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ISSN 1806-6097
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Almir Sales1
Carlito Calil Junior2
Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta do sistema de classes de resistência para
madeira serrada de eucaliptos no Brasil. Foram utilizados valores de propriedades mecânicas
de dezesseis espécies de eucalipto e, por meio de critérios estatísticos apropriados,
estabeleceram-se classes de resistência para estas folhosas de reflorestamento. A partir dos
resultados, foram definidas quatro classes para os eucaliptos. Esses resultados se constituem
em importante subsídio para a revisão da NBR 7190:1997 - Norma Brasileira para Cálculo e
Execução de Estruturas de Madeira, principalmente no que se refere à especificação do
material para a elaboração do projeto estrutural.
Abstract: This work present a proposition of the strength classes system to eucalyptus timbers
grown in Brazil. Values of the strength and stiffness properties of sixteen forestation species
were utilized. Adequate statistical analysis was conducted and four classes to eucalyptus were
defined. These results are important subsidy to of NBR 7190:1997 revision - Brazilian Standard
to Design and Construction of Wooden Structures, mainly for material specification to structural
design.
1
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil, São Carlos, SP. E-mail:
almir@power.ufscar.br
2
Universidade de São Paulo, Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, São
Carlos, SP. E-mail: calil@sc.usp.br
Revista Madeira Arquitetura e Engenharia, n. 17, ano 6, Set.- Dez. 2005. ISSN 1806-6097
1. Introdução
A especificação da madeira para o projeto estrutural foi alterada com a revisão da NBR7190 –
Projeto de Estruturas de Madeira, recomendando-se a utilização de um sistema de classes de
resistência SALES (2000)(1). A maneira anterior de especificar a madeira por meio da escolha
de espécies usuais, em muitos casos, contribuiu no sentido de tornar a madeira menos
competitiva frente a outros materiais como o aço e o concreto. Em geral, o projetista possui
dificuldade no conhecimento das espécies disponíveis no local de aplicação do projeto,
optando pela especificação de espécies de uso tradicional, as quais podem apresentar custo
elevado de aquisição devido à distância da região de extração. Além disso, é freqüente a
dúvida relativa à verificação da espécie botânica dos lotes de madeira a serem adquiridos,
possibilitando a ocorrência de erros que afetam o desempenho da estrutura de madeira.
A utilização das classes de resistência permite orientar a escolha do material para a elaboração
do projeto estrutural, de tal modo que um projeto assim especificado poderá utilizar a madeira
disponível na região de construção da estrutura, desde que os valores das propriedades
mecânicas dos lotes a serem empregados se enquadrem na classe definida no projeto. Com
isto, eliminam-se boa parte dos problemas relativos à verificação da espécie botânica do lote
de madeira adquirido, pois o enquadramento nas classes de resistência será obtido em função
dos valores das propriedades de resistência deste lote, como ocorre de modo semelhante com
outros materiais estruturais.
Utilização de uma série matemática para escolher os valores dos limites das classes. As
séries geralmente utilizadas são a aritmética e a geométrica, sendo que o limite de cada
classe de resistência é representado por um passo na série.
Nos dois procedimentos as espécies podem ser enquadradas nas classes de resistência, em
função das suas propriedades de resistência e rigidez.
COOPER (1951) apud BOOTH (1967) (4) demonstrou a validade da série geométrica para o
desenvolvimento das classes de resistência, e propôs a adoção das séries de Renard ou
“preferred number series” (série de números preferidos) visando o estabelecimento de classes
de resistência para a madeira. As séries de Renard são representadas por R5, R10, R20, R40
etc., onde o numeral indica o número de intervalos da série. Os números gerados por essa
série são calculados pela raiz quinta, décima, vigésima, quadragésima etc., respectivamente,
de 10, em função da quantidade de intervalos desejados, numa progressão geométrica. Desse
modo, para cinco intervalos, tem-se a seguinte razão:
5
10 = 1,5849
Considerando os valores aproximados, a série gerada com cinco intervalos entre zero e 10 é
representada por: (1,00; 1,60; 2,50; 4,00; 6,30; 10,00).
Os valores dos limites das classes denotados pelos números gerados na série de Renard
representam os valores do módulo de ruptura na flexão (MOR em psi). Estes valores são os
utilizados na especificação da madeira no projeto de estruturas. Os valores de MOR podem ser
estimados pelos valores do módulo de elasticidade longitudinal na flexão (MOE), obtidos a
partir dos procedimentos de classificação mecânica de peças estruturais. Outras propriedades
de resistência e rigidez podem ser incluídas no sistema de classes de resistência assim
desenvolvido, por meio da utilização de relações entre estas e o MOR. Geralmente, os
sistemas existentes utilizam as seguintes propriedades: MOR, MOE, resistência à tração
paralela às fibras, resistência à compressão paralela às fibras, resistência ao cisalhamento e
massa específica, GREEN; KRETSCHMANN (1990) (3).
No Brasil, as classes de resistência para madeira estão indicadas na NBR 7190/97 e foram
definidas a partir dos estudos desenvolvidos por SALES (1996) (2), o qual aplicou técnicas de
análise multivariada e métodos hierárquicos para a obtenção de grupos homogêneos para a
representar as classes de resistência para madeiras de coníferas e folhosas cultivadas em
nosso país. O teor considerado para a umidade de equilíbrio da madeira foi de 12%,
correspondente às condições ambientais nas quais têm-se valores médios anuais de umidade
relativa Uamb ≤ 65% e, temperatura de 20oC. A consideração desse valor do teor de umidade
de equilíbrio (U = 12%) para a madeira segue uma tendência internacional de uniformização
da normalização pertinente à madeira e estruturas de madeira. O EUROCODE 5 “Common
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unified rules for timber structures”, (apresentado pela COMISSION OF THE EUROPEAN
COMMUNITIES) (5), utiliza essa condição para as propriedades consideradas nas classes de
resistência. Na NBR 7190:2005 (em revisão) a especificação por meio das classes de
resistência é feita a partir da determinação da resistência característica à compressão paralela
às fibras fc0k. A utilização dessa propriedade visa permitir que a resistência da madeira seja
estimada por um ensaio destrutivo de fácil execução. Esta forma de especificação reflete o
modelo de segurança empregado na NBR 7190:1997 baseado no método probabilista de
estados limites. As classes de resistência estabelecidas são C20, C30, C40, C50 e C60, para
as folhosas, as quais estão apresentadas na Tabelas 1.
Classe
fc0,k fv0,k Ec0,m ρbas,m ρap,m,12%
(MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)
onde:
fc0,k - valor característico da resistência à compressão paralela às fibras;
fv0,k -valor característico da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras;
Ec0,m -valor médio do módulo de elasticidade longitudinal obtido no ensaio de compressão
paralela às fibras;
ρbas,m - valor médio da massa específica básica;
ρap,m,12% - valor médio da massa específica aparente a 12 % de umidade.
A seguir estão listados os nomes comum e científico de cada uma das dezesseis espécies de
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eucaliptos estudadas. O registro dos nomes científicos foi efetuado segundo MAINIERI
(1983)(6), MAINIERI; CHIMELO (1989)(7) e JANKOWSKY (1990)(8).
HINZ (1975) (10) define a análise de agrupamento como sendo um processo de arranjar séries
de dados em grupos, de tal maneira que os dados de um grupo tenham alto grau de
homogeneidade, comparados aos dados de grupos diferentes. Segundo BUSSAB et al.
(1990)(11), a análise de agrupamento engloba uma variedade de técnicas e algoritmos cujo
objetivo é encontrar e separar objetos em grupos similares.
Nas medidas de dissimilaridade quanto maior o valor observado menos parecidos (mais
dissimilares) serão os objetos, enquanto na similaridade quanto maior o valor observado mais
parecidos são os objetos. O coeficiente de correlação é um exemplo de medida de
similaridade, enquanto a distância euclidiana é um exemplo de dissimilaridade (BUSSAB et al.,
1990) (11).
Portanto, o estabelecimento das classes de resistência foi realizado com base nos grupos
obtidos na análise de agrupamento e de acordo com os parâmetros relativos às variáveis
analisadas em cada grupo.
outro objeto pertencente ao conjunto de dados, ou seja, o quanto estes objetos são
dissimilares. Optou-se por trabalhar com os dados originais visto que, em análises preliminares,
foram obtidos grupos homogêneos com significativa diferenciação entre grupos.
p
d( x, y) = ( x1 − y1 ) 2 2
(
+ ( x 2 − y 2 ) +...+ x p − y p ) 2
= ∑ (x i − y i )
2
i =1 (1)
onde:
x1 y1
x2 y2
x= : y= :
: :
x y
p ,
p e p = número de variáveis
As técnicas hierárquicas são algoritmos nos quais os objetos são classificados em grupos em
diferentes etapas, de modo hierárquico, produzindo uma árvore de classificação, CORMACK
(1971) apud BUSSAB et al. (1990) (11).
Na aplicação das técnicas hierárquicas aglomerativas, por meio de fusões sucessivas dos “n”
objetos, vão sendo obtidos n-1, n-2 etc. grupos, até reunir todos os objetos num único grupo.
O método hierárquico centróide, MHC, é uma técnica hierárquica aglomerativa que possibilita
produzir grupos homogêneos com grande diferenciação entre os grupos. Em função disso e a
partir de investigações preliminares com outras técnicas aglomerativas, o MHC foi adotado
para o processamento dos dados da presente pesquisa.
Esse método utiliza a distância euclidiana como critério de dissimilaridade. A sua aplicação
consiste em substituir cada junção de objetos num único ponto representado pelas
coordenadas de seu centro, de modo que em cada etapa procura-se fundir grupos que tenham
a menor distância entre si. A determinação desses pontos é facilitada utilizando-se os
elementos constituintes da matriz de distâncias.
No MHC a distância entre os grupos é definida pela distância entre os seus centros, sendo que
cada junção efetuada diminui uma dimensão da matriz de distâncias, até reunir todos os pontos
em um único grupo.
O procedimento ‘CLUSTER’ do programa SAS (SAS, 1990)(12), fornece uma tabela na qual é
apresentada em cada etapa a formação dos grupos e os respectivos níveis de dissimilaridade
em que eles são formados.
1.6
1.4
1.2
Nível de similaridade
1.0
0.8
Classe 1
Classe 4
0.6
Classe 2
Classe 3
0.4
0.2
0.0
GR16 GR18 GR17 GR74 GR87 GR12 GR19 GR13 GR26 GR14 GR15 GR
318.6
Grupos
Classe
fc0,k fv0,k Ec0,m ρbas,m ρap,m,12%
(MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)
6. Considerações finais
7. Referências bibliográficas
(1) SALES, A. 2000. Classes de Resistência para Madeira. Revista Madeira: arquitetura e
engenharia, v.1, n.1, p. 25-30.
(2) SALES, A. Proposição de classes de resistência para madeira. Tese (Doutorado) - Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. 223p.
(3) GREEN, D.W.; KRETSCHMANN, D.E. Stress class systems: an idea whose time has
come? US Department of Agriculture. Forest Sevices. Forest Products Laboratory.
Research Paper, n.FPL-RP-500, p.1-22, 1990.
(4) BOOTH, L.G. The application of preferred numbers to the determination of basic stresses,
grades and sizes of structural lumber. In: ANNUAL MEETING OF INTERNATIONAL UNION
OF FORESTY RESEARCH ORGANIZATIONS, Munich, 1967. Anais. v.1, 16p.
(6) MAINIERI, C. Manual de identificação das principais madeiras comerciais brasileiras. São
Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1983.
(7) MAINIERI C.; CHIMELO, J.P. Fichas de características das madeiras brasileiras. 2.ed.
São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, 1989.
(10) HINZ, P.N. A method of cluster analisys and some applications. In: EK, A.P.;
BALSINGER, J.W.; PRAMNITZ, L.C., eds. Forest modeling and inventary. Madison, Society
of American Foresters, 1975. p.111-22.
(11) BUSSAB, W.O.; MIAZAKI, E.S.; ANDRADE, D.F. Introdução à análise de agrupamentos.
In: SIMPÓSIO NACIONAL DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA, 9., São Paulo, 1990.
Anais. São Paulo, Associação Brasileira de Estatística, ABE, 1990. v.1, p.1-20, 42-57.
(12) SAS. System analysis statistical: user’s guide, version 6. 4.ed. Cary, NC, USA, SAS
Institute, 1990.
(13) Associação Brasileira de Normas Técnicas (1997). NBR 7190 – Projeto de estruturas de
madeira. São Paulo. 107p.
Agradecimentos
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