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A Camêleida,
ou

‘A Congregação dos Lentes de Olinda.

Poëma heroî-comico-salyrico';

OBRA POSTHUMA

DO

Dalai-Lam a do Japão'.

s. PAULO;
Tj-’pogfaphia Imparcial do Silvão l Rua >'ova dei. Jose n. 4! ’
IS39#
Que ^se espal he, e se ( a n i o n o univeinoj
Se lao sublime preço l a b e ein verso.
Camoens.
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A minha espera
Outros la estão
Para se abrir
Al Congregação.
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o f / v » fi! iiOijr'O
líijfi fiiî /r:cH-
DEDICATORU.

jio Illustvlssiino e Bavercndissimo Scnhor Pmtrc


Mestre Mígud do Sacramento Lopes Cama ;

Merillssimo Ex-Dircctor Interino da Academia das


Sciencias Sociaes , e .fnridicas da (iidade de
Oiinda, Professor de Rlielorica no ColP-fiio das
Arles da mesma Academia, Ex-Direclor do (,ol-
Pm.ío (Ios Orphans da mesma Oidade, i^repdor
da'' Cai)ella Imperial, Cantor do Lniz do Ue^m,
Depnlado á Assembléa Provincial de Pernam-
1 )0 ( 0 , Refolador (’omplelo da peslilencial dou­
trina do inliM'esse, Anclor do novo >islema Ma-
tcrial-Theolojiico , Pu'dacli'r <lo Popular, e Es'
criplor do Carapuceiro. òcc. (Sec.

Illustrisslmo, e Ba'erendisslmo Padre Mestre.

A in nlia gratiiiS le ua nif..;- veibos ,


Me-.î-î VTS ts de lisoaju não (ocados.

Sc me não vale o llicma para desculpai a


niexjuinliez da oílerla , ornou reconhecimen­
to do‘;cança na »^randesa d’al ua de Y. l\
S('])arado de A\ Íl pela immensa^ l)arreira
xle lon^iriquos mares, e inaecessiveis moula
nhas, oue medèão entre o pccpieuo lleiiio
■* 1 ii
IV

do T i b e t , e o vaslo Imperlo do Brasil, não fjfi


podia accreditar que V. R. se lembrasse de
mini, q u an do, na sua viagem pela Nova Hol- 1 íol
]anda , onde (consta-me) tivera a gloriosa ven-^
tura dc descobrir uns novos bancos de ba-
calháo, emprehendendo uma nova divisão geo-
graphica, houve por bem aumentar os meos
dominios, desterrando o Dairi para a contra
costa dos alguidares, e fazendo-me Chefe Es­
piritual do Japão ; mas a minha increduli­
dade cedèo áo peso de um documento do
proprio punho de V. R.™''; com eífeilo assim
o ordenava V. R . “ “ em um dos seus cara-
puceiros de i 85 ^.
Ora vendo-me penhorado para com V. R.
por um favor tão extremado, como sponta-
neo , e sabendo dos seus grandes feitos quando
Director Interino dessa Academia de Olinda,
não pude vencer comigo entregal-os á poste­
ridade. Metti-me a Poeta j e alinhavei esses
pedaços de prosa, á que dei o nome dé
poèrna, só por ter o gosto de dedical-o á V.
11."'“ Não vai dividido em cantos; porque
no Tibet não se observão essas regras: foi
feito de um fôlego, e se V. R . “ * não lhe
descobrir feitio^ tenha paciência, que mais
vale a nossa saúde.
Approveito esta occasião para lhe pedir um
exemplar d ’aquelle celebre poema deste mes­
mo genero intitulado — a Coliineida. Como
e obra de Y. persuado-me que deve
corresponder áo alto conceito, que merecem
os seus avantajados talentos. Digne-se por
tanto Y. R. acolher benigno este limitado
íructo da minha gratidão: e se o debil orgao
de minha fraca voz não puder transmittir as
♦ íerações futuras os memoráveis feitos de Y.
R e dos seus dignos Collegas, Lentes dessa Kl"
Academia^ rogo-lhe que se não deixe aco­
bardar pela injustiça do presente século, que
eu de minha parte cheio de eutliusiasmo , e
de esperança, irei sempre exclamando com
o Auctor dos divinos Lusíadas.

Toda suspeita má tirai do peito;


Nenhum frio temor em vós se imprima:
Que vosso preço , e obras são de geito
Para vos ter o mundo em muita estima.

Tenho a honra de ser de Y. R.

Muito respeitador, e obrigado.

O Dalai-Lama do Japão.
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A Camèîeida,
ou

A Congregação dos Lentes de Olinda.


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Poènia lieroi-comico-satyrico.

^’ ão canJo feilos cVarmas estrondosos


( i iM'iilos heroes, que o inundo pasmao,
^em d’ um Orlando as aventuras caulo
So do \ ale de Leggio merecidas.
Mciis Miblimado asMimpto me desperta
O constrangido eslro, e me convida

A provar as agoas da Ilippocrene.
K lu , 6 Musa , que renome désle
/ O To.'Cano Areliuo , e presidiste
lie Boil< au aos versos engraçados,
Traze-mc se quer as brancas tintas,
l>e (jtio usai’ nao quiz Diniz lacelo
Qnai.do d’ Elvas o Bispo apregoava.
^esle empenho tão grande me soccorro,
Porque do 1'rio Lelbes sepultados
ÍSas esquecidas agoas se não liquem
Maravilhosos leitos eslnpcndos
];a bnrrical Conpegaçâo dos Lentes (i)
D’ Academia Juridica d’Olinda;
L a Fama eslrugidora por cem tubas
Os divulgue, os pro( lame iFuniverso.
l)iôc-mc,' ó Musa, poiquc INumc oficnso
Foi de Minerva esse Templo augusto
Em nojosa morada convertido
D’alvares burros ; porque má eslrella
Da Deusa profanado o sanctuario
Seus ineptos, stolidos Ministros
Sobre seo trono ídolos adorão,
?• ExpIica-me os motivos, e as causas,
Porque essa cabilda Doutorada
P -1^ ; i
Com tão brutal luror , com tanta raiva
Contra a Padroeira se rebella .
E que seja proscripta em fim decide.
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•l'. Não longe da formosa Mauricéa,
Por feitos gloriosos conhecida
ViVw 'i Entre as dezoito cslrellas, que abrilhantão
A Brasileira Esfera , está plantada
t Sobre um outeiro a desditosa Olinda.
Por um lado banhada d’Occcàuo,
Já florescente, hojo decahida
Oilerece a mais linda perspectiva
il Ao naula soírego, que demanda terra.
São belios os contornos da Cidade,
II!if * Tao vistosa de fora, quanto è dentro
Feya, irregular, e mal calçada.
Conventos derrocados, e vazios.
1. Enfermos edifícios , destacados
Em \cdelfas perdidas, vão formando
As solilarias ruas toiiuozas.
Por onde passão alanados bandos ll
De seus novos Colonos Acadêmicos,

ki*-.
(3 )

para as aulas presto se encaminhão


Ao som Jesse monolouo baJálo.
Pelas verdes ruas não so enconlrão
Moradores da terra transitando;
Apenas eai magoles se devisão
Conesos ohésos cachaciidos
As preguiçosas pernas estendendo.
Um antigo Mosteiro de São B(mUo
F oi ali de improviso transformado
Ein uma Academia de Direito ,
Pouco mais de dous lustros ha corrido.
Mais dòe o menos preço, era que foi tida
A educação da nossa Mocidade.
Talento, e luses titules não crão
Para ser nomeado Professor
Dessa escola nova ali fundada.
Ser Padre velho, Conego formado.
Ter ouvido de Say quatro lições
Descosidas, e ter um atlestado,
Diser que esteve cm Franca, ou em Coimbra>,
Era bastante ; tudo mais supria
Indigna, escandalosa patronage.
Desta sorte o sandèu , e o pedante
Ma Cadeira de Lente einpoleirado,
Qual se suj)punba ser em carne , e osso
O velho Pegas, Mendes, ou Nalasco ;
Qual, não menos tolo, acereditava
Ser João Baplisla Say em corpo, e alma;
Qual^ em íim se julgava Pardessus
Quando á èsmo citava as Ordenanças
.(4 )

Í)e Marinha de Franca e de Bllbáo.


Sendo porem ridículo diser-se
Que os Senhores machiichos Doutoraços
INiinea o Porão de veras, que lembraiiça •
Forão Peitos então por um decreto /i),
F Doutores legues lo»o surgirão.
Oh lado estranho , oh ea^o nunca visto !
O’ da Pabida Deoses vingadores,
Que dos Filhos da Terra o louco arrojo
Soubesieè» castigar , e converteste^ ih
A pn'sumpcosa iMoie em pedra,
\ingaliva iNemésis, que mudaste I
O Pormoso iXarciso em debil flor,
Se desses lolelròes vingar quisesseis
A insãna ousadia de ser Lentes,
Bem dev’rieis com igoal justiça
Fiu leprosos jumentos tranPormal-os. h
De.sl’arte a malPadada Academia
J)a recua bestial inPausta presa , E
Os seos nascentes, obscuros dias Ji
Ia tragando desolada, e liasíe, ‘ ^i
F u quanto sua Irmã na 1aulioca ,
n:^ Mais leliz na partilha , linha sido
Por hábeis Professores oceupaila.
A'^ora porem. Musa, tu me dise, s''li
ft»
Prnelrando os arcanos do Destino,
Qual inimigo Cenio perseguindo
Acadé.uia d’ Olin la (bvsil’oberco ,
Q uiz , t* couseg.iio lorn il-a ae d' la ,
Perdendo o sco priiuciro Director (3),
( M
ProstantP cidadão, probo, illnstrado,
Que tez ali .ser\iços relevantes.
^ãt> me <>scondas lambint porque motivo,
pslíunlo esse liij^ar já |)reencbido
Tor outra respeitável personapm (4),
l)<*via de passar ás mãos iníiignas
IJ’ um desfraclaclo hypócrita impostor,
Que da vida monástica enjoado,
i.ujos deveres sempre mal cumprira,
O rlauslro desampara sequioso
D ’enlrar no século, c de ser fallado.
Deslembrado vivia o pobre monge.
Morto p*r’ o mundo, lã no seu convento
De solána, e correya na cintura ;
Mas das trévas o Genio que insídia
Alé o macerado anacorèta
Doido de cilicios, s’eucasqnela
ISo Frade presumido sabi( hão,
K que largue o Mosteiro cm íim consegue.
Ja muiio bavia qu’era Ibolessor
í\o Seminário Fpiscopál d’OIinda;
Mas é dilncll coulenlar pedat)les :
Ja lhe fede a Dhelorica surrada
Do velho Quinliliano , e do Barbosa.
Meile-se á gazeteiro, eil-o no campo.
Talhando carapncas, disputando
A palma da victoria á 1 ohm tino
ISa salyra , no chiste , e na pilhéria.
Kíílra com desraslio na Polilica,
Dspinhusas questões Iodas decide.
( G}

Em todas as Sciencias dá quartada,


K mn dos selo sabios se rej)ula.
Rla! se vê nomeado Director
O nosso (an^dvrão Dònglin-Dònglln (5),
IVrlendo executar logo um projecto
Qne d’ha muito nos Icstos lhe bailavar
])a cáfiia Lcntáliea sondando
Os ânimos, à todos communica
A relorma , que tinha de propor,
E que havia leval-o á eternidade.
IMas um negocio de tão alta monta
ISão podia deixar de decidir-se
1'jin pleno Consistorio Doutorai :
î ’ara logo reune a Camdada
Ein occulta sessão extr ordinaria,
Som {jue o Povo Acadêmico soubesscj'
j ’ois não devia ser-lhe 1‘ranqueada
A Ibrmal discussão de tal medida.

Pnl-os, que se vêern todos congregados,


P ; Vão se assentando em torno de uma mèsa,
Testemunha ocular das parvoiccs,
Das nojentas questões ali travadas.
De suas sempre injnstas decisoens.
■ if-' Dougli n~Dbnglin toma a cabeceira,
Que como Director lhe coiuj)elia;
A ’ direita lhe íica o Secretario,
r.onogo velho , estúpido, e sandeu (6),.
I\ão menos avarento, que orgulhoso,
Chc)o de pueris formalidades
( 7 )
Ba rançósa Coimbra; c vai saccando
l)o bolso da casaca bolorenta
O seo par de cang:alhas, qne se achavão
Meltidas no snmonle derramado
INessa immunda caverna, onde reside
O roto , e cujo lenço de tabaco.
Sahindo do atolelro mascarradas
Assim mesmo as encaixa no nariz;
Sorve a pilada , c os dèdos alimpando
próxima cadeira, vai abrindo
ü livro para as actas destinado.
Kslá aberta a sessão: dice, e scnlou-se
Bónglin-Dònglin lodo repimpado
lN’nma cadeira larga de espaldar.
Da Samarra, e balina desquilado
Logo que os dormilorios do Mosteiro
Rcsolúlo deixou, nunca trajara
^egra iila, e chapéo Iriangjilar.
]\’iim casaco de pregas enlouado
Ali couipareceo o paspcdhão
De calças alvadias, e rajadas,
De collèle lavrado de velbido,
Cliaj)oo do copa baixa, o beira larga,í
C repilanles cadeyas do relogio •
Ao longo da pança penduradas;
Lma volta vcrinelba debrnada
D’unia renda at\ilada lhe cinii:ia
Todo o nedio pescoço, c sustentava
A caliida j)aj)ada , (jue pendia
Em lin/ia vertical sobre o bnadulho;
( 8 )
As encarnadas meyas contrastavão
Com fivélas de prata nos oapalos (7).»
Ridicula mistnra de cjusqiiilho,
E de velho jarrèta se observa
No trajar do farfante Director í
Que a congcrejíação secreta presidia, à 1'"-
ïnda não tinha findo o Secretario
O termo competente d’ abertnra ,
•J Quando s'erguendo vai Dònglin-Dòonglin
Da poltrona em que estava recostado,
E sacudindo a tremula cabèça
N’ um pomposo discurso assim prorompe:
Com que |)rasèr, Senhores, reunida
A sabia Congregação eu vèjo agora !
E que de confiança não m’ ispira *
H
O alto assiimpto, que deve d’occupar-nos-
Nesta sessão que tem de decidir
Os futuros destinos meos, o vossos,
E da Gcnlc Acadêmica d’Olinda !
Não venho aqui, Senhores, surpr’endèr
Vossa sabedoria, e maduròza :
Importante medida vou ])ropor-vos;
•ïfc ]\las sua magnitude, e transcendência
Não quer d’afogadilho ser traclada.
Temos |)Or nosso o tempo, ventilêmos
Com Ioda prufnndèza, e sanguefrio
Questão d’alto calibre, e d’alla monta.
]Mitro po caso : tende paciência
Que serei breve. Nisto o Secretario
Alajba 0 Orador para pedir-lhe
( 9 )
A faca de marfim, e os gnardanápos
Yindíís da Bibliolhéca do Japão (8),
Que disso Ilido agora precisava
Para expediente da Secretaria,
Cujos utens'is sempre zelàra (9).
me interrompa, diz-lhe o Padre Mestre
Do pedido indiscrète azeúmado;
Em outra occasião mais opporlnna
Lembre-se de fallar em maravalhas.
•No pedido, e resposta a Camclada,
INào sei que sal descobre, se desata
Em muitas, repelidas gargalhadas.
A ordem, meus Senhores, isto é serio,
Prosegno Dònglin Irèmulo, enfiado:
Vós não podeis ignorar. Senhores,
As boas disposições, os bons dósejos,
Que nutre este peilo consagrado
A’ piol de>la nossa Academia.
Observo porem, com magoa o digo,
Lm facto que apoyado na memória
De tantos sec’ los, foi-nos Iransmillido,
Triste legado dos antigos tempos!
Este 1‘acto parece oppor barreira
As boas iimovaçòes, ao raciocinio.
INão sei descortinar, eu o confesso,
Que fundamento houve, e que motivo
Para ser esta nova Academia
Desde o seo berço logo dedicada
A’ essa Deusa ulána de ser filha
Do Pai dos Dcoses vãos do Genlilismo,
( 10 )

Nem tildo quanto vèmos pralicar-se


Na velha Europa, na gabada Crecia
iJeve ser no Brasil arremedado.
Se á Minerva se quer render uin ciillo, ; í.|. I
I
Esse uâo deve ser nos extorquido;
N’esla nialeria quero lolerancia.
Ilumàno coração cultos não rende , 'i)ÍJ
Holocaustos não faz á Divindades ,
Que o interno santir foge , repelle.
Outras muitas, que sejào homogêneas
A’ nossas inclinações, que á nossos gostos
m Favoráveis se mostrem, nunea infensas,
Sejão nossas perpetuas defensoras;
E sobre as sacrílegas minas
Desse alcáçar infame, e vergonhoso
D’uma Deusa inimiga profanado,
Sejão seus novos tronos erigidos , i;Pft
E de nossos respeitos eircundados.
Que profundo pesar, que dor, que sinto, 1.'.
Quando vejo esta nossa Mocidade
Adorações sinceras, fervorosas ,íb)
A ’ um ídolo render, que mal conhece,
Que chama protector sò por costume 1
Lm dia saberão, quiçá não tarde, |l II
|i kl
Esses illudidos Acadêmicos l*!r
Que o Nume infenso, qu’hoje tanto acalão 'I
Mais por imitação, que por instinclo,
Seos destinos não vela. não protege
Os mesmos, que fiéis o idolalrão.
Eia pois, Senhores, mãos á obra
( 11 )
Não descoroçoar convem agora.
Seja clèsde ja enlronisada
Kiu lugar dessa Deusa a Hypocrisía .
Severas Divindades não queremos
Que o arbilrio nos coarclcm deshumanas.
Homenagens receba, e nossos cullos
Sacra Immoralidadc franca, e livre.
Não menos adorada om nossos peilos
Seja n’ um sólio d ouro collocada
Facil Pedanlaria, sempre grala
Aos que adbesão sincera lhe Iribulão.
Nem isto vos pareça estravaganle
])evanhyo de rtide phaulasia :
São estas Divindades de meo peilo,
Q u e , desde a primavera de meos dias.
Tão fiél adorei, como boje adoro.
lnu;cnua coníissão do intimo d aluia
Perante as vossas tendes espandiuia.
Mao grado meo a vida IMonacal
(iOnslrangido abracei, todas as regras
Desse penoso estado poslcrgnci ,
Lm relinado Uypocrila fui sempre,
Até que alfim cheguei á vèr-me livre
Dessa vida dausiral, que me pesava.
Mas ncni por isso boje secular
])i‘ixo de render culto á Hyj)Ocresia.
Kscuso ó allegar altos serviços,
Quií á Immoralidade prestei sempre :
Inda boje venero os sens dictâmes.
Bem me conhece todo Pernambuco,
( )
Nunca fiz caso cicssa imaginaria ^
Quiincrica Moral Jcificada.
8c o iV)ço da Panóila , c Casa-forte^
Se a l^mlc-íriJxòa, c Caldereiro ,
E oulros arrabaldes do Recife (lo)
Meos allos feilos allestar quizesscm,
Mais eloíjuentcs , c persuaslvas
Do que a minha suas voses forão.
Que direi agora da Pcdaniaria,
•7Í: Dessa, que tanto amo. Deusa augusta?
Eu , que sempre busquei iniciar-me
Nos seos mistérios , e nelles distinguir-me ?
Fallem por mim meos feitos tão sabidos,
Que o titulo bonoriíico mc derão
Do maior charlatão, do mór j)edãnte.
Q)uem foi esse , que sendo Deputado ,
N’Asscmb!eya propoz desta Provincia , Pe
Que se mandassem logo vir da França
Poros Arlesiatios? quem foi esse
Q)(tc leve a dita, e gloria de enconlrar Pü
jianeos de bacalháo na Nova Hollanda (t i)? Pf
()u(Mn foi que em derrota poz completa i:
O ftíçaniibso Bentham , Diderot Pí
Eiirr^ãmmo , infaniissinio D’ IIolbac (12),
Fi zurzindo toda sucia philosofante
Só com a vergalhada dos apódos,
Chalaeas capadoces, pedanles( as,
Lm novo philosóphií o sistema
Maleriai-Thcolo^ico fundou ( i 3)?
Sc a modéstia não fora, que nio obriga
.( 13 )

Ji.” ser mais reservado, bem poderá


Müslrar-vos que ninguém melhor lem feilo
O papel de pedanle ue&le inundo.
Ksta 6 pois. Senhores, a reforma.
De que mais urge a nossa Academia:
Folgo de ler a honra de estrcala.
Firme opoyo cnconlrar em vos espero ;
E desdouro rccáia sobre aqnelle,
Que arrastado de falso pirrhouismo ,
Ou do uma intollerancia mal assente.
Em balde impiignar uma medlcia
Que sempre bem dirão nossos vindouros.
Dice: e nos braços arrimado
Da commoda poltrona, vai buscando
Em grato pouso aquclla humanidade.

Pede venia o Sandeu , lodo iufunado


INcssas ideyas de supremazia
Por ser Lente mais velho, e Secrclario’,*
Porem Mauébijéto vai saltando
Pela prísa ao Sandeu, pede a palavra,
Vj scmu mais esperar que l!iá coneedão.
De lepeule se ergue, vai disendo:
yl minha popiadade , os mvos direito
Eu recramo, Senhores, nem supporío
l'è-me sem pecisão detlc esòaiado.
A minha nomeação é mais antiga,
jlmhora Seiihò Douto seja mais vclo.
Alem disto sustento a todo custo
Oatas pcrogalivu , que inda lenho :
2 ii
( 1i )
En soil , moos Senhores, Depnlado ,
E como tá, sou franco, e (Jeciflido ;
]Não cedo da palavra, pois me cabe
Falla lo>;o depois do Directo.
E so arguem íisé projecto de insurtáme
Então bom biiia com Manóbijéto.
INosle confli« to Dônglin decide
Ter a prelorencla da palavra
O l>oiitor mais antigo, e Deputado.
Da d< ci-'-ao se ap|)raz Manébijéto ,
Continua a íallar; mas o Saniièu
Eosnando diz à parle, nunca vira
Lm tal cO'ilume na l niversidade ( i 4).
l<v: Ou |)Orque as orMhas arranhasse
Ao cel(d)re Orador o dilo insulso,
Oil porque visse Ioda Canièlada
F»ir-se. do proemio do discurso,
^lais que mnilo enfiado sobre a mèsa
Lm lormidavel rnurro descarrega.
Eu não posso, nem quero mais fallá
^esla Congregação, assim prosegue,
Eu sempre l‘ui na Camara attendido
Dos Depulados todo, nunca insurto
SolVri de nenhum delles. Tenho dito ,
iNão quero mais fuUa nesta questão.
Tudo quanlo aqui se decidi
(iOmo Deputado franco subscrevo ( i 5).
Dice : e logo de chórre na cadeira
('om as nádegas dá medonlio, e irado.
Morno silencio por mn pouco adeja
( 15 )

Em torno d o s C a i f t tí l o i s òongrogaJòsi
E mal se aperceb ia nm surdo riso ,
Que d’lim , ou d’ou lro lim ido escapava.

Ao San dèu co m p elia a siia vez;


E il-o que se prepara, e se levan ta,
E com eça a íallar desla m a n e ir a :
Nunca approve!, Senhores, novidades;
E noui qu isera nesla A cad em ia
O iuneslo sislem a ver p lantado
Dessa lão gabada lo leran cia,
Que ha de dar com n o s c o inda e m panthna.
Oh tem pos, oh costu m es de C oim b ra .
i
Onde nunca poderão ler cabid a ^
Essas iittrigds de C on stituição (lO j,
Qne do cu lto p erm itte a liberdade.
È’ d ’ abi que vem 0 arrem edo
D estas exlravegan les D ivin d ad es,
Que o nosso Cadre M estre D irp clo r s<l
Teve a feliz lem bran ça d ’ im p in gir-n os.
E ’ verdade lão b em que sem pre im iga
Me foi essa M in erva lao lailada ;
Mas SC a l g u m a reform a se to le ra ,
E xem p lo lem os na L niversid ad e ,
Na sua gloriosa idade douro.
Em quc rein ou a santa E stu p id ez,
Essa Deusa am iga dos hum anos,
Qne delles não exige sacriíicios,
E que d’um ocio com m odo se a p r a z ;
N este sentid o sim haja reform a,
( 16 )
Não posso a essa Deusa ser in gralo.
Quem m ais do q u ’e u os foros seos defende ?
Não quero repelir o que é sabido,
E ’ tão g r a n d e o praser co m (|ue a sirvo,
Que tm anim es Iodos me appellidão
BASE F L N D A iV lE N T A L DA E STLPÍD E Z.
Qual d V n lre vós se a llr e v e a d esp u lar-m e
Ü m erecido lilu lo de eslu p id o,
Que por n olorios feilos hei ganhado?
Não sou do Brasil só co n h ecid o , (>
Na saudosa C oim b ra deixei fam a.
Inda h oje será apreciada
Uma d isscrlação sobre as S ard in lias,
O bra lão prim orosa, e celeb rad a,

Que aló lio n lo r Sardinh a nie cham árão (17).
iirt
Quem , á não ser eslu p id o, ou Sandèn ,
E:
T en d o sem pre exp licad o da U adeira
Desde a creação da A cad em ia
O nosso P alriarch a M ello F reire
Por uns cadernos vindos de C oim b ra ,
iOfi
C obertos de boiôr , velh os, c çn jos ,
io
De cór a m n ilo t e m p o os não soubera?
l:'
P ois ain da os não sei, c m al so letro
O p éssim o cai'acler m am iscrip lo
3)esse m eo p ecú lio pre«.ioso.
Não, outra í)i\in dad c não eon sin io
Ser nesta A cad em ia en lro u isad a;
E m ais solèm ne seja 0 seo Iritim ro,
Do ( { ue algum dia na C n ivcrsid ad e,
A' quem C‘ g o r e s p e i t o inda tributo.
îlE sto o volo m oo, e ncm me abalâo
■ Arf^ u m eulos , rasées : lu d o 6 qiiim ôra
„Tara uni velho D outor cá do m eo porte.
I Estas ultim as vozes p ro ferin d o
O S aiíclèu , apenas se assentara,
Ja toda Cambiada em alvoròto
Os assentos deixan do am o tin ad a,
Em cardum e se ajouta em torno dellc'
O s o u v id o s da bèsta atordoando
Com grilos de applausos estron dosos j
E de t al s o r t e os ares atroavão,
Que cah ir o M osteiro parecia.
I iV algasarra se aju da llafa-cuias ,
1 Por detraz do Sandèu |)ondo-sc á g eito ,
" Trem enda cach olèla lhe desprega ,
E sídire a m esa as v e n t a s Ih’ e s h o r r a c h a ,
Q u cb ran d o -lh e as c a i i g a l h a s no nariz.
Do fracasso im p revisto o nosso D onglin
Todo assustado, trem u lo , gritava.
O rdem , ordem , (jue 6 isto, cjuc succcdc
Ao nosso res|)eita\el Secrt iario?
Esto lu gar im proprio me parece
Para galhofear. C on tinuem os
A ’ nossa discussão de s a n g u e frio.
Entretanto o Sandèu en raivecid o
A hora m aid isia, cm que viera
Com gente tão m alvada co n g r('ga r-sc ;
]'j o resto da Sessão não as.-isliia,
Se aos rogos de todos não cedera.
18 )

N islo pede a palavra Bufa~cuias (i8 ),


D esla sorte com eça exabriipto.
Que desastre, que insulto d e s a b rid o
Acaba de soilVer nosso D outor?
Que sacrílego alço u mão violenta
C on tra aqnclla cabeça veneranda,
Aonde m ora, e rein a a E stu p id ez?
D e m im con íesso, tal atrevim en la
INão p o d i a caber nas m in h as forças.
l\las e l l e s e consola : eu já doviso
Sobre o sem b lan te seo m anifestar-se
G eneroso perdão ao insolente.
Som os todos co ilégas; a discórdia
^íão devo d esu n ir tão bons jia lu sto s.
Inter quos non datar geringonça.
ISa q u e s t ã o e n t r a r e i ; m a s d e s d e l o g o
A todos peço sejão tolerantes.
Essa Deusa, que o nosso S ecretario
Tão d eln ien te adora , e não ba m u ito ,
T an tos exforços fez por con ven cer-n os
D e sua suprem acia s o!> re todas,
Q u a n ta s são adoradas. D ivin d ad es,
INão é cá do m eo peito , não , não posso
A n te um i N t un e curvar-m e, que aborrèço.

h- M onstruoso |)rojeclo ollerecid o


]^)r nosso P ad re M estre D irector
Inda tenho gravado na m em ória.
Com o, em busteiro l^unIe , a Ilyp o cresia
j^ropicia velará sobre os destinos
Desta n osceu lc pobre A cad em ia ?
( 19 )
Com o assim u m cu llo profan ar,
Quando os beltos csplrilos do sécu lo
H oje o Iribulão gralos, generosos,
A ’ Deusa P ed an laria heinla^ èja
A ’Iodos que não (juebrà scos preceilos ?
Oufle o decidido cnlliusiasmo
1’ela Im m oralid ad e sem pre avèssa
A" esses rabugentos im p oslores
Das m isera\eis eras atrasadas,
íju e as t r e v a s b u s c ã o , q u e sentir n a o p o d e m
A lu z qiie os lere da presente idade 'J
INãü adm ltlo pois o contra senso
De confundidos vèr cu ltos opposlos.
I iloin en agen s não presto , não , não quero
; A iin fanie , á m alvad a Ily|>ocres'ia.
Kston prom pto à votar mui livrcin en le
I D ela I m n u i r a l i d a d e , (juc i d o l a t r o ,
, iN('in tão pouco recu.vo o m eo apoyo
^ A ’ santa D edantaria que venero.
A té pasm o, (jue o nosso D irector,
Que fum os nutre dc A reh i-sab icb ao
Tão pe{[uenina ideya concebesse,
Que o SCO alto conceito desabona.
' ]\las q u e m u ito , se o nosso Padre M estre
Com m ais geito a viola zangarrea,
Do q u e e m j u e g a as a r m a s cia r a s a o .
j r^ão o quero o ílen d er, elle o bem sabe,
' licun longe estou de crer cp ie u m a \erdade
I IMiil s o a n l e pareça, quando asados
^ slão nossos ouvidos á scn lilar
( 20 )

A inda p ro s('gnIra R iira-ciiias , (ü-


Sc o não in lcn o m p rra dc rcp rn le
O celcbrc R ''p n x o , sco co llcga (19)^
Que solV cgo <s l a v a a m n ilo por fallar.
da SC e r g u e , ja f u n g a , c p in o lèa,
'frcm en íJa csfrcgação as ven la s gram ão,
'rrcjcilo s m il íascndo , c in o g ig an ga s,
M ais l)tigio, do que hom em parecia,
lia n ça n d o -se ã qu estão, assim com eça:
Sc por acaso. Senhores, eu não vira
O nosso Secrelario sn ccn m b id o,
D efendendo uma cansa , em que a rasão
E ju stiça se aclião de seo lado ;
Sc por acaso. Senhores, não dcvòra.
Com ellc |)arlühar o d esacato,
Que sua idade acaba de soííV er;
Se por acaso o m érito, avalia
j)a Deusa E stu p id ez aqui não forão
C rueh m -n ie feridos, in sultad os;
Não pedira a p alavra, netn qu isera
]‘a i l r a r em discussão tão calorosa.
A m inha opinião d espida e iiiia
]'ix p o rci, pois não quero faligar-vos.
A D euíía líslu p id ez é só quem pode
S' Ser (l'>sta A cad em ia P adroeira.
S ah eis por e x p ( ‘ rionc,ia quão j)cnosas
São as altas funcçòes do M agistério ,
Que e s t u d o s , ^h-mandão , que talentos
Devem de. a d o r n a r um P rofessor, • <>
Porque seja de todos respeitad o.
( íil )

'O ra se por acaso a L stiip iílcz ,


Com o p ropicio ^illmo , In leliar
INossas a d o r a ç õ e s não receber ,
Ai de iod os nós ! qne os E slu d an ies
A m igo s de M inerva, fjoe os am para,
P elas ruas porão das am arguras
M osso lalso con ceito lilierario.
Mas se poi' acaso p r o t e g i d a ( ‘2 0 }
For d ' o r a em v a n l e a n o s s a Academia
Por e s s a amiga D e u s a E s t u p i d e z ,
No ocio repousando os A c a d ê m i c o s ,'
Do Nnme protector as leis suaves
Saberão respeitar, s e rã o felises.
E’ este 0 vólo m eo, de que não nn ulo.
Não m ais um cu lto só, um só respeito
Ao idolo od ioso , qnc venóra
Esse povo A cad êm ico inexperlo.
M ao grado seo por toda etern id ad e
A santa E stup idez reino , Irinm le.

D esta sorte pòe lertno ao seo d iscu rso,


Que deixàra o Sandeu em basbacado ,
l'o r ver com que destreza, e lu tb d id ad c
Eóra pelo R ej)uxo defendido.
Pede vííuia ('u lrctan lo líru lo lo giez ( ‘2 i ) ,
(}ue ali estavL
Mas que á tn
da se m ordia
]>or o n v i r tae?
com o se d
( 22 )

Mill pausado começa , e refleclicio :

C oin fjiie posar , S e n h o r e s , com quo pasm o


P rolerid as otivi nesla Sessão
O p iniões, qiie oiron d cii despeitosas
Os solidos princi|)ios da M oral,
Quo dove em lo d o tem po respeilar-se.
(iO m o pois so jireten d e dar gn arid a lii
A nni Idolo ini'am e , q u e só podo
Ern corações corruptos ter e n t r a d a ?
A ll san la Inq uisição ! se taes liorrores
A in d a castigar h oje podesses.
Im pune ficaria a voz sacrílega
Que ousada ferio santos preceitos
l) ’uma austóra M o ral, inda m ais santa?
INão posso ajiadrinh ar laes desatinos,
A té creio pecear, se nelles hillo.
Se bem que não despresc, antes adore
A Deusa K stu p id ez, m ais desejara h
Puros \otos |)iestar so lem n em en te
A ’ santa sem pre grata Ilyp o crisia.
Quem lão cego haverá , que desconheça
Os favores , q u e presta aos seos validos
lim a tão poderosa D ivin d ad e,
One d nui pi'rverso faz um santarrão?
Ao m enos, cn confesso, se a fortuna
i\unca ine dèo de rosto, se alcan çad o
Todos os meos desejos tenho se m p re .
De tudo me ó credora a llyp ocresia.
Esta c pois a Deusa bondadosa ,
( 23 )

Quo 3e v e 3e r e jr e r n o s s o s d estin os.


3’ m !o m ais é quimera, é tràma urdido
C on tra nossa boçal sinceridade.
0 D outor In jílcz aqui faz p o n t o ;
Km sagrado furor lodo abrasado
INã o pode m ais segu ir, vai se assen lan d o.

Ja D outorada sn cia m uda, e queda ,


O silen cio rom pendo em debandáda ,
A ’ •’■ rilos rej)etidos, vó lo s, votos
P ed ia ao capataz D o n glln -D o n glin .
D evia ser ou vido inda o G orduebo (22),
Que de serio que estava , c em pan turrado ,
Sua alta dignid ade rebaixara ,
I 'i m discussão entrando tão m esquinha,
llu m ild em en te D òn glin pergunta
Ao G o r d v i c h o , se um ar de sua graça
^ aquella oceasião dar se não digna,
ilesp o n d e-lb e o D outor mui circu n sp ecto,
Que seo voto daria livrem tfnte;^
M as (jue em debates n a o , não sen v o h ia ,
Que dclles ja se aebava sastifeito,

O m om ento fatal era chegado,


Que devia e n lu t a r , ennegrecer
A aurora nascente d»; e s p ( ‘ r a n e a s ,
CiOm a s ti’e v a s d o op p robrio, da vergonna.
Ah pobre A c a d e m ia ! cruéis Fados
Km torno a li revôão , tc perseguem ,
^^^'ara l o n g e de li s e m p r e arredando
( )
C lo rio so p orvir, que le esp era v a .
O verdor de leos dias vai m u r c h a r - s e ,
Com o cm l'rèsco b o t ã o m orre esm agada
Por dura mão do lerio a flor m im osa.
■ Teos p s e u d o — M i n i s t r o s , leos algoses
M
Teo Nume tn tellar proscrevem , lavrão
])e lu a m orte a barbara sentença.
Correndo a votação, ja se d e c id e
Seja d ’ ali M inerva destsrrada,
j\lé se determ in a que sco nome
Para sem pre esqu ecido nem se falle.
Q uatro inim igos G ênios reconhece
A ferina brutal Congregação
O rdenando que sejão adorados
Km lu gar dessa Deusa ja proscrij)ta
Torpe ím m o ralid ad e , e P edan tism o, bi
A rude E stu p id ez , H yj)ocresia.

A c h a v a-sc 0 Sandèu atrapalhado


Com a redação da acla , q u e devião
Os Lentes assign ar, c o D irector,
D izen d o á cada passo — isto faz obra ( v 3'
ISao escrevo o (|tie d i z D outor G orducho.
i N is t o se gastão horas esqu ecid as,
Ató que á m u ito custo se resolve
A ííseiever o Sandeu tudo que ou vira.
Desde lo go se m arca , e se com bin a
Em dia festival para in lim ar-se,
î' hn jd en a A cad em ia reu n id a,
Esse m ian d o fsrm an vergonhoso
( 25 )

ï)a gente b iir rlc á l, que im p era, e manda.


L evantada a Sessão a Cainèlada
C on tente vai sah in d o , e se dispersa.

F ix a d o o Edital na porta grande


Da sàla para os aclos d estin ad a,
A|)cnas a noticia se divulga,
A larm a assustador por toda O lin da
S ú b i t o se derram a; ja vaguèão
Enxãm cs dc A cad êm ico s, ja correm
Por essas èrm as ruas pressurosos
A ’ 1e r o E d i t a l , q u e o s i n q u i e t a .
Com tristonhos sem blan tes , cab isb aixo s
Para suas m o r a d a s se recolhem ,
O ih luro tem endo, que os aguarda.
A ssim , trisles passavão n o ite , e dia ,
^as nocturnas palestras lamentando
O desterro íalal da Padroeira, ^
A nova inlrodncção d e i n l e n s o s ^ u m e s .

Do roseo lèito apenas se levan ta


A fdha de T ilam rison h a, c b ella,
E com os dedos dourados vai abrindo
As portas do Oriento, annunciando
Assomar a larróça íulgurante
D e IMiébo creador , que sobre a terra
Drrramar vem dc novo a claridaue;
Ja do IMosieiro o grande sino brada,
(jrébros repiques p(dos ares troão,
íestivas giráncTülas allcrnão
■ /!
( 26 )

Com a yoz d o alto bronze o estam pido. ff,


Das béllicas Iroinhètas o clan gor,
Que os filhos reunia de M avo rle,
D cljo repele , os anim os assusta
Do povo h ab itad o r, que inal sabia
le r o solem n e dia ja raiad o í»'
Iara acciam ada ser, e ap p lau d id a lílf
A secreta A cad êm ica reform a. (i
Não d ebald e tem ia o D irector Oil
T ru slrad o vèr o l)arbaro d eslèrro ,
Q u e em negra espelunca a mão do crim e
l inha a sabia M inerva decretado.
S im , quo para o frustrar, inda reslavão
A essa Mai proscrij)la , a t r a iç o a d a . i-i
A cad êm icos F ilho s , r)ão bastardos ,
Do horrendo allen lad o não culposos.
Mas ao poder das arm as tu d o cede :
da D ònglin m atreiro as ordeifs suas
lin h a posto nma íorea m ilitar,
]\do P(ní de roda com m andada (24)
J^ara prender, m atar, laser estragos
S»‘ o u s a s s e getner a rebeldia (2Õ).
O íficial refurmado em Coronel
Fra esse h oblão E sp ad a-p rela,
■Bf
Pelos seos altos feitos co n h ecid o
Ao R eino da S an d ice, e da im postura ,
Q n adragessim o nono desrendetU o
D I j I - R oí d . D iniz de Portu gal,
O n lióra nom eado S ecnM ario
Da grande leg a d a do Perú,
( 27 )

Foi depois governar o Rio Negro,


A m an leiga inventou da tartaruga,
Na m isera B elém fez truques altos.
De p iu u )as, fard alh ão, e d urin d àn a
A força co m m aiK ian d o , vai postar-se
No a »í ro do iM osleiro de São Bento.
De lo péte einpinaclo ali bu lan d o
C ortejava o B ritânico R o ld ão
Os Lentes que j)assavão mui lam p èiro s,
Do solem ne festejo desejosos.
A cad êm ico Povo reunido
Em g r u p o s se crusando nos geracs
O dioso festim triste esperava.
G uaruecião as portas sen tin cllas ,
Que grilavão alerta á cada passo.
P ela prim eira vez o San ctu ario ^
Da m ansa , am iga Deusa da S cien cia
O brado alterrad or ou vio da guerra.
N isto ao lo n g e desponta o D ireclo r,
pressa 0 R old ão em rcccb èl-o ,
Itlanda que as arm as logo se apresentem ,
Sinai d’ob ed ien cia , e de respeito.
Ja SC a b r e o salão , cu jas paredes
l)e damascos , e ilores se v e s llã o ;
C oberto de alcatifa o p avim en to
J u n ca vão verdes palm as trium íács.
Os altos D outoraes erão torrados
De m acios veludos escarlatas ,
D? anrea bordadura m atisados.
^ iim in cn lO 'ca d e ira m ag eslo sa,
0
( 28 )
Iraji'iPido rica téia bem mostrava-
Ser para o Director só destinada,
biil-o (jue vesn (j..ktrando j)reccdido
J^Gs li’istcs Ijslndaiitcs, e Doutores i
^ ai touiando o In^ar, que Ilie compete ,.
Os outros vão seguindo o sco exemplo.

da em mudo silencio o auditorio


Aüento pende dos facundos lábios
Do Padre Director que assim coméça;
Acadêmica llluste Mocidade ,
A qucMii de d erigir me coube a honra;
Donge de vós o susto, o a soprèza 1
S alutar dicisão venho in liin ar-vos
Dos d is V( d o s o frnclo p rim oroso
l)essa Congregação, de quem sou o rgão ,.
K a quem respeitar m u ito d tivèm os.
Dos m ales, que vos pcsão, con d oíd a,
s^ncr dar-vos o rem ed io, soccorrer-vos.
Aos vossos destin os presidir
i\<io h a d.e m a i s i n g r a t o , infesto Num e.
P r o s í rij)la para sem pre foi M inerva;
l>e eterna execração seo nome seja
IjsíjiK íciJo por \ós nestes rcidntos.
P rop icias D ivindades p rotecloras
Os lados vossos vão reger futuros.
A inoihí Estupidez, a ilypocresia,
Que scüs adeptos grata favonèa,
Santa íminorahdad(;, (jue de.spresa
Da satira mordaz goleie ferino.
( 29)

Unira Densa não menos bemfasèja.


M eiga P ed an laria , fa cil, branda.
E is o que dicidirão co n gregafio s
Soberanos D o n lo res , vossos Lentos.
A ltos jnisos seos . . assim ordenão : .^1
R esp eito, ob ed iên cia só vos cn n ip re. . . .
Estas voscs tão dnras, tão severas,
Qne A cad êm ico s peitos m agoarão ,
Por dnas veses forão rep etid as,
Forão por vezes dnas escutadas.
Acabado o discurso se levan ta
A Inrba D outorada, quando a tropa
Em m arcial bo liço se aprestava
y
Para as honras fazer da ovação.
Em dnas grandes íilas se posíãra ;
Ern cortejo passavão pelo m eio
O grande D irector, e m ais os Lentes,
D e s t’ arte consegnio pleno trin m lo
O scep lro da S a n d ic e , e Iniqu idade,
porem Jove Suprem o, qne o desterro
AiVrontóso da F ilha sabe ajicnas .
Q uerendo castigar tão grande insulto ,
Ordena á Fam a , qne veloz correndo
A ’ C orte, patenteo fatal snccesso.
Inform ado o G overno do desastn’ ,
One acaba de sollVer a A cad em ia,
Sabendo (jue o in hahil D irector
Do horroroso crim e lora o ch ele ,
Q im itte o do lu g a r, outro nom ea (26),
^ 'iS ã o deverão porem íicar isentas
.5 ií
( 30 )

Da justa punição as outras bèstas.


Um dia inda virá, se bem que tarde.
Em que a vil im p ostu ra., e a ign orân cia
Irão ao vilipendio , irão ao nada.

•^í
Hí FIM.

rV'
( 31 )

NOTAS.
( i) T o d o n im id o b e m sabe q u e eslà m u i d e v id a ,
c h on ro sam eiilc excepliiad o 0 111m . S r . D r . A u l r a n .
(•i) Q tiein negarâ que se agarravâo á laço L e n ­
t e s , q u e d e v ià o liim iar a A c a d e m ia de O lin d a ? q u e m
fez D ou tor o P.® A n t o n i o J o s é C o e l h o . q u e e s t a n d o
á p iq u e de ser reprovad o no ü.® a n n o ein C oim ­
bra, nem ao menos 1‘ò r a B a c h a r e l slmpliciler, s c
não encontrasse a caridade do Dr. José Joaquim
da C ru z, que assistindo á votação, p ed io a o í seos
co llegas e x a m i n a d o r e s que não enxotassem os Padres
do Brasil^ e deixassem passar a besta, por ser o
unieò , q^.ie all se aehava então. E m q u e A c a d e m i a
í
d o m u n d o l o i D o u t o r Manébijèto, p o r o u t r a M a ­
noel M aria do A m aral? Quem doutorou F illipe
Jan.xcn de C astro e A lb u q u erq u e? N ão ha m u ito s
annos que tom arão elles o grau de D outores em
O lin d a , ja dej)OÍs de Lentes.
(3) O lllm . Sr. D outor L o u ren ço José R ibeiro.
(4) O lllm . c R."*® S r . D outor M anoel Ignacio ÿi
de C arvallio.
( 3) E s t a p a l a v r a tem dente de co elh o ; quem
qui?(*r saber o que ella sig n ifica , léia o Argos
Ô lin d en se n.® 17 in fine.
(6) Este é o céleb re A n ton io José C oelho.
(7) Este contraste não é extravagante, porque
o R.^^® é P regad or da C apella Im p eria l, e d ahi é
ryue i h e v e m a S en h o ria de jure.
(8) Q u is potest caperc, cap iat.
( 32 )

(9) ®prova do seo zelo é , q n e londo perdido


um c h a p c o tie s o l , dice m o ilo zangado nos gcraes
•— o r a esla não eslá m á; andão tirando os uten­
sil ios da S ccrelaV ia!
(10) Estes lu gares são os vivo s tliealro s das fo ­
lias, e patuscadas escan d alo sas, cm que passava a
festa o M oralista , inda quando su jeilo ás le is da
P a t r i a r c h a l ! D e s m i n t a , P.®M.*, a t a d o P e r n a m b u c o .
(11) Os póços A rtesian os n ã o 1‘o i elle quem re-
qucreo na A sscm h lea Ih-ovincial de I^ernam buco,
que se m andassem v ir da F r a n ç a : isto é ptUa , e
ellc m e sm o ja 0 n e g o u ; e d e m a is c o m o ])ode,rião
vir esses poços da E u ro p a ? s ó ju>r a r l e s d e B e r i i k s ,
e B crioks. Mas o peior é que p ilh arão o j)rojeclo
e s c r ip lo p o r sua p ró p ria le tr a , e foi lido por m u ita
gente b o a ; p o r e m elle eslá dispo sto a n ão dar m ais
cavaco, assim con» nunca deu pelos bancos de
bacaiháo da Nova H ollanda.
(12) Com estas a r m a s tW jue elle c o s t u m a com ­
bater, c r e f u t a r esses j)e d a ç o s d ’ a sn o s p bilo'^ opbos
sen su alistas, com o B en lb am , D ’l l o l b a c , D iderot,
e toda essa corja de lo iriíò e s!! que to lerâ n cia ,,
e h u m ild ad e E v a n g é lica !,.
(i 5) E ste é o e n g e n h o s o sistem a por elle p r o ­
p alad o nos (iara|)uceiros, c em algun s n u m ero s do
D iário de Pernam buco de 1808, sistem a d e lica d o ,
que co n cilia 0 antigo credo p h ilo sojdiico do seo
aiiclor com a nova conví-rção para a T heoloi;ia
E xegética, e D ogm atica.
( ' 4 ) I-'i* p ã r a 0 D r . L n i v c r s i d a d c c s i n ó n i m o d e

m
( 33 )

C oim b ra; quando esse C am èlo quer cens5urar a l­


gum íacto , a m ais Ibrlo rasão é (jue na Universi­
dade nunca tal se praticou.
(i 5) N ã o so a d m i r e o l o i l o r d c o u v i r f a l l a r d e s t a
sorte um L en te, e ])cj)u tad o franco^ co m o M ané-
bijélo ; porque depois que veio da E u ro p a , e ap-
p ren d eo E con om ia Polilica co m João B ap lisla S a y ,
de (juem (di/ elle) lem a gloria de ser d iscíp u lo ,
e a honra de ser a m ig o , j> erdeo a lingoa p atria ,
c h oje é uma lá stim a , falia um d ialecio m i s t o
A n giü -fran co -lu so , tão eslra n b ó tico , que m u ito
se ptirece com a lin go agem de um A frican o bo­
çal dc C o n g o , ou M oçanbique. DIsem as m á s lin-
goas (|ue isso é d e p r o p o s i l o , p o r e r n é p ò t a ; p o r ( | u c
^1
estc! n o m e d e M a n é b i j é l o d orão-lh o na C a n ja ra d o s
D eputados; e com o esta é a sua propria fa lia,
não se deve contraiasel-a.
( ! G) A ssim cham a ollo as questões dc D ireito
P u b lico C on stitucion ál. *
(j7) Essa lam o sa dissertação foi p o r e lle feita
no prim eiro anno de H istoria N atural , em que
1‘u i r e p r o v a d o . Com 5 rs. de sardinhas jantava
uma fam ília c m Portugal n ’ aquello tem po, e pelo
novo j)rocesso dc pescaria j)or e l l e i n v e n t a d o , v i ­
nha á custar i 5 rs. cada sardin ha. Ah C oelho
im m o rtal ! ! !
( ! 8) Este ó o B ap tislin h a. D e r ã o - lh e este n o m e
porejue ja rapasiuho andava pelas ruas lo can d o
t a ’>a»jU(í n’uma cu ia.

j ( kj) Repu.vü SC c h a m a v a o pai do Fadrc C h '!-


,( 34 )

g a s ; mas este nome não pode assrn lar n o Ue'


rendo; porque se por acaso elle fosse seo lill.■
não lhe leria dado com um cacèlc, e lau to (j
para poder lom ar ordens, sua honrada Mãi i
"OU em J u iz o lal p alern idadf?; m a s em co n lra
dizem que, ha poucos annos , q u erellara de
irm ão cm vésperas de ordeuar^se, p o r u m <o n
do ouro. Q u id vd ro ? são cousas em que não
m d llo .
(í>o) E’ talvez a u n ica palavra , q u e não dec*
das pnsllllas alheyas',* p o r q u e ja houve quem o ^
vi>se na C ad eira repilir i4 veses n ’um. q u a r t o
hora o sco favorito se por acuso.
(yi) Isto ha do ser engano; porijuc o T>r. c -
n u i- s e l^nno A ic d e A lv e llo s A iiie s d e B r it o Ingl
(yy)** O U im . , e R ‘;.p o !h n d o Sr. l)r. -h
C aj)is(rano B a n d e ira de M e ll^ , q u e ja s e n d o í.e n
só foi h o m e m publico, q u a n d o f o i e l e i t o D o j u ■
la.do. ]Son rap^ioniam ditor, 7na gaafda c passo
(yõ) E’ assim que o Saiidèu tíiãm a a l
quanto a scos o lh o s invqjve algm n.a respo n sa
dade conlra elle, ou ,;a Soberana Congregai
de m aneira que se m fó as congregáçòes secr
nem ao m enos se p o d e m tirar as certidões
a c l . as ; porque fascm.obra.
['2/^) l i s t o é o j^ai d o fdlto Doutor: o cm
refirunado d o s é do BriU» Ingtez , que ( .tH ) i-
ler feilo a tla s jn-oésas na arte da guerra no I
r ão ])od en d o á í s n al d i d i m d e r a q u e l l a p r a ç a c( \
I "'riveis baionetas amarcUas, relirou sc h<
^'CUry.^^, € - y L i i w ^ ^JUH /^ t f

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