Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Ir.: Francisco Pedro Simões, M.:I.:, A.:R.:L.:S.: Fênix 2313, G.O.S.P., G.O.B., Abr/17
Introdução
Definindo “Emulação”
(e.mu.la.ção) sf.
2. Sentimento de competição em elevado nível ético, que leva alguém a tentar igualar-se
a outrem ou superá-lo em mérito.
Na união dos maçons “antigos” (Grande Loja dos Antigos - 1751) e dos “modernos”
(Grande Loja dos Modernos - 1717) em 1813 foi oficialmente aprovado o
desenvolvimento do ritual oficial da Grande Loja Unida de Inglaterra - UGLE, que
posteriormente receberia a denominação de Ritual de Emulação – o Emulation Working,
com a particularidade de se manter a tradição de nada escrever e, por esta razão, pouco
se sabe ao certo do que foi aprovado originalmente.
Muito se fez para conciliar as diferenças ritualísticas das duas Grandes Lojas rivais,
passando pela criação de uma Loja da Reconciliação, que trabalhou na harmonização
dos rituais durante 3 anos, até que em 1816, foi aprovado o novo ritual, mantido até
1986, ano em que a UGLE decidiu que todas as referências a penalidades físicas
fossem omitidas dos juramentos assumidos pelos candidatos nos três graus e pelo
Mestre Eleito na sua instalação, mas mantendo-as nas cerimonias, em um outro
momento.
Apenas em 1969, o Ritual de Emulação foi oficialmente impresso com autorização oficial
da UGLE, embora nesse ano já existissem diversas impressões não oficiais. O Ritual
representa as regras e cerimônias de carácter sacro ou simbólico que seguem preceitos
estabelecidos e que se devem observar na prática. Mas a principal característica deste
nosso Ritual é que todas as intervenções são realizadas de cor - decoradas.
Definindo “decorado”
(de.co.ra.do) vt.
a.1. Que foi aprendido de cor (de coração); retido na memória (texto decorado).
Memorizado.
Ritualística decorada
Assim, a característica marcante do Rito de York é o fato de que sua ritualística deve ser
executada toda decorada. Como até bem pouco tempo não era permitida a impressão dos
rituais executados nas Lojas Inglesas, isso forçava nossos antigos Irmãos a aprenderem a
conduzir o ritual inteiramente através da cópia oral e gestual (sinais) do que viam e
ouviam nas sessões regulares.
A característica teatralizada das nossas lendas e tradições é um fator que ajuda a se
manter um traço de linearidade lógica, permitindo a lembrança sequencial dos fatos, mas
inegavelmente exigia-se um grande esforço dos Irmãos para decorar todo o desenrolar de
uma cerimônia.
Até hoje a Grande Loja Unida da Inglaterra mantém uma Loja especialmente destinada ao
treinamento dos Irmãos no processo de decorar os rituais, a chamada Emulation Lodge of
Improvement – Loja de Melhoria por Emulação, em tradução livre. Mestres de todas as
lojas são convidados a participar de suas reuniões, que tratam exclusivamente do
treinamento ritualístico dos Irmãos.
Na sua obra “De umbris idearum”, Giordano revela algumas destas imagens arquetípicas,
das quais reproduzimos as primeiras dos sete planetas considerados pelo autor:
E assim sucessivamente, até a primeira imagem da Lua. Estas imagens mágicas eram
inseridas num sistema de rodas da memória, que por sua vez correspondia a outras
rodas, onde eram lembrados todos os conteúdos físicos do mundo terrestre.
Francis Yates fez, a partir de um estudo sobre a obra de Giordano Bruno, um interessante
desenvolvimento sobre o tema.
A arte da memória foi inventada pelos gregos. Atravessou a antiguidade clássica como
parte da retórica, sobreviveu parcialmente ao desmantelamento do sistema educacional
latino e refugiou-se nas ordens dominicana e franciscana durante a Idade Média. No
Renascimento ela foi aos poucos abandonada pelos estudiosos humanistas, mas
floresceu e ampliou suas ambições sob as influências herméticas. Com a chegada do
século XVII transformou-se de novo, participando ativamente no crescimento do novo
método científico.
No século XV, entre as grandes descobertas, estão sem dúvida as do mundo grego e
latino. O resgate da obra de Quintiliano colocou à disposição dos iluministas uma
descrição fria e crítica da técnica mnemónica. Erasmo, para quem a arte da memória era
uma prática medieval, acreditava que a memória poderia ser melhorada com o uso de
lugares e imagens, mas recomendava mesmo a maneira comum, do estudo cuidadoso e
da repetição frequente.
“Uma jornada de mil milhas começa com a decisão de dar o primeiro passo”. Ou seja, é
preciso primeiro acreditar que “eu posso”. E todos podem!
Seguindo, Ralph comenta que raramente as nossas Lojas tem especialistas em ajudar
aos Irmãos mais novos com tecnologias para ampliar a capacidade de memorizar – acaba
sendo na base do “descubra você mesmo”. Até porque, no passado, sem rituais
impressos, a saída era ouvir e repetir - emular. Ralph defende que cada oficial deveria
ter, como primeira responsabilidade, decorar e entender sua parte do ritual. E só a
partir daí, passar a atuar.
O artigo discorre sobre técnicas interessantes, incluindo desde auto-ajuda e auto-
valorização, até ações concretas, como: perguntar-se se existe um fluxo sequencial no
material a decorar; pesquisar e identificar pontos de atenção; encontrar o ponto relevante
no texto; relaxar; criar figuras mentais; usar acrônimos, etc., e segue-se o artigo nessa
linha. Para os Irmãos que acreditam que um pouco de técnica pode ajudar a decorar, este
material, embora em Inglês, está disponível na Internet.
Como curiosidade, posso dizer que, empiricamente, eu mesmo vinha fazendo uso de uma
destas soluções em textos mais longos, que é usar apoio da imagem mental do texto
impresso no ritual – até este ponto é uma página, agora é hora de trocar de página e daí
vai.
O Ir. Rund aprendeu que alternado certas estruturas neurais no cérebro, alteram-se
também atitudes e comportamentos. Ele concluiu que o aprendizado e a memorização
redesenham, através da criação de novas conexões, aquelas estruturas. Assim, pelo uso
da memorização poderiam se alterar diretamente estas estruturas, e consequentemente
melhorar-se o comportamento.
Ele cita ainda o Educador Michael K. Beran para sustentar suas afirmações (em tradução
livre):
Nota: Em contato que fiz com o Ir. Edward, este informou que a razão de ter elaborado
este estudo e o artigo foi em razão de sua preocupação de algumas Grandes Lojas dos
Estados Unidos estavam começando a eliminar o requerimento dos candidatos de
memorizar seus rituais, e o quanto ele considera isso importante, especialmente nos 1º e
2º Graus.
Mas, e o coração?
Nos tempos antigos, não havia a distinção clara das funções orgânicas do corpo humano.
Os antigos acreditavam que o coração era o centro físico e também emocional dos
homens.
Desta forma, uma ação de decorar significava também uma ação de amor, do coração –
de cor, do coração. Ou seja, quando algo vinha do coração, era realmente bom e quem se
esforçava para conseguir decorar uma oração, uma fala teatral, o fazia com enorme boa
vontade e interesse em que aquilo atingisse seus ouvintes com o máximo de resultado,
pois carregava muito da emoção de quem falava – emoção esta cultivada, engrandecida
e, principalmente, enobrecida pelo esforço de quem se esforçou e decorou.
Quando nos esforçamos para decorar os longos trechos de nossas cerimônias, sejam de
iniciação, passagem ou elevação, nós não o fazemos apenas pelo dever de atender a
uma herança histórica ou um mandamento ritualístico.
Nosso real desejo é passar para o candidato, em qualquer grau, todo o nosso amor,
carinho, respeito e admiração. Não sentimos orgulho quando somos elogiados pelos
Irmãos que se surpreendem e se maravilham ao assistirem nossas cerimônias decoradas.
Mas sentimos antes, uma imensa alegria quando nossos candidatos – que são, em última
palavra, as estrelas das cerimônias, e não nós, os instrumentos da mensagem – passam
por uma cerimônia perfeita, pois sabemos que seus corações foram atingidos com toda a
energia pelo sentimento de fraternidade maçônica que lhes transmitimos.
E não temos dúvidas que o ritual assim conduzido imprime-lhes na memória e no coração
uma lembrança única e inigualável de suas cerimônias, facilitando em muito o
entendimento e absorção dos nossos conceitos, ideais e valores.
Aspectos esotéricos
Finalmente, uma perspectiva adicional a abordar, é que muitos Irmãos acreditam que, no
desenrolar de uma cerimônia maçônica, muitas energias estão fluindo nas nossas lojas.
Estas energias fluem de nós, para nós e até através de nós, sendo fundamental para a
sua adequada circulação, que adotemos posturas (nossa circulação, nossos passos
regulares e sinais) para que este fluxo não seja prejudicado e, até, potencializado.
Não é o objetivo neste trabalho discorrer sobre estas energias, mas inúmeros Irmãos,
independente da crença pessoal de cada um, já puderam diversas vezes sentir os efeitos
de um manancial de energias e emoções que permeiam nossos rituais maçônicos,
especialmente em Sessões Magnas.
Sem qualquer crítica ou preconceito em relação aos demais Ritos, que não tem a prática
de decorar sua ritualística, a maioria dos Irmãos da Loja Fênix acredita que existe um
impacto direto e muito efetivo na qualidade ritualística quando promovida através de uma
cerimônia decorada, sem quebras na harmonia ou nas posturas por termos que “ficar
segurando o ritual ou procurando falas”, propiciando assim, aos candidatos e a nós
mesmos, usufruir destas benéficas e maravilhosas energias com muito mais intensidade,
em uma cerimônia feita “de coração”, do que o seria em uma cerimônia conduzida apenas
lendo-se o ritual.
Bibliografia:
Internet – Wikipedia, artigos sobre Giordano Bruno e Site da Emulation Lodge of Improvement da UGLE
Artigo sobre o Livro “The art of memory”, de Francis Yates
Artigo “In Defense of Memorizing Masonic Ritual” - by Edward A. Rund, Illinois
Artigo “MASONIC RITUAL MEMORY TECHNIQUES” - by Ralph Omholt – phoenixmasonry.org
iDicionário Aulete on line.