aparelhos

auditivos

Não restauram a
audição perdida,
mas melhoram
a captação dos
sons. Como podem
atingir cerca de
4000 euros, não
desista às primeiras
dificuldades

O NOSSO ESTUDO

Preços em 12 lojas
de Lisboa e Porto

Ouvido afinado • Selecionámos 19 lojas que

Ao fim de dois dias, a mãe do nosso
associado F. P., de Coimbra, perdeu
a paciência. O par de aparelhos au-
ditivos acabado de comprar causa-
va tanto incómodo que regressou à
loja. As visitas sucederam-se sem
que o problema ficasse resolvido.
O sofrimento conduziu à deceção
e esta a uma decisão: queria o di-
nheiro de volta. Mas o vendedor
alegava não haver defeito algum no
30 a 40% da equipamento. A nossa intervenção
quebrou o impasse e a loja concor-
população
dou com o reembolso.
portuguesa Este exemplo ilustra bem o que
acima dos 65 acontece com frequência ao con-
anos sofre tactar pela primeira vez com um
de perda aparelho auditivo: de um lado, um
consumidor que não se adapta ao
auditiva
equipamento e pensa, de imediato,
que este apresenta um defeito; de
outro, um vendedor nem sempre
vendem aparelhos auditivos.
Sete recusaram participar no
estudo: Gaes (Lisboa), Nova
Acústica e MiniSom (lojas de
Lisboa e Porto), Amplifon (Por-
to) e Acústica Médica (Porto).
• Nas restantes 12, recolhe-
mos os preços de quatro tipos
de dispositivos: retroauricular,
intra-auricular, intracanal e in-
tracanal profundo. A pesquisa
decorreu em janeiro de 2014.

Roteiro
para comprar sinais de alerta diagnóstico e escolha pesquisa nas lo
um aparelho
teste saúde 108 abril/maio 2014

auditivo Vá ao médico se surgir cansaço pelo

esforço de tentar ouvir; sensação de
e sobreviver que os outros estão a murmurar; maior
à experiência facilidade em perceber o discurso ao
olhar para quem está a falar; pedidos
frequentes para os outros repetirem
o que dizem; queixas de terceiros sobre
o volume sonoro da TV; dificuldade
em entender o discurso em ambientes
com ruído; respostas erradas por não
compreender as conversas; problemas
em falar ao telefone.
Se o médico confirmar as suspeitas,
pode propor uma de duas soluções:
um implante coclear, dispositivo
eletrónico usado em casos de
perda grave de audição devido a
danos no ouvido interno; ou um
aparelho auditivo. Veja na caixa da
página seguinte as vantagens e os
inconvenientes dos quatro aparelhos
mais comuns. Podem ser instalados
num ouvido ou em ambos. A segunda
opção oferece melhores resultados.
Avaliado o nível de perda
e escolhida a solução cer
problema, pesquise preço
lojas antes de comprar o
Pergunte se o acompanh
doente para a resolução d
problemas, a manutençã
e a substituição das pilha
incluídos no preço. O idea
tudo fique escrito num do
fornecido pela loja. Confi
condições da garantia.

32
 disponível para fazer as adaptações
necessárias ao conforto do pacien- auditiva pode
te, mas que insiste na perfeição dos
seus produtos e vai adiando uma
conduzir
solução. Como não se trata de uma à depressão
compra qualquer (só um aparelho
pode atingir, consoante a loja, até isolamento
cerca de 4000 euros), estão reuni-
dos os ingredientes para aborreci-
mentos em crescendo.
Nas vendas à distância (por exem-
plo, pela Net), a lei dá ao consumi-
dor 14 dias para desistir do bem
sem apresentar motivo. Mas este
prazo de reflexão não se aplica aos
produtos personalizados (próteses
dentárias, alguns aparelhos audi-
tivos, etc.). Ora, para ser eficaz, o
aparelho tem de estar adaptado às
características do doente. Comprar
um produto em segunda mão, feito
para outra pessoa, por exemplo, na
Net, é deitar dinheiro ao lixo. Mais:
através da Net, o paciente não reali-
za os exames para escolher o apare-
lho mais adequado nem beneficia
do acompanhamento necessário à
adaptação. Mas, se seguir por esta
via e ficar insatisfeito, tem como re-
solver a questão, pois aplicam-se os
tais 14 dias de reflexão.
Já se comprar um aparelho total-
mente personalizado numa loja
física, verifique se o vendedor per-
mite algum período de experiência,
pois não pode devolver o produto
sem invocar uma razão. A lei só lhe
permite fazê-lo perante um defeito
e, neste caso, basta invocar a garan-
tia do produto.
lojas compra
a auditiva Na loja eleita, explique ao técnico
rta para o as suas atividades diárias e
os em várias necessidades. Considere as funções
equipamento. do aparelho e não a marca (alguns
hamento do trazem controlo remoto e bluetooth).
de eventuais Investigue a existência de microfone
ão do aparelho direcional e a possibilidade de eliminar
as vêm o ruído de fundo e amplificar o som.
al é que Não desista perante as dificuldades.
ocumento Volte à loja as vezes necessárias
fira as até que o equipamento fique
perfeitamente ajustado.
A perda Porém, aquilo que o consumidor
perceciona como defeito nem
sempre, de facto, o é. Primeiro, um
aparelho não devolve a audição,
pelo que não irá ficar miraculosa-
e ao mente a ouvir depois de instalá-lo.
Depois, nem toda a gente se adap-
social ta à primeira. Aspetos como o nível
sonoro e o ruído de fundo têm de
ser ajustados em função de cada
paciente. Escolha um profissional
de saúde disponível para resol-
ver os problemas e não desista: o
ajudas financeiras
A Segurança Social reembolsa uma
parte das despesas a crianças até
aos 16 anos e idosos, desde que o
aparelho seja receitado por um médico.
A resposta ao pedido e o montante
atribuído estão dependentes do
Orçamento Geral do Estado destinado
às ajudas técnicas. O candidato deve
apresentar a ficha de prescrição
e juntar cópia do bilhete de identidade
e três orçamentos com valores
atualizados.
sucesso é uma corrida de fundo
e não uma prova de velocidade.
Analisámos as vantagens e os in-
convenientes dos principais tipos
de aparelhos e recolhemos os pre-
ços numa dúzia de lojas de Lisboa e
do Porto. Prepare-se para um preço
que pode ir dos 489 aos 3980 euros.
Se tem dúvidas quanto à sua capa-
cidade auditiva, também pode pas-
sar pelo nosso portal (www.deco.
proteste.pt) e completar o questio-
nário de avaliação.
>
O aparelho
deve estar
adaptado às
necessidades
do doente.
Não caia na
tentação de
comprar na
Net ou em
segunda mão
manutenção
teste saúde 108 abril/maio 2014
Verifique a facilidade em trocar
as pilhas. Algumas, de pequena
dimensão, podem colocar dificuldades
aos utilizadores com limitações nos
movimentos das mãos. Investigue
também que cuidados deve seguir
para conservar o aparelho (por
exemplo, como limpar a humidade
e a cera produzidas pelo ouvido).
A maioria das lojas que visitámos
disse oferecer a manutenção.
Informe-se junto do vendedor.
33
 Aparelhos Auditivos
>
Laços sociais em risco
■ Depressão, ansiedade e sensação
de que os outros estão zangados
são consequências de deixar de
ouvir o mundo à nossa volta. A au-
dição é um processo complexo, que
implica captar os sons, descodificá-
-los e atribuir-lhes um significado.
Compreender os indivíduos com
quem interagimos e os ambientes
em que nos movemos mantém o
nosso laço com a sociedade. Apesar
disso, muitas pessoas mantêm-se
Os aparelhos em estado de negação e demoram
estão cada a procurar ajuda médica. Outras
nunca chegam a fazê-lo.
vez mais
■ Perder capacidade auditiva ao
sofisticados. viajar de avião ou subir uma mon-
Mas não tanha são problemas algo frequen-
pague por tes, mas passageiros. As perdas
funções sem permanentes devem-se a fatores
interesse hereditários, à exposição contínua
a fortes ruídos, ao uso de certos
para si
medicamentos (por exemplo, na
quimioterapia), a algumas doenças
(caso da meningite), mas sobretudo
ao avanço da idade (presbiacusia).
Esta deficiência foi apontada como
uma das condições crónicas mais
frequentes na população portugue-
sa acima dos 65 anos, afetando 30 a
40% dos indivíduos.
■ Perante situações como cansaço
pelo esforço de tentar ouvir ou sen-
sação de que os outros estão a mur-
murar (confira todas as situações
de alerta na página 32), procure o
otorrinolaringologista. O nível e o
tipo de perda auditiva são deter-

quatro opções para ouvir melhor

Retroauricular Intra-auricular Intracanal Intracanal profundo

Preço médio: 1340 euros
Adaptam-se a qualquer nível
de perda auditiva. Sofrem menos
avarias, pois o processador fica
fora da orelha e não contacta
com humidade ou cera. A parte
externa é de uso universal
e a interna feita por medida.
O som é bom, mas pouco
natural. São menos discretos.
Preço médio: 1668 euros
Também se adaptam a todos
os problemas auditivos. O som
é mais natural, pois o dispositivo
fica mais próximo do ouvido
interno. Feitos por medida, não
são aconselhados para ouvidos
com muita humidade ou cera,
mas alguns têm um canal para
eliminar estas substâncias.
Preço médio: 1645 euros
 terceira solução, mais
A De pequena dimensão
estética, também cobre todos
os tipos de problemas. Feita
por medida, produz um som
natural e confortável. Pessoas
que produzam muita humidade
e cera têm mais dificuldade
em usar. Mas o aparelho pode
possuir um canal de excreção.
Preço médio: 1553 euros
e discretos, não são
recomendados para casos
graves de surdez. Feitos por
medida, devolvem um som
mais natural. Também não
são a melhor escolha para
ouvidos que produzem muita
humidade ou cera.

Não arrume o aparelho na gaveta

Após gastarem uma elevada soma, muitos doentes desistem ou pedem
o dinheiro de volta à loja. Poucos aparelhos ficam operacionais à primeira.
Fale com o vendedor as vezes necessárias até resolver o problema.
teste saúde 108 abril/maio 2014

■ Teste o aparelho em diversos ambientes:
por exemplo, ao telefone, com e sem ruído
de fundo e em atividades diferentes.
Algumas pessoas consideram o som
demasiado elevado e pouco natural.
Estes fatores podem ser ajustados.
■ Com o tempo, ficará mais habituado
aos novos sons. No início, é aconselhado
um uso diário de apenas algumas horas,
em ambientes tranquilos.
■ Peça ao técnico da loja que lhe ensine
alguns truques para resolver problemas
simples e veja qual a disponibilidade
para discutir situações mais complexas.
■ É importante estabelecer uma boa
relação com a loja, sobretudo nas
primeiras semanas de utilização. O técnico
ou profissional de saúde deve manter
o nível de motivação do doente, mas O som e o ruído de fundo podem ser
com expectativas realistas. adaptados para maior conforto

34
minados com um audiograma to-
nal, teste em que o indivíduo tem
de identificar diversas intensida-
des sonoras. Mas também pode
ser usada uma audiometria vocal,
para avaliar se o paciente distin-
gue a palavra falada em diferentes
volumes de som.
Soluções para voltar
a ligar-se ao mundo
■ Confirmado o diagnóstico de
perda auditiva moderada a severa,
o médico considera duas possibi-
lidades consoante as necessidades
do doente: implante coclear ou
aparelho auditivo, aplicado ape-
nas num ou em ambos os ouvidos.
No primeiro caso, um dispositivo
eletrónico, como o nome indica,
é colocado atrás da orelha. Desti-
nados a situações graves de sur-
dez, os implantes são compostos
por um processador, que capta os
sons e os envia para um recetor.
Demora algum tempo a aprender
a interpretar os sons recebidos de
um implante coclear. Quanto à
segunda solução, analisamos as
respetivas características na ilus-
tração ao lado.
■ Para funcionarem, alguns apa-
relhos têm de ser feitos por me-
dida e adaptar-se ao doente. Mas
é preciso ter a noção de que estes
dispositivos não curam a per-
da auditiva: aumentam o volu-
me do som que entra no ouvido.
O doente passa a percecionar uma
maior gama de sons, mas não há
intervenção sobre a distorção.
Os modelos digitais, por si só, não
são mais eficazes do que os analó-
gicos, mas permitem integrar fun-
cionalidades extra, como redução
do ruído de fundo e do feedback,
melhoria da qualidade do discur-
so captado, microfones direcio-
nais e adaptação do aparelho ao
tipo de ambiente (mais ou menos
ruidoso). Estes aspetos melhoram
o conforto, mas aumentam o custo
do equipamento e alguns podem
exigir afinações nos primeiros
tempos.
■ Certos aparelhos vêm com op-
ções que também reforçam a
qualidade do som. É o caso dos
adaptadores para telefone, que,
durante uma chamada, elimi-
nam os ruídos de fundo e captam
apenas a conversação. Alguns
aparelhos mudam automatica-
mente para este modo quando o
telefone é aproximado da orelha.
Noutros casos, é preciso acionar
um interruptor. Por sua vez, o
bluetooth, incorporado nos mo-
delos mais recentes, capta o som
de equipamentos com a mesma
tecnologia, como telemóveis.
Já o controlo remoto permite, en-
tre outros, regular o volume do
som, ativar o microfone direcional
e aumentar o nível de redução do
ruído sem tocar no aparelho.
■ Apesar do interesse das novas
tecnologias, o mais importante é
que o modelo escolhido se adapte
às características do doente e dis-
ponha das funções que este con-
sidera realmente úteis. Não pague
mais por opções que nada servem Não há grande diferença de qualidade entre marcas
para si.
■ Muitos indivíduos não gostam de
revelar que estão a usar um apare-
lho, pelo que, em vez dos modelos
retroauriculares, preferem os que
se destinam ao interior do ouvido
(intracanal). Mas nem todos são
bons candidatos a estes modelos
mais pequenos. Quando a perda
auditiva é maior, os retroauricula-
res podem ser mais eficazes, uma
vez que conseguem gerar mais
potência e melhorar os sons cap-
tados pelo ouvido. Além disso, os
modelos de pequenas dimensões
oferecem menos funções e po-
dem colocar maiores dificuldades
a quem tem limitações ao nível da
motricidade das mãos.
■ Os aparelhos auditivos funcio-
nam a pilhas e, quanto mais fun-
ções apresentarem, maior o con-
sumo. De acordo com um teste
comparativo realizado pela orga-
nização de consumidores belga
nossa congénere, a qualidade
das pilhas não depende da marca
nem do preço. Por isso, escolha as
mais baratas. Os resultados deste
Alguns estudo mostram ainda que é pre-
aparelhos ciso trocar as pilhas a cada seis a
permitem oito dias. Cada unidade custa a
partir de 40 cêntimos, pelo que
melhorar a deve contar com um custo mensal
qualidade do mínimo de 2 euros por aparelho.
som numa As embalagens contêm seis a oito
chamada pilhas. Encontram-se à venda em
telefónica centros auditivos, lojas de eletró-
nica e eletrodomésticos e farmá-
cias. Algumas lojas oferecem jogos
de pilhas com o aparelho.
■ Se notar sinais de perda auditiva,
não perca tempo a negar o proble-
ma. Procure o médico para encon-
trar uma solução à sua medida.
de pilhas. Escolha as mais baratas
Teste saúde aconselha
Não desista à primeira
´
Os aparelhos não devolvem a audição
perdida. Para melhorar a captação dos sons,
o doente deve estar preparado para um pe-
ríodo de adaptação, com os ajustes que fo-
rem necessários até obter um resultado con-
fortável. O uso prolongado melhora a perce-
ção dos sons.
´
Não compre por impulso, na Internet ou
pressionado pela publicidade, sobretudo apa-
teste saúde 108 abril/maio 2014
relhos em segunda mão. Estará a desperdiçar
dinheiro. Nestes casos, os equipamentos não
são feitos por medida, de acordo com as ca-
racterísticas de cada doente.
´
Pesquise preços em várias lojas e verifi-
que as funções dos aparelhos que para si são
importantes. Não desista à primeira.
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