibilidade de abatimento da meta de superávit primário
até um certo limite determinado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de cada ano em caso
de realização de investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), de
desonerações tributárias e de dispêndios com o Plano Brasil Sem Miséria.
Os abatimentos da meta de superávit primário passaram a ser utilizados em 2009, quando
foi permitido que as despesas com o PAC fossem descontadas da meta até o montante de R$ 18
bilhões, dos quais pouco mais de R$ 8 bilhões foram utilizados. Essa prática, não muito ortodoxa,
se estendeu nos anos seguintes, fazendo com que, na verdade, a meta “de fato”, fosse cada vez
menor com o passar dos anos, chegando, em 2014, a apenas 1,9% do PIB. Nenhum dos três
objetos de desconto faz sentido para o cômputo do resultado primário, porque em todos os casos,
estamos falando de despesas primárias que, por definição, deveriam ser reduzidas da receita
primária ao se calcular o resultado, cuja definição é uma só: diferença entre receita e despesa não
financeira.
Gráfico 7.8. Resultado fiscal versus meta Gráfico 7.9. Metas de superávit primário
de superávit primário (% do PIB)
(% do PIB – acumulado jan-out)
3,3 3,3 Meta cheia Meta com descontos
4,8 5,0 Resultado primário
4,2 4,2 3,1 3,1 3,1
Meta "cheia" final de ano
4,3
3,8 3,3 3,5 3,1 3,1 2,6
2,4 2,4
2,0 2,2 2,2
1,3
1,9
Entretanto, mesmo com a possibilidade de entregar o menor superávit primário dos últimos
anos, o governo não conseguiu visualizar, ao longo de 2014, chances reais de que pudesse
cumprir nem a “meta ajustada” e, por isso, resolveu inovar mais uma vez. Neste ano, a nova
“contabilidade criativa” foi feita através do atraso de repasses para bancos públicos e privados
referentes ao pagamento de benefícios do INSS, Seguro Desemprego, Abono Salarial (PIS),
Bolsa Família e Crédito Agrícola. A “pedalada fiscal”, como tem sido chamada, diz respeito a um
acerto de calendário para liberação de recursos do Tesouro Nacional. Os valores ficam retidos na
entidade para compor o superávit primário e só depois são repassados. É como se o Tesouro
utilizasse um tipo de “cheque especial” nesses bancos.
Essa operação parece explicar, por exemplo, porque as despesas previdenciárias
reduziram expressivamente o ritmo de crescimento real, mesmo sem ter havido grande mudança
no número de beneficiários, como visto anteriormente.
Estimativas apontam que mais de 11 bilhões deixaram de entrar no caixa do Banco do
Brasil e da Caixa Econômica Federal em 2014. No primeiro caso, foram contabilizados R$ 3
bilhões no balanço do banco como equalização de juros em relação à safra agrícola que deveriam
ter sido repassados pelo Tesouro Nacional entre janeiro e setembro. No segundo caso, estima-se
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 111
que mais de R$ 8 bilhões não foram repassados para a Caixa Econômica Federal para
pagamento de gastos sociais, essencialmente do Bolsa Família, entre janeiro e junho deste ano14.
Além de representar uma afronta à responsabilidade fiscal, esse tipo de manobra faz
levantar a questão sobre a legalidade de sua operação, uma vez que bancos estatais não podem
fazer empréstimos para o Governo. Ademais, o montante de dividendos de empresas estatais
repassados para o Tesouro nesse ano cresceu em relação ao ano passado, quando já havia sido
grande. No acumulado até outubro, esses recursos somaram R$ 17,8 bilhões, contribuindo para o
resultado primário do ano pelo fato de que são desconsiderados, na maioria dos casos, os custos
referentes aos subsídios dados pelo Governo Federal para que as empresas públicas possam
repassar tais dividendos, como ocorreu com o BNDES ao longo dos últimos anos. Isso fez o total
de repasses médios por ano saltar de R$ 13,9 bilhões registrados entre 2005 e 2009 para R$ 19,8
bilhões entre 2010 e 2014.
Quando descontamos tanto os repasses de dividendos (R$ 17,8 bilhões) quanto os valores
envolvidos na nova trama fiscal (R$ 11,0 bilhões) do resultado primário acumulado até outubro (-
R$ 11,6 bilhões), podemos perceber que o rombo fiscal de 2014 é ainda maior e equivale a algo
próximo de 0,9% do PIB.
Diante desse quadro, a reflexão que se faz é uma só: não há mais espaço fiscal para
novas rodadas de incentivos econômicos, tanto através das desonerações fiscais, quanto de
aportes a bancos públicos para a expansão do crédito. O trabalho a ser feito pela nova equipe
econômica não será tarefa fácil, sobretudo porque os eventos recentes que mascararam os
resultados anuais minaram a credibilidade dos agentes em relação à possibilidade de reequilíbrio
das contas públicas.
14
De acordo com a revista IstoÉ de 18/08/2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 112
que é a taxa de juros de longo prazo). Tais créditos, que equivaliam 0,5% do PIB em 2007,
representam hoje 10,0% do PIB.
Por essa razão, até o ano passado, a dívida líquida do setor público (DLSP) não havia
mostrado sensibilidade ao desequilíbrio fiscal que se acentuava. A DLSP é, por definição, a
diferença entre a dívida bruta (DBGG) – essencialmente os títulos públicos emitidos pelo Tesouro
Nacional – e os ativos do governo – reservas internacionais e empréstimos do Tesouro Nacional
às empresas estatais. Assim, quando a DBGG era aumentada para ampliar os repasses aos
bancos públicos federais (ativos), a DLSP não sofria alteração (o mesmo montante que passa a
incorporar o saldo da DBGG era descontado como ativo para computar a DLSP). Apenas a taxa
de juros que incidia sobre ela – taxa implícita – aumentava, o que se configurava como um grande
problema que estava sendo gestado para os anos posteriores.
Contudo, a partir de janeiro de 2014, passamos a ver uma inversão desse processo. No
ano, não apenas a DBGG aumentou de forma expressiva, chegando a R$ 3,2 trilhões, como
também vimos uma elevação da DLSP, que passou de 33,6% do PIB para 36,1% do PIB desde
dezembro de 2013, chegando a R$ 1,8 trilhão em outubro desse ano.
57,1
54,1
47,3
42,8 DLSP DBGG
36,1
37,8 38,8 33,6
dez/06
mar/07
jun/07
set/07
dez/07
mar/08
jun/08
set/08
dez/08
mar/09
jun/09
set/09
dez/09
mar/10
jun/10
set/10
dez/10
mar/11
jun/11
set/11
dez/11
mar/12
jun/12
set/12
dez/12
mar/13
jun/13
set/13
dez/13
mar/14
jun/14
set/14
Ou seja, o problema das contas públicas refere-se não apenas ao fluxo (resultado primário
deficitário), como também ao estoque (com dívida crescente em relação ao PIB). Essa situação
fez com que o Brasil passasse a ser analisado cuidadosamente pelas agências internacionais de
risco. Ainda em 2014, a agência Standard & Poor’s reduziu a nota de crédito soberano do Brasil
de BBB para BBB-, colocando-o apenas a um degrau do limite que separa os países classificados
com grau de investimento e aqueles caracterizados na categoria de especulação, e sinalizando
uma perspectiva negativa. O movimento de rebaixamento da perspectiva de rating da dívida
soberana do Brasil tem sido seguida por outras agências de risco como a Moody’s.
Ou seja, mais do que nunca o ajuste das contas públicas se faz necessário, sob pena do
Brasil perder o grau de investimento, e junto com ele visualizar a saída massiva de recursos para
o exterior, de que tanto o País precisa dada a sua baixa taxa de poupança. No cenário de
estresse, serão requeridos juros maiores, dificultando ainda mais a retomada da atividade
brasileira. É importante, sobretudo, que tal ajuste seja crível, uma vez que sua implementação não
será fácil e demandará um horizonte maior de tempo do que apenas um ano.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 113
Um ano marcado pela moderação das receitas de ICMS no Estado do Rio Grande do Sul
Nos últimos anos, as receitas decorrentes do principal tributo do Estado do Rio Grande do
Sul cresceram de forma significativa em relação à inflação e à própria expansão do PIB. Desde
2008, a arrecadação de ICMS aumentou, em média, 5,1% ao ano em termos reais, ao passo que
o PIB cresceu 3,1% ao ano no mesmo período. Em 2013, especificamente, o crescimento foi de
6,1% acima da inflação, impulsionado pelo bom desempenho da economia gaúcha, sobretudo da
indústria que acabava de se recuperar de uma perda expressiva no ano anterior, quando ocorreu
a seca no Estado.
Em 2014, contudo, o cenário tem se mostrado um pouco diferente. A fraca atividade
econômica do Rio Grande do Sul se mostrou mais imperiosa sobre a arrecadação das receitas
públicas do que em outros anos. No acumulado entre janeiro e outubro, a arrecadação de ICMS15,
principal tributo do Estado, somou R$ 21,0 bilhões, o que representa um crescimento de 1,1%
acima da inflação em relação ao mesmo período do ano passado, bastante inferior à média dos
últimos anos.
17.042
16.538
1,1
Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE. *IGP-M. Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE. *Janeiro
a outubro.
15
Refere-se ao ICMS a qualquer título, que considera, além do ICMS tributário, os valores arrecadados a título de
multas, juros de mora, dívida ativa e adjudicações.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 114
Tabela 7.7. Arrecadação de ICMS por setores da economia
(Acumulado no ano até setembro – valores deflacionados pelo IGP-M de set/14)
2013 2014 Part. (%) Influência
Cresc. (%)
R$ milhões R$ milhões 2013 (p.p.)
Primário 102 97 -5,4 0,6 0,0
Secundário 6.553 6.401 -2,3 35,4 -0,8
Terciário 6.159 6.314 2,5 33,2 0,8
Com. Atacadista 2.656 2.947 11,0 14,3 1,6
Com. Varejista 1.711 1.666 -2,6 9,2 -0,2
Transportes 173 230 33,0 0,9 0,3
Comunicações 1.606 1.460 -9,1 8,7 -0,8
Outros 13 10 -21,3 0,1 0,0
Energia Elétrica 1.436 1.513 5,3 7,7 0,4
Derivados de Petróleo 3.261 3.265 0,1 17,6 0,0
Dívida Ativa 264 287 8,6 1,4 0,1
Outros 762 842 10,4 4,1 0,4
Total 18.537 18.718 1,0 100,0 1,0
Fonte: COTEPE/COMFAZ. Elaboração: FIERGS/UEE.
A indústria de transformação, por sua vez, recolheu R$ 140 milhões a menos do imposto
estadual até outubro quando comparado ao mesmo período do ano passado, o que foi suficiente
para que a queda de arrecadação junto ao setor fosse de 1,3%. Entre os principais responsáveis
por esse desempenho estão os setores de Metalurgia, Veículos automotores e Derivados de
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 115
petróleo que, juntos, responderam pela retração de 1,7 ponto percentual desse desempenho. Isso
pode ser explicado pela queda de produção que estes segmentos registraram entre janeiro e
setembro (3,8%, 7,8% e 2,9%, respectivamente). A retração de 1,9% da produção de Alimentos
também teve impacto negativo sobre o recolhimento do principal tributo do Estado no período. Já
o setor de Bebidas que, mesmo tendo registrado queda de 2,6% da produção, contribuiu
positivamente para arrecadação do Estado (10,6% em termos reais que se traduziram numa
influência de 1,2 ponto percentual) em função de dois efeitos simultâneos: ampliação do consumo
e aumento da base de cálculo da substituição tributária, que utiliza a Margem de Valor Agregado
(MVA)16.
Além disso, a Copa do Mundo realizada no Brasil neste ano trouxe uma surpresa negativa
para as contas do Estado. A arrecadação de ICMS sofreu forte queda em julho em função de
paradas que ocorreram em algumas empresas (que, inclusive, aproveitaram para conceder férias
coletivas, em alguns casos) e do encerramento antecipado das atividades comerciais na cidade
de Porto Alegre, que sediou cinco jogos. Os efeitos foram transmitidos pelo comércio varejista,
que apresentou contribuição negativa para a arrecadação do ano (-2,6% até setembro). Além
disso, o fato de grande parcela das mercadorias terem passado para o regime de substituição
tributária ao longo dos últimos anos fez com que a parcela arrecadada junto ao setor entrasse em
trajetória descendente desde 2008.
13,4 21,7
20,1
11,2 10,1
11,4 7,1 8,3
6,2
3,9 3,4 2,5
0,7 2,0 1,1
8,8 -0,2
-5,1
-9,8 -8,6
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
jan/13
jan/14
jul/07
jul/08
jul/09
jul/10
jul/11
jul/12
jul/13
jul/14
mai/13
mar/14
mai/14
jan/13
fev/13
nov/13
dez/13
mar/13
jun/13
set/13
jan/14
fev/14
jun/14
abr/13
abr/14
set/14
jul/13
ago/13
jul/14
ago/14
out/13
out/14
16
O Governo estadual alterou a MVA de bebidas alimentares para fins de débito por substituição tributária através do
Decreto nº 51.329/2014 - DOE RS de 27.03.2014.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 116
participação do setor no total arrecadado ampliar 10 pontos percentuais, passando de 7,1%
verificado em 2013 para 8,1% nesse ano até setembro.
As elevações de tarifas de energia elétrica ocorreram por dois motivos principais. Primeiro,
porque a Medida Provisória 579 de 2012, transformada na Lei 12.783/2013, ao tentar reduzir os
custos de energia elétrica, criou desequilíbrios entre as receitas e despesas das distribuidoras de
energia que aceitaram antecipar a prorrogação dos contratos de concessão de usinas e linhas de
transmissão. Inicialmente esses desequilíbrios seriam compensados com aportes do Tesouro
Nacional. Entretanto, as contas públicas federais, já bastante deterioradas, não conseguiram
suportar a totalidade dos aportes. Além disso, a estiagem que ocorreu no país provocou a
necessidade de utilização de usinas termoelétricas, que geram energia a um custo maior,
ampliando os desequilíbrios já existentes. Assim, caiu sobre a conta dos consumidores o aumento
desses custos, recompondo as tarifas que haviam sido reduzidas. Ao que tudo indica, mais
ajustes serão necessários nos próximo ano, ampliando o impacto sobre a arrecadação. Assim, é
bem possível que o setor volte a obter a participação que apresentava em 2012 (10,0%).
Tabela 7.9. Reajuste das tarifas de energia elétrica – Rio Grande do Sul
CEEE-D AES-SUL RGE
Data 25/10/2013 19/04/2014 19/06/2014
Tarifa Residencial 13,5% 29,0% 23,1%
Tarifa Industrial 16,6% 30,3% 22,0%
Fonte: ANEEL. Elaboração: FIERGS/UEE.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 117
comprovante fiscal de suas compras. Entretanto, pouco se pode auferir sobre seus efeitos na
arrecadação do Estado. É bem verdade que o programa ainda não se tornou tão conhecido a
ponto de causar impactos mais expressivos sobre as receitas estaduais, mas há de se destacar
que o potencial de um programa desses é bem elevado quando os incentivos realmente fazem a
diferença para o consumidor, como é o caso do Estado de São Paulo, onde é possível reembolsar
até 30% do valor de cada produto quando se solicita a nota fiscal paulista, além de também poder
abater esse valor do IPVA e de participar de sorteios mensais. Não é o caso do Rio Grande do
Sul. Aqui, o incentivo que afeta o bolso do consumidor não ocorre, fazendo com que os ganhos de
arrecadação sejam menores do que aqueles verificados em São Paulo (aproximadamente 30%).
Entrada de capital tem auxiliado o fluxo de caixa, mas os investimentos continuam baixos
no Rio Grande do Sul
A execução orçamentária do Rio Grande do Sul até o 4° bimestre de 201417 mostra que as
receitas correntes tiveram um incremento superior à variação do ICMS (3,7% em termos reais
contra 0,2% do ICMS no acumulado entre janeiro e agosto), influenciadas pelo aumento das
transferências correntes do Governo Federal e das contribuições que, apesar de não serem tão
representativas, expandiram 15,2% acima da inflação.
Além disso, o Estado pôde contar, nesse ano, com importantes entradas de capital através
de operações de crédito, que tiveram aumento de 82,1% em relação ao mesmo período do ano
passado, já desconsiderando os efeitos da inflação. Até agosto, esses valores somaram R$ 666
milhões, mas as estimativas apontam que esse número tenha mais do que duplicado até outubro.
Esses empréstimos, apesar de serem classificados na contabilidade pública como receitas,
não podem ser utilizados para quaisquer fins, uma vez que não são periódicos. Por essa razão, o
poder público não poderia contar com eles para cobrir gastos correntes como despesas com
pessoal, custeio, entre outros. Portanto, os financiamentos deveriam ser utilizados com a única
finalidade de prover recursos para os investimentos no Estado.
17
Último relatório de execução orçamentária disponível.
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Contudo, não é o que vimos em 2014 até agosto. Os investimentos amplos (investimentos
mais inversões financeiras) aumentaram R$ 222 milhões em relação ao mesmo período de 2013,
ou seja, apenas a terça parte do que expandiram os empréstimos, o que significa que parte
desses recursos está sendo utilizada para cobrir gastos correntes. Em relação à Receita Corrente
Líquida (RCL)18, que representa os recursos efetivamente disponíveis para a gestão do Estado, os
investimentos amplos equivalem a apenas 5,2% (valores de 2014). Na comparação interestadual,
utilizando dados de 2013, o Rio Grande do Sul figura na penúltima colocação no que tange à
destinação de receita para os investimentos, ficando à frente apenas de Sergipe.
17,7
16,8
15,1
13,6 12,9
10,7
9,2
8,3
5,1 4,6
AC MT ES AM AP PI PE CE MS AL MA RO RJ DF SP TO MG GO PB PA SC RN BA PR RS SE
18
Refere-se à receita corrente descontadas as receitas intraorçamentárias, receitas distribuídas e a anulação de restos
a pagar.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 119
que devem elevar a relação DCL/RLC. Para o ano que vem, quando o limite será ainda menor
(205%), certamente o espaço fiscal estará completamente esgotado.
A renegociação dos termos contratuais da dívida com a União, como será visto a seguir,
não deve liberar muito espaço para novos empréstimos. Ou seja, as necessidades são grandes e
urgentes, e as alternativas de financiamento dos investimentos estão cada vez mais escassas. É
necessário que os investimentos voltem a ser prioridade no orçamento estadual para que o
Estado volte a competir no território nacional.
283
Meta Índice efetivo
273 254
258
244 229
219
210
214 218
205 200
2014*
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2015
2016
Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE.
19
De acordo com a Lei 14.072/2012.
20
De acordo com Lei 14.188/2012 e Lei 14.189/2012.
21
De acordo com Lei 14.074/2012 e Lei 14.075/2012.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 120
Tabela 7.11. Despesas orçamentárias do Rio Grande do Sul
(Acumulado no ano até agosto – exceto despesas intraorçamentárias)
2013 2014 Variação %
(R$ milhões) (R$ milhões) Nominal Real*
Correntes 22.197 25.459 14,7 8,9
Pessoal e encargos sociais 12.227 14.036 14,8 9,0
Juros e encargos da dívida 1.017 1.050 3,3 -1,9
Outras despesas correntes 8.953 10.372 15,8 10,0
Capital 1.413 1.879 33,0 26,5
Investimentos 466 547 17,4 11,8
Inversões financeiras 52 194 268,6 250,8
Amortização da dívida 894 1.139 27,3 21,0
Reservas de contingência - - - -
Despesa total 23.609 27.338 15,8 10,0
Despesa primária 21.669 25.095 15,8 10,0
Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE. * Deflacionado pelo IGP-M.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 121
Gráfico 7.18. Resultado orçamentário – RS Gráfico 7.19. Resultado orçamentário – RS
(R$ milhões – acumulado no ano até agosto) (% da RCL)
1.127 4,1
Nominal 2,5
Primário 0,1
-0,7
-306 -2,1
-394 -2,9
-4,2 -3,7
-5,0
-6,3
-7,0 -6,3
-8,0
-1.742
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014*
2013 2014
Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE.* Até agosto.
Gráfico 7.20. Saques de depósitos judiciais Gráfico 7.21. Saques de depósitos judiciais
(% do total sacado desde 2004) (% do saldo dos depósitos judiciais)
72,2 81,0 84,8
72,0
62,5
41,9
31,9 30,4
27,6 24,7
19,1
8,2
2003-2006 2007-2010 2011-2014* 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE. Fonte: SEFAZ/RS. Elaboração: FIERGS/UEE.
Além disso, uma análise mais criteriosa do projeto de lei orçamentária para 2015 (PLOA
2015) sinaliza que o cenário de deterioração do resultado orçamentário do Rio Grande do Sul
deve continuar se agravando, uma vez que existe um déficit potencial oculto nas contas enviadas
para a Assembleia Legislativa do Estado na ordem de R$ 5 bilhões.
Para as receitas, o PLOA 2015 projeta um crescimento de 12,5% sobre o orçado para
2014, podendo chegar a R$ 54,8 bilhões, impulsionadas, sobretudo, pela arrecadação de ICMS,
cujo crescimento projetado é de 12,4% e por receitas de capital, com crescimento de 55,9%. Mas
nestas estimativas estão orçadas receitas fictícias no montante de R$ 2,8 bilhões, tanto correntes
(R$ 1,8 bilhão em “demais receitas de compensação financeira”) quanto de capital (R$ 1 bilhão
em “demais receitas de capital”), que não devem ocorrer, mas que estão no orçamento apenas
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 122
para que o mesmo se torne equilibrado, ou seja, para que o valor estimado para as receitas seja o
mesmo da fixação das despesas.
Além disso, as receitas correntes, quando descontadas as receitas fictícias e
intraorçamentárias, estão superestimadas em aproximadamente R$ 1,4 bilhão. Isso porque a
projeção destas receitas, quando comparada com o valor estimado para realização de 2014, se
torna infactível ao apresentar um crescimento de 17%. Considerando que, no ano que vem,
quando não se espera nenhum incremento de receita substancialmente diferente dos últimos
anos, o crescimento seja próximo da média vista recentemente, então a diferença de projeção é
de R$ 1,4 bilhão.
Portanto, isso significa que um montante de R$ 4,2 bilhões de despesas projetadas para o
próximo ano pode ocorrer sem ter contrapartida nas receitas, o que se traduz em um resultado
orçamentário negativo. Pelo lado dos dispêndios, percebe-se claramente que a folha de
pagamentos do magistério, ao ser projetada em R$ 7,1 bilhões, está subestimada. Só o reajuste
concedido em novembro aos professores (13,7%)22 já fará com que essa rubrica alcance, no
mínimo, R$ 7,9 bilhões, ou seja, R$ 800 milhões superior ao valor orçado na PLOA 2015. Assim, o
déficit potencial para 2015 deve alcançar 5 bilhões, o que representa um cenário bastante
preocupante para as contas do Estado, especialmente porque elas já sofrem muito com um
sistema previdenciário bastante deficitário. Em 2013, o resultado foi negativo em R$ 6,5 bilhões, o
que sinaliza que o Estado não se preparou para suportar os encargos dos atuais inativos (197 mil)
que, pela primeira vez, ultrapassaram o número de ativos (195 mil).
Portanto, mais do que nunca, é necessário um ajuste profundo das contas públicas do Rio
Grande do Sul. Vale lembrar que um dos principais meios de reestruturação no curto prazo pode
ter sido perdido com a aprovação do projeto de lei que determinou as condições de renegociação
da dívida dos Estados e Municípios com a União.
A renegociação das dívidas estaduais com a União poderia ter sido mais benéfica para o
Rio Grande do Sul
O projeto de lei complementar PLC 99/2013, aprovado no Senado Federal e sancionado
pela Presidência da República, determina a alteração do indexador das dívidas, passando do
atual IGP-DI para IPCA e a redução dos juros dos contratos para 4%, limitando a soma de ambos
à variação da taxa Selic. A nova regra tem data de aplicação a partir de janeiro de 2013. Ou seja,
essa seria uma alternativa para que houvesse, no curto prazo, uma liberação de recursos
estaduais caso tivesse havido uma majoração, no período de janeiro de 2013 a outubro de 2014,
dos índices dos contratos iniciais em relação aos novos indexadores. Entretanto, não foi isso o
que ocorreu. A variação do IPCA de janeiro de 2013 até outubro de 2014 foi superior ao do IGP-DI
(11,3% contra 7,9%). Assim, apenas o ganho com a redução de juros se realizará, gerando um
espaço fiscal pouco superior a R$ 300 milhões no caso do Rio Grande do Sul. Isso representa
apenas 1% da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado.
Além disso, o PLC 99/2013 também autorizou a União a conceder descontos dos valores
contratados pelo diferencial entre o saldo devedor existente em janeiro de 2013 e o valor
atualizado pela Selic desde a assinatura do contrato. Porém, de lá pra cá, a Selic variou mais do
que a elevação do IGP-DI acrescido de juros de 6,0% no período e, portanto, o Rio Grande do Sul
não obteve nenhum desconto do saldo devedor. Essa medida foi anexada ao PLC 99/2013 para
beneficiar, exclusivamente, os entes federados e municípios que pagavam juros de 9,0%, como é
o caso da cidade de São Paulo.
22
Lei 14.184 de 28/12/2012.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 123
Ou seja, o alívio de curto prazo pretendido pelo Estado com a renegociação da dívida não
ocorreu. O único efeito do PLC 99/2013 para o Rio Grande do Sul diz respeito ao saldo devedor
que deverá ser pago no final do contrato em 2028. Com as condições atuais, a projeção desse
saldo devedor era de R$ 60 bilhões. Com as novas regras, esse saldo tem o potencial de chegar a
R$ 30 bilhões, valor ainda muito alto que se aproxima da atual dívida do Estado com a União (R$
44,3 bilhões em dezembro de 2013). Isso decorre do fato de que a correção monetária e os juros,
ainda que menores, continuarão incidindo sobre a chamada “conta resíduo”, que incorpora parte
da prestação mensal que supera o limite de 13% da Receita Líquida Real (RLR). Trazendo esses
valores a preços de 201423, a diferença é de aproximadamente R$ 15 bilhões.
A inclusão de três outras cláusulas no projeto de lei poderia ter iniciado um processo de
reajuste das contas públicas do Estado, por liberarem recursos de curto prazo. Tais medidas,
defendidas pela Agenda 2020, são: i) redução do limite de comprometimento da RLR de 13% para
9%, que não poderá ocorrer sem ii) a prorrogação do prazo de pagamento por mais 10 anos
(2038) e iii) a eliminação dos juros sobre o saldo da conta resíduo. Somente assim teremos
condições de trazer novos investimentos no curto prazo e de pagar a conta toda no final do
contrato.
23
Considera inflação média anual de 5,5%.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 124
próximo mandato, do que meras medidas de curtíssimo prazo. O simples aumento da tributação,
com retorno da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) – extinta em
2007 – e da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) – extinta em 2012 –,
como tem sido discutido, não resolverá a grave situação fiscal do país. A elevação de todos eles
poderia representar, no máximo, um incremento de 1,5 ponto do PIB ao resultado do ano, ainda
incompatível com a meta estabelecida pela LDO de 2015. Além disso, medidas que dependerão
de aprovação do Congresso Nacional têm uma considerável probabilidade de não ocorrerem no
ano que vem.
Portanto, estima-se, no cenário base, ao qual se atribui maior probabilidade de ocorrência,
um superávit primário de 0,4% do PIB, levando em conta a grande dificuldade que o Poder
Executivo terá para que uma proposta como a retomada da CPMF seja aprovada pelo Congresso
Nacional, que já se mostrou contrário a diversas proposições presidenciais no período
imediatamente posterior às eleições de outubro.
No caso em que o ambiente econômico se torne ainda mais deteriorado, contemplado pelo
cenário inferior, a diretriz da política fiscal continuará pautada em manobras para mascarar o
verdadeiro resultado primário do setor público. Nesse contexto, o País tende a perder o grau de
investimento, incitando a necessidade maior de elevação dos juros como forma de premiar os
investidores estrangeiros, com impactos diretos sobre a dívida líquida do país, que poderá
alcançar 36,9% do PIB. O resultado primário será deficitário em 0,6%.
Por outro lado, o cenário superior contempla a possibilidade de que a nova política
econômica se comprometa de fato com um ajuste fiscal pautado em regras e planejamento bem
definidos, podendo se dar, portanto, de forma mais gradual, minorando os efeitos sobre a
atividade econômica. Nesse caso, os ajustes que serão feitos no próximo ano, a começar pela
eliminação das maquiagens fiscais, contenção de alguns gastos e elevação da carga tributária
resultarão em um superávit de 0,9% do PIB.
Para o Rio Grande do Sul, tendo em vista os resultados acumulados nos primeiros oito
meses do ano, com frustração de receitas e superação despesas, os valores estimados para o 5º
e o 6º bimestres foram mais uma vez reprogramados. Para 2014, a receita primária estimada é de
R$ 38,2 bilhões, 7,2% menor do que o valor orçado pela LOA 2014 (41,2 bilhões) para o ano, já
descontando as transferências intraorçamentárias. Para a despesa primária, a nova projeção é de
R$ 42,0 bilhões, 6,7% superior ao valor previamente orçado (R$ 39,3 bilhões), evidenciando que o
a diretriz de orçamento equilibrado (ou seja, fixação de despesas de acordo com as estimativas de
receita) não tem muito efeito prático. Afinal, as receitas orçadas se mostram, ano após anos,
subestimadas, e as despesas, superestimadas.
Portanto, a estimativa de resultado primário para 2014 é de R$ 3,8 bilhões, sugerindo que,
de fato, as contas públicas do Estado estão em estado emergencial. Para que a meta de superávit
primário estabelecida pela LDO de R$ 1,7 bilhões, será necessário um contingenciamento de R$
5,2 bilhões até o final do ano.
Essa é uma condição com baixíssima probabilidade de acontecer, que reflete a atual
situação das contas públicas do Brasil, em geral. A falta de comprometimento com o superávit
primário também por parte dos governos estaduais é sintomática para explicar a eminente crise
fiscal que está por vir no Brasil. Para se ter uma ideia, o contingenciamento necessário equivale,
em média, a 2 meses e meio de arrecadação de ICMS. Espera-se, portanto, que o resultado
primário encerre o ano muito abaixo da meta. Para o resultado orçamentário, que reflete a
diferença entre despesa total e receita total, espera-se o déficit se mantenha sendo próximo de
6,3% da RCL.
Para 2015, as estimativas bastante otimistas da receita estadual, inclusive com a inclusão
de rubricas que sinalizam receitas fictícias para o próximo ano, apresentadas no projeto de lei
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 125
orçamentária, bem como a subestimação de algumas despesas, como o avanço da folha de
pagamentos do magistério, dão indicativos de que o déficit orçamentário potencial se aproxima de
R$ 5 bilhões, o equivalente a 15% da RCL.
Em relação à arrecadação de ICMS, principal fonte de receitas do Estado, projeta-se, no
cenário base, um crescimento de R$ 2,6 bilhões, motivado, principalmente, pelo provável reajuste
das tarifas de energia elétrica, necessário para reduzir os desequilíbrios atuais do setor, pelo
possível aumento dos preços dos combustíveis e, principalmente, pelo desempenho melhor da
indústria, principal contribuinte do imposto, em comparação com esse ano. Esse montante supera
em 11,2% o que se espera para o final de 2014.
Não se espera, em nenhum dos cenários para 2015, uma redução no total arrecadado com
ICMS, principalmente porque, em comparação com 2014, as fontes de recursos tendem a se
expandir. Ainda que o novo Governo determine o fim da cobrança de diferencial de alíquota
interestadual das pequenas e microempresas enquadradas no Simples Nacional, contemplado no
cenário inferior, o efeito sobre a arrecadação de ICMS deve ser pequeno, próximo a 1% do valor
recolhido. Além disso, é importante destacar que, mesmo em períodos de queda do PIB, como foi
o caso de 2012, o total de ICMS arrecadado se expandiu. É importante lembrar que as
estimativas, por serem nominais, refletem também as expectativas inflacionárias.
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 126
BALANÇO
ECONÔMICO
Fonte:
Unidade de Estudos Econômicos
FIERGS
Economistas:
Oscar André Frank Jr.
Thais Waideman Niquito
Vanessa Neumann Sulzbach
Economista Responsável:
Ricardo Nogueira
Dezembro 2014 | Balanço 2014 & Perspectivas 2015 | Unidade de Estudos Econômicos | Sistema FIERGS | 127