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História do Teatro:

É comum ouvirmos dizer que o teatro começou na Grécia, há muitos séculos


atrás. No entanto, existem outros exemplos de manifestações teatrais anteriores
aos gregos. Por exemplo, na China antiga, o budismo usava o teatro como
forma de expressão religiosa. No Egito, um grande espetáculo popular contava
a história da ressurreição de Osíris e da morte de Hórus. Na Índia, se acredita
que o teatro tenha surgido com Brama. E nos tempos pré-helênicos, os
cretenses homenageavam seus deuses em teatros, provavelmente construídos
no século dezenove antes de Cristo. É fácil perceber através destes poucos
exemplos, uma origem religiosa para as manifestações teatrais.

No entanto, podemos olhar ainda mais para trás quando lembramos que o
teatro é a imitação de uma ação e que o ato de imitar está presente na
essência dos mais primitivos rituais que conhecemos. É através da imitação que
a criança se desenvolve aprendendo a falar e a agir. Comparando este
homem primitivo com uma criança, podemos observar que ambos são
completamente ignorantes em relação ao universo que os cerca. E muito
provavelmente, este homem, ansioso por encontrar respostas para as suas
perguntas, tenha começado a construir um acervo de mitologias, religiões e
rituais, numa tentativa de explicação do mundo, dos fenômenos naturais, da
vida, do nascimento, da morte.

Na história do pensamento humano o mito surge como uma tentativa de


explicação, compreensão e controle do mundo. É através do mito que o
homem primitivo tenta compreender os fenômenos da natureza, atribuindo-
lhes uma origem divina. A palavra mitologia está ligada a um conjunto de
narrativas da vida, das aventuras, viagens, afetos e desafetos dos mitos, dos
deuses, dos heróis. Existem diversas mitologias: cristã, egípcia, hindu, grega
etc...

A palavra religião, do verbo latino religare (ato de ligar) pode ser definida
como o conjunto de atitudes pelos quais o homem se liga ao divino. Através da
realização dos ritos/rituais o homem relembra os mitos. Por exemplo: no ritual
da missa cristã, uma série de procedimentos relembram a vida, morte e
ressurreição de seu principal mito, Jesus Cristo.

O famoso antropólogo Malinowski propõe que "o mito não é uma explicação
destinada a satisfazer uma curiosidade científica, mas uma narrativa que faz
reviver uma realidade arcaica, que satisfaz a profundas necessidades
religiosas, aspirações morais, a pressões e imperativos de ordem social e
mesmo a exigências práticas. Nas civilizações primitivas, o mito desempenha
uma função indispensável: ele exprime, exalta e codifica a crença; protege e
impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras
práticas para a orientação do homem. O mito é um ingrediente vital da
civilização humana; ele é uma realidade viva, à qual se recorre
incessantemente; não é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia
artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria
popular".

Mas e o teatro?

A origem do teatro ocidental está ligada aos mitos gregos arcaicos e à religião
grega. A mitologia grega é formada por numerosos deuses imortais e
antropomórficos, isto é, que têm a forma e o temperamento humano; os
deuses antropomorfizados amam, odeiam, perseguem, discutem, sentem
ciúme, são vingativos, traem, mentem como as pessoas comuns. Existem várias
gerações e famílias divinas na mitologia grega.

Como e quando foi que tudo começou?

Teatro Ocidental

Quase todos nós, quando éramos crianças, acreditávamos na existência de


Papai Noel. E aos poucos, à medida que fomos crescendo e nos tornando mais
racionais, fomos descobrindo a real identidade do "bom velhinho". Outra
história também muito comum entre as crianças está relacionada à chuva e
aos trovões, que seriam os sinais de que Deus está fazendo uma grande faxina
no céu, arrastando os móveis (trovões) e lavando a casa (chuva).

Podemos comparar o homem primitivo a esta criança que acredita em


diversas histórias que tentam explicar o mundo e seus fenômenos naturais. Até
hoje, quando vivemos um espantoso avanço tecnológico e científico, que nos
permite um extraordinário conhecimento e controle da natureza, não
conseguimos explicar muitos dos mistérios da natureza. Imaginem há milhões
de anos atrás!

O homem primitivo, completamente ignorante, perdido e assustado, começa,


então, a criar histórias que vão tentar explicar o mundo e a vida. É através
destas histórias que ele tenta compreender e controlar a natureza, a vida, a
morte, o nascimento, a fertilidade do solo, a origem do universo, que para ele
eram obra dos deuses. Ao conjunto destas histórias damos o nome de
mitologia.

Uma das mitologias mais conhecidas de todo o mundo é a cristã que conta no
seu famoso livro, a Bíblia, a história da criação do mundo, do nascimento, vida,
paixão, morte e ressurreição de um de seus principais mitos, Jesus Cristo, além
de muitas outras histórias paralelas.

No nosso caso, que estamos começando a contar a História do Teatro


Ocidental, a mitologia que nos interessa é a grega, porque é daí que vai surgir
o Teatro, enquanto atividade estruturada e institucionalizada.

Para os gregos, a história da origem do universo e da vida começa com o


Caos, a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando os
elementos do mundo ainda não haviam sido organizados. Do Caos grego
surge Géia (ou Gaia) que é a Terra de onde nascem todos os seres. A própria
Géia gerou Urano que é o Céu. Como podemos observar na natureza, o Céu
cobre a Terra, numa posição que para os gregos era indicativa de uma
relação sexual. Este primeiro casamento divino deu origem a Tártato e Eros e foi
imitado pelos deuses, homens e animais. Tártaro representa a outra vida, o
mundo subterrâneo, o local mais profundo, nas entranhas da terra, e também
o local dos suplícios e torturas, onde eram lançadas as almas rebeldes. Eros é o
desejo em todos os seus sentidos e quando personificado é o deus do amor.

Da terceira geração divina, descendente de Géia e Urano, vai nascer Zeus,


que é a divindade suprema, o deus da Luz. Zeus é o rei dos deuses e dos
homens. Ele tinha poderes extraordinários, não só provocava a chuva, o raio e
os trovões, mas também mantinha a ordem e a justiça no mundo. Zeus, apesar
de ser um deus imortal, de poder absoluto, também possuía uma
personalidade humana, apaixonada e vingativa. Casado oficialmente com
Hera, teve, no entanto, numerosas amantes e filhos "ilegítimos". Um destes filhos,
o mais querido, era Dioniso também chamado de Baco, que vem a ser o deus
da vegetação,

da vinha, do vinho, da transformação e do teatro.

Como e quando foi que tudo começou?

Dioniso (O Deus da transformação)

No mês passado explicamos que mitologia é um conjunto de histórias que


tenta explicar o mundo, numa tentativa de compreensão do universo.
Conhecer os mitos é aprender o segredo das origens dos fenômenos; e
conhecer as origens dos fenômenos equivale a adquirir sobre as mesmas um
poder mágico, graças ao qual é possível dominá-las, multiplicá-las ou
reproduzi-las à vontade.

No nosso caso, que estamos começando a contar a História do Teatro


Ocidental, a mitologia que nos interessa é a grega, porque é dela que surgirá o
Teatro, enquanto atividade estruturada e institucionalizada. Mas este processo
é de longuíssima duração e se inicia em períodos arcaicos quando o homem
grego acreditava que Zeus, a divindade suprema, deus da luz, era o rei dos
deuses e dos homens.

Os deuses gregos eram antropomórficos, isto é, além da imortalidade e de


poderes extraordinários, também possuíam a forma e o temperamento dos
seres humanos, incluindo-se aí todos as nossas fraquezas e defeitos. Portanto,
Zeus, o deus supremo, além de sua "esposa oficial" chamada Hera, apaixonou
por muitas outras deusas, semideusas ou simples mortais, tendo com elas vários
"filhos ilegítimos".

É a história de Dioniso, um destes filhos ilegítimos de Zeus, que nos interessa:

Dos amores de Zeus e Perséfone nasce o primeiro Dioniso, o preferido do pai e


destinado a sucedê-lo no governo do mundo. Para proteger o filho dos ciúmes
de sua esposa Hera, Zeus o entrega aos cuidados de Apolo, que o esconde.

Hera, mesmo assim, descobre o paradeiro do jovem Deus e encarrega os Titãs


de matá-lo. Os Titãs esquartejam Dioniso, cozinham seus pedaços e os comem.
Zeus, muito aborrecido, fulmina os Titãs e de suas cinzas nascem os homens.
Fato que explica os dois lados existentes nos seres humanos - o bem e o mal. A
nossa parte titânica é a matriz do mal, mas como os Titãs haviam comido os
pedaços de Dioniso, possuímos também algo de bom.

Porém, os deuses são imortais e Dioniso não morre - ele renasce transformado.
Como? Uma outra namorada de Zeus, a deusa Sêmele, salva-lhe o coração
que ainda palpitava e engole-o tornando-se grávida do 2º Dioniso.

Hera, no entanto, continua vigilante e ao ter conhecimento das relações


amorosas de Sêmele com o esposo, resolve eliminá-la. Hera se transforma em
ama de Sêmele e a aconselha a pedir ao amante que se apresente em todo o
seu esplendor. Zeus se apresenta com seus raios e trovões. O palácio de
Sêmele se incendeia e ela morre carbonizada. O feto, o futuro Dioniso 2, é
salvo por Zeus que o retira do ventre da amante e o guarda em sua coxa até
que se complete a gestação normal. Após o nascimento, temendo nova
vingança de Hera, Zeus transforma o filho em bode e ele é levado para o
monte Nisa, onde fica aos cuidados das ninfas e dos sátiros. Lá, no monte Nisa
havia uma vasta vegetação de videiras. Quando Dioniso, já adolescente,
espreme as frutinhas da uva e bebe seu suco em companhia dos sátiros
(metade homem-metade animal) e das ninfas (princípio feminino) é criado o
vinho. Embriagados começam a dançar e cantar.

Toda esta história além de fantástica é simbólica, isto é, ela guarda dentro de si
inúmeros significados. Exemplificando:

1. Dioniso - Deus da vegetação - morre violentamente, mas, retorna à vida.


Assim como toda semente que passa uma parte do ano embaixo da terra,
Dioniso morre, renasce, frutifica, torna a morrer e retorna ciclicamente. A sua
história reproduz as estações do ano: a época de semear, de esperar a
semente germinar e finalmente a colheita.

2. O fato de Dioniso ser visto sob forma animal, como touro ou bode,
representa a sua capacidade de transformação, assim como a da natureza.

Como e quando foi que tudo começou?

Dioniso (Do mito ao teatro)

Dioniso, deus da vegetação e do vinho, era homenageado pelos primitivos


habitantes da Grécia, através de procissões que procuram relembrar toda a
sua vida. Estes cortejos reuniam toda a população e eram realizados na época
da colheita da uva, como uma forma de agradecimento pela abundância da
vegetação. O homem primitivo acreditava que esta homenagem ao deus
garantiria sempre uma colheita abundante.

Nestas procissões dionisíacas contava-se a história de Dioniso, de uma forma


análoga às procissões da Semana Santa cristã, onde a vida, paixão, morte e
ressurreição de Jesus Cristo é relembrada.

Estas procissões fazem parte de uma tradição muito antiga dos povos primitivos
gregos, e aos poucos, ao longo de centenas de anos, vão se organizando
melhor, e adquirindo contornos mais definidos. Então, o que inicialmente era
um bando de gente cantando e dançando, com o passar do tempo vai se
transformando em grandiosas representações da vida do deus, que reunia
toda a comunidade, em diferentes coros cantados, com os participantes
vestidos de bodes (Dioniso transformado), ninfas (ou bacantes) e sátiros
(metade homem/metade animal). O coro se divide em semi-coros que passam
a dialogar entre si. Estes semi-coros passam a ter um líder - o corifeu.

Porém, mesmo com todas estas inovações, a história do deus continuava


sendo narrada, sempre na terceira pessoa, com muito respeito e
distanciamento. Até que em 534 a.C., um corifeu chamado Téspis, resolve
encarnar o personagem Dioniso, e transforma a narração, em um discurso
proferido na primeira pessoa:

- Eu sou Dioniso. - diz Téspis, considerado historicamente como o primeiro ator.

Conta-se que Sólon, famoso legislador grego, assistindo à nova proposta de


Téspis, perguntou-lhe se ele não se envergonhava de mentir, fingindo ser
alguém que de fato não era. Ao que Téspis respondeu dizendo:
- Mas eu estou apenas brincando.

Sólon, muito preocupado, argumentou dizendo:

- Mas a partir de agora as pessoas também poderão mentir/brincar nos


contratos. Neste curto diálogo entre Téspis e Sólon podemos perceber o
caráter de jogo e de brincadeira (que Sólon chama de mentira) sempre
inerente ao trabalho do ator.

No início de sua história o ator foi chamado de hypocrités (hipócrita) ou aquele


que finge ser alguém que não é.

Como e quando foi que tudo começou?

Das procissões dionisíacas ao palco das tragédias

As procissões dionisíacas contavam a história da vida do deus Dioniso, de um


modo análogo às procissões da Semana Santa cristã, em que a vida, paixão,
morte e ressurreição de Jesus Cristo é relembrada.

Na vida de Dioniso (dê uma olhada no artigo que publicamos em março), há


dois momentos bastante diferentes: quando ele é destruído pelos Titãs (morte,
tensão) e quando ele renasce (alegria, extroversão). Já sabemos que estes dois
momentos têm significados relacionados ao ciclo da natureza, no qual a
semente fica enterrada por alguns meses, para enfim, surgir, germinada. No
momento da morte de Dioniso eram entoados cantos, tristes e solenes,
chamados ditirambos. A tragédia é uma forma dramática surgida na Grécia,
no século V a.C., originada do ditirambro (canto em louvor a Dioniso).
Etimologia (origem) da palavra tragédia: tragos (bode) + oide (canto) = canto
do bode, animal que relembra um dos "disfarces" usados por Dioniso.

O desenvolvimento do pensamento grego apresenta dois momentos


fundamentais: século XVI a.C. até o século IX a.C., quando a sociedade e o
pensamento apoiavam-se no mito para encontrar explicações para os
fenômenos na natureza e para a vida em geral. E a partir do século VIII a.C.
quando surge a pólis, o pensamento filosófico e a valorização do racional, que
vão recusar a visão de mundo anterior (baseada no pensamento mítico).

O teatro surge como novidade artística, na Grécia do século V a.C., trazendo


normas estéticas, temas e convenções próprias. Pode-se dizer que o teatro
explica o contexto histórico de século V, da mesma forma que o contexto
daquele momento se apreende melhor através das peças então produzidas,
demonstrando a profunda interrelação entre sociedade e teatro.

Festival de Teatro

O teatro grego nasceu da religião e mesmo após todas as transformações


pelas quais passou não perdeu de vista as suas origens. As representações
dramáticas em Atenas realizavam-se três vezes por ano, por ocasião das festas
dionisíacas:

Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias - eram celebradas na primavera (fins de


março) e freqüentadas por toda a população grega, além de embaixadores
estrangeiros. A festa durava seis dias. O primeiro era consagrado a uma solene
procissão, em que toda a cidade tomava parte. Nesta procissão se levava a
estátua do Deus Dioniso que era finalmente colocada na orquestra do Teatro
de Dioniso. Nos dois dias seguintes celebravam-se os concursos de dez coros
ditirâmbicos. Os concursos dramáticos ocupavam os três últimos dias. Eram
escolhidos três poetas trágicos, que representavam, cada um deles, sua obra
inteira, num mesmo dia. Ou seja, três tragédias e um drama satírico
(tetralogia).

Leneanas - tinham um caráter mais local. Celebravam-se no inverno, fins de


janeiro e duravam de três a quatro dias. Uma procissão, de cunho
extremamente licencioso e um duplo concurso e comédias e tragédias, eram
as atrações da festa.

Dionísias Rurais - celebravam-se apenas nos "demos" (povoados) nos fins de


dezembro e eram as mais antigas festas de Dioniso, dependendo o brilho de
tais festejos dos recursos do demos.

A preparação das "Grandes Dionísias" ficava sob a responsabilidade de um


funcionário do governo que recrutava os coregos (cidadãos ricos que
patrocinavam os coros) e com isso, garantia a produção do espetáculo. A
coregia era um dos serviços públicos impostos pelo Estado ateniense aos
cidadãos ricos. Com financiamento garantido, tanto para os ensaios quanto
para as representações teatrais, que se realizavam obrigatoriamente três vezes
ao ano, o corego recrutava atores, profissionalizava-os, selecionava os poetas
competidores, encarregava-se da parte organizacional do espetáculo,
garantia o acesso de todos os cidadãos aos espetáculos, com direito a uma
ajuda de custo para o pagamento dos ingressos e das refeições nos dias de
festivais, para os mais pobres.

A especialização das atividades teatrais atinge tal nível na Atenas clássica que
o Estado estabelece uma legislação sobre o fazer teatral, estipulando critérios
de seleção dos atores para os principais papéis e seus substitutos, distribuição
dos personagens e recrutamento dos coreutas (integrantes do coro que
contracenavam com os atores).

No final dos concursos dramáticos realizava-se um julgamento, de onde


resultava a classificação final dos concorrentes. Eram três categorias
premiadas: poetas, coregos e protagonistas. Essa classificação era votada por
um júri, que dava seu veredicto sob forma de voto secreto.

As representações em Atenas começavam pela manhã. E se assistia ao


espetáculo com uma coroa na cabeça, como nas cerimônias religiosas. As
mulheres atenienses, embora não pudessem participar da cena, podiam assistí-
la como espectadoras, pelo menos da tragédia. Quanto à comédia, devido a
certas liberdades inerentes ao gênero, não era freqüentada pelas atenienses
mais "sérias".

A Arquitetura dos Teatros Gregos

A construção do teatro grego, totalmente aberto ao ar livre, assim como dos


templos religiosos e estádios esportivos, aproveitava a encosta de colinas para
que se garantisse o efeito acústico. A arquitetura do teatro grego compreende
três partes:

Orquestra - ao centro, um plano circular de terra batida, sobre o qual evoluía o


coro, que entra pelos corredores laterais, chamados de párodoi. A orquestra
forma sempre um círculo completo. No centro da orquestra se erguia um altar,
o tímele, em honra de Dioniso.

Teatro - (théatron que quer dizer "lugar de onde se vê") destinado aos
espectadores, era um conjunto de degraus, divididos em andares (semelhante
às arquibancadas de um estádio de futebol). O teatro descreve em torno da
orquestra um semi-círculo. O público comum se sentava nas arquibancadas e
havia também lugares especiais para convidados de honra.

Skené - em frente ao théatron, encontra-se a skené, uma espécie de


construção que se destinava inicialmente a guardar material e à mudança de
roupa dos atores. Depois a skené passou a ter uma parede que representava a
fachada exterior da habitação onde transcorria a ação. Nasce, assim, o
cenário teatral. Ao longo da skené, estende-se uma passarela denominada
proskénion (proscênio), com três a quatro metros de altura, onde atuavam os
atores.

Alguns teatros tinham capacidade para 5.500 pessoas (Delos); outros para 14
mil (Epidauros). As dimensões deste edifício dão prova de sua popularidade e
de sua integração nos hábitos sociais e políticos gregos.

Os Maquinismos

O cenário da tragédia era sempre a fachada exterior de uma habitação,


templo ou palácio, diante da qual se desenrolava a ação. Dessa maneira, o
que se passava no interior, sobretudo as cenas violentas, jamais eram
mostradas para o público. No teatro grego empregavam-se vários
maquinismos, encarregados de realizar os "efeitos especiais":

Equiclema / Eciclema - quando, por exemplo, se cometia um assassinato no


interior do palácio, via-se por uma das portas do fundo sair uma espécie de
plataforma rolante que conduzia o assassino imóvel, "congelado" na postura
do momento do assassinato, e, a seus pés, sua vítima.

Mekhané - uma espécie de guindaste. A extremidade que servia para erguer


os personagens, tomou formas diversas: carros voadores, cavalos alados,
dragões e outros monstros. Às vezes era um simples gancho no qual a
personagem se mantinha suspensa. É o deus ex machina – processo artificial,
para facilitar o desenlace de uma tragédia, fazendo que uma divindade
(deus) desça à cena, através de um mecanismo (ex machina) e resolva a
questão.

Theologuêion - significa lugar onde os deuses falam. Trata-se de um praticável,


mais que de um maquinismo. Era uma tribuna armada na parte superior do
cenário. Tinha por finalidade mostrar ao público onde moravam os deuses. O
aparecimento de divindades em cena se fazia acompanhar de relâmpagos e
trovões. O relâmpago se produzia por meio de archotes que se agitavam e o
barulho do trovão era conseguido com uma bacia de bronze colocada atrás
da cena, na qual se lançavam pedaços de ferro.

Escada de Caronte / Anapiesma - dois aparelhos que serviam para trazer dos
abismos subterrâneos os deuses infernais. A "Escada de Caronte" eram simples
degraus que vinham do subsolo até a superfície. E o "Anapiesma" mais
aperfeiçoado, era uma espécie de alçapão móvel, que elevava
mecanicamente os personagens.
O Figurino dos Atores

A máscara trágica procura traduzir o patético e a dor. Rugas profundas,


sobrancelhas contraídas, órbitas saltadas, olhos arregalados, boca aberta.
Atribui-se a Ésquilo a invenção da máscara pintada imitando a forma humana,
com uma cabeleira e, quando necessário, uma barba. A máscara servia
também para amplificar a voz do ator, que era escolhido entre aqueles de
maior potência vocal.

O calçado usado na tragédia chamava-se "coturno", um espécie de sapato-


plataforma de 6 a 11 centímetros de altura. Tanto a máscara quanto o
calçado serviam para aumentar a figura do ator.

As roupas não seguiam uma reconstituição histórica. Eram convencionais, uma


espécie de estilização das roupas cotidianas. Túnica longa até os pés, com
mangas longas, de várias cores, presa por um cinto. Manto curto, jogado sobre
as costas, à direita, preso ao pescoço com botão ou broche. Cores púrpura
para os soberanos, escura para o luto.

Texto de Elza de Andrade, diretora, professora

História do Teatro:

É comum ouvirmos dizer que o teatro começou na Grécia, há muitos séculos


atrás. No entanto, existem outros exemplos de manifestações teatrais anteriores
aos gregos. Por exemplo, na China antiga, o budismo usava o teatro como
forma de expressão religiosa. No Egito, um grande espetáculo popular contava
a história da ressurreição de Osíris e da morte de Hórus. Na Índia, se acredita
que o teatro tenha surgido com Brama. E nos tempos pré-helênicos, os
cretenses homenageavam seus deuses em teatros, provavelmente construídos
no século dezenove antes de Cristo. É fácil perceber através destes poucos
exemplos, uma origem religiosa para as manifestações teatrais.

No entanto, podemos olhar ainda mais para trás quando lembramos que o
teatro é a imitação de uma ação e que o ato de imitar está presente na
essência dos mais primitivos rituais que conhecemos. É através da imitação que
a criança se desenvolve aprendendo a falar e a agir. Comparando este
homem primitivo com uma criança, podemos observar que ambos são
completamente ignorantes em relação ao universo que os cerca. E muito
provavelmente, este homem, ansioso por encontrar respostas para as suas
perguntas, tenha começado a construir um acervo de mitologias, religiões e
rituais, numa tentativa de explicação do mundo, dos fenômenos naturais, da
vida, do nascimento, da morte.

Na história do pensamento humano o mito surge como uma tentativa de


explicação, compreensão e controle do mundo. É através do mito que o
homem primitivo tenta compreender os fenômenos da natureza, atribuindo-
lhes uma origem divina. A palavra mitologia está ligada a um conjunto de
narrativas da vida, das aventuras, viagens, afetos e desafetos dos mitos, dos
deuses, dos heróis. Existem diversas mitologias: cristã, egípcia, hindu, grega
etc...

A palavra religião, do verbo latino religare (ato de ligar) pode ser definida
como o conjunto de atitudes pelos quais o homem se liga ao divino. Através da
realização dos ritos/rituais o homem relembra os mitos. Por exemplo: no ritual
da missa cristã, uma série de procedimentos relembram a vida, morte e
ressurreição de seu principal mito, Jesus Cristo.

O famoso antropólogo Malinowski propõe que "o mito não é uma explicação
destinada a satisfazer uma curiosidade científica, mas uma narrativa que faz
reviver uma realidade arcaica, que satisfaz a profundas necessidades
religiosas, aspirações morais, a pressões e imperativos de ordem social e
mesmo a exigências práticas. Nas civilizações primitivas, o mito desempenha
uma função indispensável: ele exprime, exalta e codifica a crença; protege e
impõe os princípios morais; garante a eficácia do ritual e oferece regras
práticas para a orientação do homem. O mito é um ingrediente vital da
civilização humana; ele é uma realidade viva, à qual se recorre
incessantemente; não é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia
artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria
popular".

Mas e o teatro?

A origem do teatro ocidental está ligada aos mitos gregos arcaicos e à religião
grega. A mitologia grega é formada por numerosos deuses imortais e
antropomórficos, isto é, que têm a forma e o temperamento humano; os
deuses antropomorfizados amam, odeiam, perseguem, discutem, sentem
ciúme, são vingativos, traem, mentem como as pessoas comuns. Existem várias
gerações e famílias divinas na mitologia grega.

Como e quando foi que tudo começou?

Teatro Ocidental

Quase todos nós, quando éramos crianças, acreditávamos na existência de


Papai Noel. E aos poucos, à medida que fomos crescendo e nos tornando mais
racionais, fomos descobrindo a real identidade do "bom velhinho". Outra
história também muito comum entre as crianças está relacionada à chuva e
aos trovões, que seriam os sinais de que Deus está fazendo uma grande faxina
no céu, arrastando os móveis (trovões) e lavando a casa (chuva).

Podemos comparar o homem primitivo a esta criança que acredita em


diversas histórias que tentam explicar o mundo e seus fenômenos naturais. Até
hoje, quando vivemos um espantoso avanço tecnológico e científico, que nos
permite um extraordinário conhecimento e controle da natureza, não
conseguimos explicar muitos dos mistérios da natureza. Imaginem há milhões
de anos atrás!

O homem primitivo, completamente ignorante, perdido e assustado, começa,


então, a criar histórias que vão tentar explicar o mundo e a vida. É através
destas histórias que ele tenta compreender e controlar a natureza, a vida, a
morte, o nascimento, a fertilidade do solo, a origem do universo, que para ele
eram obra dos deuses. Ao conjunto destas histórias damos o nome de
mitologia.

Uma das mitologias mais conhecidas de todo o mundo é a cristã que conta no
seu famoso livro, a Bíblia, a história da criação do mundo, do nascimento, vida,
paixão, morte e ressurreição de um de seus principais mitos, Jesus Cristo, além
de muitas outras histórias paralelas.
No nosso caso, que estamos começando a contar a História do Teatro
Ocidental, a mitologia que nos interessa é a grega, porque é daí que vai surgir
o Teatro, enquanto atividade estruturada e institucionalizada.

Para os gregos, a história da origem do universo e da vida começa com o


Caos, a personificação do vazio primordial, anterior à criação, quando os
elementos do mundo ainda não haviam sido organizados. Do Caos grego
surge Géia (ou Gaia) que é a Terra de onde nascem todos os seres. A própria
Géia gerou Urano que é o Céu. Como podemos observar na natureza, o Céu
cobre a Terra, numa posição que para os gregos era indicativa de uma
relação sexual. Este primeiro casamento divino deu origem a Tártato e Eros e foi
imitado pelos deuses, homens e animais. Tártaro representa a outra vida, o
mundo subterrâneo, o local mais profundo, nas entranhas da terra, e também
o local dos suplícios e torturas, onde eram lançadas as almas rebeldes. Eros é o
desejo em todos os seus sentidos e quando personificado é o deus do amor.

Da terceira geração divina, descendente de Géia e Urano, vai nascer Zeus,


que é a divindade suprema, o deus da Luz. Zeus é o rei dos deuses e dos
homens. Ele tinha poderes extraordinários, não só provocava a chuva, o raio e
os trovões, mas também mantinha a ordem e a justiça no mundo. Zeus, apesar
de ser um deus imortal, de poder absoluto, também possuía uma
personalidade humana, apaixonada e vingativa. Casado oficialmente com
Hera, teve, no entanto, numerosas amantes e filhos "ilegítimos". Um destes filhos,
o mais querido, era Dioniso também chamado de Baco, que vem a ser o deus
da vegetação,

da vinha, do vinho, da transformação e do teatro.

Como e quando foi que tudo começou?

Dioniso (O Deus da transformação)

No mês passado explicamos que mitologia é um conjunto de histórias que


tenta explicar o mundo, numa tentativa de compreensão do universo.
Conhecer os mitos é aprender o segredo das origens dos fenômenos; e
conhecer as origens dos fenômenos equivale a adquirir sobre as mesmas um
poder mágico, graças ao qual é possível dominá-las, multiplicá-las ou
reproduzi-las à vontade.

No nosso caso, que estamos começando a contar a História do Teatro


Ocidental, a mitologia que nos interessa é a grega, porque é dela que surgirá o
Teatro, enquanto atividade estruturada e institucionalizada. Mas este processo
é de longuíssima duração e se inicia em períodos arcaicos quando o homem
grego acreditava que Zeus, a divindade suprema, deus da luz, era o rei dos
deuses e dos homens.

Os deuses gregos eram antropomórficos, isto é, além da imortalidade e de


poderes extraordinários, também possuíam a forma e o temperamento dos
seres humanos, incluindo-se aí todos as nossas fraquezas e defeitos. Portanto,
Zeus, o deus supremo, além de sua "esposa oficial" chamada Hera, apaixonou
por muitas outras deusas, semideusas ou simples mortais, tendo com elas vários
"filhos ilegítimos".

É a história de Dioniso, um destes filhos ilegítimos de Zeus, que nos interessa:


Dos amores de Zeus e Perséfone nasce o primeiro Dioniso, o preferido do pai e
destinado a sucedê-lo no governo do mundo. Para proteger o filho dos ciúmes
de sua esposa Hera, Zeus o entrega aos cuidados de Apolo, que o esconde.

Hera, mesmo assim, descobre o paradeiro do jovem Deus e encarrega os Titãs


de matá-lo. Os Titãs esquartejam Dioniso, cozinham seus pedaços e os comem.
Zeus, muito aborrecido, fulmina os Titãs e de suas cinzas nascem os homens.
Fato que explica os dois lados existentes nos seres humanos - o bem e o mal. A
nossa parte titânica é a matriz do mal, mas como os Titãs haviam comido os
pedaços de Dioniso, possuímos também algo de bom.

Porém, os deuses são imortais e Dioniso não morre - ele renasce transformado.
Como? Uma outra namorada de Zeus, a deusa Sêmele, salva-lhe o coração
que ainda palpitava e engole-o tornando-se grávida do 2º Dioniso.

Hera, no entanto, continua vigilante e ao ter conhecimento das relações


amorosas de Sêmele com o esposo, resolve eliminá-la. Hera se transforma em
ama de Sêmele e a aconselha a pedir ao amante que se apresente em todo o
seu esplendor. Zeus se apresenta com seus raios e trovões. O palácio de
Sêmele se incendeia e ela morre carbonizada. O feto, o futuro Dioniso 2, é
salvo por Zeus que o retira do ventre da amante e o guarda em sua coxa até
que se complete a gestação normal. Após o nascimento, temendo nova
vingança de Hera, Zeus transforma o filho em bode e ele é levado para o
monte Nisa, onde fica aos cuidados das ninfas e dos sátiros. Lá, no monte Nisa
havia uma vasta vegetação de videiras. Quando Dioniso, já adolescente,
espreme as frutinhas da uva e bebe seu suco em companhia dos sátiros
(metade homem-metade animal) e das ninfas (princípio feminino) é criado o
vinho. Embriagados começam a dançar e cantar.

Toda esta história além de fantástica é simbólica, isto é, ela guarda dentro de si
inúmeros significados. Exemplificando:

1. Dioniso - Deus da vegetação - morre violentamente, mas, retorna à vida.


Assim como toda semente que passa uma parte do ano embaixo da terra,
Dioniso morre, renasce, frutifica, torna a morrer e retorna ciclicamente. A sua
história reproduz as estações do ano: a época de semear, de esperar a
semente germinar e finalmente a colheita.

2. O fato de Dioniso ser visto sob forma animal, como touro ou bode,
representa a sua capacidade de transformação, assim como a da natureza.

Como e quando foi que tudo começou?

Dioniso (Do mito ao teatro)

Dioniso, deus da vegetação e do vinho, era homenageado pelos primitivos


habitantes da Grécia, através de procissões que procuram relembrar toda a
sua vida. Estes cortejos reuniam toda a população e eram realizados na época
da colheita da uva, como uma forma de agradecimento pela abundância da
vegetação. O homem primitivo acreditava que esta homenagem ao deus
garantiria sempre uma colheita abundante.

Nestas procissões dionisíacas contava-se a história de Dioniso, de uma forma


análoga às procissões da Semana Santa cristã, onde a vida, paixão, morte e
ressurreição de Jesus Cristo é relembrada.
Estas procissões fazem parte de uma tradição muito antiga dos povos primitivos
gregos, e aos poucos, ao longo de centenas de anos, vão se organizando
melhor, e adquirindo contornos mais definidos. Então, o que inicialmente era
um bando de gente cantando e dançando, com o passar do tempo vai se
transformando em grandiosas representações da vida do deus, que reunia
toda a comunidade, em diferentes coros cantados, com os participantes
vestidos de bodes (Dioniso transformado), ninfas (ou bacantes) e sátiros
(metade homem/metade animal). O coro se divide em semi-coros que passam
a dialogar entre si. Estes semi-coros passam a ter um líder - o corifeu.

Porém, mesmo com todas estas inovações, a história do deus continuava


sendo narrada, sempre na terceira pessoa, com muito respeito e
distanciamento. Até que em 534 a.C., um corifeu chamado Téspis, resolve
encarnar o personagem Dioniso, e transforma a narração, em um discurso
proferido na primeira pessoa:

- Eu sou Dioniso. - diz Téspis, considerado historicamente como o primeiro ator.

Conta-se que Sólon, famoso legislador grego, assistindo à nova proposta de


Téspis, perguntou-lhe se ele não se envergonhava de mentir, fingindo ser
alguém que de fato não era. Ao que Téspis respondeu dizendo:

- Mas eu estou apenas brincando.

Sólon, muito preocupado, argumentou dizendo:

- Mas a partir de agora as pessoas também poderão mentir/brincar nos


contratos. Neste curto diálogo entre Téspis e Sólon podemos perceber o
caráter de jogo e de brincadeira (que Sólon chama de mentira) sempre
inerente ao trabalho do ator.

No início de sua história o ator foi chamado de hypocrités (hipócrita) ou aquele


que finge ser alguém que não é.

Como e quando foi que tudo começou?

Das procissões dionisíacas ao palco das tragédias

As procissões dionisíacas contavam a história da vida do deus Dioniso, de um


modo análogo às procissões da Semana Santa cristã, em que a vida, paixão,
morte e ressurreição de Jesus Cristo é relembrada.

Na vida de Dioniso (dê uma olhada no artigo que publicamos em março), há


dois momentos bastante diferentes: quando ele é destruído pelos Titãs (morte,
tensão) e quando ele renasce (alegria, extroversão). Já sabemos que estes dois
momentos têm significados relacionados ao ciclo da natureza, no qual a
semente fica enterrada por alguns meses, para enfim, surgir, germinada. No
momento da morte de Dioniso eram entoados cantos, tristes e solenes,
chamados ditirambos. A tragédia é uma forma dramática surgida na Grécia,
no século V a.C., originada do ditirambro (canto em louvor a Dioniso).
Etimologia (origem) da palavra tragédia: tragos (bode) + oide (canto) = canto
do bode, animal que relembra um dos "disfarces" usados por Dioniso.

O desenvolvimento do pensamento grego apresenta dois momentos


fundamentais: século XVI a.C. até o século IX a.C., quando a sociedade e o
pensamento apoiavam-se no mito para encontrar explicações para os
fenômenos na natureza e para a vida em geral. E a partir do século VIII a.C.
quando surge a pólis, o pensamento filosófico e a valorização do racional, que
vão recusar a visão de mundo anterior (baseada no pensamento mítico).

O teatro surge como novidade artística, na Grécia do século V a.C., trazendo


normas estéticas, temas e convenções próprias. Pode-se dizer que o teatro
explica o contexto histórico de século V, da mesma forma que o contexto
daquele momento se apreende melhor através das peças então produzidas,
demonstrando a profunda interrelação entre sociedade e teatro.

Festival de Teatro

O teatro grego nasceu da religião e mesmo após todas as transformações


pelas quais passou não perdeu de vista as suas origens. As representações
dramáticas em Atenas realizavam-se três vezes por ano, por ocasião das festas
dionisíacas:

Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias - eram celebradas na primavera (fins de


março) e freqüentadas por toda a população grega, além de embaixadores
estrangeiros. A festa durava seis dias. O primeiro era consagrado a uma solene
procissão, em que toda a cidade tomava parte. Nesta procissão se levava a
estátua do Deus Dioniso que era finalmente colocada na orquestra do Teatro
de Dioniso. Nos dois dias seguintes celebravam-se os concursos de dez coros
ditirâmbicos. Os concursos dramáticos ocupavam os três últimos dias. Eram
escolhidos três poetas trágicos, que representavam, cada um deles, sua obra
inteira, num mesmo dia. Ou seja, três tragédias e um drama satírico
(tetralogia).

Leneanas - tinham um caráter mais local. Celebravam-se no inverno, fins de


janeiro e duravam de três a quatro dias. Uma procissão, de cunho
extremamente licencioso e um duplo concurso e comédias e tragédias, eram
as atrações da festa.

Dionísias Rurais - celebravam-se apenas nos "demos" (povoados) nos fins de


dezembro e eram as mais antigas festas de Dioniso, dependendo o brilho de
tais festejos dos recursos do demos.

A preparação das "Grandes Dionísias" ficava sob a responsabilidade de um


funcionário do governo que recrutava os coregos (cidadãos ricos que
patrocinavam os coros) e com isso, garantia a produção do espetáculo. A
coregia era um dos serviços públicos impostos pelo Estado ateniense aos
cidadãos ricos. Com financiamento garantido, tanto para os ensaios quanto
para as representações teatrais, que se realizavam obrigatoriamente três vezes
ao ano, o corego recrutava atores, profissionalizava-os, selecionava os poetas
competidores, encarregava-se da parte organizacional do espetáculo,
garantia o acesso de todos os cidadãos aos espetáculos, com direito a uma
ajuda de custo para o pagamento dos ingressos e das refeições nos dias de
festivais, para os mais pobres.

A especialização das atividades teatrais atinge tal nível na Atenas clássica que
o Estado estabelece uma legislação sobre o fazer teatral, estipulando critérios
de seleção dos atores para os principais papéis e seus substitutos, distribuição
dos personagens e recrutamento dos coreutas (integrantes do coro que
contracenavam com os atores).
No final dos concursos dramáticos realizava-se um julgamento, de onde
resultava a classificação final dos concorrentes. Eram três categorias
premiadas: poetas, coregos e protagonistas. Essa classificação era votada por
um júri, que dava seu veredicto sob forma de voto secreto.

As representações em Atenas começavam pela manhã. E se assistia ao


espetáculo com uma coroa na cabeça, como nas cerimônias religiosas. As
mulheres atenienses, embora não pudessem participar da cena, podiam assistí-
la como espectadoras, pelo menos da tragédia. Quanto à comédia, devido a
certas liberdades inerentes ao gênero, não era freqüentada pelas atenienses
mais "sérias".

A Arquitetura dos Teatros Gregos

A construção do teatro grego, totalmente aberto ao ar livre, assim como dos


templos religiosos e estádios esportivos, aproveitava a encosta de colinas para
que se garantisse o efeito acústico. A arquitetura do teatro grego compreende
três partes:

Orquestra - ao centro, um plano circular de terra batida, sobre o qual evoluía o


coro, que entra pelos corredores laterais, chamados de párodoi. A orquestra
forma sempre um círculo completo. No centro da orquestra se erguia um altar,
o tímele, em honra de Dioniso.

Teatro - (théatron que quer dizer "lugar de onde se vê") destinado aos
espectadores, era um conjunto de degraus, divididos em andares (semelhante
às arquibancadas de um estádio de futebol). O teatro descreve em torno da
orquestra um semi-círculo. O público comum se sentava nas arquibancadas e
havia também lugares especiais para convidados de honra.

Skené - em frente ao théatron, encontra-se a skené, uma espécie de


construção que se destinava inicialmente a guardar material e à mudança de
roupa dos atores. Depois a skené passou a ter uma parede que representava a
fachada exterior da habitação onde transcorria a ação. Nasce, assim, o
cenário teatral. Ao longo da skené, estende-se uma passarela denominada
proskénion (proscênio), com três a quatro metros de altura, onde atuavam os
atores.

Alguns teatros tinham capacidade para 5.500 pessoas (Delos); outros para 14
mil (Epidauros). As dimensões deste edifício dão prova de sua popularidade e
de sua integração nos hábitos sociais e políticos gregos.

Os Maquinismos

O cenário da tragédia era sempre a fachada exterior de uma habitação,


templo ou palácio, diante da qual se desenrolava a ação. Dessa maneira, o
que se passava no interior, sobretudo as cenas violentas, jamais eram
mostradas para o público. No teatro grego empregavam-se vários
maquinismos, encarregados de realizar os "efeitos especiais":

Equiclema / Eciclema - quando, por exemplo, se cometia um assassinato no


interior do palácio, via-se por uma das portas do fundo sair uma espécie de
plataforma rolante que conduzia o assassino imóvel, "congelado" na postura
do momento do assassinato, e, a seus pés, sua vítima.
Mekhané - uma espécie de guindaste. A extremidade que servia para erguer
os personagens, tomou formas diversas: carros voadores, cavalos alados,
dragões e outros monstros. Às vezes era um simples gancho no qual a
personagem se mantinha suspensa. É o deus ex machina – processo artificial,
para facilitar o desenlace de uma tragédia, fazendo que uma divindade
(deus) desça à cena, através de um mecanismo (ex machina) e resolva a
questão.

Theologuêion - significa lugar onde os deuses falam. Trata-se de um praticável,


mais que de um maquinismo. Era uma tribuna armada na parte superior do
cenário. Tinha por finalidade mostrar ao público onde moravam os deuses. O
aparecimento de divindades em cena se fazia acompanhar de relâmpagos e
trovões. O relâmpago se produzia por meio de archotes que se agitavam e o
barulho do trovão era conseguido com uma bacia de bronze colocada atrás
da cena, na qual se lançavam pedaços de ferro.

Escada de Caronte / Anapiesma - dois aparelhos que serviam para trazer dos
abismos subterrâneos os deuses infernais. A "Escada de Caronte" eram simples
degraus que vinham do subsolo até a superfície. E o "Anapiesma" mais
aperfeiçoado, era uma espécie de alçapão móvel, que elevava
mecanicamente os personagens.

O Figurino dos Atores

A máscara trágica procura traduzir o patético e a dor. Rugas profundas,


sobrancelhas contraídas, órbitas saltadas, olhos arregalados, boca aberta.
Atribui-se a Ésquilo a invenção da máscara pintada imitando a forma humana,
com uma cabeleira e, quando necessário, uma barba. A máscara servia
também para amplificar a voz do ator, que era escolhido entre aqueles de
maior potência vocal.

O calçado usado na tragédia chamava-se "coturno", um espécie de sapato-


plataforma de 6 a 11 centímetros de altura. Tanto a máscara quanto o
calçado serviam para aumentar a figura do ator.

As roupas não seguiam uma reconstituição histórica. Eram convencionais, uma


espécie de estilização das roupas cotidianas. Túnica longa até os pés, com
mangas longas, de várias cores, presa por um cinto. Manto curto, jogado sobre
as costas, à direita, preso ao pescoço com botão ou broche. Cores púrpura
para os soberanos, escura para o luto.

Texto de Elza de Andrade, diretora, professora

Pequena História do Teatro:


O teatro que surgiu na Grécia Antiga era diferente do atual. Os gregos
assistiam às peças de graça e não podiam freqüentar o teatro quando
quisessem. Ir ao teatro era um dos compromissos sociais das pessoas. Assim
como havia rituais religiosos e assembléias para decidir os rumos das cidades,
existiam os festivais de teatro. Dedicados às tragédias ou às comédias, eles
eram financiados pelos cidadãos ricos. E o governo pagava aos mais pobres
para comparecer às apresentações.

Os festivais dedicados à tragédia ocorriam em teatros de pedra, ao ar livre,


onde se escolhia o melhor autor. Embora alguns atores fizessem sucesso, os
grandes ídolos do teatro eram os autores. As apresentações duravam vários
dias e começavam com uma procissão em homenagem ao Deus Dioniso,
considerado protetor do teatro. A platéia acompanhava as peças o dia todo e
reagia intensamente às encenações.

Teatro de pedra ao ar livre - criado pelos gregos para


os festivais de tragédia, foi usado para apresentações
de lutas entre gladiadores e animais no Império Romano

Atores e um coro participavam das apresentações. No palco, os atores


pareciam gigantes. Usavam sapatos de sola alta, roupas acolchoadas e
máscaras feitas de panos engomados e pintados, decoradas com perucas e
capazes de amplificar as vozes.
Máscaras antigas usadas pelos atores para encenar tragédias e comédias

A partir do Império Romano -- que sucedeu a civilização grega --, o teatro


entrou em declínio. Os romanos preferiam o circo -- na época, voltado para
lutas entre gladiadores e animais --, que predominou nos teatros das principais
cidades do Império.

No início da Idade Média, em 476, o teatro quase sumiu. Na Europa, as cidades


entraram em declínio e as pessoas retornaram ao
campo. A Igreja Católica, que detinha o poder,
combatia o teatro, pois considerava pecado imitar
o mundo criado por Deus.

Poucas manifestações teatrais parecem ter resistido


nessa época. Apenas alguns artistas percorriam as
cortes de reis e nobres, como malabaristas,
trovadores (poetas que cantavam poemas ao som
de instrumentos musicais), imitadores e jograis
(intérpretes de poemas ou canções românticas,
dramáticas ou sobre feitos heróicos).

No século 11, a produção agrícola cresceu, o


comércio se expandiu, cidades e feiras ressurgiram,
a população aumentou... E o teatro reapareceu!
Onde? Na Igreja! Para divulgar seus ensinamentos, ela passou a usar recursos
teatrais nas missas -- como diálogos entre o sacerdote e os fiéis. Logo surgiram
representações do nascimento e da morte de Cristo dentro da Igreja e fora
dela. E as várias associações profissionais urbanas -- as corporações de ofícios --
criadas nessa época realizavam representações em homenagem aos seus
santos padroeiros ou aos santos protetores de suas cidades.

No fim da Idade Média, surgiram vários tipos de representações teatrais,


relacionadas a datas solenes e encenadas por amadores. As paixões e os
mistérios, por exemplo, eram espetáculos públicos, encenados durante dias em
palcos ao ar livre. Na França, ficaram conhecidos como teatro de mansões, e,
na Inglaterra, como pageants. Apresentavam fatos da vida de santos ou da
Bíblia.

O teatro pela Europa

O crescimento das cortes de reis e dos salões de nobres levou as pessoas a


apreciarem o teatro como diversão. No final da Idade Média e início do
Renascimento, companhias de artistas, teatros privados e públicos foram
criados. A paixão grega pela arte teatral parecia ter ressurgido. Entretanto,
passou-se a cobrar para ir ao teatro.
Na Itália, duas tradições teatrais foram criadas: a commedia erudita, que
encenava nos teatros textos de grandes autores, e a commedia dell'arte, na
qual a trama era apenas esboçada e os artistas representavam com improviso
seus papéis -- como Colombina, Pantaleão (ao
lado) e Arlequim. Atores e atrizes, em geral, faziam
o mesmo personagem a vida toda e se
apresentavam pela Europa com uma carroça e
um tablado.

Ao contrário da commedia dell'arte, o teatro


inglês não admitia mulheres. Homens
representavam os papéis femininos. As mulheres
tinham que usar véus ou máscaras para assistir ao
espetáculo, pois o teatro era considerado um
lugar impróprio para elas.

As apresentações aconteciam à tarde e os preços


dos ingressos variavam. Os espectadores mais
pobres ficavam na platéia e os que podiam pagar mais sentavam nas galerias,
andares circulares ao redor da cena. As representações eram cercadas de
confusão e os trajes ricos dos atores tentavam prender a atenção da platéia
inquieta.

O chamado palco elizabetano, comum nos teatros ingleses, caracterizava-se


por um tablado de madeira, sem cenários ou enfeites, que avançava em
direção à área da platéia. Ele tinha apenas um balcão e uma área posterior
para cenas de interior ou de grande impacto, fechada por cortina. A
simplicidade exigia que os textos encenados obedecessem a uma dinâmica
especial para identificar o lugar e o momento das ações.

O mais famoso teatro inglês era o Globo, de William Shakespeare (que nasceu
em 1564 e morreu em 1616), construído em 1594. Shakespeare (imagem ao
lado) é considerado o maior autor de teatro de todos os tempos. Ele atuou e
dirigiu muitos dos seus textos, como Romeu e Julieta, Rei Lear, Macbeth e
Sonho de uma noite de verão.

Durante muito tempo, a Espanha foi


dominada pelos árabes e lutou para expulsa-
los. Por causa disso, o teatro religioso era
muito forte no país. Mesmo quando o gênero
entrou em declínio, vários elementos dele
persistiram no teatro espanhol.

Na Espanha, o teatro fortaleceu-se durante o


siglo de oro, período de intenso brilho cultural
nos séculos 16 e 17. Ele revelou grandes
poetas de cena, como Lope de Vega e
Cervantes, que também fizeram sucesso na
literatura. A comédia -- tipo de texto que reunia fatos alegres ou sérios, mas
sempre com um final feliz -- tornou-se dominante.

O espetáculo teatral espanhol surgiu em espaços improvisados -- os corrales,


pátios ou áreas nos fundos de casas onde se erguia um tablado. Os
espectadores ficavam nas janelas dos imóveis vizinhos ou de pé. O cenário era
apenas uma cortina.
O teatro francês e os tempos modernos

O primeiro teatro público francês surgiu em 1548, mas apenas no século 17


surgiram os mais célebres autores franceses dos tempos modernos: Corneille e
Racine, que escreveram tragédias, e Molière, criador de
adoráveis comédias. Como a platéia francesa era
barulhenta e agitada, as peças tinham uma cena inicial
para acalmar o público e impor o silêncio. Com o mesmo
objetivo, Molière (imagem ao lado) criou três pancadas ou
sinais, usados até hoje para avisar à platéia que o
espetáculo vai começar.

O teatro francês tornou-se moda na Europa e impôs regras


rígidas para a criação de textos teatrais. Uma delas
determinava que o texto tinha que ser escrito em cinco
atos e em versos de 12 sílabas. Outra, que a peça deveria
ter apenas uma ação, que aconteceria em 24 horas, no
mesmo lugar e com poucas emoções.

No século 18, quando essa forma de fazer teatro ainda


prevalecia, a difusão dos teatros públicos e o declínio do
teatro ambulante levou à fabricação de máquinas que
criavam efeitos mágicos e ilusões visuais na platéia, como pessoas voando.

No final desse século, na Alemanha, surgiu o Romantismo, movimento contra as


normas francesas para escrever peças. Ele valorizava a liberdade na arte, a
mistura do cômico com o trágico, os valores nacionais e a livre expressão dos
sentimentos. A França resistiu ao movimento até 1830, quando um dos seus
principais autores aderiu a ele.

No século 19, o teatro firmou-se como diversão e os atores tornaram-se estrelas.


Nessa época, o teatro popular voltou-se para o melodrama. As peças
exploravam sentimentos simples e fortes, que encantavam o povo. Os atores
viraram o centro das atenções. No final do século, apareceram as primeiras
estrelas internacionais.

Mas o reinado dos atores não durou muito. Ainda no século 19, surgiu um
movimento para transformar o teatro em arte, em que diretores ou
encenadores, liam o texto da peça, o analisavam, pensavam como fazer o
espetáculo e orientavam atores e demais artistas a seguir a idéia de teatro
formulada por eles.

Os primeiros diretores deram origem ao teatro de nosso tempo, chamado de


teatro moderno, em que a produção de uma peça envolve o esforço de
criação de várias pessoas. É uma atividade de equipe. O texto escrito pelo
dramaturgo é analisado pelo diretor, que debate com o cenógrafo, o
figurinista e o iluminador como montá-lo. Então, o projeto é levado aos atores,
que criam seus papéis dentro dessas orientações.

Como você pode perceber, apresentar uma peça ao público requer muito
trabalho. Portanto, da próxima vez que você estiver assistindo a um espetáculo
-- ou encenando algum --, lembre-se disso! E dessa história que acabei de
contar também!

Ciência Hoje das Crianças 123, abril 2002


Tania Brandão,
Escola de Teatro,
Universidade do Rio de Janeiro

PALCO ARENA:

Espaço teatral coberto ou não, com palco abaixo da platéia que o envolve
totalmente: circular, semicircular, quadrado, 3/4 de círculo, defasado, triangular ou
ovalado.
PALCO ELISABETANO:

Palco misto que funciona como um espaço fechado retangular com uma grande
ampliação de proscênio (retangular ou circular). O público o circunda em três lados:
retangular, circular ou misto.
PALCO ITALIANO:

Espaço retangular fechado nos três lados, com uma quarta parede visível ao público
frontal através da boca de cena: retangular, semicircular, ferradura ou misto.
PALCO CIRCUNDANTE:

Espaço perimetral circular que envolve o público localizado no centro e visibilidade


completa de 360 graus: palco circundante completo ou palco semicircundante.
ESPAÇO MÚLTIPLO:

Espaço coberto que se adapta a diferentes disposições de palco e público: total,


lateral total, central total, lateral parcial, esquina, central parcial, simultâneos, corredor
ou galerias verticais.

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