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Falar da morte às crianças 1

Texto de Teresa Paula Marques

A perda da mãe ou do pai, será sem dúvida alguma, a mais complexa de explicar a
uma criança. Pode constituir um trauma mais ou menos grave, dependendo
sobretudo do modo como os adultos lidam com a situação. É que o trauma não se
instala no momento mas sim à posteriori, fruto da mentira ou do silêncio que se
ergue em torno da morte. Deixamos aqui algumas ideias sobre o assunto, que
poderão ajudar todos aqueles que se deparam actualmente com situações de perda.

“ A mãe foi viajar”

Há alguns anos, as pessoas morriam em suas casas e toda a família estava presente,
inclusive as crianças. Nas sociedades modernas, isso deixou de acontecer. Perante
uma doença ou acidente, a hospitalização surge de imediato e a morte quase sempre
ocorre no hospital. Durante este tempo, as crianças são enviadas para casa de
parentes. Frequentemente cabe ao sobrevivente do casal, transmitir a notícia. A
maior parte das pessoas optam por fazê-lo de imediato, mas quando a criança é
muito nova, inventam desculpas do tipo “ a mãe foi viajar”. Só que a criança percebe
que algo não está bem. A ansiedade que os adultos tentam camuflar, aumenta a
desconfiança e as primeiras perguntas surgem.

“O pai foi para o céu”

Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra de formação, foi uma das autoras que mais estudou
este tema e, com base nos seus estudos, desaconselha vivamente que sejam dadas
explicações do tipo “Deus levou a mãe porque ela era boa” ou “Deus levou a
Mariazinha para o céu, por amar as crianças”. Deste modo, a morte surge associada
à bondade o que vai gerar uma mágoa contra a Entidade Divina e o sentimento de
profunda injustiça. Explicar que foi fazer uma viagem também é insensato. A criança
perguntará constantemente pelo dia da volta e, à medida que o tempo vai passando,
o sentimento de abandono vai-se instalando. Até porque, em muitos casos, quando
os pais são hospitalizados prometem que estarão de volta dentro em breve. Como a
criança não foi levada a visitá-los durante a hospitalização, vai ficar à espera que se
cumpra a promessa.

“O avôzinho foi dormir”

Outra explicação utilizada, especialmente com relação a uma pessoa idosa, é dizer
que foi dormir. É certo que é apenas um modo figurativo de explicar os factos, mas
as crianças não têm ainda a capacidade de o entender. Levarão à letra o que lhes é
dito e não é de surpreender, que o acto de adormecer passe e ser uma actividade
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in revista Viver com Saúde, Abril 1999)

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perigosa. A noite transforma-se num tormento, em que o sono é associado à morte.
Daqui surgem os pesadelos e o medo do escuro.

Ideias sobre a morte

Quando for altura de abordar este tema, os adultos têm que ter em conta que todas
as crianças possuem já algumas ideias sobre o assunto. É que, no decurso de suas
vidas, vão-se apercebendo de algumas situações, mais que não seja através do
desaparecimento dos animais de estimação. A partir do que lhes é dito pelos
adultos, desenvolvem as suas próprias ideias. Muitas vezes querem fazer uma
caixinha e enterrá-lo no canteiro, esperando que volte a viver na primavera. Mas se
os pais explicarem que o canário morreu e que, por isso mesmo, não voltará a viver,
a criança pode não perceber muito bem o que se passou, mas vai acreditar porque
são os pais que o dizem.

O luto dos bebés

A capacidade de as crianças se enlutarem, sempre foi objecto de polémica,


sobretudo nas escolas psicanalíticas. Alguns autores afirmam que o luto só pode ser
vivido após a formação da identidade, que aconteceria na adolescência. Outros são
de opinião que tudo está dependente da capacidade de aquisição da constância do
objecto, que ocorre por volta dos 6 meses. Autores mais recentes, defendem que os
bebés fazem realmente o luto, só que este tem características diferentes do luto
adulto. Se a pessoa em si é secundária para o bebé e, apenas interessa que as suas
necessidades mais básicas sejam satisfeitas, a perda da mãe não será intensamente
sentida, caso exista uma substituta. Mas, se o apego à mãe é adquirido por volta dos
seis meses, é possível que o bebé sinta a diferença e viva o seu luto.

Aquisição do conceito de morte

Até aos três anos, dizem os livros, a separação é o que mais preocupa a criança. O
medo de ser abandonada pelos pais é uma constante, já que se sente desprotegida
quando a mãe não está ao alcance dos seus olhos. Segue-se o temor da mutilação.
Isto porque é nesta fase que a exploração do meio se inicia, e pode assistir a um
pássaro ser devorado por um gato. A morte, nesta altura, não é encarada como um
facto permanente. Para isso contribuem os desenhos animados em que o herói é
imortal. A criança assiste a atropelamentos e explosões, sem que um ferimento seja
visível. Por isso há que em conta os acidentes domésticos, já que não há a noção de
perigo.

Depois dos cinco anos, a morte passa a ter um rosto e um corpo. Vulgarmente é um
esqueleto que aparece para levar algumas pessoas. Esta faixa etária é
particularmente vulnerável. Já possuem alguma bagagem cognitiva que lhes permite
perceber o que se passa, mas não têm meios de lidar com o facto em si.
Sensivelmente aos nove anos, é que é adquirido o conceito de morte como um
fenómeno biológico e irreversível.

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As crianças devem ir ao funeral ?

É sabido que é preferível chorar um morto que um desaparecido. A morte tem um


local onde a veneração é passível de ser feita. O desaparecimento é a incerteza, o
vazio total, o luto interminável. No caso de acidentes graves, em que algumas
pessoas entram em coma e outras acabam por falecer, a situação é semelhante. Ao
acordarem do coma, ergue-se um vazio. Não existe um corpo que permita o teste da
realidade, já que tanto o velório como o funeral, já aconteceram. Muitas pessoas
iniciam assim, um processo de luto patológico. É por este motivo que se aconselha a
presença de toda a família nos rituais fúnebres. Deste modo, todos se apercebem do
final e podem chorar a sua mágoa. No caso das crianças, há que acompanhá-las de
perto mas permitindo-lhes que estejam presentes. A expressão da dor, varia de
pessoa para pessoa e assim é também com as crianças. Algumas choram
copiosamente, outras optam pelo silêncio. Constata-se que o pranto é tanto mais
longo, quanto mais velha for a criança, possivelmente devido à consciência da
irreversibilidade da situação.

A culpa

Todos nós, num momento de profunda exaltação, somos capazes de desejar a morte
a alguém. Sabemos que o desejo não passa disso mesmo, e que ninguém é preso por
desejar. Com as crianças acontece o mesmo, só que não existe uma clara fronteira
entre o desejo e a realidade. Se o desejo se concretizar, estas crianças poderão ficar
profundamente afectadas porque, inconscientemente, irão assumir a culpa pela
morte do ente querido. Não só se coloca esta questão quando se fala da morte, mas
também noutras situações de perda, como separações ou divórcios. É que a morte
não sendo encarada como permanente, confunde-se com a ausência, e assim o
divórcio será eventualmente vivido do mesmo modo.

O abandono

O sentimento de culpa e a sensação de abandono surgem frequentemente a par.


Uma criança de cinco anos, tanto se culpa pelo desaparecimento da mãe, como
sente raiva por acredita que foi abandonada por ela. Por isso perguntará com
frequência “ela foi embora porque não gostava de mim ? “, “foi porque me portei
mal ?”. Há, por isso mesmo, a necessidade de desfazer estas ideias e que melhor
maneira senão dizendo a verdade ? “ A mãe morreu porque estava doente”. “Mas
foi para o céu ?” , “Ninguém sabe, mas acreditamos que sim. Agora ela é uma
daquelas luzinhas que vês lá no alto”, “e as outras luzinhas também foram pessoas
?”, “sim”, “então se eu for de avião, posso visitá-la !”. Esta é uma ideia bastante
comum, já que as crianças pensam que o céu não é diferente dos outros lugares e
que a volta é apenas uma questão de tempo. Outras perguntam onde é o céu, o que
é que as pessoas fazem ali, o que vestem e o que comem.

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Medo da morte

Não é raro que, caso se trate da morte de um dos pais, a criança tenha receio que o
outro morra também. Esta angústia traduz-se frequentemente em comportamentos
difíceis de entender. Se a reacção é de tristeza, não existem dificuldades em
identificar a dor subjacente, mas existem crianças que se tornam distraídas,
hiperactivas ou que têm súbitas explosões de agressividade. É a outra face da
depressão, que não sendo tão evidente, pode não ser imediatamente associada à
perda.

Outros ainda, apresentam sintomas orgânicos como dores de cabeça, vómitos, dores
musculares, etc. Quando recorrem a um médico, nada é detectado, uma vez que se
tratam de somatizações. Estes comportamentos surgem mais frequentemente em
famílias nas quais existe dificuldades em falar sobre o sucedido.

Surgem, por vezes, regressões no desenvolvimento: voltam a fazer chichi na cama,


querem usar chucha ou beber leite pelo biberon. Comportamentos caracterizados
por excessiva dependência, são também frequentes. Querem estar sempre
agarrados aos pais e não vão brincar, sem ser ao pé destes. Podem ir buscar consolo
num brinquedo ou cobertor velho que os passa a acompanhar para todo o lado.

Como abordar o tema ?

São poucas as pessoas que se sentem à vontade para falar com as crianças sobre a
morte. Algumas optam mesmo por levá-las ao psicólogo, temendo que estejam
traumatizadas com a situação. Contudo, não é a situação em si que é geradora do
trauma mas sim todo o silêncio que a envolve. Não existem temas impossíveis de
abordar. Alguns apenas exigem uma maior sensibilidade por parte dos adultos.
Também não existem receitas que se possam aplicar em todos as situações. Cada
caso é um caso e tem que ser tratado de modo diferente.

Procurar apoio de familiares e amigos

É certo que quando é um dos progenitores que morre, o outro sentir-se-á tão
fragilizado que dificilmente será capaz de apoiar os filhos logo nos primeiros
momentos. Por esse motivo, procurar o apoio dos familiares e amigos é fundamental
para que o adulto se possa equilibrar emocionalmente e assim incluir os filhos no
processo de luto.

Deixar chorar

A ajuda que podemos dar a qualquer criança, jovem adolescente ou mesmo adulto, é
partilhar os seus sentimentos. Deixar que fale, grite ou chore, se necessário. Irem ao
cemitério juntos e colocar flores sobre a campa, são actos simbólicos que facilitam o
luto e ligam afectivamente as pessoas. Permitir que se fale normalmente sobre o
falecido, recordando os momentos bons, é mantê-lo vivo na memória de todos. Se a
criança quiser ver um filme onde está o pai/mãe que faleceu, não há motivos para o
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impedir. É certo que causa alguma saudade, mas faz parte da vida e assim deverá ser
encarado. Havendo informação e apoio, torna-se possível que as crianças se enlutem
de uma forma tão sadia como os adultos.

Saber dosear a realidade

Não lhes prestamos ajuda se os estivermos a esconder a realidade. Contudo, há que


saber dosear essa realidade. É um pouco como falar de sexo a uma criança. Primeiro
temos que perceber o que é que a criança já sabe sobre o assunto, para depois irmos
dizendo à medida da necessidade de cada uma. Não vale a pena romancear o tema
se a criança já souber de tudo. Assim sentir-se-á enganada. A criança mais cedo ou
mais tarde terá que perceber que o morto não voltará nunca ! Depois é fornecer-lhes
o apoio necessário para que vivam o seu luto de uma forma saudável.

Não ter um processo de luto adequado, pode mais tarde traduzir-se na incapacidade
de possuir relacionamentos próximos, já que o medo constante da perda impede
que se liguem afectivamente a alguém.

Informar as crianças

É importante que as crianças recebam informações imediatas e seguras sobre o que


aconteceu. Um adulto deve disponibilizar-se para responder com a maior
sinceridade às perguntas que forem sendo feitas. A participação no pesar familiar,
inclusive nos ritos fúnebres, facilita o processo de luto. Sentir que todos sofrem e
que se podem apoiar nos momentos mais duros da vida, vai permitir um
amadurecimento afectivo.

Livros a consultar
1. Crescer Vazio
Pedro Strecht, Assírio & Alvin
Lisboa, 1998

2. Sobre a Morte e o Morrer


Elisabeth Kübler-Ross, Martins Fontes, 8ª Edição, São Paulo, 1998

3. A terapia do luto
J. William Worden, Artes Médicas, 2ª edição, Porto Alegre, 1998

4. Apego e Perda, vol. III - Perda


J. Bowlby, Martins fontes, 2ª Edição, São Paulo, 1985

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