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TAMBOR DE MINA

Sergio Ferretti

Tambor de mina é a denominação mais difundida das religiões afro-brasileiras no


Maranhão e na Amazônia. A palavra tambor deriva da importância do instrumento nos
rituais de culto. Mina deriva de negro da Costa da Mina, denominação dada aos
escravos procedentes da “costa situada a leste do Castelo de São Jorge de Mina”
(Verger, 1987: 12) , no atual República do Gana, trazidos da região das hoje Repúblicas
do Togo, Benin e da Nigéria, que eram conhecidos principalmente como negros mina-
jejes e mina-nagôs.
O Maranhão foi importante núcleo atração de mão de obra africana, sobretudo durante o
último século do trafico de escravos para o Brasil (1750-1850), e que se concentrou na
Capital, no Vale do Itapecurú e na Baixada Maranhense, regiões onde havia grandes
plantações de algodão e cana de açúcar, que contribuíram para tornar São Luís e
Alcântara cidades famosas entre outros aspectos, pela grandiosidade dos sobradões
coloniais, construídos com mão de obra escrava e pela harmonia, beleza e coreografia
das musicas de origem africana.
Como as demais religiões de origem africana no Brasil (Candomblé, Umbanda, Xangô,
Batuque, Jarê e outras), o tambor de mina se caracteriza por ser religião iniciática e de
transe ou possessão. No tambor de mina mais tradicional a iniciação é demorada, não
havendo cerimônias públicas de saída, sendo realizada com grande discrição no recinto
dos terreiros e poucas pessoas recebem os graus mais elevados ou a iniciação completa.
A discrição no transe e no comportamento em geral é uma características marcante do
tambor de mina, considerado por muitos como uma “maçonaria de negros”, pois
apresenta características de sociedades secretas. Nos recintos mais sagrados do culto
(peji em nagô, ou côme em jeje), penetram apenas os iniciados mais graduados. O
transe no tambor de mina é muito discreto e as vezes percebível apenas por pequenos
detalhes da vestimenta. Em muitas casas, no início do transe, a entidade dá muitas
voltas ao redor de si mesmo, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, talvez
para firmar o transe, numa dança de bonito efeito visual. Normalmente a pessoa quando
entra em transe recebe um símbolo, como uma toalha branca amarrada na cintura ou um
lenço, denominado pana, enrolado na mão ou no braço.
No Tambor de Mina cerca de noventa por cento dos participantes do culto são do sexo
feminino e por isso, alguns falam num matriarcado nesta religião. Os homens
desempenham principalmente a função de tocadores de tambores ou abatazeiros e
também se encarregam de certas atividades do culto, como matança de animais de 4
patas e do transporte de certas obrigações para o local em que devem ser depositados.
Algumas casas são dirigidas por homens e possuem maior presença de homens, que
podem ser encontrados inclusive na roda de dançantes.
Existem dois modelos principais de tambor de mina no Maranhão: mina jeje e mina
nagô. O primeiro parece ser o mais antigo e se estabeleceu em torno da Casa grande das
Minas Jeje (Querebentan de Zomadônu), o terreiro mais antigo, que deve ter sido
fundado em São Luís na década de 1840. O outro, que lhe é quase contemporâneo e que
também se continua até hoje é o da Casa de Nagô, localizada no mesmo bairro (São
Pantaleão) a uma quadra de distância.
A Casa das Minas é única, não possui casas que lhe sejam filiadas, daí porque nenhuma
outra siga completamente seu estilo. Nesta casa os cânticos são em língua jeje (Ewê-
Fon) e só se recebem divindades denominadas de voduns, mas apesar dela não ter casas
filiadas, o modelo do culto do Tambor de Mina é grandemente influenciado pela Casa
das Minas.
Os voduns da Casa das Minas, de quem se conhecem os nomes de aproximadamente
sessenta, agrupam-se em três famílias principais e duas que são hóspedes da casa, a
saber: a família real de Davice, a que pertence o vodum dono da casa, Zomadônu e
outros, que como ele são relacionados com a família real do Daomé, como: Dadarrô,
Docú, Bedigá, Sepazin, Agongônu, Toçá, Tocé, Jogorobossú; a família de Quevioçô
(dos voduns chamados nagôs), como Badé, Sobô, Lôco, Liçá, Averequête, Abê e outros;
a família de Dambirá (que cura a peste e outras doenças), chefiada por Acossi Sakpatá e
que incluí entre outros Azíli, Azônce, Polibojí, Lepon, Alôgue, Ewá, Bôça e Boçucó.
Existem ainda voduns agrupados na família de Aladanu, hóspedes de Quevioçô, como
Ajaúto e Avrejó e da família de Savalunu, hóspede de Zomadônu, como Agongonu e
Jotim. Cada família ocupa uma parte específica da casa e tem cânticos, comportamentos
e atividades próprias. Na Casa das Minas as vodunsis só recebem um vodum e só
dançam quando estão com ele. Durante o transe os voduns não comem, não bebem, não
satisfazem necessidades fisiológicas, cantam e dançam com os olhos abertos, conversam
entre si e com devotos, dão conselhos e alguns gostam de fumar.
Na mina-jeje os toques são realizados por três tambores com couro numa só boca (hum,
humpli e gumpli), batidos com a mão e com aguidaví. São também acompanhados pelo
ferro (gã) e por cabaças pequenas revestidas de contas coloridas. Nas festas as vodunsis
em transe, usam saias lisas na mesma cor ou estampada, blusa branca rendada, toalha
branca bordada amarrada no seio ou na cintura, guias e rosários de miçangas pequenas
coloridas em que predominam o marrom (gonjeva), carregam na mão um lenço branco
pequeno e usam sandália. Algumas usam símbolo do seu vodum, como bengala,
rebenque, guizos, lenço colorido no ombro e cabelos soltos.
Na Casa de Nagô as vestimentas são semelhantes as da mina-jeje, bem como
características gerais da iniciação e de discrição no culto. Nos toques canta-se em nagô
para voduns jejes (Doçu, Averequete, Ewá, Nanaburuku, Légo Xapanã) e orixás nagôs
(Ogum, Xangô, Badé, Lôco, Iemanjá) e em português para as entidades gentis e
caboclos (Dom Luís, Dom João, Dom Sebastião, Toi Zezinho; Rei da Turquia, Caboclo
Velho, Princesa D’ Oro, Guerreiro, Mariana, Manuelzinho, João da Mata e muitos
outros).
Nas demais casas de tambor de mina do Maranhão, difundiu-se o modelo da Casa de
Nagô. Cultuam-se voduns, orixás e caboclos. Cantam-se em nagô e também em
português. As vodunsis recebem um ou dois voduns principais e vários caboclos. Os
toques são sobre dois tambores (abatás) com couro nas duas bocas, deitados sobre
cavaletes, acompanhados pelo ferro, uma cabaça grande e várias pequenas.
Nos terreiros de tambor de mina é comum a realização de festas e folguedos da cultura
popular maranhense que as vezes são solicitadas por entidades espirituais que gostam
delas, como a do Divino Espírito Santo, o Bumba-Meu-Boi, o Tambor de Crioula e
outras. É comum também outros grupos que organizam tais atividades irem dançar nos
terreiros de mina para homenagear o dono da casa, as vodunsis e para pedir proteção às
entidades espirituais para suas brincadeiras.
BIBLIOGRAFIA:
VERGER, P. Fluxo e Refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia
de Todos os Santos. São Paulo: Currupio, 1987.
FERRETTI, Sergio. Querebentã de Zomadonu. Etnografia da Casa das Minas. São Luís:
EDUFMA, 1996, (2ª Ed. Revista).
_________. Repensando o Sincretismo. São Paulo/São Luís: EDUSP/FAPEMA, 1995.
FERRETTI, Mundicarmo. Desceu na Guma: o caboclo em um terreiro de São Luís - a
Casa Fanti-Ashanti. São Luís, EDUFMA, 2000, (2ª Ed. Revista).

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