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I. HORROR AO INCESTO
sempre ao clã da mãe. Sendo homens ou mulheres. Essa lei proíbe ato sexual de
um homem com qualquer outra mulher que não seja sua parente de sangue mas
seja do mesmo totem.
Essa tribo se mostrou horrorizada quando se trata do tema incesto. Os
nomes dados à parentescos, não são classificação de sangue. Mas criam apenas
laços sociais e não físicos. Esses nomes podem caracterizar o que chamamos de
“casamento grupal”. A exogamia totêmica, a proibição de vínculos sexuais entre
membros do mesmo clã, aparece então como meio apropriado para evitar o
incesto de grupo.
A tribo é dividida em duas FRATRIAS e depois subdividida em quatro
SUBFRATRIAS sendo essas denominadas CLÃS, cada um com seu totem.
Esse horror ao incesto identificado no desenvolvimento dos diversos
sistemas de classes matrimoniais é experimentado também em instituições
consideradas não “selvagens”, como por exemplo, o ato da Igreja católica de
proibir casamentos entre irmãos e primos e inventar os graus de parentescos
espirituais. Por outro lado, é possível dizer que os chamados selvagens, como a
tribo de aborígenes da Austrália, são mais temerosos do incesto do que os que
não são classificados como tal.
Entre os chamados povos selvagens são criados “costumes”, também
chamados de “impedimentos”, mantidos com uma seriedade quase religiosa. Isto
se encontra presente em diversas culturas selvagens além da dos povos
totêmicos australianos: na Melanésia há a proibição voltada para a relação entre o
menino e sua mãe e irmãs, sendo que na ilha de Leper o filho sai de casa ao
atingir uma certa idade, se mudando para um “clube” que passa a ser sua
residência. Ele ainda pode visitar sua casa para se alimentar, mas sem que tenha
contato algum com sua(s) irmã(s), sendo que este impedimento permanece por
toda vida. A reserva entre mãe e filho aumenta com o passar dos anos, sendo
que ela passa a se dirigir a ele como “senhor”, e não “você”, criando um
distanciamento.
Esses costumes foram possíveis de se observar também em locais
como a Nova Caledônia (na qual se irmãos se deparam ao acaso, devem se
distanciar o mais rápido possível, sem que haja qualquer contato, nem o visual), a
península Gazelle na Nova Britânia (após o casamento, a irmã não pode mais
falar com seu irmão, nem pronunciar seu nome), Novo Meclemburgo (a proibição
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externo, pois há uma certeza interna, uma consciência de que ocorrerá uma
consequência ruim.
Além desta semelhança, Freud apresenta que tanto as proibições
obsessivas quanto as do tabu possuem características de deslocamento, de
modo que se estende de um objeto ao outro, por meio de qualquer conexão, ou
no âmbito da tabu transmissão, estas proibições que acabam por renunciar e
limitar a vida da pessoa.
Diz-se renunciar e limitar a vida, pois tais conceitos acabam por gerar
uma fixação (mania de lavagem, por exemplo), no qual, poderia ser referida como
uma atitude ambivalente do indivíduo para com o objeto. Esta ambivalência
consiste em uma não conciliação entre a satisfação provida pela realização da
ação, e a abominação de tal provida pela proibição.
A conciliação referida acima, não está apenas no âmbito da realização,
de modo a se excluírem, estão presentes também no consciente e no
inconsciente. Por isso que se torna impossível obter os dois, por que a proibição
está presente no consciente, enquanto que o desejo, no inconsciente. E quando
este, procura se deslocar para outros objetos substitutos, afim de escapar ao
cerco que se encontra, a proibição responde de modo a inibir cada avanço da
libido reprimida, fazendo assim, com que cause a atitude ambivalente ao sujeito.
Vale reforçar, que esta atitude só existe, por que as proibições
referidas trazem um forte pendor no inconsciente e nos poderosos apetites
humanos. Dessa forma, cria-se uma certa inveja quanto àquele que que violou o
tabu, pois este individuo é permitido a usufruir dos desejos, que para o resto dos
cidadãos é proibido. E dessa forma se percebe como este individuo é contagioso
e deve ser evitado, na medida que todo exemplo convida a uma imitação.
Diante desta perspectiva formada, agora se constrói um novo objetivo:
o valor que pode ser atribuído a partir da comparação e neurose obsessiva.
Porém, para se chagar a esse novo referencial é necessário destacar um grupo
considerável de preceitos, no qual são os tabus relativos aos Inimigos, aos chefes
e aos mortos.
para que utilizem adequadamente seus poderes, pois eles não estão seguros de
boas intenções e dos escrúpulos do rei. Alguns dos tabus impostos aos reis
lembram as restrições aos homicidas.
As restrições são extremamente detalhadas, referem-se a ações
determinadas, em locais determinados e horas determinadas; em tal cidade o rei
não pode permanecer em determinado dia da semana, não pode cruzar aquele rio
em certo horário, acampar nove dias inteiros em certa planície, etc. A severidade
das limitações para os reis-sacerdotes para muitos povos selvagens, teve
consequências históricas significativas.
A dignidade dos reis-sacerdotes deixou de ser algo desejável, aquele
que estava para recebê-la fazia de tudo para escapar dela. Entre alguns nativos,
a resistência se tornou tão grande que a maioria das tribos foi obrigada a nomear
estrangeiros como reis. Essas circunstâncias estão relacionadas ao fato de no
curso da história ter ocorrido uma divisão da primitiva realeza sacerdotal em um
poder secular e um espiritual.
Em uma visão geral dos laços dos homens primitivos com seus
governantes, há uma compreensão psicanalítica deles. A relação complicada e
contraditória, é explicada por motivos supersticiosos ou de outra natureza,
expressam-se no tratamento dos reis tendências variadas, cada uma das quais é
desenvolvida ao extremo. Isso dá origem às contradições, diante as quais o
intelecto dos selvagens não se escandaliza mais que o dos altamente civilizados,
em matéria de religião ou de lealdade.
O tabu dos mortos dita que os mortos são vistos como inimigos. Entre
os Maori, todo aquele que tinha contato com um morto, fosse preparando ou
participando do enterro, era considerado imediatamente impuro. Assim, acabava
sendo “excluído” dos relacionamentos com os outros.
Em algumas tribos norte-americanas viúvos e viúvas vivem um período
de isolamento diante da perda de seus companheiros. Eles acreditam que o
espírito do morto não se afasta dos parentes, não deixa de “ronda-los” durante o
luto.
Um dos costumes mais encontrados e compartilhados entre os
primitivos, é a proibição de pronunciar o nome do morto. Os antigos povos
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imposto pelo temor de uma represália. Mas depois do luto, vem a alegria festiva,
pois uma festa é um excesso permitido e a disposição festiva é gerada pela
liberação do que normalmente é proibido. O fato de terem absorvido a vida
sagrada, da qual a substância do totem é portadora, explica o ânimo festivo e
seus segmentos.
Agora, juntando a concepção psicanalítica do totem e o banquete
totêmico e a hipótese darwiniana sobre o estado ancestral da sociedade humana,
há a possibilidade da perspectiva de uma hipótese que oferece vantagem de
produzir uma unidade com fenômenos até então separados.
Como por exemplo, um pai violento e ciumento que reserva todas as
fêmeas para si e expulsa os filhos quando crescem. Certo dia, os irmãos expulsos
unidos ousaram fazer o que não seria possível individualmente, se juntaram,
abateram e devoraram o pai. O violento pai era o modelo temido e invejado por
cada um dos irmãos. No ato de devorá-lo, eles realizavam a identificação com ele
e cada um apropriava-se de parte de sua força. Eles odiavam o pai que se
constituía como obstáculo a suas necessidades de poder e desejos sexuais, mas
também o amavam e o admiravam. Depois que o eliminaram, satisfizeram seu
ódio e os impulsos afetuosos, até então reprimidos, tinham de impor-se, o que
aconteceu em forma de arrependimento e consciência da culpa. O morto tornou-
se mais forte do que quando era vivo. Instituíram a consciência de culpa do filho
que foi base para os dois tabus fundamentais do totemismo e que concordavam
com os dois desejos reprimidos do Complexo de Édipo.
Os dois tabus do totemismo não tem o mesmo valor psicológico. Um
baseia-se em razões afetivas, o que poupa o animal totêmico e o outro possui
fundamentação prática.
A necessidade sexual não une os homens, ela os separa. No exemplo
dos irmãos, eles se conectaram para vencer o pai, mas eram rivais uns dos outros
quanto às mulheres desejadas. Nenhum era mais forte do que os outros para
assumir o papel do pai, mas para viverem juntos, instituíram a proibição do
incesto, onde renunciavam às mulheres.
O tabu que protege a vida do animal totêmico liga-se à reinvindicação
do totemismo para ser considerado o primeiro ensaio de uma religião. O sistema
totêmico foi uma espécie de contrato em que o pai concedia tudo o que a fantasia
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V. REFERÊNCIAS