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Ref.

MELLO, Gláucia B. R. de. Olhar antropológico, simbolismo e emoção na mitologia


das flautas sagradas. Artigo de comunicação oral publicada nos Anais do III
Encontro Regional Nordeste da ABET. I Encontro Regional Norte da ABET.
Salvador-BA: UFBA, 24–26/10/2012. [ISSN 2316-7416]. Disponível em:
https://dl.dropbox.com/u/25092535/Anais%20ABET%202012.pdf - pp. 233-237

Resumo
Esta comunicação é parte de uma pesquisa maior que está sendo desenvolvida no
GPMIA/ICA/UFPA, coordenado pela etnomusicóloga Líliam Barros, que desenvolve
estudos sobre a relação entre mito e música entre povos indígenas do Alto Rio Negro, no
Amazonas. Buscando aportar contribuição antropológica para tais estudos,
empreendemos pesquisa exploratória sobre o complexo cultural das flautas sagradas,
com ênfase no mito de Yurupari, o “dono das flautas sagradas”. Nossa pesquisa conta
com o apoio do PPGArtes/UFPA e do PNPD/CAPES. Para o seu desenvolvimento, foram
feitos trabalhos de campo nas cidades de S. Gabriel da Cachoeira e no distrito de
Iauaretê, no Amazonas, cuidadosa leitura sobre a literatura e etnografias relativas ao
assunto, apoiadas por teorias das ciências sociais, da etnomusicologia e do imaginário
antropológico de G. Durand. O produto desta pesquisa deverá contribuir para o conjunto
dos estudos em Etnomusicologia, trazendo aporte antropológico, iluminado pelo
universo simbólico. A pesquisa está em andamento e esta nossa comunicação apresenta
uma parte das nossas análises, parte esta que conta com o apoio multidisciplinar do
imaginário antropológico e da sociologia das emoções aplicados à análise da mitologia
relativa ao complexo cultural das flautas sagradas.
Palavras-chave
Complexo cultural das flautas sagradas; Simbolismo; Emoções sociais: inveja, ciúme,
vingança; Etnomusicologia; Povos indígenas do Alto Rio Negro-AM; Mitologias
indígenas; São Gabriel da Cachoeira; Yurupari
Abstract
This communication is part of a larger research project being developed by GPMIA / ICA
/ UFPA coordinated by ethnomusicologist Liliam Barros, who conducted studies on the
relationship between myth and music of the people of Rio Negro in Amazonas. Seeking
contribute anthropological contribution to these studies, we undertook exploratory
research on the cultural complex of sacred flutes, with emphasis on myth Yurupari, the
owner of the sacred flutes. Our research is supported by the PPGArtes / UFPA and
handbag PNPD CAPES. For its development, were done fieldwork in the city of S.
Gabriel and in the District of Iauaretê, Amazonas, careful reading of the literature and
ethnography on the subject, supported by theories of social sciences, ethnomusicology
and by anthropology of the imaginary of the G. Durand. The product of this research will
contribute to the set of studies in ethnomusicology, bring anthropological contribution,
lit by the symbolic universe. The research is ongoing and this our communication presents
a part of our analyzes, this part that has the support of multidisciplinary anthropological
imagination and the sociology of emotions applied to the analysis of mythology
concerning the cultural complex of sacred flutes.
Keywords
Sacred flutes, Symbolism, Social emotions
Olhar antropológico, simbolismo e emoção
na mitologia das flautas sagradas1

Gláucia Buratto Rodrigues de Mello

Apresentação

Esta comunicação apresenta parte de uma pesquisa maior que está sendo
desenvolvida no Grupo de Pesquisa Música e Identidade na Amazônia – GPMIA, no
Instituto de Ciências da Arte – ICA da Universidade Federal do Pará – UFPA, pesquisa
esta coordenada pela etnomusicóloga Líliam Barros, que desenvolve estudos sobre a
relação entre mito e música dos povos indígenas do Alto Rio Negro, no Amazonas.
Buscando aportar contribuição antropológica para o conjunto das pesquisas
desenvolvidas no GPMIA, empreendemos pesquisa exploratória sobre o complexo
cultural das flautas sagradas, com ênfase no mito de Yurupari, o dono das flautas
sagradas. Nossa pesquisa conta com o apoio do PPGArtes/UFPA e do PNPD/CAPES e
as supervisões da coordenadora do GPMIA e do antropólogo Robin Wright da
Universidade da Flórida – EUA.
Para o desenvolvimento da nossa pesquisa, foram feitos trabalhos de campo,
buscando uma maior e mais concreta aproximação com aquele campo, ocasião em que
foram feitas entrevistas informais e observação sobre o comportamento cultural dos
povos em foco, nas cidades de S. Gabriel da Cachoeira e no distrito de Iauaretê, além de
uma cuidadosa leitura sobre a literatura e etnografias relativas ao assunto, apoiadas por
teorias das ciências sociais, da etnomusicologia e do imaginário antropológico de G.
Durand. O produto desta pesquisa deverá contribuir para o conjunto dos estudos em
Etnomusicologia, iluminado pelo universo simbólico e, desta forma, agregando
significados socioculturais, que deverão melhor contextualizar as especificidades das
práticas culturais daqueles povos no seu universo musical. A pesquisa está em andamento
e a nossa comunicação apresenta uma parte das nossas análises, à luz de teorias
multidisciplinares, aplicadas ao estudo do complexo cultural das flautas sagradas.

1
Partes desta pesquisa foram apresentadas na 28ª. Reunião Brasileira de Antropologia, na PUC-SP, São
Paulo-SP, 02-07/07/2012; no Seminário de Pesquisa em Música no Pará do 38º. Encontro de Artes de
Belém – ENARTE, em Belém-PA, 01-04/12/2011; no Ciclo de Estudos Etnomusicológicos do
GPMIA/UFPA e do GEMA/UEPA, em Belém-PA, 05/12/2012.
Aporte antropológico: algumas noções fundamentais

Para a Antropologia, a música se apresenta de forma universal e tão diversificada


quantas são as culturas humanas. Enquanto linguagem, a música transpõe o tempo e o
espaço, agregando pessoas e sociedades. Expressão do corpo e do espírito, a música tem
valor transcendente, passível de interpretações contextuais, revelando identidades
culturais. Identidades culturais, por sua vez, são uma categoria de análise antropológica
assim como alteridade. Semelhança e diferença são melhor definidas e percebidas com o
distanciamento, daí que os contatos interétnicos possam ser culturalmente enriquecedores
ou, inversamente, determinadores de preconceitos, discriminações, racismos e
intolerância, quando orientados por prática de outra categoria cara aos antropólogos: o
etnocentrismo, herança ideológica do evolucionismo, que colocou a sociedade moderna
como modelo de civilização. O conhecimento sobre as diferenças amplia o nosso
conhecimento sobre as identidades e sobre outras possibilidades de ver o mundo e de
viver bem, revelando a criatividade e a potencialidade humanas no atendimento das
nossas necessidades e desejos, veiculados pelas mitologias, pelos sistemas simbólicos e
também pelas expressões de sentimentos sociais.

As técnicas de pesquisa antropológica capacitam o pesquisador para o trabalho de


campo e contribuem para a ampliação do conhecimento humano. Neste caso, relativo a
estudo sobre sociedades indígenas, os métodos antropológicos estimulam o contato e a
vivência do pesquisador em campo, visando uma melhor compreensão do grupo na sua
especificidade e no contexto em que as práticas ocorrem e têm significado. Além de
autorizações necessárias e pressupostos teóricos adequados, o trabalho de campo requer
do pesquisador uma grande capacidade de observação e escuta, disponibilidade,
paciência, criatividade, capacidade de adaptação a situações adversas, sensibilidade e
empatia para as práticas de observação, aplicação de entrevistas, exploração de
documentos, registros e de locais importantes para o grupo, enfim, para a coleta de todas
as informações necessárias para a redação de uma boa etnografia e uma etnologia. Tudo
isso requer, antes de tudo, aceitação do grupo quanto à inserção do pesquisador, o que
decorre com uma boa disposição do pesquisador para a construção de laços de ética e
confiança, fundamentais para a qualidade das informações obtidas em campo.

Mitologias e simbolismos constituem áreas importantes de estudo antropológico.


Na relação entre mito e música orientada para o complexo das flautas sagradas dos povos
do Rio Negro, com foco no mito de Yurupari, buscamos avaliar a vigência do mito nas
práticas sociais. Para esta comunicação, no entanto, vamos apresentar uma parte da
pesquisa que se vale do estudo que já realizamos sobre a mitologia publicada na ‘Coleção
Narradores Indígenas do Rio Negro’, que está no seu oitavo volume, os quais trazem
narrativas míticas, entendidas como versões autênticas e variantes do mesmo complexo
cultural, diferenciadas por clãs desana, tukano, tariano e baniwa, todos da região do Alto
Rio Negro. Elas são realizadas por narradores indígenas, conforme o título da coleção
indica, e organizadas por antropólogos, pesquisadores daqueles povos. Precede esta
comunicação igualmente um estudo comparativo sobre as várias versões e ainda o
destaque e análise de símbolos culturais recorrentes e arquétipos universais presentes nas
narrativas, que não puderam estar aqui.

Emoções como motores de cultura: inveja, ciúme e vingança

Inveja, ciúme e vingança são sentimentos humanos que podem gerar regras sociais
e comportamentos culturais específicos, justificar interdições e alimentar festas e guerras;
são sentimentos sociais e podem ser estudados por uma sociologia das emoções, que leva
em conta conflitos entre as culturas objetiva e subjetiva, elementos de intersubjetividade
e interações ambientais e sociais. Estes sentimentos aparecem bem marcados tanto nas
mitologias das grandes civilizações quanto das culturas simples, sendo fortemente
presentes na mitologia dos povos indígenas do Alto Rio Negro. Sentimentos de inveja,
ciúme e, sobretudo, o de vingança podem ser aqui entendidos como “motores de cultura”,
à maneira de como o entreviram Carneiro da Cunha e Viveiros de Castro (1986), no
estudo que fizeram sobre os Tupinambás. As mitologias dos povos do Rio Negro
apresentam-se fortemente motivadas por esses sentimentos e alavancam iniciativas
políticas e práticas culturais e sociais importantes, como o canibalismo, a criação do rito
de puberdade e disputa pelo poder, todos presentes na narrativa mítica sobre Yurupari, o
dono das flautas sagradas, um mestre de cerimônias, um benzedor e um pajé, dono do
xamanismo e das doenças.

Na primeira metade do ano de 2012, foi lançado no circuito comercial de cinema


um filme/documentário dirigido por Cao Hamburguer, intitulado Xingu. Trata-se de uma
adaptação livre sobre a saga dos irmãos Villas Boas nos anos 1940-50, quando a
expedição Roncador-Xingu adentrou o Brasil central e determinou, em grande medida, a
criação do Parque Indígena do Xingu, no norte do estado do Mato Grosso. O filme tenta
colocar em foco a integridade moral e o heroísmo sertanista dos irmãos Orlando, Cláudio
e Leonardo Villas Boas, na conduta dos primeiros contatos e na conquista da confiança
das populações indígenas, destacando desafios e problemas de naturezas ética, política,
fundiária e sanitária. Além disso, o filme deixa apenas suspeito o caso de Leonardo Villas
Boas, precocemente abortado da missão. Menezes Bastos (2006) explora num artigo os
motivos do afastamento do sertanista Leonardo e eles nos interessam aqui, por estarem
diretamente relacionados com o nosso tema.

No filme, o episódio sugere que Leonardo tenha se envolvido amorosamente com


uma moça kamayurá, extrapolando desta forma os objetivos da missão. A expulsão de
Leonardo é feita por Orlando, investido por um moral de irmão mais velho. Na verdade,
Leonardo provocou um conflito eticocultural que Menezes Bastos ilumina no seu artigo,
revelando implicações e consequências de sentimentos sociais, despertadas pelas relações
amorosas entre o sertanista e uma mulher indígena, esposa do cacique e pajé Kutamapù,
pai do cacique e pajé Takumã Kamayurá, interlocutor de Menezes Bastos. Conforme
Menezes Bastos soube em campo, Kutamapù tinha três esposas. No entender de Takumã,
Leonardo errou porque namorou a esposa do seu pai e tinha ciúmes dela, sentimento que
vai contra as regras sociais. Takumã contou a Menezes Bastos que, por ordem de
Kutamapù, os índios colocaram na casa de Leonardo um trio de flautas sagradas. Quando
a moça veio se encontrar com Leonardo, ela teria visto as flautas e a regra social que
proíbe às mulheres verem as flautas incumbiu-se de realizar a punição para os dois. A
moça sofreu estupro coletivo e ele foi afastado do convívio dos povos indígenas do Xingu.
Fizeram isso para punir os dois. Foram ambos banidos. Ele voltou para a cidade e ela foi
para a Ilha do Bananal e tornou-se esposa de importante cacique karajá.

Inveja, ciúme e vingança não parecem sentimentos necessariamente excludentes.


O sentimento de vingança, sobretudo, aparece na mitologia dos povos do Rio Negro como
motor de cultura, na medida que alavanca as ações de Yurupari. Tendo o seu corpo
mutilado por prática antropofágica cometida por seus parentes, Yurupari guarda a sua
vingança para a humanidade, determinando os ritos de puberdade e deixando as doenças,
além de ser o dono das flautas e do xamanismo. Yurupari é um ser poderoso e ambíguo
por natureza – meio humano, posto que foi o primeiro filho gerado e parido por uma
mulher, com a concorrência do sobrenatural e sem a participação sexual masculina; meio
animal, posto que tinha o corpo peludo como a preguiça preta; meio instrumento musical,
posto que, à maneira de uma flauta, seu corpo era coberto por furos através dos quais ele
emitiu os sons do mundo; a meio caminho entre a humanidade e a divindade.
Porque era primogênito, já vinha dotado, teria recebido ou seria o filho indicado
para guardar e transmitir o legado cultural, situação social que faz dele, ao mesmo tempo,
o responsável (dono) pelo conhecimento e o transmissor desse mesmo conhecimento às
futuras gerações. Ser híbrido, não teve esposa e tampouco filhos para os quais pudesse
passá-lo. A estratégia de transformação de seres invisíveis e destituídos de uma ética
social em humanos surge como uma necessidade dos seus irmãos em relação aos
descendentes deles. Yurupari seria o tio materno da humanidade2 e não poderia negar-se
a passar o seu legado. Junto com este conhecimento, havia, no entanto, lá, no fundo do
seu coração, o desejo de vingança pelo que seus irmãos fizeram a ele. Daí que Yurupari
tenha hesitado num primeiro momento sobre a sua responsabilidade de transmitir o
conhecimento tradicional, mas acaba cedendo sob condições: ele impõe sofrimentos
(vingança), restrições, que ele exige para a iniciação da humanidade: reclusão, dieta
alimentar e açoite, práticas que marcam a festa de iniciação ou o rito de passagem da
puberdade dos meninos.

Aceitas as suas condições, Yurupari dá início ao seu ofício de Mestre de


Cerimônias, benzedor e pajé, transmitindo assim a cultura que faz a identidade de cada
um dos povos Indígenas do Alto Rio Negro. O seu conhecimento transmitido é uma forma
dele permanecer no mundo, na memória e nas cerimônias de iniciação. Tudo ia bem, até
que a humanidade desobediente, por natureza (as mitologias em geral o atestam), comete
um agravo, que é a quebra de uma regra social importante; no caso, a ingestão de frutas
assadas durante o período do jejum. Este fato desperta a ira de Yurupari, acende e
desperta-lhe o desejo de sangue. Yurupari come os meninos por vingança e foge para o
Alto.

Quando ele é convidado para uma Festa de caxiri, ele sabe que era uma festa de
vingança, para “acabarem” com ele. Ele conhece as regras sociais e aceita o seu destino,
mas, devido à sua natureza, ele não deveria se acabar no estômago do inimigo. Então, ele
mesmo ensina como poderia ser destruído pelo fogo de certas lenhas. Ora, Fogo aparece
ali como um forte símbolo de purificação e transcendência, permitiria que ele subisse
como fumaça e se mantivesse em essência. Assim, o espírito de Yurupari subiu embalado
por seu canto de vingança. Na terra, ficaram suas cinzas e seu veneno, e eles vão alimentar
o “estouro” de uma paxiúba, que rompe do chão e sobe até o céu, permitindo uma

2
A importância do primogênito e do tio materno nas sociedades indígenas de um modo geral é bem
conhecido pelos antropólogos e não há aqui lugar para explorá-la.
intermediação, ao mesmo tempo em que torna-se a matéria-prima para a fabricação de
flautas sagradas, para serem usadas na Iniciação dos meninos.

Assim seria, não fosse a astúcia das mulheres. Movidas por sentimentos
controversos de inveja, ciúme e vingança, elas furtam as flautas que representam o
conhecimento tradicional e, consequentemente, o poder. As flautas tornam-se um objeto
de disputa entre os homens e as mulheres. As mulheres resistem e os homens empreendem
uma verdadeira guerra e elas perdem. As mulheres são mortas, banidas, excluídas da
transmissão do conhecimento tradicional e, consequentemente, do poder político e
cerimonial.

Ratificando a importância da vingança na mitologia dos povos do rio Negro, além


da saga de Yurupari, encontramos numerosas narrativas movidas por esse sentimento na
referida coleção. Entre outras, os narradores explicitam que os dabucuris – tradicionais
festas de ofertas e oportunidade de trocas e convívio social - eram, na origem, festas de
vingança que começavam com alegria e acabavam com morte. Os narradores elencam
várias passagens nas histórias dos antigos, nas quais os dabucuris aparecem como festas
objetivamente realizadas para as ofertas de pesca, caça, frutas do mato, artesanatos e
caxiri e, subjetivamente realizadas com fins de vingança contra cunhados. Daí que os
convidados precisassem se precaver e se proteger da violência com benzimentos, os quais
antecediam as suas chegadas às festas.

Inveja, ciúme e vingança são sentimentos veiculados em toda a mitologia do


complexo das flautas sagradas, culminando na vingança dos homens, banindo e privando
as mulheres do conhecimento que lhes dá poder. A garantia para a manutenção desse
poder parece ser o segredo: as mulheres são proibidas de ver as flautas ou participar das
cerimônias nas quais as flautas são usadas. A perda das mulheres na disputa pelas flautas
legitima ainda hoje a exclusão delas na transmissão da cultura tradicional, ao mesmo
tempo em que preteriu-as a um papel secundário nas práticas sociais, entendidas como
expressão de alteridade dentro do seu próprio grupo. Alteridade esta, determinada pela
instituição das regras de exogamia linguística e descendência patrilinear, que organizam
socialmente os povos do rio Negro. Esta forma de organização social tem, portanto, as
suas raízes no mito com a derrota das mulheres mortas ou banidas, dispersadas para o
mundo.
Considerações finais

A contribuição multidisciplinar enriquece as pesquisas, extrapolando fronteiras


teóricas e assimilando outros olhares com o benefício de um conhecimento mais
integrado, sobretudo quando se trata de estudo sobre mitologias. A relação entre mito e
música abre um campo privilegiado de pesquisa, posto que são ambos linguagens
simbólicas, que transpõem fronteiras de tempo e espaço, transmitem e requerem
significados e interpretações múltiplos, além de abrirem espaços para intersubjetividades
que se traduzem em versões e variantes dos mesmos sentidos. Tudo isso pode ser objeto
de apreensão e análise, da mesma forma como a expressão de sentimentos sociais,
revelando interações objetivas e subjetivas, iluminando conflitos coletivos que, de outra
forma pareceriam atos isolados. A análise do complexo das flautas sagradas se beneficia
assim de um olhar antropológico mais abrangente e integrador que leva em conta todas
essas faces, descortinando os seus bastidores e revelando toda a sua complexidade.

Referências

CARNEIRO DA CUNHA, M.; VIVEIROS DE CASTRO, E. Vingança e


temporalidade: os Tupinambás. Anuário Antropológico/85, Rio de Janeiro,
1986: 57-78
MENEZES BASTOS, R. J. Leonardo, a flauta: uns sentimentos selvagens. Revista de
Antropologia, S. Paulo, v. 49, n. 2, jul./dez, 2006.

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