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Capítulo 6

Semântica:
Os Significados da Língua
Linguagem sem significado não significa nada.
Roman Jakobson

B.C. Johnny Hart


ESTOU A TE NTAR ENSINAR A SINTO ALGUMAS DIFICULDADES
COBRA A ENROLAR-SE E A SEMÂNTICAS
FINGIR-SE MORTA

Autorizado por Johnny Hart and Field Enterprises, Inc.

Hámilhares de anos que os filósofos se dedicam ao


estudo do "significado". Contudo, quem sabe uma língua é capaz de enten-
der o que lhe é dito e produzir sequências de palavras com significado.
A aprendizagem de uma língua inclui a aprendizagem dos significados
pré-estabelecidos de certas cadeias de sons e a transformação dessas
Unidades de significado noutras, mais amplas, que também têm significado.
Esse significado não pode ser arbitrariamente alterado sob pena de impossi-
bilitar a comunicação.
Humpty Dumpty recusa-se, porém, a obedecer a tais regras ao dizer:
. "Terás glória!"
"Eu não sei o que queres dizer com 'glória"'---:- retorquiu Alice.
Humpty Dumpty sorriu com superioridade. "E claro que não sabes -
até que eu te diga! Eu quis dizer que ' terás um belo e irrefutável argumento!'"
" Mas 'glória' não quer dizer 'um belo e irrefutável argumento'" -
protestou Alice.
"Quando eu emprego uma palavra" - disse Humpty Dumpty num tom
desdenhoso - ela significa o que eu quero, nem mais nem menos".
"A questão é se tu podes pôr palavras a significar coisas tão diferentes".
178 Aspectos Gramaticais da Linguagem

A Alice t~m muita razão. Não se pode dar às palavras significados que
elas não têm. E claro que somos livres de redefinir o significado de cad4
palavra sempre que a empregamos, mas isso resultaria numa linguagem arti-
~icial e confusa que levaria a maior parte das pessoas a afastarem-se de nós.
E possível criarmos uma nova palavra mas ao entrar na língua ela ficará
sujeita às relações som-significado já existentes.
Ainda bem que há poucos Humpty Dumptys e que todos os falantes de
uma língua partilham entre si um conhecimento do vocabulário básico dessa
língua - dos sons e significados das palavras. E todos os falantes sabem
como combinar os significados de maneira a apreenderem o sentido de
expressões e frases, não sentindo qualquer dificuldade em comunicar uns
com os outros. O estudo do significado linguístico de palavras, expressões e
frases denomina-se semântica.

Propriedades Semânticas
"O meu nome é Alice... "
"É um nome francamente estúpido!" - interrompeu
Humpty Dumpty impaciente. "O que é que quer dizer?"
"Um nome tem de querer dizer alguma coisa?" - per-
guntou 4/ice duvidosa.
"E claro que tem " - retorquiu Humpty Dumpty com
uma pequena gargalhada: "O meu nome significa a forma do
meu corpo - bem bonita, por sinal. Com um nome como o
teu, bem poderias ter qualquer forma".
Lewis Carroll, Através do Esp elho

Nós não só sabemos quais são os morfemas existentes na


nossa própria língua como também conhecemos o seu significado. Os
dicionários estão cheios de palavras e o mesmo acontece com a mente dos
falantes de uma língua. Logo, todos nós somos (uma espécie de) dicionários
ambulantes, sabemos o significado de milhares de palavras. O nosso conhe-
cimento desses significados dá-nos a possibilidade de os usarmos correcta-
mente nas frases que articulamos e de compreendermos as que ouvimos
sem, no entanto, quase nunca fazermos uma pausa para nos interrogarmos
sobre o que boy ou walk, por exemplo, significam.
A maior parte das palavras e dos morfemas de uma língua têm os seus
significados próprios. Trafaremos dos significados das palavras embora
saibamos de antemão que as palavras podem ser constituídas por vários
morfemas.
Suponhamos que alguém diz:

The assassin was stopped before he got to Thwacklehurst.

Se a palavra assassin existir no nosso dicionário mental, nós sabemos


que se trata de uma pessoa que foi impedida de assassinar alguém impor-
tante de nome Thwacklehurst. O nos~o conhecimento do significado de
assassin diz-nos que não se trata de um animal que tentou matar o homem
e que Thwacklehurst não pode ser um velhote dono de uma tabacaria. Por
outras palavras, o nosso conhecimento do significado assassin implica que
Semântica: Os Significados da Língua 179

sabemos que o indivíduo a que a palavra se refere é humano, é um assas-


sino e mata pessoas muito importantes. Assim, estas são algumas das pro-
priedades semânticas que, contidas numa palavra, são do conhecimento dos
falantes da língua. Tais propriedades, ou traços semânticos, podem pois
definir, pelo menos parcialmente, o significado de todos os substantivos,
verbos, adjectivos e advérbios, isto é, formas lexicais, e de algumas formas
gramaticais como with e over .
A mesma propriedade semântica pode também fazer parte do signifi-
cado de muitas palavras diferentes. "Feminino", por exemplo, é uma pro-
priedade semântica que ajuda a definir

bitch hen actress maiden


doe mare debutante widow
ewe vixen girl woman

As palavras constantes das últimas colunas distinguem-se ainda pela


propriedade semântica "humano" que também se encontra em

doctor dean professor bachelor parent baby child

As duas últimas palavras apresentam ainda a propriedade semântica


"jovem", isto é, parte do significado das palavras baby e child diz-nos
tratar-se de um ser "humano" e "jovem".
Assim, o "significado" de uma palavra pode ser especificado ante-
pondo à palavra um sinal "mais" ou um "menos" para indicar a presença ou
ausência de todas as propriedades semânticas que a definem, como ilustram
os exemplos seguintes:

ACTRESS BABY GIRL BACHELOR MARE COURAGE


+humano +humano +humano +humano -humano ...............
+feminino ............... +feminino - feminino +feminino ...............
+jovem +jovem - jovem - jovem ...............
+abstratro

É claro que as palavras têm muito mais propriedades para definir os


seus significados do que as que apontámos. Por exemplo, parte do signifi-
cado de mare tem a ver com "equídeo", embora não nos pareça inteiramente
claro se este traço semântico de mare pode ou não ser expresso pela
inclusão de"+ ou - equídeo" ou de qualquer outra denominação. De notar,
porém, que tais propriedades semânticas podem ser utilizadas na classifi-
cação de palavras em grupos semânticos como, por exemplo: aqueles que
são todos "+ humano" ou " + abstracto" e assim por diante. Além disso, a
presença de algumas propriedades semânticas exclui automaticamente a
presença de outras; daí que não seja necessário indicar que courage é
"-humano", "-feminino", etc., uma vez que " + abstracto" implica isso
mesmo. Baby também não é especificado como "+feminino" ou "+mas-
culino" pois o próprio significado de baby inclui a possibilidade de per-
tencer quer a um sexo quer a outro, dispensando a indicação de género.
Algumas propriedades também se excluem mutuamente (como é o caso de
180 Aspectos Gramaticais da Linguagem

"humano" e "abstracto") e muitas vezes uma propriedade semântica implica


a presença de outra (como "humano" - "animado").

O CÍRCULO FAMILIAR Bil Keane

Ct>Pr"~' 1918
, ... ""';J" ' ..
º"d 1•• b.,, ....
~r"d•I O I • Ir.(

"Pai, eu já sou solteiro?"


Reprodução autorizada, The Register Tribune Syndicate, Inc.

A mesma propriedade semântica pode ocorrer em diferentes partes do


discurso: "feminino" faz parte do significado de mother, do verbo brestfeed e
do adjectivo pregnant. Outras propriedades semânticas encontram-se geral-
mente em palavras pertencentes a determinada parte do discurso. "Causa", por
exemplo, é uma propriedade verbal contida em darken, uglify, etc. ldn
darken cause to become dark
kill cause to die
uglify cause to become ugly

Apresentamos em seguida outras propriedades semânticas que ajudam


a estabelecer o significado dos verbos:

PROPRIEDADES SEMÂNTICAS VERBOS QUE AS POSSUEM


+movimento bring, fall, plod, walk, run . ..
+contacto hit, kiss, touch ...
+criação build, imagine,make .. .
+sentidos see, hear, feel.. .
Semântica: Os Significados da Língua 181

O nosso conhecimento linguístico diz-nos que na generalidade não


existem duas palavras exactarnente com o mesmo significado e isso sugere-
-nos que é através das propriedades semânticas que podemos precisar as
mais íntimas diferenças de significado. Para distinguirmos plod de walk,
poderíamos recorrer à propriedade semântica "lento" mas pàra uma dis-
tinção mais apurada entre stalk e plod seria necessário uma propriedade
-semântica do tipo "com determinação".
A própria existência de propriedades semânticas é corroborada pelos
erros e lapsos que todos nós cometemos. No capítulo dedicado à fonologia
foram referidos alguns erros que revelam a interiorização do sistema fonoló-
gico da língua. Outros erros resultam da substituição da palavra que se pre-
tendia utilizar por outra.
Os exemplos seguintes constituem erros de substituição realmente
cometidos por alguns falantes:

EXPRESSÃO PRETENDIDA EXPRESSÃO UTILIZADA (ERRO)


blond hair blond eyes
bridge of the nose bridge of the neck
when my gums bled when my tongues bled
he carne too late he carne too early
Mary was young Mary was early
the lady with the dachshund the lady with the Volkswagem
that's a horse with another color that's a horse of another race
He has to pay her alimony he has to pay her rent

Estes erros, e milhares de outros que recolhemos, revelam que as sub-


stituições incorrectas não são obra do acaso visto que possuem propriedades
semânticas comuns às palavras que o falante tinha intenção de utilizar: hair,
eyes, nose e neck, gums e tongues constituem "partes do corpo humano", ou
melhor, "partes da cabeça". Young, early e late dizem respeito ao "tempo".
Dachshund e Volkswagen são ambos "alemão" e "pequeno". A relação
semântica entre color e race e mesmo entre alimony e rent é bastante óbvia.
Outros erros de fala são, por exemplo, as seguintes palavras entrecru-
zadas:

PAIAVRAS FORMADORAS ERRO DE CRUZAMENTO


splinters/blisters splisters
edited/annotated editated
terrible/horrible herrible
smart/clever smever
a tennis player/athlete a tennis athler
a swinging/hip chick a swip chick
marijuana/acid maracid
frown/scowl frowl
aspect/viewpoint aspoint

É quase como se os falantes que cometeram estes erros tivessem cons-


ciência das propriedades ou traços semântios das palavras representativas do
significado que pretendiam exprimir mas, incapazes de escolher urna entre as
182 Aspectos Gramaticais da Linguagem

existentes no seu dicionário mental que apresentam essas propriedades semân-


ticas, acabassem por decidir juntar duas. Os erros da fala confirmam assim o
que temos vindo a expor sobre as propriedades semânticas das palavras.
O significado de uma palavra é, pois, especificado em parte por um
conjunto de propriedades semânticas. Tomemos como exemplo a palavra
kitten. Saber o significado desta palavra implica saber que diz respeito a um
animal, um animal jovem, um animal jovem e felino, e assim por diante. A
palavra não refere um determinado kitten, isto é, o significado de kitten não
inclui o tamanho, cor ou idade de um kitten determinado, nem o seu nome,
onde vive ou quem é o seu dono. O significado compreende o que todos os
kitten têm em comum, o facto de serem gatinhos.
Os cientistas sabem que a água é composta de hidrogénio e oxigénio.
Nós sabemos que a água é um elemento essencial numa limonada ou num
banho. Contudo, não há necessidade de saber nenhuma destas coisas para
sabermos o significado de water e sermos capazes de usar e compreender
esta palavra numa frase.
Podemos saber o que uma palavra quer dizer sem sabermos nada do
contexto em que é proferida - facto que não é aceite por alguns filósofos.
Hayakawa defende que "os contextos em que uma palavra é proferida deter-
minam o seu significado" e que " porque dois contextos nunca sã9 absoluta-
mente iguais, dois significados também o não poderão ser... E disparate
insistirmos dogmaticamente que sabemos o significado de uma palavra
antes de ela ser proferida". 1
Vamos, no entanto, insistir nesse "disparate". Não é importante que
uma palavra signifique exactamente o mesmo sempre que é utilizada, mas
para que dois falantes de uma mesma língua se possam entender é impor-
tante que o significado essencial de uma palavra se mantenha de um acto de
fala para outro. Se quisermos compreender a natureza da língua teremos de
explicar o facto de os falantes serem capazes de comunicar - e comunicam
- de uma maneira inteligível com outros falantes da mesma língua.
Hayakawa procura justificar o seu ponto de vista com o seguinte
exemplo:
... se o João hoje disser "a minha máquina de escrever" e amanhã disser nova-
mente "a minha máquina de escrever", o ... significado é diferente nos dois
casos, uma vez que a máquina de escrever não é exactamente a mesma nos
dois dias (nem a mesma em dois minutos seguidos): há todo um processo de
desgaste, mudança e decadência que se verifica constantemente. 2

Poderíamos, no entanto, responder que as diferenças apontadas são


mínimas e em que quase nada poderão afectar o significado linguístico do
substantivo.
Na verdade, não temos qualquer dificuldade em apreender o signifi-
cado de máquina de escrever pois reconhecemos que se está a falar de um
objecto facilmente identificável com uma "máquina de escrever" e sabemos
que o significado do substantivo em questão não inclui o bom ou mau fun-
cionamento do objecto, a cor, o lugar em que se encontra o se o seu dono

1
S. 1. Hayakawa. 1964. Language in Thought and Action, ed. rev. (Hartcourt Brace
Jovanovich. Nova Iorque).
2
Jbid.
Semântica: Os Significados da Língua 183

sabe ou não utilizá-lo. Este tipo de informações não faz parte das proprie-
dades semânticas das palavras.
O conhecimento linguístico inclui o conhecimento do significado de
palavras e morfemas e porque o possuímos podemos utilizar palavras, com-
biná-las com outras e compreendê-las quando as ouvimos - este tipo de
conhecimento pertence à gramática da língua.

Ambiguidade
"Mine is a long and sad tale!" said the Mouse, turning to
Alice, and sighing.
"It is a long tail, certainly, " said Alice, looking down
with wonder at the Mouse's tail, "but why do you call it sad?"
Lewis Carroll, Alice '.s Adventures in Wonderland

A smile is the chosen vehicle for all ambiguities.


Herman Melville, Pierre, IV

B.C. JohnnyHart
ERA UMA VEZ UM
/ HOMEM QUE QUERIA
SER UM GRANDE
.·/ CONDUTOR

PASSOU A SEGUNDA MAS ... MAIS NO ENTANTO, ACABOU


METADE DA SUA VIDA A UMA VEZ CAIU POR SER O MAIOR
GUIAR UMA ORQUESTRA EM DESGRAÇA. CONDUTOR DE SEMPRE.
SINFÓNICA.
<!:?

~~ 1 . - - - - - - - - - . . l 'f'C

Autorizado por Johnny Hart and Field Enterprises, Inc.

Já referimos que conhecer uma palavra significa conhecer os seus sons


e significados. Ambos os aspectos são necessários pois algumas vezes o
mesmo som pode ter significados diferentes. Chamam-se homónimas ou
homófonas as palavras que se pronunciam da mesma maneira mas têm sig-
nificados diferentes, embora possam ter ou não a mesma ortografia. Por
exemplo: to, too e two são palavras homófonas uma vez que todas elas se
pronunciam /tu/: will em last will and testament, Will, nome próprio, e will
marca de futuro, siginificam coisas diferentes mas escrevem-se e pronun-
ciam-se da mesma maneira. Os homónimos podem dar origem à ambigui-
dade. Uma palavra, ou uma frase, é ambígua se puder ser entendida ou
interpretada de mais de uma maneira diferente.
A frase

She cannot bear children


184 Aspectos Gramaticais da Linguagem

pode ser entendida como "Ela não pode ter filhos" ou "Ela não suporta
crianças". A ambiguidade advém do facto de existirem duas palavras bear
com dois significados diferentes. Algumas vezes a existência de um con-
texto adicional pode esclarecer a ambiguidade da frase, como observamos
nas frases seguintes:

She cannot bear children if they are noisy.


She cannot bear children because she is sterile.

As duas formas de bear usadas nas frases acima transcritas são verbos.
Há ainda um outro homónimo bear, o animal, que é um substantivo com
propriedades semânticas muito diferentes. O adjectivo bare, apesar da
diferença de ortografia, pronuncia-se da mesma maneira, embora apresente
um significado também diferente.
Os homónimos são óptimos tanto para criar humor como confusão.
Observe-se a confusão causada pelo texto inglês.
"How is bread made ?"
"1 know that!" Alice cried eagerly: You take some flour- "
"Where do you pick the flower?" the White Queen asked. "ln a garden,
or in the hedges?"
"Well, it isn 't picked at all," Alice explained: "it's ground - "
"How many acres of ground?" said the White Queen.

O humor desta passagem baseia-se em dois conjuntos de homónimos:


flour e flower e ainda os dois significados de ground. Alice usa ground
como passado do verdo grind enquanto a Rainha Branca interpreta ground
como earth.
Há frases que se tornam ambíguas por conterem uma ou mais palavra~
ambíguas. Este tipo de ambiguidade denomina-se ambiguidade lexical
Outros exemplos de frases lexicalmente ambíguas são as seguintes
(1) (a) The Rabbi married my sister.
(b) Do you smoke after sex?
(e) Mary licked her disease.
(d) Thomas Jefferson ate his cottage cheese with relish.
(e) The girl found a book on Main Street.

Embora a frase (le) seja ambígua, frases semelhantes, como as d


grupo (2), não o são:
(2) (a) The girl found a glove on Main Street.
(b) The girl found a book on language.
(e) The girl found a book in New York.
A frase (le) pode ter qualquer dos seguintes significados:

" The girl found a book which was lying on MainStreet."


ou
"The girl found a book while she was on Main Street."
ou
"The girl found a book whose subject matter concemed Main Street."
Semântica: Os Significados da Língua 185

A ambiguidade resulta das propriedades semânticas específicas das


palavras book, on e street. O significado de book inclui algo como "contém
informação escrita sobre". On é um homónimo que pode significar "em
cima de" ou "sobre" (isto é, "sobre o assunto"). Street apresenta entre as
suas propriedades semânticas a de "superfície sobre a qual as coisas podem
estar situadas".
Na frase (2a), glove não tem o significado de "contém informação
escrita sobre" e assim on poderá apenas significar "em cima de ". Na frase
(2b ), language não possui nenhuma propriedade semântica que permita o
seu uso num contexto de "situação"; logo, on poderá apenas ser interpretado
como significando "sobre". Na frase (2c) in não é ambíguo como on (falta-
-lhe a propriedade semântica "sobre") resultando daí que a frase no seu todo
não é ambígua e se refere ao lugar onde o livro foi encontrado.
As propriedades semânticas destas palavras determinam, pois, a
ambiguidade ou não ambiguidade destas frases e esclarecem porque é que
na frase He lectured on semantics, on deverá ser entendido com o signifi-
cado de "sobre" ou "acerca de", uma vez que semantics não pode ser um
lugar. Contudo, na frase He lectured on Main Street, a expressão Main
Street pode ser duplamente entendida como o tópico da sua lição (com on
significando"sobre") ou como o lugar onde se deu a lição.
As propriedades semânticas também explicam porque é que

The girl found a glove on Main Street.

é uma frase aceitável mas

* The girl found a glove on semantics.


não o é.
Vemos, pois, que on pode ter dois significados em algumas frases mas
apenas um significado noutros contextos e que os factores determinantes de
tais ocorrências são as propriedades semânticas quer do substantivo que o
segue, quer das outras palavras contidas na frase.
Estes exemplos de homónimos e de frases ambíguas demostram que
não há uma relação de correspondência linear entre sons e significados e
que nem sempre se pode determinar o significado preciso de uma palavra
apenas através dos sons. Este facto é mais uma prova da arbitrariedade da
relação som-significado existente numa língua e da necessidade que temos
durante o processo de aprendizagem de uma língua de aprender a relacionar
sons e significados.

METÁFORA
As nossas dúvidas traiem-nos.
Shakespeare

As paredes têm ouvidos.


Ceivantes

A noite tem milhares de olhos


o dia apenas um .
Frances William Bourdillon
186 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Há na língua um outro tipo de ambiguidade a que chamamos metá-


fora. Algumas frases são ambíguas porque apresentam dois significados :
um literal e outro não literal ou metafórico. O significado literal baseia-se
nas propriedades semânticas normais das palavras na frase enquanto o sig-
nificado metafórico se baseia nas propriedades semânticas que são inferidas
ou que estabelecem alguma relação de semelhança. Por exemplo, o signifi-
cado literal da frase

Dr. Jeky 11 is a butcher.

é o de que um médico, de nome Jekyll, é também talhante ou empregado de


um determinado matadouro.
O significado metafórico da mesma é de que o médico chamado Jekyll
é perigoso, tem possivelmente matado muita gente e gosta de operar por
operar.
Do mesmo modo a frase

John is a snake in the grass.

pode ser interpretada literalmente como referindo-se a uma cobra de esti-


mação chamada John. No seu significado metafórico, a frase não tem nada a
ver com um réptil escamoso e invertebrado.
O significado literal de algumas frases como
My new car is a lemon.

é anómalo. Poderíamos, se fôssemos escostados à parede (outra metáfora),


dar uma interpretação literal plausível desde que tivéssemos contexto sufi-
ciente. Por exemplo, o new car poderia ser uma miniatura ou um brinquedo
feito de um citrino. No entanto, o siginificado mais comum seria de carácter
metafórico referindo-se a um carro recém-comprado que se avaria e neces-
sita de frequentes reparações.
Tanto os filósofos como os psicólogos e os linguistas estão interessa-
dos nestes aspetos da língua (e no seu funcionamento) que possibilitam a
nossa compreensão das metáforas. Esta questão relaciona-se çom a nossa
capacidade de compreender o significado literal das frases. E necessário
compreedermos quais as propriedades semânticas do significado literal de
uma palavra que estão a ser relacionadas com o significado metafórico. Para
compreendermos a metáfora

Time is money.

precisamos de saber que no nosso tipo de sociedade é frequente o trabalho


ser remunerado de acordo com o número de horas ou dias que trabalhamos.
Para reconhecermos que a frase

Jack is a pussy cat.

tem um significado diferente de


Jack is a tiger.
Semântica: Os Significados da Língua 187

precisamos de saber que o significado metafórico de cada uma das frases


não depende do facto de "felino" ser uma propriedade semântica comum a
pussy cate tiger, estamos sim em presença de outras propriedades semânti-
cas destas duas palavras.
A ambiguidade metafórica parece ser ainda mais confusa do que a
ambiguidade lexical do significado literal . Apesar disso, conseguimos,
enquanto falantes de uma língua, ter a capacidade semântica de compreen-
der ~mbos os tipos de frases ambíguas.

AMBIGUIDADE ESTRUTURAL

Nem toda a ambiguidade é do tipo lexical. Algumas vezes, quando há


duas ou mais possibilidades de interpretar uma frase, a ambiguidade não
resulta da presença de palavras lexicalmente ambíguas nem do facto de a
frase poder ser interpretada literal ou metaforicamente, como demostram os
exemplos seguintes:

(3) (a) 1 know a man with a dog who has fleas.


(b) They hated the shooting of the hunters.
(e) The horse is ready to ride.
(d) John saw Joan walking to the store this moming.
(e) The invisible man's hair tonic is in the plastic bottle.
(f) The English history teacher is having her tea.

Estas frases são estruturalmente ambíguas. É a estrutura da frase, e


não as palavras nela existentes, que permite mais do que uma interpretação.
(Tais aspectos estruturais serão objecto de um estudo mais pormenorizado
no capítulo 7.) Na frase (3a), ou o homem ou cão têm pulgas, consoante
who has fleas esteja associado a "homem" ou a "cão". Em (3b) o nosso
conhecimento da estrutura linguística leva-nos a interpretar a frase como
contendo uma referência a "caçadores" como "atiradores" ou como "alvos".
Sugerimos ao leitor que tente estabelecer os diferentes significados em cada
uma dJlS outras frases do grupo (3).
E possível que o contexto forneça as informações necessárias para
esclarecer a ambiguigade das frases. Na verdade, conseguimos geralmente
apreender um dos sentidos da frase ambígua sem nos darmos conta da
própria ambiguidade nela existente até nos chamarem a atenção para tal
facto. (O próprio reconhecimento da ambiguidade, após a chamada de
atenção, comprova a existência de vários significados.) Se a frase (3d) fosse
proferida em circustâncias em que ficasse claro que John ia de carro, a frase
significaria indubitavelmente que Joan ia a pé.
Algumas frases, ambíguas quando expressas por escrito, podem perder
essa ambiguidade quando usadas oralmente. No capítulo 3 exemplificámos
como sintagmas do tipo hot dóg, com o significado de dog which is hot, em
contraste com hot dóg significando uma espécie de salsicha, podem perder a
ambiguidade conforme a palavra mais acentuada. Na frase (3f), se English
for mais acentuado que history e teacher for ainda mais acentuada, a frase
188 Aspectos Gramaticais da Linguagem

refere-se a uma professora de História Inglesa; se for history a palavra mais


acentuada, a frase indica que a professora é inglesa.
A nossa capacidade de reconhecer vários significados possíveis fora
de um contexto deve-se ao conhecimento que temos da língua. As frases
acima transcritas só são ambíguas porque conhecemos os seus diferentes
significados. A existência de homónimos não significa que as palavras,
enquanto unidades independentes, não têm significado, nem a existência de
ambiguidade estrutural significa que a frase não tem estrutura. Pelo con-
trário, estas duas fontes de ambiguidade comprovam o nosso conhecimento
semântico.

Paráfrase
Does he wear a turban, a fez or a hat?
Does he sleep on a matress, a bed or a mat, or a Cot,
The Akond of Swat?
Can he write a letter concisely clear,
Without a speck ora smudge or smear or Blot,
The Akond of Swat?
Edward Lear, "The Akond of Swat"

Existem nas línguas, não só diversas palavras com o


mesmo som e significado diferentes, como também palavras com sons
diferentes e o mesmo - ou quase o mesmo - significado. A essas palavras
dá-se o nome de sinónimos. Há dicionários de sinónimos que contêm
muitas centenas de entradas como, por exemplo:

apathetic/ phlegmatic/ passive/ sluggish/ indifferent


pedigree/ ancestry/ genealogy/ descent/ lineage

Já referimos que não há sinónimos perfeitos, isto é, que não há duas


palavras que tenham exactamente o mesmo significado. No entanto, os
pares de frases seguintes apresentam significados muito próximos:

1'11 be happy to come/ 1'11 be glad to come.


He's sitting on the sofa/ He's sitting on the couch.

Algumas pessoas podem usar sempre sofa em vez de couch, mas se


conhecerem as duas palavras compreenderão as frases com uma ou com
outra palavra e interpretá-las-ão como querendo dizer o mesmo. O grau da
equivalência semântica das palavras depende em grande parte do número de
propriedades semânticas que partilham entre si. Sofa e couch dizem respeito
ao mesmo tipo de objecto e partilham muitas (se não todas) das pro-
priedades semânticas que possuem.
No entanto, há palavras que têm muitos traços semânticos em comum
mas que não são sinónimos, nem mesmo quase sinónimos, como é o caso de
man e boy: ambos se referem a seres humanos masculinos. Contudo, o sig-
nificado de boy inclui a propriedade semântica adicional "jovem" que o
diferencia de man. Assim, o sistema semântico inglês permite-nos dizer A
sofa is a couch ou A couch is a sofa mas não A man is a boy ou A boy is a
Semântica: Os Significados da Língua 189

man, a não ser que desejemos descrever as características de rapaz que o


homem apresenta ou as características de homem que o rapaz apresenta.
Muitas vezes uma palavra com vários significados, isto é, polissémica,
partilha um dos seus significados com outra palavra . Assim, mature e ripe
são sinónimos quando se referem a fruta, ~as apenas mature pode ser uti-
lizado para animais. Deep e pr.ofound formam também um par semelhante:
ambos se usam com o pensamento mas apenas deep se usa com água. Por
vezes, palavras que são normalmente opostas podem significar a mesma
coisa em determinados contextos: a good scare é o mesmo que a bad scare.
Há palavras que parecem ser sinónimos mas que .podem não ser ade-
quadas - característica que também faz parte do significado. Por exemplo,
um dos significados de croack e de pass on é morrer. No entanto, a nossa
querida tia-avó Teresa passes on enquanto o seu mal-humorado vizinho
pode croack. Há um jogo chamado "Conjugar Adjectivos" baseado em parte
na adequação de palavras e noutras diferenças subtis de significado em que
se procura descobrir palavras com significados semelhantes mas valores
sociais diferentes. '
Joga-se assim:

I'm thrifty, you' re tight, he's stingy.


I'm firm, you're rigid, she's obstinate.

Quando surgem sinónimos em frases já de si idênticas, as frases são pa-


ráfrases. Logo, as frases só serão paráfrases se tiverem o mesmo significado
(excepto possivelmente para as diferenças mínimas de ênfase.) Assim, o uso
de sinónimos pode dar origem a uma paráfrase lexical da mesma maneira
que o uso de homónimos pode dar origem a unia ambiguidade lexical.
Pode também haver frases que são paráfrases devido a diferenças de
estrutura que não são.essenciais para o significado.
Observemos os seguintes pares de frases:

(4) (a) 1 handed a turtle that wa~ named Max to Zachary.


(b) 1 handed to Zachary a turtle that was named Max.

Embora as alterações da ordem das palavras impliquem muitas vezes


diferenças de significado (man bites dog e dog bites man), esse não é o caso
das frases em (4). Por vezes, a ordem das palavras pode ser alterada sem se
verificar alteração de significado e é o nosso conhecimento semântico da
língua que nos permite reconhecer tais casos.
Exemplos semelhantes a (4) são também:

(5) (a) A man who Carol knows carne over to visit.


(b) A man carne over to visit who Carol knows.

(6) (a) Call up your mother right now!


(b) Call your mother up right _now!

Um outro caso de paráfrase acarreta ligeiras diferenças estruturais,


morfológicas e funcionais. Sabendo inglês reconhecemos como paráfrases
os grupos seguintes:
190 Aspectos Gramaticais da Linguagem

(7) (a) lt seems that Dolores is very kind to animals.


. (b) Dolores seems to be very kind to animais.

(8) (a) They loaded the truck with hay.


(b) They loaded hay onto the truck.

(9) (a) lt is easy to play sonatas on this violin.


(b) This violin is easy to play sonatas on.
(e) Sonatas are easy to play on this violin.

Ao aceitar as relações parafrásicas acima expressas, os falantes da lín-


gua inglesa mostram que partilham entre si o conhecimento das regras
semânticas que atribuem essencialmente o mesmo significado a cada uma
das frases em (7), (8) e (9).
Outro tipo de paráfrase, diferente dos já apresentados, está represen-
tado nos seguintes grupos:

{10) {a) Jack went up the bili and Jill went up the hill.
(b) Jack and Jill went up the hill.

(11) (a) John expects himself to be rich someday.


(b) John expects to be rich some day.

(12) (a) She has been dieting and he has been dieting too.
(b) She has been dieting and he has been too.
(c) She has been dieting and he has too.

Em (10), as duas frases são paráfrases porque as regras semânticas da


língua nos dizem que went up the hill é verdadeiro tanto para Jack como
para Jill, embora em (lüb) esse facto apenas seja referido uma vez. Este
"apagamento de material idêntico" é comum a todas as línguas do mundo e
possivelmente resulta de uma tendência generalizada das línguas para a efi-
ciência, conseguida através da não repetição de informações já conhecidas
ou facilmente deduzíveis. O mesmo princípio está patente em (12) em que
as sucessivas omissões de partes do sintagma verbal nos não impedem
de compreender que he has been dieting. De notar, porém, que se (12a)
fosse

She has been dieting and he has been eating like a pig

então nem (12b) nem (12c) seriam paráfrases uma vez que as partes omiti-
das não seriam idênticas. Sabemos tudo isto porque conhecemos as regras
semânticas do inglês.
Como dissemos acima, todas as línguas possuem regras semelhantes
de apagamento que conservam o significado dando origem a paráfrases. Na
frase japonesa (13b ), o verbo da primeira oração foi omitido; no entanto,
sabe-se que o verbo é tabeta (ate).
(13) (a) Taroo wa sakana o tabeta, Keiko wa gohan o tabeta.
Taroo fish ate keiko rice ate.
"Taro ate fish, Keiko ate rice".
Semântica: Os Significados da Língua 191

(b) Taroo wa sakana o Keiko wa gohan o tabeta


Taro fish Keiko rice ate
"Taro ate fish and Keiko, rice".

De notar que na tradução inglesa da frase (13b) se verifica o mesmo


fenómeno de um verbo omitido mas compreendido. Em ambas as línguas as
regras semânticas permitem-nos compreender o significado do verbo
mesmo numa oração em que não está explícito.
Em (14) exemplifica-se um caso semelhante aos apresentados em
(10)-(13):

(14) (a) The Secretary of State advises the President on Mondays, whereas the
Secretary of Treasury advises the President on Fridays.
(b) The Secretary of State advises the President on Mondays, whereas the
Secretary o Treasury advises him on Fridays.

Neste par de paráfrases pode parecer que a equivalência de significa-


dos se deve ao facto de the president e him serem sinónimos mas se substi-
tuíssemos President por Attorney General ou outro substantivo verificaría-
mos que uma tal justificação não é sustentável uma vez que him não pode
ter indefinidamente tantos significados. Pelo contrário, constatamos que um
pronome pode ser usado em vez de um substantivo repetido e que as regras
semânticas que regem os pronomes dizem-nos que deste facto resulta uma
paráfrase.
Na verdade, este último exemplo é repesentativo de um processo mais
generalizado chamado anáfora. A anáfora consiste no uso de uma forma
breve ou proforma em vez de uma expressão mais extensa. Geralmente tal
proforma é usada quando o seu significado é evidente através do contexto.
Um pronome é um tipo de proforma. Os pares de frases em que se usam
proformas são geralmente paráfrases. Os pares seguintes são disso exemplo:

(15) (a) 1 love Disa and Jack loves Disa too.


(b) 1 love Disa and Jack loves her too. (Pronome)

(16) (a) Emily acted polite and Zachary acted polite also.
(b) Emily acted polite and Zachary did also. (Proverbo)

(17) (a) 1 am sick and my being sick makes me sad.


(b) 1 am sick, which makes me sad. (Prosintagrna)

Se não soubéssemos os significados das palavras nem as regras semân-


ticas que combinam os significados das palavras formando unidades de sig-
nificação mais amplas, não poderíamos saber quando é que as frases são
paráfrases. O facto de podermos reconhecer paráfrases e ambiguidades
demonstra que a língua é um sistema governado por regras que relacionam
sons e significados. ·
192 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Antónimos: Sons Diferentes,


Significados Opostos
As a rule, man is a fool;
When it's hot, he wants it cool;
When it's cool, he wants it hot;
Always wanting what is riot.
Anónimo

O significado de uma palavra pode ser parcialmente


definido por aquilo que ela não é. Male significa not female, dead - not
alive. As palavras de significado oposto são geralmente chamadas antóni-
mos. Ironicamente, a propriedade básica de duas palavras antónimas é a de
terem em comum todas as propriedades semânticas menos uma. A pro-
priedade que não têm em comum está presente numa das palavras e ausente
na outra. Assim, .para que duas palavras sejam opostas é necessário que
sejam semanticamente muito semelhantes.
Há várias esp~cies de antonímia. Há pares complementares como:
alive/dead married/single awake/asleep

que o são por not alive ser igual a dead e not dead igual a alive.
Há pares graduáveis:
big/small hot/cold fast/slow happy/sad

No caso dos pares graduáveis a forma negativa de uma palavra não é


sinónimo da outra. ~or exemplo, alguém que esteja not happy não está ne-
cessariamente sad. E também verdade que com os pares graduáveis uma
maior quantidade de um corresponde a uma menor quantidade do outro.
Mais "grandeza" equivale a menos "pequenês", mais largo significa menos
estreito e mais alto significa menos baixo. Outra característica de muitos
pares de antónimos graduávis é o facto de um ser marcado e outro não
marcado. O par não marcado é o que ocorre em perguntas sobre o grau.
Nós perguntamos How high is it? (não How low is it?) ou How tall is she? e
respondemos One thousand feet high ou Five feet tall, mas nunca Five feet
short a não ser como piada. High e tall constituem os membros não marca-
dos do binómio high/low e tall/short. De notar que o significado destes e
outros adjectivos é de variáveis relacionadas: as palavras em si não dão
informação sobre o tamanho absoluto. No entanto, e devido ao nosso conhe-
cimento da língua e do mundo que nos rodeia, este facto não nos causa con-
fusão.
Outra espécie de "opostos" é a que associa pares como:

give/receive buy/sell teacher/pupil.

Estes pares regem-se por uma relação de variáveis opostas e apresen-


tam simetria de significado. Se A dá X a B, então B recebe X de A. Se A é
professor de B, então B é aluno de A. Pares de palavras com a terminação
-er e -ee regem-se geralmente por uma relação de variáveis opostas: se
Mary é employer de Bill, então Bill é employee de Mary.
Semântica: Os Significados da Língua 193

As formas comparativas dos pares graduáveis de adjectivos constituem


muitas vezes pares de variáveis relacionadas. Assim, se Sally é mais alta do
que Alfred, então Alfred é mais baixo do que Sally. Se um Cadillac é mais
caro do que um Ford, então um Ford é mais barato do que um Cadillac.
Se os significados das palavras fossem um todo indissolúvel, não
seriam possíveis as interpretações que fazemos. Nós sabemos, por exemplo,
que big e red não são opostos porque têm muito poucas propriedades semân-
ticas em comum. Ambos são adjectivos, mas big possui uma propriedade
semântica que envolve tamanho, enquanto red envolve cor. Por outro lado,
buy/sell regem-se por uma relação de variáveis opostas, pois ambos contêm
o significado de "transferência de propriedade", diferindo apenas numa ca-
racterística - direcção da transferência.
Em inglês há várias maneiras de formar antónimos. Pode juntar-se o
prefixo un-:

lik:ely /unlikely able/unable fortunate/unfortunate

Ou juntar-se non-:

entity/nonentity conformist/nonconformist

Ou ainda juntar-se in-:

tolerant/intolerant discreet/indiscreet decent/indecent

Às vezes podemos criar um par graduável antepondo not a um adjec-


tivo: far e not far são exemplo. Este par é diferente do par também gra-
duável far/near, uma vez que not far não é necessariamente near. Há ainda
o par near/not near e o nosso conhecimento linguístico diz-nos que um
objecto que está not far está mais próximo do que um que está not near.
Devido ao facto de conhecermos as propriedades semânticas das palavras,
responsáveis em grande parte pelos significados das mesmas, sabemos
quarido duas palavras são antónimas, sinónimas, homónimas ou totalmente
desprovidas de relação de significado.

Anomalia: Sem Sentido


e Contra-senso
Não me falem de um homem capaz de conversar;
todos o podemos fazer. Saberá ele desconversar?
William Pitt

Se numa conversa alguém nos dissesse:

My brother is an only child.

seríamos tentados a pensar que ou a pessoa estava a brincar ou não fazia


ideia do significado das palavras que estava a empregar. Para nós, a frase
seria estranha ou anómala. Contudo, trata-se sem dúvida de uma frase em
194 Aspectos Gramaticais da Linguagem

inglês, de acordo com todas as regras da língua, mas é estranha porque re-
presenta uma contradição: o significado de brother pressupõe que o indiví-
duo em questão é um ser humano masculino cujos pais têm pelo menos
mais um filho. A frase
That bachelor is pregnant.

é anómala por razões semelhantes. A palavra bachelor inclui o facto de o


indivíduo ser do sexo masculino e os indivíduos do sexo masculino não
podem engravidar, pelo menos no nosso planeta. Uma frase como esta viola
as regras semânticas. No entanto, não poderíamos tecer considerações
destas se desconhecêssemos o significado das palavras.
As propriedades semânticas das palavras determinam as combinações
possíveis em que essas palavras podem ocorrer. Uma frase que tem sido
muito usada pelos linguistas para ilustrar este ponto é:
Colorless green ideas sleep furiously. 3

A frase parece obedecer a todas as regras sintácticas do inglês; o


sujeito é colorless green ideas e o predicado sleep furiously, apresentando a
mesma estrutura sintáctica que
Dark green leaves rustle furiously.

No entanto, é óbvio que há algo semanticamente errado na frase. O


significado de colorless inclui a propriedade semântica "sem cor" mas está
combinado com o adjectivo green que possui a propriedade "de cor verde".
Como é que alguma coisa pode ser simultaneamente "sem cor" e "de cor
verde~? A frase contém ainda outras violações semânticas semelhantes.
E o nosso conhecimento. das propriedades semânticas das palavras que
nos leva a considerar estranha esta frase e outras como
John frightened a tree.
Honesty plays golf.

Parte do significado de frighten é o de apenas poder ter como objecto


substantivos animados. Sabendo o significado de tree, sabemos que não é um
substantivo animado, logo a frase é anómala. Da mesma maneira, Honesty
plays gol/ é anómala pois honesty nem é um substantivo animado nem
humano, não podendo assim ser sujeito de um predicado como play golf
O linguista Samuel Levin chamou a atenção para o facto de podermos
encontrar em poesia este tipo de violações semânticas formando imagens
estéticas estranhas mas interessantes e cita como exemplo a expressão a
grief ago de Dylan Thomas. Ago é uma palavra geralmente usada com
palavras especificadas por uma certa característica semântica temporal:
Aweekago *a table ago
an hour ago mas não *a dream ago
a month ago * a mother ago
a century ago

3
Noam Chomsky. Synractic Structures. (Mouton. Haia)
Semântica: Os Significados da Língua 195

Quando Thomas utilizou a palavra grief com ago estava a adicionar a


griefuma característica temporal de duração para efeitos poéticos.
Na poesia de E.E. Cummings encontramos frases como
the six subjunctive crumbs twitch
a man ... wearing a round jeer for a hat
children building this rainman out of snow.

Todas estas fr~ses podem ser compreendidas embora violem algumas


regras semânticas. E a própria violação das regras que de certo modo cria as
imagens desejadas. O facto de podermos compreender estas frases e ao
mesmo tempo reconhecer a sua natureza anómala, ou de desvio à _norma,
revela o nosso conhecimento do sistema semântico e das propriedades
semânticas da língua.
Frases anómalas deste tipo são muitas vezes denominadas "contra-senso":
As I was going up the stair
I met a man who wasn't there
He wasn't there again today-
I wish to.God he'd go away.

Frases sem sentido em versos não são sequências de palavras juntas ao


acaso, mas combinadas segundo as regras normais da sintaxe. Sequências
ao acaso não têm significado nem humor. A capacidade de reconhecer os
contra-sensos depende do conhecimento do sistema ·semântico da língua e
do significado das palavras.
Há outras frases que soam como sendo inglês mas não fazem sentido;
logo são ininterpretáveis e apenas poderemos interpretá-las se imaginarmos
um significado para cada uma dessas palavras sem sentido. Jabberworcky, de
Lewis Catroll, é provávelmente o mais famoso poema em que a maior parte das
palavras que o forman não têm significado - não existem no léxico da gramá-
tica. Todavia as frases soam como se fossem ou pudessem ser frases em inglês:
'1\vas brillig, and the slithy tôves
Did gyre and gimble in the wabe;
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

He took his vorpal sword in hand:


Long time the manxome foe he sought -
So rested he by the Tumtum tree,
And stood a while in thought.

And as in uffish thought he stood,


The Jabberwock, with eyes of flame,
Carne whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it carne!

One, two! One, two! And through and through


The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
he went galumphing back.
196 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Provavelmente ninguém sabe o significado de vorpal; sabemos, po-


rém, que:

He took bis vorpal sword in hand.

quer dizer o mesmo que:

He took bis sword, which was vorpal, in hand.


It was in bis hand that he took bis vorpal sword.

Conhecendo a língua e supondo que vorpal tem mesmo significado


nas três frases Gá que são usados os mesmos sons) podemos estabelecer que
o "valor de verdade" das três frases é idêntico. Por outras palavras, somos
capazes de estabelecer que duas coisas significam o mesmo, embora pos-
samos não saber ao certo qual o significado específico de cada uma delas.
Chegamos a esta conclusão pressupondo que as propriedades semânticas de
vorpal são as mesmas sempre que a palavra é empregue.
Assim se compreende a razão do comentário de Alice ao ler J abberwocky:

"Parece muito bonito mas é bastante difícil de compreender!" (Estão a ver,


ela não queria confessar, nem sequer a si própria, que não compreendia mes-
mo nada.) "Parece de alguma forma encher-me a cabeça com ideias - só que
não sei exactamente quais são! No entanto, alguém matou alguma coisa: disso
tenho eu a certeza".

As propriedades semânticas das palavras revelam-se ainda de outros


modos na formação frásica. Por exemplo, em inglês, se o significado de
uma palavra inclui a propriedade semântica "humano" poderemos apenas
substituí-la por certo tipo de pronome. Vimos já que um substantiv~ "não
humano" não pode ser sujeito de um predicado como play golf E esta
mesma característica semântica que determina que se use he para boy e it
para table.
Segundo Mark Twain, na gramática da nossa antepassada Eva também
existia esta regra, como podemos ler no seu diário:

If this reptile is a man, it ain't an it, is it? That wouldn ' t be grammatical,
would it? I think it would be he. ln that case one would parse it thus: nomina-
tive he; dative, him; possessive, his'n.

Este tipo de restrições, baseadas nas propriedades semânticas, existe


em todas as línguas. Em Twi, um dialecto da língua do Gana, há numerais
diferentes consoante o substantivo é ou não do género humano. A palavra
baanu, com o significado de "dois", é usada exclusivamente com substan-
tivos do género humano, enquanto a palavra abief], também com o signifi-
cado de "dois", é usada exclusivamente com substantivos não humanos. Da
mesma maneira, "três" diz-se baasã com substantivos do género humano e
abiesã com substantivos do género não humano. Nos exemplos seguintes as
expressões marcadas com asterisco constituem desvio à norma:
Semântica: Os Significados da Língua 197

SUBSTANTIVOS HUMANOS SUBSTANTIVOS NÃO HUMANOS


nnipa baanu, "two people" * l)kob baanu
*nnipa abieIJ l)kok:J abieIJ,"two chickens"
as:>fo:> baasã, "three priests" *nsem baasã
*asofoo abiesã nsem abiesã, "three things"

Exemplos como estes retirados do inglês e do Twi ressaltam a impor-


tância das propriedades semânticas na formação de frases. O problema não
é que não possamos entender frases como
*I stumbled into the table, who fell over.

Um falante de Twi entenderia o significado expresso por


*nnipa uhieIJ, "duas pessoas'',

com o emprego do numeral errado. O problema reside pois no facto de estas


frases constituírem desvios à norma e violarem regras baseadas nas pro-
priedades semânticas das palavras.
Neste capítulo tem-se tentado demonstrar até que ponto os falantes de
uma língua conhecem os significados das palavras e das frases, ou seja, o
sistema semântico da sua língua.

Expressões Idiomáticas
DENIS O TERRÍVEL Hank Ketcham

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PARA ATURAR ISTO ELA


NÃO ESTÁ
Reprodução autorizada por Field Newspaper Syndicate
198 Aspectos Gramaticais da Linguagem

O conhecimento de uma língua pressupõe o conhecimento dos morfe-


mas, palavras simples e compostas e do seu significado. Para além disso, há
ainda expressões fixas, de uma ou mais palavras, cujo significado não pode
ser inferido do conhecimento do significado de cada uma delas. Tais
expressões denominam-se expressões idiomáticas. Todas as línguas contêm
um grande número de expressões idiomáticas. Temos em inglês, por exemplo:

sell down the river


haul over the coals
eat one's hat
let one's hair down
put one's foot in one's mouth
throw one's weight around
snap out of it
cut it out
bit it off
get it off
bite one's tongue
give a piece of one's mind

Quanto à estrutura, as expressões idiomáticas assemelham-se a expres-


sões normais, mostrando porém quanto à forma tendência para uma certa
rigidez, não permitindo facilmente outras combinações e impedindo a alte-
ração da ordem das palavras. Assim,

(18) She put her foot in her mouth.

tem a mesma estrutura que

(19) She put her bracelet in her drawer.

Mas, enquanto

The drawer in which she put her bracelet was hers.


Her bracelet was put in her drawer.

são frases relacionadas com (19) já


The mouth in which she put her foot was hers.
Her foot was put in her mouth.

não são geralmente consideradas como estando relacionadas com (18), a


não ser que a intenção seja chalacear.
Por outro lado, algums expressões idiomáticas ocorrem de facto em
frases de vários tipos sem afectar o sentido idiomático das mesmas, como
podemos ver em:

The FBI kept tabs on radicals.


Tabs were kept on radicals by the FBI.
Radicals were kept tabs on by the FBI.
Great heed should be taken to prevent oil spills.
The heed taken to prevent oil spills should be great.
Semântica: Os Significados da Língua 199

As expressões idiomáticas infringem muitas vezes as regras de combi-


nação de propriedades semânticas. O objecto de eat tem de ser normalmente
algo com a propriedade semântica [+ comestível] mas em
He ate his hat.
Eat your heart out.

esta restrição não é observada.


As expressões idiomáticas têm características semânticas muito espe-
ciais, quer gramatical, quer semanticamente. Têm de ser assimiladas pelo nos-
so dicionário mental como unidades únicas com significados específicos e so-
mos obrigados a aprender as restrições específicas da sua ocorrência em frases.

A "Verdade" das Frases


... tendo tido Ocasião de falar em Mentira e falsa
Representação, foi com muita Dificuldade que ele entendeu o
que eu queria dizer...
Até porque ele argumentava: que falamos para nos
entendermos e recebermos Informações sobre Factos; então
se algum de nós dissesse Algo que não era, esses Propósitos
não seriam cumpridos pois não se poderia dizer que eu o
entendia ...
E estas eram as Noções que ele tinha daquela Faculdade de
Mentir tão perfeitamente entendida e tão universalmente
praticada entre os homens.
Jonathan Swift, As viagens de Gulliver

Nós compreendemos frases porque sabemos o signifi-


cado de cada palavra e conhecemos as regras que regem a combinação dos
significados das palavras. Gulliver não parece estar ciente disso:
... Organizei todas as minhas palavras por ordem alfabética de interpretações.
E assim, em poucos dias, e com a ajuda de uma memória muito fiel, consegui
penetrar de certa forma na sua língua.

Se alguma vez estudarmos uma língua estrangeira teremos de aprender


não só o significado das palavras mas também a maneira de as combinar
formando f:r:ases com significado. Aprendermos as palavras de cor não será
suficiente. E claro que ao aprendermos a nossa própria língua essas regras
semânticas são aprendidas inconscientemente.
Todos nós sabemos o significado de red e brick. A combinação red
brick constitui apenas o que "vermelho" e "tijolo" têm em comum. Junta-
mos the para formar the red brick e o significado será um exemplo especí-
fico de "tijolo" e de "vermelho" que provavelmente o falante e o interlocu-
tor conhecem. Se tivéssemos começado por large e brick, a regra semântica
para large brick não poderia ser o que "grande" e tijolo" têm em comum,
pois o que é grande para um tijolo pode ser pequeno para uma casa e desco-
munal para uma barata, embora nós entendamos perfeitamente a utilização
de large quer para casa quer para barata. A regra precisa de especificar que
large brick refere um tijolo "grande tanto quanto os tijolos podem ser", da
mesma maneira que large house refere uma casa "grande tanto quanto uma
200 Aspectos Gramaticais da Linguagem

casa pode ser", e assim por diante. Se tivéssemos começado por false e
brick a combinação false brick envolveria "uma semelhança com um tijolo
embora não fosse um tijolo". Logo, são necessárias regras semânticas difer-
entes para diferentes combinações de adjectivos com substantivos.
Ao compreendermos a expressão sees a red brick compreendemos que
existe um objecto que é a combinação de "tijolo" e "vermelho" e que foi
percepcionado através de uma impressão visual. Em John sees a red brick
compreendemos que quem viu o tijolo foi um indivíduo do sexo masculino
chamado John. Se em vez da frase anterior tivéssemos analisado John seeks
a red brick não poderíamos concluir que existia um red brick uma vez que
podemos procurar objectos não existentes, o que demonstra que as regras
semânticas que regem as combinações com see são diferentes das que
regem combinações com seek. Na nossa própria língua as regras semânticas
permitem-nos atribuir um significado a qualquer frase bem formada.
Podemos, por exemplo, atribuir um significado à frase
(20) The Declaration of Independence was signed in 1776.

quer ela seja gritada do alto de uma montanha, lida num pedaço de papel
apanhado numa sarjeta enlameada, murmurada no cinema ou proferida com
a boca cheia de pastilha elástica. Também podemos compreender o signifi-
cado da frase
(21) The Declaration of Independence was signed in 1700.

mesmo sendo uma afirmação falsa. A nossa capacidade de reconhecer a


"falsidade" de uma afirmação depende do nosso conhecimento do seu sig-
nificado e também dos nossos conhecimentos de história.
Uma minoria de frases pode ser reconhecida verdadeira apenas por
meio de conhecimentos linguísticos. Essas frases denominam-se analíticas.
As afirmações seguintes são exemplos de frases analíticas:
(22) Dogs are animals.
John is as tall as himself.
Babies are not adults.
My uncle is male.
Há também frases contraditórias, que são sempre falsas. As formas
negativas das frases acima transcritas são todas contraditórias, assim como
as seguintes:
(23) Adults are children.
Kings are female.
Uma parte do significado de uma frase é o conhecimento das suas
"condições de verdade", as condições em que a que podemos considerar
verdadeira. Os filósofos falam do "valor de verdade" de uma frase e nesse
sentido a frase (20) é verdadeira e a frase (21) é falsa. A frase(21) é falsa
porque o conhecimento específico a que se refere ocorreu numa data difer-
ente da figura na frase.
Consideremos a seguinte frase:
(24) Rufus believes that the Declaration of Independence was signed in 1700.
Semântica: Os Significados da Língua 201

Esta frase será verdadeira se um indivíduo chamado Rufus estiver real-


mente convicto da afirmação, e falsa se não estiver.
Não é relevante que uma sub-parte de frase, correspondente à frase
(21), seja falsa. Toda a frase pode ser verdadeira mesmo que uma ou mais
partes que a compõem sejam falsas e vice-versa, pois são as propriedades
semânticas que nos permitem afirmar em que condições uma frase é ver-
dadeira ou falsa. Podemos compreender qualquer frase "bem formada" e
podemos atribuir-lhe um significado mesmo que não consigamos determi-
nar o seu "valor de verdade". No entanto, o significado da frase depende
parcialmente do nosso conhecimento de quais as condições que determinam
a verdade ou falsidade da própria frase.
O nosso conhecimento do mundo exterior pode ajudar-nos a decidir se
uma frase é verdadeira ou falsa; além disso temos de ser capazes de utilizar
o nosso conhecimento linguístico para lhe compreender o significado.
Podemos nunca ter ouvido falar da Declaração de Independência dos Esta-
dos Unidos da América e, portanto, não sabemos se tal declaração foi assi-
nada em 1776, 1700 ou 1492. Mas o nosso conhecimento da língua permite-
nos dizer que a frase (20) significa que um documento denominado The
Declar9tion of Independence foi assinado por quem quer que fosse no ano
1776. E de notar que é também o nosso conhecimento linguístico, e não o
nosso conhecimento sobre o aconteeimento específico a que se refere a
frase, que nos permite dizer que a frase (25) significa o mesmo que as frases
(20) e (26):
(25) It was in the year 1776 that the Declaration of Independence was signed.

(26) Some person or persons signed The Declaration of Independence.

A frase não diz quem assinou o documento - esse facto não está in-
cluído no conhecimento linguístico da frase.
As frases (20), (25) e (26), como bem recordamos, são paráfrases.
Significam aproximadamente o mesmo, diferindo apenas em ênfase. Pode-
mos agora dar uma definição mais precisa de paráfrase: são paráfrases
todas as frases que representam as mesmas condições de verdade.
O conhecimento de uma língua inclui o conhecimento das regras se-
mânticas de combinação de significados assim como o conhecimento das
condições em que as frases são verdadeiras ou falsas.

Nomes
O que é um nome? O que chamamos rosa
com outro nome teria o mesmo perfume.
Shakespeare, Romeu e Julieta, II, ii

O seu nome era McGill mas ela dizia-se Li/


e toda a gente a conhecia por Nancy.
4
John Lennon e Paul McCartney, "Rocky Raccoon "

4
© 1969 por Northern Songs Ltd. Todos os direitos para os E.U.A. , México e
Filipinas sob controle de Maclen Music, Inc., e/o A1V Music Corp. Reprodução autorizada;
todos os direitos reservados.
202 Aspectos Gramaticais da Linguagem

"O que é um nome"? Durante séculos os filósofos têm feito desta


questão objecto de estudo. Platão interrogou-se sobre se os nomes eram
"naturais", problema que preocupou Adão quando deu nomes aos animais;
Humpty Dumpty, por seu lado, pensava que o seu nome se referia à forma
do seu corpo, o que em parte é verdade.
Geralmente quando pensamos em nomes, pensamos em nomes de pes-
soas ou lugares, logo, nomes próprios. Não pensamos em Canis familiares
como sendo i.lm cão e persiste ainda a velha ideia de que todas as palavras
correspondem a objectos mesmo que o objecto seja abstracto. Esta ideia
apresenta algumas dificuldades: não somos capazes de identificar os objec-
tos a que se referem sincerity, forgetfulness, para não mencionarmos into,
brave e think. Neste livro, "nome" será utilizado sempre para designar
"nome próprio".
Os nomes próprios podem referir-se a objectos. Os objectos podem ser
ainda existentes, como os designados por
Disa Karin Viktoria Lubker
Lake Michigan
The Empire State Building

ou extinto como:
Socrates
Troy

ou mesmo de ficção
Sherlock Holmes
Dr. John H. Watson
Wonderland
Oz

Os nomes próprios são definidos, isto é, referem-se a um único objecto


na medida em que dizem respeito 30 falante e ao ouvinte . Se eu disser:
Mary Smith is coming to dinner

a minha mulher compreenderá que Mary Smith se refere à nossa amiga


Mary Smith e não a uma das muitas dúzias de Mary Smiths que existem na
lista telefónica.
O artigo the é usado para tornar uma palavra definida. Se se disser
1 saw the dog.
parte-se do princípio de que todos os participantes do discurso podem iden-
tificar o cão em causa. O artigo indefinido a não tem essa acepção e a frase
1 saw a dog.
é geralmente usada com a intenção de descrever o tipo de objecto visto e
não o objecto específico em si mesmo. No entanto, na frase
Bobby wants to marry a dancer.
Semântica: Os Significados da Língua 203

o segmento a dancer pode referir-se a uma pessoa em particular. Trata-se de


um outro uso de a e a frase é ambígua pois pode existir ou não uma dança-
rina determinada com quem Bobby quer casar.
bs nomes próprios não são geralmente precedidos de artigo definido
porque são já por natureza expressões definidas:
*The John Smith
*The Califomia

Existem excepções, como os nomes de rios, barcos e edifícios:


The Mississipi
The Queen Mary
The Empire State Building
The Eiffel Tower
The Golden Gate Bridge

Em geral, os nomes próprios não contrastam em número, embora pos-


sam ser plurais como The Great Lakes ou The Pleiades. No entanto, algu-
mas vezes para fazermos distinções necessárias podemos falar de the two
fat Johns e the two skinny Johns desde que estejam presentes muitas pessoas
de nome John. Por uma questão de clareza podem pôr-se no plural nomes
próprios e mesmo antepor-lhes um artigo ou adjectivo, embora não seja esse
o procedimento normal.
Dar nomes às coisas é um acto que muitas vezes revela criatividade
linguística. Basta observarmos os nomes dos vencedores do Kentucky
Derby (Canonero II, Secretariat) para nos darmos conta desse facto.
Embora pôr um nome a uma criança seja mais convencional e a língua con-
tenha um inventário de nomes, muitos pais inventam um novo nome para o
seu filho na esperança - quase sempre vã - de que seja original. Mas uma
vez criado um novo nome próprio, este não pode ser posto no plural nem
precedido de the ou de adjectivo (excepto nos casos acima referidos) e será
usado exclusivamente como referência, pois estas regras fazem parte das
muitas já existentes na gramática e os falantes sabem que elas se aplicam e
todos os nomes próprios, mesmo aos recém-criados.

Sentido e Referência
Mencionou o seu nome como se eu o conhecesse, mas para
além de factos óbvios como ser solteiro, consultor jurídico,
maçónico e asmático, não sei absolutamente nada de si.
Sir Arthur Conan Doyle, "O Construtor de Norwood "

Toma conta do sentido que os sons tomarão conta de si


mesmos.
Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas

Na secção anterior foi sugerido que o nome de Humpty


Dumpty não só se referia a um objecto de ficção mas também tinha um sig-
204 Aspectos Gramaticais da Linguagem

nificado adicional de algo como "uma boa forma redonda". Este facto
levanta a interessante questão de saber se os nomes próprios têm um signifi-
cado adicional para além de indicarem objectos. E certo que o nome Sue
apresenta a propriedade semântica "feminin.o " que a canção humorística de
Johnny Cash, A boy named Sue, evidencia. The Pacific Ocean contém a
propriedade semântica de "oceano" e mesmo nomes como Fido e Bossie
vieram a ser associados respectivamente a cães e vacas.
Outras palavras, para além dos nomes próprios, ao mesmo tempo que
têm um significado podem ser usadas para denominar objectos. O filósofo e
matemático alemão Gottlob Frege propôs uma distinção entre a referência
de uma palavra, que é o objecto por ela designado, e o sentido de uma
palavra, que é o seu significado adicional. Frege argumentou que se o sig-
nificado fosse igualado à referência, então duas expressões com a mesma
referência poderiam substituir-se mutuamente numa frase sem que se vérifi-
casse alteração no significado. Apresentou como exemplo expressões do
tipo the evening star e the morning star, ambas referindo-se ao pla-
netaVénus. Analisou a pergunta:

Is the evening star the evening star?

para a qual a resposta é obviamente yes. Então, em vez da segunda ocorrên-


cia de evening star utilizou the morning star para formar uma pergunta:

Is the evening star the morning star?

Esta pergunta é bastante diferente da primeira e a sua resposta correcta


apenas poderá ser dada após uma cuidadosa observação astronómica. Frege
concluiu que o significado das palavras envolve algo mais do que apenas a
referência e chamou sentido a esse "algo extra". Hayakawa, ao discutir a
palavra typewriter, tinha em mente a referência e não o sentido.
Tanto sintagmas como palavras têm geralmente sentido e podem ser
usados para referir algo. Assim, o sintagma

The man who is my father

refere-se a um certo indivíduo e tem um determinado sentido que é diferente


do sentido de
The man who married my mother

embora ambas as expressões tenham geralmente a mesma referência.


Sintagmas podem contudo ter sentido, mas não referência. Se assim não
fosse, não poderíamos compreender frases como as seguintes:

The present king of Francé is bald.


By the year 3000, our descendents will have left Earth.

Os falantes de inglês não têm problemas em compreender o significa-


dos destas frases embora a França não tenha presentemente rei e os nossos
descendentes do próximo milénio ainda não existam.
Semântica: Os Significados da Língua 205

Actos Ilocutórios, Pragmática


e Conhecimento do Mundo
Podemos fazer coisas com a fala. Podem-se fazer pro-
messas, apostas e avisos, baptizar barcos, nomear e felicitar pessoas e pres-
tar testemunho sob juramento. Ao dizermos I warn you that there is a dog
in the closet, não só dizemos algo, mas avisamos alguém. Verbos como bet,
promise, warn e outros são verbos performativos. O facto de os usarmos
numa frase pode muitas vezes ter o mesmo efeito que realizar um acto não
linguístico.
Há centenas de verbos perfomativos em todas as línguas. As frases
seguintes ilustram o seu uso:
1 bet five dollars the Yankees win.
1 challenge you to a match.
1 dare you to step over this line.
!fine you $100 for possession of oregano.
1 move that we adjourn.
1 nominate Batman for Mayor of Gotham City.
1 promise to improve.
1 resign!

De notar que em todas estas frases o falante é o sujeito (ou seja, as


frases estão na primeira pessoa do singular) e que ao proferir a frase o
falante está a realizar um acto não linguístico como desafiar, nomear, demi-
tir-se. Além disso, todas estas frases são afirmativas e declarativas e estão
no presente do indicativo, o que é característico das frases perfomativas.
De facto, todo o enunciado é uma forma de acto ilocutório. Mesmo
quando não há um verbo performativo, como na frase lt is raining, reco-
nhecemos uma realização implícita de declaração.
Por outro lado, Is it raining? é uma realização de uma interrogação, da
mesma maneira que Leave! é uma realização de uma ordem. Em todas estas
frases poderíamos, se assim quiséssemos, usar um verbo perfomativo: I
state that it is raining; I ask if it is raining; I order you to leave.
A língua está cheia de promessas implícitas, brindes, avisos, etc. I will
marry you é uma realização implícita de uma promessa e em circunstâncias
apropriadas tem o mesmo valor de promessa que I promise I will marry you.
Obviamente que levantarmo-nos do nosso lugar de copo na mão e gritarmos
The health of our host constitui um brinde tão genuíno como se diséssemos
I toast the health of our host.
O estudo de como fazemos coisas com frases é um estudo dos actos
ilocutórios. Ao estudarmos os actos ilocutórios estamos perfeitamente
conscientes da importância do contexto em que ocorre o enunciado. Em cer-
tas circunstâncias, there is a sheepdog in the closet é um aviso, mas exacta-
mente a mesma frase pode ser uma promessa ou mesmo uma mera afir-
mação de um facto, consoante as circunstâncias.
A teoria dos actos ilocutórios pretende explicar quando é que ao fazer-
mos perguntas queremos dar ordens ou ao dizermos uma coisa copi uma
entoação especial (sarcástica) queremos dizer o contrário. Assim, à mesa,
Can you pass the salt? significa a ordem Pass the salt! Não se trata de um
206 Aspectos Gramaticais da Linguagem

pedido de informação e yes não constitui resposta adequada. Para além


disso, consegue-se ainda muito humor através de personagens que interpre-
tam tudo literalmente:

HAMLET: De quem é essa campa; homem?


COVEIRO: Minha, senhor ...
HAMLET: Para que homem estás a abri-la?
COVEIRO: Para homem nenhum, senhor
HAMLET: Para que mulher, então?
COVEIRO: Para nenhuma também.
HAMLET: Quem irá então aí ser enterrado?
COVEIRO: Alguém que foi uma mulher, senhor; mas, paz à sua alma, está
morta.
HAMLET: Que rigoroso é este patife! Tem de se falar segundo as regras ou
confundir-nos-á com os seus equívocos. 5

O estudo da influência do contexto no m9dO como interpretamos as


frases denomina-se pragmática. A teoria dos actos ilocutórios faz parte da
pragmática, que é em si mesma uma parte do que temos vindo a denominar
realização linguística.
Já referimos que podemos compreender uma frase mesmo que não
sejamos capazes de dizer se ela é verdadeira ou falsa. Muitas vezes sabemos
qual o valor de verdade de uma frase e o conhecimento a que recorremos
para tal decisão é o conhecimento do mundo (partindo do princípio de que a
frase nem é analítica nem contraditória). O conhecimento do mundo faz
parte do contexto, logo a pragmática inclui o estudo de como os falantes
aplicam o conhecimento do mundo para interpretar enunciados.
Os falantes fazem muitas vezes suposições acerca do mundo real e o
sentido de um enunciado pode depender dessas suposições, que por sua
vez são chamadas pressuposições por alguns linguistas. 6 Observemos o
seguinte:

(27) (a) Have you stopped hugging your sheepdog?


(b) Who bougt the badmington set?
(c) John doesn 't write poems in the bathroom.
(d) The present King of France is bald.
(e) Would you like another beer?

Em (27)(a) o falante pressupôs que o ouvinte tinha abraçado o seu cão


pastor em qualquer altura do passado. Em (27) (b) existe a pressuposição de
que alguém já tinha um jogo de badmington e em (27)(c) supõe-se que John
escreve poesia. Já antes tínhamos encontrado a frase (27)(d) e decidimos
que a poderíamos compreender mesmo sem a França ter presentemente um
rei. O uso de um termo definido pressupõe a existência de um referente.
Quando as pressuposições não estão de acordo com o estado actual do
mundo, o enunciado é considerado estranho.

5
Hamlet, V, i.
6
Outros linguistas referem-se a este mesmo fenómeno como implicação. Falamos
aqui em pressuposição por nos parecer um termo de utilização mais vasta.
Semântica: Os Significados da Língua 201

Se alguém me dissesse a frase (27)(e), o significado da mesma pres-


supunha que já tínhamos bebido pelo menos uma cerveja. Parte do signifi-
cado da palavra another consiste nessa pressuposição. O chapeleiro em
Alice no País das Maravilhas não estaria de acordo.
"Bebe mais chá", disse muito convictamente a lebre March a Alice.
"Ainda não bebi nada", respondeu Alice num tom ofendido, "por isso não
posso beber mais". ,
"Queres tu dizer que não podes beber menos", disse o chapeleiro: "E muito
fácil beber mais do que nada".

O humor desta passagem advém do facto de que conhecer a língua


inclui o conhecimento do significado da palavra mais. Mais não significa
"mais do que nada" mas "mais do que alguma coisa". Por outras palavras,
mais assim usado pressupõe alguma coisa antes.
A anomalia, como foi tratada na secção anterior, resulta em parte do
conhecimento do mundo. O carácter anómalo da frase The worm has bad
intentions resulta não do facto de worm ter a propriedade semântica "carece
de capacidade de intenção", mas do nosso conhecimento de zoologia nos
permitir saber que não se atribuem intenções a worms. As considerações
pragmáticas também servem para conferir significado a enunciados seman-
ticamente anómalos. Assim, a frase Golf plays John, quando proferida num
clube após John ter jogado incrivelmente mal, é susceptível de ser interpre-
tada.
Em todas as línguas há muitas palavras e expressões cujas referências
assentam inteiramente nas circunstâncias do enunciado e apenas podem ser
interpertadas tendo conhecimento dessas circunstâncias. Este aspecto da
pragmática denomina-se deixis. Os pronomes são muitas vezes deícticos.
1 my mine you your yours

Para serem interpretados, estes pronomes requerem identificação do


falante e do ouvinte.
Não só os nomes prórpios mas também expressões como
this person
that man
these women
those men
são deícticos pois requerem informação pragmática para que o ouvinte
possa estabelecer uma "conexão referencial" e compreender o que se diz.
Os exemplos acima transcritos ilustram deícticos pessoais.
Há também deícticos de tempo e deícticos de lugar. Os exemplos
seguintes são todos expressões deícticas temporais:
now then tomorrow/yesterday
this time that time seven days ago
two weeks from now last week next April

Para compreendermos a que tempo específico nos referimos quando usamos


tais expressões, necessitamos de saber quando é que o enunciado foi pro-
208 Aspectos Gramaticais da Linguagem

ferido. É evidente que tem uma referência diferente se for proferido hoje ou
de hoje a um mês. Se, por exemplo, encontrarmos na rua um folheto que 'diz
"BIG SALE NEXT WEEK" sem data, não poderemos saber se os saldos já
se realizaram.
As expressões deícticas de lugar requerem uma informação contextual
do lugar onde o enunciado foi proferido, como podemos ver has seguintes
expressões:

here there this place that place


this city these parks yonder mountain those towers over there

A banda desenhada de Denis o Terrível mostra o que pode acontecer


caso as regras de utilização dos deícticos não sejam observadas.

DENIS O TERRÍVEL Hank Ketcham

Autorizado por Field Newspaper Syndicate

Indicadores de direcção como

before/behind left/right front/back

são deícticos na medida em que necessitamos de saber qual o lugar para


onde o falante está voltado. Em japonês, o verbo kuru, "come", só pode ser
usado para indicar movimento em direcção ao lugar onde o enunciado é
proferido. Logo, um falante de japonês não pode telefonar a um amigo e
perguntar:

May I "kuru" to your house?

O verbo correcto a utilizar é iku, "go", que indica movimento para


longe do lugar onde o enunciado é proferido. Estes verbos têm assim um
aspecto deíctico que faz parte do seu significado.
Quando examinamos os deícticos da língua, o papel do conhecimento
pragmático na apreensão do significado dos enunciados torna-se evidente.
Contrariamente ao que temos vindo a afirmar, alguns linguistas con-
sideram que o conhecimento pragmático é tão inerente à competência lin-
guística como o conhecimento gramatical. Outros estudiosos da língua são
Semântica: Os Significados da Língua 209

da opinião de que o conhecimento dos actos ilocutórios faz parte da realiza-


ção linguística. Qualquer que seja a opinião adoptada, é evidente que o
conhecimento linguístico é tão vasto e tão complexo que se pode dissociar
dos outros tipos de conhecimento.

O Significado de "Significado"
"O nome dado à canção é 'Olhos de Eglefim'".
"Ah, então é esse o nome da canção?", disse Alice.
"Não, tu não percebes", disse o Cavaleiro...
"Esse é o nome que se lhe dá. O verdadeiro é 'O homem
Velho, Velho"'.
Lewis Carroll, Através do Espelho

Para definirmos o significado de um morfema presente numa palavra,


utilizamos (por vezes) na definição outras palavras. Se o significado do pre-
fixo in- é "não", o que é que "não" significa? Se o significado de man é
definido por propriedades semânticas como "masculino", "humano", etc.,
qual é o significado de "humano" e de "masculino"? E evidente que a certa
altura teremos de parar e supor que toda a gente "conhece" as definições dos
termos que definem uma palavra. Essas palavras, deixadas por definir, são
os elementos semânticos primitivos básicos. Qualquer pessoa que tenha
estudado geometria conhece este processo. Ao lermos uma definição como
"uma linha recta é a distância mais curta entre dois pontos", perguntamo-
-nos "O que é um ponto?". Tomamos como certo o que é um ponto. "Ponto"
é um conceito primitivo em geometria, da mesma maneira que "masculino",
"humano", "abstracto'', "morfema", "fonema'', etc. são termos primitivos
em linguística.
Embora não estejamos conscientes do facto, a língua contaminou-se
com uma espécie de esquizofrenia cerebral. Consideramos constantemente
(e sem disso nos darmos conta) o mundo a dois níveis: o nível dos objectos
reais, dos pensamentos e das percepções e o nível dos "nomes" dos objec-
tos, pensamentos e percepções. Ou seja, por um lado, percepcionamos a
realidade, por outro, falamos dela. Os linguistas têm uma tendência para se
tornarem esquizofrénicos a três níveis, pois para além dos objectos e da lín-
gua ainda têm de considerar a língua em si mesma como um objecto. Os
antropologistas podem descrever um homem dizendo que ele é um primata
bípede e não peludo. Logo, usam a língua para falar de certos objectos. Os
linguistas desejam descrever a linguagem usada para falar acerca desses
objectos. Assim, diriam possivelmente que man, como palavra, é um "subs-
tantivo", tem três "fonemas" e possui a característica semântica "humano".
A linguagem usada para descrever uma língua denomina-se metalin-
guagem. O inglês do dia-a-dia pode ser a metalinguagem usada pelos
antropologistas, botânicos ou físicos para descrever os objectos que lhes
interessam. Os linguistas também têm de usar a linguagem do dia-a-dia
como uma metalinguagem para descrever a própria linguagem do dia-a-dia.
Esperemos que o quadro seguinte, embora seja uma ilustração elemen-
tar destes conceitos, concorra para esclarecer o problema:
210 Aspectos Gramaticais da Linguagem

OBJECTO LINGUAGEM METALINGUAGEM


(Mundo Real) (Objecto para os Linguistas)
man é um primata, man é um substantivo
bípede não peludo. man é formado por
três fonemas
O significado de man
inclui a propriedade
semântica "humano"

Os termos, "substantivos", "masculinos" e "humano" são termos da


metalinguagem linguística na teoria da linguagem. Este livro está cheio de
tais termos: "fone", "alofone", "fonema", "sintaxe", "gramática", "mor-
fema", "palavra", "frase". . . Assim, enquanto a palavra man faz parte da
nossa língua, quando dizemos "man is a word" estamos a usar a língua para
descrever a própria língua e word é parte da metalinguagem.
Apercebemo-nos, assim, da razão por que a língua tem intrigado os
filósofos desde o início da história. As complexidades que discutimos ape-
nas fazem ressaltar o milagre que é o facto de todos os seres humanos nor-
mais apren_derem uma língua, usarem-na para transmitirem os seus pensa-
mentos e compreenderem o significado de frases usadas por outros.

RESUMO
Saber uma língua é saber como produzir e compreender frases com
significados específicos. Ao estudo do significado chama-se semântica. A
semântica analisa os significados das palavras e dos morfemas, assim como
as regras de combinação de significados.
Os significados dos morfemas e das palavras são em parte definidos
pelas suas propriedades ou traços semânticos. Quando duas palavras têm
o mesmo som mas diferem semanticamente (i.e., têm significados dife-
rentes) são homónimas ou homófonas (por exemplo, bear pode significar
"dar à luz" ou "suportar"). O uso de palavras homófonas numa frase pode
provocar ambiguidade - que ocorre quando um único enunciado tem mais
do que um significado. A ambiguidade pode ainda dever-se à estrutura da
frase. Flying planes can be dangerous é uma frase ao mesmo tempo estrutu-
ral e lexicalmente ambígua. Planes pode referir-se quer a ferramentas espe-
ciais para trabalhar a madeira, quer a aviões. Se o significado pretendido for
"aviões", então a frase pode ser interpretada como "voar em aviões pode ser
perigoso" ou como "aviões que voam podem ser perigosos".
Estes dois significados resultam da estrutura da frase.
Frases com as mesmas condições de verdade são paráfrases. As
frases podem ser paráfrases umas das outras ou porque contêm sinónimos
(palavras diferentes mas com o mesmo significado, como couch e sofa) ou
porque diferem estruturalmente de maneira a não afectar o significado.
Uma palavra com vários significados diz-se polissémica. (por exem-
plo, a palavra good tem significados de certa maneira diferentes em good
chi/d, good knife, good check.)
Duas palavras com significados opostos dizem-se antónimas. Há pares
de antónimas que são complementares (alive/dead), há pares graduáveis
(hot/cold) e pares de variáveis relacionadas (buy/sell, employer/employee).
Semântica: Os Significados da Língua 211

Algumas frases são estranhas ou anómalas porque se desviam das


nossas expectativas. As frases The red-haired girl has blond hair e The
stone ran são anómalas. Outras frases são ininterpretáveis por conterem
palavras inexistentes (por exemplo, An orkish sluck blecked nokishly). As
propriedades semânticas das palavras têm uma importância crucial na deter-
minação de frases anómalas.
As palavras podem combinar-se para formar sintagmas com signifi-
cados que são atribuídos à unidade como um todo. Esses sintagmas são
expressões idiomáticas e o seu significado não resulta da soma das suas
partes (por exemplo, put one's foot in one's mouth). As expressões idiomáti-
cas quebram muitas vezes as regras de restrição de co-ocorrência das pro-
priedades semânticas.
Quando sabemos uma língua sabemos uma quantidade de regras de
combinaÇão dos significados das palavras. Aqui apenas nos debruçámos
sobre algumas dessas regras. Sabemos, por exemplo, que um good king é
um rei mas que um former king não é um rei. Quando sabemos o signifi-
cado de uma frase somos capazes de dizer em que condições ela é ver-
dadeira ou falsa e podemos compreendê-la mesmo que seja uma afirmação
falsa; se não a compreendêssemos não poderíamos emitir tal juízo. Algumas
frases são analíticas, ou seja, só são verdadeiras devido ao conhecimento
linguístico. Mothers are female é uma frase analítica. As frases contra-
ditórias são o oposto das analíticas e são sempre falsas apenas devido ao
conhecimento linguístico (por exemplo, My aunt is a man).
Os nomes próprios são morfemas especialmente usados para designar
singularmente objectos específicos; quer dizer que são definidos. Os nomes
próprios não são normalmente precedidos de artigo nem adjectivo e não
podem ser postos no plural.
As palavras têm sentido e podem ser usadas para referir. Expressões
mais longas, como sintagmas e frases, também têm sentido e referência.
Frege demostrou que o significado é mais do que mera referência. De facto,
algumas expressões com significado (por exemplo, the present king of
France) têm sentido mas não referência.
Os verbos performativos como bequeath permitem-nos fazer coisas
por meio de frases. Nem sequer precisamos de um verbo performativo pois
o acto de gritarmos look out! pode ter o efeito de um aviso (/ warn you to
look outl). O estudo de como realizamos actos através de enunciados é o
estudo das actos ilocutórios, sendo no entanto necessário o contexto para
determinarmos a natureza dos actos ilocutórios.
Os deícticos como you, now, there, requerem conhecimento das cir-
cunstâncias (pessoa, lugar ou tempo) em que o enunciado é proferido para
poderem ser interpretados referencialmente. O estudo genérico de como o
contexto afecta a interpretação linguística denomina-se pragmática. A teo-
ria dos actos ilocutórios faz parte da pragmática, que é em si mesma uma
parte da realização linguística.
Os linguistas têm de usar a linguagem para descrever a própria lin-
guagem. A linguagem usada na descrição é chamada metalinguagem. Ao
usarmos a língua para descrevermos os objectos do mundo, podemos falar
de um homem, uma criança, uma avestruz, etc. Mas quando dizemos que
man é uma "palavra" ou um "substantivo", estes termos descritivos fazem
parte da metalinguagem da linguística.
212 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Tudo o que sabemos acerca do significado linguístico está compreen-


dido no sistema semântico da nossa própria gramática.

EXERCÍCIOS
1. Embora a língua não pudesse funcionar devidamente se os falantes não
estivessem de acordo quanto aos significados das palavras utilizadas,
existem muitas situações em que não conhecemos todas as palavras
usadas na frase. Identifique algumas dessas situações e, para cada uma
delas, imagine o que o ouvinte poderia fazer para melhorar a compreen-
são. (Por exemplo, numa conversa com um linguista ouve uma referên-
cia aos nossos "órgãos articulatórios", mas desconhece o que articu-
latório quer dizer.)

2. Para cada grupo de palavras que a seguir transcrevemos indique qual a


propriedade (ou propriedades) semântica(s) partilhada(s)pelas palavras
(a) e pelas palavras (b). Indique também qual a propriedade (ou pro-
priedades) semântica(s) que permite(m) destinguir as duas classes de
palavras.
Exemplo: a. widow, mother, sister, aunt, seamstress
b. widower, father, brother, uncle, tailor
As palavras (a) e (b) apresentam todas o traço "humano".
As palavras (a) apresentam o traço "feminino" e as palavras (b) o traço
"masculino".
A. a. bachelor, man, son, paperboy, pope, chief
b. buli, rooster, drake, ram
B. a. table, stone, pencil, cup, house, ship, car
b. milk, alcohol, rice, soup, mud
C. a. book, temple, moutain, road, tractor
b. idea, love, charity, sincerity, bravery, fear
D. a. pine, elm, ash, weeping willow, sycamore
b. rose, dandelion, aster, tulip, daisy
E. a. book, letter, encyclopedia, novel, notebook, dictionary
b. typewriter, pencil, ballpoint, crayon, quill, charcoal, chalk
F. a. walk, run, skip, jump, hop, swim
b. fly, skate, ski, ride, cycle, canoe, hang-glide
G. a. ask, tell, say, talk, converse
b. shout, whisper, mutter, drawl, holler
H. a. alive, asleep, dead, married, pregnant
b. tall, smart, interesting, bad, tired
1. a. alleged, counterfeit, false, putative, accused
b. red, large, cheerful, pretty, stupid
(sugestão: será um alleged murderer_sempre um murderer?)

3. Não aprofundámos a distinção entre homofonia(palavras diferentes que


apresentam a mesma pronúncia) e polissemia(uma palavra com mais de
um significado). Na prática, nem sempre é fácil fazer esta distinção. Por
Semântica: Os Significados da Língua 213

exemplo, a palavra face relativa a um ser humano e a palavra face rela-


tiva a um relógio, por exemplo, serão um caso de homofonia ou polisse-
mia? Quando se faz um dicionário têm de se tomar milhares de decisões
destas. Num dicionário, as palavras homófonas têm entradas diferentes,
enquanto os vários significados de uma palavra polissémica surgem den-
tro da mesma entrada lexical. 7 Consulte um dicionário actualizado e pro-
cure dez grupos de palavras homófonas (algumas têm quatro ou cinco
entradas; por exemplo, p eak). Procure em seguida dez grupos de palavras
polissémicas com cinco ou mais significados (por exemplo, gauge).

4. Explique a ambiguidade semântica dos enunciados seguintes apresen-


tando duas frases que parafraseiem os dois significados. Exemplo: She
can 't bear children pode significar She can 't give birth to children ou she
can 't tolerate children.
a. She waited at the bank.
b. Is he really that kind?
c. the proprietor of the fish store was the sole owner.
d. The long drill was boring.
e. When he got the clear title to the land it was a good deed.
f. It takes a good ruler to make a stright line.

5. Apresentámos alguns exemplos de "conjugação" de adjectivos. Na reali-


dade, existem centenas. Além do que vemos na banda desenhada, eis mais
alguns: I'm intelligent, you 're overeducated, he's a smart-ass; I'm generous,
you 're extravagant, she's prodigal; I'm easy going, you 're lazy, he's
slovenly. A ideia está expressa no desenho de Denis O terrível:
DENIS O TERRÍVEL Hank Ketcham

"ELE, CHAMA-LHE MEDlfAÇÃO; A MÃMÃ CHAMA-~HE


GINASTICA... MAS EUCHAMO-LHE UMA PARVOICE"
Autorizado por Field Newspaper Syndicate

7
Muitas vezes a etimologia das palavras é usada como base na decisão. Quando dois
significados diferentes de uma forma derivam de fontes históricas diferentes, as formas são
consideradas homófonas e constituem entradas lexicais separadas.
214 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Tente arranjar mais cinco grupos destes.


6. As frases seguintes são ambíguas quando escritas. Depois de descobrir a
ambiguidade, diga quais as que poderão ser desambiguizadas na fala
através de uma entoação especial ou pausas.
a. The lamb is too hot to eat.
b. Old men and women will be served first.
c. Kissing girls is what Stephen likes best.
d. They are moving sidewalks.
e. Becky left directions for Jack to follow.
f. John loves Richard more than Martha.

7. Existem vários tipos de anatonímia. Observe os exemplos que se seguem


e indique quais os pares complementares, quais os pares graduáveis e
quais os pares de variáveis relacionadas:

A B
good bad
expensive cheap
parent offspring
beautiful ugly
false true
lessor lesse e
pass fail
hot cold
legal illegal
larger smaller
poor rich
fast slow
asleep awake
husband wife
rude poli te

8. Nem todos os estudiosos concordam que os nomes próprios podem ter


sentido e referência. Acreditam que se um nome próprio tiver signifi-
cado, esse significado será a referência. Defendem que a frase Ali Davids
are male não é analítica da mesma forma o é a frase All dogs are
animais. O argumento que apresentam consiste no facto de uma palavra
como dog ter já como parte do seu sentido "é um animal", mas o nome
David é masculino apenas por convenção. Uma rapariga poderia chamar-
-se David, mas um cão terá de ser um animal. Assim, de acordo com esta
ideia, "masculino" não faz parte do significado de David. Faça uma
pequena exposição em que nos apresente o seu ponto de vista. (Pode
querer considerar se uma frase como Paris is a city será ou não analítica.
E se alguém der o nome de Paris ao filho? E se alguém der o nome de
dog ao filho? Foi êxito nos anos 60 uma canção intitulada Walkin ' My
Cat Named Dog.)

9. A. Leia as frases seguintes e diga quais as que são analíticas e as que sã


apenas sinteticamente verdadeiras.
a. Kings are monarchs.
b. Kings are rich.
c. Dogs are four-legged.
Semântica: Os Significados da Língua 215

d. Cats are felines.


e. George Washington is George Washington.
f. George Washington was the first President of the United States.
g. Uncles are male.
h. An uncle has at least one brother or one sister.
B. Leia as frases seguintes e diga quais as que são contraditórias e quais
as que são apenas sinteticamente falsas.
a. My aunt is a man.
b. Aunts are always wicked.
c. The evening star isn't the moming star.
d. The evening star isn 't the evening star.
e. Babies can lift one ton.
f. Puppies are human.
g. My bachelor friends are all married.
h. My bachelor friends are all lonely.

10. No desporto e nos jogos muitas expressões são "performativas". Ao gritar-


mos you 're out estamos a realizar um acto. Tal como checkmate no xadrez.
Imagine meia-dúzia de exemplos destes e explique a sua utilização.

11. Das frases seguintes quais as que contêm expressões deícticas? (Sugestão:
quais as que requerem que conheça as circunstâncias participantes, tempo,
lugar, etc. da enunciação de forma a poderem ser compreendidas?)
a. 1 saw you standing there.
b. Dogs are anirnals.
c. Yesterday all my troubles seemed so far way.
d. Abraham Lincoln was the sixteenth President of the United States.
e. He was bom in a log cabin.
f. lt was then that she pulled him toward her.
g. Both authors of this book were bom in May.
h. The Declaration of lndependence was signed in 1776.
i. Germany invaded Poland on September 1, 1939.
j. Once you're inside, the treasure will be found on your right.

12. Um dos critérios sugeridos para a determinação de uma "frase perfor-


mativa" é a possibilidade de a iniciar por I hereby. Note que se disser a
frase a em voz alta soa como uma verdadeira desculpa, mas a frase b
soa esquisita pois não se pode realizar o acto de conhecer:
a. 1 hereby apologize to you.
g. 1 hereby know you.
E evidente que Snoopy, no desenho que se segue, está bem consciente
desta questão.
QUi:ROCl!:ER: QUE UM GATO POR ES TE MEIO
PASSEOU f'OR AQUI ... SIM, DES PREZO ESTE CHÃO!
NADA ÉMAIS TENHOA CERfEZA •..
V10LENT0 DO
G!JE OMEU ÓOIO
l'ORGATOS (
~
-
D~Sf'REZOO
l'l<ôfRIO CHÃO
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© 1961 United Feature Syndicate, Inc.


216 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Podemos ver se uma frase é performativa introduzindo hereby e vendo


se "soa bem". Recorra a este meio e determine quais as frases perfoma-
tivas que encontra no grupo seguinte:
c. 1 testify that she met the agent.
d. 1 know that she met the agent.
e. 1 suppose that the Yankees will win.
f. He bet her $2500 that Reagan would win.
g. 1 dismiss the class.
i. We promise to leave early.
j. 1 .owe the I.R.S. $1,000,000.
k. 1 bequeath $1,000,000 to the 1. R. S.
1. 1 swore 1 didn't do it.
m. 1swear1 didn 't do it.

13. As frases seguintes assentam em algumas pressuposições. Quais são?


a. The police stopped the minors from drinking.
b. Please take me out to the ball game again.
c. Valerie regretted not receiving a new T-bird for Labor Day.
d. That her pet turtle ran away made Emily very sad.
e. The administration regrets that the professors support the students.
(Compare com: The administration believes that the professors sup-
port the students em que não se verifica essa pressuposição.)
f. lt is strange that the U.S. invaded cambodia in 1970.
g. lt isn't strange that the U.S. invaded Cambodia in 1970.

14. Quais as frases seguintes que representam linguagem e quais as que


representam metalinguagem?
a. Yellow is the color of my ·true love's hair.
b. Yellow is a color word.
e. Dog contains the semantic property "animal".
d. A dog is an animal.
e. Halitosis is a spelled h-a-1-i-to-s-i-s.
f. Halitosis is smelled by everyone.

REFERÊNCIAS

Austin, J. L. 1962. How to Do Thinds with Words. Havard University Press.


Cambridge, Mass
Davidson, D., and G. Harrnan, eds. 1972. Semantics of Natural languages. Reide!.
Dordrecht, Holanda.
Dillon, G. L. 1977. lntroduction to Contemporary Linguistic Semantics. Prentice-
Hall. Englewood Cliffs, N .J.
Katz, J. 1972. Semantic Theory. Harper & Row. Nova Iorque.
Lyons, J. 1977. Semantics. Cambridge Universaty Press. Cambridge, Inglaterra.
Palmer, F.R. 1976. Semantics: A New Outline. Cambridge Universaty Press.
Cambridge, Inglaterra.
Searle, John R. 1969. Speech Acts: An Essay in the Philosophy of Language.
Cambridge Universaty Press. Cambridge, Inglaterra.

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