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ORDEM DOS ENGENHEIROS

CURSO DE COORDENAÇÃO DE SEGURANÇA


2008

DESEMPENO DOS COORDENADORES DE SEGURANÇA

Fernando Cabral
Maio de 2008

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ÍNDICE
1 Enquadramento geral da segurança e saúde do trabalho
1.1 As obrigações das empresas
1.2 Princípios gerais de prevenção
1.3 Conceitos fundamentais da prevenção de riscos profissionais
2 As particularidades da segurança e saúde do trabalho na actividade da Construção
2.1 A sinistralidade laboral na Construção
2.2 a dinâmica do acto de Construir
2,3 A gestão da segurança e saúde do trabalho na Construção
2,4 A necessidade de coordenação de segurança na Construção
2.5 A filosofia da gestão da prevenção na Construção
3 A elaboração do Projecto
3.1 Tipologias de empreendimentos construtivos
3.2 Fases do empreendimento construtivo
3.3 A concepção da obra
3.4 Elementos do projecto
3.5 Tipos de projectos
3.6 Vertentes do projecto de edifícios
3.7 Fases de elaboração do projecto
4 O projecto de execução
4.1. Memória descritiva e justificativa
4.2 Nota de cálculo
4.3 Medições
4.4 Orçamento
4.5 Caderno de encargos
5 Fase de Organização
6 Planeamento da obra
6.1 Plano de trabalhos
6.2 Plano de mão de obra
6.3 Plano de equipamentos
7 Consignação e preparação da obra
7.1 Consignação da obra
7.2 Preparação da obra
8 A coordenação de segurança e saúde na Construção
8.1 Trabalhos abrangidos pelo regime de coordenação de segurança
8.2 Princípios de coordenação de segurança
8.3 Intervenientes no sistema de coordenação de segurança

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8.4 Intervenção dos projectistas
8.5 Riscos especiais
8.6 Funções dos Coordenadores de segurança de Projecto
8.7 Plano de Segurança e Saúde
8.8 Desenvolvimento do PSS pelo Empreiteiro
8.9 Fichas de Procedimentos de Segurança
8.10 Compilação Técnica
8.11 Funções dos Coordenadores de Segurança de Obra

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1. ENQUADRAMENTO GERAL DA SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO

1.1. As obrigações das empresas

O Código do Trabalho, aprovado pela Lei 99/2003, de 27 de Agosto, estabelece o


enquadramento da acção das empresas (obrigações dos empregadores e deveres
dos trabalhadores) no âmbito da segurança e saúde do trabalho (ver, em particular,
os artigos 272º a 280º).
Este enquadramento é ainda especificado em vários domínios na regulamentação
deste Código, aprovada pela Lei 35/2004, de 29 de Julho (ver, em particular, os
artigos 211º a 289º).

Tal enquadramento geral da segurança e saúde do trabalho desenvolve-se em torno


dos seguintes pilares:

– Todas as situações de trabalho estão abrangidas pelo regime da segurança e


saúde do trabalho. Desta definição decorre que os regimes da segurança e saúde
se aplicam a todas as actividades económicas, a todas as organizações
produtivas e a todos os profissionais (incluindo os trabalhadores independentes);
– A segurança e saúde desenvolve-se desde o plano da concepção dos
componentes do trabalho até ao plano da execução do trabalho. Esta definição
visa integrar na mesma óptica da prevenção toda a cadeia de intervenientes e de
intervenções que confluem no trabalho que é desenvolvido no contexto de uma
organização produtiva. Assim, este princípio envolve a obrigação geral de
equacionar a prevenção nos seguintes níveis da actividade económica:
• Concepção de componentes do trabalho (materiais, produtos, máquinas e
ferramentas, etc.);
• Comercialização daqueles componentes;
• Utilização daqueles componentes;
– O empregador é considerado como o elemento-chave da dinamização da
prevenção, pelo que lhe compete:
• Assegurar a prevenção dos riscos profissionais;
• Tal responsabilidade é definida (legalmente) em termos de grande
abrangência, na medida em que respeita a todos os profissionais
contratados pela empresa (trabalhadores da empresa, trabalhadores
temporários e trabalhadores independentes) e a todos os riscos

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profissionais para a segurança e saúde (independentemente da sua
natureza), obrigando, ainda, à coordenação da acção desenvolvida pelas
entidades subcontratadas;
• Desenvolver a prevenção de acordo com uma adequada metodologia
(princípios gerais de prevenção);
• Implementar estratégias preventivas a partir do desenvolvimento das
competências dos trabalhadores (formação e informação) e da sua
participação;
• Reunir e organizar os recursos (humanos, técnicos e tecnológicos)
necessários à prevenção.

1. 2. Princípios Gerais de Prevenção

Os princípios gerais de prevenção constituem, por força do seu enquadramento no


Código do Trabalho (artigo 273º), o núcleo central da metodologia da prevenção.
Tais princípios enumeram-se do seguinte modo:

– Evitar os riscos;
– Avaliar os riscos que não possam ser evitados;
– Combater os riscos na origem;
– Adaptar o trabalho ao Homem, especialmente no que se refere à concepção dos
postos de trabalho, bem como à escolha dos equipamentos de trabalho e dos
métodos de trabalho e de produção, tendo em vista, nomeadamente, atenuar o
trabalho monótono e o trabalho cadenciado e reduzir os efeitos destes sobre a
saúde;
– Ter em conta o estado de evolução da técnica;
– Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos perigoso;
– Planificar a prevenção como um sistema coerente que integre a técnica, a
organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações sociais e a
influência dos factores ambientais no trabalho;
– Dar prioridade às medidas de protecção colectiva em relação às medidas de
protecção individual;
– Dar instruções adequadas aos trabalhadores.

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Estes princípios estabelecem a metodologia a observar na prevenção de riscos
profissionais, fornecendo-lhe um sentido e alcance conforme de seguida se
descreve.

– Eliminar os perigos:
O perigo, enquanto potencial de dano inerente aos componentes de trabalho, deve
ser objecto de análise sistemática tendo em vista a sua detecção e eliminação.
Esta primeira atitude preventiva deve ter lugar não só na fase de laboração, mas,
também, na fase de concepção e projecto. Ora, toda esta acção só é possível num
quadro de competências de gestão desenvolvidas e de integração da prevenção nos
momentos decisivos do projecto e do planeamento.
Na actividade da Construção este princípio tem particular aplicação na actividade
desenvolvida em torno do empreendimento antes da abertura do estaleiro,
nomeadamente no âmbito dos processos relacionados com a elaboração do
projecto, bem como com a definição do programa de trabalhos e com a elaboração
do projecto do estaleiro.
Por sua vez, na fase de execução a eliminação dos perigos deve ser uma
preocupação constante no âmbito das acções de planeamento das operações e de
verificação das condições de execução dos trabalhos, seja ao nível dos
condicionalismos existentes, seja ao nível dos métodos e processos de trabalho e
das condições de utilização dos equipamentos, materiais e produtos utilizados.

– Avaliar os riscos:
O risco resulta de um perigo não eliminado que vai persistir na situação de trabalho,
contando com a interacção de um ou de vários trabalhadores. Avaliar os riscos
significa desenvolver todo um processo que visa obter dos riscos o conhecimento
necessário à definição de uma estratégia preventiva (origem do risco, natureza do
risco, consequências do risco, trabalhadores expostos ao risco....).
Na actividade da Construção a avaliação dos riscos deve ter lugar desde a
elaboração do projecto, passando pelo planeamento, até à supervisão das diversas
operações que integram o processo construtivo. Este processo sistemático de
avaliação de riscos dará lugar à elaboração do planeamento das medidas
preventivas em diversos planos:
• No PSS elaborado durante o projecto;
• No desenvolvimento introduzido a este PSS para a fase de execução da
obra;

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• Na Compilação Técnica, onde a avaliação visa prevenir os riscos associados
às intervenções que tenham lugar na edificação após a sua construção.

– Combater os riscos na origem:


Tendo em vista a máxima eficácia possível na prevenção, o risco deve ser,
preferencialmente, combatido no plano dos factores de trabalho que lhe dão origem.
Na actividade da Construção este princípio deve ser tido em conta particularmente
nas abordagens preventivas que tenham lugar sobre os modos operatórios, bem
como sobre os equipamentos, materiais e produtos utilizados.

– Adaptar o trabalho ao Homem:


Todos os factores do trabalho devem ser, tanto quanto possível, concebidos e
organizados em função das características das pessoas que o executam (concepção
e organização produtiva das frentes de obra e da execução dos trabalhos, das
ferramentas e equipamentos, dos métodos e processos de trabalho, dos ritmos de
trabalho e tempos de trabalho, etc).
Na Construção este princípio é de grande aplicação, em virtude da natureza
provisória dos elementos de trabalho e da grande quantidade e diversidade de
processos de trabalho, equipamentos, produtos e materiais utilizados.

– Atender ao estado de evolução da técnica:


Atender à permanente evolução tecnológica, tendo em vista detectar novos riscos,
mas, também, novas soluções preventivas integradas nos componentes de trabalho
(máquinas mais seguras, produtos não tóxicos, etc) e novos métodos mais eficazes
de avaliar e controlar riscos.
A pertinência deste princípio na actividade da Construção relaciona-se com a
intensa inovação tecnológica que se verifica nos processos construtivos,
equipamentos de estaleiro e materiais da construção, bem como nos equipamentos
de protecção disponibilizados, em particular os equipamentos de protecção
colectiva.

– Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos perigoso:


A evolução tecnológica resolve algumas situações de perigo (eliminando-o ou
reduzindo-o), devendo isso mesmo ser potenciado na melhoria dos factores de
trabalho. Deve, assim, ser conhecida toda a fonte de perigo existente na empresa e
permanentemente processar-se a procura de melhores soluções, na medida do
possível.

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Na Construção, entre outros domínios, será de atender à aplicação deste princípio
no que respeita às opções arquitectónicas, processos e métodos construtivos, aos
materiais e produtos, onde se verifica uma considerável evolução de alternativas
com níveis de perigosidade mais reduzidos.
Por outro lado, o desenvolvimento tecnológico vem permitindo cada vez mais a
substituição do trabalho baseado no esforço humano pela acção das máquinas
(como sucede, por exemplo, nas tecnologias de movimentação de terras e de
elevação e movimentação de cargas).

– Planificar a prevenção:
As medidas de prevenção só produzem efeito duradouro e eficaz quando se
articulam coerentemente entre si (medidas técnicas sobre os componentes materiais
do trabalho articuladas com medidas de organização do trabalho e com medidas
sobre as competências dos trabalhadores) e com a lógica da produção e com a
política de gestão da empresa.
A planificação da prevenção assume na actividade da Construção uma importância
determinante, na medida em que a dinâmica do processo construtivo exige uma
antecipação considerável na previsão das medidas, seja para garantir a sua
integração nas definições de projecto e na programação dos trabalhos, seja para
viabilizar a articulação das medidas necessárias (medidas de prevenção, medidas
de formação e medidas de protecção colectiva e individual).

– Priorizar a protecção colectiva sobre a protecção individual:


As medidas de protecção só deverão ser usadas quando as medidas de prevenção
estiverem esgotada e não sejam suficientes para controlar o risco.
Quanto aos sistemas de protecção colectiva deverão observar-se as seguintes
regras:
• Serem implementados o mais próximo possível do ponto de manifestação do
risco, de forma a traduzirem-se num grau de protecção do trabalhador com
eficácia suficiente;
• Terem em conta as situações de trabalho e atenderem aos factores de
resistência dos materiais e de estabilidade das estruturas;
• Ser-lhes garantida a permanência (no espaço e no tempo) necessária.
Quanto à protecção individual, refira-se que é o último reduto da protecção do
trabalhador e, daí, a sua colocação em último lugar no elenco dos princípios gerais
de prevenção. Face à protecção colectiva, a protecção individual deverá entrar

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quando/e se a protecção colectiva for tecnicamente impossível ou insuficiente. A
protecção individual assume, assim, um carácter complementar e, quando utilizada,
deve adequar-se:
• Ao risco;
• Ao trabalhador;
• À situação de trabalho.
A especificidade dos trabalhos construtivos determina uma necessidade muito
elevada de recurso a medidas de protecção colectiva e de protecção individual, pelo
que importa garantir uma adequada gestão destas medidas de acordo com a
prioridade estabelecida neste princípio que deve ser conferida à protecção colectiva.

– Formar e informar:
A formação e a informação constituem a abordagem preventiva central, na medida
em que dela depende o desenvolvimento de competências necessárias à
participação generalizada de todos os trabalhadores na prevenção.
A formação e a informação assumem na actividade da Construção uma importância
excepcional, face à diversidade de factores de risco elevado e ao elevado número
de participantes no processo construtivo. Por outro lado, tal importância relaciona-
se, ainda, com a necessidade de se garantir permanentemente a integração dos
executantes nos diversos processos de planeamento dos trabalhos que se registam
durante a obra bem como nas novas tecnologias utilizadas.

1.3. Conceitos fundamentais da Prevenção de Riscos Profissionais

O RISCO PROFISSIONAL

A segurança e saúde do trabalho constitui um conjunto de finalidades que se obtêm


pela prevenção dos riscos profissionais. Assim, a noção de risco profissional é a
base a partir da qual se constroem todas as abordagens preventivas.
Em tal contexto importa clarificar os conceitos de perigo e risco:

• Perigo: Propriedade ou capacidade intrínseca de um componente de


trabalho potencialmente causador de danos.
• Risco: Possibilidade de que um trabalhador sofra um dano provocado pelo
trabalho.

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Decorre destas definições que o perigo é um determinado potencial de dano
existente num componente do trabalho, enquanto o risco reside na situação de
interacção que exista entre esse potencial de dano e o trabalhador.

A LÓGICA DA PREVENÇÃO

A prevenção integra todo o conjunto de abordagens necessárias ao


desenvolvimento da segurança e saúde do trabalho e, assim, pode ser definida do
seguinte modo:

• Prevenção: Acção de evitar ou diminuir os riscos profissionais através de um


conjunto de disposições e medidas a adoptar em todas as fases e domínios
da actividade da empresa.

A lógica da prevenção desenvolve-se por uma sequência metodológica constituída


pelos seguintes passos:

• Detecção do perigo
• Avaliação do risco
• Controlo do risco

A identificação de “perigos” que ocorrem no trabalho é a primeira etapa do processo


preventivo e assume uma importância extraordinária de diagnóstico preliminar. Para
levar a cabo a identificação de perigos, devem ser colocadas, prioritariamente, três
questões :
- Existe uma fonte de danos ?
- Quem ou o quê, pode(m) ser afectado(s) ?
- Como pode ocorrer o dano ?

A avaliação de riscos, por sua vez, constitui o elemento chave do processo de


prevenção, na medida em que nos permite conhecer a existência dos riscos, a sua
natureza e, bem assim, planear as intervenções preventivas adequadas.
O processo de avaliação de riscos consiste numa sequência metodológica que é
desenvolvida através dos passos seguintes:
• Identificar (o risco);
• Estimar (o risco), tendo em vista a determinação da sua frequência e
gravidade;

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• Valorar (o risco), tendo em vista a determinação do grau de aceitabilidade
do risco.

Daí que o seu conceito seja definido na forma que se segue:

• Avaliação de riscos: Processo de identificar, estimar e valorar os riscos


para a segurança e saúde dos trabalhadores, visando obter a informação
necessária à tomada de decisão relativa às acções preventivas a adoptar.

Com base na informação disponibilizada pela avaliação, pode, então, passar-se à


acção sobre os riscos, visando a sua eliminação ou, se tal não for possível, a sua
minimização. A este processo designa-se controlo de riscos, podendo ser definido
como:

• Controlo de riscos: Processo que envolve a adopção de medidas técnicas,


organizativas, de formação, de informação e outras, tendo em vista a
redução dos riscos profissionais e a avaliação da sua eficácia.

AS VERTENTES DA SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO

A segurança e saúde do trabalho conhece, tradicionalmente, como principais


vertentes as abordagens seguintes:

• Segurança do trabalho: Conjunto de metodologias adequadas à prevenção


de acidentes de trabalho, tendo como principal campo de acção o
reconhecimento e o controlo dos riscos associados aos componentes
materiais do trabalho.
Trata-se de uma abordagem que vive de medidas de diversa natureza, sendo
de destacar as medidas de engenharia.
• Higiene do trabalho: Conjunto de metodologias não médicas necessárias à
prevenção das doenças profissionais, tendo como principal campo de acção
o controlo da exposição aos agentes físicos, químicos e biológicos presentes
nos componentes materiais do trabalho.
Trata-se de uma abordagem que assenta, fundamentalmente, em técnicas e
medidas que incidem sobre o ambiente (físico) do trabalho.

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• Vigilância da saúde: Acção de monitorizar a saúde das pessoas para
detectar sinais ou sintomas de danos para a saúde relacionados com o
trabalho, tendo em vista a adopção de medidas destinadas a eliminar ou a
reduzir a probabilidade de ocorrência da mais danos.

A vigilância da saúde deu lugar à medicina do trabalho, a qual poderá ser


considerada como:

• Medicina do trabalho: Especialidade da medicina cujo objectivo consiste na


vigilância e controlo do estado de saúde dos trabalhadores por relação ao
seu contexto profissional.

O desenvolvimento actual da filosofia da prevenção, por força, em particular, da


determinância da organização do trabalho e dos factores psicossociais, tem vindo a
salientar outras vertentes, como sejam as da área da Ergonomia e da Psicologia do
Trabalho.

PREVENIR E PROTEGER

No âmbito da lógica da prevenção, há a considerar vários tipos de abordagem.

Num primeiro plano, será de considerar as duas grandes ópticas que existem sobre
a prevenção:

• Prevenção correctiva: Modo de prevenção que consiste em agir sobre os


riscos declarados através de dispositivos, equipamentos ou outras medidas
colocadas no seu ponto de manifestação.
• Prevenção integrada: Modo de acção que consiste em agir a montante,
particularmente na fase de concepção, tendo em vista a obtenção da
optimização das soluções preventivas (elevada eficácia preventiva e
produtiva).
Na prevenção integrada tem-se em conta os diversos factores de risco
associados a todos os componentes do trabalho (componentes materiais,
organizacionais e humanos do trabalho).

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Estas duas ópticas marcam os dois grandes períodos históricos do desenvolvimento
da segurança e saúde do trabalho e, por outro lado, indicam que sendo sempre de
priorizar as metodologias da prevenção integrada, situações há em que se torna
necessário recorrer às metodologias da prevenção correctiva, seja por que são as
únicas tecnicamente possíveis, seja por que constituem soluções complementares
daquelas.

No domínio dos equipamentos de trabalho, utiliza-se bastante o conceito de


segurança intrínseca para designar as abordagens da prevenção integrada que em
tal contexto podem ter lugar, podendo tal conceito ser definido do seguinte modo:

• Segurança intrínseca: Modo de prevenção que consiste em agir unicamente


sobre a forma, a disposição, o modo de montagem ou o princípio dos
elementos constituintes funcionais de um sistema (máquina), sem
acrescentar elementos especificamente concebidos com vista a garantir a
segurança.

Todas as metodologias de prevenção têm em comum a acção sobre os factores do


trabalho, visando exercer aí o controlo dos riscos. Todavia, torna-se necessário,
frequentemente, recorrer, alternativa ou cumulativamente, a outro tipo de medidas
que se designam de protecção. Tais medidas consistem numa acção de protecção
dos trabalhadores, em virtude de os riscos não se encontrarem suficientemente
controlados no plano das medidas preventivas, propriamente ditas.
Em tal contexto há, assim, a considerar dois tipos fundamentais de protecção:

• Protecção colectiva: Técnica em que se protege o conjunto de


trabalhadores, afastando-os do risco ou interpondo barreiras entre estes e o
risco.
• Protecção individual: Técnica de protecção relativamente a um ou mais
riscos aplicada directamente ao trabalhador.

A protecção individual desenvolve-se através de equipamentos de protecção


individual, os quais podem ser definidos do seguinte medo:

• EPI (equipamento de protecção individual): Equipamento, incluindo


qualquer complemento ou acessório, destinado a ser utilizado pelo

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trabalhador para se proteger dos riscos a que está exposto, para a sua
segurança e saúde.

CONCEITOS RELATIVOS AO REGIME DE REPARAÇÃO

• Reparação: Compensação financeira ou em espécie atribuída em função de


um determinado grau de incapacidade resultante de um acidente de trabalho
ou de doença profissional.
• IPA (incapacidade permanente absoluta): Classificação da invalidez
atribuída a um trabalhador que fica total e definitivamente incapacitado para
o exercício de todo e qualquer trabalho.
• IPP (incapacidade permanente parcial): Classificação da invalidez
definitiva que não incapacita o trabalhador para o desempenho integral das
tarefas.
• ITA (incapacidade temporária absoluta): Situação do trabalhador que fica
totalmente incapacitado para o trabalho durante um determinado período de
tempo.
• ITP (incapacidade temporária parcial): Situação do trabalhador com
redução parcial da sua capacidade de desempenho da actividade durante um
determinado período de tempo.

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2. AS PARTICULARIDADES DA SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO NA
ACTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO

2.1. A sinistralidade laboral na Construção

No que respeita à sinistralidade laboral, será de notar que a Construção apresenta,


em Portugal, números extraordinariamente elevados, entre os quais serão de
evidenciar os seguintes indicadores:

• Mais de 20% da totalidade dos acidentes de trabalho verificados em cada


ano no conjunto da actividade económica;
• Mais de 30% da totalidade dos acidentes de trabalho mortais verificados
anualmente;
• No plano da sinistralidade laboral mortal, um índice de incidência (número de
acidentes mortais por cada 100 000 trabalhadores) superior a 45, contra uma
média da União Europeia de 14.

A análise daquela sinistralidade mortal, por sua vez, leva-nos a considerar a


persistência de causas associadas à própria especificidade dos sistemas de trabalho
da Construção, destacando-se em tal contexto a seguinte escala de causas
principais:

• Quedas em altura;
• Esmagamento;
• Soterramento;
• Electrocussão.

De acordo com dados divulgados pela Inspecção do Trabalho, as situações de


trabalho onde tais causas mais frequentemente ocorrem são as seguintes:

queda em altura esmagamento soterramento electrocussão


andaimes/plataformas/escadas máquinas de valas linhas eléctricas aéreas
estaleiro
trabalhos em coberturas elementos escavações equipamentos/ferramentas
construtivos
bordadura da lage objectos poços/túneis/galerias
aberturas em paredes atropelamentos

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abertura nos pavimentos demolições
montagem/desmontagem de
gruas/andaimes
escadarias

2.2. A dinâmica do Acto de Construir

As metodologias de prevenção de riscos profissionais só são eficazes quando se


adequam às especificidades dos respectivos sistemas de trabalho. Ora, em tal
domínio haverá a considerar que os sistemas de trabalho praticados na Construção
são muito diversos dos que se utilizam na indústria transformadora.

Tais especificidades reportam-se, desde logo, à dinâmica do Acto de Construir, o


qual se desenvolve em três fases específicas e sucessivas:

• Concepção
• Organização
• Execução

Na fase de concepção definem-se opções arquitectónicas e escolhas técnicas que


vão influenciar decisivamente a problemática dos riscos profissionais, não só ao
nível da construção da obra, mas, também, ao nível da utilização/exploração,
manutenção e conservação da edificação. Nesta fase intervêm quer o Dono da
Obra, quer a Equipa de Projecto.

Na fase de organização, por sua vez, desenvolvem-se os processos relacionados


com a criação das condições necessárias à execução do produto desejado pelo
Dono da Obra e já definido pelo Autor do Projecto. Tais condições assumem uma
relevância decisiva na configuração da lógica produtiva subsequente, daí resultando
um enorme impacto ao nível das próprias definições prévias da segurança e saúde
do trabalho em obra.

A fase de execução, por fim, compreende três grandes domínios, todos eles com
significado relevante na gestão da segurança do trabalho. São eles:

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• A gestão do empreendimento e a fiscalização da execução da obra por
parte do Dono de Obra;
• O planeamento e a gestão da execução da obra por parte do Empreiteiro;
• A execução da obra por parte do Empreiteiro e dos Sub-empreiteiros.

A execução da obra, propriamente dita, desenvolve-se, por sua vez, através de uma
sucessão de fases, em que se evidenciam especificidades tecnológicas e de
organização do trabalho profundas, tornando-se, assim, necessário equacionar na
prevenção quer os riscos próprios de cada fase, quer os riscos específicos de cada
processo e método construtivo, quer, ainda, os riscos inerentes à “interface” de tais
momentos, métodos e processos construtivos.
Para o estabelecimento de uma adequada estratégia preventiva será, assim, de
atender, em geral, às diversas fases fases que integram o processo construtivo
global.

Em toda esta dinâmica não se verificam, pois, os condicionalismos da indústria


transformadora em que é marcante a lógica produtiva baseada num “design” e num
“lay-out” pré-definidos e consideravelmente duradouros, verificando-se,
precisamente, a repetição de todo este processo complexo para cada produto que
emana da actividade construtiva. A estratégia preventiva não pode, assim, assentar
num sistema definido a partir de uma empresa e de um diagnóstico inicial sobre um
processo industrial estabilizado. Terá, antes, de equacionar:

• O papel de destaque do Dono da Obra;


• A determinância das definições resultantes do projecto e da organização
da sua execução;
• A acção de um vasto e diversificado conjunto de intervenientes ao longo
das diversas fases da execução da obra.

Outra especificidade da Construção a considerar na prevenção de riscos


profissionais relaciona-se com as envolventes físicas do processo construtivo. Tais
envolventes condicionam, frequentemente e de forma acentuada, o desenvolvimento
dos trabalhos, fazendo emergir riscos profissionais consideráveis e potenciando o
efeito de outros riscos próprios da actividade de construção. No quadro de tais
envolventes serão de destacar os seguintes factores principais:

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• A proximidade de outras explorações, tais como, linhas eléctricas aéreas,
vias rodoviárias e vias ferroviárias, normalmente em funcionamento;
• A presença de outros edifícios;
• A existência de lençóis friáticos e redes técnicas no subsolo;
• A presença de pessoas no espaço circundante da obra;
• A natureza do próprio terreno de implantação da edificação;
• A frequente exiguidade do espaço disponível para os apoios da produção
(armazenamento de materiais, produtos e ferramentas; instalação e
operação com equipamentos; instalações de produção, tais como central de
betão e armação de ferro);
• Os constrangimentos associados aos acessos;
• Os constrangimentos associados às instalações sociais.

Também neste domínio, a Construção confronta-se com dificuldades acrescidas,


pois que, ao contrário da indústria transformadora em que tais elementos são
passíveis de resolução integrada com o próprio projecto de instalação e
funcionamento da unidade produtiva, nesta actividade tais condicionantes impõem-
se face a cada Acto de Construir, tornando-se necessário, em cada caso,
implementar um conjunto de medidas específicas de adaptação do sistema de
trabalho ao próprio ambiente determinado pela envolvente.

2.3. A gestão da segurança e saúde do trabalho na Construção

Conforme análise que se tem vindo a desenvolver, a especificidade do Acto de


Construir relaciona-se, fundamentalmente, com os seguintes factores:

• O impulso económico do empreendimento é dado pelo Dono da Obra;


• Tal impulso gera um cadeia de intervenientes e de intervenções que
significa uma cooperação económica de organizações produtivas, tendo
cada uma delas o seu próprio “know-how” e o seu sistema de gestão;
• Tais intervenções desenvolvem-se em diferentes momentos da sucessão
das três fases do Acto de Construir (a concepção, a organização e a
execução), sendo que entre tais fases existe uma relação de forte
dependência, na medida em que cada uma delas é determinada pela
anterior e determina o desenvolvimento da posterior;

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• O processo produtivo da fase de execução desenvolve-se através da
reunião de uma grande diversidade de tecnologias, de sistemas de
organização do trabalho e de modelos de gestão empresarial;
• Este processo produtivo realiza-se sob fortes constrangimentos oriundos
da envolvente física que rodeia o espaço e o processo da construção da
edificação.

Toda esta especificidade origina, no âmbito da segurança e saúde do trabalho, a


existência de riscos específicos e a necessidade de a prevenção ser desenvolvida
através de sistemas de gestão e de metodologias próprias. Em tal contexto, a
questão mais saliente em todo este quadro de especificidades é a necessidade de
ser fortalecida ao longo de todo o empreendimento uma lógica de gestão da
prevenção centrada na coordenação. Com efeito:

• A coordenação torna-se necessária relativamente aos muitos factores de


risco em presença: factores associados à definição do projecto, factores
associados às envolventes físicas da construção, factores associados às
tecnologias utilizadas em obra (processos construtivos, equipamentos de
estaleiro, materiais e produtos), factores associados à gestão do
empreendimento (prazos de execução, programação dos trabalhos e gestão
da qualidade);
• A coordenação torna-se necessária relativamente à considerável quantidade
e diversidade de intervenientes a envolver na prevenção daqueles riscos:
intervenientes ao nível do Dono da Obra (o Dono da Obra, a Equipa de
Fiscalização e a Equipa de Gestão do empreendimento), intervenientes ao
nível do projecto (Equipa de Projecto), e intervenientes ao nível da execução
do projecto (Empreiteiro, Sub-empreiteiros, Prestadores de Serviços,
Fornecedores, etc);
• A coordenação torna-se, ainda, necessária quanto aos riscos associados à
gestão da “interface” do processo da Construção: “interface” ao nível das
fases do Acto de Construir (concepção, organização e execução); “interface”
ao nível das fases do processo construtivo (preparação do estaleiro,
preparação do local de construção, fundações, estrutura, alvenarias,
cobertura, redes técnicas, instalações especiais e acabamentos); “interface”
ao nível das intervenções (Autor do Projecto, Empreiteiro e Subempreiteiros);
e, “interface” ao nível da relação do Acto de Construir com a gestão da

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própria edificação dele resultante (gestão da sua utilização, gestão da sua
manutenção, gestão da sua conservação e gestão da sua transformação).

2.4. A necessidade de Coordenação da Segurança na Construção

Conforme análise desenvolvida no ponto precedente, da especificidade do processo


de desenvolvimento dos riscos profissionais na actividade da Construção resulta a
necessidade de a segurança e saúde do trabalho ser gerida a partir de um sistema
centrado na coordenação. Importa, assim, analisar no contexto do Acto de Construir
os principais elementos a ter em conta em tal processo de coordenação.

A gestão do empreendimento e a coordenação de segurança:

• Nem sempre o Dono da Obra é alguém que tenha relação estreita com o
mundo produtivo da Construção, pelo que se torna necessário encontrar um
sistema que o envolva e que o capacite para conferir a todo o Acto de
Construir um lógica adequada de prevenção;
• Em empreendimentos de maior envergadura é frequente verificar-se o
recurso por parte do Dono de Obra a gabinetes de gestão de projecto, pelo
que se torna necessário um sistema que garanta a compatibilização da
estratégia de gestão económica do empreendimento desenvolvida por este
gabinete com a óptica da prevenção;
• Cada vez mais se desenvolve nas grandes obras públicas um sistema de
gestão baseado na aglutinação concepção-construção, podendo, então,
verificar-se, a existência de uma trilogia com influência no plano da gestão do
empreendimento: Estado que concessiona, empresa-concessionária que só
gere ou gere e projecta e ACE (agrupamento complementar de empresas)
que só executa ou projecta e executa. Em tais situações importa, assim,
clarificar, no plano contratual, as responsabilidades no domínio da
implementação do sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho,
sendo que, na ausência de regulação contratual específica, será o
concessionário que deve assumir tal responsabilidade;
• Frequentemente, o Dono da Obra constitui um sistema de fiscalização da
execução para garantir quer a qualidade do produto final, quer a boa gestão
de todo o processo, importando que tal sistema integre na sua abordagem o
controlo das prescrições de segurança e saúde do trabalho.

20
A elaboração do projecto e a coordenação de segurança:

Conforme já se referiu, a Construção tem sido objecto de grande desenvolvimento


ao nível da inovação dos produtos (tipos de edificações e elementos integrados nas
edificações). Tal inovação significa ao nível do projecto uma actividade cada vez
mais complexa.
Por outro lado, também se têm verificado por parte dos poderes públicos exigências
crescentes no plano do desenvolvimento do projecto, tendo em vista a garantia da
adequabilidade de todos os processos construtivos e de todos os elementos que
integram a edificação. Assim, hoje em dia, o projecto integra várias especialidades
e o acto de projectar resulta, no seu conjunto, de uma abordagem pluridisciplinar,
em que se podem evidenciar como principais vertentes:

• No âmbito do projecto geral: arquitectura e estabilidade;


• No âmbito da implantação da edificação: geologia e geotecnia;
• No âmbito das especialidades: electricidade, gás, água e esgotos,
ambiente térmico, ventilação, telefone e instalações especiais.

Torna-se, assim, necessário desenvolver em todo este ambiente uma lógica de


coordenação de segurança que permita:

• Compatibilizar tais intervenções de forma a que da sua conjugação não


resultem riscos que se venham a reflectir na obra e na utilização e
manutenção da edificação;
• Prever os perigos associados às definições que vão sendo encontradas na
elaboração das peças do projecto e procurar a sua eliminação ou, quando tal
não for possível, integrar em tais definições medidas preventivas.

A contratualização da empreitada e a coordenação de segurança:

Na fase da organização verifica-se o desenvolvimento de vários aspectos cuja


coordenação importa garantir pela determinância que vão ter no ambiente da
segurança e saúde do trabalho em obra. São eles:

21
• O projecto de execução, elaborado pelo Autor do Projecto, que define as
condições técnicas de execução do projecto. No âmbito de tal projecto
avultam as opções ao nível de processos e métodos construtivos e as
definições do caderno de encargos relativas aos materiais e instalações a
incorporar na edificação;
• O programa de trabalhos que estabelece os prazos de desenvolvimento
das diversas fases da obra, o que vai determinar o quadro de
constrangimentos de cada interveniente na produção (constrangimentos
temporais, coactividades e gestão de equipamentos e de espaços comuns);
• A negociação de propostas e celebração de contratos entre o Dono da
Obra e o Empreiteiro, que consagram, directa ou indirectamente, o nível em
que a segurança do trabalho se vai situar ao longo do processo da obra.

A execução da obra e a coordenação de segurança:

No plano da execução potenciam-se, naturalmente, ao máximo todos os factores de


diversidade que caracterizam o Acto de Construir, sendo, então, indispensável
estruturar um sistema de coordenação intimamente ligado a todo o processo de
construção da obra, capaz de promover de forma constante a integração da
prevenção nas decisões e acções assumidas ao longo do processo.
A grande diversidade de factores a equacionar no âmbito de tal sistema de
coordenação pode ser sistematizada do seguinte modo:

• Intervenientes: Haverá que contar não só com os intervenientes


surgidos ao longo das fases de concepção e de organização (Dono da
Obra, Autor do Projecto, Fiscalização, Equipa de Gestão do
empreendimento, Empreiteiro), mas, ainda, com outros que se
relacionam com o processo só na fase de execução, tais como
Subempreiteiros, Prestadores de Serviços, Fornecedores e Visitantes do
estaleiro. O papel da coordenação consistirá, assim, em envolver todo
este universo no ambiente de segurança que foi estabelecido para o
estaleiro. Importa a este propósito notar que:

−Estes novos intervenientes não têm, até ao momento da sua aparição


no estaleiro, conhecimento dos riscos existentes, nem qualquer

22
vinculação às definições e compromissos que tenham sido estabelecidos
neste âmbito em momento anterior;
−Tais intervenientes são em número elevado;
−As suas intervenções assumem naturezas muito diferenciadas;
−Frequentemente, o prazo que lhes é conferido para as suas
intervenções é reduzido, o que os levará, normalmente, a sub-avaliar as
questões da segurança, até porque eles não permanecerão no estaleiro
após a sua intervenção específica;
−A sua intervenção fora de um quadro de coordenação não só irá expor
os seus trabalhadores aos riscos existentes e por eles não conhecidos,
como, também, será, ela própria, susceptível de provocar novos riscos
para tais trabalhadores e para os demais profissionais em obra.
• Organização do estaleiro e do lay-out: A definição e implementação da
organização do estaleiro e do lay-out necessários à execução da obra
assume uma importância extraordinária para a boa organização do
trabalho e para o desenvolvimento posterior da segurança e saúde do
trabalho. Em tal contexto oferecem-se à coordenação um número
elevado de factores a considerar, tais como:
− Adequabilidade entre o carácter precário e provisório das estruturas
produtivas a criar no estaleiro e as condições de segurança e saúde na
sua utilização;
−Adequabilidade dos acessos em função do número de utilizadores, do
tipo de utilização e dos constrangimentos do local e da obra a construir;
−Dimensionamento do estaleiro para a quantidade e diversidade de
componentes do trabalho que vão ser utilizados (materiais, produtos,
equipamentos e instalações);
−Previsão de processos e métodos construtivos cujos modos operatórios
exigem determinadas condições do estaleiro para a sua execução.
• Preparação do local: A preparação do local para a implantação da
edificação constitui uma fase em que se podem salientar diversos
aspectos a merecer a atenção da coordenação, tais como:
−Os riscos associados à operação das máquinas de estaleiro nos
trabalhos de terraplenagem;
−Os riscos associados às condições da envolvente (ao nível do solo, do
subsolo e do espaço aéreo);
−Os riscos associados à própria natureza do terreno.

23
• Envolventes: As condições da envolvente assumem uma grande
importância no plano da coordenação, não só pela sua diversidade, mas,
também, pela sua persistência ao longo do processo construtivo. Aliás, o
desenvolvimento de tal processo poderá ir eliminando algumas
condicionantes, mas poderá, também, ir criando outras. Os principais
tipos de condicionantes a considera neste âmbito são as seguintes:
−Factores climatéricos;
−Ao nível do solo (vias rodoviárias, vias ferroviárias, rios, edificações,
instalações);
−Ao nível do subsolo (lençóis friáticos e redes técnicas);
−Ao nível do espaço aéreo (linhas eléctricas).
• Processo construtivo: No plano do processo construtivo será de ter em
conta, na coordenação, diversos factores que originam e potenciam
riscos, tais como:
-As especificidades das diversas fases do processo construtivo
(execução das fundações, da estrutura, das alvenarias e da cobertura;
instalação das redes técnicas e demais instalações especiais; e,
execução dos acabamentos);
-A lógica da sucessão daquelas fases, o que supõe a gestão dos
aspectos da sua “interface”;
-A previsão de trabalhos que revestem riscos especiais;
-As diferentes tecnologias (materiais, produtos, equipamentos, processos
e métodos construtivos) associadas quer à natureza das diversas fases
do processo construtivo, quer ao diferente “know-how” das empresas
intervenientes;
-As diversas formas de organização do trabalho relacionadas com as
diferentes fases do processo e com os diferentes sistemas de gestão das
empresas intervenientes;
-As diferentes competências dos profissionais envolvidos;
-A existência de co-actividades em que seja necessário gerir a
compatibilidade de componentes ou de processos de trabalho em termos
de segurança e saúde do trabalho;
-A necessidade de assegurar a gestão de utilização comum de espaços
(apoios à produção, por exemplo) e equipamentos (como, por exemplo,
gruas e andaimes);

24
-A existência de uma dimensão considerável de sistemas de protecção a
utilizar em obra (sinalização de segurança, equipamentos de protecção
colectiva e equipamentos de protecção individual) que têm de ser
mobilizados atempadamente e cuja permanência em bom estado tem de
ser garantida no espaço e no tempo;
-A necessidade de articular estrategicamente as necessidades, os
momentos e os destinatários da informação e da formação.
• Programa de trabalhos: No âmbito da programação dos trabalhos será,
nomeadamente, de ter em conta como elementos a coordenar:
-O prazo de execução geral da obra;
-Os prazos de execução de cada fase do processo construtivo;
-Os prazos afectos a cada empresa interveniente;
-Os momentos da execução de certos processos ou de realização de
determinados trabalhos que revestem riscos especiais;
−A previsão das cargas de mão-de-obra;
−A previsão de equipamentos.
• Alterações ao projecto: No âmbito da fase de execução importa, ainda,
equacionar como elemento central da coordenação a necessidade de
controlo das alterações ao projecto realizadas em obra, seja ao nível das
definições do projecto base, seja ao nível das definições técnicas do
projecto de execução.

A comercialização da edificação e a coordenação de segurança:

A existência de factores a gerir no plano da coordenação não se esgota com a


conclusão do processo construtivo. Com efeito, o produto resultante de todo este
Acto de Construir – a edificação – é, ele próprio, portador de riscos que se
evidenciarão ao longo da sua circulação económica. Tendo em vista a sua
prevenção, torna-se, então, necessário equacionar, ainda, a coordenação de um
sistema de informação que permita a percepção desses riscos e a sua adequada
prevenção nos diversos planos em que o produto se vai situar ao longo do seu ciclo
de existência: a utilização, a manutenção, a conservação, a renovação, a eventual
ampliação e, até, a sua demolição.

Em conclusão: É pela via da coordenação, enquanto aprofundamento da gestão do


empreendimento, que o Dono de Obra pode (e deve) manter-se ligado a todo o Acto

25
de Construir e, para além dele, à qualidade do produto no espaço da sua circulação
económica. A segurança do trabalho supõe, assim, como se vê, uma lógica de
gestão centrada na coordenação, em cujo processo o Dono da Obra ocupa o lugar
central.

2.5. A filosofia da gestão da Prevenção na Construção

Para se compreender a filosofia da coordenação de segurança na Construção


importa ter presente, antes de mais, a própria filosofia geral da prevenção de riscos
profissionais resultante do Código do Trabalho para as empresas, em geral. Em tal
âmbito, será de destacar os principais elementos do enquadramento conferido à
gestão da segurança e saúde do trabalho:

• A prevenção de riscos profissionais foi sedeada na Empresa;


• O Empregador foi assumido como o centro impulsionador da segurança e
saúde do trabalho;
• Tal responsabilidade foi definida em termos de grande abrangência, na
medida em que respeita a todos os trabalhadores da empresa e a todos os
riscos profissionais para a segurança e saúde (independentemente da sua
natureza), obrigando, ainda, à coordenação da acção desenvolvida nos
locais da empresa em regime de subcontratação por parte de outras
empresas e profissionais;
• Os objectivos assinalados à segurança e saúde do trabalho deslocaram-se
de uma atitude meramente reactiva e casuística sobre os riscos existentes
para uma perspectiva de acção antecipativa que deve traduzir-se nos
seguintes processos:
-Identificação e eliminação dos perigos;
-Avaliação dos riscos decorrentes dos perigos não eliminados;
-Controlo dos riscos baseado em critérios de elevada eficácia (agir a
montante, integrando a prevenção nas diversas dimensões da empresa de
forma a obter coerência no processo);
-Implementação de estratégias preventivas a partir do desenvolvimento das
competências individuais e colectivas (formação e informação);
• A natureza de tais objectivos passou, assim, a obrigar a empresa a
equacionar a prevenção de riscos profissionais no âmbito de um sistema de
gestão da segurança e saúde do trabalho, em cujo contexto se salientam os

26
princípios gerais de prevenção que devem enformar a sua política e os
princípios de gestão que devem enquadrar uma organização adequada de
recursos (humanos e tecnológicos) necessários ao desenvolvimento da
prevenção.

Todavia, as especificidades da actividade de Construção, já analisadas, evidenciam


circunstâncias que fogem a essa regra. Entre elas destacam-se as seguintes:

• O impulso do ciclo de gestão económica é dado, não pelo empresário-


empregador, mas pelo Dono da Obra que condiciona decisivamente a
actividade desse empregador que vai realizar a produção;
• A realização da produção conta, de uma forma geral, com a intervenção de
várias empresas, dada a especialização produtiva que é necessária para
responder positivamente à “performance” de qualidade e inovação exigida
pelos mercados da Construção;
• A actividade dos Projectistas é determinante no processo e, ainda que eles
actuem no espaço do Dono da Obra, são, de qualquer modo, profissionais
sujeitos a um elaborado quadro de idoneidade técnica e deontológica que
lhes confere uma certa independência;
• O processo construtivo é rodeado de muitas especificidades potenciadoras
de risco, seja ao nível dos constrangimentos de prazo de execução exigidos,
seja ao nível da precaridade da estrutura montada para a produção, seja ao
nível da interferência com elementos da envolvente, seja ao nível da
harmonização de tecnologias e métodos de organização do trabalho usados
pelos intervenientes, seja, ainda, ao nível da utilização de espaços e
equipamentos comuns;
• Esse mesmo processo construtivo mobiliza um vasto e diversificado conjunto
de recursos (saberes, recursos humanos e recursos técnicos) que
pertencem a organizações produtivas diferentes;
• E, por fim, o produto desse processo construtivo – a edificação - ao passar
para o circuito da comercialização, pela sua própria especificidade não é, por
si só, susceptível de ser suficientemente conhecido pelo respectivo
consumidor (o proprietário), sem que o seu fornecedor (Dono da Obra) lhe
forneça a informação indispensável.

27
Tais especificidades foram, então, consideradas pela União Europeia como a razão
profunda da persistência de níveis elevados de sinistralidade grave na Construção
em todos os países europeus, daí se concluindo que importava estabelecer um
sistema capaz de reforçar a prevenção nos estaleiros das obras. E, por outro lado,
tais especificidades foram, também, analisadas como constituindo um sistema de
gestão económica que carecia de metodologias próprias para que fosse possível
desenvolver estratégias de prevenção adequadas a cada empreendimento de
construção e capazes de envolver todos os respectivos intervenientes.

Tal reflexão deu, então, lugar à adopção da uma directiva especial para a
Construção (Directiva 92/57/CEE), designada por Directiva Estaleiros
Temporários ou Móveis, porque aplicável a todas as actividades de natureza
construtiva desenvolvidas fora de um sistema industrial fixo. Esta Directiva foi
transposta para o quadro normativo nacional pelo DL 273/2003, de 29 de Outubro.

Tal normativo veio, assim, instituir um sistema de gestão – sistema de coordenação


de segurança e saúde – para as actividades de construção civil e obras públicas,
tendo em vista criar condições de efectiva aplicabilidade da filosofia de gestão da
segurança e saúde do trabalho da Directiva Quadro a tais actividades de
Construção.

A metodologia de gestão da prevenção de riscos profissionais nas actividades de


Construção, instituída pela Directiva Estaleiros e vertida no DL 273/2003, de 29 de
Outubro, configura, assim, um sistema de coordenação (coordenação de segurança
e saúde do trabalho) estruturado a partir das bases seguintes:

• Princípios (de coordenação), visando o envolvimento de todos os


intervenientes no empreendimento construtivo na integração da prevenção
ao nível das suas abordagens;
• Instrumentos (de coordenação), visando o desenvolvimento da integração
da prevenção em todo o Acto de Construir.
• Agentes dinamizadores (da coordenação), visando a coerência da
coordenação em todo o Acto de Construir.

No plano dos princípios será de ter em conta o seguinte:

28
• O empreendimento que dá lugar ao acto de construir é o centro de
referência do desenvolvimento da segurança e saúde do trabalho;
• O Dono da Obra é o responsável pelo impulso e pela animação do sistema
de gestão da segurança e saúde do trabalho no empreendimento;
• A coordenação da segurança e saúde do trabalho é o princípio base da
filosofia de tal sistema, através do qual todos os intervenientes poderão
desenvolver de forma harmoniosa e adequada a integração da prevenção no
plano das suas diversas intervenções;
• Os Projectistas são implicados de uma forma particular na eficácia do
sistema de segurança pela possibilidade que têm de integrar os princípios de
prevenção nas definições arquitectónicas e nas formulações técnicas que
vão configurar a edificação e a realização da obra;
• A contratualização estabelecida entre o Dono da Obra e o Empreiteiro deve
integrar os princípios da coordenação de segurança para que o quadro de
obrigações contratuais não neutralize a dinâmica da segurança do trabalho
em obra;
• A contratualização dos serviços de Fiscalização da obra deve integrar o
controlo do cumprimento das prescrições de segurança e saúde;
• A comercialização da edificação deve integrar a coordenação de
segurança para que a prevenção se mantenha associada à qualidade do
produto.

No plano dos instrumentos de coordenação será de ter em conta:

• O seu estabelecimento compete ao Dono da Obra, enquanto responsável


pela definição do sistema de gestão da segurança e saúde do trabalho no
empreendimento e denominador comum a todos os intervenientes no Acto de
Construir;
• O quadro de instrumentos de coordenação de segurança compreende:
-O Plano de Segurança que visa o estabelecimento do sistema de gestão
da segurança e saúde e o planeamento das acções preventivas;
-A Compilação Técnica que visa conferir a garantia de segurança aos
proprietários e utilizadores da edificação;
-A Comunicação Prévia que visa a regulação do sistema de coordenação
de segurança por parte das autoridades públicas.

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No plano da dinamização da coordenação de segurança será de ter em conta que:

• A sua implementação compete, também, ao Dono da Obra, em virtude de


tal dinâmica relacionar-se directamente com o desenvolvimento do sistema
de gestão da segurança e saúde;
• Aquela dinâmica deve desenvolver-se em todo o Acto de Construir, pelo que
compreende a acção destacada de:
-Um Coordenador de Segurança na Fase de Projecto, visando o
desenvolvimento da integração da prevenção nas definições resultantes das
fases de concepção e de organização;
-Um Coordenador de Segurança na Fase de Obra, visando o
desenvolvimento da integração da prevenção nas intervenções realizadas
em obra.

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3. A ELABORAÇÃO DO PROJECTO

3.1. Tipologias dos empreendimentos construtivos

Na classificação dos empreendimentos construtivos pode, desde logo, proceder-se a


uma distinção baseada na natureza da entidade promotora e assim temos:
• Obras públicas: empreendimentos promovidos por entidades públicas;
• Obras particulares: empreendimentos promovidos por entidades particulares.

Esta classificação é muito importante do ponto de vista da análise do mercado da


Construção e, em parte, também elucida sobre a natureza dos próprios
empreendimentos construtivos em causa.
Todavia, quanto à análise da complexidade e da especificidades dos
empreendimentos é mais interessante a classificação que atende directamente à
sua própria natureza intrínseca e aí teremos obras de:
• Construção civil;
• Obras hidráulicas;
• Pontes e Viadutos;
• Vias de Comunicação e Aeródromos;
• Obras de Urbanização;
• Instalações Eléctricas;
• Instalações Mecânicas;
• Fundações.

3.2. Fases do Empreendimento Construtivo

Tendo em conta as diversas facetas do Empreendimento Construtivo podemos


considerar que o seu desenvolvimento se processa ao longo das seguintes fases
determinantes:
• Projecto;
• Concurso;
• Adjudicação;
• Consignação;
• Preparação;
• Execução;
• Recepção.

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O Projecto consiste num conjunto de peças escritas e desenhadas que definem as
opções arquitectónicas e as escolhas técnicas relativas a uma dada edificação e
estabelecem o enquadramento da construção da obra, bem como da
utilização/exploração da edificação e da sua manutenção e conservação
São intervenientes neste processo os diversos elementos que integram as Equipas
de Projecto que definem as várias especificações técnicas do empreendimento e o
Dono da Obra que estabelece as condicionantes da encomenda e aprova as
definições arquitectónicas e técnicas resultantes.

O Concurso constitui o processo desenvolvido com vista à contratação da entidade


executante da obra.
Neste processo intervém o Dono da Obra, apoiado pelo Projectista, e as empresas
proponentes ou contactadas para apresentarem proposta de execução da obra.

A Adjudicação consiste na comunicação assegurada pelo Dono da Obra ao


Empreiteiro seleccionado para a execução da obra, de que resultará a formalização
do contrato de empreitada.

A Consignação consiste na disponibilização do Dono da Obra ao Empreiteiro dos


locais da obra e dos elementos complementares do projecto necessários à sua
execução. Neste acto intervêm o Dono da Obra e o Empreiteiro.

A Preparação consiste na elaboração dos diversos documentos necessários ao


planeamento da execução da obra. Neste processo intervêm o Empreiteiro e o Dono
da Obra.

A Execução compreende a montagem do Estaleiro, a preparação do local e as


diversas etapas que integram o processo de realização física da obra.

A Recepção consiste na verificação final da execução da obra de acordo com o


definido no Projecto e no Caderno de Encargos e elaboração de um Auto da sua
aceitação como bem executada. Este processo envolve duas etapas (recepção
provisória e recepção definitiva) e envolve o Dono da Obra, a Fiscalização da Obra
(se esta tiver sido constituída) e o Empreiteiro.

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3.3. A concepção da obra

A elaboração do conjunto de peças escritas e desenhadas que constituem o


Projecto processa-se durante a fase de Concepção do empreendimento construtivo.
Durante esta fase intervém o Dono da Obra e a Equipa de Projecto e trata-se de:
• Definir as opções arquitectónicas e as diversas escolhas técnicas;
• Estabelecer o enquadramento da:
o Construção da obra;
o Utilização/exploração da edificação;
o Manutenção e conservação da edificação.

3.4. Elementos do Projecto

No Projecto estabelecem-se dois tipos de definições:


• Por um lado, definem-se opções arquitectónicas e escolhas técnicas;
• Por outro lado, estabelece-se o enquadramento da construção da obra, bem
como da utilização/exploração da edificação e da sua manutenção e
conservação.

Aquelas definições são desenvolvidas através de peças escritas e de peças


desenhadas.
As peças escritas apresentam informações gerais e especiais e integram os
elementos seguintes:
• Memória descritiva;
• Cálculos de estrutura e outros;
• Medições dos trabalhos a realizar;
• Orçamento da obra;
• Condições técnicas (gerais e especiais) do Caderno de Encargos;

As peças desenhadas definem a localização da obra, as características


dimensionais da obra e a posição relativa das diferentes partes constitutivas da
edificação e integram, entre outros, os elementos seguintes:
• Plantas;
• Alçados;
• Cortes;
• Pormenores de execução.

33
3.5. Tipos de Projectos

O Projecto pode assumir vários tipos, consoante o objecto da sua abordagem.


Assim:
• Projecto geral: projecto que define as características de uma obra,
envolvendo todas as especialidades inerentes;
• Projecto de remodelação: projecto que estabelece alterações relativamente
a uma edificação existente ao nível das estruturas ou da sua utilização;
• Projecto de ampliação: projecto que tem como objecto a remodelação de
uma edificação existente com acréscimo de sua capacidade de utilização;
• Projecto de restauro: projecto que tem como objecto a remodelação de uma
edificação existente com vista à sua revalorização;
• Projecto variante: projecto elaborado a partir de outro existente sem
modificação da sua concepção geral e dos seus objectivos principais;
• Projecto de arquitectura de interiores: projecto que tem como objecto a
criação de ambiente e a definição de revestimentos, da decoração, do
mobiliário e outro equipamento complementar;
• Projecto de instalações: projecto que tem como objecto a definição de
traçado e dimensionamento das redes de canalização e de condutores de
energia eléctrica para uma edificação.

3.6. Vertentes do Projecto de Edifícios

A grande diversidade de definições necessárias ao projecto de uma edificação


implica, necessariamente, o desenvolvimento de especificações em diversas
especialidades. Estas especialidades variam consoante a natureza da própria
edificação. No caso dos edifícios, por exemplo, há a considerar as seguintes
especialidades principais:
• Arquitectura;
• Estabilidade e estruturas;
• Redes prediais de água: consumo, rega, incêndio;
• Redes prediais de esgotos: domésticos, pluviais;
• Instalações eléctricas;
• Rede de gás;

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• Instalações telefónicas e de telecomunicações;
• AVAC (aquecimento, ventilação, ar condicionado);
• Comportamento térmico e comportamento acústico;
• Comunicações verticais: elevadores e escadas e passadeiras rolantes;
• Segurança contra incêndios;
• Segurança contra intrusão;
• Instalações de som;
• Arquitectura paisagística.

Por outro lado, pode, ainda, verificar-se a necessidade de abordagens de projecto a


outros níveis complementares, tais como:
• Demolição;
• Contenção de fachadas e empenas;
• Escavação e contenção periférica;
• Ocupação de via pública;
• Chaminés de ventilação e exaustão de fumos e gases de combustão.

3.7. Fases de elaboração do Projecto

A elaboração do Projecto passa pelas fases seguintes:


• Programa Preliminar;
• Programa Base;
• Estudo Prévio;
• Projecto Base (Anteprojecto);
• Projecto de Execução.

No programa preliminar o Dono da Obra identifica o tipo de produto desejado, a


natureza da sua utilização, o valor do investimento e o prazo pretendido para a sua
execução.
A partir destas definições preambulares, o Autor do Projecto desenvolve, então, a
sequência dos documentos que vão configurar o Projecto, propriamente dito,
submetendo-os sucessivamente à aprovação do Dono da Obra. São eles:
• O programa-base, onde analisa as condições de viabilidade da encomenda
e, eventualmente, pondera soluções alternativas;

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• O estudo prévio, onde desenvolve as grandes linhas definidas no programa-
base e estabelece a concepçãop geral da obra;
• O projecto-base, onde desenvolve com pormenor as soluções previstas no
estudo prévio;
• Por fim, o projecto de execução onde reúne todas as definições
arquitectónicas e técnicas finais necessárias à execução da obra.

PROGRAMA PRELIMINAR

O Programa Preliminar é estabelecido pelo Dono da Obra, sendo fornecido ao Autor


do Projecto para o elucidar do tipo de edificação pretendida e de algumas
condicionantes que devem, à partida, serem por ele tidas em conta na elaboração
do projecto.
O Programa Preliminar deve, então, identificar:
• O tipo de edificação desejada;
• A natureza prevista para a sua utilização;
• As características gerais que deve ter a edificação;
• Os dados disponíveis sobre a localização do empreendimento;
• Os elementos topográficos e cartográficos;
• O valor previsto para o investimento;
• O prazo pretendido para a elaboração do projecto;
• O prazo geral pretendido para a conclusão da obra.

Do ponto de vista da Coordenação de Segurança diversas questões podem suscitar-


se nesta fase, tais como:
• Adequação dos prazos estabelecidos a ritmos convenientes de elaboração
do projecto e de execução da obra;
• Adequação do orçamento previsto às exigências de segurança pressupostas
para aquele tipo de obra;
• O natureza dos riscos especiais associados à execução da tipologia de
edificação pretendida;
• A natureza dos riscos comuns associados ao tipo de obra em causa
(construção, conservação, remodelação, reabilitação…);
• Os condicionalismos associados ao local da obra (explorações existentes,
meio urbano ou rural, constrangimentos ao nível do solo, subsolo ou espaço
aéreo…).

36
PROGRAMA BASE

A partir das condições definidas pelo Dono da Obra no Programa Preliminar o Autor
do Projecto elabora o programa Base no qual analisa a exequibilidade da execução
da obra e estuda eventuais soluções alternativas que se afigurem mais ajustadas
aos objectivos definidos pelo Dono da Obra naquele Programa.
O Programa Base pode incluir os elementos seguintes:
• Esquema da obra em função da sua utilização;
• Critérios de compartimentação e dimensionamento das partes da obra;
• Exigências ambientais e de conforto;
• Necessidades de mobiliário, instalações e equipamento;
• Condicionamentos relativos ao terreno e exigência urbanísticas;
• Alternativas equacionadas;
• Estimativa geral do custo do empreendimento;
• Estimativa do custo de manutenção e de conservação da edificação nas
diversas hipóteses equacionadas;
• Exigências do comportamento, funcionamento, exploração e conservação da
edificação;
• Informação sobre elementos necessários ao desenvolvimento do projecto
(estudos de topografia, de geologia, de hidrologia…).

O Programa Preliminar é um documento elaborado essencialmente pelo Autor do


Projecto, podendo, todavia, em certos casos, já envolver a consulta a projectistas de
algumas especialidades.

Nesta fase do Projecto, do ponto de vista da Coordenação de Segurança poderão


constituir elementos relevantes de análise:
• A análise de propostas alternativas ao Programa Preliminar;
• O conhecimento das características do terreno;
• As questões objecto de consultas a projectistas das especialidades;
• AS informações relativas ao comportamento, funcionamento, exploração e
conservação da edificação;
• As necessidades de informação sobre elementos de topografia, geologia,
hidrologia e outros.

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ESTUDO PRÉVIO

Uma vez aprovado pelo Dono da Obra o Programa Base, o Autor do Projecto
elabora o Estudo Prévio. Nesta abordagem, o Autor do Projecto desenvolve as
grandes linhas definidas no Programa-Base no que respeita à concepção geral da
obra, através de peças escritas, peças desenhadas e outros elementos informativos
que sejam necessários à compreensão do Dono da obra.
O Estudo Prévio pode envolver os elementos seguintes:
• Memória descritiva e justificativa da abordagem apresentada;
• Elementos gráficos elucidativos das soluções propostas;
• Dimensionamento aproximado e características principais dos elementos
fundamentais da obra;
• Definição geral dos processos de construção e da natureza dos materiais e
equipamentos mais significativos;
• Consideração da estimativa de custo da obra;
• Implantação da edificação sobre planta topográfica;
• Integração urbana e paisagística da edificação:
• Acessos ao terreno;
• Disposição das redes gerais de água, esgotos, gás, electricidade e
telecomunicações;
• Necessidades de infraestruturas a executar no terreno;
• Critérios propostos para a conservação ou a demolição de elementos pré-
existentes;
• Relatório dos resultados do reconhecimento geotécnico do terreno;
• Representação gráfica de diversos elementos, que, no caso de edifícios,
abrange as características morfológicas do edifício, a organização dos
espaços e interdependência das diversas áreas e volumes, a
compartimentação genérica do edifício e o esquema da sua utilização.

Na elaboração do Estudo Prévio deve verificar-se já uma intensa actividade de inter-


relação entre o Autor do Projecto e diversos Projectistas de várias especialidades.

No que respeita à Coordenação de Segurança esta fase é determinante, sendo de


evidenciar as questões seguintes:
• No plano das definições de Arquitectura, atender às opções arquitectónicas
não tradicionais, em particular no que respeita às soluções propostas para as

38
fachadas e coberturas e à previsão de grandes vãos, bem como ao número
de pisos preconizados acima e abaixo do nível do solo;
• Considerar os aspectos de segurança associados às relações de
compatibilidade entre as opções arquitectónicas e as definições de Estrutura
e outras especialidades abordadas;
• Atender às implicações nas opções e soluções encontradas das exigências
em matéria de segurança contra incêndio, nomeadamente nos casos de
edifícios projectados para uma elevada ocupação humana e para edificações
especiais que tenham regulamentação específica aplicável neste domínio
(como, por exemplo, os túneis);
• Analisar as implicações dos sistemas AVAC, particularmente nos casos de
edifícios fabris, comerciais e escritórios;
• Considerar eventuais necessidades de equipamentos de distribuição de água
(grupos hidropressores) e/ou de redes de aquecimento central (caldeiras,
depósitos de combustível…).

PROJECTO BASE (ANTEPROJECTO)

O Projecto Base consiste no desenvolvimento de pormenor das soluções previstas


no Estudo Prévio aprovado pelo Dono da Obra.
O Projecto Base pode também ser designado por “anteprojecto” ou “projecto de
licenciamento”.
O Projecto Base pode integrar os elementos seguintes:
• Peças desenhadas e outros elementos gráficos que explicitem a planimetria
e a altimetria das diferentes partes da obra e fixem o seu dimensionamento
exacto;
• Peças escritas que descrevam e justifiquem as soluções propostas;
• Descrição dos processos de construção e das características dos materiais,
elementos de construção e equipamentos;
• Avaliação das quantidades de trabalho a executar;
• Orçamento preliminar da obra;
• Programa de trabalhos;
• Plantas, alçados e cortes em escalas apropriadas elucidativas de:
o Compartimentação;
o Áreas;
o Volumes e dimensões da estrutura;

39
o Elementos de construção;
o Instalações, equipamento, mobiliário e outros acessórios;
• Planta topográfica e perfis do terreno que definam:
o A implantação da edificação e as infraestruturas;
o A integração urbana e paisagística.

Do ponto de vista da Coordenação de Segurança será oportuno questionar o


aparecimento de novas especialidades, como por exemplo:
• As instalações eléctricas (localização quadros eléctricos e centrais de
segurança);
• As redes de esgotos (localização do poço de acumulação e bombagem e
ductos verticais para drenagem de esgotos a níveis superiores);
• As redes de água (localização de caixas e pontos de seccionamento).

PROJECTO DE EXECUÇÃO

O Projecto de Execução é o dossier que define as condições técnicas de execução


do projecto, através de peças escritas e desenhadas e que se destina a integrar o
concurso.
O Projecto de Execução pode integrar as peças seguintes:
• Peças escritas:
o Memória descritiva e justificativa;
o Nota de cálculo;
• Peças desenhadas:
o Plantas de localização e da obra;
o Alçados;
o Cortes;
o Pormenores construtivos;
o Estudos geológicos e geotécnicos;
• Medições;
• Orçamento;
• Caderno de Encargos.

A Coordenação de Segurança tem, agora, a oportunidade de analisar:


• A programação do desenvolvimento do projecto: escalonamento das fases,
das actividades de cada interveniente e do prazo estabelecido

40
• As opções arquitectónicas adoptadas;
• A compatibilidade das definições de arquitectura com as diversas
especialidades;
• A compatibilidade entre as diversas especialidades;
• A pormenorização das soluções indicadas;
• O faseamento construtivo;
• As especificações estabelecidas para o programa de trabalhos;
• Os prazos de execução da obra;
• Os termos da assistência técnica do projectista às fases subsequentes.

41
4. O PROJECTO DE EXECUÇÃO

4.1. Memória Descritiva e Justificativa

A Memória Descritiva e Justificativa é um documento escrito onde o Autor do


Projecto procede à descrição geral da obra e do fim a que se destina e desenvolve
alguns aspectos justificativos das soluções encontradas, tais como:
• Justificação da forma de execução do Programa Base;
• Indicação da natureza e condições do terreno;
• Justificação da implantação da obra e da sua integração nos
condicionalismos existentes ou previstos;
• Enquadramento das soluções adoptadas na legislação/regulamentação
aplicável;
• Características dos materiais, elementos de construção, instalações e
equipamentos;
• Justificação técnico-económica.

4.2. Nota de Cálculo

A Nota de Cálculo é um documento que se torna necessário para determinadas


especialidades que envolvem processos de dimensionamento que implicam
metodologias de cálculo matemático.
Trata-se de informação que pode vir agregada à Memória Descritiva e Justificativa.
Exemplos destes cálculos, são, por exemplo:
• Esquemas estruturais concebidos;
• Sobrecargas;
• Diagrama de esforços: esforços normais, esforços transversos, momentos
flectores, momentos torsores;
• Dimensionamento das secções de aço a utilizar;
• Cálculo hidráulico: escoamento sob pressão, escoamento em superfície livre.

4.3. Medições

As Medições consistem na quantificação objectiva dos trabalhos previstos para a


obra, constituindo a base para:
• A orçamentação;

42
• A apresentação das propostas;
• A avaliação das propostas;
• A elaboração do contrato de empreitada;
• A programação e o planeamento da obra (recursos necessários de mão de
obra, de materiais e de equipamentos);
• A elaboração de autos de medição por parte da Fiscalização da Obra
constituída pelo Dono da Obra;
• A análise e o controlo dos custos dos trabalhos;
• O controlo da conta da empreitada por parte do Dono da Obra.

As Medições são apresentadas em mapas tipo onde se alinha a informação


conforme se segue:

artº descrição unid partes comprimento largura altura área quantidades


iguais peso espessura volume parciais totais

As Medições devem ser efectuadas de acordo com regras pré-definidas no Caderno


de Encargos, sendo aconselhável a preferência por normas oficiais de medição
(quando existam), bem como por normas preconizadas em publicações do LNEC.

De acordo com a NP - 37:


• A determinação de área ou volume deve ser efectuada na seguinte ordem:
comprimento, altura ou profundidade;
• Por sua vez, na medição de pilares a altura deve ser considerada como o
seu comprimento.

Algumas Unidades de Medida mais utilizadas:


Grandeza Unidade
Nome Símbolo
comprimento metro m
volume litro l ou L
superfície, área m²
massa quilograma kg
massa grama g
massa tonelada t

43
força newton N
pressão e tensão pascal Pa
energia/quantidade joule J
trabalh
frequência hertz Hz
tempo segundo s
tempo minuto min
tempo hora h
tempo dia d
temperatura grau celcius °C
potência watt W
intensidade cor eléctrica ampere A
tensão eléctrica volt V
fluxo luminoso lúmen lm
iluminação lux lx
resistência eléctrica ohm Ω

De seguida apresentam-se algumas situações correntes de necessidade de medição


e regras usualmente aplicadas:
• Na movimentação de terras:
o m² para profundidades de escavação ≤0,25m;
o m³ para profundidades de escavação >0,25m;
o A medição deve ser efectuada por classes de terreno, conforme
segue:
 Terra branda (areias soltas, solos coerentes moles);
 Terra dura (areias compactas, solos coerentes duros);
 Rocha branda (rochas alteradas, solos coerentes muito
duros);
 Rocha dura (rochas sãs ou pouco alteradas);
• Nos betões:
o m³ é a unidade de medição geral;
o m² para medição de betões em camadas (v.g. betão de limpeza);
o A medição deve ser efectuada segundo as características do betão
indicadas no projecto (tipo, classe, qualidade);
• Cofragens:
o Unidade de medição: m²;

44
o A medição deve ser efectuada por tipos de cofragem (corrente ou
especial) e de acordo com a sua natureza (madeira, metálica);
• Armaduras:
o Unidade de medição: kg;
o A medição deve ser efectuada por tipos de armaduras (varões, redes
soldadas…), por classes de aço e diâmetros dos varões;
• Elementos pré-fabricados de betão:
o Metro linear: Lancis, degraus, peitoris, soleiras, ombreiras, vergas;
o Unidade genérica por peça: Escadas e asnas;
o m²: Lajes aligeiradas, devendo indicar-se a espessura da laje e as
suas características tipológicas;
• Alvenarias:
o m²: paredes com espessura ≤ 0.35m;
o m³: paredes omespessura > 0.35m.

No caso dos Edifícios, as Medições devem ser apresentadas segundo a estrutura


seguinte:
1. Montagem e desmontagem do Estaleiro
2. Limpeza e desmatação do terreno
3. Movimento de terras
4. Fundações
5. Superestrutura
5.1. Pilares
5.2. Vigas
5.3. Paredes
5.4. Lajes e outros elementos
6. Alvenarias
6.1. Alvenarias interiores
6.2. Alvenarias exteriores
7. Cobertura
7.1. Estrutura da cobertura
7.2. Revestimentos e outros elementos
8. Vãos exteriores
8.1. Guarnecimentos
8.2. Caixilhos e portas (incluindo aros)
8.3. Vidros
8.4. Estores e outras protecções
9. Vãos interiores
9.1. Aros
9.2. Guarnecimentos

45
9.3. Portas
10. Rede de águas
10.1. Canalizações
10.2. Torneiras
11. Instalações de esgotos
11.1. Tubagem de esgoto e ventilação
11.2. Fossa séptica
11.3. Outros elementos
12. Instalação eléctrica
12.1. Tubagem e caixas
12.2. Enfiamentos
12.3. Outros elementos
13. Instalações de gás
14. Instalações de aquecimento, ventilação e ar condicionado
15. Elevadores
15.1. Portas e guias
15.2. Cabine e máquinas
16. Revestimento de paredes
16.1. Rebocos
16.2. Estuques
17. Revestimento de piso
17.1. Camadas de forma e betonilha
17.2. Revestimento de escadas e galerias
17.3. Revestimento final de piso das zonas secas
17.4. Revestimento final de piso das zonas húmidas
18. Equipamento de cozinha e lavagem
19. Equipamento de casa de banho
20. Arranjos exteriores
21. Diversos
21.1. Outras carpintarias
21.2. Outras serralharias
21.3. Outras cantarias
21.4. Roupeiros
21.5. Instalação de evacuação de resíduos
21.6. Outros elementos
(adaptado de Dashofer, Gestão da Construção)

4.4. Orçamento

A partir das Medições já referidas, elaboram-se Mapas de Quantidades onde se


listam todos os artigos de medição e as respectivas quantidades previstas.
Com base em tais mapas, o projectista elabora a Estimativa Orçamental, obtida a
partir da soma dos preços de execução do todos os artigos previstos no projecto.

46
Esta estimativa vai, de algum modo, servir de referência à negociação da
empreitada entre o Dono da Obra e o Empreiteiro, daí resultando, finalmente, o
Orçamento da Obra (valor ajustado para a execução dos trabalhos).

Para a elaboração da Estimativa Orçamental os Projectistas usam vários tipos de


métodos. Assim:
• O Custo Unitário de Construção é usado nas fases preliminares de
elaboração do projecto em que ainda não se dispõe de medições dos
trabalhos a realizar. Neste caso, utilizam-se como unidades de medida:
o m² para edifícios;
o metro linear para redes de água, esgotos;
• O Custo Unitário dos Trabalhos a realizar é aplicável na fase de projecto
de execução, baseando-se nas medições dos trabalhos.

Esta Estimativa é apresentada em Folhas de Orçamento com a configuração


seguinte:

artº descrição dos trabalhos unidades quantidades preços preços totais


unitários por por
artº capítulo

Tendo em vista uma boa gestão orçamental, o Dono da Obra deve ter em conta a
conjugação dos aspectos seguintes:
• A estimativa orçamental elaborada pelo Projectista;
• A consideração de um valor para erros e omissões do projecto (valor
habitual: 5%);
• A consideração de um valor para trabalhos a mais (é frequente atingir 10%);
• A consideração de um valor para eventual revisão de preços;
• A consideração do valor do IVA.

4.5. Caderno de Encargos

O Caderno de Encargos é o documento que contém as cláusulas jurídicas e


técnicas, gerais e especiais, a incluir no contrato de empreitada.

47
Nas cláusulas técnicas devem definir-se as especificações técnicas a considerar na
execução da obra, tais como, por exemplo, as características exigidas a um material,
a um produto, a um processo de construção, a um tipo de trabalho, ou à abordagem
da segurança, etc. Estas especificações técnicas devem, sempre que possível,
reportar-se a referenciais, tais como normas técnicas ou regulamentação jurídica
aplicável.

No caso de Edifícios, o Caderno de Encargos pode assumir uma estrutura


consideravelmente desenvolvida, como de seguida se exemplifica:
• Memória descritiva e justificativa, incluindo discriminação de revestimentos,
acabamentos e equipamentos de cada compartimento;
• Resultados do reconhecimento geológico e do estudo geotécnico;
• Critérios adoptados na escolha do tipo de fundações e da estrutura;
• Cálculos das fundações e da estrutura;
• Cálculos das instalações e dos equipamentos;
• Planta topográfica da localização do edifício e do conjunto em que se insere;
• Planta geral do edifício e do conjunto em que se insere, perfis longitudinais e
transversais e outras peças desenhadas com informação sobre
movimentação de terras, arruamentos, redes técnicas (esgotos, água,
electricidade e gás) no terreno circundante do edifício, muros de suporte,
vedações e outras construções exteriores ao edifício e arranjos exteriores;
• Plantas cotadas, cortes e pormenores dos muros de suporte e das fundações
dos pilares, paredes e outros elementos de construção e localização de
canalizações que tenham interferência;
• Plantas de cada piso com indicação de compartimentação e respectivas
dimensões, vigas, pilares e aberturas nas lajes, distribuição de mobiliário fixo,
revestimentos de pavimentos e paredes, localização e dimensionamento de
elementos de construção (por exemplo, escadas, portas, janelas, varandas,
envidraçados e louças sanitárias), linhas de corte e pormenores construtivos;
• Cortes gerais do edifício;
• Alçados do edifício;
• Cortes de pormenorização;
• Mapa de vãos;
• Pormenores de execução dos diferentes elementos de construção;
• Plantas e cortes definidores da estrutura;
• Pormenores de todos os elementos da estrutura;

48
• Representação das estruturas de betão armado;
• Plantas, alçados, cortes e esquemas relativos ao traçado de redes, ao
dimensionamento de condutas eléctricas e de canalizações, às
interdependências mais importantes com a estrutura e com os elementos de
construção, aos equipamentos e acessórios a instalar.

49
5. FASE DE ORGANIZAÇÃO

Na fase de Organização desenvolvem-se os processos relacionados com a criação


das condições necessárias à execução do produto desejado pelo Dono da Obra e já
definido pelo Autor do Projecto. Destes processos deve resultar o estabelecimento
de:
• Condições técnicas de execução do projecto, definidas pelo Autor do
Projecto e cujo resultado obtido se traduzirá no Projecto de Execução;
• Condições económicas de execução, resultantes da negociação de
Propostas e tendo como intervenientes o Dono da Obra e o Empreiteiro;
• Condições temporais de execução, resultantes do acerto estabelecido entre
Dono da Obra e Empreiteiro e tendo como resultado final o Programa de
Trabalhos.

Na fase de Organização podem desenvolver-se os processos seguintes:


• Concurso;
• Adjudicação;
• Consignação;
• Preparação.

A gestão do empreendimento pode assumir várias formas, pelo que o Concurso


pode ser organizado com vista à contratualização de:
• Empreitada: contrato que tem por objecto a realização de uma obra
mediante um determinado preço;
• Concessão: contrato que tem por objecto a realização de uma obra, tendo
como contrapartida a exploração da edificação durante um certo período de
tempo;
• Administração directa: realização da obra pelo próprio Dono da Obra.

Por sua vez, a Empreitada põe ser organizada de várias formas. Assim:
• Empreitada por preço global: Empreitada em que a remuneração do
Empreiteiro é fixada previamente num valor fixo englobando todos os
trabalhos, havendo um prazo para reclamação dos erros e omissões do
projecto;

50
• Empreitada por série de preços: Empreitada em que a remuneração do
Empreiteiro resulta da aplicação dos preços unitários previstos no contrato às
quantidades de trabalhos efectivamente executados;
• Empreitada por percentagem: Empreitada em que a remuneração do
Empreiteiro resulta do preço correspondente ao custo da obra acrescido de
uma determinada percentagem para cobrir os encargos da entidade
executante.

O processo de Concurso de Empreitada é estruturado com base em dois


documentos fundamentais:
• Programa do Concurso: Documento que estabelece as regras do próprio
concurso (prazo e forma de apresentação de propostas, requisitos sobre os
concorrentes, prescrições do programa de trabalhos, documentos
administrativos e técnicos a apresentar, critérios de apreciação das
propostas);
• Caderno de Encargos: Documento que contém as cláusulas jurídicas e
técnicas, gerais e especiais, a incluir no contrato de empreitada.

De acordo com o previsto naqueles documentos que regem o Concurso, as


Propostas apresentadas pelos concorrentes podem assumir um dos tipos seguintes:
• Proposta base: O concorrente compromete-se a executar a obra de acordo
com o definido no projecto;
• Proposta com variante ao projecto: O concorrente apresenta proposta
alternativa ao projecto ou parte dele de sua autoria;
• Proposta condicionada: A proposta envolve alterações ao Caderno de
Encargos.

Aquelas Propostas podem, ainda, ser objecto de complementos exigidos nos termos
do Programa do Concurso, tais como:
• Documentos administrativos diversos;
• Documentos técnicos, como, por exemplo, nota justificativa do preço
proposto, lista de preços unitários (empreitadas por série de preços e preço
global), programa de trabalhos (provisório), plano de pagamentos, memória
descritiva e justificativa do modo de execução da obra, elementos que
permitam apreciar as propostas de acordo com os critérios definidos para o
Concurso.

51
No desenvolvimento da contratualização da Empreitada devem destacar-se dois
processos fundamentais:
• A Adjudicação da empreitada: processo que consiste na notificação
enviada pelo Dono da Obra ao Empreiteiro da intenção de adjudicação
da empreitada, a que se segue a apresentação de caução por parte do
Empreiteiro, a qual dá lugar, então, à aprovação da minuta do contrato e
à subsequente assinatura do contrato;
• A Consignação da obra: processo pelo qual o Dono da Obra faculta ao
Empreiteiro os locais da obra e os elementos complementares do
projecto. Trata-se de acto que envolve visita ao local da obra e
elaboração de auto assinado pelas duas partes. Esta é, em geral, a data
de referência para a contagem dos prazos contratuais da empreitada.

52
6. PLANEAMENTO DA OBRA

O planeamento da obra envolve os processos seguintes:


• Elaboração do Programa de Trabalhos, o qual compreende:
o O Plano de Trabalhos;
o O Plano de Equipamentos;
o O Plano de Mão de Obra;
• Elaboração do Projecto de Estaleiro;
• Elaboração do Elementos complementares do Programa de Trabalhos, tais
como:
o Memória descritiva e justificativa do modo de execução da obra;
o Plano de pagamentos;
o Plano de implementação do sistema da Qualidade;
o Plano de implementação do sistema de Segurança.

6.1. Plano de Trabalhos

O Plano de Trabalhos é um documento que define a sequência, o prazo e o ritmo de


execução de cada uma das espécies de trabalho que constituem a empreitada e
especifica os meios com que o Empreiteiro se propõe executar a obra:
• No que respeita à sequência de execução: Estabelecem-se as relações de
sequencialidade entre as actividades;
• No que respeita ao ritmo de execução, estima-se:
o O rendimento: quantidade de tempo de uma equipa para a realização
de uma unidade de medição;
o A produtividade: quantidade de trabalho desenvolvido por uma equipa
por unidade de tempo;
• Quanto ao prazo de execução, estimam-se as durações das actividades
calculadas com base na quantidade de trabalho, no ritmo e no número de
pessoas de cada equipa de trabalho e do número de equipas.

Plano de Trabalhos é apresentado segundo o método de Gantt, sob a forma de


diagrama de barras, em que a representação gráfica de cada actividade é feita por
uma barra, cujo comprimento é proporcional à sua duração, sendo a sua localização
no tempo definida pela correlação com a linha de calendário que constitui o
cabeçalho.

53
Plano de Trabalhos
tarefa duração início termo 2007 2007 2007 2008 2008 2008
Out Nov Dez Jan Fev Mar

Por vezes, utilizam-se harmanogramas, que são diagramas em que as actividades


não são apenas representadas na escala do tempo, mas também na escala do
espaço. Este método é utilizado em empreendimentos que têm actividades com
grande continuidade no espaço, sem divisões naturais. Ex: construção de estradas

Na programação de actividades importa considerar os dados seguintes:


• Lista de actividades;
• Duração de cada actividade;
• Relação de interdependência entre actividades.

Na Lista de Actividades será de considerar:


• As actividades por categorias profissionais, as actividades em diversas zonas
da obra (se esta for de grande extensão), as actividades constantes da lista
do orçamento (mapa de quantidades apresentado no projecto);
• A desagregação de determinadas actividades do orçamento. Ex: Actividade
indicada como “Instalação Eléctrica” será subdividida em:
o Abertura de roços;
o Colocação de tubagens;
o Fecho de roços;
o Realização de enfiamentos;
o Colocação de aparelhagem;
• A integração de outras actividades indicadas no orçamento. Ex: Actividades
de “alvenaria de tijolo furado de 11” e de “alvenaria de tijolo furado de 15”
será integrada numa única na programação.

Na Duração das Actividades, por sua vez, será de ter em conta:


• A duração fixa: Ex: tempo de endurecimento do betão;
• A duração calculada a partir da quantidade de trabalho a realizar e dos
recursos disponíveis e seu rendimento;

54
• A duração calculada por um valor probabilístico, dependente do maior ou
menor conhecimento do trabalho e da variabilidade dos factores
condicionantes da duração.

Quanto à Interdependência das Actividades tenham-se em conta:


• Os factores espaciais ou físicos. Ex: a betonagem de um pilar depende da
sua prévia cofragem;
• Os factores relacionados com a disponibilidade dos recursos. Ex: Com uma
única Equipa de assentadores de azulejo, só se pode aplicar azulejo num
piso de cada vez;
• Os factores de qualidade ou de segurança. Ex: Só se pode descofrar o pilar
depois de o betão ter adquirido a necessária resistência;
• Os factores estratégicos ou de administração. Ex: condicionantes colocados
a obras de estrada em épocas de muita circulação automóvel.

6.2. Plano de Mão de Obra

O Plano de Mão de Obra é um cronograma elaborado numa tabela contendo:


• Em linhas: os meses do período de execução dos trabalhos;
• Em colunas: os respectivos valores mensais e acumulados.

Este cronograma indica os valores das cargas de mão de obra, expressos em:
• Trabalhadores;
• Ou trabalhadores–hora.

6.3. Plano de Equipamentos

O Plano de Equipamentos é um diagrama de barras, correspondendo cada barra a


um dado tipo de equipamento com a inscrição do número de unidades a utilizar, em
que:
• O comprimento de cada barra representa o tempo de permanência no
estaleiro;
• O início e o termo de cada barra indicam as datas de entrada e saída do
equipamento do estaleiro,

55
Plano de Equipamentos
Eqs Mês Mês Mês Mês Mês Mês Mês Mês Mês
Fixos 1 2 3 4 5 6 7 8 9

TotalEqs
Fixos
Eqs
Móve

TotalEqs
Móv

Há várias formas de classificar os Equipamentos de Estaleiro. Assim, por exemplo:


• Equipamentos Fixos e Equipamentos Móveis:
o Equipamentos Fixos – são os equipamentos que permanecem fixos
durante a sua utilização ou cuja utilização depende do trabalhador:
Gruas torre, betoneiras, compressores, máquinas de cortar e dobrar
ferro, vibradores, berbequins, rebarbadoras, martelos demolidores…;
o Equipamentos Móveis – são os equipamentos que se movimentam no
estaleiro quando em operação: gruas móveis, dumpers,
retroescavadoras, camiões…
• Classificação dos Equipamentos em função da sua complexidade:
o Equipamento Corrente;
o Equipamento Especial;
• Classificação dos Equipamentos em atenção à função desempenhada:
o Classes de Equipamento - por tipo de obra:
 Águas/esgotos;
 Cravação/extracção de estacas;
 Ar comprimido;
 Movimentação terras;
 Transporte terrestre;

56
 Elevação e manuseamento;
 Estradas e aeródromos;
 Preparação de inertes;
 Betões e argamassas;
 Energia;
 Ferroviário;
 Serralharia e carpintaria;
 Instalações do Estaleiro,
 Desenho, topografia, ensaio;
 Trabalhos fluviais e marítimos;
 Fundações especiais;
 Assentamento de canalizações;
o Grupos de Equipamentos - por tipo de trabalho:
 Aplicação argamassas;
 Cortar/dobrar aço;
 Compressores;
 Martelos pneumáticos;
 Betoneiras;
 Apoio à betonagem;
 Gruas;
 Dumpers;
 Escavadoras;
 Entivação;
 Geradores e transformadores;
 Camiões;
 Elevadores e monta-cargas;
 Projecção de tintas;
 Bombas água/esgotos;
 Compactadores;
 Cilindros;
 Tractores, scrapers;
 Cofragem madeira;
 Grupos electrogéneos.

A selecção de Equipamentos para a obra deve seguir critérios rigorosos, tendo em


conta:
• As opções possíveis, como, por exemplo:

57
o Utilizar equipamento disponível na empresa;
o Adquirir;
o Alugar;
o Contratar por leasing.
• A rentabilização em função de:
o Taxas de utilização previstas;
o Disponibilidade do equipamento;
o Possibilidade de imputação de custos às obras;
o Encargos com a operação, com a manutenção e com o combustível.
• Os factores a considerar no cálculo de custos, tais como:
o Propriedade;
o Conservação;
o Reparação;
o Consumo;
o Manobra;
o Transporte;
o Montagem;
o Desmontagem.

Na gestão dos Equipamentos utilizam-se determinados conceitos fundamentais, a


saber:
• Vida técnica ou vida útil do equipamento: tempo, expresso em anos,
durante o qual o equipamento, trabalhando segundo as suas características
médias e no tempo normal de trabalho, pode ser utilizado nas melhores
condições de produtividade;
• Taxa de conservação: % do valor actual do equipamento que traduz os
encargos previsíveis com a conservação anual (revisões periódicas; não
incluindo acidentes);
• Taxa de afectação à produção: relação, expressa em percentagem, entre o
tempo de afectação do equipamento a obras e o tempo total que poderia
estar afecto;
• Taxa de utilização: relação entre o tempo que o equipamento é
efectivamente utilizado e o tempo que poderia ser utilizado.

58
7. CONSIGNAÇÃO E PREPARAÇÃO DA OBRA

7.1. A Consignação da Obra

A Consignação da obra é um acto que consiste no fornecimento ao Empreiteiro de


peças complementares do projecto necessárias à execução da obra, bem como na
concessão da posse dos locais da obra conferida pelo Dono da Obra ao Empreiteiro.
A data da Consignação marca o início da contagem do prazo de execução da obra e
define, também, a oportunidade de apresentação do plano de trabalhos definitivo,
bem como de apresentação de reclamações por parte do Empreiteiro quanto a erros
e omissões do projecto (nas empreitadas por preço global).
O acto da consignação dá lugar a um auto onde se deve mencionar qualquer tipo de
alterações entretanto verificadas face ao projecto e/ou ao local da obra.

7.1. A preparação da Obra

A Preparação da obra envolve uma quantidade apreciável de tarefas por parte da


Equipa do Empreiteiro a quem a execução dos trabalhos é confiada, tais como:
• Elaboração do programa de garantia de qualidade da obra (definição dos
elementos que serão sujeitos a controlo de qualidade) – documento a
elaborar pelo Dono da Obra ou Empreiteiro conforme for estabelecido no
Caderno de Encargos;
• Planeamento elaborado pelo Director da Obra;
• Definição das equipas de trabalho;
• Definição do plano de aprovisionamentos de materiais;
• Aquisição, mobilização ou aluguer dos equipamentos;
• Estudo dos processos construtivos.

Nesta preparação verifica-se a necessidade de serem consideradas componentes:


• Económicas;
• Tecnológicas;
• Condicionalismos do local da obra;
• Recursos humanos;
• Recursos materiais: materiais/produtos de construção e equipamentos;
• Estaleiro;
• Diligências administrativas;

59
• Gestão da obra.

Em toda esta preparação da obra verifica-se a participação dos seguintes


intervenientes:
• Nas obras públicas:
o Director Técnica da Empreitada;
o Representante do Empreiteiro no Estaleiro;
• Nas obras particulares:
o Técnico responsável pela direcção técnica da obra.

Merece destaque em todo este cenário envolvente da preparação da obra toda a


série de actividades a desenvolver pela Direcção da Obra de que se passa a fazer
uma enumeração possível:
• Análise de Projecto, Caderno de Encargos e demais documentos do
concurso, Contrato de Empreitada, Plano de Segurança e Saúde;
• Organização das Entidades participantes (vd caso de Consórcios);
• Estudo do modo de execução:
o Interpretar soluções do projecto;
o Análise de custos das soluções indicadas;
o Análise de soluções alternativas;
o Análise de métodos e processos construtivos.
• Elaborar o Projecto de Estaleiro;
• Preparar a Consignação:
o Condicionantes;
o Reclamação de trabalhos a mais;
o Licenças e autorizações necessárias ao Estaleiro (de construção,
ocupação de via pública…);
o Infraestruturas: água, electricidade, comunicações, esgotos;
• Materiais - Escolher, dimensionar, adquirir (e submeter à aprovação da
Fiscalização, quando necessário);
• Selecção e organização das Equipas de Trabalho: Técnicos, Pessoas de
Enquadramento, Pessoal Administrativo (medidores, apontadores,
controladores, planificadores, desenhadores, topógrafos…), trabalhadores
das várias profissões envolvidas;
• Contratação de Subempreiteiros;
• Seleccionar e planificar a utilização de equipamentos.

60
8. A COORDENAÇÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NA CONSTRUÇÃO

O regime legal relativo ao sistema de coordenação de segurança e saúde na


Construção encontra-se definido no DL 273/2003, de 29 de Outubro.
Aquele regime legal regula os princípios, as responsabilidades, as metodologias e os
instrumentos da coordenação de segurança e saúde na Construção.

8.1. Trabalhos de Construção abrangidos pelo regime da Coordenação de


Segurança

O regime legal da coordenação de segurança aplica-se a todos os trabalhos que


assumam natureza construtiva, englobando quer a área da construção de edifícios,
quer a área da engenharia civil, e inclui todas as actividades (e respectivos locais)
desenvolvidas em seu apoio directo.

Na definição deste âmbito importa considerar toda a sua abrangência. Assim:

– A natureza construtiva dos trabalhos incluídos neste regime legal abrange


todas as áreas da construção de edifícios e das obras de engenharia civil. A
legislação exemplifica o seu campo de aplicação, enunciando (de forma não
exaustiva) os domínios seguintes:
• Escavação;
• Terraplenagem;
• Edifícios;
• Elementos pré-fabricados e equipamentos de elevação
(montagem/desmontagem);
• Demolição;
• Vias de comunicação (rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias) e suas
infraestruturas;
• Obras fluviais e marítimas;
• Túneis e obras de arte;
• Barragens;
• Silos;
• Chaminés industriais;
• Trabalhos especializados no domínio da água e esgotos;

61
• Electricidade, gás e telecomunicações (infraestruturas de transporte e
distribuição);
• Instalações telefónicas e equipamentos diversos (montagem/desmontagem);
• Isolamentos e impermeabilizações.

– Os trabalhos de construção abrangidos neste regime não excepcionam qualquer


tipo de obra, pelo que incluem:
• As obras públicas;
• As obras particulares;

– O conceito de trabalhos de Construção inclui ainda:


• Os trabalhos de construção nova;
• Os trabalhos de manutenção e conservação;
• Os trabalhos de renovação, ampliação e reabilitação;
• Os trabalhos de demolição;

– O conceito de estaleiros temporários ou móveis abrange:


• Os locais onde se efectua qualquer tipo dos trabalhos mencionados (o que
inclui todos os locais da própria obra);
• Os locais onde se desenvolvem actividades de apoio directo àqueles
trabalhos (o que inclui todas as áreas sociais e de apoio à produção, bem
como as áreas de cesso e circulação compreendidas no estaleiro de apoio).

Estão, assim, fora do alcance deste regime legal:

– Os locais e as actividades desenvolvidas nos “estaleiros fixos” sediados nas


instalações das empresas de construção para a execução de pré-fabricados, de
betão pronto, armazenamento de materiais, etc, na medida em que nestes locais
se aplicam os princípios estabelecidos na legislação geral de segurança e saúde
do trabalho;
– E, bem assim, as actividades de perfuração e extracção que tenham lugar no
âmbito das indústrias extractivas, dado que a natureza de tais actividades é
específica e conhece regulamentação especial. Note-se, todavia, que estão
compreendidas na Construção (e, como tal, abrangidas pela legislação da
coordenação de segurança do DL 273/2003, de 29 de Outubro) diversas
actividades que se desenvolvem segundo processos idênticos aos utilizados nas

62
indústrias extractivas, como sejam, diversos trabalhos relacionados com a
construção de túneis, poços e galerias.

8.2. Princípios da Coordenação de Segurança

O regime legal da coordenação de segurança estabelece um conjunto de princípios


aplicáveis à gestão da segurança e saúde nos empreendimentos construtivos, em
que se destacam os vectores seguintes:

– A coordenação de segurança e saúde deve ser desenvolvida desde o projecto


ao estaleiro;
– O desenvolvimento da segurança e saúde deve ser objecto de uma dinamização
activa em todo o processo, devendo para o efeito o Dono da Obra nomear, em
determinados casos, um Coordenador de Segurança e Saúde para a Fase de
Projecto e um Coordenador de Segurança e Saúde para a Fase de Obra;
– Os Projectistas devem atender aos princípios gerais de prevenção de riscos
profissionais na elaboração das definições do projecto, particularmente ao nível
das opções arquitectónicas, técnicas e organizativas, incluindo a planificação dos
trabalhos;
– A segurança e saúde do trabalho deve ser objecto de planificação adequada
(Plano de Segurança e Saúde), sendo que tal planificação deve ser definida na
fase de projecto e patenteada no processo de consulta e adjudicação da
empreitada e complementada antes do início dos trabalhos;
– Tal planificação é da responsabilidade do Dono da Obra (que para o efeito deve
contar com o apoio do Coordenador de Segurança de Projecto), devendo,
contudo, ser detalhada antes da abertura do estaleiro com os contributos do
adjudicatário da empreitada;
– Aquela planificação deve ser particularmente detalhada quanto aos trabalhos que
envolvam riscos especiais para a segurança e saúde;
– A prévia planificação da segurança e saúde do trabalho deve ser equacionada
não só no âmbito do Acto de Construir, mas, também, no âmbito das intervenções
que se venham a realizar na edificação em momentos posteriores à sua
construção, dando lugar à elaboração da Compilação Técnica que compete ao
Dono da Obra assegurar com o apoio dos Coordenadores de Segurança.

63
8.3. Intervenientes no sistema de Coordenação de Segurança

O Acto de Construir envolve a intervenção de um vasto conjunto de actores que são


destinatários de obrigações específicas no âmbito da segurança e saúde do
trabalho. A legislação destaca a intervenção dos actores seguintes:

– Dono da Obra: Entidade por conta de quem a obra é realizada. Esta entidade
tanto pode ser:
• Uma pessoa singular, como uma pessoa colectiva;
• Uma entidade pública, como uma entidade privada;
• Uma entidade proprietária da edificação em causa, como uma entidade
concessionária de obra/serviço público.
– Projectista: Pessoa reconhecida como projectista que elabora ou participa na
elaboração do projecto da obra. Nesta definição a legislação inclui dois conceitos:
• Autor do projecto, para designar o projectista que elabora ou participa na
elaboração do projecto da obra;
• Equipa de projecto, para designar o conjunto de projectistas que intervêm
nas definições do projecto de uma dada obra.
– Entidade executante: Conceito estabelecido para designar a intervenção do
Empreiteiro. Tal intervenção pode ter lugar através de empreiteiro de obras
públicas ou de industrial de construção civil, consoante o alvará detido pela
empresa de construção em causa.
– Subempreiteiro: Conceito estabelecido para designar a intervenção de empresas
contratadas pelo Empreiteiro (entidade executante) para a execução de trabalhos
na obra por si adjudicada. Será de presumir que este conceito abrange igualmente
as empresas contratadas pelos Subempreiteiros.
– Empregador: Conceito abrangente referenciado na legislação para abranger toda
e qualquer empresa que tenha alguma intervenção na execução dos trabalhos da
obra, independentemente da sua condição de empreiteiro, subempreiteiro ou
prestador de serviços. No âmbito de tal conceito avulta a circunstância de se tratar
de empresa que tenha trabalhadores ao seu serviço, sejam eles trabalhadores
dos seus quadros, ou trabalhadores temporários ou trabalhadores alugados
(cedência ocasional de mão de obra);
– Trabalhador independente: Conceito que designa qualquer prestador individual
de serviços (incluída a figura de empresário em nome individual) que intervem na
execução dos trabalhos, contratado pela Entidade Executante ou pelo Dono da
Obra;

64
– Director técnico da empreitada: Corresponde à figura prevista no regime das
empreitadas de obras públicas de interlocutor nomeado pelo Empreiteiro junto do
Dono da Obra;
– Responsável pela direcção técnica da obra: Corresponde à figura vulgarmente
designada de “Director da Obra”, consistindo no responsável nomeado pelo
Empreiteiro para assegurar a direcção do estaleiro;
– Fiscal da obra: Corresponde à figura da “fiscalização” contemplada no regime de
empreitadas de obras públicas, consistindo numa entidade nomeada pelo Dono
da Obra para assegurar o controlo da execução dos trabalhos compreendidos na
empreitada conforme as definições estabelecidas no projecto, no contrato, no
caderno de encargos e no plano de trabalhos;
– Coordenadores de segurança e saúde: Entidades (singulares ou colectivas)
nomeadas pelo Dono da Obra para assegurar a dinamização da segurança e
saúde durante a elaboração do projecto (Coordenador de Segurança e Saúde de
Projecto) e durante a execução da obra (Coordenador de Segurança e Saúde da
Obra).

8.4. Intervenção dos Projectistas

A legislação acentua a importância da gestão da segurança e saúde se reportar a


todo o empreendimento. Assim, a sua dinâmica deve iniciar-se logo na fase de
elaboração do projecto. Em tal sentido, constitui obrigação dos projectistas atender
aos princípios gerais de prevenção na elaboração das diversas definições de
projecto.

No âmbito da elaboração do projecto será, então, de ter particularmente em conta a


avaliação de riscos especiais que possam ter implicações na edificação projectada
nos planos seguintes:

– Na sua construção;
– Na sua utilização/exploração;
– Na sua manutenção/conservação.

Tais riscos especiais poderão estar associados aos seguintes factores:

– Definições relativas às opções arquitectónicas;

65
– Definições relativas às características geológicas, hidrológicas e geotécnicas do
terreno;
– Definições relativas ao projecto de estabilidade (definições estruturais);
– Definições relativas aos projectos das diversas especialidades;
– Condicionalismos do local da obra (redes técnicas enterradas, linhas eléctricas ou
telefónicas aéreas, vias rodoviárias ou ferroviárias e outras explorações, rios ou
ribeiras, edifícios, etc);
– Definições relativas ao faseamento construtivo;
– Definições relativas aos métodos e processos construtivos;
– Definições relativas aos materiais, produtos e equipamentos a incorporar na
edificação;
– Definições relativas à programação da execução dos trabalhos.

Tal avaliação de riscos deve dar lugar à procura de:

– Soluções construtivas alternativas que determinem a eliminação de tais riscos ou,


se tal não for possível, que impliquem um grau de risco mais reduzido;
– Definições de medidas preventivas a serem consideradas no âmbito das situações
de risco detectadas (que podem ter incidência na construção, na
utlização/exploração ou na mantenção/conservação, consoante os casos). Tais
medidas podem consistir, fundamentalmente, no aconselhamento de
determinados processos relacionados com métodos ou processos construtivos,
com o faseamento da execução dos trabalhos, com a organização do trabalho ou
com a utilização de equipamentos de protecção colectiva.

Este exercício dos projectistas visa dois tipos fundamentais de objectivos:

– Promover a integração da prevenção nas definições do projecto e no planeamento


e programação da sua execução;
– Permitir uma adequada elaboração do Plano de Segurança e Saúde e da
Compilação Técnica.

Torna-se assim conveniente que os projectistas elaborem registos sobre os


elementos relevantes suscitados neste exercício para que sejam considerados
nestes últimos documentos.

66
Refere a legislação ainda outras obrigações dos projectistas, tais como:

– Atender às directivas do Coordenador de Segurança do Projecto;


– Colaborar na elaboração da Compilação Técnica;
– Colaborar com o Coordenador de Segurança da Obra e o Empreiteiro, prestando
informação sobre aspectos relevantes da execução do projecto;
– Elaborar o Plano de Segurança e Saúde quando não exista Coordenador de
Segurança do Projecto;
– Iniciar a elaboração da Compilação Técnica se não existir Coordenador de
Segurança de Projecto;
– Concluir a Compilação Técnica se não existir Coordenador de Segurança da
Obra.

8.5. Riscos especiais

A legislação confere um destaque muito particular ao conceito de “risco especial”,


dele fazendo depender dois desenvolvimentos:

– Por um lado, são definidas para os diversos intervenientes no empreendimento


construtivo (Dono da Obra, Projectistas, Executantes e Coordenadores de
Segurança e Saúde) obrigações específicas de avaliação e controlo destes riscos;
– Por outro lado, tais riscos devem ser objecto de análise detalhada quer no Plano
de Segurança, quer na Compilação Técnica.

O conceito de “risco especial” compreende as situações seguintes:

– Todos os trabalhos que tais intervenientes no âmbito da sua intervenção


específica avaliem (ou devam avaliar) como trabalhos de risco particularmente
elevado (em função da conjugação da sua probabilidade e da sua gravidade);
– Trabalhos que envolvam o risco de:
• Queda em altura, soterramento e afundamento agravados por qualquer
circunstância envolvente da execução dos trabalhos;
• Doenças profissionais causadas por agentes químicos e biológicos;
• Exposição a radiações ionizantes (quando for obrigatória a designação de
zonas controladas ou vigiadas);

67
– Situações que pela sua própria natureza envolvem risco elevado, tais como os
trabalhos:
• Na proximidade de linhas eléctricas de média e alta tensão;
• Nas vias rodoviárias e ferroviárias que se encontrem em exploração, ou na
sua proximidade;
• De mergulho com aparelhagem;
• Em poços, túneis, galerias ou caixões de ar comprimido;
• Na utilização de explosivos e em trabalhos em atmosferas explosivas;
• Na montagem e desmontagem de elementos (pré-fabricados ou de outra
natureza) de grandes dimensões e peso.

8.6. Funções dos Coordenadores de Segurança de Projecto

A função do Coordenador de Segurança de Projecto consiste em dinamizar as


abordagens preventivas antes da abertura do estaleiro, pelo que se situa
essencialmente nos planos seguintes:

– Apoio aos projectistas na integração dos princípios gerais de prevenção nas


definições do projecto;
– Elaboração de documentos de planeamento da prevenção:
• Plano de Segurança e Saúde;
• Compilação Técnica;
– Apoio ao Dono da Obra na integração da prevenção nos processos relacionados
com a contratualização da empreitada e planeamento da execução dos trabalhos;
– Informação do Dono da Obra sobre outras obrigações que lhe estejam cometidas
no âmbito da gestão da segurança e saúde no empreendimento.

Assim, as actividades nucleares a desenvolver por estes Coordenadores podem


ser sistematizadas da forma seguinte:

– Informação e apoio ao Dono da Obra sobre as acções que este deve desenvolver
no âmbito da gestão da segurança e saúde no empreendimento construtivo;
– Informação da Equipa de Projecto sobre as suas obrigações no domínio da
segurança e saúde;
– Estabelecimento de metodologia de abordagem da integração dos princípios
gerais de prevenção na elaboração do projecto;

68
– Análise dos riscos especiais associados às definições do projecto, sendo de
destacar os domínios seguintes:
• Implicações do programa preliminar na segurança e saúde;
• Análise dos riscos especiais associados à elaboração de definições nas
diversas áreas de projecto: arquitectura, estabilidade, implantação da
edificação (estudos geológicos, geotécnicos, hidrológicos e topográficos),
especialidades envolvidas no projecto (electricidade, gás, água e esgotos,
térmico, ventilação, telecomunicações, instalações especiais, etc);
• Análise dos riscos especiais associados às envolventes da obra e do
estaleiro (serviços afectados, explorações existentes no espaço contíguo
do estaleiro e demais condicionalismos existentes no solo, no subsolo e no
espaço aéreo);
• Análise dos riscos especiais associados à sobreposição das diversas
especialidades;
• Análise de riscos especiais associados a materiais, produtos e instalações
técnicas a incorporar na edificação;
• Análise de riscos especiais associados a processos e métodos
construtivos que sejam equacionados no projecto;
• Análise de riscos especiais associados às definições estabelecidas no
faseamento construtivo;
– Análise de soluções construtivas alternativas equacionadas pelos Projectistas
para prevenir riscos especiais avaliados;
– Análise de especificações a considerar pelo Empreiteiro na definição do projecto
de estaleiro;
– Preparação da Compilação Técnica:
• Estruturação;
• Início da sua elaboração a partir dos elementos disponibilizados no
projecto;
• Estabelecimento da metodologia a observar no seu desenvolvimento na
fase de obra;
• Conclusão deste documento se não existir Coordenador de Segurança de
Obra;
– Preparação do Plano de Segurança e Saúde:
• Estruturação;
• Recolha de elementos relevantes;
• Elaboração;

69
• Validação técnica no caso de a elaboração ter sido adjudicada a outra
entidade;
– Apoio ao processo de contratualização da empreitada:
• Inclusão do PSS no processo de concurso ou processo de consulta;
• Preparação de especificações a introduzir no concurso ou processo de
consulta (programa de concurso e caderno de encargos);
• Apoio ao Dono da Obra na apreciação de concorrentes e propostas,
nomeadamente nos domínios seguintes: resposta às especificações
relativas à gestão da segurança e saúde do trabalho, recursos humanos a
afectar à dinamização da prevenção em obra e programa de trabalhos
(plano de equipamentos, plano de mão de obra e plano de trabalhos),
tendo particularmente em conta a análise de riscos associados aos prazos
de desenvolvimento das diversas fases da obra, à sobreposição no tempo
ou no espaço de actividades de compatibilidade crítica, à gestão de
equipamentos e de espaços de utilização comum a diferentes
intervenientes no estaleiro

A nomeação do Coordenador de Segurança de Projecto compete ao Dono da


Obra e deve ter lugar na maioria dos casos, na medida em que a legislação obriga a
tal nomeação em qualquer das situações seguintes:

– Se a actividade de definição do projecto revestir complexidade técnica no domínio


da integração dos princípios gerais de prevenção (e desde que a elaboração do
projecto seja assegurada por mais de um sujeito, como acontece na generalidade
dos casos);
– Se o projecto envolver definições que impliquem na sua execução em obra a
realização de trabalhos com riscos especiais (e desde que se verifique a mesma
circunstância do projecto ser elaborado por mais de um sujeito);
– Se for previsível para a execução do projecto a intervenção de qualquer outra
empresa para além do Empreiteiro (entidade executante).

Tendo em conta as funções deste Coordenador, a sua nomeação deve ter lugar o
mais cedo possível, sob pena de ele não poder acompanhar integralmente todo o
desenvolvimento da elaboração do projecto, como lhe compete.
Por outro lado, tal nomeação deve recair em pessoa tecnicamente idónea.

70
Uma vez seleccionado, deve ser estabelecido entre o Dono da Obra e o
Coordenador um contrato de que deve resultar uma nomeação formal por parte do
Dono da Obra e a aceitação expressa da missão pelo Coordenador nomeado. Tal
termo de nomeação deve incluir as referências seguintes:

– Identificação da obra;
– Identificação do Coordenador;
– Identificação do técnico que vai assegurar efectivamente o exercício da
coordenação, no caso de a entidade nomeada ser uma pessoa colectiva;
– Objectivo da coordenação;
– Funções atribuídas ao Coordenador;
– Recursos a afectar ao exercício da coordenação (por exemplo, recursos humanos
a afectar, tempo de afectação, etc);
– Referência expressa à obrigatoriedade de todos os intervenientes (neste caso,
toda a Equipa de Projecto e os próprios serviços do Dono da Obra) cooperarem
com o coordenador no exercício da sua missão.

Aquela nomeação deve ser comunicada aos membros da equipa de projecto, para
que eles identifiquem o Coordenador que vai acompanhar o desenvolvimento do
projecto e cooperem na sua acção.

8.7. Plano de Segurança e Saúde

O planeamento da prevenção para o empreendimento construtivo deve dar lugar à


elaboração de um Plano de Segurança e Saúde.

A elaboração do PSS é legalmente obrigatória em qualquer dos seguintes casos:

– Quando as obras são sujeitas a projecto e envolvem riscos especiais;


– Quando as obras são sujeitas a projecto e envolvem a elaboração da
Comunicação Prévia, isto é, quando:
• As obras para cuja execução se preveja mais de 30 dias e em qualquer
momento a utilização de mais de 20 trabalhadores em simultâneo;
• As obras para cuja execução se preveja mais de 500 dias de trabalho, isto é,
quando se preveja que o somatório dos dias de trabalho prestado pelos
diversos trabalhadores ultrapasse aquele valor.

71
A iniciativa da elaboração do PSS compete ao Dono da Obra. Para o efeito, a
legislação estabelece quanto à sua realização efectiva que:

– Em princípio, será elaborado pelo Coordenador de Segurança do Projecto;


– Pode, todavia, o Dono da Obra adjudicar tal elaboração a outra pessoa. Neste
caso, o Coordenador de Segurança de Projecto deve proceder à validação técnica
deste documento;
– No caso de não existir a obrigatoriedade de nomeação deste Coordenador e o
Dono da Obra não adjudicar a outra pessoa a sua elaboração, deve esta ser
assegurada pelo Autor do Projecto.

O PSS deve ser elaborado durante a fase de projecto por forma a ser
disponibilizado no processo de concurso ou de consulta que terá lugar com vista
à adjudicação da empreitada. Por força da legislação, o PSS deve, assim:

– Nas obras públicas, ser patenteado no concurso e ficar anexo ao contrato de


empreitada (seja qual for o procedimento adoptado no concurso);
– Nas obras particulares, ser patenteado na negociação (por forma a que o
Adjudicatário conheça o teor das especificações deste documento ao contratar a
execução da empreitada).

No caso de o projecto ser definido em várias etapas, acompanhado o


desenvolvimento das fases da própria obra ou da entrada das várias especialidades
(o que sucede, por exemplo, em alguns grandes empreendimentos de construção de
auto-estradas e vias férreas), este PSS deve ser atempadamente reformulado por
forma a estar disponível antes da execução dos respectivos trabalhos.
O mesmo se diga no caso de se verificarem durante a execução da obra alterações
significativas ao projecto.

O PSS deverá ser posteriormente desenvolvido com o contributo do Empreiteiro


com vista à sua plena adequação à programação definitiva dos trabalhos e aos
recursos que este interveniente planeia mobilizar para a execução dos trabalhos.

O PSS deve ser estruturado e desenvolvido em correspondência com o projecto da


obra a que se reporta, pelo que deve basear-se em todos os elementos relevantes
para a prevenção que resultem das definições do projecto. Assim, a elaboração do
PSS deve basear-se na análise dos seguintes documentos:

72
– No domínio do programa preliminar e do programa base:
• O tipo de edificação;
• O uso previsto para a edificação;
– No domínio do projecto base:
• As opções arquitectónicas;
• As definições estruturais;
• As definições de todas as especialidades de projecto;
– No domínio do projecto de execução:
• As soluções construtivas preconizadas (métodos e processos
construtivos);
• Os produtos a utilizar;
• Os materiais a utilizar;
• Os equipamentos ou instalações a incorporar na edificação;
• As características geológicas, hidrológicas e geotécnicas do terreno;
• Os condicionalismos (redes técnicas aéreas ou enterradas, outras
explorações, etc);
• Faseamento construtivo;
• Mapa de quantidades;
• Demais especificações previstas para o Caderno de Encargos.

A partir desta base de análise e, ainda, de acordo com a legislação, o PSS deve,
então, ser estruturado por forma a contemplar, no mínimo, as áreas seguintes:

– Gestão da segurança e saúde no estaleiro:


• Estrutura organizacional do estaleiro;
• Definição das responsabilidades dos diversos intervenientes e
estabelecimento do sistema de cooperação;
• Definição da metodologia de desenvolvimento do PSS quando a execução
dos trabalhos esteja adjudicada pelo Dono da Obra a diversas empresas;
• Sistema de informação e comunicação;
– Gestão e organização do Estaleiro: Definição de especificações a considerar pelo
Empreiteiro no Projecto de Estaleiro, as quais, consoante as necessidades
suscitadas pelo tipo e dimensão da obra, bem como pela natureza e quantidade
de recursos a mobilizar, poderão envolver os campos seguintes:
• Identificação das situações de risco e respectivas medidas preventivas;

73
• Redes técnicas provisórias;
• Evacuação de resíduos;
• Vedação do estaleiro;
• Controlo de acesso de pessoas ao estaleiro;
• Parqueamento de veículos e equipamentos;
• Zonas de circulação de pessoas e equipamentos;
• Zonas de circulação vertical;
• Movimentação manual e mecânica de cargas;
• Instalações e equipamentos de apoio à produção;
• Materiais, produtos, substâncias e preparações perigosas;
• Riscos associados a actividades incompatíveis no tempo e/ou no espaço
da sua execução;
• Sistema de emergência (socorro e evacuação);
• Arrumação e limpeza;
• Instalações sociais;
– Análise dos principais riscos e dos correspondentes tipos de medidas preventivas
relativos a:
• Tipos de trabalhos a executar;
• Processos construtivos preconizados;
• Materiais preconizados;
• Produtos preconizados;
• Faseamento construtivo;
• Programação da execução (mapa de quantidades);
– Análise detalhada dos riscos especiais associados a qualquer daqueles factores.

Para além da análise dos pontos acima descritos, o PSS deve ainda incluir
determinadas peças escritas e/ou desenhadas do projecto, no caso de tal
informação ser relevante para a compreensão de riscos especiais e/ou de medidas
preventivas fundamentais a observar.

8.8. Desenvolvimento do PSS pelo Empreiteiro

Uma vez adjudicada a empreitada, o PSS deve ser desenvolvido pelo Empreiteiro
com vista à sua adaptação às condições concretas da execução dos trabalhos.
Tal desenvolvimento deve integrar-se no PSS elaborado na fase de projecto e
observar os procedimentos seguintes:

74
– A iniciativa compete ao Empreiteiro, o qual deve contemplar as propostas que
sejam apresentadas por qualquer Subempreiteiro;
– Os desenvolvimentos apresentados pelo Empreiteiro podem incluir propostas de
alteração das definições estabelecidas no PSS elaborado na fase de projecto
desde que não diminuam os níveis de segurança aí previstos e sejam
fundamentadas;
– Os desenvolvimentos introduzidos pelo Empreiteiro devem ser validados
tecnicamente pelo Coordenador de Segurança da Obra e aprovados pelo Dono da
Obra;
– O início da implantação do estaleiro só pode ter lugar depois de o Empreiteiro ter
recebido do Dono da Obra a comunicação escrita relativa à aprovação daqueles
desenvolvimentos. Em tal sentido, a contagem do prazo estipulado
contratualmente para a execução da obra só se inicia depois desta aprovação.
– Refere ainda a legislação que o Dono da Obra deverá mesmo garantir que a
implantação do estaleiro não se processe sem a sua aprovação deste
desenvolvimento do PSS;
– Tal aprovação pode ser parcial se não estiverem ainda disponíveis todos os
elementos necessários àquele desenvolvimento, caso em que devem ser
posteriormente apresentadas pelo Empreiteiro adendas para que o Dono da Obra
as aprove antes do início da execução dos trabalhos em causa;
– O Empreiteiro é obrigado a comunicar aos Subempreiteiros e Trabalhadores
Independentes por si contratados a parte do PSS e seu desenvolvimento que
respeitar aos trabalhos em que estes intervenientes vão participar antes do início
da sua execução;
– Qualquer alteração ao PSS proposta pelo Empreiteiro durante a execução da obra
segue os procedimentos estipulados para o desenvolvimento inicial daquele
documento (validação pelo Coordenador de Segurança da Obra, aprovação pelo
Dono da Obra, comunicação escrita desta aprovação do Dono da Obra para o
Empreiteiro e posterior divulgação da alteração assegurada pelo Empreiteiro junto
dos Subempreiteiros e Trabalhadores Independentes que tenham intervenção nos
trabalhos abrangidos pelas novas definições);
– O Empreiteiro deverá garantir que o PSS com todos os desenvolvimentos
introduzidos e aprovados durante a execução da obra esteja acessível no
estaleiro a todos os executantes;
– Os Subempreiteiros e os Trabalhadores Independentes ficam obrigados à
observância das prescrições estabelecidas no PSS, devendo tal obrigatoriedade

75
ser expressamente contemplada nos contratos celebrados entre estes
intervenientes e o Empreiteiro (ou o Dono da Obra se tiver sido este a proceder à
sua contratação).

O desenvolvimento do PSS proposto pelo Empreiteiro deve especificar definições


preventivas que atendam de forma particular aos domínios seguintes:

– Definições do projecto relevantes para a segurança e saúde;


– Especificações estabelecidas no Programa de Concurso e Caderno de Encargos
relativas à segurança e saúde;
– Actividades que decorram na proximidade do estaleiro e que possam ter
interferência significativa nas condições de segurança e saúde na execução dos
trabalhos;
– Actividades desenvolvidas simultaneamente no estaleiro que revelem
compatibilidade crítica do ponto de vista da segurança e saúde;
– Processos e métodos construtivos que exijam planeamento detalhado das
medidas preventivas;
– Prevenção dos riscos associados a equipamentos, materiais e produtos;
– Análise da programação dos trabalhos;
– Análise da intervenção prevista dos Subempreiteiros e Trabalhadores
Independentes;
– Previsão dos riscos especiais e planeamento específico das respectivas medidas
preventivas;
– Projecto de estaleiro, com destaque para os acessos, circulações, movimentação
de cargas, armazenamento de materiais e produtos, instalações fixas e outros
apoios à produção, redes técnicas provisórias, gestão de resíduos, sinalização e
instalações sociais;
– Planeamento da informação e da formação;
– Sistema de emergência (prevenção e combate a incêndios, evacuação e primeiros
socorros).

Com base na análise destes domínios, a estrutura do desenvolvimento do PSS a


propor pelo Empreiteiro ao Dono da Obra deve contemplar, obrigatoriamente, os
campos seguintes:

– Avaliação e hierarquização dos riscos. Este desenvolvimento deve ser agregado à


sequência das operações construtivas e reportado aos factores de risco;

76
– Projecto de estaleiro. Este projecto deve contemplar as especificações relativas a
sinalização, circulações, equipamentos (controlo e utilização), movimentação de
cargas, apoios à produção, redes técnicas, gestão de resíduos, armazenagem,
controlo de acesso ao estaleiro;
– Requisitos gerais de segurança que devem ser observados no decurso dos
trabalhos;
– Cronograma dos trabalhos;
– Especificações relacionadas com a selecção de Subempreiteiros, Trabalhadores
Independentes, Fornecedores de materiais e de equipamentos;
– Directrizes do Empreiteiro para os Subempreiteiros e Trabalhadores
Independentes;
– Meios relacionados com a promoção da cooperação entre os intervenientes nas
acções de prevenção;
– Sistema de gestão da informação e da comunicação no âmbito da segurança e
saúde;
– Planeamento da informação e da formação dos trabalhadores presentes em obra;
– Procedimentos de emergência;
– Procedimentos relacionados com a comunicação de acidentes e de incidentes;
– Sistema de transmissão ao Coordenador de Segurança da Obra de informação
relevante para a Compilação Técnica;
– Especificações relacionadas com as instalações sociais.

O desenvolvimento introduzido ao PSS deve, ainda, incluir como Anexos os


elementos seguintes:

– Peças do projecto que sejam relevantes para a compreensão de especificações


de segurança e saúde;
– Especificações relacionadas com trabalhos envolvendo riscos especiais;
– Organograma do estaleiro com a definição de funções;
– Modelos de registo das actividades relacionadas com a prevenção, tais como:
• Controlo de equipamentos;
• Relatórios de inspecções;
• Inquéritos de acidentes;
• Notificações de Subempreiteiros e Trabalhadores Independentes.

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A legislação refere ainda que destes Anexos devem constar os modelos relativos
ao registo das actividades de coordenação, tais como:

– Actividades do Coordenador de Segurança da Obra:


• No âmbito da promoção e verificação da observância do PSS;
• No âmbito da coordenação das diversas entidades quanto à cooperação
na implementação das medidas preventivas preconizadas;
• No âmbito da divulgação de informação sobre matérias relativas à
prevenção;
– Actividades do Empreiteiro:
• No âmbito da observância do PSS e das prescrições legais relativas à
prevenção;
• No âmbito das responsabilidades dos Subempreiteiros;
• No âmbito das responsabilidades dos Trabalhadores Independentes;
• No âmbito das reuniões realizadas em obra;
– Acções de auditoria:
• Registo das entidades que as realizam, datas, aspectos analisados,
riscos identificados e medidas preventivas preconizadas.

8.9. Fichas de Procedimentos de Segurança

Como se viu já, a elaboração do PSS não é obrigatória quando as obras não sejam
sujeitas a projecto. Em tal caso, desde que as mesmas impliquem riscos especiais
haverá lugar a um planeamento da prevenção mais simplificado, através da
elaboração de uma Ficha de Procedimentos de Segurança.

Em tal caso deverá proceder-se do seguinte modo:

– A iniciativa da elaboração compete ao Empreiteiro;


– O Coordenador de Segurança da Obra assegurará a sua validação técnica;
– O Empreiteiro só pode iniciar os trabalhos depois de ter este documento validado,
devendo o Dono da Obra controlar a observância desta prescrição;
– Este documento deve estar acessível no estaleiro aos Subempteiteiros e
Trabalhadores Independentes.
A Ficha de Procedimento de Segurança deve conter a estrutura mínima seguinte:

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– Obra: identificação, caracterização e duração;
– Intervenientes relevantes na execução dos trabalhos;
– Medidas de prevenção em função dos riscos associados aos trabalhos a executar;
– Medidas de prevenção relativas aos condicionalismos, nomeadamente no que
respeita a:
• Características do terreno (geológicas, geotécnicas e hidrológicas);
• Redes técnicas (aéreas ou enterradas);
• Actividades que decorram no local e que possam ter interferência nas
condições de segurança e saúde na execução dos trabalhos;
– Procedimentos de emergência.

8.10. Compilação Técnica

A Compilação Técnica é um plano de segurança e saúde elaborado na perspectiva


da prevenção de riscos associados à utilização/exploração da edificação
resultante do empreendimento construtivo, bem como aos trabalhos construtivos
futuros que possam ter lugar em tal edificação (nomeadamente de manutenção e
conservação).
Este documento destina-se, assim, a ser entregue ao proprietário da edificação,
devendo, por isso, acompanhar toda a circulação económica que se verifique
durante o seu ciclo de existência.

A elaboração deste documento é obrigatória em todos os casos e deve ser


actualizada ao longo da existência da edificação com a introdução dos elementos
relevantes que resultem das intervenções construtivas posteriores (por exemplo,
ampliação, reabilitação, instalação de equipamentos ou instalações técnicas, etc).

A iniciativa da elaboração da Compilação Técnica compete também ao Dono


da Obra e a sua realização efectiva deve ser assegurada pelos seguintes
intervenientes:

– Regra geral:
• O Coordenador de Segurança de Projecto deve estruturar este documento,
iniciar a sua elaboração a partir dos elementos constantes no projecto e
definir a metodologia para a sua conclusão na fase de execução da obra;

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• O Coordenador de Segurança da Obra, por sua vez, deve seguir aquela
metodologia definida pelo Coordenador de Segurança de Projecto,
integrando neste documento os elementos relevantes que decorram da
execução dos trabalhos;
– No caso de não ser obrigatória a nomeação do Coordenador de Segurança de
Projecto:
• O Autor do Projecto assegura a estruturação deste documento, inicia a sua
elaboração a partir dos elementos constantes no projecto e define a
metodologia para a sua conclusão na fase de execução da obra;
• O Coordenador de Segurança da Obra, por sua vez, deve seguir aquela
metodologia definida pelo Autor do Projecto, integrando neste documento
os elementos relevantes que decorram da execução dos trabalhos;
• Se, todavia, não for obrigatória a nomeação do Coordenador de
Segurança da Obra, será o Autor do Projecto a concluir a elaboração deste
documento com os elementos pertinentes decorrentes da execução dos
trabalhos.

Independentemente desta definição de responsabilidades, a elaboração da


Compilação Técnica deve contar com a cooperação quer dos Projectistas, quer do
Empreiteiro, tendo em vista a identificação e disponibilização de toda a informação
pertinente. Aliás, a legislação estabelece que o Dono da Obra pode recusar a
recepção provisória da obra no caso de o Empreiteiro não prestar tal colaboração.

Pela sua própria natureza, a elaboração da Compilação Técnica deve ser definida e
iniciada na fase de projecto e concluída na fase de execução da obra. Com
efeito, a estrutura deste documento depende da própria natureza das definições do
projecto e da avaliação de riscos especiais associados à utilização/exploração e à
manutenção/conservação que então deverá ter sido realizada. Assim, é nesta fase
que a Compilação Técnica se deve perspectivar por forma a ter uma definição
adequada ao fim em vista.
Por outro lado, é também nesta fase que se podem e devem recolher vários
elementos relevantes, nomeadamente nos seguintes domínios:

– Identificação de projectistas;
– Características da edificação;
– Características da sua envolvente;

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– Necessidades associadas à sua manutenção e conservação;
– Riscos especiais associados à sua utilização e exploração.

Todavia, durante a fase de execução surgem ou podem surgir novos elementos


relevantes que devem ser analisados com vista à sua integração neste documento,
nomeadamente nos domínios seguintes:

– Intervenientes na execução;
– Adicionais ao contrato de empreitada com relevo nas especificações dos
Cadernos de Encargos (cláusulas técnicas);
– Alterações relevantes do projecto;
– Desvios ao projecto que sejam significativos;
– Definição de processos construtivos;
– Selecção de materiais, produtos e equipamentos incorporados na edificação;
– Identificação de fornecedores.

Como já se referiu, a Compilação Técnica deve ser actualizada durante o tempo


de vida da edificação em causa sempre que nela sejam introduzidas alterações
relevantes do ponto de vista dos riscos e/ou das medidas preventivas incorporadas
na óptica quer da utilização/exploração, quer da manutenção/conservação.

A Compilação Técnica traduz-se numa selecção e sistematização criteriosa de


informação que seja relevante para a prevenção dos riscos associados à
utilização/expoloração e à manutenção/conservação e outras intervenções ulteriores
na edificação. Considerando tal finalidade, a legislação estabelece que a estrutura
da Compilação Técnica deve contemplar, nomeadamente, os seguintes
domínios:

– Identificação dos intervenientes no Acto de Construir:


• Dono da Obra;
• Autores dos projectos;
• Coordenadores de Segurança de Projecto e de Obra;
• Empreiteiro;
• Outros intervenientes na execução cuja intervenção seja relevante nas
características da edificação;

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– Informações técnicas do projecto (projecto geral, projectos das especialidades e
projecto de execução), das memórias descritivas e das telas finais que sejam
relevantes do ponto de vista da segurança e saúde nos domínios seguintes:
• Aspectos estruturais;
• Redes técnicas;
• Sistemas executados;
• Materiais utilizados;
– Informações técnicas relativas aos equipamentos instalados que sejam
relevantes no âmbito dos riscos associados à sua manutenção e conservação;
– Informações relativas a locais da edificação cujo acesso e circulação impliquem
riscos especiais.

8.11. Funções dos Coordenadores de Segurança da Obra

A coordenação de segurança inicia-se na fase de projecto e deve desenvolver-se na


fase de obra. Neste último domínio, a legislação estabelece que a nomeação do
Coordenador de Segurança da Obra é obrigatória sempre que se preveja a
intervenção de duas ou mais empresas na execução da obra. Assim, esta nomeação
deverá ter lugar nos casos seguintes:

– Se para além do Empreiteiro se prevê a intervenção de qualquer Subempreiteiro;


– Se a empreitada é adjudicada a duas ou mais empresas;
– Se além do Empreiteiro, o próprio Dono da Obra assegura directamente com os
seus próprios meios a execução de parte dos trabalhos.

A iniciativa da nomeação compete ao Dono da Obra e deve ter lugar no


momento da contratualização da empreitada, tendo em vista permitir o
acompanhamento integral de todo o desenvolvimento da preparação da abertura do
estaleiro por parte daquele Coordenador.

Esta nomeação deve ainda recair em pessoa tecnicamente idónea. Em tal sentido,
o Dono da Obra deve estabelecer os requisitos da nomeação em atenção ao quadro
funcional assinalado a este Coordenador e garantir que a pessoa nomeada não
pode intervir na obra como executante dos trabalhos, seja na qualidade de Prestador
de Serviços ou Trabalhador Independente, seja na qualidade de trabalhador do
Empreiteiro, ou de Subempreiteiro ou de empresa que a qualquer título tenha

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intervenção de execução da obra (podendo, todavia, cumular com a função de Fiscal
da obra e com a função de Coordenador de Segurança do Projecto).

Por imposição legal, a nomeação deste Coordenador deve ser objecto de


documento escrito onde conste menção expressa dos seguintes aspectos:

– Identificação da obra em causa;


– Identificação dos outorgantes (Dono da Obra e Coordenador de Segurança da
Obra nomeado);
– Termo de aceitação da missão atribuída subscrito pelo Coordenador nomeado;
– Identificação do técnico que vai assegurar efectivamente o exercício da
coordenação, no caso de a entidade nomeada ser uma pessoa colectiva;
– Objectivo da coordenação;
– Funções atribuídas ao coordenador;
– Recursos a afectar ao exercício da coordenação (por exemplo, recursos humanos
a afectar, tempo de afectação, etc);
– Referência expressa à obrigatoriedade de todos os intervenientes (neste caso, O
Empreiteiro, os Subempreiteiros, os Prestadores de Serviços e Trabalhadores
Independentes, os Projectistas, a equipa de Fiscalização da Obra e,
naturalmente, os próprios serviços do Dono da Obra) cooperarem com o
Coordenador no exercício da sua missão.

Tal documento deve ser comunicado à Equipa de Projecto, ao Empreiteiro e à


Fiscalização da obra (se esta tiver sido constituída), devendo o Empreiteiro, por sua
vez, informar os Subempreiteiros e os Trabalhadores Independentes.

O quadro funcional do Coordenador de Segurança da Obra deve ser


estabelecido numa linha de coerência com a missão deste interveniente, a qual,
situando-se na esfera das responsabilidades do Dono da Obra, consiste
essencialmente em dinamizar o sistema de gestão da segurança e saúde durante a
fase de execução dos trabalhos. A sua função é, assim, eminentemente pró-activa
(análise e proposta de medidas), pelo que não deve nunca ser confundida com a
actividade de dois outros intervenientes destacados na área da segurança e saúde
do trabalho, a saber:

– A actividade dos técnicos de segurança e higiene do trabalho das empresas


executantes da obra, aos quais competirá desenvolver as actividades correntes de

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avaliação de riscos e de implementação e controlo das medidas preventivas no
âmbito dos trabalhos executados pelas suas empresas;
– A actividade da fiscalização da obra, a quem compete controlar a boa execução
dos trabalhos, compreendendo-se em tal âmbito, também, a verificação da
execução da obra com observância das prescrições de segurança e saúde
estabelecidas no PSS e na legislação.

Esta distinção afigura-se importante para que seja potenciada a necessária


articulação entre estes intervenientes e o Coordenador de Segurança da Obra.

Assim, a legislação estabelece para a missão do Coordenador de Segurança da


Obra o seguinte quadro de competências principais:

– Informar o Dono da Obra:


• No domínio das suas responsabilidades de gestão da segurança e saúde
no empreendimento;
• No domínio da avaliação periódica das condições de segurança e saúde
existentes em obra;
– Apoiar o Dono da Obra na gestão da Comunicação Prévia (elaboração,
actualização e informação à Inspecção do Trabalho);
– Promover os desenvolvimentos e as adaptações do PSS que se afigurarem
necessárias e analisar as propostas que em tal domínio sejam apresentadas pelo
Empreiteiro;
– Analisar as Fichas de Procedimentos de Segurança apresentadas pelo
Empreiteiro e propor as adaptações necessárias;
– Analisar o sistema de coordenação entre os intervenientes na execução da obra
(empresas e trabalhadores independentes) com vista ao desenvolvimento da
cooperação no que respeita às acções preventivas;
– Avaliar o cumprimento do PSS e das prescrições legais por parte dos
intervenientes na execução da obra, nomeadamente no que respeita aos
domínios seguintes;
• Organização do estaleiro;
• Sistema de emergência;
• Condicionalismos do local e sua envolvente;
• Riscos especiais;
• Processos construtivos especiais;

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• Actividades de compatibilidade crítica (coactividades);
• Sistema de comunicação existente no estaleiro no que respeita à gestão
da segurança e saúde do trabalho;
– Controlar o planeamento da prevenção associada aos métodos de trabalho;
– Promover a divulgação de informação sobre os riscos e as medidas preventivas
entre os diversos intervenientes no estaleiro;
– Verificar a eficiência do sistema de controlo de acesso ao estaleiro;
– Analisar os acidentes graves ocorridos em obra;
– Completar a Compilação Técnica com os elementos relevantes decorrentes da
execução da obra;
– Registar as acções de coordenação (no livro de obra ou, se este não existir, em
registo próprio).

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