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Estatuto da Cidade
Obra organizada pelo Instituto IOB – São Paulo: Editora IOB, 2013. ISBN 978-85-8079-029-0

Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão dos conceitos.


Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a
prévia autorização do Instituto IOB. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei
nº 9.610/1998 e punido pelo art. 184 do Código Penal.
Sumário

Capítulo 1 Lei nº 10.257/2001, 5


1. Lei nº 10.257/2001 – Introdução, 5
2. Propriedade – Teorias, 6
3. Propriedade – Características, 7
4. Propriedade – Características: Aderência e Limitação,
8
5. Estudo Normativo do Estatuto da Cidade, 9
6. Análise Constitucional do Direito Urbanístico, 10
7. Instrumentos Decorrentes do Estatuto da Cidade, 11
8. Competência Legislativa em Relação ao Direito
Urbanístico, 12
9. Competência Legislativa dos Estados e Municípios em
Relação ao Direito Urbanístico, 13
10. Instrumentos da Política Urbana, 14
11. Interpretação das Normas de Direito Urbanístico, 16
Capítulo 2 Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória (arts. 5º e 6º), 18
1. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória – Conceito e Introdução, 18
2. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória – Objetivos, 19
3. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória – Procedimento, 20
4. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória – Notificação, 20
5. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização
Compulsória – Observações Finais, 21

Capítulo 3 IPTU Progressivo no Tempo, 23


1. IPTU Progressivo no Tempo – Previsão Legal e
Conceito, 23
2. Limites, 24
3. IPTU Progressivo no Tempo – Natureza, 24
4. IPTU Progressivo no Tempo – Constitucionalidade do
Instituto, 25
5. IPTU Progressivo no Tempo – Aplicação do Instituto,
26

Capítulo 4 Desapropriação com Pagamento em


Títulos, 28
1. Desapropriação com Pagamento em Títulos –
Conceito e Incidência, 28
2. Fundamentos, 29
3. Desapropriação com Pagamento em Títulos –
Requisitos Específicos, 29
4. Desapropriação com Pagamento em Títulos – Valor da
Indenização, 30
5. Desapropriação com Pagamento em Títulos – Título
da Dívida Pública, 31
6. Desapropriação com Pagamento em Títulos –
Observações Finais, 32

Capítulo 5 Usucapião Especial de Imóvel Urbano


(arts. 9º ao 14), 34
1. Conceito e Fundamentos, 34
2. Usucapião Especial de Imóvel Urbano (Pro Morare),
35
3. Usucapião Especial de Imóvel Urbano (Pro Morare) –
Observações Gerais, 35
4. Usucapião Coletivo – Conceito e Requisitos, 36
5. Usucapião Coletivo – Observações Finais, 37

Capítulo 6 Direito de Superfície, 39


1. Direito de Superfície – Conceito e Natureza, 39
2. Observações Gerais, 40

Capítulo 7 Direito de Preempção, 41


1. Direito de Preempção – Conceito e Natureza, 41
2. Direito de Preempção – Procedimento, 42
3. Direito de Preempção – Observações Finais, 42

Capítulo 8 Outorga Onerosa do Direito de


Construir, 44
1. Outorga Onerosa do Direito de Construir – Conceito,
44
2. Outorga Onerosa do Direito de Construir –
Observações Finais, 45

Capítulo 9 Operações Urbanas Consorciadas, 46


1. Operações Urbanas Consorciadas – Conceito e
Objetivo, 46

Capítulo 10 Transferência do Direito de Construir, 48


1. Transferência do Direito de Construir – Conceito e
Aplicabilidade, 48

Capítulo 11 Estudo de Impacto de Vizinhança, 49


1. Estudo de Impacto de Vizinhança – Conceito e
Finalidade, 49

Capítulo 12 Do Plano Diretor, 51


1. Do Plano Diretor – Conceito e Aplicabilidade, 51 2.
Do Plano Diretor – Observações Finais, 52

Gabarito, 53
Capítulo 1
Lei nº 10.257/2001

1. Lei nº 10.257/2001 – Introdução

O estatuto da cidade trabalha com o conceito de propriedade.


Propriedade é um direito complexo, concedido a um titular, para que este
possa usar, gozar, dispor e reivindicar determinada coisa.
O titular da propriedade possui tais atributos, acima mencionados.
O direito de propriedade é complexo porque concede ao titular diversos atri-
butos, o proprietário poda usar, gozar e dispor e reivindicar.
Usar a coisa consiste em utilizá-la fisicamente, executando os benefícios que
a propriedade lhe concede.
Gozar da coisa consiste em beneficiar-se de frutos e produtos que esta pode
conceder. Ex.: Locar um apartamento.
O direito de disposição dá-se quando o titular pode alienar, emprestar, enfim,
dispor da coisa.
Outro atributo dá-se com a reivindicação, ou seja, o titular poderá reivindicar
quando, por exemplo, terceiros estejam na posse ilícita do bem.
Ademais, a coletividade tem o dever de abstenção, e todos têm de respeitar a
propriedade alheia. Ressalte-se que a coletividade não pode prejudicar a proprie-
dade de outrem, tornando a relação jurídica complexa.
A doutrina entende que quando o titular da propriedade estiver na possibili-
dade de utilizar de todos os atributos, este terá o domínio da coisa, a propriedade
plena.
O domínio da coisa é a concentração de todos os atributos da propriedade em
seu titular. Se a pessoa pode usar, gozar, dispor e reivindicar, é sinal de domínio
da coisa, mas se loco para alguém, não tenho domínio, nem propriedade plena.
Uma vez que a coisa está locada a terceiro, outra pessoa está usando, não há
todos os atributos na titularidade, já que está faltando o uso.
8 Estatuto da Cidade

Revisando a aula: é importante memorizar o conceito de propriedade, que


gera ao seu titular os atributos de usar, gozar, dispor e reivindicar, que são atribu-
tos da propriedade. Quando esses requisitos são preenchidos, o proprietário tem
o domínio e a propriedade plena. A propriedade é uma relação complexa devido
aos atributos do titular.

Exercício
1. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A propriedade é uma relação complexa que concede a seu titular o uso, o
gozo e a disposição de determinada coisa.

2. Propriedade – Teorias

Existem algumas teorias em relação à propriedade, tendo em vista a relação com-


plexa.
A primeira é a Teoria da Ocupação, que entende que proprietário é aquele
que ocupa determinada coisa. Dizem que quando o indivíduo vem ao mundo,
ninguém é dono de nada, então basta que ocupe para que seja proprietário.
Atualmente esta teoria é considerada arcaica.
A segunda é a Teoria da Lei, criada por Montesquieu, na qual estendeu-se que
a propriedade só existe porque a lei concede ao titular o direito de propriedade.
Para os adeptos da teoria, se não fosse a lei, ninguém seria dono de nada. Essa
teoria se baseia na positivação de normas pelo Estado, sendo que é ele quem
concede a determinado titular o direito de propriedade.
A terceira é a Teoria do Trabalho, também chamada de Teoria da Especifica-
ção, que dispõe que o proprietário é aquele que desempenha atividade na coisa.
Essa teoria determina que através do trabalho a pessoa produz riqueza, e assim,
quem tem riqueza, tem propriedade.
Sendo o trabalho a origem da riqueza humana, quem tem trabalho, tem pro-
priedade. Tal teoria, não é levada em consideração pela doutrina.
Por fim, temos a Teoria da Natureza Humana.
Dizem os adeptos que a propriedade faz parte de um direito fundamental do
ser humano, trazendo a ideia de que quando este ser ganha vida, possui direito
de propriedade, uma vez que este direito é fundamental e constitucionalmente
protegido. Essa teoria traz ainda que para que o ser humano possa exercer todos
os atributos da sua personalidade, é necessário que ele tenha propriedade, como
Estatuto da Cidade 9

forma de garantir a dignidade humana.


Para os adeptos dessa teoria, independentemente de lei que conceda alguma
titularidade, se você veio ao mundo, você tem direito à propriedade.
É a teoria adotada pela doutrina majoritária, entendendo-se que para que
haja dignidade humana, é preciso que haja direito de propriedade.
Assim, nota-se que faz parte do Direito Natural, pois o ser humano tem direito
de sobreviver com dignidade.
Entre os adeptos dessa teoria, podemos mencionar o Carlos Roberto Gon-
çalves.
Essa teoria permite que o intérprete faça uma análise dos dispositivos infra-
constitucionais sobre a propriedade, sob o viés constitucional. Ou seja, apesar
de estar no Código Civil, é direito inerente ao ser humano, segundo a Constitui-
ção.
É importante mencionar que a jurisprudência dos tribunais superiores também
acata a teoria da natureza humana.

Exercício
2. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
De acordo com a doutrina moderna, a propriedade é um direito fundamen-
tal do ser humano.

3. Propriedade – Características

A primeira característica da propriedade é que ela é absoluta, ou seja, é oponível


erga omnes.
Assim, o titular pode proteger sua propriedade contra invasão de terceiros,
uma vez que a coletividade possui dever de abstenção, de respeitar a propriedade
alheia, já que a propriedade é um direito complexo.
A segunda é que a propriedade é exclusiva, possui apenas um titular. O con-
domínio não quebra a exclusividade, pois todos os proprietários podem usar, go-
zar, dispor da coisa ou reivindicá-la, ou seja, não há limitação aos atributos da
propriedade.
Observe-se que o titular pode afastar terceiros de sua propriedade, uma vez
que possui todos os atributos necessários.
A terceira característica é a perpetuidade, ou seja, o direito de propriedade
10 Estatuto da Cidade

existe até a morte do titular, perdurando enquanto durar a vida do titular.


Há duas consequências: A propriedade integra o indivíduo, podendo ser
transferida aos herdeiros com sua morte (transferência causa mortis).
A segunda consequência é que a perpetuidade pode sofrer intervenção do
Estado, podendo ocorrer a desapropriação, diante de normas de direito público.

Exercício
3. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A propriedade tem como característica o caráter absoluto, ou seja, o titular
não sofre nenhum tipo de restrição em face de normas ou contratos.

4. Propriedade – Características: Aderência e


Limitação

A característica da aderência traz que a propriedade acompanha seu titular; é


como se a propriedade o seguisse em qualquer lugar que ele vá.
Se a propriedade acompanha o proprietário, este sofre duas consequências. A
primeira é que da aderência nasce o direito de sequela, ou seja, se o titular tem a
propriedade acompanhando sua pessoa, pode persegui-la onde quer que ela es-
teja. Ex.: caso um proprietário tenha sua propriedade irregularmente transferida
a terceiro, como titular da coisa, pode ir atrás do bem, inclusive se aquele que o
adquiriu estava de boa-fé, consistindo, assim, o direito de sequela.
O bem tem aderência à pessoa do proprietário, podendo este entrar com ação
alegando o direito de sequela.
Em relação ao terceiro de boa-fé, este poderá discutir a responsabilidade civil
contra quem lhe vendeu de forma irregular.
A segunda consequência é a existência da ambulatoriedade, ou seja, o titular
pode ir atrás da coisa, mas irá pegá-la da forma que ela se encontrar, inclusive
com ônus que possam estar gravados. Ex.: caso o proprietário empreste determi-
nado imóvel durante oito meses, e nesse período, a pessoa que tomou empres-
tado não pagou o IPTU, quando ela se retira há o ônus da ambulatoriedade, e o
proprietário não pode se livrar do IPTU que não foi pago.
Tudo isso decorre da aderência da propriedade ao seu titular.
A propriedade é, ainda, limitada. O titular pode usar sua propriedade, mas
o exercício do direito de propriedade deve respeitar as limitações assumidas em
contrato, bem como as limitações legais. Ex.: é assumir, perante terceiros, me-
diante contrato, que não utilizará a propriedade depois de determinado horário,
Estatuto da Cidade 11

caso nela funcione um bar.
Ademais, a lei pode colocar limites no exercício da


propriedade.
O Estatuto da Cidade coloca limitações em relação ao direito de construção,
sendo esta uma limitação legal. Ex.: a proibição de construção de prédio com
mais de três andares, caso prejudique o meio ambiente.
A função social da propriedade constitui outra limitação que será analisada
mais à frente.

Exercício
4. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito de sequela é sinônimo de ambulatoriedade e decorre da aderência
da propriedade em seu titular.

5. Estudo Normativo do Estatuto da Cidade

O Estatuto da Cidade é uma lei federal que tem como finalidade dar conteúdo às
normas programáticas constitucionalmente previstas, que trabalham em conjun-
to com o direito urbanístico.
Os arts. 182 e 183 da CF/1988 estabelecem um programa a ser seguido pelo
município de forma a garantir o crescimento das cidades de forma organizada e
sustentável.
As normas constitucionais que trabalham o direito urbanístico são normas
programáticas.
O primeiro escopo da lei do estatuto da cidade é trabalhar a função social
da propriedade, que hoje não pode mais ser analisada de acordo com o caráter
individualista como era no Código Civil de 1916. A função social da propriedade
consiste em servir ao seu titular, assim como todo o corpo social.
O segundo escopo é regulamentar o uso e a construção da cidade, seu cresci-
mento, e assim o faz, através da criação de normas que regulamentam o direito
de construir dentro de um perímetro urbano.
O terceiro escopo traz que o Estatuto tem por objetivo a proteção e o equi-
líbrio ambiental no que tange ao direito de construir. Garante o crescimento da
cidade de forma sustentável. Ex.: o crescimento na vertical, de forma desorgani-
zada das cidades, pode alterar o clima.
O Estatuto da Cidade é uma lei federal que tem como finalidade organizar
12 Estatuto da Cidade

e regulamentar o desenvolvimento urbano dentro de limites estabelecidos pela


Constituição Federal, esboçando um caráter protetivo.

Exercício
5. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito urbanístico no Brasil é garantido por normas constitucionais e infra-
constitucionais, como o Estatuto da Cidade.

6. Análise Constitucional do Direito Urbanístico

O direito urbanístico é uma matéria prevista na Constituição Federal, tendo em


vista a preocupação com o desenvolvimento das cidades, assim como o seu cres-
cimento.
A Constituição Federal faz a primeira previsão do direito urbanístico no Brasil e
estabelece regras e princípios, os quais formam um programa urbanístico, metas
que os municípios deverão alcançar através de suas legislações.
Abaixo da Magna Carta tem-se o Estatuto da Cidade, o qual é uma lei federal
que trata do assunto.
O Estatuto trabalha com regras e princípios, bem como com a organização da
cidade já construída e com futuras construções, para que haja um crescimento
organizado.
De forma a garantir o cumprimento das normas previstas no Estatuto, há ne-
cessidade de ser criado o plano diretor, que consiste em lei municipal que tem por
finalidade regulamentar alguns elementos do Estatuto da Cidade.
Portanto, o plano diretor é uma lei municipal e dá efetividade àquilo previsto
no Estatuto.
Ressalte-se que juntamente com o plano diretor, o município trabalha diversas
legislações decorrentes do direito urbanístico, como os atos administrativos mu-
nicipais, os quais visam a implementação de determinadas normas, decorrentes
do plano diretor, ou do Estatuto da Cidade.
Existem alguns institutos previstos no Estatuto da Cidade que são regidos por
outros diplomas normativos. O Estatuto é uma norma multidisciplinar, ou seja,
trabalha com diversos ramos do Direito. Ex.: desapropriação é uma norma de
direito público decorrente do direito administrativo. Pode-se mencionar também
como exemplo, o fato de ser realizado o estudo de impacto ambiental no mo-
mento da autorização para construção dentro do perímetro urbano.
Estatuto da Cidade 13

Pode-se concluir, assim, que o Estatuto da Cidade não se enquadra nem no


ramo do Direito Público e nem no ramo do Direito Privado. É o chamado Direito
Híbrido.

Exercício
6. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O Estatuto da Cidade tem como finalidade garantir a participação social no
crescimento e desenvolvimento urbano.

7. Instrumentos Decorrentes do Estatuto da


Cidade

O Estatuto da Cidade trouxe algumas inovações e modificações, bem como fo-


ram criados instrumentos a fim de que se trabalhe o direito urbanístico.
O primeiro instituto criado foi o de regulamentação de normas constitucio-
nais, ou seja, de como garantir o direito de propriedade e sua função social.
Regulamentou, ainda, a desapropriação em virtude do descumprimento da
função social.
A lei criou também projetos de cooperação social, ou seja, a possibilidade de
participação social, através de opiniões de associações, conselhos de bairro, ou
pessoas de modo individual, na criação de obras urbanísticas e na organização
da cidade.
Ademais, a Lei nº 10.257/2001 também criou novos institutos que até então
não existiam, como a possibilidade da utilização e parcelamento de imóvel de for-
ma compulsória. Assim sendo, caso o imóvel não esteja sendo utilizado, o poder
público pode forçar o proprietário a cumprir com a função social, utilizando-se
dos institutos mencionados.
Ainda, garantiu normas de proteção ambiental, justamente uma das princi-
pais preocupações do Estatuto. Um exemplo seria o meio ambiente artificial, o
qual também é protegido pelo diploma legal.
O quinto instrumento criado pelo Estatuto da Cidade é o estabelecimento
de metas e projetos para as novas edificações, colocando limites no direito de
construir.
Como sexto instrumento tem-se a criação de projetos de reorganização de
edificações antigas, criando normas que devem ser seguidas pelos proprietários
e municípios.
14 Estatuto da Cidade

Ressalte-se que a lei aqui estudada trabalha com normas constitucionais e,


dessa forma, jamais poderia contrariar as normas dispostas na Constituição Fede-
ral, ou seja, dentro dos limites principiológicos.
É preciso entender que o Estatuto da Cidade não pode contrariar, mas pode
ampliar as normas e valores previstos na Constituição Federal, uma vez que esta
traz limites mínimos de proteção, enquanto as normas infraconstitucionais pode-
rão ampliá-la. Dessa forma, o Estatuto pode trazernormas mais protetivas do que
a própria Constituição.

Exercício
7. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O Estatuto da Cidade tem legitimidade para ampliar a proteção constitucio-
nal ao direito urbanístico limitado.

8. Competência Legislativa em Relação ao


Direito Urbanístico

Os arts. 182 e 183 da Constituição Federal trabalham a política urbana, que


são normas programáticas. Todas as demais normas em relação ao direito urba-
nístico visam regulamentar esses dois artigos, uma vez que trabalham a política
urbana e o crescimento organizado das cidades.
Ainda, o art. 21, XX, da CF também traz o direito urbanístico em seu bojo,
enfatizando a competência da União para instituir diretrizes para o desenvolvi-
mento urbano.
O art. 5º, XXIII, da Constituição Federal prescreve a função social da proprie-
dade como direito fundamental no Brasil.
Ademais, o art. 170, III, também da Magna Carta estabelece que a função
social da propriedade seja também um princípio da ordem econômica.
Nota-se que, assim, a função social da propriedade é um direito fundamental,
por ter previsão no art. 5º, XXIII, da CF, bem como um princípio da ordem econô-
mica, por estar no art. 170, III, da Constituição Federal.
Outrossim, o art. 6º da Constituição Federal trabalha o direito à moradia como
um direito social.
Quanto à competência legislativa para fins de direito urbanístico, tem-se que a
União possui legitimidade para estabelecer normas gerais acerca do assunto.
Normas gerais de direito urbanístico são aquelas que criam uma estrutura
Estatuto da Cidade 15

normativa do instituto urbanístico e, além disso, criam princípios aplicáveis a tal


instituto. Assim, a União só pode criar a norma-base em direito urbanístico, bem
como os princípios aplicáveis.

Exercício
8. Analise a seguinte afirmativa em relação à constitucionalidade do Estatuto
da Cidade:
A Constituição Federal estabelece valores que garantem a constitucionalida-
de do Estatuto da Cidade e normas infraconstitucionais de direito urbanísti-
co.

9. Competência Legislativa dos Estados e


Municípios em Relação ao Direito Urbanístico

O art. 3º do Estatuto da Cidade menciona quais as competências legislativas da


União em relação à política urbana.
O Estatuto também considera a União legítima para estabelecer normas gerais
em relação ao direito urbanístico.
Já no que diz respeito à competência dos municípios, têm-se duas correntes:
A de Victor Carvalho Pinto é a corrente minoritária, entendendo que os mu-
nicípios, com base no art. 30, II, da Constituição Federal, somente podem criar
normas suplementares à legislação estadual e federal, em relação ao direito ur-
banístico.
A segunda corrente, do professor José Afonso da Silva, considerada majori-
tária, entende que o direito dos municípios decorre do art. 30, I, da CF, ou seja,
compete aos municípios legislar sobre assuntos de interesse local.
Esta corrente é considerada mais correta por trabalhar com valores adotados
hoje pela Constituição, em relação à competência do município de estabelecer
normas de direito local.
Ainda, o princípio da subsidiariedade reforça a ideia trazida por José Afonso
da Silva. Consiste no princípio de que as normas serão aplicadas por instituições
e poderes que estejam mais próximos à realidade, o qual teve origem norte-a-
mericana, mas é amplamente adotado nos países da União Europeia. As normas
serão aplicadas por instituições e poderes que estão mais próximo da realidade.
Em relação ao direito urbanístico, o município é o poder que está mais próximo
da realidade das pessoas.
16 Estatuto da Cidade

Ressalte-se que a primeira corrente não deve ser totalmente desconsiderada,


pois gera o raciocínio de uma interpretação normativa constitucional do mesmo
dispositivo considerado pela segunda corrente, devendo ser mencionada nas pro-
vas. Porém, deve-se adotar a segunda teoria, tendo em vista ser majoritária.
Ainda que haja o raciocínio possibilitando a elaboração de normas de direito
urbanístico pelos municípios, isso se estende ao Distrito Federal, uma vez que este
também possui legitimidade para tal normatização.
As normas criadas pelos municípios e pelo DF são limitadas ao raciocínio cons-
titucional, bem como ao Estatuto da Cidade.

Exercício
9. Em relação à competência da União, justifique a afirmativa seguinte:
O art. 3º do Estatuto da Cidade estabelece competência normativa à União
para diretrizes gerais em relação ao direito urbanístico e nenhum outro pro-
grama é possível.

10. Instrumentos da Política Urbana

O art. 4º do Estatuto da Cidade trabalha os instrumentos utilizados pelos municí-


pios para garantir a política urbana.
Como conceito, tem-se que instrumentos são mecanismos estabelecidos pelo
Estatuto da Cidade que visam garantir a política urbana, a proteção do meio am-
biente e a função social da propriedade.
Para colocar em pauta o programa estabelecido pela Constituição, é necessá-
rio que o poder público tenha mecanismos de atuação e intervenção na proprie-
dade privada, de forma a regulamentar o exercício da propriedade, mecanismos
estes trazidos pelo art. 4º do Estatuto da Cidade.
Portanto, tais instrumentos, de acordo com Betânia de Moraes Alfonsin, pos-
suem caráter meramente exemplificativo, tendo em vista o fato de que o Estatuto
da Cidade não tem poder de limitar o Poder Público.
Ela entende que a propriedade não pode ser exercida de acordo com o libera-
lismo jurídico clássico do Código de 1916, uma vez que hoje a propriedade não
pode mais ser vista de maneira individualizada, levando-se em conta sua função
social. Nota-se que o Estado recebe do Estatuto da Cidade instrumentos para que
possa intervir na propriedade individual. Trata-se de normas de intervenção de
Direito Público, uma vez que manifestam o poder soberano do Estado na inter-
Estatuto da Cidade 17

venção das relações privadas.


Segundo Diógenes Gasparini, o Estado não está aniquilando o direito de pro-
priedade, instrumentalizando a regulamentação do uso da propriedade de acor-
do com os valores do próprio Estatuto.
O professor Edimur Ferreira de Faria entende que, nesse caso, em virtude da
função social da propriedade é como se os indivíduos, titulares da propriedade,
recebessem do Estado uma concessão de uso, a qual é limitada pelos instrumen-
tos de política urbana.
Vejamos os instrumentos de política urbana do art. 4º do Estatuto da Ci-
dade:
Art. 4º “Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos:
I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de
desenvolvimento econômico e social;
II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e mi-
crorregiões;
III – planejamento municipal, em especial:
a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;
f) gestão orçamentária participativa;
g) planos, programas e projetos setoriais;
h) planos de desenvolvimento econômico e social;
IV – institutos tributários e financeiros:
a) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana – IPTU;
b) contribuição de melhoria;
c) incentivos e benefícios fiscais e financeiros;
V – institutos jurídicos e políticos:
a) desapropriação;
b) servidão administrativa;
c) limitações administrativas;
d) tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano;
e) instituição de unidades de conservação;
18 Estatuto da Cidade

f) instituição de zonas especiais de interesse social;


g) concessão de direito real de uso;
h) concessão de uso especial para fins de moradia;
i) parcelamento, edificação ou utilização compulsórios;
j) usucapião especial de imóvel urbano;
l) direito de superfície;
m) direito de preempção;
n) outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso;
o) transferência do direito de construir;
p) operações urbanas consorciadas;
q) regularização fundiária;
r) assistência técnica e jurídica gratuita para as comunidades e grupos sociais
menos favorecidos;
s) referendo popular e plebiscito;
t) demarcação urbanística para fins de regularização fundiária;
u) legitimação de posse.”

Exercício
10. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
Os mecanismos de política urbana são atribuídos aos municípios pelo Esta-
tuto da Cidade e têm caráter exaustivo no art. 4º do mesmo Estatuto.

11. Interpretação das Normas de Direito


Urbanístico

O primeiro instrumento são os planos nacionais, regionais e estaduais de desen-


volvimento econômico e social. Tais planos garantem a aplicabilidade do Estatuto
da Cidade e as normas constitucionais são protegidas. Conforme a sociedade se
desenvolve economicamente e socialmente, essas normas passam a merecer uma
maior aplicabilidade.
O planejamento das regiões é o segundo instrumento, valendo para as regiões
metropolitanas, microrregiões e municípios.
O terceiro é a criação de institutos tributários e financeiros, ou seja, o Poder
Público pode criar tributos até mesmo com característica extrafiscal, o que significa
Estatuto da Cidade 19

que caso a propriedade seja exercida de forma indevida, o município pode instituir
o IPTU progressivo, com a finalidade de estimular o proprietário a desenvolver algu-
ma atividade, e não com a finalidade de arrecadar aos cofres públicos.
Outro instrumento são os estudos prévios de impacto ambiental e também de
impacto de vizinhança.
A interpretação das normas de direito urbanístico deve se basear nas normas
constitucionais. Contudo, o art. 4º, § 1º, traz que: “Os instrumentos menciona-
dos neste artigo regem-se pela legislação que lhes é própria, observado o dispos-
to nesta Lei.” O Estatuto da Cidade trabalha com vários institutos emprestados
de outros direitos, não tendo regulamentado nenhum deles, uma vez que serão
regidos por outros direitos. Ex.: o contrato de superfície é regido pelo Direito Civil,
não tendo o Estatuto da Cidade o modificado.
O professor Nelson Rosenvald, trabalha a interpretação conforme o Estatuto
da Cidade, ou seja, se o Estatuto tem a previsão de um instrumento de política
urbana, este deve ser interpretado de acordo com as normas da Constituição
Federal, não podendo haver interpretação isolada do instituto.
Exemplo: A desapropriação para fins de função social da propriedade deve
ser analisada como uma desapropriação punitiva, pois o Poder Público está tiran-
do-a de um proprietário tendo em vista a falta da função social, nos termos da
Constituição.

Exercício
11. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A interpretação das normas do Estatuto da Cidade deve ser levada em con-
sideração, segundo os princípios e valores constitucionais, de acordo com a
doutrina majoritária.
Capítulo 2
Do Parcelamento,
Edificação ou Utilização
Compulsória (arts. 5º e 6º)

1. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização


Compulsória – Conceito e Introdução

Os arts. 5º e 6º do Estatuto da Cidade criam institutos em que o Poder Público


poderá impor ao proprietário de um imóvel urbano que exerça a função social da
propriedade, caso esta não esteja sendo utilizada.
São instrumentos estabelecidos no Estatuto da Cidade de forma a impor ao
proprietário de determinado imóvel urbano a construir, utilizar ou parcelar o bem.
A regra visa garantir a função social da propriedade.
Utilizar o imóvel é dar a ele determinada finalidade; é conceder uma função.
Edificar é construir, ou seja, é a realização de construção para fins de lazer,
comerciais, culturais, religiosos, entre outros.
Parcelamento compulsório é a obrigação estabelecida na lei para que determi-
nado imóvel seja utilizado em condomínio.
O Estatuto da Cidade cria instrumentos para que o Poder Público faça cumprir
a função social da propriedade, sendo estes a edificação, utilização ou parcela-
mento.
Diógenes Gasparini entende que pode haver imóvel edificado, porém, que
não esteja sendo utilizado em nenhuma circunstância, o que afeta a sua função
social. Assim, não necessariamente um imóvel inútil deverá ser um imóvel não
edificado.
Ainda, entende o professor, que determinado imóvel utilizado para fins ilícitos
também será considerado inutilizado, sendo a interpretação do conceito de inuti-
lizado, bem mais abrangente que a estabelecida no dispositivo.
O Estatuto da Cidade criou os institutos compulsórios, contudo, para aplica-
Estatuto da Cidade 21

bilidade desses institutos é necessário que exista um plano diretor no município,


que estabelecerá quais imóveis serão submetidos aos instrumentos.
Ocorre que a lei municipal específica irá estabelecer, ainda, quais serão as
regras aplicadas aos instrumentos de parcelamento, edificação e utilização com-
pulsória.
Em suma, o Estatuto da Cidade criou os institutos do parcelamento, edifi-
cação e utilização compulsória. Porém, para sua aplicabilidade é necessário que
exista o plano diretor municipal, que estabelece as áreas que serão atingidas. Por
fim, ainda se faz necessário lei específica municipal, que estabelecerá as normas
de aplicação dos institutos.

Exercício
12. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A aplicabilidade da edificação compulsória depende de criação de lei especí-
fica, cuja competência decorre do Prefeito Municipal.

2. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização


Compulsória – Objetivos

O primeiro objetivo é garantir a função social da propriedade, sendo este tam-


bém o mais importante. Ao se estabelecer que determinado proprietário tem um
prazo para começar o desenvolvimento, a administração garante que a função
social será atendida.
O segundo objetivo dos institutos compulsórios é a valorização da região em
torno do imóvel que está ineficiente.
Quando a Administração Pública utiliza os institutos compulsórios, está garan-
tindo uma valorização do serviço público naquela localidade. Assim, os serviços
ganham em efetividade, e é uma forma indireta de valorização, até mesmo do
próprio serviço prestado pela Administração.
Quem estabelece a função social da propriedade e a utilização dos institutos
do parcelamento, edificação e utilização compulsória, é a Administração Pública
e não o proprietário. É a Administração Pública que determina o instrumento
que será utilizado.

Exercício
22 Estatuto da Cidade

13. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:


A edificação compulsória decorre do poder de polícia do Estado.

3. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização


Compulsória – Procedimento

Os institutos foram criados pelo Estatuto da Cidade. Para sua aplicação, é preciso
que haja um plano diretor eficiente, o qual irá estabelecer as áreas que serão
objeto de utilização, parcelamento e edificação compulsória.
Ainda, é preciso que haja criação de lei específica municipal, conforme já vis-
to, que estabelecerá as regras de aplicação dos institutos.
Após a criação de tal lei, para que um dos institutos seja aplicado, é preciso
que haja notificação prévia do proprietário do imóvel omisso.
Essa notificação visa afastar qualquer tipo de alegação de boa-fé, como também,
serve para dar ciência do problema ao titular do imóvel omisso. Também, estabelece-
rá o que será feito no imóvel, qual providência será adequada àquele bem.
A função será determinada pelo plano diretor, antecipado de pesquisas em
relação a qual é o projeto mais eficiente para aquela região.
Outra observação que deve ser feita é em relação à natureza jurídica dessa
notificação, que consiste em um ato administrativo municipal, uma vez que existe
manifestação de vontade do município.
Sendo assim, esse ato administrativo é abrangido pelos atributos do ato ad-
ministrativo, como a presunção de legitimidade e veracidade e pelo atributo da
imperatividade.
Enviada a notificação, esta será registrada para que dê publicidade à função
estabelecida pelo município para aquele determinado imóvel.
Ressalte-se que a obrigação é um direito real, ou seja, se o imóvel for vendido
para terceiro, este deverá cumprir a função atribuída ao bem.

Exercício
14. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A utilização compulsória do imóvel urbano independe de notificação prévia
ao titular do imóvel omisso.

4. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização


Estatuto da Cidade 23

Compulsória – Notificação

Conforme já estudado, a notificação tem como finalidade dar ciência, bem como
levar ao conhecimento do proprietário qual será a função que deverá ser atribuí-
da à propriedade.
A notificação é dirigida ao proprietário titular do imóvel urbano, se for pessoa
física. Se o imóvel pertencer a uma pessoa jurídica, deverá ser dirigida à pessoa
que tem função de gerência ou administração.
Se essa regra não for respeitada, somente haverá nulidade se houver vício de
ineficiência da notificação, ou previsão em lei. Ex.: notificação entregue para pes-
soa diversa do gerente ou administrador, ainda que de forma diversa da prevista
no ordenamento, se o titular da propriedade ou gerente ou administrador da
pessoa jurídica tomar ciência, a notificação cumpriu sua finalidade, não havendo
nulidade.
Se a notificação for realizada pessoalmente e o titular não for encontrado por
três vezes, será feita por edital, fato este que não está na lei.
O Estatuto da Cidade não estabeleceu os prazos e condições referentes ao
edital. Nesse sentido, Diógenes Gasparini entende que será feita apenas uma
publicação, salvo se a lei específica municipal estabelecer forma diversa.
A notificação estabelecerá prazos, cientificará o indivíduo para que este apre-
sente o projeto referente à função determinada (edificação, parcelamento, utili-
zação).
O prazo será determinado por lei específica, mas não poderá ser inferior a
um ano.
Apresentado o projeto a Administração Pública irá analisá-lo, podendo até
mesmo determinar diligências, como estudo de viabilidade, por exemplo.
Aprovado o projeto, o titular possui um prazo para começar a executar a fun-
ção, não podendo tal prazo ser inferior a dois anos.

Exercício
15. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta: O prazo para apresentação do
projeto, de acordo com o Estatuto da Cidade, é de dois anos, na hipótese de
edificação compulsória.

5. Do Parcelamento, Edificação ou Utilização


24 Estatuto da Cidade

Compulsória – Observações Finais

Os institutos estabelecidos nos arts. 5º e 6º da lei aqui estudada possibilitam


intervenção do Estado em um direito privado e individual. O proprietário quando
adquire a propriedade tem autonomia da vontade em seu terreno. Contudo, com
a possibilidade do poder público intervir, impondo a função social do bem, o titu-
lar do imóvel perde parte de sua autonomia privada.
Autonomia privada em relação aos institutos compulsórios é o princípio de-
corrente da intervenção do Estado, no exercício de um direito de propriedade.
Nova roupagem de autonomia da vontade.
Os prazos estabelecidos pelo Estatuto da Cidade, pela lei específica se referem
à apresentação e execução do projeto.
Sendo assim, não existe prazo para que a Administração Pública analise o
projeto. A doutrina entende que somente haverá prazo para análise do projeto se
este estiver estabelecido em lei específica. Ex.: se a lei específica não estabelece
prazo para finalizar a obra, não se pode exigir prazo para término.
Normas ambientais, leis de construção, entre outros diplomas, serão obser-
vadas na análise dos projetos apresentados. Assim, nota-se que será feita uma
análise completa para aquele objeto, bem como para seus resultados.

Exercício
16. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
É consequência da autonomia privada a possibilidade da Administração Pública
Municipal impor parcelamento compulsório de imóvel urbano.
Capítulo 3
IPTU Progressivo no Tempo

1. IPTU Progressivo no Tempo – Previsão Legal e


Conceito

As leis específicas podem estabelecer as condições dos institutos compulsórios,


conforme já visto anteriormente.
Se o indivíduo é notificado e não apresentou projeto, ou apresentou o projeto
e este foi recusado, ou, ainda, não realizou a função estabelecida na notificação,
de acordo com os arts. 7º do Estatuto da Cidade e 182, § 4º, II, da CF, poderá
haver incidência do IPTU progressivo no tempo.
É o instituto utilizado pela Administração Pública em que o imposto que incide
sobre a propriedade urbana sofre um aumento progressivo no tempo, de forma a
forçar o titular da propriedade a respeitar a função social do imóvel.
É uma forma indireta de coerção estatal, pois é como se fosse uma punição
indireta em relação àquele que não executa atividade alguma em sua proprie-
dade.
Os institutos compulsórios têm origem no poder de polícia municipal. O IPTU
progressivo no tempo tem origem no chamado poder extroverso do Estado, que
consiste no poder que o Estado tem de impor sua vontade, ainda que de forma
indireta, para fazer valer o interesse coletivo.
Quando o poder extroverso do Estado se manifesta em direito urbanístico, se
reflete também no IPTU progressivo no tempo.
É necessário ressaltar que é preciso que a Administração Pública utilize os ins-
titutos compulsórios antes de utilizar o IPTU progressivo no tempo.
Diante do regime jurídico administrativo, o IPTU progressivo no tempo é uma
forma da Administração Pública fazer valer sua vontade. Além de ser um poder
extroverso, tem origem no regime jurídico administrativo quando este concede à
26 Estatuto da Cidade

Administração Pública vantagens que outros não têm.

Exercício
17. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A Administração Pública municipal pode utilizar do instituto IPTU pro-
gressivo no tempo em qualquer hipótese e de forma ilimitada.

2. Limites

O IPTU progressivo no tempo é uma prerrogativa limitada, ou seja, a Administra-


ção Pública não possui autonomia plena para sua aplicação.
O primeiro limite é o quantitativo. A Administração Pública pode aumentar a
alíquota do IPTU anualmente, porém, existe limitação quantitativa.
O limite quantitativo consiste em que a administração pública pode aumentar
anualmente a alíquota do IPTU desde que respeite duas regras. A primeira é que
o aumento de um ano para o outro não pode ultrapassar o dobro do valor inicial.
Supondo que a alíquota do IPTU seja de 1% em 2003, em 2004 ela pode
chegar a 2%. Em 2005 pode chegar até 4% e assim sucessivamente.
Ocorre que, em 2007 será de 15%, que é o limite máximo e, em conformi-
dade com a legislação, o aumento progressivo só poderá ocorrer por cinco anos.
De acordo com o exemplo acima, se em 2007 o proprietário continuar inerte,
a Administração Pública poderá cobrar os 15% por prazo indeterminado ou po-
derá desapropriar o imóvel.
O IPTU progressivo no tempo é criado e regulamentado por lei municipal es-
pecífica, nos mesmos moldes dos institutos trabalhados anteriormente.

Exercício
18. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O IPTU progressivo no tempo, com base no interesse público, pode ultrapas-
sar o percentual de 15%.

3. IPTU Progressivo no Tempo – Natureza

O IPTU progressivo no tempo é um tributo, que incide sobre a propriedade urba-


Estatuto da Cidade 27

na imóvel e sua natureza é de tributo extrafiscal. Isso porque, seu objetivo não
é arrecadação de recursos para que o Estado execute serviços e obras em favor
da coletividade, mas sim forçar o indivíduo a finalizar uma postura inadequada.
Os professores Hely Lopes Meirelles e Victor Carvalho Pinto entendem que o
tributo possui natureza extrafiscal, mas não é uma punição por ato ilícito. É um
instrumento que o Poder Público tem de apropriar a conduta em relação à função
social.
Assim, são várias as consequências geradas por esse raciocínio. O primeiro é que,
se não é uma punição, mas sim adequação social, o IPTU progressivo no tempo não
gera para a pessoa o direito de exercer o contraditório e a ampla defesa.
Outra situação é que o IPTU progressivo no tempo possui limites temporais e
quantitativos. Não tem prazo para que seja aplicado, cinco anos é o prazo para
aumento da alíquota, porém, após esse prazo, a Administração pode continuar
executando o instituto.
Poderá, caso entenda ser ineficiente, executar a desapropriação. Note-se que
diante dessa situação, a desapropriação tem natureza discricionária, pois pode
substituir o IPTU progressivo no tempo.
O termo inicial da contagem do IPTU progressivo é o exercício tributário se-
guinte àquele em que se verificou a prática da omissão do proprietário no exercí-
cio da propriedade. O termo final também ocorrerá no próximo exercício tributário,
ou seja, no ano seguinte.

Exercício
19. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O IPTU progressivo no tempo tem função extrafiscal, possibilitando ao titular
o direito de defesa contra a Administração.

4. IPTU Progressivo no Tempo –


Constitucionalidade do Instituto

A CF veda que o Poder Público utilize os tributos de forma confiscatória, ou seja,


que a alíquota seja tão alta que a propriedade do indivíduo possa ser afetada pela
carga tributária. O princípio da vedação do confisco está previsto no art. 150, IV,
da Constituição.
Segundo Hugo de Brito Machado, é da finalidade dos tributos e impostos ex-
traficais, obrigar alguém a tomar determinada postura, e que a alíquota de 15%
28 Estatuto da Cidade

do IPTU progressivo não gera confisco da propriedade, por ter natureza extrafiscal
e não arrecadatória.
De acordo com a doutrina majoritária, tem-se como finalidade obrigar al-
guém a ter determinada postura e, assim, não há tributo com natureza arre-
cadatória.
O STF entende que o valor alto da alíquota de alguns tributos extrafiscais não
pode ser analisado de acordo com o princípio acima mencionado.
Para Hugo de Brito Machado, é o poder judiciário que vai analisar se há con-
fisco, pois é um contexto jurídico indeterminado.
A análise confiscatória do tributo é feita dentro de toda a carga tributária
nacional e não individualmente.
O STF entende, ainda, que a vedação do confisco se aplica em relação à multa,
ou seja, ela não pode ter um valor demasiadamente alto.
A utilização do IPTU progressivo no tempo é um exercício regulamentado e
limitado; há condições para que se garanta a boa-fé objetiva, devendo haver
notificação prévia.

Exercício
20. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O IPTU progressivo no tempo é um tributo extrafiscal e que deve respeitar o
princípio da vedação do confisco.

5. IPTU Progressivo no Tempo – Aplicação do


Instituto

Se em determinado município imóvel urbano da própria Administração Pública


não está sendo utilizado, sendo o bem pertencente ao Estado, indaga-se se é
possível que o município institua IPTU progressivo no tempo.
De acordo com o professor Victor Carvalho Pinto, que se baseia no art. 150,
VI, “a”, da CF, ele entende que não é possível que seja instituído IPTU progressivo
no tempo contra os outros entes da federação, uma vez garantida a imunidade
recíproca, que consiste em que os entes da federação não podem cobrar tributos
entre si.
Assim, se um Estado tem dentro do perímetro urbano de um município um
imóvel que não está sendo utilizado, este não pode forçar o Estado através do
Estatuto da Cidade 29

IPTU progressivo no tempo.


O Estatuto da Cidade, no § 3º do art. 7º estabelece impossibilidade de isen-
ções ou de anistia relativas à tributação progressiva. Isso, porque o instituto se
tornaria inviável se houvesse tal possibilidade.
A aplicabilidade exige que haja um plano diretor para que se aplique o IPTU
progressivo no tempo, o qual dará efetividade ao Estatuto da Cidade.
A segunda condição é a necessidade da existência no município de um ca-
dastro imobiliário atualizado, para que a Administração Pública consiga verificar
a situação de cada imóvel.
Ainda, é necessário que exista a chamada planta de valores, que consiste em
um documento municipal que irá averiguar o valor de cada imóvel e estabelecerá
a base de cálculo da alíquota do valor progressivo.

Exercício
21. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
De acordo com a Constituição, o IPTU progressivo pode ser aplicado contra
a União.
Capítulo 4
Desapropriação com
Pagamento em Títulos

1. Desapropriação com Pagamento em Títulos –


Conceito e Incidência

A propriedade não é absoluta, pois sofre restrições. O poder estatal pode, através
da desapropriação, extinguir a titularidade da propriedade.
Desapropriação é a retirada compulsória de um imóvel urbano em virtude do
descumprimento da função social da propriedade por meio de seu titular.
A Administração Pública pode utilizar os institutos compulsórios, conforme já
estudado anteriormente, bem como poderá utilizar o IPTU progressivo no tempo.
Se o IPTU progressivo no tempo chegar a seu limite máximo, a Administração
Pública pode cobrar a alíquota máxima de 15%, ou poderá utilizar o instituto da
desapropriação.
Bens imóveis particulares são os principais alvos do instituto da desapropria-
ção.
Além de tais bens, também podem sofrer desapropriação os bens imóveis
urbanos pertencentes à sociedade de economia mista e empresas públicas explo-
radoras de atividade econômica.
Imóvel urbano pertencente à sociedade de economia mista ou empresa públi-
ca exploradoras de atividade econômica, será passível de desapropriação, desde
que esse bem esteja desafetado, não sendo utilizado para nenhuma finalidade,
ou seja, se não tiver finalidade específica.
Bens pertencentes às autarquias e fundações públicas não podem ser desa-
propriados, uma vez que são considerados bens públicos.

Exercício
Estatuto da Cidade 31

22. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:


A desapropriação é um instrumento previsto no Estatuto da Cidade para
execução da política urbana.

2. Fundamentos

O art. 182, § 4º, III, da CF também traz previsão do instituto da desapropriação.


A Constituição permite a desapropriação com base na necessidade, utilidade
pública ou interesse social.
A doutrina majoritária estabelece que a desapropriação prevista no Estatuto
da Cidade tem como finalidade e fundamento a garantia da função social e, por-
tanto, tem previsão no interesse social.
O art. 8º, caput, do Estatuto da Cidade traz que o município tem competência
para desapropriação com base nesse diploma legal.
Quanto ao Distrito Federal, a doutrina entende que da mesma forma que o
município tem legitimidade para desapropriar imóveis com base no Estatuto da
Cidade, o Distrito Federal, também tem legitimidade, de acordo com o ensina-
mento de Jorge Gasparini.
Assim, nota-se que deve ser feita analogia em relação ao que tange ao Dis-
trito Federal.
O Estatuto da Cidade cita que os institutos previstos na lei serão regidos por
normas de cada instituto. Desta forma, a desapropriação sofre aplicação da lei
que criou o instituto, ou seja, o Decreto-lei Federal nº 3.365/1941.

Exercício
23. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
Somente o município tem legitimidade para desapropriar imóveis urbanos
com base no disposto no Estatuto da Cidade.

3. Desapropriação com Pagamento em Títulos –


Requisitos Específicos

A desapropriação possui requisitos específicos para que seja realizada. Primeiro é


preciso que haja plano diretor, conforme já estudado.
32 Estatuto da Cidade

Ainda, é preciso que haja lei específica municipal, determinando o regramen-


to e prazos da utilização dos institutos compulsórios.
Se tais institutos não forem cumpridos pelo titular da propriedade, a Adminis-
tração Pública poderá utilizar o IPTU progressivo no tempo.
Se esse IPTU progressivo no tempo chegar ao seu patamar máximo (15%),
dentro do limite temporal de cinco anos, a Administração Pública pode continuar
com a cobrança por prazo indeterminado ou utilizar a desapropriação para fins
de função social.
Note-se que a desapropriação aqui é uma alternativa ao IPTU progressivo,
ficando a cargo da conveniência e oportunidade da Administração Pública.
A desapropriação não decorre do poder de polícia do Estado, uma vez que
essepoder restringe o exercício de direitos individuais, mas isso não quer dizer que
tal poder aniquila o direito do particular. Ex.: no tombamento de um bem, o pro-
prietário continua sendo titular do imóvel, tendo de se submeter a vários limites.
Nota-se que, com base na doutrina majoritária, a desapropriação não é ma-
nifestação do poder de polícia estatal, pois aniquila um direito, que é o de pro-
priedade.
O tombamento de um bem traz ao titular limitações no exercício do direito de
propriedade, ocorrendo de forma diferente da desapropriação.

Exercício
24. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A desapropriação prevista no Estatuto da Cidade é a manifestação do poder
de polícia estatal.

4. Desapropriação com Pagamento em Títulos –


Valor da Indenização

O § 2º do art. 8º do Estatuto da Cidade dispõe acerca do assunto. O valor da


indenização será o chamado valor real, que será a incidência da alíquota do IPTU,
ou seja, sua base de cálculo que resultará no valor venal do imóvel.
Valor venal do imóvel é o valor de mercado, isto é, a quantia que o titular da
propriedade conseguiria com a venda à vista do imóvel.
Desse valor deve ser subtraído o que foi gasto com melhorias realizadas pelo
Poder Público naquela localidade após a notificação.
Estatuto da Cidade 33

O inciso I do § 2º do art. 8º dispõe: “O valor real da indenização: I – refletirá o


valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante incorporado em função
de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o mesmo se localiza após a
notificação de que trata o § 2º do art. 5º desta Lei”.
Assim, note-se que o dispositivo fala em obras, ou seja, serviços não podem
ser descontados do valor do imóvel, não sendo descontado também se for rea-
lizada obra pela iniciativa privada, ou pelo poder público antes da notificação.
Ressalte-se que não serão levados em conta os lucros cessantes, os valores
que a pessoa poderia ganhar futuramente.

Exercício
25. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A indenização na desapropriação prevista no Estatuto da Cidade leva em
consideração o valor real e o valor venal descontados outros requisitos pre-
vistos na lei.

5. Desapropriação com Pagamento em Títulos –


Título da Dívida Pública

Se o Poder Público cobra a contribuição de melhoria, e o indivíduo pagou a con-


tribuição, a Administração Pública não possui legitimidade para efetuar o descon-
to do valor em caso de desapropriação, uma vez que o valor agregado ao imóvel
já foi pago através da contribuição de melhoria.
Títulos da dívida pública é um instituto em que a Administração Pública paga
o indivíduo.
O art. 182, § 4º, III, da CF prevê: “Desapropriação com pagamento mediante
títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal,
com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais”.
Trata-se de um título emitido pelo Estado na qualidade de empréstimo, não
possuindo ampla e direta liquidez.
O prazo de resgate da dívida pública é de dez anos, sendo o valor corrigido
anualmente no percentual de 6%.
Ressalte-se que a correção monetária, de acordo com a doutrina encabeçada
por Diógenes Gasparini, é incidente. Assim, incide 6% ao ano de juros e a corre-
ção monetária fica a cargo da doutrina.
34 Estatuto da Cidade

O título da dívida pública é aprovado pelo Senado, pois o próprio Estatuto


assim estabelece, já que o Senado controla os gastos dos municípios em relação
a essas dívidas.

Exercício
26. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
As indenizações pagas em virtude de desapropriação com base no Estatuto
da Cidade têm baixa liquidez e podem ser resgatadas no prazo de dez anos.

6. Desapropriação com Pagamento em Títulos –


Observações Finais

O imóvel, quando é incorporado pela Administração Pública através da desapro-


priação, passa a ser denominado bem dominical, sem destinação específica.
O Estatuto da Cidade estabelece o prazo de cinco anos para que a Administra-
ção Pública dê uma destinação àquele bem, sendo contados a partir do momento
em que o imóvel é incorporado ao patrimônio público.
Se não for dada destinação no prazo, o Prefeito poderá responder por impro-
bidade administrativa.
Os cinco anos começam a contar a partir da incorporação. A primeira cor-
rente, da qual faz parte Diógenes Gasparini, entende que a incorporação pro-
priamente dita ocorre quando a Administração Pública paga a indenização ao
desapropriado.
A segunda corrente entende que a incorporação ocorre com o registro do
mandado de imissão de posse emitido pelo juiz.
Se a Administração Pública desapropria e aliena imóvel a um particular, esse
terceiro deve cumprir o disposto na notificação, pois é uma norma que fica agre-
gada ao bem, uma vez que se trata de direito real.
Ressalte-se que a notificação é registrada, não podendo o terceiro alegar des-
conhecimento dos encargos.

Exercício
27. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A Administração Pública municipal tem o prazo de três anos para dar uma finali-
Estatuto da Cidade 35

dade ao bem expropriado sob pena de improbidade administrativa cometida


pelo Prefeito.
Capítulo 5
Usucapião Especial de
Imóvel Urbano (arts. 9º ao
14)

1. Conceito e Fundamentos

Usucapião no Estatuto da Cidade possui previsão no art. 9º, sendo somente uma
das hipóteses.
A usucapião é uma forma originária de aquisição da propriedade em virtude do
exercício da posse por determinado prazo e de forma ininterrupta.
É a situação do indivíduo que exerce sua posse por determinado tempo,
preenchidos os requisitos previstos em lei.
O art. 9º dispõe: “Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de
até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente
e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.
Nota-se que a proteção é da pessoa e de sua família. Cristiano Chaves e
Nelson Rosenvald entendem que usucapião é forma originária de aquisição de
propriedade, ou seja, em virtude da posse sem que haja resistência, adquire a
propriedade sem que tivesse ligação jurídica com o antigo proprietário.
A professora Maria Helena Diniz traz fundamentos para a usucapião. Tem
como finalidade garantir segurança nas relações jurídicas, um fundamento prin-
cipiológico.
Ainda, apresenta um fundamento constitucional, materializado no art. 183 da
CF. Entende a professora que o instituto da usucapião possui parâmetro constitu-
cional, pois garante a dignidade humana.
Por fim, apresenta o fundamento legal, pois existe a previsão no art. 9º do
Estatuto da Cidade.
Alguns doutrinadores entendem que a finalidade da usucapião também é a
garantia do mínimo existencial.
Estatuto da Cidade 37

Exercício
28. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A Constituição de 1988 estabelece como forma de proteção da posse mansa
e pacífica o instituto da usucapião.

2. Usucapião Especial de Imóvel Urbano (Pro


Morare)

É preciso que se faça distinção entre posse e propriedade. A posse é uma situação
de fato, é a aparência do indivíduo exercendo os atributos de uma propriedade.
A propriedade é uma relação de direito, pois a pessoa tem o domínio do bem.
A primeira espécie de usucapião prevista no Estatuto da Cidade é a especial
urbano, também chamada de pro morare, prevista no art. 9º do diploma legal
mencionado.
O primeiro requisito do pro morare diz respeito à legitimidade, ou seja,aquela
família que não possuir outro imóvel urbano ou rural para sua moradia. Nota-se
aqui um caráter assistencialista, de proteção.
O segundo ponto importante é o prazo para o indivíduo adquirir a proprieda-
de, devendo haver o exercício da posse por cinco anos sem que haja interrupção
e nem oposição do titular do imóvel.
A doutrina entende que se houver ação judicial contra aquele que está na
posse e esta é julgada improcedente, não haverá quebra do exercício contínuo
da posse.
A posse deve, ainda, ser exercida com animus domini, ou seja, deve haver a
intenção de ser dono.
Quanto ao tamanho da propriedade é preciso que esta não ultrapasse 250
m², notando-se mais uma vez o caráter assistencialista.

Exercício
29. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
É possível a aquisição da propriedade por alguém que tenha outro imóvel rural, se
preenchidos os requisitos estabelecidos no Estatuto da Cidade.

3. Usucapião Especial de Imóvel Urbano (Pro


Morare) – Observações Gerais
38 Estatuto da Cidade

O instituto da usucapião pro morare está previsto no art. 9º do Estatuto da Cida-


de, conforme estudado anteriormente.
Pessoa jurídica não pode usucapir com base na usucapião aqui estudada, pois
o instituto fala de moradia, e pessoa jurídica tem sede, segundo entendimento
apresentado por Carlos José Cordeiro.
Ainda, entende o doutrinador que existe proteção à família, não sendo possí-
vel pessoa jurídica a possuir.
A doutrina majoritária, de que fazem parte José dos Santos Carvalho Filho,
Edimur Ferreira de Faria e Diógenes Gasparini, entende que bens públicos imóveis
pertencentes à Administração Pública não podem ser usucapidos, pois são im-
prescritíveis, ou seja, jamais o Poder Público perderá a propriedade em virtude da
prescrição aquisitiva. Tais autores apresentaram como fundamento os arts. 183, §
3º, e 191 da CF, e Súmula nº 340 do STF, que traz que nem mesmo os bens do-
minicais – aos quais a administração pública ainda não deu destinação – podem
ser usucapidos.
Uma segunda corrente entende que os bens dominicais podem sofrer usu-
capião. Trazem como ideia que um bem público que não está sendo utilizado,
não possui finalidade, portanto, não pode ter um valor maior do que a dignidade
humana de uma família.
Esta corrente decorre dos estudos de Juarez de Freitas, único autor a entender
que o bem público dominical pode ser usucapido, trabalhando uma ponderação
de valores.

Exercício
30. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
Os bens dominicais jamais poderão ser usucapidos.

4. Usucapião Coletivo – Conceito e Requisitos

Pode existir um imóvel na cidade que tenha caráter agrícola, deixando alguns em
dúvida se a propriedade é urbana ou rural.
A doutrina majoritária entende que para fins de usucapião analisa-se em vir-
tude de sua localização, ou seja, se existe um sítio dentro de uma cidade, trata-se
de imóvel urbano.
O art. 10 do Estatuto da Cidade traz a usucapião coletivo, como uma forma
de aquisição da propriedade através da posse mansa e pacífica por população de
baixa renda, vivendo em vilas e favelas.
Estatuto da Cidade 39

Alguns chamam a usucapião coletivo de usucapião de favela. Essas pessoas


não podem entrar com ação judicial de forma individualizada, tendo em vista não
conseguirem determinar a porção exata de cada um. Sendo assim, elas entram
com ação de usucapião coletivo.
O primeiro requisito é que sejam pessoas de baixa renda e que não possuam
outro imóvel urbano ou rural; aquelas que vivam em situações em que o imóvel
não pode ser individualizado, singularizado.
A área a ser usucapida deve ser superior a 250 m². Ainda, a posse deve ser
com animus domini.
O prazo para usucapião coletivo é de cinco anos, devendo haver a posse man-
sa e pacífica durante esse período.
A finalidade da usucapião coletivo é garantir às pessoas de baixa renda o di-
reito à moradia; é a proteção da dignidade da pessoa humana.

Exercício
31. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A usucapião coletivo previsto no Estatuto da Cidade tem como requisito
espacial no mínimo 250 m².

5. Usucapião Coletivo – Observações Finais

A observação inicial a ser feita é sobre o termo “pessoas de baixa renda”. A


primeira corrente doutrinária é a majoritária, defendida pelos professores Nelson
Rosenvald e Cristiano Chaves, que entendem que pessoas de baixa renda é um
conceito jurídico indeterminado, ou seja, a lei não traz o conteúdo.
Os doutrinadores mencionados acima entendem que a situação de baixa ren-
da deverá ser analisada pelo juiz, de acordo com as circunstâncias apresentadas
na petição inicial.
A segunda corrente, de Caramuru Francisco, entende que pessoas de bai-
xa renda são aquelas cujo rendimento não ultrapasse três salários-mínimos para
toda a família, salvo se viva sozinho. A situação é analisada caso a caso.
A natureza da sentença que declara usucapião é declaratória, pois o juiz irá
declarar uma situação que já existe, confirmando uma situação já constituída
previamente.
A natureza da propriedade decorrente da usucapião coletivo é de condomí-
nio, pois cada um recebe do Estado uma fração ideal de um todo, não um local
40 Estatuto da Cidade

específico, sendo este condomínio de natureza pró indivíduo.

Exercício
32. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A sentença que analisa usucapião tem natureza constitutiva.
Capítulo 6
Direito de Superfície

1. Direito de Superfície – Conceito e Natureza

O direito de superfície está previsto no Estatuto da Cidade entre os arts. 21 e 24,


e consiste em um contrato realizado entre o proprietário e o superficiário, que
permite a este usar, gozar, dispor e reivindicar a propriedade objeto do contrato.
O superficiário pode usar o solo, o subsolo e o espaço aéreo do imóvel, ou
seja, a pessoa que recebe o direito pode usar com base em todos os atributos da
propriedade, apesar de não ser o titular.
A natureza desse direito é real, pois o contrato é formalizado através de escri-
tura pública e deve ser registrado em Cartório de Registro de Imóveis.
O beneficiário pode usar a superfície, ou seja, através de uma atividade pode
usar o imóvel para seu prazer.
Poderá gozar da superfície, isto é, utilizá-la para adquirir frutos, como locar
o imóvel.
Reivindicar de terceiros também é um direito, inclusive contra o próprio pro-
prietário do bem, através de ação possessória.
O direito de superfície pode ser feito de forma onerosa ou gratuita.
Ainda, existe uma formalidade que deve ser respeitada, que é a escritura pú-
blica, ou seja, os contratos são formais e solenes.
Os contratos de direito de superfície podem ser realizados por prazo determi-
nado ou indeterminado.

Exercício
33. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito de superfície previsto no Estatuto da Cidade somente pode ser
42 Estatuto da Cidade

realizado por prazo determinado.

2. Observações Gerais

O direito de superfície pode ser transmitido também pelo superficiário e a trans-


ferência não pode sofrer nenhuma resistência do proprietário, contudo, este tem
direito de preferência em receber o direito de superfície.
Nota-se que tanto o proprietário quanto o superficiário têm direito de prefe-
rência recíproco.
O direito de preferência também é chamado de direito de preempção no di-
reito de superfície.
A relação existente é de direitos reais, uma vez que é materializada através de
escritura pública registrada, não impedindo que seja transmitida a outra pessoa.
A extinção do direito de superfície ocorre de algumas formas. Uma delas é
se o direito de superfície foi realizado por prazo determinado, e quando este for
esgotado, o contrato perderá seus efeitos.
Outra forma de extinção ocorrerá se houver descumprimento das cláusulas
contratuais previstas na escritura.
Por fim, haverá a extinção quando o superficiário der uma destinação diferen-
ciada para o imóvel.
A extinção do direito de superfície recebe o mesmo tratamento de sua consti-
tuição, ou seja, deverá ser averbada no Cartório de Registro de Imóveis, para que
haja publicidade do fim da relação.

Exercício
34. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito de superfície somente se extingue pelo decurso do tempo estabe-
lecido na escritura.
Capítulo 7
Direito de Preempção

1. Direito de Preempção – Conceito e Natureza

Existem alguns imóveis que a Administração Pública tem a intenção de adquirir


para realização de obra em favor da coletividade.
O direito de preempção é o de preferência estabelecido em lei municipal,
atribuído ao município para a aquisição de propriedades privadas quando estas
forem alienadas por seus titulares.
A Administração Pública menciona onde tem ou não interesse através de lei
municipal, com base no plano diretor.
O § 1º do art. 25 do Estatuto da Cidade prevê: “Lei municipal, baseada no
plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará
prazo de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após
o decurso do prazo inicial de vigência”.
O direito de preempção somente será direito real quando a lei estabelecer,
caso contrário, é um direito obrigacional envolvendo proprietários e administra-
ção pública municipal.
De acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello, decorre da manifestação do
poder de polícia do Estado, pois está restringindo um direito do indivíduo.
A lei municipal irá estabelecer as áreas que a administração pública terá o
direito de preferência, estabelecendo também o prazo, que não pode ultrapassar
cinco anos. Tal prazo pode ser renovado, de acordo com o que prevê o Estatuto
da Cidade.

Exercício
35. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O Estatuto da Cidade prevê como forma de política urbana o direito de
44 Estatuto da Cidade

preempção em que a Administração Pública municipal tem direito de pre-


ferência de aquisição de imóveis urbanos na hipótese de venda por seus
proprietários.

2. Direito de Preempção – Procedimento

Quanto ao procedimento, inicialmente, o proprietário possui intenção de vender


o imóvel e deve notificar a Administração Pública municipal a respeito da venda.
A notificação deve vir acompanhada de um documento que demonstre a in-
tenção de terceiro na aquisição. Deve conter o valor oferecido, bem como as
condições de pagamento e o prazo de validade da oferta.
A Administração Pública tem o prazo de 30 dias para se manifestar, a contar
do recebimento da notificação.
A manifestação do município deve ser feita por escrito, de forma solene ou
formal.
Se não houver manifestação dentro do prazo por parte da administração pú-
blica, o proprietário fica autorizado a vender ao terceiro o imóvel.
Depois de vendido, o antigo proprietário deverá apresentar uma documenta-
ção demonstrando a venda do bem nos moldes da proposta oferecida.
Tal documentação deve ser apresentada no prazo de 30 dias.

Exercício
36. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito de preempção deve ser exercido pela Administração Pública muni-
cipal no prazo de 15 dias após a sua notificação.

3. Direito de Preempção – Observações Finais

Se o proprietário resolve vender o imóvel em condições diversas das apresen-


tadas na notificação, a alienação será nula de pleno direito, jamais poderá ser
sanada.
Trata-se de uma punição, pois pode ser que tenha sido gerada uma atividade
contra os interesses da Administração Pública municipal.
A Administração Pública é obrigada a dar a destinação estabelecida na lei
municipal que fundamentou o direito de preferência na aquisição daquele imóvel
Estatuto da Cidade 45

urbano.
Assim, nota-se que a utilização do bem deverá ser a mesma que fundamentou
a aquisição. Caso dê destinação diversa, o Prefeito poderá responder por impro-
bidade administrativa.
O município possui prazo para dar finalidade ao imóvel? A primeira corrente
entende que não há prazo; a Administração Pública adquiriu o imóvel, mas não
tem prazo para dar início à destinação.
A segunda corrente, liderada por Diógenes Gasparini entende que não pode
haver liberdade sem que haja limites temporais, e, assim, é necessário que seja
feita analogia ao prazo estabelecido na hipótese de desapropriação.
Desta forma, o prazo seria de cinco anos nesta situação, sendo feita analogia
entre as situações.

Exercício
37. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A Administração Pública terá de dar uma destinação ao imóvel adquirido em
direito de preempção no prazo de dois anos, de acordo com o Estatuto da
Cidade.
Capítulo 8
Outorga Onerosa do
Direito de Construir

1. Outorga Onerosa do Direito de Construir –


Conceito

O plano diretor estabelece um limite que pode ser utilizado dentro do terreno,
que é o coeficiente de aproveitamento. Assim, o plano diretor dispõe acerca do
percentual possível, o grau de modificação que o imóvel poderá sofrer.
Outorga onerosa do direito de construir é a licença concedida pelo município
destinada a um determinado proprietário para construir além do chamado coefi-
ciente de aproveitamento.
O indivíduo não poderá usar todo o terreno, a não ser que o plano diretor
permita.
Coeficiente de aproveitamento é a relação existente entre o território do imó-
vel e a possibilidade que o proprietário tem de construir nesse território, de acor-
do com o art. 28, § 1º, do Estatuto da Cidade.
Assim, o plano diretor irá estabelecer quais são as áreas e qual é o coeficiente
de aproveitamento das mesmas.
Se o indivíduo quiser construir além do coeficiente de aproveitamento previsto
no plano diretor, é preciso que haja outorga por parte da Administração Pública.
Ressalte-se que deverá haver uma contraprestação, não necessariamente de
natureza financeira, ou seja, o indivíduo pode se comprometer em revitalizar
aquela área.

Exercício
38. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A outorga onerosa do direito de construir é uma licença concedida pelo Po-
Estatuto da Cidade 47

der Público municipal que permite a ampliação do direito de construir com


base no Estatuto da Cidade.

2. Outorga Onerosa do Direito de Construir –


Observações Finais

A natureza jurídica da outorga onerosa do direito de construir é licença e, sendo


uma licença, caso haja as condições estabelecidas na lei municipal com base no
Estatuto da Cidade, a Administração Pública não possui legitimidade para negar
essa outorga.
Ainda, trata-se de outorga onerosa, tendo em vista a existência de uma con-
traprestação, que poderá ser financeira, entrega de bem, ou até mesmo serviços.
A outorga onerosa do direito de construir possui limites de acordo com o
plano diretor.
Resumindo, o plano diretor irá estabelecer a criação e as áreas que podem ser
objeto da ampliação do direito de construir. Ainda, é o plano diretor que estabe-
lecerá os limites.
As condições, de acordo com o art. 30 do Estatuto da Cidade, serão estabele-
cidas por lei municipal específica.

Exercício
39. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
É da competência do plano diretor estabelecer as condições para o exercício
da outorga onerosa do direito de construir.
Capítulo 9
Operações Urbanas
Consorciadas

1. Operações Urbanas Consorciadas – Conceito e


Objetivo

O instituto de operações urbanas consorciadas é uma atuação conjunta entre a


Administração Pública municipal e a iniciativa privada na realização e transforma-
ções urbanísticas.
O objetivo do instituto é a transformação, valorização ambiental, conforme
dispõe o § 1º do art. 32 do Estatuto da Cidade.
Prevê o dispositivo: “Considera-se operação urbana consorciada o conjunto
de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a
participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores
privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas
estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental”.
A atuação conjunta faz com que haja melhoria nas regiões e os beneficiários
devem apresentar uma contraprestação, que pode ocorrer através da prestação
de um serviço, entrega de um bem ou até mesmo realização de obras.
O ordenamento jurídico parte do Estatuto da Cidade, havendo plano diretor
para estabelecer as áreas e lei específica municipal que tratará da contraprestação.
Assim, um projeto será feito a respeito da operação.
Ressalte-se que o que se arrecada com a contraprestação deverá ser emprega-
do no próprio projeto de revitalização.

Exercício
40. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
Estatuto da Cidade 49

As operações urbanas consorciadas são uma atuação entre Administração


Pública municipal e a iniciativa privada, prevista no Estatuto da Cidade.
Capítulo 10
Transferência do Direito
de Construir

1. Transferência do Direito de Construir –


Conceito e Aplicabilidade

A transferência do direito de construir é a possibilidade do titular da propriedade


transferir o direito de construir de uma propriedade para outra em virtude de
condições estabelecidas em lei.
Essa transferência pode ocorrer nos termos da lei, pois deve haver previsão
no plano diretor e em lei específica e é feita através de escritura pública, a qual
deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Tal direito está previsto no art. 35 do Estatuto da Cidade.
A transferência pode ocorrer de uma propriedade para outra na mesma titu-
laridade ou em relação à propriedade de um terceiro.
Nota-se que a transferência faz com que o imóvel que tinha o direito não mais
o possua.
Deve existir o plano diretor para que haja transferência do direito de construir,
bem como lei municipal, não precisando tal diploma legal ser específico.
A lei municipal irá estabelecer as condições e autorizar a transferência.
Ainda, é necessário que se analise se o imóvel que está transferindo o direito
de construir enquadra-se nas hipóteses do art. 35, I, II ou III.

Exercício
41. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
A transferência do direito de construir deve vir expressamente em lei especí-
fica municipal.
Capítulo 11
Estudo de Impacto de
Vizinhança

1. Estudo de Impacto de Vizinhança – Conceito e


Finalidade

A propriedade imóvel urbana sofre diversas limitações. O estudo de impacto de


vizinhança tem a finalidade de analisar as alterações que o empreendimento cau-
sará na cidade e no meio ambiente.
O estudo pode ser utilizado como parâmetro, como pesquisa antecipada para
concessão ou não para cada empreendimento.
A lei municipal irá estabelecer quais os empreendimentos que deverão ser
objeto do estudo de impacto de vizinhança, não havendo necessidade de que a
lei seja específica.
O art. 36 do Estatuto da Cidade dispõe: “Lei municipal definirá os empreen-
dimentos e atividades privados ou públicos, em área urbana, que dependerão
de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV), para obter as
licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do
Poder Público municipal.”
A documentação do estudo possui caráter público, de acordo com o parágra-
fo único do art. 37 do diploma legal aqui estudado: “Dar-se-á publicidade aos
documentos integrantes do EIV, que ficarão disponíveis para consulta, no órgão
competente do Poder Público municipal, por qualquer interessado.”
É necessário ressaltar que o estudo de impacto de vizinhança não exclui a
realização do estudo de impacto ambiental, o qual possui previsão em leis am-
bientais, conforme dispõe o art. 38 do Estatuto da Cidade.
Parte da doutrina entende que o estudo de impacto de vizinhança será deter-
minado por lei municipal, porém, uma corrente minoritária entende que poderá
ser usado em qualquer situação.
52 Estatuto da Cidade

Exercício
42. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O estudo de impacto de vizinhança previsto no Estatuto da Cidade é uma
alternativa ao estudo de impacto ambiental, previsto na lei ambiental.
Capítulo 12
Do Plano Diretor

1. Do Plano Diretor – Conceito e Aplicabilidade

Plano diretor é uma lei municipal que tem como finalidade garantir a função so-
cial da propriedade através da organização de questões urbanísticas.
De acordo com o que entende José Afonso da Silva, o plano diretor é plano,
pois estabelece objetivos a serem alcançados.
Hely Lopes Meirelles traz que as principais características do plano diretor é
que este deve ser uno, ou seja, se estabilizar em apenas uma lei, e exclusivo.
Possui como finalidade alcançar objetivos e estabelecer diretrizes e princípios
que devem ser respeitados pela Administração Pública.
O Estatuto da Cidade estabeleceu algumas condições relacionadas ao plano
diretor.
Portanto, para que seja elaborado plano diretor, é preciso que haja audiências
públicas e debates sociais, tendo em vista o objeto relacionado ao plano.
Ainda, haverá publicidade dos documentos elaborados durante a realização
do plano diretor e das pesquisas feitas pela Administração Pública; toda a do-
cumentação será pública.
Qualquer pessoa pode ter acesso às informações e documentos adquiridos
pela Administração Pública na elaboração de pesquisas.
O plano diretor não é obrigatório em todos os municípios, mas somente na-
queles em que a população seja superior a 20.000 habitantes ou nas regiões
metropolitanas e aglomerações urbanas.
Também é obrigatório quando as cidades quiserem utilizar dos institutos com-
pulsórios, ou então, quando o município quiser utilizar o IPTU progressivo; há,
ainda, a possibilidade de o município que queira utilizar de desapropriação por
54 Estatuto da Cidade

títulos da dívida pública.


É obrigatória a realização do plano diretor, quando a cidade possuir interesse
turístico.
Também, para cidades que estão na área de empreendimentos que coloquem
em risco o meio ambiente. Exemplo: cidades que tenham usinas nucleares.

Exercício
43. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O plano diretor é uma lei municipal que deverá ser revisada a cada dez anos.

2. Do Plano Diretor – Observações Finais

A CF estabelece valores que deverão ser protegidos, que o Estatuto da Cidade


e o plano diretor deverão seguir.
O Estatuto da Cidade também estabelece valores, princípios e metas, colocan-
do regras protetivas dos valores constitucionais.
Contudo, o Estatuto deve atuar juntamente com o plano diretor, o qual varia
de município para município, nem sempre sendo obrigatório.
O plano diretor estabelece objetivos, diretrizes e princípios. Atua ao lado de
leis, sejam estas esparsas, específicas ou não.
Tais leis estabelecem condições e regramento de institutos.
O conjunto do disposto acima é a manifestação do direito urbanístico no Bra-
sil. Existe a gestão democrática da cidade, ou seja, a possibilidade que as pessoas
possuem de influenciar na Administração Pública em relação a algumas normas
de direito.
O Estatuto da Cidade trabalha a gestão democrática da cidade entre os arts.
43 e 45, permitindo a participação social de diversas maneiras.

Exercício
44. Julgue se a assertiva está correta ou incorreta:
O direito urbanístico no Brasil tem como fundamento os interesses metain-
dividuais de terceira geração.
Estatuto da Cidade 55

Gabarito

1. Correta. A questão não mencio- resgatou.


na a palavra somente. Portanto, 5. Correta.
mesmo não havendo a palavra 6. Correta.
reivindicar, está correta. 7. Correta.
2. Correta. 8. Correta.
3. Incorreta. É absoluta, mas sofre 9. Incorreta. O art. 3º, III, do Estatuto
restrição em face de leis e contra- da Cidade, determina que compe-
tos, uma vez que a propriedade te à União, promover junto com
não é plena. Dizer que proprie- os Estados, Municípios e Distrito
dade é absoluta, significa que é Federal, programas habitacionais
oponível erga omnes, mas pode que garantam o acesso da popu-
sofrer limitações, podendo ser lação a propriedades imóveis.
reivindicada e protegida contra 10. Incorreta. Não possui caráter
atuações de terceiros. exaustivo, e sim exemplificativo.
4. Incorreta. São dois institutos que 11. Correta.
decorrem da aderência, a seque- 12. Correta.
la, que é o lado positivo, o direito 13. Correta.
de perseguir, e a ambulatorieda- 14. Errada. É necessário notificação
de, o lado negativo, que consiste prévia.
no ônus trazido juntamente com 15. Errada. O estatuto da cidade não
a propriedade que o indivíduo estabelece prazos, e sim limites.
56 Estatuto da Cidade

Os prazos são estabelecidos por 29. Incorreta. Só tem legitimidade


lei específica municipal. de aquisição de propriedade por
16. Correta. usucapião quem não possuir ou-
17. Incorreta. A administração muni- tro imóvel urbano ou rural.
cipal depende de previsão legal 30. Correta.
para atuação. Portanto, a aplica- 31. Correta.
ção do IPTU progressivo é regida, 32. Incorreta. A sentença que analisa
regulamentada e limitada pelas usucapião tem natureza declara-
leis. tória.
18. Incorreta. Não pode ultrapassar o 33. Incorreta. Também pode ocorrer
limite quantitativo de 15%. por prazo indeterminado.
19. Incorreta. Contraditório e ampla 34. Incorreta. O direito de superfície
defesa estão presentes quando há pode se extinguir se esgotado o
punição, multa. O IPTU progressi- prazo estipulado em contrato, se
vo no tempo tem caráter extrafis- houver descumprimento de cláu-
cal, e não punitivo. sulas contratuais, ou der destina-
20. Incorreta. A doutrina e o STF en- ção diferenciada para o imóvel.
tendem que a alíquota de 15%, a 35. Correta.
título de IPTU progressivo, devido 36. Incorreta. O prazo é de 30 dias.
a sua natureza extrafiscal, não é 37. Incorreta. Não existe prazo de
confiscatório. dois anos.
21. Incorreta. A imunidade recíproca 38. Correta.
prevista no art. 150, VI, “a”, da 39. Incorreta. As condições para o
Constituição, impede que os en- exercício da outorga onerosa não
tes da federação exijam tributos estão estabelecidas no plano dire-
uns dos outros. tor, e sim por lei municipal especí-
22. Correta. fica.
23. Correta. 40. Correta.
24. Errada. Não é manifestação do 41. Incorreta. Não há necessidade de
poder de polícia estatal, uma vez lei específica, basta uma lei muni-
que essa apenas restringe os di- cipal.
reitos individuais, enquanto a de- 42. Incorreta. Não é uma alternativa
sapropriação aniquila o direito de porque um não afasta a possibili-
propriedade. dade da realização do outro, ape-
25. Correta. sar de serem semelhantes.
26. Correta. 43. Correta.
27. Incorreta. O prazo é de cinco anos 44. Correta.
a partir da incorporação do bem
ao patrimônio público.
28. Correta.

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