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A FORMAÇÃO DO POVO

JAPONÊS DO PONTO DE VISTA


ESPIRITUAL

Revisado em maio de 2005


A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

ÍNDICE

PRIMEIRA PARTE ........................................................................................................................ 3


1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 3
2- AMATERASSU OOKAMI ...................................................................................................... 3
2.1 - Existência ........................................................................................... 3
2.2 - Origem................................................................................................. 4
3 - EPISÓDIOS CORRELATOS ................................................................................................ 6
4 - LUTAS PELO PODER NA HISTÓRIA DO JAPÃO .............................................................. 7
5 – HISTÓRIA DO POVO TENSON ........................................................................................... 7
6 – EPISÓDIO DA VIDA DE OOKUNINUSHI .......................................................................... 10
7 – REVELAÇÃO DE DEUS .................................................................................................... 11
7.1 – O povo Yamato ................................................................................ 11
7.2 – O tratado de paz .............................................................................. 12
SEGUNDA PARTE ..................................................................................................................... 14
1 – GENEALOGIA DO POVO JAPONÊS ............................................................................... 14
2 – DISPUTAS PELO PODER ................................................................................................. 15
3 – O GOVERNO TOKUGAWA ............................................................................................... 15
4 – CAUSA DO ENFRAQUECIMENTO DE TOKUGAWA ...................................................... 18
5 – MUDANÇAS NO MUNDO ESPIRITUAL ........................................................................... 20
TERCEIRA PARTE - A ............................................................................................................... 23
TERCEIRA PARTE - B ............................................................................................................... 27
1 - ÉPOCA KAMAKURA (1192 A 1333) .................................................................................. 27
2 - ÉPOCA MOMOYAMA ........................................................................................................ 27
3- ÉPOCA GUENROKU .......................................................................................................... 27
4 - OS CERAMISTAS .............................................................................................................. 28
5 - OUTROS ARTISTAS .......................................................................................................... 28
6 - OS POVOS TENSON E IZUMO .......................................................................................... 28
7 - OS NATIVOS ...................................................................................................................... 29
8 - DIFERENÇA ENTRE AS LINHAS SANGUÍNEA E ESPIRITUAL ...................................... 30
9 - O EXEMPLO DO TEAR ...................................................................................................... 31
10 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA CORRESPONDENTE A CADA UM DOS QUATRO
GRUPOS ................................................................................................................................. 31

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

PRIMEIRA PARTE

1 - INTRODUÇÃO

Antes de começar a escrever sobre a formação do povo


japonês do ponto de vista espiritual, quero deixar claro que todos
esses assuntos que vou expor não estão registrados em nenhum
lugar. Gostaria, pois, que lessem sabendo que se trata de algo
inusitado, um relato completamente inédito.

Como japonês, acho, que meus compatriotas deverão


conhecer essa verdade sobre a qual só agora me encontro em
condições de discorrer. São pontos delicados e poderiam gerar
uma interpretação inadequada se fossem levados ao
conhecimento público antes do término da Segunda Guerra
Mundial.

Todos, de um modo geral, sabem que as antigas


narrativas históricas sobre a origem do Japão se fundamentam
em fatos mitológicos, difíceis de serem compreendidos pelo bom
senso.

2- AMATERASSU OOKAMI

2.1 - Existência

Com base na mitologia, sabe-se que a mais alta hierarquia


divina, cultuada no Japão, é Amaterassu Ookami, entendida
como ancestral da família do imperador. Continua, ainda nos dias
atuais, presente em espírito, no Templo de Isse.

Sobre essa divindade existem várias versões. A mais


confiável é a seguinte: em tempos remotos, a imagem de
Amaterassu Ookami permaneceu numa localidade perto de
Kyoto, denominada Tanba no Kuni Motoisse (Vilarejo do Estado
de Tanba), mas, há mil e cem anos, foi transferida para outro
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

lugar: Yamada no Isse (aldeia de Isse) onde se encontra até


hoje.

Consta que, na época da transferência, a imagem estava


sendo carregada por algumas pessoas, num palanquim, que
ficou extremamente pesado, no momento de atravessar o rio
Issuzu. Como não conseguiram mais transportá-lo, resolveram
voltar ao local de onde a imagem fora tirada (Templo de Tanba).
Nessa ocasião, misteriosamente, uma rocha de mais ou menos
dez metros quadrados caiu em cima de um riacho que passa
atrás do Templo de Isse e aí ficou “sentada” à beira do rio, onde
está até hoje. Recebeu, por isso, o nome de Gozaseki (pedra que
senta). Esse acontecimento é interpretado como o desejo da
divindade de permanecer ali. Ao lado dessa pedra, há uma
caverna denominada Iwato (= porta da rocha), relativamente
grande, que serviu de moradia para Amaterassu. Quando, no ano
passado (1951), fui a Motoisse (Tanba no Kunimoto Isse), tive
oportunidade de ver pessoalmente essa pedra.

2.2 - Origem

A antiga história do Japão, fundamentada na mitologia,


fala da existência de um casal de divindades, Izanagui e Izanami,
que geraram uma filha chamada Amaterassu Ookami e um filho,
Kansussanoo-no-Mikoto.

Kansussanoo foi designado para governar a Coréia e


Amaterassu o Japão. Daí o motivo de ela ser considerada
ancestral dos imperadores.

Amaterassu gerou um menino chamado Hiruko-no-Mikoto.


Se isso for verdade, deverá haver o esposo, mas dele não se tem
notícia. Até hoje, contudo, ninguém procurou desvendar o
enigma porque esse tipo de investigação, antes da Segunda
Guerra, significaria irreverência; por isso, não se teciam

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

comentários sobre o assunto. Agora já não há mais esse receio;


portanto, eu posso escrever tranqüilamente e comentar o fato.

Assim, então, vejamos: de acordo com a antiga História,


um povo de nome Tenson, liderado por Minigui-no-Mikoto,
desceu do céu e se instalou no alto da montanha Takachiho,
situada na ilha de Kyushu (sul do Japão). Mais tarde, o neto de
Miniguimo se tornou imperador desse povo com o nome de
Jinmu (também chamado Kamu Yamato Iwarehiko-no-Mikoto).
Quando atingiu 45 anos, organizou um exército para conquistar o
leste do Japão. Segundo consta, avançou em primeiro lugar para
Yamato (atual Nara). Houve lutas pouco favoráveis ao exército
do imperador Jinmu que, por isso, perdeu a guerra, tendo,
também, morrido em combate o seu filho primogênito de nome
Itsusse-no-Mikoto. Desolado, Jinmu percebeu que a causa do
insucesso fora ter-se encaminhado para a guerra seguindo na
direção Leste, contra o Sol. Resolveu, então, dar uma grande
volta, dirigindo-se pelo Oeste, mantendo, portanto, o Sol às
costas, até atingir novamente o Leste, região que desejava
conquistar. Com essa estratégia, venceu a guerra e organizou o
governo de Yamato. Não conseguiu, contudo, dominar toda a
região do leste, por que ali já havia outras bases militares muito
bem organizadas, num local chamado Izumo no Kuni (aldeia de
Izumo), bem longe de Yamato. Na verdade esse assentamento
militar era a sede central do governo do Japão (o Izumo-cho)
chefiado por Ookuninushi-no-Mikoto.

Mesmo assim, a partir de então, passaram a existir dois


governos distintos: o de Yamato, regido por Jinmu, e o Izumo-cho
de Ookuninushi.

Para resolver a questão, o imperador de Yamato mandou


a Izumo dois representantes com a missão de propor o final da
guerra, mas não conseguiu êxito. Foi realizada uma segunda
tentativa, também malsucedida.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Nos dois casos, o motivo do insucesso foi que o inimigo


(Izumo-cho) ludibriou os emissários do imperador Jinmu,
oferecendo-lhes bebidas alcoólicas e mulheres.

Enfurecido, Jinmu tentou uma terceira vez, usando meios


mais vigorosos, com a finalidade de conseguir o seu objetivo.
Para isso, nomeou um general do Exército, Takamikazuchi-no-
Mikoto e um almirante da Marinha, Futsumushi-no-Mikoto. Assim
planejou atacar por terra e por mar. Diante da situação,
Ookuninushi-no-Mikoto se assustou e se entregou sem lutar.
Como resultado, o poder passou do povo Izumo para o povo
Tenson (= Jinmu).

3 - EPISÓDIOS CORRELATOS

Agora vou narrar alguns episódios que se afastam, um


pouco, da idéia principal.

O primeiro diz respeito ao casamento do segundo


imperador, Suize (filho de Jinmu) com a filha de Ookuninushi
(derrotado na guerra). Eu penso que essa união tenha sido um
ato político do perdedor, pensando numa pacificação futura dos
dois povos.

O outro acontecimento de grande importância foi a


construção do Templo de Kashima no estado de Miyagui, em
homenagem póstuma a Takamikazuchi-no-Mikoto, responsável
pela grande vitória sobre o povo Izumo. É o mais antigo templo
xintoísta do Japão.

A partir daí, tornou-se costume, entre os soldados


japoneses, antes de irem para a guerra, visitar o local a fim de
pedir proteção durante as batalhas. Desse hábito, surgiu no
exército o lema Kashimatashi (partir de Kashima) que significa ir
primeiro ao Templo Kashima e, depois, partir para a guerra.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

4 - LUTAS PELO PODER NA HISTÓRIA DO JAPÃO

Em primeiro lugar é preciso perceber com atenção que a


troca de governo, passando do povo Izumo para o povo Tenson,
originou, mais tarde, no Japão, as guerras de conquista, as quais
sempre aconteceram entre os dois grupos e, ainda hoje, às
vezes, se manifestam em alguns setores.

Na verdade, tais lutam significam que, no plano espiritual,


aqueles dois primeiros povos continuam vivos e ainda
guerreando, ou seja, embora já se tenham destruído uma vez no
plano físico, ainda hoje prosseguem renascendo nos seus
sucessores e lutando pelo poder, de uma forma mais ou menos
idêntica.

É preciso, pois, ficar bem claro para todos que a mudança


de governo daquela época foi a raiz de todas as guerras
ocorridas no Japão visando à conquista do poder. As lutas entre
esses dois grupos marcam também o começo de todas as outras
desavenças internas. Entretanto, ninguém sabia disso antes,
porque foi um movimento cuja origem está no Mundo Espiritual.
Os historiadores registraram somente dados superficiais
resultantes de investigações feitas apenas no plano material. Foi
assim até o término da Segunda Guerra Mundial.

Agora, porém, estou apresentando o meu ponto de vista,


fundamentado nos fenômenos espirituais, para explicar os fatos
ocorridos e os que ainda acontecem no Mundo Material.

5 – HISTÓRIA DO POVO TENSON

Voltando ao início da história do povo Tenson, o qual,


segundo a mitologia, desceu do céu, instalou-se no topo da
montanha do Takachiho e aí permaneceu durante algum tempo,
pode-se dizer que é uma narrativa realmente absurda. Segundo
esse relato, Ugayafukiaezu-no-Mikoto, filho de Tenson Minigui-no
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Mikoto e pai do imperador Jinmu, foi enviado por ordem de


Amaterassu Ookami para governar o povo Tenson. Se for assim,
pode-se afirmar que a autoridade suprema estava nas mãos
dessa divindade que, por sua vez, teria recebido esse poder de
outra superior. A mitologia não esclarece, contudo, essa
particularidade.

Ainda mais uma coisa: não existe, na mitologia, uma


explicação clara sobre a origem e local de nascimento de
Minigui-no-Mikoto, nem uma justificativa do motivo pelo qual
recebeu a autoridade para liderar o povo Tenson quando se
instalaram na montanha de Takachiho. Se for verdade que ele
desceu do céu, não é necessário comentar mais nada. Mas,
conforme já falei no começo, quem tinha o poder do governo do
Japão, antes do imperador Jinmu, era Ookuninushi-no-Mikoto
(instalado no Leste). Então, uma vez que o poder central do
governo estava nas mãos de Ookuninushi-no-Mikoto, não existe
lógica no fato de Amaterassu ter cedido esse poder a Minigui-no-
Mikoto e nem haveria necessidade de Jinmu lutar pela conquista,
pois já teria automaticamente recebido o governo, por ordem
divina. Entretanto, não foi o que aconteceu, pois os generais de
Jinmu tiveram que lutar contra o povo Izumo.

Outra hipótese possível é que, em épocas remotas,


Susanoo-no-Mikoto, pai de Ookuninushi, se tenha apossado do
poder ou, talvez, este lhe fora entregue por algum motivo não
esclarecido pela mitologia. Tais aspectos permanecem, até hoje,
totalmente obscuros.

Por outro lado, a história do governo do Izumo tem mais


credibilidade. Sobre ela, vou discorrer.

Há alguns anos, estive visitando o Templo do Izumo, atrás


do qual existe uma praia denominada Hinomi-Zaki. Segundo uma
explicação que me foi dada pelo sacerdote do templo, todos os
anos, no começo de outubro, os deuses saem para visitar a terra
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

natal, partindo daquela praia. Após um mês, voltam novamente


para o Templo do Izumo, que é dedicado a eles.

Por essa lenda, não tive mais dúvida quanto às minhas


deduções de que os deuses do Izumo não são originários do
Japão, mas emigraram de outros países.

Outro fato que fundamenta a minha conclusão é que,


desde antigamente, o mês de outubro é considerado o período
do Kannazuki, ou da ausência dos deuses, devido ao fato de eles
estarem viajando para outros lugares. Também o livro de
mitologia mais antigo do Japão (Kojiki) fala que o pai de
Ookuninushi-no-Mikoto é Susanoo-no-Mikoto, que desceu a
montanha Soshimori da Coréia, sendo, portanto, uma divindade
coreana. A mitologia diz também que ele matou a enorme cobra
Yamata-no-orochi, no alto (próximo à nascente) do rio Hi,
localizado no Izumo, e salvou a princesa Kushinada, tendo-a
depois recebido como esposa e construído para ela um grande
palácio chamado Suga, onde hoje é o Templo do Izumo.

Consta, também, de acordo com a mitologia, que, ao


entrar pela primeira vez nesse palácio, Susanoo sentiu o frescor
do ambiente e o achou muito agradável; por isso, denominou-o
Sugano-miya. O casal viveu aí um intenso amor num clima de
muita harmonia. Tamanha felicidade levou Sussanoo a fazer, em
homenagem à sua esposa, um poema denominado Yagumo no
ritmo do waka (5-7/5-7/7) cujo conteúdo vem a seguir:

Yagumo tatsu
Izumoyaegaki tsumagomeni
Yaegaki tsukuru sonoyaegakio

(Surgiram nuvens
formando uma cerca de oito voltas.
Oito voltas de nuvens cercam o palácio real.)

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Este poema marca o início das composições com 31


sílabas que vão dar origem ao waka (criação japonesa), tendo
Susanoo-no-Mikoto sido o primeiro compositor neste estilo.

Falando ainda sobre a origem de Susanoo-no-Mikoto,


segundo a mitologia, sabe-se que há três gerações divinas
identificadas com o mesmo nome: Kansusanoo (pai)
Hayasusanoo (filho) e Takehayasusanoo (neto). Após essas
gerações, as quais, segundo eu penso, ainda continuam se
manifestando, é que nasceu Ookuninushi-no-Mikoto.

Grande importância tem ainda a correlação desses fatos


com o ritual do Templo de Izumo, onde uma lamparina
permanece ininterruptamente acesa, sendo sempre substituída
antes que se apague. É uma cerimônia que já dura há mais de
dois mil anos. Essa simbologia deve ter um significado bastante
profundo. Eu penso que seja o da não-interrupção da linha
sangüínea de Susanoo, até o dia em que ele possa recuperar o
governo do Japão novamente.

6 – EPISÓDIO DA VIDA DE OOKUNINUSHI

O que vou dizer a seguir foge um pouco do assunto


anterior. Ookuninushi-no-Mikoto (o que perdeu a guerra) tinha
dois filhos: Kotoshironushi-no-Mikoto, o primogênito, e
Takeminakata-no-Mikoto. O mais velho era uma pessoa
extremamente cordata e aceitou facilmente a derrota. Já o
segundo não se conformou de jeito algum e resistiu com bravura
ao inimigo. Foi perseguido e chegou até perto do Lago Suwa no
Estado de Shinshu, ao norte do Japão. Finalmente, atirou-se ao
lago, tendo assim terminado a vida de modo trágico. Nesse
mesmo local, hoje, encontra-se o Templo Suwa.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

7 – REVELAÇÃO DE DEUS

A partir de agora, os fatos que vou relatar me foram


revelados por Deus.

7.1 – O povo Yamato

Relembrando o que disse no começo, quando


Kanssussanoo veio da Coréia para o Japão, desembarcou no
Sul, numa região chamada Izumo no Kuni. Mas quem o
governava, nessa época, era o imperador divino Izunome, o qual,
segundo me parece, foi, desde antigamente, o verdadeiro
dirigente do Japão, originário do povo Yamato, uma estirpe cuja
principal característica é não gostar de conflitos e ser, ao
extremo, amante da paz. No confronto de forças com o invasor,
Izunome não ofereceu resistência e, sentindo que sua vida
estava em perigo, fugiu, atravessando o mar e indo para outro
país. Quem ficou no lugar dele foi um filho, o imperador
Amaterassu, o qual faleceu em circunstâncias das quais não se
tem informações precisas. Sua esposa, a imperatriz, continuou
no poder, mas a situação do povo Yamato foi-se tornando cada
vez mais precária, não havendo outra alternativa senão aceitar a
exigência de Susanoo-no-Mikoto. Foi, então, firmado um acordo
de paz entre ambos (a imperatriz Amaterassu e Susanoo), numa
região denominada Ame no Yasugawara. Esse contrato
encontra-se no mais antigo livro japonês da mitologia, o Kojiki.

De acordo com as determinações do tratado, ficou


estabelecido que o Lago Biwa (o maior do Japão, localizado bem
no centro do país) seria o marco divisor das possessões
territoriais: a parte oeste pertenceria a Susanoo-no-Mikoto e o
lado leste ficaria para a imperatriz Amaterassu.

Nota: (Na parte leste do Lago Biwa, existe uma aldeia


chamada Yasu, onde, acredito eu, tenha sido assinado esse
acordo de paz).
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

7.2 – O tratado de paz

Agora, é preciso saber quais as verdadeiras razões que


determinaram o estabelecimento do referido tratado. Na
realidade, Susanoo o aceitou com segundas intenções.
Inicialmente governaria conforme as determinações
estabelecidas, mas depois conquistaria o outro lado e dominaria
todo o Japão.

Já naquela época, entretanto, a situação não permitiria


que ele fizesse tudo de uma vez, pois não teria, de imediato, o
apoio necessário. Com certeza, a opinião pública iria levantar-se
contra ele. Então Susanoo esperou a chegada de uma
oportunidade para manifestar sua verdadeira intenção. Assim, foi
que exigiu da imperatriz Amaterassu, ameaçando-lhe a vida, que
cedesse o poder do lado leste. Não tendo como resistir, ela
decidiu, sem apego algum, abandonar o trono. Desse modo,
escapou do perigo e, acompanhada de poucos auxiliares,
empreendeu a viagem de fuga.

Quando soube disso, Susanoo-no-Mikoto mandou que


seus exércitos acabassem definitivamente com ela. Não foi,
contudo, vitorioso no seu intento, pois a imperatriz conseguiu
livrar-se da perseguição.

Finalmente, Amaterassu estabeleceu residência no topo


da atual montanha Minakami, no Estado de Shinano no Kuni
(extremo norte do Japão). Entretanto, mesmo aí, não conseguiu
muita tranqüilidade. Então, visando à maior segurança, penetrou
mais para o interior e passou a viver dentro de uma montanha
chamada Togakushi (Lugar da Porta Escondida), um local
escuro, sem luz. Há, inclusive uma história mitológica dizendo
que, quando se abriu a porta da rocha (isto é, quando a rocha foi
escavada) essa porta voou pelos ares e caiu em cima da
montanha, deixando-a bem escondida.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Uma outra narrativa fala da vinda, bem mais tarde, muito


depois de Susanoo-no-Mikoto, de outro herói pertencente à
dinastia chinesa Chou, chamado Tenson Minigui-no-Mikoto, cujo
antepassado tem o nome de Banko Shinno (Rei Divino de
Banko). Este é considerado, na China, como se fosse
Amaterassu; rei da linha solar, o homem divino, também
conhecido como Banko-Shi.

Quando Banko-Shinno tomou conhecimento de que o


Japão estava dominado por Susanoo-no-Mikoto, resolveu reagir,
mas morreu antes de conseguir o seu intento. Então, assim, a
conquista só vai ser concretizada mais tarde por um grande líder
da terceira geração Banko-Shi chamado Kamiyamato Iwarehiko-
no-Mikoto (que é o mesmo Minigui-no-Mikoto).

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

SEGUNDA PARTE

1 – GENEALOGIA DO POVO JAPONÊS

Após um longo período de lutas, teve início o governo do


imperador Jinmu, que começou a pacificar os quatro cantos do
Japão.

Aconteceu, porém, que as tribos nativas, espalhadas por


toda parte, já tinham bastante poder e ofereceram resistência à
conquista militar empreendida pelo povo Tenson. Entre elas, a
história registra os grupos Yasotakeru, Nagasunehiko, Kawakami
Takeru, Kumaso, além de outros.

Como, porém, o exército do imperador Tenson era mais


avançado em equipamentos e armas de guerra, a maioria das
regiões foi conquistada e o povo submeteu-se ao novo governo.

Algumas tribos, contudo, até hoje ainda resistem à


dominação e continuam fugindo, vivendo isoladas, sem participar
da sociedade.

Considerando, então, todos esses aspectos, o povo


japonês apresenta quatro ramos distintos: o grupo Yamato, raça
pura, que seguia o imperador Amaterassu; o Tenson, da linha de
Minigui-no-Mikoto; o Izumo, da estirpe de Susanoo-no-Mikoto, e
as quatro tribos nativas.

A linha do povo primitivo veio de uma região chamada


Kokasasu. Atravessando a Mongólia, Manchúria e Coréia do
Norte, chegou à península do Aomori, ao norte do Japão, e foi
penetrando, pouco a pouco, no país, até chegar em Kinki (região
de Kyoto, Osaka). Não existem sinais de que tenham ido mais
além.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Dentro dessa linhagem primitiva, existem duas


manifestações culturais distintas, conforme comprovam os
diversos objetos de pedra e cerâmica, descobertos pelas
diversas escavações realizadas atualmente em todas as partes
do Japão: uma é a dos nativos (4 tribos) e outra, a do povo
Yamato, cujo estilo, denominado Yayoi, na arte de fabricar
cerâmicas, é muito evoluído.

2 – DISPUTAS PELO PODER

Conforme já falei, quem conseguiu dominar e governar o


Japão foi o povo Tenson, cujo poder se estendeu até o fim da
Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, durante esse longo
período, de vez em quando, aparecia um dirigente de origem
pura, como, por exemplo, o imperador Nintoku, a imperatriz
Komyo e o imperador Komyo. Por sua vez, a linha de Susanoo-
no-Mikoto continuou lutando de todas as formas possíveis para
reconquistar o poder. Então, sempre houve uma guerra
persistente (o Nanbokucho) (1336 a 1392) entre o governo do
Norte (hokucho), liderado pelo povo Tenson, e o do Sul
(Nancho), chefiado por Izumo. Portanto, a disputa entre essas
duas linhas foi tecendo, no correr dos séculos, a história do povo
japonês.

Como uma primeira conclusão, pode-se afirmar, que, para


entender todas as particularidades da verdadeira história do
Japão, é necessário conhecer esse princípio básico de disputa
que sempre caracterizou a sociedade japonesa.

3 – O GOVERNO TOKUGAWA

Uma das últimas manifestações de luta pelo poder foi a da


era Tokugawa ou política do Shogun (como é conhecida no
Ocidente, ou Bakufu, no Japão). Neste caso, quem venceu foi a
família Tokugawa, que dominou durante 264 anos (de 1603 a

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

1867), com sede em Tóquio, embora o imperador continuasse


em Kyoto.

Sobre o verdadeiro objetivo da política do Shogun, não há


necessidade de falar. Ela simplesmente assume o poder que
deveria ter ficado nas mãos do imperador.

O primeiro governante desse período foi Ieyasu


Tokugawa. Muito esperto, evitou a realização imediata de suas
pretensões, procurando elaborar antes um plano estratégico bem
fundamentado, tentando prolongá-lo o maior número de anos
possível, para não colocar a opinião pública contra ele.

Assim, ao longo do período de domínio, adotou meios que


fizessem o povo esquecer a presença do imperador. Sob este
aspecto, dá para perceber a perspicácia da inteligência de
Ieyasu.

Entre as medidas tomadas por ele, uma foi a diminuição


drástica das despesas com a família imperial. Passou a dar-lhes
apenas 10.000 goku de arroz, quantia equivalente a 300.000
sacas anuais. Era, de fato, uma quantia irrisória. E, ainda, para
completar, nem isso, às vezes, oferecia.

Na verdade, Tokugawa deixou o imperador na miséria.


Para comprovar esse fato, basta lembrar que a família dele,
governante, recebia, no mesmo período, oito milhões de goku de
arroz.

Nessa época, quase sempre, o príncipe e futuro imperador


Meiji, que tinha, mais ou menos, sete anos, não podia, devido à
escassez de alimentos a que sua família fora submetida, tomar
um lanche. Então, o dono da Toraya, uma famosa loja de doces
do Japão, sentia muita pena dele e ofertava-lhe doces à vontade.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Mais tarde, quando se tornou imperador (1868 a 1910),


uma de suas primeiras determinações foi chamar o dono da
Toraya e dar-lhe a concessão, em caráter irrevogável, do serviço
do palácio, bem como de toda a aristocracia, em agradecimento
pela profunda fidelidade ao príncipe, na época da crise imposta
pelo governo inimigo. Ainda hoje, a loja Toraya abastece o
palácio imperial.

De fato, nesse período de despotismo, toda a aristocracia


enfrentou sérias dificuldades, sendo obrigada a fazer serviços
extras para sobreviver.

No final do regime, a situação da família Tokugawa e dos


feudais que lhe eram fiéis também não ficou muito diferente no
que diz respeito à vida de restrições enfrentada pelos
aristocratas. Eles, que constantemente se orgulhavam da riqueza
e do luxo, passaram a ter sérios problemas para se manter e
oferecer sustento aos feudais pertencentes ao mesmo ramo
familiar.

Assim, a maioria deles não teve outra alternativa senão


pedir dinheiro emprestado a grandes e ricos comerciantes,
oriundos do povo; dando, em troca, objetos valiosos ou de arte.
São famosos os nomes de Tatsugoro, Yodaya e Zenemon
Koonoike, por terem socorrido os Tokugawa.

Consta que até hoje a família de Koonoike tem um cofre


do tamanho de 10 casas, onde estão guardados inúmeros
objetos preciosos que muitos aristocratas feudais deram em
garantia das compras efetuadas. Por esse fato, dá para concluir
que os servidores de Tokugawa ficaram também extremamente
empobrecidos. Muitos deles precisaram trabalhar até em outro
emprego para sobreviver. Entretanto, apesar dessa situação
calamitosa, alguns não perderam a importância. Daí o
surgimento de um dito popular que expressa muito bem a

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

atmosfera da época: “Samurai usa orgulhosamente o palito,


mesmo sem comer”.

4 – CAUSA DO ENFRAQUECIMENTO DE TOKUGAWA

Mas, afinal, qual foi a causa do enfraquecimento de


Tokugawa?

Foi mais ou menos semelhante ao que ocorre hoje com os


países: dificuldades financeiras.

Na época, a única fonte de renda dos Tokugawa era a


produção de ouro, que drasticamente começou a cair,
especialmente quando as minas da ilha de Sado, que pertenciam
à família Tokugawa, acabaram.

Mas é bom lembrar que não só a era Shogun se


aproveitou da exploração das minas. Desde antigamente, quem
assumisse o governo, sem exceção, se detinha no comércio de
ouro. Assim foi com Yoritomo Minamoto (1190 a 1199), que
chegou a escravizar um especialista famoso chamado Kitiji
Kamahori que tinha sido discípulo de Yoshitsune, a fim de
procurar e achar minas do tão precioso metal.

Mais tarde, a mesma história se repete com outro famoso


governante de nome Hideyoshi Toyotomi, que também ficou
famoso pelos esforços concentrados na busca de ouro.

A seguir, como já vimos, aparece Ieyasu Tokugawa que


não foi diferente e concentrou inúmeros esforços para encontrar
ouro. Contratou um dos especialistas mais habilidosos da época
na descoberta de minas, chamado Yuwamimori Ookubo. Atribuiu-
lhe um cargo de grande importância, mandando-o à procura do
valioso metal pelo Japão inteiro. Assim foram descobertas duas
grandes minas: a de Izu e a de Oohito, que possuíam ouro de
excelente qualidade e em abundância. Juntamente com a mina
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

de Sado, atingiram uma produção fabulosa que permitiu até a


construção do Templo Toshogu, onde foi empregada grande
quantidade de ouro, resultante de um projeto elaborado por
Iemitsu (neto de Ieyasu Tokugawa).

Por esses fatos, pode-se perceber como era estável a


parte financeira do governo Tokugawa. Por outro lado, dava-se
muita importância ao Kanjoobugyo (Ministério da Fazenda).
Sempre foi colocado nesse cargo um profissional competente
para administrá-lo.

Apesar de tudo isso, como já lhes falei anteriormente,


quando o período Tokugawa estava chegando ao fim, a produção
de ouro começou a diminuir drasticamente, com a falência das
minas de Oohito e Sado. Portanto, não tenho dúvidas de que a
decadência financeira do governo foi a causa fundamental do
desmoronamento do poder dominante.

É certo também que, nessa mesma época, surgiram


muitos militantes contrários ao regime de Tokugawa, querendo
derrubá-lo. Foi, então, que dois feudos, Satsuma e Tyoshu, se
revoltaram, realizando, muito antes que o povo imaginasse, o
grandioso renascimento do reino, com a revalorização da família
imperial.

Mas a causa principal da derrocada de Tokugawa, com


certeza, foram as dificuldades financeiras que, por sua vez,
constituíram a base de todo o processo de transformação,
através do qual o imperador retoma a sua autoridade de fato,
promulgando uma constituição que gerou grandes mudanças em
todas as áreas sociais. Dessa forma, estabeleceu-se no país a
monarquia sólida de que todos têm conhecimento.

Finalmente, após a vitória em duas grandes guerras


(contra a China e Rússia) fortaleceu-se ainda mais o poder real e
o Japão entrou para o Primeiro Mundo, tornando-se um país
19
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

forte, com um império bem estruturado, mesmo que visto


subjetivamente.

5 – MUDANÇAS NO MUNDO ESPIRITUAL

A partir de agora, já posso explicar o processo de


mudança ocorrido no Mundo Espiritual.

Susanoo-no-Mikoto, mesmo tendo perdido o poder,


continua usando de todos os subterfúgios para reconquistá-lo,
sem, contudo, revelar as suas intenções mais profundas. Por sua
vez, também o imperador Jinmu vem planejando e, pouco a
pouco, manifestando mais abertamente o seu objetivo. O que já
se concretizou no Mundo Material foram os fatos ocorridos a
partir do governo Fujiwara (889 a 1184), quando começam os
conflitos pela conquista do domínio do país, entre as duas linhas:
a chinesa (Tenson) e a coreana (Izumo) através dos seus
representantes: Dokyo e Wakeno Kiyomaru; Kiyomori e
Shiguemori; Tokihiri e Michizane; Tokiuji e Masashigue e, a
seguir, a época Tokugawa, da qual já falei.

Há, porém, ainda, um ponto fundamental que ninguém


percebe e sobre o qual vou falar agora.

A linha do Izumo, embora tivesse lutado durante dois mil


anos, não conseguiu atingir seu objetivo. Então resolveu mudar a
estratégia. Dando uma guinada de cento e oitenta graus,
abandonou as armas e procurou, por meio da religião, conquistar
o poder. Utilizou-se dos vários ramos do Xintoísmo, com épocas
e fundadores diferentes, tais como: Tenrikyo, Oomotokyo,
Konkoukyo, Myoreikyo e Kurozumikyo, cada um deles com
planos muito bem elaborados. No Budismo, a linha Izumo serviu-
se do ramo Nichiren que hoje é, no Japão, uma potência1.

1Já conta com 30 deputados no parlamento e um jornal com duas tiragens diárias, de
aproximadamente quatro milhões de exemplares, além de ser um partido político fortíssimo.
20
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Dentre todos esses grupos religiosos, o que conseguiu


melhores resultados foi o Tenrikyo, cujos ensinamentos,
chamados Ofudesaki e Okagura (ambos psicografados)
manifestam explicitamente a intenção de conquista.

Também uma parte importante desses escritos fala muito


claro que o imperador do Japão é de origem chinesa. Num dos
trechos do Okagura está escrito assim: “a verdadeira coluna do
monte alto é chinesa. Esta é a ira principal de Deus”. Essa
passagem significa o seguinte: o imperador é “a verdadeira
coluna do monte alto.” O deus irado, nem precisa dizer, é
Susanoo-no-Mikoto.

Outros poemas da Doutrina Tenrikyo referem-se à maioria


dos funcionários do governo como sendo de linha chinesa.

Um tempo atrás, eu vi esse mesmo assunto referente ao


imperador publicado abertamente no livro de Aijiro Oonishi,
fundador do Templo Tenrihondo, sediado em Osaka, cuja
doutrina se expande rapidamente. Por causa dessa divulgação,
Aijiro ficou preso durante quatro anos.

Também os ensinamentos da Oomoto, no livro Ofudesaki,


psicografado pela fundadora, têm idêntico sentido de crítica ao
imperador, achando ser ele de origem chinesa. Por essa razão,
conforme se sabe por notícias de jornal, a igreja foi perseguida
de 1922 a 19352.

A Oomoto, na verdade, passou a constituir uma espécie


de exército em oposição ao imperador e, por isso, recebeu um
ataque fatal. Já a Tenrikyo escondeu os ensinamentos que
comentam tais assuntos e criou uma nova doutrina sem
referências à origem da monarquia japonesa; por isso cresceu e

2No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, a sede do Templo foi dinamitada e totalmente
arrasada. É interessante notar que essa data corresponde ao primeiro dia do Sol no Mundo
Espiritual. Foi também em 8 de dezembro de 1941 que o Japão declarou guerra aos Estados
Unidos.
21
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

se expandiu bastante. Atitude habilidosa e inteligente do


dirigente!

Sobre os demais ramos, não vou falar nada porque


constituem pequenos grupos pouco influentes.

No Budismo, a linha Nichiren foi a que causou maiores


problemas. Entre os seus seguidores, há um grupo
tremendamente agressivo que penetrou no âmago do Exército
Japonês e provocou dois grandes incidentes: o de 15/05/32 e o
de 26/02/36. Com essas duas tentativas, os militantes favoráveis
a Nichiren tinham a intenção de retomar o governo através de um
golpe militar.

Quando se analisa do ponto de vista espiritual o incidente


de 26/02/36, percebem-se causas muito mais profundas, sobre
as quais ainda não posso falar porque não é chegado o tempo
propício.

22
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

TERCEIRA PARTE - A

Conforme já escrevi, o povo japonês origina-se de quatro


grupos distintos. Um deles corresponde ao tronco Yamato, gente
originalmente pacifista que sempre demonstrou aversão a lutas.
Por isso, na época, possuía um governo tranqüilo e harmonioso.
Levava uma vida cheia de alegria e felicidade, embora contasse
com poucos recursos e uma cultura bem primitiva.

Então, durante muitos anos, o povo Yamato viveu


pacatamente, sem preocupação alguma com invasões. Assim, o
sonho de paz foi alimentado por um longo período de tempo,
tendo, porém, sido desfeito repentinamente com a chegada de
Susanoo-no-Mikoto. Com isso, o ambiente social sofreu completa
modificação, e assim permaneceu centenas de anos,
enfrentando conflitos, até chegar o final do governo do imperador
Jinmu. Depois foi estabelecido um ambiente de paz, mais sereno,
embora, bem no fundo, a sociedade sentisse a existência de
duas correntes diversificadas; havia, portanto, um clima de
intranqüilidade e estranheza.

A partir daí, à medida que a população aumentava, foi


iniciado um sistema de vida mais sistematizado, com instituições
definidas em todas as áreas. Até o próprio governo passou a
exigir o chamado “tributo de produção”, um tipo de imposto pago
com a parte proporcional dos produtos conseguidos por cada
pessoa. Há, inclusive, dessa época, um famoso poema do
imperador Nintoko que define bem a situação:

Ao lugar mais alto


subindo, vejo fumaça saindo.
O forno da casa do povo em atividade.

Na verdade, através desse poema, pode-se perceber que


o povo tinha o que comer, mas não era tão afortunado quanto se
imaginava. Então, o imperador resolveu abaixar os impostos.
23
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

O povo continuou vivendo um período de calma (de mais


ou menos mil anos), embora nada de extraordinário tivesse
acontecido na vida social dos japoneses. A partir dessa época,
entretanto, aconteceu uma grande revolução. Com a chegada do
Budismo, no ano 538 d.C., durante o império de Kinmei, teve
início uma cultura fantástica, influenciada pela arte búdica e por
todas as outras manifestações de conhecimentos com as quais o
budismo estava envolvido.

Depois veio o tempo do imperador Suiko; a seguir, três


outros períodos distintos, com vários imperadores cada um, a
saber: Assuka, Tempyo e Hakuhoo. Nessa época floresceu uma
cultura magnífica, com manifestações grandiosas em todos os
níveis. O príncipe Shotoku, por exemplo, construiu o Templo
Horyu, obra genial de arquitetura, seguindo os modelos da Índia.
Mais tarde, foi edificado o Templo Todai, do Grande Buda, cuja
estrutura revela a grandiosidade da arte do budismo, admirada
pelo mundo inteiro.

Analisando todos esses fatos, pode-se perceber, através


deles, como foi exemplar o passado do povo Yamato. A começar
pelo príncipe Shotoku, que foi um grande homem e amante da
paz.

Em seguida, veio a época do Fujiwara (930 a 1196 d.C.).


Nesse tempo, começam a brotar as sementes dos conflitos entre
as duas linhas, a Tenson (chinesa) e a Izumo (coreana). O povo
começou a perceber que estava sendo iniciado um período de
guerras. O grupo Yamato, contudo, sempre contrário a
discórdias, voltou-se para a literatura, tendo então surgido alguns
livros famosos: Guenji Monogatari (História do Guenji),
Tsurezuregusa, Makura no Sooshi, Isse Monogatari (História do
Isse), além de outros. Algum tempo depois, aparecem dois livros
de poesia: Mani-o-Shu e Kokin-Shu. Todos eles constituem uma
literatura tipicamente japonesa.

24
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

A partir dessa época, começaram a surgir outros literatos:


Murasaki Shikibu, Kenkoo, Hitomaro, Saigyo, Basho, etc.

Também são desse período alguns calígrafos famosos,


que se notabilizaram na Arte da Letra. Entre eles, Tsurayuki,
Doofu e Yukinari.

Entretanto, a maior tendência artística do povo Yamato


está representada pelas Artes Plásticas, que também começou a
manifestar-se com maior intensidade no período Fujiwara, sob a
influência do budismo. Assim, então, podem ser citados: na
pintura, Tyohodenshi, Kozeno Kanaoka, Tobasojo e outros; na
escultura, Kuukai, Gyoki; na técnica do Sharon (Makie), muitos
autores anônimos, surgidos desde a época Tempyo. Além disso,
é uma arte peculiar do Japão; não existem representantes no
exterior, o que pode ser considerado motivo de orgulho para o
país.

É importante, ainda, não esquecer os artistas mais


notáveis que contribuíram para o enriquecimento da arte
japonesa. Entre eles, está Yoshimitsu Ashikaga, Yoshimasa
Ashikaga. Foram eles que construíram o Templo dourado
Kinkaku e o prateado Ginkaku. Além disso, ambos importaram
muitas obras de arte chinesa, nesse período, especialmente as
famosas pinturas da Dinastia Song e Yuan. Não só escolheram
obras excelentes, como também empreenderam grandes
esforços para conservá-las. Por isso, até hoje podem ser
apreciadas na coleção Higashiyama Gyobutsu.

A maioria dos objetos de arte importados da China está


atualmente tombada como tesouro nacional. Daí pode-se
constatar o grande valor desses dois artistas importadores e a
contribuição inestimável deles para o enriquecimento do
patrimônio cultural japonês.

Pode-se também afirmar que os modelos chineses


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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

serviram de base à pintura japonesa e, por outro lado, deram


origem à Escola Kanoo, em cujo estilo predomina o dom artístico
do povo Yamato.

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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

TERCEIRA PARTE - B

1 - ÉPOCA KAMAKURA (1192 A 1333)

Quando teve início esta fase, a escultura, que já havia


começado a desenvolver-se, atingiu um alto nível de perfeição,
principalmente as que foram influenciadas pela arte do budismo.

Apareceu, então, um famoso escultor, Unkei, grande


mestre da época. Aconteceu, porém, que as guerras se
intensificaram e o lado da cultura pacífica foi ficando adormecido.

Depois de certo tempo, contudo, um grande político,


Hideyoshi Toyotomi (1585), conseguiu pacificar o Japão e, de
repente, passou a existir um ambiente de alegria e felicidade e as
artes afloraram novamente.

2 - ÉPOCA MOMOYAMA

Pode-se dizer que esta época, de uma forma mais ou


menos misteriosa, coincidiu com a Renascença européia. Neste
período, surgiram, como nuvens no céu, muitos mestres e
grandes homens na área cultural. Por exemplo, na pintura,
Sotatsu, com uma técnica própria, individual, criativa; no Makie
(arte do Sharon), o artista mais famoso desta época foi Koetsu,
que também se notabilizou como ceramista e calígrafo (arte da
letra); na cerimônia do chá, Rikyn; na construção de jardins e
arranjos florais, salientaram-se alguns artistas, tendo sido Kobori
Enchu um dos mais famosos.

3- ÉPOCA GUENROKU

Passados, mais ou menos, duzentos (200) anos, chegou a


época Guenroku caracterizada por um ambiente de muita paz e
suntuosidade. Nesta fase, surgiram dois grandes nomes na
pintura, os irmãos Korin e Kenzan.
27
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

Bem mais recentemente, apareceram outros dois famosos


pintores a quem não posso deixar de fazer referência. São eles
Hooitsu e Seihou que fizeram ressurgir o estilo artístico da Era
Momoyama, criando obras que até hoje deslumbram os
apreciadores.

4 - OS CERAMISTAS

A produção de cerâmica começou a desenvolver-se no


Japão, na época Kamakura. Foram construídos fornos nas
regiões de Seto no Obari e Arita no Kyushu, além de outros. Mais
tarde, a atividade dos ceramistas passou também a ser
desenvolvida em Kyoto, onde obras famosas foram deixadas por
um artista notável chamado Ninsei. Também não pode ser
esquecido Chojirou, o fundador do Raku Yaki, um estilo de
trabalho em cerâmica criado a partir de modelos coreanos.

Além do que já citei, quase nada mais existe para ser


destacado. É necessário, ainda, lembrar o nome de um grande
catalogador, Fumaiko Matsudaira, que contribuiu enormemente
para o surgimento de coleções organizadas de objetos raros de
cerâmica.

5 - OUTROS ARTISTAS

Há ainda outros artistas também importantes, mas sobre


os quais não vou falar, porque o objetivo principal deste artigo é
um estudo sobre o povo Yamato. Daí propositadamente eu ter
evitado referências às manifestações artísticas de origem
chinesa. Só escrevi, portanto, sobre aspectos culturais típicos do
Japão.

6 - OS POVOS TENSON E IZUMO

A seguir, eu deveria também falar sobre o povo Tenson e


Izumo, mas os omiti porque são fatos muito conhecidos através
28
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

da História. Não preciso, pois, dizer que os militares e os


generais famosos originaram-se, quase todos, desses dois
povos.

Na linha Tenson, entretanto, surgiram também alguns


eruditos e escritores, mas, de modo especial, ligados à cultura
chinesa. É interessante notar a existência, entre os seguidores
do imperador, de vários intelectuais que contribuíram
grandemente para o fortalecimento do reinado. Tal fato ajudou
muito na salvação do povo Tenson, que vivia sob a pressão do
grupo Izumo.

Numa atitude oposta aos estudiosos da cultura chinesa, o


povo Yamato seguiu uma tendência artística própria, peculiar,
mais voltada para a literatura. Como resultado, deixaram uma
contribuição marcante, especialmente com poemas em estilo
waka e outras obras em hiragana, uma escrita
caracteristicamente japonesa, criada por eles. Despertaram,
contudo, pouca atenção, porque não constituíram presença
marcante na guerra à qual mantinham total aversão. Deve,
entretanto, ficar bem claro que, apesar de não serem pessoas
voltadas a lutas, os últimos governantes desta fase, o imperador
Nintoku, imperatriz Komyo e o imperador Komyo, pertenceram à
linha Yamato.

7 - OS NATIVOS

A seguir, falarei sobre os nativos, os mais distantes


ancestrais dos japoneses, que foram conquistados pelo
imperador Jinmu e, por isso, esse povo, ainda hoje, conserva o
sentimento de rancor. Dessa linha, originaram-se os comunistas
do Japão, os quais, antes do término da Segunda Guerra,
cultivavam grande antipatia ao imperador. Essa atitude tem
origem no antigo carma oriundo das guerras de conquista. Nessa
época, era também muito clara a hostilidade deles ao imperador,
aos militares e aos burocratas do governo. Aparentemente
29
A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

parece uma atitude estranha essa forma de fidelidade a outro


país, embora vivendo no Japão e comendo do mesmo arroz de
seus compatriotas. Quando, porém, a linha espiritual, da alma, se
torna conhecida, dá para entender claramente o motivo de se
manterem fiéis à Rússia, onde, na verdade, está a origem desse
povo nativo.

De acordo com o mesmo raciocínio, fundamentado na


linha espiritual para estabelecer a formação do povo japonês, dá
para entender o porquê de uma parte ser extremamente fiel ao
imperador, enquanto outra não nutre simpatia alguma por ele,
nem admite qualquer espécie de ligação. É que, de fato, a
primeira corrente (fiel) tem origem no povo Tenson; a segunda
(contrária) pertence ao Izumo.

8 - DIFERENÇA ENTRE AS LINHAS SANGUÍNEA E


ESPIRITUAL

De uma maneira geral, as pessoas não vêem diferença


alguma entre ambas, mas não é bem assim. A linha espiritual
refere-se à ligação entre as almas e permanece eternamente. Já
o lado sangüíneo está sempre mudando, devido ao contato que
se estabelece entre as raças. Então, mesmo sendo um povo
nascido no Japão, não se sabe quais sangues se misturaram.
Não é, porém, uma atitude condenável esse inter-
relacionamento, uma vez que gera personalidades diferentes e
mais fortes, dando, ao mesmo tempo, origem a pessoas com
inteligência bastante aguçada. Na verdade, a mistura de sangue
significa o acúmulo tanto de experiências, como das diversas
dificuldades com as quais os seres humanos devem entrar em
contato no decorrer das várias existências. Por isso, com base
nessa fundamentação, embora muita gente afirme que sangue
puro é importante, eu não concordo.

Pela mesma razão anterior, também acho que o parceiro


do casamento deve pertencer a uma linha sanguínea diferente e,
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A formação do povo japonês do ponto de vista espiritual

quanto mais distante, melhor; por isso, não aconselho uniões


entre membros de uma mesma família. Observem que nas
Américas, por exemplo, há um grande número de pessoas
excelentes. Esse fato tem origem na mistura de sangue bastante
acentuada nessas regiões, bem mais do que no Oriente.

9 - O EXEMPLO DO TEAR

Para ficar ainda mais clara a diferença entre as linhas


sanguínea e espiritual, vou citar o exemplo do tear. Para tecer o
pano, são necessários fios verticais que não mudam,
permanecem firmes e retos durante todo o processo de
tecelagem. Esse fato corresponde, na vida humana, à parte da
alma que continua sempre a mesma, formando a linhagem
espiritual. Por outro lado, os fios horizontais se movimentam da
esquerda para a direita, dando origem à trama da qual surgirá o
tecido, com várias nuances de cor. Estes segundos fios
representam a genealogia sanguínea.

10 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA CORRESPONDENTE A


CADA UM DOS QUATRO GRUPOS

Agora vou falar sobre a porcentagem representativa


destes quatro grupos: Tenson, Izumo, Yamato e nativos.

O maior número é composto pelo povo Tenson (chinês),


seguido do Izumo (coreano). Há ainda um reduzidíssimo grupo
formado pelos cáucasos (nativos). O menor de todos, entretanto,
é o representado pelo povo Yamato. Eu calculo que corresponda
a um por cento (1%) do total dos habitantes do Japão.

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