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Resumo
A pesquisa examina a avaliação dos cursos de graduação no Mato Grosso, com base nos
Relatórios de Cursos do ENADE 2008. Nos 153 cursos avaliados observou-se que nas
instituições públicas e privadas predominam conceitos baixos e regulares, com situação
mais favorável nas primeiras. O ENADE, um dos instrumentos de avaliação do SINAES,
não deve ser analisado isoladamente; porém, seus resultados podem oferecer indicações
importantes sobre a formação nos cursos de graduação.
Palavras-Chave: avaliação; ENADE; política da educação superior.
Introdução
A presente pesquisa tem como objetivo examinar os resultados da avaliação dos
cursos de graduação do estado de Mato Grosso, tendo como base os indicadores de
qualidade considerados no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes 2008 (ENADE
2008). Observamos que o ENADE desse ano avalia tanto os cursos de Bacharelado quanto
de Licenciatura; considerando que nesse exame 67,32% dos cursos avaliados podem ter
ligação com cursos de Licenciatura, é possível fazer inferências sobre a sua realidade. No
entanto, tal estudo requer pesquisa específica, o que não se propõe nesse texto.
Para a coleta de dados da presente pesquisa, valemo-nos dos Relatórios de Cursos
disponibilizados pelo INEP/MEC, onde foi possível consultar o conceito ENADE
correspondente aos cursos avaliados em Mato Grosso no ano de 2008.
A avaliação educacional é permeada pelo contexto social, político, econômico e
cultural de nosso país; dessa forma, não é um fenômeno isento de intenções e ideologias.
Pelo contrário, abordar a avaliação presume escolher, optar por valores e idéias que podem
servir a diferentes funções: a de regular, punir, classificar e competir ou a de formar
práticas mais democráticas e participativas.
O debate sobre avaliação institucional na educação superior, em tempos de
expansão do acesso nesse nível de ensino, evidencia o grande espaço tomado pelo setor
privado no sistema educacional, onde, segundo dados do Censo da Educação Superior de
2008 (INEP/MEC), 90% das instituições que oferecem cursos de graduação (presencial e a
distância) são privadas e apenas 10% são públicas.
Sob a influência das políticas neoliberais, observamos a difusão de valores ligados
à competição e ao individualismo, além do desenvolvimento de avaliações em escala
nacional que promovem a hierarquização entre as instituições ou cursos.
Nesse quadro, a avaliação institucional vem acompanhada pelo discurso da busca
da qualidade; porém, uma qualidade ligada à lógica do mercado, submetida a números, à
quantificação, à mensuração. Tal tendência liga-se ao paradigma de avaliação regulatória,
que permeou propostas de avaliação implantadas no Brasil. Essa análise é reiterada por
Sobrinho (2008, p. 817): “Juntamente com o tema da qualidade surgem as questões da
garantia da qualidade e da acreditação. Esse fenômeno ganha importância com a
emergência e o desenvolvimento das estratégias neoliberais das concepções de mercado, de
massificação, diversificação, privatização e transnacionalização nos sistemas de educação
superior [...]”.
Tabela 2 – Conceitos ENADE 2008 dos cursos de graduação no Mato Grosso por
organização acadêmica e categoria administrativa
Conceito Cursos Universidade Universidade Centro Centro Faculdades
-totais pública privada Univers. Fed./IFF públ./priv.
privado público
1 07 - 02 02 01 02- privadas
2 45 04 - federal 10 07 01- pública
11 – estadual 12- privadas
3 46 21 - federal 05 - 02 06- privadas
12 - estadual
4 09 05 - federal - - - -
04 - estadual
5 - - - - - -
Sem 46
conceito
Fonte: ENADE 2008/MEC
Ponderações conclusivas
No estado de Mato Grosso podemos notar uma grande concentração de cursos
oriundos de instituições privadas com conceito baixo (1 e 2). Porém, quando avançamos
para o conceito regular (3) e conceito alto (4) essa concentração se dispersa, dando lugar
aos cursos oriundos de instituições públicas. Assim, de quarenta e seis cursos com conceito
3, trinta e cinco (76% do total avaliado) eram de instituições públicas em contraposição a
somente onze cursos (24% do total avaliado) oriundos de instituições privadas. Cabe
ressaltar que nenhum curso de instituição privada alcançou o conceito 4 ou 5 (conceito
alto).
Em relação aos tipos de IES, percebemos que os melhores conceitos (3 e 4) estão na
universidade federal. Em 2008, dos quarenta e seis cursos com conceito 3, vinte e um são
oriundos de universidade federal; dos nove cursos com conceito 4, cinco são oriundos de
universidade federal.
Já os conceitos mais baixos (1 e 2) encontram-se nas faculdades privadas e de
quarenta e cinco cursos com conceito 2, doze são oriundos de faculdades privadas.
Faz-se necessário destacar que as universidades públicas (federal e estadual),
mesmo que registrem os melhores conceitos do estado, concentram-se no regular (3). É
verdade que alguns cursos dessas instituições alcançaram o conceito 4, resultado não
obtido por nenhum curso de instituição privada; porém, se considerarmos a soma desses,
veremos que é modesta. Em 2008, num universo de sessenta e um cursos (cálculo realizado
sem agregar os cursos sem conceito), somente nove cursos obtiveram conceito 4.
O quadro apresentado nos remete à discussão da qualidade do ensino das
instituições de educação superior. É certo que a qualidade em educação não pode ser
avaliada por apenas um indicador, mas o fato é que o conceito atribuído a cada curso pelo
ENADE reflete, em boa medida, o estado do processo de ensino aprendizagem de tais
instituições. No caso do estado de Mato Grosso, concluímos que tanto as IES públicas
como as IES privadas encontram-se com a maior parte dos seus cursos com conceitos
baixos e regulares.
Compreendemos que o ENADE, por ser um dos instrumentos de avaliação do
SINAES, não deve ser analisado de forma isolada; no entanto, também admitimos que seus
resultados são portadores de significados sobre o processo de formação dos acadêmicos
dos cursos de graduação. Desta forma, o ENADE deve ser encarado como um instrumento
diagnóstico que, integrado às outras dimensões avaliativas do SINAES, pode oferecer
material oportuno para avaliar os estudantes ingressantes e concluintes, de modo a verificar
dificuldades e buscar superá-las. Nesse sentido Bordas et al. (2008, p. 697) apontam que:
Brito (2008) evidencia que a imprensa, muitas vezes, publica textos que tratam de
forma equivocada os resultados do ENADE. Segundo a autora, a mídia realiza
comparações e ranqueamentos, o que não contribui para a melhora das IES: “A elaboração
de indicadores é um excelente meio de visualizar a realidade das IES; o problema é o uso
desses indicadores.” (BRITO, 2008, p. 848).
Concluímos que os resultados do ENADE, não obstante às ressalvas apontadas,
pode constituir um importante instrumento que auxilie nas decisões no âmbito interno das
instituições de educação superior bem como em termos de definição e operacionalização
de políticas pelo poder público. Em relação aos resultados dos cursos de graduação
identificados no estado de Mato Grosso, como visto, um sinal de alerta está dado.
REFERÊNCIAS
BARREYRO, Gladys Beatriz; ROTHEN, José Carlos. Para uma história da Avaliação da
Educação Superior brasileira: análise dos documentos do PARU, CNRES, GERES E
PAIUB. Avaliação, Campinas; Sorocaba, v. 13, p. 131-152, n.1, mar. 2008.
BRITO, Márcia Regina F. de. O SINAES e o ENADE: da concepção à implantação.
Avaliação, Campinas; Sorocaba, v. 13, p. 841-850, n. 3, nov. 2008.
SILVA, Maria das Graças Martins da; CONRADO, Nayara Lucas Dias de Menezes. O
SINAES na produção textual da Revista Avaliação. In: 10º Encontro de Pesquisa em
Educação da ANPED Centro-Oeste, 10, 2010, Uberlândia. Anais... Uberlândia: FACED;
UFU, 2010, p.01-10.