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Socialista
Alexandra Kollontai
A família no passado
Não se deve dissimular a verdade: a família normal do
passado, em que o homem era tudo e a mulher não era nada
- já que ela não tinha nem vontade, nem dinheiro, nem tempo
para si mesma - esta família está se modificando dia a dia, e
podemos afirmar que já passou. Mas isto não deve espantar-
nos. Seja por erro, seja por ignorância, estamos dispostos a
fingir que tudo à nossa volta continua imóvel, quando na
realidade tudo muda. "Foi sempre assim e assim continuará".
Não há nada tão errado como este provérbio. Basta ler como
viviam os homens no passado e logo nos damos conta de que
tudo está submetido a mudanças e que não há nada fixo e
invariável, quer se fale dos costumes, quer das organizações
políticas. E a família, nas diversas épocas da humanidade,
mudou várias vezes de forma, e no passado foi muito diferente
do que estamos habituados a ver hoje. Houve um tempo em
que se conhecia somente uma forma de família: a família
genética, quer dizer, aquela que tinha como chefe uma velha
mãe, à volta da qual se agrupavam os filhos, os netos, os
bisnetos para trabalharem juntos. Noutra época conheceu-se a
família patriarcal, presidida pelo pai-patrono, cuja vontade era
lei para os demais membros da família. Todavia, também nos
nossos dias se podem ver em algumas aldeias estas famílias
camponesas. Com efeito, ali os costumes e as leis da família
não são os mesmos que os do operário da cidade; nas aldeias
afastadas dos grandes centros ainda se encontram muitos
costumes que já desapareceram nas famílias do proletariado
urbano. A forma da família e seus usos variam segundo os
povos. Há povos (por exemplo os turcos, os árabes, os persas,
etc.) onde a lei admite que um só marido tenha várias
mulheres. Houve, e há ainda, povos onde o uso tolera
absolutamente o contrário, quer dizer, que uma mulher tenha
vários maridos. E, ao contrário do costume habitual do homem
dos nossos dias, que exige que a jovem permaneça virgem até
o seu matrimônio legítimo, havia povos em que a mulher se
vangloriava de ter muitos amantes e usava nos braços e nas
pernas tantos anéis quantos amantes possuía...