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Bigotte Chorão estudou os motivos que levaram à crise e derrube da República. Na segunda parte da obra, debruça-se
sobre a figura de Manuel Rodrigues Junior, ministro da Justiça de Salazar entre 1932 e 1940, analisando a sua figura e
obra legislativa. No capítulo intitulado “ Manuel Rodrigues Júnior: Um
precursor na Justiça”, o lança-se luz sobre aspectos muito relevantes
da história do Ministério da Justiça, chamando a atenção para as
lacunas que ainda subsistem.
Com autorização do autor, divulgam-se aqui extractos desse texto.
Estamos em crer que a apreensão desses critérios não pode obter-se senão a
partir da dissecação das estruturas orgânicas da administração central e das
modificações que ao longo do tempo lhe foram sendo introduzidas, de modo a
fixar-se, em relação com o quadro epocal próprio, não só a organização dos
poderes do executivo, mas a influência desta no plano do relacionamento com
outros departamentos governamentais e com os restantes poderes do Estado.
Tal como ensinou Paulo Merêa, foi a partir de 23 de Agosto de 1821 que o
Ministério da Justiça se juntou aos ministérios da Fazenda, Guerra, Marinha e
Estrangeiros, tendo sido organizado por decreto das Cortes Gerais,
Extraordinárias e Constituintes de 18 de Agosto de 1821.
Num periódico jurídico, a vários títulos notável, que foi dirigido por Fernão
Botto Machado, solicitador de profissão, homem de cultura e vastas
curiosidades, deputado constituinte e diplomata da República — O Mundo
Legal e judiciário -, colhem-se sobre o tema depoimentos valiosos. Um dos não
menos importantes, A Magistratura, corresponde a uma tradução justificada
por Botto Machado «por se ajustar perfeitamente aos hábitos dos nossos
tribunais e até parecer escrito a respeito deles». A menos de uma década da
implantação da República, lia-se naquele jornal: «São os nossos juízes um
modelo de competência? Indubitavelmente não, e isto é já um mal e um grave
perigo. Demonstra-o amplamente a jurisprudência, repleta de contradições
sobre pontos simplíssimos, que não se caracteriza por essa independência de
critério e por esse espírito analítico que permite fazer falar melhor o
pensamento do que a letra da Lei. Falta-lhe essa uniformidade reveladora de
convicção». E mais adiante: «os tribunais estão mal. Falta-lhes energia,
preparação, falta trabalho».
José Relvas haveria de recordar que o seu Ministro da Justiça, Jorge Couceiro da
Costa, dizia «por toda a parte» que apresentara a demissão porque não estava
«resolvido a obtemperar a todas as exigências» que lhe tinham sido feitas
«para demissões e perseguições à Magistratura». O próprio Relvas acreditava
que algumas dessas «imposições», que apareciam em todos os ministérios,
fossem ditadas por «conveniências políticas», mas não lhe oferecia dúvidas
que a «maior parte» estava ligada à chamada «política de depuração», que
considerava mascarar, em muitos casos, uma «ânsia insaciável de emprego
público», o que considerou «um dos grandes cancros da República».