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João Pessoa
2010
FELIPE FRANCO DE HOLANDA CAVALCANTI
João Pessoa
2010
C376a Cavalcanti, Felipe Franco de Holanda
54f.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Profª Luciana Vilar de Assis
Orientadora
__________________________________
Prof.
Membro da Banca Examinadora
__________________________________
Prof.
Membro da Banca Examinadora
Dedicatória
Dedico este trabalho à minha Avó (parte de mãe): Walderez Settime Pessoa Franco,
quem sempre acreditou em mim; ao meu Avô (parte de mãe): Amaury Ferreira Franco
(in memorian) juntamente com meu Pai: Heraclides da R. de H. Cavalcanti Filho,
verdadeiramente os maiores mestres que tive; a minha Avó e meu Avô (parte de pai)
Dona Lia e Seu Hera (in memorian); a minha Mãe: Ilma Brigida Franco Cavalcanti,
quem sempre manteve a fé e a minha Irmã; Amily Franco.
À minha Esposa Lívia Marcella, minhas filhas Thaila e Thalita por ser de belezas
igualmente imensuráveis e admiráveis enquanto pessoas na sua essência, motivação que
me impulsiona a galgar vida nova a cada dia, sou grato por terem se conformado em se
privar de minha companhia pelos estudos, outorgando a mim a chance de me realizar
ainda mais.
AGRADECIMENTOS
Sei que esta monografia é o resultado de uma longa e difícil caminhada, sei também que
agradecer pode não ser tarefa fácil, nem tampouco justa. Agradeço então em primeiro lugar à
Deus quem me concedeu condições para estudar, o que seria de mim sem a fé que eu tenho
nele.
Agradeço a meus pais Holanda e Ilma por cumprirem este papel magistralmente e pelo amor
intenso e a minha irmã Amily, todos diante das circunstâncias com muito esforço me
proporcionaram o conhecimento que consegui adquirir.
Aos meus avôs parte de pai, Dona Lia e Seu Hera (in memorian).
Aos meus avôs parte de mãe Walderez e Amaury (in memorian), com quem aprendi que o
conhecimento é a única coisa que ninguém consegue subtrair do ser humano.
À minha esposa Lívia Marcella e as minhas filhas Thaila e Thalita, que tanto suportaram com
minha ausência quando da elaboração desta monografia e dos diversos trabalhos durante os
cinco anos do curso, e que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu
chegasse até esta etapa de minha vida.
À professora Luciana Villar de Assis pela paciência na orientação e dedicação que tornaram
possível a conclusão desta monografia. Aos demais professores desta Faculdade que fizeram
parte dessa jornada em sala de aula.
À todos da minha família pela base sólida que sempre me deu força para encarar a vida de
frente, para não correr o risco de cometer uma injustiça, agradeço também a todos que de
alguma forma passaram pela minha vida e colaboraram para a construção de quem sou hoje,
enfim a todos:
MUITO OBRIGADO!
Epígrafe
“Não podendo fazer que se fosse obrigado a obedecer à justiça, fizeram que fosse justo
obedecer à força.”
Blaise Pascal
RESUMO
Esta monografia faz um breve estudo no que concerne ao poder de polícia exercido pelo
Estado, abordando suas limitações e atuações considerando a autonomia prescrita na
Constituição Federal. Identificando com isso o abuso de poder que vem acontecendo no
sistema administrativo brasileiro. O principal fundamento do poder de polícia é o princípio da
supremacia do interesse coletivo sobre o particular. Por ele, limitam-se os direitos individuais
das pessoas em benefício do interesse geral da sociedade. De certa forma o poder de polícia
pretende proteger com segurança os direitos de liberdade, bens, o direito de saúde e bem estar
do cidadão. No entanto, mesmo limitando a liberdade individual, tem por escopo garantir essa
mesma liberdade e direitos básicos ao particular. De início, faz-se um relato sobre o poder de
polícia, com sua origem, conceito, atuação e características. Identifica-se sua aplicabilidade de
forma abusiva em nosso sistema administrativo, tomando como base suas limitações,
finalidades, fundamento e atuações. Por fim, são apresentadas as polícias administrativas e
judiciárias, as condições de validade dos atos, o controle dos atos feito pela administração e as
limitações feitas pelo Supremo Tribunal Federal.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52
INTRODUÇÃO
do poder de polícia no Brasil dando ênfase no seu meio de atuação, uma análise a respeito da
aplicação do poder de polícia no Brasil, abordagem de temas polêmicos relacionados ao poder
de polícia como exemplo e por fim uma breve explicação de sanções e os meios de atuação do
poder de polícia.
Como este trabalho tem a finalidade de identificar questões relacionadas com atuação
do poder de polícia e suas limitações no sistema administrativo brasileiro, pode-se questionar
o seguinte: quais as formas de atuação do poder de polícia e possíveis conseqüências
referentes à adoção de determinadas posturas sobre o alcance da proteção conferida aos
direitos individuais e liberdades fundamentais dentro de seus limites?
Mediante a abordagem e tentativa de respostas desse questionamento, buscam-se
apresentar o conceito, o uso e abuso, os princípios e as limitações do Poder de Polícia
previstos em nosso ordenamento jurídico. Cogita-se, pelas circunstâncias recém citadas, que o
poder de polícia, ao menos doutrinariamente, tem uma função essencialmente preventiva e
fiscalizadora, também sendo em alguns momentos repressiva, limitando e condicionando a
atividade dos administrados, impondo a eles, através da coercitividade, uma certa dedicação
ao seu dever de fazer cumprir a lei, procurando ajustar o seu comportamento ao interesse da
sociedade. Razão pela qual é indispensável delimitar o alcance pretendido neste trabalho.
CAPÍTULO 1 - DO PODER DE POLÍCIA
1.2 ORIGEM
Durante o período feudal, se tinha como detentor nato de um poder chamado “jus
politea” um príncipe, este que sempre dava ordens pra que tudo ocorresse da melhor maneira
possível e para que o bom costume fosse mantido na sociedade civil, tudo conforme o Estado,
contudo, a igreja mantinha a boa ordem moral e religiosa.
Faz-se necessário no momento mencionar o significado da palavra poder na breve
definição de Guimarães (2004, p. 430):
Uma força iminente do Governo para atingir sua finalidade; possibilidade legal de
agir, de fazer. Direito de ordenar, de fazer-se obedecer, pela força coercitiva da lei
ou das atribuições de que se reveste o cargo de que está investido quem tem a
faculdade de ordenar.
entre justiça e polícia; estando assim a justiça longe da alçada do príncipe ficando apenas
voltadas aos juízes e a polícia eram justamente as normas que o próprio príncipe colocava em
vigor sem dar chance alguma de apelo aos indivíduos perante os Tribunais. Contudo a
expressão poder de polícia era utilizada para toda ação estatal dirigida ao bem-estar dos
administrados. Essa visão é própria da época dos Estados absolutos, nos quais a autoridade
era incontestável perante seus súditos. O direito era considerado como emanado do soberano
(rei), que não errava.
Nascia então uma nova fase, a qual não era mais aceito que o príncipe não se
submetesse a algumas leis. Baseado no princípio do liberalismo o Estado de Direito assegurava
aos cidadãos direitos, sendo um deles a liberdade. Com isso ficavam limitados os direitos
individuais desses mesmos cidadãos, assegurando assim a ordem pública.
Já em outra fase o Estado liberal começa a transformar-se em Estado intervencionista,
ou seja, ele passou também a atuar na ordem econômica e social não ficando apenas limitado a
segurança.
Di Pietro (2004, p. 94) conceitua de forma clássica o poder de polícia como sendo:
“Pelo conceito clássico, ligado à concepção liberal do século XVIII, o poder de polícia
compreendia a atividade estatal que limitava o exercício dos direitos individuais em benefício
da segurança”.
Vê-se que, por essa acepção clássica, a atividade de polícia compreendia atos que
limitavam o exercício dos direitos individuais em benefício da segurança da cidade (polis).
Medauar (2004, p. 392) nos lembra que:
como por exemplo, algumas medidas relacionadas ao exercício das profissões, aos espetáculos
públicos, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e artístico nacional, à saúde, todas essas
medidas com o intuito de preservar o direito individual e o bem-estar de cada cidadão.
Há pouco tempo atrás, a polícia passou a ter a nobre missão de manter a ordem, a
tranqüilidade e a salubridade públicas, seja prevenindo, fiscalizando os cidadãos e realizando
sanções para quem vier a descumpri-las. Com o passar do tempo o nome “polícia” foi se
ramificando em várias outras atividades no sistema administrativo brasileiro. Em outros
países foram aos poucos surgindo vários outros nomes. No Brasil surgiram a policia
judiciária, administrativa e sanitária (ramo da policia administrativa), assim como foi
atribuído ao Estado pela primeira vez na Constituição 1824, art.169, poderes expressos em lei
maior referente a poder de policia e sua postura.
O poder de polícia é taxado como sendo uma atividade negativa, pois, impõe uma
abstenção ao cidadão de certa obrigação, assim afirma Mello (2006). Na verdade, sendo
obrigação negativa ou obrigação positiva, a pessoa que a cumpre sempre estará coagida a uma
limitação da sua liberdade, em beneficio do interesse público sobre o particular.
Melo (2006, p. 776) nos permite ter um breve resumo sobre poder de polícia de uma
forma clara e objetiva:
1.3 CONCEITO
Na lição de Di Pietro (2004, p. 94) temos que: “Pelo conceito moderno, adotado no
direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício
dos direitos individuais em benefício do interesse público”.
No Estado de Polícia, os poderes eram determinados segundo uma avaliação da
consciência do cidadão do que deveria ser considerado interesse público. O interesse público
supracitado esta voltado a diversas áreas da sociedade, sendo elas: segurança, saúde, meio
ambiente, defesa do consumidor, patrimônio cultural, propriedade entre outros. Para atender o
interesse público nessas diversas áreas, surgiram a polícia de segurança, das florestas, das
águas, de trânsito, sanitária etc. Sendo elas divididas dentro da policia administrativa. Sendo
assim, uma classificação que separa a polícia em duas classes: polícia de segurança e polícia
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administrativa, entende-se a primeira como a que tem por objetivo defender os direitos dos
indivíduos e do Estado, e a segunda como a tutela da boa ordem administrativa.
Nesse sentido, Sundfeld (1997, p. 14) em excelente monografia, contribui com maestria
em sua explanação:
A idéia de poder de polícia foi cunhada para um Estado mínimo, desinteressado em
interferir na economia, voltado, sobretudo, à imposição de limites negativos à
liberdade e à propriedade, criando condições para convivência dos direitos. Daí
haver-se definido o poder de polícia como imposição ao particular do dever de
abstenção, de não fazer. Mas, modernamente, a interferência estatal se intensificou e
mudou de qualidade, por conta da superação do liberalismo clássico. O Estado
Social, mais do que pretender a harmonização dos direitos individuais, impõe
projetos e serem implementados coletivamente: o desenvolvimento nacional, a
redução das desigualdades, a proteção do meio ambiente, a preservação do
patrimônio histórico.
Várias são as criticas apontadas pela doutrina, mencionando tal poder como sendo
limitador e regulador, no entanto será adotada a expressão poder de polícia ao longo deste
trabalho, haja vista que é recepcionada em texto legal pela Constituição Federal.
Caetano (1990, p. 1150) define poder de polícia como:
Na tentativa de prevenir ou reprimir danos sociais foi criada a polícia, esta detém o
poder de reprimir determinados atos de indivíduos que pretendem colocar em risco os
interesses comuns da sociedade. A expressão poder "de" polícia não se confunde com poder
"da" polícia, porque se a polícia tem a possibilidade de agir, em concreto, pondo em atividade
todo o aparelhamento de que dispõe, isso se deve à potes tas que lhe confere o poder de
polícia. O poder "de" polícia é que fundamenta o poder "da" polícia. Deixa claro que o poder
de polícia é a causa, o fundamento, sendo que a polícia é a conseqüência. Por fim, conceitua o
poder de polícia como a faculdade discricionária do Estado de limitar a liberdade individual,
ou coletiva, em prol do interesse público (CRETELLA JÚNIOR, 1999).
Neste sentido se faz oportuno transcrever a conceituação do poder de polícia
apresentada por Faria (2000, p. 206-207), a saber:
Pode-se afirmar que poder de polícia, em sentido estrito, é a atribuição legal conferida à
Administração Pública para, no exercício de suas competências (regrada ou discricionária),
promover a fiscalização do exercício do direito de propriedade e de liberdade, com vistas a
evitar abusos em prejuízos da coletividade ou do Estado. Para isso, pode valer-se de seus
meios próprios, nos limites da lei, para coibir os atos lesivos e impor sanções previstas em
lei.
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Existem no poder de polícia elementos essenciais para defini-lo, são eles: o primeiro
elemento, de obrigatória presença na definição de polícia, é o da fonte de que provém, o
Estado, ficando, pois, de lado, qualquer proteção de natureza particular; o segundo elemento,
o escopo, de natureza teleológica , também é essencial para caracterizar a polícia, ou seja, não
existe o instituto se o fim que se propõe por outro que não o de assegurar a paz, a
tranqüilidade, a boa ordem, para cada um e para todos os membros da comunidade; o terceiro
elemento que não pode faltar na definição de polícia é o que diz respeito, in concreto, às
limitações a qualquer tipo de atividade que possa perturbar a vida em comum.(CRETELLA
JÚNIOR, 1999)
O verdadeiro fundamento do poder de polícia administrativo é evitar danos à
coletividade pela ação de particular. É a atividade do Estado que tende a regular o equilíbrio
necessário entre a existência individual e o bem comum quando perturbado. É sabido que o
serviço público pode ser prestado por particulares, mas o exercício do poder de polícia de
acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal (publicada em vinte e cinco de fevereiro de
dois mil), não pode ser delegado, porque se trata de poder de império, o que provocaria o
desequilíbrio entre os particulares.
Diante dessas considerações, se faz importante mostrarmos a diferença entre o poder
de polícia e o serviço público, devido ao fato de que essas duas atividades são decorrentes da
função administrativa em pleno exercício. De um lado, coloca o Poder de polícia como limite
à conduta individual, e, portanto, atividade negativa, e de outro, o serviço público, como
atividade positiva, que se traduz em atividade da Administração que vai trazer um acréscimo
aos indivíduos. (BATISTA JÚNIOR, 2001)
De uma forma mais branda o poder de polícia tem o objetivo de assegurar o bem estar
geral da sociedade, evitando, através de ordens, proibições e apreensões, o exercício anti-
social dos direitos individuais, o uso abusivo da propriedade, ou a prática de atividades
prejudiciais aos cidadãos. Sendo Exercido por meio de órgão e serviços públicos incumbidos
de fiscalizar, controlar e deter as atividades individuais que se revelem contrárias à higiene, à
saúde, à moralidade, ao sossego, ao conforto público e até mesmo à boa conduta humana.
Temos o poder de polícia em uma tentativa de ajudar a acontecer uma convivência social mais
harmoniosa, para evitar conflitos no exercício dos direitos e atividades do individuo entre si,
perante o interesse de toda a população.
Em relação aos direitos individuais o direito administrativo possui suas características.
Ele trata de um embate de temas que possuem dois pontos díspares: um refere-se à autoridade
da administração pública, a qual possui o dever de delimitar o exercício dos direitos
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individuais relacionados ao bem estar coletivo, o outro esta focado na liberdade individual, no
qual o individuo deseja exercer plenamente os seus direitos como cidadão. Na incumbência de
resolver este conflito de maneira rápida, foram aplicados ao poder de polícia, dois sentidos:
um sentido amplo e um sentido estrito. Este ultimo, é focado no poder de polícia
administrativo. Nota-se que o poder de polícia administrativo tem intervenção especifica do
Poder Executivo, voltados apenas para o fim de interferir nas atividades de particulares tendo
em vista os interesses sociais. A sociedade deve se basear nos limites determinados pelo poder
público quando estiver exercendo sua atividade particular, pois, este poder é quem define
perante leis as garantias fundamentais dos cidadãos. Temos este mesmo cidadão tentando
ampliar-se de um lado e do outro temos a administração pública analisando cada um dos seus
atos como cidadão, fiscalizando até que ponto as atividades desenvolvidas por ele se integram
com o Poder Público harmoniosamente.
Em nossa Constituição mais precisamente no artigo 5º e incisos IV, XIII, XV e XXII,
temos assuntos relacionados ao direito de uso, gozo e disposição da propriedade e ao
exercício da liberdade, os quais são conferidos aos cidadãos no ordenamento jurídico do
nosso país. Como podemos tomar como base os ensinamentos do doutrinador (MEIRELLES
2007, p. 127):
Poder de Policia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para
condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em
beneficio da coletividade ou do próprio Estado.
Todos esses direitos em seu exercício terão que ser obrigatoriamente harmonizados
com o bem-estar da coletividade ou com o próprio interesse do poder público. Os direitos ao
serem criados possuem seus limites de utilização, devido ao fato de que essa utilização do
direito individual não poderá ferir o direito de outros cidadãos, nem o interesse da sociedade
em geral. Dentro das prioridades pode-se destacar o direito coletivo acima do direito
individual. Contudo, é essencial, que tenha uma atividade juntamente aos direitos individuais,
para adaptar e ajustar esses direitos na tentativa de que se possa obter uma ótima utilização
dos mesmos. Para que essa atividade seja cumprida com galhardia se faz necessário, em
primeiro momento, ser exercida através do Poder Legislativo, o qual edita as leis
impulsionadoras que fazem fruir estes direitos. Tal atividade exercida pelo Poder Legislativo
é o poder de polícia, na qual temos em um primeiro instante, a liberdade do direito individual
do cidadão e em um segundo instante, a obrigação da Administração em condicionar o
exercício dos direitos coletivos da sociedade. O Poder Legislativo exerce o poder de policia
autorizando a lei a impor restrições sem vir a ferir a nossa Constituição, até mesmo porque
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esse exercício é previsto na mesma. De acordo com muitos doutrinadores o poder de polícia
permite traduzir verdadeira realidade de um poder da administração em impor limites de
modo direto, as liberdades fundamentais em defesa do bem comum baseado na lei. Nestes
termos podemos trazer a este trabalho opiniões de vários doutrinadores a respeito do conceito
de Poder de Polícia:
Tem-se Tácito (1975 apud MEIRELLES, 2007, p. 128):
Podemos citar também Cooley (1903, p. 829 apud MEIRELLES, 2007, p. 128):
Pode-se observar que vários são os conceitos referentes ao poder de polícia, porém a
grande maioria dos autores refere-se a este como sendo respeitado o interesse geral da
sociedade, sempre levando em consideração a liberdade individual e de propriedade.
Tem-se ainda Cavalcanti (1956, p. 07 apud MEDAUAR, 2004, p. 390):
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Art. 78 Considera-se poder de policia a Atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando
direito, interesse ou liberdade, regula a pratica de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, á ordem, aos costumes, a disciplina da produção e do mercado, ao exercício
de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Publico, à tranqüilidade pública ou
ao respeito à propriedade e os direitos individuais ou coletivos.
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1.4 ATUAÇÃO
O poder de polícia se expandiu muito, hoje é encontrado em pleno exercício nos mais
variados setores da Administração Pública sempre com o objetivo de garantir o bem estar
geral, seja ele no trânsito, na economia popular, na segurança e ordem pública, saúde e
alimentação, valores culturais, estéticos e artísticos do nosso país. Observa-se que, o poder de
polícia possui um âmbito ocorrência bastante amplo sendo organizado em toda atividade
estatal. A atuação do poder de polícia se dá inicialmente através de atos normativos de
alcance geral e também de atos específicos e concretos.
Para se ter uma noção melhor da atuação do Poder Público devemos se basear nas
atividades do Legislativo e do Executivo e no poder de polícia em seu sentido amplo. De
acordo com essas atividades os meios utilizados geralmente são as Leis, estas chamadas de
atos normativos em geral. Através destes atos serão criadas algumas limitações
administrativas das quais encontramos as limitações ao exercício dos direitos individuais,
estas são dirigidas sem distinção para todas às pessoas que se encontrem na mesma situação,
enquanto isso a Administração Pública disciplina a aplicação da lei e o Executivo baixa
decretos, resoluções, portarias e instruções normativas referentes ao poder de polícia. Ainda
temos os atos administrativos e as operações materiais de aplicação da lei ao caso concreto o
qual pode se dar a partir de atos preventivos, fiscalizadores e repressivos. Os primeiros são os
regulamentos administrativos enviados com o objetivo de padronizar alguns comportamentos
e até mesmo por meio de autorizações e licenças às quais cabe ao Poder Público determinar.
Já o segundo é voltado para as inspeções, vistorias e exames realizados pela Administração
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com a intenção de fazer valer os regulamentos e normas próprias. O ultimo que são os atos
repressivos se voltam exclusivamente à aplicação de sanções devido à desobediência das
normas de conduta que são impostas aos administrados.
Ainda assim, pode-se perceber o poder de polícia atuando nas mais variadas áreas: a
polícia de caça e pesca que é voltada à proteção da fauna terrestre e aquática, a polícia
florestal que tem a finalidade de proteger a flora, a polícia de trânsito e tráfego a qual tem por
objetivo garantir a segurança e a ordem nas estradas, a polícia sanitária sempre se
preocupando com a proteção da saúde pública, a polícia edilícia, muito atuante em cidades
que possuem leis para não construírem prédios com determinada altura como em João Pessoa.
É Importante ressaltar que, estes são apenas setores na qual as normas de polícia se fazem
presente e que não são espécies de polícia.
1.4 LIMITAÇÃO
Como todo ato administrativo, a medida de polícia, ainda que seja discricionária,
sempre esbarra em algumas limitações impostas pela lei e mesmo com relação aos
motivos ou ao objeto ainda que a Administração disponha de certa dose de
discricionariedade também deverá exercida nos limites traçados pela lei.
Sabe-se da importância em impor limites as medidas de policia até mesmo quando nos
referimos a sua competência e à forma, isso se faz necessário para que não aconteça o abuso
de poder. Podem ser observadas também como forma de limitação: a finalidade do poder de
polícia, pois este poder só deve ser exercido para atender ao interesse público, até mesmo com
a lei colocando a disposição varias alternativas possíveis os meios de ação do poder de policia
ainda assim sofrem limitações.
Quando se utiliza meios coercitivos na tentativa de fazer valer o poder de polícia
administrativa é de praxe respeitar à proporcionalidade da medida adotada pelo Poder Público
uma vez que envolve a liberdade individual do cidadão. Dessa forma pode-se mencionar aqui,
a aplicação do conhecido princípio de direito administrativo, a saber, o da proporcionalidade
dos meios aos fins, pois este se refere à liberdade individual do cidadão dando ênfase ao bem-
estar da coletividade. A Administração Pública deve atuar com o máximo de cuidado nesse
aspecto, não exercendo o poder de polícia através de meios excessivos para se alcançar o fim
desejado. A desproporcionalidade do ato de polícia ou seu excesso equivale a abuso de poder
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e, como tal, tipifica ilegalidade nulificadora da sanção (Meirelles, 2007). Portanto, o poder de
polícia não pode ir além do necessário para satisfação do interesse público almejado.
Nesse sentido, Meirelles (2007, p. 103) alerta que:
Quando a polícia administrativa for exercer seu poder, sempre deverá respeitar as
liberdades públicas e os direitos individuais previstos na Constituição Federal, caso contrário,
não será considerado legítimo e proporcional o seu ato. A coibição do exercício de poder de
polícia, quando houver excessos, é feita pelo controle judicial ou administrativo podendo
ainda não haver prejuízo da responsabilidade criminal, civil e administrativa dos servidores
envolvidos, porém cabe indenização ao lesado através do art. 37, § 6.º da CF.
1.5 CARACTERÍSTICAS/ATRIBUTOS
Vivendo em coletividade muitas pessoas não lembram que devem respeitar o direito
do próximo por isso a Administração Pública se ver obrigada a relacionar o interesse dos
cidadãos ao interesse do bem-estar geral. Com o intuito em defender tais interesses, o ato de
polícia administrativa contém determinadas características, são elas: geralmente é editado pela
Administração Pública, a supremacia do interesse público é seu fundamento, o poder de
império é tomado como base entre a ligação que tais administrados tem com o Poder Público
e ainda atua na propriedade ou sobre a liberdade dos particulares. Se por algum motivo não
houver a incidência de algum desses caracteres ou até mesmo for baseado em outro tipo de
vinculo o ato de polícia não existirá.
De acordo com Di Pietro (2004, p. 77), “Costuma-se apontar como atributos do poder
de polícia a discricionariedade, a auto-executoriedade e a coercibilidade.”
1.5.1 Discricionariedade
A polícia é um setor só parcialmente controlado pela lei, porque nunca foi possível
cingi-la completamente na legalidade, diante das manifestações multímodas das
condutas individuais e da vida social, que forçam a que se deixe certa margem de
liberdade de atuação.
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Neste atributo a lei deixa uma lacuna de liberdade em certas situações, isso acontece
porque nem sempre o legislador poderá prevê todas as ocasiões possíveis de acontecer. Porém
a Administração deve decidir em que ocasião, qual o melhor meio, momento e sanção que
pode vim a ser aplicada a determinada situação. É ai que visualizamos o poder discricionário,
onde a Administração poderá escolher a melhor maneira de solucionar tal problema ou
situação. Nem sempre iremos encontrar presente nas medidas de polícia a discricionariedade,
sabendo que a lei determina em alguns casos que a Administração adote soluções já reguladas
e estabelecidas, sem o uso da discricionariedade, assim teremos o vinculo do poder a lei
escrita.
Ensina Mello (2006, p. 790) que:
Em grande parte dos casos concretos, a Administração terá que decidir qual o melhor
momento de agir, qual o meio de ação mais adequado, qual a sanção cabível diante
das previstas na norma legal. Em tais circunstâncias, o poder de polícia será
discricionário. Em outras hipóteses a lei já estabelece que, diante de determinados
requisitos, a Administração terá que adotar solução previamente estabelecida, sem
qualquer possibilidade de opção. Nesse caso, o poder será vinculado. A exemplo
temos a licença.
1.5.2 Auto-executoriedade
Sendo assim, a Administração tem o livre arbítrio de tomar decisões sobre as quais
não necessitaram dirigir-se a um juiz, para solicitar uma obrigação ao administrado, ou seja, a
Administração impõe de forma direta aos administrados, as medidas ou sanções de polícia
administrativa, que são necessárias à coibição de atividades que não sejam benéficas ao bem-
estar social.
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Temos ainda o desdobramento deste atributo por parte de alguns autores em: a
exigibilidade e a executoriedade, a saber: a primeira é a possibilidade que tem a
Administração Pública de tomar decisões de execução, porém pelo atributo da exigibilidade, a
administração se faz valer através de meios indiretos de coação. A segunda é a opção que a
Administração tem, de executar o poder de maneira direta, utilizando até mesmo se houver
necessidade, do uso da força para obrigar o administrado a cumprir algumas decisões da
administração pública. A Administração por ser um órgão do Estado e ter o objetivo de buscar
o bem da sociedade nem sempre toma decisões as quais os administrados podem estar de
acordo, caso isso venha acontecer o particular que se sentir ofendido deverá recorrer ao Poder
Judiciário utilizando o mandado de segurança e o habeas corpus, estes são os remédios
processuais indicados e mais efetivos para tais casos.
Segue-se então um julgamento do Tribunal de São Paulo mencionado pelo ilustre
Meirelles (2007, p. 133):
1.5.3 Coercibilidade
Alguns autores destacam o poder de polícia como uma atividade negativa e positiva.
Mello (2006, p. 799) é um dos autores que destaca o poder de polícia como sendo uma
atividade negativa: “No sentido de que sempre impõe uma abstenção ao particular, uma
obrigação de não fazer. Mesmo quando o poder de polícia impõe aparentemente uma
obrigação de fazer”.
A exemplo destes atos temos: exibir planta para licenciamento de construção, fazer
exame de habilitação para motorista, colocar equipamento contra incêndio nos prédios. A
intenção do poder publico com isto é, prevenir com estes atos que as atividades executadas
pelos cidadãos sejam feitas perigosamente ou que seja nociva a sociedade, portanto a intenção
da administração Publica é evitar o mau exercício do direito individual.
Com relação à atividade positiva, esta em seu desenvolvimento realizará uma
atividade a qual irá trazer um acréscimo aos indivíduos, isoladamente ou em conjunto. A
Administração exerce uma atividade material, que vai trazer de certa forma um benefício ao
cidadão. Tem-se como exemplo, quando a Administração executa os serviços de energia
elétrica, de distribuição de água e gás, de transportes etc. Na atividade de polícia, a
Administração tem a função de impedir que os particulares pratiquem atos contrários ao
interesse público, ou seja, ela impõe limites à conduta individual.
Di Pietro (2004, p. 77) nos ensina que:
O critério é útil apenas na medida em que demonstra a diferença entre poder de
polícia e serviço público. Mas tem-se que levar em conta que, a que se qualificar o
serviço publico como atividade positiva, está-se considerando a posição da
Administração: ela desenvolve uma atividade que vai trazer um acréscimo aos
indivíduos, isoladamente ou em conjunto; no poder de polícia, o aspecto negativo diz
respeito ao particular frente à Administração: ele sofrerá um limite em sua liberdade
de atuação, imposto pela Administração.
Na tentativa de não esgotar esta matéria passarei a tratar a respeito do uso e abuso do
poder de polícia, com o intuito de demonstrar poderes os quais não estão sendo cumpridos
adequadamente, ou seja, dentro de suas finalidades.
CAPÍTULO 2 - USO E ABUSO DO PODER DE POLÍCIA
Este tema exige certa reflexão, pois o abuso de poder no ordenamento jurídico
brasileiro está ficando cada vez mais presente a partir dos excessos que estão sendo praticados
por agentes no exercício das suas funções, caracterizando, assim, atentados à normalidade
jurídica e desvio da finalidade de suas atribuições concedidas pela Administração Pública,
através da violação aos direitos fundamentais da cidadania.
2.1.1 Conceito
O abuso do poder, como todo ilícito, reveste as formas mais diversas. Ora se
apresenta ostensivo como a truculência, às vezes dissimulado como o estelionato, e
não raro encoberto na aparência ilusória dos atos legais. Em qualquer desses
aspectos – flagrante ou disfarçado – o abuso do poder é sempre uma ilegalidade
invalidadora do ato que o contém.
Nos dias atuais vivenciamos ações praticadas por agentes públicos, sejam eles
administrativos ou políticos, em excesso. Devido a este fato, tem-se realizado estudos através
da doutrina e jurisprudência que ajudam a identificar como ocorrem e os efeitos que podem vir
a ser produzidos na sociedade pelo abuso de poder.
A palavra abuso é um substantivo masculino originário do latim abusu que quer dizer
“mau uso, ou uso errado, excessivo ou injusto; excesso, de comedimento, abusão; exorbitância
de atribuições ou poderes; aquilo que contraria as boas normas, os bons costumes” como é
encontrado no Minidicionário Aurélio (1993, p. 05). Porém, no Direito, esta palavra é aplicada
quando nos referimos ao excesso de poder, abuso de poder, desvio de finalidade ou até mesmo
mau uso deste poder.
Cretella Júnior (1984, p. 349), de forma clara, em comentário a Constituição de 1946
sobre a expressão “abuso de poder”, destaca que:
25
O abuso de poder ainda pode se apresentar, nas seguintes formas: abuso de Poder de
Legislar (presidente cria uma lei ou portaria autorizando a reeleição para se favorecer), abuso
de Poder administrativo (agentes públicos se prevalecem do poder concedido pelo Estado para
se beneficiarem colocando pessoas da própria família para trabalharem consigo sem prestar
concurso público), abuso de Poder policial (quando policiais “plantam” provas para incriminar
alguém inocente) e abuso de Poder Judicial (liberação de escuta telefônica para alguém
conhecida, sem previsão de investigação policial).
Quanto aos fins, o poder de polícia só deve ser exercido para atender ao interesse
público. Se o seu fundamento é precisamente o princípio da predominância do
interesse público sobre o particular, o exercício desse poder perderá a sua
justificativa quando utilizado para beneficiar ou prejudicar pessoas determinadas; a
autoridade que se afastar da finalidade pública incidirá em desvio de poder e
acarretará a nulidade do ato com todas as conseqüências nas esferas civil, penal e
administrativa.
Para ficar um pouco mais claro, pode-se citar alguns casos que vemos, ou até mesmo
ouvimos comentários a respeito deles. São os casos de Prefeitos que, pelo fato de não se
reelegerem, exoneram, como forma de castigo, servidores municipais, que haviam sido
nomeados pelo mesmo, ou seja, este prefeito usa o poder para interesse e finalidade pessoal,
ou até mesmo para ajudar, ou prejudicar, alguém determinado.
A nossa Carta Magna, no seu art. 37, caput, prevê que a administração pública tem
que obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. A
legalidade quer dizer que o poder público só pode fazer o que está descrito na lei. Um pouco
mais amplo que o anterior, os princípios da moralidade e da impessoalidade relacionam a ação
administrativa, ou o ato administrativo, ao interesse público. Conforme o exemplo já referido,
a infringência a tais princípios ocorre quando o agente público vislumbre apenas seus
interesses, este ato não será válido. Por último, temos o mais moderno dos princípios que
30
regem tal Administração Pública, o princípio da eficiência. Este princípio possui dois
aspectos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se
espera o melhor desempenho possível de suas atuações e atribuições, para lograr os resultados
melhores; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública,
idem quanto ao intuito de alcance de resultados na prestação do serviço público (DI PIETRO,
2004, p. 98). O principio da eficiência pode ainda ser somado aos demais princípios impostos
à Administração, no entanto, jamais poderá sobrepor-se a nenhum deles.
Ademais, se tem discutido sobre a qualidade das obras e serviços exercidos pelo poder
público. O cidadão participa de diversas formas na Administração Pública, como estabelece o
§ 3o do art. 37 da Constituição Federal2. O principio da eficiência funciona como uma mola
propulsora para que a atuação da Administração Pública aconteça de maneira adequada,
sempre procurando a melhor solução que atenda ao interesse público.
O termo “desvio de poder” tem sua origem no Conselho de Estado francês. A intenção
ao ser criado referido termo foi sustar algumas ações ou mesmo acabar com os abusos
relacionados à natureza humana e ao egoísmo que vinha acontecendo da parte dos agentes
públicos.
A palavra “desvio”, de acordo com o Aurélio (1993, p. 183), significa ato ou efeito de
desviar-se da posição normal, mudança de direção ou afastamento, Subtração fraudulenta. A
expressão “desvio de poder” significa afastamento prático de determinado ato. É poder
exercido em sentido diferente daquele em vista do qual fora estabelecido (MEIRELLES,
2007, p. 293).
Em nosso ordenamento jurídico a teoria foi acolhida de maneira diferente, pois a teoria
do desvio de finalidade foi admitida primeiramente pela doutrina vindo a inclusão de tal teoria
em nossos tribunais logo depois esse momento. Importante se faz ressaltar que jamais houve
em nosso ordenamento jurídico alguma legislação que tratasse especificamente do desvio de
poder, porém isso não vem a dizer que o tal ordenamento não tenha tratado da teoria do
2
“a lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando
especialmente: I- as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção
de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II- o
acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo...; III- a disciplina da
representação contra o exercício negligente ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.”
31
desvio de finalidade, uma vez que esta se incorporou de fato em nossos julgamentos
brasileiros em decorrência de um acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte a
qual teve como relator Seabra Fagundes, em 1948, tendo a seguinte ementa citada por Velloso
(2007, p. 198):
De acordo com a citação acima, todo ato tem finalidade própria fixada pela lei que o
gerou. Portanto, através do ato somente pode-se buscar a finalidade que lhe é atribuída de
acordo com a norma e sem agir em beneficio próprio.
O desvio de poder não se prende a determinadas situações em que o agente age de má-
fé. Certamente ele pode ficar caracterizado quando o agente age sobre vicio e nem sempre no
desvio de poder em encontramos o uso de má-fé.
Nestes termos, o ilustre Mello (2006. p. 378) nos lembra que “[...] o que vicia não é o
defeito de intenção, quando existente – ainda que através disto se possa, muitas vezes,
perceber o vício -, mas o desacordo objetivo entre a finalidade do ato e a finalidade da
competência.”
Normalmente o desvio de finalidade é verificado quando se encontra revestido do
mencionado vício de intenção repleto de satisfação de vontade pessoal. O desvio de poder
(finalidade) se dá quando o agente, mesmo que na sua competência, utiliza-se do ato para
32
lograr finalidade alheia à sua natureza. Em outras palavras, há o desvio de poder quando o
agente utiliza sua competência de maneira errada.
O desvio de poder pode ser manifestado pela busca do fim diferente ao do interesso
público quando o agente procurasse, ao realizar o ato, beneficiar a si próprio ou a terceiros,
conforme esclarece Bastos (2001, p. 111). A título de exemplo tem-se que no exercício de
poder de polícia incumbido de fiscalizar as construções, o chefe do órgão responsável pela
fiscalização se negar a aprovar uma planta de obra pelo simples fato de somente ele não
encontrar beleza no projeto.
2.2.3 Prova
[...] O ato praticado com desvio de finalidade – como todo ato ilícito e imoral – é
praticado – ou é consumado às escondidas ou se apresenta sob o capuz da legalidade
do interesse público. Diante disso há que ser surpreendido por circunstâncias que
revelem a distorção do fim legal, substituído habilidosamente por um fim ilegal ou
imoral não desejado pelo legislador. A propósito, já decidiu o STF que ‘indícios
vários e concordantes são provas. [...]. Tudo isso dificulta a prova do desvio de
poder ou finalidade, mas não a torna impossível se recorrermos aos antecedentes do
ato e à sua destinação presente e futura por quem o praticou [...].
Ainda assim, o desvio de finalidade pode se encontrar claro, não havendo qualquer
impedimento à decisão da questão em sede de Mandado de Segurança. Sobre este tema, faz-se
necessário acrescentar o seguinte acórdão do Superior Tribunal de Justiça:
traz idéia incompatível com o ato promove sua nulidade. A exoneração de ofício é
nula se o ato reconhece a prescrição e a impossibilidade de demitir o servidor. A
exoneração não se confunde com penalidade, e o ato de exoneração que visa a
substituir pena de demissão sofre de desvio de finalidade. Segurança concedida
em parte” (MS 7706 / DF; MANDADO DE SEGURANÇA 2001/0074669-0 –
RELATOR: MINISTRO PAULO MEDINA - TERCEIRA SEÇÃO).
3
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade.
38
Sabe-se que o poder de polícia exercido pelo Estado pode atuar na área
administrativa ou judiciária. Alguns doutrinadores estabelecem diferenças entre tais polícias
afirmando que, enquanto a polícia administrativa tem caráter preventivo, pelo fato de ter por
objetivo atuar em setores específicos da atividade humana que afetem bens de interesse
coletivo, a polícia judiciária age de forma repressiva, investigando e punindo os autores de
infrações da norma. No entanto pode-se perceber no item anterior que tal diferença não é
única, pois a polícia administrativa pode agir das duas formas: preventivamente e também
repressivamente (GUIMARÃES, 2004).
Sendo assim, e a respeito desse assunto, Di Pietro (2004, p.129) contribui com seus
ensinamentos afirmando que:
[...] se pode dizer que a polícia judiciária, embora seja repressiva em relação ao
indivíduo infrator da lei penal, é também preventiva em relação ao interesse geral,
porque, punindo-o, tenta evitar que o indivíduo volte a incidir na mesma infração.
seguintes condições: primeiramente, como todo ato administrativo comum, tem-se o sujeito,
competência, finalidade, forma, objeto, motivo estas previamente são condições para validade
do ato de polícia. Em seguida, pode-se observar a proporcionalidade entre a restrição que a
Administração impõe ao particular no exercício do poder de polícia e o beneficio social que se
almeja alcançar para tornar válido o ato de polícia. Nos atos praticados pela polícia
administrativa podem-se observar a lei sendo aplicada ao caso concreto como nas medidas
preventivas sendo elas: fiscalização, ordem, notificações, vistorias licenças e etc. Têm-se,
ainda, as medidas repressivas executadas pela policia administrativa, a saber: interdição de
atividades, dissolução de reuniões, apreensão de mercadorias que possam prejudicar o
cidadão, dentre tantas outras.
Meirelles (2007, p. 141) ensina que:
3.2 SANÇÕES
A Administração sempre deve agir de acordo com os princípios que estão expressos
no caput do artigo 37 da Constituição Federal, quais sejam: legalidade, impessoalidade,
4
O STJ julgou legal o exercício do poder de polícia para demolir construções irregulares decorrentes de invasão
de área non aedificandi (REsp nº 626.224-RS, rel. Min. Luiz Fux, DJU 14.4.2004).
5
TJSP, Ap.cível 125.348-1, j. 30.10.90
42
moralidade, publicidade e eficiência. Porém, ela mesma deve controlar seus próprios atos
como decorrência do poder de autotutela. Ainda assim, existe o controle também por parte
dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário sobre os atos administrativos praticados pelo
Poder Público.
Di Pietro (2004, p. 478) define a palavra controle como sendo:
A Administração Pública deve fiscalizar o ato de polícia de modo a lhe garantir a sua
legalidade (do ato) e conveniência (da administração). Dentro do Poder Hierárquico, é dever
do superior funcional verificar preventivamente se ato de seu subordinado é legal. Caso haja
falha no controle interno dos atos administrativos porque o superior, por ação ou omissão,
autorizou seu subordinado a cometer abuso de poder, o administrado que se sinta prejudicado
poderá buscar a correção desse ato, ou até mesmo a sua nulidade, através a própria
administração ou mesmo do órgão judiciário competente.
Para Meirelles (2007, p. 662), “Nem mesmo os atos discricionários fogem do controle
judicial, porque, quanto à competência, constituem matéria de legalidade, tão sujeita ao
confronto da Justiça como qualquer outro elemento do ato vinculado.”
Os meios de controle administrativo e judiciário do ato de policia servem para impedir
o abuso de poder que possa vir a ser cometido pelo agente público quando da prática desse
ato. Vários critérios existem para classificar as modalidades de controle, sendo eles:
- controle quanto ao órgão executor que pode ser: administrativo, legislativo e judicial;
- controle quanto ao momento em que se efetua, que pode ser: prévio (visa impedir
que o ato ilegal seja praticado) , concomitante (acompanha a realização do ato), posterior ou
corretivo (serve para revisar os atos e se for preciso corrigir, desfazer ou apenas confirmar tais
atos);
- controle quanto à localização do órgão que os realiza que pode ser interno ou
externo; e, por fim,
- controle quanto ao aspecto controlado, a saber: de legalidade ou legitimidade e de
mérito (tem por objetivo verificar a discricionariedade do ato controlado).
43
É certo que em um país como o nosso, democrático, algum ato que possa vir a
restringir os direitos e liberdades individuais gerará uma enorme repercussão. Em exercício, é
de se mencionar que o poder de polícia é capaz de restringir as liberdades fundamentais do
particular.
Sobre o conceito de liberdade Guimarães (2004, p. 383) destaca ser a:
Faculdade natural que permite a pessoa fazer o que quer nos limites da lei, da moral e
dos bons costumes, respeitados os direitos de cada um. A Constituição Federal
garante que ninguém será privado de sua liberdade e de seus bens sem o competente
processo legal [...].
O cidadão poderá gozar de sua liberdade desde que se comporte de acordo com a lei,
com os bons costumes e não almeje coibir o direito do próximo, pois o exercício do poder de
polícia é amplo e abrange a proteção à moral e a boa ordem, a censura de espetáculos
públicos, a segurança das construções e dos transportes, a manutenção da ordem pública em
geral e ainda outros. Sendo assim, pode-se observar que a polícia sanitária, a polícia florestal,
a polícia das construções, as polícias previstas para manter a ordem publica previstas no artigo
144 da Constituição Federal e ainda assim, outras polícias atuando sobre as atividades do
particular. Sabe-se, que o poder de polícia atua sobre as atividades individuais dos particulares
que afetam, ou possam vir a afetar, os interesses da coletividade, a que incumbe ao Estado
velar e proteger. Enfim, em regra, onde existir interesse relevante para a sociedade deverá
haver, proporcionalmente, poder de policia para proteger o interesse público.
O direito individual é conceituado no Dicionário (MELO, 1978, p. 38):
8
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para
o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
47
ao direito propriamente dito, o poder de polícia deve se adequar aos contornos que as normas
lhe conferem.
O poder de polícia não é ilimitado, a limitação é previstos na lei. Tem como uma de
suas características a discricionariedade, no entanto não pode ser usado de forma arbitrária, ou
seja, de qualquer maneira.
Sobre limitação do poder de polícia pela Administração Pública afirma Mello (2006,
p.60): “Existe na área do poder de polícia, como em qualquer outro setor da Administração,
um limite conatural ao seu exercício; ou o atingimento da finalidade legal em decorrência da
qual foi instituída a medida de polícia”.
Contudo, tem-se uma limitação do poder de polícia bem como de qualquer ato
administrativo, feita pela Administração Pública, observando-se a forma, a finalidade e a
competência. No que tange a forma, esta deverá estar em conformidade com a lei, atingindo
assim a finalidade pública que é o bem comum da coletividade, mediante ato oriundo de
autoridade competente. Se o agente se desviar de qualquer um dos requisitos mencionados,
ficará caracterizado abuso de poder, assim a Administração poderá revogar o ato ou tal ato
será anulado pelo Poder Judiciário, este que analisa a forma do ato perante sua legalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dotada de força coercitiva podendo ser classificada como atividade negativa (quando ocorre
perante o cidadão uma obrigação de não fazer) ou positiva (o particular obtém acréscimos).
Exercendo suas atividades, as polícias são autorizadas a empregar a força necessária
para a manutenção da ordem pública, limitando os direitos individuais que contrariem a
norma pertinente. Porém, nesse sentido, observou-se que o poder de polícia deve ser
vinculado às normas e ser direcionado ao interesse público, jamais beneficiando o próprio
agente, visando assim o bem-estar social, caso contrário será considerado abuso de poder.
Verificou-se ainda que a autoridade sofre limitações também quanto ao objeto, ou meio de
ação, ainda que a lei ofereça inúmeras alternativas.
Analisou-se a aplicação do princípio da proporcionalidade no poder de polícia e viu-se
que este não precisa ir além do necessário para obter a satisfação do interesse público que visa
proteger, ou seja, deve ser utilizado verificando os meios e os fins que pretendem atingir.
Ainda que os agentes pratiquem atos discricionários estes devem estar focados na legalidade.
Sendo assim, pode-se afirmar que a utilização do principio da proporcionalidade é limitador
do poder de polícia, pois promove atos simultâneos para o mesmo fim entre a atuação da
Administração na busca do interesse público e o respeito aos direitos dos particulares.
Enfim, os direitos do cidadão, as prerrogativas individuais e as liberdades públicas
previstas nos dispositivos constitucionais e nas leis são as limitações que o poder de polícia
sofre. Porém, o conceito de poder de polícia ficou mais limitado ainda ao ser observado que o
STF vem tomando decisões voltadas à necessidade de se observar o principio da
proporcionalidade e também os direitos fundamentais, deixando um pouco de lado a
discricionariedade exercida pela autoridade que não pode ser usada de forma arbitrária (fora ou
além da legalidade). Portanto, antes de se utilizar da discricionariedade faz-se necessário que a
autoridade competente observe o texto da Constituição Federal antes de restringir algumas
liberdades fundamentais do cidadão.
Contudo, tem-se uma limitação do poder de polícia na Administração, bem como de
qualquer ato administrativo, feita pela Administração Pública, observando-se a forma, objeto,
motivo, finalidade e a competência. Se o agente se desviar de qualquer um dos requisitos
mencionados, ficará caracterizado abuso de poder, assim a Administração revoga o ato ou
ainda tal ato será anulado pelo Poder Judiciário, este que analisa a forma do ato perante sua
legalidade.
Observou-se que a própria Administração controla os atos editados por ela mesma
como decorrência do exercício do poder de autotutela. Os meios de controle administrativo e
51
judiciário do ato de polícia servem para impedir o abuso de poder que possa vir a ser
cometido pelo agente público quando da prática desse ato.
Conclui-se então, que o poder de polícia não é ilimitado, é discricionário e ainda
vinculado. Os atos da Administração são controlados por ela mesmo assim como, o STF vem
atuando de maneira concisa no que diz respeito ao principio da proporcionalidade no poder de
polícia, por vezes, os atos devem ser praticados com proporcionalidade aos meios e fins para
que estão sendo destinados.
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