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1. Introdução
O principal interesse deste Sutra está em ser o mesmo uma fonte primária para
o estudo das idéias que inspiraram os movimentos sociais de cunho messiânico
no Extremo-Oriente tradicional. A história da China tradicional é rica em guerras
camponesas contra a autoridade imperial. Muitas delas tomam a forma de
movimentos messiânicos que aspiram à instalação na terra, do reino de
Maitreya, o Buda Futuro, verdadeiro Messias do Budismo, cujo culto, de origem
indo-iraniana, penetrou no Celeste Império juntamente com os textos e
doutrinas budistas. Os principais movimentos messiânicos chineses vinculados
com o culto de Maitreya são os seguintes:
3. Tradução do texto9
Assim eu ouvi:
O Buda, calado, não deu resposta e por três vezes Ananda enunciou sua súplica
dessa maneira.
Quando a Lei de Buda se extinguir, ela será semelhante à luz de uma lâmpada
de azeite que ganha um brilho repentino pouco antes do combustível se
extinguir. Nada mais posso ensinar além disto.
— Que nome deverá ter este Sutra e de que maneira devemos nos consagrar a
ele?
O Buda respondeu:
— Ananda! O nome deste Sutra deverá ser Sutra da Extinção da Lei. Poderá
ser pregado a todos os seres, sem discriminação, o que produzirá incontáveis
méritos.
4. Algumas questões
O texto alude à crença segundo a qual o desperdício de sêmen por parte dos
homens libertinos acarreta enfraquecimento e encurtamento da vida:
“Foi num livro de ginecologia que Soranos afirmou: toda emissão de sêmen
(masculino) é nociva à saúde; as relações sexuais são prejudiciais em si
mesmas.” (I, 30-31).31
1. ONO, Genmyô (Editor). Bussho Kaisetsu Daijiten (Grande Dicionário Explicativo de Textos
Budistas), Tóquio, Daitô Shuppansha, 1977, 10º vol., p. 121.
4. GERNET, Jacques. O mundo chinês, Lisboa, Cosmos, 1975, 2 vols., 1º vol: p. 350-351 e
389; 2º vol: p. 74-75.
5. Para estudo do movimento Tai-Ping e outras insurreições populares dos séculos XIX e XX
ver: CHESNEAUX, Jean e outros. Mouvements populaires et sociétés secrètes en Chine aux
XIX e et Xxe siècle, Paris, François Maspero, 1970.
9. Na presente tradução seguimos a edição japonesa Taishô (Taishô nº 396) cotejando-a com a
tradução para o japonês moderno de Shôkei Watanabe (cf. WATANABE, Shôkei. op. cit., p. 6-
13).
10. Localidade da Índia setentrional, próxima da atual aldeia de Kasya onde, segundo as
escrituras, Sâkyamuni faleceu aos 80 anos de idade.
11. Nas escrituras budistas usa-se a expressão “penetrar no Nirvana”, ou seja, no absoluto
incondicionado, para designar o falecimento do fundador do Budismo.
12. Ascetas leigos que representam o ideal de perfeição espiritual proposto pelo Budismo do
Grande Veículo.
13. Primo do fundador do Budismo e um de seus principais discípulos. Segundo a tradição, era
dotado de memória prodigiosa e, após a morte de Buda, foi encarregado pelos demais
discípulos da transmissão dos sermões do mesmo sob a forma de sutras ou discursos que, mais
tarde, vieram a constituir a primeira parte do Tripitaka ou tríplice coleção de textos canônicos.
14. Cinco crimes cruéis passíveis da mais pesada condenação aos infernos: 1) matar o pai, 2)
matar a mãe, 3) matar um Arahat (discípulo iluminado), 4) ferir um Buda derramando seu
sangue, 5) quebrar a harmonia da comunidade budista, provocando cisões.
15. Praticantes do Budismo do Pequeno Veículo que alcançaram a Iluminação sozinhos, sem
ouvirem as pregações de Buda.
16. Praticantes do Budismo do Pequeno Veículo que atingiram o mais alto grau de perfeição
individual depois de ouvirem as pregações de Buda.
19. O Nirvana.
21. Importante Sutra do Budismo do Grande Veículo, uma das principais exposições das bases
teóricas da prática do Budismo Zen.
22. Sutra do Budismo do Grande Veículo que ensina um tipo de meditação que provocaria a
aparição das divindades do panteão búdico a seus praticantes.
23. O Budismo indiano dividia os Sutras em doze coleções distintas, conforme a forma e o
conteúdo.
24. Na Índia o branco é a cor típica das vestes dos leigos, enquanto que os monges costumam
usar mantos e hábitos amarelos ou cor de açafrão.
25. O Buda futuro ou o Messias budista. Segundo a tradição, foi discípulo do Buda Sâkyamuni
que lhe anunciou sua futura realização como Buda alguns milhões de anos no futuro. Desde sua
morte até sua futura encarnação como Buda permanece no Céu Tusita, o mesmo mundo
paradisíaco em que Sâkyamuni viveu sua derradeira existência antes de renascer na terra pela
última vez para se tornar Buda. Alguns lhe atribuem origem iraniana e mesmo helenística,
outros preferem explicar a formação e a evolução de seu culto dentro de um contexto
exclusivamente indiano e budista. Assim, Sylvain Lévy e toda uma corrente de orientalistas vê
sua origem no culto iraniano de Mithra. Existe aliás um parentesco etimológico entre Mithra,
deus salvador iraniano ligado ao Sol, Mitra, deus védico dos contratos e juramentos e Maitreya
(Metteya em páli). A palavra “mitra” significa “amigo” e é aparentada ao termo “maitri” que no
vocabulário budista designa a virtude da compaixão. Por isso Maitreya é também chamado o
Senhor da Compaixão. Da mesma forma com que influenciaram o mundo judaico-cristão, as
tradições messiânicas iranianas teriam penetrado também no mundo indiano, estimulando o
culto de Maitreya no Budismo e o do Kalkin-Avatara no Hinduísmo. Segundo a tradição
hinduística registrada em textos como o Visnu-Purana, o deus Visnu, que já se encarnou na
Terra muitas vezes sob diversas formas manifestar-se-á pela última vez com o nome de Kalkin-
Avatara no fim do Kali-Yuga, a idade sombria de decadência e corrupção que corresponde à
época atual. Já outros orientalistas como André Bareau e Shoko Watanabe explicam a formação
do culto de Maitreya a partir das tradições referentes a um discípulo de Sâkyamuni do mesmo
nome, natural de Varanasi (Benares) a quem Sâkyamuni teria predito sua realização como Buda
no futuro. O estudioso canadense George Woodcock chega a admitir uma influência helenística,
ao dizer que por detrás da figura de Maitreya e outros salvadores messiânicos indianos se
encontram influências das tradições que faziam de Alexandre o Grande um rei-salvador de
origem divina.
28. Vinaya I, 39-51, cf. HAJIME, Nakamura. Genshi Bukkyo no Seiritsu (A formação do
Budismo primitivo), Tóquio, Shunjû-sha, 1969, p. 246 e 248.
29. TABATA, Ôjun e outros. Shinran-shû, Nichiren-shû (Textos de Shinran e Nichiren), Tóquio,
Iwanami, 1966, p. 107 e 108.
30. VAN GULIK, Robert. La vie sexuelle dans la Chine ancienne, Paris, Gallimard, 1971, p. 76-
77.
31. ROUSSELLE, Aline. Pornéia. Sexualidade e amor no mundo antigo, S. Paulo, Brasiliense,
1984, p. 24.