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ARTIGO TÉCNICO

ACÚMULO DE ÁCIDOS GRAXOS VOLÁTEIS (AGVS) EM REATORES


ANAERÓBIOS SOB ESTRESSE: CAUSAS E ESTRATÉGIAS DE CONTROLE

BUILD UP OF VOLATILE FATTY ACIDS (VFA) IN ANAEROBIC REACTORS


UNDER STRESS CONDITIONS: CAUSES AND CONTROL STRATEGIES

SÉRGIO F. DE AQUINO
Doutor (Imperial College London). Bolsista Pós-Doc do CNPq no Departamento de Eng. Sanitária e Ambiental
(DESA) - Escola de Engenharia da UFMG

CARLOS A. L. CHERNICHARO
Doutor (University of Newcastle). Professor Adjunto IV no Departamento de Eng. Sanitária e Ambiental
(DESA) – Escola de Engenharia da UFMG

Recebido: 22/09/04 Aceito: 23/02/05

RESUMO ABSTRACT
Este artigo apresenta uma visão integrada das principais causas This paper presents an integrated approach of the main reasons for
de acúmulo de ácidos graxos voláteis (AGVs) em reatores the accumulation of volatile fatty acids (VFAs) in anaerobic reactors.
anaeróbios. O acúmulo de acetato observado durante as condi- The build up of acetate during shock loads and/or stress conditions is
ções de choque de carga e/ou estresse ocorre provavelmente devi- likely to occur due to kinetic limitations of methanogenic
do às limitações cinéticas dos microrganismos metanogênicos, microrganisms, which is enhanced by pH reduction. Acumulation
que é acentuada com a redução do pH. O acúmulo de acetato e of acetate and hydrogen in the liquid phase will set the stage for the
hidrogênio na fase líquida pode, por sua vez, desencadear limita- accumulation of other VFAs, such as propionate and butyrate, due to
ções termodinâmicas e conseqüente acúmulo de propionato e thermodynamic inhibition. By mantaining the ideal growth
butirato. A manutenção de condições ideais de crescimento dos conditions for the methanogens it may be possible to reduce the
microrganismos metanogênicos é uma estratégia de controle para acetate build up, although it may not be effective in reducing the
reduzir o acúmulo de acetato, embora não seja efetiva em reduzir concentration of dissolved hydrogen so that thermodynamic
a concentração de hidrogênio dissolvida ao ponto em que não inhibition is avoided. The strategies to mitigate themodynamic
haja limitação sintrófica. As estratégias para mitigação das limita- inhibition could involve regulation of acetate by means of membrane
ções termodinâmicas poderiam envolver a regulação da concen- or resins, and spacial separation of microrganisms by granulation or
tração de acetato através do uso de resinas ou membranas, e a staging.
separação espacial de microrganismos através da granulação ou
tratamento em duas fases.

PALAVRAS-CHAVE: Tratamento anaeróbio, estabilidade do KEYWORDS: Anaerobic treatment, process stability, kinetics,
processo, cinética, termodinâmica, transferência de massa, dinâ- thermodynamics, mass transfer, population dynamics, nutrients
mica de população, deficiência nutricional. deficiency.

INTRODUÇÃO no Brasil devido as condições climáticas, anaérobios durante distúrbios, sejam eles
e de fato o país assume posição de van- devido a choques de carga orgânica e hi-
As diversas características favoráveis guarda no cenário mundial em relação à dráulica, a presença de compostos tóxi-
da tecnologia anaeróbia - baixa produção aceitação e disseminação de reatores cos ou a ausência de nutrientes, é um dos
de sólidos; baixo consumo de energia; anaeróbios, em especial dos reatores de aspectos mais importantes para o sucesso
baixos custos de implantação e operação; manta de lodo. operacional de sistemas de tratamento de
tolerância a elevadas cargas orgânicas; e As principais desvantagens da esgoto. A resposta às condições de insta-
possibilidade de operação com elevados tecnologia anaeróbia são relacionadas à bilidade é considerada por muitos o “Cal-
tempos de retenção de sólidos e baixos remoção de nutrientes (nitrogênio e fós- canhar de Aquiles” da digestão anaeróbia,
tempos de detenção hidráulica, conferem foro) e patógenos; ao fato da demanda o que contribui para a generalização e di-
aos reatores anaeróbios um grande po- química de oxigênio (DQO) residual ser, fusão de preconceitos em relação ao pro-
tencial de aplicabilidade no tratamento na maioria dos casos, elevada para aten- cesso, e prejudica o uso disseminado de
de águas residuárias concentradas e dilu- der os estritos limites de emissão estabele- uma tecnologia viável, sustentável eco-
ídas (Chernicharo, 1997). O uso dessa cidos na legislação ambiental; e à maior nômica e ecologicamente.
tecnologia para o tratamento de esgotos instabilidade dos reatores anaeróbios. Em O sucesso para lidar com distúrbios
domésticos torna-se ainda mais atrativo particular, a estabilidade de reatores e desequilíbrios em reatores anaeróbios

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Acúmulo de ácidos graxos voláteis em reatores anaeróbios sob estresse

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depende principalmente da identificação
das causas do problema e dos fatores que
limitam os processos metabólicos envol-
vidos, e isso só será efetivamente conse-
guido a partir do entendimento dos fe-
nômenos físico-químico-biológicos que
governam o tratamento anaeróbio. So-
mente a compreensão detalhada dos fun-
damentos do processo anaeróbio permi-
tirá a identificação das causas de eventu-
ais distúrbios, suas consequências a mé-
dio e longo prazo, bem como a adoção
das corretas medidas de controle e pre-
venção. O objetivo desse artigo é discutir
os fundamentos teóricos da digestão Figura 1 – Esquema da digestão anaerobia de matéria orgânica complexa,
anaeróbia, apontar aspectos que limitam adaptado de Gujer e Zehnder (1983)
os complexos processos metabólicos en-
volvidos e que conduzem à maximização mo tempo utilizado como aceptor e doa- Do ponto de vista de engenharia é
da capacidade do sistema, e apontar os dor de elétrons, ou seja, uma parte do melhor que a reciclagem de NADH seja
fatores mais importantes que precisam ser composto orgânico poluente é oxidada feita por microorganismos que têm a ca-
considerados na operação e controle de enquanto outra parte é reduzida. A fer- pacidade de reduzir prótons, produzin-
reatores anaeróbios durante condições de mentação de 1 mol de glicose por esse do consequentemente hidrogênio que é
instabilidade. processo produz 2 moles de ácido um gás de baixa solubilidade em água e
pirúvico (Figura 2), e como o ácido alto valor energético. Isso porque a cana-
FUNDAMENTOS DO pirúvico é um composto mais oxidado lização de elétrons para a formação de hi-
TRATAMENTO que a glicose, a sua formação envolve a drogênio diminuiria a formação de pro-
ANAERÓBIO geração de 2 moles de NADH, que é a dutos mais reduzidos que acetato
forma reduzida do transportador de elé- (propionato, etanol, butirato) solúveis em
O tratamento anaeróbio envolve trons (NAD+) mais comum na degrada- água, que além de contribuirem para a
processos metabólicos complexos, que ção de carboidratos. Como há quantida- DQO no efluente não seriam substratos
ocorrem em etapas sequenciais (Figura 1), de limitada de NAD+ dentro das células, diretos da metanogênese. Por outro lado,
e que dependem da atividade de no mí- o microorganismo precisa re-oxidar e como será discutido em detalhes adiante,
nimo três grupos de microrganismos dis- reciclar o transportador de elétrons se li- a acumulação de hidrogênio na fase dissol-
tintos: i) bactérias fermentativas (ou vrando dos 2 elétrons presentes na molé- vida pode levar à inibição termodinâmica
acidogênicas), ii) bactérias sintróficas (ou cula de NADH. Microorganismos aeró- de importantes conversões metabólicas.
acetogênicas) e iii) microorganismos bios fazem essa reciclagem transferindo Como exemplo, a reciclagem de NADH
metanogênicos. A maioria dos microrga- elétrons do NADH para o oxigênio, o via redução de prótons e produção de
nismos acidogênicos (grupo I, Figura 1) que leva a formação de água, enquanto hidrogênio é termodinamicamente des-
fermentam açúcares, amino-ácidos e áci- que microorganismos anaeróbios fermen- favorável (∆Go’>0) nas condições padrão
dos graxos resultantes da hidrólise da tativos transferem os elétrons do NADH (25 oC, 1 atm, 1 mol/L de reagentes), e é
matéria orgânica complexa, e produzem para a molécula de piruvato, levando à afetada pela concentração de hidrogênio
consequentemente ácidos orgânicos formação de vários compostos reduzidos dissolvido (Equação 1).
(principalmente acético, propiônico e (principalmente propionato, butirato, NADH + H+→NAD+ + H2 ∆Go = +18 kJ/mol
butírico), álcoois (etanol), cetonas (aceto- hidrogênio, etanol, propanol, formiato) (1)
na), dióxido de carbono e hidrogênio. a depender do tipo de microorganismo e Nesses casos em que a energia livre
Microrganismos fermentativos são os pri- das condições ambientais envolvidas pradrão é positiva, os processos metabóli-
meiros a atuar na etapa sequencial de de- (Rittmann e McCarty, 2001). cos só são termodinamicamente favorá-
gradação do substrato, e são os que mais
se beneficiam energeticamente (Tabela 1).
Por causa disso, bactérias acidogênicas
possuem baixo tempo mínimo de gera-
ção (~30 minutos) e as mais elevadas
taxas de crescimento do consórcio
microbiano. Desta forma, a etapa acido-
gênica só será limitante do processo se o
material a ser degradado não for facilmente
hidrolisado.
Como os microorganismos fermen-
tativos não dispõem, em condições
anaeróbias, de um aceptor final de elé-
trons (como oxigênio nos processos Figura 2 – Conversão de carboidrato (representado pela glicose)
aeróbios), o substrato orgânico é ao mes- a acetil coenzima A

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Aquino, S. F. & Chernicharo, C. A. L.
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veis (∆Go’< 0) nas condições ambientais ganismos sintróficos acetogênicos, e O fato de os microorganismos
se os produtos da reação são mantidos em consequentemente a produção de acetato a sintróficos terem que viver com uma li-
baixas concentrações, como pode ser de- partir de propionato e butirato, é termo- mitada quantidade de energia (~ 20 kJ/mol),
duzido da Equação 2. dinamicamente inibida pela presença de que é suficiente para a síntese de apenas
relativamente baixas concentrações de hi- 1/3 mol de ATP (Schink, 1997), talvez
(2) drogênio dissolvido e de acetato. explique as suas baixas taxas de cresci-
Microorganismos sintróficos aceto- mento (de Bok et al, 2004). Para efeito
Isso é de especial importância em gênicos convertem compostos orgânicos ilustrativo, uma bacteria aeróbia obteria
reatores anaeróbios durante choques de intermediários como propionato e aproximadamente 100 vezes mais ener-
carga orgânica, porque nessas condições butirato, em acetato, hidrogênio e gia durante a degradação completa de
de excesso de fonte de energia os dióxido de carbono (etapa II, Figura 1), 1 mol de glicose (Schink, 2002). Como
microorganismos acidogênicos, que são de e são assim denominados porque a exis- será discutido adiante, as baixas taxas de
rápido crescimento, produzirão mais hi- tência deles depende da atividade de crescimento de determinadas espécies do
drogênio (Tabela 1, equação 3), contri- microorganismos consumidores de hidro- consórcio microbiano contribuem para
buindo assim para o esgotamento da ca- gênio. A Tabela 1 (reações 6, 7, 8) mostra problemas relacionados à estabilidade de
pacidade de reciclagem de NADH. que as reações acetogênicas não são reatores anaeróbios, mas, por outro lado,
Mosey e McCarty (1983) sugeriram que termodinâmicamente favoráveis nas con- a baixa geração de lodo é uma das gran-
durante condições de excesso temporário dições padrão, entretanto elas ocorrem des vantagens da tecnologia anaeróbia.
de energia há formação de compostos or- naturalmente em reatores anaeróbios, e Por causa da baixa energia resultan-
gânicos mais reduzidos como forma al- isso é possível graças a interação de te das reações sintróficas, microorganismos
ternativa de disposição de elétrons, o que microorganismos acetogênicos e metano- acetogênicos são obrigatoriamente produ-
resulta em menor produção de hidrogê- gênicos, como ilustrado pela combinação tores de hidrogênio, uma vez que a forma
nio (Tabela 1, Equações 4 e 5). das reações 6, 9 e 10. A reação global mais ‘econômica’ de se livrar de elétrons e
Nos reatores anaeróbios, há dois (equação 12) mostra que a conversão de reciclar NAD+ é através da redução de
grandes problemas práticos associados à propionato na presença de microor- prótons (equação 1). Em outras palavras,
formação de proprionato, butirato e ou- ganismos metanogênicos é termodina- microorganismos acetogênicos ‘desperdi-
tros compostos mais reduzidos que o acetato. micamente favorável, entretanto resulta çam’ menos energia formando hidrogê-
O primeiro é que tais compostos não são em apenas 56,6 kJ/mol propionato. Essa nio ao invés de compostos orgânicos mais
substratos diretos dos microorganismos pequena quantidade de energia tem que reduzidos (ethanol, methanol...). Como
metanogênicos, ou seja, a estabilidade de ser dividida entre as três espécies de o ∆Go’ das reações acetogênicas é positi-
reatores anaeróbios passa a depender não microorganismos envolvidas, i.e. aceto- vo nas condições padrão, as reações
somente da boa atividade dos microor- gênico (reação 6), metanogênico aceto- acetogênicas só ocorrerão se a concentra-
ganismos produtores de metano, mas tam- clástico (reação 9) e metanogênico ção de produtos (hidrogênio e acetato)
bém dos microorganismos sintróficos. hidrogenotrófico (Equação 10). for mantida em baixas concentrações pe-
O segundo é que a atividade de microor- los microorganismos consumidores de

Tabela 1 – Comparação energética de algumas reações comuns na degradação anaeróbia

Etapa Reação ∆Go' Eq.


Acidogênese C6H12O6 + 2H2Ο → 2CH3COO + 2CO2 + 2H + 4H2
- +
-206 kJ/reação 3
(1) g lic o s e a c e ta to
C 6H 12O 6 + 2 H 2→ 2 C H 3C H 2C O O - + 2 H 2O + 2 H + -358 kJ/reação 4
g lic o s e propionato
C 6H 12O 6 → C H 3C H 2C H 2C O O - + 2 C O 2 + H + + 2 H 2 -255 kJ/reação 5
g lic o s e b u tir a to
Acetogênese CH3CH2COO + 3H2O → CH3COO- + HCO3- + H+ + 3H2
-
+76,1 kJ/reação 6
( II) propionato a c e ta to
C H 3C H 2C O O - + 2 H C O 3- → C H 3C O O - + H + + 3 H C O O - +72,2 kJ/reação 7
propionato a c e ta to
C H 3C H 2C H 2C O O + 2 H 2O → 2 C H 3C O O - + H + + 2 H 2
-
+48,1 kJ/reação 8
b u tir a to a c e ta to
Metanogênese CH3COO + H2O → CH4 + HCO3
- -
-31 kJ/reação 9
( III) a c e ta to m e ta n o
H 2 + ¼ H C O 3- + ¼ H + → ¼ C H 4 + ¾ H 2O -33,9 kJ/reação 10
hidrogênio m e ta n o
H C O O + ¼ H 2O ¼ H → ¼ C H 4 + ¾ H C O 3-
- + +
-32,6 kJ/reação 11
fo r m ia to m e ta n o

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Acúmulo de ácidos graxos voláteis em reatores anaeróbios sob estresse

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CH3CH2COO- + 3H2O → CH3COO- + HCO3 - + H+ + 3H2 ∆Go'= +76,1 (6)
(propionato) ( a c e ta to )
C H 3C O O + H 2O → C H 4 + H C O 3-
-
∆Go'= -31 (9)
( a c e ta to ) ( m e ta n o )
3H2 + 0,75 HCO3- + 0,75 H+ → 0,75 CH4 + 2,25 H2O ∆Go'= -33,9 (x 3) = -101.7 (10)
hidrogênio) ( m e ta n o )
CH3CH2COO- + 1,75 H2O → 1,75 CH4 + 1,25 HCO3- + 0,25 H+ ∆Go'= - 56,6 kJ/reação (12)
(propionato) ( m e ta n o )

acetato e hidrogênio, como exemplificado as etapas acidogênica, acetogênica e acidogênicos e acetogênicos estariam ope-
na equação 12. Em sistemas de tratamento metanogênica ocorrerão em passos simi- rando abaixo da capacidade máxima
de esgoto, a remoção de hidrogênio da lares, de forma a haver uma equalização (Ks indica a concentração de substrato na
fase líquida é feita principalmente por nas taxas de produção e consumo dos qual os microorganismos estariam a 50%
microorganismos metanogênicos hidro- compostos intermediários. Nesses casos do seu crescimento máximo), sugerindo
genotróficos, mas também por bactérias não haverá acumulação significativa de que há capacidade de reserva e que, por-
redutoras de sulfato, enquanto que a re- ácidos graxos voláteis (AGVs) e o proces- tanto, a acumulação de propionato e
moção de acetato só é feita por um grupo so deveria operar próximo às condições butirato não deveria ser causada por limi-
de microorganismos que se multiplicam de equilíbrio dinâmico. Entretanto, essa tações cinéticas, desde que as condições
muito lentamente, os metanogênicos condição é raramente observada em esta- ótimas de crescimento sejam mantidas
acetoclásticos. ções de tratamento de esgoto, devido às nos reatores anaeróbios. Obviamente, os
Microorganismos metanogênicos variações na concentração, composição e microorganismos serão sub-aproveitados
acetoclásticos são os mais importantes do vazão do afluente, e às mudanças de con- se não lhes for dada condições ideais para
consórcio microbiano, porque a remoção dições ambientais (temperatura, ausên- crescer (pH na faixa ideal, presença de
de DQO da fase líquida depende da con- cia temporária de nutrientes, presença nutrientes, ausência de compostos tóxi-
versão de acetato, composto no qual são temporária de compostos tóxicos). cos), e se houver ainda problemas de di-
canalizados ~70% dos elétrons do A acumulação de AGVs, principal- fusão de substratos e produtos da solu-
substrato original (McCarty, 1971), em mente acetato, propionato e butirato, ção para ou do interior das células, o que
gás metano. Infelizmente esses microor- pode ocorrer em sistemas de tratamento é mais provável de ocorrer em reatores
ganismos são de lento crescimento, com em escala real como resultado da não ob- que empregam biofilme ou biomassa na
um tempo de geração mínimo de 2 a 3 servância das condições ideais de cresci- forma de grânulos. Os valores típicos de
dias (Mosey, 1983), e são extremamente mento ou da não observância de limita- Ks apresentados na Tabela 2 sugerem ain-
dependentes da manutenção de condi- ções cinéticas e termodinâmicas. É im- da que microorganismos metanogênicos
ções ótimas de crescimento. O metano portante salientar que a presença de AGVs acetoclásticos são facilmente saturados do
também pode ser produzido a partir de no efluente reflete uma condição de ins- ponto de vista cinético. Desta forma,
redução de dióxido de carbono (equação tabilidade, ao invés de uma deficiência durante condições de choque de carga
10) ou formiato (equação 11), por inerente da tecnologia anaeróbia. A acu- orgânica, onde a produção de acetato
microorganismos hidrogenotróficos. A mulação de acetato, propionato e butirato atinge valores elevados devido à maior
formação de metano por essa via também não deve ser encarada como inevitável, atividade acidogênica, é provável que a
é conhecida como respiração anaeróbia, mas sim como um sintoma de que uma acumulação de acetato ocorra devido à
porque nesse caso o oxigênio na forma ou mais etapas do consórcio anaérobio saturação dos microoganismos que fazem
combinada (CO2) é utilizado como está sendo prejudicada. Os principais fa- a conversão de acetato a metano. Ainda
aceptor de elétrons. Microorganismos tores que contribuem para a acumulação que baixos valores de Ks tenham sido
metanogênicos hidrogenotróficos são de de AGVs e que determinam o grau de reportados para microorganismos hidro-
rápido crescimento, com tempo de gera- estabilidade de reatores anaérobios genotróficos (Tabela 2), é provável que
ção mínimo de 6 horas (Mosey, 1983), e durantes condições de distúrbio são dis- esses microganismos redutores de gás
além de contribuirem para ~30% do cutidos a seguir. carbônico trabalhem aquém da capaci-
metano formado, a presença deles ajuda dade máxima, porque a concentração de
a manter baixas concentrações de hidro- Limitações cinéticas hidrogênio dissolvido e disponível é ge-
gênio dissolvido em reatores anaeróbios, ralmente baixa devido às limitações de
favorecendo assim a degradação de A Tabela 2 apresenta dados cinéticos transferência de massa (Giraldo-Gomez
propionato e butirato (Mosey, 1983; dos principais grupos microbianos que et al, 1992).
Harper e Pohland, 1986). participam do consórcio anaeróbio, po- Há alguns trabalhos na literatura,
dendo-se observar que as bactérias com esgotos domésticos e sintéticos, in-
DISTÚRBIOS fermentativas apresentam taxa de cresci- dicando que durante condições de cho-
TEMPORÁRIOS EM mento muito maior comparada aos ou- que de carga orgânica e/ou hidráulica, há
REATORES ANAERÓBIOS tros organismos do consórcio microbiano. um aumento no acúmulo de hidrogênio
Os valores de Ks, por sua vez, suge- no biogás (Hickey e Switzenbaum, 1991;
Em um reator estável, operado sob rem que em sistemas tratando esgoto do- Kidby e Nedwell, 1991; Pauss e Guiot,
condições ótimas de crescimento micro- méstico (DQO na faixa de 100 mg/L 1993; Cord-Ruwisch et al, 1997).
biano, e na ausência de fatores de estresse, a 500 mg/L) os microorganismos Voolapalli e Stuckey (1999) sugeriram

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Aquino, S. F. & Chernicharo, C. A. L.
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Tabela 2 – Resumo das constantes cinéticas para vários substratos durante tratamento anaeróbio mesofílico

Substrato Etapa k Ks µ m ax Y b
(gDQO/gSSV.d) ( m g D Q O / l) ( d -1) (gS S V /gD Q O ) ( d -1)
C a r b o id r a to s Acidogênica 1 ,3 3 a 7 0 ,6 2 2 ,5 a 6 3 0 7 ,2 a 3 0 0 ,1 4 a 0 ,1 7 6 ,1
Á c id o s d e O x id a çã o A n a e r ó b ia 0 ,7 7 a 6 ,6 7 105 a 3180 0 ,0 8 5 a 0 ,5 5 0 ,0 4 a 0 ,1 1 0 ,0 1 a 0 ,0 1 5
c a d e ia lo n g a
Á c id o s d e O x id a çã o A n a e r ó b ia 6 ,2 a 1 7 ,1 12 a 500 0 ,1 3 a 1 ,2 0 0 ,0 2 5 a 0 ,0 4 7 0 ,0 1 a 0 ,0 2 7
c a d e ia c u r ta
Acetato Metanogênica 2 ,6 a 1 1 ,6 11 a 421 0 ,0 8 a 0 ,7 0 ,0 1 a 0 ,0 5 4 0 ,0 4 a 0 ,0 3 7
Acetoclástica
H 2/ C O 2 Metanogênica 1 ,9 2 a 9 0 4 ,8 1 0 -5† a 0 ,6 0 ,0 5 a 4 ,0 7 0 ,0 1 7 a 0 ,0 4 5 0 ,0 8 8
Hidrogenotrófica
* Exceto acetato, † Valor da pressão (atm)
k – taxa máxima específica de utilização do substrato; Ks – constante de saturação ou constante de substrato para a qual ì = ½ ìµáx; ìmax – taxa
de crescimento específico máxima; Y – coeficiente de produção da biomassa; b – coeficiente de respiração endógena
Fonte: Pavlostathis e Giraldo-Gomez (1991).

que a acumulação de hidrogênio em rea- As diferenças cinéticas entre mi- ções de choque, ou seja, acumulação de
tores anaeróbios durante choques de car- croorganismos acidogênicos, aceto- AGVs e baixa produção de metano.
ga orgânica não ocorre devido a saturação gênicos e metanogênicos causará um
dos microorganismos hidrogenotróficos, desequilíbrio entre produção e consumo Limitações
mas sim devido a limitações de transfe- de produtos intermediários durante con- termodinâmicas
rência de hidrogênio dos microor- dições de choque de carga orgânica. Isso
ganismos produtores (acetogênicos) para quase inevitavelmente resultará na acu- Como discutido anteriormente, é
os consumidores (metanogênicos hidro- mulação de dióxido de carbono, hidro- provável que a acumulação de acetato em
genotróficos). Isso é um exemplo de que, gênio e acetato, e pode resultar ainda na reatores anaeróbios ocorra devido a limi-
ainda que as condições sejam ideais para acumulação de outros AGVs a depender tações cinéticas e a não observância das
o crescimento (pH, nutrientes), ainda que da intensidade do choque e das particu- condições ótimas de crescimento dos
cineticamente os microorganismos não laridades do sistema de tratamento em- microorganismos metanogênicos. Por
estejam saturados, e ainda que não haja pregado. A acumulação de dióxido de outro lado, a acumulação de propionato
nenhuma limitação termodinâmica, a carbono contribuirá para o aumento da e butirato não deveria ocorrer devido a
acumulação de compostos intermediári- concentração de ácido carbônico dissol- limitações cinéticas, uma vez que há ca-
os pode ocorrer devido a limitações de vido, aumentando assim a produção de pacidade de reserva. Devido ao fato das
transferência de massa. Recentemente, prótons (H+) no meio. A acumulação de reações acetogênicas operarem perto da
Pinho (2004) investigou o efeito do ta- hidrogênio, por outro lado, pode resultar condição de equilíbrio (DG próximo a
manho das biopartículas (suporte para em maior produção de ácidos orgânicos zero), elas são facilmente inibidas pelo
crescimento da biomassa) no acúmulo de mais reduzidos, principalmente acúmulo de produtos (acetato, hidrogê-
acetato e propionato em um reator propionato e butirato, cuja degradação é nio) no meio líquido, e, portanto, é mais
anaeróbio de batelada alimentado com inibida termodinamicamente pela presen- provável que o acúmulo de propionato e
esgoto sintético, e constatou que o ça de elevadas concentrações de acetato, butirato ocorra devido a limitações
acúmulo de acetato e propionato foi mai- hidrogênio dissolvido e talvez formiato. termodinâmicas. Entretanto, também é
or quando as biopartículas eram meno- A inibição dos microorganismos bastante provável que a não observância
res. Esses resultados contradizem a teoria sintróficos pela acumulação de produtos das condições ótimas de crescimento afe-
clássica de transferência de massa que su- acidogênicos levará a uma contínua acu- te significamente os microorganismos
gere uma proporcionalidade direta entre mulação de AGVs, o que contribuirá para acetogênicos, que de forma similar aos
a resistência à transferência e o tamanho o consumo de alcalinidade e decréscimo microorganismos metanogênicos, apre-
da biopartícula. Entretanto a contradi- do pH. Infelizmente a queda do pH afe- sentam baixas taxas de crescimento.
ção seria apenas aparente se o acúmulo de tará principalmente o crescimento de McCarty (1981) definiu grafica-
acetato e propionato tiver ocorrido por microorganismos metanogênicos e mente os limites termodinâmicos do hi-
limitações de outra natureza. Isso ilustra sintróficos, compondo o problema de drogênio para as reações acetogênicas (Fi-
o fato de que experimentos similares, fei- acumulação de AGVs e podendo levar à gura 3), e mostrou que a coexistência de
tos por diferentes grupos de pesquisa, falha do processo. De forma similar, a microorganimsos produtores e consumi-
podem produzir resultados aparentemen- ausência de nutrientes ou a presença de dores só é possível se a pressão parcial de
te conflitantes. Isso ocorrerá se não se con- compostos tóxicos afetará principalmen- hidrogênio for mantida na região em que
siderar, na interpretação dos resultados, te os microrganismos de lento crescimen- a energia livre de Gibbs (G) é negativa
uma análise integrada de fatores cinéticos, to, ou seja acetogênicos e metanogênicos para ambos organismos. Desta forma, a
termodinâmicos, nutricionais e de trans- acetoclásticos, resultando em sintomas si- oxidação de propionato só é termodi-
ferência de massa. milares aos observados durante as condi- namicamente possível se a pressão parcial

Eng. sanit. ambient. 156 Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 152-161


Acúmulo de ácidos graxos voláteis em reatores anaeróbios sob estresse

ARTIGO TÉCNICO
controverso, Stams (1994) resume o es-
tado-da-arte ao afirmar que em lodo
metanogênico granular, a transferência de
hidrogênio inter-espécies parece ser mais
importante, possivelmente porque quan-
do a distância entre microorganismos pro-
dutores e consumidores é pequena (como
no grânulo), a fácil difusibilidade de hi-
drogênio pela membrana lipofílica com-
pensa o pequeno gradiente de concen-
tração de hidrogênio obtido entre
microorganismos produtores e consumi-
dores. Entretanto, Stams (1994) salienta
Figura 3 – Efeito da pressão parcial de hidrogênio na variação de que há evidência de que formiato pode
energia livre para a degradação de propionato, butirato e etanol ser mais importante que o hidrogênio em
e formação de metano (McCarty, 1981) culturas suspensas, e isso deve ocorrer
porque a elevada solubilidade do for-
de hidrogênio for mantida entre 10-6 e um gás extremamente insolúvel em água, miato favorece um maior gradiente de
10-4 atm. O limite máximo de hidrogê- o que resulta em pequeno gradiente de concentração entre microorganismo pro-
nio dependerá do substrato a ser degra- concentração na fase líquida e, conse- dutor e consumidor, compensando a
dado, enquanto o limite mínimo depen- quentemente, reduzida força motriz maior distância inter-espécies, e a menor
derá da concentração mínima (threshold (driving force) para a transferência de hi- difusibilidade do formiato comparada ao
value) de hidrogênio utilizável pelos drogênio dos microorganismos acido- hidrogênio.
microorganismos hidrogenotróficos. gênicos e acetogênicos para os microor-
Lovely (1985) foi um dos primeiros a ganismos hidrogenotróficos. De fato, vá- Influência do tipo de reator
mostrar que há uma concentração míni- rios estudos demostraram que a floculação
ma de hidrogênio abaixo da qual os e granulação da biomassa resulta em mai- A Tabela 3 apresenta as limitações
microorganismos hidrogenotróficos não or estabilidade e melhor degradação de que cada etapa do processo anaeróbio está
conseguem utilizá-lo como substrato. propionato e butirato, quando compara- sujeita do ponto de vista teórico, suma-
Essa concentração é aquela na qual o in- do a flocos dispersos e grânulos deses- rizando o que foi discutido até aqui. Como
vestimento de energia que o microor- truturados (Shi-Yi e Jian, 1992; Schimidt e pode ser visto, cada etapa do processo
ganismo faz para metabolizar o substrato Ahring, 1993; Schimidt e Ahring, 1995), apresenta diferentes graus de susceptibi-
é igual a energia dele obtida. e acredita-se que isso esteja relacionado à lidade às limitações de ordem cinética,
Voolapali e Stuckey (1999; 2001) proximidade entre os microor- ganismos termodinâmica e de transferência de mas-
mostraram que para os microorganismos produtores e consumidores de hidrogênio. sa, ou à ausência das condições ideais de
hidrogenotróficos a concentração limite Embora as reações sintróficas sejam crescimento. Portanto, o sucesso para a
é relativamente elevada. Desta forma eles satisfatoriamente modeladas com base na estabilidade e controle prático de reatores
consumirão hidrogênio dissolvido até este transferência de hidrogênio inter-espéci- anaeróbios depende da correta identifi-
valor mínimo que ainda é alto o suficien- es, há um debate na literatura a respeito cação da etapa limitante e da avaliação
te para inibir a degradação de propionato da importância do hidrogênio como das suas possíveis causas. Isso permitiria a
e butirato. Assim, qualquer tentativa de carreador de elétrons. Thiele e Zeikus adoção de medidas adequadas de contro-
melhorar a estabilidade de reatores (1988) sugeriram que a formação de le vizando minimizar as limitações exis-
anaeróbios através da remoção de hidro- formiato é um mecanismo de transferên- tentes e explorar ao máximo a capacidade
gênio, para possibilitar a degradação de cia de elétrons inter-espécies tão impor- do sistema de tratamento.
butirato e propionato, pode comprome- tante quanto a formação de hidrogênio. Dois fatores importantes que defi-
ter a atividade hidrogenotrófica, o que Para essa conclusão, os autores se basea- nem a suceptibilidade do tratamento
levaria a uma redução na produção de ram na observação de que as concentra- anaeróbio às limitações apresentadas e
metano e maior acúmulo de gás carbônico ções de hidrogênio dissolvido em reato- discutidas anteriormente, são o tipo de
dissolvido. De forma similar, a adição de res anaeróbios são bem menores do que o reator e a concentração da água residuária.
microorganismos metanogênicos hidro- valor mínimo utilizável (threshold value) O tipo de reator tem influência significa-
genotróficos no reator (enriquecimento) pelos microorganismos metanogênicos tiva na retenção e estratificação da
poderá não resultar em melhorias signifi- hidrogenotróficos. Formiato contribui biomassa, características que determinam
cativas, pois é provável que os microor- muito menos para a DQO do que outros limitações de ordem cinéticas e termo-
ganimos trabalhem bem abaixo de sua AGVs, e por causa disso a transferência dinâmicas; ao passo que a concentração
capacidade máxima. de equivalentes de elétrons para a forma- da água residuária influencia principal-
Como a degradação sintrófica de- ção de formiato, ao invés de hidrogênio, mente o regime hidráulico predominan-
pende da remoção de hidrogênio do meio confereria maior estabilidade a reatores te, que, por sua vez, determina limitações
líquido, a distância entre os microor- anaeróbios durante condições de choques de ordem termodinâmica e de transfe-
ganismos produtores e consumidores cau- de carga orgânica (Speece, 1996). rência de massa. Em função disso, a Ta-
sa grande efeito na degradação de Embora o debate sobre a importân- bela 4 apresenta um resumo das princi-
propionato e butirato (de Bok et al, cia de formiato e hidrogênio como pais características e limitações que po-
2004). Isso ocorre porque hidrogênio é carreadores de elétrons inter-especies seja dem ser exibidas por alguns reatores

Eng. sanit. ambient. 157 Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 152-161


Aquino, S. F. & Chernicharo, C. A. L.
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 3 – Susceptibilidade das etapas acidogênica, acetogênica e


metanogênica a diferentes limitações
Etapa L im ita çã o
C in é tic a Termodinâmica De transferência Ao crescimento1
de m assa
Acidogênica Possível devido à
Pouco provável Pouco provável Menos afetada
(↑ Ks, ↑ µmáx)
a c u m u la çã o d e (substratos solúveis)
a c e ta to
Acetogênica Provável Provável devido à Pouco provável Muito afetada
(↓ Ks, ↓ µmáx) a c u m u la çã o d e (substratos solúveis)
hidrogênio e acetato
Metanogênica Provável Pouco provável Pouco provável Muito afetada
Acetoclástica (↓ Ks,↓ µmáx) (substrato solúvel)
Metanogênica Pouco provável Pouco provável Provável Relativamente
Hidrogenotrófica (↑ Ks, ↑µmáx) (substrato insolúvel) m e n o s a fe ta d a
1
pH, presença de compostos tóxicos, ausência de nutrientes

anaeróbios alimentados com esgoto do- sas estações de tratamento se efluentes MEDIDAS PRÁTICAS DE
méstico e industrial. industriais com elevada carga de matéria CONTROLE
Reatores que não propiciam o fluxo orgânica fossem lançados na rede coletora
pistonado e que favorecem o crescimento municipal. A ocorrência de tal situação é Há vários estudos, na literatura, so-
disperso, como digestores de lodo con- mais provável em cidades de pequeno bre melhoria e estabilidade de reatores
vencionais, reatores de membrana, lagoas porte que abrigam indústrias, tais quais anaeróbios. Algumas estratégias envolvem
anaeróbias e reatores UASB, não garan- laticínios, curtumes e matadouros, que a regulação da concentração de hidrogê-
tem uma efetiva separação das fases geram efluentes com elevada carga de nio e de acetato visando a minimização
acidogênica, acetogênica e metanogênica. DBO. de inibição termodinâmica, outras
Dessa forma, é provável que o acúmulo Como discutido anteriormente, o objetivam contornar deficiências cinéticas
de propionato e butirato ocorra nesses impacto causado por um choque de carga através da adição de lodo enriquecido com
reatores durante condições de estresse orgânica seria mais relacionado às limita- organismos metanogênicos, enquanto que
(choques de carga, presença de compos- ções cinéticas de degradação do acetato, às a maioria concentra-se na manutenção de
tos tóxicos, limitação nutricional), devi- limitações termodinâmicas, que causariam condições ideais para os diferentes gru-
do a limitações termodinâmicas causadas o acúmulo de outros AGVs, e à deteriora- pos microbianos através de separação es-
pela acumulação de hidrogênio e, princi- ção das condições ideais de crescimento pacial (e.g. compartimentação e reatores
palmente, acetato. Por outro lado, reato- acarretada pelo acúmulo de produtos in- de duas fases) e da proteção dos reatores
res que favorecem o fluxo pistonado, termediários. Por outro lado, o impacto de contra toxicidade e efeitos adversos.
como o reator compartimentado, propi- um choque hidráulico não é tão relaciona- Muitas estratégias se baseiam na
ciam uma maior separação de fases e de- do às limitações termodinâ- micas, de trans- manutenção das condições ótimas de cres-
veriam apresentar maior estabilidade às ferência de massa ou de crescimento, mas cimento dos microorganismos metanogê-
condições temporárias de estresse porque sim à limitação cinética dos nicos, através da adição de nutrientes
favoreceriam melhores condições para a microorganismos metanogênicos e ao ar- (Takashima e Speece, 1990); da regulação
degradação de propionato e butirato. raste da biomassa. No caso do choque de do potencial redox com a adição de sulfa-
Além do mais, a separação espacial dos carga orgânica a estratégia de controle para to ferroso (Thiele e Zeikus, 1988; Borja
microorganismos, permitiria que condi- o restabelecimento da condição de equilí- et al, 1994; Macarie e Guyot, 1995;
ções ideais fossem mantidas para as dife- brio depende basicamente da redução das Mitra et al, 1998); e do monitoramento
rentes fases, explorando ao máximo o limitações termodinâmicas e da manuten- (on-line) e controle do pH via remoção
potencial de degradação da biomassa. ção de boas condições de crescimento. Já o de gás carbônico da fase líquida com o
Do ponto de vista de uma estação restabelecimento do equilíbro pós-choque uso de membranas (Voolapalli e Stuckey,
de tratamento alimentada com esgotos hidráulico depende do aumento da quan- 1998), ou remoção de gás carbônico da
domésticos, tipicamente diluídos, a pro- tidade de biomassa no sistema de trata- fase gasosa com a purga do headspace do
babilidade de ocorrência de choques de mento, já que a taxa de conversão de inter- reator com um gás inerte. Essas estratégi-
carga orgânica é reduzida. Nesses casos é mediários e a taxa de crescimento dos mi- as de controle assumem que a etapa
provável que distúrbios temporários se- crorganismos são relativamente pequenas. limitante do processo é a metanogênese,
jam causados por choques hidráulicos ou As estratégias de controle para minimização pressupõem que os AGVs serão facilmente
ausência das condições ideais de cresci- dessas limitações teóricas, ou para a manu- convertidos a acetato, e por isso contam
mento microbiano. Entretanto, choques tenção das condições ideais de crescimen- com boa atividade dos sintróficos.
de carga orgânica poderiam ocorrer nes- to, são discutidas a seguir.

Eng. sanit. ambient. 158 Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 152-161


Acúmulo de ácidos graxos voláteis em reatores anaeróbios sob estresse

ARTIGO TÉCNICO
Tabela 4 - Características típicas e limitações teóricas de reatores anaeróbios alimentados com esgoto doméstico
Tipo de reator C a r a c te r ís tic a s p r á tic a s Potencial limitação teórica
Retenção Separação de Hidrodinâmica Cinética Termodinâmica Resistência à
b io m a s s a e ta p a s tr a n s fe r ê n c ia
m e ta b ó lic a s de m assa
UASB M é d ia - A lta Baixaa Mistob M é d ia - A lta A lta Média-Baixa
( flo c u la çã o )
Filtro anaeróbio M é d ia - A lta Média-Baixac Misto Média-Alta Média-Baixa A lta
( b io film e )
Reator de leito M é d ia - A lta M é d ia Favorece a A lta M é d ia M é d ia - A lta
g r a n u la r ( g r a n u la çã o ) m is tu r a c o m p le ta
Expandido
Reator Média-Baixad Média-Alta Favorece o Baixa Média-Baixa M é d ia - A lta
c o m p a r tim e n ta d o (granulação e fluxo pistonado
flo c u la çã o )
L a g o a a n a e r ó b ia Baixa Baixa Misto A lta A lta Baixa
( flo c u la çã o )
Reator de A lta Baixa Favorece a A lta A lta Baixa
m em bran a e ( flo c u la çã o ) m is tu r a c o m p le ta b
a - A granulação é difícil de ocorrer com esgotos domésticos, contudo pode ocorrer com esgotos industriais predominantemente solúveis.
A granulação favoreceria a separação de fases, contribuindo assim para a redução de inibições termodinâmicas.
b - Para esgotos diluídos, como o doméstico, a produção de gás é, em geral, insuficiente para promover a mistura completa. Entretanto,
a mistura completa pode ocorrer com esgotos industriais concentrados, prejudicando a separação de fases e a cinética de degradação.
Nesse caso, a separação de etapas metabólicas só ocorreria se houvesse granulação da biomassa e estratificação espacial dos microrganismos
no grânulo.
c - A granulação pode não ocorrer com esgotos domésticos, mas a formação de biofilme leva à estratificação dos microorganismos e
redução de inibições termodinâmicas. Por outro lado a formação de biofilme pode causar inibições cinéticas devido a maior resistência
a transferência de massa.
d - Na ausência de choques hidráulicos há boa retenção de biomassa para relativamente baixos tempos de detenção hidráulica, entretanto
a variação de vazão pode causar arraste da biomassa ou promover a mistura completa que contribuiria para inibições termodinâmicas e
cinéticas.
e -Reator de mistura completa com uso de membrana (0,45 ìm) externa ou submersa.

Regulação de hidrogênio e
acetato
A clássica revisão de Harper e
Pohland (1986), baseada na teoria de
transferência de hidrogênio inter-espécies, Figura 4 – Três tipos de filtros anaeróbios com diferentes sistemas de
possibilitou o desenvolvimento de novos remoção de biogás (Harper e Pohland, 1986)
sistemas de controle da fase gasosa
(Harper e Pohland, 1987), uma vez que
acreditava-se que a regulação de hidrogê- dinâmica da degradação sintrófica de centração dissolvida pode ter sido baixa
nio pudesse resolver os problemas de ins- propionato e butirato. devido à baixa solubilidade de hidrogê-
tabilidade na maioria dos reatores Em estudo subsequente, Harper e nio e alta resistência à transferência de
anaeróbios. Harper e Pohland (1987) Pohland (1990) apresentaram um resul- massa. Voolapali e Stuckey (1999) fize-
operaram diferentes reatores sob diferen- tado controverso ao verificar que a degra- ram um experimento similar medindo
tes condições de carga orgânica e demons- dação de propionato e butirato foi possí- hidrogênio nas fases líquida e gasosa du-
traram que a remoção do biogás nas eta- vel mesmo ao se ‘borbulhar’ gás hidrogê- rante o aumento de carga orgânica em
pas iniciais da digestão anaeróbia (siste- nio no reator, de forma que a sua concen- digestores anaeróbios, e mostraram que
ma C, Figura 4) aumentou a estabilidade tração na fase gasosa fosse 5%. Entretan- houve aumento da concentração de hi-
dos reatores e aumentou a eficiência de to, é preciso ter cautela na interpretação drogênio na fase gasosa com o aumento
remoção de propionato e butirato. O sis- desse resultado, já que a controvérsia pode da carga, muito embora o acúmulo
tema A foi o que apresentou pior estabili- ser apenas aparente. Isso porque os auto- de hidrogênio na fase líquida não tenha
dade durante o aumento da carga, e isso res não mediram hidrogênio na fase lí- ocorrido devido à rápida taxa de consu-
pode ter ocorrido devido à produção acen- quida, ou seja, embora a porcentagem de mo (turnover) pelos microorganismos
tuada de hidrogênio e inibição termo- hidrogênio no biogás fosse alta, a con- hidrogenotróficos.

Eng. sanit. ambient. 159 Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 152-161


Aquino, S. F. & Chernicharo, C. A. L.
ARTIGO TÉCNICO

Outra forma de se evitar a inibição compartimentados podem ser mais sus- nidade e melhores condições para a de-
termodinâmica e aumentar a estabilida- ceptíveis a choques hidráulicos, especial- gradação de compostos intermediários.
de de reatores anaeróbios é através da mente se não há granulação da biomassa, Este artigo mostra que somente a correta
regulação de acetato. Mitra e colaborado- e podem resultar ainda em maior produ- identificação dos fatores limitantes pode
res (1998; 1998) verificaram a possibili- ção de lodo e maiores dificuldades levar à adoção das devidas medidas práti-
dade de se manter uma baixa concentra- operacionais. A formação de biofilme e cas de controle que visam minimizar a
ção de acetato em solução, através do uso granulação, além de propiciar a comple- acumulação de AGVs e aumentar a esta-
de resinas de troca iônica. A manutenção mentação de nichos funcionais e a diver- bilidade de reatores anaeróbios.
de acetato a baixas concentrações dimi- sidade no reator, resulta em maior redun-
nuiria o consumo de alcalinidade e per- dância metabólica e, consequentemente, AGRADECIMENTOS
mitiria que a concentração de hidrogênio em maior estabilidade (Briones e Raskin,
dissolvido e formiato fossem maiores, fa- 2003). Adicionalmente, a agregação da Os autores gostariam de agradecer
vorecendo assim os microrganismos biomassa em biofilmes e grânulos permi- ao CNPq pela concessão de uma bolsa
sintróficos por permitir uma maior driving te maior proximidade entre os microor- Pós-Doc (Processo 15004/2004) para o
force de hidrogênio/formiato, dos mi- ganismos do consórcio anaeróbio, dimi- desenvolvimento de atividades de pes-
croorganismos produtores para os consu- nuindo assim as resistências de transfe- quisa junto ao Departamento de Enge-
midores. Outras formas de regulação de rência de massa, dos produtos intermedi- nharia Sanitária e Ambiental (DESA) da
acetato seriam através da adição de carvão ários dos organismos produtores para os Escola de Engenharia da UFMG.
ativado e membranas de adsorção, sendo consumidores, reduzindo por conseguin-
essa uma área que merece a atenção de te inibições termodinâmicas. Por outro REFERÊNCIAS
futuras pesquisas. lado, essa estratégia pode criar dificulda-
des para a difusão de nutrientes, da solu- BORJA, R., BANKS, C. J. e WANG, Z.
Outras estratégias de ção para o interior do biofilme ou grânu- Stability and performance of anaerobic downflow
filter treating slaughterhouse wastewater under
controle lo, e a deficiência nutricional resultante transient changes in process parameters.
pode levar à sub-utilização da capacida- Biotechnology and Applied Biochemistry, vol.
Uma forma de reduzir o acúmulo de metabólica dos microorganismos en- 20, p. 371-383, 1994.
de acetato em reatores anaeróbios é atra- volvidos e inibição cinética. BRIONES, A. e RASKIN, L. Diversity and
vés da adição de microorganismos dynamics of microbial communities in engineered
metanogênicos acetoclásticos. A adição de CONCLUSÕES environments and their implications for process
stability. Current Opinion in Biotechnology,
lodo rico em microorgamismos acetoclás- vol. 14, p. 270-276, 2003.
ticos e a manutenção de condições ideais Este artigo apresentou uma análise
CHERNICHARO, C.A.L. Princípios do trata-
de crescimento do lodo metanogênico teórica integrada das potenciais causas de mento biológico de águas residuárias. Vol. 5. Reatores
aumentariam a taxa de degradação de acúmulo de ácidos graxos voláteis (AGVs) anaeróbios. Belo Horizonte, Departamento de
acetato e a estabilidade do sistema por em reatores anaeróbios. O acúmulo de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFMG, 1997.
reduzir inibições termodinâmicas e o con- AGVs durante condições de instabilida- COHEN, A. et al. Influence of phase separation
sumo excessivo de alcalinidade. Já a adi- de, sejam elas devido a choques de carga on the anaerobic digestion of glucose-II. Stability
ção de lodo enriquecido de microorga- ou a presença de compostos tóxicos, ocor- and kinetic response to shock loading. Water
nismos metanogênicos hidrogenotróficos rerá devido a não observância de limita- Research, vol. 16, p. 449-455, 1982.
seria de pouca utilidade, uma vez que a ções cinéticas e/ou termodinâmicas, que CORD-RUWISCH, R. et al. Dissolved hydrogen
atividade hidrogenotrófica opera abaixo podem ser causadas por limitações de concentration as an on-line control parameter for
the automated operation and optimization of
da capacidade máxima e em ponto de transferência de massa e/ou nutricionais. anaerobic digesters. Biotechnology and
sub-saturação cinética, devido às limita- A análise teórica indica que os microor- Bioengineering, vol. 56, p. 626-634, 1997.
ções de transferência de massa de hidro- ganismos metanogênicos acetoclásticos são
DE BOK, F. A. M., PLUGGE, C. M. e STAMS,
gênio. De fato, Voolapali e Stuckey limitados cineticamente e por isso é pro- A. J. M. Interspecies electron transfer in
(1999) mostraram que a adição de vável que ocorra acúmulo de acetato du- methanogenic propionate degrading consortia.
microorganismos hidrogenotróficos não rante choques de carga orgânica. A ma- Water Research, vol. 38, p. 1368-1375, 2004.
contribuiu para a redução de hidrogênio nutenção, no reator, de altas concentra- GIRALDO-GOMEZ, E., GOODWIN, S. e
na fase gasosa, e que a adição de microorga- ções de acetato e hidrogênio dissolvido SWITZENBAUM, M. S. Influence of mass
nismos metanogênicos acetoclásticos, por podem levar à acumulação de outros transfer limitations on determination of the half
outro lado, contribuiu para a menor acu- AGVs, principalmente propionato e saturation constant for hydrogen uptake in a mixed
culture methane producing enrichment.
mulação de acetato. butirato, cuja degradação é facilmente li- Biotechnology and Bioengineering, vol. 40,
Outra forma de se melhorar a esta- mitada por razões termodinâmicas. A p. 768-776, 1992.
bilidade de reatores anaeróbios é propici- manutenção de condições ideais de cres- GUJER, W. e ZEHNDER, A. J. B. Conversion
ar o tratamento em estágios (etapas ou cimento resolveria o problema de acú- processes in anaerobic digestion. Wat. Sci. Tech.,
fases) por meio da compartimentação de mulo de hidrogênio na fase líquida, en- vol. 15, p. 127-167, 1983.
reatores. Há indicações na literatura de tretanto é muito difícil reduzir a concen- HARPER, S. R. e POHLAND, F. G. Effect of
que reatores de duas fases são mais está- tração de hidrogênio dissolvida ao ponto elevated hydrogen partial pressures on anaerobic
veis às condições de estabilidade (Cohen em que não haja limitação sintró- fica. treatment of carbohydrates, In: BELAICH,
J. P., Microbiology and Biochemistry of Strict
et al,1982), justamente porque permi- Desta forma, a busca da estabilidade de Anaerobes Involved in Interspecies Transfer,
tem a separação dos microorganismos e a reatores anaeróbios através da regulação New York, Plenum Press, p. 387-390, 1990.
manutenção das condições ideais para de acetato pode ser promissora, pois re-
HARPER, S. R. e POHLAND, F. G.
cada nível trófico. Todavia reatores sultaria em menor consumo de alcali- Enhancement of anaerobic treatment efficiency

Eng. sanit. ambient. 160 Vol.10 - Nº 2 - abr-jun, 152-161


Acúmulo de ácidos graxos voláteis em reatores anaeróbios sob estresse

ARTIGO TÉCNICO
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