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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA E ESPAÇOS
Natal/RN
2018
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PERGUNTA DE PARTIDA
EXPLORAÇÃO
Segundo Corrêa (2012, p. 17) foi somente entre 1950 e 1970 que se iniciou em
universidades na Europa, mais especificamente na França, Itália e Inglaterra um
movimento de revalorização da história regional. Esta nova fase, ao contrário da
anterior marcada pelo amadorismo de seus autores, estava respaldada em métodos
1
Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo – Eurocentrismo é o exemplo da
Europa como centro de tudo - é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos
através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. Rocha, Everardo. "O
que é Etnocentrismo", Ed. Brasiliense, 1984, pág. 7.
2
A ocidentalização corresponde, portanto, ao movimento de difusão/imposição da cultura ocidental nas
colônias dos Impérios Ultramarinos – em outras palavras, à conquista das almas, dos corpos e dos
territórios do Novo Mundo. Esse movimento de ocidentalização, levado à frente por castelhanos e
posteriormente por portugueses, produz[iu] situações de choque e relações de poder entre os recém-
chegados (os europeus) e os que se encontravam na terra firme (os nativos). O conceito e a problemática
da ocidentalização estão sendo tomados, aqui, de GRUZINSKI, Serge. O Pensamento Mestiço, p. 63-110.
In. Macedo, Helder Alexandre Medeiros. Citado em Revista da Faculdade do Seridó, v.1, n.0, jan./jun.
2006. p. 16.
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científicos originados nas universidades combinando “[...] estruturas braudelianas, a
conjuntura de Labrouse e a nova demografia histórica” (BURKE, 1991, p.56)
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MONTEIRO, Denise Mattos. Balanço da Historiografia Norte-rio-grandense. In: Encontro Regional da
ANPUH-RN (1:2004: Natal-RN). Anais do I Encontro Regional da ANPUH-RN: O ofício do historiador,
23 a 29 de maio de 2004, Natal, RN/ Associação Nacional de História: Organizador: Raimundo Nonato
Araújo da Rocha-Natal-RN: EDUFRN, Editora da UFRN, 2006.
4
CASCUDO, Luís da Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação, 1955; LYRA, Augusto Tavares de. Rio Grande do Norte. Coleção História Potiguar. Ed.
EDUFRN, 2008 e POMBO, Rocha. História do Estado do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro:
Anuário do Brasil, 1922.
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Uma segunda fase, denominada por Mattos de “Acadêmica” diz respeito ao
ínterim dos anos 1970 e 1980 e guarda relação direta com o processo de afastamento
dos professores do Departamento de História da UFRN (Campus Natal) para a pós-
graduação. Nesse período se destacam as colaborações de autores da Sociologia,
Economia e Ciência Política. Destacamos aqui o livro didático, Nosso Estado (1984) de
autoria de Solange Maria Magalhães.
A terceira e última fase, a partir dos anos 1990, que não recebe um nome em
específico no texto de Mattos, mas aqui trataremos como “Profissional”, uma vez que se
conecta com o processo através do qual o ingresso na carreira docente nos
Departamentos de História da UFRN se deu, exclusivamente, através de concurso
público. Nessa fase, temos uma profusão de livros didáticos de História do Rio Grande
do Norte, vejamos: Rio Grande do Norte, Meu Estado (1991), dos autores Aleuda
Wanderley Marinho e Carlos Henrique Maira Mavignier Noronha; Rio grande do
Norte, “Nossa Gente... Nossa História” (da civilização indígena à expulsão dos
holandeses) e (da recolonização da capitania do Rio Grande Do Norte ao Golpe De
1930) (1994) de Marlúcia Galvão Brandão; A Terra e o Povo: Rio Grande do Norte
(1994) dos autores Marlúcia Galvão Brandão, José Lacerda A. Felipe e Maria Cristina
Ozório Tavares; Rio Grande do Norte: Geografia – História (1995) das autoras
Raimunda Almeida e Maria das Neves Castro; Rio Grande do Norte Estudos Sociais:
História e Geografia (1997) de José Lacerda A. Felipe; Rio Grande Do Norte, meu
Estado: Estudos Sociais (1999) e Rio Grande Do Norte: Cultura e Cotidiano: História
(2012) de Carlos Henrique Maira Mavignier Noronha.
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apostilas de História do Rio Grande do Norte, tendo como objeto central de sua análise
a fundação da cidade do Natal.
6
SILVA, Maria de Fatima de carvalho; COSTA, Maria Luciana Bento da; LOPES, Telany Cristina;
Santos, Rosenilson da Silva; “HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO IMPERIAL
NO LIVRO DIDÁTICO: ABORDAGENS, PROBLEMAS E ENSINO”. In: Anais do VI Encontro
Estadual de História da ANPUH-RN. Assu, RN: EDFURN. 2014. p. 913 – 920.
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CARLOS, Nara Lidiana S. D. ; SILVA, José Richelly C. de L. E ; BRAZ, Andrielly K. D. ; ROSA, C. F.
S. P. N. Y. ; Lopes, Fátima Martis . Considerações acerca das influências historiográficas locais nos livros
didáticos de história do Rio Grande do Norte. In: Encontro Internacional de ensino de História, 2012,
Campinas. Anais do ... Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, 2012. v. 3.
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Já no trabalho “Espaço escolar e livro didático de História no Brasil: a
institucionalização de um modelo a partir do Programa Nacional do livro didático -
1994 a 2004”, de Jandson Soares (2017), o autor buscou compreender os elementos que
estruturaram o espaço escolar, as relações e ações desenvolvidas pelos sujeitos
históricos no momento de produção dos critérios de qualificação dos livros didáticos de
História, bem como as formas, sentidos, usos e funções atribuídas ao saber histórico
escolar.
Numa pesquisa inicial dos livros didáticos de História do Rio Grande do Norte e
seus respectivos manuais do professor, que se encontram no arquivo do Programa
Nacional do Livro Didático - PNLD, destacamos três livros que serão submetidos a
análise, quais sejam: “Para conhecer a História do Rio Grande do Norte”, de Marlene da
Silva Mariz e o “Rio Grande do Norte: história, cultura e identidade” de Marlúcia
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SILVA, Katiane Barbosa. Os usos e funções do ensino de História a partir da disciplina "Cultura do
RN". 2015. 153f. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em História,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015, p. 17.
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POTIER, Leda Virgínia Belarmino Campêlo. História para "ver" e entender o passado: cinema e
livro didático no espaço escolar (2000-2008). 2014. 170f. Dissertação (Mestrado em História) -
Programa de Pós Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014. p.
32.
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SOARES, Bernardo Jandson. Espaço Escolar e Livro Didático de História no Brasil: A
institucionalização de um modelo a partir do Programa Nacional do Livro Didático (1994 a 2014).
2017. 188f. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós Graduação em História, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. p. 19.
6
Galvão Brandão, submetidos ao processo seletivo do Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD, um no ano de 2007 e outro no ano 2010, ambos reprovados. E do
único livro didático de História do Rio Grande do Norte aprovado até então, no PNLD
2012, “História do Rio Grande do Norte: história regional” dos autores Aristotelina
Pereira Barreto Rocha e Lemuel Rodrigues da Silva.
REFERENCIAL TEÓRICO
Para tanto, quanto aos aspectos metodológicos ante as fontes, faremos uso da
análise de conteúdo, conforme os ensinamentos de Laurence Bardin (1977, p. 42):
Não se trata da leitura dos textos contidos nos livros, sim de uma análise mais
ampla utilizando-se de toda a gama de informações implícitas e explícitas nas páginas
dos livros e manuais. Pretende-se aqui uma análise do livro como um todo observando a
interação entre texto, imagem e orientação aos professores.
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Qualquer atividade humana precisa de um espaço e um tempo
determinado. Assim, acontece com o ensinar e aprender, com a
educação. Resulta disso que a educação possui uma dimensão espacial
e que, também, o espaço seja junto com o tempo, um elemento básico,
constitutivo, da atividade educativa (1998, p.61).
8
Consideramos a dimensão espacial no discurso historiográfico não só na sua
dimensão "clássica", de cenário, palco da história, ou como espaço natural, como
natureza, mas como objeto sujeito à intervenção histórica, a ação do homem e de sua
cultura artificializante. Entendendo o espaço como lugar praticado, tal como definido
por Michel de Certeau, dessa forma a espacialização apresenta-se como um lugar de
lutas, apropriações, reconstruções, onde o espaço relaciona-se a atribuição de sentido a
ordem estabelecida, uma ordem que longe de ser una, naturalizada, é "furada", de
sentido de fugidio."
Tem-se assim a própria relação das práticas do espaço com a ordem construída.
Em sua superfície, esta ordem se apresenta por toda parte furada e cavada por elipses,
variações e fugas de sentido: é uma ordem coador". (CERTEAU, 1994, p.188)
O conceito de espaço, conforme Michel de Certeau apregoa, será entendido a
partir de práticas e representações. Dessa forma, entendemos que as representações
criadas pelos livros didáticos constroem espaços, instituem fronteiras que separam e
urdem práticas e sujeitos.
O espaço é, antes de tudo, um lugar praticado, subjetivado, um lugar de
mobilidade, um lugar antropológico. Ou seja, podemos relacionar essas colocações
teóricas com os diferentes discursos que estão presentes nos livros didáticos tratados
nessa pesquisa, uma vez que, tais discursos procuram transmitir uma verdade histórica e
uma representação daquilo que ficou cristalizado como a História do Rio Grande do
Norte.
Isso implica dizer que o livro didático de história regional e as discussões que se
estabelecem sobre ele se constituem como práticas do espaço escolar, uma vez que
incorporam uma rede linguística que se baseiam nos críveis, memoráveis e primitivos
que compõem a espacialidade e que são mobilizados pelos seus agentes por meio de
operações e de suas experiências. (SOARES, 2017, p. 21)
Para tanto, tomaremos como referencial teórico as ideias defendidas por Roger
Chartier, no livro História cultural - entre práticas e representações – o qual define que
“as representações do mundo social são construídas” e que “são sempre determinados
pelos interesses dos grupos que as forjam” (CHARTIER, 1990, p. 16). Daí, para cada
caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os
utiliza.
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Chartier, assim, aborda a questão das representações como um conjunto de
percepções do tecido social, sendo estes esquemas geradores de classificações e
percepções próprios de cada grupo, construídos em contraposição uns aos outros. Essas
representações tendem a produzir estratégias e práticas que tentam impor uma
autoridade, legitimar um projeto ou justificar condutas, sendo matrizes de discursos e
práticas.
Pois na medida em que os discursos, as práticas e as representações da cultura
humana a partir dos seus desvios e "desordens" destroem e negam alguns espaços, ao
passo que constroem e legitima outros espaços, configura-se uma luta pelo espaço que
não se restringe apenas a dimensão político-territorial, mas que se manifesta até mesmo
na nomeação dos espaços, no desejo de pertencer a determinado espaço e exaltá-lo em
detrimentos de outros, no processo de construção das identidades culturais-espaciais, no
processo simbólico que atribui sentido diferentes, às vezes conflitantes, entre os mais
variados espaços.
Vamos intentar uma abordagem das representações nos livros didáticos de
História do Rio Grande do Norte, numa perspectiva das problemáticas espaciais: a luta
por poder, status, credibilidade, lugares institucionais, demarcações de fronteiras entre
os saberes, a luta pela apropriação simbólica dos espaços institucionalizados por meio
dos livros didáticos.
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