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Introdução
A poesia contemporânea é uma expressão artística que começa a destacar-se a
partir da metade do século passado, uma vez que conseguiu a "independência" da
chamada literatura pós-guerra que imperava até aquele momento. A poesia
contemporânea dá grande atenção à forma. Outra característica muito própria desta nova
poesia é o claro interesse que demonstra nos recentes fenómenos.
O aparecimento da poesia contemporânea portuguesa, remonta ao período da
revolução estética produzida pelo Romantismo e passa, já no início do século, pelo influxo
de correntes existente no final do século XIX, tais como o Simbolismo, o Decadentismo ou
o Neogarrettismo, que, nascidas da reação anti naturalista, desaguarão em novas
tendências, tais como o Saudosismo e o Modernismo.
O século XX tem, como referência na poesia portuguesa a experiência da Geração
de Orpheu e mais concretamente o universo de Fernando Pessoa. A produção poética da
década de quarenta reflete-o antagonismo entre duas tendências teóricas opostas, o
Presencismo (também designado Segundo Modernismo) e o Neo-Realismo, que coexistem
com uma terceira via, a dos autores que encontram em Cadernos de Poesia a
possibilidade de afirmar a isenção e essencialidade da palavra poética. Na década de 50,
convergem várias tendências estéticas, afirmadas em publicações como Távola Redonda,
Árvore, Notícias do Bloqueio, Cancioneiro Geral ou Cadernos do Meio-Dia, que, apontando
quer para a consideração da existência de uma segunda geração neo-realista e de uma
segunda geração surrealista quer para o influxo do existencialismo, confluem no que, de
um modo lato, é usual designar de Geração de 50.
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Contexto sócio-cultural e político
Miguel Torga e Manuel Alegre, embora que, com diferentes idades, vivenciaram o
Estado Novo (1933-1974), um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista
do Estado e de inspiração fascista, parcialmente católico e tradicionalista, de cariz
antiliberal, antiparlamentarista, anticomunista, e colonialista, que vigorou em Portugal
durante 41 anos sem interrupção, desde a aprovação da Constituição de 1933 até à
Revolução de 25 de Abril de 1974.
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Miguel Torga
Em 1925, como recompensa dos cinco anos de serviço, o seu tio responsabilizou-se
pelos seus estudos, convencido de que ele viria a ser doutor em Coimbra.
Em 1936, lança, junto com Albano Nogueira, o periódico Manifesto. Nesse ano,
publica O Outro Livro de Job.
Admira a cidade de Leiria, onde exerce a profissão de médico, de 1939 até 1942, e
escreve a maioria dos seus livros.
Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros, ao longo de seis décadas, e foi,
várias vezes, indicado para o Prémio Nobel da Literatura.
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A obra de Torga tem um carácter humanista: por ter crescido nas serras
transmontanas, aprendeu o valor de cada homem como criador e propagador da vida e da
natureza. Torga defende que só a humanidade seria digna de louvores, ao contrário dos
deuses, que devido à sua condição omnisciente se torna muito fácil ser virtuoso. O
Homem, por sua vez, propenso à desgraça, como Ser mortal, é também capaz de criar e
de se impor à natureza. Torga vê o Homem como o único Ser digno de adoração.
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“ Poemas Ibéricos”
Poemas Ibéricos é uma obra publicada em 1965 que retrata o nacionalismo de um homem
que prega o fim das rivalidades ibéricas mostrando que apesar de todas as atrocidades, o
homem e a Ibéria são fortes e possuem um passado.
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Intertextualidade
Face à permanente oposição corpo-alma, a que dá presença na sua obra, Torga é sempre
pelo corpo.
Por outro lado, as referências às Índias são sempre negativas em Poemas Ibéricos.
Para Torga esta mensagem é clara: o verdadeiro herói é o Sancho, o humilde herói coletivo
da luta quotidiana da vida contra a morte, não D. Quixote de la Mancha.
Para Pessoa, pelo contrário, o país não é corpo: «um país é uma alma».
Pessoa, embora entregue a Nuno Álvares a espada do Rei Artur, l’Excalibur, e lhe chame o
São Portugal, privilegia D. Sebastião: dedica-lhe na Mensagem sete poemas e numerosas
referências, enquanto a Nuno Álvares Pereira só lhe inspira uma.
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Enquanto Pessoa enaltece a sua loucura, o seu desejo de «grandeza», Torga inflige a
D.Sebastião o ultraje, a punição de ser apenas um cadáver que ninguém enterrou.
Causado pela sua loucura e a sua mania de grandezas.
Mas, para Torga, partir é sempre perder-se de si próprio, optar pelo barco é ser infiel à raiz.
Pessoa é sempre pelo barco, contra a raiz.
Para Torga, somos humildes filhos de uma mãe rude e pobre, a Ibéria, mas dotada de uma
grandeza de que nos devemos de orgulhar.
Para Pessoa, nesse período em que nos revelámos aos nossos próprios olhos, fomos
«navegadores e criadores de impérios».
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Ana Luísa Amaral
Nascida em Lisboa no dia 5 de Abril de 1956 e vive, desde os nove anos, em Leça
da Palmeira. Tem um doutoramento sobre a poesia de Emily Dickinson. É Professora
Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde integra também a
direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa.
Tem várias publicações académicas em Portugal e no estrangeiro. É autora, com
Ana Gabriela Macedo, do Dicionário de Crítica Feminista (Porto: Afrontamento, 2005) e
preparou a edição anotada de Novas Cartas Portuguesas (1972), de Maria Isabel Barreno,
Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (Lisboa: Dom Quixote, 2010). Organizou, com
Marinela Freitas, os livros Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois (Dom Quixote, 2014)
e New Portuguese Letters to the World (Peter Lang, 2015). Coordenou o projeto
internacional financiado pela FCT Novas Cartas Portuguesas 40 anos depois, que
envolveu 13 equipas internacionais e mais de 15 países.
Em torno dos seus livros de poesia e infantis foram levados à cena, espetáculos de
teatro e leituras encenadas.
Em 2007, venceu o Prémio Literário Casino da Póvoa, com a obra A Génese do
Amor. No mesmo ano, foi galardoada em Itália com o Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi,
prémio esse que visa educar os jovens à leitura, assim como, ampliar os espaços
cognitivos dos leitores e criar uma rede de conhecimento e relações internacionais.
O seu livro Entre Dois Rios e Outras Noites obteve, em 2008, o Grande Prémio de
Poesia da APE (Associação Portuguesa de Escritores).
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Inês e Pedro: quarenta anos depois
É tarde. Inês é velha.
Os joanetes de Pedro não o deixam caçar
e passa o dia todo em solene toada:
«Mulher que eu tanto amei, o javali é duro!
Já não há javalis decentes na coutada
e tu perdeste aquela forma ardente de temperar
os grelhados!»
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No poema, Ana Luísa Amaral retrata o amor proibido de um dos casais mais
conhecidos da literatura. Localizados num tempo onde já são ambos de uma certa idade,
Ana Luísa transmite-nos a mensagem de cansaço, velhice, mencionando os joanetes de
Pedro e a fraca audição de Inês. No entanto, isto pode também ser o indicador do
desgaste do amor entre os dois. No poema, não conseguimos identificar o amor ardente
vivido pelo casal, mas sim os problemas e queixas de cada um, como se o sentimento
mútuo se tivesse desvanecido.
A beleza da juventude e a paixão sofreram as suas transformações, Inês já sem
dentes da frente e Pedro tem cãibras. Isto poderá ser uma crítica ao desgaste da relação,
onde os parceiros acomodados se descuidam com eles próprios e não se esforçam para
agradar o outro.
Nos versos 4 a 7, é notável o descuido, mesmo que não intencional. É possível que
no poema estejam representadas duas perspetivas do assunto: enquanto que Pedro se
mostra nostálgico e deseja voltar aos tempos antigos, Inês conforma-se com a nova
realidade, aceitando o estado da sua vida e da sua relação, que se desgastou ao longo
dos anos.
Intertextualidade
“Inês e Pedro: quarenta anos depois” relaciona-se com um dos poemas da obra Os
Lusíadas, “Inês de Castro”. Na história de D.Pedro e Inês de Castro, a “Rainha que foi
coroada depois de morta”, os amores e as lágrimas, são a celebração e a reabilitação do
amor que acima de tudo humano, está para além dos tempos.
Ana Luísa Amaral avançou quarenta anos e retratou o estado de como estaria a
relação se ambos permanecessem juntos e com vida. Neste poema, a relação encontra-se
desgastada pelos anos e, a paixão ardente e intensa entre os dois, já não é visível. Inês
conformasse ao seu estado de velhice e à sua relação com Pedro, que já não é como, em
tempos, foi.
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Manuel Alegre
Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de maio de 1936, em Águeda. Estudou
Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil. Apoiou a
candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação
Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da
Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da
Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e
colaborador de Via Latina.
Manuel é chamado para o serviço militar em 1961. Em 1962 é mobilizado para
Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em
Luanda, em 1963, durante 6 meses. Muda-se para Argel onde permanece dez anos e se
torna dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional.
Regressa a Portugal a 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril.
Entra no Partido Socialista onde, ao lado de Mário Soares, promove as grandes
mobilizações populares.
Desempenhou um grande papel na política. Passou por deputado por Coimbra e
Lisboa; dirigente histórico do PS; Vice-Presidente da Assembleia da República; membro
eleito do Conselho de Estado; candidato a Secretário-geral do PS; candidato à Presidência
da República, onde atingiu o segundo lugar. A 23 de Julho de 2009 despediu-se do lugar
de Deputado por vontade própria, que ocupou durante 34 anos.
Contudo, em Janeiro de 2010, Manuel Alegre anuncia a sua disponibilidade para
travar o combate das presidenciais em 2011 e em Maio de 2010 apresenta formalmente a
sua candidatura à Presidência da República.
Manuel Alegre tem sido distinguido por inúmeras condecorações e medalhas. Em
2017 recebeu o Prémio Camões e foi doutorado "honoris causa" pela Universidade de
Pádua.
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Sobre um Mote de Camões
Se me desta terra for A
Mote
eu vos levarei amor. A
Nem amor deixo na terra B
O amor vai com o Sujeito
quando deixando levarei. C Poético para onde ele for
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Intertextualidade
É o falar camoniano que se encontra na poesia de Manuel Alegre, que pretendeu fazer
uma recuperação de valores literários do passado, uma recuperação dos textos
palimpsésticos, que ao longo do tempo se foram apagando.
A poesia de Manuel Alegre representa "matrizes hipogramáticas" de textos da poesia
medieval e da Odisseia, mas o mais importante intertexto português no "poeta-trovador" é,
sem dúvida, a poesia épica e lírica de Luís de Camões.
Camões representa a língua portuguesa e Manuel Alegre quis, mais uma vez, homenagear
esse poeta real que foi "não português mas Portugal", como disse Fernando Pessoa.
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Conclusão
Miguel Torga valoriza a natureza e retoma a uma das temáticas das cantigas do amigo.
Mostra-se desiludido e inconformado com o mundo que o rodeia. Apresenta um tom
confessionalista, expressividade das metáforas e irregularidade ao nível da métrica, da
versificação e da rima.
Por sua vez, Ana Luísa Amaral representa a igualdade de género e o quotidiano. Recupera
temas que ilustram a tradição literária a par da subversão dessa mesma tradição. Constrói
uma visão feminista da educação e apresenta domínio das potencialidades expressivas da
língua, assim como, sintaxe invulgar.
Manuel Alegre luta pela liberdade e denuncia os horrores da Guerra Colonial antes e
depois do 25 de abril. Recupera a musicalidade típica das cantigas de amigo e é
empenhado socialmente. Apresenta a poesia como arma ao serviço da denúncia e da
liberdade.
Webgrafia
https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/5184/3/PDF%20Manuel%20Alegre.pdf
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