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Aprendi do jeito mais dolorido que, quanto mais fazemos algo para afastar a solidão,

acabamos cada vez mais sozinhos. Solidão tem a ver com falta de confiança: Por não
confiarmos no que o outro sente por nós, sempre vamos achar que, se não fizermos
nada, vamos acabar abandonados. Só que essa desconfiança torna-se uma forca e
um par de algemas. Por 27 anos e 4 meses, eu me sentia acorrentada a uma bola
pesada de ferro, e eu achava que a culpa era única e exclusivamente minha. O que eu
aprendi com você depois desse baque? Nada. O que eu senti? Desengano. Não sei o
que aprendi, pois achava que você era um, mas é outro. O que aprender de alguém
que eu não faço a mínima ideia de quem seja? E eu tenho o dever de abaixar a cabeça
pra você e aceitar o seu perdão mais falso do que uma máscara de papel? E não posso
pedir perdão por ter errado? Tenho que tolerar as cobranças calada? Eu já me senti
uma fracassada, um lixo humano, tão errada quanto uma criminosa. Cometi o crime
de querer fazer minhas próprias escolhas e pensar fora da caixa. Nem me atrevia a
dar conselhos para os outros, pela falta de ter o que dizer e pela vergonha que sentia
de ter nascido. Ser uma pessoa criativa e pensar diferente é tão ruim quanto se
prostituir, não é mesmo?
Eu amo as artes e tenho um lado empreendedor que eu tentava matar a qualquer
custo. Tinha que ser a perfeita, a certinha, a nerd superdotada. Nunca fui a número 1
da sala, e quase quis me matar por causa disso. Era uma menina normal, só que com
uma sensibilidade acima da média para ler, aprender línguas estranhas e fazer
música. Além disso, usava meu diário pra canalizar toda essa energia inventiva que
habita dentro de mim. Nunca deixei ela morrer, mas teve um tempo que eu a
sufoquei, por ter vergonha dela, por achar que era errado. Por sempre ouvir pra
colocar meus pés no chão, parar de fazer músicas malucas, cantar mal, inventar,
desenhar torto e sem perspectiva e sair do meu mundinho maravilhoso (que parecia
muito, mas muito com o mundo real), e saiba que tentei de verdade ser igual a todo
mundo. Mas não sou, sempre me senti um peixe fora d'água. Eu sou uma artista e
uma empreendedora visionária amante das culturas internacionais, não tô nem aí
pro que você acha. Te decepcionei? O que sentir a respeito de alguém que partiu
meu coração em milhares de pedacinhos e que hoje eu não sei quem realmente é?
Eu tenho que abaixar a cabeça e me colocar de volta dentro da caixinha que tive
tanto trabalho pra sair? Acha mesmo que tinha a pretensão de ficar tanto tempo
aqui e de ser só mais um cargo na multidão? Não estou nessa porque quero, mas
porque algo sempre me puxa pra baixo e de volta à estaca zero quando estou prestes
a conseguir, é impressionante. Talvez seja isso, a falta de oportunidade de esvaziar
meu coração. Mas hoje é a minha vez de dizer "BASTA".
Eu mereço muito mais do que tenho, em questões sentimentais e espirituais. Já me
sabotei e me senti demasiadamente impostora. Esperei, em vão, que muitas
promessas fossem cumpridas. Não quero viver na mentira, quero liberar todo esse
poder criativo que mora dentro de mim e, junto com o conhecimento que adquiri,
usá-lo pra fazer o bem e ajudar a quem necessita. E as paredes dessa casa só me
limitam. Os limites dessa cidade, desse território só me deprimem e me definham. É
incrível como me sinto bem quando ouço línguas diferentes e estou a quilômetros
de distância daqui. Eu me sinto livre, só tenho a mim para conseguir fazer o que
quero ou preciso. Por que isso te entristece? Eu sempre quis isso, nunca escondi isso
de ninguém. Odeio ouvir mais de uma vez o que fiz ou deixo de fazer. Parece que
sou uma imbecil alienada, mas nada melhor que um pouquinho de reflexão pra ver
que apago fogo e mato monstros o tempo todo. Ajudo a vocês pois gosto de ajudar e
me sentir útil. Se vira obrigação, você acha que isso se chama ajuda? No meu
maravilhoso mundinho cor de rosa, eu chamo isso de escravidão, exploração... É
tudo, menos ajuda. Você ama tanto a lei e a ordem dos homens, então aí vai: DESDE
O DIA 28/09/2006, NÃO TENHO OBRIGAÇÃO NENHUMA DE FAZER NADA PRA
NINGUÉM. Faço por amor, não precisa me dizer que devo, que tenho obrigação de
fazer. Era o dia que eu queria ir embora desta casa, sabia? Não por rebeldia, mas por
desejo. Quero um lugar pra chamar de meu, isso por acaso é algum crime?
Esquecer eu não vou de nada, só vou perdoar. Isso me ajudou muito a apenas me
libertar.
Você acha que me conhece, mas sabe tanto de mim o quanto sei de você. Também
odeio com todas as minhas forças que me façam um interrogatório sobre minha
vida. Sou introverti da, tenho um baita orgulho de minha condição e tiro minha
força e minha resiliência do silêncio. Não sou doente, nasci e vou morrer assim,
aconteça o que acontecer. O máximo que posso fazer é amenizá-la, mas aceita que
dói menos. Talvez essa carta soe como um desabafo adolescente pra você, mas tô
nem aí. Por conta de minhas escolhas, sou intelectualmente inferior a você, eu
aceito isso, mas guardei essa dor durante muito tempo e preciso soltar agora antes
que mais um ano civil chegue e eu continue no mesmo fundo do poço emocional
que me encontro. A arte e a religião não devem ser minhas máscaras, mas meu
combustível.
Me perdoe por ter te decepcionado e ter fugido de seu roteiro. Errei e mereci ser
punida. Obrigada por financiar minhas loucuras, vou te devolver cada centavo do
que gastei indevidamente. Pago o que for pra pegar as chaves desse cárcere e sair
detrás dessas grades. Minha liberdade não tem preço. Me dê um tempo pra digerir o
que ouvi no dia 03/01/2016. Sou humana, não um robô desprovido de sentimentos.
Afinal de contas, foram 27 anos e 4 meses de engano. Mas fique sossegado, não sou
vingativa. Por meio de outras pessoas, aprendi que a vingança só vai me maltratar e
me matar silenciosamente. Esses quase dois anos me despertaram meu lado cristão
mais cru e sincero. Quero viver na verdade e na genuinidade comigo mesma, não
interessa o que os outros pensam de mim. A gente tá no mesmo plano, pensem o
que quiserem. A cruz de óleo que tenho imortalizada na minha testa significa que só
dei poder ao meu Senhor pra me julgar e direcionar minha vida. Creio que foi ele
quem me manteve aqui pra saber de toda a verdade. É melhor ser uma velha pobre e
esclarecida do que uma mulher rica e bem-sucedida que vive na ilusão. Dinheiro
nenhum neste mundo vai comprar minha tranquilidade e minha dignidade, é pura e
simplesmente um meio de subsistência. Faltam só mais alguns meses para eu ir
embora de vez e dar prosseguimento ao que semeei com tanto custo aqui, então
aproveite o silêncio. Feliz Natal, meu pai.

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