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28/01/2019 Löwy: Marxismo além do Progresso e do Trabalho - Outras Palavras

Löwy: Marxismo além do Progresso e do Trabalho

Pensamento de Marx está vivo, mas apenas se


admitir suas próprias lacunas e insuficiências — e
ouvir vozes rebeldes como as Mariategui, Benjamin e
Rosa Luxemburgo

OUTRASMÍDIAS TRABALHO E PRECARIADO


por Brasil de Fato Publicado 04/07/2018 às 19:25 - Atualizado
20/12/2018 às 23:17

Michael Löwy, entrevistado por Marco Álvarez*, no site


da Fundação Miguel Enríquez | Tradução: Vivian Neves
Fernandes, da Brasil de Fato

O franco-brasileiro Michael Löwy é um dos mais destacados


intelectuais revolucionários em nível mundial. O sociólogo e
filósofo marxista é um dos principais impulsionadores da
alternativa ecossocialista. Em uma entrevista para a Fundação
Miguel Enríquez, do Chile, ele dialoga sobre o marxismo na
América Latina, movimentos sociais, o novo internacionalismo e
os desafios do anticapitalismo.

Michael, no seu livro O Marxismo na América Latina,


você assinala três períodos na história do marxismo na
região: um “período revolucionário”, a partir dos anos de
1920 até meados dos anos 30, no qual se sobressaem
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aporte teórico de [José Carlos] Mariátegui e a experiência


de insurreição em El Salvador, em 1932; um “período
stalinista”, iniciado em meados dos anos 1930 até 1959,
marcado pela hegemonia soviética; e um terceiro que você
denomina “novo período revolucionário”, iniciado com o
triunfo da revolução cubana. Continuando com essa
classificação, como você denominaria a etapa do
marxismo na América Latina dos últimos 25 anos e quais
seriam suas principais características?

Michael Löwy: Boa pergunta… É difícil saber se o período


revolucionário aberto pela Revolução Cubana segue até hoje, de
alguma forma, ou se ele terminou logo depois de 1990 (derrota dos
Sandinistas [Nicarágua], dos Acordos de Paz em El Salvador).
Talvez o futuro nos dê a resposta. Outra hipótese é considerar
terminado o capítulo iniciado em 1959 e definir os últimos 25 anos
como “a batalha antineoliberal”: é um período no qual se ensaia, em
vários países do continente, saídas do inferno neoliberal. Uma
hipótese mais otimista seria falar de um período de “socialismo do
século 21”, mas isso é, por enquanto, mais um horizonte de
esperanças que uma realidade social. O que caracteriza esse período
é: 1) a grande dispersão da referência marxista, que já não é
limitada às correntes “clássicas” da esquerda; 2) a vitória eleitoral
da esquerda na maioria dos países, mas com uma diferenciação
muito clara entre os governos social-liberais (Brasil, Uruguai, Chile)
e os anti-imperialistas (Venezuela, Bolívia, Equador), com várias
situações intermediárias.

No prefácio da reedição do livro A Teoria da Revolução no


Jovem Marx, você se refere às “numerosas lacunas,
limitações e insuficiências de Marx e da tradição
marxista” e sugere corrigi-las “por meio de um
comportamento aberto, uma disposição a aprender e se
enriquecer com as críticas e contribuições de outros
setores”. Nesse contexto, como se expressaria esse
comportamento aberto e quais são esses “outros setores”
chaves para corrigir a teoria marxista e suas
contribuições?

Em primeiro lugar, acredito que nós, os marxistas, temos que estar


dispostos a aprender com os movimentos sociais: sejam os mais
“clássicos”, como o movimento operário e o camponês, ou os mais
“heterodoxos”, como o feminismo, o indigenismo, as redes de luta
contra o racismo. Trata-se, nestes últimos casos, de problemáticas –
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as formas não classistas de opressão – pouco desenvolvidas na
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tradição marxista. Vale a pena também “reinventar” as outras


correntes revolucionárias do socialismo – incluindo as que Marx e
Engels já haviam “refutado” – como os socialistas utópicos, os
anarquistas e o que eu chamaria de “socialistas românticos”:
William Morris, Georges Sorel, Charles Péguy. Temos também que
estar abertos às contribuições do pensamento social não marxista,
de Max Weber a Sigmund Freud, ou de Karl Mannheim a Hannah
Arendt, o que não significa, claro, aceitar todos seus apontamentos.

Mas penso que a principal insuficiência da tradição marxista –


ainda que se encontrem alguns elementos importantes sobre essa
temática na obra de Marx e Engels – é a questão ecológica. Uma
reflexão marxista no século 21 tem que dar a isso uma importância
central pela ameaça que representa, para a humanidade, o processo
de destruição capitalista acelerada do meio ambiente e dos
equilíbrios ecológicos (mudança climática). Isso implica uma
revisão da visão tradicional do “desenvolvimento das forças
produtivas” e mesmo do socialismo. O conceito de “ecossocialismo”
busca traduzir essa nova visão ecológica e antiprodutivista da
revolução socialista.

No Chile, desde 2011, encontramos um forte


protagonismo dos movimentos sociais, como o estudantil,
os regionalistas, etc. Que avaliação você faz desses
movimentos sociais e qual deve ser, na sua opinião, a
relação entre eles e as organizações anticapitalistas?

O movimento da juventude estudantil no Chile e a luta dos


Mapuche são alguns dos movimentos sociais mais importantes da
América Latina nos últimos anos. Creio que os anticapitalistas
devem apoiar sem reservas essas mobilizações, tratando de
impulsionar sua dimensão antissistêmica e fazendo propostas
concretas que enfrentem a lógica do capitalismo neoliberal.

Duas das referências históricas do marxismo que você


estudou são Walter Benjamin e Rosa Luxemburgo. Quais
seriam, na atualidade, as principais contribuições ao
marxismo dessas referências?

O que os dois têm em comum é a ênfase na luta de classes como


eixo central do pensamento e da ação marxista. Rosa Luxemburgo
representa uma das formas mais radicais da filosofia da práxis: é na
ação coletiva, na luta, que se desenvolve a consciência de classe e a
auto-organização dos oprimidos. Por isso, a democracia, ou seja, a
participação efetiva da classe explorada nas decisões, é uma
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condição fundamental do processo de transformação revolucionária


da sociedade.

Walter Benjamin se propôs a entender a história “à contramão”, do


ponto de vista dos oprimidos. A partir dessa perspectiva, ele
rechaça a visão burguesa – compartilhada por boa parte da
esquerda – da história como “progresso”. Para ele, a revolução não
é a conclusão de uma longa evolução “progressista”, mas a
interrupção da cadeia milenar da dominação.

Você militou junto com Daniel Bensaïd [filósofo francês,


teórico do movimento trotskista na França e dirigente da
Quarta Internacional] durante muitos anos. Qual é, no seu
ponto de vista, o principal legado teórico dele?

São muitas as contribuições de Daniel Bensaïd, mas a mais


importante me parece ser seu apontamento – inspirado por Pascal e
pelos trabalhos do marxista heterodoxo Lucien Goldmann – da
revolução como “aposta melancólica”. “Aposta” porque não há
nenhuma certeza no triunfo do socialismo, na emancipação dos
oprimidos. O revolucionário só pode apostar em um futuro possível,
jogando sua vida e sua ação nessa esperança, correndo o risco da
derrota. E “melancólica” porque, até agora, os grandes
revolucionários – Rosa Luxemburgo, León Trotsky, Che Guevara,
Miguel Enríquez – foram derrotados e assassinados.

Você também escreveu bastante sobre Che Guevara. Onde


você acredita que se encontra a vigência de seu
pensamento?

Por um lado, no seu apontamento estratégico: “não há outra


revolução a fazer – ou é revolução socialista ou caricatura de
revolução”. Por outro lado, em sua tentativa, durante sua estada em
Cuba, de propor um caminho em direção ao socialismo alternativo
ao modelo soviético, com maior democracia e um conteúdo ético
comunista. É um erro reduzir Guevara ao “guerrilheiro heroico”.
Ele foi um dos pensadores marxistas mais importante da América
Latina. O humanismo marxista dele encontra sua máxima
expressão em seu internacionalismo, na convicção de que um
comunista tem que sentir como uma agressão pessoal um golpe que
atinge um lutador em qualquer país do mundo.

Você sempre foi um internacionalista. Existe um novo


internacionalismo? De que forma se expressa hoje esse
novo internacionalismo?
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Parece-me que o novo internacionalismo, tal como se apresenta em


movimentos como a Via Campesina, em iniciativas como o
altermundialismo ou nos levantes dos “indignados”, tem um
conteúdo anticapitalista e/ou antissistêmico. Já não apresenta,
como nos anos 1960, a “solidariedade” com as lutas do Sul, mas sim
uma aliança entre movimentos do Norte e do Sul contra seus
inimigos comuns: o neoliberalismo, o FMI, o Banco Mundial, as
multinacionais, o imperialismo. Os herdeiros das melhores
tradições do internacionalismo do passado – os anarquistas, os
marxistas da Quarta Internacional, os guevaristas – participam das
mobilizações do novo internacionalismo.

Você é um dos grandes impulsionadores da alternativa


ecossocialista. O livro O Que É o Ecossocialismo? compila
vários artigos seus sobre o tema. A respeito disso, poderia
explicar brevemente o que é o ecossocialismo e quais são
seus principais fundamentos teóricos?

O ecossocialismo reivindica a herança marxista, da crítica da


economia política capitalista por Marx e o programa socialista. Ao
mesmo tempo, se dissocia das vertente produtivistas do marxismo
– que predominaram no curso do século 21 – e rompe com o
modelo soviético (antidemocrático e antiecológico) de pretensa
“construção do socialismo”.

Muitos ecologistas criticam Marx por considerá-lo um produtivista.


Tal crítica nos parece equivocada: ao fazer a crítica do fetichismo da
mercadoria, é justamente Marx quem coloca a crítica mais radical à
lógica produtivista do capitalismo, a ideia que a produção de mais e
mais mercadorias é o objeto fundamental da economia e da
sociedade.

O objetivo do socialismo, explica Marx, não é produzir uma


quantidade infinita de bens, mas sim reduzir a jornada de trabalho,
dar ao trabalhador tempo livre para participar da vida política,
estudar, jogar, amar. Portanto, Marx proporciona as armas para
uma crítica radical do produtivismo e, notavelmente, do
produtivismo capitalista. No primeiro volume de O Capital, Marx
explica como o capitalismo esgota não só as forças do trabalhador,
mas também as próprias forças da terra, extinguindo as riquezas
naturais. Assim, essa perspectiva, essa sensibilidade, está presente
nos escritos de Marx, e, no entanto, não foi suficientemente
desenvolvida.

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Uma reorganização do conjunto dos modos de produção e de


consumo é necessária, baseada em critérios exteriores ao mercado
capitalista: as necessidades reais da população e a defesa do
equilíbrio ecológico. Isso significa uma economia de transição ao
socialismo ecológico, na qual a própria população – e não as “leis de
mercado” ou um comitê político central autoritário – decidam, em
um processo de planejamento democrático, as prioridades e os
investimentos. Essa transição conduziria não só a um novo modo de
produção e a uma sociedade mais igualitária, mais solidária e mais
democrática, mas também a um modo de vida alternativo, uma
nova civilização ecossocialista, para além do reino do dinheiro e da
produção ao infinito de mercadorias inúteis.

Quais seriam, na sua opinião, as principais tarefas das e


dos militantes ecossocialistas nos países da América
Latina?

Participar em todas as lutas e mobilizações socioecológicas, dos


indígenas e dos camponeses contra a fúria destruidora do
agronegócio e das multinacionais, com a juventude e a população
periférica pelo transporte público e gratuito, etc. No seio dessas
lutas, contribuir na tomada de consciência anticapitalista e na
apresentação de propostas concretas e uma perspectiva alternativa
radical, o ecossocialismo.

Para finalizar, você poderia falar sobre a importância que,


na atualidade, adquire a unidade das e dos
anticapitalistas?

Permita-me citar um bonito artigo de José Carlos Mariátegui para o


Primeiro de Maio de 1924: “Uma variedade de tendências e grupos
bem definidos e distintos não é um mal; ao contrário, é um sinal de
um período avançado no processo revolucionário. O que importa é
que esses grupos e essas tendências saibam como atuar em
conciliação, frente à realidade concreta do dia a dia. (…) Que não
empreguem suas armas (…) para ferir um ao outro, mas sim para
combater a ordem social, suas instituições e seus crimes”.

É importante constituir, em um primeiro momento, uma Frente


Única das e dos anticapitalistas, com base nas tarefas concretas da
luta social e ecológica; e, em um segundo momento, tratar de criar,
pela convergência de múltiplas correntes, uma Federação
Anticapitalista capaz de atuar com uma perspectiva de
transformação revolucionária da sociedade.
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_______
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*Marco Álvarez é diretor da Fundação Miguel Enríquez.

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