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História do jazz

No final da 1ª metade do séc. XX, a atmosfera que se vivia no espaço cultural português
era de tal modo obscura, no que à música diz respeito, que mais sugeriria um silencio
bucólico, pantanoso e gorgolejante de putrefação, aqui e ali interrompido por uns ruídos
inóspitos provenientes de uma burguesia pouco desenvolvida como classe, económica e
culturalmente pobre e internacionalmente isolada. Habituada ainda a uma certa
francofonodependencia e manietada por uma ruralidade feudal, a sociedade portuguesa
só em raros cadilhos, que sequer franjas, tinha reagido à americanização subsequente ao
resultado da segunda grande guerra, e mesmo essa pequena reação verificada, num grau
mais diminuto – assaz mais diminuto – do que aquele que se havia registado
relativamente às movimentações culturais da Belle Epóque, as quais terão marcado a
chegada dos primeiros ecos dos clarins de New Orleans aos soalhos chiques da velha e
atávica Europa, isso na sequência do final da primeira das grandes guerras.

Até nas suas camadas mais sensíveis, como a juventude e os intelectuais, a sociedade
existente nessas épocas obscuras era essencialmente marcada pela fobia do novo e por
um auto-ostracismo inflicto, que se tornou o útero de alguns traços distintivos em
relação aos autoritarismos alemão e italiano e, através da aliança entre a classe
dominante e a igreja católica, condição da sua perenidade. Associada a esta fobia do
novo, não deixaria de estar, com certeza, uma certa fobia do negro, já que Portugal
resvalava a grande velocidade para um drama colonial de natureza insolúvel, que viria a
remeter a oligarquia então dominante para o caixote do lixo da história e o Portugal
dominado para um atraso endémico de caráter político, económico, social e cultural que,
à data do 25 de Abril se cifraria em mais de 30 anos. Em todo o caso àqueles referidos
setores mais sensíveis sempre seria menos difícil interessar-se pela produção cultural do
negro americano, do que questionar as próprias origens e refletir sobre os laços
secularmente estabelecidos com os negros da Guiné, de Angola ou de Moçambique, e
principalmente desses os que foram levados para o Brasil e outras partes do mundo
incluindo a própria América do Norte. Assim, e num primeiro arrebique de resistência a
um maneirismo de minuete palaciano, quando não de crispação hipnótica, que ainda
marcava a atitude corporal dos portugueses, os mais jovens começaram a fazer circular
uma produção musical em que o jazz representava a essência mais intelectualizada de
um grande campo que incluía os blues, o rithm’n blues, o rock’n roll e o ressurgimento,
ainda que incipiente, de algumas expressões étnicas de culturas mais longínquas.

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