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INSTITUTO JUNGUIANO DA BAHIA

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM TEORIA EM


PSICOLOGIA ANALÍTICA JUNGUIANA

ANDRE LUIS VASCONCELLOS DE MELLO

A SOMBRA NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS

Salvador
2016
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Conta a lenda que dormia


Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,


Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,


Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino



Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro


Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
A cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa
RESUMO
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Este trabalho pretende, a partir de uma revisão bibliográfica, abordar como se dá a ação da
Sombra descrita na teoria Junguiana na relação entre pais e filhos. Para tanto, irá fazer uma
pequena revisão acerca dos conceitos básicos da teoria para, então, discutir o assunto.

Palavras-chave: Jung. Psicologia. Psicologia Analítica. Sombra. Relações familiares.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 5

CONCEITOS GERAIS DA TEORIA


2 6
JUNGUIANA
2.1 CONSCIENTE E INCONSCIENTE 6
2.2 PERSONA 7

A SOMBRA NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E


3 8
FILHOS

REFERÊNCIAS 11
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1. INTRODUÇÃO

A formação da Sombra, segundo a teoria Junguiana, é processo natural na formação do


indivíduo. Para nos adequarmos aos ideais que nos são passados pela família e pela sociedade,
para interagirmos com o mundo exterior, assumimos uma aparência que não corresponde ao
nosso “eu” autêntico. Lançamos à Sombra características que não são vistas ou percebidas
como adequadas e nos apresentamos como esperam que ele sejamos (ou como desejamos).
Silveira (1981, p.81) resume a Sombra pessoal como aquilo que não aceitamos
(...) que nos repugnam, e por isso as reprimimos, nós as projetamos sobre o outro, seja ele o
nosso vizinho, o nosso inimigo político, ou uma figura símbolo como o demônio. E assim
permanecemos inconscientes de que as abrigamos dentro de nós.

Ocorre que se todo indivíduo tem uma Sombra, em uma relação não teremos apenas a Sombra
individual, mas uma Sombra para cada conjugue. Ampliando, tomando pais e filhos, temos
uma para cada um, mais uma Sombra da própria família e outra, social. Quando tantas
Sombras interagem, qual o efeito? Como lidar com tal efeito? Esses foram os
questionamentos iniciais de nossa pesquisa e o que pretendemos responder com esse trabalho.
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2. CONCEITOS GERAIS DA TEORIA JUNGUIANA

Para que possamos discutir a Sombra na família, faz-se necessário que os conceitos básicos da
teoria estejam pacificados. Desse modo, faremos a seguir um breve resumo dos pontos
principais da teoria que abordaremos em nossa discussão seguinte.

2.1 CONSCIENTE E INCONSCIENTE

Para Jung, psiqué seria o conjunto de


processos psíquicos, tanto conscientes
quanto inconscientes. Disso decorre
que, para ele, a psique seria
constituída de duas esferas, a
consciente e a inconsciente, que se
complementariam e o “eu” participaria
de ambas. Haveria assim, uma “linha
divisória” que se moveria para cima
ou para baixo, de tal que, quanto mais
uma, menor a outra. Quanto maior o

Figura 1 – Diagrama Consciente x Inconsciente inconsciente, menor o consciente –


vide figura 1.
Silveira (1981, p. 61) nos escreve que
Na área do consciente desenrolam-se as relações entre conteúdos psíquicos e o ego, que é o
centro do consciente. Para que qualquer conteúdo psíquico torne-se consciente terá
necessariamente de relacionar-se com o ego. Os conteúdos, os processos psíquicos que não
entretêm relações com o ego constituem o domínio imenso do inconsciente.

Quanto ao inconsciente, Jung define dois: um pessoal, onde está tudo aquilo que o sujeito
reprime, porque lhe é desagradável ou não se encaixa com aquilo que percebe necessário/
ideal, bem como conteúdos esquecidos, percebidos subliminarmente, pensados, sentidos etc.;
o outro, coletivo, que conteria todo um patrimônio herdado da humanidade como um todo e
que formaria a base fundamental de todo o psíquico individual. Jacobi (2013, p. 26) assim
resume
Enquanto o assim chamado inconsciente pessoal abarca conteúdos provenientes da história de
vida do indivíduo, isto é, conteúdos recalcados, esquecidos (...), o inconsciente coletivo é
constituído de conteúdos que representam o depósito dos modos de reação típica da
humanidade desde os primórdios.
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2.2 PERSONA
Jung define persona como “(...) um complexo funcional, que surgiu por razões de adaptação
ou de uma necessária comodidade, mas que não é idêntico com a individualidade. Refere-se
exclusivamente à relação para com os objetos, com o exterior” (JUNG apud JACOBI, 2013,
p. 51). A persona seria, assim, como um “eu falso”, uma imagem que soma e resume nossa
essência, e que formamos a partir de nossa experiência no mundo.
Inicialmente, na infância, os papéis que desempenhamos são desenhados a partir das
demandas familiares. Esse é o primeiro padrão de formação do ego e da persona. Ao longo do
amadurecimento, ego e persona se dissociam, uma vez que a persona deve se adaptar a cada
vez mais demandas vindas não apenas da família, mas também do mundo extra familiar.
Persona é uma forma de proteção do Ego de tal a não ser visto como pensa que é, mas sim
como gostaria de ser visto. A persona também protege uma Sombra - que seria seu oposto.
Cabe ressaltar que é necessário que haja essa diferença entre persona e ego. Whitmont (1990,
p.140) assim resume
Temos de descobrir que usamos nossas vestimentas representacionais para proteção e
aparência, mas que também podemos trocar e vestir algo mais confortável quando é
apropriado, e que podemos ficar nus em outros momentos. Se as nossas vestes grudam em nós
ou parecem substituir a nossa pele é bem provável que nos tornemos doentes.

Persona poderia, assim, ser resumido como os papéis sociais que o indivíduo desenvolve para
que possa interagir na sociedade. Apegar-se apenas a uma persona pode trazer problemas
psíquicos ao sujeito. Whitmont (1990, p. 143) complementa escrevendo que “Somos atores no
jogo social, mas também devemos participar de um outro jogo. Também fomos feitos para ser
nossos Selves individuais.”
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3. A SOMBRA NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS

E, com efeito, a Sombra (em sentido psicológico) faz parte da personalidade total.
<Nise da Silveira>

Na visão Junguiana, Sombra é definida como uma consequência à criação da persona pelo
indivíduo, da criação do papel que ocupa na sociedade. A Sombra seria, assim, um arquétipo,
isto é, um “bloco de construção essencial da personalidade” (Sanford apud ZWEIG e
ABRAMS, 1994, p. 80).
Gostamos de nos ver como bons, honestos, inteligentes etc. Entretanto, também possuímos
outras qualidades, vistas como negativas e das quais não temos consciência. Por vezes, em
situações extremas, essas qualidades se revelam e a tendência “normal” é a de mandar essas
características para o inconsciente, pois elas são contrárias ao ego e perturbam o
funcionamento da persona.
Na Sombra estaria contido tudo aquilo que a criança reprimiu em si para que fosse aceita
socialmente, bem como aqueles aspectos de sua personalidade que ele mesmo considera
negativo. E esse processo se daria naturalmente: ao nascer, o sujeito é imerso em uma história
muito mais antiga que ele próprio. Essa herança compreende não apenas uma Sombra familiar
– um reprimido que surgiu da família, mas também uma Sombra da cultura, na qual se insere,
da sociedade na qual foi imerso. Zweig e Abrams (1994, p. 69) acrescentam que “Com
frequência, os problemas que nossos pais não conseguiram resolver em suas próprias vidas
vêm alojar-se em nós sob a forma de disfunções nos padrões de socialização”.
Ao nascer, o indivíduo é totalmente inconsciente. Aos poucos ganha consciência de si e dos
“outros”. Essa consciência começa então a se expandir mais e mais e, à medida que o sujeito
vai interagindo com o meio, demanda um elemento organizador dessas experiências. Esse é o
ego. O desenvolvimento do ego se dá pela identificação do sujeito com o que o social
considera “bom” e a repressão do que considera “mal” ou “ruim” ou mesmo “inadequado”. A
criança aprende a fazer mais aquilo que recebe aprovação para que possa ser aceita. De
maneira similar, seus pais – e a sociedade em um segundo momento – invalidam alguns
comportamentos em prol de outros. Indiretamente, os pais exercem sua maior influência pelos
exemplos diários. Hendrix (apud ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 72) corrobora ao escrever que
“Quer a criança aceite o modelo dos pais quer se rebele contra ele, essa socialização inicial
também desempenha um papel significativo na escolha dos companheiros”.
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Ocorre que não há como existir luz sem trevas. Para que se desenvolva uma característica em
sua personalidade, o sujeito lança à Sombra seu oposto. Para que possa ser, digamos,
“obediente”, o jovem reprime seu lado “desobediente”. E aquilo que é reprimido não é
excluído, mas simplesmente oculto da consciência, seguindo uma existência logo abaixo do
limiar da percepção – mas nem por isso menos real. De fato, frequentemente se manifesta
inesperadamente, em geral sob circunstâncias extremas, levando o sujeito a atos que
normalmente lhe seriam estranhos. Trata-se de um “outro ego”, um alter ego inconsciente que
aflora.
Os relacionamentos do sujeito vão, aos poucos, se ampliando para além da simples relação
familiar. Primeiro escola, depois círculo de amizades, amoroso, trabalho... Outros eventos
demandam do sujeito a formação de outras personas, outras máscaras sociais. E mais e mais
conteúdo é lançado à Sombra, que ganha cada vez mais força.
Nesse processo de formação do ego e da persnona, Hendrix (apud ZWEIG e ABRAMS, 1994,
p. 73) entende que, da unidade inicial, separam-se três entidades separadas:
1. O “eu perdido” – as partes do nosso ser que fomos obrigados a reprimir devido às
exigências da sociedade;
2. O “falso eu” – a fachada que erigimos para preencher o vazio criado por essa repressão
e pela falta de desenvolvimento adequado;
3. O “eu reprimido” – as partes negativas do nosso falso eu que são desaprovadas e que,
portanto, negamos.

De modo geral, o sujeito percebe apenas partes de seu ser, além de aspectos de seu “falso eu”.
O “eu perdido” estaria praticamente fora da percepção, enquanto o “eu reprimido” seria
aquilo lançado à Sombra, sempre pronto à emergir.
Afirmamos anteriormente que o processo de formação da Sombra é natural a todo ser
humano. Sanford (apud ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 79) escreve que
(...) a figura da Sombra sempre há de existir na nossa personalidade. Para chegar a
desenvolver uma personalidade consciente, precisamos nos identificar com alguma coisa, e
isso implica a inevitável exclusão do seu oposto.

Decorre daí que cada um dos pais terá sua própria Sombra e estas, invariavelmente, atuarão
sobre a formação do conteúdo reprimido da criança, “(...) especialmente quando os elementos
escuros não são reconhecidos dentro do grupo familiar ou quando os membros da família
conspiram para esconder a Sombra de um deles (...)” [ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 71]. Isso
pode derivar, por exemplo, no que se denomina popularmente “a ovelha negra da família”,
aquele indivíduo que, por um motivo ou por outro, torna-se receptáculo dessa Sombra
familiar.
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Além disso, a Sombra, normalmente, influencia a relação do sujeito com pessoas do mesmo
sexo. Segundo Hall e Nordiby (1972, p. 42):
(...) a sombra é responsável pelas relações entre pessoas do mesmo sexo. Estas relações
podem ser amistosas ou hostis, dependendo de vir a sombra a ser aceita pelo ego e
incorporada de modo harmonioso à psique, ou rejeitado pelo ego e banido para o
inconsciente. Os homens tendem a projetar os impulsos de sua sombra rejeitada nos outros
homens, de modo que, entre eles, surgem com frequência, sentimentos negativos.

Pode-se perceber, portanto, a tendência de pais projetarem sua sombra sobre os filhos e mães
sobre as filhas e essa projeção pode, assim, influenciar a relação entre eles.
Castigos de rejeição, por outro lado, a recusa de afeição pode levar à criança a sentir-se
culpada e responsável por essa rejeição e, para reconquistar esse afeto, de tudo faz para lhes
agradar, causando uma cisão ainda maior com a Sombra o que, como escrito anteriormente,
lhe dará mais força, de tal que, quando irrompa à superfície da consciência, o faça de maneira
ainda mais intempestiva.
Desse modo, os pais demandam uma dose maior de sutileza e sabedoria quando lidando com
o problema da Sombra: nem excesso de austeridade, nem tamanha permissividade. As bases
dos relacionamentos do indivíduo com outros são lançadas desse relacionamento incial com a
família. Quando essa ligação – ao amor pela família – não se dá, a criança pode se identificar
com sua sobra, desenvolvendo personalidades criminosas ou sociopáticas. Sanford (apud
ZWEIG e ABRAMS, 1994, p. 81) alerta em seu texto que
A chave está em que os pais precisam ter consciência do problema da sua própria Sombra e
da sua capacidade de aceitar a si mesmos, ao mesmo tempo em que desenvolvem o vigor do
seu próprio ego para poderem lidar com seus afetos.

Mais do que consciência da Sombra, devem reconhecer e acolhê-la, ao invés de repudiá-la.


Não se deve, por exemplo, condenar uma criança por sentir raiva, e sim explicar-lhe que é
natural, mas que as consequências devem ser pesadas. Sanford (apud ZWEIG e ABRAMS,
1994, p. 80) sugere nessa situação como saída uma abordagem compreensiva em que se
acolha o sentimento mas alerte que a ação não tem lugar naquela situação, pois “(...) talvez
uma atitude do gênero, (..) possa encorajar a criança a desenvolver a repressão necessária
sobre seus instintos e afetos mais violentos, sem se afastar de seu lado escuro”.
E vai além, ao escrever que a Sombra, sob certas condições podem ser efetivamente propícias.
Aquilo que não aceitamos em nós mesmos, reprimimos e quanto mais essa Sombra for
reprimida, mais se fortalece e, por isso, projetamos nos outros. Essas projeções podem levar a
situações de desconforto que fomentarão uma revisão das certezas do indivíduo e, a partir
desse confronto, se desenvolverá sua consciência.
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REFERÊNCIAS

HALL, C. S.; NORDBY, VERNON, J. Introdução a Psicologia Analítica. São Paulo: Ed.
Cultrix, 1972.

JACOBI, Jolande. A psicologia de C. G. Jung: uma introdução às obras completas.


Tradução de Ênio Paulo Giachini – Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

JUNG, C. G. et al. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

Portal (EN)CENA, Carl Gustav Jung e a Sombra. Disponível em:


<http://encenasaudemental.net/post-destaque/carl-gustav-jung-e-a-sombra/>. Acesso em 20 de
setembro de 2016.

SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra – 7ª. ed.– Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. (Coleção
Vida e Obra).

WHITMONT, Edward C. A busca do símbolo. Conceitos básicos de psicologia analítica.


Tradução Eliane Fittipaldi Pereira e Kátia Maria Orberg – São Paulo: Ed. Cultrix, 1990.

ZWEIG, Connie. ABRAMS, Jeremiah (Org.). Ao encontro da Sombra. Trad. Merle Scoss.
1ª. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

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