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Movimento contra suposta doutrinação ideológica foi uma das pautas das eleições 20.dez.2018 às 2h00
A discussão sobre a existência ou não de doutrinação ideológica na educação brasileira foi uma das pautas das eleições
presidenciais deste ano. Defendido pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), o movimento Escola sem Partido tem apoio de conservadores
e religiosos. Esse grupo argumenta que a maioria dos professores do país alinha-se politicamente à esquerda, e, por isso, o conteúdo
ensinado em sala de aula é contaminado pelas opiniões pessoais dos docentes —intencionalmente ou não.
Também é criticada a decisão de incluir a educação sexual no currículo de crianças e adolescentes. Os apoiadores do Escola sem
Partido consideram que abordar questões como relações sexuais, identidade de gênero e prevenção à gravidez levaria à sexualização precoce
dos estudantes. No outro lado do debate, professores e gestores da área da educação denunciam o que consideram como tentativa de
censura à docência. Também defendem a educação sexual como política pública de saúde.
Entenda os principais pontos do Escola sem Partido e prepare os argumentos para as festas de fim de ano.
A DOUTRINAÇÃO POLÍTICA É UM PROBLEMA NAS ESCOLAS?
Não há pesquisador que defenda a doutrinação partidária em sala de aula. Também inexistem dados que comprovem ou refutem a
hipótese de haver doutrinação ideológica ou política no sistema de ensino. Educadores veem no Escola sem Partido uma tentativa de censura,
além do risco de limitar o papel da escola na formação de alunos críticos.
O QUE PREVEEM OS PROJETOS DE LEI CHAMADOS DE ESCOLA SEM PARTIDO?
As propostas determinam, em geral, a “neutralidade” dos professores, impedindo que eles exponham suas opiniões durante as aulas
ou estimulem alunos à participação política. Haveria ainda canais de denúncias para estudantes e pais comunicarem violações das regras
pelos docentes. Há projetos em trâmite no Congresso e em ao menos 97 Assembleias e Câmaras municipais, segundo reportagem da revista
Gênero e Número. No texto em discussão na Câmara, a abordagem de questões de gênero é vetada.
O QUE DIZ A PROPOSTA EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO?
Em linhas gerais, as regras determinam a prevalência das convicções morais, sexuais e religiosas do aluno e de sua família sobre o
conteúdo curricular. O projeto proíbe os professores de promover preferências “ideológicas, religiosas e morais” e de fazer “propaganda
político-partidária” em sala de aula. Os termos “gênero” e “orientação sexual” seriam banidos do currículo. A proposta deve ser arquivada no
fim desta legislatura (31 de janeiro). Quando os novos deputados assumirem, a discussão pode ser retomada. O trâmite começaria do zero.
QUEM AVALIARIA SE O PROFESSOR FEZ “PROPAGANDA IDEOLÓGICA” EM SALA DE AULA?
O projeto de lei discutido na Câmara não faz menção a como essa análise seria feita. Em abril de 2017, o vereador Fernando
Holiday (DEM), que é membro do MBL, se propôs a fazer visitas surpresa a escolas. Após o segundo turno das eleições, a deputada estadual
eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL-SC) pediu em uma rede social que os alunos denunciassem professores que fizessem “queixas político-
partidárias em virtude da vitória” de Jair Bolsonaro (PSL). A Justiça determinou a retirada dos posts do ar.
POR QUE ABORDAR QUESTÕES DE GÊNERO NA ESCOLA SERIA IMPORTANTE?
Segundo estudiosos do tema, a abordagem educacional da temática de identidade de gênero pode colaborar com o combate a
problemas como gravidez na adolescência, violência contra mulher, machismo e homofobia. Essa preocupação ainda visa fomentar uma
escola plural, laica e que acolha as diferenças.
QUAIS AS CRÍTICAS À INCLUSÃO DESSAS QUESTÕES NO CURRÍCULO?
Movimentos conservadores e religiosos argumentam que tratar questões de gênero e de educação sexual em sala de aula
estimularia a sexualização precoce e promoveria a homossexualidade. Documentos da Igreja Católica associam essa prática pedagógica ao
risco de destruição da família tradicional. Para defensores do Escola sem Partido, as instituições de ensino apresentariam conceitos
divergentes das convicções religiosas ou morais dos estudantes ou de seus pais.
HÁ ALGUMA DECISÃO JUDICIAL SOBRE O ESCOLA SEM PARTIDO?
Em março de 2017, o ministro Luís Roberto Barroso (STF) suspendeu, em liminar, uma lei que instituiu o Escola sem Partido em
Alagoas (batizado de “Escola Livre” no estado). O ministro entendeu que as normas que regulam as diretrizes e bases da educação são de
âmbito federal —não caberia aos estados legislar sobre essas questões. Oito meses antes, um parecer do Ministério Público Federal
classificou a iniciativa como inconstitucional por, entre outros, impedir o pluralismo de ideias, negar a liberdade de cátedra e contrariar a
laicidade do Estado.