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a rtigot écnico

Estudo do comportamento
em incêndio real da estrutura
de aço em perfis formados a frio
de um edifício residencial
1. RESUMO

Este trabalho apresenta o comportamento da estrutura de aço, constituída por perfis


RICARDO HALLAL FAKURY
formados a frio, em seção caixão, de um apartamento situado no quarto e último andar
FRANCISCO CARLOS RODRIGUES
Escola de Engenharia da UFMG do Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek, em Limeira, Estado de São Paulo,
FABIO DOMINGOS PANNONI construído em 1988 e acometido por incêndio em 2002. Para isso, são descritos os
Gerdau Açominas
ensaios realizados para a caracterização do aço empregado nas vigas e pilares, des-
VALDIR PIGNATTA E SILVA
Escola Politécnica da USP conhecido por falta do projeto estrutural, e o ensaio metalográfico, para estimar a
temperatura atingida pelo aço durante o incêndio. Posteriormente, são feitas conside-
ALESSANDRO DE SOUZA CAMPOS
USIMINAS / COSIPA rações sobre o comportamento da estrutura em situação de incêndio.
MAURI RESENDE VARGAS
TECSTEEL
Palavras-chave: Estruturas de aço. Perfis formados a frio. Comportamento em situação
de incêndio.

1. INTRODUÇÃO 2. A ESTRUTURA DO EDIFÍCIO


O Conjunto Habitacional Juscelino Os pilares e vigas do Conjunto Habi-
Kubitschek (figura 1) foi construído em tacional Juscelino Kubitschek são cons-
1988 na cidade de Limeira, Estado de tituídos por perfis de aço formados a
São Paulo, sendo formado por quatro frio, em seção caixão, conforme se vê
blocos idênticos, geminados dois a na figura 2. Os pilares, com 200 mm de
dois, cada um dos blocos com quatro Figura 1 - Conjunto Habitacional Juscelino Kubitschek
altura e 100 mm de largura, são forma-
pavimentos e oito apartamentos por dos por dois perfis Ue 200x50x30x5,0, jus-
andar. Os apartamentos são do tipo Em janeiro de 2002, ocorreu um in- tapostos e unidos por solda contínua de
popular, possuindo 44,29 m2 de área cêndio em um apartamento situado no filete. As vigas, com dimensões exter-
total, com dois dormitórios, sala, ba- quarto andar de um dos blocos do Con- nas idênticas às dos pilares, são forma-
nheiro, cozinha e área de serviço. junto Habitacional, o qual, apesar de das por dois perfis Ue 200x50x15xt, tam-
A edificação possui a estrutura prin- não ter sido combatido com eficácia, bém justapostos e unidos por solda con-
cipal constituída por vigas e pilares de não se propagou para outros aparta- tínua de filete, com espessura de chapa
perfis de aço formados a frio. mentos do edifício. (t) de 3,3 mm, 3,75 mm ou 4,75 mm.
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Na região onde o incêndio se ini- mais afetada pelo incêndio. Ao todo,
ciou houve desprendimento de peda- foram retiradas sete amostras, sendo
ços de lajotas de cerâmica da laje (fi- três de pilares e quatro de vigas, me-
gura 4). A estrutura de aço não entrou dindo cada uma 300 mm de compri-
em colapso e não apresentou danos mento e 60 mm de largura. A figura 5
visuais importantes. mostra o local de extração das amos-
Figura 2 - Vigas e pilares Os revestimentos das alvenarias se tras (A1 no Pilar P1, A3 e A4 no Pilar P2,
soltaram, o que também pode ser visto na A2 na Viga V2, A6 e A7 na Viga V1 e A8
Todas as ligações entre pilares e
figura 4. Nas paredes não houve fissuras e na Viga V3), e a figura 6 o pilar P2 após
vigas podem ser classificadas como
tampouco nas lajes, mantendo-se, assim, ter as amostras A3 e A4 retiradas.
rígidas, ou muito próximas de rígidas,
a estanqueidade desses elementos.
uma vez que a união entre esses ele-
mentos é executada por meio de sol-
da de filete em toda a volta do perfil
da viga.
Os elementos estruturais não pos-
suem revestimento contra fogo, mas
podem ser considerados parcialmen-
te protegidos pelo contato com a alve-
naria, constituída por blocos de con-
Figura 4 - Detalhe das lajotas cerâmicas danificadas
creto revestidos por argamassa, em
várias partes de suas superfícies ex-
Não houve a propagação do incên-
ternas, conforme a planta do aparta- Figura 5 - Local de extração das amostras
dio para os dois dormitórios e para o
mento, mostrada na figura 3.
banheiro; no entanto esses cômodos
As lajes são constituídas de vigotas
foram duramente atingidos pela fuma-
pré-moldadas de concreto e lajotas ce-
ça, ficando completamente escurecidos.
râmicas, com 70 mm de altura e 50 mm
Evidentemente, o incêndio não se pro-
de capa de concreto moldado in loco,
pagou pelo fato de que a compartimen-
perfazendo 120 mm de espessura.
tação, apesar de imperfeita, foi eficaz.

3. O INCÊNDIO E SUAS
4. ENSAIOS PARA
CONSEQÜÊNCIAS
DETERMINAÇÃO DO AÇO E
A figura 3 mostra a planta do apar-
DA TEMPERATURA
tamento incendiado, com uma simu-
lação do mobiliário existente, e com a Como não foi possível localizar o pro-
indicação do local de início do incên- jeto estrutural, houve a necessidade da
Figura 6 - Pilar P2 após a retirada das amostras A3 e A4
dio, a sala, em tomada localizada atrás realização de ensaios para a caracteri-
do televisor, conforme Certidão de Si- zação do aço empregado nos pilares e Os ensaios:
nistro emitido pelo Corpo de Bombei- vigas. Assim, foram feitos ensaios para • não detectaram alterações sig-
ros da Polícia Militar do Estado de São a determinação da composição química nificativas na micro-estrutura, incluin-
Paulo (2003). e dos valores da resistência ao escoa- do o tamanho de grão, e nas proprie-
mento, da resistência à ruptura e do dades mecânicas do aço, e indicaram
alongamento após ruptura do aço. Foi que os elementos estruturais foram
feito ainda ensaio metalográfico, para submetidos a temperaturas máximas
estimar a temperatura atingida pelo aço da ordem de 712ºC;
durante o incêndio. • indicaram que o aço utilizado é
Figura 3 - Planta
do apartamento As amostras de aço utilizadas nos compatível com aços estruturais do tipo
com mobiliário ensaios foram extraídas de elemen- patinável, com valor característico de
e local de início
do incêndio tos estruturais da sala, dependência resistência ao escoamento de 445 MPa.
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5. VERIFICAÇÃO DA Na figura 7, vê-se o esquema da es- ços solicitantes advindos do impedimen-


trutura do apartamento incendiado, reti- to das expansões térmicas.
ESTRUTURA DE AÇO FRENTE
rada da estrutura completa da edificação, A adaptação da ABNT NBR 14762:2001
AO FOGO
com a identificação das vigas e dos pila- consistiu do uso de sua formulação para
res (com a numeração usada na análise determinação dos esforços solicitantes
5.1 Análise Estrutural estrutural) que foram verificados. resistentes de cálculo, multiplicando-se
Conforme o item 2, todos os pila- os valores da resistência ao escoamento
A análise estrutural foi feita usan-
res são constituídos por dois perfis Ue e do módulo de elasticidade do aço res-
do o programa computacional comer-
200x50x30x5,0 soldados entre si, for- pectivamente pelos fatores de redução
cial SAP 2000 (2003), com a combina-
mando uma seção fechada. As vigas ky,θ , igual a 0,12, e kE,θ , igual a 0,11, para
ção excepcional da ABNT NBR
são constituídas por dois perfis Ue a temperatura de 712oC. Os fatores de re-
14323:1999 para obtenção dos esfor-
200x50x15xt também soldados entre si dução foram obtidos das recomendações
ços solicitantes de cálculo em situa-
formando seções fechadas, sendo do Eurocode 3 - Part 1.2 (1995), para ele-
ção de incêndio.
que V4005, V4006, V4041 e V4042/4043 mentos classe 4. Além disso, foram inse-
Foi modelada a estrutura comple-
têm espessura de 3,30 mm, V4079, ridos na formulação os diversos coefici-
ta do Conjunto Habitacional Juscelino
V4096, V4081 e V4098 espessura de 3,75 entes e ajustes adicionais para dimensi-
Kubitschek, incluindo seus quatro blo-
mm e V4022, V4023, V4080 e V4097 es- onamento em situação de incêndio, exi-
cos, em três dimensões, com as lajes
pessura de 4,70 mm. gidos pela ABNT NBR 14323:1999 com base
simuladas como diafragmas infinita-
no Eurocode 3 - Part 1.2 (1995).
mente rígidos em seu plano e com ri-
5.3 Procedimentos
gidez nula no plano perpendicular. As
e Resultados 5.3.2 Pilares
bases dos pilares foram consideradas
engastadas nas duas direções princi- Considerando o aço estrutural com
pais e todas as ligações entre vigas e 5.3.1 Normas e Programa a resistência ao escoamento encontra-
pilares foram supostas rígidas. da nos ensaios (445 MPa), para a atua-
Computacional
Como ações permanentes, foram ção conjunta de força axial de compres-
considerados os pesos próprios dos Os pilares e vigas foram verificados são e momentos fletores, são obtidos
materiais estruturais e construtivos, em situação de incêndio obedecendo- os seguintes valores de cálculo dos es-
obtidos a partir dos pesos específicos se à ABNT NBR 14762:2001, adaptada forços solicitantes e resistentes no pi-
fornecidos pela ABNT NBR 6120:1985 e para a condição de temperatura eleva- lar P 438, que se encontra em pior con-
como ação decorrente do uso uma so- da, usando o programa DIMEPEFF (Di- dição estrutural:
brecarga de 1,5 kN/m2 nos pisos, de 0,5 mensionamento de Perfis Formados a • força axial de compressão: Nfi,Sd
kN/m2 na cobertura e de 3,0 kN/m2 nas Frio), desenvolvido no Departamento de = 25 kN, Nfi,Rd = 174 kN (para escoamen-
escadas. Engenharia de Estruturas da UFMG com to) e Nfi Rd = 64 kN (para instabilidade);
base nos trabalhos de Barros Jr. (2001) • momento fletor em relação ao
5.2 Estrutura do e Soares (2002). eixo de maior momento de inércia da
Tendo em vista a eficácia da com- seção transversal (eixo x): Mfi,Sdx = 5,87
Apartamento Incendiado
partimentação, citada no item 3, e à tro- kN.m e Mfi,Rdx = 9,30 kN.m (o momento
ca de calor entre o aço da estrutura e fletor em relação ao eixo de menor
paredes e laje, a temperatura varia na momento de inércia é desprezável).
seção transversal dos elementos estru- Usando as expressões de interação
turais. No entanto, por simplicidade, essa adaptadas da norma brasileira ABNT
variação não foi considerada, e por con- NBR 14762:2001, vem:
seqüência, foram desprezados os esfor- • resultado da expressão de resis-
ços solicitantes decorrentes do gradien- tência = 0,77;
te térmico. Assim, a temperatura foi con- • resultado da expressão de estabi-
siderada constante na seção transver- lidade = 1,20.
sal, com valor igual a 712oC, conforme o Na determinação da força axial de
item 4 deste trabalho. Também por sim- compressão resistente, foram usados os
Figura 7 - Esquema da estrutura do apartamento
incendiado plicidade, foram desprezados os esfor- mesmos coeficientes de flambagem da
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verificação à temperatura ambiente, con- baixas, como ocorre usualmente no tipo uma clara condição de colapso estrutu-
forme admite a ABNT NBR 14323:1999. de estrutura em estudo. ral e que os demais componentes estru-
Nota-se portanto que, pelo procedi- turais mantiveram reserva de capacida-
mento adotado no dimensionamento, o 6. CONCLUSÕES de resistente. Deve-se destacar que tais
pilar em questão encontra-se, em situa- resultados não levaram em conta os
Neste trabalho foi descrito um in-
ção de incêndio, em condição de colapso efeitos das deformações térmicas, que
cêndio ocorrido em 2002 em um apar-
estrutural por instabilidade. Fazendo-se poderiam elevar ligeiramente os esfor-
tamento do Conjunto Habitacional Jus-
a verificação dos outros pilares, é possí- ços solicitantes em alguns componen-
celino Kubitschek, em Limeira, Estado
vel constatar que, com exceção do pilar P tes da estrutura incendiada, mas tam-
de São Paulo, que possui vigas e pila-
458, cujo resultado da expressão de esta- bém que não foram observados quais-
res constituídos por perfis de aço for-
bilidade fornece o valor 1,02, todos en- quer danos na mesma. Conclui-se por-
mados a frio, em seção caixão. Obser-
contram-se com reserva de resistência. tanto que os procedimentos de cálculo
vou-se que o incêndio iniciou-se na sala
As forças cortantes não foram con- normatizados são conservadores para
do imóvel e que, devidos às boas condi-
sideradas por apresentarem valores o dimensionamento das estruturas de
ções de compartimentação, usuais nes-
muito reduzidos. aço constituídas por perfis formados a
se tipo de edifício, não houve propaga-
frio, demandando mais estudos e pes-
ção das chamas para os outros cômo-
5.3.3 Vigas quisas, a fim de se otimizar as soluções
dos e nem para os apartamentos vizi-
de projeto para esse tipo de perfil em
Do dimensionamento em tempera- nhos. Foram feitos ensaios para carac-
situação de incêndio.
tura elevada, obtém-se que a maior re- terização do aço estrutural e para ava-
lação entre os momentos fletores liação da temperatura atingida pelo in-
Agradecimentos
solicitante e resistente de cálculo atinge cêndio. A estrutura de aço foi verificada
0,78, na viga V 4081, para resistência ao em situação de incêndio, usando-se Ao CBCA, Centro Brasileiro da Cons-
escoamento do aço de 445 MPa (Mfi,Sdx procedimentos de normas de projeto. trução em Aço, e ao CNPq, Conselho
= 7,23 kN.m e Mfi,Rdx = 9,27 kN.m). Veri- Com a temperatura máxima de 712oC Nacional de Desenvolvimento Científi-
fica-se assim que as vigas conseguiram e resistência ao escoamento de 445 MPa, co e Tecnológico, por terem tornado
manter uma reserva de resistência. valores obtidos por ensaios, os cálculos possível a elaboração deste trabalho.
As forças cortantes solicitantes são mostraram que no pilar P 438 ocorreu

REFERÊNCIAS
ABNT NBR 6120:1985: Cargas para o Cálculo de Estruturas de Edificações - Procedimento. Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT NBR 14323:1999: Dimensionamento de Estruturas de Aço de Edifícios em Situação de Incêndio - Procedimento.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
ABNT NBR 14762:2001: Dimensionamento de Estruturas de Aço Constituídas por Perfis Formados a Frio - Procedimento.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (2003). Certidão de Sinistro número 015/130/03, expedido pelo
16o GB - 1o SGB - 3o/4o PB, Limeira, SP.
Barros Jr., P. M. (2001), Verificação e Dimensionamento e Perfis Formados a Frio Segundo a ABNT e o AISI/96. Dissertação de
Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de estruturas, Escola de Engenharia da UFMG, Belo Horizonte, MG.
Eurocode 3 - Part 1.2 (1995): Design of Steel Structures-Structural Fire Design. European Committee for Standadization,
Brussels, Belgium.
SAP 2000 Nonlinear (2003), Version 8.2.7, Computers and Structures, Inc., Berkeley, CA, USA.
Soares, C. H. (2002), Dimensionamento de estruturas de aço constituídas por perfis formados a frio em situação de incêndio. Dissertação
de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia de estruturas, Escola de Engenharia da UFMG, Belo Horizonte, MG.

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