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VEYNE, Paul. A homossexualidade em Roma. In: ARIÈS, Phelippe. BÉJIN, André (orgs.).

Sexualidades ocidentais. 3.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

O autor realiza uma discussão sobre a homossexualidade na sociedade romana, desmistificando


a “liberação sexual” que comumente é atribuída a essa sociedade. As concepções morais,
obviamente, diverge dos valores da nossa sociedade, sobretudo, em relação a
homossexualidade.

“Não é exato que os pagãos tenham encarado a homossexualidade com um olhar indulgente: a
verdade é que não viram como um problema à parte; cada um condenava ou admitia a paixão
amorosa (cuja legitimidade era a seus olhos discutível) e a liberdade de costumes” (VEYNE,
1987, p. 39).

“Se por um lado reprovavam a homofilia, não a reprovavam de modo diferente do amor das Commented [P1]: SIGNIFICADO: ATRAÇÃO SEXUAL POR
PESSOA DO MESMO SEXO.
cortesãs e das ligações extraconjugais – ao menos enquanto se tratava de homossexualidade
ativa. Tinham três pontos de referência que nada têm a ver com os nossos: liberdade amorosa ou
conjugalidade exclusiva, atividade ou passividade, homem livre ou escravo; penetrar seu
escravo era inocente e nem mesmo os censores severos se imiscuíam em uma questão tão
subalterna; em compensação, era monstruoso, da parte de um cidadão, ter complacência
servilmente passivas” (VEYNE, 1987, p. 39). Commented [P2]:
Commented [P3]: A homossexualidade ativa não era
“Apuleio qualifica de antinaturais certas complacências infames entre homens; não estigmatiza marginalizada, ao contrário da passiva.
com isso o caráter homossexual das mesmas, e sim a servilidade e também a sofisticação. [...]
Daí decorrem duas posições diante da homofilia: a maioria indulgente achava-a normal e os
moralistas políticos achavam-na às vezes artificial, da mesma maneira, aliás, que todo prazer
amoroso” (VEYNE, 1987, p. 40).

“Bom representante da maioria indulgente, Artemidoro distingue as “relações conformes à


norma” (são suas palavras): com a esposa, com uma amante, com “escravo, homem ou mulher”.
Todavia, “ser penetrado por seu escravo não é bom; é uma investida e isso indica desprezo por
parte do escravo”. As relações contrárias à norma são incestuosas. As que são contrárias à
natureza compreendem a bestialidade, a necrofilia e as uniões com as divindades” (VEYNE,
1987, p. 40).

“O que é antinatural na pederastia é menos o erro quanto ao sexo do que a complicação do


prazer: a pederastia não é para ele uma anomalia digna da fogueira, e sim um gesto abusivo, ao
estilo das posições”. Continua sendo proibida, mas da mesma maneira que a união com toda Commented [P4]: Concepção de PLATÃO sobre a “pederastia”.
mulher que não a legítima esposa” (VEYNE, 1987, p. 41).

“Para Platão, não era o homossexual que era contra a natureza, mas tão-somente o gesto que ele
realizava. A diferença é grande: um pederasta não era um monstro, um representante de alguma
raça com pulsões incompreensíveis – era muito simplesmente um libertino, movido pelo instinto
universal do prazer, e que ia até o ponto de fazer um gesto, a sodomia, que os animais não
fazem. O horror sagrado pelo pederasta não existia” (VEYNE, 1987, p. 41).

“Nessa sociedade, onde os censores mais severos viam na sodomia somente um gesto libertino,
não se ocultava a homofilia ativa e os que eram propensos aos rapazes eram tão numerosos
quanto os apreciadores de mulheres, o que diz muito sobre a natureza pouco... natural da
sexualidade humana” (VEYNE, 1987, p. 41). Commented [P5]: Esta passagem desmistifica a
heterossexualidade compulsória que reivindica uma coerência
heterossexual entre o sexo-genero-prazer. Desse modo, a
heteronormatividade naturaliza a sexualidade humana.
“Deve-se-á pensar que Roma aprendeu esse amor dos gregos, que foram seus mestres em tantos
domínios? Se a resposta for sim, inferiremos daí que a homofilia é uma perversão tão rara que
um povo só pode tê-la aprendido de um outro povo, que lhe terá dado o mau exemplo; se, pelo
contrário, ficar claro que em Roma a pederastia era indígena, concluiremos que o surpreendente
não é uma sociedade conheça a homofilia, mas que a ignore: o que merece explicação não é a
tolerância romana e sim a intolerância dos modernos” (VEYNE, 1987, p. 42). Commented [P6]:
Commented [P7]: Reforça o pensamento anterior e faz uma
“As poesias de Catulo estão repletas de injúrias rituais e juvenis pelas quais o poeta ameaça critica a moral moderna sobre a sexualidade, principalmente, sobre
penetrar os inimigos para marcar seu triunfo sobre eles; estamos em um mundo de bravatas as orientações sexuais dissidentes.

folclóricas de um sabor tipicamente mediterrâneo: o importante é ser o penetrador, pouco


importa o sexo da vítima. A Grécia tinha exatamente os mesmos princípios, mas, além disso, Commented [P8]: Há na sociedade romana uma clara
demarcação dos papéis sexuais, e estes, produzem hierarquias
tolerava e até mesmo admirava uma prática romanesca que os latinos abominavam: era entre os sujeitos. A diferenciação entre ativo/passivo perdura até
indulgente com os amores supostamente platônicos dos adultos pelos efebos livres (por nossos dias. Na privação de liberdade penetrar o outro para além
de uma demonstração de masculinidade, representa se isso ocorrer
nascimento) que freqüentavam a escola, ou melhor, o ginásio, onde seus amantes iam vê-los
através de violência sexual, uma atitude de poder e subjugação do
treinar nus” (VEYNE, 1987, p. 42). outro.

“O importante continuava sendo respeitar as mulheres casadas, as virgens e os adolescentes


livres por nascimento: a pretensa repressão legal da homossexualidade visava na verdade
impedir que um cidadão fosse penetrado como um escravo. [...] protege o adolescente livre da
mesma maneira que a virgem nascida livre. O sexo, como se vê, não faz diferença nesse caso. O
que conta é não ser escravo, e não ser passivo. O legislador não pensa absolutamente em
impedir a homofilia. Quer somente proteger o jovem cidadão das investidas ativas” (VEYNE,
1987, p. 43).

“Nesse mundo não se classificavam as condutas de acordo com o sexo, amor pelas mulheres ou
pelos homens, e sim em atividade e passividade: ser ativo é ser másculo, seja qual for o sexo do
parceiro passivo. Ter prazer de modo viril, ou dar prazer servilmente, tudo está nesse ponto. A
mulher é passiva por definição, a menos que seja um monstro, e não tem voz ativa nesse caso
específico: os problemas são tratados do ponto de vista masculino” (VEYNE, 1987, p. 43). Commented [P9]: IMPORTANTE!

“Um desprezo colossal recaia sobre o homem adulto e livre que era homófilo passivo, ou como
se dizia, impudius (este é o sentido pouco conhecido desta palavra) ou diatithemenos. A malícia
pública suspeitava que certos filósofos estóicos camuflavam sob uma afetação de virilidade
exagerada uma feminilidade secreta, e creio que pensavam no filósofo Sêneca, que preferia os
atletas aos rapazes. Os homófilos passivos eram expulsos do exército,e , testemunhou-se o
imperador Cláudio, num dia em que mandava cortar cabeças, umas após as outras, poupar a vida
de um impudico que tinha “complacências de mulher”: um tal ser teria maculado a espada do
carrasco” (VEYNE, 1987, p. 43-44).

“Essa rejeição do homófilo passivo não visa sua homofilia, e sim sua passividade, pois esta
última provém de um defeito moral, ou melhor, político, que era exatamente grave: a lasciva. O
individuo passivo não era lascivo por causa de seu desvio sexual, muito pelo contrário: sua
passividade não era senão um dos efeitos de sua falta de virilidade, e essa falha permanecia
sendo um vício capital mesmo na ausência de todo homofilia. Pois essa sociedade não passava
seu tempo se perguntando se as pessoas eram ou não homossexuais; em compensação, ela Commented [P10]: Isso surge com o cristianismo, e na
modernidade pelo Estado (Ver Foucault)
prestava uma atenção exagerada a ínfimos pormenores do traje, da pronúncia, dos gestos, do
modo de andar, para perseguir com seu menosprezo os que traíssem uma falta de virirlidade, Commented [P11]: Diferentemente da sociedade atual onde as
performances de gênero são constantemente alvo de uma análise
independentemente de suas preferências sexuais” (VEYNE, 1987, p. 44). moratória.
Além disso, outro aspecto que ocupava igual preocupação na sociedade romana era a
felação,

“A felação era a injúria suprema e citavam-se casos de feladores envergonhados que tentavam, Commented [AM12]: FELAÇÃO: sexo oral masculino.
CUNILÍNGUA: sexo oral feminino.
na opinião dos relatores, disfarçar sua infâmia sob a aparência de um vexame menor, fazendo-
se passar por homófilos passivos![...] Pois pintava-se a felação com cores tão fantasmagóricas
quanto às que os racismos utilizam entre nós; Apuleio ou Suetônio mostram malfeitores ou o
próprio Nero que se precipitam para a felação, como quem se lança por perversidade em atos
cujo prazer está na infâmia. A felação não é, realmente, o auge do rebaixamento? Tem
passivamente seu prazer em dar prazer ao outro, e não recusa servilmente a outrem a posse de
nenhuma parte do corpo. O sexo absolutamente não basta, pois havia um segundo
comportamento não menos infame, que os obcecava do mesmo modo: a cunilíngua. Estamos no
extremo oposto da cultura japonesa, na qual a glória e a delícia do samurai libertino era infligir
prazer às mulheres por todos os meios” (VEYNE, 1987, p. 44-45).

Em suma, Roma era uma sociedade “machista”, com expressiva divisão dos papéis de
gênero. A prazer feminino, muitas vezes moralmente suspeito, por exemplo, estava
condicionado ao prazer masculino. O desejo, assim, partia do homem cabendo a mulher o lugar
passivo.

“Sociedade escravagista: antes que os estóicos e os cristões protestassem afirmando que a moral
sexual é a mesma para todos (mais para impor a castidade aos senhores que para proteger os
escravos), a moral romana variava de acordo com o estatuto social: “A impudicícia (isto é, a
passividade) é um infâmia em um homem livre”, escreve Sêneca, pai; “num escravo, é seu dever
mais absoluto para o seu amo; no liberto, permanece o dever moral de complacência”.”
(VEYNE, 1987, p. 45).

“Seria errado encarar a Antiguidade como o paraíso de não-repressão e imaginar que ela não Commented [AM13]: Embora erroneamente se supõe, não
existia na antiguidade uma liberdade sexual. Mas mesmo que fosse
tinha princípios; é que simplesmente seus princípios nos parecem estonteantes, fato que deveria moralmente reprovável, a homossexualidade era socialmente
nos fazer suspeitar de que nossas mais fortes convicções não têm muito mais valor que as deles. aceita desde que não se falasse sobre o assunto.
Tinha que se esconder a homofilia? Era permitida? Façamos aqui uma distinção. Havia ligações
ilegítimas mas moralmente admitidas, do mesmo modo que o adultério, entre nós, na boa
sociedade, ou ainda recentemente, a união livre. Em semelhante caso, a regra é a seguinte: a
literatura tem o direito de falar no assunto sem censura, mas os interessados, no que diz respeito
ao seu caso pessoal, devem ter a discrição de nada confessar: cada pessoa fingirá não desconfiar
de nada. Esse era o tratamento que Roma reservava às relações com os jovens favoritos, e a
Grécia às relações com os efebos” (VEYNE, 1987, p. 46).

“Havia, finalmente, as relações ilegítimas, imorais e, mais do que isso, infames. Eram mais do
que um ato culposo que tinha escapado a seu autor: o horror do ato chegava ao próprio autor, e
provava que, para ter feito semelhante coisa, era preciso que ele fosse um monstro. Passava-se
então da condenação moral a uma rejeição que qualificaríamos de racista. Isso era o que ocorria
com a passividade entre os homens livres, com as complacências infames para as mulheres, a
cunilíngua, e, finalmente, com a homofilia feminina, sobretudo contra a amante ativa: uma Commented [AM14]: A homossexualidade feminina era
inadmissível, sendo criminalizada socialmente.
mulher que se toma por um marido é o mundo às avessas. Horror igual ao das mulheres que
“cavalgavam” os homens, diz Sêneca” (VEYNE, 1987, p. 47).

“Tudo isso levava a uma visão da homofilia que não era menos mítica que a nossa, mas de
forma diferente. Ela reduzia todas as homofilias a um caso tido como típico: a relação do adulto
com um adolescente que não tem prazer com ela. As pessoas queriam crer que esse era o caso
geral, porque essa relação ativa e sem lascívia na qual as tempestades e a servidão da paixão
eram, diziam eles, desconhecidos, tranquilizava. [...] A homofilia romana, com todas as suas
esquisitices e suas estreitezas desconcertantes, é consequência de um puritanismo cujas raízes
são políticas” (VEYNE, 1987, p. 47-48).

“Nosso leitor talvez se pergunte, para concluir, como a homofilia era tão difundida: é certo
pensar que uma particularidade de uma sociedade antiga, o menosprezo pela mulher, por
exemplo, multiplicava nela artificialmente o número de homófilos, ou, pelo contrário, uma
repressão diferente, mas menor em seu todo, deixava se manifestar uma homofilia que seria o
estado normal da sexualidade humana? A segunda resposta é incontestavelmente a correta.
Aqui, é necessário ser claro, correndo o risco de surpreender. Viver com um homem, preferir
rapazes às mulheres, é uma coisa: é uma questão de temperamento, de complexo de Édipo e de
tudo o que se quiser e seguramente não é o caso majoritário, nem muito menos minoritário,
aliás. Em compensação, quase todo mundo pode ter relações físicas com o seu próprio sexo, e
com prazer. Acrescentamos: experimentando exatamente o mesmo prazer que com o sexo
oposto” (VEYNE, 1987, p. 48).

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