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Sintaxe e Semântica das Notícias Online: Para um

Jornalismo Assente em Base de Dados∗


António Fidalgo
Universidade da Beira Interior

Índice notícias, artigos de opinião, cartoons, publi-


cidade, classificados, e outras informações
1 As notícias como objectos classificá- de cariz diverso, não suscita dúvida que
veis ou dados 1 as notícias constituem o seu núcleo. Ora
2 Jornalismo on-line e bases de dados 2 estas já se encontram de algum modo or-
3 A revitalização do passado 3 ganizadas, nomeadamente por secções, pá-
4 Uma nova sintaxe das notícias 4 ginas ou cadernos. Habitualmente temos
5 Da sintaxe à semântica 7 uma secção de política nacional, outra de
6 A resolução semântica no on-line 8 política internacional, uma de economia, ou-
7 Conclusão 9 tra de desporto, uma de educação ou ciência,
e ainda outras.
1 As notícias como objectos A organização de um jornal constitui in-
classificáveis ou dados dubitavelmente um objecto de estudo para
uma sintaxe das notícias enquanto unidades
Independentemente das diversas teorias so- de significação jornalísticas. Um diário de
bre as notícias, se meros espelhos da rea- referência hoje em Portugal, como o Diário
lidade como pretendia o positivismo do sé- de Notícias ou o Público, divide-se em cerca
culo XIX, se construtos moldados por con- de 12 a 15 secções, como aliás é bem patente
venções, instituições e rotinas, como pre- nas respectivas versões on-line. As notícias
tendem concepções mais recentes, as notí- aparecem divididas e organizadas por gru-
cias podem ser consideradas objectos, per- pos temáticos definidos com maior ou menor
feitamente passíveis de serem classificados precisão. Cada notícia aparece, por conse-
como outros objectos e entrarem na catego- guinte, classificada dentro do jornal. E de tal
ria de dados a organizar em bases de da- maneira é assim, que um leitor pode perfeit-
dos. Tome-se um jornal de referência como amente cingir-se (principalmente numa lei-
objecto de análise. Embora composto por tura on-line) apenas a uma área temática do
∗ jornal.
Publicado em André Lemos et alt., Mídia.br. Li-
vro da XII Compós – 2003; Porto Alegre: Editora Su- Normalmente a disposição das partes de
lina, 2004, p. 180-192. um jornal diário é de colocar nas primeiras

1
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páginas as secções de política e de sociedade dividir e organizar num muitíssimo maior


de âmbito nacional e, no fim, as secções de- número de classificações que o jornal im-
dicadas ao desporto e à economia. O leitor presso. É um facto que as versões on-line
habitual sabe onde encontrar as notícias que dos jornais são apenas uma cópia das ver-
são do seu interesse, ou melhor, as respecti- sões impressas, e mesmo os jornais unica-
vas áreas noticiosas. mente digitais, seguem o figurino tradicional
Há um certo rigor e necessidade na divisão dos jornais de papel. Contudo, o novo meio,
de um jornal na medida em que se estabelece a Internet, torna possível que a configuração
um código com os leitores quanto à organi- do jornal se altere radicalmente consoante o
zação do jornal. Mesmo que num determi- desejo do leitor.
nado dia abundassem as notícias de determi- Numa notícia entram pessoas, tempos,
nada área e minguassem as de outra, nem por locais, acontecimentos, ligações a eventos
isso, em regra, uma secção duplicaria o seu passados e a expectativas de consequências
espaço à custa da outra. O número de notí- futuras. Ora cada uma destas componentes
cias de uma secção é limitado e obedece a da notícia pode perfeitamente servir para a
um número que não sofre muitas variações. classificar num mesmo grupo com notícias
Mas estas relações sintagmáticas entre as que poderiam apenas ter em comum essa
partes de um jornal do dia são criadas pelo única característica. Num jornal impresso
hábito das edições anteriores do mesmo jor- podem perfeitamente surgir notícias ocorri-
nal, que constituem como que relações pa- das num mesmo país estrangeiro, mas que
radigmáticas em sentido saussureano. A são agrupadas consoante a divisão habitual
secção de desporto da edição do dia liga-se do jornal, as notícias de desporto na secção
por associação à secção dos dias anteriores e, de desporto e as de economia nas da respec-
de algum modo, em perspectiva às dos dias tiva secção, todavia nunca numa secção rela-
seguintes. tiva a esse país.
À partida verifica-se que as notícias, além Qualquer elemento da notícia, desde a
de serem classificadas como notícias do fonte e jornalista até ao destaque dado às
dia, são também classificadas por temas, da notícias ou ao corpo de letra em que surge,
política e cultura à economia e desporto. pode ser uma característica da notícia, e
como tal uma classificação que permite a
constituição de relações com outras notícias.
2 Jornalismo on-line e bases de
Voltarei à frente a este tema, nomeadamente
dados de que a pesquisa numa base de dados pode
É compreensível que a organização de um ser feita não somente quanto a conteúdos,
jornal impresso apenas possa orientar-se mas também quanto às formas dadas a esses
por pouco mais do que uma classificação conteúdos.
temática das notícias, embora as secções ou As possibilidades existem de um novo jor-
cadernos locais sigam uma classificação de nalismo electrónico em que a organização do
localidade e não tanto de temática. Contudo, jornal se faz, desfaz e refaz de acordo com
nada obsta a que um jornal on-line se possa os critérios de consulta do leitor. O que se
passa no entanto é que a larga maioria dos

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jornais on-line ainda não funciona sobre base As edições anteriores de um jornal consti-
de dados. E aqui há que não confundir de tuem a sua colecção. Nas versões de papel
modo algum hipertexto com bases de dados. o arquivo dessa colecção está habitualmente
O que simplifica os jornais on-line são as disponível em bibliotecas ou em colecciona-
relações hipertextuais que permitem consul- dores, além de, é óbvio, na sede do jornal.
tas rápidas e cómodas de matérias associa- Nas versões on-line existe a possibilidade de
das com a notícia em causa. Porém aqui as manter on-line os números anteriores do jor-
relações ou links estão previamente estabe- nal, todo o arquivo da colecção.3 O custo
lecidos, são estáticos. Numa base de dados, dessa manutenção é mínimo, directamente
ao contrário, apenas se cria o tipo de relação proporcional à tremenda diminuição dos cu-
deixando em aberto quais os correlatos des- stos de unidades de armazenamento digitais,
sas relações. No hipertexto temos ligações nomeadamente discos duros.
de página a página, na base de dados temos Contudo essa disponibilidade on-line é
relações de campos, podendo cada campo estática. Cada edição vale por si e constitui
comportar um número aberto de páginas.1 uma unidade própria, não inviabilizando isso
A grande diferença entre um jornal on-line todavia que se estabeleçam links com pági-
feito apenas em html é que de certo modo ele nas de edições anteriores. O arquivo fica or-
é um produto único, ainda que recorrendo a ganizado apenas pela data das edições. En-
templates, ao passo que um jornal assente em contrar uma notícia de uma edição anterior
base de dados é sempre o resultado de uma pode revelar-se difícil, no caso de não se sa-
determinada pesquisa (query) dependente do ber a data da edição do jornal que continha
conjunto de notícias inseridas e da estrutura a dita notícia. A dificuldade pode ser su-
da base de dados. Aqui mantém-se necessa- perada com a ajuda de um motor de busca,
riamente a organização imposta pela base de contudo o resultado dessa busca não consti-
dados, enquanto no caso do html a estrutura tui uma unidade jornalística, antes se limita
pode ser alterada de modo arbitrário. a uma capacidade informática aplicada a um
conjunto de dados.
A proposta da revitalização do arquivo das
3 A revitalização do passado
colecções dos jornais on-line mediante uma
O que foi dito tornar-se-á mais claro e gan- base de dados é muito mais que a facili-
hará uma nova dimensão introduzindo a dade de pesquisa de notícias passadas. Se
noção de arquivo on-line da colecção.2
tográfico, etc., publicado ou não, que fornece o fun-
1
- Para alguém que saiba um pouco de hipertexto damento histórico do jornal. No arquivo de um jornal
e de bases de dados on-line verificará facilmente, con- podem existir múltiplas fotos de um evento noticiado,
sultando a barra de endereços, isto é através da forma mas dessas fotos apenas uma ou poucas (as publica-
como se transita de url para url dentro do mesmo jor- das) pertencerão ao arquivo da colecção. Esta dis-
nal, se se trata de um jornal feito só em html ou se tinção é válida para os todos os jornais.
3
corre sobre uma base de dados. - Um exemplo é o semanário on-line Urbi et
2
- Distingo entre arquivo do jornal e arquivo da Orbi, www.urbi.ubi.pt, do curso de Ciências da Co-
colecção do jornal. O último é constituído pela co- municação da Universidade da Beira Interior, que
lecção dos números publicados do jornal, o primeiro mantém on-line todos os números anteriores, desde
é muito mais vasto e inclui todo o material, texto, fo- o seu primeiro número de 7 de Fevereiro de 2000.

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considerarmos todas as edições de um jornal proporção em que pode ser recuperado e, de


como elementos de uma base de dados, então novo, presente à atenção. Dito isto, parece
poderemos conceber uma edição, tanto as inquestionável que a manutenção on-line do
passadas como a actual, de um jornal como arquivo da colecção, organizado em base de
o resultado de uma pesquisa feita por datas. dados, incide directamente sobre a estrutura
A edição actual de um jornal será o resul- de um jornal on-line.
tado da pesquisa feita pela data mais recente.
É claro que, para que as notícias recentes
4 Uma nova sintaxe das notícias
não apareçam num aglomerado sem sentido,
o resultado dessa pesquisa deverá obedecer Um jornal on-line demarca-se desde logo
a condicionais de organização temática, po- dos jornais impressos, mesmo do seu even-
dendo perfeitamente, porém, a ordem desta tual original impresso, na medida em que
organização ser estabelecida pelo leitor. A não se organiza numa sucessão contínua de
data será apenas um de entre outros possíveis páginas, mas antes em níveis de profundi-
critérios de determinação e organização da dade (hipertexto) relativos à página inicial,
unidade de um jornal. A consequência será considerada como superfície. Num jornal
inevitavelmente o desaparecimento da figura impresso temos na primeira página as notí-
de edição fixa. Uma edição será sempre o cias de destaque, por vezes em jeito de simp-
resultado, gerado automaticamente, por uma les índice, outras vezes incluindo leads mais
pesquisa na base de dados através de deter- ou menos longos. Não são indicadas con-
minada data. tudo, em regra geral, as secções temáticas.
Estando as notícias anteriores acessíveis O jornal on-line, ao contrário, além de ter
on-line a aparência primeira de um jornal logo na página de acesso o índice das notí-
deixa de ser a de uma edição fixa para se tor- cias de destaque, traz também os links para
nar na ponta de um iceberg em que o que essas secções. Existem jornais on-line, so-
jaz submerso pode ser sempre trazido à su- bretudo os que são exclusivos do novo meio,
perfície. Claro que a actualidade é sem- isto é, sem uma versão impressa, que se
pre o primeiro critério na configuração stan- caracterizam por logo na página inicial de
dard ou privilegiada da sintaxe de um jornal, acesso terem um índice de todas as notí-
mas essa sintaxe pode ser alterada consoante cias, agrupando as notícias também por te-
as associações profundas que as suas partes mas, política, economia, desporto, etc., mas
evocam. O que num jornal impresso pode- listando simultaneamente todos os títulos das
ria figurar como uma notícia menor, de pá- notícias das diferentes secções. Enquanto
gina interior, pode revelar-se no fim de uma num jornal impresso todas as notícias de pri-
cadeia de notícias como uma notícia de pri- meira página são eo ipso de algum modo de-
meira página. O que se pressupõe aqui é stacadas, num jornal on-line isso não acon-
que a informática é capaz de estabelecer os tece. Neste caso os destaques são feitos
elos de uma cadeia de acontecimentos cujo pelo aparecimento no topo da página, por
nexo passaria despercebido à vista, ou mel- um corpo de letra maior, e, eventualmente,
hor, a uma memória desarmada. O passado pela junção de uma fotografia. Como a
condiciona e determina o presente na justa primeira página pode ter, mediante scrol-

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ling, um cumprimento extremamente variá- a edição do jornal. As contradições saltam


vel, têm destaque as notícias que aparecem mais à vista numa apresentação síncrona, si-
logo no topo da página, as que saltam á vista, multânea, do que numa apresentação mais
ainda antes de qualquer gesto de interactivi- dilatada no tempo, diacrónica, como, apesar
dade por parte do leitor. de tudo, existe nos jornais impressos.
A sucessão do folhear do jornal impresso Mas a concordância sintáctica que se ap-
é substituída pelo saltar entre as diferentes lica, e se verifica, melhor nos jornais on-line,
secções do jornal, indo da primeira página automatiza-se com a introdução das bases
directamente para uma notícia, regressar à de dados. É que a concordância das notí-
primeira página e saltar para uma temática, cias já não depende da atenção de um indi-
verificar quais os artigos que contém, saltar víduo, nomeadamente do director do jornal,
de imediato para uma outra temática, inde- que controla o conjunto das notícias, mas re-
pendentemente da ordem em que as temáti- sulta da estrutura da base de dados. A má-
cas aparecem na primeira página ou nos to- quina sintáctica de Chomski4 realiza-se desta
pos e fundos de cada página temática, para feita, aplicada aos jornais enquanto estrutu-
não falar já nas páginas que, divididas em ras complexas.
dois ou mais frames, mantêm sempre o frame Como foi dito atrás, os jornais assentes
com as ligações às diferentes temáticas. em base de dados distinguem-se entre os jor-
Há claramente uma tendência nos jor- nais on-line por não terem edições fixas, pelo
nais on-line para dar num relance, de uma facto de uma edição ser apenas uma confi-
forma rápida e clara, o conjunto de notí- guração possível gerada pela base de dados.
cias, como que procurando condensar todo Tal configuração, porém, é automática. Ex-
o jornal numa primeira página. A segunda emplifiquemos como isso acontece num caso
tendência é facultar o acesso imediato (um muito específico. Se dois jornalistas intro-
único clique de rato) às notícias que, lista- duzirem as respectivas notícias na base de
das na página inicial, suscitam o interesse do dados que estrutura o jornal, as notícias são
leitor. Tem-se assim um quadro de simulta- organizadas no jornal, entre outros critérios,
neidade – e a simultaneidade das notícias é pela data em que cada um insere as notí-
uma das características do jornalismo escrito cias. Se ambos estiverem a trabalhar sobre
face ao radiofónico ou televisivo – superior o mesmo assunto, por exemplo, a contagem
nos jornais on-line que nos impressos. Dito de votos de uma eleição, não cabe ao direc-
de outra forma, a sincronia do on-line é mais tor do jornal verificar qual é a notícia mais
exacta que a do papel. Num jornal on-line recente, e, portanto, eventualmente, a mais
não há as notícias de última hora como su- exacta, mas a própria base de dados coloca
cede nos jornais tradicionais, que por vezes automaticamente no topo do jornal a notí-
contradizem notícias dadas na mesma edição cia inserida mais tarde, ou mesmo, a notícia
do jornal. Tal sincronia na apresentação com a indicação da recolha de dados mais
das notícias permite uma melhor verificação recente. A solução de apresentação de notí-
da coerência das notícias. O princípio da 4
- Cf. Chomski, Noam, Estruturas Sintácticas,
não contradição que se aplica a cada artigo Lisboa: Edições 70, 1980.
estende-se no on-line mais facilmente a toda

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cias pode ter aqui diferentes formas: ou as cípio que o faz já com a ajuda dos novos
notícias são listadas crescentemente em si- meios de comunicação, como o correio elec-
multaneidade, indo ocupando as mais recen- trónico. Este procedimento é completamente
tes o topo da lista, ou então sucessivamente, alterado com o uso de base de dados. O jor-
a mais recente substituindo a anterior, mas nalista não envia a notícia avulsa para a re-
contendo em si os links para as anteriores. dacção do jornal, antes é ele que de imediato
É a estrutura da base de dados que de- a insere na base de dados no jornal. Fá-lo
termina a forma como as diferentes notí- via internet, através de uma máscara de in-
cias aparecem conjugadas na apresentação serção de notícias que apresenta vários cam-
on-line. Existe, por conseguinte, um rigor pos, como, por exemplo, o título, o lead e
sintáctico na organização das notícias, que corpo da notícia. Haverá dados que a base de
é ao mesmo tempo consequência e tradução dados fornecerá automaticamente, em parti-
da estrutura lógica da base de dados. É ju- cular a identificação do jornalista, já que ace-
stamente este aspecto das bases de dados, a deu à base de dados com determinado lo-
sintaxe rigorosa dos resultados das suas pes- gin e respectiva password, e a data e a hora
quisas, que importa aqui realçar. Se numa da inserção da notícia. Evitar-se-ão deste
língua é fundamental a sua estrutura, a con- modo as autorias erradas de notícias. Outros
cordância das suas partes, também um jornal campos poderão ser contemplados, nomea-
depende da concordância das suas diferentes damente fotografias, secções temáticas a que
partes. o jornalista considera que a notícia pertence
Deixando de lado a importante compo- e, eventualmente, indicação das fontes da
nente da eficácia na elaboração do jornal, notícia (podendo obviamente omitir essa in-
nomeadamente do trabalho da sua edição, a dicação no caso de desejar mantê-las em se-
base de dados é um instrumento de rigor na gredo). Depois de introduzida na base de da-
elaboração de um conjunto ordenado de notí- dos, a notícia pode ser submetida a uma aná-
cias. O ponto mais fulcral da concordância lise por parte de um programa informático,
de um sistema ou conjunto é seguramente o que a classifica mais detalhadamente conso-
princípio da não contradição, que subjaz à ante nomes de pessoas, lugares, datas e even-
coerência e consistência das partes. tos que nela ocorram. Esta análise depende
Poder-se-á perguntar como é que a base da “inteligência” do programa, em especial
de dados realizará estes princípios lógico- quanto ao pormenor e à pertinência da classi-
sintácticos num jornal. Compreender-se-á a ficação. Introduzida e classificada a notícia,
função sintáctica da base de dados, através ela poderia de imediato ser editada (título
das diferentes funções que assume na feitura com determinado tamanho de letra, lead co-
do jornal, desde a produção até à edição e locado a itálico na primeira página, com um
apresentação das notícias. Comecemos pela link para a página respectiva da notícia) e
produção, redacção e envio das notícias por apresentada no jornal on-line. Poder-se-ão,
parte do jornalista. Habitualmente um jor- no entanto, introduzir pontos de segurança,
nalista redige uma notícia num computador como a verificação e confirmação da notí-
mediante um editor de texto e envia o texto cia por parte da chefia da redacção e da di-
para o chefe de redacção. Partamos do prin- recção do jornal. Ou então, dotar os redac-

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tores de privilégios diferenciados. Um ar- das como unidades elementares que se as-
ticulista, que escreva um artigo de opinião sociam para formarem unidades complexas.
periodicamente, poderá ter privilégio com- Qualquer infracção a estas regras implicará
pleto, que seria a introdução do seu texto e uma insuficiência ou inexactidão referencial.
automática edição e apresentação. Por sua vez, a consistência de um conjunto
A coerência sintáctica das notícias, orga- de notícias é a primeira garantia da sua vera-
nizadas numa base de dados, não se limita a cidade.
uma edição, até porque esta estritamente não Com a crescente abundância ou até ex-
existe, mas a todas as notícias, presentes e cesso de informações veiculadas on-line
passadas. Uma notícia recente remete, medi- torna-se cada vez mais difícil verificar a ver-
ante a inclusão dos títulos e respectivos links, acidade das notícias. A diversidade e a proli-
para as notícias anteriores que incidam direc- feração de fontes e de meios obrigam mesmo
tamente ou indirectamente com o assunto em a uma confirmação mediante outras fontes
questão. As regras da sintaxe aplicam-se ao e outros meios. Por isso tenta-se conseguir
todo da base de dados. com um tratamento sintáctico das notícias o
As vantagens dos sistemas de informação, que não se consegue semanticamente. Em
rigor e coerência das diversas informações, termos semânticos uma notícia tem como ga-
estendem-se ao jornalismo. Os jornais ob- rantia da sua veracidade o testemunho do
têm estruturas lógico-sintácticas rigorosas jornalista que teve um conhecimento directo
próprias que os demarcam de um jornalismo ou próximo do evento noticiado e a credi-
artesanal, pré-electrónico e de algum modo bilidade do órgão em que a notícia é publi-
avulso. cada, mas este quadro é cada vez mais raro
Jornalista e público podem verificar a no mundo do on-line. A profusão de notí-
coerência das notícias, na feitura e na lei- cias e concomitante diversidade levam a que
tura. Um jornalista não mais poderá exercer a sua veracidade seja medida em termos de
cabalmente a sua profissão sem o recurso às consistência, tanto com notícias que surgi-
informações que um arquivo em base de da- ram anteriormente como com notícias que se
dos lhe oferece. Um leitor não dispensará o lhes seguem. Cada vez mais somos levados
background informativo de uma notícia. a ficar mais na comprovação sintáctica das
notícias do que na sua verificação real, isto
é, avaliar a sua credibilidade pela consistên-
5 Da sintaxe à semântica
cia revelada com outras notícias.
A sintaxe rigorosa das notícias é por si uma Além da consistência das notícias temos
prova da semântica ou veracidade das notí- também a sua completude. No jornalismo
cias. Não será uma prova suficiente, mas tradicional as notícias surgem frequente-
será certamente necessária. Se as notícias mente de uma forma avulsa, não sistemática.
se contradizem então não poderão ser ver- Contudo, poderá verificar-se que, analisando
dadeiras, simultaneamente e sob o mesmo duas notícias sequenciais sobre um mesmo
aspecto. As regras do cálculo proposicio- evento, ou um mesmo conjunto de even-
nal, de conjunção, disjunção e condicionais, tos, falta uma notícia para uma informação
aplicam-se obviamente às notícias, encara- completa sobre o sucedido. Ora é tam-

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bém este parâmetro noticioso que um jorna- nalismo de fonte aberta7 e a extraordinária
lismo on-line assente em base de dados tem multiplicação das fontes, mostram que a re-
muito mais facilidade em cumprir. Mesmo colha de informação se tornou com o on-
sem uma verificação semântica, basta ter em line muito mais plural e diversa. A confir-
conta a sintaxe das notícias para um apura- mação das notícias é mais fácil e rápida do
mento não só da consistência das notícias que nunca.
entre si, mas também da sua completude. Também aqui a utilização de bases de
Ora à completude sintáctica corresponde se- dados é de crucial importância. Aliás
manticamente uma maior objectividade das isso acontece já, mesmo que desapercebida-
notícias. mente, com a utilização de programas de cor-
reio electrónico como o Microsoft Outlook,
onde se faz a gestão integrada de contactos,
6 A resolução semântica no
agenda e emails sobre uma base de dados. A
on-line organização rigorosa de contactos, com uma
A semântica das notícias on-line retoma a base de dados com nomes, telefones, mora-
questão da objectividade e da verdade das das, companhias, profissões, e outros cam-
notícias. As notícias on-line obedecem no pos, considerados relevantes, é em si funda-
fundo e genericamente aos mesmíssimos mental e indispensável a um trabalho rigo-
critérios da verdade jornalística válidos para roso de investigação jornalística. Um com-
imprensa, rádio e televisão. Contudo, tal putador portátil, ligado à rede,8 é hoje um
como a notícia televisiva se distingue espe- instrumento fundamental para qualquer jor-
cificamente da notícia radiofónica pelo facto nalista apostado em investigar a fundo um
de introduzir a imagem e, desse modo, in- tema noticioso. A gestão integrada da lista
cluir novos elementos informativos, as notí- de contactos, da agenda, de emails, e das
cias on-line, que podem ser de texto, voz informações obtidas via web, constitui uma
e imagem em movimento, ou seja, notícias ferramenta decisiva na obtenção, análise, e
multimédia, caracterizam-se justamente pela confirmação das notícias.
diversidade informativa. O que importa aqui Quanto à publicitação on-line das notícias
tratar é, pois, a especificidade do on-line face sobre bases de dados elas têm várias vanta-
aos outros meios de comunicação no que à gens na objectividade das notícias, vantagens
semântica diz respeito. Home Pages and Refugees” em Hall, Jim, On-line
No acesso às fontes a Internet veio abrir Journalism. A Critical Primer, London: Pluto Press,
novos horizontes ao trabalho de investi- 2001, pp. 94-127.
7
gação jornalística, nomeadamente a web e o - Cf. os artigos de Luís Nogueira “Slashdot, co-
munidade de palavra” e de Catarina Moura “O Jor-
email.5 Os casos referenciados da Guerra na nalismo na era Slashdot” em Biblioteca On-line de
Bósnia e do Kosovo,6 o aparecimento do jor- Ciências da Comunicação, www.bocc.ubi.pt.
8
5 - Pelo processo de miniaturização dos dispositi-
- Sobre o tema conferir Paul, Nora M., Compu-
vos tecnológicos, os portáteis estão a ser substituídos
ter Assisted Research. A Guide to Tapping On-line
pelos PDAs (no género de Pockets PC), ou por te-
Information, The Pointer Institute for Media Studies,
lemóveis com programas sofisticados e integrados de
1999.
6 agenda e de gestão de email.
- Sobre o tema ver o cap. 4 “Armageddon.com:

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que subsumirei no conceito de resolução ou se a uma maior resolução semântica das notí-
de alta resolução semântica. cias através da participação da comunidade,
Primeiro, a pluralidade e a diversidade das de tal modo que é essa participação e corre-
fontes dá origem a uma maior riqueza de per- spondente grau de resolução semântica que
spectivas sobre a notícia. Mais do que uma determina a importância ou o destaque da
descrição única e extensa de um dado evento, notícia.
o on-line promove um mosaico informativo A objectividade da notícia ganha no on-
de pequenas notícias sobre o tema. As bases line sobre base de dados o sentido assintótico
de dados permitem agrupar as notícias sobre de uma meta a atingir no infinito, onde a
o mesmo evento, ainda que elaboradas su- aproximação é feita por um aumento da re-
cessivamente, e oferecê-las simultaneamente solução semântica.
ao leitor. Dependendo da importância e do
interesse do acontecimento relatado, as notí-
7 Conclusão
cias aumentarão em número e em detalhe,
permitindo desse modo uma visão mais em O jornalismo on-line recorrerá necessaria-
pormenor do acontecimento. Tal como uma mente à tecnologia das bases de dados como
imagem digital aumenta a sua qualidade com especificidade que o distinguirá substancial-
o aumento da resolução gráfica, ou seja com mente do jornalismo dos meios tradicionais
o número de pixels por centímetro quadrado, da imprensa, rádio e televisão. Enquanto não
assim também um determinado evento rece- enveredar pela tecnologia das bases de da-
berá uma melhor cobertura noticiosa quanto dos, apenas será uma cópia dos meios tra-
maior for a sua resolução semântica, consti- dicionais. Será essa especificidade que lhe
tuída pela pluralidade e diversidade de notí- conferirá maior rigor, maior objectividade e
cias sobre o evento. melhor cobertura da realidade humana a no-
Segundo, a interactividade que caracteriza ticiar.
o on-line, permitindo aos leitores - incluindo A expansão à escala mundial, a possibili-
as próprias fontes - , participar no processo dade de aumentar indefinidamente o seu ta-
informativo, conduz a uma maior densidade manho e o acréscimo ilimitado de temáticas
semântica. Com efeito, o on-line permite e abrangidas, a manutenção on-line dos arqui-
estimula a participação dos leitores no jornal, vos das colecções, a interactividade, são fac-
pois que tem a vantagem de incluir as aden- tores que conduzirão o jornalismo on-line a
das, confirmações, correcções, comentários, ser impreterivelmente um jornalismo assente
respostas (ou os respectivos links) na mesma sobre base de dados. A tarefa que fica em
página web da notícia. Enquanto nos me- aberto é a experimentação e a investigação
dia tradicionais todas as reacções a uma notí- das novas formas de informação jornalística
cia aparecem diferidas no tempo, no on-line que os novos meios e as novas tecnologias
as reacções juntam-se à notícia, e podem vêm tornar possível. O jornalismo de fonte
mesmo ganhar um estatuto superior em ter- aberta é talvez o caso paradigmático de um
mos informativos do que a notícia original. jornalismo específico sobre bases de dados.
Sobretudo no jornalismo de fonte aberta, tal
como levado a efeito no slashdot.org, assiste-

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