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A República no Brasil nasceu aos trambolhões pelas mãos de um general que, até então, havia jurado lealdade
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eterna ao monarca. E só não foi abortada graças à má pontaria do ministro da Marinha que disparou contra o
marechal Deodoro. O povo assistiu a tudo bestializado, como disse Aristides Lobo, sem compreender o que se passava. A maioria
não viu com bons olhos aquela aventura, pois, como se sabe, a questão não é saber como começa um golpe de força, mas como
ele acaba.
Listamos a seguir, as circunstâncias e os fatos imediatos que marcaram a proclamação da República no Brasil. Por eles
percebemos que nem sempre a história se desdobra de maneira coerente e que as situações e os personagens podem mudar
inesperadamente.
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Além disso, o Partido Republicano tinha uma modesta força eleitoral. Em agosto de 1889, na eleição para a Câmara dos
Deputados, os três candidatos republicanos na Corte receberam apenas 12% dos votos. Nas províncias, o partido tinha alguma
força apenas no Rio Grande do Sul e em São Paulo.
Para essa população, a campanha republicana era uma traição ao imperador. Para defender a Monarquia e deter o avanço dos
republicanos, José do Patrocínio organizou a Guarda Negra formada por ex-escravos entre os quais havia negros capoeiras. Seu
principal alvo eram os comícios republicanos dispersados por tumultos onde não faltam navalhas e golpes de capoeira.
Buscando apoio de um militar de prestígio, os republicanos se aproximaram do marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista
que declarava ser amigo do Imperador e lhe devia favores. Além disso, era conhecida sua posição antirrepublicana, considerava a
República uma “verdadeira desgraça” (CASTRO, 2000). Não foi fácil convencer o velho marechal de 62 anos, ele relutou em
assumir a liderança do movimento contra o governo imperial e sequer aceitava a hipótese de proclamar a República no Brasil.
O governo sabia das intenções dos republicanos para derrubar a monarquia. O célebre Baile da Ilha Fiscal, no dia 9 de novembro,
para o qual tanto se empenhou o visconde Ouro Preto nos preparativos e na ostentação, tinha a intenção de mostrar a solidez da
monarquia contra as conspirações republicanas.
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“O último baile do Império” (detalhe), óleo sobre tela, Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, 1904, Museu Histórico
Nacional.
À noite, tropas do exército se rebelaram. Ouro Preto ordenou ao marechal Floriano Peixoto que mandasse prender os revoltosos.
Floriano, contudo, não cumpriu as ordens.
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Por segurança, Ouro Preto transferiu-se para o Arsenal da Marinha e despachou um telegrama para o imperador, que se
encontrava em Petrópolis, avisando sobre a revolta militar. D. Pedro II só leu o telegrama na manhã seguinte, 15 de novembro, por
volta das 11h, quando já era tarde demais.
A maioria dos soldados que integravam as tropas rebeladas incluindo alguns o ciais não sabia o que estava acontecendo, apenas
obedecia às ordens de seus superiores. Soldados e o ciais foram, na verdade, participantes involuntários (CASTRO, 2000).
No quartel-general, Ouro Preto supunha estar sob segurança do marechal Floriano Peixoto e do general Almeida Barreto. Ledo
engano: o primeiro continuou impassível deixando as coisas acontecerem e o segundo passou para o lado das tropas rebeladas.
Eram cerca de 9h do dia 15 quando entrou no quartel-general decidido a prender o primeiro-ministro Ouro Preto. Sobre este
episódio, crucial para selar o desfecho do movimento, há controvérsias do que teria ocorrido. Em uma versão, o marechal
Deodoro, teria cometido um lapso constrangedor: deu vivas a Sua Majestade o imperador, à família imperial e ao Exército
conforme exigiam as normas regimentais. Segundo outra versão, ele teria reprimido energicamente um jovem o cial que soltara
um “viva à República”.
De qualquer maneira, Deodoro ao prender Ouro Preto não estava proclamando a República e em seu pronunciamento não fez
qualquer menção à queda da monarquia. Ao contrário, deu a entender que a monarquia continuava pois a rmou que levaria
pessoalmente ao imperador a formação do novo ministério. “O imperador, tem a minha dedicação, sou seu amigo, devo-lhe
favores. Seus direitos serão respeitados e garantidos”, concluiu (HOLANDA, 1972).
En m, o suposto grito de “Viva a República”, do marechal Deodoro da Fonseca, nunca ocorreu. Naquele momento, caiu o governo,
isto é o ministério, mas não a monarquia.
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Atentado contra o Barão de Ladário, ilustração de M. Parys, publicado no “Le Monde Illustré”, Paris,
França, nº 1.708, 21/12/1889.
O governo fora deposto, a República não fora o cialmente proclamada e D. Pedro II ainda era o imperador. O país estava sem
poder Executivo e sem poder Legislativo pois os novos deputados e senadores eleitos em agosto só tomariam posse no dia 20.
Em Petrópolis, o imperador esperava que Deodoro viesse lhe ver e explicar o seu gesto – o que jamais ocorreria. Deodoro não
queria encarar de frente o velho monarca de quem era amigo pessoal e voltou para casa com uma forte crise de asma.
Com o apoio de Patrocínio, meia dúzia de jornalistas e intelectuais (GOMES, 2013) republicanos reuniu-se na Câmara de
Vereadores do Rio de Janeiro e anunciou que “o povo, reunido em massa na Câmara Municipal, fez proclamar, (…) após a gloriosa
revolução que aboliu a Monarquia no Brasil, o governo republicano”.
Deodoro não podia aceitar ver um inimigo como primeiro-ministro e, com isto, concordou em assinar o decreto que institui o
governo provisório republicano.
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O decreto assinado por Deodoro na noite do dia 15 de novembro trazia o seguinte: “Fica proclamada provisoriamente e
decretada como forma de governo da Nação Brasileira – a República Federativa”. Isso signi ca que, depois de horas de
inde nição, a proclamação da República era provisória! De acordo com o artigo 7º, se aguardaria “o pronunciamento de nitivo da
Nação, livremente expressado pelo sufrágio popular” – prevendo um plebiscito que con rmaria ou não a República no Brasil. O
plebiscito só seria realizado em 21 de abril de 1993, ou seja, 104 anos mais tarde. Foi o regime provisório mais longo da história!
Pedro II só foi o cialmente comunicado às 3h da tarde do dia 16 de novembro, em Petrópolis. Os republicanos no lugar de uma
delegação de alta patente ou de políticos de prestígio con aram a missão a um simples major, Frederico Sólon Ribeiro, uma
atitude no mínimo desrespeitosa.
Ao entregar ao imperador o documento que anunciava o novo regime, o major cometeu duas vezes a gafe de chama-lo de “Vossa
Majestade”. Um imperador destronado, mas ainda com a majestade reconhecida por quem o derrubava do trono!
Por volta das 23 horas do dia 16, tropas fecharam as ruas ao retorno do Largo do Paço e do cais do porto impedindo o trânsito. Os
republicanos não queriam que a população viesse se despedir do imperador ou, talvez, impedir sua partida. A família imperial foi
acordada pelos militares à 1h da madrugada que exigiram seu imediato embarque.
Eram 3h da madrugada, do dia 17 de novembro, sob uma chuva na, que D. Pedro II, sua família e alguns amigos da Corte
embarcaram rumo a Portugal. Poucos dias depois, o ex-imperador sofreu outro choque: a ex-imperatriz Teresa Cristina faleceu,
aos 67 anos, em 28 de dezembro de 1889, no Grande Hotel do Porto onde a família estava hospedada. D. Pedro sofreu ainda o
desgosto de ver seu neto primogênito e predileto, Pedro Augusto, com 23 anos, ser internado por problemas mentais em uma
casa de saúde na Áustria, de onde nunca mais saiu.
O Paço Imperial (construção colonial à esquerda) foi residência de D. Pedro I e D. Pedro II. Foi ali que, a 9 de janeiro de
1822, D. Pedro I decidiu car no Brasil (Dia do Fico). Foi, também, o local onde a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, 13 de
maio de 1888. Dali partiu a família imperial para o exílio na madrugada do dia 17 de novembro de 1889. Ao fundo, o
Convento do Carmo, a torre sineira junto à Antiga Sé, e mais à direita, a igreja da Ordem Terceira do Carmo. Em primeiro
plano, no centro, o chafariz do Mestre Valentim, onde a população vinha pegar água.
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O decreto republicano de 23 de dezembro de 1889 proibiu que a família imperial tivesse imóveis no país, e concedia o prazo de
seis meses para a liquidação das propriedades existentes. Destinava também uma ajuda de 5 mil contos para o estabelecimento
do ex-imperador no estrangeiro que, no entanto, rejeitou a quantia.
Entre agosto e outubro de 1890, foram realizados leilões, treze ao todo, dos bens da Casa Imperial, no Palácio da Boa Vista, Paço
de São Cristóvão e Palácio de Petrópolis. Porém, antes disso, em julho de 1890 quando o leiloeiro Joaquim Dias dos Santo
começou a catalogar os objetos imperiais, muita coisa já havia sumido dos palácios e, mesmo depois, outro tanto desapareceu,
como o lote 954. Ainda assim, os objetos somaram 2.345 lotes sem contar com objetos das cozinhas, cocheiras, o cinas e demais
dependências externas. Reuniam serviços variados e completos de porcelanas pintadas a ouro e prata, jogos de cristal, prataria,
candelabros e esculturas de bronze dourado, vasos de porcelana, móveis, tapeçarias, pianos, espelhos, frota de coches, tílburis,
caleças, carruagens incluindo os cavalos etc. – milhares de objetos reunidos desde os tempos de D. João VI.
As peças foram arrematadas por preços irrisórios por falta de compradores: muitos interessados desistiram de comparecer aos
leilões para não serem acusados de “monarquistas” e sofrerem represálias dos “cidadãos republicanos”.
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