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Psicologia.

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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 17.12.2016

OS EFEITOS DO DIVÓRCIO NA CRIANÇA

2016

Isabella Thays Ortiz Silva


Psicóloga graduada pela Faculdade da Amazônia campus Vilhena/RO (Brasil)

Charlisson Mendes Gonçalves


Mestre em Psicologia pela PUC Minas. Psicólogo graduado pelo Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais. Professor na Faculdade da Amazônia
campus Vilhena/RO, Brasil.

E-mail de contato:
isabella.psicologia@hotmail.com

RESUMO

O número de divórcios tem crescido consideravelmente na atualidade e várias


consequências são oriundas desse fenômeno. Esse trabalho visa elucidar os efeitos vivenciados
pelos filhos durante o divórcio. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica, fazendo um
levantamento de referências teóricas publicadas por meios escritos e eletrônicos. Nessa pesquisa,
observou-se que, durante as mudanças ambientais, a criança poderá apresentar mudanças
emocionais, como exemplo o transtorno de ansiedade social ou transtorno de ansiedade de
separação. A criança, ainda, pode vir a demonstrar dificuldades nas atividades cotidianas,
desenvolvendo baixa autoestima e baixa qualidade de vida. Estudar esses efeitos é um caminho
para ampliar as intervenções com os envolvidos nas situações litigiosas de divórcio.

Palavras-chave: Divórcio, efeitos do divórcio, criança.

Copyright © 2016.
This work is licensed under the Creative Commons Attribution International License 4.0.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

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INTRODUÇÃO

Na atualidade, há um elevado índice de divórcios em nossa sociedade, gerando grandes


mudanças na vida dos filhos: mudanças psicológicas e ambientais, como ansiedade, depressão,
dificuldades na aprendizagem e também sofrimento decorrente da ausência/perda de um dos
genitores, que poderá gerar inúmeros conflitos para essa criança (TOLOI, 2006). O infante
poderá também desenvolver ansiedade advinda do divórcio do casal e sofrer por mudanças no
núcleo familiar, fatores inevitáveis para a mesma (GRZYBOWSKI, 2010).
Na escola, também poderão ser observadas algumas dificuldades, implicando na
alfabetização, na concentração e na socialização da criança, interferindo diretamente na qualidade
de vida da mesma (RAPOSO et al, 2010). Sendo assim, esse trabalho visa elucidar a influência
emocional que as crianças sofrem após o divórcio dos pais.
A criança poderá elaborar a separação de forma natural, podendo ou não desenvolver
patologias, de forma que alguns aspectos sejam inevitáveis para elas, por exemplo: a mudança de
rotina, de ambiente e, até mesmo, em relação à sua estrutura familiar (BRITO 2007). Dessa
forma, a pesquisa busca, ainda, identificar como as crianças podem demonstrar emocionalmente
as mudanças ambientais e estruturais experienciadas por elas durante o divórcio conjugal.
Segundo Souza (2000), os filhos têm sua saúde mental preservada através do bom
relacionamento pré e pós-separação de seus genitores. Logo, entende-se que tudo dependerá da
qualidade do contato com a figura parental e de como as mudanças no núcleo familiar serão
elaboradas pela criança. Com o divórcio dos pais, vem também o divórcio com os filhos, pois
grande parte dos casais também se separam dos filhos, trazendo, assim, grandes prejuízos
emocionais ao infante.
Esta pesquisa seguiu a metodologia de revisão bibliográfica, pesquisando os temas relativos
ao trabalho através de levantamento de referências teóricas publicadas em meio eletrônico e
escrito, encontrados em livros, artigos e sites científicos, sendo eles: Scielo e Pepsic.
Durante a pesquisa, aborda-se o desenvolvimento infantil, colocando a influência do
divórcio para o desenvolvimento da criança, também sobre a importância que a família exerce no
período posterior ao divórcio, contribuindo para a qualidade de vida da criança. Sendo assim,
observaram-se indicativos de ansiedade nas crianças que sofrem com o divórcio conjugal dos
pais, podendo então desenvolver transtorno de ansiedade social que se caracterizam por medo ou
desconforto perante a pessoas estranhas ou situações em que coloquem o individuo em exposição
ou avaliação. Explanou-se, ainda, sobre o transtorno de ansiedade de separação, com ênfase na
separação conjugal (DSM-5, 2014).

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O estudo do tema permitirá aos pesquisadores e profissionais, que atuam com crianças que
vivenciam o divórcio, ter uma visão mais ampla acerca desse processo e desenvolvam
intervenções mais eficazes para aplicar nesses casos.

DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Na infância ocorrem os seguintes processos de desenvolvimento da criança: cognitivo,


físico e mental. A primeira infância é o momento em que a criança aprende e se conceitua como
um eu. Newcombe (1999) define que, com aproximadamente 18 meses, a criança já se
reconhece, fazendo com que nos meses seguintes sua autopercepção e sentimentos sejam
aprimorados. A criança mais velha tende a se descrever a partir da forma como percebe seu
corpo, pois nomeia suas características observáveis e só mais tarde observa traços psicológicos.
Percebe-se, nas literaturas, a importância da autoestima da criança, pois após formar um
autoconceito, ela atribui valores para si própria, podendo ou não influenciar em sua autoestima
(NEWCOMBE, 1999).
Newcombe (1999) relata que o desenvolvimento dos filhos dependerá dos pais, de como
eles estão ou não saudáveis psicologicamente, visto que os pais promovem a segurança
emocional da criança, a independência, o sucesso intelectual e a competência social. Nas casas de
pais divorciados seria de grande importância se os ex-cônjuges mantivessem uma relação
solidária, pois o autor traz a importância das relações pai e mãe para melhor adaptação da criança
ao novo contexto familiar. As crianças mais jovens sofrem mais com o divórcio, até mesmo,
acreditando serem culpadas por tal acontecimento.
O divórcio vivenciado durante a infância poderá gerar efeitos negativos na vida da criança,
já que segundo Homem (2009), com a concretização do divórcio e a saída de um dos genitores de
casa, a criança fica quase que privada desse genitor. Além do contato, possivelmente, se tornar
menor, a criança pode perceber uma perda da atenção, da figura parental e do tempo disponível.
O divórcio gera, no filho, sentimento de insegurança em relação aos vínculos familiares,
influenciado diretamente pelo comportamento parental. A longo prazo, o desenvolvimento
infantil exposto a esses fatores pode levar a dificuldades em sua autoestima.
Oaklander (1980) discorreu que o divórcio poderá ser o desencadeador da baixa autoestima
na criança, demonstrando-se através de comportamentos como: chorar com facilidade,
necessidade de vencer, trapaças, comportamentos antissociais, críticas a si mesmo. O divórcio
pode, ainda, dificultar o desenvolvimento sadio da criança que, se acompanhada de negligência
por parte do genitor presente, eleva o grau de sofrimento da criança.

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SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA

O conceito de saúde vem sendo discutido nas últimas décadas, ampliando o foco da
dualidade saúde/doença para uma dimensão a qual inclui aspectos biopsicossociais dos
fenômenos humanos. Nesse trabalho, problematiza-se a definição de saúde como ausência de
doença ou sintomas, a partir das construções de Dalgalarrondo (2008). Sabe-se que em saúde
mental é difícil caracterizar saúde e doença, pois não se tem definições exatas para esses termos,
dificultando a interpretação de normal e patológico. Para o autor, a busca pela preservação da
saúde mental das crianças ao decorrer do processo de divórcio pode ser de grande valia, pois
poderia prevenir dificuldades futuras.
Nas construções teóricas de Almeida (2011), saúde é definida como um bem-estar físico,
mental e social, compreendido como satisfação das necessidades humanas. Entretanto, esse
conceito se reduz às necessidades básicas e, por isso, é ultrapassado. Posteriormente, o conceito
de saúde fora discutido por diversos autores, entre eles Dalgalarrondo (2008), que abordaram a
impossibilidade de se atingir um completo bem-estar físico, mental e social, defendendo que essa
ideia se fundamenta na fantasia do perfeito bem-estar.
A infância é a fase inicial do desenvolvimento psíquico e fisiológico, logo, o infante
prejudicado nesta fase terá maior probabilidade de desenvolver algum tipo de patologia. Isso se
agrava pela ausência de um dos genitores no período de desenvolvimento, podendo comprometer
a saúde mental da criança. Durante o divórcio, a criança vivencia inúmeras situações novas e
desagradáveis que, a longo prazo, podem se transformar em transtornos psicossociais
(FERRIOLLI, 2007).
Segundo Toloi (2006), nos conflitos interparentais, lidar com o divórcio e com seus
efeitos têm grande influência na saúde mental dos sujeitos envolvidos. A autora percebeu que
mudanças ocorridas de forma rápida são geradas de inúmeras transformações nas crianças as
quais vivenciavam o divórcio dos pais, causando impacto direto no funcionamento mental.
Pais e mães divorciados encontram muitas dificuldades para manter um relacionamento
coparental saudável, envolvendo-se em brigas, discussões e, até mesmo, agressões. As crianças
que assistem esses tipos de agressões recebem um impacto direto em sua saúde mental. A
separação pode ser entendida como uma relação parental fracassada, porém, quando existem
filhos, trata-se de uma relação de pais separados e de filhos que precisam se ajustar à nova
dinâmica familiar. As mudanças em tal núcleo geram conflitos emocionais cabendo aos ex-
cônjuges escolher a forma de vivenciar a nova configuração da relação e da realidade familiar,
beneficiando o filho, que continua existindo para ambos (GRZYBOWSKI, 2010).
Diante de um sistema familiar, existem inúmeras relações possíveis, sendo a criança
contribuinte ativa nas interações. Cada membro da família exerce um papel de importância e de

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influência. A influência da criança na relação com seus genitores é de vital importância para seu
desenvolvimento saudável. O surgimento de determinada mudança repentina na base familiar
pode influenciar diretamente em seu desenvolvimento. Dentre as principais mudanças, cita-se:
crescimento físico, desenvolvimento da linguagem, concepção do eu, desenvolvimento cognitivo
e autonomia. (RODRIGUES,2010).
Martins (2010), relata que, devido à grande incidência de divórcios na atualidade, os
efeitos para as crianças estão sendo potencializados, desestabilizando vínculos familiares e
criando um novo modelo de família, a família monoparental. Entende-se que a separação vem
afetando todas as partes envolvidas no divórcio, então, com o objetivo de diminuição dos danos,
a psicologia, nesses casos, procura trabalhar as possibilidades de vínculo, favorecer a preservação
da saúde mental dos envolvidos, principalmente da criança em desenvolvimento. A elaboração
do divórcio, para a criança, dependerá de como ele se deu, de forma conflituosa ou não, de como
serão estabelecidos os vínculos no período posterior ao divórcio, da frequência das visitas, do
relacionamento entre os pais.
Para Dantas (2004), é de suma importância que se fortaleçam os vínculos com os filhos
após a separação. A construção da personalidade da criança, para a autora, se relaciona com o
momento no qual se reconhece em seus pais. Ela levanta a importância paternal e maternal para o
desenvolvimento sadio da criança, já que sem relação com os pais, a criança não consegue
construir sua própria identidade. Os momentos de ser reconhecido e se reconhecer precisam
acontecer na relação entre pais e filhos.

Quem se separa é o par amoroso, o casal conjugal. O casal parental continuará para
sempre com as funções de cuidar, de proteger e de prover as necessidades materiais e
afetivas dos filhos... Costumo afirmar que o pior conflito que os filhos podem vivenciar,
na situação da separação dos pais, é o conflito de lealdade exclusiva, quando exigida por
um ou por ambos os pais (Féres-Carneiro,1998, p.387).

Segundo Bolsoni (2009), as crianças de famílias divorciadas estão mais vulneráveis a uma
série de dificuldades, tanto a curto como a longo prazo. Essas estão mais pré-dispostas a
desenvolver depressão, ansiedade, dificuldade de aprendizagem e agressividade.
Entre as dificuldades enfrentadas pelos pais, ressalta-se a de diferenciar o papel de pai-e-
mãe com o de marido-e-mulher. Se a situação litigiosa se estende, isso pode causar, na criança,
uma preferência entre um dos pais, privando a mesma do vínculo com o outro genitor, podendo
causar conflitos internos e elevando, assim, o grau de estresse e ansiedade do infante (COSTA,
2011).
Segundo Fonseca (2006), o divórcio pode levar a muitas dificuldades para todas as partes,
dentre eles a alienação parental. Essa, segundo o autor, seria a crítica, inverdades, falsas

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memórias que um genitor profere em relação ao outro, sempre com o objetivo de extinguir o
vínculo entre a outra parte e o filho. A alienação parental ocorre com maior incidência nas
crianças mais jovens, pois quando a criança adquire certo grau de independência já percebe a
alienação. Em decorrência da alienação parental, surge a Síndrome da Alienação Parental, que
gera sequelas emocionais e comportamentais na criança. Essa síndrome pode levar o filho a
romper completamente o contato com um dos genitores, por efeito da alienação realizada pelo
genitor alienante. Os pais que praticam a alienação parental têm como objetivo privar totalmente
o ex-companheiro da vida do filho.

TRANSTORNO DA ANSIEDADE SOCIAL

O Transtorno de Ansiedade Social pode ser desencadeado de diferentes formas, uma delas é
através do divórcio. Esse é o transtorno que será abordado nesse subtítulo.
Os primeiros relatos de ansiedade infantil foram do século XX, segundo Freud (1909), que
descreveu o caso do pequeno Hans, um garoto de cinco anos de idade que sofria de neurose
fóbica. Nas concepções mais contemporâneas acerca da ansiedade infantil, Vianna (2009)
apresenta o transtorno de ansiedade social na infância. Esse transtorno pode ser entendido como
uma angústia, um medo anormal de estranhos. É preciso destacar que, até dois anos e meio de
idade, é esperado que a criança sinta desconforto em meio a estranhos e esse é um
comportamento aceito como normal no seu desenvolvimento. Porém, é considerado patológico se
for estendido por um longo período de tempo e interferir na vida social da criança. Esse
transtorno também causa alterações físicas, como: palpitação, tremores, sudorese, tensão
muscular (VIANNA, 2009).
O DSM-5 (2014) caracteriza o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) como medo ou
ansiedade acentuada frente a uma ou mais situações sociais nas quais esse indivíduo é exposto à
avaliação de outras pessoas, como exemplo: ser observado ou encontrar pessoas desconhecidas.
Em crianças, os sintomas de ansiedade são expressos com ataques de raiva, comportamento de
agarrar-se, choro intenso. Quando a criança se depara com essas circunstâncias, apresenta medo e
ansiedade. Para um possível diagnóstico, é preciso constatar a existência dos sintomas há, pelo
menos, seis meses. O transtorno de ansiedade social pode ter início na infância oriundo de uma
experiência estressante ou humilhante ou pode ter início insidioso, se desenvolvendo lentamente.
Os fatores de risco para desenvolvimento desse transtorno são: maus tratos e adversidades na
infância, que compreendem cerca de 75% dos casos, início entre 8 e 15 anos ou, até mesmo, no
princípio da infância.
Para Isolan (2007), o Transtorno de Ansiedade Social (TAS) ou Fobia Social, é um
transtorno social caracterizado por medo acentuado e persistente de algumas situações sociais.

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Em tais situações, o sujeito é exposto a pessoas estranhas ou a situações as quais lhe coloquem a
prova. Outro transtorno que pode ser desencadeado pelo divórcio será trabalhado no subtítulo que
se segue.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO

Segundo o DSM-5 (2014) o transtorno de ansiedade de separação é caracterizado por medo


ou ansiedade excessiva envolvendo a separação da criança dos indivíduos as quais já é apegada.
Essa separação gera sofrimento excessivo, preocupação em relação a uma possível perda, recusa
de sair ou afastar-se de casa, impedimento à realização de atividades rotineiras como ir à escola
ou sair para momentos de lazer. O temor da separação toma uma dimensão muito significativa e
impede o desenvolvimento de diversas atividades que geravam satisfação. O diagnóstico, nas
crianças, é feito a partir da manifestação dos sintomas por, pelo menos, quatro semanas.
A ansiedade de separação em relação às figuras de apego faz parte do início do
desenvolvimento normal, pois indicam o estabelecimento das relações de apego seguro. O
transtorno de ansiedade de separação pode ocorrer na idade pré-escolar ou mesmo em qualquer
período da infância, se desenvolvendo a partir de um estresse ou perda. O divórcio, tema central
desta pesquisa, se apresenta como um dos fatores de risco para desenvolvimento desse
transtorno.

A IMPORTÂNCIA FAMILIAR PARA A REESTRUTURAÇÃO DA CRIANÇA


APÓS A SEPARAÇÃO

Segundo Almeida (2011), a família é o primeiro grupo ao qual a criança pertence e é a


partir dele que surgem inúmeros tipos de vínculo que poderão interferir na formação da
identidade do sujeito e também na sua modalidade de aprendizagem, cuja formação se dará de
acordo com seus primeiros contatos no âmbito familiar. Nesse sentido, a família, em um primeiro
momento, comporta toda a referência da criança e é a responsável pela sua formação.
A família, como sistema, tem a função psicossocial de proteger, cuidar e zelar por seus
membros. A sua estrutura é formada pelas normas transacionais que se repetem e, assim, criam
sua identidade, compartilhando e repassando histórias e vivências passadas. Com a separação, a
divisão da família ocorre, sua estrutura é prejudicada e os vínculos familiares empobrecidos
(ALMEIDA, 2011).
Para Santos (2013), família é um grupo de pessoas que moram junto e desenvolvem laços
afetivos e/ou sanguíneos. Também a descreve como base do sujeito, já que ao nascer é inserido

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em grupos familiares, garantindo sua sobrevivência e aprendendo determinados valores. Nos dias
atuais, com a sua reestruturação, pode haver famílias com só um dos genitores, ou genitores do
mesmo sexo, uma família adotiva, entre outras, dependendo da nova organização feita. Sendo
assim, no período posterior ao divórcio, a família passa também pela mudança no seu núcleo.
Santos (2013), fez a seguinte construção em relação às fases que ocorrem após o divórcio:

• Fase aguda: a fase pré-divórcio, na qual ocorrem as brigas, discussões, insatisfação com
o outro e evidente frustração, na maioria das vezes, é vivenciada também pela criança.
• Fase transitória: o divórcio já foi consolidado, e agora ocorrem as reorganizações de
papéis, as novas normas e regras, entre pais e filhos.
• Fase do ajuste: aceitação do divórcio, fase em que ocorre a restauração tanto de pais
quanto de filhos, consolidando novas visões e podendo ser inserido novo integrante ao
âmbito familiar.

Para o autor, com a separação dos pais, é possível que ocorra um distanciamento desses em
relação aos filhos. Após o divórcio pode ainda ocorrer a briga pela guarda da criança, colocando
ainda mais distanciamento à vinculação familiar pós-divórcio.
Neste contexto, a criança precisa reconstruir as figuras paterna e materna após a separação,
ressignificando as vivências e experiências passadas. Após a mudança grandiosa que é a saída de
uma das figuras parentais de casa, é preciso se adaptar a uma moradia onde as coisas serão
diferentes. É de grande importância para a estruturação da criança que esses ambientes sejam, em
alguma medida, parecidos, compartilhando das mesmas regras, deveres e rotina (GRZYBOWSKI
2010).
As crianças mais jovens, de acordo com Santos (2013), têm maiores dificuldades de
entender e simbolizar a separação, estas estão mais propensas a se culparem e sentirem
abandonados pelos pais. Segundo Ramires (2010), junto com a mudança estrutural familiar
existem as externas, como mudança de casa, nível econômico social, perda do contato com a
outra parte. Na separação, o ideal seria que a família se subdividisse em busca de um
relacionamento saudável, principalmente para melhor relação com os filhos.
A alteração do núcleo familiar coloca essa criança diante de fatores estressantes,
dificultando seu ajuste ao divórcio dos pais, aumentando os níveis de ansiedade e depressão na
criança. É, ainda, de muita importância o relacionamento estável entre os pais, pois com isso é
possível um melhor ajustamento da criança ao divórcio. A qualidade da relação dos pais é de
suma importância para o bem-estar do filho (RAPOSO et al, 2010).

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Após o divórcio, ocorre a readaptação da criança à nova configuração familiar, em que ela
irá internalizar que o divórcio ocorreu de forma conjugal e não parental. Embora o casal tenha se
separado, eles continuarão sendo pais da criança. Sabe-se que, após o divórcio, é possível ocorrer
uma diminuição da qualidade da parentalidade com a criança, acontecendo um maior
afastamento em relação aos filhos. A problemática maior seria quando o filho também se torna
ex-filho, gerando sofrimento emocional (RAMIRES, 2010).
Dantas (2004), relata a importância da figura paterna que, na maioria das separações, é
quem sai de casa e acaba se ausentando da vida da criança. O autor coloca, na figura do pai, o
primeiro papel de separar a criança de sua mãe, rompendo a simbiose e colocando-lhe limite. O
segundo papel paterno seria ajudar a confirmar a identidade de seu filho (a) também investindo
segurança e autoestima. O terceiro papel seria de transmitir-lhe afetos, para possibilitar melhor a
vinculação entre ambos.
Segundo Bolsoni (2009), a família pode contribuir de diversas formas para que as crianças
não sofram com o divórcio, o autor coloca a importância do diálogo e orientação realizada por
um profissional durante tal processo, com o objetivo de minimizar os efeitos negativos da
separação. A manutenção do diálogo entre os pais pode ajudar a criança a lidar com as
dificuldades na transição da estrutura familiar. Se encontrada uma fonte de apoio nos pais, o filho
pode até mesmo compartilhar seus medos e receios, ajudando a suportá-los.
A parte que fica com a guarda da criança, na maioria dos casos, é a mãe. Durante a
separação, a mãe, geralmente, passa por um período de stress e sobrecarga, pois em meio a dor
da separação do ex-companheiro, ainda precisa fornecer suporte ao filho (BOLSONI, 2009).
A família é constituída em um campo dinâmico, no qual fatores conscientes e inconscientes
influenciam nessa constituição. A criança sofre desde seu nascimento a influência dessa família,
como também é um agente de mudança dentro do grupo familiar. Nesse grupo familiar, esta
introjetado o conceito de família para cada genitor, influenciado pelo modo como viveram com
suas famílias. A família não é estática, pois está sempre em movimento e transformação. Cada
grupo familiar está sempre desejando, tendo relações objetais, lidando com suas necessidades,
ansiedades e, por esse motivo, está sempre em movimento (ZIMERMAN, 1999).
Segundo Santos (2013), toda separação causará danos ou perdas para a criança, já que
estava acostumada ao convívio familiar. Dessa forma, os pais estão expondo mais cedo a criança
ao sofrimento por não ter mais a família, devido ao aumento do número de divórcios. O desgaste
decorrente da separação dos pais que as crianças vivenciam as fere por diversos fatores. Mesmo
nos casos em que os casais não se difamam ou se agridem na frente de seu filho (a), o sofrimento
se faz presente.

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CONCLUSÃO

A partir da pesquisa, foi possível estudar diversos efeitos do divórcio na saúde mental das
crianças. Fora observado, ainda, a importância da estrutura familiar durante o divórcio conjugal.
O trabalho foi voltado para a infância, sabendo que nessa fase ocorrem os processos de
desenvolvimento da criança, tais quais: cognitivo, físico e mental, e também é o momento no
qual a criança aprende e se conceitua como um eu e também estabelece seus primeiros vínculos
afetivos. Nesse contexto, é de grande importância que se mantenham ou, até mesmo, fortaleçam
os vínculos entre pais e filhos após a separação. Contudo, o divórcio provoca mudanças no
núcleo familiar, podendo contribuir para possíveis quadros de ansiedade, baixa autoestima,
levando a uma baixa qualidade de vida.
Sabe-se que a família é o primeiro grupo ao qual a criança pertence e onde estabelecem
suas primeiras relações. A família contribui para o desenvolvimento saudável, sendo importante
após a separação que continue presente para a criança, participando de sua rotina e de suas
atividades diárias. A saúde mental da criança depende da forma como ela vive, do contexto em
que está inserida, da relação com o ambiente, a família pode contribuir de diversas formas para
que as crianças sejam protegidas em seu período de desenvolvimento.
Contudo, observou-se a pouca produção de pesquisas cientificas nessa área, que ainda tem
tantos conteúdos a serem abordados, como exemplo as patologias, transtornos ou síndromes que
podem ser desenvolvidos nos filhos durante a cisão que se dá no divorcio, e que é de grande
importância na atualidade, onde o índice de divórcio é elevado. O trabalho aborda as influências
para a criança no pós-divórcio, fase de grande valia às pesquisas relacionadas à percepção infantil
frente à separação, e a nova estruturação familiar. Sendo assim, visualizou-se o benéfico para a
sociedade a partir do tema abordado e explanado, principalmente para a criança, que está em
pleno desenvolvimento.

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