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A Hora e a Vez de Augusto Matraga

1) “Parábola: s.f. Narrativa alegórica que evoca, por comparação, valores de ordem superior, encerra lições de vida e
pode conter preceitos morais ou religiosos.”

a) Considera-se que a novela “A hora e vez de Augusto Matraga” tem semelhanças com o gênero parábola. Justifique
essa afirmação com base em elementos da cena final da narrativa, relacionando-os com a definição apresentada.

b) A identidade da personagem Augusto Matraga passa por um processo de transformação ao longo da narrativa. Tal
processo é deflagrado por um evento que divide a vida do protagonista em duas fases. Indique o evento responsável
por esse processo de transformação da personagem e explique de que maneira ele afetou a sua identidade.

2) “(...) E, páginas adiante, o padre se portou ainda mais excelentemente, porque era mesmo uma brava
criatura. Tanto assim, que, na despedida, insistiu:
- Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a
passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria... Cada um tem a sua hora e a sua
vez: você há de ter a sua.”
“(...) Então, Augusto Matraga fechou um pouco os olhos, com sorriso intenso nos lábios lambuzados de sangue, e de
seu rosto subia um sério contentamento. Daí, mais, olhou, procurando João Lomba, e disse, agora sussurrando,
sumido:
- Põe a bênção na minha filha..., seja lá onde for que ela esteja... E, Dionóra... Fala com a Dionóra que está tudo em
ordem!
Depois morreu.”
a) O segundo excerto, de certo modo, confirma os ditos do padre apresentados no primeiro. Contudo, “a
hora e a vez” do protagonista não são asseguradas, segundo a narrativa, pela reza e pelo trabalho. O
que lhe garantiu ter “a sua hora e a sua vez”?
b) “A hora e a vez” de Nhô Augusto relacionam-se aos encontros que ele tem com outro personagem, Joãozinho
Bem-Bem, em dois momentos da narrativa. Em cada um desses momentos, Nhô Augusto precisa realizar uma
escolha. Indique quais são essas escolhas que importam para o processo de transformação do personagem
protagonista.

3) Leia a seguinte passagem de “A hora e a vez de Augusto Matraga”:


“O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem mandava e desmandava na casa, não trabalhando um
nada e vivendo no estadão. Mas, ele, tinham-no visto mourejar até dentro da noite de Deus, quando havia luar claro.
Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso: batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espingarda
nenhuma e nem nenhuma arma para caçar; e, de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que rezavam o terço
ou os meses dos santos. Mas fugia às léguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra qualidade de
música que escuma tristezas no coração.”
a) Identifique o casal que vive junto com o protagonista da narrativa.
b) Explique o comportamento do protagonista no trecho acima, confrontando-o com sua trajetória de vida.
c) O que há de contraditório no descanso dominical a que o narrador se refere?

4) No conto A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, o protagonista é um homem rude e cruel, que
sofre violenta surra de capangas inimigos e é abandonado como morto, num brejo. Recolhido por um casal de
matutos, Matraga passa por um lento e doloroso processo de recuperação, em meio ao qual recebe a visita de um
padre, com quem estabelece o seguinte diálogo:
- Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
- Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) Sua vida foi
entortada no verde, mas não fique triste, de modo nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar demônio, e o Reino
do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua algibeira, desde que você esteja com a graça de Deus, que ele não
regateia a nenhum coração contrito.
a) A linguagem figurada amplamente empregada pelo padre é adequada ao seu interlocutor? Justifique sua resposta.
b) Transcreva uma frase do texto que tenha sentido equivalente ao da frase não regateia a nenhum coração contrito.

História do Cerco de Lisboa:

1) Recordo-lhe que os revisores são gente sóbria, já viram muito de literatura e vida, O meu livro recordo-lhe eu, é de
história, Assim realmente o designariam segundo a classificação tradicional dos géneros, porém, não sendo propósito
meu apontar outras contradições, em minha discreta opinião, senhor doutor, tudo quanto não for vida, é literatura, A
história também, A história sobretudo, sem querer ofender,

(...) O que você quer dizer, por outras palavras, é que a literatura já existia antes de ter nascido, Sim senhor, como o
homem, por outras palavras, antes de o ser já o era. Parece-me um ponto de vista bastante original, Não o creia,
senhor doutor, o rei Salomão, que há muito tempo viveu, já então afirmava que não havia nada de novo debaixo da
rosa do sol.

(...) Então o senhor doutor acha que a história e a vida real, Acho, sim, Que a história foi vida, real, quero dizer, Não
tenho a menor dúvida, Que seria de nós se não existisse o deleatur, suspirou o revisor.

a) Nos excertos acima, revisor e autor discutem uma questão decisiva para a escrita do romance de José Saramago.
Identifique essa questão, presente no diálogo entre as duas personagens, e explique sua importância para o
conjunto da narrativa.

b) No terceiro excerto, o revisor utiliza a palavra deleatur. O que significa essa expressão e por que ela é tão
importante para o revisor?

Quarta-feira de Cinzas:

1) O trecho abaixo corresponde à parte final do primeiro Sermão de Quarta-Feira de Cinza, pregado em 1672 pelo
Padre Antonio Vieira.

“Em que cuidamos, e em que não cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se
cada dia nos imos chegando mais à morte, e ela a nós; não se acabe com este dia a memória da morte. Resolução,
resolução uma vez, que sem resolução nada se faz. E para que esta resolução dure, e não seja como outras, tomemos
cada dia uma hora em que cuidemos bem naquela hora. De vinte equatro horas que tem o dia, por que se não dará
uma hora à triste alma? Esta é a melhor devoção e mais útil penitência, e mais agradável a Deus, que podeis fazer
nesta Quaresma. (...) Torno a dizer para que vos fique na memória: Quanto tenho vivido? Como vivi? Quanto posso
viver? Como é bem que viva? Memento homo.”

a) Levando em conta o trecho acima e o propósito argumentativo do Sermão, explique por que, segundo Vieira, se
deve preservar “a memória da morte”.

b) Considere as perguntas presentes no trecho acima e explique sua função para a mensagem final do Sermão.

Sonetos:

1) Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões.


“Enquanto quis Fortuna que tivesse Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
esperança de algum contentamento, a diversas vontades! Quando lerdes
o gosto de um suave pensamento num breve livro casos tão diversos,
me fez que seus efeitos escrevesse. verdades puras são, e não defeitos...
Porém, temendo Amor que aviso desse E sabei que, segundo o amor tiverdes,
minha escritura a algum juízo isento, Tereis o entendimento de meus versos!”
escureceu-me o engenho com tormento, para que seus enganos não dissesse.

a) Nos dois quartetos do soneto acima, duas divindades são contrapostas por exercerem um poder sobre
o eu lírico. Identifique as duas divindades e explique o poder que elas exercem sobre a experiência
amorosa do eu lírico.
b) Um soneto é uma composição poética composta de 14 versos. Sua forma é fixa e seus últimos versos
encerram o núcleo temático ou a ideia principal do poema. Qual é a ideia formulada nos dois últimos
versos desse soneto de Camões, levando-se em consideração o conjunto do poema?

2) Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões:


“Cá nesta Babilônia, donde mana cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
matéria a quanto mal o mundo cria; e pode mais que a honra a tirania;
cá donde o puro Amor não tem valia, cá, onde a errada e cega Monarquia
que a Mãe, que manda mais, tudo profana; cuida que um nome vão a desengana;
cá, neste labirinto, onde a nobreza, cá neste escuro caos de confusão,
com esforço e saber pedindo vão cumprindo o curso estou da natureza.
às portas da cobiça e da vileza; Vê se me esquecerei de ti, Sião!”

a) Uma oposição espacial configura o tema e o significado desse poema de Camões. Identifique essa
oposição, indicando o seu significado para o conjunto dos versos.
b) Identifique nos tercetos duas expressões que contemplam a noção de desconcerto, fundamental para a
compreensão do tema do soneto e da lírica camoniana.

3) Leia o seguinte soneto de Camões:


Oh! Como se me alonga, de ano em ano, qualquer grande esperança é grande engano.
a peregrinação cansada minha. Corro após este bem que não se alcança;
Como se encurta, e como ao fim caminha no meio do caminho me falece,
este meu breve e vão discurso humano. mil vezes caio, e perco a confiança.
Vai-se gastando a idade e cresce o dano; Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
perde-se-me um remédio, que inda tinha. se os olhos ergo a ver se inda parece,
Se por experiência se adivinha, da vista se me perde e da esperança.
a) Na primeira estrofe, há uma contraposição expressa pelos verbos alongar e encurtar. A qual deles está associado o
cansaço da vida e qual deles se associa à proximidade da morte?
b) Por que se pode afirmar que existe também uma contraposição no interior do primeiro verso da segunda estrofe?
c) A que termo se refere o pronome “ele” da última estrofe?

O Cortiço:

1) Quase sempre levava-lhe presentes (...) e perguntava-lhe se precisava de roupa ou de calçado. Mas
um belo dia, apresentou-se tão ébrio, que a diretora lhe negou a entrada. (...) Tempos depois, Senhorinha
entregou à mãe uma conta de seis meses de pensão do colégio, com uma carta em que a diretora negavase
a conservar a menina (...). Foi à procura do marido; (...) Jerônimo apareceu afinal, com um ar triste de
vicioso envergonhado que não tem ânimo de deixar o vício (...).
─ Eu não vim cá por passeio! prosseguiu Piedade entre lágrimas! Vim cá para saber da conta do colégio!...
─ Pague-a você!, que tem lá o dinheiro que lhe deixei! Eu é que não tenho nenhum! (...)
E as duas, mãe e filha, desapareceram; enquanto Jerônimo (...) monologava, furioso (...). A mulata então
aproximou-se dele, por detrás; segurou-lhe a cabeça entre as mãos e beijou-o na boca... Jerônimo voltou-se
para a amante... E abraçaram-se com ímpeto, como se o breve tempo roubado pelas visitas fosse uma
interrupção nos seus amores.
O cortiço não dava ideia do seu antigo caráter. (...) e, com imenso pasmo, viram que a venda, a sebosa
bodega, onde João Romão se fez gente, ia também entrar em obras. (...) levantaria um sobrado, mais alto
que o do Miranda (...). E a crioula? Como havia de ser? (...) Como poderia agora mandá-la passear assim,
de um momento para outro, se o demônio da crioula o acompanhava já havia tanto tempo e toda a gente na
estalagem sabia disso? (...) Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha fina e
aristocrática, um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte da desensofrida avidez de sua vaidade. (...)
caber-lhe-ia mais tarde tudo o que o Miranda possuía...
(Idem, p. 133 e 145.)
a) Considerando-se a pirâmide social representada na obra, em que medida as personagens Rita Baiana e
Bertoleza, referidas nos excertos, poderiam ser aproximadas?
b) Levando em conta a relação das personagens com o meio, compare o final das trajetórias do português
Jerônimo e do português João Romão.

2)Pensando nos pares amorosos, já se afirmou que “há n’O cortiço um pouco de Iracema coada pelo
Naturalismo.” (Antonio Candido, “De cortiço em cortiço”, em O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993,
p.142.)
a) Na descrição acima, identifique dois aspectos que permitem aproximar Rita Baiana de Iracema, mostrando
os limites dessa semelhança.
b) Identifique uma semelhança e uma diferença entre Jerônimo e Martim.

3) Leia o seguinte comentário a respeito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo:


Com efeito, o que há n' O Cortiço são formas primitivas de amealhamento*, a partir de muito pouco ou quase
nada, exigindo uma espécie de rigoroso ascetismo inicial e a aceitação de modalidades diretas e brutais de
exploração, incluindo o furto (...) como forma de ganho e a transformação da mulher escrava em companheira
máquina.
(...) Aluísio foi, salvo erro meu, o primeiro dos nossos romancistas a descrever minuciosamente o
mecanismo de formação da riqueza individual. (...) N' O Cortiço [o dinheiro] se torna implicitamente objeto
central da narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando ao ritmo da sua acumulação, tomada pela primeira vez no
Brasil como eixo da composição ficcional. (Antonio Candido, De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo:
Duas Cidades, 1993, p. 129-3.)
*amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos
a) Explique a que se referem o rigoroso ascetismo inicial da personagem em questão e as modalidades diretas e
brutais de exploração que ela emprega.
b) Identifique a “mulher escrava” e o modo como se dá sua transformação “em companheira-máquina”.

4) Gente que mamou leite romântico pode meter o dente no rosbife* naturalista; mas em lhe
cheirando a teta gótica e oriental, deixa logo o melhor pedaço de carne para correr à bebida da
infância. Oh! meu doce leite romântico!
Machado de Assis, Crônicas.
*Rosbife: tipo de assado ou fritura de alcatra ou filé bovinos, bem tostado externamente e sangrante na parte
central, servido em fatias.
a) A imagem do “rosbife naturalista” empregada, com humor, por Machado de Assis, para evocar determinadas
características do Naturalismo poderia ser utilizada também para se referir a certos aspectos do romance O cortiço?
Justifique sua resposta.

5) Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se pede.


(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o
sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior. O
cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa, sua congênere, e queria a
mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre destes sertões americanos, onde a alma
de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes.
Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na composição de O cortiço, identifique e explique
aquela que se manifesta no trecho a e a que se manifesta no trecho b, a seguir:
a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”.
b) “cedendo às imposições mesológicas

6) De que maneira, em O cortiço, de Aluísio Azevedo, são encaradas as correntes de pensamento filosófico e
científico de grande prestígio na época em que o romance foi escrito? Explique sucintamente.

7) Considere o excerto em que Araripe Júnior, crítico associado ao Naturalismo, refere-se ao “estilo” praticado
“nesta terra”, isto é, no Brasil.
O estilo, nesta terra, é como o sumo da pinha, que, quando viça, lasca, deformase, e, pelas fendas
irregulares, poreja o mel dulcíssimo, que as aves vêm beijar; ou como o ácido do ananás do Amazonas, que
desespera de sabor, deixando a língua a verter sangue, picada e dolorida.
a) O modo pelo qual o crítico explica a feição que o “estilo” assume “nesta terra” indica que ele compartilha
com o Naturalismo um postulado fundamental. Qual é esse postulado? Explique resumidamente.
b) As características de estilo sugeridas pelo crítico, no excerto, aplicam􀀀se ao romance O cortiço, de Aluísio
Azevedo? Justifique sucintamente sua resposta.

8) Os trechos seguintes foram extraídos do texto “Casas de cômodos”, que consiste em um apanhado de impressões
recolhidas pelo escritor Aluísio Azevedo. Leiaos para responder às questões.
I. Há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem sem base pecuniária fazer pecúlio e até enriquecer,
um tipo digno de estudo – é o “dono de casa de cômodos”; mais curioso e mais completo no gênero que o “dono de
casa de jogo”, pois este ao menos representa o capital da sua banca, suscetível de ir à glória, ao passo que o outro
nenhum capital representa, nem arrisca, ficando, além de tudo, isento da pecha de mal procedido.
Quase sempre forasteiro, exercia dantes um ofício na pátria que deixou para vir tentar fortuna no Brasil; mas,
percebendo que aqui a especulação velhaca produz muito mais do que o trabalho honesto, tratou logo de esconder
as ferramentas do ofício e de fariscar os meios de, sem nada fazer, fazer dinheiro.
II. (...) há sempre uma quitandeira de quem o dono da casa de cômodos, começando por merecer a simpatia, acaba
por conquistar a confiança e o amor. Juntam se e, quando ela dá por si, está
cozinhando e lavando para todos os hóspedes do eleito do seu coração, sem outros vencimentos além das carícias,
que lhe dá o amado sócio.
Assim chega a empresa ao seu completo desenvolvimento, e o dono da casa de pensão começa a ganhar em grosso,
acumulando forte, sem trabalhar nunca, nem empregar capital próprio, até que um dia, farto de aturar o Brasil,
passa com luvas o estabelecimento e retira se para a pátria, deixando, naturalmente
também com luvas, a preciosa quitandeira ao seu substituto.
Aluísio Azevedo, Casas de cômodos.
a) Que recurso da estética naturalista surge já no início das notas, feitas em razão do cotidiano nacional da época?
Justifique.
b) Para o leitor de O Cortiço, salta à vista o aproveitamento que Aluísio Azevedo fez de parte dessas impressões ao
conceber a relação entre João Romão e Bertoleza. Há também, contudo, diferenças relevantes. Qual o fator que,
central na sociedade brasileira do século XIX, acentua o tom perverso do final do romance? Justifique com base no
enredo.

Sagarana:

1) Conversa de Bois”, de Guimarães Rosa, narra acontecimentos de uma viagem no carro-de-bois, em que
estão o carreador Agenor Soronho, Tiãozinho e o corpo de seu pai morto. O trecho abaixo reproduz um dos
diálogos entre os bois:
- Que é que está fazendo o carro?
- O carro vem andando, sempre atrás de nós.
- Onde está o homem-do-pau-comprido?
- O homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta está trepado no chifre do carro...
- E o bezerro-de-homem-que-caminha-sempre-na-frente-dos-bois?
- O bezerro-de-homem-que-caminha-adiante vai caminhando devagar... Ele está babando água
dos olhos...
(“Conversa de Bois”, em João Guimarães Rosa, Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, p. 317.)
a) Explique o sentido das expressões “bezerro-de-homem” e “babando água dos olhos”. Relacione-as com o
enredo.
b) Explique a expressão “homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta”. Que característica do
carreador Agenor Soronho ela busca evidenciar?

2) Considere os seguintes versos, que fazem parte de um poema em que Carlos Drummond de Andrade fala de
Guimarães Rosa e de sua obra:
(...) ou ele mesmo [Guimarães Rosa] era de antes do princípio,
a parte de gente que se entrelaçam
servindo de ponte para melhor guerra,
entre o sub e o sobre para maior festa?
que se arcabuzeiam
(arcabuzeiam = lutam com arcabuzes, espingardas)
a) A luta entre Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem (do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”) apresenta,
conjugados, os aspectos de guerra e de festa referidos nos versos de Drummond. Você concorda com esta
afirmação? Justifique sucintamente.
b) O conflito entre Turíbio Todo e Cassiano Gomes (do conto “Duelo”) apresenta essa mesma junção de aspectos de
guerra e de festa? Justifique sucintamente.

3) Leia o trecho do conto “Minha gente”, de Guimarães Rosa, e responda ao que se pede.
Oh, tristeza! Da gameleira ou do ingazeiro, desce um canto, de repente, triste, triste, que faz dó. É um
sabiá. Tem quatro notas, sempre no mesmo, porque só ao fim da página é que ele dobra o pio. Quatro notas,
em menor, a segunda e a última molhadas. Romântico.
Bento Porfírio se inquieta:
— Eu não gosto desse passarinho!... não gosto de violão... De nada que põe saudades na gente.
J. Guimarães Rosa. Minha gente. Sagarana.
a) No trecho, a menção ao sabiá e a seu canto, enfaticamente associados a “Romântico” e a “saudades”, indica
que o texto de Guimarães Rosa pode remeter a um poema, dos mais conhecidos da literatura brasileira,
escrito em um período em que se afirmava o nacionalismo literário. Identifique o poema a que remete o texto
de Rosa e aponte o nome de seu autor.
b) Considerando o trecho no contexto de Sagarana, a provável referência, nele presente, a um autor brasileiro
indica que Guimarães Rosa é um escritor nacionalista, que rejeita o contato com línguas e culturas
estrangeiras? Justifique sucintamente sua resposta.

4) Leia o trecho do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Sagarana, de João Guimarães Rosa, para responder
ao que se pede.
E aí o povo encheu a rua, à distância, para ver. Porque não havia mais balas, e seu Joãozinho Bem-Bem
mais o Homem do Jumento tinham rodado cá para fora da casa, só em sangue e em molambos de roupas
pendentes. E eles negaceavam e pulavam, numa dança ligeira, de sorriso na boca e de faca na mão.
-Se entregue, mano velho, que eu não quero lhe matar...
-Joga a faca fora, dá viva a Deus, e corre, seu Joãozinho Bem􀀀Bem...
-Mano velho! Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao cotovelo!...
- Se arrepende dos pecados, que senão vai sem contrição, e vai direitinho p’ra o inferno, meu parente
seu Joãozinho Bem-Bem!...
-Úi, estou morto...
a) Nesse trecho, em que se narra a luta entre Nhô Augusto e seu Joãozinho Bem-Bem, os combatentes, ao
mesmo tempo em que se agridem, dispensam, um ao outro, um tratamento que demonstra estima e
consideração. No âmbito dos valores que são postos em jogo no conto, como se explica esse tratamento?
b) No trecho, Nhô Augusto é designado como “o Homem do Jumento”.
Considerando se essa designação no
intertexto religioso, muito presente no conto, como se pode interpretá-la? Justifique sua resposta.

Angústia

1) Em Angústia de Graciliano Ramos, encontramos sequências instigantes:


Penso em indivíduos e em objetos que não têm relação com os desenhos: processos, orçamentos, o diretor, o
secretário, políticos, sujeitos remediados que me desprezam porque sou um pobre-diabo.
Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos cafés e preguiçando, indecentes. (...)
Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de seu Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse Camilo quando
me apresentou ao mestre, eu era um cavalo de dez anos e não conhecia a mão direita. Aprendi leitura, o catecismo, a
conjugação dos verbos. O professor dormia durante as lições. E a gente bocejava olhando as paredes, esperando que
uma réstia chegasse ao risco de lápis que marcava duas horas. Saíamos em algazarra.
a) Que processos permitem as construções ‘preguiçando’ e ‘desasnar’ na língua?
b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’ e ‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma relação diferente
com a poesia da língua. Explicite essa diferença.
c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras palavras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’.

2) Leia o seguinte trecho extraído do romance Angústia:


Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo? Naturalmente a fome antiga me enfraqueceu a memória.
Lembro-me de vultos bisonhos que se arrastavam como bichos, remoendo pragas. Que fim teriam levado? Mortos
nos hospitais, nas cadeias, debaixo dos bondes, nos rolos sangrentos das favelas. Alguns, raros, teriam conseguido,
como eu, um emprego público, seriam parafusos insignificantes na máquina do Estado e estariam visitando outras
favelas, desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro as pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas
almas de parafusos fazendo voltas num lugar só.
(Graciliano Ramos, Angústia. Rio de Janeiro:Ed. Record, 56ª.ed., 2003, p. 140-1).
a) No momento da narração, a posição social do narrador-personagem difere de sua condição de origem? Responda
sim ou
não e justifique.
b) Na citação acima, o termo ‘parafusos’ remete ao verbo ‘parafusar’ que, além do significado mais conhecido,
também
tem o sentido de ‘pensar’, ‘cismar’, ‘refletir’, ‘matutar’. Como esses dois sentidos podem ser relacionados ao modo
de ser
do narrador-personagem?
c) De que maneira o segundo sentido do verbo ‘parafusar’ está expresso na técnica narrativa de Angústia?
3) texto abaixo, extraído de Angústia, romance de Graciliano Ramos, descreve um encontro entre três personagens.
Ao chegar à Rua do Macena recebi um choque tremendo. Foi a decepção maior que já experimentei. À janela da
minha casa, caído para fora, vermelho, papudo, Julião Tavares pregava os olhos em Marina, que, da casa vizinha, se
derretia para ele, tão embebida que não percebeu a minha chegada. Empurrei a porta brutalmente, o coração
estalando
de raiva, e fiquei de pé diante de Julião Tavares, sentindo um desejo enorme de apertar-lhe as goelas. O homem
perturbou-se, sorriu amarelo, esgueirou-se para o sofá, onde se abateu.
– Tem negócio comigo?
A cólera engasgava-me. Julião Tavares começou a falar e pouco a pouco serenou, mas não compreendi o que ele
disse.
Canalha.
a) Quem é o narrador desta passagem? Que vínculos existem entre o narrador, Marina e Julião Tavares?
b) Transcreva expressões do trecho acima nas quais está caracterizada a reação emocional do narrador à conversa
que presencia.
c) De que maneira essas expressões antecipam o desfecho do romance?

Mayombe:
Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela, no qual as personagens “dirigente” e Comandante Sem Medo discutem
o comportamento do combatente chamado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identificam, respectivamente,
as falas iniciais do “dirigente” e do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo.
[d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu ser dogmático?
[C]-Ser dogmático? Sabes tão bem como eu.
-Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu.
- Tens razão, as palavras são relativas. Ele é demasiado rígido na sua conceção da disciplina, não vê as
condições existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu. A isso eu chamo dogmático, penso que é a
verdadeira aceção da palavra. A sua verdade é absoluta e toda feita, recusa􀀀se a pô-la em dúvida, mesmo que
fosse para a discutir e a reforçar em seguida, com os dados da prática. Como os católicos que recusam pôr em
dúvida a existência de Deus, porque isso poderia perturbá􀀀los.
-E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas?
-Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer
um esforço para evitar de engolir como verdade universal qualquer constatação particular.
a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a forma dialogal e as ideias expressas pelo Comandante Sem
Medo?
b) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu modo de organizar e distribuir o discurso narrativo,
emprega se algum recurso para evitar que o próprio romance, considerado no seu
conjunto, recaia no
dogmatismo criticado no excerto? Explique resumidamente.

2) Leia o texto e responda ao que se pede.


- É por isso que faço confiança nos angolanos. São uns confusionistas, mas todos esquecem as makas* e os rancores
para salvar um companheiro em perigo. É esse o mérito do Movimento, ter conseguido o milagre de começar a
transformar os
homens. Mais uma geração e o angolano será um homem novo. O que é preciso é ação.
Pepetela, Mayombe.
*“makas”: questões, conflitos.
a) A fala de Comandante Sem Medo alude a uma questão central do romance Mayombe: um objetivo político a ser
conquistado por meio do Movimento. Qual é esse objetivo?
b) As “makas” e os “rancores” dos angolanos repercutem no modo como o romance é narrado? Explique

Claro Enigma:

Leia o texto e atenda ao que se pede.


AMÁQUINA DOMUNDO
E como eu palmilhasse vagamente que era pausado e seco; e aves pairassem
uma estrada de Minas, pedregosa, no céu de chumbo, e suas formas pretas
e no fecho da tarde um sino rouco lentamente se fossem diluindo
se misturasse ao som de meus sapatos na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado, e só de o ter pensado se carpia.*
a máquina do mundo se entreabriu (...)
para quem de a romper já se esquivava
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
*carpirse: lamentarse.
a) O ponto de vista do eu lírico em relação à “máquina do mundo” ilustra as principais características de Claro
enigma? Justifique.
b) Transcreva o verso que sintetiza o evento sublime de que trata o texto.

Leia os textos.
– Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos pessoas
soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar nelas,
crescer, mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei…
João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.

Um boi vê os homens
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm nem o canto do ar nem os segredos do feno,
e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos como também parecem não enxergar o que é visível
de alguma coisa. Certamente faltalhes e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
nobres (...)
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os
até sinistros. Coitados, dirseia não escutam homens”.
Claro enigma.
a) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique
essa afirmação com base em cada um dos textos.
b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem se de uma mesma figura de
linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta.

A Relíquia

Considere os seguintes trechos do romance A Relíquia.


I. E agora, para que cada um esteja prevenido e possa fazer as orações que mais lhe calharem, devo dizer o que é a
relíquia... (...)
Esmagada, com um rouco gemido, a Titi aluiu* sobre o caixote, enlaçando o nos
braços trêmulos... Mas o Margaride coçava pensativamente o queixo austero, Justino
sumira se na profundidade dos seus colarinhos, e o ladino** Negrão escancarava
para mim uma bocaça negra, de onde saía assombro e indignação!
*desabou; ** espertalhão.
II. (...) a Titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos, colocou o sobre o altar,
devotamente desatou o nó do nastro* vermelho; depois, com o cuidado de quem teme magoar um corpo divino, foi
desfazendo uma a uma as dobras do papel pardo... Uma brancura de linho apareceu... *fita
III. As relíquias eram valores! Tinham a qualidade onipotente de valores!
Eça de Queirós, A Relíquia.
a) As passagens acima são revelações de diferentes objetos, todos eles contemplados no romance como relíquias.
Explicite a que objetos cada um dos trechos se refere.
b) No último parágrafo do romance, Teodorico reflete: “... houve um momento em que me faltou esse descarado
heroísmo de afirmar, que, batendo na terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao céu – cria, através da
universal ilusão, ciências e religiões”. Qual dos três excertos melhor se aplica à reflexão de Teodorico? Justifique.

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