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copyright © Renato Ortiz, 1985, "Nenhuma parte desta publicagio pode ser gravada, armazenada em sistemas eletr6nicos,fotocopiada, ‘eprociuzida por meios mecanicos ou outros quaisquer ‘sem autorizagio prévia do editor. Sumario ‘Maria Teresa B. de Lima ‘Max Weleman Produgiio Grifiea: Adriana FB Zerbina Dicetora Bait Introdugao... 1 Meméria coletiva ¢ sincretismo cientific as teorias raciais do século XIX. 1B Da raga a cultura: a mestigagem e o nacional... 36 Alienagao ¢ cultura: 0 ISEB..... 45 Da cultura desalienada & ‘© CPC da UNE... 68 0 cpp 981 Lndices para exdlogosistematcn 1. Brasil: Cultura: Civitizagao Histcia 981 ‘wovweliorabrasiliense.com.be Da raga a cultura: a mestigagem e o nacional eer SY aconal Prorestan Fernandes, a0 tratar da questio raci A que 0 br Com esta boutade raciais so obscureci 08 autores que tém insistido sobre o aspecto da questo racial, mas se & verdade que hoje existe uma ideologia da miscigenagio democritica, € interessante observar que ela é um produto recente na hist6ria brasi Houve um tempo em que tinhamos preconceito tout court. Até a Aboligdo, 0 negro nao existia enquanto cidadio, sua auséncia no plano, literdrio ¢ tal que um autor pouco progressista como Silvio Romero chega inclusive a denunciar esse descaso, que tinha consequéncias hefastas para as Ciéncias Sociais. Os primeiros estudos sobre 0 negro, Somente se iniciario com Nina Rodrigues, j4 na dltima década do século XIX mas sob a inspi 0 das teoria joldgicas que vimos ‘no capftulo anterior. Muito embora essas teorias sejam questionadas a (1) Flerestan Fernandes, O Negro no Mundo dos Brancos, Séo Paulo, Dil, 1972 CULTURA BRASILEIRA F IDENTIDADE NACIONAL, 0 partir da Primeira Guerra Mundial, sua influéncia 6 tal que um autor como Oliveira Viana pode, em plena década de 1920, desenvolver um ensamento fundamentado nas premissas racistas da virada do século.? Fica porém uma pergunta: qual a razio de uma mudanga tio radi que transubstancia 0 elemento mestigo, produto do cruzamento com luma raga considerada inferior, em categoria que apreende a prépria ‘identidade nacional? Creio que, se considerarmos as relagdes entre cultura ¢ Estado, a questo pode ser melhor esclarecida. Parece no haver dividas de que a deologia de um Brasil-cadinho comega a se forjar no final do século XIX. Procuramos mostrar como a categoria de mestigo é, para autores como Silvio Romero, Euclides da ‘Cunha e Nina Rodrigues, uma linguagem que exprime a realidade social deste momento hist6rico, ¢ que ela corresponde, no nivel simbélico, a ‘uma busca da identidade, O movimento romantico tentou construir um no entanto, faltaram-Ihe condigées sociais que {he possibilitassem discutir de forma mais abrangente a problematica proposta. Por exemplo, 0 Guarani, que é um romance que tenta des- vendar os fundamentos da brasilidade, é um livro rest ‘ocupar da fustio do indio (ideal negro, naquele momento ident le trabalho, mas Por outro lado, ‘© modelo que se utiliza para pensar a sociedade brasileira € 0 da Idade Média. Nisso 0 nosso romantismo se diferencia pouco do romantismo europeu, que se volta para 0 passado glorioso para entender o presente. Nao foi por acaso que os estudos do folclore se fazem na diregio ‘oposta 20 que se denominou na época os exageros do romantismo. No entanto, até mesmo nas anilises do folclore, escritas na década de 1970, © elemento negro se encontra ausente. interessante observar que os tudlos de Silvio Romero sobre a poesia popular trazem, em 1880, uma idade em relaco aos de Celso Magalhaes, que séo de 1873. O que Silvio Romero critica neste autor é justamente a auséncia da categoria do mestigo, 0 que © impossibilita de pensar o Brasil como um todo? (2) Olvera Viana, Evetupao do Povo Brasileiro, Séo Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1938. (3) Vor Sivio Romero, Estudos de Poesia Popular no Bras, Petropolis, Vozes, 1980. 8 RENATO ORTIZ A escravidio colocava limites epistemolégicos para o desenvolvimento Pleno da atvidade intelectual. Somente com o movimento abolicionsta ¢ as transformagées profundas por que passa a sociedade & que o negro é integrado as preocupagdes nacionais. Pela primeira vez pode-se afirmas, 0 ue hoje se constitui num truismo, que 0 Brasil é o produto da mestigagem de tés ragas: a branca, a negra e a fndia, , portanto, na virada do século que se engendra uma “fébula das tr€s ragas”, como a considera Roberto da Matta.* A ideia de fabula € sugestiva, mas talvez fosse mais preciso falarmos em mito das trés ragas. O conceito de mito sugere um ponto de origem, um centro a partir do qual se irradia a hist6ria mitica. A ideologia do Brasil-cadinho © conta a origem do moderno Estado brasileiro, ponto de partida de toda uma cosmogonia que antecede a propria realidade. Sabemos fm Antropologia que os mitos tendem a se apresentar como eternos, imutaveis, 0 que de uma certa forma se adequa a0 tipo de sociedade €m que sto produzidos. Torna-se, assim, dificil apreender 0 momento ‘em que sio realmente elaborados. O antropélogo clissico opera sempre @ posteriori ¢ tem poucos elementos para fixar a origem histérica dos Uuniversos simbélicos. Numa sociedade como a nossa, 0 problema se coloca de maneira diferente; pode-se datar 0 momento da emergéncia Ga hist6ria mitica, © nfo é dificil constatar que essa fébula ¢ engendrada Ro momento em que a sociedade brasileira sofre transformagées Profundas, passando de uma economia escravista para outra de tipo capitalista, de uma organizacio monérquica para republicana, e que se busca, por exemplo, resolver o problema da mao-de-obra incentivando- Se 8 imigragdo europeia. Se o mito da mesticagem é ambfguo € porque existem dificuldades concretas que impedem sua plena realizagao. A Sociedade brasileira passa por um perfodo de transigZo, o que significa ‘que as teorias raciolégicas, quando aplicadas ao Brasil, permitem aos in- (4) Poberto da Mata, Relatvizando, Petropolis, Vozes, 1981, CULTURA BRASILEIRA E IDENTIDADE NACIONAL, 39 tar a realidade, mas niio modificé-la. Em jargo as condigées materiais para a sua existéncia so ,celebragio. publicado em 1880, pode- puramente simt Quando se perceber as dificuldades que rondam tomna-se dengoso, preguicoso, amigo de luta, de economia e de ordem. No inicio do romance, Jerénimo ocupa a mesma posigio sos a a Joio Roméo, outro portugués que participa também das quali a étnicas da raga branca. & bem verdade que Aluisio Azevedo agrees a Joo Romio com grande desprezo; ele niio se deixa seduzir telocat ter alegre ¢ sensual do mulato brasileiro. No entanto 0 desfec a romance € parabélico. Joo Roméo, si. © anbicion, scene socialmente no momento em que se distancia da raga negra « desvencilha da negra Bertoleza, com quem viveu grande parte de sua vida); Jerénimo, ao se abra: a raga branca sio aquelas que determinam a racionali capitalista, Ao se retirar do mestigo as qualidades da raci melhor, eles tém davidas em relagio a esse desenvolvime identidade forjada é ambigua, reunindo pontos positivos e ne; as que se cruzam. “eee partir das primeiras décadas do século XX, o Brasil softe mudangas profundas. O processo de urbanizagio de industriali- zagdo se acelera, uma classe média se desenvolve, surge um pro-

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