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determinação de critérios
em psicologia aplicada *
II
I!
• Parte deste trabalho consta de uma comunicação apresentada à I Reunião Anual de
Psicologia da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto - S. Paulo, em outubro de 1971.
".. Psicólogo do ISOP.
Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 24 (3): 7I -82, jul.fset. 1972
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Acompanhando o pensamento científico atual, essas atividades não
podem ser executadas empiricamente. Necessitam de uma programação
bem definida, estudos preliminares, experimentação e, sobretudo, de cri-
térios operacionalmente definidos, que possam servir como ponto de apoio
ao julgamento que se imprime à validade de certas proposições.
A psicologia científica, hodiernamente, não pode permitir que os
estudos norteadores de suas atividades sejam baseados em inferências
estabelecidas a priori, e que careçam de base experimental, objetiva, e
mesmo de levantamentos anteriores à execução do planejamento, pois, como
é crescente a "influência" da psicologia aplicada à indústria nas diretivas
às atividades laboriais, as afirmativas e as propostas de solução devem ser
impregnadas de critérios objetivos, critérios de produção e de satisfação,
que assegurem às deduções ou proposições apresentadas, alta probabilidade
de comprovação em suas aplicações no campo pragmático.
Deste modo, as pesquisas em psicologia industrial devem ter sempre
como ponto de partida a análise do trabalho, isto é, um exame de todas
as variáveis envolvidas na atividade que se estuda, onde se buscarão os
critérios que vão definir o problema de maneira objetiva e determinarão
as verdadeiras metas da pesquisa, bem como os modelos de comparati-
vidade imprescindíveis à demonstração da veracidade das afirmações que
se sucederão. Lembrando o Pro f. Paul Stephaneck (1), "esta é uma obri-
gação que os psicólogos industriais conhecem bem, mas poucos dentre
eles a praticam".
Algumas vezes, essa terminologia indicativa, "análise do trabalho",
não é usada, sendo substituída por designações mais tradicionais e menos
completas, como: "análise ocupacional", "análise profissiológica", "aná-
lise profissiográfica". De Montmollin (2) a considera como "análise de
tarefas" e a define pelas suas técnicas como sendo "o conjunto de proce-
dimentos que, partindo de um modelo, permite identificar, e geralmente
medir, as variáveis que se consideram características de determinado posto
de trabalho".
Ao estudar um cargo, o analista do trabalho freqüentemente comete
alguns erros fundamentais:
a) erros de ponderação - a partir de observações assistemáticas ou de
opiniões de terceiros, o analista atribui valores numéricos diferenciais às
exigências das tarefas;
b) erros de conceituação - refere-se às exigências das tarefas em termos
de aptidões, de caráter, e de outros constructos, sem definições opera-
cionais;
c) erros de descrição - descreve o que o ocupante do cargo "deve fazer"
e não "o que faz" na realidade;
d) erros de verificação - emprega métodos únicos independentemente
dos objetivos particulares a cada situação.
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A escolha dos métodos de análise do trabalho que vão ser empregados
em cada caso específico é muito importante, pois, eles devem garantir a
comparatividade dos resultados, o valor das deduções e a objetividade.
A opção por um, ou mais de um deles, baseia-se no conhecimento dos
diferentes métodos pelo analista do trabalho e na adaptabilidade de cada
um às condições específicas. "Entretanto, é a intenção final do estudo que
determina geralmente o método a adotar" (3) .
Vamos distinguir neste item os métodos qualificados como clássicos,
que tendem a cair no desuso, e os mais aplicados na atualidade, que tenta-
remos descrever com maior profundidade.
Segue-se um quadro indicativo dos métodos mais conhecidos ou usados:
Esses métodos caracterizam-se pela descrição dos cargos por seus próprios
ocupantes. Os trabalhadores são solicitados pelo analista a prestarem
informações as mais variadas sobre o seu trabalho. Eles apresentam o
inconveniente da padronização das questões, o que leva à deficiência de
muitas informações complementares importantes.
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I 1.1.1.1 A entrevista com o titular do cargo
1
entrevista com o titular do cargo
INTERROGATIVOS f explicitação provocada
agenda das operações do cargo
1 entrevista com grupo de profissionais
DIRETOS
auto-observação { descrição por código
OBSERVAÇÃO DIRETA {
observação descritiva descrição por gráficos
I . I . I .2 Explicitação provocada
(método de reconstrução por introspecção)
~
mais, pode-se perfeitamente montar um "organograma" da função, onde
Análise do trabalho 75
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são explicitadas as vanaveis pertinentes à "localização" do cargo e sua"
relações com outros, que de um modo ou outro afetam ao cargo em
estudo e/ou ao seu ocupante.
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trabalho; os problemas de higiene e segurança; os aparelhos e máquinas
utilizados.
Este método é muito usado, mas certos analistas aproveitam mal as
observações que são utilizadas para fazer inferências a respeito das qua-
lidades requeridas pelo cargo.
a) Descrição com a ajuda de códigos - Nas observações, por mais
objetivo que se tente ser, sempre aparece um pouco do observador. São os
momentos onde os detalhes seletivamente são mais detectados; as palavras
empregadas para definir certas situações; mesmo a identificação de algumas
variáveis é diferente a cada momento ou em cada indivíduo.
Baseando-se em tais fatos tem-se utilizado categorias, anteriormente
definidas e codificadas, para que o observador faça suas anotações. Deste
modo, qualquer acontecimento observado teria uma categoria, unifor-
memente concebida, para que fosse inserido.
b) A descrição por meio de gráficos - Uma vez que as tarefas e ope-
rações foram codificadas, é possível estabelecer uma seqüência a esses
códigos de maneira que '0 seu conjunto represente as fases de execução
dos trabalhos, o funcionamento global do cargo e mesmo as intercorre-
lações entre os diferentes cargos estudados.
Assim sendo, como nos processos de diagramação, obtém-se um "fluxo-
grama" do cargo, que pode inclusive ser expresso na linguagem dos
computadores e, deste modo, prestar-se ao estudo de variáveis atuantes
nos elos de ligações de uma tarefa à outra em um cargo, ou entre tarefas
de diferentes cargos.
Tal método aplica-se muito bem ao estudo .dos chamados "tempos
mortos" e dos sistemas e métodos que norteiam os trabalhos na organização.
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Sendo P o grau de preCIsa0 desejado ou que se quer saber; p a por-
centagem de aparecimento da tarefa estudada, tomando-se levantamentos
anteriores e N o número de observações realizadas ou a se fazer.
Tal método é aplicado sobretudo para definir as atividades de um
cargo, o volume de execução dessas atividades e mesmo para detectar
certas anormalidades no funcionamento desse cargo. Não se justifica,
entretanto, sua aplicação aos que envolvem tarefas repetitivas.
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I .2.2 Análise funcional do cargo como um sistema
SINAL I
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,--_H_O_M_E_M_--, -<RESPOSTA) MÁQUINA
Análise do trabalho 79
ticos do funcionamento deste posto de trabalho, como: a freqüência e os
momentos das pausas no trabalho; o trabalho em equipe; a influência
da música no rendimento; as causas da fadiga; etc.
A construção de simuladores, entendidos como postos artificiais que
representam as condições de trabalho do cargo estudado, requer uma aná·
lise profunda do trabalho em questão evidenciando as variáveis estruturais
e, principalmente, as funcionais pelo estudo dos sinais envolvidos no fun·
cionamento do sistema.
Ao mesmo tempo que a análise do trabalho é condição essencial à
construção de simuladores, eles podem servir ao estudo das variáveis Im·
manas e mecânicas envolvidas no trabalho de um modo mais completo do
que a observação no próprio local de trabalho, uma vez que os labora-
tórios dispõem de aparelhos registradores, programadores, que permitem
noções mais objetivas a respeito das variáveis isoladas.
Os simuladores são muito usados no estudo de postos que apresentam
inconvenientes à presença do analista do trabalho, como as cabinas de
aviões, as cápsulas espaciais, as cabinas de caminhões, etc. Mas a aplicação
dos simuladores não se restringe apenas à análise do trabalho. Eles são
imprescindíveis a programas de seleção e formação de pessoal a postos
muito específicos, como os pilotos de aviões, os astronautas, os operadores
de radar, etc; e também a estudos visando a melhoria das condições de
trabalho.
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incidente deve ocorrer em uma situação onde o propósito ou intenção do
ato pareça razoavelmente clara ao observador e onde as suas conseqüências
sejam suficientemente definidas para deixarem poucas dúvidas relacio~
nadas aos seus efeitos", ou seja, o incidente pode ser caracterizado como
uma ruptura no funcionamento normal de uma sistema fechado qualquer.
A respeito de acidente o Prof. Faverge (5) diz que "os perigos
aumentam fortemente nas situações ditas de recuperação, onde os homens
abandonam sua atividade normal para reparar, recolocar em estado, após
o incidente perturbador", de onde podemos concluir que os acidentes são
precedidos de incidentes, sendo considerados um tipo especial de inci-
dente, no qual é envolvido necessariamente o ser humano. Exemplifi.
cando: o operador acelera a velocidade de uma máquina projetora. A
quebra do filme durante a projeção é um incidente, mas se por esse
acontecimento o operador é atingido, é caracterizado, então, o acidente.
A aplicação do método dos incidentes críticos consiste na coleta de
observações diretas de comportamentos extremos fazendo uso, para tanto,
de questionários que são aplicados aos superiores imediatos dos trabalha-
dores das funções que se estuda. Em uma tentativa de adaptação desse
método às nossas condições (6),. quando se buscavam critérios para a
seleção e avaliação de pessoal, foram entrevistados "chefes de turma" de
"ajudantes de eletricistas" de uma empresa de distribuição de energia
elétrica, aos quais se formulavam as seguintes perguntas:
1. "Pense no melhor ajudante de eletricista entre seus subordinados, e
que trabalhe sob suas ordens há três meses pelo menos. Agora, pense em
uma coisa que ele fez e que foi notada por você, porque, do ponto de vista
profissional, era muito boa. Conte·me exatamente como foi e o que ele
fez nesse momento. Por favor, não cite os nomes dos sujeitos."
2. "Pense agora no pior ajudante de eletricista entre seus subordinados,
e que trabalhe sob suas ordens há três meses pelo menos. Agora, pense em
uma coisa que ele fez e que foi notada por você, porque, do ponto de
vista profissional, era uma falha. Conte-me exatamente como foi e o que
ele fez nesse momento. Por favor, não cite os nomes dos sujeitos."
Fornecendo informações bastante úteis aos diversos campos de estudo
das atividades humanas, o método dos incidentes críticos apresenta, quando
de sua aplicação, a necessidade de obediência e algumas fases muito bem
definidas:
a) determinação dos objetivos principais da atividade que se pretende
estudar;
b) especificar as observações a serem feitas, isto é, definir quais compor-
tamentos serão considerados no estudo;
c) indicar os relatores bem como desenvolver planejamento para que
eles possam fornecer as informações;
d) coleta dos dados mediante entrevistas, observações, questionários, etc;
A nálise do trabalho 81
e) analisar os dados tentando codificar as informações contidas nos
relatos, isolando categorias e grupo de categorias;
f) interpretação dos dados obtidos pela análise dos relatos.
Esse método tem aplicações bastante amplas dentre as quais se des-
tacam: treinamento, critérios para medida de desempenho, seleção e clas-
sificação, adaptação de máquinas ou equipamentos às capacidades hu-
manas, consultas e psicoterapias.
Para bem sentirmos a necessidade de uma criteriologia ao se estudar
o trabalho e a profundidade de penetração do método dos incidentes crí-
ticos, vamos citar afirmações contidas nos relatórios de pesquisas do Pro-
grama de Psicologia de Aviação: "O objetivo principal dos procedimentos
de análise de trabalho deveria ser a determinação das exigências críticas.
Essas exigências incluem aquelas que foram demonstradas como tendo
feito a diferença entre o sucesso e o fracasso na execução de uma parte
importante do trabalho, determinadas em número significativo de exem-
plos. Demasiado freqüentemente, afirmativas relacionadas às exigências de
trabalho são meramente listas de todos os traços desejados nos seres
humanos. Estes praticamente não auxiliam na seleção, classificação ou
treinamento de indivíduos para tarefas específicas."
Referências bibliográficas
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