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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Estádio Municipal de
Braga, Eduardo Souto
de Moura, 2000-2003.
O estudo deste
equipamento, objeto
do Caso Prático 3,
servirá de pretexto,
entre outras motivações,
não só à sensibilização
da importância da
arquitetura para o
equilíbrio entre o espaço
construído e o espaço
natural, como também
para o entendimento
de uma “poética do
habitar”.
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
A Dança, Paula Rego, 1988.
A obra de Paula Rego, a estudar
no Caso Prático 1, reveste-se de
um particular interesse no que se
refere à aproximação à linguagem da
pintura. A abordagem sistematizada
da obra de referência – O Celeiro – não
constitui senão um ponto de partida
para aceder ao mundo fantástico,
mágico e enigmático de Paula Rego.
Um mundo povoado de memórias, de
fantasias e de encantos transcritos
através de “textos pintados”.
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Apóó s a vitóó ria grega sóbre ós Persas nas “guerras meó dicas” (499-478 a. C.),
cónsólidóu-se a hegemónia ateniense sóbre as restantes cidades gregas e ó
dómíónió sóbre ó mar Mediterraê neó, estabelecendó-se regimes demócraó ticós
em muitas cidades.
Determinante para a cónsólidaçaã ó de um módeló cultural e civilizaciónal
cóerente e hómógeó neó, fói a cónscieê ncia de identidade e de cómunidade que
ós gregós, num sentidó geral, desenvólveram. A melhór expressaã ó deste
sentimentó fói, entre óutrós fenóó menós da sóciedade grega, a realizaçaã ó de
festivais religiósós, de celebraçóã es e de cómpetiçóã es despórtivas (ónde se
destaca a criaçaã ó dós Jógós Olíómpicós), nós quais participavam tódas as pólis.
A arte grega atinge ó seu expóente maó ximó nó designadó “periódó claó ssicó”
cóm ó apógeu dó naturalismó na escultura (Míórón, Fíódias e Pólicletó) e ó
refinamentó arquitetóó nicó (Templó de Zeus em Olíómpia, Acróó póle em
Atenas): aperfeiçóam-se ós sistemas cónstrutivós, eó criada a “órdem córíóntia”
e diversificam-se as tipólógias arquitetóó nicas integradas em planós urbanós
muralhadós.
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
A arte grega
MÓDULO 1 Entre ós seó culós VII e VI a. C. a civilizaçaã ó grega desenvólveu um
prócessó cultural óriginal que transcendeu em diversós níóveis as
A CULTURA DA óutras civilizaçóã es da eó póca e que veió a afetar a sua vida em tódós ós
ÁGORA dómíóniós. A cómeçar pór uma cónceçaã ó muitó próó pria dó ser humanó
e pela fundamental descóberta da raciónalidade, ó logos óu ó
cónhecimentó raciónal. Cóndiçóã es históó ricas e geógraó ficas própíócias
favóreceram, pór óutró ladó, a sua expansaã ó cultural pór tódó ó
Mediterraê neó.
A partir dó seó culó VIII a. C. ós póvós gregós fundaram gradualmente
vaó rias cólóó nias nó Mediterraê neó e estabeleceram relaçóã es cómerciais
cóm ós póvós vizinhós. Estes cóntactós própórciónaram-lhes uma
visaã ó mais ampla e relativista dós fundamentós da sua cultura e,
especialmente, das suas crenças religiósas.
Para este factó cóntribuiu, tambeó m, ó seu sistema pólíóticó assente num
fórte sentidó de independeê ncia da pólis e na auseê ncia de castas
sacerdótais dóminandó a vida puó blica. Estes fatóres explicam ó
desenvólvimentó de um pensamentó autóó nómó e alheió aà s crenças
religiósas, antes póndó em causa permanentemente a visaã ó míótica dó
Mundó e da Históó ria.
Pór óutró ladó, deixaram que este prócessó de raciónalizaçaã ó das
crenças se refletisse tantó na literatura cómó nas artes plaó sticas e na
arquitetura. Sóó assim pódemós entender cómó, pór exempló, das
celebraçóã es religiósas a Diónisó nasceu ó teatró, e das representaçóã es
mitólóó gicas nasceu a arte.
Acima de tudó fói uma nóva cónceçaã ó dó valór da imagem que óriginóu
esta revóluçaã ó nó sistema de representaçaã ó da cultura grega,
atravessandó sucessivas fases: da visaã ó míótica dó mundó aà expressaã ó
raciónal e, pór fim, aà busca dó beló.
Enquantó ós mitós explicaram ó cósmós e ós fenóó menós sóbrenaturais,
ós heróó is distinguiam-se pelas açóã es extraórdinaó rias, divinizadós
enquantó intermediaó riós entre ós hómens e ós deuses.
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A arquitetura grega
MÓDULO 1 A arte grega atingiu ó seu expóente maó ximó nó designadó “períóódó
claó ssicó”. A arquitetura e a cidade saã ó cóncebidas aà imagem e escala dó
A CULTURA DA cidadaã ó – a pólis demócraó tica – e prójetadas para uma vida puó blica
ÁGORA cómplexa e animada que, deste módó, óbserva a diversificaçaã ó de
tipólógias destinadas aà vida cóletiva.
Destaquemós ós edifíóciós mais impórtantes:
• A ágora – uma grande praça puó blica ónde se realizavam ós mercadós e as
assembleias, reunióã es puó blicas para decisóã es sóbre a póó lis;
• A stoa – um edifíóció cóm um extensó póó rticó óu galeria cólunada juntó aà
aó góra para próteçaã ó dó sól óu da chuva;
• O buleutério – um edifíóció de planta retangular óu quadrangular cóm
anfiteatró, para reunióã es da assembleia dós magistradós da cidade;
• O teatró – cónsistia numa estrutura arquitetóó nica em bancadas de pedra,
escavadas em encóstas de cólinas para acólher rituais religiósós,
festividades, cóncursós de póesia, muó sica e drama, e espetaó culós;
• O estaó dió – um recintó de fórma alóngada e cóm ós extremós
arredóndadós para receber cómpetiçóã es atleó ticas;
• O ginaó sió e a palestra – cónsistindó, basicamente, em edifíóciós de planta
retangular e cóm peristiló central, destinadós aà s praó ticas atleó ticas, gíómnicas
e pugilíósticas.
Mas, de tódós ós edifíóciós, ó templó fói ó que melhór caracterizóu a
arquitetura grega e sóbre ó qual incidiram as principais pesquisas teó cnicas,
mórfólóó gicas e estilíósticas.
Cóncebidó cómó mórada dós deuses, a sua estrutura ficóu definida a partir
dó seó culó VIII a. C., derivada dó mégaron miceó nicó: um cómpartimentó
lóngitudinal – ó domos – destinadó a albergar a estaó tua dó deus, era
precedidó de uma antecaê mara – ó prodomos – e de um póó rticó – ó
próthyrón – cóm duas cólunas in antis, franqueadó peló prólóngamentó dós
murós laterais.
Templo de Hera e Templo de
Poseidon, Paestum, Magna
Grécia, Itália Meridional, c.
500 a. C.
A Magna Grécia, situada na Itália
meridional, constituiu um dos mais
importantes centros da civilização
e da cultura gregas, vindo a
converter-se num dos principais
centros
difusores da cultura grega para os
Etruscos e para os Romanos.
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O Classicismo
MÓDULO 1 O adjetivó latinó classicus significa “de primeira classe” e era utilizadó para
designar ós cidadaã ós de plenó direitó na Róma Antiga.
A CULTURA DA
ÁGORA Nórmalmente, a categória de “claó ssicó” eó atribuíóda a uma óbra artíóstica óu
literaó ria cónsiderada exemplar e, pórtantó, digna de ser imitada. Refere-se,
póis, a um sistema nórmativó que estabelece determinadas regras, padróã es
óu caê nónes a aplicar nas cómpósiçóã es artíósticas de fórma a atingir a
perfeiçaã ó, ó equilíóbrió, a harmónia e a beleza.
Cóube aós hómens eruditós dó Renascimentó recónhecer na cultura dós
antigós gregós e rómanós um cónjuntó de valóres que integraram nó seu
próó prió prójetó artíósticó e cultural, e própóndó, em cónsequeê ncia, ó estudó e
a imitaçaã ó das óbras artíósticas e literaó rias dós antigós que, deste módó, eram
entendidas cómó “claó ssicas”. Genericamente chamamós “arte claó ssica” aós
pródutós artíósticós e culturais próvenientes da Antiguidade Grecó-Rómana.
O “classicismó” eó , entaã ó, um sistema de valóres assóciadó aà arte da
Antiguidade Claó ssica, especialmente aó apógeu atingidó na arquitetura e na
escultura gregas dó seó culó V a. C., e que a arte ócidental tómóu cómó módeló
e refereê ncia fundamental. Um sistema que, em termós gerais, se sustenta na
cónvicçaã ó de que a arte óbedece a uma órdem anaó lóga aà quela que rege a
natureza e ó universó.
Da mesma fórma que eó póssíóvel cónhecer a natureza atraveó s da razaã ó, assim
seria póssíóvel alcançar a beleza mediante a aplicaçaã ó de uma seó rie de
nórmas expressas em hierarquias, própórçóã es e medidas, segundó um
meó tódó utilizadó pelós antigós nas suas óbras.
Tóda a teória de arte sóbre ó Classicismó – iniciada pór Alberti
Vénus de Cnido, Praxíteles (cópia
na segunda metade dó seó culó XV e culminandó nas Academias
romana), c. 360 a. C. dós seó culós XVIII e XIX – prócuróu explicitar e códificar essas
A incessante procura de novas
dimensões na representação do nórmas, aà s quais óutórgóu tambeó m um caraó cter móral, uma
Homem motivou a investigação de vez que aó identificar a órdem da arte cóm a órdem da
novos recursos expressivos.
A célebre “curva praxiteliana” natureza equiparava, em termós ideais, beleza e verdade.
apresenta uma articulação correta
das pernas, com um joelho mais Entre ós seó culós XVI e XIX óbservóu-se a persisteê ncia de um
baixo que o outro e com as ancas
ligeiramente inclinadas em sinal de
cónjuntó de caracteríósticas nórmativas nas linguagens
mobilidade e gerando um artíósticas que cónferiram uma certa hómógeneidade aà arte que
movimento ondulante.
A Vénus de Cnido verifica esta
se inspira nó classicismó:
condição, já que a estátua estava
colocada num pequeno temple a) Representaçóã es idealizadas na pintura e na escultura;
circular aberto – um tholos – e
podia ser contemplada de todas as b) Primazia dó desenhó face aós valóres crómaó ticós; enquantó
perspetivas.
Também a aproximação naturalista
ó desenhó fixa ós traçós geneó ricós e permanentes das cóisas, a
da escultura ao comum mortal cór naã ó reflete senaã ó ó acidental e ó mutaó vel;
(uma mulher nua tomando banho),
perturbou a intelectualidade da c) Observaê ncia rigórósa da simetria e da própórçaã ó em
época pelo extremo realismo,
graciosidade e sensualidade do arquitetura mediante a utilizaçaã ó de sistemas tais cómó as
corpo. órdens arquitetóó nicas;
d) Prefereê ncia pór temas móralmente elevadós na pintura e na
escultura, face a geó nerós cónsideradós menóres (pór ex., a
paisagem e ó retrató);
e) Na arquitetura, prefereê ncia pór edifíóciós mónumentais e
representativós, face a óutrós meramente utilitaó riós.
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O Helenismo
Amazona, Fídias (cópia romana),
MÓDULO 1 O “helenismó” fói um termó aplicadó aà c. 450 a. C.
O “período clássico” caracteriza-se pelo triunfo
cultura grega que decórreu entre ós do naturalismo na escultura.
A CULTURA DA finais dó seó culó IV a. C. (mórte de Durante o século V a. C. artistas como Míron,
ÁGORA Alexandre Magnó em 323 a. C.) ateó 27
Fídias e Policleto estabeleceram as relações
proporcionais que consideraram
a. C., anó em que Augustó se tórnóu ó ideais para a figura humana em estátuas e
relevos em mármore e bronze.
primeiró imperadór rómanó. Simultaneamente ensaiaram o movimento e os
valores expressivos, imprimindo ao Classicismo
Neste períóódó, a Greó cia perdeu uma associação perfeita entre idealização e
realismo.
gradualmente a sua influeê ncia pólíótica aà Fídias (c. 496-431 a. C.) foi o mais famoso
medida que Róma adquiriu póder e artista da Antiguidade e ficou célebre por duas
estátuas monumentais: a de Zeus em Olímpia
hegemónia. A cultura grega, que se (uma estátua sentada com 12 m de
expandira cóm as campanhas de altura) e a de Atena (figura de pé com 9 m de
altura) no interior do Pártenon. Mas, o maior
Alexandre Magnó, acabóu pór ser testemunho do seu génio são os trabalhos
adótada pelós diversós reinós apóó s a escultóricos que supervisionou no Pártenon: os
frontões, as 92 métopas em alto-relevo e um
desagregaçaã ó dó Impeó rió, num prócessó friso em baixo-relevo com 160 m de
de integraçaã ó cultural que cónverteu ó comprimento.
Nesta obra colossal, de que não terá esculpido
módeló gregó – ó pensamentó, a arte e a senão uma pequena parte, deixou registada a
literatura – num óbjetó de cultó e de harmonia, a serenidade, a graciosidade e a
majestade que fixaram os códigos em que se
prestíógió sócial das classes dóminantes. afirmou o Classicismo grego e que estão
presentes nesta Amazona.
A arte heleníóstica herdóu, assim, as
caracteríósticas dó Classicismó gregó,
tódavia cónferindó-lhe uma inspiraçaã ó
mais variada em resultadó da sua
assimilaçaã ó das quatró aó reas principais
de influeê ncia: a peníónsula grega, a partir
da Macedóó nia; ó Egitó, cóm centró em
Alexandria; a AÉ sia Menór, em tórnó de
Peó rgamó; e ó Próó ximó Oriente, cóm
centró em Antióquia.
O idealismó e a cóntençaã ó emótiva da arte grega claó ssica deram lugar a um
crescente interesse pela expressaã ó das emóçóã es pessóais (ó amór, ó humór,
a dór, ó medó, ó fervór religiósó, ó sónhó), peló móvimentó e pela natureza,
assistindó-se a um triunfó generalizadó dó realismó, patente, pór exempló,
na próliferaçaã ó de retratós e de assuntós naturalistas.
A intensidade expressiva alcançava pór vezes tais extremós que chegamós
a falar de um “barrócó heleníósticó”, patente pór exempló nó grupó
escultóó ricó Laócóónte, uma das óbras mais famósas deste períóódó, numa
tendeê ncia tambeó m extensíóvel a algumas realizaçóã es arquitectóó nicas da
eó póca, cómó, pór exempló, ó Altar de Zeus e Atena, em Peó rgamó, óu ó
Vénus de Milo, Praxíteles, cópia Mausóleó u de Halicarnassó, na AÉ sia Menór.
romana inspirada, talvez, numa obra
de Lisipo, atribuída a Doidalsas, c. Para aleó m de uma níótida dimensaã ó própagandíóstica das classes dirigentes
250 a. C.
A arte helenística revelou uma heleníósticas que estas óbras manifestam, a arte heleníóstica apróximóu-se
mudança nos gostos e interesses dos dós góstós refinadós das córtes principescas e dós respetivós mónarcas
artistas numa tendência evolutiva que
começou a delinear-se com os que, assim, manifestavam a sua erudiçaã ó nó classicismó gregó.
trabalhos de Praxíteles, Escopas e
Lisipo no século IV a. C. A mudança nós góstós dós artistas repercutiu-se nós temas, nas teó cnicas e
A qualidade plástica das suas obras,
a graciosidade e beleza dos corpos e
nas fórmas de representaçaã ó:
a aproximação naturalista ao comum
mortal chegou a perturbar a a) Interesse peló presente e peló imediató;
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intelectualidade de então.
Nesta obra emerge a fusão do ethos
da cultura clássica (representação da
beleza física e do carácter) com o
pathos helenístico (manifestação dos
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Mausoléu de Halicarnasso,
reconstituição, Ásia Menor, c. 350 a. C.
Este monumento funerário, de
dimensões colossais, foi erigido nas
costas da Ásia Menor, em honra de
um rei sátrapa do Império Persa,
c. 350 a. C.
Dele não restam senão os escritos de
Plínio que o descreve como uma das
sete maravilhas do mundo, com
48 m de altura, erguendo sobre
um alto pedestal um pórtico de 36
colunas jónicas com 12 m de altura.
Na sua decoração participaram
vários mestres gregos entre os quais
Leócares, discípulo de Praxíteles, e
Escopas.
A este último coube o friso da fachada
principal onde interpretou um tema
mitológico – a Luta entre Gregos e
Amazonas – como símbolo da tragédia
humana, nele deixando marcado
o seu estilo dinâmico e explosivo,
imprimindo a habitual agitação e
euforia às figuras.
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Maison Carré, Nîmes, França, c.
15-12 a. C.
Desde que foi estabelecido o culto
imperial por Augusto, os templos
passam a ser consagrados ao culto do
imperador e ao Império.
E, se bem que sejam evidentes as
relações com o modelo do templo
grego em que se inspira, aqui
estamos em presença de um novo tipo
de edifício religioso.
Para além da implantação num pódio
elevado e das colunas do peristilo
adossadas às paredes da cella, o
que caracteriza o templo romano é
o espaço único da cella destinado a
receber a imagem da divindade e os
troféus das campanhas militares.
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Templo Romano, Évora, séculos I-II. Villa Romana de São Cucufate, Vidigueira, séculos I-
Habitualmente conhecido por “Templo de Diana”, III.
este monumento romano em Évora deve ser mais Dispersos pelo território da colónia romana Pax Iulia
seguramente considerado como um santuário de (Beja) haviam várias residências senhoriais – as
culto imperial, inserido no fórum, na época em que villae – entre as quais São Cucufate, reconstruída
os imperadores Trajano e Adriano exerceram a sua durante o Baixo Império.
influência na Península Ibérica. A sua semelhança com o Templo de Milreu, em
Trata-se de um templo períptero, rodeado por 26 Estói, sugere a eventualidade de ambos terem sido
colunas de fuste canelado e capitéis coríntios, executados pelo mesmo arquiteto.
assentando sobre um podium com 25 m x 15 m e A fachada, enquadrada por dois torreões simétricos,
3,5 m de altura. contrafortados por altas arcadas de volta inteira,
O pavimento era revestido com mosaicos que dava sobre um jardim, de difícil reconstituição. Este
desapareceram completamente. modelo de edifício, único no nosso país, era corrente
35 no Norte de África, durante o Baixo Império.
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
A romanização em Portugal
MÓDULO 2 O iníóció da presença rómana na peníónsula Ibeó rica remónta a 218 a. C., na
sequeê ncia da II Guerra Puó nica, cóm ó desembarque de duas legióã es em
A CULTURA DA Ampuó rias (próvíóncia de Geróna) para cómbater ós exeó rcitós cartagineses
SENADO que ócupavam aquela regiaã ó.
Cóm a rendiçaã ó de Caó dis, em 206 a. C., Róma ficóu a dóminar um vastó
territóó rió que ia dós Pireneó us ateó aà fóz dó rió Guadalquivir. Fundada a
cólóó nia Itaó lica – próó ximó de Sevilha – inicióu-se ó prócessó de
rómanizaçaã ó da Peníónsula que encóntraria um óbstaó culó nós Lusitanós,
póvó de pastóres que ócupava ós Móntes Hermíóniós e saqueava
frequentemente as terras feó rteis ónde ós rómanós estavam estabelecidós.
Entre 194 e 139 a. C., e apóó s uma dura resisteê ncia óferecida pelós
Lusitanós, estes acabaram pór ser vencidós apóó s ó assassinató de Viriató,
em 139 a. C., que ós chefióu desde 147 a. C.
Estrabaã ó, autór gregó dó seó culó I a. C., refere-se a estas campanhas
militares cóntra ós Lusitanós cónduzidas pór Deó cimó Juó nió Brutus. Sóó
entre 29 e 19 a. C., a pacificaçaã ó da peníónsula fói cóncluíóda pór Augustó
cóm a cónquista das Astuó rias e da Cantaó bria, e cóm a impósiçaã ó da Pax
Romana a tódó ó Impeó rió.
Entre 16 e 13 a. C., na sua deslócaçaã ó aà peníónsula Ibeó rica, Augustó
reórganizóu administrativamente ó territóó rió cóm a criaçaã ó de treê s nóvas
próvíóncias: a Terracónense, a Beó tica e a Lusitaê nia. O atual territóó rió
pórtugueê s, a Sul dó Dóuró, ficóu integradó na Lusitaê nia.
A partir de entaã ó, ó territóó rió fói enquadradó nó direitó, administraçaã ó e
líóngua rómanas. Na eó póca dós Flaó viós (69-96) e dós Antóninós (96-192) ó
Impeó rió atingiu ó seu apógeu em termós de extensaã ó territórial. As
cidades autónómizaram-se e surgiram póderes ecónóó micós lócais (de
órigem rómana) que desenvólveram atividades cómerciais, industriais óu
explóraçaã ó de mineó riós. Esta fói a eó póca da renóvaçaã ó urbana das cidades
e das grandes óbras puó blicas pór tóda a peníónsula Ibeó rica.
Fói, de restó, nas grandes óbras de engenharia que ós Rómanós
evidenciaram tódó ó seu pótencial empreendedór. A cónstruçaã ó de
estradas, póntes e aquedutós, para aleó m de cónstituíórem vetóres de
desenvólvimentó dós territóó riós e de humanizaçaã ó das paisagens, ficaram
cómó testemunhós da capacidade teó cnica e dó sentidó esteó ticó da
civilizaçaã ó rómana. Dós inuó merós exemplós que se encóntram nó espaçó
geógraó ficó naciónal, destacamós as póntes de Pónte de Lima, de Chaves,
de Vila Fórmósa (entre Pónte de Sór e Alter dó Chaã ó), da Assureira
Estátua de Apolo, Álamo, (Castró Labóreiró), de Vila Ruiva (Cuba) e ó aquedutó de Cóníómbriga,
Alcoutim, século I. cómó exemplós mais significativós.
Tambeó m a escultura, muitó apreciada nó mundó rómanó, fói uma
presença cónstante em tódós ós espaçós, quer puó blicós, quer privadós.
Devidó a uma rómanizaçaã ó mais fórte nó Sul da Lusitaê nia, saã ó dali a maiór
parte dós achadós, resultandó tantó da próduçaã ó lócal, cómó da
impórtaçaã ó de Róma, atingindó ó seu auge entre ós seó culós I e III.
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Conímbriga – vista sobre a muralha,
Coimbra, século I.
Conimbriga foi construída sobre as
reminiscências de um povoado pré-
-céltico. Foi ocupada pelos Romanos
nos finais do século II, vindo a ser
urbanizada no tempo de Augusto com
a construção do fórum e das termas.
Na época dos Flávios, em finais do
século I, o fórum foi substituído por
outro maior e a cidade observou um
crescimento em dimensão e prestígio.
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SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
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Cúpula do Batistério dos Arianos,
Ravena, Itália, finais do século V.
Construído durante o reinado do
ostrogodo Teodorico, o Batistério dos
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Arianos apresenta uma sumptuosa
cúpula interna de mosaicos.
Regressando à composição
das civilizações primitivas, por
sobreposição de figuras, a primeira
arte cristã acrescenta-lhe a
composição irradiante: as figuras são
organizadas radialmente, adaptando-
-se à planta centralizada das igrejas
e à esfericidade das cúpulas. Aqui, o
cortejo dos Doze Apóstolos dirige-se
para o trono encimado pela Cruz,
enquanto no medalhão central se
representa o Batismo de Cristo por
São João Baptista, na presença do
génio do rio Jordão, segundo tradição
pagã.
O Românico
MÓDULO 3 A arte rómaê nica desenvólveu-se entre ós seó culós IX e XII, dandó sequeê ncia
aó renascimentó carólíóngió e ótónianó verificadó nós finais dó mileó nió na
A CULTURA DO Európa setentriónal. Fóram, sem duó vida, as nóvas cóndiçóã es ecónóó micas e
MOSTEIRO pólíóticas que favóreceram uma auteê ntica explósaã ó de óbras grandiósas,
austeras e misteriósas, carregadas de uma intensa espiritualidade e
devóçaã ó de uma sóciedade dóminada pela feó e peló amór de Cristó.
Os prógressós teó cnicós alcançadós na eó póca (cómó a utilizaçaã ó dó aradó
em ferró) estiveram na base de um relativó desenvólvimentó ecónóó micó e
da dinamizaçaã ó da agricultura (cóm ó generalizadó arróteamentó de
terras), cóm a cónsequente reduçaã ó da fóme e a explósaã ó demógraó fica em
tóda a Európa. Mas tambeó m a guerra cóntra ós infieó is cónstituiu uma
fónte de riqueza impórtante, jaó que tantó a cultura islaê mica cómó a
bizantina eram muitó ricas em óuró, sedas e pedras preciósas que
encheram ós cófres das córtes cristaã s ócidentais. Estes fatóres,
favórecidós pelas cruzadas e pelas peregrinaçóã es, cóntribuíóram para uma
unidade artíóstica e cultural dó mundó rómaê nicó.
O cóntextó religiósó nó qual vai nascer a arte rómaê nica eó muitó
semelhante aó dó seu hómóó lógó bizantinó. A descónfiança face aó
“mundó das apareê ncias”, a atraçaã ó exclusiva peló universó espiritual e um
entendimentó dualista dós fenóó menós (a ópósiçaã ó entre ó bem e ó mal, ó
ceó u e a terra, ó córpó e ó espíóritó) fizeram nascer uma arte cristaã próó xima
da bizantina. O dualismó, que impórtava dó neóplatónismó a atraçaã ó peló
Cristo Pantocrator, pintura a fresco,
abside da Igreja de Sant Climent,
idealismó espiritual, estava fórtemente implantadó na mentalidade
Taüll, Lérida, Espanha, 1123.
A plástica românica constituiu
uma síntese de diversas tradições
artísticas e culturais 40
que se
difundiram no território europeu.
Da Antiguidade greco-romana à
cultura cristã, do Islão às plásticas
europeias (germânicas, irlandesas,
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
41
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
42
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
A arte islâmica
MÓDULO 3 Aó cónceber a vida cómó uma lónga peregrinaçaã ó em direçaã ó aà
purificaçaã ó da alma e aà redençaã ó dós pecadós, ó Cristianismó favóreceu
A CULTURA DO uma dinaê mica que jaó se óbservava desde ó declíónió dó Impeó rió Rómanó: ó
MOSTEIRO abandónó das cidades e a fórmaçaã ó de sóciedades rurais e feudais que
perduraram durante a Idade Meó dia nó Ocidente. Cóm ó Islaã ó acónteceu
um móvimentó inversó. Nó seó culó VI, as tribós beduíónas da peníónsula
Araó bica abandónaram a pastóríócia e cómeçaram a cónduzir caravanas
atraveó s dó desertó, assegurandó impórtantes rótas cómerciais entre ó
Oriente e ó Ocidente. Alguns óaó sis cómó Yatrib (mais tarde Medina, a
“cidade dó prófeta”) rapidamente se cónverteram em cidades,
incrementandó fórmas de vida urbanas e mótivandó desajustamentós em
relaçaã ó aà tradiçaã ó e aà s velhas crenças dós nóó madas.
A nóva feó , surgida nó iníóció dó seó culó VII predicada pór Maómeó , ó
fundadór dó Islamismó, rapidamente se expandiu pór tóda a peníónsula
Araó bica, dóminandó ó Meó dió Oriente, Nórte de AÉ frica e, em 750, chegaram
aà peníónsula Ibeó rica. Esta taã ó raó pida expansaã ó deve-se, pór um ladó, aó
espíóritó fraternal e igualitaó rió pregadós peló Islamismó entre a
cómunidade religiósa – a igualdade de tódós ós hómens diante de Deus,
sem distinçaã ó de raças óu de culturas – e, pór óutró ladó, aó cónceitó de
“guerra santa” implementadó, precónizandó submeter (Islâm,
“submissaã ó” óu “resignaçaã ó”) ós póvós da Terra aà vóntade de Alaó .
Fói durante ó califadó Omíóada que ó Islaã ó atingiu a sua maiór expansaã ó.
Cóm a deslócaçaã ó dó centró dó póder de Medina para Damascó e para
Jerusaleó m, surgiram ós primeirós testemunhós artíósticós da nóva feó . A
primeira óbra, a Cúpula do Rochedo, em Jerusaleó m, fói erguida sóbre uma
rócha ónde se encóntrava ó Templó de Salómaã ó e, segundó a tradiçaã ó,
Maómeó teria ascendidó aó ceó u. Outra óbra fói a Mesquita de Damasco, na
capital dós Omíóadas, cónstruíóda sóbre um templó rómanó, aíó se
cónstituindó ó primeiró tipó de edifíóció religiósó islaê micó. A mesquita
devia acentuar a cóntinuidade de espaçós indiferenciadós e hórizóntais
que exprimem ó espíóritó igualitaó rió dó Islaã ó e nó qual se impóã e ó caraó cter
cóntíónuó das cólunas e arcadas internas dó haram, a sala de óraçaã ó. Nó
interiór, ós uó nicós elementós distintivós saã ó a qibla, a parede vóltada a
Meca e que indica a órientaçaã ó dós fieó is durante a óraçaã ó, e ó mihrab, um
nichó vazió nessa parede que assinala a presença dó Prófeta.
Mesquita Aljama, Harát, Afeganistão, A arte islaê mica distinguiu-se, acima de tudó, peló recursó aà s cómpósiçóã es
séculos XV-XVI.
A arte islâmica distinguiu-se pelo rico
geómeó tricas, aà s fórmas abstratas, aà caligrafia e aó arabescó. Em qualquer
cromatismo, pelos efeitos ilusórios e por dós geó nerós em que se exprimiu, caracterizóu-se pelas cómpósiçóã es de
uma plástica subordinada à doutrina
religiosa que excluía toda e qualquer
grande cómplexidade estrutural e crómaó tica, pelós efeitós ilusóó riós e pór
representação do mundo. uma plaó stica subórdinada aà dóutrina religiósa que excluíóa as
O recurso à figura geométrica, à
forma abstrata, à caligrafia e ao representaçóã es figurativas. Pór óutró ladó, a arte islaê mica crióu um
arabesco, caracterizou uma arte de universó de mótivós e valóres plaó sticós que saã ó utilizadós indistintamente
forte tendência decorativa.
tantó num vasó de cóbre, num tapete óu numa parede, privilegiandó uma
cóntinuidade esteó tica entre óbjetós e manifestaçóã es artíósticas distintas.
43
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
44
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
45
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Igreja-Mausoléu de S. Frutuoso de
Montélios, vista exterior e do interior,
Braga, século VII.
No século VII, a personagem mais
significativa na Galécia e na Lusitânia
foi S. Frutuoso, continuador da obra
de S. Martinho.
Bispo de Braga e de Dume em
meados do século VII, S. Frutuoso terá
dirigido a edificação mais significativa
desta época: a Igreja-Mausoléu de
Montélios com notória inspiração no
Mausoléu de Galla Placida, de Ravena.
Segundo o seu biógrafo, ao pressentir
a morte, S. Frutuoso apressou-se
a concluir as ecclesiae que havia
iniciado e onde viria ser sepultado.
Apesar das posteriores intervenções,
é de origem a planta de cruz grega,
a decoração das paredes em arcadas
cegas e as três absides em arco de
ferradura. Mais tarde, viria a receber
decoração de influência islâmica do
Al-Andaluz.
46
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
O Românico em Portugal
MÓDULO 3 Depóis dó dómíónió visigóó ticó entre ós seó culós V e VII, fói a presença
muçulmana que durante mais de cincó seó culós se impóê s na peníónsula
A CULTURA DO Ibeó rica, cóndiciónandó ós prógramas da próduçaã ó artíóstica. A “guerra
MOSTEIRO santa” para expulsar ós infieó is da peníónsula e recuperar ó territóó rió para a
feó cristaã , iniciada nó seó culó VIII cóm a criaçaã ó dó reinó das Astuó rias (722),
ganhóu nóvó impulsó cóm a descóberta dó tuó muló de Santiagó (813) e a
cónsagraçaã ó dó seu sepulcró cómó lugar de peregrinaçaã ó.
A Recónquista tórnóu-se, entaã ó, numa prióridade dós reis cristaã ós de
Leaã ó e Astuó rias, sem desprezar, igualmente, a cónsólidaçaã ó e ó
póvóamentó dós territóó riós cónquistadós, ónde se vaã ó juntar cristaã ós
vindós dó nórte cóm móçaó rabes e mónges beneditinós, tambeó m aqui, cóm
um papel fundamental na difusaã ó da liturgia cristaã . Nó seó culó XI jaó se
percórriam ós “caminhós de Santiagó” (apróveitandó as antigas estradas
rómanas) que traziam a Cómpóstela multidóã es de peregrinós óriundós de
França, Itaó lia e Alemanha.
Nó espaçó dó territóó rió pórtugueê s, definiu-se um Cóndadó cónfiadó a
D. Henrique de Bórgónha, e cóntinuadó peló seu filhó D. Afónsó Henriques
que, apóó s um períóódó de cónflitós cóm ós reinós vizinhós de Leaã ó e
Castela, fundóu ó reinó de Pórtugal sób ó patrócíónió da Santa Seó , em 1143.
Durante a Recónquista, na qual tómaram uma participaçaã ó ativa vaó rias
órdens mónaó sticas (designadamente a Ordem de Santiagó), guerreirós e
mónges beneditinós levantaram mósteirós, igrejas, tórres e castelós pór
tódó ó territóó rió cónquistadó. Assim se desenvólveu ó Rómaê nicó em
Pórtugal, sób ó signó de Cristó e sób a influeê ncia francesa (atraveó s das
Ordens de Cluny e de Cister).
A instabilidade dós tempós que acómpanharam ó desenvólvimentó da
arquitetura rómaê nica em Pórtugal, fundamentalmente de caraó cter
religiósó, refletiu-se nas fórmas sóó brias e austeras dós edifíóciós, e nas
paredes sóó lidas e espessas das igrejas que quase pareciam fórtalezas. Na
verdade, as igrejas tambeó m serviam de refuó gió das pópulaçóã es face aós
ataques de móurós e castelhanós. Representandó a ómnipresença dó
Igreja de S. Salvador de Travanca,
portal da Torre, Amarante, século Criadór, a igreja rómaê nica cónseguiu uma fórte implantaçaã ó juntó das
XIII. cómunidades rurais cuja simplicidade e escassez de recursós acabóu pór
Como se lê no Apocalipse segundo
S. João: “Eu vi no meio do trono, exprimir: igrejas rurais de linhas simples decóraçaã ó reduzida aós capiteó is,
os quatro Animais e, no meio dos aà s cólunas e arquivóltas dós pórtais, aà s míósulas e aós cachórrós.
anciãos um cordeiro de pé, como que
imolado...” (Apocalipse, 5, 6).
O “cordeiro” ali referido, o Agnus
EÉ na escultura que melhór se reflete ó espíóritó rómaê nicó. Acómpanhandó
Dei, é uma das representações ó renascimentó cultural óperadó nó nóvó mileó nió, a próduçaã ó escultóó rica
mais características do Românico
português. Trata-se de uma figuração
recebeu um grande impulsó e desenvólveu uma nóva plaó stica. A sua
simbólica de Cristo Imolado que assim capacidade narrativa, desempenhandó a necessaó ria funçaã ó pedagóó gica aà
expia o Pecado Universal.
O Agnus Dei do tímpano do portal
difusaã ó da dóutrina cristaã , e as necessidades de órdem simbóó lica dó
cumpre uma dupla função: teofânica hómem medieval, favóreceram a próliferaçaã ó de imagens sóbre ós
(veiculando a mensagem bíblica) e
apotropaica (enquanto guardião da elementós arquitetóó nicós, dinamizandó e caracterizandó esses espaçós. A
“porta do Céu”). fantasia decórativa manifestóu-se nas arquivóltas, cólunas, impóstas e
cónsólas de pórtais e janelas, nós frisós, míósulas e cachórrós, nas rósaó ceas
e nós capiteó is dós claustrós e naves.
47
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Sé de Lisboa, 1147-1150.
A Sé foi construída sobre uma antiga
mesquita, entretanto destruída
aquando da conquista de Lisboa aos
mouros, em 1147.
Mas, antes, já ali existiria uma igreja
visigótica e, antes ainda, um templo
romano.
A Sé foi traçada por mestre Roberto,
homem ligado ao Românico do
norte da Europa, e que aqui seguiu
a tradição das catedrais francesas,
em que a fachada se organiza entre
duas torres imponentes flanqueando
a entrada, com um portal afundado
num nártex e uma grande rosácea
central.
O edifício recebeu várias modificações
posteriores, designadamente com a
construção do claustro gótico e, mais
tarde, a capela-mor barroca já depois
do Terramoto de 1755.
O Gótico
MÓDULO 4
48
A CULTURA DA
CATEDRAL
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
50
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
O Gótico em Portugal
MÓDULO 4 O Góó ticó manifesta-se em Pórtugal nó períóódó final da Recónquista,
evóluindó cóm a afirmaçaã ó da naciónalidade pórtuguesa, cóm a
A CULTURA DA órganizaçaã ó administrativa dó Estadó, cóm ó desenvólvimentó da
CATEDRAL ecónómia, ó póvóamentó das terras cónquistadas e, sóbretudó, a
cónsólidaçaã ó dó póder mónaó rquicó e a sua afirmaçaã ó nó espaçó pólíóticó
európeu. Os primeirós sinais, cómó ó empregó da abóó bada de cruzaria de
ógivas e dós arcós quebradós, cómeçam a verificar-se a partir dó reinadó
de D. Sanchó II, generalizandó-se depóis nó reinadó de D. Afónsó III (r.
1245-1279).
O estabelecimentó nó territóó rió da Ordem de Cister e das Ordens
mendicantes dós Franciscanós e dós Dóminicanós, aó lóngó dós seó culós
XIII e XIV, favóreceu a difusaã ó dó “nóvó estiló” que se prólóngóu
tardiamente ateó aó seó culó XVI – cóm a cónsagraçaã ó dó Manuelinó –
quandó na Európa jaó se cónsólidara ó Renascimentó. Sem duó vida, a
exiguidade de recursós materiais e a influeê ncia das órdens religiósas
cóndiciónaram a primeira fase dó Góó ticó pórtugueê s, de caracteríósticas
eminentemente rurais e mónaó sticas, e de fórmas e linhas módestas e
simples, em cónfórmidade cóm a austeridade das suas regras.
As primeiras cónstruçóã es góó ticas em Pórtugal fóram a Igreja da Abadia de
Santa Maria de Alcóbaça dós frades de Cister e ó Claustró da Seó Velha de
Cóimbra. Ainda nesta primeira fase de afirmaçaã ó dó Góó ticó, a Seó de EÉ vóra,
iniciada em períóódó rómaê nicó (1186) e cóm evóluçaã ó góó tica (1267-1283),
eó óbra dós arquitetós Dómingós Pires e Martim Dómingues. Póreó m, ó
períóódó mais impórtante dó Góó ticó em Pórtugal pertenceu aà dinastia de
Avis. O Mósteiró da Batalha, mandadó erguer pór D. Jóaã ó I (r. 1385-1433),
cónstituiu a grande realizaçaã ó arquitetóó nica dó seó c. XV.
A escultura góó tica fói cóndiciónada pela vida religiósa que determinóu ó
repertóó rió icónógraó ficó e ó prógrama esteó ticó da sua próduçaã ó. Se, pór um
ladó cóntinua ó prógrama funciónal da escultura rómaê nica, próduzindó
pórtais, capiteó is, rósaó ceas e tódó um imaginaó rió de caraó cter cultural, pór
óutró ladó, ó “nóvó estiló” vai refletir uma evóluçaã ó cultural que atinge a
Ecce Homo, autor desconhecido,
Museu Nacional de Arte Antiga, sua maiór expressaã ó nó reinadó de D. Dinis (r. 1279-1325). Das grandes
Lisboa, século XV (?). escólas de escultura que fóram Lisbóa, EÉ vóra e Batalha, devemós destacar
Atribuído por muitos historiadores
à escola de Nuno Gonçalves, o a “escóla de Cóimbra” representada pór Mestre Peê ró, e tambeó m ós
Ecce Homo é, talvez, a obra mais mestres Jóaã ó Afónsó, Diógó Pires-ó-Velhó e Diógó Pires-ó- -Móçó (seu
emblemática de todo o Quatrocentos na
pintura portuguesa. Num retrato místico filhó).
do martírio de Cristo pela redenção da
humanidade, o autor consegue uma Nó seó culó XV a atividade pictóó rica recebeu um incrementó assinalaó vel,
visão divina do absoluto, traduzida
através de uma força tão expressiva
devidó naã ó sóó a um renóvadó interesse em pintura pór parte da realeza e
quanto silenciosa. da nóbreza, cómó tambeó m aà presença de artistas pórtugueses em Itaó lia e
A luz subtil e celestial que irradia
do manto branco, contrasta em
aó cóntactó cóm nóvas fórmas plaó sticas. Tódavia, a pintura góó tica
pureza com o corpo nu, sofredor e pórtuguesa registóu maiór influeê ncia da escóla flamenga, aà qual naã ó
martirizado, confrontando o espírito
sagrado e eterno de Deus com a carne devem ser estranhas as relaçóã es privilegiadas, tantó ecónóó micas cómó
pecadora e mortal do homem. diplómaó ticas, cóm ós Paíóses Baixós. Predóminaram as temaó ticas
religiósas, em cómpósiçóã es algó ingeó nuas e evidenciandó algumas
dificuldades teó cnicas: haó errós de representaçaã ó, as figuras saã ó
esquematizadas e as córes saã ó muitó duras e sem módeladó.
51
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
O Manuelino
MÓDULO 4 A arte manuelina afirma-se a partir dó uó ltimó quartel dó seó c. XV,
sóbretudó, aó níóvel da decóraçaã ó da arquitetura, caracterizandó-se pela
A CULTURA DA órnamentaçaã ó exuberante (e quase barróca) e peló ecletismó das
CATEDRAL
54
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
O Renascimento
MÓDULO 5 Vaó riós fóram ós acóntecimentós que cóntribuíóram para ó surgimentó de
um nóvó móvimentó artíósticó em Itaó lia nó Quattrócentó. Desde ó seó culó
A CULTURA DO XII a Itaó lia integrava ó Sacró-Impeó rió Rómanó-Germaê nicó encóntrandó-se
PALÁCIO póliticamente destabilizada e envólta em cónflitós militares que
destruíóram as velhas estruturas feudais, enfraqueceram as finanças e as
famíólias nóbres, e favóreceram a ascensaã ó da burguesia, mercadóres e
cómerciantes, de cujó póder resultaram as cidades-estadó e as grandes
famíólias dó Renascimentó.
Apesar de instaó vel e própíócia a cónspiraçóã es e assassinatós, desta situaçaã ó
póliticamente instaó vel, resultaram ós empreendimentós mais inteligentes
e óusadós. Nesta nóva sóciedade aó vida de póder e glóó ria, ó faustó, ó
aparató, ós tórneiós e as festas, mas tambeó m ó mecenató, a arquitetura, a
pintura e a escultura experimentaram a sua influeê ncia. Os ricós
mercadóres, ós cómerciantes, ós banqueirós e, em geral, a burguesia,
disputaram para a sua córte ós artistas mais aclamadós, cónstruíóram ós
palaó ciós mais sumptuósós e enriqueceram-se de óbras de arte
representativas de um espíóritó nóvó. Assim se difundiu ó estiló dó
Renascimentó.
Em Flórença, hómens cómó Marsilió Ficinó, Picó de la Mirandóla e Alberti,
ó arquitetó teóó ricó dó Renascimentó, empenharam-se em cónciliar ó
pensamentó platóó nicó cóm a dóutrina cristaã , e em recónciliar a
espiritualidade cristaã cóm a aparente beleza das cóisas naturais,
pretendendó traduzir ó seu pensamentó em imagens sensíóveis e belas. Nó
seu entendimentó, a beleza exteriór devia decórrer dó reflexó dós valóres
interióres e da nóbreza de alma.
Representandó um extraórdinaó rió desenvólvimentó da razaã ó humana,
razaã ó que estrutura ó pensamentó e eó medida de tódas as cóisas, ó
hómem dó Renascimentó cóncebeu ó Cósmós cómó harmónia divina:
para ele, ó universó nascidó de Deus, era fórma e medida, própórçaã ó e
harmónia, pureza e perfeiçaã ó. Assim se desenhava um artista cómplexó e
muó ltipló, entusiasta apaixónadó mas tambeó m inquietó, idealista e
pragmaó ticó que fórjava ó futuró perscrutandó ó passadó.
Escravo Moribundo, Miguel Ângelo,
Museu do Louvre, Paris, França, O mótór principal desta evóluçaã ó artíóstica fói a atraçaã ó peló naturalismó
c. 1513.
Revelando a intensidade do seu
que desde ó seó culó XIV se exprimia cóm Gióttó e Pisanó. Tambeó m a
espírito neoplatónico, Miguel Ângelo Antiguidade se encóntrava ancórada aó naturalismó e sóubera encóntrar
encontrou na escultura a maior das
artes, a mais próxima da pureza, da
uma expressaã ó plaó stica na beleza humana. Era este sentidó de vólume, de
perfeição e da beleza da “obra divina”. módeladó, de expressaã ó dó móvimentó e das cómpósiçóã es das figuras,
Analisando demoradamente os blocos
de pedra em busca de uma “forma
que testemunhavam ós baixós-relevós e estaó tuas presentes em grande
ideal” prestes a ser “libertada” pela mão nuó meró em Itaó lia.
do artista, Miguel Ângelo traduziu nas
suas obras uma serena harmonia entre Da exigeê ncia dó naturalismó nasceu ó estudó dó espaçó e da códificaçaã ó
o corpo, clássico nas formas, e o
espírito, idealista na expressão. da sua representaçaã ó numa disciplina geómeó trica: a perspetiva linear. Pór
óutró ladó, a óbra adquiriu a sua independeê ncia e ó artista a sua
autónómia: agóra, ela jaó naã ó eó apreciada pela sua fidelidade aó prógrama
icónógraó ficó, pela qualidade dós materiais empregues óu pela precisaã ó da
execuçaã ó, mas antes peló níóvel de invençaã ó, pela subtileza da fórma e pela
óriginalidade da inspiraçaã ó, marcas que distinguem um grande artista.
56
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
O Maneirismo
MÓDULO
57 5
A CULTURA DO
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
58
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
59
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
60
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Igreja do Convento de Nossa Senhora
da Graça, Nicolau de Chanterenne e
Miguel de Arruda, Évora, 1532-1540.
Pertencente à ordem de Santo
Agostinho, este é um dos mais
interessantes edifícios da Renascença.
O seu traçado complexo mas com
articulação equilibrada, poderia denotar
influência de Palladio – por exemplo, no
duplo frontão da fachada –, não fossem
certos elementos situarem a sua
construção na década de 1530.
Na interessante composição saída do
traço destes dois arquitetos, salienta-
-se o original pórtico de colunas
toscanas, elaborando uma delicada
galilé e as pilastras dos cunhais
encimadas por quatro gigantes em
poses irreverentes.
61
SÍNTESES DE ENQUADRAMENTO DOS TEMAS/CONTEÚDOS
Fonte do Claustro da Manga, João de
Ruão, Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, 1533.
Esta é uma obra manifestamente
maneirista de João de Ruão,
de características simbólicas:
o tempietto central simboliza a
eternidade; a cúpula apoia-se
em oito colunas, o número da
Ressurreição; as quatro capelas
cilíndricas referem-se aos quatro
Evangelistas; as escadas têm sete
degraus, o número da perfeição; e
os oito tanques, unidos dois a dois,
formam os quatro rios do Paraíso.
62