Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Justificação acadêmica/7
Agradecimentos/9
Preâmbulo/11
Introdução/13
1. O que é o mal?/21
2. O mal existe?/26
3. A identidade bíblica do mal com o mundo/33
4. As características do mal/41
5. A visão pessimista de Voltaire/48
1. O ―problema‖ do mal/57
2. O mal é uma realidade/64
3. O mal, um desafio, na visão de Paul Ricoeur/76
4. Por que temos medo do mal?/81
5. Noções de teodicéia/86
1. Epicuro/117
2. Os gregos/118
3. A teodicéia de Leibniz/124
4. A idéia Cartesiana/132
3
5. Susan Neiman/134
6. Ana Arendt/137
7. Freud e Jung/139
1. A liberdade do ser/181
2. A liberdade segundo os existencialistas/187
3. Onde buscar a libertação?/195
4. Somos livres para decidir?/198
5. A liberdade segundo Paul Ricoeur/203
1. Deus é bom?/213
2. Então, por que existe o mal?/217
3. Quem é o autor do mal?/221
4. Como explicar o sofrimento do inocente?/227
5. Miséria, fome e exclusão são faces do mal/231
6. O bem e o mal: uma difícil convivência/238
1. Mentiroso e homicida/247
2. O que diz a Bíblia?/258
3. O magistério da Igreja/264
4. O pecado é uma criação humana?/270
5. Por que sofro, se tento ser bom?/273
Conclusão/281
Bibliografia/289
Índice onomástico/291
4
5
Justificação acadêmica
Sabe o acadêmico que esta tese não é uma obra acabada. Ela pode
apresentar erros, incompletudes e lacunas, oriundas de sua limitação,
divergências hermenêuticas e escassez de bibliografias. Assim mesmo, o
aluno conta com o discernimento dos analistas, cujos comentários e
pareceres irão aprimorar o estudo ora desenvolvido.
O acadêmico.
6
7
Agradecimentos
a DEUS
pelo dom da vida e pelo discernimento
a MEUS PAIS
João e Mercedes
pela vida biológica e pelo amor
aos PROFESSORES
que me auxiliaram
à MINHA ESPOSA
Carmen
pela inestimável ajuda,
nas revisões e sugestões
temáticas e exegéticas.
8
9
Preâmbulo
4. Uma idosa foi morta, por uma ―bala perdida‖, no Rio de Janeiro;
seu apartamento ficava a 300 metros de um morro onde grupos
rivais disputavam a hegemonia do tráfico de drogas. Era dia de
Natal, dezembro de 2004.
Se Deus é bom,
ENTÃO POR QUE EXISTE TANTO MAL?
11
Introdução
vez que o mundo infenso sempre nos apronta armadilhas. Estamos bem
agora mas podemos ser vítimas do mal daqui a pouco e, na maioria das
vezes, não temos explicações para o fato. O caso, assustador, é que muitos
de nós têm teorias sobre o mal, mas ninguém está preparado para
conviver com ele.
Por que existe o mal? De onde ele vem? Se do mais íntimo de seu ser
o homem deseja o bem e almeja a felicidade, por que ele pratica o mal?
Por que o mal o acompanha em todas as circunstâncias de sua vida, em
todos os seus atos, em todas as suas experiências? Se o homem foi criado
por um Deus bom não deveria existir apenas o bem? Essas perguntas
fazem parte dos mais importantes questionamentos que o homem pode
fazer a respeito de sua existência.
ANJO ENFERMO
Afonso Celso († 1939)
Javé viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do
coração humano era sempre mau. Então Javé se arrependeu de ter feito o
homem sobre a terra, e seu coração ficou magoado, e disse: ―Vou
exterminar da face da terra os homens que criei, e junto também os
animais, os répteis e as aves do céu, porque me arrependo de os ter feito‖.
(Gn 6, 7ss)
17
18
1. O que é o mal?
experiências? Por que sofro se tento ser bom? Não deveria existir apenas o
bem?.
As questões respondíveis:
o que é o mal?
de onde vem o mal?
por que sofremos?
1
Cf. G. DUROZOI et alli, Dicionário de Filosofia. Ed. Papirus, 1993.
20
2
Embora o autor, não creia em “trabalhos”, “feitiços” e “olho-grande” esses fenômenos existem, não como realidades
absolutas em si, mas fruto daquilo que a parapsicologia chama de “subjugação psíquica”, ou seja, alguém tanto
acredita no mal, na inveja, olho-grande, que seus inimigos são capazes de fazer “trabalhos” de feitiçaria, que a coisa
acaba acontecendo, não pelo poder dos outros, mas produzido pela subjugação da mente daquele que teme e
acredita. Ele próprio acaba gerando o mal que teme, contra si mesmo.
3
A influência dos “espíritos maus” (diabos, demônios) é uma realidade bíblica, e que deve ser encarada com seriedade.
Esse assunto será alvo de estudo no capítulo VIII, quando trataremos a “autoria do mal”.
4
R. NASH, Faith and Reason, Zondervan, 1988.
21
5
G. ZAMPIERI (OFM. cap) – O mistério do mal. Entre a Teodicéia e a Teologia. (Tese de pós-graduação) PUCRS
2002
6
In: Crítica da razão pura, Ediouro – Coleção Universidade, 1972.
22
2. O mal existe?
7
ARISTÓTELES, Metafísica, I, 4. Col. Os Pensadores, Abril Cultural, 1973,
8
In: Contra Celso. Patrística, Buenos Aires, 1988
9
In: Contra Eunômio, 358.
10
In: Confissões, III, VIII, Ed. Paulus, 1994.
11
In: Suma contra os gentios. Vol. II Cap. VII.1. Edipucrs/EST; Cf. IV Metafísica 2, 1104a; Cmt 3, 565).
12
In: Aion, Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Ed. Vozes, 1982
23
13
J. A, SANFORD, O mal – O lado sombrio da realidade. Ed. Paulus, 1988
24
Parece que a humanidade nunca foi tão cruel e desdenhosa dos valores
humanísticos.
14
Sobre esse tema, atual e ignorado por muita gente, recomendo a leitura de meu livro, Bioética – A ética a serviço da
vida. Ed. Santuário, 2004., onde, na Parte II, Capítulo 2 (“As manipulações Científicas”), falo nos descaminhos do
mal, desde os Campos de Concentração até os campos de experiências com negros no Alabama, EUA (até 1972), ou
nos hospitais de Nova York, onde crianças deficientes (1982) e idosos (1986) foram sacrificados, como cobaias, em
nome do “progresso da ciência”. Diante do assombro dessas maldades, no auge da indignação eu clamei: “Faltou
alguém no tribunal de Nuremberg!”.
25
15
O Mal. In: marcelogaluppo.sites.uol.com.br;
26
A teologia pastoral insta com o cristão para que este não se amolde
aos critérios ―desse mundo‖, mas transforme pela conversão à vontade de
Deus (cf. Rm 12,2).
16
In: Idéias: uma introdução à fenomenologia pura, Berlim, 1913
27
17
In: Resposta a Jó. Ed. Vozes, 3a. ed., 1990. Tradução de Dom Mateus Ramalho Rocha, O.S.B.
28
O fato é que, por mais piedosas que sejam estas afirmações, elas se
chocam com a crueza da realidade, onde o mal vitima inocentes sem que
se encontre explicações plausíveis. Deus é bom, por isto não é possível
que ele permita a incidência de certos fatos por demais cruéis e
inexplicáveis. Por que o Criador permitiu que o pecado (e suas
conseqüências) viesse assolar as criaturas? Na atividade pastoral, dizer
simplesmente ―foi vontade de Deus‖ nem sempre convence, por exemplo, a
uma mulher que teve sua filha de quatro anos violentada e assassinada
com requintes de crueldade.
É por causa de Eva, se diz, por causa do fruto que ela mordeu, que
somos acusadas de encarnar as seguintes características:
tentadoras, provocantes, sedutoras, curiosas, frívolas, fofoqueiras,
sem cabeça... Impuras, perigosas para a vocação dos homens.
Astutas, com muitas armadilhas preparadas. Fracas, impotentes,
necessitadas de suporte, de sustentáculo, de um homem forte.
É por causa de Eva, que se julga que não se pode confiar em nossas
decisões; que nós somos muito emotivas, não racionais; que
choramos à-toa.
É por causa de Eva que nos fazem responsáveis por todos os males:
quando as crianças têm dificuldades na escola, é porque
trabalhamos fora; se nosso filho não tem autonomia, é porque
somos muito possessivas; se, ao contrário, ele é muito
independente, então somos por demais permissivas; se nosso
marido nos deixa, é porque não soubemos conservá-lo; se ele é
violento, nós o merecemos.
É por causa de Eva que nós estamos ―na retaguarda‖ dos grandes
homens, e não ao lado deles; Ah! Se Eva tivesse deixado Adão dar a
primeira mordida! 18.
18
L. LÉPINE e D. CARON, Nossas irmãs esquecidas, Ed. Paulinas, 1993.
31
quando aceitá-lo integralmente, tal qual foi escrito? Não que se pregue a
―livre interpretação‖, pura e simples da Bíblia, mas quando o leitor, sem
maiores noções de exegese pode discernir, entre o que é, e o que parece
ser?
Você não acredita que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As
palavras que eu digo a vocês não as digo por mim mesmo; mas o
Pai, que permanece em mim, É ele que realiza suas obras.
Acreditem em mim: eu estou no Pai, e o Pai está em mim (Jo
14,10s).
19
A estética é uma expressão da filosofia (embora empregada pela arte) que retrata um equilíbrio (uma coluna igual à
outra....).Na arquitetura, coloca-se duas colunas, esteticamente dispostas que vão imprimir beleza ao edifício, dando-lhe
um suporte de segurança. Igualmente na contabilidade, o débito igual ao crédito, estabelece a igualdade estética, onde a
coluna da direita se iguala a da esquerda. Na filosofia essa igualdade se manifesta pela razão entre onus et bonus. Na
teologia, há um equilíbrio entre graças e desgraças. O corpo humano é estético: o que tem no lado direito também tem
no esquerdo.
32
respeito do mal no/do mundo. Vamos nos ater aqui a alguns tópicos do
NT:
3. As obras do mundo:
impureza, paixão, idolatria, maus desejos e cobiça (Cl 3,5);
Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz
e me siga" (Mc 8,34; 1Pd 2,20-21; Fl 1,29).
...tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para
comparar com a glória que em nós há de ser revelada (Rm 8,16-18)
4. As características do mal
Ou Deus pode impedir o mal e não o faz (e, com isso, não é bom),
ou então quer impedir o mal e não consegue (e, portanto, não é
Todo-Poderoso).
20
J. L. RUIZ DE LA PEÑA, Teologia da Criação, Ed. Loyola, 1989.
36
1. visão filosófica
o bem é ser-em-si; o mal é não-ser, logo, não existe;
2. visão pragmática
há males que vêm para o bem;
3. visão teleológica
Deus não quer o mal; apenas permite que ele aconteça, para
tirar dessa situação um bem maior: afinal, repetindo são Paulo,
tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus; no fim
tudo se ajeita;
4. visão simplista
o mal acontece pelo mau uso, por parte do homem, da liberdade;
5. visão fundamentalista
Deus sabe o que faz;
6. visão fatalista
tinha que acontecer; estava escrito; ―era o destino!‖.
mal natural
calamidades da natureza, inclusive as doenças corporais;
mal moral
37
Isto evidencia, que, pelo lado que se enxergar o mal, ele pode ser
bom para alguém, algum propósito ou alguma coisa. É como o caso de
uma catástrofe: muita gente morre – o que é mal sem precedentes – mas
alguém ganha com isto, nem que seja o agente funerário e a mídia que
vende os jornais e detém audiência. Para alguns, a despeito da tragédia, o
mal se converte em bem. O pior é quando tentamos identificar culpados:
pessoas, situações, entidades.
21
J. A. SANFORD, O mal... op. cit.
22
Idem
23
J. P. JOSSUA. Verbete mal. In: Dicionário de Teologia. Ed. Paulus, 1997.
24
A “porta de Ištar”, uma maravilha arquitetônica do Oriente Médio, foi praticamente destruída pelos bombardeios
norte-americanos a Bagdá em 2004.
38
Isto mostra que o bem e o mal podem ter a mesma face; tudo
depende da época em que cruzam o caminho do ser humano.
25
R. SWINBURNE, Is there a God?, Oxford University Press, 1996
40
Pelo que diz respeito ao mal físico, a coisa é ainda mais patente:
basta lembrar o sofrimento e a morte. Com isto, naturalmente, não se
quer dizer que a impassibilidade e a imortalidade sejam uma exigência da
natureza humana, como tal, mas unicamente se quer frisar que a dor e a
morte - bem como a ignorância e a concupiscência - em sua atual
intensidade, se evidenciam como um estado i-natural com respeito ao
nosso ser espiritual e racional. É antiga e famosa a objeção: de que modo
concordar a absoluta sabedoria e poder de Deus com todo o mal que há
no mundo, por ele criado? 26
26
L. BINSFELD, Über das Misslingen aller philosophischen Versuche in der Theodizee, Hamburg, 1995.
41
A origem desse mal, que não pode ser determinada pelo povo
daquele tempo, iria, mais tarde, influenciar definitivamente o pensamento
de Voltaire. Ele tomou conhecimento da tragédia alguns dias depois,
quando teria escrita o poema ―Sobre o Desastre de Lisboa‖, onde, em um
trecho, ele afirma: ―Um dia tudo estará bem, eis nossa esperança. Tudo
está bem hoje, eis nossa ilusão‖.
27
In: Werther. Frankfurt, 1774
28
Texto do filósofo brasileiro, prof. Marcelo Xavier, respigado na Internet, in www.rabisco.com.br
42
29
In: Voltaire: A Razão Militante. Ed. Moderna, 1993
30
Idem
44
II
Procurem o bem e não o mal; então vocês viverão. Quem sabe, assim –
como vocês dizem – Javé, Deus dos exércitos, estará com vocês. Odeiem o
mal e amem o bem; restabeleçam o direito no tribunal. Quem sabe, assim,
Javé, Deus dos exércitos, terá misericórdia do resto de José (Am 5, 14s).
47
48
1. O “problema” do mal
a) pela violência
maldade, assassinatos, crimes, terrorismo, seqüestro,
torturas, roubo, corrupção, crimes sexuais, etc.;
b) pela irresponsabilidade
imperícia, imprudência e/ou negligência;
erro técnico: sentença mal formulada; cirurgia ou diagnóstico
mal realizado; projeto incorreto e o prédio caiu; barco
superlotado, ônibus escolar ou estrada sem condições,
provocaram acidentes com mortes; etc.
c) pela omissão
omitir-se diante do mal praticado: nas ditaduras e nos
genocídios, muitos ―cidadãos de bem‖ se escusaram: não vou
denunciar para não me incomodar;
31
O verbete metafísica teria sido mencionado, pela primeira vez por Andrônico, de Rodhes, por volta do século IV
a.C., e depois ganharia livre curso na filosofia a partir de Aristóteles.
32
Parte da filosofia que estuda os valores morais.
33
O mal provocado pelos demônios é uma realidade atestada na Bíblia, que não pode ser desprezada; o “inimigo” é
capaz de praticar esse mal (possessões e exorcismos, mais ou menos freqüentes, atestam essa possibilidade).
34
Subjugação psíquica é uma figura de parapsicologia, que retrata o poder negativo da própria mente, capaz de causar
o mal que tanto teme. A pessoa teme a inveja e o “olho grande” e acaba produzindo nela mesma esses males.
35
Telergia é outra figura utilizada em parapsicologia. Tele (à distância) e ergos (esforço). Trata-se de um distúrbio
mental capaz de mover objetos à distância sem intervenção mecânica; o mesmo que telecinesia ou psicocínese.
51
extensão do mal. Nesse aspecto ele sempre vai se afigurar a nós como
uma verdadeira questão, uma pergunta, uma indagação em aberto.
36
J. A. SANFORD, Mal – o lado sombrio... op. cit.
52
Eu sou Javé, e não existe outro; fora de mim não existe deus algum.
Eu armei você, ainda que você não me conheça, para que fiquem
sabendo, desde o nascer do sol até o poente, que fora de mim não
existe nenhum outro. Eu sou Javé, e não existe outro: eu formo a
luz e crio as trevas; sou o autor da paz e crio a desgraça. Eu, Javé,
faço todas essas coisas. (Is 45, 5ss).
37
G. MARCEL, Être et Avoir. Paris, 1933.
53
38
J. L. RUIZ DE LA PEÑA, Teologia da Criação, op. cit.
39
In: Einfürhrung in die Metaphysik, Tübingen, 1953; cf. Sein und Zeit, Tübingen, 1986.
54
1. Roma
O imperador Nero († 68 d.C.) queimava os cristãos no Coliseu,
para que, como tochas, seus corpos iluminassem o jantar da
nobreza;
2. Alemanha
Na época do nazismo, o ditador Adolf Hitler († 1945) incentivou
pesquisas biogenéticas utilizando pessoas humanas, para
futuras ―conclusões científicas‖ sobre a origem das raças; O
médico-chefe em Auschwitz era o tristemente célebre Dr. Joseph
Mengele († 1991), que inoculou o vírus do tifo em vários presos
do campo de concentração, bem como retirou olhos, órgãos
internos, além de usar esqueletos de crianças para suas
experiências;
3. Estados Unidos
Enquanto os norte-americanos, no pós-guerra, enchiam a boca,
falando em ―direitos humanos‖, descobriu-se, em 1972, em
Tuskegee, no Alabama, um campo de experiências genéticas,
utilizando pessoas negras como cobaias, nas quais era inoculado
vírus da sífilis, para estudar como eles reagiam à doença. O
presidente americano era Herbert Clark Hoover (1929-1933).
Estima-se que, de 1932 a 1972 hajam morrido ali mais de 2000
40
Être et Avoir, op. cit.
55
4. Vietnã
Retratado na ficção do filme ―Apocalypse now‖ (1978) de F.F.
Copolla, temos um fato real de crueldade, quando um oficial
norte-americano teria devastado uma aldeia vietnamita, à beira
mar, apenas para que um fuzileiro, astro do surfe, recém
transferido para sua unidade, pudesse exibir sua técnica;
5. Afeganistão
Os relatos dessa sangrenta guerra, na segunda metade do século
XX contam a maldade de alguns oficiais soviéticos que
costumavam deixar os prisioneiros com uma granada (sem o
pino) na mão, para ver quanto tempo eles resistiam, antes de o
artefato explodir.
41
Este assunto foi abordado em meu livro Bioética – A ética a serviço da vida. Ed. Santuário, 2004. 2a. edição.
42
In: Teodicéia, 22
56
afirmando (eles dizem ―provando‖) que Deus não existe. Justamente por
causa do mal.
Eis o tema do mal reduzido a problema. Tudo está claro, cada termo
se oferece com um seu significado preciso: nada mais resta senão
escolher. E o que se escolheu foi quase sempre – como é óbvio – o
primeiro vértice do dilema: Deus pode mas não quer. Mas ainda falta
algo ainda... Ainda que naturalmente fosse preciso escapar, logo em
seguida, da conseqüência de que, em tal caso Deus não seria bom.
Surge, assim, a atitude apologética: urge ―desculpar‖ Deus,
defendendo-o das acusações 43.
43
A. T. QUEIRUGA, Recuperar a Criação. Por uma religião humanizadora. Ed. Paulus, 2003.
44
A. MOSER, O pecado: do descrédito ao aprofundamento. Ed. Vozes, 1996.
57
O certo, em toda esta história, é que Deus não criou o mal! Correto!
Ora, se não criou o mal, por que permite que ele exista e devaste os
grupos sociais? Estatisticamente, constata-se que mais pessoas sofrem
por causa do mal, do que são favorecidas por conta do bem. Tem gente
sofrendo, inocentemente, vítimas das guerras e confrontos, inocentes,
crianças, mães, missionários, etc. O indivíduo mau, via-de-regra, sofre (ou
deveria sofrer) as conseqüências do mal que praticou. Mas o inocente, por
que sofre? Já que ele é pessoa humana, como todos nós, não é remoto
demais acenar-lhe com uma recompensa só na ―vida eterna‖?
Por que o inocente sofre? Na verdade, não se sabe como Deus reage
ao sofrimento da humanidade. Sendo impassível, i.e., isento de
passibilidade (é uma das características da divindade), ele não pode sofrer
por nós. Se sofresse, deixava de ser Deus. Como não sofre, talvez não
consiga avaliar a dor de quem sofre injustamente. Mesmo que o
sofrimento seja ponte para a salvação de alguém, convenhamos, é um
caminho doloroso.
Nas relações humanas, quando o filho de uma família cai nas mãos
do mal (um traficante de drogas, por exemplo), o pai e a mãe sofrem.
Quando o poder do Maligno nos assalta, Deus não pode sofrer, pelo
princípio da impassibilidade, visto acima. Cria-se, desta forma, o
antropomorfismo da Criação: ―tudo é muito bom, perfeito, sem erros‖. Ora,
nesse conjunto de premissas, vemos que, se existem erros e desvios, a
culpa é do homem. A conseqüência desse silogismo aponta para o uso
desviado da liberdade humana como resultado da existência do mal.
45
L. C. SUSIN, A Criação de Deus.. Ed. Paulinas, 2003
59
Dizem que a sabedoria do mundo fala pela boca das crianças. Você
crê nessa assertiva? Vejam o questionamento que escutei da boca de uma
criança, uma menina de seis anos, a respeito da inexplicabilidade do
sofrimento de Jesus, na cruz:
46
A. G. RUBIO, Elementos de Antropologia Teológica. Salvação cristã: salvos de quê? E para quê? Ed. Vozes, 2004.
47
Questão levantada por Ana Vitória (minha neta) à sua mãe Ana Maria (minha filha).
60
48
In: Pensées, Paris, 1641
49
In: Apologia de Raimond de Sabunde, Paris, 1588
61
50
A. GESCHÉ, O mal. Ed. Paulinas, 2003
51
A. M. GALVÃO, O Grão de Trigo – Reflexões cristãs sobre a vida depois da morte. Ed. Ave-Maria, 2000
62
Tudo nos conduz a pensar que o mal é uma prática do ser humano.
Santo Agostinho vai nos dizer que o mal ocorre por uma subversão do
projeto divino, uma vez que, pelo livre-arbítrio, o homem ficou entregue à
liberdade dos seus atos. No entanto, observando o mal que há no mundo,
qualquer um se pergunta: que poder foi outorgado à criatura, capaz de
engendrar ações maldosas que, muitas delas, nem Deus consegue
reverter?
1. otimista
é uma a linha de raciocínio dos intelectuais, saciados, os que se
julgam imunes ao mal, ou pessoas que têm suas teorias
enquanto não sofrem a adversidade: ―é preciso acolher o mal de
forma estóica; se alguma coisa acontecer é porque era
merecida... tinham que passar por isto‖; a esta altura só falta
dizerem: ―é carma!‖;
2. dualista
nessa visão, em tudo há bem e mal: não se pode fugir (fatalista);
há na criação um duplo-princípio: bem e mal; São Clemente de
Roma († 96? 101?) chega a dizer que Deus tem duas mãos: com a
52
F. Dostoiévski, Os irmãos Karamázov, São Paulo, 1972.
63
3. pessimista
os pessimistas de todos os tempos afirmam que ―só o mal existe!
vivemos em um ‗vale de lágrimas‘‖. Outros dizem que ―a vida é
uma paixão inócua‖ (Sartre)... onde ―tudo acaba numa grande
náusea‖ (Camus).
livrai-nos do mal...
Jesus ensinou que quem pede há de receber (cf. Mt 7,7), pois antes
de pedirmos, o Pai já sabe o que necessitamos (Cf. Mt 6,8) e que quando
duas pessoas estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram
pedir, isto lhes será concedido pelo Pai que está nos céus (cf. Mt 18,19).
Então, se tantos pedem em orações e súplicas, por que, em certas
oportunidades, seus clamores não são atendidos, no que tange a uma
imunidade contra o mal? Tudo são questões...
53
Sermo XX. Apud Epístola aos Coríntios (ano 95).
54
Paul Ricoeur morreu em 20 de maio de 2005, quando este trabalho já se encontrava em execução. Humanista de um
vasto conhecimento, atento à literatura tanto quanto às ciências humanas, viajante aberto à cultura anglo-saxã como
também à tradição alemã, Paul Ricoeur é um homem difícil de ser colocado numa escola ou numa corrente. O
cristianismo, a fenomenologia, a hermenêutica, a psicanálise, a lingüística e a história tem, em proporções diferentes,
contribuído para a formação do seu pensamento. Mas se ele pertence, para falar de maneira mais direta, ao movimento
do existencialismo cristão e do personalismo, ele não se deixa reduzir facilmente a um sistema. Ricoeur possuía mais de
trinta títulos de doutorados honoris causa. Sua lacuna fica irremediavelmente aberta...
64
55
The Symbolism of evil, Beacon Press, Boston, 1988.
56
P. RICOEUR, Finitude e culpabilité, vol I: La Symbolique du mal, Paris, 1963. Cf. também, P. RICOEUR, Conflito
das Interpretações. Cap. IV (A simbólica do mal interpretada), Imago, Rio de Janeiro: 1978.
57
A conferência foi traduzida para o português pela Papirus, com o título: O mal - um desafio à filosofia e à teologia.
Papirus, Campinas: 1988.
58
In: Philosophie de la volonté. Le volontaire et l’involontaire, Paris, 1967
59
Le mal - un défi à la philosophie et à la théologie. Genéve, 1986. (T. do A)..
60
Idem
61
Idem
65
aquilo ―que não deve ser‖, restando-nos, por conta disto, essa definição
provisória (nunca esquecendo que em filosofia tudo sempre é provisório) :
Mal é toda a ação que atribui a algo uma função, uma virtude ou
algum valor diverso daquele que lhe é devido. O mal nasce quando
subvertemos o valor de alguma coisa, levando-a a expectativas
diferentes daquilo para que foi criada 62.
62
Idem
63
Idem
64
Idem
66
65
Idem
66
Idem
67
Idem
68
Idem
67
podemos contar com um aliado de peso: Deus. Esta pode ser a resposta
da fé.
69
Idem
70
O verbete aporia, como é usado na Teologia Moral, significa um conflito entre opiniões contrárias a respeito de um
mesmo assunto.
71
P. Ricoeur, Le mal.
68
Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida
(8,12b);
Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim
não fique nas trevas (12,46).
72
M. HEIDEGGER, Sein und Zeit. Tübingen, 1953.
69
O certo é que tememos o mal cada vez mais. O ser humano, que
desde as cavernas tem medo de todas as manifestações do maléficas,
receia seus efeitos mais ainda hoje em dia, depois que tomou consciência
do mal-desgraça imerecido, aquele que desaba inexplicavelmente sobre o
indivíduo inocente, ou sobre uma coletividade, como o Tsunami ou o
furacão que destruiu New Orleans em 2005. O fato é que a pós-
modernidade em que vivemos, nega-se a aceitar, como na antigüidade,
que se possa recorrer à explicação da fatalidade (como nas tragédias
gregas), onde tudo ficava à mercê da môira (o destino) ou fatos
inexplicáveis, que se deve aceitar resignadamente (o heroísmo estóico). O
fatalismo estóico referia-se à história de dois cães amarrados, que eram
73
In: Letters, Zurich, 1975.
70
74
op. cit.
71
Por que temos medo do mal? Primeiro, pelo poder devastador que
ele possui, seja físico, metafísico ou moral. Suas conseqüências são
terríveis. Depois, porque falta-nos a fé suficiente para entender que nosso
Deus é maior que o mal e, por último, porque nos organizamos contra
tantas coisas, e nunca buscamos coesão para enfrentar a maldade, a
violência, a corrupção e o pecado.
5. Noções de teodicéia
75
In: Teodicéia, 31
73
76
Gott und das Nichtige (Deus e o nada). Frankfurt, 1963. (T. do A.).
74
III
Não paguem o mal com o mal, nem o insulto com outro insulto; pelo
contrário, abençoem, porque para isso vocês foram chamados, isto é, para
serem herdeiros da bênção. De fato, aquele que ama a vida e deseja ver
dias felizes guarde sua língua do mal e seus lábios de proferir mentiras;
afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz e procure segui-la (1Pd 3,
9ss).
75
76
77
As principais descobertas situam-se nos Montes Zagros, no Iraque.
77
2. No Oriente Médio
78
A. M. GALVÃO, As antigas civilizações do Oriente Médio. História, cultura e religiões da Palestina pré-israelita. Ed.
Ave-Maria, 2003.
79
Na transliteração de palavras orientais, o š tem som de ch.
78
orações, onde era pedida aos deuses, proteção contra o mal. Entre os
acádicos, Gullah, a deusa da medicina, era invocada como aquela que
―livra o povo de todos os males‖, nesta e na(s) outra(s) vida(s) futura(s).
80
Há uma teoria, abraçada por raros autores, na qual Anät mata e mói o corpo do próprio Môt.
81
P. KRAMER, A religião cananéia. Tese de Doutorado. PUCRS, Porto Alegre, 1996.
79
Conta a lenda que, em contradição com a Bíblia, Eva não teria sido
a primeira mulher de Adão. Trata-se de uma visão primitiva das culturas
orientais. A Bíblia diz que Deus formou o homem Adão à sua imagem, e
depois dele, a mulher, a partir de uma costela. Os relatos mesopotâmicos
dão outra versão: Depois do homem, durante a noite, do mesmo barro, o
Criador teria feito a mulher, Lilith, linda e perfeita. Mas Lilith estava
disposta a viver de outra forma, diferente da qual era esperada pelo
Criador.
82
Baal-zebub (belzebu) quer dizer “senhor das moscas”. Arimã teria vindo ao mundo, sobre o esterco, em forma de
mosca.
83
As antigas civilizações... op. cit.
80
marido não atendia seus desejos, que não lhe daria uma condição de
igualdade (uma atitude ativa na relação sexual), ela resolveu abandonar o
companheiro. As narrativas sumérias contam que Lilith se revolta,
blasfema contra Deus, faz acusações a Adão e vai embora. É o momento
em que o sol se põe e a noite começa a descer o seu manto de escuridão. É
a hora em que os espíritos maus, talvez os ―anjos caídos‖, começam a
subir das trevas.
3. Na visão do Judaísmo
84
A. GESCHÉ, op. cit.
85
In: Tetraplas, 1
82
Até quando vocês vão dançar, ora sobre uma perna ora sobre a
outra? Se Javé é o Deus verdadeiro, sigam a Javé; se é Baal, sigam a
Baal (1Rs 18,21).
Tu, que tens olhos tão puros que não podes ver o mal, nem
contemplar a perversidade, por que olhas para os que procedem
traiçoeiramente e te calas enquanto o ímpio destrói aquele que é mais
justo do que ele? (1,13).
Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que todo este sofrimento
nos sobreveio? (Jz 6,13).
86
G, GUTIÉRREZ, O Deus da vida. Ed. Loyola, 1990.
83
87
A. G. RUBIO, Unidade na pluralidade. Ed. Paulinas, 1989.
84
88
T. K. MORTON, Myth. History and Faith, Nova York, 1974.
85
89
Veja mais sobre mitologia em mithos.cys.com.br
90
Op. cit.
86
1. fé reta;
2. desejos retos;
3. palavras retas;
4. conduta reta;
5. vida reta;
6. mentalidade reta;
7. memória reta:
91
Por antropomorfismo (ántropo, humano + morfé, forma) entende-se uma crença ou doutrina que atribui a Deus (ou
aos deuses) formas, comportamentos, vícios ou atributos humanos.
87
92
In: Sermão de Benares, 538 a.C.
88
93
C. G. JUNG, Memories, dreams, reflections. Nova York, 1961.
89
5. O enfoque Cristão
uma náusea;
um muro;
uma paixão inócua;
por não saber determinar-se, o homem, ser-em-si é
condenado à liberdade.
94
In: Le mythe de Sisyphe, Paris, 1942; Ensayos, Madrid, 1981.
95
In: La peste, Paris, 1947.
96
In: La nausée, Paris, 1938 (Esta obra foi composta, inicialmente, com o nome de “Melancolie”); Le mur, Paris, 1940;
L’être et le néant, Paris, 1943.
93
Por outro lado, a arte trágica é concebida por Nietzsche como oposta
à decadência e enraizada na antinomia entre a vontade de potência,
aberta para o futuro, e o "eterno retorno" dos estóicos, que faz do futuro
uma repetição; esta, no entanto, não significa uma volta do mesmo nem
uma volta ao mesmo; o eterno retorno nietzschiano é essencialmente
seletivo.
97
In: Abaddón, o Exterminador, Madrid, 1974; Cf. do mesmo autor: Sobre héroes y tumbas, Barcelona, 1961.
94
98
In: Mais além do bem e do mal. Frankfurt, 1886
99
In: Para além do bem e do mal, Munique, 1886
95
96
IV
Não fiquem admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos
os mortos que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho, e sairão dos
túmulos: aqueles que fizeram o bem, vão ressuscitar para a vida; os que
praticaram o mal, vão ressuscitar para a condenação (Jo 5, 28s).
97
98
1. Epicuro
Em fins do século IV, Santo Agostinho sugeriu que o mal, que não
foi criado por Deus, é a privação ou ausência do bem, filosofia que
teve grande influência entre os pensadores cristãos posteriores. Já
no século XVII, Gottfried Wilhelm Leibniz afirmou que o poder de
criação de Deus se limitava a mundos logicamente possíveis e que o
mal é uma parte necessária do ―melhor de todos os mundos
possíveis‖. As guerras e perseguições desencadeadas no século XX
minaram a crença secular num progresso inevitável e novamente
confrontaram filósofos e teólogos com o problema do mal 100.
100
In: Dicionário Essencial de Filosofia, Herder, Barcelona, 1981 (T. do A.)
99
2. Os gregos
Na môira, eles viam algo mais forte que eles, com a qual não se
podia lutar. Se o destino fosse benfazejo ou maléfico, nada podia ser feito.
É aquela história dos dois cães puxados pelo carro. Era preciso aceitar os
fados. Nas tragédias, por exemplo, alguns seres são fatalísticamente
100
101
O orfismo, era um culto místico da antiga Grécia, fundamentado nos escritos do lendário poeta e músico Orfeu.
Segundo esses princípios, os seres humanos procuram com esforço libertar-se do elemento titânico, ou representação
do mal, próprio da sua natureza, e procuram preservar o dionisíaco, como natureza do seu ser. O triunfo do
elemento dionisíaco pode ser atingido seguindo os rituais órficos de purificação e ascetismo. Se, de um lado, o
titânico (oriundo do titãs, elementos mitológicos, maus) indicava o mal, o dionisíaco apontava para o lúdico, a
bondade, o aconchego.
102
Metafísica, Ed. Loyola, 2002
101
Sua obra ―Sobre a natureza das coisas‖ (Peri fyseos), como nos seus
demais fragmentos, encontram-se sentenças éticas sobre a vida humana,
na alternância entre o bem e do mal, Para ele, a substância única do
cosmo é um poder espontâneo de mudança, que se manifesta pelo
movimento. Tudo é mudança, tudo se move (―panta rei‖), isto é, tudo flui,
nada permanece do mesmo jeito. Para fortalecer a tese do cosmo em
permanente movimento, o efésio afirmou que ―"Não nos banhamos duas
vezes no mesmo rio" 104.
103
Sobre a natureza, Paris, 1988
104
Fragmento 91.
102
105
Segundo a cosmologia primitiva dos chineses, todos os fenômenos são explicados através da alternância do Yang e
do Yin.
106
Estudo dos opostos
107
In: A Douta Ignorância, Edipucrs, 2002. Tradução, Prefácio e Notas, pelo Prof. R. A. Ullmann. Segundo Cusa, no
Uno (Deus) coincidem os opostos; nele existe a complicatio (enovelamento) e a explicatio (desdobramento).
108
Fragmento 8
109
Idem 67a
110
Cf. G. REALE. História da Filosofia Antiga, Ed. Loyola, 1995
103
3. A teodicéia de Leibniz
111
Enéada IV, 2.1
112
G. ZAMPIERI, op. cit.
104
Assim como não é possível que exista um círculo infinito, dado que
todo círculo se vê delimitado pela sua circunferência, resulta da
mesma forma impossível que haja uma criatura absolutamente
perfeita‖ 115.
116
G. ZAMPIERI, op. cit.
106
117
Teodicéia... op. cit.
118
Idem
119
CHICO BUARQUE, Apesar de você, 1968
107
Deus não precisa de defesa, evidencia que a acusação assacada contra ele
é uma heresia.. Este é um dos motivos pelos quais muitos teólogos
rejeitam o direito do ser humano sequer colocar tal questão.
quase completas. Os livros são geralmente breves, por vezes quase como
artigos. Neles construiu uma filosofia racionalista, utilizando as linhas
fundamentais do cartesianismo, este por sua vez mais platônico do que
aristotélico. As idéias são alcançadas independente da experiência.
Todavia, a tese leibniziana da idéia inata é mais moderada que a do
Descartes. Não são inatas as formas atuais do pensamento, mas apenas a
potência ou disposição para fazê-las surgir ao contato com a realidade. A
correspondência das idéias com as realidades exteriores decorre da
harmonia preestabelecida entre as idéias e as realidades.
120
Teodicéia, 29. Op. cit.
109
121
Diálogo veridico en torno a la libertad del hombre, Madrid, 1990.
122
In: Monadologia, Lisboa, 1987
123
In: God and evil (Deus e o mal), Londres, 1952.
110
oposto do bem, mas a falta dele. Não é a mesma coisa? Tais premissas são
pontos de teologia exarada da cabeça do filósofo. O caso é que suas teorias
são pouco aceitas pela maioria. Para uma melhor compreensão delas,
damos abaixo uma panorâmica geral:
Deus podia ter escolhido em mundo sem males, mas se assim não o
fez é porque o mundo com males é muito superior ao mundo sem
males. É verdade que se pode imaginar mundos possíveis sem
pecados nem misérias, fazendo com eles utopias e novelas, porém
esses mesmos mundos seriam muito diferentes do nosso quanto ao
bem, pois Deus quer antecedentemente o bem e conseqüentemente
o mal. 124.
4. A idéia cartesiana
124
Teodicéia, 10. Op. cit.
111
5. Susan Neiman
112
A distinção entre mal natural e mal moral, tão evidente hoje em dia,
nasceu com o terremoto e foi alimentada por J. J. Rousseau († 1778), que
preconizou que os males não faziam parte da natureza, mas eram uma
conseqüência das ações humanas. Certas certezas sucumbiram, depois de
Lisboa, sob a suspeita de que havia algum mal radical, numa discussão
que envolveu pensadores como Voltaire, projetou Kant e inaugurou o
moderno.
126
S. NEIMAN , O mal no pensamento moderno, Difel, 2002.
114
6. Ana Arendt
127
HANNAH (Ana) ARENDT († 1975) é uma filósofa e cientista política alemã, de origem judaica, famosa por seus
estudos sobre o totalitarismo e o mundo judaico. É naturalizada norte-americana. Entre suas obras, destacam-se
Origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958) e Sobre a revolução (1963).
115
128
In: Eichmann em Jerusalém, Frankfurt, 1968
129
Idem
130
Sobre esse tema, banalização da vida e da morte, recomendo a leitura do meu livro O grão de Trigo: reflexões cristãs
sobre a vida depois da morte (escatologia), Ed. Ave-Maria, 2000.
116
7. Freud e Jung
131
O termo pulsão, na psicanálise de Freud, é processo dinâmico, força ou pressão, que faz o organismo tender para
uma meta, a qual suprime o estado de tensão ou excitação corporal que é a fonte do processo.
132
S. FREUD, Das Unbehagen in der Kultur, Viena, 1929. (O Mal-estar na Civilização. Viena).
118
Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que,
no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são
criaturas entre cujos dotes pulsionais deve-se levar em conta uma
poderosa quota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo
é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual,
mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua
agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento,
apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento,
torturá-lo e matá-lo 133.
133
S. FREUD, Jenseits des Lustprinzips, Viena, 1920 (Além do Princípio do Prazer)
134
Na mitologia grega, Eros é o filho de Afrodite, a deusa do amor. Em particular do amor erótico, romântico. Ele é
sempre representado com uma venda nos olhos, uma vez que o amor é sempre cego. Sua arma são dardos ou flechas.
Em ambos os casos as pontas destes são magicamente tratadas para produzir ou um amor incontrolável, ou um
insuperável desinteresse sobre a primeira pessoa vista pela vítima de Eros após ter sido atingida pela sua arma.
135
Jenseits des... op. cit.
119
136
Das Unbehagen... op. cit.
137
O behaviorismo é uma corrente da psicologia que defende o emprego de procedimentos estritamente experimentais
para estudar o comportamento, considerando o ambiente como um conjunto de estímulos. No começo do século XX,
John B. Watson († 1958) propôs estudar-se a psicologia empregando somente procedimentos objetivos para estabelecer
resultados estatisticamente válidos. Este enfoque levou-o a formular a teoria psicológica do estímulo-resposta: todas as
formas de comportamento (behavior) podem ser analisadas como cadeias de respostas simples que podem ser
observadas e medidas. Até 1950, B. F. Skinner († 1990) baseou suas teorias em experiências de laboratório e não em
observações introspectivas. Contudo, seu enfoque era mais radical e diferenciava-se de Watson no que dizia respeito aos
fenômenos internos, como alguns sentimentos que não deveriam ser alvo de estudos. Desde então, a chamada
psicologia behaviorista (comportamental) se preocupou em compreender como aparecem e se mantêm as diferentes
formas de comportamento: as interações, as mudanças ou as condições que prevalecem sobre a conduta. Assim mesmo,
aplicam esses princípios em casos práticos (de psicologia clínica, social, educacional ou empresarial), impulsionando o
desenvolvimento das terapias de modificação de comportamento. O behaviorismo moderno introduziu o emprego do
método experimental para o estudo de casos individuais, e demonstrou que estes princípios são úteis para resolver
problemas práticos em diversas áreas da psicologia aplicada.
120
138
In: Mal-estar da civilização, Viena, 1937
139
In: Escritos, Paris, 1977
121
140
A. MOSER, O Pecado: do descrédito ao aprofundamento. Ed. Vozes, 1996. Cf. A. PLÉ, L’apport du freudianisme à
la morale chrétienne. Paris, 1974.
141
O mal-estar... op. cit.
142
O Eu e o inconsciente. Ed. Vozes, 1987 (Obras Completas de C.G. Jung).
143
N. SILVEIRA, Jung, vida e obra., Ed. Paz e Terra, 1981.
144
J. W. GOETHE, Fausto, Frankfurt, 1832.
122
149
In: Letters, New Jérsei, 1957.
150
C.G. JUNG, O homem e seus símbolos, Ed. Nova Fronteira, 1994.
151
J. A SANFORD, op. cit.
152
Resposta a Jó, Ed. Vozes, 1990. 3a. edição. Tradução de Dom Mateus Ramalho Rocha, O.S.B.
124
Eu sei que o meu redentor está vivo, e que no fim se levantará acima
do pó. Mesmo com a pele em pedaços e em carne viva, eu verei a
Deus (19,25s).
153
Idem
154
Idem
125
155
Idem
156
Idem
126
127
Livre-arbítrio:
Uma idéia humana para
“defender” Deus?
Ai dos que dizem que o mal é bem, e o bem é mal, dos que transformam as
trevas em luz e a luz em trevas, dos que mudam o amargo em doce e o
doce em amargo! (Is 5,20).
128
129
157
In: O Livre-Arbítrio, I, 1. Coleção “Patrística”, Ed. Paulus, 1995
158
In: Confissões, op. cit.
159
B. ALTANER et alli. Patrologia. Ed. Paulinas [Paulus], 1972.
131
160
G. ZAMPIERI, op. cit.
132
161
S. AGOSTINHO, O Livre-arbítrio, Livro III, Coleção “Patrística”, Ed. Paulus, 1995
133
162
In: A natureza do bem: contra os maniqueus. Obras completas. BAC, (T. do A.)Madrid, 1947.
134
Pois é santo Agostinho 164 quem afirma que Deus pode tirar do mal
um bem maior. É um paradoxo, mas mesmo assim algo possível. Para
Deus, nada é impossível. Conheci uma família, sem um sentido de vida,
de pessoas fúteis, que só viviam para si, para festas e amenidades, até que
um dia aconteceu-lhes algo, inesperado, aparentemente uma tragédia: o
casal teve um filho deficiente, com síndrome de Down. A princípio foi um
―Deus-nos-acuda‖, a partir daqueles porquês que em geral ficam sem
resposta: ―Por que eu?‖, ―por que comigo?‖, e por aí vai. Com o passar do
tempo, a rotina e o ponto de interesse da família se modificou. O menino
passou a exigir mais de todos, que, esquecendo-se das futilidades,
entraram a valer na causa do pequeno. O depoimento da mãe (quando o
menino tinha já uns cinco anos), confidenciado a mim, confirma a tese do
Doutor de Hipona: ―A vinda do Paulinho (o nome é fictício) serviu para
unir nossa família e dar às nossas vidas um outro sentido‖. É como diz a
filosofia popular: ―Deus pode, de um limão azedo fazer uma gostosa
limonada‖.
163
Obras, Bologna, 1971
164
In: O Livre-Arbítrio, op. cit.
135
2. O maniqueísmo
é acionado por duas forças: o bem (luz) e o mal (trevas) como entidades
antagônicas em perpétua luta.
toda a vez que o homem quis trazer o céu para a terra, fez reinar o
inferno 167.
Ora, sabemos pela história que o pior inferno é aquele que mata,
oprime e ordena, em nome do bem contra o mal, ou do seguimento de
religiões capazes de radicalizar em seus dogmas. Nada é tão perigoso
quanto a certeza, o dogmatismo, a fé cega ou louca. O filósofo Nietzsche
propõe pensarmos para além do Bem e do Mal:
166
In: Mein Kämpf (Minha luta), Munique, 1928
167
In: A Sociedade Aberta e seus inimigos, Londres, 1946.
168
In: Genealogia do Mal, Pref. XI. 1887.
138
169
R. DE LIMA, op. cit.
170
J. A. SANFORD, Mal: o lado sombrio... op. cit.
171
In: O liv. arbítrio, op. cit. I, 2,4
172
P. BROWN, La Vie de Saint Augustin. Paris, 1971,
139
eu sou x você é
bom mau
santo pecador
um ser moral imoral
―mocinho‖ ―bandido: .
3. A formulação do livre-arbítrio
Por livre-arbítrio entende-se aquele poder ou capacidade que o
indivíduo tem de escolher uma linha de ação ou de tomar uma decisão
sem estar sujeito a limitações impostas por causas antecedentes, pela
necessidade ou por predeterminação divina. Um ato inteiramente livre é,
em si, uma causa, e não um efeito; está fora da seqüência causal ou da lei
da causalidade. A questão da capacidade do ser humano de determinar
suas próprias ações é importante na filosofia ocidental, particularmente
em metafísica, ética e teologia. Em geral, a doutrina mais radical na
afirmação da liberdade da vontade é denominada voluntarismo. Seu
contrário, o determinismo, é aquela em que a ação humana é resultante de
influências como as paixões, os desejos, as condições físicas e as
circunstâncias externas, fora do controle do indivíduo.
173
G. DUROZOI et alli. Op. cit.
141
174
O Livre Arbítrio, 5,12. op. cit.
142
175
O Livre-Arbítrio... op. cit. Livro III Cap. 23,68.
143
176
In: Um ano de Sísifo, São Paulo, 1994.
144
5. A teologia do livre-arbítrio
Esclarecendo este ponto, vamos supor que o mal tenha sido mesmo
introduzido no universo pelos seres humanos. Então, por que eles criaram
o mal? Porque eles tinham o livre-arbítrio para fazê-lo, de acordo com a
teodicéia do livre-arbítrio. E por que, sendo assim, eles tiveram essa
capacidade de livre-arbítrio? Porque Deus os fez tê-la. Por que o homem
não disse não ao mal primevo?
Mas, a teologia cristã, esse é o ponto crucial, vai refutar: Deus não é
a causa do mal, e portanto o mal não pode ser algo pelo qual ele é
responsável. Para essa objeção ser correta, de qualquer forma, deve-se
crer que não se deva responsabilizar alguém pelos atos dos quais não é
causa direta.
Quando estes afirmam que ―Deus permite o mal‖, parece que estão
tentando resolver um mistério, talvez o mais complicado da existência
humana. Tentam resolver com fórmulas, silogismos, respostas curtas e
especulações do tipo dois-mais-dois. Outros, buscam racionalizações que
se escuta/lê por aí:
- Deus é criador.
- Ora, mal existe,
- Logo, Deus criou o mal.
- Deus é bondoso,
177
La pensée theologique de Teilhard de Chardin, Paris, 1967.
147
se alguém quiser usar um bem para praticar o mal, ―nem por isso
vencerá a vontade de Deus, que sabe como inserir os pecadores na
ordem universal, de maneira que, se eles, pela perversidade de sua
vontade, abusaram dos bens da natureza, Ele, pela justiça de seu
poder, tirará bens dos males 178.
178
In: A natureza do bem... op. cit.
148
149
VI
Ergo os olhos para os montes: de onde virá o meu socorro? O meu socorro
vem de Javé, que fez o céu e a terra. Ele não deixará que o seu pé tropece,
o seu guarda jamais dormirá! Sim, não dorme nem cochila o guarda de
Israel. Javé guarda você sob a sua sombra, ele está à sua direita. De dia o
sol não ferirá você, nem a lua de noite. Javé guarda você de todo o mal, ele
guarda a sua vida. Javé guarda suas entradas e saídas, desde agora e
para sempre (Salmo 121).
150
151
1. A Liberdade do ser
O que é ser livre? Esta, parece uma pergunta simples, mas quando
se busca um aprofundamento na resposta, constata-se sua complexidade.
Apanhados meio de surpresa nas primeiras aulas de filosofia, os alunos
geralmente respondem: ser livre é não estar preso! E não estão errados
nessa simplificação. Resta saber o que é esse estar preso. Aí pode residir a
chave-de-leitura da questão da liberdade. Para avaliarmos se somos livres
ou não, precisamos identificar as correntes que nos prendem.
E é, precisamente por causa dessa visão que ele rompe com Erasmo
de Roterdã († 1536), que alimentava o desejo de uma reforma da Igreja e,
em princípio, não viu com maus olhos o movimento reformista.
Entretanto, o De servo arbitrio de Lutero lhe pareceu absolutamente
intolerável e o ponto de ruptura entre ambos foi justamente esse problema
de cada um enxergar a liberdade.
Como não podia ser diferente, cada grupo ou ideologia tem sua
definição. No dia-a-dia, define-se liberdade como aquele grau de
independência, legítimo e necessário, que um cidadão, um povo ou uma
nação elege como valor supremo, como ideal. No estudo da Ciência Política
e de algumas das chamadas ―ciências sociais‖, o verbete liberdade aponta
para aquele conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, considerado
isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o
Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos
limites que lhe faculta a lei.
O homem – e isto é dito pelos estudiosos do comportamento e das
ciências sociais – é um animal ético, político, cujas ações, no entanto,
tangenciam o chamado ―mínimo ético‖. É teoricamente ético, mas fazê-lo
chegar à compreensão da ética é que é mais difícil. A partir daí afloram as
questões: o homem é suficientemente capaz de distinguir a verdade? de
viver a moral? de usar adequadamente a liberdade? Liberdade não é algo
que se ganhe (desejo), mas uma conquista (prática). Em Simone Weil, uma
filósofa contemporânea, judia francesa, convertida ao cristianismo,
encontramos uma definição ajustada à pós-modernidade em que se vive:
179
A. M. GALVÃO, Jesus Cristo: a libertação de Javé. Ed. Ave-Maria, 1994
180
In: O peso e a graça. Paris, 1947
153
181
T. HOBBES, Leviathã. Matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil, (1651): Parte I, 4. Coleção “Os
Pensadores”, Abril Cultura, 1979.
182
O grande Inquisidor, Paris, 1878 (a última obra do autor, escrita 3 anos antes de sua morte).
183
Livro publicado em 1947, denunciando a barbárie nazista contra a Europa, e especialmente contra os judeus.
154
Por que voltaste para prejudicar nossa obra? Há 2000 anos que nós
delimitamos a vida dos homens, com dogmas e regulamentos, e eles
se submeteram alegremente a nós... pois isto os salvará de tomarem
suas próprias decisões 184
184
In: O Grande Inquisidor, op. cit.
155
Para que Deus seja tudo, o homem tem que ser nada...186
A liberdade humana fenece ao contato com o Absoluto 187.
Não posso compreender o que seja uma liberdade doada por um dono
ou
um ser superior. Liberdade é direito; é conquista 188.
185
J. A. SANFORD, op. cit.
186
L. FEUERBACH, La essencia del cristianismo, Salamanca, 1971.
187
M. MERLEAU-PONTY, Sens e non-sens, Paris, 1952.
188
A. CAMUS, Le mythe de Sisyphe, op. cit.
156
São questões que, há milênios, sob uma ótica isenta, sem melindres
ou radicalismos, a Teologia, a Filosofia e outras ciências ainda não
responderam satisfatoriamente.
189
O ser e o nada – Ensaio de ontologia fenomenológica. Ed. Vozes, 1999/
190
Idem
158
Até que ponto o fato de ser livre para agir não implica no fazer do
outro um meio para a minha liberdade? O sentimento de ódio, e suas
decorrências como a vingança, a luta, o assassinato, não são inerentes ao
relacionamento eu-outro, na medida em que o outro impõe limites à
minha liberdade, a minha felicidade e ao meu prazer, e por isso, odiamos
o outro e desejamos exterminá-lo? Estaria certa a célebre afirmação
sartreana de que ―o inferno são os outros‖, contida na peça teatral Hui clos
(Entre Quatro Paredes).
Os argumentos escapistas do ser humano são classificados por
Sartre como um ato de ma fé. É como querer, mesmo reconhecendo a
culpa, querer imputá-la ao determinismo fatalista. No entender do filósofo
existencialista, a má fé é a tentativa de fugir da angústia fingindo que não
somos livres. Tentamos nos convencer que as nossas atitudes e ações são
determinadas pela nossa personalidade, por nossa situação, ou por
qualquer outra coisa fora de nós mesmos .
191
M. DANELON, O conceito sartreano de liberdade: implicações éticas. UEM, 2002.
160
192
In: Rubayyath, Ed. Astra, 1981
193
Ed. Nova Fronteira, 1988.
161
194
In: O homem a procura de si mesmo, Ed. Vozes, 1986.
195
Liberdade e destino, Rocco, São Paulo, 1977.
163
196
In: Summa Theologiae, I-II
164
Mas a razão mais profunda com que São Tomás justifica a presença
da liberdade na determinação das ações humanas é outra e tem como
base a possibilidade que o homem tem de avaliar os limites e as carências
das coisas que se oferecem à sua atenção e, conseqüentemente, de elegê-
las ou repeli-las. A análise é muito rica:
Cada escola, grupo social ou ideologia, tem suas pistas para obter a
libertação. Desde que o mundo é mundo, ante a ameaça do mal, têm
surgido muitas teorias a respeito do pleito mais plangente da
humanidade: a libertação do mal.
197
Idem
198
Idem
165
Para que haja uma libertação ampla e integral, alguns requisitos são
necessários:
Não faço o bem que quero, e sim o mal que não quero!
199
O pragmatismo é uma doutrina filosófica, desenvolvida no século XIX, nos Estados Unidos, segundo a qual a prova
da verdade de uma proposição é sua utilidade prática. O idealizador desse pensamento é William James († 1910).
167
200
In: Crítica da razão pura, op. cit.
201
G. DUROZOI et alli, op. cit.
168
202
T. R. GILES, Dicionário de Filosofia, E.P.U, 1993
203
VTB (Vocabulário de Teologia Bíblica), Ed. Vozes.
169
204
L. MONLOUBOU et alli, DBU (Dicionário Bíblico Universal), verbete “Liberdade”. Ed. Vozes/Santuário.
170
207
Le mal - un défi à la philosophie et à la théologie. Genéve, 1986. (T. do A)..
208
Idem
172
209
Idem
210
Idem
211
Idem
173
melhor dos mundos), no cotejo dos bens e dos males, sobre uma base
quase estética, fracassa quando a constatação da incidência do mal e das
dores não pode ser compensada por nenhuma perfeição oferecida. É o
caso de Jó. Ou que consolo ou explicação se pode fornecer à mãe, cuja
filhinha de quatro anos foi estuprada e enforcada por um maluco?
212
Idem
174
213
Idem
214
Idem
215
Idem
175
216
Artigo “O bem e o mal”, Caderno “Cultura”, pág. 4, jornal Diário de Canoas, Canoas/RS. 28/02/2005.
176
VII
Não participem das obras estéreis das trevas; pelo contrário, denunciem
tais obras (Ef 5,11).
177
178
1. Deus é bom?
antes de Gn 1
os anjos se revoltaram, tornaram-se maus e perderam a condição
de ―filhos de Deus‖, sendo expulsos, conservando, porém, a
imortalidade;
Os homens anseiam pela vitória do Bem sobre o Mal ainda nesta vida.
Sabemos que Deus é bom; quando ocorrerá esta vitória, se o ser humano
ainda sofre penas tão cruéis?
217
A. GESCHÉ, op. cit.
218
A palavra paixão tem raiz em pathos: sofrimento físico e moral.
180
É provável que a real questão não seja por que Deus permite o mal
físico, mas por que Deus nos criou em um mundo material? Alguns
sugerem que Deus nos criou em um mundo materialmente imperfeito
para que não pudéssemos confiar em nós mesmos mas vir a amar e
confiar em Deus, que é perfeito (cf. 2Cor 1,8-9). Nós fomos criados com
um desejo e fome que só podem ser satisfeitos por Deus. Este vazio da
felicidade nos chama e impele a Deus. Isto é admiravelmente definido nas
palavras de Santo Agostinho:
..para ti, que nos criastes para ti mesmo, ó Senhor, nossos corações
estão impacientes até que descansem em ti 219.
Santo Ireneu de Lyon (190 d.C.), outro ―Pai da Igreja‖ já tem uma
outra opinião:
..onde não há esforço, não há apreço. A visão não nos seria tão
desejável se não conhecêssemos o grande mal que é a
cegueira; a saúde também torna-se mais preciosa pela experiência
da doença; assim a luz pela comparação com as trevas; a vida com a
morte. Assim o reino celeste é mais precioso para os que
conheceram o terreno. Quanto mais precioso é, tanto mais o
amamos e quanto mais o amamos tanto mais seremos gloriosos
junto de Deus. O Senhor permitiu tudo isso para nós a fim de que
fôssemos instruídos em tudo e permanecêssemos para sempre fiéis
em todas as coisas e radicados em seu amor, tendo aprendido a
amar a Deus como homens racionais 220.
219
Confissões, 1,1. op. cit.
220
In: Adv. Haer., IV, 37,7.
181
o mal moral tem sua origem no livre arbítrio de nossa vontade 222 .
221
In: O livre Arbítrio, I, 1
222
Idem I, 6, 35
183
desviou. Fez uma mulher perfeita, Eva, mas ela deixou-se seduzir pela
falácia do mal. Deus sabe o que faz. Ele nos fez desta maneira com um
propósito. Nós podemos não compreender este propósito, mas ele conhece
nossa história. Ele tem o direito de permitir o mal a fim de realizar a sua
vontade: veja a cruz. Foi por meio do mal que os homens prenderam e
crucificaram a Jesus. Ainda assim, Deus na sua infinita sabedoria, tornou
este mal em bem. Foi na cruz que Jesus levou os nossos pecados no seu
corpo (1Pd 2,24) e é por causa da cruz que nós podemos ter o perdão dos
pecados, e novo acesso à imortalidade. O mal da cruz foi transformado no
sumo bem da ressurreição. De Jesus e nossa.
A busca do porquê das coisas, das razões do mal (unde malum) não
é a famosa questão agostiniana ―de onde vem o mal?‖ que perpassa todas
as Confissões do Doutor de Hipona? O Ocidente cristão tornou-se,
inexplicavelmente, e é Freud quem detecta isto, no continente em que
mais se sobressai a ansiedade (eu diria até a angústia) da culpa. E não é
raro imputar-se às pessoas, culpas pelos sofrimentos recebidos. ―Está
sofrendo, decerto porque alguma coisa ele fez!‖ Não é isto que às vezes se
escuta por aí, na boca do povo? É bom lembrar, no tempo de Jesus, diante
de um cego de nascença, os interlocutores indagaram:
Mestre, quem foi que pecou para que ele nascesse cego? Foi ele ou
seus pais? (Jo 9,2).
223
R. RUITER, O Anticristo. Poder oculto por trás da Nova Ordem Mundial. Ed. Ave-Maria, 2005; Cf. P.
ROBERTSON, The New World Order – It will change the way you live. Dallas, 1991
186
Não foi ele quem pecou, nem seus pais, mas ele é cego para que nele
se manifestem as obras de Deus (v. 3).
224
J. DELUMEAU, La péché et la peur: la culpabilization en Occident. Paris, 1983.
187
Alguém veio. Decerto foi Deus. Deus... ou foi o Diabo? Quem pode
separá-los? Eles trocam suas faces. Deus às vezes se torna silêncio
e escuridão; o Diabo, luz total, e a mente do homem se torna
confusa 225.
225
In: The last temptation, Creta, 1955
188
Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam (Rm 8,28).
226
G. ZAMPIERI, op. cit.
189
Como foi observado de maneira mordaz, não foi por acaso que o
―romance policial‖ nasceu no Ocidente, onde o que não conta é a
vítima, mas o culpado 227.
227
A. GESCHÉ, op. cit.
190
Quem é esse que escurece o meu projeto com palavras sem sentido?
Se você é homem esteja pronto; vou interrogá-lo e você me
responderá. Onde você estava quando eu colocava os fundamentos
da terra? Diga-me, se é que você tem tanta inteligência! (38,2-4).
Eu reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus projetos fica
sem realização. Pois bem, eu falei sem entender, de maravilhas que
superam a minha compreensão. Por isso, eu me retrato e me
arrependo, sobre o pó e a cinza (42,2.3b.6).
228
A. GESCHÉ, op. cit.
191
Deus quer o homem feliz. Para isto ele nos deu seu Filho (cf. Jo 3,16).
O que, volta-e-meia, foge à compreensão é a questão em que, sendo Deus
Todo-Poderoso e ciente de tudo, por que ele não impede certos males?
Teria o mal sua origem na liberdade? Nem sempre... No episódio, por
exemplo, do turista em férias que morreu, engolfado por uma onda,
gigantesca e imprevisível, não ocorre o componente liberdade.
229
In: S.Th I, q. 19, a.3
192
Cada homem deve procurar com esforço a paz e bem, enquanto tiver
esperança de adquiri-los. Quando não, deve procurar e usar todos
os meios e vantagens da guerra 230.
No pensamento de Th. Hobbes vemos referências ao Leviathã, que
abarca vários campos do social, como uma instituição artificial, feita pelos
homens que têm sede de poder e riqueza, onde homo hominis lupus (―o
homem é o lobo do homem‖), e por isto impera entre os homens o
egoísmo, a guerra e as contendas.
230
O Leviathã, op. cit.
194
De fato, quem quiser salvar vai ter que entrar na água e arriscar-se,
pois é justamente essa ação conjunta e discernida que falta aos que
querem enfrentar o mal da sociedade. Os sistema socioeconômicos, com a
unção da política viciada, criaram um cada-um-por-si, onde o deus é o
mercado, e a celebração é o consumo. Quem é pobre quem não pode
comprar num shopping, não matricula filhos em escolas particulares, não
231
J. M. SUNG, Se Deus existe, por que há pobreza? A fé cristã e os excluídos. Ed. Paulinas, 1995.
195
Diante deste outro tipo de mal (moral), é necessária uma visão ético-
crítico-teológica sobre a miséria em que alguns são jogados, por seus
semelhantes. Descartável, o pobre é minimizado, passa a ser considerado
―gentinha‖, ―pé-de-chinelo‖, ―bagaceira‖, ―vagabundo‖, que só sabe pedir,
fazer filhos e querer a terra dos outros. Esta forma de pensamento,
oriunda de uma ideologia elitista, tem origem econômica, a partir do
capitalismo (selvagem), do latifúndio, dos bancos e das empresas
transnacionais.
232
Este assunto está desenvolvido em meu livro Ética Cristã e Compromisso Político. Ed. Ave-Maria, 1997.
196
233
P. N. THAI HOP, Pobres e excluídos. Neoliberalismo e libertação dos pobres. Ed. Santuário, 1995.
234
In: O Deus da vida, op. cit.
197
Afogado pelo mal, que pode ter vários nomes, o empobrecido entra
em uma atmosfera negativa, que interfere não só em sua vida biológica
(qualidade de vida) quanto na espiritual (perda da fé e da esperança). Ele
fica pobre para o outro enriquecer:
235
J. M. VIGIL. La ética del hombre latino-americano y Dios. Barcelona, 1995.
236
A.M. GALVÃO, Crise da Ética, - O neoliberalismo como causa da exclusão social no Brasil. 4a, edição. Ed. Vozes,
2002
198
237
G. GUTIÉRREZ, O Deus...op. cit.
238
Didaquê, 2,2
199
Podemos analisar agora o mal físico, que pode ser expresso assim:
―Se existe um Deus bom, por que existe dor, sofrimento e morte no mundo?‖
Talvez uma versão mais grave desta pergunta seja: ―Se existe um Deus
justo, por que tantas pessoas boas e inocentes sofrem?‖. A partir daqui as
respostas passam a ser menos eficazes. Ora, dirão, o sofrimento serve a
um propósito no mundo material. A dor retarda os danos em nossos
corpos. Eu não coloco a mão no fogo porque conheço o sentimento da dor;
a dor causada pela angina nos adverte de um ataque cardíaco iminente; o
atleta enfrenta sofrimentos físicos extremos para disciplinar seu corpo a
garantir uma melhor performance nos eventos esportivos, de forma que,
sem dor também não há ganhos. Logo, o sofrimento enfrentado por
pessoas boas não soa como um total absurdo... será?
Ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, nada temerei,
pois estás comigo... (Sl 23, 4).
239
In: Summa Theologiae, I.1, 5
201
Não se quer dizer aqui que o mal não existe. Ele nos assola em cada
circunstância de nossa vida, a cada virada de esquina. Diz-se,
filosoficamente, que o mal não é, a partir de uma estratificação de valores.
A idéia do bem está ligada a valor; a do mal, ao contrário, ligada ao nada.
E o nada não é. No terreno axiológico, pertence ao homem, com sua
240
L. P. LEITE, O problema do mal, op. cit.
202
241
S. ALBORNOZ. O enigma da esperança. Ernst Bloch e as Margens da História do Espírito. Ed. Vozes, 1999.
203
204
VIII
Caríssimo, não imite o mal, mas o bem. Quem faz o bem, é de Deus.
Quem faz o mal, não viu a Deus (3Jo 11).
205
206
1. Mentiroso e homicida
242
In: O Grão de Trigo... op. cit.
243
Capítulo 3 do livro VII
244
Idem. Capítulo 11 do livro VII
207
245
In: Paraíso Terrestre: Saudade ou esperança. 10a. edição. Ed. Vozes, 1985
208
246
PAULO VI. A existência do Diabo. In: Audiência do dia 15 de novembro de 1972. Alocução " Livrai-nos do mal".
Publicado em L’Osservatore Romano, edição em. português, em 24/11/1972.
247
DEB
209
248
I. MAZZAROLO, Gn 1–11... op. cit.
249
In: Genesis... op. cit.
250
D. MCCLISTER, www.estudosdabiblia.net
210
251
Dz. 428, 806, 894, 907, 909; J. E. TERRA, A demonologia de Karl Rahner, apud VV.AA., Anjos e demônios na
Bíblia, Ed. Loyola, 1981.
211
fatos, revela que houve no céu uma batalha, entre os anjos fiéis e os
dissidentes (cf. Dn 10,13-21; 12,1; Lc 10,18; Jo 12,31; Ef 6,12; Ap 12,7-
9), que resultou na expulsão e queda desses últimos. Essa luta entre o
bem e o mal é perene, como nos mostra o biblista Mesters:
É preciso ver o que diz São Paulo em Cl 1,20; o plano de Deus visa a
reconciliação de todos os seres, pelo sangue da cruz de Cristo; O sacrifício
encaminha o resgate dos homens mas exclui tudo o que mau e tenebroso.
Esses, por própria opção, já se excluíram.
252
op. cit..
253
In: Confissões, VII,5 ss.
212
254
PAULO VI. A existência do Diabo. In: Audiência... op. cit.
255
Idem
213
Esta foi mais uma, entre as muitas causas porque Deus criou o
homem: para compor o Tribunal que julgará os anjos caídos (Dn
7,22; Lc 22,30; Jo 12,31; 16,11; 1Cor 6,3; Ap 20,1-4). E este
propósito o Senhor Deus já guardava em seu coração, antes da
fundação do mundo (Ef 1,4.9,10s.20-23). É por isto que ele
restaurou a terra e o espaço cósmico atingido pelo cataclismo, para
entregar ao homem a administração da terra, e o domínio sobre
tudo que nela há, e sobre toda a criação animal e vegetal (Gn 1,26-
30; 2,19s; Sl 8ss).
256
E-mail: maryfmc@ig.com.br
214
Não quer dizer que todo o pecado seja devido à ação direta dos
diabolos; mas também é verdade que aquele que não vigia, com certo rigor
moral, a si mesmo (cf. Mt 12,45; Ef 6,11), se expõe ao influxo do chamado
mysterium iniquitatis (mistério do mal) ao qual São Paulo se refere (2Ts
2,3-12) e que torna problemática a alternativa da nossa salvação. O Diabo
não comete o pecado, mas como autor do mal, pode induzir o homem a
cometê-lo. Sempre há uma ação do Malvado por detrás do pecado que
cometemos. Por uma série de deficiências cognitivas, nossa doutrina
torna-se, em determinados momentos, incerta, obscurecida pelas próprias
trevas que circundam a pessoa maléfica do Demônio. Mas a nossa
curiosidade, excitada pela certeza da incidência do mal, torna-se legitima
com duas perguntas: Há sinais da presença da ação diabólica no mundo?
Quais são os meios de defesa contra um perigo tão traiçoeiro?
Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; Jesus,
que foi gerado por Deus o guarda, e o Maligno não o pode atingir
(1Jo 5,18s).
mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? (1Jo
5,4s)
Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem (Rm
12,21).
257
J. A. SANFORD, op. cit.
216
258
In: Metamorfosis, 7,19
259
PAULO VI. A existência do Diabo. In: Audiência... op. cit.
217
260
DS 800
261
A. M. GALVÃO, ¿Angeles, Existen?, Ed. Lumen, B. Aires, 1995
218
262
In: A Criação de Deus, op. cit.
263
In: Sermo VIII, 3
264
A.M. GALVÃO, ¿Angeles, Existen?, op. cit.
219
e até os chefes das Igrejas primitivas (cf. Ap 2–3). Este uso aparece nas
Escrituras e nas literaturas cristãs. A doutrina cristã, embora não
esclareça convenientemente quando foram criados os anjos (e este fato é
irrelevante) nos mostra que cada um dos anjos tem sua tarefa bem
precisa. Alguns são encarregados de cuidar dos homens para ajudá-los na
luta contra os demônios, protegê-los das dificuldades da vida e orientá-los
para o caminho do bem. Cada ser humano – diz a tradição cristã – desde o
dia de seu nascimento, é confiado a um anjo-da-guarda. Ele possui, como
tarefa específica: o cuidado do seu protegido. Deus confia a pessoa ao zelo
do anjo.
Nos textos antigos do AT, até o tempo da realeza (séc. X a.C.) o anjo
encontra-se quase que exclusivamente como ―o anjo de Javé‖ (cf. Gn
22,11; Ex 3,2; Jz 2,1, etc.). Esse anjo não é um ser subsistente em
si, criado por Deus, mas identifica-se com Javé, segundo muitos
textos, sendo sua manifestação. Depois do tempo da realeza é que
os anjos são concebidos como criaturas, tendo existência própria
265.
265
DEB: A. Van Den Born; cf. G. Von Rad, In: THAT, 1,72-87.
266
Sua cronologia não é exata; Hesíodo teria nascido em Ascra, hoje Palaiopanaguia, Grécia, na metade do séc. VIII
a.C. A data de sua morte é desconhecida.
220
267
Hes. Th., 116
268
Teogonia, do grego theói (deuses) + goné (geração) refere-se ao “nascimento dos deuses”
269
A fim de que se compreenda os nomes, é bom esclarecer que Lúcifer (Lux-fero = aquele que traz a luz = iluminado),
foi o primeiro anjo caído, que na rebelião do princípio levou consigo “um terço das estrelas (dos anjos) jogando-as
no cosmo (cf. Ap 12, 4). Os nomes satã, satanás e diabo são meros qualificativos, como acusador, inimigo,
desordeiro. A palavra demônio (do grego daimon), espírito criado, usava-se, nos primeiros séculos, em uso geral. Só
depois do século IV-V d.C. é que passou a significar “espírito maligno”.
270
O Grão de Trigo... op. cit.
221
3. O Magistério da Igreja
271
In: Summa Theologiae, II, 2a.
272
SANTO IRENEU DE LYON, Contra os hereges, IV, 38,1; cf. A. M. GALVÃO, Os Pais da Igreja, Ed. Recado, 2003.
223
Deus destinou que deveria haver distinção entre coisas boas e más;
que devemos conhecer, através do que é mau, as qualidades do que
é bom, bem como do que é bom a partir do que é mau. Não pode ser
entendida a natureza de um sem a existência do outro 274.
273
Contra os Hereges, op. cit. 4
274
LACTÂNCIO. Divina Institutes, 7
224
A avareza é uma paixão tão funesta que não é mesmo possível ficar
rico sem ser ladrão ou explorador. Honesta é a pequena propriedade
que é adquirida pelo trabalho de toda uma vida, sem dependência
de roubos pessoais ou praticados pelos pais 276.
275
SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, séc. IV – Sermão, PG 39,102; Cf. J. P. MIGNE, Patrologie. Cursos Completus. Series
Latina et Graeca. Paris, 1880. Cf. A. M. GALVÃO, Os pais da Igreja, op. cit.
276
idem. Homilia, XIII
277
SÃO GREGÓRIO NAZIANZENO. Patrem tacentem propter plagam grandinis, 18. PG 35,957.
278
SÃO BASÍLIO MAGNO (de Cesaréia). Homilia sobre a Primeira Epístola a Timóteo, 12,4.
279
Idem. Sermão II – Contra a avareza.
225
Por que Deus não criou um mundo tão perfeito, que nenhum mal
nele pudesse existir? No seu poder infinito, Deus poderia sem
dúvida ter criado alguma coisa melhor (Cf. Santo Tomás de Aquino,
Suma 1,25-6). Todavia na sabedoria e bondade infinitas, Deus quis
livremente criar um mundo "em processo", a caminho da perfeição
última. Essa evolução supõe, segundo o desígnio de Deus, a
aparição de certos seres e o desaparecimento de outros, o mais
perfeito e o mais imperfeito, tanto a construção da natureza como a
destruição. Com o bem físico existe também o mal físico, enquanto a
criação não houver atingido sua perfeição 281.
280
CIC 309
281
CIC 310; Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, Suma aos gentios, 3.71
282
JOÃO PAULO II - L'Osservatore Romano de 08/06/86
226
vivos não lhe dá nenhuma alegria. Porquanto Ele criou tudo para a
existência (Sb 1,.13s)‖ 283.
Como não foi Deus que criou a desordem, ela nasce de algum
espírito desordeiro, ou seja, de algum diabolos. Lemos no livro de Henoc
(um texto apócrifo, escrito por volta de 100 a.C.), o episódio da expulsão
dos ―filhos de Deus‖ (cerca de 200 demônios, anjos caídos) para o mundo
dos homens (terra). No livro do Gênesis (cf. 6,4) lê-se que os ―filhos de
Deus‖ (anjos caídos) seduziram as ―filhas dos homens‖ (mortais), de cuja
união nasceram ―gigantes‖ (nefilim). Após o dilúvio, intentado por Deus
para erradicar a maldade do mundo, os nefilim teriam ensinado aos
homens a comer a carne dos animais, o que até então era proibido.
Instaura-se a desordem, definitivamente, a partir da práxis dos espíritos
maus.
283
JOÃO PAULO II - L'Osservatore... idem
284
CIC 324
227
285
J. A. SANFORD, O Mal... op. cit.
286
R. RUITER, O Anticristo, op. cit.
228
Volta a questão de Epicuro e o drama de Jó. Por que Deus não evita
o mal? Por que não salvou o Filho na cruz (meu Deus, por que me
abandonaste?). É preciso ver com olhos de fé; só com fé se pode
compreender e enfrentar o mistério do mal. Na hora do desespero, pessoas
clamam (e até blasfemam), reclamando alguma providência que entendem
que Deus deveria ter tomado e não tomou: Meu Deus, por que?
O cristão sabe e crê que seu Deus não pode e não deve ser poupado
do problema do mal. É isto que devemos fazer: depositar o problema
in Deo. Passar o problema para ele 288.
287
TH. KEMPIS. A imitação de Cristo
288
A. GESCHÉ. O Mal... op. cit.
229
289
CHIARA LUBICH, As façanhas do amor, Revista Cidade Nova, julho de 2005.
230
Eu ouvi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o
seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos.
Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios... (Ex 3,7s).
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 22,2; Mt 27,46).
290
Trecho da homilia de R. CANTALAMESSA (pregador da casa Pontifícia), em 23/01/2004 sobre Mt 4, 12-23.
291
G. BERNANOS. Diário de um pároco de aldeia. 22a. edição. Ed. Paulus, 2004.
231
Deus e o mal, não pode impedir o grito que o homem dirige a Deus
292.
292
A. GESCHÉ, op. cit.
232
A garota disse à mãe como tua ia errado na sua vida. Ela não se
saíra bem na prova de matemática. Brigou com o namorado. E sua
melhor amiga estava de mudança para outra cidade.
293
Texto recebido pela Internet. Autor desconhecido.
294
G. BERNANOS, op. cit.
233
bolo‖. Daquele bolo que mais gostamos, feito pela nossa mãe. Se nos
entregamos ao amor de Deus, nossos fantasmas se convertem em anjos, e
nossas dores em alegria.
234
O bem e o mal
são duas serpentes
enrodilhadas,
que se cruzam, se misturam
e se interpenetram,
tentando devorar uma à outra.
Conclusão
mal físico
tratava-se de uma menina fraca, frágil não teve as mínimas
condições de reagir, de correr; talvez nem soubesse, no início, o que
estava efetivamente acontecendo; o mal físico foi a violência que
atacou seus sistemas vitais, provavelmente o respiratório (ela
morreu enforcada), ocasionando sua morte. A causa mortis é física;
mal moral
o mal moral é o pecado, cometido por um indivíduo malvado,
instrumentalizado pelo Diabo, por certo com problemas mentais
(psicopata), socialmente desajustado (sociopata), contaminado pelo
erotismo, gratuito e barato que é produzido pela mídia, usando mal
sua liberdade;
mal metafísico
o mal metafísico ocorre pela fragilidade do ser humano: ele é criado
vulnerável, sujeito à morte; depois, pela inveja que o Demônio teve
da inocência da menina, sinal da pureza das almas fiéis; assim, ele
instrumentalizou a ação do maníaco, a fim de levar a família – no
desespero – a rejeitar a Deus. Não esqueçamos que é ―homicida‖ e
age por maldade, buscando desviar as pessoas que se revoltam,
atribuindo a Deus as causas de seus males.
Judas faz o tipo do ser humano que sofre o assédio do mal e não
consegue se libertar. Por isto ele experimenta o mal (metafísico, moral e
físico).
Desta forma, o mal, por mistério naquela acepção mais estrita que a
teologia usa, nunca será integralmente por nós, nesse status viator. Como
humanos, não temos visão suficiente para enxergar e decifrar sua
essência. Só podemos ver pela fé e aguardar o eterno bem, pela
esperança. Assim como o mal é mistério, também os desígnios de Deus,
para evitá-lo aqui e acolá, em casos esporádicos ou aleatórios, naquilo que
chamamos de ―milagre‖. Sob essa perspectiva, na hora do desastre
algumas pessoas perguntam: ―por que Deus não fez um milagre?‖
Entender a dinâmica do fato taumatúrgico (o milagre) é tão complicado
quanto compreender o milagre. Durante sua vida pública, Jesus fez
muitos sinais, que serviram para dar um realce à sua co-divindade com o
Pai e o Espírito, para ajudar algumas pessoas, e para colocar, de forma
clara e pedagógica a perspectiva do Reino:
Deus é bom? Sim, claro que ele é bom! Então por que existe o mal?
Sendo amor (cf. 1Jo 4,8) Deus não é autor do mal! O mal existe? Sim, o
mal existe; é inegável sua existência. Se Deus não é o autor do mal, quem
é então? Desde o princípio, com a rebelião dos anjos, o mal passou a
existir, fruto dessa queda. Ciumento, o demônio contaminou a
humanidade, instaurando também um regime de pecado e maldade.
Seduzido pelo mal, o homem cai em pecado, praticando toda a sorte de
maldades. Mas Deus não ficou indiferente. Sabendo da existência do mal,
e o perigo que ele representa para os homens, deu-nos Jesus Cristo (cf. Jo
3,16) para que todo que nele crer não pereça, mas tenha a vida. Por causa
de Jesus, a humanidade vence o pecado, o temor e a morte. Deus não
criou o mal, mas dá o ―remédio‖ contra ele.
BIBLIOGRAFIA
Outras obras consultadas
ÍNDICE ONOMÁSTICO
B. ALTANER, 157
B. CHRISHOLM,222 G. BERKELEY, 199
B. F. SKINNER, 143,144,145 G. BERNANOS, 275,278
B. PASCAL, 72,186,192 G. CRESPY, 177
B. SPINOZA, 169 G. DUROZOI, 23,201
BASÍLIO (Santo), 26,267 G. GUTIÉRREZ, 98,236,238
BENTO XVI, 84 G. H. HEGEL, 199
BIN LADEN, 165 G. MARCEL, 63,64
G. REALE, 123
C. G. JUNG,22, 26, 32, 44, 82, G. VON RAD, 262
83, 106,1 39, 146, 147, 148, 149, G. W. BUSH, 167
150, 151
245
I. AMIN DÁDA, 29
I. KANT, 25, 169, 199, 200 M. DANELON, 190
I. MAZZAROLO, 250 M. ECKHART, 197
IRENEU (Santo), 216, 266 M. F. M. CARVALHO, 255
ISIDORO DE SEVILHA (Santo), M. G. NASCIMENTO, 52
267 M. HEIDEGGER, 64, 81, 197, 218
M. LUTERO, 181
J. A. SANFORD, M. MONTAIGNE, 72
28,44,62,85,148,186,257,271 M. RAMALHO ROCHA, 148
J. B. RACINE, 186 M. SADE, 137
J. B. WATSON, 143 M. XAVIER, 49
J. BENTHAM, 200 MANI, 151,163
J. CRISÓSTOMO (Santo), 267
J. DELUMEAU, 223
J. E. TERRA, 251 N. DE CUSA, 120, 122
J. DE FIORE, 243 N. KAZANTZAKIS, 185, 225
J. J. ROUSSEAU, 135 N. MALEBRANCHE, 126
J. L. RUIZ DE LA PEÑA, 42,63 N. SILVEIRA, 146
J. LACAN, 145 O. KHAYYAM, 172 191, 192, 200
J. M. SUNG, 233 ORFEU, 119
J. M. VIGIL, 237 OVÍDIO, 259
J. MENGELE, 65 P. BAYLE, 97
J. MILTON, 107 P. BROWN, 166
J. ORTEGA Y GASSET, 193 P. KRAMER, 94
J. P. JOSUA, 44 P. N. THAI HOP, 235
J. P. MIGNE, 268 P. RICOEUR, 76, 77, 78, 79, 80,
J. P. SARTRE, 21, 75, 111, 132, 203, 204, 205, 206, 207, 208,
186, 187, 188, 189, 190, 191, 209, 210, 242
192, 193, 197, 199, 200, 218 PARMENIDES, 102, 117, 120
J. W. GOTHE, 49,146 PAULO (Santo), 40, 84, 107, 108,
JOÃO PAULO II, 84, 269, 270 199, 202, 203, 226, 240, 247,
JOÃO XXIII, 84 253, 256, 259, 261
JUSTINO (Santo), 267 PAULO VI, 84, 249, 254, 259
PEDRO ABELARDO, 229
246
R. A. ULLMANN, 122
R. CANTALAMESSA. 274
R. CARLOS, 45
R. DESCARTES, 117, 129, 132,
133
R. L. STEVENSON, 82
R. MAY, 194
R. NASH, 24
R. RUITTER, 222, 272
R. SWINBURNE, 46
S. ALBORNOZ, 243
S. ERÍGENA, 229
S. FREUD, 21, 82, 139, 140, 141,
143, 144, 145, 207
S. KIERKEGAARD, 189, 192
S. NEIMAN, 134, 135, 136, 137,
139
S. WEIL, 183
SIDHARTA, 104
SÓCRATES, 169
W. JAMES, 199
ZENON, 102