090543-6, de Capinzal Relator: Des. Nelson Schaefer Martins
APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO. AUTORA,
SERVIDORA PÚBLICA COM CARGO EFETIVO DE PROFESSORA COM MAIS DE 25 ANOS DE ATIVIDADE. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO SOLICITADA À PREVIDÊNCIA SOCIAL E CONCEDIDA PELO INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS. MUNICÍPIO QUE EXONEROU PROFESSORA EM VIRTUDE DA VACÂNCIA DO CARGO POR APOSENTADORIA. LEGALIDADE DO ATO DO MUNICÍPIO. PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2011.090543-6, da comarca de Capinzal (2ª Vara), em que é apelante Ivaldete Terezinha Sganzela, e apelado Município de Capinzal:
A Segunda Câmara de Direito Público decidiu, por votação
unânime, negar provimento ao recurso. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Cid Goulart e Des. João Henrique Blasi. Florianópolis, 23 de julho de 2013.
Nelson Schaefer Martins
PRESIDENTE E RELATOR RELATÓRIO
Ivaldete Terezinha Sganzela interpôs apelação cível contra
sentença da lavra do Juiz de Direito da 2ª Vara da Comarca de Capinzal, Dr. Fernando Machado Carboni que, em ação ordinária ajuizada em face do Município de Capinzal, julgou improcedente seu pedido. A autora pretendia que fosse decretada a nulidade de sua exoneração do cargo de servidora pública. A apelante arguiu a inconstitucionalidade do art. 31, inc. V, da Lei Complementar 006/1991, o Estatuto dos Servidores Públicos de Capinzal, e apontou a ilegalidade da Portaria n. 410/2005, que a exonerou do cargo público apesar de ter requerido a aposentadoria voluntariamente. Propugnou pelo seu reingresso às atividades que antes exercia como professora. Foram apresentadas contrarrazões (fls. 246/254) e os autos ascenderam a esta Corte Estadual de Justiça. Este é o relatório.
VOTO
1. Das peculiaridades do caso concreto
Ivaldete Terezinha Sganzela ajuizou ação ordinária contra o Município de Capinzal em 19.12.2008. Relatou que, por concurso público, foi nomeada para o cargo de Professora Normalista em 06.02.1990 com carga horária de 20 horas semanais (fl. 22). Em 25.04.1994, após nova nomeação, passou a cumprir a carga horária de 40 horas semanais (fl. 25). Asseverou que em 15.02.2005 foi "compelida a requerer a sua aposentadoria por tempo de serviço" (fl. 2). Em 01.06.2005 (fl. 26), o Município de Capinzal publicou a Portaria n. 410/2005 que, em seu art. 1º, exonerou a autora por motivo de aposentadoria, verbis:
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O Prefeito Municipal de Capinzal, no uso de suas atribuições e em conformidade com o inciso V do artigo 31 da Lei Complementar nº 006, de 05 de março de 1991, e com a Concessão de Aposentadoria nº 1333754423, resolve: Art. 1º Fica exonerada, por motivo de aposentadoria, a servidora Ivaldete Terezinha Sganzela, brasileira, solteira, nascida em 25 de agosto de 1956, portadora do CPF nº 294.904.309-78, a contar de 08 de junho de 2005. [...] Qualificou a Portaria de ilegal e inconstitucional, pois o Município procedeu à sua exoneração de modo unilateral e despropositado em afronta ao art. 41, § 1º, da Constituição Federal, que estabelece: Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III - mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. [...] A autora requereu que fossem declarados nulos os efeitos da Portaria 410/2005 e por consequência, que fosse reconduzida ao cargo anteriormente ocupado. Propugnou pela condenação do réu ao pagamento das diferenças das parcelas remuneratórias em atraso desde 01.06.2005. Requereu a antecipação dos efeitos da tutela. Em contestação, o Município alegou que a aposentadoria fora voluntariamente requerida pela autora perante o INSS. Anexou cópia da Lei Complementar n. 006/1991 (fls. 161 a 199) que trata do estatuto e do regime jurídico dos servidores públicos do Município de Capinzal e sustentou a legalidade da Portaria n. 410/2005 com amparo no art. 31, inc. V, da referida Lei, que prescreve: Art. 31. A vacância de cargo público decorre de: [...] V - aposentadoria A autoridade judicial de 1º grau julgou improcedente o pedido, sob o argumento de que a autora estava submetida ao regime jurídico dos servidores do Município. Condenou a autora ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios fixados em R$300,00, suspensa sua exigibilidade por ser beneficiária da justiça gratuita. Gabinete Des. «Relator atual do processo sem tratamento» 2. Do mérito A apelante arguiu a inconstitucionalidade do art. 31, inc. V, da Lei Complementar 006/1991 e, por consequência, a ilegalidade da Portaria n. 410/2005 que a exonerou de seu cargo. Sucessivamente, aduziu a possibilidade de cumulação do benefício de aposentadoria por tempo de serviço com a remuneração do cargo como professora. A apelante, por ser servidora pública do Município de Capinzal, está submetida ao regime jurídico estatutário dos servidores do Município - Lei Complementar n. 006/1991. A autora, por ter cumprido mais de 25 (vinte e cinco) anos de atividade como professora, requereu voluntariamente perante o INSS a aposentadoria por tempo de serviço no Regime Geral da Previdência Social, que lhe foi concedida em 15.02.2005 sob o número 133.375.442-3 (fls. 28/31). Com o deferimento da aposentadoria, automaticamente operou-se a extinção do vínculo funcional da autora com o Município de Capinzal. Dessa forma, a exoneração da autora promovida pelo Município de Capinzal por meio da Portaria n. 410/2005 não exigia prévio procedimento administrativo. Nesse sentido, colacionam-se precedentes deste Colendo Tribunal de Justiça: 1) Apelação Cível n. 2008.035436-1, de Fraiburgo, da Segunda Câmara de Direito Público, rel. Des. Cid Goulart, DJe 01.11.2011: APELAÇÃO CÍVEL - SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL - APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA PELO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL - CONTINUIDADE NO SERVIÇO - POSTERIOR EXONERAÇÃO - LEGALIDADE - DESNECESSIDADE DE PRÉVIO PROCESSO ADMINISTRATIVO - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO. "1. No âmbito privado, a aposentadoria espontânea do empregado não implica na extinção do contrato de trabalho (RE 463.629-8-RS, Min. Ellen Gracie), o que, entretanto, não se dá na área pública onde 'a aposentadoria voluntária produz a imediata cessação do contrato de trabalho, de forma que, se o servidor público quiser permanecer no mesmo, ou ir para outro cargo, terá de
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fazer um concurso, de acordo com o art. 37, II, da CF/1988' (STJ, MS 4626-DF). "2. 'Ato administrativo flagrantemente contrário à lei é nulo e deve a Administração Pública corrigi-lo. O prévio processo administrativo somente é necessário quando a decretação da nulidade é condicionada à prova de fatos que podem ser contestados pela parte interessada na sua manutenção' (TJSC, MS n. 97.010883-4)." (Apelação Cível n. 2008.000808-6, rel. Des. Newton Janke, j. 30-11-2009). 2) Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2010.039109-8, de Xanxerê, da Segunda Câmara de Direito Público, rel. Des. Newton Janke, DJe 28.09.2010: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. APOSENTADORIA ESPONTÂNEA. RUPTURA DO VÍNCULO TRABALHISTA. EXONERAÇÃO. DESNECESSIDADE DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. 1. No âmbito privado, a aposentadoria espontânea do empregado não implica na extinção automática do contrato de trabalho (RE 463.629-8-RS, Min. Ellen Gracie), o que, entretanto, não se dá na área pública onde "a aposentadoria voluntária produz a imediata cessação do contrato de trabalho, de forma que, se o servidor público quiser permanecer no mesmo, ou ir para outro cargo, terá de fazer um concurso, de acordo com o art. 37, II, da CF/1988"(STJ, MS 4626-DF). 2. "Ato administrativo flagrantemente contrário à lei é nulo e deve a Administração Pública corrigi-lo. O prévio processo administrativo somente é necessário quando a decretação da nulidade é condicionada à prova de fatos que podem ser contestados pela parte interessada na sua manutenção" (TJSC, MS n. 97.010883-4). 3) Apelação Cível n. 2009.028885-2, de Braço do Norte, da Terceira Câmara de Direito Público, rel. Des. Francisco Oliveira Neto, DJe 20.10.2011: CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO.CERCEAMENTO DE DEFESA. ALEGADA SUPRESSÃO DA FASE DE PRODUÇÃO DE PROVAS. DESNECESSIDADE. FEITO JÁ INSTRUÍDO NA JUSTIÇA DO TRABALHO. PROVA EMINENTEMENTE DOCUMENTAL. CAUSA MADURA PARA O JULGAMENTO. [...] EXONERAÇÃO POR FORÇA DE APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA DE SERVIDOR PÚBLICO EFETIVO JUNTO AO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL. LEGALIDADE DO ATO. "Diferentemente do que ocorre no setor privado, no serviço público a aposentadoria do servidor, ainda que estável, rompe o vínculo dele com a administração, ensejando a exoneração e a impossibilidade de permanência na atividade laboral. O retorno ao serviço público somente é possível mediante aprovação em concurso, desde que haja possibilidade de cumulação dos proventos de aposentadoria com os vencimentos do novo cargo. Vedada a acumulação, não é possível o retorno do servidor ao trabalho no ente público" (AC n. 2008.037861-5, rel. Des. Jaime Ramos, j. 24.3.10). 4) Apelação Cível n. 2009.016997-8, de São José do Cedro, da
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Quarta Câmara de Direito Público, rel. Des. José Volpato de Souza, DJe 04.08.2011: APELAÇÃO CÍVEL E REEXAME NECESSÁRIO. ADMINISTRATIVO. SERVIDORA PÚBLICA MUNICIPAL. APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA. EXONERAÇÃO REALIZADA DE OFÍCIO. SENTENÇA QUE DETERMINOU O RETORNO DA AUTORA AO CARGO. INATIVIDADE QUE TEVE SEU CÔMPUTO LASTREADO EM CONTRIBUIÇÕES RECOLHIDAS EM VIRTUDE DO SERVIÇO PÚBLICO QUE PRESTOU. IMPOSSIBILIDADE DE RETORNO A ESSA FUNÇÃO, ANTE A PROIBIÇÃO DE CUMULAÇÃO DE PROVENTOS DA INATIVIDADE COM O VENCIMENTO DO CARGO PÚBLICO DO QUAL SE APOSENTOU. PRECEDENTES DA CORTE. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO E REMESSA PROVIDOS. Se o tempo de serviço e suas contribuições foram objeto de contagem para a aposentadoria obtida junto ao INSS, que no caso é o órgão previdenciário do Município, fica impossibilitada a percepção simultânea dos proventos da inatividade com o vencimento desse mesmo cargo público. [...] (Apelação Cível n. 2011.045500-3, de Seara, rel. Des. Pedro Manoel Abreu, j. em 12-7-2011). Na mesma linha é a orientação do Superior Tribunal de Justiça, em Mandado de Segurança n. 4626/DF, da Terceira Seção, do Superior Tribunal de Justiça, rel. Min. Anselmo Santiago, DJ. 15.10.1997: MANDADO DE SEGURANÇA - ILEGITIMIDADE PASSIVA E LEI EM TESE - FUNCIONÁRIO APOSENTADO QUE CONTINUA PRESTANDO SERVIÇOS, APÓS ESSE ATO, A EMPRESA PÚBLICA FEDERAL - EXTINÇÃO DO VÍNCULO LABORAL - NECESSIDADE DE CONCURSO PÚBLICO - SUM. 473/STF. 1. QUEM, NO MÉRITO, DEFENDE O ATO ACOIMADO DE ABUSIVO, OU ILEGAL, ENCAMPA A LEGITIMIDADE PASSIVA. PRECEDENTE: STJ. 2. SE A NORMA, EMBORA GENÉRICA, TRAZ EFEITOS CONCRETOS, NÃO SE HÁ DE FALAR EM IMPETRAÇÃO CONTRA A LEI EM TESE. 3. A APOSENTADORIA VOLUNTÁRIA PRODUZ A IMEDIATA CESSAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO, DE FORMA QUE, SE O SERVIDOR PÚBLICO QUISER PERMANECER NO MESMO, OU IR PARA OUTRO CARGO, TERÁ DE FAZER UM CONCURSO, DE ACORDO COM O ART. 37, II, DA CF/1988. 4. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, SE ILEGAIS (SUM. 473/STF). 5. SEGURANÇA DENEGADA. Logo, a sentença não merece reforma. Isto posto, nega-se provimento ao recurso. Este é o voto.
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