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INTENCIONALMENTE EM BRANCO

EB60-MT-20.401

MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO

CONDUTAS EM LOCAIS DE CRIME

1ª Edição
2018
Grupo de Trabalho responsável pela elaboração do Manual Técnico
Condutas em Locais de Crime (EB60-MT-20.401), 1ª Edição, 2018.

1. Órgão Gestor
- DECEx: Gen Bda R1 João Henrique Carvalho de Freitas
TC Gustavo Daniel Coutinho Nascimento
2º Sgt QE Rodolfo Marques da Silva

2. Órgão Elaborador
- EsIE: Cel Paulo César Bessa Neves Júnior

3. Órgão Executor
- EsIE: Cap Maurício Bernardes Miguel
Cap Bruno de Andrade Almeida
1º Sgt Perterson Sepúlveda Lopes
2º Sgt Lenon Rodrigues
PORTARIA Nr 249/DECEx, de 06 de novembro de 2018.

Aprova o Manual Técnico Condutas em Locais


de Crime (EB60-MT-20.401), 1ª Edição, 2018 e
dá outra providência.

O CHEFE DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO,


no uso da delegação de competência conferida pelo Art 44 das Instruções Gerais para
as Publicações Padronizadas do Exército (EB10-IG-01.002), aprovadas pela Portaria
do Comandante do Exército Nr 770, de 7 de dezembro de 2011, resolve:

Art 1° Aprovar o Manual Técnico Condutas em Locais de Crime (EB60-MT-20.401),


1ª Edição, 2018, que com esta baixa.

Art 2° Determinar que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação.

Gen Ex Mauro Cesar Lourena Cid


Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército

Publicada no Boletim do Exército Nr 47, de 23 novembro de 2018.


As sugestões para o aperfeiçoamento desta publicação, relacionadas aos
conceitos e/ou à forma, devem ser remetidas para o e-mail adout-ch@decex.eb.mil.br

Item(Incluir a Redação Redação Observação/


Manual
página afetada) Atual Sugerida Comentário
FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÃO (FRM)

NÚMERO ATO DE PÁGINAS


DATA
DE ORDEM APROVAÇÃO AFETADAS
INTENCIONALMENTE EM BRANCO
ÍNDICE DE ASSUNTOS

Pag
CAPÍTULO I – GENERALIDADES
1.1 Finalidade .………………………………………...............................…...... 1-1
1.2 Objetivo..........................................................……...............................… 1-1
1.3 Pressupostos básicos …………………………………......….................… 1-1

CAPÍTULO II – DEFINIÇÕES BÁSICAS


2.1 Local de Crime………............................................................................... 2-1
2.2 Distinções entre os locais de crime.................................................…….. 2-1
2.3 Definição de exame de corpo de delito..........................………............... 2-3
2.4 Cadeia de custódia...............................................................…................ 2-3

CAPÍTULO III – CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS


Generalidades ..........................................….................................................. 3-1

CAPÍTULO IV – CONDUTAS EM LOCAIS DE CRIME


4.1 Crimes contra a pessoa .........……………………..............……................ 4-1
4.2 Autoeliminação (Suicídio).………............................................................. 4-4
4.3 Morte Natural ........................................................................................... 4-6
4.4 Crimes contra o patrimônio …….............................................................. 4-6
4.5 Ocorrências de tráfego ............................................................................ 4-10
4.6 Locais de Incêndio................................................................................... 4-13
4.7 Locais de Explosão ................................................................................. 4-15
4.8 Ocorrências com materiais entorpecentes …………............................... 4-17
4.9 Ocorrências com material de informática ………………………............... 4-18
Anexo – Modelo de Termo de Apreensão e Apresentação de Material
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CAPÍTULO I
GENERALIDADES

1.1 FINALIDADE

Este Manual de Técnico (MT) tem por finalidade:


a) proporcionar orientações jurídicas e técnicas acerca das condutas que devem
ser adotadas em locais de crime;
b) mostrar a influência que a correta preservação de um local de crime exerce
sobre o trabalho pericial e investigativo e, consequentemente, na elucidação de um
determinado crime;
c) apresentar conceitos básicos sobre preservação de locais de crime, exame de
corpo de delito e cadeia de custódia;
d) apontar os fundamentos jurídicos que determinam a preservação dos locais de
crime e a realização dos exames de corpo de delito;
e) descrever os procedimentos corretos para a preservação de um local de crime;
f) contribuir para o esclarecimento de dúvidas sobre como agir em um determinado
tipo de crime; e
g) contribuir para o desenvolvimento da mentalidade de preservação de locais de
crime no Exército Brasileiro.

1.2 OBJETIVO

Sistematizar procedimentos, responsabilidades e atribuições que propiciem o


desenvolvimento e a execução de ações relacionadas à preservação de locais de crime
e outras atividades correlatas que criem condições favoráveis para o trabalho dos
peritos criminais militares e contribuam para o esclarecimento dos fatos delituosos.

1.3 PRESSUPOSTOS BÁSICOS

O Comandante é a Autoridade de Polícia Judiciária Militar de uma Organização


Militar (OM). Este, por sua vez, pode delegar seus poderes a um representante legal
(Presidente de um Auto de Prisão em Flagrante Delito, Encarregado de Inquérito
Policial Militar, Encarregado de Diligências).
O Oficial de Dia é o representante legal do Comandante nos dias e horários sem
expediente, devendo estar em condições de efetuar prisões em flagrante delito de
agentes de fatos criminosos que ocorram durante o seu serviço.
Os Aspirantes a Oficial são Praças Especiais e, em virtude disso, não devem ser
responsáveis pela lavratura de auto de prisão em flagrante delito.
A preservação de um local de crime e a apuração da infração penal são obrigações
da Autoridade de Polícia Judiciária Militar ou de seus representantes legais.
A correta preservação do local de crime é fundamental para a elucidação da
dinâmica do evento em apuração. Tal medida, se negligenciada, poderá acarretar
prejuízos irreparáveis à investigação decorrente.
Nas infrações que deixam vestígios, é fundamental (e obrigatório) a realização dos
exames periciais.
Este MT, de conhecimento obrigatório, serve de orientação para as medidas de
preservação de locais de crime. Os Comandantes de OM deverão prever
instrução(ões) sobre esse assunto para todo o seu efetivo pronto. Vale destacar que
qualquer militar poderá se deparar com uma cena de crime, devendo proceder de
forma correta no tocante à sua preservação.

1-1
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CAPÍTULO II
DEFINIÇÕES BÁSICAS

2.1 LOCAL DE CRIME


De maneira resumida, pode-se definir local de crime como o espaço geográfico
onde se consumou uma infração penal ou tenha relação com o fato delituoso.
Nestes locais, em decorrência da ação do agente infrator, são deixados vestígios mate-
riais (impressões digitais, pegadas, instrumentos de crime, etc) que devem ser periciados no
intuito de apontar a autoria da infração cometida e a dinâmica do evento (como ocorreu).
Não existe delimitação física para um local de crime. Sua dimensão será de acordo
com a dispersão dos vestígios deixados pelo autor da infração, o que influencia no
tamanho do isolamento a ser realizado.
Os peritos devem analisar todos os vestígios existentes no local de crime.
Evidentemente, alguns materiais não terão relação direta com a infração delituosa,
sendo descartados, porém, os vestígios que possuem ligação com o crime serão
minuciosamente estudados, passando a denominar-se indício.
Afere-se que os procedimentos tomados pelos militares que travaram os primeiros con-
tatos com o local de crime são fundamentais para evitar a destruição das evidências ou para
evitar a contaminação do local com evidências que foram introduzidas após a consumação da
ação delituosa.
Podem-se citar como por exemplo destes vestígios um cigarro descartado por um
curioso, as pegadas deixadas por militares que tiveram livre acesso ao local do crime, etc.
Em alguns casos, os vestígios são retirados do local antes da chegada dos peritos. Neste
caso, eles não prestarão mais como prova, uma vez que o perito só realiza a do que ele
encontra na cena do crime. Não adiantará o militar relatar ao perito que apanhou determinado
material no local de crime. O exame do corpo de delito estará irremediavelmente comprometido.
“Local de crime constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas, por
terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de mãos
imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se, desse modo, para sempre, os dados
preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos” (RABELO, 1996).

Figura 2-1 Perícia sendo realizada em um local idôneo

2.2 DISTINÇÕES ENTRE OS LOCAIS DE CRIME

- De maneira geral, existem algumas classificações importantes em relação aos Locais de


Crime. Os conceitos a seguir são importantes para a compreensão e para a efetivação do
isolamento de um Local de Crime.

2-1
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2.2.1 Quanto à Preservação do Local.

a. LOCAL IDÔNEO: é a denominação do local que foi corretamente preservado e,


em função disso, se manteve com as mesmas características e evidências deixadas
pelo autor da ação delituosa. Favorece a realização de exames periciais mais precisos.
b. LOCAL INIDÔNEO: é a denominação do local que foi alterado em função da ação
de curiosos ou de outras pessoas que, de maneira proposital ou não, destroem
evidências, subtraem provas ou inserem novos elementos na cena de crime (de forma
intencional ou não). É uma situação desfavorável ao perito e pode comprometer os
resultados dos exames periciais.
Em ambos os casos, o perito realizará os exames forenses pertinentes, porém,
quando verificar falhas nos procedimentos de isolamento do Local de Crime, deverá
relatar em seu laudo pericial qual era o estado de preservação da Cena do Crime e
explicar em que medida o incorreto isolamento do local comprometeu seus exames,
conforme parágrafo único do Art 169, do Código de Processo Penal.

2.2.2 Quanto ao Local em si.

a. LOCAL INTERNO: é aquele que se encontra em ambiente fechado (uma sala, um


galpão, etc).
b. LOCAL EXTERNO: é aquele que se encontra fora de edificações ou em vias públicas.
Os Locais Internos ou Externos se dividem em IMEDIATOS, que correspondem ao
local onde ocorreu o fato em apuração, ou seja, o núcleo da ação do agente, e
MEDIATOS, que são as adjacências.
Os esforços de preservação devem ser mais contundentes nas áreas imediatas,
porém, a Autoridade Policial, ou seu representante legal, deverá atentar para objetos,
marcas e manchas encontrados na área mediata que possam ter ligação com a ação
delituosa, ocasião em que determinará a ampliação do perímetro da área isolada.

----------- Local Imediato - - - - - - Local Mediato


Figura 2-2 Distinção entre local imediato e mediato

Recomenda-se que o perímetro do isolamento de uma cena do crime seja


consideravelmente grande. É mais fácil diminuir o perímetro do isolamento de uma
cena de crime do que ampliá-lo posteriormente, quando vestígios já tiverem sido
perdidos e quando a presença de curiosos for maior.

2-2
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2.3 DEFINIÇÃO DE EXAME DE CORPO DE DELITO

A grande maioria das pessoas interpreta que este tipo de exame é aquele realizado
em pessoas que sofreram lesões corporais, o que não é verdade.
Qualquer exame realizado em uma evidência deixada em um Local de Crime se
denomina “Exame de Corpo de Delito”. Desta forma, o exame realizado em uma arma,
em uma faca, em uma mancha ou em outro vestígio material que tenha sido
empregado ou produzido em uma ação delituosa será alvo de exames periciais. O que
se altera é, apenas, a modalidade (finalidade) do exame de corpo de delito.
O exame de corpo de delito poderá ser realizado de duas formas: direto, quando faz
diretamente no vestígio, ou indireto, quando é feito através de provas testemunhais.

Figura 2-3 Exemplo de um tipo de exame de corpo de delito direto

2.4 CADEIA DE CUSTÓDIA

A definição e o processamento da cadeia de custódia é outro aspecto relevante para


a atividade pericial e para a persecução da ação penal.
Em linhas gerais, a cadeia de custódia é o conjunto de procedimentos técnicos e
legais que permitirão que os vestígios coletados em uma cena de crime se trans-
formem, de forma inquestionável, em provas materiais.
Sua finalidade é rastrear o percurso e a manipulação de um vestígio ou evidência, a fim
de evitar que a mesma seja adulterada, o que comprometeria a resultado dos exames.
A cadeia de custódia se inicia na ação correta dos primeiros militares que tiveram con-
tato com a cena do crime. Nesta ocasião, o simples manuseio dos objetos encontrados no
local de crime poderá levantar suspeitas sobre a idoneidade de tais vestígios.
O perito não pode receber das mãos do militar que estava realizando o isolamento de um
local de crime, por exemplo, nenhuma evidência retirada por este militar. Caso fosse aceito,
haveria um comprometimento da cadeia de custódia e, consequentemente, uma suspeição
acerca da lisura dos resultados finais dos exames.
Após chegar no local de crime, o perito registrará, fotografará e realizará a colheita
dos vestígios. Estes, por sua vez, serão acondicionados em sacos de evidências, ou
outro recipiente mais adequado de acordo com o tipo de vestígio.

2-3
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Figura 2-4 Colheita e acondicionamento de vestígio

Os sacos de evidências são lacrados com etiquetas especiais, que não permitem a
abertura do mesmo sem a danificação do lacre, e são repassados à Autoridade Policial,
ou a seu representante legal, que realizará a ARRECADAÇÃO daqueles materiais, con-
feccionando o termo de apreensão e apresentação de material, conforme o Anexo.

Figura 2-5 Formas de embalagens e acondicionamento de vestígios.

Nesta ocasião, realizará seus questionamentos (quesitação) sobre a influência de


cada um destes materiais na dinâmica do evento, ou seja, o que cada material contribui
para a elucidação da ação criminosa.
Ao retornar para as mãos do perito, o saco de evidências será deslacrado e serão realizados
os exames técnicos e laboratoriais necessários para as respostas aos quesitos formulados.
Terminados os exames, os sacos de evidência serão novamente lacrados e remetidos à
Autoridade Policial, juntamente com o laudo. Estes materiais deverão ser mantidos nesta
situação até que não exista mais a necessidade de exames complementares.

2-4
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CAPÍTULO III
CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS

GENERALIDADES

Este capítulo destina-se a evidenciar alguns Artigos importantes do Código de


Processo Penal Militar (CPPM) e do Código de Processo Penal (CPP) no que tange à
preservação de um local de crime e da realização de exames periciais.
Inicialmente, em seu Artigo 7º, o CPPM define quais autoridades militares exercem
as funções de Polícia Judiciária Militar. Verifica-se no item h) que os Comandantes de
OM estão relacionados como estas autoridades, conforme abaixo.
Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º, pelas seguintes
autoridades, conforme as respectivas jurisdições:
(....)
h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios;
O mesmo artigo prevê a possibilidade de delegação dos poderes destas autoridades
para terceiros, conforme abaixo:
§ 1º Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as
atribuições enumeradas neste Artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins
especificados e por tempo limitado.
De acordo com este artigo, conclui-se que o Aspirante a Oficial, por ser Praça
Especial, não deve realizar, por exemplo, um auto de prisão em flagrante delito.
O Artigo 12 do CPPM aponta as atribuições da Autoridade Policial Militar, ou de seu
representante legal, na preservação do local de crime após a consumação da prática
da ação delituosa:
Art. 12. Logo que tiver conhecimento da prática de infração penal militar, verificável na
ocasião, a autoridade a que se refere o § 2º do art. 10 deverá, se possível:
a) dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e a situação das
coisas, enquanto necessário;
Neste sentido, o Artigo 169 do CPP é ainda mais esclarecedor, conforme abaixo:
Art.169. Para efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a autoridade
providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos
peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
O artigo supracitado destaca, em seu parágrafo único, que os peritos devem
registrar as interferências que a preservação deficiente de um local de crime trouxe
para as atividades forenses, conforme abaixo:
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e
discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos.
A atividade Pericial Militar está amparada no CPPM:
Art. 48. Os peritos ou intérpretes serão nomeados de preferência dentre oficiais da ativa,
atendida a especialidade.
Art. 318. As perícias serão, sempre que possível, feitas por dois peritos, especializados no
assunto ou com habilitação técnica, observando o disposto no art. 48.
Por desconhecimento, algumas Autoridades Policiais Militares solicitam o concurso da
Polícia Técnica do Instituto de Criminalística (IC) da cidade onde a OM está sediada.
Embora estes IC possam atender tal solicitação, é aconselhável o acionamento da
Perícia Militar.
Fica evidente pela análise dos artigos do CPPM que se seguem, que a realização de
exames de corpo de delito não deve ser alvo do poder discricionário da Autoridade
Policial, pois estes exames são OBRIGATÓRIOS nas infrações que deixam vestígios:
Art. 328. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

3-1
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A Autoridade Policial que negligencia o isolamento do local de crime poderá ser


responsabilizada, de acordo com o Art 324 do Código Penal Militar (CPM):
Art.324. Deixar, no exercício de função, de observar lei, regulamento ou instrução, dando
causa direta à prática de ato prejudicial à administração militar:
Pena - se o fato foi praticado por tolerância, detenção até seis meses; se por negligência,
suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função, de três meses a um ano.
COAGIR ou SUBORNAR perito constituem-se em crimes previstos nos Artigos 342 e
347 do CPM:
Art. 342. Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou
alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona, ou é chamada
a intervir em inquérito policial, processo administrativo ou judicial militar:
Pena - reclusão, até quatro anos, além da pena correspondente à violência.
Art.347. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha,
perito, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, tradução ou interpretação, em inquérito policial, processo
administrativo ou judicial, militar, ainda que a oferta não seja aceita:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Da mesma forma, o perito que, fruto de coação ou benefício indevido, omite a
verdade ou realiza afirmação inverídica, responde pelo crime de Falsa Perícia:
Art.346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito,
tradutor ou intérprete, em inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Importante ressaltar que o perito somente realiza exame quando requisitado. Apesar
de em algumas guarnições existirem o serviço de perito de dia, não significa que o
mesmo ao ser acionado para um local realizará de imediato um laudo pericial. Para
isto, há a necessidade de serem formulados os quesitos.
Neste sentido, o CPPM em seus Artigos 316 e 317, orienta quanto à formulação de
quesitos:
Art. 316. A autoridade que determinar a perícia formulará os quesitos que entender
necessários. Poderão, igualmente, fazê-lo: no inquérito, o indiciado; e, durante a instrução
criminal, o Ministério Público e o acusado, em prazo que lhes for marcado para aquele fim,
pelo auditor.
Art. 317. Os quesitos devem ser específicos, simples e de sentido inequívoco, não podendo
ser sugestivos nem conter implícita a resposta.
Deve ser de entendimento de todos que o trabalho do perito é IMPARCIAL, uma vez
que o perito age com total autonomia técnica, científica e funcional, sob o risco de
desconfigurar a legitimidade da perícia.

3-2
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CAPÍTULO IV
CONDUTAS EM LOCAIS DE CRIME

4.1 CRIMES CONTRA A PESSOA

4.1.1 HOMICÍDIO (Tentativa de Homicídio)

Os crimes de homicídio são os que causam maior repercussão e exigem uma série
de providências da Autoridade Policial.
Podem ser de natureza Dolosa, quando o agente quis produzir o efeito, ou Culposa,
quando o agente não desejava produzir o efeito.
Em ambos os casos, o Auto de Prisão em Flagrante Delito deverá ser lavrado.
Até em situações em que o militar tenha cometido o homicídio em legítima defesa,
para evitar, por exemplo, uma invasão ao quartel, a lavratura do APFD poderá ser
realizada. Porém, nesta situação, aconselha-se a abertura de IPM e a consulta ao
Ministério Público Militar (MPM), a fim de verificar a possibilidade de o indiciado
responder ao inquérito em liberdade.
Quando um homicídio ocorrer em um PNR ocupado, não caberá à Justiça Militar
apurar o crime, uma vez que, quando ocupado, o PNR passa a ser de responsabilidade
do cessionário, e não da Administração Militar. Desta forma, o crime será de
competência da Justiça Comum, com exceção do homicídio que envolvam dois
militares dentro do referido imóvel.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

O primeiro militar a se deparar com uma cena de crime de homicídio deverá,


inicialmente, determinar que o agente da ação delituosa coloque sua arma (ou
instrumento do crime) sobre o solo e mantê-lo sob sua custódia.
Assim que estiver com a situação sob controle, deverá solicitar apoio dos militares
de serviço e realizará um deslocamento em linha reta até a vítima. Somente um militar
deverá efetuar este deslocamento. Os demais, caso existam, devem permanecer
atentos ao infrator. Esta medida visa, também, o início adequado da preservação da
cena do crime.

Figura 4-1 Primeiro militar indo em direção à vítima

4-1
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Verificará se a vítima apresenta sinais vitais (somente isto). Caso positivo, iniciará as
medidas básicas de suporte à vida (proteger o ferimento, estancar a hemorragia e
evitar o choque). Em horários de expediente, deverá solicitar o acionamento imediato
da equipe de saúde da Unidade. A vítima é a MAIOR PRIORIDADE neste tipo de local.
Caso o homicídio ocorra em horários sem expediente, deverá analisar, rapidamente, se
possíveis ações de remoção da vítima poderão agravar ainda mais o estado de saúde
dela. SFC, acionar um socorro de emergência.
Caso verifique que a vítima não apresenta sinais vitais, retornará pelo mesmo
itinerário realizado anteriormente. Nesta ocasião, fará uma verificação visual nas
adjacências do local do crime, a fim de verificar a existência de outras evidências no
local, e deverá agir conforme o item acima.

Figura 4-2 Retornando pelo mesmo itinerário

Não se deve retirar o cadáver do local e nem limpar a cena do crime. Alguns
militares alegam terem lavado uma cena de crime no intuito de não impressionar o
restante da tropa. Isso é uma adulteração do local de crime e será relatado no laudo.
Se for o caso, deve-se aumentar a área de isolamento, de forma que ninguém tenha
contato visual com a vítima.
Não se deve manusear o armamento que efetuou o tiro. Deve-se deixá-lo sobre o solo,
da maneira como foi encontrado. Alguns militares realizam os procedimentos de seguran-
ça no armamento para evitar acidentes. Tal medida será desnecessária se o local estiver
isolado (sem a presença de curiosos) e guarnecido por uma sentinela. A posição dos regis-
tros de segurança do armamento é importante para a caracterização do crime cometido.
Deverá providenciar o isolamento do local do crime. Todos os acessos devem ser
interrompidos. Qualquer material poderá ser utilizado (cordas, bancos, tábuas, etc). O
importante é caracterizar a interdição do local.
Caso esteja chovendo, deve-se proteger o cadáver e a cena do crime da melhor
maneira possível (montar uma tenda ou estender uma lona sobre o local, por exemplo).
Não se deve permitir o trânsito de pessoas de maneira desordenada no local de
crime. Quando da chegada do médico para atestar o óbito, o acesso deve ser realizado
pelo mesmo itinerário realizado pelo primeiro militar que chegou na cena do crime. O
mesmo se aplica ao Comandante da OM, embora seja desaconselhável que o mesmo
adentre na área isolada.
A lavratura do APFD do autor da ação delituosa deve ser iniciada, caso ele tenha
sido encontrado na cena do crime. Caso não tenha sido identificado, iniciar a busca
pelo aquartelamento, uma vez que o autor ainda estará em situação de flagrante delito.

4-2
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Não permitir que o autor do delito tome banho ou lave as mãos até a chegada dos
peritos criminais, que deverão colher resíduos de pólvora na epiderme do mesmo. Tal
exame depende da autorização do preso para ser realizado.
Realizar a apreensão das vestes (farda) do autor do crime. Este material também
pode conter resíduos de pólvora e devem ser periciados.
Não permitir que os familiares da vítima, caso compareçam ao quartel, tenham
acesso à cena do crime. Isso poderá prejudicar a preservação do local e comprometer
a correta elucidação dos fatos
Solicitar a remoção do corpo da vítima para o serviço de medicina legal.
Os procedimentos descritos anteriormente iniciam com a chegada do primeiro militar
na cena do crime, porém, é fundamental que os Oficiais e Sargentos assumam a
condução dos trabalhos com a maior brevidade possível. O Oficial de Dia é o
representante legal do Poder de Polícia do Comandante da OM na ausência deste.
A sequência das ações descritas poderá sofrer pequenas alterações. Contudo, a
execução dos procedimentos, independentemente de uma sequência rígida, é o mais
importante.

4.1.2 LESÃO CORPORAL

As lesões corporais podem ter origens diversas. Um disparo ou tiro de arma de fogo,
um atropelamento no interior do quartel, uma luta corporal decorrente da discussão
entre dois militares, a queda de algum material sobre um militar ou, até mesmo, uma
lesão causada em uma partida de futebol.
Uma lesão corporal pode ter origem em outra ação delituosa (uma tentativa de
homicídio, por exemplo). As oitivas dos militares diretamente envolvidos e das
testemunhas são muito importantes para o entendimento do fato.
Como ressaltado anteriormente, poderá ocorrer uma lesão corporal em decorrência
de um atropelamento no interior da Unidade. Neste caso, a preservação do local
seguirá os procedimentos descritos no subitem 4.5.
Deve ser dada atenção aos “trotes” (castigos físicos) que são perpetrados por
militares em novatos que chegam aos aquartelamentos. Embora tal atitude seja
reprovada de maneira veemente pela Força Terrestre, tal fato poderá ocorrer.

Chinelo Fio (chicotada)

Cassetete Unhas
Figura 4-3 Exemplos de lesão corporal

4-3
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PROCEDIMENTOS BÁSICOS

O primeiro militar a se deparar com uma cena de crime de Lesão Corporal deverá,
inicialmente, determinar que o agente da ação delituosa coloque o instrumento do crime
sobre o solo. Em caso de luta corporal entre militares, deverá separar os contendores
para, após isso, avaliar a extensão das lesões corporais produzidas em ambos.
Em muitas circunstâncias, a vítima abandonará o local do crime por iniciativa própria
ou será conduzida por militares que presenciaram o fato, visando a busca pelo
atendimento médico. O Ideal é que os militares que presenciaram o ocorrido iniciem os
procedimentos de preservação do local. Porém, se isso não ocorrer, a Autoridade
Policial deverá se dirigir até o local do crime e realizar a preservação do mesmo.
O local do crime poderá apresentar-se em desalinho, mostrando ter ocorrido uma
movimentação violenta, e não deve ser arrumado.
Instrumentos utilizados na produção das lesões devem ser encontrados e mantidos no
local. Encontrar o instrumento utilizado para perpetrar a ação delituosa é importante, pois
muitos deles deixam “assinaturas” características na epiderme da vítima. Isso permitirá que o
perito comprove, cientificamente, que o material se trata do instrumento do crime. Vários
exames poderão ser realizados nestes materiais com a finalidade de encontrar vestígios
biológicos da vítima ou do agressor, ou de ambos.
O Médico Legista, através da análise das feridas da vítima, poderá apontar as
características do instrumento do crime. Desta forma, a materialidade do instrumento
contribuirá para esclarecimento dos fatos.
O encaminhamento da vítima após o atendimento médico inicial para a realização de
exame de corpo de delito é fundamental. Este exame deve ser repetido após trinta dias do
fato que gerou a lesão corporal. Neste segundo exame, a autoridade policial militar deverá
se preocupar em verificar se a lesão ocasionada resultou em algum tipo de deficiência ou
incapacidade na vítima, e se é permanente ou não. Esta constatação implica na definição do
tipo de lesão corporal produzida.
Caso as vestes da vítima e do agressor estejam rasgadas, em caso de luta corporal
as mesmas devem ser apreendidas pela Autoridade Policial.
Caso a lesão corporal seja de natureza culposa, decorrente, por exemplo, do derramamen-
to de algum líquido quente sobre a vítima ou da queda de algum material pesado sobre os
pés da mesma, a preservação do local será importante para identificar possíveis falhas estru-
turais nos equipamentos ou recipientes que continham os materiais que geraram as lesões.

4.2 AUTOELIMINAÇÃO (SUICÍDIO)

O suicídio não se caracteriza como um crime contra a pessoa, mas instigar, auxiliar
ou induzir alguém a cometê-lo corresponde ao tipo penal previsto no Art 207 do CPM,
se a vítima, de fato, põe fim à sua vida.
Por outro lado, poderá ser responsabilizado se, ao tentar o suicídio (sem sucesso),
ocasionar danos a outras pessoas ou a instalações do aquartelamento.
O perito criminal, até finalizar seus exames no local, não poderá afirmar que a
extinção de uma vida foi ocasionada por homicídio, suicídio, acidente ou morte natural,
e dependerá, em muitos casos, de exames laboratoriais complementares.
Os suicídios ocorridos no interior de PNR ocupado, da mesma forma como foi
explicado no crime de homicídio, são de competência da Justiça Comum, uma vez que
o imóvel está sob a administração do cessionário e não da Militar.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

Deverá proceder conforme especificado no item homicídio. Porém, um local de


suicídio apresenta características particulares e as observações abaixo devem ser alvo
de muita atenção por parte dos militares que irão preservar a cena.

4-4
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A vítima, no intuito de ter sucesso na sua autoeliminação, poderá se trancar em uma


instalação. Tal iniciativa fará com que o militar que chegue ao local seja impelido, por
exemplo, a arrombar a porta da referida dependência. Se isto ocorrer, a Autoridade
Policial e o Perito de Local devem ser informados.
Da mesma forma, é natural que a vítima produza uma carta onde justificará os
motivos de ter retirado a própria vida. Geralmente, tal carta é deixada de maneira
exposta ou são colocadas, por exemplo, em um dos bolsos do uniforme (ou das
vestes). NÃO MANIPULAR TAL MATERIAL. Ao subtrair da cena tal vestígio, o militar
estará dificultando os exames grafotécnicos que poderiam ser realizados no mesmo.
Vale ressaltar que o papel é um excelente suporte para impressões digitais e, desta
forma, o militar (por curiosidade) irá sobrepor suas impressões digitais.

ERRADO

Figura 4-4 Primeiro militar mexendo erradamente na vítima

O instrumento utilizado para cometer o suicídio deve ser mantido no local (pode ser
uma arma, uma faca, uma corda, um veneno, um remédio de uso controlado, etc).
Tanto o perito de local quanto o Médico Legista analisarão as lesões e suas ligações
diretas com o instrumento utilizado, e ajudará na determinação da dinâmica do evento.
Em nenhuma hipótese, deve-se limpar os ferimentos existentes no cadáver. Tal
atitude, se realizada, poderá dificultar a visualização dos efeitos secundários do tiro,
que permitem que o perito possa avaliar a distância em que foi efetuado o disparo.
Geralmente, nos suicídios perpetrados com arma de fogo, os tiros são realizados com
a arma encostada ou a curta distância.
Em casos de enforcamento, uma das formas de asfixia, será necessário, caso a
vítima esteja viva, retirá-la da amarração realizada para prestar-lhe o socorro. Caso
seja preciso cortar a corda ou outro material utilizado à guisa de corda, as amarrações
superiores e o pedaço que estava asfixiando a vítima deverão ser guardados. Isso
permitirá que o perito analise a confecção do nó e que possa avaliar se a vítima estava
em suspensão total no momento do enforcamento. É natural neste tipo de morte que a
vítima, nos momentos que antecedem a ação, suba em uma escada ou cadeira e
depois a derrube a fim de que a amarração realizada comece o processo de asfixia. O
militar deve deixar estes objetos da forma como foram encontrados, salvo se necessitar
usá-los para socorrer a vítima. Caso a vítima esteja sem sinais vitais, deixá-la em
suspensão ou da maneira como a encontrou.

4-5
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Figura 4-5 Exemplo de um enforcamento.

4.3 MORTE NATURAL

A morte natural é decorrente de problemas patológicos da vítima. Poderá ser decorrente, por
exemplo, de um infarto, de uma arritmia cardíaca, de um acidente cardiovascular (AVC), etc.
Evidentemente, após apurados os fatos, nenhuma pessoa poderá ser responsabiliza-
da pelo acontecido, a não ser que tenha deixado de prestar o socorro devido à vítima.
Diferencia-se do homicídio e do suicídio pelo fato de a vítima não apresentar lesões
aparentes. Da mesma forma, não se encontram os instrumentos que normalmente
seriam utilizados nos homicídios e nos suicídios (armas, facas, etc).
Contudo, a vítima, quando em estado agonizante, poderá, de maneira involuntária,
causar desalinho na instalação que ocupava, aparentando ter ocorrido uma luta no recinto.
De maneira geral, os procedimentos serão executados conforme o que foi apresentado
para os casos de homicídios e suicídios.

4.4 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


4.4.1 FURTO

O crime de furto está tipificado nos Artigos 240 e 241 do Código Penal Militar.
Por se tratar de um crime onde, em diversas ocasiões, torna-se difícil apontar a autoria
do delito, as apurações de tais infrações são, por muitas vezes, negligenciadas.
Evidentemente, todas as medidas preventivas executadas no sentido de incrementar
a segurança orgânica das instalações como, por exemplo, um monitoramento de vídeo
de áreas sensíveis e campanhas de conscientização do público interno da OM acerca
dos cuidados com os pertences particulares são louváveis, e devem ser realizadas.
Embora compreenda-se que a apuração deste tipo de infração penal possa ser
trabalhosa e, algumas vezes, infrutífera, a produção de provas materiais (objetivas) e
uma investigação eficiente servirão para inibir a ação de futuros infratores, contribuindo
para a diminuição do número de delitos desta natureza.
Se no decorrer das apurações o material do furto for recuperado, o mesmo deverá ser
apreendido pela Autoridade Policial, passando a se constituir em peça do processo
administrativo, devendo ser confeccionado um auto de apreensão e apresentação,
conforme Anexo.

4-6
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A restituição do material ocorrerá conforme o Art 191 do CPPM:


Art. 191. A restituição poderá ser ordenada pela autoridade policial militar ou pelo juiz,
mediante termo nos autos desde que:
a) a coisa apreendida não seja irrestituível;
b) não interesse mais ao processo;
c) não exista dúvida quanto ao direito do reclamante.
A vítima de furto, muitas vezes, demora a perceber que seu bem material ou o bem
material da União que estava sob sua responsabilidade foi subtraído. Em virtude disso,
a contaminação do local, infelizmente, é frequente. Os procedimentos descritos abaixo
contribuem para a realização dos exames periciais e, consequentemente, para o
sucesso das apurações.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

Ao constatar a falta do material, deverá, imediatamente, acionar o pessoal de serviço


ou o militar mais graduado responsável pela Seção furtada (Encarregado de Material,
Comandante de Subunidade, Oficial de Dia, etc).
O local deve ser isolado, verificando-se a existência de outros vestígios importantes
no local (alicates, chaves de fenda, cadeados rompidos, marcas ou impressões de
calçados, vestígios biológicos que podem ter sido deixados pelo autor do crime,
possíveis locais de acesso do autor do crime, etc). Desta forma, recomenda-se o
isolamento de uma área grande que possa englobar os pontos de acesso possíveis
(portas, janelas, telhados, etc) e nenhum material deve ser recolhido.
Os vestígios mais importantes de um local de furto são as impressões digitais e a
constatação do instrumento utilizado. Por exemplo, para o rompimento de algum lacre
(um alicate utilizado para cortar um cadeado, um pé de cabra, uma chave de fenda,
etc). A vítima, ao suspeitar da possibilidade da ocorrência do furto, deve evitar ao
máximo tocar nas superfícies onde estavam guardados os materiais furtados.

Figura 4-6 Militar tocando equivocadamente na superfície onde estava o material furtado

Caso tenha que abrir um armário ou porta que estejam arrombados para constatar a
consumação do furto, deverá fazê-lo com as mãos calçadas (por luvas, sacos plásticos,
etc), a fim de evitar a sobreposição de impressões digitais. É importante, também, que
evite realizar tal procedimento da maneira como ele naturalmente seria executado,
agindo na maçaneta da porta, por exemplo.

4-7
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Figura 4-7 Perito analisando uma porta arrombada de maneira cuidadosa.

O militar responsável pelo isolamento do local deverá ter especial cuidado com
marcas e impressões de calçados. Muitas vezes, o desenho do solado do calçado do
infrator ou deformidades observadas na sola, visíveis nas marcas e nas impressões,
poderão contribuir decisivamente para a elucidação do fato.
Em algumas ocasiões, ao forçar sua entrada em alguma dependência, o autor da
infração poderá se ferir deixando no local vestígios biológicos (sangue, por exemplo).
Esse vestígio, além de permitir a identificação por intermédio de exames genéticos,
contribuirá para que o investigador possa procurar por militares que apresentam
ferimentos recentes, incluindo-os na lista de suspeitos.
Em relação a cadeados cortados, é possível, caso se encontre uma ferramenta de
corte na posse de algum suspeito, realizar exames comparativos no corte efetuado no
cadeado encontrado no local (questionado) com o corte produzido propositalmente em
outro cadeado do mesmo modelo e tamanho, utilizando a ferramenta encontrada na
posse do suspeito.

Figura 4-8 Coleta de uma marca de calçado

Por ocasião da chegada dos peritos criminais, todos os procedimentos executados


devem ser narrados pelos militares que ficaram responsáveis pelo isolamento no local.
A autoridade policial, ou seu representante legal deve iniciar os trabalhos investiga-
tivos. Para isso, providenciará a identificação de testemunhas que possam contribuir
para a elucidação do delito.

4-8
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4.4.2 DANO
O crime de Dano está previsto nos Artigos 259 ao 266 do Código Penal Militar.
São exemplos de crimes de dano:
a) um militar que, em área sob a administração militar, produz danos no carro de outro
militar (arranhar, quebrar para-brisas, incendiar o automóvel, etc) por vingança. Caso o de-
lito praticado tenha relação com as funções militares, será considerado como crime militar;
b) destruição, inutilização ou deterioração, intencional ou não, de algum material de
emprego militar;
c) a demolição, mesmo que parcial, de alguma edificação militar que foi atingida por uma
viatura conduzida por um motorista imprudente;
d) o sumiço de materiais que, estando sob a responsabilidade de alguém, desaparece,
não sendo possível comprovar sua destruição, inutilização ou deterioração;
e) outros.

Figura 4-9 Dano causado a uma instalação

No exemplo da figura 4-9, existem duas hipóteses a serem estudadas. A primeira,


trata-se de uma simples colisão não intencional com o muro do quartel, situação que
não configura crime, porém configura dano ao erário. A segunda hipótese, pode se
tratar de um ato intencional de invadir o quartel, o que configura crime.
Um acidente de trânsito que danifica uma viatura militar pode ser enquadrado no crime de
dano, mesmo que o autor não tenha desejado os efeitos de maneira dolosa. Contudo, na
Legislação civil, não existe a tipificação do dano culposo. Desta forma, os procedimentos a
serem executados em acidentes de trânsito sem vítimas foram estabelecidos pelo
Comandante da Força no ano de 2010 por intermédio das IG 10-44. Tal assunto será tratado
no subitem 4.5 deste Manual.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

O local de crime de dano deve ser isolado, de maneira a evitar o trânsito de pessoas
e para impedir que as mesmas venham a sofrer ferimentos causados por materiais que
possam se desprender de instalações ou materiais danificados.
A perícia deve, evidentemente, ser acionada antes do reparo no material ou da
instalação danificada. O perito fará a constatação do dano e indicará a forma como o
mesmo foi perpetrado, não cabendo ao mesmo orçar o valor do dano causado.
Da mesma forma, não cabe ao perito definir se o material danificado foi destruído,
depreciado ou inutilizado. Dependendo do caso, somente o técnico daquele equipa-
mento poderá avaliar a extensão das avarias, também por parecer técnico.
Após realizada a perícia, a Unidade poderá, se for o caso, reparar a instalação ou mate-
rial danificado. Todos os comprovantes de despesas devem ser anexados aos autos.

4-9
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4.5 OCORRÊNCIAS DE TRÁFEGO

As ocorrências de tráfego envolvendo viaturas militares se constituem na maior demanda


de trabalho para os peritos militares.
As IG10-44 são bastantes esclarecedoras em relação aos procedimentos que devem
ser seguidos em casos de ocorrências de tráfego. A leitura de tal documento deve ser
obrigatória para os quadros.
Estas IG buscam identificar as causas dos acidentes e a identificação dos
responsáveis pelo mesmo. Buscam, ainda, indicar os passos para a instauração de
procedimento administrativo e para o ressarcimento dos danos.

Figura 4-10 Exemplo de acidente com viatura

Nestes tipos de ocorrência, a perícia é um importante vetor para o correto esclare-


cimento do sinistro em apuração, porém é importante observar o que a legislação
prescreve, conforme a Lei Nr 6174, de 9 DEZ 1974:
Art. 1º O disposto nos artigos 12, alínea a, e 339, do Código de Processo Penal Militar, nos
casos de acidente de trânsito, não impede que a autoridade ou agente policial possa
autorizar, independente de exame local, a imediata remoção das vítimas, como dos veículos
envolvidos nele, se estiverem no leito da via pública e com prejuízo de trânsito.
Parágrafo único. A autoridade ou agente policial que autorizar a remoção facultada neste
artigo lavrará boletim, no qual registrará à ocorrência com todas as circunstâncias
necessárias a apuração de responsabilidades, e arrolará as testemunhas que a
presenciaram, se as houver.
Contudo, sempre que possível, os locais de ocorrências de tráfego com vítima, e até
mesmo sem, devem ser preservados a fim de facilitar a realização dos exames periciais.
As viaturas militares, por se tratarem de um bem da União (patrimônio público), o
exame pericial é importante para o processo administrativo de ressarcimento do dano
ou para a correta avaliação da responsabilidade criminal dos envolvidos.

4-10
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Figura 4-11 Foto de um perito fazendo o local

Conforme preconiza o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu Art 301, o


motorista que prestar socorro imediato à vítima não poderá ser preso em flagrante.
Desta forma, é importante que todos os militares tenham a convicção de que socorrer a
vítima é a coisa mais correta a se fazer.
O laudo pericial é um dos documentos previstos a serem juntados aos autos da sindicân-
cia ou ao IPM instaurado, conforme previsto na letra b, do inciso I, do Art 4º, das IG 10-44.
Ao perito criminal cabe apontar no laudo pericial as causas determinantes e
concorrentes para o acidente. Para isso, se pautará por cálculos matemáticos e pela
análise das sinalizações horizontais e verticais existentes. Ressalta-se, porém, que o
perito não realizará exames na parte mecânica da viatura, cabendo esta parte ao
responsável pelo Parecer Técnico.
Do acima exposto, podem ocorrer situações em que o Parecer Técnico contribua
para inocentar um condutor que havia sido responsabilizado pela perícia de local. Isso
não indica que o exame de local foi mal realizado e sim que apareceram novos
elementos que não poderiam ser levantados pelo perito no local do acidente.
Em alguns casos, a Reprodução Simulada dos fatos (reconstituição) pode ser
utilizada para a elucidação do evento em apuração, a fim de confirmar o que foi
narrado pelos depoentes.
Poderá ocorrer situações onde sejam instaurados dois inquéritos em esferas
diferentes, na Justiça Comum e na Justiça Militar. Caberá ao MPM e às Autoridades
Judiciárias definirem, a posteriori, a competência do processo em apreço. Nesta
situação, a Justiça Comum deverá declinar a competência para a Justiça Militar, ou
vice-versa, conforme o caso.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

a.Acidentes de trânsito sem vítimas


- O Chefe de viatura, o motorista ou qualquer outro militar deverá, de imediato,
realizar a sinalização e o balizamento do acidente. Isso evitará que outros veículos
venham a colidir com as Unidades de Tráfego (UT) que estão paradas, o que poderia
potencializar o acidente.
- O militar mais graduado deverá se certificar de que não existem feridos no acidente
em questão e informar o acidente à Unidade Militar à qual pertence a viatura,
solicitando o acionamento da equipe pericial e da Polícia Militar.
- Dentro do possível, levantar nome, endereço e telefone de contato de testemunhas
que tenham presenciado o acidente. Elas podem ser úteis por ocasião das apurações.

4-11
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- Caso uma das UT tenha produzido uma marca de frenagem no pavimento, a sinali-
zação e o balizamento deverão proteger tais vestígios. Isso evitará que motoristas de-
satentos acionem o sistema de freio sobre as marcas de frenagem produzidas no mo-
mento do acidente, sobrepondo, desta forma, as referidas marcas.
- Dentro do possível, deverá controlar o fluxo de veículos na via, evitando, desta
forma, remover as UT do local. Nesta ocasião, poderá verificar a possibilidade de
desviar o trânsito para alguma rua paralela à via onde ocorreu o acidente, mantendo a
fluidez do trânsito.
- Quando da chegada dos policiais militares, informará sobre a necessidade do
comparecimento da Perícia Militar ao local, tendo em vista que a Viatura pertence ao
patrimônio da União. Caso seja orientado pelos policiais a remover as UT, deverá
marcar no pavimento a posição dos pneumáticos e fotografará, de vários ângulos, o
local do acidente. Isso facilitará o trabalho pericial.

Figura 4-12 Marcação da posição dos pneumáticos da Vtr

- Não retirar do pavimento os fragmentos decorrentes da colisão. Eles marcam o


“Sítio de Colisão” e são importantes para que o perito possa analisar a dinâmica do
evento em apuração. Apenas as peças maiores que podem comprometer o trânsito
devem ser retiradas.
- A viatura deverá ser encaminhada (pelo sindicante ou Encarregado do IPM) para
especialistas que possuam condições para realizar o Parecer Técnico. Tal exame se
destina a verificar se a viatura, no momento do acidente, pode ter apresentado alguma
falha mecânica que possa ter contribuído para o acidente (uma falha no sistema de
freios, uma fratura de uma peça do veículo, etc).
b. Acidentes de trânsito com vítimas
- Deverá realizar todos os procedimentos descritos para acidentes de trânsito sem
vítimas.
- Iniciará os procedimentos de socorro às vítimas e fará o acionamento do Serviço
de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) e da Polícia Militar do Estado.
- Colaborar com a equipe do SAMU no sentido de apoiar os procedimentos para o
socorro às vítimas.
- Caso seja requerido o comparecimento dos militares na Delegacia de Polícia Civil a
fim de prestar esclarecimentos, aguardará a chegada de outros militares da OM para
que a viatura não fique abandonada no local do acidente. Após isso, os militares
deslocar-se-ão para a Delegacia e prestarão esclarecimentos à Autoridade Policial.
Nesta ocasião, se possível, o Assessor Jurídico da OM ou um Oficial do Estado-Maior
da Unidade deve acompanhar as inquirições, dependendo de autorização do delegado.
- Instaurar Inquérito para apurar o fato.

4-12
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4.6 LOCAIS DE INCÊNDIO

Os locais de incêndio, assim como os locais de explosão, apresentam características


que dificultam, por si só, a realização dos trabalhos periciais pertinentes.
Nestes locais, as prioridades são o socorro às vítimas e a contenção dos danos e,
desta forma, as alterações no estado das coisas são naturalmente realizadas, o que
dificulta a atividade forense.

Figura 4-13 Instalação de OM incendiando

Em um incêndio, por exemplo, as ações de combate ao fogo e sua completa


extinção por intermédio das tarefas de rescaldo acarretam alterações no local do crime
em decorrência da força dos jatos de água utilizados para apagar as chamas e devido
à necessidade de revirar escombros para apagar fogos não visíveis.
Vale destacar que, dependendo da magnitude do incêndio, a edificação consumida
pelo fogo pode simplesmente desabar e, desta forma, sobrepor materiais sobre as
evidências.
Por questão de segurança, a atividade de colheita e análise de evidências só terá
início após a liberação da área pelos Bombeiros Militares ou outro grupamento que
tenha realizado o combate às chamas.
Os incêndios, na maioria das vezes, eclodem fruto de algum material elétrico que foi
deixado ligado por períodos prolongados (cafeteira, ventilador, etc). Tal situação pode
acarretar, por exemplo, o derretimento do material em apreço e ocasionar curtos-
circuitos elétricos.
Em alguns casos, vários equipamentos elétricos são ligados, de forma negligente,
em uma mesma tomada. Tal medida gera uma sobrecarga da tomada, com
consequências como aquecimento e desgastes dos fios, choques elétricos, curtos-
circuitos, queima de equipamentos, desperdício de energia e até incêndios.

4-13
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Figura 4-14 Exemplo de uso excessivo em uma mesma tomada

Vale ressaltar que diversos quartéis estão instalados em edificações antigas que, por
sua vez, foram dimensionadas para um consumo elétrico inferior às demandas atuais.
Estas edificações, em muitos casos, podem apresentar quadro de disjuntores obsoletos
e ineficazes que podem não atuar de maneira satisfatória sobre a rede elétrica.
Os incêndios podem ter origem em um ato premeditado. Algum militar, por motivos
diversos, pode desejar incendiar uma instalação a fim de beneficiar-se de tal sinistro.
Deve-se evitar o termo “incêndio criminoso” ao referir-se a um incêndio intencional. É
importante destacar que incêndios ocasionados por negligência, imprudência e imperícia,
mesmo que de natureza culposa (sem dolo), se incluem na categoria de incêndios
criminosos.
Identificar o foco do incêndio irá permitir a avaliação se a ação delituosa se constituiu
em um dano culposo ou doloso. Em algumas circunstâncias, poderá ter ocorrido um
fato imprevisível que não acarretará responsabilidades penais para nenhuma pessoa.
Os incêndios em viaturas militares, da mesma forma, se apresentam repletos de complexi-
dades, principalmente quando ocorre uma destruição de grandes proporções no referido auto.
Em função das características de cada tipo de viatura, que abrangem desde viaturas admi-
nistrativas até viaturas blindadas, o perito deverá dispor de um conhecimento apurado sobre
o funcionamento dos diversos sistemas automotivos. Neste ponto, o apoio de militares espe-
cializados em cada tipo de viatura será de grande valia para o esclarecimento da verdade.
Antes de se iniciar a perícia em uma viatura incendiada, é importante definir,
evidentemente, se a fonte de calor que causou o incêndio teve início na viatura. O
preparo de rações operacionais e o acendimento de fogueiras em áreas de
estacionamento podem comprometer a segurança dos veículos.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

a. Em Instalações
- A Autoridade Policial ou seu representante deverá, após controlar o incêndio e
socorrer as vítimas, restringir o acesso à área danificada em razão do sinistro. Isso irá
ajudar na preservação do local e evitar que pessoas sejam feridas por partes que se
desprendam das instalações.
- Determinar o corte de energia elétrica para a instalação afetada, caso ainda não
tenha sido realizado. De preferência, deverá realizar o corte de energia em uma chave
geral da Unidade, a fim de evitar que a caixa de disjuntores da instalação danificada
seja manipulada antes dos exames periciais pertinentes.
- Iniciar o processo de identificação e oitiva das testemunhas, a fim de nortear os
trabalhos periciais. Embora o perito não possa se prender a provas subjetivas, as
informações repassadas pelos militares que trabalhavam na repartição danificada e os
depoimentos das pessoas que participaram do combate inicial às chamas poderão ser
valiosos. Abaixo encontram-se alguns tipos de questionamentos importantes:

4-14
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Onde foram notados os primeiros sinais de fumaça e as primeiras chamas?


Existia alguém no interior da instalação no momento do início do incêndio?
Qual foi o horário?
Alguém iniciou o combate às chamas?
Como estavam dispostos os materiais no interior da instalação?
Quais eram os materiais de fácil combustão existentes no local (papel, mantas,
lençóis, cortinas, etc)?
Existia algum material inflamável acondicionado no interior da instalação? Em qual
quantidade?
Qual o horário de acionamento do Corpo de Bombeiros? Que hora se iniciou o
combate às chamas por estes?
Foi necessário arrombar alguma porta ou janela para facilitar o combate ao
incêndio?
Havia energia elétrica no local? A instalação estava abandonada ou era
frequentemente utilizada?
Era utilizado algum meio não convencional para iluminação do local (lamparinas,
velas, lampiões, etc)?
Como estava a situação da rede elétrica da instalação (subdimensionada, reformada
recentemente, apresentando constantes incidentes elétricos)?
A caixa de disjuntores foi alterada por alguém? Quem?
Quem está responsável pelo isolamento e preservação do local?
É importante determinar que se providenciem fotos recentes da área incendiada,
caso existam, a fim de avaliar como os materiais estavam dispostos na seção
(mobiliário, cortina, forro, arquivos, livros, etc). Da mesma forma, deverá determinar
que se providencie a planta baixa e a planta elétrica da instalação danificada.
A Autoridade Policial deverá, se for o caso, realizar o acionamento da Comissão
Regional de Obras (CRO) da Região Militar à qual a Unidade está vinculada ou
subordinada. Poderão ser necessárias avaliações técnicas por Engenheiros Militares
para verificar a situação estrutural da edificação incendiada. Laudos complementares
também poderão ser realizados no sentido de levantar como se encontravam as insta-
lações elétricas da referida instalação.
Não remover materiais do interior da instalação. Tal medida poderá dificultar a
identificação do(s) foco(s) do incêndio por parte do perito. Poderá, da mesma forma,
dificultar a busca e identificação de acelerantes (gasolina, álcool, querosene, etc) que
possam ter sido utilizados em um incêndio criminoso. Em relação aos acelerantes, é
importante destacar que eles são muito utilizados em incêndios criminosos, porém,
podem ser identificados pelo perito em partes que, pela falta de oxigênio, não foram
plenamente consumidas pelo fogo (frestas do assoalho, partes internas de livros,
estofados, etc).
O forro da instalação, em madeira ou PVC, também não deve ser retirado antes dos
exames periciais. O desprendimento destes materiais poderá causar focos secundários
de incêndio e, caso sejam retirados do local prematuramente, poderão criar a impressão
de que o incêndio foi criminoso, pela multiplicidade de focos sem explicação lógica.
Preservar as janelas e portas de vidro, bem como seus fragmentos. O depósito de
fuligem e a maneira como se fragmentaram podem passar informações importantes
acerca da velocidade de propagação das chamas. Vale ressaltar que uma maior
velocidade de propagação pode indicar o uso criminoso de acelerantes.
O mobiliário e as madeiras em geral, quando expostas ao fogo, podem passar a
apresentar um fenômeno chamado alligatoring, onde suas superfícies se assemelham
ao couro de um crocodilo. A maneira como este fenômeno se apresenta nestes
materiais também pode indicar o uso, ou não de acelerantes.

4-15
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Figura 4-15 Madeira exposta ao fogo

As manchas de fuligem existentes nas paredes também devem ser preservadas.


Elas são valiosas para a localização do foco do incêndio e para uma análise de como
ocorreu a propagação das chamas.
Não remover materiais eletrodomésticos e materiais eletrônicos dos locais em que
foram encontrados após o incêndio, mesmo que estejam danificados, pois estes
materiais podem ter ligação direta com o incêndio.
Não remover a fiação da instalação danificada pelo fogo. Identificar se um curto-
circuito foi causa ou efeito de um incêndio requer uma análise minuciosa dos
condutores de eletricidade.
O quadro de disjuntores também deve ser preservado, caso não tenha sido danifi-
cado por ocasião do combate às chamas. O perito precisará verificar a amperagem de
cada um dos disjuntores e em qual posição cada um deles foi encontrado por ocasião
dos exames periciais (ON, OFF ou DESARMADO). Esta última posição poderá indicar
um problema na rede elétrica que pode ter ligação direta com o incêndio.
Não remover a(s) vítima(s) fatal(is) até a liberação das mesmas pelos peritos de local.
b. Em veículos
Após o socorro às vítimas, caso existam, e a contenção do sinistro, os ocupantes da
viatura deverão efetuar o balizamento do trânsito, no caso do incêndio ter ocorrido em
vias públicas, para possibilitar um exame de local nas melhores condições possíveis.
Em princípio, a viatura não deve ser removida do local ou de suas imediações. Caso
seja necessário, removê-la da via para não comprometer a fluidez do trânsito. O perito,
antes de qualquer coisa, deverá analisar se a origem do incêndio se deu na viatura ou
se teve causas externas. A manutenção da viatura no local também se faz necessária
para que o perito possa avaliar os danos causados a terceiros (outros veículos,
edificações próximas, etc).
Após o exame do local, a viatura deverá ser removida para a Unidade à qual
pertence, e a Autoridade Policial mandará instaurar um parecer técnico por militares
especializados, a fim de que sejam verificadas, dentro das possibilidades, como se
encontravam o sistema de alimentação, o sistema elétrico ou qualquer outro sistema da
viatura que possa ter dado causa ao incêndio.
As testemunhas, a exemplo do que foi tratado na seção anterior, devem ser
inquiridas com a maior brevidade possível.
A Autoridade Policial deve levantar junto ao Batalhão Logístico, ao Parque Regional
de Manutenção ou outro órgão competente, se o modelo de viatura incendiada já
apresentou algum histórico de falhas mecânicas e, ainda, se tais falhas já ocasionaram
incêndios em datas pretéritas.
Assim como no incêndio em instalações, a identificação do foco do incêndio e a
marcha das chamas são fundamentais para a elucidação do sinistro.

4-16
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4.7 LOCAIS DE EXPLOSÃO

Dependendo do tipo de ocorrência, as perícias em locais de explosão podem ser


bastante complexas.
Existem quatro tipos de explosão: explosão química, explosão mecânica, explosão
elétrica e a explosão nuclear.
No cotidiano militar e na rotina administrativa das Unidades, as explosões químicas
e mecânicas são as mais prováveis de ocorrerem.
As explosões químicas são decorrentes de uma reação química extremamente veloz
que ocasiona um aumento exponencial da pressão que, por sua vez, gera uma potente
onda de choque (deslocamento do ar) e a elevação considerável da temperatura.
Podem-se citar, como exemplos, a explosão de um petardo, de uma granada ou uma
mistura ar-combustível (gás confinado em um ambiente fechado).
As explosões mecânicas são decorrentes de um aumento de pressão em um
recipiente confinador. Neste tipo de explosão, a pressão interna no interior do referido
recipiente faz com que o mesmo se rompa (não é necessária uma reação química).
Podem-se citar, como exemplos, a explosão de uma caldeira, a explosão de uma
panela de pressão, a explosão de um botijão de gás exposto a uma fonte de calor
sustentável (incêndio).
Diferentemente dos incêndios, onde existe a possibilidade da pessoa se afastar das
chamas antes de ser ferida, as explosões, na maioria das vezes, geram lesões severas
nas pessoas que se encontram nas imediações do epicentro.
A onda de choque e a fragmentação de objetos, que se transformam em estilhaços,
são responsáveis por graves ferimentos aparentes (feridas contundentes ou corto-
contundentes) ou não (hemorragias internas, por exemplo).
As explosões causam danos, também, no ambiente circundante. É natural que se
irrompam incêndios e danos estruturais em instalações atingidas por uma explosão,
decorrentes do calor e da sobrepressão.
Do exposto, as prioridades em um local de explosão, assim como nos locais de
incêndio, são o socorro às vítimas e a contenção dos danos.
Após realizadas as tarefas iniciais (socorro às vítimas e contenção dos danos), a
Autoridade Policial, ou seu representante legal, deve preservar o local da explosão
visando os trabalhos periciais pertinentes.
O isolamento do local e a restrição ao acesso de pessoas devem ser medidas
tomadas imediatamente à fase inicial de atendimento ao sinistro.
Em relação ao isolamento da área, a Autoridade Policial deve observar as
imediações do local no intuito de identificar os fragmentos oriundos da explosão que
foram arremessados na maior distância. A doutrina de exame neste tipo de local
preconiza que o isolamento deve ser resultado da seguinte equação matemática:
a + 50% = b.
Epicentro da explosão
fragmentos
fragmento mais distante
a = Distância do epicentro ao fragmento mais distante localizado
a
b = Raio do isolamento b
(a + 50% de a)

Figura 4-16 Raio de Isolamento

A restrição de acesso à área também é importante. Os militares que participaram do


socorro às vítimas, após o término desta atividade, tornam-se curiosos e tendem a
retirar evidências do local, prejudicando os trabalhos periciais subsequentes.

4-17
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Os danos observados em instalações adjacentes ao local da explosão também


devem ser preservados (janelas quebradas, estruturas em alvenaria, etc). O perito tem
condições técnicas de estimar a quantidade de carga acionada através de cálculos
matemáticos efetuados a partir da avaliação destes danos adjacentes.
O epicentro da explosão (local onde o explosivo se transformou) também deve ser preserva-
do. Caso o epicentro produza uma cratera quando a carga estava depositada sobre o solo é
possível realizar cálculos matemáticos para estimar o valor da carga detonada. Da mesma forma,
é possível a realização de exames químicos para a identificação do tipo de explosivo detonado.

Figura 4-17 Exemplo de uma cratera

A maioria dos incidentes envolvendo explosivos ocorre em atividades de instrução (lança-


mento de granadas de mão, acionamento de petardos, etc). Desta forma, a rígida observância
das medidas de segurança no manuseio e no transporte destes materiais pode evitar sinistros.
Muito cuidado deve ser dado aos engenhos falhados, que na maioria das vezes,
estão enferrujados e não permitem uma avaliação precisa sobre o seu poder de
letalidade. Desta forma, a remoção deste material, ou sua destruição por simpatia, deve
ser executada por elementos especializados.

Figura 4-18 Exemplo de engenho falhado

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

O local onde ocorreu o fato deve ser isolado, de maneira a evitar o trânsito de
pessoas e para impedir que as mesmas venham a sofrer ferimentos causados por
materiais que possam se desprender de instalações ou materiais danificados.
Deverá ser priorizado o socorro às vítimas e a segurança do local, ou seja,
primeiramente, deve-se verificar a situação dos feridos, realizando os primeiros
socorros, SFC, e acionar uma equipe médica.

4-18
EB60-MT-20.401

Atentar para a segurança da área, verificar se existe outro explosivo exposto. Na


medida do possível, acionar uma equipe antibombas para a varredura do local, para só
depois realizar um trabalho pericial.
Após realizado o socorro às vítimas e observada a segurança do local, providenciar
o seu isolamento, atentando para a distância referente ao último vestígio encontrado.
As testemunhas, a exemplo do que foi tratado na seção anterior, devem ser
inquiridas com a maior brevidade possível, a fim de nortear os trabalhos periciais.
O perito deverá atentar para a coleta de vestígios referentes ao explosivo e
consequente envio para um laboratório especializado para a sua identificação.
A Autoridade Policial deverá identificar o tipo de explosivo empregado, o sistema de iniciação
utilizado, a possível falha ocorrida, se os autores possuíam habilitação para o manuseio destes
materiais e, se possível, realizar uma reprodução simulada, para exemplificar o ocorrido.
Vale ressaltar que, neste tipo de ocorrência, é dada prioridade para a segurança, inde-
pendentemente da perda de alguns vestígios que contribuiriam para elucidar o fato ocorrido.

4.8 OCORRÊNCIAS COM MATERIAIS ENTORPECENTES


Na esfera civil, conforme o Parágrafo 2º do Art 28 da Lei Nr 11.343, de 23 de agosto
de 2006, existe uma caracterização para o consumo pessoal, especificado abaixo:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
(...)
o
§ 2 - Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à
natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos
antecedentes do agente.
Porém, na esfera militar, tal distinção não ocorre, conforme o Art 290 do COM: ao ser
constatada a posse de entorpecentes por um militar, em lugar sujeito ou não à administração
militar, o mesmo está incorrendo em crime militar, devendo ser preso em flagrante.
Para efeito de lavratura de APF, a OM deverá providenciar a comprovação do
entorpecente, através de um laudo de constatação preliminar, para determinar a
presença da substância proibida e efetivar a prisão.
Realizada esta primeira verificação, faz-se necessário o laudo toxicológico definitivo
para a comprovação definitiva da natureza da droga.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS
Após ser constatada a presença de um material similar a entorpecente, a OM deverá
providenciar a realização do exame preliminar, normalmente utilizando um reagente
para entorpecentes, para a lavratura do APF.

Figura 4-19 Exemplo de teste preliminar

4-19
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Identificado o material, a Autoridade Policial deverá realizar uma revista pormeno-


rizada nos pertences do portador, a fim de verificar a existência de mais material.
O encarregado do IPM deverá, de posse do material apreendido, solicitar o laudo
toxicológico definitivo para laboratório especializado, a fim de confirmar a ocorrência de
um crime militar.

4.9 OCORRÊNCIAS COM MATERIAL DE INFORMÁTICA

A computação forense pode ser definida como uma coleção e análise de dados de
um computador, rede ou dispositivos de armazenamento de forma que sejam admitidas
em juízo.
Dispositivo de armazenamento é um dispositivo capaz de gravar (armazenar)
informação (dados), processar informação, ou ambos.
A gravação de dados pode ser feita virtualmente, usando qualquer forma de energia.
Um dispositivo que somente guarda informação é chamado mídia de armazena-
mento.
São tipos de dispositivos de armazenamento:
a) dispositivos de armazenamento por meio magnético: discos rígidos;
b) dispositivos de armazenamento por meio óptico: CD-ROW, CD-RWS, DVD-
ROMS, DVD-RWS;
c) dispositivos de armazenamento por meio eletrônico: SSDs, Pen Drive;
d) Memória RAM.
A memória RAM é um dispositivo de armazenamento temporário de informações que
utiliza tecnologia de armazenamento temporária por meio eletrônico e possui alta
volatilidade de dados.

PROCEDIMENTOS BÁSICOS

O procedimento de análise do ambiente consiste na segurança das evidências e da


documentação do cenário encontrado.
Assegurar que nenhuma pessoa não autorizada adentre ao cenário de perícia.
Proteger as evidências digitais de modo que elas não sejam alteradas, forjadas ou
destruídas.
Se houver indícios, a critério da equipe de perícia de que estão em curso atividades
tais como vazamento de dados, destruição de evidências digitais ou ataques contra
terceiros, a equipe deverá adotar as seguintes medidas para isolar o equipamento alvo
da perícia:
a) desligar o equipamento, removendo o cabo de força e/ou removendo sua bateria
(somente no caso de destruição de evidências);
b) remover qualquer conexão de rede que permita acessos remotos;
c) identificar e desativar pontos de acesso sem fio; e
d) desativar ou neutralizar qualquer dispositivo de gravação, tais como câmeras e
microfones.

4-20
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ANEXO

Modelo de Termo de Apreensão e Apresentação de Material

AUTO DE APREENSÃO E APRESENTAÇÃO DE MATERIAL

Aos_____dias, do mês de ________________, do ano de ______________, no


munícipio___________-____, o ___________(nome/posto/graduação)_____________
autoridade policial designada, servindo no _________(OM)___________, aprendeu os
materiais abaixo descriminados e devidamente acondicionados e lacrados, como
possíveis vestígios relacionados com o ________( número do APF ou
IPM)__________, na presença das testemunhas.

Nr Material Lacre Obs

Do que, para constar, lavrei o presente Auto de Apreensão e Apresentação,


assinado por mim e pelas testemunhas.

___________________________________________
(nome/posto/graduação - Enc IPM ou APF)

___________________________________________
(testemunha)

___________________________________________
(testemunha)
INTENCIONALMENTE EM BRANCO
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Coordenação de Anne Joyce Angher. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2004.
BRASIL. Decreto-lei Nr 1.001, de 21 de outubro de 1969. Código Penal Militar.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 OUT 1969.

BRASIL. Decreto-lei Nr 1.002, de 21 de outubro de 1969. Código Processual Penal


Militar. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 OUT 1969.
ESPÍNDULA, Alberi. Perícia Criminal e Cível. 3.ed. Campinas, SP: Editora Millenium,
2009.

GARCIA, Ismar Estulano e PÓVOA, Paulo César de Menezes. Criminalística. 2.ed.


Goiânia, GO: Editora AB, 2004.

GARRIDO, Rodrigo Grazinoli e GIOVANELLI, Alexandre. Ciência Forense: Uma


introdução à Criminalística. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Projeto Cultural, 2015.

GORRILHAS, Luciano Moreira e BRITTO, Cláudia Aguiar. A Polícia Judiciária Militar e seus
desafios: Aspectos Teóricos e Práticos. Porto Alegre, RS: Editora Nubia Fabris, 2016.

SANTIAGO, Elizeu. Criminalística Comentada. 1.ed. Campinas, SP: Editora Millenium, 2014.
INTENCIONALMENTE EM BRANCO
LISTA DE DISTRIBUIÇÃO

1. ÓRGÃOS INTERNOS EXEMPLARES


DECEx:
- Asse Dout ....................................................................... 01
- DET Mil ........................................................................... 01
- EsIE ................................................................................ 01

2. ÓRGÃOS EXTERNOS
- C Dout Ex ....................................................................... 01
- CMSE........................................................................... 01
- CMS............................................................................ 01
- CMO............................................................................. 01
- CMP............................................................................. 01
- CML............................................................................. 01
- CMNE........................................................................... 01
- CMN............................................................................ 01
- CMA............................................................................ 01
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COMANDO DO EXÉRCITO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO EXÉRCITO
Rio de Janeiro, RJ, 23 de novembro de 2018.
https://doutrina.decex.eb.mil.br

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