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ABSTRACT: The purpose of this article is to discuss the role of the textbook for the formal
teaching of Drawing in basic education, revising its use as a central instrument of
relationship between educator, student and disciplinary content. In order to articulate the
pedagogical questions regarding positive and negative aspects of the textbook and its uses,
the article discusses the reality of the Drawing books in use today and the possibilities of
using other didactic materials in place or in pairs with this one. Possibilities are presented for
the updating of this instrument and also the references that can be used to implement such
updates in a way that provides educators with new and different approaches to the
application of curricular contents. It discusses the socio-educational contributions that can
result from such changes, which include exercise of graphic skills and study of subjects
related to material culture since school age.
Keywords: Teaching of Drawing. Textbook. Basic education. Design education and
pedagogy. Information design.
BATISTA; MEDEIROS. Contribuições do design para o projeto gráfico e os conteúdos do livro didático de ...
Güllich e Silva apontam entre as problemáticas do uso do livro didático como cartilha que
“No trabalho cotidiano, os professores descobrem nos livros não somente
os conteúdos a serem ensinados, mas também uma proposta pedagógica que passa
a influenciar de modo decisivo as suas ações” (2013, p. 156), o que implica em um
engessamento dos conteúdos e avaliações, com a repetição de um único discurso
apresentado de modo autoritário como verdade científica. Segundo os autores, “uma das
consequências dessa concepção de ciência é a preservação do modelo de ensino centrado
na transmissão-recepção de conteúdos tidos como verdadeiros” (GÜLLICH; SILVA, 2013, p.
156).
Para os estudantes, a grande problemática com o livro didático é que, com a maior parte
dos conhecimentos o ele não interage diretamente e nem faz uso prático que o permita
assimilar a informação por um maior número de canais, mas precisa armazená-los como
memória de longo prazo para talvez conseguir aplicá-los anos depois. Em uma fase do
desenvolvimento na qual recompensas imediatas são tão mais apelativas, e em uma época
onde o fluxo de informações é mais volumoso e dinâmico, os jovens apresentam
dificuldades em manter-se concentrados numa plataforma tão estanque quanto um livro-
texto extenso e com baixa interatividade.
Na educação pública, a seleção dos livros didáticos recomendados para consumo se dá,
segundo Miranda e Trugillo, por meio “da inscrição das editoras e autores dos livros,
por meio dos editais1. A partir da inscrição é feita uma triagem pela Secretaria de
Educação Básica (SEB)” (2014, p. 145). O processo é criticado pelas autoras em razão da
baixa transparência, ficando editoras e autores informados apenas da aprovação ou
reprovação de suas submissões e não dos critérios e justificativas pelos quais foram
eliminados. Nas escolas particulares, em geral os educadores selecionam seus materiais
também com base nas sugestões do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD)2, embora
possam dispor de maior autonomia nessas instituições em razão de a compra ser direta e
não demandar liberação de esferas governamentais de educação.
1 Decreto nº 7.084/2010.
2Programa do Governo Federal para regulamentar a distribuição de livros didáticos para as escolas públicas
de acordo com os conteúdos curriculares estabelecidos para cada disciplina.
Uma possibilidade para a busca desse equilíbrio entre autonomia de planejamento pelo
professor e a oferta de uma base teórica-prática para orientar e unificar os estudos
coletivos seria a de oferecer experiências sinestésicas como parte do livro didático,
acrescentando materiais audiovisuais, recursos gráficos interativos com materiais
diversos, propostas de trabalho que levem o estudante a criar vínculos afetivos3 com a
informação aprendida a fim de que se aproprie dela de fato.
3 Com base no domínio afetivo da taxonomia de objetivos educacionais de Bloom (1972), no qual o
aprendizado se dá pela valoração e pelo julgamento crítico da informação com base em um referencial de
experiências prévias do próprio indivíduo.
4Documento com proposta de currículo mínimo para a educação básica, criado com base nos princípios da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de unidade e interdisciplinaridade de conteúdos. Em processo de
substituição pela BNCC.
5 Documento que trata dos objetivos e currículos da educação básica brasileira. Sua proposta consiste na
construção de um currículo mínimo obrigatório para todos os diferentes níveis educacionais, do
Infantil ao Médio, em diálogo com a sociedade por meio de consulta pública (BATISTA, 2017, p. 79).
I – LIVRO DO ESTUDANTE
1. ESTRUTURA EDITORIAL SIM NÃO PARCIALMENTE
1.1 Parte textual
1.1.1. Texto principal impresso em alto contraste
1.1.2. Estrutura hierarquizada (títulos, subtítulos) evidenciada por meio de
recursos gráficos
1.1.3. Impressão isenta de erros
1.2 Legibilidade
1.2.1. Adequação do tamanho e desenho das letras
1.2.2. Adequação do espaço entre letras, palavras e linhas
1.2.3. A impressão permite nitidez da leitura no verso
1.3 Qualidade visual
1.3.1. Textos e ilustrações distribuídos nas páginas de forma adequada e
equilibrada
1.3.2. Textos mais longos apresentados de forma a não desencorajar a
leitura (como recursos de descanso visual)
1.4 Ilustrações
1.4.1. Isentas de estereótipos
1.4.2. Isentas de preconceitos (origem, cor, etnia, gênero, linguagem,
religião, condição econômico-social ou outras)
1.4.3. Adequadas à finalidade para as quais foram elaboradas
1.4.4. Que auxiliam a compreensão
1.4.5. Que enriquecem a leitura dos textos
1.4.6. Que recorrem a diferentes linguagens visuais
1.4.7. Que não identificam marcas registradas ou logotipos reais
1.4.8. Que se justificam como elemento didático-pedagógico
1.4.9. Devidamente creditadas a seus autores
1.5 Estrutura física
1.5.1. O tamanho do livro favorece o manuseio pelo estudante
1.5.2. O tipo de encadernação favorece longa durabilidade do livro
1.5.3. Apresenta cheiro desagradável
1.5.4. A capa é resistente
1.5.5. O papel utilizado é de boa qualidade
1.5.6. O livro apresenta estética agradável
1.6 Identificação
1.6.1. Apresenta ficha catalográfica
1.6.2. Apresenta titulação dos autores
1.6.3. Apresenta atuação profissional dos autores
2. ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS
2.1 Gerais
2.1.1. Há correção nos conceitos
2.1.2. Sem confusão nos conceitos
2.1.3. Sem contradição nos conceitos
2.1.4. São corretos os passos das construções nos traçados gráficos
2.1.5. A linguagem é simples e clara (adequada ao nível de ensino
proposto)
2.1.6. Estabelece relações interdisciplinares
2.1.7. Estabelece relações claras entre conceitos e aplicações
2.1.8. Explora distinções entre os significados usual e técnico de um mesmo
termo
Tabela 1: Ficha de avaliação de livros didáticos de Desenho para o Ensino Fundamental e o Médio
(continuação)
2.1.9. Aborda conteúdos relacionados à graficacia6 além do desenho
geométrico (desenho conceitual, pictórico, projetivo)
2.1.10. Aborda conteúdos de modelagem (desenhística, estudo de materiais,
construção tridimensionais)
2.2 Formação de conceitos e desenvolvimento de habilidades e
atitudes
2.2.1. Contribui para a compreensão e atribuição de significados às noções,
procedimentos e conceitos relacionados ao campo do Desenho
2.2.2. Está adequado ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor do
educando
2.2.3. Valoriza o papel do educando na construção de significados
2.2.4. Estimula o uso de diferentes modos de representação, tais como
linguagem oral e escrita, desenhos, esquemas
2.2.5. Estimula a construção progressiva de uma linguagem gráfica
significativa
2.2.6. Estimula a construção da ideia de inferência em Desenho
2.2.7. Estimula a manipulação de material concreto para a (re)descoberta
de conceitos
2.2.8. Estimula e orienta para atividades que conduzam/possibilitem ao
estudante fazer conjecturas
2.2.9. Apresenta problemas que não tenham solução ou tenham mais de
uma solução
2.2.10. Apresenta e/ou estimula que o estudante desenvolva estratégias
distintas para a resolução de problemas
2.2.11. Apresenta e/ou estimula resoluções aritméticas ou algébricas
juntamente com as resoluções geométricas
2.2.12. Favorece o desenvolvimento da capacidade do estudante para
Chegar à(s) resposta(s) mentalmente
Estabelecer relações
Formular e resolver problemas
Observar regularidades e generalizar
Compor mentalmente imagens e formas bi e tridimensionais
2.2.13. Estimula o desenvolvimento da capacidade de analisar, argumentar,
tomar decisões e criticar
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1. O texto apresenta explicação dos símbolos e termos específicos
3.2. O tamanho das figuras facilita o entendimento pelo estudante
3.3. Usa cores para favorecer a compreensão
3.4. Orienta o uso das ferramentas de construção (régua, compasso etc.)
3.5. Permite estabelecer relações entre teoria e realidade
3.6. Há graduação de dificuldades
3.7. Há sequência na apresentação dos temas
3.8. São estabelecidas relações interdisciplinares
3.9. Existem justificativas para as construções geométricas
3.10. São citados teoremas
3.11. As construções geométricas são expostas apoiando-se na teoria da
geometria
3.12. Permite integração com outras disciplinas
3.13. Apresenta abordagens históricas
3.14. Complementa e aprofunda os conhecimentos de grandezas e medidas
Tabela 1: Ficha de avaliação de livros didáticos de Desenho para o Ensino Fundamental e o Médio
(continuação)
3.15. Sugere o uso do computador, provocando exercício de análise e
reflexão
3.16. Traz exercícios resolvidos com a explicação de todos os passos
3.17. Apresenta glossário sobre os termos usados com seu significado
3.18. Apresenta questões abertas e desafios, incluindo problemas cuja
solução necessite da seleção e interpretação de dados
3.19. Possibilita o desenvolvimento do raciocínio geométrico e habilidades
para identificar, caracterizar e classificar formas planas e 3D
3.20. Apresenta bibliografia e referências bibliográficas
4. ATIVIDADES PROPOSTAS
4.1. São adequadas aos objetivos pretendidos pelo autor
4.2. Incentivam o trabalho em equipe, exigindo diferentes agrupamentos
dos estudantes (duplas, grupos), propiciando a convivência, cooperação,
respeito e tolerância
4.3. Estimulam a prática da observação, investigação, análise, síntese e
generalização
4.4. Estimulam e propiciam a autoavaliação e autocrítica pelos estudantes
4.5. Propõem interações entre teoria, prática e o cotidiano
4.6. Estimulam a validação pelos estudantes dos seus resultados e
processos
4.7. Desenvolve estratégias que favorecem:
Compreensão
Memorização
Análise
Síntese
Formulação de hipóteses
Crítica
4.9. Favorecem o estabelecimento de relações com outras áreas do
conhecimento
4.10. Se aplicam à vivência atual do estudante
4.11. São reprodutíveis e podem ser ensinadas pelos estudantes para seus
familiares e amigos
4.12. Oferecem experiências em que o estudante pode conhecer práticas
profissionais relacionadas ao conteúdo em questão
4.13. Sugere outras atividades além das contidas no livro do estudante
5. Formação de valores
5.1. O livro veicula preconceitos que levem a discriminações de qualquer
tipo
5.2. Ocorrem no livro propaganda ou doutrinação religiosa ou ideológica
5.3. Há evidências de contribuições práticas do Desenho, referentes aos
conceitos, habilidade e atitudes, na construção da cidadania
5.4. Identificam-se as atribuições política, econômicas, sociais e culturais dos
conhecimentos abordados
II – MANUAL DO PROFESSOR
1. Explica os pressupostos teóricos e objetivos que nortearam a elaboração
da obra
2. Há ocorrência entre os pressupostos teóricos explicitados e o livro
didático
3. Contribui para a formação e atualização do professor
4. A linguagem é clara
5. Oferece informações adicionais ao livro do estudante
6. Sugere outras atividades além das contidas no livro do estudante
7. Apresenta a bibliografia utilizada pelo autor
8. Sugere leituras complementares para o professor
9. Sugere leituras complementares para o estudante
10. Sugere filmes e vídeos para o professor
Tabela 1: Ficha de avaliação de livros didáticos de Desenho para o Ensino Fundamental e o Médio (conclusão)
11. Sugere filmes e vídeos para o estudante
12. Sugere ou incentiva a valorização da experiência de vida dos discentes
13. Orienta o professor quanto ao processo de avaliação e apresenta
sugestões adequadas
14. Apresenta resolução das atividades propostas
15. Há sugestão e orientação para a construção de materiais didáticos
16. Há sugestões e orientações do uso da tecnologia, para uso de softwares
na área de geometria
17. Contribui de forma efetiva para uma melhor utilização do livro
Fonte: Adaptado de Zouin, 2004, p. 8-11
O critério de seleção de livros didáticos para análise foi o de recorrência de uso atual nas
escolas públicas e privadas onde a disciplina Desenho ou Desenho Geométrico é oferecida,
livros que ainda são editados e/ou vendidos hoje:
3 — Contribuições
Da análise dos livros didáticos selecionados, pelos critérios da lista adaptada de Zouin
(2004), foram destacados aqueles não contemplados por um livro ou coleção a fim de
articular possibilidades de adaptação e atualização por meio de contribuições
identificadas na literatura, portanto:
estudado, o aluno pode fazer um consumo crítico da cultura material, como participar do
projeto do plano diretor de sua cidade, fazer escolhas ambientalmente mais amigáveis na
compra de produtos e bens materiais e, principalmente, pode estar consciente dos
impactos socioeconômicos e culturais de diferentes políticas adotadas por dirigentes
governamentais e empresariais na realização de projetos relacionados ao campo da
expressão gráfica (BATISTA; MEDEIROS, 2016, p. 135).
As atividades se aplicam à vivência atual do estudante, são reprodutíveis e
podem ser ensinadas pelos estudantes para seus familiares e amigos,
oferecem experiências em que o estudante pode conhecer práticas
profissionais relacionadas ao conteúdo em questão.
De acordo com o princípio de aprendizado que relaciona novas informações a memórias
do educando, quanto mais próximo de sua realidade um novo conceito se apresenta, mais
fácil e profundamente ele se afixa. O educador pode experimentar em seu planejamento a
prática do design centrado no usuário, no que o livro didático pode oferecer referências e
suporte. O mesmo princípio pode ser ensinado ao estudante, para que transmita a outros o
conhecimento adquirido nas aulas de Desenho.
4 — Conclusões
A pesquisa realizada neste artigo está vinculada a outras publicações das autoras
relacionadas ao Desenho e ao Design na educação básica. Seu objetivo reside em
encaminhar trabalhos futuros, que contemplem criação e experimentos dos materiais
propostos. No campo das contribuições, se restringe a sugestões para educadores e
autores do campo, para que possam testá-las em suas próprias práticas, com mudanças,
acréscimos, meios e métodos que considerarem adequados, e cujos resultados convidamos
a compartilhar. Com essas contribuições propostas para o improvimento do livro didático
de Desenho e seus conteúdos, espera-se, conforme Batista:
“instrumentar as gerações futuras para a vida num mundo estruturado sobre aquilo
que é projetado, construído e comunicado por seres humanos. Isso as possibilitará
interagir criticamente com essa produção e participar dela em diferentes níveis,
desenvolver a capacidade de se comunicar graficamente, a coordenação motora fina, a
recepção e devolução dos apelos afetivos da cultura material, a fim de contribuir com
uma sociedade mais igualitária no que diz respeito ao consumo de imagens e artefatos
e de acesso às cidades” (BATISTA, 2017, p. 86).
Referências
ALDRICH, F.; SHEPPARD, L. ‘Graphicacy’: the fourth ‘R’? In: Primary Science Review, 64,
8-11, 2000.
ANTUNES, Celso. Alfabetização emocional: novas estratégias. Petrópolis: Vozes, 1999.
BATISTA, Cristina Jardim. Taxonomia de objetivos educacionais para a
universalização do Desenho no ensino básico brasileiro. 2017. 92f. Dissertação
(Mestrado em Design) – Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
BATISTA, Cristina Jardim; MEDEIROS, Ligia Maria Sampaio de. Desenho projetual para a
apropriação do espaço urbano. In: Lugar Comum: estudos de mídia, cultura e cidadania. v.
1, n. 1. Rio de Janeiro: UFRJ, jan 2016 - abr 2016.
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