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Carta on-line
Editor executivo: Vinicius Segalla
Editor: Rodrigo Durão
Editor de vídeo: Cauê Gomes
Repórteres:Ana Luiza Rodrigues Basilio (CartaEducação), Carolina Servio
Scorce, Gabriel Bonis, Marina Gama Cubas e Thais Reis Oliveira
Analista de mídias sociais: Julio Simões
Estagiários: Giovanna Costanti, Maria Paula Malheiros e Marina Lourenço
de Souza
Designers: Regina de Assis
Site: www.cartacapital.com.br
Publisher: Manuela Carta
Diretor executivo: Sergio Lirio
Gerente de marketing e relacionamento: Leticia Terumi Kita
Estagiária de marketing e relacionamento: Gabriela Lira Bertolo
Coordenador administrativo e financeiro: Mario Yamanaka
Equipe administrativa e financeira: Fabiana Lopes Santos e Rita de Cássia
Silva Paiva
Analista de RH: Claudinéia da Cruz
e-mail: comercial@cartacapital.com.br
ÍNDICE
06 de Março de 2019 - ano XIX - n° 1044
Cartas Capitais
Quatro cabeças, nenhum governo
Frases
Do caderninho de Stanislaw
Editorial
Outros carnavais
A Semana
A Semana
Reportagem de capa
De volta à Guerra Fria
Reportagem de capa
Guerra econômica
Economia Entrevista
Migalhas aos idosos
Nosso Mundo The Observer
A contrarrevolução
Plural Cinema
Um infiltrado em Hollywood
Bravo!
Bravo!
QI Aquecimento global
Esta foto não conta tudo
QI Ciência
Os gases da morte
Afonsinho
Soy loco por tí, América
QI Estilo
Arte degenerada
Vara
Por Severo
QUATRO CABEÇAS, NENHUM GOVERNO
Quanto mais suco de laranja, mais fortes eles ficam. Quero ver
quando a laranja apodrecer.
Ivanilda Nunes Luz
(Enviado via Facebook)
Entre erros e acertos, ele ainda foi o melhor. Quero ver se o atual
presidente fará 1% do que Lula fez.
Adriana Márcia Gonçalves
(Enviado via Facebook)
APROVAÇÃO
A 91ª edição do Oscar evoluiu bons passos na direção da diversidade. Mas podia ter sido
mais
38,9% aprovam a estreia do militar. O índice é o pior da série histórica, desde a primeira
posse de Lula
AFONSINHO
OS AMIGOS DE MADURO
Por qual motivo não mandaram a ajuda humanitária por meio da ONU
e da Cruz Vermelha? Porque não é ajuda nenhuma. É tentar invadir a
Venezuela e derrubar o governo, assim como fizeram com a Síria.
Jhony Peter
(Enviado via Facebook)
O PACOTE MORO
ÍNDICE
“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e
de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês,
alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!” -
Ricardo Vélez Rodríguez, ministro da Educação, em mensagem que deve ser lida antes da
execução do hino nacional nas escolas de todo o País. O comunicado enviado pela pasta que
Vélez chefia também sugere às instituições de ensino a gravação de vídeos dos estudantes
perfilados diante da bandeira do Brasil – “quando houver”, evidentemente
“Por que citar tão somente o caso de Marielle? Poderíamos fazer uma lista”
Damares, novamente ela, ao justificar a ausência de uma referência ao
assassinato da vereadora do Rio de Janeiro em seu discurso na ONU
“Se o Carlos (Bolsonaro) fosse o meu filho, eu estaria até preocupado, porque
ele coleciona inimigos”
gustavo Bebianno, em sua primeira entrevista após ser exonerado da
Secretaria-Geral da Presidência, para a rádio Jovem Pan
“A minha indignação aqui é ter servido como soldado leal de todas as horas,
disposto a matar ou morrer, e no fim da linha ser crucificado, levar um tiro nas
costas, simplesmente porque o senhor Carlos Bolsonaro fez uma macumba
psicológica na cabeça do pai”
Bebianno, novamente ele, na mesma ocasião
O insólito diálogo travado por Xico Graziano, ex-chefe de gabinete de FHC, e Ricardo
Salles, ministro do Meio Ambiente que nunca estudou na Universidade Yale (a sua
desatenta assessoria sempre se esquece desse fato ao apresentá-lo em artigos e entrevistas,
então ajudamos o ministro a desmentir esse “equívoco”...)
“Chegar no hotel depois de uma semana de vitórias e de batalha. Tem que
chegar e tomar uma @heinekenbr”
Alexandre Frota, deputado federal e ex-ator pornô, sempre disposto a fazer
um merchan no Twitter
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Nunca fui um folião convicto. Nunca tirei o anel de doutor para não dar o que
falar, mesmo porque não sou doutor. A marchinha é, porém, memorável:
Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí/ em vez de tomar chá com torrada ele
bebeu parati/ levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão/ e sorria
quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão. Era outro Brasil.
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Oito funcionários da Vale estão presos desde o dia 15. Outros cinco presos
em janeiro já estão em liberdade.
Perícia diz que juíza copiou sentença de Moro
A defesa de Lula submeteu à perícia a sentença que condenou o ex-
presidente no caso do sítio de Atibaia. O laudo, produzido pelo Instituto Del
Picchia, afirma que a juíza Gabriela Hardt usou “o mesmo arquivo de texto” do
colega Sérgio Moro na decisão sobre o triplex do Guarujá. O parecer aponta
semelhanças na formatação dos dois textos e diz que Hardt chegou a copiar
trecho inteiro da sentença de Moro, reproduzindo, inclusive, a referência a um
“apartamento”. O resultado do exame pericial será anexado aos recursos que
os advogados de Lula vão apresentar ao TRF4 e a tribunais superiores. A
juíza não se manifestou.
“Em sua saudável irreverência, meu amigo Roberto Avallone proclamava sua
adesão à independência e neutralidade do jornalismo F.C. Mas até as pedras
da rua sabiam de sua dependência das raízes palestrinas. Desde o Jornal da
Tarde, com Mino Carta, passando pela Gazeta, até suas aparições no
SportTV, Avallone preservou a fidelidade por suas duas paixões, o jornalismo
esportivo e o Palestra Itália. Na segunda, escrevi aos amigos comuns: ‘Era
um palestrino fanático com as virtudes e os defeitos dessa forma do espírito
humano. Que Deus o receba com o Troféu da 1ª Copa do Mundo Interclubes,
a Copa Rio de 1951’.”
Sucessão/ O
autoproclamado
presidente do Brasil doidão
Nosso Guaidó, o ator José de Abreu tem o apoio irrestrito
de CartaCapital
A
arcebispo de Sydney George Pell foi condenado por agressão sexual a dois
coroinhas de 13 anos, em 1996, quando tinha acabado de rezar uma missa
na catedral da cidade. Um deles voltou a ser abusado no ano seguinte e
morreu de overdose de drogas em 2014.
Pell tem 77 anos e é o mais alto membro da Igreja Católica a ser acusado de
pedofilia – era considerado o “número 3” na hierarquia comandada pelo papa
Francisco. Há cinco anos foi escolhido tesoureiro do Vaticano. Ou prefeito da
Secretaria de Economia, nomeado pelo papa. Em seu mandato tornou-se um
dos nove a compor o Conselho de Cardeais Conselheiros. O grupo teve papel
importante na organização da primeira cúpula sobre abuso sexual infantil.
“É uma notícia dolorosa que, estamos cientes, chocou muitas pessoas, não
só na Austrália”, disse o porta-voz do Vaticano, Alessandro Gisotti. “Como
fizemos antes, reafirmamos nosso profundo respeito pelas autoridades
judiciais australianas.” Pell recorrerá da sentença.
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Com tantos interesses e visões comuns, dá para entender por que Brasil e
EUA se uniram para derrubar Nicolás Maduro, a quem Bolsonaro chama de
“ditador”, na Venezuela. É o que explica a “ajuda humanitária” planejada em
Washington e que, no último fim de semana de fevereiro, terminou com ao
menos quatro mortes na fronteira com Roraima. Um plano classificado de
político demais e humanitário de menos pela ONU e a Cruz Vermelha, a
alimentar o fantasma de uma guerra ao lado do Brasil. A Venezuela é hoje um
tema a rachar o mundo, como nos tempos da Guerra Fria, e o governo
Bolsonaro, que tem a cabeça naqueles tempos. Uns 50 países, entre eles o
Brasil e vários europeus, não reconhecem o governo Maduro, reeleito em
maio de 2018 com 68% dos votos em uma eleição com baixa participação
popular. Para este bloco, o poder é do presidente do Congresso, Juan
Guaidó. Em 23 de janeiro, o deputado direitista saiu às ruas, ergueu a mão e
proclamou: “Sou presidente”. Na véspera, recebera um telefonema do vice de
Trump, Mike Pence. Representantes de outras 60 nações estiveram com o
chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, em 22 de fevereiro, e adotam postura
No meio da ajuda, estariam escondidos pregos e arames para erguer barricadas
A coisa poderia ter sido mais grave não fosse uma divisão no governo.
Bolsonaro, seus generais e seu chanceler, Ernesto Araújo, estão de acordo:
fora Maduro. A diferença é como. Segundo apurou CartaCapital, o chanceler
não se importava que tropas americanas usassem o Brasil em uma ação
contra Maduro em decorrência dos distúrbios durante a “ajuda”. Fã de Trump,
Araújo foi a Pacaraima, participou de uma entrevista ao lado do
subembaixador dos EUA em Brasília, William Popp, e até gravou um vídeo
para anunciar a entrada de um caminhão com suprimentos na Venezuela.
Consta que entraram apenas dois, 40 toneladas no máximo. O que vai ser
feito agora com as outras 160 toneladas não se sabe. Estão por aí.
O núcleo militar do governo era contra a presença ianque aqui. Um time com
uma visão mais globalista. Augusto Heleno, ministro do GSI, e Carlos Alberto
dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, foram chefes de missões de paz
da ONU no Haiti. Santos Cruz foi também no Congo. O vice-presidente,
Hamilton Mourão, esteve em missão em Angola. O trio participou da reunião
do dia 19 com Bolsonaro e bateu o pé contra o Tio Sam aqui. Eduardo Villas
Bôas, comandante do Exército até dezembro e hoje assessor especial de
Heleno, foi em junho de 2017 ao Senado e disse coisas que ajudam a
entender um pouco a visão desse pessoal. “Eu não estou livre de alguém,
amanhã ou depois, querer colocar uma base na Venezuela ou em outro país e
nós não termos a contundência e a capacidade de dizer não.”
Último chanceler de Michel Temer, o tucano Aloysio Nunes Ferreira acha que
o Brasil tem de negociar é com Maduro. Em palestra no Instituto FHC, em 19
de fevereiro, ele criticou a autoproclamação presidencial de Guaidó (“É como
se eu fosse ali na rua e dissesse que sou Jesus Cristo”). “Quando você
reconhece um governo que não é governo de fato, o passo seguinte é perder
relações diplomáticas, fechar fronteiras, que é algo que não interessa ao
Brasil. Para nós, governo é aquele que tem controle e exerce soberania sobre
um território. Até para evitar que sejamos levados a ter de reconhecer
movimentos separatistas.” Alfinetadas em Ernesto Araújo, o chanceler que
engasgou nos últimos dias ao ter de responder por que o governo Maduro
seria diferente do governo Kim Jong Un, da Coreia do Norte, com quem
Trump se encontrou no Vietnã em 27 de fevereiro.
Recomenda o português Guterres, secretário- -geral da ONU: sem violência e força letal
Engasgos à parte, a “ajuda humanitária” não foi engolida pela Cruz Vermelha.
Em 1o de fevereiro, o diretor de operações globais do Comitê Internacional da
CV, Dominik Stillhart, e a chefe da delegação para os EUA e o Canadá,
Alexandra Boivin, reuniram-se com autoridades americanas e expuseram
críticas e receios. “Não somos uma agência de implementação para um
doador qualquer, especificamente para não implementar coisas que tenham
um tom político”, disse Stillhart na ocasião. No dia da “ajuda”, a entidade
identificou pessoas a usar seu emblema e fez um apelo: “Parem de fazer
isso”, pois ameaça “comprometer nossa neutralidade, imparcialidade e
independência”. Mais tarde, o chefe da entidade na Colômbia, Christoph
Harnisch, dizia que, “infelizmente, a primeira vítima do que está acontecendo
é a palavra ‘humanitária’, porque há um debate, há uma controvérsia pública,
há uma manipulação desse termo por todas as partes”. E completou: os
“Estados Unidos querem ver Maduro cair e esse é mais um tema político que
humanitário”.
Guterres, da ONU, se disse “chocado” com as mortes no dia da “ajuda”. Ele
pregou que “a violência seja evitada a qualquer custo, que a força letal não
seja usada em nenhuma circunstância” e que “todos os atores diminuam as
tensões e busquem todo esforço para prevenir uma nova escalada”. A chilena
Michelle Bachelet, ex-presidente de seu país e hoje alta-comissária da ONU
para os Direitos Humanos, condenou o uso excessivo da força pelo governo
venezuelano e o envolvimento de milícias chavistas. “Essas cenas são
vergonhosas. O governo venezuelano precisa impedir as suas forças de usar
a força excessiva contra manifestantes desarmados e cidadãos comuns.”
Segundo ela, “o uso de ‘forças terceirizadas’ tem um histórico longo e sinistro
na região”, “é muito alarmante vê-las operar abertamente dessa forma na
Venezuela. O governo pode e deve impedi-las de exacerbar uma situação já
altamente inflamável”.
A ONU concorda, porém, que a “ajuda” merecia outro nome. “Temos muito
claros os princípios de ajuda humanitária. E no caso da Venezuela... Sim, há
uma intenção de politizá-la”, disse em 26 de fevereiro, em Madri, a nigeriana
Amina Mohammed, ex-ministra do Meio Ambiente de seu país, hoje vice-
secretária-geral das Nações Unidas. A ONU possui uma resolução sobre
ajuda humanitária, aprovada em 1991 pela Assembleia-Geral, a 46/182. Pela
resolução, ações de ajuda humanitária precisam respeitar a soberania
nacional de um país, a integridade territorial das nações envolvidas e a
responsabilidade dessas nações na administração dos riscos que venham a
ser gerados dentro de suas fronteiras. Um diplomata brasileiro explica as
razões por trás da resolução. “A ajuda pode terminar sendo desviada, não há
nenhuma garantia de que chegue a quem necessita e de que não seja
utilizada politicamente.” Ele prossegue: “Não é à toa que organismos
internacionais mais respeitados se recusam a participar de iniciativas desse
tipo (planejada pelos EUA para a Venezuela)”.
Em
Maduro busca ajuda de China, Rússia e Turquia
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humanitária”, que, segundo o noticiário, recebeu aprovação dos EUA, mas foi
impedida pelas Forças Armadas venezuelanas. O governo de Nicolás Maduro
desconfia que, além de ocultar armas e talvez medicamentos e alimentos
envenenados, tais comboios sejam a ponta de lança para uma invasão militar,
daí sua designação como cavalos de Troia. O histórico das invasões e
aniquilamentos de Estados soberanos pelos EUA nas últimas décadas suscita
essas suposições.
Os
As
A refinaria Abreu e Lima, primeira feita por inteiro no País, idealizada por Lula, mas
detonada pela Lava Jato, por Temer e Bolsonaro
Estados Unidos, Brasil e Colômbia sabem que invadir a Venezuela não seria
um passeio. •
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É justamente esse ponto que o PSL deseja suprimir do ECA, uma espécie de
salvaguarda para os seguranças de estabelecimentos comerciais que
precisam lidar com os “ameaçadores” garotos. “Se o shopping quisesse tratar
a questão com seriedade, poderia fazer parcerias com organizações sociais
para que educadores realizassem a abordagem dessas crianças e
encaminhamentos em conjunto com os Conselhos Tutelares, Varas da
Infância e Juventude, Secretaria Municipal de Assistência Social, visando o
restabelecimento dos vínculos familiares, frequência escolar e em programas
de educação por tempo integral, para que saiam da situação de risco, de
exclusão social e de trabalho infantil”, detalha o advogado Ariel de Castro
Alves, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo.
“Da forma como desejam atuar, o objetivo parece ser mesmo o de
marginalizar e excluir esses garotos, o de ‘limpar’ o shopping. A juíza deu
uma aula de Estatuto da Criança e do Adolescente.”
Ao
se
Letra morta? Pela Constituição, um cidadão, adulto ou criança, só pode ser preso em
flagrante ou por ordem judicial
Esse não é, porém, o único indicativo de como o atual governo pretende lidar
com os indesejáveis. No início de fevereiro, o Ministério da Saúde publicou
uma nota técnica que abre brechas para o retorno dos manicômios e seus
medievais procedimentos terapêuticos. Com novas diretrizes para as políticas
de saúde mental, o documento prioriza as internações psiquiátricas em
detrimento dos serviços ambulatoriais de base comunitária, além de permitir a
volta do eletrochoque. Libera ainda a internação de crianças e adolescentes
nos mesmos espaços destinados aos adultos.
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Casos como o de Cláudia Ferreira, do Morro da Congonha, que ainda viva foi
arrastada por 350 metros presa ao para-choque de uma viatura policial, em
setembro de 2018, e, recentemente, o da menina Jenifer Gomes, de 11 anos,
morta por um tiro de fuzil no peito, e dos 13 jovens do Morro do Fallet, cuja
morte em confronto é desmentida por testemunhas, só reafirmam esses
efeitos colaterais em nosso país. Ou seja, “balas perdidas” e execuções
sumárias são, infelizmente, o cotidiano de qualquer favela, não apenas no Rio
de Janeiro, mas igualmente em outros estados.
Não é pela força bruta militarizada ou mesmo das Forças Armadas, como as
repetidas intervenções nas favelas do Rio de Janeiro, que se enfrentará o
crime organizado. Nas comunidades está a ponta visível do tráfico, mas nelas
não se produzem drogas nem armas. Por outro lado, muitos jovens são
atraídos pelo poder do tráfico porque não veem futuro numa vida sem estudo
e sem emprego.
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Ian Cheibub/AGIF/afp e Sergio LIMA/AFP
O Brasil de Bolsonaro
RADIOGRAFIA Ele não reflete o País real. É masculino, evangélico,
visceralmente antipetista e centrado nas regiões mais ricas
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Vejamos:
1. GÊNERO
2. DISTRIBUIÇÂO REGIONAL
No
3. RENDA
O
4. RELIGIÃO
Brasil é um grande país católico, no qual quase 60% dos eleitores assim se
definem, mesmo com o avanço das igrejas evangélicas nos últimos anos. No
conjunto, os eleitores evangélicos são metade dos católicos. No Brasil de
Bolsonaro, há ainda vantagem dos católicos, mas pequena. Somente 10
pontos porcentuais separam os dois grupos.
5. RELAÇÂO COM O PT
Não deixa, no entanto, de ser notável que 60% das intenções de voto em
Bolsonaro viessem de antipetistas, mais ou menos aguerridos. É possível que
alguns fossem contrários ao PT por crença nas virtudes do bolsonarismo. Mas
o mais provável é que fossem eleitores inclinados na direção do capitão
fundamentalmente por rejeitar o PT. Alguns sequer enxergavam outras
qualidades no candidato.
O Brasil mais masculino, mais centrado em regiões ricas, com eleitores mais
ricos e mais evangélicos, super-representado de antipetistas, derrotou o Brasil
da maioria feminina, do maior equilíbrio entre regiões ricas e pobres, de larga
maioria de eleitores de renda baixa, de petismo e antipetismo se equivalendo.
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“Bolsonaro é o
anticarnaval”
FOLIA O historiador e escritor Luiz Antonio Simas explica por que os blocos
de rua são uma potente forma de resistência
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“A resistência está no corpo preto que entra na avenida e exerce sua centralidade na dança
da passista”
CC: A crítica política no Carnaval é uma característica muito mais dos blocos
de rua do que da escola de samba?
LAS:Sem dúvida. Escola de samba não é uma instituição de resistência. Ela
surge como uma cultura de brecha, que negocia na fresta. Desde suas
origens na década de 1930, as escolas negociam com o Estado, com a
contravenção, com o turismo, com a mídia, com o mercado. Você tem num
ano um carnavalescoque faz algo com uma pegada mais politizada, que
critica o poder. Não significa que a escola seja isso. No ano seguinte ela pode
fazer o Carnaval mais chapa-branca e conservador que você imaginar. Já os
blocos de rua têm de fato uma tradição de galhofa e afronta ao poder, um
Carnaval anti-institucional que é muito mais efetivo.
CC: O que se pode esperar dos blocos este ano com relação aos protestos
políticos?
LAS: O governo que aí está é um alvo fácil, porque afronta o próprio espírito
carnavalesco. É um prato feito para o Carnaval cair em cima na base da
galhofa. Por outro lado, teve um avanço muito significativo nas pautas
comportamentais, que foram respondidas com um discurso de retrocesso. Os
festejos de Rio, São Paulo, Belo Horizonte têm apresentado uma grande
novidade, que é o protagonismo da mulher brincando o Carnaval. Há blocos
só de mulheres, que são da maior relevância. Está presente uma pauta firme
das mulheres contra o assédio no Carnaval. Esse protagonismo feminino e a
luta no campo comportamental, que envolve a tolerância, contra o
obscurantismo, será uma marca muito efetiva deste Carnaval.
CC: O senhor diz que o Carnaval é uma forma de resistência. Por que a
multidão não permanece nas ruas e faz a revolução?
LAS: Quando eu penso no Carnaval como resistência, é na seguinte
perspectiva: no Brasil, a República fechou os canais institucionais de
exercício da cidadania. Em contrapartida, as populações, sobretudo as mais
pobres, criam mecanismos muito próprios para vivenciar o espaço público. Eu
acho que isso é cidadania. Ao mesmo tempo, esse exercício que não é formal
é muito evidente no Carnaval, mas não morre quando o Carnaval acaba. Ele
está presente na maneira como as esquinas estão ocupadas por rodas de
samba, nos bailes funk do subúrbio, nas rodas de rap, na cultura de periferia
que se expande. Isso está absolutamente fora dos canais institucionais de
exercício da política que a gente está acostumado a conceber e que achamos
que seria saudável. Quando falo do Carnaval como uma festa de resistência,
não é exatamente uma resistência direta, explícita. É claro que vai ter uma
marchinha que sacaneia o Bolsonaro, mas o Carnaval trabalha com outras
gramáticas. A gramática do corpo que dança, do corpo preto que entra numa
avenida e exerce seu protagonismo na dança da passista, a maneira como
esse corpo é audacioso. A expectativa que a gente tem de que as multidões
permaneçam nas ruas depois do Carnaval é uma perspectiva que trabalha
com um viés muito institucional e é, para o bem ou para o mal, pautada por
um certo racionalismo das luzes, enquanto as massas que fazem o Carnaval
foram obrigadas por vários dilemas da sociedade brasileira a experimentar a
cidade o tempo todo pelas frestas. O Carnaval talvez seja esse momento de
ebulição, porque é a hora em que essas frestas estão abertas. Mas, depois
dele, isso continua, sim, sendo exercitado. No Rio de Janeiro, por exemplo,
na Zona Norte, nas periferias, na Zona Oeste, a cidade está sendo
experimentada. Eu sou, em certo sentido, otimista por causa disso. Quem sai
das ruas nessa perspectiva de brincar o Carnaval e ir embora não é o povão.
O povão continua usando a cidade da maneira possível diante de todos os
canais fechados. Ele continua criando formas cotidianas de experimentar a
cidade, que, se não afrontam diretamente o poder público, é um mecanismo
de exercer a cidadania e tensionar o tempo todo.
A Paraíso do Tuiuti desfilou o Temer Vampirão e promete agora mostrar o laranjal. “Mas,
se você conhecer o seu presidente, vai ver que passa longe de uma escola politizada”
CC: Aqui em São Paulo, a gente viu nos Acadêmicos do Baixo Augusta
algumas mulheres que desfilaram sem camisa, como a questionar: “Se nós
homens podemos, por que elas não?” Por outro lado, as mulheres estão
seminuas na avenida, e a cobertura da tevê ou da internet é extremamente
objetificadora de seus corpos. Isso te parece contraditório?
LAS: A maneira que uma passista é vista pela comunidade dela é
completamente diferente da maneira como a gente vê aquela passista na
tevê, e está muito distante dessa objetificação do corpo da mulher. É até o
contrário. Sua função é de centralidade, de soberania sobre o próprio corpo.
Aquela passista é sujeito de sua própria escolha, da sua própria corporeidade,
é um corpo soberano e tem sua fala. É preciso cuidado, porque,
paradoxalmente, ao criticar a objetificação, a gente acaba por objetificar.
CC: Ano passado, a gente teve o Temer Vampirão na Tuiuti, este ano temos a
Mangueira com o Brasil dos negros. A Sapucaí está se inspirando nessa
contestação do Carnaval de rua?
LAS: A sorte da Sapucaí chama-se crise. Sou muito crítico às instâncias
diretoras do Carnaval no Rio de Janeiro: dirigentes de escola de samba,
presidente de liga de escola de samba, eu não levo a mínima fé nessa turma.
Eles não têm perspectiva nenhuma sobre a relevância cultural de uma escola
de samba. O que acontece é que o dinheiro ficou minguado, o patrocínio
some, o jogo do bicho já não investe como investia. A crise abriu espaço para
a renovação. Artistas novos ganharam a oportunidade de propôr enredos
autorais. Se não fosse por isso, a mesma escola que está fazendo um enredo
crítico sobre a política brasileira poderia fazer enredo sobre o extrato do
tomate.
CC: Tem muito uma meninada nos blocos de rua vestidos de laranja, dizendo
que Bolsonaro é miliciano. A continuar assim, o senhor acha que um dia o
Carnaval vai derrubar um presidente, que vamos tacar fogo na Bastilha numa
Quarta-Feira de Cinzas?
LAS: A função do Carnaval não é essa. Até me lembrei de uma charge do
Jota Carlos de 1928, era chargista de uma revista chamada O Malho, aqui no
Rio. A Câmara Municipal inventou um projeto maluco para extinguir o
Carnaval, e isso chegou a ser debatido. Aí a charge do Jota Carlos era uma
porrada de gente fantasiada tentando invadir a Câmara Municipal. Aí um cara
virava para o presidente da Câmara e dizia: “Conselheiro, conselheiro, os
A atriz Maria Casadevall. Não é prestar-se à objetificação, é pela soberania do corpo
senhores vão acabar com o Carnaval. Por muito menos o povo fez a
Revolução Francesa”. O grande elemento de subversão do Carnaval é aquele
que, ás vezes, a gente não está atento para reparar. O Carnaval é uma festa
da luta do corpo contra a morte. Essa experiência do protagonismo do corpo
pode parecer alienante, mas isso faz muito sentido para quem experimenta
esse protagonismo, sobretudo os corpos dos desvalidos, mais do que os
nossos. A gente não consegue alcançar isso. Reconhecer o protagonismo
desses corpos no Carnaval é de uma dimensão muito grande. •
ÍNDICE
O Rio de Janeiro vai receber a maior coleção de arte iorubá fora da África.
Serão centenas de peças, em processo de escolha e catalogação, que
chegarão a partir de agosto. Os artefatos milenares devem ser exibidos em
um espaço sem correspondente no mundo: a Casa de Herança Oduduwa, um
local para exposições, aulas de língua iorubá, centro de estudos e um teatro,
num elo permanente de comunicação e intercâmbio entre o Brasil e o povo
iorubá. Uma forma de aproximar as culturas e auxiliar o povo brasileiro a
conhecer melhor suas origens, heranças, histórias, e até suas feições.
Dois anos depois, o rei iniciou uma campanha para agregar os iorubás
espalhados pelo mundo. Um diretor de tevê teve a ideia de pedir que
mandassem saudações gravadas pelo celular. Ao ver a mensagem que
chegou do Brasil, o rei quase pulou da cadeira. Era impressionante a
semelhança entre o seu próprio rosto e o cenário escolhido para a gravação:
o Monumento a Zumbi dos Palmares, no canteiro central da Avenida
Presidente Vargas, no Rio de Janeiro.
Tanta beleza e força fez com que o próprio rei de Ifé quisesse ver a escultura
de perto. Em junho do ano passado, ele esteve no Brasil, acompanhado de
outros reis e rainhas africanos, para uma série de encontros no Rio de Janeiro
e em Salvador. A historiadora Carolina Maíra Morais (que mandou o vídeo do
marido para a coroação em 2017 e prepara um documentário sobre a saga da
cabeça de bronze) fez parte da comitiva, transformou-se em adida cultural do
Ooni de Ifé no Brasil e testemunhou a alegria de todos ao “reconhecer” os
traços do Rei na cabeça de bronze do Monumento a Zumbi. “Eles se sentiram
em casa, em solo iorubá”, diz a historiadora. “Foi um momento de alegria.
Não havia dúvida para ninguém ali que aquele era o rosto de Oduduwa”.
ÍNDICE
CRÉDITOS DA PÁGINA: Eduardo Castro
A Previdência e o Velho
Capitalismo
REFORMA Só pensa no passado. Inadmissível, por exemplo, a isenção de
dividendos e do sócio pejotização
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Migalhas aos idosos
ENTREVISTA O intuito do governo Bolsonaro, afirma o economista Eduardo
Fagnani, é demolir a Previdência e a seguridade
A Sergio Lirio
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Numa ilha onde as campanhas em massa contra a política oficial são quase
inéditas – e onde o “ateísmo científico” já foi doutrina de Estado –, as igrejas
evangélicas irromperam no cenário político nos últimos meses em campanha
contra o casamento gay.
nos anos 1980. Assim como a direita cristã nos Estados Unidos antes, eles
estão transformando a política na região, revigorando partidos conservadores
e movimentos populistas de direita.
O Departamento de Estado dos EUA – que durante muito tempo viu a religião
como alavanca política na Ilha – também doa generosamente. A Echo Cuba,
instituição beneficente de Miami que “existe para equipar e reforçar as igrejas
evangélicas independentes de Cuba”, recebeu mais de 2 milhões de dólares
em verbas do governo na última década.
INSPIRAÇÃO CHINESA
ÍNDICE
Spike Lee em sua cruzada afirmativa, e os premiados Regina King, Rami Malek e Ruth E.
Carter: forçando os limites do muro do establishment
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O que o cineasta negro quis ressaltar, com sua ativista movimentação nos
bastidores da festa, assim como o pulo eufórico nos braços de seu velho
amigo Samuel L. Jackson na hora da imparável alegria ao receber um prêmio,
é que filmes que buscam aliviar as tensões culturais não são bem-vindos
neste momento em que há uma guerra declarada em curso não só nos
Estados Unidos, mas no mundo todo, contra todas as conquistas em termos
de direitos civis – negros, femininos, de dissidências sexuais, de latino-
americanos, indígenas. Essa guerra transparece em momentos como este do
Oscar. “Vamos ficar todos do lado certo da história. Fazer a escolha moral
entre o amor e o ódio. Vamos fazer a coisa certa!”, discursou Spike Lee, que
perdeu os Oscar de melhor filme e melhor diretor, mas levou o primeiro de
sua carreira como corroteirista. Como ele próprio queria demonstrar.
Não por acaso, a reação mais forte ao discurso de aceitação de Lee no Oscar
foi do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: “Seria bacana se Spike
Lee pudesse ler suas anotações, ou, melhor ainda, não usar anotações, ao
fazer seu ataque racista a seu presidente, que fez mais pelos afro-americanos
(reforma da Justiça Criminal, mais baixos números de desemprego da
História, corte de impostos etc.) do que talvez qualquer outro presidente”.
curioso é que Spike Lee não mencionou Trump em seu discurso. Segundo a
mídia estadunidense, Lee teve uma explosão de raiva ao ser anunciado o
prêmio para Green Book (não seria parte da performance?). Depois, explicou
com fina ironia a explosão de raiva à imprensa: “Não, é que eu pensei que
estava na primeira fila do (Madison Square) Garden e o juiz tinha apitado
errado”.
Rami Malek, que incorporou o pop star gay Freddie Mercury, venceu na
categoria de Melhor Ator por Bohemian Rhapsody, e foi o primeiro ator de
ascendência egípcia, árabe, a ganhar o prêmio.
Cuarón dedica o filme (que estreou na plataforma Netflix e por isso tinha
poucas chances de ser premiado no Oscar) a Libo, uma indígena que cuidou
dele na sua infância. “Quero agradecer à Academia por reconhecer um filme
centrado numa mulher indígena, uma entre 70 milhões de trabalhadores
domésticos do mundo sem direitos trabalhistas”, disse em seu discurso,
acrescentando uma pitada de crítica ao momento político atual nos Estados
Unidos. “É uma personagem que historicamente tem sido relegada a segundo
plano no cinema. Como artistas, nosso trabalho é olhar onde os outros não
olham. Essa responsabilidade se torna muito mais importante nos momentos
em que estamos sendo encorajados a desviar o olhar.” •
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Você tem poder para mudar o mundo/ o que é superficial vai ficar mais
profundo. Os versos de Bola de Cristal contam, num fragmento, o que o grupo
BaianaSystem preconiza para a Bahia, para o Brasil. Pertencente à onda
afrofuturista, que se ergue das cinzas da axé music mais descerebrada, a
banda tem feito bonito nos carnavais da Bahia (e de outros lugares), sem
tocar música de Carnaval como a conhecíamos até pouco tempo atrás. A
inteligência é o primeiro investimento do BaianaSystem, confirmado no
terceiro álbum do grupo, O Futuro Não Demora. H2O é ouro em pó/ é
salvação, canta, em Água, sem carnavalizar, mas ciente de que água vale
mais do que ouro, no Carnaval ou fora dele.
A subestimada dupla baiana Antonio Carlos & Jocafi, popular nos anos 1970,
vem enobrecer as faixas Água e Salve, nesta última decifrando a dinastia pós-
baiana que não deprecia a Bahia: Salve Nação Zumbi, salve Zulu Nation e
Rumpilezz/ salve Nelson Mandela, Martin Luther King, Ilê Aiyê. Os convidados
desfilam numa avenida democrática: a Orquestra Afrosinfônica, o rapper
carioca BNegão, o rapper baiano Vandal, os paulistanos Curumin e Edgar, o
ancestral Samba de Lata de Tijuaçu, a homenagem ao mestre assassinado
Moa do Katendê (no reggae Navio)... No pós-Carnaval do BaianaSystem, os
racistas e machistas são frontalmente repreendidos (em Saci), os orixás e os
quatro elementos da natureza são louvados à farta e o futuro é uma coisa
meio estranha e circular, como destaca Bola de Cristal: No tempo que a pedra
lascada fazia o papel de bala de metal/ não tem diferença do homem
moderno pro homem de Neanderthal.
O escritor baiano Eromar Bomfim: pesquisa profunda nos ritos de fusão cultural e emocional da
fundação do Brasil
O LÍNGUA
De Eromar Bomfim. Ateliê Editorial. 192 págs., 32 reais
BLOCOS
Salvador
Todo Menino É Um Rei, em homenagem a Roberto Ribeiro, é um bloquinho
infantil que sai às 10 horas de sábado 2, no Campo Grande. Já o Happy, com
Gilmelândia e Tio Paulinho, abre a festa no Circuito Dodô, às 10 horas
também de sábado 2 de março.
Rio de Janeiro
Filhote da Banda de Ipanema, o primeiro bem imaterial tombado no Rio, a
Bandinha de Ipanema festeja na segunda-feira de carnaval, na Praça General
Osório, às 14h30.
Olinda
O Encontro Bonecos Mirins de Olinda é um cortejo de 40 figuras, nenhuma
delas com mais de 1,5 metro para poder ser carregado por crianças, pelas
ladeiras da cidade. A partir das 9h30 de domingo 3 de março.
São Paulo
presença com o bloco Ajayô Kids, num cortejo às 10 horas de domingo 3 de
março, no Monumento das Bandeiras. Nos dias 2 e 3 de março, a partir das 9
horas, tem Urubózinho, no Largo da Matriz, na Freguesia do Ó.
Belo Horizonte
No domingo 3 de março, o Bloquim DuBem desfila a partir do meio-dia, até as
17 horas, nas ruas e no entorno do Parque Marcos Mazzoni, na Cidade Nova.
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CRÉDITOS DA PÁGINA: Reprodução/Mídia Social, Frâncio de Holanda, Renan Olivetti - Guto Muniz
e Hemerson Celtic
Esta foto não conta tudo
THEOBSERVER Não se iludam com o frio que bate recorde. O aquecimento
global continua sendo a ameaça de sempre
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Os invernos do início dos anos 1970 foram muito frios e cheios de neve no
nordeste dos Estados Unidos, onde eu cresci – como em outras partes dos
EUA e da Europa. Lembro de nevascas que faziam a neve alcançar meu
queixo (mas eu era bem menor naquela época). Hoje os chamamos de
“invernos de antigamente”, exatamente porque eles se tornaram tão raros em
consequência do – sim – aquecimento global.
Se você é mais moço que eu (completei meio século três anos atrás), aqueles
invernos provavelmente estão fora do alcance de sua experiência. E por isso
você pode achar plausível que as frentes frias, que na realidade
simplesmente refletem o tipo de clima que era comum há algumas décadas,
poderiam constituir um frio “recorde” ou “sem precedentes”.
Essa visão míope dos extremos climáticos pode ser explorada pelos que
pretendem projetar dúvidas sobre o consenso científico majoritário por trás da
mudança climática causada pelo ser humano. Muito nessa linha, o presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou recentemente em um tuíte sobre
a onda de frio no Meio-Oeste americano que “as temperaturas com o fator
vento estão chegando a -50 graus, as mais baixas já registradas”. Ele
acrescentou: “Que diabo está acontecendo com o Aquecimento Global (sic)?
Por favor volte logo, precisamos de você!”
Desconsidere, por enquanto, que “aqueimento global” não existe e que, como
já esperávamos, quase nenhuma das afirmações no tuíte de Trump é
verdadeira – as temperaturas com fator vento mais baixas já registradas no
Meio-Oeste são próximas de -57 graus e, para os EUA como um todo, -73
graus. Será que ele tem razão?
Lição. O descolamento de placas de gelo no Ártico poderia ensinar o ecocético Trump se ele
se dispusesse a aprender
Por exemplo, se estivéssemos vendo frio intenso com mais frequência, isso
contradiria a teoria do aquecimento global causado pelo homem? Não. Os
cientistas pensam cada vez mais que a mudança climática pode causar uma
ruptura mais frequente do “vórtice polar” do Hemisfério Norte (a faixa de
ventos na atmosfera superior que geralmente limita as massas de ar frio do
Polo Norte ao Ártico, mais ou menos associada à corrente de jato). O
aquecimento ampliado do Ártico causado pelo derretimento do gelo marinho
reduz o contraste de temperatura entre o Equador e o polo. É esse contraste
que mantém o vórtice polar e a corrente de jato. Quando o vórtice se rompe, o
jato desacelera e exibe movimentos mais amplos no sentido Norte-Sul, assim
como um rio que cruza um terreno quase plano traça amplas curvas e
serpenteia até o litoral.
Isso torna mais fácil que pedaços das massas de ar frio do Ártico se
desprendam e rolem para regiões continentais de média latitude, como a
América do Norte e a Europa, exatamente o que aconteceu com a recente
onda de frio nos EUA.
Então estamos vendo uma tendência para mais recordes de calor, e não de
frio. E, mesmo que estivéssemos vendo um aumento na ocorrência de
invernos frios em partes dos EUA e da Europa, isso não seria
necessariamente uma contradição à tese da mudança climática – pode até
ser um sintoma dela, associado à ruptura do vórtice polar.
Voltemos ao tuíte de Trump, pois ele não é isolado. Faz parte de um padrão
de vários anos de negar a evidência científica básica da mudança climática
causada pelo homem. Trump claramente não é o “gênio” que ele afirma ser,
mas sabe que a mudança climática é real. Sabemos disso porque ele a citou
como motivo para receber uma dispensa especial para construir um muro –
para proteger seu campo de golfe na Irlanda dos efeitos danosos da elevação
do nível do mar.
Portanto, se não se deve à ignorância, o que é responsável pela constante
negação da mudança climática por Trump? Poderia ser a mesma coisa
responsável por ele terceirizar sua política energética e ambiental aos
interesses dos combustíveis fósseis? Poderia ter algo a ver com a influência
russa que, segundo alguns sugerem, o ajudou a se eleger?
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Faz sentido, mas está longe de ser um evento único. No que é hoje a Índia,
incontáveis vulcões afloraram do solo, vomitando enxurradas de lava
incandescente – numa área tão extensa quanto a soma da Bahia com
Pernambuco e Alagoas, e Sergipe de quebra. O que certamente aconteceu,
ao longo de 1 milhão de anos, foi que os gases emitidos pelas erupções
aqueceram as temperaturas terrestres e contaminaram os oceanos. As
condições de sobrevivência ficaram precárias antes mesmo da catástrofe do
México.
Essa data – 400 mil anos antes do impacto do asteroide – foi estabelecida
pela geocronologista Courtney Sprain, da Universidade de Liverpool, e
colegas, após minuciosas pesquisas de datação em rochas basálticas
provenientes de depósitos de lava endurecida no planalto indiano. Usando
uma técnica denominada argon-argon, arriscaram dizer que, embora as
erupções tenham começado antes do ataque do corpo celeste gigante, elas
se estenderam até 600 mil anos depois. Ou seja, a conjugação das duas
catástrofes tão distantes e tão desiguais é que teria decretado o fim dos
megatérios do remotíssimo passado. •
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Cada vez mais fica nítida para a população a vergonhosa justificativa de ajuda
humanitária e à invasão criminosa da Venezuela.
O São Paulo, por sua vez, mostra uma instabilidade surpreendente, apesar de
coerente com o arranjo de sua política interna encrencada. O tricolor incorreu
na repetição dos erros de alguns coirmãos que promoveram bons técnicos de
equipes de base à direção de elencos principais numerosos e, sobretudo,
recheados de “cobras” mais difíceis de controlar. Perdeu tempo dando chance
de o ambiente no clube ficar tumultuado.
Fora isso continuam as “brabeiras” entre torcedores. O caso desta vez foi em
Goiás, como tem sido nas regiões mais variadas, com a cumplicidade dos
dirigentes e dos setores que deveriam ser responsáveis e que também se
encontram descontrolados.
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Um palácio, sim, “com toda a sua nobreza”, como entendeu Niemeyer, muito
além de “uma grande residência”, mas que se deixasse embalar pela sedução
da simplicidade, um dos pilares do estilo modernista que sedimentou Brasília.
Juscelino Kubitschek vislumbrou o descampado, distante 4 quilômetros do
que é hoje a Praça dos Três Poderes, e ofereceu a Oscar Niemeyer o desafio
de toda aquela horizontalidade. O palácio tinha de impor-se na topografia
vazia. Além disso, iria balizar os contornos de um lago artificial, criado a partir
do Rio Paranoá. O resto seria consequência.
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