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TEXTOS:
Sobre a obra: é um dos seis volumes da principal obra de Edgar Morin, intitulada “O Método”,
no qual ele trata especificamente da identidade humana, reunindo sua trajetória de reflexão de
mais de 30 anos. Morin percorre o caminho da construção da identidade do homem, desde sua
emergência, passando pela linguagem, cultura e pelo relacionamento indivíduo e sociedade. Na
segunda parte, ele trata especificamente da identidade individual, na terceira, do que ele
denomina “grandes identidades” e, na quarta, da complexidade do ser humano
Sobre o autor: Morin é pesquisador emérito do CNRS, nasceu em Paris, em 1921. Formado em
História, Geografia e Direito, migrou para a Filosofia, Sociologia e a Epistemologia, depois de ter
participado da Resistência ao nazismo, na França, durante a 2ª Guerra. Autor de muitas obras
de referência no campo da sociologia, da filosofia, da educação e da comunicação, Morin
acredita no estudo interdisciplinar e na reunião de saberes para a reflexão sobre os problemas
complexos apresentados pela sociedade nos dias de hoje.
1
“Dentro de cada sociedade, cada indivíduo é, ao mesmo tempo, um sujeito egocêntrico e um
momento/elemento de um todo sociológico. (p.167)
Família como núcleo/ “O fortalecimento das preocupações identitárias e a reação à
autonomização dos indivíduos vão no sentido de uma restauração moral e psicológica da
família.” (p. 174)
“Podemos, contudo, nos questionar, hoje, sobre o futuro da relação arcaica fundamental entre
a sociedade, a espécie e o indivíduo, que parecia inalterável” (p.175)
A civilização democrática
2
“A democracia, como sistema comportando o controle pelos cidadãos, a separação dos poderes,
a pluralidade das opiniões e o conflito das ideias, é o antídoto à onipotência do aparelho de
Estado e à loucura do poder pessoal”. (p.182)
“As sociedades atuais são, às vezes, democratizadas, ou seja, o Estado modera-se, as
dominações são atenuadas, as sujeições, temperadas; o novo Estado-providência criou sua
própria megamáquina, comportando numerosos aparatos administrativos para todos os
aspectos da vida social. Mas essa megamáquina administrativa se hiperburocratizou, tornando-
se hipertécnica, levando à lógica mecânica, especializada, cronométrica da máquina artificial
para todas as atividades humanas. Os Estados-nação contemporâneos comportam duas
megamáquinas, uma econômica, capitalista, semiautônoma, e outra administrativa,
burocrática, do Estado.” (p. 185)
3
A espontaneidade eco-organizadora
“Uma sociedade humana não pode ser totalmente submetida a uma ordem mecânica
programada.” (p.192)
“A megamáquina não é somente uma máquina física, mas é viva e humana, não podendo existir
sem desordem” (p.192)
Cidades = ecossistemas
Cidades grandes = fermento libertário que faz parte do ser social
Desordem = agressão, delinquência
= liberdade, iniciativa, criatividade
“Nenhuma sociedade, nem mesmo a mais totalitária, é integrada”. (p.193)
Nações modernas
“As nações modernas impõem-se, certo, aos indivíduos pela lei, pela polícia, pelo exército, mas
só existem como nações porque os fatores de solidariedade vencem os fatores de concorrência
e de antagonismo (entre os indivíduos e os grupos), e porque os fatores de concorrência e de
antagonismo, mesmo permanecendo potencialmente desorganizadores, aumentam a
complexidade.” (p.194)
4
A identidade histórica
“O destino histórico não era inerente à humanidade. Esta viveu dezenas de milênios sem
história; esta faz irrupção e entra em erupção há menos de 10 mil anos.” (p.202)
Progresso x história
Não há evolução que não seja desorganizadora no seu processo de transformação ou
metamorfose.
“Há não progresso, mas um verdadeiro jogo duplo da história – uma dialógica – entre progresso
e regressão, civilização e barbárie, complexidade e destruição, desorganização e reorganização”
(p.221)
A identidade planetária
Era planetária
= primeira hélice: desenvolvimento planetário desencadeado pela dominação
do Ocidente // impulsionada pela conquista = séc. XVI, navegações, violência, destruição,
escravismo, exploração das Américas e África
= segunda hélice: segunda mundialização complementar e antagônica.
Desenvolve as potencialidades universais do humanismo europeu, que se atualizam na
afirmação dos direitos do homem, dos direitos dos povos à soberania, nas ideias de liberdade,
igualdade, fraternidade, no valor universal da democracia. // direitos idênticos e universais para
todos os homens
5
Mestiçagem, cultura planetária
Indivíduo hologramático
“A mundialização concretiza-se também no fato de que cada parte do mundo faz, cada vez mais,
parte do mundo, sendo que o mundo, como todo, está cada vez mais presente em cada uma
das suas partes. Isso não acontece apenas com as nações e com os povos, mas também com os
indivíduos. Da mesma forma que cada ponto de um holograma contém a informação do todo
que faz parte, o mundo, doravante, como todo, está cada vez mais presente em cada indivíduo.
(p.229)
Comunicações = favorecem a segunda hélice, que estão não só a serviço dos dominadores, mas
exercem um papel cada vez mais polivalente.
Ganha força a partir dos anos 60, conta com uma nova “cidadania terrestre”, contra:
Torturas e arbitrariedades do Estado; ameaças dos pequenos povos de exterminação;
ameaça à biosfera; especulação financeira internacional, desigualdade de direitos para
mulheres...
A isso se somam as contracorrentes surgidas das reações às correntes dominantes (p.232):
Ecológica; resistência ao quantitativo; resistência ao primado do consumo padronizado;
defesa das identidades e qualidades culturais; emancipação da tirania do dinheiro;
resistência à vida prosaica puramente utilitária, contra a violência, pela pacificação.
Todas essas correntes tendem a intensificar-se, ampliar-se e conjugar-se.
“As duas globalizações antagônicas são inseparáveis. As ideias emancipadoras desenvolveram-
se em contraponto às dominações; as ideias universalistas, no rastro dos progressos econômicos
e técnico de comunicação [...]” (p.235)
A incerteza do caos
A identidade futura
“O futuro é indecifrável. Os destinos locais dependem, cada vez mais, do destino global do
planeta, que depende também de acontecimentos, inovações, acidentes e descontroles locais
capazes de desencadear ações e reações em cadeia, ou mesmo bifurcações decisivas que o
afetem”. (p.244)
O destino da Terra depende também do quadrimotor que a impulsiona:
- avanços científicos, técnicos, industriais e capitalistas.
Morin prevê três grandes eventualidades:
- o advento de uma sociedade-mundo;
6
- o advento das metamáquinas;
- o advento de uma meta-humanidade.
Metamorfose
“A dimensão e a aceleração atual das transformações pressagiam uma mutação ainda mais
considerável que a da passagem, no neolítico, das pequenas sociedades arcaicas de caçadores-
coletores, sem Estado, nem agricultura, nem cidade, às grandes sociedades históricas que, há
oito milênios, espalham-se pelo planeta. Essa mutação seria, ao menos, tão considerável quanto
o advento da cultura que, no curso da hominização, permitiu o aparecimento do homo sapiens,
modificando, ao mesmo tempo, a sociedade, o indivíduo e a espécie, assim como esta relação
trinitária. Efetivamente, hoje, está esboçada, por três lados (planetário, técnico e biológico),
uma metamorfose que altera a relação trinitária indivíduo-sociedade-espécie; não sabemos se
daí resultará um aborto, um monstro ou um novo nascimento.” (p.256)
“Podemos imaginar uma civilização para além da megalomania humana? Podemos imaginar
uma era de poderes interiores, do espírito, depois da era dos poderes materiais, que os tornaria
complementares?
Ainda estamos no começo da aventura humana, enquanto a ameaça do fim se aproxima, A
humanidade ainda está em construção e já nos aproximamos da pós-humanidade. A aventura
é mais do que nunca desconhecida”. (p.259)
7
BAUMAN, Z. O Mal-estar da pós Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998 (p.7 a 26 -
Introdução e cap. 1)
Sobre a obra: Faz um paralelo com a obra O mal-estar na civilização, de Sigmund Freud, e traz
uma vigorosa reflexão sobre as ansiedades modernas. Bauman acredita que a marca pós-
moderno é a “vontade de liberdade”, algo que acompanha a velocidade das mudanças
econômicas, tecnológicas, culturais e do cotidiano. Isso implica uma experiência na qual o
mundo é vivido como incerto, incontrolável e assustador, algo diverso da segurança projetada
em torno de uma vida social estável, ou da ordem, como pensou Freud.
Sobre o autor: Falecido recentemente, o polonês Zygmunt Bauman é um dos sociológos mais
respeitados da atualidade. Nascido em 1925, foi professor emérito de Sociologia das
universidades de Leeds e Varsóvia. Bauman também era filósofo.
Introdução
O mal-estar moderno e pós-moderno
Ordem x desordem
“Nada predispõe “naturalmente” os seres humanos a procurar ou preservar a beleza, conservar-
se limpo e observar a rotina chamada ordem. [...] Os seres humanos precisam ser obrigados a
respeitar e apreciar a harmonia, a limpeza e a ordem”. (p.8)
Civilização = renúncia ao instinto (Freud)
= ordem imposta a uma humanidade naturalmente desordenada
“Passados sessenta e cinco anos que O mal-estar na civilização foi escrito e publicado, a
liberdade individual reina soberana: é o valor pelo qual todos os outros valores vieram a ser
avaliados e a referência pela qual a sabedoria acerca de todas as normas e resolução supra-
individuais devem ser medidas. Isso não significa, porém, que os ideais de pureza, beleza e
ordem foram que conduziram os homens e mulheres em sua viagem de descoberta moderna
tenham sido abandonados, ou tenham perdido um tanto do brilho original. Agora, todavia, eles
devem ser perseguidos – e realizados – através da espontaneidade, do desejo e do esforço
individuais.” (p.9)
Liberdade ou ilusão?
“Você ganha alguma coisa e, em troca, perde alguma outra coisa: a antiga norma mantém-se
hoje tão verdadeira quanto o era então. Só que os ganhos e as perdas mudaram de lugar: os
homens e mulheres pós-modernos trocaram um quinhão de suas possibilidades de segurança
por um quinhão de felicidade. Os mal-estares da modernidade provinham de uma espécie de
segurança que tolerava uma liberdade pequena demais na busca da felicidade individual. Os
mal-estares da pós-modernidade provêm de uma espécie de liberdade de procura do prazer que
tolera uma segurança individual pequena demais.” (p.10)
Felicidade como valor/consumo
Não há garantia de satisfação
Felicidade = momento episódico
8
O Sonho da pureza
“A pureza é uma visão das coisas colocadas em lugares diferentes do que elas ocupariam, se não
fossem levadas a se mudar para outro, impulsionadas, arrastadas ou incitadas; e é uma visão da
ordem, isto é, de uma situação em que cada coisa se acha em seu justo lugar e em nenhum
outro. Não há nenhum meio de pensar sobre a pureza se ter uma imagem da “ordem”, sem
atribuir às coisas seus lugares “justos” e “convenientes” – que ocorre serem aqueles lugares que
elas não preencheriam “naturalmente”, por sua livre vontade.” (p.14)
“Nenhum de nós pode construir o mundo das significações e sentidos a partir do nada: cada um
ingressa num mundo “pré-fabricado”, em que certas coisas são importantes e outras não o são;
em que as conveniências estabelecidas trazem certas coisas num mundo em que uma terrível
quantidade de aspectos são óbvios a ponto de já não serem conscientemente notados e não
precisarem de nenhum esforço ativo, nem mesmo o de decifrá-los, para estarem invisivelmente,
mas tangivelmente, presentes em tudo o que fazemos – dotando desse modo os nossos atos, e
as coisas sobre as quais agimos, de uma solidez de “realidade”. (P.17)
No entanto, no mundo pós-moderno se mantém a questão da pureza por quem quiser ser ali
admitido – tem que se mostrar capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante
renovação promovida pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir e despir
identidades, de passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sensações e cada
vez mais inebriante experiência. Nem todos passam nessa prova. Os que não passam são a
“sujeira” da pureza pós-moderna. (p.23)