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Amor e desprezo

Amor e desprezo: o velho caso entre


sociologia e educação no âmbito do GT-14*

Marcio da Costa
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação

Graziella Moraes Dias da Silva


Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais

Eu te quero e não queres como sou ma de companheirismo, o debate franco e leal ou, lan-
Não te quero e não queres como és çando mão de um adjetivo pouco usual na vida aca-
(“O Quereres”, Caetano Veloso) dêmica, o convívio fraterno que têm predominado em
nossas reuniões ao longo dos últimos anos, fizeram
Foi com um misto de apreensão e prazer que nos com que a satisfação com a qual temos participado
dedicamos à incumbência de realizar um balanço dos desses encontros tivesse continuidade na produção
12 anos de existência do Grupo de Trabalho Sociolo- deste trabalho. Temos a expectativa de que ele sirva
gia e Educação (GT-14).1 Afinal, falar sobre o traba- para estimular ainda mais nosso debate, contribuindo
lho de colegas, parceiros e o nosso próprio, na condi- para dar prosseguimento à trajetória ascendente que
ção de integrantes do Grupo, não deixa de ser um o GT, em nossa opinião, vem traçando.
desafio um tanto perturbador. Em contrapartida, o cli- Optamos por uma abordagem que fosse menos
descritiva que instigante. Por isso, fomos em busca
de duas questões possuidoras de um já considerável
* Trabalho apresentado na 25ª Reunião Anual da ANPEd
acúmulo de reflexão, que, pensamos, podem nos for-
(Caxambu, MG, 29 de setembro a 2 de outubro de 2002). Agrade-
cemos aos numerosos comentários e contribuições recebidos du-
rante a discussão do trabalho nessa reunião. Agradecemos tam- nas reuniões anuais está sob a guarda do Programa de Estudos e
bém às sugestões e os comentários do Prof. Osmar Fávero, no Documentação, Educação e Sociedade (PROEDES), da UFRJ, ain-
processo de preparação do artigo para publicação. Procuramos pre- da não disponível para consultas. Assim, dos trabalhos, comuni-
servar ao máximo o trabalho originalmente apresentado, mas in- cações e pôsteres apresentados entre 1990 e 1994, somente os deste
corporamos algumas questões irrecusáveis. último ano foram contemplados em nossa análise, pois há uma
1
Não tivemos acesso aos 12 anos de produção do GT. Após pequena publicação, de iniciativa do próprio GT, que os contém.
a confecção deste trabalho, na preparação para sua publicação, Portanto, nosso balanço contempla as produções aprovadas para
foi-nos informado que o acervo dos trabalhos apresentados apresentação de 1994 a 2001.

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Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

necer instrumentos analíticos para a interpretação da- Tomando de empréstimo as contribuições traça-
quilo que temos feito em sociologia da educação num das nas duas arenas de debates mencionadas, procu-
passado recente. ramos acrescentar algo que, trazendo problemas es-
Referimo-nos, em primeiro lugar, a uma discus- pecíficos de nosso muito complexo, apaixonante e
são que remonta a Dürkheim, nosso herói-fundador, renovado universo educacional, se apresentasse como
acerca da relação entre nossa disciplina científica e estímulo à nossa atividade de pesquisa, reflexão e in-
a complexa área temática da educação. Desde as ini- tervenção.
ciativas institucionais de Anísio Teixeira em busca Um último alerta introdutório: uma provável
de fecundar a problemática educacional no Brasil inflexão exageradamente crítica deve ser tomada
com as ferramentas conceituais das ciências sociais, como intrínseca a duas vocações de nossa ciência, a
a relação bastante irregular entre sociologia e edu- crítica e o exagero, como recursos compreensivos.
cação tem sido objeto de atenção. O próprio GT pro- Esperamos que o fair-play com que temos enfrenta-
moveu há alguns anos um encontro específico para do nossas dúvidas e eventuais divergências seja o
tratar desta questão,2 que contou inclusive em a pre- tom predominante tanto no artigo, quanto em sua
sença de nossa querida mestra, Aparecida Joly discussão.
Gouveia, talvez em um de seus últimos contatos ins-
titucionais em uma discussão da qual todos somos Sociologia e educação:
seus devedores. um longo caso de amor e desprezo
A segunda problemática por meio da qual pro-
curamos iluminar nosso trabalho trata do debate rela- Diferentemente dos outros países latino-ameri-
tivamente recente acerca das ciências sociais, numa canos, onde a sociologia chegou diretamente, foi via
ocasião em que nossas disciplinas aparentemente per- educação que as ciências sociais (mas principalmen-
deram a bússola ou, ao menos momentaneamente, se te a sociologia) se estabeleceram no Brasil. Esse é o
desorientaram e, sobretudo, perderam prestígio como mesmo caminho da sociologia francesa, que teve
instrumentos norteadores. Circunstâncias convergen- Dürkheim como pai fundador e primeiro autor das
temente alteradoras de configurações sociais razoa- obras de sociologia da educação.
velmente estabelecidas, numa escala planetária, pro- Os pioneiros da educação, com especial ênfase
duziram forte perplexidade nos meios voltados para para Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, sempre
a teoria social, evidenciando fragilidades nos diver- defenderam o ponto de vista sociológico como aque-
sos esquemas produzidos para dar conta da busca de le que melhor poderia suprir as necessidades de uma
compreensão e (por que não?) predição dos fenôme- “educação para a sociedade”. A sociologia, nesse
nos sociais em curso. Alexander (1987), com seu momento, era percebida como mais que um olhar; era
“novo movimento teórico”, talvez tenha sido o tida como uma ferramenta para a transformação da
disparador de um debate que se seguiu – e ainda se- sociedade e de uma realidade educacional desigual e
gue –, trazendo fôlego renovado à antiga questão so- privatista.
bre a especificidade das ciências sociais, mas que Mas nem todos concordavam com essa perspec-
adquiriu contornos mais nítidos – e perturbadores – tiva, principalmente a partir do Estado Novo. Capa-
na reflexão de Reis (1999) acerca de nossos desafios nema, ministro da Educação e Saúde nesse período,
contemporâneos como cientistas sociais, no Brasil. não esconde sua discordância ao afirmar:

Entre nós, ainda é vigente a teoria que pode resumir-


2
Trata-se do encontro intermediário realizado na Universi- se na fórmula: “educar para a sociedade”. Segundo esta
dade Federal Fluminense, As ciências sociais e a educação no Bra- concepção, a educação consiste na socialização da criança
sil: ontem e hoje, ocorrido em 4 e 5 de julho de 1998. e do adolescente, a saber, é o conjunto de processos desti-

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nados a adaptar convenientemente o ser humano à vida em para a sociedade. Ela não aparece aí como uma
sociedade. É fora de dúvida que tal conceito de educação é subdisciplina, mas como um saber que se desenvolve
precário e insuficiente. Não basta realizar a tarefa de senti- em diferentes frentes, sempre com o intuito de com-
do algo negativo de adaptar a infância e a juventude à so- preender a sociedade: seus valores, aspectos morais e
ciedade. (…) Em nosso país, e principalmente no tempo funcionalidades. Azevedo afirma que o projeto de so-
presente, a educação deve abranger uma finalidade maior. ciologia da educação não deveria ser um projeto de
A nossa fórmula hoje tem que ser esta: educar para a pátria. sociologia aplicada à educação (como a interpreta-
(apud Gomes, 2000, p. 150) ção norte-americana de sociologia educacional), mas
um projeto científico, necessário nesse momento de
Em paralelo às críticas do ministro, encontramos afirmação institucional da sociologia.
o predomínio da perspectiva psicológica nos estudos Porém, o caminho de Azevedo parece não ter
oficiais sobre educação, com Lourenço Filho à frente gerado muitos frutos ao longo das décadas de 1940 e
do recém-criado Instituto Nacional de Estudos Peda- 1950. Em 1950, no prefácio à segunda edição de seu
gógicos (INEP).3 Quanto à sociologia, ela seguiu ca- livro, chega a afirmar – corroborado por Roger
minho na institucionalização das universidades. Com Bastide – que o projeto de Dürkheim havia sido aban-
a constituição da USP e da Escola Livre de Sociolo- donado na França e a sociologia da educação tinha
gia e Política, professores estrangeiros chegavam ao sido relegada ao segundo plano naquele país. Sem
Brasil e, aqui dentro, os sociólogos brasileiros encon- falsa modéstia, Azevedo reivindicava para si a condi-
travam seu rumo. ção de herdeiro legítimo da tradição durkheimiana de
Fernando de Azevedo torna-se titular de socio- sociologia educacional. Mas, depois dele, ninguém
logia na USP, é professor de Florestan Fernandes e mais havia se dedicado ao tema com tal afinco.
Antonio Candido, e escreve uma das maiores obras Esse é o quadro no início da década de 1950:
teóricas de sociologia da educação brasileira, Socio- sociologia institucionalizada (embora em pequena es-
logia educacional, publicada em 1940, misturando sua cala), sociologia da educação abandonada (principal-
formação durkheimiana com pressupostos de Dewey mente em seus objetivos mais práticos) e jovens soci-
(influência direta de Anísio). Nessa obra, Azevedo ólogos, recém egressos das universidades e
(1964) lança as bases para a compreensão da sociolo- pós-graduações no exterior. É também o momento da
gia da educação como um campo de conhecimento entrada de metodologias que procurarão estabelecer
fronteiras com a atividade mais ensaística, por influên-
cia principalmente norte-americana. Os surveys se
3
É o próprio Lourenço Filho quem aponta os objetivos do multiplicam, os estudos de comunidade são quase uma
INEP, excluindo deles a pesquisa sociológica: “organizar docu- moda intelectual.
mentação relativa à história e ao estado atual das doutrinas e téc- Mas apesar do aumento da produção sociológi-
nicas pedagógicas, bem como das diferentes espécies de institui- ca, a estrutura institucional ainda era precária, princi-
ções educativas; manter intercâmbio com as instituições educa- palmente no financiamento de pesquisas. Talvez por
cionais do estrangeiro; promover inquéritos e pesquisas sobre to- isso, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais
dos os problemas atinentes à organização do ensino, bem como (CBPE), criado por Anísio Teixeira quando presiden-
sobre métodos e processos pedagógicos; promover investigações te do então INEP –, tenha atraído tantos nomes da
no terreno da psicologia aplicada à educação, bem como relati- sociologia brasileira.4 Muitos desses jovens não ti-
vamente ao problema da orientação e seleção profissional; prestar
assistência técnica aos serviços estaduais, municipais e particula-
4
res de educação e divulgar os conhecimentos relativos à teoria e à Para uma história mais completa do CBPE e seus confli-
prática pedagógica” (apud Castro, 1999, p. 3, grifo nosso). tos, ver Xavier (1999).

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Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

nham interesse definido pela educação5 inclusive sistema educacional. Por mais que a compreensão da
Darcy Ribeiro, presidente da Divisão de Estudos e diversidade cultural brasileira seja fundamental para
Pesquisas Sociais, no segundo ano de existência do qualquer planejamento educacional em escala nacio-
CBPE. O próprio Darcy definiu muitos colaborado- nal, a educação, compreendida como socialização, era
res do Centro (como Gilberto Freyre e Thales de Aze- muitas vezes só um caminho para o estudo de outros
vedo) como “gente de prestígio intelectual e vago in- temas mais em voga: industrialização, urbanização,
teresse pela educação”. relações raciais, desenvolvimento etc.
No caso de Darcy Ribeiro, e mesmo de Florestan Mariza Corrêa (1988) corrobora essa avaliação:
Fernandes (que trabalhava no Centro Regional de Pes-
quisas de São Paulo, na Faculdade de Filosofia, Ciên- Um exemplo é o seminário “Programas de pesquisa
cias e Letras da USP, a “divisão paulista” do CBPE), o sobre os processos de urbanização e industrialização no
envolvimento com o Centro implicou em ligações com Brasil”, realizado em São Paulo, na Faculdade de Filosofia
o tema educacional (por mais que isso tenha sido mui- da USP, em novembro de 1959. Todos os trabalhos arrola-
tas vezes uma decorrência mais política do que socio- dos referem seus textos como relatórios de pesquisa de um
lógica, como mostram os debates em torno da Lei de projeto em andamento, financiado pelo Centro, e parte de
Diretrizes e Bases da Educação – LDB, de 1961). Mas um projeto mais amplo de estudos bibliográficos e “pes-
a maioria dos pesquisadores utilizou o financiamento quisas de observação direta” nos municípios de Juiz de Fora,
do Centro para desenvolver suas pesquisas individuais, Belo Horizonte, Americana, São Paulo, Londrina, Curitiba,
muitas vezes sem mencionar o tema da educação. A Volta Redonda e do Distrito Federal. Seus títulos, entretan-
justificativa seria a necessidade de compreender a cul- to, remetem antes à carreira de seus autores, pouco ou nada
tura brasileira – e a escola parecia não ocupar papel vinculadas à reforma pedagógica planejada por Anísio
relevante nessa cultura. Educação era compreendida Teixeira: “O processo de industrialização de São Paulo”
como sinônimo de socialização. (Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni), “A integra-
Foi nesse momento, definido por muitos como o ção do negro à sociedade de classes” (Florestan Fernandes),
auge do romance entre sociologia e educação, que “Processo de integração dos contingentes alemães e japo-
surgiram alguns dos principais conflitos que até hoje neses na sociedade brasileira e o papel da escola na
permeiam essa relação. aculturação dos dois grupos” (Egon Schaden) e “Estrutura
Sendo o CBPE uma instituição vinculada ao Mi- da família e mudanças da função social da mulher nas inter-
nistério da Educação, o estudo sociológico e antropo- relações do grupo familiar decorrentes do processo de ur-
lógico da educação deveria oferecer subsídios para banização e industrialização” (Carolina M. Bori), entre
políticas públicas nessa área. Isto é, para a reforma do outros. (p. 20)

E Josildeth Gomes Consorte (1997) a lamenta:


5
Josildeth Gomes Consorte (1999), por exemplo, afirma:
“Não vivia eu o momento mais feliz da minha vida [ao ingressar Perdeu-se, desse modo, uma excelente oportunidade
no CBPE]. Acabara de voltar da Universidade de Colúmbia, com de analisar, em profundidade, como a escola primária brasi-
os créditos de disciplinas concluídos e aprovada em todos os exa- leira, pensada como uma só para todo o território brasileiro,
mes de línguas e de qualificação na expectativa de realizar a pes- modificava-se em contato com diferentes realidades, que fei-
quisa de campo que seria transformada no meu doutorado [sobre ção assumia em cada lugar, que papéis efetivamente cum-
os cafezais no norte do Paraná]. […] Não tendo obtido o financia- pria, o que preservava em comum com as demais. (p. 33)
mento de que necessitava, aceitara ingressar no CBPE sem ne-
nhuma motivação, naquele momento, para as pesquisas na área de A mistura entre planejamento educacional e ins-
educação” (p. 46). titucionalização das ciências sociais no CBPE permi-

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te avaliações extremamente diversas, se não opostas, dos de cena: Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro
dos objetivos alcançados pelo Centro. No caso das saem do país, e muitos jovens sociólogos se engajam
ciências sociais, costuma-se enfatizar a qualidade das na luta política mais direta.
obras produzidas nessa relação, muitas delas reedita- Na ditadura implantada ocorre novo impulso à
das recentemente depois de anos de ostracismo.6 Ape- institucionalização universitária. A Reforma Univer-
sar das possíveis críticas e do caráter datado de algu- sitária de 1968 aumenta o número de alunos de gra-
mas delas, é interessante ressaltar a importância do duação, cria o sistema de pós-graduação, institucio-
espaço do CBPE como impulsionador das pesquisas nalizando definitivamente muitas áreas de pesquisa,
empíricas nas ciências sociais. Mas o caráter empíri- entre elas a sociologia, que se fortaleceu em sua pro-
co das pesquisas não garantia sua subordinação às ne- dução teórica e cuidados metodológicos, mas se dis-
cessidades práticas do Estado. Os pesquisadores do tanciou mais do tema educacional.
CBPE insistiam em manter sua autonomia crítica e o A criação das faculdades de educação é um de-
caráter científico de sua produção. Mas essa cientifi- bate que ultrapassa em muito o escopo deste texto,
cidade era compreendida como liberdade ilimitada de mas é dentro dessas faculdades que se criam as
temas e conclusões. subdisciplinas da educação. Cunha (1992, p. 11), um
Na perspectiva dos educadores e professores, as dos principais críticos dessa divisão, afirma:
pesquisas do Centro eram acadêmicas demais, não
respondiam aos seus anseios práticos. O debate com A segregação institucional da seção da pedagogia da
teorias sociológicas, perspectivas acadêmicas ou pro- FFCL, por muitos vista como uma valorização, resultou, a
cessos gerais (de modernização, industrialização, ur- meu ver, em perda dos efeitos positivos advindos da
banização) se dava em detrimento de pesquisas vol- interação atual ou potencial com outras seções (agora fa-
tadas para o planejamento e reforma do sistema culdades, escolas e institutos) em especial de filosofia, de
educacional brasileiro. No caso de pesquisas nas es- história, de ciências sociais, de psicologia, de comunica-
colas, as críticas eram muitas vezes com relação ao ção, de letras. […] Assim, não foram poucas as Faculdades
elitismo dos pesquisadores, jovens universitários que de Educação que, para comporem seus currículos reforça-
não se davam ao trabalho de retornar os resultados ram essa segregação carregando consigo (ou criando) dis-
de suas pesquisas aos sujeitos pesquisados. ciplinas próprias para o ensino das demais ciências sociais
O projeto do CBPE entra em crise completa com (filosofia, história, psicologia, sociologia, economia, segui-
o crescimento da importância da Campanha Nacio- das ou não do qualitativo “da educação”).
nal de Erradicação do Analfabetismo – que passou a
deter parte das verbas antes destinadas ao CBPE, e O fato é que, com a criação das faculdades de
era definida por Anísio Teixeira (1961, p. 32) como educação, é como se a sociologia tivesse perdido o
mais uma iniciativa para “dopar a consciência nacio- interesse “científico” pelo tema, deixando-o para as
nal” –, a derrota dos jovens sociólogos em sua dispu- recém-criadas faculdades. Mas, qual o papel dessas
ta na LDB de 1961 e o próprio golpe de 1964. Com o faculdades? De acordo com Sucupira (1969) seria
endurecimento da ditadura, os sociólogos são retira- formar professores e técnicos em educação. E onde
fica a pesquisa – seja ela pura ou voltada para políti-
cas públicas?
6
As obras Preconceito de marca : as relações raciais em Com o endurecimento da ditadura militar, os tra-
Itapetininga (São Paulo: Edusp, 1996), de Oracy Nogueira, e O balhos produzidos dentro da sociologia sobre o tema
negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade em da educação mudaram de lado. Se durante o CBPE
mudança (Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1998), de Luís A. Costa Pin- eles mantinham vínculos, ainda que tênues, com o
to, são exemplos desse “resgate”. Estado ou com o planejamento das políticas públicas,

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com a ditadura assumem caráter de denúncia, inte- das faculdades de filosofia, ciências e letras, nas quais
grando uma tradição contestatória dessa disciplina. o importante seria a pesquisa dos departamentos cien-
No campo das faculdades de educação, apesar do pou- tíficos, a formação dos professores parecia ser admi-
co espaço formal para pesquisas, os departamentos tida como um subproduto de luxo.
começam a desenvolver trabalhos nessa área. Mas a Mesmo com o enfraquecimento de sua discipli-
falta de tradição e experiência em pesquisa fez com na e suas instituições, sociólogos da educação conti-
que muitos desses trabalhos fossem fracos metodolo- nuaram a produzir pesquisas e interpretações sobre
gicamente e seguissem a linha denunciativa da socio- nosso sistema escolar. No CBPE, alguns fundadores
logia nesse momento – linha que não obedece a ne- como Jayme Abreu e João Roberto Moreira dedica-
nhuma das duas vocações propostas para a educação ram-se a estudos institucionais praticamente até a
e para a sociologia: não é nem ciência aplicada (policy extinção do órgão, em 1977. Aparecida Joly Gouveia
science) nem ciência pura (nos moldes mertonianos). levou à frente estudos empíricos, abrindo uma nova
A prescrição e a denúncia assumem relevância cres- vertente de desenvolvimento para a sociologia da edu-
cente. cação no Brasil. Na USP também, alguns “herdeiros”
A entrada das “teorias reprodutivistas”, princi- do pensamento de Florestan Fernandes se voltaram
palmente via Althusser e Bourdieu, veio reforçar essa para a pesquisa educacional, como é o caso de Celso
perspectiva. Suas definições genéricas e funcionais de Rui Beisiegel. É importante mencionar ainda o
dos processos e instituições educacionais se encai- nome de Luiz Antônio Cunha, que produziu traba-
xavam facilmente com um sentimento de espaços lhos de grande repercussão, a partir dos anos 1970.
fechados, com o peso da derrota da geração que vi- Mas, apesar da importância desses autores, as inter-
veu intensamente os anos de 1960.7 Os modelos eram pretações educacionais dessa primeira década do re-
muitas vezes aplicados de forma simplista, sem preo- gime militar trariam outra marca. Como afirma
cupação com as especificidades nacionais. No caso Gouveia (1971) ao retomar a história da pesquisa edu-
da educação, a ausência de uma identidade teórica e cacional no Brasil, na fase do pensamento educacio-
metodológica sólida, além do próprio cerceamento nal iniciada em 1964 e
à liberdade, dificultava o desenvolvimento de pes-
quisas. Na sociologia, a entrada dessas teorias re- [...] que se estende até os dias de hoje, esboça-se a predo-
forçou a percepção da educação como socialização, minância de estudos de natureza econômica, incentivados
mas como socialização pacificadora das massas. A não só por certos organismos prestigiosos da administra-
educação formal é alienante ou legitimadora da ex- ção federal mas também por fontes externas de financia-
ploração, como afirmam as influências marxistas do- mento. A educação como investimento, os custos da edu-
minantes no campo. cação, a escola e a demanda de profissionais de diferentes
O diálogo entre sociologia e educação também níveis, e outros tópicos que sugerem, igualmente, raciona-
era dificultado por preconceitos de ambas as partes. lização, são itens freqüentes em documentos programáticos.
Da parte da sociologia, talvez reproduzindo a divisão Como se depreende do levantamento das pesquisas em an-
damento, por nós aqui intentado, têm-se mostrado, nos úl-
timos tempos, particularmente atraentes a órgãos oficiais
7
Talvez possamos relativizar, a posteriori, a derrota dos ím- de diferentes níveis os chamados estudos sobre recursos
petos igualitaristas dos anos de 1960. É plausível pensar que aque- humanos. (p. 4)
les que se engajaram na aventura reformadora dos “anos rebeldes”
mudaram o mundo sem perceber. É, entretanto, inegável que quan- Ainda hoje o relacionamento entre sociologia e
do John Lennon afirma que “o sonho acabou”, exprime o sentimen- educação é difícil. O pouco diálogo entre o GT Edu-
to que marca a entrada nos “anos de chumbo” da década de 1970. cação e Sociedade da ANPOCS e o GT Sociologia da

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Amor e desprezo

Educação da ANPEd aponta para isso. Em 1998, em De certa forma, a produção apresentada no GT-
seminário organizado pelo GT-14 (ver nota 2), Maria 14 se inscreve na trajetória acima descrita. Mas, ao
Arminda N. Arruda, então representante da área de contrário do que poderiam sugerir as considerações
sociologia junto à CAPES, afirmou que, entre 1994 e gerais apresentadas, a diversidade encontrada sugere
1998, aproximadamente dez teses (de mestrado e de possibilidades e esforços importantes de superação
doutorado) haviam sido defendidas sobre o tema edu- de algumas das dificuldades levantadas. Há, além do
cacional nos programas de pós-graduação em socio- mais, no interior do GT, uma auto-análise constante,
logia. Corroborando essa afirmação, Silke Weber para a qual pretendemos contribuir.
(1992) cita um estudo de 1991 de Clarissa Baeta Ne-
ves, afirmando que apenas quatro programas de pós- Oito anos de GT-14: O que temos feito?
graduação em sociologia possuíam linhas de pesqui- Um balanço de nossa produção
sa em sociologia da educação, naquele instante
(UFRGS, UnB, IUPERJ, UFPE).8 O balanço aqui apresentado refere-se ao percur-
No campo da educação, a sociologia tende a ser so do GT-14 entre 1994 e 2001. De maneira preocu-
uma perspectiva dominante, como mostra Rosilda pante, descobrimos que a ANPEd não dispõe de um
Arruda Ferreira no seu trabalho sobre os mestrados acervo com os trabalhos apresentados em todo o pe-
em educação no Nordeste, apresentado no GT-14 em ríodo anterior a 1995 (ver nota 1). Em nosso caso, o
1999. Mas, autores como Aparecida Joly, Luiz An- ano de 1994 pôde ter sua produção analisada, em vir-
tônio Cunha e Candido Gomes 9 definem essa cen- tude de o GT haver produzido uma pequena publica-
tralidade como “sociologismo” da educação, um em- ção contendo os trabalhos apresentados naquele ano.
prego rápido e acrítico dessas teorias, repleto de Assim, pudemos trabalhar sobre um conjunto de pro-
modismos. A educação freqüentemente se apropria duções distribuído, por tipo de apresentação, confor-
do discurso sociológico sem perceber as incoerênci- me a Tabela 1.
as e fraquezas expostas pelo debate intenso ocorrido
nessa disciplina científica. Tabela 1 – Tipo de apresentação por ano
Mas, se assim ocorre na academia, nas pesquisas
voltadas para políticas públicas o enfoque econômico
vem sendo claramente predominante. Ele ocupou o Ano Comunicação Pôster Trabalho Total

espaço deixado pela sociologia praticada no ambiente 1994 9 9


educacional, que, na ânsia de denunciar e prescrever,
1995 4 8 12
negligenciou a busca de equações gerais que dessem
conta de nosso quadro educacional. Com o relevo atual 1996 10 10
obtido pela temática educacional na agenda política, a
1997 9 9
sociologia pouco a pouco tenta se reapropriar desse
espaço, mas talvez ainda soframos da indefinição de 1998 16 16
nossa identidade como área de conhecimento.
1999 4 13 17

2000 1 12 13

8
Desde então, ao menos a linha do IUPERJ deixou de existir.
2001 1 11 12
9
Para um debate mais completo sobre esse suposto “socio- Total 4 6 88 98
logismo” da educação, ver: Sociologia da educação: diálogo ou
4,1% 6,1% 89,9% 100%
ruptura, Cadernos Cedes, n° 27, São Paulo, 1992.

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Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

Como se pode observar, trata-se, na sua quase brasileiras quase equivale ao de outros países sul-
totalidade, de trabalhos apresentados oralmente e que americanos. Seria interessante observar, caso tivés-
dispõem de textos correspondentes; a modalidade semos registros, se a quantidade de propostas apro-
comunicação foi abandonada após 1995, substituída vadas guarda proporção regional com o montante de
mais tarde pelos pôsteres. Alguns dos trabalhos apre- propostas apresentadas, o que poderia ser indicador
sentados não puderam ser cotejados, dado que os res- de qualidade das produções regionais (ao menos pe-
pectivos textos não estavam disponíveis nos documen- los critérios de julgamento do Grupo).
tos de divulgação da ANPEd. Nossas análises e os Adentrando aspectos mais substantivos, assina-
dados apresentados baseiam-se exclusivamente na- lamos a fortíssima influência francesa na produção do
queles trabalhos aos quais pudemos ter acesso pleno. GT-14. A Tabela 310 revela tal realidade. Para efetuar
Ainda nos aspectos descritivos, observa-se que a contagem, optamos por considerar a língua original
o GT-14 é quase exclusivamente palco de apresenta- dos autores ou das publicações relacionadas entre as
ções produzidas no Sul e Sudeste do Brasil. A Tabe- referências bibliográficas de cada texto.11 Como era
la 2 demonstra essa forte inclinação, que não é, pro- de se esperar, há uma maioria de referências a autores
vavelmente, característica deste GT, mas do conjunto de língua portuguesa, porém a influência da produção
da produção científica brasileira. Quase 80% das pro- sociológica – e não somente sociológica – francesa é
postas aprovadas para o Grupo vêm dessas regiões; de fato muito mais acentuada que o sugerido na refe-
o número total de apresentações das demais regiões rida tabela. Podemos chegar a tal conclusão porque a
maioria dos trabalhos de autores brasileiros citados –
Tabela 2 – Trabalhos por ano e região com freqüência reciprocamente – são fortemente ins-
pirados nas reflexões originariamente produzidas em
Ano Outros CO N NE S SE Total
países francês. A leitura dos textos, muito mais que a conta-
gem apresentada aqui, deixa nítida essa marcante ten-
1994 1 3 5 9
dência a que produções originárias do universo inte-
11,1% 33,3% 55,6% 100,0%
lectual francês iluminem as pesquisas e reflexões
1995 1 4 6 11 apresentadas no GT e, podemos afirmar, o próprio am-
9,1% 36,4% 54,5% 100,0% biente intelectual em que se pensa educação no Bra-
1996 1 7 8 sil. Uma abordagem mais detalhada da produção refe-
12,5% 87,5% 100,0% rida em língua inglesa ou espanhola (que não nos
dispusemos a realizar) poderia sugerir que as citações
1997 1 1 3 5
a obras nessas línguas passam, também, por um certo
20,0% 20,0% 60,0% 100,0%
“filtro” dos “modos franceses” de olhar o mundo. Os
1998 2 1 4 9 16
autores aí presentes possuem freqüentemente afinida-
12,5% 6,3% 25,0% 56,3% 100,0%
1999 2 1 3 1 9 16
10
12,5% 6,3% 18,8% 6,3% 56,3% 100,0% A coluna “Outras/Indefinido” inclui sobretudo citações em

2000 3 2 1 1 6 13 espanhol, especialmente apresentadas pela expressiva participação


latino-americana no GT-14, e algumas referências cuja língua ori-
23,1% 15,4% 7,7% 7,7% 46,2% 100,0%
ginal não era do conhecimento dos autores desse balanço.
2001 1 10 11 11
Alguns poucos trabalhos não foram incluídos nessa con-
9,1% 90,9% 100,0%
tagem por serem resenhas ou inventários biográficos referentes a
Total 9 4 1 6 14 55 89 um único autor, relacionando grande parte de sua obra, o que
10,1% 4,5% 1,1% 6,7% 15,7% 61,8% 100,0% distorceria nossa contagem.

108 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

Tabela 3 – Línguas das referências bibliográficas por ano nacionais, a produção em língua inglesa é bem mais
expressiva, se considerado o critério quantitativo. O
Ano Português Francês Inglês Outras/ Total volume da publicação em língua inglesa, proveniente
indefinido de todos os cantos do mundo (inclusive de autores
1994 92 52 38 21 203 francófonos) tornou essa língua uma espécie de espe-
% 45,3 25,6 18,7 10,3 100,0 ranto no terreno da sociologia.
1995 51 46 9 22 128 Quanto à relação dos trabalhos aceitos com pes-
% 39,8 35,9 7,0 17,2 100,0
quisas realizadas, os classificamos com característi-
cas nitidamente ensaísticas e aqueles que estavam di-
1996 58 50 13 22 143
retamente relacionados a algum tipo de pesquisa. O
% 40,6 35,0 9,1 15,4 100,0
resultado longitudinal mostra uma certa tendência de
1997 32 27 8 8 75 aumento de trabalhos relativos a pesquisas empíricas.
% 42,7 36,0 10,7 10,7 100,0 A partir de 1997, os mesmos passaram a ser predomi-
1998 114 47 39 50 250 nantes, como se pode ver na Tabela 4. Como alerta,
% 45,6 18,8 15,6 20,0 100,0 que será retomado quando tratarmos das opções me-
1999 121 91 33 51 296 todológicas adotadas nas pesquisas, fica a dificulda-
de de identificar alguns trabalhos quanto a esse pon-
% 40,9 30,7 11,1 17,2 100,0
to. Com efeito, em seis deles parecia haver alguma
2000 119 38 20 65 242
pesquisa empírica como substrato. No entanto, ne-
% 49,2 15,7 8,3 26,9 100,0
nhuma indicação mais precisa permitia apreciar qual
2001 124 49 22 9 204 o campo empírico tratado, ou a metodologia utiliza-
% 60,8 24,0 10,8 4,4 100,0 da, e nem mesmo os resultados eram apresentados
Total 711 400 182 248 1541 sistematicamente.
% 46,1 26,0 11,8 16,1 100,0 No que diz respeito às temáticas tratadas no GT-
14, criamos uma classificação que procurou destacar
quais seriam os focos centrais dos diversos textos
des temáticas e conceituais com a “escola francesa”12 analisados. Essa análise resultou na Tabela 5, que as-
em sociologia da educação. sinala razoável diversidade, com franco predomínio
Se destacamos esse ponto, é por desconsiderar- de estudos sobre família/meio social de estudantes e
mos tranqüilo afirmar que a língua francesa está lon- de ensaios teóricos acerca de nossas preocupações.
ge de se constituir no veículo principal de expressão Sozinhas, as duas “áreas” são responsáveis por quase
do pensamento sociológico ou da teoria social, no pla- 50% das temáticas observadas. É evidente que nossa
no internacional. Ainda que seja muito importante a classificação incorre em numerosos problemas e vá-
produção sociológica dos países francófonos – afi-
nal, desde Dürkheim somos todos devedores de tal Tabela 4 – Tipo de trabalho por ano
produção (para não falarmos de seus predecessores,
“pré-sociólogos” como Montesquieu, Saint-Simon,
Tipo 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Total
Rousseau etc.) – é inegável que, nos circuitos inter-
Indefinido 1 1 2 1 1 6

Ensaio 6 7 4 5 1 5 4 32
12
Optamos por usar aspas por não considerarmos suficien-
Pesquisa 2 4 3 4 9 15 8 7 52
temente precisa essa classificação e, também, por escapar aos ob-
jetivos deste artigo tratar longamente dessa questão. Total 9 12 7 6 14 17 13 12 90

Revista Brasileira de Educação 109


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

rias deficiências. O entrelaçamento dos temas é algo Tabela 5 – Temas centrais presentes nos trabalhos
bem característico da produção sociológica e em al-
guns trabalhos não foi fácil admitir uma temática cla-
ramente predominante.
Em termos de evolução temporal, não é possível
observar qualquer tendência em relação às temáticas
enfocadas, também em razão de ser uma série histó-
rica com apenas oito anos da trajetória do GT. Se há
alguma observação a ser feita acerca desse aspecto,
refere-se a uma “convocação” efetuada em um traba-
lho de 1994,13 onde a autora apontava a pouca impor-
tância dada no Brasil a estudos sobre a relação famí-
lia-escola e pedia mais atenção para esse aspecto. Se
há uma exortação bem sucedida, ao menos em nosso
GT, aí está ela, como bem demonstra a Tabela 5.
A categoria “Teoria” contempla textos que bus-
caram fazer uma reflexão sobre a natureza, os pro-
blemas, as condições, ou o caráter epistêmico da pró-
pria teoria sociológica voltada para a educação.
Poderíamos, assim, dizer que nessa ordem estariam
presentes predominantemente reflexões metateóricas educação indígena (quatro trabalhos), questões étni-
acerca da sociologia da educação. Fomos também le- cas (três trabalhos) e um trabalho sobre gênero. “His-
vados a admitir mais de uma temática predominante, tória/biografias” contempla estudos que destacam
em alguns trabalhos. Por essa razão, o total dos temas períodos ou personagens de destaque em nosso per-
apresentado na tabela é maior que o dos trabalhos curso educacional, entretanto, sem conexões interpre-
inventariados. tativas importantes com dilemas do tempo presente.
Entre as demais categorias classificatórias pro- Estaria configurada em tais trabalhos uma natureza
postas, manifesta-se alguma diversidade, mas obser- mais propriamente historiográfica que sociológica.
vamos que alguns trabalhos incluídos na categoria “Violência e indisciplina” surgem como aspectos pon-
“Outros” são claramente apartados de qualquer refle- tuais de destaque, evidenciando grandes problemas
xão acerca de nosso objeto de atenção – a educação. atuais dos sistemas escolares. Por sua vez, “Cotidia-
Em alguns deles, a problemática educacional é com- no da escola” diz respeito a trabalhos mais próximos
pletamente ausente, o que nos leva a refletir sobre da sala de aula, suas práticas e o processo de sociali-
regras e condições de aceitação de trabalhos para a zação escolar.
apresentação nas reuniões anuais. Fizemos também distinção entre dois tipos de
Na categoria “Professorado”, duas são as linhas trabalhos que tratam de questões políticas referentes
de investigação/reflexão presentes: formação profis- à educação. Enquanto alguns deles utilizam as ferra-
sional e representações de docentes acerca de ques- mentas conceituais e/ou procedimentos de investiga-
tões educacionais. “Minorias” trata basicamente de ção característicos da sociologia (enquadrados na clas-
sificação como “Avaliação de políticas/experiências”),
outros se concentram na crítica e, sobretudo, na de-
13
Nadir Zago, Relação escola-família: elementos de refle- núncia de políticas educacionais. Entre esses últimos,
xão para um objeto de estudo em construção. nos quais aparecem com destaque trabalhos de parti-

110 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

cipantes de outros países latino-americanos, freqüen- se manifesta habitualmente nos trabalhos que pude-
temente não há vestígio de investigação ou reflexão mos inventariar.
tipicamente sociológica. Há, contudo, um número minoritário mas expres-
Talvez por sua própria natureza “implicada” nos sivo de trabalhos que poderiam ser enquadrados na
fenômenos com que lida, a sociologia tende a adqui- classificação proposta como “denunciativos”; outros
rir forte interface com posicionamentos acerca de com características meramente descritivas/prescriti-
questões das mais diversas ordens política e ética. No vas; e outros, ainda, que não se enquadrariam no cam-
caso específico do pensamento educacional, há níti- po da reflexão sociológica.
da acentuação dessa tendência, por se tratar de terre- Anotar a questão acima nos conduz a tocar num
no altamente conflitivo, no qual se configuram gru- aspecto mais delicado e, com certeza, mais polêmico.
pos de pressão e corporações profissionais bastante O que se pode considerar sociologia, como território
sólidos, onde interesses e projetos estão sempre em disciplinar mais abrangente que a sociologia da edu-
confronto – apesar da quase unanimidade em torno cação? Em nossa compreensão, conforme expresso
da importância e prioridade da área. Pode-se dizer que, na Tabela 6, cerca de 1/3 dos 89 trabalhos que pude-
na educação, a atividade de investigação/compreen- ram ser classificados não dispõem de características
são tem sido ainda mais imbricada com questões po- que lhes permitiriam ser considerados como traba-
líticas que o habitual no conjunto das ciências sociais. lhos sociológicos. Talvez seja uma classificação ba-
O risco de tal situação é que a tendência à politização seada em critérios por demais duros, ou, como certa-
venha substituir, ou mesmo suprimir, a reflexão e in- mente alguns pensarão, ortodoxos. Cremos ser útil
vestigação de caráter estritamente científico. Não há, levantar, no âmbito do GT-14, algo que recentemente
aqui, qualquer postulado de independência plena entre foi objeto de rica discussão reservada entre parece-
essas duas atividades, mas apenas o reconhecimento ristas do Grupo: o que podemos considerar “sociolo-
de que elas obedecem a motivações e lógicas distin- gia”, de forma a aceder na postulação de ser trabalho
tas,14 freqüentemente inconciliáveis. apresentado em nossas reuniões anuais?
Nossa observação indica que a tendência à de-
núncia, e não à compreensão, tão usual na área edu-
Tabela 6 – Caráter sociológico dos trabalhos
cacional como motivação privilegiada em trabalhos
que poderiam ser caracterizados como pseudocientí-
ficos, não é uma característica marcante no GT-14.
Há, na maioria dos trabalhos, esforços evidentes para
tentar elucidar processos sociais complexos, ao in-
vés do apelo à denúncia fácil de interesses que unila-
teralmente conduziriam o processo educacional.
Quando nos referimos a tais esforços, estamos falan-
do da busca de propor explicações conceituais, re-
correndo à teoria previamente desenvolvida e procu-
rando evidências empíricas que fortaleçam/rejeitem
hipóteses formuladas. Esse procedimento, classica- Essa não é uma questão simples. Em primeiro
mente demarcado no âmbito da atividade científica, lugar, informamos que não nos parece adequado tra-
çar distinções nítidas entre sociologia e antropologia,
no que tange ao estudo da educação. As distâncias
14
Duas vocações, conforme bem distinguia Max Weber entre essas duas disciplinas acadêmicas – ou ainda a
(1999). ciência política – não nos parecem relevantes em nossa

Revista Brasileira de Educação 111


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

área. Assim, estão incluídos entre os trabalhos consi- Do ponto de vista do método, é certo que muito do
derados “sociológicos”, na Tabela 6, estudos e pes- que se ensina em nossas faculdades pouco tem de Sociolo-
quisas que em outras áreas talvez obtivessem a clas- gia da Educação, o que gera boa parte das confusões que
sificação de “antropológicos”. De fato, pesquisas de percebemos nos textos a nós enviados para seleção; [...]
caráter mais etnográfico são mesmo amplamente Mais especificamente, pudemos detectar como pro-
majoritárias entre os estudos empíricos do GT-14. blema, em grande parte dos textos não aceitos de nosso
Procuraremos refletir posteriormente sobre esse as- GT, a dificuldade em diferenciar trabalho analítico de des-
pecto; por ora, devemos esclarecer o que considera- crição, depoimento, prescrição e/ou ensaio. Assim, os prin-
mos “sociológico”, ou não, em nosso levantamento. cipais critérios de seleção foram a presença de objeto bem
Conforme já afirmamos, em muitos dos traba- delimitado, diálogo com a literatura pertinente, referencial
lhos que vêm sendo apresentados, especialmente no teórico claro, metodologia adequada e descrita no texto
período mais recente – algo que, apesar de aparente- (em pesquisa empírica ou não), análise e conclusões coe-
mente óbvio, não acontecia necessariamente assim nos rentes. [...]
tempos de formação do GT –, de maneira geral há Também é nítida, desde os anos anteriores, a emer-
boa qualidade e reflexão nitidamente sociológica. No gência da análise a partir de hierarquias outras que não a de
entanto, parece pertinente continuar perguntando: a classe: gênero, escolha sexual, migração, etnia, cor/raça.
que se propõe mesmo a sociologia? Este movimento, que acompanha tendências muito mais
Tomamos a liberdade de transcrever alguns tre- amplas nas ciências sociais das últimas décadas, tem sido
chos de uma correspondência interna, travada nos úl- não apenas percebido, mas acolhido pelo GT. Não pode-
timos anos, entre pareceristas e representantes do GT- mos deixar de ressaltar, porém, que essa incorporação de
14 no Comitê Científico da ANPEd. Eles ilustram bem “novas” hierarquias tem se dado, no campo da Sociologia
alguns de nossos desafios e sintetizam as preocupa- da Educação como um todo, sem um adequado aprofunda-
ções correntes.15 mento teórico, o que se reflete na fragilidade de muitos dos
trabalhos apresentados ao Grupo nessa vertente.
Os principais problemas ou dificuldades que foi pos-
sível captar nesse conjunto de textos referem-se, em pri- A reflexão sociológica tem se dedicado a propor
meiro lugar, a situar o que é e o que não é Sociologia da uma compreensão dos fenômenos sociais, buscando
Educação, problema já apontado em diversos dos parece- interpretar e atribuir significados causais a eventos
res de ad hocs. Em geral, optamos por utilizar como crité- sociais das mais diferentes ordens. Ou seja, a teoria
rio de seleção menos uma definição baseada em temas sociológica (como, aliás, toda ciência) se concentra
que seriam próprios dessa disciplina e mais seus métodos na atribuição de causalidades – intencionais e não-
diferenciados (um olhar que busca os atores; as causali- intencionais – para compreender como os processos
dades ou motivações; a historicidade; o contexto e a dinâ- socioistóricos se configuraram, para (por que não as-
mica social para além do objeto específico de investiga- sumir?) pensá-los problematicamente sob o influxo
ção etc). [...] moral da inclusão e do universalismo – característico
do projeto iluminista do qual somos herdeiros – e ten-
tar elucidar dilemas considerados relevantes no tem-
po presente.
15
As transcrições foram extraídas de balanço efetuado por No desenho das estratégias compreensivas, al-
Marília Pinto Carvalho, representante do GT-14 no Comitê Cien- ternam-se procedimentos que enfatizam aspectos
tífico da ANPEd, em 2001. Sintetiza uma rica discussão travada limitadores ou voluntários da vida humana. Para uti-
por correspondência entre a autora, os pareceristas ad hoc e a coor- lizar a nomenclatura consagrada, agência e estrutura
denação do GT, naquele ano. povoam permanentemente, enquanto pólos analíticos,

112 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

as iniciativas sociológicas de compreender fenôme- Tanto na atividade de cunho mais ensaístico quan-
nos sociais. Por mais que a literatura clássica ampla- to na apresentação de trabalhos com dimensão empí-
mente predominante em educação privilegie o lado rica mais nítida, pudemos perceber virtudes e dificul-
dos constrangimentos, limitações estruturais – deter- dades. Talvez seja mais apropriado tratá-las como
minações, como preferem alguns –, há inequivoca- desafios.
mente o lado da escolha, da vontade, das ações que Comecemos pela reflexão mais “livre”, pela ati-
caracterizam a condição humana. No caso do GT-14, vidade de natureza mais especulativa, vinculada ao
talvez pelo predomínio de estudos particulares, de que poderíamos denominar “teoria pura”. Ao lado de
corte etnográfico, essa ênfase na dimensão estrutural uma atividade reflexiva sobre a própria sociologia da
de análise não fica bem clara. Porém, uma atenção educação e seus modelos, parte significativa dos tra-
mais destacada a esse aspecto pode revelar que o re- balhos de tal ordem compõe-se de resenhas de auto-
curso freqüente a noções como “totalidade”, “estru- res, ou um misto de inventário intelectual com bio-
turas objetivas” ou “ideologia”16 (na forma como é grafia. Tais trabalhos procuram sistematizar temas,
usualmente adotada) talvez indique uma opção analí- problemas e soluções conceituais formuladas pelos
tica inclinada para o lado estrutural.17 autores, os quais seriam inspiradores de compreen-
Um aspecto se destaca nessa busca: a dimensão são para questões de nossa realidade presente.
empírica, por meio da qual buscamos evidências que Emergem aí claras inspirações que parecem pre-
venham a enriquecer nossa capacidade de propor su- dominar nos trabalhos do Grupo. Já assinalamos que
postas soluções a problemas formulados. É claro que as referências ao pensamento social francês e, algu-
não trabalhamos apenas no nível da investigação. A mas vezes, a um pensamento que não poderia ser clas-
atividade estritamente teórica ou metateórica é parte sificado como sociológico, se manifestam. Contudo,
fundamental de nosso métier. Nesse sentido, alguns é principalmente em autores reconhecidos internacio-
ensaios buscam sistematizar corpos conceituais por nalmente na sociologia que o GT-14 vai buscar sub-
meio dos quais podemos buscar modelos ou tipos que sídios. Gostaríamos de indicar uma possível polêmi-
sejam sugestivos de soluções aos problemas enfren- ca que emerge de tal constatação. Em primeiro lugar,
tados. Porém, não se enquadraram em nossa classifi- cremos ser necessário questionar a pertinácia, o po-
cação, como pertinentes ao grupo, trabalhos de cu- der elucidativo de tais autores, para um contexto em
nho estritamente filosófico, ou que contemplem muito diferente daquele ao qual se referem. Em se-
discussões epistemológicas não referidas ao campo gundo lugar, polemizamos com uma possível tendên-
sociológico. cia a tomá-los não como referências, mas como gui-
as, numa atitude em que se fica na posição mais de
seguidor do que de propositor. Em terceiro lugar, gos-
16
Ultrapassa as possibilidades deste artigo um tratamento taríamos de argumentar mais substantivamente acer-
mais detalhado a essa questão. Como indicativo muito geral, con- ca de um possível predomínio de abordagens de corte
sideramos que a noção de “ideologia”, corriqueiramente presente funcional em tais influências prevalentes.
em grande número de trabalhos educacionais, incorpora a idéia de Após apresentar nossas instigações no terreno
um pensamento “de classe”, ou de “interesses de classe” imanentes mais propriamente teórico, podemos tratar de aspec-
e estruturalmente definidos, num modelo funcional, herdado da to que nos parece sobremaneira preocupante. Pude-
tradição durkheimiana e combinado às influências marxistas, ca- mos observar, analisando os trabalhos que recorrem a
racterístico da sociologia da educação que predominou no Brasil investigações empíricas, efeitos preocupantes de um
após os anos 1970. prolongado desprezo pela metodologia, que se mani-
17
Reforça essa impressão a virtual ausência da dimensão festam em muitos dos trabalhos selecionados. Parece
“tempo” nos trabalhos apresentados. que há, ou houve, não apenas na sociologia voltada à

Revista Brasileira de Educação 113


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

educação, mas no conjunto do ambiente acadêmico de caso”. Em parte significativa, especialmente nos
educacional, uma tendência a dar pouca considera- estudos mais recentes, percebe-se não apenas preo-
ção a aspectos fundamentais da atividade científica. cupação em explicitar os procedimentos adotados,
Tomando por empréstimo uma passagem de Fá- como também a atividade de pesquisadores atentos
bio Wanderley Reis (Reis et al., 1997, p. 15), a socio- aos cuidados metodológicos inerentes ao trabalho
logia depende de “orientação analiticamente exigen- científico. Há, no entanto, expressiva quantidade de
te, engajamento teórico-metodológico, por contraste trabalhos que não avançam para além da descrição,
com um descritivismo pobre e às vezes contente com deixando de articular suas informações e conferir-
sua pobreza”. Há, ainda os inúmeros problemas refe- lhes sentido num escopo conceitual mais abrangen-
rentes à busca de generalização, característica da ati- te. Alguns trabalhos deixam sem resposta perguntas
vidade científica, a qual exige cuidados e rigores nem típicas, formuladas rotineiramente diante de uma pro-
sempre presentes em trabalhos de nossa área. Assim posta de investigação: Qual o problema tratado? Que
é que conclusões, modelos gerais, fórmulas e críticas hipóteses se apresentam? Como serão “testadas”?
genéricas podem ser encontradas, prescindindo de Travar contato com essas produções trouxe-nos à
cuidados elementares do procedimento científico. lembrança o belíssimo trabalho encomendado pelo
A Tabela 7 apresenta os procedimentos metodo- GT, à professora Claudia Fonseca (UFRGS), apre-
lógicos adotados nas pesquisas a que se referenciam sentado em 1998, que atendia ao sugestivo nome
os trabalhos aprovados no GT-14. Ressalte-se que “Quando cada caso não é um caso: pesquisa etno-
alguns trabalhos não puderam ter sua metodologia gráfica e educação”. Nesse momento, parecia já es-
identificada com precisão e alguns outros recorrem a tar clara no Grupo a necessidade de investirmos em
mais de um tipo de recurso na busca de informações. mais consistência metodológica.
Há alguns trabalhos cuja natureza historiográfi-
ca revela aspectos relevantes de nosso passado edu-
Tabela 7 – Metodologia utilizada
cacional. Todavia, a característica fundamental do
pensamento sociológico é procurar elucidar questões
Natureza
do tempo presente. O recurso tão caro à reconstrução
histórica é de inestimável valor quando articulado à
busca de respostas a dilemas contemporâneos. Em
algumas tentativas compreensivas, pode-se remontar
à gênese dos fenômenos, às vezes em um passado re-
moto, para, por meio da identificação de tendências,
constrangimentos, atores e suas ações, em suma, pro-
cessos históricos, identificarmos quais fatores perma-
neceriam fornecedores de compreensão de nossas
questões candentes.18 Isso diferencia a atividade so-

18
Citamos, como exemplo, recente trabalho do renomado
sociólogo Randall Collins (2000), no qual se reconstituem os mo-
Como se pode observar, os procedimentos típi- vimentos de expansão e retração escolar desde a antigüidade –
cos de coletas de informações focadas em pequena oriental e ocidental – como recurso para pensar os fatores
escala são amplamente predominantes. A imensa condicionantes e as possibilidades de expansão dos sistemas es-
maioria dos estudos se autodefinem como “estudo colares atuais.

114 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

ciológica do trabalho historiográfico, ainda que, como tensões mais abrangentes. Nossa capacidade de ge-
nas demais disciplinas, a distinção seja acima de tudo neralização – das forças constitutivas da sociologia –
uma “divisão de ofícios”. se vê bastante limitada ou, o que é pior, remete a uma
Alguns poucos trabalhos recorrem à geração de grande quantidade de conclusões obtidas em estudos
dados em maior escala (nenhum com um montante e afirmadas convictamente em terreno pouco confiá-
realmente expressivo de casos) e verificou-se a total vel, em que a prudência alerta sobre a inconsistência
ausência de trabalhos que recorram a fontes secundá- dos achados ou, no mínimo, à impossibilidade de te-
rias (grandes levantamentos censitários, demográficos cer assertivas de cunho generalizante.
ou educacionais) como referência empírica central.19 Nesse quadro, parece-nos que não há um progra-
O recurso a procedimentos analíticos mais sofistica- ma consistente de análise dos indicadores e fluxos edu-
dos – para além da estatística descritiva – no trata- cacionais brasileiros no ambiente acadêmico da socio-
mento de dados em maior escala é algo quase com- logia da educação, ou mesmo das faculdades de
pletamente ausente. É possível que esse quadro educação. Provavelmente, esse rico filão clássico de
exprima certo preconceito, facilmente encontrado nos nossa disciplina encontra-se amplamente entregue aos
programas de pós-graduação em educação, contra a economistas e aos órgãos oficiais de planejamento. Não
utilização da quantificação e da “linguagem das va- é casual o fato de, cada vez mais, no tempo recente,
riáveis”. Mesmo em alguns compêndios freqüente- ocuparem os economistas o lugar destacado de vozes
mente adotados em programas de pós, quantificação autorizadas e competentes acerca de políticas educa-
e estatística aparecem associadas com positivismo e cionais. Os próprios modelos econométricos e as ca-
algo como uma ciência social reacionária ou, no mí- racterísticas do pensamento econômico vêm impreg-
nimo, conservadora. Profunda ignorância quanto ao nando fortemente a área educacional e a formulação
que é positivismo ou conservadorismo está na raiz de de políticas públicas, relegando as reflexões sobre o
tal preconceito. Tal ignorância se expressa, na con- homo sociologicus à condição de espectadoras privile-
tramão, em trabalhos que, por seu caráter meramente giadas. Dessa forma, noções de produtividade, custo/
descritivo, supostamente adotando princípios de benefício, ou a naturalidade com que é tratada a teoria
indução, incorrem em primário positivismo, pois re- do capital humano, não têm sido cotejadas com com-
legam o quadro de referência teórico à condição de preensões mais ricas acerca dos aspectos sociológicos
subprodutos da “observação” ou da interação com o envolvidos na grande temática educacional. A renún-
campo empírico. cia a tais abordagens é mesmo, conforme aponta Reis
Nossa apreciação geral, aqui com pretensões mais (1999), característica recente da produção sociológica,
abrangentes que apenas os trabalhos analisados no abalada por um misto de crise de autocredibilidade,
inventário do GT-14, é que o pensamento educacio- desconstrução, e pela reticência a formulações afirma-
nal, freqüentemente constrangido por um pequeno tivas de caráter macro ou, acrescentamos nós, pela to-
conhecimento dos inúmeros recursos metodológicos mada da denúncia, do veto ou da simples descrição
disponíveis, produz parcamente pesquisas com pre- como necessários e suficientes.

Conclusões e sugestões de agenda


19
Guardamos na memória a impressão de ter havido um tra-
balho, em ano recente, que analisava dados extraídos do Sistema Seguimos trilhando os caminhos indicados por
Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Sua ausên- Reis (1999, p. 6), que, comentando sobre a propalada
cia entre o material fornecido pela ANPEd pode indicar um enga- “crise dos paradigmas”, diz: “nossa auto-reflexividade
no de nossa parte ou o fato de sua apresentação ter ocorrido no GT parece estar corroendo as próprias bases epistemoló-
Educação e Sociedade da ANPOCS. gicas do que fazemos”.

Revista Brasileira de Educação 115


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

Aponta também a autora, nesse trabalho que ob- Parece que, se quisermos preservar a especificidade
teve grande repercussão nacional e internacional,20 al- do conhecimento científico diante de outras formas de co-
gumas flagrantes deficiências na produção sociológi- nhecimentos, será impossível abrir mão do recurso à razão,
ca das duas últimas décadas.21 Retomando os clássicos, da busca da generalização e da aposta na universalização.
afirma a marcante preocupação de todos eles com a (idem, p. 11)
dinâmica social, com as mudanças de impacto nos
arranjos sociais de suas épocas. Buscando seus influ- Por fim, tocando num aspecto que pode vir a nos
xos, reflete sobre a permanência de nossos proble- instigar diretamente:
mas recorrentes, constitutivos da própria sociologia
(desigualdade, cidadania, pobreza, desenvolvimento Esperemos também que a novidade do direito à dife-
etc.), acrescidos e confrontados por situações novas e rença não nos tente a abrir mão da velha luta pelo direito à
originais, como a reversão de tendências inclusivas e igualdade. Esse é um bug, uma ameaça melhor dizendo,
democratizantes características de um rumo genéri- que se insinua perigosamente no encolhimento do welfare,
co 22 seguido pela modernização; pela explosão das no recrudescimento da exclusão social e, ouso dizer, no in-
formas e possibilidades de comunicação; pelas alte- terior das ciências sociais, no abandono das generalizações
rações tecnológicas e organizacionais que alteram con- que, logicamente, não excluem o estudo de casos e causas
figurações duradouras de instâncias da vida social, particulares mas não podem, de qualquer forma, se confun-
como o trabalho e a família; pelo recrudescimento de dir inteiramente com esses últimos. (idem, ibidem)
formas de fundamentalismo; e, por fim, mas não so-
mente, pela possível erosão de formas de sociabilida- Escolhemos essa reflexão para dar início a nos-
de consagradas no mundo que emerge da vaga trans- sas conclusões por considerarmos que ela nos desafia
formadora que formou a era moderna. a encarar dilemas contemporâneos de nossos siste-
Com um misto de preocupação e exortação, diz mas educacionais, intimamente relacionados à agen-
Reis (1999): da brevemente sugerida pela autora.23
Pensando no Brasil atual, ressalta a impressio-
Se nos limitarmos a apontar em prosa e verso os fra- nante ineficácia de nosso sistema escolar e os desa-
cassos das grandes narrativas, das especializações, dos fios que tal situação impõe a uma compreensão cien-
pragmatismos, etc., talvez tenhamos sucesso expressivo; tífica que se pretenda efetiva. A originalidade de uma
talvez logremos mesmo sermos artífices de novas discipli- grande ordem de problemas que podem motivar a
nas. Mas estaremos, creio, abrindo mão da herança das ciên- pesquisa na área educacional reside num contexto
cias sociais. Estaremos abrindo mão do legado de Marx, de escolar inédito em nossa história, o qual apresenta
Weber e de tantos outros. [...] (p. 10) questões numa magnitude e com uma diversidade até
então desconhecidas.
Se apontamos a ineficácia do sistema – ao me-
20
Recentemente, um sucedâneo do “bug do milênio” foi nos de sua parte que atende à imensa maioria de nos-
apresentado na sessão de abertura do XVth International Congress
of Sociology (ISA), em Brisbane, Austrália, com o título “A glo-
23
bal world, multiples angles, one sociological community”, obten- Várias passagens dessa tentativa de identificar uma agenda
do grande repercussão favorável. contemporânea para nosso ramo de estudo foram extraídas do co-
21
Como exemplo mais evidente, a incapacidade de previsão mentário de Marcio da Costa (Rio de Janeiro, 2002, mimeografado)
de alterações substantivas na geopolítica mundial, com a implosão ao trabalho “Ciência, tecnologia e o interesse público”, organizado
do bloco socialista europeu. por Simon Schwartzman e apresentado no seminário do mesmo nome
22
Em termos bem abstratos, relevando as inúmeras trajetó- como parte do balanço pelos 50 anos do CNPq, realizado na Acade-
rias históricas cumpridas pelas mais diversas sociedades e nações. mia Brasileira de Ciências, no Rio de Janeiro.

116 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

sa população –, esperamos estar deixando explícito tamento escolar; mudanças significativas introduzi-
que desprezamos liminarmente qualquer suposição de das por políticas recentes para a educação básica; o
uma possível ineficácia eficaz ou, dito de outra for- estabelecimento de uma clara agenda política para a
ma, as teses que postulam uma funcionalidade no fra- educação em nível federal; uma migração impressi-
casso de nossa escola – enquanto instituição nacio- onante da responsabilidade pelo ensino fundamental
nal. Ainda que persistam, em alguns meios, discursos para as administrações municipais (muitas totalmen-
amparados em teses conspirativas acerca de uma su- te despreparadas para atender à tarefa); variações até
posta intenção de promover políticas educacionais mesmo em nossa composição demográfica – além
propositalmente excludentes, parece que no ambien- da reversão de tendências da estrutura social; a im-
te acadêmico essa visão simplista é hoje residual – plantação da nova Lei de Diretrizes e Bases; novas
ainda que se manifeste em alguns poucos trabalhos demandas em níveis mais avançados da escolariza-
observados. ção; o enorme crescimento de novas formas de fé e
Há, porém, que se reconhecer: a escola no Brasil organização religiosa em meio a setores do profes-
é, grosso modo, de uma precariedade material e téc- sorado e do alunado; em suma, inúmeras circunstân-
nica incompatível com as expectativas que sobre ela cias novas alteraram significativamente o perfil da
se depositam ou com o nosso nível de desenvolvi- escola no Brasil, ainda que seja predominante, para
mento econômico – se é que existe alguma corres- muitos dos participantes diretos da escola “comum”,
pondência entre padrões de desenvolvimento econô- a sensação de que tudo permanece como sempre. Pa-
mico e o que poderíamos chamar “desenvolvimento ralelamente, em especial nos centros maiores, um
educacional”. grande setor de escolas privadas se formou nas últi-
A exposição das dificuldades e mazelas com que mas décadas, acolhendo os setores médios, numa in-
se defronta a maior parte de nossa clientela escolar, finidade de modelos, pouco estudados e quase total-
ou a construção de um diagnóstico meticuloso de nos- mente à margem de qualquer acompanhamento
so sistema, que passou por alterações recentes de consistente por parte do poder concedente. No nível
monta, é algo que vai muito além das intenções e pos- superior, uma nova onda expansiva de universidades
sibilidades desse balanço. Cabe, contudo, assinalar privadas, com campi até em shopping centers, altera
os sofríveis índices de rendimento obtidos por nossos também o perfil do ensino superior, ao passo que nas
estudantes em todas as aferições realizadas, de cará- universidades públicas a implantação de padrões de
ter nacional ou internacional, como resultado visível gestão influenciados por princípios competitivos, ao
de todo o processo. lado de não desprezível expansão de matrículas, cria
Nesse contexto, a necessidade de compreender- situações de ruptura com a trajetória cumprida desde
mos o que é a escola, – ou, mais precisamente, as a reforma dos anos de 1970.
escolas da maioria da população brasileira –, é uma Por seu lado, a polarização política no terreno
tarefa presente em qualquer agenda. Com uma con- educacional tende a tornar tabus determinados temas
figuração bastante recente, nossos sistemas escola- e impedir que sua discussão favoreça a busca de al-
res lidam com uma grande clientela não portadora ternativas a problemas importantes. Nesse caso esta-
de qualquer tradição de escolarização,24 que ingressa riam incluídos, entre inúmeros outros, assuntos como
numa escola degradada, se comparada com a de al- o possível caráter regressivo do financiamento do
gumas décadas atrás. Alterações importantes no alis- ensino superior, os efeitos devastadores das intermi-
náveis e sucessivas greves no setor público educacio-
nal, as disparidades regionais e o engessamento do
24
Boa parte do professorado também vem de famílias de modelo único de universidades federais e de centrali-
pouca ou nenhuma inserção em ambientes letrados. zação de sua carreira docente.

Revista Brasileira de Educação 117


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

Esse rápido quadro genérico, que apenas alinha mergulhados na singularidade, deixando de perceber
algumas questões recentes em nosso contexto educa- movimentos numa escala superior, ou produzindo
cional, cumpre a função de afirmar: precisamos de inferências indevidas pela generalização sem a con-
reflexões originais ante um quadro igualmente origi- sistência dos recursos adequados a tal empreitada.
nal e perturbador. Não estamos dizendo que não ve- Uma possível explicação para essa situação esta-
nham sendo estudados aspectos importantes de todas ria na distância entre a comunidade acadêmica e as ins-
essas alterações. Diversos trabalhos apresentados no tâncias de planejamento, avaliação e decisão acerca das
GT-14 lidam diretamente com essas novas circuns- políticas educacionais brasileiras. Diferentemente, por
tâncias. Queremos, contudo, destacar que há grandes exemplo, da área de saúde, na qual diversas pontes e
mudanças estruturais na sociedade e na escola brasi- interfaces se estabeleceram, há algum tempo, entre ins-
leira e que a sociologia não tem produzido tentativas tâncias políticas (no sentido de policy) e acadêmicas,
de compreensão na escala correspondente. Estudos – parece haver, na educação, um grande divórcio, rom-
poucos – que mergulham pontualmente em nosso uni- pido apenas de forma individual e sem maiores conse-
verso escolar mostram uma situação desalentadora qüências institucionais. Talvez intimamente relacionada
(igualmente, as avaliações gerais de rendimento). Pe- a essa situação, desenvolve-se um forte antagonismo
rante ela, saídas meramente formais (por exemplo, os entre os dois níveis, possivelmente alimentado por de-
programas de aceleração do fluxo escolar)25 se conju- cisões e posturas equivocadas de ambas as partes.
gam a outras de impacto considerável (Fundo de Ma- Esse quadro nos remete à discussão, rapidamen-
nutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental te indicada na parte inicial deste balanço, sobre os
e Valorização do Magistério – FUNDEF –, padroni- limites e as possibilidades de uma policy science da
zação curricular, programas de assistência ao estudan- educação no Brasil.26 Parece-nos que, na ausência de
te, municipalização do ensino fundamental, proces- um debate (e de ações) consistentes acerca de proje-
sos de avaliação centralizada). tos de futuro característicos da busca de alternativas
Como estamos aparelhados, enquanto pesquisa melhores, mais inclusivas, mais justas, em suma, da-
e ciência, para responder às inúmeras demandas e quilo que se define usualmente como “projeto nacio-
perguntas novas, além das muitas antigas que jamais nal”, nossas bússolas se desorientam. Talvez tenha-
foram atendidas? mos estado mergulhados, ao menos na última década,
Conforme já arriscamos acima, parece-nos que mas provavelmente desde a retomada da democracia,
não se têm apresentado muitas interpretações em um em impasses duradouros acerca de projetos para o
nível de generalização condizente com a tradição so- Brasil ou na vitória de alternativas voltadas priorita-
ciológica. O triunfo dos “estudos de caso” (em algu- riamente para a administração de finanças, relegando
mas ocasiões, a palavra “caso” usada no singular não todo o resto à condição de subalternidade. Ainda que
é força de expressão) pode significar que estamos possam ser identificadas alterações importantes no
âmbito da política educacional mais ampla, parece
que falta algo que lhes confira força e significado
25
Sabemos que é polêmica a afirmação de um certo caráter numa esfera mais abrangente.
cosmético nas políticas de regularização do fluxo escolar. Menos Se retomarmos a experiência de nossos surtos de
que na natureza das propostas implantadas, pensamos que a inefi- vigor no pensamento sociológico e educacional, pare-
cácia dessas experiências reside na incapacidade dos sistemas es- ce que eles se conjugam com tempos heróicos de defi-
colares de darem conta de tarefa aparentemente tão complexa, re-
cheada de procedimentos específicos. Para um relato aterrador do
26
cotidiano de uma classe de aceleração, numa grande escola da Para mais detalhes sobre esse tema, ver Dias da Silva
periferia de São Paulo, ver Batista (2002). (2001).

118 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22


Amor e desprezo

nição de rumos para o conjunto da sociedade brasilei- cepção de grandes alterações recentes nos processos
ra. O exemplo dos Pioneiros da Educação, nos anos de de escolarização no Brasil e de toda a infinidade de
1930, é talvez o mais expressivo e seus ecos se prolon- condicionantes que aí se exercem.
gam até a efervescência da virada entre os anos 1950 e A importação de teorias geradas quase que ex-
1960. A sociologia que se estabelece, falando de edu- clusivamente em países como a França, Inglaterra,
cação, após a “derrota” dos 1960, com sua força de Estados Unidos, Canadá e, mais recentemente,
veto e negação, não foi capaz de constituir uma heran- Espanha e Portugal introduz um complicador que é o
ça que desse conta dos desafios construtivos de tem- descolamento dos contextos em que tais reflexões
pos posteriores, enquanto que o bloqueio de possibili- foram geradas. Tipologias e classificações podem es-
dades de mudança social mais efetiva na retomada tar forçando as evidências retiradas de nossa empiria,
democrática parece ter refreado, ao menos em parte, a de forma a encaixá-las nos modelos pensados para
vocação voluntariosa das ciências humanas. sociedades com processos e sistemas educacionais
No que diz respeito à sociologia da educação, muito diferentes do nosso.27 O risco é que ocorra aí,
conforme já apontado, parece-nos que a impressio- não um debate fecundo, instigante não somente por
nante influência da sociologia francesa, com seu seus aspectos substantivos como também pela com-
aporte fortemente estrutural, contribuiu para forjar um paração, mas um mimetismo de valor acadêmico e
olhar em que a dimensão “tempo” fica ausente. Os social bastante duvidoso.
processos históricos, a busca do encadeamento cau- Não propomos com isso o isolamento da socio-
sal de eventos e, portanto, a identificação das trajetó- logia da educação brasileira – fechada em seus pró-
rias percorridas pelos atores sociais, suas articulações, prios problemas e questões –, mas uma sociologia que
motivações e escolhas – considerando os constrangi- recupere a comparação como ferramenta criativa, va-
mentos estruturais, mas para além deles –, tudo isso lorizando as relações estruturais mais gerais (que per-
se encontra distante em quase todos os trabalhos pro- mitem identificar os sistemas educacionais de cada
duzidos em nosso ambiente. país) e percebendo as especificidades causais nacio-
Quanto ao possível deslocamento entre os con- nais. Trabalhos que abordam as recentes ondas de vio-
textos originários das produções sociológicas forja- lência nas escolas brasileiras e alguns estudos sobre
das no primeiro mundo e nossos muito diferentes (em as estratégias e conflitos culturais no sistema educa-
constituição e percurso histórico) sistemas educacio- cional brasileiro mostram que este GT-14 tem boas
nais e quadros sociais, parece-nos que o desenvolvi- possibilidades de ser bem-sucedido nesse caminho.
mento da atividade de pesquisa tem contribuído para
criar um olhar mais adequado à nossa realidade. Há, MARCIO DA COSTA doutor em Sociologia pela IUPERJ, é
no entanto, dificuldades nesse aspecto. Em primeiro professor na Faculdade de Educação da Universidade Federal do
lugar, o fato de mergulharmos na atividade empírica Rio de Janeiro. Publicou recentemente: Tempos de desesperança:
não assegura por si só a sensibilização de olhar para
nossos aspectos singulares. A “fidelidade” muito for-
te aos modelos criados no primeiro mundo pode pro-
27
vocar uma certa “cegueira” para questões não pre- Apontamos como conseqüência exemplar dessa tendência
sentes por lá, fenômeno agravado pelo pequeno escopo a onda de “formação continuada” que se disseminou por nosso
de abrangência da imensa maioria de nossas pesqui- ambiente educacional, desprezando a tragédia particular que é
sas, o que tende a produzir problemas no que diz res- nosso sistema de formação inicial docente. Da mesma forma, num
peito à capacidade de generalização. Por fim, o mo- passado não muito distante, críticas acirradas a políticas de assis-
vimento recente – apontado por diversos autores – de tência taxadas de “assistencialistas” desprezavam o grau de po-
recusa a teorizações macro pode nos privar da per- breza e miséria em que vive boa parte de nosso estudantado.

Revista Brasileira de Educação 119


Marcio da Costa e Graziella Moraes Dias da Silva

roteiro para pensar a educação quando o futuro parece sombrio sil: ensaios sobre Luiz de Aguiar Costa Pinto, Porto Alegre, Ed.
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science no Brasil (1920-1979). Dissertação de mestrado. Ins-
mente como coordenadora da pesquisa sobre atraso e evasão nos
tituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal
cursos de graduação, no Núcleo de Sociologia da Cultura dessa
do Rio de Janeiro.
mesma universidade, e como consultora de metodologia de orga-
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120 Jan/Fev/Mar/Abr 2003 Nº 22

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