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COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO
Palavras-chave: infraestrutura verde; sustentabilidade urbana; ambiência urbana; resiliência; arborização urbana;
corredor verde.
Abstract
Historically the urban form was being formed and modified according to each civilization and society, remaining,
however, the importance of open and public spaces as structuring elements of urban morphology. The accelerated
processes of urbanization have led to the reduction of public spaces, decreased afforestation, soil sealing, increased
urban temperature and decreased life quality. The green infrastructure consists in a network of multifunctional
fragments permeable and vegetated using arborization, balanced distribution of green areas, control of soil sealing and
drainage. This work focuses on the importance of green infrastructure, less explored in Latin America, such as planning
strategy to mitigate negative effects of urbanization as well to rehabilitate the urban space, shaping a new landscape
and morphology. The main objective of this research proposal is to strengthen the green infrastructure planning as a
1
Professor do Curso de Arq. e Urb. / Universidade de Passo Fundo. Email: juan@upf.br
2
Professora do Curso de Arq. e Urb. / Universidade de Passo Fundo. Email: daniellabonatto@gmail.com
ELECS 2013 - CURITIBA - PR | 21 A 24 DE OUTUBRO 1
strategy for sustainable development in medium-sized cities and the establishment of recommendations and strategies
for its implementation. It was used the city of Passo Fundo-RS as a case study and the methodology involves survey
about open public spaces, urban forestry and green masses, conflicts with the others networks infrastructure and
evaluation by users. There is a scarcity of public spaces and green areas, as well as the lack of technical criteria
deployment of vegetation change in the dimensions of sidewalks and there is vegetation in conflict with buildings and
urban infrastructure networks, highlighting the urban disqualification, notably under the point of view of afforestation.
Despite such a situation is recurrent in our cities, the survey allows us to observe potential for the implementation of
green infrastructure in medium-sized cities starting from the existing configuration, re-qualifying the free spaces and
the street as meeting places, depending on the maintenance of their social practices and the various urban ambiences,
in the interaction human-environment-culture.
Keywords: green infrastructure, urban sustainability, urban ambience, resilience, urban forestry, green corridor.
1 INTRODUÇÃO
Historicamente a forma urbana foi sendo constituída e modificada de acordo com cada civilização
e sociedade. A despeito das diferenças entre elas, os espaços abertos e públicos têm sido importantes
elementos estruturadores da morfologia urbana. No entanto, processos acelerados de urbanização têm
levado à redução de áreas públicas de lazer, diminuição da arborização, impermeabilização do solo, aumento
da temperatura, diminuição da qualidade de vida.
A infraestrutura verde visa estabelecer uma conexão da cidade com elementos naturais, utilizando
arborização viária, distribuição equilibrada de áreas verdes, controle da impermeabilização do solo e
drenagem de águas pluviais. Este trabalho enfoca a relevância da infraestrutura verde, pouco explorada
na América Latina, como estratégia de planejamento de sistemas urbanos mais sustentáveis, para mitigar
efeitos negativos da urbanização, promover a capacidade de adaptação dos ecossistemas urbanos para
enfrentar os desafios das mudanças climáticas e requalificar as ambiências urbanas, conformando uma
nova morfologia e paisagem.
A grande taxa de urbanização que se observa, aliada à crescente degradação dos recursos naturais coloca
o meio ambiente como uma questão também urbana, onde a sustentabilidade se apresenta como uma
necessidade. A infraestrutura verde permite maior resiliência urbana, na medida em que fornece suporte
físico para controle e mitigação de problemas climáticos e ambientais e integração da paisagem urbana
natural e construída, na qual as áreas livres são parte da infraestrutura urbana e indispensáveis para o bom
funcionamento das cidades e a qualidade do ambiente.
Conforme apontou Jane Jacobs, é necessário valorizar os percursos e calçadas, por serem os principais
locais onde as pessoas se encontram na cidade, delas dependendo – assim como dos espaços livres – a
manutenção das práticas sociais e a construção das diversas ambiências urbanas (vistas como interação
homem-ambiente-cultura).
Considerando que a infraestrutura urbana faz parte da paisagem e partindo dos princípios da ecologia da
paisagem, a pesquisa em desenvolvimento estuda os aspectos ambientais de uma cidade de porte médio,
Passo Fundo-RS, entendendo que a paisagem depende dos aspectos geográficos, físicos e biológicos, mas,
também, do aspecto cultural, do uso e ocupação do solo e sua mudança ao longo do tempo. Acredita-
se também que, apesar do desenvolvimento da questão sustentabilidade e conforto ambiental no que
diz respeito a concepções arquitetônicas e tecnologias construtivas do edifício, as concepções e soluções
urbanas não têm evoluído na mesma medida. Sendo assim, tratar da sustentabilidade dos edifícios não
é suficiente para adequar as cidades às condições urbanas e populacionais em que vivemos, às questões
climáticas, nem para mitigar os efeitos negativos da urbanização crescente.
2FUNDAMENTAÇÃO
2.1 A infraestrutura verde
Quando se ouve o termo infraestrutura geralmente se pensa em estradas, redes de esgoto, redes
elétricas e outros tipos de infraestruturas cinza. A urbanização tradicional é baseada na infraestrutura
cinza monofuncional, focada no automóvel: ruas visam à circulação de veículos; sistemas tradicionais de
esgotamento sanitário e drenagem de águas pluviais; telhados utilizados apenas para proteger edificações,
áreas extensas asfaltadas para estacionamento de carros, entre outras situações. A infraestrutura cinza
Atualmente vem ganhando espaço a discussão sobre a infraestrutura verde, crítica para a continuidade e
o crescimento saudável de uma comunidade. A infraestrutura verde consiste em redes multifuncionais de
fragmentos permeáveis e vegetados, preferencialmente arborizados e interconectados - incluindo ruas e
propriedades públicas e privadas - que reestruturam o mosaico da paisagem, formando corredores verdes.
A infraestrutura verde é um conceito ainda emergente baseado nos princípios da ecologia da paisagem de:
estrutura, função e mudança, onde a forma da paisagem depende não apenas de seus aspectos geobiofísicos,
mas do uso e ocupação ao longo do tempo. Dada a crescente diminuição desses espaços verdes nas cidades,
demonstrar a importância da sua reabilitação e da implantação de novas áreas arborizadas tornou-se
primordial para trabalharmos políticas públicas a favor da sustentabilidade urbana.
Ahern (2002) aponta que o termo greenways, traduzido aqui como corredores verdes, é um termo genérico
que tem sido aplicado a uma ampla gama de estratégias de conceitos, planos e estratégias de planejamento
da paisagem. Aponta, ainda, que embora haja consenso sobre os benefícios da proteção dos elementos e
redes naturais, há pouco consenso sobre a terminologia, resultando em limitação da comunicação e troca
de conhecimento sobre o tema. No Brasil essa disseminação teórica e prática é ainda mais restrita, sendo
escassa a bibliografia, tendo importante papel os nichos de pesquisa de universidades como USP, UFRJ,
UFRGS, UFPR.
Frischenbruder e Pellegrino (2006) consideram corredores verdes (ou caminhos verdes) os espaços abertos
lineares que desempenham diversas funções ecológicas: conexão entre fragmentos de vegetação; proteção
dos corpos hídricos; conservação da biodiversidade; manejo das águas das chuvas; promoção de múltiplos
usos pela população (recreação, transporte) e promoção da coesão social.
Charles Little, autor do livro Greenways for American, apresenta um conjunto mais abrangente do que
seriam corredores verdes (apud AHERN, 2003, p. 109):
1. espaço linear ao longo de um corredor natural (como rio, vales junto a córregos, margens de estradas de
ferro convertidas em áreas de lazer, canais);
3. uma conexão aberta ligando parques, reservas naturais, elementos culturais ou locais históricos entre si
ou com áreas habitadas;
4. localmente, certas faixas ou parques lineares designados como avenidas‐parque (parkways) ou cinturões
verdes (greenbelts).
Temos especial atenção com a terceira situação, ligando parques, elementos culturais ou históricos entre si,
que conforma nossa área de pesquisa no centro de Passo Fundo, tratada mais adiante neste artigo.
Os corredores verdes possibilitam múltiplos usos e funções simultâneas, em espaço reduzido. Também
podem oferecer uma oportunidade de estabelecer e manter uma relação cotidiana do homem com a
natureza, o que possibilita educar ambientalmente um maior número de pessoas. As zonas de influência das
águas dos rios em períodos de cheia podem ser utilizadas como áreas de recreação, lazer e transporte em
tempos de seca, diminuindo o risco de inundações e dos prejuízos decorrentes, tanto em perdas materiais
como humanas (HELLMUND & SMITH, 2006; AHERN, 2002), conhecimento que tem levado à criação de
diversos parques urbanos em áreas inundáveis, mitigando efeitos negativos das chuvas e do aquecimento.
Corredores verdes podem transformar áreas densamente habitadas em locais agradáveis e procuradas pela
população, contribuindo para diminuir a pressão por novas e extensas áreas para urbanização (HELLMUND
& SMITH, 2006). Podem ser planejados, projetados e manejados de modo a tirar partido de suas condições
Cabe destacar a necessidade de dois aspectos. Primeiro é que o planejamento da infraestrutura verde
necessita ser articulado com as outras infraestruturas e demais aspectos relevantes do planejamento
urbano. Segundo, a participação da comunidade é fundamental para o sucesso dessa estratégias, pois é
necessária na identificação de áreas problemáticas e potenciais para sua implantação, sendo corresponsáveis
no manejo e utilização do espaço verde.
2.2 Os benefícios da infraestrutura verde
A existência de infraestrutura verde e da arborização urbana de modo geral em uma cidade traz benefícios
de diversas ordens (CABE, 2013; LOBODA & DE ANGELIS, 2005; AHERN, 2002). O primeiro benefício é em
si mesmo a existência dessa infraestrutura, a qual permite melhor qualidade de vida na medida em que:
aproxima o homem do ambiente natural; transformando os ambientes construídos em locais mais atrativos
e agradáveis para permanência, pois transmitem bem estar psicológico; quebra da monotonia da paisagem
causada pelas grandes edificações; cria valorização visual e ornamental do espaço urbano; incentiva a
convivência entre comunidades eventos de lazer e sociais de modo geral; a implantação ou revitalização
de uma área verde pública – sobretudo em áreas mais pobres – pode atuar como um catalisador para a
regeneração de todo o bairro, contribuindo para combater a desigualdade urbana e melhorar a saúde.
O segundo aspecto de benefícios diz respeito à saúde da comunidade. A infraestrutura verde reduz o efeito
das ilhas de calor urbano através da evaporação, sombreamento e conformação de corredores para fluxo
de ar mais frio; melhora a qualidade do ar, pois permite a filtragem de poluentes; ajuda a reduzir o estresse
a melhorar a saúde mental através da fruição do espaço aberto e contato com a natureza; favorece as
caminhadas e o ciclismo. A Natural England, organização não governamental inglesa que apoia o governo
em questões sobre o meio ambiente, aponta os benefícios do uso espaço verde no tratamento de muitos
problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, obesidade, depressão, doença coronariana, pulmonar
e diabetes.
Do ponto de vista do clima, a infraestrutura verde permite: maior adaptação das cidades às mudanças
climáticas, mitigando seus efeitos negativos na medida em que cria microclimas mais frios, podendo baixar
a temperatura até 10 oC debaixo de árvores de copa densa, reduzindo a necessidade de climatização
artificial nas edificações e tornando as cidades mais agradáveis em dias quentes; diminuição do escoamento
superficial de áreas impermeabilizadas por interceptar e armazenar águas pluviais, com consequente redução
de inundações; abrigo e proteção em condições climáticas extremas; absorção do gás carbônico existente
no ar; maior equilíbrio de luminosidade e temperatura (a vegetação, ao filtrar a radiação solar, suaviza as
temperaturas extremas); enriquecimento da umidade por meio da transpiração da fitomassa; redução na
velocidade dos ventos; maior conservação da umidade dos solos, atenuando sua temperatura; manutenção
da permeabilidade e a fertilidade do solo; abrigo à fauna existente; influencia no balanço hídrico. Também
proporciona percursos mais agradáveis para pedestres e ciclistas, contribuindo para formas alternativas
de deslocamento nas cidades e redução de viagens intraurbanas para lazer, já que proporciona melhor
distribuição de recreação local. Em termos de poluição sonora, a vegetação urbana permite o amortecimento
dos ruídos de fundo sonoro contínuo e descontínuo de caráter estridente, ocorrente nas grandes cidades.
Do ponto de vista econômico, o aumento das áreas verdes em determinado local pode levar a uma
valorização do preço das habitações e da terra de modo geral; bons espaços verdes e paisagismo melhoram
a imagem do local e atraem a atividades econômicas, incentivando o comércio e o turismo; possibilita
benefícios econômicos indiretos como a redução de custos com outras infraestruturas como o gasto com
energia elétrica para climatização artificial de ambientes, uma menor necessidade de dutos para drenagem
de águas pluviais.
Ahern (2002, p. 49) faz um apanhado dos benefícios da infraestrutura verde apontados por diferentes
bibliografias e classifica em algumas categorias:
2. Recursos hídricos: proteção, restauro e gestão dos recursos hídricos, incluindo as planícies aluviais,
corredores de fluxo, de recarga / descarga áreas subterrâneas e zonas húmidas (Binford & Buchenau, 1993;
Ndubisi et al, 1995).
3. Lazer: oportunidades de recreação baseado nos recursos naturais, especialmente ao longo dos corredores
através de paisagens rurais e urbanas (Tzolova, 1995).
4. Proteção dos Recursos Históricos e Culturais: vinculação de recursos culturais e históricos, particularmente
aqueles com fortes recursos/associações à paisagem natural (Little, 1990; LaCour, 1991; Smith e Hellmund,
1993; Fabos et al, 1993).
5. Desenvolvimento urbana: utilização estratégica de vias verdes para controlar e definir a interface urbano-
rural (MacKaye, 1928; Ryder, 1995; Walmsley, 1995).
Diversos ganhos podem ser obtidos através da infraestrutura verde. Porém, vamos nos ater ao aspecto
mais específico da arborização urbana e da qualificação do espaço aberto. Priorizar as árvores e os espaços
verdes nas agendas e orçamentos das prefeituras municipais depende, em grande parte, de demonstrar
que os recursos naturais bem administrados trazem vantagens para toda comunidade, inclusive do ponto
de vista econômico. Esta perspectiva contrasta com as atitudes do poder público, em que árvores e espaços
verdes são considerados como artigos de gastos facultativos e de baixa prioridade quando comparados com
outras necessidades municipais que se consideram como mais diretamente relacionadas com a saúde, à
segurança e o bem estar humano. O reposicionamento da importância política da vegetação urbana tem
que ser seguido de ações de apoio e de uma provisão consistente de recursos para sua implementação.
A revalorização da presença de árvores e áreas verde na cidade é uma atividade essencial. Mesmo um
inventário mais rudimentar permitirá facilitar estratégicas de sustentabilidade.
3 METODOLOGIA E PESQUISA DE CAMPO
3.1 Metodologia
A pesquisa ora descrita propõe o estudo do caso da cidade de Passo Fundo-RS. As etapas de trabalho
envolvem: revisão bibliográfica sobre infraestrutura verde, assim como outras pesquisas alusivas à arbo-
rização urbana de Passo Fundo; levantamento de dados oficiais junto às prefeituras; elaboração de ficha
de registro de campo; levantamento de campo em dois trechos da cidade, que se cruzam e ligam espaços
verdes públicos; sistematização das informações; análise dos resultados, conclusões e recomendações;
disseminação dos resultados. No momento a pesquisa está finalizando a fase de campo, tendo realizado:
medições de passeios públicos, identificação da quantidade, porte e espécies da vegetação existente;
identificação de mobiliários urbanos; verificação de incompatibilidades entre as infraestruturas e a arbori-
zação.
A cidade de Passo Fundo passou à condição de município em 1857. É uma cidade contemporânea, e
historicamente surgiu como passagem e parada de tropeiros que faziam o Caminho de Tropas e Mulas.
A potencialidade econômica do município de Passo Fundo, por um longo período, foi caracterizada por
pequenas propriedades agrícolas, apresentando nos últimos anos uma transformação na estrutura
produtiva, que passou de uma economia estritamente agrícola para um amplo desenvolvimento urbano
baseado na indústria, no comércio e serviços, destacando-se na área de saúde, educação e eventos culturais.
Historicamente a cidade possui poucas praças e área verdes de lazer (Figura 1), tendo perdido algumas
praças ao longo do seu processo de urbanização. A vista aérea da cidade em 1996 (Figura 2) já mostrava a
Figura 1 – Mapa de Passo Fundo, com as praças e áreas Figura 2 – Vista aérea de Passo Fundo em 1996. Fonte:
arborizadas em amarelo (1922) Czamanski (1996)
A área pesquisada é localizada no centro da cidade e o critério de escolha dos trechos foi o de corresponder
a vias que ligam áreas públicas de lazer, que tivessem uma distância inferior a dois quilômetros e que
permitissem a implantação de infraestrutura verde, além de terem, historicamente e culturalmente,
representatividade para a dinâmica da cidade. O primeiro trecho um corresponde à parte da Rua Paissandu
(primeira paralela à principal via da cidade – Av. Brasil Oeste) e liga a Praça Tamandaré à Praça Antonio
Xavier (em vermelho, na Figura 3 e Figura 4), duas praças antigas da cidade, já observadas no mapa de 1922
(Figura 1). O segundo (em amarelo na Figura 3 e Figura 4)vai da Rua General Netto, no cruzamento com
Rua Paissandu, ligando-a à Praça Marechal Floriano (em frente à Catedral de Passo Fundo, também antiga
e constante no mapa de 1992) à antiga estação ferroviária e ao Parque da Gare. Ambos os trechos eleitos
para o estudo são representativos do bairro, constituem referência histórica e simbólica e se apresentam
bastante consolidados: todos os lotes já edificados, alta densidade demográfica, presença de uso misto
(comercial e residencial) e diferentes situações de vegetação urbana.
Em linhas gerais, apesar de serem próximos, os trechos um e dois são bastante distintos, do ponto de vista
da presença de arborização, dos tipos predominantes de fluxo e da velocidade. O primeiro trecho
Figura 3 – Vista aérea. Fonte: Google Earth (2011) Figura 4 – Localização dos trechos pesquisados.
Legenda: vermelho: Trecho 1 (R. Paissandu); amarelo:
Trecho 2 (R. Gal. Netto)
O primeiro trecho apresenta edificações sem recuo de jardim, edifícios com gabarito variando de um a oito
pavimentos, conforme a quadra. Arborização na via é escassa, variando nas espécies e porte, sendo a maioria
de pequeno porte e copa rala, insuficientes para promover sombreamento e conformar um microclima mais
ameno. Há fluxo rarefeito de pedestres, grande e rápido fluxo de veículos e presença de estacionamento de
ambos os lados da rua. Somente nas praças se encontra massa vegetal representativa (Figuras 7 a 9).
Figura 6 – Vista do trecho 1, altura da Praça Tamandaré Figura 7 – Vista do trecho 1, onde se observa
(início) ausência de arborização
Figura 8 – Vista do trecho 2, onde cruza o trecho 1 Figura 9 – Vista do trecho 1, altura da Praça Antonio
Xavier (final)
O segundo trecho igualmente apresenta edificações sem recuo de jardim e edifícios de uso misto, comercial
e residencial. Em relação ao gabarito das edificações, é menos adensado que o primeiro trecho, variando de
um a doze pavimentos, mas com predominância de seis a oito em média. Na primeira quadra do segundo
trecho, imediatamente ligada ao primeiro, há diversas floreiras nos dois lados da calçada, porém, somente
um dos lados possui alguma vegetação, de pequeno porte e com copa rala, insuficiente para produzir
sombreamento. Nas outras quadras o trecho apresenta maior quantidade de árvores na via por possuir
canteiro central (Figuras 10 a 13).
Do ponto de vista da arborização urbana, observou-se nos dois a inexistência de critério técnico de
implantação da vegetação - variação na quantidade de árvores e no distanciamento entre elas, diferença de
idade, grande variedade de espécies (algumas nativas e outras exóticas) e de porte – além da variação na
largura das calçadas e existência de conflito de árvores com edificações e redes de infraestrutura urbana.
Ademais, diversas árvores estão doentes, requerendo sua substituição.
O sucesso da implantação de infraestrutura verde nas cidades depende tanto do planejamento, que envolva
implantações a médio e longo prazo, quanto de ações imediatas, que visem à mitigação dos efeitos negativos
já configurados. Neste último caso, é fundamental a considerações das condições existentes, para que as
propostas não sejam descoladas da realidade nem inviáveis técnica e economicamente.
Sendo assim, nos trechos estudados há possibilidade para implantação de algumas estratégias sem que
sejam necessários grandes investimentos, descritas a seguir: substituição das espécies exóticas por espécies
nativas, adaptadas ao clima local e com maior identidade visual e psicológica à localidade; recuperação das
floreiras localizadas dos dois lados da calçada no primeiro trecho, seguida da implantação de árvores de
porte médio; substituição das árvores que apresentam conflito com o calçamento por espécies com raiz
e porte adequados para o local; e uso da grama, que, assim como o bloco vazado de concreto com grama
(concregrama), possui melhor comportamento térmico que os pisos inertes e se comporta de forma muito
parecida ao gramado. Considerando a dificuldade de se implantar muitas árvores em algumas quadras dos
trechos estudados, uma solução recomendável para dar continuidade nos trechos como corredores verdes
é agregar a implantação cuidadosa de faixa verde na forma de canteiros gramados e floridos na faixa de
serviço das calçadas, entre os postes de iluminação pública, assim como substituir trechos de asfalto nos
estacionamentos por blocos de concregrama.
Cabe salientar, entretanto, que é necessário fazer o advocacy por cidades saudáveis junto aos governos
locais, demonstrando a necessidade e importância de se colocar a infraestrutura verde como elemento
fundamental para um planejamento e desenvolvimento urbano mais sustentável.
Por fim, as árvores têm papel fundamental na ambiência urbana, devendo sua implantação se dar a partir
de critérios técnicos, evitando-se conflitos entre redes de infraestrutura e orientando-se o desenvolvimento
urbano para garantir melhor qualidade urbana, criando comunidades e cidades mais saudáveis. A
conjugação das estratégias sugeridas para os trechos pesquisados permite a configuração de um corredor
verde conectando as áreas verdes livres, agindo como um “embrião” de infraestrutura verde, comprovando
diversos benefícios e motivando sua expansão, trazendo melhor impacto visual, climático e de qualidade de
vida, inclusive a longo prazo, contribuindo para a sustentabilidade urbana de cidades médias.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É verdade que nos cabe a possibilidade de perguntarmos se é factível que o urbanismo e as cidades
sejam sustentáveis. Acreditamos que é possível que incorporem princípios da sustentabilidade. Indo
além, afirmamos que estamos diante de uma crise ecológica que pede uma mudança do modelo de
desenvolvimento instituído. Pede um modelo baseado em conceitos como equidade e solidariedade, sem o
que não é possível haver verdadeira sustentabilidade. Trata-se de aplicar os princípios da sustentabilidade à
formação do espaço urbano, no marco da sociedade contemporânea, para elaborar e estabelecer critérios
para atuar sobre as cidades existentes. Devemos, entretanto, salientar que o termo sustentabilidade é
uma manifestação genérica de uma tendência contemporânea, embora exista quem considere apenas
uma utopia. O certo é que se é difícil uma cidade ser realmente sustentável, é possível “tender a sê-lo”.
Nas palavras de Galeano, “a Utopia serve para fazer caminhar” e não é possível mudarmos o presente,
as estratégias de planejamento e a própria forma de vê-lo sem buscarmos o futuro que queremos. E esse
futuro não pode ser outro que o do planejamento e manutenção de cidades mais sustentáveis, resilientes e
com espaço urbano de qualidade.
Agradecimentos
Às estagiárias da pesquisa – Vanessa Tibola da Rocha e Natalia Hauenstein Eckert - por sua dedicação e
trabalho, fundamentais no desenvolvimento da pesquisa aqui aludida.
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