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Aparição: O Esquecimento
 Um Jogo de Narrativa de Paixão e Horror

Aparição: O Esquecimento Criado por Mark Rein•Hagen, Jeniffer Hartshom e Sam Chupp
2a. Edição por Richard E. Dansky
Versão 2.0.0

Créditos
Design Original e Conceito por: Mark Rein•Hagen, Jennifer Hart-
shorn e Sam Chupp
Design Segunda Edição & Desenvolvimento por: Richard E. Dansky
Sistema de Jogo Storyteller: Mark Rein•Hagen
Contribuidores em Design e Desenvolvimento: Andrew Bates, Beth
Fischi, Nicky Rea, Mark Rein•Hagen, Cynthia Summers e Fred Yelk
Escrito por: Bill Aguiar, Jackie Cassada, Mark Cenczyk, Ben Ches-
sell, Richard E. Dansky, Graeme Davis, Ian Lamke, Steve Long, Ja-
mes A. Moore, Joshua Mosquiera, Nicky Rea, Ethan Skemp, Wendy
Soss, Cynthia Summers, Richard Watts e Fred Yelk
Ficção Original por: Rick Haytala
Edição por: Cynthia Summers
Edição Adicional por: Ken Cliffe
Vice Presidente à cargo da Produção: Richard Thomas
Direção de Arte por: Laurence Snelly e Aileen Miles
Arte por: Mike Chaney, John Cobb, Mike Danza, Guy Davis, Dar-
ren Frydendall, Michael Gaydos, Pia Guerra, Anthony Hightower,
Fred Hooper, Leif Jones, Eric Lacombe, Brian LeBlanc, Vince Lo-
cke, Larry MacDougall, Heather McKinney, George Pratt, Jonathan
Rhea, Andrew Ritchie, E. Allen Smith, Ron Spencer, Joshua Gabriel
Timbrook, Drew Tucker
Capa por: Larry Friedman e Henry Higginbotham
Layout e Tipografia por: Katie Mccaskill
Playtesters: Fred Yelk, Ronni Radner, Cynthia Summers, Ethan
Créditos da Versão Brasileira:
Grupo Dictum Mortuum de tradução.
gothmate (a noite vai longe) igni delirium, por não deixar o Esqueci-
mento vencer
Ciro (acho que consigo) Luna, por ter feito esse logo maravilhoso
V0rt3X (vamos em frente) MaelStorm, por ter dado uma força gigantesca
lá no início
Folha (a gente consegue) do Outono, por passar noites em claro criando
os termos
Matheus (não posso parar) Vinicius, por ter se empolgado tanto
Daniel (aqui está) Ferraresi, pela ajuda muito bem vinda
2 Aparição: O Esquecimento
Skemp (As Primeiras Vítimas); Michael Rollins, Joshua Gorfain,
Andrew Bates e Laura Perkinson (O resto dos Críticos), Adina
Adler, Roger Dingledine, Chris Douglas, Elizabeth Ditchburn,
Heather Grove, Jeffrey Howard, David Kern, Larry Lenoff, Harold
MacKieman, Gwendolin Piper, Sybil Shearin e Andrew Twyman
(Somerville), Catherine Hackett, Edward Sleight Jr., Brad Alan
Townsend, Forrest Marchington, Catherine Little, Shawn Carter,
Stewart Mac William e Deena McKinney (Athens), Tad McDivitt,
Andrea McDivitt (né Wyatt), Michael Tracey, David Dilks, G. Scott
Smith, Charles Gentner e Caliope Reeves Alien Budd (Asheville)
Dedicado a três homens dos quais seus trabalhos foram
essenciais para criar o livro que vocês seguram:
Edgar Allan Poe, que convidou tantos de nós para dançar com Li-
geia e Annabel Lee em “the Masque of the Red Death”, e de quem as
palavras são tão sedutoras que não nos passou pela cabeça recusar
o convite.
H.P. Lovecraft, que nos mostrou como é vasta, profunda e terrível a
escuridão e quão desejável é aprender os seus segredos.
Ray Bradbury, que, mais que qualquer outro autor, dividiu conosco
os segredos: de que existe um delicioso prazer no medo, diversão
na escuridão e que à meia-noite, mesmo fantasmas e duendes se
rastejam para o parque para se divertir. Por “A Queda da Casa de
Usher”, “A Cor que Caiu do Céu”, “Coluna de Fogo”, “Israfel”, “O
Caso de Charles Dexter Ward”, “A Árvore do Halloween”, “O Verme
Conquistador”, “Nas Montanhas da Loucura”, “Algo Sinistro Vem
Por aí” e tantos outros, eu lhes agradeço. Que este livro sirva como
um pequeno pagamento pelas horas de magia e maravilhosas noites
de sono que vocês proporcionaram.
Llew (vamos começar) Roque, pelo esforço na revisão
Fred (para o alto e avante!) Oliveira, pelo trabalho significante
Luiz (rato de biblioteca) Menezes, pela revisão singela
João (projeto entregue) Paulon, pelo tempo curto, mas bem gasto.
Lipe (eterno narrador) Daen, pela ajuda em tempos difíceis.
José Dirceu, Jorge, Claudio, Sócrates, Marcel, Vitor Bornéo, Alessandro...
E a todos que passaram pelo projeto nesses vários anos que ele perdurou.
Gostaria de colocar o nome de todos vocês aqui. Algumas pessoas aju-
daram com algumas poucas linhas, outras perdemos contato, mas todos
foram de grande ajuda. A todos vocês, obrigado!
Essa tradução é dedicada àqueles que, de outra forma, jamais teriam
acesso a esse material. Vocês também fazem parte da comunidade.
 Índice
Prelúdio 4
Livro Um: Morte 12
Capítulo Um: Introdução 16
Capítulo Dois: Ambientação 28
Capítulo Três: Regras 76
Livro Dois: Renascimento 88
Capítulo Quatro: Personagem 90
Capítulo Cinco: Características 108
Capítulo Seis: A Sombra 162
Livro Três: O Lado Sombrio 190
Capítulo Sete: Narrativa 192
Capítulo Oito: Sistemas 222
Capítulo Nove: Drama 242
Índice 3
 Bem-vindo, caro leitor...
oi-se um curto período, no esquema das coisas
desde minha última missiva, e ainda assim
estou inspirado para escrever-lhe novamente.
Posso dizer que grandes mudanças na terra
dos mortos me compeliram a compensá-lo pelo
que fiz, mas isso é apenas parte do motivo.
Houve mudanças, e tenho esperanças crescen-
tes de que assim continue, ainda agora são pequenas comparadas às
mudanças que queremos. São pontos de luz na porta do celeiro. Pro-
metendo que nem tudo precisa ser escuridão.
Na verdade, minha inspiração vem dos efeitos que minha
última carta causaram desse lado da Mortalha. Tal foi a decepção
dos Senhores da Morte quanto à minha quebra do seu velho Dictum
Mortuum – suas leis que proíbem o contato com aqueles que ainda
respiram – que estão loucos para botar suas mão em mim, e juraram
torturar e visitar esse seu valoroso servo; que não pude resistir em
Os Mortos
A morte sempre foi o grande mistério da vida. Essa terra
desconhecida de onde nenhum viajante jamais voltou inspira medo e
curiosidade em iguais proporções. Alguns tentam não pensar no as-
sunto; outros entregam suas vidas para tentar descobrir o que está
além da linha que divide esses mundos.
Sendo assim, será a morte realmente misteriosa? Claro, em
todas as culturas desde o início dos tempos conta-se histórias de mor-
tos que retornam ao mundo dos vivos. Impelidos por algo inacabado,
por um amor muito forte ou por vingança contra um algoz. Seme-
lhante a isso, há aqueles que têm ou fingem ter o dom de ver ou falar
com os mortos, através de sussurros ou de mesas ou alguma forma de
comunicação psíquica nos últimos anos.
Até onde a morte pode ser temerosa? Disso, pouco se sabe.
Com certeza há amplas oportunidades para os vivos perguntarem aos
mortos e determinarem sua condição, ou a natureza do mundo que
habitam. E ainda assim, as perguntas que têm sido feitas são as que
menos tem importância – a localização de uma vassoura perdida ou
onde um espírito perdido acha o outro mundo ao desejá-lo.
A morte assusta as pessoas. O que
vem depois da morte as assusta mais ain-
da. Elas não fazem perguntas científicas,
porque têm medo das respostas. Como Geor-
ge disse, é mais fácil pensar assim. Além
disso, a Hierarquia tem sua lei chamada
Dictum Mortuum para deter os mortos que
insistem em lidar com os vivos. Não é
surpresa que os vivos saibam tão pouco.
De outra forma, não estaríamos escreven-
do isso agora. Digo nós, pois espero man-
ter o mundo no limite de vez em quando.
Alguém tem que esconder as ervas do Se-
nhor aqui. De outra forma ele nos jogará
aquela conversa mole.
De Safo a Catulo, metaforicamente! Eu juro, querido Er-
nest, minha companhia o está melhorando! Seu ponto de vista já
abraçar esse caminho novamente. Não me sinto mais vivo, ou alegre,
nem vitalizado, se você assim acha; que a excelência da Inglaterra
arruíne meus versos antes de corromperem seus filhos.
Assim, através de um amor travesso e da crescente facilida-
de em controlar essas máquinas elétricas que você possui; eu começo
a botar outra pedra no sapato da Hierarquia. Meu amigo, Ernest
profetizou que se eu continuar a iludir seus fervorosos seguidores, o
vício em quebrar as leis vai me fazer escrever semanalmente e ele terá
me tornado um entregador de jornal. Da minha parte, prefiro solene-
mente me arremessar ao Esquecimento antes de me tornar algo assim
seco e sem direção como o que ele diz ser o trabalho de repórter. Apesar
disso, ele é uma companhia excelente e concordamos em tudo exceto no
aspecto literário. Continuaremos a torcer os narizes dos Senhores da
Morte pelo tempo que pudermos, cada um de nós à sua maneira.
Só de pensar que o ensinei a digi-
tar. Posso ter criado um monstro.
fez por demais (se de alguma forma for deselegante como forma de
expressão) e já me considero punido por mudar o assunto da minha
dissertação. Minha intenção é me ater à natureza daquelas sombras
que se proclamam aparições, suas várias condições e a operação das
forças que se movem e os mantém nesse lamentável estado. Para isso,
devo agora me despir de qualquer pudor.
George sem pudor algum? Vou acre-
ditar quando ver.
Saiba, antes de tudo, que espíritos que se tornam o que
chamamos de aparições não são de forma alguma todos os que partem
do mundo dos vivos. Sua condição não constitui tudo que está do ou-
tro lado, mas é apenas uma interrupção para a viagem da alma para
a Eternidade – o que quer que Eternidade signifique. Irônico, que
aquele que procura respostas para os mistérios da Morte, não as en-
contre ao cruzar a Mortalha, mas apenas mais mistérios. Logo falarei
mais sobre isso.
As coisas que prendem o espírito no mundo sombrio que é
essa Terra Morta são o que as aparições chamam de Paixões e Gri-
lhões. Apesar de você não conhecer os nomes, caro leitor, você já viu
essas coisas sob inúmeras formas. Pois poucas histórias de fantasmas
já foram contadas em que não havia pelo menos uma delas.
Uma Paixão é o que evita que o espírito desapareça e assim
o prende ao doloroso processo fantasmagórico. O homem assassina-
do deseja vingança contra seu algoz, o pai afastado que se importa
com um filho favorito – essas e muitas outras são Paixões. Não seria
exagero dizer que existem tantos tipos de Paixões como existam apa-
rições.
Grilhões, ao contrário, são coisas materiais que o espírito
não consegue largar e que o prende nas Terras das Sombras. Se pre-
ferir, um Grilhão é o objeto no qual a Paixão é consumida: o ouro de
um sovina, um ente querido ainda vivo, um local especial. Somente
quando o espírito consegue resolvê-los, a força dessas ligações com o
mundo vivo deixa a aparição ir para o outro estágio da existência.
 Os Infantes que acabaram de surgir, o nome dado às no-
vas aparições, chegam desse lado da Mortalha tão indefesos, como
as crianças que nascem no mundo vivo. Enquanto estiverem cobertos
com a Coifa de plasma, seus sentidos estarão nublados e sua mente
confusa, e toda a Terra das Sombras parecerá para ele como um sonho
distante. Algumas poucas almas determinadas conseguem se libertar
de suas próprias Coifas sozinhas, mas a grande maioria acaba inevi-
tavelmente como Cativos.
Almas são, ocasionalmente, o alimento e a moeda das apa-
rições, assim como também sua população; e a captura de um Infante
removendo sua Coifa torna o captor mais rico. De maneira similar
o Cativo se torna um miserável como qualquer escravo da história e
alguns ainda são salvos de abusos piores do que a mente de um vivo
possa imaginar levando em conta seu valor material.
Pode variar. Existem bons Senhores
e maus Senhores. Alguns são sádicos, e
outros só estão nessa por dinheiro. Exis-
tem uns poucos que querem mesmo ajudar.
Um Cativo de uma aparição poderosa está a
salvo de outras aparições, e pode apren-
der como as coisas funcionam. Alguns Se-
nhores se vêem mais como professores. Um
bom número deixa seus Cativos andarem
soltos. A maioria, no entanto, está no
negócio. Algumas coisas não mudam desse
lado da Mortalha.
Na verdade, em sua maioria é preferível uma vida de Cati-
vo à árdua existência de ser uma Lêmure. Essas são as almas que, de
alguma forma, arrancaram suas próprias Coifas e evitaram o aprisio-
namento por outros. Prenderam-se nas Terras das Sombras por suas
Paixões, ainda são relativamente jovens e fracos e são presas fáceis
para aparições mais velhas e poderosas caso resolvam caçá-los. Por
isso as Terras das Sombras está tão livre de Lêmures independentes
quanto uma cidade está livre de camundongos; individualmente fra-
cos apesar de serem sempre em grande número.
Ainda assim, Cativos e Lêmures não são as aparições mais
A Sombra
No entanto, esses atores no palco fantasmagórico são ape-
nas a metade da história de cada aparição; há a luxúria assim como a
nobreza nas Paixões. Eu falo agora da ganância bestial e egoísmo que
faz parte de cada alma, que existe somente para afastar as aparições
de seus objetivos. É normal que em certos – mortos, claro – círculos se
rotule essa voz sinistra com uma variedade de apelos psicológicos que
a identificam. Essa voz é uma tentação, freqüentemente forte e ofe-
recendo prazeres e poderes que se provam ser a droga dos mortos; tor-
nando as coisas piores, é um pequeno demônio pessoal. Seus sussurros
só podem ser ouvidos no silêncio de sua mente; seus argumentos são
tão audíveis que não podem ser negados ou ignorados pela voz calma
de seus associados e todos devem enfrentá-la com pouca ou nenhuma
assistência.
Todos temos nosso lado negro. Quan-
do estamos vivos ele é parte de nós, e
desafortunadas. Os Drones são a classe mais baixa apesar de serem
eles a sustentar esse título, nem ao menos são aparições, mas algo
como um eco recorrente na Terra dos Mortos. Um eco ingênuo que têm
a aparência de uma aparição, mas não sua substância ou consciên-
cia. São criaturas desoladas, sem vontade que não podem fazer nada
além de seguir suas Paixões e repetir as mesmas ações pela eternidade.
Como um leão enjaulado que anda de um lado pro outro sem parar
no zoológico. Tão atrelados estão aos seus Grilhões, essas patéticas
criaturas existem na membrana da própria Mortalha e são mais vistos
pelos vivos que outras aparições.
Grilhões podem ser algo bom ou algo
ruim. Drones estão fortemente ancorados
aos seus Grilhões, e não podem fazer nada
longe deles. Mas sem Grilhões, uma apa-
rição nem ao menos pode permanecer nas
Terras das Sombras. Com todos os proble-
mas, as Terras das Sombras são ainda um
bom lugar para se estar.
É verdade, e os Herdados – aquelas aparições que tiveram
seu acesso negado às Terras das Sombras por perderem ou negarem
seus Grilhões – devem encontrar para si um nicho seguro, ou se arris-
carem com o Esquecimento. Muitos abraçam a Hierarquia, que – não
importa o quanto falem mal – é o melhor modelo de estabilidade. Ou-
tros entram em cultos Hereges que se integram às suas inclinações e
filosofias. É necessário, no entanto, um espírito forte para sobreviver
à perda de um Grilhão.
Talvez as mais fortes aparições são aquelas chamadas de
Estornados. Mantendo algumas de suas Paixões, e ainda sendo for-
tes o suficiente para viajar livremente pelas Terras das Sombras, eles
podem ir e vir sempre que quiserem. Essa liberdade ganha grande au-
toridade, pois todos reconhecem a força que isso demanda. Muitas
entidades podem ser mais temidas que os Estornados, mas somente
os Barqueiros são mais respeitados; falarei mais deles logo, pois eles
não são devidamente numerosos entre os Mortos sendo talvez, algo
diferente.
podemos lutar contra ele, mas fazemos
isso silenciosamente. Para nós fantas-
mas, a luta se torna mais difícil por
conta daquela voz na cabeça que ganha
consciência própria aqui. É chamada de
Sombra, e tem grande prazer em tentá-lo
a fazer coisas que não faria. Claro, se
você ouvi-la, ela ficará mais forte. Um
dia, pode tomar o controle completamen-
te e, quando isso acontece, não é nada
bonito. Há meios de manter a Sombra sob
controle, mas ela também tem seus truques
na manga. Toda aparição tem uma guerra
Civil particular dentro da própria cabe-
ça, e não há prisioneiros de guerra lá.
 As Terras das Sombras
Devo pausar meu discurso sobre os Mortos e sua sociedade
e expor um pouco sobre o mundo que habitam e seu relacionamento
com o mundo dos Breves. As Terras das Sombras, como são chamadas,
são a parte do nosso mundo que tocam diretamente o seu. As Terras
A Mortalha
Separando as Terras das Sombras do mundo vivo está o que
chamamos de Mortalha. De certo modo, a Mortalha é a experiência
da morte, pela qual somente alguns poucos podem passar sem ter re-
almente morrido. De algumas formas, pode ser visto como uma mem-
brana, opaca em alguns lugares, transparente em outros; por onde
aqueles que conhecem os meios podem passar, e onde outros devem
parar.
Apesar, como eu mencionei, de as Terras das Sombras e o
mundo dos vivos serem em alguns lugares e em certas épocas quase
iguais, a Mortalha serve sempre como um separador entre eles. O que
quer que esteja do outro lado da Mortalha parece estar apodrecido
Nihils
George está certo. É algo difícil
de aceitar. Mas há lugares em que o mundo
dos Mortos pode afetar o dos vivos. Nem
sempre isso é bom, no entanto. Nihils
são exemplos disso. Eles são lugares nas
Terras das Sombras onde há uma espécie
de buraco que se conecta à Tempestade.
Coisas estranhas podem acontecer nos ar-
redores de um Nihil mesmo nas Terras da
Carne. O que acontece nos arredores de
Locais Assombrados, Cidadelas e Necropoleis
Às vezes, as Terras das Sombras tomam forma baseada
nos limites do mundo vivo, como um manto negro sobre uma fina
escultura. De alguma forma, nesses lugares onde há concentrações de
aparições, elas são fortes o bastante para levar seus feitos ao mundo
dos Breves.
Esses lugares são geralmente aterradores e as almas dos vi-
vos mais sensíveis que vão até eles, sabem com uma certeza infalível
que estão entre os Mortos. Estes são os grandes cemitérios, as cida-
des abandonadas, labirintos e casas em ruínas de má fama, reforçada
por superstições. Nós os chamamos de Locais Assombrados, pois lá os
das Sombras e o mundo dos Breves se cruzam em certos pontos. Eles
são, como se fossem imagens espelhadas e ainda assim ocupam, ou ao
menos compartilham, o mesmo espaço físico.
e decadente, sua majestade cai em pedaços, e ainda parece sólido o
suficiente para uma aparição tocar. O som que atravessa a Mortalha
parece distante e distorcido; as vozes são ouvidas como ecos com um
estranho vazio. Tentar tocar algo que está do outro lado é inútil pois
suas mãos atravessam como se fossem névoas; apesar do objeto dese-
jado permanecer sólido mesmo com as mãos fantasmagóricas atraves-
sando sua superfície. Quantas lágrimas eu derramei, eu e cada nova
aparição, tentando abraçar meus amados Breves e quão amarga foi a
visão daquelas lágrimas caindo através e não sobre suas mãos e rostos
distantes! Eu choro, me perdoe; e a despeito dos anos e séculos, ainda
é algo que me amargura.
um Nihil nas Terras das Sombras é ainda
pior.
A prosa medida de Ernest mal pode supor a aura que cir-
cunda um Nihil. Visão e som se distorcem enquanto a Tempestade
suavemente se aproxima das Terras das Sombras; para os vivos, o
local terá má fama com os desaparecimentos inexplicáveis e eventos
estranhos. É a existência dos Nihils que lembram às aparições da ne-
cessidade da Mortalha, pois ela ao menos protege os Breves do caos
da Tempestade.
Mortos permanecem.
Se o Local Assombrado for um prédio – ou até uma rua
– nas Terras das Sombras, então uma Necropolis é uma verdadeira
cidade de Mortos, composta de uma coleção de Locais Assombrados
como uma cidade viva é composta por prédios. Quanto maior e mais
forte for o Local Assombrado em uma Necropolis às vezes dá o direito
de ser chamado de Cidadela e fica como o castelo de um barão na ci-
dade como um símbolo de segurança e poder. É raro uma Cidadela que
não responda à Hierarquia em nome dos Senhores da Morte e sob seu
comando.
 O Enorme Mundo Inferior
Se as Terras das Sombras fossem tudo no mundo dos Mor-
tos, então esse trabalho seria mais fácil. Esse que está tão perto do
mundo dos Breves que é quase uma sobreposição do mesmo e no qual
Esquecimento
Se aceitar que no Mundo Inferior a escuridão é nossa luz, o
espírito nosso corpo e a entropia nossa energia; então o Esquecimento
é nosso sol. Tudo no Mundo Inferior vêm do Esquecimento, e tudo
volta para ele. Contudo, desqualificar esse tipo de assunto soaria de-
masiadamente desesperado.
A ciência humana, assim acredito, concluiu que força
e matéria são uma única coisa, e que qualquer forma substancial é
um monte de energia que de alguma maneira tornou-se condensada e
ganhou forma material. Pelo contrário, a divisão de um átomo (que
ironia, para aqueles que sabem Grego!) faz com que a matéria se re-
-agrupe como energia. Refletindo sobre esse princípio com relação ao
espelho negro da Mortalha, alguém chegou à conclusão que o plasma
que faz tudo e está no Mundo Inferior é uma forma semelhante, po-
rém revolta de entropia, que por um ínfimo momento toma forma ma-
A Tempestade
A Tempestade é, se você desejar, o oceano do Mundo In-
ferior. Pois ela circunda tudo e permeia toda e qualquer parte que de
alguma forma esteja nele. Mesmo o Esquecimento, aquela escuridão
titânica, manifesta-se dentro dessa tormenta sem fim como um pode-
roso Vácuo como uma pedra lapidada por um joalheiro nas profunde-
zas do Labirinto.
Além disso, devo confessar que essas palavras – e meu que-
rido Ernest, somente elas – em particular quase me faltam. Meu po-
bre vocabulário não é apropriado para o trabalho de descrever a Tem-
pestade e de fato é somente com dificuldade que me mantenho calmo
enquanto penso a respeito. Mais que qualquer outra parte do Mundo
Inferior, a Tempestade é quase literalmente indescritível. É em parte
como o pior e mais tempestuoso mar que um marinheiro mortal ja-
mais viu, talvez bem pior que isso. Há caminhos chamados Atalhos,
rotas livres através da tormenta doentia, mas essas avenidas tomam
muitas formas. Aparecem como rios, ou estradas, ou longos trilhos
de locomotivas, ou em coisas que nem Ernest se atreveria a nomear.
E ainda assim, enquanto viaja pelo Atalho qualquer um pode ver o
próprio coração da Tempestade, onde, luzes multicoloridas cintilam
como línguas através de nuvens de gases pulsantes e tempestades de
vidro estilhaçado direto do abismo.
ambos formam e são formados é por natureza mais fácil de se imagi-
nar para o leitor vivo, e mais fácil de explicar. O mesmo não acontece
com o resto.
terial. Assim, é possível dizer que o plasma pode a qualquer momento
se dissolver e tornar-se entropia novamente, dadas as circunstâncias
congênitas da transformação.
Se isso for verdade – e isso é muito debatido – então o
Esquecimento é aquilo do que somos feitos, e para o qual devemos,
com toda certeza, um dia retornar. Assim como o Mundo Inferior e o
plasma do qual ele é feito, há mais a se perguntar do que se ele surge
espontaneamente, ou por alguma escolha consciente dos Breves ou
dos Mortos, ou talvez se alguma vontade sombria e incompreensível
que algumas almas acreditam residir no Esquecimento o fez sozinha.
Essas perguntas, porém, são para cientistas e filósofos; não para po-
etas, jornalistas ou revolucionários. No fim, é suficiente dizer que
o Esquecimento é aquela fome sombria que devora a todos nós, nos
mandando numa espiral descendente, como Ícaro, para seus braços.
De todas as aparições, apenas aquelas deformadas e in-
sanas criaturas chamadas Espectros podem viajar pela Tempestade
sem perder a sanidade, e isso só porque eles já a perderam. É senso
comum entre as aparições que os Espectros eram antes como eles e
tornaram-se Espectros ao se renderem aos fragmentos de sussurros
do Esquecimento em suas mentes. Há um certo teor de justiça poé-
tica nessa história, e ajuda que aparições criem novas teorias sobre a
origem dos Espectros. Sabe-se que durante os Pesadelos, os horríveis
dramas pelos quais a aparição é forçada a passar por grandes agonias
dentro da Tempestade, o elenco desses dramas assustadores é inevita-
velmente formado por Espectros que procuram atormentar a aparição
azarada que caiu em seus domínios. Talvez eles estejam recrutando,
ou, como a Lanterna caída de Milton, procurando por companhia em
seu tormento.
Os Barqueiros, que eu já mencionei antes, parecem ser ca-
pazes de atravessar a Tempestade sem se ferirem, e até guiar outros
através dela se assim desejarem; eu sei que ainda não falei sobre esses
seres extraordinários, e peço ao leitor um pouco mais de paciência,
até que meu relatório sobre a ‘geographia infernis’ esteja finalmente
terminado.
 Os Hereges
Não há, claro, nenhum incentivo maior à piedade nos vivos
que o medo do que acontecerá ao seu espírito depois do fim da vida. Se
existe um Inferno, um Tartarus, um Niflheim ou um Apsu; ou se vai
encontrar um padre caridoso, bem alimentado por sua congregação
temerosa. Devo segurar o riso ao considerar o que os padres vivos
fariam nas Terras das Sombras, e como eles reagiriam ao descobrir que
acontecem as mesmas coisas aqui também. Talvez isso seja pertinente;
não tenho certeza.
Seja como for, tem se falado que a fé provê ajuda ao espírito
na adversidade, e não é menos verdade dizer que isso continua post
funera. Outro benefício que uma fé inabalável provê é o prazer e a
segurança de uma sociedade, atraindo para si almas semelhantes. Sem
nos esquecer da promessa de que algo melhor está por vir. A pobre
aparição tem tanta necessidade desse conforto quanto às almas vivas,
talvez mais.
Renegados
A melhor maneira de descrever os
Renegados é “nenhum dos acima.” Alguns
são bandidos separatistas, outros são
refugiados ou dissidentes tentando evi-
tar a Hierarquia, e outros ainda são ver-
dadeiros anti sociais. Eles geralmente
se opõem à Hierarquia, e a Hierarquia
nega-lhes o direito de existir. Grupos
A Hierarquia
A Hierarquia, na verdade, merece um espaço maior do que
recebeu até agora nessas páginas; por bem ou por mal, sua influência
é sentida em quase qualquer parte do Mundo Inferior. Com o gran-
de Caronte à frente no comando do modelo despotista idealizado por
Platão, a Hierarquia era toda e qualquer força para o bem dos Mor-
tos, oferecendo proteção aos fracos e resistindo em benefício de todos,
Vou poupá-lo da visão de George
sobre a natureza da religião. O que ele
jamais dirá é isso: Há grupos nas Ter-
ras das Sombras que estão unidos por uma
crença em comum, como cultos, religiões e
filosofias das Terras da Carne. Nós os cha-
mamos de Hereges, que é como eles geral-
mente se chamam uns aos outros. Em troca
da lealdade, seus seguidores ganham o
suporte da organização. Alguns Hereges
dizem ter a chave para a Transcendência.
Isso é algo que requer uma explicação de-
talhada, mas não agora, pense nisso como
o atalho que as religiões dos vivos ofe-
recem para o paraíso.
surgem e somem, alianças se formam e se
perdem. A única constante entre eles é a
mudança.
Algumas pessoas chamam a mim, Ge-
orge e os outros de Renegados. A Hierar-
quia com certeza. Esse é um nome tão bom
quanto outro qualquer, e eles não são os
primeiros a usarem.
aos Espectros e outros horrores que às vezes fugiam da Tempestade.
Com o tempo, porém, a forte mão de Caronte deixou que a
Corrupção, interesse próprio e guerra pelo poder, crescessem num rom-
pante dentro das fileiras Hierárquicas, transformando sua bondade
quase paternal em uma tirania sombria e sangrenta. Os principais
atores nessa tragédia foram dois: os Senhores da Morte e as Guildas.
 Maelstroms
Assim como os oceanos podem, algumas vezes e em certos
lugares, invadir a terra com terrível força, a Tempestade pode visitar
o resto do Mundo Inferior com seu próprio tufão. Essa manifesta-
ção sem igual é conhecida pelas aparições como Maelstrom; o próprio
Esquecimento parece vomitar essas abominações, através da Tempes-
tade, devastando Necropoleis inteiras e arrasando várias outras. O
Estigia
Dentro da loucura da Tempestade existe uma ilha, e nessa
ilha se estabelece uma grande cidade, que se chama Estigia. Mais de
uma vez, como a fabulosa Atlântida, ela foi atingida por Maelstroms,
e cada uma dessas vezes ela foi reconstruída das ruínas do passado e
galgou degraus cada vez mais altos em sua glória e grandeza. Para
muitos que lá residem, Estigia é o centro do Mundo Inferior, assim
como Londres representa para muitos londrinos, toda a Inglaterra, e
Paris, para os parisienses, toda a França. Centro pode não ser a pala-
vra certa, mas é muito marcante.
A história de Estigia você poderá encontrar ao seu alcance
nas páginas que se seguem. Não deixaria de fazer ao menos alusão ao
trabalho desse notável vulto que a construiu com as próprias mãos.
Por ora, o leitor precisa ter em mente apenas que a cidade foi funda-
da pelo grande Caronte, e sob sua sábia e benevolente lei durou por
As Costas Distantes
Existem vários argumentos sobre os lugares aos quais as
aparições se referem como Costas Distantes. Muitos até mesmo duvi-
dam de sua existência. Mesmo assim nunca me perguntei se fosse ver-
dade, nem espero fazer isso um dia. Eu aceito a existência das Costas
Distantes como um vivo aceita a existência de, digamos, a cidade de
Essex sem tê-la visto. E posso dizer que a existência de Essex nunca
me causou desejo.
George foi capturado por seu pró-
prio ego. Pode passar um tempo antes que
ele recupere seu bom senso. Não faço
idéia do que ele quis dizer com Essex,
mas ele parece achar bastante divertido.
As Costas Distantes são ilhas na Tem-
pestade, como aquela em que se encontra
Estigia. Dependendo da história que você
acredite, eles podem ser o céu e o infer-
no que qualquer religião prega, ou são
imitações, fingindo ser esses mesmos céus
e infernos de forma a iludir os fanáticos
a algum destino desagradável. O último
aparecimento de um Maelstrom é geralmente ligado a uma terrível
cadeia de eventos no mundo dos Breves – a queda do Império Ro-
mano, a Peste Negra, e as duas Grandes Guerras desse século foram
todos seguidos por um desses terríveis desastres – mas um Maelstrom
pode visitar o Mundo Inferior inspirados por uma força maligna do
Esquecimento.
muitos séculos, a maior e mais nobre das Cidadelas dos Mortos. Mais
tarde, contudo, Caronte foi engolido pela Tempestade quando lutava
com um apóstolo titânico do Esquecimento; e sem sua mão severa
os Senhores dos Mortos que regiam o Senado de Caronte Augustus
tornaram-se uma sanguinária e tirânica oligarquia tendendo ao es-
cravagismo.
É tão imperativo desprezar esses Senhores da Morte e a
Hierarquia que a eles serve, que eu e meus colaboradores colocamos
essas palavras à prova. Faço isso para que o verdadeiro estado dos
assuntos do Mundo Inferior seja conhecido por Breves e Mortos, e os
déspotas Hierarcas possam ser vistos, de uma vez por todas, pelo que
são. A vontade de calar a todos deve ser suficiente para fazer com que
todos falem, e para que uma Babel se erga para derrubar suas menti-
ras.
ponto de vista é decisão oficial de Esti-
gia, ou algo que o valha.
Pessoalmente, não sei o que acho
sobre as Costas Distantes. A princípio,
eu não concordo com a visão oficial de
Estigia. Por outro lado, acho muito con-
veniente ter a promessa de cada religião
para a vida após a morte apenas esperando
lá na Tempestade. Isso soa como isca para
idiotas. Talvez elas nem existam. Mui-
tas aparições acreditam nelas. E tantas
outras querem acreditar. Alguns assumem
enormes riscos tentando alcançá-las por
conta própria. Outros procuram sem parar
por um Barqueiro disposto a guiá-los. Al-
gumas aparições se oferecerão para guiar
outras até as Costas Distantes, mas o que
acontece na jornada ninguém sabe. Já vi
vigaristas levando imigrantes e refugia-
dos antes.
 As Guildas
Apesar dos feitiços que nós aparições chamamos Arcanoi
serem diferentes de qualquer capacidade artesanal praticada pelos ar-
tesãos vivos, eles são tão importantes para as coisas por aqui quanto
as habilidade em carpintaria, arquitetura e metalurgia são para uma
nação viva. Para desenvolver a estrutura e os aparatos da Hierar-
quia, Caronte achou válido organizar em Guildas as aparições que
tinham habilidades em um ou outro arcanos, tanto para promover e
desenvolver cada feitiço de maneira a impor um tipo de ordem entre
as aparições livres que não eram escravos nem soldados.
As Guildas eram sempre fracionadas, discutindo entre si
e tramando uma contra as outras, mas nisso talvez esteja sua força.
Pois apesar de sempre discutirem umas com as outras, seu maior de-
sagrado era com os que não possuíam Guilda alguma – incluindo os
Senhores da Morte e suas Legiões. Logo que Caronte estabeleceu as
Guildas, eles mesmos podem confirmar, eles começaram a ignorar seus
comandos, e os comandos de qualquer um que não fosse seus Senhores
e Senhoras de Guilda. Na verdade, muitas aparições de Guilda dizem
que seus cabais criaram suas próprias Guildas, e que Caronte sim-
Os Senhores da Morte
O grande Caronte fundou Estigia nos modelos da repúbli-
ca. De acordo com o conhecimento convencional dos Mortos, sobre
o modelo nada menor que o da República Romana. Com ele mesmo
como Cônsul, Caronte escolheu sete outros de sua confiança para Se-
nadores, cada um teria o controle para governar uma parte do Mundo
Inferior.
Com o passar dos tempos e o crescimento de Estigia, além
das mudanças no mundo dos que respiram que ecoaram entre os Mor-
tos, também mudou Caronte, mais ou menos na época das Cruzadas,
e mudou sua administração num modelo feudal. Esse foi o verdadeiro
nascimento da Hierarquia, pois abaixo de Caronte e dos Senhores da
Morte surgiram ordens e classes de mortos; Cavaleiros e Legiões, Guil-
das e Cativos.
Enquanto o tempo do desaparecimento de Caronte passa-
Os Barqueiros
Ao menos posso me redimir da promessa e dar conta dos
Barqueiros. Agradeço por isso, querido leitor, por sua paciência em
ter esperado tanto, acredito que entenderá que com o resto do Mundo
Inferior já em mente, meu trabalho com os Barqueiros será mais com-
pleto e compreensível.
Os Barqueiros são uma ordem antiga e poderosa, se é que
podem ser chamados de ordem. Para ser exato, é difícil saber do que
devem ser chamados, além de Barqueiros; pois não têm raça ou Guil-
da, nem aparecem particularmente organizados entre eles; ainda as-
sim são todos Barqueiros, todos ou todas em seus direitos.
Caronte era um Barqueiro – talvez o maior Barqueiro, no
entanto é difícil uma comparação entre eles – antes de fundar Esti-
gia. Há uma tradição entre os Mortos que ele tenha sido de fato o
primeiro Barqueiro, e os outros um dia haviam servido a ele; mas seja
plesmente ganhou o crédito por sua iniciativa. Essa arrogância ou se
torna divertida ou odiada, dependendo da perspectiva, mas ao menos
é reconfortante.
A Hierarquia lhe dirá que as Guildas se dispersaram, e não
podem mais usar seu monopólio de conhecimento como arma política.
Isso é uma meia verdade. Com certeza os Arcanoi não são mais de
controle exclusivo das Guildas, mas as Guildas permanecem em se-
gredo, assim como o Ernest e eu. Talvez uma em dez aparições deva
fidelidade a uma Guilda, apesar de um alto preço ser cobrado de quem
é descoberto.
Nos tempos difíceis que enfrentamos, as Guildas são uma
ponta de esperança, mesmo em sua condição reduzida atual. A natu-
reza dos Arcanoi que as Guildas ensinam e lidam pode ser encontrada
descrita em quaisquer dessas páginas, por uma mão mais hábil que a
minha. Embora eu deva minha contínua existência em grande parte à
proteção das Guildas em tempos de necessidade, não passo de um po-
bre viajante a quem falta aprendizado e sem a capacidade de escrever
sobre os grandes mistérios.
va, os Senhores da Morte se tornaram mais ferrenhos e mais abertos
às suas intrigas. No meio de tantas alianças forjadas, esquemas e
traições, eles brigavam pelo lugar de Caronte no trono. Eles são ex-
tremamente poderosos, têm muitos seguidores e praticamente recursos
inacabáveis; e apesar de não ter se iniciado um confronto aberto, os
efeitos de seus esquemas são dificilmente menos destrutivos à paz e
à liberdade dos Inquietos. Cada Senhor da Morte não mede esforços
– em nome do melhor para a Hierarquia, claro – para arrastar os vi-
vos para suas Legiões de Mortos, e escravizar qualquer aparição que
permanecer em liberdade antes que um rival ganhe controle sobre elas.
Ser livre é ser considerado um inimigo desses déspotas, e os Senhores
da Morte tratam seus inimigos de uma forma que os Terroristas, a
Santa Inquisição ou os guerrilheiros do Khmer Rouge invejariam e
admirariam.
isso verdade ou invenção nenhuma aparição pode dizer, afinal ne-
nhuma ouviu essa história da boca de um Barqueiro. Apenas os mais
destemidos fariam perguntas a um Barqueiro, e apenas os mais tolos
esperariam uma resposta.
Entre eles, o leitor encontrará outros nomes que lhe são
familiares, além de Caronte. Como Hermes, Brunhilde e suas irmãs,
Namtaru e outros. Os Barqueiros já existiam antes da Hierarquia,
antes de Estigia e alguns deles existem desde a aurora dos tempos.
Nenhum poder pode retirá-los de seus objetivo, e nenhum poder pode
tirá-los do curso; pois as mais solitárias criaturas do Mundo Inferior
podem atravessar a Tempestade à vontade, sem temer os Espectros ou
qualquer outra coisa que encontrem.
George está ficando um pouco entu-
siasmado aqui. Os Barqueiros existem há
muito tempo mesmo. Contudo, não acho que
sejam tão indestrutíveis assim. Existem
várias histórias de Barqueiros resgatan-
do de Espectros aparições perdidas na
Tempestade. Ainda assim, os Espectros
não caem simplesmente nessas histórias.
O que acontece é que não se ouve mais fa-
lar de quem não volta. E é improvável que
os Barqueiros falem sobre isso, afinal de
contas.
Você não tem fé, Ernest? Os Barqueiros são figuras do mis-
Transcendencia
Estou assumindo esse tópico, por-
que mal posso imaginar que vôos poéti-
cos esse nobre senhor prepararia com um
assunto desses. Deixando de lado esse
misticismo todo, a Transcendência é para
as aparições o que a redenção é para os
vivos que nela acreditam. Com a vida no
Mundo Inferior sendo como é, existem pou-
cas aparições que queiram acreditar nes-
se fio de esperança. É ainda mais difícil
encontrar qualquer um que tenha visto
isso acontecer.
Muito é falado sobre Transcendên-
cia, incluindo uma boa leva de contra-
dições. O que parece se repetir é que
Transcendendo, uma aparição pode sair do
Mundo Inferior como se nunca tivesse pas-
sado por lá depois de sua morte. Como
a Transcendência é alcançada também é
motivo de discussão. Alguns dizem que
Transcendência é um estado de espírito,
ou iluminação. Outros dizem que se li-
vrar das Paixões e Grilhões pode levar à
Transcendência se você estiver preparado
pra ela. Devo dizer que eu teria que es-
tar em estado de graça antes de volunta-
Notas Finais
Por enquanto, fizemos o que podíamos, assim como nos foi
permitido. É hora de permitir que outros escrevam, outros com maior
conhecimentos em suas próprias esferas. Preparamos o palco, como
deveríamos e o preenchemos com o contexto necessário para que, es-
peramos sinceramente, o leitor possa estar agora mais preparado para
digerir o que se segue. Se parecer incrível, não nos desculparemos por
isso, pois também achamos quando vimos pela primeira vez. Nosso
terioso imaginário, e ainda assim você insiste em reduzi-los a moto-
ristas de ônibus da Tempestade. Não vou deixar isso assim; fico com
a responsabilidade de restaurar-lhes a majestade! Agora, com isso à
mão... acho que a única coisa maior que seu poder seja seu mistério,
pois vão aonde quer que desejem, falam com poucos e seus motivos e
interesses só podem ser imaginados por nós, criaturas inferiores. Em-
bora suas barcas de junco pareçam frágeis e suas lanternas lancem
longas sombras, não há lugar mais seguro nem curso mais certo ante
a Tempestade que aquele que pode ser encontrado na companhia enig-
mática de um Barqueiro.
Se você está dizendo, George.
riamente abandonar uma das coisas que me
mantém aqui nas Terras das Sombras e me
impedem que eu seja dragado para me des-
fazer na Tempestade. Outros ainda dizem
que boas ações permitem a uma aparição
pagar quaisquer débitos cósmicos que o
prendem ao Mundo Inferior, mas isso me
soa mais esperança que realidade. Existem
outras versões, sem contar as descrições
do evento, incluindo pilares de fogo até
coros de anjos, ou algo parecido. George
diz que minha alma é pequena, sem visão e
desiludida demais para apreciar a idéia.
Transcendência existindo ou não,
não faz diferença. Ela representa espe-
rança e dá a muitos a força que neces-
sitam para continuar quando, de outra
forma, não o fariam. Também leva algu-
mas aparições a resistirem à Hierarquia,
quando outros motivos não são suficientes.
Tenho certeza que as religiões de algu-
mas pessoas deu-lhes força para resistir
aos poderes fascistas da Europa, com o
simples pensamento de que não resistir a
eles seria pecar.
desejo, como antes, é que você não entre nessa existência desprepara-
do como nós entramos, mas que esteja avisado de certos pormenores
e assim mais apto a evitar certas dificuldades e abusos que nós não
desejaríamos nem ao nosso mais amargo inimigo.
Adeus, caro leitor, e bons sonhos. O dia pode não raiar tão
cedo, pois a passagem pela Mortalha torna o sonho uma dura realida-
de.
 Livro um: Morte

Eu
não a
conheci
antes que ela
morresse, mas
tudo bem. Eu
também tinha
morrido, na ocasião.
Uma aparição, tecni-
camente. Um fantasma,
condenado a assombrar meu
último trabalho até... bem, não
sei direito até quando. Não é como se
tivesse um manual de instrução para ser
uma aparição, não importa o que digam
os filmes. Eu não assombrava muito, também - Nin-
guém nem sabia que eu estava lá. Ninguém vivo, pelo me-
nos. Então, eu me encolhi dentro do meu Local Assombrado,
remoendo minha existência fantasmagórica e rezando para que a
eternidade terminasse rápido. Não parecia haver muitas opções.
Mas uma noite, olhei pela janela onde as outras aparições estavam reunidas
na rua abaixo, então a vi. E ela, bem, ela olhou pra mim e sorriu. Mas não foi o sufi-
ciente pra me fazer descer.
Então, os fantasmas soldados vieram e ela não conseguiu se esconder rápido o suficiente.
Um açougueiro fantasma a agarrou e levou embora. Mas não foi o suficiente pra me fazer descer.
Não a tempo para ajudá-la, de qualquer forma.
No fim, tive que me obrigar a sair, por minhas próprias razões. Descobrindo que agora ela signi-
ficava mais que tudo, mesmo com meu velho escritório me puxando de volta. Mas ela ainda está lá fora, em
algum lugar nessa terra morta e eu preciso encontrá-la. Pensar nisso me enche de uma força que nunca tive antes.
Queria poder explicar.
12 Aparição: O Esquecimento
Vou encontrá-la. Encontrarei o homem (fantasma) que a feriu. E quando encontrar, ele vai descobrir que há
destinos muito piores que a morte.
Capítulo Um: Introdução 13
 to, padrões começam a emer- abaixar para um lado e me
Renascimento gir. Fracos flashes de amarelo preparar para o impacto.
e branco piscam na escuridão Sim! Houve um im-
A consciência volta
como luzes. Formas amórfi- pacto!
lentamente, como um cober-
cas translúcidas como grandes O pensamento era
tor pesado e escuro que é reti-
amebas luminosas avançam e tão palpável quanto um tapa
rado por mãos invisíveis...
se afastam simultaneamente. no rosto.
Sinto meu rosto, peito
Rostos, seus detalhes De repente um som
e barriga no chão duro e des-
perdidos numa sombra impe- sibilado como uma tira de
confortável. Meus dedos estão
netrável, rodam à minha volta tecido molhado enche meus
pendurados como garras num
como folhas de outono levadas ouvidos. Eu tremo inadver-
balanço irritante. Um rugido
por redemoinhos que me jo- tidamente, lembrando um
torturado se forma no fundo
gam para todas as direções ao som seco e pesado, seguido
da alma, mas não importa o
mesmo tempo. Pensamentos de um coro de vozes trêmu-
quanto eu tente, não consigo
vagos e ecos de vozes ininte- las.
libertá-lo.
ligíveis salpicam como fantas- E havia algo mais.
É como se eu tivesse es-
mas na minha cabeça. Mesmo Algo sobre um rio.
quecido como.
que tentasse agarrar qualquer Lutei para aquecer
A escuridão me con-
pensamento em particular, ele minhas lembranças.
funde, me deixa tonto e pres-
escapulia como areia da praia Eu havia ficado acor-
siona impiedosamente meu
entre os dedos. dado até tarde, talvez até
corpo contra a terra. Sempre
Então o pensamento perto de amanhecer. Eu es-
que tento respirar, não sinto o
desvaneceu... tava na ponte da East Street,
menor movimento dos mús-
Perdeu-se pra sempre. olhando para o rio Strou-
culos do meu peito ou das cos-
Perdido como você está, dwater.
telas expandindo, nenhuma
uma fina voz sussurra no fun- O céu estava enco-
rajada de ar gelado passa por
do da minha cabeça. berto. Sem lua ou estrelas.
meus pulmões ou garganta.
Acho que lembro quem Naquela noite, o rio parecia
O que está acontecendo
sou. óleo queimado, escorrendo
comigo?
Meu nome é David... com um gorgolejar fantas-
Um medo frio inco-
David Robinson. magórico pelos pilares de
mensurável, mais forte que
Finalmente, uma única sustentação da ponte. Re-
qualquer coisa que eu tenha
imagem queima mais clara- demoinhos e espuma apa-
experimentado se apodera de
mente que todas as outras. reciam pela superfície da
mim enquanto eu observo a
Luzes. água, e algo – uma voz fan-
escuridão que pulsa atrás dos
Lembro-me de ver dois tasmagórica, assustadora –
meus olhos.
círculos de luz giratórios vin- chamava meu nome.
Não consigo dizer se
do na minha direção direto da Lembro da minha
meus olhos estão fechados ou
escuridão. mão suando contra o apoio
abertos.
Meu corpo está tenso, e de metal que ainda irradiava
Depois de encarar o
lembro-me da sensação de me o calor de um dia quente. O
vazio por um instante infini-
ar noturno secava minha gar-
ganta, queimando quando eu
o engolia como água indo para
os pulmões.
Águas negras...
E me lembro ter ouvido
um sussurro distante e sibila-
do que talvez fosse o tráfego,
que passava pela interestadu-
al. Não havia muito tráfego na
ponte da East Street.
Não àquela hora.
Eu sempre andava por
ali de madrugada... para pen-
sar, trabalhar as idéias para
histórias.
Sim, sou escritor. Bem,
ao menos costumava ser. Sem-
pre que não conseguia dormir,
vinha pra cá contemplar o
que estivesse errado na minha
vida, agora – mais uma vez –
isso mudou drasticamente.
Mas essa noite, eu me
lembro, eu disse pra mim mes-
mo que já tinha pensado tudo
que tinha pra pensar. Hoje eu
havia determinado – final-
mente – que faria!
E por que não?
Sara, que havia sido
minha esposa por 10 anos,
me deixou um ano atrás, e o
divórcio já havia terminado a
muito tempo. Isto, combinado
à carreira decadente – apior de
todas – a morte da minha úni-
ca filha, Karen, seis anos antes,
finalmente destruíram minha
vontade de viver.
Descobri que havia me
trancado numa concha de so-
lidão, que era esquecida ape-
nas pelas ondas de fúria. A
maior parte delas direciona-
das à minha esposa, mas vejo
agora que a verdadeira raiva –
aquela pura – deveria ser dire-
cionada a mim mesmo.
Por isso decidi ir adian-
te com meus planos hoje.
O que eu deveria fazer,
juntar os cacos e ir em frente?
Não, era melhor mor-
rer.
Então, era como eu de-
veria estar.
Morto.
Mas se eu estou morto,
como ainda posso sentir meu
rosto contra o chão?
Eu rosno internamente
quando imagens fragmenta-
das se fundem na minha men-
te. Algumas dessas lembranças
quase fazem sentido.
Eu estava de pé na pon-
te, olhando para o rio lá em
baixo e desejando – não, oran-
do a Deus para que eu tives-
se coragem de terminar com
aquilo.
Ultimamente, eu sabia
que poderia ser bem fácil.
Tudo que eu precisa-
va fazer era saltar por entre o
corrimão e cair. Deixar a gra-
vidade fazer seu trabalho.
Muitas vezes durante o
último ano eu tentei imaginar
como seria. Talvez essa seja
uma das negativas em ser um
escritor. Eu podia imaginar
coisas violentas e perigosas
muito mais vívidas.
Eu quase podia sentir
a densa água do rio entran-
do pelo meu nariz e boca.
Podia imaginar a corrente-
za sombria, fortes e escura;
escoando entre as pilastras,
como mãos ondulantes me
puxando para o fundo. Po-
dia sentir a necessidade do
ar queimando enquanto
meus pulmões se enchiam,
me afogando, me estrangu-
lando como mãos invisíveis
que me pegavam e arranca-
vam a vida do meu corpo.
E então...?
Então eu não tinha a
coragem para fazê-lo! Eu dei
pra trás.
Aquele pensamen-
to me queimava por dentro
com um quê de desespero
que quase se podia ouvir, eu
não me sentia tão miserável
desde que Karen havia mor-
rido.
Mas quando vim até
aqui para isso, saltar daquela
ponte, não encontrei cora-
gem!
Algo deu errado, mas
o que?
Se ao menos eu lem-
brasse…
16 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Um:
Introdução
Fantasma, s.m. Um sinal estranho e visível de um
medo interno.
- Ambrose Bierve, o Dicionário do Diabo.
eseja ouvir uma história de fantasmas?
Temos contado histórias desde a pré-
-história, quando as fogueiras nas ca-
vernas dançaram pela primeira vez nas
paredes e nos deu o tempo para refletir
sobre o fato de que um dia, morrere-
mos. Desde então, tornamo-nos fasci-
nados pela morte e pela esperança de
que, talvez, algo venha depois.
É sobre isso que Aparição: O Esquecimento é feito,
histórias de fantasmas, mas aquelas que são descobertas no
lugar de escritas, e contadas por um grupo de jogadores e seu
Narrador. Ao sentar para jogar Aparição no fim da tarde, está
concordando a ajudar a contar uma história que nunca foi con-
tada antes, e da qual ninguém sabe o final.
O livro que está segurando é a chave para essas histó-
rias de fantasmas. Ele contém as regras básicas para o jogo que
você está prestes a começar, e dá aos Narradores as ferramen-
tas com as quais vão criar a moldura para as histórias surgirem
como jogo. Este livro permitirá que você torne-se uma aparição
(um fantasma preso pela Paixão ao mundo dos vivos) e experi-
mente todos os triunfos e falhas do seu personagem. Contudo, a
partir do momento que seu personagem é criação sua, a falhas e
vitórias são verdadeiramente suas também.
No íntimo, Aparição é um jogo, mas um jogo de
contar histórias, não de “vencedores” e “perdedores”. Se você já
jogou outros jogos de interpretação, esse material é como um
chapéu velho pra você, mas se nunca experimentou nada pare-
cido, pode ser algo um pouco confuso. Não se preocupe, é mais
simples do que parece, e a maior parte do que isso envolve, você
têm feito durante toda sua vida.
Mas agora é a hora de contar algumas histórias de fan-
tasmas: histórias de amor além da morte e mãos esqueléticas
nas janelas de mansões, histórias de martelos ressoando em for-
jas fantasmagóricas e navios fantasma navegando para sempre
na noite tempestuosa. No centro de cada uma dessas histórias,
contudo, está você: a aparição. Isso não é como assistir um filme
ou ouvir alguém lendo pra você. Essas são histórias que você
ajuda a criar, assim sendo, são suas histórias de uma forma que
um filme ou série de TV jamais seriam.
Capítulo Um: Introdução 17
Narrativa
ontar histórias é parte integral da con-
dição humana. Temos passado por len-
das e contos desde tempos imemoriais;
bardos gregos eram aplaudidos mera-
mente por recitarem a lista de navios
na Ilíada de Homero. Temos uma rica
e variada tradição oral, uma que tem
fugido de nós enquanto a televisão e o
rádio cresceram muito mais persuasivos.
Agora, no lugar de contarmos histórias, apenas as
escutamos. No lugar de criar novas aventuras para nossos he-
róis favoritos, esperamos que inúmeras sequências cheguem
à locadora de vídeo. Nós abdicamos do nosso direito de criar
histórias, nos contentando em ser mera audiência travestida de
cultura.
Não precisa ser assim. Todos podemos ser ainda nar-
radores, é sobre isso que é Aparição. Esse jogo é uma chance de
contar histórias, no lugar de apenas ouvi-las. É uma oportuni-
dade de criar algo com outros, não simplesmente compartilhar
uma experiência passiva com eles. Uma combinação de jogo
e narração colaborativa, Aparição nos permite tomar, à nossa
maneira, o manto dos bardos e trovadores antigos.

Interpretando
Além de ser um jogo de narrativa, Aparição é um
“jogo de interpretação”. O termo pode assustar algumas pes-
soas, mas na verdade, interpretar é algo que temos feito desde
crianças. Toda vez que brincamos de polícia e ladrão, cada vez
que vamos pra um parquinho e fingimos que voamos, estamos
interpretando. Entramos facilmente na persona de outro, os no-
bres policiais e os malvados ladrões, bravos soldados ou pode-
rosos super-heróis, até que alguém nos diz que isso é “bobo” e
“infantil”. E assim, paramos de adotar esses papéis, e abandona-
mos a interpretação com as memórias da infância.
Aparição o chama para escavar essas lembranças
e mais uma vez entrar na pele de outro. Claro, precisamos de
mais regras (mas nem tantas) que em nossas brincadeiras - “Te
peguei!” “Não pegou, não!” “Peguei, sim!” não é mais uma base
aceitável para esse tipo de jogo. Tudo que as regras de Aparição
fazem é adotar um parâmetro para a história, permitindo que o
Narrador decida quando uma aparição é capaz de algo. Regras
guiam e dão direção à história, eliminando conflitos e decidin-
do quando as ações de um personagem são plausíveis. Elas não
ditam a ação, nem a restringem.
Todas as regras que você vai precisar para jogar Apa-
rição estão localizadas no Capítulo Três deste livro. Além disso,
a história é o que importa.
Não tem um limite de tamanho em um jogo de Apa-
rição, mas nada maior que meia dúzia de jogadores é recomen-
dado. Mais que isso, os jogadores serão forçados a disputar a
atenção do Narrador, e isso significa que cada personagem tem
menos tempo para ser um herói - ou vilão.

18 Aparição: O Esquecimento

O Narrador
E tu vais também destruir mundos, meu filho?
- Neil Gaiman, Livros da Magia
Aparição pode ser um pouco diferente da maioria dos
jogos que você está acostumado. Não há tabuleiro, nem marca-
dores, moedas ou cartas. No lugar disso, todo o jogo se passa
na cabeça e na descrição do Narrador, um jogador que se vo-
luntaria a criar e narrar as histórias onde os outros jogadores
estrelarão.
Ser um Narrador leva a pessoa pra um lugar entre
Deus e professor substituto. Todos os poderes de criação são
seus, ao menos os que formam o quadro da história. Você des-
creve e cria o mundo, popula, decide seus pormenores e produz
sua grandeza. Por outro lado, você é responsável por inserir os
jogadores e seus personagens na sua criação e enquanto você
decide os destinos dos personagens controlando as ações de
seus inimigos, você cede controle da sua criação, permitindo
que eles ajam como desejarem dentro dela. No entanto, é ainda
um preço baixo a se pagar por ser o criador de histórias e até
mesmo de lendas.
O maior trabalho do Narrador é garantir que todos
os jogadores estejam se divertindo. Isso significa contar uma
boa história que envolva todos os personagens, tratando per-
sonagens e jogadores de forma justa e equilibrada e escutando
tudo que acontece no seu mundo assim como criá-lo. Você cria
o esqueleto da história, então deixa que os personagens ajam
e coloquem os músculos nos seus ossos, balançando entre juiz
e narrador sempre que a situação se mostrar necessária. Você
deve determinar que regra aplicar e como aplicá-la para cada
situação, além de descrever a situação de forma vívida para que
os jogadores reajam apropriadamente. Você deve se servir da
máscara de cada personagem do seu mundo, dando a cada um
uma personalidade e uma voz diferentes quando os jogadores se
encontrarem com eles.
Soa intimidador, não é? Talvez, mas ao mesmo tem-
po, é incrivelmente recompensador. Tomar o lugar de árbitro e
apresentador pode ser difícil, mas este livro é feito para tornar
a tarefa o mais fácil possível. Narrar Aparição jamais será fácil,
mas esse livro pode tornar o processo mais agradável e menos
desgastante. A recompensa para um Narrador é, afinal de con-
tas, a própria história.
O papel do Narrador é explicado em maiores deta-
lhes no Capítulo Oito.
Jogadores
Nem todo mundo pode ser o Narrador; a maioria dos
envolvidos numa Crônica de Aparição terá o papel de jogador.
Enquanto o Narrador prepara o cenário e cria as cenas para o
jogo, são os jogadores que exploram o cenário e criam a ação
dentro dele. Ser jogador consome tempo e preparo, mas ambos
trazem riqueza e textura à história que seu Narrador criou.
Em Aparição, você interpreta um fantasma, um Mor-
to Inquieto. Você cria o personagem com o qual vai jogar na
história ou histórias e decide o que seu personagem fala e faz.
Ator e diretor em partes iguais, você movimenta sua aparição
pelo mundo criado pelo seu Narrador, agindo e reagindo como
você achar melhor.
Como jogador, você é responsável pelas ações e dis-
cursos do seu personagem. Tudo que seu personagem falar,
você fala. Tudo que seu personagem fizer, você anuncia. Seu ob-
jetivo, é claro, é ajudar seu personagem a superar os obstáculos
que se apresentam fazendo com que ele fale e faça coisas que
permitam que ele desvie ou atravesse qualquer dificuldade.
Ocasionalmente, você decidirá realizar uma ação com
seu personagem na qual o Narrador pedirá um rolamento de
dados para determinar se houve ou não sucesso. Fora essas situ-
ações, simplesmente volte ao tempo do faz-de-conta. É tudo que
precisamos. Crie sua aparição, dê a ela personalidade como uma
máscara de Halloween e de repente é hora de tornar-se outra
pessoa; ser o herói de uma história de fantasma.
Personagens
Para poder jogar Aparição, você deve adotar uma per-
sona e dentro do contexto do jogo, interpretar esse papel. Como
atores interpretam personagens no palco, você interpretará um
personagem na história que você e seus amigos criaram.
A diferença, claro, é que um ator está preso ao script
por um roteiro, enquanto um personagem de Aparição é cria-
do por você. O processo de criação de um personagem é rela-
tivamente simples; detalhado no Capítulo Cinco e geralmente
leva menos que meia-hora. Escolher as Características e outras
estatísticas permite que você crie funcionalidade para as capa-
cidades do personagem. A parte difícil, dar carne aos ossos na
ficha, vem a seguir.
Já que você vai interpretar esse personagem por horas
a fio, faz sentido fazê-lo real, tão completo quanto possível. O
que seu personagem gosta de fazer? Ele tem alguma fobia ou tic
nervoso? Ele começa um diálogo sempre com a mesma frase, ou
ele está sempre manipulando uma faca entre suas mãos durante
uma conversa? Esses pequenos detalhes trazem mais vida que
um monte de pontos numa folha de papel e torna o personagem
que você criou o mais real possível. Toda grande história co-
meça com um grande personagem, afinal de contas; e você não
quer que o seu seja a exceção.
Uma Pequena Dança
Uma das coisas únicas de se jogar Aparição é
que você não está preso a jogar apenas com seu perso-
nagem. Você tem a chance de jogar com o lado negro de
alguém, chamado de Sombra. Dessa forma, mesmo que
seu personagem não esteja diretamente envolvido na his-
tória, como jogador, você ainda é parte vital do que está
acontecendo.
Como um Guia de Sombra, você deve tentar
outro personagem a fazer coisas que ele sabe que não de-
veria fazer, ou talvez você só dê a ele corda suficiente para
se enforcar. Lembre-se, no entanto, que da mesma forma
que você está interpretando a Sombra de alguém, outro
está interpretando a sua.
Capítulo Um: Introdução 19

Vencedores e Perdedores
m Aparição não há “vencedores” e
“perdedores”; não existe um objetivo
fixo ou condição de vitória para que
os jogadores alcancem. A ideia do jogo
não é derrotar os outros jogadores e
cooperar com os outros personagens
pode ser até necessário para a sobrevi-
vência do próprio personagem. Nem é
o objetivo “vencer” o Narrador, já que
o Narrador e os jogadores devem trabalhar juntos para criarem
a melhor história possível. De muitas formas, nem mesmo é
possível “perder” um jogo de Aparição. Mesmo que seu per-
sonagem seja destruído, sempre há um novo papel para inter-
pretar, uma nova máscara para vestir e uma nova história pra
contar.
Aparição, como todos os jogos de narrativa, é sobre
um tipo completamente diferente de vitória do que estamos
acostumados a ver, acumulando cartas coloridas ou chegando
ao final do tabuleiro. Sucesso num jogo de Aparição pode ser
obtido por muitas razões: superando os inimigos durante a his-
tória (apesar disso poder atrair atenção de inimigos mais pode-
rosos e colocar novas histórias em movimento...); resolvendo
suas Paixões e Grilhões de forma satisfatória; descobrir algum
plano maligno de seu pior inimigo e o ver se enrolar em sua
própria corrente; alcançar a tão sonhada Transcendência; der-
rotar aquele último e desesperado ataque dos Espectros; escapar
pelos dedos da Hierarquia quando a captura parecia certa; ou
ainda simplesmente sair do jogo com histórias que seu persona-
gem passou e que colocarão mais tarde um sorriso no seu rosto.
O que é Necessário
Não se precisa muito para jogar Aparição além da sua
imaginação. Esse livro, alguns lápis, cópias impressas das fichas
de personagens e alguns dados de 10 lados é tudo que se precisa.
Se seu Narrador for desenhar mapas ou usar miniaturas, uma
mesa pode ajudar, mas nada além disso.
Não é como dizer, contudo, que alguns adereços não
vão ajudar ou ser úteis. Cartas escritas à mão, velas já utilizadas,
matérias de jornais - tudo isso pode ajudar a experiência de jo-
gar Aparição e tornar o jogo mais real. O truque é lembrar que,
não importa o quão bons sejam os adereços utilizados, eles são
só adereços e é a história que importa.
Ação ao Vivo
Apesar de estranha a noção que um jogo ao vivo de
fantasmas pode ter, pode ser uma experiência intensa e memo-
rável de interpretação. O mundo de Aparição é feito essencial-
mente de improvisação, assim, ações ao vivo permitem que você
deixe a mesa e os dados pra trás e aja e fale como faria seu per-
sonagem.
Na maioria dos jogos de interpretação de papéis, você
descreve o que seu personagem faz e rola dados para determinar
se ele consegue ou não. Num jogo ao vivo, você tem a oportuni-
20 Aparição: O Esquecimento
dade (dentro de alguns limites) de fazer o que seu personagem
faria e falar por ele, sem a necessidade de rolar dados para de-
terminar se é bem sucedido pelo que tentou.
Claro, sem os dados deve haver um meio de determi-
nar quando você é bem sucedido ou não no que está tentando,
particularmente se isso afeta outro personagem. Regras alter-
nativas, como as descritas na série Teatro do Olho da Mente,
da White Wolf, ou a decisão do Narrador são boas alternativas
para resolver quaisquer conflitos; o mecanismo não importa
desde que seja consistente e justo e que todos se divirtam no
processo.
As Regras de Ação ao Vivo
A Ação ao Vivo envolve certos riscos que não estão
presentes nos jogos de mesa (a não ser, claro, que um de seus
amigos seja viciado em jogos de azar com dados). Enquanto jo-
gos de Ação ao Vivo permitem que mais jogadores participem
e interajam do que seria possível em um jogo de mesa, também
aumentam a possibilidade de alguém sair ferido. Com isso em
mente, sempre lembre dessas pequenas regras:
• Não toque - A partir do momento que na Ação ao
Vivo você pode agir como seu personagem, há algumas coisas
(como combate, pular de escadas de incêndio, fugas em carros
em velocidade e por aí afora) que são melhores se deixadas por
conta da imaginação, apesar de tudo. Como é fácil se empolgar
no calor do momento e permitir que seu personagem tome o
controle, você não deve nunca esquecer que isso é apenas um
jogo. Jogadores que se excederem devem ser retirados da ação
para que possam se acalmar; se continuarem a cruzar essa linha,
devem ser retirados do jogo. Nenhuma história ou vitória do
personagem vale o risco de se machucar.
• Nada de Armas - Por mais bonita que uma espada
possa parecer como parte da caracterização, ou por mais apro-
priado que uma arma pareça (mesmo uma réplica) para seu
personagem assassino, nenhum tipo de arma deve ser permiti-
do num jogo de Ação ao Vivo. Mesmo réplicas ou imitações de
armas reais (especialmente revólveres e pistolas) podem parecer
reais e levar alguém a se machucar, sem falar na suspeita que
pode gerar em pessoas que não estão no jogo.
• Respeite Pessoas que não Estão Jogando - Ou res-
trinja a área de jogo para um lugar onde não haja ninguém por
perto (Ex.: sua casa, uma sala alugada na sua faculdade ou um
sítio alugado), ou lembre-se que pessoas que não sabem que
está ocorrendo um jogo estão ao redor da área e não fazem ideia
do que está acontecendo. Respeite o espaço delas e não as faça
parte da ação sem que deem permissão. O que ninguém precisa
é que o zelador do prédio atrapalhe aquela cena do Pesadelo
que estava acontecendo achando que era algum tipo de ritual
satânico. Informar às autoridades que você era só um Espectro
sugando a alma do personagem do seu amigo pro Esquecimen-
to, sem dúvida, não vai ajudar.
• Saiba Quando Parar - Sempre lembre que é só um
jogo. Não importa o quão profundamente se identifica com seu
personagem, nem se a ação é muito empolgante, ainda é só um
jogo. Se a interpretação for intensa demais para alguém, é hora
de parar, sem perguntas.

Aparições
Sua vida é uma fuga e privado dos sentidos
Além da esperança de sobrevivência, ele sofre seu quinhão,
Pálido sob o raio, envelopado sob o manto da morte…
- O Destino dos Homens, S.A.J. Bradley, tradutor
em lá no fundo, a maioria de nós acre-
dita em fantasmas. Muitos querem acre-
ditar que a morte não é um fim, que
nossas personalidades - nossas almas
- não desaparecerão para sempre com
nosso último suspiro. Então acredita-
mos em fantasmas para nos convencer
que a morte não é o fim de tudo, afinal
de contas.
Em Aparição, a morte não é o fim. É apenas o come-
ço. Muitas almas, após a morte, passam pela Transcendência
ou pelo Esquecimento, mas algumas tornam-se residentes das
Terras das Sombras como aparições. Essas almas são especiais,
trazendo consigo desejos e deveres não realizados, emoções e
necessidades tão poderosas que são mais fortes que a própria
morte. Raiva, amor, medo, ódio - são algumas das Paixões que,
até que sejam solucionadas, ligam uma aparição às sombras do
mundo mortal. Guiados pelas Paixões e ancorados por seus
Grilhões, aparições são pegas entre essa vida e a outra.
Vivendo no Mundo Inferior, entre memórias de lo-
cais vivos e o horror desesperador da Tempestade, aparições
caminham sobre uma linha fina entre os mundos. Podem afe-
tar o mundo mortal, mas apenas raramente se manifestam nele;
podem viajar para a Tempestade, mas nunca a chamam de lar.
Iluminados por suas paixões e obscurecidos pelo medo, a exis-
tência de uma aparição pode ser cheia de terror.
Muitas aparições atravessam rapidamente sua exis-
tência nas Terras das Sombras até sua sina. Ligados apenas por
Grilhões fracos e guiados por Paixões estremecidas, eles logo
resolvem as pendências que os prendiam. Personagens de jo-
gadores, no entanto, possuem Paixões e Grilhões poderosos,
que os fazem permanecer por muito tempo na comunidade dos
mortos. Ligados tão severamente ao mundo dos vivos, que po-
dem permanecer no Mundo Inferior por décadas ou mais, se o
Destino permitir.
O Mundo Inferior
Esse deve ser um lugar onde se aprende o que não aprenderia na
Terra.
- Peter Himmelman, “11 Meses para Limpar os Maus Espíritos”
Tempestade, Estigia e Terras das Sombras: esses, com-
binados com As Costas Distantes, formam o reino dos Mortos
Inquietos. Coletivamente conhecidos como Terra dos Mortos
ou Mundo Inferior, que define as fronteiras da existência de
uma aparição.
As Costas Distantes são as mais alienígenas à terra
dos vivos. Existindo além do Mar Sem Sol depois das torres
de ferro de Estigia, elas oferecem um buffet de céus e infernos
para qualquer aparição corajosa e hábil suficiente para ir até lá.
Demônios e salvadores podem ser encontrados aos montes por
Capítulo Um: Introdução 21
 lá, assim como réplicas habilmente construídas de praticamente
todas as crenças pós-morte já imaginadas. Todas são farsas, no
entanto, de acordo com a monolítica Hierarquia de Estigia, que
proibiu o tráfego organizado pelo Mar Sem Sol.
Ao pé desse oceano soturno, fervilha a tormenta in-
terminável da Tempestade, na qual os Espectros uivam esfome-
ados. Há ilhas seguras no meio desse furioso Maelstrom eterno;
Estigia, a capital do império dos mortos, descansa num desses
oásis. No coração da tormenta existe um Labirinto titânico, ro-
ído nas entranhas do Esquecimento pelos monstruosos Espec-
tros conhecidos como Malfeanos. No centro do Labirinto está
a boca do Vácuo: O próprio Esquecimento, a boca da entropia.
Poucas aparições, se é que existe alguma, olharam pra lá e retor-
naram pra contar. Mesmo Espectros temem o lugar, apesar de
serem controlados por ele.
Também há caminhos seguros através da tormenta,
Atalhos que levam de Estigia até a grandeza arruinada das Ter-
ras das Sombras. Sobreposta à terra dos vivos (também chama-
da de Terras da Carne), as Terras das Sombras são cheias de
memórias e ecos que tomam forma. Uma Mortalha nascida da
descrença separa as Terras das Sombras e Terras da Carne, mas
as aparições ainda podem ver vagamente, através dela, o mundo
vivo que deixaram para trás.
Essa geografia, é claro, não corresponde ao Céu, In-
ferno ou qualquer crença que as massas mortais estão familia-
rizadas e muitas aparições consideram sua chegada na Terra
dos Mortos uma decepção. O fato da vasta maioria dos mortais
nunca terem aparecido no Mundo Inferior depois de morrer
leva à crença de que a Terra dos Mortos seja uma espécie de
Purgatório, uma parada antes de algo muito melhor, ou pior.
Aparições sustentam essa visão mais que outra qualquer, acre-
ditando que estão “fazendo hora” no Mundo Inferior por cente-
nas ou até milhares de anos e se for questionada privadamente,
muitas aparições admitiriam preferir esse “Purgatório” que o
que quer que esteja depois dele. Além do mais, aqui eles ao me-
nos podem tocar os vivos e entes queridos que conheciam… ou
quase.

Características das Aparições

Ser uma aparição vêm com certas vantagens. Toda
aparição, em virtude de sua natureza fantasmagórica, possui as
seguintes habilidades:

• Visão da Morte - Existindo do outro lado do tú-

mulo, aparições vêem o mundo através de lentes desfocadas.
Prédios parecem decréptos, plantas são secas e murchas, carros
parecem enferrujados anos antes da hora e pessoas próximas
da morte parecem mais pálidas. Aparições podem ver quanto
das coisas (e pessoas) foram tocadas pelo Esquecimento. Apesar
disso parecer ruim, permite que uma aparição possa acessar o
ponto fraco de um objeto ou a saúde geral de um ser vivo.

• Visão da Vida - Assim como vêem a morte em seres

vivos, aparições podem ver a vida. Essa habilidade toma for-
ma tornando aparições capazes de ler auras de seres vivos (ou
mortos), as cores rodopiantes que cercam as coisas. As auras
mudam de cor a todo momento de acordo com o humor e saúde

22 Aparição: O Esquecimento
dos seres que a geram; aparições podem definir o humor atual,
saúde e estado mental de alguém só olhando para ela.

• Sentidos Aguçados - Toda aparição tem uma sen-

sibilidade sensorial extraordinária. Ouvir sussurros e ler letras
miúdas não representam problemas para nenhuma aparição.
Entre outros usos, isso pode ajudar a ler placas, ouvir conversas
secretas e detectar o primeiro cheiro de gasolina quando um
incendiário se prepara pra incendiar seu Local Assombrado.
Por outro lado, luz forte, som alto e outros estímulos excessivos
podem ser muito desconfortáveis para os Inquietos, os incomo-
dando, deixando tontos ou até mesmo os ferindo.

• Insubstancialidade - Ao mesmo tempo uma benção

e uma maldição para uma aparição, insubstancialidade é o que
permite a aparição passar através de objetos sólidos sem muita
resistência. Gastando um ponto de Corpus, uma aparição pode
atravessar paredes, pessoas ou balas com facilidade.

A Sombra
Vou te ferir até que precise de mim.
- Richard Thompson, “Cruz do Calvário”

Cada aparição carrega seu pior inimigo com ela e per-

manece no fundo de sua mente. Ao atravessar a Mortalha, o
lado mais sombrio de uma alma assume uma identidade sepa-
rada e busca todas as oportunidades para exercer sua vontade
malévola. Enquanto parte da mesma mente e alma, a Sombra
(como esta malícia senciente o chamada) mantém uma exis-
tência independente e maligna dentro da cabeça da aparição.
Egoísta e sádica, a Sombra vai adulterar e persuadir, subornar
e ameaçar sua melhor metade. Ela pode oferecer poder ou usar
seus dons únicos (chamados de Espinhos) para tornar seu ou-
tro lado (chamado de Psique) mais maleável às suas sugestões
sedutoras.
Não importa quão agradáveis sejam as ofertas da
Sombra, todas elas levam a um único objetivo: a destruição final
da aparição. A Sombra é o lado autocentrado e autodestrutivo
da personalidade de todas as aparições, o desejo de morte que
é dado por uma voz e uma vontade. A Sombra tem tudo a ver
com o caminho mais fácil, fazendo o que é bom no momento e
para o inferno com as conseqüências. Para o modo de pensar da
Sombra, a aniquilação completa é preferível a pagar o flautista e
os gritos da Psique naquele último e longo declive são a música
mais doce que se possa imaginar.
De todos os conflitos que uma aparição enfrenta, sua
luta com sua própria Sombra é a mais cruel e terrível. Não há
trégua da voz sussurrando em seu ouvido, sem cessar com as
hostilidades possíveis. Os maiores triunfos alcançados por uma
aparição e as piores derrotas que ela sofrerá virão no campo de
batalha de sua própria alma.
Mais sobre a Sombra pode ser encontrado no capí-
tulo seis.

Capítulo Um: Introdução 23


O Fim de Todas as Coisas
Para todas as coisas, há um final. A maioria das apa-
rições eventualmente sucumbe ao Esquecimento, talvez cum-
prindo um dever como um Espectro primeiro ou simplesmente
sendo engolido pelo Vácuo. É contra a inevitável atração des-
cendente do Esquecimento, a gentil gravidade do nada, que a
maioria das aparições luta. O medo do Esquecimento é o moti-
vo pelo qual os Inquietos agarram-se com tanta força aos seus
Grilhões, pois enquanto os Grilhões podem amarrar uma apa-
rição à Terra, eles também a ancoram contra o Esquecimento. A
maioria das aparições crê que o Esquecimento é o seu fim ine-
vitável e não há nada na sua existência nas Terras das Sombras,
exceto a luta contra a não-existência.
Algumas aparições, no entanto, acreditam que há ou-
tro fim possível. Eles falam da Transcendência, uma ascensão
para um estado mais elevado do ser. O yin yang do Esqueci-
mento, é a entrega deliberada do eu em oposição à destruição
da personalidade que o Esquecimento representa. Para Trans-
cender, é preciso resolver os Grilhões e deixar as amarras da
vida para trás.
É claro que a doutrina da Transcendência provavel-
mente teria mais adeptos se alguém soubesse o que o processo
realmente implica. Afinal, ninguém que supostamente tenha
Transcendido jamais voltou para compartilhar sua experiência.
Há histórias, é claro, de aparições levadas ao Paraíso em feixes
de pura luz branca. Em oposição, há histórias que dizem que a
coisa toda é uma farsa, inventada por Espectros, que leva a apa-
rição “Transcendente” ao Vácuo. Em qualquer caso, a maioria
das aparições é muito tímida para abandonar seus Grilhões de
bom grado e assim a Transcendência continua sendo um so-
nho e um rumor para eles. Ainda assim, fornece algo de valor
inestimável nas Terras das Sombras. Mesmo entre aqueles que
preferem o inferno que conhecem à Transcendência, a própria
menção da palavra pode inspirar esperança.
No Coração das Coisas
No coração de Aparição estão a paixão e o horror, ine-
xoravelmente entrelaçados. Paixão é o que se recusa a permitir
que um fantasma descanse tranquilamente em seu túmulo, o
que alimenta sua existência pós-morte e lhe dá a força para re-
sistir ao Esquecimento e à sua própria Sombra. Sem as paixões
para seguir, para proteger, para vingar (de alguma forma, para
agir) uma aparição é, na melhor das hipóteses, uma lembrança.
Sem paixão, uma aparição não é nada.
Equilibrando o poder da paixão está o horror. O grito
de todo prisioneiro sempre tem sido: “Você pode partir meu
corpo, mas minha alma é minha!” No Mundo Inferior, essa di-
cotomia não existe mais. O espírito pode ser quebrado, forjado
ou moldado por capricho. Sem os limites da física e biologia,
criaturas de pesadelo são uma coisa cotidiana aqui. As apari-
ções podem deliberadamente moldar-se em monstruosidades,
se isso servir aos seus propósitos e os abusos dos Arcanoi per-
mitem a violação do corpo e da alma. Até mesmo a paixão, a
força motriz da existência de uma aparição, pode ficar distorci-
24 Aparição: O Esquecimento
da nas mãos da Sombra, trabalhando avidamente na direção da
destruição e da preservação. No mundo de Aparição, tanto os
vivos como os mortos têm muito a temer.
Paixão e horror, amor e medo, ação e destruição - es-
sas dicotomias colidem em Aparição. Paixão sem horror para
superar é desperdiçada; o horror que não inspira paixão é real-
mente fraco. Entre os dois e ligados a eles estão os Mortos In-
quietos.
Léxico
Uma nova existência exige novos termos para descre-
vê-la. Abaixo estão algumas das frases e nomes usados para de-
finir a existência no Mundo Inferior.
• Açougueiro: Uma aparição que possui os vivos.
• Agência, A: Gíria para a burocracia da Hierarquia.
• Angústia: A energia mental negativa que a Sombra
(e os Espectros) alimentam e usam.
• Aparição Livre: Uma aparição que não está ativa-
mente servindo nas forças armadas.
• Aparição: Um fantasma, um espírito que mantém
apegos tão fortes às terras dos vivos que não consegue ultrapas-
sar esse nível de existência. Também chamado de Inquieto.
• Arcanos: Uma das habilidades sobrenaturais que os
fantasmas possuem, permitindo que eles afetem os vivos e os
mortos. O plural é Arcanoi.
• Arcanum, O: Uma coleção de estudiosos e caçado-
res de fantasmas entre os Breves.
• Artefato: Um objeto no Mundo Inferior que possui
poderes incomuns de algum tipo.
• Atalho: Um caminho estável através da Tempestade.
• Bife: carne mortal.
• Bifinho: Uma aparição cujo maior arrependimento
foi não ter vivido enquanto teve a chance. Bifinhos são surpre-
endentemente comuns.
• Boojum: Um bicho desagradável, geralmente um
dos habitantes não identificados da Tempestade.
• Breves, Os: Os vivos.
• Caronte: Fundador e governante da Hierarquia, de-
saparecido desde 1945.
• Carrasco: Uma aparição especializada em caçar
Epectros.
• Cativo: Uma aparição que está a serviço de outra.
Em essência, um escravo.
• Ceifador: Uma aparição que remove a Coifa do In-
fante.
• Ceifar: O ato de soltar os Infantes de suas Coifas
e iniciá-los nas Terras das Sombras. Muitos Ceifadores são na
verdade escravistas e a iniciação que eles oferecem consiste de
um par de algemas ligadas por correntes de Aço Estígio.
• Cidadela: A construção central e fortaleza de uma
Necropolis.
• Círculo: Um grupo de fantasmas, geralmente envol-
vidos em negócios comuns.
• Cohorte: Um Círculo composto por aparições afilia-
dos à Hierarquia. As Cohorts devem ter 10 membros.
 • Coifa, A: O saco amniótico do nascimento de uma
aparição nas Terras das Sombras. O revestimento translúcido
feito de ectoplasma com o qual todas as aparições renascem.
• Consorte: Uma pessoa viva em sintonia para ser
usada como Hospedeiro.
• Corpus: O “corpo” de uma aparição. Plural é Corpo-
ra.
• Costas Distantes, As: As terras do outro lado da
Tempestade, correspondendo ao Céu, Inferno e muito mais.
• Culto: Um nome pejorativo para as inúmeras seitas
Hereges.
• Dia do Juízo: O dia em que o Esquecimento engole
•o dia em que as Terras das Sombras e Terras
tudo; inversamente,
da Carne se fundem. O Dia do Juízo aparece proeminentemente
em muitas filosofias dos cultos Hereges, mesmo que nem dois
Hereges concordem sobre o que exatamente é.
• Dictum Mortuum: Decreto de Caronte proibindo o
tráfico com mortais.
• Dízimo: A quantidade de Pathos que uma aparição
extrai de um Local Assombrado ou Grilhão.
• Domínio: Território mantido por uma aparição ou
um Círculo de aparições.
• Drone: A concha de uma aparição, fadada a repetir
infinitamente uma única tarefa até ser reivindicada pelo Esque-
cimento. Drones não têm mente ou vontade.
• Escada Venosa: A passagem no coração de Estigia
para o Labirinto.
• Espectro: Uma aparição cuja a Sombra alcançou um
domínio permanente. Os Espectros servem ao Esquecimento.
Também conhecido como o Devorados pela Sombra.
• Esquecimento: A manifestação e a fome da entropia,
também conhecida por alguns como o Grande Desfazer. Esque-
cimento é o destino final de todas as coisas no Mundo Inferior,
salvo aqueles que transcendem. A manifestação física do Esque-
cimento é chamada de Vácuo e se abre no coração do Labirinto.
• Estigia: O Reino Negro do Ferro, a maior organi-
zação de aparições no mundo Ocidental. Também a capital do
império dos Inquietos Ocidentais.
• Fogo Fátuo: Cristais de Pathos concentrados, usados
no forjamento da alma.
• Gangue: Um Círculo de Renegados.
• Grilhões: Aquelas coisas que permanecem nas terras
dos vivos que amarram uma aparição à sua antiga vida.
• Guilda: Uma das organizações supostamente proi-
bidas de Aparições Livres dedicada ao estudo e uso de um dos
Arcanoi. Haviam 13 Grandes Guildas e três menores.
• Hereges: Fanáticos religiosos entre os mortos, em-
bora muitas religiões bizarras tenham surgido entre os Inquie-
tos. A maioria dos Hereges têm algum tipo de crença central em
torno da noção de transcendência.
• Hierarquia, A: A burocracia monolítica do Reino
Negro do Ferro, ou simplesmente o Império de Estigia. Neste
ponto, o Império e a Hierarquia se tornaram intercambiáveis
na maioria das mentes das aparições. A Hierarquia é a maior
coleção de aparições ocidentais no Mundo Inferior.
• Hospedeiro: Uma pessoa viva possuída pelo uso do
Arcanos Titerismo.
• Ilha das Lamentações, A: A ilha na Tempestade na
Capítulo Um: Introdução 25
qual a cidade de Estigia foi construída.
• Iluminados: Aparições que Transcenderam.
• Infante: Uma aparição que renasceu no Mundo In-
ferior, geralmente envolto em uma Coifa.
• Inferno: Supostamente, um lugar de punição para
almas perversas. No Mundo Inferior, uma piada da primeira or-
dem; Há tantos infernos falsos que eles se tornaram uma espécie
de atração turística para os mais aventureiros entre os mortos.
• Inquietos, Os: Aparições em geral. Também conhe-
cido como os Mortos Inquieto.
• Legado: Maneira arcaica de se referir a um Grilhão
muito potente.
• Legiões: Os militares e policiais de Estigia, embora
tecnicamente todo cidadão de Estigia deva lealdade a uma das
Legiões. Cada Legião é supervisionada por um Senhor da Mor-
te.
• Lêmure: Uma jovem aparição, recentemente faleci-
do mas não mais um Infante.
• Local Assombrado: Um lugar onde a Mortalha é
fina e os Inquietos se sentem em casa.
• Maelstrom: As terríveis tempestades que surgem
a partir da boca do Vácuo em direção às Terras das Sombras,
levando Espectros e destruição em seu rastro. Crescendo com
mais frequência nos últimos anos, eles são a causa ou o resulta-
do de eventos horríveis nas Terras da Carne.
• Marmota: Aparições que afirmam ter experimenta-
do o estereotipado “túnel da luz”. O termo não é considerado
um elogio.
• Modorra: O sono de cura no qual as aparições po-
26 Aparição: O Esquecimento
dem entrar.
• Mundo Inferior, O: Os reinos dos mortos, das Cos-
tas Distantes às Terras das Sombras e incluindo Estigia, a Tem-
pestade, o Labirinto e o Vácuo.
• Necropolis: Uma cidade dos mortos. Também usa-
do para especificar as regiões dos Breves mais densamente habi-
tadas por aparições. Plural é Necropoli ou Necropoleis.
• Nihils: Um rasgo no tecido das Terras das Sombras,
rompendo a realidade da superfície e expondo a Tempestade
que surge por baixo. Alguns Nihils levam ao Labirinto.
• Obolus: A unidade básica de moeda Estigia, forjada
a partir de uma alma.
• Pathos: Pura emoção, que as aparições alimentam e
usam em suas existências diárias. A essência utilizável da pai-
xão.
• Pesadelo, O: Um passeio de trenó pelo pior lado do
subconsciente de uma aparição, cortesia de sua Sombra e dos
Espectros da Tempestade. Mais de uma aparição foi destruída
durante um Pesadelo.
• Plasma: A matéria física do Mundo Inferior. Apari-
ções, relíquias e Artefatos são todos feitos de plasma.
• Projeções: Visitantes do Mundo Inferior nas Terras
da Carne. Também conhecido como Garotos da Carne.
• Reerguido: Uma aparição que encontrou uma ma-
neira de reanimar seu cadáver. A maioria das aparições acredi-
tam que Reerguidos são lendas.
• Relíquia: A memória de um objeto, feita de plasma.
• Renegados: Aparições que se opõem à Hierarquia.
Eles não têm estrutura, organização ou qualquer outra coisa
além da rebelião. Renegados variam de verdadeiros combaten-
tes da liberdade para os fantasmas até rufiões que procuram
uma vida após a morte mais fácil.
• Senhor da Morte: Um dos sete fantasmas atualmen-
te governando a Hierarquia. Cada um tem domínio sobre as ví-
timas de um certo tipo de morte (ou seja, violência, pestilência,
mistério, etc.).
• Serviço Bu: Uma tentativa premeditada de assustar
os Breves.
• Sombra, A: O lado mais sombrio da personalidade
de uma aparição. A Sombra é egoísta, egocêntrica e sádica, e
dirige seus esforços para destruir todos os amores da aparição
(incluindo a própria aparição).
• Suco: Pathos.
• Surfar na Tormenta: Tomar um caminho curto
através da Tempestade, o exato oposto de usar um Atalho.
• Tempestade, A: A grande tormenta do Mundo In-
ferior, separando as Terras das Sombras de Estigia e as Costas
Distantes.
• Terras da Carne, As: As terras dos vivos.
• Terras das Sombras, As: O reino fantasmagórico do
outro lado da Mortalha, vindo das terras dos vivos.
• Torre de Onix, A: o palácio de Caronte, agora aban-
donado.
• Transcendência: O momento em que uma aparição
reconcilia Sombra e Psique, movendo-se para uma existência
superior. A transcendência é considerada lenda pela maioria
das aparições e temida por muitos outros.
• Vácuo, O: O abismo no coração do Labirinto.
• Vultos Condenados: Um Espectro.
Capítulo Um: Introdução 27
 e estouravam numa cortina de cheio de umidade, mas agora
Ceifa energia. Tudo, eu lembro, foi to- eu não tenho qualquer sensa-
mado por uma penumbra escura ção de temperatura. Mesmo o
Ainda estou no chão com
e densa até que, de alguma for- ar parece estranhamente neu-
a cabeça virada ao contrário en-
ma, essa figura fez algo para que tro e... distante.
quanto ouço o vento. Ele ruge
aquela penumbra desaparecesse. Meu senso de tempo
como um furacão nos meus ou-
Sinto uma leve rajada de parece distorcido também.
vidos, mas não sinto a menor
medo e essa lembrança logo se Não faço idéia de quanto tem-
sensação dele tocando meu cor-
esvanece. Eu lembro de um mo- po passou desde que estava na
po.
mento de dor, como se uma ca- ponte, olhando o rio abaixo.
Isto é, se ao menos eu ti-
mada de pele fosse arrancada do Podem ter sido minutos ou
vesse um corpo!
meu rosto. dias... pode ter sido por toda
Eu fecho os olhos com
Tenho certeza que a fi- uma vida.
relutância e aprecio a escuri-
gura falou comigo, não lembro Será isso? Estou mor-
dão crescente, tentando lembrar
o que ela disse, contudo. Não te- to? Me pergunto por um mi-
exatamente o que houve. Minha
nho certeza se quero lembrar. Só nuto, mas rapidamente esque-
cabeça é invadida por imagens
de pensar nisso tenho calafrios ço a idéia.
fragmentadas e lembranças va-
que gelam os ossos. Meu conceito do que
gas que eu mal posso começar a
Requer um enorme esfor- é a morte não inclui autoava-
unir os cacos.
ço, mas finalmente consigo me liação. Sempre imaginei que a
Uma das piores imagens,
sentar. Abraçando os joelhos fir- morte fosse puro e total esque-
contudo (e uma das que mais
memente com ambos os braços. cimento e era isso que eu pro-
fazem sentido) é a de uma figu-
Olho para a rua acima e abaixo, curava hoje à noite.
ra borrada se debruçando sobre
tentando descobrir onde estou, Esquecimento.
mim. O rosto da pessoa desapare-
mas nada me parece familiar. Aquela palavra, pro-
cendo nas sombras. Lembro-me
O vento sopra com um nunciada por uma voz dentro
de ter sentido mais do que visto
assobio alto como um apito. As da minha cabeça, me enche de
seu olhar penetrante. E lembro-
construções dos dois lados da medo e eu mal posso resistir à
-me como minha visão foi estra-
rua são escuras e assustadoras. estranha sensação de que eu
nhamente distorcida, como se eu
Janelas quebradas e portarias es- havia sido removido da rea-
estivesse debaixo d’água olhan-
curas parecem tomar conta de lidade, que de alguma forma
do para o céu em sua superfície.
suas dependências. A noite de eu flutuava fora da realidade
Para qualquer lugar que olhasse,
verão estava quente, com o ar numa bolha e olhava pra ela.
flocos de luz brilhante surgiam

28 Aparição: O Esquecimento
 “Mas que merda está ha-
vendo aqui?” eu sussurrava, sur-
preso com o som seco da minha
própria voz.
Me levanto devagar e es-
palmo as mãos. Elas fazem um
som fantasmagórico que ecoa
assustadoramente pela noite. Es-
tremeço ao olhar para minhas
mãos. Posso senti-las se tocando,
mas é uma sensação que estra-
nhamente não está associada ao
toque, como se eu usasse luvas de
borracha.
Uma dor solitária me
preenche quando descubro que
não reconheço o lugar onde es-
tou. Obviamente não lembra ne-
nhum lugar próximo à ponte da
East Street.
Ainda é noite, pelo me-
nos disso eu tinha certeza, mas
não posso saber se é ou não a
mesma noite que decidi dar um
passeio pela ponte.
A luz dos postes ilumina
a rua com feixes de luz em tons
de roxo e azul lançando peque-
nas sombras pelo chão. O céu
noturno parece fechado e denso,
como uma neblina baixa.
Quando levanto a mão
até a testa, as sombras que são
lançadas pela rua se desfazem
como um ninho de cobras aos
meus pés. Eu tremo ao dar um
único passo, mas o efeito de vá-
rias sombras se movendo comigo
me desorientou completamente e
perco o equilíbrio quase caindo.
Me agarrando, olho ao
redor e vejo que estou no meio
de uma débil rua de uma cida-
de que parece abandonada. Para
qualquer lugar que eu olhe, vejo
sinais de podridão. Consigo cap-
tar pequenos movimentos nas
sombras, mas sempre que olho
diretamente para eles, não posso
ver o que os causam.
Uma sensação de frio es-
tremece minha espinha até a base
da nuca. Não consigo deixar de
pensar, que na escuridão, alguma
coisa me observava e estudava
cada movimento. Eu quero an-
dar, só pra fazer algo, mas não te-
nho idéia de qual direção seguir
até que ouço um leve bater de pés
no chão bem atrás de mim.
Me viro para ver uma fi-
gura sombria lentamente vindo
em minha direção. A silhueta é
assustadoramente familiar. Uma
perna (a esquerda) se arras-
ta atrás dele como se estivesse
Capítulo Dois: Ambientação 29
paralisada. A luz dos postes
contrastam com seu rosto, dei-
xando os sulcos do rosto e seu
pescoço numa escuridão pro-
funda.
Enquanto a figura se
aproxima, posso notar que é
um homem (ou ao menos algo
que havia sido um). Seu rosto
parece decomposto. Com pe-
daços de pele apodrecida pen-
durados na testa e bochechas
que balançam a cada passo
dado.
“Pare bem aí.” Eu digo,
surpreso comigo mesmo pela
força em minha voz.
A figura ameaça parar,
apóia-se de lado, e me encara.
A luz alcança seu olho direito,
fazendo-o brilhar com uma luz
apavorante.
“Eu farei o que eu qui-
ser fazer.” O homem diz. “Não
preciso de você para dizer o
que fazer.”
30 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Dois:
Ambientação
A flor que hoje sorri, amanhã morre.
- Percy Bysse Shelley, “Mutabilidade”.
mundo de Aparição não é o nosso
mundo. Entretanto, é o que nós teme-
mos que o nosso mundo possa ser. Tudo
que é belo e tudo que é terrível destaca-
-se em grande contraste com a mono-
tonia de cada dia de vida. Fé, esperança
e amor são forças potentes no mundo,
mas ganância, terror e desespero são as
mais fortes e a mácula pode ser encontrada tanto nas manche-
tes como atrás das cenas. O mundo de Aparição é um Mundo
de Trevas, um mundo onde o sol se apressa para pôr-se no hori-
zonte e então os fantasmas e monstros saem para brincar.
De diversas formas, o Mundo das Trevas é familiar. O
mesmo show de televisão continua cativando milhões de teles-
pectadores; os mesmos poluentes continuam deixando o por do
sol mais brilhante e todos os marcos antigos permanecem no
lugar. No Mundo das Trevas, contudo, o mistério e a loucura
abaixo da superfície podem ser vislumbrados mais claramente.
A influência do sobrenatural é onipresente, e mesmo o mais es-
túpido e insensível pode sentí-la trabalhando.
Certamente, este ambiente de medo é em parte causa-
do pela proximidade com o Mundo Inferior, a terra dos mortos.
Os ecos das Terras das Sombras podem ser ouvidos no mundo
dos vivos e os ecos das coisas mortas podem ser de fato poten-
tes.
Este capítulo descreverá em detalhes o mundo de
Aparição. Tudo sobre a cosmologia do Mundo Inferior à polí-
tica a respeito da ilha de Estigia estão aqui, concedendo a você
um primeiro olhar para geografia, cultura e história do mundo
dos mortos.
Capítulo Dois: Ambientação 31
O Mundo dos Vivos
Há sacramentos malígnos e benígnos sobre nós e vive-
mos e nos movemos à minha crença num mundo desconhecido,
um lugar onde há cavernas, sombras e moradores do crepúsculo.
- Arthur Machen
empre nos sentimos em casa no mun-
do Gótico-Punk de Aparição, ao me-
nos no início. Reconhecemos todos os
nomes das cidades, todos os bestsel-
lers, políticos e muitas das manchetes.
Quanto mais tempo ficamos, no entan-
to, mais diferenças notamos. Cidades
no Mundo das Trevas são mais sujas e
mais tumultuadas, seus imaculados arranha-céus muito mais
altos que os nossos pequenos e pobremente idealizados. É um
mundo Noir, onde até mesmo os detetives que permanecem
abaixo dos postes de luz não se sentem confortáveis ou a salvo.
A natureza física deste novo mundo é melhor descrita
como “Gótica” no senso clássico. Gárgolas e estátuas estão por
todos os lugares e a impressão de épocas passadas permanece
no ar. As coisas não parecem querer mudar no Mundo das Tre-
vas, talvez porque haja seres nas sombras que não querem que
elas mudem. As burocracias são maiores e mais impessoais; ho-
mens e mulheres sem rosto correm para muitas vidas por trás
de ternos e óculos escuros idênticos. A superstição corre impa-
ciente e seu aviso parece ser onipresente.
Por outro lado, o irresponsável elemento “Punk” ame-
aça esmagar todos os edifícios Góticos. A contra-cultura aqui é
violenta; anarquistas reinam nas ruas e os crimes nem sequer
são noticiados. Agressões e rebeliões vão de mão em mão pelas
cidades e sob o céu as luzes de neon dos clubes noturnos prome-
tem a privacidade necessária.
É um mundo perto de se tornar uma terra fantasma,
mas apenas perto. Aparições podem adentrar neste reino ape-
nas brevemente, mas a miséria e dor desse mundo os chama e os
alimenta. É uma existência onde a morte pode sempre observar,
mas raramente tocar.
Claro, cada grupo terá as suas próprias preferências e
a forma de balancear os elementos do Gótico e Punk do Mundo
das Trevas. A Melancólica arquitetura gótica e as reuniões clan-
destinas entre as gárgolas podem adequar-se ao gosto de um
grupo, outros podem preferir correr como uma gangue de rua
divertindo-se com a destruição que eles realizam juntos.
O Narrador tem total liberdade de escolha para dar
atenção a um ou outro espectro, movendo-se de um extremo
a outro como desejar. Contanto que o clima sobrenatural, tão
importante para uma história de fantasmas seja mantido, os de-
talhes dificilmente importarão.
32 Aparição: O Esquecimento
O Mundo Inferior
“O lugar não é bom para a imaginação e não traz sonhos agra-
dáveis a noite”
- H.P. Lovecraft “A Cor que caiu do espaço”
s Terras dos mortos consistem nas Cos-
tas Distantes, a Tempestade (e todas
as coisas nela), Estigia e as Terras das
Sombras são coletivamente conhecidas
como Mundo Inferior. Tecnicamen-
te os outros Reinos Negros, como são
chamados, povoados pelos mortos da
Ásia, África, Índia e alguns outros lu-
gares também fazem parte do Mundo
Inferior, mas como eles fazem pouca diferença na existência da
maioria das aparições de Estigia, tendem a ser mencionados
apenas como “se você não os vê, não precisa se lembrar deles”.
Quando os fantasmas ocidentais referem-se ao Mundo Inferior,
geralmente não se referem às Terras dos Mortos da China e Po-
linésia.
Ambiente: Cuspindo no olho do Esquecimento
A existência no Mundo Inferior pode ser horrível,
apesar de aparições permanecerem agarradas a ela numa pai-
xão imortal. A paisagem das Terras das Sombras está repleta
de sonhos caídos e memórias deterioradas, ainda que aparições
encontrem a força necessária nos sonhos e emoções dos vivos
para resistir à atração do Esquecimento. A possibilidade para
o horror eterno existe nas Terras dos Mortos, mas assim como
existe a possibilidade para o amor eterno ou as realizações que
a vida não ofereceu. O desespero é comum aqui e por uma boa
causa, mas mesmo nas Terras dos Mortos há quem atreva-se a
ter esperança, resistir e sonhar.
Esquecimento
O passivo e paciente aspecto da destruição, o Esque-
cimento é uma parte da ordem natural das coisas. Ele espera
por todas as coisas até se desfaçam, tudo precisa eventualmente
morrer de forma a abrir caminho para que novas coisas possam
nascer. Quando mantido sob controle pelas forças da criação, o
Esquecimento é uma parte essencial do ciclo de morte e renasci-
mento. Sem piedade e eterno, o Esquecimento sempre esperou
para engolir aquelas almas que não possuem mais seus Grilhões
os ancorando às Terras da Carne, mas também não estão pron-
tas para a Transcendência.
Hoje em dia, no entanto, parece que o Esquecimento
se tornou uma fúria incontrolável. Sua força aumenta diaria-
mente à medida que aumenta o apetite por almas. Sua presença
margeia o Mundo Inferior e as Terras da Carne de forma sem
precedentes e seu toque contaminado está em toda parte. Na
forma de Espectros, há cada vez mais servos entre os mortos
que cavalgam Maelstrons com cada vez mais frequência para
guerrear com os Inquietos. Simplificando, o Esquecimento está
crescendo e ninguém sabe ao certo o porquê. Muitas aparições
resolve lutar contra a corrupção invasiva; muitas se renderam,
no entanto.
Supostamente, chegará o dia em que o Esquecimento
engolirá tudo. Amplamente conhecido como Juízo Final, este
dia é temido por todas as aparições e ansiosamente aguardado
por todos os Espectros. Com o Juízo Final chega o fim de tudo,
dizem eles, tanto para os vivos como para os mortos.

Almas: Blocos de Construção do Mundo Inferior

A economia e a sociedade do Mundo Inferior foram
ambas erigidas sobre as almas. A maioria dos objetos no Mundo
Inferior é feita de memórias; o restante é composto de almas
fundidas ou reformadas. A moeda corrente consiste em moedas
forjadas de almas; Diz-se que estes oboli gemem nas mãos da-
queles que os possuem.
Como as almas são a base da economia, elas são con-
sideradas menos como indivíduos e mais como recursos. A es-
cravidão é um negócio em expansão nas Terras das Sombras,
baseado não em cor ou credo, mas na proposta que os fortes
escravizam os fracos porque podem. Os Ceifadores aprisionam
o maior número possível de aparições novas e indefesas, en-
quanto os Drones irracionais são vistos uma forma de enrique-
cer fácil por um Ceifador sortudo o bastante para encontrá-los.
As aparições escravizadas são então conduzidas aos mercados
de Cativos ou, se tiverem azar, às forjas de almas.
É um sistema desumano e horripilante. Existem aque-
las aparições que afirmam que até a alma forjada ou as apari-
ções Modeladas ainda estão conscientes e sofrem infinitamente;
até mesmo a possibilidade disso ser verdade é impensável pela
maioria das aparições. No entanto, o sistema persiste. Está em
vigor há muito tempo e há muitas aparições que têm muito a
perder se o comércio da Forja de Almas terminar. Além disso,
existem justificativas: o aço de alma é necessário para resistir ao
Esquecimento; almas que são fundidas ou Moldadas em objetos
do cotidiano não estão mais em perigo de alimentar e fortalecer
o Esquecimento; alguns acreditam que forjar uma alma acaba
com a Sombra daquela aparição; e assim a coisa continua. Ain-
da assim, a razão mais estranha para que a prática continue é
simples: não existe outra alternativa. E assim os Ceifadores ain-
da trazem suas presas pra casa acorrentadas e as forjas de alma
ainda ecoam com os gritos dos condenados e as periferias das
Cidadelas ainda estão cheias de Cativos remodelados em tochas
flamejantes.

Negociação das Almas

A vasta maioria das almas nunca passa pelo Mundo
Inferior. Engolidos imediatamente pelo Esquecimento ou ele-
vados à Transcendência, elas evitam a meia-existência das apa-
rições. Para aqueles que se tornam aparições, no entanto, seus
companheiros Inquietos representam uma ameaça quase tão
grande quanto o Esquecimento.
Objetos no Mundo Inferior são de dois tipos: memó-
rias ou almas. Relíquias, objetos que atravessam as Terras da
Carne, são em essência criadas pela energia emocional inves-
tida nelas pelos vivos; um ursinho de pelúcia muito amado ou
uma única meia indefinidamente amaldiçoada reaparecem em
forma de relíquia quando forem jogados fora ou destruídos. No
entanto, mesmo com os melhores esforços de certas aparições

Capítulo Dois: Ambientação 33

 para escolher o que atravessará a Mortalha, a seleção ainda é
aleatória e especialmente inclinada a itens não essenciais. Por
exemplo, as armas relíquias são comuns, mas as balas relíquias
não são. Bonecas relíquia são abundantes, mas as vigas relíquias
ou tratores são lamentavelmente escassos. Além disso, a maioria
das relíquias existe como objetos de estado sólido, duplicando
a forma mas não a função, a menos que seja investido com o
Pathos. Artefatos, objetos investidos com poderes especiais, às
vezes chegam diretamente das Terras da Carne, mas com pouca
frequência. Assim, existe a necessidade de outra fonte de objetos
inanimados que forneça materiais mais maleáveis e versáteis.
Em outras palavras, almas.
Se um novo Infante não tiver sorte, ele acabará sendo
Ceifado por um traficante. Esses Ceifadores vagam pelas Ter-
ras das Sombras colecionando aparições que estão muito fracas,
desorientados ou incapazes de se defender. Aparições que são
escravizadas (o termo técnico é Cativo) se encontram presas
a correntes forjadas de aço Estígio e levadas para a Necropolis
mais próxima para serem vendidas ou fundidas. Algumas pou-
cas afortunadas simplesmente são vendidas em uma eternidade
de servidão como Cativas; o resto se torna matéria-prima na
crescente economia de Estigia.
Quase tudo pode ser forjado a partir de almas: vigas,
correntes, armas, móveis, etc. Os objetos que exigem uma mão
mais delicada durante a criação são frequentemente criados por
aparições habilidosas no Arcanos Modelar, que podem moldar
Corpus com um pensamento e um toque. Até mesmo as mo-
edas do Mundo Inferior são feitas de almas, com cada obolus
consistindo de uma alma, moldada em uma prensa.
É claro que nem toda alma é destinada às forjas. Uma
pequena porção de sorte, combinada a um mínimo de poder
intelectual, permitirá que uma aparição iluda os Ceifadores até
que ela seja capaz de fugir de suas garras. Muitas aparições são
Ceifadas por guias mais amigáveis na vida após a morte; algu-
mas até conseguem se libertar de suas Coifas sozinhas. Além
disso, a lei de Estigia impede o forjamento de quaisquer almas,
exceto Espectros, criminosos e Cativos. Por outro lado, as defi-
nições de “criminoso” e “Cativos” são convenientemente frou-
xas para a maioria dos Ceifadores e acabam dando um bom lu-
cro. Tirando o Esquecimento, não há destino mais permanente
para uma aparição do que ser forjada e a maioria preferirá se
arriscar ao Vácuo do que nas forjas.

A Construção do Mundo Inferior

Conhecido por muitos nomes, mas nunca mapeado,
o Mundo Inferior não existe como um “lugar” geograficamen-
te, como pensariam os vivos. No lugar disso, é uma espécie de
pesadelo não-Euclidiano para qualquer um que pense que uma
linha reta ainda é a menor distância entre dois pontos. Mesmo a
maioria das aparições não compreende bem a natureza do reino
em que habitam; elas tendem a recorrer a modelos imprecisos e
simplistas para explicar seu entorno.
Também conhecido Umbra Sombria ou Baixa por
alguns, o Mundo Inferior é melhor compreendido como con-
sistindo de camadas que, como o reino mítico de Nárnia, de
C.S. Lewis, crescem mais à medida que você avança. A mais ex-
terna, chamada Terras das Sombras, é idêntica em localização
ao mundo dos vivos. Em qualquer lugar onde os vivos vão, os
mortos também vão e apenas uma Mortalha metafísica separa

34 Aparição: O Esquecimento
os dois. Teoricamente, uma aparição poderia andar de Ohio até
a China, sem nunca deixar as Terras das Sombras. Tudo o que
seria necessário seria paciência e um bom conjunto de botas
relíquia.
Logo “abaixo” da superfície das Terras das Sombras
está a eterna turbulência chamada Tempestade, uma potente
tempestade de pesadelos que têm crescido incessantemente por
meio milênio. Não importa onde se vá nas Terras das Sombras,
a Tempestade nada mais é que um pequeno rasgo no tecido da
realidade. De fato, a Tempestade descrita como uma espécie de
hiperespaço subjacente à “realidade” das Terras das Sombras.
Serpenteando por esta tempestade de pesadelos exis-
tem caminhos de relativa segurança chamados Atalhos, levan-
do de um ponto a outro dentro das Terras das Sombras, ou das
Terras das Sombras para reinos mais profundos. Viajar de pon-
to a ponto pela Tempestade sem recorrer a um Atalho também
é possível e muitas vezes é mais rápido do que tomar um dos
caminhos seguros e sinuosos. Por outro lado, os viajantes na
tempestade estão expostos aos seus perigos e às coisas que nela
habitam.
Além de rotas seguras existem ilhas de estabilidade
dentro da Tempestade também. A cidade de Estigia repousa em
uma dessas ilhas; e em um sem número de outras, estão as Cos-
tas Distantes. Nestes lugares, a Tempestade é coberta por um
oceano enganosamente plácido chamado Mar Sem Sol, através
do qual as almas já viajaram com maior entusiasmo. Outras
ilhas seguras também existem dentro da Tempestade: Feng-
-tu, Swar, o Mar que Não Conhece o Sol, o Bosque Fantasma
e outras, a realidade da morte de outras culturas e sociedades.
Algumas negociam almas com Estigia ou travam guerras pelos
mares dos mortos.
No fundo da Tempestade está o sombrio Labirinto.
Ninguém sabe do que são feitas as paredes desse lugar horri-
pilante, embora os poucos exploradores que voltaram de lá re-
latam que a própria substância das passagens muda à medida
que se caminha. Corredores de hospital, labirintos espelhados,
fluxos lentos de rocha derretida - tudo isso pode ser encontrado
no Labirinto. Lá também podem ser encontrados os adormeci-
dos Malfeanos, os mais antigos e mais poderosos Espectros.
No fundo do Mundo Inferior fica a entrada para o Vá-
cuo. Quem quer que tenha colocado o Vácuo na base da Tem-
pestade fez isso deliberadamente, pois a entropia serve como
gravidade e a manifestação do Esquecimento exerce um poder
sobre todas as coisas na Tempestade e em suas ilhas. O Vácuo é
escuridão e destruição máximas, um abismo que se abre no cen-
tro do Labirinto. Ninguém que tenha entrado no Vácuo jamais
retornou, embora a crença de alguns seja que a reencarnação
aguarda do outro lado da destruição. Infelizmente, evidências
para esta hipótese estão faltando no momento.
As Terras das Sombras
Gêmea natimorta da terra dos vivos, as Terras das
Sombras, correspondem às Terras da Carne em termos de ge-
ografia. Uma aparição em pé na Times Square, nas Terras das
Sombras, está de certo modo, em pé na Times Square, nas Ter-
ras da Carne e corre o risco de ser pisoteada por mortais que
não a vêem e correm por cima de sua posição.
Tudo o que existe nas Terras da Carne existe nas Terras
das Sombras, mais ou menos. Quanto mais emoção um objeto
ou um lugar inspirou nas terras dos vivos, mais concretamente
ele aparece nas Terras Mortas, edifícios há muito desaparecidos
nas Terras da Carne ainda se erguem do outro lado da Morta-
lha. Ao mesmo tempo bela e terrível, a paisagem das Terras das
Sombras é construída de memórias costuradas como teias de
aranha sobre os lugares que ainda estão em terras viventes.
Objetos nas Terras das Sombras são irredutivelmente
sólidos para uma aparição, mas as coisas nas Terras da Carne
são menos. Uma parede pode inicialmente prender uma apa-
rição em uma sala, mas ao gastar um mínimo de Corpus, ela
pode atravessá-la. Uma aparição pode ser capaz de sentir um
peso de papel ou um lápis, mas sem o uso de seus Arcanoi ela
não pode tocá-los. São apenas os ecos dessas coisas nas Terras
das Sombras, uma vez destruídas, que uma aparição pode afetar
diretamente.
O que se passa nas Terras da Carne é claramente visí-
vel para aparições nas Terras das Sombras. Elas podem assistir
TV ou espionar a bordo de reuniões com facilidade, invisíveis
e intangíveis. No entanto, essas percepções das Terras da Carne
são muitas vezes marcadas pelo toque da morte, como as apa-
rições vêem a decadência rasteira em todas as coisas. Ainda as-
sim, mesmo os mais contaminados entre os vivos parecem mais
saudáveis e mais vitais do que as terras além da Mortalha, que
são cinzentas e sombrias, com a majestade apodrecida.
A Mortalha
A barreira da descrença e do desespero que separa a
terra dos vivos do Mundo Inferior chama-se Mortalha e é o di-
visor entre a vida e a morte. Criada espontaneamente durante
a misteriosa catástrofe chamada de a Separação, a Mortalha é
o que limita as formas pelas quais as aparições podem tocar as
Terras da Carne. Quanto mais forte a Mortalha estiver em um
determinado lugar, mais difícil será para uma aparição alcançar
as Terras da Carne lá.
Mais forte em lugares de descrença e razão, a Mortalha
é quase impenetrável em lugares como laboratórios e salas de
aula. Inversamente, em lugares onde a crença e o medo da mor-
te são fortes, a Mortalha enfraquece correspondentemente e as
aparições podem interagir com as terras dos vivos. Cemitérios
e casas com adolescentes problemáticos são frequentemente lu-
gares onde a Mortalha é particularmente fina. Além disso, há
certas noites em que, no mundo todo, a Mortalha enfraquece.
Estas são as noites em que os vivos seriam bem aconselhados a
ficar dentro de casa, pois em todo o mundo os fantasmas estão
saindo para assombrar.
Locais Assombrados
Certas casas, como certas pessoas, conseguem de algu-
ma forma proclamar seu caráter malígno.
- Algernon Blackwood, “A Casa Vazia”
Lar doce lar para os mortos, Locais Assombrados são
lugares onde fortes emoções desgastaram o tecido da Mortalha
e deixaram-na fina. Aqui as Terras das Sombras e as Terras da
Carne quase se sobrepõem; aqui estão os lugares que os vivos
chamam supersticiosamente de “Locais Assombrados”.
São as emoções mais obscuras que se desgastam atra-
vés da Mortalha mais facilmente, embora um amor poderoso,
a esperança ou a coragem também o façam. Mesmo assim, os
Locais Assombrados tendem a ser encontrados em lugares de
Capítulo Dois: Ambientação 35
aflição, desespero ou tristeza. Cemitérios, favelas, campos de
batalha, casas abandonadas, prisões, boates, encruzilhadas so-
litárias e curvas traiçoeiras muitas vezes servem como Locais
Assombrados.
A maioria dos Locais Assombrados são vigorosamen-
te protegidos por uma aparição ou um Círculo de aparições e
defendidos ao máximo; como fontes de emoção e locais para
se abrigar, os Locais Assombrados são muito procurados. Os
visitantes geralmente não são bem vindos. Outras aparições
preferem usar seus Arcanoi para reduzir a Mortalha, criando
Locais Assombrados em lugares de sua escolha. Recentemente,
alguns fantasmas empreendedores tentaram criar os seus Locais
Assombrados online, se conseguiram ou não é uma questão de
perspectiva.
Para os vivos, Locais Assombrados são na maioria das
vezes lugares sombrios e deprimentes. Ninguém sem transtor-
nos mentais graves ou mentalidade de poetas deprimidos vive-
ria voluntariamente em um Local Assombrado. Aqueles poucos
que tentam são geralmente expulsos imediatamente, a menos
que as aparições que possuem o Local Assombrado prefiram
manter a vida ao redor como alimento emocional para suas Pai-
xões.
A maioria dos Domínios está centrada em torno de
um único Local Assombrado, e quanto mais potente é o Local
Assombrado, geralmente maior é o Domínio ao seu redor. Se
pressionadas, as aparições desistirão de cada centímetro do res-
to de seu Domínio antes de desistirem de seu Local Assombra-
do. Afinal, ele representa força e abrigo.
Estigia
A Necropolis Eterna de Estigia é a coleção de todos
os sonhos mortos do império que a humanidade já realizou.
Quando Cartago e Gomorra caíram, suas ruínas fantasmagóri-
cas foram reunidas e levadas para a construção das cortes e tor-
res de Estigia. Quando Roma e Bizâncio foram saqueadas, seus
destroços foram recuperados e levados para construir uma Es-
tigia cada vez mais alta. Jerusalém e Paris, Londres e Nova York,
toda cidade imperial que já existiu forma um eco na arquitetura
da capital dos mortos. Construída sobre as sete colinas da Ilha
das Lamentações, Estigia a cidade e Estigia o império se torna-
ram sinônimos.
Vista do chão, Estigia é um pesadelo claustrofóbico. O
peso das eras pressionou os edifícios mais antigos, e os Maels-
troms e as invasões cobraram seu preço. Suas ruas são apertadas
e sujas e seus edifícios são esmagados sob o peso das constru-
ções mais novas. Somente os pobres e os desesperados podem
ser encontrados aqui, em meio aos destroços dos séculos.
Quanto mais você sobe na cidade, mais surpreendente
a visão se torna. Edifícios mais novos e tesouros da antiguidade
mais bem preservados são a norma. A Biblioteca de Alexandria
pode ser encontrada lá e os palácios brilhantes dos Senhores da
Morte. É onde moram os ricos e poderosos entre os mortos, em
impressionante contraste com o desespero nos labirintos sub-
terrâneos abaixo.
Delimitada por uma barreira marítima trabalhada a
partir de milhares de almas, a cidade é o lar de milhões mais.
As paredes não podem conter todos os que desejam habitar em
Estigia e assim, pontes foram lançadas através das águas do Mar
Sem Sol para as Colinas de Ferro, ilhas que se erguem das águas
36 Aparição: O Esquecimento
próximas. Colônias secundárias e edifícios ocupam essas ilhas
menores, mas mesmo em face da superlotação, alguns edifícios
em Estigia ficam vazios. O Grande Templo dos Pescadores, por
exemplo e a Torre Onyx de Caronte estão abandonados; mesmo
entre os mortos eles possuem reputações desagradáveis.
A Tempestade
Dizer apenas que a Tempestade é uma tormenta eter-
na nas Terras Mortas é ser completamente inacurado. Eterna-
mente furiosa com uma força inconcebível nas terras dos vivos,
a Tempestade é a fúria crua que está por baixo de todas as Terras
das Sombras, separando-as de Estigia e das Costas Distantes.
Habitada por gritos Espectrais e outras coisas mais sujas, é um
mar de caos em que o tempo, o espaço e a distância deixam de
ter sentido.
A paisagem da Tempestade está mudando constante-
mente; chuvas de vidro quebrado, gases nocivos, erupções em
ebulição e coisas piores, são pontos de interesse para os viajan-
tes. Fragmentos de realidades e memórias são constantemente
infligidos sobre aqueles que viajam pela tormenta infindável,
enquanto cada aparição que passa pela Tempestade deixa algo
de si para trás. Mesmo aquelas almas que despencam direta-
mente para o Esquecimento após a morte deixam uma lembran-
ça, uma relíquia ou um sentimento flutuando na Tempestade
para serem encontrados por um viajante imprudente em dias
futuros.
Aparições que passam pela Tempestade frequente-
mente passam por revelações, muitas delas indesejadas. Visões
de Grilhões ou outras vidas, premonições, vislumbres das Ter-
ras da Carne e outras cenas são jogadas na consciência da apari-
ção enquanto ela navega na escuridão.
Existem algumas ilhas e espaços estáveis dentro da
Tempestade. O primeiro inclui a própria Estigia, assim como
a miríade de Costas Distantes e os outros reinos dos mortos.
Caminhos mais estreitos de segurança relativa são chamados
de Atalhos e eles se estendem entre reinos no Mundo Inferior.
Alguns conectam locais diferentes nas Terras das Sombras, en-
quanto outros se estendem para Estigia ou até para as Costas
Distantes. Aparecendo como rios ou estradas passando in-
contestavelmente através da Tempestade, os Atalhos oferecem
viagens relativamente seguras e rápidas. O maior dos Atalho é
conhecido como o Rio da Morte, que supostamente percorre
todas as Terras das Sombras e até mesmo os portões do próprio
Labirinto.
No coração da Tempestade está o Labirinto assombra-
do pelos Espectros, que segundo a lenda foi roído a partir do
nada por Malfeanos no alvorecer das eras. No centro do Labi-
rinto, muito pior do que qualquer Minotauro poderia ser, está
a boca do Vácuo, personificação do Esquecimento. Poucas apa-
rições olharam para o Vácuo e voltaram para contar aos outros
suas impressões.
Nihils
A realidade não é sólida, particularmente não nas Ter-
ras das Sombras. As Terras das Sombras estão constantemen-
te se dividindo e se quebrando e onde o tecido desta parte do
Mundo Inferior se rasga, a Tempestade passa.
 O Rio da Morte
O maior de todos os Atalhos, o Rio da Morte suposta-
mente toca todos os pontos das Terras das Sombras. O
Rio da Morte tem muitos nomes, mas a maioria dos habi-
tantes do Mundo Inferior simplesmente o chamam de “O
Rio”. Largo e sinuoso em alguns lugares, áspero e coberto
de pedras em outros, conduz pela Tempestade ao inevitá-
vel porto de Estigia. Muitos grupos de Renegados e Here-
ges fizeram suas casas no rio, seja ao longo de suas mar-
gens ou nas ilhas que pontilham sua extensão. Também
se sabe que os Espectros se escondem ao longo do rio em
números cada vez maiores nos últimos anos. Legionários
em baleeiros e barcos a remo fantasmagóricos patrulham
a extensão do rio em busca de bandidos como esses, mas
até mesmo os Centuriões mais endurecidos vão ceder aos
verdadeiros guardiões d’O Rio: os Barqueiros. Mais des-
sas enigmáticas jangadas de viajantes podem ser vistas no
rio do que em qualquer outro lugar do Mundo Inferior.

Por definição, um Nihil é um rasgo nas Terras das

Sombras, permitindo acesso à Tempestade abaixo. A maioria
dos Nihils são eventos únicos, embora muitos sejam abertos e
fechados em ciclos regulares. Alguns poucos estão permanen-
temente abertos; estes são muitas vezes fortemente guardados
por quaisquer aparições que morem nas proximidades. Assim
como um Nihil permite um acesso da aparição nas Terras das
Sombras à Tempestade, ele pode dar aos moradores da Tempes-
tade uma saída. De fato, os Carrascos fazem algumas de suas
melhores caçadas na boca de Nihils na Tempestade; Espectros
tendem a se agrupar em torno dessas aberturas em uma espécie
de perversa expedição de pesca para presas.
Nihils aparecem como poças de escuridão negra nas
Terras das Sombras. Eles podem abrir em qualquer lugar: po-
ços de elevador, sob cadeiras de balanço, em cantos cobertos de
teias de aranha ou no meio de ruas movimentadas. Geralmente
eles não têm mais do que alguns centímetros de largura, mas al-
guns podem ter pés ou até metros de diâmetro. Rumores quan-
to aos estranhos poderes de Nihils abundam; alguns dizem que
olhar para eles causa alucinações ou fortalece a Sombra. Afinal,
a advertência contra a contemplação do abismo foi emitida há
muito tempo, no mundo dos vivos …

Maelstroms
Visto por alguns como o punho do Esquecimento, os
Maelstroms são pancadas de chuva que fervem da Tempestade
e causam estragos em todo o resto do Mundo Inferior. Essas
tempestades titânicas também carregam dentro de si hordas de
Espectros que usam os ventos estridentes como uma espécie de
corcel monstruoso, montando-os a fim de fazer a guerra contra
as Cidadelas e as Necropolis. Os Maelstroms varrem tudo o que
está à sua frente: aparições desprotegidas, Locais Assombrados
isolados, tudo. Cidadelas e Locais Assombrados fortes podem
resistir ao ataque, mas coitada de qualquer aparição capturada
fora dos portões da Cidadela, quando os ventos da Tempestade

Capítulo Dois: Ambientação 37

 A Escada Venosa
Não exatamente um Nihil, a Escada Ve-
nosa desce diretamente do coração de Estigia até
as profundezas do Labirinto. Nomeada pelos fios
pulsantes de pedra rosa sangrenta que se contorce
dentro de suas paredes negras, a Escada foi des-
cida ao seu fundo apenas uma vez, por Caronte,
quando ele recuperou Nhudri da prisão em mãos
Espectrais. Grupos de trabalho de Cativos tra-
balham na Escada, minerando minério da mor-
te para uso nas forjas, mas raramente alguém se
atreveu a ir mais do que na metade do caminho.
Quem o esculpiu e com que propósito permanece
um mistério.

começarem a uivar.
Ser pego em um Maelstrom é como viajar pelas piores
seções da Tempestade. A fuligem enche o ar e o próprio Corpus
de uma aparição é aniquilado pela força dos ventos. Tudo é es-
curo, se não escuro como breu e há uma constante cacofonia de
gemidos das feras que cavalgam a tormenta. Em vários aspectos,
os Espectros são a tempestade, pois até que sejam derrotados, o
Maelstrom não retrocederá.
Os desastres das Terras da Carne e os Maelstroms
têm uma relação de causa e efeito peculiar. Um inevitavelmente
causará no outro, embora o que vem primeiro esteja aberto ao
debate. A detonação do dispositivo atômico sobre Hiroshima
desencadeou o Quinto Grande Maelstrom, mas um Maelstrom
menor pode anunciar uma catástrofe menor nas Terras da Car-
ne, como um colapso de edifícios, um furacão ou um terremoto.
Os Maelstroms são considerados as grandes unidades
do tempo na sociedade de Estigia. Como as horas são contadas
pelas marés do Mar Sem Sol, os anos são contados a partir do
último Grande Maelstrom. Atualmente, há pouco mais de meio
século desde o Quinto Grande Maelstrom e aparições mais an-
tigas observaram com preocupação que o tempo entre essas
monstruosas tempestades está diminuindo.

As Costas Distantes
Diz-se que muito além das brumas do Mar das La-
mentações estão milhares e milhares de reinos em ilhas isoladas,
coletivamente conhecidos como Costas Distantes. A história de
Estigia registra que, há muito tempo, os Barqueiros conhecidos
como Os Iluminados abriram Atalhos que levam a cada um
desses reinos. Esperança e fé atraíram espíritos para estas ilhas
e desde então continuaram a seduzí-los, pois estas terras pro-
metem proteção contra o Esquecimento pois se moldam como
Infernos e Paraísos, Sukhavatis, Edens, Zions e Valhallas de in-
contáveis culturas. O pós-vida criado para, e talvez por, almas
perdidas pode ser encontrado em todas as formas e tamanhos
em todas as Costas Distantes.
Em última análise, apostando na esperança de liberta-
ção do sofrimento, os faróis do Paraíso, Nirvana, Purgatório e
milhares de outras condições espirituais baseadas na fé brilham

38 Aparição: O Esquecimento
intensamente nas histórias da maioria dos poucos viajantes que
foram para lá e de volta. Essas histórias podem ser ouvidas não
apenas em Estigia, mas também em outras terras mortas, pois
os Atalhos para as Costas Distantes originam-se nos domínios
da morte de todos os povos.
Nem todos os contos inspiram confiança nas boas in-
tenções da liderança das Costas Distantes, no entanto. Histó-
rias sobre líderes tirânicos exigindo obediência inquestionável
dos fiéis e atormentando os “profanos” abundam; de aparições
abandonadas e algemadas umas às outras, trancadas e há muito
esquecidas em minúsculas antecâmaras sob o solo, ou jogadas
às bocas de criaturas inomináveis como sacrifícios aos “deuses”;
de fanáticos sádicos que se aprisionam em caixões de aço de al-
mas incandecentes para purgar suas iniqüidades; e de mares su-
focados com aspirantes atormentados por Espectros esperando
para serem admitidos em sua ilha escolhida. Seres demoníacos,
provavelmente (mas não se tem certeza) aparições Modeladas,
tentam torturar as vítimas, jogando estacas de aço Estígio atra-
vés de suas espinhas e plantando-as em poças de ácido que bor-
bulham de lugares desconhecidos dentro da Tempestade. Para
muitas aparições de Estigia, até mesmo a fantástica promessa da
Transcendência não é suficiente para atraí-las a esses lugares.
Milhares e milhares de aparições habitam os reinos
das Costas Distantes, muitas vezes dando origem a histórias
horríveis de superlotação cruel e completa perda de individu-
alidade que os viajantes contam do outro lado do Mar Sem Sol.
Mas a imagem não é totalmente sombria. Ilhas paradisíacas
incrivelmente belas, hospedam legiões de Angelics perolados e
aparições angelicais. Geralmente, esses seres abrigam os que es-
tão cansados da viagem na Tempestade, os curam e os obrigam
a permanecer. Mais raramente, eles adotam viajantes cansados e
ensinam-lhes os caminhos suaves da esperança e da Transcen-
dência.
Barqueiros, Espectros, piratas de almas, traficantes e
criaturas estranhas de outros reinos também fazem suas apari-
ções em todas as ilhas das Costas Distantes. Diz-se que muitos
Barqueiros ainda levam as almas dos mortos a seus destinos
justos nas Costas Distantes, e que algumas das ilhas nada mais
são do que as estações dos Barqueiros. Alguns sustentam que os
Iluminados que forjaram os caminhos originais para os reinos
agora governam muitas das ilhas.
Contos de Espectros assumindo a liderança fanática
de certos reinos modelados como os vários infernos (e mesmo
aqueles modelados como os paraísos) podem realmente ser ver-
dadeiros, assim como os rumores de um intenso comércio de
escravos conduzido por piratas de almas sob o disfarce de recru-
tamento religioso e proselitismo. Os piratas de almas costumam
usar Ceifadores de Estigia como intermediários na obtenção de
Lemures para venda como “convertidos” para vários reinos das
Costas Distantes.
Necropoli
Em todas as cidades humanas há uma parte da cidade
que, quando mencionada pelos vivos, inevitavelmente produz
a reação: “Você não vai querer ir lá.” A grande probabilidade, é
que seja a Necropolis local.
A Necropolis é uma cidade dos mortos, um lugar onde
as aparições se reúnem e os Nihils abrem com mais frequência.
Nas Terras das Sombras, é um centro de atividade fervilhante e
vibrante, já que a maior parte das aparições de uma cidade pode
ser encontrada aqui em algum momento durante o dia ou à noi-
te. Para os vivos, no entanto, as ruas e prédios em ruínas que
correspondem à Necropolis são hostis e desolados, manchados
de terrenos abandonados e cheios de ruídos de ratos e outros
animais.
A maioria das Necropoli podem ser consideradas co-
lônias de Estigia e são parte e parcela da Hierarquia. Centrada
em uma cidadela e dividida em domínios, a Hierarquia da Ne-
cropolis é um lugar relativamente estável para os mortos mora-
rem. As Necropoli dos Renegados, por outro lado, tendem a ser
de linhas grosseiras, onde qualquer serviço pode ser comprado
(por um preço) e aparições incautas sempre correm o risco de
serem escravizadas ou aniquiladas.
Domínios
Um Domínio é definido como a quantidade de ter-
ritório que uma aparição ou um Círculo de aparições podem
controlar. A Hierarquia distribui oficialmente os Domínios na
Necropolis, frequentemente marcando as fronteiras dos terri-
tórios controlados pela Cidadela local com Cativos Modelados
As Outras Terras Mortas
Estigia, também conhecida como o Rei-
no Negro do Ferro, dificilmente é o único destino
final para os Mortos Inquietos. Além da cultura
ocidental, outras têm suas próprias pós-vidas e
Mundos Inferiores, cada uma tão real e podero-
sa quanto Estigia. Genericamente chamados de
“Reinos Negros”, esses outros reinos são muitos e
variados e a maioria é tão amplamente separada de
Estigia que poucas aparições Ocidentais sabem de
sua existência.
Daqueles que são conhecidos, o Império
de Jade (conhecido como as Fontes Amarelas por
seus habitantes) e o Reino Negro de Marfim (tam-
bém conhecido como os Arbustos Fantasmas) são
aqueles com os quais a Hierarquia tem o maior nú-
mero de transações. Cada um fez guerra e tratados
com Estigia no passado, geralmente sobre a dispo-
sição de almas retiradas de suas terras ancestrais.
Escondidos dentro da Tempestade es-
tão outras Terras Mortas: Karta, o Mar que Não
conhece o Sol, Swar e muito mais. Cada um deles
reflete a natureza da morte para uma cultura di-
ferente e as leis que governam a existência fantas-
magórica em Estigia podem funcionar de maneira
diferente por lá, se é que vão funcionar.
Capítulo Dois: Ambientação 39

O Expresso da Meia-Noite
Gritando através da escuridão da noite Esti-
gia, o Expresso da Meia-Noite é um meio de transporte
como nenhum outro no Mundo Inferior. Criado pelos
Barqueiros do Artefato de uma monstruosa locomotiva
a vapor, o Expresso é composto por centenas de vagões
ferroviários interligados, mais cheios de aparições que
buscam passagem, emprego ou apenas um lugar para fa-
zer negócios longe de olhares indiscretos. Os carros são
retirados de uma seção transversal da história da loco-
motiva, sendo o único elo comum deles que cada um foi
destruído, violentamente.
O Expresso, liderado pelo Motor #13, entra
em cada uma de suas paradas exatamente à meia-noite,
horário local, embora a forma como ele consegue fazer
isso em várias paradas no mesmo fuso horário está além
da compreensão da maioria das aparições. Nem todos
os vagões estão “lá” em cada parada; uma aparição que
deseja desembarcar na Necropolis de Nova York pode
descobrir, para seu horror, que seu vagão nunca chega
lá, mesmo enquanto o próximo vagão do trem estiver
embarcando com passageiros fantasmagóricos na Gran-
de Estação Central. O trem pára em todo território da
Hierarquia, bem como em Singapura e na Tempestade.
Paradas especiais podem ser solicitadas, mas há uma
taxa por isso.
em tochas flamejantes.
Extraoficialmente, a maioria das aparições reclama a
área em torno de seus Locais Assombrados como seu Domínio
(ou “território”) e pode tomá-lo de fato, se ninguém reclamar.
Embora muitos desses Domínios de Renegados não sejam reco-
nhecidos pelas autoridades locais da Hierarquia, a maioria dos
Legionários tem a inteligência de não se aproximar sem a força
necessária.
Cidadelas
O maior e mais forte Local Assombrado de uma Ne-
cropolis é chamado de Cidadela e tem a mesma função de um
castelo medieval. Fortes pontos de defesa contra invasão e cen-
tros de comércio, Cidadelas são coração e mente de suas Necro-
polis. Embora a maioria das Cidadelas não pareça um castelo
ou fortaleza, elas ainda permanecem como barreiras contra ata-
ques de Espectros, Renegados ou Hereges.
Normalmente, uma Cidadela corresponderá nas Ter-
ras da Carne a um armazém abandonado ou a uma série de
edifícios, uma mina esquecida, um depósito ou alguma outra
extensão dedicada à decomposição e destruição. Nas Terras das
Sombras, no entanto, as Cidadelas são muitas vezes fortalecidas
com vigas e madeiras relíquias, ou reforçadas com contrafortes
e tijolos forjados. Toda Cidadela é construída com os Maels-
troms em mente; Uma Cidadela que não pode sobreviver à fúria
da Tempestade, não é uma Cidadela.
A maioria das Cidadelas é mantida pela Hierarquia e
tem uma forte presença de uma ou mais Legiões militares. Teo-
40 Aparição: O Esquecimento
ricamente, as Cidadelas da Hierarquia são exclusivas dos cida-
dãos da Hierarquia, mas nas Terras das Sombras, regras rígidas
podem ficar rápida e convenientemente borradas. Afinal, cada
mão que pode segurar uma arma é bem-vinda quando os Es-
pectros vierem chamando. As aparições Renegadas e Hereges
são frequentemente permitidas nos portões da Cidadela para
fins de comércio, se alguém puder ser encontrado para atestar
por elas.
Há Cidadelas de Renegados e Hereges espalhadas
pelas Terras das Sombras. A maioria são capturadas Cidadelas
da Hierarquia que foram tomadas e reformadas por seus novos
proprietários; outras são criadas em áreas tão dispersas e esté-
reis que não valem a pena o esforço da Hierarquia para derru-
bá-las.
Os Inquietos
Minha cabeça está pesada, meus membros estão cansados
E não é vida que me move.
- Percy Bysse Shelley, “Morte em Vida:
Um Fragmento”
aixão mais forte que a morte e perigos
que fazem a morte parecer dócil: esses
são os fundamentos da vida após a mor-
te. De muitas maneiras, é uma existên-
cia de extremos. A destruição final é o
preço do fracasso, mas o amor eterno e
a Transcendência também são possibilidades reais.
A vida como uma aparição, tal como é, pode ser um
compêndio de horrores. As visões dos vivos são marcadas pelo
toque da morte e até mesmo a flor mais viva aparece manchada
pela corrupção. O Mundo Inferior em si é triste e mortífero para
os sentidos; cores brilhantes são raras, exceto pela chama voraz
dos cristais de fogo da alma ou o verde brilhante de um olho
Solicitante. Mas nem mesmo isso é perceptível, pois a Sombra é
onipresente e está sempre disposta a piorar uma situação que já
é ruim. O Esquecimento ameaça por dentro e por fora e muitas
aparições acham mais fácil simplesmente desistir da luta e dei-
xar que o Vácuo as reivindique.
Por outro lado, há aqueles que aproveitam a oportuni-
dade de uma segunda existência. Vendo a si mesmos como ten-
do uma segunda chance de corrigir os erros da vida, ou talvez
simplesmente teimosos demais para ceder ao Esquecimento,
essas aparições aproveitam ao máximo as suas pós-vidas.
Amizade e amor eternos são muitas vezes prometidos
nas Terras da Carne, mas nas Terras das Sombras eles podem se
tornar reais. Poder e riqueza podem ser reunidos por aparições
implacáveis o suficiente para realizar essas ascensões; a trans-
formação espiritual também é procurada por muitos. As terras
dos mortos acenam para alguns explorarem, assim como os
novos reinos da Tempestade e as Costas Distantes que os mor-
tais jamais viram. Dotado dos poderes chamados Arcanoi, os
Inquietos podem passar séculos aprimorando suas habilidades,
ou usando-as para interagir com os vivos. Muitas aparições fre-
quentemente cruzam a Mortalha por uma infinidade de razões.
Existem aqueles que procuram acabar com os negócios dei-
xados para trás, ou para proteger aquelas coisas e pessoas que
amam. Outras aparições simplesmente se intrometem, agindo
como poltergeists ou invadindo os sonhos dos mortais por pura
diversão. A possessão dos Breves, indiretamente mostrando
suas alegrias e prazeres, é um passatempo popular, enquanto a
vingança do além-túmulo também é algo que os Inquietos prá-
ticam (se tiverem a chance). E há sempre a luta contra o Es-
quecimento e seus asseclas, uma luta que alguns acreditam que
é para o bem de toda a criação. Para aparições como essas, a
morte é apenas o começo.
MetafísicaAs aparições estão presas em uma existência na corda
bamba entre a vida e o Esquecimento e sua perspectiva refle-
te isso. Apenas a espessura da Mortalha os mantém longe das
terras dos vivos; eles estão, todavia, eternamente separados da-
queles que amavam. Por outro lado, cada ação, pensamento e
palavra é uma reação contra a atração constante do Esqueci-
mento, gritando desafiadoramente ao Vácuo. É esse equilíbrio
entre a vida e algo pior que a morte que os Inquietos mantêm,
enquanto puderem.
Tocar nas Terras da Carne é algo que a maioria das
aparições deseja, não importa o que o Dictum Mortuum orde-
ne. Fazer isso nem sempre é fácil, pois a natureza da existência
dos Inquietos dificulta chegar do outro lado da Mortalha. Ob-
jetos nas Terras da Carne têm um tipo estranho de solidez para
eles; é quase impossível para uma aparição mover um objeto do
mundo real, mas com um investimento mínimo de Corpus, ela
pode simplesmente desincorporar e atravessá-lo. Por exemplo,
se uma aparição tenta empurrar a frente de um carro estaciona-
do, o toque dela não terá efeito, e ela se verá incapaz de afetar
o carro. Por outro lado, se o freio de mão do carro quebrar de
repente e o carro anda para frente, ele atravessará (quase) ino-
fensivamente pela aparição enquanto ela desincorpora.
É claro que as aparições há muito tempo descobriram
maneiras de fortalecer suas vontades mais concretamente no
mundo real. Certos Arcanoi permitem que o Inquieto afete ou
até mesmo ingresse nas Terras da Carne; assim surgem lendas
de poltergeists, aparições e fantasmas em máquinas. Todos esses
fenômenos podem ser atribuídos a aparições que estendem suas
habilidades através da Mortalha.
Enquanto muito pouco no mundo real pode infligir
dano duradouro no Corpus de uma aparição, no Mundo Infe-
rior é uma questão muito diferente. Objetos existentes nas Ter-
ras da Carne podem ser passados ou rebatidos, enquanto coisas
existentes no Mundo Inferior (relíquias, artefatos, outras apa-
rições, etc.) são bastante sólidas para qualquer fantasma. Uma
lâmina de aço pode zumbir através do Corpus de uma aparição
sem causar dano duradouro; uma espada de aço da alma nas
mãos de um Legionário, por outro lado, pode partir um fantas-
ma em dois. Aço Estigio (ou outros metais forjados pela alma),
Artefatos, relíquias, outras aparições, Espectros, os moradores
da Tempestade, até mesmo a magia espiritual dos vivos: todos
estes podem afetar uma aparição concretamente.
Paixões e Grilhões
Paixões e Grilhões são as coisas que definem e man-
têm a existência de uma aparição. Em um nível básico, os Gri-
lhões são as coisas nas Terras da Carne com as quais uma apari-
ção se preocupa mais profundamente, enquanto as Paixões são
Capítulo Dois: Ambientação 41
as coisas que uma aparição mais quer fazer.
Os Grilhões são o que ligam uma aparição às Terras
das Sombras, dando-lhe âncoras nas Terras da Carne que ela
pode usar para resistir à atração do Esquecimento. É em um
Grilhão que uma aparição pode entrar em Modorra e se curar,
e muitas vezes é mais fácil para uma aparição usar seu Arcanoi
perto de seus Grilhões. Por outro lado, se um Grilhão for dani-
ficado ou destruído, os efeitos podem ser catastróficos. Além
disso, aparições sem Grilhões não podem ficar muito tempo nas
Terras das Sombras e assim toda aparição se esforçará ao máxi-
mo para proteger seus Grilhões.
As Paixões são os desejos que uma aparição segue na
morte, os imperativos emocionais que impulsionam e alimen-
tam sua existência. Em suma, cada Paixão tem uma emoção;
seguindo a diretriz de sua Paixão (ou estando na presença do
sentimento no âmago da Paixão), uma aparição coleta uma
energia chamada Pathos. Sem Pathos, os Arcanoi de uma apari-
ção não funcionarão, nem ela será capaz de se curar. Evitar que
uma aparição cuide de suas Paixões e Grilhões, então, talvez seja
o pior tormento que pode ser infligido a uma aparição.
Status e Sociedade
Agora que eu estou morta
Meu agente finalmente disse
Que queria almoçar comigo.
- French, Frith, Kaiser & Thompson, “Agora que estou morta”
É quase tristemente previsível notar que os mortos,
tendo séculos para ponderar os dilemas e os grandes mistérios
da existência, se lançam às estruturas sociais rígidas e gastam
42 Aparição: O Esquecimento
uma grande parte de suas pós-vidas, certificando-se de que as
sutilezas sociais sejam adequadamente mantidas. O status na
comunidade dos Inquietos é baseado no poder, é claro, mas
também na idade, experiência nos Arcanoi e liberdade de mo-
vimento. Uma aparição velha e poderosa que mantém seus Gri-
lhões e pode, portanto, viajar das Terras das Sombras a Estigia
obtém mais respeito do que uma aparição de poder e idade se-
melhantes cujos Grilhões foram destruídos há muito tempo.
À medida que as décadas passam, uma aparição pode
gradualmente adquirir mais status entre os mortos, e o poder
social nas “classes” é razoavelmente comum. Por outro lado, a
intensa camaradagem de algumas aparições (particularmente
os fortes Estornados de Estigia) tem uma impressionante seme-
lhança com a dinâmica social da dirigência de uma escola, com
aparições recusando-se a lidar com outras aparições que não
são da idade certa, poder ou especialização em Arcanoi. São os
Estornados Estigios, em particular, que mantêm as rígidas dis-
tinções sociais entre Herdados e Estornados, Infantes e Lemures
e os Cativos e todos os outros.
Status Social
Infante - Infantes são os recém-falecidos que ainda
não se acostumaram com as Terras das Sombras. Eles tem ge-
ralmente entre alguns dias e algumas semanas de idade e são
cobertos por uma Coifa de plasma que os mantém em um esta-
do semionírico, incapaz de ver ou ouvir totalmente o que está
acontecendo. Esta Coifa também obscurece os pensamentos e
percepções do infante, de modo que seus primeiros dias de vida
após a morte são uma neblina sonolenta e confusa de imagens
borradas e vozes pouco lembradas. Até que sua Coifa seja remo-
vida por outra aparição, o Infante não poderá ver, ouvir ou pen-
sar com clareza. Umas poucas sortudas aparições conseguem de
alguma forma remover suas próprias Coifas, geralmente aqueles
Infantes que possuíam extraordinária força de vontade em seus
dias mortais.
Drones - Estas são as aparições que a maioria dos ha-
bitantes das Terras da Carne vê nos Locais Assombrados. Sem
senciência ou força de vontade, suas identidades mortais perdi-
das para eles, os Drones ficam presos no local de sua morte. Eles
são incapazes de fazer mais do que eternamente reencenar últi-
mos momentos, repetindo roboticamente seus últimos minutos
entre os vivos. Um Local Assombrado povoado por Drones é
considerado uma mina de ouro para os Ceifadores.
Cativos - Estão entre as aparições mais miseráveis da
existência, mantidos em servidão por outras aparições. Alguns
foram capturados e forçados à escravidão, enquanto outros fo-
ram condenados à Escravidão por crimes reais ou imaginários.
Algumas aparições se vendem voluntariamente em Escravidão
como forma de pagar suas dívidas. Embora tal escritura deva ter
apenas uma duração limitada, muitos Cativos descobrem, para
seu desalento, que essa cláusula em seus contratos é frequente-
mente ignorada…
Os Cativos geralmente são algemados e não podem
viajar livremente sem seus mestres. Embora algumas variantes
do Código de Caronte proíbam os maus tratos a Cativos, tais
abusos raramente são denunciados ou punidos. A Sombra dos
Cativos freqüentemente tem um prazer sádico em atormentar a
Psique até seu limite e muito mais Cativos são perdidos para os
Pesadelos e as maquinações da Sombra do que são fundidos ou
libertados.
Lêmures - São as aparições cujas Coifas foram remo-
vidas e que ainda retêm a maioria de seus Grilhões. Eles são
geralmente muito jovens em termos de vida após a morte e são
considerados imaturos e indisciplinados por aparições mais
antigas e estabelecidas. Lêmures compõem a maioria das apa-
rições encontradas nas Terras das Sombras e a maioria deles
deseja ficar perto de seus Grilhões.
Herdados - Herdados são aparições que não podem
mais viajar livremente para as Terras das Sombras e portanto,
estão restritos à Estigia e outros lugares de segurança dentro da
Tempestade. Embora a maioria dos Herdados sejam mais anti-
gos, alguns deles podem ser Lêmures, exceto pelo fato de que
seus Grilhões não existem mais. Uma aparição morta há apenas
cinco anos, cujo os Grilhões foram todos destruídos em um in-
cêndio, instantaneamente adquirirá o status de Herdado, já que
ela não será mais capaz de manter sua presença nas Terras das
Sombras. Por outro lado, estes Herdados “emergentes” dificil-
mente recebem o respeito concedido aos mais velhos.
Normalmente, a maioria dos Herdados viaja para Es-
tigia para trabalhar na burocracia da Hierarquia em constan-
te expansão. Renegados e Hereges não têm essa opção e sua
transição para Herdeiros pode levá-los a qualquer lugar, desde
uma busca em tempo integral por Transcendência, até às forjas.
“Herdar” é uma tática popular entre certas gangues de Renega-
dos, onde eles livram Necropoli locais de seus oficiais mais com-
petentes ou viciosos, encontrando e destruindo seus Grilhões.
Estornados - Aparições antigas e poderosas, Estorna-
dos conseguiram manter seus Grilhões, permitindo-lhes viajar
para as Terras das Sombras. A grande maioria dos Estornados
também viajou profundamente dentro da Tempestade, possivel-
mente para as Costas Distantes ou até mesmo para o Labirinto.
Temidos e respeitados por seu conhecimento e poder, Estorna-
dos exercem uma influência na sociedade dos mortos despro-
porcional ao seu número.
Senhores da Morte - Este poderoso corpo de fantas-
mas foi originalmente criado para se tornar o Senado de Caron-
te, seguindo o costume da República Romana. Com a recriação
de Estigia como um Império, cada Senhor da Morte recebeu
uma legião como seu cargo e um trono para governar seus sú-
ditos. Sem a mão de ferro de Caronte, no entanto, os Senhores
da Morte caíram em desordem, usando suas Legiões para com-
petirem entre si enquanto cada um se esforça para se declarar o
novo Imperador de Estigia. Como um Senhor da Morte com o
maior número de almas é mais poderoso, naturalmente, os co-
-regentes de Estigia freqüentemente se intrometem nos assun-
tos mortais para encorajar um número maior de mortes que, de
alguma forma, aumentem as fileiras de suas próprias Legiões.
Ceifadores
Um Ceifador pode ser o melhor amigo de um Infante
ou o pior pesadelo, dependendo das circunstâncias. Tecnica-
mente, um Ceifador é uma aparição que corta a Coifa de ou-
tra aparição e a liberta, facilitando seu “nascimento” nas Terras
das Sombras. Muitos são almas gentis que procuram facilitar a
transição que os novos Infantes estão fazendo; outros são recru-
tadores de cultos Hereges, Legiões da Hierarquia ou gangues de
Renegados. Esses tipos de Ceifadores profissionais (e amadores)
tendem a tratar bem suas cargas, doutrinando-as nas Leis do
Mundo Inferior e ajudando-as a se ajustarem à existência além
da Mortalha.
Outros Ceifadores são menos gentis. Mestres de escra-
vos mortos, eles colhem novas almas para vendê-las ao maior
lance nos mercados das Necropoli. As almas são a moeda e ma-
téria-prima do Mundo Inferior e para muitos Ceifadores, colher
Infantes e acorrentá-los é puramente uma proposta de negócio.
Ceifadores são freqüentemente encontrados dispu-
tando posição em lugares como hospitais, prisões ou casas de
repouso. Os mais empreendedores gostam de andar de ambu-
lâncias, enquanto os talentosos com o Arcanos Fatalismo mos-
tram uma habilidade inusitada para estar no lugar certo na hora
certa. Os Ceifadores constantemente buscam estabelecer reivin-
dicações em lugares que geram ricos tesouros de almas e quan-
do tal riqueza está em jogo, a violência dificilmente é incomum.
Bens da Sepultura
Você terra, que possa manter as posses dos coitados, agora que os
heróis não poderiam.
- Beowulf, S.A.J. Bradley, trans.
A morte não consegue remover o desejo humano ina-
to por bens materiais. Só porque as aparições não podem tocar
os objetos que possuíam, não significa que elas os querem me-
nos, nem as impede de tentar adquirir riqueza do outro lado
da Mortalha. Mesmo os mortos têm uma economia próspera,
embora os fundos mútuos e as opções de ações não participem
dela. Ao contrário, é uma economia de almas e relíquias, as duas
únicas coisas que podem ser mantidas no Mundo Inferior.
Capítulo Dois: Ambientação 43
 A grande maioria dos objetos no Mundo Inferior é
feita de almas por um dos dois processos. Espíritos azarados
(Cativos, criminosos, Espectros e aqueles que são simplesmente
desafortunados) são enviados para as forjas de almas, para se-
rem martelados em moedas, lâminas e outras necessidades da
existência no Mundo Inferior. Às vezes, essas almas fundidas
são misturadas com o que tem sido chamado de “minério da
morte”, material extraído da Escada Venosa, criando materiais
especializados para a construção ou a guerra.
Outras vítimas são dadas aos peritos no Arcanos Mo-
delar, para serem transformadas em tochas, móveis ou outras
necessidades de vida após a morte. A divisão entre as duas for-
mas de transformação é simples; qualquer coisa que teria sido
metal ou pedra nas Terras da Carne é substituída por objetos
forjados pela alma, enquanto coisas cujos equivalentes nas Ter-
ras da Carne são madeira ou materiais mais macios são feitos
através de Modelar.
Há outra classificação de objetos no Mundo Inferior:
Relíquias. Estas são memórias de coisas, trazidas através da
Mortalha, uma vez que seus originais nas Terras da Carne fo-
ram destruídos. Quanto mais forte a emoção gerada por uma
relíquia antes de sua destruição (um unicórnio de pelúcia muito
amado, um desprezado cinto de couro usado para propósitos
disciplinares), mais perfeitamente se traduz nas Terras das Som-
bras depois que finalmente se desfaz em pó. A maioria dos edifí-
cios nas Terras das Sombras são na verdade relíquias; o restante
são aqueles construídos a partir de materiais forjados por almas.
Algumas aparições da safra recente são horrorizadas
pela natureza da economia do Mundo Inferior, mas no longo
prazo a maioria de suas objeções morais é substituída por uma
espécie de pragmatismo. Há múltiplas justificativas morais para
esse tipo de objetificação final das almas: toda alma forjada é al-
guém que não pode cair para o Esquecimento; muitos Ferreiros
de Almas acreditam que eles martelam as Sombras diretamente;
ainda assim, no final é tudo uma questão de conveniência e de-
sejo.
Almas
As almas são o começo e o fim no Mundo Inferior.
Almas são riquezas, almas são recursos e almas são o que ali-
menta o Esquecimento. A fim de evitar o último, os Senhores da
Morte (como Caronte antes deles) decretaram que almas fracas,
sem Paixão e contraproducentes seriam fundidas. Uma apari-
ção que se tornou a pedra de pavimentação de um Atalho não
periga fortalecer o Esquecimento; um Renegado transformado
em uma almofada não emboscará os Legionários e ajudará a
mandá-los para Pesadelos. Apontar o fato de que o comércio
de almas também torna certas aparições muito ricas, de fato, é
considerado déclassé.
Relíquias
Uma relíquia é uma memória que tomou forma no
Mundo Inferior. Os únicos objetos do outro lado da Mortalha
que não são formados por almas, relíquias são aquelas coisas
que inspiraram grande paixão em vida e que assim permanecem
na morte. Tendo sido destruídas nas Terras da Carne, relíquias
podem sobreviver por séculos nas Terras das Sombras.
Só porque algo é destruído nas Terras da Carne não
44 Aparição: O Esquecimento
significa que automaticamente se torne uma relíquia. Para atra-
vessar a Mortalha, um objeto deve ter inspirado forte emoção
antes de sua destruição. Amor, ódio, medo: os detalhes são ima-
teriais. Animais empalhados e luvas de beisebol surradas estão
entre as relíquias mais comuns, mas também há facas, algemas
e edifícios como escolas e prisões. É a força da emoção que um
objeto invoca que dita se ele vai ou não retornar como uma re-
líquia, mesmo depois que sua forma nas Terras da Carne tenha
sido destruída ou enterrada.
A criação de uma relíquia é um processo simples: um
item que provoca forte sentimento é destruído ou enterrado.
Coisas que não inspiram de um jeito ou de outro não se tornam
relíquias; por exemplo, há muito poucas latas de atum relíquia
do outro lado da Mortalha. Um objeto que se torna uma relíquia
reaparece nas Terras das Sombras depois de sua destruição ou
sepultamento, geralmente no local preciso onde encontrou seu
criador. Muitas vezes, as relíquias se materializarão no Mundo
Inferior ao mesmo tempo em que seu dono, quase como se es-
tivessem esperando que ele aparecesse e tomasse posse delas.
É costume dar um presente, como uma relíquia para o próprio
Ceifador que o encontra, particularmente se o Ceifador tiver a
gentileza de se abster de vender o Infante como Cativo.
Mesmo relíquias desaparecem, eventualmente. Quan-
to mais forte a fonte de cuidado que as criou, mais elas duram
e mais sólidas elas são. No final, porém, todas menos as mais
potentes perdem sua solidez e se dissolvem lentamente, lamen-
tavelmente.
A maioria das relíquias não é “útil” no sentido de ser-
vir como equipamento de sobrevivência nas Terras das Sombras.
Pequenas coisas que significam muito para alguém - uma cópia
assinada de O Chamado de Cthulhu, um medalhão favorito, um
ursinho de pelúcia valorizado na juventude e guardado para os
próprios filhos - compõem a grande maioria das relíquias en-
contradas nas Terras das Sombras. Relíquias desse tipo tendem
a não durar mais do que algumas décadas antes de desaparecer.
Relíquias mais potentes, como computadores ou ar-
mas de fogo em funcionamento, automóveis em funcionamento
e afins, são muito mais raras e frequentemente têm existências
no Mundo Inferior medido em menos de 10 anos. Desinteres-
sadamente rotulados de “brinquedos” por Estornados e Herda-
dos, relíquias como essas precisam de investimentos de Pathos
antes que possam funcionar como nas Terras da Carne. Um
computador relíquia que não foi abastecido com Pathos é uma
caixa retangular; um computador relíquia carregado com suco
pode fazer maravilhas.
Há também relíquias de status lendário, que duram
séculos ou mesmo milênios. A adaga de Brutus e o bloco de
esboços de Da Vinci são exemplos de coisas que inspiraram a
paixão necessária para manter suas existências pelos séculos.
Posses de Almas Forjadas
As forjas dos Artífices estão sempre famintas por mais
almas. Há um grande número de itens que a sociedade de Esti-
gia necessita desesperadamente e que não aparecem em quan-
tidade como relíquias (espadas, blocos de concreto e similares)
e que devem ser fabricados de alguma forma. O único recurso
que se encaixa no projeto, infelizmente, é o plasma que compõe
os corpos dos mortos.
A própria Forja de Almas consiste em drenar uma
aparição de sua senciência e vontade tanto quanto possível, sem
tentar o Esquecimento e então segurá-la sobre cristais de fogo
da alma até que seu Corpus torne-se macio e maleável. Neste
ponto, o Artífice irá trabalhar com seu martelo, moldando o in-
feliz fantasma em uma forma inteiramente nova. Ferreiros de
Almas habilidosos (geralmente aqueles associados à Guilda dos
Artífices) podem criar obras de delicadeza e beleza surpreen-
dentes, bem como as vigas e couraças necessárias para afastar os
ataques do Esquecimento.
Ocasionalmente, os Ferreiros de Almas misturam
a matéria pura da alma com o minério da morte extraído da
Escada Venosa ou trazido da Tempestade. O Aço Estígio, que
consiste de plasma, minério da morte e supostamente pedaços
das paredes do Labirinto, é de longe a substância mais forte co-
nhecida no Mundo Inferior. Outras fundições têm proprieda-
des diferentes, dependendo de seus ingredientes. Aço de Alma
é uma gíria usada para aparições moldadas sem fundir a outras
substâncias e este é de longe o produto mais comum das forjas.
Itens Forjados de Almas tendem a quebrar muito mais
lentamente do que relíquias, garantindo uma permanência e so-
lidez que são muito valorizados no Mundo Inferior. Por outro
lado, muitas aparições afirmam ouvir suas posses gemendo ou
chorando baixinho e alguns chegaram a ponto de jurar que ou-
viram seus preciosos Artefatos falarem.
O processo de forjar almas é irreversível e a maioria
das aparições acredita fervorosamente que a consciência de
uma alma fundida seja destruída para sempre pelo processo.

Artefatos
Artefato é um termo abrangente para itens no Mundo
Inferior que possuem poderes especiais. Algumas relíquias tam-
bém são Artefatos, mas muitos Artefatos são criados do outro
lado da Mortalha. Extremamente raros e muito procurados, Ar-
tefatos poderosos são tesouros sem preço nas terras dos mortos.
Os Artefatos relíquia são difíceis de criar e ainda mais
difíceis de serem encontrados. A paixão de multidões de Breves
é necessária para capacitar uma relíquia assim; também é ne-
cessária a crença, por parte daqueles mortais, de que o objeto
é de alguma forma especial. Então, o futuro relicário deve ser
destruído, liberando-o para atravessar a Mortalha e se manifes-
tar no Mundo Inferior. Excalibur, o Graal, a Arca da Aliança e a
Guilhotina original de Maria Antonieta seriam todos exemplos
de artefatos relíquia. Diferentemente da maioria das relíquias,
os artefatos relíquia nunca desaparecem.
A outra variedade de Artefato é do tipo forjado por
almas. Itens criados nas forjas dos Artífices e investidos com Ar-
canoi, esses Artefatos são relativamente mais comuns. Máscaras
de Ofício e espadas de Anacreontes são frequentemente Artefa-
tos deste tipo. Por conta do grande custo pessoal de fabricá-los,
os Ferreiros de Almas são particularmente reservados quanto
para quem eles criam esses Artefatos.
Tecnicamente, qualquer item forjado de alma é um
Artefato, mas ninguém se refere a um tijolo forjado de alma
como um Artefato. Somente itens exclusivos e poderosos são
rotulados como “Artefatos”.

Capítulo Dois: Ambientação 45

 Equipamento Operacional Padrão
Há certos itens com os quais todas as aparições de Es-
tigia estão familiarizadas. Estas são as ferramentas básicas da
existência através da Mortalha e qualquer Infante que escapar
dos Ceifadores aprenderá sobre eles em pouco tempo.
• Armas - Por razões de economia, são as armas clássi-
cas que funcionam melhor no Mundo Inferior. Pistolas relíquia
exigem um investimento de Pathos e munição relíquia é escassa,
de modo que a maioria das aparições recorre a espadas, facas e
coisas do gênero. É simples criar lâminas e armaduras de almas
e muitas aparições preferem a bênção que vem de ter uma espa-
da no quadril ou uma adaga na bota.
Armas ornamentadas são vistas como símbolos de
status e relíquias ou Artefatos, essas lâminas são altamente va-
lorizadas. Pequenas guerras entre Necropoli são conhecidas por
ter começado pela posse de Artefatos de armas lendárias.
• Oboli - A unidade básica de moeda Estigia é o obo-
lus. Forjado a partir de uma única alma, um obolus é a única
moeda legal em território Estígio. A maioria dos bandos de Re-
negados e Hereges também os usa, por falta de uma alternativa
aceitável.
Os Oboli, teoricamente, podem ser cortados para
“troco”, mas pedaços de um único obolus que estão separados
tendem a se juntar novamente o mais rápido possível. Por outro
lado, pedaços de moedas diferentes nunca se aglutinam. Algu-
mas aparições mais sensíveis desistiram completamente da ideia
de meio-oboli, ao refletirem sobre o efeito de ser esquartejado
depois de ter a alma fundida.
• Algemas e Correntes - As ferramentas bem-utiliza-
das dos Ceifadores comerciais, correntes e algemas são usadas
de várias maneiras em todo o Mundo Inferior. Sua principal
função, é claro, é ligar e aprisionar aparições. Muitas correntes
são habilitadas para impedir que as aparições presas usem seus
Arcanoi para escapar; outras são usadas como acessórios de
moda por jovens Herdados. Poucos objetos no Mundo Inferior
são tão completamente detestados quanto as correntes Estigias;
todos os Renegados, quase todos os Hereges e até mesmo mui-
tos dos Lêmures de Estigia as vêem como lembretes das forjas
sempre famintas.
• Máscaras - Extremamente elegantes entre muitas
aparições, máscaras forjadas de almas servem para “desperso-
nalizar” oficiais. Útil como um meio de obter respeito ao cargo
de comando, no lugar do comandante em si, as máscaras dos
funcionários da Hierarquia são repassadas aos sucessivos titu-
lares dos cargos. Até mesmo os Senhores da Morte são conhe-
cidos apenas pelas máscaras e outros emblemas de seus ofícios;
pouco importa qual aparição os usa.

Marcas da Morte
Séculos atrás, os Barqueiros notaram que certas apa-
rições chegaram às Terras das Sombras com estranhas marcas
em sua Corpora, visíveis através do uso do Arcanos Fatalismo.
Essas marcas foram classificadas de acordo com os padrões
que faziam e pareciam existir vários tipos. Aqueles que podiam
vê-las sugeriam que eram como sinais de nascença dos vivos,
embora a semelhança terminasse ali. Algumas marcas pareciam
estar esculpidas no próprio Corpus de cada aparição afetada, al-
gumas eram levemente elevadas como cicatrizes, e outras eram

46 Aparição: O Esquecimento
apenas mudanças na coloração da superfície, como tatuagens.
Originalmente, parecia haver uma correlação distinta
entre a padronização e o tipo de pessoa que a aparição havia
sido na vida e os Barqueiros viram isso como sendo o melhor
indicador de como cada aparição deveria procurar a Transcen-
dência. O tempo e as circunstâncias, no entanto, conspiraram
para mudar isso drasticamente. Com o banimento dos Hereges
e a denúncia da Transcendência como uma farsa, o propósito
original das marcas foi ignorado em favor da classificação das
aparições de acordo com a maneira de suas mortes. Agora, as
aparições são marcadas com as marcas da morte como um
meio de marcar a propriedade de um determinado Senhor da
Morte. Alguns Inquietos levaram isso a extremos, Modelando-
-se em elaborados padrões para proclamar sua lealdade a seus
senhores e senhoras.
A Sociedade dos Mortos
‘Tchau, meu amor tolo. Me ouça agora. Durma seu
sono singular e sonhe muitos outros. Eles também fazem parte de
você, parte de nós. Morra neles e deixe-me em paz’
- Thomas Ligotti, “Dream of a Mannikin”
s seres humanos são animais sociais,
e um detalhe como a morte não muda
esse fato. Há uma sociedade complexa e
antiga entre os Inquietos, completa com
guerras, politicagem, fanatismo religio-
so, comércio e todas as outras coisas
que podem ser encontradas nas ruas das
cidades dos vivos. Aparições que enten-
dem e tiram proveito de suas regras podem prosperar imen-
samente, enquanto aqueles que não conseguem entender suas
lições básicas alimentam as forjas ou o Vácuo.
A sociedade fantasmagórica é uma estranha coleção
de tudo que esteve antes na terras dos vivos. Estigia é baseada
em um ideal ateniense clássico, revestida com uma estrutura da
República Romana com armadilhas do Império e com noções
modernas sobre o feudalismo europeu padrão. Observadores
políticos astuciosos rotularam a coisa toda como “uma bagun-
ça” e poucos discordam. Para complicar, o fato é que muitas
aparições de Estigia datam de vários séculos e não acharam ade-
quado modernizar seus pontos de vista. Uma discussão sobre as
comunidades Inquietas pode ser uma lição de história viva (ou
morta, se desejar).
Círculos
Os círculos são grupos de aparições bem unidas, liga-
das socialmente por proteção mútua de escravistas e Espectros.
O Círculo, de muitas formas, substitui a família como unidade
fundamental da sociedade no Mundo Inferior, permanecendo
com seus membros nas vitórias e derrotas. Aparições sem Cír-
culos tendem a ser os últimos sobreviventes de Círculos que se
desintegraram, ou suicidas ao extremo. Uma aparição sem um
Círculo não tem ninguém para observar suas costas fantasma-
góricas e provavelmente não escapará por muito tempo dos pe-
rigos da existência no Mundo Inferior.
A maioria dos Círculos varia em tamanho de três a
trinta aparições, raramente mais que isso. Os membros de um
Círculo são geralmente ligados pelo Local Assombrado (ou Lo-
cais Assombrados) que compartilham, não é diferente de vários
mortais agrupados em uma casa coletiva. Não é incomum que
os membros de um Círculo sejam de uma gama de facções do
Mundo Inferior, muitas vezes levando a brigas internas fortes o
suficiente para acabar com o Círculo.
Politicagem
Com centenas de anos se estendendo diante deles,
os fantasmas se destacam nos jogos políticos. Como a guerra
aberta entre os mortos praticamente envolve o Esquecimento,
as aparições tentam se mover contra seus inimigos de manei-
ra mais sutil, não atiçando nem o destino nem suas Sombras.
No entanto, só porque as manobras dos velhos mortos não são
evidentes, não significa que elas não possam ser fatais. As forjas
e o Vácuo recebem seu quinhão daqueles que subestimaram o
poder de seus oponentes ou as conseqüências da derrota.
Facções
grosso modo, as Terras Mortas do mun-
do ocidental estão divididas em três fac-
ções mutuamente antagônicas, embora
isso dificilmente signifique que cada apa-
rição esteja com a arma apontada contra
seu vizinho. A maioria dos Inquietos está
contente em lidar com seus compatriotas
individualmente, independentemente da
afiliação política. No entanto, cada facção tem seus fanáticos
e agitadores e expressar simpatia por um Renegado na frente
de um Legionário errado pode ser uma passagem de ida para a
eternidade como um cinzeiro.
Os Renegados são rebeldes, colocando-se contra qual-
quer um que os incomode, seja Hierarquia, Hereges ou outros
Renegados. Alguns são Hierarcas que se desiludiram com o
sistema, outros fugitivos que buscam refúgio, enquanto seus
irmãos de armas podem ser bandidos, políticos radicais ou
simplesmente pensadores livres. Quaisquer que sejam os ide-
ais mais nobres que alguns possam ter sobre uma Estigia livre
da escravidão, um número cada vez maior de Renegados estão
muito bem familiarizados com a violência e suas muitas aplica-
ções. Para cada Renegado que se infiltrar em uma Cidadela na
esperança de colocar as forjas de almas fora de ação, há outra
que de bom grado, venderá o herói que retorna como escravo.
Os Hereges são aqueles que buscam um estado mais
elevado, talvez na Transcendência, talvez nas Costas Distantes,
talvez em algum lugar ainda desconhecido. O título é um termo
coletivo para os muitos cultos díspares que defendem crenças
religiosas antes dos políticos e foi primeiro dado a eles por Ca-
ronte após a debandada dos Iluminados. Ocasionalmente, esses
grupos se unem contra Renegados violentos ou os agentes Hie-
rárquicos dominadores, mas essas ocasiões são raras. Os cultos
Hereges geralmente passam mais tempo lutando entre si por
doutrina e seguidores em potencial. Eles vão desde guerreiros
sagrados fanáticos a gentis cuidadores e professores e tudo mais.
Seu vínculo comum é sua fé inabalável em suas crenças, seja
na deusa-mãe, um panteão, Caos Encarnado, o judaico-cristão
Yahweh ou divindades desconhecidas para o mundo mortal.
Capítulo Dois: Ambientação 47
Acima de tudo, os Hereges procuram convertidos, já que cada
grupo está convencido de que eles e somente eles conhecem os
segredos da vida após a morte. Infelizmente, muitos destes são
enganados por Espectros ou, pior ainda, os “deuses” das Costas
Distantes.
A Hierarquia é o lado mais antigo e mais poderoso do
triângulo, reivindicando sua autoridade a substituir a partida de
Caronte. Seus senhores exigem respeito de todos e usam as Le-
giões para respaldar tais pedidos. Enquanto a Hierarquia pode
ser a mais estável, é também a facção mais sufocante e conserva-
dora. As paredes de suas Necropoli aguentam os Espectros, mas
a um custo terrível. A aparição comum na rua provavelmente
será da Hierarquia, não muito diferente do cidadão mortal mé-
dio cumpridor da lei. As aparições da Hierarquia aceitam as leis
de Estigia, juntamente com as ofensas e os erros administrati-
vos, como o melhor meio de proteção contra os fanáticos e os
Devoradores de Sombras.
Os Renegados
Toda a vida eu joguei pelas regras. Paguei meus impos-
tos, obedeci limite de velocidade - pode crer. Agora estou morto e
eles estão me dizendo que tenho que fazer a mesma coisa tudo de
novo, para sempre? De jeito nenhum, cara. De jeito nenhum.
- Amos Coulter, Renegado, Incorrigíveis de Doyle
O termo “Renegado” é mais frequentemente usado
como um termo amplo para descrever aqueles que estão fora
da Hierarquia, mas não pertencem a um culto Herege organi-
zado. Os mais renomados “Renegados” consideram o termo um
insulto e preferem uma variedade de nomes que vão de “Fo-
rasteiros” a “Fora do meu caminho”. Geralmente, os Renegados
reunem em gangues com apelidos, embora essas gangues pos-
sam assumir a forma de anarquistas furiosos, gangues de rua ou
comunistas pacifistas.
Não existe algo como um Renegado “padrão”. Existem
tantas razões para não ser um deles, quanto há Renegados. Al-
guns simplesmente reagem com repugnância ao escravagismo
da Hierarquia, enquanto para outros, pouco importa quem está
no comando... desde que não seja a Hierarquia. Muitos eram
rebeldes em vida e simplesmente não querem mudar. Alguns
são fugitivos da justiça da Hierarquia, preferindo a vida precária
de um refugiado à segurança da eternidade forjado como um
vaso. Entre os Renegados também se encontram os bandidos
que preferem obter seu ganha-pão do assalto em Atalhos do que
de um Capitão Legionário qualquer.
Boa parte das gangues são bandos de mercenários,
vendendo suas espadas e serviços a qualquer um que possa pa-
gar seus preços, incluindo Hierarcas temporariamente presos
por Legionários. Por outro lado, muitas comunidades de Re-
negados são grupos pacíficos, tentando se esconder o máximo
possível. É essa mesma desorganização de propósito que isenta
os esforços periódicos de certos Renegados em apresentar uma
frente unificada e que inadvertidamente serve à Hierarquia.
A principal fonte de tensão entre a Hierarquia e os
Renegados é a simples guerra de classes. Uma certa quantida-
de de esnobismo é parte integrante da vida em Estigia como
um membro da classe “governante” óbvia e muitos Hierarcas
48 Aparição: O Esquecimento
acreditam que é seu direito e privilégio fazer os Renegados so-
frerem um inferno, afinal, eles são socialmente inferiores. Para
alguns Renegados, o pensamento de ser capaz de derrubar um
Hierarca apenas para limpar aquele sorriso superior de seu ros-
to aquece o plasma do mesmo nas noites mais frias. Por outro
lado, há muita troca de almas entre membros individuais das
facções e até mesmo os Legionários costumam fechar negócios
com os Renegados locais se não acharem que seus superiores
estão olhando.
As Gangues Estão Todas Aqui
Grupos de Renegados conhecidos incluem:
A Irmandade do Coelho Negro - Um
grupo de ex-mágicos de palco, expandido para in-
cluir psíquicos e espiritualistas do século XIX, os
Irmãos se uniram para proteger esses grupos dos
abusos da Hierarquia. Mesmo na morte, eles con-
tinuam estudando o ocultismo e o sobrenatural, às
vezes auxiliando médiuns mortais dignos e fazen-
do incursões diplomáticas a outros Reinos Negros
para estudar seu conhecimento espiritual.
Cavaleiros da Tempestade - Ciclistas em
vida, esses Renegados não foram atrasados pela
morte nem um pouco. O trovão de suas bikes relí-
quias ocasionalmente quebra a paz das Necropoli,
para insatisfação de muitos Anacreontes. Os Cava-
leiros da Tempestade detestam a autoridade mo-
nolítica da sufocante Hierarquia e muitos seguem
um código de Robin Hood de ajudar o inimigo e
ferir os fortes. No entanto, outros não adotam ne-
nhum código além do seu, o que inclui derrubar
quem quer que esteja em seu caminho.
A Coluna Voadora — Este grupo de Du-
blin continua a boa luta mesmo na morte. Alguns
lutaram para expulsar os ingleses da Irlanda, ou-
tros foram vítimas dos “problemas” na Irlanda do
Norte. No entanto, eles chegaram, agora procuram
libertar a Necropolis de Dublin da lei de ferro da
Hierarquia.
Os Hereges
Olhe ao seu redor e diga-me que você não acredita re-
almente no inferno, meu amigo. Nosso líder sabe o caminho para
um lugar melhor e lamento muito ficar lá, sabendo que você per-
maneceu aqui entre os condenados.
- Daniel Avrams, Pastor, Os Filhos da Nova Massada

O termo “Herege” foi usado pela primeira vez por Ca-

ronte após a descoberta do verdadeiro estado das Costas Dis-
tantes. No entanto, como cada culto se vê no verdadeiro cami-
nho para a salvação, ele simplesmente atribuiu o nome “Herege”
a todos os outros cultos equivocados com os quais compartilha-
va as Terras Mortas. Para a Hierarquia e os Renegados, é claro,
faz pouca diferença como os Hereges chamam de si mesmos e o
termo é usado apenas com uma frequência ligeiramente maior
do que “aqueles malucos”.
Se os Hereges pudessem superar suas diferenças e
apresentar uma frente ecumênica, eles poderiam ser um inimi-
go formidável para a Hierarquia. Para muitos Hereges, o poder
de suas crenças os sustenta com tanta certeza quanto o salário
de Pathos sustenta algumas de suas contrapartes nas Legiões.
No entanto, o conflito de sistemas de crença entre os cultos im-
pede que isso seja uma possibilidade.
Para os de fora, as razões que separam os Hereges
parecem uma simples questão de obstinação, uma recusa em
admitir que as crenças de qualquer outra seita poderiam ser tão
viáveis quanto as suas. No entanto, esta é uma explicação mui-
to simplista, dada a variedade e complexidade dos sistemas de
crença trabalhadas. Não importa quão amigável ou de mente
aberta um membro do culto possa ser, ela defenderá sua seita
à porta do Esquecimento como sendo a maneira certa e úni-
ca de dar o próximo passo espiritual. Numa guerra em que as
apostas são tão altas, não há espaço para tolerância em relação
ao inimigo. Muitas vezes foi dito que aquele que controla a re-
ligião controla a região. Os Hereges carregam esse credo como
um corolário de suas próprias crenças e desejam liderar seus
companheiros Inquietos para o Céu, mas em suas normas.
Por enquanto, os vários cultos brigam tanto uns com
os outros quanto com a Hierarquia. A questão da Transcendên-
cia é o principal ponto de discórdia que a maioria dos Hereges
tem com Estigia, como Caronte declarou ser uma farsa ao des-
mentir os Iluminados. Desde então, muitos Hierarcas tratam
a noção de Transcendência como um conto de fadas e veem os
Hereges como uma propaganda prejudicial à saúde da socieda-
de Estigia. Os Hereges refutam calorosamente esse argumento
como evidência de que a Hierarquia está apenas com medo de
perder o poder quando as almas Transcenderem.
A mais famosa “Heresia” é a dos Pescadores, cujo en-
volvimento com Estigia é bem conhecido e registrado. Desde
então, vários outros cultos surgiram, a maioria deles definida de
acordo com seus hábitos de proselitismo.

Capítulo Dois: Ambientação 49


Um Coro de Cultos
Cultos Hereges conhecidos incluem:
Os Hospedeiros - Estas aparições acre-
ditam sinceramente que eles se tornaram anjos,
assim como suas crenças religiosas disseram que
fariam. Encontrando-se nas Terras das Sombras,
eles explicam seu estado fantasma dizendo que
não encontraram o Céu porque ainda não são
dignos. Portanto, para se tornarem dignos, eles
visitam as Terras da Carne, tentando orientar e au-
xiliar mortais sempre que possível. Talvez não seja
uma pequena coincidência que o culto mortal da
crença angelical tenha aumentado dramaticamen-
te não muito depois da formação desse grupo.
Filhos do Verde - A maioria dos Filhos
eram neo-pagãos em vida ou desde que morre-
ram. Numa tentativa de conciliar a dicotomia dos
ensinamentos terrenos da Grande Roda da Vida e
seu próprio estado, eles acreditam que incorporam
uma Roda menor que funciona a partir da outra
na forma de uma polia. Eles devem viajar pela se-
gunda roda para alcançar a Transcendência. O que
quer que eles façam nesta roda poderia colocar a
primeira (e maior) roda fora de equilíbrio. Infeliz-
mente, com todos os outros tão descuidados sobre
o equilíbrio, os Filhos vêem como seu dever sa-
grado prevenir as violações do Dictum Mortuum,
impedir a escravidão da alma e alcançar a paz, de
preferência até amanhã, no máximo.
Cavaleiros da Roda - Uma vez dedica-
dos à fé da Roda da Fortuna, essas aparições agora
crêem no Acaso cegamente. Eles mantêm o cassi-
no dos Jardins Suspensos nas Terras das Sombras
em Atlantic City como um templo para o Acaso e
vêem as apostas como uma forma mais sincera de
adoração.
50 Aparição: O Esquecimento
A Hierarquia
Estamos em guerra pelo bem de tudo que existe, e não
temos o luxo de discordar. Se você não está conosco, você está con-
tra nós, e se você está contra nós, você está trabalhando para o
esquecimento.
- Genevieve Buck, Anacreonte da Violência, Manchester Necro-
polis
Esta organização monolítica é a mais antiga e longeva
de todas as Terras Mortas. Fundada por Caronte como meio de
unificar e ordenar a caótica vida após a morte, transformou-se
em uma burocracia estratificada e calcificada “liderada” por Se-
nhores da Morte em disputa e baseada na escravização de mi-
lhares de almas para uso como Cativos ou matéria-prima. Cri-
minalizando qualquer oposição e esmagando aqueles que estão
em seu caminho, as Legiões armadas da Hierarquia cruzaram os
oceanos para se certificar de que a lei de Estigia é mantida em
todas as Terras Mortas. O fato de que muitas aparições encon-
trarem as leis Estigia duvidosas não está aberto a debate, já que
a maioria da Hierarquia se vê como pessoalmente segurando
a linha contra o Esquecimento. Os Renegados são vistos como
dispostos abrir os portões da Cidadela para os Espectros; He-
reges querendo que todos contemplassem seus próprios deva-
neios enquanto os Maelstroms uivam. Não, não importa quão
desagradáveis alguns de seus aspectos possam ser, de acordo
com cidadãos leais de Estigia, a Hierarquia é a melhor aposta
para que o mundo seja engolido pelo Vácuo.
Apesar das muitas falhas, a Hierarquia é talvez a me-
lhor chance que uma aparição comum tem de sobreviver a ame-
aças de Espectros, Maelstroms e outros monstros e uma das
poucas fontes de lei e ordem a serem encontradas num Mundo
Inferior caótico. Aparições que foram cidadãos comuns e cum-
pridores da lei em vida, descobrem que a Hierarquia fornece um
estilo de vida similar ao que estavam acostumados, dando-lhes
um refúgio reconfortante quando tudo o mais em sua nova exis-
tência é estranho. Esses cidadãos comuns são uma face invisível
da Hierarquia, só é reconhecida por outras aparições através do
Legionário que aponta sua espada relíquia ou do servo burocrá-
ta sádico.
Enquanto os níveis mais altos da Hierarquia são indu-
bitavelmente corruptos (como qualquer Renegado ou Herege de
bom grado o informará), os níveis mais baixos conseguiram es-
capar de grande parte da infecção. Lá podem ser encontrados os
idealistas, as aparições diligentes e trabalhadoras empurrando
documentos ou mantendo a paz em um quarteirão da Necro-
polis. Os poucos altruístas que conseguiram chegar a posições
de poder vêem Estigia como um império, outrora poderoso, em
tempos difíceis. Apesar da Hierarquia ter suas falhas, Caronte
ainda tinha boas intenções e idéias que deveriam continuar a
defender esses ideais, mesmo que os Senhores da Morte tenham
se esquecido deles.
A maioria das aparições faz parte da Hierarquia e con-
trola a maioria das Necropoli e Cidadelas nas Terras das Som-
bras. Muitos Atalhos são construídos e mantidos pela Hierar-
quia e Estigia constantemente envia patrulhas para manter essas
rotas seguras longe de Espectros e Renegados. Naturalmente,
a definição de “seguro” depende de quem é perguntado, ainda
mais se essa pessoa for um Renegado.

As Legiões
Em teoria, todo cidadão de Estigia pertence a uma Le-
gião. Delineada ao longo das linhas de morte de cada aparição,
as Legiões servem como uma forma de classificar os mortos.
Cada Legião é governada por um Senhor da Morte, que exi-
ge obediência de todos dentro de sua tropa. Autoridade vêm
do Senhor (ou Senhora) da Morte em uma cadeia de comando
quase militar, com Legionários civis recebendo postos militares
em um esforço para colocá-los dentro da estrutura da Legião.
O lado burocrático das Legiões é tão importante quan-
to as forças armadas e a maioria dos membros de uma Legião
não está lá fora punindo Espectros e Renegados. Em vez disso,
eles estão processando almas, aplicando leis, fazendo recensea-
mento, consertando Necropoli, educando os Infantes e manten-
do a sociedade de Estigia funcionando sem problemas.
Então, novamente, há os aspectos marciais de cada Le-
gião. As patrulhas de Atalhos, as expedições de caça aos Espec-
tros, o abate de Renegados e outras atividades similares exigem
uma presença militar permanente entre os mortos e cada Se-
nhor da Morte faz o melhor que pode. Esta é a cara das Legiões
com as quais Renegados e Hereges estão mais familiarizados e
esses estranhos frequentemente confundem o lado militar da
Legião com a Legião como um todo.
Enquanto os Senhores da Morte competem pelo po-
der, confrontos entre Legiões estão se tornando mais frequen-
tes. Embora as coisas estejam muito longe da guerra aberta nas
ruas de Estigia, nos cantos escuros, uma hostilidade mais aberta
inter-Legiões têm ocorrido com maior frequência. Um Centu-
rião solitário da Legião Indigente que vagueia em um refúgio
frequentado por soldados da Legião Óssea pode estar pedindo
por problemas, dependendo de como as relações entre o Senhor
Sorridente e o Senhor Pedinte estão naquela semana.
Existem outras organizações menores que também
conhecidas como Legiões, embora esta seja geralmente uma al-
cunha por mérito. Por exemplo, a Quinta Legião, assim como
a Legião do Falcão Negro, é um corpo de elite militar criado
por Caronte formada pelos melhores soldados em cada uma das
Legiões dos Lobos da Morte, enquanto a Legião On-line contém
aparições da Hierarquia mestres no Arcanos Habitar. Alguns
dos Senhores da Morte também têm Legiões dentro de Legiões,
como o Senhor Pedinte que honra seus guarda-costas com o
título de Legião da Lágrima de Ônix. Geralmente, assume-se
que quando o termo “Legião” é usado, fala-se de uma das oito
Legiões dos Senhores da Morte. Se uma aparição deseja men-
cionar uma das organizações menores, ela geralmente a chama
pelo nome completo apenas para evitar confusão.
Patentes da Legião
• Legionário - Legionários são como os grunhidos do
Mundo Inferior, ocupando o posto mais baixo nas Legiões. A
maioria não tem deveres fixos e em vez disso, são transferidos
de Necropolis para Necropolis, conforme a necessidade. Patru-
lhas geralmente consistem de Legionários.
• Centurião - Um Centurião é uma aparição que su-
pervisiona uma patrulha e os Legionários que servem nela. Os
Centuriões são grandes representantes de Estigia e ganham
atenção considerável em campo. Poucos Centuriões se conten-
tam muito tempo nessa posição, depois que iniciam sua escala-
da de status como Legionário.
• Marechal - Nomeado pelo Anacreonte local, um
Marechal é responsável por um pequeno domínio fora de uma
Cidadela. Os Marechais geralmente lideram múltiplas patrulhas
designadas a eles e cada um se reporta diretamente a seu Suse-
rano.
• Regente - Essencialmente um Marechal de confian-
ça, um Regente tem responsabilidade por locais mais distantes
da Cidadela local e, portanto, mais independência. Os Domí-
nios da Hierarquia que não estão centrados em uma Necropolis
estão geralmente sob a jurisdição de um Regente.
• Suserano - O segundo nível de autoridade em uma
Cidadela, um Suserano geralmente é um assistente do Anacre-
onte que é confiável para tomar decisões políticas. Supõe-se que
os Suseranos falem por seus Anacreontes e freqüentemente co-
ordenam todas as patrulhas e oficiais menores da Hierarquia em
uma Necropolis.
• Anacreonte - O Anacreonte de uma dada Legião é
o membro de mais alto nível daquela Legião dentro de uma Ci-
dadela. Cada Necropolis é governada por um conselho de sete
Anacreontes (a Legião do Destino desdenha o envolvimento na
política local), e um Anacreonte tem poder supremo sobre os
membros de sua Legião dentro de sua jurisdição.
As Legiões consistem em:
• A Legião Silenciosa, governada pelo Se-
nhor Calado do Trono do Silêncio e consistindo das
vítimas do Desespero.
• A Legião dos Indigentes, governada pelo
Senhor Pedinte a partir do Trono das Lágrimas Dou-
radas e consistindo das vítimas do Mistério.
• A Legião Esmeralda, governada pelo Se-
nhor Esmeralda a partir do Trono de Espinhos e con-
sistindo das vítimas das Circunstâncias.
• A Legião Óssea, governada pelo Senhor
Sorridente no Trono das Águas Ardentes e consistin-
do das vítimas da Violência.
• A Legião Férrea, governada pela Senhora
Cinzenta do Trono das Sombras, e consistindo das
vítimas da Velhice.
• A Legião Penitente, governada pela Senho-
ra Risonha do Trono do Socorro, e consistindo das
vítimas da Loucura.
• A Legião Esquelética (também chamada
de Legião Magra), governada pelo Senhor Esqueleto
do Trono da Poeira, e consistindo das vítimas da Pes-
tilência.
• As Legiões do Destino, governadas pelas
Damas do Destino a partir do Trono do Destino e
consistindo daquelas que o Destino marcou para si.
Capítulo Dois: Ambientação 51

Barghests
Estes Cães de Tindel dos mortos já foram aparições
antes de serem selecionados para as unidades K-9 das Legiões.
Cada novo bando é Modelado em uma criatura semelhante a
um cão de caça e depois é lobotomizado para ter um focinho es-
pecialmente preparado de aço Estígio enxertado em seu corpo.
O resultado é um “cão” obediente que responde apenas para a
pessoa que detém a sua coleira e tem o apito. Muitos são usados
para rastrear os Devorados pela Sombra, enquanto outros são
simplesmente usados como tropas de choque, para o desespero
de seus alvos. Quando eles pegam o cheiro de um Espectro ou
outra presa, barghests (eles sempre caçam em pares ou bandos)
estabelecerão um uivo tão feroz que pode ser ouvido pelos vi-
vos. Renegados com uma inclinação científica supõem que es-
tes cães estão realmente usando uma modificação do Arcanos
Lamúria, mas muito poucas aparições que fazem pesquisas de
campo sobre o assunto retornam para publicar suas descober-
tas.
Lei de Caronte
Sonhe se você se lembrar de que existem leis de ferro
- Johnny Clegg e Savuka, “Jericho”
Hierarquia tem seu próprio sistema de
leis, com o antigo código de Caronte e
o Dictum Mortuum em seu centro. Este
código (traduzido literalmente, “A Pa-
lavra dos Mortos”) foi criado durante a
Idade Média para regular o tráfego entre
mortais e aparições. Muitas aparições se
uniram aos vivos através de Cavalgadas,
pesadelos, materializações e muitos outros horrores. Outros se
disfarçavam de demônios para iludir supostos feiticeiros. Com
pouca resistência organizada ou ameaça de punição, essas apa-
rições continuaram seus jogos até que a Igreja respondeu com
exorcismos e proteções.
Caronte decidiu acabar com isso e instituiu o Código
de Caronte. Visando proteger os vivos dos abusos dos mortos,
colocando uma interdição pesada em toda a interação com
mortais. Também deixou muito claro que apenas Caronte e seus
designados autorizados tinham permissão para reunir e despa-
char almas.
O Código é continuamente atualizado e a Hierarquia
de Estígea continua a mantê-lo. A maioria dos agentes das Ter-
ras das Sombras não tem tempo nem energia para lê-lo, muito
menos para reforçá-lo e concentram-se apenas em manter a
paz. Muitos suspeitam que enquanto eles mantiverem o supri-
mento de almas nos escritórios oficiais, não importa quantas
intromissões aconteçam.
O Judiciário
A lei da Hierarquia foi criada tanto para punir quanto
para proteger. A maioria dos Inquietos seguem os ditames em
voz baixa, da mesma forma que seguiam a lei das Terras da Car-
52 Aparição: O Esquecimento
ne em seus dias de respiração. No entanto, há um elemento de
medo que vem com a obediência, um medo que a lei da Hierar-
quia não hesita em capitalizar em nome da lei e da ordem. Ofi-
ciais de Estigia são rápidos e eficientes em capturar os infratores
da lei, enquanto muitas das Legiões e outros agentes da Hierar-
quia nas Terras das Sombras tendem a ignorar infratores me-
nores com intenção de manter a paz e agarrar peixes maiores.
Aqueles que infringem a lei vêm perante um magistra-
do da Hierarquia para serem julgados. Uma aparição pode ape-
lar para comparecer perante um magistrado “superior”, mas os
recursos raramente são ouvidos, a menos que o acusado tenha
alguma posição na Hierarquia local. Em alguns casos, um jul-
gamento pode ser apelado à Mão do Destino, e se as Damas do
Destino anularem a decisão, a Hierarquia, na maioria dos casos,
cumprirá a nova decisão. Poucos sabem o que acontece com os
réus em casos onde não são tratados de maneira tão educada.
Sentença e Punição
Se uma aparição quebra uma lei e é considerada cul-
pada de um crime, pelo menos no território de Estigia, ela é
punida por isso. Obviamente, certas punições, como a pena de
morte, significam pouco para os que já estão mortos e exilar os
infratores à Tempestade apenas corre o risco de fortalecer ainda
mais o Esquecimento. Como resultado, a Hierarquia se tornou
um pouco mais criativa em suas punições.
• Escravidão - O ofensor é acorrentado com algemas
de Estigia, fazendo dele o Cativo de outra aparição, normalmen-
te um oficial da Hierarquia. Esta é a punição mais comum em
território Estígio, embora não seja a mais severa.
• Aprisionamento - Às vezes criminosos são presos
em reflexos das Terras das Sombras de prisões mortais, com pa-
redes reforçadas e barras de metal Estígio para evitar a fuga.
Esta punição devastadora funciona de várias maneiras. Antes de
mais nada, impede que a aparição visite seus Grilhões ou reno-
ve suas Paixões, enfraquecendo sua capacidade de resistir à sua
metade mais escura. Além disso, quando uma aparição é deixa-
da sozinha no escuro para mofar, sua Sombra inevitavelmente
irá redobrar seus ataques à sua Psique.
• Branding - Branding é uma forma de marcar cri-
minosos, efetivamente ostracizando-os da sociedade e evitando
outros possíveis malfeitores de tentarem o mesmo. O tamanho
e a forma das marcas variam de acordo com a gravidade do cri-
me. Crimes graves (supondo que o ofensor escape das forjas ou
dos Mascarados) resultam nos criminosos sendo marcados em
sua testa, expondo-os a um desprezo implacável.
• Desincorporação - Esta é a punição mais severa
dentro do poder da Hierarquia. O agressor é transportado para
as forjas mais próximas e é fundido em um objeto de alma. Al-
ternadamente, alguns criminosos são entregues às aparições es-
pecializadas em Modelar e remodelados em outros implemen-
tos “úteis”.
Forasteiros
“Pode ser”, pensou para si mesmo ... “será que essas pes-
soas são as pessoas do crepúsculo, que amam apenas à noite sua
vida real, e saem honestamente apenas com o anoitecer?”
- Algernon Blackwood, “Ancient Sorceries”

As Guildas
s Guildas começaram como “faculdades”
soltas entre os mortos para ensinar as ar-
tes fantasmagóricas dos Arcanoi àque-
les que usavam ou desejavam buscar o
domínio neles. Mais tarde, as Guildas
evoluíram para organizações políticas
de Aparições Livres, existindo fora das
Legiões e adquirindo poder suficiente
na sociedade de Estigia para deixar até mesmo os Senhores da
Morte nervosos. Como suas contrapartes mortais medievais, as
Guildas guardavam seus segredos com inveja, ocultando-se em
camadas de mistérios que nem mesmo muitos de seus compa-
nheiros podiam ver no passado.
Enquanto a maioria das aparições de Estigias acredi-
tam que as Guildas foram há muito desfeitas, existem 16 Guil-
das atualmente em atividade, cada uma delas especializada em
um Arcanos em particular. Cada uma tem uma reputação per-
sistente desde os dias antigos, quer opte por reconhecê-los ou
não. Os membros de certas Guildas ainda são respeitados desde
sua época junto de Caronte, enquanto outros são odiados por
sua afiliação com os ecos do passado.

A Guerra das Guildas

O Dictum Mortuum fez muito para azedar as rela-
ções das Guildas com Caronte. Para as aparições das Guildas,
o decreto de Caronte impedindo a interferência com as Terras
da Carne foi um golpe terrível em suas atividades e diversões.
Oneiros, Procuradores, Assustadores, Zombeteiros, Titereiros e
facções menores dentro das outras Guildas que dependiam do
contato com o mundo mortal sofreram mais e resolveram não
levar o assunto a sério. Sua resposta foi continuar seu trabalho
como se nada tivesse acontecido, uma atitude que não agradou
a Hierarquia. A contenção pelo contato com os vivos se torna-
ria um dos pontos mais complicados nas relações entre os dois
grupos nos séculos vindouros e quase levou à revolta aberta em
várias ocasiões.
Durante a Idade Média, as Guildas ganharam desta-
que. As aparições proficientes em seus Arcanoi escolhidos se or-
ganizaram como artesãos mortais, oficialmente se codificando
como Guildas. Grupos mais antigos, como o coletivo milenar
dos Ferreiros de Almas, rapidamente se adaptaram ao novo pa-
radigma e logo as Guildas eram um elemento permanente na
paisagem política. Relações estreitas de simbiose se desenvol-
veram entre muitas das Guildas e Estigia, com Aparições-Livres
oferecendo serviços em troca de riqueza, poder e status. No
entanto, uma vez que a riqueza de Estigia fluía das forjas dos

Capítulo Dois: Ambientação 53

Artífices, eles reivindicaram a primazia entre as Guildas e mui-
tas vezes subverteram as agendas de outras Guildas por conta
própria. O ressentimento cresceu entre outras Guildas, ferven-
do em uma guerra não oficial que se estendia das Terras das
Sombras até as ruas de Estigia. Este conflito, chamado Guerra
das Guildas, durou de 1096 a 1354. Embora nunca houvesse ba-
talhões de membros das Guildas nas ruas, o que aconteceu a
portas fechadas foi um assunto inteiramente diferente. Os Mne-
moi atraíram os Oneiros para a guerra, alegando que Caron-
te planejava arrasar vários teatros em favor das forjas da alma,
enquanto os Monitores guiavam a todos para os Grilhões mais
bem protegidos de seus adversários. Um Bardo que desfrutasse
do favor de um certo Anacreonte o “persuadiria” (com a ajuda
da cumplicidade dos Solicitantes) a investigar a questão dos Ar-
tífices forjando armas que não iam pro arsenal, na esperança de
condenar os estelionatários a suas próprias forjas. Outras Guil-
das com contatos nas Terras da Carne (Procuradores, Titerei-
ros, Assustadores e Zombeteiros) os colocam contra o inimigo
principal, enquanto aproveitam o caos para ajustar os inimigos
secundários de suas Guildas. Artífices lutaram de volta, criando
uma série de novos objetos artísticos encantadores da Corpora
de seus inimigos, entregando-os como resposta a esse sensacio-
nalismo apócrifo.
A guerra foi iniciada para remover os Artífices do po-
der, mas acabou tornando-os mais fortes do que nunca. Vários
“acidentes” precisavam ser eliminados e os Ferreiroes eram a
escolha óbvia. Eventualmente, as coisas acabaram em um im-
passe e com o aumento da interferência dos Senhores da Morte,
uma queda das hostilidades fez um maior sentido. Nos últimos
54 Aparição: O Esquecimento
meses de 1354, o Compacto das Guildas foi ratificado pelas 13
Grandes Guildas. Dos excluídos, os Solicitantes e Alquimistas
foram considerados sem importância e portanto, não foram
convidados a assinar, enquanto os Mnemoi eram tão profun-
damente desacreditados a ponto de serem propositalmente des-
prezados.
O Compacto objetivava o fim de todos os conflitos en-
tre as Guildas. Um Conselho de Guildas seria formado para jul-
gar disputas entre Guildas ou membros de Guildas oponentes.
Os Artífices, como a Guilda Mais Velha, se sentariam como a
liderança do Compacto e do Conselho. Isso originalmente cau-
sou mais ressentimentos e sentimentos anti-Artífices, mas esses
sentimentos foram silenciados quando os Artífices distribuiram
alguns artefatos para “encorajar” a cooperação.
A Quebra
Apesar dos problemas em seu início, o Conselho uni-
ficou as Guildas como uma força política. Enquanto brigavam
atrás de portas fechadas, eles apresentavam uma frente unida
ao resto de Estigia. Eles se sobrepunham ao resto da popula-
ção de Estigia no poder, superados apenas pelos Senhores da
Morte (sem dúvida para o alívio coletivo daquelas angustiadas
aparições). No entanto, os ventos da mudança estavam sopran-
do, particularmente na forma de agitação entre os Hereges
e Renegados. Certos Mestres de Guilda viram a instabilidade
forjada por esses grupos como uma chance de tomar o poder
obviamente enfraquecido de Caronte. Em 6 de abril de 1598, as
Guildas, lideradas pelos Artífices, tentaram realizar um golpe de
estado. Os Usurários ajudaram a iniciar a revolta, mas abando-
naram o projeto suspeitamente rápido. Quando eles partiram,
seus aliados mais próximos, os Mascarados, os seguiram e o
golpe começou a afundar. Acabou com um fracasso miserável e
muitos dos ofensores foram destruídos pela próxima maré.
No início da rebelião, Caronte tinha preocupações de
que muito poder estava sendo concentrado ao alcance das Guil-
das. Um golpe mais organizado, poderia ter sido bem-sucedido
onde a desajeitada falta de poder dos Artífices fracassara. Ele
decidiu remover a ameaça de usurpação dissolvendo essa con-
centração ameaçadora de poder e o fez banindo as Guildas das
Aparições-Livres de Estigia.
O Decreto da Ruptura, como era chamado, delineou a
política de Caronte contra as Guildas, a saber: As Guildas exis-
tentes foram dissolvidas como organizações oficiais; quaisquer
grupos que se chamem Guildas foram banidos das terras de Es-
tigia; A filiação com Guildas tornou-se crime; e Legionários es-
pecialmente treinados estariam tomando o lugar dos membros
das Guildas na sociedade de Estigia. Como o golpe, o Decreto
estava errado na intenção e fadado ao fracasso. Após 20 anos
de sabotagem e paralisações, Caronte descobriu que as Legiões
não podiam substituir as Guildas. Aliás, a Ruptura não fez nada
para inibir os membros de Guilda. Eles ainda possuiam as ferra-
mentas e os talentos pelos quais as aparições pagariam genero-
samente.
Ainda assim, seria um mau precedente para Caronte
reverter sua decisão. Tal reviravolta teria sugerido que ele não
poderia criar mandatos políticos firmes nem impor sua vontade
e na instabilidade pós-golpe, parecer fraco diante dos Senhores
da Morte predatórios teria incitado mais rebeliões. No final, ele
escolheu reintegrar os “antigos” membros das Guildas individu-
almente, na condição de que eles entendessem que as Guildas
não existiam mais. No entanto, a ficção de que as Guildas foram
destruídas ainda circulava entre a população e por fim, a popu-
lação passou a acreditar nela.
O Decreto da Ruptura
Neste dia, Ano Estígio de 246 Post Secundum,
decretamos que as Guildas serão desfiliadas de suas posi-
ções por seus crimes: Que eles tentaram derrubar o pró-
prio poder que lhes garante seu lugar e posição; que eles
colocaram os poderes de seu domínio contra o Impera-
dor e a população; que suas maquinações sujas tentaram
desvanecer o próprio tecido de Estigia, suas colônias e
protetorados. Portanto, decretam-se as seguintes interdi-
ções:
• Estarão as Guildas banidas de Estigia. Que
seus Mestres não mais escureceçam minha porta; que
seu poder desvaneça e se espalhalhe como um exército
cativo. Eles não encontrarão refúgio em qualquer lugar
da cidade ou de suas terras onde nossa bandeira se ergue.
• Que qualquer aparição encontrada pertencen-
te a uma Guilda ou reivindicando a adesão a uma Guilda
é considerada uma criminosa da pior espécie. E estarão
sujeitas à justiça de Estigia que os senhores têm sobre
cada Aparição.
• Estejam as Guildas dissolvidas de seu poder,
organização, participação e autoridade. Não mais existe
uma organização como Guilda e qualquer um que rein-
vindique será preso e sentenciado pela justiça de Estigia.

Jogando Com os Outros • Que as Legiões preencham as vagas deixadas

em comando na partida das Guildas. Que sejam treina-
As Guildas ainda existem, independente da política. das nos caminhos do Arcanoi e assim, assumam os pos-
Não importa que histórias ou linhas partidárias sejam dissemi- tos vazios abandonados pelas Guildas orgulhosas.
nadas, as Guildas ainda são uma força vital no Mundo Inferior.
Muitas fornecem acesso organizado a serviços que nenhuma
Esta é nossa vontade, a nossa lei e o nosso de-
aparição gostaria de viver sem, enquanto outras têm poderes
que se tornaram necessidades políticas. No final, as Guildas sus- creto. Ai do desgraçado que quebrar a palavra da lei.
tentam que qualquer talento que se queira o bastante persuadirá Erigida neste dia de 14 de abril, Ano Estígio de
uma aparição a abandonar seus princípios superiores para pro- 246 Post Secundum, com o qual colocamos nossas mãos
curá-las, onde quer que estejam. e selos.
Apenas cerca de um décimo das aparições em Estigia
são membros de Guilda e a maioria das aparições acredita que
as Guildas não existem. O mero conhecimento da especialidade Caronte
de uma Guilda não é suficiente para condenar uma aparição de Imperador
ser membro e espera-se que os cidadãos de Estigias conheçam
algo de ao menos um ou dois Arcanoi. No entanto, as Guildas
foram banidas pelo decreto de Caronte e portanto, pertencer a
uma tecnicamente faz de uma aparição um Renegado. Como
os criminosos são elegíveis para serem fundidos nas forjas, a
associação a uma Guilda pode ser uma coisa perigosa.

Capítulo Dois: Ambientação 55


Uma Nota Sobre os Títulos
Qualquer um que pratique um Arcanos, particu-
larmente se esse Arcanos for sua habilidade principal, será
marcado com o nome “apropriado”, seja membro de Guil-
da ou não. Uma aparição habilidosa em Phantasma será
chamada de Oneiro, mesmo que ela não seja membro da
União dos Sonhos, também conhecida como Guilda dos
Oneiros. Aparições membros de Guildas tendem a usar
termos mais específicos como Ferreiros ou Mergulhadores
do Inferno, quando falam entre si.
Muitos ex-membros de Guilda ou ladinos procuram
grupos de Renegados nos quais se esconder, o que é uma ques-
tão de grande preocupação para aqueles que desejam manter as
Guildas especializadas em determinados Arcanoi. Alguns des-
ses desistentes de Guildas podem atuar, mas aqueles que ensi-
nam segredos de Guilda a pessoas de fora estão jogando dados
com suas pós-vidas, já que a Guilda em questão provavelmente
cobrará por essa traição. Os Artífices e Titereiros, em particular,
têm prazer em caçar traidores que ensinam segredos da Guilda.
Hereges tendem a ver as Guildas como grupos secula-
res desaparecidos ou simplesmente não possuem ciência dessas
organizações. De acordo com alguns cultos Hereges, a Ruptura
foi uma retribuição divina contra os blasfemadores dos Zom-
beteiros, Artífices ou qualquer outro grupo que tenha sofrido
a ira do culto. Por outro lado, muitos cultos também podem
abrigar ex-membros de Guildas, mas é dada ênfase no aspecto
“ex”. Abrigo entre os crentes vem com um preço e nem todas
as aparições estão dispostas a pagar o preço para evitar a ira da
Hierarquia.
Apesar do Decreto, o Conselho das Guildas continua
a se encontrar e a brigar, como sempre fez. Os Artífices, como
a mais antiga Guilda, reivindicam certos direitos e privilégios
que lhes são devidos, exigindo respeito e obediência. Esse ar de
superioridade irrita os Assustadores, Zombeteiros e Usurários,
entre outros, contribuindo para as relações difíceis entre os gru-
pos. As Guildas mais jovens têm frequentemente propósitos
opostos sobre o que fazer e quem tem precedência, muitas vezes
transformando as reuniões do Conselho em puro caos. Nas ra-
ras ocasiões em que as Guildas são unificadas em direção a um
objetivo, no entanto, elas ainda podem exercer uma quantidade
assustadora de influência. Com tantos membros infiltrados na
sociedade de Estigia, livres de suspeitas, as Guildas têm seus de-
dos em mais alavancas de poder do que os os Senhores da Morte
podem sonhar.
As Guildas Hoje
A maioria das aparições, sejam elas da Hierarquia,
Hereges ou Renegados, não acredita ativamente na existência
das Guildas. Caronte as desfez séculos atrás, afinal de contas,
e nunca mais se ouviu falar delas. O Ferreiro de Almas na rua?
Ele é apenas um Ferreiro de Almas, não um Mestre Artífice. O
Oneiro do outro lado da cidade que faz turnês de sonhos toda
quinta-feira? É apenas uma artista de rua, não um membro da
chamada União dos Sonhos. Mesmo na burocracia bizantina da
56 Aparição: O Esquecimento
Hierarquia, poucos são os que conhecem a verdade e parecem
contentes em deixar a mentira incontestada.
Para aparições com séculos para tramar, uma política
elaborada é a regra do dia a dia. As Guildas não são exceção.
Muitos membros de Guilda estão preocupados com degradação
da sociedade de Estigia sob controle dos Senhores da Morte e se
vêem como uma alternativa viável para as disputas mesquinhas
que tem feito parte do dia a dia. Apesar dos esforços das Guildas
para se manterem por baixo dos panos, elas fazem parte da mo-
vimentação política como as Legiões ou Hereges. Isso leva todos
os envolvidos a riscos terríveis; se a existência das Guildas fosse
desmascarada, a profundidade de seu envolvimento na políti-
ca de Estigia poderia enviar literalmente milhares de aparições
para as forjas (desde que houvesse alguém lá para moldá-las).
Oficialmente, aparições são convidadas a dedicar seus
talentos nos Arcanoi à Hierarquia, sejam eles de entretenimen-
to ou serviços mais vitais. Extra-oficialmente, cada Guilda tem
uma determinada política inclinada a ela, com os talentos dos
membros frequentemente fornecendo pistas sobre sua afiliação.
Por causa do Dictum Mortuum, Zombeteiros, Procuradores e
Titereiros continuam sendo as Guildas que permanecem es-
condidas. Nunca oficialmente sancionados pela Hierarquia,
eles tendem a uma postura de Renegados linha-dura. Bardos
e Oneiros caminham na corda-bamba, já que seus serviços são
valorizados, mas seus temperamentos artísticos os conduzem
a uma postura política mais Renegada. Seus companheiros de
cerca de prisão são: Assustadores, Adivinhos, Usurários e Mas-
carados, todos os quais tendem a mudar de acordo com a forma
como a brisa política está soprando. Artífices, Mensageiros, Mo-
nitores e Conciliadores ainda estão atuando, relativamente con-
trolados e organizados em sua posição contra o Esquecimento.
Por outro lado, tanto os Artífices quanto os Conciliadores exibi-
ram algumas tendências Hereges marcantes nos últimos tempos
e seu extremismo em certas questões perturba as outras Guildas
de maneira notável.
Buscar os serviços de um membro de Guilda não é
tão difícil quanto se poderia pensar. Se um Conciliador pen-
dura para fora sua lanterna de ferro (um reconhecido símbolo
da Guilda nos livros de história dos mortos) para indicar que
está aberto para negócios, é improvável que um esquadrão de
Legionários corra para capturá-lo por violar o Decreto da Rup-
tura; todo mundo precisa de um Conciliador mais cedo ou mais
tarde. Da mesma forma, sem Artífices, não haveria aço Estígio,
nem correntes, nem alma de qualquer tipo. É a organização
desse talento que deixa a Hierarquia ansiosa. A maioria dos
funcionários da Hierarquia não-Estigios e das Legiões tendem
a adotar uma atitude de “deixe rolar” em relação à questão de
membros únicos de Guilda se estabelecerem em lojas. Um Ar-
tífice se torna um Ferreiro de alma, enquanto um Mascarado é
um alfaiate ou esteticista, e um Adivinho é meramente o carto-
mante local. Os Conciliadores recebem muito mais liberdade
do que outras aparições de Guilda por sua necessidade. No ter-
ritório da Hierarquia, a maioria das aparições que demonstram
um nível suspeito de treinamento em um Arcanos geralmen-
te recebem uma advertência “Não me diga nada que me faça
ter que prendê-lo” e deixam elas em paz enquanto não fizerem
nada ultrajante.

Barqueiros
Fique por perto, Tu Estigia,
Com Dirce em um barco transportado
- Walter Savage Landor
ozinho no Mundo Inferior, o Barqueiro
é um enigma e lenda de partes iguais.
Todas as aparições encontraram um (ou
conhecem alguém que tenha encontra-
do ou conhece alguém que conhece al-
guém...), mas ninguém sabe muito sobre
eles. É de conhecimento geral que ne-
nhuma aparição interromperá um Barqueiro em sua jornada e
até mesmo as Legiões lhes darão passagem livre. Eles varrem os
Atalhos de incursões de Espectros e mantêm os caminhos para
as Costas Distantes e Estigia seguros, mas não reivindicam leal-
dade com a Hierarquia, Hereges ou Renegados. Ninguém sabe
de onde vêm, para onde vão ou porque viajam sem parar.
Os Barqueiros foram originalmente criados e empo-
E Mais Três
As chamadas “Guildas Menores” não são con-
sideradas socialmente iguais às 13 originais, uma antipa-
tia que os membros dessas Guildas retornam em igual
medida. Ativamente caçados, meramente ignorados ou
simplesmente condescendentes, essas Guildas são eter-
namente marcadas com status menor.
Já banidos de Estigia quando a Ruptura entrou
em vigor, os Solicitantes gozaram de uma reputação de
serem mais uma cabala hermética do que uma Guilda.
Seu Arcanos, Intimação, com seus poderes sobre dese-
jos e ódios, eram um dos mais procurados pelos clien-
tes, mas esse conhecimento vinha com riscos terríveis.
Aqueles que procuraram os Solicitantes para se tornarem
seus clientes poderiam facilmente se tornar suas vítimas
também. Bem antes da Ruptura, a Guilda foi expulsa de
Estigia e até mesmo da companhia das outras Guildas.
Hoje em dia, os Solicitantes ainda não são bem-vindos
em situações sociais, mas não são tão indesejáveis a pon-
to de aparições individuais não buscarem seus serviços
caros.
Os Alquimistas, um desdobramento dos Ar-
tífices, procuraram entender a energia dentro dos ob-
jetos e como usar essa energia para inspirar a vida em
objetos não vivos. Eles trabalharam em conjunto com
os Artífices até a Ruptura. Poderiam ter continuado em
suas pesquisas, apesar das circunstâncias, mas a pressão
da aplicação do Dictum Mortuum diminuiu fortemen-
derados por Caronte nos inebriantes dias antes da República de
Estigia. Enviando-os para levar as almas em segurança para as
Costas Distantes e Transcendência, Caronte fez o seu trabalho
muito bem; quando os Barqueiros sobreviventes sentiram que
Caronte havia abandonado sua missão original e compartilha-
da, a grande maioria deu as costas ao Imperador de Estigia e
tornou-se um agente independente. Agora eles viajam pelos
Atalhos e as Terras das Sombras, em missões desconhecidas.
Muitas vezes, os Barqueiros fazem uma pausa em suas
viagens para embarcar passageiros. Embora eles não possam
transportar seus convidados para seus destinos tão rapidamente
quanto alguns gostariam, os Barqueiros irão protegê-los mesmo
que sejam destruídos; a segurança da alma de outra pessoa é
algo que levam muito a sério. Além disso, os Barqueiros têm
uma reputação incontida de destemor e honestidade e a palavra
de um desses andarilhos encobertos é tão boa quanto a verdade
em qualquer lugar das Terras das Sombras.
Barqueiros sempre exigem um preço por sua ajuda,
seja um juramento, um artefato ou uma tarefa. Quebrar uma
promessa feita a um Barqueiro marca quem jurou pela eterni-
dade e sujeitará uma aparição à sua justiça.
te suas atividades. Como seus outros irmãos de Guilda,
os Alquimistas fornecem um serviço que as aparições
podem e vão pagar. Uma aparição querendo fortalecer
um Grilhão ou apodrecer outro pode frequentemente se
convencer a contatar um Alquimista, deixar alguns oboli
no ponto designado e se encontrar em tal hora para ver
o trabalho sujo feito. Ao contrário de seus colegas exclu-
ídos, os Alquimistas ainda desfrutam de um relaciona-
mento amigável com outras Guildas, particularmente
com sua organização mãe.
Os Mnemoi já serviram como detetives para o
judiciário de Estigia, seu Arcanos que distorce a memó-
ria, permitindo-lhes penetrar em uma mente criminosa
para descobrir os detalhes de um crime. Infelizmente, a
ganância chegou as Guildas e os anciões levaram a ven-
der seus talentos aos mais altos licitantes. Quando foram
desmascarados por Caronte, os traidores foram derreti-
dos e seus seguidores esmagados. Os Mnemoi, despreza-
dos e caçados, foram afastados de Estigia. Agora moram
nos cantos mais escuros das Necropoli, oferecendo seus
produtos para clientes cuidadosamente selecionados.
Muito além do pálido contato social educado que qual-
quer aparição digna de seu Corpus preferiria ser fundida
do que lidar com eles, os Mnemoi são um dos mais de-
sagradáveis da existência nas Terras das Sombras. Todo
mundo sabe que eles estão lá, mas ninguém vai admitir
isso até que precise.
Capítulo Dois: Ambientação 57
 Além de sua lendária reputação de orientar as almas
em busca da Transcendência, os Barqueiros são espíritos pode-
rosos, bem treinados em combate e nos Arcanoi. Rodeados por
Espectros e feras da Tempestade toda vez que viajam, eles são
forçados a lutar onde quer que estejam e um Barqueiro fraco
não vai muito longe.
Todos os Barqueiros podem ser conhecidos por seus
capuzes e foices, que usam para empurrar suas jangadas relíquia
pelos Atalhos e através do Mar Sem Sol. Cada Barqueiro se veste
com uma túnica preta idêntica e agarra a madeira envelheci-
da do cabo de sua foice com dedos esqueléticos e finos. Dizem
que os olhos dos Barqueiros brilham na presença de Espectros,
mas a maioria das aparições descarta essa ideia como uma lenda
exagerada.
As Guildas
As 13 Guildas mais ou menos oficialmente reconhe-
cidas pelo governo de Caronte eram:
• Artífices - Os Ferreiros de Almas, habili-
dosos no Arcanos Habitar.
• Bardos - Cantores dos mortos, usuários
dos Arcanos Lamúria.
• Mensageiros - Guias através da Tempesta-
de, qualificados no Arcanos Argos.
• Zombeteiros - Mestres do Pandemonium,
os Zombeteiros semeiam discórdia e estranheza.
• Mascarados - Guerreiros, espiões e artis-
tas, Mascarados torcem Corpora com Modelar.
• Monitores - Especializados no Arcanos da
Teia Vital, os Monitores trabalham com os Grilhões.
• Adivinhos - Aqueles que lêem a teia do
Destino, guardiões dos segredos do Fatalismo.
• Conciliadores - Aqueles que confrontam
as Sombras, Conciliadores são mestres de Castigar.
• Procuradores - violando flagrantemente o
Dictum Mortuum, os Procuradores se especializam
em Encarnar.
• Titereiros - Possuem os vivos, Titereiros
exibem o Arcanos Titerismo.
• Oneiros - Tecelões de sonhos e pesadelos,
os Oneiros conhecem os segredos de Phantasma.
• Assustadores - se intrometendo telecine-
ticamente com as Terras da Carne, os Assustadores
entendem o Arcanos Insulto.
• Usurários - Temidos por suas habilidades
de sugar Pathos e Corpus, os Usurários praticam o
Arcanos Usura.
58 Aparição: O Esquecimento
Espectros
Vá lá fora
O que há para ver?
Apenas uma grande sombra para me consolar.
- Oingo Boingo, “Quando as luzes se apagam”
oda guerra tem suas baixas e a guerra
contra o Esquecimento não é exceção.
Aparições cujas Sombras se tornam do-
minantes deixam as Terras das Sombras
para habitar a Tempestade e o Labirin-
to; esses espíritos imundos são coleti-
vamente conhecidos como Espectros.
Servos do Esquecimento, a maioria dos
Espectros procura fazer com que outros se juntem ao seu tor-
mento. Eles trabalham incessantemente para o dia em que o Vá-
cuo conquistará tudo, mas até que esse tempo chegue, não vão
evitar de ter alguma diversão sádica com qualquer aparição que
encontrem.
A maioria das aparições pouco sabe sobre os Espec-
tros, com exceção de que devem ser temidos e odiados. Os De-
vorados pela Sombra assaltam Atalhos e Cidadelas, montando
Maelstroms em missões de destruição. Poucas aparições estão
interessadas em saber mais sobre eles, exceto talvez por melho-
res maneiras de combatê-los.
O que se sabe de mais aterrorizante sobre os Espec-
tros é o fato de que eles parecem ser capazes de falar diretamen-
te com a Sombra das aparições, trabalhando com ela em uma
aliança profana. Espectros freqüentemente parecem conhecer
todas as fraquezas e medos de uma aparição e às vezes podem
fortalecer a Sombra de maneira assustadora.
Há rumores de que haja uma vaga sociedade de Es-
pectros dentro do Labirinto, mas exploradores sociais tem sido
poucos. O que se sabe é que alguns Espectros ainda mantêm
seus Grilhões e portanto, podem se infiltrar nas Terras das Som-
bras.
Entre as muitas castas de Espectros, as mais conhecidas incluem:
• Replicantes - Espectros que retêm Grilhões e uma
aparência relativamente normal, Replicantes voltam suas aten-
ções para subverter Cidadelas por dentro.
• Nephwracks - Ainda possuindo Grilhões, mas for-
jados em formas monstruosas pela Tempestade, os Nephwracks
vivem na Tempestade eterna e atacam os viajantes. Eles rara-
mente aparecem nas Terras das Sombras, para grande alívio da
maioria das aparições.
• Vultos - Quase sem mente, mas incrivelmente pode-
rosos, Vultos estão entre os mais poderosos Espectros encontra-
dos fora do Labirinto. As sombras tendem a ser distorcidas em
formas que só podem ser descritas como inumanas.
• Malfeanos - Os Sacerdotes-Reis do Labirinto, os
Malfeanos são tão poderosos e maus que estão além da com-
preensão de uma aparição comum. Muitas vezes chamados de
Nunca-Nascidos, os Malfeanos supostamente saíram do Vácuo
no início dos tempos e tramaram, adormeceram e guerrearam
entre si desde então.
Mais informações sobre Espectros podem ser encontradas na
página 270.
 Historia Popularis Stygiae
(Uma História Popular de Estigia)
Agora Musas, cujo alto Gênio guiou meus pensamentos
e visões no antigo e fugaz mundo da carne, alcançam suas mãos
benéficas através da santa Mortalha que cobre esse não-mundo de
todos os outros, revelam para mim o caminho da verdade, permi-
tem que meu humilde estilo para narrar os feitos desses espíritos,
poderosos e básicos, que trouxeram este império ao seu estado
atual.

Prólogo
m vida fui testemunha de grandes e ater-
rorizantes visões. Vi o que percebi ser o
outro mundo, o Céu e o Inferno e o Ca-
minho do Meio, o lugar do Purgatório.
Incontáveis legiões de almas eu vi, suas
transgressões em Vida colocadas nuas e
cruas diante da justiça do Todo-Pode-
roso: reis e plebeus, homens e mulheres
santos, amantes e tolos, suas almas irreais despojadas, esfoladas,
desmembradas, submersas em lagos de fogo e rios em ebulição,
embutidos em cavernas de gelo há quilômetros de profundi-
dade, suas entranhas arrancadas de seus corpos, mastigadas e
engolidas por demônios e diabos e diabólicas monstruosidades
reptilianas de muitas cabeças, somente para ser reconstituído e
ter todo o processo repugnante a repetir-se, de novo e de novo,
mais e mais até o som da Última Trombeta.
Mas o que vi nos níveis mais baixos do Inferno e das
esferas mais veneradas do Céu não foi suficiente para me pre-
parar para o que vi nos últimos sete séculos e além. Aquilo que
escrevi em Vida e os pesadelos que suportei não poderiam me
cingir para este plano de existência; este cinzento não-mundo;
esta dança viva, eterna e árdua, à qual todos nós somos conde-
nados.
Para você, minhas companheiras aparições, escrevo
esta história. Pela verdade, viajei pelas estradas distorcidas deste
império, olhei para os lugares mais escuros de seu coração e fiz o
papel de escrivão fiel de tudo o que aprendi. Onde outros fecha-
ram os olhos e se recusaram a ver, olhei para os santuários do
poder e os sepulcros do Esquecimento. Onde os outros bloque-
aram seus ouvidos para os incessantes cantos deste lugar sufo-
cante, me sentei vigilante absorvendo seus sons. Muita atenção,
leitor, sobre estas palavras e saiba que o que escrevi, escrevi claro
e inacabado, como as coisas foram e como são, não como eu ou
os outros gostariam que fossem.

Capítulo Dois: Ambientação 59

 I - A Escuridão Antes do Tempo
Houve uma época antes do tempo, antes que os Rei-
nos Negros surgissem. As lendas falam de um mundo onde os
limites entre vivos e mortos eram mais finos do que são ago-
ra, separados por uma frágil película através da qual os mor-
tos poderiam passar de volta ao mundo dos vivos. E os vivos
poderiam passar por essa ruptura insubstancial para o mundo
dos mortos, para ouvir a voz do seus bem aventurados amigos
do outro lado do vazio. Alguns personagens heróicos surgiram
(Gilgamesh, Enéias) estes e outros arriscaram as dificuldades
inerentes à travessia.

A Separação
Foi então que uma grande fissura apareceu no mundo
e o reino dos vivos e dos mortos foram forçados a se separar no
período conhecido como a Separação. O corte entre os mundos
se ampliou de maneira intransponível, forçando uma grande
Mortalha a ser desenhada entre os dois reinos. Os reinos se di-
vidiram entre o dos Breves, conhecido posteriormente como as
Terras da Carne e a Terra dos Mortos, conhecida também como
o Mundo Inferior.
Quando este rasgo dividiu os dois mundos, sentiu-se
uma forte presença do Esquecimento nas Terras das Sombras,
uma fúria terrível de inexistência. Não se sabe de onde veio o
Esquecimento, mas sua essência não pode ser ignorada, exis-
tindo sempre para puxar os fracos e os desesperados para sua
escuridão. Da violência da Separação sugiram do Esquecimento
os primeiros Malfeanos, enormes, com presas e cheios de ódio
e destruição eles vieram. Cavaram os lugares abaixo das Terras
das Sombras, tecendo e enterrando suas essencias sem rumo até
que seus infernais túneis em forma de larvas criaram sua pró-
pria prisão, o Labirinto, cujo temido entrelaçamento de caver-
nas não leva a lugar nenhum além do cerne do Esquecimento.

A Dama do Destino
Foi também durante a Separação que a Dama do Des-
tino emergiu do caos da fenda entre os reinos dos Breves e dos
Mortos e leu o fio do Destino e previu a vinda de um grande
guia, um viajante chamado Caronte, que iria Navegar pelo Rio
da Morte e conduziria as almas que haviam passado pela fenda
para as Costas Distantes em segurança, longe dos lacaios do Es-
quecimento.

II - Caronte
Foi da destruição de Micenas que o grande Caronte
surgiu para criar este reino morto. Tendo previsto a sua vinda, a
Dama do Destino acolheu-o e apresentou-lhe uma jangada para
navegar no Rio da Morte. Sozinho, Caronte navegou por essa
via turbulenta por muitos anos, rio acima e abaixo, conhecendo
cada enseada, aventurando-se em todas as praias. Chegou final-
mente ao delta, onde o rio corria para o amplo Mar Sem Sol,
tomado pelas víceras de espíritos encalhados. No delta do rio, a

60 Aparição: O Esquecimento
Ilha das Lamentações erguia-se das profundezas, um penhasco
saliente de perigosas subidas e margens brutais perigosas para
aportar em embarcações normais. Mas a Dama do Destino
guiou a pequena embarcação de Caronte até as margens da Ilha
e apareceu para ele, seus olhos ofuscando o firmamento escuro,
falando com ele em uma voz tão doce quanto a língua dos anjos:
Contemple! Depois de ti virão as massas dos Mortos,
uma multidão contínua que vagará pelas Terras das Sombras sem
orientação nem luz, salvo pela a tua ajuda. E entre estes erran-
tes encontrarás os Inquietos, ainda atrelados à Vida como a ti.
Aprende bem o poder da vida, para que o uses na morte. Tu deves
tirar o teu dízimo dos Mortos como eles o oferecem, para iluminar
a tua própria existência neste mundo cinzento. Ajude outros a
encontrarem sua verdadeira luz interior, para que possam passar
deste lugar e atravessar este Mar até as Costas Distantes, onde
poderão encontrar o seu descanso.
Tomado pelo fogo do comando da Dama, Caronte
partiu e apresentou-se aos Mortos errantes nas Terras das Som-
bras e falou da visão da Dama para aquela raça miserável e eles
reconheceram Caronte como seu líder. Ele os guiou pelo Rio
da Morte até o vasto Mar Sem Sol e ensinou os Mortos a mol-
dar suas próprias jangadas de junco como a sua, cortadas das
plantas que cresciam entre os pântanos do delta do Rio. Caronte
ensinou os Mortos a navegar pelo Rio e pelo Mar Sem Sol até
as Costas Distantes e muitos dos mortos ouviram suas palavras
e se aventuraram pela grande expansão para encontrar seu des-
canso.
Os Barqueiros
Os Inquietos, como previsto pela Dama do Destino,
vieram até Caronte e ele ensinou-lhes a dominar as profundezas
do rio e uma forma de navegar em seu curso serpenteante atra-
vés da Terra dos Mortos. Alguns dos Inquietos ouviram as pa-
lavras de Caronte e o seguiram, mas outros se recusaram a dar
ouvidos às suas instruções, contentando-se em vagar em luga-
res longínquos, a cortejar as tentações do Esquecimento em sua
própria obstinação. Alguns dos Inquietos também preferiram
vigiar os Breves, tornando-se protetores de certos indivíduos ou
famílias do outro lado da Mortalha. Àqueles Inquietos que vie-
ram a Caronte para aprender seus ensinamentos, ele nutria um
amor especial, pois foram eles que se comprometeram a ajuda-
-lo a transportar as almas pelo Rio da Morte até o Mar Sem Sol.
Durante esse tempo, muitas almas se aventuraram
através do Mar Sem Sol, algumas delas tão leves que podiam
flutuar nos ventos suaves que se moviam sobre a face das águas
em direção às Costas Distantes. Mas Caronte sabia, pelas pala-
vras da Dama do Destino, que nem todas as almas poderiam
alcançar seu descanso eterno por conta própria; por essa razão,
ele levou aqueles Inquietos que se juntaram a ele e fez deles Bar-
queiros e a Ilha das Lamentações seu local de encontro. Na Ilha,
os Barqueiros se reuniam para discutir seu trabalho e trocar
idéias uns com os outros. Eles ofereceram ajuda uns aos outros
em troca de pequenas relíquias e fragmentos de luz recolhidos
dos recém-mortos, o dízimo que lhes foi oferecido por Caronte
de acordo com as palavras da Dama do Destino. Eles também
se uniram e fizeram um juramento de proteger as almas sob sua
responsabilidade e salvaguardar o mundo dos Breves dos In-
quietos que haviam se voltado contra o caminho de Caronte e
começaram a causar inquietação aos vivos.
Foi depois da fundação dos Barqueiros que o Labirin-
to vomitou pela primeira vez uma litania de Espectros bizarros
e grotescos, cujos gritos ferozes se agitaram na noite atemporal.
Assim, os Barqueiros se firmaram contra o ataque cacofônico e
redobraram seus esforços para conduzir seus rebanhos através
desses animais pelo Mar Sem Sol.
Logo após a erupção do Esquecimento, vários dos
Barqueiros embarcaram no próprio Mar Sem Sol, para estabele-
cer uma rota para transportar as almas por todo o caminho até
essas terras de tranquilidade. Esses Barqueiros eram chamados
de os Iluminados, pois suas explorações iluminavam o caminho
para os outros encontrarem as terras distantes. Caronte ficou
triste ao ver os Iluminados irem, mas sabia que suas ações aju-
dariam a tornar a passagem para o descanso eterno mais fácil
para aqueles que viriam depois.
A Primeira Descida e a Vinda de Nhudri
A Dama do Destino apareceu para Caronte pela se-
gunda vez, depois que os Iluminados deixaram sua companhia
para encontrar rotas para as Costas Distantes e o convenceu a
descer o Labirinto e confrontar a vasta Escuridão Absoluta abai-
xo, a Sombra do Esquecimento, a incessante entidade sombria
que sempre procura aplacar a fome as desesperadas almas vivas.
Caronte ouviu as palavras da Dama e viajou para a Escada Ve-
nosa, com seus degraus de mármore ensanguentados pulsando
com a ira do Esquecimento. Com apenas os Barqueiros, sua foi-
ce e lanterna, Caronte entrou naquele caminho selvagem para
o Labirinto. Não se sabe por quanto tempo Caronte percorreu
as constrições do Labirinto sombrio, sua lanterna era o único
ponto de luz naquele lugar hediondo. Os Barqueiros, persegui-
dos por seu juramento, patrulhavam fielmente o Rio da Morte,
levando as almas ao Mar Sem Sol e imaginando o destino de
seu mentor. Sons de uma grande batalha podiam ser ouvidos
O Labirinto
“A descida para Averno é fácil”, disse Vir-
gílio. A descida para o Labirinto é ainda
mais fácil e ainda mais horripilante, pois é encon-
trada em todos os momentos de degradação e ca-
lúnia, cada sentimento de desânimo e inutilidade.
Suas entradas podem ser encontradas em qualquer
lugar, às vezes nos lugares mais remotos de Esti-
gia, às vezes em plena luz do dia em um caminho
com tráfego pesado. A descida é onde e quando o
nosso lado mais sombrio apodrece em plena vista,
batendo a nossa psique com os seus Pesadelos, os
malditos jogos mentais das nossas Sombras. O La-
birinto está repleto de Espectros, sempre disposto
a perfurar as almas dos desafortunados que abrem
caminho por suas veias subterrâneas, lançando os
infelizes mais e mais adiante.
Capítulo Dois: Ambientação 61

O Juramento dos Barqueiros
Baseado na ordem dada a Caronte pela
Dama do Destino, o Grande Juramento dos Bar-
queiros foi concebido pelo primeiro grupo de In-
quietos que ouviu a mensagem de Caronte. Segue
como ocorreu:
Eu me comprometo como um instrumento
de passagem segura e salvação para todas as almas
que busquem ajuda para alcançar as Costas Distan-
tes.
Eu me comprometo com a propagação das
palavras de nosso grande líder, Caronte, cuja prote-
ção deste reino lhe foi dada pela Dama do Destino.
Eu me comprometo a manter-me firme
como um baluarte de defesa para a Mortalha que
separa este mundo do primeiro e para garantir a se-
gurança na Terra dos Breves daqueles elementos ilu-
didos na Terra dos Mortos, que trabalhariam para
rasgar o tecido da Mortalha e perturbar a passagem
de almas do mundo antigo para o nosso para seus
próprios propósitos egoístas.
Eu também me comprometo a me proteger
contra a sempre presente ameaça do Esquecimento e
seus agentes, para impedir as ações daqueles que são
hostis à orientação pacífica das almas para seu des-
canso eterno e sacrificar minha alma se necessário na
defesa deste reino dos poderes das trevas e entropia
que procuram alimentar-se dos fracos e dos inocen-
tes.
Eu prometo estas coisas e todo o seu valor e
me reporto ao nosso líder Caronte e à guardiã deste
mundo, a Dama do Destino. Pelo remo de Caronte e
pelas palavras da Dama, encontrarei força e sabedo-
ria.
A frase na última sentença, “Pelo Remo
de Caronte”, é usada por todos os Barqueiros como
um brado de adeus, tanto em comunicações verbais
quanto escritas e passou para o vernáculo Estígio
como o maior juramento que uma aparição pode
dar a outra, sendo usado em todos os documentos
oficiais do Imperio para garantir sua autenticidade.
Diz-se que quebrar este juramento marcará para
sempre a aparição para a justiça dos Barqueiros.
- De Locais Sem Sol e Alto Grão What-
chamacallits: Uma História da Estigia Vernacular
e seus Contos, por Everett Edward Fotheringay, d.
1964.
62 Aparição: O Esquecimento
do eterno negrume que abrigava a Escada Venosa, mas nenhum
Barqueiro era suficientemente corajoso para descer.
Finalmente, Caronte subiu daquele abismo doloroso,
com os olhos brilhantes como a lanterna que segurava e trouxe
consigo um antigo fantasma chamado Nhudri, que havia resi-
dido como prisioneiro do Esquecimento. Nhudri era há muito
tempo experiente na arte da forja, usando como seu material o
material das almas e Caronte colocou nele o poder e a responsa-
bilidade de moldá-lo nas Terras das Sombras.
O Retorno dos Iluminados
Depois que Caronte retornou do Labirinto, navegou
o Rio da Morte em seu barco para a Ilha das Lamentações, e
convocou os Barqueiros para a Ilha soprando um grande chifre.
Quando essas sentinelas chegaram à Ilha, Caronte contou sobre
seu tempo lá embaixo e que confrontou a Escuridão Total e viu
que o Esquecimento estava crescendo. Ele falou a seus Barquei-
ros de um grande poço, onde as almas dos que foram negligen-
ciados e não vigiados e muitos dos Inquietos que se recusaram
a se tornar Barqueiros e tomaram suas peregrinações separadas
para as Costas Distantes, foram lançados no Vácuo abaixo.
Caronte repreendeu seus Barqueiros por seu desleixo
em seu dever para com as almas das Terras das Sombras e eles
escolheram acatar suas palavras e redobrar seus esforços em
direção à salvaguarda das almas. Muitos Barqueiros vigilan-
tes partem para todos os pontos da bússola, em busca de uma
defesa contra a ameaça invasiva. Depois que esses Barqueiros
partiram, aqueles que haviam viajado para encontrar as Costas
Distantes, os Iluminados, retornaram. Eles vieram a Caronte,
contando histórias de grandes Salões dos Mortos, onde guer-
reiros caídos e homens e mulheres virtuosos de todas as esferas
da vida festejavam juntos. Disseram a Caronte que as Costas
Distantes eram lugares reais, cheios de aparições que tinham
encontrado a paz interior pela qual haviam lutado por tanto
tempo.
III. A Fundação do Império
Armado com o conhecimento adquirido pelos Ilumi-
nados, Caronte embarcou novamente em sua jangada de juncos
e navegou sozinho através do Mar Sem Sol, seguindo as cartas
fornecidas por aqueles Barqueiros que o haviam percorrido an-
tes dele e encontrado as Costas Distantes. Caronte se foi por
muitos anos, durante os quais os Barqueiros ainda mantinham
sua vigilância contra o inimigo Esquecimento.
Quando a grande República das Terras da Carne foi
fundada em Roma, Caronte retornou das Costas Distantes, car-
regando sete grandes sinais daqueles que brilharam no Mar Sem
Sol e que tinha tomado sob sua custódia esses variados reinos.
Por esses sinais foi a Caronte dado poder sobre os mortos, um
único magistrado com poderes para julgar e submeter o destino
de todas as almas que vieram e viriam para as Terras das Som-
bras. Caronte pegou esses sete sinais e os colocou em uma gran-
de placa de ferro nas Terras das Sombras. Por sua autoridade, ele
criou a pedra angular de uma nova Cidade, o Assento Eterno, o
olho da civilização neste Mundo Inferior dos Mortos.

A Construção da Cidade
Sobre a pedra angular dos sete sinais dos Iluminados,
Caronte começou a construir sua cidade. De Sodoma e Go-
morra, Egito, Jericó, Babilônia, Ilium e Atenas e Esparta, dessas
cidadelas desoladas e caídas, Caronte recolheu as pedras mais
fortes e construiu uma fortaleza maravilhosa na Ilha das La-
mentações. Caronte construiu sua cidade na forma das grandes
cidades de Atenas e Roma: avenidas largas e grandes, praças
enormes, estruturas de colunas elevadas e monumentos para
aqueles Barqueiros caídos, cujos sacrifícios ajudaram a levar os
Mortos a esse novo bastião da paz. No centro da cidade havia
um imponente farol, empoleirado no topo do maior promon-
tório da ilha, no qual Caronte colocou a lanterna que usou no
Labirinto durante sua primeira descida. A lanterna brilharia e
iluminaria a cidade (que foi chamada desde então Estigia), ser-
vindo de testemunho dos grandes feitos de Caronte e anuncian-
do a todas as almas a promessa de segurança.
A República
Caronte instituiu o primeiro governo de Estigia ao
longo do modelo da República Romana. Esta grande Repúbli-
ca de Estigia tinha um Senado de sete lugares, preenchido por
Caronte com sete de seus tenentes mais confiáveis. Cada Sena-
dor recebeu o controle sobre uma parte diferente do mundo dos
Mortos, com Caronte atuando como Cônsul. O primeiro ato do
Senado foi conceder terras perto das docas que se derramavam
sobre o Mar Sem Sol para os Iluminados, as quais poderiam
usar para construir seus templos como portais nos quais os
Mortos poderiam se reunir antes de partir em sua jornada para
as Costas Distantes.
O Senado também recebeu emissários dos Reinos Ne-
gros, reinos distantes que, como Estigia, governavam os Mortos
do Oriente e a África. Frequentemente Caronte e os Senadores
se encontraram e negociaram com a Rainha do Marfim, monar-
ca do Reino Negro de Marfim que governava a África e mara-
vilharam-se com a visão dos emissários do Imperador de Jade,
governante do Reino Negro de Jade, cortando o Mar sem Sol
para a Ilha das Lamentações em uma maravilhosa e elegante
barcaça do mais puro jade verde.
A Pax Romana e a Era Dourada de Estigia
Como o grande império em Roma, na Terra dos Bre-
ves, prosperou sob os Césares, Estigia amadureceu e tornou-se
uma república jovem e saudável sob a tutela de Caronte. Não é
difícil declarar que esses primeiros séculos sob a liderança de
Caronte foram uma época de ouro em Estigia, anos em que esse
minúsculo posto avançado na foz do Rio da Morte, única cida-
dela contra o Esquecimento, transformou-se em uma sociedade
justa dos Mortos, através dos trabalhos de Caronte.
Como lhe foi permitido pela Dama do Destino, Ca-
ronte levou o dízimo de todos os Mortos que passaram pelas
Terras das Sombras, exigindo duas moedas para a passagem
pelo Rio da Morte; Para garantir que os dízimos fossem pagos,
aqueles que morriam sem pagamento precisavam perder os
olhos ou as mãos. As aparições passavam sem pagamento e pa-
gavam o sacrifício corporal apropriado, mas quando a notícia se
espalhou através da Mortalha para o mundo dos Breves, poucos
que morreram não foram enterrados sem o preço da morte de
duas moedas pressionadas em seus olhos.
Caronte levou todos os dízimos dados a ele e deu-os
ao ferreiro, Nhudri, e pediu-lhe para criar as primeiras armas
Estigia
Construída sobre as sete colinas mais altas
da Ilha das Lamentações, a cidade de Estigia, trans-
formou-se ao longo dos séculos; a fortaleza original
estabelecida por Caronte mal lembrando seu esque-
leto contemporâneo de arquitetura incompatível. Se é
verdade que uma cidade não é apenas uma coleção
de prédios e pessoas, mas uma entidade que respira,
então Estigia é o melhor e o pior exemplo disso. À me-
dida que civilizações e impérios surgiram e caíram e
as conseqüências desses eventos de divisores de água
na história dos Breves foram sentidos nas Terras das
Sombras, a própria Estigia mudou com eles, muitas
vezes abrupta e violentamente. As ruas se ampliaram
e se estreitaram mesmo quando as águas de um rio
inundado transbordaram e depois retrocederam. Mo-
numentos e edifícios tiveram suas estruturas esticadas
e compactadas pelo motor da história. Não é uma vi-
são incomum se aventurar em um edifício que remon-
ta ao tempo da República e ver uma colcha de reta-
lhos de estilos arquitetônicos aqui, pilares clássicos ali,
contrafortes voadores ali, janelas paladianas em volta,
topos rococó de filigrana justapostos com esterilidade
de bauhaus; todos colidindo em um ruído branco de
estilos de construção e engenharia que não poderiam
existir em nenhum outro lugar.
Os tremores secundários dos vários Maels-
troms e perturbações civis em Estigia também afe-
taram a estrutura dos edifícios; muitos dos grandes
cargos do poder governamental tiveram seus locais
de trabalho destruídos por batalhas e bolsões de Es-
pectros enfurecidos. Reconstruir e repensar são em-
preendimentos delicados; muitas das estruturas mais
antigas são Relíquias compostas de pedra inatingível
neste mundo, o que obriga a reparar e remodelar, a
fim de que ela seja reconstruída por hordas de almas
forjadas. Chamar o resultado final de estranho seria
um eufemismo (chamá-lo de aterrorizante seria mui-
to próximo da verdade).
- Da Metamorfose Municipal: Sendo uma
História de Renovação Urbana em Estigia, por Quen-
tin Andrew Macaulay, d. 1905
Capítulo Dois: Ambientação 63
e armaduras de Estigia. Nhudri obedeceu e criou três objetos
com seu dízimo: Siklos, a lâmina de Caronte e bastão de ofício;
Lumen, a lanterna de Caronte, a primeira usada para acender
o grande farol no centro de Estigia; e por ordem de Caronte,
as Máscaras dos Senadores. Nhudri pegou um pedaço de cada
Máscara que ele havia forjado e re-fundiu o metal em uma
Máscara para Caronte, para mostrar aos senadores e todos as
aparições de que Caronte era parte deles e eles fazem parte de
Caronte, na grande luta contra a atração da escuridão abaixo.
Com a ajuda de Nhudri, Caronte construiu uma enor-
me rede de estradas pelas Terras das Sombras, cortando a es-
curidão turbulenta que era a Tempestade primordial, tudo le-
vando ao Mar Sem Sol. Pois Caronte sabia que o Esquecimento
estava crescendo, rachando e fissurando nas Terras das Sombras
na forma dos odiosos Espectros e ele sabia bem que se os habi-
tantes das Terras das Sombrasdeveriam encontrar salvação, ele
precisaria assegurar isto. Quando a glória de Roma se espalhou
nas Terras da Carne, Caronte orientou Nhudri a seguir aquelas
legiões mortais, estabelecendo estradas que levavam a Estigia
até o Mar Sem Sol. As estradas de Caronte levaram a Britiain
e Gália, Roma, Trácia, Jerusalém e Damasco, Egito e Armênia
e Ibéria. Milícias romanas leais, derrubadas em batalhas pelo
bem do Império, tornaram-se soldados nas fileiras Estigias. Eles
escoltaram os Barqueiros ao longo dessas vias recém-pavimen-
tadas, sempre alertas para a presença de Espectros.
Lux Veritatis
O segundo grande pronunciamento de Caronte como
Cônsul foi a doutrina da Lux Veritatis, a Luz da Verdade. Por
essa doutrina, Estigia se comprometeu com a coleta e preser-
vação das grandes obras da humanidade. Todos estavam obri-
gados a recolher, onde quer que fosse encontrado, as melhores
obras de arte e escultura, as grandes obras e pensamentos da
antiguidade, onde seriam trazidos para a Cidade e guardados
nas profundezas dos cofres de arquivo sob o Senado. Pois Ca-
ronte lembrou-se das palavras da Dama e levou-as ao coração
“O esquecimento deve ser combatido onde quer que Ocorra,
seja no campo de batalha ou na mente”. Caronte acreditava que,
através do preceito de Lux Veritatis, os melhores e mais sábios
pensamentos da Vida ajudariam os Mortos Inquietos a encon-
trar a paz que tanto desejavam.
IV. A Queda da República
Caronte havia se aventurado nas Terras das Som-
bras em seu início, uma terra sem forma, repleta de tumulto-
sos Nihils. Sozinho ele viajou pelo Rio da Morte e sozinho ele,
marcado pela guerra, emergiu como um escolhido para trazer
ordem a esse lugar indesejado. A partir do nada ergueu uma
grande cidade sobre sete colinas, esta honraria não-mundana à
grandeza de Roma. Entre almas errantes e desesperadas Caron-
te encontrou bravos Barqueiros para guiar os Inquietos até as
Costas Distantes e defender a República contra o Esquecimen-
to. De um frágil posto avançado no alto das cristas da Ilha das
Lamentações, Caronte fundou uma República que serviu como
a mais importante atração mundial para a bem-aventurança da
Transcendência.
64 Aparição: O Esquecimento
Os Renegados
No entanto, mesmo quando a República se opunha ao
Esquecimento, nem tudo estava bem nas Terras das Sombras.
Os primeiros desmoronamentos do grande império dos Breves
em Roma apareceram e foram sentidos neste mundo. Quando
os descontentes e rebeldes vivos se levantaram contra Roma e
foram esmagados, eles passaram para as Terras das Sombras,
e alimentaram seus apetites de amargura e descontentamen-
to com o que viram como uma Roma dos mortos. Orgulhoso
demais, insolentes demais para aceitar a derrota com a morte,
eles carregaram suas queixas contra a liderança de Caronte, tor-
nando-se os primeiros Renegados. Viajando pelas estradas de
Caronte, como lobos carniceiros, eles atacaram os Barqueiros
no transporte de almas para as Costas Distantes. Caravanas de
almas foram interceptadas e destroçadas, deixando inocentes
cegamente tateando, uma presa mais fácil para Espectros. Ou-
vindo as ações dos Renegados, Caronte partiu instituindo um
bando de soldados de cavalaria, chamados Equitaes e os ca-
pacitou a escoltar Balsas ao longo das estradas das Terras das
Sombras. Esses cavaleiros da morte serviriam para policiar as
estradas de Caronte. Eles manteriam a integridade das carava-
nas dos Barqueiros desses baderneiros contra a ordem criada
por Caronte pela benevolência da Dama do Destino.
Declínio e Queda
Chegou o dia em que a cidade eterna de Roma caiu
para como caem todas as coisas que pelas mãos mortais são fei-
tas. Um império em sete colinas, outrora sem idade, caiu em
decadência.
Em meio ao caos da derrubada, aqueles que seguiram
Cristo logo chegaram às Terras das Sombras. Esses Pescadores
chegaram ao Mar Sem Sol e construíram suas próprias embar-
cações a partir da madeira flutuante que coletavam na praia.
Eles evitavam a orientação dos Barqueiros e partiam para o “Pa-
raíso”, uma Costa Distante desconhecida de Caronte ou qual-
quer um de seus Barqueiros.
O Fim do Mundo como Eles Conheciam
...ela irrompeu da terra como uma grande onda
negra crepitante, vomitando da Escada Venosa e de todos
os outros portais, seu fedor abominável e miserável subin-
do para o céu cinzento. A terra tremeu e rompeu abismos
sem fundo que levavam diretamente ao Esquecimento e que
engoliram milhares de almas inocentes. As estradas constru-
ídas por Nhudri e seus aprendizes se esfacelaram e o calor
palpável da escuridão derreteu os tijolos de almas em uma
massa negra fervente. O Rio da Morte ferveu e queimou as
jangadas dos Barqueiros que o navegavam e os Espectros que
cavalgavam aquele inferno surgiram das profundezas atra-
vessando em cascatas o Rio intransponível, muitos deles com
as cabeças escaldadas vomitando suas entranhas nojentas
para todo o lado...
- Do Diário de Datian Severus, Barqueiro
O Primeiro Grande Maelstrom
Enquanto o Império dos Breves oscilava à beira do
abismo, a agitação passou para as Terras das Sombras e se tor-
nou clara entre todas as aparições. Muitos diziam ter visto um
grande número de Espectros, com seus brilhantes olhos odio-
sos. Os Devorados pela Sombra apareceram mais em todos os
cantos imagináveis, semeando ódio, destruição e Esquecimento.
Logo foram vistos cruzando para a Terra dos Breves, Condicio-
nando as tribos indomadas enquanto desciam sobre a própria
Roma. Após a morte, os espíritos desses bárbaros atravessaram
para as Terras das Sombras. Vendo outra Roma na República de
Caronte, eles a atacaram também, com Espectros seguindo em
seu caminho como javalis selvagens. Equitaes foram convoca-
dos para defender Estigia; Barqueiros pousaram seus remos e
lanternas e pegaram armas contra os saqueadores. Até mesmo
o próprio Caronte apareceu no campo de batalha, sua lâmina
Siklos cortando faixas nas fileiras dos invasores. Muitos bravos
Legionários caíram, mas os invasores não foram páreo para
Caronte e seus homens e foram empurrados para trás. Infeliz-
mente, o cerco que se seguiu à Estigia pelos Espectros acompa-
nhantes testou ao máximo os pontos fortes da grande Cidade de
Caronte.
No ano de Nosso Senhor de 476, a cidade de Roma
caiu ante bárbaros invasores. Seus grandes templos e locais de
aprendizado e governo foram destruídos, sua população aba-
tida, morta ou escravizada. Construção após construção apa-
receu nas Terras das Sombras, repleta de tropas de Inquietos.
O caos que se seguiu mostrou-se excessivo para que Caronte
e seus Barqueiros lidassem sozinhos, por mais que tentassem
pastorear almas para as Costas Distantes.
No auge da loucura, ouviu-se um grande berro das
profundezas do Labirinto, e Caronte sabia de onde vinha. Suas
sentinelas tocavam os grandes alarmes de gongo, ressoando em
vão a aproximação da hora mais sombria até hoje - a erupção do
Primeiro Grande Maelstrom.
O Maelstrom deixou uma desordem em chamas em
Estigia e seus arredores, mas a situação mais terrível ocorreu
quando os Espectros, gravitando em direção à destruição como
chacais miseráveis e famintos, atacaram a Ilha das Lamentações.
Ninguém foi capaz de impedir a queda das paredes ao se espa-
lharem pela cidadela como pragas de ratos, monumentos arra-
sadores, derrubando templos e mansões, e até mesmo colocan-
do a Torre de Onyx na fogueira. Felizmente Caronte desocupou
seu palácio para encontrar as Legiões infernais no campo de
batalha, onde ele e seus Barqueiros, por puro poder de vontade,
conseguiram agarrar a vitória e salvar a cidade.
Ah, mas que vitória! A Cidade dos Mortos era uma
casca queimada oca! O Rio da Morte represado e suas águas
poluídas transbordando seus bancos! As estradas gloriosas,
uma vez conectando todas as Terras das Sombras aos pontos de
partida das Costas Distantes, rasgaram e quebraram! E o odor
do triste sacrifício acre! Caronte olhou para os campos de bata-
lha, vendo o Esquecimento reclamar seus corajosos Barqueiros
e chorou por eles, pela coragem que demonstraram. Caronte viu
sua República morrendo, seu Senado destruído, suas aparições
se amontoando em seus aposentos superiores e esconderijos te-
mendo outro ataque, ou tornando-se Renegados, enraizando-se

Capítulo Dois: Ambientação 65

na Escuridão pelo lixo trazido pelo Maelstrom. E ele chora por
eles, por todos eles, pelo homem e Caronte sabia bem que, mais
uma vez, só ele se adiantaria e construiria uma nova cidade,
uma nova Estigia, mais forte e mais brilhante que a anterior,
que todos os Inquietos encontrariam paz e segurança em suas
buscas pelo objetivo das Costas Distantes.
V. A Era da Ressurreição
Das cinzas da República, Caronte ressuscitou sua ci-
dade, de modo que surgiu do desespero formado pelos terre-
motos do Esquecimento. As torres destruídas da velha repúbli-
ca testemunharam a nova fundação, as fachadas rachadas e em
queda dos anos da glória pareciam ainda um pouco mais retas,
brilhando um pouco mais, na companhia da nova cidade de Ca-
ronte.
Forja de Almas
Eu vi o jovem acólito, um Ateniense chamado
Aristogeiton, avançar para a lendária forja Kyklops. Ali, o
Grande Artífice Nhudri aguardava em antecipação, com o
martelo golpeando como sempre. Depois de alguns mur-
múrios e escolha de encantamentos, Nhudri se ajoelhou
na base de Kyklops, pegou o fole e bombeou a chama a
uma altura tão alta que eu jurei que senti sua intensidade
sufocante escorrendo pelas minha espinha.
O Artífice Nhudri sussurara mais falação mís-
tica, quase de improviso e então apresentava seu jovem
aprendiz com seu próprio martelo, sua cabeça negra po-
lida brilhando à luz da forja. Aristogeiton pegou sua nova
ferramenta intocada em sua mão direita e então Nhudri
agarrou o braço esquerdo do jovem e o enfiou no fogo
ardente. Enquanto o segurava lá, eu só pude assistir em
completo espanto quando a mão do jovem acólito mudou
de cor mais rápido que a luz através de um copo. Mais bri-
lhante e mais brilhante, através das sombras de cores mais
virulentas que eu nunca tinha visto antes. O jovem grego
soltou um grito tão profano que achei que o próprio teto
cairia sobre nós. Ele torceu, apertou e quase arrancou o
braço do ombro tentando se afastar, mas Nhudri segurou-
-o rapidamente dentro do fogo, o calor não o incomodou
e seu rosto plácido nunca mudou.
Finalmente, depois do que pareceu uma eterni-
66 Aparição: O Esquecimento
As Consequências
Nosso grande líder, Caronte, começou imediatamente
a reconstruir sua cidade a partir dos ossos mortos que então
enchiam as terras. A velha República estava morta e nenhuma
vontade dos espíritos poderia aspirar a vida nela novamente.
Caronte sabia disso muito bem e começou a criação de uma
nova Estigia, padronizada após os líderes do mundo dos vivos,
mas construída sobre as fundações da antiga República, man-
tendo-se fiel às palavras da Dama.
A exemplo dos Césares, Caronte chamou-se Impera-
dor e manteve seus sete Senadores, a quem concedeu a deno-
minação de Senhores da Morte e ordenou que eles assumissem
a administração dos diferentes grupos de almas que vinham
a eles. Cada Senhor da Morte recebeu autoridade sobre certas
aparições, de acordo com a maneira de suas mortes: os idosos;
dade, Nhudri puxou o braço do acólito, brilhando como
uma coisa possuída, das chamas. Conduziu o jovem até
a bigorna e apoiou seu braço, sua forma que já começava
a se deformar e girar como uma cobra ferida. Ele então
colocou um modelo para uma moeda de Estigia ao lado
do braço e ordenou que o jovem Aristogeiton martelasse
um pedaço de seu próprio Corpus na forma de moeda que
foi colocada ali. O jovem olhou para Nhudri em total des-
crença com a automutilação que ele estava propondo, seus
olhos implorando ao velho Artífice por qualquer outro
teste de vontade, exceto por isso. Mas havia algo nos olhos
vazios do antigo Nhudri, um olhar intransigente em seu
semblante invejável e legível, que fazia o Ateniense pegar
seu novo martelo e jogar seu peso em sua própria carne.
Aristogeiton martelou e martelou, cada golpe ressoando
pela câmara, até que ele havia batido uma pequena moeda
do molde dado a ele. Nhudri trouxe um vaso de plasma
para encharcar o espancado Corpus do jovem e ao deter
a dor, o jovem caiu exausto de joelhos. Nhudri pegou a
moeda e prendeu-a a uma corrente fina. Ele colocou ao
redor do pescoço do jovem, dizendo três palavras: Não se
esqueça.
Tenho certeza de que ele não esqueceu. Eu sei
que não esqueci e nunca esquecerei.
- Atrophilos, Barqueiro e testemunha ocular dos primei-
ros Rituais dos Ferreiros de Almas
os fracos e doentes; as vítimas da violência, tanto auto-infligidas
como outras; os desgraçados pegos na crueldade da natureza;
todos foram presididos por seu respectivo Senhor da Morte.
Os Equitaes e Legiões se tornaram o primeiro grande
exército de Estigia, como Caronte lhes confiou a tarefa primária
de salvaguardar a cidade e as terras circunvizinhas, enquanto
permite a reconstrução do Império para seguirem invencíveis.
Tão precioso foi o renascimento de Estigia contra o Esqueci-
mento e a necessidade de que seu novo crescimento continuasse
sem impedimentos, que as fileiras de Legiões e Equitaes rapida-
mente se transformassem em números formidáveis, suas fileiras
e arquivos um grande panorama de determinação e bravura.
Os Barqueiros ficaram indignados com as ações de
Caronte, recusando-se a servir qualquer um que se chamasse
Imperador. Muitos renunciaram às suas comissões, quebrando
seus juramentos e recusando-se a transportar espíritos para os
novos Senhores da Morte. Em frustração e raiva, Caronte baniu
os desertores, ordenando que seus nomes fossem apagados de
todos os registros, seus prêmios despojados, suas reivindicações
inválidadas. Os Barqueiros eram obrigados a proteger as almas
contra o Esquecimento; se eles não honrassem seu juramento
à Estigia e ao Mundo dos Mortos, eles teriam que sobreviver
apenas às Trevas. À luz de seu coração embrutecido, Caronte
mandou banir os Barqueiros disruptivos da Ilha das Lamenta-
ções. Muitos se voltaram para os Renegados, ou partiram para
as Costas Distantes, ou renderam-se ao Esquecimento em um
desafio final belicoso.
Décadas se passaram e Estigia foi lentamente recons-
truída. Mas se mostrou uma tarefa cansativa, pois grandes tem-
pestades a destruíram, o eflúvio do Maelstrom ainda batendo
em sua ira eterna. Renegados selvagens construíram aldeias ao
longo do Rio e das estradas destruídas, procurando evitar ou
desafiar a autoridade de Caronte e espalhar o descontentamen-
to. À medida que a crença em Cristo crescia no mundo dos vi-
vos e os dias dos deuses pagãos chegavam ao fim, os Iluminados
também encontravam seu poder diminuindo. A Mortalha foi
rompida por aparições maliciosas e rancorosas, que pareciam
assustar os mortais como demônios purulentos, exigindo tribu-
to e sacrifício.
Reconstrução e Reforma
Séculos depois dos últimos Espectros a serem vomi-
tados pelo Primeiro Maelstrom terem sidos destruídos ou leva-
dos de volta ao forno choroso do Labirinto, Caronte se adiantou
para homenagear aqueles que lutaram por Estigia durante os
ataques dos Espectros e àqueles que ficaram vigilantes e fortes
contra esses agentes infernais após a queda da República. Ca-
ronte instituiu a Ordem Imperial da Foice e concedeu-a a todos
aqueles que lutaram ao lado da República, incluindo aqueles
Equitaes e Barqueiros que não haviam abandonado Estigia de-
pois de suas muralhas terem caído pelos Espectros. Muitos se
uniram a Caronte para elogiar os feitos desses corajosos guer-
reiros e logo foi possível que aparições se juntassem às fileiras
daquelas milícias ainda ativas que continuavam a patrulhar as
Terras das Sombras, na esperança de um dia ser recebida como
membro da Ordem.
Caronte começou a reconstruir as fachadas de sua ou-
trora orgulhosa Cidade. Nhudri e seus aprendizes trabalharam
febrilmente na forja para consertar as estradas e os edifícios.
Construíram novas estruturas, incluindo um novo paredão ao
redor da Ilha das Lamentações e a reconstrução da grande Torre
de Onyx. A natureza fugaz da vida nas Terras da Carne fornecia
à Estigia muitas mãos para o trabalho, refazendo estradas ou re-
cuperando antiguidades perdidas na torrente dos Maelstroms.
Foi durante a reconstrução que os Pescadores chega-
ram para tornarem-se conhecidos no Mundo Inferior. O Navio
Dourado dos Pescadores, pelo qual faziam o transporte até a
Costa Distante do Paraíso, era visto com frequência na costa
da ilha das Lamentações, abordando em seus cargueiros apari-
ções cheias de esperança. Os Pescadores também construíram
um grande Templo em uma das colinas da Ilha das Lamenta-
ções, dentro das grandes novas muralhas da cidade. Eles foram
a Caronte e exigiram seu dízimo pelo templo. Caronte os ouviu,
mas recusou-se a compartilhá-lo, dizendo que servia à Dama do
Destino e o Mundo dos Mortos como um todo e não às Costas
Distantes. Os dois lados se encontraram e falaram demorada-
mente e Caronte fez uma proposta sábia aos Pescadores; se eles
doassem as Relíquias que eles coletavam, Caronte daria todas as
almas crentes que procurassem o Paraíso aos cuidados dos Pes-
cadores. Este acordo, chamado Tratado do Paraíso, serviu para
trazer ordem e cooperação em Estigia entre o novo Império e o
crescente número de Pescadores.
A Hierarquia
As Santíssimas Cruzadas na Terra dos Breves permiti-
ram que milhares de aparições, tanto Cristãos quanto Mouros,
atravessassem a Mortalha e entrassem nas Terras das Sombras,
amarradas rapidamente por sua fé e recolhidas pelas Legiões
quando caíam em campos de batalha e em cidades de cerco.
Não era uma visão incomum naqueles tempos ver o paradoxo
dos Cristãos e dos Mouros, por um lado, ainda tentando lutar
entre si neste mundo, mas também ajudando Nhudri e seus se-
guidores a consertar e estabelecer novas estradas ou até mes-
mo se juntando às fileiras das milícia de Estigia, suas diferenças
jogadas fora, lutando lado a lado contra bolsões itinerantes de
Renegados e Espectros.
À medida que a estrutura da vida no mundo antigo
Os Corcéis das Legiões
Normalmente, espíritos animais não atra-
vessam a Mortalha. Houve apenas uma exceção
nas Terras de Estigia: os grandes garanhões negros
que outrora perambulavam pelos pântanos do Rio
da Morte. Domados na antiguidade pelo próprio
Caronte, eles têm servido por um tempo além da
imaginação como os corcéis dos Senhores da Mor-
te e dos Legionários de elite chamados Equitaes.
Curiosamente, estes cavalos não se alimentam nem
dormem e ninguém sabe como eles se sustentaram
ao longo dos séculos. O que se sabe é que são velo-
zes como o vento, mortais em combate e totalmente
leais aos seus mestres escolhidos.
Capítulo Dois: Ambientação 67
 O Código dos Mortos
O Dictum Mortuum, ou Código dos
Mortos, foi criado por Caronte para deter o abuso
do poder das aparições que se libertara na Idade
das Trevas. Embora sejam longos volumes, sua es-
sência pode ser resumida no preâmbulo, do qual
uma parte é reimpressa aqui:
Eu, Caronte, Imperador de Estigia, pelo
poder das palavras da Dama do Destino, por meio
deste decreto estabeleço estas leis para que elas pos-
sam servir para trazer ordem entre este mundo e o
primeiro; que nenhuma aparição sob nenhuma cir-
cunstância, por qualquer razão, penetre a barreira
que divide a Terra dos Mortos da Terra dos Breves;
se engajar em congresso com aqueles que ainda não
morreram, ou falar com um Breve dos eventos ain-
da por vir; ou de qualquer forma, maneira ou con-
figuração assediar, ameaçar, ferir ou de outra forma
compelir aqueles na Terra dos Breves a atuar nos as-
suntos daqueles na Terra dos Mortos; ou transmitir
àqueles da Terra dos Breves qualquer desejo ou com-
pulsão de tirar uma vida, seja dela ou de outrem,
a fim de efetuar a passagem de um ou mais para a
Terra dos Mortos, sejam eles amigo ou inimigo, pai,
filho ou amante…
- De Q.A. Macaulay, cap. 7, ibid.
mudou, Caronte também remodelou seu Império de Estigia à
moda dos reinos da Europa. Assim, fundou a Hierarquia e ba-
seou-se nos costumes e modos dos reinos dos Breves, por meio
dos quais as aparições poderiam conhecer seu lugar neste mun-
do como conheciam antes e não serem levadas para as tentações
assombradas do Esquecimento. Assim, a Hierarquia foi forma-
da, com Caronte e seus Senhores da Morte no topo, seguidos
pelas Legiões e Cavaleiros (aqueles que uma vez chamaram-se
Equitaes) e aqueles Barqueiros ainda leais a Caronte. O lugar
mais baixo foi preenchido por aqueles chamados Cativos, ser-
vos-aparições ligados em correntes de aço Estígio, usados como
escravos ou como pagamento em espécie entre os vários mem-
bros da nova alta classe.
À medida que os reinos dos Breves começaram a or-
ganizar os vários ofícios e artesãos em sociedades para a pro-
teção e propagação de seus ofícios entre si e a população em
geral, Caronte também organizou as aparições possuidoras de
Arcanoi especiais, para que eles próprios se tornassem parte
da sociedade de Estigia e estivessem protegidos de forasteiros.
Aparições Livres com certos talentos e influências foram vistos
para se juntar aos membros dessas várias Guildas, o que serviu
para verificar o uso de seus talentos e poder neste mundo e no
antigo. As Guildas encontraram um lugar na Hierarquia, abaixo
da dos Cavaleiros e Legiões.
68 Aparição: O Esquecimento
O Segundo Grande Maelstrom
No ano de Nosso Senhor de 1347, uma grande pra-
ga desceu sobre os reinos da Europa, reivindicando dezenas e
mais dezenas de vidas; Não tendo pena nem do príncipe nem
do camponês, a Peste tomou conta de famílias inteiras, aldeias
inteiras, cobrindo a paisagem com seu ar fétido de morte e com
doença. Almas começaram a atravessar a Mortalha a um ritmo
alarmante que anunciava a chegada de um segundo Maelstrom,
causado pelo enorme aumento do sofrimento. Aparições acu-
mulavam-se nas Terras das Sombras, classes e ofícios misturan-
do-se uns com os outros de uma forma que nunca teria sido
tolerada no mundo antigo. Muitos deles ainda carregavam as
cicatrizes e as lesões da doença debilitante que os trouxeram.
Desta vez, Estigia não caiu. Caronte e a nova Hierar-
quia apareceram como visões familiares às novas aparições,
assegurando-lhes assim seus papéis habituais nas Terras das
Sombras. O grande paredão manteve-se firme, as estradas não
racharam ou sibilaram, os Equitaes e aparições-Cavaleiros cor-
taram rápida e eficientemente através dos Espectros liberados.
Com as novas aparições chegando em números impressionan-
tes, Caronte estabeleceu um recenseamento de todos os súditos
de Estigia e tomou dízimos para ajudar o Império a atender às
exigências desses novos espíritos.
Revolta e Traição
O dízimo enfureceu o líder dos Pescadores, chama-
do Arcebispo, que pediu audiência com Caronte. Ele exigiu que
o Imperador reduzisse a quantia pedida aos Pescadores, que
haviam crescido e já representava o maior grupo de aparições
em Estigia, com seus próprios cavaleiros-Cruzados e bispos
da Morte. Caronte via o poder dos Pescadores e sabia que eles
poderiam se tornar uma ameaça ao comércio de almas para as
Costas Distantes, pois os agentes dos Pescadors vinham empre-
gando meios duvidosos e falando meias-verdades às almas para
aumentar suas fileiras. Caronte recusou-se a reduzir, ordenan-
do a dissolução dos cavaleiros-Cruzados e dobrando a taxa dos
Pescadores.
Por muitos meses, o Templo dos Pescadores ficou es-
curo no topo da colina nos arredores de Estigia, patrulhado por
Cruzados recalcitrantes desafiando abertamente as palavras de
Caronte. Então aconteceu que os Cruzados formaram uma divi-
são de soldados e marcharam até a Torre Ônix, atacando a guar-
da do palácio dos Equitaes. Sem o conhecimento dos Cruzados,
no entanto, um dos seus próprios membros não estava disposto
a ir junto com seus camaradas arrogantes. Ele os havia traído e
informado sua vinda para os Equitaes, que se fortificaram con-
tra a horda que se aproximava e os derrotou, tirando-os de suas
montarias e pendurando-os em correntes em brasa no alto farol.
Lá, os corpos desses traidores queimaram por sete dias.
Caronte e seus Equitaes foram ao Templo dos Pesca-
dores e encontraram ali grandes depósitos de tesouros e relí-
quias, prometidos pelos Pescadores, mas escondidos em viola-
ção direta do Tratado do Paraíso. Irritado por tal ilegalidade,
Caronte enviou seus Cavaleiros mais confiáveis para as Ilhas das
Costas Distantes para falar com os Iluminados que residiam lá,
e emitiu uma ordem para que todos os Iluminados que residis-
sem na Ilha das Lamentações partissem para as Costas Distan-
tes até a próxima maré.
O tempo passou e ouviu-se o som do grande gongo
através das colinas da ilha. De todos os portos e docas, em to-
dos os barcos, esquifes e jangadas disponíveis, os Iluminados
deixaram a Ilha das Lamentações na grande Desocupação. Com
seus barcos abarrotados, os Iluminados espalharam-se pelo Mar
Sem Sol para as Costas Distantes, agarrando tudo o que podiam
carregar para longe da grande Cidade, vista apenas pela luz das
chamas tumulares infligidas em seus templos.
Os Hereges
Então os Cavaleiros retornaram de sua jornada atra-
vés do Mar Sem Sol e seus corações estavam confusos e tris-
tes, pois trouxeram de volta a notícia da natureza mais horrí-
vel a Caronte. As Costas Distantes não eram como antes, nem
reinos maravilhosos de tranquilidade. Os Iluminados haviam
abandonado as palavras de Caronte e da Dama do Destino e
abandonaram seus deveres nas Terras Distantes, exigindo obe-
diência eterna das almas desesperadas e atadas em tormentos e
sofrimentos em sua violência e louca brutalidade. E as massas
de almas negligenciadas, cheias de esperança, que arriscaram-se
no Mar Sem Sol à procura de libertação, multidões reunidas em
currais e há muito ignoradas! Pensar que durante séculos esses
monstros gananciosos recusaram a terra prometida às suas acu-
sações, de modo que nenhum deles havia encontrado a Trans-
cendência, foi um grande peso para o coração de Caronte. Ele
havia confiado nos Iluminados, alguns deles os primeiros Bar-
queiros e eles o haviam traído, tudo pela embriaguez inebriante
de um poder isolado e fugaz.
Caronte se retirou para seus aposentos internos e nada
dele foi ouvido durante semanas. Muitos em Estigia temiam o
pior, que as notícias das ações dos Iluminados o haviam deses-
perado tanto que ele estava perdido para sempre para o Esque-
cimento. Finalmente, Caronte apareceu em sua varanda e diri-
giu-se à Estigia com a Proclamação da Razão, condenando os
Iluminados e sua turma por todo o tempo que viria: Visto que
os Barqueiros chamados Iluminados quebraram seu juramento
de pastorear almas para os reinos da Transcendência; abando-
naram seu dever de lutar contra o Esquecimento e em vez disso,
abusaram e atormentaram almas inocentes para seus próprios
propósitos; conspiraram para enganar, atrair e espalhar palavras
enganadoras para afastar os inocentes da verdadeira luz interior;
não lhes concedemos mais audiência, nem passagem segura, nem
assistência nas Terras das Sombras. Nós, portanto, marcamos
os Iluminados e todos os seus como Hereges, e pelas palavras da
Dama do Destino nós nos comprometemos com sua erradicação
final e definitiva.
Para fazer cumprir esta Proclamação da Razão, for-
mou-se um grande Conselho de Inquisidores, o Magisterium
Veritatis, baseado no arbítrio da Igreja na Europa, seus agentes
Capítulo Dois: Ambientação 69
 capacitados a arrasar e destruir todos os Hereges e suas más in-
fluências. Seu ramo militante, a Ordem do Olho Sem Pálpebra
(também conhecida como os “Cavaleiros Esqueléticos”), per-
corria as estradas e o Rio da Morte, procurando por todas as
influências perniciosas.
Caronte não proibiu as almas que ainda buscavam
a Transcendência de fazer seu próprio caminho para as Cos-
tas Distantes, mas infelizmente, que esperança esses viajantes
tinham? Que esperança teria alguma alma, se aqueles a quem
Caronte confiara todos aqueles séculos, com quem ele havia se
encontrado, tinham a ele traído?

VI. O Tempo da Discordância

Quando os Iluminados transgrediram, os Pescado-
res atacaram, os Hereges se cravaram na fonte da autoridade,
o mundo das Terras das Sombras se encheu de desconfiança
e traição. A relutância em seguir as palavras de Caronte e da
Dama do Destino levou muitas aparições a se rebelarem, escon-
dendo-se como vozes maldosas na Escuridão.

A Cidade Sitiada
Como a Proclamação rotulou todos os Iluminados
com a maldição Herege, a atmosfera em Estigia começou a con-
torcer sob a força da inquietação externa. Caronte tornou-se
governante de uma cidade atormentada em todos os flancos.
Renegados viviam como selvagens fora das muralhas da cidade,
flutuando pelo Rio da Morte e perseguindo os poucos Barquei-
ros leais que restavam. Hereges rondavam os lugares apagados,
espalhando suas doutrinas ruidosas. Cidadãos de Estigia olha-
vam furtivamente uns para o outros e com medo, entregavam
vizinhos, amigos e parentes a inquisidores. Apenas os corajo-
sos ou temerários eram vistos se aventurar fora das muralhas
da cidade e logo Estigia lotou-se até o limite com aparições. O
comércio de almas diminuiu absurdamente; não havia barcos
para as Costas Distantes. O Império havia se dobrado sobre si
mesmo, um feto encolhido, penetrando cada vez mais em suas
paredes no útero. Daí surgiram três Abominações, a primeira
de fora, outra de dentro e a última do mais horrível dos agentes
imagináveis.
A Primeira Abominação aconteceu no início de 1500
D.C., quando os Renegados se reuniram nas margens do delta
do Rio e atacaram as muralhas de Estigia. Corajosamente Ca-
ronte e seus Equitaes lutaram, mas o pânico provocado pelo ata-
que dos Renegados permitiu que os invasores invadissem a Tor-
re de Ônix e atacassem seus Artefatos, roubando entre outras
antiguidades, a Lança de Longino, a lança que perfurou o tórax
de Cristo em Sua hora da morte. Os Renegados teriam pilhado
todo o estoque de objetos sagrados, se não houvesse o último
sacrifício de muitos dos melhores e mais confiáveis Cavaleiros
de Caronte, que empurraram os invasores de volta para fora da
cidade.
A segunda Abominação veio de dentro de Estigia, e
foi a quebra das Guildas. Acontece que certos Mestres de Guilda
vãos, vendo a inquietação e o medo que se seguiram ao ata-
que dos Renegados, se esforçaram para se revoltar e arrancar
o controle da Cidade de Caronte e seus Senhores da Morte. Na

70 Aparição: O Esquecimento
manhã do sexto dia de abril, no Ano de Nosso Senhor de 1598,
as Guildas conspiraram para tentar uma usurpação de poder na
cidade. No entanto, à medida que a rebelião e traição lançam as
O Tempo do Esfolamento
sementes de sua própria destruição, acontece que as Guildas em
luta, unidas por apenas uma tênue cadeia de revolta, logo des- Mesmo quando chegamos às terras Obsidia-
cobriram que essa cadeia era o garrote da derrota. Dezenas de nas, ficou claro para todos a bordo que algum grande
membros de Guilda foram destruídos, incluindo os aprendizes mal havia se abatido neste mundo. Nossa pequena em-
originais de Nhudri, os Três que ajudaram a construir as gran-
des estradas do Império.
barcação de desembarque quase foi inundada por ondas
A Terceira Abominação foi a mais suja em natureza. de 3 metros de altura antes mesmo de chegarmos às
Foi na Terra dos Breves que os povos da Europa iniciaram uma praias. De nossa nave, pudemos ver as grossas colunas
era de exploração, com bravos marinheiros de todos os reinos de fumaça subindo em direção ao nada e ver a paisagem
navegando pelo vasto Atlântico para encontrar um Novo Mun-
do, retornando com estranhos presentes e contos de terras des- em chamas pelo negro fogo tumular do Esquecimento.
conhecidas e novas raças de Homens. Caronte e seus Senhores Eu me lembrei de histórias sobre o Primeiro Maels-
da Morte ouviram falar deste Novo Mundo e enviaram emissá- trom e como a terra sibilou e queimou com essas chamas
rios através da Tempestade para aprender mais sobre esse novo
reino. Logo voltaram os relatórios de um novo Reino Negro de
odiosas... Eu não pude compreender a visão diante de
Obsidiana, governado por Ix Chel, que presidia as aparições nós quando abrimos nosso caminho adiante. Eu mal
neste Novo Mundo. posso descrever isso agora, me entristece tão profunda-
Mas Hereges e Renegados, buscando fugir da força mente. Os grandes templos que eram escombros. As
justa dos Inquisidores, também chegaram ao Reino de Obsi-
diana, cuidando das tripulações que partiam dos portos Ibéri- rachaduras no chão que levavam direto ao centro do
cos. Desceram sobre as terras de Obsidiana enquanto o ódio Inferno. E eu podia ouvir o choro, os angustiantes
e o medo cresciam forte dentro deles. Logo suas Sombras os soluços, de todos os lugares e de lugar nenhum. Um
alcançaram e eles guerrearam com as aparições Obsidianas.
Décadas e décadas de abates e atrocidades atingiram as terras
mundo havia morrido - Não, havia sido morto.
de Obsidiana; carnificinas foram relatadas por Hereges e Rene- -Do diário do Peregrino, Henry Moore, capitão.
gados e chegaram a Caronte e aos Senhores da Morte. Então,
toda a violência parou. Ix Chel e suas aparições foram lançados
aparições tentando atravessá-la eram repelidas. Arcanoi vacila-
ao Esquecimento, sua raça massacrada, seu reino destruído no
ram, espíritos enfraqueceram.
que foi chamado, o Esfolamento. Emissários que foram para as
Foi o preço do ódio, a loucura do poder, a selvageria
terras de Obsidiana ficaram horrorizados. A Terceira Abomina-
da rebelião, que trouxe o Terceiro Grande Maelstrom sobre as
ção havia ocorrido, a extinção de um reino inteiro da face das
Terras das Sombras. Agora as atrocidades dos males do passado
Terras das Sombras. Os Hereges cometeram seu maior crime.
cercavam as Terras das Sombras, flutuavam através de Estigia
Eles atacaram um mundo inocente, arranharam e perfuraram
nas rajadas de vento predominantes, assentadas sobre todos
suas entranhas. Poderia ser chamado de bestial, se bestas fos-
como uma névoa oleosa da superfície da onipresente redoma
sem dadas a tais pensamentos sombrios. Mas estava claro que as
da Tempestade. Agora tudo estava encerrado em uma pátina de
patas ensanguentadas do animal humano haviam pintado esse
escuridão, toda encharcada no odioso lodo da Tempestade. E
mural medonho.
toda essa loucura foi forjada pelas mãos das aparições.
O Terceiro Grande Maelstrom
As Três Abominações se sobrepuseram e, novamente
VII. Os Últimos Trezentos Anos
o chão tremeu, a terra se dividiu e outro Maelstrom foi solto. Ele
A iluminação chegou à Terra dos Breves; os reinos
trovejou de todas as direções, em todas as partes das Terras das
da Europa colhendo frutos cheios de suas sementes de conhe-
Sombras, um banshee arrebatador sobre o Mar Sem Sol. Abis-
cimento, não mais propensos a atribuir o funcionamento do
mo afora soprando mau tempo, redemoinhos sufocando todo
mundo a demônios invisíveis e a uma lógica espontânea e ilusó-
o Império; ao longe, os mares profundos se fecharam e todos
ria. Caronte mais uma vez deixou a Torre de Ônix e moveu-se
mergulharam na escuridão.
entre a Cidade de Estigia e as aparições do Império, seguindo
Sobrou um mundo devastado, um império caído e
a sugestão das mudanças nas Terras da Carne para se erguer
desgastado. A Tempestade enlouqueceu; transbordou tudo, se-
depois da tremenda confusão deixada pelo Terceiro Maelstrom.
parando Estigia do resto das Terras das Sombras. Um vil Es-
Como a ciência assumiu o trono da superstição nas
pectro, chamado Coração Gelado, trazias suas divisões infernais
Terras da Carne, o mesmo fez Caronte ordenar que Estigia se
pelas rachaduras, devorando os coitados deixados pelos Rene-
modificasse para ganhar vantagem contra seus inimigos e o Es-
gados, os Hereges e as Guildas rebeldes. Ele e seus lacaios ame-
quecimento. Toda Aparição Livre, que jurou fidelidade a Caron-
drontaram o velho Rio da Morte, abandonado pelos Barqueiros
te depois da Segunda Abominação ter feito com que todas as
remanescentes, que escolheram usar as grandes estradas em vez
Guildas fossem proibidas, foram autorizados a portar espadas
de se arriscarem no Rio. A Mortalha se espessou e se alargou;

Capítulo Dois: Ambientação 71

de aço de alma, símbolo de sua lealdade e garantia de seu dever
de lutar contra o Esquecimento onde quer que ocorresse.
Caronte também se encarregou de percorrer as aveni-
das de Estigia, coletando os perdidos, os verdadeiros Inquietos
- aqueles que entraram na Terra dos Mortos com apenas pe-
quenas Paixões. Caronte impediu a atração do Esquecimento
e fez desses deformados Cativos. Enquanto a Indústria varria
os reinos da Europa, nas Terras das Sombras os Cativos eram
vistos mineirando o minério da morte da rocha da Escada Ve-
nosa, equipando Kyklops com matéria-prima para usar na má-
quina do Império. Mesmo quando os Cativos estavam cansados,
não mais capazes de trabalhar para Estigia, Caronte os manteve
longe das profundezas da Escuridão ligando-os às forjas, onde
foram martelados e moldados em coisas úteis.
A Primeira Necropolis
Como o dano causado pelo Terceiro Maelstrom tinha
para sempre bagunçado a Terra dos Mortos, tornando o Rio da
Morte intransponível e quebrando muitas das pontes que liga-
vam as partes externas das Terras das Sombras à Estigia, Caron-
te descobriu que as cidades precisavam ser estabelecidas fora de
Estigia, cidades onde os corpos principais de aparições podiam
ser recolhidos, santuários para almas recém-chegadas a fim de
A Prática dos Cativos
Muitos criticaram a prática de usar
Cativos, chamando-os de escravos. Nos anos
de turbulência no Novo Mundo, tais críticas
se tornaram mais altas e vociferantes. Eles
chamam os Cativos de explorados, proposita-
damente trabalhados à insensibilidade e então
sofrem a iniquidade final de serem forjados.
Eles chamam a doutrina de Caronte de bestial
ao extremo por iniciar essa prática.
Mas isso está longe da verdade. De-
vemos deixar estas sombras à deriva do rede-
moinho no vazio final do Esquecimento e dei-
xar que as Trevas sejam fortalecidas? Vamos
fechar os olhos para os Espectros irrompendo
das Trevas para engolir esses infelizes inteiros,
vamos fechar nossos ouvidos e segurar nossas
línguas quando estamos inclinados a chorar...
Basta! Nosso grande senhor Caronte se recu-
sou a ceder uma polegada ao Esquecimento.
Deu a esses perdulários, essas companhias
sombrias de espíritos infelizes cujas vidas
não conheciam elogios nem infâmias, uma
alternativa à destruição total pela maleficên-
cia mais primitiva. Melhor que houvesse mais
como ele.
72 Aparição: O Esquecimento
impedir que se tornassem presas das coisas que espreitam na
Tempestade abrangente. Caronte foi então até as suas Legiões e
ordenou que fundassem uma Cidadela dos Mortos, uma Necro-
polis, para atuar como um ponto de referência para os Inquie-
tos.
A primeira Necropolis foi montada em Londres e ser-
viu como uma extensão dos muros de Estigia, que estava rapida-
mente lotando com o número inimaginável de aparições que lá
chagavam. Hereges e Renegados tentaram destruir a nova Cida-
dela, mas as Legiões se mostraram poderosas demais para eles.
Ferozmente centralizaram todos os ataques à Cidadela, que logo
se tornou o bastião do Império nas Terras das Sombras. Logo
outra Necropolis foi fundadas, em Roma e depois outra em Pa-
ris e outras logo surgiram por toda a parte das Terras das Som-
bras. A chamada Quinta Legião se aventurou no Novo Mundo
para fundar uma Necropolis em Nova Amsterdã e a defendeu
contra os detritos Herege e Renegado da Terceira Abominação.
Necropoli em Boston e Filadélfia e outros lugares foram logo
fundadas por outros Legionários quando eles vieram para lim-
par as Terras das Sombras de sua praga de descrentes e rebeldes.
A Era da Indústria
A indústria cresceu, assim como as Necropoli, tornan-
do-se grandes câmaras de compensação para as almas, carre-
gando-as em grandes carruagens e levando-as aos Senhores da
Morte, que recolheram suas cargas de acordo com suas mortes
na Terra dos Breves. Grandes homens da ciência viveram e mor-
reram e trouxeram seus talentos e descobertas para o Império.
Logo o rosto de Estigia mudou de novo, tornando-se uma terra
de motores, de carrocerias sobre trilhos, de “varas-de-fogo”. E
grandes navios de ferro foram logo vistos nas águas da Tempes-
tade, lançados de novos portos na Ilha das Lamentações, que
outrora foram os templos dos Iluminados. Gigantescos maciços
eles eram, cortando as correntes confusas e carregando suas car-
gas de almas dos portos da Necropolis para a Cidade de Estigia.
Como o rosto do Império mudou, o mesmo aconteceu
com o caráter de sua população. Muitos nas garras da Indústria,
abandonaram a fé de seus ancestrais pela nova e incontestável
“divindade” da lógica, morreram sem Paixões fortes. Suas som-
bras mal passavam pela Mortalha, voando sem rumo nas Terras
das Sombras, combustível incontestável para o Esquecimento.
Logo a Escada Venosa estava apinhada de novos Cativos, traba-
lhando febrilmente na rocha da morte. Seus rejeitos se elevavam
ao longo da costa como grandes montanhas de desânimo e os
fogos das forjas brilhavam incandescentes com a fundição de
sua Corpora drenada.
Mas tal avanço custou a Caronte e a todos os habitan-
tes do Império. A Mortalha engrossou em graus impenetráveis,
virtualmente aprisionando os Inquietos neste lugar contrário,
separado do mundo vivo. Caronte foi visto visitando os portais
para a Terra dos Breves, capturando aquelas novas aparições
cujas ligações com os Breves lhes deram pontos para quebrar a
Mortalha imediatamente tornando-os membros da Hierarquia
nas Necropoli, onde seus laços com as Terras da Carne não se-
riam facilmente quebrados.
E então o impossível se tornou verdade. Caronte se
encarregou de viajar para as Terras das Sombras e quando che-
gou ao reino separado de Estigia pela Tempestade, começou a
desaparecer, a se desincorporar. Consciente do perigo, Caronte
retornou à Estigia. Ele não contou a ninguém sobre esse even-
to, nem mesmo Nhudri, mas confiou a um punhado de inqui-
sidores leais para descobrir a verdade. Enquanto procuravam
por uma resposta, outros Hierarcas elevados caíram no mesmo
destino, os Senhores da Morte, os Legionários e os Barqueiros
enfraquecendo à medida que se aproximavam das Terras das
Sombras. Aconteceu então que os Inquisidores descobriram a
causa: os Grilhões de Caronte foram destruídos, junto com os
dos Senhores da Morte e muitos Legionários. O próprio Senhor
da Morte não podia mais andar entre aqueles a quem foi con-
fiado para proteger. Os Senhores da Morte iniciaram discussões
entre si, acusando uns aos outros de propositadamente destruir
os Grilhões um do outro para se tornarem mais poderosos. Os
Legionários, frustrados, atribuem isso aos Hereges e aos Rene-
gados e partem em poderosos esquadrões para livrar a paisa-
gem deles.
Foi quando nosso senhor Caronte, Imperador de Esti-
gia, Guardião das Terras das Sombras e Protetor dos Inquietos,
se retirou para a Torre Ônix no que seria conhecido como a
Segunda Descida. Os Senhores da Morte se tornaram os gover-
nantes de fato do Império, formando uma hegemonia sobre as
Necropoli, que se tornaram cidades autônomas continuamente
fornecendo almas para Estigia. O Império continuou como an-
tes, mas sem o costumeiro olho paternal de Caronte, parecia um
tempo muito mais cinzento.
Modernidade
Infelizmente, sem a presença ativa de Caronte como
governador, o Império começou a enfraquecer. Os Senhores da
Morte se tornaram pequenos tiranos, incapazes de mostrar uma
liderança eficaz, dispostas e depois relutantes em suas vontades,
mudando de idéia com cada vento que varria as largas avenidas
da Cidade de Estigia. Eles investiram e manobraram as promes-
sas da Transcendência apenas para empilhar alma sobre alma,
competindo desnecessariamente entre si para conseguir mais
poder enquanto suas forjas ardiam.
O Quarto Grande Maelstrom
No primeiro dia de agosto do ano de Nosso Senhor
de 1914, as terras da Europa começaram a Primeira Guerra
Mundial. Duraria por quatro anos inteiros, produzindo gran-
des campos de destruição e massacres sangrentos. Os riachos da
Europa ficaram vermelhos e as batalhas encheram as Cidadelas
das Terras das Sombras com a litania de homens supostamente
corajosos e avançados. Esses soldados vieram de todas as divi-
sões, carregando as cicatrizes de suas mortes em seus corpos,
os nomes de seus locais de destruição soando como grandes si-
nos: Ypres, Gallipoli, o Somme... Sufocados pelo gás mostarda
e derrubados pelas novas metralhadoras, novos Inquietos em
carruagens das Necropoli da França e dos Países Baixos fizeram
tristes viagens para Estigia. A Hierarquia tornou-se um grande
funil para as almas, reunindo-as junto à Cidade de Estigia em
Capítulo Dois: Ambientação 73
um fluxo constante.
Logo foi assim que as velhas muralhas da Cidade de
Estigia não mais puderam conter o número de Inquietos que
vieram depois da Primeira Guerra Mundial. Durante muito
tempo, grandes pontes de ferro Estígio foram vistas sobre as
grandes muralhas da Cidade, ligando a cidade às colinas de fer-
ro circundantes, onde enormes torres foram rapidamente ergui-
das para abrigar esses novos mortos. Podia-se ficar em qualquer
ponto alto da Cidade e ver grupos de aparições se movendo
ao longo das pontes trilhando para esses enormes arsenais dos
mortos.
E quando a paz chegou à Terra dos Breves, novamente
um Maelstrom se moveu através da terra, enquanto a devora-
dora do Império com tais mortos agitava os ventos infernais do
Esquecimento. A tormenta levou a Hierarquia às suas Cidade-
las, amontoando-se e protegendo-se das torrentes de granizo e
chuva mortais e dos gritos angustiados dos Espectros. Aquele
Maelstrom fustigou a Cidade de Estigia, quebrando-se contra as
velhas muralhas e lançando sua fúria contra as novas passarelas
de ferro, mas a Cidade sobreviveu, suas torres e estruturas poli-
das pelos ventos para um brilho espelhado.
Necropoli Invadidas
Mas, se a Cidade de Estigia sobreviveu, as várias Ne-
cropoli não se saíram tão bem quanto ela. Os Espectros soltos
pelo caos encontraram as novas estradas para as Cidadelas, nas
Terras das Sombras. Eles se misturaram em meio àqueles que
moravam ali e atravessaram a Mortalha para deslizar em cidades
mortais. Espectros infiltraram-se nas Necropoli de Nova York e
Chicago e outros lugares, infestando os elementos do Mundo
Inferior e incendiando o desejo de crimes e do assassinatos. Se-
ções inteiras de cidades mortais se tornaram campos de batalha
para os Espectros, que aniquilavam os rivais de sua própria es-
pécie e às vezes brigavam entre si nos papéis dos mortais a quem
se apegavam, matando uns aos outros pela experiência da morte
e da miséria.
E depois da Primeira Guerra Mundial, as casas mer-
cantis da Europa e da América entraram em colapso e uma
grande Depressão se instalou na Terra dos Breves. Aquilo ex-
pulsou muitos de seus ofícios e lares, forçando a destituição,
semeando miséria incalculável enquanto os Espectros se delei-
tavam com a força do sofrimento e da dor do povo.
Caronte Emerge
Caronte emergiu de seu exílio auto-imposto na Torre
Ônix e olhou para o Império. Ele viu o caos nas Necropoli e os
Espectros furiosos através das terras mortais e ofereceu recom-
pensas a todos e quaisquer aparições que saíssem e destruíssem
os Espectros e trouxesse de volta seus ouvidos, dentes, ou outras
partes apropriadamente convincentes destas monstruosidades
sujas. E assim foram fundados os Carrascos, caçadores de re-
compensa de todos os Espectros das Necropoli.
A Guerra dos Mortos
Espectros também se espalharam pelas capitais da
Europa e suas danças invisíveis estavam presentes na queda do
74 Aparição: O Esquecimento
O Preço do Nosso Ódio
Isso me faz tremer até o osso para lem-
brar o que vi dos Inquietos durante a Segunda
Guerra Mundial. Juntamente com as legiões dos
homens de guerra, começaram a aparecer nas
terras das Terras das Sombras dezenas de outras
aparições, dos reinos exteriores da Polônia e da
Rússia, famílias inteiras de homens e mulheres e
bebês e avós anciãos. Eles vieram e vieram e não
pararam de vir, atravessando a Mortalha, nus, ca-
beças raspadas, marcadas e cortadas e chicoteadas
e quebradas. Seus gritos, como flechas, me atra-
vessaram. E havia uma fumaça no ar quando eles
chegaram, um fedor de queimado.
Eles eram os filhos de Abraão, de Moi-
sés e Davi e Salomão. Eles estavam todos vindo
para as Terras das Sombras e ninguém sabia o por
quê. E então descobrimos a causa e eu estava com
frio como o gelo infernal fantástico que eu ima-
ginara em vida. Estavam sendo mortos, abatidos,
seus corpos empilhados em montes apodrecidos
e transportados para grandes casas onde eram
queimados. Aquele era o cheiro no ar que não iria
embora. Eu olhei para todos eles e respirei pro-
fundamente o fedor do ódio e rememorei o tempo
da Abominação, quando os Hereges e Renegados
fizeram o Esfolamento nas terras Obsidianas e
apagaram um povo inteiro. Não conseguia imagi-
nar que algo assim pudesse acontecer novamente.
Eu estava terrivelmente errado. Quem dirá des-
tas agonias, amontoadas e novas diante de nosso
olhar trêmulo?
Czar na Rússia e no massacre na Espanha e na miséria do povo
da Alemanha. Um deles, chamado Hitler, trabalhava com as in-
seguranças do seu povo e mergulhava os reinos da Europa em
outro confronto nos campos de batalha e novamente milhares e
milhares de aparições eram enviadas através dos alimentadores
da Necropoli na Segunda Guerra Mundial.
A guerra também chegou ao Pacífico e Caronte achou
por bem guerrear contra o Imperador de Jade, que havia feito
ataques a certas Necropoli. Grandes navios de guerra, carguei-
ros de ferro Estígio, navegaram a Tempestade e lutaram com os
navios de jade do Reino Negro. A Tempestade lavou-se com os
cascos quebrados de navios e os céus explodiram com o som de
seus mísseis, uma disputa pelo destino de todas aquelas almas
de Estigia que morreriam a milhares de quilômetros da Ilha das
Lamentações, para que pudessem ser entregues a égide da gran-
de cidade de Caronte.
O Quinto Grande Maelstrom
A Segunda Guerra Mundial durou vários anos, en-
chendo as Terras das Sombras com almas de lugares com no-
mes de Anzio, Okinawa e Normandia. E então aconteceu que
uma nova arma foi criada, um explosivo que pegou o bloco de
construção da vida e virou-o e perverteu-o, tornando-se o ins-
trumento supremo da morte. Dois desses explosivos foram usa-
dos em lugares chamados Hiroshima e Nagasaki. Quando eles
explodiram, o rugido e o choque puderam ser sentidos por todo
o caminho da Mortalha até as Terras das Sombras. As chamas
de um milhão de sóis iluminaram os céus escuros do Império
por um breve segundo, antes que o Labirinto gritasse como um
ser e novamente se abrisse, liberando o Quinto Maelstrom.
O Quinto Maelstrom era de longe o mais severo, pois
ondulou pelos céus com tanto calor e intensidade que qual-
quer um pego em seu caminho imediatamente foi sugado para
o Esquecimento. E depois que a tormenta principal diminuiu,
milhares de menores Maelstroms foram vistos a atravessar a
terra, enviando muitas almas gritando para escuridão abaixo.
Ninguém podia viajar de Estigia para as Terras das Sombras,
por estradas, trilhos ou rios, pela abundância de tempestades.
Espectros apareceram em todos os lugares e se atiraram nas Ne-
cropoli. As Cidadelas se tornaram minúsculos postos avançados
lutando por sua própria sobrevivência nas Terras das Sombras
devastadas pela torrente.
Gorool
A destruição causada por esses novos explosivos, que
distorciam o poder da vida em uma morte indescritível, criara
um redemoinho que sacudiu o Labirinto e libertou um antigo
Malfeano de suas profundezas, uma fera chamada Gorool. Esse
gigante vil surgiu das profundezas da Tempestade, fortalecido
pelas tormentas e pela morte, desfraldando sua cauda ardente e
poluindo o mundo inteiro. Todos os navios enviados para com-
bater este demônio foram destruídos, enquanto a besta destruía
armas e artefatos e devorava as tripulações. Caronte viu que essa
coisa pestilenta ameaçava devorar a totalidade da própria Ci-
dade de Estigia e foi até os Senhores da Morte e às Necropoli
em busca de ajuda, mas ninguém veio. Ninguém acompanharia
Caronte contra a criatura, deixando seus tronos de poder aban-
donados.
E foi assim que Caronte colocou de lado sua Másca-
ra, pegou a espada Siklos e partiu em sua minúscula jangada
de junco, como fizera tantos séculos atrás, para enfrentar a se-
mente do Esquecimento sozinho. Quando Caronte navegou até
a Baía Chorosa, ele viu Gorool pela primeira vez, aquele ver-
me enorme escancarando suas bocas com seus dentes afiados,
agarrando e rasgando as almas que havia capturado. E Caronte
atacou a fera, tirando sua fria sombra de sua amada Cidade de
Estigia e abriu um grande redemoinho no Mar Sem Sol. Foi en-
tão que Caronte iniciou sua Terceira Descida e atirou-se com
seu barco para o grande redemoinho enquanto a fera Gorool o
seguia. Enquanto Estigia observava, o redemoinho se fechou e
nem a fera, nem Caronte emergiram das profundezas do Mar
Sem Sol outra vez.
Epílogo
Ó grande Estigia, farol brilhante no cinzento céu, eu
choro por ti. Choro por todas as minhas irmãs aparições, agora
amaldiçoadas a viver em um mundo sem Caronte. Seu desapa-
recimento foi sentido desde o primeiro instante quando o gran-
de redemoinho se fechou naquele dia fatídico.
Espectros correm soltos após a Terceira Descida, ale-
gres no conhecimento do desaparecimento de Caronte; sua gar-
galhada infernal foi ouvida nas selvas da Indochina, nas areias
ardentes da Pérsia e da Arábia. Eles foram vistos sorrindo sobre
a nova praga na Terra dos Breves, chamada AIDS e observaram
os mortais desaparecerem dolorosamente com diversão perver-
sa. Os Hierarcas finalmente aceitaram o perigo desses monstros,
chamando alarmes gerais para todas as aparições para desenter-
rarem e derrotarem esses demônios sujos do Mundo Inferior.
Os Senhores da Morte perceberam que Caronte se
foi e infelizmente pode ser para sempre, e viram que agora eles
devem mostrar alguma liderança. Mas o tráfego de almas tem
sido lento e os Senhores da Morte sentam-se no grande prédio
do Senado, preocupando-se contra os traiçoeiros Anacreontes,
mas nada fazem: uma liga de homens assustados, suas máscaras
escondendo muito mais do que suas identidades.
E você e eu, minhas companheiras aparições? O que
deve ser feito? Os céus estão mais escuros do que nunca ago-
ra; Os Maelstroms se acumulam e liberam sua chuva maldita.
Os Hereges ainda vomitam seu veneno, os Renegados atacam
e destroem as estradas, represam o Rio e nos sequestram para
seus próprios fins. Algumas almas até morrem nas Terras da
Carne com tanta violência e horror que são instantaneamen-
te transformadas em Espectros. Os longos e tristes temas me
endurecem e em todos os lugares a verdade ultrapassa minha
caneta estagnada.
De fato, e você e eu? Que esperança existe?
Está em nossos números, meus irmãos, em nossos co-
rações e mentes, na fidelidade que mostramos à memória de
Caronte e da Dama do Destino. Olhe para você, meus compa-
nheiros aparições, olhe para você na grande Cidade de Estigia,
em seus depósitos de aprendizado e maravilhas. Olhe bem para
você no que antes era nada, há muito tempo, um terreno baldio
sem forma, antes da vinda de Caronte. Lembre-se das palavras
da Dama do Destino. Veja bem o que o Caronte fez e continua a
fazer por nós, desde que mantenhamos viva a memória e o seu
ideal. Caronte nos deu, a todos nós, este mundo, que poderia-
mos ficar contra a Escuridão Total e derrotá-la, para que todos
encontrassem sua paz final. É a nossa verdadeira luz interior
que Caronte explorou, um grande reservatório de esperança vi-
vificante, onde encontraremos o descanso final para os nossos
eus errantes. Precisamos nos fortalecer para manter viva a espe-
rança interior. A pior desgraça das desgraças é ver ao nosso re-
dor a corrupção e o perigo e lamentar os velhos tempos felizes.
Tais reminiscências fatais certamente nos farão alimento para o
Esquecimento.
Aqui eu não posso ficar em silêncio, leitores. Ouça-
-me jurar para você, ao passar por este mundo, não esqueça a
esperança. Alimente-o, fortaleça-o, juntem-se uns aos outros e
encoraje-o, torne-o uma coisa poderosa e viva. Não esqueça as
palavras de Caronte, ou a Dama do Destino, que nos promete-
ram o caminho para a paz eterna. Eu lhes ordeno, sejam fieis ao
grande objetivo, e todos encontraremos a Transcendência.
Pelo Remo de Caronte.
Dante Alighieri
Capítulo Dois: Ambientação 75
 “Talvez você reconheça O velho espia vigilante
Barghests de manhã.” Ele diz, rindo inter- por sobre o ombro e desta vez
namente. “Apesar de, verdade eu também ouço algo. Um som
Uma forte sensação de
seja dita, não ficará muito cla- fantasmagórico de cães ecoa,
medo se agarra em minha gar-
ro por aqui, mesmo com o sol a ladrando pela noite.
ganta e aumenta enquanto olho
pino.” “Aposto que eles estão
para os olhos brilhantes daquele
Sou tomado de repen- vindo pra cá também.” O velho
velho. Menos de seis metros nos
te, por uma violenta vontade de diz. Ele bufa ao olhar pra mim.
separavam, mas eu tenho a desa-
sufocá-lo até que me conte tudo “Talvez eles tenham farejado
gradável sensação que aquilo é
que sabe. No lugar disso, fecho os carne nova.”
insignificante, que ele pode nem
punhos com força e me concen- Eu olho além do ve-
mesmo estar lá.
tro em controlar a fúria fervente lho, tentando descobrir o que
“Quem é você?” Pergun-
que se apossa de mim com uma fazia aquele som terrível, mas
to, já que não mais podia supor-
força surpreendente. a noite estava escura e densa
tar aquele silêncio incômodo.
“Não precisa ficar agres- demais. Não consigo ver nada
“Onde estou? O que diabos está
sivo.” O velho diz calmamente além da fraca iluminação cin-
acontecendo?”
como se lesse minha mente. “Só tilante dos postes da rua, que
A única resposta que o
estou tentando te ajudar... se você desaparecem como luzes de
velho dá é uma risada seca, mas
quiser.” uma árvore de Natal à distân-
então, como se reagindo a um
“Não preciso da sua aju- cia.
som que eu não pude ouvir, ele
da.” Eu digo. Minha voz ainda “Você pode vir comi-
enrijece e lança um olhar vigilan-
cheia de raiva. “Só quero que me go, se quiser,” o velho diz. “Mas
te por sobre o ombro.
diga onde estou.” vindo ou não, sugiro que não
“Aqui fora não é seguro à
“Pra quê? Você está nas seja pego lá fora quando eles
noite. Isso posso afirmar.” O ve-
Terras das Sombras.” O velho diz. chegarem.”
lho diz suavemente.
“Você está morto, mas creio que “O que são... eles?”
“E onde exatamente é
você já tenha percebido.” “Barghests.” Diz o ve-
aqui?” Eu não tento disfarçar o
MORTO! lho, e tenho certeza que houve
tremor na minha voz.
Não sei se falei alto ou se um tremor em sua voz. “As Le-
O velho se vira lentamen-
apenas pensei, mas novamente, giões da Hierarquia os usa. Pa-
te e me encara novamente. Seu
uma voz fina no fundo da minha trulhas intimidadoras, a maio-
rosto estava nas sombras, mas
cabeça sussurra a palavra Esque- ria, mas às vezes eles saem com
seus olhos brilham como se esti-
cimento. os Barghests para caçar.”
vessem acesos.

76 Aparição: O Esquecimento
 Sinto-me compelido a
perguntar o que eles caçam, mas
tenho medo de já saber o que é.
Eles caçam “carne nova”.
O velho se vira e começa
a se mover, lentamente para um
dos prédios sombrios do outro
lado da rua. Sua perna esquerda
se arrasta atrás dele, deixando
uma trilha na poeira.
“Você vem ou não?” O
velho chama, mas permaneço
onde estou. Os latidos estão fi-
cando mais perto. Eles ecoam
pelos prédios próximos como
uma alcatéia uivando num desfi-
ladeiro estreito.
“Eu te disse que as ruas
não são seguras.” O velho repete
por sobre os ombros antes de de-
saparecer na escuridão do portal
de um prédio. Como uma apari-
ção ele some de vista, deixando a
impressão de que nunca estivera
lá.
Os uivos, no entanto,
são bem reais. Uivos furiosos e
choros agourentos preenchem a
noite. Eles parecem estar vindo
na minha direção por todos os
lados.
Olhei para o prédio do
outro lado da rua, onde o velho
desaparecera e sinto vontade de
correr à sua procura, mas mesmo
com os Barghests se aproximan-
do, eu exito.
Não faço idéia se pos-
so ou não confiar no velho e a
verdade é que, prefiro cuidar de
mim mesmo. Posso não conhe-
cer a extensão do perigo, mas
prefiro me arriscar sozinho em
um dos prédios próximos. Exa-
tamente como quando Sarah me
abandonou, eu prefiro ficar sozi-
nho. Acho que, quando o sol nas-
cer, vou poder dar uma olhada e
descobrir que merda está aconte-
cendo. Claro, esse plano depende
da minha sobrevivência até o fim
da noite. Procurar abrigo me pa-
rece uma boa idéia.
À minha esquerda, não
mais que duzentos metros des-
cendo a rua, vejo um prédio va-
gamente familiar. Não me lem-
bro porquê, mas não me importo
mais. O som dos uivos está bem
perto, agora. Depois de dar uma
olhada pra trás, começo a correr
para o prédio. Meus passos eco-
am pelo local como tiros distan-
tes.
Antes de me abaixar den-
tro do portal sombrio, olho pra
Capítulo Dois: Ambientação 77
trás para a rua e vejo... algo.
Não tenho certeza do
que era aquilo (o que eles são).
Sob o brilho da luz dos
postes, uma massa em convul-
são de formas indistinguíveis
aparece, tão negras como bu-
racos feitos na noite. O coro
de suas lamentações é tão alto
que fere meus ouvidos. Atrás
deles há uma enorme sombra,
segurando o que só pode ser
uma correia, e ele uiva tão alto
quanto os cães que comanda.
Eu tremo de medo en-
quanto me aprofundo na escu-
ridão para o fundo do prédio.
O tremor chega pelo chão, me
tonteando a cada passo. Quan-
do encosto na parede mais
distante, me viro encolhido no
chão, lentamente. Ainda tre-
mendo como se estivesse fe-
bril, me sento acocorado com
os braços abraçando as pernas.
Perdido como estou na
escuridão, percebo que minha
única esperança é que os Bar-
ghests (o que quer que sejam)
não me vejam ou farejem es-
condido ali.
Fecho meus olhos e co-
meço a rezar.
78 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Três:
Regras

Então vieram as igrejas, então vieram as escolas,

Então vieram os advogados, então vieram as regras.
- Dire Straits, “Telegraph Road”

parição é um jogo como xadrez, base-
ball, ou pôquer e como qualquer jogo,
possui regras. As regras existem para
que os jogadores não percam tanto
tempo com argumentações sobre situ-
ações que ocorrem. Você já viu a cena
– “Bang, Bang! Você está morto!”, “Não
estou!”, “Está sim!”. As regras encontra-
das neste capítulo provêem a estrutura
para todos os jogadores de Aparição, esperando que elas evitem
as argumentações que surgirem.
As regras básicas de Aparição são simples e deve-se
levar pouco tempo para dominá-las. Entretanto, existem muitas
variações destas regras, permitindo que sejam alteradas de ma-
neira a satisfazê-lo. Você precisa primeiro aprender as regras
básicas; depois poderá decidir quais variações funcionam me-
lhor para seu jogo. Em Aparição, a história é sempre o mais
importante elemento do jogo, as regras são secundárias, acon-
teça o que acontecer. Assim, as regras de Aparição são bem
abstratas. Use-as conforme achar necessário.
É sempre bom lembrar que as regras são, em sua
maior parte, sugestões. Esteja avisado, no entanto, que quanto
mais se distancia das regras básicas; mais aberto a debates seu
jogo se torna. Não se sinta preso pelo sistema que este livro
oferece, mas esteja preparado para ser flexível se as regras o
atrapalharem. (Veja o Capítulo Sete para mais sobre Narra-
ção).

Capítulo Três: Regras 79

 Regras e Narrativa
Jogos de Narração são muito diferentes dos outros
estilos de jogo onde “vencer” é o objetivo. De fato, não há
perdedores e vencedores – apenas jogadores. Mesmo que
seu personagem “morra” durante o curso de uma história, se
você gostou de ter jogado, ainda será um vencedor.
Embora algumas vezes seja difícil de dizer, o Nar-
rador e os jogadores não são adversários, são colaboradores.
O Narrador e jogadores atuam juntos para tecer um conto.
Muitas vezes esses contos interligam-se com o tempo para
criar uma história conhecida como Crônica, mas tudo ad-
vém da cooperação entre os jogadores e seu Narrador. Além
disso, não há fim definitivo para o jogo. Uma vez iniciado,
continua até a história chegar a um fim ou até o término da
sessão. Da próxima vez que os jogadores se juntarem, a ação
continuará de onde parou, como no fim de um episódio de
série de TV, ou de um capítulo de livro.
Já que o objetivo da narrativa é criar uma história
no lugar de vencer, as regras são menos importantes do que
em outros jogos. Em Aparição, as regras devem servir mais
como suporte para a história do que para apenas governá-
-la. Ao entrar neste jogo, você estará entrando em um novo
mundo, um mundo que você criou. Não deveria deixar que
algo tão pequeno como uma regra atrapalhasse sua diversão.
As regras deste jogo foram modeladas para serem
simples e, ainda assim, abrangerem as vastas possibilidades
existentes. O Narrador e os jogadores devem se sentir con-
fortáveis em experimentar, usando as regras que lhe forem
úteis e descartar o resto delas. Você pode criar regras suas,
apenas lembre-se de ser consistente com todos do grupo. O
Narrador deve ter a decisão final nestes quesitos e deve se
sentir livre em aprovar mudanças nas regras, desde que fa-
çam sentido para o grupo.

A Regra de Ouro
A regra mais importante de Aparição
é o que chamamos de Regra de Ouro. Pode ser
resumida como: se você não gosta, não use. A
parte mais importante do jogo é a história. Um
sábio certa vez disse: todo o resto é comentário.
Sinta-se livre para usar, ignorar ou adicionar co-
mentários (na forma de regras, criaturas, Guil-
das, Arcanoi, Necropoli, ou o que achar neces-
sário) da maneira que achar melhor; afinal de
contas, é a sua história.

80 Aparição: O Esquecimento

Tempo
Tempo é um dos primeiros conceitos que você deve
entender quando joga Aparição. Existem cinco modos di-
ferentes para descrever as divisões do tempo, divididos da
menor para a maior unidade:
• Turno – Um turno é a menor unidade de tempo
existente no jogo de Aparição, algo entre 3 segundos e 3 mi-
nutos de duração. Um turno é tempo suficiente para se fazer
uma ação (discutido abaixo).
• Cena – Um período compacto da ação e interpre-
tação que toma parte em um local em particular. Uma cena
pode ser comparada como a de um filme ou peça de teatro.
Leva poucos ou quantos turnos forem necessários.
• Capítulo - Uma parte independente da história,
geralmente feita em uma sessão de jogo, composta de cenas
conectadas por uma linha de tempo.
• História - Um conto completo, com introdução,
desenvolvimento e clímax; que geralmente leva uma quanti-
dade considerável de capítulos para ser concluída.
• Crônica - Uma série de histórias conectadas pela
vida dos personagens e de um modo geral concedidas pelo
tema e trama. Sua crônica avançará de acordo com as ações
de seu grupo.
• Tempo livre - O período entre duas cenas, onde
os personagens podem estar descansando, se recuperando
ou possivelmente aprendendo novas perícias. Toda vez que
os personagens não estiverem participando ativamente da
história é considerado tempo livre.
Rolando os Dados
Aparição necessita de alguns dados de 10 faces, que
você pode adquirir em qualquer loja especializada. Se você
for o Narrador, vai querer possuir no mínimo 10 dados para
você. Jogadores podem precisar de menos dados, dependen-
do dos Atributos de seus personagens. O sistema que usamos
é bem simples, embora pareça complicado a princípio.
• Seu personagem possui uma certa quantidade de
dados de acordo com cada uma de suas Características (veja
abaixo). Estes pontos refletem o quão bom ele é em certas
coisas. Quando você (ou, mais exatamente, seu personagem)
pratica uma ação, você rola um dado por cada ponto que
possua na Característica ou Características que esteja usan-
do.
• Você deverá obter um determinado número de
sucessos para completar ações. Um sucesso é quando seu re-
sultado excede ou se iguala ao número de dificuldade. Este
número, que o Narrador julga, fica entre 2 e 10 e reflete o
quão difícil uma tarefa é. Quanto mais difícil de ser comple-
tada for a tarefa, maior a dificuldade na rolagem de dados.
Simples assim.
• Modificadores podem adicionar ou subtrair à
dificuldade em uma rolagem de dados, ou afetar o número
de dados que você terá em sua Parada de Dados. Um +1 de
dificuldade, por exemplo, adiciona 1 ao número de dificul-
dade que você deve alcançar. Por outro lado, subtrair um de
sua Parada de Dados significa um dado a menos na rolagem,
tornando assim mais difícil alcançar o número solicitado de
sucessos.
• Quanto mais sucessos você obtêm, melhor seu
personagem faz a tarefa. Por outro lado, se você não con-
segue nenhum sucesso, seu personagem falha naquilo que
tentou fazer. Se obtiver sucessos negativos (conhecidos tam-
bém como Falhas Críticas), seu personagem não falha sim-
plesmente, mas faz isso tão espetacularmente que sofrerá
terríveis consequências.
• É isso. O resto são apenas variações da ideia
básica.
Por Exemplo....
Tendo roubado um saco de Oboli
de um grupo de Hereges, Erik corre por sua
existência. Infelizmente, os Hereges o en-
curralaram no alto de um prédio, deixan-
do-o sem saída, apenas com a alternativa
de saltar para os prédios vizinhos. O Nar-
rador determina que a dificuldade para
saltar será 7 e que Erik precisará de ao me-
nos 3 sucessos para pousar do outro lado
em pé. Ele também diz que a dificuldade
do salto será aumentada em 1 (levando a
dificuldade total a 8), se Erik tentar saltar
de posse do saco de moedas. Mais preocu-
pado com sua segurança do que com um
saco de oboli, Erik lança o saco de moedas
por sobre os ombros em direção aos Here-
ges e salta no ar...
O Narrador pede a Erik que ele
combine sua Força com a Perícia Espor-
tes (pois estes parecem ser os mais apro-
priados para a questão) e então é feita a
rolagem para saber se ele consegue fazer
o salto. Erik possui Força 3 e Esportes 2,
permitindo que ele role 5 dados. Ele ob-
têm 2, 3, 3, 5, 7. Erik consegue apenas um
sucesso e o narrador decide que ele con-
seguiu saltar, mas agora está se segurando
no parapeito do prédio. Felizmente para
Erik, os Hereges estão ocupados demais
juntando seus oboli – por enquanto.
Capítulo Três: Regras 81

Ações
• Fraco
Durante o curso da história, os personagens farão •• Médio
várias ações. Jogadores podem ter conversas “fora dos perso-
nagens” ou descrever as ações do personagem para o Narra-
dor, sempre que for necessário. Uma ação pode ser qualquer
coisa, desde uma pequena conversa até a luta pela vida con-
tra um poderoso Espectro. determinada Característica, você tem direito a um dado na
Algumas ações são automáticas: andar pela rua
até uma loja, por exemplo. Tudo que o Narrador precisa é
manter-se atento aos passos do personagem e ao que ele está
fazendo. Entretanto, se o personagem tenta sorrateiramen-
te chegar à loja que está sendo vigiada por uma quantidade
considerável de Legionários, o Narrador pode exigir um ro-
lamento de dados para determinar as chances do persona-
gem ser localizado ou não.
Pontuação nas Características
As Perícias dos Personagens – suas habilidades ina-
tas e aprendidas são definidas por um número de pontos.
Cada Característica vai de um a cinco pontos, que descre-
vem o nível da habilidade do personagem em uma caracte-
rística em particular. Um ponto significa amadorismo, cinco
significa excelência.
Você deve considerar a média humana normal en-
tre um e três pontos, com dois sendo a média. Entretanto,
algumas pessoas podem possuir Características em quatro
(excepcional) ou cinco (excelente), ou até mesmo uma Ca-
racterística zero.
82 Aparição: O Esquecimento
x péssimo
••• Bom
•••• Excepcional
••••• Excelente
Para cada ponto que seu personagem tem numa
parada de dados. Assim, se você tem quatro pontos em Força,
você poderia rolar quatro dados quando testasse um talento
relacionado à Força. Se possuir um ponto em Percepção, você
poderia jogar um dado quando tentasse notar alguma coisa.
Entretanto, você raramente jogará apenas o número de da-
dos correspondente ao que você possui em um Atributo (suas
habilidades inatas). Normalmente, você irá adicionar ao Atri-
buto o número de dados correspondentes ao pontos de uma
Habilidade (algo que você sabe ou que tenha aprendido).
Então se o Narrador deseja saber se os personagens
dos jogadores notam um Ceifador sorrateiro, ele pedirá para
rolarem sua Percepção + Prontidão (um Atributo + uma Ha-
bilidade). Ele determinará uma dificuldade para o rolamento,
que seria o número que os jogadores precisariam conseguir
em cada um dos dados para obterem sucesso. O Narrador
também pode decidir que estes mesmo jogadores precisam de
um certo número de sucessos, dependendo de quão furtivo o
Ceifador seja.
Essa combinação de dados entre Atributos e Habi-
lidades é chamada de Parada de Dados. Esta Parada é o total
de dados que o jogador rola num turno, normalmente numa
ação única, apesar do jogador poder dividir sua Parada de Da-
dos caso ele queira fazer mais ações. (veja, “Ações Múltiplas e
Dividindo a Parada de Dados”, abaixo).
Algumas Características (Força de Vontade e Cor-
pus, por exemplo) possuem pontuações permanentes e tem-
porárias. As temporárias podem aumentar e diminuir duran-
te o decorrer da história, enquanto a pontuação permanente
normalmente continua a mesma. A maioria das mudanças é
marcada nos quadrados, que representam a pontuação atu-
al do personagem. A Parada de Dados do personagem nestas
Características é geralmente baseada em sua pontuação per-
manente (os círculos), e não na pontuação atual (os quadra-
dos).
Algumas ações não pedem ou até mesmo não pos-
suem Habilidades apropriadas. Estas são ações que caem nas
capacidades inatas do personagem (Atributos), ou na força in-
terior do mesmo (Força de Vontade ou Pathos). Se o persona-
gem fosse tentar levantar um objeto pesado, por exemplo, sua
Parada de Dados poderia consistir em um número de dados
iguais a sua pontuação em Força. Não há possibilidade onde
mais que duas Características podem ser somadas em uma
Parada de Dados. Normalmente apenas uma única Caracte-
rística pode ser usada se esta puder ter valor potencial de 10
e Características como Força de Vontade são raramente com-
binadas com outras Características. É geralmente impossível
para um personagem normal possuir mais que 10 dados em
sua Parada de Dados.
Dificuldade
e Sucesso
Agora você precisa descobrir o que necessita quando
for fazer um rolamento de dados. O Narrador lhe dará um
número de dificuldade que é o mínimo que você precisa con-
seguir em cada dado para contar como um sucesso. A dificul-
dade é sempre um número entre 2 e 10. Você deve conseguir
no mínimo um número igual ou maior que a dificuldade em
um dado na Parada de Dados para obter sucesso. Cada vez
que você consegue é chamado de sucesso. Se a dificuldade é 6 e
você rolou 2, 3, 5, 6 e 9, então marcou dois sucessos. Apesar de
precisar apenas de um sucesso para executar uma ação, quan-
to mais sucessos conseguir, melhor seu personagem faz aquilo
que pretende. Marcar apenas um sucesso é considerado um
sucesso satisfatório, três é considerado um sucesso completo,
e 5 um momento raro.
Dificuldades
3 Fácil
4 Rotineira
5 Simples
6 Padrão
7 Desafiador
8 Difícil
9 Extremamente Difícil
Grau de Sucesso
Um Sucesso Normal
Dois Sucessos Moderado
Três Sucessos Completo
Quatro Sucessos Excepcional
Cinco Sucessos Extraordinário
Quanto menor a dificuldade, mais fácil a tarefa, e vice
versa. O Narrador pode decidir que algumas ações são bem
sucedidas sem que se precise rolar os dados (sucesso automáti-
co) se o número de dados em sua Parada de Dados for igual ou
maior que a dificuldade.
Apesar de não estarem relacionados na tabela anterior,
seu Narrador pode solicitar as dificuldades de 2 e 10. Isto deve
ser raro; a dificuldade 2 é pateticamente fácil, e a dificuldade 10
é tão absurdamente difícil que é mais provável você falhar do
que ser bem sucedido. Qualquer 10 nos rolamentos de dados é
um sucesso, não importa o que aconteça. A não ser que o Narra-
dor diga o contrário, a dificuldade padrão para qualquer tarefa é
6.
Complicações
É normalmente fácil pontuar um único sucesso,
mesmo que você tenha somente um ou dois dados. Você tem
uma margem de sucesso 75% quando joga apenas dois dados
contra uma dificuldade de 6. Parece fácil, não é? Claro que há
algumas complicações para aqueles que desejem usá-las. Se seu
grupo está mergulhado na interpretação, simples rolagens e su-
cessos automáticos serão o bastante.
Falha Crítica
Sempre que rolar um “1”, ele cancela um sucesso. Re-
mova um dado que obteve sucesso para cada dado que obteve
“1”, e não os considere na contagem. Se você obtém mais “1”
que sucessos, ocorre uma falha crítica, isto significa que algum
tipo de desastre acontece. Não conte os “1” que cancelaram os
sucessos, mas se apenas um único “1” sobrou depois de todos
os sucessos tiverem sido cancelados, uma falha crítica ocorre.
Caso não tenha nenhum “1” ou sucessos sobrando, você apenas
falhou naquilo que o seu personagem tentou fazer.
Alguns grupos contam os “1” extras como falhas ter-
ríveis. Isto é uma interpretação opcional, e pode acarretar mais
problemas do que o necessário (mesmo que ocasionalmente
seja divertido...).
Por Exemplo…
Jackie, um Renegado Internauta e sua colega de Cír-
culo Casey estão cruzando a Tempestade em sua relíquia, um
Chevrolet Nova 1974, quando ela ouve um som estranhamente
desagradável, vindo por baixo do carro. Ela se reclina e olha por
baixo, conseguindo ver um Espectro preso ao veículo e a ponto
de meter as garras através do piso do carro. Sabiamente, Jackie
avisa Casey do perigo e ele imediatamente entra no Atalho mais
próximo, esperando encontrar segurança por lá. Acelerando ao
máximo…
Casey diz que se direciona a um Atalho, que está visi-
velmente bem à frente como um trecho de duas linhas de asfalto.
Ele decide que deseja tentar ir de encontro ao Atalho, esperando
atropelar o Espectro e transformá-lo em asfalto ectoplásmico.
O Narrador decide que devido a delicadeza da manobra, Casey
precisa fazer um rolamento de Destreza + Argos (dificuldade 8)
e obter dois sucessos. Casey tem três pontos em Destreza e mais
três pontos em Argos: totalizando seis dados. Ele rola: 10, 6, 4,
3, 1, 1. O primeiro 1 cancela o sucesso; o segundo 1 é conferido
como uma falha crítica. O Narrador diz que Casey perdeu o
Capítulo Três: Regras 83
Atalho completamente e ainda fez o Nova rodopiar. Desespe-
rado, Casey olha o Atalho se distanciar; enquanto o Espectro
escala para cima do carro e Jackie o está atacando com uma faca.
Isso não parece bom…
Ações Múltiplas e Divisões de Dados
Caso queira que sua aparição faça mais que uma
ação por turno, você pode dividir sua Parada de Dados entre
as ações. O número de dados usados em cada ação é escolhido
por você, mas se uma de suas Paradas for menor do que a ou-
tra (Percepção + Prontidão com quatro dados, Destreza + Briga
com seis), a menor Parada de Dados é usada para as duas ações.
No exemplo acima, o personagem poderia ter apenas quadro
dados para dividir em duas ações....
Por Exemplo.... tes para completar a ação. Nas ações estendidas, sucessos são
Agarrado desesperadamente ao peitoril, Erik tenta su-
bir para o telhado do prédio. Com bastante tempo e em uma si-
tuação de estresse menor, o Narrador provavelmente o permitiria
concluir esta ação sem pedir um rolamento de dados. Infelizmente
para Erik, um dos Hereges decide tentar um disparo contra ele,
usando uma pistola Relíquia, enquanto nosso herói se balança
tentando alcançar o telhado.
O Narrador informa a Erik que ele pode tentar subir o
prédio, ou tentar evitar as balas. Erik não quer cair e nem levar
um tiro, então ele opta por dividir sua Parada de Dados. O Nar-
rador decide que as Características de Erik que seriam usadas
para que ele consiga subir são as mesmas usadas para um salto
(Força + Esportes), enquanto as Características para esquivar
das balas seriam Destreza + Esquiva. Assim como antes, Erik
tem um total de Força + Esportes igual a cinco, enquanto sua
Destreza + Esquiva possuem um total de sete. Entretanto Erik
tem apenas cinco dados para dividir entre suas ações. Decidin-
do que chegar ao telhado é mais importante, Erik escolhe rolar
três dados para isso e apenas dois para esquivar-se.
Sucessos Automáticos
Rolar os dados sempre pode atrapalhar a interpreta-
ção. Durante maioria das cenas, especialmente quando se está
imerso na história, você pode querer não jogar dado algum e
interpretar sem qualquer interrupção. Sucessos Automáticos evi-
tam que os jogadores rolem os dados para ações que seu perso-
nagem pode fazer com um braço nas costas.
A maioria dos grupos utiliza uma combinação de jo-
gadas com dados e sucesso automáticos. Funciona desta forma:
caso o número de dados que possua na sua Parada de Dados seja
igual ou maior que a dificuldade, você tem sucesso automático.
É uma vitória normal, como se tivesse conseguido apenas um
sucesso; algumas vezes você desejará rolar de qualquer forma
para obter resultados mais favoráveis. Mas para ações simples e
comuns, sucessos automáticos eliminam muito tempo perdido.
De qualquer forma, a história é o que importa.
Você também pode gastar um ponto de Força de Von-
tade (veja Capítulo Quatro) para obter um sucesso automá-
tico. Este sucesso automático soma a qualquer quantidade de
sucessos obtidas no rolamento de dados. Você certamente não
84 Aparição: O Esquecimento
irá querer usar isso com freqüência, pois um ponto de Força
de Vontade gasto fica perdido por um tempo. Você pode gastar
apenas um ponto de Força de Vontade por turno para ganhar
um sucesso.
Ações estendidas são mais complicadas que ações
simples e não devem ser empregadas com freqüência no meio
de intensas interpretações. Como Narrador, você decide qual
tipo de ação será empregada. Um pouco de experiência será sua
melhor conselheira.
Ações Estendidas
Ações simples requerem apenas um sucesso. Algumas
tarefas, chamadas de Ações Estendidas, exigem mais que um
sucesso para serem completadas. Você pode precisar acumular
três, sete, ou possivelmente 20 sucessos (em raras ocasiões).
Uma ação estendida permite que se rolem os dados
em turnos consecutivos na tentativa de somar sucessos suficien-
cumulativos; se você precisa de 10 sucessos numa ação esten-
dida e obtém dois sucessos na sua primeira tentativa e três na
segunda, você está na metade do caminho.
Durante uma ação estendida você continua tentando
obter sucessos pelo tempo que quiser, ou até o Narrador deci-
dir que você já foi longe o suficiente. Caso falhe criticamente
durante uma ação estendida, seu personagem (por decisão do
Narrador) deve começar novamente, todos os sucessos acumu-
lados são perdidos. Por outro lado, o Narrador pode decidir não
permitir que o personagem tente de novo.
Por Exemplo…
A Sombra de Christine, a Perfeccionista, tomou con-
ta de seu corpo temporariamente. Isto resultou em comporta-
mentos de auto-destruição e abuso de outras aparições do seu
Círculo. Trancada em sua própria mente, Christine decide fazer
uma tentativa desesperada de tirar o controle de sua Sombra.
O Narrador diz a Christine que ela pode tentar sobre-
pujar sua Sombra rolando sua Força de Vontade contra uma
dificuldade de 6, mas ela precisará obter, no mínimo, cinco su-
cessos para conseguir o controle de volta. De uma forma mais
clara, ela precisa conseguir esses sucessos acumulando. A Força
de Vontade de Christine é 8, permitindo que ela jogue um total
de oito dados. Ela rola: 1, 2, 2, 4, 5, 5, 6, 9, conseguindo apenas
um sucesso (lembrando que a regra da falha diz que se perde
um sucesso para cada 1). Infelizmente, a Sombra de Christine
ainda está no controle, mas o Narrador decide que ela pode
continuar a lutar. Ela joga novamente: 9, 9, 7, 6, 4, 4, 3, 2, dan-
do a ela quatro sucessos. Christine adiciona estes quatro novos
sucessos com um que ela já havia conseguido, e então obtém os
cinco sucessos de que precisa. A Sombra é banida uma vez mais
e resta para Christine a tarefa de desculpar-se com aqueles que
seu lado sombrio causou problemas...
Ações Resistidas
Algumas vezes o esforço de seu personagem será
oposto ao de outro, assim como no cabo de guerra. Cada um
irá rolar, geralmente tendo uma Característica do outro como
dificuldade. O personagem que obtiver mais sucessos nesse tipo
de disputa consegue o que pretendia, enquanto o outro perso-
nagem falha. Contudo, só é considerado o número de sucessos
excedentes na disputa contra o seu oponente. Cada sucesso do
oponente elimina um sucesso seu, assim como um resultado
“1”. Sucessos perfeitos nesse tipo de disputa são raros e difíceis,
e mesmo que seu oponente não possa te vencer, ele ao menos
pode diminuir suas chances.
Em ações que são resistidas e estendidas, um dos oponentes
deve obter um certo número de sucessos para que possa vencer.
Cada sucesso acima do total do oponente em um turno é adi-
cionado ao total de sucessos. O primeiro que obtiver o número
de sucessos designado ganha a disputa.

Por Exemplo…
Lorde Ember, Mestre Ferreiro, agarrou McKenna, um
Renegado que foi sentenciado às forjas. McKenna tem outras
intenções e inicia um combate, tentando se soltar das garras de
Lorde Ember.
O Narrador diz que essa é uma ação resistida. Ambos,
McKenna e Ember devem rolar Força + Briga com a dificuldade
igual à Parada de Dados do seu oponente. Se o Ferreiro ganhar,
ele mantém o oponente preso, o que permite que ele agrida o
Corpus de McKenna com seu martelo no próximo turno. Se
McKenna vencer, pode tentar fugir. Infelizmente para o Rene-
gado, sua Parada de Dados é de apenas 4 enquanto a do Ferreiro
é de 8.
McKenna vai precisar de muita sorte para escapar.

Trabalho em Equipe
Personagens podem agir em equipe para juntar suces-
sos, na maioria das vezes para uma ação estendida. Sob o aval
do Narrador, dois ou mais personagens podem fazer rolamentos
separadamente e combinar seus sucessos. Eles jamais poderão
combinar suas características separadamente para um rolamen-
to, apesar de tudo.
Trabalho em equipe é útil em circunstâncias como
combates, caçar, conseguir informação e concertar coisas. Em
outras situações, isso pode ser utilizado; em muitas situações
sociais, uma aproximação conjunta pode confundir o alvo.

Tentando Novamente
Falhar é frustrante. Se está tendo problemas com seu
computador e não sabe como resolver, provavelmente sua frus-
tração aumentará e diminuirá sua produtividade. Aparição re-
flete essa frustração com a falha aumentando a dificuldade de
qualquer ação tentada novamente depois de uma falha.
Sempre que um personagem tentar uma ação que
tenha falhado anteriormente, o Narrador tem a opção de au-
mentar a dificuldade dessa ação em um. Assim se a primeira
tentativa de abrir uma porta (dificuldade 5) falhou, a frustração
do personagem com a falha inicial pode deixá-lo nervoso na
segunda tentativa. Para refletir isso, o Narrador aumenta a di-
ficuldade para 6. Claro, se o personagem falhar novamente, as
coisas podem piorar…
Em alguns casos, como combate, o Narrador não deve
usar essa regra. Errar o primeiro murro não te frustra tanto a
ponto de nunca acertar o alvo.

Capítulo Três: Regras 85


Exemplos de Rolamentos
Cada Atributo pode ser combinado com uma Habi-
lidade, permitindo cerca de 270 tipos de rolamentos a serem
feitos (isso sem contar Força de Vontade). Obviamente, não será
sempre que alguém rolará Destreza + Enigmas, mas isso pode
acontecer. A seguir damos alguns exemplos de rolamentos que
podem acontecer durante o desenrolar de uma história.
• Mônica está tentando entrar no Local Assombrado
da Hierarquia no Pavilhão do Velho Posto de Comando. Vá-
rios Legionários estão por ali, mantendo uma vigília silenciosa
contra qualquer invasor. Para evitar ser apanhada, Mônica deve
rolar Raciocínio + Furtividade (dificuldade 7) num teste resisti-
do contra o Legionário mais próximo a ela, que usa Percepção +
Prontidão (dificuldade 6). Para se aproximar, ela deve ter mais
sucessos que ele.
• Mosh foi mandado por seu superior da Hierarquia
para espionar um Local Assombrado de Renegados. Capturado
pelos Renegados que ele deveria espionar, Mosh tenta conven-
cê-los que ele veio para unir forças a eles. O líder dos Renega-
dos, um Artífice que adoraria usar seu martelo para forjar Mosh
em algo realmente útil, será difícil de convencer, assim Mosh
deve rolar Raciocínio + Lábia (dificuldade 8). O número de su-
cessos representa o quanto da história o Renegado engole – se é
que ele vai engolir algo.
• O amante mortal de Sharon morreu em um aciden-
te súbito. Ela descobre que ele foi capturado recentemente por
um Ceifador da Hierarquia e mandado para as forjas pelo seu
plasma. Para tentar libertá-lo, ela se aproxima do Ferreiro local
oferecendo uma Relíquia em troca do seu amante. Contudo, o
Ferreiro está precisando de novas almas e dificultará na barga-
nha. Sharon deve testar sua Manipulação + Burocracia (dificul-
dade 7) para conseguir um bom preço.
• Jane está tentando convencer um grupo de Lêmures
que a Hierarquia é um bando de ditadores que criam leis que
servem apenas para seus propósitos. Ela deve rolar Manipula-
ção + Expressão (dificuldade 7) para poder convencê-los. Se ela
conseguir 4 ou mais sucessos ela pode incitar uma rebelião, mas
se ela falhar pode virá-los contra ela.
• Ao voltar para seu Local Assombrado, Karl é ataca-
do de repente por um Espectro. Pego de surpresa, Karl tenta
fugir. Ele deve rolar Destreza + Esportes (dificuldade 6) num
rolamento resistido contra o Espectro, ou ser atacado antes de
conseguir correr.
• Sveyn possui um livro Relíquia sobre exorcismo. In-
felizmente, o livro foi escrito de forma arcaica. Sveyn deve rolar
Inteligência + Ocultismo (dificuldade 8) para extrair alguma
informação útil da prosa densa que leu.
• Fai Chin está tentando consertar uma espada Relí-
quia que se quebrou durante um confronto com um Espectro.
Felizmente, como um Artífice, Fai tem acesso às forjas. A espa-
da está muito danificada, (foi quebrada em três partes), então
o Narrador decide que Fai deve testar Destreza + Reparos (di-
ficuldade 9) e deve obter seis sucessos para concertar a espada
satisfatoriamente. Ele também decide que Fai só pode fazer um
rolamento por dia, mas os sucessos são cumulativos.
• Kenneth está sendo brutalmente interrogado por
inquisidores da Hierarquia sobre a localização de um Local As-
86 Aparição: O Esquecimento
sombrado de Renegados. Fanático pela causa Renegada, Ken-
neth invoca toda sua força para resistir. O Narrador diz que ele
deve rolar Vigor + Lábia (dificuldade 8) para manter sua his-
tória. Cinco sucessos permitirão convencer completamente os
inquisidores que ele está contanto a verdade, mas uma falha o
fará fraquejar.
• Yuri se uniu recentemente a um grupo de Zombe-
teiros Renegados conhecido como Apavoradores. Infelizmente,
ele sente que boa parte da gangue não confia nele. Ele pede ao
Narrador para fazer um teste de Carisma + Manha para impres-
sionar os camaradas Renegados e fazê-los aceitá-lo. O Narrador
concorda e diz que a dificuldade será 6, mas que ele precisa de
pelo menos quatro sucessos para impressionar a maioria dos
membros da gangue.
Léxico
Essa é uma lista de termos que você encontrará, lendo
esse livro ou durante o jogo, que podem ser usados para descre-
ver como Aparição funciona.
Ação Estendida: É uma ação que requer sucessos
múltiplos para atingir seu objetivo. Vários rolamentos podem
ser feitos para atingir o feito.
Ação Resistida: Uma ação onde dois personagens
disputam um contra o outro. Ambos os personagens rolam e
comparam o número de sucessos. O que tiver o maior número
de sucessos é considerado “vencedor”.
Ação Simples: Uma tentativa de ação que requer ape-
nas um sucesso (apesar de mais sucessos serem possíveis).
Ação: Uma ação é um ato que um personagem faz.
Ações vão de andar um quarteirão, usar um Arcanoi até ma-
nejar uma arma. Quando o jogador diz ao Narrador o que seu
personagem vai fazer, ele está anunciando uma ação.
Angústia: A energia emocional negativa que alimenta
a Sombra de uma Aparição. Angústia é obtida ao suprir as Pai-
xões Sombrias.
Antecedentes: Características que refletem a expe-
riência de uma aparição e sua posição social, adquiridas sepa-
radamente das Habilidades. Status, Mentor e Eidolon são exem-
plos de Antecedentes.
Arcanoi: Os poderes únicos que uma aparição possui.
O singular de Arcanoi é Arcanos.
Arrependimento: Usado unicamente por motivos de
narrativa, o Arrependimento de um personagem é aquilo que
ele mais desejava fazer nos seus dias de mortal. Usado para de-
finir um personagem no processo de criação.
Atributos: Características que descrevem o potencial
inato do personagem para ações Físicas, Sociais ou Mentais.
Exemplos de Atributos incluem Força, Carisma e Percepção.
Característica: Qualquer Habilidade, Atributo ou ou-
tra medida das capacidades de um personagem que possa ser
representada em bolinhas.
Catarse: Quando uma Sombra tenta emergir – e algu-
mas vezes consegue – e toma o controle do Corpus da aparição.
Cena: Um momento na história, que pode ser com-
posto por vários turnos, e que pode ser comparado a uma cena
de filme ou Seriado de TV.
Comportamento: A personalidade que uma aparição
mostra ao Mundo Inferior, que pode ser completamente dife-
rente de sua Natureza.
 Corpus: O “corpo” da aparição, equivalente à sua vi-
talidade. Cada sucesso em um rolamento de dano remove um
nível de Corpus da vítima.
Dificuldade: O número necessário para se obter su-
cesso em um rolamento. Quanto maior a dificuldade de uma
tarefa, mais alto o número exigido no teste. Dificuldades podem
variar de 2 a 10.
Eidolon: O mais puro aspecto da Psique, de muitas
formas o verdadeiro eu da Aparição. Em termos de jogo, um
Antecedente que a aparição pode adquirir para resistir aos efei-
tos da Sombra.
Espinhos: Habilidades especiais possuídas apenas pe-
las Sombras.
Falha Crítica: É uma falha catastrófica num rolamen-
to de dados. Diz-se que o jogador falhou criticamente se ele ob-
tiver mais “uns” do que sucessos.
Força de Vontade: Uma Característica que determina
o quão controlada e determinada uma aparição é, usada para se
defender de ataques de natureza emocional ou mental. Diferen-
te de outras Características, a Força de Vontade também pode
ser gasta no lugar de ser rolada.
Grilhões: Coisas no mundo dos vivos que ligam uma
aparição às Terras das Sombras. Quanto mais pontos em um
Grilhão, mais importante ele é.
Guia da Sombra: O jogador que, além de interpretar
seu próprio personagem, também toma para si a interpretação
da Sombra de outro jogador.
Habilidade: Uma Característica que descreve o que
um personagem sabe, aprende ou pode fazer. Habilidades são
divididas em Talentos, Perícias e Conhecimentos. Exemplos de
Habilidades incluem Esquiva, Segurança e Burocracia.
Interlúdio: Interlúdio é o tempo que os personagens
não estão ativamente no jogo. Isso inclui o tempo passado em
Modorra, estudando ou transformando rochas em pedrinhas
ou quaisquer outras opções que não são legais de se interpretar.
Narrador: A pessoa que cria e guia uma Crônica de
Aparição, descrevendo o que os personagens vêem e toma para
si a interpretação dos aliados e adversários.
Natureza: O eu arquétipo verdadeiro de uma apari-
ção.
Nível: O valor permanente (a quantidade de círculos)
que uma aparição possui em uma Característica.
Paixões: O propósito que guia uma aparição, basea-
da em emoção condensada. Aparições são capazes de acumular
Pathos resgatando suas Paixões.
Parada de Dados: O número de dados que você pode
lançar numa determinada jogada, equivalente ao número de
pontos que seu personagem possui nas Características que se-
rão testadas.
Pathos: Energia emocional pura que supre os Arcanoi
das aparições. Pathos é recuperado resgatando suas Paixões.
Personagem: Um Personagem é a representação que o
jogador adota para jogar Aparição. Assim como o papel de um
ator, o personagem é responsabilidade do jogador para interagir
no cenário do Narrador.
Pontos: O nível temporário de Características como
Força de Vontade, Pathos, Angústia e Corpus; os quadrados na
ficha de personagem, não os círculos.
Psique: A personalidade principal de uma aparição,
também conhecido como personagem.
Sistema: As regras usadas para qualquer situação em
um jogo de Aparição; mais especificamente, o tipo de rolamen-
to mais apropriado para cada ação.
Sombra: O lado negro de uma aparição, o Sr. Hyde da
personalidade dela.
Trupe: Um grupo de pessoas que se juntam para jogar
Aparição.
Vantagens: Características adicionais que um perso-
nagem possui além dos Atributos e Habilidades. Antecedentes,
Arcanoi, Paixões, Grilhões, Força de Vontade e Pathos são con-
siderados Vantagens.
Capítulo Três: Regras 87
88 Aparição: O Esquecimento
 Todos sabem meu nome,
agora.
Sou uma celebridade entre os mor- E
tos. Tenho perambulado pra cima de vez
e pra baixo a Costa Leste por três em quan-
anos, do ouço a voz
dela. É o suficien-
te para me manter
seguindo, mesmo quando
o velho escritório me inquieta,
ou outros fantasmas me convidam
para ficar com eles.

Existe um lugar para uma apa-

rição com talentos como o meu, eles di-
zem. Alguns talentos - Posso fazer com
que coisas se movam do outro lado da
Mortalha, onde os vivos estão. Isso não
faz muita diferença para ajudar a mu-
lher que procuro aqui. Não no Mundo
Inferior.

Há uma voz na minha cabeça

que nunca se cala e que está sempre me

Livro Dois:
dizendo que nunca vou encontrá-la. A
Sombra, esse é o nome que aquele fan-
tasma velho a chamou. Ele disse que é
parte de mim, meu lado sombrio. Tudo
bem, vou deixá-la agir quando encon-
trar o soldado que feriu a mulher três

Renascimento
anos atrás. Até lá, a Sombra pode ficar
agarrada às barras de sua cela fazendo
barulho. E ela faz um barulho ensurde-
cedor às vezes. Ensurdecedor.

Capítulo Três: Regras 89

 nico e da minha imaginação hi- lados da rua.
A Hierarquia perativa, mas não posso. Uma leve brisa que não
Solto um gemido en- sinto no meu rosto sopra fo-
Uma fina e cinzenta luz
quanto me espreguiço, meus lhas de jornal amarelado que
da manhã entra no prédio e len-
músculos e juntas estalam como se debatem como pássaros de
tamente acaba com as sombras.
papel amassado. Meus ossos e asas quebradas pela rua até
Ainda estou contra a parede, tão
tendões parecem que vão rachar baterem num prédio ou cerca
longe da porta quanto possível.
e estalar quando lanço meu peso enferrujada. Espero ver um
No início, mal noto a mudança
para frente e tremendo, me le- bando de híbridos mutantes
de iluminação, mas logo percebo
vando. Após um momento, gal- fuçando o lixo em alguma es-
que posso ver minhas mãos. Páli-
go meu caminho nas ruínas e quina, mas tudo estava estra-
das e esqueléticas, elas se juntam
sigo na direção da saída. Ao me nhamente calmo. Ao olhar em
apertadas ao redor dos joelhos
aproximar do portal, meus olhos volta, tudo que ouço é o baixo
dobrados.
começam a perder o foco devido e vazio sussurro do vento e o
Talvez seja só paranóia,
à ofuscante luz do dia. Quando silvo alto da poeira carregada
digo pra mim mesmo, mas quan-
olho para fora, preciso me apoiar por ele. Sinto-me compelido
do revejo a situação, percebo que
contra o batente da porta apo- a gritar, mas imediatamente
várias coisas estão erradas.
drecida. lembro-me dos Barghests da
Antes de mais nada, eu
A cidade, ou onde quer noite anterior e decido que é
estou com aquela terrível e pal-
que eu esteja, parece a foto das melhor não chamar atenção.
pável sensação de que eu não
ruínas de alguma reportagem so- Sentindo-me cansado,
posso respirar. Não importando
bre a Segunda Guerra. O sol está sem qualquer energia e mo-
o quanto tente, não sinto o me-
baixo no céu, engolido por um vendo-me com dificuldade,
nor movimento no meu peito ou
brilho vermelho enquanto nas- começo a subir a rua, olhando
garganta quando inalo.
ce por trás dos prédios distantes. de um lado para outro, tentan-
Fragmentos de pensa-
Suas luzes lançam longas e finas do avistar qualquer coisa fami-
mentos voam pela minha mente,
sombras sobre o estranho chão liar. Quando parei e olhei para
mas a maioria deles não fazem
onde o cascalho e entulho estão trás, para o edifício em que
muito sentido. As memórias mais
espalhados por todo lugar. Tijo- havia passado a noite anterior,
vívidas (especialmente aquelas
los quebrados e pedras, pilhas de uma fria lâmina de pânico me
de uma figura familiar com rosto
lixo, árvores apodrecidas, placas atravessou.
esquelético, se inclinando sobre
dentadas e enferrujadas, e ou- Acima da entrada em
mim e sussurrando) são aterro-
tros lixos se espalham pela área. arco do edifício estava um avi-
rizantes demais para contemplar
Montes de carros e caminhões so. As letras pintadas descasca-
por muito tempo. Quero dispen-
abandonados fazem fila dos dois das e borradas, mas ainda era
sá-las como um produto do pâ-

90 Aparição: O Esquecimento
possível ler o que diziam. Eu ar-
repiei ao lê-la em voz alta.
“Escola Primária de Pine
Knoll.”
Por um instante, me senti
completamente desorientado en-
quanto tentava olhar através do
prédio apodrecido e decadente
para ver a escola em que traba-
lhei por mais de trinta anos.
“Não pode ser.” Eu dizia,
pressionando as mãos contra
minha cabeça. “Que merda está
acontecendo aqui?”
“Eu deveria poder expli-
car.”
A voz, vinda de repente
de trás de mim, começou. Vi-
rei-me rapidamente para ver o
velho de pé a menos de três me-
tros. Ele sorri para mim de forma
a me mostrar uma sequência de
dentes podres, enegrecidos.
Como ele podia ter che-
gado tão perto sem que eu o ou-
visse? Fui preenchido por um
súbito rompante de fúria e medo,
que de alguma forma, consegui
controlar.
“Sei, eu... eu adoraria ou-
vir.” Retruquei.
O velho virou-se devagar.
Me vislumbrando por sobre os
ombros, ele apontou seu indica-
dor e fez sinal para segui-lo.
“Vamos, então, se você
quiser.” Sua voz quase se perden-
do sob o fraco sussurro do vento.
“Onde estamos indo?”
“Obviamente, não po-
demos ficar aqui.” Ele diz, ba-
lançando a cabeça ao lançar um
olhar furtivo subindo e descendo
a rua. “Não queremos ser vistos.”
“Porquê? Quem vai nos
ver?” Eu olhei em volta, fechan-
do a cara. “Até onde posso ver,
não há uma viva alma por quilô-
metros.”
O sorriso do velho cres-
ceu. Torcendo a cabeça para trás,
ele riu alto.
“É isso! Exatamente isso.”
Sua voz aumentou numa lon-
ga gargalhada. “Nenhuma alma
viva! Oh, essa foi boa! Quieto...”
Ele baixou o tom e vasculhou a
rua novamente. “Alguém da Hie-
rarquia pode nos ver e não que-
remos isso agora, não é?”
“A Hierarquia?” Repeti.
Não faço idéia do que ele
quis dizer com isso, mas da for-
ma que falou me encheu de uma
nervosa apreensão.
“Há uma marca de mor-
te em você,” Disse o velho, seus
olhos brilhando de maneira as-
sustadora, “mas a Hierarquia não
se importa com isso. Se encon-
Capítulo Três: Regras 91
trá-lo, eles queimam você com
suas próprias marcas. Era isso
que aquelas coisas estavam fa-
zendo ontem à noite. Caçando
almas para escravizar. Eles já
foram humanos, como você,
mas agora são cães dos Ana-
creontetes locais.”
Nada disso faz o me-
nor sentido pra mim, mas de
repente me senti mal por estar
lá fora exposto dessa forma. O
som do vento me preenchia
com uma profunda sensação
de solidão e desespero.
“Venha comigo, então.”
Disse o velho, e começou a se
afastar.
“Como sei se você não
é parte dessa… dessa Hierar-
quia e que você não quer me
escravizar?”
Ele olha pra trás por
sobre os ombros e sorri estra-
nhamente.
“Porque se eu fosse da
Hierarquia, não estaríamos
tendo essa conversa. Eu estaria
contando minha recompensa
por ter trazido uma nova alma
e você estaria assando lenta-
mente nas forjas em algum lu-
gar. Não demore.”
92 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Quatro:
Personagem

Oh, abençoados fantoches, recebam Minha prece, e ensinem-me

como fazer-me a tua imagem.
-Thomas Ligotti, ‘’Louca Noite de Expiação’’

ntes que você possa entrar no mundo
de Aparição, você deve primeiro criar
uma personagem. O processo de cria-
ção de personagem, porém, tem mais
do que apenas dizer ‘’Eu quero ser
um... ‘’. Antes que você possa começar
a jogar Aparição, você precisa conhe-
cer quem é a sua personagem e o que
ela tem potencial de fazer, quais são seus gostos e desgostos,
de onde ela veio, e mais. Tudo isso é trabalhado na criação da
personagem, que dá a você a chance de criar uma Aparição
com a qual você se sinta confortável interpretando.
Esse capítulo detalha como criar uma personagem
para Aparição. Contém o passo-a-passo para construir sua
Aparição desde o início, assim como um exemplo do processo
de criação para servir como referência. Essencialmente, trata-
-se de como pegar um conceito de personagem que o agrade,
e transformá-lo em números que são usados junto com as re-
gras de Aparição. É tão fácil quanto rápido de fazer.
No mundo real, ninguém tem Carisma 4 ou três
pontos em briga. Nós temos capacidades e potenciais, não es-
tatísticas. Porém, para um jogo como Aparição, essas capaci-
dades precisam ser traduzidas em números para se jogar me-
lhor; o truque é não deixar que números entrem no caminho
da história. No final das contas, um personagem com Carisma
4 pode ser vivaz, encantador, magnético ou apenas legal. A
taxação das Características é apenas uma forma para que você
possa encaixar seu personagem nas regras de Aparição.

Capítulo Quatro: Personagem 93

 Normalmente, a criação de personagem segue um
padrão definido. Você pode começar com um conceito básico
para seu personagem, atribuindo Características para deter-
minar o que ele pode ou não fazer, e então preenche as lacunas
e detalhes da história de sua vida (e morte). A idéia é usar esse
processo para criar um personagem que será interessante para
você jogar, para os personagens de seus amigos interagirem, e
para o seu Narrador trabalhar o enredo de seu grupo. A idéia
não é criar uma super-aparição que pode pegar o Labirinto
com uma mão e balançar os Espectros; se você sair se encren-
cando com todo mundo que passar pelo seu caminho, sua
Crônica se tornará extremamente tediosa. Personagens com
pontos fortes e fraquezas são bem mais interessantes, pela
simples razão de que o sucesso é sempre mais doce quando
você o alcança vindo das profundezas do fracasso.
Construir o seu personagem vai levar algum tem-
po e muita introspecção se você quiser fazê-lo corretamente.
Você começa decidindo com quem você quer jogar (Um caça-
dor de vampiros que se aproximou demais de sua presa? Um
programador encarcerado em seu velho escritório tentando
escapar? Uma vítima de execução que quer se vingar de seu
assassino?), e depois do que o seu personagem é capaz. As-
sim que tiver algo que funcione, você pode começar a atribuir
Características que encaixam nesse conceito, e você está no
caminho certo.
Começando
Essa narrativa começa com a morte de seu herói.
- Ambrose Bierce, ‘’Uma caneca de xarope’’
á algumas coisas que você deve manter
em mente antes de começar a criar o
seu personagem. Especificamente:
• Seu personagem pode ter qual-
quer idade, ser de qualquer cultura, de
qualquer religião, cor, orientação ou
qualquer outra coisa que você escolher.
O que importa é que o personagem
faça sentido e não desequilibre o resto da crônica. É geralmente
mais fácil jogar com um personagem ceifado nas últimas três
décadas; personagens mais velhos tendem a saber um pouco
demais sobre o que está acontecendo no Mundo Inferior.
• O processo de criação do personagem de Aparição
significa a criação de todo o seu personagem, não apenas seus
pontos. O ideal é que você perceba quem é sua aparição no
mesmo momento em que determina do que ela é capaz. Se, no
final deste capítulo, você acabar com uma coleção de pontos e
palavras em uma ficha de personagem e nenhuma idéia clara,
alguma coisa está errada.
• Não há nada randômico a respeito da criação de
personagem em Aparição. Não há rolamento de dados para
pegar todas as suas estatísticas básicas, nem existem quaisquer
tabelas de criação aleatórias. Seu personagem é algo que você
criou do zero através das suas escolhas. Você seleciona Carac-
terísticas e decide cada pormenor do seu personagem. Dessa
forma, você terá a certeza de jogar com um personagem que
94 Aparição: O Esquecimento
ache interessante.
• Características são classificadas numericamente de
um até cinco na maioria dos casos; em casos raros, elas vão de
um até 10. A escala funciona de forma semelhante com uma
escala de crítica de filmes: cinco estrelas (ou cinco pontos em
uma Característica) é excelente; uma estrela (ou ponto) é mise-
rável. Dois é a média, que é algo para manter em mente quando
você está determinando as escalas das Características. No final
das contas, você não tem que ser excelente em tudo; algumas
vezes, a média é tudo o que você irá precisar.
• É uma boa idéia sentar com seus jogadores e con-
ferir se todos os seus personagens são compatíveis um com o
outro. Ter um membro da Hierarquia e um Anti-escravista de
almas Herege em um mesmo Círculo pode soar divertido, mas
quando todos seus jogos de Aparição se resumem a sentar e
assistir dois personagens tentando jogar um ao outro em um
Nihil, as coisas podem ficar rapidamente entediantes. Isso não
significa que os seus Círculos devem ser todos da Hierarquia
ou todos Renegados, apenas que os personagens possam per-
manecer em um mesmo lugar sem começar um Maelstrom
local. Além da mera compatibilidade, geralmente ajuda saber
de antemão porque as aparições em seu Círculo estão saindo
juntas por aí. Partilhar um Grilhão, Paixão ou Local Assombra-
do funciona; tecer juntos seu passado também. Por exemplo,
Erik pode ter a Paixão de encontrar uma mulher com a qual se
apaixonou depois de morrer; um dos companheiros de Círculo
talvez tenha conhecido a mulher enquanto era vivo; outro pode
tê-la visto em seu caminho para o Local Assombrado do Cír-
culo, um terceiro pode ter perdido seu Amor Verdadeiro antes
de morrer e então vai tentar ajudar Erik a achar o dele. Se o seu
personagem não encaixa com o resto do Círculo, você pode
acabar sendo deixado de lado em muitas ações ou dividindo o
grupo. É bem mais fácil e bem mais divertido que as aparições
no Círculo tenham uma forte razão para estar lá, e a melhor
maneira de fazer isso é arrumar isso na criação.
Para Narradores...
Cabe ao Narrador guiar os jogadores pelo processo
de criação de personagem. Há muitas razões para tal: respon-
der quaisquer perguntas que os jogadores possam ter sobre o
processo, oferecer sugestões e idéias quando um jogador ficar
indeciso, se certificar que os personagens se encaixam na sua
Crônica com o mínimo de problemas, e o mais importante, fa-
zer com que toda a criação de personagem seja o mais simples
e rápida possível.
O primeiro passo para você como Narrador envolve
entregar as fichas de personagem para seus jogadores, depois
perguntar se eles possuem alguma dúvida sobre a ficha em si.
Depois conduzi-los pela criação de personagem passo-a-passo,
ajudando seus jogadores a criar personagens que sejam equi-
librados, nem poderosos demais nem incapazes de sobreviver
por muito tempo.
Algumas vezes, a criação de personagem pode levar
uma sessão inteira. Não há nada errado com isso, desde que
seus jogadores estejam usando este tempo para criar persona-
gens reais e “cheios de vida”. Se você não quer gastar a sessão
de jogo inteira criando personagens, você pode encorajar seus
jogadores a terem idéias de seus personagem antes de começar.
Depois que você já estiver jogando por um tempo, você vai no-
tar que o processo fica cada vez mais rápido, na medida em que
seus jogadores se familiarizam com o que faz um personagem
de Aparição funcionar.
Uma vez que todas as linhas estejam escritas e todos
os círculos estejam preenchidos, você pode aproveitar o tem-
po para começar Prelúdios para suas recém-criadas aparições.
Prelúdios servem como histórias introdutórias, permitindo
tanto você quanto seus jogadores conhecerem melhor seus per-
sonagens. Para mais sobre Prelúdios, veja a página 105.
Parte de seu trabalho será se certificar que todos os
personagens se encaixam na crônica que você planejou. Um
samurai com katana do Império de Jade talvez seja um perso-
nagem sensacional, mas se o resto dos jogadores tiverem deci-
dido jogar com Legionários ignorantes, seu samurai irá se sen-
tir deslocado. Ao mesmo tempo, você deve se certificar que um
personagem não irá perturbar os outros fazendo tudo aquilo
que quer em virtude de suas estatísticas. Isto é chamado abuso
de regras para benefício próprio e é com certeza, a forma mais
prática de fazer os jogadores abandonarem sua campanha. Não
é divertido jogar quando você sabe que não pode vencer, seja
contra um NPC ou contra um de seus companheiros aparições.
Certificar-se que todos estejam mais ou menos balanceados é
vital, ou a falta de balanço vai rapidamente destroçar sua Crô-
nica inteira.

Criação de Personagem
Passo Um: Conceito
Aqui sento em meus ossos, nos ossos acima da colina,
Observando o triste horizonte selvagem.
- Fish, ‘’MR 1470’’
primeira coisa que você precisa como
um jogador é criar um conceito bási-
co para seu personagem. Neste ponto,
você não precisa saber todos os deta-
lhes da vida e morte dele, apenas al-
guns pontos importantes que lhe darão
uma melhor idéia de quem ele é. Você
pode encaixar os porquês mais tar-
de no processo criativo. Quanto mais
tempo você gastar criando e interpretando seu personagem,
melhor compreendido ele será.
Porém, nesse momento você está apenas interessado
no básico. Seu personagem pode ser de qualquer cultura ou
período de tempo (apesar que se você está jogando com uma
aparição de mil anos de idade, você deve ter uma boa explica-
ção do porque ela não é mais forte que alguém que atravessou a
Mortalha ontem). Jogar com personagens que não tenham sido
aparições por todo esse tempo é geralmente mais fácil, mas se
você quer jogar com um fantasma de um soldado uma Guerra
Civil ou um alquimista medieval, não há nada que lhe impeça.
Tudo que você realmente precisa nesse estágio da
criação de personagem é responder três perguntas: Quem era
você, como você morreu, e o que lhe mantém como uma apa-
rição?

Capítulo Quatro: Personagem 95


Quem Foi Você ?
O que você fez enquanto vivo? Como você viveu o
dia a dia de sua vida? É geralmente melhor jogar com per-
sonagens relativamente normais - Estrelas do rock ou atores
podem gerar problemas - mas no final prevalece o que o você
desejar e o que o seu Narrador permitir. Dentre as possibili-
dades estão:
• Artista - Você possuía um trabalho artístico real-
mente bom que teria impressionado o mundo (se você tivesse
vivido o bastante para completá-lo).
• Papel em Branco - Uma verdadeira tabula rasa,
sua vida é um mistério para você.
• Policial - Talvez você tenha sido um policial der-
rotado que assistiu seu amado bairro ser arruinado. Ou você
pode ter sido do esquadrão da narcóticos, de um time da
SWAT ou até mesmo encurralado atrás de uma mesa de dele-
gacia.
• Vigarista – Crime certamente não compensou pra
você, ao menos por um tempo. Então talvez, você você tenha
sido pego.
• Trapalhão - Você não teve muito tempo enquanto
vivo para seguir seus interesses. Então você fez um pouco dis-
so e daquilo e nunca achou sua real vocação.
• Opositor do Sistema - Você viveu para subverter o
sistema de qualquer forma que conseguisse. Talvez você fos-
se um hacker, ou talvez você pensasse que era o novo Robin
Hood.
96 Aparição: O Esquecimento
• Nômade - Nada te mantém num lugar por muito
tempo. Talvez um sem teto, talvez um artista procurando por
inspiração, ou apenas um espírito livre, você não fica num lu-
gar tempo suficiente para criar raízes.
• Político - Você foi para Washington com um man-
dato de mudança, mas quem mudou foi você. Talvez você
nunca tenha nem sido eleito, ou tenha sido expulso do cargo.
• Punk - Anarquia! Se levantou, você derruba; você
viu a forma que estava olhando para você!
• Preguiçoso - Você nunca fez muita coisa enquanto
ainda respirava.
• Crente - Sua fé lhe sustentou em vida, mas isto não
é o céu que lhe foi prometido.
• Vítima - Você deixou que a vida acontecesse para
você, sempre reagindo ao invés de agir.
• Viciado em Trabalho - Trabalho de 80 horas por
semana e 2 da manhã planejando encontros devorou a sua
vida. Agora você está pensando em tudo que perdeu.
Como Você Morreu?
A forma como você morreu determina muito sobre
a sua perspectiva através da Mortalha. Afinal, uma aparição
que atravessou pacificamente e uma que tenha seu próprio as-
sassinato para vingar são propensas a ter pontos de vista bem
diferentes ao lidar com os vivos. Aqui estão algumas possibili-
dades:
• Acidente - Talvez o airbag do lado do motorista
de seu novo carro não inflou, ou a energia não fui desligada
antes de você tentar arrumar a fiação do seu apartamento. No
funeral, todos disseram que “essas coisas acontecem”, e que
não era uma vergonha...
• Doença - Talvez tenha sido repentina, ou pode ter
sido uma lenta espiral até a morte. Talvez você tenha tido cân-
cer graças aquela planta química na periferia da cidade, ou
esteja convencido de que o governo testou uma nova arma
biológica em você.
• Mistério - Você não sabe o que lhe aconteceu, e
você suspeita que talvez seja melhor dessa forma.
• Velhice - Você viveu uma longa e completa vida fa-
leceu suavemente.Ou talvez, você tenha gritado e esperneado
por alguns minutos a mais.
• Overdose - Você procurava pelo Esquecimento na
forma de drogas e álcool. Eles lhe levaram muito mais perto
do Esquecimento do que você achou que fosse possível.
• Algo estranho... - Você foi uma vítima de um em
um milhão. Talvez você tenha sido acertado por um raio, ou
teve uma rara reação alérgica a sua medicação para resfriado.
De qualquer forma, você não viu a morte chegar.
• Suicídio - Todos disseram que você estava apenas
tentando chamar a atenção, mas o que você realmente busca-
va era ajuda. Porém, agora é tarde demais...
• Violência - Do campo de batalha até o lar, a vio-
lência toma mais vítimas em todo lugar. Talvez você fosse um
soldado ou foi assassinado por um vagabundo. Alguém pode
até ter encomendado sua morte.
Porquê Você Ainda Está Aqui?
Seu arrependimento é a razão pela qual você se tor-
nou uma aparição, ao invés de mover-se quietamente para o
próximo nível de existência. O que você nunca disse ou fez
que signifique tanto para você agora, que o fez voltar? Aqui
vão algumas idéias:
• Falha - Você morreu sabendo que falhou em algo
com o qual se comprometeu. Talvez fora uma falta de confian-
ça, ou talvez apenas falta de talento, mas você não foi bom o
suficiente. Agora, porém, a história é diferente.
• Culpa - Seus pecados foram grandes demais, e não
o deixaram descansar.
• Legado - Você quis deixar algo para trás, e agora
se sente obrigado a proteger isto daqui do outro lado. Talvez
sejam seus filhos, talvez seja a empresa que você fundou, mas
o fato é que verá seu legado continuar sem você.
• Amor - Talvez você nunca tenha dito àquele que
amava como você se sentia, e você precisa retificar isso de
além-túmulo. Ou, talvez, ainda haja alguém do outro lado a
quem você ama mais que a vida (ou morte).
• Chances Perdidas - Todas as viagens que você
adiou, os amores que nunca teve, as oportunidades que dei-
xou passar; você quer uma segunda chance nelas.
• Missão Possível - Você teve uma missão em vida
- talvez uma cruzada ambiental, ou um mandato para recupe-
rar seu governo - e você não deixará algo insignificante como
a morte impedi-lo agora.
• Vingança - Alguém fez da sua vida um inferno na
terra, ou até mesmo acabou com ela. Agora é hora do troco, e
você tem toda a eternidade.
• Negócios Inacabados - Você nunca teve a chance
de retirar aquelas últimas duras palavras que você falou antes
de sua morte, agora é tarde demais para curar as feridas. Ou
não?
• Destino não Cumprido - Você foi predestinado
a coisas grandiosas das quais nunca realmente alcançou en-
quanto estava vivo.
Natureza
e Comportamento
O próximo passo é escolher arquétipos de persona-
lidade que melhor se encaixem com sua visão do mundo, e de
como você se apresenta. Eles podem ou não ser o mesmo.
Arquétipos
•
de Personalidade
Arquiteto: A criação de algo duradouro é seu obje-
tivo.
• Avant-Garde: Se não for novo e diferente, não lhe
interessa.
• Bon Vivant: A morte não vai impedí-lo de se di-
vertir.
• Valentão: Ser agressivo não é um hábito, é um cha-
mado.
• Samaritano: Mesmo os Inquietos – Especialmente
eles – precisam da sua caridade.
• Criança: Você nunca cresceu e quer que alguém
tome conta de você.
• Conformista: Um seguidor de coração acha fácil
se adaptar, se ajustar, se conformar.
• Esperto: Deve haver um meio mais fácil de conse-
guir as coisas.
• Crítico: Nada é perfeito, e nada nunca é bom de-
mais para você.
• Explorador: Nova Necropolis, novas aparições,
novas civilizações...
• Seguidor: Você é feliz por não precisar tomar deci-
sões.
• Jogador: A morte pode ter jogado primeiro, mas o
jogo não terminou.
• Gozador: O que é tão engraçado em se estar mor-
to? Tudo!
• Líder: Quando você fala, espera ser ouvido.
• Mártir: Você se sacrificará por outros, mas não so-
frerá em silêncio.
• Mediador: Você sempre confia que um acordo
pode ser acertado.
• Rebelde: Autoridades só te levam para o caminho
errado.
• Cientista: Você olha o universo racionalmente,
mesmo depois da morte.
• Sobrevivente: Você crê que essa existência vale a
pena, não importa o que.
• Tradicionalista: Ao que te diz respeito, os modos
antigos são os melhores.
• Visionário: Você tem um sonho de algo melhor
que só você pode ver.
Capítulo Quatro: Personagem 97

Sua Natureza é o Arquétipo que melhor encaixa com
a sua verdadeira personalidade. É como você realmente vê o
mundo, assim como a forma com a qual recupera Força de
Vontade. Agindo de acordo com seus mais profundos senti-
mentos e crenças (sua Natureza), você pode reabastecer sua
crença em si mesmo e sua determinação (sua Força de Von-
tade). Sua Natureza não deve ser restritiva, assim como um
personagem com a Natureza Crítico ainda pode ter algo bom
a dizer em alguma ocasião. No entanto, deve servir como um
guia básico sobre a sua perspectiva no mundo de Aparição, e
como você age e reage neste mundo.
Seu Comportamento é a face social que você veste, a
máscara que você mostra para o mundo. Para algumas apari-
ções, suas Naturezas e Comportamentos são idênticos. Outras
sentem a necessidade de esconder seus verdadeiros sentimen-
tos atrás de fachadas no propósito de proteção ou enganação.
Comportamentos podem mudar rapidamente e não tem efei-
to nas regras de Aparição. Pois, sua intenção é servir simples-
mente como uma ajuda na interpretação.
Segundo Passo: Escolhendo Atributos
Ela disse que preferia morrer a parecer uma fracassa-
da...
- Oysterband, ‘’Sapatos de Elena’’
Seus Atributos são seus potenciais inatos. Quão forte
você é, quão rápido você pensa, quão bom você é em conse-
guir que os outros façam o que você quer - todos estes são
exemplos de Atributos. Apesar de você não ter mais um corpo
vivo, você ainda possui uma forma física com capacidades fí-
sicas (sem mencionar mentais e sociais). Esta é a parte da cria-
ção de personagem onde você determina suas capacidades.
Atributos são separados em três categorias: Físicos,
Sociais e Mentais. Você deve priorizar essas categorias para
sua aparição. Qual é o mais importante? Qual é o menos? Isso
determina quantos pontos você terá para gastar em cada uma
destas categorias.
• Físicos - Atributos Físicos determinam quão forte
você é, quanta resistência você tem, e qual sua destreza. Eles
são os atributos primários para personagens construídos para
ação - assaltantes, seguranças, soldados e afins - Esses Atri-
butos detalham os pontos fortes e fraquezas de seu Corpus.
Força descreve quão forte fisicamente você é, e também diz o
quanto de dano você causa em combate corpo a corpo. Des-
treza é a medida de quão ágil você é e quão rápido você se
move, e é útil para manobras acrobáticas e uso de armas de
fogo. Vigor detalha quão boa é sua resistência à dor e panca-
das, e permite que você resista ao dano por meio de rolagens
de dados.
• Sociais - Atributos sociais são a medida de quão
bem você funciona em situações sociais. Eles indicam quão
bem você trabalha e interage com outros, sem mencionar até
onde você manipula e coage os outros. Carisma é a medida
de seu charme pessoal e força de personalidade. Manipula-
ção descreve o quão bom você é em fazer com que os outros
façam o que você quer, e Aparência é a medida de quão boa
98 Aparição: O Esquecimento
(ou impressionante) é sua aparência. Atributos Sociais são
primários para personagens políticos ou da alta sociedade, e
são úteis em crônicas que sejam focadas em intriga.
• Mentais - Atributos mentais são a medida de sua
inteligência e habilidade de pensar rapidamente. Usados para
determinar o que você pode saber e o que você pode dedu-
zir de suas especulações, os Atributos Mentais são primários
para cientistas, personagens intelectuais, assim como ladrões
de rua ou qualquer outro que precise pensar por si. Percepção
permite-lhe saber quão bem você pode acessar seu ambien-
te - tudo desde escutar o estalar de um chão de madeira até
perceber uma pista que outros deixaram passar. Inteligência
é e medida do seu nível cerebral, e a eficiência que você pode
colocar seu conhecimento para funcionar. Raciocínio mede o
quão rápido e eficiente você reage a situações novas ou impre-
vistas, como combate.
O conceito que você escolheu deve ser de ajuda na
determinação de qual categoria de Atributos deve ser sua pri-
mária, secundária, terciária. No entanto, seu conceito deve ser
mais um esboço do que um mapeamento rígido para seu per-
sonagem, e qualquer combinação que faça sentido para você
está boa.
Cada personagem começa com um ponto em cada
Atributo. Priorizando as categorias de Atributo detalham-se
quantos pontos mais você tem para distribuir em cada coluna
de Atributos. Você tem sete pontos para distribuir em seus
Atributos primários, cinco nos secundários e três nos terci-
ários. No entanto, não é necessário distribuir os pontos uni-
formemente. Ao invés disso, escolha aqueles que lhe parecem
encaixar melhor. Se você escolheu os Atributos Físicos como
terciário, você pode tanto colocar um ponto em cada Atribu-
to, ou pode colocar todos os três em Força e não por nenhum
mais em Vigor ou Destreza, ou você pode colocar dois em
Força, um em Destreza e nenhum em Vigor. Cabe a você de-
cidir.
Se você não tem os pontos que deseja em Atributos,
não se preocupe. Mais tarde você terá a oportunidade de au-
mentar seus Atributos com os chamados pontos bônus. Por
enquanto, apenas siga o que acha certo e preocupe-se em au-
mentar os números mais tarde.
Nota:
Há um espaço depois de cada Atributo e Ha-
bilidade na ficha de personagem. Isto é para preencher
suas especialidades, supondo que você tenha alguma.
Uma especialidade é uma área de uma Característica
que você é especialmente bom. Você não precisa pegar
uma especialidade, mas algumas vezes, elas serão de
bom uso. Para mais informações sobre especialidades,
veja o Capítulo Cinco: Características.
Terceiro

Passo: Escolhendo Habilidades
Assim como os Atributos são suas capacidades ina-
tas, Habilidades são as coisas que você aprendeu durante o
percurso de sua vida (ou após). Como os Atributos, também
são divididas em três categorias. Neste caso, são chamadas Ta-
lentos, Perícias, Conhecimentos.
Sua pontuação em qualquer Habilidade determina o
quão bom você é nela, quatro ponto em Esquiva significa que
você talvez tenha sido um toureiro, enquanto um único ponto
em Reparos significa que você provavelmente deu muito tra-
balho à borracharia local.
• Talentos - São habilidades intuitivas, aptidões que
você ganhou através da experiência. Talentos não são apren-
didos de livros, nem são coisas que geralmente você possa ter
praticado. Normalmente, eles são obtidos durante a vida ao
invés de ensinados.
• Perícias - Perícias são Habilidades que você pode
aprender com treino rigoroso. Qualquer coisa que pode ser
ensinada, estudada e praticada, entra na linha de Perícias.
• Conhecimentos - Conhecimentos tendem a ser as
Habilidades intelectuais clássicas. São aprendidos através de
livros, aulas, estudos rigorosos, mas também por experiência
de um campo de escolha de alguém.
Habilidades são priorizadas assim como são os Atri-
butos. A diferença aqui é que você tem 13 pontos para suas
Habilidades primárias, 9 para as secundárias e 5 para as ter-
ciárias. Novamente, haverá a oportunidade de aumentar suas
Habilidades através dos pontos bônus mais tarde, portanto
preencha seu personagem da melhor forma que puder agora e
preocupe-se com detalhes finais depois.
Não lhe é permitido colocar mais de três pontos
em qualquer Habilidade durante esse processo de criação de
personagem. Se você desejar, pode aumentar uma Habilidade
acima de 3 pontos com pontos bônus mais tarde, isto é per-
mitido, mas no momento, nenhuma Habilidade pode ter mais
do que 3 pontos.

Quarto Passo: Vantagens

Diferente de Atributos e Habilidades, você não prio-
riza suas Vantagens. No lugar disso, você pode definir um
número de pontos para distribuir em cada uma. Novamente,
você pode aumentar esse número mais tarde, através do uso
de pontos bônus.

Arcanoi
Arcanoi são os poderes únicos que as aparições
possuem. Você possui cinco pontos para comprar Arcanoi,
Apesar de um personagem iniciante não poder ter mais do
que três pontos em qualquer um dos Arcanos. Mais Arcanoi
podem ser comprados mais tarde com os pontos bônus.

Antecedentes
Antecedentes medem seu lugar na sociedade e cul-
tura dos Inquietos. Eles são uma medida de quem você co-
nhece, quais recursos você pode usufruir e o que outras apa-

Capítulo Quatro: Personagem 99

 rições pensam de você. Você tem sete pontos para distribuir
entre seus Antecedentes, mas suas escolhas devem refletir o
conceito de seu personagem.

Paixões
O que mais importa somos nós
O que mais importa é o agora
O que importa é isto
Como vem, e onde, e como.
Paixão.
- Hothouse Flowers, ‘’Isto não é Fantástico?’’
Paixões são o combustível da existência das apari-
ções. Cada Paixão tem três partes: Uma declaração de Paixão
(ex: Proteger meu amor, ou Vingar minha morte); um núcleo
emotivo para a Paixão (como Amor ou Vingança); e uma es-
cala de um a cinco.
Você tem 10 pontos para dividir entre suas Paixões
da melhor forma que encontrar. Você pode escolher ter 10
Paixões, cada uma com um ponto, ou duas paixões, cada uma
com cinco pontos. Como suas Paixões estão ligadas a quem
você é assim como em que você faz, as Paixões que são mais
importantes para você devem ter maior pontuação do que as
gerais ou acidentais. Para saber mais sobre Paixões, veja a Pá-
gina 216.

Roteiro de Criação de Personagem

• Passo Um: Conceito do Personagem
Escolher conceito, Natureza e Comportamento.
• Passo Dois: Selecionar Atributos
Priorizar as três categorias: Físicas, Sociais, Mentais em pri-
márias, secundárias e terciárias.
Escolher Atributos primários (7 pontos)
Escolher Atributos secundários (5 pontos)
Escolher Atributos terciários (3 pontos)
• Passo Três: Selecionar Atributos
Priorizar as três categorias: Talentos, Perícias, Co-
nhecimentos em primária, secundária e terciária.
Escolher Habilidades primárias (13 pontos)
Escolher Habilidades secundárias (9 pontos)
Escolher Habilidades terciárias (5 pontos)
• Passo Quatro: Selecionar Vantagens
Escolher Arcanoi (5), Antecedentes (7), Paixões
(10), Grilhões (10)
• Passo Cinco: Toques Finais
Registrar Pathos inicial (5 + Memoriam) e Força de
Vontade inicial (5)
Gastar Pontos de Bônus.
• Criação da Sombra
Veja capítulo 6.

100 Aparição: O Esquecimento

Grilhões
Grilhões são as coisas físicas que te amarram à sua
Pontos deSeusBônus
15 pontos bônus são usados para preencher os
existência passada. Um Grilhão é uma pessoa, lugar ou coisa brancos deixados durante a geração de personagem básica.
que tenha uma importância especial para você, e que continu- Você pode gastá-los em quaisquer Características que desejar,
ará a ancorá-lo as Terras das Sombras até que você seja destru- apesar disso, o preço de cada característica pode variar. Bônus
ído por forças externas ou que perca o sentido para você. podem aumentar uma Habilidade acima de 3, mas não po-
Você tem 10 pontos para distribuir em seus Gri- dem aumentar uma Habilidade ou Atributo acima de 5.
lhões, que podem ter pontuações de um a cinco. Quanto mais Você pode usar bônus para comprar Habilidades de
importante é o Grilhão, mais alta é a pontuação e vice-versa. Arcanos básicas nesse estágio. Cada Arcanos tem Habilidades
Grilhões podem ser misteriosos - você pode não se lembrar o Básicas, não tão poderosas quanto as de um ponto para aquele
porquê deles serem tão importantes para você, e toda a crô- Arcanos. Se desejar, você pode comprar apenas as Habilidades
nica pode ser construída ao redor da busca para descobrir o básicas para um Arcanos num preço reduzido, o que também
significado de um Grilhão. pode tornar mais fácil comprar os níveis regulares do Arcanos
Suas Paixões e Grilhões podem funcionar juntos. com experiência.
Por exemplo, você pode ter a Paixão Terminar meu Romance Pontos Bônus podem ser usados também para sub-
(Determinação) 5, e o Grilhão Manuscrito Incompleto: 4. trair os bônus de sua Sombra na base de um por um, ou você
pode pegar até sete pontos de bônus extras se adicionar os
Quinto

Passo: Finzalizando
O demônio mora nos detalhes, como se diz, mas ou-
mesmos à sua Sombra também. Quando você tiver acabado
seu personagem, você precisará voltar a atenção em criar o
tras coisas podem ser encontradas ali também. São os toques seu lado sombrio, e agora é a hora de começar a pensar sobre
finais que realmente humanizam um personagem, dando-o isso. As regras de criação da Sombra podem ser encontra-
as características de personalidade e manias que realmente o das no Capítulo Seis.
trazem a vida (ou o mais próximo que um fantasma pode che-
gar). Atributos - 5 bônus por ponto
É aqui onde você detalha o Pathos e Força de Vonta-
Arcanoi - 5 bônus por ponto
de de seu personagem, assim como gasta os 15 pontos bônus.
Tire um tempo para conferir as coisas antes de gastar seus
Habilidades Básicas de Arcanoi - 3 bônus

bônus. Você irá descobrir que existem várias coisas nas quais por Arcanos
você vai querer gastá-los. Apesar disso, Pathos e Força de Força de Vontade - 2 bônus por ponto
Vontade vem em primeiro lugar. Habilidades - 2 bônus por ponto
Pathos Pathos é a parada de energia emocional da qual você


Paixões - 2 bônus por ponto
Antecedentes - 1 bônus por ponto
pode requisitar poder de seu Arcanoi ou curar seu Corpus. Grilhões - 1 bônus por ponto
Seu Pathos inicial é 5, somando o que você possuir no Ante- Pathos - 1 bônus por 2 pontos
cedente Memoriam. Esta é apenas sua pontuação inicial, e sua
parada de Pathos aumentará e diminuirá durante o percurso
da crônica. Você pode adicionar bônus na sua parada de Pa-
thos, mas sua pontuação máxima nessa Característica nunca
deve ser acima de 10.
Centelha de Vida
estou sozinho nisso? Estou sozinho? Eu sou o seu gar-
çom e sou simplório e sou o mais selvagem neste mundo
Força deForça
Vontade
de Vontade é a medida de quanta determina-
- David Baerwald, ‘’O Garçom’’
Há muito mais em um personagem do que apenas
pontos e Características. Essa é sua chance de entender quem
ção e força de desejo você terá, algumas vezes permitindo que
sua aparição é e foi, e o que a conduz. É aqui onde você pode
você deseje um sucesso numa rodada. Além disso, sua Força
realmente personalizar sua criação e fazer com que ela seja uni-
de Vontade é o instrumento que lhe ajuda a resistir aos efei-
camente sua. Você não precisa escrever esses detalhes, já que
tos de sua Sombra. Sua Força de Vontade básica é 5, e pode
eles não possuem impacto nas regras do jogo, mas tê-los dispo-
ser aumentada com bônus. Sua Força de Vontade nunca pode
níveis facilita tanto você quanto seu Narrador a conhecer quem
ultrapassar 10.
é sua aparição e onde ela se encaixa na crônica.
Força de Vontade tem um caráter tanto temporário
quanto permanente. Sua Força de Vontade temporária (ou
atual) mede o quanto de Força de Vontade você tem naquele
AparênciaO Corpus de uma aparição tende a refletir sua própria
momento, enquanto a permanente indica o seu máximo. Du- imagem. Muitas aparições se parecem como eram no momento
rante a criação de personagem, todas as referências a Força de em que morreram; outras se encontram como eram no início
Vontade referem-se ao nível permanente. de suas vidas. Algumas descobrem que de alguma forma dis-

Capítulo Quatro: Personagem 101

torceram suas formas de maneira a refletir seus medos e es-
peranças; asas angelicais, olhos brilhantes, mãos esqueléticas e
outras alterações do tipo são comuns. As roupas de uma Apari-
ção também se manifestam dessa forma; elas refletem a forma
que seu personagem subconscientemente deseja aparentar.
Suas Características sociais relevantes e conceito de-
vem ser levados para o jogo quando você decidir a aparência
de seu personagem. Uma aparição que tenha sido um soldador
em vida, não é muito propensa em aparecer em um terno, e
deve haver uma razão pela qual um fantasma de Aparência 1
seja tão desagradável. Por outro lado, o soldador pode também
se encontrar em uma máscara de trabalho estilizada nas Terras
das Sombras, e a aparição com Aparência 1 pode ser descrita
com uma horrível cicatriz que corta todo seu rosto. Suas Ca-
racterísticas são apenas números, você decide para que estes
números estão lá.
Manias O que lhe faz único? Você assobia a mesma nota em
qualquer lugar que vá, ou possui aquela fala arrastada de Hum-
phey Bogard? Estes são pequenos detalhes que humanizam seu
personagem, e que o fará mais interessante para interagir com
outros. Novamente, elas não influenciam na mecânica do jogo,
mas ajudam a construir seu personagem com aquele algo mais
além de uma série de pontos.
O CírculoÉ geralmente uma boa idéia sentar, antes da criação
de personagem, com outros jogadores e certificar-se que todos
seus personagens são compatíveis. Crônicas seguem mais su-
aves se os personagens possuem uma razão para trabalharem
juntos, ao contrário de quando tentam jogar os outros no Es-
quecimento imediatamente.
Exemplo de Criaçãonnys
de Personagem
quer criar um personagem de
Aparição. Começando apenas com
uma idéia básica, ela usa o guia de
criação de personagem para desen-
volver uma personalidade aceitável e
divertida.
Primeiro Passo: Conceito
Antes de tomar qualquer decisão sobre gasto de pon-
tos, Annys tem de decidir que tipo de personagem ela quer
interpretar. Especificamente, Annys quer explorar o que pode-
ria acontecer a um eu alternativo, com alguns aspectos de sua
própria personalidade, elevados a extremos e com escolhas ra-
dicalmente diferentes daquelas que Annys tomou em vida. Ela
idealiza um personagem que dedicou sua vida para os estudos
e ensino; essa aparição não fincou raízes em nenhum lugar pre-
ferindo seguir sem rumo, indo de universidade a universidade
pelo país, nunca durando mais que um ou dois anos como pro-
fessora em cada parada.
Ela decide que esse personagem seria mais interessan-
te sendo um homem, e escolhe o nome Robin. Annys então es-
102 Aparição: O Esquecimento
colhe Natureza e Comportamento adequados para Robin - seu
eu fundamental e a fachada que ele mostra ao mundo. Ela teve
alguns problemas decidindo entre os Arquétipos de persona-
lidade. Robin pode ser um Seguidor, devido seus anos de har-
monização em várias escolas e quieta contemplação de vales,
mas Annys não acha que se divertiria jogando com ele desta
forma. Crítico parece mais apropriado de alguma forma, e An-
nys decide que Robin nunca conquistou algo durável ou nunca
se ligou a alguém porque ele estava ocupado demais procuran-
do defeitos em si mesmo e em todos ao seu redor. Annys decide
isso para acobertar a dúvida que o paralisou por toda sua vida e
que para seguir seus propósitos acadêmicos, Robin adotou um
Comportamento Analítico. Em sua máscara de calma e de um
observador imparcial ele pode dissecar friamente qualquer coi-
sa desde um drama Jacobino até as motivações subconscientes
do seu assistente de pesquisa.
Passo Dois: Atributos
Agora Annys deve distribuir Atributos para seu perso-
nagem e prioriza as categorias de Robin da seguinte forma:
A categoria primária de Robin é a Mental. Ele é bem
sucedido em desafiar teorias alheias, refutando-as ponto a pon-
to.
A categoria secundária de Robin é Física. Um tanto
quanto vaidoso e não inclinado a parecer intelectual demais, ele
se forçou a malhar regularmente por anos.
A categoria terciária de Robin é Social. Ele é capaz de
fazer alguns conhecidos superficiais e nunca ninguém desgosta
dele de verdade, mas o mais próximo que ele já chegou de um
contato humano real foi dormindo com a estudante ocasional
que achou seu jeito reservado intrigante.
Dos sete pontos atribuídos para os Atributos Mentais
de Robin, Annys coloca três pontos em Percepção (isso somado
ao ponto grátis automaticamente dado por atributo faz com que
a Percepção total de Robin seja 4). Os últimos quatro pontos ela
divide em três para Inteligência e um para Raciocínio. Robin é
um observador super astuto e tem cérebro para usar a informa-
ção que reúne, mas perde algo quando o senso comum importa.
Dois dos cinco pontos Físicos de Robin vão para sua Força e
dois para seu Vigor; Annys gasta o outro ponto em Destreza,
decidindo que enquanto músculos podem ser adquiridos por
malhação, habilidades de destreza gerais são mais difíceis de se
obter.
Para a categoria mais fraca de Robin, a Social, Annys
gasta dois dos seus três pontos em Manipulação e um em Apa-
rência. Isso significa que a Carisma de Robin é apenas 1, mas
Annys acha que isto está correto. Robin é aceitável em questão
de aparência, apenas decididamente fraco em charme. Ela tal-
vez coloque outro ponto em Carisma se ela tiver pontos bônus
sobrando mais tarde (veja abaixo), mas não está na sua lista de
prioridades.
Terceiro Passo: Habilidades
Agora Annys escolhe as Habilidades de seu perso-
nagem. Conhecimentos é o ponto mais forte de Robin, obvia-
mente, então esta se torna sua categoria primária. Talentos fica
como secundário e Annys decide que Robin nunca teve muito
interesse em se forçar a se especializar em algo que não via uma
necessidade imediata para tal.
Nome: Robin Natureza: Crítico
Jogador: Annys Comportamento: Analítico
Crnica: Sombra: Perfeccionista
Atributos
Fsicos Sociais
Força________OOOOO Carisma_______OOOOO
Destreza_______OOOOO Manipulação____OOOOO
Vigor________OOOOO Aparência______OOOOO
Vida: Professor
Morte: Acidente de Automóvel
Arrependimento: Não ter publicado sua
obra-prima
Mentais
Percepção______OOOOO
Inteligência_____OOOOO
Raciocínio_____OOOOO

Habilidades
Talentos Percias
Prontidão______OOOOO Ofícios_______OOOOO
Esportes_______OOOOO Condução______OOOOO
Consciência_____OOOOO Etiqueta_______OOOOO
Briga ________OOOOO Armas de Fogo____OOOOO
Esquiva_______OOOOO Liderança______OOOOO
Empatia_______OOOOO Meditação______OOOOO
Expressão______OOOOO Armas Brancas____OOOOO
Intimidação_____OOOOO Performance_____OOOOO
Manha_______OOOOO Reparos_______OOOOO
Lábia________OOOOO Furtividade_____OOOOO
Conhecimentos
Burocracia______OOOOO
Computador_____OOOOO
Enigmas_______OOOOO
Investigação_____OOOOO
Direito_______OOOOO
Linguística_____OOOOO
Medicina______OOOOO
Ocultismo______OOOOO
Política_______OOOOO
Ciências_______OOOOO

Vantagens
Antecedentes Paixões
Memorian
___________OOOOO Evitar que descubram meu segredo (Orgulho)
_____________________________ OOOOO
Mentor
___________OOOOO Evitar com que meu maior rival tenha sucesso (Inveja)
_____________________________ OOOOO
Local Assombrado
___________OOOOO Proteger meu livro preferido (Amor)
_____________________________ OOOOO
Status
___________OOOOO Aprender sobre magos (Curiosidade)
_____________________________ OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO

Arcanoi Corpus Grilhões

Castigar
___________OOOOO O O O O O O O O O O Livro favorito
___________OOOOO
Phantasma
___________OOOOO          Fita gravada
___________OOOOO
Titerismo
___________OOOOO Protegida
___________OOOOO
___________OOOOO Força de Vontade Cafeteria
___________OOOOO
___________OOOOO ___________OOOOO
O O O O O O O O O O
___________OOOOO ___________OOOOO
        
___________OOOOO ___________OOOOO
___________OOOOO
___________OOOOO Pathos Experiência
___________OOOOO x x
 x 
  x 
x 
x 
x   
 Com os 13 pontos que tem para gastar em Conhe-
cimentos, Annys usa três em Ciências (Psicologia no caso) e
três em Política (o emprego acadêmico de Robin consiste em
escrever revisões da história baseadas em sua nova análise ra-
dical da psique de importantes figuras). Dois pontos vão para
Computador, agora uma necessidade na maioria dos campus.
Annys, pensando na forma em que a maioria das universidades
funcionam assim como os vários administradores com quem
Robin já lidou, usa alguns pontos em Burocracia. Finalmente, o
Conhecimento Enigmas parece uma escolha óbvia para Robin,
então Annys usa seus últimos três pontos nele.
Depois, Annys tem nove pontos para gastar em Ta-
lentos. Ela começa usando três pontos em Prontidão, o que é
igualmente bom para prestar atenção no seu meio como para
notar mudanças sutis na linguagem corporal dos outros. Annys
coloca mais três pontos em Empatia, não porque Robin é uma
pessoa simpática, mas pelos seus interesses sagazes em compre-
ender as motivações alheias. Um ponto vai para Esportes, e os
últimos dois pontos para Esquiva (quando novo, ele tinha que
lidar com aquelas provocações de escola de alguma forma).
Finalizando, Annys divide os cinco pontos de Perícias
em dois para Condução, um para Etiqueta e dois para Medi-
tação (Robin geralmente opta por ganhar alguma perspectiva
observando o mundo).
Quarto Passo: Vantagens
Annys está ciente de que esse personagem pode se tor-
nar preferencialmente antissocial, mas ela acha que a perspecti-
va de Robin lhe impedirá de ser um solitário completo. Ele vê a
ironia em toda situação, incluindo sua própria, e está constan-
temente querendo compartilhar o seu humor nisso. No entanto,
Annys não está correndo qualquer risco de ter Robin isolado do
resto de seu Círculo, então ela também decide em pegar Antece-
dentes que lhe deixarão conectado aos outros. Ela começa dan-
do a Robin dois pontos de Memoriam; a última universidade
em que ele lecionou plantou uma árvore e uma pequena placa
depois de sua passagem prematura. Para sua sorte, a universida-
de escolheu um ponto de encontro popular para seu memorial,
e os estudantes são lembrados frequentemente de qual é o seu
nome, o professor que foi atropelado por um carro. Ela decide
que Robin marca ponto no saber quem é influente em qualquer
situação (mais, ele não parece o tipo que teria qualquer coisa a
ver tanto com os Hereges quanto com os Renegados), então ela
dá a ele um ponto em Status na Hierarquia. Annys então põe
dois pontos em Mentor; um professor que lecionou para Robin
na escola e tinha fortes esperanças de que ele tenha aprendido
algumas coisas nas Terras das Sombras e que deseja passar al-
guns de seus segredos. Finalmente, Annys põe o último ponto
de Antecedentes em um Local Assombrado, dando a robin um
apego ao pequeno e não usado cômodo perto de seu escritório
onde ele costumava ir para suas ‘’reuniões privadas’’.
Annys não tem muito problema quando vai escolher o
Arcanoi de Robin; penetrar na alma dos outros é o que ele sem-
pre desejou poder fazer, então ele ganha dois pontos em Casti-
gar. Na intenção de continuar manipulando os vivos, afetando
seus sonhos, ele precisa de dois pontos no Arcano Phantasma.
Annys coloca o último ponto de Arcanos de Robin em Titeris-
mo, a mais nova forma de perturbação. Isso faz de Robin um
personagem especializado de alguma forma, e
104 Aparição: O Esquecimento
Annys rapidamente debate em fazê-lo um membro ou
do Oneiros ou dos Conciliadores, mas decide que não. Ela pre-
fere deixar as opções sociais de Robin abertas.
As Paixões de Robin requerem um pouco mais de ela-
boração. Com 10 pontos para gastar, ela decide não só do que
consistem suas razões de existência, mas também o quão im-
portante cada uma é para ele. Ela acha que uma das metas prin-
cipais de Robin é proteger sua reputação póstuma. Ele desespe-
ra em ter certeza de que ninguém jamais descubra da estudante
com quem ele dormiu - o primeiro galanteio envolveu mais ini-
ciativa da parte da estudante do que da sua, mas foi se tornando
mais agressiva com o tempo. Essa Paixão é uma função clara de
Orgulho; Annys classifica-a como 4, já que a revelação do pe-
queno segredo sujo de Robin iria realmente destruí-lo. Joshua,
o Narrador, diz que essa pode ser uma Paixão difícil para Robin
seguir, mas Annys gosta da idéia de um contínuo envolvimento
com as Terras da Carne e acha que será passível de jogar com a
ajuda de Joshua e dos outros membros do Círculo. Com isso em
mente, Annys anota na ficha de personagem de Robin: Evitar
que descubram meu segredo (Orgulho) 4.
A próxima Paixão de Robin é “ajudar” seu rival acadê-
mico principal a entender a superficialidade de seus argumen-
tos(essencialmente arruinar sua vida profissional). Annys gasta
três pontos nessa Paixão; que tem um foco em Inveja, e deve es-
tar de acordo com a habilidade de Robin de aperfeiçoar. Alguns
sonhos terríveis vão fazer com que peça uma licença patética do
dever escolar, sem mencionar o reitor que pensou em promovê-
-lo. A Paixão é anotada como Evitar com que meu maior rival
tenha sucesso (Inveja) 3. Annys gosta das possibilidades que
esta Paixão oferece, e decide que indicações de sucesso podem
até encorajar Robin a mexer com outros escolares.
Outro dos desejos de Robin é certificar-se que seu
texto mais aclamado, aquele com notas cruciais para sua obra
inacabada, acabe em boas mãos (idealmente as suas próprias,
mas preferivelmente aqueles que valham o respeito de Robin.
Ele provavelmente não ficará feliz até que o livro seja consa-
grado em alguma coleção particular, longe do alcance de patas
imundas sem graduação). Annys anota isso como Proteger meu
livro preferido (Amor) 2, na medida em que este livro é uma
das poucas coisas que Robin conseguiu expressar preocupação
abertamente. Sobrando o último ponto, Annys dá a Robin um
interesse flamejante em descobrir tudo que puder sobre Magos.
Essa Paixão é impulsionada pela simples Curiosidade; é apenas
a fome de Robin de colher informações outra vez. Ela preenche
como Aprender sobre magos (Curiosidade) 1, e continua.
Com as Paixões de Robin estabilizadas, Annys agora
tem de escolher seus Grilhões, os objetos materiais que o man-
tém agarrado nas Terras da Carne. A primeira coisa que ela pen-
sa é na Cafeteria não muito na moda onde ele era conhecido por
esmagar toda a oposição em debates. Robin gostava do lugar
mais do que admitia, e elevou muito o seu ego com as reações
da sempre presente platéia filosófica. Annys atribui 1 a isso. Ela
decide também sobre uma fita misturada, feita pela última estu-
dante com quem ele se envolveu. Desde sua morte, ela caiu atrás
de um armário de arquivos em seu escritório sem ninguém per-
ceber. Essa fita é tremendamente importante para Robin como
um símbolo do que ele perdeu, apesar de ser relativamente frá-
gil como um Grilhão. Percebendo o risco da fita ser regravada,
pisada ou até jogada fora, Annys ainda dá 3 pontos a este. Então
ela coloca quatro pontos na antiga e bem ganhada cópia de seu
livro favorito, uma edição com capa de couro das Crônicas da
História Inglesa de Holinshed. Cheia de notas rabiscadas nas
margens, esse livro era sua inspiração, e também uma das fontes
de sua Paixão. Finalmente, o protegido de Robin, do qual ele
promoveu a carreira, se torna um Grilhão de grau 2.
Quinto Passo: Toques Finais
Agora, Annys nota que a Força de Vontade de Robin
começa com 5 e seu Pathos inicial é 7 (5 mais seus dois pontos
de Memoriam).
Annys agora tem 15 pontos bônus para gastar. A pri-
meira coisa que ela faz é gastar quatro pontos para aumentar a
Força de Vontade total de Robin para 7. Então ela divide e gasta
mais 5 pontos para aumentar a Carisma de Robin para 2. Dois
pontos darão a Robin um ponto na Habilidade Alerta. Annys
coloca seus quatro últimos pontos bônus em Expressão quando
percebe o quanto Robin precisa dessa Habilidade para passar
suas idéias.
Finalmente, todos os números estão prontos. Mesmo
que isso seja tudo que Annys precise para jogar com seu perso-
nagem, há mais alguns detalhes que ela quer ajustar. Enquanto
ela já chegou a conclusão de que Robin foi morto quando atro-
pelado por um carro, ela pega um minuto para detalhar o aci-
dente para ela mesma e para o Narrador. Então, ela decide que
a especialidade de Percepção de Robin é melhor descrita como
exploradora. No verso de sua ficha de personagem, ela escre-
ve algumas palavras sobre a infância de Robin, crescendo com
seus pais que viajavam muito (isso explica a sua falta de apego
a lugares ou família), e uma curta descrição de sua aparência.
Ela o descreve como alto e um pouco magro, com cabelo louro
palha e um corte de cabelo conservador. Ainda, ele não é muito
cheio de enfeites, então Annys decide que seu guarda roupas é
constituído por camisetas e calças sociais. Ela também quer dar
a ele algumas características distintas. Primeiramente, ela acha
que uma de suas manias envolverá a citação constante de auto-
res (quanto mais obscuros, melhor), mas ela decide que ela não
quer ter esforço pesquisando para interpretar o que essa mania
requer. Uma ideia melhor, ela conclui, seria ter Robin ostentan-
do severamente seu cinismo sobre todas as coisas religiosas e
espirituais. Isso faria com que ele entrasse numa discussão bem
interessante sobre os mortos... Ela também decide de que ele
tem um hábito perturbador de desconcentrar seus olhos e sus-
surrar quase inaudível (isso vem de sua Perícia de Meditação - é
o método que ele geralmente usa para se distanciar do meio),
que provavelmente deixará pelo menos um dos outros mem-
bros do círculo de Robin, totalmente patético, e dar uma brecha
para uma boa interação entre as duas aparições.
Finalmente, Annys está satisfeita com sua imagem
mental de Robin. Agora ela tem que discutir com o Narrador e,
já que ela já sabe quem será, a pessoa que estará jogando com
seu Guia de Sombra para gerar a Sombra de Robin. Para um
exemplo de criação de sombra, veja a página 173.
E Agora?
Interpretando o Prelúdio
‘A morte não dói’, disse uma das gêmeas. ‘A morte é
obscura, a morte é doce.’’
-Poppy Z. Brite, Almas Perdidas
Quando sua aparição estiver terminada, nesse pon-
to, ela estará pronta para que você comece a interpretá-la. Sua
primeira vez jogando com um novo personagem é chamado de
Capítulo Quatro: Personagem 105
Prelúdio, porque ela define toda a ação que virá depois. A maio-
ria dos Prelúdios incluem o fim da vida do seu personagem, sua
morte e renascimento no mundo dos Inquietos.
Para Narradores Subversivos
Se os jogadores do Narrador confiam nele o su-
ficiente para querer jogar qualquer coisa que ele deseje
Narrar, é algumas vezes mais efetivo para ele do que
anunciar que eles estarão jogando um jogo do Projeto
Crepúsculo ou mortais contra o Mundo das Trevas. Ele
então supervisiona os jogadores enquanto eles criam
personagens mortais em vida para o que acreditam que
será o jogo anunciado pelo Narrador. Em algum ponto
durante o Prelúdio, o Narrador acha uma maneira de
atravessar os personagens pela Mortalha.
A maioria dos bons interpretadores se tornam muito
apegados aos seus personagens. Eles começam com idéias para
personagens que eles querem jogar, customizam as idéias durante
a construção, e pegam um verdadeiro sentimento por ele. Essas
primeiras e poucas oportunidades de interpretação são críticas
no desenvolvimento do personagem, dando-lhe a chance de en-
trar na cabeça de seu personagem e reagir às coisas como ele pró-
prio deveria. Essa também é uma hora crítica para definir suas
relações pessoais, lugares e coisas que vão se tornar as Paixões
e Grilhões da aparição, tornando mais fácil e natural para seu
Narrador trabalhá-los na crônica.
Paixões e Grilhões nunca devem ser apenas números
numa página. Cada um deve representar algo devastador, po-
deroso e inegável. Você não deve ser permitido a ignorar uma
Paixão quando a escolhe, e sim se tornar mais envolvido com ela.
A única forma que você pode fazer isso é se o seu Narrador trans-
formar isto em realidade para ele, e uma das melhores formas de
se fazer isso é através de um Prelúdio. É sempre tentador, particu-
larmente se você já jogou sistemas Storyteller antes, ‘’pular para a
parte boa’’, ignorando o Prelúdio individual a favor de uma rápida
introdução grupal ou um pular para o jogo já. Não se entregue a
essa tentação.
A Experiência Pré-Morte
É totalmente essencial para você se tornar inteiramente
envolvido com quem o seu personagem era antes de sua morte
para que qualquer coisa após isso tenha sentido real. Ter uma
Paixão de Dar o troco no namorado que me traiu (Raiva) 2 na
sua ficha de personagem não tem um impacto emocional real.
Jogando em uma cena na qual você vai até a casa de seu namo-
rado duas horas mais cedo para colocar os enfeites para a festa
de aniversário surpresa dele e dar de cara com ele enquanto ele
está com outra mulher tem impacto. Mais que isso, permite que
seu personagem reaja a situação, e lhe traga numa comunhão de
sentimentos mais próxima com os sentimentos de seu persona-
gem. Se em uma cena prévia o namorado dela a deu um anel e lhe
jurou amor, a cena de traição será bem mais efetiva e afetada.
Todas as pessoas que se tornarão Grilhões, ou que tem
muito a ver com quem a aparição é (pais, professores, amigos,
etc.) devem ser descritos em alguma parte do Prelúdio (que pode
ser decorrido como séries de vinhetas da vida do personagem
106 Aparição: O Esquecimento
indo até o momento de sua morte). Lugares que seu personagem
freqüenta e coisas que significam algo para ele devem também
aparecer, não necessariamente num papel principal. Mencioná-
-los como parte da cena é o suficiente, apesar de ser efetivo mais
tarde se eles estiverem muito carregados emocionalmente. Ape-
sar de que você possa vir a escrever em sua ficha que você tem
uma chave como um Grilhão de três pontos, não significa nada
por si mesmo. Ao invés, no exemplo acima, a aparição que desco-
briu que seu namorado a traía pode descobrir que tem o Grilhão
quanto a chave do apartamento dele.
A chave agora significa algo, e também simboliza um
tempo onde havia confiança entre eles, ou que agora é tida como
uma posse odiada da qual sem ela, ela nunca teria entrado no
apartamento e descoberto sua traição. O importante não é o ob-
jeto em si, mas a emoção relacionada a ele. Grilhões não preci-
sam ser algo que a aparição almeje. Eles podem ser coisas que
importunaram a aparição em vida, e das quais ela deseja se livrar
em morte. Obviamente, perder um Grilhão trás a aparição mais
próxima a extinção, então ela pode optar por não segura-lo ou
tentar resolvê-lo?
Voltando desde o conceito preliminar de seu persona-
gem até o Prelúdio para a construção de personagem é a melhor
maneira de se certificar de que todos os Grilhões e Paixões são
honestos. Obviamente, o conceito de personagem deve se mes-
clar com as Paixões e Grilhões que ela escolher. Uma figura olím-
pica como um skatista seria improvável de, por exemplo, ter um
cavalo como um Grilhão, ela apenas não teria tempo suficiente
para praticar cavalgada. Por outro lado, se um skatista saiu de
casa para tentar a medalha de ouro, mas terrivelmente perdeu seu
cavalo o qual ela cavalgou durante todos os dias enquanto mais
nova, o cavalo talvez se qualifique. Seu Narrador precisaria então
incorporar algo sobre as cavalgadas de seu personagem e como
isso a fez sentir no Prelúdio do personagem.
O Conceito de Morte
Da mesma forma, apesar de não ser um passo requeri-
do, você e seu Narrador devem determinar o conceito da morte
de seu personagem. Enquanto o conceito de vida pode ser “atriz”
ou “bombeiro”, o conceito de morte seria algo como “suicida ro-
mântico” ou “herói”. Cada um definiria a forma da qual o perso-
nagem morreu. Apesar de ser melhor que isso venha como um
resultado do Prelúdio, você talvez queira definir a forma de que
seu personagem morre, e então jogá-la. Naturalmente, Narra-
dores tem uma forma de desenvolver a trama que possa confli-
tar com o que o jogador planejou, significando que o “suicida
romântico” possa se tornar uma “vítima de assassinato”, e que o
bombeiro que gostaria de morrer heroicamente possa ser jogado
pra fora de seu caminhão e atropelado, se tornando o “acidente
de estrada”. Essas circunstâncias talvez venham até se tornar parte
da personalidade de seu personagem, um ressentimento de que
ela não teve como escolher sua morte ou o fato de que sua morte
pareceu sem sentido.
Despertar
Os primeiros momentos através da Mortalha são tam-
bém cruciais no que diz respeito a estabelecer quem é sua apari-
ção. A forma com que você foi ceifado terá uma grande impor-
tância sobre perspectiva sobre o Mundo Inferior. Uma aparição
que é escravizada e mal escapa das forjas é propensa a ter uma
percepção diferente sobre a Hierarquia do que alguém que mor-
reu e foi instantaneamente recrutado para a Legião. Essa parte do
Prelúdio também permite que você estabeleça os Antecedentes
do seu personagem de forma realística. Se o seu personagem tem
dois pontos em Mentor, é aqui onde o Mentor pode se apresentar
e oferecer uma razão em jogo para o personagem saber tudo o
que sabe sobre o Mundo Inferior. Ao mesmo tempo, isso previne
de que jogadores que sejam um pouco mais propensos a falas
como ‘’Eu morri e fui aprendiz de um Barqueiro por 30 anos,
então eu deveria saber onde a Máscara de Charon é”.
Nem todo personagem precisa estar entre os recém fa-
lecidos, mas mesmo que sua personagem tenha se tornado um
dos Inquietos em 1776, ainda é uma boa idéia executar um Pre-
lúdio. Afinal, não diz em lugar algum que o Prelúdio deve acon-
tecer diretamente na Crônica, você pode adiantar-retornar de
seu Prelúdio até o presente sem problema algum. Só certifique-se
que você não é tentado pela longa experiência de personagem
nas Terras das Sombras a ponto de trazer conhecimento que você
tem (e que o seu personagem não deve ter) para o jogo.
P&R
Em tempo, a Divindade percebeu que a morte era um
erro; um erro, nisso era insuficiente; insuficiente, pela razão de que
era um agente admirável ao infligir da miséria sobre o sobreviven-
te, permitia que o morto conseguisse escapar...
- Mark Twain, ‘’Cartas da Terra’’
Ainda há várias perguntas não respondidas sobre o seu
personagem nesse ponto, e você talvez queira usar o Prelúdio
como uma oportunidade para responder algumas ou todas elas.
Mesmo que você não passe por todas as perguntas listadas abai-
xo durante o Prelúdio, você deve ao menos estar pensando sobre
elas. Pelo bem do seu personagem, você deve tentar conhecer as
respostas para todas elas.
Quantos anos você tem e quando você morreu?
Você foi uma criança desprovida de uma vida inteira,
ou você foi surpreendido no seu apogeu? Talvez você estivesse no
início de sua idade adulta, ou tenha vivido sete décadas. Isso de-
termina a experiência que você acumulou nos seus dias de vida, e
também pode dizer muito sobre sua aparência.
Como eram sua família e amigos quando você era
vivo?
Você teve uma vida caseira feliz, ou fugiu de casa? Você
era um desses caras que precisavam sair mais era sociável? Como
seus amigos e família reagiram a sua morte?
Qual a coisa mais vergonhosa que você fez? E a me-
lhor?
Todos fizeram coisas das quais se arrependem, alguns
mais que outros. Percebendo o que lhe dói mais (assim como o
que mais te orgulha) vai por um longo caminho na definição do
seu personagem. Você traiu o seu amor ou roubou daqueles que
confiavam em você? Por outro lado, você terminou sua obra de
arte, ou você fez algum bem maior?
Quais lugares lhe importavam quando você era vivo?
Alguns desses lugares tornarão os seus Locais de As-
sombro ou até os seus Grilhões, mas mesmo aqueles que tem
menor importância devem ainda serem levados em conta. Se fo-
ram importantes para você, você retornará a eles e eles irão pro-
ver cenas para histórias depois.
Como você morreu?
Você já deve ter feito o seu conceito de morte, mas os
detalhes podem ser importantes. “Eu fui assaltado em um ponto
de armas enquanto tentava chegar ao meu carro, levei dois tiros,
e fui deixado para morrer no meio fio. Ninguém da vizinhança
sequer veio ver”, tem muito mais impacto do que “Ummm, eu
levei um tiro, eu acho”.
Quando você morreu?
Tanto o dia quanto a data são importantes aqui. Você
morreu no seu aniversário, ou em algum outro dia que era im-
portante para você (além do óbvio). Você morreu ontem ou a
cem anos atrás? Isso determina o quanto de experiência você tem
no Mundo Inferior, sem mencionar o tipo de atitudes que você
tende a tomar em coisas como política e igualdade dos sexos.
Também pode ter influência do quão confortável você é sobre
uma determinada tecnologia; bem pouco Napoleônicas apari-
ções são confortáveis em relação a computadores, por exemplo.
Como você conheceu o resto de seu Círculo?
Você estava apenas sentado pelo bar local quando en-
trou em uma conversa com as aparições próximas a você? Vocês
todos morreram juntos, ou você conheceu o resto do seu Círculo
enquanto eram vivos? Vocês estão numa mesma Legião, ou são
membros da mesma gangue Renegada? Como você e seus com-
panheiros de Círculo se conheceram ajuda a explicar o que lhes
mantém junto, e o que vocês podem esperar ou não fazer juntos.
Como você foi Ceifado?
Sua entrada para o Mundo Inferior pode colorir sua
percepção na existência dos Inquietos permanentemente. Sua
->ceifada foi gentil, acompanhada por um Mentor ou um ente
querido? Ou você foi pego como um Cativo e salvo no último mi-
nuto? talvez tenha sido um Barqueiro quem lhe Ceifou, e cobrará
a dívida no futuro. Sua afiliação (Hierarquia, Hereges, Renega-
dos) deve ser levada em conta aqui.
O que você faz para se divertir?
Conta uma piada antiga que as coisas são muito mor-
tas em sábados à noite nas Terras das Sombras. Aparições não
ficam sentadas meditando sobre sua existência decadente; elas
gostam de se divertir tanto quanto os vivos. Então, se você gosta
de ->adulterar os Breves, ou talvez você apenas senta em frente
a loja de eletrônicos e assiste TV. Talvez você tenha uma coleção
de relíquias (Existe um Renegado que tem uma coleção de pa-
res de meia legendário) que lhe atraem, ou talvez você prefere
mergulhar na Tempestade e caçar por Espectros. Aqui há uma
boa chance de tornar sua existência como uma aparição um tanto
quanto mais leve, tire vantagem disso.
Onde seu Círculo se encontra?
Locais Assombrados são lugares valiosos; você talvez
não queira ter o resto de seu Círculo invadindo o seu toda noite.
Então vocês podem ter um local de encontro em comum, um bar,
clube ou outro ponto social que ofereça Pathos, entretenimento,
ou os dois. Toda Necropoli tem lugares onde os mortos podem se
encontrar e desanuviar - como é o seu?
Do que você está atrás?
O que lhe deixa nervoso - ou absorto? Existem certas
coisas que lhe irritarão, ou você é o quão sereno uma aparição
pode conseguir ser? No que você acredita e o que você deseja
defender?
Quando você souber todas essas coisas, você conhecerá
seu personagem. Durante o processo de decidir as respostas para
estas perguntas, você dará vida (ou algo razoável e similar a isso)
a sua aparição, o que significa que você estará pronto para jogar
com ela apropriadamente.
Capítulo Quatro: Personagem 107

Grilhões
“Então está me dizendo
que estou preso aqui? Que isso é
o que significa estar morto?”
O tempo parece não fazer
mais sentido, então, não tenho
certeza de quanto se passou des-
de que comecei a andar pra lá e
pra cá nessa fábrica abandonada
onde o velho me trouxe. O apo-
sento no porão é enorme, úmido
e sombrio. Lá fora, poderosas ra-
jadas de vento balançam o prédio
como pesadas pancadas de mar-
telos. Onde quer que tenha uma
fenda ou buraco, o vento assobia
estridente. Poeira e pequenos
grãos de areia caem do teto sobre
nossas cabeças. O assoalho, pare-
des e teto estão repletos de uma
podridão negra cancerígena.
O tempo todo, mantenho
um olho no velho, que está sen-
tado de pernas cruzadas no meio
do aposento. Pelas janelas estrei-
tas e encardidas do térreo, posso
ver que o sol está brilhando, mas
minha visão do mundo lá fora
parece mais uma fotografia sépia
antiga.
Apesar de não ter ouvi-
do ou visto ninguém desde que
os barghests se foram, de vez em
quando eu notava uma vibração
de movimento no canto do olho.
Quando me virava pra olhar, no
entanto, não havia nada.
“Inferno, não!” o velho
dizia.
“Ninguém sabe bem o
108 Aparição: O Esquecimento
que é estar morto. Você é uma
aparição nas Terras das Sombras.
Pelo que sei, isso é só o começo.”
“Uma aparição?”
“Um fantasma. Uma as-
sombração. Lembra? Você mor-
reu.”
“Claro, claro, mas se eu
morri, o que é isso?” digo esten-
dendo a mão e balançando na
frente do rosto dele.
“Isso é o seu Corpus, es-
pertalhão. É diferente do seu cor-
po. É o que sobrou depois que a
parte física… se esfacelou.”
“Tudo bem.” disse sem
vontade enquanto uma onda de
tontura me acometeu. “O que
você pode me dizer sobre essas
Terras das Sombras? Porque eu
estou aqui? Com toda a certeza,
não é onde eu queria estar.”
“São os seus Grilhões. Há
algo te segurando aqui, alguma
coisa te impedindo de seguir em
frente.”
“Olha, que eu saiba, não
tem nada que me mantenha em
lugar nenhum.” Eu estremeço
enquanto fragmentos da minha
vida giram na minha memória.
“Nada desde que ela… depois da
morte da minha filha e depois o
divórcio…” comecei a dizer, mas
aí minha voz falhou, e fiquei em
silêncio.
O velho olhou para mim
curioso, silenciosamente me pe-
dindo para continuar.
“Eu… não tinha motivos
para continuar vivendo.” Sussur-
rei. “A morte da minha filha ar-
ruinou meu casamento, minha
carreira… tudo.”
“Então, havia uma fi-
lha?”
Os olhos do velho bri-
lhavam com um súbito inte-
resse ao dizer isso, esticando
a última palavra. Eu mal tive
forças pra balançar a cabeça
em afirmação.
“Então, ela deve estar
aqui, também.” ele diz. “Mas
claro que aposto minhas fichas
na sua esposa…”
“Ex-esposa.” eu inter-
rompo.
“Ex-esposa,” ele conti-
nua sem perder o ritmo. “que
pode ser seu maior Grilhão.
Divórcio recente, né?” ele con-
tinua sem olhar pra cima para
me ver concordando com a ca-
beça. “Hmmm. Ela deve servir
à sua filha, também, agora que
você chutou o balde. Vou te
dizer, não é legal quando um
Grilhão morre. Não é nem um
pouco legal.”
Uma faísca de esperan-
ça se acende no meu peito, mas
é tão pequena que rapidamen-
te se contorce e desaparece.
Karen está morta e en-
terrada, eu me digo, e é tudo
que preciso saber.
Mas então outra voz
suave dentro de mim sussur-
rou. Mas e se ela tiver gasto os
últimos cinco anos aqui, sozi-
nha nesse lugar perigoso? Espe-
rando pelo papai?
Tenho que fechar os
olhos com força para controlar a
tempestade de emoções que co-
meça a se formar no meu cora-
ção.
“Talvez você devesse ten-
tar encontrá-la.” o velho suge-
re tão suavemente que eu quase
confundo sua voz com meus pró-
prios pensamentos. Olho para
ele, querendo perguntar se ele faz
ideia de como posso encontrá-la,
mas subitamente eu sei.
Assim como, de alguma
forma, eu sabia como e porque
eu havia terminado no Escola
Primária de Pine Knoll, eu sabia
onde começar a procurar pela
minha filha morta, no Cemitério
de Riverside, onde ela estava en-
terrada.
“Eu… eu preciso ir lá
fora.” eu gaguejo, e sem esperar
para ver se o velho tem algo mais
a dizer, me viro e ando para as es-
cadas de concreto, de volta àque-
le mundo com aquela luz do sol
difusa e sombras estranhas.
“Você não pode ir lá
fora!” o velho grita, mancando
atrás de mim. “É muito perigo-
so!”
“Eu não pedi por isso,
ok?” digo, me virando pra ele. “E
com toda certeza não quero ficar
aqui!”
“Você não tem muita es-
colha sobre isso.” ele diz. “A não
ser que queira abraçar o Esqueci-
mento.”
Sem saber direito o que
ele dizia, balancei a cabeça. Não
gosto do som daquela palavra.
Meu primeiro pensamento foi
que Esquecimento soava como
morte para os mortos.
“Então, enquanto estiver
aqui,” o velho continua, “você
deve aproveitar o máximo. Pode
considerar se juntar a mim.”
Balancei a cabeça, con-
fuso. Estou com dificuldades de
processar o que aconteceu até
aqui, mas quem pode me culpar?
Como poderia aceitar o fato de
ter morrido?
“Porque eu me juntaria
a você?” pergunto depois de um
momento de silêncio quebrado
somente pelo assobio do vento
nas frestas.
O velho não respon-
de imediatamente. Olho-o nos
olhos perdidos como bolas de
petróleo indo de um lado para
outro, como se ele olhasse pra al-
guém que eu não vejo.
“Porque as Terras das
Sombras são muito perigosas.”
ele diz, afinal.
“Como podem ser peri-
gosas?” digo, enquanto uma cor-
rente de tensão cresce em mim.
“Já estamos mortos! O que pode-
ria nos ferir, agora?”
“Muita coisa, acredite em
mim.” o velho retruca. “Primeiro,
tem os escravistas. Se a Hierar-
quia não te pegar, os Renegados
pegam, assim que baixar a guar-
da. E tem as outras aparições
por aí que podem te acorrentar a
qualquer momento.”
Capítulo Quatro: Personagem 109
Inclinando-se para
frente, o velho lança outro
olhar cauteloso pra lá e pra cá
e diz baixinho, “E claro, tem
sempre os Espectros e aqueles
tipos religiosos Hereges e os…
Barqueiros.”
Ele sussurra essa últi-
ma palavra tão baixo que nem
tenho certeza se ouvi direito.
“Barqueiros?” repito,
me aproximando.
Como se ouvisse, o
vento lá fora assovia mais alto,
balançando as fundações e fa-
zendo com que algo caia no
piso superior com um estron-
do enorme.
O velho me recrimina
com um olhar feroz, e diz, “De
fato, eu soube que você foi vis-
to falando com um Barqueiro.”
“Isso não é possível.”
digo, balançando a cabeça em
negação. “Nunca vi um deles,
muito menos falei com um.”
“Bem.” o velho diz jun-
tando as mãos, “Talvez você
não admita, ou talvez não lem-
bre, mas definitivamente você
foi visto falando com um e isso
não é bom. Não mesmo.”
“E porque não?” eu
pergunto.
“Porque se esse Bar-
queiro te Ceifou, ele um dia
pode voltar atrás de você.”
110 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Cinco:
Características

Branco... serve como um início. Roupa branca pode ser alvejada.

A página branca pode ser sobreescrita...
- J.R.R. Tolkien, A Sociedade do Anel

aracterísticas são o meio com o qual
você detalha as capacidades, as van-
tagens e as fraquezas de um persona-
gem de Aparição. Elas permitem que
você traduza um personagem para
dentro do jogo através de paradas de
dados, a medida que ajuda você a en-
tender e desenvolver seu personagem.
Características são somente o sistema no qual um
personagem é construído, mas tais estruturas são impor-
tantes. As Características de seu personagem delineiam os
parâmetros gerais do que ele pode fazer, mas o que ele real-
mente faz, vem através da sua interpretação e imaginação.
As Características de Aparição são intencionalmente aber-
tas e amplas para interpretação. Assim, mais tempo é gasto
no personagem do que na planilha de personagem. A idéia é
pegar as Características que você selecionou e usá-las como
base para delinear como seu personagem age, no lugar de
preencher um dado número de pontos e dados em situações
pré-fabricadas.
Nesse capítulo está a descrição de todas as Caracte-
rísticas básicas que você precisará considerar na criação de
um personagem de Aparição. Seu personagem não precisa
possuir todas elas, mas as descrições que são fornecidas per-
mitem que você julgue quais são apropriadas para o perso-
nagem em particular que você tenha em mente.

Capítulo 5: Características 11

Especializações
Certos tipos de Características (Atributos e Habi-
lidades) podem ter especializações. Se uma aparição tem 4
pontos ou mais numa Característica, ela pode escolher uma
especialização - um aspecto daquela Característica no qual
ele tenha uma aptidão em particular. Uma especialização de
Destreza poderia ser descrita como Velocidade; uma espe-
cialização em Condução poderia ser Hora do Rush ou Alta
Velocidade. Uma aparição com a especialização Hora do
Rush seria um bom motorista normalmente, mas especial-
mente hábil durante as estressantes horas do trânsito das 5
da tarde.
Sempre que uma aparição usa sua especialização,
ela tem a oportunidade de jogar novamente todos os 10 ob-
tidos no teste inicial numa tentativa de ganhar sucessos adi-
cionais.
Arquétipos
Você gostaria da minha Máscara?
Você gostaria do meu espelho?
Chora o homem num canto sombrio
Você pode se olhar,
Pode olhar para os outros
Ou olhar para o rosto do seu deus.
-Lorena McKennitt, “Marrakesh Night Market”
rquétipos são tipos esboçados de
personalidade nos quais as aparições
podem se enquadrar. Elas são descri-
ções básicas para a personalidade da
aparição, tanto para seu verdadeiro
eu como para o eu que o mundo en-
xerga. Nenhuma aparição preenche
exatamente Arquétipo algum, mas
normalmente existe um que descreve melhor o conceito do
seu personagem. Esse Arquétipo poderia ser escolhido como
a Natureza do personagem, enquanto um outro melhor se
aplica em descrever como ele encara o mundo deve ser mar-
cado como seu Comportamento. O conflito entre esses dois
Arquétipos ajuda a definir o personagem, assim como as
ações que o jogador deve tomar para permanecer “dentro”
do personagem tanto em Natureza como em Comportamen-
to.
Em termos de jogo, os Arquétipos são importantes
já que, ao agir de acordo com sua Natureza, são um meio
de uma aparição recuperar preciosos pontos de Força de
Vontade. Se o personagem executar uma ação que o jogador
considere ser merecedora de um ponto de Força de Vontade,
baseado em sua Natureza, ele deve informar ao seu Narra-
dor. Se o Narrador achar que a justificativa para o pedido é
válida, pode permitir que o personagem recupere de um a
três pontos de Força de Vontade. No entanto, Narradores são
livres para discordar dos pedidos dos jogadores por Força de
Vontade se eles sentirem que a lógica por trás do pedido seja
fútil ou se parecer que o personagem está executando certas
ações apenas para recuperar Força de Vontade. Arquétipos
112 Aparição: O Esquecimento
devem encorajar a interpretação, com o ganho de Força de
Vontade servindo como uma recompensa por expressar bem
o conceito do personagem dentro da estrutura da história.
Se os jogadores quiserem, eles podem se sentir
livres para criarem seus próprios Arquétipos, visto que os
listados aqui são um pequeno exemplo das muitas faces da
humanidade. Além disso, Arquétipos para a Sombra podem
ser encontrados no Capítulo Seis.
Arquiteto
A criação é o foco do Arquiteto, o processo de criar
alguma coisa do nada. Ele nega o Esquecimento continua-
mente ao criar coisas novas, quer sejam estruturas sociais,
objetos ou somente planos para o futuro. O objetivo con-
dutor de um Arquiteto é criar ou ordenar elementos desor-
denados ao seu redor. O caos o conduz a distração, assim
como a noção de que todas as suas criações cuidadosamente
planejadas algum dia irão ruir. Entretanto, “algum dia” não
significa hoje e nesse meio tempo há muito no que sua mão
pode ser necessária.
- Recupere Força de Vontade sempre que um plano
seu render frutos.
Avant-Garde
O Avant-Garde tem interesse apenas no novo. Se já
passou, não tem interesse para ele. Regras só importam para
ele quando está descobrindo ou criando algo novo ou ao me-
nos quando ele acredite ser o primeiro a descobrir alguma
coisa. A sensação da experimentação é a maior sedução para
o Avant-Garde e ele não teme assumir riscos para alcançar
um novo efeito. Cada Avant-Garde evita o dia em que atin-
girá seu limite, mas cada um também sempre trabalha como
um louco para fazer com que isso nunca aconteça.
- Recupere Força de vontade sempre que você en-
contrar uma nova solução para alguma coisa antiga.
Bon
Vivant
O Bon Vivant olha para o Esquecimento e enxerga
a negação de todas as coisas. Para evitar confrontar-se com
esse horror, ele escapa do único modo que pode: através
da negação dessas sensações de prazer. Não há nada imo-
ral sobre o hedonismo do Bon Vivant, visto que ele serve
para reafirmar o poder da existência frente ao Esquecimento.
Embora o Bon Vivant se preocupe esporadicamente quando
busca por novos prazeres e está livre do tédio, ele faz as coi-
sas no seu melhor interesse nesse meio tempo. Bon Vivants
são normalmente imediatistas, concentrados em nada mais
que sua próxima sensação.
- Recupere Força de Vontade sempre que você não
desperdiçar um bom momento.
Valentão
O Valentão reforça sua auto-estima se vangloriando
e denegrindo os outros. O medo é para ser enfrentado e a
incerteza jamais deve ser demonstrada frente ao inimigo. A
falha não é uma opção para o Valentão; mas, infelizmente, o
compromisso e a estratégia também não. O Valentão sempre
tenta dominar qualquer situação que ele encontra e sempre
se manterá alerta para tal até que ele tenha êxito ou esteja
completamente derrotado.
- Recupere Força de Vontade sempre que você fizer
alguém recuar.
Burocrata
O Burocrata se encaixa perfeitamente no sistema.
Ele o alimenta e o protege, até mesmo mantendo-o e ser-
vindo-o. Burocratas são mais frequentemente encontrados
dentro das fileiras da Hierarquia, o que não é surpresa, e sub-
verterão todas as outras considerações para continuar. Não
importa se uma dúzia de Espectros estão acampados na por-
ta, os Legionários precisam ser requisitados adequadamente
para lutar. Embora isso possa parecer ineficiente, o Burocra-
ta sabe que a ordem é a chave para resistir ao Esquecimento
e ele irá agarrá-la não importando como.
- Recupere Força de Vontade sempre que um desas-
tre é evitado (ou uma crise contornada) por seguir os proce-
dimentos corretos.
Samaritano
O Samaritano é bem visto no Mundo Inferior, já
que ele protege muitas aparições contra a atração do Esque-
cimento. Ele fará sacrifícios, mas sempre com o propósito e
um objetivo claro em mente de aliviar o sofrimento dos ou-
tros. Isso não significa que o Samaritano seja ilimitadamen-
te generoso, ingênuo e razoável; muitos possuem um senso
perspicaz de quem vale o esforço. Não é porque o Samarita-
no se preocupa com os outros que ele vai ficar cego aos seus
defeitos.
- Recupere Força de Vontade sempre que tiver pro-
vas tangíveis de que ajudou alguém.
Criança
Uma combinação de ingenuidade e egocentrismo,
o Criança é muito ingênuo sobre a existência no Mundo In-
ferior. Ele também possui uma determinação ferrenha para
ter as coisas do seu modo, não importando como e sempre
responderá refreando o mais lógico argumento com um
“Mas eu quero!”. Aparições com o Arquétipo Criança não
são necessariamente crianças: muitos adultos que chegam às
Terras das Sombras nunca atingiram a maturidade emocio-
nal quando estavam vivos. Embora a fé inocente da Criança
possa ser inspiradora para outras aparições, sua visão limita-
da e teimosia podem ser exasperadoras e até mesmo perigo-
sas.
- Recupere Força de Vontade sempre que você con-
seguir seu objetivo através de sua teimosia.
Esperto
O Esperto busca seguir em frente através da cri-
teriosa subversão do Sistema. Ele pode precisar do Sistema
para seguir em frente e conseguir status, mas ao seu modo de
pensar, o Sistema está lá para seu benefício e não para outra
coisa. Enquanto o Sistema puder ajudá-lo, ele fará seu jogo
alegremente; quando o impedir de fazer o que quer, ele de-
liberadamente o ignorará. O Esperto é exímio em conseguir
que os outros façam o que ele quer, teme o dia que ninguém
lhe dará ouvidos e ele precisará agir, sem experiência ou
proteção, por si próprio. Pior, muitos Espertos se conhecem
Capítulo 5: Características 113
bem o suficiente para desconfiar de todas as aparições que
se comportam do mesmo modo que ele e assim tem uma
grande dificuldade em confiar.
- Recupere Força de Vontade sempre que você con-
vencer outra aparição a assumir uma dura e perigosa situa-
ção por você.
Crítico
O Crítico encontra propósito na morte através das
revelações das fraquezas e defeitos dos outros, quer seja
numa obra de arte, numa organização ou nos hábitos de
uma pessoa. Ele se esforça para melhorar os outros apontan-
do suas falhas para que possam ser corrigidas. É claro que
algumas aparições o vêem meramente como um arrogante,
mas o que ele faz ele faz para seu bem e as consequências
pessoais que se danem. Ocasionalmente, o Crítico fará seu
trabalho tão bem que convencerá os outros de que eles não
apenas são falhos, mas imprestáveis; a enchente de autorre-
pugnância que pode ser gerada no Crítico pode ter repercus-
sões desagradáveis.
- Recupere Força de Vontade sempre que você
apontar um defeito em alguém ou alguma coisa que seja per-
niciosa e não tenha sido detectada.
Explorador
O Explorador encontra propósito no caminho da
descoberta. O prospecto de encontrar novos lugares, pessoas
e coisas incendeia sua existência cinzenta com excitação e ele
114 Aparição: O Esquecimento
irá vagar pelas mais sombrias florestas das Terras Esfoladas
até o coração do Labirinto em suas buscas. Ele teme o dia em
que tudo estiver descoberto, mas faz a sua parte para que isso
aconteça pesquisando o novo e o excitante sempre que que
pode. Isso algumas vezes leva seus companheiros ao encon-
tro de problemas quando se deixam levar, vacilantes, numa
jornada pelos Tesouros Perdidos de Gorool ou algo assim;
mas, aos olhos do Explorador, isso é mais que merecedor.
- Recupere Força de Vontade sempre que você che-
gar onde ninguém nunca chegou antes.
Seguidor
O Seguidor é um Arquétipo curioso e muito co-
mum nas Terras das Sombras. O Seguidor padrão não é
necessariamente um cidadão da Hierarquia, pois Hereges
carismáticos e Renegados demagogos necessitam de Segui-
dores também. O Seguidor se identifica, apesar de não im-
portando quem ele siga, seu líder sabe mais do que ele. Sua
melhor aposta para sobreviver é obedecer ordens; demons-
trar iniciativa é pisar fora da faixa. Isso algumas vezes leva
ao desastre, visto que o Seguidor permanecerá em silêncio
mesmo que seu líder esteja em um grande problema. Por ou-
tro lado, no turbulento Mundo Inferior existe muito mais a
ser dito sobre lealdade e obediência por alguém além de um
barghest.
- Recupere Força de Vontade se você sobreviver a
uma situação perigosa por seguir ordens a risca.
Caçador
de Emoções Juiz
O Jogador faz as coisas, não pelos seus fins, mas O Juiz se concentra na solução dos problemas
pela emoção que os meios fornecem. Arriscando a si mesmo
vez após vez, ele se energiza e reafirma sua não existência. O
aborrecimento é o Esquecimento e dificuldades nunca são
tão altas que elas não possam ficar maiores. Um Caçador de
Emoções tende a possuir uma Sombra muito ativa, mesmo
que algumas vezes estranhamente simpática, visto que mes-
mo seu lado sombrio precisa de uma carga de adrenalina
agora e depois. Claro, assumir muitos riscos tem seu preço
inevitável, mas para o Caçador de Emoções, é mais que um
mérito, é emoção.
- Recupere Força de Vontade sempre que você se
colocar numa situação de risco e cavar sua própria saída.
Comediante
Para o Comediante, tudo é uma piada. E bem que Rebelde
poderia ser, pois ele está morto, assim como todos estão, O Rebelde acredita que o sistema atual precisa ser
então a única reação sensata para isso é o humor. Embora
o Comediante possa não saber quando parar, continuando
a fazer piadas em todos os (e especialmente os impróprios)
momentos, sua presença e humor servem para iluminar a
tristeza que pode facilmente tomar conta daqueles que va-
gam pelo Mundo Inferior.
- Recupere Força de Vontade sempre que você que-
brar o gelo e melhorar uma situação tensa.
Líder
O Líder é aquele que assume a causa e convence
outros a seguí-lo. Não importa se a causa seja originalmente
sua ou não; o que importa é que é dele agora. Reunir outros
para segui-lo não é questão de se, mas de quando. Embora
sempre haja a possibilidade de conduzir outros para seu pro-
pósito, um Líder sempre está convencido de que sabe o me-
lhor caminho a seguir dentro - e fora - de qualquer situação.
- Recupere Força de Vontade quando outros segui-
rem você sem questionarem suas ordens e decisões.
Mártir
O Mártir está sempre procurando lançar-se no
abismo a fim de resolver o problema. Ele está sempre pre-
parado para colocar a si mesmo em risco para que outros
sobrevivam ou uma causa seja bem sucedida, mesmo quan-
do um sacrifício não seja necessário. Viciados em trabalho e
perfeccionistas, Mártires não buscam recompensas, apenas
reconhecimento pelos seus sacrifícios. Outras aparições nor-
malmente ridicularizam o Mártir como um suicida, mas no
seu íntimo a única coisa que o chateia é a idéia de se sacrifi-
car em vão. Infelizmente, muitos o fazem.
- Recupere Força de Vontade sempre que sacrificar
a si mesmo ou alguma coisa sua por um objetivo maior.
alheios. Ele é mediador de disputas, agindo como um ami-
go para ajudar alguém em dificuldade ou mesmo servindo
como um árbitro ou juiz. Compromisso e unidade são vitais
para um Juiz e ele normalmente rivaliza com o Mártir em
autossacrifício para encorajar os outros para alcançar um
acordo. O conflito é repugnante para um Juiz, especialmente
o combate, e ele tentará todas as opções disponíveis antes de
recorrer à força. O maior medo de um Juiz é que suas falhas
amaldiçoem e levem consigo centenas ou milhares de apa-
rições. Este ultrassenso de responsabilidade coloca muitos
Juízes em apuros.
- Recupere Força de vontade sempre que convencer
outros a um compromisso.
mudado, mesmo que ele não saiba o que colocar em seu
lugar. Uma força por mudança e ativismo, ele trabalha in-
cessantemente para subverter a autoridade. O mundo é em
preto e branco para o Rebelde; o inimigo não tem lado bom
e precisa ser destruído, visto que sua própria causa é pura e
imaculada. Muitos Rebeldes se pegam em dúvidas capciosas
se eles estão ou não fazendo a coisa certa, temendo a reve-
lação de que eles podem estar trabalhando para o Esqueci-
mento. Ainda sim, tais temores são raramente vistos e no
resto do tempo muitos Rebeldes podem beirar o fanatismo.
- Recupere Força de Vontade sempre que você agir
para subverter uma autoridade estável.
Cientista
O Cientista encara o mundo como uma charada a
ser resolvida. Ele toma o mundo e seus problemas, divide
em diretivas e variáveis e os resolve de uma maneira racional
usando a lógica e a dedução. Seu objetivo final é entender
cada detalhe e mecanismo. O processo pode levar algum
tempo, entretanto, pois ele pode ser distraído por uma saída
interessante tanto quanto pela pergunta original. Arquéti-
pos Cientistas nem sempre são cientistas; o nome se refere
a abordagem analítica em que o Arquétipo conduz sua per-
cepção do mundo. É claro, todos os Cientistas sabem que a
entropia sempre aumenta, mas não param de lutar contra o
Esquecimento de modo algum. A menos que é claro, que eles
estejam distraídos...
- Recupere Força de Vontade sempre que uma abor-
dagem racional e científica ajude a resolver uma situação.
Sobrevivente
O Sobrevivente tem dedicado sua vida após a morte
a salvar seu próprio Corpus, minimizando sua preocupação
com os outros em favor de proteger a si mesmo. Existência,
a qualquer custo, é o que o Sobrevivente valoriza e ele irá se
agarrar a isso com uma tenacidade assustadora. Por um lado
Capítulo 5: Características 115
isso o torna disposto a lançar seus companheiros aos lobos
para salvar sua própria pele, mas por outro, nunca permite à
aparição se render, não importa o que aconteça. Muitos So-
breviventes são egocêntricos e não gostam de assumir riscos,
mas alguns podem ser temerários.
- Recupere Força de Vontade sempre que você esca-
par de uma situação que ameaça a sua existência.
Tradicionalista
O Tradicionalista acredita que as soluções para
os problemas de hoje podem ser achadas na aplicação dos
métodos do passado. Ele resiste ao Esquecimento através da
preservação das antigas instituições, se ancorando contra a
corrente da entropia e unindo-se às estruturas existentes.
Rejeitando o novo e a inovação, o Tradicionalista vive ater-
rorizado, pelo abandono da tradição, seus companheiros es-
tão se rendendo por vontade própria a uma poderosa defesa
contra o Esquecimento.
- Recupere Força de Vontade sempre que um mé-
todo “batido” se provar eficiente, especialmente em oposição
ao Esquecimento.
Visionário
O Visionário tem como objetivo algo que apenas
ele pode ver, algo ao qual ele dedicou sua existência. Os de-
talhes exatos dessas visões não são importantes: é suficiente
que nunca tenha sido feito antes. É através dos esforços do
Visionário que o Esquecimento pode ser combatido, pois,
dessa dedicação à criação, ele nega a destruição que o Es-
quecimento representa. É claro, muitos Visionários secreta-
mente nutrem o medo de que seus objetivos possam servir
ao Esquecimento, mas eles negarão isso até mesmo aos seus
Conciliadores.
- Recupere Força de Vontade sempre que você der
um passo concreto para alcançar seu objetivo final.
Atributos tributos são descritores básicos de
uma aparição e afetam todas as suas
interações com os outros e com as
Terras das Sombras. Parcialmente
baseados na autopercepção de uma
aparição, os Atributos ainda me-
dem como o Corpus da aparição fi-
sicamente se compara (e como sua
Psique compara socialmente e men-
talmente) com seus iguais no Mundo Inferior. O Corpus e
as capacidades de uma aparição são baseadas nesse sólido
conhecimento do que ele é capaz, e não são mais suscetíveis
a mudanças do que qualquer Atributo dos vivos.
Atributos
Físicos
O motivo pelo qual uma aparição pode ser mais
forte, mais fraca ou mais ágil que outra é desconhecido, mas
o Corpus de uma aparição corresponde a sua pré-concep-
ção, que o molda e o capacita para se equiparar ao seu corpo
116 Aparição: O Esquecimento
mortal antes mesmo da Coifa ser removida. Atributos Fí-
sicos são as mais fáceis das Características de aparição de
serem definidos e compreendidas, sendo as mais frequente-
mente usadas em termos de mecânica de jogo.
Força
Força é a medida da habilidade física de uma apa-
rição para mudar o mundo ao seu redor, seja infligindo da-
nos em outra aparição, levantando peso ou tentando deslo-
car um objeto em repouso. A quantidade de dano físico que
uma aparição pode causar é baseada em seu nível de Força
e esse Atributo também é usado para saltos, pulos e outras
atividades que se valem de força física bruta. Força é usada
para determinar o número base de dados usados em ataques
físicos.
Especializações: Reserva de Força, Rasgar, Podero-
so, Pujante, Rijo, Grande, Musculoso, Saudável.
• Fraco: Sem comentários.
• • Médio: Você pode suportar seu próprio peso.
• • • Bom: Você foi excepcionalmente forte.
• • • • Excepcional: Boxeadores invejavam a força de seu
gancho.
• • • • • Extraordinário: Levantador de pesos de calibre
olímpico.
Destreza
Destreza tanto significa fineza como coordenação
motora. Ela mede o quão rápido você corre, quão bem você
manuseia uma agulha e costura, além de qualquer coisa re-
lativa entre velocidade, graça e controle. Destreza também é
usada para calcular o número de dados para determinar se
você acerta ou não um alvo em combate.
Especializações: Rápido, Veloz, Delicado, Firme,
Hábil, Reflexos Felinos, Leve, Flexível, Passo Firme.
• Fraco: Você normalmente cortava a si mesmo
quando fatiava e fazia saladas.
• •
machucar.
Médio: Você pode segurar objetos cortantes sem se
• • • Bom: Você poderia fazer malabarismos facilmente.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer truques com facas
facilmente.
• • • • • Extraordinário: Você tem a graça e leveza de um
felino selvagem.
Vigor
Vigor é o Atributo que determina a coerência de
seu Corpus, basicamente o quão bem seu corpo se mantém
inteiro quando forças externas estão tentando rasgá-lo. Ele
também determina quão bem seu corpo resistia ao esforço
físico e doenças, tortura e dor quando você era vivo. Em ter-
mos de jogo, Vigor é usado para determinar o número de
dados usados para absorver dano.
Especializações: Resistente, Incansável, Duro, De-
terminado, Tenaz, Implacável, Resistente.
• Fraco: Resfriados geralmente afastavam você do
trabalho.
• • Médio: Companhias de seguro achavam você um
“risco aceitável”.
• • • Bom: Ossos quebrados raramente paravam você.
• • • • Excepcional: Maratonas eram passatempos;
Triatlons, uma carreira.
• • • • • Extraordinário: Você sobreviveu a venenos até
mesmo a capazes de matar elefantes, sendo alvejado três ve-
zes, esfaqueado outras dez, espancado por no mínimo cinco
pessoas, amarrado, colocado dentro de um saco e lançado
dentro de um rio congelado.

Atributos Sociais
Atributos Sociais determinam o quanto uma apari-
ção está apta a lidar com outras. Eles ajudam a definir como
a aparição se coloca dentro da sociedade e como se relaciona
com outras aparições, independente da afiliação política ou
do padrão social.

Carisma
Carisma define a força de presença da aparição com
outras aparições. Carisma determina o quão bem a aparição
atrai os outros, os persuade ou os conduz quando dispostos.
Diferente de Manipulação, aparições que são afetadas por
Carisma acreditam estarem agindo por vontade própria; Ca-
risma trabalha através de simpatia, não através de truques.
Especializações: Agradável, Eloquente, Elegante,
Bem Apessoado, Genial, Educado, Urbano, Sofisticado, So-
ciável, Cativante.
• Fraco: Mesmo no parquinho você foi rejeitado.
• • Médio: As pessoas quase sempre gostam de estar
perto de você.
• • • Bom: Você marca encontros rápido e facilmente.
• • • • Excepcional: As pessoas se sentem culpadas por
discordar de você, mesmo que levemente.
• • • • • Extraordinário: Você poderia ter liderado uma na-
ção - ou uma religião.

Manipulação
Manipulação é o outro lado da moeda de Carisma,
por ser a habilidade de trazer aparições para seu lado sem
que elas percebam, pelo convencimento através da força de
sua personalidade. Ela é a habilidade de fazer com que ou-
tros executem ações sem consentimento inicial e aceitar seus
riscos. As pessoas não gostam de saber que eles foram en-
ganadas, por isso uma falha num teste de Manipulação traz
suas consequências.
Especializações: Lisonja, Persuasivo, Astúcia, Lógi-
co, Desumano, Bravata, Língua Ferina, Engenhoso, Legal.
• Fraco: Você não conseguia fazer com que sua Mãe
deixasse você dormir mais tarde.
• • Médio: Vez por outra você conseguia o que queria.
• • • Bom: Você sempre conseguia o que queria.
• • • • Excepcional: Você poderia ser um político.
• • • • • Extraordinário: Advogados tomam nota quando
falam com você.

Capítulo 5: Características 117

 Aparência
O Atributo Aparência não é meramente seu visual,
mas também a habilidade de criar uma impressão definiti-
va. Embora os outros dois Atributos Sociais exijam tempo e
conversação para funcionarem, Aparência permite que con-
ceitos básicos sejam transmitidos instantânea e silenciosa-
mente através dos nuances da linguagem corporal, expressão
facial e outras sugestões subconscientes. Apesar do grande
uso de máscaras nas Terras das Sombras, sua habilidade de
dar e receber impressões está livre de obstáculos, visto que
não apenas o rosto trava comunicação.
Especializações: Impressionante, Deslumbrante,
Sensual, Aparência Honesta, Nobre, Digno, Agradável, Vis-
toso, Brilhante.
• Fraco: Normalmente as pessoas não gritam quando
vêem você.
• • Médio: Um rosto na multidão.
• • • Bom: Razoavelmente atraente.
• • • • Excepcional: Uma das “25 Aparições Mais Belas do
Ano”.
• • • • • Extraordinário: Rosto e porte através das eras.

Atributos Mentais
Atributos Mentais se referem a capacidade mental
da aparição: memória, percepção, pensamentos e conheci-
mento básico. Eles medem a atual consciência de uma apa-
rição e detalham o quão rápido ela pode pensar, o quão bem
ela pensa e se ela sabe sobre o que está pensando.

Percepção
Percepção determina o quanto você percebe o mun-
do (ou Mundo Inferior) ao seu redor. Seu nível de Percepção
descreve o quão bem você capta detalhes, o quão bem você
capta das conversações e quanto além do que é óbvio você
normalmente está ciente.
Especializações: Criterioso, Atencioso, Sondagem,
Paciente, Detalhista, Astuto, Observador, Bom de Pistas.
• Fraco: Você geralmente não esbarra em árvores.
• • Médio: Você está ciente sobre o básico que está ao
seu redor.
• • • Bom: Você nota as entrelinhas em anúncios e ro-
mances.
• • • • Excepcional: Os menores detalhes são captados por
seus olhos.
• • • • • Extraordinário: Agulhas? Palheiro? Brincadeira de
criança.

Inteligência
Inteligência é a soma de seu conhecimento e sua ha-
bilidade de encontrar novas conclusões. Ela é sua habilidade
para pegar peças soltas de informação e uní-las num todo
coeso, bem como a medida de quão complexas são as idéias
que você pode compreender. Inteligência não é a medida de
o quão rápido você pensa, mas sim a medida de o quão bem

118 Aparição: O Esquecimento

você pensa e, num menor grau, do que você realmente sabe.
Especializações: Versátil, Esperto, Traça de Biblio-
teca, Pesquisador, Pensamento Claro, Astuto, Pragmático.
• Fraco: Soma de números maiores que 10 eram uma
dificuldade.
• • Médio: Você poderia contar seu troco e saber se foi
enganado.
••• Bom: Você calcula gorjetas de cabeça.
• • • • Excepcional: Física Quântica e teoria micro-econô-
mica fazem sentido para você.
• • • • • Extraordinário: Um QI de 200 - ou mais.
Raciocínio
Raciocínio é sua habilidade para reagir à informa-
ção quando ela se apresenta. Essencialmente, seu nível de
Raciocínio determina o quão bem você pensa em ação, o
quão rápido você pode usar a informação que você processa
e o quão eficiente você trabalha sob estresse. Isso também in-
clui, num certo nível, humor, e pode muito bem ser descrito
como a “velocidade do cérebro”.
Especializações: Talentoso, Perspicaz, Direto, Pen-
samento Rápido, Equilibrado, Criativo, Associação Livre.
• Fraco: O que é esse som de “tick - tick - tick”?
• • Médio: Você sabia quando passar e jogar no pocker.
• • • Bom: Você capta as sutilezas das piadas logo na pri-
meira vez que as ouve.
• • • • Excepcional: Você poderia seguir um diálogo
Shakespeariano sem perder o ritmo.
• • • • • Extraordinário: Seu pensamento é tão rápido quan-
to um supercomputador.
Habilidades
...para fazer aquele vodu que fizeste tão bem...
Cole Porter, “You Do Something to Me”
Talentos stritamente intuitivos e sem necessi-
dade de treinamento, Talentos são as
coisas que você tem habilidade desde
o dia que nasceu. Muitos Talentos
nem podem ser adquiridos através
de treinamento (Briga e algumas ou-
tras são exceções), apenas através da
experiência direta e da habilidade
natural. Não há penalidades para fa-
zer um teste com um Talento que você não possua, visto que
se trata de Habilidades tão naturais que qualquer um tem ao
menos uma idéia básica de como executá-las.
Prontidão
Essa Habilidade mostra o quão ciente você está dos
seus arredores físicos. Ela não tem nada a ver com sentidos
misteriosos e sobrenaturais; ela é apenas a medida de sua
consciência do que fisicamente está ao seu redor. Prontidão
abrange sons, cheiros e tatos tanto quanto visões.
Uma aparição tem a opção de aguçar seus sentidos
(veja “Sentidos Aguçados”, página 23) à vontade e algumas
vezes isso exige um teste de Percepção + Prontidão para ver
coisas nas Terras da Carne.
• Fraco: Você sabe para que lado olhar quando al-
guém cutuca seu ombro.
• • Médio: Você poderia ver como um mágico encena
seus truques.
• • • Bom: Batedores de carteira sabem que devem evitar
você.
• • • • Excepcional: Ninguém te pega de surpresa há déca-
das.
• • • • • Extraordinário: Você pode ouvir o som de um pino
caindo e saber que tipo de granada vem por aí.
Possuído por: Vigilantes Noturnos, Guardas, Para-
nóicos, Caçadores, Agentes de Serviço Secreto.
Especializações: Vigilância, Armadilhas, Guarda-
Costas, Emboscadas, Multidões, Espectros.
Esportes
Esportes é uma medida geral de técnica e aptidão
física no uso do corpo para outros fins além de combate.
Essa Habilidade mede o quão bem você escala árvores, salta
fendas, caminha em cordas-bamba e arremessa bolas rápi-
das.
Esportes é um Talento complexo, exigindo uma
combinação de Atributos Físicos e perícias motoras. Qual-
quer teste que exija apenas um Atributo, como levantamento
de peso, não envolve Esportes.
• Fraco: Você não era o último garoto a ser escolhido
no parquinho.
• •
tball.
• • •
Médio: Você era o terror do campeonato de sof-
Bom: Você sempre fazia grandes campeonatos.
• • • • Excepcional: Você poderia ter feito parte de um
time olímpico.
• • • • • Extraordinário: Você assinaria um contrato de 15
milhões e os fãs ainda achariam que você vale mais.
Possuído por: Atletas Profissionais, Marombados,
Instrutores de Aeróbica, Dançarinos.
Especializações: Acrobacia, Ginástica, Esportes Es-
pecíficos, Aptidão Geral, Natação.
Consciência
Consciência é o equivalente psíquico de Prontidão.
Com Consciência, você instantaneamente percebe quando
as coisas não são como elas deveriam ser. Isso é útil para
detectar a evidência de Arcanoi ou Espectros, ver se outros
seres sobrenaturais estão próximos e sentir quando alguma
coisa contrária às leis da natureza está perto de ocorrer.
• Fraco: Você pode dizer se uma foto do Pé Grande é
autêntica.
• • Médio: Alguns dizem que você possui uma segun-
da visão.
• • • Bom: Você ganha dinheiro fazendo cânticos na rua.
Capítulo 5: Características 119
• • • • Excepcional: Pouco do que é estranho escapa ao
seu olhar.
• • • • • Extraordinário: Você pode aspirar a brisa e saber
quando o próximo Maelstrom está por vir.
Possuído por: Leitores de Tarô, Investigadores do
Oculto, Parapsicólogos, Psíquicos.
Especializações: Animais, Magia, Criaturas Sobre-
naturais, Casas Assombradas.
Briga
Briga é a gentil arte de acertar alguma coisa e vê-la
cair. Ela serve como um termo geral para qualquer forma
de combate desarmado, de artes marciais a dois bêbados ce-
gos se engalfinhando num mesa de sinuca. Essa Habilidade
abrange tudo desde ganchos a golpes de vista e chutes rodo-
piantes, consideravelmente qualquer manobra de combate
que não exija uma arma. Briga é geralmente menos letal que
combate armado, mas esse Talento pode ser perfeitamente
mortal.
• Fraco: Os garotinhos no parquinho temiam você.
• •
notar.
Médio: Você poderia acertar alguém e essa pessoa
• • • Bom: Quebradores de pernas profissionais deixam
o serviço com você.
• • • • Excepcional: Todos os assaltantes deixam o vagão
do metrô quando você entra nele.
• • • • • Extraordinário: Dois sons - você batendo, eles cain-
do no chão.
Possuído por: Grandalhões que pilotam Harleys,
Soldados, Policiais, Artistas Marciais, Assassinos.
Especializações: Artes Marciais, Boxe, Violência
Gratuita, Luta Livre, Apresamento. • • • • Excepcional: Você atingiu a lista dos mais vendidos.
Esquiva
Esquiva é o Talento que alguns possuem para sair
do caminho. Alguém pode se esquivar de tráfego, balas, so-
cos voadores ou qualquer coisa que se aproxime, mas o prin-
cípio permanece o mesmo. Essa Habilidade cobre a esquiva
de projéteis, armas brancas ou ataques corpo-a-corpo.
• Fraco: Você poderia atravessar a rua sem se tornar
uma vítima de atropelamento.
• • Médio: Quando as balas voam, você sabe onde se
esconder.
• • • Bom: O parquinho do colégio já era sua área de
treinamento.
• • • • Excepcional: Porque comprar um ventilador quan-
do você pode se refrescar com as pessoas se desviando de
você?
• • • • • Extraordinário: Jackie Chan
Possuído por: Covardes, Artistas Marciais, Sobrevi-
ventes, Gatunos, Militares.
Especializações: Feitos Acrobáticos, Mergulho para
Cobertura, Mergulho, Acompanhantes.
Empatia
Esse Talento é relativo a sensação e compreensão do
120 Aparição: O Esquecimento
que os outros estão sentindo. Isso não é o mesmo que dizer
que o uso de Empatia faz você automaticamente simpático
em lidar com os outros, mas você pode conseguir leituras
precisas do que eles estão realmente sentindo. Empatia tam-
bém é útil em conseguir um sentido geral para suas redonde-
zas e seja para as vibrações numa área, sejam elas boas, ruins
ou indiferentes.
• Fraco: Você pode evitar discussões desnecessárias.
• • Médio: Todos choram em seu ombro.
• • •
zem.
Bom: Você sabe porque os outros fazem o que fa-
• • • • Excepcional: É quase impossível uma mentira esca-
par de você.
• • • • • Extraordinário: Seu psicólogo fala a você sobre a
mãe dele.
Possuído por: Pais, Professores, Psiquiatras, Atores,
Vendedores.
Especializações: Motivações Profundas, Verdades,
Personalidades, Emoções.
Expressão
Expressão permite você expor seu ponto de vista de
forma clara, concisa e precisa. É a medida de o quão bem
você fala e escreve, independente do assunto. Personagens
com altos níveis de Expressão podem ser extremamente me-
moráveis pelo que dizem ou escrevem, até mesmo se não
houver nada notável sobre eles.
• Fraco: Você escreveu para o jornal de sua escola
• • Médio: Você era bem sucedido em contestar bilhe-
tes de estacionamento.
• • • Bom: Você publicou algo profissionalmente.
• • • • • Extraordinário: Você está ao lado de Cícero e Da-
niel Webster.
Possuído por: Escritores, Colunistas, Comediantes
de Palco, Apresentadores de Programas de Auditório, Ato-
res, Demagogos.
Especializações: Poesia, Improviso, Discurso, Re-
pente.
Intimidação
Intimidação permite a você gentilmente - ou não
tão gentilmente assim - coagir outros a obedecerem a sua
vontade. Usos de Intimidação abrangem de ameaças sutis a
dar amostras de severas dores físicas, cada uma dessas técni-
cas possui uma hora e um lugar. Aparições com altos níveis
de Intimidação podem amedrontar outros com apenas um
olhar e frequentemente aparentam irradiar autoridade.
• Fraco: Você poderia roubar doces de crianças.
• • Médio: Você nunca perdeu a grana do lanche pros
outros garotos.
• • • Bom: “Lugar legal você tem aqui. Seria uma pena se
alguma coisa acontecesse a ele...”
• • • • Excepcional: Você poderia aterrorizar escritores a
cumprirem seus prazos.
• • • • • Extraordinário: Você assustaria auditores da Recei-
ta Federal.
Possuído por: Bandidos, Mafiosos, Empresários,
Agentes de Receita Federal, Seguranças, Babás.
Especializações: Frio, Dor, Ameaças Veladas, Dano
Massivo à Propriedade.

Manha
Nas ruas, tudo pode ser obtido - informação, dro-
gas, armas, o que quiser. Manha é a arte de saber o que se
quer, quem quer, quem tem e como conseguir tudo isso em
segurança. Com Manha vem o conhecimento dos costumes
e gírias das ruas, bem como o modo apropriado de usar isso.
Aparições sem Manha que tentam entrar em cena nas ruas
são facilmente identificados como elementos estranhos, apa-
rições que possuem Manha automaticamente ganham um ar
de naturalidade.
• Fraco: Pessoas vêem você e não gritam “Policial na
área!”.
• • Médio: Você pode fazer conexões com algumas ho-
ras de esforço.
••• Bom: Você sabe onde os corpos são enterrados.
• • • • Excepcional: Você sabe onde os corpos foram en-
terrados, quem os enterrou e onde eles conseguiram o equi-
pamento.
• • • • • Extraordinário: Você pode conseguir qualquer coi-
sa, a qualquer hora, em qualquer lugar.
Possuído por: Prostitutas, Cafetões, Moradores de
Rua, Romancistas Policiais, Repórteres.
Especializações: Conseguir Informações, Mendi-
gar, Pilhar no Lixo, Negócios, Territórios.

Lábia
Esse Talento permite você dobrar, mutilar ou que-
brar a verdade e se safar. Além disso, você também pode
sentir quando os outros estão fazendo o mesmo ou tentan-
do esconder suas motivações. Na melhor das situações você
poderia examinar uma dissimulação em andamento; na pior
delas você poderia fazer fortuna vendendo carros usados.
• Fraco: Você poderia trapacear na prova da escola e
se dar bem com isso.
• • Médio: Você poderia ter sido um vendedor de por-
ta em porta.
• • • Bom: Você dava seus golpes no regimento do colé-
gio.
• • • • Excepcional: Você prometeu baixar os impostos
e aumentar os investimentos e as pessoas acreditaram em
você.
• • • • • Extraordinário: “Que evidência de DNA?”.
Possuído por: Agentes do FBI, Contadores, Juristas,
Garotinhos, Casanovas.
Especializações: Mentir Descaradamente, Falso
Testemunho, Tramóias Financeiras, Sedução, Mentirinhas.

Talentos Adicionais
Procura, Sovina, Astúcia, Intriga, Instrução.

Capítulo 5: Características 121


Perícias
Perícias são Habilidades que podem ser adquiridas
através de rigoroso treinamento ou aprendizado. Parte intui-
ção, parte informação aprendida, Perícias são partes iguais
de treinamento e talento. Se você tentar fazer um teste de
uma Perícia em que você tenha nível zero, a dificuldade des-
se teste será aumentada em +1, para refletir o fato de você
não ter mais de que uma vaga idéia do que está fazendo.
Ofícios
Ofícios envolve pegar matérias-primas e construir
alguma coisa útil com elas. Ela se refere às técnicas dos mes-
tres artesãos - lapidação, trabalho em vidro, trabalho em
couro, marcenaria etc. O número de sucessos no teste de
Ofícios indica quão bem feito será o objeto em questão.
• Fraco: Você poderia fazer uma casa de passarinho
de palitos de picolé.
• • Médio: Você criou alguma coisa na aula que você
poderia usar.
• • • Bom: Você foi bem na feira local de artesanato.
• • • • Excepcional: Você ensinou turmas avançadas nos
centros de artes.
• • • • • Extraordinário: Colecionadores instantaneamente
reconhecem seu trabalho.
Possuído por: Artesãos, Oleiros, Artífices, Líderes
Escoteiros.
122 Aparição: O Esquecimento
Especializações: Marcenaria, Costura, Fabricação
de Velas, Pedreiro, Ferreiro.
Condução
Presume-se que todos os personagens modernos
tem uma familiaridade básica com a Perícia Condução, per-
mitindo a eles que façam uso de um automóvel com uma
facilidade razoável em situações normais. Ao invés disso,
Condução permite você executar manobras complicadas,
dirigir em alta velocidade em perseguições. Por outro lado,
apenas porque você é familiarizado com um tipo de veículo
não significa dizer que você pode fazer uso de outro; existe
um mundo de diferença entre um compacto e um caminhão.
A dificuldade pode aumentar ou diminuir, dependendo de
quão familiar é o veículo que você está dirigindo.
Aparições mais velhas podem se considerar ter
uma familiaridade com carruagens ou cavalgar do mesmo
modo que os personagens modernos tem com automóveis.
• Fraco: Você poderia encarar longas viagens pelas
estradas.
• • Médio: Você consegue passar a terceira.
• • • Bom: Você sobreviveu dirigindo no Rio de Janeiro
no verão.
• • • • Excepcional: Você poderia ser um piloto de corri-
das profissionais.
• • • • • Extraordinário: Hora do rush em Nova Iorque?
Você pode dirigir até de ré.
 Possuído por: Taxistas, Pilotos de Corrida, Adoles-
centes, Chofers, Caixeiros Viajantes.
Especializações: Trânsito Urbano, Estrada de Barro,
Dirigir Ousadamente, Clima Ruim, Gelo.
Etiqueta
Etiqueta é a medida de sua compreensão das nuan-
ces e contrapesos de polidez da sociedade numa miríade de
circunstâncias sociais. Tal Perícia é útil durante engajamen-
tos diplomáticos, reuniões e encontros com a alta sociedade.
• Fraco: Você sabe quando manter a boca fechada.
• • Médio: Você sabe a diferença entre formal e black
tie.
• • • Bom: Você sabe qual talher usar para cada ocasião.
• • • • Excepcional: Você consegue lidar - ou ao menos
não ofender - ninguém.
• • • • • Extraordinário: Você poderia fazer a cerimônia
para aquele tal de Prêmio Nobel da Paz.
Possuído por: Diplomatas, Nobreza Hereditária,
Mediadores, Psiquiatras.
Especializações: Formalidade, Correspondência,
Negociação, Acordo, Sarais.
Armas
deEssaFogoPerícia abrange tanto sua capacidade em ati-
rar, como sua técnica de manutenção e conserto de armas
de fogo. Peças de artilharia, morteiros e daí em diante não
são cobertos por esta Perícia, tão pouco armas arcaicas como
arcos e badoques.
• Fraco: Você acertaria a porta de um celeiro com
uma escopeta.
• • Médio: Você não se complica com a mira do rifle.
• • • Bom: Você pode atingir um alvo em movimento.
• • • • Excepcional: Atirador de elite poderia ter sido uma
escolha de carreira para você.
• • • • • Extraordinário: “Pow! Eu estava mirando em seu
canto esquerdo do nariz.
Possuído por: Atiradores de Elite, Soldados, Ma-
fiosos, Caçadores, Bandidinhos, Funcionários dos Correios
Perturbados.
Especializações: Mira, Tiroteio, Pistolas, Rifles, Ar-
mas Automáticas.
Liderança
Liderança é mais que ladrar ordens. É a medida de
quão bem você consegue fazer os outros acatarem suas de-
cisões, quer elas sejam despachos, ordens ou pedidos edu-
cados. Também cobre o quanto as pessoas estão propensas
a aceitar suas ordens, pois seguidores relutantes são muito
menos úteis que os que o adoram. Liderança é mais usada
em conjunto com Carisma ou Manipulação.
• Fraco: Você decide onde o seu carona vai almoçar.
• • Médio: Quando você grita, as pessoas escutam.
• • • Bom: As pessoas rotineiramente vão até você em
busca de ordens.
• • • • Excepcional: Os outros o seguirão até a boca da
morte - e pior - sem questionar.
• • • • • Extraordinário: Você tinha traços de um outro Ale-
xandre o Grande.
Possuído por: Militares, Líderes de Gangues, Edu-
cadores, Chefes de Polícia.
Especializações: Liderança de Campo, Planejamen-
to a Longo Prazo, Militarismo, Nobreza, Comandos.
Meditação
Numa existência onde a voz de sua Sombra é uma
ameaça constante, Meditação, a Habilidade de se concentrar
e centrar seus pensamentos, pode ser uma perícia essencial.
Para meditar, não é necessário estar na posição de lótus. Essa
é uma Perícia bem pessoal e onde cada um desenvolve sua
própria técnica.
Meditação pode ser usada para recuperar tempo
perdido sem a Modorra. Para fazer isso, uma aparição testa
Vigor + Meditação (dificuldade 8). O número de sucessos
determina a quantidade de horas efetivas de Modorra ga-
nhas por hora de meditação.
• Fraco: Você poderia bloquear o som do estéreo de
seu vizinho.
• •
• • •
Médio: Você pode alcançar um repouso pacífico.
Bom: Você pode relaxar em qualquer posição.
• • • • Excepcional: Sua concentração é quase impossível
de quebrar.
• • • • • Extraordinário: Você é glacial em sua calma, total-
mente centrado e imperturbável.
Possuído por: Mestres Zen, Monges Budistas, Atle-
tas, Gurus da Nova Era.
Especializações: Biorretroalimentação, Relaxamen-
to, Zen, Centralizar-se.
Armas
Brancas
Armas Brancas é um termo geral para todos os ti-
pos de combate que envolvam armas de mão. A definição
de armas de mão é ampla, incluindo facas, espadas, garrafas
quebradas, correntes, porretes bem como qualquer coisa que
possa ser usada para infligir dano em outra aparição. Com a
Perícia Armas Brancas vem o conhecimento adequado para
cuidar da sua arma escolhida.
• Fraco: Você passou por algumas lutas sem entrar
num Pesadelo.
• • Médio: Você possui um treinamento básico militar.
• • • Bom: Qualquer objeto torna-se uma arma em suas
mãos.
• • • • Excepcional: Mestre esgrimistas em Heidelberg te-
mem você.
• • • • • Extraordinário: Sementes de laranja e aviões de pa-
pel são mortais em seu poder.
Possuído por: Esgrimistas, Bandidos, Artistas Mar-
ciais, Policiais, Soldados.
Especializações: Esgrima, Armas Pesadas, Objetos
Contundentes, Estilos de Artes Marciais, Armas Improvisa-
das.
Capítulo 5: Características 123

Performance
Diferente de Expressão que envolve mais palavras
escritas ou faladas, Performance abrange uma inteira gama
de expressão artística ao vivo. Canto, atuação, Dança, tocar
instrumentos musicais e similares são todas perícias cober-
tas nesse campo. Somando à atual habilidade performática,
esta Perícia também mede o quanto você conhece a socie-
dade relacionada à sua forma de arte e como se adaptar a
ela. Níveis avançados de Performance normalmente exigem
algum tipo de especialização.
• Fraco: Você não foi expulso durante o karaoquê da
empresa.
• •
• • •
Médio: Você participou de peças amadoras.
Bom: Você poderia interpretar papeis em filmes.
• • • • Excepcional: Suas mãos estão na calçada da fama
em frente ao Mann’s Chinese Theater.
• • • • • Extraordinário: Você foi um artista lendário da sua
época.
Possuído por: Atores, Músicos, Mímicos, Cantores,
Dançarinos, Coreográfos.
Especializações: Voz, Instrumental, Atuação, Dan-
ça.
Reparos
Consertar qualquer coisa mecânica, eletrônica ou
concreta que esteja quebrada está sob domínio da Perícia Re-
paros. Essa Perícia cobre tudo desde eletrônica avançada até
desafogar um carro - assumindo, é claro, que você tenha as
ferramentas com as quais fazê-lo. Entre os Inquietos, essa Pe-
rícia permite você encontrar seu caminho através dos siste-
mas quando você Gremlinizar ou entender onde é o melhor
lugar para arruinar um dispositivo com Insulto.
• Fraco: Você acerta o item com um martelo e espera
que o tenha consertado.
• • Médio: Você pode instalar a rede elétrica de uma
casa ou roubar o sinal de TV a cabo.
• • • Boa: Não, não precisa chamar mecânicos.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer um pé de meia vi-
vendo como um faz-tudo profissional.
• • • • • Extraordinário: Tudo o que não esteja quebrado até
virar moléculas, você pode consertar.
Possuído por: Mecânicos, Carpinteiros, Titereiros
de Fim de Semana, Encanadores, Remendeiros, Técnicos.
Especializações: Madeira, Eletricidade, Utensílios,
Automotivo, Computadores.
Furtividade
Furtividade é a Perícia que abrange tanto mover-se
silenciosamente como ocultar-se sem ser notado. Normal-
mente os testes de Furtividade são feitos contra a Percepção
do outro personagem.
• Fraco: Você era mestre em “esconde-esconde”.
• • Médio: Você se mistura com as sombras.
• • •
queira.
Bom: Você não é percebido a menos que você o
124 Aparição: O Esquecimento
• • • • Excepcional: Você pode se mover através das árvo-
res e não mover uma só folha seca.
• • • • • Extraordinário: Mestre ninja, aquele que se move
como um fantasma...
Possuído por: Ninjas, Espiões, Sabotadores, Lará-
pios, Ceifadores,
Especializações: Espreitar, Camuflagem, Sombras,
Aproximações Silenciosas.
Outras Perícias
Forja das Almas, Cozinhar, Remo, Arqueirismo,
Disfarce, Outras Armas (Pesadas, Antigas, Medievais).
Conhecimentos
Conhecimentos são aquelas Habilidades que de-
pendem de rigorosa aplicação da mente. Pode haver um ele-
mento físico para seu uso, mas o componente chave é infor-
mação adquirida, acessada e usada. Conhecimentos podem
ser aprendidos dentro ou fora da sala de aula, mas o estudo é
necessário. Aprender por alguém é o melhor método para se
adquirir um Conhecimento, mas há várias aparições autodi-
datas.
Sem um Conhecimento em um campo específico,
você nem mesmo pode tentar fazer um teste relativo àquele
Conhecimento. As únicas excessões são quando o teste em
questão se refere a um conhecimento trivial que qualquer
aparição pode saber ou no caso de circunstâncias especiais.
Burocracia
Burocracia, o mesmo que O Sistema, é teoricamen-
te uma organização para se conseguir as coisas de um modo
mais eficiente. Com o conhecimento apropriado de como o
Sistema funciona e como utilizá-lo para alcançar seus fins,
você pode conseguir permissão para fazer o que quiser e pre-
venir os outros de fazer o mesmo. Burocracia é também é a
medida de suas perícias organizacionais e aptidões para as
coisas serem feitas e sua eficiência em manipular o Sistema
tanto vale no Mundo Inferior como nas Terras da Carne.
• Fraco: Você poderia arquivar uma declaração de
renda.
• • Médio: Você poderia arquivar uma declaração de
renda e esperar restituição.
• • • Bom: Você poderia esquivar-se de um debate - ou
de um cidadão furioso - indefinidamente.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer todos os braços do
governo funcionarem de modo mais eficiente.
• • • • • Extraordinário: O Sistema é seu brinquedo e você
pode conseguir o que quisesse dele com um simples telefo-
nema.
Possuído por: Burocratas, Contadores, Assistentes
Pessoais, Anacreontetes.
Especializações: Regulações Governamentais, Ta-
xas, Requisições, Contabilidade.
Computação
Essa é a medida geral da aptidão de uma aparição
com computadores e todas as coisas relacionadas com eles.
Isso leva em conta as perícias necessárias tanto para progra-
mar um novo programa (ou criar um novo dispositivo) como
a destreza mental exigida para usar os programas e equipa-
mentos existentes. Existe mais usos para esse Conhecimento
que apenas hackear sistemas. No mundo onde a operação de
um editor de texto básico ainda é um mistério para muitos
adultos, até mesmo um conhecimento módico do uso de um
computador pode ser uma coisa muito poderosa.
Aparições com o conhecimento de computadores
acham a rede eletrônica o caminho mais fácil para acessar as
Terras da Carne. Manobrar através dos sistemas, reunir (ou
apagar) dados, imprimir mensagens para os vivos ou mani-
pular computadores para seus próprios fins através dos altos
níveis de Habitar são os quais esse Conhecimento é útil para
os Inquietos.
• Fraco: Você não destrói seu HD deixando um ímã
colado nele.
• • Médio: Você poderia usar um computador sem
chamar a assistência técnica imediatamente.
• • • Bom: Você poderia codificar seu próprio programa.
• • • • Excepcional: Seu nome é uma lenda dentro da In-
ternet.
• • • • • Extraordinário: A Rede foi seu parque de diversão e
seus sonhos foram todos em C++.
Possuído por: Hackers, Engenheiros, Programa-
dores, Professores de Ciência da Computação, Estudantes,
Viciados em Computadores.
Especializações: Dispositivos, Programas, A Rede,
Navegação, Compilação

Enigmas
O Conhecimento Enigmas tem relação com sua ha-
bilidade de resolver mistérios e quebra-cabeças. Em essên-
cia, ele é a medido de suas técnicas de resolver problemas e
de como você combina detalhes vitais numa solução coeren-
te. Enigmas pode ser útil resolvendo labirintos, respondendo
charadas e coisas do tipo.
• Fraco: Você poderia resolver um Quebra-Cabeças.
• • Médio: Você adivinhou o segredo de “Traídos pelo
Desejo”.
• • • Bom: Você faz cruzadinhas com caneta.
• • • • Excepcional: Você sabe o que acontece se uma ár-
vore cair na floresta e ninguém ouvir.
• • • • • Extraordinário: Os 8 Paradoxos de Zeno foram um
aquecimento.
Possuído por: Mestres Zen, Mágicos estagiários,
Lógicos, Místicos, Jogadores
Especializações: Koans (Enigmas sem solução),
Enigmas Ancestrais, Charadas Visuais, Jogos de Palavras.

Investigação
Investigação permite você acessar conhecimento
básico de criminologia para localizar evidências e executar
análises forenses. Nos níveis apropriados, você pode con-
duzir adequadamente uma investigação criminal, deduzir

Capítulo 5: Características 125

 o modus operandi e reconstruir a cena do crime. Somado
a alguns Arcanoi, esse conhecimento pode ser inestimável
para aparições que estejam procurando ou resgatando seus
Grilhões.
• Fraco: Você viu alguns filmes Investigativos.
• • Médio: Você possui o conhecimento de um oficial
de polícia.
• • • Bom: Você poderia trabalhar para uma empresa de
seguros.
• • • • Excepcional: Uma posição na agência internacional
de espionagem é sua.
• • • • • Extraordinário: Elementar, meu caro Watson.
Possuído por: Detetives Particulares, Detetives Po-
liciais, Investigadores de Pedidos de Seguros, Agentes de In-
teligência, Doutores Forenses
Especializações: Buscas Rápidas, Resíduos, Traba-
lho de Detetive, Investigação Dedutiva

Direito
Direito é a medida do seu entendimento sobre o
sistema legal no qual você está envolvido. Um conhecimento
sobre Direito permitirá você manipular o sistema legal para
seus próprios fins, confundindo seus inimigos e ajudando
seus amigos.
• Fraco: Você conhecia o absolutamente básico.
• • Médio: Defensor público a nível colegial.
• • • Bom: Você poderia ter sido um juiz.
• • • • Excepcional: Você sabe um meio legal de ganhar
milhões.
• • • • • Extraordinário: Você tem os traços de um Juiz do
Supremo Tribunal de Justiça - ou de um Senhor da Morte.
Possuído por: Estudantes de Direito, Juízes, Buro-
cratas, Contadores, Procuradores Federais.
Especializações: Criminal, Civil, Tributário, Direi-
tos Autorais, Litígio

Linguística
Mais que um registro de quantas línguas você fala
do que de quão bem você entende a teoria das linguagens,
Linguística é a medida de quantas línguas você é fluente
além de sua língua nativa. Linguística também permite você
identificar sotaques, ler lábios, entender gírias e até mesmo
uma certa capacidade de mimetismo linguístico.
• Fraco: Um idioma adicional.
• • Médio: Dois idiomas adicionais.
• • • Bom: Três idiomas adicionais
• • • • Excepcional: Quatro idiomas adicionais.
• • • • • Extraordinário: Cinco idiomas adicionais.
Possuído por: Intérpretes, Estudantes da Gradua-
ção, Professores de Línguas Estrangeiras, Viajantes
Especializações: Palavrões, Linguagem Diplomáti-
ca, Linguajar Técnico, Romance, Tradução, Línguas “Mor-
tas”.

Medicina
Esse Conhecimento detalha o quão bem você co-

126 Aparição: O Esquecimento

nhece o funcionamento do corpo humano e como repará-lo
em caso de ferimento. É claro, isso também se aplica no que
diz respeito a ferí-lo.
Embora Medicina possa parecer um Conhecimen-
to inútil para os Mortos Sem Descanso, existem muitas apli-
cações úteis para ele, tanto benéficas como maliciosas. Co-
nhecimento nesse campo, combinado com Visão da Morte,
pode ajudar a determinar que passos tomar para proteger
um Grilhão vivo, embora uma apreciação fisiológica combi-
nada com Insulto possa produzir alguns efeitos devastado-
res.
• Fraco: Você passou no teste de primeiros socorros
da Cruz Vermelha.
• • Médio: Você poderia ter sido um paramédico.
• • • Bom: Você é capacitado o suficiente para ser um
Clínico Geral.
• • • • Excepcional: Outros médicos buscam sua consulta.
• • • • • Extraordinário: Corações artificiais e órgãos trans-
plantados são brincadeira de criança.
Possuído por: Médicos, Enfermeiros Registrados,
Peritos Médicos
Especializações: Farmácia, Cirurgia, Clínica Geral,
Emergência, Campos Especializados (Pediatria, Neurologia
etc).
Ocultismo
Existem muitos segredos sobrenaturais no Mundo
das Trevas e com o Conhecimento Ocultismo alguns deles
são seus. Ocultismo implica num conhecimento geral sobre
coisas como vodú, maldições, adivinhação, bem como in-
formações mais específicas sobre os seres sobrenaturais que
habitam o mundo.
• Fraco: Você pode pronunciar “Tarô” adequada-
mente.
• • Médio: Você leu Gardner, Cunningham e Crowley.
• • • Bom: Você sabe sobre algo mais que fantasmas.
• • • • Excepcional: O Mundo das Trevas é um livro aber-
to para você.
• • • • • Extraordinário: Nostradamus e Albertus Magnus
poderiam copiar suas anotações.
Possuído por: Nova Era, Místicos, Donos de Lojas
de Ocultismo, Magos.
Especializações: Cabalah, Magia Hermética, Espíri-
tos, Canalização, Aparições.
Política
Esse Conhecimento abrange a teoria e a prática da
política. Níveis nessa Característica, podem indicar a você
quem é quem no topo do sistema local e como ele chegou lá.
Política abrange tanto as estruturas políticas humanas como
as dos Inquietos, podendo ser essencial para lidar tanto com
autoridades vivas como mortas.
• Fraco: Você foi presidente de sala.
• • Médio: Você trabalhou numa campanha eleitoral.
• • • Bom: Você ocupou um cargo local.
• • • • Excepcional: Um político de carreira, você foi sufi-
cientemente notável para aparecer nas caricaturas políticas.
• • • • • Extraordinário: O destino das nações repousou em
suas mãos.
Possuído por: Diplomatas, Políticos de Carreira,
Conselheiros, Comentarista Político, Lobistas
Especializações: Política Real, Construção de
Alianças, Fincar Raízes, Nacional, Internacional.
Ciência
Essa Habilidade não apenas mede seu conhecimen-
to teórico mas também seu uso prático. Dá igual peso de
conhecimento em diferenciar átomos de elétrons e o torna
apto a criar um Coquetel Molotov de componentes químicos
roubados das latrinas de um banheiro. Níveis mais baixos
de Ciências indicam uma familiaridade geral com a ciência
moderna, enquanto níveis mais altos normalmente envol-
vem algum tipo de especialização.
• Fraco: Você assistia Discovery regularmente.
• • Médio: Você poderia fazer explosivos a partir de
produtos químicos domésticos.
• • • Bom: Você poderia ensinar num colégio à título de
honra.
• • • • Excepcional: Sua pesquisa ganhou dinheiro sem
você precisar suar.
• • • • • Extraordinário: Feynman, Einstein, Galileu - e
você.
Possuído por: Cientistas, Cientistas Loucos, Estu-
dantes Graduados, Cientistas Populares.
Especializações: Biologia, Química, Física, Geolo-
gia, Aplicações Práticas, Teoria.
Conhecimentos
Adicionais
Psicologia, Finanças, Arte, Filosofia, Teatro, His-
tória, Ciência Militar, Genealogia, Geografia, Teologia, Co-
nhecimentos de uma área específica ou trivial.
Antecedentes
...e enquanto passávamos por algumas mansões em
ruínas ou mosteiros sob a luz do luar, nós sabíamos que dentro
das paredes decadentes ainda haviam à espreita espíritos som-
brios do passado distante...
- Simon Marsden, The Journal of a Ghosthunter
Antecedentes são Características que estão ligadas
além das capacidades diretas físicas e sobrenaturais de uma
aparição. Elas ajudam a definir o histórico e o contexto da
personagem, devendo ser escolhidas para aprimorar e con-
solidar o conceito de sua aparição. Antecedentes também
podem completar um ao outro, assim como o conjunto de
Antecedentes escolhidos revelam muito sobre a personagem.
Personagens com vários Aliados mas com poucos Contatos
são completamente diferentes de personagens com poucos
Aliados e muitos Contatos, apesar de conhecerem o mesmo
número de aparições. O primeiro tem um grande número de
aparições em quem pode confiar em uma dificuldade, mas
poucas informações; o último tem aparições que vão con-
versar com ele, mas que não o ajudarão em momentos de
Capítulo 5: Características 127
necessidade. Normalmente, Antecedentes de uma persona-
gem, particularmente aqueles como Memoriam ou Status,
ajudam a definir os limites de uma personagem do Narrador
(ou jogador recentemente conhecido) pode saber sobre uma
aparição num primeiro encontro. Com isso em mente, é vital
escolher Antecedentes que trabalhem bem com o conceito
da personagem.
O Narrador deve ter controle sobre os Anteceden-
tes que você pode escolher. Por exemplo, numa crônica que
começa com a morte da sua personagem (e seu subsequente
renascimento nas Terras das Sombras), poderia ser impró-
prio possuir certos Antecedentes - como Mentor ou Status,
por exemplo. Outros conceitos para crônicas, tais como
numa história onde as aparições são agentes da Hierarquia,
poderia exigir que cada um dos personagens possuíssem
pelo menos dois pontos nesses mesmos Antecedentes. An-
tecedentes são um bom meio para os Narradores assegurar
que os personagens criados pelos jogadores se adaptem per-
feitamente a crônica e funcionem adequadamente.
Em certos testes, um Antecedente pode ser combi-
nado com um Atributo apropriado. Por exemplo, seu Nar-
rador pode pedir por um teste de Carisma + Aliados para
determinar quantos de seus Aliados aderem a sua causa atual
ou um teste de Manipulação + Status para decidir se você
pode ameaçar um Centurião apenas com seu posto.
Aliados
A vida entre os mortos é, necessariamente, desa-
nimadora. Seria ainda mais desanimadora se não fosse pela
tendência das aparições em se associar entre si e buscarem
companhia e consolo em seus colegas Inquietos. Criaturas
de paixão, aparições são propensas a criar e quebrar fortes
e intensas amizades entre si nas Terras das Sombras. Tais
uniões são representadas pelo Antecedente Aliados. Aliados
não necessariamente são amigos íntimos (e podem não in-
cluir os membros do Círculo da aparição), mas podem ao in-
vés disso representar camaradas de briga, pessoas de mesma
ideologia, colegas pranteadores ou qualquer outra aparição
(ou outro habitante do mundo da aparição) que tenha uma
razão para sentir afinidade com o personagem.
Aliados normalmente socorrem uma aparição em
apuros apesar de, como qualquer amigo, eles podem se can-
sar de tanta demanda de seu tempo e recursos. Aliados de-
vem ser mantidos e uma aparição que pede mas não dá nada
em troca pode ver seus Aliados partindo. Gastar pontos na
compra de um Aliado não garante serviços de um indiví-
duo infinitamente tolerante e generoso. Além disso, muitos
Aliados possuem suas próprias necessidades e uma aparição
pode ser chamada para ajudar seu amigo quando ele preci-
sar.
O Narrador e o jogador devem cooperar para de-
talhar o Aliado e muitas histórias podem se desenrolar do
relacionamento entre uma aparição e seus Aliados.
X Um personagem sem Aliados é incomum e você
deveria decidir o que em você afasta os outros.
• Um único Aliado, provavelmente muito estimado
128 Aparição: O Esquecimento
por ser único.
• • Dois Aliados, eles têm ciúmes um do outro?
• • • Três Aliados, um pode ser especial de algum modo.
• • • • Quatro Aliados, seus Aliados se conhecem entre si?
• • • • • Cinco Aliados, porque você é tão popular?
Artefato
Normalmente abastecidos por Pathos, Artefatos
possuem certas funções ou poderes para ajudar as aparições
(muitas, normalmente servas da Hierarquia) que os portam.
Artefatos são altamente valiosos e cobiçados por autoridades
aduaneiras. Qualquer aparição que escolha o Antecedente
Artefato precisa criar (lado a lado com o Narrador) uma his-
tória plausível de como obteve o Artefato e porque ainda está
com ele.
Personagens que escolhem esse Antecedente po-
dem comprá-lo mais de uma vez para representar vários Ar-
tefatos de nível apropriado. No entanto, vários pontos gastos
em um único Artefato podem ao invés disso garantir ao per-
sonagem um item mais valioso e poderoso.
X Como a maioria das aparições, o personagem não
possui Artefatos. Ele é desapegado a bens materiais, azarado
ou meramente pobre?
• Um Artefato aparentemente insignificante.
• • Um Artefato menor, como uma tocha Modelada.
• • • Um Artefato com alguma utilidade, como uma es-
pada de aço estígio.
• • • • Um Artefato único e maior, que a Hierarquia ama-
ria pôr as mãos (exemplo, uma arma de fogo que não neces-
sita de balas relíquias)
• • • • • O mais útil e poderoso dos objetos, a inveja de to-
das as outras aparições.
Contatos
Diferente de Aliados, Contatos são pessoas (ou apa-
rições) cujo o personagem se encontra e que estão dispostos
a trabalhar para ele. Eles são indivíduos que estão prepara-
dos para fazer um serviço para o personagem ou suprí-lo
com informação ou ajuda, mas geralmente por um preço. O
preço pode ser tão simples como uma promessa de um favor
futuro ou tão complicado como uma manobra política ou
ainda uma base para um débito financeiro, mas geralmente
se equipara ao valor do serviço retribuído.
O nível de Contatos de uma aparição representa
duas coisas: Contatos principais e secundários. Contatos
principais são indivíduos, detalhados pelo Narrador e/ou jo-
gador, com acesso aos serviços e informações que o jogador
deseja. Estes podem ser aparições nas Terras das Sombras,
Espectros na Tempestade ou pessoas vivas da época do per-
sonagem entre os Breves, mas todos o reconhecerão e estarão
dispostos a fazer algum tipo de acordo. Existem também os
Contatos secundários, que tão são especializados em algum
campo de influência assim como os Contatos principais. Es-
ses indivíduos podem se revelar úteis a uma aparição se um
teste de Contatos (dificuldade 7) for feito, mas os Contatos
secundários são geralmente menos informados, menos solí-
citos e menos amigáveis que os principais.
X Sem Contatos úteis. No entanto, talvez você seja o
Contato de alguma outra aparição (não de um jogador)
• Um Contato maior e alguns outros. Você provavel-
mente tem um acordo especial com esse Contato.
• • Dois Contatos principais em diferentes áreas e di-
versos Contatos secundários associados a eles.
• • • Três Contatos principais e um punhado de secun-
dários.
• • • • Quatro Contatos principais, todos em áreas distin-
tas, contudo você pode dobrá-lo e cobrir um campo particu-
lar completamente
• • • • • Cinco Contatos principais e um Contato secundá-
rio associado a quase toda esquina.
Eidolon
Eidolon é a medida de fortitude espiritual. É uma
indicação de um potencial especial numa aparição para re-
sistir às tentações, ataques e insultos da Sombra. Embora isso
não seja uma sugestão que uma aparição seja diretamente
boa ou até mesmo moral, ele revela uma salutar resistência
metafísica às manipulações da Sombra. Eidolon está ligado a
Psique da aparição, e alguns Eidolons são tão fortes que oca-
sionalmente se manifestam como uma entidade separada,
como a Sombra o faz. Muitos, no entanto, estão firmemente
integrados a Psique da aparição. Uma aparição com um alto
nível de Eidolon não necessariamente possui uma idéia das
ações de sua Sombra (apesar de poderem), mas ao invés dis-
so detêm uma habilidade especial em desfazer as tentativas
da Sombra em arrastá-lo para o Esquecimento.
Cada ponto em Eidolon representa um dado extra
por sessão que um jogador pode adicionar a qualquer teste
de resistência contra alguma intenção, plano ou manobra de
sua Sombra (incluindo os Espinhos da Sombra). Um jogador
pode usar um, alguns ou todos os dados de seu Eidolon em
qualquer teste mas não mais que seu nível total a cada sessão.
Eidolon pode ser usado também durante um Pesadelo para
exercer algum controle sob o curso dos eventos.
X Como a maioria dos infelizes, você é uma tela no
qual sua Sombra pinta.
• Você algumas vezes tem um pressentimento sobre
sua Sombra.
• • Existem dias que você está firmemente sob contro-
le.
• • • Espiritualmente resistente, sua Sombra precisa tra-
balhar duro para influencia-lo.
• • • • Você vê através de todas as manobras de sua Som-
bra.
• • • • • Sua Sombra precisa escolher cuidadosamente o
momento ou desperdiçará todos os seus esforços.
Local
Assombrado
Não é por acaso que as histórias de fantasmas fazem
referência a tendência dos espíritos a habitarem certas cons-
truções, cruzamentos ou outras locações. Aparições são nor-
malmente ligadas a um ponto nas Terras das Sombras que
Capítulo 5: Características 129
correspondem a um lugar de especial importância para eles
nas Terras da Carne. Nesses logradores a Mortalha é mais
fraca e a aparição pode estabelecer um Local Assombrado,
que serve como um lar, um santuário e um refúgio. Den-
tro do seu Local Assombrado, uma aparição pode usar seus
Arcanoi mais facilmente, mais confortavelmente, e enfrentar
sua Sombra com mais privacidade.
Algumas vezes Locais Assombrados são comparti-
lhados por várias aparições, mas esses grupos são invariavel-
mente pequenos e a confiança necessária para compartilhar
um local tão pessoal é dificilmente encontrada nas Terras
das Sombras. Locais Assombrados normalmente são ligados
a um local físico específico e seu correspondente nas Terras
da Carne é inevitavelmente abandonado e deteriorado. Um
Local Assombrado, se pertencente a uma única aparição,
normalmente é conectado a uma Paixão ou um Grilhão em
particular; assim, um Local Assombrado que também é ao
mesmo tempo um Grilhão tanto é raro como potente.
A Mortalha é reduzida pelo nível do Local Assom-
brado dentro dele e muitos também fornecem Memoriam,
que está disponível para qualquer aparição que passar tempo
lá dentro.
A critério do Narrador, personagens podem com-
binar seus pontos de Antecedentes para adquirir um Local
Assombrado compartilhado. Os detalhes de tal lugar são dei-
xados a cargo do Narrador. Outras aparições podem desejar
ter tanto um Local Assombrado comum quanto um privado.
Nesse caso, o Antecedente precisa ser comprado duas vezes,
uma para cada tipo de Local Assombrado.
X Você não tem um Local Assombrado e provavel-
mente repousa em Modorra nas ruas. Você é nômade por
escolha ou circunstância?
• Um pequeno domicílio, talvez um armário ou uma
cabine telefônica.
• • Um Local Assombrado grande o suficiente para
você viver dentro, mas nada muito luxuoso.
• • • Um amplo Local Assombrado que pode acomodar
vários visitantes confortavelmente.
• • • • Um opulento Local Assombrado, amplas acomoda-
ções para até quatro aparições. Ou um Local Assombrado
especial, como um tipo móvel ou muito bem protegido.
• • • • • Um Local Assombrado majestoso em bom estado,
talvez uma mansão assombrada sob a colina. Sem dúvida seu
Local Assombrado é invejado por muitas aparições podero-
sas não abençoadas com tal residência.

Legado
Pode ser do desejo de cada ser vivo ser lembrado,
mas as memórias humanas são como essência vital para as
aparições. Alguns indivíduos são lembrados por poucos, al-
guns por muitos (isso é coberto pelo Antecedente Memo-
riam), mas existem casos em que os trabalhos da aparição
são lembrados muito depois de seu nome ter sido esquecido.
O Antecedente Legado abrange esse tipo de memória, repre-
sentando as criações da aparição que têm perdurado mesmo
após sua morte. Um Legado pode representar uma variedade

130 Aparição: O Esquecimento

de coisas, de objetos - construções, estátuas, milhares de ár-
vores plantadas - ou coisas menos tangíveis tais como uma
coleção de arte, uma teoria política ou uma palavra que tor-
nou-se de uso comum.
Uma vez por história, uma aparição pode tentar ob-
ter concentração e conforto de seu Legado. Para fazer isso, a
aparição precisa viajar até o local do Legado (ou algum lugar
importante associado com Legados intangíveis) e testar um
número de dados equivalente ao número do Antecedente
(dificuldade 7). O número de sucessos representa o número
de níveis de dano que a aparição pode curar. Dano normal é
regenerado instantaneamente e o dano agravado leva apro-
ximadamente uma hora por nível de Corpus curado através
do Legado. Isso representa o processo de confirmação e afir-
mação para uma aparição, a manifestação física na qual o
Corpus é curado.
X Nenhum traço resta que um dia você sequer viveu.
• Uma pintura das suas em algum lugar de uma gale-
ria obscura.
• • Você fundou um campus colegial.
• • • Você replantou uma floresta devastada onde as pes-
soas passam diariamente.
• • • • Você projetou a Torre Eiffel ou a Estátua da Liber-
dade.
• • • • • Uma importante idéia na vida moderna é atribuída
a sua pessoa. Talvez você tenha fundado uma religião ou um
movimento político.
Mentor
O relacionamento entre um personagem e seu
Mentor é diferente do relacionamento entre ele e um Aliado
ou Contato. Um Mentor algumas vezes é um patrono, outras
um professor, algumas vezes um protetor e algumas outras
tudo isso. Embora um Mentor nem sempre responda aos
pedidos de ajuda de uma aparição, ele sempre age no que
acredita ser o melhor para os interesses da aparição (ape-
sar da aparição poder ver as coisas de uma forma diferen-
te). Um relacionamento de uma aparição com seu Mentor é
complexo e pessoal, assim pode ser alvo de uma detalhada
interpretação. Tal relacionamento normalmente não é nem
ao menos casual, vinculando responsabilidades de ambos os
lados.
Alguns Mentores ensinam Arcanoi para as apari-
ções sob sua tutela, mas o Mentor sempre escolhe o que é
ensinado ou não. Um Mentor pode fazer mais que ensinar
Arcanoi; talvez servindo como um advogado para o perso-
nagem em Estigia, talvez ensinando novas Habilidades ou
ainda livrando a aparição de problemas.
X Talvez você tenha problemas com autoridade ou
busque um mestre merecedor de sua atenção.
• Um Mentor um pouco mais velho que você mesmo,
mas com algumas conexões.
• • Um Mentor com alguma importância, mas pouco
poder.
• • • Um antigo e sábio Mentor, com um módico prestí-
gio.
• • • • Um Mentor politicamente poderoso que pode pu-
xar algumas cordas.
• • • • • Um Mentor quase onisciente, talvez um Barqueiro
ou um Hierarca de alto posto.
Memoriam
A essência dos mortos é complicada de ser defini-
da, mas o Pathos se condensa diretamente da emoção e é
essa emoção que os vivos sentem pelos mortos que é expres-
sada pelas recordações. Afinal, memória é o método no qual
os vivos interagem com os mortos. As pessoas possuem a
tendência de lembrar daqueles que se foram de formas es-
tranhas ou projetando pensamentos e sentimentos naqueles
que não estão mais lá para representarem a si mesmos.
Algumas aparições encontram conforto no fato de
serem lembrados por muitas pessoas (apesar de não neces-
sariamente se afeiçoarem a isso). Outras são lembradas por
poucos ou até mesmo ninguém. Há um debate entre os mor-
tos que é melhor uma única pessoa ter boas lembranças suas
que uma nação inteira lembrar de sua vida com ódio, inveja
ou ressentimento. No entanto, Memoriam não jaz julgamen-
tos.
Memoriam permite à aparição ter acesso a Pathos
extra. Invocando os sentimentos que os vivos têm por você,
uma vez por sessão uma aparição pode testar seu nível de
Memoriam (dificuldade 8), cada sucesso fornece um pon-
to de Pathos. Se acontecer uma falha crítica, um ponto de
Memoriam é perdido permanentemente, dado o inevitável
processo de obliteração e mitificação que obscurece as me-
mórias de uma aparição.
X Você viveu e morreu sozinho. Poucos, se alguém,
lembram seu nome. Por outro lado, você viveu há tanto tem-
po atrás que todas as suas recordações desapareceram.
• Uma pessoa lembra de você. Talvez isso seja sufi-
ciente.
• • Um punhado de pessoas lembram de você dada
uma oportunidade.
• • • Sua família e alguns outros lembram de você e de
algumas coisas que fizeram juntos.
• • • • A comunidade, organização ou companhia tem
você na galeria de honra - ou amaldiçoa seu nome.
• • • • • Você tem o status de lenda para uma nação inteira
(ou mais). Esse nível de reconhecimento é bem mais fácil de
ser alcançado num lado negativo que num positivo.
Notoriedade
Fama é um problema para muitos dos vivos do
mundo ocidental. Aqueles que não perseguem ativamente
ou tentam preservá-la são constantemente bombardeados
com imagens daqueles que estão em busca disso. Entre os
mortos, fama mortal tem pouco impacto, apesar daqueles
que morrem com tal reputação serem aguardados pelos In-
quietos.
No entanto, também é possível cultivar uma repu-
tação, boa ou má, além do túmulo. Renegados e outros dis-
sidentes logo conseguem reputações e muitas são invejadas.
Capítulo 5: Características 131
Notoriedade é a medida de quão bem uma aparição é co-
nhecida, quão ela é comentada e quais expectativas as outras
aparições tem dela. Uma aparição com um alto nível de No-
toriedade pode achar isso uma maldição – outras aparições
falam bastante dele, projetam suas esperanças e temores nele
e pedem favores e atenção apenas pelo seu papel como figura
pública. Fama em vida não é garantia de Notoriedade após a
morte, nem uma vida calma e sem exageros protela a quietu-
de nas Terras das Sombras.
X Como a maioria dos Inquietos, você é um rosto na
multidão. Você se mantém às escuras de propósito?
• Você deixou algumas impressões.
• • Talvez seu Local Assombrado seja visitado regular-
mente.
• • • Seu nome viajou mais que você.
• • • • Cada aparição nas Terras das Sombras reconhece
seu nome (mas não necessariamente seu rosto).
• • • • • Qualquer que seja o motivo, você não pode escapar
de ser reconhecido onde quer que você vá.
Relíquia
Relíquias são coisas que existiram nas Terras da
Carne e ainda persistem nas Terras das Sombras mesmo
após a sua destruição. As razões para essa durabilidade psí-
quica variam, mas todas foram fontes de uma forte emoção
na época em que existiam para terem atravessado a Mortalha
com a força de sua memória. Algumas relíquias foram coi-
sas importantes por si mesmas, como tesouros nacionais ou
insígnias de oficiais. Outras foram artigos que foram impor-
tantes para alguém e adquiriram peso emocional suficiente
para persistir nas Terras das Sombras - alianças de casamen-
to, bichos de pelúcia e afins. Uma relíquia não necessita ter
pertencido a aparição ou mesmo ter grande importância
para ela, a propriedade pode ser adquirida pelas aparições.
Personagens que comprarem esse Antecedente po-
dem adquiri-lo mais de uma vez para representar mais de
uma relíquia de um determinado nível.
X Você não possui nada. Você recentemente escapou
do Cativeiro, ou não é apegado a coisas materiais?
• Uma relíquia aparentemente insignificante, como
as chaves de um carro valioso.
• • Uma relíquia menor, talvez uma pequena obra de
arte.
• • • Uma relíquia com alguma utilidade, como um te-
lescópio ou uma faca.
• • • • Uma relíquia com partes móveis, normalmente
abastecida por Pathos.
• • • • • Uma enorme ou inestimável relíquia, um dispositi-
vo sofisticado ou um objeto famoso.
Status
Status é um reconhecimento mais concreto de po-
der que Notoriedade. Mas não é, no entanto, medida de mé-
rito ou êxito. Muitos burocratas no Mundo Inferior, tal qual
nas Terras da Carne, tem feito pouco ou nada para merecer a
autoridade que possuem. Status pode ser usado para ganhar
132 Aparição: O Esquecimento
favores das autoridades, de qualquer tipo.
Status não necessariamente está relacionado a Hie-
rarquia, embora muitos Hierarcas possuam ao menos algum
Status. Ele também pode representar um posto entre os Re-
negados, os Hereges ou qualquer uma das várias Guildas.
É possível, ainda que incomum, para uma aparição possuir
Status em vários grupos. Nesse caso o Antecedente precisa
ser comprado várias vezes. Com Status vem dever e res-
ponsabilidade, aparições com altos níveis de Status se vêem
responsáveis por decisões que afetam a existência de vários
Inquietos de menor categoria.
X Nenhuma organização reconhece você.
• Um iniciado de algum tipo. Você é responsável por
tarefas desagradáveis, mas ao menos é reconhecido como
parte de um grupo.
• • Após ter demonstrado sua devoção ao grupo, você
foi escolhido para uma posição de alguma responsabilidade.
• • • Você está nas sombrias posições intermediárias.
Não tão baixo o suficiente para ser empurrado ou tão alto o
suficiente para empurrar, essa é uma posição perigosa para
se estar, mas recompensadora.
• • • • Esse nível de Status representa o nível de controle
e privilégio. Você tem acesso aos recursos do grupo e é tido
como de confiança pelos seus líderes.
• • • • • É improvável que personagens jogadores cresçam
além desse nível. Tendo ganho significante poder e respeito,
você é um líder.
Corpus
O que ele tocou era, de acordo com o que acreditava,
uma boca, com dentes, e com pelos em volta, e, ele disse, não
era uma boca humana.
- M. R. James, “Casting the Runes”
O Corpus de uma aparição é seu corpo, sua mani-
festação física no Mundo Inferior. Além disso, o termo tam-
bém se refere a relativa saúde daquela forma. Quanto mais
níveis de Corpus uma aparição possui, mais sólida sua forma
ectoplasmática se mantém e mais “saudável” ela está. Apari-
ções que perdem todo o seu Corpus caem num Pesadelo ou
algumas vezes no Esquecimento. Porém, visto que o Corpus
é facilmente recuperável, aparições podem suportar uma
grande quantidade de injúria.
A aparência do Corpus de uma aparição é determi-
nada amplamente pela imagem subconsciente de si mesmo.
Embora muitas aparições vejam a si mesmas como em vida,
algumas se vêem melhor, algumas pior e algumas encontram
a si mesmas em Corpora que possuem uma aparência com-
pletamente inumana. No entanto, apenas porque o Corpus
de uma aparição possua asas não significa necessariamen-
te que ela possa voar, a maioria das modificações desse tipo
são estritamente cosméticas, não funcionais. Além disso, as
roupas de uma aparição também são parte de seu Corpus
- ela desperta como uma aparição vestindo o que quer que
subconscientemente ache apropriado. Muitas aparições en-
contrarão seu guarda-roupas mudando para vestir a situação
sem esforço consciente ou pensamento de sua parte, refletin-
do quão radicalmente a forma de uma aparição é delineada a
partir da imagem subconsciente de si mesmo.
Arcanoi
Corpus

Permanente
Corpus Permanente é a medida do máximo de
“Travessuras ou Gostosuras à moda antiga. Porém,
travessuras dos mortos...”
- Ray Bradbury, A Árvore Sagrada
níveis de Corpus que uma aparição pode possuir. Todas as
morte abre as portas a coisas
aparições começam com um nível de Corpus permanente
desconhecidas para os vivos.
de 10, mas isso pode cair se uma aparição falhar ou sofrer
Uma Aparição está Aguilhoada e
falhas críticas em Pesadelos. Isso cria um ciclo vicioso: uma
limitada, mas também possui um
aparição perde Corpus permanente, limitando seu Corpus
grande potencial para se modi-
temporário máximo. Isso significa que ele perde seu Corpus
ficar, ou às coisas que a cercam.
temporário mais facilmente, lançando ele em outro Pesadelo
Aqueles que sabem, que podem
no qual ele pode perder mais Corpus permanente e assim
desemaranhar os segredos da
por diante...
morte, notam-se capazes de es-
Não existe um método conhecido para aumentar
tranhos poderes chamados Arca-
Corpus permanente, apesar de alguns rumores correrem a
noi.
respeito das habilidades dos Usurários e dos Mascarados.
Certos Malfeanos e outros residentes da Tempestade têm de-
monstrado possuir níveis de Corpus que excedem 10, o que
poderia ser um segredo para recuperar - ou mesmo mesmo
Artes Alternativas
aumentar - o Corpus permanente.
Enquanto os Arcanoi não possuem nenhu-
Corpus

Temporário
O registro do Corpus na planilha em Aparição per-
ma arte em um nível maior que cinco, eles possuem
muitas variações em cada um dos níveis mais bai-
mite você marcar quão saudável seu personagem está. Os xos das artes. Estas chamadas “Antigas Artes” ou
círculos representam o Corpus permanente e os quadrados “Novas Artes” podem ser aprendidas no lugar das
representam o temporário. O valor temporário nunca pode- artes básicas listadas aqui, pelo mesmo custo em
rá exceder o valor permanente. pontos. Uma Aparição com o Arcanos Habitar pode
Existem dois meios básico de perder Corpus tem-
escolher aprender o primeiro nível da Antiga Arte
porário: interação com as Terras da Carne e violência no
Mundo Inferior. Cada vez que a aparição interage violenta- Mordida Elétrica (ver Livro de Guilda: Artífices) no
mente com um objeto ou uma estrutura nas Terras da Carne lugar do primeiro nível usual, Curto.
(uma bala, uma pedra, uma parede etc) ele perde marca um Uma Aparição que decide aprender uma
quadrado na planilha, indicando que aquele nível temporá- arte alternativa em vez da “arte normal” de um dado
rio foi perdido. Uma aparição sofre apenas um Nível de Cor- Arcanos simplesmente faz uma anotação em sua fi-
pus de dano não importa quão severo seja o impacto vindo cha de personagem dizendo a arte alternativa que
das Terras da Carne, uma aparição sofre a mesma quantida-
de tanto de dano de uma bola rápida de baseball como da
ela estudou. Se ela mais tarde decidir voltar atrás e
detonação de uma granada. Imediatamente após o impacto, aprender uma arte diferente com pontos de experi-
a aparição torna-se Incorpórea e não pode ser ferida por ob- ência, o custo é o seguinte:
jetos vindo das Terras da Carne por um número de turnos Custo em pontos para os níveis de Arcanos:
igual ao seu Vigor. Isso explica como as aparições podem Um 1
caminhar através das paredes, carros estacionados e estantes. Dois 3
Violência no Mundo Inferior é outra coisa, o nú- Três 6
mero de sucessos do oponente de uma aparição alcançados
no seu teste de dano é o número de Níveis de Corpus que a Quatro 9
aparição precisa riscar (sujeito a modificação via teste de ab- Cinco 12
sorção). Esse tipo de dano não torna a aparição Incorpórea e Uma aparição só pode ter artes alternativas
aparições sempre são sólidas entre si e a todos os objetos que de um nível menor ou igual ao seu nível de treina-
existem nas Terras das Sombras. mento. Artes alternativas em um Arcanos não po-
Aparições podem curar normalmente seu Corpus dem sem compradas a não ser que a Aparição tenha
tanto através de Modorra como pelo gasto de Pathos. A me-
ao menos um nível de conhecimento do Arcanos
dida em que cada nível de dano é curado, a marca de cada
quadrado é apagada. Para mais informações sobre a perda em questão.
e a recuperação de Corpus, veja “Dano”, página 231.

Capítulo 5: Características 133

 Arcanoi são segredos que podem ser tanto aprendi-
dos, ensinados, quanto adquiridos pela experiência. Eles são
formas de se utilizar matéria espiritual da aparição para alte-
rar outros aspectos do Mundo Inferior ou, em alguns casos,
das Terras da Carne. Um Arcanos é, de muitos modos, tanto
uma filosofia quanto um ofício, constituído igualmente de
pontos de vista e perícia. A maioria das aparições demonstra
aptidão para um ou dois Arcanoi imediatamente após seu re-
nascimento, e rapidamente aprendem os primeiros poderes,
ou artes, destes Arcanoi. Em termos de jogo, quanto maior
for o nível da arte (representado pelo número de • antes de
seu nome), maior será seu custo em pontos, mais difícil será
seu aprendizado, e mais poderosa ela será.
O Legado Diversificado
Assim como todas as habilidades, os Arcanoi estão
sempre se desenvolvendo. As aparições frequentemente in-
terpretam suas artes à sua própria maneira, personalizando
seus Arcanoi com nada mais que seu ponto de vista. A ex-
perimentação ativa pode ser perigosa, porém altamente re-
compensadora. Os Narradores são livres para permitir que
os jogadores inventem novas artes para qualquer Arcanos.
Se a arte proposta for apropriada e seu poder for similar ao
das artes já listadas, eles podem inclusive permitir que os jo-
gadores a incorporem ao jogo. Existem também artes mais
antigas e mais obscuras, que o Narrador pode ponderar e
permitir que os jogadores as aprendam. Exemplos destas
Artes Antigas podem ser encontrados na série de suple-
mentos Livro de Guilda.
Aprofundar-se na prática de um Arcanos pode
marcar uma aparição com um sinal daquele poder. Estas
marcas a tornam reconhecível como alguém com grandes
conhecimentos em uma habilidade arcana específica, e não
podem ser removidas por alterações cosméticas. Os detalhes
variam de Arcanos para Arcanos.
Marcas deO usoArcanos
excessivo de um Arcanos irá marcar uma
aparição permanentemente, quer esta seja ou não um mem-
bro da Guilda associada ao Arcanos em particular. Uma
aparição mergulhando na Tempestade utilizando Argos com
uma freqüência regular irá adquirir olhos completamente
negros, mesmo que ela nunca tenha encontrado um Mensa-
geiro “oficial”. É o próprio Arcanos (ou o ambiente associado
a seu uso) que cria as marcas, e não algum tipo de afiliação à
Guilda.
Entretanto, existem muitas aparições que aprende-
ram mais de um Arcanos a tal ponto que elas começam a
desenvolver mais de um conjunto de marcas distintas. Isto
não é mais incomum em uma Estigia onde cidadãos comuns
são encorajados a aprenderem vários Arcanoi. Geralmente,
a aparição talentosa irá manifestar os padrões distintos de
todos os Arcanoi que ela utilizar, a não ser que haja algum
conflito no desenvolvimento das marcas (por exemplo, Ar-
gos e Intimação modificam a aparência dos olhos do usuário
de formas mutuamente excludentes). Neste caso, as marcas
134 Aparição: O Esquecimento
do Arcanos que é utilizado com maior freqüência irão pre-
dominar, apesar de que algumas evidências das artes menos
utilizadas também se manifestarão. Por exemplo, um Men-
sageiro com algum conhecimento em Intimação (que colore
o olho esquerdo do usuário em um verde brilhante) terá os
tradicionais olhos negros, porém com um brilho claramente
esverdeado em seu olho esquerdo.
Poréns
Em termos práticos, usar um Arcanos significa
juntar sua parada de dados à de um atributo (Percepção +
Insulto, por exemplo). As forças e fraquezas mais primárias
de uma aparição estão inexoravelmente ligadas com as ar-
tes secretas que esta conhece. Ela também deve, geralmente,
gastar Pathos para ativar um Arcanos (ver “Pathos”, página
101). Qualquer custo, seja gastar Pathos, Corpus ou Força
de Vontade ou ganhar Angústia temporariamente, deverá
ser pago, quer a tentativa seja bem-sucedida ou falhe.
O ambiente também afeta o uso de um Arcanos. Os
vivos podem negar o poder da morte, tornando mais difícil
ativar os Arcanoi. Esta barreira é a Mortalha, o muro entre
a terra dos vivos e dos mortos. Para muitos Arcanoi, a difi-
culdade da maioria das jogadas é igual ao nível da Mortalha
local. De fato, a não ser que seja dito o contrário, a dificul-
dade para se usar Arcanoi é o nível da Mortalha. O nível da
Mortalha geralmente é 9, mas enfraquece em alguns lugares,
ou em algumas ocasiões. Por exemplo, a Mortalha diminui
em cemitérios, no Dia das Bruxas ou em ocasiões popular-
mente ligadas aos mortos. A Mortalha também é menos po-
derosa no Local Assombrado de uma aparição. Porém, não
importa a situação, o nível da Mortalha nunca será inferior a
4 (as regras para Narradores sobre a Mortalha podem ser
encontradas na página 240).
Falhas Críticas
De cada segredo provém um perigo, e os Arcanoi
não são exceção. Aqueles que não possuem maestria em
suas artes correm riscos terríveis. Se um personagem
sofre uma falha crítica em uma jogada de Arcanos, o
Narrador deve aplicar algum efeito. Por exemplo, uma
aparição que sofre uma falha crítica em um teste de Mo-
delar pode ficar presa à sua forma atual, incapaz de mo-
dificá-la por uma cena. Uma falha crítica em um teste de
Argos pode jogar a infeliz aparição dentro da Tempes-
tade, e uma falha crítica em uma tentativa de Castigar
é certamente um acontecimento terrível. Descrições de
possíveis acontecimentos para falhas críticas vêm inclu-
ídas junto a cada Arcanos. Porém, elas não devem ser
tomadas como escrituras sagradas; o Narrador deve es-
colher um efeito, ameno ou severo, de acordo com sua
crônica. (Às vezes, a falha em si já é uma punição.) Estas
sugestões estão aqui apenas como meios possíveis de dar
sabor a seu jogo e representar os riscos inerentes aos se-
gredos dos mortos. Seja criativo.

A Força OsdasGrilhões
Correntes
também podem alterar a dificuldade
de um Arcanos. É obviamente mais fácil afetar o mundo
dos vivos com a força de uma ligação prévia abastecendo as
Paixões de uma aparição. Para mudar a dificuldade de uma
jogada de Arcanos, o Grilhão deve representar um papel im-
portante na arte (geralmente, o do objeto visado). Uma ma-
neira de refletir isto é testar o nível do Grilhão contra uma
dificuldade 6; cada sucesso reduz a dificuldade da arte em - 1
pelo restante da cena. De uma maneira mais simples, o Nar-
rador pode reduzir a dificuldade em - 1 ou - 2, dependendo
do quão bem integrado o Grilhão está à arte. A dificuldade
de uma jogada de Arcanos nunca pode ser levada a níveis
mais baixos que 4.
Sintonia
Sintonia é o processo de praticar gradualmente um
Arcanos em determinado alvo, investindo Força de Vontade,
de forma que o Arcanos se torne mais fácil, quando lidando
com a pessoa ou objeto em questão. Este processo é muito
usado com Encarnar, Titerismo e Habitar, mas o Narrador
tem a liberdade de permitir que seus jogadores usem essa
sintonia em outros Arcanoi (como Usura ou Pandemo-
nium). Pessoas com as quais uma aparição tenha sintonia
são geralmente chamadas Consortes.
Toda vez que uma aparição tiver sucesso em se
manifestar para Cavalgar ou se esconder em um objeto, ela
pode gastar um ponto de Força de Vontade, cuidadosamen-
te se identificando com o objeto. O mais próxima, em vida,
que a aparição tenha sido do objeto, mais fácil será para sin-
tonizar-se com ele. Sintonizar-se com estranhos custa cinco
pontos de Força de Vontade; sintonizar-se a um amigo pró-
ximo ou amante pode requerer apenas dois ou três pontos.
Os resultados variam dependendo do Arcanos; por exemplo,
certas artes de Titerismo podem ser utilizadas apenas em
Consortes. Se a sintonia não oferecer resultados para um Ar-
canos, o Narrador deve escolher algum efeito que lhe pareça
razoável – se ele decidir que possa haver sintonia neste caso.
Os OutrosOs Arcanoi a seguir não são os únicos que foram
ensinados pelas Guildas, banidas há muito tempo. Três fo-
ram banidos de Estigia, e seus praticantes jogados na tor-
menta. Os Alquimistas, mestres em Fluxo, se descobriram
alvos de uma perseguição pelos poderes de seu Arcanos, que
pode reforçar, apodrecer ou animar objetos nas Terras da
Carne. As sinistras artes do desejo caracterizadas pelo Arca-
nos Intimação são igualmente procuradas e temidas, porém
seus mestres são poucos e longínquos. E as artes de reaver e
tecer memórias de Mnemosine, estas foram completamente
banidas. Para maiores informações sobre estas três Guildas e
seus Arcanoi, veja o Guia dos Jogadores para Aparição.
Capítulo 5: Características 135
 Argos
Mensageiros
stá ouvindo? Esse uivo por trás das
sombras dos becos e sob a pele de con-
creto de toda essa cidade... Você pode
ouvir? Pegue minha mão, e segure fir-
me. É para lá que o estou levando...
Argos é um Arcanos para via-
gens; especificamente, viagens pela
Tempestade. Ele permite à aparição
“nadar” pela essência da Tempestade,
encontrar trilhas secretas de um lugar para outro e realizar
jornadas razoavelmente seguras pelos reinos do Mundo In-
ferior. Mestres de Argos podem ir virtualmente a qualquer
lugar na Tempestade e voltar, sem serem molestados pelos
Espectros.
Sem Argos, porém, viajar pela Tempestade é
muito arriscado. Aparições sem conhecimentos de Ar-
gos ficam à deriva na tormenta, e só podem mudar sua
direção ao custo de um ponto de Pathos. Espectros, e
especialmente Vultos, são frequentemente atraídos
por presas tão fáceis. Além do mais, é quase im-
possível encontrar um Atalho sem algum conhe-
cimento de Argos. (Para maiores informações
sobre a Tempestade, ver a página 36.)
Um personagem com Argos pode
frequentemente “carregar” um pequeno nú-
mero de companheiros consigo, desde que
estes não ofereçam resistência. Enquanto todos
se derem as mãos, ele poderá guiar os outros.
Entretanto, estes passageiros podem aumentar a
dificuldade às ações relacionadas a Argos.
A Guilda
A Guilda dos Mensageiros se iniciou como
uma apanhado de, literalmente, mensageiros, arautos e
exploradores. Eles nunca se submeteram aos mesmos ní-
veis da enfadonha burocracia a que a maioria das Guildas
formais se submetia. Eles ocupavam um nicho na periferia
do governo de Estigia, trabalhando para a Hierarquia sem se
tornar realmente parte dela. O senso de honra comum à Guil-
da os levou a servir como uma espécie de “Guarda Costeira”
pela Tempestade, resgatando os perdidos e sitiados. Esta hon-
ra também se estende à lealdade a Estigia, e os Mensageiros
se juntaram relutantes à Grande Revolta. Porém, quando os
Mascarados e Usurários recuaram, os Mensageiros logo os se-
guiram.
Após a quebra das Guildas, tudo se tornou apenas
negócios, como era comum para a maioria dos Mensageiros,
embora de forma muito mais individual do que baseada em
uma Guilda. Vale a pena ressaltar que os Mensageiros ainda
inspiram respeito, e que a maioria das aparições considera de
má sorte interferir com o trabalho de um Mensageiro. Talvez,
para ganhar este respeito, os Mensageiros sempre irão se deter
para resgatar almas que encontram perdidas pela Tempestade.
136 Aparição: O Esquecimento
É claro que os Espectros também sabem disso, e se aproveitam
completamente, deixando armadilhas para Mensageiros des-
cuidados.
Mensageiros são excepcionalmente calmos, atentos, calados e
reservados. O tempo que eles passam na Tempestade gradu-
almente, porém invariavelmente, tinge seus olhos em um tom
completamente negro, da cor do azeviche.
Falhas Críticas
Se uma aparição tem uma falha crítica em uma jo-
gada de Argos, ela poderá ficar encalhada na Tempestade por
algum tempo. Ela também pode alucinar, vendo coisas na tra-
ma da Tempestade que não estão lá, ou não perceber as que
antes eram visíveis. De uma maneira geral, uma falha crítica
em Argos irá levar o infeliz viajante a algum tipo de perigo
– Espectros, o Labirinto ou qualquer coisa que o Narra-
dor possa conceber
Habilidades Básicas
Orientação: Tempo e espaço têm pouco significado
na estranha tormenta que é a Tempestade. Orienta-
ção permite à aparição determinar sua posição na
Tempestade e encontrar um caminho para seu
destino. Aqueles com Orientação podem viajar
para seus destinos pelo caminho mais rápido
e mais fácil (geralmente um Atalho), fugindo
à maioria dos obstáculos pelo caminho.
Apenas os tolos tentam navegar pela Tem-
pestade apenas com Orientação, mas decerto é
um excelente método para encontrar uma trilha
segura em emergências terríveis.
Aparições viajando pelas Terras das Sombras sem
apelar para caminhos pela Tempestade se movem à ve-
locidade de caminhada normal ou à velocidade de con-
duções; o padrão de tempo de viagem acima serve para este
tipo de transporte terrestre comum.
Sistema: O número de sucessos em uma jogada de
Percepção + Argos (dificuldade 8) indica a duração da viagem
até o destino da aparição. Aparições mais perspicazes podem
às vezes se utilizar das dimensões oscilantes da Tempestade
em seu próprio benefício.
1 - 3 sucessos Tempo padrão de viagem
4 sucessos Metade do tempo padrão de viagem
5 sucessos Um quarto do tempo padrão de viagem
Nota: O tempo de viagem depende do quão longe a aparição
está indo e se ela está se movendo pelos níveis do Mundo In-
ferior. Viajar entre as Terras das Sombras e Estigia geralmente
leva entre dois ou sete dias; duas semanas para alcançar as
Costas Distantes. Mover-se pela Tempestade para algum lugar
nas Terras das Sombras raramente leva mais de um dia, mas
não há garantias.
Se uma aparição falha em uma jogada de Orientação, significa
que ela foi para a direção errada e pode se perder. Isto (mais
os perigos que uma falha crítica acarreta), pode até se tornar
uma aventura, a critério do Narrador.
Ver a Tempestade: Esta arte permite à aparição olhar para
dentro da Tempestade, observando quaisquer seres ou coi-
sas à deriva nos arredores. Ela também poderá ser vista por
quaisquer seres na Tempestade próxima, e pode até se comu-
nicar com eles se houver necessidade.
Sistema: Com sucesso num rolamento de Percepção + Argos
(dificuldade 6), a aparição pode observar a área da Tempesta-
de local. O número de sucessos indica o quão limpa é a “jane-
la” pela qual a aparição observa.
Limiar da Tempestade: A maioria das aparições só pode
adentrar a Tempestade por meio de Nihils. Entretanto, aque-
les com Argos podem abrir seus próprios portais. Estes por-
tais são geralmente pequenos, e se fecham imediatamente
após a passagem da aparição.
Sistema: Abrir um portal requer uma jogada de Força + Ar-
gos (dificuldade 7).
• Envolver
Para evitar os perigos da Tempestade, aqueles que
usam Argos pela primeira vez aprendem a se esconder de
olhos hostis. Esta arte permite à aparição trazer sombras para
seu redor, tornando-a invisível na Tempestade e também nas
Terras das Sombras. Envolver faz a aparição subitamente de-
saparecer. Ela estará, então, envolta em sombras.
Sistema: Após gastar um ponto de Pathos, o jogador efetua
uma jogada de Destreza + Argos (dificuldade 7). Cada suces-
so permite à aparição continuar Envolvida por um tur-
no. Aparições Envolvidas podem efetuar ações em
outras, mesmo que violentamente, sem que sejam
reveladas.
•• Asas Fantasmas
Uma aparição usando esta arte pode
voar tanto na Tempestade quanto nas Terras das
Sombras. O vôo não é muito rápido (é mais pla-
nar do que qualquer outra coisa), mas pode ser
uma forma conveniente de sair por aí. Aparições
podem passear usando esta arte, mas nunca pode-
rão acelerar mais que uma corrida leve.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor +
Argos (dificuldade 6); cada sucesso garante um
turno de vôo. O Narrador pode pedir uma jo-
gada de Destreza + Argos para manobrar ou
manter altitude em situações especialmente
desagradáveis (como sobre um Nihil, ou em
uma apertada torre de Estigia). Um persona-
gem deve estar Incorpóreo para voar nas Terras das
Sombras (ver Estados do Corpus, página 232).
••• Pulsar
O personagem com Pulsar pode uti-
lizar das distorções naturais da Tempestade
para viajar rapidamente de um lugar a outro.
Estes mini-saltos são bons apenas para dis-
tâncias pequenas, geralmente ao alcance da
vista. Pulsar é também uma boa maneira
de ludibriar oponentes em combate.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Argos
(dificuldade 6). Cada sucesso reduz o tempo de viagem em
um turno. Por exemplo, se Henri estava tentando escalar uma
escada de incêndio e o Narrador decidiu que levaria quatro
turnos para chegar ao topo, dois sucessos significam que ele
poderia escalar em apenas dois turnos.
Se o destino desejado está fora do campo de visão,
mas ainda dentro de uma área da cidade, Pulsar ainda é pos-
sível. Entretanto, a dificuldade passa a ser 8, e qualquer falha
levará o personagem à Tempestade. De maneira similar, qual-
quer falha crítica em Pulsar prenderá o personagem na Tem-
pestade e esta arte não permite que ele saia. Pulsar substitui
Limiar da Tempestade, e pode ser utilizado sem a habilidade
anterior.
Cada “pulo” custa 1 Pathos.
•••• Salto
A aparição com esta arte pode rapidamente viajar
entre seus Grilhões, passando por trilhas secretas para estes
destinos familiares. Ela pode Saltar qualquer distância até um
Grilhão, mas apenas para Grilhões. Boatos dizem que os mais
velhos Estornados podem viajar instantaneamente para qual-
quer lugar no mundo sem o apoio de Grilhões, mas isso não
passa de boatos.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Argos (difi-
culdade 8). Cada nível do Grilhão em questão reduz a dificul-
dade em 1. Quanto mais sucessos, menor o tempo da viagem
e cinco ou mais sucessos permitem o trânsito praticamen-
te instantâneo. Assim como Pulsar, a habilidade Limiar
da Tempestade não é necessária para o uso desta arte.
••••• Masmorra
Esta arte é a habilidade de jogar outros na Tempesta-
de. Ao concentrar sua vontade, a aparição pode ati-
rar outros dentro da Tempestade, ou mantê-las em
um ponto específico, não permitindo que escapem
da de lá ou das Terras das Sombras.
Sistema: O jogador rola Força + Argos (dificul-
dade da Força de Vontade do alvo). O alvo pode
resistir rolando Força de Vontade.
Aparições jogadas na Tempestade são li-
vres para usarem Argos, mas estarão com pro-
blemas se não conhecerem o Arcanos. A força
inerente ao banimento tira um nível de Corpus
do alvo, além dos outros efeitos.
Se a aparição está tentando manter o seu
alvo em algum lugar (na Tempestade ou nas
Terras das Sombras), o alvo será aprisionado
por um turno por sucesso. A aparição que
controla o aprisionamento deverá manter
uma concentração mínima para que a víti-
ma permaneça no local.
Ambos os usos desta arte custam
3 Pathos e dão ao usuário 1 ponto tempo-
rário de Angústia.
Capítulo 5: Características 137
 Castigar
Conciliadores
amais estamos sozinhos. Nunca. Não
enquanto a Sombra esconde-se às suas
costas. Eu posso ajudá-lo. Eu posso fe-
ri-la. Tenho um preço, sim, mas eu peço
muito menos do que ela pediria.
Se não fosse por Castigar, os po-
deres das Sombras permaneceriam
fora de controle. Aqueles que dominam
este Arcanos aprendem o que conduz e
alimenta a Sombra, como um prelúdio para o aprendizado do
que pode enfraquecer seu abraço.
Castigar é um Arcanos altamente personalizado. Um
Conciliador poderá usar força física, psicologia, meditação,
sermões, purificação ritual, tambores, zombarias, privação
sensorial ou outros milhares de métodos para combater
a Sombra. Os detalhes exatos dependem do gosto e das
crenças do Conciliador em questão. A maioria prefere
algum tipo de diálogo baseado na Natureza da Som-
bra-alvo, um processo chamado Dialética do Demô-
nio.
Os Narradores devem impedir seus jo-
gadores de abusarem de Castigar. Este Arcanos
traz um mínimo controle sobre a Sombra, as-
sim como grandes inspirações, e isto pode
ser usado de maneira imprópria. Mantenha
em mente que negociar com o lado negro de
uma aparição é um negócio perigoso – aqueles
que se envolvem demais em Castigar frequente-
mente encontram destinos terríveis.
A Guilda
A Guilda dos Conciliadores era quase um cul-
to Herege; e os Conciliadores certamente viam seu tra-
balho com um zelo quase religioso. No apogeu da Guilda,
lanternas de ferro marcando os serviços disponíveis de um
Conciliador estavam por todo lugar. Os Conciliadores se uni-
ram à rebelião das Guildas mais para corrigir os maus-tratos
de Estigia sobre os Hereges e outros prisioneiros, e não foram
punidos tão severamente quando Caronte esmagou a revolta.
Ainda hoje, nenhum soldado da Hierarquia prende um Con-
ciliador por expor sua lanterna. Os Conciliadores são indis-
pensáveis – sem eles, o Esquecimento já teria engolido Estigia
há muito tempo.
Os Conciliadores mais velhos tendem a descrever
Castigar com termos quase religiosos ou espirituais; as apari-
ções mais jovens preferem uma aproximação mais psicológica
da Sombra. Conciliadores são reconhecidos por seus dedos
manchados, maculados pelo contato com o lado negro das
aparições.
Falhas Críticas
Ter uma falha crítica em uma jogada de Castigar
138 Aparição: O Esquecimento
pode ser bastante perigoso. Uma Sombra pode ganhar An-
gústia temporária pelo atrapalhado desafio, ou exercer mais
força em sua próxima investida. A severidade é deixada a cri-
tério do Narrador; porém a Sombra sempre ficará furiosa pela
interferência deselegante de um Conciliador.
Habilidades Básicas
Baluarte: A aparição pode se proteger e a seus com-
panheiros de um Maelstrom. Castigar funciona como um
muro defensor, desviando os ventos tempestuosos do Maels-
trom e a protegendo de chamar a atenção de quaisquer Espec-
tros que por ali passem.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Castigar
(tendo como dificuldade o nível do Maelstrom + 3). O per-
sonagem deve gastar 1 Pathos para cada nível do Maels-
trom, porém pode estender o Baluarte para si mesma e
para quaisquer aparições que toque.
Visão da Alma: Aqueles com Castigar podem exa-
minar uma aparição e ver a Sombra em sua alma.
Com cuidadoso estudo, a aparição pode medir o
poder bruto desta, e o quão próxima ela está da
superfície. O usuário não pode examinar sua
própria Sombra. A Visão da Alma pode tam-
bém detectar Espectros (como Replicantes)
por perceber e estimar a terrível força de suas
Sombras.
Sistema: A aparição faz uma jogada de Per-
cepção + Castigar (dificuldade 8). O número de
sucessos determina quanto conhecimento ela con-
segue. O Narrador descreve então a força da Sombra
como fraca, distinguível, razoavelmente forte, forte ou
eminente (dependendo da atual pontuação de Angústia
do personagem), e pode dar mais detalhes caso o jogador
tenha conseguido um bom resultado.
• Coagir
Esta arte traz algum poder sobre a Sombra do usuá-
rio. Uma aparição utilizando Coagir poderá usar da força de
sua Sombra com um risco enormemente diminuído.
Sistema: O Guia da Sombra poderá oferecer ao jogador um
número fixo de Dados da Sombra (ver página 175) para aju-
dar em qualquer tarefa. Uma aparição também pode usar
Coagir para modificar este número. O jogador deverá fazer
uma jogada de Carisma + Castigar (dificuldade 6); cada dois
sucessos permitem ao jogador adicionar ou subtrair um dado
do número oferecido.
O personagem não gasta Pathos, porém, ganha 1
ponto de Angústia para cada uso de Coagir.
•• Segredos Sombrios
Esta arte perturbadora permite ao usuário desco-
brir segredos sombrios de outra aparição pelo estudo de sua
Sombra. É claro que a Sombra pode dar ao Conciliador in- rição pode afastar Espectros e impedi-los de entrar em seu
formações falsas – espalhar mentiras pode ser de interesse da círculo de ação. Esta arte pode proteger uma construção com-
Sombra. Geralmente, quanto mais fraca a Sombra, melhor o pleta de Espectros (porém, deve-se usar a razão – apenas os
Conciliador poderá forçá-la ou manipulá-la a ser mais hones- maiores Conciliadores poderiam guardar um arranha-céu
ta. inteiro). Quaisquer Espectros na área, escondidos ou não, são
Sistema: A aparição cuidadosamente examina a Sombra do afugentados. Curiosamente, esta arte não mantém Replican-
alvo, e faz uma jogada de Percepção + Castigar (dificuldade tes igualmente à margem.
da Força de Vontade do alvo). Cada sucesso permite ao Con- Sistema: Cada sucesso em uma jogada de Carisma + Casti-
ciliador fazer uma pergunta ao jogador-alvo (ou ao Nar- gar (dificuldade 7) irá manter a proteção por um turno.
rador, se apropriado). O jogador-alvo deve responder Quaisquer Espectros já presentes devem ser derrota-
a verdade, mas pode investir em respostas enig- dos em uma jogada resistida (a jogada de Faxina
máticas ou meias-verdades (os truques prefe- do jogador contra a Angústia do Espectro).
ridos das Sombras). O personagem-alvo Um espectro que seja banido assim ficará
pode permitir à sua Sombra resistir em pela duração da arte, mesmo que outros
uma jogada de Angústia – ninguém Espectros nos arredores não sejam
gosta de ter seus segredos mais afetados.
sombrios desenterrados.
Esta arte custa 1 Pa- ••••• Desafiar
thos, e traz 1 ponto de Angús- Aqueles que possuem
tia ao usuário. esta arte podem lutar contra
o desejo de suas Sombras por
••• Purificar controle. Se a Sombra tenta do-
Ao concentrar sua minar uma aparição conhece-
vontade, uma aparição pode dora de Desafiar, o Conciliador
atacar diretamente o poder da poderá tentar colocar seu lado
Sombra de outra. Os métodos negro de volta a seu lugar. Esta
utilizados variam de Concilia- arte pode também ser utilizada
dor para Conciliador, e podem para ajudar outras aparições em
incluir sermões, música, can- suas lutas, ao custo adicional de
tos esotéricos ou até flagela- 1 ponto de Angústia.
ção. Isto é um processo longo Sistema: Para resistir às tenta-
e meticuloso, e não pode ser tivas da Sombra de assumir o
apressado sem graves riscos. controle, o personagem faz uma
Sistema: O Narrador faz uma jogada de Carisma + Castigar
jogada de Carisma + Casti- (tendo como dificuldade sua
gar em segredo. A dificulda- Angústia atual). Cada sucesso
de é a pontuação de Angústia reduz sua Angústia em 1; a Som-
permanente do alvo; o alvo bra não tem como se defender
também pode ajudar na jo- contra isso. Desafiar pode ser
gada gastando Força de Von- usado contra a Sombra de outras
tade. Cada sucesso reduz a aparições, mas a dificuldade pas-
Angústia temporária em - 1, sa a ser a Angústia atual do alvo
mas também causa 1 nível + 3.
de dano ao Corpus do alvo. Usar o Desafio custa 1
O “Castigador” recebe um Pathos, e mais um Pathos para
ponto temporário de Angús- cada sucesso. Falhar nesta joga-
tia para cada “1” na jogada da adiciona 1 ponto à Angústia
de Purificar. temporária do personagem;
uma falha crítica adicionará
•••• Faxina 1 ponto de Angústia per-
Protegendo- manente.
-se em sua pu-
reza, uma
apa-

Capítulo 5: Características 139

 Encarnar
Procuradores
bra-se para o calor. Esqueça as Terras
das Sombras, esqueça seu Corpus, es-
queça até de mim. Apenas concentre-se
no calor – ele deve aquecê-lo como o sol
costumava fazer. Lembra? Lembra dos
dias ensolarados no parque e roupas
largas de algodão? É isso...
Encarnar é a arte de se mani-
festar fisicamente no mundo mortal.
Assim como muitos Arcanoi, ela desafia o Código de Caron-
te por sua própria existência; apenas os Senhores da Morte
têm autoridade para passar pela Mortalha impunes. Porém,
os encantos da carne são fortes. A mudança nos sentidos de
uma aparição quando ela se manifesta é enorme, e sublime
suficiente para trazer a tentação até ao mais severo Centu-
rião.
A melhor maneira de se aprender a Encarnar
é abrir os sentidos de alguém, se focando no maior
estímulo sensorial disponível. Música alta, o calor de
um reator, o reflexo tremulante em um lago – tudo
pode ser a âncora pela qual a aparição poderá se
forçar através da Mortalha.
Se uma aparição Encarna fisicamen-
te, ela se expõe a ferimentos mortais. Apa-
rições imateriais perdem apenas um nível
de Corpus por um golpe ou um tiro, mas
aquelas fisicamente materializadas perderão
tantos níveis de Corpus de dano quanto perde-
riam Níveis de Vitalidade em vida. Se for “morta”,
uma Aparição Encarnada é impulsionada para um
Pesadelo Direcionado e se torna sua Motivação.
Sintonizar-se com um Consorte é particular-
mente útil no uso de Encarnar (ver Sintonia, página
135). Uma vez sintonizada, todas as dificuldades de En-
carnar naquela pessoa (e apenas naquela pessoa) são re-
duzidas em -3. Também não haverá custo em Pathos para se
manifestar para o alvo. Entretanto, apenas o Consorte pode
ver ou ouvir a aparição. Esta é uma faca de dois gumes; Ou-
tros mortais podem considerar o Consorte louco ou, conve-
nientemente, o alvo poderá convencer outros da existência
da aparição, tornando mais fácil para esta se sintonizar a
eles.
A não ser que seja indicada especificamente, a difi-
culdade de qualquer jogada de Encarnar é igual ao nível da
Mortalha local. Encarnar é teoricamente inútil na Tempesta-
de.
A Guilda
Por razões óbvias, a Guilda dos Procuradores teve
uma relação extremamente delicada com as autoridades de
Estigia por séculos. Embora eles tenham sigo empregados
140 Aparição: O Esquecimento
por Estigia, o Código de Caronte proibia os Procuradores
de praticarem suas artes por si mesmos. A maioria, porém,
desdenhava das restrições, interagindo com mortais sempre
que podiam. Entre os revoltosos mais entusiastas, os Procu-
radores receberam a maior parte da culpa quando a Revolta
falhou. Por séculos, Legionários foram encorajados a caçar
Procuradores e forçá-los ao Cativeiro – ou pior. Desde o de-
saparecimento de Caronte, esta caçada se atenuou, mas de-
monstrar talentos para Encarnar no território da Hierarquia
ainda é uma decisão infeliz.
As jornadas do Procurador pela Mortalha gradual-
mente marcam seu corpo com peculiares desenhos claros e
escuros. Procuradores experientes frequentemente têm pa-
drões em sua pele, parecidos com raios de luz por entre
árvores.
Falhas Críticas
Coisas estranhas acontecem àqueles que usam ina-
propriadamente a arte de Encarnar. Um persona-
gem pode perder sua voz nas Terras das Sombras
caso falhe criticamente em seus Sussurros, ou cair
na Tempestade caso falhe em outras artes. Pro-
curadores também correm o risco de ganhar
Angústia; quando as sensações do mundo
material são oferecidas e depois violenta-
mente levadas embora, o desespero é quase
sempre devastador.
Habilidades Básicas
Toque Fantasmagórico: A aparição pode
exercer um mínimo e delicado toque no mundo ma-
terial, mais fraco mesmo que Sibilar (Insulto • , ver
página 152). O personagem talvez não possa mover
nada maior que poeira – talvez o máximo que possa fazer
seja gentilmente escrever em uma janela embaçada, e isso
tomaria toda sua concentração.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Força + Encarnar
contra a Mortalha local.
Manter Forma Material: Esta não é exatamente
uma habilidade, mas sim a capacidade de manter uma forma
Encarnada por um período mais longo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Encarnar
(dificuldade 7). Cada sucesso se adiciona ao número de su-
cessos já obtidos para o poder de Encarnar já em uso.
Esta habilidade custa 2 Pathos. Uma falha dispersa
imediatamente a forma Encarnada.
• Sussurros
A aparição pode sussurrar através da Mortalha, fa-
zendo sua voz ser fracamente ouvida nas Terras da Carne.
Esta arte não é necessária para falar com seres sobrenaturais
que ignorem a Mortalha, como os changelings Sluagh.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação +
Encarnar. Cada sucesso permite à aparição transmitir uma
frase curta.
•• Fantasma
A aparição pode se manifestar como uma imagem
enevoada e translúcida, uma vaga reminiscência de seu cor-
po mortal. Os mortais que virem esta forma intangível reagi-
rão com intenso pavor, e serão completamente afetados pela
Névoa (ver a página 241).
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Carisma + Encar-
nar, e a aparição se manifestará pela duração de um turno
por sucesso. Se o personagem desejar, ela também poderá
tentar assustar os espectadores por meio de uma jogada de
Manipulação + Encarnar contra a Força de Vontade do alvo.
Modelagens horríveis e outros usos criativos dos Arcanoi
podem modificar esta jogada.
Fantasma custa 1 Pathos.
••• Estátua
Esta arte permite à aparição tomar uma forma só-
lida, porém imóvel. A aparição Encarnada parece ser uma
versão idealizada de si mesma, porém em carne fria e dura.
Durante o uso de Estátua, a aparição não pode se mover, fa-
lar ou mesmo respirar. Entretanto, esta arte ainda pode ser
bastante útil para evitar Espectros ou possíveis perseguido-
res. Por exemplo, em um metrô lotado, caçadores podem
ignorar o “viajante dorminhoco” na pressa de en-
contrar sua presa fantasmagórica.
Sistema: Cada sucesso em uma jogada de Vigor +
Encarnar indica quantas vezes o personagem pode
ser tocado, ou quantas cenas ele permanecerá sólido
(o que acontecer primeiro). O jogador pode ser
ferido como se fosse mortal (ver acima).
Esta arte custa 2 Pathos.
•••• Vida-em-Morte
Esta arte permite à aparição
manifestar-se mais ou menos
como em seu corpo mortal.
Sua aparência reflete as
fracas e instáveis lem-
branças de seu eu vi-
vente; muitas aparições
tendem a idealizar sua
aparência, se tornando
mais bonitos Encarnados
do que quando estavam vi-
vos. Esta forma tem os cabelos
mais escuros e a pele mais páli-
da, mas geralmente não parece
tão diferente. A aparição usando
Vida-em-Morte tem a carne mais fria
do que deveria, e parecerá constantemente
distraída (um efeito colateral da distração neces-
sária para manter esta forma). Por mais que a maioria dos
espectadores não perceba nada errado com a aparição usan-
do esta arte, aqueles que lhe foram mais próximos em vida
perceberão as diferenças.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação +
Encarnar; cada sucesso permite à aparição permanecer só-
lida por uma cena. Esta forma só poderá ser utilizada se o
personagem tiver uma forma humana no momento (aqueles
Modelados como objetos não poderão se utilizar de Vida-
-em-Morte). O jogador pode optar por substituir sua pontu-
ação em Manipulação por sua Aparência enquanto Encarna-
do. A aparição leva dano como os mortais levariam quando
em uso desta forma.
Esta arte custa 2 Pathos.
••••• Materializar
A aparição pode assumir uma forma quase comple-
tamente humana, duplicando brevemente sua vida mortal.
Quando Materializada, ela respira, sangra, sua e aproveita
seu antigo calor. A aparição pode fazer tudo que fazia quan-
do estava viva. A única restrição é o tempo – o custo desta
forma em Pathos e a concentração necessária são incríveis. A
sensação desta forma é quase opressiva, espe-
cialmente para aparições que estão mortas
há muito tempo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada
de Manipulação + Encarnar. Cada suces-
so permite ao personagem permanecer
sólido pelo tempo de um suspiro. Se o
personagem está sintonizado com
a pessoa que o está vendo, ele se
manifestará à razão de uma hora
por sucesso. Enquanto Mate-
rializada, a aparição sofre dano
como se ainda fosse mortal.
Cada uso desta arte custa 3 Pathos e
1 ponto de Força de Vontade.
Capítulo 5: Características 141
 Fatalismo
Adivinhos
h! Perdoe-me, minha senhora, por não
tê-la reconhecido. É claro que eu devo
aconselhá-la. Não, não há nenhum
preço; tudo que eu peço em troca é que
te lembres de mim quando teu mo-
mento chegar.
Alguns clamam que a mão do
Destino está em todo lugar, mesmo (e
especialmente) as almas dos mortos.
Fatalismo é o Arcanos que permite às aparições lerem a trama
do Destino, com o intuito de interpretar o passado e o futuro
de alguém.
Fatalismo é um Arcanos perigoso; aqueles que se
ocupam das ondas do Destino podem se perceber horri-
velmente enlaçados em suas teias. Devem haver duras
penas para os abusos deste poder; o Destino não trata
com gentileza aqueles que se intrometem em seu tra-
balho.
A Guilda
A Guilda dos Adivinhos gozou de ne-
gócios estáveis em seu apogeu. Alguns dizem
que eles serviam à própria Dama do Destino;
outros, que poderes ainda maiores coman-
davam sua aliança. Deixando os rumores de
lado, os Adivinhos foram eleitos orientadores
para a maioria dos assuntos, e eram procurados
como conselheiros por muitos senhores em Es-
tigia. Sua boa sorte durou até Serena, o Supremo
Grão-Oráculo, dizer a Caronte que seu destino era se
perder na Tempestade. Furioso, ele lhe lançou grandes
punições, fazendo-a relutar em dizer o restante da pro-
feria e enfurecendo sua Guilda. Foi então que os Adivi-
nhos se postaram atrás dos esquemas insanos de Artífices e
Usurários, precipitando o golpe.
Mesmo sabendo o preço que inevitavelmente seria
pago, os Adivinhos abandonaram as outras Guildas assim que
os Usurários e Mascarados recuaram da revolução. Hoje em
dia, os Adivinhos tendem a se associar a Bardos, Oneiros e
até mesmo a Assustadores. Muitos preferem não espalhar suas
previsões, aconselhando apenas os que forem espertos o sufi-
ciente para procurá-los. Há uma lealdade feroz e não-verbal
entre os Adivinhos, mas eles evitam longas sociedades entre
si.
Adivinhos gostam de trajes chamativos, e a maioria
tem marcas arcanas ou símbolos do Destino inscritos em suas
testas e braços. Estes selos aparecem por si mesmos e não po-
dem ser removidos, e muitos parecem dançar ou se mover
sozinhos.
Falhas Críticas
Embora a maioria das falhas críticas em Fatalismo
142 Aparição: O Esquecimento
signifique informações erradas, o Narrador não deve se sentir
limitado apenas a estas leituras equivocadas. Talvez o perso-
nagem profetize um terrível agouro, e sua habilidade para se
concentrar fique abalada por uma cena ou duas (+ 2 em todas
as dificuldades). Ou talvez o Destino retenha suas respostas,
e o próprio Fatalismo não funcionará para aquela aparição
por uma hora ou algo do tipo. Lembre que aqueles que usam
Fatalismo confiam profundamente nos desígnios inevitáveis
do Destino, e temem perder o controle ou as visões que eles
trabalharam duro para conseguir.
Habilidades Básicas
Kismet: Esta é a habilidade de avaliar a importância
de uma pessoa, situação ou objeto na grande trama do Des-
tino. Um Adivinho experiente pode perceber facilmente
as forças que se movem em torno daqueles com grandes
destinos.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Percepção
+ Fatalismo (dificuldade 6), determinando então o
quão vital algo é para o “abrangente esquema das
coisas”. Esta habilidade é útil para distinguir per-
sonagens do Narrador e personagens jogadores
em certas cenas.
• Visão Fatal
Aqueles com Fatalismo podem ler as mar-
cas da morte de uma pessoa, as marcas em apa-
rições e mortais destinados a morrer logo. Marcas
de morte dão dicas da maneira como a morte de
uma pessoa ocorreu, e aparecem em mortais pouco
tempo antes que estes morram. Alguns mortais, aqueles
condenados a morrer de formas particularmente trági-
cas, carregam as marcas desde meses ou mesmo anos antes
de suas mortes.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Percepção + Fatalis-
mo (a dificuldade é equivalente à Força de Vontade do alvo).
Cada sucesso oferece maior discernimento sobre a ocorrência
da morte da pessoa. Se uma aparição se utiliza de Visão Fatal
logo antes de uma Interpretação (ver abaixo), cada sucesso
em Visão Fatal adiciona um dado à Interpretação. Visão Fatal
também revela se a vítima foi, anteriormente, alvo de Fatalis-
mo.
•• Presságio
A sintonia de uma aparição aos fios entrelaçados do
Destino lhe permitem sentir quando o perigo se aproxima,
assim como uma aranha percebe as vibrações em sua teia.
Sistema: O Narrador pode efetuar em segredo uma jogada
de Percepção + Fatalismo (dificuldade 6) quando o persona-
gem encontrar-se em perigo. A dificuldade da jogada varia de
acordo com a sutileza da ameaça. O número de sucessos refle-
te o quão efetivamente antes ocorreu o presságio (geralmente,
um turno por sucesso). Esta arte não tem nenhum custo em nesta jogada. O jogador pode então fazer ao Narrador uma
Pathos, mas o desconforto que ela traz dá ao personagem 1 pergunta curta sobre o alvo para cada sucesso conseguido. O
ponto de Angústia para cada uso bem-sucedido. Narrador não precisa responder abertamente; respostas enig-
máticas e incompletas são perfeitamente aceitáveis. Tentar
••• Interpretação utilizar esta arte sem nenhum objeto para adivinhação au-
A aparição pode interpretar o destino de uma pessoa menta a dificuldade em + 2.
ou ler seu passado por meio desta arte. Interpretação é utili- Interpretação custa 2 Pathos.
zada tipicamente com algum tipo de parafernália para adivi-
nhação (como Tarô ou I Ching, jogos de runas, astrologia ou •••• Conjectura
coisas do tipo); tentar utilizar esta arte sem este tipo de mate- Conforme uma aparição domina o Fatalismo, ela
rial é bem difícil e provavelmente o tiro sairá pela culatra. pode aprender a interpretar os efeitos das forças do Destino
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação + Fa- com maior rapidez, mesmo em situações difíceis. Conjectura
talismo (tendo como dificuldade a Força permite a uma aparição “ler” as ações de alguém, e responder
de Vontade do alvo). Tanto o intuitivamente mesmo antes que o alvo aja.
i nt é r pre t e quanto o alvo de- Sistema: Em combate, o jogador efetua uma jogada de
vem gastar Força de Vontade Raciocínio + Fatalismo (dificuldade 8). Cada
para aju- dar sucesso nesta jogada adiciona outro sucesso à
jogada de iniciativa do personagem (Racio-
cínio + Prontidão, ver a página 257). Se o
jogador tiver o dobro dos sucessos de seu
oponente, o Narrador pode lhe dizer algo
das intenções do inimigo (“Ele
tentará forçá-lo para
o Nihil”),
permi-
tindo
ao perso-
nagem agir apro-
priadamente.
Esta arte custa 2 Pathos.

••••• Sorte
Os segredos do
último nível de Fa-
talismo permitem
a uma aparição fa-
zer pequenos ajustes
no Destino em si. Ao
invocar as bênçãos
do Destino, uma
aparição pode
gozar de maiores
sucessos em seus
objetivos.
Sistema: Ao início de cada história,
o personagem pode efetuar uma jogada de
Raciocínio + Fatalismo (dificuldade 6).
O número de sucessos iguala o número de “uns”
(falhas críticas potenciais) que o jogador pode deci-
dir ignorar pela duração da história. Esta arte não
pode, entretanto, afetar Pesadelos, e só pode ser
utilizada uma vez por história.
Ativar a Sorte custa 2 Pathos e 1 ponto de
Força de Vontade.

Capítulo 5: Características 143

 Habitar
Artífices
u já fui um saco de pele cheio de san-
gue quente, tipo você. Eu só mudei pra
um modelo melhor. Agora eu tenho um
motor como coração, eletricidade nas
veias, meu cabelo é fibra ótica e meus
dedos de cobre serpenteiam pelas cida-
des. É a melhor atualização, amigo. Se
entenda com o programa.
Aparições com conhecimentos em Habitar são os
mestres do inanimado. Eles podem incutir sua essência em
objetos inanimados, sintonizando-se a cada centímetro e, no
tempo certo, até aprendendo a animar seu “lar”. Se um objeto
é destruído enquanto uma aparição o ocupa, o item imediata-
mente se torna uma Relíquia. Mestres em Habitar podem até
mesmo imbuir um objeto com seus próprios Arcanoi, gra-
dualmente vertendo Corpus e Força de Vontade no item
até criar um tipo de Artefato barato, mas poderoso.
Habitar é um exemplo digno de uma enci-
clopédia de como os Arcanoi evoluem para se ade-
quar às eras. Muitas das artes de Habitar são cria-
ções recentes, consideradas mais úteis na Era da
Informação do que as artes antiquadas que elas
substituíram. É perfeitamente esperado que
aparições mais velhas ainda pratiquem as Ar-
tes Antigas de Habitar, nunca aprendendo os
truques novos em folha dos tempos moder-
nos. (Para maiores informações sobre Habi-
tar e suas artes perdidas, ver o Livro de Guilda:
Artífices.)
Há algumas vantagens em Habitar ob-
jetos com os quais se está em sintonia. Ao preparar
um Consorte inanimado, uma aparição pode exercer
maior controle sobre suas funções quando o Habitar.
Aparições devem gastar um ponto de Força de Vontade
quando Enclausurando um objeto para se sintonizar a ele
(ver Sintonia, página 135).
A GuildaOs orgulhosos Artífices clamavam não ser apenas a
mais rica das Guildas, mas também a mais antiga. O próprio
Nuhdri, diziam os Artífices, havia criado a Guilda para treinar
pessoal para sua forja. Os praticantes de outros Arcanoi rapida-
mente reconheceram os benefícios de tal organização, e segui-
ram os Artífices, formando suas próprias Guildas.
Na efervescência social seguinte ao Terceiro Grande
Maelstrom, os Artífices fomentaram sua rebelião contra Ca-
ronte. Eles reuniram as outras Guildas à sua volta, e lideraram
a batalha para sobrepujar a Hierarquia. Porém eles falharam, e
pagaram o preço. Por mais que muitos ex-Artífices ainda este-
jam empregados como Ferreiroes de almas, é ilegal ensinar ou
utilizar Habitar em muitos lugares. Enquanto forjar almas é uma
parte vital da economia em Estigia, aqueles Artífices que co-
nhecem apenas os segredos de Habitar resistem sordidamente,
como um grito distante da glória da antiga Guilda.
144 Aparição: O Esquecimento
A maior parte dos Artífices está queimado ou mancha-
do com marcas avermelhadas de seu trabalho na forja das almas.
Entretanto, os Artífices jovens, que se especializam em artes in-
formatizadas têm queimaduras tracejadas de placas de circuito.
Falhas
Críticas
Erros em Habitar são um excelente método de ficar
preso em um objeto inanimado por muito mais tempo do que
alguém gostaria. Uma aparição pode, por exemplo, acidental-
mente provocar um curto-circuito em um dispositivo valioso,
deletar arquivos importantes de computador ou ter seus senti-
dos sobrepujados pelo estímulo subitamente disponível. Ter fa-
lhas críticas nas artes mais novas pode até mesmo fazer com que
o objeto hospedeiro exploda...
Habilidades Básicas
Sentir Gremlim: “Gremlim” é uma gíria para apari-
ções que possuem máquinas. Uma aparição pode exa-
minar cuidadosamente um objeto com esta habilidade,
determinando se alguma aparição está residindo ali no
momento.
Sistema: O jogador precisa obter apenas um sucesso
em uma jogada de Percepção + Habitar (dificulda-
de 6) para determinar se uma máquina está sen-
do Habitada ou não. Mais sucessos podem ser
úteis para determinar a natureza da entidade
Enclausuradora (ou seus números). Com três
ou mais sucessos, uma aparição pode até mesmo
dizer se uma máquina foi recentemente Habitada.
Enclausurar: A aparição pode deslizar seu
Corpus para dentro de uma máquina ou objeto, sem
nenhum risco, se escondendo de outras aparições. Ela
não tem controle sobre o objeto, apenas ficando lá dentro
até que decida sair.
Sistema: A aparição efetua uma jogada de Destreza + Habi-
tar para deslizar seguramente para um objeto. Enquanto es-
tiver lá, ela poderá ser detectada apenas por Sentir Gremlim.
Entretanto, se o objeto hospedeiro for destruído, a aparição ime-
diatamente sofre um nível de dano em seu Corpus e é forçada a
sair. O número de sucessos na jogada inicial determina quantos
sucessos são necessários para que outro Enclausurador buscan-
do abrigo no mesmo objeto expulse a primeira aparição. Mais de
uma aparição podem Enclausurar o mesmo aparelho, conside-
rando-se que seja grande o suficiente.
• Curto Ao passar sua mão por um aparelho eletrônico, a apa-
rição pode causar um curto temporário, cortando brevemente
sua energia. Esta interrupção da corrente elétrica pode danificar
computadores e outros instrumentos delicados, especialmente
aqueles sem proteções adequadas.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Raciocínio + Habitar.
O número de sucessos indica a quantidade de aparelhos que po-
dem sofrer este curto simultaneamente.

•• Correr pela Rede
Esta arte permite à aparição deslizar pelos fios e se
transmitir através de redes de comunicação e computadores
satélites. Este modo de viagem, chamado de Rede, é como
montar em um trem-bala por túneis, barreiras e portais de
luz. Se a aparição conseguir passar pelos pedágios e retenções
que representam os sistemas de segurança dos computadores,
o mundo se abrirá à sua frente.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Inteligência + Ha-
bitar (dificuldade 8). Quanto mais sucessos obter, mais longe
e mais rápido a aparição irá viajar. Esta arte custa 1 ponto de
Pathos, enquanto uma falha gera 1 ponto de Angústia e po-
derá ainda prender a aparição em algum lugar desagradável.
••• Gremlinizar
A aparição pode possuir e controlar máquinas, porém
o controle efetivo vem através da sintonia. Gremlinizações feitas
no calor do momento permitem apenas efeitos menores e desa-
jeitados, como ligar ou desligar uma máquina.
A aparição deverá gastar 2 Pathos para Habitar uma
máquina, e mais 1 Pathos por efeito provocado.
••••
Reivindicar
A aparição pode Enclausurar um objeto e possuí-lo
como se fosse seu próprio corpo por uma cena. Seus sentidos
permanecem inalterados, exceto pelo fato de que estão espalha-
dos pelo objeto que ela está Reivindicando. Por exemplo, uma
aparição Reivindicando um carro pode ver, ouvir e sentir tudo
o que acontece a ele, dentro e à sua volta. Ela pode até mesmo
exercer algum controle sobre o objeto enquanto o estiver Reivin-
dicando.
Sistema: O jogador rola Força + Habitar. O número de sucessos
determina o tamanho máximo do objeto a ser Reivindicado. Ela
precisa obter apenas um sucesso para possuir um livro; cinco
para Reivindicar uma casa. Uma aparição pode exercer algum
controle enquanto ali dentro (virar páginas, fechar janelas, etc.);
a extensão exata de seu controle depende se ela está ou não sin-
tonizada ao objeto e de quantos sucessos ela conseguiu na jogada
além dos necessários para conseguir tomar o controle do objeto.
Se o objeto for destruído enquanto Reivindicado, a
aparição pode gastar Força de Vontade e Corpus para torná-lo
uma relíquia. Um ponto de Força de Vontade e um de Corpus
devem ser gastos para cada sucesso necessário para Reivindicá-
-la primeiramente.
Reivindicar custa 3 Pathos.
•••••
Capacitar
Aparições com esta arte podem criar um tipo de Arte-
fato gratuito ao colocar uma de suas artes dos Arcanos em uma
relíquia. A partir de então, outras aparições poderão usar a arte
ao ativar a relíquia. A relíquia, geralmente, deve ser apropriada
ao Arcanos envolvido; uma calculadora é um vassalo muito su-
perior para a Usura do que, por exemplo, um guarda-chuva.
Sistema: Primeiro, o jogador efetua uma jogada de Raciocínio +
Habitar. A dificuldade é igual ao nível da Mortalha local; muitos
Artífices Capacitam relíquias na segurança de seus Locais As-
sombrados. O número de sucessos indica o maior nível de Arca-
nos que a aparição poderá investir.
Depois, a aparição ativa o Arcanos apropriado, con-
centrando-se na relíquia. A aparição faz a jogada e paga o custo
apropriado, embora nenhum efeito óbvio resulte disso. Se for
bem-sucedida, a aparição imbui a relíquia com o Arcanos. Em
seguida, ela abastece a relíquia com Pathos (Sendo o máximo, o
número de sucessos no rolamento). Então decide que comando
ativará a relíquia (uma frase, gesto, um assobio, etc.) e a sela com
3 Pathos.
O resultado é um Artefato menor. Qualquer um que
use o comando de ativação e pague o custo apropriado para a
arte (Pathos, Força de Vontade ou o ganho de Angústia) pode
usar o Arcanos ali selado, gastando um dos pontos de Pathos
ali inseridos. Quando o Pathos investido (com exceção dos três
pontos usados para selar a relíquia) forem gastos, a relíquia se
torna mais uma vez “normal”.
Exemplo: A viajante Christine Andréas deseja colocar
a arte de Imitar (ela possui Modelar ••) em sua relíquia, um es-
pelho de mão, permitindo-a imitar o rosto de um Centurião lo-
cal. Ela viaja para seu Local Assombrado e inicia a demanda para
Capacitar. A jogadora rola Raciocínio + Habitar (oito dados para
Christine) com uma dificuldade 6 (o nível da Mortalha em seu
Local Assombrado). Ela obtém 4 sucessos, mais que suficiente.
Ela concentra-se, efetuando a jogada de Destreza + Modelar
(conseguindo um sucesso contra a dificuldade 8) e gastando 1
Pathos para ativar a arte Imitar. Em seguida, ela investe 4 Pathos
para dar ao espelho quatro “cargas”. (Ela gostaria de poder inves-
tir mais, mas teve apenas quatro sucessos no teste de Capacitar.)
Ela decide que o dono do espelho deverá sussurrar “Espelho,
espelho meu” para ativar a relíquia, e a sela com 3 pontos de
Pathos.
Ela passa o espelho para Dmitri. Ao sussurrar o co-
mando, Dmitri pode jogar sua Destreza + Modelar •• do espe-
lho, gastar um ponto de Pathos e assumir a apa-
rência do Centurião. Ele poderá fazer isso
quatro vezes antes que o Pathos do espelho
seja gasto e ele volte a ser uma relí-
quia normal.
I t e n s
Capacitados não
podem ser “re-
carregados”, mas
sim Capacitados
uma segunda vez.
Não há um modo
conhecido de se
criar um Artefato
permanente com
esta arte.
Esta arte
não possui custos
adicionais em
Pathos, mas sim
2 pontos de For-
ça de Vontade.
Capítulo 5: Características 145
 Lamúria
Bardos
ensas que só porque não respiramos
mais, nossas vozes perderam o poder?
Cale-se. Cale-se e escute.
Lamúria é um Arcanos da emo-
ção transmitida pelo som. As antigas
lendas de banshees e choros fantas-
magóricos têm, no mínimo, alguma
base nas artes da Lamúria. Aqueles
que dominam este Arcanos podem cantar a emoção para seus
ouvintes, vivos ou mortos.
Não é necessário que uma aparição cante para usar
este Arcanos. Se uma aparição deseja despertar as emoções
dos outros pela dança, oração ou mesmo pelo riso, ela pode.
Em alguns casos, a dificuldade para uma jogada de Lamúria
é aumentada em + 1; afinal, o Arcanos é ensinado pela
música.
Em última instância, as emoções que a Lamú-
ria instiga são artificiais, e não podem se comparar
à precipitação emocionante dos sentimentos ver-
dadeiros. Ganhar Pathos por uma emoção feita
com a Lamúria é possível, mas a dificuldade é 9,
e a energia é muito mais branda que o normal.
Mestres da Lamúria muitas vezes preferem in-
fectar uma pessoa com uma emoção, e então
se alimentar dos sentimentos que esta produz
em seus companheiros.
A Guilda
Soberbos e arrogantes, os Bardos se or-
gulhavam de serem aqueles que traziam música ao
Mundo Inferior. Com um excesso de confiança artísti-
co maior até que o dos Mascarados, eles se contrataram
como trovadores para a elite dos Inquietos. À altura de
seu orgulho, eles se juntaram à revolta das Guildas entu-
siasticamente, e do choque de sua derrota eles demoraram
décadas, senão mais, para se recuperar. Ainda assim, alguns
Bardos individualmente mantiveram influência e acesso aos
grandes e poderosos de Estigia – os nobres Estigianos fariam
qualquer coisa por uma diversão tão potente, e por séculos
os Bardos foram considerados uns dos poucos entretenimen-
tos “aceitáveis” em certos círculos sociais. Ainda hoje, muitas
aparições buscam os Bardos para sentir as profundezas das
emoções mortais mais uma vez.
Todos os Bardos tocam um instrumento musical de
algum tipo; mesmo aqueles que preferem suas performances a
capella usam algo para fazer barulho ou marcar o ritmo, como
címbalos de dedo, castanholas ou baquetas.
Falhas Críticas
Falhas críticas em Lamúria geralmente envolvem
respostas emocionais ou perdas de algum tipo. Erros podem
alimentar as emoções mais sombrias de uma aparição (ali-
146 Aparição: O Esquecimento
mentando sua Sombra com Angústia), distrair seus amigos
(aumentando suas dificuldades por uma cena), ou possivel-
mente enlouquecer temporariamente o cantor, conforme suas
tentativas de intrometer-se nas emoções dos outros se voltam
contra ele.
Habilidades Básicas
Tom Perfeito: Esta é a habilidade para perceber se
outra aparição está usando ativamente a Lamúria.
Sistema: O jogador deve efetuar uma jogada de Percepção +
Lamúria (dificuldade 6). Tom Perfeito pode ser resistido com
Sotto Voice (abaixo).
Sotto Voice: Com o uso de Sotto Voice, uma aparição
pode esconder suas artes de Lamúria em cantos comuns e
conversas casuais.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação
+ Lamúria (dificuldade 6). Sotto Voice pode ser detec-
tada por Tom Perfeito; a aparição que conseguir mais
sucessos em sua jogada vence.
• Nênia
Esta arte permite a uma aparição catalisar
as emoções “sombrias” de um ouvinte: deses-
pero, raiva, medo, solidão, mágoa, luxúria e
por aí vai. Esta arte já se mostrou excelente
para remover mortais indesejados de um local
particular.
Sistema: O jogador efetua um rolamento de Ca-
risma + Lamúria (dificuldade 8). O número de su-
cessos determina a profundidade e a duração do sen-
timento. Cinco sucessos irão afetar o mortal com uma
emoção negativa por uma semana.
No entanto, aparições não sofrem o mesmo efeito.
Nênia é uma arte fácil de se aprender pois vem do conheci-
mento e da sensação da morte, uma sensação familiar a todas
as aparições. Essa familiaridade enfraquece o impacto da arte,
e o número de sucessos na jogada de Nênia indica por quantos
turnos uma aparição permanecerá afetada.
Esta arte custa 1 Pathos, mas dá ao usuário 1 ponto
temporário de Angústia.
•• Balada
A aparição pode inspirar as emoções mais “elevadas”:
serenidade, alegria, júbilo, lealdade, amor, inspiração, vigor, fé
e outras mais. Esta é uma arte altamente útil para proteger Gri-
lhões e influenciar os outros a formarem alianças.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação + La-
múria (dificuldade 8). O número de sucessos indica a profun-
didade do sentimento e sua duração. Cinco sucessos podem
encher um mortal de alegria por uma semana. Aparições são
menos seduzidas; o número de sucessos é igual ao número de
turnos pelos quais a emoção irá durar.
 A Balada custa 1 Pathos.

••• Musa
Esta arte permite à aparição fazer uma sugestão ao
subconsciente do alvo, o inspirando com uma idéia que ele
acreditará ser própria. Isto é útil para aqueles que continuam
a compor música, arte ou literatura após a morte, mas que-
rem um médium para levar seus trabalhos aos vivos. De forma
mais comum, esta arte é utilizada para manipular sutilmente
outras aparições.
Sistema: Quanto mais sucessos num rolamento de Manipula-
ção + Lamúria, melhor o alvo interpretará a sugestão. Três su-
cessos ou menos indicam que ele pegou a idéia geral, mas co-
locou sua própria base nela. Quatro sucessos significam que
ele irá seguir a sugestão enquanto não lhe for diretamente
perigosa; cinco ou mais sucessos o impelem a fazer o que
convier ao Bardo. Esta arte trabalha igualmente bem em
aparições, mortais e outros seres sobrenaturais.
Musa custa 2 Pathos e dá ao usuário 1 ponto de
Angústia.

•••• Estrondo
A aparição pode gritar uma explosão musical capaz
de danificar plasma a um alcance próximo. Este som vai a
grandes distâncias; aparições a um quilômetro ou dois
ouvirão o Estrondo.
Sistema: Role Vigor + Lamúria (dificuldade 8). O can-
tor inflige um nível de dano de Corpus por sucesso em cada
aparição na distância normal para ouvir. O dano não é agrava-
do, e pode ser absorvido. O Estrondo não pode ser combinado
a Sotto Voice.
Cantar um Estrondo quando Encarnado inflige a
todos os ouvintes um medo terrível e paralisante, que in-
flige um nível de Vitalidade de dano a cada dois sucessos.
Este dano também pode ser absorvido, mas irá afetar vam-
piros, lobisomens e outras criaturas sobrenaturais.
Esta arte custa 3 Pathos, assim como dá ao usuário 1
ponto de Angústia.

••••• Réquiem
Esta arte inunda o alvo com emoção pura, nua e crua.
Qualquer sentimento que a aparição deseje irá se abater sobre
o alvo, enterrando sua alma nestas ondas.
Sistema: A aparição decide a emoção que deseja projetar e rola
Força + Lamúria (dificuldade 7). O alvo pode resistir com uma
jogada de Força de Vontade, mas apenas se estiver preparado.
Cada sucesso obtido pelo Bardo paralisa o alvo por um turno;
que estará dominado pela emoção e não pode se mover, agir,
falar ou se defender. Emoções particularmente sombrias po-
dem marcar a alma do alvo. Se cinco ou mais sucessos são ob-
tidos em uma emoção sombria, o alvo pode sofrer a perda de
pontos em atributos Mentais ou enlouquecer. Emoções agra-
dáveis podem afetar o alvo de maneira perigosa, também.
Ele pode se viciar em um sentimento de tal forma po-
deroso, e fazer qualquer coisa para senti-lo novamente.
Esta arte custa 3 Pathos, e mais 1 Pathos por
sucesso. Se a emoção projetada é “sombria”, a Sombra
ganha 1 ponto de Angústia temporária por sucesso.
omo eu te encontrei? Meu amor, foi mais fácil do que
Capítulo 5: Características 147
 Teia Vital
Monitores
você pensa. Nós tivemos uma ligação
em vida; na morte, ela é ainda mais
forte.
Teia Vital é o estudo das amarras
entre aparições e o mundo dos vi-
vos. Um mestre nos segredos deste
Arcanos pode sentir e manipular as
ligações dos Grilhões, lidando com
sua energia como um tecelão mani-
pula suas linhas e seu tear.
A Teia Vital permite a uma aparição monitorar a
energia de seus Grilhões, mantendo o rastro deles mesmo
à distância. Alguns se sentam no coração desta teia, esten-
dendo seus sentidos para qualquer “ponto problemático”
quando este for perturbado. Outros caminham ativa-
mente entre as pessoas, lugares e coisas, marcando
alguns como Grilhões temporários a fim de obser-
vá-los com maior eficiência.
A GuildaOs Monitores não eram vitais à so-
ciedade Estigiana como eram os Conciliado-
res, Mascarados ou Artífices. Eles frequen-
temente tratavam os membros desta Guilda
como Ceifadores, e como tal, tinham uma
influência considerável na população Lêmure.
Entretanto, seu foco no mundo mortal os impe-
diu de atingir em Estigia a mesma influência que
algumas outras Guildas.
Desde a queda de sua Guilda, os Monitores
se colocaram ainda mais na defensiva do que antes.
Eles se recusam a ensinar a outras aparições mais do que
as artes mais básicas da Teia Vital, a não ser que estejam
absolutamente convencidos de que seus pupilos são dignos
de confiança. Correm rumores que acusam certos ex-Moni-
tores de proteções fraudulentas, ameaçando os Grilhões de
outras aparições se não subornados, e ligando aparições a
objetos prestes a serem destruídos.
Monitores nunca fecham os olhos, nem mesmo na
Modorra, e assim podem ser detectados.
Falhas
Críticas
Ler de maneira errada a delicada rede da Teia Vital
pode apresentar muitos efeitos colaterais. Uma falha crítica
em uma simples leitura sensorial pode levar a uma leitura
distorcida ou errada. Se o personagem está tentando algu-
ma coisa particularmente poderosa, uma falha crítica pode
significar que ele perde o rastro de um de seus próprios Gri-
lhões enquanto durar a história. Alguns dizem que erros ter-
148 Aparição: O Esquecimento
ríveis levaram aparições a separarem-se acidentalmente de
seus Grilhões, mas isto ainda não foi provado.
Habilidades
Básicas
Localizar Grilhão: A aparição pode “checar” qual-
quer um de seus Grilhões, efetuando uma varredura em suas
proximidades. Esta habilidade também permite à aparição
sentir a distância e direção de um Grilhão.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Percepção + Teia
Vital (dificuldade 6). Cada sucesso permite que ela use um
dado de sua jogada de Percepção + Prontidão para inspecio-
nar a área do Grilhão. Ela também pode efetuar uma jogada
de Inteligência + Teia Vital para ter uma estimativa geral
do quão longe e em que direção ela está do seu Grilhão.
• Sentir Filamento
A aparição pode examinar detalhadamente os pa-
drões de energia envolvendo aparições e Grilhões.
Ela pode perceber as ligações entre uma aparição
e seus Grilhões, sentir se algo é de fato um Gri-
lhão ou não e, se sim, identificar a aparição
presa a ele.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de
Percepção + Teia Vital (dificuldade 8) para
estudar outra aparição. Cada sucesso reve-
la uma pista sobre um Grilhão pertencente ao
alvo. Este estudo deve ser feito em primeira mão,
e com uma jogada bem-sucedida de Percepção +
Lábia, o alvo perceberá que está sendo analisado. Ad-
versários precavidos podem fazer uma jogada de For-
ça de Vontade para resistir a Sentir Filamento.
Para rastrear um possível Grilhão, o jogador efetua
uma jogada de Percepção + Teia Vital (dificuldade 6). Para
traçar as conexões de um Grilhão em todas as direções, o
jogador efetua uma jogada de Inteligência + Teia Vital (difi-
culdade 6). O número de sucessos determina a precisão que
a aparição irá verificar a direção e a distância. Uma aparição
pode apenas examinar um Grilhão uma vez por dia.
•• Presença da Teia
A aparição pode usar esta arte para afetar a área
próxima de um Grilhão à distância. Ela pode usar Arcanoi,
comunicar-se com alguma aparição lá, ou efetuar qualquer
jogada envolvendo atributos Mentais ou Sociais.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Carisma + Teia
Vital (dificuldade 8).
Esta arte custa 1 Pathos por turno de uso.

••• Trançar Filamento
A aparição pode criar uma ligação temporária com
uma pessoa, lugar ou objeto, fabricando um Grilhão tem-
porário. Ambos, a aparição envolvida e o objeto, devem ser
tocados de alguma maneira pelo Monitor que realiza a jun-
ção, ao ponto que a conexão seja feita. O Grilhão pode ser
mantido no dia-a-dia, mas apenas um Grilhão temporário
pode ser mantido de cada vez por esta arte.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação +
Teia Vital (dificuldade 7). O nível do novo Grilhão é 1. Esta
arte também pode ser utilizada para religar outra aparição a
um Grilhão do qual tenha sido separada, embora a dificul-
dade passe a ser 8.
Custa 1 Pathos para criar a afinidade, e 1 Pathos por
dia para mantê-la. O custo para manter este Grilhão é pago
pela aparição a ele ligada.
•••• Romper Filamento
A aparição que exercite esta assustadora arte pode
separar outra aparição de seus Grilhões. Ela somente exe-
cutará isto na presença do Grilhão-alvo, mas poderá cor-
tá-lo por meio de pura força de vontade.
Sistema: Uma vez que a aparição tenha identificado e
chegado ao grilhão-alvo, o jogador efetua um rolamento
de Força + Teia Vital (a dificuldade é a Força de Vontade
do dono do Grilhão-alvo). O alvo pode resistir a essa jo-
gada com uma jogada de Força de Vontade.
Uma aparição que tenha sido
separada de seu Grilhão pode reli-
gar-se a ele por dois métodos.
Primeiro, ela poderá simples-
mente gastar um ponto
permanente de Força de
Vontade, em conta-
to com o antigo
Grilhão. Outra
alternativa é usar
Trançar Filamen-
to (ou que outra
aparição use nela)
para refazer a ligação.
Isto não pode ser
feito com Grilhões separados por Pesadelos, ou perdidos
“naturalmente”, mas sim apenas naqueles que a Teia Vital foi
usada para separar. Ela poderá gastar um ponto de Força de
Vontade para tornar o efeito de Trançar Filamento perma-
nente, mas apenas se o objeto já havia sido um de seus Gri-
lhões.
Esta arte custa 2 Pathos e 1 ponto de Força de Von-
tade.
•••••
PactoA aparição
da Almaque dominar esta arte pode reivindicar
uma alma mortal como sua. Isto é geralmente feito como
parte de um contrato no qual o mortal compromete sua alma
em troca de ajuda “do outro lado”. A partir deste momento,
enquanto o mortal viver, ele será um Grilhão para a apari-
ção. Quando o mortal morrer, a aparição instantaneamente
saberá; se o mortal se tornar uma aparição, esta e o Monitor
continuarão com sua ligação.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de
Carisma + Teia Vital (a dificuldade é a
Força de Vontade do alvo). O alvo en-
tão se torna um Grilhão de um ponto.
Se o sujeito se tornar uma aparição
após sua morte (e a maioria se torna),
ele e o Monitor receberão uma Pai-
xão de um ponto cada: protegerem
um ao outro.
Esta arte custa
5 Pathos e 3 pontos
de Força de Vonta-
de.
Capítulo 5: Características 149
 Modelar
Mascarados
are de tremer, isto é um trabalho delica-
do. Você pagou muito Pathos por quali-
dade e eu sou o melhor que você vai en-
contrar. Ah, aqui vamos nós. Excelente.
Agora, tente não deixar que essas asas
sejam arrancadas – não posso prometer
que qualquer um consiga consertá-las e
manter a incandescência.
A matéria da alma das aparições,
chamada plasma, é uma substância muito mais maleável que a
carne. Modelar, às vezes chamado “moldar a alma”, é o poder de
esculpir e rearranjar esse plasma.
Aparições que conhecem os segredos de Modelar po-
dem tornar o plasma belo, fazendo-o tremeluzir e brilhar; até
mesmo fazê-lo parecer vibrantemente vivo. Elas também po-
dem esculpi-lo em qualquer desfiguração horrível que se pos-
sa imaginar. Com o gasto de Pathos, Moldar torna o plasma
fluido por uma eternidade momentânea, tempo o suficien-
te apenas para um escultor talentoso criar uma visão da
beleza, ou algo saído de um pesadelo.
Quanto mais complicado for o efeito dese-
jado com Modelar, mais tempo ele levará para cri-
á-lo. Simplesmente abrir um talho no plasma de
um oponente, ou transformar um punho fechado
em um porrete é quase instantâneo, enquanto
transformar uma aparição em uma almofada
finamente trabalhada ou re-trabalhar comple-
tamente o Corpus de alguém pode levar minu-
tos ou até mesmo horas.
A GuildaA Guilda dos Mascarados, voltando a um
passado distante, era a casa, em expansão, da moda e
embelezamento. Os Mascarados dedicavam muito de
seu tempo a preencher a pesada demanda pelo Modelar
personalizado e gozavam de uma alta posição entre as de-
mais Guildas. Fosse moldar uma aparição em sua auto-ima-
gem ideal ou fazendo armas terríveis de seu próprio Corpus,
os Mascarados clamavam que poderiam atender a qualquer
pedido e criar a verdadeira arte enquanto quisessem.
E é claro, os mestres em Modelar também eram guer-
reiros, espiões e assassinos do mais alto calibre. Quando os
Mascarados decidiram se retirar do golpe tentado pelas Guil-
das, a desconfiança que outras aparições nutriam por eles ga-
nhou força. Ainda que praticamente toda Cidadela tenha um
antigo Mascarado na lista de pagamento, qualquer aparição
conhecedora de Modelar é observada cuidadosamente hoje em
dia.
Mascarados são excepcionalmente ligados à sua arte,
e têm quase que uma obsessão pela perfeição. Além disso, sua
Corpora é extremamente maleável, e Mascarados muitas vezes
parecem ser um pouco perfeitos demais. Ocasionalmente, dois
ou mais Mascarados que trabalhem bem juntos adotam preci-
samente o mesmo aspecto.
150 Aparição: O Esquecimento
Falhas
Críticas
Uma falha crítica em uma jogada de Modelar pode
resultar em um sem-fim de deslizes grotescos, nada que seja
fácil de consertar. Talvez a aparição a ser modificada perca pon-
tos em Aparência, ou o inimigo a ser Dilacerado ganhe níveis
de Corpus pela trapalhada. Qualquer mudança indesejada em
aparência ou habilidades deve provavelmente durar por uma
cena, embora o Narrador possa permitir ao personagem usar
um ponto de Força de Vontade para tentar consertar os erros
descuidados à sua frente.
Habilidades
Básicas
Incandescer: A aparição pode usar esta arte para fazer
com que ela mesma ou outrem brilhe com uma luz interior de
qualquer cor e intensidade que ela queira.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Carisma + Mode-
lar (dificuldade 7). O número de sucessos indica por quan-
tas cenas o brilho perdura.
Esta arte custa 1 Pathos.
Retornar o Aspecto da Morte: Esta habilidade traz a
aparição de volta a seu aspecto original, fazendo-a
parecer como era quando sua Coifa foi removida.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Mani-
pulação + Modelar. A dificuldade depende de
quantas mudanças a aparição passou desde sua
morte (mudanças menores 6, mudanças mo-
deradas 8, mudança drástica 10). O número de
sucessos define o quão precisamente a aparição
assume sua forma original.
Esta arte custa 1 Pathos.
Sentir Modelar: Aqueles com Modelar po-
dem detectar se outra aparição foi Modelada ou não e,
se caso tenha sido, de que maneira.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Percepção + Mo-
delar (a dificuldade é igual à Destreza + Modelar do escultor
original). O número de sucessos determina a quantidade de
informação obtida, possivelmente dando até mesmo ao perso-
nagem uma idéia da forma original da aparição modificada.
• Imitar A primeira arte ensinada aos aprendizes em Modelar
é a habilidade de modificar um rosto para que imite outro. Isto
é obviamente mais fácil quando a aparição está olhando para a
face a ser Imitada, embora Imitar possa ser feito pela memória.
A aparição pode modificar apenas seu rosto, não todo seu Cor-
pus.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Modelar.
A dificuldade varia: 5 se ela puder ver o rosto, 8 se está usando
sua memória. Se a aparição tem uma máscara de couro do alvo
sob sua posse (ver Dilacerar a seguir), a dificuldade cai para
4. O número de sucessos indica a dificuldade de se adaptar ao
disfarce.
Esta arte custa 1 Pathos.

•• EsculpirUma aparição pode utilizar Esculpir para alterar o
Corpus da maneira que decidir. Ela pode desenvolver novos
membros, fazer dentes irregulares, fazer crescer novos órgãos
sensoriais, enfeitar-se com marcas e pinturas, ou fazer partes de
seu corpo brilhar ou trocar sua cor. O único efeito de Esculpir
que pode simular armamentos é a criação de presas poderosas,
permitindo à aparição realizar manobras de mordidas. Ainda
assim, a aparição mantém suas capacidades físicas originais,
não importando o número de membros e anexos; usar ativa-
mente estes membros e anexos requer Belicismo (listado abai-
xo).
Sistema: O personagem pode Esculpir a si mesmo ou a outra
aparição. O jogador efetua uma jogada de Manipulação + Mo-
delar (dificuldade 7). O Narrador define o número de sucessos
necessários para se atingir o objetivo. Quaisquer efeitos de Es-
culpir serão permanentes (até que sejam neutralizados por ou-
tro ato de Esculpir). Esta arte não pode causar dano; ela apenas
modifica a forma do alvo.
Esta arte custa 1 Pathos para utilizar, e o alvo perde 1
nível de Corpus.
Esculpir também pode ser utilizada para curar dano
agravado; uma aparição usando Esculpir pode repor níveis de
Corpus perdidos ao re-trabalhar os ferimentos. Aquele que cura
deve obter um sucesso para cada nível de dano agravado a ser
curado; este uso de Esculpir custa 1 ponto de Força de Vontade
e 1 de Pathos, e mais 1 Pathos para cada sucesso obtido.
••• Belicismo
Esta arte permite à aparição mol-
dar seus membros em armas ou fazer de
sua pele uma armadura. Quaisquer ar-
mas criadas são automaticamente utili-
záveis por qualquer um que saiba como,
mas a armadura tende a ser rígida e in-
flexível. A aparição simplesmente molda
o membro escolhido como a arma desejada,
endurecendo-a no processo. Da mesma forma,
uma aparição tentando fazer uma armadura trabalha
seu Corpus para que se torne uma formidável carapa-
ça com o brilho de um espelho. Muitos Mascarados
deliberadamente fazem seu arsenal corporal tão en-
feitado e personalizado quanto possível, sem reduzir
um mínimo de sua utilidade.
Sistema: Para criar armamentos, o jogador deve
efetuar uma jogada de Inteligên-
cia + Modelar (a dificuldade é
o Vigor do personagem + 3).
Cada sucesso permite que a
arma inflija um dado adicional
de dano em combate próximo. A
forma da arma é de pouca importância,
embora muitas aparições prefiram espadas
pela facilidade de uso.
Para esculpir armaduras, o
jogador deve efetuar uma jogada de
Vigor + Modelar (a dificuldade é
sua Força + 3). Cada sucesso
adiciona um dado à jogada de absorção de dano do persona-
gem, mas cada sucesso depois do primeiro adiciona + 1 à di-
ficuldade de qualquer jogada baseada em Destreza, devido à
rigidez da armadura.
Utilizar Belicismo custa 3 Pathos. Armas e armaduras
não podem ser criadas ao mesmo tempo; Belicismo deve ser
utilizado duas vezes para criar os dois efeitos. Além disso, uma
aparição pode usar o Belicismo apenas em si mesma; preparar
outros para a guerra é uma das artes perdidas da então banida
Guilda.
••••
Dilacerar
Mestres nessa arte podem arrancar a Corpora de ou-
tras aparições. Usos criativos de Dilacerar permitem à aparição
desmembrar, desfigurar ou ainda mutilar outra alma, podendo
ir tão longe ao ponto de poder se arrancar o rosto de uma vítima
e guardá-lo como uma lembrança. Este troféu horrendo é cha-
mado de máscara de couro, e pode ajudar no uso de Imitar.
Sistema: O personagem que for utilizar Dilacerar deve primeiro
tocar seu alvo, geralmente com uma jogada de ataque bem-su-
cedida. O jogador efetua então uma jogada de Força + Modelar
(a dificuldade é o Vigor da vítima + 3). Cada sucesso inflige um
dado de dano agravado, mais um dado por cada ponto extra de
Pathos utilizado. Cinco ou mais sucessos permitem à aparição
arrancar uma parte de seu oponente (por exemplo, rosto, mão,
joelho ou apenas uma mão cheia de plasma).
Dilacerar custa 1 Pathos para ativar, e mais a quanti-
dade que o jogador quiser para conseguir mais dados. Cada uso
de Dilacerar traz ao personagem 1 ponto de Angústia.
••••• Modelar Corpo
O personagem com esta arte pode transformar seu
Corpus ou de outrem em praticamente qualquer coisa
imaginável, de uma super modelo a uma
estante de livros ou um bloco de escultura
moderna. É perigoso esticar tanto assim
o plasma de alguém; o volume relativo
da forma final deve ser aproximada-
mente igual ao volume normal da
aparição.
Sistema: O jogador efetua uma jo-
gada de Raciocínio + Modelar, a
dificuldade dependendo da forma fi-
nal desejada. Conseguir a forma de uma
poça escorregadia é muito fácil (dificuldade
5), enquanto imitar um Anacreontete Hie-
rarca em sua indumentária completa é
muito difícil (dificuldade 9). A aparição
pode apenas manter uma mudança de
corpo inteiro por um tempo limitado
(uma cena por sucesso) antes que seu
Corpus volte ao normal.
Esta arte custa 4 Pathos. Se Mode-
lar for utilizado para transformar um indi-
víduo relutante em uma tocha ou um objeto
similar, a aparição também recebe 2 pontos
de Angústia.
Capítulo 5: Características 151
 Insulto
Assustadores
hhhhhhaaaaaaÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! Te as-
sustei, não foi?
Há muitas maneiras de se afe-
tar o mundo dos vivos das Terras das
Sombras. Insulto é o Arcanos que ma-
nifesta a força da vontade de uma apa-
rição como energia cinética. Suas artes
são todas físicas ou violentas de uma
forma ou outra, assim como seus praticantes.
A GuildaA Guilda dos Assustadores não era uma Guilda de
maneira nenhuma; seus membros eram causadores de pro-
blemas tão rebeldes que tinham dificuldades de se rela-
cionar até mesmo entre si. Sua falta de estrutura interna
atrasava sua capacidade de negociar com outras Guil-
das, e eles tinham apenas uma demanda moderada
pelo uso de suas artes. Apenas os Artífices encon-
travam trabalhos constantemente para os Assus-
tadores, alistando-os na criação de relíquias.
Consequentemente, os Assustado-
res não foram atingidos tão duramente pela
dispersão das Guildas. Eles voltaram a suas
atividades usuais quase sem dificuldade, e
ex-membros da Guilda ainda podem ser en-
contrados começando brigas e confusões nas
partes mais perigosas das cidades. Eles gostam
de brandir armas rudes como maças, e frequente-
mente passam algum tempo na companhia de seus
companheiros canalhas, os Zombeteiros.
O Assustador típico tem dedos estranhamen-
te nodosos, músculos poderosos e uma aparência um
tanto quanto deformada.
Falhas
Críticas
Uma tentativa de Insulto que falhe de forma crítica
pode atingir o alvo errado, ou se abater sobre a área de efeito
errada. A aparição pode também dar muito de si na tentati-
va, perdendo um pouco de Vigor ou Força de Vontade por
uma cena ou duas. Ou, até pior, efeitos extremamente vio-
lentos podem alimentar a Sombra com grandes quantidades
de Angústia.
Habilidades
Básicas
Súbito de Fúria: Ao concentrar suas emoções e
vontade nas Terras das Sombras, a aparição se torna capaz
de saltos e pulos extraordinários.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Insulto
(dificuldade 6). A aparição pode adicionar os sucessos àque-
152 Aparição: O Esquecimento
les que conseguiria normalmente ao dar um salto ou pulo.
Esta arte também pode ser utilizada para se mudar de dire-
ção na Tempestade.
• SibilarEste nível básico permite à aparição manipular os
menores objetos no mundo material. A aparição pode mo-
ver objetos apenas do tamanho de uma tampa de garrafa, e
apenas a uma pequena distância em qualquer direção. Isto
tende a ser útil para atrair a atenção dos vivos ou pressionar
pequenos botões.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Força + Insulto.
Esta arte custa 1 Pathos por uso.
•• Aperto da Aparição
Esta arte permite à aparição afetar as Terras da Car-
ne de maneira mais completa. O Aperto da Aparição
pode ser utilizado apenas para levantar coisas, em-
bora uma aparição poderosa possa levantar obje-
tos de tamanho mediano (e então deixá-los cair
à sua vontade). O objeto pode ser levantado a
uma altura moderada antes que a aparição o
solte.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de
Força + Insulto. O número de sucessos indica
o que pode ser levantado (ver “Feitos de For-
ça”, página 249). Os objetos podem ser apenas
levantados, não empurrados, manipulados ou mo-
vidos de qualquer outra forma.
Cada uso desta arte custa 2 Pathos.
••• Punho de Pedra
A aparição invoca sua fúria e a açoita através da
Mortalha, atingindo o alvo com força bruta. Esta arte tam-
bém pode ser utilizada com objetos no Mundo Inferior, in-
cluindo outras aparições.
Sistema: Cada sucesso em uma jogada de Força + Insulto
inflige um nível de Vitalidade (ou Corpus, se o alvo for uma
aparição) no alvo.
Esta arte custa 2 Pathos por golpe.
••••
ToqueA aparição
da Mortepode agora manipular objetos no mun-
do físico. Esta arte permite digitar, abrir janelas e por aí vai,
como se a aparição fosse sólida. A aparição pode, como al-
ternativas, decidir criar atrito, acendendo labaredas sem ne-
nhum tipo de fonte material para as chamas.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Insulto.
A delicadeza e controle da aparição dependem do número
 de sucessos obtidos. O poder dura cerca de
um minuto por sucesso.
Para fazer fogo, a aparição efetua
uma jogada de Força + Insulto (dificuldade
8). O número de sucessos indica o calor e a ex-
tensão do fogo.
Esta arte custa 3 Pathos.

••••• Obliterar
Esta arte abominável permite à aparição cau-
sar um dano tão forte a alguém ou algo que pode
enviá-lo para o Esquecimento. Objetos materiais
destruídos dessa forma desvanecem no Esqueci-
mento, a não ser que estejam Habitados por outras
aparições (neste caso, tornam-se relíquias). Usar esta
arte em objetos ou relíquias nas Terras das Sombras en-
via-os diretamente para o Esquecimento.
Esta arte também pode destruir aparições e mortais,
levando suas almas ao Esquecimento.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Força + Insulto
contra a Mortalha local. Caso esteja tentando afetar outra apa-
rição, a dificuldade é o Vigor do alvo + 3. Cada sucesso inflige
um nível de dano agravado e não-absorvível. Criaturas vivas so-
frem níveis de Vitalidade de dano, mas suas almas caem em um
Pesadelo Destrutivo caso sejam destruídos. Aparições reduzidas
a zero de Corpus por esta arte também caem imediatamente em
Pesadelo Destrutivo.
Esta arte custa 3 Pathos. A aparição também recebe 2 pontos de
Angústia a cada vez que utiliza Obliterar.

Capítulo 5: Características 153

 Pandemonium
Zombeteiros
lhe isto! Veja essas pessoas correndo,
buscando segurança! Quem disse que
não há beleza na discórdia? Vivaaa!
Pandemonium é a habilidade
de tocar no próprio caos, libertando
o estranho e o sobrenatural sobre o
mundo dos vivos. Alguns chamam
esse Arcanos de Selvageria, um nome
apropriado, visto que isto mais libera as forças do que as con-
trola. Outras aparições tendem a evitar os mestres em Pan-
demonium, pois os efeitos distorcidos da Selvageria podem
ser nocivos a suas sanidades.
A Névoa encobre a maioria dos efeitos mais fla-
grantes deste Arcanos. Neblinas repentinas, sangue go-
tejando por debaixo de portas, enxames de aranhas ou
relógios saindo de controle tendem a levar a maioria
das pessoas a um estado de pânico ou descrença. Até
mesmo gravações em vídeo desses efeitos serão
questionadas; vídeos são cada vez mais fáceis de se
modificar...
A dificuldade para qualquer efeito de
Pandemonium é igual à Mortalha local, a não
ser que haja uma observação em contrário.
A maioria dos mortais não se lembrará dos
detalhes deste Arcanos (ver a tabela da Né-
voa, página 240).
A GuildaVoltando ao tempo das Guildas, apenas
os Assustadores se associariam regularmente aos
Zombeteiros. As duas Guildas cooperavam para tirar
intrusos mortais de construções que eles eram contra-
tados para “limpar”. Entretanto, nenhuma outra Guilda
iria se misturar alegremente com os misantrópicos e meio
loucos Zombeteiros. Seu controle da Selvageria pareceu dis-
torcer suas mentes tanto quanto distorcia a realidade, e nin-
guém podia ter certeza de que os Zombeteiros mantinham
o controle sobre si mesmos ou os seus poderes. Hoje em dia,
Assustadores e Zombeteiros são praticamente inseparáveis, e
as outras aparições ficam felizes em deixá-los assim.
Os Zombeteiros são reconhecidamente incon-
venientes, adotando todo tipo de maneirismos peculiares
(risadinhas inapropriadas, vozes afetadas, olhares um pou-
co atentos demais para sua orelha esquerda, e por aí vai).
Muitos adotaram ondulantes capas negras como um tipo de
insígnia de honra ou acessório teatral. jada) para infligir um nível de dano na Vitalidade ou Corpus
Falhas
Críticas
Falhas críticas em Pandemonium geralmente resul-
tam em algum tipo de reação contrária, distorcendo as coisas
que a aparição pretendia deixar em paz. Elas podem causar
154 Aparição: O Esquecimento
uma confusão temporária nos arredores das Terras das Som-
bras onde a aparição esteja, ou roubar Pathos ou Corpus da
aparição sem causar nenhum efeito nas Terras da Carne.
Habilidades
Básicas
Sentir Caos: A sintonia da aparição com o caos e
com a Sombra lhe permite detectar se algo foi manipulado
por Pandemonium ou por uma Sombra. Isto também é útil
para detectar se um mortal vem sendo atormentado por Es-
pectros.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Percepção + Pan-
demonium (dificuldade 7).
• Estranheza
A aparição pode invocar algum efeito pequeno e es-
tranho sobre um único alvo. O objeto desta arte pode se
sentir subitamente gelado, arrepiar-se, ou sofrer uma
alucinação momentânea.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Carisma
+ Pandemonium.
Esta arte custa 1 Pathos.
•• Confundir
A aparição pode confundir momentanea-
mente um alvo, desorientando-o e o fazendo
esquecer temporariamente quem é e o que es-
tava fazendo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Inteli-
gência + Pandemonium (tendo como dificuldade a
Força de Vontade do alvo). Os efeitos duram um tur-
no por sucesso. A vítima deve fazer uma jogada de In-
teligência (dificuldade 8) para pensar com clareza. Esta
arte funciona igualmente bem em aparições e mortais.
Confundir custa 1 Pathos.
••• Éter Sombrio
A aparição pode interferir com o clima ou a ilu-
minação em uma pequena área. Ela poderá mudar radical-
mente a temperatura, invocar névoa e escuridão, modificar
a umidade ou mesmo evocar um clarão similar ao Fogo de
Santelmo.
Sistema: O jogador declara o efeito desejado e efe-
tua uma jogada de Inteligência + Pandemonium. O número
de sucessos define a escala e a duração das mudanças no am-
biente. Cinco sucessos trazem tamanha turbulência (se dese-
nas criaturas que estejam na região. Isto, no entanto, é raro; a
maioria dos Zombeteiros usa esta arte mais para aterrorizar
do que para ferir.
Esta arte custa 2 Pathos para invocar. Além disso,
se Éter Sombrio for usado como um ataque, trará 1 ponto de
 Angústia ao usuário.

•••• HumorA aparição

Negro pode canalizar seu Corpus pela Mortalha,
manifestando substâncias perigosas ou apanhados de pequenos
vermes. Ela pode criar pragas de sapos ou gafanhotos, nuvens
de vespas, ou ninhos de cobras, ratos ou aranhas. Ela também
pode, como uma alternativa, produzir viscosidade apodrecida,
carne humana, sangue, lixo orgânico podre, ácido razoavel-
mente forte, ou outro tipo de material repulsivo.
Sistema: O jogador deve definir o efeito desejado e efetuar
uma jogada de Inteligência + Pandemonium. O número de su-
cessos determina o tamanho e o detalhamento da manifestação.
Substâncias ou vermes geralmente desaparecem após uma cena ou
menos; os resíduos invariavelmente permanecem, principalmente
se a aparição obteve cinco ou mais sucessos. Quaisquer efeitos cáus-
ticos ou danosos infligem um dado de dano para cada dois sucessos na
jogada inicial.
Esta arte custa 1 Pathos e 1 ponto de Força de Vontade, e traz à
Aparição 1 ponto de Angústia.

••••• Tempus Fugit

A aparição pode distorcer o tempo e o espaço. Ao usar Tempus Fugit, ela
pode atrasar ou apressar a passagem do tempo, ou fazer com que o com-
primento de um corredor pareça um passo ou uma légua. Ela não pode,
contudo, reverter ou repetir o tempo.
Sistema: O jogador declara suas intenções e efetua uma jogada de Inteli-
gência + Pandemonium. O número de sucessos determina o nível da mu-
dança permitida na área próxima.
Cada sucesso altera o fluxo do tempo por um turno. Por exemplo, se a
aparição obteve três sucessos, ela poderá fazer com que uma ação que requei-
ra um turno se transforme em quatro turnos de esforço. De maneira oposta,
ela poderia acelerar uma ação que requeresse seis turnos, fazendo com que
fosse finalizada em três. Esta arte só pode ser usada uma vez por cena. (Obser-
vação: Esta arte não se adiciona ao número de ações que o alvo obtém por Ra-
pidez, Fúria, ou Efeitos da Esfera Tempo; ela pode apenas subtraí-las.) Tempus
Fugit também funciona nas Terras das Sombras (dificuldade 7).
Esta arte custa 4 Pathos e 1 ponto de Força de Vontade. Uma alternativa é
que, efetuando uma jogada de Destreza + Pandemonium (dificuldade 7), a apa-
rição possa concentrar esta arte apenas em si mesmo, ganhando uma ação extra
por turno para cada sucesso. Este método custa 2 Pathos e 1 ponto de Força de
Vontade, e os efeitos duram por uma cena.

Capítulo 5: Características 155

 Phantasma
Oneiros
urpreso? Não deveria estar. Não são
todas as coisas possíveis nos sonhos?
Venha, sente-se sob a Árvore Mecâni-
ca. Tome um gole da garrafa de luz do
sol líquida ao seu lado. A Cerimônia
do Ossário Onírico está prestes a co-
meçar!
Phantasma é o Arcanos dos so-
nhos. Aqueles que dominam suas
artes podem retirar a alma de um mortal adormecido de sua
carne e levá-la em uma viagem pelas Terras das Sombras. O
sonhador se lembrará dos eventos que vivenciou como um
sonho longínquo, se conseguir se lembrar, mas durante os
sonhos, eles serão certamente reais.
Este Arcanos é uma boa maneira de envolver
diretamente mortais em atividades das aparições. Um
sonho muito vívido pode inspirar ou assustar uma
pessoa para que ela mude seu comportamento. A
aparição pode até alterar os elementos do sonho a
seu gosto, instruindo ou aterrorizando sua pla-
téia.
Sonhadores trazidos às Terras das
Sombras são tratados como Aparições com
formas particularmente sólidas. Eles podem
sofrer dano apenas de Artefatos especiais ou
ataques que inflijam dano agravado em apari-
ções. Sonhadores atacados voltam imediatamen-
te a seus corpos, quase sempre acordando into-
cados. Apenas os mais poderosos Oneiros podem
causar dano permanente ou matar mortais em seus
sonhos.
Observação: As artes de Phantasma podem ser
usadas para efeitos benéficos ou maléficos, e isto tem um
efeito direto no preço por se usar o Arcanos. Com a exceção
de Agonia, qualquer arte de Phantasma que seja usada para
ferir a alma de outro dá ao usuário um ponto de Angústia. A
mesma arte pode ser usada para curar ou entreter, sem trazer
Angústia ao Oneiro em questão; o que determina o custo é a
intenção do Oneiro.
A GuildaA Guilda dos Oneiros já foi um lugar glorioso para
se trabalhar. Cheios de fervor artístico e um amor pelas artes
dramáticas, os Oneiros esculpiam palcos com a matéria dos
sonhos e interpretavam grandes obras nos teatros do sono.
Senhores da Morte e Anacreontetes barganhavam por seus
serviços, e as artes de Phantasma tinham um prestígio consi-
derável.
Quando as Guildas foram desfeitas, os Oneiros fi-
zeram seu melhor para manter o espetáculo. Phantasma era
156 Aparição: O Esquecimento
mais que um serviço para eles, era uma questão de amor.
Mesmo hoje, trupes viajantes de Oneiros levam seus espetá-
culos para as Necropoli pelo mundo, recontando histórias e
rumores porque não amam nada mais que isso.
Oneiros se vestem-se com brilheiros, um material
fracamente incandescente retirado dos sonhos. Eles também
se distinguem por seus freqüentes maneirismos e comporta-
mentos extremamente dramáticos.
Falhas
Críticas
Falhas críticas em Phantasma geralmente têm um
efeito terrível sobre o sonhador (a menos, é claro, que este
fosse o objetivo da aparição). Ilusões cuidadosamente en-
trelaçadas podem rapidamente fugir ao controle, às ve-
zes causando pesadelos recorrentes ao alvo. A Sombra
da aparição pode também assumir o controle, ator-
mentando o sonhador com sua imaginação distorci-
da. Criar visões tão destrutivas costuma aumentar
a Angústia da aparição ofensora.
Habilidades básicas
Sentir Sono: A aparição pode observar
os sonhos de um mortal, ou dizer em que
ponto ele se encontra em seu ciclo de sono
(MRO, sono profundo ou transição).
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Per-
cepção + Phantasma (dificuldade 6). A aparição
pode observar os sonhos do mortal por um turno
por sucesso.
• Elysia
A aparição pode gentilmente tocar a alma do mor-
tal adormecido, a libertando sem feri-la. Quando a alma
estiver solta, a aparição poderá levá-la consigo como desejar.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Phan-
tasma. A dificuldade depende do estágio de sono atual do
alvo: MRO (6), transição de sono (7) ou sono profundo (8).
O mortal pode permanecer no mundo do sonho por uma
cena por sucesso. Elysia pode ser utilizado em alvos assis-
tindo televisão ou em estados similarmente hipnóticos. No
entanto, a dificuldade é 10, e o alvo permanecerá no mundo
do sonho por duas cenas a menos (por exemplo, se a apari-
ção obtém um ou dois sucessos, a tentativa de Elysia falha).
Esta arte custa 1 Pathos.
•• LucidezA aparição pode alterar detalhes do sonho de um
mortal. Digamos que ela entre em um sonho onde o sonha-
dor está cercado por crocodilos na piscina de seu avô. A
aparição poderia remover os crocodilos ou transformá-los
em tubarões, mudar do dia para a noite, ou transformar a ilusão pode levar tantos níveis de Corpus de dano que o jo-
piscina em um pântano. Se ela mudar detalhes o suficiente, gador quiser investir antes de ser destruída. Uma aparição
poderá fazer com que um agradável sonho se torne um pe- não pode “curar” uma ilusão danificada; terá de fazer outra.
sadelo, ou vice-versa.
Sistema: Primeiro, o Narrador estabelece uma dificuldade,
baseado na extensão das mudanças desejadas. O jogador
••••• Agonia
A aparição pode arrancar a alma de
efetua uma jogada de Manipulação + Phantasma; as mu- um mortal di- retamente de seu
danças se tornam mais vívidas e duradouras com cada su- corpo ador- mecido. Isso causa
cesso. u m a dor excruciante, e
Esta arte custa 2 Pathos. geralmente é debili-
tante para o sonhador.
••• Devaneios Oníricos
A aparição pode fazer outras apari-
Sistema: O jogador efe-
tua um rolamento de Força
ções caírem no sono e sonharem, como se + Phantasma (dificuldade
estivessem novamente vivas. 8). O número de sucessos
Sistema: O jogador não precisa efe- indica por quantas cenas
tuar a jogada se for consentido pelo a aparição pode segurar a
alvo. Caso ele não queira, o jogador alma do sonhador. O so-
deve efetuar um rolamento de Carisma nhador também leva um
+ Phantasma (a dificuldade é a Força de número igual de dano em
Vontade do alvo), que pode resistir com seus Níveis de Vitalidade
uma jogada resistida de Inteligência ao acordar. Ele pode resis-
+ Lábia. tir efetuando uma jogada de
Esta arte custa 1 Pathos. Raciocínio + Lábia (dificulda-
de 8), fazendo do uso desta arte
••••

Fantasmagoria
A aparição pode
uma verdadeira batalha. Falhas
críticas em qualquer lado são me-
moldar Pathos em ilusões. lhor deixadas para a imaginação
Fantasmagoria afeta os do Narrador.
cinco sentidos, mas sua Agonia custa 3 Pathos, e a apari-
duração é limitada. Estas ção ganha 2 de Angústia por uso.
ilusões serão sólidas para ou - Falhas críticas geralmente tra-
tras aparições apenas se for investi- zem ao usuário mais Angústia.
do Corpus nelas. Se a aparição Encarnar,
ela poderá criar estas ilusões no mundo
mortal.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de
Carisma + Phantasma (dificuldade 6). O
número de sucessos é igual ao número
de sucessos necessários (de uma jogada
de Percepção + Prontidão) para enxer-
gar através de uma ilusão e ao número
de turnos que ela irá durar. A
aparição deve investir ao menos
um nível de Corpus para fazer a ilu-
são parecer material (e perigosa). A

Capítulo 5: Características 157

 Titerismo
Titereiros
mmm. Não me diga que não se lem-
bra como era ser quente, ter sangue
correndo por seu corpo. Ah, vejo que
lembra, sim. Maravilhoso, não era? Nós
podemos sentir isso novamente, e mais
ainda. Experimente segurar o coração
palpitante de alguém em suas mãos, ou
ouvir sua amante gemer em seu ouvido.
Nunca vou me cansar disso...
De todos os 13 Grandes Arcanoi, Titerismo foi o
que Caronte proibiu com maior severidade. Apenas os Se-
nhores da Morte e sua Hierarquia tinham permissão de do-
minar os mortais, possuí-los e assim afetá-los diretamente.
Mas assim como todos os frutos proibidos, o Titerismo tem
seus devotos, aqueles que desejam se arriscar a sofrerem
os castigos da Hierarquia para sentir mais uma vez o
gosto das Terras da Carne.
Aparições dominando um sujeito não são
propriamente parte das Terras das Sombras, por-
tanto, são imunes aos perigos normais do local.
Entretanto, elas sofrem dano como seus hospe-
deiros sofrem. Além disso, os atributos Físicos
e Talentos se sobrepõe aos da aparição, a não
ser que ela esteja diretamente no controle.
O Titereiro é um co-piloto, e geralmente
nada mais.
A maioria dos aspetos de Titerismo
requerem que a aparição se sintonize ao Consor-
te gastando Força de Vontade enquanto o Cavalga
(ver “Sintonia”, página 135). A aparição pode ten-
tar se utilizar destas artes (à escolha do Narrador) em
mortais não-sintonizados, mas a dificuldade aumenta
em + 2 (até o máximo de 10).
A GuildaA Guilda dos Titereiros nunca foi parte oficial da
sociedade de Estigia. Embora até mesmo Caronte usasse seus
serviços algumas vezes, ele tolerava sua presença em Estigia
por causa da afiliação que eles tinham com outras Guildas,
e não por algum mérito próprio que eles possuíssem. Sua
participação na tentativa do golpe era a desculpa que Estigia
vinha esperando, e os Titereiros estavam entre as aparições
perseguidas mais ferozmente após a falha do golpe. Hoje, os
Titereiros que praticam sua arte o fazem bem longe de qual-
quer representante da Hierarquia.
A maioria dos Titereiros sente uma grande ternu-
ra, agindo de forma paternal com seus protegidos. Muitos
tentam evitar guerras entre os mortais e assim proteger seu
Breve favorito. É claro, as ocasionais ovelhas negras sentem
exatamente o oposto, corpos mortais, eles dizem, são a di-
158 Aparição: O Esquecimento
versão perfeita, feitos para usar e abusar.
Titereiros inconscientemente exibem maneirismos
estranhos e às vezes sotaques adquiridos de hospedeiros
mortais variados durante os momentos em que Cavalgaram.
Falhas
Críticas
Uma falha crítica em Titerismo pode prender a
aparição dentro de seu hospedeiro, um passageiro renitente
sem nenhum tipo de controle. Talvez o longo processo de
sintonia seja irremediavelmente perdido, e tenha que ser rei-
niciado. No caso de um erro drástico, a aparição pode sem
querer forçar seu hospedeiro a fazer o oposto do que ela pre-
tendia (por exemplo, disparar acidentalmente uma arma, ou
acionar alarmes com o código de segurança errado).
Habilidades Básicas
Detectar Possessão: A aparição pode perceber se
outra aparição está Cavalgando o alvo no momento,
ou mesmo se o alvo já tem alguma Sintonia para o
Titerismo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Per-
cepção + Titerismo. A dificuldade é 7 para de-
tectar uma possessão ocorrendo, 9 para per-
ceber o intrincado padrão de um Consorte.
• Cavalgar
Cavalgar é a arte mais básica da possessão.
É a capacidade de deslizar para dentro de um
corpo mortal, se unindo a ele para um breve pas-
seio. A aparição não pode exercer nenhum controle
com esta arte, e o hospedeiro age de acordo com sua
própria vontade. Entretanto, qualquer arte mais sofisti-
cada no Titerismo requer que a aparição primeiro Caval-
gue o hospedeiro.
Sistema: Para entrar no corpo de um hospedeiro, a aparição
deve efetuar uma jogada de Destreza + Titerismo (a dificul-
dade é a Força de Vontade do alvo). O número de sucessos
obtidos define o número de sucessos que outra aparição deve
obter para suplantar o primeiro que estava no corpo.
•• Movimento Súbito
Uma aparição usando esta arte pode tomar ligei-
ramente o controle do braço ou perna de seu hospedeiro.
Usos sutis desta arte podem fazer com que um hospedeiro
manipule um objeto de alguma forma sem o perceber.
Sistema: A aparição deve primeiro Cavalgar o hospedeiro,
então efetuar uma jogada de Força + Titerismo (a dificulda-
de é a Força de Vontade do alvo). A vítima pode resistir com
uma jogada de Força de Vontade. Quanto mais sucessos a
aparição obtiver, maior será o controle.
 Esta arte custa 1 Pathos por uso. Se a vítima resistir, a aparição também recebe 1 ponto de Angústia.

••• A VozAdoaparição
Mestrepode dominar brevemente o centro de fala de seu hospedeiro, fazendo-o falar. A voz resultante é uma
estranha combinação das vozes da aparição e do hospedeiro.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Inteligência + Titerismo (a dificuldade é a Força de Vontade do alvo). A aparição
pode falar pelo tempo de um suspiro por sucesso. A Voz do Mestre custa 1 Pathos e traz à aparição 1 ponto de Angústia.

••••

Governar a Mente
Esta arte permite a uma aparição possuir alguém sem o conhecimento do hospedeiro. Na maioria dos casos, isto só
pode ser feito com um Consorte. O hospedeiro fica semi-consciente, embora passivo, pelos efeitos desta arte, e irá retomar
o controle quando o Titereiro libertá-lo. Ele irá imediatamente tentar racionalizar suas ações; ao falhar, poderá procurar al-
gum tipo de terapia ou avaliação de sua saúde mental. Qualquer dor que o hospedeiro sinta se refletirá em dano ao Corpus
d o Titereiro. Terapia de eletrochoque é útil para afugentar aparições, mas não pode mantê-los fora para sempre.
Sistema: O jogador rola Manipulação + Titerismo (a dificuldade é a Força
de Vontade do alvo ou a Mortalha do local, o que for maior). A arte dura
por um número de cenas igual aos sucessos do Titereiro. O hospedeiro
pode gastar um ponto de Força de Vontade para resistir à possessão.
Neste caso, o hospedeiro efetua uma jogada de Força de Vontade contra
a Manipulação + Titerismo da aparição. Cada sucesso indica uma cena a menos
que a aparição ficará no controle.
Esta arte custa 4 Pathos e gera um ponto de Angústia temporária.

••••• Obliterar a Alma

Após condicionar um Consorte pelo uso extenso e repetido de Go-
vernar a Mente, o Titereiro pode começar a viver em tempo integral
no corpo mortal. A personalidade do hospedeiro é devorada pela
Sombra do Titereiro. Sempre que a aparição deixar um cor-
po assim possuído, ele fica catatônico, não respondendo a
nada e não fazendo nenhuma ação por si mesmo.
Sistema: Uma vez que a aparição tenha condicionado seu Con-
sorte (usando Governar a Mente no mínimo 10 vezes), o joga-
dor pode fazer uma jogada prolongada de Força + Titerismo
(tendo como dificuldade a Força de Vontade do alvo ou a
Mortalha local, o que for maior). Quando a aparição obtiver
sucessos o suficiente para se igualar à Força de Vontade do
hospedeiro, ela terá atingido seu objetivo. Uma falha críti-
ca em qualquer momento pode ter o mais grave dos efeitos
no Titereiro; ele pode cair imediatamente em um Pesadelo ou
receber Angústia o suficiente para permitir à sua Sombra uma
jogada de Catarse (ver página 177).
Duas semanas após a remoção de sua alma original,
o corpo-hospedeiro iniciará um lento processo de decaída.
Depois de algum tempo, ficará inútil. Assim, a maioria das
aparições com esta arte a usam apenas nas circunstâncias
mais terríveis. Esta arte é ineficaz contra seres sobrenaturais,
e pode ser usada apenas uma vez por mês, na lua nova. Se a
primeira tentativa de Obliterar a Alma não obtiver nenhum
sucesso, a aparição deverá esperar um mês para tentar no-
vamente. Por outro lado, apenas um sucesso na jogada ini-
cial irá permitir à aparição as tentativas seguintes quando
quiser.
Esta arte custa 5 Pathos e 2 pontos de Força de Vontade, e a
aparição recebe pontos de Angústia em igual número à Força de
Vontade original do hospedeiro.

Capítulo 5: Características 159

 Usura
Usurários
ico contente que tenhamos chegado a
um acordo. Sele o trato com um aperto
de mão, e eu lhe darei exatamente o
que precisa. Eu não sou nada menos
que justa, meu amigo.
Na morte, assim como na vida,
nada é de graça. Pathos é a moeda
do além-túmulo, e Usura é o Arcanos
das trocas. É a delicada dança dos tratos, de trocar Pathos e
Corpus de uma fonte para outra. Aqueles com Usura podem
atuar como curandeiros, mendicantes, mercadores ou este-
lionatários, e às vezes tudo de uma só vez. Tudo depende da
reputação que eles escolhem ter.
A Usura envolve o poder sobre a energia da mor-
te, e a desconfiança é proporcional em alguns círculos.
Muitos apontam a Sombra como a fonte deste Arca-
nos, citando inumeráveis histórias de “barganhe com
o Diabo” como prova. Eles não estão tão errados;
o uso repetido da Usura pode elevar a Angústia
de uma aparição a níveis nada saudáveis rapida-
mente. Quando usada contra os Breves, Usura
não é nada mais senão o roubo da vida em si.
Uma aparição precisa tocar o alvo
para se utilizar de Usura. Para afetar mor-
tais, se precisa de outro Arcanos, como Ti-
terismo, Encarnar, Habitar ou Phantasma. A
energia vital assim roubada é visível para outras
aparições como uma luz vívida, que se turva à me-
dida que é absorvida.
A GuildaEm seu apogeu, os Usurários eram uma Guil-
da de reputação e poder político consideráveis. Sempre
alerta à próxima oportunidade, eles se juntaram aos mon-
tes com as outras Guildas quando os Artífices lideraram o
golpe contra Caronte. Entretanto, conforme ficava claro que
a tentativa estava fadada à falha, os Usurários rapidamente
reverteram sua posição, enfraquecendo as forças das outras
Guildas sem as suas reservas desesperadamente necessárias
de Pathos e Corpus. Sua deserção, mais do que a de qualquer
um dos outros, arruinou a revolta.
Os Usurários desde então se refugiaram na clandes-
tinidade para se proteger, tanto das zelosas patrulhas de Esti-
gia quanto de membros vingativos das Guildas que ainda se
ressentem de sua “traição”. Mesmo agora, aqueles com uma
necessidade urgente de Corpus ou Pathos devem seguir uma
série de pistas em uma selvagem e incomum caçada para en-
contrar um Usurário. Se ninguém seguir o cliente, e se ele
parecer confiável, os Usurários o ouvirão. Mesmo que isso
tenda a de alguma forma restringir os negócios, os Usurários
160 Aparição: O Esquecimento
encontram consolo em cobrar preços mais altos de clientes
com os quais eles particularmente não se importem.
Usurários tendem a falar em termos precisos e nu-
méricos. Todos carregam algum tipo de balança, que os per-
mitem manter o equilíbrio da energia transferida.
Falhas
Críticas
Ter uma falha crítica em uma jogada de Usura fre-
quentemente reverte o caminho da troca; se estava roubando
Corpus, a aparição pode se perceber subitamente dando seu
próprio Corpus ao alvo. Caso esteja tentando curar um mor-
tal, a aparição pode se encontrar roubando Níveis de Vita-
lidade. O Narrador deve se sentir livre para fazer com que
os níveis de energia da aparição fiquem instáveis como
outras possibilidades.
Habilidades Básicas
Avaliação: A aparição pode medir os níveis relati-
vos de vida e morte em um indivíduo. Um estudo
cuidadoso pode dar alguma idéia dos valores re-
lativos de Vigor, Vitalidade ou Corpus da pes-
soa. Ferimentos aparecem como talhos negros
na forma da pessoa, e a aparição pode esti-
mar sua gravidade. A aparição também pode
perceber energia vital em geral dentro de uma
área específica.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Per-
cepção + Usura (dificuldade 6). Quanto mais su-
cessos na jogada, mais exata será a Avaliação.
• Transferência
A aparição pode transferir Pathos entre si mesma
e outra aparição. Ela pode fornecer seu Pathos ao alvo, ou
roubar o Pathos de sua vítima. Esta transferência será sem-
pre visível a quem olhar como uma aura vívida em volta da
aparição que recebe o Pathos.
Sistema: O jogador deve efetuar uma jogada de Manipula-
ção + Usura. Se a aparição está doando Pathos ao alvo, a di-
ficuldade é o nível de Pathos atual de seu cliente. Caso esteja
roubando Pathos, a dificuldade é igual à Força de Vontade
de seu alvo. O número de sucessos é igual à quantidade de
Pathos que pode ser transferida.
Quando se rouba Pathos, esta arte traz à aparição
um ponto de Angústia temporária.
•• TermoAodeinfundir
Doaçãoseu próprio Corpus em um mortal ou
em uma aparição, o Usurário pode curar feridas. A aparição
sopra seu Corpus no alvo. Esta arte pode ser usada até em
mortais sem nenhum outro Arcanos para manifestá-la.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Usura. A dificuldade é igual ao nível de Corpus ou
Vitalidade do alvo. A aparição pode transferir um nível de Corpus por cada sucesso nessa jogada.
Esta arte custa 1 Pathos por uso.

••• Retirada Precoce

O oposto do Termo de Doação, esta arte permite à aparição roubar a energia vital de
outra pessoa com nada senão um toque.
Sistema: Uma vez que a aparição esteja em contato com sua presa, ela efetua uma jogada de
Manipulação + Usura (a dificuldade é a Força de Vontade da vítima). Cada sucesso rouba um
nível de Vitalidade ou Corpus; a vítima os retira de sua ficha enquanto o Usurário os adiciona à
sua própria. A aparição pode usar esta arte apenas se estiver abaixo de seu nível máximo de
Corpus; se ela está intacta, não tem onde “colocar” qualquer Corpus roubado, a não
ser que tenha a arte Taxa de Câmbio (abaixo).
Esta arte traz ao usuário um ponto temporário de Angústia.

•••• Taxa de Câmbio

Qualquer aparição pode converter Pathos em níveis de Corpus (ver “Cura”,
página 232). Aparições que conhecem esta arte podem fazer o contrário, transforman-
do seus níveis de Corpus em Pathos. Elas podem simplesmente converter seu próprio
Corpus, ou utilizar esta arte em conjunto com Retirada Precoce (acima).
Sistema: Cada sucesso obtido em uma jogada de Inteligência + Usura (dificulda-
de 6) permite a um nível de Corpus ser convertido em Pathos. Há um custo
de um ponto de Pathos cada vez que esta arte é usada, como um tipo de
taxa da transação metafísica.

••••• Investimento
Esta arte permite a uma aparição verter Corpus
e/ou Pathos em uma relíquia, guardando-o para uso
futuro. A aparição precisa se concentrar na relíquia
em questão, canalizando e selando cuidadosamente
sua energia dentro dela. A energia poderá então ser
acessada por qualquer um que conheça o gesto ou
a frase de comando para quebrar o selo.
Sistema: O jogador gasta 2 Pathos, e então mar-
ca o número de pontos de Pathos ou Corpus que
deseja investir. Cada sucesso em uma jogada de In-
teligência + Usura (dificuldade 7) investe 1 ponto (até o
limite estabelecido) na relíquia. Todos os pontos excedentes
“apostados” são perdidos. Para selar os pontos, a aparição
deve gastar um ponto de Força de Vontade e definir uma frase
ou gesto de comando para “abrir” a reserva guardada. Uma dada
relíquia pode guardar apenas um tipo de energia. Esta é a arte pela
qual os cristais de fogo fátuo são criados e mantidos.

Capítulo 5: Características 161

 onde minha filha está enterrada, olho minha esposa se ajoelhar
Paixões as mãos unidas à frente do corpo, ao lado do túmulo para olhar
cabeça baixa. Lágrimas escorren- a pedra rosa polida. Seus olhos
Eu tenho uma fraca me-
do pelo rosto, mas mais que isso, brilhando como mercúrio à
mória de estar andando na Ave-
posso sentir e até ver a onda de misteriosa luz do dia.
nida Deering saindo da Rua do
emoções sombrias que rodeiam Acho curioso não sen-
Congresso através do Cemitério
seu corpo. Raios de energia são tir qualquer tipo de cansaço
de Riverside. Tive uma sensação
deslocados pulsando, e quando pelo esforço de andar pelo ce-
estranha de passagem de tempo
me aproximo dela, pareço expe- mitério, mesmo sabendo que
e de uma distância que foi cruza-
rimentar o que ela está sentindo são mais que seis quilômetros
da, mas não consigo me lembrar
de uma forma que jamais pude da Escola Primária Pine Knoll
de nada claramente ou em mui-
quando estava vivo. Sem com- até Riverside. Assim que che-
tos detalhes. Tempo e distância
preender, eu absorvo esse senti- go no túmulo da minha filha,
parecem escorregadios, menos
mento. no entanto, me sinto comple-
organizados ou definidos do que
Só depois de ver Sarah, tamente drenado, física e emo-
no tempo em que eu era vivo.
começo a compreender como cionalmente.
Pelo caminho, noto vá-
distinguir os vivos dos mortos. Me pergunto como
rias outras pessoas. Algumas de-
Aos meus olhos, os vivos, mes- posso me sentir fisicamente
las me olham de esguelha e con-
mo aqueles poucos que parecem drenado quando não possuo
tinuam seus caminhos, outras
carregar uma tristeza doentia mais um corpo. Tudo que sinto
me ignoram, seja por escolha ou
dentro deles, brilham com uma e penso são ainda minhas pró-
porquê, eu acho, estão vivos e
energia pulsante. Alguns deles prias emoções e pensamentos,
não podem me ver.
parecem quase translúcidos. Eu mas estar morto e livre das res-
De qualquer maneira,
rio, os imaginando como “fan- trições físicas parece fortalecer
decido que seria fútil, até mesmo
tasmas” nesse mundo morto. alguns sentimentos. Meu Cor-
perigoso, falar com qualquer um
Todos os mortos que eu pus treme violentamente en-
que passava por mim. O velho
vejo (e quanto mais me aproximo quanto levanto as mãos e junto
me convenceu que as Terras das
do cemitério, mais deles eu vejo) os dedos. Não importa quanto
Sombras são perigosas e tenho
parecem palidamente cinzentos, eu aperte as mãos, não consi-
uma sensação de perigo tão dis-
muito mais que a tonalidade sem go escapar daquele estranho
tinta quanto posso ver (e sentir)
vida de sua pele. Suas “essências”, sentimento dissociativo. Qua-
as emoções sombrias das pessoas
ou o que os Nova Era chamariam se não sinto minhas mãos. É
que passam por mim. Torço que,
de suas “auras”, parecem murchas como olhar alguém movendo
se eu ignorá-las, elas me ignora-
e apagadas como se corrompidas meus dedos.
rão.
pelo toque da Morte. Seus olhos Emoções conflitantes e
Quando chego ao cemi-
são vazios e sem significado, e poderosas quase se sobrepõem
tério, me surpreendo ao ver que
parecem focados em algo distan- a mim enquanto olho Sarah se
Sarah, a mulher que foi minha
te que não pode ser visto. inclinar para frente e sussurrar
esposa, está lá. É com um enor-
Eu sigo Sarah até o túmu- algo. Suas palavras, ecoando
me senso de dissociação que olho
lo de Karen no alto da colina e apagadas, estão perdidas para
pra ela caminhando pela colina

162 Aparição: O Esquecimento

mim.
Sinto o cheiro de pesar
dentro de mim, mas não importa
o quão forte seja, não se formam
lágrimas nos meus olhos. Mi-
nhas emoções estão engarrafadas
dentro de mim e não encontram
uma saída.
Eu quero ir até lá e tocar
Sarah, mas tenho medo de ten-
tar, medo que aquela cascata de
emoções que vi ao redor dela pu-
desse ferir um de nós, de alguma
forma.
“Sarah… Sarah”, eu cha-
mo ao me aproximar e estender
uma das mãos.
Não consigo evitar de
tremer a mão enquanto me abai-
xo perto dela, mas então vejo
estupefato de horror quando mi-
nha mão a atravessa como uma
fumaça insubstancial.
Uma agonia afiada de pa-
vor me preenche quando a vejo
paralisada olhando para trás e
procurando ao redor. Seus lábios
se movem e ela diz algo, mas no-
vamente, não escuto claramente.
“Sim, Sarah! Estou aqui!
Estou aqui ao seu lado!” eu cha-
mo. “Sou eu… David!”
Eu quase sou engolido
por uma sensação de solidão e
abandono. Será que ela ao me-
nos sabe o que aconteceu comi-
go? Ela já foi notificada que estou
morto?
Uma pequena parte da
minha mente sussurra que ela
não pode me ver ou ouvir, mas
eu experimento um pequeno
raio de esperança quando ela pa-
rece reagir aos meus esforços. Ela
se levanta devagar e franzindo a
testa, olha ao redor do cemitério.
Eu acompanho seu olhar
e vejo outras aparições. A maio-
ria deles parece alheio a ela, mas
percebo que vários deles estão
olhando na nossa direção como
se respondessem às nossas emo-
ções. Eles quase parecem famin-
tos.
Desesperado por me co-
municar, me movo para frente.
Meu Corpus se move numa câ-
mera lenta desesperadora en-
quanto eu a encontro com ambas
as mãos, querendo desespera-
damente abraçá-la para que ela
saiba que eu pretendo encontrar
e proteger nossa filha se ela ain-
da estiver aqui nas Terras das
Sombras. Minha visão do mun-
do é esquisita, como olhar a tudo
através de uma janela de vidro
embaçado de vários centímetros.
Tamanhos e distâncias são estra-
nhos e distorcidos e uma onda
escura de vertigem cresce dentro
de mim. Mais uma vez, tenho a
sensação de cair para trás, girar
sem controle no vácuo ou limbo.
“Por favor, Sarah! Me es-
cute… Olhe pra mim!” eu espe-
ro, mas mesmo aos meus ouvi-
dos, minha voz não parece mais
alta que uma rajada de vento que
nem mesmo apagaria uma vela.
Capítulo Seis: A Sombra 163
Atormentado além do
suportável, vejo Sarah tremer
quando varre nervosamente o
cemitério com o olhar. Então,
secando as lágrimas do rosto,
ela começa a descer lentamen-
te para o carro.
Um anseio inexprimí-
vel me preenche ao acompa-
nhá-la, ainda chamando por
ela, tentando tocá-la. Eu sei
que é inútil e depois de uma
última olhada para o alto, no
túmulo de Karen, ela entra no
carro e vai embora, deixando
uma nuvem de poeira pelo ca-
minho.
Sou deixado sozinho
sob a sombra de uma árvore,
me sentindo mais que nunca,
só e desolado. O som do car-
ro reverberando no ar denso
como o som de um bateria
que morre à distância. Assim
que o carro de Sarah desapa-
rece, aquele sentimento pro-
fundo de solidão começa a
queimar dentro de mim tão
intensamente que desejo que
eu pudesse simplesmente dis-
solver… e desaparecer… no
Esquecimento.
Ali sozinho no cemi-
tério, vendo a poeira baixar
como neve caindo na grama,
eu caio pra frente e cubro o
rosto com as mãos.
Eu choraria se pudesse.
164 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Seis:
A Sombra
… desse modo, fui arrastado constantemente para esta verdade, cuja
descoberta parcial me condenou a esta terrível ruína: que o homem não
é verdadeiramente um, mas dois.
- R.L. Stevenson, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e o Sr. Hyde

Demônio Pessoal ada aparição tem o seu pior inimigo
vivendo dentro de sua cabeça. Embora
a personalidade original da aparição, a
Psique, seja o rosto que a aparição apre-
senta para o mundo, sua Sombra está
sempre lá, procurando distorcer e cor-
romper tudo que puder. O confidente
nas sombras, o portador da tentação e
desprezo, ela é toda malícia e egoísmo dentro de sua alma, uma
voz que nunca pode ser silenciada.
Assim como a Psique se esforça em seguir suas Pai-
xões, a Sombra tem suas Paixões Sombrias para cumprir. A
existência de uma aparição é alimentada por pura energia emo-
cional do Pathos, mas sua Sombra se alimenta de seu oposto, a
Angústia. Embora não sejam exatamente más, elas são implaca-
velmente negativas e destrutivas. Uma combinação do clássico
id Freudiano e do valentão da escola do ensino fundamental, a
Sombra é provavelmente a pior coisa sobre ser uma aparição.
Afinal de contas, vozes exteriores podem ser silenciadas de al-
guma maneira. Mas ninguém pode calar o seu demônio inte-
rior.

Capítulo Seis: A Sombra 165

O Guia da Sombra
Embora você possa conhecer o lado negro de seu
personagem, você certamente não pode controlá-lo. É por este
motivo que a tarefa de jogar com sua Sombra é transferida para
outro jogador de seu grupo, que atua como seu Guia da Som-
bra. Isto possibilita um conflito e discussão real entre Psique e
Sombra e tê-la oferecendo sua perspectiva distorcida sobre a si-
tuação pode acabar levando a umas poucas revelações que você
deixou passar. Afinal de contas, não é divertido quando a voz
que fica te oferecendo aqueles tentadores dados extras é a sua
própria…
Além disso, não é apenas o seu Guia da Sombra que
fica com toda a diversão. Assim como outra pessoa está contro-
lando o lado negro de seu personagem, você também controla o
de alguém. Isto serve tanto para balancear o jogo como para ga-
rantir que o máximo de jogadores possíveis estejam envolvidos
nas ações do jogo todo o tempo. Sem o uso do Guia da Sombra,
se um Círculo de aparições se separa, existe a possibilidade de
que metade do grupo fique sentado sem fazer nada enquanto a
outra metade fica com toda a diversão. Com o Guia da Sombra,
no entanto, a metade do grupo que está sem ação no momento
com seus personagens ainda pode ter uma participação vital no
que está acontecendo jogando como as Sombras dos persona-
gens que estão atuando.
O Rosto da Sombra
Quem sabe que mal espreita nos corações dos homens...
– Lamont Cranston, vulgo A Sombra
A Sombra de uma aparição é uma inimiga implacá-
vel, inevitável, comum a todos os Inquietos e bastante singular.
Egoísta em seus desejos, ela representa toda a malícia, o ódio, a
ganância e as trevas que nos integram, mas de forma muito mais
refinada. Ela quer as coisas à sua maneira, egoísta, sem medir as
consequências de seus atos que irão guiar Psique e Sombra, para
o Vácuo. A bem da verdade, a maior parte delas prefere enfren-
tar a aniquilação a sofrer as consequências por seus atos. Nesse
meio tempo, no entanto, existem outros objetivos a serem al-
cançados: perverter e corromper a Psique; tomar o controle dela
quando as circunstâncias permitirem; alimentar o Esquecimen-
to com outras aparições; espalhar emoções negativas e frustrar
os objetivos da Psique sempre que possível. Uma sombra tem
reservas de energia que ela pode oferecer para a sua contraparte
em tempos de necessidade, mas esta ajuda vem com um preço
terrível e a aparição que começa a contar com a assistência de
sua Sombra pode ver esta ajuda ser negada na pior hora possí-
vel.
Uma Sombra é uma personalidade distinta da Psique,
e muitas chegam ao ponto de darem nomes a si mesmas. Ela é
uma personalidade sem consciência ou restrições, apesar dela
poder fingir tê-las caso haja necessidade. Há também um toque
sádico em muitas delas e algumas chegam a adiar uma rápida e
fácil vitória com o intuito de prolongar a agonia da Psique.
166 Aparição: O Esquecimento
Criação da Sombra do Personagem
criação do personagem não termina
quando você cria a Psique. A Sombra é
tão importante para a personalidade de
uma Aparição quanto a Psique e mere-
ce a mesma consideração e atenção em
sua criação. Uma Sombra que é criada
como um simples detalhe não vai ser
interessante para o Guia da Sombra jo-
gar e sem uma forte interação Psique/Sombra, uma parte do que
faz de Aparição algo único se perde.
A criação da Sombra deve ser feita em conjunto com
seu Narrador e talvez com seu Guia da Sombra também. É difí-
cil julgar quão forte o seu lado negro deve ser e a assistência de
um Narrador para balancear a Psique e a Sombra é inestimável.
Ainda assim, é a Sombra de seu personagem; e ninguém conhe-
ce melhor seus segredos obscuros do que você mesmo.
Passo Um: Arquétipo
Sou o aquele que teus segredos conhece
Sou o único que a ti tem amado
Sou o décimo terceiro no banquete
Sou o hóspede que não foi convidado
- Marrilion, “O Hóspede que não foi convidado”
O primeiro passo para fazer uma Sombra realista é
criar um conceito de personagem. Simplesmente pegar os con-
ceitos da sua Psique e virá-las de cabeça para baixo nem sempre
funciona; afinal de contas, a Sombra tem sua própria personali-
dade. O Prelúdio de um personagem é uma boa hora para reu-
nir pistas sobre o tipo de Sombra que ele terá assim como qual-
quer traço negativo que ele exibe na vida real irá literalmente
tomar vida própria no Mundo Inferior.
Abaixo estão alguns exemplos de Arquétipos das
Sombras. Algumas são variações de Arquétipos da Psique que
já existem, outras são exclusivas para o lado negro de uma apa-
rição. É muito comum para uma aparição ter a mesma Natureza
para a Psique e a Sombra; pois ambas podem compartilhar da
mesma atitude em relação ao mundo mesmo com perspectivas
radicalmente diferentes.
Exemplos de Arquétipos
Estes são apenas alguns dos mais comuns exemplos
de Arquétipos de Sombras e os jogadores devem se sentir livres
para modificá-las ou criar outras por conta própria. Quando se
trata desse tipo de coisa, a escuridão possui uma variedade infi-
nita.
O Arquétipo serve como uma maneira de interpretar
como a Sombra irá atacar sua Psique. Uma Sombra com o Ar-
quétipo Parasita irá se queixar e bajular a fim de obter as coisas
à sua maneira, enquanto uma com o arquétipo Monstro será
obscena e direta.
• A Abusiva - Terrivelmente ferida uma vez, esta Som-
bra impaciente e invejosa existe para infligir sua dor nos outros.
Ela examina cuidadosamente as falhas de todos ao seu redor,
acumulando desprezo sobre eles de todas as maneiras possíveis.
Isto é feito em parte para reforçar a imagem que tem de si mes-
ma, mas principalmente para ferir todo mundo o máximo que
puder. A Abusiva te incentivará a tentar o impossível, só para
ver você falhar de modo que ela possa saborear a auto-aversão
que o fracasso produz em você. Caótica e louca, a Abusiva irá
açoitar qualquer outro alvo além do seu favorito: ela mesma.
Quando está dominante, a Abusiva irá vomitar sua
acidez em todas as direções. Qualquer desculpa a colocará fora
de si e se nenhuma desculpa for fornecida, ela criará uma. Exigir
obediência de todos, pedidos absurdos e um sistemático abuso
verbal ou físico são as marcas registradas desta Sombra. Afinal
de contas, porque o resto do mundo deveria sofrer menos que
ela própria?
• A Diretora - Quieta e organizada, a Diretora irá dei-
xá-lo em pedaços com a precisão de um relógio. Fria em seu
ódio, arrancará todas as suas defesas, camada por camada, ten-
do prazer na natureza cirúrgica do tormento que inflige. Não há
nada pessoal que a Diretora faça; ela está apenas endireitando
as coisas ao remover qualquer ilusão que você poderia ter a res-
peito de bondade, sanidade ou quaisquer outras qualidades que
você pensasse que tinha.
O modus operandi da Diretora é esvaziar as gavetas da
sua mente, catalogando cada fraqueza, cada memória dolorosa e
toda falha de caráter, por menor que seja. Estas informações não
são usadas aleatoriamente, no entanto, mas acumuladas para
ocasiões especiais. Quando a sua compreensão da realidade
começa a vacilar, a Diretora sabe quanta pressão aplicar a fim
abalar você ainda mais.
Quando está no controle, a Diretora gosta de preparar
planos de longo alcance para a próxima vez em que ela estiver
dominante e preparar pequenas revelações desagradáveis para
você descobrir em cuidadosos intervalos de tempo. Ela também
aprecia separar você de seus companheiros, fazendo observa-
ções maliciosas que irão envenenar qualquer amizade que você
tenha feito. O fato da Diretora ser geralmente muito precisa em
suas observações não ajuda em nada na situação.
• A Anormal – Tudo aquilo que deixava você enver-
gonhado é o motivo pelo qual a Anormal vive. Alegremente
perversa, a Anormal é a mais pura expressão da auto-destrui-
ção. Ela se deleita em tomar cada uma das suas imperfeições
e trezê-las à tona, para que você possa ser ridicularizado por
todos. Qualquer coisa que você tenha vergonha, a Anormal o
encorajará a fazer e quanto mais você resistir mais insistente ela
se tornará. Uma vez que você tenha desistido completamente,
ela se voltará contra você e destacará como você é pervertido,
quão doente você é e como ninguém mais conseguiria se rebai-
xar tanto quanto você. Isto não a impedirá, no entanto, de lem-
brá-lo como toda aquela perversão é maravilhosa e como seria
legal fazer tudo de novo... Vergonha e abandono são as armas
favoritas da Anormal e ela as usa sempre que pode.
Uma Anormal no controle é algo assustador. Ela pega-
rá seus desejos mais obscuros e os revelará para o resto do mun-
do, deixando você para explicar suas ações quando lhe devolve
o controle. É claro que desenterrar os pequenos segredos sujos
dos outros é quase tão divertido quanto, se a Anormal estiver
interessada.

Capítulo Seis: A Sombra 167

 • A Parasita – Vestida de vontade e nervos como lixa,
a Parasita abre o seu caminho através de queixas e bajulações,
implorando ou fazendo birra. É um buraco negro de atenção e
afeição e não importa o quanto você ceda a seus pedidos, nunca
é suficiente. Não importa o quanto você dê à Parasita, ela irá
querer mais e não descansará até ter as suas vontades satisfeitas
naquele momento. E é claro, o preço de ceder de novo e de novo
e de novo, é entrar cada vez mais profundamente em débito,
deslizando lentamente em direção ao Esquecimento. Infantil e
egoísta, a Parasita nunca fica satisfeita e cada vez que você dá o
que ela quer, é muito mais difícil dizer não da próxima.
Quando a Parasita toma o controle, tenta empregar
seus esquemas contra os outros com o objetivo de extrair qual-
quer sustento que eles possam oferecer. Se possível, ela drenará
todos ao seu redor até secarem e então descartará as cascas para
procurar por novas vítimas. No que diz respeito à Parasita, tudo
o que os outros têm é seu por direito. Ela se acha no direito de
fazer o que quiser e ai de qualquer um que tentar lhe dizer o
contrário.
• A Mártir - O nobre auto sacrifício tem seu lugar,
mas o que a Mártir oferece, por sua vez, é um fingimento ba-
rato. Constantemente exigindo que você se sacrifique no lugar
dos outros porque você consegue aguentar a dor melhor do que
qualquer um, a Mártir humilha a sua fé e perdoa sua arrogância.
Afirmando que o seu sacrifício ajuda um bem maior, a Mártir
terá prazer em mostrar que a sua dor não ajudou em nada e
todo o seu sofrimento foi inútil. Mesmo assim, isso não irá im-
pedi-la de estimulá-lo a se sacrificar pelos outros a cada chance
que tiver. Afinal de contas, ela está apenas procurando por uma
168 Aparição: O Esquecimento
desculpa para tomar a saída mais fácil.
Quando a Mártir toma o controle, ela tentará levá-lo a
situações onde, não importa como, você terá de desistir de algo
importante. A Mártir também tenta arranjar testemunhas sem-
pre que possível, de modo que seu sacrifício em público possa
fazer com que outros se sintam envergonhados a ponto de rea-
lizarem atos autodestrutivos semelhantes ao seu.
• A Monstra - Brutalmente direta, a Monstra é toda
dor e ganância. Qualquer coisa que ela queira, exigirá que você
pegue. Qualquer coisa que odeie, exigirá que você destrua. Se
recusar, tentará destruir você também, pois ela não pode ser
contrariada de modo algum. Não há acordo ou sutileza com a
Monstra e frequentemente as mais dignas e gentis aparições tem
um Monstro espreitando bem de baixo de seus olhos.
Ver a Monstra assumindo o controle é ver um pres-
ságio de um Espectro. Ela vai devastar tudo em seu caminho,
pegando o que quer e destruindo todo o resto por puro ódio.
Grossa e vulgar, a Monstra raramente tem algo a dizer que não
seja obsceno. Por que se importar em ser polida com todos
quando eles não são nada mais que obstáculos para seu prazer?
• A Mãe - Ninguém mais pode te amar tanto, ou com
tanto cuidado quanto a Mãe. Nenhuma pessoa pode tomar
conta de você tão bem, ou fazê-lo tão feliz. A Mãe aceita até
mesmo todas suas pequenas imperfeições, das quais ela vai falar
sem parar de modo a provar que o ama apesar dos seus muitos
defeitos. Ela irá protegê-lo de pessoas que não querem o que é
melhor para você do fundo do coração e apenas ela pode deci-
dir quem são essas pessoas (geralmente é todo mundo que você
conhece). Você é o seu querido bebê, então naturalmente ela irá
ajudá-lo com aquelas decisões difíceis, e até mesmo tomá-las
por você. A mamãe sabe o que é melhor, mesmo se você magoar
seu coração ao nunca ouvir o que ela tem a dizer e ficar andando
por aí com esses baderneiros Renegados.
Quando está no comando, a Mãe irá procurar isolá-lo
de qualquer influência perigosa ou corruptora (o que quer dizer,
qualquer um). Para fazer isto, ela irá fazer e dizer qualquer coisa
para afastar aqueles que se importam com você, usando o fato
de que terem ido embora é a prova de que não eram realmente
seus amigos de qualquer forma. Isto apenas mostra como ela
estava certa e ninguém além dela pode amá-lo do jeito que a
mamãe ama.
• A Perfeccionista - Nada que você faça será bom o
suficiente para a Perfeccionista. Realize sete tarefas impossíveis
antes do café da manhã e ela estará gritando com você por não
ter realizado uma oitava. Qualquer imperfeição pode servir
como ponto de partida para uma observação irônica; qualquer
falha será um imã para tiradas sarcásticas. Jogando na sua cara
seus erros inevitáveis, a Perfeccionista inspira o desprezo em si
mesmo e mina a confiança nas suas próprias habilidades. Então,
quando sua confiança está abalada, ela ficará mais do que feliz
em interferir e lhe mostrar como fazer as coisas do jeito certo. Se
você tiver juízo, irá deixar as coisas para ela cuidar permanen-
temente e ter certeza de que tudo seja feito da maneira certa na
primeira oportunidade. Não é como se você fosse capaz dessas
coisas, afinal de contas.
Quando está no controle, a Perfeccionista pegará cada
exemplo para criticar cada coisa ou pessoa que prenda sua aten-
ção. Ela também aproveitará a oportunidade para confundí-lo
em cenários impossíveis, ansiosamente esperando sua inevitável
falha. Apesar de tudo, ao menos ela não tem favoritos. Quando
todos ao redor dela são igualmente fracassados, qualquer alvo é
bom para se escolher.
• A Aliciadora – A Aliciadora sempre estará feliz em
ajudá-lo a realizar o impossível. Ela quer que você pense nela
como uma amiga, uma amiga à quem você sempre pode pedir
uma ajuda. É claro, o preço para se ter a ajuda da Aliciadora
é sempre muito alto e se você não o pagar, ela irá cobrar com
juros. Em certas ocasiões quando estiver contando com ela, de-
cidirá que você precisa estimá-la mais e negará essa ajuda com a
qual estava contando tão desesperadamente.
Quando a Aliciadora está no comando, ela fará tudo
que puder para colocá-lo em situações em que você precisaria
de sua ajuda para escapar. Quanto mais rápido ela puder fazer
com que você acumule dívidas com ela, mais feliz estará. E no-
vamente, uma o Aliciadora infeliz pode ser algo muito desagra-
dável.
• A Racionalista – A Racionalista dará a você todas
as razões certas para suas decisões erradas. Calmamente guian-
do sua descida ao Esquecimento, ela oferece análises racionais
e explicações coerentes sobre o porque você deve fazer o que ela
diz pra fazer. Oferecendo provas de sabedoria a cada assunto
que aborda, fazendo todas as suas sugestões parecerem muito
frágeis. Quanto mais você argumenta, mais firme sua lógica se
torna e mais tolo você se sente por resistir. Em muitos aspectos a
Racionalista é similar à Diretora, mas sem o envolvimento pes-
soal que a Diretora possui. No que diz respeito à Racionalista,
mandar a Psique para o Esquecimento é apenas um exercício
intelectual, embora seja um exercício desafiante.
Quando está dominante, a Racionalista dá passos pre-
cisos e ordenados em direção ao Vácuo. Ele sabotará seus planos
a longo prazo e colocará em prática outros que a primeira vista
podem parecer melhores; irá sistematicamente criar inimigos
para você e afastar ou eliminar seus amigos. Não faz sentido
pegar o tempo de alguém e entregá-lo para o Esquecimento,
quando já é certo que ele vai vencer no final? A Racionalista
está apenas fazendo com que a rendição seja mais eficiente.
Passo Dois: Angústia
Assim como o Pathos alimenta uma aparição, Angús-
tia energiza sua Sombra. O nível de Angústia de uma aparição
é um indicativo da quantidade de energia emocional negativa
que ela está carregando ao seu redor. Angústia é a medida do
medo, dor e alienação de uma aparição e quanto mais ela acu-
mula essas energias negativas, maior será seu nível de Angústia.
E quanto mais alto está o nível de Angústia, é claro, mais pode-
rosa a Sombra é.
A pontuação de Angústia de uma aparição sempre co-
meça em um nível igual ou menor do que seus pontos perma-
nentes em Força de Vontade. Para determinar a Angústia ini-
cial, jogue um número de dados equivalente à Força de Vontade
da aparição com uma dificuldade 6. A quantidade de sucessos
indicam o número de pontos permanentes de Angústia que a
aparição começa. Neste teste, os números “1” não cancelam os
sucessos e cada aparição deve começar o jogo com no mínimo
um ponto de Angústia permanente. Aparições sem Angústia
permanentes imediatamente Transcendem, tornando as Crôni-
cas muito curtas.
Como Força de Vontade, Angústia pode ser gas-
ta (pela Sombra apenas) com o propósito de ganhar sucessos
automáticos. Diferente de Força de Vontade, no entanto, a An-
gústia temporária pode exceder a sua pontuação permanente,
chegando a um máximo de 10. Quando a Angústia temporária
supera sua Força de Vontade, a Sombra pode tentar tomar o
controle do Corpus por meio de um teste de Catarse (ver pági-
na 176). Por outro lado, a Sombra pode escolher ir acumulando
Angústia temporária. Quando chegar a 10, a Sombra pode tro-
cá-la imediatamente por outro ponto de Angústia permanente.
Quando a Angústia permanente chega a 10, a Sombra assume o
controle permanentemente e a aparição se torna um Espectro. É
claro que a mudança nem sempre pode ser tão óbvia para seus
amigos...
Níveis de Angústia temporária tendem a variar muito
durante um jogo. Sombras usam Angústia para ativar suas ha-
bilidades especiais, chamadas Espinhos e podem gastar grandes
quantidades de energia em sua guerra contra a Psique. Por ou-
tro lado, uma grande variedade de Arcanoi dão a seus portado-
res Angústia temporária e todas as Sombras possuem Paixões
Sombrias que podem ser alimentadas também. Fica à cargo do
Guia da Sombra saber quanta Angústia temporária uma apari-
ção tem e convertê-la para Angústia permanente se achar neces-
sário. Também é responsabilidade do Guia da Sombra pedir um
teste de Catarse quando achar apropriado. Uma aparição nunca
deve saber quão forte sua Sombra está, afinal de contas; a incer-
teza ainda é uma das razões que tornam a vida tão interessante.
Capítulo Seis: A Sombra 169
Passo Três: Paixões Sombrias
Assim como uma aparição possui suas Paixões, o seu
lado negro possui Paixões Sombrias. Elas funcionam basica-
mente da mesma maneira que a Paixões, alimentando a Sombra
no lugar da Psique. Cada Paixão Sombria deve ser descrita da
mesma maneira que a Paixão, com uma curta descrição dela
e a emoção principal entre parênteses. Cada Paixão Sombria
também tem um valor que indica a força daquela obsessão. Por
exemplo, uma aparição que foi um artista frustrado em vida
pode ter a Paixão Sombria Destruir obras de arte mais boni-
tas do que as que eu teria feito (Inveja) 3. Paixões Sombrias
podem ser o oposto das Paixões de uma aparição, levando a
Sombra a ferir aqueles que a Psique quer proteger, etc. Por outro
lado, se algumas Paixões Sombrias são semelhantes às Paixões
normais, muitas podem não ter qualquer semelhança com as
Paixões da aparição.
Paixões Sombrias podem ser aumentadas com pontos
de bônus durante a fase de criação da Sombra, mas cada apari-
ção começa com sete pontos.
Criando Paixões Sombrias
Um dos mais difíceis aspectos de se criar
uma Sombra é criar Paixões Sombrias apropriadas.
Geralmente, basta pegar as Paixões de uma apa-
rição e invertê-las. Uma aparição cuja Paixão seja
Proteger minha esposa (Amor) 5 pode muito bem
ter como Paixão Sombria Destruir minha esposa
(Ódio) 4 para refletir tanto o fato de que a Psique é
mais forte do que a Sombra, quanto o fato de que a
Sombra geralmente deseja se opor aos desejos dela.
Por outro lado, nem todas as Paixões Som-
brias tem ligações diretas com as Paixões. Uma Pai-
xão Sombria que tenha como base a emoção Ódio
a si mesmo, poderia ser Mergulhar em um Nihil
(Desprezo próprio) 2, enquanto que uma Paixão
Sombria baseada em Raiva poderia ser simples-
mente Causar destruição aleatória (Raiva) 3. Ou-
tras emoções que normalmente servem como base
para Paixões Sombrias incluem Inveja, Luxúria,
Amor Distorcido, Ganância, Ódio ou Medo.
Algumas Paixões Sombrias tem como ori-
gem aquilo que o personagem faz. Uma aparição
habilidosa em Argos poderia ter a Paixão Sombria
Perder pessoas na Tempestade (Ódio) 3. Um Ar-
tífice poderia ter uma Paixão Sombria Forjar as al-
mas de todos os meus companheiros de Círculo
(Ganância) 3. No final das contas, a coisa mais im-
portante é extrair uma emoção que o personagem
seja capaz de sentir ou suprimir e uma ação coeren-
te para ele tomar em conexão com essa emoção.
170 Aparição: O Esquecimento
Passo Quatro: Pontos de Bônus
Quando a criação da Sombra estiver quase acabada,
ainda restarão 10 pontos de bônus que você pode usar para
melhorar a personalidade e habilidades da sua Sombra. Pontos
de Bônus podem comprar Angústia adicional (permanente ou
temporária), Paixões Sombrias novas ou mais fortes, ou habi-
lidades especiais que a Sombra possui, chamadas Espinhos. A
pontuação de Angústia permanente da aparição nunca pode
exceder a sua pontuação permanente de Força de Vontade no
começo do jogo, mas Angústia temporária pode ser comprada
até nove pontos. Além disso, enquanto pontos adicionais de Pai-
xões Sombrias podem ser compradas com pontos de bônus, o
número de pontos em Paixões Sombrias nunca podem exceder
o número de pontos que uma aparição tem em suas Paixões.
Espinhos
Espinhos são poderes únicos que as Sombras possuem
à sua disposição. Eles variam de pequenos truques a poderosas
habilidades que podem ameaçar a própria existência de uma
aparição e seu uso fica totalmente a cargo do Guia da Sombra.
A Sombra pode também usar Espinhos (quando for possível)
durante a Catarse.
Prestígio Espectral: 1 ponto por nível – Muitos Es-
pectros têm a habilidade de se comunicar com as Sombras das
aparições. Sombras com este Espinho ganharam o respeito dos
Devorados pela Sombra e serão tratadas de acordo.
Aliados Sombrios: 1 ponto por nível – A Sombra
com Aliados Sombrios constantemente se comunica e conspira
com Espectros e pode chamá-los para lhe ajudar.
Relíquia Corrompida – Esta relíquia se manifesta
apenas durante a Catarse e o número de pontos indica sua for-
ça. Uma Relíquia Corrompida sempre irá se manifestar quando
a Sombra quiser, mesmo se ela for “perdida” ou “destruída”. A
Relíquia Corrompida sempre terá algum significado para a apa-
rição, mesmo que ela não queira admitir isso.
Infâmia: 1 ponto por nível - Funcionando da mesma
forma que Memoriam, Infâmia é a medida de quanto medo e
aversão a aparição ainda inspira nos vivos. Assim como Pathos
pode ser acumulado para a Psique, Angústia pode ser coletada
para a Sombra.
Cada vez que uma aparição com Infâmia cai em Mo-
dorra, o Guia da Sombra faz um teste com um dado para cada
ponto qu possui nesse Espinho. A dificuldade do teste é 6, e
cada sucesso dá à Sombra um ponto de Angústia temporária.
Custos dos Pontos de Bônus
Angústia Permanente – 5 pontos por nível
Angústia Temporária – 2 pontos por nível
Paixões Sombrias – 1 ponto por nível
Espinhos – Variável
Falhas causam a perda de Angústia temporária e podem fazer
com que os vivos achem as aparições mais amigáveis...
A quantidade máxima de pontos de Infâmia que po-
dem ser compradas é cinco e uma aparição infame deve estar
mais preparada para as consequências de ser odiada pelos vivos.

Vestígios da Morte: De 1 a 3 pontos – Vestígios da

Morte são sinais claros da marca do Esquecimento em um per-
sonagem e se manifestam aonde quer que ele vá. Cada Vestígio
é único; uma aparição pode ter asas que exalam uma fumaça
asfixiante, outra pode deixar pegadas molhadas nas Terras da
Carne e uma terceira poderia transpirar o cheiro de uma casa
mortuária. Este Espinho, naturalmente, faz uma aparição ser
facilmente distinguível; com todas as vantagens e desvantagens
que isto oferece. Somente gastando um ponto de Força de Von-
tade aparição pode cancelar os efeitos deste Espinho por uma
cena.
Quanto mais pontos são gastos neste Espinho, mais
nítido e visível é o efeito. Um Vestígio de um ponto não é tão
visível, enquanto que um Vestígio de três pontos poderia chegar
a alterar os efeitos dos Arcanoi de uma aparição.

Características Sombrias: 2 pontos – A Sombra pode

adquirir pontos em quaisquer Atributos ou Habilidades, mas
esses pontos extras estão disponíveis apenas durante o Catarse.
Este Espinho pode ser adquirido quantas vezes forem possíveis
com pontos de bônus durante a criação da Sombra.

Aura de Corrupção: 2 pontos – Por meio do efeito

deste Espinho, a Sombra corrompe a aparência da aparição,
tornando sua presença desagradável para os outros. O efeito de
Aura de Corrupção geralmente não é repugnante: ao invés disso
é sutilmente perturbador. Na verdade, ele pode não causar um
impacto evidente, servindo apenas para fazer com que os outros
se sintam desconfortáveis.
Se uma aparição tem Aura de Corrupção, todas as
dificuldades em situações sociais são aumentadas em +2. Este
Espinho só pode ser comprado uma vez.

Chamado Sombrio: 2 pontos – Chamado Sombrio

permite à Sombra de uma aparição invocar Espectros que este-
jam por perto. Este Espinho pode ser usado apenas quando uma
aparição estiver na Tempestade ou na entrada de um Nihil, de
outro modo não terá efeito. O Chamado Sombrio é percebido
pela mente da aparição como um grito fraco e agudo; com o
tempo a maioria das aparições acaba percebendo o seu signifi-
cado.
Para fazer um Chamado Sombrio, o Guia da Sombra
gasta um ponto de Angústia temporária e faz um teste com a sua
pontuação permanente de Angústia (dificuldade 7). O número
de sucessos indicam a quantidade de Espectros convocados, no
entanto, o tipo de Espectro que responde ao Chamado Sombrio
fica totalmente a cargo do Narrador.

Pacto da Perdição: 3 pontos – Este Espinho é o fa-

migerado pacto com o demônio. Se uma aparição tem este Es-
pinho, ela e sua Sombra podem negociar um acordo no qual a
Sombra irá ensinar uma quantidade predeterminada de níveis
em um Arcanos. Em troca, a Sombra adquire Angústia perma-

Capítulo Seis: A Sombra 171

 nente equivalente à quantidade de níveis que foram ensinados.
Os termos do Pacto devem ser combinados tanto pela psique
quanto pela Sombra e os preparativos também devem estar de
acordo para ambas as partes.
O conhecimento que a Sombra concede vem da Mente
Coletiva dos Espectros e não do conhecimento que a própria
Sombra detém. Apenas Sombras com Pacto da Perdição podem
ter acesso a este conhecimento e apenas quando estiverem sob
o poder do Pacto. Em nenhum outro momento a Sombra pode
chamar a Mente Coletiva para partilhar este tipo de conheci-
mento ou poder.

Truque de Luz: 3 pontos – usando este Espinho, a

Sombra sutilmente altera a percepção da Psique a respeito de
um local. Quando este Espinho é invocado (ao custo de um
ponto de Angústia temporária por cena), o Guia da Sombra
deve informar ao Narrador sobre aquilo que a aparição vê no
local. O Narrador então transmite isso para o jogador.
O Truque de Luz não é limitado apenas à visão e qual-
quer um dos outros sentidos podem ser afetados por ele. No
entanto, apenas um sentido pode ser afetado por cena.

Má Sorte: 3 pontos – Para cada ponto de Angústia

que uma Sombra com Má Sorte gasta, o jogador da aparição é
forçado a refazer a rolagem de um dado (ao critério do Guia da
Sombra). O uso de Má Sorte não precisa ser anunciado até que
a rolagem inicial tenha sido feita.

Rosto Sombrio: 3 pontos – Com este Espinho, a Som-

bra muda completamente a aparência da Psique quando toma
o controle. Rosto Sombrio permite à Sombra ter outro aspecto
(apenas um), com o qual ela pode ser conhecida ou não pelos
companheiros da aparição.
Por um ponto de bônus adicional, a Sombra pode ter a
opção de assumir o Rosto Sombrio ou permanecer com o rosto
original durante a Catarse.

Toque Maculado: 4 pontos – Este Espinho faz com

que a aparição se torne uma espécie de leproso entre os Inquie-
tos. Quando estiver sob efeito de Toque Maculado, uma apari-
ção espalha o Esquecimento com um simples toque.
Quando uma aparição com Toque Maculado tem con-
tato com o Corpus de outra aparição, ela deve rolar três dados
(dificuldade 6). A quantidade de sucessos indicam quantos
pontos de Angústia temporária a vítima acumula. No entanto,
o alvo pode fazer um teste de Força de Vontade (dificuldade 7)
para resistir e cada sucesso neste teste cancela um dos sucessos
do teste anterior.
Uma aparição com Toque Maculado pode gastar um
ponto de Força de Vontade para cancelar o efeito por uma cena.

Joguete Sombrio: 5 pontos – Joguete Sombrio permi-

te a uma aparição que já realizou todas as suas ações durante um
turno realizar mais uma outra, mas com um custo. Caso a Som-
bra queira, a aparição pode realizar uma ação adicional, mas ela
perde um ponto de Pathos e ganha um ponto de Angústia. A
aparição não pode pedir pela ação adicional; a decisão de usá-la
ou não fica inteiramente a cargo do Guia da Sombra.
Embora o custo para se ativar este Espinho pareça relativamen-

172 Aparição: O Esquecimento

te baixo, uma aparição que venha a depender muito dele pode
acabar alimentando a força da sua Sombra muito rapidamente
e também pode se ver em apuros quando a ação extra que ela
estava contando em uma crise não chegar.
Familiar Sombrio: 5 pontos – Enquanto a Sombra
repousa dentro da consciência de uma aparição, um Familiar
Sombrio pode servir como seus olhos, ouvidos e pés. Um servo
inferior do Esquecimento, o Familiar Sombrio permanece em
constante contato com a Sombra e o alimenta com informações
e sugestões. Familiares Sombrios podem ter qualquer forma,
mas todos são pequenos e inofensivos. Se ameaçados, fugirão;
se atacados, mergulharão na Tempestade.
Se um Familiar Sombrio é destruído, outro tomará
o seu lugar dentro de uma semana. No entanto, este outro irá
ser consideravelmente mais cuidadoso quando for tratar com
a Sombra, pois até mesmo criaturas do Esquecimento possuem
um senso de autopreservação. Muitos Familiares Sombrios pos-
suem a forma de corvos, ratos e outras criaturas carniceiras.
Lapso Freudiano: 5 pontos – Ao custo de um ponto
de Angústia, a Sombra pode forçar a aparição a fazer uma ação
súbita e involuntária ou uma rápida e embaraçosa declaração.
O Lapso Freudiano também pode ser usado para colocar um
pensamento repentino na mente de uma aparição. Para resistir
a este Espinho, a aparição deve fazer um teste de Força de Von-
tade (dificuldade 7). Dois sucessos são necessários para anular
os efeitos do Lapso Freudiano.
Vida Sombria: 5 pontos – Quando uma aparição com
este Espinho entra em Modorra, sua Sombra toma o controle
do Corpus que ambos partilham e se prepara para fazer o pior.
Isto causa uma série de problemas para a Psique, pois constan-
temente irá se achar em situações que a Sombra criou e pessoas
que ela enganou. E é claro, que a culpa por todas as ações da
Sombra recairão sobre a Psique.
Aparições com este Espinho possuem uma leve noção
do que suas Sombras fazem durante este tempo, mas não sabem
exatamente o que suas contrapartes estão fazendo no momento.
Se desejarem, os jogadores podem investir um ponto
adicional de bônus neste Espinho para que eles não tenham co-
nhecimento de sua Vida Sombria.
O jogador, e não o Guia da Sombra é quem controla o
personagem nesse período em que a Vida Sombria estiver ativa.
Desafio Demoníaco: 7 pontos – Desafio Demoníaco
é o equivalente emocional ao jogo “verdade ou desafio”. Para
usar este Espinho, o Guia da Sombra investe uma quantidade de
pontos de Angústia temporária e escreve algo que ela desafia a
Psique a fazer antes do final da sessão. A dificuldade do desafio
determina o custo, e se o jogador achar que o número é excessi-
vo, ele pode pedir para que o Narrador o diminua.
O desafio consiste em uma ação que a Sombra desafie
a Psique a fazer. Essa ação deve ser algo que esteja dentro da
capacidade da aparição realizar; (por exemplo: “diga algo que
deixe o Centurião fora do sério” é algo aceitável, enquanto que
“Mapeie o Labirinto” não seria) e um desafio impossível sim-
plesmente faz com que se perca a Angústia investida.
Se, ao fim da sessão, a Psique não cumprir o desafio
proposto, perde uma quantidade de pontos temporários de For-
ça de Vontade igual a quantidade de pontos de Angústia inves-
tidos.
Exemplo de criação da Sombra
Na escuridão as sombras se movem
Na escuridão o jogo é real
- Richard Thompson, “Desliguem as Luzes”
Arquétipo da Sombra que imedia-
tamente vem à mente de Annys para
Robin é a Perfeccionista. Esta Sombra
representa a Natureza Crítica de Robin
sem restrições e escrúpulos; a mesma
inteligência que procura as falhas es-
condidas também pode explorar me-
dos enterrados sem descanso.
Para estabelecer a escala de Angús-
tia de Robin, Joshua rola sete dados (igual a Força de Vontade
de Robin). Contra uma dificuldade 6, ele obtêm cinco sucessos;
a Sombra irá começar com cinco pontos permanentes de An-
gústia. Em seguida, Annys fala a respeito de potenciais Paixões
Sombrias com David, que será o Guia da Sombra de Robin. A
fraqueza mais óbvia de Robin é sua paranoia sobre a série de
casos que teve com suas estudantes. Por isso, Annys e David
concluem que a Sombra fará todo o possível não só para re-
velar os segredos de Robin (enquanto Annys constantemente
reafirma que é claro que ele pode e deve mantê-los em segredo)
como irá reforçar o sentimento de remorso a respeito da sua
constante falta de controle. Joshua transforma isso em Arrui-
nar a reputação de Robin entre os vivos (Desprezo próprio),
e atribui uma pontuação de 3. David então sugere que enquanto
Robin desejava demonstrar sua superioridade para seus colegas
de escola, a Sombra iria preferir destruir todos os rivais. Isto
cria uma Paixão Sombria de Machucar colegas de escola rivais
(Ódio), com uma pontuação de 2. Depois de um pouco mais de
discussões e reflexões, Annys coloca os dois últimos pontos em
Arruinar a carreira da protegida de Robin (Inveja). Afinal de
contas, de acordo com o modo de pensar da Sombra não é justo
que ela tenha vivido enquanto Robin morreu.
Com os 10 pontos de bônus distribuídos nas Caracte-
rísticas Sombrias, Annys adquire primeiro o Pacto da Perdição.
A ânsia de Robin em expandir suas áreas de conhecimento o faz
particularmente vulnerável a este Espinho. Ela gasta mais três
pontos no Truque de Luz, sabendo o quanto Robin confia em
suas observações de comportamento. David então encoraja An-
nys a colocar dois pontos em uma Paixão Sombria oposta ao de-
sejo de Robin de proteger sua amada cópia de Holinshed. Annys
faz isso, criando a Paixão Sombria Destruir o livro favorito de
Robin (Rancor) 2. Com os dois pontos que tem sobrando, An-
nys dá um ponto em Angústia temporária. A Sombra de Robin
está agora totalmente completa. Annys, David e Joshua então
continuam a discutir sobre o personagem e a Sombra até que
todos estejam certos de que entendem a dinâmica entre as duas
personalidades de Robin e estejam confortáveis com os papéis
que cada um deles irá interpretar.
Capítulo Seis: A Sombra 173
 Psique: Robin
S OMB RA Arquétipo: Perfeccionista
Guia da Sombra: David
Espinhos Angústia
Pacto da Perdição
____________________________ lllllmmmmm
Truque de Luz
____________________________ qooooooooo
____________________________
____________________________
____________________________ Força de Vontade da Psique
____________________________
lllllllmmm
____________________________
Angústia
Miseráveis são os que crêem; essa é a sina
Ter todos os sentimentos, exceto um, ruína,
E toda paixão neles há de agigantar,
Como um rio veloz no oceano a se jogar,
Mas o nosso é insondável, não há praia nesse mar.
- George Gordon, Lord Byron, O Lamento de Tasso
ngústia encarna o tormento interior
de paixões não realizadas, dúvida de
si mesmo, culpa e negócios inacaba-
dos – todas as coisas que resultam na
formação de uma aparição. É o pesa-
delo que paira na borda dos sonhos, o
verme devorador da derrota, que cor-
rói esperanças e desejos, a condenação
inimaginável que espreita na esquina. Em resumo, Angústia é
o bicho-papão da própria mente, sempre pronta para estragar
a festa. Ela é a energia negativa que leva uma alma em direção
à própria destruição. Assim como a Psique cresce com Força
de Vontade, a Sombra precisa de Angústia para cumprir suas
ambições. Por conta desta necessidade, a Sombra de uma apa-
rição está sempre alerta para aproveitar qualquer oportunidade
de armazená-la.
174 Aparição: O Esquecimento
Experiência:
Paixões Sombrias
____________________
Arruinar a reputação de Robin O O O O O
____________________
entre os vivos (Desprezo próprio) O O O O O
____________________
Machucar colegas de escola rivais(Ódio) O O O O O
____________________
Arruinar a carreira da OOOOO
____________________
protegida de Robin (Inveja) O O O O O
____________________
Destruir o livro favorito de O O O O O
Robin (Rancor)
____________________ OOOOO
No Princípio
A pontuação de Angústia inicial de uma aparição é
determinada durante a criação de sua Sombra. Esta pontuação
representa o número de pontos permanentes de Angústia que
o novo personagem possui e também indica a força relativa de
sua Sombra. Durante o andamento do jogo, o valor de Angústia
de um personagem pode aumentar ou diminuir em resposta aos
eventos que acontecem na história e as ações do personagem
(ou sua Sombra).
Há dois tipos de Angústia: temporária e permanente.
Ao contrário de muitas Características, a Angústia temporária
de uma Sombra pode exceder sua pontuação permanente, até
um máximo de 10 pontos. Quando a Sombra tem 10 pontos
acumulados de Angústia temporária, ela pode trocar estes pon-
tos por um ponto de Angústia permanente, aumentando assim
sua própria força.
O jogador de aparição nunca deve saber com certeza
quantos pontos de Angústia sua Sombra possui. Tanto o Narra-
dor quanto o jogador Guia da Sombra devem manter um con-
trole da Angústia de uma aparição. Um Narrador pode dar ao
jogador uma vaga idéia de quão forte sua Sombra está, mas a
pontuação exata nunca deve ser dada. Isto reflete a incerteza da
frágil existência de uma aparição nas fronteiras do Esquecimen-
to e sua ignorância de quão forte o seu lado negro realmente é.

As Armadilhas das Almas Atormentadas
A Angústia simboliza o poder do Esquecimento tra-
balhando dentro de uma aparição. Quanto mais Angústia um
personagem possui, mais forte sua Sombra cresce e mais facil-
mente a Sombra assume controle sobre suas ações. Uma vez que
o objetivo final da Sombra é nada mais nada menos do que a
destruição da desagradável Psique que a impede de completar
seus desejos mais sombrios, ela irá tentar colocá-la em situações
que ofereçam a chance de acumular altos níveis de Angústia.
Como a Sombra usa Angústia para ativar seus poderes, quanto
mais vezes ela puder forçar a Psique a se comprometer, mais
Angústia armazena e mais fácil se torna para que ela tenha suas
vontades realizadas.
Adquirindo Angústia
O tormento contínuo da vida nas Terras das Sombras
faz com que acumular Angústia seja inevitável e oportunidades
para fazê-lo são numerosas. A condição natural de uma apa-
rição incorpora conflitos internos e é esta guerra interna que
resulta em um acúmulo consistente de Angústia. Um persona-
gem pode ganhar Angústia de várias maneiras. A menos que
seja especificado, toda Angústia ganha é Angústia temporária,
que permanece até ser gasta ou até ser convertida em pontos de
Angústia permanente.
• Arcanoi: O uso de certos Arcanoi por um persona-
gem que controle a Psique, automaticamente resulta na acumu-
lação de Angústia temporária ou permanente (ver Capítulo 5).
Por exemplo, uma aparição que use Castigar • (Coagir) para
adquirir um dado adicional da sua Sombra ganha um ponto de
Angústia temporária cada vez que usar este Arcanos. Do mes-
mo modo, uma aparição que use Titerismo • • • • • (Obliterar a
Alma) para possuir permanentemente um humano vivo corre o
risco de aumentar drasticamente a sua pontuação de Angústia
devido a natureza abusiva e inumana desta ação.
Nota: Se a Sombra domina o personagem quando es-
tes Arcanoi são usados, a Angústia que seria normalmente ga-
nha é, ao invés disso, subtraída da pontuação atual.
• Dados da Sombra: Em situações críticas, a Sombra
Pesadelo e Angústia
Uma aparição que sobrevive a um Pesade-
lo pode receber a redução em Angústia temporária
como uma recompensa pela boa interpretação ou
por agir de modo inteligente naquela situação. Isto
reflete o aumento na confiança e o sentimento de
alívio experimentado por sair vitorioso de uma si-
tuação na qual a própria existência do personagem
é ameaçada. Como uma aparição raramente pro-
cura por uma oportunidade de experimentar um
Pesadelo, isso não deve ser considerado como uma
maneira natural de se perder Angústia.
de uma aparição pode oferecer um dado extra a sua Psique para
aumentar as chances de sucesso de alguma ação. Cada um des-
ses Dados da Sombra resultam em um ponto de Angústia tem-
porária. A Sombra pode oferecer até cinco dados extras para um
único teste.
• Paixões Sombrias: Quando a Sombra satisfaz suas
próprias Paixões, a Angústia de um personagem pode aumentar.
Um teste da Paixão Sombria apropriada (dificuldade 7) resulta
na adição de um ponto temporário de Angústia para cada su-
cesso. Por exemplo, se a Sombra de Morgan tem a Paixão Som-
bria Adquirir quantas relíquias forem possíveis (Ganância),
quando Morgan olha com um pouco de inveja para a relíquia
de Sacha, o Guia da Sombra de Morgan estaria livre para fazer
um teste de Paixão Sombria. Note que neste caso, Morgan está
agindo gananciosamente por sua própria vontade e não porque
sua Sombra o forçou.
A Sombra também pode tentar impor uma emoção
que alimente suas próprias Paixões Sombrias em outra pessoa
(dificuldade 9), ganhando um ponto de Angústia temporária
por sucesso. Se a Sombra de Morgan o atormentou para cobiçar
a relíquia de Sacha contra sua própria vontade, então este tipo
de teste de Paixão Sombria poderia ser feito.
• Critério do Narrador: O nível de Angústia de um
personagem também reflete a luta contínua para lidar com o
tormento externo e interno da existência de uma aparição de
maneiras que não estão claramente definidas no sistema de re-
gras. Narrando cenas nas quais um personagem confronta suas
dúvidas, medos ou perigos externos podem justificar que o Nar-
rador “premie” o jogador com um ponto de Angústia temporá-
ria. O jogador deve concordar que este aumento de Angústia é
apropriado para a situação, desde que tal decisão não seja deter-
minada pelo resultado do teste, mas sim, alcançada através de
consenso mútuo.
Perdendo Angústia
Ganhar Angústia é fácil; perder é difícil, mas não im-
possível. Há várias maneiras pelas quais uma Sombra perde An-
gústia (geralmente instigada pela Psique):
• Falhar Critimente num teste com Sombra domi-
nante: Sombras odeiam o fracasso. Uma falha crítica em qual-
quer teste feito por ela quando estiver dominando um persona-
gem resulta na perda de um ponto de Angústia temporária para
cada um obtido além do número de sucessos.
• Castigar: Já considerado domínio exclusivo da Guil-
da dos Conciliadores, este Arcanos é especificamente orientado
para a redução de Angústia. A menos, claro, que a aparição
possua Castigar • • • • • (Desafiar), contudo, ela não pode usar
este Arcanos nela mesma e deve procurar outro personagem
para realizar os rituais apropriados ou as ações necessárias para
livrar sua própria Sombra de um pouco de sua Angústia.
• Uso de certos Arcanoi com a Sombra dominante:
Alguns Arcanoi automaticamente aumentam a Angústia de um
personagem. O uso destes Arcanoi com a Sombra dominante,
no entanto, faz com que Angústia que seria normalmente ga-
nha seja perdida. Da mesma maneira, quando um personagem
dominado pela Sombra falha ou tem falha crítica em um teste
envolvendo qualquer Arcanoi, a Angústia tembém é perdida.
Nota: Perder Angústia desta maneira nunca é inten-
Capítulo Seis: A Sombra 175

As seguintes ações podem levar a um acú-
mulo de Angústia por uma aparição. Em alguns ca-
sos, realizar certas atividades automaticamente irá
resultar em um acréscimo em Angústia temporária
ou permanente. Em outras situações, um teste deter-
mina se a Angústia será ganha ou não.
• Ser forçado a realizar uma ação que con-
trarie um código de conduta pessoal ou sua honra.
• Passar por uma situação que desperta um
estado de agitação interna ou desamparo externo.
• Não ser bem sucedido em realizar uma ta-
refa de vital importância.
• Ficar paralisado devido à indecisão em
um momento crítico.
• Destruição involuntária de um Grilhão.
• Perda de uma Paixão por negligência.
• Tomar uma decisão que mais tarde acaba
se revelando desastrosa.
• Usar Arcanoi que causem um aumento de
Angústia.
cional. Fica a cargo do Narrador monitorar cuidadosamente
aquelas situações nas quais um personagem controlado pela
Sombra procure usar um Arcanos, a fim de se certificar que a
ação não está sendo feita com o intuito de reduzir a Angústia
propositalmente.
• Critério do Narrador: Quando um personagem está
se esforçando para se livrar de Angústia adquirida, o Narrador
pode decidir reduzir a pontuação temporária ou permanente de
Angústia devido à boa interpretação. Este tipo de recompensa
deve ser usada com moderação para não desvalorizar a dificul-
dade de se perder Angústia. Como sempre, em situações que
não envolvam a rolagem de dados, isto deve ser feito de modo
consensual entre o jogador e o Narrador.
Catarse
Algumas vezes a Psique não é forte o suficiente para
resistir à luta contínua contra seus impulsos sombrios e seu
desejo de autodestruição. As tentações do Esquecimento são
muitas e sutis, oferecendo à aparição uma libertação do seu
tormento perpétuo nas Terras das Sombras. Quando a confian-
ça em si mesma (a Psique) começa a fraquejar, a Sombra é rápi-
da em tomar vantagem.
Sempre que a Angústia temporária excede a Força de
Vontade da Psique, a Sombra pode tentar tomar o controle. Se
obtiver sucesso, assume o controle das ações do personagem.
Apesar do jogador continuar a controlar seu personagem, ele
deve obedecer agora a natureza e motivações de sua Sombra.
O Teste de Catarse: Para que a Sombra tome controle
do personagem, ela e a Psique devem se confrontar. A Sombra
gasta um ponto de Angústia temporária e rola o nível de An-
gústia temporária restante. A Psique pode resistir rolando sua
Força de Vontade permanente, além de qualquer dado de Eido-
176 Aparição: O Esquecimento
lon que ela possa ter (ver “Eidolon”, página 129). A dificuldade
para os dois testes é 6 e aquele que obtiver o maior número de
sucessos ganha (ou, no caso da Psique, mantém) controle do
personagem. Se a Sombra tiver sucesso em tomar o controle,
ela domina as ações da aparição pelo restante da cena. Depois
disso, o controle da aparição retorna à Psique.
Quando a Sombra está dominante, pode perseguir
qualquer um de seus objetivos sem interferência de sua Psique
(a personalidade normal do personagem). Ela pode procurar
cumprir suas Paixões Sombrias, usando os Arcanoi da Psique
além de seus próprios Espinhos. Suas ações não trazem ganho
de Pathos para a Psique, apesar dela ainda precisar usá-lo para
ativar qualquer Arcanoi que for ativar. Ela não pode gastar For-
ça de Vontade, assim como não pode deixar o nível de Pathos
em zero.
Quando estiver no controle, pode tentar manter suas
ações escondidas da Psique. Uma aparição pode tentar resistir a
esta ação rolando o seu Eidolon contra uma dificuldade 7, assu-
mindo que ainda há algum Eidolon a ser usado. Aparições que
não tenham mais Eidolon ou que já tenham usado os dados de
Eidolon na sessão não podem fazer nenhum teste de resistência
e elas (assim como qualquer aparição que falhe no teste de Ei-
dolon) se verão em sérios problemas mais tarde pelas ações de
sua Sombra durante o Catarse.
Uma Sugestão...
Alguns grupos podem querer manter
o Guia da Sombra de um personagem que está
em Catarse envolvido na ação, mesmo depois
que a Sombra assumiu o controle. Neste caso,
sugerimos que enquanto o jogador regular do
personagem aja como a Sombra, o Guia da
Sombra interprete a Psique aprisionada e ofe-
reça o seu ponto de vista dos eventos.
Uma Psique envolvida desta maneira
não pode oferecer um “Dado da Psique”, nem
pode fazer nada que não seja dar conselhos.
No entanto, isto permite ao Guia da Sombra
fazer parte dos eventos que se desenrolam.
Além disso, a experiência de jogar como a Psi-
que, mesmo sob tais circunstâncias, ajudará o
Guia da Sombra a entender as motivações do
personagem que está tentando corromper.
Isto não é de modo algum uma regra
obrigatória, sendo recomendada apenas para
grupos de jogadores experientes em Apari-
ção.

Guiando a Sombra
Olhe, juntos nós dois devemos suportar
pedaços e parte, como se completar
fossem. Mas, cuidado. Como se sugere,
não me cultive em teu coração. Pois superá-la irei.
Mas, a mão de meu mestre guiarei e lhe direi:
Aqui. É Esau quem está debaixo de sua pele.
- Rainer Maria Rilke, Os Sonetos Para Orpheus (XVI)
existência da Sombra personifica a
atração do Esquecimento para cada
aparição. Esta tentação constante de se
render à escuridão interior é feita de
imediato através do uso de um Guia da
Sombra, que a controla independente-
mente do jogador que controla a Psi-
que. E é o conflito entre Psique e Som-
bra que é o coração de uma história de Aparição, o qual acaba
gerando inúmeras oportunidades para experiências intensas e
únicas durante a crônica.
Geralmente, durante um jogo de Aparição, um joga-
dor interpretará não só a Psique de seu personagem, mas tam-
bém “guiará” a Sombra de outra pessoa. Agir como um Guia da
Sombra coloca uma grande responsabilidade sobre um jogador,
já que na prática, ele terá em mãos a habilidade de mudar o
curso de uma história de Aparição.
Jogando Como Guia da Sombra
E a mulher disse, A serpente me enganou, e eu a comi.
- Gênesis 3:13
Assim como a Psique se esforça para completar seus
objetivos pessoais, a Sombra também procura alcançar suas
próprias metas. E para muitas delas, isto envolve destruir a Psi-
que e alcançar a união final com o Esquecimento. A Sombra
possui uma quantidade limitada de meios a sua disposição para
cumprir seus objetivos, mas alguns deles são acessíveis ape-
nas quando ela está no controle da aparição. Para conseguir o
controle, a Sombra deve procurar enfraquecer sua contraparte.
Uma das melhores maneiras de fazer isto é influenciando a Psi-
que, a enfraquecendo com sugestões que conduzirão a situações
favoráveis à Sombra. Fornecer essas tentações é uma das mais
importantes funções de um Guia da Sombra.
Responsabilidades
Para interpretar um Guia da Sombra com sucesso, o
jogador deve estar familiarizado com a Sombra que ele contro-
la, e em menor grau, com as motivações da Psique. Apesar do
Guia da Sombra não precisar conhecer cada pequeno detalhe
da Psique, ele deve ao menos ter alguma noção das motivações
básicas da aparição, suas Habilidades, Arcanoi, Paixões e Gri-
lhões. A ficha da Sombra irá prover a informação necessária dos
poderes e habilidades que ela possui, assim como o nível atual
de Angústia. Durante o decorrer do jogo, com o aumento ou di-
minuição do nível de Angústia, cabe ao Guia da Sombra manter
o controle sobre essas alterações.
Além de ficar responsável pelas mudanças de Angús-
tia, o Guia da Sombra também deve desempenhar o papel do
corruptor, incorporando os desejos sombrios e os impulsos au-
todestrutivos enterrados no fundo da Psique da aparição.
Na hora certa, o Guia da Sombra pode anunciar que
está tentando tomar controle da aparição através do teste de Ca-
tarse. Se o teste for bem sucedido, o controle do personagem
permanece nas mãos do seu jogador original (e não do Guia
da Sombra). O jogador, no entanto, deve agir de acordo com a
natureza da Sombra, mesmo que isso signifique fazer coisas que
a Psique normalmente não permitiria. Embora o Guia da Som-
bra não a controle durante o período de Catarse, ele pode dar
conselhos ao jogador da Psique sobre como interpretar melhor
a Sombra. Afinal de contas, ele conhece profundamente o que
motiva a Sombra. O Narrador pode querer agir como mediador
para garantir que o Guia da Sombra não use sua capacidade de
dar conselhos para minar a habilidade do jogador da Psique em
controlar as ações de seu personagem.
Uma Questão de Confiança
É recomendado que no início de cada
sessão, jogador e Guia da Sombra sentem e
conversem por alguns minutos para discutir o
personagem que o Guia da Sombra irá tentar
corromper. Alguns jogadores podem se recusar
a fazer isto, por temerem que ao dividir os se-
gredos de seus personagens com seus Guias da
Sombra, eles tenham uma desvantagem injusta
a respeito de suas Paixões e Grilhões.
Da mesma forma que jogadores ines-
crupulosos podem pegar informações que eles
aprendem fora do jogo (um Guia da Sombra,
por exemplo) e deixarem seus personagens re-
gulares usarem a seu favor, jogadores de Apari-
ção devem ser maduros o suficiente para sepa-
rarem o que eles sabem do que seus personagens
sabem e confiarem que seus companheiros de
jogo não utilizarão de “metajogo” ou trapaça.
Se você pode confiar em seus companheiros de
jogo para falarem qual foi o resultado de suas
rolagens de dados honestamente e criarem seus
personagens honestamente, você deve ser capaz
de confiar neles para guardar os segredos de
seus personagens.
Capítulo Seis: A Sombra 177

Técnicas
Um Guia da Sombra interage com a aparição cuja
Sombra ele controla fazendo sugestões durante o jogo, ofere-
cendo conselhos ou ações que irão favorecê-lo, embora aparen-
temente esteja ajudando a Psique a completar seus objetivos.
Considerando que o Guia da Sombra também irá, na
maioria dos casos, controlar uma aparição (cuja Sombra é, por
sua vez, controlada por outro jogador), ele deve ser cuidadoso
ao usar diferentes vozes ou tons de vozes para cada personagem.
Sussurrar quando for falar como a Sombra tornará claro que
ele não está falando como seu próprio personagem. Também é
possível criar ou comprar uma máscara representando a Som-
bra, então quando o Guia da Sombra for falar, ele pode segurar a
máscara em frente ao seu rosto para mostrar que ele está agindo
como tal.
Apesar da Sombra ser uma presença constante dentro
de cada aparição, ela não está sempre ativa. Algumas vezes ela
simplesmente observa as ações de sua Psique, esperando pelo
momento certo para agir. Um Guia da Sombra não precisa inte-
ragir constantemente com sua Psique. Na verdade, oferecer uma
montanha de sugestões e tentações pode enfraquecer a eficácia
do discurso da Sombra, acostumando a Psique a se precaver de
suas armadilhas. A Sombra mais efetiva é aquela que ataca sem
aviso, aguardando a hora certa para fazer uma oferta que sua
Psique não possa recusar.
Tentações
Infelizmente, é muito fácil um Guia da Sombra exa-
gerar no seu papel. Quando sua “voz interior” se torna tão fre-
quente que impede o jogador da Psique de participar dos even-
tos ao se redor, a história inevitavelmente sofre. Além disso, o
jogador da Psique irá perder toda a diversão do jogo.
Aparição é um jogo multifacetado que necessita de
um grau muito grande de cooperação de todos os envolvidos.
Não só o Narrados deve estar preparado para lidar com os jo-
gadores que estão interpretando dois papéis (o de seu próprio
personagem e a Sombra de outro jogador), mas os jogadores
também devem ser cautelosos para perceber eventuais abusos
que possam surgir de seu poder limitado sobre os personagens
dos outros.
Em uma situação ideal, cada jogador deve ter a matu-
ridade para permitir que os outros jogadores tenham o mesmo
grau de participação no jogo. Perceber quando outro jogador
está se sentindo sobrecarregado por seu Guia da Sombra é uma
habilidade que deve ser encorajada para tornar o jogo de Apari-
ção um sucesso. Algumas vezes, durante uma partida, torna-se
difícil diferenciar o jogador de seu personagem, mas esta dife-
rença é fundamental para uma crônica de Aparição.
Guias da Sombra devem tomar cuidado ao fazer seus
comentários como Sombra para o personagem da Psique – não
para o jogador desse personagem. De outro modo, problemas
pessoais podem surgir entre eles, levando não só ao fim do jogo,
mas também causando desavenças entre os jogadore. Devido ao
178 Aparição: O Esquecimento
fato de Aparição enfatizar o horror, constantemente mexe com
os medos mais profundos dos jogadores, assim como de seus
personagens. Muitos jogadores criam seus personagens usando
aspectos de suas próprias personalidades. É comum para um
jogador que tem medo de altura, transferir este medo para seu
personagem, também. Quando uma aparição confronta sua
Sombra, confronta seus medos mais profundos. Se esses medos
refletirem os do jogador, o Guia da Sombra pode acabar dei-
xando o jogador ansioso (ou angustiado), quando na verdade
pretendia apenas afetar o personagem.
Partidas de RPG são destinadas a serem passatempos
agradáveis. Podem envolver uma dose de crescimento pessoal
quando os jogadores lidam com situações incomuns ou confli-
tos em um ambiente “seguro”, mas isso não significa que devam
servir como terapia. A qualquer momento em que um jogador
(não o personagem) se sentir incomodado com seu Guia da
Sombra, deve falar para ele que está tendo problemas com isto.
Se esta ação não for suficiente para fazê-lo se conter em seus ata-
ques ao personagem da Psique ou para fazê-lo mudar a maneira
como suas sugestões são feitas para algo mais fácil do jogador da
Psique lidar, é hora do Narrador intervir.
Quem Está no Comando
O observador sem rosto, me deixa inquieto
Eu posso senti-lo através dos pisos e sua presença é de arrepiar
Ele me avisa que devo ser expulso
- Peter Hammill, “A Louse is Not a Home”
Apesar dos jogadores de Aparição terem uma capaci-
dade muito maior para influenciar a história do que os jogado-
res de muitos outros RPGs, a responsabilidade final por manter
o controle do jogo cabe ao Narrador. Isto é de vital importância
quando for preciso lidar com um comportamento exagerado
por parte de um Guia da Sombra.
Narradores possuem muitos artifícios à sua disposi-
ção para retomar as rédeas de um jogo que saiu do controle em
uma partida de Aparição, onde cada jogador conta como dois
personagens, insistir em alguns princípios de cortesia ajudará
a evitar que os jogadores percam o controle. Permitir a apenas
um personagem falar por vez (incluindo o Narrador) irá ajudar
e muito a evitar que uma sessão acabe em total confusão.
Também é muito útil se todos os envolvidos em um
jogo de Aparição entenderem que eles (através de seus perso-
nagens) estão participando da criação de uma história e que é
a própria história que irá providenciar a estrutura dentro da
qual seus personagens irão interagir uns com os outros, com
suas Sombras e com quaisquer personagens controlados pelo
Narrador que eles possam encontrar. Em um cenário ideal, o
Narrador e seus jogadores são capazes de apreciar a estrutura
externa de uma história e de reconhecer o lugar de cada perso-
nagem nela, ao mesmo tempo em que vão ficando cada vez mais
envolvidos no drama e na emoção dos eventos da história. Os
jogos mais agradáveis fornecem a oportunidade única de ser ao
mesmo tempo um ator e um espectador.

Encobrindo a Sombra
Quando um Guia da Sombra passa dos limites ou se
transforma em um transtorno para o jogador da Psique, para
outro jogador ou para quem está narrando a crônica, o Narra-
dor precisa tomar providências para coloca-lo na linha.
O primeiro passo é mostrar ao jogador que ele está
causando um problema. Isto deve ser feito conversando com ele,
em particular se possível, para não causar um embaraço para
ninguém. Se isto não resolver o problema, uma sugestão pública
(porém educada) ao jogador da Sombra para “dar um tempo”
pode ser necessária. Lembrar o grupo como um todo de que a
história tem como foco principal as aparições dos personagens
e não suas Sombras também pode se mostrar efetivo como avi-
so não só aos Guias da Sombra que estão causando problemas,
mas também àqueles que podem vir a ser um problema. Limitar
a quantidade de vezes que um Guia da Sombra pode tentar se
comunicar com sua Psique pode forçar uma Sombra falante a
ser mais seletiva.
Se tudo isso falhar e o Guia da Sombra estiver de má
vontade ou for incapaz de corrigir seu comportamento, o Nar-
rador deve informá-lo do problema e avisá-lo de que ele mesmo
irá controlar a Sombra até segunda ordem. Isto adicionará um
peso ainda maior ao trabalho do Narrador, mas com o passar do
tempo, pode ser menos problemático do que ficar argumentan-
do constantemente com um dos jogadores.
Por outro lado, o Narrador pode tentar corrigir o
comportamento dos jogadores dentro do contexto do jogo, pre-
servando o crescimento da história e resolvendo o problema
ao mesmo tempo. Fazer comentários como “A constante inter-
venção da sua Sombra está lhe deixando tão irritado que a difi-
culdade para resistir às tentativas dela de controlar sua Psique
foram reduzidas para 3!” podem ser o suficiente para que o Guia
da Sombra entenda que seu excesso de zelo não está trazendo
benefícios. Distrair o Guia da Sombra que está causando pro-
blemas ao ameaçar a aparição dele com uma situação de risco
também pode interromper as suas ações. Ao se tomar este tipo
de ação, o Narrador deve tomar cuidado para não acabar re-
compensando o mau comportamento do Guia da Sombra ao
dar uma atenção extra ao jogador. Usar um personagem contro-
lado pelo Narrador para usar Castigar na Sombra também pode
enfraquecê-lo o suficiente para colocar a Sombra sob controle.
Se nenhuma das sugestões dadas acima funcionarem
e o Guia da Sombra continuar a ser um problema, o Narrador
pode declarar uma moratória em todas as ações envolvendo
Guias da Sombra. Embora isso diminua muito o conflito inte-
rior que retrata a existência das aparições, pode ser a única so-
lução para salvar o jogo de uma Sombra desgarrada.
Narradores podem achar muito útil ter uma discus-
são com o grupo fora do jogo focando como jogar como Guia
da Sombra. Durante essa conversa, quaisquer problemas entre
jogadores podem ser discutidos abertamente. Algumas vezes,
outros jogadores, especialmente aqueles que tenham experiên-
cia em narrar Crônicas, têm sugestões valiosas para oferecer aos
Narradores menos experientes.
Capítulo Seis: A Sombra 179
 Guiando a Sombra
o Que Fazer e o Que Não Fazer
• Evite irritar o jogador cuja Sombra você
controla. Seja a Sombra do personagem, não do joga-
dor.
• Escolha suas oportunidades para atrair a
Psique cuidadosamente. Ao invés de abordá-la com
tentações banais, descubra o que atrai a Psique e explo-
re isso nos momentos certos.
• Não jogue com a Sombra às custas da sua
própria aparição. Se você estiver Guiando a Sombra
mais de um quarto do seu tempo, você está deixando
de lado seu próprio personagem.
• Deixar outro jogador constrangido não é
divertido para ninguém. Tente evitar de abusar de seu
poder como um Guia da Sombra para causar descon-
forto ao jogador da Psique.
• Descubra se o jogador cuja Sombra você
controla tem algum problema em lidar com certos as-
suntos ou fobias e as evite quando estiver agindo como
um Guia da Sombra. Não estrague o jogo de outra pes-
soa.
• Tenha em mente que a Sombra que você
está interpretando é uma pequena parte de um jogo
maior e tente manter suas ações direcionadas em au-
mentar o drama e a diversão do jogo para si mesmo e
para os outros jogadores.
• Tenha certeza que você consiga diferenciar
a voz de seu personagem da voz da Sombra que você
está jogando.
• Lembre-se que o jogador da aparição con-
trola sua personagem independentemente da Psique
ou da Sombra ser a personalidade dominante. Não ten-
te jogar com o personagem de alguém só porque você
está jogando como sua Sombra.
• Tente fazer com que as palavras de sua Som-
bra sejam tão divertidas quanto efetivas. Os outros jo-
gadores estão vendo o que você está fazendo.
180 Aparição: O Esquecimento
O Eidolon e a Sombra
Aparições que possuam pontos em Eidolon tem uma
vantagem para resistir às tentativas da Sombra em tomar o
controle. Eidolon representa a Psique na sua forma mais pura,
uma coleção de todas as suas virtudes e propósitos superiores.
Em resumo, ele não possui uma personalidade em separado ou
uma ficha de personagem, nem se comunica diretamente com
a Psique de uma aparição. O que ele faz, no entanto, é ser uma
defesa contra as artimanhas da Sombra, servindo como um guia
espiritual para a Psique e a antítese da Sombra.
Devido ao fato das aparições serem criaturas cujas
imperfeições as condenam a viver nas Terras das Sombras, a
presença do Eidolon é percebida apenas vagamente. Depender
do seu poder tem suas limitações; no jogo, alguém que tenha
Eidolon só pode usar cada ponto que tiver no Antecedente para
adicionar mais dados ao seu teste de resistência contra a Sombra
uma vez por sessão.
Em certas ocasiões, o Narrador pode escolher repre-
sentar o Eidolon, permitindo que ele “apareça” rapidamente
para a Psique. Em circunstâncias onde uma aparição foi parti-
cularmente muito bem sucedida em resistir à investida de sua
Sombra, esse vislumbre do que ela tem de melhor pode servir
como uma recompensa pela boa interpretação e pode contri-
buir para dar um maior impacto dramático na história.
Conquistas importantes na luta de uma aparição para
alcançar a Transcendência também podem contar com uma vi-
sita por parte do Eidolon. Tais circunstâncias, no entanto, não
passam despercebidas pela Sombra e ela pode redobrar seus es-
forços para recuperar o terreno perdido em seus ataques contra
a Psique.
Jogando com a Sombra
Eu não serei expulso de meu corpo... Eu não vou mudar almas
com este monstro crivado de balas no hospício!
- H.P. Lovecraft, “A Coisa na Soleira da Porta”
O propósito definitivo do Guia da Sombra é induzir
sua Psique a ceder o controle à Sombra, estabelecendo assim
uma situação na qual o jogador da Psique deve jogar com seu
pior inimigo – sua Sombra. Isto acontece quando a Psique perde
no teste de Catarse. Apesar dessa situação ser algo que a maioria
dos jogadores tenta evitar, eles precisam estar conscientes das
ações que suas Sombras são capazes de tomar quando a oportu-
nidade surgir.
O Arsenal da Sombra
• Paixões Sombrias: Durante o tempo em que a Som-
bra domina o personagem, pode aproveitar a vantagem desta
posição e melhorar sua própria situação promovendo seus pró-
prios objetivos. Assim como cumprir Paixões permite a uma
aparição aumentar seu Pathos, a Sombra pode aumentar seu
nível de Angústia buscando suas Paixões Sombrias.
 Variações na Condução da Sombra
No lugar de usar as regras para Guia da
Sombra, o Narrador e seu grupo podem querer ex-
perimentar um método alternativo para incorporar o
conflito Sombra-Psique dentro do seu jogo de Apari-
ção.
• No lugar de usar outros jogadores como
Guia da Sombra, o Narrador pode escolher ele mes-
mo interpretar as Sombras de seus jogadores. Apesar
disso acrescentar um peso adicional nas costas do
Narrador, que além de orquestrar os eventos da histó-
ria, deverá interagir com seus jogadores como a Som-
bra deles, isto pode ser útil em situações envolvendo
jogadores inexperientes. Isto funciona melhor com
grupos pequenos (dois ou três jogadores).
• Narradores com grandes grupos de joga-
dores podem querer considerar o uso de um “Bra-
ço Direito” como Guia da Sombra. Nesta situação, o
Braço Direito age como um guardião dos registros
das fichas de Sombras dos personagens e age como
esses personagens na interação com as aparições dos
jogadores. Esta opção também pode ser usada para
arrumar situações nas quais a presença de muitos
Guias das Sombras resultam em confusão.
• Outra opção para grandes grupos envol-
ve escolher jogar como uma aparição ou como uma
Sombra, mas não os dois ao mesmo tempo. Nesta
situação, a Sombra tem total controle das ações da
aparição quando dominá-la. Isto é recomendado
apenas para grupos avançados, tendo em vista que
isso requer uma grande dose de disciplina por parte
dos jogadores que estão interpretando as Sombras.
Muitos jogos focam na Psique de uma aparição, então
os jogadores da Sombra devem se ver totalmente pa-
rados na maior parte das sessões. Agindo como es-
pectadores, no entanto, permite aos jogadores das
Sombras observarem sua Psique com cuidado. Quan-
do eles estão no controle (como resultado de um tes-
te de Catarse), eles também são capazes de tirar uma
vantagem maior das habilidades da Psique. Este é um
jeito particularmente eficaz de enfatizar o desamparo
da Psique nas mãos de sua Sombra. Para que esta op-
ção funcione, estabelecer regras básicas para os joga-
dores da Sombra é essencial, os jogadores e Narrador
devem confiar totalmente uns nos outros.
• Permitindo que um Guia da Sombra per-
maneça no controle durante os períodos de Catarse
é uma outra maneira de se lidar com a relação Som-
bra-Psique. Normalmente, os Guias da Sombra atuam
indiretamente para influenciar suas Psiques. Nesta si-
tuação, no entanto, o personagem é controlado dire-
tamente durante a cena em que durar o Catarse. Cui-
dados devem ser tomados e tanto o jogador da Psique
quanto da Sombra devem estar de acordo quanto a
isso para que se tenha certeza que este tipo interpreta-
ção compartilhada não acabe gerando tensões fora da
partida entre os jogadores. Esta opção deve ser usada
apenas em grupos avançados, e todos os jogadores
envolvidos na história devem estar de acordo com
este estilo de jogo.
• Guiar a Sombra por consenso permite que
todos os jogadores se “enturmem” com uma apari-
ção. Em pequenos grupos, pode ser possível que cada
um dos jogadores tenha alguma familiaridade com
as Sombras de todos os personagens, permitindo as-
sim que eles joguem como Guia da Sombra de mais
de uma aparição. Isso algumas vezes pode refletir as
várias faces da Sombra, já que cada jogador terá um
estilo diferente de interpretação. Como isso pode
causar confusão se for feito da maneira errada, não
é recomendado para grupos grandes ou para joga-
dores inexperientes. Narradores também devem ter
cuidado ao certificarem-se que um jogador não se
sinta incomodado por ter várias vozes atuando como
a Sombra de seu personagem.
Capítulo Seis: A Sombra 181
 As emoções que alimentam a Sombra frequentemen-
te são perversões dos melhores sentimentos. Ao invés de amor,
compaixão, esperança ou lealdade, a Sombra se satisfaz em
ódio, desprezo, desespero e traição. Algumas vezes, no entanto,
Paixões Sombrias representam emoções que não são necessaria-
mente sombrias, mas são, ainda assim, represadas pela Psique.
Medo, culpa e aflição são exemplos de Paixões represadas.
Cada Paixão Sombria tem seu propósito próprio, os
quais são frequentemente ligados e opostos aos da Psique. Por
exemplo, uma aparição que procure proteger sua família pode
ter uma Sombra que procura machucá-los. Algumas Paixões
Sombrias, no entanto, não possuem ligação com nenhuma das
Paixões que guiam a Psique. Uma Sombra pode procurar ma-
chucar pessoas mesmo quando a Psique não tem nenhum inte-
resse pessoal em protegê-las.

• Espinhos: Certos Espinhos fornecem à Sombra

várias maneiras de afetar o mundo à sua volta. Uma Sombra
que possua Rosto Sombrio, Infâmia, Chamado Sombrio, Relí-
quia Maculada ou outro Espinho que lhe dê uma capacidade
ou poderes adicionais, pode usá-los à vontade quando estiver
no controle da aparição. Alguns Espinhos podem ser usados a
qualquer hora, enquanto outros são restritos aos períodos em
que a Sombra está no controle.

O Estilo da Sombra
Uma Sombra possui seu próprio Arquétipo e ele é a
personalidade que dá vida à sua interação com o mundo à sua
volta. Ambos, jogador e Guia da Sombra devem estar familiari-
zados com o Arquétipo da Sombra. Um Guia da Sombra deve
fazer uso desse Arquétipo quando estiver tentando a Psique.
Considerando que esta Natureza surge quando a Sombra está
no controle, o jogador da aparição deve estar preparado para
ajustar as ações de seu personagem para refletir esse Arquétipo.
A Abusiva, por exemplo, irá atormentar a Psique para
aceitar seus conselhos ou ameaçará puni-la por não faze-lo.
Quando no controle da aparição, ela espalhará seus abusos em
uma escala muito maior, tentando aumentar o sofrimento da-
queles ao seu redor. A Aliciadora, por outro lado, irá persuadir a
Psique com promessas de grande poder (por um preço). Quan-
do domina uma aparição, ela procurará incessantemente por si-
tuações nas quais a aparição deva depender de suas habilidades
para sobreviver, colocando a infeliz personagem ainda mais em
débito.

Correndo Com as Sombras

Mas poetas deveriam
Possuir dupla visão; deveriam ter olhos
Para ver coisas próximas como se fossem abrangentes
Como se longe estivesse seu ponto de vista,
E coisas distantes assim intimamente profundas
Como se elas o tocassem. Vamos lutar por isto.
- Elizabeth Barrett Browning, “Aurora Leigh”

182 Aparição: O Esquecimento

 A dupla natureza das aparições é um desafio tanto
para Narradores quanto para jogadores. Na maioria dos RPGs o
Narrador procura criar uma história que envolverá os jogadores
alcançarem um objetivo em comum. Histórias de Aparição, no
entanto, tem como principal característica personagens encer-
rados em uma batalha interna por controle. É possível que per-
sonagens em um jogo de Aparição acabem agindo contra seus
próprios interesses. Isto adiciona um nível maior de dificuldade
à tarefa do Narrador, já que ele deve lidar com as frequentes
reviravoltas quando a Sombra toma o controle de suas aparições
e saem para perseguir seus próprios objetivos. Algumas vezes a
essência de uma história pode se perder graças às complicações
causadas por alterações inesperadas da trama devido às ações
da Sombra.
Narradores devem andar em uma linha tênue entre
preservar a dinâmica e a integridade da história e permitir a
ação combinada entre a Sombra e a Psique para criar o seu estilo
único de conflito dramático. Ser capaz de manter o quadro geral
(o progresso da história) em mente enquanto lida com os capri-
chos de Psiques esgotadas e Guias da Sombra frenéticos requer
que o Narrador esteja no seu melhor em todos os momentos.
Os jogadores também devem se lembrar que seus personagens
fazem parte de um contexto maior e que algumas vezes disci-
plina e autocontrole têm preferência. Ficar de fora da ação do
jogo e ver como a história se desenvolve pode, algumas vezes,
ajudar jogadores e Narradores a decidir qual a melhor maneira
de contribuírem para a diversão de todos.
Quando todos os envolvidos no jogo de Aparição co-
operam para criar uma história que cria oportunidades para os
conflitos de cada aparição enquanto se mantém um foco na his-
tória principal, as dificuldades apresentadas pelo conflito Som-
bra-Psique criam um desafio digno de se encarar, fazendo de
uma partida de Aparição algo ainda mais significativo.
Pesadelos
‘O Inferno é muito parecido com um parque temático..... A ge-
rência está sempre tentando melhorar as atrações, adicionar um
toque mais efetivo ao entretenimento. ´
- Dan Simmons, “Vanni Fucci está Vivo e Bem e Vivendo no
Inferno”
Pesadelo é uma cavalgada através do
terror que é a Tempestade, uma peça
cuja estrela é a aparição e dirigida pela
sua Sombra com os Espectros como
elenco de apoio. Pesadelos são feitos
para torturar a aparição, capacitar sua
Sombra e indizí-la a cometer erros
que podem destroçar suas Paixões,
Grilhões ou sua própria existência e mandá-la gritando para o
Esquecimento. Até certo ponto, o Pesadelo é como um jogo, um
desafio para que a aparição escolha o caminho correto que a
permita sair do pesadelo. Naturalmente, a Sombra ou tenta em-
baralhar as cartas para que a aparição faça a escolha errada, ou
faz com que todas as escolhas pareçam tão ruins que a aparição
não consegue decidir entre nenhuma delas e consequentemen-
te não faz nada. De qualquer forma, a Sombra “vence” e pega
como prêmio uma parte das Paixões ou Grilhões da aparição.
Isso os enfraquece e leva a aparição pra mais perto do Esque-
cimento – ou a arrasta para o Vácuo. Se a Aparição triunfa, se
liberta do Pesadelo e mantém seus Grilhões e Paixões. Ela pode
sair ilesa, mas geralmente não sairá sem mudanças.
Quando uma aparição passa por uma experiência
que ameaça afastá-la ainda mais do mundo dos vivos (como
perder Grilhões, Paixões e todo seu Corpus ou Força de Von-
tade), sua mente luta contra essa perda. Ao mesmo tempo, a
outra parte dela, sua Sombra, tenta encorajar esse rompimento.
Da mesma forma que há um forte impulso pela vida, há igual-
mente um forte desejo pela morte dentro de cada pessoa; apa-
rições não são diferentes. Elas precisam de suas ligações com
os vivos (Paixões e Grilhões) para que permaneçam aparições.
Caso contrário, simplesmente escorregam em direção ao Esque-
cimento. Por outro lado, aparições são incapazes de Transcen-
der até que elas resolvam todos os seus Grilhões e desistam de
suas Paixões em troca de um descanso tranquilo. Até lá, eles são
Mortos Inquietos, cujo propósito são suas Paixões e são atados
aos vivos através de seus Grilhões. Eles precisam de seu Corpus
como uma casca para guardar suas mentes e almas e sua Força
de Vontade para resistir à atração que o Esquecimento exerce.
A Sombra procura derrotar a consciência ativa da apa-
rição e assumir o controle com o objetivo de mandá-la para o
Esquecimento. Serve também para incitar a aparição a chegar
a bons termos com seus demônios interiores e se livrar da ne-
cessidade de ficar agarrada à sua antiga mortalidade. De uma
só vez, este era o propósito dos Pesadelos; eles eram desafios
feitos para ensinar uma aparição como lutar com seus aspectos
mais sombrios e vencê-los. Algumas aparições tinham medo de
Transcender, não estando dispostas a aceitar a rendição propos-
ta de sua própria autoconsciência. Outras temiam uma terrível
pós-vida de agonia eterna. Por causa disso, aparições acostuma-
das a rejeitar sua Sombra, se escondem de si mesmas e fingem
poder continuar sua existência imutáveis. Pesadelos servem
como uma experiência catártica, forçando tais aparições a enca-
rarem a si próprias, suas Sombras e a possibilidade de Transcen-
dência ou dissolução sempre que correm o risco de perder suas
Paixões, Grilhões, Corpus ou Força de Vontade. Fazendo uma
aparição confrontar e lidar com seus mais sombrios medos e
desejos, Pesadelos purificam a aparição, abrindo novas possibi-
lidades inerentes à Transcendência: a purificação da alma e sua
passagem para uma esfera mais elevada.
Pesadelos ainda são confrontos entre os diferentes
lados de si mesmo, mas não são necessariamente um proces-
so purificante. Em algum ponto os Pesadelos mudaram. Tor-
naram-se mais sombrios, mais sinistros e mais mortais. Não
são mais lições sobre aceitação e Transcendência, mas batalhas
campais com as almas das aparições como o troféu definitivo.
Agora Pesadelos são espetáculos de horror e perda, apesar da
aparição ainda poder receber algumas dicas sobre si mesma se,
de alguma forma, conseguir subjugar sua Sombra.
Capítulo Seis: A Sombra 183

Interpretando o Pesadelo
Sempre que uma aparição passar por um
Pesadelo, um grupo de Espectros interage com
ela, infernizando-a para que faça as escolhas erra-
das. Nenhum Narrador pode descrever exatamen-
te quantos Espectros são necessários para povoar
um Pesadelo; isso depende do grupo. Em vez de
participar como seus próprios personagens ou a
Sombra de alguém, cada jogador assume o papel
de um Espectro que tem a intenção de enganar ou
atormentar a aparição que é o alvo. Espectros são
sádicos, e os outros jogadores devem se sentir li-
vres para retratar isso nos seus papéis temporários
de assistentes do Narrador.
Há uma grande tentação, no entanto, de
exagerar quando se está jogando com um Es-
pectro. Alguns jogadores podem acabar dando
o “troco” por ofensas imaginárias (ou reais); ou-
tros podem simplesmente ser pegos se divertin-
do em serem “maus”. O Narrador se certificar que
o sadismo inerente em qualquer Pesadelo é dos
Espectros, não dos jogadores. Se alguém cruzar
essa linha, deve ser retirado dessa parte do jogo
e deixado de lado até que a partida volte ao nor-
mal. O Narrador tem a palavra final sobre o que
é permitido; se ele achar que algum jogador-Es-
pectro não está sendo justo, ele pode declarar que
aquela ação nunca aconteceu. Isso geralmente não
é um problema se o Narrador chama o resto do
grupo para uma conversa fora do jogo e explica o
que pretende com aquele Pesadelo, ou se ele trás
os outros jogadores para planejar com eles o Pe-
sadelo e estabelecer os termos nos quais a vítima
pode triunfar. Sadismo excessivo acontecerá com
menor frequência em grupos nos quais os joga-
dores entendem que eles podem esperar a mesma
crueldade ou cortesia quando for a vez deles.
O que Acontece Atualmente
Quando um personagem é arrastado para um Pesa-
delo, torna-se a estrela de um perverso drama psicológico es-
crito por seu próprio subconsciente. Essencialmente, a apari-
ção se vê em uma paisagem sombria onde as regras conhecidas
podem ou não se aplicar mais. Durante o Pesadelo, a aparição
pode usar Arcanoi, Força de Vontade (exceto o último ponto)
e qualquer uma de suas Habilidades, mas ela não pode usá-las
para escapar do Pesadelo em si. Não existe nenhuma outra saí-
184 Aparição: O Esquecimento
da exceto passar por ele até o final.
Um Pesadelo acontece quando uma aparição é ar-
rastada pelo Esquecimento, por várias razões (ver abaixo), até
o Labirinto, para se tornar o brinquedo temporário de alguns
Espectros trabalhando com sua Sombra. Assim que uma das
condições do Pesadelo é cumprida (Grilhões ou Paixões com-
prometidas, etc.), um pequeno Nihil se abre logo abaixo da
aparição e ela cai em grande velocidade através da Tempestade.
Mesmo Argos não pode ajuda-la a escapar das garras do Es-
quecimento neste ponto e a viagem não acaba até que esteja no
palco que os Espectros prepararam para ela, que geralmente
fica no Labirinto.
Enquanto o personagem desce, sua Sombra está em
contato com os Espectros locais, informando a eles das fraque-
zas da Psique, fobias e arrependimentos. Os Espectros pegam
essa informação e fazem bom uso dela, criando os preparativos,
colocando os adereços para o Pesadelo na própria Tempestade
para quando a aparição finalmente chegar, o palco estar arma-
do para um os momentos de horror.
Dentro do Pesadelo, a lógica dos sonhos é a regra.
Objetos podem ser pegos do ar; a paisagem pode mudar num
piscar de olhos; novos Espectros podem simplesmente se mate-
rializar sem aviso algum e por aí vai. Tentar entender o que está
acontecendo simplesmente irá tornar as coisas piores e tudo
o que acontece está de acordo com os caprichos do Espectro
que está dirigindo o “espetáculo” (e seu assessor, a atormentada
Sombra da aparição).
Aparições deixam o Pesadelo do mesmo jeito que
eles chegaram: rapidamente. Um Nihil irá vomita-los de volta
para as Terras das Sombras, ou eles irão se ver arremessados
na Tempestade, ou o Esquecimento irá reivindicá-los rapida-
mente. Não há tempo para um drinque de despedida com os
atormentados Espectros quando alguém sai de um Pesadelo.
Por outro lado, também não há tempo para eles tomarem um
drinque com a aparição que está de partida.
Dando o Fora
No fim do Pesadelo, assumindo que a vítima não saiu
de lá de uma maneira bem sucedida, deve fazer um teste que
determina se o personagem assombrado teve sucesso, falha ou
falha crítica. É importante lembrar que o teste determinando
o sucesso ou falha não é apenas um lance aleatório de dados,
mas sim um teste feito depois que o personagem passou pelo
próprio Pesadelo e teve uma chance real de se reagir a ele. To-
dos os Pesadelos possuem algum tipo de dilema ou teste para a
aparição em seu âmago. Se a aparição que passou pelo Pesadelo
interpretou bem e fez escolhas inteligentes durante o evento,
desse modo achando e resolvendo seu o dilema central, deve
ser considerada bem sucedida sem a necessidade de um teste.
Por outro lado, não são todas as aparições que serão
capazes de resolver seu Pesadelo através de interpretação ape-
nas. Depois de um determinado limite de tempo (10 minutos
funciona bem), se ela falhar em achar a resposta para escapar
do Pesadelo que a atormenta, o Narrador deve finalizar o dra-
ma psicológico e permitir ao personagem fazer o teste para de-
terminar o seu destino. O teste é feito com a Força de Vontade
 Uma palavra de Cautela
Assim como jogadores podem merecer su-
cessos automáticos em um Pesadelo através da inter-
pretação, Narradores podem ser tentados a atribuir
falhas automáticas ou mesmo falhas críticas como
penalidade por decisões ruins, fraca interpretação
ou testes que resultaram em falhas críticas feitas du-
rante o próprio Pesadelo. No entanto, Narradores
são aconselhados a evitarem fazer essa decisão unila-
teralmente, pois isso pode causar ressentimentos por
parte do jogador cujo personagem foi “injustiçado”
(em seu modo de pensar). Ao invés disso, se a situ-
ação realmente justificar esse ato, Narradores devem
ou aumentar a dificuldade do teste de Pesadelo para
10 ou aumentar o número de sucessos necessários
para se escapar dele. Sempre deixe uma porta de fuga
para o personagem, não importa quão pequena, pois
isto irá manter o jogador por trás do personagem
com esperanças. Não é divertido se sentir desampa-
rado, afinal de contas, diversão é o objetivo do jogo.

permanente (dificuldade 9) e um único sucesso é considerado

suficiente para permitir que a aparição escape do Pesadelo com
sucesso.
O personagem não precisa testar qualquer coisa a me-
nos que ele falhe em resolver o dilema. Mesmo nesse caso, boa
interpretação pode reduzir de maneira significativa a dificul-
dade do teste para escapar do Pesadelo. Apesar da dificuldade
para se escapar do Pesadelo começar sempre em 9, o Narrador
pode reduzi-la para 8 ou mesmo 7 como uma recompensa pela
atuação do jogador.
Além disso, se a aparição possuir Eidolon, pode fazer
um teste com o seu nível atual (dificuldade 9) para mudar as-
pectos do Pesadelo para ajudá-la a se defender melhor ou mes-
mo a escapar. Cada sucesso permite que se mude um aspecto
para que fique mais favorável, aumentando dessa maneira suas
chances de resolver o dilema (apesar dessa mudança dever fa-
zer sentido no contexto do Pesadelo). Se a aparição ainda tiver
pontos de Força de Vontade, pode usá-los como em qualquer
outro teste para ganhar um sucesso automático. Deve ser ob-
servado que quando a aparição está em um Pesadelo porque
ela está na iminência de perder seu último ponto de Força de
Vontade, não pode usar este mesmo ponto para ganhar um su-
cesso; isso significaria que ela desistiu voluntariamente, tendo
como consequência sua dissolução.

Sistemas e Alvos de Pesadelo

Há dois tipos diferentes de Pesadelos. Eles se distin-
guem pelo alvo e pelo possível resultado do evento.

Capítulo Seis: A Sombra 185


Pesadelos Direcionados
O primeiro tipo de Pesadelo é aquele no qual as Pai-
xões ou Grilhões são os alvos de sua Sombra em uma tentativa
de destrui-los; isto pode enfraquecer os laços da aparição com
o mundo dos vivos ou fazer dela uma pessoa mais fria, menos
emotiva (e isso a leva para mais perto do Esquecimento). O
alvo de um Pesadelo é chamado de A Presa, como se aquela
Característica estivesse sendo caçada. Pesadelos Direcionados
podem ser ativado pelos seguintes eventos:
• A aparição perde (ou usa) todos seus pontos de
Força de Vontade. Quando está na iminência de perder esse
último ponto, imediatamente é submetida a um Pesadelo que
ameaça ou uma Paixão ou um Grilhão (a escolha do Guia da
Sombra). Geralmente A Presa escolhida é uma que possua
poucos pontos ou uma que foi negligenciada recentemente.
Se a aparição obtiver sucesso no teste do Pesadelo, é
jogada de volta para próximo um de seus Grilhões e mantém
seu único ponto de Força de Vontade. Falha significa que a
aparição deve fazer um teste com a quantidade de dados da
Paixão ou Grilhão escolhida (dificuldade 8). Ela perde uma
quantidade de pontos igual ao número de dados do teste que
não obtiveram um sucesso. Se isto fizer com que a pontuação
chegue à zero ou menos, a Paixão ou Grilhão é perdida para
sempre. Ela então escapa do Pesadelo, voltando para um Gri-
lhão (assumindo que ela ainda tenha algum) e recuperando
186 Aparição: O Esquecimento
Força de Vontade na mesma quantidade do seu nível de Inte-
ligência. Uma falha crítica faz com que a aparição perca total-
mente o Grilhão ou Paixão. Além disso, ela agora deve testar
sua Força de Vontade permanente contra a Angústia da Som-
bra (dificuldade 6). Se a Sombra vencer, a aparição perde um
ponto de Corpus permanente.
Se o Narrador sentir que a aparição desperdiçou sua
Força de Vontade de um modo particularmente injustificado
ou arbitrário, pode optar por um Pesadelo Destrutivo após a
perda do último ponto de Força de Vontade (ver abaixo). A
perda de um ponto de Corpus permanente é uma penalidade
bastante séria por si própria, uma vez que ela limita a pontua-
ção temporária de Corpus, tornando mais fácil para a aparição
cair em outro Pesadelo e então perder mais Corpus...
• A aparição está na iminência de perder (não por
sua Decisão) seu último ponto em uma Paixão. Contanto que
ela tenha um ponto na Paixão, estará bem, mas quando o úl-
timo ponto é ameaçado, ela é submetida a um Pesadelo. Isto
pode acontecer ou porque a aparição negligenciou a Paixão
ou devido a uma habilidade dos Espectros de suprimir mesmo
a mais feroz das emoções. Aparições também podem perder
Paixões por falhar em um Pesadelo, mas apenas um Narrador
realmente cruel iria invocar um segundo Pesadelo como resul-
tado por falhar em um primeiro (especialmente por se tratar
da mesma Paixão, a qual pode ser perdida de qualquer jeito).
O Pesadelo deve focar em um tema que envolva as
Paixões e essa Paixão deve sempre ser A Presa do Pesadelo. Por
exemplo, se a Paixão que está sendo ameaçada é Proteger mi-
nha irmã (Amor), o Pesadelo se formar em uma casa de espe-
lhos, com cada um dos espelhos refletindo a irmã do persona-
gem em algum tipo de situação perigosa. Obter sucesso nessa
situação tem o mesmo resultado de se ter sucesso no Pesadelo
de Força de Vontade. No entanto, se a vítima tem falha ou falha
crítica, não apenas perde a Paixão predada, mas também deve
fazer um teste contra o nível de uma Paixão diferente (fica a
escolha do Narrador decidir qual Paixão, dificuldade 5), tam-
bém. Qualquer falha durante este teste diminui o nível dessa
segunda Presa. Além disso, uma aparição que tem uma falha
crítica em um Pesadelo que envolve uma Paixão deve testar
sua Força de Vontade permanente contra a Angústia perma-
nente (dificuldade 6) ou perde um ponto de Corpus perma-
nente.
• A aparição que está na iminência de perder (não
por sua Decisão) seu último ponto em um Grilhão. Quando
um Grilhão vivo morre ou um Grilhão não-vivo é destruído, o
personagem cujo Grilhão foi perdido é jogado imediatamente
neste tipo de Pesadelo.
Este Pesadelo funciona exatamente como o da Pai-
xão, mas o Grilhão é a Presa e se torna parte do cenário ou
um jogador durante o drama psicológico. Se um personagem
tem a sua coleção de revistas em quadrinhos como Grilhão,
por exemplo, este Pesadelo poderia se povoado por Espectros
retratando versões distorcidas de seus super-heróis favoritos,
todos cobertos de sangue. Sucessos, falhas e falhas críticas fun-
cionam da mesma maneira que para as Paixões, exceto pelo
fato de que se a aparição perde seu último Grilhão deste jei-
to (através de uma falha), não pode ser jogada de volta para
ele, ao invés disso é jogada para algum lugar na Tempestade.
Também torna-se incapaz de viajar para as Terras das Sombras
dali pra frente. Falhas e falhas críticas funcionam da mesma
maneira que nos Pesadelos de Paixões.
Se a aparição foi arrastada para este tipo de Pesadelo
porque um dos seus Grilhões foi destruído ou morto, ter su-
cesso no Pesadelo ainda assim não irá fazer com que a aparição
mantenha este Grilhão. Em vez disso, um sucesso irá permitir
a ela considerar o Grilhão Resolvido ao invés de destruído.
• A aparição perdeu todo o seu Corpus temporário.
Neste caso, a própria aparição é a Presa do Pesadelo. Nova-
mente, sucesso permite que ela volte para um Grilhão e recu-
pere uma quantidade de pontos de Corpus temporário igual
ao seu nível de Vigor. Falha resulta na perda de um ponto per-
manente de Corpus e uma falha crítica resulta em um novo
Pesadelo imediatamente, novamente com a aparição como a
Presa.
Se a aparição perde seu último ponto de Corpus per-
manente como resultado de um Pesadelo, ela imediatamente é
jogada em um Pesadelo Destrutivo (ver abaixo).
Pesadelos Destrutivos
Estes Pesadelos acontecem apenas em circunstâncias
extremas e ameaçam diretamente a aparição. Nestes raros ca-
sos, ela se torna a própria Presa em vez da Paixão ou Grilhão.
Circunstâncias que acarretam um Pesadelo Destrutivo são as
Por Exemplo…
Enquanto Erik ainda está subindo ao
longo da borda do edifício, o tiro disparado pelo
primeiro Herege atrai a atenção de uma dupla de
amigos seus. Todos atiram na desafortunada apa-
rição e suas balas acertam. Erik perde o controle
na borda e cai para no chão implacável.
O Narrador determina que entre as balas
e o impacto no chão, Erik tomou dano suficiente
para entrar em um Pesadelo. Ele pede para o jo-
gador de Erik para sair da sala e uma vez que isso
aconteça, pergunta ao Guia da Sombra de Erik o
que seria uma boa Presa para o Pesadelo.
O Guia da Sombra aponta para a maior
Paixão de Erik, amarrado com sua busca pela
aparição pela qual ele se apaixonou. Também
menciona que a Natureza de Erik é Mártir e isto
pode ser uma boa ideia para criar a condição de
fuga que Erik tem de recusar, conscientemente,
um inútil auto sacrifício. O Narrador concorda
que isso iria fazer um bom material para o Pe-
sadelo e em conjunto com os outros jogadores,
decide presentear Erik com várias imagens Es-
pectrais de seu amor perdido em situações muito
perigosas. Ele pode salvar uma, provavelmente
duas, mas não pode salvar todas elas e tentar irá
apenas destruí-lo no final. Satisfeito com os pa-
péis que os outros jogadores terão como Espec-
tros no Pesadelo, o Narrador chama Erik de volta
para a sala....
seguintes:
• A Aparição perde toda a sua Força de Vontade (por
exemplo: na iminência de cair de um ponto de Força de Vonta-
de para zero), e gastou essa Força de Vontade de uma maneira
que o Narrador considera particularmente frívola. Ela mesma
é a Presa do Pesadelo, já que perdendo toda sua Força de Von-
tade, não tem mais a força para resistir à atração do Esqueci-
mento. Neste tipo de Pesadelo, nenhum teste de Paixões ou
Grilhões é feito. Em vez disso, no final do Pesadelo, a aparição
faz um teste de sua Força de Vontade permanente contra a An-
gústia permanente da Sombra (dificuldade 6). Obter sucesso
no teste a manda de volta para um Grilhão e a permite manter
seu último ponto de Força de Vontade. Falha significa que a
aparição é completamente consumida pelo Esquecimento, en-
quanto uma falha crítica pode (a critério do Narrador) permi-
tir ao personagem renascer como um Espectro.
Pesadelos Destrutivos baseados na Força de Vontade
são muito raros e devem ser empregados apenas se a situação
realmente exigir.
Capítulo Seis: A Sombra 187
 • A aparição está na iminência de perder seu último
ponto na última Paixão que restou. Suas emoções se tornaram
tão anestesiadas que ela está a um passo de não sentir nada e as-
sim se tornar nada. Novamente, a Força de Vontade permanente
deve ser testada contra a Angústia permanente (dificuldade 6).
Caso a aparição vença, ela é transportada para um de seus Gri-
lhões (assumindo que ela ainda tenha um), ou para uma área
qualquer da Tempestade (se ela não tiver) e mantém seu último
ponto de Paixão. Uma falha retira dela sua última forte emoção,
abrindo as portas para o frio vazio do Esquecimento e destruin-
do-a completamente. Novamente, uma falha crítica pode trans-
formar a aparição em um Espectro.
• A aparição é reduzida a zero de Corpus permanente.
Com até mesmo sua tênue ligação com a realidade das Terras
das Sombras sendo corroída, ela fica na eminência da dissolu-
ção total. O sistema é o mesmo que os citados acima, com a
aparição testando sua Força de Vontade permanente contra a
Angústia permanente da Sombra (dificuldade 6). Obter sucesso
a manda de volta para um Grilhão (se ela tiver um) ou para
uma parte qualquer da Tempestade onde ela recupera imedia-
tamente um ponto de Corpus temporário e permanente. Uma
falha resulta na destruição imediata da aparição. O personagem
é arrastado gritando até o Esquecimento e o jogador deve con-
siderar com qual tipo de personagem ele gostaria de jogar em
seguida. Uma falha crítica neste teste irá tornar o personagem
em um Espectro, provavelmente da casta dos Nephwracks.

Recompensas
Se a aparição passar pelo Pesadelo com sucesso, ela
deve receber alguma espécie de recompensa. Para Pesadelo Di-
recionado, caso a aparição tenha “defendido” com sucesso uma
Paixão ou Grilhão (especialmente uma que ela negligenciou re-
centemente) com uma boa interpretação ou ideias inteligentes,
ele deve ter um aumento de um ponto. Desse modo, um Grilhão
que era de três pontos agora se torna um de quatro pontos. Para
Pesadelos Destrutivos, a aparição é recompensada com uma di-
minuição de um a três pontos (dependendo da dificuldade do
Pesadelo e a interpretação do jogador) de Angústia temporária.
Isto representa um aumento da confiança da aparição devido
seu sucesso e ao alívio em ter escapado do Pesadelo.

Pesadelos Estendidos
Nesta variação das regras, quando uma aparição tem
uma falha crítica no seu teste durante um Pesadelo Direciona-
do, ela perde a Presa do Pesadelo em questão, mas não perde o
Corpus permanente. Ao invés disso, o trauma da perda a coloca
em um segundo Pesadelo que tem como alvo outra Paixão ou
Grilhão. Com efeito, isto dá a aparição uma segunda chance. O
Pesadelo prossegue exatamente como se fosse o primeiro, com
os mesmos resultados de um Pesadelo normal para os sucessos
e falhas que o jogador tiver. Se a aparição tiver que fazer um
teste novamente e tiver uma falha crítica neste teste também, o
Narrador poderia então (de consciência limpa) declarar que a

188 Aparição: O Esquecimento

aparição perdeu um ponto de Corpus permanente, ou poderia
ainda permitir que aconteça um terceiro Pesadelo.
Tecnicamente, isto poderia continuar até a aparição
não ter mais Grilhões ou Paixões, mas na prática, depois do
terceiro Pesadelo, a aparição provavelmente não irá mais ser ca-
paz de aguentar mais (e os outros jogadores vão querer voltar a
jogar com seus personagens). Desde que seja permitido, uma
aparição deve ser capaz de superar uma falha crítica gastando
um ponto de Força de Vontade (e então ganhando um sucesso),
mas haverá momentos em que ela não poderá gastar Força de
Vontade (em situações em que ela tiver apenas um ponto so-
brando e não quiser gastá-lo para não enfrentar um Pesadelo
Destrutivo). Qualquer aparição que passar por três Pesadelos
sucessivos ganha uma perturbação permanente a ser determi-
nada pelo Narrador (assumindo que ela saia intacta). Além de
qualquer outra perturbação que a aparição possa adquirir, ela
nunca estará totalmente certa de que escapou do Pesadelo. Ela
pode acreditar que os acontecimentos seguintes são apenas tru-
ques de sua Sombra para faze-la baixar a guarda. Sempre que ela
estiver sob estresse novamente, irá supor que o Pesadelo está
prosseguindo (e ela pode estar certa).
Pesadelos em Grupo
Há ocasiões quando um grupo inteiro de aparições so-
fre um Pesadelo simultaneamente. Isto pode acontecer quando
todos perdem um Grilhão em comum, ou quando todos per-
dem todo o Corpus ao mesmo tempo (por exemplo, em uma
troca de tiros ou Maelstrom). Seja qual for a causa, em momen-
tos como esses as aparições passam por um Pesadelo juntas, em
vez de sozinhas. No geral, o funcionamento de um Pesadelo em
grupo é o mesmo e todas as aparições são testadas de alguma
forma (os testes podem ser voltados tanto para o grupo como
para cada um dos indivíduos separadamente). Obviamente, em
um Pesadelo em grupo os jogadores estão ocupados demais
com seus personagens para interpretar os papéis dos Espectros;
essa tarefa adicional recai então para o Narrador.
Na conclusão do Pesadelo em grupo, ou todas as apa-
rições são bem sucedidas ou todas devem fazer um teste para
determinar o resultado. É possível que indivíduos dentro do
grupo falhem em seus testes individuais neste ponto, mesmo
que o resto do grupo tenha sucesso. Nesta hora, o grupo deve
decidir se eles estão todos juntos nisso, ou se querem lidar com
as coisas separadamente. Nota: A abordagem “todos juntos nis-
so” só é possível se as aparições estão passando pelo Pesadelo
pela perda de um Grilhão em comum. Se o Pesadelo é sobre
Corpus perdido, neste caso é “cada um por si”.
Se elas estão todas juntas, a falha de uma única apa-
rição significa que o grupo todo é colocado em perigo. A boa
notícia é que a pessoa que tem o maior nível no Grilhão com-
partilhado faz o teste pelo grupo todo. Se ele tiver sucesso, todos
escapam. Se ele vier a falhar, todos perdem o Grilhão; se ele tiver
falha crítica, ele perde o Grilhão e o teste recai para a pessoa
com o maior nível de Força de Vontade do grupo. Se este teste
for bem sucedido, o Grilhão ainda está perdido, mas todas as
aparições escapam ilesas. Uma falha neste segundo teste resulta
na perda de um ponto de Corpus permanente de cada aparição
do grupo, enquanto que uma falha crítica gera consequências
que é melhor serem deixadas a critério do Narrador.
A outra maneira de se lidar com isto é escolher os
indivíduos de dentro do grupo que falharam em seus testes e
fazer com que apenas essas pessoas façam o teste. O que quer
que aconteça afetará apenas essas aparições. Se elas perderem
o Grilhão, estará perdido apenas para elas; os outros membros
do grupo o mantém. Caso qualquer um deles tiver uma falha
crítica e falhar em seus testes de Força de Vontade, apenas es-
sas aparições perdem Corpus permanente. Deve ser notado que
Pesadelos Estendidos podem ser aplicados a situações em grupo
também.
Capítulo Seis: A Sombra 189
Livro Três:
O Lado Sombrio
190 Aparição: O Esquecimento
 Es-
tou
sen-
t a d o
no vagão
de jogos
de um trêm
f a nt a s m a g ó -
rico, jogando
pôquer com dois
fantasmas e um Es-
pectro que diz ter sido
general de Alexandre,
O Grande. Ele certamen-
te cabe na descrição, com
aquela armadura de bronze
meio enferrujada e seu elmo.
Tem um brilho vermelho saindo
do elmo, onde deveriam estar seus
olhos e por baixo da barba negra pos-
so ver seus ossos. Supostamente é nisso
que nós, aparições, nos tornamos quando
nossas Sombras se apossam completamen-
te de nós. Eu também ouvi que podemos ser
engolidos pelo Esquecimento - O nada, a en-
tropia, ou o que quer que queira chamar. Olho
para aqueles olhos fumegantes e não tenho certeza
do que eu prefiro.
Tem um problema em se jogar pôquer com um
cara que não possui mais seus olhos. É difícil saber se
ele está blefando. As outras duas aparições - um pistoleiro
esquelético e alguém chamuscado como um frango na cha-
pa que usa um martelo no cinto - não importa. Eles possuem
objetos e moedas para apostar, e estão perdendo, e mesmo num
lugar como esse, objetos podem ser trocados. Sempre tem outros
fantasmas para apostar. Mas eu, eu perdi tudo que tinha. Tudo que
me sobrou sou eu mesmo e corpos de fantasmas são muito valiosos
hoje em dia.
Os outros dois estão fora. O Espectro está aumentando a aposta. Cartas
fantasmas deslizam na mesa fantasma do trem fantasma e param na minha
frente.
Capítulo Seis: A Sombra 191
De repente, estou apavorado. Queria escutá-la cantando mais uma vez.
Viro minhas cartas...

Renegados
A noite vibra perigo su-
avemente enquanto ando por
ruas estranhamente desertas,
me dirigindo novamente à Es-
cola Primária Pine Knoll. Tempo
e distância ainda pregam peças
em mim, e parece que levei mais
tempo que o necessário andar
os poucos quilômetros de volta
à escola. Pelo caminho, passei
por lojas caindo aos pedaços e
apartamentos abandonados, mas
a coisa mais estranha é que isso
não me afetou como costuma-
va. Devo estar me acostumando
com esse lugar, refleti relutante.
Uma súbita onda de ativi-
dade à minha esquerda, nas som-
bras de um prédio, atrai minha
atenção. Eu me aproximo com os
punhos fechados e preparados e
olho nas sombras dentro do pré-
dio arruinado.
No começo, não vi nada.
Então, algo mais escuro que a
noite toma forma nas sombras e
vem na minha direção tão rápi-
do que não consigo reagir. Uma
risada sinistra preenche a noite
enquanto algo se choca comigo.
Experimento o impacto como
uma pancada distante, mas que
tira meus pés do chão. Eu atinjo
o assoalho, me sentindo estra-
nhamente separado da realida-
de, caindo de costas enquanto a
pessoa ou criatura ou o que quer
que fosse atravessa o ar e pousa
no meu peito.
192 Aparição: O Esquecimento
O mundo está girando
loucamente fora de controle.
O medo me prende
quando percebo que estou deita-
do de costas. e que uma criatura
com pedaços de carne apodreci-
da pendurada no rosto, e olhos
vazios arregalados que brilham
com um vermelho selvagem me
prende ao chão. Joelhos ossudos
rangem dolorosamente sobre os
meus braços.
“Você agora é meu!” a
criatura rosna. inclinando-se na
direção do meu rosto, a voz es-
talando como um cabo eletrifica-
do.
Quase enlouquecido pelo
medo, luto para me libertar inu-
tilmente. O que quer que essa
coisa seja, é forte demais.
A criatura atravessou
meu peito, me segurando. Dedos
esqueléticos encravados nas late-
rais da minha cabeça enquanto
a criatura me agarra e traz seu
rosto tão perto do meu que qua-
se toca. Fiapos de plasma caem
da boca da criatura e tocam meu
rosto.
Quando eu tento resis-
tir, a criatura ajusta o peso, con-
trariando cada movimento que
faço. Logo, estou completamente
preso, uma de suas mãos segu-
rando as minhas duas, com uma
força tão feroz que quebraria os-
sos se eu ainda tivesse algum. Es-
tou preso e meu algoz sabe disso.
Não é perda de tempo,
no entanto, e eu vejo ele tirar de
uma bolsa no cinto uma bobina
do comprimento de uma cor-
rente com grampos de metal
na ponta. Os elos da corrente
cintilando com uma curiosa
luz interna que a faz parecer
um amarelo fosco, e eles estão
gemendo. Suavemente.
Com um movimento
rápido de seus pulsos, a criatu-
ra abre uma das algemas e for-
ça meu pulso esquerdo nela. A
dor que eu alimentei no ins-
tante em que metal toca meu
Corpus é indescritível.
Chamas ardentes e
surtos poderosos de entorpe-
cimento frio se apossam do
meu Corpus e minha mente
simultaneamente. Até mesmo
aquela outra voz, na minha ca-
beça, está gritando comigo e
um coro estridente de gritos
agoniados parece estar vindo
de dentro dos elos da corrente.
“Meu! Meu! Todo
meu!” a criatura uiva, sua voz
soando tão alta finalmente
para. Isso é seguido por outra
explosão de risada maníaca
quando a criatura abre uma
segunda algema e prende meu
outro pulso.
Estou aterrorizado.
mas em um lugar muito dis-
tante dentro da minha cabeça.
Essas correntes fizeram
algo comigo e não posso mais
resistir, não importa o quanto
eu queira. O mero toque deste
estranho metal - tão frio que
queima contra minha pele -
me drena de tudo força e de-
terminação. O peso das correntes
me pressiona no chão de forma
arrebatadora. Cada fibra do meu
ser grita em angústia.
“O-O quê você…?”
“Fica quieto, escravo!” a
criatura grita.
Sentada sobre suas ancas,
ela berra e me soca na boca. O
impacto é seco e não chega nem
perto da agonia intensa das cor-
rentes, mas joga minha cabeça de
volta pro solo forte o suficiente
pra me deixar tonto. Minha visão
do céu noturno se quebra em mi-
lhares de fragmentos como um
espelho despedaçado.
Enquanto a criatura sai
de cima do meu peito e se estica
para colocar as duas outras alge-
mas nas minhas pernas, eu vejo
um borrão se movendo atrás
dela. Meu algoz parece alheio à
sua presença e tenho certeza que
é somente um de seus cúmplices.
É quando a segunda figura che-
ga mais perto, uma sensação de
naufrágio sem qualquer chance
de salvação me preenche quando
vejo que ela usa um capuz som-
brio que cobre completamente
seu rosto. Estou ferrado, tenho
certeza.
“Hmmm, vou conseguir
um bom preço nesse aqui. Vou
sim.” a criatura balbucia em cima
de mim entre risadas enlouque-
cidas. “Esse aqui tem um Corpus
forte e bom. Tem sim. E é todo
meu!”
“Solte-o, Renegado,”
A voz da figura encapu-
zada reverbera, ecoando nos pré-
dios vazios ao redor.
A criatura congela ime-
diatamente, a expressão fixa em
uma careta assustadora. O brilho
de seus olhos se apaga, e ela se
encolhe como um animal chi-
coteado enquanto se vira lenta-
mente e olha para quem quer (ou
o que quer) que estivesse atrás
dela.
“Agora!” A figura enca-
puzada ordena, levantando len-
tamente uma das mãos e apon-
tando para a criatura.
“Mas eu ... eu peguei ele.
Barqueiro.” a criatura lamenta
sem muita força ou convicção
em sua voz. “Ele é meu!”
“Errado. Minha marca
está nele, e está ali desde a sua
Ceifa.” a figura encapuzada res-
ponde. Ela tem uma voz sonora
que parece vir de várias direções
de uma só vez.
“Mas eu o tenho”, diz a
criatura. “Eu mereço! Eu o segui
aqui .. eu descobri onde ele fica
e o peguei. Eu mereço ele, Bar-
queiro. Ele é meu!”
A figura encapuzada en-
cara em silêncio aquela criatura
encolhida, que olha furtivamente
de um lado para o outro. Depois
de um momento de tensão, ele
cai para a frente e tira uma chave
das dobras de seus trapos surra-
dos. As mãos tremendo enquan-
to se inclina pra frente e destrava
as algemas que me aprisionam.
Não consigo descrever o
alívio súbito e intenso que sinto
Capítulo Seis: A Sombra 193
ao ter as correntes retiradas.
Aquela dor excruciante se dis-
solveu imediatamente, e o coro
de vozes lamentosas foi dimi-
nuindo gradativamente até
sumir. Os elos se agitam com
mais força, e a luz sangra deles
enquanto a criatura se apressa
para guardá-los. Com a cabe-
ça baixa, ela se apressa a sumir
noite adentro.
Estou muito fraco pra
me mover, e só fico ali caído
por um tempo. Meu Corpus
parece ter sido drenado de
sua força, e além disso, de que
adiantaria correr? Se o Bar-
queiro podia assustar aquele
“Renegado” que me derrubou
tão facilmente, que chance eu
teria contra ele?
A figura encapuza-
da me encara com um olhar
longo e pensativo. O frio da
intensidade de seu olhar atra-
vés daquelas órbitas vazias
me acalma. Quero dizer algo
- agradecer meu salvador, ou
qualquer outra coisa - mas
não acredito que minha situa-
ção tenha melhorado. Quando
tento falar, o único som que
produzo é um envergonhado,
“Obrigado”.
Sem uma palavra, a fi-
gura encapuzada se vira e se
afasta, me deixando sozinho
na noite escura.
194 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Sete:
Narrativa
…mas para minha grande satisfação, eles estão sempre dispostos
a contar histórias, o que eles chamam de “falar sobre a vida”.
- Robert Holdstock, “Mythago Wood”

istórias de fantasmas são uma parte
intrínseca da condição humana, pois
combinam duas das mais poderosas
forças que nos movem: o medo da mor-
te e a necessidade de compartilhar nos-
sas experiências. Parte de uma tradição
consagrada pelo tempo, histórias de
fantasmas tem sido transmitidas desde
os homens das cavernas até nós, por nomes tão diversos como
Dickens e Homero, Tim Burton e o autor de Beowulf.
Aparição é uma extensão natural da grande e glo-
riosa tradição das histórias de fantasmas, mas isso quer dizer
que em Aparição histórias ainda precisam ser contadas, e que
alguém deve assumir o papel de contá-las. Até certo ponto, to-
dos os jogadores em um jogo de Aparição são contadores de
histórias, determinando as ações e diálogos dos personagens.
Entretanto, eles cobrem apenas os heróis de suas histórias de
fantasma; alguém deve interpretar os informantes, os sol-
dados, as vítimas e os vilões. Alguém deve descrever o mun-
do o qual os heróis entram, e conspirar nos bastidores pelos
vilões. É aí que entra o papel de um Narrador, pois todas es-
sas coisas, e outras mais, são responsabilidade do Narrador.
Se você nunca jogou um jogo de narrativa antes, isso
pode soar estranho a princípio. Muito de um jogo como Apari-
ção depende de improvisação, personalidade e estado de espí-
rito, ao contrário de ficar amarrado a dados e meras tabelinhas
que dizem exatamente o que você deve fazer. Em Aparição, a
ênfase está nas suas decisões com relação às ações, não em con-
sultar uma tabela ou caixa de texto que diga como elas deveriam
ser. Este tipo de liberdade narrativa pode ser tanto estimulante
quanto assustadora. Tendo isso em mente, este capítulo é um
guia para apresentar técnicas de narrativa, incluindo dicas,
orientações e sugestões para fazer com que seu jogo de Apari-
ção transcorra de forma mais tranquila. Não há nenhum tipo de
informação “ultra-secreta-apenas-para-os-olhos-do-Narrador”
neste capítulo, apenas ideias sobre o que faz uma boa história
de Aparição e como evitar certos tipos de armadilhas. Se você
é o Narrador, pode ser que queira que seus jogadores também
leiam este capítulo. Afinal, eles também estão contando parte da
história.

Capítulo Sete: Narrativa 195

O Narrador
Eu rogo a Deus que amaldiçoe o escritor, assim como o escritor
amaldiçoou o mundo com sua linda, estupenda criação, terrível
em sua simplicidade, irresistível em sua verdade…
- Robert Chambers, “The Repairer of Reputations”
O papel do Narrador é diverso e complexo, e requer
um investimento razoável de tempo e esforço. Afinal, ele é quem
cria um mundo novo a cada sessão de jogo, quem o povoa com
os vivos e com os mortos, e quem determina com que perigos,
tesouros e maquinações os jogadores irão cruzar. Mais impor-
tante que isso, com Narrador você deve aprender a comparti-
lhar seu mundo com os outros jogadores, permitindo que te-
çam suas próprias tramas mesmo que seu desenvolvimento não
se adéque perfeitamente ao padrão que você havia imaginado.
Diferente de escrever um romance ou um roteiro, narrar um
jogo como Aparição é uma experiência interativa; os melhores
Narradores percebem que as melhores histórias surgem ao per-
mitir que as coisas se desenvolvam naturalmente, sem forçá-las
numa direção na qual os personagens jamais desejariam seguir.
Estabelecer o cenário para a história é uma das
maiores responsabilidades do Narrador. Cada personalida-
de que o jogadores encontrem, cada lugar que vão e cada
coisa que vejam brota da sua imaginação, e é importan-
te que você mantenha sua imaginação maleável. Você deve
definir cada aspecto aos jogadores, servindo-lhes como vi-
são, audição, olfato, tato e paladar. Afinal, como o Narra-
dor, você é quem sabe como a velha aparição amontoada na
esquina se parece; o truque é fazê-los vê-lo como você o vê.
Quanto mais detalhado e complexo o cenário que
você apresentar aos seus jogadores, mais histórias potenciais
podem ser contadas podem ser contadas usando este cenário,
e melhores serão as histórias contadas. Criar um mundo como
um set de Hollywood, todo plano e feito de fachadas, desapon-
tará tanto a você quanto aos seus jogadores. Quando os per-
sonagens viram a esquina e não há nada lá porque você não
antecipou a possibilidade de eles darem a volta no quarteirão,
os jogadores se rebelaram por terem suas opções limitadas pela
trama ou cenário único que você delineou. Ao mesmo tempo,
você ficará frustrado porque sua história atolará num lamaçal
de desencontros e cenas jogadas apressadamente, sem nenhuma
profundidade ou desenvolvimento real.
Seu mundo e os personagens que o povoam devem
ser detalhados, de forma que você obtenha deles uma resposta
verossímil a qualquer ação desempenhada pelos jogadores. Não
importa o quanto você deseje se antecipar, seus jogadores sem-
pre acabarão surgindo com um curso de ação que você jamais
poderia ter previsto. Se seu mundo tiver profundidade e flexi-
bilidade, você será capaz de integrar estas situações em sua his-
tória de uma maneira fluida e natural. Se, por outro lado, você
detalhar apenas o caminho estreito que deseja que seus jogado-
res sigam, então uma vez que eles saiam dele (e eles irão fazê-lo,
tenha certeza), tanto você quanto eles ficarão perdidos.
Uma das coisas que pode tornar seu trabalho como
criador de mundos mais fácil é o fato de que Aparição espelha
196 Aparição: O Esquecimento
um aspecto do mundo “real”. Uma vez que o Mundo das Trevas
é é tão parecido com nosso mundo, muito do cenário de um
jogo de Aparição pode ser delineado com base em elementos
do dia-a-dia. Não é preciso criar a história e a geografia do nada
(ao menos não nas Terras das Sombras), porque esta parte do
mundo já foi criada para você pela história e pela sociedade.
Contudo, este não é o nosso mundo, então você deve inserir
nele as sombras e lugares escuros que o nosso mundo não tem.
O passo seguinte, após você ter criado seu mundo, é
povoá-lo. Assim como cada pessoa no mundo tem suas pró-
prias peculiaridades e hábitos, cada um dos personagens com
os quais os jogadores interagem devem possuir seus traços de
personalidade únicos. Isto vale desde o menor dos Cativos acor-
rentados ao mais diabólico Espectro; cada criatura no Mundo
Inferior (com exceção dos Drones) deve ter uma personalidade
forte ou será arrastada sumariamente para o Esquecimento. Se
os personagens dos jogadores são as estrelas do seu história, os
personagens que você interpreta são o elenco de apoio. Lembre-
-se, as caras e vozes que você assume são a única forma real que
os jogadores têm de interagir com seu mundo. Se os persona-
gens que você interpreta são simples e genéricos, sua história se
tornará genérica rapidamente. Se, por outro lado, cada uma das
máscaras que você assumir como Narrador tiver algo único so-
bre ela - um Legionário com uma eterna ressaca, um Renegado
com o hábito nervoso de girar uma moeda no ar enquanto fala,
um informante que fica divagando sobre seus dias vivo - então
cada um deles se destaca como uma personalidade ao invés de
um elemento da trama, não importa quão banal seja a função
que exerçam em sua história.
Dar personalidades fortes a seus personagens também
auxilia quando os jogadores decidem fazer algo inesperado. Afi-
nal, se você tem uma noção clara de quem é o personagem que
você está interpretando, você terá um boa ideia de como ele irá
reagir diante do inesperado.
Usando as Regras
Outra parte do trabalho de descrição do Narrador
é servir de juiz, decidindo o que os habitantes de sua história
podem e não podem fazer com base nas regras. Um boa parte
deste livro descreve as diferentes regras criadas apenas com esse
propósito. Estas regras existem como uma ferramenta à sua dis-
posição, mas deveriam ser consideradas como um ponto inicial,
e não uma camisa de força. No fim das contas, você é quem
decide a validade e a interpretação das regras e seus efeitos em
sua história. Se houver circunstâncias que as regras não con-
templem, ou se houver regras que simplesmente não o agradem,
você tem todo o direito de ignorá-las ou de improvisar suas pró-
prias regras, desde que sejam consistentes dentro da estrutura
de sua própria história. Interpretar uma regra de um jeito em
uma sessão e de outro jeito na outra pode ser desastroso.
No fim, porém, enquanto os dados e as estatísticas
fornecem uma base para comparação, você deverá interpretar
o significado por trás de cada ponto na planilha e de cada falha
crítica obtida. A regra mais importante a se lembrar é a de que
as regras são guias e ferramentas, nada mais.
Entretenimento
A parte mais importante de seu papel como Narrador,
contudo, é garantir que todos, inclusive você, se divirtam. Apa-
rição é um jogo, e como tal deve ser divertido. Não confunda
colocar um personagem numa situação desagradável com colo-
car o jogador de um personagem em uma situação desconfortá-
vel.
A melhor forma de assegurar que todos os jogadores
aproveitem o jogo é mantê-los envolvidos e atuantes. Se uma
aparição aventura-se sozinha durante três horas, há grande pro-
babilidade do restante do Círculo estar extremamente entedia-
do. Se eles se entediarem o bastante, abandonarão o jogo. Man-
ter o Círculo em grupo (ou no mínimo em grupos de tamanho
razoável) é uma boa maneira de manter o maior número pos-
sível de jogadores envolvidos no jogo. Encorajar o jogador da
Sombra ativa é outra forma de garantir que os jogadores ainda
permaneçam em ação, mesmo se seus personagens não estive-
rem em cena no momento.
Outro fator importante para lembrar é que ninguém
gosta de se sentir impotente, portanto esteja certo que as ações
de seus personagens efetivamente afetem sua crônica. Se você
tem uma ideia muito inflexível do enredo que seus personagens
devem seguir, você se encontrará recorrendo a táticas grosseiras
para mantê-los “na linha”, por assim dizer. Isto torna sua histó-
ria menos plausível, para não dizer menos interessante. Quando
os jogadores perceberem que nada que eles façam faz diferença,
eles pararão de atuar e você perderá o elemento de interação da
Narrativa, que faz Aparição prazeroso.
Então, com todas essas restrições, avisos e responsa-
bilidades, por que alguém iria querer assumir o papel do Nar-
rador? A resposta é que a Narrativa pode ser a parte do jogo
mais prazerosa. Elaborar algo único e compartilhar com seus
jogadores, vendo o olhar da descoberta em seus olhos quando
eles se depararem com uma trama da qual você se orgulha, e
ouvindo-os contar histórias de suas crônicas dias, semanas ou
até mesmo meses depois (“Ah então este Legionário coloca a
cabeça na parede junto com o braço da espada e Asok agarrou o
seu rosto e fez esta bela Moliate rolar...”) são as recompensas da
Narração.
Mais importante, todavia, é o ato da Narração em si, a
criação da história da qual seus jogadores avidamente se tornam
parte. Essa é a verdadeira recompensa da Narração, e que vale
todo o tempo e energia de preparação.

Seleção do Elenco

Enquanto você gasta seu tempo elaborando um mun-
do e as personalidades nele, os jogadores estão ocupados crian-
do seus personagens. O personagem criado pelo jogador é o
único meio dele acessar o seu mundo e, como criação dele, o
personagem tem muita importância para o jogador. Para asse-
gurar que o investimento que o jogador fez no personagem seja
frutífero, então, você e o jogador precisam interagir durante o
processo de criação do personagem. Se o jogador cria um Cen-
turião durão, pronto para bater em alguns Corpus pomposos,

Capítulo Sete: Narrativa 197

 mas você preparou uma crônica romântica trágica, são grandes
as chances de que nenhum de vocês fique feliz com o resultado.
Deixe seus personagens saberem que tipo de crônica você deseja
narrar, e ouça que tipo de jogo eles desejam jogar. A história que
você e seu grupo criarão será um esforço cooperativo e, afinal
de contas, faz sentido assegurar que os personagens sejam apro-
priados para a crônica. As ações dos personagens irão moldar
e influenciar seu mundo, enquanto que sua trama e o elenco de
apoio irão afetar as escolhas que os jogadores fazem. Trabalho
em conjunto e comunicação com seus jogadores aumentam as
chances de ter histórias em que todos, jogadores e Narrador,
fiquem igualmente felizes.
A comunicação com os jogadores durante o processo
de criação dos personagens também ajudará a manter o grupo
unido. Ajudando no estágio inicial, você pode prevenir seus jo-
gadores de criar personagens mutuamente exclusivos. Se alguns
de seus jogadores decidirem jogar como seguidores da Hierar-
quia e outros com Hereges obstinados, poderia acarretar um
desastre, com metade do Círculo gastando seu tempo tentando
prender e a outra metade tentando forjar almas. Isso é, a menos
que você possa criar uma razão para a Hierarquia e os Hereges
estarem trabalhando juntos - digamos, para guardar um Nihil
particularmente perigoso ou como parte de uma expedição pro-
movida em conjunto para outro Reino Sombrio. Tudo depende
da criatividade de seus jogadores com seus personagens, mas
tenha o enredo em mente quando for aprovar conceitos de per-
sonagens. Observar os papéis dos personagens de seus jogado-
res evita muitos problemas antes mesmo de começar.
Durante a criação do personagem, os jogadores tam-
bém podem desenvolver prelúdios para as personaes que es-
tão adotando. Você pode aproveitar esses prelúdios como uma
oportunidade para encontrar muitos ganchos nas tramas, inse-
rindo os personagens no enredo. Velhos inimigos ou aliados,
lembranças traumáticas reproduzidas pela Sombra, locais fa-
voritos, ligações que podem ser criadas entre os prelúdios dos
personagens. Todos os detalhes podem servir para reforçar a
adaptação do personagem em seu mundo.
Estar envolvido na geração do personagem do joga-
dor pode realmente funcionar para uma boa crônica, mas um
bom Narrador conhece seus limites. Nem todo personagem irá
encaixar perfeitamente em toda crônica. Por outro lado, você
pode usar isso como uma vantagem, incorporando este erro
aparente em sua trama. Por exemplo, um jogador deseja que seu
personagem vá a uma boate na Terra das Sombras, mas você
não planejou uma. Contudo, isso não significa que uma boa-
te não possa ser adicionada. Ao invés de repudiar a ideia, você
pode dar “carta branca” ao jogador para construir o clube a par-
tir do zero. Isso pode levar a muitas ideias de enredo (lidar com
a Hierarquia local para obter permissão para ir ao clube, com-
petição entre outros clubes, possibilidade de pisar no pé de al-
gum Renegado, a Hierarquia ataca clientes Renegados, etc.), os
quais podem enriquecer sua crônica. Além disso, com o jogador
investindo tempo e energia adicionais no mundo, torna-o mais
profundo. Essas situações acontecem frequentemente e, tirando
vantagens delas, ambos, você e os jogadores, podem adicionar
profundidade e, ironicamente, vida no seu mundo.

198 Aparição: O Esquecimento


Elementos de Aparição
Mas ele não deu nenhuma resposta, e afastou-se,
seguindo outros fantasmas em direção a Érebos,
Quem sabe se nas trevas ele ainda pudesse
ter falado, e eu respondido?
- Homero, A Odisseia, livro XI
maioria das histórias de fantasmas têm
como seus heróis intrépidos caçado-
res de fantasmas que banem espíritos
maléficos e acalmam casas mal assom-
bradas. São raros os contos em que o
objetivo é trazer paz ao fantasma. As
histórias de fantasmas de Aparição são
de um tipo inteiramente diferente, pois
projetam como heróis os próprios fan-
tasmas. Esse é um aspecto importante de Aparição: os persona-
gens são os protagonistas e heróis dos contos que você produz.
Eles fazem e agem; se os personagens são bem trabalhados, eles
também podem ser Cativos, Drones ou oboli.
Porém, de vez em quando essa inversão da história
clássica de fantasmas ajuda a tornar Aparição mais complexo.
Existem muitos elementos que devem estar envolvidos na crô-
nica, a fim de manter o sabor único de Aparição; horror, terror,
romance, paixão e arrependimento são todos os elementos vi-
tais do Mundo Inferior, os quais não pode ser dada pouca aten-
ção. Disposição a acreditar no inacreditável e uma boa atmos-
fera de narração também são importantes. Quando todos esses
elementos estão em ação, sua experiência de Narração pode ser
algo fantástico.
Temas
Todas as estórias têm temas. É parte da condição da narrativa, e
as estórias de Aparição não são diferentes. Um tema é uma ideia
única ou conceito base da estória, que a molda por sua simples
presença. Aparição tem uma imensidão de temas que o tecem:
transcendência, rebelião, reconciliação, desafios, paixões, hor-
ror e muitos outros. Não é necessário trabalhar ativamente com
todos os temas em sua crônica. A maioria será encontrada nas
entrelinhas das ações em si. Porém, você pode desejar que um
tema ou dois se destaquem, dando ênfase especial ao conto que
você está fiando.
Desenvolver um tema específico pode ser feito de di-
versas maneiras. Um dos mais fáceis é trabalhar com seu tema
nas descrições que você dá ao cenário. Se seu tema é horror,
barulhos estranhos e precipitados vindos das sombras e horrí-
veis Traços da Morte na passagem de Aparições podem acentu-
ar satisfatoriamente o que você está fazendo. Até mesmo se os
barulhos nas sombras virem a ser ratos das Terras da Carne e
as aparições passando não falarem uma única palavra com os
personagens, pela sua própria existência, tais acontecimentos
enfatizam a extensão da sua horrorosa natureza. Outro método
é incluir adereços – itens que você dá aos personagens ou que
são simplesmente deixados – que têm conexões com seu tema.
Uma rosa forjada de almas nas mãos de uma solitária aparição
pode enfatizar o tema de romance ou tragédia muito mais efeti-
vamente do que dizer “vamos nos focar no romance essa noite”.
Ao longo de uma extensa crônica, você pode se ver li-
dando com múltiplos temas. Cada capítulo pode ter seu próprio
tema, subordinado à ideia abrangente da crônica, ou o tema
principal da estória pode ser caracterizado a cada minuto de
jogo. Cabe a você decidir. Alguns dos mais importantes exem-
plos de temas em Aparição podem ser:
Aventura: Muitos dos Mortos Inquietos ainda procu-
ram as emoções da vida. No esforço para esquecer seus tormen-
tos ou apenas no processo de viver suas não-vidas, algumas apa-
rições adoram causar confusão no mundo dos vivos. Isso inclui
palhaçadas com Poltergeists, loucuras inspiradas em artigos de
tabloides e emoções banais de Cavalgadas. Por outro lado, há
muita emoção a ser encontrada no Mundo Inferior. Um Car-
rasco, ou Renegado (ou Legionário!) caçando e explorando a
Tempestade, todas são possibilidades. Personagens com Paixões
relacionadas à agitação ou medo terão um desejo por esse tema.
Desafio: Algumas aparições teimosas veem a Hierar-
quia como um governo opressor que esmaga a sua individu-
alidade e promove escravidão. Impulsionados pelo seu desejo
para a ordem (ou para o poder), os personagens poderiam ser
agentes desta opressão, lutando para suprimir os Renegados
indisciplinados e multidões de Hereges. Em contrapartida, os
personagens poderiam ser revoltosos contra a máquina desu-
manizante da Hierarquia, como um bando de Renegados, ou
mesmo Hereges, prosperando com as energias de sua busca pela
liberdade.
Medo: As massas tremem as pernas e crianças cho-
ram na noite. Os vivos temem a escuridão e o que reside do
outro lado da Mortalha. Os mortos temem o Esquecimento, o
tormento eterno e a perda de esperança. Medo é um tema es-
sencial para Aparição, dando tempero às ações dos vivos e dos
mortos. Ele pode prover o ímpeto para os personagens lutarem
com toda vontade contra o Esquecimento, ou ir numa caça à
Espectros em um esforço de confrontar e derrotar seus pavores.
Temores por aqueles que as Aparições amam podem forçá-los
a interagir com os vivos, e medo, bem fundamentado, de outras
Aparições pode conduzir os personagens à alianças, afiliações
em Guildas e conflitar aquilo que eles desejariam evitar.
Imortalidade: Agora que você morreu, por que temer
a morte? Não existe razão para medo, então viva sua não-vida
ao máximo. Ênfase na intemporalidade na Terra das Sombras
versus o ritmo rápido do mundo dos vivos deveria ser a ideia
central. Os personagens podem ser Aparições de uma era pas-
sada lutando para se ajustar ao mundo moderno, ou eles podem
ser recém-chegados à Terra das Sombras que têm que lidar com
Aparições mais antigas presas nos seus modos arcaicos. Além
disso, sempre há a mão corruptora da estagnação lançando sua
mortalha ao longo dos séculos. A luta pela sanidade e novas ex-
periências em face dos demorados séculos pode manter uma
Aparição totalmente ocupada.
Reciprocamente, os personagens podem crescer, uma
vez que tenham se tornados imortais. Se eles alcançarem um
Capítulo Sete: Narrativa 199
status confortável, guardando seus Grilhões e seguindo suas
Paixões, a pós-vida pode ser um ótimo lugar para se estar. Mas,
umas vez que a aparição prove da eternidade, ela não quererá
desistir. Como os personagens reagirão quando essa imortali-
dade for ameaçada?
Conflito interno: O pior inimigo que uma aparição
tem é a sua própria Sombra. O conflito interno entre si e sua
autodestruição aquece incomensuravelmente quando a morte
desnuda o invólucro de contenção do corpo. A aparição será
hábil em resistir à constante investida de seu demônio do sub-
consciente, ou ela será sugada para o Esquecimento? Como a
sua luta interna afeta suas relações com outros, que, afinal de
contas, também estão no mesmo conflito interno.
O conflito interno pode desempenhar um papel em
uma escala mais ampla; a Sombra não tem que dominar este
tema. Por dar aos personagens duas exclusividades mútuas, mas
importantes objetivos, você pode dividir seus principais perso-
nagens em dois. Ou eles salvam uma vida que amam da morte
ou resgatam um amigo Inquieto recém-descoberto das forjas.
Apresentando questões difíceis ou situações sem saída, você
força seus jogadores a examinar o caráter de seus personagens e
fazer decisões emocionais difíceis. Os Grilhões de uma aparição
obrigam-na a fazer sacrifícios, especialmente com o Esqueci-
mento sempre presente em segundo plano.
Intriga: Da política de Estigia para as manobras dos
variados cultos Hereges, as estórias de Aparição são propícias
para o suspense e a intriga. O Círculo poderia ser formado por
peões na trama da Hierarquia ou espiões de um acampamento
de Renegados. Um Senhor da Morte poderia estar usando os
personagens em sua conspiração contra outro Senhor da Morte,
ou talvez a guerra não declarada das Guildas abraça os persona-
gens com seus tentáculos. Um mundo onde Mascarados podem
trocar de face e Mensageiros podem literalmente sair do nada,
as regras são paranoicas e pouco confiáveis. Grilhões e pesso-
as amadas frequentemente são alvos em guerras subversivas de
facções de Inquietos, então as estórias podem girar em torno de
evitar agressões à esses alvos. Além disso, os personagens pode-
riam ser os conspiradores, tentando subverter a Cidadela local
ou talvez a Estigia em si.
Mistério: Vamos encarar, o Mundo Inferior não é algo
como qualquer céu ou inferno já imaginado. Para os mortos,
apenas descobrir o que é o que e quem é quem e como algo fun-
ciona pode ser uma estória por si só intrigante. Afinal de contas,
não existem manuais esperando por novas aparições do outro
lado, e muitas aparições são forçadas a fugir de seus Ceifadores.
Isso impulsiona-os à uma viagem de descobertas, como o que
eles são e o que podem se tornar, por bem ou por mal.
Triunfo: Existem aquelas aparições que são destemi-
das pela morte, que têm literalmente olhado para o abismo e
escapado, mais forte com o que aprenderam. A morte não sig-
nifica um fim para a vitória; batalhas, disputas e brigas podem
ser vencidas além da Mortalha. O triunfo pode ser tão pequeno
quanto salvar um gato de rua ou tão grande quanto liderar for-
ças para dissiparem um Atalho de Espectros, mas o que importa
é a sensação de realização, mesmo diante do Esquecimento.
200 Aparição: O Esquecimento
Suspensão da Descrença
Afastar seus jogadores do que é mundano e cotidiano
é uma necessidade para uma boa narrativa. Embora o mundo
de Aparição seja complexo e fascinante, ele é, no fim das contas,
artificial e foi concebido para o seu uso. É preciso convicção de
seus jogadores para se imaginarem como parte de seu mundo.
Levando a parte de aparições a sério, eles têm que aceitar a rea-
lidade do mundo de Aparição e tentar se afastar de seu próprio
mundo.
Com isso em mente, é importante evitar quebrar
a distância que Aparição cria do mundo real. Todo toque de
telefone ao fundo, toda vez que regras de disputa forçam que
livros sejam abertos e referenciados, toda vez que alguém cita
um filme favorito fora do personagem, uma vez que a estória
começa – todos esses exemplos destroem a separação necessária
da realidade estática que uma boa narrativa demanda. Durante
o tempo que dura o jogo (e nem um minuto a mais), seus perso-
nagens e você têm que acreditar e se atirar no que estão fazendo.
De outra forma, em vez de uma experiência interativa, sua estó-
ria se torna exatamente isso: um enredo a ser ouvido, criticado
e julgado, ao invés de algo a ser participativo e co-criado.
Tragédia
Nos tempos clássicos, a tragédia era definida como a
ascensão de um herói, que possuía uma única falha, e essa inevi-
tável falha era explorada pelas circunstâncias, pelos inimigos ou
pelo destino. Essa definição foi ampliada ao longo dos anos, mas
ainda existe a noção básica de algo bom inevitavelmente sendo
destruído por sua própria fraqueza.
A tragédia desse tipo é um importante componente
de Aparição. Cada falha trágica de uma aparição é personifi-
cada pela sua Sombra, e muitos dos conflitos em uma história
de Aparição consiste da luta do personagem contra a vitória
supostamente inevitável do Esquecimento. No fim, não é
tão importante como se cada aparição individualmente vences-
se ou perdesse, mas sim como ela enfrenta a usurpadora escuri-
dão.
Tragédia não é sinônimo de falha, e uma boa e trágica
história de Aparição pode ser agradável e gratificante, como um
sólido Espectro carimbado. O arrependimento, as oportunida-
des perdidas, e a perda emocional, que são partes integrais da
tragédia, também são centrais em Aparição. O jogo como um
todo é tentar fazer o bem a partir desses erros. Então, uma histó-
ria específica pode focar nas tentativas de uma aparição corrigir
seus erros, mesmo se o mundo o diz que é tarde demais.
Horror, Terror e Medo
Para o horror comer a luz e digeri-la em escuridão.
- Tomas Ligotti, “Pequenas lições sobre horror sobrenatural do
Professor Ninguém”
Muitas pessoas usam esses três termos de maneira
intercambiável, o que é incorreto. Todos os três são importan-
tes, aspectos distintos de Aparição, e cada um possui um lugar
significativo dentro de uma crônica. Enfatizando um ou outro,
você pode dar a sua história uma ampla variedade de climas.
 • Medo – provavelmente a categoria mais ampla das que você pense que exista até mesmo uma pequena chance de
três, o medo não possui outras implicações, a não ser o óbvio.
Enquanto temores específicos e suas origens podem ser sutis,
o medo em si é amplamente definido como a aflição negativa
provocada pela antecipação de eventos desagradáveis. Temores
são amiúde direcionados a objetos singulares, pessoas ou locais,
e podem se manifestar de diversos modos, a raiva psicótica à
fuga.
Muitas pessoas apreciam o medo de alguma forma.
Por isso lemos histórias assustadoras, encaramos montanhas-
-russas e entramos em casas mal assombradas. A carga de adre-
nalina dos estímulos que induzem ao medo, não importa qual
seja, pode ser bastante agradável, fornecida em um ambiente
controlado, onde a coisa que induz o medo não seja uma amea-
ça real. Em Aparição, isto significa apresentar ameaças que são
reais aos personagens e reais o bastante para arrepiar seus joga-
dores, enquanto a cena ainda é suficientemente “segura” para
eles aproveitarem essa carga.
• Terror – o terror difere do horror ao possibilitar al-
guma esperança. É uma reação mais visceral que intelectual,
um medo primário em resposta direta à ameaça que se mani-
festa. Tudo, desde uma sombra disforme na parede, ou passos
pesados no corredor, a uma criatura monstruosa avançando
avidamente por um corredor, pode inspirar terror. Em termos
simples, terror pode ser igualado à reação de fuga-ou-luta, com
uma ressalva: as possibilidades de escape ou vitória ainda são
apresentadas como reais. O terror pode lhe inspirar a fugir, e
ao fazê-lo você pensa que tem uma chance de escapar. O ter-
ror pode lhe encorajar a lutar com um monstro por permitir
matá-lo. Então, contanto que não tenha sido conclusivamente
provado que a situação é desesperançosa, a emoção inspirada é
o terror.
• Horror – o horror é baseado na violação e no deses-
pero. É uma reação visceral para uma compreensão racional da
situação, uma resposta física para o momento em que a fron-
teira do que é seguro e aceitável é ultrapassada enfaticamente.
Qualquer coisa, desde a visão de sangue a algo muito, mas mui-
to pior, pode inspirar horror.
Violação está no cerne do horror. Se alguém vê como
violação o momento em que se atravessa a fronteira, então a
porta está aberta para todo tipo de violações – física (ataques,
assassinato, mutilação, estupro, Moldagem, etc.), mental (coi-
sas que não poderiam e não deveriam acontecer, a contradição
direta da visão de realidade de um personagem) e emocional
(traição, abandono, tortura, etc.) - para inspirar horror.
O outro aspecto do horror é seu senso de definição
e a incapacidade do personagem de alterá-lo. Se o terror é o
momento em que os monstros avançam pelo corredor, o horror
é o instante em que você descobre que seus pés estão presos
no chão. Enquanto você obviamente não quer que seus perso-
nagens se sintam desamparados, o horror ainda pode ser uma
parte importante de sua crônica. A arquitetura horripilante de
Estigia, uma sombra titânica meio vislumbrada nas águas do
Atalho, uma visão forçada das forjas de almas ou da Modela-
gem, a impressão de um vasto poder à disposição mas não usa-
do – todos são usos efetivos do horror dentro de uma crônica.
Capítulo Sete: Narrativa 201

Quando parar
Existe uma grande diferença entre explorar os temores
de um personagem e fazer o mesmo com o jogador. Embora
inevitavelmente todos coloquem um pouco de si em seu per-
sonagem, isso não os torna potenciais vítimas de eventos e do
terror na história. Aparição, com os Pesadelos concentrados
na busca pelas fraquezas psicológicas de um personagem, pode
ocasionalmente fornecer circunstâncias em que a linha entre o
personagem e o jogador torna-se turva. Algo que pretende ser
um teste para o personagem também pode se tornar um tes-
te para o jogador, particularmente em casos onde o jogador se
identifica fortemente com seu personagem e deposita muito de
seus medos e Paixões no conceito de seu personagem. Esta si-
tuação pode ser incontestavelmente desagradável para todos os
envolvidos. No seu âmago, Aparição é um jogo projetado para
ser divertido, e ter suas fraquezas psicológicas exploradas pode
não ser totalmente divertido.
O modo mais importante de se assegurar que as coisas
não irão tão longe é manter a comunicação aberta. Fique de olho
em seus jogadores, e se eles parecerem desconfortáveis com as
ações, questione-os se preferem que você pare. Jogadores que
têm algum problema com os acontecimentos no jogo deveriam
lhe dizer imediatamente e você deveria prestar atenção em suas
inquietações. Deixar pré-acordado uma “palavra de segurança”
é um bom modo de continuar, permitindo manter-se em ação
sem fugir de seu personagem.
No fim, tem que haver um elemento de confiança en-
tre você e seus jogadores. Eles devem confiar que você não abu-
202 Aparição: O Esquecimento
sará do conhecimento que te deram sobre suas fobias e temores,
e você deve confiar neles de modo a serem honestos com você
sobre o que está e não está bem durante o jogo. Trazer pavores
da vida real para o jogo com propósito de efeito ou história é
aceitável, contanto que todos concordem que é aceitável. Se a
confiança acaba, o uso do elemento de inspiração de medo na
história deve finalizar-se também.
Romance
Romance é um assunto que sempre é complicado na
interpretação de papéis. Esteja certo que a interação no papel do
personagem é mantida separada do mundo real, tentando evitar
parecer insípido, e saber quando obscurecer – estas são as difi-
culdades ao trazer o romance para o jogo. Todas essas questões
são sérias, e devem ser tratadas caso você planeje ter uma linha
romântica em seu jogo, e por essa mesma razão merecem ser
resolvidas.
Aparições são criaturas de Paixão, e entre as mais for-
tes paixões que nós, como seres humanos, possuímos são aque-
las relacionados ao amor. Por que Paixões relacionadas ao amor
não deveriam afetar aparições? É insensato pensar que a morte
eliminaria uma necessidade humana tão básica como o amor
romântico; ao longo dos muitos séculos da existência fantasma-
górica, um companheiro e ajudante poderia literalmente salvar
sua alma.
Com isso em mente, o romance pode e deve ser uma
importante parte da existência de sua aparição. O truque é dei-
xá-los descobrirem isso por si mesmos. Um romance forçado
terá precisamente essa sensação: forçado. Um amor leviano é
sempre uma má ideia, e sua utilização no jogo não é exceção.
A paciência é uma virtude, assim como ter empatia pelo que
seus personagens desejam e apreciarão. Os melhores enredos
românticos frequentemente não são planejados, são simples-
mente desenvolvidos de personagens bem trabalhados que se
encontram juntos.
Trabalhar o romance em uma crônica pode ser feito
em uma variedade de formas. Um grande número de aparições
tem Paixões e Grilhões relacionados àqueles que eles amavam
em vida. O amor que eles sentiam e ainda sentem por essas pes-
soas é o aspecto central de suas existências. O romance além da
Mortalha pode ser ora cômico, ora trágico, como uma apari-
ção apaixonada é eterna, ela pode ter que assistir seu amante se
curar, juntar seus pedaços e seguir em frente para um novo rela-
cionamento. Por outro lado, alguns amantes não são separados
nem mesmo pela morte, enquanto que continuar um romance
com uma aparição pode ser difícil, também pode ser recompen-
sador. Encorporar, Phantasma e outros tipos de Arcanoi podem
dar aos amantes uma chance de se reencontrarem, embora bre-
vemente, mas esses momentos passageiros são suficientes para
superar a distância entre vivos e mortos?
Também existem aquelas aparições que se encontram
no Mundo Inferior, onde o amor eterno é uma real possibilida-
de. Se uma aparição ainda tem sentimentos por alguém ainda
vivo e encontra-se apaixonado por outra aparição, a confusão
que ele sente pode alimentar muitas histórias e dar a sua Som-
bra uma abertura na qual trabalhar. Aparições sem ligações
emocionais nas Terras da Carne que se envolvam podem tornar
as coisas mais fáceis, pois eles negam o Esquecimento através do
simples poder de seu amor. Ainda, mesmo no Mundo Inferior
nem todo romance perdura, e com as tentações de uma Sombra
onipresente, apenas um puro e sólido amor permanece dura-
douro entre Aparições.
Clima
Se o tema de uma história é seu conceito principal, o
clima é seu sentimento base. O clima da história deveria ajustar
as emoções que você deseja que seus jogadores vivenciem, tra-
zendo-os para a história, em vez de simplesmente rolar os dados
e tomar notas. Uma vez que você tenha estabelecido o clima, os
jogadores o ajudarão a sustentá-lo através da interpretação.
É melhor você criar a mentalidade apropriada assim
que começar a contar sua história, ou mesmo antes disso. Os jo-
gadores precisam sentir a diferença entre uma reunião social de
amigos e o momento em que seus personagens venham a vida e
a imaginação tome conta. É claro que você não pode pressionar
seus jogadores como um capataz. Afinal de contas, eles estão
jogando para interagir com seus amigos bem como para partici-
par de sua história. Ainda, nada pode arruinar mais a sua som-
bria introdução do que uma interrupção para descobrir quem
quer pizza. Prepare-se para que o início da sua história ocorra
em um momento em que seus jogadores estejam concentrados
e prontos para o jogo.
Bem no início da sessão de seu jogo você precisa tra-
zer o clima para o jogo. Diferentes climas e energias exigirão
diferentes introduções. Climas violentos podem necessitar de
uma música alta do tipo heavy metal ou apenas do barulho das
páginas de um livro (esse não!). Histórias tristes e sombrias po-
dem requerer música clássica suave ou comunicar-se com seus
Acessórios e Música
Enquanto que o instrumento primário
que você tem para definir o clima é sua voz, outras
ferramentas podem ser úteis também. Velas e ilu-
minação suave, livros antigos, estátuas de gárgulas
e outros acessórios podem ser úteis em criar o efei-
to visual que ecoa o mundo obscuro de Aparição.
Ainda, deixar a cena muito confusa pode ser peri-
goso. Os acessórios deveriam estar lá para realçar o
clima, não para desviar a atenção de seus jogadores
da história.
O som também é importante na definição
do clima, e muitos Narradores apreciam narrar com
música de fundo. É importante não deixar a música
muito alta, e não usar músicas com as quais seus
jogadores sejam muito familiarizados. Se a música
os distrair, ou se suas aparições começarem a cantar
junto com The Cure1, então será contraprodutivo e
tirará a atenção de seus jogadores da história que
você está a narrar.
jogadores com sussurros quase silenciosos. Porém, você deve
começar estabelecendo seu clima e deixando-o crescer. Mudan-
ças repentinas no clima nem sempre funcionam e podem que-
brar a magia de um grande número de jogadores.
Você irá querer escolher um clima para cada histó-
ria antes de iniciar o jogo, embora as ações de seus jogadores
podem levar a algumas direções inesperadas. Entre os tipos de
climas, aqueles que são melhores para Aparição são:
Tensão: até o ar se engrossa com o perigo imediato,
ao mesmo tempo em que não oferece nenhuma ameaça tan-
gível para as aparições combaterem. Eventos ocorrem muito
vagarosamente para os personagens, e seus inimigos movem-se
inexoravelmente contra eles. Talvez eles tenham ouvido notícias
de um iminente ataque Spectro, mas ninguém na Cidadela pres-
tará atenção em seus avisos, ou pode ser que estejam confinados
e escravizados, esperando sua vez nas forjas. Presos entre a pres-
são para agir e as restrições postas em fazê-lo, os personagens
serão apanhados em uma tensão crescente.
Romance: esperança e beleza vencem tudo, até mes-
mo a morte. Apesar do pior que o Esquecimento tem a ofere-
cer, até mesmo aparições podem encontrar amor em suas novas
existências. Os jogadores devem se sentir esperançosos, e até
mesmo felizes, ainda que a incerteza sempre desempenhará um
papel em qualquer história romântica.
Romance Trágico: diferente de sua contraparte oti-
mista, este clima se concentra na tristeza e saudade. O amor foi
perdido e nunca poderá ser recuperado, ou um novo amor foi
descoberto ser uma farsa. Arrependimento, angústia, medo e
saudade, todos esses sentimentos podem ser evocados em seus
jogadores por meio uma trágica história de amor que deu erra-
do. Como velhas chamas são corrompidas pelo Esquecimento
(talvez para ressurgir como Replicantes) e novos amores são
revelados como espiões da Hierarquia ou Ceifadores alheios à
moral, o amor usurpado pode se tornar a base de muitas narra-
tivas de Aparição.
Capítulo Sete: Narrativa 203
 Misterioso: sussurros secretos, ruas enevoadas da
Terra das Sombras e túneis labirínticos sob as grandes torres de
Estigia podem ajudar a fazer do mistério uma das melhores op-
ções para histórias de fantasmas. Afinal de contas, existe muita
coisa que as aparições não sabem sobre sua existência não-viva,
e por enfatizar o quanto eles não entendem, você pode estimu-
lá-los a viajar em busca de descobertas.
Mistério no sentido clássico filme noir também fun-
ciona bem em Aparição. Intrigas ardilosas, lindas almas ator-
mentadas, locais pós-vida decadentes, organizações políticas
sombrias espreitando em segundo plano podem enfatizar a na-
tureza heroica dos personagens colocando-os em contraste com
o Mundo Inferior ao redor deles.
Excitamento: ações sem interrupções e melodrama
podem se tornar parte de qualquer história de Aparição. O
ritmo rápido e o perigo iminente criam suspense e excitação,
como o sucesso rápido leva a imediata satisfação, mas o preço
da falha pode ser terrível. Invasões Espectrais, corridas contra
o tempo para salvar Grilhões ou para resgatar companheiros
das forjas, e outras histórias que podem acontecer sem que os
personagens tenham tempo para recuperar o fôlego, metafori-
camente falando.
Despreocupação: mesmo os Inquietos algumas vezes
conhecem a paz. Os personagens buscam encontros amigáveis
ou fazem piadas com os vivos. Os personagens podem descan-
sar e se recuperar; os personagens podem relaxar e ter um pou-
co de diversão com seus Arcanoi. Com a intensa pressão emo-
cional de muitas crônicas de Aparição, algumas vezes pode ser
útil aliviar o clima para prover contraste e recuperação.
Crônica
Não existe cortina final: isto não é um teatro.
Você pode ler o que está escrito nesta página enegrecida?
- Steven Brust & Adam Stemple, “Página Enegrecida”
ssim como capítulos são ligados em em
livro, histórias individuais ficam amar-
radas entre si para produzirem uma crô-
nica. Posicionando os contos separados
que você narra dentro de um cenário
maior, você ganha a oportunidade de
criar enredos maiores, conectar eventos
e personagens distintos e aumentar a
extensão e o escopo de seu jogo de Apa-
rição.
Uma das coisas mais importantes em uma crônica é a
continuidade. Um Solicitante ameaçador que aparece na história
pode ser um vilão adequado, mas ao longo da crônica você pode
apresentar ao patrão as razões para que ele seja contratado, seus
companheiros de Gilda, Soldados da Hierarquia procurando por
informação sobre um criminoso fantasmagórico e etc. Enquanto
não haveria espaço para desenvolver tudo isso em uma única ses-
são de jogo, um percurso mais amplo da crônica dará a você mais
sessões com as quais poderá explicar suas ideias.
Começando
A primeira coisa necessária na criação de uma crônica
é uma ideia base, a qual você deverá ter em mãos antes do pri-
meiro jogador criar seu personagem. Como o Mundo das Tre-
vas é uma extensão, embora uma versão sombria, de nosso pró-
204 Aparição: O Esquecimento
prio mundo, ideias para histórias podem vir de qualquer lugar
próximo a você. O jornal desta manhã poderia ter um intrigante
artigo com uma imagem histórica, a qual poderia ser uma boa
aparição, ou a mais recente revista poderia ter algumas teorias
interessantes sobre a vida depois da morte que poderia inspi-
rar um culto Herético. Ainda, como o Mundo Inferior reflete as
Terras da Carne, um evento traumático que aparece nas man-
chetes da manhã poderia ter ecos nas Terras da Sombras. Por
outro lado, iniciar com uma explicação fantasmagórica para as
notícias na história também poderia ser o pontapé inicial para
uma ideia base.
As necessidades básicas para uma história são as res-
postas para as seguintes questões: quem está envolvido, em qual
lugar ocorre, e para onde levará os personagens? A primeira
questão deveria levá-lo a pensar sobre com que tipo de perso-
nagens você estará lidando como Narrador, e como eles reagi-
rão como jogadores. Outras aparições? Espectros? Os Breves?
Conhecer e preparar os personagens que seus jogadores encon-
trarão leva muito tempo.
Descobrir onde a história ocorre também é importan-
te. Seu conto é baseado na Terra das Sombras, ou ocorre na Esti-
gia? Existe um covil particular ou Necropolis no coração disso?
As aparições serão obrigadas a violar a Mortalha? As respostas
para essas questões ajudarão você a preparar o cenário de sua
crônica.
Finalmente, existe a questão de onde sua história le-
vará os personagens. Toda ação tem consequências, todo vilão
tem aliados ou amigos, nenhuma boa ação fica impune. Mesmo
se você estiver planejando jogar Aparição com os personagens
uma única vez, preparar o terreno para potenciais futuras ses-
sões pode ajudar você a focar no que você quer que aconteça
durante a primeira sessão.
Compromisso de longo prazo ou suporte de uma noite
As histórias podem existir como parte de uma crônica
de longo prazo ou sozinhas como “Sessão-Única”. Uma história
de crônica tem a vantagem da continuidade a longo prazo, bem
como o acesso a uma base maior de material de fundo que se
desenvolveu anteriormente ao longo de sua crônica. Esta rique-
za de material envolve seu mundo e ajuda você a encontrar uma
base firme se os jogadores se afastarem do caminho que você
criou para eles. Por outro lado, as crônicas estendidas também
apresentam inconvenientes. A fim de reforçar a continuidade,
cada história individual precisa se encaixar no curso da trama
pré-existente da crônica. Isso limita a sua capacidade de afetar
os eventos e os personagens drasticamente sem destruir o histó-
rico e a trama do enredo. Além disso, há sempre o possibilida-
de de erros de continuidade, porque se o seu mundo se tornar
inconsistente (“Na semana passada, você disse que não era um
Monitor!”), seus jogadores deixarão de confiar em você. Ainda
assim, as complexidades e as oportunidades de executar crôni-
cas de longo prazo fazem o esforço valer a pena.
A alternativa para uma crônica é a chamado história
de sessão-única. Com uma sessão-única, os jogadores criam
personagens cuja duração da interpretação dura tanto quanto
a sessão do jogo. Isso permite que você evite o compromisso
a longo prazo com uma crônica longa, e, em vez disso, se con-
centre em uma idéia específica. Isso também economiza tempo
de preparação; você só precisa criar algumas horas de cenário,
personagens e trama para um jogo de uma única noite. O incon-
veniente principal reside na perda de material de fundo e tempo
de desenvolvimento; tudo precisa ser introduzido, desenvolvido
e resolvido ao longo de uma sessão de jogo.

Aqui ou AliAparição existe como parte do Punk-Gótico do Mun-

do das Trevas. Seu cenário encontra suas origens nos cantos
mais sombrios do mundo real, mas isso não significa que o jogo
não possa se remover completamente do nosso mundo e levá-
-lo para a existência sombria do Mundo Inferior. Ao projetar
sua história, uma das primeiras coisas que você precisa decidir
é onde estabelecer o cenário. Enquanto você pode mudar essa
decisão mais tarde, sua configuração inicial irá influenciar mui-
to o tipo de história que você conta. Há duas escolhas impor-
tantes: as Terras das Sombras e suas Terras da Carne associados,
ou dentro da Tempestade, que inclui Estigia, Costas Distantes,
o Labirinto e os outros Reinos Sombrios. Claro, as histórias se
moverão de um lugar para outro, uma vez que a maioria envolve
algum tipo de jornada, mas o foco da maioria dos contos geral-
mente será um desses dois.
As Terras das Sombras existem muito além do Sudário
entre a vida e a morte. Aqui, os personagens podem interagir
com o Rápido ao melhor de suas habilidades, e têm a vanta-
gem de poder ver e proteger suas conexões remanescentes para
a vida. As histórias estabelecidas nas Terras das Sombras geral-
mente envolve os membros do Círculo das Paixões, grilhões e os
dilemas dos vivos. A interação com outras entidades sobrenatu-
rais, como magos ou lobisomens, também se torna possível nas
Terras das Sombras, permitindo que você lave Aparição com
mais firmeza ao resto do Mundo das Trevas.
Dentro da Tempestade, as histórias de Aparições assu-
mem um aspecto muito diferente. A Tempestade e seus arredo-
res, mesmo tais lugares supostamente amigáveis como Estigia,
são estranhos e incompreensíveis para muitas almas. Apenas se
acalmando com esse outro mundo pode tomar algumas apari-
ções várias histórias. Além disso, há os habitantes deste novo
mundo - Espectro, Criaturas-da-Tempestade, são velhas apa-
rições que, por muito tempo, vêem seus Grilhões se transfor-
marem em poeira - que esperam coisas muito diferentes dos
personagens do que o legionário de poder local. Existem tam-
bém outras Terras Mortas para as quais os personagens podem
percorrer ou receber visitantes. O choque de culturas, crenças
e metafísicas que este cenário apresenta pode não ter o grito de
uma crônica da Terras das Carnes, mas oferece uma grandeza e
alcance que crônicas mais localizadas podem não ter.
As histórias freqüentemente cruzarão para trás e para
frente através de todas essas configurações, quando você come-
ça, é uma boa idéia manter um local por um tempo para que os
jogadores tenham a chance de se aclimatar. Seus personagens
precisarão de um lugar para chamar de casa. Rostos e lugares
familiares ajudarão seus jogadores a visualizar seu mundo e dar-
-lhes a confiança para explorar horizontes mais amplos.

Os Caras Maus
Todas as histórias precisam de antagonistas, alguém
contra quem os protagonistas devem agir e se mover. Nem to-
dos os antagonistas devem ser vilões per se, mas adicionando

Capítulo Sete: Narrativa 205

personagens que se opõem aos movimentos dos jogadores, você
cria tensão e entusiasmo dentro de sua crônica. Uma vitória
sem oposição é meramente uma tarefa completa; uma vitória
confirmada é um triunfo.
Claro, não há nada que adicione sabor a uma crônica
estendida como um bom antagonista primário, alguém que os
jogadores e os personagens gostam de odiar. Os inimigos em
suas histórias podem ser numerosos ou poderosos, mas devem
ser desafiadores e complexos. Os melhores antagonistas nos fa-
zem questionar nosso próprio código moral ao parecer ser o
mais horrível dos monstros, mas vir a ser como nós no final, ou
vice-versa.
Geralmente, você terá um arqui-vilão, um antagonista
principal para sua crônica. Para torná-lo memorável, você deve
detalhar completamente todos os seus aspectos. Afinal, ele é seu
agente e sua voz número um. Ele dirige a história, por trás dos
bastidores ou mesmo na frente dos rostos dos personagens, e
deve ter tantos objetivos, peculiaridades e complexidades como
os personagens principais. Para que os jogadores realmente
odeiam seu adversário, ele deve estar o mais próximo do ser hu-
mano possível, ou ao menos tão realista quanto possível. Se eles
odeiam seu antagonista, eles se preocupam com ele o suficiente
para gastar emoção real nele, isso significa que você conseguiu.
O vilão da sua história deve ter mais profundidade do
que qualquer outro personagem que você crie, amigo ou inimi-
go, e parte disso é a aparência dele. Uma descrição detalhada de
cada aspecto traz seu vilão à vida nas mentes dos seus jogadores.
Seus jogadores devem saber exatamente o que imaginar quan-
do enfrentam seu inimigo, de quais sapatos o monstro usa até
como ele divide seu cabelo.
Sua capacidade de interpretar o antagonista inspirará
maior impacto emocional em seus jogadores. Não dependa de
estatísticas absurdas ou de um contexto extremamente comple-
xo para fazer o trabalho. Em uma peça de teatro ou filme, a apa-
206 Aparição: O Esquecimento
rência e o estilo de um vilão podem inspirar medo por si só. Em
uma história, você deve criar verbalmente o aspecto visual do
vilão, mas seu verdadeiro efeito emocional se desenvolve com a
personalidade de seu personagem. Dê ao seu vilão algum estilo
e peculiaridades, de modo que, após alguns encontros, um slo-
gan ou cartão de visita (como os irmãos Catherine, membros da
Guilda dos Solicitantes passaram para suas vítimas), anunciará
a presença do vilão tão efetivamente como uma apresentação
formal .
Seu antagonista terá tantos, senão mais objetivos do
que os próprios jogadores. A tensão entre personagens e antago-
nistas surge quando o vilão e os personagens acabam em lados
opostos de um conflito, já que o antagonista clássico opõe dia-
metralmente tudo o que os personagens representam. Em um
nível simplista, ele está errado simplesmente porque os perso-
nagens não concordam com ele. No entanto, um vilão de verda-
deira profundidade tem seus próprios motivos que podem não
ser malignos, ou pelo menos não é mau em sua própria mente.
Em essência, o antagonista é tão importante quanto qualquer
personagem dos jogadores, e deve ser criado com o mesmo cui-
dado e complexidade que os próprios protagonistas.
Título A maioria das histórias, poemas, peças, filmes e outras
narrativas têm títulos. Por que sua crônica deve ser diferente?
Além de servir como uma maneira fácil de organizar o que você
está fazendo, um título cristaliza e resume uma crônica. Um tí-
tulo bem escolhido pode evocar o clima da história que você
está executando mesmo antes de seus jogadores se sentarem
na mesa, enquanto um mal escolhido pode provocar risadas
desonestizadas e servir para quebrar qualquer clima que você
esteja tentando criar. Geralmente, os títulos simples funcionam
melhor.

Quem está Dirigindo?
Os enredos de crônicas se dividem em duas catego-
rias: orientada por histórias e motivada por personagens. Am-
bos os tipos têm vantagens e desvantagens inerentes, e ambos
são igualmente boas maneiras de fazer uma crônica de Apari-
ção.
As tramas historicamente orientadas tendem a ser
mais lineares e exigem que você planeje o que acontecerá com
bastante antecedência. Em uma crônica baseada em história, os
eventos são o que determinam a ação. Os planos e ações dos
antagonistas são o foco da crônica; A resolução é baseada em se
os personagens conseguem ou falham ao frustrar as tramas de
seus inimigos. As tramas históricas são relativamente simples
de executar, pois você não precisa depender dos jogadores para
avançar a trama. Se eles esperam que a ação venha até eles, seus
inimigos ficam mais fortes. A desvantagem das parcelas histó-
ricas, no entanto, é a sua estrutura. Se os jogadores fizerem algo
para perturbar os eventos pré-planejados, uma crônica baseada
em história pode descarrilar muito rapidamente.
Uma das partes mais importantes de uma crônica ba-
seada em história é o vilão. Ele não pode ser muito forte, ou os
jogadores vão desistir ou terão seus personagens massacrados.
Por outro lado, se ele é muito fraco, os personagens ganham
uma vitória que é muito fácil. Muitas vezes, é melhor começar
uma crônica com uma idéia do que você quer que seu antago-
nista possa fazer, depois ajuste suas habilidades para cima ou
para baixo depois que ele conhece os personagens pela primeira
vez. Desta forma, você tem um calibre preciso de seu poder re-
lativo aos personagens.
As tramas de personagens são mais difíceis, pois não
possuem a estrutura simples de tramas planejadas pela história.
Embora exista um objetivo final a ser alcançado nesse tipo de
história, o caminho para esse objetivo é muito mais nebuloso
e é delineado apenas pelo que faz sentido para os personagens
fazer. Paixões e Grilhões são boas maneiras de determinar o que
motivará os jogadores a seguir o objetivo que você definiu. Os
bons jogadores interpretativos tendem a acompanhar sugestões
nesta direção; Os iniciantes podem exigir o ímpeto de uma re-
compensa potencial ou uma ameaça à propriedade ou a seus en-
tes queridos. Os personagens que você controla que são aliados
aos jogadores são boas ferramentas para impulsionar esse tipo
de trama para a frente; Se os jogadores estão presos, você tem
uma maneira integrada de dar-lhes um suave empurrão para a
frente novamente. Afinal, é do melhor interesse dos persona-
gens que você está jogando se eles tiverem sucesso…
O uso do método do biscoito e vara para motivar per-
sonagens deve ser equilibrado. Se você oferecer muitas recom-
pensas sem medo de castigo, o nível de poder dos personagens
aumentará rapidamente e eles se acostumarão a ser recompen-
sados por serem inseguros. Por outro lado, considere punições
suficientes sem descanso, e você ficará sem ameaças ou os joga-
dores ficarão rebeldes.
Uma vez que os personagens estão realmente se mo-
vendo na direção certa, você precisa jogar alguns obstáculos em
seu caminho. Encontros, terrenos acidentados ou Maelstroms,
ataques de Espectro ou a falta de um conhecimento crucial ser-
vem como obstáculos para o Círculo a superar.
A principal desvantagem para tramas de personagem
é que eles podem se mover. Além disso, muitas vezes a tentação
para os vários membros do Círculo seguir suas próprias manei-
ras separadas de seguir suas próprias agendas. Isso pode fazer
sessões de jogo frustrantes, pois apenas dois ou três jogadores
de cada vez se revezam, deixando os outros fora do que está
acontecendo até que a cena mude para os personagens (ou som-
bras) que eles jogam. Quando as tramas de caráter funcionam
bem, porém, eles têm toda a emoção de tramas de história com
o senso de realização adicional por parte dos jogadores para di-
rigir a história em vez de serem conduzidos.
Conceitos de Crônica
Todas as estrelas da crônica com uma idéia geral de
quem são os personagens e o que eles estão fazendo. Alguns dos
básicos são:
• Agente Secreto Homem Morto - The Underworld
é um caldeirão de intriga e conspiração, muitas vezes por sua
própria causa. As Aparições mais antigas estão sempre à pro-
cura de novos peões; Lemures está constantemente buscando
maneiras de ganhar o favor e a atenção das Aparições no poder.
Os personagens poderiam facilmente ser atraídos para o fun-
cionamento complexo de políticas e intriga. Entre as Guildas,
os Senhores da Morte, os Renegados e os Hereges, sempre há
empregadores dispostos a contratar Aparições para trabalhos
especiais. Completados com sucesso, estes podem levar a coisas
maiores e melhores, ou podem atrair a ira de alguns inimigos
muito poderosos.
• A Gangue - Agora membros dos Mortos Inquietos,
o Círculo se junta para proteção. Alternativamente, as Apari-
ções podem não ter se conhecido na vida, mas se juntaram por
causa de um interesse mútuo como um Local Assombrado com-
partilhando da ideologia política.
Para a maioria das Aparições, o Círculo é um mon-
te de bandidos de falta de problemas que começam problemas
desnecessários na vida após a morte. Quanto aos fantasmas, eles
só querem se divertir com sua imortalidade e talvez esculpir
Permanecendo Juntos
Paixões, Grilhões e Pesadelos podem tornar muito fácil
para um Círculo de aparições se separar. Geralmente é
melhor quando o Círculo inteiro está agindo em conjun-
to. Ele permite mais interpretação de papéis interativos,
mantém todos envolvidos na ação e economiza desgaste
em suas faculdades criativas, pois você não precisa man-
ter a mudança de cenas entre quatro ou fantasmas erran-
tes.
A maneira mais fácil de manter um círculo em conjun-
to é apresentar uma ameaça que tenha atingido todo o
círculo. Só faz sentido que há menos chances de que seu
inimigo os escolha um por um. Métodos mais avançados
para manter os Círculos juntos retornam à criação de per-
sonagens. A criação de histórias interligadas ou mesmo
de Paixões e Grilhões compartilhadas funciona bem para
amarrar os personagens juntos.
Capítulo Sete: Narrativa 207
uma pequena parte da cidade para si. A política da Hierarquia
não os interpõe, e a Transcendência está acima de suas cabeças.
As gangues renegadas podem encontrar fantasmas tão
espirituosos para ser os novos recrutas perfeitos, ou podem vê-
-los como potenciais rivais. Os hereges podiam ver potenciais
conversos ou blasfemos a serem exterminados. A Hierarquia
provavelmente quer limpar o círculo e não hesitará em usar
força excessiva para fazê-lo. O território que a gangue ocupa
poderia ter interesse para uma gangue rival ou um Estornado,
colocando os personagens, sem amigos, no local.
• Leve-me Mais Alto - O Círculo poderia estar bus-
cando Transcendência. Essa paz espiritual não é facilmente
encontrada, e a Sombra é segura de lutar contra o processo
chutando e gritando a cada passo do caminho. As Paixões re-
solvidas não alimentam mais o Pathos de uma aparição; Como
os membros do Círculo asseguram sua sobrevivência enquanto
terminam seus negócios na Terra, e o que seus companheiros
fantasmas pensam do que estão fazendo?
• Refugiados - O Círculo foi expulso da última Ne-
cropolis, e agora procura uma nova casa. Os Inquietos são ainda
mais protetores de suas casas do que na vida e não têm simpatia
por estranhos. Talvez a Hierarquia os cative, ou um Espectro
particularmente persistente tenha reservado para eles um lugar
especial no seu coração.
Os personagens devem depender uns dos outros para
a sobrevivência. Existindo na parte inferior do Mundo Inferior,
as habilidades de cada personagem serão testadas. A viagem en-
tre Necropoli ou através da Tempestade pode ser prejudicada
com o perigo, e as pressões da sobrevivência maravilhosa po-
dem ser a única coisa que mantém o Círculo em conjunto. O
foco da história centra-se nas dificuldades de não ter uma casa
e nos perigos e dificuldades de serem caçados.
O medo e a paranóia direcionarão as aparições de um
lugar para outro em busca de uma casa. Claro, as aparições em
fuga não têm muito tempo para cuidar de seus Grilhões, e seus
inimigos podem aproveitar esse fato. Por outro lado, os perso-
nagens podem decidir cortar e correr completamente, levando
suas chances em um dos outros Reinos Sombrios.
• Rebelião dos Escravos - O mesmo Ceifador colhe
todos os personagens, e eles devem cooperar para escapar. Pri-
meiro Eles devem encontrar uma maneira de se livrar de suas
cadeias em Estigia, evitando ser forjado - ou pior. Uma vez que
eles se afastaram, onde eles vão? Que recursos eles encontram, e
alguém está disposto a ajudar um monte de Lêmures fugitivos.
Se a sua crônica começar assim, os personagens pre-
cisarão explorar seu novo mundo fascinante e aterrorizante.
Como eles não têm aliados, eles precisarão aprender sobre as
Terras das Sombras e sua geografia circundante para si. Quan-
do eles finalmente entendem o que e onde eles estão, eles pro-
vavelmente se perguntarão o que os mantém lá. Quando eles
descobrem suas âncoras, eles estarão agradecidos, ou tentaram
libertar-se do vínculo terrestre? Esta crônica se concentra na ex-
ploração do mundo e na natureza do ser Inquieto.
• Pelotão - Na vida, as aparições eram membros das
208 Aparição: O Esquecimento
forças armadas, possivelmente a mesma unidade. Na morte, eles
continuam a fazer o seu comércio de escolha. Então, novamen-
te, muitas aparições são recrutadas para as fileiras blindadas
das Legiões ou as gangues militares dos Hereges post mortem,
e a existência militar é um fato brutal para um grande número
de aparições. Eles podem trabalhar para a hierarquia ou con-
tra ela. Podem ser legionários bem treinados, protegendo suas
Necropolis dos assaltos dos Espectros e geralmente mantendo
a paz. Ou eles poderiam ser uma trupe de Renegados com um
guerrilheiro contra um lote particularmente impressionante de
Anacreontes. Essas aparições prosperam no perigo e na excita-
ção, achando a morte apenas suportável se a existência estiver
na linha. Eles são conduzidos pela lealdade, devoção e dever, e
encontram companheirismo apenas um do outro. Como engre-
nagens na grande máquina militar, eles conhecem seu lugar e
estão confortáveis com seus riscos.
• Negócios Inacabados - Uma crônica inteira pode gi-
rar em torno do relacionamento dos personagens com o mundo
vivo. Seus Grilhões desenhá-los novamente e outra vez. Incapaz
de resistir, as aparições continuam a vigiar e proteger seus entes
queridos dos seus bens mais prezados. Eles continuamente se
forçando pela dor de ver suas vidas antigas sem poder conta-
tá-las. Os personagens observam como seus antigos amantes
criam novos relacionamentos ou seus filhos crescem sem eles.
A crônica deve ser mais do que apenas um arrepen-
dimento ocioso ou uma saudade. Algo pode ameaçar os seus
Grilhões, forçando os personagens a agir. Talvez as conspirações
que mataram um personagem em primeiro lugar agora se mo-
vam contra sua família e amigos, ou o assassino de um persona-
gem ainda pode espreita nas sombras perseguindo mais vítimas.
As aparições ainda podem ser viciadas em prazeres terrenos.
Drogas, álcool ou sexo podem ser experimentados de forma vi-
cária por aparições que têm paixão por essas coisas, particular-
mente com a ajuda do Tinterismo. Além disso, existem outros
poderes no Terras das Carnes: vampiros, Garou, magus e outros
seres, todos os quais podem ter planos para o Círculo.
Por outro lado, o Círculo pode ter decidido buscar
Transcendência; e as aparições estão tentando resolver suas Pai-
xões e Grilhões. O processo de dizer adeus nunca é fácil, e os
vivos também não querem deixar ir.
• Subir ao Poder - O desejo de poder e glória ainda
leva muitas aparições até séculos após a morte. Os personagens
estão na parte inferior do totem da sociedade, e quer escalar.
Afinal, quanto maior você, menor será a chance de acabar nas
forjas. Por outro lado, talvez eles simplesmente gostam do jogo.
Os personagens se esforçam para subir nas fileiras de sua seita,
usando sua ganância e paixão pelo poder para afastar aparições
mais fracas. A manobra e a intriga política dão sentido à sua
existência eterna. Complicações surgirão quando fizerem mui-
tos inimigos ou pisar em muitos dedos. O desejo de poder dos
personagens deve ser equilibrado com o medo de seus inimigos.
Grandes recompensas exigem um grande sacrifício. Quanto são
os fantasmas dispostos a desistir? O que eles farão quando al-
cançarem a posição desejada, e tudo valerá a pena? À medida
que os personagens derrotarem seus inimigos e se elevarem no
poder, também o crescimento de suas Sombras, alimentando a
ganância e o desejo que alimentam sua ascensão.
• Questão de Visão - Um dos aliados dos personagens
ou um dos próprios personagens possui fortes poderes de Fata-
lismo. Usando sua habilidade, ela viu uma calamidade iminente
que em breve desperdiçará as Terras das Sombras e as Terras da
Carne, e somente o Círculo pode evitar o desastre. Amores ou
Grilhões estão na balança, e os personagens devem ter sucesso.
A busca por encontrar uma solução para este dilema pode levá-
-los às Terras das Sombras, à Tempestade ou mesmo às Costas
Distantes, enquanto, a cada passo, outras aparições zombam e
os agentes da catástrofe procuram se encaixar. Os personagens
podem encontrar a resposta a tempo e, se o fizerem, eles podem
fazer o que é necessário para interromper isso?
• Isso é Entretenimento - Na vida, os personagens
estavam no caminho acelerado para a fama e a fortuna, mas de
alguma forma suas vidas foram cortadas apenas à beira do su-
cesso. Talvez o Círculo fosse uma banda ou um grupo apertado
de jovens atores que estavam prestes a ser descobertos, ou talvez
eles sublimasse seu amor pelas artes na vida, mas não podem
negar isso na morte. Eles também podem vir de diferentes ca-
minhos da vida, atraídos pelo seu infortúnio comum. Em qual-
quer caso, o personagem decidiu chamar seus talentos e usar o
tema no Mundo Inferior. Eles podem formar uma trupe viajante
de artistas ou abrir um teatro de algum tipo. Sua paixão pela
arte e pela criatividade os liga, enquanto seu talento ganha um
lugar entre os Inquietos. Eles podem recuperar a fama no mun-
do dos mortos? E seu sucesso sentirá no Mundo Inferior, a mes-
ma pressão da censura, tão forte em todo o Mundo dos Mortos?
Há pés para pisar e poderes que ofendem entre os mortos tam-
bém. E isso sem nem mesmo levar em conta a concorrência em
potencial de Oneiros, Bardos, Mascarados e Replicantes …
• História Antiga - Nem todos no Mundo Inferior
morreram recentemente. A justaposição de aparições de 20, 50
ou centenas de anos atrás com o Mundo Inferior moderno pode
ter alguns efeitos interessantes. Como as aparições lutam para
se encaixar com o que as suas vidas posteriores se tornaram, há
um conflito inevitável. Outras aparições mais poderosas podem
querer voltar no tempo, e cabe aos personagens decidir de que
lado estão nessa luta.
Novamente, você pode querer mudar a configuração
para um período histórico. Primeira Guerra Mundial, a Revolu-
ção Francesa, o Império Romano - a escolha é sua. Apenas cer-
tifique-se de ter criado um histórico suficiente e feito pesquisas
suficientes para fazer seu cenário histórico parecer real.
Capítulo Sete: Narrativa 209

História
Você quer ouvir uma história? História real? Histórias
sempre costumavam ter um bom pagamento.
-Neil Gaiman, “Assassinatos Misteriosos”
mbora as grandes crônicas sejam boas,
ainda permanece o problema de capítulos
ou histórias individuais. Todas as jogadas
da noite precisam ter uma sensação de fe-
chamento, já que cada história precisa ser
autônoma com um enredo e uma resolu-
ção.
Idealmente, sua história avançará o grande enredo de
sua crônica enquanto ainda permite aos jogadores liberdade
de escolha. Se eles sentirem que estão sendo arrastados contra
sua vontade, a crônica deixará de ser agradável. Cada história,
então, tem que levar os jogadores para onde você quer ir, mas
também tem que fazê-los querer ir para lá. Não precisa avançar
diretamente o metaplot da sua crônica, mas de alguma forma
deve ajudar os personagens a se desenvolverem em direção ao
seu objetivo final.
Algumas ideias de histórias de amostra são fornecidas
abaixo. Use-os como pontos de partida.
• Chegando lá a Partir Daqui - Os personagens têm
uma razão premente por estar em outro lugar. Talvez eles pre-
cisem atravessar a cidade para um pouco de encontro de gan-
gues de Renegados, ou o seu Senhor da Morte os convocou para
210 Aparição: O Esquecimento
Estigia. Independentemente disso, viajar no Mundo Inferior é
sempre difícil. Outras aparições, Espectros e os vivos podem
revelar enormes obstáculos nestas viagens simples, e há sempre
a chance de alguém não querer que os personagens façam a via-
gem em uma única peça.
• Introdução a Passeios Turísticos - Há muito para
ver e fazer entre os Inquietos. Estígia é uma atração turística,
bem como uma cidade em funcionamento, mas nem sempre é
fácil conseguir - ou sobreviver - lá. Replicantes e traficantes de
escravos assombram as ruas da Cidade Baixa, e espectadores
inocentes podem ser pegos no fogo cruzado quando as lutas po-
líticas são desagradáveis.
Por outro lado, talvez as aparições querem ver paisa-
gens ainda mais exóticas. As Costas Distantes, a Tempestade,
outras Terras Mortas, até o Labirinto acenam para aparições
particularmente aventureiras (ou suicidas). Você nunca sabe o
que irá encontrar no Mundo Inferior, mas as chances são de que
será interessante
• Servir e Proteger - Um dos Grilhões do personagem
está sob ameaça imediata. Talvez seus pais tenham decidido
vender sua amada coleção de cartões de beisebol, espalhando as
cartas para os quatro ventos, ou um Grilhão vivo foi alvejado e
deve ser protegido de forças inimigas. A aparição (e seus com-
panheiros do Círculo) deve entrar em ação para salvar o que
ele ama, mesmo que isso signifique violar o Dictum Mortuum.
As conseqüências por ser pego são ruins, o preço do fracasso é
muito pior…

• É um Ciclone! - Existem Maelstroms e Grandes Ma-
elstroms, mas mesmo os pequenos são aterrorizantes. Quando
os gongos de tormenta começam a soar e os ventos da Tempes-
tade se elevam, muitas vezes é cada aparição por si. O Círculo
pode encontrar abrigo e será capaz de repelir o ataque Espectral
que cavalga os ventos da tempestade? E se um membro do Cír-
culo não conseguir entrar, e que efeito terá a tempestade local-
mente nas Terras das Sombras?
• Salve minha Alma - Um amigo, aliado ou até mes-
mo um colega de Círculo foi pego por traficantes de escravos e
é destinado às forjas. O Círculo tem uma quantidade limitada
de tempo antes de seu amigo se tornar um criado-mudo ou algo
igualmente útil, e a oposição dos Artífices e da Hierarquia cer-
tamente será feroz.
• Guerra das Guildas - As Guildas ainda são uma
força real e poderosa nas Terras Mortas, não importa o quão
alto a Hierarquia negue isso. Apanhados em lutas seculares, as
Guildas estão sempre procurando novos recrutas para atacar
seus inimigos. Arcanoi avançado e artes perdidas podem ser um
suborno tentador para fazer com que as aparições se movam
na direção certa, mas mais de uma Guilda pode estar tentando
atrair os membros do Círculo.
• Necropolis Sob Fogo - Os Espectros estão chegan-
do! Esta história é um puro combate, com onda após onda de
Consumidos pela Sombra atacando a casa do Círculo. O que os
Espectros buscam e como as personagens tiveram tanto azar?
Ou há mais nisso que apenas latrocínio sem sentido, e os Espec-
tros têm algum propósito diabólico em mente?
• Controle de Pragas - Aqueles traquinas podem ser
uma dor real, particularmente quando eles tomam um lugar que
tem um significado real para uma aparição. Livrar-se dos Breves
pode ser muito divertido, supondo que você não seja pego en-
quanto estiver nisso. Esse tipo de história pode ser mais leve do
que muitos contos de Aparição, permitindo que os jogadores
ampliem sua imaginação e tenham um pouco de diversão sádi-
ca enquanto estão nessa.
Conflito
e o enredo é o motor que impulsiona
uma história, o conflito é o fogo no mo-
tor. Lutas internas e externas permitem
que os personagens progridam, criam
tensão narrativa e geram excitação no
Círculo de seus jogadores. Embora o
combate eterno possa ficar sem sentido
rapidamente, as crônicas baseadas em
nada mais que coexistência pacífica e mediação silenciosa podem
ser absurdamente tediosas. Conflitos animam sua crônica e dão
ênfase no estilo ponto de exclamação para seus eventos.
Ambos os conflitos internos e externos são vitais para
Aparição. Não há escassez de inimigos externos no Mundo In-
ferior: Espectros, cativos, Hierarquia. Renegados, Hereges, Bar-
queiros enfurecidos, exorcistas, vampiros e muito mais. Se uma
aparição quer brigar, ou até mesmo se ele quiser evitar uma, nor-
malmente há alguém por perto disposto a se tornar violento às
pressas. Em contraste, há o implacável conflito que cada espectro
tem com sua Sombra, uma luta que pode ser tão violenta quanto
uma briga de bar e igualmente espetacular.
Construir um conflito pode formar a base para seus en-
redos em suas histórias ou suas crônicas. Os personagens podem
começar enfrentando pequenas ameaças e obstáculos, passando
para dilemas perigosos ou mesmo mortais e, eventualmente, en-
frentar a maior ameaça no clímax. Obstáculos na sua crônica po-
dem vir de muitas direções, mas no final eles também devem se
relacionar com o seu tema subjacente. Conflitos independentes,
não relacionados, parecerão caóticos e mal planejados, a menos
que seu tema central seja de natureza caótica.
O conflito pode se manifestar de muitas formas dife-
rentes em uma determinada história, até mesmo de várias formas
de uma só vez. O tipo de conflito mais fácil e mais óbvio coloca os
personagens contra um inimigo em um confronto físico: desba-
ratar um guarda, ultrapassar um bando de Renegados, atacar um
Espectro. Esses tipos de conflitos divertem e são necessários para
o desenvolvimento da história, além de dar aos seus jogadores
confiança nas capacidades de seus personagens.
Grandes conflitos inspiram as emoções mais profundas
e fortes: medo, ódi, amor, horror. Enquanto o conflito físico satis-
faz a necessidade de competir e superar, os conflitos mais profun-
dos satisfazem uma necessidade básica de expressar e experimen-
tar nossas emoções. Envolvendo-nos com personagens com os
quais simpatizamos, experimentamos essas emoções vicariamen-
te. Histórias de Aparição trazem essas emoções colocando os per-
sonagens contra inimigos poderosos, inesgotáveis Espectros e o
oponente mais poderoso de todos, a Sombra. Vilões memoráveis
que não podem ser simplesmente derrotados em combate irão
provocar ódio e medo. Espíritos da Tempestade Incognoscíveis e
Espectros horrorizam. Os personagens podem encontrar o amor
ou perdê-lo e devem triunfar nos campos de batalha da mente e
do coração.
A seguir listamos os conflitos básicos que podem ser
usados em qualquer história de Aparição. Muitos deles podem
estar trabalhando simultaneamente ao tecer sua história, já que
cada personagem sempre tem motivações e objetivos únicos.
Qualquer um desses conflitos pode ser o foco central de um en-
redo em uma história ou em uma crônica.
• Aparição vs Hierarquia - Uma aparição, com ou sem
seus aliados, desafia a burocracia colossal da Hierarquia. Os cor-
ruptos oficiais inquietos arrecadam seus oboli e seus tesouros de
alma. A classe mais baixa é pisada ou forjada pela alma para o
prazer dos poderosos. A pura desumanidade da situação exige
resposta. Viva la muerte revolution!
• Aparição vs Hereges - Algumas aparições se tornam
fanáticos religiosos que vão parar em nada para fazer conversões,
ou erradicar crenças opostas. Os personagens podem ser alvos da
doutrinação, ou podem dar algumas opiniões diferentes dentro
de seu próprio Círculo. Vários grupos de Hereges podem procu-
rar os personagens, levando a algumas conseqüências violentas, à
medida que a oferta de almas se torna desagradável.
• Aparição vs Renegados - Seja revolucionários dedi-
cados ou um bando de motociclistas mortos-vivos, os Renegados
são sempre perigosos por perto. Os personagens poderiam ser
Renegados envolvidos em uma guerra de gangues, ou Hierarcas
enviados para varrer a Necropolis da mancha dos Renegados.
Capítulo Sete: Narrativa 211
Não importa o que, não vai ser bonito.
• Círculo vs Círculo - Círculos freqüentemente en-
volvem-se em guerras territoriais; Assombrações são difíceis de
encontrar e recursos nas Terras das Sombras são escassos. Apa-
rições podem compartilhar Grilhões com Círculos opostos, ou
um Grilhão pode estar em perigo por causa de um rival. Esses
conflitos podem se transformar rapidamente em grandes ques-
tões, pois cada grupo atrai aliados, chama favores e atrai a aten-
ção dos poderosos locais. Por outro lado, os senhores do Mundo
Inferior freqüentemente colocavam grupos de fantasmas contra
os outros, lutando por tesouros escassos por recompensas ainda
menores.
Competições também podem ser um exercício saudá-
vel de habilidades artísticas ou físicas. Competições de equipe
tomam tempo no pós-morte. Qualquer coisa de um jogo de bei-
sebol nas Terras das Sombras até corridas de resistência na Tem-
pestade, ou caçadas de sacrifício na Cidadela local (“Cinco oboli
significando que seus Renegados não podem roubar a placa de
identificação do Anacreonte de sua mesa!”) é uma possibilidade;
tudo no interesse da boa diversão, limpa e legal de morrer.
• Aparição vs Aparição - Os fantasmas já foram hu-
manos e, portanto, têm impulsos humanos, objetivos e falhas. O
número de razões para o conflito entre as aparições é igual ao
número de razões para as pessoas comuns discordarem, e os jo-
gadores, sem dúvida, incorporam esse tipo de conflito na história
sem nenhuma ajuda sua.
Conflitos em vida também pode voltar para assombrar
uma aparição. Romances inacabados podem reacender nas Ter-
ras das Sombras, junto com suas vítimas. As rivalidades da infân-
cia poderiam ressurgir, ou vendetas de velhice podem ser jogadas
repetidas vezes.
• Aparição vs Vampiro - Vampiros morreram, mas
permanecem na terra dos vivos vivenciando tudo o que os fan-
tasmas perderam. Os vampiros são responsáveis por grande parte
da violência e melancolia no Mundo das Trevas e, aos olhos de
muitas aparições, isso alimenta o Esquecimento. Em um nível
mais pessoal, uma aparição pode ter sido vítima de um vampiro
ou um inocente pego no meio da eterna Jyhad dos sanguessugas.
As aparições também possuem segredos e poderes aos
quais os vampiros desejam acesso. Os Tremere, mestre da magia
do sangue; o Samedi, zumbi medonho como vampiros; e espe-
cialmente os Giovanni, mestres da necromancia, todos têm ra-
zão e poder para afetar a maioria dos Inquietos. Os personagens
podem ser forçados a fazer o lance de um vampiro e se envolver
em seus esquemas mesquinhos. Então, novamente, os fantasmas
poderiam procurar ajuda vampírica para preservar seus Grilhões
vivos pela eternidade, ou poderiam se contratar para um lado em
um conflito vampírico.
• Aparição vs Lobisomem - Embora não sejam tão
insensíveis às dificuldades dos Inquietos como os Membros, os
lobisomens não são menos responsáveis por muitos dos atuais
residentes nas Terras das Sombras. Suas batalhas contra vampiros
e seus temperamentos incontroláveis tendem a acumular conta-
gens de corpos de espectadores inocentes, muitos dos quais nun-
ca entenderão que eles eram “manchados pela Wyrm” e tiveram
que ser destruídos para o bem de Gaia. Uma aparição pode dese-
jar vingar-se pessoalmente de um lobisomem, seja fisicamente ou
mentalmente, e a falta de acesso que a maioria dos Garou tem às
Terras das Sombras pode tornar esse tipo de conflito unilateral a
princípio.
212 Aparição: O Esquecimento
• Aparição vs Mago - As muitas facções de magos e sua
capacidade de distorcer a realidade podem capturar aparições
desavisadas em situações incompreensíveis de perigo. A maio-
ria dos magos, se eles se esforçarem o suficiente, podem ver e
ouvir fantasmas, e alguns até estão cientes dos status das Terras
das Sombras. Ocasionalmente, os magos trocarão informações
ou favores pelo mesmo de um fantasma. Os magos da Tradição
Euthanatos muitas vezes se aproveitam de suas conexões com os
Mortos Inquietos, e a maioria até mesmo peregrina nas Terras
das Sombras em algum momento. Por outro lado, a Tecnocracia
das almas está tentando erradicar as aparições de todo o paradig-
ma da realidade, e os mestres monstruosos Nephandi parecem
tomar o Esquecimento como uma inspiração.
• Aparição vs Changeling - Assim como crianças pe-
quenas nunca foram ensinadas a não acreditar nas imagens que
vêm das Terras das Sombras, muitas féricos nunca aprenderam
a não ver os mortos-vivos. Enquanto eles não podem interagir
livremente com os Inquietos, os féricos são mais conscientes
do que a maioria da presença fantasmagórica em seu mundo.
Ao contrário das crianças pequenas, no entanto, os changelings
geralmente têm motivos secretos para lidar com fantasmas. Pe-
quenas disputas judiciais, piadas práticas ou intenções covardes
podem levar um changeling a lidar com os Inquietos. Muitas
aparições se arrependem de terem se envolvido nas complexas
tramas dos changelings.
Oneiros, mais do que qualquer outra aparição, entram
em contato com os fée. Changelings, criaturas de realidade e so-
nho combinados, atraem os Oneiros como a mariposa clichê para
a chama. Há um perigo aqui, pois, embora os fée sejam ricas fon-
tes de inspiração, eles também têm defesas potentes e irão longe
para vingar uma morte real ou feérica.
• Aparição vs Breves - Aparições frequentemente
tentam interagir com o mundo dos vivos. A maioria das pesso-
as nem sequer percebe que um fantasma está lá, o que pode ser
conveniente, mas também frustrante quando uma aparição quer
fazer contato com os vivos. Uma construção no local de um po-
tente Grilhão; um assassino perseguindo um ente querido; um
rival bem sucedido onde o fantasma teria sido superior - tudo
isso pode levar uma aparição a um conflito com os vivos.
Existem muitas organizações, como a Inquisição ou o
Arcanum e indivíduos que fazem um esforço conjunto para con-
tatar, analisar e categorizar os Inquietos. Algumas dessas pessoas
simplesmente desejam provar a existência de fantasmas, enquan-
to outras procuram escravizar ou destruir os “seres do mal” que
os Mortos Inquietos obviamente devem ser, à sua maneira de
pensar.
• Aparição vs Sombra - Esse é o mais pessoal de todos
os conflitos, a guerra entre Psique e a Sombra é eterna enquanto
a aparição existir. O gêmeo sombrio da Psique tenta continua-
mente destruir o seu eu e dirigir a aparição ao Céu, mas suas
agruras não podem ser facilmente descartadas. Sucumbir à Som-
bra parece certo, mas ignorá-la não é uma opção e às vezes um
acordo com o Diabo é essencial para a sobrevivência. Incentive
seus Guias da Sombra a participar ativamente na história. Um
triunfo de um inimigo externo é mais doce quando um interno é
derrotado também.
• Aparição vs o Eu - Nem todo conflito interno precisa
envolver a Sombra; cada personagem provavelmente tem mui-
to mais falhas que não se personificam. Indecisão, crises emo-
cionais, medo e dúvidas podem levar um personagem à loucura
ou às garras da Sombra. Arrependimento, inveja, pesar e culpa
podem revelar o pior de uma personalidade. Lutar contra as pró-
prias falhas pode ser o tema central de uma história pessoal e
instigante. Um dos maiores inimigos de cada aparição reside em
seus próprios defeitos, e superá-los pode ser sua própria recom-
pensa.
• Aparição vs o Desconhecido - O personagem não
sabe o que, muito menos quem, busca sua destruição. O mistério
aumenta o medo e o confronto final pode ser tão horrível quanto
necessário.
Um desconhecido mais literal pode ser encontrado na
Tempestade, que abriga criaturas que poucos viram e voltariam a
falar. Seres como Tindelhounds, Kraken e os lendários Angélicos
podem ser tão perigosos para uma aparição quanto qualquer Es-
pectro.
• Aparição vs Espectro - Os Espectros existem como
a antítese de tudo o que os personagens são e já foram. Os Es-
pectros perderam a batalha com o Esquecimento, tornando-se
completamente consumidos por suas Sombras. Eles representam
o mais fácil dos antagonistas para colocar os personagens contra,
mas um dos mais difíceis de executar corretamente. O Espectro
incorpora todo pior pesadelo que a aparição tem, servindo como
o mal supremo das Terras das Sombras. Você não pode exagerar a
depravação ou maldade dessas criaturas. Eles servem ao Esqueci-
mento e procuram apenas a destruição e novos convertidos à sua
causa profana - isto é, quando não sentem vontade de se divertir
com suas presas primeiro.

Técnicas Avançadas
Será tudo o que vemos ou parecemos
Nada além de um sonho dentro de um sonho?
-Edgar Allen Poe, “Um Sonho dentro de um Sonho”
á mais maneiras de contar uma história do
que apenas uma narrativa direta. As téc-
nicas listadas abaixo podem ser difíceis,
mas os efeitos que eles podem alcançar
são capazes de adicionar uma profundi-
dade e um escopo tremendos à sua crôni-
ca. Experimentar coisas como flashbacks
ou histórias paralelas exige planejamento
e um trabalho de pés extravagante, mas, se der certo, sua história
subirá para um nível totalmente novo.

FlashbacksAo jogar os eventos na história de sua personagem,

um jogador acrescenta profundidade à sua compreensão de sua
personalidade alternativa. O personagem sofre, triunfa, falha,
ama, perde e experimenta toda a miríade de eventos humanos,
incluindo, em última análise, a morte. Um flashback abre uma
janela para todas essas experiências de personagens, que normal-
mente seriam apenas parte da história do personagem, não sua
realidade. Uma história de Aparição que pisca de volta para os
dias de vida do personagem poderia mover até mesmo o jogador
mais cansado. O flashback poderia fornecer informações que o
personagem esqueceu quando atravessou a Mortalha, ou poderia
se concentrar na própria morte do personagem e no significado
que tem para ela agora.
Você tem a opção de reproduzir um flashback coope-
rativamente com seus jogadores. Se a história é centrada em um

Capítulo Sete: Narrativa 213

personagem, e os outros personagens não estavam presentes no
momento dos eventos do flashback, os outros jogadores podem
facilmente assumir os papéis dos personagens envolvidos na cena
do flashback. Isso mantém todos envolvidos, tira parte da car-
ga de trabalho de você e acrescenta espontaneidade à sequência.
Claro. você deve controlar o final, já que esses eventos do flashba-
ck já ocorreram. O jogador pode introduzir aspectos únicos da
história, mas no final o resultado já foi decidido.
Presságio
A técnica avançada mais simples e mais sutil, presságio
fornece aos jogadores uma pista sobre o que está por vir. Você
pode introduzir elementos na história que parecem fora do lu-
gar ou diferentes, mas que realmente aguardam os eventos que
você planejou para mais tarde. Por sua própria incongruência,
esses elementos chamaram a atenção dos jogadores e os levarão a
pensar sobre o que está chegando e o que já está aqui. Por exem-
plo, se você deseja que os personagens entrem em contato com
lobisomens antes do clímax, lobisomens fantasmagóricos podem
segui-los pelo campo. A destruição de um aliado pode anunciar o
perigo para um personagem, se os dois se parecem ou comparti-
lham um Grilhão em comum. Cuidados devem ser tomados para
evitar tornar seus presságios óbvios demais. Imagens abstratas ou
ambíguas fazem as melhores previsões, caso contrário, seus jo-
gadores podem descobrir o que está acontecendo antes que você
queira.
Sonhos
No descanso eterno que vem depois da morte, o que é o
sonho inquieto? Quando uma aparição sonha, ela mergulha mais
fundo em sua mente subconsciente do que quando ela viveu. In-
felizmente, a Sombra também reside lá. Os sonhos das aparições,
214 Aparição: O Esquecimento
semelhantes em muitos aspectos ao Pesadelo, podem levar uma
aparição em jornadas de pesadelo para seus pensamentos inter-
nos mais autodestrutivos.
O uso clássico de uma seqüência de sonhos fornece aos
jogadores pistas nebulosas sobre o dilema atual ou premonições
de um futuro incerto, mas essas pistas e dicas podem ser obtidas
de duas maneiras. Primeiro, você pode transformar o sonho em
uma narrativa que você lê para o jogador em questão, permitindo
que ela (e os que sonham com ela - bem possível quando os Onei-
ros estão envolvidos) tirem suas próprias conclusões sobre o que
o sonho significa. A segunda técnica é permitir que o jogador ou
os jogadores participem da sequência jogando-a.
Descrever o sonho para os jogadores coloca o Narrador
em completo controle e permite que ela acrescente à história sem
interferência. Esse tipo de sequência pode deixar os jogadores
com mais perguntas do que respostas, mas geralmente fornece
algumas dicas importantes. O sonho aponta os jogadores na di-
reção certa sem resolver nenhum dos seus problemas para eles, e
pode ser pensado como uma espécie de deus ex machina em pe-
quena escala, movendo os personagens quando eles ficam presos
por conta própria.
Permitir que os jogadores participem da história dos
sonhos adiciona inúmeras complicações, mas também abre novos
caminhos. Os jogadores vão querer explorar regiões do mundo
dos seus sonhos que você não considera importantes. Eles verão
o subtexto em coisas que você nunca quis ter significado. Mais
importante, permitir que os jogadores participantes mantenham
a ação em andamento. O jogo inteiro não deve parar enquanto
você lê dois parágrafos do texto preparado. Em vez disso, os joga-
dores descobrem as coisas sozinhos, tornando essas descobertas
mais valiosas e mantendo os jogadores ativamente envolvidos no
jogo.

Simbolismo
Nas histórias, as coisas geralmente representam mais
do que sugerem à primeira vista. Esses símbolos adicionam sig-
nificado à sua história e ajudam você a expressar seu tema. É
importante ter em mente que os símbolos precisam permanecer
sutis. Encher a história de simbolismos pode parecer exagerado e
acabar com o efeito desejado.
Introduza seus símbolos de forma sutil. Por exemplo,
se um certo personagem coadjuvante é um sábio conselheiro do
Círculo, você pode associá-lo a computadores corujas ou outro
ícone de intelecto. Ligá-lo a uma chave, um símbolo mais sutil,
pode não ser notado, e não há nada pior do que ter que apontar
seu simbolismo cuidadosamente planejado para seus jogadores,
porque eles não estavam procurando pela referência.
Os melhores símbolos não são facilmente reconhecí-
veis, e não há nada que diga que um item não pode simbolizar
coisas diferentes em momentos diferentes. Armas quebradas po-
dem simbolizar a morte ou a futilidade da guerra. A chuva pode
representar uma desgraça iminente ou uma limpeza e nutrição.
Seus símbolos devem apoiar a história e ser tão sutis quanto o
tema. A chuva pode absorver os personagens, mas não deve afo-
gá-los.
Histórias Paralelas
Os personagens têm uma perspectiva limitada através
da qual eles vêem o seu mundo. Os jogadores, por outro lado, têm
a capacidade de ver mais, se você lhes der a oportunidade. Uma
técnica simples, semelhante à sequência do sonho, é simplesmen-
te deixá-los saber o que mais está acontecendo. Você pode for-
necer aos jogadores uma história em que seus personagens não
têm envolvimento direto, mas que tem aplicações óbvias em sua
situação atual. O conto pode vir de um mentor ou de um livro de
artefatos recentemente descoberto. Pode ser apenas uma história
ouvida em um bar ou ouvida dos Breves. Você pode até mesmo
contar aos jogadores a história diretamente.
Ou, se estiver se sentindo aventureiro, você pode criar
novos personagens para os jogadores e deixá-los jogar através da
história paralela como esses personagens. Isso lhes dá mais pers-
pectiva sobre o que mais acontece em seu mundo, o que deve
capacitá-los a enraizar seus personagens principais com mais fir-
meza em seu canto.
Estilo de Trupe
Embora incomum, não é inédito que os jogadores
criem vários personagens. Isso funciona especialmente bem
com Aparição. Enquanto os personagens perderam contato com
o mundo real, os jogadores não. Você pode fazer com que seus
jogadores componham personagens humanos e aparições. As
aparições serão os personagens principais, mas você pode contar
histórias sobre as personalidades humanas também e usar os dois
para ligar as Terras das Sombras e os Terras da Carne mais con-
cretamente.
A melhor maneira de realizar uma história como essa
é incluir um vilão comum para ambos os conjuntos de perso-
nagens, dando às duas histórias um ímpeto para se entrelaçar.
Os personagens humanos podem até estar caçando, ou sendo
caçados por, suas contrapartes fantasmagóricas. Os personagens
alternativos não precisam ser humanos; vampiros, lobisomens,
magos, changelings ou até mesmo outras aparições funcionam
tão bem quanto.
Jogos de Crossover
Aparição compõe apenas uma porção do Mundo das
Trevas. Vampiros, lobisomens, magos, changelings, múmias e
todos os outros tipos de seres residem em torno da mesma cos-
mologia. Você ou seus jogadores podem querer incorporar as
outras entidades do Mundo das Trevas em suas histórias. Isso é
tão fácil ou difícil quanto você faz. Personagens de Aparição po-
dem parecer estar a um passo do mundo real, mas isso não tem
que ser o caso. Existem poderes que algumas aparições possuem
que lhes permitem atravessar a Mortalha e interagir com os vi-
vos, enquanto muitas criaturas sobrenaturais têm habilidades que
os colocam em contato com os Mortos Inquietos. Vampiros têm
rituais e sentidos aprimorados; lobisomens têm dons especiais
e acesso a um mundo espiritual próprio; os magos às vezes até
caminham pelas Terras das Sombras; e changelings têm a ino-
cência, ou ignorância, de uma criança, que algumas vezes lhes
permite ignorar a Mortalha.
Os próprios jogadores provavelmente serão seus
oponentes mais difíceis ao combinar as diferentes criaturas do
Mundo das Trevas. Você deve ter cooperação com e entre seus
jogadores, começando pela criação do personagem. Um persona-
gem aparição para um jogo de crossover deve possuir os poderes
apropriados para interagir com o mundo real. No mesmo em-
pate, os personagens do “mundo real” devem ser escritos com o
fato de que eles terão que conversar com os fantasmas em mente.
Caso contrário, não importa o que aconteça, alguns de seus jo-
gadores serão deixados de fora da ação o tempo todo, e ninguém
ficará feliz com isso.
Fazer com que diferentes criaturas Despertadas traba-
lhem juntas pode ser tão complicado quanto criar os persona-
gens. Um inimigo comum é sua melhor opção. Por exemplo, uma
aparição recebe um presságio de um Maelstrom que se aproxima.
Ela avisa seus contatos mago e sluagh, que descobrem mais in-
formações sobre o evento nas Terras da Carne que pode causar
a tempestade de alma. Com algumas informações em mãos, os
dois se aproximam dos lobisomens locais, que, quando convenci-
dos da gravidade da situação, designam um membro da matilha
para ajudar o par. Com a aparição de volta, os quatro personagens
descobrem que os vampiros distorcidos do Sabá estão planejando
uma cerimônia que irá gerar o Maelstrom, bem como causar uma
série de mortes inocentes. Não sabendo muito sobre o Sabá, o
quarteto de personagens chama um vampiro que eles conhecem.
A história prossegue a partir daí, com todos os personagens se
beneficiando da interação e participando da derrota dos planos
do Sabá. Claro, se algum dos vampiros do Sabá sobreviver, eles
provavelmente jurarão vingança e caçarão aliados para fazer os
personagens pagarem…
O fator mais importante na criação de uma história de
sucesso é a cooperação. Se os personagens lutam para além das
brigas habituais, ou simplesmente não interagem, a situação vai
desmoronar. As sessões de crossover não são projetadas para ver
se uma aparição pode espancar um mago; elas pretendem ex-
pandir os horizontes da narrativa permitindo que os jogadores
tenham acesso a todo o Mundo das Trevas.
Capítulo Sete: Narrativa 215

Paixões e Grilhões
aixões e Grilhões não são apenas as Ca-
racterísticas que definem as aparições
para além dos outros protagonistas
nos jogos do Storyteller e dos outros
habitantes do Mundo das Trevas. Eles
também são aspectos integrais de Apa-
rição: O Esquecimento como um jogo,
que tornam suas histórias e foco únicos.
Assim como os jogadores podem usar
essas Características para caracterizar ainda mais suas aparições,
você pode usar Paixões e Grilhões para criar um ambiente resso-
nante, pungente e único para contar histórias.
Você deve ter um cuidado especial para guiar os joga-
dores na escolha das Paixões e Grilhões. Os jogadores devem ser
encorajados a escolher Paixões inovadoras e criativas. Enquan-
to Matar as pessoas que mataram meu amante (Ódio) pode
fornecer algumas boas histórias básicas, os jogadores devem ser
encorajados a ir além do óbvio e inventar algumas motivações
verdadeiramente únicas. Além disso, a emoção mais óbvia para
descrever uma paixão nem sempre é a melhor escolha. Uma esco-
lha comum Proteger meu amante (Amor) pode ser temperada
se escolhida Proteger meu amante (Ganância), onde a aparição
deseja que nenhum outro a tenha, se ela não puder; Proteger
meu amante (Esperança), onde a aparição quer e ajuda o amante
a ter sucesso; ou Proteger meu amante (Rancor); onde a amar-
gura em sua própria morte faz com que a aparição faça tudo o
que pode para fazer seu amante sentir perda e tristeza enquanto
a protege o tempo todo. O próprio Amor, pode significar amar as
pessoas, amar o ideal, amar o dinheiro, amar a vida (uma amarga
paixão para uma aparição) ou amar a si mesmo. Outras Paixões
podem ser igualmente revisitadas e todo o seu potencial explo-
rado. Você deve encorajar seus jogadores a desafiar a atribuição
de Paixões a descrições e a encontrar as emoções que refletem de
maneira mais interessante e precisa de sua visão.
Além disso, os níveis relativos das Paixões são impor-
tantes. Cada aparição é um ser rasgado por emoções diferentes,
muitas vezes conflitantes, e você deve tentar adquirir um sentido
para os conflitos que estão ocorrendo dentro dos personagens da
sua crônica. Tais contradições e opostos podem ser explorados
para forçar um personagem a fazer escolhas e confrontar suas
Paixões, decidindo o que é mais importante para ele e aprofun-
dando ainda mais o entendimento do personagem sobre seu per-
sonagem.
Você e seus jogadores devem fazer os Grilhões dos per-
sonagens o mais detalhado possível. Em vez de confiar em uma
descrição de uma linha para o Grilhão em questão, os jogado-
res devem escrever uma página sobre cada um para sua própria
referência. A distinção entre Paixões (que são idéias, emoções e
aspirações) e Grilhões (que são objetos materiais sólidos) pode
ser capitalizada e enfatizada. As pessoas que são Grilhões podem
ser descritas ou representadas por fotografias de revistas especia-
lizadas; lugares que são Grilhões podem ser mapeados, descritos
em detalhes e representados de forma semelhante por fotografias;
objetos materiais (de longe os Grilhões mais comuns) podem ser
esboçados, escritos e, em alguns casos, exemplos reais dos objetos
podem ser encontrados e trazidos para cada sessão de jogo. Este
216 Aparição: O Esquecimento
tipo de esforço por parte dos jogadores pode melhorar e comple-
tar uma ideia que, de outra forma, seria apenas algumas palavras
na seção Grilhões da ficha de personagem. Fazer um jogador
criar um Grilhão como Minha velha igreja (3) é muito menos
descritivo e útil do que a mesma descrição, assim como algumas
anotações sobre a história da igreja (Alguém falava lá? Todas as
supostas assombrações? Ela já foi incendiada? Qual era a ligação
da personagem com ela?), Aparência (como é o interior? É o tipo
de lugar que tentaria os ladrões? Quaisquer obras de arte ou vi-
trais incomuns?) E Localização (que tipo de bairro é e quem o
frequenta? Este último lhe fornecerá mais maneiras de trabalhar
com seu Grilhão na crônica, em vez de simplesmente deixá-lo
pendurado no fundo como um lugar para o qual o personagem
se retira para o bem da Modorra.
Como contador de histórias, seu trabalho é facilita-
do e dificultado pelas Paixões e Grilhões. As Paixões tornam o
jogo mais fácil de ser executado, pois você nunca deve perder
um evento, uma descrição ou um encontro para manter a nar-
rativa fluindo e o mundo rico e detalhado. As Paixões fornecem
ao Narrador os kernels dos quais encontros, imagens e eventos
aos quais os jogadores responderão automaticamente podem ser
desenhados, porque são relevantes para os personagens. Ame-
aças ou mudanças nos Grilhões também irão provocar reações
imediatas dos personagens, à medida que eles buscam proteger
o que os mantém nas Terras das Sombras. Por outro lado, você
deve constantemente ter em mente todas as Paixões e Grilhões
de um personagem (é uma boa idéia escrever isso) para que a
narrativa do jogo possa refletir a mistura de Paixões presentes em
cada aparição e no Círculo num todo. É também irado notar que
um Guia das Sombras também deve ter conhecimento detalhado
das Paixões e Grilhões da aparição, cuja outra metade ela retrata.
Tendo notado as várias Paixões e Grilhões das aparições
do grupo, você está agora armado com um conjunto de idéias
e emoções para concretizar sua visão das Terras das Sombras e
do Mundo das Trevas. Porque as aparições são criaturas de pura
emoção, sua realidade é definida por suas Paixões. Enquanto nos-
sa visão pode ser obscurecida por alguma emoção que sentimos,
um espectro vê tudo em termos de suas Paixões, de seu próprio
ser. Portanto, as emoções representadas pelas Paixões das apari-
ções são aquelas que serão refletidas pelas ações, eventos, perso-
nagens e histórias que são contadas naquela crônica. Enquanto
na maioria dos jogos é uma boa prática para um Narrador que
pretende projetar sua própria crônica para levar em consideração
o personagem e suas predileções, em Aparição isso é crítico.
Quando o personagem rola uma Paixão para recuperar
o Pathos, você não deve deixar isso passar como uma regra do
jogo. Aparições apenas recuperam Pathos acessando suas emo-
ções mais puras e experimentando-as; portanto, eles devem dar
provas demonstráveis de seguir suas Paixões. Se uma aparição
está rolando contra uma Paixão pela Culpa, por exemplo, aquele
personagem deve experimentar uma forte culpa, e o jogador da-
quele personagem não deve ser capaz de sentar e dizer: “Estou
rolando contra a minha Paixão pela Culpa”.
As aparições são constantemente golpeadas por suas
paixões. Sem carne para protegê-los contra a sensação, os bate
crus e afiados, e eles são invariavelmente alterados pelo impac-
to. Você deve se sentir livre para utilizar a natureza surreal do
Mundo Inferior para invocar as Paixões que as aparições aces-
sam, para fazê-los sentir que são criaturas de emoção, e ajudá-los
a entender que Pathos é mais do que apenas um número em uma
página que lhes permite usar seu Arcanoi. Similarmente, quando
as aparições gastam o Pathos para curar ou empregar Arcanoi,
eles estão sangrando pura emoção, e eles e aqueles ao seu redor
devem sentir e ser afetados por isso.
Além de fornecer eventos e encontros para detalhar e
enriquecer sua visão das Terras das Sombras, Paixões e Grilhões
podem ser usados com facilidade e eficiência para criar histórias
inteiras. Aparição é um jogo bem adequado à narrativa baseada
em personagens, e enquanto histórias mais tradicionais podem
ser executadas com aparições com sucesso, até mesmo elas po-
dem e devem ser personalizadas para refletir os personagens que
as interpretam.
Paixões e Grilhões podem ser usados para gerar his-
tórias em dois níveis. O primeiro e mais direto deles é o uso de
uma Paixão ou Grilhão como foco de uma narrativa e forçando o
Círculo a reagir a eventos que envolvem o Grilhão ou o objeto de
uma Paixão.
Aparição é mostrado sua melhor vantagem quando
focado na narrativa baseada em personagens. As aparições são
o centro de seu próprio mundo, que para elas é definido por
suas emoções e memórias pessoais. A intrusão de realidades e
preocupações externas, embora ainda seja vital e urgente, é de
alguma forma menos importante e relevante para as aparições.
Eles podem sobreviver sem nenhum estímulo externo, mas sem
suas emoções não são nada. Talvez seja outra maneira pela qual
as aparições nos dão uma visão nua de um aspecto particular da
condição humana.
Grilhões são particularmente adequados para este tipo
de narrativa. Eles são objetos que são de vital importância para
uma aparição, que representam os elos com seus dias de respi-
ração e que permitem que ela continue existindo nas Terras das
Sombras. Jogando com esta vulnerabilidade aguda de aparições,
um Narrador pode criar situações que forçam uma aparição a
agir para proteger um Grilhão valorizado. Essas ameaças não pre-
cisam ser tão simples quanto a destruição do objeto ou área, mas
podem ser mais sutis, envolvendo a venda, corrupção, rezonea-
mento, dano, esquecimento, abuso, depreciação ou uso indevido
de um Grilhão em particular. Uma história eficaz, por exemplo,
pode envolver o uso do Grilhão de uma aparição orgulhosa pelos
Breves para algum propósito questionável diferente daquele para
o qual foi projetado. Você pode jogar tais preocupações contra as
Paixões da aparição, e criar em conjunto com o Guia das Sombras
o conflito interno que conduz algumas das melhores histórias de
Aparição. Plotagens como essa podem ser meticulosamente pre-
paradas ou executadas de improviso, iniciadas por você pegando
uma ficha de personagem e escolhendo o Grilhão mais interes-
sante descrito lá.
As histórias podem ser construídas de maneira tão fácil
e evocativa em torno de Paixões, e existem duas abordagens bá-
sicas (que não são mutuamente exclusivas). Você simplesmente
pode escolher uma Paixão interessante, ou um personagem geral-
mente negligenciado, e torná-lo o foco de uma história. Embora
esta seja uma maneira perfeitamente satisfatória de iniciar uma
narrativa centrada no personagem e no personagem, as Paixões
podem ser ferramentas de narrativas muito mais sofisticadas.
Em vez de olhar para as especificidades de um personagem com
Paixão, o Narrador pode construir uma história com essa Paixão
(amor, ódio, ganância, etc.) como tema. Esse tipo de abordagem é
bem-servido pela preparação, pois é preciso tempo e criatividade
para explorar adequadamente uma Paixão, mas também é pos-
sível executar uma história improvisada recompensadora dessa
maneira. Embora seja um bónus se mais de uma das aparições
tiver a Paixão escolhida como ponto de partida, ela não é obri-
gatória. As aparições são criaturas de Paixão, e toda emoção é
experiência e sustento para elas.
Tomando a Paixão que você escolheu, você pode criar
uma narrativa estrita que se concentre em eventos nos quais a
Paixão é proeminente nas motivações dos personagens do Narra-
dor, nos jogadores ou no metaplot por trás dos eventos; ou você
pode inventar uma série de encontros e eventos, cada um dos
quais evoca uma sombra ou um aspecto diferente da Paixão. Es-
ses encontros podem ser conectados ou independentes, mas de-
vem demonstrar a natureza flexível e variável da emoção que está
no centro das coisas. Talvez idealmente, uma história que tenha
uma paixão em particular como tema deva consistir de uma tra-
ma central e encontros satélites que explorem e exponham a Pai-
xão, e levantam várias questões para as aparições, especialmente
aqueles com esse tipo de Paixão, a respeito dessa emoção.
Como exemplo, a emoção Esperança poderia desen-
cadear muitos encontros e experiências diferentes. As aparições
podem se envolver em uma história na qual a esperança (em um
sentido típico) constitui o fio central da narrativa. Talvez uma
aparição que os personagens saibam que esteja seguindo uma
pista que ele espera que o leve para sua esposa, recentemente
falecida e esperançosamente um novo Lêmure. Os personagens
ajudam outro amigo, e no decorrer da história (durante a qual
existem obstáculos e adversários e todos os elementos de uma
boa história), eles evitam outros personagens e cenas que suge-
rem outros aspectos da esperança: esperança como desejo, espe-
rança como ganância, esperança como crença, esperança como
dor (falsa esperança, esperança de tolo), bem como o caminho
mais direto que o amigo está seguindo. Para qualquer aparição
que tenha uma Paixão focada em esperança, esta pode ser uma
sessão especial, mas isso não significa que as outras aparições se-
rão deixadas de fora. Uma aparição com uma Paixão centrada no
desejo pode muito bem aprender algo sobre como o desejo e a
esperança estão interligados.
Uma série de cenários, cada um dos quais toma como
tema a Paixão de um personagem em particular, faz uma crônica
satisfatória e uma que investiga as psiques dos personagens, re-
sultando em aparições bem arredondadas e altamente ressonan-
tes. Este ciclo de jogadas de Paixão traz cada personagem cara-a-
-cara com seus aspectos mais importantes. Ele dá aos jogadores
uma visão de seus personagens e, mais genericamente, sobre a
natureza das aparições e até mesmo a natureza da emoção. Essas
histórias podem ser usadas como uma mini-crônica a partir da
qual o Narrador pode se lançar em uma narrativa mais linear,
segura no conhecimento de que os personagens participantes en-
traram em acordo com suas identidades e entenderão o que é ser
uma aparição. Ou, eles podem ficar sozinhos como num ciclo de
Crônicas. Esse tipo de abordagem promove o desenvolvimento
de longo prazo e mantém os personagens entretidos.
Paixões e Grilhões definem as aparições. Paixões eno-
brecem eles, Grilhões os ancoram. Ambos são ferramentas ricas
que você pode usar para tornar a experiência de jogar Aparição
mais bonita, horrível, triste, divertida e recompensadora. As apa-
rições são nossos reflexos, criaturas regidas por suas emoções e
assim como nenhuma delas consegue escapar de uma história
sem enfrentar suas emoções, nenhum jogador deve escapar de
uma sessão de Aparição sem reação.
Capítulo Sete: Narrativa 217

Narrando Pesadelos
Se ao menos você pudesse se lembrar de como vivíamos
uma vez, o que o Halloween era para nós e o que Poe era, e como
nos gloriamos nas morbidades sombrias.
-Ray Bradbury, “Coluna de Fogo”
nevitavelmente, chega um acerto de
contas. Pesadelos não são apenas en-
contros atormentados, são confrontos
em que uma aparição deve enfrentar e
superar as partes mais sombrias de si
mesma. Idealmente, se os jogadores
elaborassem alguns de seus próprios
medos, preconceitos e ódios, limpando
suas próprias psiques no processo de
limpar seus personagens.
O Pesadelo real é a parte que pode ser mais fácil para
você, especialmente se você tiver mantido um livro sobre os
sentimentos que as aparições (e os jogadores) exibiram ao longo
da crônica. Então, novamente, você pode achar que é o aspecto
mais difícil de executar uma crônica de Aparição, mesmo com
notas copiosas. Seja fácil ou difícil, o atual Pesadelo nunca deve
ser descartável. Mesmo se você começar com seus jogadores no
meio da história, sem preâmbulo, você nunca deve permitir que
os eventos forcem as aparições em um Pesadelo antes que elas
tenham tempo de aprender algo sobre o Mundo Inferior e se
tornar um pouco à vontade estando lá. A pior coisa você pode
possivelmente fazer é levá-los a um Pesadelo prematuramente.
Há muitos outros terrores para atormentar os personagens. Pe-
sadelos devem ser salvos e saboreados.
No momento em que uma aparição sofre seu primei-
ro Pesadelo, ela deve estar fervorosamente envolvida com pelo
menos alguma de suas Paixões ou Grilhões (obviamente, ela
não pode manter todos eles sob pressão o tempo todo). Se estes
forem desafiados ou ameaçados, ela estará intensamente envol-
vida com o Pesadelo, desde que seja pelo menos parcialmente
assustador. Embora seja necessário algum trabalho, há várias
maneiras de tornar o Pesadelo tão assustador e tenso quanto o
Narrador poderia desejar.
Técnicas para Narrar Horror
Os melhores tipos de Pesadelos parecem surgir natu-
ralmente das situações que os provocam, e pode-se não parecer
um Pesadelo para o(s) personagem(s) envolvido(s) até que es-
teja bastante avançado ou até mesmo se concluindo. Isso requer
um toque de afinco e uma grande capacidade de adaptação em
sua parte, para não mencionar uma habilidade para improvi-
sação. Sempre que uma aparição perde todo o seu Corpus, por
exemplo, você não precisa necessariamente informar o jogador
sobre isso, dizendo que seu personagem sofreu uma quantidade
menor de dano do que conduziria automaticamente um Pesa-
delo e está se sentindo fraco ou cansado ou está simplesmente
doendo.
Neste ponto, você deve pedir ao personagem do joga-
dor ferido para sair da sala por alguns minutos, ou deve chamar
os outros jogadores de lado, e descobrir os detalhes do próximo
Pesadelo. O jogador é convidado a se juntar à trupe, e o jogo
218 Aparição: O Esquecimento
prossegue como se nada de extraordinário tivesse acontecido
(veja a seção sobre Técnicas de Contar Histórias Recomendadas
para obter dicas sobre como tornar esse estratagema bem-su-
cedido, pp.220). O jogador deve ter permissão para determinar
as próximas ações de seu personagem (lutar, fugir, entrar na
Tempestade e ir para um Grilhão, ou qualquer outra coisa que
ela escolha fazer). Ainda assim, nada parece fora do comum.
Depois de algumas ações, no entanto, você pode gradualmente
começar a trabalhar em elementos estranhos e assustadores (o
Grilhão da aparição se foi, ou sua habilidade Argos parece estar
com defeito)
Descendo
Pesadelos perfeitamente simples, em que o jogador
sabe muito bem que ele está sendo Atormentados, também es-
tão bem. Você pode obter muita quilometragem de seus outros
jogadores com uma descrição do Pesadelo da aparição sendo
sugado para baixo na Tempestade, os gritos dos Espectros em
espera e o uivo desesperado de seu companheiro desaparecido.
Só porque um fantasma sabe que o problema está chegando,
não significa que ele sabe de que direção ele está vindo, ou qual
a melhor maneira de evitá-lo.
Recomendações mais simples para Pesadelos são re-
comendadas, pelo menos até que você tenha algumas Pesadelos
sob seu cinto e esteja confortável com o que acontece em uma.
Além disso, se os jogadores se acostumarem a saber quando es-
tão em um Pesadelo, é uma surpresa ainda mais potente quando
eles caem em um Pesadelo de surpresa.
Assustando os Jogadores
Os jogadores muitas vezes se assustam com muito
mais eficiência do que você jamais poderia. Parece haver uma
regra (ou talvez seja apenas um truísmo) de que sempre que os
jogadores recebam uma situação potencialmente perigosa para
seus personagens, eles sempre há virão mais ameaçadora e sem
esperança do que você jamais imaginou. Se o jogador estiver as-
sustado, o personagem quase certamente também ficará assus-
tado. Você não deve sentir remorso ao jogar com isso, nem deve
diminuir o impacto do encontro apenas porque os jogadores
reclamam ou se tornam superprotetores de seus personagens.
Deve ficar claro para os jogadores em algum momento que ape-
nas uma ação ousada de sua parte servirá para liberar seu(s)
personagem(s) do Pesadelo. Claro, a ação corajosa inapropriada
poderia ter resultados desastrosos também …
Projetando Pesadelos Apropriados
Se o Grilhão ou a Paixão de uma Aparição foi selecio-
nado como a Fonte do Pesadelo, o psicodrama resultante deve
ter algo a ver com a Característica escolhida. É aqui que manter
um livro sobre vários encontros é tão valioso. Você só precisa
olhar para trás sobre o que aconteceu antes (mesmo que tenha
ocorrido há algum tempo) para projetar um Pesadelo apropria-
do. Se uma aparição inicialmente tinha sido muito consciencio-
so sobre vigiar seu pai (que estava com problemas de saúde),
por exemplo, mas ultimamente havia caído daquele dever por-
que sua saúde melhora e ela estava ocupada com outras coisas,
isso poderia servir como a base para um Pesadelo significa ajus-
tar essa Paixão. A Sombra da aparição tentará recriar alguma
cena do passado da aparição que envolvia seu pai e sua saúde
debilitada. A Sombra tentaria corromper o amor engendrado
pela Paixão, ou fazendo a aparição cair culpada por ter abando-
nado seu pai moribundo para se concentrar nas crueldades da
vida como uma nova aparição de, talvez, distorcendo o amor à
repulsa ao corromper o corpo do pai da aparição em putrescên-
cia.
Outras possibilidades para criar Pesadelos envolvem
se concentrar no Arquétipo da Aparição (ou da Sombra). Por
exemplo, se uma aparição tem uma natureza mártir, o Pesadelo
pode se concentrar em oportunidades para que o personagem
seja verdadeiramente abnegado, deixando claro que isso preju-
dicará o personagem (tirando-a de Corpus ou Paixão). Na ver-
dade, o movimento correto para o personagem seria ir em fren-
te e agir como o mártir, e a penalidade supostamente não seria
cobrada. Agir egoisticamente seria, nesse caso, a escolha errada.
Da mesma forma, a personalidade da Sombra pode fornecer a
base para o Pesadelo, com um tipo autoritário estabelecendo al-
gum tipo de cenário repressivo para sua aparição responder.

Escolhas
Há uma peça final para o Pesadelo que deve ser uma
parte integrante de seu projeto e execução, e essa é a escolha do
personagem. Cada Pesadelo é um desafio que a aparição pode
ganhar ou perder. Cada um é também um confronto, uma luta
em que a aparição enfrenta sua própria reflexão sombria e luta
contra si mesma. Já foi dito que somos nossos piores inimigos.
Nada poderia ser mais verdadeiro na guerra entre a Sombra e o
eu.
As escolhas de uma aparição durante o Pesadelo são a
chave para seu sucesso ou fracasso. O Narrador deve tornar as es-
colhas dentro do pesadelo tão vivas quanto possível, de modo que
o jogador (assim como o personagem) sinta as consequências de
suas decisões. Cada porção do Pesadelo deve ser construída com
pontos de inflexão, escolhas menores que o personagem deve fa-
zer quando ela se aproxima da conclusão. Cada ponto de virada
deve representar uma oportunidade para a aparição melhorar sua
posição geral dentro do Pesadelo - prejudicando ou permitindo
que o mal chegue a alguém ou às custas de seus princípios.
Embora seja muito bom construir jogos elaborados
dentro de jogos que a aparição deva manobrar e descobrir para
ter sucesso, nem todas os Pesadelos devem ser escapáveis apenas
se a aparição for um bom solucionador de quebra-cabeças ou um
gênio tático. Embora possa ser interessante exigir que a aparição
abra uma fechadura de combinação que causa dano agravado à
sua melhor amiga toda vez que ela não conseguir acertar a com-
binação, deve haver outras maneiras de derrotar o cenário do que
acertar a combinação. Usar os dentes para morder a fiação para
que nenhum choque possa ser feito pode ser uma solução que
algumas pessoas pensariam, mas muitos nunca se preocuparam
em ponderar maneiras de contornar a armadilha.
Você deve estar disposto a dar aos jogadores alguma
margem de manobra, por exemplo, permitindo que o persona-
gem tenha sucesso quando o jogador não consegue pensar em
qualquer outra saída e simplesmente declara que ela não vai tra-
balhar na fechadura de jeito nenhum, que ela simplesmente ficará
com a amiga dela. Embora isso não “resolva” o dilema, indica a
falta de vontade do espectro de ferir outra pessoa apenas para
escapar de seu pesadelo. Este tipo de decisão é muito diferente,
claro, de uma em que o jogador simplesmente fica frustrado e

Capítulo Sete: Narrativa 219

amuado, recusando-se a tentar qualquer coisa porque não é fácil
o suficiente. Isso é apenas preguiça. Se o jogador está genuina-
mente tentando lidar com o cenário, ele deveria ter a chance de
vencê-lo através de interpretações, independentemente de sua
habilidade tática ou habilidades com enigmas e tal.
É vital que você entenda o jogador assim como o perso-
nagem que está sendo Atormentado. Se o jogador fizer escolhas
baseadas no que ela, como jogador, sabe (ou seja, não é realmen-
te real), o Narrador deve se sentir perfeitamente justificado em
mudar as regras sobre ela. Faça com que cada decisão fora do
personagem cause dano à aparição. Tira-o um ponto de Pathos
se ela está calculando como evitar a escolha em vez de tomar de-
cisões reais. A jogadora deve ser informada de que ela deve fazer
suas escolhas de personagem, como o personagem faria, e não de
acordo com o que faz sentido mais tático ou lhe dá maior vanta-
gem. Embora haja algum elemento de “ganhar” sobre a Sombra, é
muito mais importante que o confronto da Sombra e ganhar uma
melhor compreensão dela. Ela não pode fazer isso se ela estiver
escondida atrás de noções preconcebidas do que ela é “suposta”.
Isso não significa que, se o jogador não consegue pensar em algo
Técnicas de Narrativa Recomendadas
Um dos aspectos mais importantes da execução
dos Pesadelos é ser adaptável. Não há uma maneira me-
lhor que funcione para todos os grupos e para o Narra-
dor, mas existem algumas possibilidades que podem faci-
litar as coisas. Alguns podem se encaixar no estilo de seu
grupo; outros não. Sinta-se à vontade para experimentar,
misturar e combinar.
Enganando os Jogadores
Às vezes, você pode querer manter o próximo
Pesadelo em segredo. Mesmo os melhores jogadores não
podem ignorar o fato de serem enviados para fora da sala
enquanto os notas são trocadas e ocorre uma reunião se-
creta. É por isso que é útil ocasionalmente “fingir” um
Pesadelo. Fingir um Pesadelo envolve enviar um ou mais
jogadores para fora enquanto distribui notas com alguma
variação sobre o que se segue para os outros jogadores:
“Este não é um Pesadelo. Basta jogar seu per-
sonagem normalmente, mas ocasionalmente olhar para
esta carta como se estivesse consultando instruções. Vou
continuar o jogo como se nada incomum tenha ocorrido.
Por favor, faça o mesmo.”
Imagine a confusão resultante e a paranóia
quando o “Pesadelo” parece continuar sem qualquer re-
solução à vista. Embora isso possa parecer mais cruel do
que um Pesadelo real, reflete o senso normal de incerteza
das aparições. Também mantém os jogadores honestos.
Assim que se acostumarem à idéia de que nem todos os
Pesadelo são reais, eles reagirão de uma maneira mais ge-
nuína quando for possível.
220 Aparição: O Esquecimento
inteligente, deve ser punido por isso, só que você deve tomar cui-
dado com o lapso ocasional de seus jogadores em mecanismos de
autoproteção que eles acham que precisam, mas que servem para
interpretar um número crucial de exercícios táticos.
Finalmente, o Pesadelo nunca deve ser simplesmente
um exercício em “Eu faço a difícil escolha moral e escapo”. Não
deve haver garantia de que o que parece ser a coisa certa a fazer
é, de fato, correto. Sombras e Espectros são praticos mentirosos,
e o Labirinto em si é receptivo às suas ministrações, produzindo
quaisquer ilusões que eles pedem. Alguns Pesadelos podem ser
tão emaranhadas e distorcidas quanto o próprio Labirinto, com
tramas dentro de tramas que servem para desviar a aparição e
confundi-la com suas escolhas. Ninguém disse que Pesadelos
eram fáceis.
Povoando o Pesadelo
A aparição precisa interagir com outros seres se o Pe-
sadelo for um verdadeiro confronto. Além da Sombra e da apari-
ção, os outros jogadores do grupo geralmente retratam os Espec-
Preparando as Coisas
Às vezes fica claro que um dos jogadores prova-
velmente passará por um Pesadelo na próxima sessão. Se
houver tempo entre os jogos, geralmente é melhor entrar
em contato com os outros jogadores e repassar os papéis
que eles irão desempenhar quando ocorrer o Pesadelo.
Desta forma, não há uma pausa entre o jogo normal e o
Pesadelo. Você pode mencionar uma palavra de código
pré-programada ou avisar o resto da trupe que o Pesade-
lo está começando e cada um cai no papel programado.
Quando feito corretamente, esta é a maneira mais eficaz
de executar um Pesadelo.
Pesadelos em Grupo
Quando um Pesadelo em Grupo ocorrer, os jo-
gadores não estarão disponíveis para jogar como Espec-
tros. Se houver um Guia de Sombra ajudando o Narrador,
ele e o Narrador podem ser capazes de comandar o grupo
através de um Pesadelo, dividindo os personagens de Es-
pectros e tendo um interagindo com o grupo enquanto o
outro atua como árbitro de regras. Elaborar um terceiro
Narrador para atuar como assistente e desempenhar os
papéis menores permite aos Narradores mais liberdade
com as interações Espectrais. Se, em algum momento,
um ou mais personagens tiverem sucesso e escapar do
Pesadelo (e decidirem ser separados do resto do grupo),
eles podem receber papéis preparados dos Espectros ou
apenas trazidos para improvisar.
tros, Replicantes que assumem o papel de amigos, entes queridos,
adversários e inimigos pessoais da aparição, bem como vários
outros, como figuras de autoridade e multidões. Eles se destacam
em extrair os segredos e medos mais profundamente ocultos da
aparição. Eles podem aparecer em papéis úteis ou prejudiciais,
agindo para obstruir a aparição ou facilitar sua passagem pelo
Pesadelo, mas no final estão lá para confundir, retardar, surpre-
ender e torturar a aparição.
Há apenas um problema com tudo isso. as boas in-
terpretações podem agir como se seus personagens realmente
acreditassem que suas escolhas dentro do Pesadelo podem afetar
adversamente a si mesmos ou a seus entes queridos ou amigos,
mas os jogadores são sábios em relação ao que realmente está
acontecendo. Eles sabem que são apenas Espectros brincando
com as cabeças de seus personagens, e isso pode afetar o jogo de-
les. Então, mais uma vez, você pode mudar as regras. Quando o
cenário pede uma aparição para resgatar uma vítima (por exem-
plo), as seguintes variações podem ser usadas para aumentar o
nível de tensão e fornecer a outros membros do grupo algumas
oportunidades realmente cruciais de interpretação. sível descobrir tudo o que eles farão. Basta ser flexível e ter tempo
• Variação Um: Os Espectros são difíceis. Não há razão para um
deles não ir às Terras da Carne, usar Cavalgar com um dos seus
entes queridos, forçá-la a cometer suicídio ou um acidente fatal,
depois reivindicar a aparição do recém-nascido e mantê-la em
reserva para o próximo Pesadelo da aparição. Como a aparição
reagirá quando ela perceber que realmente é seu amante que os
Espectros estão prestes a incendiar? E se eles deixarem o papai
no Vácuo se a aparição errar? De repente, as apostas são muito
maiores.
• Variação Dois: Nada impede que os Espectros cap-
turem membros do Círculo de aparições e os usem de maneira
similar. Estes podem ser bem-gostados ou personagens controla-
dos pelo Narrador ou personagens dos jogadores. Se eles foram
capturados de forma justa e tiveram alguma chance de ganhar
contra aqueles que os capturaram, os personagens cativos não
têm espaço real para reclamar. Afinal, as aparições poderiam
ser obliteradas; com um amigo tentando salvá-los, eles podem
escapar da situação. As coisas geralmente ficam um pouco mais
tensas quando um jogador está trabalhando para salvar; A mãe
e o segundo jogador deixam claro que é realmente a vida após a
morte de sua personagem na linha.
• Variação Três: Também é eficaz passar por um ce-
nário de captura com o jogador que vai jogar com a vítima, en-
tão deixe o personagem do jogador capturado reagir ao Pesadelo
de outra aparição sendo personagem do jogador, então anuncie
para o primeiro jogador (especialmente se o segundo estragou
as coisas ) que seu personagem não foi realmente capturado de
forma alguma e que ele estava realmente agindo (nessa circuns-
tância particular) como um imediato para o Narrador, ajudando-
-a a executar um Espectro da forma mais realista possível. Essa
técnica pode ser difícil e confusa, especialmente porque um dos
Espectros não percebe que está fazendo o papel. O Narrador terá
que acompanhar os gastos de Força de Vontade e tal feitos pelo
“personagem capturado” para que os pontos possam ser devol-
vidos quando o Pesadelo terminar. Embora isso não seja reco-
mendado como uma técnica recorrente, ele pode ser usado pelo
menos uma vez para assustar os jogadores (e novamente algum
tempo depois que eles se esquecem e se tornarem arrogantes).
Essas mudanças não devem acontecer o tempo todo,
mas devem acontecer com a freqüência que é impossível para um
jogador ignorar a idéia de que a vítima que ela tem que salvar
pode não ser apenas um Espectro disfarçado.
No Final das Coisas
o final de cada história, você deve ter tem-
po para considerar os efeitos que a noite
teve em seus jogadores, personagens e na
crônica como um todo. É altamente im-
provável que você veja uma única sessão
como planejada, então é melhor pensar
no que mudou em seu mundo como re-
sultado de cada história. Ações de joga-
dores, personagens destruídos ou expul-
sos, relíquias vitais lançadas em Nihil, aliados se transformando
em inimigos - tudo isso e muito mais provavelmente acontecerão,
e é melhor estar preparado quando isso acontecer. É impossível
inventar algo que seus jogadores não tentem, e ainda mais impos-
para ajustar o enredo da sua crônica, à medida que as ações do
jogador o exigirem.
Tudo o que um dos personagens que você fez toca ou
diz se torna parte do seu mundo e da sua continuidade, e pode
se tornar impossível acompanhar tudo isso na sua cabeça. O final
da história é um momento perfeito para se sentar e acompanhar
(digamos, em fichas de índice ou em um cronograma da crôni-
ca) quem disse o que para quem, quem fez o quê e o que isso
significa. Caso contrário, oito semanas depois, você será pego de
surpresa quando um de seus jogadores fizer um comentário im-
provisado que um personagem secundário fez em um bar e toma
uma decisão conspiratória sobre ele.
Fim da Crônica
Tudo de bom chega ao fim, e mesmo a melhor crônica
não é exceção. É importante, no entanto, que quando você termi-
na sua crônica, você o faça corretamente. Um clímax envolvendo
todos os seus enredos soltos é uma necessidade, caso contrário os
jogadores seguirão em frente com uma sensação de flexibilidade
inacabada. Sua história final deve ser algo para lembrar, uma so-
lução e uma conclusão de tudo que sua crônica é e foi.
Muitas vezes faz sentido ter um jogo de confronto pós-
-climático, para que os personagens possam dizer adeus, explica-
ções podem ser feitas e todos podem entender o que acabou de
acontecer. Facilita os jogadores para baixo da alta emocional da
conclusão e prepara-os para o próximo passo.
O próximo passo, claro, é a próxima crônica. Você pode
pegar os mesmos personagens e continuar com eles; Muitos jo-
gadores se apegam a seus personagens e querem vê-los crescer,
mudar e triunfar. Talvez um dos seus jogadores queira tentar sua
sorte Narrando, permitindo que você tenha a chance de jogar por
um tempo. A única coisa a lembrar é que o fim de uma crônica
é a chance de fazer algo novo, experimentar e começar tudo de
novo. Se você quiser adicionar lobisomens e múmias, ou mudar
a configuração de sua crônica no Reino Negro de Jade, vá em
frente. Assim como em Aparição, a morte é um começo, não um
final, e o fim de uma crônica é também o momento que lhe dá a
chance de começar outra.
Capítulo Sete: Narrativa 221
 filha novamente.Não consigo como os sentimentos se distor-
A Sombra imaginar o que ela pode ter pas- cem nesse novo estado de ser.
sado se estiver aqui nas Terras Não sei exatamente do
Estou só na Escola Pri-
das Sombras por todos esses cin- quê é feito meu Corpus. Talvez
mária Pine Knoll - ao menos, até
co anos. Uma profunda sensação uma ilusão, um eco da forma
onde posso perceber. Um leve
de culpa e frustração se abanca que teve que não passa de uma
som de arranhões, vozes baixas,
em mim. O arrependimento me memória. A impressão que te-
risadas altas e um som abafado
acerta no meio do peito, como nho do meu encontro com o
de portas se abrindo e fechando
uma bola de ferro frio. Renegado é que meu Corpus
ecoam pelos corredores daquela
Não existe nada como o é algo valioso por si só aqui
escola escura e do porão lá em
“Céu” ou “Nirvana” ou “Paraíso” do outro lado. Um medo súbi-
baixo. Escuto um grunhido pro-
onde os mortos podem descan- to me acomete ao pensar que
fundo e um som de correntes pe-
sar em paz e sossegados? Isso não posso não ver minha filha por-
sadas e barulhentas reverberan-
pode ser tudo que temos depois que ela pode ter sido vítima de
do. Sinto um pequeno alívio por
de morrer. Ao menos, espero que algum Renegado.
não encontrar nenhuma outra
não. Um senso de urgência
aparição por aqui. Por enquan-
Percebo que ao menos, visceral toma conta de mim.
to, parece ser o local mais seguro
estou começando a aceitar o fato Eu sei que tenho que agir rá-
que eu poderia encontrar.
de que estou morto. Pelo que pida e decididamente, mas não
Lá fora, a noite é densa e
posso lembrar, só se passou um tenho ideia de por onde come-
sufocante. Uma nuvem escura e
dia em “tempo real” - seja lá o çar.
pesada esconde o céu e embota o
que isso signifique - desde que Talvez eu devesse sim-
brilho azulado da luz da rua. O ar
morri, mas ainda estou preso na- plesmente desistir. Onde está
parece carregado de eletricidade.
quela sensação insuportável de o senso de paz interior que su-
Nuvens baixas pulsam com uma
tristeza e desespero. postamente ganhamos quando
luz roxa ondulante, como uma
Estou achando a exis- morremos?
tocha que margeia tudo num bri-
tência nas Terras das Sombras Uma explosão de raiva
lho misterioso.
extremamente desorientadora. e medo toma conta de mim,
Pelo portal aberto, eu vis-
Experimento emoções e sensa- fico de pé e começo a andar
lumbro uma iluminação fraca
ções físicas de maneira bem dife- pra lá e pra cá na escuridão.
que surge e desaparece, como o
rente, agora. Tenho que ficar me Meus passos ecoam na escu-
brilho de uma vela visto através
lembrando que isso é porque não ridão densa ao bater os pés no
da neblina, se movendo de uma
possuo mais um corpo físico que piso velho de madeira. Tudo
janela para a outra nos prédios
reaja a sensações biológicas em que fiz, tudo que tentei, onde
do outro lado da rua. Se me apro-
relação ao que sinto e penso. Mi- tudo isso me levou? Morto e de
ximar, posso ouvir o bater de asas
nhas emoções não são influen- volta onde comecei.
invisíveis, na escuridão.
ciadas por reações físicas, então Você está certo… tudo
Estou sentado no chão
as experimento de uma maneira isso por nada, uma voz sussur-
naquela escuridão, me pergun-
mais pura, mais sensitiva. Isso é ra na minha cabeça. Olho em
tando como e se vou ver minha
incrivelmente desconcertante, volta procurando quem falou,

222 Aparição: O Esquecimento

mas não há mais ninguém ali.
Estou sozinho e acho que
isso é ainda mais assustador que
qualquer outra coisa.
Tudo isso, não faz o me-
nor sentido! Tudo que você faz é
uma perda de tempo e energia,
então pra quê continuar? Karen
morreu. Você morreu. Você não
vai encontrá-la, e mesmo que
encontrasse, o que você poderia
fazer para ajudá-la? Tudo que
você fez desde que morreu é se
esconder, exatamente como fez
a vida toda. Não, você vai falhar
com Karen, e então, falhando, vai
voltar e falhar com Sarah. Você
vai tentar cuidar dela, mas não
vai fazer nenhum bem. Tudo que
você vai fazer é assistir ela enve-
lhecer e ficar feia. Vai começar a
odiá-la, e então, vai se odiar por
isso. Depois que ela morrer e vier
pra cá, ela vai te procurar, mas
você nem vai conseguir olhá-la
nos olhos. Todo mundo morre e
nada que você fizer vai fazer di-
ferença. Esquece isso. Tudo ter-
mina no Esquecimento, de qual-
quer maneira, então porque não
começar na vantagem? Pra quê
prolongar essa agonia?
Contra minha vontade,
escuto a voz, sussurrando na mi-
nha cabeça. O que me aterroriza
é que tenho a impressão que al-
guém está do meu lado ali no es-
curo, vociferando aquelas coisas
no meu ouvido como uma erva
daninha. Mas quando me viro,
não há ninguém. Estou sozinho.
Eu e a voz.
“Não,” digo batendo pal-
mas perto do ouvido e balançan-
do a cabeça negando. “Não vai
acontecer isso! Não vai!”
Ah, mas vai sim, a voz
continua. Você sempre soube.
Claro, lá no fundo você sabe,
sempre entendeu a futilidade
nisso tudo. Então, pra quê conti-
nuar fingindo? Porque não acaba
com tudo? Porquê não abraça o
Esquecimento? Se permita ir; é
a única forma de conseguir sua
paz. Todo esse sofrimento aca-
baria e a dor e sofrimento iriam
embora no frio e eterno abraço
do Esquecimento. Deixa isso pra
lá…
“Para, cacete, cala a
boca!” Me vejo batendo os pu-
nhos do lado da cabeça, tentando
fazer a voz se calar.
Não, não vou me calar, a
voz silva petulantemente e por
um instante terrível, eu me con-
venço que fui eu quem disse isso
em voz alta. Desista. Essa missão
patética não faz sentido. Tudo
eventualmente - mesmo as Ter-
ras das Sombras - vai ruir, você
só vai comprar pra Karen um
tempinho extra antes de perdê-la
de novo. Você sabe que estou cer-
to - até disse no seu último livro.
“A existência não é nada além de
um ponto final num vazio enor-
Capítulo Sete: Narrativa 223
me e sem sentido…”
“Não.” Minha gargan-
ta parece queimar e de novo
percebo de forma contundente
que não posso respirar. “Não
pode ser só isso! Tem que ha-
ver algum tipo de significado
ou esperança, de outra forma
-“
Outra forma… o quê?
Uma dor terrível enche
meu peito e impede que eu res-
ponda.
“Tenho que tentar en-
contrá-la… ajudá-la se eu pu-
der.” Eu falo com a voz fraca.
Não sei se estou tentando con-
vencer a voz ou a mim mesmo.
Talvez os dois.
Pra quê isso? A voz
continua sussurrando. Não
importa quanto tente, não vai
melhorar nada. Pra quê se pre-
ocupar com isso? É um des-
perdício de energia, de qual-
quer forma. Um desperdício
completo. Se entregue ao Es-
quecimento agora, ao menos
vai acabar de uma vez. Porquê
prolongar esse sofrimento?
“Talvez você esteja cer-
to. Talvez seja isso.” Sussurro
vagamente, “mas… preciso ao
menos tentar.”
A última coisa que ouvi
foi minha/nossa risada.
224 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Oito:
Sistemas

Aqui está a Armada das almas

aqui está a flotilha de sabe Deus o local:
da madeira podre até a última vestimenta de metal
num balé contido lança uma chama fatal
- Peter Hammill, “Fireships”

ste capítulo é sobre os sistemas que fa-
zem Aparição único. Ele detalha como
as aparições ganham mais poder com
mais experiência, assim como o que
restringe seus movimentos pelo Mun-
do Inferior, o que pode ferí-las, como
elas podem se curar, como elas atingem
os mistérios da Transcendência e o que
previne os vivos de verem os Mortos Inquietos. Este capítulo
esta dividido meramente em três seguimentos. A primeira parte
é sobre o desenvolvimento das personagens; como aparições e
suas Sombras evoluem e mudam conforme o tempo. O segundo
seguimento é sobre ferimentos e cura entre os Inquietos. Afinal
de contas, é necessário algo especial para ferir um fantasma e
além disso não é como se uma aparição pudesse aplicar uma
bandagem fantasmagórica. A última parte do capítulo é sobre
os estados mentais, internos e externos, que são únicos para
uma existência fantasmagórica. Pouca coisa nesse capítulo é es-
sencial. Boa parte dele, entretanto, é importante para povoar o
mundo de Aparição e fazê-lo funcionar corretamente.

Capítulo Oito: Sistemas 225


Desenvolvimento de Personagens
Há rostos infelizes em grilhões e correntes
E uma roda que gira, gira eternamente
E seguem todas as raças atendendo por qualquer nome
Sem mostrar a emoção que a todos consome.
- Alan Parsons Project, “Virando uma Carta boa, Parte 2”
odos aprendem quando progridem, até
mesmo os mortos. O ganho e o gasto de
pontos de experiência é um modo do jogo
refletir que o personagem pode adquirir
novas características através das experiên-
cias de suas aventuras.
Pontos de Experiência
Pontos de Experiência são uma maneira de demons-
trar quanta experiência útil um personagem adquire através do
curso de uma história. Ao final de cada sessão, o Narrador provê
alguns pontos de experiência para cada personagem dependen-
do de certos fatores (quanto um dado personagem fez em jogo,
o quão bem o jogador o interpretou, etc.), os quais o jogador
anota na ficha. Um jogador pode então gastar esses pontos au-
mentando as características do seu personagem. Isso serve para
representar o quanto os personagens ficaram mais poderosos,
aprendendo coisas novas através de suas experiências. Mas é
claro, não é apenas o personagem que se torna mais poderoso
com o passar do tempo; sua Sombra também aprende com suas
experiências.
O custo de pontos para “aprender” coisas novas pode
variar, dependendo do que o jogador deseja adquirir para seu
personagem. É mais fácil (e também menos caro) aprender uma
nova Habilidade do que aprender um novo Arcanos. Muito dos
custos para adquirir uma característica dependem do que o
personagem já sabe sobre a característica que ele esta tentando
aperfeiçoar. Por exemplo, aprender uma Habilidade custa duas
vezes o valor atual do conhecimento da personagem naquela
Habilidade. Por outro lado, uma característica que um persona-
gem não possui, mas deseja adquirir é considerada uma “nova”
característica e isso tem custo fixo de pontos. Se Erik tem 3 em
Esquiva e quer aumentar para 4, ele necessita de seis pontos
para fazê-lo. Por outro lado, se ele quiser adquirir Lábia, a qual
ele não possui nenhum ponto, Erik iria apenas pagar o custo
fixo para uma nova Habilidade: três pontos de experiência.
Uma Característica pode ser aumentada em um ponto
por sessão apenas, não mais.
Interpretando a Experiência
Seu Círculo acaba de chegar ao fim de uma intricada,
longa e exaustiva Crônica, durante a qual você não só conseguiu
completar um bom número de objetivos, como também viu seu
personagem tornar-se consideravelmente melhor do que era no
começo. O Narrador, satisfeito com a evolução na sua interpre-
tação, oferece o dobro de pontos de experiência. Que tal comprar
aqueles pontos em armas de fogo que você não pensou em colocar
226 Aparição: O Esquecimento
quando criou seu personagem?
Aparecer inesperadamente, no começo da próxima
sessão, como um brilhante atirador seria um pouco difícil de
explicar, na melhor das hipóteses. Não seria surpresa se seu
Círculo começasse a imaginar quando você começou a praticar,
sem mencionar em quem. E então no auge da coisa, você teria
de explicar sua maestria naqueles dois novos Arcanoi que você
decidiu aprender, também...
No entanto personagens podem e devem mudar com
o tempo, eles se desenvolvem da mesma maneira que as pessoas
reais: aprendem com sua jornada. Jogadores devem se conscien-
tizar em como os eventos os afetam durante um longo período.
Toda história jogada oferece aos personagens uma chance de
aprender algo, até mesmo algo simples como a noção de saber
que ser um escravo seria ruim, ou tão complexa como descobrir
que uma vida de inteira trabalho, foi uma vida desperdiçada.
Traduzir esse tipo de experiência de jogo em dados
brutos em uma ficha de personagem pode ser difícil. Revela-
ções emocionais, novos propósitos e pactos de vingança podem
algumas vezes se reduzir a alguns pontos em uma Paixão, mas
essa não deve ser uma preocupação primordial do jogador. O
mais importante é utilizar experiência para demonstrar o que
está acontecendo com o personagem, para os outros jogadores e
para o Narrador por meio de interpretação. É muito mais satis-
fatório observar um personagem lentamente se tornar obsessivo
por um mortal do que o jogador anunciar que ele quer comprar
um novo Grilhão. Não só, a forma anterior seria mais intensa,
como também ajudaria a envolver os outros personagens quan-
do eles começarem a imaginar porque seu companheiro de Cír-
culo estaria praticando Encarnar (e colocando-os em perigo por
violar o Dictum Mortuum) sempre que a chance se apresenta.
Por mais dramáticas que sejam as mudanças, alterar
o Comportamento de um personagem, apesar de não ser fácil,
obviamente envolverá menos esforço do que alterar sua Nature-
za. É mais fácil estabelecer um novo padrão de comportamento
do que reconstruir a estrutura fundamental da personalidade,
e Narradores devem encorajar seus jogadores a terem isso em
mente. Trocar a Natureza de um personagem é uma grande
decisão e deve consistir consideravelmente mais do que ape-
nas escrever um novo arquétipo no ficha de personagem. Tal
escolha pode apenas ser comunicada efetivamente com o tempo
através de interpretação.
Enquanto adquirir características, especialmente Ha-
bilidades, dependerá muito menos de um desafio interpretativo,
o processo tem sua própria lógica. É importante lembrar que
novas características devem ser reflexos das particularidades
que um personagem têm mudado e que foram suas oportuni-
dades de aprendizado. Elas devem ser consistentes não somente
com o que os personagens escolheram, mas também estarem
ligadas com sua história e personalidade. Uma aparição que
tem sido pacifista por séculos dificilmente aprenderia Armas de
Fogo; um Legionário exemplar provavelmente não aprenderia
Titerismo porque interfere com os vivos. Evitar mudanças brus-
cas é uma boa ideia; se o jogador quer comprar certa Habilidade
assim que ele conseguir alguns pontos de experiência, obscure-
cendo os interesses de seu personagem (converse com ele e dê
dicas, fale sobre os propósitos do aprendizado, faça perguntas
sobre o assunto etc.) funcionará melhor que de repente aparecer
um personagem anunciando “Ei, caras, agora já sei falar Swa-
hili!” Uma boa maneira de conseguir novas Habilidades é os
personagens poderem comprar coisas que podem ser ensinadas
por Mentores, Contatos, Companheiros do Círculo ou Aliados,
ou até mesmo por personagens que são conhecidos durante o
curso da história.
Enquanto alguns jogadores vão querer gastar sua ex-
periência assim que a sessão terminar, respondendo às situações
que seus personagens acabaram de enfrentar (uma Paixão dife-
rente que proveria o Pathos necessário, uma nova Habilidade)
Narradores devem encorajá-los a permanecerem focados no
conceito e na lógica de seus personagens, racionalizando o seu
desenvolvimento. Existem eventos dramáticos que podem cau-
sar imediatamente mudanças sérias nos personagens, mas esses
devem ser raros se o Narrador e os Jogadores quiserem manter
qualquer tipo de consistência.
Ao gastar a experiência da Sombra, existe sempre a
tentação de gastar em maneiras para produzir a sombra mais
fraca o possível. Apesar disso levar à criação de aparições mais
“Fortes”, no final isso faz com que a Crônica seja menos envol-
vente. O Conflito entre a Psique e a Sombra é um dos elementos
centrais de Aparição e pode ser desvalorizado rapidamente se a
Psique ficar mais forte enquanto a sombra permanece estática.
Concedendo Experiência
Existe um balanço a ser seguido quando é chegada a
hora dos Narradores distribuírem pontos de experiência. Por
um lado, distribuir pouco irá levar à frustração do personagem,
como levar um mês para conseguir aprender aquele novo Arca-
nos que a aparição esta desejando. Por outro, distribuir muita
experiência pode resultar em personagens causando problemas
por todo o Mundo Inferior. Geralmente, personagens devem
receber entre um e cinco pontos de experiência por sessão, oca-
siões em que o Narrador forneça quatro ou cinco pontos devem
ser raras, no entanto. Um personagem não deve receber zero
pontos; independente de seus “sucessos” ou “falhas” durante a
sessão, sempre pode se aprender com a simples participação.
Razões para Experiência
• Um Ponto - Automático: Cada jogador ganha um ponto por
sessão, não importa como, a não ser que ele prove que real-
mente não o merece (tornando o jogo desagradável para outros
jogadores, repentinamente decidindo que sua aparição deveria
falar apenas com um sotaque idiota, etc.).
• Um Ponto - Curva de Aprendizado: O Personagem adquire
alguma informação ou conhecimento muito importante duran-
te a sessão. Entretanto, deve ser deixado ao jogador dizer para o
Narrador o que seu personagem aprendeu de tão vital.
• Um Ponto - Interpretação: Uma interpretação verdadeira-
mente superior deve ser recompensada com um ponto de expe-
riencia. Esse é extremamente subjetivo, e a base para premiação
desse ponto deve ser aumentada conforme os jogadores melho-
ram.
• Um Ponto - Conceito: Um jogador que faz um ótimo papel
incorporando o que seu personagem realmente é, deve ganhar
um ponto extra.
• Um Ponto - Heroísmo: Não estupidez. Nem uma mania sui-
cida. Heroísmo, o ato de ir sobretudo além do objetivo para al-
cançar algum propósito maior. Machismo sem sentido não deve
ser recompensado.
Dicas Úteis
• NÃO compre Habilidades se você não
pode dar uma explicação plausível sobre como
você as adquiriu.
• NÃO perca a linha do conceito de seu
personagem para poder aumentar toda Habilida-
de que aperece. Um personagem que é leigo em
tecnologia não se tornará de repente um mago do
computador (ao menos não de forma aceitável)
não importa o quão importante a Habilidade pos-
sa ser para o seu Círculo.
• NÃO se transforme em uma máqui-
na de destruição da noite pro dia só porquê você
está cansado de apanhar porque você está jogando
com um tipo de intelectual. Lembre-se que mesmo
Hércules levou anos de trabalho duro e sérias mo-
tivações para ganhar aqueles bíceps.
• NÃO tente derrotar o sistema exploran-
do buracos nas regras. Criar uma Aparição indes-
trutível vai garantir não somente a frustração dos
outros como seu próprio tédio quando não tiver
mais ninguém para jogar nem Malfeanos para ar-
rebentar.
• NÃO acumule pontos de experiência
por meses, por estar esperando dar um salto à
frente em uma Habilidade ou Arcanos. Novamen-
te mudanças devem ser graduais, não bruscas, ou
começam a ficar inacreditáveis.
• NÃO (Sendo Narrador) permita gran-
des quantidades de pontos de experiência a não
ser que os jogadores realmente mereçam.
• NÃO (se você for o Narrador) permita
jogadores saírem com mudanças dramáticas em
seus personagens a não ser que haja uma boa razão
(e lhe tenham explicado essas razões!) e queiram
interpretar as mudanças intensamente.
Capítulo Oito: Sistemas 227
Fim da História
Quando a história alcança seu clímax, deve haver
uma forma de recompensar os personagens ao alcançarem uma
resolução. Assim, toda vez que uma história terminar, os per-
sonagens devem receber entre um e três pontos adicionais de
experiência como um bônus. (Além disso, muitos Narradores
gostam de resgatar a Força de Vontade temporária, conceder
Pathos, etc, ao final da História).
Dentre as razões para se conceder a um personagem
experiência extra no fim da história estão:

• Um Ponto - Sucesso: O Círculo obteve ao menos

sucesso parcial ao fim da história. A vitória pode não ser total
mas o Círculo pode clamar ao menos parte do triunfo.

• Um Ponto - Perigo: O personagem sobreviveu a pe-

rigos acima e além dos normalmente enfrentados por aparições
e saiu ileso. Além disso, talvez o personagem tenha se saído bem
em um Pesadelo.

• Um Ponto - Sabedoria: Se o personagem exibir

grande talento ou desenvoltura, pode ser recompensado com
um ponto extra.
É claro que os Narradores não devem restringir suas
razões para distribuir experiência entre os personagens. Se eles
quiserem acelerar a evolução dos personagens, os Narradores
devem se sentir à vontade em distribuir mais experiência.

Gastando Experiência
Os custos para aumentar características existentes ou
comprar novas estão listados abaixo:

Tabela de Custos de Características

Característica Custo
Atributo Nível Atual x 4
Nova Habilidade 3
Habilidade Nível Atual x 2
Novo Arcanos 7
Nova Habilidade Básica de Arcanos 4
Arcanos Nível Atual x 3
Força de Vontade Nível Atual
Nota: Aumentar Arcanos da Habilidade Básica para o nível 1
custa 3 pontos de experiência.

Aumentando Antecedentes
Os níveis de antecedentes não podem ser comprados
com pontos de experiência. Eles devem ser adquiridos via in-
terpretação; um novo Aliado deve ser cultivado no jogo, por
exemplo.
Se um jogador e o Narrador aceitarem que o persona-
gem tem de adquirir um novo Antecedente (ou aumentar um
existente), o custo recomendado seria 4 pontos para novos An-
tecedentes e 3 x nível atual para aumentá-lo. Entretanto, Ante-
cedentes devem ser ganhos via interpretação, não por dispêndio
de pontos - o custo de experiência destes é uma recomendação,
não uma lista de preços.

228 Aparição: O Esquecimento

Aumentando Arcanoi
É possível aprender apenas a Habilidade Básica de um
Arcanos (em contrapartida ao nível 1 da arte) a um custo de
4 pontos de experiência. Por um adicional de 3 pontos, o per-
sonagem pode depois aumentar aprendendo o nível 1 da arte.
Isso permite aos personagens simular o lento aprendizado do
Arcanos, também permitindo a eles aprenderem as aplicações
úteis do Arcanos sem gastar quantias excessivas de experiência.
Aparições são capazes de aprender Arcanoi sozinhas,
porém ocasionalmente ter um Mentor ajuda. Uma aparição
com pontos no Antecedente Mentor pode rolar nível no Ante-
cedente quando esta tentando aprender um novo Arcanos (com
uma dificuldade 6). Cada sucesso reduz um ponto no custo final
do arcanos. Esse rolamento pode ser feito somente pela apari-
ção que está tentando comprar o nível do Arcanos completo;
Aparições comprando apenas as Habilidades Básicas do Arca-
nos devem pagar o custo normal. Elas podem, entretanto, fazer
um rolamento quando tentarem aumentar suas habilidades de
Habilidade Básica para níveis de Arcanos.
Força de Vontade
Um personagem pode aumentar seu nível de Força de
Vontade através de experiência. Isso reflete quanto a força de
propósito da aparição perdura enquanto sua aventura continua
no Mundo Inferior. Então novamente, muitas aparições perdem
Força de Vontade pelo caminho, achando cada vez mais difícil
resistir ao Esquecimento.
Se um personagem usar seu último ponto temporário
de Força de Vontade, é imediatamente jogado em um Pesadelo.
Um personagem que perde todos seus pontos permanentes de
Força de Vontade é sugado imediatamente para o Vácuo (se não
tiver mais Grilhões) ou se torna um Drone (se ao menos sobrar
um Grilhão). Drones não podem ser personagens jogadores e
é impossível um Drone recuperar pontos de Força de Vontade
para que possa sair dessa situação.
Paixões
As Paixões de uma Aparição podem mudar com o
tempo. Ocasionalmente seu foco troca entre as Terras da Carne
e o Mundo Inferior. Paixões antigas são perdidas, novas são ad-
quiridas e o período de transição pode ser difícil.
Um Jogador desejando adicionar uma nova paixão
deve discutir os motivos com seu Narrador. Idealmente, adicio-
nar uma nova Paixão como Característica será o ápice de um
aspecto contínuo da Crônica narrada. Uma Nova Paixão deverá
custar 3 pontos de experiência por nível de Paixão. O custo é o
mesmo para um jogador que queira aumentar uma Paixão exis-
tente, mas o Narrador tem a palavra final quando é possível ou
não aumentar aquela Paixão.
Perdendo Paixões
Leve embora o amor e a fúria
E esse pedaço de esperança que nos mantém unidos
- Kate Bush, “Love and Anger”
Aparições também podem perder Paixões. Por tempo,
negligência ou ações de outros, uma Paixão de uma aparição
pode ser perdida. O Narrador tem o total controle sobre isso,
sabendo quando e como a Paixão de uma aparição será dimi-
nuída. Existem quatro meios principais nos quais as Paixões
podem ser enfraquecidas ou até mesmo destruídas.
• Negligência: Se uma Aparição não der atenção à sua
paixão, eventualmente essa diminuirá. Se o Narrador sentir que
um personagem está negligenciando sua Paixão o bastante para
enfraquecê-la, o jogador deverá rolar o Nível da Paixão (difi-
culdade: 9). Uma falha indica que a Aparição deve reduzir seu
Nível de Paixão em um ponto; uma falha crítica reduz o Nível
em dois. Isso poderá esgotar a paixão e levar a aparição para um
Pesadelo Direcionado.
• Pesadelos: Alguns Pesadelos Direcionados podem
enfraquecer ou até mesmo destruir Paixões. Para mais infor-
mações, veja “Pesadelos” página 183.
• Entorpecimento: Alguns Espectros possuem a ha-
bilidade de “Entorpecer” os sentimentos de uma Aparição, até
aqueles tão fortes que são designados por suas paixões. Se um
ataque dessa forma for sucedido, reduza em um ponto uma Pai-
xão da Aparição (selecionada aleatoriamente pelo Narrador).
Isso pode forçar a vitima a cair em um Pesadelo. Para mais in-
formações sobre Entorpecer, veja “Espectros”, pagina 273.
• Resolvendo: Veja Abaixo.
Resolvendo uma Paixão
Com o tempo, aparições podem vir a conter e so-
brepujar suas Paixões. Enquanto pode não fazer sentido para
algumas aparições tentar deixar suas fontes de Pathos, outras
sentem que acalmar suas Paixões é vital para a Transcendência.
Com isso em mente, elas tentarão acalmar suas Paixões, tro-
cando o que uma vez fora emoções incontroladas para desejos
moderados e aproximações.
A Resolução de uma Paixão é algo delicado, e deve ser
interpretado a fundo antes de qualquer modificação ser feita na
ficha da aparição. Um jogador desejando Resolver uma Paixão
deve explicar o sentido para seu Narrador e discutir a situação
como um todo, incluindo as maneiras de trazer o enredo da re-
solução à sua Crônica. Sugerimos que um personagem tentando
Resolver uma Paixão não a use para recuperar Pathos.
Uma vez que a tentativa de Resolver a Paixão está em
andamento, o Narrador deve, a seu critério, oferecer ao jogador
uma rolagem para enfraquecer sua Paixão. A Aparição rola o
nível da Paixão (dificuldade: 9); cada sucesso diminui o nível de
Paixão em um, entretanto a Paixão nunca diminuirá abaixo de
um dessa maneira.
Eventualmente, quando o Narrador sentir que um jo-
gador tem sua Paixão firmemente sobre controle, um teste de
Capítulo Oito: Sistemas 229
Resolução pode ser feito.
Quando tentando resolver, a aparição rolará Força de
Vontade (dificuldade 5 + o Nível atual da Paixão). Se a Apari-
ção conseguir sucessos iguais ao seu Nível de Paixão atual, ela
obteve sucesso em Resolver sua Paixão. Se ela falhar, a Paixão
é considerada não Resolvida e ganha um ponto em seu nível.
Se obtiver uma falha crítica, a Paixão é destruída e a aparição
imediatamente cairá em um Pesadelo Destrutivo.
Grilhões
Aparições podem, em ocasiões muito raras, ganhar
novos Grilhões. Ocasionalmente suas interações com as Terras
da Carne irão levá-las a importar-se com uma pessoa, lugar ou
coisa (mais frequentemente uma pessoa) tão intensivamente
que se tornará um novo Grilhão.
Se o personagem deseja adicionar um novo Grilhão,
ele deve discutir o motivo com seu Narrador e trabalhar no
novo Grilhão durante a Crônica interpretando intensivamente.
Novos Grilhões, se o Narrador permitir, custarão 3 vezes o nível
desejado do Grilhão.
Perdendo Grilhões
Durante o curso do jogo, Aparições podem ver seus
Grilhões enfraquecer ou até mesmo desaparecer. Muitas Apari-
ções tem Seres Vivos ou Animais como seus Grilhões; quando
esses morrem os Grilhões representam ser destruídos. Grilhões
230 Aparição: O Esquecimento
podem sofrer acidentes ou serem destruídos, e existem vezes
em que as aparições negligentemente enfraquecem a atração
que que ela própria tem com seu Grilhão.
Existem cinco maneiras principais pelas quais os Gri-
lhões são enfraquecidos.
• Destruição: Se o Grilhão de uma aparição morrer,
ou for destruído, seu status como Grilhão termina e uma apa-
rição imediatamente é jogada em um Pesadelo. Por essa razão,
aparições fazem o impossível para proteger seus Grilhões.
• Negligência: Se uma aparição faz de tudo, intencio-
nalmente ou não para se distanciar de seu Grilhão, sua atração
por ele pode enfraquecer. O Narrador tem o controle completo
sobre quando a ligação de um Grilhão (seu Nível) diminuiu por
negligência da Aparição.
Se o Narrador decide que a Aparição foi negligente
com seu Grilhão, ela rola o Nível do Grilhão contra uma di-
ficuldade 9. Uma falha indica que o nível do Grilhão diminui
em um; uma falha crítica indica que o Grilhão é diminuído em
dois. Isso pode remover um Grilhão da aparição e jogá-la em
um Pesadelo.
• Pesadelos: Alguns Pesadelos Direcionados podem
reduzir ou até mesmo destruir Grilhões ligados à aparição.
• Destroçando: Alguns Espectros tem a habilidade de
Destroçar Grilhões. Cada ataque bem sucedido dessa forma en-
fraquece o nível de um Grilhão em um e pode forçar a aparição
a cair em um Pesadelo.
• Resolvendo: Veja Abaixo.

Resolvendo Grilhões
Eventualmente Aparições podem vir a conter seus
Grilhões, dizendo adeus as coisas e pessoas que amam em seus
próprios termos. Isso é conhecido como Resolver um Grilhão,
e enfraquece a ligação que uma aparição tem com as Terras das
Sombras. Entretanto, é um processo de cura e não um proces-
so violento (Como a Destruição de um Grilhão) e muitas das
Autoridades fantasmagóricas concordam, que é um passo vital
para a Transcendência.
A Resolução de um Grilhão deve ser interpretada,
em todas as possibilidades. Se uma Aparição tem seu Pai como
Grilhão, com quem ela nunca resolveu suas diferenças quando
estava viva, e pretende realizar uma reconciliação post-mortem,
então esse Grilhão pode ser considerado para que seja Resolvi-
do. Quando não existem nenhum remorso e nenhuma palavra
deixada a dizer, quando um amado animal pode ser colocado
em sua caixa de areia por sua última vez, quando o último olhar
a propriedade familiar pode ser realizado sem tristeza de ar-
rependimento - esses são os momentos nos quais os Grilhões
são Resolvidos. Um personagem desejando Resolver um Gri-
lhão deve discutir o motivo extensivamente com seu Narrador,
quem deve preparar o trabalho para a tentativa de resolução em
sua crônica como o principal elemento do enredo da história.
Quando achar apropriado o Narrador pode pedir ao persona-
gem para rolar seu Nível atual no Grilhão(dificuldade: 9). Cada
dois Sucessos enfraquece o Grilhão em um.
Se a Aparição demonstrar conclusivamente via inter-
pretação, que sua ligação com seu Grilhão foi Resolvida, então
e só então, poderá ser permitido realizar um teste de Resolução.
Quando tentar Resolver seu Grilhão, a aparição rola Força de
Vontade (dificuldade 5 + o nível atual do Grilhão). Se a Apari-
ção obtiver um número de sucessos igual ao nível de seu Gri-
lhão atual, ela tem sucesso em Resolver o Grilhão. Se ela falhar,
o Grilhão é considerado não Resolvido e ganha um ponto em
seu nível. Se obtiver uma falha crítica, o Grilhão é destruído e
ela imediatamente cai em um Pesadelo Destrutivo.
Viagem pelo Mundo Inferior
Os Grilhões de uma Aparição determinam onde ela
pode ir no Mundo Inferior. Sem Grilhões, ela não pode perma-
nescer nas Terras das Sombras; com Grilhões não Resolvidos ela
não pode alcançar a Transcendência.
Aparições sem nenhum Grilhão podem permanecer
nas Terras das Sombras apenas por Vigor x2 Turnos, já que não
existe nada nas Terras das Sombras para ancorá-las contra a in-
fluência do Esquecimento. Aparições que Resolveram alguns de
seus Grilhões podem ficar nas Terras das Sombras por Vigor
x2 cenas, mas até mesmo elas devem retornar para Tempestade
e aos seus locais seguros. Aparições sem Grilhões devem en-
contrar um refúgio na Tempestade para residir. Escolher Estigia
ou uma das ilhas de segurança dentro da Tempestade Eterna é
irrelevante; o que importa é que as Terras das Sombras não são
mais uma opção.
Aparições com Grilhões não Resolvidos podem via-
jar para Estigia ou adentro da Tempestade, mas quanto mais se
afastam das Terras das Sombras, mais difícil se torna resistir à
atração de seus Grilhões. Quando em Estigia, a dificuldade em
todas as rolagens para aparições com Grilhões são aumentadas
em +1; longe de Estigia em direção das Costas Distantes ou no
Labirinto a dificuldade é aumentada em +2.
Há rumores de raras aparições que Resolveram todos
os seus Grilhões, o que garantiria a Habilidade de viajar a qual-
quer lugar no Mundo Inferior à vontade. Os mais poderosos
Estornados de Estigia são supostamente esse tipo de Aparição,
como seriam, também, muitos Hereges.
Experiência da Sombra
Se uma Aparição ganha experiência e talentos, não faz
sentido para seu lado negro ficar para traz na curva de aprendi-
zado. Sombras ganham experiência também, e podem usar seus
pontos de experiência para comprar novos Espinhos ou Angús-
tia temporária.
Em ocasiões raras Sombras podem também comprar
novas Paixões Sombrias, seguindo a mesma linha estabelecida
para adquirir Paixões. Sombras adquirem um ponto de expe-
riência a cada três pontos de experiência que suas Psiques re-
cebem. Além disso, para uma interpretação excepcional da
Sombra, pontos extras de experiência podem ser Ganhos para
a Sombra. Enquanto isso não beneficia diretamente o Guia da
Sombra responsável pela experiência extra, isso ainda serve
como um reconhecimento de seu trabalho. Sombras podem
gastar experiência com os custos a seguir:
Característica Custo
Espinhos Custo Original do Espinho
Angústia Pessoal Nível Atual
Paixões Sombrias 2 X o Nível
Atual
Ferimento
Ooooh, isso vai doer.
- Ash, Army of Darkness
aradoxalmente, aparições são igualmente frágeis e inacredita-
velmente resistentes. Elas podem ser
dispersadas pelo arranhão de um gato
apesar de atravessarem balas nas Terras
da Carne sem sequer sentí-las. Apenas
uma Característica lida com ferimentos
infligidos a uma Aparição: Corpus. O
Corpus de uma aparição é a proteção
de plasma que abriga sua Psique - e a
Sombra. Um Jogador registra os ferimentos marcando níveis de
Corpus, que representam o dano causado ao “corpo” de seus
personagens.
Diferente de humanos, que perdem órgãos vitais e
sangue quando estão feridos, aparições perdem sua substan-
cialidade (coesão física). Quanto menos Corpus uma aparição
têm, mais transparentes, frágeis e suscetíveis elas se tornam à
mortal atração do Esquecimento. Uma Aparição que perde todo
seu Corpus, cai em um Pesadelo, a medida que não existe mais
nada para ela que permita resistir fisicamente à Atração do Es-
quecimento.
Capítulo Oito: Sistemas 231

Corpus Permanente
Uma Aparição tem duas características para medir
quão sólido seu Corpus é . O Corpus permanente de uma Apa-
rição indica o nível máximo de Corpus temporário que ela pode
ter. Uma Aparição com um Corpus permanente de oito nunca
poderá ter mais que oito em seu Corpus temporário, até mesmo
se ela tiver Pathos suficiente para se curar mais. Em outras pala-
vras, o Corpus temporário nunca pode exceder o permanente.
Todas as Aparições começam com um Nível de Cor-
pus permanente igual a 10, mas isso pode ser reduzido por Pe-
sadelos.
Estados do Corpus
Algo, com certeza estava pressionando as paredes da barraca e
fazendo peso por cima dela. Será que era a força do vento ?
- Algernon Blackwood, “The Willows”
Aparições podem existir em quatro estados e Corpus:
Material, Corpóreo, Incorpóreo e Atormentado.
• Material: Esse é um estado possível apenas utili-
zando o Arcanos Encarnar. Uma Aparição material é feita de
energia espiritual solidificada, e pode se dizer ser presente fisi-
camente nas Terras Da Carne. Quando nesse estado, a Aparição
recebe dano normal por ataques e objetos físicos. Entretanto, ela
não recebe penalidades em sua Parada de Dados por causa do
Dano (página 235). Aparições materiais podem fazer jogadas
de absorção de dano e entrar em combate (corpo-a-corpo) físi-
co (veja Capítulo 9).
• Corpóreo: Esse é o estado normal de uma aparição
quando essa está nas Terras das Sombras. Quando nesse estado,
a aparição pode sofrer dano “através da Mortalha”. Qualquer
objeto - uma bala, um carro correndo, uma bola de baseball for-
temente jogada - que colide com a Aparição que normalmente
causaria dano a um ser humano inflige um nível de Dano no
Corpus e a Aparição se tornará Incorpórea durante um número
de turnos igual seu Nível de Vigor. Assim como um meteoro
caindo do espaço na aparição iria infligir um Nível de Corpus
e a Tornaria Incorpórea. Uma lata de refrigerante, entretanto,
A Regra do Ai
Quando tentar decidir se um impacto
é o bastante para causar um nível de dano no
Corpus, nós recomendamos ao narrador uti-
lizar a Regra do Ai. Simplesmente, coloque o
impacto em questão for o necessário para fa-
zer o narrador sentir um, “Ai”, seria o necessá-
rio para infligir um nível de dano no Corpus.
Entretanto, não recomendamos atualmente
testar os impactos em questão. Lembre-se não
existem toques em Aparição, e além disso o
senso comum seria o bastante para guia-los.
232 Aparição: O Esquecimento
tacada sem força na direção da aparição não infligiria dano
em seu Corpus e não iria mandá-la para o estado Incorpóreo.
Aparições podem voluntariamente infligir dano a seus Corpus
e tornarem-se incorpóreas para atravessar uma parede ou outro
objeto sólido. É assim que aparições podem andar entre portas
fechadas, portões barrados, paredes e etc.
Uma aparição apenas perde o estado Corpóreo se re-
ceber dano de algo provindo das Terras da Carne. Dano provin-
do das Terras das Sombras não faz com que uma Aparição se
torne Incorpórea.
• Incorpóreo: Quando uma aparição está Corpórea
e sofre dano provindo de um objeto do mundo dos vivos, ela
se torna Incorpórea em relação às Terras da Carne. Isso sem-
pre causará à aparição um nível de dano em Corpus. Durante
esse tempo, nenhum dano provindo das Terras da Carne pode
ser infligido. Esse estado dura um números de turnos igual ao
Vigor da Aparição. Aparições Incorpóreas ainda continuam só-
lidas em relação às Terras das Sombras; uma aparição pode ser
atropelada por um caminhão e ficar incorpórea em um turno, e
ser empalada por uma espada de um Legionário causando três
níveis de dano no Corpus no turno seguinte.
• Atormentado: Quando uma aparição perde todo
seu Corpus, ela imediatamente é sugada para a Tempestade
(possivelmente até para o Labirinto) e é levada a uma experien-
cia pavorosa chamada Pesadelo. Se a aparição sobreviver a seu
Pesadelo, ela aparece novamente perto de um de seus Grilhões,
onde seu Corpus se refaz. Se não tiver mais nenhum Grilhão, ela
poderá ser encontrada flutuando em na Tempestade próxima a
um Atalho.
Uma aparição que sobrevive a um Pesadelo causado
pela perda total de seu Corpus irá se refazer com um número de
Corpus igual ao seu nível de Vigor ou seu Corpus Permanente,
aquele que for menor.
Curando
Felizmente para as Aparições, seus invólucros fantas-
magóricos requerem pouca manutenção e elas podem conver-
ter a energia de seus próprios Pathos em Corpus. Gastando um
ponto de Pathos, a aparição pode recuperar um ponto de seu
nível de Corpus perdido (apenas um ponto por turno pode ser
gasto dessa maneira). O Arcanos Usura pode restaurar Corpus
de uma Aparição. Uma aparição pode recuperar níveis de Cor-
pus através de Modorra. Durante a Modorra o personagem de-
saparece em um de seus Grilhões por oito horas. No final desse
tempo, assumindo que a Modorra não foi interrompida, o per-
sonagem faz um teste de Vigor (dificuldade: 6). Cada sucesso
cura um Nível de dano não agravado.
Tipos de Dano
Existem dois tipos de dano que uma aparição pode
sofrer: normal e agravado.
Dano normal é o tipo de dano padrão causado por
muitos ataques, de uma clava a um lança foguetes ou ate um
soco. Uma aparição pode curar dano normal com um ponto de
Pathos por Nível de Corpus.
Dano agravado é um tipo especialmente severo de
dano. Certas criaturas e itens podem ferir uma aparição tão
horrivelmente que esse dano não pode ser facilmente reparado.
Esses ferimentos, chamados ferimentos agravados, podem ser
infligidos por quaisquer dos itens seguintes: armas feitas de Aço
Estígio; chama-de-túmulo (as chamas das Terras das Sombras);
Fogo Fátuo (Pathos cristalizado); garras e presas de alguns Es-
pectros (veja “Poderes Sombrios”, página 272); as garras e pre-
sas de Vampiros, Lobisomens e outras criaturas sobrenaturais
(assumindo que elas podem de alguma maneira ir para as Terras
das Sombras); alguns poderes de Arcanoi (como Insulto e Usu-
ra). Além disso, o Narrador pode declarar que qualquer tipo
particular de ferimento severo seja um ferimento agravado.
Quando um ferimento agravado é infligido, o jogador
deve marcar com um X um nível de Corpus por nível de fe-
rimento agravado. Ferimentos Agravados podem ser curados
apenas se uma aparição entrar em Modorra e gastar três pontos
de Pathos. Cada oito horas de Modorra ou meditação, somada
ao gasto de três pontos de Pathos cura um nível de Ferimento
agravado infligido no Corpus (veja Habilidade Meditação na
página 123). Se a Aparição perder todo seu Corpus remanes-
cente via dano agravado, ela imediatamente cai no Labirinto e
submete-se a um Pesadelo Destrutivo.
Tipos de Ferimentos
A despeito da resistência das aparições, existem mui-
tas formas de ferí-las. Algumas são partilhadas e facilmente
compreendidas por mortais; outras são específicas para apari-
ções. Esses são tipos de dano descritos abaixo.
Personagens, humanos ou aparições, podem fazer tes-
tes de Vigor (dificuldade 6) para “absorver” (resistir) o dano.
Cada sucesso indica que a aparição sofre um nível de dano de
Corpus. Objetos físicos no mundo dos vivos podem ferir apa-
rições, desde que a Aparição esteja em estado Material ou Cor-
pórea e que o objeto possa ferir uma pessoa viva. Além disso,
chuva, neve ou jornais, os quais não podem ferir mortais, não
causam dano às aparições. Por outro lado, um contato não ami-
gável com um caminhão, uma bala ou uma espada - qualquer
coisa perigosa para mortais - resulta na perda de um nível de
Corpus e um período da aparição incorpórea.
Combate
Combate e Ferimentos que possam ser causados são
apresentados no Capitulo 9: Drama. Cada sucesso em um tes-
te de dano feito por um oponente causa ao personagem a per-
da de um nível de Corpus; normalmente, esse dano pode ser
absorvido. É claro, dano através da Mortalha (do mundo dos
vivos) causa apenas a perda de um nível de Corpus e leva a apa-
rição para o estado Incorpóreo. Nas Terras das Sombras, armas
de fogo funcionam “normalmente”, mas fogo e outras reações
químicas não produzem calor. As exceções são as misteriosas
substâncias conhecidas como Fogo Fátuo e Chama-de-Túmulo,
através do fogo fátuo queimaduras provindas de calor e através
das Chamas-de-Túmulo queimaduras provindas do frio.
Capítulo Oito: Sistemas 233

Aço Estígio
Muitas armas de Estigia são forjadas de um peculiar
amalgama chama Aço Estígio. Desenvolvido por Nhudri, o
Grande Mestre Artífice, é um amalgama de raspas das paredes
da Escada Venosa e plasma de aparições que dizem ser tempe-
rado em materiais do Esquecimento. Mais rígido que qualquer
coisa no Mundo Inferior, causa dano agravado em Aparições
(e Espectros) a quem a lâmina forjada golpeia. Legionários de
postos altos geralmente carregam armas de Aço Estígio; os de
postos baixos geralmente carregam lâminas de Aço de almas
(feito de Corpus derretido).
Caindo
Ainda existe a chance de uma aparição acidentalmen-
te escorregar de uma janela ou do topo de um prédio e mer-
gulhar para o chão abaixo. A gravidade não pode ser ignorada
nem mesmo pelos Inquietos. Use a tabela abaixo para calcular
o dano das Aparições por Quedas. Dano por quedas é conside-
rado dano nas Terras das Sombras e não força a Aparição ficar
Incorpórea.
Cair em uma Tempestade é diferente entretanto, já
que a entropia substituí a gravidade na tormenta eterna. Assu-
me-se que aparições que caem na Tempestade alcançam a ve-
locidade equivalente a uma queda de 19 metros e o dano do
impacto deve ser calculado de acordo. Aparições que caem na
Tempestade devido a um Pesadelo não recebem dano adicional
por sua queda descendente e aparições que caem na Tempesta-
de ainda podem ser salvas por Mensageiros dispostos.
Distância (em Metros) Ferimento
2-3 1 Nível de Corpus
3-6 2 Níveis de Corpus
6-9 3 Níveis de Corpus
9-12 4 Níveis de Corpus
12-15
15-18
5 Níveis de Corpus
6 Níveis de Corpus
18-21 7 Níveis de Corpus
... e assim por diante, até um máximo de 10 Níveis de Corpus
Fogo
Fogo é perigoso para mortais e pode ferir as aparições
quando inflamado nas Terras das Sombras. Fogo no mundo dos
vivos pode ferir aparições “através da Mortalha”, mas, como to-
dos os tipos de danos físicos do mundo dos vivos, é um caso
simples de perder um nível de Corpus e tornar-se Incorpóreo.
Por outro lado, o fogo nas Terras das Sombras, também chama-
do de chama-de-túmulo, sempre causa dano agravado às Apa-
rições e dessa forma, é capaz de destruí-las. Chamas-de-túmulo
existem somente no Mundo Inferior, e sendo assim não pode
ferir os vivos.
Suas funções são iguais ao fogo do mundo dos Breves,
234 Aparição: O Esquecimento
apenas se difere no fato que este é frio ao invés de quente. Esse
fogo profano surge em locais de grande destruição do Mundo
dos Vivos e aparece frequentemente em presságios de novos
desastres. As Necropolis de Londres, Atlanta, Filadélfia e Los
Angeles, entre outras, são manchadas com Chamas-de-Túmulo.
Uma chama de qualquer tamanho tem o potencial de
ferir um personagem. Cada Turno que a Aparição está exposta à
chama, deve fazer um teste de Vigor contra a dificuldade listada
na tabela abaixo, para resistir o dano. O Jogador deve fazer um
teste a cada turno que seu personagem está em chamas. Se o
Teste falhar, o Personagem recebe de um a três níveis de dano
no Corpus (referindo-se à segunda tabela abaixo). Se o teste for
um sucesso, o personagem recebe um nível de dano no Corpus
a menos por Sucesso (como Absorção). Se a Aparição tiver uma
falha crítica, ela é ferida de uma maneira especial - talvez perca
a visão, ou tenha seus membros carbonizados.
Dificuldade Calor do Fogo
Três Vela (queimaduras de primeiro grau)
Cinco Tocha (queimaduras de segundo grau)
Sete Bico de Bunsen (queimaduras de terceiro grau)
Nove Fogo Químico
Dez Ação Derretido
Ferimentos Tamanho do Fogo
Um Tocha; uma parte do corpo é queimado
Dois Fogueira; metade do corpo é queimado
Três Inferno em fúria; todo corpo é queimado
Cristais de Fogo Fátuo, ao serem tocados, podem cau-
sar dano agravado assim como chama-de-túmulo. Aparições
que são moldadas em forma de Tochas tem um Cristal de Fogo
Fátuo ligado às suas Corporas reformuladas, e deste modo po-
dem normalmente serem usadas como Armas. Por outro lado,
Fogo Fátuo é quente o bastante para literalmente derreter o
Corpus de uma Aparição e essa deformação pode também cau-
sar dano agravado.
Maelstroms
De tempos em tempos, Maelstroms varrem as Terras
das Sombras e Atalhos. Além do fato de que Maelstroms car-
regam Espectros com eles, podem causar grande dano a uma
Aparição com seus Ventos Poderosos, chuva cortante e raios
aterrorizantes. Enquanto alguns Narradores podem desejar in-
terpretar os efeitos de ter seus personagens pegos por um Ma-
elstrom, para o dano básico de um Maelstorm eles devem se
basear à Tabela abaixo:
Nível do Maelstrom Dano por turno de Contato
Um Quatro dados
Dois Seis dados
Três Oito dados
Quatro 12 dados
Cinco 14 dados
Uma Aparição pode resistir ao dano de um Maelstrom
utilizando Castigar ou procurando um abrigo em um Local As-
sombrado. O dano é por turno de contato com o Maelstrom.
Os Breves
‘Sot!’ chorou Manfred, enfurecido, ‘se és apenas um fantasma, o
que verás, então?
- Horace Walpole, O Castelo de Otranto

omo as aparições frequentemente lidam

com humanos mortais, é importante en-
tender o que prejudica os vivos. Em vez de
ter uma classificação de Corpus, os huma-
nos têm níveis de Vitalidade. Os humanos
têm sete níveis de Vitalidade, ao invés dos
10 níveis de Corpus das aparições. A clas-
sificação de saúde de um mortal pode ser
considerada com uma informação de “Escoriado” em uma ex-
tremidade e “Incapacitado” na outra. Cada nível de ferimento
além de “Escoriado” carrega consigo uma penalidade para um
Rolamento de Dados de humanos, devido ao fato de que alguém
ferido tende a não operar com eficiência máxima. Narradores
devem marcar um Nível de Vitalidade para cada ferimento que
um personagem humano recebe.

Morte Humana
Quando um mortal ou animal chega a Incapacitado,
ele está a um Nível de Vitalidade da morte. Se ele for ferido mais
uma vez, ou se for impossível conter o fluxo de sangue do seu
corpo, morrerá rapidamente.
Naturalmente, os mortais curam-se de maneira di-
ferente das aparições. Com a devida atenção médica, os mor-
tais se recuperam com base no gráfico a seguir. Observe que
o tempo dado é quanto tempo leva para recuperar esse Nível
de Vitalidade específico - outros Níveis de Vitalidade também
devem ser curados. Assim, se o mortal demorar três meses para
se recuperar de Espancado, ele ainda deve ter tempo para curar
Ferido Gravemente, Ferido e assim por diante.

Nível de Vitalidade Tempo

Escoriado Um Dia
Machucado Três Dias
Ferido Uma Semana
Ferido Gravemente Um Mês
Espancado Três Meses
Aleijado Três Meses*
Incapacitado Talvez Nunca

*Não apenas os mortais precisam curar este Nível de Vitalida-

de, mas também perdem um ponto de um dos seus Atributos
Físicos (a critério do Narrador). Os mortais que atingem Inca-
pacitado curam-se a critério do Narrador; alguns entram em
coma para o resto de suas vidas; outros fazem recuperações mi-
lagrosas.
Nota: As aparições podem curar mortais com os Arca-
nos Usura (veja a página 160).

Capítulo Oito: Sistemas 235


Níveis de Saúde dos Mortais
Escoriado Nenhum Efeito
Machucado -1
Ferido -1
Ferido Gravemente -2
Espancado -2
Aleijado -5
Incapacitado Incapaz de ação
Percepções
Acredito que todas essas experiências variadas nos fo-
ram enviadas não para nos divertir como histórias a serem con-
tadas e depois esquecidas, mas como uma passagem essencial da
trama de uma nova vestimenta espiritual que deve ser tecida para
o mundo moderno.
- Sir Arthur Conan Doyle, “A Lei do Fantasma”
antasmas sempre foram associados a
uma percepção alterada por parte dos
vivos. Isso não muda no Mundo das
Trevas; há vários estados alterados asso-
ciados à presença de aparições. A Trans-
cendência é um que pode ser alcançado
(teoricamente) pelas próprias aparições,
enquanto a Mortalha separa os vivos dos
Inquietos e o Névoa protege as mentes
frágeis dos mortais das implicações de uma existência fantas-
magórica.
Transcendência
Trasumanar significar per verba non si poria.
(A passagem além da vida não pode ser expressa em palavras.)
- Dante, Paradiso
Lá, na escuridão que se modifica entre os cortiços, o seu
amigo luta com duas criaturas deformadas: uma escura como
uma sombra, a outra iluminada por uma luz perolada. Você acha
que ele não quer ser interrompido. Erguendo a cabeça em um uivo
silencioso, ele se agarra aos seres de sombra e luz e um clarão de
prata se forma entre os três. Você estremece, sentindo algo potente
se aglutinando ao seu redor.
Os olhos do seu amigo se arregalaram, enquanto seu
corpo seca em substância e textura. No meio de sua forma trans-
parente, uma luz prateada começa a brilhar com a luz inefável
das Terras Iluminadas pelo Sol. As paredes cinzentas da Necropo-
lis tornam-se de algum modo mais escuras, enquanto, de algum
lugar acima de você, ouvem-se belas vozes sussurrando e rindo
(não os comentários zombeteiros e sardônicos dos malditos, mas
eloqüentes, sons musicais de alegria). Por um breve momento, as
densas nuvens sobre a Necropolis desaparecem. Luz e calor inun-
dam a cidade dos mortos, enquanto seus habitantes protegem
seus olhos e se encolhem, imaginando qual nova forma de ataque
os Espectros estão tentando.
236 Aparição: O Esquecimento
Enquanto você olha boquiaberto, a forma do seu amigo
ondular e se dissipar. Onde ele estava, um feixe de luz prateado
dispara diretamente para a fenda ondulante nas nuvens. Você
está paralizado no lugar, desejando seguí-lo, mas o raio desapa-
rece. As nuvens se fecham como portas de masmorras e o chão
treme com o estrondo baixo do trovão. Em um breve momento de
beleza, seu amigo se foi... para sempre.
A Verdade Indescritível
Os relatos sobre Transcendência variam: um túnel
de luz, nuvens se abrindo, uma carruagem dourada levando o
Transcendido para o céu, a transformação do Corpus ilumina-
do em uma brilhante flor de lótus branca, até mesmo um sim-
ples dissipar da ilusão do eu e da “realidade” plasmática. “ No
entanto, todos esses relatos concordam em uma coisa: os Trans-
cendidos nunca voltam para contar suas histórias.
Reunindo partes de tais lendas, os Inquietos constru-
íram um certo entendimento sobre a Transcendência. De certa
forma, a Transcendência é a obtenção de um estado de equili-
brio ou superior do ser, um estado de autoconsciência e paz in-
terior, a liberação ou aceitação (dependendo do ponto de vista)
dos aspectos negativos do ser, uma harmonia cósmica de peque-
nos opostos, ou o fim do sofrimento e das paixões do Mundo
Inferior. Quando uma aparição Transcende, ela completou um
processo de purificação. Como se dá esse processo, depende da
perspectiva de quem o passa. Aparições que vêem a Transcen-
dência como uma conquista espiritual também a vêem como a
recompensa por empreender o árduo processo de transforma-
ção em um ser de virtudes. Alguns vêem como o resultado de
perder as ilusões e desenvolver a sabedoria simplesmente acei-
tando quem é. Aparições sem inclinação religiosa ou filosófica
frequentemente acreditam que a Transcendência é a evolução
da essência mental para uma forma mais avançada. Por outro
lado, muitos acreditam que a Transcendência é simplesmente
uma farsa cruel destinada a alimentar falsas esperanças.
No entanto, embora nenhuma prova definitiva tenha
sido estabelecida, muitas lendas apontam a Transcendência
como um estado muito real. Algumas aparições afirmam que, se
você olhar profundamente nos olhos de um Barqueiro, poderá
ver os rostos abençoados de todos aqueles que Transcenderam.
Outros postulam que Barqueiros, como Bodhisattvas, são seres
cheios de compaixão que Transcenderam e permanecem para
trás no Mundo Inferior para conduzir os mortos à Transcen-
dência.
Historicamente, os Barqueiros são conhecidos por le-
var aparições a seus destinos. No início do século, meia dúzia
de aparições (todos desaparecidos há muito tempo, claro) teste-
munhou a Transcendência do famoso Oneiro e artista de Estigia
Elector Merian quando, pelo preço da obra-prima de Phantas-
ma apelidada de “Caridade”, o terrível Barqueiro Antaecthon
transportou o pintor para a piscina da Lembrança Agridoce no
Mar Sem Sol. Quando o artista pisou no círculo prateado da
Piscina, o Barqueiro proferiu estas palavras misteriosas: “Elec-
tor Merian, você se tornou Caridade. Para sempre, em regozijo,
o veremos através desses olhos.”
Outros afirmam que Caronte Transcendeu quando
desapareceu no redemoinho com Gorool, pois aparições senti-
ram um calor brilhante em suas Corporas depois disso. Muitas
dessas aparições tomaram o caminho da Transcendência e algu-
mas décadas depois, desaparecem nas brumas nas jangadas dos
Barqueiros Zaphnathpaaneah e Timotheus. Houve até relatos de
aparições que, tendo aperfeiçoado a arte do Fatalismo, afirmam
ter visto seus próprios destinos Transcendentes. Lionel Vastupi,
um Monitor do século XIX da Necropolis de Nova York era um
deles; alegando que seu eu Transcendido falou com ele durante
a Modorra, ele teria acordado espiritualmente sob sua estranha
e periódica tutela. Em 1944, ele se dissipou diante de uma mul-
tidão de aparições no Central Park. Ainda mais peculiar é o fato
de cada testemunha afirmar ter visto o Corpus de Vastupi se
transformar em algo diferente à medida que se dissipou: um ser
angelical, um raio de luz, uma fumaça flutuante com incenso
aromático, uma rosa branca frágil murchando diante de seus
olhos. Estas testemunhas foram todas desacreditadas ou publi-
camente retrataram suas declarações, mas a esperança é eterna,
especialmente entre aqueles que têm toda a eternidade.
Os Aspirantes
Como os vivos, as aparições não possuem uma prova
definitiva da existência após a morte (ou seja, Transcendência)
- depoimentos, sim, mas nenhuma evidência concreta. Muitas
aparições gostariam de manter assim. Para eles, a possibilida-
de da Transcendência é simplesmente indesejável. Um estado
desconhecido e misterioso é aterrorizante, especialmente para
aqueles que acreditam ou temem que o universo trabalhe com
um princípio de justiça. As aparições que são atraídas pelo con-
ceito geralmente consistem naqueles que não têm mais nada a
perder, querem um propósito ou um objetivo para trabalhar, ou
desejam a paz interior e acreditam que nenhuma das institui-
ções, relacionamentos ou ganhos potenciais do Mundo Inferior
o proverão. Outros ainda desejam o bem, vêem a perda de almas
para o Esquecimento como o mal e a Transcendência como a
única escapatória de tal perda. Alguns simplesmente odeiam o
Mundo Inferior e procuram seguir em frente.
Muitas vezes, aqueles que na vida procuraram suas
versões da Transcendência também a procuram na morte. Mui-
tos desses aspirantes consistem em adoradores e membros de
ordens religiosas como padres ou freiras mas, é claro, não se
limitam apenas a estes. A grande maioria dos aspirantes ativos
acaba entrando numa jornada rumo às Costas Distantes. Ainda
assim, apesar do número de devotos e diligentes com os quais
eles trabalham em direção ao seu objetivo, a maioria dessas apa-
rições nunca atinge a Transcendência.
Os Vitoriosos
A quantidade de especulações sobre o Mundo Inferior
sobre o que caracteriza Transcendência poderia preencher pelo
menos meia dúzia de Bibliotecas de Alexandria. Estudiosos de
Estigia, quando admitem que a Transcendência é real, geral-
mente admitem que apenas alguns raros a alcançam (menos da
metade de um por cento da população de aparições no Mundo
Inferior e ainda menos ex-Espectros). Líderes dos vários reinos
das Costas Distantes discordam veementemente dessa percep-
ção, inundando os incrédulos com litanias de contos de Trans-
cendência para cada grama de ceticismo expresso.
Quem quer que esteja certo, quase todos os estudiosos
Capítulo Oito: Sistemas 237
da Transcendência concordam com certos axiomas “compro-
vados”, conhecidos como as Oito Verdades em alguns círculos,
pertencem a esses aspirantes iluminados (muitas de suas lendas
foram registradas em um conjunto de volumes conhecidos nas
Terras das Sombras como Os Tomos da Luz Dourada). A pri-
meira das verdades é que são necessárias décadas, geralmente
séculos, para Transcender. Esse processo de perfeição varia de
acordo com as crenças. Muitas aparições acreditam que o aspi-
rante requer apenas um coração simples e um desejo fervoroso
de Transcender; um poder superior enviará provas ao longo dos
séculos para purificar e aperfeiçoar o que resta. Outros acredi-
tam que o aspirante deve dominar completamente sua mente
para Transcender, mas que o poder da perfeição deve ser en-
contrado inteiramente dentro dela. Há também um pequeno
número daqueles que ignoram as histórias dos aspirantes so-
fredores n’Os Tomos da Luz Dourada, os quais precisaram de
um século ou mais para atingir alguma aparência de perfeição.
Essas aparições acreditam em uma espécie de Transcendência
epifânica, em que uma sentença, uma gravura, um fragmento
de música ou um perfume podem enviar o aspirante diligen-
te diretamente a um estado de Transcendência. Muitos grupos
Heréticos defendem essa noção de Transcendência instantânea;
ao menos, ajuda a criar novos contos para atrair fieis.
A segunda Verdade é que os aspirantes devem possuir
uma objetivo condutor, algo interno que os compele a pensar
e se comportar mais espiritualmente do que normalmente po-
deriam. Esse fervor espiritual tem muitos nomes: o Eidolon, o
Espírito, a Luz Interior, a Chama Eterna, o Buda Interno, até
238 Aparição: O Esquecimento
mesmo um simples “resolução” - mas, seja qual for o nome, for-
nece o impulso interno necessário para a perfeição.
A lista completa das oito Verdades segue abaixo. O de-
voto dedicado deve:
• Praticar a paciência para alcançar a Transcendência,
pois ela é longa e a grande custo;
• Cultivar a unidade superior (Eidolon, Espírito, Luz
Interior, etc.);
• Conquistar a Sombra;
• Fazer as pazes consigo mesmo;
• Fazer as pazes com o mundo dos vivos;
• Valorizar a mente sobre o corpo plasmático;
• Valorizar o objetivo da Transcendência sobre a iden-
tidade ou a mente;
• Aperfeiçoar as virtudes positivas, entre as quais são
numeradas: compaixão, coragem, criatividade, honestidade,
esperança, humildade, humor, amor, perseverança, auto-aceita-
ção e sabedoria.
Cargos Oficiais
Se as “Verdades” listadas acima são auto-evidentes,
cabe ao indivíduo (ou jogador) decidir. No entanto, devido à
natureza potencialmente disruptiva do tópico, as posições sobre
a Transcendência evoluíram dentro de cada uma das três fac-
ções políticas do Mundo Inferior ao longo do milênio passado.
A Hierarquia oficialmente não desconsidera a Trans-
cendência como se fosse um mito, mas também não encoraja
sua busca. A ideia principal é que a Transcendência é impra-
ticável; distrai as aparições de deveres mais importantes como
manter a Necropolis e lutar contra as forças do Esquecimen-
to. Na realidade, as aparições da Hierarquia temem o fanatis-
mo dos aspirantes e por isso, tentam minimizar as histórias da
Transcendência que surgem incessantemente em todas as Ter-
ras das Sombras.
Devido sua diversidade, os Renegados não têm po-
sição oficial sobre a Transcendência, embora muitos possam
zombar da idéia. Aqueles que acreditam que pode ser alcança-
da muitas vezes rejeitam os caminhos (as Oito Verdades, por
exemplo) em favor de seus próprios desígnios, como epifanias e
revelações exóticas.
Os Hereges, claro, são a escolha natural dos aspirantes.
Afinal de contas, que melhor bússola moral existe para as almas
desorientadas do que alguém que persegue e alcança a perfei-
ção? Em desacordo com a Hierarquia, muitos Hereges buscam
divulgar relatos de Transcendência para converter os outros a
seu modo de pensar.
Narrando Histórias para o Além
Apesar de seu tratamento canônico em todo o Mundo
Inferior, a Transcendência permanece um mistério. Uma apari-
ção pode aperfeiçoar as Oito Verdades listadas anteriormente e
ainda não ascender para as nuvens em uma carruagem flame-
jante de ouro. Talvez as Oito Verdades sejam pregadas pelos não
Transcendidos e propagadas pelos reinos das Costas Distantes
para aumentar o número de membros (afinal, só porque os es-
tudiosos da Transcendência concordam em algo, não significa
que seja correto). Talvez seguir as Oito Verdades não resulte no
equilíbrio necessário para alcançar a Transcendência. Ou tal-
vez a Transcendência possa ser alcançada por meios alterna-
tivos: auto-sacrifício, viagens, estudo profundo de um sistema
de crenças, criação do próprio sistema de crenças ou aceitação
completa do modo como as coisas são. A verdadeira essência
da Transcendência deve ser uma questão para o Narrador e os
jogadores resolverem.
Personagens que Transcendem normalmente deixam
o jogo; por outro lado, os Narradores que quiserem elaborar
uma explicação detalhada do que acontece no outro lado da
Transcendência podem querer manter um personagem Trans-
cendido por perto como um gancho da trama. De um modo
geral, a Transcendência deve ser tratada como o tema para uma
Crônica inteira: nada é fácil nem rápido. Além do fato da Trans-
cendência, o caminho que vem depois não configura uma re-
compensa segura; a promessa está lá, mas a evidência não.
Personagens seguindo esse caminho assumem gran-
des dificuldades. As provações que enfrentam tornam as apari-
ções menos corajosas, mas os verdadeiros aspirantes encontram
dentro de si mesmos a coragem para enfrentar esses conflitos.
E quanto mais longe o caminho percorrido pelos aspirantes,
mais difíceis as escolhas que eles enfrentam: o caminho para a
Transcendência oferece muitas oportunidades para uma grande
interpretação e não deve ser reduzido a uma série de rolamentos
de dados.
O Narrador pode desejar usar a progressão a seguir
como diretriz para organizar uma crônica sobre Transcendên-
cia.
Resolvendo Grilhões
Um passo necessário para Transcender é deixar para
trás os laços que ligam a aparição ao mundo dos vivos. O que
não é o mesmo que tê-los destruídos. Deixar para trás signifi-
ca que a aparição deve voluntariamente resolver seus negócios
inacabados com o mundo, Resolvendo todos os seus Grilhões.
A Resolução de cada Grilhão representa uma história, esse sim-
ples passo leva um tempo considerável para ser realizado.
Eidolon Crescente
Antes que uma aparição consiga enfrentar as comple-
xidades psicológicas de confrontar sua própria Sombra, ela deve
desenvolver seu eu superior, fortalecer sua resolução e aperfei-
çoar seus traços positivos (coragem, auto-aceitação, amor, ho-
nestidade, esperança, compaixão, criatividade, humor, sabedo-
ria) - todos os quais são representados no nível de Eidolon do
personagem. O Narrador pode exigir que o jogador aumente o
Eidolon do seu personagem para cinco ou mais, dependendo de
quanto tempo ele quer que a Crônica demore e quão difícil ele
deseja que seja alcançar a Transcendência. Como Antecedentes
como o Eidolon não podem ser comprados com pontos de ex-
periência, este aspecto da busca pela Transcendência deve ser
interpretado.
Mesclando a Sombra e a Psique
Antes de progredir mais, o personagem deve com-
binar essas duas forças em um gesto de plena auto-aceitação.
Enquanto estão separados, eles se opõem e se alimentam um do
outro. Quando se tornam um, eles servem como uma ferramen-
ta poderosa para a Transcendência.
A Sombra: Uma vez que o personagem tenha fortale-
cido sua resolução contra a Sombra, aumentando seu Eidolon,
ele pode confrontar a dúvida, resistência, antipatia e impulsos
subconscientes que ela representa. Esta parte do caminho para
a Transcendência reflete a jornada espiritual psicológica do per-
sonagem através do Mundo Inferior, assim como Dante atra-
vessou o Inferno e Perséfone visitou Hades. Cada história neste
ciclo deve resultar em uma pequena redução de angústia (ou
dor, medo, alienação, insegurança e frustração) e das Paixões
Sombrias da Sombra. Tal redução não deve vir como resultado
de negar estas fontes de angústia; em vez disso, deve resultar de
uma aceitação delas.
A Psique: Transcendência não requer apenas que o
aspirante derrote sua Sombra, mas também derrote a parte de
sua Psique que valoriza a identidade estática sobre o Eidolon.
Para se preparar para o último passo em direção à Transcendên-
cia, uma aparição deve estar disposta a arriscar seu corpo e sua
mente à destruição. Se ela não pode aceitar a possibilidade de
que a Transcendência requeira a dissolução permanente tanto
do Corpus quanto da identidade, ela está mal preparada para
enfrentar o Pesadelo Final que determina seu destino, seja a
Transcendência ou o Esquecimento. Histórias neste ciclo devem
colocar a mente e o corpo em risco com a intenção de aumentar
a aceitação do personagem de sua própria dissolução.
Capítulo Oito: Sistemas 239

Eliminando Paixões
Normalmente, esse passo ocorre por último, porque
destrói os vínculos finais das aparições tanto nas Terras Ilumi-
nadas quanto no Mundo Inferior. Neste ponto, a aparição não
tem Grilhões e chegou a um acordo com a potencial perda de
corpo e mente como resultado de seu caminho. Este passo testa
essa crença até o limite. Imediatamente após Resolver sua Pai-
xão final, uma aparição sofre um Pesadelo Destrutivo que deter-
mina se ela alcança ou não a Transcendência. O sucesso a leva
à Transcendência; o fracasso traz conseqüências terríveis. Op-
cionalmente, uma aparição que consegue Resolver suas Paixões
pode substituir suas antigas Paixões por uma nova: Alcançar
a Transcendência (Desejo por Unidade) 5. Se as Paixões co-
muns fornecerem razões para a existência do personagem após
a vida, sua nova Paixão fornece uma razão consumidora para
existir depois da morte. Assim, em vez de escorregar para o Es-
quecimento, o personagem se torna completamente auto-aceito,
segue sua Paixão e de fato, Transcende.
Opcionalmente, o Narrador pode querer apresentar
ao jogador cenários que trabalhem em direção a mais de uma
dessas metas de cada vez, no lugar de seguir uma progressão
linear. Esta opção torna mais difícil acompanhar o progresso
de um personagem, mas pode parecer mais natural do que o
método passo a passo.
No final, não existe um método rígido e rápido para
alcançar a Transcendência; depende muito das crenças, menta-
lidade e desejos do personagem. Por outro lado, isso deve servir
como um esboço para levar um personagem à Transcendência,
se qualquer aparição quiser viajar até lá.
A Mortalha
Eu disse que Danforth se recusou a me dizer que horror
final o fez gritar tão insanamente...
- H.P. Lovecraft, Nas Montanhas da Loucura
A Mortalha é o véu de medo e incompreensão que se-
para as Terras da Carne das Terras das Sombras. É invisível e
intangível, mas serve para manter os dois mundos firmemente
separados. É por causa da Mortalha que as aparições não po-
dem ser vistas ou ouvidas pelos vivos, exceto quando os Inquie-
tos exercitam suas vontades e Arcanoi para romper a Mortalha.
A espessura da Mortalha dificilmente é constante. Va-
ria de lugar para lugar, de tempos em tempos e de acordo com o
tipo de pessoas em uma determinada área ou em um determi-
nado momento. Um cemitério à meia-noite, povoado por devo-
tos de Edgar Allen Poe, teria uma Mortalha muito mais fina do
que o coração de Wall Street durante a hora do almoço em um
dia ensolarado. Quanto mais fina a Mortalha, mais fácil é para
as aparições afetarem as Terras da Carne; se houvesse um lugar
onde o valor da Mortalha fosse zero, aparições naquele local se-
riam claramente visíveis para qualquer mortal que estivesse por
perto. No entanto, o valor da Mortalha de um lugar nunca pode
cair abaixo de 4, não importa o que aconteça.
Outros seres Despertos (vampiros, lobisomens, ma-
gos, changelings, etc.) podem enfraquecer a Mortalha com sua
240 Aparição: O Esquecimento
mera presença. A espessura da Mortalha é reduzida em 2 na
presença de qualquer outro ser sobrenatural, independente do
tipo, mas nunca pode ficar abaixo de 4. Assim, a Mortalha em
torno de um vampiro em um cemitério, ou um sluagh em uma
parte sombria dos esgotos, independentemente, ainda será 4.
A tabela abaixo detalha a espessura da Mortalha:
Valor da Mortalha
Shopping em um dia ensolarado de primavera 10
Estação limpa de metrô à tarde 09
Casa bem cuidada sem história violenta 08
Um clube lotado e sombrio jogando Top 40 07
Encruzilhada em uma noite sem lua 06
Mansão onde ocorreram vários assassinatos 05
Cemitério deserto à meia-noite na lua cheia 04
A Névoa
Os vivos simultaneamente querem e temem a prova
da vida após a morte. Enquanto eles querem saber que há algo
além do último suspiro, os fantasmas fornecem provas tangíveis
da própria morte e desmentem a noção de que todos vão para o
céu. Com isso em mente, a psique humana se protege tecendo
uma Névoa entre ela mesma e até mesmo a mais flagrante ma-
nifestação de atividade fantasmagórica. Em virtude da Névoa,
a maioria dos Breves se encontrará racionalizando ou simples-
mente esquecendo quaisquer encontros que tenham com os In-
quietos.
Alguns não são afetados pela Névoa: crianças inocen-
tes, animais, os loucos e alguns outros habitantes sobrenaturais
do Mundo das Trevas. Qualquer um deles pode rolar Percepção
+ Prontidão (dificuldade 8) e ver e ouvir as aparições por perto.
É claro que essa percepção extra não se estende aos outros nas
proximidades da pessoa que vê o fantasma; para eles, o filho
deles estará conversando com um amigo imaginário e o gato
estará rosnando para nada.
Nota: Nem todos os seres sobrenaturais podem ver
além da Mortalha desta maneira. Vampiros Giovanni e Same-
di, Euthanatos e Oradores dos Sonhos, os Changelings Sluagh e
Peregrinos Silenciosos e Portadores da Luz estão entre os mais
propensos a detectar aparições pairando. Por outro lado, até
mesmo a maioria dos vampiros não tem consciência dos fan-
tasmas. Para mais informações sobre os outros moradores do
Mundo das Trevas, veja a página 281.
 Valor da Névoa
Reação das pessoas em % relacionada à Força de Vontade
1 10% Medo Catatônico: Aterrorizado em paralisia,
os mortais nesta categoria serão, na melhor das hipóteses,
capazes de tatear por um esconderijo. Pensamentos racio-
nais e ações complexas estão completamente fora de ques-
tão.
2 20% Pânico: O voo cego é a resposta imediata des-
te segmento da população à presença de uma aparição.
3 18% Descrença: Esta resposta é a clássica raciona-
lização excessiva; Alguém nesta categoria que vê um fantas-
ma vai colocá-lo em qualquer coisa que não seja a presença
do sobrenatural.
4 15% Berserk: Uma reação puramente animalesca,
a resposta frenética faz com que os mortais joguem o que
estiver à mão na aparição intrusa, esmague as coisas e evite
seu medo causando destruição cega.
5 13% Terror: O mortal está com medo, mas man-
tém algum autocontrole. Ele rapidamente tentará colocar a
maior distância possível entre ele e a aparição, mas não sairá
correndo pela porta da frente gritando “Fantasmas!”
6 10% Conciliatório: O mortal tem medo, mas é
calmo o suficiente para tentar barganhar.
7 7% Medo Controlado: Embora ainda com medo,
um mortal nesta categoria ainda age racionalmente: recu-
sando-se a ir até o porão sozinho, colocando sua casa assom-
brada à venda imediatamente, etc.
8 5% Curiosidade: Os membros desta categoria
são mais fascinados do que receosos, embora possam correr
imediatamente para suas filmadoras ou ligar para paranor-
mais psíquicos. As aparições provavelmente se sentirão es-
magadas por sua atenção.
9 1.5% Raiva Justa: Mais teimosos que a morte, esse
tipo de mortal permanecerá firme até mesmo contra o mais
sádico Zombeteiro. Esses mortais se recusam a temer as apa-
rições, vendo-os como oponentes em vez de agentes sobre-
naturais.
10 0.5% Sem Reação/Blasé: Este tipo de mortal não
tem reação particular à presença dos Inquietos. Talvez ele
tenha tido uma experiência de quase morte, ele poderia
pensar que as aparições são mensageiros de seu falecido tio
Harry ou talvez ele não seja muito inteligente. De qualquer
maneira, ele não considera os fantasmas como algo especial.
Capítulo Oito: Sistemas 241

O Pesadelo
Mais tarde, naquela noi-
te. Eu estava caminhando pela
escola quando a sala de repente
se contorceu pros lados e se es-
tilhaçou toda de uma vez. Tinha
um buraco enorme cheio de ra-
chaduras que se abria na escuri-
dão como se fosse de uma bala
de canhão e o chão se abriu sob
meus pés. Eu solto um grito agu-
do enquanto dou um passo pra
trás, girando os calcanhares para
um vácuo gelado. O pânico se
agarra à minha garganta e a aper-
ta, forte.
Assim, percebo que de al-
guma forma, caí através do chão
numa sensação de desorientação
e desintegração que se forma. Eu
me sinto como flutuando numa
névoa densa, ainda caindo, mas
agora numa direção específica,
me parece. Algo está me puxando
pra baixo, sem descanso. O vento
assobia estridente nos meus ou-
vidos e me puxa enquanto uma
poderosa rajada me lança pra to-
dos os lados e essa força brinca
comigo como se eu fosse nada.
Apesar disso, continuo olhando
pra baixo.
É isso! Ouço a outra voz
na minha cabeça dizendo. Agora
acabou, então deixa rolar e apro-
veita a viagem…
Um aperto no estôma-
go seguido de uma vertigem me
causa náusea enquanto giro no
vazio escuro. Acho que parei de
gritar, mas é impossível ter cer-
teza. O vento se agiganta ao meu
242 Aparição: O Esquecimento
redor com milhares de vozes que
confundem meus pensamentos,
e me deixam sem palavras.
Tudo que posso ver é a escuridão
crescente que se forma ao meu
redor como nuvens de tempes-
tade. Eu nem tenho certeza se
meus olhos estão abertos ou fe-
chados e chego à conclusão que
não faz diferença. Esse tipo de
coisa soa quase infantil. O vazio
é exatamente igual, esteja dentro
ou fora de mim.
“Não.” eu sussurro, o som se per-
dendo ao vento.
Uma poderosa onda de
terror me preenche. Eu estico o
braço numa tentativa vã de me
orientar, mas não encontro nada
que possa me servir e continuo
em queda livre. Tenho uma sen-
sação inclemente de velocidade
enquanto uma força irresistível
me puxa. O negrume diante dos
meus olhos surge com energia
faminta e perigosa.
Não! Diz uma outra voz,
muito alta, na minha cabeça.
Você não pode desistir!... Não
pode!
Luto para limpar a mente
e obrigar as vozes lá dentro a se
calarem, mentalmente repetin-
do - Ainda sou eu! Ainda sou eu!
- mas esse simples pensamento
parece pequeno e insignificante.
Ainda sou eu e não vou
desistir! Não quando Sarah e
Karen ainda podem precisar de
mim!
Permito-me soltar outro
grito tão intenso e doloroso, que
rasga a noite como uma lâmina
que corta uma cortina de linho
puro. Dominado pelo terror,
vejo rostos distorcidos enor-
mes que surgem com sombras
iluminadas por flashes de raios
vermelho arroxeados, que se
materializam na escuridão e se
desfraldam próximos a mim.
Mãos - algumas das quais nem
mesmo parecem humanas -
me alcançam cruzando o espa-
ço com seus dedos tortos tão
apavorantes e enormes como
foices.
O som tonitruante dos
ventos de um furacão preen-
chem meus ouvidos, mas o
tempo todo, por trás dele, ouço
algo mais… vozes indistintas
gritam para mim, chamando
meu nome.
Não consigo entender
o que dizem e os pensamentos
gritados na minha cabeça se
misturam numa cacofonia ui-
vante que cresce numa fúria e
faz tremer a alma.
...por favor… faça isso
parar… a voz na minha cabeça
choraminga como uma crian-
ça assustada… me deixa desa-
parecer… pra sempre…
Um frio inimaginá-
vel me consome, paralisando
minha mente, meu Corpus,
minha própria alma. De re-
pente, percebo que conheço os
rostos que se materializaram
nas sombras ao meu redor.
Eu grito e tento me virar, mas
não importa pra onde eu olhe,
eles estão lá. Não adianta nem
mesmo fechar os olhos.
Eles se aproximam. Sr.
Moore, o terrível professor da
escola dominical, que insistia em
dizer pro garotinho assustado
que eu era, que eu iria pro Infer-
no. Karen, exatamente como fi-
cou depois do… acidente. Sarah,
mas com o rosto completamen-
te distorcido numa combinação
de luxúria e desprezo. O rosto
do meu pai - pálido, apodreci-
do, exatamente como me lembro
dele quando o encontrei pendu-
rado numa corda presa à viga da
garagem. Os lábios se movem,
mas as palavras de acusação e
culpa que dizem, só ecoam na
minha lembrança.
É tudo sua culpa, aque-
la paródia do meu pai sussurra.
Agora é hora de pagar.
“Não.” Eu choramingo.
“Pai, pare com isso.”
Você é tudo que me fazia
um fraco, David, a voz continua.
Está dentro ou fora da minha ca-
beça? Não sei mais. Você até ten-
tou se matar da mesma forma,
mas não teve colhões. Você é um
fracasso, mesmo se matando.
Há um terrível senso de
certeza no que meu pai insinua.
Tudo à minha volta fica mais
frio. “Eu tentei ser forte, pai, mas
tudo ficou tão difícil depois que
Karen morreu. Tão difícil...”
Foi sua culpa ela ter mor-
rido. Você a matou, da mesma
forma que me matou, também.
“Não!” eu chorei, me
sentindo terrível, completamen-
te sozinho. “Você está morto há
décadas, pai; e foi você quem fez
isso a si mesmo (Por Deus, per-
mita que tenha sido!)”
O rosto do meu pai se
desfaz num uivo e a escuridão se
torna outra coisa - uma oval es-
cura que é emoldurada por um
redemoinho brilhante no céu no-
turno. Com um lampejo de sur-
presa, percebo que estou deitado
de costas, olhando pro alto pra
um rosto esquelético. Olhos bri-
lhantes me observam por debai-
xo das dobras do manto negro do
Barqueiro. Duras linhas de osso
angulares projetavam sombras
profundas sob seus olhos e quei-
xo. A boca descarnada parece es-
tar sorrindo para mim. A única
centelha de vida ou inteligência
são os olhos brilhantes. Eles me
perfuraram como espinhos.
“Você é bem forte.” o Bar-
queiro diz, seus dentes batendo
como duas pedras uma na outra.
“Eu sabia que você não se entre-
garia facilmente às tentações da
sua Sombra. Você tem uma boa
auto-confiança. Nas atuais cir-
cunstâncias, isso pode ser útil.”
Estou cansado demais
para responder enquanto o Bar-
queiro se inclina para mim com
uma das mãos estendidas. Sinto
seus dedos tocarem minha testa.
“Eu… eu preciso encon-
trar minha filha,” digo, sem ter
certeza se estou falando eu só
pensando. É necessário um enor-
me esforço só pra pensar clara-
mente, quanto mais falar. “Você
pode me ajudar?”
Um som baixo, seme-
lhante a uma risada preenche
meus ouvidos.
“Há algumas coisas que
você pode fazer.” o Barqueiro diz,
sua voz profunda e sonora. “Ta-
Capítulo Oito: Sistemas 243
lentos e habilidades que você
ainda não sabe que possui.
Aprenda a usá-las e você vai
longe.”
Eu não respondo. Ain-
da estou com dificuldades de
organizar meus pensamentos.
“Sua filha não está
aqui.” o Barqueiro continua.
“Ela estava, há muito tempo,
mas não se encontra nas Ter-
ras das Sombras por tempo
demais. Desapareceu pouco
depois de chegar. O Ceifador
que o atacou a pegou e levou
embora. Não me surpreende-
ria se ele a tivesse levado para
seu Local Assombrado. Seu
pequeno cabal mantém uma
fortaleza na Tempestade e eles
estão sempre procurando por
recrutas.”
“A Tempestade?” eu
repito, sentindo o tremor na
minha voz. “Onde fica isso?
Como posso chegar lá? Tenho
que encontrá-la!”
O Barqueiro balança a
cabeça. O tecido do seu capuz
se move, farfalhando. “Está
bem abaixo dos seus pés.” ele
diz. “Você vai encontrá-la logo,
eu suspeito.”
“Pode me levar até lá?”
pergunto, mas enquanto olho
pra ele, seu rosto lentamente se
dissolve e logo é só escuridão.
Estou sozinho de novo nesse
silêncio perturbador da esco-
la vazia. Percebo então, que a
morte não é o fim. Longe dis-
so.
É só o começo...
244 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Nove:
Drama

É um absurdo me pedir para me comportar... um absurdo

completo. Eu preciso balançar minhas correntes, gemer pelas fecha-
duras e caminhar noite adentro, se é o que quer dizer. É o único
propósito da minha existência.
- Oscar Wilde, “O Fantasma de Canterville”

xistem várias coisas que uma Aparição
pode fazer durante uma crônica, desde
instigar um oponente a pesquisar sobre
as lendas dos Barqueiros até se envolver
em uma perseguição de carros em alta
velocidade. Embora seja fácil definir
quais dados devem ser usados nas joga-
das quando já se está familiarizado com
as regras básicas, existem umas poucas
situações que surgem de tempos em tempos e que se tornam
mais fáceis se existem regras próprias. É disso que esse capítulo
trata, dar aos Narradores uma base de referência para tudo o
que seus jogadores decidam fazer.
O sistema de drama discutido aqui é apenas uma base.
Ele não se propõe a cobrir todas as possibilidades de qualquer
situação possível (“O que eu devo rolar se eu quiser me pendu-
rar de cabeça para baixo num lustre Relíquia e tocar as unhas
do pé?), mas para lidar com aquelas que o Narrador pode con-
frontar mais frequentemente. Contudo, são apenas uma guia. Se
você quiser ignorá-las, vá em frente. Se não quiser rolar dados
para se concentrar na sua história, tudo bem, também. Essas são
somente sugestões para estabelecer um terreno mais agradável
para jogadores de Aparição em qualquer lugar.
Não são em todas as situações que rolamentos são ne-
cessários. Quanto mais rolamentos puder evitar durante a in-
terpretação, melhor; toda vez que os dados rolam, o clima da
história é enfraquecido. Se parece justo que o personagem vá
conseguir o sucesso necessário para terminar algo, faz mais sen-
tido que lhe dê o benefício da dúvida, garantindo o sucesso e
mantendo a história fluindo.
Quando os dados rolam, faz sentido que seu resulta-
do seja realmente necessário. Forçar personagens a rolar dados
sempre que quiserem abrir uma porta (“Role Destreza + Espor-
tes, dificuldade 2”) vai fatalmente destruir qualquer sensação
que o Narrador queira criar tornando qualquer ação do per-
sonagem mecânica e repetitiva. Cada rolamento de dados deve
oferecer o mesmo que o jogo como um todo - tática, estratégia
e surpresas.

Capítulo Nove: Drama 245


Cenas cena numa história é similar a uma cena
num filme. Ela pode ser facilmente des-
crita como aquele momento em que algo
está acontecendo e os eventos são in-
terpretados como se ocorressem agora.
Uma cena pode ser resolvida somente
através de interpretação ou, com o au-
xílio de dados, ser dividida em múltiplas
ações ou até um combate se encerrar.
As cenas devem ser tão excitantes, vívidas e dramáti-
cas quanto possível. Elas são o coração de qualquer história, os
momentos nos quais os personagens desempenham suas ações
e vêem os resultados imediatamente, e como tal, são as partes
da história que geram mais interesse e atenção dos jogadores.
Se o Narrador não puder aproveitar esse aumento de interesse, a
história em si pode estar com problemas.
Cenas nunca são pinturas estáticas. Há sempre coisas
acontecendo nelas, pequenos pedaços de ação incidental que
dão corpo e vida a ela. Um encontro com um Espectro pode-
ria ser destacado por uma descrição do zumbido incessante de
moscas que podem ser ouvidas atrás de cada uma das palavras
do monstro. Um Senhor da Morte dando uma audiência não fi-
cará sentado atrás de sua mesa; ele caminhará pela sala e tentará
dominar fisicamente a conversa. Quanto mais coisas estiverem
acontecendo em uma Cena, mais chances dos jogadores se en-
246 Aparição: O Esquecimento
volverem e participarem ativamente.
O oposto da cena é o tempo de inatividade, aqueles
momentos em que os jogadores não estão assumindo ativamen-
te os papéis de seus personagens. Jackie, uma Renegada Corre-
dora da Rede pode querer passar seis horas desenterrando um
arquivo que ela quer, mas isso não significa que o jogador de
Jackie e o Narrador querem passar seis horas sentados lá deta-
lhando cada passo do processo. O tempo de inatividade é útil da
mesma maneira que os momentos inativos são úteis em filmes;
permite que a ação se mova para a próxima cena importante
graciosamente.
Fazer a transição do tempo inativo para a cena pode
ser relativamente fácil. Os personagens podem anunciar que es-
tão viajando da Necropolis de Boston para Atlanta, mas, na me-
tade da jornada, podem se envolver em uma tentativa de ataque
ao Atalho. De repente, o longo borrão da viagem se torna um
momento muito real no qual os jogadores estão ativamente en-
volvidos e o tempo de inatividade mudou para uma cena ativa.
Turnos urnos são a unidade individual das
ações tomadas durante a Cena. Eles per-
mitem que o Narrador rompa a ação da
cena em fatias gerenciáveis, permitindo
maior controle sobre a ação. Tecnica-
mente, um turno é um período de tem-
po de duração variável durante o qual
pode-se executar uma ação. Transfor-
mando a Cena em uma série de turnos,
o Narrador garante que todos atuem e que cada jogador tenha a
mesma quantidade de tempo para decidir sua ação.
A estrutura de virada deve ser razoavelmente solta,
permitindo que os personagens façam coisas mais ou menos si-
multaneamente, o que pode levar quantidades variáveis de
​​ tem-
po no mundo real. Por exemplo, um personagem pode escolher
subir em uma árvore e pode levar muito mais tempo, mas toda
a vantagem deve ser tirada da licença dramática do Narrador.
Ações Múltiplas
Um personagem pode executar várias ações em um
turno, mas faz sentido que, com sua atenção desviada, ele não
seja capaz de realizar nenhuma ação com eficiência máxima. Ao
invés disso, quando ele declara suas múltiplas ações, o Narrador
determina sua Parada de Dados para todas as ações (geralmente
duas é o máximo) e então lhe dá o total de dados em sua menor
Parada para dividir entre as ações.
O personagem também deve decidir qual ação exe-
cutará primeiro; a segunda ação só será executada depois que
todos os outros personagens executaram a primeira. Se mais
de um personagem tiver uma segunda ação, esses personagens
executarão a segunda ação em ordem de iniciativa. O mesmo
procedimento segue para a terceira ação e assim por diante.
O personagem pode atrasar suas ações, mas a ação
atrasada deve ser executada antes que a próxima ação comece
ou a primeira será perdida. Um personagem sempre pode se
esquivar a qualquer momento do turno, desde que ainda tenha
dados não rolados, mesmo que esses estejam designados a uma
segunda ação.
Cenas de Ação
uitas cenas são cheias de ações compli-
cadas e os rolamentos de dados que per-
mitem que elas aconteçam. Lutas, per-
seguições de carro e outros momentos
perigosos são algumas das cenas que os
jogadores mais gostam, no entanto, elas
também podem ser muito complicadas
para os Narradores.
Há muitas possibilidades para cenas de ação, desde
balançar em árvores até passar por cima de um monte de Es-
pectros e há algumas coisas que podem ajudar a ação a fluir
mais suavemente. A descrição vívida da ambientação é vital,
permitindo aos personagens saberem quais são suas opções e
com o que eles têm à disposição. Caso contrário, o Narrador
será inundado com reclamações como: “Você não nos disse que
havia outros seis Espectros atrás de nós!” e o jogo vai parar. Por
outro lado, nem todos os detalhes são importantes (muitos de-
talhes podem atrapalhar o clímax da cena).
É uma boa ideia deixar os personagens tentarem qual-
quer coisa que eles queiram fazer, não importa o quão ridículo
ou estranho pareça. Mesmo com uma dificuldade de 10 e vários
sucessos necessários, pode ser que eles consigam...
Organizando os Turnos de Ação
Assim como os Narradores precisam dividir a cena
em turnos, às vezes eles precisam quebrar o turno em divisões
menores. Os Turnos de Ação geralmente exigem esse tipo de
abordagem, caso contrário, podem levar ao caos, com todos
gritando suas ações e brigando sobre quem fez o quê a quem
primeiro.
Turnos de Ação devem ser organizados de forma que
comecem com um rolamento de Iniciativa (Raciocínio + Pron-
tidão, dificuldade 4). Os personagens (incluindo os personagens
não-jogadores) anunciam suas ações em ordem decrescente,
quem teve menos sucessos anuncia primeiro para quem teve
mais sucessos, e então a ação da cena é executada.
Esta é apenas uma sugestão de como organizar Turnos
de Ação. Os Narradores devem sentir-se à vontade para modifi-
car como quiserem (mudando o sistema de iniciativa ou descar-
tando completamente essa estrutura) para melhor adequar-se
ao humor e às necessidades de suas Crônicas.
• Descrevendo a Cena
De muitas formas, esta é a parte mais importante de
um turno. Ao detalhar a ambientação de uma cena (incluindo
saídas, adereços, a localização de aliados e inimigos, etc.), o
Narrador determina quais opções e ações os personagens pos-
suem disponíveis. Surpreender os personagens dizendo “Eu não
mencionei que havia um bacamarte de relíquia na parede?” ou
não dar a eles todas as informações básicas sobre uma cena é a
melhor forma de alcançar o caos. Certificar-se de que os perso-
nagens sabem onde estão em relação uns aos outros e qualquer
outra coisa importante (como rotas de fuga) é primordial.
Por outro lado, a descrição não se limita ao que se vê
e o que se pode fazer. A descrição de uma cena pode adicio-
nar uma profundidade enorme ao aspecto narrativo do jogo.
Descrever uma sala dizendo: “Você está em uma sala com duas
portas e uma mesa”, perde um pouco do sabor do jogo. Em vez
disso, um Narrador poderia descrever a cena como “... uma
enorme sala de estudo, com uma escrivaninha relíquia de mog-
no repousando sobre o que parece ser um tapete Modelado em
um padrão persa. Na parede, bem atrás da aparição de aparên-
cia predatória sentada à mesa, estão numerosas armas arcaicas,
obviamente Artefatos e na própria escrivaninha há um cinzeiro
de alma forjada, que emite um gemido agudo”. Esse último dá
uma melhor noção da cena e ao injetar alguma ameaça na des-
crição da sala, dá aos personagens uma idéia de com o quê estão
lidando.
Essa também é a parte da cena em que a iniciativa é
determinada, preparando o terreno para o aspecto sistêmico do
resto da rodada. Mesmo que um Narrador decida descartar o
sistema de iniciativa padrão, ainda faz sentido nesse ponto, es-
tabelecer algum tipo de ordem para a ação prestes a ocorrer.
• Estágio de Decisão
É nesse momento que todos os personagens, incluin-
do aqueles interpretados pelo Narrador, dão a volta na mesa em
ordem inversa de iniciativa e anunciam o que estão fazendo. Ao
trabalhar as coisas dessa maneira, dá a personagens com maio-
res iniciativas (aqueles que estão pensando mais rápido nesta
rodada) a vantagem de ver e agir de acordo com o que seus
Capítulo Nove: Drama 247
oponentes estão fazendo. Afinal, não faz sentido que o persona-
gem que recebe a iniciativa mais baixa (e que, portanto, supos-
tamente está pensando mais devagar) consiga entender o que
todo mundo está fazendo uma rodada antes de decidir sobre
sua ação.
O Narrador então decide como todas as ações anun-
ciadas serão resolvidas (quais rolamentos serão realizados, as
dificuldades, o número de sucessos necessários) e a ação passa
para o estágio de resolução. Os rolamentos podem ser tão sim-
ples ou tão complicados quanto necessário.
• Estágio de Resolução
O estágio de resolução de um turno é a parte do turno
em que os dados são rolados e as intenções conflitantes de to-
dos (“eu atiro nele!” “Eu esquivo!”) são resolvidas. Os jogadores
rolam os dados de acordo com o sistema descritos (ou da forma
que o Narrador decidir) e o Narrador julga os resultados dos ro-
lamentos. Em outras palavras, diz aos jogadores o que acontece.
Todo rolamento de dados, no final da fase de resolu-
ção, precisa ser traduzido em descrição, história e trama. Os jo-
gadores rolam dados; os personagens se envolvem em lutas de
vida ou morte e se uma Crônica não passar de rolamentos de
dados, todo o elemento de interpretação de Aparição é perdido.
Os Narradores não devem apenas anunciar níveis de dano de
Corpus; Eles devem descrever feridas infligidas, fugas ousadas
e manobras de combate. Quanto mais detalhada a descrição do
que os personagens estão fazendo, melhor.
Iniciativa
Alguém sempre age primeiro. Iniciativa é a melhor
maneira de descobrir quem, sem mencionar quem age em se-
gundo ou terceiro, ou quando os vilões começam a agir. Ao rolar
a iniciativa, um Narrador configura a ordem da ação e elimina
qualquer confusão sobre quem consegue fazer o quê e quando.
Às vezes, quem chega primeiro é óbvio (emboscadas e afins)
mas na maior parte do tempo, a iniciativa deve ser determinada
para que haja uma forma justa e equilibrada de organizar a ação.
Em circunstâncias normais, cada personagem envol-
vido em uma sequência de ação testa Raciocínio + Prontidão
(dificuldade 4), os personagens que obtiverem o maior núme-
ro de sucessos atuam primeiro. Os personagens que falham em
seus rolamentos de iniciativa agem por último, depois de todos
os demais. Os personagens que falharem criticamente não atu-
am no turno e ficarão indisponíveis nesse período. Talvez suas
armas tenham travado, ou eles estejam atordoados pelo dano
que sofreram na última rodada.
Ao planejar uma situação em que os oponentes dos
personagens receberão uma ação livre (como numa embosca-
da), geralmente é uma boa ideia permitir aos personagens um
teste de Percepção + Consciência (difícil 8, ou maior) para ver
se eles percebem o perigo iminente. Isso aumenta o suspense
e também evita que os jogadores fiquem infelizes com o trata-
mento de seus personagens.
Realizando Ações
Uma vez iniciado um Turno de Ação, existem apenas
três ações básicas que os personagens podem realizar sem um
rolamento de dados. São elas:
• Protelar - Permite que um personagem reserve sua
ação e que a iniciativa passe para o próximo jogador. Um perso-
248 Aparição: O Esquecimento
nagem que tenha cedido sua ação pode escolher iniciá-la a qual-
quer momento antes do final da rodada. Se todos protelarem a
ação por uma rodada, ninguém faz nada durante essa rodada.
• Cura - Uma aparição pode usar o Pathos para curar
um Nível de Corpus de dano não Agravado por turno. Se o per-
sonagem deseja fazer qualquer outra coisa além de se curar no
turno, ele deve testar Vigor (dificuldade 8). Se esse teste falhar, a
tentativa de cura também falhará.
• Mover - Um personagem pode mover-se caminhan-
do, marchando ou correndo (rastejando, cambaleando, etc., es-
tando por conta da imaginação do Narrador e jogadores). Ao
marchar, move-se 10 + sua pontuação de Vigor em metros por
turno. Ao correr, move-se 18 + 3x seu Vigor em metros por tur-
no.
Não há rolamento necessário para se mover, mas isso
é tudo que o personagem pode fazer na rodada. Se as condições
forem perigosas (piso liso, clima severo, fogo inimigo), o Nar-
rador pode pedir algum tipo de teste para se certificar de que
o personagem mantém o equilíbrio e a direção. Se um perso-
nagem está procurando fugir de um encontro ou combate, ele
deve se esquivar até que esteja livre da área de combate.
Um personagem flutuando na Tempestade sem o be-
nefício de Argos se move a metade da velocidade normal de
caminhada e só pode mudar sua direção através do gasto de um
ponto de Pathos.
Sistemas Dramáticos
‘Um jogo?’ disse Jive. Não, não menino. É mais que isso.
É uma educação.
-Clive Barker, “The Thief of Always”
baixo está uma lista de sugestões para
lidar com ações que os personagens pro-
vavelmente farão com frequência. Se você
quiser, tem a opção de interpretar as coi-
sas para solucionar e usar o que está abai-
xo como guias ou sugestões. Entretanto,
você pode querer rolar dados para solu-
cionar algo; damos aqui uma lista de rola-
mentos e efeitos comuns. Geralmente, ações Físicas exigem que
os dados rolem com mais frequência do que os ações Mentais
ou Sociais, já que os dois últimos são mais fáceis de interpretar
sem dados.
Sistemas Físicos
Estes sistemas descrevem ações e efeitos físicos (situ-
ações dramáticas onde os personagens precisam usar seus atri-
butos físicos).
Escalada
Independente do personagem tentar escalar uma ár-
vore, um penhasco ou um prédio, o jogador deve testar Destre-
za + Esportes. A dificuldade do teste depende da superfície e,
em menor grau, das condições meteorológicas. Chuva ou vento
forte aumentam a dificuldade da escalada de +1 para +3.
Cada sucesso rolado indica que o personagem subiu
um metro e meio. Uma vez que sucessos suficientes sejam acu-
mulados para atingir a altura desejada, nenhum teste adicional é
necessário. Uma falha indica que o personagem não subiu mais
naquela rodada. Uma falha crítica significa que o personagem
cai e não pode tentar escalar o mesmo penhasco, árvore, etc.,
novamente sem gastar um ponto de Força de Vontade.
2 Subida Fácil; uma árvore com muitos galhos robustos.
4 Escalada Simples; um penhasco com muitos apoios.
6 Mediana; uma árvore com muitos galhos finos.
8 Traiçoeiro; existem poucos apoios.
10 Extremamente difícil; uma superfície quase lisa.

Feitos de Força
A Força de um personagem é freqüentemente usada
sozinha, sem uma Habilidade, para ações que precisam apenas
de força bruta para alcançar o resultado desejado. O sistema uti-
lizado corresponde à regra do sucesso automático. Se a Força
do personagem é igual ou maior que a dificuldade da tarefa que
está realizando, ela é automaticamente bem sucedida.
Se a dificuldade da tarefa for maior que a Força do
personagem, um teste é necessário. É feito um rolamento de
Força de Vontade, não de Força. Este é um rolamento simples
e o personagem tem apenas uma chance para tentar. Cada su-
cesso no teste de Força de Vontade com Dificuldade 9 aumenta
a Força efetiva do personagem em um passo no gráfico abaixo
(até um máximo de cinco passos). Assim, se um personagem
tem Força 4 e deseja virar um carro, ela precisa de três sucessos
no teste de Força de Vontade para conseguir.
Nota: Relíquias geralmente têm uma durabilidade
equivalente às suas contrapartes das Terras da Carne.
Dados Feito Peso (Kg)

1 Amassar lata de cerveja 20

2 Quebrar uma cadeira 45
3 Arrombar porta de madeira 110
4 Partir uma tábua 2” x 4” 180
5 Arrombar porta de emergência 300
6 Arremessar uma motocicleta 360
7 Virar um carro pequeno 400
8 Quebrar cano de chumbo de 9cm 450
9 Socar através de parede de concreto 545
10 Rasgar um tambor de metal 680
11 Socar por chapa de metal de 3cm 900
12 Quebrar um poste de luz de metal 1350
13 Arremessar um carro 1800
14 Arremessar um furgão 2250
15 Arremessar um caminhão 2700

Ligação Direta (sem Habitar)

Se um personagem está roubando um carro e não tem
uma chave, ou não pode encontrar a chave do seu próprio carro
e deseja dar partida com pressa, ele deve fazer ligação direta.
Isso requer um teste de Força + Reparo para forçar a tampa do
volante e expor os fios apropriados (dificuldade 6). Uma falha
crítica significa que a tampa quebra e não pode ser substituída.
Em seguida, o personagem deve rolar Destreza + Manha para
iniciar o motor (dificuldade 8). Falha significa que o carro não
liga. Uma falha crítica neste segundo teste significa que o perso-

Capítulo Nove: Drama 249

 nagem arrancou fios importantes em sua pressa e não pode dar
partida no carro.

Saltando
Pular requer um teste de Força para um salto vertical,
ou Força + Esportes para um salto horizontal com uma corrida
inicial. A dificuldade do salto é invariavelmente 5 (a menos que
haja condições climáticas difíceis ou um espaço de pouso estrei-
to). O Narrador calcula quantos sucessos são necessários para
dar o salto. Não há nenhum sucesso parcial no salto; o persona-
gem ou consegue, ou cai. Assim, um personagem tentando um
salto de 1,8m de altura precisaria rolar Força e conseguir três
sucessos, dificuldade 5; se ele estivesse saltando de um telhado
para outro, a 6m de distância, precisaria de 5 sucessos em Força
+ Esportes.
Tipo de Salto Metros por Sucesso
Vertical 0,6
Horizontal 1,2

Perseguição
Este sistema simples é usado quando um personagem
tenta pegar outro. O perseguido começa com um certo número
de sucessos, determinados aleatoriamente pelo Narrador, ou o
número de sucessos obtidos em um teste de Destreza + Esportes
(dificuldade 6) para cada turno de vantagem desde que come-
çou a perseguição. Seu perseguidor deve alcançar o mesmo nú-
mero de sucessos em Destreza + Esportes (dificuldade 6) antes
que possa alcançá-lo. Assim que o fizer, pode tentar agarrar o
personagem perseguido (veja “Combate” na página 256). O
perseguidor pode precisar apenas diminuir a distância entre ele
e o perseguido se tentar atirar nele, afim de colocar o alvo ao al-
cance. Se este for o caso, ela não precisa corresponder ao núme-
ro total de sucessos. Em vez disso, o mesmo teste é necessário,
mas o número necessário de sucessos é reduzido pela metade.

Reparos
Os Inquietos raramente podem recorrer ao mecânico
para concertar algo; eles geralmente devem fazer o trabalho eles
mesmos. Quando um personagem deseja consertar qualquer
implemento mecânico danificado, deve testar Destreza + Re-
paros. A dificuldade é determinada pela complexidade da tarefa
(veja a tabela abaixo). Antes que a tarefa esteja pronta, um certo
número de sucessos deve ser alcançado, geralmente entre dois
e 20. Cada rolamento significa que um certo período de tempo
foi gasto, conforme for apropriado para a história. Uma falha
crítica indica que o dispositivo foi ainda mais danificado na ten-
tativa de consertá-lo e que a tentativa de reparo como um todo
falhou.

Trabalho Dificuldade #Sucessos

Colar os Cacos de um Vaso 4 3
Trabalho de Solda 5 2
Mau Funcionamento Eletrônico 5 5

250 Aparição: O Esquecimento

Trocar uma Peça 6 10
Trocar um Pneu Furado 6 5
Reparar Automóvel 7 10
Revisão do Sistema 8 20
Falha Técnica 9 2
Ser a Sombra
Ser a sombra é a arte de seguir alguém secretamente,
na esperança de saber para onde está indo ou com quem está se
encontrando sem ser notado.
Seguir alguém como sombra com sucesso implica
manter o controle da situação e ao mesmo tempo, garantir que
não seja visto. Isso pode ser feito a pé ou em um veículo. Os
testes no veículo podem ser feitos mesmo se alguém estiver
dirigindo, então ainda é possível seguir uma limusine ou um
táxi (“Eu não consigo lembrar o endereço; você terá que seguir
minhas instruções. Vire à direita na esquina. Não, espere, à es-
querda!”).
O personagem que tenta ficar nas sombras deve fazer
um teste de Percepção + Investigação. A dificuldade é geral-
mente 6, embora possa variar de 5 a 9, dependendo de variáveis​​
como multidões, tráfego, condições do tempo e interferências
nas Terras da Carne. Cada sucesso indica que o alvo foi seguido
por um turno. Um número predeterminado de sucessos (de-
terminado pelo Narrador) é exigido para seguir o alvo até o
seu destino. Uma falha indica que o personagem perdeu tem-
porariamente o alvo, mas pode tentar pegar a pista novamente
no próximo turno. Uma segunda falha indica que a trilha ficou
completamente fria. Uma falha crítica em um teste de sombra
significa que o personagem não apenas perdeu o alvo, mas tam-
bém encontrou algum tipo de problema (talvez estivesse tão de-
cidido a seguir o alvo que sofreu um acidente de carro ou caiu
em um Nihil aberto).
Embora o teste de Percepção seja uma parte impor-
tante de seguir nas sombra, a cada turno que o personagem deve
realizar um teste adicional de Destreza + Furtividade (Destreza
+ Condução se o personagem estiver num veículo) para deter-
minar se ele permanece imperceptivel para o alvo. A dificul-
dade base é a Percepção + Prontidão do alvo. Isso pode ter um
modificador de +3 ou -3 a depender das circunstâncias (Ex.: um
Maelstrom traiçoeiro ou uma rua vazia). Um sucesso indica que
o persseguidor não foi detectado; cada sucesso adicional torna
mais difícil o alvo encontrar seu persseguidor, mesmo se esti-
ver ativamente procurando por ele. Uma falha indica que o alvo
suspeita de algo e está olhando em volta e por cima do ombro (o
alvo pode fazer um teste de Percepção, veja abaixo). Uma Falha
Crítica indica que o persseguidor se revelou completamente e o
alvo sabe que está sendo seguido.
Se o alvo for de alguma forma alertado para a perse-
guição (ou seja, se o perseguidor falhar no teste de Destreza +
Furtividade), ou simplesmente olhar para ver se ele está sendo
seguido por hábito, ele testa Percepção + Manha. A dificuldade
é a Furtividade do Sombra + 5. Cada sucesso neste teste indica
um maior grau de suspeita por parte do espectro sendo seguido.
Sucessos podem ser acumulados de turno a turno; veja o gráfi-
co abaixo para determinar como o alvo está alerta para o fato
de que ele está sendo seguido. Falha significa que nada fora do
normal é visto e que o “nível de suspeita” é zero. Uma Falha Crí-
tica significa que o alvo está convencido de que não está sendo
seguido e não voltará a olhar.
Sucessos Nível de Paranóia
1 Palpite
2
3
Suspeita
Quase Certeza
4 Conhecimento Positivo
5 O Perseguidor foi descoberto e identificado
Sistema de coorperativa: Dois ou mais personagens
podem compartilhar as responsabilidades de seguir nas som-
bras por negociação. No entanto, eles devem ter trabalhado/
treinado previamente juntos nesta técnica; caso contrário, as
dificuldades de todos os testes para o par são aumentadas em
+1. Ao usar este sistema, um personagem vai perseguir o alvo
por um turno ou mais, trocando sempre que seu parceiro der o
sinal. Se a equipe de seguir pelas sombras ficar trocando, o per-
sonagem não pode acumular sucessos por muito tempo, o que
torna muito mais difícil para o alvo identificar os que o seguem.
Furtividade
Quando um personagem tenta se esconder nas som-
bras ou se aproximar de outra aparição, ela deve rolar Destreza
+ Furtividade (dificuldade igual à Percepção + Prontidão da
pessoa que ela está tentando iludir).
O personagem furtivo precisa coletar um certo nú-
mero de sucessos para chegar ao seu destino. Normalmente, é
necessário apenas se esgueirar por um único turno; se turnos
adicionais forem necessários, o Narrador determinará quantos
sucessos a aparição precisa para evitar a detecção.
Falhas de qualquer tipo em um teste Furtividade indi-
cam detecção.
Dirigir Ousadamente
Use este sistema para determinar o resultado de per-
seguições de carros relíquia e outras manobras veiculares com-
plicadas. Rolamentos de dados em perseguições são feitos para
determinar o quão rápido o motorista está e se é capaz de evitar
atravessar objetos nas Terras da Carne. Cada veículo é avalia-
do pela sua velocidade máxima de condução, bem como pela
sua capacidade de manobra. Como os diferentes veículos têm
velocidades e tempos de resposta diferentes, os detalhes da per-
seguição geralmente dependem da fabricação dos veículos en-
volvidos (veja a tabela abaixo).
Um personagem que está dirigindo pode executar
uma manobra especial para alcançar outro veículo ou mano-
brar, como dar uma virada repentina, fazer um giro de 180°
graus ou bloquear um Atalho. Se um personagem faz uma ma-
nobra especial, o outro personagem deve copiá-lo fazendo o
mesmo ou um teste similar.
O jogador que faz a manobra inicial de dirigir ousada-
mente deve rolar Destreza + Condução, com a complexidade da
manobra ditando a dificuldade no que é chamada de velocidade
segura. Se o veículo estiver se movendo mais rápido do que sua
Capítulo Nove: Drama 251
velocidade de segurança listada, a dificuldade aumenta em +1
para cada 15 Km/h que o veículo está indo acima da velocidade
de segurança. O motorista decide a velocidade com que o veícu-
lo realiza a manobra, embora nem sempre consiga desacelerar o
SOCIAIS
suficiente para evitar uma batida ou colisão. ‘A ação está sempre lá. É só se mover.’
Além disso, o nível de manobrabilidade do veículo - Neil Gaiman, “Six to Six”
determina o número máximo de dados que podem ser rolados. Esses sistemas se aplicam a cenas que poderiam ser
Mesmo que o piloto tenha uma Parada de Dados que exceda a melhor resolvidas através de interpretação do que rolando da-
capacidade de manobra do carro, ele ainda pode rolar apenas dos. Eles envolvem interação e intimação, intuição e intriga. Re-
um número de dados igual à classificação do carro. comenda-se que a interpretação substitua esses sistemas sempre
Objetos sólidos apresentam um risco menor durante que possível, mas há momentos em que as habilidades de um
perseguições em alta velocidade para os aparições do que para jogador não coicidem com as de seu personagem. Para essas si-
os vivos. Uma aparição pode dirigir um carro esportivo relíquia tuações, use os sistemas sugeridos abaixo.
através de um Caminhão de três eixos nas Terras da Carne, cau-
sando apenas danos mínimos de Corpus para si mesmo, seu Credibilidade
passageiro e seu veículo. Nos casos em que uma aparição con-
duz através de um objeto sólido, ele instantaneamente recebe Quando um personagem está tentando convencer al-
um nível de dano temporário de Corpus e torna-se Incorpóreo guém (como um magistrado da Hierarquia) que está dizendo a
por um número de turnos equivalente a sua classificação de Vi- verdade, ou similarmente tentando estabelecer sua identidade
gor. Se seu veículo ainda estiver dentro de um objeto sólido nas como confiável, o jogador testa Manipulação + Liderança (a di-
Terras da Carne no momento em que ele abandonar a forma ficuldade é a Inteligência + Lábia do alvo). Cada sucesso indica
Incorpórea, ele imediatamente tomará outro Nível de Corpus e um grau maior de credibilidade. Com cinco sucessos, o assun-
repetirá o processo. O mesmo vale para qualquer passageiro no to está completamente resolvido. Uma falha indica descrença e
veículo relíquia. uma falha crítica indica que o personagem está preso em uma
Um carro relíquia também sofre dano de Corpus (que mentira (ou o sujeito pensa que o pegou numa mentira).
pode ser curado com um investimento de Pathos) ao passar por
um objeto sólido. Ele também ficará Incorpóreo e permanecerá
nesse estado em turnos de Vigor do seu dono.
Tagarelar
Veículos relíquia afetam uns aos outros normalmente; A Tagarelice é um meio de confundir verbalmente um
um carro-relíquia poderia passar por um tanque nas Terras da alvo e permitir que você faça algo irregular. Policiais permitirão
Carne e receber apenas um nível de Corpus de dano, mas uma que você passe por eles com um encolher de ombros, viúvas
colisão frontal com um sub-compacto relíquia (mesmo que am- desconfiadas mostrarão suas relíquias preciosas e guerrilheiros
bos estejam Incorpóreos) poderia muito bem destruir os veícu- Renegados acreditarão que você simplesmente esqueceu a se-
los. nha. O jogador que tenta tagarelar deve rolar Manipulação +
Veículo Vel. Vel. Manobra Corpus Lábia; a dificuldade é Raciocínio + Manha de seu oponente.
Segura Max Sucesso indica que o alvo está desorientado pelas pala-
vras do personagem e provavelmente concordará com ele, pelo
Caminhão de 95 145 3 70 menos momentaneamente. Falha indica que a tentativa falhou,
seis rodas permitindo que o alvo pensasse sobre o que está sendo dito e
Ônibus 95 160 3 90 talvez, voltasse ao senso comum. Uma falha crítica indica que o
alvo está com raiva, ciente da tentativa de fraude e desconfiado
da tagarelice. Repetir o teste pode ser necessário para lhe dar
Caminhão de 110 175 4 100
três eixos tempo para pensar.
Os testes de Força de Vontade podem ser feitos para
Sedã 110 190 5 35 resistir a tagarelice (dificuldade 5). Cada sucesso no teste de
Força de Vontade subtrai um sucesso do teste de tagarelice; se
Mini-van 110 190 6 50 os sucessos de Força de Vontade anulam todos os sucessos das
tagarelice, então a tentativa do vigarista pode ser considerada
Subcompacto 110 210 6 30 como uma falha.

Esportivo
compacto
160 225 7 25 Interrogatório
Cupê Espor- 175 240 8 25 Interrogatório é o questionamento próximo e cuida-
tivo doso de uma pessoa por um ou mais personagens. Difere da
tortura porque nenhuma violência é usada, embora possa haver
Carro esporte 210 275 9 25 ameaça. Para extrair um segredo dessa maneira, o interrogador
Carro de Fór- 225 385 10 30 faz um teste de Manipulação + Intimidação (a dificuldade é a
mula 1 Força de Vontade do prisioneiro). O número de sucessos indica
a quantidade e o grau de detalhe das informações obtidas. Uma

252 Aparição: O Esquecimento

falha significa que o questionador não descobre nada de valor.
Uma falha crítica indica que o alvo não lhe dirá nada e nunca
lhe dirá nada (ou pior, o alvo mente e o interrogador acredita
nele). Por esta razão, o Narrador deve fazer o teste pelos perso-
nagens que tentam interrogatório.
Sucessos Interrogatório
1 Apenas resmungou alguns fatos
2 Alguns detalhes relevantes
3 Muitas informações interessantes
4 O indivíduo fala pelos cotovelos
5 Tudo de importante é descoberto
Oratória
Se um jogador quiser que seu personagem faça um
discurso, mas não quiser recitar a proclamação inteira na ínte-
gra, esse sistema é um substituto aceitável. O jogador deve pelo
menos descrever o que seu personagem diz, chegando com as
linhas de abertura, ou uma frase memorável ou slogan; com o
estímulo, tal monólogo pode encorajar o jogador a completar
sua totalidade.
No entanto, se o jogador decidir não realizar o equi-
valente do discurso na íntegra, ele testa Carisma + Liderança. A
dificuldade básica é de 7, mas pode depender do humor da mul-
tidão e de sua disposição em ouvir o que o personagem tem a
dizer (para não mencionar o objetivo dos participantes armados
com tijolos relíquia, ou particularmente defensores selvagens).
O Status do orador (se houver) pode diminuir a dificuldade. O
número de sucessos indica como impressiona a multidão (veja a
tabela a seguir). Este é um teste simples e o jogador tem apenas
uma chance para ter sucesso. Uma falha indica que a multidão
ignora o personagem. Uma falha crítica indica que a multidão é
antagônica e pode aumentar a violência.
Sucessos Reação da Multidão
1 Eles ouviram, mas não estão animados
2 Eles estão um pouco convencidos
3 A multidão lhe dá completa atenção
4 A multidão está completamente encantada
5 A multidão está na palma da mão do personagem
Se o discurso for vital para a história, o jogador pode
fazer várias jogadas. Você pode fazer do discurso uma ação
prolongada, intercalando cada jogada com sua interpretação.
O personagem pode gastar quantos Turnos quiser. No entanto,
após o terceiro turno, à medida que o público fica inquieto, a di-
ficuldade aumenta em +1 a cada turno. Mais que 5 sucessos po-
dem ser necessários para conquistar a multidão completamente.
Uma oratória cheia de ímpeto pode muito bem ali-
mentar as Paixões das aparições na platéia. Se este for o caso
(por exemplo, se os membros da platéia tiverem Paixões base-
adas em Patriotismo ou Orgulho), a dificuldade para o teste de
oratória será reduzida em -2 e os membros da platéia poderão
fazer testes para ganhar Pathos.
Capítulo Nove: Drama 253

Performances
Independente do desempenho de um personagem ser
cantado, tocado ou atuado, seja no palco ou em uma boate, for-
mal ou informal, ensaiado ou espontâneo, esse sistema simples
costumava resolvê-lo.
O jogador rola o Atributo apropriado (por exemplo, o
Carisma seria apropriado para atuar, enquanto num stand-up
poderia ser melhor manipulação) + Performance (ou Expres-
são, dependendo das circunstâncias). A dificuldade depende de
quão receptivo é o público. Uma falha representa um desem-
penho esquecível. Uma falha crítica indica que o desempenho
é tão ruim que o público o interrompe com gritos e vaias antes
que possa ser concluído; talvez um Artífice hostil Gremlinize o
sistema de som, ou algum desastre semelhante ocorra.
O número de sucessos indica a movimentação do pú-
blico e o mérito artístico do espetáculo.
Sucessos Sua Performance Reações
1
2
Medíocre
Mediano
Aplauso educado
Aprovação
3 Bom Apreciação genuína Esses sistemas dramáticos lidam com a aplicação da
mente e dos atributos mentais. Use-os em cenas em que o dra-
4 Superior Aplauso vigoroso ma deriva de pensamentos, revelações, descobertas e mistérios.
5 Excepcional Reação de êxtase
6
7
Soberbo
Brilhante
Sensação imediata
Miraculoso
Performances que alimentam Paixões têm uma di-
ficuldade reduzida (-2). Por outro lado, estragar uma perfor-
mance que alimenta a Paixão de um público pode muito bem
alimentar uma Paixão Sombria, com consequências potencial-
mente terríveis.
Sedução
Sedução é um meio planejado e criativo de se tornar
íntimo de outra pessoa; cada passo é planejado e emoções reais
não são compartilhadas. A sedução ocorre em vários estágios;
cada estágio consecutivo deve ser bem sucedido, caso contrário,
a sedução como um todo falhará.
Idealmente, a sedução, como qualquer troca emo-
cional, deveria ser interpretada. Este sistema pode ser usado
se uma ou ambas as partes se sentirem desconfortáveis com
​​ a de Aparições, junto com imagens surreais contrastadas com
intencionalidade dessas intimidades.
Embora sedução entre os mortos possa parecer estra-
nha, é uma ocorrência mais comum do que se imagina. Afinal,
muitas aparições possuem Paixões ligadas ao Amor ou à Luxú-
ria e enquanto a intimidade física não é exatamente a mesma
coisa para os mortos como é para os vivos, ainda tem seu apelo.
Além disso, muitas aparições habilidosas em Titerismo desfru-
tam de nada além de se interessarem pelos assuntos românticos
e carnais de seus hospedeiros.
Linha de Largada: O jogador testa Aparência + Lábia.
A dificuldade é o Raciocínio do alvo +3 (o jogador ganha um
bônus de um a três dados por uma boa iniciativa. “Você vem
254 Aparição: O Esquecimento
sempre aqui?” Ou algo similarmente clichê aumentará a dificul-
dade em +1). Um sucesso significa que o alvo está escutando.
Cada sucesso adicional permite que o personagem adicione um
dado extra por sucesso ao teste no próximo estágio. Falha signi-
fica que o alvo se afasta, enquanto uma falha crítica indica que o
alvo está de alguma forma insultado ou envergonhado.
Troca de Palavras: O jogador testa Raciocínio + Lá-
bia (dificuldade de Raciocínio do alvo + 3). Mais uma vez, dê
bônus e penalidades pela interpretação. Cada sucesso além do
primeiro adiciona um dado extra ao teste no próximo estágio,
indicando que o alvo da sedução está impressionado ou inclina-
do favoravelmente.
Conversa: O jogador testa Carisma + Empatia. A di-
ficuldade é a Percepção do alvo + 3. Novamente, os bônus por
interpretação entram em jogo aqui.
Intimidades: Agora o casal pode sair para uma área
privada e se tornar fisicamente íntimo. Nenhum teste de dados
deve ser necessário para esta fase da sedução, embora o Arcanos
Moliate ofereça algumas possibilidades fascinantes.
Mental
Interpretação dos sonhos
Os sonhos das Aparições frequentemente contêm in-
formações importantes, embora esse conhecimento divinatório
e místico geralmente esteja envolto em simbolismo e referências
obscuras. Uma Aparição que deseja aprender o significado de
seus sonhos deve rolar Percepção + Enigmas. O Narrador deci-
de a dificuldade deste teste, baseado na obscuridade do sonho e
sua importância para o personagem. Quanto mais importante a
informação contida no sonho, mais fortemente ela ficará oculta
e assim, mais difícil será o teste. Nem todos os sonhos terão in-
formações escondidas dentro deles, mas vá em frente e deixe os
jogadores rolarem de qualquer maneira, para mantê-los curio-
sos.
Os sonhos devem ser coisas misteriosas, ricas em sim-
bolismos estranhos e mitos pessoais. Ecos e reflexos da vida e
morte da Aparição e vislumbres bizarros e pseudo-memórias de
sua existência nas Terras das Sombras devem pontuar os sonhos
acontecimentos banais. O Narrador não deve poupar esforços
para tornar sonhos importantes, ricos e únicos.
Às vezes um Narrador pode decidir ter um sonho re-
corrente assombrando um certo personagem. Se isso for deseja-
do, a interpretação dos sonhos pode se tornar uma ação prolon-
gada. O Narrador decide a dificuldade da tarefa e o número de
sucessos necessários para desvendar o significado oculto dentro
de um sonho recorrente.
(Veja o Capítulo Sete: Contando Histórias, para
obter guias adicionais sobre como empregar sonhos em sua
Crônica de Aparição.)
Pesquisa
A pesquisa é muitas vezes a única maneira de um per-
sonagem prosseguir para a próxima cena de uma história. Um
personagem pode ter que investigar assuntos em uma bibliote-
ca, um escritório jornalístico ou em arquivos de computador
para descobrir informações vitais. A pesquisa é uma ótima ma-
neira de permitir que um personagem com alta Inteligência use
seus Atributos para uma boa vantagem e desloca o foco do jogo
da ação e do combate para atividades mais intelectuais.
Para realizar pesquisas, o jogador testa Inteligência
+ Investigação (ou, às vezes, uma habilidade de conhecimento
mais especializada, depois que um local para conduzir pesqui-
sas for encontrado). A dificuldade é baseada na obscuridade da
informação.
Dificuldade Acessibilidade da Informação
2 Geralmente disponível
4 Amplamente documentado
6 Acessível
8 Difícil de encontrar
10 Criptografado e escrito em Etrusco

O número de sucessos determina quanta informação

o personagem aprende. Um sucesso pode significar que apenas
os fatos mais óbvios são encontrados, enquanto cinco sucessos
podem indicar que a história completa (e talvez verídica) é des-
coberta. Dependendo da precisão da informação descoberta, 10
ou até 20 sucessos podem ser necessários para encontrar todos
os dados disponíveis.
Um Aparição pode querer continuar a pesquisa depois
de obter um sucesso parcial. No entanto, a pesquisa continuada
geralmente leva mais tempo do que a pesquisa inicial, pois há
muitas pistas potenciais de investigação abertas para cada fato
descoberto. A pesquisa básica geralmente leva apenas uma ou
duas horas. Uma pesquisa mais aprofundada (e um segundo
teste) pode levar até um dia inteiro.

Procurar
Esse sistema permite que um personagem encontre
algo escondido ou oculto em uma área restrita, como uma sala,
um veículo ou uma clareira. Cada Aparição que estiver procu-
rando deve testar Percepção + Investigação, dificuldade a de-
pender de quão bem o objeto está escondido. Um envelope do-
brado dentro da perna de uma cadeira oca teria dificuldade 9.
Às vezes, um certo número de sucessos é necessário
para encontrar um objeto cuidadosamente escondido; no caso
de um alçapão oculto, por exemplo, um total de cinco sucessos
pode ser necessário para encontrar o trinco. Um ou dois suces-
sos indicam que o pesquisador encontrou a porta, mas não sabe
como abri-la.

Rastrear
Este sistema é usado para rastrear pessoas, animais ou
objetos, seguindo as trilhas físicas que eles deixam, como pega-
das, marcas de pneus ou manchas de sangue. O jogador testa
Percepção + Manha (ou Investigação se a tentativa de rastrea-

Capítulo Nove: Drama 255

 mento estiver ocorrendo em um ambiente rural). Dificuldade é
baseada nas condições meteorológicas, no terreno e no frescor
relativo da trilha, mas geralmente é 7. Cada sucesso reduz a di-
ficuldade do próximo turno de rastreamento em -1.
O personagem precisa ter sucesso em um certo nú-
mero de turnos, com o número exato dependendo do compri-
mento da trilha. Para fins de rastreamento, cada turno pode
ser considerado com cerca de cinco minutos de duração. Se o
personagem falhar um dos teste, pode tentar novamente; no
entanto, a dificuldade para isso aumenta em +1. Uma vez que
a dificuldade se eleva acima de 10, ou o jogador tire uma falha
crítica, ele perdeu a trilha e não pode tentar seguí-la novamente,
a menos que retorne ao local onde encontrou as pistas e comece
de novo. Quando a aparição deseja reiniciar o rastreio, a dificul-
dade começa em 8.
Nota: O sistema acima é para rastrear coisas nas Ter-
ras da Carne; Como as Aparições não costumam deixar pega-
das, as tentativas de rastrear os Inquietos ou os Espectros sem o
benefício de Argos geralmente começam com uma dificuldade
de 8.

Combate
Eu nunca vou esquecer esse dia. Entrei na sala de trei-
namento e disse ao instrutor que queria aprender a machucar as
pessoas.
- Dennis O’Neil e Joe Quesada, The Question Quarterly #5
ombate em Aparição tenta capturar o
drama do conflito violento sem minimi-
zar a dura realidade do que está aconte-
cendo. Todo esforço foi feito para criar
um sistema fiel à dinâmica, às limitações
e à crueldade do combate real, enquan-
to ainda deixa espaço para os elementos
únicos (e às vezes espetaculares) que as
Aparições trazem para ele.

Tipos de Combate
Existem três tipos de combate, os quais envolvem o
mesmo sistema básico e ainda apresentam algumas pequenas
diferenças. Os três tipos são: Armas de Fogo, Armas Brancas e
Briga.
• Combate com Armas de Fogo é qualquer tipo de
combate usando arma de projétil - coisas como: bestas, subme-
tralhadoras Uzi e espingardas de cano curto. Opositores nor-
malmente precisam estar à vista uns dos outros para se envolver
em um tiroteio.
• Combate com Armas Brancas refere-se a qualquer
combate armado usando armas de alcance corpo a corpo - qual-
quer coisa, desde uma garrafa quebrada, Espada ou um macha-
do de Aço Estígio. Oponentes precisam estar num raio de um
ou dois metros um do outro para se envolver em combate corpo
a corpo.
• Uma briga refere-se a qualquer tipo de combate
desarmado, sejam dois punks de rua usando uma luta suja e
traiçoeira ou o mais habilidoso combate de artes marciais. Os
oponentes devem estar ao alcance de um toque para se envolver
em uma briga.
Os rolamentos feitos em combate determinam se um

256 Aparição: O Esquecimento

ataque é bem sucedido, se o alvo se esquiva e quanto dano o alvo
sofre. Quase todas as manobras de combate levam três segun-
dos de tempo de jogo (embora, é claro, demorem mais que isso
para resolver em tempo real).
Como o combate às vezes pode ficar um pouco com-
plicado, um turno de combate é dividido em três estágios: Ini-
ciativa, Ataque e Resolução, para facilitar manter as coisas sob
controle.
Primeiro Estágio: Iniciativa
Este estágio organiza o turno e é quando os persona-
gens declaram suas ações. O personagem pode realizar várias
ações diferentes (desde saltar de algum lugar até gritar algo).
Cada jogador deve declarar o que seu personagem está fazendo
com tantos detalhes quanto o Narrador exigir. Nesse ponto, to-
dos precisam decidir que arma estão usando, se houver.
Personagens fazem jogadas de iniciativa usando Ra-
ciocínio + Prontidão (dificuldade 4, embora o Narradore possa
modificar este teste se assim desejar). O personagem com mais
sucessos age primeiro, enquanto os personagens que obtiverem
menos sucessos executam suas ações em ordem decrescente de
sucessos. Alguns personagens vão agir simultaneamente porque
rolaram o mesmo número de sucessos (ou, se o Narrador pre-
ferir, aquele com a Destreza mais alta será o primeiro). Aqueles
que não obtiverem nenhum sucesso no rolamento serão os úl-
timos e aqueles que falharem criticamente estarão confusos e
incapacitados de agir.
Os jogadores devem declarar quais ações eles devem
tomar durante o turno de combate antes de ir para o Estágio de
Ataque. Um jogador que divide a Parada de Dados de seu per-
sonagem deve declarar quantos dados está alocando para cada
ação. Ele também deve declarar se está gastando qualquer ponto
de Força de Vontade.
Todas as ações de um personagem acontecem quando
é sua vez de agir. A única exceção a isso é a esquiva, que um per-
sonagem pode executar a qualquer momento, desde que ainda
tenha dados em sua Parada de Dados.
Estágio Dois: Ataque
O ataque é o cerne do turno de combate. É nesse está-
gio que o sucesso ou fracasso de uma ação é determinado, assim
como seu impacto potencial no alvo.
O Rolamento: Existem três tipos diferentes de rola-
mentos de ataque; o tipo de combate determina qual deles usar.
• Para o combate de armas de fogo, role Destreza +
Armas de fogo.
• Para combates corpo a corpo (com armas), role Des-
treza + Armas Brancas.
• Para combate corpo a corpo (sem armas), role Des-
treza + Briga. ocorreu no turno. O estágio de resolução é uma mistura de jogo
A arma ou ataque usado determina a dificuldade bási-
ca do teste. O número de dados pode ser modificado pela CdT
da arma ou pelo uso de uma mira, mas a dificuldade geralmente
é modificada apenas pelas circunstâncias do ataque. Se nenhum
sucesso for obtido, o personagem falhará em seu ataque e não
causará dano. Se Falhar Criticamente não só o ataque falha, mas
algo realmente desagradável acontece; armas travam ou explo-
dem, espadas quebram, aliados são acidentalmente feridos, etc.
Esquivando
Toda vez que alguém ataca um personagem, ele tem
a opção de se esquivar. De fato, um jogador pode anunciar a
qualquer momento que seu personagem está usando uma ação
(ou parte dela, dividindo sua Parada de Dados) para se esquivar,
simplesmente declarando, “Esquiva!” antes que o adversário
faça um teste de ataque. Algumas situações podem proibir uma
esquiva, como quartos confinados ou surpresa. Afinal, você
não pode se esquivar quando não há espaço para manobrar, ou
quando você não sabe que um ataque está vindo. O teste re-
querido para uma esquiva é Destreza + Esquiva; cada sucesso
subtrai um sucesso do teste do atacante. Um personagem pode
até subtrair sucessos de diferentes oponentes, embora isso sig-
nifique dividir sucessos entre os dois (ou mais).
A dificuldade para se esquivar de ataques corpo a cor-
po ou briga é 6, aumentada em +1 para cada oponente após o
primeiro. Isso reflete o fato de que é muito mais fácil sair do
caminho de um soco do que evitar três facas de caça vindas de
diferentes locais.
Em tiroteios, a dificuldade de uma esquiva depende
da disponibilidade de uma cobertura próxima atrás da qual o
personagem possa mergulhar para evitar ser atingido. Cada su-
cesso remove um dos sucessos do adversário. Depois de uma
tentativa de esquiva, o personagem geralmente acaba ficando
atrás de algum tipo de cobertura ou, no mínimo, deitado no
chão (se não houver cobertura por perto).
A dificuldade de se esquivar durante tiroteios é deter-
minada pela proximidade da cobertura.
Dificuldade Terreno
2 voltando meio passo, o personagem volta
com cobertura total.
4 Cobertura total numa distância de mergu-
lho (um metro e meio)
6 Cobertura total a curta distância (cinco me-
tros)
7 Cobertura parcial a curta distância (cinco
metros)
8 Terreno plano, sem cobertura (o persona-
gem mergulha no chão e se encolhe)
Terceira Fase: Resolução
Durante este estágio, os personagens determinam o
dano infligido por seus ataques e o Narrador descreve o que
e história; é muito mais interessante para os jogadores ouvirem:
“Sua lâmina de Aço Estigio perfura a armadura e abre um cor-
te profundo no peito dele, deixando o plasma prateado derra-
mando enquanto ele grita”, do que ser dito: “Umm, você causou
três de dano.” Dano corporal e ataques bem-sucedidos são me-
ras formas de descrever o que realmente acontece na história e
é muito importante que a narrativa do combate seja mantida
mesmo quando os dados estão rolando.
Capítulo Nove: Drama 257
 Dano: Cada arma ou ataque permite ao atacante jogar
um certo número de dados para causar dano (dificuldade 6).
Cada sucesso faz com que o alvo perca um Nível de Corpus.
Além disso, cada sucesso com uma arma de fogo em um teste
de ataque (após qualquer esquiva) adiciona um dado a esse tes-
te de dano. Sucessos de ataque com armas brancas e briga não
aumentam o dano.
Absorção: Um alvo pode fazer um teste para ver
quanto dano “absorve” por causa de sua resistência natural. O
alvo testa Vigor (dificuldade 6); cada sucesso reduz o dano cau-
sado em um.
Nota: Os rolamentos de dano e absorção em Aparição
não podem Falhar Criticamente. Uma Falha Crítica em Absor-
ção não causa dano adicional ou agravado, enquanto uma Falha
Crítica no teste de dano simplesmente significa que o ataque
falhou.
Complicações
Vários fatores determinam se um ataque funciona ou
não. Os combatentes inteligentes partem para a cobertura assim
que as balas começam a voar. Outros acham que agredir um
inimigo em uma briga nunca é demais. Os seguintes modifi-
cadores delineiam muitas das variáveis que
​​ afetam o combate.
Complicações Gerais
• Mudando as Ações: Se um personagem mudar sua
ação declarada após o turno ter começado, a dificuldade para a
nova ação aumentará em +1. Geralmente, o Narrador só deve
permitir que o personagem mude sua ação declarada se os even-
tos a impossibilitarem. “Sim, eu sei que a minha personagem
iria pular no carro, mas o Renegado acabou de explodi-lo!”
• Imobilização: Se um alvo é imobilizado (por exem-
plo, segurado por alguém), mas ainda resiste, a dificuldade para
o teste de ataque é diminuída em -2. No entanto, se o alvo es-
tiver completamente imobilizado (amarrado, acorrentado ou
paralisado de qualquer outra forma), então nenhum teste é ne-
cessário e o ataque é bem-sucedido automaticamente.
• Atordoamento: Se, em um turno, um personagem
perde um Nível de Corpus maior que seu nível de Vigor, ele
deve passar todo o próximo turno sentindo os efeitos do ata-
que debilitante. Ele não pode atacar e sua Parada de Dados para
ações defensivas (ou seja, esquiva) é reduzida à metade (arre-
dondada para baixo).
Complicações com Armas de Fogo
• Alcance: Chegar perto do inimigo é uma boa idéia
se um personagem não se importa em arriscar ser baleado al-
gumas vezes. O alcance dado na Tabela de Armas de Fogo é o
alcance médio da arma; o personagem não recebe modificador
para atirar nessa distância. Duas vezes essa distância é o mais
distante que a arma pode disparar. Disparos de uma distância
menor que essa têm sua dificuldade reduzida em -1 (dentro do
razoável; se uma arma tiver um alcance de 12 metros e um per-
sonagem estiver atirando a partir de 11.5m, a dificuldade do tiro
provavelmente não deve diminuir). Por outro lado, tiros realiza-
dos em alvos dentro de um metro do atacante são considerados
“à queima-roupa”. A dificuldade de um tiro à queima-roupa é 4,
independentemente da dificuldade base para o uso da arma.
258 Aparição: O Esquecimento
• Cobertura: Personagens inteligentes usam cobertu-
ra para se protegerem do fogo inimigo. Cobertura aumenta a
dificuldade de um ataque em um valor variável, dependendo
de quanto do corpo do personagem ainda está exposto. No en-
tanto, embora a cobertura proteja, ela também pode dificultar
atirar de volta. Em alguns casos raros, esquivar-se de um canto
para atirar pode aumentar a dificuldade de atirar em +1, en-
quanto assistir a um tiroteio através das rachaduras em uma
parede danificada impedirá o personagem de disparar de volta.
Nota: Balas relíquia podem ser consideradas como
tendo apenas o equivalente a um Nível de Corpus. Portanto, a
munição de relíquia lançada através de objetos sólidos nas Ter-
ras da Carne se desintegra assim que atinge o objeto “sólido” e
não causa dano a nenhuma aparição que se esconda atrás da
cobertura das Terras da Carne.
Cobertura Dificuldade
Rente ao chão +1
Atrás do poste +2
Atrás da parede +3
Apenas cabeça exposta +4
• Deslocamento: Atirar em um alvo em movimento
aumenta a dificuldade em +1 (ou até mais), assim como dispa-
rar em movimento a qualquer velocidade mais rápida que uma
caminhada (como atirar pela janela de um carro em alta veloci-
dade).
• Mirando: Um personagem pode adicionar seu ní-
vel de Percepção à sua Parada de Destreza + Armas de Fogo se
gastar algum tempo apontando. No entanto, apontar leva um
turno por dado adicionado e durante esse tempo o personagem
não pode fazer nada além de mirar (é preciso tempo e paciência
para alinhar um alvo com precisão). Além disso, é impossível
mirar em um alvo que se move mais rápido que uma velocidade
de caminhada. Não é possível mirar com Espingardas e Subme-
tralhadoras.
Se a arma possuir uma Mira Telescópica, o persona-
gem pode adicionar dois dados à sua Parada, além dos dados
adicionados pela Percepção. O bônus da Mira Telescópica pode
ser adicionado apenas uma vez, após os três dados iniciais adi-
cionados na primeira rodada (dois para a Mira e um para Per-
cepção), o personagem continua mirando como descrito acima.
• Apontar: Apontar um local específico (mão da
arma, a cabeça) aumenta a dificuldade em +2. Apontar para um
alvo particularmente difícil (olho esquerdo, dedão do pé direi-
to) aumenta o dificuldade em +4. A dificuldade não pode ser
aumentada acima de 10, mas os Narradores podem exigir múl-
tiplos sucessos.
• Tiros Múltiplos: Se o personagem desejar executar
mais de um tiro por turno, ele pode dividir sua Parada de Dados
em duas ou mais ações. Então, por cada tiro adicional após o
primeiro, a dificuldade é aumentada em um devido ao recuo
(que ocorre mesmo no Mundo Inferior). 10 é, obviamente, o
número máximo a que a dificuldade pode chegar. O persona-
gem pode disparar um número de vezes igual a CdT da arma.
A penalidade de recuo é cumulativa. Portanto, o per-
sonagem adiciona +1 a sua dificuldade no segundo tiro, +2 na
dificuldade do terceiro tiro e +3 no seu quarto. É geralmente
insensato atirar cegamente; o recuo sempre vai prejudicar o ati-
rador e fazê-lo falhar criticamente com muito mais frequência.
Usando essas regras, é possível disparar dois ou mais rajadas
curtas em um turno, embora o personagem possa usar a mano-
bra descarregar apenas uma vez por turno (e deve recarregar
para poder atirar novamente).
• Rajada Curta: A manobra semiautomática é o meio
termo entre as opções descarregar e tiro simples e possui alguns
dos pontos fortes e fracos de ambas. Uma rajada dá ao atacante
três dados adicionais no teste de ataque. No entanto, o recuo
aumenta a dificuldade em +1 para cada ataque. Nesse tipo de
ação, três balas são gastas por uso.
• Descarregar: A opção de Descarregar é o ataque
com armas de fogo mais destrutivo que existe; o atacante gasta
toda a sua munição de uma só vez (e rola um único ataque).
Contudo, a arma torna-se difícil de controlar e ainda mais dificil
de mirar.
O personagem ganha 10 dados adicionais para rolar
no ataque, aumentando sua chance de acerto e de Dano. En-
tretanto, a dificuldade do ataque é aumentada em +3 devido o
recuo.
Descarregar é permitido apenas para armas com pelo
menos metade da sua capacidade de balas disponível. Sempre
que o personagem usa manobra Descarregar, esvazia seu pente
de munição e deve regarregar para poder atirar novamente. Re-
carregar o pente (mesmo relíquias) toma uma Ação Completa e
requer Concentração Total (e sua Parada de Dados).
• Efeito Mangueira: Quando usar Descarregar, o per-
sonagem pode decidir usar Efeito Mangueira em uma área em
vez de se concentrar em um inimigo. O Efeito mangueira usa
os 10 dados extras obtidos com Descarregar, mas o ataque tem
a dificuldade base de 5, adicionando um por metro quadrado
coberto pelo Efeito Mangueira (além de outros modificadores).
O jogador divide todos os sucessos obtidos na sua Pa-
rada de ataque entre todos os alvos na área coberta pela ma-
nobra. Se somente um alvo está na área do Efeito Mangueira,
somente metade dos sucessos vão afeta-lo. O jogador então
atribui qualquer sucesso restante ao que ele quiser. Se a Parada
de ataque obtiver menos sucessos do que há alvos, o jogador
só pode atribuir um por alvo até que tenha usado todos. Este
ataque ainda vai esvaziar seu pente de balas.
A dificuldade de um teste de esquiva para um Efeito
Mangueira é aumentada em +2.
Complicações com Briga e Armas Brancas
• Multiplos Oponentes: Se o personagem está lutan-
do com vários oponentes em combate corpo a corpo, o ataque
do personagem e sua esquiva tem a dificuldade acrescida de +1
por oponente além do primeiro (máximo de 10).
• Ataque Pelos Flancos e Retaguarda: A dificuldade
por atacar um oponente pelos Flancos é reduzida em 1, en-
quanto atacar pela Retaguarda do inimigo reduz a dificuldade
em 2.
Complicações com Armas Brancas
• Aparar: O personagem usa sua Arma Branca para
aparar um ataque, usando sua arma para bloquear. Como na
Esquiva, Aparar pode ser declarada a qualquer momento, desde
que o personagem ainda possua dados disponíveis na sua Para-
da de Dados. O personagem não poderá aparar com uma arma
pequena ou uma faca, mas pode usar uma espada ou machado.
Ele rola Destreza + Armas brancas (dificuldade 6). Cada suces-
Capítulo Nove: Drama 259
 • Encontrão: O personagem corre em direção do seu

Complicações com Armas de Fogo oponente e lança seu peso contra ele. É possível se machucar
durante esse ataque (corpos não foram feitos para serem usados​​
como aríetes). O personagem precisa de três sucessos para de-
Complicações Dificuldade Dados sequilibrar seu oponente. O atacante recebe um de dano no seu
Corpus a cada três sucessos neste teste.
Mudar ação +1 -- Se o ataque obtiver sucesso, o oponente perde o equi-
Imobilizado -2 -- líbrio; as dificuldades de todas as sua ações pelo resto do turno
Longo alcance +1 -- recebem um modificador de +2. Além disso, se o oponente não
passar em um teste de Destreza + Esportes (dificuldade o núme-
Queima-roupa 4 --
ro de sucessos do atacante +3), ele cai no chão. A base de dano
Rente ao chão +1 -- causado é igual a Força do atacante; cada sucesso obtido na ma-
Atrás do poste +2 -- nobra Encontrão além do mínimo adiciona mais um ao valor
Atrás da parede +3 -- base. Se o atacante não conseguir pelo menos três sucessos, a
manobra falha; ele cai no chão e é tratado como se não tivesse
Apenas a cabeça exposta +4 -- mais dados em sua Parada de dados.
Em Movimento +1 -- O personagem pode mover sua distância máxima de
Mirar -- +Percepção(1/Turno) corrida, mas sempre em linha reta. Correr em círculos não é um
movimento compatível com essa manobra.
Mira Telescópica -- +2
Teste: Destreza + Briga Dificuldade: 7
Atingir ponto específico +2 -- Dano: Especial Ações: 1
Múltiplos tiros +1/Tiro Extra • Agarrar: Um atacante pode tentar agarrar um opo-
Descarregar +3 +10 nente, na tentativa de imobilizá-lo para depois golpeá-lo. Se o
atacante marcar mais sucessos que a Força do oponente, o ata-
Rajada curta +1 +3 cante poderá imobilizá-lo. No turno seguinte, ele pode começar
Efeito mangueira 5+1/metro +10 a infligir dano. Qualquer personagem atingido por este atacante
perde seus ataques durante o turno em andamento. Se o atacan-
te errar completamente (por falhar no teste Destreza + Briga),
so subtrai um sucesso do total obtido pelo ataque do oponente. ele é nocauteado, sendo obrigado a gastar uma ação para ficar
Uma Falha Crítica em um teste de Aparar geralmente de pé. Para se manterem agarrados durante cada turno depois
causa a queda da arma da mão do personagem que tentou apa- do primeiro, os combatentes precisam fazer testes resistidos de
rar. Força + Briga. Aquele que acumular mais sucessos pode optar
Teste: destreza + Armas Brancas Dificuldade: 6 por imobilizar o outro. Se ambos marcarem o mesmo número
Dano: Nenhum Ações: Especial de sucessos, nenhum dos dois obterá vantagem sobre o outro
neste turno.
• Desarmar: Esta manobra é uma tentativa de derru- Teste: Destreza + Briga Dificuldade: 6
bar a arma da mão do oponente. O personagem rola Destreza + Dano: Força Ações: 1
Armas Brancas, dificuldade da arma +1. Se obtiver pelo menos • Chute: Um chute pode variar desde um chute frontal
três sucessos, pode rolar Dano da arma; se obtiver mais Suces- bem simples até rodopios no ar. Dependendo das circunstân-
sos do que a Força de seu oponente, o oponente foi desarmado. cias, a dificuldade e o modificador de danos podem ser ajusta-
Uma falha crítica geralmente significa que o personagem solta dos (a critério do Narrador). O dano de um chute nunca pode
sua própria arma. ser Agravado.
Teste: Destreza + Armas Brancas Dificuldade: +1 Teste: Destreza + Briga Dificuldade: 7
Dano: Especial Ações: 1 Dano: Força +1 Ações: 1

Complicações com Briga Tabela de Armas Brancas

Bloqueio: O personagem pode preferir Bloquear em
vez de esquivar. Semelhante a Esquiva, o bloqueio pode ser de-
Arma Dificuldade Dano Ocultabilidade
clarado a qualquer momento, desde que o personagem ainda
possua dados disponíveis na sua Parada de Dados. Bloqueio Cassetete 4 Força B
pode ser feito apenas contra punhos, chutes ou armas contun- Porrete 4 Força + 1 S
dentes. A ação de bloquear não pode ser usada contra espadas, Faca 4 Força + 1 C
flechas ou balas a não ser que essa defesa esteja descrita em con-
junto com algum Arcanos. Role destreza + Briga (dificuldade Florete 5 Força + 1 S
6); cada sucesso subtrai um sucesso dos sucessos do oponente. Sabre 6 Força + 4 S
Teste: destreza + Briga Dificuldade: 6 Espada Larga 6 Força + 5 N
Dano: Nenhum Ações: Especial

260 Aparição: O Esquecimento

 • Soco: O atacante fecha o punho e o usa para golpear
com toda força o oponente. O Narrador pode ajustar a dificul-
dade ou permitir dados extras se o atacante decidir o tipo de
soco que ele quer dar: leve, forte, violento etc.
O dano de um soco jamais é Agravado.
Teste: Destreza + Briga Dificuldade: 6
Dano: Força Ações: 1
Movimentos Especiais
Nem todos os personagens poderão fazer todas as
manobras a seguir; elas só podem ser aprendidas com muito
treinamento. A cada ponto na característica Briga, ele pode es-
colher uma das seguintes manobras:
Jogadores podem criar movimentos especiais que não
estão nesta lista, com a aprovação do Narrador.

Tabela de Armas de Fogo Relíquias

Tipo Dificuldade Dano Alcance CdT Pente Ocultabilidade Uso de Pathos
Revólver Leve 6 4 10 3 6 B 1
Revólver Pesado 7 6 32 2 6 C 1
Pistola Leve 7 4 18 4 17+1 B 1
Pistola pesada 8 5 27 3 7+1 C 1
Rifle 8 8 180 1 5+1 N 2
Metralhadora Pequena 7 4 25 3 30+1 C 2
Metralhadora grande 6 4 45 3 32+1 S 3
Rifle de Assalto 7 7 140 3 42+1 N 2
Espingarda 6 8 18 1 5+1 S 3
Espingarda
semi-automática 7 8 18 3 8+1 S 3
Armas de Fogo Arcaicas
Arco Composto** 7 5 18 1 1 S 0
Pistola de pavio (XV) 8 5 18 1 N/A C 1
Rifle de Pavio (XV) 8 5 36 1 N/A N 2
Pistola Wheellock (XVI) 8 5 18 1 N/A C 1
Rifle Wheellock (XVI) 8 5 36 1 N/A N 2
Pistola Pederneira(XVII) 8 5 18 1 N/A C 1
Rifle Pederneira (XVII) 8 5 36 1 N/A N 2
Pistola de Duelo (1770) 7 5 25 1 N/A C 1
Mosquete de Pederneira 7 5 36 1 N/A N 2
Pistola Percussão (XVIII) 7 5 18 1 N/A C 1
Rifle Percussão (XVIII) 7 5 36 1 N/A N 2

Alcance: Esse é o alcance eficiente da arma em metros. O Personagem pode atirar em um alvo até o dobro do alcance
listado; entretanto isso é considerado um tiro de longo alcance.
CdT: O número maximo de balas ou a rajada curta que a arma pode disparar em um turno. A Cadência de Tiro não se
aplica ao Modo Automático ou Efeito Mangueira.
Pente: O número de balas que podem ser armazenados em um pente de balas ou um tambor. O +1 indica que uma bala
pode ficar na agulha, preparando a arma para atirar.
Ocultabilidade: B = Pode ser guardado no seu bolso; C = Pode ser guardado dentro de casaco; S = Pode ser escondido
num Sobretudo; N = Não pode ser escondido por uma pessoa.
Pathos: O Pathos é o custo de uma arma para ser usada. O investimento de Pathos é o custo da arma para ativá-la pela
duração da Cena. Observe que a munição deve ser obtida separadamente e além do custo de Pathos para essas armas.
* Indica que a arma é capaz de Rajadas Curtas, Modo Automático e Efeito Mangueira.
** A Besta, não é uma arma de fogo, ela não adiciona sucessos na Parada de Dados de Dano. Além disso, a besta leva 5
turnos para recarregar.
*** Estas armas arcaicas são recarregadas de forma meticulosa ou elas podem EXPLODIR. Role Destreza + Armas de
Fogo, dificuldade 6, para recarregar. Se você obtiver mais de 5 Sucessos, você pode atirar duas vezes em uma rodada. Se você
falhar criticamente, a arma explode e pode lhe causar Dano.

Capítulo Nove: Drama 261

 • Manobra Evasiva: Essa manobra envolve saltar, gi-
rar, pular e mergulhar na tentativa de evitar sofrer danos. Esta
manobra não causa dano, mas cada sucesso obtido subtrai um
dos sucessos de ataque do oponente. Essa manobra funciona
como uma Esquiva em todos os sentidos, exceto pelo fato de
o teste ser baseado em Raciocínio e não em Destreza; isso re-
laciona-se com surpreender ou enganar o oponente em vez de
simplesmente evitá-lo. O personagem não pode, no entanto,
abortar uma ação para executar uma ação evasiva; ele deve sim-
plesmente se esquivar.
Teste: Raciocinio + Esquiva Dificuldade: 6
Dano: Nenhum Ação: 1
• Salto Dilacerante: O Salto Dilacerante é a melhor
forma de descrever uma combinação de voo razante e garrada.
É um ataque total, feito atirando-se contra o oponente e tentan-
do derrubá-lo quando passa voando por ele. É uma manobra
difícil de realizar, mas muitas vezes é eficaz quando se consegue,
pois permite se aproximar de um oponente, distanciado-se ra-
pidamente. Muitas aparições experientes em combate preferem
evitar este tipo de ataque, pois se falhar, deixará o atacante dese-
quilibrado e vulnerável. No entanto, em situações desesperadas
ou momentos em que um ataque total é necessário, o Salto Di-
lacerante é um velho favorito de muitos Inquietos.
Teste: Destreza + Briga Dificuldade: 8
Dano: Força + 2 Ação: 2
• Escárnio: Abusando verbalmente do seu oponente,
uma aparição pode distraí-lo ou assustá-lo. Apenas um perso-
nagem de quadrinhos faria brincadeiras espirituosas enquanto
realiza manobras de combate incrivelmente complexas, as apa-
rições também podem xingar longamente durante o combate os
descendentes do oponente, hábitos de higiene, sentimentos em
relação aos quadrúpedes ou qualquer outra coisa que desejar.
Para fins de mecânica de jogo, falar (dentro da razão - não reci-
tar a Constituição a cada rodada) é considerado livre durante o
combate e os personagens são encorajados a animar suas ações
com pirotecnia verbal.
Por outro lado, insultos podem ser jogados como uma
ação de combate que impede outras ações. Para cada dois su-
cessos obtidos em um teste de Escárnio, subtraia um dado da
próxima ação do oponente, seja ela qual for. Se mais de um per-
sonagem usar a manobra de Escárnio no mesmo inimigo em
um turno, os efeitos serão cumulativos. Desta forma, é possível
para um grupo de personagens paralisar um oponente de um
por confusão e medo, contudo se qualquer aparição do Círculo
falhar no teste, nenhum outro teste de Escárnio afetará a vítima
naquele turno.
Vítimas paralisadas por insultos só podem realizar
ações que não requeiram jogadas (embora elas possam se esqui-
var).
O Narrador pode escolher premiar o personagem com
dados extras de ataque por interpretar essa manobra particular-
mente bem.
Teste: Manipulação+Expressão Dificuldade: Raciocínio gens podem resistir a ataques de Arcanoi sem dividir a Parada
do oponente +4 Dano: Nenhum Ações: 1
Armadura
Um personagem com armadura corporal pode somar
dados em seus testes de absorção. Os diferentes tipos de arma-
duras corporais possuem níveis diferentes, que são o número
262 Aparição: O Esquecimento
de dados extras usados para absorver um dano. Certos tipos de
armadura restringem o movimento corporal e, portanto, cau-
sam penalidades nos testes de Destreza do personagem (todos
os testes que envolvam este Atributo têm suas dificuldades au-
mentadas por uma quantidade igual à penalidade).
ARMADURA
Classe Nível Penalidade
Um (roupa reforçada) 1 0
Dois (cota de malha relíquia) 2 0
Três (Armadura de Aço de almas) 3 1
Quatro (colete de Kevlar relíquia) 4 2
Cinco (armadura completa Aço Estígio)6 3
Abaixo estão algumas diretrizes para usar ao criar
manobras especiais. Essas regras são totalmente opcionais; os
Narradores iniciantes devem se sentir livres para ignorá-las ou
esperar até que estejam familiarizados com as regras regulares.
Parada de Dados
Deve haver apenas dois testes de dados envolvidos em
qualquer manobra de combate: um teste de ataque e um teste
de dano (ou efeito). Todos os efeitos da manobra devem ser cal-
culados através destes dois testes. Uma exceção a essas regras é
uma manobra baseada em movimento (veja abaixo).
Um ataque corpo a corpo é feito com um teste de Des-
treza + Briga, enquanto um ataque com armas brancas é feito
com um teste de Destreza + Armas Brancas. Sempre que um
personagem tentar antecipar ou enganar um oponente, como na
manobra de provocação, o teste utilizará a Manipulação mais a
habilidade apropriada (como Briga, Intimidação ou Lábia).
Dificuldade
A dificuldade de uma manobra é geralmente 6, mas
isso pode ser aumentado ou diminuído dependendo da comple-
xidade do movimento ou precisão (por exemplo, um tiro no jo-
elho tem a dificuldade aumentada porque visa uma certa área).
Se a manobra tem por objetivo enganar o oponente, a
dificuldade é geralmente o Raciocínio do Oponente (ou Percep-
ção) com um modificador constante de +4. Às vezes a dificulda-
de é algum Atributo do oponente mais uma Habilidade (como
Raciocínio + Briga), nesse caso, não há modificador.
Teste Resistido
Ocasionalmente um jogador pode resistir a um ataque
desferido contra ele, seja mediante esquiva, uma manobra eva-
siva ou uso de outra manobra. Se o combatente também quiser
atacar no mesmo turno, o teste de resistência normalmente exi-
girá que ele divida sua Parada de Dados.
A exceção a esta regra é resistir a Arcanoi. Os persona-
de Dados. Para maiores detalhes, consulte o texto do Arcanos
específico no Capítulo Cinco.
Sucessos
Geralmente, um ataque precisa de apenas um sucesso
para acertar; em seguida, é calculado o dano. Porém, em alguns
casos é necessário um determinado número de sucessos, como
quando um personagem tenta agarrar o oponente (ele precisa-
ria de mais sucessos que o nível de Força do seu oponente).
Tabela de Briga
Manobra Teste Dificuldade Dano Ações as ações de todos os outros) e a desempenha primeiro.
Bloquear Des + Briga 6 Nenhum 1
Encontrão Des + Briga 7 Especial 1 sempenhando ações múltiplas.
Agarrar Des + Briga 6 Força 1
Chute Des + Briga 7 Força+1 1 Segundo Estágio: Ataque
Soco Des + Briga 6 Força 1
Movimentos Especiais Armas de Fogo.
Man. Evasiva Racio + Esquiva 6 Nenhum 1 • Para combate com armas brancas, teste Destreza +
Salto Dilac. Des + Briga 8 Força + 2 2
Escárnio Manip. + Expr. Racio. + 4 Nenhum 1
Danos (Efeito)
Use a Tabela de Briga para determinar dano e a partir
daí, ajustar para condições especiais. Se o efeito esperado for en-
ganar ou confundir o oponente, a regra geral é que cada sucesso
num teste de ataque subtrai um dado da Parada de Dados do
oponente. Neste caso, apenas o teste de ataque é feito; não existe
nenhum teste separado de dano.
Ações Múltiplas: Como sempre, um personagem terá
de dividir sua Parada de Dados para executar ações múltiplas
em um turno.
Movimento: Normalmente um personagem não po-
derá se mover e atacar na mesma ação. O Narrador poderá per-
mitir que sejam executadas manobras baseadas em movimento
tendo em vista as seguintes normas:
Se um personagem estiver desempenhando algum
feito acrobático, como saltar, balançar-se num candelabro etc.,
será exigido um teste de Destreza + Esportes. Um teste sim-
ples para determinar distância de salto tem uma dificuldade de
apenas 3 (veja “Saltando”, página 250), enquanto um salto de
um trem em movimento sobre um cavalo correndo poderá ter
uma dificuldade alta, como 9. O personagem precisa dividir sua
Parada de Dados entre o teste acrobático e o teste de ataque.
Contudo, o Narrador deve usar a regra do Sucesso Automático
sempre que possível.
Tabela de Resumo de Combate
Primeiro Estágio: Iniciativa
•Teste Raciocínio + Prontidão (dificuldade 4). O
vencedor declara sua ação por último (depois de ter ouvido
• Declare divisão de Parada de Dados se estiver de-
• Para combate com armas de fogo, teste Destreza +
Armas Brancas.
• Para combate corpo a corpo (sem armas), teste
Destreza + Briga.
• Esquiva: teste Destreza + Esquiva. Um persona-
gem pode sacrificar algum ou todos os dados em sua Parada
para esquivar a qualquer momento. Cada sucesso subtrai um
ponto dos sucessos do oponente.
Terceiro Estágio: Resolução
• Teste danos, determinado por arma ou manobra
(dificuldade 6).
• Absorver danos: teste Vigor (dificuldade 6).
Complicações Gerais
• Mudando Ações: A dificuldade aumenta em um.
• Imobilização: A dificuldade em acertar um alvo
imobilizado é reduzida em dois.
• Atordoar: Quando os danos de Corpus excede-
rem o nível de Vigor, o alvo é atordoado, não podendo agir no
turno seguinte.
No que tange a licença poética, esta regra tem algu-
mas exceções. Se um personagem tiver visto muitos filmes de
espadachins e praticado os movimentos extravagantes que viu,
o Narrador poderá permitir-lhe saltar de um candelabro e ata-
car sem ter de dividir sua Parada de Dados. Como alternativa, o
Narrador pedirá que o jogador “adquira” uma manobra especial
(veja “Manobras Especiais”, página 261).
Capítulo Nove: Drama 263
264 Aparição: O Esquecimento
 Exemplo de Jogo
Joshua está preparando uma história de Aparição com Annys e David. Robin, personagem
de Annys, é um membro raso da Hierarquia, enquanto Alexia, Herege jurada, é interpretada por
David. Joshua está usando a história para forjar um laço entre essas duas aparições completamente
opostas, torcendo que o conflito Hereges/Hierarquia criará um ótimo potencial para histórias. Para
começar, Joshua introduz William Miller, um Hierarca de alto nível de Atlanta (veja Necropolis
Atlanta), que pede a Robin para investigar o desaparecimento de um Ceifador local. Isso leva Ro-
bim a um local da cidade chamado Little Five Points, onde Alexia mantém seu Local Assombrado.
Com alguma sorte, ambos se encontrarão lá e a história se desenvolverá a partir dali. Apesar de
Miller ser um Anacreonte, não é da mesma Legião de Robin, mas seu pedido “educado” tem peso
suficiente para fazer Robin ir direto para Little Five Points.

Depois de dizer que Robin corre
para Little Five Points (David está
ficando ansioso por ser deixado de
fora da ação). Joshua descreve a se-
guinte cena: Há uma comunidade
artística nessa área da cidade, Joshua
menciona que o elenco de uma
produção de Machbeth está por ali,
perto da entrada do teatro, falando
sobre seu trabalho.
Annys olha para a ficha de per-
sonagem de Robin e lembra da Pai-
xão Proteger meu livro favorito
(Amor)2. Ela pergunta a Joshua se
há algum dos atores ali notadamente
expressando amor por seu trabalho,
se houver, se Robin pode absorver
algum Pathos deles. Ele começou
com 7 pontos de Pathos, mas Annys
quer mais, só por precaução.
Joshua pensa por um minuto e
decide que uma atriz particularmen-
te atraente (e que atrai Robin ime-
diatamente) se encaixa na descrição.
Normalmente, a dificuldade para
esse tipo de Paixão seria 9, mas como
ambos, a Paixão de Robin e o entusias-
mo da atriz expressam Amor, Joshua
decida baixar a dificuldade para 8. O
rolamento de Annys para a Paixão de
Robin tira um 8 e um 6. Um sucesso,
o que garante um ponto de Pathos para
Robin. Annys começa a olhar com al-
guma esperança para os outros atores,
mas Joshua não quer perder mais tem-
po com isso e diz que os atores termi-
nam seu café e entram. É hora de trazer
Alexia para o jogo.

Joshua usa esse momento para introduzir Alexia. Ele deci-
de adiantar as coisas um pouco, dizendo a Annys que Alexia e
Robin já se cruzaram antes, criando assim, um motivo para as
duas aparições interagirem.
Para dar aos dois, uma chance de conversar, Joshua diz
para David que o teatro é bem em frente à loja de antiguidades
que é seu Local Assombrado. Alexia vê Robin se alimentando
dos atores. Vendo a chance de pegar um representante da Hie-
rarquia desprevenido, David decide que Alexia vai de fininho,
dar um susto em Robin. Joshua pede para David rolar Destre-
za + Furtividade, com dificuldade 5, porque Robin ainda está
destraído com a Trupe de atores. Alexia tem 3 pontos em Des-
treza e 2 em Furtividade, o que lhe dá 5 dados. É o suficiente
para um sucesso automático, mas David que tentar assustar
Robin de forma espetacular. Ele rola 7, 4, 3, 1 e 1. Apenas um
sucesso para dois 1, uma Falha Crítica. Como não é uma situ-
ação crítica, Joshua diz que Alexia não se segura e acaba rindo
antes de chegar perto de Robin. David continua a partir daí,
com entusiasmo.
Os personagens iniciam um pequeno diálogo que é obvia-
mente a continuação de uma antiga argumentação. Essa infor-
mação, apesar de não estar em seus antecedentes, soa natural
e Joshua decide deixar rolar. Robin leva a melhor e Alexia está
pronta para deixá-lo ir quando Joshua diz que para David que
Alexia possui a habilidade básica de Fatalismo, Kismet e que
algo lhe diz que Robin é importante.
Na verdade, Joshua está preocupado que pelo comporta-
mento dos personagens, Robin e Alexia vão acabar se separando
e nunca se falarão de novo. Então, tirando vantagem do conhe-
cimento que tem dos Arcanoi de Alexia, usa uma mecânica do
jogo (nesse caso, Kismet) para garantir que ela tenha um motivo
para continuar interagindo com Robin.
Capítulo Nove: Drama 265
266 Aparição: O Esquecimento
 Enquanto Robin segue para a casa
abandonada que serve de Local Assom-
brado para Macedon, avisa Alexia sobre o
aumento de patrulhamento noturno. No-
vamente, isso não foi previamente conbi-
nado, mas Joshua vê como boa interpreta-
ção e deixa rolar. Alexia, tocada pelo aviso
e curiosa com o que Kismet lhe forneceu,
decide seguí-lo secretemente.
Usando as regras de Ser a Sombra,
Joshua pede a David que role Percep-
ção+Manha (dificuldade 6) para seguir
Robin. David rola 9, 8, 8, 7 e 4; quatro
sucessos é mais que suficiente para seguir
Robin até o Local Assombrado de Mace-
don. David deve rolar também Dextreza
+ Furtividade de Alexia, para evitar que
Robin a veja. Ele rola 9, 8, 6 e 2, que com-
parados à Percepção + Prontidão 7 de Ro-
bin, garante dois sucessos. Robin não tem
ideia que está sendo seguido.
Agindo como a Sombra de Robin, David
oferece três dados quando Annys anuncia
que vai checar se Robin está sendo seguido.
Annys aceita e rola Percepção + Investigação,
mais os 3 dados da Sombra. Annys rola 7, 5,
4 e 4 nos dados regulares e 2, 1 e 1 nos dados
da Sombra (uma Falha Crítica que também
dá 2 pontos de Angústia à Sombra de Robin).
Robin não tem a menor ideia que Alexia o
está seguindo, mas sua Sombra se sente mais
forte.
Como Robin deu Angústia à sua
Sombra, David decide que vale a pena
confrontá-lo. Quando Robin sobe os
degraus da casa do Ceifador, David co-
meça a sussurrar insinuações no ouvido
de Robin, esperando distraí-lo dos pos-
síveis perigos que estão lá dentro. Robin
precisa de todo seu raciocínio se deseja
achar Macedon, assim, tenta ignorar os
sussurros da Sombra. Joshua diz que
Annys precisa fazer um rolamento de
Força de Vontade contra dificuldade
igual a Angústia Permanente 5 de sua
Sombra. Como a Força de Vontade de
Robin é 6, ela rola 6 dados que resul-
tam em 10, 8, 4, 4, 3 e 1; um sucesso,
que permite que Robin ignore seu lado
sombrio, por enquanto.

Apesar de Robin ter calado a Sombra temporariamente, não foi o

Sem qualquer incidente, Robin investiga o exterior do Local Assom-
suficiente para a noite toda. Joshua decide (secretamente, claro) que há
brado antes de entrar. Joshua pede que Annys role Percepção + Prontidão
um Espectro na cozinha que teve sucesso em se comunicar com a Som-
(dificuldade 6) para ver se encontra uma entrada. Ela não tira sucessos
bra de Robin. Ele passa uma nota com a informação para David, que
e não encontra nada. Se quiser entrar, Robin precisa atravessar a porta,
está como Guia da Sombra, dizendo que está na hora de colocar Robin
tornando-se Incorpóreo. Annys decide que isso doeria menos que ter que
em problemas. Ele gasta um ponto de Angústia temporária para ativar
reportar uma falha a Miller, então, ela marca um ponto de Corpus na ficha
o Espinho Truque da Luz, fazendo a porta no fim do corredor brilhar
e atravessa a porta. Robin reaparece dentro da casa, do outro lado da porta,
estranhamente. Robin, claro, vai investigar aquilo, como a Sombra e
mas como penalidade por atravessar um objeto sólido, seu Corpus perma-
o Espectro planejaram. Apesar de gastar um ponto de Angústia para
necerá incorpóreo por um número de turnos (nesse caso 3) igual seu nível
ativar o Espinho, a Sombra de Robin ainda tem mais Angústia que o
de Vigor. Robin leva esse tempo procurando por Macedon nos arredores,
normal. Annys não sabe exatamente quanto poder a Sombra de Robin
mas não o encontra. Como já sabe que Macedon não está na casa, Joshua
possui no momento, mas está começando a se preocupar...
não se incomoda em pedir que Annys faça qualquer rolamento.

Alexia segue Robin para
dentro da casa. Joshua, sa-
bendo que Alexia possui
Presságio (Fatalismo••), pede
a David um rolamento de
Percepção+Fatalismo (difi-
Sendo do tipo destemido, Robin
culdade 6) de Alexia. Ele rola
vai na direção da porta meio aberta,
10, 8, 5, 3 e 1, obtendo apenas
mas para quando vê o que parece ser
um sucesso. Mas, com um Es-
um Espectro surgindo de um Nihil que
pectro nas proximidades, um
abre no chão. Robin não é idiota, então
sucesso é o suficiente. Joshua
Annys informa que imediatamente ele
informa Alexia que assim que
percebe: A) O que aconteceu com Ma-
Robin desapareceu dentro
cedon, e B) Que ele está bem encrenca-
da casa, ela começou a sentir
do. Decidindo dar a Robin um tempo,
uma ameaça palpável. Como
Joshua decide que é hora de interagir
sua Sombra (Angústia per-
com o Espectro e faz com que a criatura
manente 2) está fraca para
comece a falar desdenhosamente antes
dissuadí-la, ela entra da mes-
de atacar.
ma forma que Robin. Como
o senso do perigo alertou
Alexia, David anuncia que
ela também está pegando sua
faca relíquia.
Enquanto o Espectro é expelido pelo Nihil para dentro da
sala, Joshua pede que Annys role Raciocínio + Prontidão para
iniciativa. Annys rola 8, 5, 4 e 2 - três sucessos. Enquanto isso,
Joshua rola quatro sucessos para o Espectro, que age primeiro.
Gritando, ele pula sobre sua presa.
Joshua rola Destreza + Briga para o Espectro contra uma
dificuldade 6 para um ataque com garras, conseguindo seis
sucessos. Ele pergunta se Annys vai tentar esquivar e David
oferece Dados da Sombra novamente. Annys aceita os dados,
sabendo que vai precisar de qualquer ajuda e rola Destreza +
Esquiva + 3 Dados da Sombra. Contudo, os dados parecem
estar contra ela, essa noite. Nenhum sucesso e mais dois 1 nos
Dados da Sombra. A Sombra de Robin ganha mais 2 de An-
gústia temporária e Robin se joga na direção da porta, tentan-
do escapar do Espectro. Joshua diz que a Falha Crítica foi tão
ruim que Robin cai com o Espectro em cima dele e o Espectro
rola o dano. Rolando 6 dados (quatro para Força e dois para
as garras). Joshua consegue cinco sucessos. Annys rola o Vigor
de Robin (três dados) para ver se absorve algum dano e tira
10, 4 e 3. Um sucesso permite que absorva um ponto de dano,
Capítulo Nove: Drama 267
mas Robin ainda recebe quatro. E ainda têm o Espectro em
cima dele.
268 Aparição: O Esquecimento
 Alexia entra no cômodo
quando Robin está sendo de-
captado. Ela grita para atrair a
atenção do monstro e Joshua
decide que ele se vira para ela.
Robin aproveita para se arras-
tar para longe das garras da
criatura. Joshua pede que An-
nys role sua Destreza + Espor-
tes para ver se Robin escapa.
Como o Espectro se distraiu,
Joshua diz que a dificuldade é
4. Annys rola 3 sucessos e foge
facilmente.
Novamente, Joshua pede
que todos rolem iniciativa.
David rola 5 sucessos, o Es-
pectro 2 e Alexia apenas 1,
então Alexia age primeiro.
David pergunta para Joshua se
ele pode atrasar sua ação e ele
permite. Ele diz que o Espec-
tro salta na direção de Alexia,
que está pronta para revidar.
David anuncia que deseja
dividir a parada de dados de
Alexia. Primeiro, Alexia vai
esquivar passando por baixo
do Espectro. Depois, ela quer
estripá-lo, enquanto ele voa
por cima dela. O primeiro ro- Chega a hora de Alexia atacar. David não quer
lamento é Destreza + Esquiva, dar nenhuma chance ao acaso, por isso, gasta um
o segundo é Destreza + Armas ponto de Força de Vontade para ganhar um suces-
Brancas. Alexia possui 7 dados so automático e rola um 4. O Espectro não pode se
no primeiro e 6 no segundo, esquivar, pois não possui mais dados. David rola o
então, David têm 6 dados para dano de Alexia: Dois dados por sua Força + 1 pela
usar. Ele coloca 5 dados para faca. Ela rola 3 sucessos e o Espectro não absorve. Ele
esquivar e apenas 1 para o ata- está ferido, mas Joshua e David sabem que não é tão
que. Joshua rola o ataque do ferido assim.
Espectro ao mesmo tempo que
David rola a esquiva de Alexia
e as coisas parecem estar a seu
favor. O Espectro não tem ne-
nhum sucesso enquanto Alexia
tira 4. A criatura não chega
nem perto de machucá-la.

Decidindo que Alexia se livrou, David diz a Joshua e a Annys que a

Herege vai tirar ela e Robin dali agora mesmo. Ela corre pelo aposento
até Robin, que está muito preocupado. As falhas críticas de Annys nos
Dados da Sombra aumentaram a Angústia temporária da Sombra de
Robin para 8, maior que sua Força de Vontade. David, que gosta de
tornar a vida mais difícil, decide que a Sombra vai aproveitar a oportu-
nidade para controlar o Corpus de Robin e inicia um rolamento de Ca-
tarse gastando um ponto de Angústia temporária e rolando Angústia
temporária restante (sete dados) contra a Força de Vontade de Robin
(sete dados), ambos rolando com dificuldade 6. Annys rola 10, 9, 8, 7,
5 e 2, enquanto David rola 8, 6, 4, 5, 3, 3 e 2. Annys tira mais sucessos,
então Robin permanece no controle do seu Corpus. Novamente, é hora
de rolar iniciativa: dessa vez, Alexia e Robin tiram dois sucessos e o
Espectro apenas um.
Nesse ponto, Joshua diz que Alexia alcança Robin no canto.
David ativa o poder de Argos ••, Asas Fantasmagóricas no seu
turno, rolando Vigor + Argos (dificuldade 8). Ela consegue três
sucessos, signigicando que ela pode voar por três turnos inteiros.
Ao mesmo tempo, Robin estica a mão para Alexia. Joshua pede
um rolamento de Destreza + Briga (dificuldade 4) e Robin passa
facilmente. Do outro lado do cômodo, o Espectro se prepara para
outro ataque.

De mãos dadas, Alexia e Robin atravessam a parede do Local Assombrado de Macedon para onde o
Espectro não pode seguí-los. As aparições estão temporariamente a salvos e Joshua preparou caminho
pro resto da Crônica. Cabe a Alexia e Robin decidirem o que farão dali pra frente...

Capítulo Nove: Drama 269


Antagonistas
Espectros
Tenha medo, tenha muito medo.
- Veronica “Ronnie” Quaife, A Mosca (1986)
spectros são almas que foram devora-
das pelo Esquecimento, mas não foram
engolidas pelo Abismo. Entre eles estão
as aparições cujas Sombras ganharam
o domínio de seu Corpus e os mortais
que morreram de forma tão violenta que
cruzaram a Mortalha com suas Sombras
dominantes. As circunstâncias da transformação de cada alma
determina a casta Espectral a qual pertencerá o Espectro indivi-
dualmente, uma vez que ele saia de seu casulo jogado pela Tem-
pestade; aparições que sucumbem às iscas oferecidas por suas
Sombras se tornam Replicantes, por exemplo, enquanto aquelas
almas perdidas na Tempestade tornam-se Vultos.
As castas de Espectros determinam sua posição na so-
ciedade deles, que é rígida e hierárquica de uma maneira bem
canibalística. Dentro dos limites da casta, a influência individu-
al de um Espectro é determinada por suas Paixões Sombrias.
Quanto mais um Espectro odeia, ou deseja, ou é ganancioso,
mais influência ele tem entre seus pares. Espectros são criaturas
de Paixões Sombrias; eles são Ódio, Raiva ou qualquer outra
forma similar de emoções. A proximidade de uma emoção forte
como a que o Espectro incorpora (essa emoção é considerada
sua Essência e substitui a Força de Vontade) pode desencadear
um estado frenético chamado Latrocínio, durante o qual o Es-
pectro ataca irracionalmente a aparição ou mortal que a provo-
cou. Sempre que um Espectro encontra um mortal ou aparição
com uma Paixão equivalente à sua Essência, igual ou maior que
a sua classificação de Essência, o Espectro deve fazer um teste de
Essência ou entrar em Latrocínio.
O Esquecimento consome o Espectro lentamente,
mesmo quando ele serve sua vontade. Alguns Vultos afirmam
que ele é sensível e consciente, enquanto outros afirmam que o
Esquecimento é uma força insensata e implacável. Seu apetite
voraz almeja consumir tudo que existe. O impacto erosivo da
presença do Esquecimento nos Espectros garante que sua exis-
tência seja geralmente breve e dolorosa e, por puro sadismo, al-
guns Espectros tentam seduzir as aparições a se tornarem suas
companheiras no tormento. Quando o Esquecimento eventu-
almente reivindica um Espectro, um Nihil se abre em torno de
seus restos, mergulhando o que resta dos fragmentos em de-
composição no Vácuo. Aparições ou outros Espectros vítimas
deste mesmo Nihil terão o mesmo destino e se forem sugados
com o resto do Corpus do Espectro por esse buraco, vão acabar
nas profundezas do Labirinto.
O poder destrutivo do Esquecimento lentamente faz
o Espectro sofrer, a cada segundo de sua existência no Mundo
Inferior. É na esperança de acabar com a dor que Espectros tão
fanaticamente servem Esquecimento, jogando-se na luta com a
270 Aparição: O Esquecimento
esperança de uma morte mais rápida. Nem todos os Espectros
são suicidas; alguns, em vez disso, traçam a destruição de toda a
existência na esperança de que o fim de tudo signifique o fim de
sua dor. Essa ambição, aniquilando não apenas o mundo, mas
todos os mundos, é o mais próximo que a maioria dos Espectros
tem de um objetivo. Todos os Espectros procuram infligir seu
próprio sofrimento aos outros, sejam eles mortais ou sobrena-
turais.
Se podem dizer que há um propósito no Mundo das
Trevas, então os Espectros existem para colher as sementes do
Esquecimento que crescem em todas as almas. Para este fim, eles
possuem alguns mortais e assombram outros, a fim de estimular
o crescimento da Paixão Sombria pela qual eles se alimentam.
Eles espalharam a essência do Esquecimento pelas Terras da
Carne e Terras das Sombras, alimentando emoções negativas e
causando estragos sangrentos. Por ter o Esquecimento tão forte
em si, os Espectros acham difícil notar o mundo dos Breves.
Os Espectros estão duas vezes mais distantes das Terras da Car-
ne que as aparições e a Mortalha é correspondentemente difícil
para eles rasgarem. A maioria dos mortais é invisível para os
Espectros, assim como o mundo mortal.
Quando eles não estão atacando os Inquietos ou as-
sombrando os Breves, os Espectros enredam e intrigam em
seus covis malignos no Labirinto. Eles também assombram a
Tempestade, a natureza turbulenta que eles podem distorcer e
alterar com o Arcanos Sombrio Moldar-Tempestade. Outros
Arcanoi Sombrios que Espectros possuem, mas aparições não
tem acesso são Rasgar-Mortalha (o que permite um Espectro
interagir com as Terras da Carne); Contaminar (por meio do
qual um Espectro pode infectar outros com Esquecimento);
Apropriação (que permite ao Espectro curar o dano infligido
pelo Esquecimento roubando a energia de outros); e Mente Co-
letiva (através da qual um Espectro pode se lembrar de informa-
ções que nunca aprendeu).
Detalhes sobre Arcanoi Sombrios e outras informa-
ções úteis sobre os Devorados pela Sombra, podem ser encon-
tradas em Reflexos Sombrios: Espectros.
Replicantes
Como o próprio nome sugere, Replicantes são Espec-
tros que adquiriram a habilidade de se passar por aparições.
Muitos possuem a habilidade de mudar suas aparências para
se infiltrar na Hierarquia da Necropolis e em postos avançados
dos Renegados, onde coletam informações, espalham mentiras,
destroem indivíduos importantes para tomar seu lugar e geral-
mente causam estragos. Replicantes são os agentes favoritos dos
Malfeanos e são mais frequentemente encontrados nas Terras
das Sombras do que na Tempestade.
Replicantes retém toda a sua inteligência ao se torna-
rem Espectros. Alguns dizem que a natureza transformadora do
Esquecimento aguça a sua inteligência, tornando-os mais mor-
tíferos. Eles possuem livre-arbítrio, são malevolentes e ainda
possuem acesso a seus Grilhões e Arcanoi.
Independentemente de qual aparência eles tomam,
todos os Replicantes podem ser detectados pela luz-sepulcral
do Esquecimento, que queima em seus olhos sombriamente.
Aparições precavidas podem reconhecer essa luz e assim detec-
tar um Replicante ao obter um sucesso no teste de Percepção +
Ocultismo (dificuldade 8).
Amostra das Estatísticas de um Replicante
Físico: Força 2, Destreza 3, Vigor 3
Social: Carisma 4, Manipulação 4, Aparência 2
Mental: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Consciência 2, Empatia 3, Expressão 2,
Lábia 3
Perícias: Etiqueta 3, Armas de Fogo 2, Performance 2, Furtivi-
dade 2
Conhecimentos: Enigmas 3, Linguística 2
Arcanoi: Modelar 3
Arcanoi Sombrios: Moldar-Tempestade 1, Rasgar-Mortalha 2
Antecedentes: Aliados 3, Mentor 4
Paixões Sombrias: Distribua 10 pontos
Grilhões: Distribua 5 pontos
Essência: Inveja 5
Corpus Permanente: 10
Angústia: 10

Vultos
Os Espectros conhecidos como Vultos são os mais
temíveis da sua espécie. Considerados a tropa de choque do
Esquecimento, existindo apenas para destruir. Vultos são tudo
o que restou das aparições que foram capturadas em um Ma-
elstrom ou perdidas na Tempestade. Seus pensamentos mais
elevados são estirpados pelo Esquecimento, deixando apenas as
Paixões Sombrias para motivarem o Vulto emergente em sua
nova existência.
Os Vultos são a epítome da energia destrutiva. Eles
existem para derrubar os baluartes que seguram o Esquecimen-
to, das muralhas forjadas de almas da Estigia Imperial às espe-
ranças e crenças individuais das aparições e dos Breves.
Na falta de impulsos e ambições mortais, os Vultos
não podem ter Grilhões e portanto, não podem existir por mui-
to tempo nas Terras das Sombras ou Terras da Carne, a menos
que sejam convocados por meio de Necromancia ou transpor-
tados de outra forma por outros. A Tempestade é a sua casa e
grande parte da sua extensão infinita se torna inóspita pelas
hordas vorazes de Vultos que lá habitam.
Amostra das Estatísticas de um Vulto
Físico: Força 4, Destreza 3, Vigor 3
Social: Carisma 2, Manipulação 2, Aparência 2
Mental: Percepção 4, Inteligência 1, Raciocinio 3
Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 5, Esquiva 2, Intimi-
dação 2
Pericias: Liderança 2, Briga 3, Furtividade 3
Conhecimentos: Enigmas 3
Arcanoi Sombrios: Contaminar 1, Mente Coletiva 2, Apropria-
ção 2, Moldar-Tempestade 3
Poderes de Vulto: 1 a 3 poderes de Vulto
Antecedentes: Aliados 2, Contatos 1, Notoriedade 2
Paixões Sombrias: 12 pontos
Essência: Desespero 5

Capítulo Nove: Drama 271


Arcanoi Sombrios
Os Arcanoi Sombrios dos Espectros pos-
suem os seguintes poderes:
Rasgar-Mortalha permite que um Es-
pectro: Fique mais tempo se manifestando nas
Terras da Carne, ver e ouvir coisas nas Terras da
Carne com diferentes graus de clareza.
Mente Coletiva permite ao Espectro:
Enviar um sinal de socorro telepático; condu-
zir conversas telepáticas de duas vias com outros
Espectros próximos; lembrar-se de informações
completas que ele próprio pode não ter aprendido;
desvendar segredos conhecidos por Espectros há
muito tempo engolidos pelo Vácuo e, eventual-
mente, extrair qualquer informação da vasta cons-
ciência Espectral.
Moldar-Tempestade permite ao Espec-
tro: Navegar a Tempestade; localizar Nihils e es-
cutar por eles; usar Nihils como atalhos entre a
Tempestade e as Terras das Sombras; retirar obje-
tos da Tempestade (o objeto retirado geralmente
é aleatório); puxar um objeto perdido especifico
da Tempestade (como um Artefato) e remodelar
a Tempestade e o Labirinto como desejar (particu-
larmente útil quando encenar um Pesadelo).
Contaminar permite ao Espectro: ver a
extensão do Esquecimento sobre criaturas vivas;
observar e falar com a Sombra de uma aparição;
descobrir a Natureza de uma aparição; nutrir a
Sombra com Angústia; despertar novos Espinhos
e até mesmo ajudar uma Sombra a assumir o con-
trole.
Apropriação permite ao Espectro: De-
terminar quão forte é o Esquecimento nos outros;
drenar Corpus de outros para recompor o seu;
implantar Paixões Sombrias em alvos escolhidos;
drenar a Angústia da dor que inflige aos outros;
curar dano causado por Falha Crítica e transferir
os efeitos do Esquecimento de si mesmo para ou-
tro.
272 Aparição: O Esquecimento
Corpus Permanente: 15
Angústia: 10
Poderes de Vulto
Todo Vulto e alguns outros Espectros, possuem habi-
lidades únicas chamadas Poderes de Vulto. Todo Vulto possui
pelo menos um, mas geralmente possuem quatro ou cinco.
• Unir – a fim de usar este Poder de Vulto, deve-se
primeiro Agarrar com sucesso seu alvo (veja “Complicações
em Briga”, página 259). No próximo turno, a forma do Vulto
se contorce para envolver sua vítima completamente e a menos
que o Vulto seja destruído, qualquer aparição aprisionada não
poderá ser libertada. A aparição encapsulada é normalmente
levada para a Tempestade para um destino incerto. O uso desse
poder custa três pontos de Angústia. Alguns Vultos usam esse
poder para esconder outros Vultos dentro deles mesmos, abrin-
do-se para liberar seus companheiros em um momento apro-
priado.
• Camaleão Parasita – Este poder permite que um
Vulto se prenda discretamente a uma aparição, fazendo um tes-
te de Destreza + Furtividade (Dificuldade Percepção + Pron-
tidão da aparição). Uma fonte de luz apontada para o Corpus
da aparição pode ajudar a detectar a presença do Vulto parasita
(Percepção + Consciência, dificuldade 8), mas de outro modo,
o parasita permanecerá indetectável pela maioria dos meios.
Enquanto permanecer quieto, o Vulto pode seguir a aparição
onde quer que vá, mesmo nas Terras das Sombras. O Vulto pode
então separar-se, causando um Nível de Dano de Corpus ao seu
hospedeiro no processo e atacar qualquer um próximo de um
a cinco turnos, antes de ser jogado para a Tempestade. Viajan-
do assim, o Vulto também pode atuar como “ouvidos” para um
Malfeano. Este Poder custa cinco pontos de Angústia para usar,
mais um de Angústia por dia gasto fora da Tempestade.
• Tentáculos Ectoplámicos – Dotado com espécies de
membros extras, o Vulto pode atacar duas vezes por turno. Es-
pectros com Tentáculos Ectoplásmicos raramente usam armas.
• Perseguir Atormentados – O Vulto pode unir-se di-
retamente a Psique de uma aparição enquanto ela cai através da
Essência
Essência é uma Característica única para os Es-
pectros. A Essência de um Espectro é determinada por
sua Paixão Sombria mais forte. Por exemplo, um Repli-
cante cuja Paixão Sombria mais alta seja “Matar Todos os
servos da Hierarquia” (Ódio) 5, terão Ódio como sua Es-
sência, com uma classificação inicial equivalente à Paixão
Sombria. Pontos de Essência podem ser gastos da mes-
ma maneira que Força de Vontade e uma classificação de
Essência Espectral pode aumentar e diminuir durante o
jogo. Da mesma forma, os Espectros usam Angústia (re-
colhidos de suas Paixões Sombrias) em vez de Pathos para
energizar seus Arcanoi.
Tempestade no Labirinto. Enquanto no Labirinto, o Vulto pode
tentar capturar qualquer Força de Vontade ou Pathos gasto pela
aparição durante o Pesadelo e convertê-lo em Angústia para seu
próprio uso. Para fazer isso, o Espectro testa Destreza + Cons-
ciência (Dificuldade 9). Cada sucesso permite que outro ponto
seja transmutado.
• Respiração Contagiosa – Esse poder permite que
o Vulto exale um vapor nocivo, semelhante em natureza aos
ventos perversos do Esquecimento que circulam pelo Labirinto.
Vítimas dessa respiração sofrem um ponto de dano de Corpus
por ponto de Angústia que o Vulto gastar para ativar o poder.
Como o Espectro está essencialmente exalando Esquecimento
puro, esse dano não pode ser absorvido nem sequer resistido.
• Entorpecer o Coração – O Vulto pode atacar direta-
mente as Paixões de uma aparição, infeccionando-as com o frio
do Esquecimento. Após um ataque bem-sucedido, o Vulto que
deseja usar esse Poder emprega sua Angústia num teste resisti-
do contra a Força de Vontade da aparição. Se o vulto for bem
sucedido, uma das Paixões do alvo será reduzida em um ponto.
O uso deste poder custa três pontos de Angústia, mas é capaz de
levar a aparição a um Pesadelo quando empregado em batalha.
• Dreno de Pathos – O vulto pode drenar um ponto
de Pathos por sucesso num teste de ataque. Os pontos de Pathos
são convertidos diretamente em pontos de Angústia para o Vul-
to numa base de um-para-um. Vultos com esse Poder muitas
vezes se tornam gananciosos e incham com o excesso de Angús-
tia, há lendas de Vultos que tiraram tanto de suas vítimas que
literalmente explodiram.
• Rasgo da Teia Vital – O Vulto pode atacar direta-
mente os Grilhões de uma aparição. Ele precisa primeiro obter
sucesso num teste de ataque. Em seguida emprega sua Angústia
num teste resistido contra a Força de Vontade da aparição. Se
o Vulto for bem-sucedido, um dos Grilhões da aparição será
reduzido em um ponto. O uso deste poder custa cinco pontos
de Angústia, mas semelhante a Entorpecer o Coração, pode levar
uma aparição facilmente a um Pesadelo.
• Dentes de Tubarão – O Vulto pode causar danos
Agravados com sua mordida (dano = Força + 2).
• Emoção Entubada – O Vulto pode atacar direta-
mente a Paixão de um oponente e converter pontos de Paixão
drenados em Paixão Sombria. Cada ponto drenado aumenta a
Paixão Sombria dominante do Vulto (e também a sua Essência)
em um. O Vulto deve atacar com sucesso o seu oponente em
combate e então tentar superar o Pathos do alvo com sua Essên-
cia em um teste resistido.
• Grito Espectral – O Vulto pode gritar na Tempes-
tade, convocando assim mais Vultos (um a cinco). O uso deste
Poder custa cinco pontos de Angústia, independentemente do
número de Vultos convocados.
• Manada – Vultos geralmente andam em bandos.
Através do uso deste Poder, todos os Vultos de um único bando
podem combinar seus talentos físicos para infligir maiores da-
nos aos seus inimigos. Ao custo de um ponto de Angústia e um
ponto de Essência, cada Vulto com este Poder que participa de
um ataque conjunto pode temporariamente assumir o valor da
maior Força, Destreza e Vigor de qualquer Vulto do grupo.

Capítulo Nove: Drama 273

 • Garras – O Vulto pode causar danos Agravados com
suas garras (dano = Força + 1).
• Fúria da Tempestade – Ao custo de dois pontos de
Angústia e um ponto de Essência, o Vulto pode infectar a Tem-
pestade com sua própria confusão interior. Isso faz com que
Tempestade seja povoada por tormentas, redemoinhos borbu-
lhando através de Atalhos e outros efeitos desagradáveis.
Pequenos
Aparições de crianças que sucumbem às suas Sombras
tornam-se Pequenos. Vultos, Replicantes e Anunciadores são to-
dos encontrados entre grupos de Pequenos, que são os únicos na
sociedade Espectral em que sua adesão transcende as fronteiras
das Castas. Os Pequenos tornaram-se um movimento organiza-
do entre os Espectros durante a Revolução Industrial, quando o
número de crianças que se tornavam aparições e eventualmente
(ou às vezes rapidamente) Espectros começaram a aumentar ra-
pidamente.
Pequenos se comprazem em levar outras crianças,
sejam aparições ou mortais, a compartilhar seus destinos. Afi-
nal, a miséria adora companhia. Todos os Pequenos são exce-
lentes no Arcanos Sombrio Rasgar-Mortalha, permitindo-lhes
um contato muito maior com os Terras da Carne do que com a
maioria dos Espectros.
Amostra das estatísticas de um Pequeno
Físico: Força 1, Destreza 3, Vigor 1
Social: Carisma 2, Manipulação 3, Aparência 2
274 Aparição: O Esquecimento
Mental: Percepção 3, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 4, Briga 1, Esquiva 5, Manha 3
Perícias: Furtividade 5
Conhecimentos: Enigmas 4, Investigação 3
Arcanoi: Encarnar 2, Lamúria 1, Insulto 1
Arcanoi Sombrios: Apropriação 2, Rasgar-Mortalha 3, Mol-
dar-Tempestade 1
Antecedentes: Aliados 2
Paixão Sombria: 10 pontos
Grilhões: Variável, até 10 pontos
Essência: Inveja 5
Corpus Permanente: 10
Angústia: 10
Anunciadores
Anunciadores são Espectros que nunca foram apa-
rições. Suas mortes mortais foram tão violentas ou chocantes
que foram instantaneamente reivindicadas pelo Esquecimento.
Anunciadores parecem mais à vontade na Tempestade do que
outros Espectros e são especialmente habilidosos no Arcanos
Sombrio Moldar-Tempestade. Atualmente, seus números são
poucos, o que os coloca firmemente no fundo do poço das cas-
tas Espectrais. À medida que suas fileiras crescem com todos os
assassinatos em massa e assassinatos em série, no entanto, eles
ganham força e fervilham contra o desprezo das outras castas.
Amostra das estatísticas de um Anunciadores
Físico: Força 3, Destreza 3, Vigor 4
Social: Carisma 3, Manipulação 2, Aparência 1
Mental: Percepção 2, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 2, Consciência 3, Briga 3, Empatia 2, Ex-
pressão 3
Pericias: Liderança 4, Armas Brancas 3, Furtividade 2
Conhecimentos: Burocracia 2, Política 3
Arcanoi Sombrios: Mente Coletiva 1, Moldar-Tempestade 5
Antecedentes: Artefatos 1, Contatos 2
Paixão Sombria: 8 pontos
Grilhões: Nenhum
Essência: Ira 5
Corpus Permanente: 10
Angústia: 10
Nephwracks
Espectros cujo Corpus está tão permanentemente de-
formado pelo Esquecimento que nem mesmo a aplicação mais
habilidosa de Modelar poderia disfarçar, tornam-se Nephwra-
cks, cortesãos dos Malfeanos. Eles se orgulham de se trans-
formar nas formas mais repulsivas que se pode imaginar. Para
olhos sãos, os Nephwracks são monstruosidades piores que
aquelas imaginadas por Bosch e Blake – horrores deformados
pela morte.
Incapazes de se infiltrar na sociedade dos Inquietos,
em vez disso planejam sua destruição. Os Nephwracks interpre-
tam os sonhos dos Malfeanos e fornecem comandos e orienta-
ção aos grupos de guerra de Vultos. Quando não estão tentando
destruir aparições, conspiram um contra o outro e com os rivais
de seus senhores; eles não estão longe de destruir sua própria
espécie. Nephwracks são vilões admiráveis ​​para as crônicas de
Aparição, pois são poderosos o suficiente para representar uma
verdadeira ameaça, mas também podem ser derrotados por um
Círculo habilidoso e perspicaz.
Amostra das estatísticas de um Nephwracks
Físico: Força 2, Destreza 2, Vigor 2
Social: Carisma 3, Manipulação 4, Aparência 0
Mental: Percepção 4, Inteligência 3, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 3, Empatia 3, Expressão 3, Lábia 4
Perícias: Etiqueta 2, Liderança 3
Conhecimentos: Burocracia 3, Enigma 3, Política 3
Arcanoi: Phantasma 1
Arcanoi Sombrios: Mente Coletiva 4, Apropriação 2, Moldar-
Tempestade 1
Antecedentes: Mentor 5
Paixão Sombria: 10 pontos
Grilhões: Variável, de 0 a 5 pontos
Essência: Egoísmo 5
Corpus Permanente: 10
Angústia: 10
Malfeanos
Os monstruosos Não-Nascidos são os imortais deu-
ses-reis da sociedade dos Espectros. Massivos, horrores incha-
dos gerados do pesadelo e das trevas antes da morte, Malfeanos
desafiam descrição. Muito do seu tempo é gasto em hiberna-
ção e eles surgem intermitentemente a cada poucos séculos.
Alguns Malfeanos têm colônias de Vultos morando em túneis
roídos através de sua carne podre. Outros estão cercados por
Nephwracks servis e Replicantes bajuladores que cumprem
todos os seus caprichos murmurados. Dizem que alguns Mal-
feanos são Espectros que devoraram seus companheiros, cres-
cendo em tamanho e poder pelo seu canibalismo sobrenatural,
embora, considerando-se a fome de Esquecimento, parece im-
provável que qualquer Espectro possa sobreviver por tempo su-
ficiente para prosperar com tal prática.
Através de seus sonhos, os Malfeanos comandam seus
servos e guiam a sociedade Espectral, raramente se movendo
nas cavernas que eles mesmos roeram na escuridão primordial
eras atrás. Malfeanos raramente emergem do Labirinto e quan-
do o fazem, sua aparição sinaliza uma grande catástrofe inevi-
tavel. Há rumores de que em algum lugar nos recantos mais es-
curos do Labirinto, estão os Malfeanos que dormem e sonham
desde o início dos tempos, dos quais o próprio Gorool era ape-
nas uma pálida imitação. Se algum dia eles acordarem, então
certamente o Maelstrom Final invadirá as Terras das Sombras e
o Esquecimento reinará sobre tudo.
Aconselhamos a manter os Malfeanos nas asas da sua
crônica, em vez de no centro do palco. Um inimigo Malfeano
deve permanecer uma presença invisível, cuja manipulação dia-
bólica e ameaça generalizada é uma presença contida e sinistra,
em vez de uma ameaça direta. Qualquer encontro com um Mal-
feano deve chegar ao clímax de uma crônica longa e perigosa, se
chegar.
Mesmo Malfeanos Pequenos são tão poderosos que
tornam as estatísticas irrelevantes. Os Malfeanos Maiores são
virtualmente deuses na escuridão.
Barghests
errivelmente obedientes a seus mestres,
aterrorizando todos os outros no Mun-
do Inferior, barghests já foram apari-
ções. No entanto, foram lobotomizados,
Modelados na aparência de cães de caça,
e treinados para rastrear ou atacar os
inimigos da Hierarquia. Normalmente
barghests andam em pares (chamados
de esteios), embora bandos de caça de até uma dúzia tenham
sido vistos durante varreduras para capturar Renegados parti-
cularmente perigosos.
Cada barghest usa um focinheira, um Artefato de bai-
xa qualidade que o mantém fiel ao detentor de sua coleira. Se o
focinheira se soltar, ninguém sabe a quem o cão atacará, embora
muitos barghests sejam capazes de demonstrar afeição por seus
Capítulo Nove: Drama 275
donos.
A maioria dos barghests tem apenas inteligência em
nível animal. Líderes de matilha tendem a ser um pouco mais
brilhantes.
Amostra das estatísticas de um Barghest
Físico: Força 4, Destreza 2, Vigor 5
Social: Carisma 0, Manipulação 3 (para propósito de Intimida-
ção apenas), Aparência 1
Mental: Percepção 5, Inteligência 0, Raciocínio 3
Talentos: Prontidão 4, Briga 2, Esquiva 2, Intimidação 3
Pericias: Rastrear 5
Arcanoi: Argos 1, Lamúria 4
Paixão: Servir (Lealdade) 5
Grilhões: 1 ponto restante
Força de Vontade: 5
Pathos: 5
Angústia: 7/5
Corpus Permanente: 8
Equipamento: Focinheira, Brinquedo de mastigar Forjado

Habitantes da Tempestade
O riso encontra-se nos rostos
Onde o sol nunca mostrou
O medo da vida é forte
- Big Country, “Porrohman”
Tempestade hospeda hordas de criatu-
ras que não são nem aparições nem Es-
pectros, mas algo inteiramente diferente.
Eles são chamados por muitos nomes e
vêm em uma infinita variedade de for-
mas e tamanhos. Muitas aparições jo-
vens chamam essas criaturas de Plásmi-
cos e até as catalogaram de acordo com
o tipo. Existem os Phantasias, que têm uma forte semelhan-
ça com as criaturas encontradas entre os vivos nas Terras da
Carne. Existem os Deliriums, que são muito parecidos com os
Phantasies, mas malformados e às vezes perigosos. Existem os
Lendários, que muitas vezes aparecem como as criaturas míti-
cas antigas, dragões e unicórnios dos dias passados. Finalmente,
há os Wyrds, que certamente devem ser pesadelos deixados por
deuses mortos ou seres de poder similar. Coletivamente, essas
entidades estranhas são chamadas pelas mais antigas aparições
como o Whistimmu. Enquanto muitos Mensageiros e Carrascos
tentaram catalogar os estranhos avistamentos, parece não haver
limite para as formas que elas podem assumir. Os exemplos a
seguir são apenas alguns dos mais comuns dos Whistimmu,
mas tudo o que se possa imaginar (e algumas coisas que não
podemos) podem ser encontrados dentro do alcance do pesa-
delo que é a Tempestade.
Para informações sobre Plásmicos, veja Mar de Sombras.
Cães de Tindel
Físico: Força 4, Destreza 5, Vigor 6
Social: Carisma 4, Manipulação 0, Aparência 0
Cães de Tindel
Mental: Percepção 4, Inteligência 2, Raciocínio 2
Talentos: Prontidão 4, Esportes 3, Briga 3, Esquiva 2, Intimi-
dação 4
Pericias: Rastrear 5
Arcanoi: Argos 5, Modelar 3
Poderes: Fogo Infernal (ver abaixo)
Força de Vontade: 9
Corpus Permanente: 10
Angústia: 8
Aparência: Cães de Tindel são feras massivas seme-
lhantes a cães negros gigantes. Existem diferenças, no entanto.
Cães possuem apenas uma boca e dois olhos, enquanto Cães
de Tindel já foram vistos com até 10 bocas e 15 olhos. Cães de
Tindel tem mais de 4 metros e meio de altura até o ombro e o
que parece, a primeira vista, ser um pelo preto e grosso. Em um
exame mais detalhado, o “pelo” é, na verdade, revelado como
uma esteira pesada de ganchos farpados curtos, útil para cap-
turar qualquer coisa que se aproxime demais. Essas farpas são
capazes de movimento limitado e normalmente puxam o que
quer que estejam mais perto das numerosas cabeças dos Cães
de Tindel.
O aspecto mais chocante dos Cães de Tindel é a va-
riação que cada um ostenta na forma, tamanho e número de
suas cabeças. Cada cabeça é única, embora vagamente canina, e
equipada com uma enorme boca cheia de presas e pelo menos
um olho verde incandecente. Os Cães de Tindel emitem gran-
des pontos de fogo verde de seus focinhos quando uivam, e dei-

276 Aparição: O Esquecimento

xam um rastro pesado de fuligem onde quer que vão.
Histórico: A primeira observação documentada de
um Cão de Tindel ocorreu quando um dos animais irrompeu
do peito de Henry Tindel, uma aparição de Londres, Inglater-
ra, na última parte da Era Vitoriana. O Corpus de Tindel foi
completamente destruído no processo de “dar à luz” a fera e os
poucos que viveram a experiência afirmaram que o mau humor
de Tindel havia se manifestado na forma do monstro. Outras
manifestações de Cães de Tindel desde então refutaram essa
hipótese, mas ainda é extremamente raro que uma das feras
aventure-se nas Terras das Sombras. Eles preferem os confins
da Tempestade e vários dos infernos mais notáveis ​​nas Costas
Distantes treinaram Cães de Tindel como cães de guarda.
Dicas de Interpretação: Comer, rosnar, destruir!
Notas do Narrador: Cães de Tindel não são animais
estúpidos, eles tendem a aprender com o que vivenciam. En-
quanto as bestas enlouquecidas podem ser enganadas uma vez
com um truque, elas nunca cairão no mesmo golpe duas vezes.
Trabalhando em grupo, Cães de Tindel tendem a escolher um
alvo, uma vez que decidiram atacar. Mesmo saltar para a Tem-
pestade não é garantia de segurança contra essas feras, pois elas
podem usar seus instintos de rastreamento para acompanhar o
cheiro de suas presas (Percepção + Rastreamento, dificuldade
7) através da tormenta eterna. As chamas de um Cão de Tindel
são extremamente quentes e causam dois níveis de dano agra-
vado a qualquer aparição que esteja em seu caminho. Esse dano
pode ser absorvido, mas qualquer aparição presa nas farpas de
um Cão de Tindel é constantemente exposta às chamas. Todos
Ailerons
os danos causados ​​pelas presas e garras do Cães de Tindel são
agravados. Na opinião da maioria das aparições, a melhor coisa
que alimentar-se, eles aprenderam a assombrar os Atalhos onde
a fazer quando se enfrenta um Cão de Tindel é simplesmente
as presas eram mais abundantes. Depois de se agarrarem à sua
fugir, ou se não for possível, lançar outra aparição no caminho
presa com suas longas caudas e suas bocas de lampréia, as cria-
do monstro e esperar que a criatura a escolha como vítima.
turas literalmente absorvem a Corpora de suas vítimas, que ine-
vitavelmente caem em Pesadelos devastadores como resultado.
Ailerons Quando a Hierarquia estava no seu auge, grupos bem treinados
de Legionários com armas e redes Artefatos foram designados
Físico: Força 2, Destreza 3, Vigor 2 para manter os Atalhos livres dessas feras, mas nas últimas dé-
Social: Carisma 2, Manipulação 0, Aparência 0 cadas a população de Aileron se recuperou enfaticamente.
Mental: Percepção 3, Inteligência 0, Raciocinio 1 Dicas de Interpretação: É um frenesi de fome! Coma!
Talentos: Briga 3, Esquiva 4 Coma!
Perícias: N/T Notas do Narrador: Ailerons são estúpidos. Existem
Conhecimentos: N/T apenas para comer. Se confundindo facilmente com multiplos
Arcanoi: Argos 3 alvos, mas ficarão com o primeiro em que pousam até serem
Poderes: Vôo, Sugar (Ver abaixo) destruídos. As bocas cheias de anzóis dos Ailerons são usadas
Força de Vontade: 4 para drenar Pathos e Corpus de uma aparição, mas apesar de
Corpus Permanente: 5 seus apetites vorazes, as feras só podem drenar um ponto de
Angústia: 4 energia (qualquer estatística, critério do Narrador) a cada dois
Aparência: Um Aileron é pouco mais do que uma Turnos. Este efeito sanguessuga pode ser absorvido se a fera
boca de sucção e uma cauda preênsil ligada a um corpo reptilia- tentar drenar Corpus.
no fino com asas muito grandes. Essas asas são na verdade mais A única outra arma disponível para essas criaturas é
parecidas com velas, usadas para voar nos ventos da Tempesta- a farpa no final de suas caudas preênseis, que é poderosa o su-
de e não para o vôo real. Os Ailerons podem mudar de cor para ficiente para cortar Corpus com pouco esforço. Eles também
combinar com o céu contra o qual planam. usam suas caudas para prender e enredar os membros da víti-
Histórico: Pelo tempo que as aparições podem lem- ma. No entanto, longe dos Atalhos, há rumores de que existam
brar, os Ailerons sempre estiveram por perto para enxamear Ailerons maiores e mais poderosos, capazes de devorar metade
viajantes incautos. Raramente deixando o céu para algo mais do do Corpus de uma aparição em um único turno.

Capítulo Nove: Drama 277

 Embora não sejam invisíveis, Ailerons são pequenos
e bem camuflados. Tentativas de detectá-los terão dificuldade 9
até atacarem.

Cerementos
Físico: Força 5, Destreza 2, Vigor 3
Social: Carisma 3, Manipulação 0, Aparência 0
Mental: Percepção 3, Inteligência 2, Raciocínio 3
Talentos: Esportes 4, Briga 4, Esquiva 4
Perícias: Furtividade 4
Arcanoi: Argos 4, Habitar 4, Insulto 5
Poderes: Envolver (ver abaixo)
Grilhões: Ver abaixo
Força de Vontade: 7
Corpus Permanente: 8
Angústia: 6
Aparência: Os Cerementos são grandes camadas de
ectoplasma pálido, semelhante a muco. Esta substância é atada
com uma fina camada de veias e artérias, que pulsam com um
movimento arrítmico.
Histórico: Acredita-se que os Cerementos sejam apa-
rições que nunca escaparam de suas Coifas e que então, se per-
deram na Tempestade. Entretanto, nenhuma prova existe para
confirmar ou negar essa crença, já que as criaturas nunca foram
vistas nos primeiros estágios. O que se sabe é que os “sacos de
cadáveres voadores” parecem ter a intenção de envolver os alvos
dentro deles para aprisioná-los.
Cerementos
Os Cerementos não são predadores ativos como os
Ailerons, as criaturas são consideradas inofensivas por mui-
Qualquer aparição que permaneça por muito tempo nessa Mo-
tos. No entanto, seu efeito nas aparições pode ser muito sério.
dorra forçada (um número de dias igual à sua Força de Vonta-
Quanto mais tempo uma uma aparição permanecer enredada
de) perde todas as lembranças do passado e dentro de algumas
nas profundezas de um Cerement, maior a probabilidade do
semanas, torna-se um Ceremento também. Cerementos, parti-
Inquieto capturado esquecer aspectos importantes de sua exis-
cularmente aqueles que roubaram Grilhões, podem entrar nas
tência, incluindo Paixões, Grilhões e Arcanoi. Outra crença co-
Terras das Sombras por breves momentos.
mum sobre os Cerementos é que eles são realmente capazes de
usar as memórias que roubam para se tornarem aparições. Mais
uma vez, não há provas para confirmar essa alegação.
Dicas de Interpretação: Se mover, agarre. A paz do
Rasga-Mortalha
túmulo é seu presente para os outros. Isso não deve ser negado. Físico: Força 2, Destreza 5, Vigor 2
Notas do Narrador: Os Cerementos existem apenas Social: Carisma 0, Manipulação 0, Aparência 0
para destruir memórias. Para cada noite presa na forma do Ce- Mental: Percepção 4, Inteligência 3, Raciocínio 3
remento, uma aparição consciente perderá um ano de memó- Talentos: Prontidão 3, Esportes 3, Briga 3, Esquiva 5
rias. Durante um período de tempo, a aparição pode esquecer Arcanoi: Argos 3, Pandemonium 5
todas as Paixões e até mesmo esquecer onde seus Grilhões estão. Poderes: Passeio Relâmpago (ver abaixo)
Embora ainda exista uma certa atração por estar perto das áreas Força de Vontade: 9
onde os Grilhões estão localizados, uma aparição cujas memó- Corpus Permanente: 9
rias foram drenadas não fará a menor idéia do motivo pelo qual Angústia: 10
ela foi atraída para aquela área. Muitas vezes, os Cerementos Aparência: É quase impossível ver um Rasga-Mortalha por
vão roubar essas preciosas conexões com as Terras das Sombras, tempo suficiente para realmente compreender sua aparência.
e usá-las como se fossem deles. Tudo que a maioria das aparições vêem é uma listra borrada
O maior poder dos Cerementos é que eles podem atravessando o céu. Os poucos Rasga-Mortalhas já destruídos
forçar a presa capturada à Modorra. O Ceremento pode tentar não deram um bom material de estudo, já que derreteram numa
fazer uma vitima envolvida dormir, com um teste de Força de massa ectoplásmica e depois evaporaram em poucos minutos.
Vontade resistido e para cada sucesso que a criatura obtém no Contudo, existem algumas ilustrações dessas criaturas voando
rolamento, a vítima permanece em Modorra por um dia inteiro. que são consideradas bem precisas. Uma dessas ilustrações,
mostra uma série de juntas longas e ossudas formando 10 estru-

278 Aparição: O Esquecimento

turas como longos dedos presos a uma forma circular enorme.
Uma teia grossa cresce entre os “dedos” formando uma série de
caminhos. Quando esticados, cada “dedo” tem uma lâmina na
ponta e as teias os preenchem e formam pequenos orifícios que
lançam jatos ácidos. Quando fechados, se parece um feto segu-
rado por mãos esqueléticas.
Histórico: Os Rasga-Mortalhas apareceram pela pri-
meira vez depois do último Grande Maelstrom, com o único
propósito de destruir. Se movem a uma velocidade impressio-
nante e destróem qualquer coisa que cruze seu caminho. Rumo-
res dizem que eles podem até mesmo rasgar caminho através do
metal Estígio sem muita difículdade. Muitas aparições pregam
que os Rasga-Mortalhas só aparecem no surgimento de um Ma-
elstrom, parecem incapazes de entrar nas Terras das Sombras
sem que os ventos desses tempestades os levem até lá. Reba-
nhos dessas feras foram vistos, mas nunca foram encontrados
(ao menos por ninguém que tenha se importado em reportar a
experiência) perto do Labirinto.
Dicas de Interpretação: Se move, é um alvo.
Notas do Narrador: Rasga-Mortalhas são muito rá-
pidos, movendo-se a velocidades de até 190Km/h. Podem girar
180º com pouco esforço, além de produzir um som de algo ar-
ranhando quando se move em altas velocidades.
A névoa ácida produzida pelos Rasga-Mortalhas bri-
lha enquanto o monstro a espirra durante os ataques. Esse efeito
luminoso, em conjunto com os ataques velozes, foram apelida-
dos de “Passeios Relâmpago”. A névoa cobre toda a área e reduz
a habilidade de absorção de qualquer coisa que toque em dois
Kraken
dados até que o efeito se dissipe (com um rolamento de Vigor
dificuldade 8). Por sorte, os efeitos da névoa não são cumulati-
cobrir com certeza.
vos.
Dicas de Interpretação: Agarrar e esmagar. Seja o que
for, movendo-se ou não, pegue-o e esmague-o.
Kraken Notas do Narrador: Não há Kraken, per se, as histó-
rias sobre ele são apenas isso - histórias. No entanto, algo está
Físico: Força 10, Destreza 4, Vigor 10 lá fora, além da Tempestade, e de tempos em tempos atinge a
Social: Carisma 5, Manipulação 0, Aparência 0 tormenta de qualquer reino que queira chamar de lar, destruin-
Mental: Percepção 3, Inteligência 0, Raciocinio 0 do o que quer que possam agarrar. Uma massa de tentáculos e
Arcanoi: Argos 1 ocasionalmente, um enorme olho frio são tudo o que a besta já
Força de Vontade: 10 foi capaz de manifestar no Mundo Inferior, mas até mesmo os
Corpus Permanente: 100 Malfeanos estão agradecidos por nada mais ter ter conseguido
Angústia: 10 forçar a passagem. O Kraken pode muito bem ser indestrutível;
Aparência: Ninguém nunca viu o Kraken inteiro. O até seus tentáculos são notavelmente difíceis de ferir. Por sorte,
que os sobreviventes relataram é fragmentado: uma enorme co- ele nunca foi capaz de romper a Tempestade por mais que dois
leção de tentáculos, ou um olho inchado e morto rolando em turnos antes de ser atraído novamente por quaisquer que sejam
uma órbita apodrecida. O tamanho do Kraken é grande demais as forças que o dominam.
para a maioria das aparições compreender.
Histórico: A Grande Biblioteca da Estigia menciona
o Kraken saindo do Mar de Sombras antes mesmo de Caron-
te ter terminado de criar Estigia. O gigante está supostamente
Pranteadores
Físico: Força 4, Destreza 2, Vigor 5
preso além da Tempestade, mas capaz de alcançar através das
Social: Carisma 5, Manipulação 0, Aparência 0
névoas rodopiantes de vez em quando e capturar vítimas para
Mental: Percepção 4, Inteligência 5, Raciocinio 4
alimentar sua fome insaciável. Alguns afirmam que o Kraken é
Talentos: Prontidão 4, Esportes 2, Briga 5, Esquiva 3, Intimi-
na verdade o próprio Esquecimento, procurando destruir tudo.
dação 5
Outros afirmam que é um deus esquecido tentando romper a
Conhecimentos: Enigmas 5, Investigação 4
Tempestade e consumir todos os que o desafiariam. Ninguém
Grilhões: 1 (Este não é realmente um Grilhão, mas toma a for-
jamais viu o kraken e continuou a existir o suficiente para des-
ma de uma aparição ou humano que pode chamar um Prantea-

Capítulo Nove: Drama 279


Pranteadores
dor individualmente.)
Arcanoi: Argos 3, Lamúria 4, Teia Vital 4
Poderes: Acorrentar (ver abaixo)
Força de Vontade: 10
Corpus Permanente: 13
Angústia: 10
Aparência: Poucas coisas de além da Tempestade
geram tanto medo em uma aparição como o poder dos Pran-
teadores. Essas massas trôpegas têm uma semelhança super-
ficial com os Barqueiros, mas não carregam armas, exceto as
correntes enrroladas repetidamente ao redor de seus torsos. Os
Pranteadores são cobertos inteiramente de preto, mas o tecido
de suas vestes parece deslizar em torno de seus corpos por um
poder próprio. Das profundezas de seus capuzes, emerge um
gemido estrondoso de tristeza, derramando terror na alma de
qualquer aparição que o ouça. Somando-se à aura de medo que
eles geram, a esquálida criatura dão passos lentos, mas cobrem
mais terreno do que deveria ser possível.
Histórico: De tempos em tempos, as profundezas
da Tempestade se dividiam, despejando uma reunião de Pran-
teadores nas Terras das Sombras. Essas figuras, embora hu-
manóides, não apresentam características que indiquem que
elas foram humanas. Braços fortemente envolvidos se esticam
diante das formas trôpegas enquanto tropeçam pelas ruas das
Terras das Sombras, lamentando e chorando para todos ouvi-
rem. Assim como a lendária Bean-Nighe alertou a morte com
280 Aparição: O Esquecimento
seu grito, os Pranteadores chamam a atenção de todos para que
todos saibam que alguém será levado antes que a noite acabe.
Caminhando entre cinco e vinte, os Pranteadores movem-se
implacavelmente em busca da única alma que vão pegar e não
hesitam em esmagar qualquer um que se coloque em seu ca-
minho. Quando os viajantes finalmente encontram sua vítima,
as correntes sobre suas cinturas se movem por vontade própria
para envolver seu alvo. Uma vez que o infeliz é capturado, os
Pranteadores o arrastam para o Nihil mais próximo e deixam as
Terras das Sombras mais uma vez.
Talvez a ameaça mais séria que os Pranteadores ofe-
reçam seja o conhecimento de que qualquer pessoa que eles
tocam está marcada. Em todos os casos em que uma aparição
atingiu fisicamente um dos Pranteadores, os pesadelos gritan-
tes voltaram mais tarde para reivindicar essa aparição como
um dos seus. Além disso, várias aparições afirmam que entes
queridos nos reinos dos vivos foram arrebatados pelas correntes
dessas monstruosidades. O Renegado Alan White, de Teaneck,
Nova Jersey, ficou brevemente famoso por contar a história da
noite em que acordou para ver os Pranteadores cercando sua
esposa adormecida. Embora ele pudesse ver claramente as cria-
turas, não podia tocá-las e foi incapaz de impedir que uma delas
colocasse as mãos na testa da esposa. A esposa de Alan morreu
em seu sono. O legista alegou que ela morreu de causas naturais,
mas Alan sabia melhor que o vivo. Ele argumentou o ponto da
morte também, pelo menos até os Pranteadores virem buscá-lo.
Dicas de Interpretação: Isso é realmente um tragédia.
A busca sem fim por quem vai libertar você é quase sempre in-
frutífera. Algum dia, talvez, as correntes deixem você ir. Até lá
deve suportar a dor de morrer eternamente, sem a liberação da
morte. Encontre sua vítima, aquela cujo ser lhe chama e ligue-a
a você. Então você pode sair, viajando de volta para a grande
escuridão em um breve momento de paz.
Notas do Narrador: Os Pranteadores estão sempre
em busca da única alma que pode libertá-los. No entanto, eles
não têm idéia de quem seja essa alma. Eles não têm líderes;
Todos simplesmente sabem quem devem perseguir e aonde ir
para perseguí-lo. Os Pranteadores buscam vítimas em ordem do
mais antigo entre eles; os outros Pranteadores procurarão com
o mais velho até encontrar seu salvador. Então, o mais antigo
restante terá a mesma cortesia e assim por diante.
Os Pranteadores podem ser usados como​​ o início de
uma longa jornada para salvar um amigo, ou eles podem sim-
plesmente remover do jogo quaisquer personagens do Narrador
que tenham perdido sua utilidade. Se os Pranteadores forem
usados ​​contra um personagem de jogador, você é encorajado a
planejar maneiras de libertá-lo e talvez libertar este grupo par-
ticular de Pranteadores de sua prisão sem fim.
As correntes e o manto de um Pranteador são de al-
guma forma cientes dos seus arredores, tornando impossível se
aproximar sem que o Pranteador o veja. As correntes são tão
fortes como aço Estígio e se movem por vontade própria para
atacar o escolhido pelo Pranteador. As algemas e correntes ata-
cam com a mesma parada de dados que o próprio Pranteador e
considera-se Força 10 quando estão segurando suas vítimas.

Criaturas da Noite
Droga de criaturas da noite. Nunca aprendem.
- Sr. Gideon, o Corvo
s Mortos Inquietos compartilham o
Mundo das Trevas com muitas outras
criaturas sobrenaturais. Muitos ignoram
ou são ignorantes a respeito do que os
fantasmas fazem em baixo dos seus nari-
zes. Outros, mais alertas e de mente aber-
ta, têm ao menos uma vaga ideia sobre o
Mundo Inferior e seus habitantes e a in-
clinação de fazer algo com o conhecimento. Alguns são amigá-
veis, outros inimigos, mas todos são perigosos o suficiente para
que as aparições evitem chamar sua atenção.
Vampiros
Elegantes e estilosos predadores dos vivos, vampiros
compartilham com aparições o fato de serem almas mortas que
recusam a descansar. Vampiros, entretanto, tem uma mão mui-
to ativa no mundo dos vivos, manipulando o curso da história
ao longo dos séculos, em resposta à eterna guerra pela suprema-
cia dos seus antepassados, chamada a Jyhad. Vampiros jovens
são em geral inconscientes sobre esse grande show de fantoches
controlados de trás das cortinas e caçam sangue e outras emo-
ções pelas ruas; vampiros antigos veem indústrias, cidades e até
nações inteiras como suas presas.
Um número razoável de vampiros pode, de uma for-
ma ou outra, detectar a presença de aparições olhando suas
auras não-vivas. O vampiro em questão deve estar ativamente
procurando aparições no momento, mas uma vez que um In-
quieto tenha sido visto, geralmente também pode ser rastreado.
Alguns dos “Clãs” e “Linhagens” vampíricos possuem poderes
relacionados e conhecimentos sobre os habitantes do Mundo
Inferior que supera a da maioria dos vampiros. Os Feiticeiros
Tremere, por exemplo, conhecem rituais Taumatúrgicos que
podem influenciar até mesmo os Mortos Inquietos, enquanto
tanto os Venezianos Giovanni, como os repulsivos Samedi são
estudantes da arte da Necromancia.
A mitologia do vampirismo que foi tecida ao longo
dos anos contém partes iguais de verdades e mentiras. Vampi-
ros devem de fato, temer o sol, fogo direto e a estaca no coração,
mas por outro lado, apenas pequena parte deles é afetada por
alho ou água corrente; e uma estaca no coração imobiliza em
vez de matar. Os símbolos sagrados de qualquer credo ou re-
ligião não têm qualquer poder sobre os Membros (como são
conhecidos), a menos que o portador deste ícone possua a Fé
Verdadeira.
Dependendo de quão recentemente um vampiro se
alimentou e do que (ou quem) ele bebeu, sua capacidade de re-
alizar feitos sobrenaturais varia. Quando possuem sangue para
ativar seus poderes, podem se mover mais rápido que os huma-
nos, chamar e controlar os animais, manifestar percepção ex-
tra-sensorial e todos os outros poderes lendários dos vampiros
literários, mitológicos e cinematográficos.
Cada vampiro tem uma estatística chamada Pontos
de Sangue, que funciona da mesma forma que Pathos para as
aparições. Os vampiros reabastecem seus Pontos de Sangue ali-
mentando-se de animais, humanos e até mesmo de outros vam-
piros e podem usar o sangue assim obtido para curar danos ou
aumentar seus Atributos Físicos.
Arcanoi: Vampiros possuem poderes chamados Dis-
ciplinas, que são similares mas não iguais aos Arcanoi. Os Ar-
canoi listados para exemplificar vampiros abaixo correspondem
às Disciplinas vampíricas para aqueles Arcanoi que mais se
aproximam. Por exemplo, o vampiro listado como possuindo
Titerismo não pode Cavalgar a Carne da vítima, mas pode con-
trolar sua mente. Se você quiser usar poderes vampíricos das
Disciplinas de forma mais precisa e detalhada, todas essas habi-
lidades podem ser encontradas em Vampiro: A Máscara e seus
livros de referência. Em particular, informações sobre os Gio-
vanni e a Necromancia podem ser encontradas em Vampiro:
Guia de Jogador e Crônicas Giovanni 2: Sangue e Fogo.
Neófitos: Os recém-falecidos entre os Membros, os
Neófitos raramente têm mais de um século de pós-vida. Muitas
vezes rebeldes, eles são os vampiros mais propensos a vagar em
uma Necropolis e muitos possuem o tipo de hábitos alimentares
sujos que ou criam conflitos ou os trazem para os Inquietos.
Criação de Personagem: Atributos 7/5/3, habilidades
13/9/5, Antecedentes 7, Força de Vontade 7, Arcanoi 4, Pontos
de Sangue 10
Atributos Sugeridos: Assuma um valor mínimo de 2
em todos os Atributos.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 2, Esportes 2, Bri-
ga 2, Esquiva 1, Condução 2, Etiqueta 1, Expressão 1, Intimida-
ção 2, Armas Brancas 1, Furtividade 2, Manha 1, Lábia 3
Arcanoi Sugeridos: Titerismo 2, Lamúria 2, Argos 1
Equipamento: Jaqueta de couro preta, maquiagem es-
cura, pistola, pequeno esconderijo em um porão.
Anciões: Mais experientes e poderosos que os Neófi-
tos, Anciões já são vampiros por três séculos ou mais (Vampiros
em um estágio social intermediário são chamados de Ancillae)
e alguns possuem mais de mil anos de idade. A maioria são go-
vernantes vampíricos de suas cidades, ou pelo menos em posi-
ções de considerável poder em relação à sua espécie e ao mundo
mortal. As características abaixo são para um ancião americano
típico; os anciões europeus tendem a ter estatísticas ligeiramen-
te mais altas.
Criação de Personagem: Atributos 10/7/5, habilida-
des 21/13/9, Antecedentes 12, Força de Vontade 10, Arcanoi 10,
Pontos de Sangue 20.
Atributos Sugeridos: Assuma um valor mínimo de 3
em todos os Atributos.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 4, Esportes 1, Bri-
ga 2, Esquiva 3, Etiqueta 4, Expressão 2, Intimidação 5, Armas
Brancas 3, Ocultismo 2, Furtividade 3, Manha 1, Lábia 4
Arcanoi Sugeridos: Titerismo 4, Lamúria 4, Insulto 3,
Pandemonium 3, Argos 1
Equipamento: Roupas caras de época, Espada Benga-
la, um grupo de leais Carniçais, motorista e Rolls Royce Silver
Ghost.
Capítulo Nove: Drama 281
Tremere
Uma confederação de Feiticeiros que se converteu ao
vampirismo através de magia negra, os Tremere são mestres da
Disciplina chamada Taumaturgia. A maioria também possui a
Disciplina Auspícios, que os permite notar as aparições. Muitos,
senão todos os membros desse clã são bem cientes da existência
dos Inquietos e se prepararão, se necessário, para proteger seus
Refúgios criando proteções contra os Inquietos.
Criação de Personagem: Atributos 10/5/3, Habilida-
des 17/9/5, Antecedentes 11, Força de Vontade 9, Arcanoi 7,
Pontos de Sangue 12.
Atributos Sugeridos: Os Tremere possuem Atributos
Mentais com um mínimo de 4, tratando outros Atributos como
menos importantes.
Habilidades Sugeridas: Um Tremere deve ter níveis
altos em Ocultismo e Enigmas e geralmente possuem algum
conhecimento relacionado a magia, aparições ou outro ser so-
brenatural. De qualquer forma, as características acima devem
servir como base para criar um personagem Tremere.
Arcanoi Sugeridos: Insulto 4, Titerismo 3, Pandemo-
nium 3, Lamúria 2, Argos 1 e Teia Vital 1
Equipamento: Pendrive Grimório, Notebook, roupa
corporativa conservadora, Cartão de Crédito Gold
Giovanni
Reservados e pouco numerosos, os Giovanni são ne-
cromantes par excellence. Abraçando estritamente de sua pró-
pria família mortal, os Giovanni são orgulhosos e fanaticamente
protetores sobre seus descendentes. Os Giovanni que não são
Abraçados estão ainda com a tutela de muitos dos segredos da
família, muitas vezes servindo como Carniçais (veja abaixo).
Comércio internacional e a Disciplina Necromancia
são os dois estudos que os Giovanni são mestres. Vampiros e
estudiosos desse Clã são conhecidos por possuirem (e refina-
rem)conhecimento das aparições há séculos e nenhuma outro
Membro sabe tanto sobre os Inquietos. Com isso em mente, um
vampiro Giovanni pode ser um poderoso aliado ou um perigo-
so inimigo de uma aparição.
Criação de Personagem: Atributos 10/5/3, Habili-
dades 17/9/5, Antecedentes 7, Força de Vontade 7, Arcanoi 5,
Pontos de Sangue 12
Atributos Sugeridos: Vampiros Giovanni geralmente
possuem Atributos Mentais com um mínimo de 4, enquanto fo-
cam em Sociais como secundários. Por outro lado, é muito raro
que qualquer Giovanni tenha nível 1 em qualquer Atributo; o
Clã costuma valorizar indivíduos bem balanceados.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 3, Esportes 1, Bri-
ga 2, Burocracia 2, Esquiva 1, Etiqueta 3, Expressão 1, Intimi-
dação 3, Armas Bracas 1, Ocultismo 4, Política 1, Furtividade 2,
Manha 1, Lábia 3
Arcanoi Sugeridos: Titerismo 3, Lamúria 2, Argos 1,
Teia Vital 1
Equipamento: Camisa de seda com corte sob medida
(modelo italiano), arma de fogo estilosa, Rolex, Celular caro.
282 Aparição: O Esquecimento
Samedi
Abatidos das fileiras dos agentes funerários, ladrões
de túmulos e outros relacionados à morte, os Samedi estão en-
tre os vampiros mais fisicamente nojentos do planeta. Às vezes
contratados como guarda-costas por Membros ricos e paranói-
cos, os Samedi lidam com a Necromancia e sua própria Disci-
plina Tanatose (que foca em apodrecimento e outras funções
irmãs do Esquecimento). Normalmente geniais, apesar de sua
aparência monstruosa, Samedi tendem a ter muito menos con-
tatos formais com aparições que os Giovanni. Um Samedi está
mais para uma conversa com uma aparição que para controlá-
-la, no entanto, há algumas exceções notáveis nesse comporta-
mento.
Criação de Personagem: Atributos 10/5/3, Habili-
dades 21/9/5, Antecedentes 4, Força de Vontade 9, Arcanoi 6,
Pontos de Sangue 10
Atributos Sugeridos: Os Samedi normalmente pos-
suem Atributos Mentais com ao menos 3 pontos. Por outro
lado, todo Samedi possui Aparência zero.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 4,Esportes 1, Briga
3, Esquiva 1, Direção 1, Etiqueta 1, Expressão 1, Intimidação 4,
Armas Brancas 2, Ocultismo 4, Furtividade 3, Manha 3, Lábia 3
Arcanoi Sugeridos: Insulto 3, Titerismo 3, Argos 1,
Teia Vital 1
Equipamento: Cartola de seda, bengala de metal en-
ferrujada, lata de desinfetante, relógio de bolso de ouro, conta
de banco surpreendentemente gorda.
Necromancia
Uma Disciplina compartilhada entre os grotescos Sa-
medi e os refinados Giovanni, Necromancia é a principal ferra-
menta que vampiros possuem para lidar com os Inquietos. Os
efeitos da Disciplina são como abaixo:
Nível Efeito
1 Permite vivenciar a última visão do cadáver.
2 Permite que o Necromante invoque uma
aparição.
3 Compele uma aparição a obedecer os co-
mandos do Necromante.
4 Prende uma aparição a um Lugar nas Terras
das Sombras.
5 Transforma um mortal em uma aparição
temporariamente, tornando seu corpo um
Grilhão.
6 Anima um corpo com a inserção de um
Drone na carcaça.
7 Permite que o vampiro acerte a aparição fisi-
camente e cause dano normal.
8 Permite troca de espíritos entre corpos.
9 Temporariamente dá controle de um cadá-
ver a uma aparição.
10 Permite um serviço de promessa mortal
além do túmulo em troca de um favor do
Necromante.
Todo Giovanni e muitos Samedi sabem ao menos um
nível de Necromancia.
Carniçais
Nem mortais nem vampiros, Carniçais são criaturas
mortais - mas não são simples humanos - que são alimentados
com sangue vampírico sem que tenham sido drenados. Se ali-
mentar constantemente do sangue de Membros pode permitir
que Carniçais vivam indefinidamente e conseguir acesso a algu-
mas Disciplinas vampíricas. Por outro lado, assim que seu tem-
po de vida humana tenha passado, um Carniçal deve sempre ter
sangue vampírico no seu sistema o tempo inteiro ou vai rapida-
mente reverter à sua idade real algumas vezes, virar cinzas.
Estatísticas Sugeridas: Carniçais ainda são mortais,
então possuem estatísticas similares às de seres humanos (ou
cães, ou gatos, ou centopéias ou o que for). Alguns pontos extras
nos Atributos Físicos são comuns em Carniçais e os mais anti-
gos podem possuir o equivalente a dois pontos de Arcanoi.

Lobisomens
Ele veste a rejeição como uma
Roupa de pele humana morna
E vê a temtação como
Duas mãos que estrangulam o amor
- Cliffs of Dooneen, “Animal Song (Mary my Mary)”
No Mundo das Trevas, as florestas e locais selvagens
possuem protetores muito mais mortais que um urso com cha-
péu dos desenhos animados. Ligados para sempre pela guerra
contra aqueles que destróem as áreas selvagens, os Garou (como
os Lobisomens se referem a si mesmos) não dão chance aos seus
inimigos. Com um olho no mundo espiritual e outro no avan-
ço inexorável no avanço humano, os Garou resistem nos dois
mundos, tentando desesperadamente servir como guardiões de
ambos.
Longe de serem os únicos metamorfos do mundo,
certamente são os mais numerosos, os Garou possuem uma tra-
dição oral e histórica que data de milhares de anos antes da hu-
manidade começar a escrever sua história. Lançando-se como
defensores de Gaia, a Mãe Terra, os Garou punem aqueles que
a transgridem. Infiltrando-se nas cidades além de guardarem
as florestas, lobisomens vêem a mão de um ser que chamam de
Wyrm, um grande espírito de destruição, por trás de todo ato
contra Gaia. Os Garou dizem poder sentir o “corrupção” des-
se grande inimigo em outros e usam a mácula da Wyrm como
uma justificativa para cometerem atos de violência extrema
contra aqueles que se opõem a eles.
Os Garou modernos se dividem em 13 tribos que lu-
tam contra a Wyrm. A 14 ª tribo, os Dançarinos da Espiral Ne-
gra, consistem em Garou que foram corrompidos e agora ser-
vem à Wyrm. Como de se esperar, cada tribo tem suas próprias
características e deveres. Os Garras Vermelhas, por exemplo,
são uma tribo de Garou inteiramente descendentes de lobos,
enquanto os Fianna são descendentes Celtas. Os Uktena e Wen-
digos são tribos americanas, (uma terceira tribo americana, os
Croatans, foi destruida 400 anos atrás), ainda se amarguram por
terem suas terras roubadas. Os Andarilhos do Asfalto se mes-
clam nas corporações, enquanto os Roedores de Ossos reviram
seu lixo por informações importantes.

Capítulo Nove: Drama 283

 Poderes: Todo Garou possui uma variedade de formas
que podem assumir, desde humano (Hominídeo) ao homem-
-lobo dos filmes de terror (Crinos), e as formas intermediárias
até o lobo (Lupus). Sempre assustadores, os Garou são mais pe-
rigosos em sua forma Crinos. Nessa forma podem atingir três
metros de altura e possuem enorme força e vigor.
Os Garou são capazes de curar quase instantanea-
mente qualquer dano infligido, com exceção do dano de armas
de prata. Podem absorver a maior parte dos danos Agravados
(apesar desse tipo de dano curar lentamente), os Garou não po-
dem absorver dano de armas de prata.
Possuem poderes chamados Dons, fornecidos por es-
píritos da natureza (alguns dos quais servem como Totens para
as 13 tribos), os Garou fazem bom uso dessas habilidades. Os
efeitos dos Dons vão desde permitir que um Garou faça ensopa-
do comestível de literalmente qualquer coisa à mão até artes de
O Esquecimento e a Wyrm
Estudiosos do oculto geralmente confun-
dem a Wyrm e o Esquecimento. Certamente, cada
um é uma força enorme e de certa forma, uma perso-
nificação da destruição, mas essa é a única semelhan-
ça. A Wyrm é destruição ativa e corrupção, procu-
rando destruir a existência. Não se agrada em esperar
que tudo apodreça; deseja levar tudo à ruína através
de suas ações.
O Esquecimento, por sua vez, é paciente,
uma destruição passiva. Quando as coisas ficam ve-
lhas e falham, como inevitavelmente acontece, então
e somente então, o Esquecimento as clama para si.
Mesmo os Espectros, de maneira natural, se entre-
gam ao Esquecimento ao invés de serem tomados por
ele.
No fim de tudo, quando a Wyrm tiver des-
truído tudo, tentará destruir a única coisa que so-
brou: Ela mesma. Ao fazer isso, se entregará ao Es-
quecimento.
Alguns teóricos postulam que a Wyrm e o
Esquecimento estão ligados num equilíbrio perpé-
tuo, uma espécie de Yin-Yang da destruição, e que
enquanto a Wyrm aumenta seu poder, o Esqueci-
mento é obrigado a crescer para manter o equilíbrio.
Contudo, há pouca (se é que há alguma) evidência
para suportar essa hipótese, e provas são cada vez
mais difíceis de conseguir.
284 Aparição: O Esquecimento
luta incrivelmente eficientes. Os lobisomens shamans também
podem aprisionar espíritos em objetos, criando uma espécie de
Artefato que eles chamam de Fetiche.
Com seus laços próximos do mundo espiritual, os
Garou podem “atravessar pro outro lado” e entrar na chamada
Umbra, ou mundo espiritual. Assim como as aparições vivem
no que os Garou chamam de Umbra Negra ou Umbra Baixa,
que a maioria dos Garou tem uma dificuldade enorme para
acessar, é muito raro um Garou encontrar uma aparição no ter-
ritório dos Inquietos. De fato, a maioria dos lobisomens possui
pouco ou nenhum contato com aparições. A principal exceção
a isso é a tribo conhecida como Peregrinos Silenciosos, Garou
cuja tradição da morte remonta à antiguidade obscura do Egito
e Meroe. Viajantes e conhecedores dos espíritos, os Peregrinos
conhecem os segredos para entrar no Mundo Inferior e lidar
com seus habitantes, porém, mesmo o mais poderoso Garou
raramente faz a travessia. Além disso, muitos shamans de fora
da tribo conhecem Rituais e possuem Dons que os permite afe-
tar aparições ou mesmo aprisioná-las. Mais Informação sobre
Garou podem ser vistas em Lobisomem: O Apocalipse.
As estatísticas a seguir são para um Peregrino Silen-
cioso capaz de atravessar para as Terras das Sombras. Deve-se
notar que qualquer lobisomem que chegue no Mundo Inferior é
um espécime e tanto, mesmo entre os de sua raça excepcional.
Criação de Personagem: Atributos 11/7/5, Habilida-
des 21/13/9, Antecedentes 7, Força de Vontade 7
Atributos Sugeridos: Assuma 3 para todos
Habilidades Sugeridas: Prontidão 4, Esportes 2,
Consciência 2, Briga 3, Esquiva 2, Intimidação 2, Etiqueta 2,
Meditação 2, Armas Brancas 3, Furtividade 3, Enigmas 4, Inves-
tigação 1, Medicina 2, Ocultismo 3
Regras Especiais: Lobisomens podem mudar de for-
ma quando quiserem entre humano e lobo. Contudo, podem
assumir um híbrido de 3 metros que chamam de Crinos. Na
forma Crinos, um lobisomem adiciona 3 a todos os Atributos
Físicos, possui garras e dentes que causam dano Agravado, po-
dem regenerar um de Vitalidade por turno (exceto dano de pra-
ta, fogo, magia ou presas e garras de criaturas sobrenaturais) e
é imune às penalidades de Vitalidade por ferimento. Humanos
que vêem a criatura em Crinos, normalmente entram em delí-
rio. O efeito desse medo é chamado Delirium e é bem similar à
Névoa.
Os Peregrinos Silenciosos em Crinos lembram o an-
tigo deus egípcio Anubis; membros dessa tribo geralmente
possuem Dons que os permitem viajar rapidamente e de forma
segura para lugares inimagináveis.
Magos
Não há tanta magia por aí, você sabe disso.
Por que desperdiçá-lo em um idiota miserável como este?
- Clive Barker, “O Ladrão da Eternidade”
A realidade do Mundo das Trevas não é estática. Al-
guns mortais, indivíduos Despertos coletivamente chamados
de magos, podem alterar o tecido da realidade de formas repen-
tinas e grandiosas. A forma que esses criadores de maravilhas
vêem as aparições pode variar, a depender da aparição específi-
ca e do mago envolvido. Contudo, há magos suficientes capazes
de atravessar a Mortalha com seus poderes para terem levado as
aparições a exercitar certa civilidade ao lidar com eles.
A sociedade dos magos se divide em quatro, com cada
facção lutando ou se aliando com outras tanto na Terra como
em reinos inimagináveis. Esse conflito, chamado Guerra da As-
censão, consiste em nada menos que o Destino Espiritual Mani-
festado de toda a raça humana. Enquanto a ideia de Ascensão
em si nunca foi definida com clareza, cada uma das quatro fac-
ções da guerra possuem definições muito claras sobre o tipo de
futuro que desejam.
Com exceção dos Magos chamados Desauridos (que
certamente são todos loucos), a maioria dos usuários de Má-
gicka preferem ser o mais discretos possível quando estão re-
alizando seus feitos. Conversas que aparições tiveram com
magos Euthanatos revelaram que tem algo relacionado a uma
força chamada Paradoxo, que pode ser melhor descrita como
a realidade estática universal se remodelando à forma original.
A maioria dos magos temem o Paradoxo, procurando evitá-lo
criando efeitos que parecem coincidentes em sua Mágicka. Má-
gicka “vulgar” ou chamativa, corre o risco de atrair o Paradoxo
sobre o pobre mago incauto, com um efeito bem devastador.
Poderes: A grande gama de poderes que um mago
pode controlar cria praticamente qualquer efeito. No lugar de
tentar transformar isso em descrições de Arcanoi, é mais fácil
assumir que qualquer mago pode conseguir qualquer efeito que
deseje razoavelmente inserido no seu campo de conhecimento.
Dando dificuldades de 5 a 8 para os efeitos, o Narrador pode de-
terminar o poder do efeito conseguido com o número de suces-
sos atingidos. Falhas Críticas ou mesmo falhas comuns, podem
gerar Paraxo.
A maioria dos efeitos Magickos não infligem dano
agravado. A exceção efeitos de fogo, eletricidade e pura energia
arcana (vulgo Primórdio), os quais podem infligir dano agra-
vado se tiverem 3 ou mais sucessos (dois de dano por sucesso
para cada nível depois do segundo). Magos devem rolar de 2
a 6 dados quando tentam determinar o dano de seus ataques,
dependendo do poder de cada mago individualmente.
Esse sistema funciona como uma forma rápida de in-
teragir com magos num jogo de Aparição. Para mais informa-
ções sobre magos e como sua magicka realmente funciona e
o sistema utilizado, veja Mago: A Ascensão. Detalhamentos
sobre as várias Esferas magickas afetam aparições podem ser
encontrados no Capítulo Nove deste livro.
Euthanatos
Entre aqueles nas Tradições, os Eutanatos são magos
da morte e reencarnacionistas. O objetivo declarado da Tradi-
ção é apressar aqueles que estão sofrendo, ou aqueles cuja exis-
tência é carmicamente prejudicial para a próxima posição na
Grande Roda da Vida. Euthanatos eufemisticamente referem-se
ao seu trabalho como a “Boa Morte”; outros vêem como assassi-
nato. No entanto, os Eutanatos geralmente não têm tempo para
explicar suas ações aos outros.
A maioria dos Euthanatos viaja pelo menos uma
vez às Terras das Sombras durante sua iniciação. Para a gran-
de maioria, essa única viagem já é suficiente. Outros, contudo,
voltam algumas vezes. Infelizmente, magos Euthanatos se espe-
cializam em magicka de Entropia e quaisquer particularidades
desta (Esfera, no jargão de magos) especialidade geram efeitos
interessantes em um reino onde a Entropia se manifesta como
Esquecimento.
Criação de Personagens: Atributos 9/6/4, Habilida-
des 20/8/5, Antecedentes 10, Força de Vontade 8, Parada de Da-
dos para Magicka 5
Atributos Sugeridos: Assuma nível 3 nos Atributos
Físicos, 2 em Sociais e 4 em Mentais.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 1, Consciência 3,
Briga 1, Esquiva 1, Empatia 2, Enigmas 2, Armas de Fogo 2, In-
timidação 2, Meditação 1, Ocultismo 3, Furtividade 2, Manha1
Magickas Sugeridas: Entropia (magickas de destrui-
ção e apodrecimento), Vida (magickas em coisas vivas), Espírito
(permite contato com os Inquietos)
Equipamento: Roupa preta funcional, gravador por-
tátil, acessórios ritualísticos, multiplas armas escondidas.
Oradores dos Sonhos
Também parte das Tradições, os Oradores são mais
xamanísticos em sua aproximação com aparições e outros espí-
ritos. Presentes em todo o mundo, os Oradores vêem o mundo
espiritual de maneira bem similar à perspectiva Garou. Assim,
um Orador pode ocasionalmente contactar uma aparição, mas
raramente tentará aprisioná-la ou destruí-la. Esses mestres da
Esfera Espírito podem ocasionalmente visitar o Mundo Inferior,
mas não gostam de viajar onde tudo que encontram é morte.
É um engano, contudo, ver os Oradores como meros
rústicos inofensivos e educados. Muitos membros dessa Tradi-
ção vêm de sociedades que foram dizimados e realocados pela
expansão da colonização europeia, patrocinada pelas outras
Tradições ou pela Tecnocracia. Há ódio suficiente nos Orado-
res. É só uma questão de para quem ele será direcionado.
Criação de Personagem: Atributos 9/6/4, Habilidades
20/8/5, Antecedentes 10, Força de Vontade 8, Parada de Dados
para Mágicka 5
Atributos Sugeridos: Assuma pelo menos nível 3 em
Atributos Físicos, 3 em Sociais e 3 em Mentais.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 2, Consciência 4,
Briga 1, Ofícios 1, Esquiva 1, Empatia 3, Enigmas 3, Armas de
Fogo 1, Intimidação 2, Medicina 1, Meditação 3, Ocultismo 3,
Furtividade 2, Manha 1
Mágickas Sugeridas: Tempo (mágickas de tempo e
profecias), Vida (mágickas sobre coisas vivas), Espírito (permite
contato com os Inquietos)
Equipamentos: Tambor, roupa confortável, estoque.
Engenheiros do Vácuo
Buscando novas novas experiências de todos os tipos,
os Engenheiros do Vácuo são talvez, os espíritos mais selvagens
que permanecem entre a Tecnocracia. Enquanto todos os magos
Tecnocratas tentam liderar as Massas para a Ascensão botan-
do em ordem a realidade (e fantasmas tem pouco espaço num
mundo assim), os Engenheiros do Vácuo preferem organizar,
Capítulo Nove: Drama 285
catalogar e explorar. Isso pode levar os Engenheiros do Vácuo a
conflitos com aparições, pois o Mundo Inferior não é amigável
com turistas e exploradores. Assim, como os Engenheiros ex-
ploram as fronteiras da percepção, eles são constantemente sur-
gindo com novos meios excitantes de perceber o imperceptível.
O que, claro, permite que vejam aparições e o que elas podem
fazer; e aparições vistas assim nem sempre sabem que alguém
vivo possa segui-las ou saber de seus planos.
Criação de Personagem: Atributos 9/6/4, Habilidades
20/8/5, Antecedentes 10, Força de Vontade 8, Parada de Dados
para Mágicka 5
Atributos Sugeridos: Assuma nível 3 para Atributos
Físico, 2 para Sociais e 4 para Mentais.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 2, Briga 1, Compu-
tador 3, Direção 3, Enigmas 3, Armas de Fogo 3, Investigação 2,
Medicina 2, Reparos 4, Ciência 4, Furtividade 2
Mágickas Sugeridas: Forças (mágickas com elemen-
tos), Primórdio (a fonte de criação mágicka), Espírito (permite
contato com os Inquietos)
Equipamento: Canhão Disrruptor Portátil (Dispositi-
vo nível 4) - Atira energia de Primórdio relacionada com mági-
cka de Espírito, permite desfazer aparições. Cada sucesso num
teste de Destreza + Armas de Fogo (caso o usuário possa ver a
aparição, claro) causa um ponto de Dano Agravado no Corpus.
A maioria desses dispositivos possuem 10 cargas.
Óculos Espirituais (Dispositivo nível 1) - Permite que
o caçador que os use espie as Terras das Sombras com um rola-
mento de Percepção + Consciência (dificuldade 4)
Sobretudo, câmera, sacolas para coletar espécimes.
Os Outros
Os Nephandi e os Desauridos fazem parte das duas
outras facções na Guerra da Ascensão. Os Nephandi, em parti-
cular, estão cientes das aparições, pois servem monstros distor-
cidos que parecem ter objetivos em comum com o Esquecimen-
to. Mesmo as aparições mais duronas, vão se sentir enjoados
ao trabalhar com um Nephandi caso conheça os verdadeiros
objetivos do mago. Novamente, há testemunhas confiáveis que
falam de alianças entre Nephandi e Espectros.
Os Desauridos são personificações da loucura e os
sãos o suficiente para ter algum objetivo e padrões de pensa-
mento linear procuram levar sua loucura para o resto da cria-
ção. Aparições ocasionalmente se envolverão com seus esque-
mas bizarros, mas normalmente os Desauridos lidam mais com
os vivos. Não é que eles não tenham ciência das aparições; pelo
contrário, eles são mais cientes que os outros. É só que a socie-
dade dos mortos não têm importância para eles.
Changelings
Então veio uma mulher de fortificação feérica
com uma Black & Decker
e cortou minha marmeleira
Nuala Ní Dhmhnaill, “Como para um Marmelo”
Espíritos feéricos presos em carne mortal para se pro-
tegerem contra os ventos frios da existência mundana, change-
lings podem algumas vezes, ver aparições. Muitos changelings
286 Aparição: O Esquecimento
são cronologicamente jovens (mesmo sendo almas antigas) e
ainda não se renderam à realidade consensual que diz ser im-
possível ver um fantasma. Esse tipo de inocência é particular-
mente comum entre os Infantes, os Changelings mais jovens.
Estouvados e Rezingões, mais velhos da espécie, geralmente já
foram tocados pela pesada Banalidade (uma espécie de Esque-
cimento da imaginação) para aceitar a presença de fantasmas,
mesmo que já tenham acreditado antes.
Assim como as aparições são supridas com Pathos,
a natureza sobrenatural dos changelings é sustentada por Gla-
mour, uma essência refinada de expressão e criatividade. Ambos
podem, muitas vezes, ser retirados da mesma fonte e isso pode
levar à cooperação ou ao conflito entre changelings e aparições.
Usuários de Phantasma, em particular, podem se envolver com
changelings quando coletam sua preciosa “areia” (matéria do
sonho pura) que pode ser vista como outra manifestação do
Glamour.
Changelings existem em dois mundos, o mundano e
o encantado. O primeiro retém sua existência diária, onde os
changeling vestem sua pele mortal como proteção. Mas com a
aplicação correta do Glamour, changelings revelam sua verda-
deira identidade, ao menos para aqueles que estão Encantados
e podem vê-los. Porém, essa versão de encantamento da reali-
dade não restringe-se a revelar as verdadeiras formas dos chan-
gelings; sonhos e medos que tomam forma física, chamadas de
quimera, transformam a paisagem numa explosão de cores e
fantasias.
Divididos em um par de Cortes conflitantes (Seelie e
Unseelie), uma série de casas nobres, distinções sociais e um
monte de kiths (raças de fadas), a sociedade changeling pode re-
velar-se quase terminantemente confusa a um forasteiro. É bem
provável que um changeling Seelie seja mais amigável do que o
de um Unseelie e um nobre troll seja mais propenso a ser amigá-
vel do que um redcap faminto (e onívoro), mas com changelings
nunca se sabe…
Poderes: Mesmo a magia dos changelings não sendo
tão poderosa quanto a dos magos, ela tem um poder único.
Quase sempre requer um pequeno ritual ou alguns ingredientes
para funcionar, os truques changelings são menos força bruta e
mais pequenas trapaças, confusões e personalidade. Sem querer
dizer que um truque não pode ter efeitos devastadores, mas um
changeling é mais propenso a fazer o inimigo correr atrás do
próprio rabo que a soltar uma bola de fogo.
Se você não pretende usar o sistema de truques deta-
lhado em Changeling: O Sonhar e Changeling Guia de Jogado-
res, os truques podem ser usados de maneira similar à Mágicka
listada acima. Changelings são imunes ao efeito do Paradoxo,
mas podem ser aprisionados em seus próprios pesadelos se seus
truques derem errado.
Ferro frio e Banalidade são coisas que os changelings
mais temem. A última, lhes toma Glamour e os atrai inexora-
velmente ao mundano, onde lentamente, sua memória feérica
desaparece. A primeira, apresenta uma ameaça mais imediata.
Ferro frio causa dano agravado em changelings, e onde a morte
por armas quiméricas meramente os joga de volta pro mundo
“real”, a morte por ferro frio é terrivelmente permanente.

Sluagh
Moradores enervantes da escuridão, os Sluagh são
guardiões dos segredos e porta-voz dos mortos no mundo dos
changelings. Incapazes de levantar a voz além de um sussurro,
adoradores de teias de aranhas e cantos escuros, o sluagh capta
informação de onde quer que venha. Eles vão, às vezes, trocar
segredos, mas o Kith como um todo dá enorme valor à forma-
lidade e segredo. Muitos sluagh possuem pouco contato com
aparições, mas as vêem como espiões fantásticos e ótima fonte
de informação. Aparições, por sua vez, ganham um par de mãos
nas Terras da Carne quando fazem aliança com um sluagh. Os
membros Unseelie do kith, contudo, podem demonstrar um
certo sadismo e são conhecidos por atormentar aparições atra-
vés de seus Grilhões mortais simplesmente pela dor que causam
nas aparições.
Com um rolamento de Percepção + Prontidão (difi-
culdade 7), um sluagh pode ver as Terras das Sombras (e rumo-
res dizem que eles preferem a decoração de lá que a das Terras
da Carne). Com o gasto de um ponto de Glamour, o sluagh
pode também conversar livremente com qualquer aparição nas
proximidades e em alguns raros casos aparições podem até se-
rem convidadas pelo sluagh para um ritual de chá da tarde.
Criação de Personagem: Atributos 8/6/4, Habilidades
17/13/9, Antecedentes 7, Força de Vontade 7, Glamour 8
Atributos Sugeridos: Atributos Mentais devem ter um
mínimo de 3, assim como Manipulação. Outros Atributos So-
ciais devem ter no máximo 2 e Destreza é o mais importante dos
Atributos Físicos.
Habilidades Sugeridas: Prontidão 3, Consciência 3, Esquiva 2,
Empatia 2, Enigmas 3, Etiqueta 2, Expressão 1, Intimidação 1,
Investigação 3, Furtividade 3, Lábia 3
Artes: Prestidigitação (Arte de Ilusão), Vaticínio (Arte da Pro-
fecia e Conhecimento), Chicana (Arte da enganação e da pega-
dinha)
Mortais
O Poder da Vontade
Criança, acredite no que digo
Com uma pitada de sal
E estará protegida da chama
- Kate Bush, “Lily”
través dos séculos, a vontade humana
permitiu que homens e mulheres reali-
zassem feitos que literalmente desafiam
a morte. Portanto, não é surpresa nenhu-
ma que a tenacidade e teimosia humana,
sem mencionar uma estranha dose de
vontade acumulada, possam ter efeitos
poderosos sobre os mortos. Os mortais
podem usar sua Força de Vontade para agir diretamente contra
as aparição e os efeitos dessa tática são impressionantes.
Capítulo Nove: Drama 287
Protegendo
Lembre-se sempre de copiar cada uma das fórmulas
como eu as coloquei e nunca alterá-las em uma linha ou ponto
sequer, nem mesmo na largura de um fio de cabelo, para que ela
não perca seu valor, ou pior: uma linha errada fornece entrada
para aqueles do Outro Lado, pois uma estrela quebrada é o Portão
de GANZIR, o Portão da Morte, o Portão das Sombras.
-Abdul al-Hazred, O Necronomicon
Do alcatrão nas soleiras da Atenas Clássica até os
padrões modernos de cristais, a humanidade há muito experi-
mentou centenas de maneiras diferentes de afastar os fantasmas
indesejáveis. Em épocas mais antigas, moedas nos olhos de ca-
dáveres ou pregos enferrujados sobre as portas realmente ser-
viam para afastar as aparições indesejadas, mas, como a crença
nesses métodos desaparecia, sua eficácia também diminuía.
Ainda assim, o poder das velhas formas não foi totalmente eli-
minado para aqueles que têm a Força de Vontade para fazê-los
funcionar.
Crença e conhecimento são componentes igualmente
importantes em qualquer procedimento de proteção. O mortal
que executa o ritual de proteção deve ter conhecimento sufi-
ciente do assunto em questão (Ocultismo 3 ou superior) e uma
firme crença de que o que ela está fazendo funcionará. O cético
mais bem-educado não será capaz de proteger um local, não
importa quão perfeito seja seu ritual. Ele simplesmente não será
capaz de investir a Força de Vontade em algo que sabe, lá no
fundo, que não funciona. Existem dois tipos de defesas que po-
dem ser feitas contra as aparições. As ativas são coletivamente
conhecidas como Proibições, enquanto as passivas são chama-
das de Proteções.
Proibições
Ao longo das linhas do exorcismo clássico, uma Proi-
bição domina ativamente uma aparição de uma área assombra-
da. O mortal fazendo a Proibição, enquanto realiza um ritual
apropriado (o sino, livro e vela clássicos funcionam bem), rola
Força de Vontade (dificuldade 7). A menos que a aparição na
área gaste um de Força de Vontade por sucesso no teste de Proi-
bição, é imediatamente expulsa do local. No entanto, a aparição
pode resistir à Proibição em andamento através do uso de Arca-
noi apropriado. Nesse caso, o teste é resistido entre a Proibição
e o Arcanos.
Uma aparição que é alvo de uma Proibição deve sair
da área afetada o mais rápido possível, mas assim que o exor-
cista der as costas, ela pode retornar. Ainda assim, a Proibição
pode conseguir algum alívio temporário para indivíduos as-
sombrados, bem como tempo para que medidas mais perma-
nentes sejam tomadas.
Proteções
Proibição serve para exilar aparições residentes; já
proteção as impedem de sequer tocar o lugar. Sempre no centro
de algum tipo de foco (incenso, um círculo de giz, etc.), prote-
ções são meios de evitar contato, de maneira passiva. Ao tomar
um foco e centralizar uma barreira sobre ele, um mortal pode
erigir uma barreira bloqueando as aparições de entrarem em
288 Aparição: O Esquecimento
Tabela de Proteção
# de Sucessos Duração
1 1 hora
2 1 dia
3 1 semana
4 1 mês
5 3 meses
uma sala, um prédio ou, em pouquíssimos casos, até mesmo
uma cidade inteira.
Ao estabelecer uma proteção, o mortal que cria o es-
cudo deve fazer um teste de Força de Vontade (dificuldade 7) e
gastar pelo menos um ponto de Força de Vontade temporária.
O número de sucessos indica quanto tempo dura a proteção,
embora o investimento de um ponto de Força de Vontade per-
manente possa prolongar a duração de uma proteção em meses
ou mesmo anos.
A pontuação permanente da Força de Vontade do
mortal que levanta a proteção é a dificuldade para qualquer apa-
rição que tentar penetrar no perímetro da proteção. Para fazer
a tentativa, a aparição deve rolar sua Força de Vontade e igualar
os sucessos rolados pelo mortal que levantou a proteção. Uma
falha crítica pode bloquear permanentemente a aparição de en-
trar e Arcanoi não podem ser usados de fora de uma área pro-
tegida para afetar alguém dentro dela. Uma vez que a proteção
seja violada, a Mortalha dentro da área protegida é considerada
2 acima do normal, mas as aparições podem agir normalmente .
Nas Terras das Sombras, as áreas protegidas parecem
estar encobertas por cúpulas de luz branca acinzentada. Essas
cúpulas parecem sólidas, embora sob observação próxima pos-
sua, muitas vezes, trincas ou pontos fracos que uma aparição
cuidadosa pode tentar atravessar. Caso contrário, porém, a ala é
sólida nas Terras das Sombras e pode ser tocada, encostada e de
outra forma sentida.
Proteções precisam ser renovadas, embora existam
técnicas para tornar essas barreiras psíquicas mais duradouras
ou até permanentes. Uma proteção antiga deve ser removida
para que uma nova seja criada e durante esses poucos momen-
tos de vulnerabilidade, as aparições muitas vezes tentam rom-
per a proteção ou atacar o humano responsável pelo ritual. Se
uma aparição ataca com sucesso o foco de uma proteção (que-
brando o círculo, soprando a vela, espalhando o incenso), ela
desmoronará imediatamente. Por outro lado, exorcistas inteli-
gentes frequentemente deixam armadilhas psíquicas para apari-
ções que estão ansiosas demais para esperar que a proteção caia
naturalmente.
Vendo os Mortos
A maioria dos mortais não consegue ver aparições.
Eles só conseguem vagas impressões de presenças fantasma-
góricas quando estão cansados, bêbados, feridos mas de outra
forma não se permitem. Isto é ao mesmo tempo uma bênção
e uma maldição para as aparições, que geralmente são gratas
por passarem pelo mundo mortal sem serem vistas, mas que
ocasionalmente desejam que essa visão possa atravessar a Mor-
talha. Mesmo as aparições que ativamente desejam ser vistas
(por exemplo, para fazer uma advertência) muitas vezes não são
visíveis àqueles a quem elas desejam falar.

Inocência
A inocência é algo raro em nosso mundo, assim como
no Mundo das Trevas. Quase extinta em qualquer pessoa com
mais de 12 anos, ainda pode ser encontrada em crianças, mes-
mo em um mundo assombrado e enfeitiçado. A inocência pode
durar até que a experiência e o conhecimento da infelicidade
sumam com ela, mas ela pode conferir alguns benefícios en-
quanto durar.
Em raras ocasiões, os verdadeiramente inocentes
podem ver e até conversar com fantasmas que se movem nas
Terras das Sombras. Esses momentos sempre ocorrem à noite,
geralmente quando o inocente está sozinho e quando o mortal
não está se concentrando ativamente em algo específico. Para
determinar se um inocente vê uma aparição, o Narrador rola a
percepção da criança (dificuldade 6). Um sucesso indica que a
criança vê a aparição; três ou mais permitem que conversem.
A maioria dos inocentes não reagirá à presença de
uma aparição com medo, salvo aqueles fantasmas ou Espec-
tros que estão deliberadamente tentando aterrorizar. Parte da
natureza da inocência é a falta de compreensão da morte; as
aparições que um inocente vê são apenas pessoas em sua vida
que parecem diferentes e com quem ninguém mais pode falar.
Muitas aparições, desesperadas pelo contato com os vivos, pas-
sam longas horas conversando com as crianças, às vezes até as
ajudando ou servindo como “amigos imaginários”.
Inocentes também podem proibir as aparições de se
aproximar deles sem a armadilha de uma proibição ou proteção
totais. Apenas dizendo a uma aparição “vá embora!” ou “Deixe-
-me em paz” muitas vezes é suficiente, quando a força da von-
tade infantil está por trás do comando, para banir uma aparição
desavisada.
Nota: As crianças não são os únicos inocentes, mesmo
no Mundo das Trevas. Insanidade ou educação extremamen-
te protegida pode produzir inocência nos outros. Vampiros
malkavianos, no entanto, mesmo nas profundezas de sua insa-
nidade, estão longe de serem inocentes.
Os Benandanti
Crianças nascidas com a Coifa intacta. Os Benandanti
são aquelas poucas almas capazes de ver e até viajar para o Mun-
do Inferior enquanto ainda vivem. Baseados mais em um siste-
ma de mentor (sapienza) / discípulo (novizio) do que qualquer
organização formal, os Benandanti se encontram em reuniões
chamadas Raduni para debater, discutir e disputar a natureza
das aparições. Enquanto a maioria das superstições relaciona-
das aos Benandanti não são verdadeiras, um membro do grupo
tem certas habilidades sobrenaturais, desde que parte de sua
Coifa de nascimento esteja em sua posse. O Benandanti pode
ver as Terras das Sombras a qualquer hora e é capaz de viajar
ocasionalmente para o Mundo Inferior à noite. Um Benandanti
preso fora de seu corpo ao alvorecer cai em coma, que não pode
ser quebrado até que o espírito errante volte para casa. Às vezes
isso leva anos, às vezes nunca acontece.
Além disso, as lendárias espadas de ervas dos Benan-
danti são bastante reais e podem atacar as aparições das Terras
da Pele. Quando os Benandanti morrem e se tornam aparições
(como ironicamente ocorre), eles geralmente cruzam a Morta-
lha com essas armas, assim como uma série de outras relíquias e
até Artefatos. No Mundo Inferior, espadas de erva são Artefatos
extremamente valiosos, capazes de quebrar a maioria das lâmi-
nas que atravessam.
Os Benandanti não são unificados em sua compre-
enção sobre aparições. Os Dannati, que acreditam que as apa-
rições são almas condenadas que clamam pela destruição e os
Redentori, que procuram encorajar aparições a ir além da exis-
tência fantasmagórica, são as duas maiores facções do grupo,
mas existem literalmente dezenas de outras. Cada uma fanática
sobre sua própria visão da situação e os debates em Raduni po-
dem se intensificar ao ponto da violência.
Benandanti são raros o suficiente para que a maioria
das aparições nunca tenha visto um, mas um membro do grupo
pode ser descoberto facilmente por uma aparição com Castigar,
já que os Benandanti que mergulham no Mundo Inferior não
têm, em essência, uma Sombra. Um Benandanti, que viaja re-
petidamente para o Mundo Inferior, no entanto, ou que lá fica
preso, rapidamente se tornam indistinguíveis de aparições.
Supostamente, as Damas do Destino estão trabalhan-
do em conjunto com um pequeno grupo de Benandanti, uma
manobra que incomodou os outros Senhores da Morte. A maio-
ria das aparições de Benandanti se alinham com frequência
com os Hereges ou, mais raramente, com os Renegados; e tra-
balhando com os Benandanti, dizem os Sete Senhores da Morte,
as Damas do Destino estão simplesmente armando o inimigo.
Até o momento, nenhuma resposta a essa acusação foi dada.
O Círculo Arcano
Um seleto grupo de 300 seres que estudam a morte
e seus vários estados, os arcanos contam com mortais, magos,
vampiros e até fantasmas. Misticamente impedidos de revelar
os segredos do Círculo a qualquer estranho, os arcanos estu-
dam a morte em uma tentativa de entender sua verdadeira na-
tureza. Toda ferramenta imaginável, desde jornadas no Mundo
Inferior até transgressões induzidas por drogas até sacrifícios
dos vivos e dos mortos é colocada em prática na busca por esse
conhecimento supremo. Muitos dos membros estão cientes das
naturezas de seus companheiros, já que é muito mais provável
que um membro do Círculo se importe com o trabalho de outro
membro do que se ele pode ser mortal, mago ou vampiro.
Regido por uma coleção de nove sacerdotes e sacerdo-
tisas chamadas Banco de Ébano, o Círculo olha para o lendário
Orfeu como a fonte de seus ritos e ideais. A jornada do bardo
para o Mundo Inferior para recuperar sua amada Eurídice se
transformou no entendimento do Círculo para a permanência
de um vampiro nas Terras Mortas em uma busca para entender
os segredos da vida e da morte. Uma junta de 10, chamando-
-se Kerberos, é encarregada do alistamento e da verificação de
novos membros, enquanto duas facções, os Orgiophontes (um
sacerdote predominantemente masculino, conservador) e as
Dikeia (dominadas por mulheres e a favor do retorno a as raízes
Maenadic do Círculo), lutam pelo controle da direção do Círcu-
lo. No momento, as Dikeia controlam quatro assentos do Banco
Capítulo Nove: Drama 289
de Ébano e cada lado está captando aliados, tanto vivos quanto
Inquietos.
A maioria das interações do Círculo com aparições
não-membros ocorrem na primavera, durante o Grande Festi-
val nas Montanhas Pindo da Grécia. Uma semana de bacanal
de puro abandono, o Festival serve como um imã para os Ca-
valgadores de carne. Esses catadores de sensações geralmente
recebem os anfitriões que desejam (se concordarem em partici-
par de algumas das experiências do Círculo). Poucas aparições
hesitam em fazer a barganha, pelo menos a princípio. De todas
as organizações que lidam com os mortos, o Círculo Arcano
certamente tem a melhor compreensão da sociedade Inquieta.
Sem dúvida, as aparições que são membros do Círculo foram
capazes de esclarecer muitos equívocos que outros grupos man-
têm sobre sua espécie. Esse conhecimento preciso nas mãos de
um bando de mortais e outros seres mais poderosos desagrada
muito a Hierarquia e esse augusto corpo começou a dobrar seus
esforços para desmantelar o Círculo.
Enquanto o objetivo declarado do Círculo não tem
nada de inocente, há outros rumores mais sombrios sobre os
quais seriam a verdadeira agenda do Banco de Ébano. O mais
persistente é que o Círculo está planejando abandonar a Morta-
lha de alguma forma para tocar no milênio, inaugurando uma
nova era de coexistência de vida e morte. Parte desses rumores
são os do Círculo lidando com o ser eterno conhecido como
Dike (pronunciado DEE-kay), a quem os membros do Círculo
vêem como um juiz dos mortos.
O Arcanum
Menos uma organização caçadora e mais uma espécie
de NSA sobrenatural, o Arcanum como um todo está interes-
sado apenas no conhecimento do sobrenatural. Membros indi-
viduais podem ter seus próprios planos sobre o que fazer com
esses dados, mas o Arcanum lança-se como um repositório de
conhecimento e nada mais.
Fundado no final da década de 1880, o Arcanum tem
casas capitais em todo o mundo, mas baseia seus esforços nas
Este trabalho é uma tradução de fãs, para fãs. Se você gosta do material, compre o original e ajude o hobby a perdurar. Este
PDF tem o objetivo de ser usado para consulta e não deve ser impresso integralmente ou em parte. Esperamos que com esse material,
os fãs brasileiros sintam-se motivados a conhecer outros livros e ajudem a manter esse cenário vivo (se é que isso é possível, quando
falamos de morte).
290 Aparição: O Esquecimento
casas capitais de Boston, Londres e Washington DC. Secreta-
mente nas sombras como seus objetos de estudo, o Arcanum se
concentra não apenas em aparições, mas também em vampi-
ros, lobisomens, fae, magos, mutilações de gado, avistamentos
do Monstro do Lago Ness e quaisquer outros incidentes que
sugiram o sobrenatural. No entanto, isso não significa que os
estudiosos e pesquisadores do Arcanum são ingênuos ou tolos.
Em vez disso, eles simplesmente se recusam a ignorar qualquer
fonte potencial de informação, não importa o quanto ela possa
parecer estranha.
Um século desse tipo de coleta de informações de
mente aberta produziu a maior coleção de informações ocul-
tas do planeta, bem como uma imagem surpreendentemente
precisa da cosmologia, geografia e política do Mundo Inferior.
No entanto, a força de pesquisa do Arcanum também é sua fra-
queza, pois as verdades que o grupo reuniu estão presas a um
emaranhado de meias verdades, verdades parciais e mentiras
achatadas sobre a existência Inquieta. A organização tem um
número considerável de aparições aprisionadas (principalmen-
te drones) forçadas a se manifestarem; a coleção é justificada-
mente famosa nos círculos ocultistas.
A imortalidade é um projeto de estimação de muitos
estudiosos do Arcanum, muitos dos quais estenderam sua vida
útil por séculos através do uso de vários elixires. As aparições
são, naturalmente, um foco desse tipo de pesquisa e à medida
que o tempo acaba para certos anciões do Arcanum, a urgência
de tal pesquisa aumenta dramaticamente. Até o momento, os
experimentos mais bem-sucedidos foram conduzidos por Jona-
than Kelvin, o mais novo dos fundadores originais do Arcanum.
O trabalho de Kelvin envolve extrair Pathos de fantasmas apri-
sionados e injetá-lo psiquicamente em seres humanos vivos, a
maioria dos sem-teto atraídos para o experimento pela promes-
sa de uma refeição e uma cama quente. Se essas experiências
tiverem sucesso (no momento o procedimento ainda tem 100%
de baixas), é uma certeza que o Arcanum e talvez outras organi-
zações, começarão a olhar através da Mortalha vendo aparições
como nada mais do que um recurso a ser explorado.
Notas Finais
Nota final... notas finais... reta final. Não acredito que
acabou, mas minha parte em Aparição: O Esquecimento 2ª
Edição está terminada. Até as páginas XX foram assombradas e
exterminadas e acho que muitos dos erros eu descobri por aca-
so. Só a posteridade e vocês poderão dizer e suspeito que vocês
me dirão se eu tiver esquecido algo.
Então agora, chegou a hora de escrever as notas finais
para o livro que foi a peça central da minha existência nos últi-
mos seis meses ou mais. Nesse momento eu deveria invocar mi-
nhas últimas reservas de raciocínio e alto-possessão e escrever
algo piedoso sobre o processo pelo qual Aparição 2ª passou.
Melhor não fazer isso. Aparição viajou por uma estra-
da longa e difícil, guiada por muitas mãos firmes. Há algumas
vitórias e algumas, digamos, não tão vitórias assim. Muitas cri-
ses tempestivas e dores, sem falar da a maldição da crise criativa
que eu, particularmente não acredito mas que se mantém firme
no meu ombro enquanto escrevo essas palavras finais. Agora
não é a hora de bater os calcanhares ao final do trabalho, mas
um momento em que eu posso finalmente apreciar como tenho
sorte de ter tido a chance de escrever isso. Daque 20 anos, terei
a chance de tirar uma cópia velha desse livro da estante e mos-
trar para meu hipotético filho e dizer: “Eu fiz isso.” Hoje em dia,
muito poucas pessoas tem a chance de criar algo que dure.
Então, o que mais posso dizer? Só que estou orgulhoso
do meu trabalho nesse projeto e que me orgulho de ter trabalha-
Psique:
S OMB RA Arquétipo:
Guia da Sombra:
Espinhos Angústia
____________________________ mmmmmmmmmm
____________________________ qooooooooo
____________________________
____________________________
____________________________ Força de Vontade da Psique
____________________________
mmmmmmmmmm
____________________________
do com todos que estiveram comigo para criar isso. Isso signifi-
ca todos, desde os criadores originais do jogo até os freelancers
que ajudaram a recriar Aparição. Há muita paixão nesse livro,
de praticamente toda parte do mundo e acho que a dedicação,
talento e esforço de todos é muito evidente.
De qualquer forma, aqui está, tinindo de novo. O livro
que você segura é o produto de noites perdidas atá amanhecer.
E surgiu sob efeito de muita cafeína e sanduíches, sem falar da
leitura de Lovecraft, Blackwood e M.R. James. Muita gente se
debruçou e ajudou nas entregas e o consenso geral é que mesmo
que a criança seja um pouco esquisita, vai ficar tudo bem.
Em outras palavras, é hora de abandonar as metáforas.
O que você tem em mãos é um bom jogo. Jogue. Divirta-se.
Talvez até diga aos amigos algo que seu personagem tenha feito
que te deixou tão orgulhoso que você quis compartilhar. Não
consigo pensar em nada melhor para presentear as pessoas que
se esforçaram tanto para que esse livro esteja com você.
Richard E. Dansky
Nós, do Dictum Mortuum, esperamos que todo nosso
esforço se transforme em Pathos para a comunidade de Apari-
ção e que isso seja o ponto de partida para um crescimento que
já deveria ter acontecido 20 anos atrás, mas que foi contido pela
triste falha na comunicação que ainda não superamos. Continu-
amos lutando para que isso não seja uma barreira para ninguém
dentro da comunidade.
Experiência:
Paixões Sombrias
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
____________________ O O O O O
Capítulo Nove: Drama 291
292 Aparição: O Esquecimento
A
Índice Mentais 118


Inteligência 118
Percepção 118
Corcéis dos Mortos 67
Coração Gelado 71
Corpus 123
Raciocínio 119 Corpus, Estados 232
Absorção 258 Físicos 116 Corpus, Permanente133, 232
Ações 82 Destreza 116 Corpus, Temporário 133
Extendida 84 Vigor 116 Correntes 46
Multipla 84, 247 Força 116 Costas Distantes 38
Tentativas Múltiplas 85 Sociais 117 Criação de Manobras 262
Resistida 84 Aparência 118 Criação de Personagem 93
Realizando 248 Carisma 117 Tabela 100
Trabalho em grupo 85 Manipulação 117 Sombra 166
Ação ao Vivo 20 Criaturas da Noite 281
Regras 20 B Changelings 286
Acessórios 203 Carniçais 283
Aço Estigio 234 Bardos 146 Magos 284
Adivinhos 142 Barghests 52, 275 Oradores dos Sonhos 285
Almas 33, 44 Barqueiros 57, 61 Euthanatos 285
Negociando 33 Juramento dos 62 Engenheiros do Vácuo 285
Ambientação 32 Breves, Os 235, 287 Vampiros 281
Angústia 169, 174 Arcanum, O 290 Giovanni 282
Ganhando/Perdendo 175 Benandanti 289 Samedi 282
Antagonistas 205, 270 Cículo Arcano, O 290 Tremere 282
Antecedentes 99, 127 Lobisomens 283
Aliados 128 C Crônica 204
Artefatos 128 Terminando 221
Contatos 128 Caindo 234 Crossover 215
Eidolon 129 Características 111 Curando 232
Local Assombrado 129 Níveis 82
Legado 130 Características das Aparições 22 D
Memorian 131 Visão da Morte 22
Mentor 131 Insubstancialidade 23 Dama do Destino 60
Relíquia 132 Visão da Vida 22 Dano 232
Status 132 Sentidos Aguçados 23 Agravado 232
Aparência 101 Caronte 60 Normal 232
Aparições 21 Castigar 138 Decreto de Ruptura, O 55
Arcanoi 133 Falhas Críticas 138 Desenvolvimento de Personagem 226
Artes Alternativas 133 Baluarte 138 Dictum Mortuum, O 68
Falhas Críticas 134 Coagir 138 Dificuldade 83
Arcanoi Sombrios 272 Segredos Sombrios 138 Domínios 39
Arquétipos 97, 112 Desafiar 139 Drones 43
Argos 136 Faxina 139
Falhas Críticas 136 Purificar 139 E
Envolver 137 Visão da Alma 138
Pulsar 137 Catarse 176 Encarnar 140
Salto 137 Regras 176 Falhas Críticas 140
Orientação 136 Cativos 43, 72 Toque Fantasmagórico 140
Masmorra 137 Ceifadores 43 Vida em Morte 141
Asas Fantasmas 137 Cenas 246 Manter Forma Material 141
Limiar da Tempestade 137 Cenas de Ação 247 Materializar 141
Ver a Tempestade 137 Cidadelas 40 Fantasma 141
Armadura 262 Círculos 47, 102 Estátua 141
Tabela de Níveis 262 Clima 203 Sussurros 140
Armas Combate 233, 256 Escada Venosa, A 38
Armas de Fogo 261 Complicações 258 Esfolamento, O 71
Armas Brancas 260 Sumário 263 Espectros 58, 270
Artefatos 45 Complicações com Armas Brancas 259 Replicantes 270
Artífices 144 Complicações de Briga 260 Malfeanos 275
Assustadores 152 Conceitos de Crônicas 207 Anunciadores 274
Atalhos 36 Conciliadores 138 Nephwracks 275
Ataque 257 Conflito 211 Vultos 271
Atributos 98, 116 Complicações com Armas de Fogo 258 Pequenos 274
Especializações 112 Guerra das Guildas 53 I
Especialidade 98 Gorool 75
Espinhos 170, 182 Grilhões 41, 101, 216, 230 Iniciativa 248, 257
Aura da Corrupção 171 Perdendo 230 Inquietos, Os 40
Má Sorte 172 Resolvendo 231 Herdados 43
Aliados Sombrios 170 Infantes 42
Vestígio da Morte 171 H Extornados 43
Desafio Demoníaco 173 Lêmures 43
Lapso Freudiano 173 Habilidades 99, 119 Status e Sociedade 42
Infamia 170 Conhecimentos 124 Facções 47
Pacto da Perdição 171 Burocracia 124 Insulto 152
Chamado Sombrio 171 Computador 124 Falhas Críticas 152
Familiar Sombrio 173 Enigmas 125 Toque da Morte 152
Vida Sombria 173 Investigação 125 Súbito de Fúria 152
Característica Sombria 171 Direito 126 Obliterar 153
Rosto Sombrio 172 Linguistica 126 Sibilar 152
Joguete Sombrio 172 Medicina 126 Punho de Pedra 152
Prestígio Espectral 170 Ocultismo 127 Aperto da Aparição 152
Relíquia Corrompida 170 Politica 127 Itens Forjados 44
Toque Maculado 172 Ciência 127
Truque de Luz 172 Perícias 121 L
Esquecimento 32 Ofícios 122
Esquivando 257 Condução 122 Labirinto, O 36, 61
Essência 272 Etiqueta 122 Lamúria 146
Estigia 36, 63 Armas de Fogo 123 Balada 146
Exemplo de Criação de Personagem 102 Liderança 123 Falhas Críticas 146
Exemplo de Criação de Sombra 173 Meditação 123 Crescendo 147
Exemplo de Jogo 265, 269 Armas Brancas 123 Nênia 146
Expresso da Meia-Noite, O 40 Performance 123 Musa 147
Reparos 124 Tom Perfeito 146
F Furtividade 124 Requiem 147
Talentos 119 Sotto Voice 146
Fatalismo 142 Prontidão 119 Legiões, As 51
Falhas Críticas 142 Esportes 119 Lista 51
Visão Fatal 143 Consciência 119 Lei de Caronte 52
Presságio 143 Briga 120 Léxico 24, 86
Conjectura 143 Esquiva 120 Locais Assombrados 35
Interpretação 143 Empatia 120 Lux Veritas 64
Kismet 142 Expressão 120
Sorte 143 Intimidação 120 M
Ferimentos 231 Manha 121
Causas 233 Lábia 121 Maelstroms
Ficha de Personagem 292 Habitar 144 37, 65, 68, 71, 74, 75, 234
Exemplo 103 Falhas Críticas 144 Manobras Especiais 261
Ficha da Sombra 291 Reinvindicar 145 Marcas da Morte 46
Exemplo 174 Capacitar 145 Marcas de Arcanos 134
Força de Vontade 101 Greminilizar 145 Mascarados 150
Fogo 234 Correr pela Rede 144 Máscaras 46
Forja de Almas 66 Sentir Gremlin 144 Mensageiros 136
Enclausurar 144 Metafísica 41
G Curto 144 Modelar 150
Hereges 47, 49, 69 Falhas Críticas 150
Guiando a Sombra 19, 166, 177, 180 Cultos Notáveis 50 Modelar Corpo 151
O que fazer e o que não fazer 180 Hierarquia, A 48, 50, 68 Incandescer 150
Responsabilidades 177 Judiciário 52 Imitar 150
Técnicas 178 Sentença e Punição 52 Belicismo 151
Tentações 178 História 210 Dilacerar 151
Variações 181 Historia Popularis Stygiae 59 Retornar o Aspecto de Morte 150
Guildas, As 53, 68 Holocausto, O 74 Sentir Modelar 150
Ruptura, A 54 Horror, Terror e Medo 200 Esculpir 151
Guildas Menores 57 Monitores 148
Lista 58 Mortalha 35, 240
 Tabela 240 Agonia 157 Direção Perigosa 251
Morte 235 Devaneios Oníricos 157 Sociais 252
Mundo Inferior, O 21, 32 Elysia 156 Credibilidade 252
Construção 34 Lucidez 156 Tagarelar 252
Fantasmagoria 157 Interrogatório 252
N Sentir Sono 156 Oratória 253
Plásmicos 276 Performance 254
Narrador 196 Ailerons 277 Sedução 254
Narrativa Cerementos 278 Sombra, A 23, 165
Técnicas Avançadas 213 Kraken 279 e Eidolon 180
Necropolis 39, 72 Pranteadores 279 Arquétipos 166
Névoa, A 240 Rasga-Mortalha 278 Sucessos 83
Tabela 241 Cães de Tindel 276 Automático 84
Nhudri 62 Poderes de Vultos 272
Nihils 36 Pontos de Bônus 101 T
Notas Finais 291 Tabela 101
Sombra 170 Tabela de Briga 263
O Tabela 170 Teia Vital
Pontos de Experiência 226 Falhas Críticas 148
Oboli 43 Tabela 228 Localizar Grilhão 148
Oneiros 156 Experiência da Sombra 231 Sentir Filamento 148
Tabela Romper Filamento 149
P Prelúdio 105 Pacto da Alma 149
Proclamação da Razão 70 Trançar Filamento 149
Paixões 41, 100, 216, 229 Procuradores 140 Presença da Teia 148
Perdendo 229 Proibições 288 Temas 199
Resolvendo 229 Protegendo 288 Tempestade, A 36
Paixões Sombrias 170,180 Proteções 288 Tempo 81
Criação 170 Terras das Sombras, As 35
Pandemonium 154 R Titereiros 158
Falhas Críticas 154 Titerismo 158
Confundir 154 Regra de Ouro, A 80 Falhas Críticas 158
Éter Sombrio 154 Regra do Ai, A 232 Detectar Possessão 158
Humor Negro 155 Reinos Negros 39 Voz do Mestre 158
Sentir Caos 154 Relíquias 44 Obliterar a Alma 159
Tempus Fugit 155 Renegados 47, 48, 64 Governar a Mente 159
Estranheza 154 Gangue Notáveis 48 Cavalgar 158
Patentes da Legião 51 Resolução 257 Movimento Súbito 158
Anacreonte 51 Rio da Morte, O 37 Tragédia 200
Centurião 51 Rolando os Dados 86 Transcendência 236
Legionário 51 Romance 202 Turnos 246
Marechal 51
Suserano 51 S U
Regente 51
Pathos 101 Senhores da Morte 43 Usurários 160
Parada de Dados 81 Separação, A 60 Usura 160
Dividindo 84 Sintonia 135 Falhas Críticas 160
Pesadelos 183 Sistemas Dramáticos 248 Avaliação 160
e Angústia 175 Mentais 254 Transferência 160
Cosmologia 184 Interpretação de Sonhos 254 Termo de Doação 160
Destrutivo 188 Pesquisa 255 Retirada Precoce 161
Fuga 185 Procurar 255 Taxa de Câmbio 161
Extendido 189 Seguir 255 Investimento 161
em Grupo 189 Físico 248
Narrativa 218 Escalada 248 V
Técnicas Recomendadas 220 Feitos de Força 249
Sistemas e Alvos 186 Ligação Direta 249 Vantagens 99
Direcionado 186 Saltando 250
Percepções 236 Perseguição 250 Z
Pescadores, Os 67 Reparos 250
Phantasma 156 Ser a Sombra 251 Zombeteiros 154
Falhas Críticas 156 Furtividade 251

Errata
ouston, temos um problema.
- Jim Lovell, Apollo 13
As informações a seguir foram
acidentalmente deixadas pra trás em
Aparição: O Esquecimento 2ª Edição.
Sentimos muitíssimo por isso ter acon-
tecido.
Recuperando Pathos Através de Paixões
Para recuperar Pathos, a aparição (ou o Narrador)
rola os dados da Paixão aplicável. Se a aparição estiver ativa-
mente passando pela Paixão em questão, a dificuldade do rola-
mento será 6. Se a aparição estiver observando um mortal que
está apresentando uma de suas Paixões (Ex.: experimentando
a emoção base da Paixão), o mesmo rolamento pode ser feito
com dificuldade 8. Finalmente, se a própria aparição está sen-
tindo a emoção base, a dificuldade será 9.
Rolar contra uma Paixão deve ser um momento re-
servado para quando a aparição sente fortes emoções. Uma
pontada de arrependimento durante o por do sol não seria
suficiente para rolar a Paixão “Dizer adeus para o meu pai
(Arrependimento) 3”. Por outro lado, jogadores devem se
sentir à vontade para solicitar um rolamento de Paixão para
seu Narrador sempre que acharem apropriado. Além do mais,
Narradores sempre terão a opção de rolarem contra a Paixão
de um personagem em segredo e determinar ganho de Pathos
dessa forma.
Uma Falha Crítica num rolamento de Paixão, dá ao
personagem um ponto temporário de Angústia.
Pathos nunca pode ultrapassar 10.
Por Exemplo:
Daphine tem uma Paixão “Me redimir por meus er-
ros (Penitência) 5” e se encontra com pouco Pathos. Contudo,
ela queima muito do seu suco, tentando recuperar a relíquia
que seu amigo emprestou e ela perdeu. O jogador de Daphi-
ne pergunta ao Narrador se essa atitude é suficiente para rolar
pela Paixão de Penitência; o Narrador concorda com o rola-
mento e diz para o jogador rolar a Paixão. Ele rola 5 dados (o
nível da Paixão) e tira: 10, 8, 7, 7 e 2. Com quatro sucessos,
Daphine recupera quatro pontos de Pathos e se sente muito
melhor.
Mais tarde, ela vê uma criança chorando através da
Mortalha. O menino quebrou o que é, obviamente, um dos
vasos preferidos da mãe e está desesperadamente tentando
colar as peças, sem muito sucesso. Apesar disso, o Narrador
acha que ao observer isso, Daphine deve rolar sua Paixão, mas
com dificuldade 8. Novamente, o jogador de Daphine rola os
5 dados da Paixão, mas dessa vez tira 7, 6, 5, 2 e 1. Uma Falha
Crítica, no lugar de Pathos, ele ganha um ponto de Angústia
temporária. Sua Sombra se remexe e sugere que use Insulto
para mostrar ao moleque como um vaso quebrado deve ser.
Bem depois, Daphine se encontra acordando de um
Catarse. Desdenhosamente, sua Sombra lhe informa que en-
quanto estava no controle, voltou até a casa daquele moleque
e quebrou tudo que tinha para ser quebrado. Claro, a criança
seria culpada, e obviamente seus pais não acreditariam em sua
história sobre um fantasma ser o responsável. Nesse momen-
to, Daphine expressa arrependimento genuíno por ter causado
tanta dor ao menino, mesmo tendo sido sua Sombra a cometer
tal ato. Em segredo, o Narrador decide que é o suficiente para
ativar a Paixão de Daphine e rola seus dados atrás do escudo
para ninguém ver. Tira 10, 9, 4, 4 e 2. Ele informa a Daphine
que deve anotar mais dois pontos de Pathos em sua ficha e diz
que esses pontos seriam melhores se usados para reparar o so-
frimento causado por seus pecados.
reflexos sombrios
reflexos sombrios

Espectros
 O Jogo de Narrativa de Paixão e Horror
Segunda Edição
AQUI NÃO É O CÉU.
AQUI NÃO É O INFERNO.
NÃO É NADA QUE VOCÊ PUDESSE IMAGINAR. A MORTE NÃO FOI O FIM.
A MORTE NÃO DEU RESPOSTAS.
A MORTE FOI SÓ O COMEÇO.

ENTÃO, O QUE FAZER ?

VOCÊ ESCUTA AQUELA VOZ DENTRO DE
VOCÊ, DIZENDO PRA ABANDONAR TUDO ? OU AINDA LUTA,
AINDA AMA,

AINDA SENTE A PAIXÃO QUE

NÃO TE DEIXA DESCANSAR ?

O ESQUECIMENTO É A SAÍDA MAIS FÁCIL.

A VIDA APÓS A MORTE É MUITO DIFÍCIL.

ESCOLHA
VOCÊ TERÁ A ETERNIDADE PARA PESAR AS CONSEQUÊNCIAS.

Aparição: O Esquecimento
TM

NÃO É SOBRE MORTE.

É SOBRE O QUE VEM DEPOIS.

Grupo
Dictum
Mortuum
de tradução