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Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino do Estado de Amazonas

SEDUC-AM
Professor - Língua Portuguesa
Edital N° 01 – Nível Superior de Concurso Público

AB106-2018
DADOS DA OBRA

Título da obra: Secretaria de Estado de Educação e Qualidade do Ensino do


Estado do Amazonas - SEDUC-AM

Cargo: Professor - Língua Portuguesa

(Baseado no Edital N° 01 – Nível Superior de Concurso Público)

• Língua Portuguesa
• Conhecimentos Pedagógicos
• Conhecimentos Específicos

Autora
Bruna Pinotti

Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza

Diagramação/ Editoração Eletrônica


Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Thais Regis

Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Julia Antoneli

Capa
Joel Ferreira dos Santos
APRESENTAÇÃO

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SUMÁRIO

Língua Portuguesa

Leitura, compreensão e interpretação de textos. ........................................................................................................................................ 83


Estruturação do texto e dos parágrafos. ........................................................................................................................................................ 90
Articulação do texto: pronomes e expressões referenciais, nexos, operadores sequenciais. .................................................... 90
Significação contextual de palavras e expressões. ..................................................................................................................................... 76
Equivalência e transformação de estruturas. ................................................................................................................................................ 88
Sintaxe: processos de coordenação e subordinação. ................................................................................................................................ 63
Emprego de tempos e modos verbais. ........................................................................................................................................................... 07
Pontuação. .................................................................................................................................................................................................................. 50
Estrutura e formação de palavras. .................................................................................................................................................................... 04
Funções das classes de palavras. ....................................................................................................................................................................... 07
Flexão nominal e verbal. ....................................................................................................................................................................................... 07
Pronomes: emprego, formas de tratamento e colocação. ...................................................................................................................... 07
Concordância nominal e verbal. ........................................................................................................................................................................ 52
Regência nominal e verbal. .................................................................................................................................................................................. 58
Ortografia oficial....................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação gráfica.................................................................................................................................................................................................. 47

Conhecimentos Pedagógicos

Fundamentos da Educação;.................................................................................................................................................................................. 01
Concepções e tendências pedagógicas contemporâneas;...................................................................................................................... 10
Relações socioeconômicas e político-culturais da educação;................................................................................................................. 11
Processo ensino-aprendizagem: papel do educador, do educando, da sociedade....................................................................... 12
Avaliação. Educação inclusiva.............................................................................................................................................................................. 13
Educação e Direitos Humanos,............................................................................................................................................................................ 17
Democracia e Cidadania;....................................................................................................................................................................................... 21
A função social da escola; Inclusão educacional e respeito à diversidade;....................................................................................... 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica;....................................................................................................................... 24
Didática e organização do ensino;..................................................................................................................................................................... 61
Saberes Escolares, processos metodológicos e avaliação da aprendizagem;.................................................................................. 66
Novas tecnologias da informação e comunicação e sua contribuição com a prática pedagógica;........................................ 66
Currículo: planejamento, seleção e organização dos conteúdos........................................................................................................... 76
Planejamento: a realidade escolar; o planejamento e o projeto pedagógico da escola;............................................................. 77
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional;........................................................................................................ 78
Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente;.......................................................................................................................... 95
Lei nº 10.639/03 – História e Cultura Afro Brasileira e Africana;..........................................................................................................146
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - 2007..................................................................................................................147

Conhecimentos Específicos

Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções. ................................................................................................................ 01


Ensino e aprendizagem da gramática normativa......................................................................................................................................... 03
Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita. ........................................................................................................................... 12
Variações linguísticas; norma padrão. ............................................................................................................................................................. 13
O texto: tipologia textual; intertextualidade; coesão e coerência textuais; o texto e a prática de análise linguística. .... 15
Leitura e produção de textos. ............................................................................................................................................................................. 42
Literatura brasileira. ................................................................................................................................................................................................ 46
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)..................................................................................................................................................... 51
Base Nacional Comum Curricular....................................................................................................................................................................... 89
Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017...................................................................................................................................................... 89
LÍNGUA PORTUGUESA

Letra e Fonema.......................................................................................................................................................................................................... 01
Estrutura das Palavras............................................................................................................................................................................................. 04
Classes de Palavras e suas Flexões..................................................................................................................................................................... 07
Ortografia.................................................................................................................................................................................................................... 44
Acentuação................................................................................................................................................................................................................. 47
Pontuação.................................................................................................................................................................................................................... 50
Concordância Verbal e Nominal......................................................................................................................................................................... 52
Regência Verbal e Nominal................................................................................................................................................................................... 58
Frase, oração e período.......................................................................................................................................................................................... 63
Sintaxe da Oração e do Período......................................................................................................................................................................... 63
Termos da Oração.................................................................................................................................................................................................... 63
Coordenação e Subordinação............................................................................................................................................................................. 63
Crase.............................................................................................................................................................................................................................. 71
Colocação Pronominal............................................................................................................................................................................................ 74
Significado das Palavras......................................................................................................................................................................................... 76
Interpretação Textual............................................................................................................................................................................................... 83
Tipologia Textual....................................................................................................................................................................................................... 85
Gêneros Textuais....................................................................................................................................................................................................... 86
Coesão e Coerência................................................................................................................................................................................................. 86
Reescrita de textos/Equivalência de Estruturas............................................................................................................................................. 88
Estrutura Textual........................................................................................................................................................................................................ 90
Redação Oficial.......................................................................................................................................................................................................... 91
Funções do “que” e do “se”................................................................................................................................................................................100
Variação Linguística...............................................................................................................................................................................................101
O processo de comunicação e as funções da linguagem......................................................................................................................103
LÍNGUA PORTUGUESA

PROF. ZENAIDE AUXILIADORA PACHEGAS BRANCO

Graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Adamantina. Especialista pela Universidade Estadual Paulista
– Unesp

LETRA E FONEMA

A palavra fonologia é formada pelos elementos gregos fono (“som, voz”) e log, logia (“estudo”, “conhecimento”). Significa
literalmente “estudo dos sons” ou “estudo dos sons da voz”. Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da lín-
gua quanto à sua função no sistema de comunicação linguística, quanto à sua organização e classificação. Cuida, também,
de aspectos relacionados à divisão silábica, à ortografia, à acentuação, bem como da forma correta de pronunciar certas
palavras. Lembrando que, cada indivíduo tem uma maneira própria de realizar estes sons no ato da fala. Particularidades na
pronúncia de cada falante são estudadas pela Fonética.
Na língua falada, as palavras se constituem de fonemas; na língua escrita, as palavras são reproduzidas por meio de
símbolos gráficos, chamados de letras ou grafemas. Dá-se o nome de fonema ao menor elemento sonoro capaz de esta-
belecer uma distinção de significado entre as palavras. Observe, nos exemplos a seguir, os fonemas que marcam a distinção
entre os pares de palavras:
amor – ator / morro – corro / vento - cento

Cada segmento sonoro se refere a um dado da língua portuguesa que está em sua memória: a imagem acústica que
você - como falante de português - guarda de cada um deles. É essa imagem acústica que constitui o fonema. Este forma
os significantes dos signos linguísticos. Geralmente, aparece representado entre barras: /m/, /b/, /a/, /v/, etc.

Fonema e Letra
- O fonema não deve ser confundido com a letra. Esta é a representação gráfica do fonema. Na palavra sapo, por
exemplo, a letra “s” representa o fonema /s/ (lê-se sê); já na palavra brasa, a letra “s” representa o fonema /z/ (lê-se zê).
- Às vezes, o mesmo fonema pode ser representado por mais de uma letra do alfabeto. É o caso do fonema /z/, que
pode ser representado pelas letras z, s, x: zebra, casamento, exílio.

- Em alguns casos, a mesma letra pode representar mais de um fonema. A letra “x”, por exemplo, pode representar:
- o fonema /sê/: texto
- o fonema /zê/: exibir
- o fonema /che/: enxame
- o grupo de sons /ks/: táxi

- O número de letras nem sempre coincide com o número de fonemas.


Tóxico = fonemas: /t/ó/k/s/i/c/o/ letras: t ó x i c o
1 2 3 4 5 6 7 12 3 45 6

Galho = fonemas: /g/a/lh/o/ letras: ga lho


1 2 3 4 12345

- As letras “m” e “n”, em determinadas palavras, não representam fonemas. Observe os exemplos: compra, conta. Nestas
palavras, “m” e “n” indicam a nasalização das vogais que as antecedem: /õ/. Veja ainda: nave: o /n/ é um fonema; dança: o
“n” não é um fonema; o fonema é /ã/, representado na escrita pelas letras “a” e “n”.

- A letra h, ao iniciar uma palavra, não representa fonema.


Hoje = fonemas: ho / j / e / letras: h o j e
1 2 3 1234

Classificação dos Fonemas


Os fonemas da língua portuguesa são classificados em:

1) Vogais
As vogais são os fonemas sonoros produzidos por uma corrente de ar que passa livremente pela boca. Em nossa língua,
desempenham o papel de núcleo das sílabas. Isso significa que em toda sílaba há, necessariamente, uma única vogal.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Na produção de vogais, a boca fica aberta ou entrea- 1) Ditongo


berta. As vogais podem ser:
É o encontro de uma vogal e uma semivogal (ou vice-
- Orais: quando o ar sai apenas pela boca: /a/, /e/, /i/, versa) numa mesma sílaba. Pode ser:
/o/, /u/. - Crescente: quando a semivogal vem antes da vogal:
sé-rie (i = semivogal, e = vogal)
- Nasais: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na- - Decrescente: quando a vogal vem antes da semivo-
sais. gal: pai (a = vogal, i = semivogal)
/ã/: fã, canto, tampa - Oral: quando o ar sai apenas pela boca: pai
/ ẽ /: dente, tempero - Nasal: quando o ar sai pela boca e pelas fossas na-
/ ĩ/: lindo, mim sais: mãe
/õ/: bonde, tombo
/ ũ /: nunca, algum 2) Tritongo

- Átonas: pronunciadas com menor intensidade: até, É a sequência formada por uma semivogal, uma vo-
bola. gal e uma semivogal, sempre nesta ordem, numa só sílaba.
Pode ser oral ou nasal: Paraguai - Tritongo oral, quão - Tri-
- Tônicas: pronunciadas com maior intensidade: até, tongo nasal.
bola.
3) Hiato
Quanto ao timbre, as vogais podem ser:
- Abertas: pé, lata, pó É a sequência de duas vogais numa mesma palavra que
- Fechadas: mês, luta, amor pertencem a sílabas diferentes, uma vez que nunca há mais
- Reduzidas - Aparecem quase sempre no final das pa- de uma vogal numa mesma sílaba: saída (sa-í-da), poesia
lavras: dedo (“dedu”), ave (“avi”), gente (“genti”). (po-e-si-a).

2) Semivogais Encontros Consonantais

Os fonemas /i/ e /u/, algumas vezes, não são vogais. O agrupamento de duas ou mais consoantes, sem vo-
Aparecem apoiados em uma vogal, formando com ela uma gal intermediária, recebe o nome de encontro consonantal.
só emissão de voz (uma sílaba). Neste caso, estes fonemas Existem basicamente dois tipos:
são chamados de semivogais. A diferença fundamental en- 1-) os que resultam do contato consoante + “l” ou “r”
tre vogais e semivogais está no fato de que estas não de- e ocorrem numa mesma sílaba, como em: pe-dra, pla-no,
sempenham o papel de núcleo silábico. a-tle-ta, cri-se.
Observe a palavra papai. Ela é formada de duas sílabas: 2-) os que resultam do contato de duas consoantes
pa - pai. Na última sílaba, o fonema vocálico que se destaca pertencentes a sílabas diferentes: por-ta, rit-mo, lis-ta.
é o “a”. Ele é a vogal. O outro fonema vocálico “i” não é tão Há ainda grupos consonantais que surgem no início
forte quanto ele. É a semivogal. Outros exemplos: saudade, dos vocábulos; são, por isso, inseparáveis: pneu, gno-mo,
história, série. psi-có-lo-go.

3) Consoantes Dígrafos

Para a produção das consoantes, a corrente de ar expi- De maneira geral, cada fonema é representado, na es-
rada pelos pulmões encontra obstáculos ao passar pela ca- crita, por apenas uma letra: lixo - Possui quatro fonemas e
vidade bucal, fazendo com que as consoantes sejam verda- quatro letras.
deiros “ruídos”, incapazes de atuar como núcleos silábicos.
Seu nome provém justamente desse fato, pois, em portu- Há, no entanto, fonemas que são representados, na es-
guês, sempre consoam (“soam com”) as vogais. Exemplos: crita, por duas letras: bicho - Possui quatro fonemas e cinco
/b/, /t/, /d/, /v/, /l/, /m/, etc. letras.

Encontros Vocálicos Na palavra acima, para representar o fonema /xe/ fo-


ram utilizadas duas letras: o “c” e o “h”.
Os encontros vocálicos são agrupamentos de vogais e Assim, o dígrafo ocorre quando duas letras são usadas
semivogais, sem consoantes intermediárias. É importante para representar um único fonema (di = dois + grafo = le-
reconhecê-los para dividir corretamente os vocábulos em tra). Em nossa língua, há um número razoável de dígrafos
sílabas. Existem três tipos de encontros: o ditongo, o triton- que convém conhecer. Podemos agrupá-los em dois tipos:
go e o hiato. consonantais e vocálicos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dígrafos Consonantais

Letras Fonemas Exemplos


lh /lhe/ telhado
nh /nhe/ marinheiro
ch /xe/ chave
rr /re/ (no interior da palavra) carro
ss /se/ (no interior da palavra) passo
qu /k/ (qu seguido de e e i) queijo, quiabo
gu /g/ ( gu seguido de e e i) guerra, guia
sc /se/ crescer
sç /se/ desço
xc /se/ exceção

Dígrafos Vocálicos

Registram-se na representação das vogais nasais:

Fonemas Letras Exemplos


/ã/ am tampa
an canto
/ẽ/ em templo
en lenda
/ĩ/ im limpo
in lindo
õ/ om tombo
on tonto
/ũ/ um chumbo
un corcunda

* Observação: “gu” e “qu” são dígrafos somente quando seguidos de “e” ou “i”, representam os fonemas /g/ e /k/:
guitarra, aquilo. Nestes casos, a letra “u” não corresponde a nenhum fonema. Em algumas palavras, no entanto, o “u” repre-
senta um fonema - semivogal ou vogal - (aguentar, linguiça, aquífero...). Aqui, “gu” e “qu” não são dígrafos. Também não há
dígrafos quando são seguidos de “a” ou “o” (quase, averiguo) .
** Dica: Conseguimos ouvir o som da letra “u” também, por isso não há dígrafo! Veja outros exemplos: Água = /agua/ nós
pronunciamos a letra “u”, ou então teríamos /aga/. Temos, em “água”, 4 letras e 4 fonemas. Já em guitarra = /gitara/ - não
pronunciamos o “u”, então temos dígrafo [aliás, dois dígrafos: “gu” e “rr”]. Portanto: 8 letras e 6 fonemas).

Dífonos

Assim como existem duas letras que representam um só fonema (os dígrafos), existem letras que representam dois
fonemas. Sim! É o caso de “fixo”, por exemplo, em que o “x” representa o fonema /ks/; táxi e crucifixo também são exemplos
de dífonos. Quando uma letra representa dois fonemas temos um caso de dífono.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/fono1.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
1-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI-
BRAS – FAFIPA/2014) Em todas as palavras a seguir há um
dígrafo, EXCETO em
(A) prazo. As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vista
(B) cantor. de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividimos
(C) trabalho. em seus menores elementos (partes) possuidores de sen-
(D) professor. tido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituída por
três elementos significativos:
1-)
(A) prazo – “pr” é encontro consonantal In = elemento indicador de negação
(B) cantor – “an” é dígrafo Explic – elemento que contém o significado básico da
(C) trabalho – “tr” encontro consonantal / “lh” é dígrafo palavra
(D) professor – “pr” encontro consonantal q “ss” é dí- Ável = elemento indicador de possibilidade
grafo
RESPOSTA: “A”. Estes elementos formadores da palavra recebem o
nome de morfemas. Através da união das informações
2-) (PREFEITURA DE PINHAIS/PR – INTÉRPRETE DE LI- contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en-
BRAS – FAFIPA/2014) Assinale a alternativa em que os itens tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não
destacados possuem o mesmo fonema consonantal em to- tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tornar
das as palavras da sequência. claro”.
(A) Externo – precisa – som – usuário.
MORFEMAS = são as menores unidades significativas
(B) Gente – segurança – adjunto – Japão.
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
(C) Chefe – caixas – deixo – exatamente.
(D) Cozinha – pesada – lesão – exemplo.
Classificação dos morfemas:
2-) Coloquei entre barras ( / / ) o fonema representado
Radical, lexema ou semantema – é o elemento por-
pela letra destacada:
tador de significado. É através do radical que podemos for-
(A) Externo /s/ – precisa /s/ – som /s/ – usuário /z/
mar outras palavras comuns a um grupo de palavras da
(B) Gente /j/ – segurança /g/ – adjunto /j/ – Japão /j/ mesma família. Exemplo: pequeno, pequenininho, pequenez.
(C) Chefe /x/ – caixas /x/ – deixo /x/ – exatamente O conjunto de palavras que se agrupam em torno de um
/z/ mesmo radical denomina-se família de palavras.
(D) cozinha /z/ – pesada /z/ – lesão /z/– exemplo /z/
RESPOSTA: “D”. Afixos – elementos que se juntam ao radical antes (os
prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo: beleza (sufi-
3-) (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR/PI – CURSO DE xo), prever (prefixo), infiel.
FORMAÇÃO DE SOLDADOS – UESPI/2014) “Seja Sangue
Bom!” Na sílaba final da palavra “sangue”, encontramos Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, ob-
duas letras representando um único fonema. Esse fenôme- têm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos,
no também está presente em: amáveis, amavam. Estas modificações ocorrem à medida
A) cartola. que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e
B) problema. plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também
C) guaraná. ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo
D) água. (amava, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos
E) nascimento. concluir que existem morfemas que indicam as flexões das
palavras. Estes morfemas sempre surgem no fim das pala-
3-) Duas letras representando um único fonema = dí- vras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desi-
grafo nências nominais e desinências verbais.
A) cartola = não há dígrafo
B) problema = não há dígrafo • Desinências nominais: indicam o gênero e o número
C) guaraná = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) dos nomes. Para a indicação de gênero, o português cos-
D) água = não há dígrafo (você ouve o som do “u”) tuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/
E) nascimento = dígrafo: sc menina. Para a indicação de número, costuma-se utilizar
RESPOSTA: “E”. o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência
de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/
garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos
nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assu-
me a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

4
LÍNGUA PORTUGUESA

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências Palavras primitivas: aquelas que, na língua portugue-
verbais pertencem a dois tipos distintos. Há desinências sa, não provêm de outra palavra: pedra, flor.
que indicam o modo e o tempo (desinências modo-tem-
porais) e outras que indicam o número e a pessoa dos ver- Palavras derivadas: aquelas que, na língua portugue-
bos (desinência número-pessoais): sa, provêm de outra palavra: pedreiro, floricultura.

cant-á-va-mos: Palavras simples: aquelas que possuem um só radical:


cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência mo- azeite, cavalo.
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do indicati-
vo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a primei- Palavras compostas: aquelas que possuem mais de
ra pessoa do plural) um radical: couve-flor, planalto.
* As palavras compostas podem ou não ter seus ele-
cant-á-sse-is: mentos ligados por hífen.
cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência mo-
do-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do subjunti- Processos de Formação de Palavras
vo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza a segunda
pessoa do plural) Na Língua Portuguesa há muitos processos de forma-
ção de palavras. Entre eles, os mais comuns são a derivação,
Vogal temática a composição, a onomatopeia, a abreviação e o hibridismo.
Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge Derivação por Acréscimo de Afixos
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o radical
às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (deri-
é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao vadas) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A deri-
tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as de- vação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.
sinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vo-
gais temáticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por
as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e (da 2.ª
acréscimo de prefixo.
conjugação = escrever) e –i (3.ªconjugação = partir).
In feliz des leal
• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando
Prefixo radical prefixo radical
átonas finais, como em mesa, artista, perda, escola, base,
combate. Nestes casos, não poderíamos pensar que essas
terminações são desinências indicadoras de gênero, pois Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por
mesa e escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. acréscimo de sufixo.
A estas vogais temáticas se liga a desinência indicadora
de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados Feliz mente leal dade
em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não Radical sufixo radical sufixo
apresentam vogal temática.
Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo
• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que ca- simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-
racterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de se principalmente verbos.
conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a per-
tencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática En trist ecer
é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal Prefixo radical sufixo
temática -i pertencem à terceira conjugação.
Em tard ecer
Interfixos prefixo radical sufixo

São os elementos (vogais ou consoantes) que se in- Outros Tipos de Derivação


tercalam entre o radical e o sufixo, para facilitar ou mes-
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por Há dois casos em que a palavra derivada é formada
exemplo: sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. regressiva e a derivação imprópria.
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento.
Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por re-
Formação das Palavras dução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação
de substantivos derivados de verbos.
Há em Português palavras primitivas, palavras deriva- janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
das, palavras simples, palavras compostas. (substantivo) – deriva de pescar (verbo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é ob- Fontes de pesquisa:


tida pela mudança de categoria gramatical da palavra pri-
mitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas somente http://www.brasilescola.com/gramatica/estrutura-e-
na classe gramatical. formacao-de-palavras-i.htm
Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “porquê” SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
deriva da conjunção porque) coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
do verbo olhar). ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
** Dica: A derivação regressiva “mexe” na estrutura da Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
palavra e geralmente transforma verbos em substantivos: ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
caça = deriva de caçar, saque = deriva de sacar.
A derivação imprópria não “mexe” com a palavra,
apenas faz com que ela pertença a uma classe gramatical Questões sobre Estrutura das Palavras
“imprópria” da qual ela realmente, ou melhor, costumeira-
mente faz parte. A alteração acontece devido à presença de 1-) (RIOPREVIDÊNCIA – ESPECIALISTA EM PREVIDÊN-
outros termos, como artigos, por exemplo: CIA SOCIAL – CEPERJ/2014) A palavra “infraestrutura” é for-
O verde das matas! (o adjetivo “verde” passou a fun- mada pelo seguinte processo:
cionar como substantivo devido à presença do artigo “o”) A) sufixação
Composição B) prefixação
C) parassíntese
Haverá composição quando se juntarem dois ou mais D) justaposição
radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de E) aglutinação
composição: justaposição e aglutinação.
1-) Infra = prefixo + estrutura – temos a junção de um
Justaposição: ocorre quando os elementos que for- prefixo com um radical, portanto: derivação prefixal (ou
mam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapos-
prefixação).
tos: para-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira,
girassol.
RESPOSTA: “B”.
Composição por aglutinação: ocorre quando os ele-
mentos que formam o composto aglutinam-se e pelo me-
2-) (SECRETARIA DE ESTADO DE DEFESA SOCIAL/MG –
nos um deles perde sua integridade sonora: aguardente
AGENTE DE SEGURANÇA SOCIOEDUCATIVO – IBFC/2014)
(água + ardente), planalto (plano + alto), pernalta (perna +
alta), vinagre (vinho + acre). O vocábulo “entristecido”, presente na terceira estrofe, é
um exemplo de:
Outros processos de formação de palavras: a) palavra composta
b) palavra primitiva
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir c) palavra derivada
certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom. d) neologismo

Abreviação – é a redução de palavras até o limite per- 2-) en + triste + ido (com consoante de ligação “c”) =
mitido pela compreensão: moto (motocicleta), pneu (pneu- ao radical “triste” foram acrescidos o prefixo “en” e o sufixo
mático), metrô (metropolitano), foto (fotografia). “ido”, ou seja, “entristecido” é palavra derivada do processo
de formação de palavras chamado de: prefixação e sufixa-
* Observação: ção. Para o exercício, basta “derivada”!
- Abreviatura: é a redução na grafia de certas palavras,
limitando-as quase sempre à letra inicial ou às letras ini- RESPOSTA: “C”.
ciais: p. ou pág. (para página), sr. (para senhor).
- Sigla: é um caso especial de abreviatura, na qual se
reduzem locuções substantivas próprias às suas letras ini-
ciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas impuras),
que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas puras);
DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (siglas impu-
ras).
- Hibridismo: é a palavra formada com elementos
oriundos de línguas diferentes.
automóvel (auto: grego; móvel: latim)
sociologia (socio: latim; logia: grego)
sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

6
LÍNGUA PORTUGUESA

de lago lacustre
CLASSES DE PALAVRAS E SUAS FLEXÕES
de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou
característica do ser e se relaciona com o substantivo, con- de madeira lígneo
cordando com este em gênero e número. de mestre magistral
de ouro áureo
As praias brasileiras estão poluídas.
de paixão passional
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos de pâncreas pancreático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de porco suíno ou porcino
Locução adjetiva dos quadris ciático
de rio fluvial
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mesma de sonho onírico
coisa, tem-se uma locução. Às vezes, uma preposição + de velho senil
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Locu- de vento eólico
ção Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo). Por
exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem freio de vidro vítreo ou hialino
(paixão desenfreada). de virilha inguinal
de visão óptico ou ótico
Observe outros exemplos:
* Observação: nem toda locução adjetiva possui um
de águia aquilino adjetivo correspondente, com o mesmo significado. Por
de aluno discente exemplo: Vi as alunas da 5ª série. / O muro de tijolos caiu.
de anjo angelical Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de ano anual
de aranha aracnídeo O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuando
de boi bovino como adjunto adnominal ou como predicativo (do sujeito
de cabelo capilar ou do objeto).
de cabra caprino
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de campo campestre ou rural
de chuva pluvial Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de criança pueril
de dedo digital Estados e cidades brasileiras:
de estômago estomacal ou gástrico
de falcão falconídeo Alagoas alagoano
de farinha farináceo Amapá amapaense
de fera ferino Aracaju aracajuano ou aracajuense
de ferro férreo Amazonas amazonense ou baré
de fogo ígneo Belo Horizonte belo-horizontino
de garganta gutural Brasília brasiliense
de gelo glacial Cabo Frio cabo-friense
de guerra bélico Campinas campineiro ou campinense
de homem viril ou humano
de ilha insular
de inverno hibernal ou invernal

7
LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Pátrio Composto

Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita.
Observe alguns exemplos:

África afro- / Cultura afro-americana


Alemanha germano- ou teuto-/Competições teuto-inglesas
América américo- / Companhia américo-africana
Bélgica belgo- / Acampamentos belgo-franceses
China sino- / Acordos sino-japoneses
Espanha hispano- / Mercado hispano-português
Europa euro- / Negociações euro-americanas
França franco- ou galo- / Reuniões franco-italianas
Grécia greco- / Filmes greco-romanos
Inglaterra anglo- / Letras anglo-portuguesas
Itália ítalo- / Sociedade ítalo-portuguesa
Japão nipo- / Associações nipo-brasileiras
Portugal luso- / Acordos luso-brasileiros

Flexão dos adjetivos

O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Gênero dos Adjetivos

Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem (masculino e feminino). De forma semelhante aos subs-
tantivos, classificam-se em:

Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e outra para o feminino: ativo e ativa, mau e má.
Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino somente o último elemento: o moço norte-americano, a
moça norte-americana.

* Exceção: surdo-mudo e surda-muda.

Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como para o feminino: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no feminino: conflito político-social e desavença político-social.

Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples

Os adjetivos simples se flexionam no plural de acordo com as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substan-
tivos simples: mau e maus, feliz e felizes, ruim e ruins, boa e boas.
Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que
estiver qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo, ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra
cinza é, originalmente, um substantivo; porém, se estiver qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, en-
tão, invariável. Logo: camisas cinza, ternos cinza.

Veja outros exemplos:


Motos vinho (mas: motos verdes)
Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Adjetivo Composto Observe que:


a) As formas menor e pior são comparativos de supe-
É aquele formado por dois ou mais elementos. Nor- rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais mau, res-
malmente, esses elementos são ligados por hífen. Apenas pectivamente.
o último elemento concorda com o substantivo a que se b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas
refere; os demais ficam na forma masculina, singular. Caso (melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações fei-
um dos elementos que formam o adjetivo composto seja tas entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se
um substantivo adjetivado, todo o adjetivo composto ficará usar as formas analíticas mais bom, mais mau,mais grande
invariável. Por exemplo: a palavra “rosa” é, originalmente, e mais pequeno. Por exemplo:
um substantivo, porém, se estiver qualificando um elemen- Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois ele-
to, funcionará como adjetivo. Caso se ligue a outra pala- mentos.
vra por hífen, formará um adjetivo composto; como é um Pedro é mais grande que pequeno - comparação de
substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro ficará duas qualidades de um mesmo elemento.
invariável. Veja:
Camisas rosa-claro. Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de Infe-
Ternos rosa-claro.
rioridade
Olhos verde-claros.
Sou menos passivo (do) que tolerante.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
Superlativo
* Observação:
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer O superlativo expressa qualidades num grau muito ele-
adjetivo composto iniciado por “cor-de-...” são sempre in- vado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou relativo e
variáveis: roupas azul-marinho, tecidos azul-celeste, vestidos apresenta as seguintes modalidades:
cor-de-rosa. Superlativo Absoluto: ocorre quando a qualidade de
- O adjetivo composto surdo-mudo tem os dois ele- um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apre-
mentos flexionados: crianças surdas-mudas. senta-se nas formas:
1-) Analítica: a intensificação é feita com o auxílio
Grau do Adjetivo de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por
exemplo: O concurseiro é muito esforçado.
Os adjetivos se flexionam em grau para indicar a inten- 2-) Sintética: nesta, há o acréscimo de sufixos. Por
sidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo.
o comparativo e o superlativo.
Observe alguns superlativos sintéticos:
Comparativo
benéfico - beneficentíssimo
Nesse grau, comparam-se a mesma característica atri-
buída a dois ou mais seres ou duas ou mais características bom - boníssimo ou ótimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igual- comum - comuníssimo
dade, de superioridade ou de inferioridade.
cruel - crudelíssimo
Sou tão alto como você. = Comparativo de Igualdade difícil - dificílimo
No comparativo de igualdade, o segundo termo da doce - dulcíssimo
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou
quão. fácil - facílimo
fiel - fidelíssimo
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe-
rioridade Analítico Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de
No comparativo de superioridade analítico, entre os um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres.
dois substantivos comparados, um tem qualidade supe- Essa relação pode ser:
rior. A forma é analítica porque pedimos auxílio a “mais...do 1-) De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
que” ou “mais...que”.
todas.
2-) De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
O Sol é maior (do) que a Terra. = Comparativo de Supe-
todas.
rioridade Sintético

Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de * Note bem:


superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São 1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/superior, dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, an-
grande/maior, baixo/inferior. tepostos ao adjetivo.

9
LÍNGUA PORTUGUESA

2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob - de inferioridade: menos + advérbio + que (do que):
duas formas: uma erudita - de origem latina - outra po- Renato fala menos alto do que João.
pular - de origem vernácula. A forma erudita é constituída - de superioridade:
pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos -íssimo, 1-) Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato
-imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo. A forma fala mais alto do que João.
popular é constituída do radical do adjetivo português + o 2-) Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato fala
sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo. melhor que João.
3-) Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi- Grau Superlativo
nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
– cheíssimo. O superlativo pode ser analítico ou sintético:
- Analítico: acompanhado de outro advérbio: Renato
Fontes de pesquisa: fala muito alto.
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf32. muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio de
php modo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: - Sintético: formado com sufixos: Renato fala altíssimo.
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- * Observação: as formas diminutivas (cedinho, perti-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. nho, etc.) são comuns na língua popular.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. A criança levantou cedinho. (muito cedo)

Advérbio Classificação dos Advérbios

Compare estes exemplos: De acordo com a circunstância que exprime, o advér-


bio pode ser de:
Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás,
O ônibus chegou.
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo,
O ônibus chegou ontem.
aonde, longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro,
afora, alhures, aquém, embaixo, externamente, a distância,
Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sen-
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à es-
tido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de tempo,
querda, ao lado, em volta.
de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e do próprio Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
advérbio. amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
Estudei bastante. = modificando o verbo estudei doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, en-
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio fim, afinal, amiúde, breve, constantemente, entrementes,
(bem) imediatamente, primeiramente, provisoriamente, sucessiva-
Ela tem os olhos muito claros. = relação com um adje- mente, às vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de
tivo (claros) vez em quando, de quando em quando, a qualquer momen-
to, de tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescen- Modo: bem, mal, assim, adrede, melhor, pior, depressa,
tar ideia de: acinte, debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à
Tempo: Ela chegou tarde. toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse
Lugar: Ele mora aqui. modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a lado,
Modo: Eles agiram mal. a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que terminam em
Negação: Ela não saiu de casa. “-mente”: calmamente, tristemente, propositadamente, pa-
Dúvida: Talvez ele volte. cientemente, amorosamente, docemente, escandalosamen-
te, bondosamente, generosamente.
Flexão do Advérbio Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto, efeti-
vamente, certo, decididamente, deveras, indubitavelmente.
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
porém, admitem a variação em grau. Observe: Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavel-
mente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe.
Grau Comparativo Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em excesso,
bastante, mais, menos, demasiado, quanto, quão, tanto, as-
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo saz, que (equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo,
que o comparativo do adjetivo: de muito, por completo, extremamente, intensamente, gran-
- de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- demente, bem (quando aplicado a propriedades graduá-
nato fala tão alto quanto João. veis).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, somen- Locução Adverbial


te, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo: Brando, o
vento apenas move a copa das árvores. Quando há duas ou mais palavras que exercem função
Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também. de advérbio, temos a locução adverbial, que pode expres-
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a sar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinaria-
adolescência. mente por uma preposição. Veja:
Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para
exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer aos meus dentro, por aqui, etc.
amigos por comparecerem à festa. afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
* Saiba que: geral, frente a frente, etc.
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, hoje
ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei em dia, nunca mais, etc.
o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível. * Observações:
- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, - tanto a locução adverbial como o advérbio modifi-
em geral sufixamos apenas o último: Por exemplo: O aluno cam o verbo, o adjetivo e outro advérbio:
respondeu calma e respeitosamente. Chegou muito cedo. (advérbio)
Joana é muito bela. (adjetivo)
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido De repente correram para a rua. (verbo)

Há palavras como muito, bastante, que podem apare- - Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais
cer como advérbio e como pronome indefinido. mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio:
Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro Essa matéria é mais bem interessante que aquela.
advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito. Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso!
Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e - O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér-
sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros. bio: Cheguei primeiro.

* Dica: Como saber se a palavra bastante é advérbio - Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
(não varia, não se flexiona) ou pronome indefinido (varia, adverbial desempenham na oração a função de adjunto
sofre flexão)? Se der, na frase, para substituir o “bastante” adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
por “muito”, estamos diante de um advérbio; se der para cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio.
substituir por “muitos” (ou muitas), é um pronome. Veja: Exemplo:
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
1-) Estudei bastante para o concurso. (estudei muito, verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
pois “muitos” não dá!). = advérbio Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
dade e de tempo, respectivamente.
2-) Estudei bastantes capítulos para o concurso. (estudei
muitos capítulos) = pronome indefinido Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf75.
Advérbios Interrogativos php
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como? ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referentes Saraiva, 2010.
às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Interrogação Direta Interrogação Indireta SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava. Artigo
Por que choras? Não sei por que choras.
O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
Aonde vai? Perguntei aonde ia. se como o termo variável que serve para individualizar ou
Donde vens? Pergunto donde vens. generalizar o substantivo, indicando, também, o gênero
Quando voltas? Pergunto quando voltas. (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns”).

11
LÍNGUA PORTUGUESA

Artigos definidos – São aqueles usados para indicar Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre-
seres determinados, expressos de forma individual: sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a bela
O concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam Roma.
muito.
- antes de pronomes de tratamento:
Artigos indefinidos – São aqueles usados para indicar Vossa Senhoria sairá agora?
seres de modo vago, impreciso: Exceção: O senhor vai à festa?
Uma candidata foi aprovada! Umas candidatas foram
aprovadas! - após o pronome relativo “cujo” e suas variações:
Esse é o concurso cujas provas foram anuladas?
Circunstâncias em que os artigos se manifestam: Este é o candidato cuja nota foi a mais alta.

* Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do Fontes de pesquisa:


numeral “ambos”: http://www.brasilescola.com/gramatica/artigo.htm
Ambos os concursos cobrarão tal conteúdo. Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
* Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso Saraiva, 2010.
do artigo, outros não: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.SACCO-
NI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed.
* Quando indicado no singular, o artigo definido pode Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
indicar toda uma espécie: Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho dignifica o homem. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
* No caso de nomes próprios personativos, denotando
a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso Conjunção
do artigo:
Marcela é a mais extrovertida das irmãs. Além da preposição, há outra palavra também invariá-
O Pedro é o xodó da família. vel que, na frase, é usada como elemento de ligação: a con-
junção. Ela serve para ligar duas orações ou duas palavras
* No caso de os nomes próprios personativos estarem de mesma função em uma oração:
no plural, são determinados pelo uso do artigo: O concurso será realizado nas cidades de Campinas e
Os Maias, os Incas, Os Astecas... São Paulo.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito.
* Usa-se o artigo depois do pronome indefinido to-
do(a) para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele Morfossintaxe da Conjunção
(o artigo), o pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa- cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
dos. (qualquer classe)
Classificação da Conjunção
* Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é
facultativo: De acordo com o tipo de relação que estabelecem, as
Preparei o meu curso. Preparei meu curso. conjunções podem ser classificadas em coordenativas e
subordinativas. No primeiro caso, os elementos ligados
* A utilização do artigo indefinido pode indicar uma pela conjunção podem ser isolados um do outro. Esse iso-
ideia de aproximação numérica: lamento, no entanto, não acarreta perda da unidade de
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. sentido que cada um dos elementos possui. Já no segundo
caso, cada um dos elementos ligados pela conjunção de-
* O artigo também é usado para substantivar palavras pende da existência do outro. Veja:
pertencentes a outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Podemos separá-las por ponto:
* Há casos em que o artigo definido não pode ser Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
usado:
- antes de nomes de cidade e de pessoas conhecidas: Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
O professor visitará Roma. quentemente, orações coordenadas) coordenativa – “mas”.
Já em:

12
LÍNGUA PORTUGUESA

Espero que eu seja aprovada no concurso! As conjunções subordinativas subdividem-se em inte-


Não conseguimos separar uma oração da outra, pois a grantes e adverbiais:
segunda “completa” o sentido da primeira (da oração prin-
cipal): 1. Integrantes - Indicam que a oração subordinada por
Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período temos uma elas introduzida completa ou integra o sentido da principal.
oração subordinada substantiva objetiva direta (ela exerce Introduzem orações que equivalem a substantivos, ou seja,
a função de objeto direto do verbo da oração principal). as orações subordinadas substantivas. São elas: que, se.
Quero que você volte. (Quero sua volta)
Conjunções Coordenativas
2. Adverbiais - Indicam que a oração subordinada
São aquelas que ligam orações de sentido completo exerce a função de adjunto adverbial da principal. De acor-
e independente ou termos da oração que têm a mesma do com a circunstância que expressam, classificam-se em:
a) Causais: introduzem uma oração que é causa da
função gramatical. Subdividem-se em:
ocorrência da oração principal. São elas: porque, que, como
1) Aditivas: ligam orações ou palavras, expressando
(= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez
ideia de acréscimo ou adição. São elas: e, nem (= e não),
que, porquanto, já que, desde que, etc.
não só... mas também, não só... como também, bem como, Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios.
não só... mas ainda.
A sua pesquisa é clara e objetiva. b) Concessivas: introduzem uma oração que expressa
Não só dança, mas também canta. ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir sua
realização. São elas: embora, ainda que, apesar de que, se
2) Adversativas: ligam duas orações ou palavras, ex- bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto,
pressando ideia de contraste ou compensação. São elas: etc.
mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não Embora fosse tarde, fomos visitá-lo.
obstante.
Tentei chegar mais cedo, porém não consegui. c) Condicionais: introduzem uma oração que indica a
hipótese ou a condição para ocorrência da principal. São
3) Alternativas: ligam orações ou palavras, expressan- elas: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde
do ideia de alternância ou escolha, indicando fatos que se que, a menos que, sem que, etc.
realizam separadamente. São elas: ou, ou... ou, ora... ora, já... Se precisar de minha ajuda, telefone-me.
já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez.
** Dica: você deve ter percebido que a conjunção con-
Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
dicional “se” também é conjunção integrante. A diferença é
clara ao ler as orações que são introduzidas por ela. Acima,
4) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
ela nos dá a ideia da condição para que recebamos um
que expressa ideia de conclusão ou consequência. São elas: telefonema (se for preciso ajuda). Já na oração:
logo, pois (depois do verbo), portanto, por conseguinte, por Não sei se farei o concurso...
isso, assim. Não há ideia de condição alguma, há? Outra coisa: o
Marta estava bem preparada para o teste, portanto não verbo da oração principal (sei) pede complemento (objeto
ficou nervosa. direto, já que “quem não sabe, não sabe algo”). Portanto,
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão. a oração em destaque exerce a função de objeto direto da
oração principal, sendo classificada como oração subordi-
5) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração nada substantiva objetiva direta.
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São elas: d) Conformativas: introduzem uma oração que expri-
que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. me a conformidade de um fato com outro. São elas: confor-
Não demore, que o filme já vai começar. me, como (= conforme), segundo, consoante, etc.
Falei muito, pois não gosto do silêncio! O passeio ocorreu como havíamos planejado.

Conjunções Subordinativas e) Finais: introduzem uma oração que expressa a fina-


lidade ou o objetivo com que se realiza a oração principal.
São elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que),
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas
que, etc.
dependente da outra. A oração dependente, introduzida
Toque o sinal para que todos entrem no salão.
pelas conjunções subordinativas, recebe o nome de ora-
ção subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha começado f) Proporcionais: introduzem uma oração que expres-
quando ela chegou. sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência do
O baile já tinha começado: oração principal expresso na principal. São elas: à medida que, à proporção
quando: conjunção subordinativa (adverbial temporal) que, ao passo que e as combinações quanto mais... (mais),
ela chegou: oração subordinada quanto menos... (menos), quanto menos... (mais), quanto
menos... (menos), etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O preço fica mais caro à medida que os produtos escas- Fontes de pesquisa:
seiam. http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf84.
php
* Observação: são incorretas as locuções proporcio- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
nais à medida em que, na medida que e na medida em que. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
g) Temporais: introduzem uma oração que acrescenta ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração Saraiva, 2010.
principal. São elas: quando, enquanto, antes que, depois que, Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que, assim ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
que, agora que, mal (= assim que), etc. Interjeição
A briga começou assim que saímos da festa.
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo-
h) Comparativas: introduzem uma oração que expres- ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin-
sa ideia de comparação com referência à oração principal. guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de
São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas sim
a manifestação de um suspiro, um estado da alma decor-
tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual,
rente de uma situação particular, um momento ou um con-
que nem, que (combinado com menos ou mais), etc.
texto específico. Exemplos:
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
i) Consecutivas: introduzem uma oração que expressa Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
a consequência da principal. São elas: de sorte que, de modo hum: expressão de um pensamento súbito = interjei-
que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que ção
(tendo como antecedente na oração principal uma palavra
como tal, tão, cada, tanto, tamanho), etc. O significado das interjeições está vinculado à maneira
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do como elas são proferidas. O tom da fala é que dita o senti-
exame. do que a expressão vai adquirir em cada contexto em que
for utilizada. Exemplos:
Atenção: Muitas conjunções não têm classificação úni- Psiu!
ca, imutável, devendo, portanto, ser classificadas de acor- contexto: alguém pronunciando esta expressão na rua
do com o sentido que apresentam no contexto (grifo ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te chamando!
da Zê!). Ei, espere!”

O bom relacionamento entre as conjunções de um Psiu!


texto garante a perfeita estruturação de suas frases e pa- contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig-
rágrafos, bem como a compreensão eficaz de seu conteú- nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silêncio!”
do. Interagindo com palavras de outras classes gramaticais
essenciais ao inter-relacionamento das partes de frases e Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
textos - como os pronomes, preposições, alguns advérbios puxa: interjeição; tom da fala: euforia
e numerais -, as conjunções fazem parte daquilo a que se
pode chamar de “a arquitetura textual”, isto é, o con- Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
junto das relações que garantem a coesão do enunciado. puxa: interjeição; tom da fala: decepção
O sucesso desse conjunto de relações depende do conhe-
cimento do valor relacional das conjunções, uma vez que As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria,
estas interferem semanticamente no enunciado.
tristeza, dor, etc.
Dessa forma, deve-se dedicar atenção especial às con-
Ah, deve ser muito interessante!
junções tanto na leitura como na produção de textos. Nos
textos narrativos, elas estão muitas vezes ligadas à expres-
b) Sintetizar uma frase apelativa.
são de circunstâncias fundamentais à condução da história, Cuidado! Saia da minha frente.
como as noções de tempo, finalidade, causa e consequên-
cia. Nos textos dissertativos, evidenciam muitas vezes a li- As interjeições podem ser formadas por:
nha expositiva ou argumentativa adotada - é o caso das a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
exposições e argumentações construídas por meio de con- b) palavras: Oba! Olá! Claro!
trastes e oposições, que implicam o uso das adversativas e c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!
concessivas. Ora bolas!

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Interjeições 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-


frase” porque sozinha pode constituir uma mensagem. Por
Comumente, as interjeições expressam sentido de: exemplo:
Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido! Aten- Socorro! Ajudem-me! Silêncio! Fique quieto!
ção! Olha! Alerta!
Afugentamento: Fora! Passa! Rua! 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva! tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Miau!
Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-
Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem! Âni- quá!, etc.
mo! Adiante!
Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva! 5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com
Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá! a sua homônima “oh!”, que exprime admiração, alegria,
Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamente! tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois do “oh!” exclamativo
Essa não! Chega! Basta! e não a fazemos depois do “ó” vocativo. Por exemplo:
Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Queira “Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!” (Olavo Bilac)
Deus! Oh! a jornada negra!” (Olavo Bilac)
Desculpa: Perdão!
Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena! Fontes de pesquisa:
Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê! http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf89.
Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus! Quê! php
Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz! SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios! Puxa! Pô! coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Ora! Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade! – volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve! Viva! Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
Adeus! Olá! Alô! Ei! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me, Deus! Numeral
Silêncio: Psiu! Silêncio!
Numeral é a palavra variável que indica quantidade
Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes-
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa determi-
* Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis,
nada sequência.
isto é, não sofrem variação em gênero, número e grau
como os nomes, nem de número, pessoa, tempo, modo,
* Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que
aspecto e voz como os verbos. No entanto, em uso espe-
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando
cífico, algumas interjeições sofrem variação em grau. Não
se trata de um processo natural desta classe de palavra, a expressão é colocada em números (1, 1.º, 1/3, etc.) não se
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite. trata de numerais, mas sim de algarismos.
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a
ideia expressa pelos números, existem mais algumas pala-
Locução Interjetiva vras consideradas numerais porque denotam quantidade,
proporção ou ordenação. São alguns exemplos: década,
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma dúzia, par, ambos(as), novena.
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! Classificação dos Numerais
Toda frase mais ou menos breve dita em tom exclama-
tivo torna-se uma locução interjetiva, dispensando análise - Cardinais: indicam quantidade exata ou determina-
dos termos que a compõem: Macacos me mordam!, Valha- da de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns cardinais têm
me Deus!, Quem me dera! sentido coletivo, como por exemplo: século, par, dúzia, dé-
cada, bimestre.
* Observações:
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. - Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém ou
Por exemplo: alguma coisa ocupa numa determinada sequência: primei-
Ué! (= Eu não esperava por essa!) ro, segundo, centésimo, etc.
Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe.)
* Observação importante:
2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes final e penúltimo também indicam posição dos seres, mas
gramaticais podem aparecer como interjeições. Por exem- são classificadas como adjetivos, não ordinais.
plo:
Viva! Basta! (Verbos) - Fracionários: indicam parte de uma quantidade, ou
Fora! Francamente! (Advérbios) seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois quintos, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação - Para designar papas, reis, imperadores, séculos e par-
dos seres, indicando quantas vezes a quantidade foi au- tes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
mentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc. décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral
venha depois do substantivo;
Flexão dos numerais
Ordinais Cardinais
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/du- João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
zentas em diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatro- D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
centas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam
em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
são invariáveis. Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Os numerais ordinais variam em gênero e número:
- Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido
primeiro segundo milésimo como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
primeira segunda milésima
** Dica: Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
primeiros segundos milésimos associação. Ficará mais fácil!
primeiras segundas milésimas - Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o
ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do esforço Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
e conseguiram o triplo de produção. Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses tri- - Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se
plas do medicamento. refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou
Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e “uma e outra”, “as duas”) e são largamente empregados
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/ para retomar pares de seres aos quais já se fez referência.
duas terças partes. Sua utilização exige a presença do artigo posposto: Ambos
Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O arti-
dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros. go só é dispensado caso haja um pronome demonstrativo:
É comum na linguagem coloquial a indicação de grau Ambos esses ministros falarão à imprensa.
nos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de
sentido. É o que ocorre em frases como: Função sintática do Numeral
“Me empresta duzentinho...”
É artigo de primeiríssima qualidade! O numeral tem mais de uma função sintática:
O time está arriscado por ter caído na segundona. (= - se na oração analisada seu papel é de adjetivo, o
segunda divisão de futebol) numeral assumirá a função de adjunto adnominal; se fizer
papel de substantivo, pode ter a função de sujeito, objeto
Emprego e Leitura dos Numerais direto ou indireto.
- Os numerais são escritos em conjunto de três alga- Visitamos cinco casas, mas só gostamos de duas.
rismos, contados da direita para a esquerda, em forma de Objeto direto = cinco casas
centenas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma Núcleo do objeto direto = casas
separação através de ponto ou espaço correspondente a Adjunto adnominal = cinco
um ponto: 8.234.456 ou 8 234 456. Objeto indireto = de duas
- Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar
Núcleo do objeto indireto = duas
exagero intencional, constituindo a figura de linguagem
conhecida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
- No português contemporâneo, não se usa a conjun-
ção “e” após “mil”, seguido de centena:
Nasci em mil novecentos e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.

* Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por


dois zeros, usa-se o “e”:
Seu salário será de mil e quinhentos reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quadro de alguns numerais

Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários


um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
cinco quinto quíntuplo quinto
seis sexto sêxtuplo sexto
sete sétimo sétuplo sétimo
oito oitavo óctuplo oitavo
nove nono nônuplo nono
dez décimo décuplo décimo
onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
quinze décimo quinto - quinze avos
dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
dezessete décimo sétimo - dezessete avos
dezoito décimo oitavo - dezoito avos
dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos
trinta trigésimo - trinta avos
quarenta quadragésimo - quarenta avos
cinqüenta quinquagésimo - cinquenta avos
sessenta sexagésimo - sessenta avos
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos
noventa nonagésimo - noventa avos
cem centésimo cêntuplo centésimo
duzentos ducentésimo - ducentésimo
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo
quinhentos quingentésimo - quingentésimo
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo
setecentos septingentésimo - septingentésimo
oitocentos octingentésimo - octingentésimo
novecentos nongentésimo
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo
milhão milionésimo - milionésimo
bilhão bilionésimo - bilionésimo

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LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: Dicas sobre preposição


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf40.
php - O “a” pode funcionar como preposição, pronome
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pessoal oblíquo e artigo. Como distingui-los? Caso o “a”
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. seja um artigo, virá precedendo um substantivo, servindo
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- para determiná-lo como um substantivo singular e femi-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: nino.
Saraiva, 2010. A matéria que estudei é fácil!
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. - Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois
Preposição termos e estabelece relação de subordinação entre eles.
Preposição é uma palavra invariável que serve para Irei à festa sozinha.
ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, Entregamos a flor à professora!
normalmente há uma subordinação do segundo termo em *o primeiro “a” é artigo; o segundo, preposição.
relação ao primeiro. As preposições são muito importantes
na estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual - Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o
e possuem valores semânticos indispensáveis para a com- lugar e/ou a função de um substantivo.
preensão do texto. Nós trouxemos a apostila. = Nós a trouxemos.

Tipos de Preposição Relações semânticas (= de sentido) estabelecidas


por meio das preposições:
1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusi-
vamente como preposições: a, ante, perante, após, até, com, Destino = Irei a Salvador.
contra, de, desde, em, entre, para, por, sem, sob, sobre, trás, Modo = Saiu aos prantos.
Lugar = Sempre a seu lado.
atrás de, dentro de, para com.
Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
2. Preposições acidentais: palavras de outras classes
Causa = Chorei de saudade.
gramaticais que podem atuar como preposições, ou seja,
Fim ou finalidade = Vim para ficar.
formadas por uma derivação imprópria: como, durante, ex-
Instrumento = Escreveu a lápis.
ceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão, visto.
Posse = Vi as roupas da mamãe.
Autoria = livro de Machado de Assis
3. Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va-
Companhia = Estarei com ele amanhã.
lendo como uma preposição, sendo que a última palavra é Matéria = copo de cristal.
uma (preposição): abaixo de, acerca de, acima de, ao lado Meio = passeio de barco.
de, a respeito de, de acordo com, em cima de, embaixo de, Origem = Nós somos do Nordeste.
em frente a, ao redor de, graças a, junto a, com, perto de, por Conteúdo = frascos de perfume.
causa de, por cima de, por trás de. Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se a
outras palavras e, assim, estabelecer concordância em gê- * Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas lo-
nero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela. cuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução pre-
positiva por trás de.
* Essa concordância não é característica da preposição,
mas das palavras às quais ela se une. Fontes de pesquisa:
Esse processo de junção de uma preposição com outra http://www.infoescola.com/portugues/preposicao/
palavra pode se dar a partir dos processos de: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1. Combinação: união da preposição “a” com o artigo Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
“o”(s), ou com o advérbio “onde”: ao, aonde, aos. Os vocá- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
bulos não sofrem alteração. Saraiva, 2010.
2. Contração: união de uma preposição com outra pa- Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
lavra, ocorrendo perda ou transformação de fonema: de + ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
o = do, em + a = na, per + os = pelos, de + aquele = da- Pronome
quele, em + isso = nisso. Pronome é a palavra variável que substitui ou acom-
3. Crase: é a fusão de vogais idênticas: à (“a” prepo- panha um substantivo (nome), qualificando-o de alguma
sição + “a” artigo), àquilo (“a” preposição + 1.ª vogal do forma.
pronome “aquilo”). O homem julga que é superior à natureza, por isso o
homem destrói a natureza...

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilizando pronomes, teremos: Pronome Reto


O homem julga que é superior à natureza, por isso ele
a destrói... Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na senten-
Ficou melhor, sem a repetição desnecessária de termos ça, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos flores.
(homem e natureza).
Os pronomes retos apresentam flexão de número, gê-
Grande parte dos pronomes não possuem significados nero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso.
de um contexto, o qual nos permite recuperar a referên- Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim confi-
cia exata daquilo que está sendo colocado por meio dos gurado:
pronomes no ato da comunicação. Com exceção dos pro-
nomes interrogativos e indefinidos, os demais pronomes - 1.ª pessoa do singular: eu
têm por função principal apontar para as pessoas do dis- - 2.ª pessoa do singular: tu
curso ou a elas se relacionar, indicando-lhes sua situação - 3.ª pessoa do singular: ele, ela
no tempo ou no espaço. Em virtude dessa característica, - 1.ª pessoa do plural: nós
- 2.ª pessoa do plural: vós
os pronomes apresentam uma forma específica para cada
- 3.ª pessoa do plural: eles, elas
pessoa do discurso.
* Atenção: esses pronomes não costumam ser usa-
Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada. dos como complementos verbais na língua-padrão. Frases
[minha/eu: pronomes de 1.ª pessoa = aquele que fala] como “Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram
Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada? eu até aqui”, comuns na língua oral cotidiana, devem ser
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for-
fala] mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon-
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram-
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem me até aqui”.
se fala]
* Observação: frequentemente observamos a omissão
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em núme- as próprias formas verbais marcam, através de suas desi-
ro (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência nências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto:
através do pronome seja coerente em termos de gênero Fizemos boa viagem. (Nós)
e número (fenômeno da concordância) com o seu objeto,
mesmo quando este se apresenta ausente no enunciado. Pronome Oblíquo

Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da nos- Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sen-
sa escola neste ano. tença, exerce a função de complemento verbal (objeto
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
adequada]
[neste: pronome que determina “ano” = concordância * Observação: o pronome oblíquo é uma forma va-
adequada] riante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação in-
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concor- dica a função diversa que eles desempenham na oração:
dância inadequada] pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo
marca o complemento da oração.
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
tônicos.
Pronomes Pessoais Pronome Oblíquo Átono
São aqueles que substituem os substantivos, indicando São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve são precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica
assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os pronomes fraca: Ele me deu um presente.
“tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a quem se di- Tabela dos pronomes oblíquos átonos
rige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer referência à - 1.ª pessoa do singular (eu): me
pessoa ou às pessoas de quem se fala. - 2.ª pessoa do singular (tu): te
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- - 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto - 1.ª pessoa do plural (nós): nos
ou do caso oblíquo. - 2.ª pessoa do plural (vós): vos
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Observações: - As preposições essenciais introduzem sempre prono-


- O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união en- reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
tre o pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por língua formal, os pronomes costumam ser usados desta
acompanhar diretamente uma preposição, o pronome forma:
“lhe” exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Não há mais nada entre mim e ti.
Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
diretos como objetos indiretos. Não há nenhuma acusação contra mim.
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como Não vá sem mim.
objetos diretos.
* Atenção: Há construções em que a preposição, ape-
- Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem com- sar de surgir anteposta a um pronome, serve para introdu-
binar-se com os pronomes o, os, a, as, dando origem a for- zir uma oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos,
mas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, o verbo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um
lhas; no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. pronome, deverá ser do caso reto.
Observe o uso dessas formas nos exemplos que seguem: Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Trouxeste o pacote? Não vá sem eu mandar.
Sim, entreguei-to ainda há pouco.
Não contaram a novidade a vocês? * A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
Não, no-la contaram. está correta, já que “para mim” é complemento de “fácil”.
A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil para
No Brasil, essas combinações não são usadas; até mes- mim!
mo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.
- A combinação da preposição “com” e alguns prono-
* Atenção: Os pronomes o, os, a, as assumem formas mes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
especiais depois de certas terminações verbais.
conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos fre-
- Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome
quentemente exercem a função de adjunto adverbial de
assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo tempo que a
companhia.
terminação verbal é suprimida. Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.
fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
- A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
dizer + a = dizê-la
Ela veio até mim, mas nada falou.
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de)
- Quando o verbo termina em som nasal, o pronome
assume as formas no, nos, na, nas. Por exemplo: inclusão, usaremos as formas retas:
viram + o: viram-no Todos foram bem na prova, até eu! (=inclusive eu)
repõe + os = repõe-nos
retém + a: retém-na - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
tem + as = tem-nas por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais
são reforçados por palavras como outros, mesmos, próprios,
Pronome Oblíquo Tônico todos, ambos ou algum numeral.
Você terá de viajar com nós todos.
Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos Estávamos com vós outros quando chegaram as más
por preposições, em geral as preposições a, para, de e com. notícias.
Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função Ele disse que iria com nós três.
de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica
forte. Pronome Reflexivo
Quadro dos pronomes oblíquos tônicos:
- 1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcio-
- 2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo nem como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito
- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação
- 1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco expressa pelo verbo.
- 2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco Quadro dos pronomes reflexivos:
- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas - 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim.
Eu não me lembro disso.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tô-
nico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As - 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti.
demais repetem a forma do pronome pessoal do caso reto. Conhece a ti mesmo.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo. * Observações:


Guilherme já se preparou. * Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de
Ela deu a si um presente. tratamento que possuem “Vossa(s)” são empregados em
Antônio conversou consigo mesmo. relação à pessoa com quem falamos: Espero que V. Ex.ª, Se-
nhor Ministro, compareça a este encontro.
- 1.ª pessoa do plural (nós): nos.
Lavamo-nos no rio. ** Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua
- 2.ª pessoa do plural (vós): vos. Excelência, o Senhor Presidente da República, agiu com pro-
Vós vos beneficiastes com esta conquista. priedade.

- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. - Os pronomes de tratamento representam uma for-
Eles se conheceram. ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao
Elas deram a si um dia de folga. tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo,
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado
* O pronome é reflexivo quando se refere à mesma supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
pessoa do pronome subjetivo (sujeito): Eu me arrumei e saí.
** É pronome recíproco quando indica reciprocidade - 3.ª pessoa: embora os pronomes de tratamento diri-
de ação: jam-se à 2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita
Nós nos amamos. com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessi-
Olhamo-nos calados. vos e os pronomes oblíquos empregados em relação a eles
devem ficar na 3.ª pessoa.
Pronomes de Tratamento Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro-
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos.
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
- Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos ou
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (portan-
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo
to, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira pes-
do texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente.
soa. Alguns exemplos:
Assim, por exemplo, se começamos a chamar alguém de
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
“você”, não poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
exigirá, ainda, verbo na terceira pessoa.
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e religio-
sos em geral
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente superior
teus cabelos. (errado)
à de coronel, senadores, deputados, embaixadores, profes-
sores de curso superior, ministros de Estado e de Tribunais, Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos
governadores, secretários de Estado, presidente da Repú- seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular
blica (sempre por extenso) ou
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de universi-
dades Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores teus cabelos. (correto) = segunda pessoa do singular
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, oficiais
até a patente de coronel, chefes de seção e funcionários de Pronomes Possessivos
igual categoria São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
Vossa Meritíssima (sempre por extenso) = para juízes (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo
de direito (coisa possuída).
Vossa Santidade (sempre por extenso) = tratamento Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do
cerimonioso singular)
Vossa Onipotência (sempre por extenso) = Deus
NÚMERO PESSOA PRONOME
Também são pronomes de tratamento o senhor, a se-
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empre- singular primeira meu(s), minha(s)
gados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tra- singular segunda teu(s), tua(s)
tamento familiar. Você e vocês são largamente empregados
singular terceira seu(s), sua(s)
no português do Brasil; em algumas regiões, a forma tu é
de uso frequente; em outras, pouco empregada. Já a forma plural primeira nosso(s), nossa(s)
vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, ultraformal ou plural segunda vosso(s), vossa(s)
literária.
plural terceira seu(s), sua(s)

21
LÍNGUA PORTUGUESA

* Note que: A forma do possessivo depende da pessoa *Em relação ao tempo:


gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam - Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em
com o objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribui- relação à pessoa que fala:
ção naquele momento difícil. Esta manhã farei a prova do concurso!

* Observações: - Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-


- A forma “seu” não é um possessivo quando resultar rém relativamente próximo à época em que se situa a pes-
da alteração fonética da palavra senhor: Muito obrigado, soa que fala:
seu José. Essa noite dormi mal; só pensava no concurso!

- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afasta-


- Os pronomes possessivos nem sempre indicam pos-
mento no tempo, referido de modo vago ou como tempo
se. Podem ter outros empregos, como:
remoto:
a) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha. Naquele tempo, os professores eram valorizados.
b) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40 *Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se fala-
anos. rá ou escreverá):
- Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer
c) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se falará:
lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela. Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, or-
tografia, concordância.
- Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Excelência - Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
trouxe sua mensagem? fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou:
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja-
- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi- mos!
vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus livros e
anotações. - Este e aquele são empregados quando se quer fa-
zer referência a termos já mencionados; aquele se refere
ao termo referido em primeiro lugar e este para o referido
- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblí-
por último:
quos átonos assumem valor de possessivo: Vou seguir-lhe
os passos. (= Vou seguir seus passos) Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
este está mais bem colocado que aquele. (= este [São Paulo],
- O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró- aquele [Palmeiras])
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo, para ou
que não ocorra redundância: Coloque tudo nos respectivos
lugares. Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Paulo;
aquele está mais bem colocado que este. (= este [São Paulo],
Pronomes Demonstrativos aquele [Palmeiras])

São utilizados para explicitar a posição de certa palavra - Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou
em relação a outras ou ao contexto. Essa relação pode ser invariáveis, observe:
de espaço, de tempo ou em relação ao discurso. Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aque-
la(s).
*Em relação ao espaço: Invariáveis: isto, isso, aquilo.
- Este(s), esta(s) e isto = indicam o que está perto da
* Também aparecem como pronomes demonstrativos:
pessoa que fala:
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
Este material é meu.
puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.)
- Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
pessoa com quem se fala: indiquei.)
Esse material em sua carteira é seu?
- mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): variam em
- Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está dis- gênero quando têm caráter reforçativo:
tante tanto da pessoa que fala como da pessoa com quem Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
se fala: Eu mesma refiz os exercícios.
Aquele material não é nosso. Elas mesmas fizeram isso.
Vejam aquele prédio! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.

22
LÍNGUA PORTUGUESA

- semelhante(s): Não tenha semelhante atitude. Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va-
riáveis e invariáveis. Observe:
- tal, tais: Tal absurdo eu não comenteria.
Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário,
* Note que: tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca,
- Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides vária, tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer*, alguns, ne-
eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este. (ou en- nhuns, todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos,
tão: este solteiro, aquele casado) - este se refere à pessoa algumas, nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em outras, quantas.
primeiro lugar.
Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
- O pronome demonstrativo tal pode ter conotação algo, cada.
irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
*
Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que-
- Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo plu-
com pronome demonstrativo: àquele, àquela, deste, desta, ral é feito em seu interior).
disso, nisso, no, etc: Não acreditei no que estava vendo. (no
= naquilo) - Todo e toda no singular e junto de artigo significa
inteiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as:
Pronomes Indefinidos Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira)
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades)
São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discurso, Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro)
dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quan- Trabalho todo dia. (= todos os dias)
tidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém São locuções pronominais indefinidas: cada qual,
-plantadas. cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que),
seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal qual (=
Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pessoa
certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
Cada um escolheu o vinho desejado.
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser hu-
mano que seguramente existe, mas cuja identidade é des-
Indefinidos Sistemáticos
conhecida ou não se quer revelar. Classificam-se em:
Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
- Pronomes Indefinidos Substantivos: assumem o lu-
percebemos que existem alguns grupos que criam oposi-
gar do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase.
São eles: algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, nin- ção de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm
guém, outrem, quem, tudo. sentido afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm
sentido negativo; todo/tudo, que indicam uma totalidade
Algo o incomoda? afirmativa, e nenhum/nada, que indicam uma totalidade
Quem avisa amigo é. negativa; alguém/ninguém, que se referem à pessoa, e
algo/nada, que se referem à coisa; certo, que particulariza,
- Pronomes Indefinidos Adjetivos: qualificam um ser e qualquer, que generaliza.
expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade Essas oposições de sentido são muito importantes na
aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s). construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
vezes dependem a solidez e a consistência dos argumen-
Cada povo tem seus costumes. tos expostos. Observe nas frases seguintes a força que os
Certas pessoas exercem várias profissões. pronomes indefinidos destacados imprimem às afirmações
de que fazem parte:
* Note que: Ora são pronomes indefinidos substanti- Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
vos, ora pronomes indefinidos adjetivos: prático.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos), Certas pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns, pessoas quaisquer.
nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s), *Nenhum é contração de nem um, forma mais enfática,
tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias. que se refere à unidade. Repare:
Nenhum candidato foi aprovado.
Menos palavras e mais ações. Nem um candidato foi aprovado. (um, nesse caso, é nu-
Alguns se contentam pouco. meral)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes Relativos - O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com


o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
São aqueles que representam nomes já mencionados quente (o ser possuído, com o qual concorda em gênero
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem e número); não se usa artigo depois deste pronome; “cujo”
as orações subordinadas adjetivas. equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de Existem pessoas cujas ações são nobres.
um grupo racial sobre outros. (antecedente) (consequente)
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros
= oração subordinada adjetiva). *interpretação do pronome “cujo” na frase acima: ações
das pessoas. É como se lêssemos “de trás para frente”. Ou-
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” tro exemplo:
e introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra Comprei o livro cujo autor é famoso. (= autor do livro)
“sistema” é antecedente do pronome relativo que.
O antecedente do pronome relativo pode ser o prono- ** se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
me demonstrativo o, a, os, as. nome:
Não sei o que você está querendo dizer. O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (referiu-
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem se a)
expresso.
Quem casa, quer casa. - “Quanto” é pronome relativo quando tem por an-
tecedente um pronome indefinido: tanto (ou variações) e
Observe: tudo:
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os Emprestei tantos quantos foram necessários.
quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, (antecedente)
quantas. Ele fez tudo quanto havia falado.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde. (antecedente)

Note que: - O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sem-


- O pronome “que” é o relativo de mais largo emprego, pre precedido de preposição.
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser subs- É um professor a quem muito devemos.
tituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu (preposição)
antecedente for um substantivo.
O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) - “Onde”, como pronome relativo, sempre possui an-
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a tecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A
qual) casa onde morava foi assaltada.
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
quais) - Na indicação de tempo, deve-se empregar quando
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as ou em que.
quais) Sinto saudades da época em que (quando) morávamos
no exterior.
- O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamente - Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que lavras:
podem ter várias classificações) são pronomes relativos. To- - como (= pelo qual) – desde que precedida das pala-
dos eles são usados com referência à pessoa ou coisa por vras modo, maneira ou forma:
motivo de clareza ou depois de determinadas preposições: Não me parece correto o modo como você agiu semana
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o qual passada.
me deixou encantado. O uso de “que”, neste caso, geraria
ambiguidade. Veja: Regressando de São Paulo, visitei o sítio - quando (= em que) – desde que tenha como antece-
de minha tia, que me deixou encantado (quem me deixou dente um nome que dê ideia de tempo:
encantado: o sítio ou minha tia?). Bons eram os tempos quando podíamos jogar videoga-
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas me.
dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utiliza-
se o qual / a qual) - Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
- O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste es-
se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas deixou porte.
de ser poeta, que era a sua vocação natural. = O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode -lugares: Alemanha, Portugal


ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de -sentimentos: amor, saudade
gente que conversava, (que) ria, observava. -estados: alegria, tristeza
-qualidades: honestidade, sinceridade...
Pronomes Interrogativos -ações: corrida, pescaria...

São usados na formulação de perguntas, sejam elas di- Morfossintaxe do substantivo


retas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos,
referem-se à 3.ª pessoa do discurso de modo impreciso. Nas orações, geralmente o substantivo exerce funções
São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), diretamente relacionadas com o verbo: atua como núcleo
quanto (e variações). do sujeito, dos complementos verbais (objeto direto ou
Com quem andas?
indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, funcio-
Qual seu nome?
nar como núcleo do complemento nominal ou do aposto,
Diz-me com quem andas, que te direi quem és.
como núcleo do predicativo do sujeito, do objeto ou como
Sobre os pronomes: núcleo do vocativo. Também encontramos substantivos
como núcleos de adjuntos adnominais e de adjuntos ad-
O pronome pessoal é do caso reto quando tem função verbiais - quando essas funções são desempenhadas por
de sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo grupos de palavras.
quando desempenha função de complemento.
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar. Classificação dos Substantivos
2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia
lhe ajudar. Substantivos Comuns e Próprios

Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele” Observe a definição:


exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso
reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce função Cidade: s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas ca-
de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo. sas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso. sede de município é cidade). 2. O centro de uma cidade (em
O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para oposição aos bairros).
a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se
devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição, cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo
diferentemente dos segundos, que são sempre precedidos comum.
de preposição. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de
- Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que uma mesma espécie de forma genérica: cidade, menino,
eu estava fazendo. homem, mulher, país, cachorro.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim Estamos voando para Barcelona.
o que eu estava fazendo.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da es-
Fontes de pesquisa: pécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio – aquele
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf42. que designa os seres de uma mesma espécie de forma par-
php ticular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. Substantivos Concretos e Abstratos
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que
Saraiva, 2010. existe, independentemente de outros seres.
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observação: os substantivos concretos designam se-
res do mundo real e do mundo imaginário.
Substantivo
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
Substantivo é a classe gramatical de palavras variáveis, Brasília.
as quais denominam todos os seres que existem, sejam Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
reais ou imaginários. Além de objetos, pessoas e fenôme- ma.
nos, os substantivos também nomeiam:

25
LÍNGUA PORTUGUESA

Substantivo Abstrato: é aquele que designa seres que enxoval roupas


dependem de outros para se manifestarem ou existirem.
Por exemplo: a beleza não existe por si só, não pode falange soldados, anjos
ser observada. Só podemos observar a beleza numa pes- fauna animais de uma região
soa ou coisa que seja bela. A beleza depende de outro ser
feixe lenha, capim
para se manifestar. Portanto, a palavra beleza é um subs-
tantivo abstrato. flora vegetais de uma região
Os substantivos abstratos designam estados, qualida- frota navios mercantes, ônibus
des, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser
girândola fogos de artifício
abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida (estado),
rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento). horda bandidos, invasores
médicos, bois, credores,
Substantivos Coletivos junta
examinadores

Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, ou- júri jurados
tra abelha, mais outra abelha. legião soldados, anjos, demônios
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. leva presos, recrutas
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
malta malfeitores ou desordeiros
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne- manada búfalos, bois, elefantes,
cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, matilha cães de raça
mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um substan- molho chaves, verduras
tivo no singular (enxame) para designar um conjunto de multidão pessoas em geral
seres da mesma espécie (abelhas).
insetos (gafanhotos,
nuvem
mosquitos, etc.)
O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
penca bananas, chaves
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que, pinacoteca pinturas, quadros
mesmo estando no singular, designa um conjunto de seres
quadrilha ladrões, bandidos
da mesma espécie.
ramalhete flores
Substantivo coletivo Conjunto de: rebanho ovelhas
assembleia pessoas reunidas repertório peças teatrais, obras musicais
alcateia lobos réstia alhos ou cebolas
acervo livros romanceiro poesias narrativas
antologia trechos literários selecionados revoada pássaros
arquipélago ilhas sínodo párocos
banda músicos talha lenha
bando desordeiros ou malfeitores tropa muares, soldados
banca examinadores turma estudantes, trabalhadores
batalhão soldados vara porcos
cardume peixes
caravana viajantes peregrinos
cacho frutas
cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
concílio bispos
congresso parlamentares, cientistas
elenco atores de uma peça ou filme
esquadra navios de guerra

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LÍNGUA PORTUGUESA

Formação dos Substantivos Substantivos Uniformes: apresentam uma única forma,


Substantivos Simples e Compostos que serve tanto para o masculino quanto para o feminino.
Classificam-se em:
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a
terra. - Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo se
O substantivo chuva é formado por um único elemento faz mediante a utilização das palavras “macho” e “fêmea”: a
ou radical. É um substantivo simples. cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré fêmea.
- Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes a
Substantivo Simples: é aquele formado por um único pessoas de ambos os sexos: a criança, a testemunha, a víti-
elemento. ma, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o indivíduo.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja - Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros: in-
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois ele- dicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o colega e a
colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
mentos (guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou
Saiba que: Substantivos de origem grega terminados
mais elementos. Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
em ema ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sis-
tema, o sintoma, o teorema.
Substantivos Primitivos e Derivados
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de ne- variam em seu significado:
nhuma outra palavra da própria língua portuguesa. O subs- o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz)
tantivo limoeiro, por exemplo, é derivado, pois se originou o cabeça (líder) e a cabeça (parte do corpo)
a partir da palavra limão. o capital (dinheiro) e a capital (cidade)
Substantivo Derivado: é aquele que se origina de ou- o coma (sono mórbido) e a coma (cabeleira, juba)
tra palavra. o lente (professor) e a lente (vidro de aumento)
o moral (estado de espírito) e a moral (ética; conclusão)
Flexão dos substantivos o praça (soldado raso) e a praça (área pública)
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora)
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por Formação do Feminino dos Substantivos Biformes
exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo: - Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
meninão / Diminutivo: menininho - aluna.
- Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao
Flexão de Gênero masculino: freguês - freguesa
- Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino
Gênero é um princípio puramente linguístico, não de- de três formas:
vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito 1- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram 2- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã
a seres animais providos de sexo, quer designem apenas 3- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona
“coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
* Exceções: barão – baronesa, ladrão- ladra, sultão -
Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
sultana
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substantivos
que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns. Veja - Substantivos terminados em -or:
estes títulos de filmes: acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora
O velho e o mar troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Um Natal inesquecível
Os reis da praia - Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn-
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa / duque
Pertencem ao gênero feminino os substantivos que - duquesa / conde - condessa / profeta - profetisa
podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
A história sem fim - Substantivos que formam o feminino trocando o -e
Uma cidade sem passado final por -a: elefante - elefanta
As tartarugas ninjas
- Substantivos que têm radicais diferentes no masculi-
Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes no e no feminino: bode – cabra / boi - vaca

Substantivos Biformes (= duas formas): apresentam - Substantivos que formam o feminino de maneira es-
uma forma para cada gênero: gato – gata, homem – mulher, pecial, isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
poeta – poetisa, prefeito - prefeita czar – czarina, réu - ré

27
LÍNGUA PORTUGUESA

Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata, a
cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a libido,
Epicenos: a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
- São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema, o
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma
eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o traco-
para designar os dois sexos. Esses substantivos são cha-
ma, o hematoma.
mados de epicenos. No caso dos epicenos, quando houver
a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se palavras
macho e fêmea. * Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
A cobra macho picou o marinheiro.
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Gênero dos Nomes de Cidades: Com raras exceções,
nomes de cidades são femininos.
Sobrecomuns: A histórica Ouro Preto.
Entregue as crianças à natureza. A dinâmica São Paulo.
A acolhedora Porto Alegre.
A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo mas- Uma Londres imensa e triste.
culino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
o artigo nem um possível adjetivo permitem identificar o
sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja: Gênero e Significação
A criança chorona chamava-se João.
A criança chorona chamava-se Maria. Muitos substantivos têm uma significação no masculi-
no e outra no feminino. Observe:
Outros substantivos sobrecomuns: o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à
criatura.
frente de um bloco carnavalesco, manejando um bastão), a
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou proibi-
ção de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do cor-
Comuns de Dois Gêneros: po), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma (ato
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois. de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a cinza
(resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a capital (ci-
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? dade), o coma (perda dos sentidos), a coma (cabeleira), o
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), a coral (cobra
vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme. venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado na administração
A distinção de gênero pode ser feita através da análise da crisma e de outros sacramentos), a crisma (sacramento
do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substanti- da confirmação), o cura (pároco), a cura (ato de curar), o
vo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante; um jovem estepe (pneu sobressalente), a estepe (vasta planície de vege-
- uma jovem; artista famoso - artista famosa; repórter fran- tação), o guia (pessoa que guia outras), a guia (documento,
cês - repórter francesa pena grande das asas das aves), o grama (unidade de peso),
a grama (relva), o caixa (funcionário da caixa), a caixa (re-
- A palavra personagem é usada indistintamente nos cipiente, setor de pagamentos), o lente (professor), a lente
dois gêneros. (vidro de aumento), o moral (ânimo), a moral (honestidade,
a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
bons costumes, ética), o nascente (lado onde nasce o Sol), a
preferência pelo masculino: O menino descobriu nas nuvens
nascente (a fonte), o maria-fumaça (trem como locomotiva
os personagens dos contos de carochinha.
b) Com referência a mulher, deve-se preferir o femini- a vapor), maria-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala
no: O problema está nas mulheres de mais idade, que não (poncho), a pala (parte anterior do boné ou quepe, antepa-
aceitam a personagem. ro), o rádio (aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga
(remador), a voga (moda).
- Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte. Flexão de Número do Substantivo

Observe o gênero dos substantivos seguintes: Em português, há dois números gramaticais: o singular,
Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, que
(pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o indica mais de um ser ou grupo de seres. A característica
maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o do plural é o “s” final.
proclama, o pernoite, o púbis.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Substantivos Simples - Flexionam-se os dois elementos, quando formados


de:
- Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). Exceção: cânon feitos
- cânones. adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
mens
- Os substantivos terminados em “m” fazem o plural numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
em “ns”: homem - homens.
- Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
- Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plu- formados de:
ral pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
palavra invariável + palavra variável = alto-falante e al-
to-falantes
* Atenção: O plural de caráter é caracteres.
palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-re-
cos
- Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-
se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; cara-
- Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
col – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, cônsul formados de:
e cônsules. substantivo + preposição clara + substantivo = água-
de-colônia e águas-de-colônia
- Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de substantivo + preposição oculta + substantivo = cava-
duas maneiras: lo-vapor e cavalos-vapor
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis substantivo + substantivo que funciona como determi-
- Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis. nante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do
termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, bomba-re-
Observação: a palavra réptil pode formar seu plural de lógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã, peixe-espa-
duas maneiras: répteis ou reptis (pouco usada). da - peixes-espada.

- Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de - Permanecem invariáveis, quando formados de:
duas maneiras: verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora
1- Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os sa-
acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses ca-rolhas
2- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam inva-
riáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus. * Casos Especiais

- Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural o louva-a-deus e os louva-a-deus


de três maneiras.
o bem-te-vi e os bem-te-vis
1- substituindo o -ão por -ões: ação - ações
2- substituindo o -ão por -ães: cão - cães o bem-me-quer e os bem-me-queres
3- substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos o joão-ninguém e os joões-ninguém.

- Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: Plural das Palavras Substantivadas


o látex - os látex.
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras
Plural dos Substantivos Compostos classes gramaticais usadas como substantivo, apresentam,
no plural, as flexões próprias dos substantivos.
- A formação do plural dos substantivos compostos Pese bem os prós e os contras.
depende da forma como são grafados, do tipo de palavras O aluno errou na prova dos noves.
que formam o composto e da relação que estabelecem en- Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos.
tre si. Aqueles que são grafados sem hífen comportam-se
como os substantivos simples: aguardente/aguardentes, gi- * Observação: numerais substantivados terminados
rassol/girassóis, pontapé/pontapés, malmequer/malmeque- em “s” ou “z” não variam no plural: Nas provas mensais con-
res. segui muitos seis e alguns dez.
O plural dos substantivos compostos cujos elementos
são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e
discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:

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LÍNGUA PORTUGUESA

Plural dos Diminutivos Singular Plural


Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final Corpo (ô) corpos (ó)
e acrescenta-se o sufixo diminutivo. esforço esforços
fogo fogos
pãe(s) + zinhos = pãezinhos forno fornos
animai(s) + zinhos = animaizinhos fosso fossos
botõe(s) + zinhos = botõezinhos imposto impostos
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos olho olhos
farói(s) + zinhos = faroizinhos osso (ô) ossos (ó)
tren(s) + zinhos = trenzinhos ovo ovos
colhere(s) + zinhas = colherezinhas poço poços
flore(s) + zinhas = florezinhas porto portos
mão(s) + zinhas = mãozinhas posto postos
papéi(s) + zinhos = papeizinhos tijolo tijolos
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas
funi(s) + zinhos = funizinhos Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bol-
sos, esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
pai(s) + zinhos = paizinhos * Observação: distinga-se molho (ô) = caldo (molho
pé(s) + zinhos = pezinhos de carne), de molho (ó) = feixe (molho de lenha).
pé(s) + zitos = pezitos
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
Plural dos Nomes Próprios Personativos
- Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
sempre que a terminação preste-se à flexão. - Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames,
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes.
Os Napoleões também são derrotados. - Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do
As Raquéis e Esteres. singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probidade,
bom nome) e honras (homenagem, títulos).
Plural dos Substantivos Estrangeiros - Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas
com sentido de plural:
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser es- Aqui morreu muito negro.
critos como na língua original, acrescentando-se “s” (exceto Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
quando terminam em “s” ou “z”): os shows, os shorts, os jazz. improvisadas.

Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acor- Flexão de Grau do Substantivo


do com as regras de nossa língua: os clubes, os chopes, os
jipes, os esportes, as toaletes, os bibelôs, os garçons, os ré- Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir
quiens. as variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:

Observe o exemplo: - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considera-


Este jogador faz gols toda vez que joga. do normal. Por exemplo: casa
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa.
- Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho
Plural com Mudança de Timbre
do ser. Classifica-se em:
Analítico = o substantivo é acompanhado de um adje-
Certos substantivos formam o plural com mudança de
tivo que indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato
fonético chamado metafonia (plural metafônico). Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi-
cador de aumento. Por exemplo: casarão.

30
LÍNGUA PORTUGUESA

- Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho Classificação dos Verbos


do ser. Pode ser:
Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo Classificam-se em:
que indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indi- - Regulares: são aqueles que apresentam o radical
cador de diminuição. Por exemplo: casinha. inalterado durante a conjugação e desinências idênticas às
de todos os verbos regulares da mesma conjugação. Por
Fontes de pesquisa: exemplo: comparemos os verbos “cantar” e “falar”, conju-
http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php gados no presente do Modo Indicativo:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- canto falo
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: cantas falas
Saraiva, 2010.
canta falas
Verbo cantamos falamos
cantais falais
Verbo é a palavra que se flexiona em pessoa, núme-
ro, tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o cantam falam
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre * Dica: Observe que, retirando os radicais, as desi-
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenômeno nências modo-temporal e número-pessoal mantiveram-se
(choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer). idênticas. Tente fazer com outro verbo e perceberá que se
repetirá o fato (desde que o verbo seja da primeira conju-
Estrutura das Formas Verbais gação e regular!). Faça com o verbo “andar”, por exemplo.
Substitua o radical “cant” e coloque o “and” (radical do ver-
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar bo andar). Viu? Fácil!
os seguintes elementos:
- Radical: é a parte invariável, que expressa o significa- - Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca altera-
do essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am. ções no radical ou nas desinências: faço, fiz, farei, fizesse.
(radical fal-) * Observação: alguns verbos sofrem alteração no ra-
- Tema: é o radical seguido da vogal temática que in- dical apenas para que seja mantida a sonoridade. É o caso
dica a conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: de: corrigir/corrijo, fingir/finjo, tocar/toquei, por exemplo.
fala-r. São três as conjugações: Tais alterações não caracterizam irregularidade, porque o
1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática - fonema permanece inalterado.
E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
- Desinência modo-temporal: é o elemento que de-
- Defectivos: são aqueles que não apresentam conju-
signa o tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
gação completa. Os principais são adequar, precaver, com-
falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo)
/ falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo) putar, reaver, abolir, falir.
- Desinência número-pessoal: é o elemento que de-
signa a pessoa do discurso (1.ª, 2.ª ou 3.ª) e o número (sin- - Impessoais: são os verbos que não têm sujeito e, nor-
gular ou plural): malmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
falamos (indica a 1.ª pessoa do plural.) / falavam (in- principais verbos impessoais são:
dica a 3.ª pessoa do plural.)
* haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-
* Observação: o verbo pôr, assim como seus derivados se ou fazer (em orações temporais).
(compor, repor, depor), pertencem à 2.ª conjugação, pois a Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Exis-
forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar tiam)
de haver desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram)
formas do verbo: põe, pões, põem, etc. Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz)
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas
* fazer, ser e estar (quando indicam tempo)
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura Faz invernos rigorosos na Europa.
dos verbos com o conceito de acentuação tônica, perce- Era primavera quando o conheci.
bemos com facilidade que nas formas rizotônicas o acento Estava frio naquele dia.
tônico cai no radical do verbo: opino, aprendam, amo, por
exemplo. Nas formas arrizotônicas, o acento tônico não cai
no radical, mas sim na terminação verbal (fora do radical):
opinei, aprenderão, amaríamos.

31
LÍNGUA PORTUGUESA

* Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer,
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo “amanhecer” em sentido figurado. Qual-
quer verbo impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá conjugação
completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

* São impessoais, ainda:


- o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo: Já passa das seis.

- os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição “de”, indicando suficiência:


Basta de tolices.
Chega de promessas.

- os verbos estar e ficar em orações como “Está bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal”, sem referência a
sujeito expresso anteriormente (por exemplo: “ele está mal”). Podemos, nesse caso, classificar o sujeito como hipotético,
tornando-se, tais verbos, pessoais.

- o verbo dar + para da língua popular, equivalente de “ser possível”. Por exemplo:
Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uma apostila?

- Unipessoais: são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. São
unipessoais os verbos constar, convir, ser (= preciso, necessário) e todos os que indicam vozes de animais (cacarejar, cricrilar,
miar, latir, piar).

* Observação: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
O que é que aquela garota está cacarejando?

Principais verbos unipessoais:

1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer, ser (preciso, necessário):


Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos bastante)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
É preciso que chova. (Sujeito: que chova)

2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da conjunção que.
Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei à Europa)
Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a vejo. (Sujeito: que não a vejo)

* Observação: todos os sujeitos apontados são oracionais.

- Abundantes: são aqueles que possuem duas ou mais formas equivalentes, geralmente no particípio, em que, além
das formas regulares terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas curtas (particípio irregular).
O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregular é em-
pregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:

Infinitivo Particípio Regular Particípio Irregular


Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso

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LÍNGUA PORTUGUESA

Eleger Elegido Eleito


Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago

* Importante:
- estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escrever/
escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.

- Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois, fui) e
ir (fui, ia, vades).

- Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo principal
(aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das
formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.

Vou espantar todos!


(verbo auxiliar) (verbo principal no infinitivo)

Está chegando a hora!


(verbo auxiliar) (verbo principal no gerúndio)

* Observação: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.

Conjugação dos Verbos Auxiliares

SER - Modo Indicativo

Presente Pret.Perfeito Pret. Imp. Pret.mais-que-perf. Fut.do Pres. Fut. Do Pretérito


sou fui era fora serei seria
és foste eras foras serás serias
é foi era fora será seria
somos fomos éramos fôramos seremos seríamos
sois fostes éreis fôreis sereis seríeis
são foram eram foram serão seriam

33
LÍNGUA PORTUGUESA

SER - Modo Subjuntivo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro
que eu seja se eu fosse quando eu for
que tu sejas se tu fosses quando tu fores
que ele seja se ele fosse quando ele for
que nós sejamos se nós fôssemos quando nós formos
que vós sejais se vós fôsseis quando vós fordes
que eles sejam se eles fossem quando eles forem

SER - Modo Imperativo


Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês

SER - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


ser ser eu sendo sido
seres tu
ser ele
sermos nós
serdes vós
serem eles

ESTAR - Modo Indicativo



Presente Pret. perf. Pret. Imp. Pret.mais-q-perf. Fut.doPres. Fut.doPreté.
estou estive estava estivera estarei estaria
estás estiveste estavas estiveras estarás estarias
está esteve estava estivera estará estaria
estamos estivemos estávamos estivéramos estaremos estaríamos
estais estivestes estáveis estivéreis estareis estaríeis
estão estiveram estavam estiveram estarão estariam

ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam

34
LÍNGUA PORTUGUESA

ESTAR - Formas Nominais

Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio


estar estar estando estado
estares
estar
estarmos
estardes
estarem

HAVER - Modo Indicativo

Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Pret.Mais-Q-Perf. Fut.do Pres. Fut.doPreté.


hei houve havia houvera haverei haveria
hás houveste havias houveras haverás haverias
há houve havia houvera haverá haveria
havemos houvemos havíamos houvéramos haveremos haveríamos
haveis houvestes havíeis houvéreis havereis haveríeis
hão houveram haviam houveram haverão haveriam

HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo


Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo
ja houvesse houver
hajas houvesses houveres há hajas
haja houvesse houver haja haja
hajamos houvéssemos houvermos hajamos hajamos
hajais houvésseis houverdes havei hajais
hajam houvessem houverem hajam hajam

HAVER - Formas Nominais


Infinitivo Impessoal Infinitivo Pessoal Gerúndio Particípio
haver haver havendo havido
haveres

haver

havermos
haverdes
haverem

TER - Modo Indicativo


Presente Pret. Perf. Pret. Imp. Preté.mais-q-perf. Fut. Do Pres. Fut. Do Preté.
tenho tive tinha tivera terei teria
tens tiveste tinhas tiveras terás terias
tem teve tinha tivera terá teria
temos tivemos tínhamos tivéramos teremos teríamos
tendes tivestes tínheis tivéreis tereis teríeis
têm tiveram tinham tiveram terão teriam

35
LÍNGUA PORTUGUESA

TER - Modo Subjuntivo e Imperativo

Presente Pretérito Imperfeito Futuro Afirmativo Negativo


tenha tivesse tiver
tenhas tivesses tiveres tem tenhas
tenha tivesse tiver tenha tenha
tenhamos tivéssemos tivermos tenhamos tenhamos
tenhais tivésseis tiverdes tende tenhais
tenham tivessem tiverem tenham tenham

- Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no
próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:

1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já
está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mes-
ma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante
do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço da ideia refle-
xiva expressa pelo radical do próprio verbo.
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respectivos pronomes):
Eu me arrependo
Tu te arrependes
Ele se arrepende
Nós nos arrependemos
Vós vos arrependeis
Eles se arrependem

2. Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em
geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os pronomes mencionados,
formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo: A garota
penteou-me.

* Observações:
- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
- Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do
sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular

Modos Verbais

Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro. Existem
três modos:

Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.


Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!

Formas Nominais

Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais. Observe:

36
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Infinitivo
1.1-) Impessoal: exprime a significação do verbo de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de substan-
tivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

1.2-) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu)
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós)
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós)
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles)
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.

2-) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de advérbio)
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo)

Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação em curso; na forma composta (2), uma ação concluída:
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro.

* Quando o gerúndio é vício de linguagem (gerundismo), ou seja, uso exagerado e inadequado do gerúndio:
1- Enquanto você vai ao mercado, vou estar jogando futebol.
2 – Sim, senhora! Vou estar verificando!

Em 1, a locução “vou estar” + gerúndio é adequada, pois transmite a ideia de uma ação que ocorre no momento da
outra; em 2, essa ideia não ocorre, já que a locução verbal “vou estar verificando” refere-se a um futuro em andamento,
exigindo, no caso, a construção “verificarei” ou “vou verificar”.

3-) Particípio: quando não é empregado na formação dos tempos compostos, o particípio indica, geralmente, o resul-
tado de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e grau. Por exemplo: Terminados os exames, os candidatos
saíram.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida pela turma.

(Ziraldo)

Tempos Verbais

Tomando-se como referência o momento em que se fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1. Tempos do Modo Indicativo


- Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste colégio.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual, mas que não foi completamente
terminado: Ele estudava as lições quando foi interrompido.
- Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado: Ele
estudou as lições ontem à noite.
- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já estudara as lições
quando os amigos chegaram. (forma simples).
- Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual: Ele
estudará as lições amanhã.
- Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode ocorrer posteriormente a um determinado fato passado: Se ele
pudesse, estudaria um pouco mais.

2. Tempos do Modo Subjuntivo


- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento atual: É conveniente que estudes para o exame.
- Pretérito Imperfeito - Expressa um fato passado, mas posterior a outro já ocorrido: Eu esperava que ele vencesse o jogo.

Observação: o pretérito imperfeito é também usado nas construções em que se expressa a ideia de condição ou de-
sejo. Por exemplo: Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato.

- Futuro do Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer num momento futuro em relação ao atual: Quando ele vier
à loja, levará as encomendas.

Observação: o futuro do presente é também usado em frases que indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se
ele vier à loja, levará as encomendas.
** Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)

No próximo final de semana, faço a prova!


faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)

Modo Indicativo

Presente do Indicativo
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
cantO vendO partO O
cantaS vendeS parteS S
canta vende parte -
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
cantaM vendeM parteM M

Pretérito Perfeito do Indicativo


1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desinência pessoal
CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
cantaSTE vendeSTE partISTE STE
cantoU vendeU partiU U
cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaSTES vendeSTES partISTES STES
cantaRAM vendeRAM partiRAM RAM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Pretérito mais-que-perfeito

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M

Pretérito Imperfeito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3ª. conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantAVA vendIA partIA
cantAVAS vendIAS partAS
CantAVA vendIA partIA
cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
cantAVAM vendIAM partIAM

Futuro do Presente do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
cantar ás vender ás partir ás
cantar á vender á partir á
cantar emos vender emos partir emos
cantar eis vender eis partir eis
cantar ão vender ão partir ão

Futuro do Pretérito do Indicativo

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantarIA venderIA partirIA
cantarIAS venderIAS partirIAS
cantarIA venderIA partirIA
cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
cantarIAM venderIAM partirIAM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Presente do Subjuntivo

Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).

1.ª conjug. 2.ª conjug. 3.ª conju. Desinên. pessoal Des. temporal Des.temporal
1.ª conj. 2.ª/3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø
cantES vendAS partAS E A S
cantE vendA partA E A Ø
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS
cantEIS vendAIS partAIS E A IS
cantEM vendAM partAM E A M

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de nú-
mero e pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M

Futuro do Subjuntivo

Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito, ob-
tendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de número e
pessoa correspondente.

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Des. temporal Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM

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LÍNGUA PORTUGUESA

Modo Imperativo

Imperativo Afirmativo

Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:

Presente do Indicativo Imperativo Afirmativo Presente do Subjuntivo


Eu canto --- Que eu cante
Tu cantas CantA tu Que tu cantes
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem

Imperativo Negativo

Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.

Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo

Que eu cante ---


Que tu cantes Não cantes tu
Que ele cante Não cante você
Que nós cantemos Não cantemos nós
Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
Observações:
- No modo imperativo não faz sentido usar na 3.ª pessoa (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
- O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu), sede (vós).

Infinitivo Pessoal

1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação


CANTAR VENDER PARTIR
cantar vender partir
cantarES venderES partirES
cantar vender partir
cantarMOS venderMOS partirMOS
cantarDES venderDES partirDES
cantarEM venderEM partirEM

* Observações:
- o verbo parecer admite duas construções:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução verbal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito oracional, correspondendo à construção: parece gostarem de você).

- o verbo pegar possui dois particípios (regular e irregular):


Elvis tinha pegado minhas apostilas.
Minhas apostilas foram pegas.

41
LÍNGUA PORTUGUESA

fontes de pesquisa: 3-) (POLÍCIA MILITAR/SP – OFICIAL ADMINISTRATIVO


http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54. – VUNESP/2014) Considere o trecho a seguir.
php Já __________ alguns anos que estudos a respeito da
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- utilização abusiva dos smartphones estão sendo desen-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. volvidos. Os especialistas acreditam _________ motivos para
Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere- associar alguns comportamentos dos adolescentes ao uso
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: prolongado desses aparelhos, e _________ alertado os pais
Saraiva, 2010. para que avaliem a necessidade de estabelecer limites aos
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- seus filhos.
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa,
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
Questões sobre Verbo (A) faz … haver … têm
(B) fazem … haver … tem
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – (C) faz … haverem … têm
2014) A assertiva correta quanto à conjugação verbal é: (D) fazem … haverem … têm
A) Houveram eleições em outros países este ano. (E) faz … haverem … tem
B) Se eu vir você por aí, acabou.
C) Tinha chego atrasado vinte minutos. 3-) Já FAZ (sentido de tempo: não sofre flexão) alguns
D) Fazem três anos que não tiro férias. anos que estudos a respeito da utilização abusiva dos
E) Esse homem possue muitos bens. smartphones estão sendo desenvolvidos. Os especialistas
acreditam HAVER (sentido de existir: não varia) motivos
1-) Correções à frente: para associar alguns comportamentos dos adolescentes ao
A) Houveram eleições em outros países este ano = uso prolongado desses aparelhos, e TÊM (concorda com o
houve termo “os especialistas”) alertado os pais para que avaliem
C) Tinha chego atrasado vinte minutos = tinha chegado a necessidade de estabelecer limites aos seus filhos.
D) Fazem três anos que não tiro férias = faz três anos Temos: faz, haver, têm.
RESPOSTA: “A”.
E) Esse homem possue muitos bens = possui
RESPOSTA: “B”.
Vozes do Verbo
2-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
Dá-se o nome de voz à maneira como se apresenta a
FE/2014) Complete as lacunas com os verbos, tempos e
ação expressa pelo verbo em relação ao sujeito, indicando
modos indicados entre parênteses, fazendo a devida con-
se este é paciente ou agente da ação. Importante lembrar
cordância.
que voz verbal não é flexão, mas aspecto verbal. São três
• O juiz agrário ainda não _________ no conflito porque
as vozes verbais:
surgiram fatos novos de ontem para hoje. (intervir - preté-
rito perfeito do indicativo) - Ativa = quando o sujeito é agente, isto é, pratica a
• Uns poucos convidados ___________-se com os vídeos ação expressa pelo verbo:
postados no facebook. (entreter - pretérito imperfeito do
indicativo) Ele fez o tra-
• Representantes do PCRT somente serão aceitos na balho.
composição da chapa quando se _________ de criticar a sujeito agente ação objeto
atual diretoria do clube, (abster-se - futuro do subjuntivo) (paciente)
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A-) interveio - entretinham - abstiverem - Passiva = quando o sujeito é paciente, recebendo a
B-) interviu - entretiveram - absterem ação expressa pelo verbo:
C-) intervém - entreteram - abstêm
D-) interviera - entretêm - abstiverem O trabalho foi feito p o r
E-) intervirá - entretenham - abstiveram ele.
sujeito paciente ação agente
da passiva
2-) O verbo “intervir” deve ser conjugado como o ver-
bo “vir”. Este, no pretérito perfeito do Indicativo fica “veio”, - Reflexiva = quando o sujeito é, ao mesmo tempo,
portanto, “interveio” (não existe “interviu”, já que ele não agente e paciente, isto é, pratica e recebe a ação:
deriva do verbo “ver”). Descartemos a alternativa B. Como
não há outro item com a mesma opção, chegamos à res-
posta rapidamente!
RESPOSTA: “A”.

42
LÍNGUA PORTUGUESA

O menino feriu-se. Conversão da Voz Ativa na Voz Passiva

* Observação: não confundir o emprego reflexivo do Pode-se mudar a voz ativa na passiva sem alterar subs-
verbo com a noção de reciprocidade: tancialmente o sentido da frase.
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)
Nós nos amamos. (um ama o outro) O concurseiro comprou a apostila. (Voz Ativa)
Sujeito da Ativa objeto Direto
Formação da Voz Passiva
A apostila foi comprada pelo concurseiro.
A voz passiva pode ser formada por dois processos: (Voz Passiva)
analítico e sintético. Sujeito da Passiva Agente da Passi-
va
1- Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte ma-
neira: Observe que o objeto direto será o sujeito da passiva; o
sujeito da ativa passará a agente da passiva, e o verbo ativo
Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exemplo: assumirá a forma passiva, conservando o mesmo tempo.
A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos: os Observe:
alunos pintarão a escola) - Os mestres têm constantemente aconselhado os alu-
O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho) nos.
Os alunos têm sido constantemente aconselhados pelos
* Observação: o agente da passiva geralmente é acom- mestres.
panhado da preposição por, mas pode ocorrer a constru-
ção com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada - Eu o acompanharei.
de soldados. Ele será acompanhado por mim.
- Pode acontecer de o agente da passiva não estar ex- * Observação: quando o sujeito da voz ativa for inde-
plícito na frase: A exposição será aberta amanhã. terminado, não haverá complemento agente na passiva.
Por exemplo: Prejudicaram-me. / Fui prejudicado.
- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar
(SER), pois o particípio é invariável. Observe a transforma-
** Saiba que:
ção das frases seguintes:
- com os verbos neutros (nascer, viver, morrer, dormir,
acordar, sonhar, etc.) não há voz ativa, passiva ou reflexiva,
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do Indicativo)
porque o sujeito não pode ser visto como agente, paciente
O trabalho foi feito por ele. (verbo ser no pretérito per-
ou agente-paciente.
feito do Indicativo, assim como o verbo principal da voz
ativa)
Fontes de pesquisa:
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf54.
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- php
tivo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente) Português linguagens: volume 2 / Wiliam Roberto Cere-
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
o mesmo tempo e modo do verbo principal da voz ativa. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio) Questões

2- Voz Passiva Sintética = A voz passiva sintética - ou 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/GO – ANALISTA JUDICIÁ-
pronominal - constrói-se com o verbo na 3.ª pessoa, segui- RIO – FGV/2014 - adaptada) A frase “que foi trazida pelo
do do pronome apassivador “se”. Por exemplo: instituto Endeavor” equivale, na voz ativa, a:
Abriram-se as inscrições para o concurso. (A) que o instituto Endeavor traz;
Destruiu-se o velho prédio da escola. (B) que o instituto Endeavor trouxe;
(C) trazida pelo instituto Endeavor;
* Observação: o agente não costuma vir expresso na (D) que é trazida pelo instituto Endeavor;
voz passiva sintética. (E) que traz o instituto Endeavor.

43
LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Se na voz passiva temos dois verbos, na ativa tere- Regras ortográficas
mos um: “que o instituto Endeavor trouxe” (manter o tem-
po verbal no pretérito – assim como na passiva). O fonema s
RESPOSTA: “B”.
S e não C/Ç

2-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014 - palavras substantivadas derivadas de verbos com radi-
adaptada) Ao passarmos a frase “...e É CONSIDERADO por cais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender - pretensão /
muitos o maior maratonista de todos os tempos” para a expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inver-
voz ativa, encontramos a seguinte forma verbal: são / aspergir - aspersão / submergir - submersão / divertir
A) consideravam. - diversão / impelir - impulsivo / compelir - compulsório /
B) consideram. repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
C) considerem. sentir - sensível / consentir – consensual.
D) considerarão.
E) considerariam.
SS e não C e Ç
2-) É CONSIDERADO por muitos o maior maratonista
nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem
de todos os tempos = dois verbos na voz passiva, então na
em gred, ced, prim ou com verbos terminados por tir ou
ativa teremos UM: muitos o consideram o maior marato-
nista de todos os tempos. -meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir
RESPOSTA: “B”. - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir -
percussão / regredir - regressão / oprimir - opressão / com-
prometer - compromisso / submeter – submissão.
3-) (TRT-16ª REGIÃO/MA - ANALISTA JUDICIÁRIO –
ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC/2014) *quando o prefixo termina com vogal que se junta com
Transpondo-se para a voz passiva a frase “vou glosar a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimé-
uma observação de Machado de Assis”, a forma verbal re- trico / re + surgir – ressurgir.
sultante deverá ser *no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exem-
(A) terei glosado plos: ficasse, falasse.
(B) seria glosada
(C) haverá de ser glosada C ou Ç e não S e SS
(D) será glosada
(E) terá sido glosada vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar.
vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Ju-
3-) “vou glosar uma observação de Machado de Assis” çara, caçula, cachaça, cacique.
– “vou glosar” expressa “glosarei”, então teremos na pas- sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu,
siva: uma observação de Machado de Assis será glosada uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço,
por mim. esperança, carapuça, dentuço.
RESPOSTA: “D”. nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / de-
ter - detenção / ater - atenção / reter – retenção.
após ditongos: foice, coice, traição.
palavras derivadas de outras terminadas em -te, to(r):
ORTOGRAFIA marte - marciano / infrator - infração / absorto – absorção.

O fonema z
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da correta
S e não Z
grafia das palavras. É ela quem ordena qual som devem
ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma língua são
grafados segundo acordos ortográficos. sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs-
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês,
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren- freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, princesa.
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras, sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamor-
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras é fose.
necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções e, formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, qui-
em alguns casos, há necessidade de conhecimento de eti- seste.
mologia (origem da palavra). nomes derivados de verbos com radicais terminados
em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender -
empresa / difundir – difusão.

44
LÍNGUA PORTUGUESA

diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - Lui- CH e não X


sinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa. palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi,
verbos derivados de nomes cujo radical termina com mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
“s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar – pesquisar.
As letras “e” e “i”
Z e não S
Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com
sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo: “i”, só o ditongo interno cãibra.
macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza. verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de ori- escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escrevemos com
gem não termine com s): final - finalizar / concreto – con- “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói,
cretizar. possui, contribui.
consoante de ligação se o radical não terminar com “s”:
pé + inho - pezinho / café + al - cafezal * Atenção para as palavras que mudam de sentido
quando substituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (super-
Exceção: lápis + inho – lapisinho. fície), ária (melodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir)
/ emergir (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estân-
O fonema j cia, que anda a pé), pião (brinquedo).

G e não J * Dica:
- Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, ges- grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar o
so. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), ela-
estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. borado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra de
terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com pou- referência até mesmo para a criação de dicionários, pois
cas exceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. traz a grafia atualizada das palavras (sem o significado). Na
Internet, o endereço é www.academia.org.br.
Exceção: pajem.
Informações importantes
terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, - Formas variantes são formas duplas ou múltiplas,
litígio, relógio, refúgio. equivalentes: aluguel/aluguer, relampejar/relampear/re-
verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir, lampar/relampadar.
mugir. - Os símbolos das unidades de medida são escritos
depois da letra “r” com poucas exceções: emergir, sur- sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar plu-
gir. ral, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg, 20km,
depois da letra “a”, desde que não seja radical termina- 120km/h.
do com j: ágil, agente. Exceção para litro (L): 2 L, 150 L.
- Na indicação de horas, minutos e segundos, não deve
J e não G haver espaço entre o algarismo e o símbolo: 14h, 22h30min,
14h23’34’’(= quatorze horas, vinte e três minutos e trinta e
palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje. quatro segundos).
palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, - O símbolo do real antecede o número sem espaço:
manjerona. R$1.000,00. No cifrão deve ser utilizada apenas uma barra
palavras terminadas com aje: ultraje. vertical ($).

O fonema ch Fontes de pesquisa:


http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
X e não CH tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
xucro. Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, lagar- ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
tixa. Saraiva, 2010.
depois de ditongo: frouxo, feixe. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval. ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Exceção: quando a palavra de origem não derive de


outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Hífen ** O hífen é suprimido quando para formar outros ter-


mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para
ligar os elementos de palavras compostas (como ex-presi- Lembrete da Zê!
dente, por exemplo) e para unir pronomes átonos a verbos Ao separar palavras na translineação (mudança de li-
(ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente para fazer a nha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por
translineação de palavras, isto é, no fim de uma linha, se- hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti
parar uma palavra em duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro). -inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na próxima
linha escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas).
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or-
tográfica: Não se emprega o hífen:

1. Em palavras compostas por justaposição que formam 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem termina em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou
para formarem um novo significado: tio-avô, porto-ale- “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas consoantes: antir-
grense, luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda- -fei- religioso, contrarregra, infrassom, microssistema, minissaia,
ra, conta-gotas, guarda-chuva, arco-íris, primeiro-ministro, microrradiografia, etc.
azul-escuro.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se com
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora- vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoes-
-menina, erva-doce, feijão-verde. trada, autoaprendizagem, hidroelétrico, plurianual, autoes-
cola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re-
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
-casado. “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h” inicial: de-
sumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu-
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de- segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobriga-
meia, água-de-colônia, queima-roupa, deus-dará. ção, coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.

5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações de composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedis-
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, ta, etc.
etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfei-
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su- to, benquerer, benquerido, etc.
per- quando associados com outro termo que é iniciado
por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. - Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas corres-
pondentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, não havendo hífen: pospor, predeterminar, predeterminado,
ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. pressuposto, propor.
- Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. -humano, super-realista, alto-mar.
- Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
10. Nas formações em que o prefixo tem como se-
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, Fontes de pesquisa:
geo--história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/or-
super-homem. tografia
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
termina com a mesma vogal do segundo elemento: micro
-ondas, eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões Armandinho, personagem do cartunista Alexandre


Beck, sabe perfeitamente empregar os parônimos “cestas”
1-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) “sestas” e “sextas”. Quanto ao emprego de parônimos, da-
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que das as frases abaixo,
todas as palavras estão corretas: I. O cidadão se dirigia para sua _____________ eleitoral.
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial. II. A zona eleitoral ficava ___________ 200 metros de um
B) supracitado – semi-novo – telesserviço. posto policial.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som. III. O condutor do automóvel __________ a lei seca.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto. IV. Foi encontrada uma __________ soma de dinheiro no
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor. carro.
V. O policial anunciou o __________ delito.
1-) Correção:
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta Assinale a alternativa cujos vocábulos preenchem cor-
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo retamente as lacunas das frases.
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi- A) seção, acerca de, infligiu, vultosa, fragrante.
droelétrica, ultrassom B) seção, acerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto C) sessão, a cerca de, infringiu, vultosa, fragrante.
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes- D) seção, a cerca de, infringiu, vultosa, flagrante.
trutura E) sessão, a cerca de, infligiu, vultuosa, flagrante.
RESPOSTA: “A”.
3-) Questão que envolve ortografia.
I. O cidadão se dirigia para sua SEÇÃO eleitoral. (setor)
2-) (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – 2014) II. A zona eleitoral ficava A CERCA DE 200 metros de um
De acordo com a nova ortografia, assinale o item em que
posto policial. (= aproximadamente)
todas as palavras estão corretas:
III. O condutor do automóvel INFRINGIU a lei seca. (re-
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial.
lacione com infrator)
B) supracitado – semi-novo – telesserviço.
IV. Foi encontrada uma VULTOSA soma de dinheiro no
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som.
carro. (de grande vulto, volumoso)
D) contrarregra – autopista – semi-aberto.
V. O policial anunciou o FLAGRANTE delito. (relacione
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor.
com “pego no flagra”)
2-) Correção: Seção / a cerca de / infringiu / vultosa / flagrante
A) autoajuda – anti-inflamatório – extrajudicial = correta RESPOSTA: “D”.
B) supracitado – semi-novo – telesserviço = seminovo
C) ultrassofisticado – hidro-elétrica – ultra-som = hi-
droelétrica, ultrassom
D) contrarregra – autopista – semi-aberto = semiaberto ACENTUAÇÃO
E) contrarrazão – infra-estrutura – coprodutor = infraes-
trutura
RESPOSTA: “A”.
Quanto à acentuação, observamos que algumas pala-
vras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora se
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra. Por
UFAL/2014) isso, vamos às regras!

Regras básicas – Acentuação tônica

A acentuação tônica está relacionada à intensidade


com que são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela
que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sí-
laba tônica. As demais, como são pronunciadas com menos
intensidade, são denominadas de átonas.
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica-
das como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
a última sílaba. Ex.: café – coração – Belém – atum – caju –
papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai


na penúltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – sapato
– passível

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LÍNGUA PORTUGUESA

Proparoxítonas - São aquelas cuja sílaba tônica está ** Alerta da Zê! Cuidado: Se os ditongos abertos esti-
na antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano verem em uma palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu)
– médico – ônibus ainda são acentuados: dói, escarcéu.

Há vocábulos que possuem mais de uma sílaba, mas Antes Agora


em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
são os chamados monossílabos. assembléia assembleia
idéia ideia
Os acentos
geléia geleia
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a” e “i”, jibóia jiboia
“u” e “e” do grupo “em” - indica que estas letras represen- apóia (verbo apoiar) apoia
tam as vogais tônicas de palavras como pá, caí, público.
paranóico paranoico
Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
aberto: herói – médico – céu (ditongos abertos).
Acento Diferencial
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”,
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: tâma-
Representam os acentos gráficos que, pelas regras de
ra – Atlântico – pêsames – supôs .
acentuação, não se justificariam, mas são utilizados para
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
diferenciar classes gramaticais entre determinadas palavras
com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
e/ou tempos verbais. Por exemplo:
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmen-
Pôr (verbo) X por (preposição) / pôde (pretérito perfeito
te abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em
de Indicativo do verbo “poder”) X pode (presente do Indica-
palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: mülle-
tivo do mesmo verbo).
riano (de Müller)
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vo-
terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
gais nasais: oração – melão – órgão – ímã
mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
para que saibamos se se trata de um verbo ou preposição.
Regras fundamentais
Os demais casos de acento diferencial não são mais
utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
Palavras oxítonas:
vo), pelo (preposição). Seus significados e classes gramati-
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
cais são definidos pelo contexto.
“o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – ci-
Polícia para o trânsito para realizar blitz. = o primeiro
pó(s) – Belém.
“para” é verbo; o segundo, preposição (com relação de fi-
Esta regra também é aplicada aos seguintes casos:
nalidade).
- Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, se-
** Quando, na frase, der para substituir o “por” por
guidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há
“colocar”, estaremos trabalhando com um verbo, portanto:
- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos,
“pôr”; nos outros casos, “por” preposição. Ex: Faço isso por
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo
você. / Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
Paroxítonas:
Regra do Hiato:
Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
- i, is: táxi – lápis – júri
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, for a se-
- us, um, uns: vírus – álbuns – fórum
gunda vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
- l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax –
acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
fórceps
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quan-
- ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos
do seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, Lu-iz,
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou
sa-ir, ju-iz
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se esti-
verem seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
** Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Re-
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
pare que esta palavra apresenta as terminações das paro-
precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
xítonas que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =
fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Observação importante:
Regras especiais:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos
hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxítonas):
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em
palavras paroxítonas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Antes Agora Questões

bocaiúva bocaiuva 1-) (PREFEITURA DE SÃO PAULO/SP – AUDITOR FISCAL


feiúra feiura TRIBUTÁRIO MUNICIPAL – CETRO/2014 - adaptada) Assi-
nale a alternativa que contém duas palavras acentuadas
Sauípe Sauipe
conforme a mesma regra.
(A) “Hambúrgueres” e “repórter”.
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
(B) “Inacreditáveis” e “repórter”.
abolido:
(C) “Índice” e “dólares”.
(D) “Inacreditáveis” e “atribuídos”.
Antes Agora (E) “Atribuídos” e “índice”.
crêem creem
1-)
lêem leem
(A) “Hambúrgueres” = proparoxítona / “repórter” = pa-
vôo voo roxítona
enjôo enjoo (B) “Inacreditáveis” = paroxítona / “repórter” = paro-
xítona
** Dica: Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos (C) “Índice” = proparoxítona / “dólares” = proparoxí-
que, no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais tona
acento como antes: CRER, DAR, LER e VER. (D) “Inacreditáveis” = paroxítona / “atribuídos” = regra
Repare: do hiato
1-) O menino crê em você. / Os meninos creem em você. (E) “Atribuídos” = regra do hiato / “índice” = proparo-
2-) Elza lê bem! / Todas leem bem! xítona
3-) Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos que RESPOSTA: “B”.
os garotos deem o recado!
4-) Rubens vê tudo! / Eles veem tudo! 2-) (SEFAZ/RS – AUDITOR FISCAL DA RECEITA FEDERAL
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / Eles vêm à – FUNDATEC/2014 - adaptada)
tarde! Analise as afirmações que são feitas sobre acentuação
As formas verbais que possuíam o acento tônico na gráfica.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
“e” ou “i” não serão mais acentuadas: seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
portuguesa.
II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
Antes Depois rios’ e ‘país’ não é a mesma.
apazigúe (apaziguar) apazigue III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente.
averigúe (averiguar) averigue IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em si-
tuação de uso, quanto à flexão de número.
argúi (arguir) argui Quais estão corretas?
A) Apenas I e III.
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pessoa B) Apenas II e IV.
do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo C) Apenas I, II e IV.
vir) D) Apenas II, III e IV.
E) I, II, III e IV.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter,
reter, deter, abster: ele contém – eles contêm, ele obtém – eles 2-)
obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém – eles convêm. I. Caso o acento das palavras ‘trânsito’ e ‘específicos’
seja retirado, essas continuam sendo palavras da língua
Fontes de pesquisa: portuguesa = teremos “transito” e “especifico” – serão ver-
http://www.brasilescola.com/gramatica/acentuacao. bos (correta)
htm II. A regra que explica a acentuação das palavras ‘vá-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- rios’ e ‘país’ não é a mesma = vários é paroxítona terminada
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. em ditongo; país é a regra do hiato (correta)
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- III. Na palavra ‘daí’, há um ditongo decrescente = há um
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: hiato, por isso a acentuação (da - í) = incorreta.
Saraiva, 2010. IV. Acentua-se a palavra ‘vêm’ para diferenciá-la, em
situação de uso, quanto à flexão de número = “vêm” é uti-
lizado para a terceira pessoa do plural (correta)
RESPOSTA: “C”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Dois pontos (:)


PONTUAÇÃO
1- Antes de uma citação
Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:

Os sinais de pontuação são marcações gráficas que 2- Antes de um aposto


servem para compor a coesão e a coerência textual, além Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. tarde e calor à noite.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação 3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
depende, em certos momentos, da intenção do autor do Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamente a rotina de sempre.
relacionados ao contexto e ao interlocutor.
4- Em frases de estilo direto
Principais funções dos sinais de pontuação
Maria perguntou:
- Por que você não toma uma decisão?
Ponto (.)

1- Indica o término do discurso ou de parte dele, en- Ponto de Exclamação (!)


cerrando o período.
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera,
2- Usa-se nas abreviaturas: pág. (página), Cia. (Com- susto, súplica, etc.
panhia). Se a palavra abreviada aparecer em final de pe- Sim! Claro que eu quero me casar com você!
ríodo, este não receberá outro ponto; neste caso, o ponto
de abreviatura marca, também, o fim de período. Exemplo: 2- Depois de interjeições ou vocativos
Estudei português, matemática, constitucional, etc. (e não Ai! Que susto!
“etc..”) João! Há quanto tempo!

3- Nos títulos e cabeçalhos é opcional o emprego do Ponto de Interrogação (?)


ponto, assim como após o nome do autor de uma citação:
Haverá eleições em outubro Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
O culto do vernáculo faz parte do brio cívico. (Napoleão “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze-
Mendes de Almeida) (ou: Almeida.) vedo)

4- Os números que identificam o ano não utilizam pon- Reticências (...)


to nem devem ter espaço a separá-los, bem como os nú-
meros de CEP: 1975, 2014, 2006, 17600-250. 1- Indica que palavras foram suprimidas: Comprei lápis,
canetas, cadernos...
Ponto e Vírgula ( ; )
2- Indica interrupção violenta da frase.
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
importância: “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos
dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida: Este
pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...”
mal... pega doutor?
(VIEIRA)

2- Separa partes de frases que já estão separadas por 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito: Deixa,
vírgulas: Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, mon- depois, o coração falar...
tanhas, frio e cobertor.
Vírgula (,)
3- Separa itens de uma enumeração, exposição de mo-
tivos, decreto de lei, etc. Não se usa vírgula
Ir ao supermercado;
Pegar as crianças na escola; * separando termos que, do ponto de vista sintático,
Caminhada na praia; ligam-se diretamente entre si:
Reunião com amigos. - entre sujeito e predicado:
Todos os alunos da sala foram advertidos.
Sujeito predicado

50
LÍNGUA PORTUGUESA

- entre o verbo e seus objetos: Fontes de pesquisa:


O trabalho custou sacrifício aos http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
realizadores. http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgu-
V.T.D.I. O.D. O.I. la.htm
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere-
Usa-se a vírgula: ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
- Para marcar intercalação: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abun- coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
dância, vem caindo de preço.
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão Questões
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos.
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indús- 1-) (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014)
trias não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não
querem abrir mão dos lucros altos.

- Para marcar inversão:


a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fe-
chadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
maio de 1982.

- Para separar entre si elementos coordenados (dis-


postos em enumeração):
Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.

- Para marcar elipse (omissão) do verbo:


Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.

- Para isolar: (SAAE/SP - FISCAL LEITURISTA - VUNESP - 2014) Se-


- o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasilei- gundo a norma-padrão da língua portuguesa, a pontuação
ra, possui um trânsito caótico. está correta em:
- o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem. A) Hagar disse, que não iria.
B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir, bi-
Observações: fes e lagostas, aos vizinhos.
- Considerando-se que “etc.” é abreviatura da expres- C) Chegou, o convite dos Stevensens, bife e lagostas:
são latina et cetera, que significa “e outras coisas”, seria dis- para Hagar e Helga
pensável o emprego da vírgula antes dele. Porém, o acordo D) “Eles são chatos e, nunca param de falar”, disse, Ha-
ortográfico em vigor no Brasil exige que empreguemos etc. gar à Helga.
precedido de vírgula: Falamos de política, futebol, lazer, etc. E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
- As perguntas que denotam surpresa podem ter com-
binados o ponto de interrogação e o de exclamação: Você 1-) Correções realizadas:
falou isso para ela?! A) Hagar disse que não iria. = não há vírgula entre ver-
bo e seu complemento (objeto)
- Temos, ainda, sinais distintivos: B) Naquela noite os Stevensens prometeram servir bi-
1-) a barra ( / ) = usada em datas (25/12/2014), sepa- fes e lagostas aos vizinhos. = não há vírgula entre verbo e
ração de siglas (IOF/UPC); seu complemento (objeto)
2-) os colchetes ([ ]) = usados em transcrições feitas C) Chegou o convite dos Stevensens: bife e lagostas
pelo narrador ([vide pág. 5]), usado como primeira opção para Hagar e Helga.
aos parênteses, principalmente na matemática; D) “Eles são chatos e nunca param de falar”, disse Ha-
3-) o asterisco ( * ) = usado para remeter o leitor a gar à Helga.
uma nota de rodapé ou no fim do livro, para substituir um E) Helga chegou com o recado: fomos convidados, pe-
nome que não se quer mencionar. los Stevensens, para jantar bifes e lagostas.
RESPOSTA: “E”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – MÉDICO DO TRA- Concordância Verbal


BALHO – CESPE/2014 - adaptada)
A correção gramatical do trecho “Entre as bebidas al- É a flexão que se faz para que o verbo concorde com
coólicas, cervejas e vinhos são as mais comuns em todo seu sujeito.
o mundo” seria prejudicada, caso se inserisse uma vírgula
logo após a palavra “vinhos”. a) Sujeito Simples - Regra Geral
( ) CERTO ( ) ERRADO O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo
em número e pessoa. Veja os exemplos:
2-) Não se deve colocar vírgula entre sujeito e predi- A prova para ambos os cargos será aplicada
cado, a não ser que se trate de um aposto (1), predicativo às 13h.
do sujeito (2), ou algum termo que requeira estar separado 3.ª p. Singular 3.ª p. Singular
entre pontuações. Exemplos:
O Rio de Janeiro, cidade maravilhosa (1), está em festa! Os candidatos à vaga chegarão às 12h.
Os meninos, ansiosos (2), chegaram! 3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
RESPOSTA: “CERTO”.
Casos Particulares
3-) (PRODAM/AM – ASSISTENTE – FUNCAB/2014) Em
apenas uma das opções a vírgula foi corretamente empre- 1) Quando o sujeito é formado por uma expressão par-
gada. Assinale-a. titiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. maioria de, a maior parte de, grande parte de...) seguida de
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas. um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- no singular ou no plural.
plexas. A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e Metade dos candidatos não apresentou / apresentaram
fundamental. proposta.
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque-
na parte do território. Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vânda-
3-) los destruiu / destruíram o monumento.
A) No dia seguinte, estavam todos cansados. = correta
B) Romperam a fita da vitória, os dois atletas = não se Observação: nesses casos, o uso do verbo no singular
separa sujeito do predicado (o sujeito está no final). enfatiza a unidade do conjunto; já a forma plural confere
C) Os seus hábitos estranhos, deixavam as pessoas per- destaque aos elementos que formam esse conjunto.
plexas = não se separa sujeito do predicado.
D) A luta em defesa dos mais fracos, é necessária e fun- 2) Quando o sujeito é formado por expressão que in-
damental = não se separa sujeito do predicado. dica quantidade aproximada (cerca de, mais de, menos de,
E) As florestas nativas do Brasil, sobrevivem em peque- perto de...) seguida de numeral e substantivo, o verbo con-
na parte do território. = não se separa sujeito do predicado corda com o substantivo.
RESPOSTA: “A”. Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenidade.
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últimas
Olimpíadas.
CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL
Observação: quando a expressão “mais de um” asso-
ciar-se a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é
obrigatório: Mais de um colega se ofenderam na discussão.
Os concurseiros estão apreensivos. (ofenderam um ao outro)
Concurseiros apreensivos.
3) Quando se trata de nomes que só existem no plu-
No primeiro exemplo, o verbo estar encontra-se na ral, a concordância deve ser feita levando-se em conta a
terceira pessoa do plural, concordando com o seu sujeito, ausência ou presença de artigo. Sem artigo, o verbo deve
os concurseiros. No segundo exemplo, o adjetivo “apreen- ficar no singular; com artigo no plural, o verbo deve ficar
sivos” está concordando em gênero (masculino) e núme- o plural.
ro (plural) com o substantivo a que se refere: concurseiros. Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa, número e gê- Estados Unidos possui grandes universidades.
nero correspondem-se. Alagoas impressiona pela beleza das praias.
A correspondência de flexão entre dois termos é a con- As Minas Gerais são inesquecíveis.
cordância, que pode ser verbal ou nominal. Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA

4) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou *Quando “um dos que” vem entremeada de substanti-
indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos, muitos, vo, o verbo pode:
quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou “de vós”, o verbo a) ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atravessa
pode concordar com o primeiro pronome (na terceira pes- o Estado de São Paulo. ( já que não há outro rio que faça o
soa do plural) ou com o pronome pessoal. mesmo).
Quais de nós são / somos capazes? b) ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão
Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso? poluídos (noção de que existem outros rios na mesma con-
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino- dição).
vadoras.
8) Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
Observação: veja que a opção por uma ou outra forma verbo fica na 3ª pessoa do singular ou plural.
indica a inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém Vossa Excelência está cansado?
diz ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize- Vossas Excelências renunciarão?
mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso não
ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de tudo e 9) A concordância dos verbos bater, dar e soar faz-se de
nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia. acordo com o numeral.
Nos casos em que o interrogativo ou indefinido estiver Deu uma hora no relógio da sala.
no singular, o verbo ficará no singular. Deram cinco horas no relógio da sala.
Qual de nós é capaz? Soam dezenove horas no relógio da praça.
Algum de vós fez isso. Baterão doze horas daqui a pouco.

5) Quando o sujeito é formado por uma expressão que Observação: caso o sujeito da oração seja a palavra re-
indica porcentagem seguida de substantivo, o verbo deve lógio, sino, torre, etc., o verbo concordará com esse sujeito.
concordar com o substantivo. O tradicional relógio da praça matriz dá nove horas.
25% do orçamento do país será destinado à Educação. Soa quinze horas o relógio da matriz.
85% dos entrevistados não aprovam a administração do
prefeito. 10) Verbos Impessoais: por não se referirem a nenhum
1% do eleitorado aceita a mudança. sujeito, são usados sempre na 3.ª pessoa do singular. São
1% dos alunos faltaram à prova. verbos impessoais: Haver no sentido de existir; Fazer indi-
cando tempo; Aqueles que indicam fenômenos da nature-
Quando a expressão que indica porcentagem não é za. Exemplos:
seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o nú- Havia muitas garotas na festa.
mero. Faz dois meses que não vejo meu pai.
25% querem a mudança. Chovia ontem à tarde.
1% conhece o assunto.
b) Sujeito Composto
Se o número percentual estiver determinado por artigo
ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á com eles: 1) Quando o sujeito é composto e anteposto ao verbo,
Os 30% da produção de soja serão exportados. a concordância se faz no plural:
Esses 2% da prova serão questionados. Pai e filho conversavam longamente.
Sujeito
6) O pronome “que” não interfere na concordância; já o
“quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa do singular. Pais e filhos devem conversar com frequência.
Fui eu que paguei a conta. Sujeito
Fomos nós que pintamos o muro.
És tu que me fazes ver o sentido da vida. 2) Nos sujeitos compostos formados por pessoas gra-
Sou eu quem faz a prova. maticais diferentes, a concordância ocorre da seguinte ma-
Não serão eles quem será aprovado. neira: a primeira pessoa do plural (nós) prevalece sobre a
segunda pessoa (vós) que, por sua vez, prevalece sobre a
7) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve assu- terceira (eles). Veja:
mir a forma plural. Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- Primeira Pessoa do Plural (Nós)
taram os poetas.
Este candidato é um dos que mais estudaram! Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Se a expressão for de sentido contrário – nenhum dos
que, nem um dos que -, não aceita o verbo no singular: Pais e filhos precisam respeitar-se.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Terceira Pessoa do Plural (Eles)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Observação: quando o sujeito é composto, formado 5) Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”,
por um elemento da segunda pessoa (tu) e um da terceira o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos recebem um
(ele), é possível empregar o verbo na terceira pessoa do mesmo grau de importância e a palavra “com” tem sentido
plural (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no muito próximo ao de “e”.
lugar de “tomaríeis”. O pai com o filho montaram o brinquedo.
O governador com o secretariado traçaram os planos
3) No caso do sujeito composto posposto ao verbo, para o próximo semestre.
passa a existir uma nova possibilidade de concordância: em O professor com o aluno questionaram as regras.
vez de concordar no plural com a totalidade do sujeito, o
verbo pode estabelecer concordância com o núcleo do su- Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se a
jeito mais próximo. ideia é enfatizar o primeiro elemento.
Faltaram coragem e competência. O pai com o filho montou o brinquedo.
Faltou coragem e competência. O governador com o secretariado traçou os planos para
o próximo semestre.
Compareceram todos os candidatos e o banca.
O professor com o aluno questionou as regras.
Compareceu o banca e todos os candidatos.
Observação: com o verbo no singular, não se pode
4) Quando ocorre ideia de reciprocidade, a concordân-
falar em sujeito composto. O sujeito é simples, uma vez
cia é feita no plural. Observe: que as expressões “com o filho” e “com o secretariado” são
Abraçaram-se vencedor e vencido. adjuntos adverbiais de companhia. Na verdade, é como se
Ofenderam-se o jogador e o árbitro. houvesse uma inversão da ordem. Veja:
“O pai montou o brinquedo com o filho.”
Casos Particulares “O governador traçou os planos para o próximo semes-
tre com o secretariado.”
1) Quando o sujeito composto é formado por núcleos “O professor questionou as regras com o aluno.”
sinônimos ou quase sinônimos, o verbo fica no singular.
Descaso e desprezo marca seu comportamento. *Casos em que se usa o verbo no singular:
A coragem e o destemor fez dele um herói. Café com leite é uma delícia!
O frango com quiabo foi receita da vovó.
2) Quando o sujeito composto é formado por núcleos
dispostos em gradação, verbo no singular: 6) Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex-
Com você, meu amor, uma hora, um minuto, um segun- pressões correlativas como: “não só...mas ainda”, “não so-
do me satisfaz. mente”..., “não apenas...mas também”, “tanto...quanto”, o
verbo ficará no plural.
3) Quando os núcleos do sujeito composto são unidos Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o
por “ou” ou “nem”, o verbo deverá ficar no plural, de acor- Nordeste.
do com o valor semântico das conjunções: Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a no-
Drummond ou Bandeira representam a essência da poe- tícia.
sia brasileira.
Nem o professor nem o aluno acertaram a resposta. 7) Quando os elementos de um sujeito composto são
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância é
Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de “adi- feita com esse termo resumidor.
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apatia.
ção”. Já em:
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
Juca ou Pedro será contratado.
na vida das pessoas.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
píada.
Outros Casos
* Temos ideia de exclusão, por isso os verbos ficam no 1) O Verbo e a Palavra “SE”
singular. Dentre as diversas funções exercidas pelo “se”, há duas
de particular interesse para a concordância verbal:
4) Com as expressões “um ou outro” e “nem um nem a) quando é índice de indeterminação do sujeito;
outro”, a concordância costuma ser feita no singular. b) quando é partícula apassivadora.
Um ou outro compareceu à festa. Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
Nem um nem outro saiu do colégio. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos e
de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na ter-
Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou no ceira pessoa do singular:
singular: Um e outro farão/fará a prova. Precisa-se de funcionários.
Confia-se em teses absurdas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Quando pronome apassivador, o “se” acompanha ver- c) Quando o sujeito indicar peso, medida, quantidade e
bos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e indiretos for seguido de palavras ou expressões como pouco, muito,
(VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o menos de, mais de, etc., o verbo SER fica no singular:
verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Construiu-se um posto de saúde. Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido.
Construíram-se novos postos de saúde. Duas semanas de férias é muito para mim.
Aqui não se cometem equívocos
Alugam-se casas. d) Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo)
for pronome pessoal do caso reto, com este concordará o
** Dica: Para saber se o “se” é partícula apassivadora verbo.
ou índice de indeterminação do sujeito, tente transformar No meu setor, eu sou a única mulher.
a frase para a voz passiva. Se a frase construída for “com- Aqui os adultos somos nós.
preensível”, estaremos diante de uma partícula apassivado-
ra; se não, o “se” será índice de indeterminação. Veja: Observação: sendo ambos os termos (sujeito e pre-
Precisa-se de funcionários qualificados. dicativo) representados por pronomes pessoais, o verbo
Tentemos a voz passiva: concorda com o pronome sujeito.
Funcionários qualificados são precisados (ou precisos)? Eu não sou ela.
Não há lógica. Portanto, o “se” destacado é índice de inde- Ela não é eu.
terminação do sujeito.
Agora: e) Quando o sujeito for uma expressão de sentido par-
Vendem-se casas. titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o verbo
Voz passiva: Casas são vendidas. Construção correta! SER concordará com o predicativo.
Então, aqui, o “se” é partícula apassivadora. (Dá para eu A grande maioria no protesto eram jovens.
passar para a voz passiva. Repare em meu destaque. Per- O resto foram atitudes imaturas.
cebeu semelhança? Agora é só memorizar!).
2) O Verbo “Ser” 3) O Verbo “Parecer”
O verbo parecer, quando é auxiliar em uma locução
A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o verbal (é seguido de infinitivo), admite duas concordâncias:
sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân- a) Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
sujeito.
b) A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Quando o sujeito ou o predicativo for: sofre flexão:
As crianças parece gostarem do desenho.
a)Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo SER (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho as
concorda com a pessoa gramatical: crianças)
Ele é forte, mas não é dois.
Fernando Pessoa era vários poetas. Atenção: Com orações desenvolvidas, o verbo PARE-
A esperança dos pais são eles, os filhos. CER fica no singular. Por Exemplo: As paredes parece que
têm ouvidos. (Parece que as paredes têm ouvidos = oração
b)nome de coisa e um estiver no singular e o outro no subordinada substantiva subjetiva).
plural, o verbo SER concordará, preferencialmente, com o
que estiver no plural: Concordância Nominal
Os livros são minha paixão!
Minha paixão são os livros! A concordância nominal se baseia na relação entre
nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
Quando o verbo SER indicar ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
a) horas e distâncias, concordará com a expressão normalmente, o substantivo funciona como núcleo de um
numérica: termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adnominal.
É uma hora. A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
São quatro horas. seguintes regras gerais:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilôme- 1) O adjetivo concorda em gênero e número quando
tros. se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas denun-
ciavam o que sentia.
b) datas, concordará com a palavra dia(s), que pode
estar expressa ou subentendida: 2) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos, a
Hoje é dia 26 de agosto. concordância pode variar. Podemos sistematizar essa fle-
Hoje são 26 de agosto. xão nos seguintes casos:

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LÍNGUA PORTUGUESA

a) Adjetivo anteposto aos substantivos: ** Dica: Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Se
- O adjetivo concorda em gênero e número com o a frase ficar coerente com o primeiro, trata-se de advérbio,
substantivo mais próximo. portanto, invariável; se houver coerência com o segundo,
Encontramos caídas as roupas e os prendedores. função de adjetivo, então varia:
Encontramos caída a roupa e os prendedores. Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo
Encontramos caído o prendedor e a roupa. Ele está só descansando. (apenas descansando) - ad-
vérbio
- Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de pa-
rentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural. ** Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de
As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar. “só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Encontrei os divertidos primos e primas na festa. Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descansan-
do)
b) Adjetivo posposto aos substantivos: 7) Quando um único substantivo é modificado por dois
- O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo ou mais adjetivos no singular, podem ser usadas as cons-
ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural se truções:
houver substantivo feminino e masculino). a) O substantivo permanece no singular e coloca-se o
A indústria oferece localização e atendimento perfeito. artigo antes do último adjetivo: Admiro a cultura espanhola
A indústria oferece atendimento e localização perfeita. e a portuguesa.
A indústria oferece localização e atendimento perfeitos.
A indústria oferece atendimento e localização perfeitos. b) O substantivo vai para o plural e omite-se o artigo
antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e portu-
Observação: os dois últimos exemplos apresentam guesa.
maior clareza, pois indicam que o adjetivo efetivamente se
refere aos dois substantivos. Nesses casos, o adjetivo foi Casos Particulares
flexionado no plural masculino, que é o gênero predomi-
nante quando há substantivos de gêneros diferentes. É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
- Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. a) Estas expressões, formadas por um verbo mais um
A beleza e a inteligência feminina(s). adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se referem
O carro e o iate novo(s). possuir sentido genérico (não vier precedido de artigo).
É proibido entrada de crianças.
3) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo: Em certos momentos, é necessário atenção.
a) O adjetivo fica no masculino singular, se o substan- No verão, melancia é bom.
tivo não for acompanhado de nenhum modificador: Água É preciso cidadania.
é bom para saúde. Não é permitido saída pelas portas laterais.

b) O adjetivo concorda com o substantivo, se este for b) Quando o sujeito destas expressões estiver deter-
modificado por um artigo ou qualquer outro determinati- minado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o verbo
vo: Esta água é boa para saúde. como o adjetivo concordam com ele.
É proibida a entrada de crianças.
4) O adjetivo concorda em gênero e número com os Esta salada é ótima.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encontrou-as A educação é necessária.
muito felizes. São precisas várias medidas na educação.

5) Nas expressões formadas por pronome indefinido Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso - Qui-
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição DE + te
adjetivo, este último geralmente é usado no masculino sin-
gular: Os jovens tinham algo de misterioso. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
6) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem fun- Seguem anexas as documentações requeridas.
ção adjetiva e concorda normalmente com o nome a que A menina agradeceu: - Muito obrigada.
se refere: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Cristina saiu só. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Cristina e Débora saíram sós. Estamos quites com nossos credores.

Observação: quando a palavra “só” equivale a “somen-


te” ou “apenas”, tem função adverbial, ficando, portanto,
invariável: Eles só desejam ganhar presentes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Bastante - Caro - Barato - Longe Questões

Estas palavras são invariáveis quando funcionam como 1-) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA
advérbios. Concordam com o nome a que se referem quan- E COMÉRCIO EXTERIOR – ANALISTA TÉCNICO ADMINIS-
do funcionam como adjetivos, pronomes adjetivos, ou nu- TRATIVO – CESPE/2014) Em “Vossa Excelência deve estar
merais. satisfeita com os resultados das negociações”, o adjetivo
As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio) estará corretamente empregado se dirigido a ministro de
Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho. (pro- Estado do sexo masculino, pois o termo “satisfeita” deve
nome adjetivo) concordar com a locução pronominal de tratamento “Vossa
Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio) Excelência”.
As casas estão caras. (adjetivo) ( ) CERTO ( ) ERRADO
Achei barato este casaco. (advérbio)
Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo) 1-) Se a pessoa, no caso o ministro, for do sexo femi-
nino (ministra), o adjetivo está correto; mas, se for do sexo
Meio - Meia masculino, o adjetivo sofrerá flexão de gênero: satisfeito. O
pronome de tratamento é apenas a maneira de como tratar
a) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo, a autoridade, não concordando com o gênero (o pronome
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi de tratamento, apenas).
meia porção de polentas. RESPOSTA: “ERRADO”.
b) Quando empregada como advérbio permanece in- 2-) (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – CADASTRO
variável: A candidata está meio nervosa. RESERVA PARA O METRÔ/DF – ADMINISTRADOR - IA-
DES/2014 - adaptada) Se, no lugar dos verbos destacados
** Dica! Dá para eu substituir por “um pouco”, assim no verso “Escolho os filmes que eu não vejo no elevador”,
saberei que se trata de um advérbio, não de adjetivo: “A
fossem empregados, respectivamente, Esquecer e gostar, a
candidata está um pouco nervosa”.
nova redação, de acordo com as regras sobre regência ver-
bal e concordância nominal prescritas pela norma-padrão,
Alerta - Menos
deveria ser
(A) Esqueço dos filmes que eu não gosto no elevador.
Essas palavras são advérbios, portanto, permanecem
(B) Esqueço os filmes os quais não gosto no elevador.
sempre invariáveis.
(C) Esqueço dos filmes aos quais não gosto no eleva-
Os concurseiros estão sempre alerta.
dor.
Não queira menos matéria!
(D) Esqueço dos filmes dos quais não gosto no eleva-
* Tome nota! dor.
Não variam os substantivos que funcionam como ad- (E) Esqueço os filmes dos quais não gosto no elevador.
jetivos:
Bomba – notícias bomba 2-) O verbo “esquecer” pede objeto direto; “gostar”, in-
Chave – elementos chave direto (com preposição): Esqueço os filmes dos quais não
Monstro – construções monstro gosto.
Padrão – escola padrão RESPOSTA: “E”.

Fontes de pesquisa: 3-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) Considerada a


http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint49. substituição do segmento grifado pelo que está entre pa-
php rênteses ao final da transcrição, o verbo que deverá perma-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- necer no singular está em:
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: (A) ... disse o pesquisador à Folha de S. Paulo. (os pes-
Saraiva, 2010. quisadores)
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- (B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu para a
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. ruína dessa sociedade... (as mudanças do clima)
Português: novas palavras: literatura, gramática, reda- (C) No sistema havia também uma estação... (várias es-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000. tações)
(D) ... a civilização maia da América Central tinha um
método sustentável de gerenciamento da água. (os povos
que habitavam a América Central)
(E) Um estudo publicado recentemente mostra que a
civilização maia... (Estudos como o que acabou de ser pu-
blicado).

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) 1-) Verbos Intransitivos


(A) ... disse (disseram) (os pesquisadores)
(B) Segundo ele, a mudança climática contribuiu (con- Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
tribuíram) (as mudanças do clima) importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos
(C) No sistema havia (várias estações) = permanecerá aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los.
no singular - Chegar, Ir
(D) ... a civilização maia da América Central tinha (ti- Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adver-
nham) (os povos que habitavam a América Central) biais de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para
(E) Um estudo publicado recentemente mostra (mos- indicar destino ou direção são: a, para.
tram) (Estudos como o que acabou de ser publicado). Fui ao teatro.
RESPOSTA: “C”. Adjunto Adverbial de Lugar

Ricardo foi para a Espanha.


Adjunto Adverbial de Lugar
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
- Comparecer
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por
em ou a.
Dá-se o nome de regência à relação de subordinação Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um nome último jogo.
(regência nominal) e seus complementos.
2-) Verbos Transitivos Diretos
Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
Os verbos transitivos diretos são complementados por
A regência verbal estuda a relação que se estabelece objetos diretos. Isso significa que não exigem preposição
entre os verbos e os termos que os complementam (obje- para o estabelecimento da relação de regência. Ao empre-
tos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos gar esses verbos, lembre-se de que os pronomes oblíquos
adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma regência, o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses pronomes
o que corresponde à diversidade de significados que estes podem assumir as formas lo, los, la, las (após formas ver-
verbos podem adquirir dependendo do contexto em que bais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
forem empregados. formas verbais terminadas em sons nasais), enquanto lhe e
A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar, con- lhes são, quando complementos verbais, objetos indiretos.
tentar. São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban-
A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar agra- donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
do ou prazer”, satisfazer. admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar,
Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agra- castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, defender,
dar a alguém”. eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar,
proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, visitar.
Saiba que: Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
O conhecimento do uso adequado das preposições é como o verbo amar:
um dos aspectos fundamentais do estudo da regência ver- Amo aquele rapaz. / Amo-o.
bal (e também nominal). As preposições são capazes de Amo aquela moça. / Amo-a.
modificar completamente o sentido daquilo que está sen- Amam aquele rapaz. / Amam-no.
do dito. Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô. Observação: os pronomes lhe, lhes só acompanham
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no se- esses verbos para indicar posse (caso em que atuam como
gundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. adjuntos adnominais):
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
A voluntária distribuía leite às crianças. Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car-
A voluntária distribuía leite com as crianças. reira)
Na primeira frase, o verbo “distribuir” foi empregado Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
como transitivo direto (objeto direto: leite) e indireto (obje- mor)
to indireto: às crianças); na segunda, como transitivo direto
(objeto direto: crianças; com as crianças: adjunto adverbial). 3-) Verbos Transitivos Indiretos

Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos Os verbos transitivos indiretos são complementados
de acordo com sua transitividade. Esta, porém, não é um por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi-
fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes gem uma preposição para o estabelecimento da relação de
formas em frases distintas. regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de ter-

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LÍNGUA PORTUGUESA

ceira pessoa que podem atuar como objetos indiretos são Informar
o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
transitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não re- Informe os novos preços aos clientes.
presentam pessoas, usam-se pronomes oblíquos tônicos Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos pronomes átonos preços)
lhe, lhes.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: as construções:
- Consistir - Tem complemento introduzido pela prepo- Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
sição “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou so-
iguais para todos.
bre eles)
- Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complemen-
Observação: a mesma regência do verbo informar é
tos introduzidos pela preposição “a”:
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. usada para os seguintes: avisar, certificar, notificar, cientifi-
Eles desobedeceram às leis do trânsito. car, prevenir.

- Responder - Tem complemento introduzido pela pre- Comparar


posição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
quem” ou “ao que” se responde. preposições “a” ou “com” para introduzir o complemento
Respondi ao meu patrão. indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com o) de
Respondemos às perguntas. uma criança.
Respondeu-lhe à altura.
Pedir
Observação: o verbo responder, apesar de transitivo Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na
indireto quando exprime aquilo a que se responde, admite forma de oração subordinada substantiva) e indireto de
voz passiva analítica: pessoa.
O questionário foi respondido corretamente.
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamen- Pedi-lhe favores.
te.
Objeto Indireto Objeto Direto
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complemen-
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio.
tos introduzidos pela preposição “com”.
Antipatizo com aquela apresentadora. Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
Simpatizo com os que condenam os políticos que gover- tantiva Objetiva Direta
nam para uma minoria privilegiada.
Saiba que:
4-) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos - A construção “pedir para”, muito comum na lingua-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompa- culta. No entanto, é considerada correta quando a palavra
nhados de um objeto direto e um indireto. Merecem desta- licença estiver subentendida.
que, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São verbos Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
que apresentam objeto direto relacionado a coisas e objeto
indireto relacionado a pessoas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz
uma oração subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
Agradeço aos ouvintes a audiência. vo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa).
Objeto Indireto Objeto Direto
Preferir
Paguei o débito ao cobrador.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto in-
Objeto Direto Objeto Indireto
direto introduzido pela preposição “a”:
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado: Prefiro trem a ônibus.
Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Agradeço a você. / Agradeço-lhe. Observação: na língua culta, o verbo “preferir” deve
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. ser usado sem termos intensificadores, tais como: muito,
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. antes, mil vezes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é
Paguei minhas contas. / Paguei-as. dada pelo prefixo existente no próprio verbo (pre).
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Mudança de Transitividade - Mudança de Signifi- CHAMAR


cado - Chamar é transitivo direto no sentido de convocar,
solicitar a atenção ou a presença de.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitivi- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
dade, apresentam mudança de significado. O conhecimen- má-la.
to das diferentes regências desses verbos é um recurso lin- Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
guístico muito importante, pois além de permitir a correta
interpretação de passagens escritas, oferece possibilidades - Chamar no sentido de denominar, apelidar pode
expressivas a quem fala ou escreve. Dentre os principais, apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predi-
estão: cativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário.
AGRADAR A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário.
- Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
A torcida chamou ao jogador de mercenário.
nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
- Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal:
Aquele comerciante agrada os clientes.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide.
- Agradar é transitivo indireto no sentido de causar CUSTAR
agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento in- - Custar é intransitivo no sentido de ter determinado
troduzido pela preposição “a”. valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial:
O cantor não agradou aos presentes. Frutas e verduras não deveriam custar muito.
O cantor não lhes agradou.
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo
*O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indireto: ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração re-
O cantor desagradou à plateia. duzida de infinitivo.

ASPIRAR Muito custa viver tão longe da família.


- Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspi- Verbo Intransitivo Oração Subordinada
rar (o ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o) Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

- Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter Custou-me (a mim) crer nisso.
como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (Aspi- Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
rávamos a ele) tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo

* Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes- *A Gramática Normativa condena as construções que
soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por
utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”. pessoa: Custei para entender o problema. = Forma
Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (= As- correta: Custou-me entender o problema.
piravam a ela)
IMPLICAR
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
ASSISTIR
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
implicavam um firme propósito.
tar assistência a, auxiliar.
b) ter como consequência, trazer como consequência,
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
acarretar, provocar: Uma ação implica reação.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
- Como transitivo direto e indireto, significa compro-
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen- meter, envolver: Implicaram aquele jornalista em questões
ciar, estar presente, caber, pertencer. econômicas.
Assistimos ao documentário.
Não assisti às últimas sessões. * No sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Essa lei assiste ao inquilino. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem
não trabalhasse arduamente.
*No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de NAMORAR
lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa - Sempre transitivo direto: Luísa namora Carlos há dois
conturbada cidade. anos.

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LÍNGUA PORTUGUESA

OBEDECER - DESOBEDECER Há uma construção em que a coisa esquecida ou lem-


- Sempre transitivo indireto: brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve
Todos obedeceram às regras. alteração de sentido. É uma construção muito rara na lín-
Ninguém desobedece às leis. gua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos
clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de
*Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
“lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas. Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
PROCEDER Não lhe lembram os bons momentos da infância? (=
- Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter momentos é sujeito)
cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto SIMPATIZAR - ANTIPATIZAR
adverbial de modo. - São transitivos indiretos e exigem a preposição “com”:
As afirmações da testemunha procediam, não havia Não simpatizei com os jurados.
como refutá-las. Simpatizei com os alunos.
Você procede muito mal.
Importante: A norma culta exige que os verbos e ex-
- Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo- pressões que dão ideia de movimento sejam usados com
sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido a preposição “a”:
pela preposição “a”) é transitivo indireto. Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
O avião procede de Maceió. Cláudia desceu ao segundo andar.
Procedeu-se aos exames. Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
O delegado procederá ao inquérito.
Regência Nominal
QUERER
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter É o nome da relação existente entre um nome (subs-
vontade de, cobiçar. tantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
Querem melhor atendimento. nome. Essa relação é sempre intermediada por uma prepo-
Queremos um país melhor. sição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
- Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição, regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos. um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos
nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
VISAR nomes correspondentes: todos regem complementos in-
- Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi- troduzidos pela preposição a. Veja:
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo. Obedecer a algo/ a alguém.
O gerente não quis visar o cheque. Obediente a algo/ a alguém.

- No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como Se uma oração completar o sentido de um nome, ou
objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”. seja, exercer a função de complemento nominal, ela será
O ensino deve sempre visar ao progresso social. completiva nominal (subordinada substantiva).
Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar
público.

ESQUECER – LEMBRAR
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronomi-
nal)

No 1.º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja,


exigem complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
No 2.º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e
exigem complemento com a preposição “de”. São, portan-
to, transitivos indiretos:
- Ele se esqueceu do caderno.
- Eu me esqueci da chave.
- Eles se esqueceram da prova.
- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Regência de Alguns Nomes

Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

Observação: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: para-
lela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português: novas palavras: literatura, gramática, redação / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.

Questões

1-) (PRODAM – AUXILIAR - MOTORISTA – FUNCAB/2014) Assinale a alternativa em que a frase segue a norma culta da
língua quanto à regência verbal.
A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir.
B) Eu esqueci do seu nome.
C) Você assistiu à cena toda?
D) Ele chegou na oficina pela manhã.
E) Sempre obedeço as leis de trânsito.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo


A) Prefiro viajar de ônibus do que dirigir. = prefiro viajar (oração) são estruturadas por dois elementos essenciais:
de ônibus a dirigir sujeito e predicado.
B) Eu esqueci do seu nome. = Eu me esqueci do seu O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo
nome em número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o
C) Você assistiu à cena toda? = correta tema do que se vai comunicar”; o predicado é a parte da
D) Ele chegou na oficina pela manhã. = Ele chegou à frase que contém “a informação nova para o ouvinte”, é o
oficina pela manhã que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, constituindo
E) Sempre obedeço as leis de trânsito. = Sempre obe- a declaração do que se atribui ao sujeito.
deço às leis de trânsito Quando o núcleo da declaração está no verbo (que in-
RESPOSTA: “C”. dique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo signi-
ficativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver
2-) (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO/SP – em um nome (geralmente um adjetivo), teremos um predi-
MÉDICO LEGISTA – VUNESP/2014 - adaptada) Leia o se- cado nominal (os verbos deste tipo de predicado são os
guinte trecho para responder à questão. que indicam estado, conhecidos como verbos de ligação):
A pesquisa encontrou um dado curioso: homens com O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
baixos níveis de testosterona tiveram uma resposta imuno- (predicado verbal)
lógica melhor a essa medida, similar _______________ . A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú-
A alternativa que completa, corretamente, o texto é: cleo é “fácil” (predicado nominal)
(A) das mulheres
(B) às mulheres Quanto ao período, ele denomina a frase constituída
(C) com das mulheres por uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
(D) à das mulheres completo. O período pode ser simples ou composto.
(E) ao das mulheres
Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta.
2-) Similar significa igual; sua regência equivale à da
Chove.
palavra “igual”: igual a quê? Similar a quem? Similar à (su-
A existência é frágil.
bentendido: resposta imunológica) das mulheres.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso.
RESPOSTA: “D”.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações:
Cantei, dancei e depois dormi.
Quero que você estude mais.
FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO Termos essenciais da oração
TERMOS DA ORAÇÃO
COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO O sujeito e o predicado são considerados termos
essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis
para a formação das orações. No entanto, existem orações
formadas exclusivamente pelo predicado. O que define a
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para oração é a presença do verbo. O sujeito é o termo que es-
estabelecer comunicação. Normalmente é composta por tabelece concordância com o verbo.
dois termos – o sujeito e o predicado – mas não obrigato- O candidato está preparado.
riamente, pois há orações ou frases sem sujeito: Trovejou Os candidatos estão preparados.
muito ontem à noite.
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida-
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
verbais (possuem verbos, ou seja, são orações) e nominais minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
(sem a presença de verbos), feita a partir de seus elementos estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo
constituintes, elas podem ser classificadas a partir de seu no singular: candidato = está).
sentido global: A função do sujeito é basicamente desempenhada por
- frases interrogativas = o emissor da mensagem for- substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora-
mula uma pergunta: Que dia é hoje? ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras
- frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou faz palavras substantivadas (derivação imprópria) também po-
um pedido: Dê-me uma luz! dem exercer a função de sujeito.
- frases exclamativas = o emissor exterioriza um estado Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs-
afetivo: Que dia abençoado! tantivo)
- frases declarativas = o emissor constata um fato: A Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
prova será amanhã. plo: substantivo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: 1-) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do o sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
sujeito. Bateram à porta;
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
tificado pela concordância verbal. O sujeito determinado nistro.
pode ser simples ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é * Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples
possível identificar claramente a que se refere a concor- ou composto:
dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte- Os meninos bateram à porta. (simples)
ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração. Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto)
Estão gritando seu nome lá fora.
Trabalha-se demais neste lugar. 2-) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres-
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típica dos
O sujeito simples é o sujeito determinado que apre- verbos que não apresentam complemento direto:
senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no Precisa-se de mentes criativas.
plural; pode também ser um pronome indefinido. Abaixo, Vivia-se bem naqueles tempos.
sublinhei os núcleos dos sujeitos: Trata-se de casos delicados.
Nós estudaremos juntos. Sempre se está sujeito a erros.
A humanidade é frágil.
Ninguém se move. O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice de
O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma indeterminação do sujeito.
derivação imprópria, transformando-o em substantivo)
As crianças precisam de alimentos saudáveis. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
O sujeito composto é o sujeito determinado que apre- sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
sos de orações sem sujeito com:
senta mais de um núcleo.
Alimentos e roupas custam caro.
1-) os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Ela e eu sabemos o conteúdo.
Amanheceu.
O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Está trovejando.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
2-) os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam
referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo do
geral:
sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido pela Está tarde.
desinência verbal ou pelo contexto. Já são dez horas.
Abolimos todas as regras. = (nós) Faz frio nesta época do ano.
Falaste o recado à sala? = (tu) Há muitos concursos com inscrições abertas.
* Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri- Predicado é o conjunto de enunciados que contém a
meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na segun- informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas
da do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os prono- orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia
mes não estejam explícitos. um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado é
Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implícito aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com exceção
na desinência verbal “-mos” do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que difere
Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na desi- do sujeito numa oração é o seu predicado.
nência verbal “-ais” Chove muito nesta época do ano.
Houve problemas na reunião.
Mas:
Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós * Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
Vós cantais bem! = sujeito simples: vós cado.

O sujeito indeterminado surge quando não se quer - As questões estavam fáceis!


ou não se pode - identificar a que o predicado da oração Sujeito simples = as questões
refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso Predicado = estavam fáceis
contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermina- Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
do de duas maneiras: Sujeito = uma ideia estranha
Predicado = passou-me pelo pensamento

64
LÍNGUA PORTUGUESA

Para o estudo do predicado, é necessário verificar se No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
seu núcleo é um nome (então teremos um predicado no- duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
minal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se considerar ção. Este predicado poderia ser desdobrado em dois: um
também se as palavras que formam o predicado referem- verbal e outro nominal.
se apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado.

Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona
de opinião. o complemento homens com o predicativo “inconstantes”.
Predicado
Termos integrantes da oração
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que
se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
direta ou indiretamente ao verbo. complemento nominal são chamados termos integrantes da
A cidade está deserta. oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-se bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como elemento Estes verbos podem se relacionar com seus complementos
de ligação (por isso verbo de ligação) entre o sujeito e a diretamente, sem a presença de preposição, ou indireta-
palavra a ele relacionada (no caso: deserta = predicativo mente, por intermédio de preposição.
do sujeito).
O objeto direto é o complemento que se liga direta-
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo mente ao verbo.
significativo um verbo: Houve muita confusão na partida final.
Chove muito nesta época do ano. Queremos sua ajuda.
Estudei muito hoje!
O objeto direto preposicionado ocorre principalmen-
Compraste a apostila?
te:
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
referentes a pessoas:
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro-
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais.
cessos.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi-
na-se: objeto direto preposicionado)
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo
significativo um nome; este atribui uma qualidade ou esta- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes
do ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujei- de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero cansar a
to. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da Vossa Senhoria.
oração por meio de um verbo (o verbo de ligação).
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, - para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a crise.
isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre- (sem preposição, o sentido seria outro: O povo prejudica
dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado do a crise)
sujeito: Os dados parecem corretos.
O verbo parecer poderia ser substituído por estar, an- O objeto indireto é o complemento que se liga indi-
dar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como ele- retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição.
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele rela- Gosto de música popular brasileira.
cionadas. Necessito de ajuda.
* A função de predicativo é exercida, normalmente, por
um adjetivo ou substantivo. O termo que integra o sentido de um nome chama-se
complemento nominal, que se liga ao nome que comple-
O predicado verbo-nominal é aquele que apresen- ta por intermédio de preposição:
ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a palavra
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir ao “necessária”
sujeito ou ao complemento verbal (objeto). Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
nificativo, indicando processos. É também sempre por in- Termos acessórios da oração e vocativo
termédio do verbo que o predicativo se relaciona com o
termo a que se refere. Os termos acessórios recebem este nome por serem
1- O dia amanheceu ensolarado; explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
2- As mulheres julgam os homens inconstantes. junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o vocativo
– este, sem relação sintática com outros temos da oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA

O adjunto adverbial é o termo da oração que indi- O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o lor na oração, em:
sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei a mundo.
pé àquela velha praça. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
coisas: amor, arte, ação.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
adverbial são: tudo forma o carnaval.
- assunto: Falavam sobre futebol. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- causa: As folhas caíram com o vento. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- companhia: Ficarei com meus pais.
- concessão: Apesar de você, serei feliz. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não mantendo
- dúvida: Talvez ainda chova. relação sintática com outro termo da oração. A função de
- fim: Estudou para o exame. vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, pronomes
- instrumento: Fez o corte com a faca. substantivos, numerais e palavras substantivadas esse pa-
- intensidade: Falava bastante.
pel na linguagem.
- lugar: Vou à cidade.
João, venha comigo!
- matéria: Este prato é feito de porcelana.
Traga-me doces, minha menina!
- meio: Viajarei de trem.
- modo: Foram recrutados a dedo.
- negação: Não há ninguém que mereça.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. Questões

O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- 1-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função UFAL/2014 - adaptada)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais
e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
amigo de infância.

O adjunto adnominal se liga diretamente ao substan-


tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
cativo do objeto se liga ao objeto por meio de um verbo.
O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
junto adnominal)

O poeta português deixou uma obra inacabada. O cartaz acima divulga a peça de teatro “Quem tem
O poeta deixou-a inacabada. medo de Virginia Woolf?” escrita pelo norte-americano
(inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do Edward Albee. O termo “de Virginia Woolf”, do título em
objeto)
português da peça, funciona como:
A) objeto indireto.
Enquanto o complemento nominal se relaciona a um
B) complemento nominal.
substantivo, adjetivo ou advérbio, o adjunto adnominal se
relaciona apenas ao substantivo. C) adjunto adnominal.
D) adjunto adverbial.
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, E) agente da passiva.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um ter-
mo que exerça qualquer função sintática: Ontem, segunda- 1-) O termo complementa a palavra “medo”, que é
feira, passei o dia mal-humorado. substantivo (nome – nominal). Portanto é um complemen-
to nominal. O verbo “ter” tem como complemento verbal
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo (objeto) a palavra “medo”, que exerce a função sintática de
“ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao termo objeto direto.
que se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira RESPOSTA: “B”.
passei o dia mal-humorado.

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014) Coordenadas Assindéticas


... que acompanham as fronteiras ocidentais chinesas...
O verbo que, no contexto, exige o mesmo tipo de com- São orações coordenadas entre si e que não são liga-
plemento que o da frase acima está em: das através de nenhum conectivo. Estão apenas justapos-
(A) A Rota da Seda nunca foi uma rota única... tas.
(B) Esses caminhos floresceram durante os primórdios Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
da Idade Média.
(C) ... viajavam por cordilheiras... Coordenadas Sindéticas
(D) ... até cair em desuso, seis séculos atrás.
(E) O maquinista empurra a manopla do acelerador. Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
2-) Acompanhar é transitivo direto (acompanhar quem denativa, que dará à oração uma classificação. As orações
ou o quê - não há preposição): coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos:
A = foi = verbo de ligação (ser) – não há complemento, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicati-
mas sim, predicativo do sujeito (rota única); vas.
B = floresceram = intransitivo (durante os primórdios =
adjunto adverbial); ** Dica: Memorize SINdética = SIM, tem conjunção!
C = viajavam = intransitivo (por cordilheiras = adjunto Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin-
adverbial); cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não
D = cair = intransitivo; só... como, assim... como.
E = empurra = transitivo direto (empurrar quem ou o Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
quê?) Comprei o protetor solar e fui à praia.
RESPOSTA: “E”.
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas
Período Composto por Coordenação principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretan-
to, porém, no entanto, ainda, assim, senão.
O período composto se caracteriza por possuir mais de Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
uma oração em sua composição. Sendo assim: Li tudo, porém não entendi!
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
oração) Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer;
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas seja...seja.
orações) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar
um protetor solar. (Período Composto = três verbos, três Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
orações). principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo).
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer Passei no concurso, portanto comemorarei!
entre as orações de um período composto: uma relação de A situação é delicada; devemos, pois, agir.
coordenação ou uma relação de subordinação.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
informações, marcado pela pontuação final), mas têm, am- de, pois (anteposto ao verbo).
bas, estruturas individuais, como é o exemplo de: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. mingo.
(Período Composto) Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar. Período Composto Por Subordinação
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independen- Quero que você seja aprovado!
tes. Tal período é classificado como Período Composto Oração principal oração subordinada
por Coordenação.
Quanto à classificação das orações coordenadas, te- Observe que na oração subordinada temos o verbo
mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singular
Sindéticas. do presente do subjuntivo, além de ser introduzida por
conjunção. As orações subordinadas que apresentam ver-
bo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do
indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas por con-
junção, chamam-se orações desenvolvidas ou explícitas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Podemos modificar o período acima. Veja: * Atenção: Observe que a oração subordinada subs-
tantiva pode ser substituída pelo pronome “isso”. Assim,
Quero ser aprovado. temos um período simples:
Oração Principal Oração Subordinada É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Desta forma, a oração correspondente a “isso” exercerá
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- a função de sujeito.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração su- Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração
bordinada “ser aprovado”. Observe que a oração subordi- principal:
nada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além disso,
a conjunção “que”, conectivo que unia as duas orações, - Verbos de ligação + predicativo, em construções do
desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo surge tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É
numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particí- claro - Está evidente - Está comprovado
pio) chamamos orações reduzidas ou implícitas. É bom que você compareça à minha festa.
* Observação: as orações reduzidas não são introdu-
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Soube-se,
zidas por conjunções nem pronomes relativos. Podem ser,
Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi anunciado, Ficou
eventualmente, introduzidas por preposição.
provado.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
1-) Orações Subordinadas Substantivas

A oração subordinada substantiva tem valor de subs- - Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte- importar - ocorrer - acontecer
grante (que, se). Convém que não se atrase na entrevista.

Não sei se sairemos hoje. Observação: quando a oração subordinada substanti-


Oração Subordinada Substantiva va é subjetiva, o verbo da oração principal está sempre na
3.ª pessoa do singular.
Temos medo de que não sejamos aprovados.
Oração Subordinada Substantiva b) Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
do verbo da oração principal:
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também
introduzem as orações subordinadas substantivas, bem Todos querem sua aprovação no concurso.
como os advérbios interrogativos (por que, quando, onde, Objeto Direto
como).
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
O garoto perguntou qual seu nome. querem isso)
Oração Subordinada Subs- Oração Principal oração Subordinada Substantiva
tantiva Objetiva Direta

Não sabemos quando ele virá. As orações subordinadas substantivas objetivas diretas
Oração Subordinada Substan- (desenvolvidas) são iniciadas por:
tiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam presentes.
Classificação das Orações Subordinadas Substanti-
vas
- Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: O
Conforme a função que exerce no período, a oração
pessoal queria saber quem era o dono do carro importado.
subordinada substantiva pode ser:
a) Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do
verbo da oração principal: - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às ve-
zes regidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu
É fundamental o seu comparecimento à reu- não sei por que ela fez isso.
nião.
Sujeito c) Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
É fundamental que você compareça à
reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substan- Objeto Indireto
tiva Subjetiva

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LÍNGUA PORTUGUESA

Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste 2-) Orações Subordinadas Adjetivas
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui
Objetiva Indireta valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As
orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem
Observação: em alguns casos, a preposição pode estar a função de adjunto adnominal do antecedente.
elíptica na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Esta foi uma redação bem-sucedida.
Oração Subordinada Substantiva Substantivo Adjetivo (Adjunto Adno-
Objetiva Indireta minal)

d) Completiva Nominal = completa um nome que O substantivo “redação” foi caracterizado pelo adjetivo
pertence à oração principal e também vem marcada por “bem-sucedida”. Neste caso, é possível formarmos outra
preposição. construção, a qual exerce exatamente o mesmo papel:

Sentimos orgulho de seu comportamento. Esta foi uma redação que fez sucesso.
Complemento Nominal Oração Principal Oração Subordinada
Adjetiva
Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
timos orgulho disso.) Perceba que a conexão entre a oração subordinada
Oração Subordinada Substantiva adjetiva e o termo da oração principal que ela modifica é
Completiva Nominal feita pelo pronome relativo “que”. Além de conectar (ou
relacionar) duas orações, o pronome relativo desempenha
Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob- uma função sintática na oração subordinada: ocupa o pa-
jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto pel que seria exercido pelo termo que o antecede (no caso,
que orações subordinadas substantivas completivas nomi- “redação” é sujeito, então o “que” também funciona como
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma sujeito).
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Esta é a diferença entre o objeto indireto e o com-
Observação: para que dois períodos se unam num
plemento nominal: o primeiro complementa um verbo; o
período composto, altera-se o modo verbal da segunda
segundo, um nome.
oração.
e) Predicativa = exerce papel de predicativo do sujei-
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para re-
to do verbo da oração principal e vem sempre depois do
conhecer o pronome relativo “que”: ele sempre pode ser
verbo ser.
substituído por: o qual - a qual - os quais - as quais
Nosso desejo era sua desistência. Refiro-me ao aluno que é estudioso. = Esta oração é
Predicativo do Sujeito equivalente a: Refiro-me ao aluno o qual estuda.

Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
era isso)
Oração Subordinada Substantiva Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Predicativa apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvolvi-
Observação: em certos casos, usa-se a preposição ex- das. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas
pletiva “de” para realce. Veja o exemplo: A impressão é de reduzidas, que não são introduzidas por pronome relativo
que não fui bem na prova. (podem ser introduzidas por preposição) e apresentam o
verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
f) Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- particípio).
mo da oração principal.
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Aposto
No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome re-
Oração subordinada lativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito per-
substantiva apositiva reduzida de infinitivo feito do indicativo. No segundo, há uma oração subordina-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso) da adjetiva reduzida de infinitivo: não há pronome relativo
e seu verbo está no infinitivo.
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! (:)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
minha vida.
Na relação que estabelecem com o termo que caracteri- Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas minha vida.
maneiras diferentes. Há aquelas que restringem ou especifi-
cam o sentido do termo a que se referem, individualizando-o. No primeiro período, “naquele momento” é um adjun-
Nestas orações não há marcação de pausa, sendo chamadas to adverbial de tempo, que modifica a forma verbal “sen-
subordinadas adjetivas restritivas. Existem também orações ti”. No segundo período, este papel é exercido pela oração
que realçam um detalhe ou amplificam dados sobre o ante-
“Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração subordi-
cedente, que já se encontra suficientemente definido. Estas
nada adverbial temporal. Esta oração é desenvolvida, pois
orações denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
Exemplo 1: é introduzida por uma conjunção subordinativa (quando)
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que e apresenta uma forma verbal do modo indicativo (“vi”, do
passava naquele momento. pretérito perfeito do indicativo). Seria possível reduzi-la,
Oração obtendo-se:
Subordinada Adjetiva Restritiva Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de minha
vida.
No período acima, observe que a oração em destaque
restringe e particulariza o sentido da palavra “homem”: tra- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
ta-se de um homem específico, único. A oração limita o uni- das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é
verso de homens, isto é, não se refere a todos os homens, introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por uma
mas sim àquele que estava passando naquele momento. preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).

Exemplo 2: Observação: a classificação das orações subordinadas


O homem, que se considera racional, muitas vezes age adverbiais é feita do mesmo modo que a classificação dos
animalescamente. adjuntos adverbiais. Baseia-se na circunstância expressa
Oração Subordinada Adjetiva Explicativa pela oração.
Agora, a oração em destaque não tem sentido restritivo
Orações Subordinadas Adverbiais
em relação à palavra “homem”; na verdade, apenas explici-
ta uma ideia que já sabemos estar contida no conceito de
“homem”. a) Causal = A ideia de causa está diretamente ligada
àquilo que provoca um determinado fato, ao motivo do
** Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicati- que se declara na oração principal. Principal conjunção su-
va é separada da oração principal por uma pausa que, na bordinativa causal: porque. Outras conjunções e locuções
escrita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que causais: como (sempre introduzido na oração anteposta à
a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as ora- oração principal), pois, pois que, já que, uma vez que, visto
ções explicativas das restritivas; de fato, as explicativas vêm que.
sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não. As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte.
Já que você não vai, eu também não vou.
3-) Orações Subordinadas Adverbiais
A diferença entre a subordinada adverbial causal e a
Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce sindética explicativa é que esta “explica” o fato que aconte-
a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal. ceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apresenta
Assim, pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, a “causa” do acontecimento expresso na oração à qual ela
causa, condição, hipótese, etc. Quando desenvolvida, vem se subordina. Repare:
introduzida por uma das conjunções subordinativas (com
1-) Faltei à aula porque estava doente.
exclusão das integrantes, que introduzem orações subor-
2-) Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
dinadas substantivas). Classifica-se de acordo com a con-
junção ou locução conjuntiva que a introduz (assim como Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro que o
acontece com as coordenadas sindéticas). fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de estar
doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a oração
Durante a madrugada, eu olhei você dormindo. sublinhada relata um fato que aconteceu depois, já que
Oração Subordinada Adverbial primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram vermelhos.
b) Consecutiva = exprime um fato que é consequên-
A oração em destaque agrega uma circunstância de cia, é efeito do que se declara na oração principal. São in-
tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adver- troduzidas pelas conjunções e locuções: que, de forma que,
bial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão...que, tan-
que indicam uma circunstância referente, via de regra, a to...que, tamanho...que.
um verbo. A classificação do adjunto adverbial depende da Principal conjunção subordinativa consecutiva: que
exata compreensão da circunstância que exprime. (precedido de tal, tanto, tão, tamanho)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou con- g) Final = indica a intenção, a finalidade daquilo que
cretizando-os. se declara na oração principal. Principal conjunção subordi-
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzi- nativa final: a fim de. Outras conjunções finais: que, porque
da de Infinitivo) (= para que) e a locução conjuntiva para que.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigas.
c) Condicional = Condição é aquilo que se impõe Estudarei muito para que eu me saia bem na prova.
como necessário para a realização ou não de um fato. As
orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem o h) Proporcional = exprime ideia de proporção, ou
que deve ou não ocorrer para que se realize - ou deixe de seja, um fato simultâneo ao expresso na oração principal.
se realizar - o fato expresso na oração principal. Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: à
Principal conjunção subordinativa condicional: se. Ou- proporção que. Outras locuções conjuntivas proporcio-
tras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde que, nais: à medida que, ao passo que. Há ainda as estruturas:
salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, quanto maior...(maior), quanto maior...(menor), quanto me-
uma vez que (seguida de verbo no subjuntivo). nor...(maior), quanto menor...(menor), quanto mais...(mais),
Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, quanto mais...(menos), quanto menos...(mais), quanto me-
certamente o melhor time será campeão. nos...(menos).
Caso você saia, convide-me. À proporção que estudávamos mais questões acertáva-
mos.
d) Concessiva = indica concessão às ações do verbo À medida que lia mais culto ficava.
da oração principal, isto é, admitem uma contradição ou
um fato inesperado. A ideia de concessão está diretamente i) Temporal = acrescenta uma ideia de tempo ao fato
ligada ao contraste, à quebra de expectativa. Principal con- expresso na oração principal, podendo exprimir noções de
junção subordinativa concessiva: embora. Utiliza-se tam- simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Principal
bém a conjunção: conquanto e as locuções ainda que, ainda conjunção subordinativa temporal: quando. Outras con-
quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de que. junções subordinativas temporais: enquanto, mal e locu-
Só irei se ele for. ções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que,
A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu”
antes que, depois que, sempre que, desde que, etc.
ir só se realizará caso essa condição seja satisfeita.
Assim que Paulo chegou, a reunião acabou.
Compare agora com:
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando termi-
Irei mesmo que ele não vá.
nou a festa) (Oração Reduzida de Particípio)
A distinção fica nítida; temos agora uma concessão:
Fontes de pesquisa:
irei de qualquer maneira, independentemente de sua ida. A
http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/fra-
oração destacada é, portanto, subordinada adverbial con-
se-periodo-e-oracao
cessiva.
Observe outros exemplos: SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
Embora fizesse calor, levei agasalho. coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / em-
bora não estudasse). (reduzida de infinitivo)

e) Comparativa= As orações subordinadas adverbiais CRASE


comparativas estabelecem uma comparação com a ação
indicada pelo verbo da oração principal. Principal conjun-
ção subordinativa comparativa: como.
Ele dorme como um urso. (como um urso dorme) A crase se caracteriza como a fusão de duas vogais
Você age como criança. (age como uma criança age) idênticas, relacionadas ao emprego da preposição “a” com
o artigo feminino a(s), com o “a” inicial referente aos pro-
*geralmente há omissão do verbo. nomes demonstrativos – aquela(s), aquele(s), aquilo e com
o “a” pertencente ao pronome relativo a qual (as quais).
f) Conformativa = indica ideia de conformidade, ou Casos estes em que tal fusão encontra-se demarcada pelo
seja, apresenta uma regra, um modelo adotado para a acento grave ( ` ): à(s), àquela, àquele, àquilo, à qual, às
execução do que se declara na oração principal. Principal quais.
conjunção subordinativa conformativa: conforme. Outras O uso do acento indicativo de crase está condicionado
conjunções conformativas: como, consoante e segundo (to- aos nossos conhecimentos acerca da regência verbal e no-
das com o mesmo valor de conforme). minal, mais precisamente ao termo regente e termo regido.
Fiz o bolo conforme ensina a receita. Ou seja, o termo regente é o verbo - ou nome - que exige
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm complemento regido pela preposição “a”, e o termo regido
direitos iguais. é aquele que completa o sentido do termo regente, admi-
tindo a anteposição do artigo a(s).

71
LÍNGUA PORTUGUESA

Refiro-me a (a) funcionária antiga, e não a (a)quela con- * A letra “a” que acompanha locuções femininas (ad-
tratada recentemente. verbiais, prepositivas e conjuntivas) recebe o acento grave:
Após a junção da preposição com o artigo (destacados - locuções adverbiais: às vezes, à tarde, à noite, às pres-
entre parênteses), temos: sas, à vontade...
Refiro-me à funcionária antiga, e não àquela contratada - locuções prepositivas: à frente, à espera de, à procura
recentemente. de...
- locuções conjuntivas: à proporção que, à medida que.
O verbo referir, de acordo com sua transitividade, clas-
sifica-se como transitivo indireto, pois sempre nos referi- * Cuidado: quando as expressões acima não exerce-
mos a alguém ou a algo. Houve a fusão da preposição a + o rem a função de locuções não ocorrerá crase. Repare:
artigo feminino (à) e com o artigo feminino a + o pronome Eu adoro a noite!
demonstrativo aquela (àquela). Adoro o quê? Adoro quem? O verbo “adoro” requer
objeto direto, no caso, a noite. Aqui, o “a” é artigo, não
Observação importante: Alguns recursos servem de preposição.
ajuda para que possamos confirmar a ocorrência ou não da
crase. Eis alguns: Casos passíveis de nota:
a) Substitui-se a palavra feminina por uma masculina
equivalente. Caso ocorra a combinação a + o(s), a crase *a crase é facultativa diante de nomes próprios femini-
está confirmada. nos: Entreguei o caderno a (à) Eliza.
Os dados foram solicitados à diretora.
Os dados foram solicitados ao diretor. *também é facultativa diante de pronomes possessivos
femininos: O diretor fez referência a (à) sua empresa.
b) No caso de nomes próprios geográficos, substitui-se
o verbo da frase pelo verbo voltar. Caso resulte na expres- *facultativa em locução prepositiva “até a”: A loja ficará
são “voltar da”, há a confirmação da crase. aberta até as (às) dezoito horas.
Faremos uma visita à Bahia.
Faz dois dias que voltamos da Bahia. (crase confirmada) * Constata-se o uso da crase se as locuções preposi-
tivas à moda de, à maneira de apresentarem-se implícitas,
Não me esqueço da viagem a Roma.
mesmo diante de nomes masculinos: Tenho compulsão por
Ao voltar de Roma, relembrarei os belos momentos ja-
comprar sapatos à Luis XV. (à moda de Luís XV)
mais vividos.
* Não se efetiva o uso da crase diante da locução ad-
Atenção: Nas situações em que o nome geográfico se
verbial “a distância”: Na praia de Copacabana, observamos
apresentar modificado por um adjunto adnominal, a crase
a queima de fogos a distância.
está confirmada.
Atendo-me à bela Fortaleza, senti saudades de suas
praias. Entretanto, se o termo vier determinado, teremos uma
locução prepositiva, aí sim, ocorrerá crase: O pedestre foi
** Dica: Use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou arremessado à distância de cem metros.
A volto DE, crase PRA QUÊ?” Exemplo: Vou a Campinas. =
Volto de Campinas. (crase pra quê?) - De modo a evitar o duplo sentido – a ambiguidade -,
Vou à praia. = Volto da praia. (crase há!) faz-se necessário o emprego da crase.
ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifica- Ensino à distância.
do, ocorrerá crase. Veja: Ensino a distância.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” * Em locuções adverbiais formadas por palavras repeti-
Irei à Salvador de Jorge Amado. das, não há ocorrência da crase.
Ela ficou frente a frente com o agressor.
* A letra “a” dos pronomes demonstrativos aquele(s), Eu o seguirei passo a passo.
aquela(s) e aquilo receberão o acento grave se o termo re-
gente exigir complemento regido da preposição “a”. Casos em que não se admite o emprego da crase:
Entregamos a encomenda àquela menina.
(preposição + pronome demonstrativo) * Antes de vocábulos masculinos.
As produções escritas a lápis não serão corrigidas.
Iremos àquela reunião. Esta caneta pertence a Pedro.
(preposição + pronome demonstrativo)
* Antes de verbos no infinitivo.
Sua história é semelhante às que eu ouvia quando crian- Ele estava a cantar.
ça. (àquelas que eu ouvia quando criança) Começou a chover.
(preposição + pronome demonstrativo)

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LÍNGUA PORTUGUESA

* Antes de numeral. Questões


O número de aprovados chegou a cem.
Faremos uma visita a dez países. 1-) (POLÍCIA CIVIL/SC – AGENTE DE POLÍCIA – ACA-
FE/2014) Assinale a alternativa que preenche corretamente
Observação: as lacunas da frase a seguir.
- Nos casos em que o numeral indicar horas – funcio- Quando________ três meses disse-me que iria _________
nando como uma locução adverbial feminina – ocorrerá Grécia para visitar ___ sua tia, vi-me na obrigação de ajudá
crase: Os passageiros partirão às dezenove horas. -la _______ resgatar as milhas _________ quais tinha direito.
A-) a - há - à - à - às
- Diante de numerais ordinais femininos a crase está B-) há - à - a - a – às
confirmada, visto que estes não podem ser empregados C-) há - a - há - à - as
sem o artigo: As saudações foram direcionadas à primeira D-) a - à - a - à - às
aluna da classe. E-) a - a - à - há – as
- Não ocorrerá crase antes da palavra casa, quan- 1-) Quando HÁ (sentido de tempo) três meses disse-
do essa não se apresentar determinada: Chegamos todos
me que iria À (“vou a, volto da, crase há!”) Grécia para vi-
exaustos a casa.
sitar A (artigo) sua tia, vi-me na obrigação de ajudá-la A
Entretanto, se vier acompanhada de um adjunto ad-
(ajudar “ela” a fazer algo) resgatar as milhas ÀS quais tinha
nominal, a crase estará confirmada: Chegamos todos exaus-
direito (tinha direito a quê? às milhas – regência nominal).
tos à casa de Marcela.
Teremos: há, à, a, a, às.
- não há crase antes da palavra “terra”, quando essa RESPOSTA: “B”.
indicar chão firme: Quando os navegantes regressaram a
terra, já era noite. 2-) (EMPLASA/SP – ANALISTA JURÍDICO – DIREITO –
Contudo, se o termo estiver precedido por um deter- VUNESP/2014)
minante ou referir-se ao planeta Terra, ocorrerá crase. A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de tra-
Paulo viajou rumo à sua terra natal. balho para proceder _____ medidas necessárias _____ exu-
O astronauta voltou à Terra. mação dos restos mortais do ex-presidente João Goulart,
sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exumação de
- não ocorre crase antes de pronomes que requerem o Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presidente morreu
uso do artigo. de causas naturais, ou seja, devido ____ uma parada cardía-
Os livros foram entregues a mim. ca – que tem sido a versão considerada oficial até hoje –, ou
Dei a ela a merecida recompensa. se sua morte se deve ______ envenenamento.
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,-
Observação: Pelo fato de os pronomes de tratamento governo-cria-grupo-exumar--restos-mortais-de- jan-
relativos à senhora, senhorita e madame admitirem artigo, go,1094178,0.htm 07. 11.2013. Adaptado)
o uso da crase está confirmado no “a” que os antecede, no
caso de o termo regente exigir a preposição. Segundo a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
Todos os méritos foram conferidos à senhorita Patrícia. cunas da frase devem ser completadas, correta e respecti-
vamente, por
*não ocorre crase antes de nome feminino utilizado em (A) a ... à ... a ... a
sentido genérico ou indeterminado: (B) as ... à ... a ... à
Estamos sujeitos a críticas. (C) às ... a ... à ... a
Refiro-me a conversas paralelas. (D) à ... à ... à ... a
(E) a ... a ... a ... à
Fontes de pesquisa:
http://www.portugues.com.br/gramatica/o-uso-crase-.
2-) A ministra de Direitos Humanos instituiu grupo de
html
trabalho para proceder a medidas (palavra no plural, ge-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. neralizando) necessárias à (regência nominal pede prepo-
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- sição) exumação dos restos mortais do ex-presidente João
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: Goulart, sepultado em São Borja (RS), em 1976. Com a exu-
Saraiva, 2010. mação de Jango, o governo visa esclarecer se o ex-presi-
dente morreu de causas naturais, ou seja, devido a uma
(artigo indefinido) parada cardíaca – que tem sido a versão
considerada oficial até hoje –, ou se sua morte se deve a
(regência verbal) envenenamento. A / à / a / a
RESPOSTA: “A”.

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LÍNGUA PORTUGUESA

3-) (SABESP/SP – ADVOGADO – FCC/2014) 2) Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores fizeram lhe disse isso?
uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade
de Tikal, na Guatemala. 3) Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
O a empregado na frase acima, imediatamente depois se ofendem!
de chegar, deverá receber o sinal indicativo de crase caso o
segmento grifado seja substituído por: 4) Orações que exprimem desejo (orações optativas):
(A) Uma tal ilação. Que Deus o ajude.
(B) Afirmações como essa.
(C) Comprovação dessa assertiva. 5) A próclise é obrigatória quando se utiliza o pronome
(D) Emitir uma opinião desse tipo. reto ou sujeito expresso:
(E) Semelhante resultado. Eu lhe entregarei o material amanhã.
Tu sabes cantar?
3-)
(A) Uma tal ilação – chegar a uma (não há acento grave Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do
antes de artigo) verbo. A mesóclise é usada:
(B) Afirmações como essa – chegar a afirmações (antes
de palavra no plural e o “a” no singular) Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu-
(C) Comprovação dessa assertiva – chegar à compro- turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam
vação precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos:
(D) Emitir uma opinião desse tipo – chegar a emitir Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento
(verbo no infinitivo) em prol da paz no mundo.
(E) Semelhante resultado – chegar a semelhante (pala- Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea-
vra masculina) lizará”:
RESPOSTA: “C”. realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma palavra
que justificasse o uso da próclise, esta prevaleceria. Veja:
Não se realizará...
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia
nessa viagem.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL (com presença de palavra que justifique o uso de pró-
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompanha-
ria nessa viagem).
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Ênclise = É a colocação pronominal depois do verbo. A
pronomes oblíquos átonos na frase. ênclise é usada quando a próclise e a mesóclise não forem
possíveis:
* Dica: Pronome Oblíquo é aquele que exerce a função
de complemento verbal (objeto). Por isso, memorize: 1) Quando o verbo estiver no imperativo afirmativo:
OBlíquo = OBjeto! Quando eu avisar, silenciem-se todos.
Embora na linguagem falada a colocação dos prono- 2) Quando o verbo estiver no infinitivo impessoal: Não
mes não seja rigorosamente seguida, algumas normas de- era minha intenção machucá-la.
vem ser observadas na linguagem escrita.
3) Quando o verbo iniciar a oração. (até porque não se
Próclise = É a colocação pronominal antes do verbo. A inicia período com pronome oblíquo).
próclise é usada: Vou-me embora agora mesmo.
Levanto-me às 6h.
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras que
atraem o pronome para antes do verbo. São elas: 4) Quando houver pausa antes do verbo: Se eu passo
a) Palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, no concurso, mudo-me hoje mesmo!
jamais, etc.: Não se desespere!
b) Advérbios: Agora se negam a depor. 5-) Quando o verbo estiver no gerúndio: Recusou a pro-
c) Conjunções subordinativas: Espero que me expliquem posta fazendo-se de desentendida.
tudo!
d) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se es- Colocação pronominal nas locuções verbais
forçou. - após verbo no particípio = pronome depois do verbo
e) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportuni- auxiliar (e não depois do particípio):
dade. Tenho me deliciado com a leitura!
Eu tenho me deliciado com a leitura!
f) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. Eu me tenho deliciado com a leitura!

74
LÍNGUA PORTUGUESA

- não convém usar hífen nos tempos compostos e nas 1-) Primeiramente identifiquemos se temos objeto di-
locuções verbais: reto ou indireto. Reconhece o quê? Resposta: a informali-
Vamos nos unir! dade. Pergunta e resposta sem preposição, então: objeto
Iremos nos manifestar. direto. Não utilizaremos “lhe” – que é para objeto indireto.
Como temos a presença do “que” – independente de sua
- quando há um fator para próclise nos tempos com- função no período (pronome relativo, no caso!) – a regra
postos ou locuções verbais: opção pelo uso do pronome pede próclise (pronome oblíquo antes do verbo): que a re-
oblíquo “solto” entre os verbos = Não vamos nos preocupar conhecem.
(e não: “não nos vamos preocupar”). RESPOSTA: “A”.

Observações importantes: 2-) (SABESP – TECNÓLOGO – FCC/2014) A substitui-


ção do elemento grifado pelo pronome correspondente foi
Emprego de o, a, os, as realizada de modo INCORRETO em:
1) Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu
pronomes: o, a, os, as não se alteram. (B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os
Chame-o agora. (C) para fazer a dragagem = para fazê-la
Deixei-a mais tranquila. (D) que desviava a água = que lhe desviava
(E) supriam a necessidade = supriam-na
2) Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos: 2-)
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho. (A) que permitiu à civilização = que lhe permitiu = cor-
(Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa. reta
(B) envolveu diferentes fatores = envolveu-os = correta
3) Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em, (C) para fazer a dragagem = para fazê-la = correta
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para no, na, (D) que desviava a água = que lhe desviava = que a
nos, nas. desviava
Chamem-no agora. (E) supriam a necessidade = supriam-na = correta
Põe-na sobre a mesa. RESPOSTA: “D”.

* Dica: 3-) (TRT/AL - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014)


Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que significa cruzando os desertos do oeste da China − que con-
“antes”! Pronome antes do verbo! tornam a Índia − adotam complexas providências
Ênclise – “en”... lembra, pelo “som”, /Ənd/ (end, em In- Fazendo-se as alterações necessárias, os segmentos
glês – que significa “fim, final!). Pronome depois do verbo! grifados acima foram corretamente substituídos por um
Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do verbo pronome, respectivamente, em:
Pronome Oblíquo – função de objeto (A) os cruzando - que contornam-lhe - adotam-as
(B) cruzando-lhes - que contornam-na - as adotam
Fontes de pesquisa: (C) cruzando-os - que lhe contornam - adotam-lhes
http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao (D) cruzando-os - que a contornam - adotam-nas
-pronominal-.html (E) lhes cruzando - que contornam-a - as adotam
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. 3-) Não podemos utilizar “lhes”, que corresponde ao
Português linguagens: volume 3 / Wiliam Roberto Cere- objeto indireto (verbo “cruzar” pede objeto direto: cruzar
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: o quê?), portanto já desconsideramos as alternativas “B”
Saraiva, 2010. e “D”. Ao iniciarmos um parágrafo ( já que no enunciado
temos uma oração assim) devemos usar ênclise: (cruzan-
Questões do-os); na segunda oração temos um pronome relativo (dá
para substituirmos por “o qual”), o que nos obriga a usar
1-) (IBGE - SUPERVISOR DE PESQUISAS – ADMINIS- a próclise (que a contorna); “adotam” exige objeto direto
TRAÇÃO - CESGRANRIO/2014) Em “Há políticas que reco- (adotam quem ou o quê?), chegando à resposta: adotam-
nhecem a informalidade”, ao substituir o termo destacado nas (quando o verbo terminar em “m” e usarmos um pro-
por um pronome, de acordo com a norma-padrão da lín- nome oblíquo direto, lembre-se do alfabeto: jklM – N!).
gua, o trecho assume a formulação apresentada em: RESPOSTA: “D”.
A) Há políticas que a reconhecem.
B) Há políticas que reconhecem-a.
C) Há políticas que reconhecem-na.
D) Há políticas que reconhecem ela.
E) Há políticas que lhe reconhecem.

75
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Homógrafas e homófonas simultaneamente (ou


SIGNIFICADO DAS PALAVRAS perfeitas): São palavras iguais na escrita e na pronúncia:
caminho (subst.) e caminho (verbo);
cedo (verbo) e cedo (adv.);
livre (adj.) e livre (verbo).
Semântica é o estudo da significação das palavras e
das suas mudanças de significação através do tempo ou - Parônimos = palavras com sentidos diferentes, po-
em determinada época. A maior importância está em dis- rém de formas relativamente próximas. São palavras pa-
tinguir sinônimos e antônimos (sinonímia / antonímia) e recidas na escrita e na pronúncia: cesta (receptáculo de
homônimos e parônimos (homonímia / paronímia). vime; cesta de basquete/esporte) e sesta (descanso após o
almoço), eminente (ilustre) e iminente (que está para ocor-
Sinônimos rer), osso (substantivo) e ouço (verbo), sede (substantivo e/
ou verbo “ser” no imperativo) e cede (verbo), comprimento
São palavras de sentido igual ou aproximado: alfabeto (medida) e cumprimento (saudação), autuar (processar) e
- abecedário; brado, grito - clamor; extinguir, apagar - abolir. atuar (agir), infligir (aplicar pena) e infringir (violar), deferir
Duas palavras são totalmente sinônimas quando são (atender a) e diferir (divergir), suar (transpirar) e soar (emi-
substituíveis, uma pela outra, em qualquer contexto (cara tir som), aprender (conhecer) e apreender (assimilar; apro-
e rosto, por exemplo); são parcialmente sinônimas quando, priar-se de), tráfico (comércio ilegal) e tráfego (relativo a
ocasionalmente, podem ser substituídas, uma pela outra, movimento, trânsito), mandato (procuração) e mandado
em determinado enunciado (aguardar e esperar). (ordem), emergir (subir à superfície) e imergir (mergulhar,
afundar).
Observação: A contribuição greco-latina é responsá-
vel pela existência de numerosos pares de sinônimos: ad- Hiperonímia e Hiponímia
versário e antagonista; translúcido e diáfano; semicírculo e
Hipônimos e hiperônimos são palavras que pertencem
hemiciclo; contraveneno e antídoto; moral e ética; colóquio e
a um mesmo campo semântico (de sentido), sendo o hipô-
diálogo; transformação e metamorfose; oposição e antítese.
nimo uma palavra de sentido mais específico; o hiperôni-
mo, mais abrangente.
Antônimos
O hiperônimo impõe as suas propriedades ao hipôni-
mo, criando, assim, uma relação de dependência semânti-
São palavras que se opõem através de seu significado:
ca. Por exemplo: Veículos está numa relação de hiperoní-
ordem - anarquia; soberba - humildade; louvar - censurar; mia com carros, já que veículos é uma palavra de significa-
mal - bem. do genérico, incluindo motos, ônibus, caminhões. Veículos é
um hiperônimo de carros.
Observação: A antonímia pode se originar de um pre- Um hiperônimo pode substituir seus hipônimos em
fixo de sentido oposto ou negativo: bendizer e maldizer; quaisquer contextos, mas o oposto não é possível. A utili-
simpático e antipático; progredir e regredir; concórdia e dis- zação correta dos hiperônimos, ao redigir um texto, evita a
córdia; ativo e inativo; esperar e desesperar; comunista e an- repetição desnecessária de termos.
ticomunista; simétrico e assimétrico.
Fontes de pesquisa:
Homônimos e Parônimos http://www.coladaweb.com/portugues/sinonimos,-an-
tonimos,-homonimos-e-paronimos
- Homônimos = palavras que possuem a mesma grafia SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ou a mesma pronúncia, mas significados diferentes. Podem coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
ser Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
a) Homógrafas: são palavras iguais na escrita e dife- Saraiva, 2010.
rentes na pronúncia: Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
rego (subst.) e rego (verbo); ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
colher (verbo) e colher (subst.); XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua Por-
jogo (subst.) e jogo (verbo); tuguesa – 2ªed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000.
denúncia (subst.) e denuncia (verbo);
providência (subst.) e providencia (verbo). Denotação e Conotação

b) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e di- Exemplos de variação no significado das palavras:
ferentes na escrita:
acender (atear) e ascender (subir); Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido li-
concertar (harmonizar) e consertar (reparar); teral)
cela (compartimento) e sela (arreio); Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
censo (recenseamento) e senso ( juízo); figurado)
paço (palácio) e passo (andar). Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)

76
LÍNGUA PORTUGUESA

As variações nos significados das palavras ocasionam Polissemia


o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras. Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de
Denotação um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra,
mas que abarca um grande número de significados dentro
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando de seu próprio campo semântico.
apresenta seu significado original, independentemente Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per-
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significado cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de
mais objetivo e comum, aquele imediatamente reconheci- algo. Possibilidades de várias interpretações levando-se em
do e muitas vezes associado ao primeiro significado que consideração as situações de aplicabilidade. Há uma infini-
aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da dade de exemplos em que podemos verificar a ocorrência
palavra. da polissemia:
A denotação tem como finalidade informar o receptor O rapaz é um tremendo gato.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo um ca- O gato do vizinho é peralta.
ráter prático. É utilizada em textos informativos, como jor- Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
nais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de medi- Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
camentos, textos científicos, entre outros. A palavra “pau”, sobrevivência
por exemplo, em seu sentido denotativo é apenas um pe- O passarinho foi atingido no bico.
daço de madeira. Outros exemplos:
O elefante é um mamífero. Nas expressões polissêmicas rede de deitar, rede de
As estrelas deixam o céu mais bonito! computadores e rede elétrica, por exemplo, temos em
comum a palavra “rede”, que dá às expressões o sentido
Conotação de “entrelaçamento”. Outro exemplo é a palavra “xadrez”,
que pode ser utilizada representando “tecido”, “prisão” ou
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando “jogo” – o sentido comum entre todas as expressões é o
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes in- formato quadriculado que têm.
terpretações, dependendo do contexto em que esteja inse-
rida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que vão Polissemia e homonímia
além do sentido original da palavra, ampliando sua signifi-
cação mediante a circunstância em que a mesma é utiliza- A confusão entre polissemia e homonímia é bastante
da, assumindo um sentido figurado e simbólico. Como no comum. Quando a mesma palavra apresenta vários signifi-
exemplo da palavra “pau”: em seu sentido conotativo ela cados, estamos na presença da polissemia. Por outro lado,
pode significar castigo (dar-lhe um pau), reprovação (tomei quando duas ou mais palavras com origens e significados
pau no concurso). distintos têm a mesma grafia e fonologia, temos uma ho-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- monímia.
tos no receptor da mensagem, através da expressividade e A palavra “manga” é um caso de homonímia. Ela pode
afetividade que transmite. É utilizada principalmente numa significar uma fruta ou uma parte de uma camisa. Não é
linguagem poética e na literatura, mas também ocorre em polissemia porque os diferentes significados para a pala-
conversas cotidianas, em letras de música, em anúncios pu- vra “manga” têm origens diferentes. “Letra” é uma palavra
blicitários, entre outros. Exemplos: polissêmica: pode significar o elemento básico do alfabeto,
Você é o meu sol! o texto de uma canção ou a caligrafia de um determinado
Minha vida é um mar de tristezas. indivíduo. Neste caso, os diferentes significados estão in-
Você tem um coração de pedra! terligados porque remetem para o mesmo conceito, o da
escrita.
* Dica: Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo é utilizado Polissemia e ambiguidade
com o sentido que consta no dicionário.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto na
Fontes de pesquisa: interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado pode
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota- ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma interpreta-
cao/ ção. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à colocação
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- específica de uma palavra (por exemplo, um advérbio) em
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- Pessoas que têm uma alimentação equilibrada frequen-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: temente são felizes.
Saraiva, 2010. Neste caso podem existir duas interpretações diferen-
tes:

77
LÍNGUA PORTUGUESA

As pessoas têm alimentação equilibrada porque são feli- Observação: toda metáfora é uma espécie de compa-
zes ou são felizes porque têm uma alimentação equilibrada. ração implícita, em que o elemento comparativo não apa-
rece.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica, ela Seus olhos são como luzes brilhantes.
pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma interpre- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
tação. Para fazer a interpretação correta é muito importan- através do emprego da palavra como.
te saber qual o contexto em que a frase é proferida. Observe agora: Seus olhos são luzes brilhantes.
Muitas vezes, a disposição das palavras na construção Neste exemplo não há mais uma comparação (note a
do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo, co- ausência da partícula comparativa), e sim símile, ou seja,
micidade. Repare na figura abaixo: qualidade do que é semelhante.
Por fim, no exemplo: As luzes brilhantes olhavam-me.
Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Esta
é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:


1) “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa)
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a
fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar


(http://www.humorbabaca.com/fotos/diversas/corto- algum.
cabelo-e-pinto. Acesso em 15/9/2014). Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase
Poderíamos corrigir o cartaz de inúmeras maneiras, acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que
indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente
mas duas seriam:
inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é
Corte e coloração capilar
tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de
ou
terra que leva a lugar algum.
Faço corte e pintura capilar
A Amazônia é o pulmão do mundo.
Fontes de pesquisa:
Em sua mente povoa só inveja.
http://www.brasilescola.com/gramatica/polissemia.
htm Metonímia
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: É a substituição de um nome por outro, em virtude de
Saraiva, 2010. existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- pode acontecer dos seguintes modos:
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
1 - Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (=
Figura de Linguagem, Pensamento e Construção Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
2 - Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (=
Figura de Palavra As lâmpadas iluminam o mundo).
3 - Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes
A figura de palavra consiste na substituição de uma da cruz. (= Não te afastes da religião).
palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, 4 - Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso
seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
por uma associação, uma comparação, uma similaridade. 5 - Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Só-
Estes dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - crates tomou veneno).
permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: 6 - Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu
a metáfora e a metonímia. trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que pro-
duzo).
Metáfora 7 - Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
Consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em 8 - Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfo-
lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em vir- nes foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás
tude da circunstância de que o nosso espírito as associa dos jogadores).
e percebe entre elas certas semelhanças. É o emprego da 9 - Parte pelo todo: Várias pernas passavam apres-
palavra fora de seu sentido normal. sadamente. (= Várias pessoas passavam apressadamente).

78
LÍNGUA PORTUGUESA

10 - Gênero pela espécie: Os mortais pensam e so- Fontes de pesquisa:


frem nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nesse http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2.
mundo). php
11 - Singular pelo plural: A mulher foi chamada para SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac-
ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
chamadas, não apenas uma mulher). Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
12 - Marca pelo produto: Minha filha adora danone. ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
(= Minha filha adora o iogurte que é da marca Danone). Saraiva, 2010.
13 - Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (=
Alguns astronautas foram à Lua). Antítese
14 - Símbolo pela coisa simbolizada: A balança pen-
derá para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado). Consiste no emprego de palavras que se opõem quan-
to ao sentido. O contraste que se estabelece serve, essen-
Saiba que: Sinédoque se relaciona com o conceito de cialmente, para dar uma ênfase aos conceitos envolvidos
extensão (como nos exemplos 9, 10 e 11, acima), enquanto que não se conseguiria com a exposição isolada dos mes-
que a metonímia abrange apenas os casos de analogia ou mos. Observe os exemplos:
de relação. Não há necessidade, atualmente, de se fazer “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
distinção entre ambas as figuras. O corpo é grande e a alma é pequena.
“Quando um muro separa, uma ponte une.”
Catacrese Não há gosto sem desgosto.

Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, Paradoxo ou oximoro
cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por
falta de um termo específico para designar um conceito, É a associação de ideias, além de contrastantes, contra-
toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a empregar ditórias. Seria a antítese ao extremo.
algumas palavras fora de seu sentido original. Exemplos: Era dor, sim, mas uma dor deliciosa.
“asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do rosto”, “pé da Ouvimos as vozes do silêncio.
mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do abacaxi”.
Eufemismo
Perífrase ou Antonomásia
É o emprego de uma expressão mais suave, mais nobre
ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera,
Trata-se de uma expressão que designa um ser através
desagradável ou chocante.
de alguma de suas características ou atributos, ou de um
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Senhor.
fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por
(= morreu)
outro ou por uma expressão que facilmente o identifique: O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
atraindo visitantes do mundo todo. Faltar à verdade. (= mentir)
A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão) Ironia
Observação: quando a perífrase indica uma pessoa, É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do que
recebe o nome de antonomásia. Exemplos: as palavras ou frases expressam, geralmente apresentando
O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida pratican- intenção sarcástica. A ironia deve ser muito bem construí-
do o bem. da para que cumpra a sua finalidade; mal construída, pode
O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jo- passar uma ideia exatamente oposta à desejada pelo emis-
vem. sor.
O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções. Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota mí-
nima.
Sinestesia Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que
estão por perto.
Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen- O governador foi sutil como um elefante.
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
cruzamento de sensações distintas. Hipérbole
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito = au-
ditivo; áspero = tátil) É a expressão intencionalmente exagerada com o intui-
No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte- to de realçar uma ideia.
cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual) Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil) “Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
O concurseiro quase morre de tanto estudar!

79
LÍNGUA PORTUGUESA

Prosopopeia ou Personificação Elipse

É a atribuição de ações ou qualidades de seres anima- Consiste na omissão de um ou mais termos numa ora-
dos a seres inanimados, ou características humanas a seres ção e que podem ser facilmente identificados, tanto por
não humanos. Observe os exemplos: elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto
As pedras andam vagarosamente. pelo contexto.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um A catedral da Sé. (a igreja catedral)
cego que guia. Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao está-
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. dio)
Chora, violão.
Zeugma
Apóstrofe
Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coisa a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
personificada, de acordo com o objetivo do discurso, que Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
pode ser poético, sagrado ou profano. Caracteriza-se pelo português)
chamamento do receptor da mensagem, seja ele imaginá- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só mo-
rio ou não. A introdução da apóstrofe interrompe a linha de dernos. (só havia móveis)
pensamento do discurso, destacando-se assim a entidade Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
a que se dirige e a ideia que se pretende pôr em evidên-
cia com tal invocação. Realiza-se por meio do vocativo. Silepse
Exemplos:
Moça, que fazes aí parada? A silepse é a concordância que se faz com o termo que
“Pai Nosso, que estais no céu” não está expresso no texto, mas, sim, subentendido. É uma
Deus, ó Deus! Onde estás? concordância anormal, psicológica, porque se faz com um
termo oculto, facilmente identificado. Há três tipos de si-
Gradação lepse: de gênero, número e pessoa.

Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e femi-


Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
nino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordância se
mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descenden-
faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
te (anticlímax). Observe este exemplo:
Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
1) A bonita Porto Velho sofreu mais uma vez com o calor
com seus olhos claros e brincalhões...
intenso.
Neste caso, o adjetivo bonita não está concordando
O objetivo do narrador é mostrar a expressividade dos
com o termo Porto Velho, que gramaticalmente pertence
olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se refere ao
ao gênero masculino, mas com a ideia contida no termo (a
céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e seus olhos. cidade de Porto Velho).
Nota-se que o pensamento foi expresso em ordem decres-
cente de intensidade. Outros exemplos: 2) Vossa Excelência está preocupado.
“Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes-
amor”. (Olavo Bilac) soa, que nesse caso é masculino, e não com o termo Vossa
“O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu- Excelência.
se.” (Padre Antônio Vieira)
Silepse de Número - Os números são singular e plural.
Fontes de pesquisa: A silepse de número ocorre quando o verbo da oração não
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil5. concorda gramaticalmente com o sujeito da oração, mas
php com a ideia que nele está contida. Exemplos:
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sac- A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade
coni. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. de Salvador.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere- O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto.
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010. Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei-
As figuras de construção (ou sintática, de sintaxe) tos das orações (que se encontram no singular, procissão
ocorrem quando desejamos atribuir maior expressividade e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
ao significado. Assim, a lógica da frase é substituída pela contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por
maior expressividade que se dá ao sentido. isso que os verbos estão no plural.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quan-
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles (as do confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um
três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há um pleonasmo vicioso:
desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não con- Vi aquela cena com meus próprios olhos.
corda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa que Vamos subir para cima.
está inscrita no sujeito. Exemplos: Ele desceu pra baixo.
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. Anáfora
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho.
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jardins É a repetição de uma ou mais palavras no início de vá-
públicos.” (Machado de Assis) rias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de coe-
rência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é
Observe que os verbos persistamos, temos e somos não posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar de-
concordam gramaticalmente com os seus sujeitos (brasilei- terminado elemento textual. Os termos anafóricos podem
ros, agricultores e cariocas, que estão na terceira pessoa), muitas vezes ser substituídos por pronomes.
mas com a ideia que neles está contida (nós, os brasileiros, Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te conhe-
os agricultores e os cariocas). cia.
“Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
Polissíndeto / Assíndeto ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Anacoluto
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre
período composto. No período composto por coordena- Consiste na mudança da construção sintática no meio
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A da frase, ficando alguns termos desligados do resto do pe-
oração coordenada ligada por uma conjunção (conectivo)
ríodo. É a quebra da estrutura normal da frase para a intro-
é sindética; a oração que não apresenta conectivo é assin-
dução de uma palavra ou expressão sem nenhuma ligação
dética. Recordado esse conceito, podemos definir as duas
sintática com as demais.
figuras de construção:
Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
Morrer, todo haveremos de morrer.
1) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela repe-
Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
tição enfática dos conectivos. Observe o exemplo: O meni-
no resmunga, e chora, e grita, e ninguém faz nada.
A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
2) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela ausên- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
cia, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não exer-
no uso de orações coordenadas assindéticas. Exemplos: cendo nenhuma função sintática. O anacoluto também é
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. chamado de “frase quebrada”, pois corresponde a uma in-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) terrupção na sequência lógica do pensamento.

Pleonasmo Observação: o anacoluto deve ser usado com finalida-


de expressiva em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é real- Hipérbato / Inversão
çar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo. É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e sujeito venha depois do predicado:
“lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. As- Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor
sim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pro- venceu ao ódio)
nome “lo” classificado como objeto direto pleonástico. Ou- Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria:
tro exemplo: Eu cuido dos meus problemas)
Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto * Observação da Zê!
O nosso Hino Nacional é um exemplo de hipérbato, já
que, na ordem direta, teríamos:
Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado re-
pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo- tumbante de um povo heroico”.
nástico.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Figuras de Som

Aliteração - Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro
significativo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
Vozes veladas, veludosas vozes... (Cruz e Sousa)
Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Assonância - Consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos:


“Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

Onomatopéia - Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade:


Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.

Fontes de pesquisa:
http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil8.php
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo:
Saraiva, 2010.

Questões
1-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TÉCNICO SUPERIOR ESPECIALIZADO EM BIBLIOTECO-
NOMIA – FGV/2014 - adaptada) Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto faz uso de um tipo de linguagem
figurada denominada
(A) metonímia.
(B) eufemismo.
(C) hipérbole.
(D) metáfora.
(E) catacrese.

1-) A metáfora consiste em retirar uma palavra de seu contexto convencional (denotativo) e transportá-la para um novo
campo de significação (conotativa), por meio de uma comparação implícita, de uma similaridade existente entre as duas.
(Fonte:http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/metafora-figura-de-palavra-variacoes-e-exemplos.htm)
RESPOSTA: “D”.

2-) (PREFEITURA DE ARCOVERDE/PE - ADMINISTRADOR DE RECURSOS HUMANOS – CONPASS/2014) Identifique a


figura de linguagem presente na tira seguinte:

A) metonímia
B) prosopopeia
C) hipérbole
D) eufemismo
E) onomatopeia

82
LÍNGUA PORTUGUESA

2-) “Eufemismo = é o emprego de uma expressão mais Normalmente, numa prova, o candidato deve:
suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar al-
guma coisa áspera, desagradável ou chocante”. No caso da 1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar-
tirinha, é utilizada a expressão “deram suas vidas por nós” gumentação, de um processo, de uma época (neste caso,
no lugar de “que morreram por nós”. procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o
RESPOSTA: “D”. tempo).
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen-
3-) (CASAL/AL - ADMINISTRADOR DE REDE - COPEVE/ ças entre as situações do texto.
UFAL/2014) 3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. uma realidade.
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de 4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias.
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, 5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala-
horário do dia em que o calor é mais intenso, a tempera- vras.
tura do asfalto, medida com um termômetro de contato,
chegou a 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local Condições básicas para interpretar
alcançasse aproximadamente 90ºC.
Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso Fazem-se necessários:
em: 22 jan. 2014. - Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros
literários, estrutura do texto), leitura e prática;
O texto cita que o dito popular “está tão quente que - Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do
dá para fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de texto) e semântico;
linguagem. O autor do texto refere-se a qual figura de lin-
guagem? Observação – na semântica (significado das palavras)
A) Eufemismo. incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota-
B) Hipérbole. ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua-
C) Paradoxo. gem, entre outros.
D) Metonímia.
E) Hipérbato. - Capacidade de observação e de síntese;
- Capacidade de raciocínio.
3-) A expressão é um exagero! Ela serve apenas para
representar o calor excessivo que está fazendo. A figura
Interpretar / Compreender
que é utilizada “mil vezes” (!) para atingir tal objetivo é a
hipérbole.
Interpretar significa:
RESPOSTA: “B”.
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
- O autor permite concluir que...
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...

Compreender significa
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - o texto diz que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar - é sugerido pelo autor que...
e decodificar). - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. ção...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - o narrador afirma...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- Erros de interpretação
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do
contexto original e analisada separadamente, poderá ter contexto, acrescentando ideias que não estão no texto,
um significado diferente daquele inicial. quer por conhecimento prévio do tema quer pela imagi-
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- nação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se aten-
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. ção apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação conjunto de ideias), o que pode ser insuficiente para o en-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir tendimento do tema desenvolvido.
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta- - Contradição = às vezes o texto apresenta ideias con-
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao trárias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivo-
esclarecimento das questões apresentadas na prova. cadas e, consequentemente, errar a questão.

83
LÍNGUA PORTUGUESA

Observação - Muitos pensam que existem a ótica do - Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa geralmente mantém com outro uma relação de continua-
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem
é o que o autor diz e nada mais. essas relações.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja,
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que a ideia mais importante.
relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. - Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou
Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um “incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um prono- resposta – o que vale não somente para Interpretação de
me oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se Texto, mas para todas as demais questões!
vai dizer e o que já foi dito. - Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi-
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão.
Observação – São muitos os erros de coesão no dia - Olhe com especial atenção os pronomes relativos,
a dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
do pronome oblíquo átono. Este depende da regência do mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo-
verbo; aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer cábulos do texto.
também de que os pronomes relativos têm, cada um, valor
semântico, por isso a necessidade de adequação ao ante- Fontes de pesquisa:
cedente. http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu-
Os pronomes relativos são muito importantes na in- gues/como-interpretar-textos
terpretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me-
coesão. Assim sendo, deve-se levar em consideração que lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas
existe um pronome relativo adequado a cada circunstância, http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
a saber: ra-voce-interpretar-melhor-um.html
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer anteceden- http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques-
te, mas depende das condições da frase. tao-117-portugues.htm
- qual (neutro) idem ao anterior.
- quem (pessoa) Questões
- cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
o objeto possuído. 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
- como (modo) BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
- onde (lugar) NICA – IADES/2014)
- quando (tempo)
- quanto (montante) Gratuidades
Exemplo: Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
Falou tudo QUANTO queria (correto) mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
aparecer o demonstrativo O). os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
documento de identificação aos funcionários posicionados
Dicas para melhorar a interpretação de textos no bloqueio de acesso.
Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. assinale a alternativa correta.
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
a leitura. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Metrô-DF.
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
conclusão). (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- Volte ao texto quantas vezes precisar. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as ao Metrô-DF.
do autor. (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
compreensão. livre ao Metrô-DF.
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
cada questão. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. acesso livre ao Metrô-DF.

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LÍNGUA PORTUGUESA

1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que 3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do
condiz com as informações expostas no texto é “Somente Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao
crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha
com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”. Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor-
RESPOSTA: “C”. mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto.
2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 - RESPOSTA: “A”.
adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um TIPOLOGIA TEXTUAL
trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
– mas a forma conta”. (...)
(Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
A todo o momento nos deparamos com vários textos,
O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a presença
um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes- do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência daquilo
ma dois sentidos, que são que está sendo transmitido entre os interlocutores. Estes
(A) o barulho e a propagação. interlocutores são as peças principais em um diálogo ou
(B) a propagação e o perigo. em um texto escrito.
(C) o perigo e o poder. É de fundamental importância sabermos classificar os
(D) o poder e a energia.  textos com os quais travamos convivência no nosso dia a
(E)  a energia e o barulho.   dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos textuais
e gêneros textuais.
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa opi-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar
nião sobre determinado assunto, descrevemos algum lugar
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora.
que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre alguém
Você pode responder à questão por eliminação: a segun-
que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente nessas
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou
situações corriqueiras que classificamos os nossos textos
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- naquela tradicional tipologia: Narração, Descrição e Dis-
ternativa A! sertação.
RESPOSTA: “A”.
As tipologias textuais caracterizam-se pelos aspec-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- tos de ordem linguística
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI-
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) Os tipos textuais designam uma sequência definida
Concha Acústica pela natureza linguística de sua composição. São observa-
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de dos aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de lógicas. Os tipos textuais são o narrativo, descritivo, argu-
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada mentativo/dissertativo, injuntivo e expositivo.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje - Textos narrativos – constituem-se de verbos de ação
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. demarcados no tempo do universo narrado, como também
Foi o primeiro grande palco da cidade. de advérbios, como é o caso de antes, agora, depois, entre
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- outros: Ela entrava em seu carro quando ele apareceu. De-
cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, pois de muita conversa, resolveram...
com adaptações.
- Textos descritivos – como o próprio nome indica,
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem descrevem características tanto físicas quanto psicológicas
compatível com o texto. acerca de um determinado indivíduo ou objeto. Os tempos
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- verbais aparecem demarcados no presente ou no pretérito
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, imperfeito: “Tinha os cabelos mais negros como a asa da
no Setor de Clubes Esportivos Norte. graúna...”
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF
em 1969. - Textos expositivos – Têm por finalidade explicar um
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que assunto ou uma determinada situação que se almeje de-
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. senvolvê-la, enfatizando acerca das razões de ela aconte-
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura cer, como em: O cadastramento irá se prorrogar até o dia 02
do DF. de dezembro, portanto, não se esqueça de fazê-lo, sob pena
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. de perder o benefício.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de uma


modalidade na qual as ações são prescritas de forma se- COESÃO E COERÊNCIA
quencial, utilizando-se de verbos expressos no imperativo,
infinitivo ou futuro do presente: Misture todos os ingredien-
te e bata no liquidificador até criar uma massa homogênea.
Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
- Textos argumentativos (dissertativo) – Demarcam- mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
se pelo predomínio de operadores argumentativos, revela- do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
dos por uma carga ideológica constituída de argumentos estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
e contra-argumentos que justificam a posição assumida falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
acerca de um determinado assunto: A mulher do mundo a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
contemporâneo luta cada vez mais para conquistar seu es- elementos que compõem a oração, como também entre a
paço no mercado de trabalho, o que significa que os gêneros sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
estão em complementação, não em disputa. bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
cesso têm com o tema.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
ginária - composta de termos e expressões - que une os
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
GÊNEROS TEXTUAIS de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
São os textos materializados que encontramos em orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
nosso cotidiano; tais textos apresentam características só- re daí a coerência textual.
cio-comunicativas definidas por seu estilo, função, com- Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
posição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos: receita apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema, editorial, rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum, blog, etc. textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
A escolha de um determinado gênero discursivo de- prejudica o entendimento do texto. Construído com os ele-
pende, em grande parte, da situação de produção, ou seja, mentos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.
a finalidade do texto a ser produzido, quem são os locu- Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado
tores e os interlocutores, o meio disponível para veicular o não se constrói com um amontoado de palavras e orações.
texto, etc. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência
e independência sintática e semântica, recobertos por unida-
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a es- des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”.
feras de circulação. Assim, na esfera jornalística, por exem- Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é
plo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, edito- imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases
riais, entrevistas e outros; na esfera de divulgação científica estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se
são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enci- de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
clopédia, artigo ou ensaio científico, seminário, conferência. os elementos que compõem a estrutura textual.

Fontes de pesquisa: Formas de se garantir a coesão entre os elementos


de uma frase ou de um texto:
http://www.brasilescola.com/redacao/tipologia-tex-
tual.htm
1. Substituição de palavras com o emprego de sinôni-
Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Cere-
mos - palavras ou expressões do mesmo campo associa-
ja, Thereza Cochar Magalhães. – 7ªed. Reform. – São Paulo: tivo.
Saraiva, 2010. 2. Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa / desgaste / desgastante).
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. 3. Emprego adequado de tempos e modos verbais:
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula.
4. Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre-
posições, artigos:
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden-
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
por elas.

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LÍNGUA PORTUGUESA

5. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com Questões


base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené- * As questões abaixo também envolvem o conteúdo
rico). “Conjunção”. Eu as coloquei neste tópico porque abordam
6. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de - inclusive - coesão e coerência.
sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com 1-) (SEDUC/AM – ASSISTENTE SOCIAL – FGV/2014) As-
gato. sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção
7. Substitutos universais, como os verbos vicários.
e tem valor adversativo e não aditivo.
* Ajuda da Zê: verbo vicário é aquele que substitui (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
outro já utilizado no período, evitando repetições. Geral- da população na escolha dos governantes,...”.
mente é o verbo fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Faço porque preciso. O “faço” foi empregado no lugar de derno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência elei-
“estudo”, evitando repetição desnecessária. toral anterior”.
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais, buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan- de hoje”.
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida (D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda mé-
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
dia”.
relação entre as duas orações).
(E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao políticas públicas social-democratas”.
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de
progressão textual, dada sua característica: são elementos 1-)
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
nentes da situação comunicativa. = adição
Já os componentes concentram em si a significação. (B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito: derno e dinâmico”. = adição
“Os pronomes pessoais e as desinências verbais indi- (C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
cam os participantes do ato do discurso. Os pronomes de- quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
monstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
como os advérbios de tempo, referenciam o momento da de hoje”. = adição
enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade
(D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
(presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns ela na história nacional”. = adição
dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo (E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
ano, depois de (futuro).” está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta =
adversativa (dá para substituirmos por “mas”)
A coerência de um texto está ligada: RESPOSTA: “E”.
- à sua organização como um todo, em que devem es-
tar assegurados o início, o meio e o fim;
- à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto 2-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/
técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada DF – ANALISTA DE APOIO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA –
em comprovações, apresentação de estatísticas, relato de FGV/2014) A alternativa em que os elementos unidos pela
experiências; um texto informativo apresenta coerência se conjunção E não estão em adição, mas sim em oposição, é:
trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poé- (A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
ticos, por outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
fazer justiça com as próprias mãos...”
livre associação de ideias, palavras conotativas.
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas
Fontes de pesquisa: instituições:...”
http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/ (C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos
COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html anarquistas e mais nos fascistas italianos...”
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática (D) “...desprezando o passado e a tradição...”
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa (E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. velocidade e do progresso...”

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LÍNGUA PORTUGUESA

2-) A Ordem dos Termos na Frase


(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
fazer justiça com as próprias mãos”. = adição Leia novamente a frase contida no item 2. Note que
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas ela é organizada de maneira clara para produzir sentido.
instituições”. = adição Todavia, há diferentes maneiras de se organizar gramatical-
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos mente tal frase, tudo depende da necessidade ou da von-
anarquistas e mais nos fascistas italianos”. = ideia de opo- tade do redator em manter o sentido, ou mantê-lo, porém,
sição acrescentado ênfase a algum dos seus termos. Significa di-
(D) “...desprezando o passado e a tradição”. = adição zer que, ao escrever, podemos fazer uma série de inversões
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da e intercalações em nossas frases, conforme a nossa von-
velocidade e do progresso”. = adição tade e estilo. Tudo depende da maneira como queremos
RESPOSTA: “C”. transmitir uma ideia, do nosso estilo. Por exemplo, pode-
mos expressar a mensagem da frase 2 da seguinte maneira:

No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-


sando desemprego.
REESCRITA DE TEXTOS/EQUIVALÊNCIA DE
ESTRUTURAS Neste caso, a mensagem é praticamente a mesma,
apenas mudamos a ordem das palavras para dar ênfase a
alguns termos (neste caso: No Brasil e na A. L.). Repare que,
para obter a clareza tivemos que fazer o uso de vírgulas.
“Ideias confusas geram redações confusas”. Esta frase Entre os sinais de pontuação, a vírgula é o mais usado e
leva-nos a refletir sobre a organização das ideias em um o que mais nos auxilia na organização de um período, pois
texto. Significa dizer que, antes da redação, naturalmen- facilita as boas “sintaxes”, boas misturas, ou seja, a vírgula
te devemos dominar o assunto sobre o qual iremos tratar ajuda-nos a não “embolar” o sentido quando produzimos
e, posteriormente, planejar o modo como iremos expô-lo, frases complexas. Com isto, “entregamos” frases bem orga-
do contrário haverá dificuldade em transmitir ideias bem nizadas aos nossos leitores.
acabadas. Portanto, a leitura, a interpretação de textos e a
experiência de vida antecedem o ato de escrever. O básico para a organização sintática das frases é a or-
Obtido um razoável conhecimento sobre o que iremos dem direta dos termos da oração. Os gramáticos estrutu-
escrever, feito o esquema de exposição da matéria, é ne- ram tal ordem da seguinte maneira:
cessário saber ordenar as ideias em frases bem estrutura-
das. Logo, não basta conhecer bem um determinado as- SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTO VERBAL + CIR-
sunto, temos que o transmitir de maneira clara aos leitores. CUNSTÂNCIAS
O estudo da pontuação pode se tornar um valioso alia- A globalização + está causando + desemprego + no
do para organizarmos as ideias de maneira clara em frases. Brasil nos dias de hoje.
Para tanto, é necessário ter alguma noção de sintaxe. “Sin-
taxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte da gramá- Nem todas as orações mantêm esta ordem e nem to-
tica que estuda a disposição das palavras na frase e a das das contêm todos estes elementos, portanto cabem algu-
frases no discurso, bem como a relação lógica das frases mas observações:
entre si”; ou em outras palavras, sintaxe quer dizer “mistu-
ra”, isto é, saber misturar as palavras de maneira a produ- 1) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
zirem um sentido evidente para os receptores das nossas normalmente são representadas por adjuntos adverbiais
mensagens. Observe: de tempo, lugar, etc. Note que, no mais das vezes, quan-
do queremos recordar algo ou narrar uma história, existe
1)A desemprego globalização no Brasil e no na está La- a tendência a colocar os adjuntos nos começos das frases:
tina América causando.
2) A globalização está causando desemprego no Brasil e “No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas mi-
na América Latina. nhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos e ou-
tros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil existe…”
Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização de Observações:
“uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem relação a) tais construções não estão erradas, mas rompem
inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe ocorreu de com a ordem direta;
maneira perfeita e o sentido está claro para receptores de b) é preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui-
língua portuguesa inteirados da situação econômica e cul- tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por
tural do mundo atual. exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri-
burgo. São quatro horas agora;

88
LÍNGUA PORTUGUESA

c) Outras frases são construídas com verbos intransiti- Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
vos, que não têm complemento: As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
O menino morreu na Alemanha. (sujeito + verbo + ad- quentemente um papel semelhante ao do aposto explicati-
junto adverbial) vo, por isto são também isoladas por vírgula.
A globalização nasceu no século XX. (idem)
d) Há ainda frases nominais que não possuem verbos: A globalização causa, caro leitor, desemprego no Brasil…
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a ordem Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o seu
direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os termos complemento.
existentes nelas.
A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
Levando em consideração a ordem direta, podemos no Brasil…
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não per-
1)Se os termos estão colocados na ordem direta não tence ao assunto: globalização, da frase principal, tal ora-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase (2) é um exemplo ção é apenas um comentário à parte entre o complemento
disto: verbal e os adjuntos).
A globalização está causando desemprego no Brasil e na
América Latina. Observação: a simples negação em uma frase não exi-
ge vírgula: A globalização não causou desemprego no Brasil
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da oração e na América Latina.
por três vezes ou mais, então é necessário usar a vírgula,
mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta é a re- 3)Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-a,
gra básica nº1 para a colocação da vírgula. Veja: tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra nº3 da
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” colocação da vírgula.
causam desemprego…
(três núcleos do sujeito) No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
sando desemprego…
A globalização causa desemprego no Brasil, na América No fim do século XX, a globalização causou desemprego
Latina e na África. no Brasil…
(três adjuntos adverbiais)
Nota-se que a quebra da ordem direta frequentemente
A globalização está causando desemprego, insatisfação se dá com a colocação das circunstâncias antes do sujeito.
e sucateamento industrial no Brasil e na América Latina. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstâncias, em gramá-
(três complementos verbais) tica, são representadas pelos adjuntos adverbiais. Muitas
vezes, elas são colocadas em orações chamadas adverbiais
2)Em princípio, não devemos, na ordem direta, sepa- que têm uma função semelhante a dos adjuntos adverbiais,
rar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo e o seu isto é, denotam tempo, lugar, etc. Exemplos:
complemento, nem o complemento e as circunstâncias, ou
seja, não devemos separar com vírgula os termos da ora- Quando o século XX estava terminando, a globalização
ção. Veja exemplos de tal incorreção: começou a causar desemprego.
Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
O Brasil, será feliz. A globalização causa, o desemprego. senvolvem-se, a globalização causa desemprego nos países
pobres.
Ao intercalarmos alguma palavra ou expressão entre Durante o século XX, a Globalização causou desempre-
os termos da oração, cabe isolar tal termo entre vírgulas, go no Brasil.
assim o sentido da ideia principal não se perderá. Esta é
a regra básica nº 2 para a colocação da vírgula. Dito em Observação: quanto à equivalência e transformação de
outras palavras: quando intercalamos expressões e frases estruturas, um exemplo muito comum cobrado em provas
entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos com é o enunciado trazer uma frase no singular e pedir a passa-
vírgulas. Vejamos: gem para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a
A globalização, fenômeno econômico deste fim de sécu- mudança de tempos verbais.
lo XX, causa desemprego no Brasil.
Fonte de pesquisa:
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o http://ricardovigna.wordpress.com/2009/02/02/estu-
sujeito e o verbo. dos-de-linguagem-1-estrutura-frasal-e-pontuacao/

Outros exemplos:
A globalização, que é um fenômeno econômico e cultu-
ral, está causando desemprego no Brasil e na América Lati-
na.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Questões
ESTRUTURA TEXTUAL
1-) (TRF/3ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO - FCC/2014
- adaptada)
Reunir-se para ouvir alguém ler tornou-se uma prática
necessária e comum no mundo laico da Idade Média. Até Primeiramente, o que nos faz produzir um texto é a ca-
a invenção da imprensa, a alfabetização era rara e os livros, pacidade que temos de pensar. Por meio do pensamento,
propriedade dos ricos, privilégio de um pequeno punhado elaboramos todas as informações que recebemos e orien-
de leitores. tamos as ações que interferem na realidade e organização
Embora alguns desses senhores afortunados ocasional- de nossos escritos. O que lemos é produto de um pensa-
mente emprestassem seus livros, eles o faziam para um nú- mento transformado em texto.
mero limitado de pessoas da própria classe ou família. Logo, como cada um de nós tem seu modo de pen-
(Adaptado de: MANGUEL, Alberto, op.cit.) sar, quando escrevemos sempre procuramos uma maneira
organizada do leitor compreender as nossas ideias. A fina-
Mantêm-se a correção e as relações de sentido estabe- lidade da escrita é direcionar totalmente o que você quer
lecidas no texto, substituindo-se Embora (2.º parágrafo) por dizer, por meio da comunicação.
(A) Contudo. Para isso, os elementos que compõem o texto se sub-
(B) Desde que. dividem em: introdução, desenvolvimento e conclusão. To-
(C) Porquanto. dos eles devem ser organizados de maneira equilibrada.
(D) Uma vez que.
(E) Conquanto. Introdução

1-) “Embora” é uma conjunção concessiva (apresenta Caracterizada pela entrada no assunto e a argumenta-
uma exceção à regra). A outra conjunção concessiva é “con- ção inicial. A ideia central do texto é apresentada nessa eta-
quanto”. pa. Essa apresentação deve ser direta, sem rodeios. O seu
RESPOSTA: “E”. tamanho raramente excede a 1/5 de todo o texto. Porém,
em textos mais curtos, essa proporção não é equivalente.
2-) (PRODEST/ES – ASSISTENTE ORGANIZACIONAL – Neles, a introdução pode ser o próprio título. Já nos textos
VUNESP/2014 - adaptada) Considere o trecho: “Se o senhor mais longos, em que o assunto é exposto em várias pági-
não se importa, vou levar minha sobrinha ao dentista, mas nas, ela pode ter o tamanho de um capítulo ou de uma par-
posso quebrar o galho e fazer sua corrida”. Esse trecho está te precedida por subtítulo. Nessa situação, pode ter vários
corretamente reescrito e mantém o sentido em: parágrafos. Em redações mais comuns, que em média têm
(A) Uma vez que o senhor não se importe, vou levar mi- de 25 a 80 linhas, a introdução será o primeiro parágrafo.
nha sobrinha ao dentista, assim que possa quebrar o galho
e fazer sua corrida. Desenvolvimento
(B) Já que o senhor não se importa, vou levar minha so-
brinha ao dentista, porque posso quebrar o galho e fazer A maior parte do texto está inserida no desenvol-
sua corrida. vimento, que é responsável por estabelecer uma ligação
(C) À medida que o senhor não se importe, vou levar entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa que são
minha sobrinha ao dentista, logo que possa quebrar o galho elaboradas as ideias, os dados e os argumentos que sus-
e fazer sua corrida. tentam e dão base às explicações e posições do autor. É ca-
(D) Caso o senhor não se importe, vou levar minha so- racterizado por uma “ponte” formada pela organização das
brinha ao dentista, no entanto posso quebrar o galho e fazer ideias em uma sequência que permite formar uma relação
sua corrida. equilibrada entre os dois lados.
(E) Para que o senhor não se importe, vou levar minha O autor do texto revela sua capacidade de discutir um
sobrinha ao dentista, todavia posso quebrar o galho e fazer determinado tema no desenvolvimento, e é através desse
sua corrida. que o autor mostra sua capacidade de defender seus pon-
tos de vista, além de dirigir a atenção do leitor para a con-
2-) “Se o senhor não se importa, vou levar minha so- clusão. As conclusões são fundamentadas a partir daqui.
brinha ao dentista, mas posso quebrar o galho e fazer sua Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo, o es-
corrida” critor já deve ter uma ideia clara de como será a conclusão.
O primeiro período é introduzido por uma conjunção Daí a importância em planejar o texto.
condicional (“se”); o segundo, conjunção adversativa. As Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no
conjunções apresentadas que têm a mesma classificação, mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido em
respectivamente, e que, por isso, poderiam substituir ade- capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Apresentar-
quadamente as destacadas no enunciado são “caso” e “no se-á no formato de parágrafos medianos e curtos.
entanto”. Acredito que, mesmo que você não saiba a clas- Os principais erros cometidos no desenvolvimento são
sificação das conjunções, conseguiria responder à questão o desvio e a desconexão da argumentação. O primeiro está
apenas utilizando a coerência: as demais alternativas não relacionado ao autor tomar um argumento secundário que
a têm. se distancia da discussão inicial, ou quando se concentra
RESPOSTA: “D”. em apenas um aspecto do tema e esquece o seu todo. O

90
LÍNGUA PORTUGUESA

segundo caso acontece quando quem redige tem muitas


ideias ou informações sobre o que está sendo discutido, REDAÇÃO OFICIAL
não conseguindo estruturá-las. Surge também a dificul-
dade de organizar seus pensamentos e definir uma linha
lógica de raciocínio.
Pronomes de tratamento na redação oficial
Conclusão
A redação oficial é a maneira utilizada pelo poder públi-
Considerada como a parte mais importante do texto, co para redigir atos normativos. Para redigi-los, muitas regras
é o ponto de chegada de todas as argumentações elabo- fazem-se necessárias. Entre elas, escrever de forma clara, con-
radas. As ideias e os dados utilizados convergem para essa cisa, sem muito comprometimento, bem como um uso ade-
parte, em que a exposição ou discussão se fecha. quado das formas de tratamento. Tais regras, acompanhadas
Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma de uma boa redação, com um bom uso da linguagem, asse-
brecha para uma possível continuidade do assunto; ou seja, guram que os atos normativos sejam bem executados.
possui atributos de síntese. A discussão não deve ser en- No Poder Público, nós nos deparamos com situações em
cerrada com argumentos repetitivos, como por exemplo: que precisamos escrever – ou falar – com pessoas com as
“Portanto, como já dissemos antes...”, “Concluindo...”, “Em quais não temos familiaridade. Nestes casos, os pronomes de
conclusão...”. tratamento assumem uma condição e precisam estar adequa-
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve dos à categoria hierárquica da pessoa a quem nos dirigimos.
ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das E mais, exige-se, em discurso falado ou escrito, uma homoge-
características de textos bem redigidos. neidade na forma de tratamento, não só nos pronomes como
Os seguintes erros aparecem quando as conclusões fi- também nos verbos. No entanto, as formas de tratamento
cam muito longas: não são do conhecimento de todos.
Abaixo, seguem as discriminações de usos dos pronomes
- O problema aparece quando não ocorre uma explo- de tratamento, com base no Manual da Presidência da Repú-
ração devida do desenvolvimento, o que gera uma invasão blica.
das ideias de desenvolvimento na conclusão.
- Outro fator consequente da insuficiência de funda- São de uso consagrado:
mentação do desenvolvimento está na conclusão precisar
de maiores explicações, ficando bastante vazia. Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
- Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no tex- a) do Poder Executivo
to em que o autor fica girando em torno de ideias redun- Presidente da República, Vice-Presidente da República, Mi-
dantes ou paralelas. nistro de Estado, Secretário-Geral da Presidência da República,
- Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeitamen- Consultor-Geral da República, Chefe do Estado-Maior das For-
te dispensáveis. ças Armadas, Chefe do Gabinete Militar da Presidência da Re-
- Quando não tem clareza de qual é a melhor conclu- pública, Chefe do Gabinete Pessoal do Presidente da República,
são, o autor acaba se perdendo na argumentação final. Secretários da Presidência da República, Procurador – Geral da
República, Governadores e Vice-Governadores de Estado e do
Em relação à abertura para novas discussões, a con- Distrito Federal, Chefes de Estado – Maior das Três Armas, Ofi-
clusão não pode ter esse formato, exceto pelos seguintes ciais Generais das Forças Armadas, Embaixadores, Secretário
fatores: Executivo e Secretário Nacional de Ministérios, Secretários de
- Para não influenciar a conclusão do leitor sobre temas Estado dos Governos Estaduais, Prefeitos Municipais.
polêmicos, o autor deixa a conclusão em aberto.
- Para estimular o leitor a ler uma possível continuidade b) do Poder Legislativo:
do texto, o autor não fecha a discussão de propósito. Presidente, Vice–Presidente e Membros da Câmara dos
- Por apenas apresentar dados e informações sobre o Deputados e do Senado Federal, Presidente e Membros do Tri-
tema a ser desenvolvido, o autor não deseja concluir o as- bunal de Contas da União, Presidente e Membros dos Tribunais
sunto. de Contas Estaduais, Presidente e Membros das Assembleias
- Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o autor Legislativas Estaduais, Presidente das Câmaras Municipais.
enumera algumas perguntas no final do texto.
c) do Poder Judiciário:
A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o au- Presidente e Membros do Supremo Tribunal Federal, Presi-
tor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técnica dente e Membros do Superior Tribunal de Justiça, Presidente e
é um roteiro, em que estão presentes os planejamentos. Membros do Superior Tribunal Militar, Presidente e Membros do
Naquele devem estar indicadas as melhores sequências a Tribunal Superior Eleitoral, Presidente e Membros do Tribunal
serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais enxuto Superior do Trabalho, Presidente e Membros dos Tribunais de
possível. Justiça, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Fede-
rais, Presidente e Membros dos Tribunais Regionais Eleitorais,
Fonte de pesquisa: Presidente e Membros dos Tribunais Regionais do Trabalho,
http://producao-de-textos.info/mos/view/Caracter%- Juízes e Desembargadores, Auditores da Justiça Militar.
C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/

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LÍNGUA PORTUGUESA

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas A Impessoalidade


aos Chefes do Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do car- A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer
go respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; pela escrita. Para que haja comunicação, são necessários: a)
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Ex- alguém que comunique; b) algo a ser comunicado; c) alguém
celentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. que receba essa comunicação. No caso da redação oficial,
E mais: As demais autoridades serão tratadas com o vo- quem comunica é sempre o Serviço Público (este ou aquele
cativo Senhor, seguido do cargo respectivo: Senhor Senador, Ministério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção);
Senhor Juiz, Senhor Ministro, Senhor Governador. o que se comunica é sempre algum assunto relativo às atri-
O Manual ainda preceitua que a forma de tratamento buições do órgão que comunica; o destinatário dessa comu-
“Digníssimo” fica abolida para as autoridades descritas acima, nicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro
afinal, a dignidade é condição primordial para que tais cargos órgão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União.
públicos sejam ocupados. Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve
Fica ainda dito que doutor não é forma de tratamento, ser dado aos assuntos que constam das comunicações oficiais
mas titulação acadêmica de quem defende tese de douto- decorre:
rado. Portanto, é aconselhável que não se use discriminada- a) da ausência de impressões individuais de quem comu-
mente tal termo. nica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assina-
do por Chefe de determinada Seção, é sempre em nome do
As Comunicações Oficiais Serviço Público que é feita a comunicação. Obtém-se, assim,
uma desejável padronização, que permite que comunicações
1. Aspectos Gerais da Redação Oficial elaboradas em diferentes setores da Administração guardem
entre si certa uniformidade;
O que é Redação Oficial b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação,
com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão,
Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a ma- sempre concebido como público, ou a outro órgão público.
neira pela qual o Poder Público redige atos normativos Nos dois casos, temos um destinatário concebido de forma
e comunicações. Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do homogênea e impessoal;
Poder Executivo. c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o
A redação oficial deve caracterizar-se pela impessoalida- universo temático das comunicações oficiais restringe-se a
de, uso do padrão culto de linguagem, clareza, concisão, for- questões que dizem respeito ao interesse público, é natural
malidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos que não caiba qualquer tom particular ou pessoal.
decorrem da Constituição, que dispõe, no artigo 37: “A admi- Desta forma, não há lugar na redação oficial para impres-
nistração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer sões pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoali- mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser isenta
dade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. Sendo a publi- da interferência da individualidade que a elabora.
cidade e a impessoalidade princípios fundamentais de toda A concisão, a clareza, a objetividade e a formalidade de
administração pública, claro que devem igualmente nortear a que nos valemos para elaborar os expedientes oficiais con-
elaboração dos atos e comunicações oficiais. tribuem, ainda, para que seja alcançada a necessária impes-
Não se concebe que um ato normativo de qualquer na- soalidade.
tureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou im-
possibilite sua compreensão. A transparência do sentido dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
atos normativos, bem como sua inteligibilidade, são requisitos A necessidade de empregar determinado nível de lingua-
do próprio Estado de Direito: é inaceitável que um texto le- gem nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do
gal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade implica, próprio caráter público desses atos e comunicações; de outro,
pois, necessariamente, clareza e concisão. de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos
Fica claro também que as comunicações oficiais são ne- de caráter normativo, ou estabelecem regras para a conduta
cessariamente uniformes, pois há sempre um único comuni- dos cidadãos, ou regulam o funcionamento dos órgãos públi-
cador (o Serviço Público) e o receptor dessas comunicações cos, o que só é alcançado se em sua elaboração for empre-
ou é o próprio Serviço Público (no caso de expedientes dirigi- gada a linguagem adequada. O mesmo se dá com os expe-
dos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos cidadãos ou dientes oficiais, cuja finalidade precípua é a de informar com
instituições tratados de forma homogênea (o público). clareza e objetividade.
A redação oficial não é necessariamente árida e infensa à As comunicações que partem dos órgãos públicos fede-
evolução da língua. É que sua finalidade básica – comunicar rais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidadão
com impessoalidade e máxima clareza – impõe certos parâ- brasileiro. Para atingir esse objetivo, há que evitar o uso de
metros ao uso que se faz da língua, de maneira diversa da- uma linguagem restrita a determinados grupos. Não há dú-
quele da literatura, do texto jornalístico, da correspondência vida de que um texto marcado por expressões de circulação
particular, etc. restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou o jar-
Apresentadas essas características fundamentais da re- gão técnico, tem sua compreensão dificultada.
dação oficial, passemos à análise pormenorizada de cada Ressalte-se que há necessariamente uma distância en-
uma delas. tre a língua falada e a escrita. Aquela é extremamente dinâ-
mica, reflete de forma imediata qualquer alteração de cos-

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tumes, e pode eventualmente contar com outros elementos Concisão e Clareza


que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a entoação, A concisão é antes uma qualidade do que uma caracte-
etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsáveis rística do texto oficial. Conciso é o texto que consegue trans-
por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lenta- mitir o máximo de informações com um mínimo de palavras.
mente as transformações, tem maior vocação para a perma- Para que se redija com essa qualidade, é fundamental que se
nência e vale-se apenas de si mesma para comunicar. tenha, além de conhecimento do assunto sobre o qual se es-
Os textos oficiais, devido ao seu caráter impessoal e sua creve, o necessário tempo para revisar o texto depois de pron-
finalidade de informar com o máximo de clareza e concisão, to. É nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais
requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso de redundâncias ou repetições desnecessárias de ideias.
que o padrão culto é aquele em que se observam as regras O esforço de sermos concisos atende, basicamente, ao
da gramática formal e se emprega um vocabulário comum princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de
ao conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar empregar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não
que a obrigatoriedade do uso do padrão culto na redação se deve, de forma alguma, entendê-la como economia de
oficial decorre do fato de que ele está acima das diferenças pensamento, isto é, não se devem eliminar passagens subs-
lexicais, morfológicas ou sintáticas regionais, dos modismos tanciais do texto no afã de reduzi-lo em tamanho. Trata-se
vocabulares, das idiossincrasias linguísticas, permitindo, por exclusivamente de cortar palavras inúteis, redundâncias, pas-
essa razão, que se atinja a pretendida compreensão por todos sagens que nada acrescentem ao que já foi dito.
os cidadãos. A clareza deve ser a qualidade básica de todo texto ofi-
Lembre-se de que o padrão culto nada tem contra a sim- cial. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita
plicidade de expressão, desde que não seja confundida com imediata compreensão pelo leitor. No entanto, a clareza não
pobreza de expressão. De nenhuma forma o uso do padrão é algo que se atinja por si só: ela depende estritamente das
culto implica emprego de linguagem rebuscada, nem dos demais características da redação oficial. Para ela concorrem:
contorcionismos sintáticos e figuras de linguagem próprios - a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpre-
da língua literária. tações que poderia decorrer de um tratamento personalista
Pode-se concluir, então, que não existe propriamente um dado ao texto;
“padrão oficial de linguagem”; o que há é o uso do padrão - o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de
culto nos atos e comunicações oficiais. É claro que haverá pre- entendimento geral e por definição avesso a vocábulos de
ferência pelo uso de determinadas expressões, ou será obe- circulação restrita, como a gíria e o jargão;
decida certa tradição no emprego das formas sintáticas, mas - a formalidade e a padronização, que possibilitam a im-
isso não implica, necessariamente, que se consagre a utiliza- prescindível uniformidade dos textos;
ção de uma forma de linguagem burocrática. O jargão buro- - a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos
crático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre linguísticos que nada lhe acrescentam.
sua compreensão limitada. É pela correta observação dessas características que se
A linguagem técnica deve ser empregada apenas em redige com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável relei-
situações que a exijam, evitando o seu uso indiscriminado. tura de todo texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais,
Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vocabulário de trechos obscuros e de erros gramaticais provém, principal-
próprio à determinada área, são de difícil entendimento por mente, da falta da releitura que torna possível sua correção.
quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cui- A revisão atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa
dado, portanto, de explicitá-los em comunicações encami- com que são elaboradas certas comunicações quase sempre
nhadas a outros órgãos da administração e em expedientes compromete sua clareza. Não se deve proceder à redação de
dirigidos aos cidadãos. um texto que não seja seguida por sua revisão. “Não há as-
suntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Evite-se,
Formalidade e Padronização pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir.
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto
é, obedecem a certas regras de forma: além das já mencio- Pronomes de Tratamento
nadas exigências de impessoalidade e uso do padrão culto Concordância com os Pronomes de Tratamento
de linguagem, é imperativo, ainda, certa formalidade de tra- Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indi-
tamento. Não se trata somente da eterna dúvida quanto ao reta) apresentam certas peculiaridades quanto à concordân-
correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento cia verbal, nominal e pronominal. Embora se refiram à segun-
para uma autoridade de certo nível; mais do que isso, a for- da pessoa gramatical (à pessoa com quem se fala, ou a quem
malidade diz respeito à polidez, à civilidade no próprio enfo- se dirige a comunicação), levam a concordância para a terceira
que dado ao assunto do qual cuida a comunicação. pessoa. É que o verbo concorda com o substantivo que in-
A formalidade de tratamento vincula-se, também, à ne- tegra a locução como seu núcleo sintático: “Vossa Senhoria
cessária uniformidade das comunicações. Ora, se a administra- nomeará o substituto”; “Vossa Excelência conhece o assunto”.
ção federal é una, é natural que as comunicações que expede Da mesma forma, os pronomes possessivos referidos a
sigam um mesmo padrão. O estabelecimento desse padrão pronomes de tratamento são sempre os da terceira pessoa:
exige que se atente para todas as características da redação “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos-
oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. so...”).
A clareza datilográfica, o uso de papéis uniformes para Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o
o texto definitivo e a correta diagramação do texto são in- gênero gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que
dispensáveis para a padronização. se refere, e não com o substantivo que compõe a locução.

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Assim, se nosso interlocutor for homem, o correto é “Vossa - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de
Excelência está atarefado”, “Vossa Senhoria deve estar satis- corpo 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas
feito”; se for mulher, “Vossa Excelência está atarefada”, “Vossa de rodapé;
Senhoria deve estar satisfeita”. - para símbolos não existentes na fonte Times New Ro-
No envelope, o endereçamento das comunicações diri- man poder-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings;
gidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a se- - é obrigatório constar a partir da segunda página o
guinte forma: número da página;
- os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
A Sua Excelência o Senhor impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as mar-
Fulano de Tal gens esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas
Ministro de Estado da Justiça páginas pares (“margem espelho”);
70.064-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral esquerda terá,
no mínimo, 3,0 cm de largura;
A Sua Excelência o Senhor
- o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
Senador Fulano de Tal
distância da margem esquerda;
Senado Federal
70.165-900 – Brasília. DF - o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5
cm;
Senhor Ministro, - deve ser utilizado espaçamento simples entre as li-
Submeto a Vossa Excelência projeto (...) nhas e de 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor
de texto utilizado não comportar tal recurso, de uma linha
Fechos para Comunicações em branco;
O fecho das comunicações oficiais possui, além da fina- - não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sub-
lidade de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os linhado, letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bor-
modelos para fecho que vinham sendo utilizados foram re- das ou qualquer outra forma de formatação que afete a
gulados pela Portaria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, elegância e a sobriedade do documento;
que estabelecia quinze padrões. Com o fito de simplificá-los - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
e uniformiza-los, este Manual estabelece o emprego de so- papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas
mente dois fechos diferentes para todas as modalidades de para gráficos e ilustrações;
comunicação oficial: - todos os tipos de documentos do Padrão Ofício de-
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente vem ser impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7
da República: Respeitosamente, x 21,0 cm;
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hie- - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de
rarquia inferior: Atenciosamente, arquivo Rich Text nos documentos de texto;
- dentro do possível, todos os documentos elabora-
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas dos devem ter o arquivo de texto preservado para consulta
a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição pró- posterior ou aproveitamento de trechos para casos análo-
prios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do gos;
Ministério das Relações Exteriores. - para facilitar a localização, os nomes dos arquivos de-
vem ser formados da seguinte maneira:
Identificação do Signatário
tipo do documento + número do documento + pala-
Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da
vras-chaves do conteúdo
República, todas as demais comunicações oficiais devem trazer
Ex.: “Of. 123 - relatório produtividade ano 2002”
o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local
de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
Aviso e Ofício
(espaço para assinatura)
Nome Definição e Finalidade
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial
praticamente idênticas. A única diferença entre eles é que
(espaço para assinatura) o aviso é expedido exclusivamente por Ministros de Estado,
Nome para autoridades de mesma hierarquia, ao passo que o ofí-
Ministro de Estado da Justiça cio é expedido para e pelas demais autoridades. Ambos têm
como finalidade o tratamento de assuntos oficiais pelos ór-
Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assi- gãos da Administração Pública entre si e, no caso do ofício,
natura em página isolada do expediente. Transfira para essa também com particulares.
página ao menos a última frase anterior ao fecho.
Forma e Estrutura
Forma de diagramação Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo
Os documentos do Padrão Ofício devem obedecer à do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o
seguinte forma de apresentação: destinatário, seguido de vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Exemplos: Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente


Excelentíssimo Senhor Presidente da República da República por um Ministro de Estado.
Senhora Ministra Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um
Senhor Chefe de Gabinete Ministério, a exposição de motivos deverá ser assinada por to-
dos os Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as de interministerial.
seguintes informações do remetente:
– nome do órgão ou setor; Forma e Estrutura - Formalmente, a exposição de mo-
– endereço postal; tivos tem a apresentação do padrão ofício. A exposição de
– telefone e e-mail. motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas for-
mas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter
Observação: Estas informações estão ausentes no exclusivamente informativo e outra para a que proponha al-
guma medida ou submeta projeto de ato normativo.
memorando, pois se trata de comunicação interna - des-
No primeiro caso, o da exposição de motivos que sim-
tinatário e remetente possuem o mesmo endereço. Se o
plesmente leva algum assunto ao conhecimento do Presiden-
Aviso é de um Ministério para outro Ministério, também
te da República, sua estrutura segue o modelo antes referido
não precisa especificar o endereço. O Ofício é enviado para para o padrão ofício.
outras instituições, logo, são necessárias as informações do
remetente e o endereço do destinatário para que o ofício Mensagem
possa ser entregue e o remetente possa receber resposta.
Definição e Finalidade - É o instrumento de comunica-
Memorando ção oficial entre os Chefes dos Poderes Públicos, notadamente
as mensagens enviadas pelo Chefe do Poder Executivo ao Poder
Definição e Finalidade Legislativo para informar sobre fato da Administração Pública,
O memorando é a modalidade de comunicação entre expor o plano de governo por ocasião da abertura de sessão
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem legislativa, submeter ao Congresso Nacional matérias que de-
estar hierarquicamente em mesmo nível ou em nível dife- pendem de deliberação de suas Casas, apresentar veto, enfim,
rente. Trata-se, portanto, de uma forma de comunicação fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja de inte-
eminentemente interna. resse dos poderes públicos e da Nação.
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser em- Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos Mi-
pregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes, nistérios à Presidência da República, a cujas assessorias caberá
etc. a serem adotados por determinado setor do serviço a redação final.
público. As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Con-
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação gresso Nacional têm as seguintes finalidades:
do memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela ra- - encaminhamento de projeto de lei ordinária, comple-
pidez e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. mentar ou financeira;
Para evitar desnecessário aumento do número de comu- - encaminhamento de medida provisória;
nicações, os despachos ao memorando devem ser dados - indicação de autoridades;
no próprio documento e, no caso de falta de espaço, em - pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Pre-
folha de continuação. Este procedimento permite formar sidente da República ausentarem-se do País por mais de 15
dias;
uma espécie de processo simplificado, assegurando maior
- encaminhamento de atos de concessão e renovação de
transparência à tomada de decisões e permitindo que se
concessão de emissoras de rádio e TV;
historie o andamento da matéria tratada no memorando.
- encaminhamento das contas referentes ao exercício an-
terior;
Forma e Estrutura - mensagem de abertura da sessão legislativa;
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do - comunicação de sanção (com restituição de autógrafos);
padrão ofício, com a diferença de que o seu destinatário - comunicação de veto;
deve ser mencionado pelo cargo que ocupa. Ex: - outras mensagens.

Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Forma e Estrutura - As mensagens contêm:


Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos a) a indicação do tipo de expediente e de seu número,
horizontalmente, no início da margem esquerda;
Exposição de Motivos b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o
cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem
Definição e Finalidade - Exposição de motivos é o ex- esquerda (Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Fede-
pediente dirigido ao Presidente da República ou ao Vice-Pre- ral);
sidente para: c) o texto, iniciando a 2,0 cm do vocativo;
a) informá-lo de determinado assunto; b) propor algu- d) o local e a data, verticalmente a 2,0 cm do final do
ma medida; ou c) submeter a sua consideração projeto de texto, e horizontalmente fazendo coincidir seu final com a
ato normativo. margem direita.

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LÍNGUA PORTUGUESA

A mensagem, como os demais atos assinados pelo Pre- Forma e Estrutura - Um dos atrativos de comunica-
sidente da República, não traz identificação de seu signa- ção por correio eletrônico é sua flexibilidade. Assim, não
tário. interessa definir forma rígida para sua estrutura. Entretanto,
deve-se evitar o uso de linguagem incompatível com uma
Telegrama comunicação oficial.
O campo “assunto” do formulário de correio eletrôni-
Definição e Finalidade - Com o fito de uniformizar a co mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a
terminologia e simplificar os procedimentos burocráticos, organização documental tanto do destinatário quanto do
passa a receber o título de telegrama toda comunicação remetente.
oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Para os arquivos anexados à mensagem, deve ser utili-
Por tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos zado, preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem
cofres públicos e tecnologicamente superada, deve restringir- que encaminha algum arquivo deve trazer informações mí-
se o uso do telegrama apenas àquelas situações que não seja nimas sobre seu conteúdo.
possível o uso de correio eletrônico ou fax e que a urgência Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de con-
justifique sua utilização. Em razão de seu custo elevado, esta firmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
forma de comunicação deve pautar-se pela concisão. na mensagem o pedido de confirmação de recebimento.
Forma e Estrutura - Não há padrão rígido, devendo- Valor documental - Nos termos da legislação em vi-
se seguir a forma e a estrutura dos formulários disponíveis gor, para que a mensagem de correio eletrônico tenha valor
nas agências dos Correios e em seu sítio na Internet. documental, e para que possa ser aceito como documento
original, é necessário existir certificação digital que ateste
Fax a identidade do remetente, na forma estabelecida em lei.

Definição e Finalidade - O fax (forma abreviada já Elementos de Ortografia e Gramática


consagrada de fac-símile) é uma forma de comunicação
que está sendo menos usada devido ao desenvolvimento Problemas de Construção de Frases
da Internet. É utilizado para a transmissão de mensagens
urgentes e para o envio antecipado de documentos, de A clareza e a concisão na forma escrita são alcançadas,
cujo conhecimento há premência, quando não há condi- principalmente, pela construção adequada da frase, “a me-
ções de envio do documento por meio eletrônico. Quando nor unidade autônoma da comunicação”, na definição de
necessário o original, ele segue posteriormente pela via e Celso Pedro Luft.
na forma de praxe. A função essencial da frase é desempenhada pelo pre-
Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com có-
dicado, que, para Adriano da Gama Kury, pode ser entendi-
pia do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos
do como “a enunciação pura de um fato qualquer”. Sempre
modelos, deteriora-se rapidamente.
que a frase possuir pelo menos um verbo, recebe o nome
de período, que terá tantas orações quantos forem os ver-
Forma e Estrutura - Os documentos enviados por fax
bos não auxiliares que o constituem.
mantêm a forma e a estrutura que lhes são inerentes.
Outra função relevante é a do sujeito – mas não indis-
É conveniente o envio, juntamente com o documento
pensável, pois há orações sem sujeito, ditas impessoais –,
principal, de folha de rosto e de pequeno formulário com
os dados de identificação da mensagem a ser enviada, con- de quem se diz algo, cujo núcleo é sempre um substantivo.
forme exemplo a seguir: Sempre que o verbo o exigir, teremos nas orações substan-
tivos (nomes ou pronomes) que desempenham a função
[Órgão Expedidor] de complementos (objetos direto e indireto, predicativo e
[setor do órgão expedidor] complemento adverbial). Função acessória desempenham
[endereço do órgão expedidor] os adjuntos adverbiais, que vêm geralmente ao final da
Destinatário:____________________________________ oração, mas que podem ser ou intercalados aos elementos
No do fax de destino:_______________ Data:___/___/___ que desempenham as outras funções, ou deslocados para
Remetente: ____________________________________ o início da oração.
Tel. p/ contato:____________ Fax/correio eletrônico:____ Temos, assim, a seguinte ordem de colocação dos ele-
No de páginas: ________ No do documento:____________ mentos que compõem uma oração (Observação: os parên-
teses indicam os elementos que podem não ocorrer):
Observações:___________________________________
(sujeito) - verbo - (complementos) - (adjunto adverbial).
Correio Eletrônico
Podem ser identificados seis padrões básicos para as
Definição e finalidade - O correio eletrônico (“e-mail”), orações pessoais (isto é, com sujeito) na língua portuguesa
por seu baixo custo e celeridade, transformou-se na princi- (a função que vem entre parênteses é facultativa e pode
pal forma de comunicação para transmissão de documen- ocorrer em ordem diversa):
tos.
1. Sujeito - verbo intransitivo - (Adjunto Adverbial)

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LÍNGUA PORTUGUESA

O Presidente - regressou - (ontem). Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.

2. Sujeito - verbo transitivo direto - objeto direto - (ad- Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).
junto adverbial) Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).
O Chefe da Divisão - assinou - o termo de posse - (na
manhã de terça-feira). Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).
3. Sujeito - verbo transitivo indireto - objeto indireto -
(adjunto adverbial). Frases Fragmentadas
O Brasil - precisa - de gente honesta - (em todos os se- A fragmentação de frases “consiste em pontuar uma
tores). oração subordinada ou uma simples locução como se fosse
uma frase completa”. Decorre da pontuação errada de uma
frase simples. Embora seja usada como recurso estilístico na
4. Sujeito - verbo transitivo direto e indireto - obj. dire-
literatura, a fragmentação de frases deve ser evitada nos
to - obj. indireto - (adj. Adv.)
textos oficiais, pois muitas vezes dificulta a compreensão.
Os desempregados - entregaram - suas reivindicações -
Exemplo:
ao Deputado - (no Congresso). Errado: O programa recebeu a aprovação do Congresso
5. Sujeito - verbo transitivo indireto - complemento ad- Nacional. Depois de ser longamente debatido.
verbial - (adjunto adverbial) Certo: O programa recebeu a aprovação do Congresso
A reunião do Grupo de Trabalho - ocorrerá - em Buenos Nacional, depois de ser longamente debatido.
Aires - (na próxima semana). Certo: Depois de ser longamente debatido, o programa re-
O Presidente - voltou - da Europa - (na sexta-feira) cebeu a aprovação do Congresso Nacional.

6. Sujeito - verbo de ligação - predicativo - (adjunto ad- Errado: O projeto de Convenção foi oportunamente sub-
verbial) metido ao Presidente da República, que o aprovou. Consultadas
O problema - será - resolvido - prontamente. as áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
Certo: O projeto de Convenção foi oportunamente subme-
Estes seriam os padrões básicos para as orações, ou seja, tido ao Presidente da República, que o aprovou, consultadas as
as frases que possuem apenas um verbo conjugado. Na cons- áreas envolvidas na elaboração do texto legal.
trução de períodos, as várias funções podem ocorrer em or-
dem inversa à mencionada, misturando-se e confundindo-se. Erros de Paralelismo
Não interessa aqui análise exaustiva de todos os padrões exis- Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita
tentes na língua portuguesa. O que importa é fixar a ordem “consiste em apresentar ideias similares numa forma gramati-
normal dos elementos nesses seis padrões básicos. Acrescen- cal idêntica”, o que se chama de paralelismo. Assim, incorre-se
te-se que períodos mais complexos, compostos por duas ou em erro ao conferir forma não paralela a elementos paralelos.
mais orações, em geral podem ser reduzidos aos padrões bá- Vejamos alguns exemplos:
sicos (de que derivam).
Os problemas mais frequentemente encontrados na Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios eco-
construção de frases dizem respeito à má pontuação, à am- nomizar energia e que elaborassem planos de redução de despesas.
biguidade da ideia expressa, à elaboração de falsos paralelis-
Na frase temos, nas duas orações subordinadas que com-
mos, erros de comparação, etc. Decorrem, em geral, do des-
pletam o sentido da principal, duas estruturas diferentes para
conhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a
ideias equivalentes: a primeira oração (economizar energia) é
seguir, alguns desses defeitos mais comuns e recorrentes na
reduzida de infinitivo, enquanto a segunda (que elaborassem
construção de frases, registrados em documentos oficiais. planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma
Sujeito possibilidade de escrevê-la com clareza e correção; uma seria
Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que exe- a de apresentar as duas orações subordinadas como desen-
cuta a ação enunciada na oração. Ele pode ter complemen- volvidas, introduzidas pela conjunção integrante que:
to, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto,
construções como: Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
que economizassem energia e (que) elaborassem planos para
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda. redução de despesas.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas
Errado: Apesar das relações entre os países estarem cor- como reduzidas de infinitivo:
tadas, (...). Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios
Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cor- economizar energia e elaborar planos para redução de despesas.
tadas, (...).
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na
Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim. coordenação de orações subordinadas.

97
LÍNGUA PORTUGUESA

Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta: Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o de
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não um médico.
ser inseguro, inteligência e ter ambição.
Errado: O alcance do Decreto é diferente da Portaria.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (subs- Novamente, a não repetição dos termos comparados
tantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). confunde. Alternativas para correção:
Para tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por Certo: O alcance do Decreto é diferente do alcance da Por-
transformá-la em frase simples, substituindo as orações redu- taria.
zidas por substantivos: Certo: O alcance do Decreto é diferente do da Portaria.
Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segu- Errado: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas
rança, inteligência e ambição. do que os Ministérios do Governo.
No exemplo acima, a omissão da palavra “outros” (ou
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso pa- “demais”) acarretou imprecisão:
ralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela (equivalente) Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, que os outros Ministérios do Governo.
de forma paralela, estruturas sintáticas distintas: Certo: O Ministério da Educação dispõe de mais verbas do
Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa. que os demais Ministérios do Governo.
Ambiguidade
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Pa-
ris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma possibilidade Ambígua é a frase ou oração que pode ser tomada em
de correção é transformá-la em duas frases simples, com o mais de um sentido. Como a clareza é requisito básico de
cuidado de não repetir o verbo da primeira (visitar): todo texto oficial, deve-se atentar para as construções que
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta últi- possam gerar equívocos de compreensão.
ma capital, encontrou-se com o Papa. A ambiguidade decorre, em geral, da dificuldade de
identificar a qual palavra se refere um pronome que possui
Mencionemos, por fim, o falso paralelismo provocado mais de um antecedente na terceira pessoa. Pode ocorrer
pelo uso inadequado da expressão “e que” num período que com:
não contém nenhum “que” anterior.
Errado: O novo procurador é jurista renomado, e que tem - pronomes pessoais:
sólida formação acadêmica. Ambíguo: O Ministro comunicou a seu secretariado que
ele seria exonerado.
Para corrigir a frase, suprimimos o pronome relativo: Claro: O Ministro comunicou exoneração dele a seu se-
Certo: O novo procurador é jurista renomado e tem sólida cretariado.
formação acadêmica. Ou então, caso o entendimento seja outro:
Claro: O Ministro comunicou a seu secretariado a exo-
Outro exemplo de falso paralelismo com “e que”: neração deste.
Errado: Neste momento, não se devem adotar medidas
precipitadas, e que comprometam o andamento de todo o pro- - pronomes possessivos e pronomes oblíquos:
grama. Ambíguo: O Deputado saudou o Presidente da Repúbli-
Da mesma forma com que corrigimos o exemplo anterior, ca, em seu discurso, e solicitou sua intervenção no seu Esta-
aqui podemos suprimir a conjunção: do, mas isso não o surpreendeu.
Certo: Neste momento, não se devem adotar medidas pre- Observe a multiplicidade de ambiguidade no exemplo
cipitadas, que comprometam o andamento de todo o progra- acima, a qual torna incompreensível o sentido da frase.
ma. Claro: Em seu discurso o Deputado saudou o Presidente
da República. No pronunciamento, solicitou a intervenção
Erros de Comparação
federal em seu Estado, o que não surpreendeu o Presidente
da República.
A omissão de certos termos ao fazermos uma compara-
ção, omissão própria da língua falada, deve ser evitada na lín-
- pronome relativo:
gua escrita, pois compromete a clareza do texto: nem sempre
Ambíguo: Roubaram a mesa do gabinete em que eu
é possível identificar, pelo contexto, qual o termo omitido. A
costumava trabalhar.
ausência indevida de um termo pode impossibilitar o enten-
dimento do sentido que se quer dar a uma frase: Não fica claro se o pronome relativo da segunda ora-
ção faz referência “à mesa” ou “a gabinete”. Esta ambigui-
Errado: O salário de um professor é mais baixo do que um dade se deve ao pronome relativo “que”, sem marca de gê-
médico. nero. A solução é recorrer às formas o qual, a qual, os quais,
A omissão de termos provocou uma comparação indevi- as quais, que marcam gênero e número.
da: “o salário de um professor” com “um médico”. Claro: Roubaram a mesa do gabinete no qual eu costu-
Certo: O salário de um professor é mais baixo do que o mava trabalhar.
salário de um médico. Se o entendimento é outro, então:

98
LÍNGUA PORTUGUESA

Claro: Roubaram a mesa do gabinete na qual eu costu- dos pronomes de tratamento apresentados nas alternati-
mava trabalhar. vas, o pronome demonstrativo será “sua”. Descartamos, en-
tão, os itens A, C e E. Agora recorramos ao pronome ade-
Há, ainda, outro tipo de ambiguidade, que decorre da quado a ser utilizado para deputados. Segundo o Manual
dúvida sobre a que se refere a oração reduzida: de Redação Oficial, temos:
Ambíguo: Sendo indisciplinado, o Chefe admoestou o Vossa Excelência, para as seguintes autoridades:
funcionário. b) do Poder Legislativo: Presidente, Vice–Presidente e
Para evitar o tipo de ambiguidade do exemplo acima, Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
deve-se deixar claro qual o sujeito da oração reduzida. (...).
Claro: O Chefe admoestou o funcionário por ser este RESPOSTA: “D”.
indisciplinado.
2-) (ANTAQ – ESPECIALISTA EM REGULAÇÃO DE SER-
Ambíguo: Depois de examinar o paciente, uma senhora VIÇOS DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS – CESPE/2014)
chamou o médico. Considerando aspectos estruturais e linguísticos das cor-
Claro: Depois que o médico examinou o paciente, foi respondências oficiais, julgue os itens que se seguem, de
chamado por uma senhora. acordo com o Manual de Redação da Presidência da Re-
pública.
O tratamento Digníssimo deve ser empregado para to-
Fontes de pesquisa:
das as autoridades do poder público, uma vez que a dig-
http://www.redacaooficial.com.br/redacao_oficial_pu-
nidade é tida como qualidade inerente aos ocupantes de
blicacoes_ver.php?id=2
cargos públicos.
http://portuguesxconcursos.blogspot.com.br/p/reda-
( ) CERTO ( ) ERRADO
cao-oficial-para-concursos.html
2-) Vamos ao Manual: O Manual ainda preceitua que a
Questões forma de tratamento “Digníssimo” fica abolida (...) afinal, a
dignidade é condição primordial para que tais cargos públi-
1-) (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014) cos sejam ocupados.
Leia o seguinte fragmento de um ofício, citado do Manual Fonte: http://www.redacaooficial.com.br/redacao_ofi-
de Redação da Presidência da República, no qual expres- cial_publicacoes_ver.php?id=2
sões foram substituídas por lacunas. RESPOSTA: “ERRADO”.

Senhor Deputado 3-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA/SE – TÉCNICO JUDICIÁRIO


Em complemento às informações transmitidas pelo te- – CESPE/2014) Em toda comunicação oficial, exceto nas di-
legrama n.º 154, de 24 de abril último, informo _____ de que recionadas a autoridades estrangeiras, deve-se fazer uso
as medidas mencionadas em ______ carta n.º 6708, dirigida dos fechos Respeitosamente ou Atenciosamente, de acor-
ao Senhor Presidente da República, estão amparadas pelo do com as hierarquias do destinatário e do remetente.
procedimento administrativo de demarcação de terras in- ( ) CERTO (
dígenas instituído pelo Decreto n.º 22, de 4 de fevereiro de ) ERRADO
1991 (cópia anexa).
(http://www.planalto.gov.br. Adaptado) 3-) Segundo o Manual de Redação Oficial: (...) Manual
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes
A alternativa que completa, correta e respectivamen- para todas as modalidades de comunicação oficial:
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente
da língua portuguesa e atendendo às orientações oficiais da República: Respeitosamente,
a respeito do uso de formas de tratamento em correspon- b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierar-
quia inferior: Atenciosamente,
dências públicas, é:
Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigi-
A) Vossa Senhoria … tua.
das a autoridades estrangeiras, que atendem a rito e tra-
B) Vossa Magnificência … sua.
dição próprios, devidamente disciplinados no Manual de
C) Vossa Eminência … vossa.
Redação do Ministério das Relações Exteriores.
D) Vossa Excelência … sua. RESPOSTA: “CERTO”.
E) Sua Senhoria … vossa.

1-) Podemos começar pelo pronome demonstrativo.


Mesmo utilizando pronomes de tratamento “Vossa” (mui-
tas vezes confundido com “vós” e seu respectivo “vosso”),
os pronomes que os acompanham deverão ficar sempre na
terceira pessoa (do plural ou do singular, de acordo com o
número do pronome de tratamento). Então, em quaisquer

99
LÍNGUA PORTUGUESA

Não encontramos as pessoas que saíram.


FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE” • pronome indefinido: nesse caso, pode funcionar
como pronome substantivo ou pronome adjetivo.
• pronome substantivo: equivale a que coisa. Quando
for pronome substantivo, a palavra que exercerá as fun-
A palavra que em português pode ser: ções próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto
Interjeição: exprime espanto, admiração, surpresa. indireto, etc.)
Nesse caso, será acentuada e seguida de ponto de Que aconteceu com você?
exclamação. Usa-se também a variação  o quê! A pala-
vra que não exerce função sintática quando funciona como • pronome adjetivo: determina um substantivo. Nesse
interjeição. caso, exerce a função sintática de adjunto adnominal.

Quê! Você ainda não está pronto? Que vida é essa?


O quê! Quem sumiu?
Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Substantivo: equivale a alguma coisa. caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
Nesse caso, virá sempre antecedida de artigo ou outro vra que pode relacionar tanto orações coordenadas quan-
determinante, e receberá acento por ser monossílabo tô- to subordinadas, daí classificar-se como conjunção coorde-
nativa ou conjunção subordinativa. Quando funciona como
nico terminado em e. Como substantivo, designa também
conjunção coordenativa ou subordinativa, a palavra que
a 16ª letra de nosso alfabeto. Quando a palavra que for
recebe o nome da oração que introduz. Por exemplo:
substantivo, exercerá as funções sintáticas próprias dessa
Venha logo, que é tarde. (conjunção coordenativa ex-
classe de palavra (sujeito, objeto direto, objeto indireto,
plicativa)
predicativo, etc.) Falou tanto que ficou rouco. (conjunção subordinativa
consecutiva)
Ele tem certo quê misterioso. (substantivo na função
de núcleo do objeto direto) Quando inicia uma oração subordinada substantiva, a
palavra que recebe o nome de conjunção subordinativa
Preposição: liga dois verbos de uma locução verbal integrante.
em que o auxiliar é o verboter.
Equivale a de. Quando é preposição, a palavra que não Desejo que você venha logo.
exerce função sintática.

Tenho que sair agora. A palavra se 


Ele tem que dar o dinheiro hoje.
A palavra se, em português, pode ser:
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
frase, sem prejuízo algum para o sentido. Conjunção: relaciona entre si duas orações. Nesse
Nesse caso, a palavra que  não exerce função sintáti- caso, não exerce função sintática. Como conjunção, a pala-
ca; como o próprio nome indica, é usada apenas para dar vra se pode ser:
realce. Como partícula expletiva, aparece também na ex- * conjunção subordinativa integrante: inicia uma ora-
pressão é que. ção subordinada substantiva.
Perguntei se ele estava feliz.
Quase que não consigo chegar a tempo. * conjunção subordinativa condicional: inicia uma ora-
Elas é que conseguiram chegar. ção adverbial condicional (equivale a caso).
Advérbio:  modifica um adjetivo ou um advérbio. Se todos tivessem estudado, as notas seriam boas.
Equivale a quão. Quando funciona como advérbio, a pala-
Partícula expletiva ou de realce: pode ser retirada da
vra que exerce a função sintática de adjunto adverbial; no
frase sem prejuízo algum para o sentido. Nesse caso, a pa-
caso, de intensidade.
lavra se não exerce função sintática. Como o próprio nome
indica, é usada apenas para dar realce.
Que lindas flores!
Passavam-se os dias e nada acontecia.
Que barato!
Parte integrante do verbo: faz parte integrante dos
Pronome: como pronome, a palavra que pode ser: verbos pronominais. Nesse caso, o se não exerce função
• pronome relativo: retoma um termo da oração an- sintática.
tecedente, projetando-o na oração consequente. Equivale Ele arrependeu-se do que fez.
a o qual e flexões.

100
LÍNGUA PORTUGUESA

Partícula apassivadora: ligada a verbo que pede ob- Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o es-
jeto direto, caracteriza as orações que estão na voz passi- tilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
va sintética. É também chamada de pronome apassivador. controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para
Nesse caso, não exerce função sintática, seu papel é apenas a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira
apassivar o verbo. errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma
um estigma.
Vendem-se casas. Compondo o quadro do padrão informal da lingua-
Aluga-se carro. gem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais
Compram-se joias. representam as variações de acordo com as condições so-
Índice de indeterminação do sujeito: vem ligando a ciais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
um verbo que não é transitivo direto, tornando o sujeito Dentre elas destacam-se:
indeterminado. Não exerce propriamente uma função sin-
tática, seu papel é o de indeterminar o sujeito. Lembre-se Variações históricas: Dado o dinamismo que a lín-
de que, nesse caso, o verbo deverá estar na terceira pessoa gua apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do
do singular. tempo. Um exemplo bastante representativo é a questão
da ortografia, se levarmos em consideração a palavra far-
Trabalha-se de dia. mácia, uma vez que a mesma era grafada com “ph”, con-
Precisa-se de vendedores. trapondo-se à linguagem dos internautas, a qual se fun-
damenta pela supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o
Pronome reflexivo: quando a palavra se é pronome fragmento exposto:
pessoal, ela deverá estar sempre na mesma pessoa do su-
jeito da oração de que faz parte. Por isso o pronome oblí-
quo se sempre será reflexivo (equivalendo a a si mesmo), Antigamente
podendo assumir as seguintes funções sintáticas:
“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos:
* objeto direto
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas,
Ele cortou-se com o facão.
mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arras-
* objeto indireto
tando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”
Ele se atribui muito valor.
Carlos Drummond de Andrade
* sujeito de um infinitivo
Comparando-o à modernidade, percebemos um voca-
“Sofia deixou-se estar à janela.”
bulário antiquado.
* Texto adaptado por Por Marina Cabral Variações regionais: São os chamados dialetos, que
são as marcas determinantes referentes a diferentes re-
Fonte: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/classi- giões. Como exemplo, citamos a palavra mandioca que,
ficacao-das-palavras-que-e-se.htm em certos lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como:
macaxeira e aipim. Figurando também esta modalidade es-
tão os sotaques, ligados às características orais da lingua-
gem.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA. Variações sociais ou culturais: Estão diretamente li-


gadas aos grupos sociais de uma maneira geral e também
ao grau de instrução de uma determinada pessoa. Como
exemplo, citamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
A linguagem é a característica que nos difere dos de- As gírias pertencem ao vocabulário específico de cer-
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar tos grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores,
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião entre outros. Os jargões estão relacionados ao profissiona-
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, so- lismo, caracterizando um linguajar técnico. Representando
bretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social. a classe, podemos citar os médicos, advogados, profissio-
Dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os nais da área de informática, dentre outros.
níveis da fala, que são basicamente dois: o nível de formali-
dade e o de informalidade. Vejamos um poema sobre o assunto:
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo Vício na fala
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma ma- Para dizerem milho dizem mio
neira que falamos. Este fator foi determinante para a que Para melhor dizem mió
a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Para pior pió

101
LÍNGUA PORTUGUESA

Para telha dizem teia Releva considerar, assim, o momento do discurso, que
Para telhado dizem teiado pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o
E vão fazendo telhados. das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami-
Oswald de Andrade gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
perfeitamente normais construções do tipo:
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/varia- Eu não vi ela hoje.
coes-linguisticas.htm Ninguém deixou ele falar.
Deixe eu ver isso!
Eu te amo, sim, mas não abuse!
Níveis de linguagem Não assisti o filme nem vou assisti-lo.
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo.
A língua é um código de que se serve o homem para
elaborar mensagens, para se comunicar. Existem basica- Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a
mente duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas norma culta, deixando mais livres os interlocutores.
funcionais: O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que
1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se
ou língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou
por base a norma culta, forma linguística utilizada pelo seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se
segmento mais culto e influente de uma sociedade. Cons- alteram:
titui, em suma, a língua utilizada pelos veículos de comu- Eu não a vi hoje.
nicação de massa (emissoras de rádio e televisão, jornais, Ninguém o deixou falar.
revistas, painéis, anúncios, etc.), cuja função é a de serem Deixe-me ver isso!
aliados da escola, prestando serviço à sociedade, colabo- Eu te amo, sim, mas não abuses!
rando na educação; Não assisti ao filme nem vou assistir a ele.
2) a língua funcional de modalidade popular; língua po-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe.
pular ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais
diversas, tem o seu limite na gíria e no calão.
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos
Norma culta:
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista,
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres-
A norma culta, forma linguística que todo povo civiliza-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas,
do possui, é a que assegura a unidade da língua nacional.
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço
E justamente em nome dessa unidade, tão importante do
à causa do ensino.
ponto de vista político--cultural, que é ensinada nas esco-
las e difundida nas gramáticas. Sendo mais espontânea e O momento solene, acessível a poucos, é o da arte
criativa, a língua popular afigura-se mais expressiva e dinâ- poética, caracterizado por construções de rara beleza.
mica. Temos, assim, à guisa de exemplificação: Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume.
Estou preocupado. (norma culta) Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa
Tô preocupado. (língua popular) de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co-
Tô grilado. (gíria, limite da língua popular) mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda
Não basta conhecer apenas uma modalidade de lín- que não tenha amparo gramatical. Exemplos:
gua; urge conhecer a língua popular, captando-lhe a es- Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!)
pontaneidade, expressividade e enorme criatividade, para Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.)
viver; urge conhecer a língua culta para conviver. Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos
Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das nor- dispersar e Não vamos dispersar-nos.)
mas da língua culta. Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de
sair daqui bem depressa.)
O conceito de erro em língua: O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no
seu posto.)
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos
casos de ortografia. O que normalmente se comete são As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos im-
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num pedir, despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- também de transgressões ou “erros” que se tornaram fatos
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride linguísticos, já que só correm hoje porque a maioria viu
a norma culta. tais verbos como derivados de pedir, que tem início, na sua
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, conjugação, com peço. Tanto bastou para se arcaizarem as
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um formas então legítimas impido, despido e desimpido, que
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem coragem de
praia, vestido de fraque e cartola. usar.

102
LÍNGUA PORTUGUESA

Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário


escolar palavras como corrigir e correto, quando nos refe- O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E AS
rimos a frases. “Corrija estas frases” é uma expressão que FUNÇÕES DA LINGUAGEM.
deve dar lugar a esta, por exemplo: “Converta estas frases
da língua popular para a língua culta”.
Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a
uma frase “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada con- Comunicação
forme as normas gramaticais; em suma, conforme a norma
culta. A comunicação constitui uma das ferramentas mais im-
portantes que os líderes têm à sua disposição para desem-
Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem: penhar as suas funções de influência. A sua importância é
tal que alguns autores a consideram mesmo como o “san-
A língua escrita, estática, mais elaborada e menos eco- gue” que dá vida à organização. Esta importância deve-se
nômica, não dispõe dos recursos próprios da língua falada. essencialmente ao fato de apenas através de uma comuni-
A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação cação efetiva ser possível:
(melodia da frase), as pausas (intervalos significativos no
decorrer do discurso), além da possibilidade de gestos, - Estabelecer e dar a conhecer, com a participação de
olhares, piscadas, etc., fazem da língua falada a modalidade membros de todos os níveis hierárquicos da organização,
mais expressiva, mais criativa, mais espontânea e natural, os objetivos organizacionais por forma a que contemplem,
estando, por isso mesmo, mais sujeita a transformações e não apenas os interesses da organização, mas também os
a evoluções. interesses de todos os seus membros.
Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importân-
cia. Nas escolas, principalmente, costuma se ensinar a lín- - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
gua falada com base na língua escrita, considerada supe- bros de todos os níveis hierárquicos da organização, a es-
rior. Decorrem daí as correções, as retificações, as emendas, trutura organizacional, quer ao nível do desenho organiza-
a que os professores sempre estão atentos. cional, quer ao nível da distribuição de autoridade, respon-
Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mos- sabilidade e tarefas.
trando as características e as vantagens de uma e outra,
sem deixar transparecer nenhum caráter de superioridade - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
ou inferioridade, que em verdade inexiste. bros de todos os níveis hierárquicos da organização, de-
Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na lín- cisões, planos, políticas, procedimentos e regras aceites e
gua falada. A nenhum povo interessa a multiplicação de respeitadas por todos os membros da organização.
línguas. A nenhuma nação convém o surgimento de diale-
tos, consequência natural do enorme distanciamento entre - Coordenar, dar apoio e controlar as atividades de to-
uma modalidade e outra. dos os membros da organização.
A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-ela-
borada que a língua falada, porque é a modalidade que - Efetuar a integração dos diferentes departamentos e
mantém a unidade linguística de um povo, além de ser a permitir a ajuda e cooperação interdepartamental.
que faz o pensamento atravessar o espaço e o tempo. Ne-
nhuma reflexão, nenhuma análise mais detida será possível - Desempenhar eficazmente o papel de influência atra-
sem a língua escrita, cujas transformações, por isso mesmo, vés da compreensão e atuação em conformidade satisfa-
processam-se lentamente e em número consideravelmente ção das necessidades e sentimentos das pessoas por forma
menor, quando cotejada com a modalidade falada. a aumentar a sua motivação.
Importante é fazer o educando perceber que o nível da
linguagem, a norma linguística, deve variar de acordo com Elementos do Processo de Comunicação
a situação em que se desenvolve o discurso.
O ambiente sociocultural determina o nível da lingua- Para perceber desenvolver políticas de comunicação
gem a ser empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia eficazes é necessário analisar antes cada um dos elemen-
e até a entoação variam segundo esse nível. Um padre não tos que fazem parte do processo de comunicação. Assim,
fala com uma criança como se estivesse em uma missa, as- fazem parte do processo de comunicação o emissor, um
sim como uma criança não fala como um adulto. Um enge- canal de transmissão, geralmente influenciado por ruídos,
nheiro não usará um mesmo discurso, ou um mesmo nível um receptor e ainda o feedback do receptor.
de fala, para colegas e para pedreiros, assim como nenhum
professor utiliza o mesmo nível de fala no recesso do lar e - Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação):
na sala de aula. representa quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou
Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre seja, quem inicia o processo de comunicação. A codificação
esses níveis, destacam-se em importância o culto e o coti- da mensagem pode ser feita transformando o pensamento
diano, a que já fizemos referência. que se pretende transmitir em palavras, gestos ou símbolos
que sejam compreensíveis por quem recebe a mensagem.

103
LÍNGUA PORTUGUESA

- Canal de transmissão da mensagem: faz a ligação parte do emissor, nomeadamente com o fato de se tor-
entre o emissor e o receptor e representa o meio através narem impossíveis ou pelo menos difíceis as retificações e
do qual é transmitida a mensagem. Existe uma grande as novas explicações para melhor compreensão após a sua
variedade de canais de transmissão, cada um deles com transmissão. Assim, os principais cuidados a ter para que
vantagens e inconvenientes: destacam-se o ar (no caso do a mensagem seja perfeitamente recebida e compreendida
emissor e receptor estarem frente a frente), o telefone, os pelo(s) receptor(es) são o uso de caligrafia legível e unifor-
meios eletrônicos e informáticos, os memorandos, a rádio, me (se manuscrita), a apresentação cuidada, a pontuação
a televisão, entre outros. e ortografia corretas, a organização lógica das ideias, a ri-
queza vocabular e a correção frásica. O emissor deve ainda
- Receptor da mensagem: representa quem recebe e possuir um perfeito conhecimento dos temas e deve tentar
descodifica a mensagem. Aqui é necessário ter em atenção prever as reações/feedback à sua mensagem.
que a descodificação da mensagem resulta naquilo que Como principais vantagens da comunicação escrita,
efetivamente o emissor pretendia enviar (por exemplo, em podemos destacar o fato de ser duradoura e permitir um
diferentes culturas, um mesmo gesto pode ter significados registro e de permitir uma maior atenção à organização
diferentes). Podem existir apenas um ou numerosos recep- da mensagem sendo, por isso, adequada para a transmitir
tores para a mesma mensagem. políticas, procedimentos, normas e regras. Adequa-se tam-
bém a mensagens longas e que requeiram uma maior aten-
- Ruídos: representam obstruções mais ou menos in- ção e tempo por parte do receptor tais como relatórios e
tensas ao processo de comunicação e podem ocorrer em análises diversas. Como principais desvantagens destacam-
qualquer uma das suas fases. Denominam-se ruídos inter- se a já referida ausência do receptor o que impossibilita o
nos se ocorrem durante as fases de codificação ou desco- feedback imediato, não permite correções ou explicações
dificação e externos se ocorrerem no canal de transmissão. adicionais e obriga ao uso exclusivo da linguagem verbal.
Obviamente estes ruídos variam consoante o tipo de canal
de transmissão utilizado e consoante as características do Comunicação Oral
emissor e do(s) receptor(es), sendo, por isso, um dos crité-
rios utilizados na escolha do canal de transmissão quer do No caso da comunicação oral, a sua principal caracte-
tipo de codificação. rística é a presença do receptor (exclui-se, obviamente, a
comunicação oral que utilize a televisão, a rádio, ou as gra-
- Retro-informação (feedback): representa a resposta vações). Esta característica explica diversas das suas prin-
do(s) receptor(es) ao emissor da mensagem e pode ser cipais vantagens, nomeadamente o fato de permitir o fee-
utilizada como uma medida do resultado da comunicação. dback imediato, permitir a passagem imediata do receptor
Pode ou não ser transmitida pelo mesmo canal de trans- a emissor e vice-versa, permitir a utilização de comunica-
missão. ção não verbal como os gestos a mímica e a entoação, por
  exemplo, facilitar as retificações e explicações adicionais,
Embora os tipos de comunicação sejam inúmeros, po- permitir observar as reações do receptor, e ainda a grande
dem ser agrupados em comunicação verbal e comunica- rapidez de transmissão. Contudo, e para que estas vanta-
ção não verbal. Como comunicação não verbal podemos gens sejam aproveitadas é necessário o conhecimento dos
considerar os gestos, os sons, a mímica, a expressão facial, temas, a clareza, a presença e naturalidade, a voz agradável
as imagens, entre outros. É frequentemente utilizada em e a boa dicção, a linguagem adaptada, a segurança e auto-
locais onde o ruído ou a situação impede a comunicação domínio, e ainda a disponibilidade para ouvir.
oral ou escrita como por exemplo as comunicações entre Como principais desvantagens da comunicação oral
“dealers” nas bolsas de valores. É também muito utilizada destacam-se o fato de ser efêmera, não permitindo qual-
como suporte e apoio à comunicação oral. quer registro e, consequentemente, não se adequando a
Quanto à comunicação verbal, que inclui a comunica- mensagens longas e que exijam análise cuidada por parte
ção escrita e a comunicação oral, por ser a mais utilizada na do receptor.
sociedade em geral e nas organizações em particular, por
ser a única que permite a transmissão de ideias complexas Gêneros Escritos e Orais
e por ser um exclusivo da espécie humana, é aquela que
mais atenção tem merecido dos investigadores, caracteri- Gêneros textuais são tipos específicos de textos de
zando-a e estudando quando e como deve ser utilizada. qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discur-
sivas constituem as estruturas e as funções sociais (narra-
Comunicação Escrita tivas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas
de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser consi-
A comunicação escrita teve o seu auge, e ainda hoje derados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites,
predomina, nas organizações burocráticas que seguem atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comé-
os princípios da Teoria da Burocracia enunciados por Max dias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevis-
Weber. A principal característica é o fato do receptor estar tas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, ins-
ausente tornando-a, por isso, num monólogo permanente truções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias.
do emissor. Esta característica obriga a alguns cuidados por São textos que circulam no mundo, que têm uma função

104
LÍNGUA PORTUGUESA

específica, para um público específico e com características Exemplo de gêneros orais e escritos: Texto expositivo,
próprias. Aliás, essas características peculiares de um gêne- exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral,
ro discursivo nos permitem abordar aspectos da textualida- palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclo-
de, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade, pédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de tex-
técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes tos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico,
ao gênero em questão. relatório oral de experiência.
Gênero de texto então, refere-se às diferentes formas
de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescri-
exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc. ções.
Para a linguística, os gêneros textuais englobam estes Aspectos tipológicos: Descrever ações.
e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Capacidade de linguagem dominante: Regulação mú-
Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também iden- tua de comportamentos.
tificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tan- Exemplo de gêneros orais e escritos: Instruções de mon-
tos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa tagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de
sociedade. uso, comandos diversos, textos prescritivos.
Quanto à forma ou estrutura das sequências linguís-
ticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los
dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e esti-
los composicionais. Funções da Linguagem
Domínios sociais de comunicação: Cultura Literária Fic-
cional. Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua-
Aspectos tipológicos: Narrar. gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni-
Capacidade de linguagem dominante: Mimeses de ação car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas
através da criação da intriga no domínio do verossímil. transmitir informações. É também exprimir emoções, dar
Exemplo de gêneros orais e escritos: Conto de Fadas, fá- ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve
bula, lenda,narrativa de aventura, narrativa de ficção cien- a linguagem?
tífica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou his- - A linguagem serve para informar: Função Referencial.
tória engraçada, biografia romanceada, romance, romance
histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivi- “Estados Unidos invadem o Iraque”
nha, piada.
Domínios sociais de comunicação: Documentação e Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos so-
memorização das ações humana. bre um acontecimento do mundo.
Aspectos tipológicos: Relatar. Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na
Capacidade de linguagem dominante: Representação memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes-
pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so-
Exemplo de gêneros orais e escritos: Relato de expe- mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer
riência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe
anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os.
reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, re- Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender
lato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren-
Domínios sociais de comunicação: Discussão de proble- demos desde as mais banais informações do dia a dia até
mas sociais controversos. as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas
Aspectos tipológicos: Argumentar. filosóficos mais avançados.
Capacidade de linguagem dominante: Sustentação, re- A função informativa da linguagem tem importância
futação e negociação de tomadas de posição. central na vida das pessoas, consideradas individualmente
Exemplo de gêneros orais e escritos: Textos de opinião, ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co-
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo
deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de conhecimentos e a transferência de experiências. Por
de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), meio dessa função, a linguagem modela o intelecto.
resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, É a função informativa que permite a realização do
ensaio. trabalho coletivo. Operar bem essa função da linguagem
possibilita que cada indivíduo continue sempre a aprender.
Domínios sociais de comunicação: Transmissão e cons- A função informativa costuma ser chamada também de
trução de saberes. função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
Aspectos tipológicos: Expor. que as palavras revelem da maneira mais clara possível as
Capacidade de linguagem dominante: Apresentação coisas ou os eventos a que fazem referência.
textual de diferentes formas dos saberes.

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LÍNGUA PORTUGUESA

- A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: insinuarem intimidade com ele e, portanto, de exprimirem
Função Conativa. a importância que lhes seria atribuída pela proximidade
com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas que fizemos
“Vem pra Caixa você também.” para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar nossa
valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual ou
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a nossa competência na conquista amorosa.
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom
Federal. Para persuadir o público alvo da propaganda a de voz que empregamos, etc., transmitimos uma imagem
adotar esse comportamento, formulou-se um convite com nossa, não raro inconscientemente.
uma linguagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a Emprega-se a expressão função emotiva para designar
forma vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de a utilização da linguagem para a manifestação do enuncia-
venha, forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta dor, isto é, daquele que fala.
quando se usa você.
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer de- - A linguagem serve para criar e manter laços sociais:
terminadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sen- Função Fática.
tir determinadas emoções, a ter determinados estados de
alma (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode- __Que calorão, hein?
se dizer que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, __Também, tem chovido tão pouco.
emoções, paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente __Acho que este ano tem feito mais calor do que nos
a palavra negro pronunciada em tom desdenhoso aprende outros.
a ter sentimentos racistas; se a todo momento nos dizem, __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.
num tom pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos
os preconceitos contra a mulher. Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram
Não se interfere no comportamento das pessoas ape- num elevador e devem manter uma conversa nos poucos
nas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos instantes em que estão juntas. Falam para nada dizer, ape-
influenciam de maneira bastante sutil, com tentações e nas porque o silêncio poderia ser constrangedor ou pare-
seduções, como os anúncios publicitários que nos dizem cer hostil.
como seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se Quando estamos num grupo, numa festa, não pode-
usarmos determinadas marcas, se consumirmos certos mos manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros.
produtos. Por outro lado, a provocação e a ameaça expres- Nessas ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso,
sas pela linguagem também servem para fazer fazer. quando não se tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se
Com essa função, a linguagem modela tanto bons ci- histórias que todos conhecem, contam-se anedotas velhas.
dadãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, A linguagem, nesse caso, não tem nenhuma função que
quanto espertalhões, que só pensam em levar vantagem, não seja manter os laços sociais. Quando encontramos al-
e indivíduos atemorizados, que se deixam conduzir sem guém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, em geral não que-
questionar. remos, de fato, saber se nosso interlocutor está bem, se
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem está doente, se está com problemas.
quando esta é usada para interferir no comportamento A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo
das pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma social.
sugestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja
latino (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo). entre alunos de uma escola, entre torcedores de um time
de futebol ou entre os habitantes de um país. Não importa
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: que as pessoas não entendam bem o significado da letra
Função Emotiva. do Hino Nacional, pois ele não tem função informativa: o
importante é que, ao cantá-lo, sentimo-nos participantes
“Eu fico possesso com isso!” da comunidade de brasileiros.
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação função fática para indicar a utilização da linguagem para
com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetiva- estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um fa-
mos e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções. lante e seu interlocutor.
Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, - A linguagem serve para falar sobre a própria lingua-
desdém, desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas ve- gem: Função Metalinguística.
zes, falamos para exprimir poder ou para afirmarmo-nos
socialmente. Durante o governo do presidente Fernando Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem “A substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usan-
intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O do o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegan-
Fernando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se te usar palavrões”, não estamos falando de acontecimen-
referirem ao presidente era, na verdade, uma maneira de tos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a

106
LÍNGUA PORTUGUESA

própria linguagem. É o que chama função metalinguística. Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitaria-
A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos mente ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada
sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo para informar, para influenciar, para manter os laços sociais,
tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos etc. No segundo, para produzir um efeito prazeroso de des-
outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos co- coberta de sentidos. Em função estética, o mais importante
mentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que é como se diz, pois o sentido também é criado pelo ritmo,
não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a pelo arranjo dos sons, pela disposição das palavras, etc.
que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de
metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/,
de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Paro-
/k/, /b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos:
diando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não
E o bosque estala, move-se, estremece...
podem pescar”.
Da cavalgada o estrépito que aumenta
- A linguagem serve para criar outros universos. Perde-se após no centro da montanha...

A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássi-
mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte: cos.
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros
universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa Observe-se que a maior concentração de sons oclu-
púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem ex- sivos ocorre no segundo verso, quando se afirma que o
pressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para barulho dos cavalos aumenta.
consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligi- Quando se usam recursos da própria língua para acres-
dos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se
vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o que estamos usando a linguagem em sua função poética.
galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e am-
bos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra Para melhor compreensão das funções de linguagem,
realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o torna-se necessário o estudo dos elementos da comuni-
amor nunca diminui e assim por diante.
cação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era de-
- A linguagem serve como fonte de prazer: Função
Poética. senvolvido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta
- alguém espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido outro escuta em silêncio, etc).
e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de Exemplo:
prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras
para delas extrairmos satisfação. Elementos da comunicação
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”,
diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase sha- - Emissor - emite, codifica a mensagem;
kespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emí- - Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
lio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gor- - Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor;
da se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez - Código - conjunto de signos usado na transmissão e
o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco recepção da mensagem;
quebrar por excesso de fundos”. - Referente - contexto relacionado a emissor e recep-
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel tor;
comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está - Canal - meio pelo qual circula a mensagem.
empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa
“capital”, “dinheiro”.
teoria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclu-
são que quando se trata da parole, entende-se que é um
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diver-
veículo democrático (observe a função fática), assim, admi-
sas, com significados diferentes, nesta frase do deputado
Virgílio Guimarães: te-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diá-
logo interativo):
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e - locutor - quem fala (e responde);
quer bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata - locutário - quem ouve e responde;
uma dor de consciência e bata em retirada.” - interlocução - diálogo
(Folha de S. Paulo)

107
LÍNGUA PORTUGUESA

As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES


faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria. SOBRE: LÍNGUA PORTUGUESA
As atitudes e reações dos comunicantes são também
referentes e exercem influência sobre a comunicação 1-) (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC/
SP – ADMINISTRADOR - VUNESP/2013) Assinale a al-
Lembramo-nos: ternativa correta quanto à concordância, de acordo
com a norma-padrão da língua portuguesa.
- Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no (A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade
“eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta social está no centro dos debates atuais.
função está, por norma, a poesia lírica. (B) Políticos, economistas e teóricos diverge em re-
- Função apelativa (imperativa): com este tipo de men- lação aos efeitos da desigualdade social.
sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este (C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
assuma determinado comportamento; há frequente uso mais pobres é um fenômeno crescente.
do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é (D) A má distribuição de riquezas tem sido muito
frequentemente usada por oradores e agentes de publici- criticado por alguns teóricos.
dade. (E) Os debates relacionado à distribuição de rique-
- Função metalinguística: função usada quando a lín- zas não são de exclusividade dos economistas.
gua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na aná-
Realizei a correção nos itens:
lise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossin-
(A) A má distribuição de riquezas e a desigualdade so-
táticos e/ou semânticos).
cial está = estão
- Função informativa (ou referencial): função usada
(B) Políticos, economistas e teóricos diverge = diver-
quando o emissor informa objetivamente o receptor de
gem
uma realidade, ou acontecimento.
(C) A diferença entre a renda dos mais ricos e a dos
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
mais pobres é um fenômeno crescente.
dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e
(D) A má distribuição de riquezas tem sido muito criti-
textos publicitários (centra-se no canal de comunicação). cado = criticada
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensa- (E) Os debates relacionado = relacionados
gem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, rit-
mos agradáveis, etc. RESPOSTA: “C”.
Também podemos pensar que as primeiras falas cons- 2-) (COREN/SP – ADVOGADO – VUNESP/2013) Se-
cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos guindo a norma-padrão da língua portuguesa, a frase
evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei- – Um levantamento mostrou que os adolescentes ame-
ções”. As primeiras ferramentas da fala humana. ricanos consomem em média 357 calorias diárias dessa
fonte. – recebe o acréscimo correto das vírgulas em:
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo (A) Um levantamento mostrou, que os adolescentes
que mais profundamente distingue o homem dos outros americanos consomem em média 357 calorias, diárias
animais. dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, os adolescentes
Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun- americanos consomem, em média 357 calorias diárias
ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a dessa fonte.
libertação da mão, que permitiram o aumento do volume (C) Um levantamento mostrou que os adolescentes
do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores americanos consomem, em média, 357 calorias diárias
e da mímica facial dessa fonte.
(D) Um levantamento, mostrou que os adolescentes
Devido a estas capacidades, para além da linguagem americanos, consomem em média 357 calorias diárias
falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de dessa fonte.
animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur- (E) Um levantamento mostrou que os adolescentes
dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni- americanos, consomem em média 357 calorias diárias,
cação entre surdos, mas também para utilizar em situações dessa fonte.
especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não
animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas Assinalei com um “X” onde há pontuação inadequada
que se podem observar entre si. ou faltante:
(A) Um levantamento mostrou, (X) que os adolescentes
americanos consomem (X) em média (X) 357 calorias, (X)
diárias dessa fonte.
(B) Um levantamento mostrou que, (X) os adolescentes
americanos consomem, em média (X) 357 calorias diárias
dessa fonte.

108
LÍNGUA PORTUGUESA

(C) Um levantamento mostrou que os adolescentes Distribuímos = regra do hiato


americanos consomem, em média, 357 calorias diárias des- (A) sócio = paroxítona terminada em ditongo
sa fonte. (B) sofrê-lo = oxítona (não se considera o pronome
(D) Um levantamento, (X) mostrou que os adolescentes oblíquo. Nunca!)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (C) lúcidos = proparoxítona
diárias dessa fonte. (D) constituí = regra do hiato (diferente de “constitui”
(E) Um levantamento mostrou que os adolescentes – oxítona: cons-ti-tui)
americanos, (X) consomem (X) em média (X) 357 calorias (E) órfãos = paroxítona terminada em “ão”
diárias, (X) dessa fonte.
RESPOSTA: “D”.
RESPOSTA: “C”.
5-) (TRT/PE – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2012)
3-) (TRT/RO E AC – ANALISTA JUDICIÁRIO – A concordância verbal está plenamente observada na
FCC/2011) Estão plenamente observadas as normas de frase:
concordância verbal na frase: (A) Provocam muitas polêmicas, entre crentes e
a) Destinam-se aos homens-placa um lugar visível materialistas, o posicionamento de alguns religiosos e
nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é suprimida a parlamentares acerca da educação religiosa nas escolas
visibilidade social. públicas.
b) As duas tábuas em que se comprimem o famige- (B) Sempre deverão haver bons motivos, junto
rado homem-placa carregam ditos que soam irônicos, àqueles que são contra a obrigatoriedade do ensino
como “compro ouro”. religioso, para se reservar essa prática a setores da ini-
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa ciativa privada.
a exposição pública a que se submetem os guardadores (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do tex-
de carros. to, contra os que votam a favor do ensino religioso na
d) Ao se revogarem o emprego de carros-placa na escola pública, consistem nos altos custos econômicos
propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma de- que acarretarão tal medida.
monstração de mau gosto. (D) O número de templos em atividade na cidade
e) Não sensibilizavam aos possíveis interessados de São Paulo vêm gradativamente aumentando, em
em apartamentos de luxo a visão grotesca daqueles ve- proporção maior do que ocorrem com o número de es-
lhos carros-placa. colas públicas.
(E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Fiz as correções entre parênteses: como a regulação natural do mercado sinalizam para
a) Destinam-se (destina-se) aos homens-placa um lu- as inconveniências que adviriam da adoção do ensino
gar visível nas ruas e nas praças, ao passo que lhes é supri- religioso nas escolas públicas.
mida a visibilidade social.
b) As duas tábuas em que se comprimem (comprime) (A) Provocam = provoca (o posicionamento)
o famigerado homem-placa carregam ditos que soam irô- (B) Sempre deverão haver bons motivos = deverá haver
nicos, como “compro ouro”. (C) Um dos argumentos trazidos pelo autor do texto,
c) Não se compara aos vexames dos homens-placa a contra os que votam a favor do ensino religioso na escola
exposição pública a que se submetem os guardadores de pública, consistem = consiste.
carros. (D) O número de templos em atividade na cidade de
d) Ao se revogarem (revogar) o emprego de carros- São Paulo vêm gradativamente aumentando, em propor-
-placa na propaganda imobiliária, poupou-se a todos uma ção maior do que ocorrem = ocorre
demonstração de mau gosto. (E) Tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação como
e) Não sensibilizavam (sensibilizava) aos possíveis in- a regulação natural do mercado sinalizam para as inconve-
teressados em apartamentos de luxo a visão grotesca da- niências que adviriam da adoção do ensino religioso nas
queles velhos carros-placa. escolas públicas.

RESPOSTA: “C”. RESPOSTA: “E”.

4-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011) 6-) (TRE/PA- ANALISTA JUDICIÁRIO – FGV/2011)
Assinale a palavra que tenha sido acentuada seguindo a Segundo o Manual de Redação da Presidência da Repú-
mesma regra que distribuídos. blica, NÃO se deve usar Vossa Excelência para
(A) sócio (A) embaixadores.
(B) sofrê-lo (B) conselheiros dos Tribunais de Contas estaduais.
(C) lúcidos (C) prefeitos municipais.
(D) constituí (D) presidentes das Câmaras de Vereadores.
(E) órfãos (E) vereadores.

109
LÍNGUA PORTUGUESA

(...) O uso do pronome de tratamento Vossa Senhoria (D) As instituições fundamentais de um regime demo-
(abreviado V. Sa.) para vereadores está correto, sim. Numa crático não pode (podem) estar subordinado (subordina-
Câmara de Vereadores só se usa Vossa Excelência para o seu das) às ordens indiscriminadas de um único poder central.
presidente, de acordo com o Manual de Redação da Presi- (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) vol-
dência da República (1991). tados (voltado) para o momento eleitoral, que expõem (ex-
(Fonte: http://www.linguabrasil.com.br/nao-tropece- põe) as diferentes opiniões existentes na sociedade.
-detail.php?id=393)
RESPOSTA: “A”.
RESPOSTA: “E”.
9-) (TRE/AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – FCC/2010)
A frase que admite transposição para a voz passiva é:
7-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
(A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sa-
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
grado.
ciedade como tais. (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
Transpondo para a voz ativa a frase acima, o verbo grande diversidade de fenômenos.
passará a ser, corretamente, (C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da so-
(A) perceba. ciedade, a própria sociedade e seu instrumento de uni-
(B) foi percebido. ficação.
(C) tenham percebido. (D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto
(D) devam perceber. da vida (...).
(E) estava percebendo. (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar ilu-
dido e da falsa consciência.
... valores e princípios que sejam percebidos pela so-
ciedade como tais = dois verbos na voz passiva, então te- (A) O cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagra-
remos um na ativa: que a sociedade perceba os valores e do.
princípios... (B) O conceito de espetáculo unifica e explica uma
grande diversidade de fenômenos.
RESPOSTA: “A” - Uma grande diversidade de fenômenos é unificada e
explicada pelo conceito...
(C) O espetáculo é ao mesmo tempo parte da socieda-
8-) (TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A
de, a própria sociedade e seu instrumento de unificação.
concordância verbal e nominal está inteiramente corre-
(D) As imagens fluem desligadas de cada aspecto da
ta na frase: vida (...).
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e (E) Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido
valores que determinam as escolhas dos governantes, e da falsa consciência.
para conferir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes RESPOSTA: “B”.
devem ser embasados na percepção dos valores e prin-
cípios que regem a prática política. 10-) (MPE/AM - AGENTE DE APOIO ADMINISTRA-
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verda- TIVO - FCC/2013) “Quando a gente entra nas serrarias,
deiro regime democrático, em que se respeita tanto as vê dezenas de caminhões parados”, revelou o analista
liberdades individuais quanto as coletivas. ambiental Geraldo Motta.
(D) As instituições fundamentais de um regime de- Substituindo-se Quando por Se, os verbos subli-
mocrático não pode estar subordinado às ordens indis- nhados devem sofrer as seguintes alterações:
criminadas de um único poder central. (A) entrar − vira
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados (B) entrava − tinha visto
para o momento eleitoral, que expõem as diferentes (C) entrasse − veria
opiniões existentes na sociedade. (D) entraria − veria
(E) entrava − teria visto
Fiz os acertos entre parênteses:
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores
Se a gente entrasse (verbo no singular) na serraria, ve-
que determinam as escolhas dos governantes, para confe-
ria = entrasse / veria.
rir legitimidade a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes de- RESPOSTA: “C”.
vem (deve) ser embasados (embasada) na percepção dos
valores e princípios que regem a prática política.
(C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um ver-
dadeiro regime democrático, em que se respeita (respei-
tam) tanto as liberdades individuais quanto as coletivas.

110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Fundamentos da Educação;.................................................................................................................................................................................. 01
Concepções e tendências pedagógicas contemporâneas;...................................................................................................................... 10
Relações socioeconômicas e político-culturais da educação;................................................................................................................. 11
Processo ensino-aprendizagem: papel do educador, do educando, da sociedade....................................................................... 12
Avaliação. Educação inclusiva.............................................................................................................................................................................. 13
Educação e Direitos Humanos,............................................................................................................................................................................ 17
Democracia e Cidadania;....................................................................................................................................................................................... 21
A função social da escola; Inclusão educacional e respeito à diversidade;....................................................................................... 23
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica;....................................................................................................................... 24
Didática e organização do ensino;..................................................................................................................................................................... 61
Saberes Escolares, processos metodológicos e avaliação da aprendizagem;.................................................................................. 66
Novas tecnologias da informação e comunicação e sua contribuição com a prática pedagógica;........................................ 66
Currículo: planejamento, seleção e organização dos conteúdos.......................................................................................................... 76
Planejamento: a realidade escolar; o planejamento e o projeto pedagógico da escola;............................................................. 77
Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional;........................................................................................................ 78
Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente;......................................................................................................................... 95
Lei nº 10.639/03 – História e Cultura Afro Brasileira e Africana;..........................................................................................................146
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - 2007..................................................................................................................147
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

3. A HISTORIA DA HUMANIDADE RELACIONADA A


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO; HISTORIA DA EDUCAÇÃO

A historia da humanidade está interligada a historia da


educação. Ao falarmos da historia da educação escolar, en-
No atual estagio do desenvolvimento da educação tende-se que a escola surgiu a partir de uma necessidade
brasileira muito foi acrescentado nos quesitos legisla- social. No surgimento da escola a partir dessa necessida-
ção, fundamentação e procedimento da educação bá- de social, alguns conteúdos, alguns currículos em algumas
sica posto que o controle educacional seja feito pelas áreas dos conhecimentos foram sendo pensados para
instituições publicas instituídas. serem trabalhadas dentro desse universo escolar. Dessa
maneira podemos afirmar que a historia da educação não
E como é o proceder no que diz respeito à legislação esta desvinculada da historia do mundo, ou seja, da historia
e organização da educação básica? desses seres humanos que construíram varias tecnologias,
Como se desenvolve a educação na prática em rela- vários abtates e também vários valores. Esse estudo é im-
ção à lei e as diretrizes vigentes? prescindível para que possamos conhecer todo o processo
em que se desenvolveu a educação e a própria sociedade.
É com intuito de desvelar e, é buscando acrescentar Para o futuro educador é necessário que se tenha em-
um ponto a discussão sobre a educação básica, no que basamento, ferramentas a que recorrer para incrementar-
concerne a lei e ao proceder pela lei que o tema da fun- mos a prática pedagógica em sala de aula.
damentação legal deu azo a o trabalho ora apresentado. A história da educação subsidia, mostrando o que foi
Levando em consideração questionamentos pertinentes feito, o que está sendo produzido, e possibilita pensar no
a educação e considerando a evolução do sentido da que se fará no campo educacional a partir do momento
própria educação, escolheu-se como tema para o traba- presente.
lho: Princípios, fundamentos legais e procedimentos da Nesse contexto é importantíssimo identificar quais os
educação básica. princípios que fluência o pensar sobre o processo educa-
No desenvolvimento da educação muitos são os ele- cional. O ser humano sempre ira construir algo para suprir
mentos, atores e situações envolvidas. Desde a elabora- suas necessidades, no decorrer da historia da humanidade
ção de uma proposta nacional, passando pelos pensado- a qual sempre foi construída através de uma determinada
res de educação e finalizando no fazer do profissional na pessoa (mulher ou homem) em relação ao seu cotidiano.
sala de aula, onde se materializa toda a teoria.
Com o passar dos períodos ditos sócio históricos, 3.1 Educação Primitiva
muito se tem produzido em educação, um amalgama No período primitivo não havia escolas formais e tão
de teorias e ideias permeia este ramo do conhecimento. poucos métodos de educação. Nessa época o conheci-
Assim compreender e conhecer estas teorias são funda- mento era passado de geração para geração, mais não
mentais. Tanto para o cidadão enquanto membro de um através da escrita e sim através da oralidade e também pela
determinado grupo, ainda mais para profissionais ou fu- imitação.
turos profissionais. Professores no período primitivo eram os chefes de
O objetivo geral é analisar a teórica aplicação e fun- família e em seguidas os sacerdotes, ou seja, eram profes-
cionalidades nas instituições. E tendo como objetivos sores leigos, ao qual não existia formação alguma para o
específicos, comprovar se as ações propostas nos do- cargo.
cumentos legais se fazem cumprir, verificando o grau Para o filósofo Aristóteles, ele sustenta que para o ser
de conhecimento por parte dos professores e demais humano saber alguma coisa, ele teria que imitar, por essa
agente educacionais relativo à documentação estudada, razão sua característica é a imitação.
através de uma pesquisa de campo. No percurso do de- [...] “A educação tem raízes amargas, mas os frutos são
senvolvimento da educação brasileira, houve e ainda há doces”. (Aristóteles).
percalços e barreiras para que efetive de forma aceitável No período primitivo a educação dos jovens, torna-se
uma educação que contribua de maneira justa na cons- a ferramenta principal para a sobrevivência do grupo e ali-
trução de um novo modelo social, onde todos são iguais. cerce para pôr em ação a comunicação e prolongamento
E isto só se conseguirá quando todos os benefícios da cultura. Através da imitação, aprende-se ou ensina o
que estiverem assentados no papel fizerem parte do co- manejo com as armas, caças, colheita, a fala, cerimônia aos
tidiano escolar. mortos, às técnicas de mudança e conhecimento do meio
A lei e a Educação, no Brasil devem caminhar juntas ambiente.
objetivando sempre uma melhoria, tanto da qualidade
do ensino, como dos benefícios e ganho real dos edu- 3.2 Educação Oriental
cadores. A educação oriental foi trabalhada pela transição entre
Não há que se construir algo sólido e duradouro a sociedade primitiva, ou seja, iniciou-se a civilização.
apenas com leis instituídas, mas sim com trabalho e es- Nesse período surgiu à escrita com o domínio da lin-
tudo. guagem na literatura, surgiram também cidades, estado e
organização politica.

1
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Na região comumente chamada de Oriente, a educa- A educação grega tinha como objetivo principal guiar
ção se iniciava em casa com os entes mais velhos. O co- os educandos, os jovens de modo que lês pudessem assumir
nhecimento, as ideias e principalmente os conceitos que o controle da sociedade vigente. Ela não se ocupava apenas
eram a base destas sociedades eram transmitidos oralmen- de um conceito particular do homem, mas do desenvolvimen-
te. Na Índia, na China, ao se fazer uma comparação com to de todas as suas capacidades- físicas morais e intelectuais.
pensamento ocidental chega-se a conclusão que a educa- Em seus ideais, a educação grega dava ênfase à moderação e
ção oriental permite mais variedade e tolerância quando se a uma concepção equilibrada do homem e de seus poderes
trata de conclusões filosóficas. intelectuais. Valoriza a arte como corporificação concreta de
Dessa forma, os pensadores indianos não aceitam a alguma verdade, proporciona para o sujeito homem ou mu-
conclusão das ciências como verdade absoluta, pois nestas lher a refletir sobre suas atitudes e sua também constituição
nações o misticismo e a ciências se alternavam e isto era de ser humano no contexto onde se está inserido.
plangente na educação. As crianças eram ensinadas não só Na Grécia não havia uma teologia infalível. Não havia
apenas tópicos práticos, conhecimentos úteis para realizar um padrão de moral e de religião. Os gregos acreditavam
determinada tarefa ou determinada função (oleiro, carpin- na livre indagação, dessa forma, lançaram as sementes de
teiro, cervejeiro...), mas também, e mais importante à filo- nosso próprio desenvolvimento intelectual. Na educação
sofia e a concepção de mundo, vida, espírito e alma conce- grega eles defendiam o individual do ser humano como
bidos pelos mestres e pensadores, como Buda e Krishina. principio, e preparava a educação para a cidadania. Mais só
Na concepção educacional destes povos, havia um alto era considerados cidadãos (homens livres) quem fosse gre-
grau de severidade. Um aluno tinha que obedecer e seguir go de verdade (apenas 10%) no mais não era considerado
a seu mestre em todos os sentidos. Não eram incomuns os cidadão (com 90%), com isso sem direto de se posicionar.
castigos físicos a que se submetiam os alunos, nesta con- Aqui surgiram grandes filósofos como Sócrates, Platão
cepção educacional. Um número variado de escolas se de- e Aristóteles. Sócrates e Platão defendiam o saber o pen-
senvolveu nesta época, havia escolas particulares fundadas sar. Ou seja, a partir do entendimento que tenho em me
por gurus. Neste contexto também se desenvolveu um mo- relacionar com outra pessoa eu aprendo, eu questiono, eu
vivencio, nunca sabemos tudo, porque o conhecimento é
delo de ensino superior, que atraía aqueles que buscavam
algo que precisa aprimorar reconstruir ao longo do tempo
a elevação espiritual.
histórico. Já Aristóteles traz a razão como elemento funda-
mental para organização da sociedade.
3.3 Educação Grega
Na Grécia Clássica, a educação era permitida somente
3.4 Educação Romana
aos indivíduos das classes ditas superiores. Do nascimento
No que tange a educação romana, sua melhor repre-
aos cincos anos a criança era criada de maneira que pudes-
sentatividade temos na era de Quitiliano. Na época deste
se desenvolver um crescimento sadio, tanto físico, como
imperador a educação era dividida em três campos. Em
espiritual. Dava-se atenção especial ao desenvolvimento primeiro lugar vinha a Dialética (as leis do raciocínio), em
do corpo, para que a criança estivesse pronta para tolerar segundo, a Ética (as leis da justiça) e em terceiro a Física.
os embates e as adversidades de ordem física. Na época de Quitiliano já havia uma pequena mudança na
[..] “O período seguinte dura até a idade de cinco anos; concepção de educação:
durante esse período não se deve fazer qualquer exigência [...] “Quanto ao menino que já adquiriu a facilidade na
de estudo ou trabalho a criança, para que seu crescimento leitura e na escrita, o objetivo seguinte é a instrução minis-
não seja impedido; e deve haver movimentação para impe- trada pelos gramáticos”...
dir que os membros se tornem inativa. Isso só pode ser ga- Pois se trata não apenas da arte de escrever combinada
rantido, entre outras formas, através da diversão, mas não com a de falar, mas também a leitura correta precede a
deve ser vulgar, cansativa ou descomedida. Os Diretores ilustração e a essas estão ligado o exercícios do julgamen-
de Educação, como são chamados, devem ter cuidado aos to... “Também não basta haver lido apenas os poetas; todas
contos ou histórias que as crianças ouvem, pois as brinca- as classes de escritores têm de ser estudadas, não apenas
deiras das crianças destinam a preparar o caminho para as pelo assunto, mas pelas palavras que, frequentemente, re-
ocupações posteriores da vida e devem ser, em sua maio- cebem sua autoridade de escritores.” 
ria, imitações das ocupações que as crianças terão mais tar- O estudo da educação é imprescindível para que pos-
de, seriamente. Estão errados aqueles que (como Platão), samos conhecer todo o processo em que se desenvolveu
nas Leis, tentem impedir o choro e gritos altos das crianças, no atual estágio a educação e a própria sociedade brasilei-
pois eles contribuem para seu crescimento e, e de certa ra. (Mayer1976)
forma, exercitam-lhes os corpos. Forçar a voz tem efeito Aqui também a que se ressaltar que ao contrário dos
semelhante ao produzido pela retenção do fôlego em es- gregos os romanos eram condicionados mais para assumir
forços violentos. Entre outros deveres, o Diretor deve dar sua posição da máquina do estado, deixando em segundo
atenção à criação das crianças e cuidar para que elas sejam plano o trabalho com a preparação do corpo, como faziam,
deixadas o mínimo possível com escravos. Pois até os sete por exemplo, os espartanos.
anos de idade as crianças têm de viver em casa; e, por isso, A grande preocupação dos romanos era a formação
mesmo nessa tenra idade, tudo o que mesquinho e vil deve de guerreiros, forma para a prática. A intenção dos roma-
ser banido de suas vistas e de seus ouvidos.” (Mayer1976). nos era a conquista e para isso acontecer eles teriam que

2
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

se preparar e essa preparação começava muito sedo, a é pautada no momento de exclusão, na Grécia acesso era
criança (menino) ao completar os sete aos nove anos já somente aos gregos, em Roma só se pensava em formação
começavam a ser preparado para ser guerreiro, afastando- de guerreiros, no período medieval o acesso aos conheci-
-o da mãe. Para eles eram através das lutas que eles con- mentos intelectuais era exclusividade dos monges. A edu-
quistariam mais e mais coisas. Portando o período romano cação nesse período do renascimento era para a nobreza e
começa a trabalhar a questão de politica e de poder de também para pessoas com ligação a igreja.
estado. Surgindo então o curso de direito, justamente para
se pensar o direito e o dever do cidadão. 3.7 Educação Burguesa
O conteúdo deste tipo de situação educacional era
3.5 Educação Medieval baseado principalmente nas línguas e literaturas clássicas
No caminho da evolução da educação chegasse a Ida- dos gregos e romanos, veio a ser designada educação bur-
de Média, neste período a educação ficou exclusivamente guesa. O termo humanidades veio a significar as línguas e
nas mãos da igreja católica. Esta geria as escolas, organiza literatura dos antigos. Como consequência, a finalidade da
o que pode se chamar de currículo e ministrava tanto os educação passou a ser considerada em termos de língua e
conhecimentos científicos, mas principalmente os concei- literatura e não da vida.
tos morais retirados e interpretados da doutrina cristã. Outro aspecto muito importante da Educação Burgue-
Um grande acontecimento nessa época foi à criação da sa foi inclusão no ideal de educação, dos elementos co-
companhia de Jesus, com isso começou-se a se preocupar muns ao período clássico, excluídos da educação medieval,
a criar um currículo voltado a trazer informações a um de- com exceção da cavalaria. O primeiro destes elementos é
terminado grupo de pessoas e também outro na formação o físico, e a par dele a formação do caráter. Por este lado
de intelectuais. Sendo os monges (os intelectuais) os que a educação burguesa representou a fusão da educação da
teriam o acesso a esse conhecimento. cavalaria e da educação literária, e teve um resultado muito
A educação era uma serva da igreja, sua meta principal era superior ao das épocas anteriores e posteriores.
inspirar os alunos, de maneira que estes aprendessem a levar Outro elemento que foi trazido de volta à educação
uma vida moral e obedecessem ao que pregavam os líderes re- foi o elemento estético. Este elemento tornou-se, na nova
ligiosos. Era uma educação autoritária, tudo em nome de Deus. educação, uma grande inspiração. Esta acentuação de im-
O aprendiz ideal, o modelo de estudante ideal era o portância da expressão referia-se não só à perfeição da lín-
que se dedicava a uma vida de sacrifício e autonegação. gua como também a perfeição do caráter de conduta. Con-
Esse período medieval traz consigo a educação espiritual, solidou-se nesse período capitalismo industrial finalizando
seu objetivo seria também com o poder, em outras pala- o absolutismo. O absolutismo, o qual foi criado pelo pen-
vras era catequizar mais também dominar. sador Jean Jacques Rousseau, que propunha a liberdade e
Nesse período a educação tradicional fica no poder, a autonomia como o principio de vida, sendo a educação
por não aceitar outras culturas, outros conhecimentos, ela vista como alegria e prazer.
mesma é quem produz e de maneira alguma aceita a re- A educação burguesa provoca uma separação entre
construção de uma determinada historia. estado e igreja. Com isso possibilitando um desenvolvi-
mento dos sistemas públicos de educação.
3.6 Educação no Renascimento
Neste período da história humana, o novo método da 3.8 A Educação no Brasil
ciência buscava confirmação nos fatos da natureza, não Após o descobrimento da terra nua, a qual se deu o
havia mais ilusão ou alegoria, e sim a experiência. Enfatiza- nome de Terra de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz e final-
vam-se os aspectos particulares em lugar das generalida- mente Brasil, começou-se a pensar em como se efetivar
des. Encontra-se aqui o começo do método hipotético da a posse dos europeus sobre a terra e os povos aqui exis-
ciência moderna. tentes. Com sutileza, os representantes da companhia de
A ciência começou a avançar de forma nunca antes vis- Jesus, planejaram incutir e difundir a filosofia cristã entre os
ta (desde a Grécia e Oriente), pois a fé começou a ser dei- chamados gentios (nativos).
xada de lado, sendo que esta já não respondia ás questões Esses (índios) tinham a natureza como lar e como esco-
nascentes e pertinentes. la. Na mata, no campo, nos vales e na correnteza dos rios,
Nesta época se popularizou os novos ideais de educa- os mais novos eram instruídos pelos mais velhos. Ciências
ção. Ao aprendiz devia ser ensinada a virtude moral, bem naturais, cosmologia, história e principalmente a língua,
como Humanidades e as Ciências. As capacidades inatas eram transmitidos o tempo todo. Educar entre os índios
tinham de ser estimulada, neste aspecto, a natureza devia era uma constante.
ser o guia. A direção do aluno tinha de ser consciente e o Os portugueses, que cruzaram o oceano em busca de
seu conhecimento tinha de ser posto em prática. A educa- novos mercados, trouxeram com eles os Jesuítas. Esses reli-
ção no renascimento foi o período de repensar tudo que giosos eram os acólitos fiéis da igreja católica. Não respon-
não foi pensado, ficando conhecido como século das luzes diam se não a Roma. Ao se fixarem nas novas terras, pro-
por propor uma nova educação. vavelmente compreenderam que a tarefa não era de todo
A educação no renascimento não foi diferente das de fácil. Haviam de converter e “educar” um povo que vivia nu
mais, em relação a quem pertencia o direito de adquirir e falava uma língua totalmente desconhecida. O primeiro
conhecimento. No período primitivo ela é fragmentada, ela ato dos representantes da companhia de Jesus foi funda-

3
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

rem uma escola elementar. Neste estabelecimento eram Nesta época educadores como Paulo Freire pensavam
educados juntamente os índios e os filhos dos colonos e colaboravam métodos bastante discutidos de educação.
que aqui nasceram. A estes aprendizes, eram transmiti- Com um golpe politico-militar em 1964 é instituído no Bra-
das as noções básicas da língua portuguesa, história da sil, o famigerado regime militar. O governo controlava a
civilização europeia, história cristã e a própria catequiza- todos e a tudo.
ção. Havia também o intuito de aumentar o contingente Nesta fase da nossa história foi instituída a Lei 5692/71
sacerdotal da igreja romana. Há que salientar que neste (LDBEN) que tinha como característica principal a educação
período os educadores eram exclusivamente homens. profissionalizante. Esta lei era fundamentada em uma con-
As mulheres eram destinadas ao serviço doméstico. cepção tecnicista, ou seja, era necessária forma, técnicos,
E estas só podiam ser instruídas nos conventos. Cami- para as diversas áreas da economia. Com o fim de o gover-
nhado um pouco mais no tempo à época da Marques do no militar os fatos políticos e sociais se sucedem de manei-
Pombal, figura de grande destaque no que diz respeito à ra abrupta. Das lutas pelas eleições diretas a promulgação
politica educacional em nosso país. da nova constituição foi um salto. “Há um novo impulso,
Com o Marques o ensino passa a ser responsabili- uma nova esperança surge, no povo e nas instituições”. Na
dade da coroa Portuguesa sua ideia de educação con- educação o estado passa a ter mais responsabilidade, um
sistia, não apenas catequizar, mas forma os grupos de poder (seja executivo, legislativo ou judiciário) tem o poder
indivíduos que não deixasse o poder fugirem das mãos de averiguar se o que se é destinado à educação está sen-
da elite. do empregado de forma correta.
Com a vinda e permanência da família imperial no No momento a educação está se reformulando. A so-
Brasil, inicia o conhecimento período imperial, a educa- ciedade nos seus mais diferentes âmbitos verifica, examina-
ção, assim com outros setores da sociedade se viu sob -se o processo educativo (desde a liberação de verbas até
um novo conceito, uma nova maneira de conceber o pro- a prática pedagógica) está sendo feita de forma aceitável.
cesso educacional. Com o “mover” LDB (leis de diretrizes e bases), o pro-
Nesta fase destaca-se o art. 179 da primeira consti- cesso educacional é parte de algo maior e menos propen-
tuição brasileira, que pregava a “instrução primária e gra- so a ideologias ocas e fragmentadas. Cada Estado, cada
tuita para todos os cidadãos.”. município e principalmente cada escola trabalha visando
Outro ato do governo de D. Pedro I foi o decreto que atingir o meio sociocultural de que faz parte. Relevantes,
instituía quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas também, são as propostas de educação especial, a chama-
primárias), Liceus, Ginásios e academias. da “Educação inclusiva” e a tão nova, mas já aceita e incor-
Mas, no que diz respeito à prática educacional, ela porada Educação à distância (EAD). Neste inicio do século
se diferia pouco da época Jesuítica e Pombalina. Assim a cabe fazer uma reflexão. Como foi o processo educacional
educação continuava a ser um bem para poucos. Mudan- brasileiro desde a descoberta aos nossos dias. O que ficou
ças lentas e quase imperceptíveis começam a acontecer de útil? O que foi descartado neste período de 509 da so-
com a chegada da República (1889 em diante). ciedade brasileira?
Aqui se destaca a Reforma Benjamim Constant, que O que se pode afirmar é que a educação apresenta hoje
tinha como princípios, a liberdade à laicidade do ensino múltiplas facetas, e múltiplas maneiras de ser feita. Educar
e a gratuidade da escola primária. No inicio da década de hoje é preparar o individuo para que tenha ferramentas (in-
30, do século xx, uma revolução sócio-política colocara o telectuais, morais e espirituais) para se colocar no mundo,
Brasil em cheque e em choque. Era o momento de os pais e neste construir a sua história e participar da construção,
penetrarem de vez no modo capitalista de se produzir e sócio – histórico - política de seu grupo. Ensinar a ler é o
de se viver. Nesta fase destaca-se o ministro Francisco primordial assim como aprender a aprender, aprender a ser
Campos, homem que foi o primeiro a assumir o nascente e aprender a conviver.
ministério da educação e tomando posse iniciou-se uma
reforma em que até hoje se faz sentir na maneira de ver a 4. O SUPORTE LEGAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
educação brasileira. Dois anos após sua posse um grupo A partir do momento que o homem condicionou-se a
de educadores ladeado por Fernando de Azevedo lançou viver em sociedade ele percebeu que era necessário que se
o conhecido manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. estabelecesse regras, conceito a serem seguidos, ideais a
Neste documento propunham-se soluções para os serem levados para todos os cantos do mundo social exis-
problemas que atravancaram o fazer educacional brasi- tente. Mas o que usar para que estes conceitos e ideais
leiro. Com termino da segunda guerra, inicia-se um pro- fossem propalados e dispersos ao maior número possível
cesso político-social denominado populismo, com ele de indivíduos e grupos sociais?
a esperança no progresso e no desenvolvimento se faz Que ferramenta escolher para que efetivamente o suces-
presente em todas as camadas e em todos os setores. Na so desta empreitada fosse ao menos em parte alcançado?
educação, havia uma forte tendência à industrialização. A resposta é; a educação. Com a educação a propaga-
A educação entra neste contexto como formadora de ção de ideias que contribuíssem para a formação ética e
mão-de-obra para a indústria nascente. Em 1961 foi cria- política do sujeito educando. No decorrer do desenvolvi-
da a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- mento sociohistórico do homem; como ser convivente com
cional, a Lei nº 4024/61. Está foi a primeira a arregimentar o outro; percebeu-se que a educação era forte fio condutor
todos os níveis de ensino. de filosofias e ideologias.

4
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Institucionalização da educação, o nascer da escola Art. 206. O ensino será ministrado com base nos se-
como a conhecemos, veio ao encontro dos conceitos guintes princípios:
ético-políticos dos dirigentes que conduziam a socie- I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
dade em que estão inseridos. cia na escola;
A educação condiciona e tem como meta efetivar o II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
que se produziu antes daquele momento em que está o pensamento, a arte e o saber;
sendo trabalhada. Os ideais éticos de determinada III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas,
época e circunstância são colocados pela escola, (seus e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
condutores, idealizadores e regentes), com predefini- IV - gratuidade do ensino público em estabelecimen-
ções, com algo pronto. O “ethos” escolar está imiscuí- tos oficiais;
do com a “ethos” social vigente. V - valorização dos profissionais da educação escolar,
Para que a sociedade não se desmorone, e que garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingres-
seus alicerces não se desestabilizem o homem cons- so exclusivamente por concurso público de provas e títulos,
tituiu a escola para que está afirmasse e reafirmasse o aos das redes públicas.
pensamento vigente. VI - gestão democrática do ensino público, na forma
Os documentos principais ora em exame para este da lei;
trabalho são a lei de Diretrizes da Educação Básica e os VII - garantia de padrão de qualidade.
Parâmetros Curriculares Nacionais. O que se segue é VIII - piso salarial profissional nacional para os profis-
um exame resistivo dos mesmos. sionais da educação escolar pública, nos termos de lei fe-
A educação básica se compõe da educação infantil, deral. .
ensino fundamental e ensino médio. O que a lei de di- Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de
retrizes da educação prega no seu corpo, significa que trabalhadores considerados profissionais da educação bá-
o cidadão tem o direito de concluir seu processo edu- sica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou ade-
cacional básico e consequentemente prosseguir para quação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos
estudos em nível superior. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. .
[..] “A história possibilidade significa nossa recu- Art. 207. As universidades gozam de autonomia didá-
sa em aceitar os dogmas, bem como, nossa recusa em tico-científica, administrativa e de gestão financeira e pa-
aceitar a domesticação do tempo. Os homens e as mu- trimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
lheres fazem a história que é possivel, não a historia entre ensino, pesquisa e extensão.
que gostariam de fazer ou a história que, as vezes di- § 1º É facultado às universidades admitir professores,
zem que deveria ser feita.” (Paulo Freire). técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.  (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 11, de 1996)
4.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERATIVA DO BRASIL § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de
A constituição Federativa do Brasil passou a vigorar pesquisa científica e tecnológica. .
em 05 outubro 1988. E o que venha a ser essa consti- Art. 208. O dever do Estado com a educação será efeti-
tuição? vado mediante a garantia de:
“Constituição é a suprema Lei de um país. Fixa-lhe I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
normas de governo, discrimina os direitos e os deve- aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
res, distribui as competências, limita a ação da autori- oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
dade e assegura ao povo o ambiente de ordem, indis- na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
pensável ao processo e à paz na sociedade.” Também nal nº 59, de 2009).
conhecida como “carta Magna”, “Lei maior”. II - progressiva universalização do ensino médio gra-
Não dá para falar em formação de professores e tuito.
em formação de pedagogos sem falar nos documentos III - atendimento educacional especializado aos por-
da educação, sendo eles: Constituição brasileira e na tadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
LDB (lei de diretrizes e bases da educação nacional). de ensino;
A constituição como a lei maior e a LDB é quem regu- IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crian-
lamenta os grandes princípios da nossa constituição ças até 5 (cinco) anos de idade.
brasileira. V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
A luta da constituição é todos na escola, mais que quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada
ao chegar à escola, esses alunos encontrem condições um;
físicas, material e também profissionais competentes. VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
 Artigos da Constituição educacional Brasileira: condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do educação básica, por meio de programas suplementares
Estado e da família, será promovida e incentivada com de material didático escolar, transporte, alimentação e as-
a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- sistência à saúde. .
volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direi-
cidadania e sua qualificação para o trabalho. to público subjetivo.

5
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 2º - O não - oferecimento do ensino obrigatório § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará


pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa res- prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
ponsabilidade da autoridade competente. obrigatório, no que se refere à universalização, garantia de
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os edu- padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano na-
candos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e cional de educação. .
zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à § 4º - Os programas suplementares de alimentação e
escola. assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financia-
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendi- dos com recursos provenientes de contribuições sociais e
das as seguintes condições: outros recursos orçamentários.
I - cumprimento das normas gerais da educação na- § 5º A educação básica pública terá como fonte adicio-
cional; nal de financiamento a contribuição social do salário-edu-
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder cação, recolhida pelas empresas na forma da lei. (Redação
Público. dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o en- § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
sino fundamental, de maneira a assegurar formação bá- contribuição social do salário-educação serão distribuídas
sica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
nacionais e regionais. educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. .
§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às es-
constituirá disciplina dos horários normais das escolas colas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitá-
públicas de ensino fundamental. rias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:
§ 2º - O ensino fundamental regular será ministrado I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus
em língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- excedentes financeiros em educação;
genas também a utilização de suas línguas maternas e II - assegure a destinação de seu patrimônio a outra
processos próprios de aprendizagem. escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po-
der Público, no caso de encerramento de suas atividades.
Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser
Municípios organizarão em regime de colaboração seus
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental
sistemas de ensino.
e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insu-
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e
ficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cur-
o dos Territórios, financiará as instituições de ensino pú-
sos regulares da rede pública na localidade da residência
blicas federais e exercerá, em matéria educacional, função
do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir
redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização
prioritariamente na expansão de sua rede na localidade.
de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qua-
§ 2º - As atividades universitárias de pesquisa e exten-
lidade do ensino mediante assistência técnica e financeira são poderão receber apoio financeiro do Poder Público.
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu-
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o
fundamental e na educação infantil. . sistema nacional de educação em regime de colaboração
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão priorita- e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple-
riamente no ensino fundamental e médio. . mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimen-
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a to do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defi- por meio de ações integradas dos poderes públicos das
nirão formas de colaboração, de modo a assegurar a uni- diferentes esferas federativas que conduzam a.
versalização do ensino obrigatório. . I - erradicação do analfabetismo;
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritaria- II - universalização do atendimento escolar;
mente ao ensino regular. . III - melhoria da qualidade do ensino;
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos IV - formação para o trabalho;
de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municí- V - promoção humanística, científica e tecnológica do
pios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resul- País.
tante de impostos, compreendida a proveniente de trans- VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos
ferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. públicos em educação como proporção do produto inter-
§ 1º - A parcela da arrecadação de impostos trans- no bruto.
ferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, 4.2 A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste A lei de diretrizes e bases é quem organiza o processo,
artigo, receita do governo que a transferir. obtendo mudanças significativas na LDB 9394/96 aos níveis
§ 2º - Para efeito do cumprimento do disposto no de ensino. Hoje a educação é pautada em educação infan-
«caput» deste artigo, serão considerados os sistemas de til, ensino fundamental e ensino médio. Mudanças também
ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplica- na composição dos níveis escolares; a educação básica, que
dos na forma do art. 213. se compõe da educação infantil e o ensino superior. Outra

6
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

mudança foi o aumento dos dias letivos de 180 para 200 se não resolver passa para união. Isso é o chamado de re-
dias letivos de aula. E também se tornou obrigatório o pro- gime de colaboração, para que o direito a educação seja
cesso de recuperação. garantido. A etapa chamada de educação básica, e este di-
A idade de matricula nos anos iniciais do ensino fun- reito são asseguradas pela constituição nacional. O trecho
damental passou para seis anos, onde passaram o ensino examinado, visto na pratica, significa que os conhecimen-
fundamental de oito para nove anos. Isso ocorreu através tos que o educando traz conseguem do meio em que vive
de um decreto presidencial em 2005. das situações sociais que participa devem ser valorizados
Outra questão foi à exigência de formação superior e colocados lado a lado com os conhecimentos escolares.
para os professores da educação básica (sendo elas edu- As diretrizes não são regras a seguir, são sugestões
cação infantil, educação fundamental aos anos iniciais). para desenvolver o trabalho. Já os programas, trazem o es-
Tratando-se também como importante a educação física e tigma de serem prontos onde nada pode ser modificado.
artes para o currículo da educação básica. Ao descentralizar e dar maleabilidade ao fazer educacio-
[...]”Aos que nada vêem de bom na LDB, gostaríamos nal, distribui-se entre os atores envolvidos no processo as
de dizer que o esforço do senador Darcy Ribeiro não foi responsabilidades e as consequências resultantes do que
em vão, de um congresso vetusto como o nosso, só pode foi feito neste contexto, não há um só proposito e não há
sair uma lei antiquada. Mesmo assim, a Lei contém avan- uma só proposta, há uma variância de conceitos e possi-
ços ponderáveis, que permitem, sobretudo em seu senso bilidades. Por exemplos os PCNs (parâmetros curriculares
pela flexibilidade legal, rumar para inovações importantes” nacionais), os DCNEF e também os RCN (referencial curri-
(DEMO, 1997, p.95). cular nacional) onde são documentos que parametrizam as
A legislação traz um alto teor de autonomia, proporcio- decisões, eles vão articular em função normativa.
nando avanços, mais também precisando de uma revisão Na republica federativa do Brasil, na união dos estados
para ver o que está sendo contemplados e concretizados brasileiros, temos a responsabilidade do estado, e da união
nos termos da lei. A legislação em educação ela caracteriza de manter técnicas financeiras e estabelecer níveis nacio-
o que é o nosso espaço, espaço esse o da escola constituí- nais às diretrizes.
do e instituído, por isso ser professor não basta somente A educação possui seu sistema de avaliação, possui
dar aula, fazer o cotidiano da sala de aula, mais sim enten- parâmetros que organiza e também controla sendo elas a
der todo o sistema no qual trabalhamos. Conhecendo os Provinha Brasil (é uma avaliação diagnóstica aplicada aos
atos legais que organizam e determinam as responsabili- alunos matriculados no segundo ano do ensino fundamen-
dades dentro da escola. tal). Enem (provas do Exame Nacional do Ensino Médio) e
O principio da flexibilidade tem como proposta, que os o Enade (“Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
dirigentes escolares, em qualquer nível, devem fazer adap- avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação,
tações no proceder da escola para que esta possa receber ingressantes e concluintes, em relação aos conteúdos pro-
e trabalhar com todos os educandos que fazem parte do gramáticos dos cursos em que estão matriculados. O exa-
meio onde esta se insere. No campo, nas aldeias indíge- me é obrigatório para os alunos selecionados e condição
nas, em época de colheita, no período chuvoso tudo de ser indispensável para a emissão do histórico escolar. A pri-
colocado no calendário escolar. Também deve se levar em meira aplicação ocorreu em 2004 e a periodicidade máxima
conta o período de trabalho dos educandos, tornando os com que cada área do conhecimento é avaliada é trienal”).
horários de aula menores (como acontece com a EJA) ten- Além disso, cada escola possui o seu processo de avaliação.
do em vista a dura rotina do educando que exerce algum [..] “Temos ai uma novidade pertinente, que deixa o
tipo de trabalho. O Brasil por se extenso possui uma diver- linguajar aéreo de uma função que esta apenas no papel,
sidade cultural muito grande, por isso a importância da fle- para assumir o tom de principio fundamental da organi-
xibilidade, para que aja democracia. Mais isso não significa zação dos sistemas [...] não quer dizer que se cumpra, até
fazer o que quiser, e sim atender as peculiaridades onde as porque as resistências são fantásticas”. (DEMO, 1997).
decisões serão tomadas de uma forma rápida. Entre as DCNEF´, os PCNs e as propostas das unidades
Ao elaborar Diretrizes os gestores da educação abrem de ensino há uma consonância de ideias, onde não se ex-
as mais diversas possibilidades para que todos possam fa- clui o que prega os documentos oficiais, mas faz-se uma
zer uma educação que preencha as necessidades do gru- adaptação ao contexto e ao momento em que se executa
po onde ela se desenvolve. Com a LDB os professores e o fazer pedagógico. O MEC vai instituir formas de regu-
instituições de ensino passaram a ser avaliados, onde os lação para que o currículo não seja alvo de deformações
problemas detectados não culpem apenas uma dimensão, e inconstitucionalidades. Este setor do governo verificara
mais todos sejam avaliados e os procedimentos cabíveis constantemente o desenvolvimento do trabalho desenvol-
sejam tomados, para que os problemas possam desapa- vido através de pesquisas e consultas. São as seguintes as
recer. Diretrizes Curriculares Nacionais:
O ponto forte da lei é a qualidade de ensino. Com isso As escolas deverão estabelecer como norteadores de
ficam em evidencia alguns pontos da lei. Art.8º “A União, os suas ações pedagógicas:
Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em • Os princípios éticos da autonomia, da responsa-
regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. bilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum.
Quer dizer quando o município não consegue resolver suas • Os princípios dos direitos e deveres da cidadania, do
reivindicações ela deve se submeter ao estado, e o estado exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática;

7
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

• Os princípios estéticos da sensibilidade, da cria- 4. O acesso a todos aos conhecimentos da Base Nacio-
tividade da diversidade de manifestações artísticas e cul- nal comum é obrigatório.
turais. 5. É dever de a escola estabelecer uma relação profí-
Ao definir suas propositas pedagógicas, as escolas de- cua entre o conhecimento estabelecido curricular mente a
verão explicitar o reconhecimento da identidade pessoal comunidade local e o sujeito com sua maneira de ver e ser
de alunos, professores e outros profissionais e a identida- no mundo.
de de cada unidade escolar e de seus respectivos sistemas 6. A RCN (Referencial Curricular Nacional) deve ser en-
de ensino. riquecida com conhecimentos locais para uma efetiva assi-
As escolas deverão reconhecer que as aprendizagens milação dos sujeitos e da comunidade.
são constituídas pela interação dos processos de conhe- 7. Há que se rever sempre o trabalho escolar. Necessi-
cimento com as de linguagens e os afetivos, em conse- tando assim de um processo permanente de avaliação dos
quência das relações entre as distintas identidades dos caminhos seguidos.
vários participantes do contexto escolarizado; as diversas Nisto tudo temos que o fazer da educação ate o que
experiências de vida dos alunos, professores e demais par- prega os documentos oficiais pressupõe um trabalho de
ticipantes do ambiente escolar, expressas através de múl- compreensão dos conceitos legais. Assim se extrai o que é
tiplas formas de dialogo, devem contribuir para a consti- necessário para a pratica pedagógica na história corrente
tuição de identidade afirmativas, persistentes e capazes de da formação docente, onde várias ciências têm, a sua con-
protagonizar ações autônomas e solidarias em relação a tribuição. De forma direta, como por exemplo, a história da
conhecimentos e valores indispensáveis a vida cidadã. Em educação, a sociologia e a própria história social em si, ou
todas as escolas publicas devera ser garantida a igualdade de forma indireta como a matemática, a estatística e a eco-
de acesso para alunos a uma base nacional comum, de nomia, vem, à medida que estas mesmas se desenvolvem
maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pe- e evoluem, aclarando e consubstanciando a formação do-
dagógica na diversidade nacional. Mas será que isto está cente ontem e hoje. Neste âmbito surgiu com uma gama
se efetivando, visto que a todo o momento a mídia traz variada de artifícios, o direto. Com o auxilio do direito os
relatos de descasos em relação à oferta de vagas. A base professores embasam suas descobertas e suas pesquisas
comum nacional e sua diversidade deverão integrar-se em junto aos educandos. Através desta ciência conhece-se o
torno do paradigma curricular, que vise a estabelecer a proceder do comportamento humano, que com outras
relação entre a educação fundamental e: ciências não seria possível visualizar e examinar.
• A vida cidadã através da articulação entre vários  Os referenciais legais são fontes permanentes de pes-
dos seus aspectos como: quisas e estudos por parte dos professores, em todos os
• A saúde seus níveis de integração. Então temos que, o direito edu-
• A sexualidade cacional é de importância valiosa, e contribui de forma efe-
• A vida familiar e social tiva para a construção de uma educação real.
• O meio ambiente O profissional docente, bombardeado pelos mais di-
• O trabalho ferentes tipos de informação, precisa evidentemente, sele-
• A ciência e a tecnologia cionar, peneirar toda essa mixórdia de conceitos. A legis-
• A cultura lação educacional vem também ajudar nesta tarefa. Com
• As linguagens sensatez e estudo, o plano legislativo serve de base para
• As áreas de conhecimentos: que se arregimente e organize o insumo necessário para o
• Língua portuguesa trabalho do professor.
• Língua materna, para populações indígenas e mi- Durante anos buscou se explicar conceitos educacionais
grantes. baseados apenas em suposições primeiros religiosos, depois
• Matemática filosóficas descambando em seguida para os planos sociais e
• Ciências econômicos. Mas algo faltava algo que pudesse consubstanciar
• Geografia a prática docente de forma mais especifica, mas orientada.
• Historia Neste contexto, um tanto o quanto conturbado, nas-
• Língua estrangeira ceu ou desvinculou-se das outras áreas, como acreditam
• Educação artística alguns, o direito. Ele sozinho não vem responder a todas as
• Educação física questões que atormentam o educador. Mas com ele pode-
• Educação religiosa na forma do art.33 da lei 9.394, -se pisar em um terreno mais firme, menos carregado de
de 20 de dezembro de 1996. suposições, e o que é muito perigoso, de ideologias com
Síntese das Diretrizes: bases duvidosas.
1. A escola deve pautar seu trabalho em princípios éti- Sendo a sociedade regida e condicionada por leis que
cos, de cidadania e estéticos. os seus membros estabeleceram, houve a premente ne-
2. Na elaboração do plano pedagógico levar em conta cessidade de se transmitir estes códigos e normas para as
o contexto onde se insere a escola. Situar a pratica para gerações futuras.
sujeitos reais. O meio, a forma de atingir uma parcela maior de indiví-
3. A pratica deve elevar a percepção dos sujeitos en- duos foi encontrada na educação. Este pensamento é uma
volvidos e de sua contribuição para o grupo. constante na obra de Durkheim;

8
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

[...] “A construção do ser social, feita em boa parte pela tada no curso de pedagogia. Nesta concepção o currículo
educação, é a assimilação pelo individuo de uma série de é o arcabouço onde se aglomeram as outras nuances da
normas e princípios – sejam morais, religiosas, éticas ou de educação.
comportamento...” (Durkheim, 1978). Partindo de pressupostos já anteriormente estabelecidos,
Neste sentido, temos que a educação é algo condi- os que controlam gerenciam o processo educacional (fala-se
cionadora da sociedade e de seus preceitos. Quando este aqui das esferas superior, secretários, coordenadores, minis-
pensador elaborou sua teoria sociológica, a sociedade es- tros, especialistas) estabelecem que, quando e como ensi-
tava passando por grandes transformações, tanto no que nar. Nesta, concepção distanciada da realidade, do contexto
diz respeito à religião, a moral e a economia entre outros. social em que está inserido o educando, o currículo é algo
Na escola encontramos normas e procedimentos que de- fragmentado, fragmentário e deturpador do conhecimento.
vemos seguir. Assim o currículo tradicional não leva em consideração fato-
Estas normas configuram o sistema em que a escola res diverso (como a pré-prepararão ou pré conhecimento do
está inserida, sendo que ela é um reflexo da sociedade. aluno) para que se faça o trabalho de ensinar.
Hoje, na escola atual ainda a muito do pensamento Esta maneira de conceber “o que ensinar” é resultado
de Durkheim, pois mesmo com as constantes mudanças e da visão europeia medieval trazida pelos portugueses, que
evoluções da sociedade a escola continua a mesma. se afirmou na escola brasileira.
A atual prática pedagógica possui vários pontos que Com o desenvolvimento dos meios de comunicação da
ligam ao pensamento durkheiniano, pois no momento pre- tecnologia de transmissão de informações começou-se a
sente a escola ainda é reprodutora do sistema social - po- perceber que o currículo instituído não mais satisfazia as
lítico em que está inserida. necessidades vigentes. “E, em se tratando de currículo es-
O trabalho didático formatizado, a avaliação classifi- colar, temos mesmo uma grande margem de autonomia
catória são apenas dois pontos que o educador usa para para incluir saberes e práticas mais convenientes aos pro-
estabelecer a sua prática, que nos remetem ao pensamento jetos que formulamos ou elegemos. Se isso é possível, a
de Durkheim, ou seja, a presença das ideias deste pensador escola não pode ser vista como instância reprodutora”
ainda é muito corrente e enraizada na escola atual. Este currículo desfragmentado traz implícitos conhe-
Não há uma abertura para novas ideias e as conseguem cimentos que não poderiam ou não teriam como serem
se sair no pensamento pedagógico são logo recicladas. expostos. É o chamado currículo oculto. Neste currículo os
O novo na escola moderna, ainda é uma utopia. Mas conhecimentos devem ser inferidos a partir de outros co-
uma insistência por parte dos educadores. Eles querem que nhecimentos apresentados em sala de aula.
a escola seja mais que espelho, seja uma fonte de renova- Avançando um bom período no tempo e situando no
ção. momento atual da educação brasileira, observa-se uma
mudança significativa na maneira de conceber o currículo
4.3 CURRÍCULO e suas diferentes nuances. Os estudos sociológicos e filo-
Quando o homem se organizou em sociedades, gru- sóficos apontam que o currículo deve ser condizente com
pos, tribos, aldeias, começou a se produzir ciências, histó- a prática social do individuo. Portanto “aprender a conhe-
ria, filosofias entre outros conhecimentos. Na medida em cer... Fundamenta-se no prazer de compreender, de conhe-
que estes conhecimentos foram se acumulando e se des- cer, de descobrir” (PROCAP).
dobrando, aumentou também o número de interessados Isto sendo posto para apreciação descobre-se que
em usufruir destas ciências e destas filosofias. Nisto a esco- quando o currículo caminha concernente dos anseios e
la já estava (pelo menos no seu arcabouço) já constituída. questionamentos do educando e da sociedade em que
(deste contexto temporal e histórico o do nascimento da este está inserido ele se torna mais que uma ferramenta,
escola veio à tona a dúvida que persegue até hoje as que se torna um subsidio indispensável. Currículo não é apenas
lidam diretamente (e até indiretamente) com a educação: um documento que contemplam as disciplinas e sim toda
O que ensinar?). Qual o valor de determinada informação a ação, todo o percurso percorrido por todos os envolvidos
em relação à outra? Como estipular o nível de aprofunda- no sistema educacional, família, comunidade, professores,
mento de determinado saber? O que preconiza a lei edu- alunos, governo federal, governo estadual e também os re-
cacional? presentantes municipais, todas as pessoas envolvidas no
No momento atual da educação (tanto brasileira quan- processo educacional, de certa forma elabora, organiza e
to mundial), entende-se currículo com sistematização, or- legitima. Todos os saberes e conhecimentos estão ligados
ganização e seleção dos conhecimentos e ciências vigentes a politica e a cultura, trabalhando o currículo, trabalha-se o
que devem ser transmitidas pela escola na busca, de uma saber do cotidiano onde se transforma em saber cientifico.
formação geral mínima do educando, o currículo é novo Hoje o currículo ele é discutido em reuniões e amplos
na própria academia educacional, nas décadas de 50 e 60 escolares. E a partir dessa discursão aprendem-se os an-
essa área era ligada aos alunos que faziam pedagogia e seios as subjetividades, as vontades, os medos que per-
optavam por uma habilitação chamada supervisão escolar. meiam o cotidiano escolar com isso ele se torna vivo den-
Atualmente percebeu a necessidade do pedagogo, onde tro do processo ensino aprendizagem.
ele não poderia mais ter uma formação fragmentada sem Ele hoje possui a opção de flexibilidade sendo ele de
conhecer a dimensão mais ampla do currículo. A partir da adaptação grande porte, e a adaptação de pequeno porte.
lei 9394/96 a disciplina do currículo passou a ser implan- Grande porte seria, quando a escola precisa fazer alguma

9
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

manutenção, construir alguma coisa, reformar algo, enfim Fonte:http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/


algo que não depende do professor em sala de aula, mais glossario/verb_c_concepcao_pedagogica.htm
sim de uma estrutura ampla. Adaptação de pequeno porte
significa, quando o professor poderá fazer suas próprias As tendências pedagógicas são divididas em liberais
adaptações curriculares no contexto e no cotidiano de sala e progressistas. A pedagogia liberal acredita que a escola
de aula. tem a função de preparar os indivíduos para desempe-
A composição do currículo “traz uma base nacional co- nhar papéis sociais, baseadas nas aptidões individuais.
mum, onde garante uma unidade nacional, para que todos Dessa forma, o indivíduo deve adaptar-se aos valores e
os alunos possam ter acesso aos conhecimentos mínimos”. normas da sociedade de classe, desenvolvendo sua cul-
Quer dizer, todos os alunos independentemente de qual tura individual. Com isso as diferenças entre as classes
cidade, venham a ter os mínimos conhecimentos. E a parte sociais não são consideradas, já que, a escola não leva
diversificada é a opção a qual possa ser implantada a reali- em consideração as desigualdades sociais. Existem quatro
dade regional e local. tendências pedagógicas liberais:
Tradicional: tem como objetivo a transmissão dos
Fonte:https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pe- padrões, normas e modelos dominantes. Os conteúdos
dagogia/principios-fundamentos-procedimentos-educa- escolares são separados da realidade social e da capaci-
cao-basica-uma-relacao.htm dade cognitiva dos alunos, sendo impostos como verda-
de absoluta em que apenas o professor tem razão. Sua
metodologia é baseada na memorização, o que contribui
para uma aprendizagem mecânica, passiva e repetitiva.
CONCEPÇÕES E TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
CONTEMPORÂNEAS; Renovada: a educação escolar assume o propósito de
levar o aluno a aprender e construir conhecimento, consi-
derando as fases do seu desenvolvimento. Os conteúdos
escolares passam a adequar-se aos interesses, ritmos e
A expressão “concepções pedagógicas” é correlata de fases de raciocínio do aluno. Sua proposta metodológica
“idéias pedagógicas”. A palavra pedagogia e, mais particu- tem como característica os experimentos e as pesquisas.
larmente, o adjetivo pedagógico têm marcadamente res- O professor deixa de ser um mero expositor e assume o
sonância metodológica denotando o modo de operar, de papel de elaborar situações desafiadoras da aprendiza-
realizar o ato educativo. Assim, as idéias pedagógicas são gem. A aprendizagem é construinda através de planeja-
as idéias educacionais entendidas, porém, não em si mes- mentos e testes. O professor passa a respeitar e a atender
mas, mas na forma como se encarnam no movimento real as necessidades individuais dos alunos.
da educação orientando e, mais do que isso, constituindo
a própria substância da prática educativa. As concepções Renovada não-diretiva: há uma maior preocupação
educacionais, de modo geral, envolvem três níveis: o nível com o desenvolvimento da personalidade do aluno, com
da filosofia da educação que, sobre a base de uma reflexão o autoconhecimento e com a realização pessoal. Os con-
radical, rigorosa e de conjunto sobre a problemática educa- teúdos escolares passam a ter significação pessoal, indo
tiva, busca explicitar as finalidades, os valores que expres- ao encontro dos interesses e motivação do aluno. São
sam uma visão geral de homem, mundo e sociedade, com incluídas atividades de sensibilidade, expressão e comu-
vistas a orientar a compreensão do fenômeno educativo; nicação interpessoal, acentuando-se a importância dos
o nível da teoria da educação, que procura sistematizar os trabalhos em grupos. Aprender torna-se um ato interno e
conhecimentos disponíveis sobre os vários aspectos envol- intransferível. A relação professor-aluno passa a ser mar-
vidos na questão educacional que permitam compreender cada pela afetividade.
o lugar e o papel da educação na sociedade. Quando a
teoria da educação é identificada com a pedagogia, além Tecnicista:  enfatiza a profissionalização e modela o
de compreender o lugar e o papel da educação na socie- individuo para integrá-lo ao modelo social vigente, tec-
dade, a teoria da educação se empenha em sistematizar, nicista. Os conteúdos que ganham destaque são os ob-
também, os métodos, processos e procedimentos, visando jetivos e neutros. O professor administra os procedimen-
a dar intencionalidade ao ato educativo de modo a garantir tos didáticos, enquanto o aluno recebe as informações.
sua eficácia; finalmente, o terceiro nível é o da prática pe- O educador tem uma relação profissional e interpessoal
dagógica, isto é, o modo como é organizado e realizado o com o aluno.
ato educativo. Portanto, em termos concisos, podemos en-
tender a expressão “concepções pedagógicas” como as di- Já as tendências pedagógicas progressistas anali-
ferentes maneiras pelas quais a educação é compreendida, sam de forma critica as realidades sociais, cuja educação
teorizada e praticada. Na história da educação, de modo possibilita a compreensão da realidade histórico-social,
geral, e na história da educação brasileira, em particular, explicando o papel do sujeito como um ser que constrói
produziram-se diferentes concepções pedagógicas, cujas sua realidade. Ela assume um caráter pedagógico e políti-
características são apresentadas nos verbetes seguintes. co ao mesmo tempo. É divida em três tendências:

10
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Libertadora: o papel da educação é conscientizar para Até ontem, a repercussão e as conseqüências dessa
transformar a realidade e os conteúdos são extraídos da defasagem tinham seu reflexo voltado, quase que exclusi-
pratica social e cotidiana dos alunos. Os conteúdos pré-se- vamente, para o interior do País. Hoje, com a globalização,
lecionados são vistos como uma invasão cultural. A meto- com o País plugado ao mundo, lidando com novos referen-
dologia é caracterizada pela problematizarão da experiên- ciais, o baixo nível de escolaridade de sua população afeta
cia social em grupos de discussão. A relação do professor a sua imagem externa e a sua credibilidade. A qualidade de
com o aluno é tida como horizontal em que ambos passam mão-de-obra se tornou essencial para assegurar condições
a fazer parte do ato de educar. mínimas de competitividade à economia da nação. Os cen-
tros internacionais, com sua economia forte de mercado,
Libertaria:  a escola propicia praticas democráticas, regem, em massificação, destinos dos demais países, sendo
pois acredita que a consciência política resulta em con- mais prejudicados os que menos aparelhados estão.
quistas sócias. Os conteúdos dão ênfase nas lutas sociais, Em tempos em que o conhecimento não tem frontei-
cuja metodologia é está relacionada com a vivência grupal. ras, não há como conviver com padrões de escolaridade
O professor torna-se um orientador do grupo sem impor baixos; são incompatíveis com essa realidade. No impacto
suas idéias e convicções. da competitividade, o mercado já exige fluência em dois
ou mais idiomas, conhecimentos aprimorados da informá-
Crítico-social dos conteúdos: a escola tem a tarefa tica e uma cultura geral ampla. O consultor francês Olivier
de garantir a apropriação critica do conhecimento cientifi- Bertrand reforça esta análise, dizendo: “A competitividade
co e universal, tornando-se uma arma de luta importante. das nações depende cada vez mais da qualidade de seus
A classe trabalhadora deve apropriar-se do saber. Adota recursos humanos e não da quantidade de seus recursos
o método dialético, esse que é visto como o responsável naturais”.
pelo confronto entre as experiências pessoais e o conteúdo No Brasil, as deficiências do sistema educacional per-
transmitido na escola. O educando participa com suas ex- passam os três níveis de ensino, atingindo o quarto grau,
periências e o professor com sua visão da realidade. que é o da pós-graduação.
A educação passa, no presente, por amplas reformas.
Fonte: https://www.infoescola.com/pedagogia/ten- Mexem-se nos currículos do ensino fundamental e médio,
dencias-pedagogicas/ em seus amplos aspectos informativos e formativos. O
MEC formulou as “Diretrizes Curriculares Nacionais” (DCN),
que fixam o currículo mínimo obrigatório e a carga horária
a ser seguida por todas as escolas do território nacional.
RELAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E POLÍTICO- Elaborou os “Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para
CULTURAIS DA EDUCAÇÃO; a educação básica, que são de grande ajuda ao professor,
em sala de aula. São uma referência do que seria uma boa
escola. Os “Parâmetros Curriculares Nacionais” não têm
caráter obrigatório e abordam sugestões de currículos
O momento presente vem demonstrando, através dos com conteúdos renovados que levam o aluno a “aprender
mais diferentes meios de comunicação, dos vários setores a aprender”, onde informação e formação caminham em
da economia brasileira, significativas manifestações em movimento circular.
prol da educação. Parece estar havendo a grande conscien- Questionam-se, também, o currículo do 3º grau – a
tização do peso da educação na nova realidade que vem desatualização da Universidade diante do mercado glo-
remodelando o mundo. balizado dos nossos dias – e a formação do professor.
Por décadas, o País descuidou-se da educação de seu Na relevante questão da repetência e da evasão escola-
povo. Os alertas de educadores, de intelectuais, passavam res, desloca-se do aluno o foco do problema e passa-se
como que despercebidos pelos governantes. Os ilustrados a corrigir as falhas do sistema. Através de uma avaliação
discursos políticos  ficavam, grandemente, no papel, não processual contínua do sistema: “Avaliação da Educação
se transmutavam em ações efetivas. A educação, relegada Básica” (Saeb), procura-se situar o nível de aprendizagem
a um plano inferior, foi deteriorando-se, caindo na grave e dos alunos e ajustar o sistema nos aspectos necessários.
significativa defasagem dos dias atuais. A escola, que deve- Ao avaliar o 2º grau, deu-se início ao projeto de Exame
ria representar portas abertas à ascensão social, tornara-se Nacional do Ensino Médio (Enem), exame nacional de final
obsoleta pelo desajuste entre sua fraca atuação e a alta do ensino médio, criado em 1998, pelo MEC, com a finali-
competitividade do mercado de trabalho, que exige quali- dade de avaliar as habilidades e as competências adquiri-
ficação profissional. Na verdade, encontramos, em termos das pelos estudantes no fim da educação básica e também
de ensino fundamental e médio, boas escolas privadas com o propósito de oferecer às universidades um outro
para os ricos e, infelizmente, más escolas públicas para os critério de seleção do aluno. Ele é, ao lado do vestibular,
pobres, com exceções. uma outra modalidade, de ingresso à universidade, uma
A professora Luciana Velo, ganhadora do concurso “O vez que pela última Lei de Diretrizes e Bases da Educação
professor escreve sua história”, desabafou, dizendo: “O (Lei n.º 9.394/96), sancionada em 20/12/1996, o vestibular
professor é discriminado e tratado com descaso pelo go- – a tradicional prova de ingresso ao ensino superior, que
verno e pela sociedade e não tem chance de evoluir”. no Brasil remonta a 1911 – deixou de ser obrigatório. Hoje,

11
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

as universidades têm liberdade de escolher seu próprio sis- superstições e a uma postura mais adequada em relação a
tema de avaliação, de decidir qual a melhor opção para sua sua participação como indivíduo na sociedade em que vive
estrutura educacional. e do ambiente que ocupa. 
Instituiu-se o Exame Nacional de Cursos (ENC), o pro- O desafio de contribuir com a educação do jovem e do
vão, em que, através do desempenho dos alunos, se ava- cidadão, num momento de mudanças e incertezas e a ne-
lia a qualidade do ensino superior, o 3º grau. Esse exame cessidade de resgatar valores tão importantes condizentes
servirá de base para a concessão do recadastramento dos com a sociedade contemporânea leva o professor a enten-
cursos superiores, a cada cinco anos. O Exame Nacional de der que deverá exercer um novo papel, de acordo com os
Cursos (ENC) conseguiu colocar na pauta da discussão o princípios de ensino-aprendizagem adotados, como saber
problema da qualidade dos cursos de graduação. lidar com os erros, estimular a aprendizagem, ajudar os
O aperfeiçoamento educacional e cultural nunca foi alunos a se organizarem, educar através do ensino, entre
tão necessário. Não basta a criança ser educada, precisa outros.
ser  bem educada. Estamos vivendo um processo de re- O aluno precisa adquirir habilidades como fazer con-
volução tecnológica e industrial que introduz mudanças sultas em livros, entender o que lê, tomar notas, fazer sínte-
rápidas e importantes nos métodos e na organização da se, redigir conclusões, interpretar gráficos e dados, realizar
produção. A escola precisa criar no aluno a mentalidade experiências e discutir os resultados obtidos e, ainda, usar
tecnológica e científica, a fim de ajustá-lo aos novos tipos instrumentos de medida quando necessário, bem como
de competitividade. compreender as relações que existem entre os problemas
A estagnação, a domesticação da escola, levam ao in- atuais e o desenvolvimento científico. Isso só será possí-
sucesso, ao desemprego. O professor Anísio Teixeira, em vel, a partir do momento que o professor assumir o seu
sua famosa palestra na Associação Brasileira de Educação papel de mediador do processo ensino-aprendizagem,
(1952), já dizia: “O que importa na cultura de um povo é o favorecendo a postura reflexiva e investigativa. Desta ma-
atrito, a oposição, pois esses são os elementos que promo- neira ele irá colaborar para a construção da autonomia de
vem o revigoramento e a vida de suas instituições e ma- pensamento e de ação, ampliando a possibilidade de par-
neiras de ser”. ticipação social e desenvolvimento mental, capacitando os
alunos a exercerem o seu papel de cidadão do mundo.
Fonte:http://www.izabelsadallagrispino.com.br/index. O modo de entender e agir que nos possibilita não nos
php?option=com_content&view=article&id=1156 deixarmos abater pela adversidade e, até mesmo, de utili-
zá-la para crescer. Uma das causas do fracasso do ensino
é que tradicionalmente, a prática mais comum era aquela
em que o professor apresentava o conteúdo partindo de
PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: definições, exemplos, demonstração de propriedades, se-
PAPEL DO EDUCADOR, DO EDUCANDO, DA guidos de exercícios de aprendizagem, fixação e aplicação,
SOCIEDADE. pressupondo-se que o aluno aprendia pela reprodução.
Considerava-se que uma reprodução correta era evidência
de que ocorrera a aprendizagem. Essa prática mostrou-se
ineficaz, pois a reprodução correta poderia ser apenas uma
O mundo está mudando e isso está ocorrendo a uma simples indicação de que o aluno aprendeu a reproduzir,
velocidade sem precedentes na evolução histórica da hu- mas não aprendeu o conteúdo. É necessário saber para
manidade. A globalização, o surgimento de novas tecnolo- ensinar. O professor deve se mostrar competente na sua
gias, como o avanço das telecomunicações e da informá- área de atuação, demonstrando domínio na ciência que se
tica, contribuem para que ocorra mudanças, também, na propõe a lecionar, pois do contrário, irá apenas “despejar”
Educação. A interação professor - aluno vem se tornando os conteúdos “decorados” sobre os alunos, sem lhes dar
muito mais dinâmica nos últimos anos. oportunidade de questionamentos e criticidade.
O professor tem deixado de ser um mero transmissor Adequar a metodologia e os recursos audiovisuais de
de conhecimentos para ser mais um orientador, um es- forma que haja a comunicação com os alunos, é também,
timulador de todos os processos que levam os alunos a uma forma de fazer da aula um momento propício à apren-
construírem seus conceitos, valores, atitudes e habilidades dizagem. 
que lhes permitam crescer como pessoas, como cidadãos É importantíssimo que o professor tenha, também,
e futuros trabalhadores, desempenhando uma influência competência humana, para que possa valorizar e estimular
verdadeiramente construtiva. os alunos, a cada momento do processo ensino-aprendiza-
A Educação deve não apenas formar trabalhadores gem. A motivação é imprescindível para o desenvolvimen-
para as exigências do mercado de trabalho, mas cidadãos to do indivíduo, pois bons resultados de aprendizagem só
críticos capazes de transformar um mercado de explora- serão possíveis à medida que o professor proporcionar um
ção em um mercado que valorize uma mercadoria cada ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, compa-
vez mais importante: o conhecimento. Dentro deste con- rar, discutir, rever, perguntar e ampliar idéias.
texto, é imprescindível proporcionar aos educandos uma Dentro das competências: científica, técnica, humana
compreensão racional do mundo que o cerca, levando-os e política desenvolvidas pelo professor, é essencial propi-
a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou ciar aos alunos condições para o desenvolvimento da ca-

12
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

pacidade de pensar crítica e logicamente, fornecendo-lhes Bom, vou te contar uma coisa antes de prosseguir.
meios para a resolução dos problemas inerentes aos con- Essa concepção de Educação Inclusiva é baseada no
teúdos trabalhados interligados ao seu cotidiano, fazendo livro “Inclusão Escolar – O que é? Porque? Como fazer?” de
com que ele compreenda que o estudo é mais do que mera Maria Teresa Eglér Mantoan (uma das maiores especialistas
memorização de conceitos e termos científicos transmiti- do Brasil em educação inclusiva).
dos pelo professor ou encontrados em livros. 
É um trabalho em que raciocínio e criatividade são re- Qual é a diferença entre Educação Especial e Educação
compensados. Inclusiva?
É indispensável dar mais ênfase à aprendizagem do A diferença está no termo INCLUSIVA.
que aos programas e provas como é prática comum em Segundo a psicóloga Marina Almeida, no “Manual In-
nossas escolas, pois no processo de ensino e aprendiza- formativo sobre inclusão: informativo para educadores”,
gem, conceitos, idéias e métodos devem ser abordados podemos definir educação especial e educação inclusiva
mediante a exploração de problemas, desenvolvendo com- da seguinte forma:
petências para a interpretação e resolução dos mesmos. E
esta resolução não é um exercício em que o aluno aplica, Conceito de Educação Especial:
de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo Educação especial é uma modalidade de ensino que
operatório, mas uma orientação para a aprendizagem, pois visa promover o desenvolvimento das potencialidades de
proporciona o contexto em que se pode aprender con- pessoas portadoras de necessidades especiais, condutas
ceitos, procedimentos e atitudes. Para que ocorram essas típicas ou altas habilidades, e que abrange os diferentes
transformações, tão necessárias, é preciso que o professor níveis e graus do sistema de ensino.
demonstre profissionalismo, ética e, acima de tudo, com- Ou seja, uma modalidade de ensino para pessoas com
promisso com o sucesso dos alunos. O compromisso de deficiência ou altas habilidades.
conduzi-los ao aprendizado. É o desafio para todos os que
estão envolvidos em Educação.  Conceito de Educação Inclusiva:
Na escola inclusiva o processo educativo deve ser en-
Fonte: http://www.udemo.org.br/RevistaPP_02_05Pro- tendido como um processo social, onde todas as crianças
fessor.htm portadoras de necessidades especiais e de distúrbios de
aprendizagem têm o direito à escolarização o mais próxi-
mo possível do normal.
Ou seja, uma modalidade de ensino para todos.
AVALIAÇÃO. EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Percebeu a diferença?

Educação Especial e Inclusiva


Não existem alunos sem deficiência na educação espe-
Educação Inclusiva pode ser compreendida como uma cial. Já na educação inclusiva todos os alunos com e sem
reviravolta institucional que consiste no fim do iguais x di- deficiência tem a oportunidade de conviverem e aprende-
ferentes, normais x deficientes. rem juntos. É o que Mantoan chamou de cidadania global,
Espere. Vamos definir com outras palavras. plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as
Educação Inclusiva é uma educação voltada para a ci- diferenças.
dadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhe- A inclusão promove a diversidade.
ce e valoriza as diferenças. A ideia da inclusão é mais do que somente garantir o
Sim. Valorizar as diferenças é a chave. acesso à entrada de alunos e alunas nas instituições de en-
As diferenças sempre existiram. Na educação inclusiva elas sino. O objetivo é eliminar obstáculos que limitam a apren-
precisam ser reconhecidas e valorizadas, sem preconceito. dizagem e participação discente no processo educativo.
A inclusão prevê a inserção escolar de forma radical, Agora, um ponto importante.
completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, de- Você deve ter notado que a Marina Almeida usou o
vem frequentar as salas de aula do ensino regular. termo “pessoas portadoras de necessidades especiais”. Isso
Isso mesmo, na educação inclusiva todos os alunos de- porque o artigo dela foi escrito em 2002. De alguns anos
vem fazer parte da escola comum. para cá a comunidade acadêmica (o governo brasileiro
também) tem se posicionado em relação à terminologia.
O radicalismo da inclusão vem do fato de exigir uma Seria “pessoa portadora de necessidade especial” ou
mudança de paradigma educacional. É o fim da subdivisão “pessoa com deficiência”? Qual o correto? Para você não
Ensino Especial x Ensino Regular. As escolas inclusivas aten- errar, vamos explicar isso no próximo tópico.
dem às diferenças sem discriminar, sem trabalhar à parte
com alguns alunos, sem estabelecer regras específicas para Qual o termo correto para deficientes?
se planejar, para aprender, para avaliar. Desde 2006 o termo correto é PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
Para uma melhor definição de escola inclusiva precisa- Não use pessoa portadora de necessidades especiais,
mos deixar bem claro a diferença entre educação especial pessoa com necessidades especiais, ou qualquer outro ter-
e educação inclusiva, que é o assunto do próximo tópico. mo.

13
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O termo “pessoas portadoras de necessidades especiais” está em desuso.


No texto aprovado pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das Pessoas
com Deficiência, em 2006, estabeleceu a terminologia mais apropriada: pessoas com deficiência.
Vamos entender o motivo.
Há uma associação negativa com a palavra “deficiente”, pois denota incapacidade ou inadequação à sociedade.
A pessoa não é deficiente, ela tem uma deficiência.

Não usar o termo necessidades especiais.


É importante combatermos expressões que tentem atenuar as diferenças, tais como: “pessoas como capacidades es-
peciais”, “pessoas especiais “e as mais famosas de todas: pessoas com necessidades especiais”. As diferenças têm de ser
valorizadas, respeitando-se as necessidades de cada pessoa.

Não usar o termo portador.


A condição de ter deficiência faz parte da pessoa. A pessoa não porta uma deficiência ela “tem uma deficiência”.

As Escolas Especiais vão acabar?


Você já sabe a diferença entre uma Escola Especial e uma Escola Inclusiva. Mas deve estar se perguntando: ainda exis-
tem escolas especiais? Elas vão acabar?
Na Itália, desde 1977, todas as escolas especiais foram abolidas, o que obrigou o encaminhamento de todos os estu-
dantes com deficiência para o sistema regular de ensino.
As escolas especiais não foram abolidas no Brasil. Vamos ver o motivo no próximo tópico.
O que é uma Escola Inclusiva no Brasil?
No Brasil uma escola inclusiva é a uma escola comum que recebe a todos, independente das diferenças.
Mas isso não significa o fim das escolas especiais.
A explicação é simples.
A maioria das escolas regulares no Brasil não estão preparadas para receberem e ensinarem aos alunos com deficiência,
devido a problema de infraestrutura e formação profissional da equipe.
Mas então, quem está preparado para receber esses alunos? As escolas especiais.
Hoje o modelo é que essas escolas especiais, que teoricamente têm o conhecimento da educação especial, se transfor-
mem em centros de recursos para apoiar o ensino inclusivo em todas as escolas que estão na sua região, com professores
itinerantes e materiais pedagógicos.

A realidade da Educação Inclusiva no Brasil


No Brasil o aluno com deficiência está matriculado na escola regular, mas dependendo da sua necessidade pode pre-
cisar frequentar também uma escola especial para ter atendimento educacional especializado.
Isso mesmo, o famoso AEE – Atendimento Educacional Especializado pode acontecer fora da escola regular.
Por isso, as escolas especiais ainda existem e são mantidas.
“O quadro a seguir ilustra como se deve entender e ofertar os serviços de educação especial, como parte integrante do
sistema educacional brasileiro, em todos os níveis de educação e ensino”. (Parecer CNE/CEB Nº 17/2001)

O atendimento educacional especializado da escola especial não substitui a escola comum.


Segundo Mantoan, a educação especial não substitui mais o ensino comum para pessoas com deficiência e com su-
perdotação. Essa mudança foi substancial, pois antes existia um sistema paralelo de ensino para o qual iam as crianças, até
mesmo sem deficiência, para ter uma educação substitutiva.

14
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A escola especial passa a complementar e apoiar o Deficiência Física: adaptações do material e do am-


ensino regular na formação de alunos com necessidades biente físico (ex: cadeiras, tecnologia assistiva);
especiais.
Essa parceria entre a Escola Comum e as Escolas Es- Transtorno Global do Desenvolvimento (autis-
peciais ou Centros de Atendimento Educacional Especiali- mo): estratégias diferenciadas para adaptação e regulação
zado não acontece por acaso. Isso está previsto pelo MEC do comportamento (ex: ABA, TEACCH, comunicação alter-
na Política Nacional de Educação Especial. nativa);
No tópico a seguir vamos nos aprofundar um pouco
mais nessa política. Altas Habilidades: ampliação dos recursos educacio-
nais e/ou aceleração de conteúdos.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Ou seja, a escola regular embora tenha a obrigação
da Educação Inclusiva de receber todos os alunos, ela fica isenta de ensinar por
No Brasil, a regulamentação mais recente que norteia exemplo o Braille para um aluno cego, por exemplo. A tare-
a organização do sistema educacional é o Plano Nacional fa de ensinar linguagens e códigos específicos fica a cargo
de Educação (PNE 2011-2020). do AEE.
Esse documento, entre outras metas e propostas in- No exemplo acima, é claro que se o professor regente
clusivas, estabelece a nova função da Educação especial da escola regular souber Braille, o aluno cego terá uma ex-
como modalidade de ensino que perpassa todos os seg- periência de aprendizado muito mais satisfatória.
mentos da escolarização (da Educação Infantil ao Ensino Mas e se o professor não souber Braille?
Superior); realiza o atendimento educacional especializa- O aluno terá direito a um profissional especializado
do (AEE); disponibiliza os serviços e recursos próprios do para acompanhá-lo durante as aulas.
AEE e orienta os alunos e seus professores quanto à sua É a vez do professor de apoio.
utilização nas turmas comuns do ensino regular.
Ou seja, o aluno com deficiência está matriculado na O que faz um professor de apoio?
escola regular, mas tem a sua disposição o Atendimento Esse profissional acompanha o aluno com deficiência
Educacional Especializado para qualquer necessidade es- na sala de aula comum, ajudando a fazer uma ponte entre
pecífica que a escola regular não consiga suprir durante o AEE e a escola.
sua jornada escolar, da educação infantil ao ensino supe- No caso de um aluno cego, por exemplo, o professor
rior. de apoio irá ajudar o aluno com o braille dentro da sala de
aula comum.
Quem é o Público Alvo da Educação Especial? Isso é previsto em lei.
O PNE considera público alvo da Educação especial De acordo com a Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e
na perspectiva da Educação inclusiva, educandos com Bases da Educação Nacional) já havia previsto a figura dos
deficiência (intelectual, física, auditiva, visual e múltipla), profissionais especializados nos seguintes termos:
transtorno global do desenvolvimento (TGD) e altas ha- Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu-
bilidades. candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-
Repare que citei o termo “TGD”. A partir de 2013, com mento e altas habilidades ou superdotação:
o DSM-V, o termo TGD está sendo substituído por Trans- I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos
torno do Espectro Autista (TEA) ou apenas Autismo. e organização específicos, para atender às suas necessida-
Saiba mais sobre DSM, TGD e Autismo em nosso curso des;
online rápido sobre Autismo. (…)
III – professores com especialização adequada em nível
Necessidades Educacionais Especiais médio ou superior, para atendimento especializado, bem
Se o aluno apresentar necessidade específica, decor- como professores do ensino regular capacitados para a in-
rente de suas características ou condições, poderá reque- tegração desses educandos nas classes comuns;
rer, além dos princípios comuns da Educação na diversida- Por isso é importante que o professor de apoio tenha
de, recursos diferenciados identificados como necessida- uma formação profissional específica para as necessidades
des educacionais especiais (NEE). do aluno que irá atender.
O estudante poderá beneficiar-se dos apoios de ca- Se o aluno é autista, esse professor de apoio deve en-
ráter especializado, de acordo com suas necessidades. No tender de autismo e métodos de intervenção como o ABA,
caso de: por exemplo.
Se o aluno é surdo, o professor de apoio deve ser um
Deficiência Visual e Auditiva: o ensino de linguagens intérprete de LIBRAS. Isso é o ideal.
e códigos específicos de comunicação e sinalização (ex: Importante entender que, no caso do aluno surdo, não
LIBRAS, Braille); é o professor de apoio que vai ensinar LIBRAS. A responsa-
bilidade por ensinar LIBRAS é do Atendimento Educacional
Deficiência Intelectual: mediação para o desenvol- Especializado, mas o professor de apoio vai ajudar o aluno
vimento de estratégias de pensamento (Ex: comunicação surdo usando LIBRAS para aprender o currículo proposto
alternativa); pela escola.

15
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Ou seja, a educação inclusiva não é a escola comum Existe a necessidade de formação continuada de pro-
sozinha, mas uma parceria entre a escola comum, o profes- fessores para atuar no atendimento a alunos com neces-
sor de apoio e o atendimento educacional especializado. sidades educacionais especiais na rede regular de ensino.
Bom, até aqui já vimos as respostas para as seguintes Os professores do ensino regular consideram-se in-
questões: competentes para lidar com as diferenças nas salas de aula,
O que é Educação Especial? especialmente atender os alunos com deficiência, pois seus
Qual a Diferença entre Educação Especial e Educação colegas especializados sempre se distinguiram por realizar
Inclusiva? unicamente esse atendimento e exageraram essa capaci-
O que é o Atendimento Educacional Especializado? dade de fazê-lo aos olhos de todos (Mittler, 2000).
O que faz o Professor de Apoio? Professor, você não deve se sentir assim.
Agora vamos nos aprofundar um pouco mais no que a Um professor não ter formação específica nessa ou
escola inclusiva pode fazer para melhorar a experiência de naquela deficiência não quer dizer que seja incompetente.
aprendizagem dos seus alunos. O professor, na educação inclusiva, precisa ser prepa-
Vamos falar do Projeto Pedagógico Inclusivo. rado para lidar com as diferenças, com a singularidade e a
Projeto Político Pedagógico na Perspectiva da Inclusão diversidade de todas as crianças e não com um modelo de
O projeto político pedagógico – PPP – de uma escola é pensamento comum a todas elas.
o instrumento orientador, que define as relações da escola Entendeu? O professor da escola regular que tem um
com a comunidade na qual está inserida e vai atender. aluno autista não precisa ser um especialista em autismo,
É o projeto pedagógico que orienta as atividades es- mas precisa ser um especialista em lidar com as diferenças
colares revelando a concepção da escola e as intenções da e a diversidade.
equipe de educadores. Pois é, lidar com a diversidade tem mais haver com o
Com base no projeto pedagógico a escola organiza amor e do que com conhecimentos acadêmicos.
seu trabalho; garante apoio administrativo, técnico e cien- Por falar em amor, os acadêmicos há tempos já fize-
tífico às necessidades da Educação inclusiva; planeja suas ram um paralelo entre a afetividade e o aprendizado. Quer
ações; possibilita a existência de propostas curriculares di- saber mais sobre esse tema super interessante? Confira
versificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento; aten- nosso curso online rápido de Desenvolvimento, Cognição
de à diversidade do alunado; estabelece redes de apoio, e Afetividade.
que proporcionam a ação de profissionais especializados, Mas como lidar com essa diversidade?
para favorecer o processo educacional. Vamos falar de adaptações curriculares.
Não basta que a escola receba a matrícula de alunos Quando se aborda a necessidade da diferenciação cur-
com necessidades educacionais especiais, é preciso que ricular é comum atribuir essa responsabilidade ao profes-
ofereça condições para a operacionalização desse projeto sor, mas esse pensamento está errado.
pedagógico inclusivo. No próximo tópico, vou te mostrar porque o professor
A inclusão deve garantir a todas as crianças e jovens o não deve ser o único responsável pelo currículo adaptado.
acesso à aprendizagem por meio de todas as possibilida-
des de desenvolvimento que a escolarização oferece. Adaptações curriculares na educação inclusiva
As mudanças são imprescindíveis, dentre elas a aces- De acordo com o MEC, podemos definir adaptações
sibilidade da infraestrutura; a introdução de recursos e de curriculares como: estratégias e critérios de atuação docen-
tecnologias assistivas; a oferta de profissionais de apoio, te, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação
formas de avaliação, currículo adaptado entre outras coi- educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem
sas. dos alunos, considerando que o processo de ensino-apren-
É na sala de aula que acontece a concretização do pro- dizagem pressupõe atender à diversificação de necessida-
jeto pedagógico – elaborado nos diversos níveis do siste- des dos alunos na escola (MEC, 2003).
ma educacional. Ou seja, dar liberdade ao professor para flexibilizar o
Vários fatores podem influenciar a dinâmica da sala de currículo de acordo com as necessidades do seu aluno.
aula e a eficácia do processo de ensino e aprendizagem. Não um novo currículo, mas um currículo dinâmico, al-
Planejamentos que contemplem regulações organizativas terável, passível de ampliação, para que atenda realmente
diversas, com possibilidades de adequações ou flexibiliza- a todos os educandos.
ções têm sido uma das alternativas mais discutidas como A diferenciação do currículo é uma tarefa da escola no
opção para o rompimento com estratégias e práticas limi- seu todo, não apenas do professor.
tadas e limitantes. De acordo com o INES (Instituto Nacional de. Educa-
Dentre todos os fatores, parece unânime entre os es- ção de Surdos) as adaptações de currículo constituem criar
pecialistas, que a formação de professores para a inclusão condições físicas, ambientais e materiais para o aluno, na
é primordial. sua unidade escolar de atendimento; propiciar os melho-
Vamos falar dessa formação no próximo tópico. res níveis de comunicação e interação com as pessoas com
as quais convive na comunidade escolar, favorecer a par-
Formação de Professores para a Inclusão ticipação nas atividades escolares; propiciar o mobiliário,
Todos concordam: os professores precisam se atualizar equipamentos específicos necessários e salas adaptadas;
continuamente. fornecer ou atuar para a aquisição dos equipamentos e

16
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

recursos materiais específicos necessários: próteses


auditivas, treinadores da fala, software educativo, EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS,
entre outros; adaptar materiais de uso comum em
sala de aula: slides, cartazes, entre outros; adotar
a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS (no processo
ensino-aprendizagem e avaliativo), além de material A Educação e Direitos Humanos parte de três pontos
escrito e computador. essenciais: primeiro, é uma educação de natureza perma-
Nossa! Bastante coisa né? nente, continuada e global. Segundo, é uma educação ne-
Ou seja, não tem como o professor sozinho dar cessariamente voltada para a mudança, e terceiro, é uma
conta disso tudo. inculcação de valores, para atingir corações e mentes e
É necessário uma colaboração de toda a equipe não apenas instrução, meramente transmissora de conhe-
da escola, do atendimento educacional especializado cimentos. Acrescente-se, ainda, e não menos importante,
e do Estado para fornecer os materiais adequados. que ou esta educação é compartilhada por aqueles que es-
Os 3 maiores desafios da Educação Inclusiva tão envolvidos no processo educacional – os educadores e
1º) Fortalecer a formação dos professores: os educandos - ou ela não será educação e muito menos
para entender a inclusão, os direitos do aluno e os educação em direitos humanos. Tais pontos são premissas:
deveres da escola e do Estado, estabelecendo assim a educação continuada, a educação para a mudança e a
alvo, uma meta a ser alcançada, tanto para o profes- educação compreensiva, no sentido de ser compartilhada
sor quanto para a escola. Todos precisam entender e de atingir tanto a razão quanto a emoção.
porque a diversidade é importante, que é sim pos- O que significa dizer que queremos trabalhar com
sível incluir e onde, quando, como, com que e com Educação em Direitos Humanos? A Educação em Direitos
quem devemos ajudar nossos alunos. Humanos é essencialmente a formação de uma cultura de
2º) Criar uma rede de apoio: entre alunos, do- respeito à dignidade humana através da promoção e da
centes, gestores escolares, famílias e profissionais vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade,
especializados (fisioterapeutas, psicopedagogos, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz.
psicólogos, fonoaudiólogos, médicos etc). Todos Portanto, a formação desta cultura significa criar, influen-
devem estar envolvidos no processo, trabalhando ciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes,
como uma equipe para proporcionar ao aluno a me- atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem, todos,
lhor experiência escolar (e de vida) que ele possa ter. daqueles valores essenciais citados – os quais devem se
3º) Reestruturação: eliminação das barreiras ar- transformar em práticas.
quitetônicas (físicas) e barreiras no currículo (peda- Quando falamos em cultura, é importante deixar claro
gógicas), como propostas curriculares diversificadas, que não estamos nos limitando a uma visão tradicional de
flexíveis e abertas. Para isso é preciso entender tam- cultura como conservação: dos costumes, das tradições, das
bém as possibilidades das tecnologias assistivas. crenças e dos valores. Pelo contrário, quando falamos em
A Educação inclusiva no Brasil está em fase de formação de uma cultura de respeito aos direitos humanos,
implementação. à dignidade humana, estamos enfatizando, sobretudo no
São muitos os desafios da educação inclusiva caso brasileiro, uma necessidade radical de mudança. As-
que precisam ser enfrentados, mas as iniciativas e as sim, falamos em cultura nos termos da mudança cultural,
alternativas realizadas pelos educadores são funda- uma mudança que possa realmente mexer com o que está
mentais. mais enraizado nas mentalidades, muitas vezes marcadas
Por isso, não desista! Aguente firme! Você não por preconceitos, por discriminação, pela não aceitação
está sozinho. dos direitos de todos, pela não aceitação da diferença. Tra-
Bom, estamos chegando ao fim dessa página ta-se, portanto, de uma mudança cultural especialmente
com a certeza de que existe muito mais a ser visto! importante no Brasil, pois implica a derrocada de valores
Em nossa próxima postagem vamos falar sobre e costumes arraigados entre nós, decorrentes de vários
o Atendimento Educacional Especializado, ou seja: fatores historicamente definidos: nosso longo período de
Tecnologias Assistivas, Comunicação Alternativa, escravidão, que significou exatamente a violação de todos
Salas de Recursos Multifuncionais, Braille, LIBRAS, os princípios de respeito à dignidade da pessoa humana,
TEACCH, ABA, entre outras coisas. a começar pelo direito à vida; nossa política oligárquica e
Conforme prometido no início da página, seguem patrimonial; nosso sistema de ensino autoritário, elitista, e
alguns materiais para você que está interessado em com uma preocupação muito mais voltada para a moral
educação inclusiva. privada do que para a ética pública; nossa complacência
com a corrupção, dos governantes e das elites, assim como
Fonte: http://institutoitard.com.br/o-que-e-edu- em relação aos privilégios concedidos aos cidadãos ditos
cacao-inclusiva/ de primeira classe ou acima de qualquer suspeita; nosso
descaso com a violência, quando ela é exercida exclusiva-
mente contra os pobres e os socialmente discriminados;
nossas práticas religiosas essencialmente ligadas ao valor

17
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

da caridade em detrimento do valor da justiça; nosso sis- que significa a formação de uma cultura de respeito à dig-
tema familiar patriarcal e machista; nossa sociedade racista nidade da pessoa humana, significa querer uma mudança
e preconceituosa contra todos os considerados diferentes; cultural, que se dará através de um processo educativo.
nosso desinteresse pela participação cidadã e pelo associa- Significa essencialmente que queremos outra sociedade,
tivismo solidário; nosso individualismo consumista, decor- que não estamos satisfeitos com os valores que embasam
rente de uma falsa idéia de “modernidade”. esta sociedade e queremos outros.
A mudança cultural necessária deve levar ao enfrenta- Como a minha fala é introdutória a este Seminário,
mento de tal herança e ainda ser instrumento de reação a cumpre lembrar o que são direitos humanos. São aqueles
duas grandes deturpações que fermentam em nosso meio direitos considerados fundamentais a todos os seres hu-
social - como parte de uma certa “cultura política”- em re- manos, sem quaisquer distinções de sexo, nacionalidade,
lação ao entendimento do que sejam direitos humanos. A etnia, cor da pele, faixa etária, classe social, profissão, con-
primeira delas, muito comentada atualmente e bastante dição de saúde física e mental, opinião política, religião,
difundida na sociedade, inclusive entre as classes popula- nível de instrução e julgamento moral.
res, refere-se à identificação entre direitos humanos e di- Uma compreensão histórica de direitos humanos traz
reitos da marginalidade, ou seja, são vistos como “direitos como eixo principal e óbvio o reconhecimento do direito à
dos bandidos contra os direitos das pessoas de bem”. Essa vida, sem o qual todos os demais direitos perdem o sen-
deturpação decorre certamente da ignorância e da desin- tido. Costuma-se falar, apenas por uma questão didática,
formação mas também de uma perversa e eficiente mani- em gerações de direitos humanos; não se trata de gera-
pulação, sobretudo nos meios de comunicação de massa, ções no sentido biológico, do que nasce, cresce e morre,
como ocorre com certos programas de rádio e televisão, mas no sentido histórico, de uma superação com com-
voltados para a exploração sensacionalista da violência e plementaridade, e que pode também ser entendida como
da miséria humana. A segunda deturpação, evidente nos uma dimensão. A primeira geração, contemporânea das
meios de maior nível de instrução (meio acadêmico, mas revoluções burguesas do final do século 18 e de todo o
também de políticos e empresários), refere-se à crença século 19, é a dos direitos civis e das liberdades individuais,
de que direitos humanos se reduzem essencialmente às liberdades consagradas pelo liberalismo, quando o direi-
liberdades individuais do liberalismo clássico e, portanto, to do cidadão dirige-se contra a opressão do Estado ou
não se consideram como direitos fundamentais os direitos de poderes arbitrários, contra as perseguições políticas e
sociais, os direitos de solidariedade universal. Nesse senti- religiosas, a liberdade de viver sem medo. Dessa impor-
do, os liberais adeptos dessa crença aceitam a defesa dos tantíssima primeira geração, ou dimensão, são os direitos
direitos humanos como direitos civis e políticos, direitos de locomoção, de propriedade, de segurança e integridade
individuais à segurança e à propriedade; mas não aceitam a física, de justiça, expressão e opinião. Tais liberdades sur-
legitimidade da reivindicação, em nome dos direitos huma- gem oficialmente nas Declarações de Direitos, documentos
nos, dos direitos econômicos e sociais, a serem usufruídos das revoluções burguesas do final do século 18 ( na França
individual ou coletivamente, ou seja, aqueles vinculados ao e nos Estados Unidos) e foram acolhidas em diversas Cons-
mundo do trabalho, à educação, à saúde, à previdência e tituições do século 19. A segunda geração, que não abrange
seguridade social etc. apenas os indivíduos, mas os grupos sociais, surge no início
Com tal quadro histórico e com tais deturpações - mui- do século 20 na esteira das lutas operárias e do pensamen-
tas vezes conscientes e deliberadas, de grupos ou pessoas to socialista na Europa Ocidental, explicitando-se, na prática,
interessadas em desmoralizar a luta pelos direitos huma- nas experiências da social-democracia, para consolidar-se,
nos, porque querem manter seus privilégios ou porque ao longo do século, nas formas do Estado do Bem Estar So-
querem controlar e usar a violência, sobretudo a institu- cial. Refere-se ao conjunto dos direitos sociais, econômicos e
cional, apenas contra os pobres, contra aqueles conside- culturais: os de caráter trabalhista, como salário justo, férias,
rados “classes perigosas”- reafirmamos que uma educação previdência e seguridade social e os de caráter social mais
em direitos humanos só pode ser uma educação para a geral, independentemente de vínculo empregatício, como
mudança, e não para a conservação. Embora insistamos na saúde, educação, habitação, acesso aos bens culturais etc. Em
idéia de cultura, trata-se da criação de uma nova cultura de complemento às duas gerações, a terceira dimensão inclui os
respeito à dignidade humana; portanto, o termo cultura só direitos coletivos da humanidade, como direito à paz, ao de-
tem sentido como mudança cultural. senvolvimento, à autodeterminação dos povos, ao patrimô-
Esse quadro bastante negativo sobre a realidade histó- nio científico, tecnológico e cultural da humanidade, ao meio
rica e contemporânea do Brasil não deve ser um empecilho ambiente ecologicamente preservado; são os direitos ditos
para o nosso trabalho; pelo contrário, deve ser incentivo de solidariedade planetária. Tais gerações mostram como
para procurar mudar. Podemos ser razoavelmente otimis- continua viva a bandeira da revolução francesa: a liberdade, a
tas, pois já existem várias iniciativas de grupos de defesa de igualdade e a solidariedade. A liberdade nos primeiros direi-
direitos humanos, no sistema de ensino público e privado, tos civis e individuais, a igualdade nos direitos sociais, a soli-
nos movimentos sociais e nas ONGs em geral – inclusive a dariedade como responsabilidade social pelos mais fracos e
Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos que pa- em relação aos direitos da humanidade.
trocina este encontro – além dos órgãos oficiais, como no Direitos humanos são fundamentais porque são indis-
caso da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania no Es- pensáveis para a vida com dignidade. Quando insistimos
tado de São Paulo. Portanto, ser a favor de uma educação nessa questão da dignidade, muitas vezes esbarramos

18
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

numa certa incompreensão, como se o termo fosse indefi- dotado de vontade, de preferências valorativas, de auto-
nível e tratasse de algo extremamente abstrato em relação nomia, de auto-consciência como o oposto da alienação.
à concretude do ser humano. Portanto, é importante tentar Só o ser humano tem a memória e a consciência de sua
esclarecer o que entendemos por dignidade da pessoa hu- própria subjetividade, de sua própria história no tempo e
mana. Sabemos, sem dúvida, identificar um comportamen- no espaço e se enxerga como um sujeito no mundo, viven-
to indigno; por exemplo, omissão de socorro nos hospitais, te e mortal. Só o ser humano tem sociabilidade, somente
abandono dos idosos na fila do INPS, desprezo pelos direi- ele pode desenvolver suas virtualidades no sentido da cul-
tos dos mendigos, das crianças de rua, dos desemprega- tura e do auto-aperfeiçoamento vivendo em sociedade e
dos, dos excluídos de toda sorte, são indignidades. expressando-se através daquelas qualidades eminentes do
Mas de onde vem esta idéia de dignidade? Porque ela ser humano como o amor, a razão e a criação estética, que
é central no nosso processo educativo? são essencialmente comunicativas. É o único ser histórico,
Durante muito tempo o fundamento da concepção de pois é o único que vive em perpétua transformação pela
dignidade podia ser buscado na esfera sobrenatural da re- memória do passado e pelo projeto do futuro. Sua unidade
velação religiosa, da criação divina – o ser humano criado à existencial significa que o ser humano é único e insubsti-
imagem e semelhança do Criador. Ou, então, numa abstra- tuível. Como dizia Kant, é o único ser cuja existência é um
ção metafísica sobre aquilo que seria próprio da natureza valor absoluto, é um fim em si e não um meio para outras
humana, o que sempre levou a discussões filosóficas sobre coisas.
a essência da natureza humana. Independentemente des- Os direitos humanos são naturais e universais, pois
sas polêmicas, aqueles que são religiosos ou espiritualistas estão profundamente ligados à essência do ser humano,
têm um motivo a mais para se preocupar com a dignidade independentemente de qualquer ato normativo, e valem
da pessoa humana, se acreditam na criação divina, na afir- para todos ; são interdependentes e indivisíveis, pois não
mação de que todos somos irmãos, nessa fraternidade que podemos separá-los, aceitando apenas os direitos indivi-
vem da religião, como no caso, dentre outros, do cristianis- duais, ou só os sociais, ou só os de defesa ambiental.
mo. Hoje, numa visão mais contemporânea, percebemos Essa indivisibilidade é importante porque temos exem-
como todos os textos nacionais e internacionais de defesa plos históricos, também no século XX, de regimes políticos
dos direitos humanos explicam a dignidade pela própria que valorizaram exclusivamente os direitos sociais, como o
transcendência do ser humano, ou seja, foi o homem que regime soviético, em detrimento da liberdade; assim como
criou ele mesmo o Direito. Ele mesmo criou as formas da temos vários regimes liberais que pregam a liberdade mas
idéia de dignidade em grandes textos normativos que po- descartam a obrigatoriedade dos direitos sociais.
dem ser sintetizados no artigo 1º da Declaração Internacio- Direitos humanos são históricos, pois foram sendo
nal de Direitos Humanos de 1948: “todos os seres humanos reconhecidos e consagrados em determinados momen-
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Esta tos históricos, e é possível pensarmos que novos direitos
formulação decorre da própria reflexão do ser humano que ainda podem ser identificados e consolidados. A história
à ela chegou de uma maneira que é historicamente dada. da humanidade comprova a evolução da consciência dos
Foi uma grande revolução no pensamento e na história direitos; na Bíblia, por exemplo, lemos casos de aceita-
da humanidade chegar à reflexão conclusiva de que todos ção de sacrifícios humanos e de escravidão. Os liberais da
os seres humanos detêm a mesma dignidade. É evidente América, do Norte e dos Sul, conviviam com a posse de
que nos regimes que praticam a escravidão, ou qualquer escravos, embora defendessem a liberdade e a igualdade
tipo de discriminação por motivos sociais, políticos, reli- de todos diante da lei. Direitos humanos são históricos na
giosos e étnicos não vigora tal compreensão da dignida- medida em que vão crescendo em abrangência e em pro-
de universal, pois neles a dignidade é entendida como um fundidade, até que se consolidem na consciência universal.
atributo de apenas alguns, aqueles que pertençam a um Hoje, por exemplo, reconhecemos que existe consciência
determinado grupo. universal de que a escravidão, seja por que motivo for, é
A dignidade do ser humano não repousa apenas na uma violação radical dos direitos humanos, assim como a
racionalidade; no processo educativo procuramos atingir a exploração do trabalho infantil, a dominação sobre as mu-
razão, mas também a emoção, isto é, corações e mentes – lheres, as formas variadas de racismo e de discriminação
pois o homem não é apenas um ser que pensa e raciocina, por motivos religiosos, políticos, étnicos, sexuais etc. Os ca-
mas que chora e que ri, que é capaz de amar e de odiar, sos ainda existentes de escravidão, racismo e discriminação
que é capaz de sentir indignação e enternecimento, que é são veementemente condenados pelas entidades mundiais
capaz da criação estética. Unamuno dizia que o que mais de defesa dos direitos humanos.
nos diferencia dos outros animais é o sentimento, e não a Quando falamos em educação em direitos humanos
racionalidade. O homem é um ser essencialmente moral, falamos também em educação para a cidadania. É preciso
ou seja, o seu comportamento racional estará sempre su- entender aqui que as duas propostas andam muito jun-
jeito a juízos sobre o bem e o mal. Nenhum outro ser no tas, mas não são sinônimos. Basta lembrar, por exemplo,
mundo pode ser assim apreciado em termos de dever ser, que todos os projetos oficiais, do Ministério da Educação
da sua bondade ou da sua maldade. Portanto, o ser huma- às Secretarias Municipais e Estaduais afirmam que seu ob-
no tem a sua dignidade explicitada através de caracterís- jetivo principal é a educação para a cidadania. No entan-
ticas que são únicas e exclusivas da pessoa humana; além to, a concepção e as experiências são tão diferentes, em
da liberdade como fonte da vida ética, só o ser humano é função de prefeituras e de governos, que o conceito de

19
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cidadania foi se esgarçando, não se tem certeza de que sar à formação do cidadão participante, crítico, responsá-
se fala sobre o mesmo tema. É bastante comum a idéia vel e comprometido com a mudança daquelas práticas e
de educação para cidadania ser entendida como se fosse condições da sociedade que violam ou negam os direitos
meramente uma educação moral e cívica. Ou seja, como se humanos. Mais ainda, deve visar à formação de personali-
fosse necessário e suficiente pregar o culto à pátria, seus dades autônomas, intelectual e afetivamente, sujeitos de
símbolos, heróis e datas históricas, assim como fomentar deveres e de direitos, capazes de julgar, escolher, tomar
um nacionalismo ora ingênuo ora agressivo, sem a percep- decisões, serem responsáveis e prontos para exigir que não
ção de que a nação não é um todo homogêneo, mas um apenas seus direitos, mas também os direitos dos outros
todo heterogêneo, com conflitos, classes sociais, grupos e sejam respeitados e cumpridos.
interesses diferenciados. Uma questão que surge com muita freqüência quando
Portanto, a idéia de educação para a cidadania não debatemos o tema da educação em direitos humanos é :
pode partir de uma visão da sociedade homogênea, como será realisticamente possível educar em direitos humanos?
uma grande comunidade, nem permanecer no nível do ci- A questão tem pertinência, pois se trata, sem dúvida, de um
vismo nacionalista. Torna-se necessário entender educação processo extremamente complexo, difícil e a longo prazo.
para a cidadania como formação do cidadão participativo O educador em direitos humanos na escola, por exemplo,
e solidário, consciente de seus deveres e direitos – e, então, sabe que não terá resultados no final do ano, como ao en-
associá-la à educação em direitos humanos. Só assim tere- sinar uma matéria que será completada a medida que o
mos uma base para uma visão mais global do que seja uma conjunto daquele programa for bem entendido e avaliado
educação democrática, que é, afinal, o que desejamos com pelos alunos. Trata-se de uma educação permanente e glo-
a educação em direitos humanos, entendendo “democra- bal, complexa e difícil, mas não impossível. É certamente
cia” no sentido mais radical – radical no sentido de raízes uma utopia, mas que se realiza na própria tentativa de rea-
– ou seja, como o regime da soberania popular com pleno lizá-la, como afirma o educador Perez Aguirre, enfatizan-
respeito aos direitos humanos. Não existe democracia sem do que os direitos humanos terão sempre, nas sociedades
direitos humanos, assim como não existe direitos humanos contemporâneas, a dupla função de ser, ao mesmo tempo,
sem a prática da democracia. Em decorrência, podemos crítica e utopia frente à realidade social.
afirmar o que já vem sendo discutido em certos meios ju- O que será indispensável para este processo educati-
rídicos como a quarta geração, ou dimensão, dos direitos vo, partindo-se da constatação de que, apesar das dificul-
humanos: o direito da humanidade à democracia. dades, é possível desenvolver um processo educativo em
É nesse sentido que nos referimos sempre à cidadania direitos humanos?
democrática. Existem casos de regimes políticos que leva- Em primeiro lugar, o conhecimento dos direitos hu-
ram ao extremo a educação para a cidadania, em termos manos, das suas garantias, das suas instituições de defesa
de mobilização cívica, mas não em termos de cidadania e promoção, das declarações oficiais, de âmbito nacional
democrática. Regimes totalitários levaram ao extremo a e internacional, com a consciência de que os direitos hu-
formação do cidadão ligado à pátria, à nação, ao seu pas- manos não são neutros, não são meramente declamações
sado histórico, ao projeto do futuro. Aliás, regimes totali- retóricas. Eles exigem certas atitudes e repelem outras.
tários são aqueles que mais mobilizam os cidadãos para Portanto, exigem também uma vivência compartilhada. A
um tipo de educação cívica que não tem nada a ver com palavra deverá sempre estar ligada a práticas, embasadas
educação em direitos humanos, com educação democráti- nos valores dos direitos humanos e na realidade social. Na
ca. Em meados do século XX regimes totalitários formaram escola, por exemplo, deverá estar vinculada à realidade
cidadãos participantes, conscientes de uma missão cívica, concreta dos alunos, dos professores, dos diretores, dos
porém cidadãos fascistas, nazistas, ou seja, cidadãos de um funcionários, da comunidade que a cerca.
determinado regime que não era democrático. Portanto, Onde podemos educar em direitos humanos? Temos
nossa idéia de cidadania insere-se exclusivamente no qua- várias opções, com diferentes veículos e estruturas edu-
dro da democracia. cacionais. Podemos fazer uma escolha, dependendo dos
Em relação especificamente à educação em direitos recursos e das condições objetivas, sociais, locais e institu-
humanos, o que desejamos? Que efeitos queremos com cionais, de cada grupo, de cada entidade. Há que distinguir
esse processo educativo? Queremos uma formação que entre as possibilidades da educação formal e da educação
leve em conta algumas premissas. Em primeiro lugar, o informal. Na educação formal, a formação em direitos hu-
aprendizado deve estar ligado à vivência do valor da igual- manos será feita no sistema de ensino, desde a escola pri-
dade em dignidade e direitos para todos e deve propiciar mária até a universidade. Na educação informal, será feita
o desenvolvimento de sentimentos e atitudes de coopera- através dos movimentos sociais e populares, das diversas
ção e solidariedade. Ao mesmo tempo, a educação para a organizações não-governamentais – ONGs – , dos sindica-
tolerância se impõe como um valor ativo vinculado à soli- tos, dos partidos, das associações, das igrejas, dos meios
dariedade e não apenas como tolerância passiva da mera artísticos, e, muito especialmente, através dos meios de co-
aceitação do outro, com o qual pode-se não estar solidário. municação de massa, sobretudo a televisão.
Em seguida, o aprendizado deve levar ao desenvolvimento Cumpre lembrar que esta educação formal na escola,
da capacidade de se perceber as conseqüências pessoais desde a primária até a universidade e principalmente no
e sociais de cada escolha. Ou seja, deve levar ao senso de sistema público do ensino, resultará mais viável se contar
responsabilidade. Esse processo educativo deve, ainda, vi- com o apoio dos órgãos oficiais, tanto ligados diretamen-

20
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

te à educação como ligados à cultura, à justiça e defesa


da cidadania. É por isso que valorizamos os planos oficiais, DEMOCRACIA E CIDADANIA;
de educação em direitos humanos na escola, tanto no ní-
vel federal como nos níveis estadual e municipal – embora
nem sempre vejamos seus resultados ou mesmo sua apli-
cação no quotidiano escolar. Se escolhemos a educação Democracia é o termo que caracteriza o regime políti-
formal, constatamos como a escola pública é um locus pri- co contemporâneo da maioria dos países ocidentais. Trata-
vilegiado pois, por sua própria natureza, tende a promover -se de um conceito tão importante quanto complexo, cujo
um espírito mais igualitário, na medida em que os alunos, significado atual se originou de várias fontes históricas e se
normalmente separados por barreiras de origem social, aí desenvolveu ao longo de milhares de anos. O termo pode
convivem. Na escola pública o diferente tende a ser mais ser utilizado para designar tanto um ideal quanto regimes
visível e a vivência da igualdade, da tolerância e da solida- políticos reais que estão consideravelmente aquém daque-
riedade impõe-se com maior vigor. O objetivo maior desta le ideal. Uma das formas para compreender o seu significa-
educação na escola é fundamentar o espaço escolar como do é olhar para a maneira com que o conceito de democra-
uma verdadeira esfera pública democrática. cia se transformou e se desenvolveu historicamente.
Finalmente, quais seriam os pontos principais do con-
teúdo da educação em direitos humanos? Há um conteúdo A democracia na Grécia Antiga
óbvio, que decorre da própria definição de direitos huma- A democracia surgiu nas cidades-estados da Grécia an-
nos e do conhecimento sobre as gerações ou dimensões tiga, durante o primeiro milênio antes de Cristo, e tomou
históricas, sobre as possibilidades de reivindicação e de ga- sua forma clássica no auge político da cidade de Atenas.
rantias etc. Este conteúdo deve estar efetivamente vincula- Sua etimologia provém dos termos “demo” (povo) e “cracia”
do a uma noção de direitos mas também de deveres, estes (governo), significando literalmente “o governo do povo”.
decorrentes das obrigações do cidadão e de seu compro- De acordo com a classificação das três formas de governo
misso com a solidariedade. É importante, ainda, que sejam feita por Aristóteles na sua obra “Política”, a democracia
mostradas as razões e as conseqüências da obediência a (governo de muitos) se distingue da monarquia (governo
normas e regras de convivência. Em seguida, este conteúdo de um só) e da aristocracia(governo dos nobres).
deve conter a discussão – para a vivência – dos grandes A clássica democracia das cidades antigas gregas es-
valores da ética republicana e da ética democrática. Os va- tava fundada na participação de todos os cidadãos em as-
lores da ética republicana incluem o respeito às leis legiti- sembleia com o objetivo de tomar conjuntamente as de-
mamente elaboradas, a prioridade do bem público acima cisões governamentais. Apesar de ter existido em um pe-
dos interesses pessoais ou grupais, e a noção da respon- queno território e entre um número reduzido de pessoas
sabilidade, ou seja, de prestação de contas de nossos atos (apenas os homens livres eram considerados cidadãos, ex-
como cidadãos. Por sua vez, os valores democráticos estão cluindo mulheres e escravos), a experiência da democracia
profundamente vinculados ao conjunto dos direitos huma- grega adquiriu grande importância ao tornar possível um
nos, os quais se resumem no valor da igualdade, no valor sistema político no qual o povo é soberano e tem o direito
da liberdade e no valor da solidariedade. a se governar, contando com recursos e instituições para
Nas palestras seguintes está previsto um detalhamento fazê-lo. Essa ideia permaneceu como o núcleo do ideal de-
sobre o encaminhamento metodológico desses fundamen- mocrático moderno e continua a moldar as instituições e
tos; mas é preciso deixar claro que o componente essencial práticas democráticas atuais. A prática política democrá-
ao escolhermos trabalhar na escola com um programa de tica gestada na Grécia se refletiu nas instituições políticas
direitos humanos é que ele será impossível se não estiver da República Romana, que se expandiu para grande parte
associado a práticas democráticas. Um grande educador da Europa e do Mediterrâneo.
como o Prof. José Mario Pires Azanha enfatiza, com o ri-
gor de sempre, que de nada adiantará levar programas de A democracia contemporânea
direitos humanos para a escola, se a própria escola não é Na era moderna, a prática da democracia foi transfe-
democrática na sua relação de respeito com os alunos, com rida da pequena cidade-estado para a escala muito maior
os pais, com os professores, com os funcionários e com a do  Estado nacional, o que implicou o surgimento de um
comunidade que a cerca. conjunto novo de instituições políticas. Os limites e as pos-
É nesse sentido que um programa de direitos huma- sibilidades das instituições democráticas passaram a ser
nos introduzido na escola serve, também, para questionar pensados no nível do funcionamento de sociedades com-
e enfrentar as suas próprias contradições e os conflitos no plexas, dotadas de grandes governos, impessoais e indire-
seu cotidiano. tos. Tornou-se impossível o exercício direto da democracia
pelos cidadãos como era realizado nas pequenas cidades-
Fonte: http://www.hottopos.com/convenit6/victoria. -estados gregas.
htm Foi-se afirmando no pensamento político moderno a
ideia de que a única forma de democracia possível era um
governo representativo. Na concepção moderna de demo-
cracia, o ato de governar e legislar é delegado a um grupo

21
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

restrito de representantes eleitos por períodos limitados, e legislativo. Outro exemplo de tipologia é a que leva em
direta ou indiretamente, pelos cidadãos. Ou seja, a sobe- consideração os partidos políticos, diferenciando sistemas
rania do povo se dá por meio dos representantes que pelo bipartidários (onde dominam apenas dois partidos, como
povo são eleitos. As eleições e decisões legislativas geral- nos Estados Unidos) e pluripartidários (onde três ou mais
mente são tomadas por maioria de votos, de forma que as partidos disputam o poder, como no Brasil).
políticas reflitam, pelo menos até certo ponto, a vontade e No mundo ocidental em geral considera-se a demo-
os interesses dos cidadãos. Para evitar a concentração e o cracia representativa como o regime político mais eficaz
abuso do poder, as principais funções legislativas, executi- para promover maior liberdade e direitos para os cida-
vas e judiciais do governo estão separadas, de modo a se dãos com o mínimo de abuso do poder político. Entretan-
equilibrarem. to, existe uma série de críticas à democracia representati-
Nesse sentido, a liberdade individual e a igualdade de va, formal e indireta tal qual ela se desenvolveu nos paí-
condições são consideradas os principais valores democrá- ses ocidentais, acusando-a principalmente de favorecer
ticos e os princípios que sustentam essa forma de governo. uma minoria detentora do poder econômico. Os críticos
No pensamento político moderno, a democracia é vista em à democracia representativa consideram que houve um
oposição às formas absolutistas e ditatoriais de governo. O abandono real dos ideais democráticos, nas mãos de re-
estado democrático é concebido com o objetivo de garan- presentantes que não se preocupam de fato com a coisa
tir certos direitos fundamentais à cidadania, geralmente di- pública; argumentam ainda a impossibilidade de manter
vididos em direitos civis, políticos e sociais. Entre os direitos um sistema autenticamente democrático frente à influên-
civis estão a liberdade de expressão, de imprensa, de asso- cia crescente da riqueza, à enorme desigualdade social, à
ciação e de reunião e proteção contra a prisão arbitrária. Os irrefreada corrupção, à escalada da violência e à dissemi-
direitos de votar e de ser eleito para um cargo no governo nação de ódio, preconceito e guerras.
são exemplos de direitos políticos. Já os direitos sociais são
aqueles relacionados à educação, saúde, alimentação, mo- Fonte: https://www.infoescola.com/politica/democra-
radia, transporte, segurança, lazer, etc. Nos últimos séculos, cia/
a luta por democracia nas nações modernas tem se dado
no âmbito da conquista, garantia, universalização e amplia- Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis,
ção dos direitos civis, políticos e sociais. políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um
No pensamento político e nos regimes contemporâ- país.
neos, pensa-se a democracia menos em termos ideológi- A cidadania também pode ser definida como a con-
cos e mais no seu sentido formal, ou seja, como um con- dição do cidadão, indivíduo que vive de acordo com um
junto de instituições, direitos e práticas que garantem um conjunto de estatutos pertencentes a uma comunidade
determinado processo para a tomada de decisões coleti- politicamente e socialmente articulada.
vas. Assim, quando hoje nós falamos em democracia, em Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres
geral nos referimos a algumas “regras do jogo político”. estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos
Listamos a seguir alguns desses procedimentos que contribuem para uma sociedade mais equilibrada e justa.
caracterizam um sistema democrático atual: Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos
• as instituições políticas responsáveis pelas fun- e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em
ções legislativas e executivas devem ser compostas em sua prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das
maioria por membros direta ou indiretamente eleitos pelo disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o
conjunto dos cidadãos e alternados periodicamente; exercício da cidadania é um dos objetivos da educação
• o voto deve ser universal, ou seja, têm direito ao de um país.
voto todos os cidadãos maiores de idade, sem distinção de O conceito de cidadania também está relacionado
sexo, de raça ou de religião; com o país onde a pessoa exerce os seus direitos e deve-
• todos os votos têm o mesmo peso e os eleitores res. Assim, a cidadania brasileira está relacionada com o
são livres para exercer o seu direito segundo a sua própria indivíduo que está ligado aos direitos e deveres que estão
opinião, frente a uma disputa livre, honesta e pacífica entre definidos na Constituição do Brasil.
partidos políticos que pleiteiam os cargos representativos; Para ter cidadania brasileira, a pessoa deve ter nascido
• vencem as eleições os partidos e/ou candidatos em território brasileiro ou solicitar a sua naturalização, em
que atingirem a maioria numérica dos votos (ainda que caso de estrangeiros. No entanto, os cidadãos de outros
possam ser estabelecidos diferentes critérios para se de- países que desejam adquirir a cidadania brasileira devem
terminar a maioria); obedecer todas as etapas requeridas para este processo.
• as decisões tomadas pela maioria não podem Uma pessoa pode ter direito a dupla cidadania, isso
ameaçar os direitos básicos da minoria. significa de deve obedecer os diretos e deveres dos países
No âmbito dessa noção formal de democracia, foram em que foi naturalizada.
cunhadas diversas tipologias para caracterizar as diferentes A Constituição da República Federativa do Brasil,
formas de procedimentos democráticos desenvolvidos pe- promulgada em 5 de outubro de 1988, pela Assembleia
los países ocidentais. Por exemplo, podemos discernir entre Nacional Constituinte, composta por 559 congressistas
sistemas presidencialistas e parlamentaristas, dependendo (deputados e senadores), consolidou a democracia, após
da relação que é estabelecida entre os poderes executivo longos anos da ditadura militar no Brasil.

22
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Deveres do cidadão Apesar das modificações conferidas na estrutura do


- Votar para escolher os governantes; ensino brasileiro no decorrer dos anos, nenhuma delas
- Cumprir as leis; instituiu um sistema educacional onde todos tivessem os
- Educar e proteger seus semelhantes; mesmos direitos, onde a intenção principal seria a concep-
- Proteger a natureza; ção do homem com plena autoridade dos próprios meios
- Proteger o patrimônio público e social do País. de libertação; um homem erudito, livre, inteligente e críti-
co, que não se deixa manipular e que pode influenciar o
Direitos do cidadão estilo de vida e o futuro do país.
- Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previ- Sabe-se que só existem três maneiras de se transfor-
dência social, lazer, entre outros; mar uma sociedade: guerra, revolução e educação. Dentre
- O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa, as três, a Educação é a mais viável, a mais passiva, porém a
mas precisa assinar o que disse e escreveu; que os efeitos só se tornam visíveis em longo prazo. 
- Todos são respeitados na sua fé, no seu pensamento “Se teus projetos têm prazo de um ano, semeia tri-
e na sua ação na sociedade; go; se teus projetos têm prazo de dez anos, planta árvores
- O cidadão é livre para praticar qualquer trabalho, ofí- frutíferas; se teus projetos têm prazo de cem anos, então
cio ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e diploma educa o povo.” (Provérbio chinês).
para isso; O sistema educacional brasileiro fundamenta-se numa
- Só o autor de uma obra tem o direito de usá-la, publi- filosofia de racionalização e democratização do ensino,
cá-la e tirar cópia, e esse direito passa para os seus herdeiros; mas na realidade atesta a existência de mecanismos rígidos
- Os bens de uma pessoa, quando ela morrer, passam de seleção e burocratização, que o configura como elitista.
para seus herdeiros; A educação deveria servir como mecanismo de libertação
- Em tempo de paz, qualquer pessoa pode ir de uma do homem. Esse, por meio da educação formal, deveria colaborar
cidade para outra, ficar ou sair do país, obedecendo a lei para o desenvolvimento do país e, acima de tudo, usufruir dos
feita para isso. resultados. Porém, tem-se uma educação que serve como veículo
de transmissão das ideias da classe dominante, cujo papel é mui-
Fonte: http://www.significados.com.br/cidadania/ to importante na perpetuação das condições sociais já existentes.
Existe uma tendência em considerar-se instrução so-
mente aquela que ocorre em escolas, ou seja, o ensino for-
mal. Mas como diz Brandão: “Não há uma forma única nem
A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA; INCLUSÃO um único modelo de educação; a escola não é o único lu-
EDUCACIONAL E RESPEITO À DIVERSIDADE; gar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino
escolar não é a sua única prática e o professor profissional
não é o seu único praticante.” Assim, considera-se ensino
e educação todo procedimento que tem por intento in-
Prezado candidato ,o tema acima supracitado, já foi tervir na conduta humana. Atualmente, quiçá pela falta de
abordado em tópicos anteriores. tempo da maioria dos pais, é imposta à escola toda a res-
ponsabilidade em relação à educação dos alunos. Mas não
Função social da escola pode ser desse modo. Por mais que a escola se encoraje e
Apesar das transformações sofridas no decorrer da his- tenha consciência da sua função, ela jamais poderá suprir
tória, a escola representa a Instituição que a humanidade a família. O papel dos pais na educação é de extraordinária
elegeu para socializar o saber sistematizado. Isso denota importância para a formação integral do educando, pois os
afirmar que é o lugar onde, por princípio, é difundido o co- filhos espelham-se nos atos dos genitores para construir
nhecimento que a sociedade estima necessário transmitir modelos de personalidade e caráter para a própria vida. 
às novas gerações. Nenhuma outra forma de aparelhamen- A escola não pode continuar a ser uma clínica de abortos.
to foi capaz de substituí-la. Os que fracassam na escola tendem a ser excluídos da socie-
 “Da maneira como existe entre nós, a educação surge dade. Detrás do insucesso escolar encobrem-se aflições, frus-
na Grécia e vai para Roma, ao longo de muitos séculos da trações, amarguras, enfim, sofrimentos. A impulsiva fabricação
história de espartanos, atenienses e romanos. Deles deri- do malogro escolar não se restringe a um problema educacio-
va todo o nosso sistema de ensino e, sobre a educação nal. Trata-se de um problema social, cultural e até econômico.
que havia em Atenas, até mesmo as sociedades capitalistas Com o fracasso escolar justificam-se, posteriormente, mais tu-
mais tecnologicamente avançadas têm feito poucas inova- multos sociais, mais cadeias, mais clínicas psiquiátricas.
ções” (Brandão, 2005). A educação não pode ser meramente um processo de
Dentro de cada organização existem classes sociais em influência e reflexão do passado sobre o presente. Deve
posições elevadas, as quais criam e impõem um tipo de ser uma ciência que permita ao educando se automedicar,
educação que visa a atender interesses particulares e refor- acordar a consciência e a responsabilidade mediante valo-
çar, cada vez mais, o poder dos privilegiados. E as escolas res essenciais à vida. Uma das finalidades da educação é
transformaram-se nas instituições que mais têm colabo- autorizar que os jovens se concretizem por meio da ação e
rado para a efetivação desses objetivos, visto que sempre do esforço pessoal para procurar e transformar os valores
estiveram sobre o controle do estado. culturais do passado, adaptando-os à realidade.

23
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Os pais, os mestres e a própria instituição educacio- para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensi-
nal têm como objetivo imprimir a cultura, mas não apenas. no Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos
Também têm como desígnio ajudar o jovem a desenvolver mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
a capacidade de criar suas próprias formas de cultura; pro- A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais
mover ao jovem o desenvolvimento das habilidades pes- constitui, portanto, atribuição federal, que é exercida
soais para que ele mesmo seja capaz de cogitar sobre o pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), nos termos
que lhe é transmitido, de aceitar, mas acatar com espírito da LDB e da
crítico, independência, liberdade e consciência. Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na
Para John Dewey, “a educação não é algo que deva alínea “c” do seu artigo 9º, entre as atribuições de sua
ser inculcado de fora, mas consiste no desenvolvimento de Câmara de Educação Básica (CEB), deliberar sobre as Di-
dons que todo o ser humano traz consigo ao nascer.” Des- retrizes Curriculares propostas pelo Ministério da Edu-
tarte, a educação não seria um processo de difusão ou de cação. Esta competência para definir as Diretrizes Cur-
imposição dos valores culturais assimilados pelas gerações riculares Nacionais torna-as mandatórias para todos os
mais velhas; não seria algo estruturado deliberadamente sistemas. Ademais, atribui-lhe, entre outras, a respon-
pelas instituições, mas germinaria da alma do ser humano. sabilidade de assegurar a participação da sociedade no
Toda vez que se reflete sobre a educação, precisa-se, aperfeiçoamento da educação nacional (artigo 7º da Lei
em princípio, ponderar-se no ser em que vai processar-se a nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 8.131/95), razão
educação: o homem. Esse, não apenas como elemento do pela qual as diretrizes constitutivas deste Parecer con-
educativo, mas como atuante do processo educacional. É o sideram o exame das avaliações por elas apresentadas,
homem que individualiza e estabelece a estrutura, os fins durante o processo de implementação da LDB.
e os objetivos da educação que pretende. Uma educação O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está
para o homem que convive, e não para o indivíduo absorto; formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as de-
para o homem que encara a vida, que busca situar-se, que limita como conjunto de definições doutrinárias sobre
aspira ser. princípios, fundamentos e procedimentos na Educação
Básica (...) que orientarão as escolas brasileiras dos sis-
Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/ temas de ensino, na organização, na articulação, no de-
artigos/educacao/a-funcao-social-da-escola/14360 senvolvimento e na avaliação de suas propostas peda-
gógicas.
Por outro lado, a necessidade de definição de Di-
retrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
Básica está posta pela emergência da atualização das
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS políticas educacionais que consubstanciem o direito de
PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA; todo brasileiro à formação humana e cidadã e à forma-
ção profissional, na vivência e convivência em ambiente
educativo. Têm estas Diretrizes por objetivos:
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da
1. Histórico Educação Básica contidos na Constituição, na LDB e de-
Na organização do Estado brasileiro, a matéria edu- mais dispositivos legais, traduzindo-os em orientações
cacional é conferida pela Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e que contribuam para assegurar a formação básica co-
Bases da Educação Nacional (LDB), aos diversos entes fe- mum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida
derativos: ao currículo e à escola;
União, Distrito Federal, Estados e Municípios, sendo II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
que a cada um deles compete organizar seu sistema de subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto
ensino, cabendo, ainda, à União a coordenação da políti- político-pedagógico da escola de Educação Básica;
ca nacional de educação, articulando os diferentes níveis III – orientar os cursos de formação inicial e conti-
e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e nuada de profissionais – docentes, técnicos, funcionários
supletiva (artigos 8º, 9º, 10 e 11). -da Educação Básica, os sistemas educativos dos diferen-
tes entes federados e as escolas que os integram, indis-
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar tintamente da rede a que pertençam.
que, entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais
e ao Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental Gerais para a Educação Básica visam estabelecer bases
e oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o comuns nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fun-
demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe damental e o Ensino Médio, bem como para as modali-
oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, dades com que podem se apresentar, a partir das quais
com prioridade, o Ensino Fundamental. os sistemas federal, estaduais, distrital e municipais, por
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vá- suas competências próprias e complementares, formula-
rios sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui rão as suas orientações assegurando a integração curri-
à União estabelecer, em colaboração com os Estados, o cular das três etapas sequentes desse nível da escolari-
Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes zação, essencialmente para compor um todo orgânico.

24
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Além das avaliações que já ocorriam assistematica- Ainda em novembro de 2006, em Brasília, foi realizado
mente, marcou o início da elaboração deste Parecer, parti- o Seminário Nacional Currículo em Debate, promovido pela
cularmente, a Indicação CNE/CEB nº 3/2005, assinada pelo Secretaria de Educação Básica/MEC, com a participação de
então conselheiro da CEB, Francisco Aparecido Cordão, na representantes dos Estados e Municípios. Durante esse Se-
qual constava a proposta de revisão das Diretrizes Curri- minário, a CEB realizou a sua trigésima sessão ordinária na
culares Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensino qual promoveu Debate Nacional sobre as Diretrizes Cur-
Fundamental. Nessa Indicação, justificava-se que tais riculares para a Educação Básica, por etapas. Esse deba-
Diretrizes encontravam-se defasadas, segundo avaliação te foi denominado Colóquio Nacional sobre as Diretrizes
nacional sobre a matéria nos últimos anos, e superadas em Curriculares Nacionais. A partir desse evento e dos demais
decorrência dos últimos atos legais e normativos, particu- que o sucederam, em 2007, e considerando a alteração
larmente ao tratar da matrícula no Ensino Fundamental de do quadro de conselheiros do CNE e da CEB, criou-se, em
crianças de 6 (seis) anos e consequente ampliação do Ensi- 2009, nova comissão responsável pela elaboração dessas
no Fundamental para 9 (nove) anos de duração. Imprescin- Diretrizes, constituída por Adeum Hilário Sauer (presiden-
dível acrescentar que a nova redação do inciso I do artigo te), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro (relatora), Raimundo
208 da nossa Carta Magna, dada pela Emenda Constitucio- Moacir Mendes Feitosa e José Fernandes de Lima (Portaria
nal nº 59/2009, assegura CNE/CEB nº 2/2009). Essa comissão reiniciou os trabalhos
Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 já organizados pela comissão anterior e, a partir de então,
anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para todos os vem acompanhando os estudos promovidos pelo MEC so-
que a ela não tiveram acesso na idade própria. bre currículo em movimento, no sentido de atuar articulada
Nesta perspectiva, o processo de formulação destas e integradamente com essa instância educacional.
Diretrizes foi acordado, em 2006, pela Câmara de Educação Durante essa trajetória, os temas considerados perti-
Básica com as entidades: Fórum Nacional dos Conselhos nentes à matéria objeto deste
Estaduais de Educação, União Nacional dos Conselhos Mu- Parecer passaram a se constituir nas seguintes ideias-
nicipais de Educação, Conselho dos Secretários Estaduais -força:
de Educação, União Nacional dos Dirigentes Municipais de I–as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
Educação, e entidades representativas dos profissionais da Educação Básica devem presidir as demais diretrizes curri-
educação, das instituições de formação de professores, das culares específicas para as etapas e modalidades, contem-
mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores em plando o conceito de Educação Básica, princípios de or-
educação. ganicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as
Para a definição e o desenvolvimento da metodolo- etapas e modalidades: articulação, integração e transição;
gia destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi II – o papel do Estado na garantia do direito à educa-
constituída uma comissão que selecionou interrogações ção de qualidade, considerando que a educação, enquanto
e temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a direito inalienável de todos os cidadãos, é condição pri-
elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes meira para o exercício pleno dos direitos: humanos, tanto
Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a coor- dos direitos sociais e econômicos quanto dos direitos civis
denação da então relatora, conselheira Maria Beatriz Luce. e políticos;
(Portaria CNE/CEB nº 1/2006) III – a Educação Básica como direito e considerada,
A comissão promoveu uma mobilização nacional das contextualizadamente, em um projeto de Nação, em con-
diferentes entidades e instituições que atuam na Educação sonância com os acontecimentos e suas determinações
Básica no País, mediante: histórico-sociais e políticas no mundo;
I – encontros descentralizados com a participação de IV – a dimensão articuladora da integração das diretri-
Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e par- zes curriculares compondo as três etapas e as modalidades
ticulares, mediante audiências públicas regionais, viabili- da Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade
zando ampla efetivação de manifestações; dos conceitos referenciais de cuidar e educar;
II – revisões de documentos relacionados com a Edu- V – a promoção e a ampliação do debate sobre a políti-
cação Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a ca curricular que orienta a organização da Educação Básica
atualização motivadora do trabalho das entidades, efetiva- como sistema educacional articulado e integrado;
das, simultaneamente, com a discussão do regime de cola- VI – a democratização do acesso, permanência e suces-
boração entre os sistemas educacionais, contando, portanto, so escolar com qualidade social, científica, cultural;
com a participação dos conselhos estaduais e municipais. VII – a articulação da educação escolar com o mundo
do trabalho e a prática social;
Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes des- VIII – a gestão democrática e a avaliação;
tinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido es- IX – a formação e a valorização dos profissionais da
tabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando- educação;
-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação X – o financiamento da educação e o controle social.
Infantil; para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio; Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes
para a Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão
Campo; para a Educação Especial; e para a Educação Esco- sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente,
lar Indígena. as diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas,

25
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

passam por avaliação, por meio de contínua mobilização mentares de material didático-escolar, transporte, alimen-
dosrepresentantes dossistemaseducativosdenível nacional, tação e assistência à saúde, bem como reduz, anualmente,
estadual e municipal. A articulação entre os diferentes sis- a partir do exercício de 2009,
temas flui num contexto em que se vivem: O percentual da Desvinculação das Receitas da União
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação incidente sobre os recursos destinados à manutenção e ao
Básica (2008); desenvolvimento do ensino. 1
II – os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as 1 São as seguintes as alterações na Constituição Fe-
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem deral, promovidas pela Emenda Constitucional nº 59/2009:
como a edição de outras leis que repercutem nos currículos -Art. 208. (...)
da Educação Básica; I -Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
III – o penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a mo- na idade própria;
bilização nacional em torno de subsídios para a elaboração (O disposto neste inciso I deverá ser implementado
do PNE para o período 2011-2020; progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional
IV – a aprovação do Fundo de Manutenção e De- de Educação, com apoio técnico e financeiro da União).
senvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos VII -atendimento ao educando, em todas as etapas da
Professores da Educação (FUNDEB), regulado pela Lei nº Educação Básica, por meio de programas suplementares
11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as de material didático-escolar, transporte, alimentação e as-
etapas e modalidades da Educação Básica; sistência à saúde.
V – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da -Art. 211. (...)
Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a
Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Ca- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios defini-
pes/MEC); rão formas de colaboração, de modo a assegurar a univer-
VI – a formulação, aprovação e implantação das me- salização do ensino obrigatório.
didas expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o -Art. 212. (...)
piso salarial profissional nacional para os profissionais do § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará
magistério público da Educação Básica; prioridade ao atendimento das necessidades do ensino
VII – a criação do Fórum Nacional dos Conselhos de obrigatório, no que se refere a universalização, garantia de
Educação, objetivando prática de Regime de colaboração padrão de qualidade e equidade, nos termos do plano na-
entre o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais cional de educação.
de Educação e a União Nacional dos Conselhos Municipais Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa
de Educação; realidade e apresentar orientações sobre a concepção e or-
VIII – a instituição da política nacional de formação de ganização da Educação Básica como sistema educacional,
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº segundo três dimensões básicas: organicidade, sequencia-
6.755, de 29 de janeiro de 2009); lidade e articulação. Dispor sobre a formação básica na-
IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da cional relacionando-a com aparte diversificada, e com a
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes preparação para o trabalho e as práticas sociais, consiste,
Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos portanto, na formulação de princípios para outra lógica de
Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, diretriz curricular, que considere a formação humana de
que devem ter sido implantados até dezembro de 2009; sujeitos concretos, que vivem em determinado meio am-
X–as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo biente, contexto histórico e sociocultural, com suas condi-
CNE, expressas no documento Subsídios para Elaboração ções físicas, emocionais e intelectuais.
do PNE Considerações Iniciais. Desafios para a Construção Este Parecer deve contribuir, sobretudo, para o pro-
do PNE (Portaria CNE/CP nº 10/2009); cesso de implementação pelos sistemas de ensino das
XI – a realização da Conferência Nacional de Educação Diretrizes Curriculares Nacionais específicas, para que
(CONAE), com o tema central se concretizem efetivamente nas escolas, minimizando o
“Construindo um Sistema Nacional Articulado de Edu- atual distanciamento existente entre as diretrizes e a sala
cação: Plano Nacional de Educação – de aula. Para a organização das orientações contidas neste
Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando texto, optou-se por renunciá-las seguindo a disposição que
propor diretrizes e estratégias para a construção do PNE ocupam-na estrutura estabelecida na LDB, nas partes em
2011-2020; que ficam previstos os princípios e fins da educação nacio-
XII – a relevante alteração na Constituição, pela pro- nal; as orientações curriculares; a formação e valorização
mulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, en- de profissionais da educação; direitos à educação e deve-
tre suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e res de educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto da
gratuita dos4 aos 17anos de idade, inclusive a sua oferta Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a
gratuita para todos os que ela não tiveram acesso na idade Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essas re-
própria; assegura o atendimento ao estudante, em todas ferências levaram em conta, igualmente, os dispositivos
as etapas da Educação Básica, mediante programas suple- sobre a Educação Básica constantes da Carta Magna que

26
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

orienta a Nação brasileira, relatórios de pesquisas sobre Lei nº 11.645/2008: alterou a redação do art. 26-A,
educação e produções teóricas versando sobre sociedade para incluir no currículo a obrigatoriedade da temática
e educação. “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Com treze anos de vigência já completados, a LDB Lei nº 11.525/2007: acrescentou § 5º ao art. 32, incluin-
recebeu várias alterações, particularmente no referente à do conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos ado-
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. lescentes no currículo do Ensino Fundamental.
Após a edição da Lei nº 9.475/1997, que alterou o arti- Lei nº 11.330/2006: deu nova redação ao § 3º do art.
go 33 da LDB, prevendo a 87, referente ao recenseamento de estudantes no Ensino
Obrigatoriedade do respeito à diversidade cultural re- Fundamental, com especial atenção para o grupo de 6 a 14
ligiosa do Brasil, outras leis modificaram-na quanto à Edu- anos e de 15 a 16 anos de idade.
cação Básica.2 Lei nº 11.301/2006: alterou o art. 67, incluindo, para
-Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de edu- os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art.
cação, de duração decenal, com o objetivo de articular o 201 da Constituição Federal, definição de funções de ma-
sistema nacional de educação em regime de colaboração gistério.
e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de imple- Lei nº11.274/2006: alterou a redação dos arts. 29,
mentação para assegurar a manutenção e desenvolvimen- 30,32 e 87,dispondo sobre aduração de 9 (nove) anos para
to do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir
por meio de ações integradas dos poderes públicos das dos 6 (seis) anos de idade.
diferentes esferas federativas que conduzam a: Lei nº 11.114/2005: alterou os arts. 6º, 30, 32 e 87, com
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Funda-
públicos em educação como proporção do produto inter- mental aos seis anos de idade.
no bruto. Lei nº 10.793/2003: alterou a redação do art. 26, § 3º,
-Art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Tran- e do art. 92 , com referência à Educação Física nos ensinos
sitórias fundamental e médio.
§ 3º Para efeito do cálculo dos recursos para manuten-
A maior parte dessas modificações tem relevância so-
ção e desenvolvimento do ensino de que trata o art. 212 da
cial, porque, além de reorganizarem aspectos da Educação
Constituição, o percentual referido no caput deste artigo
Básica, ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado,
será de 12,5 % (doze inteiros e cinco décimos por cento)
asseguram-lhes outros benefícios concretos que contri-
no exercício de 2009, 5% (cinco por cento) no exercício de
buem para o seu desenvolvimento pleno, orientado por
2010, e nulo no exercício de 2011.
profissionais da educação especializados. Nesse sentido,
2 Leis que alteraram a LDB, no que se relaciona com a
destaca-se que a LDB foi alterada pela Lei nº 10.287/2001
Educação Básica, e cujas alterações estão em vigor atual-
para responsabilizar a escola, o Conselho Tutelar do Muni-
mente:
Lei nº12.061/2009:alterou o inciso II do art. 4º e o inci- cípio, o juiz competente da Comarca e o representante do
so VI do art. 10daLDB,para assegurar o acesso de todos os Ministério Público pelo acompanhamento sistemáti-
interessados ao Ensino Médio público. co do percurso escolar das crianças e dos jovens. Este é,
Lei nº 12.020/2009: alterou a redação do inciso II do sem dúvida ,um dos mecanismos que, se for efetivado de
art. 20, que define instituições de ensino comunitárias. modo contínuo, pode contribuir significativamente para a
Lei nº 12.014/2009: alterou o art. 61 para discriminar permanência do estudante na escola. Destaca-se, também,
as categorias de trabalhadores que se devem considerar que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, o inciso X no arti-
profissionais da Educação Básica. go 4º, fixando como dever do Estado efetivar a garantia de
Lei nº 12.013/2009: alterou o art. 12, determinando às ins- vaga na escola pública de Educação Infantil ou de Ensino
tituições de ensino obrigatoriedade no envio de informações Fundamental mais próxima de sua residência a toda
escolares aos pais, conviventes ou não com seus filhos. criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos
Lei nº 11.788/2008: alterou o art. 82, sobre o estágio de idade.
de estudantes.
Lei nº 11.741/2008: redimensionou, institucionalizou e Há leis, por outro lado, que não alteram a redação da
integrou as ações da Educação Profissional Técnica de nível LDB, porém agregam-lhe complementações, como a Lei
médio, da Educação de Jovens e Adultos e da Educação nº 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e ins-
Profissional e Tecnológica. titui a Política Nacional de Educação Ambiental; a Lei nº
Lei nº 11.769/2008: incluiu parágrafo no art. 26, sobre 10.436/2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Si-
a música como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo. nais (LIBRAS); a Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Es-
Leinº11.700/2008:incluiu o inciso X no artigo4º,fixando tatuto do Idoso; a Lei nº9.503/97, que institui o Código de
como deverdo Estado efetivara garantia de vaga na esco- Trânsito Brasileiro; a Lei nº 11.161/2005, que dispõe sobre
la pública de Educação Infantil ou de Ensino Fundamental o ensino da Língua Espanhola; e o Decreto nº 6.949/2009,
mais próxima de sua residência a toda criança a partir do que promulga a Convenção Internacional sobre os Direi-
dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. tos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Faculta-
Lei nº 11.684/2008: incluiu Filosofia e Sociologia como tivo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
obrigatórias no Ensino Médio.

27
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima capacitação docente e infraestrutura. Em contrapartida,
de todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determi- nesse mesmo documento, é assinalado que a permanên-
na que um dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais cia e o sucesso do estudante na escola têm sido objeto
e, portanto, obrigação das empresas, é a assistência gra- de pouca atenção. Em outros documentos acadêmicos e
tuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 oficiais, são também aspectos que têm sido avaliados de
(cinco) anos de idade em Creches e Pré-Escolas.3 Embora modo descontínuo e escasso, embora a permanência se
redundante, registre-se que todas as Creches e Pré-Esco- constitua em exigência fixada no inciso I do artigo 3º da
las devem estar integradas ao respectivo sistema de ensino LDB.
(artigo 89 da LDB). Salienta-se que, além das condições para acesso à es-
cola, há de se garantir a permanência nela, e com sucesso.
A LDB, com suas alterações, edemais atos legais de- Esta exigência se constitui em um desafio de difícil concre-
sempenham papel necessário, por sua função referencial tização, mas não impossível. O artigo 6º, da LDB, alterado
obrigatória para os diferentes sistemas e redes educativos. pela Lei nº 11.114/2005,
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que ainda está Prevê que é dever dos pais ou responsáveis efetuar a
em curso o processo de implementação dos princípios e matrícula dos menores, a partir dos seis anos de idade, no
das finalidades definidos constitucional e legalmente para Ensino Fundamental.
orientar o projeto educativo do País, cujos resultados ainda
não são satisfatórios, até porque o texto da Lei, por si só, Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas
não se traduz em elemento indutor de mudança. Ele requer da Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era,
esforço conjugado por parte dos órgãos responsáveis pelo originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão
cumprimento do que os atos regulatórios preveem. progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II
No desempenho de suas competências, o CNE iniciou, do artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir
em 1997, a produção de orientações normativas nacionais, a universalização do Ensino Médio gratuito e para assegu-
visando à implantação da Educação Básica, sendo a Primei- rar o atendimento de todos os interessados ao Ensino Mé-
ra o Parecer CNE/CEBnº5/97,delavrado conselheiro Ulysses dio público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo
de Oliveira Panisset. A partir de então, foram editados pelo já estabelecia que se deve garantir a oferta de educação
Conselho Nacional de Educação pareceres e resoluções, escolar regular para jovens e adultos, com características
em separado, para cada uma das etapas e modalidades. e modalidades adequadas às suas necessidades e dispo-
No período de vigência do Plano Nacional de Educação nibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
(PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, em- condições de acesso e permanência na escola.
bora em ritmo distinto, menos de um terço das unidades O acesso ganhou força constitucional, agora para qua-
federadas (26 Estados e o Distrito Federal) apresentaram se todo o conjunto da Educação Básica(excetuada a fase
resposta positiva, uma vez que, dentre eles, apenas 8 for- inicial da Educação Infantil, da Creche), com a nova reda-
mularam e aprovaramos seus planos de educação. Relen- ção dada ao inciso I do artigo 208 da nossa Carta Magna,
do a avaliação técnica do Lei nº 10.709/2003: acrescentou que assegura a Educação Básica obrigatória e gratuita dos
incisos aos arts. 10 e 11, referentes ao transporte escolar. 4 aos 17 anos de idade, inclusive a gratuita para todos os
Leinº10.287/2001: incluiu inciso no art. 12,referente que a ela não tiveram acesso na idade própria, sendo sua
a notificação ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz implementação progressiva, até2016, nos termos do Plano
competente da Comarca e ao respectivo representante do Nacional de Educação, com apoio técnico e financeiro da
Ministério Público a relação dos estudantes que apresente União.
em quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políti-
percentual permitido em lei. cas públicas para a educação no Brasil, entre eles as avalia-
Lei nº 9.475/1997: deu nova redação ao art. 33, refe- ções do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),
rente ao ensino religioso. da Prova Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio
3 Anterior à Constituição, o Decreto-Lei nº 5.452/1943 (ENEM), definidas como constitutivas do Sistema de Avalia-
(Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), no § 1º do artigo ção da Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se
389, dispõe que “os estabelecimentos em que trabalharem que tais programas têm suscitado interrogações também
pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16 (dezes- na Câmara de Educação Básica do CNE, entre outras instân-
seis) anos de idade terão local apropriado, onde seja per- cias acadêmicas: teriam eles consonância com a realidade
mitido às empregadas guardar sob vigilância e assistência das escolas?
os seus filhos no período de amamentação” (considerado Esses programas levam em consideração a identidade
de 6 meses). Por iniciativa do Ministério do Trabalho veio de cada sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do
a admitir-se convênio entre empresa e Creche ou, ainda, o escolar, averiguado por esses programas de avaliação, não
reembolso da importância despendida em Creche de esco- estaria expressando o resultado da forma como se proces-
lha da empregada mãe. sa a avaliação ,não estando de acordo com a maneira como
PNE, promovida pela Comissão de Educação e Cultura a escola e os professores planejam e operam o currículo?
da Câmara dos Deputados (2004), pode-se constatar que, O sistema de avaliação aplicado guardaria relação com o
em todas as etapas e modalidades educativas contempla- que efetivamente acontece na concretude das escolas bra-
das no PNE, três aspectos figuram reiteradamente: acesso, sileiras?

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Como consequência desse método de avaliação ex- profissionais de Educação Básica onde mais abundam as leis
terna, os estudantes crianças não estariam sendo punidos e os pareceres dos conselhos, os palpites fáceis de cada novo
com resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, governante, das equipes técnicas, e até das agências de finan-
os estudantes das escolas indígenas, entre outros de situa- ciamento, nacionais e internacionais (Arroyo, 1999, p. 151).
ções específicas, não estariam sendo afetados negativa- Outro limite que tem sido apontado pela comunidade
mente por essas formas de avaliação? educativa, a ser considerado na formulação e implemen-
Lamentavelmente, esses questionamentos não têm in- tação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
dicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações Educação Básica, é a desproporção existente entre as uni-
nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM eProva Brasil dades federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista:
vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam recursos financeiros, presença política, dimensão geográfi-
os sistemas na formulação de políticas públicas de equida- ca, demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços
de, bem como proporcionam elementos aos municípios e socioculturais.
escolas para localizarem as suas fragilidades e promove- Entre múltiplos fatores que podem ser destacados,
rem ações, na tentativa de superá-las, por meio de metas acentua-se que, para alguns educadores que se manifes-
integradas. Além disso, é proposta do CNE o estabeleci- taram durante os debates havidos em nível nacional, tendo
mento de uma Base Nacional Comum que terá como um como foco o cotidiano da escola e as diretrizes curriculares
dos objetivos nortear as avaliações e a elaboração de livros vigentes, há um entendimento de que tanto as diretrizes
didáticos e de outros documentos pedagógicos. curriculares, quanto os Parâmetros Curriculares Nacionais
O processo de implantação e implementação do dis- (PCN), implementados pelo MEC de 1997 a 2002, transfor-
posto na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006, que maram-se em meros papéis. Preencheram um alacuna de
estabeleceu o ingresso da criança a partir dos seis anos de modo equivocado e pouco dialógico, definindo as concep-
idade no Ensino Fundamental, tem como perspectivas me- ções metodológicas a serem seguidas e o conhecimento
lhorar as condições de equidade e qualidade da Educação a ser trabalhado no Ensino Fundamental e no Médio. Os
Básica, estruturar um novo Ensino Fundamental e assegu- PCNs teriam sido editados como obrigação de conteúdos a
rar um alargamento do tempo para as aprendizagens da serem contemplados no Brasil inteiro, como se fossem um
alfabetização e do letramento. roteiro, sugerindo entender que essa medida poderia ser
Se forem observados os dados estatísticos a partir da orientação suficiente para assegurar a qualidade da edu-
relação entre duas datas referenciais – 2000 e 2008 –, tem- cação para todos. Entretanto, a educação para todos não
-se surpresa quanto ao quantitativo total de matriculados é viabilizadapor decreto, resolução, portaria ou similar, ou
na Educação Básica, já que se constata redução de matrícu- seja, não se efetiva tão somente por meio de prescrição de
la (-0,7%), em vez de elevação. atividades de ensino ou de estabelecimento de parâmetros
Contudo, embora se perceba uma redução de 20,6% ou diretrizes curriculares: a educação de qualidade social é
no total da Educação Infantil, na Creche o crescimento foi conquista e, como conquista da sociedade brasileira, é ma-
expressivo, de 47,7%. Os números indicam que, no Ensino nifestada pelos movimentos sociais, pois é direito de todos.
Fundamental e no Ensino Médio, há decréscimo de ma- Essa conquista, simultaneamente, tão solitária e solidá-
trícula, o que trai a intenção nacional projetada em metas ria quanto singular e coletiva,
constitutivas do Plano Nacional de Educação, pois, no pri- Supõe aprender a articular o local e o universal em
meiro, constata-se uma queda de -7,3% e, no segundo, de diferentes tempos, espaços e grupos sociais desde a pri-
-8,4%. Uma pergunta inevitável é: em que medida as po- meira infância. A qualidade da educação para todos exige
líticas educacionais estimularia a superação desse quadro compromisso e responsabilidade de todos os envolvidos
e em quais aspectos essas Diretrizes poderiam contribuir no processo político, que o Projeto de Nação traçou, por
como indutoras de mudanças favoráveis à reversão do que meio da Constituição Federal e da LDB, cujos princípios e
se coloca? finalidades educacionais são desafiadores: em síntese, as-
Há necessidade de aproximação da lógica dos discur- segurando o direito inalienável de cada brasileiro conquis-
sos normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e tar uma formação sustentada na continuidade de estudos,
das funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios, ou seja, como temporalização de aprendizagens que com-
entretanto, está no que Miguel G. Arroyo (1999) aponta, plexifiquem a experiência de comungar sentidos que dão
por exemplo, em seu artigo, “Ciclos de desenvolvimento significado à convivência.
humano e formação de educadores”, em que assinala que Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior
as diretrizes para a educação nacional, quando normatiza- está na necessidade de repensar as perspectivas de um co-
das, não chegam ao cerne do problema, porque não levam nhecimento digno da humanidade na era planetária, pois
em conta a lógica social. Com base no entendimento do um dos princípios que orientam as sociedades contempo-
autor, as diretrizes não preveem a preparação antecipa- râneas é a imprevisibilidade. As sociedades abertas não
da daqueles que deverão implantá-las e implementá-las. têm os caminhos traçados para um percurso inflexível e
O comentário do autor é ilustrativo por essa compreen- estável. Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a im-
são: não se implantarão propostas inovadoras listando o previsibilidade, e não programas sustentados em certezas.
que teremos de inovar, listando as competências que os Há entendimento geral de que, durante a Década da
educadores devem aprender e montando cursos de trei- Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquis-
namento para formá-los. É (...) no campo da formação de tas destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente trans-

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

formado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas permanência para a conquista da qualidade social; 4) Orga-
de apoio financeiro e de gestão às três etapas da Educação nização curricular: conceito, limites, possibilidades; 5) Or-
Básica e suas modalidades, desde 2007. Do ponto de vista ganização da Educação Básica; 6) Elementos constitutivos
do apoio à Educação Básica, como totalidade, o FUNDEB para organização e implantação das Diretrizes Curriculares
apresenta sinais de que a gestão educacional e de políticas Nacionais Gerais para a Educação Básica.
públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da A sociedade, na sua história, constitui-se no locus da
qualidade da educação brasileira, se for assumida por to- vida, das tramas sociais, dos encontros e desencontros
dos os que nela atuam, segundo os critérios da efetividade, nas suas mais diferentes dimensões. É nesse espaço que
relevância e pertinência, tendo como foco as finalidades se inscreve a instituição escolar. O desenvolvimento da
da educação nacional, conforme definem a Constituição sociedade engendra movimentos bastante complexos. Ao
Federal e a LDB, bem como o Plano Nacional de Educação. traduzir-se, ao mesmo tempo, em território, em cultura, em
Os recursos para a educação serão ainda ampliados política, em economia, em modo de vida, em educação, em
com a desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada religião e outras manifestações humanas, a sociedade, es-
pela já destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem pecialmente a contemporânea, insere-se dialeticamente e
dúvida, essa conquista, resultado das lutas sociais, pode movimenta-se na continuidade e descontinuidade, na uni-
contribuir para a melhoria da qualidade social da ação edu- versalização e na fragmentação, no entrelaçamento e na
cativa, em todo o País. ruptura que conformam a sua face. Por isso, vive-se, hoje,
a problemática da dispersão e ruptura, portanto, da super-
No que diz respeito às fontes de financiamento da ficialidade. Nessa dinâmica, inscreve-se a compreensão do
Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalida- projeto de Nação, o da educação nacional e, neste, o da
des, no entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem instituição escolar, com sua organização, seu projeto e seu
repercutido desfavoravelmente na unidade da gestão das processo educativo em suas diferentes dimensões, etapas
prioridades educacionais voltadas para a conquista da qua- e modalidades.
lidade social da educação escolar, inclusive em relação às
metasprevistasnoPNE2001-2010.Apesardarelevânciado- O desafio posto pela contemporaneidade à educação
FUNDEF,eagora como FUNDEB em fase inicial de implan- é o de garantir, contextualizadamente, o direito humano
tação, ainda não se tem política financeira compatível com universal e social inalienável à educação. O direito universal
as exigências da Educação Básica em sua pluridimensiona- não é passível de ser analisado isoladamente, mas deve sê-
lidade e totalidade. -lo em estreita relação com outros direitos, especialmente,
dos direitos civis e políticos e dos direitos de caráter subje-
As políticas de formação dos profissionais da educa- tivo, sobre os quais incide decisivamente. Compreender e
ção, as Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de realizar a educação, entendida como um direito individual
qualidade definidos pelo Ministério da Educação, associados humano e coletivo, implica considerar o seu poder de ha-
às normas dos sistemas educativos dos Estados, Distrito Fe- bilitar para o exercício de outros direitos, isto é, para po-
deral e Municípios, são orientações cujo objetivo central é o tencializar o ser humano como cidadão pleno ,de tal modo
de criar condições para que seja possível melhorar o desem- que este se torne apto para viver e conviver em determi-
penho das escolas, mediante ação de todos os seus sujeitos. nado ambiente, em sua dimensão planetária. A educação
Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares Na- é, pois, processo e prática que se concretizam nas relações
cionais Gerais para a Educação Básica terão como funda- sociais que transcendem o espaço e o tempo escolares,
mento essencial a responsabilidade que o Estado brasileiro, tendo em vista os diferentes
a família e a sociedade têm de garantir a democratização Sujeitos que a demandam. Educação consiste, portan-
do acesso, inclusão, permanência e sucesso das crianças, to, no processo de socializaçãoda cultura da vida, no qual
jovens e adultos na instituição educacional, sobretudo em se constroem, se mantêm e se transformam saberes, co-
idade própria a cada etapa e modalidade; a aprendizagem nhecimentos e valores.
para continuidade dos estudos; e a extensão da obrigato- Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional
riedade e da gratuidade da Educação Básica. da instituição escolar, que não tem conseguido responder
às singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se
2. Mérito inadiável trazer para o debate os princípios eas práticas
Inicialmente, apresenta-se uma sintética reflexão sobre de um processo de inclusão social, que garanta o acesso e
sociedade e a educação, a que se seguem orientações para considere a diversidade humana, social, cultural, econômi-
a Educação Básica, a partir dos princípios definidos cons- ca dos grupos historicamente excluídos. Trata-se das ques-
titucionalmente e da contextualização apresentada no his- tões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas
tórico, tendo compromisso com a organicidade, a sequen- por categorias que se entrelaçam na vida social . pobres,
cialidade e a articulação do conjunto total da Educação mulheres, afrodescentendes, indígenas, pessoas com defi-
Básica, sua inserção na sociedade e seu papel na constru- ciência, as populações do campo, os de diferentes orienta-
ção do Projeto Nacional. Visa-se à formulação das Diretri- ções sexuais, os sujeitos albergados, aqueles em situação
zes Curriculares específicas para suas etapas e modalida- de rua, em privação de liberdade . todos que compõem a
des, organizando-se com os seguintes itens: 1) Referências diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a
conceituais; 2) Sistema Nacional de Educação; 3) Acesso e ser contemplados pelas políticas públicas.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Para que se conquiste a inclusão social, a educação es- II–liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulga-
colar deve fundamentar-se na ética e nos valores da liber- ra cultura, o pensamento ,a arte e o saber;
dade, na justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na
sustentabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimen- III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
to de seus sujeitos, nas dimensões individual e social de ci- IV – respeito à liberdade e aos direitos;
dadãos conscientes de seus direitos e deveres, compromis- V – coexistência de instituições públicas e privadas de
sados com a transformação social. Diante dessa concepção ensino;
de educação, a escola é uma organização temporal, que VI – gratuidade do ensino público em estabelecimen-
deve ser menos rígida, segmentada e uniforme, a fim de tos oficiais;
que os estudantes, indistintamente, possam adequar seus VII – valorização do profissional da educação escolar;
tempos de aprendizagens de modo menos homogêneo e VIII – gestão democrática do ensino público, na forma
idealizado. da legislação e normas dos sistemas de ensino;
A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa IX – garantia de padrão de qualidade;
ser reinventada: priorizar processos capazes de gerar su- X – valorização da experiência extraescolar;
jeitos inventivos, participativos, cooperativos, preparados XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e
para diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, la- as práticas sociais.
borais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e problema- Além das finalidades da educação nacional enunciadas
tizaras formas de produção e devida. A escola tem, diante na Constituição Federal(artigo 205) e na LDB (artigo 2º), que
desse desafio de sua própria recriação, pois tudo que a ela têm como foco o pleno desenvolvimento da pessoa, a prepa-
se refere constitui-se como invenção: os rituais escolares ração para o exercício da cidadania e a qualificação para o tra-
são invenções de um determinado contexto sociocultural balho, deve-se considerar integradamente o previsto no ECA
em movimento. (Lei nº 8.069/90), o qual assegura, à criança e ao adolescente
A elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais Ge- de até 18 anos, todos os direitos fundamentais inerentes à
rais para a Educação Básica pressupõe clareza em relação pessoa, as oportunidades oferecidas para o desenvolvimento
ao seu papel de indicador de opções políticas, sociais, cul- físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liber-
turais, educacionais, e a função da educação, na sua rela- dade e de dignidade. São direitos referentes à vida, à saúde, à
ção com os objetivos constitucionais de projeto de Nação, alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionali-
fundamentando-se na cidadania e na dignidade da pessoa, zação, à cultura, à dignidade, ao respeito mútuo, à liberdade,
o que implica igualdade, liberdade, pluralidade, diversida- à convivência familiar e comunitária (artigos 2º, 3º e 4º).
de, respeito, justiça social, solidariedade e sustentabilidade. A Educação Básica é direito universal e alicerce indis-
pensável para a capacidade de exercer em plenitude o dire-
2.1 Referências conceituais to à cidadania. É o tempo, o espaço e o contexto em que o
Os fundamentos que orientam a Nação brasileira estão sujeito aprende a constituir e reconstituir a sua identidade,
definidos constitucionalmente no artigo 1º da Constituição em meio a transformações corporais, afetivo-emocionais,
Federal, que trata dos princípios fundamentais da cidada- socioemocionais, cognitivas e socioculturais, respeitando e
nia e da dignidade da pessoa humana, do pluralismo po- valorizando as diferenças. Liberdade e pluralidade tornam-
lítico, dos valores sociais do trabalho e dal ivre iniciativa. -se, portanto, exigências do projeto educacional.
Nessas bases, assentam-se os objetivos nacionais e, por Da aquisição plena desse direito depende a possibi-
consequência, o projeto lidade de exercitar todos os demais direitos, definidos na
educacional brasileiro: construir uma sociedade livre, Constituição, no ECA, na legislação ordinária e nas inúmeras
justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; er- disposições legais que consagram as prerrogativas do cida-
radicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual- dão brasileiro. Somente um ser educado terá condição efeti-
dades sociais e regionais; promover o bem de todos sem va de participação social, ciente e consciente de seus direitos
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer e deveres civis, sociais, políticos, econômicos e éticos.
outras formas de discriminação. Nessa perspectiva, é oportuno e necessário considerar
Esse conjunto de compromissos prevê também a de- as dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabili-
fesa da paz; a autodeterminação dos povos; a prevalência dade, buscando recuperar, para a função social da Educa-
dos direitos humanos; o repúdio ao preconceito, à violên- ção Básica, a sua centralidade, que é o estudante. Cuidar e
cia e ao terrorismo; e o equilíbrio do meio ambiente, bem educar iniciam-se na Educação Infantil, ações destinadas a
de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, crianças a partir de zero ano, que devem ser estendidas ao
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de Ensino Fundamental, Médio e posteriores.
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras ge- Cuidar e educar significa compreender que o direito à
rações. educação parte do princípio da formação da pessoa em sua
As bases que dão sustentação ao projeto nacional de essência humana. Trata-se de considerar o cuidado no sen-
educação responsabilizam o poder público, a família, a so- tido profundo do que seja acolhimento de todos – crian-
ciedade e a escola pela garantia a todos os estudantes de ças, adolescentes, jovens e adultos – com respeito e, com
um ensino ministrado com base nos seguintes princípios: atenção adequada, de estudantes com deficiência, jovens
I – igualdade de condições para o acesso, inclusão, per- e adultos defasados na relação idade-escolaridade, indíge-
manência e sucesso na escola; nas, afrodescendentes, quilombolas e povos do campo.

31
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo cepção de educação integral que deve orientar a organi-
acolher, ouvir, encorajar, apoiar, zação da escola, o conjunto de atividades nela realizadas,
No sentido de desenvolver o aprendizado de pensa bem como as políticas sociais que se relacionam com as
reagir, cuidar de si, do outro, da escola, da natureza, da práticas educacionais. Em cada criança, adolescente, jovem
água, do Planeta. Educar é, enfim, enfrentar o desafio de ou adulto, há uma criatura humana em formação e, nesse
lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis e sentido, cuidar e educar são, ao mesmo tempo, princípios e
diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência atos que orientam e dão sentido aos processos de ensino,
inscrita na teia das relações humanas, neste mundo com- de aprendizagem e de construção da pessoa humana em
plexo. Educar com cuidado significa aprendera amar sem suas múltiplas dimensões.
dependência, desenvolvera sensibilidade humana na rela- Cabe, aqui, uma reflexão sobre o conceito de cidada-
ção década um consigo, como outro e com tudo o que nia, a forma como a ideia de cidadania foi tratada no Brasil
existe, com zelo, ante uma situação que requer cautela em e, em muitos casos, ainda o é. Reveste-se de uma caracte-
busca da formação humana plena. rística
A responsabilidade por sua efetivação exige corres- – para usar os termos de Hannah Arendt – essencial-
ponsabilidade: de um lado, a responsabilidade estatal na mente “social”. Quer dizer: algo ainda derivado e circuns-
realização de procedimentos que assegurem o disposto crito ao âmbito da pura necessidade. É comum ouvir ou ler
nos incisos VIIe VIII,doartigo12e VIdo artigo13,daLDB;- algo que sugere uma noção de cidadania como “acesso
deoutro,aarticulaçãocoma família, com o Conselho Tutelar, dos indivíduos aos bens e serviços de uma sociedade mo-
com o juiz competente da Comarca, com o representante derna”, discurso contemporâneo de uma época em que os
do Ministério Público e com os demais segmentos da so- inúmeros movimentos sociais brasileiros lutavam, essen-
ciedade. Para que isso se efetive, torna-se exigência, tam- cialmente, para obter do Estado condições de existência
bém, a corresponsabilidade exercida pelos profissionais da mais digna, do ponto de vista dominantemente material.
educação, necessariamente articulando a escola com as Mesmo quando esse discurso se modificou num sentido
famílias e a comunidade. mais “político” e menos “social”, quer dizer, uma cidadania
Nota-se que apenas pelo cuidado não se constrói a agora compreendida como a participação ativa dos indi-
educação e as dimensões que a envolvem como projeto víduos nas decisões pertinentes à sua vida cotidiana, esta
transformador e libertador. A relação entre cuidar e edu- não deixou de ser uma reivindicação que situava o político
car se concebe mediante internalização consciente de ei- na precedência do social: participar de decisões públicas
xos norteadores, que remetem à experiência fundamental significa obter direitos e assumir deveres, solicitar ou as-
do valor, que influencia significativamente a definição da segurar certas condições de vida minimamente civilizadas.
conduta, no percurso cotidiano escolar. Não de um valor Em um contexto marcado pelo desenvolvimento de
pragmático e utilitário de educação, mas do valor intrín- formas de exclusão cada vez mais sutis e humilhantes, a ci-
seco àquilo que deve caracterizar o comportamento de dadania aparece hoje como uma promessa de sociabilida-
seres humanos, que respeitam a si mesmos, aos outros, à de, em que a escola precisa ampliar parte de suas funções,
circunstâncias o cialeao ecossistema. Valor este fundamen- solicitando de seus agentes a função de mantenedores da
tado na ética e na estética, que rege a convivência do indi- paz nas relações sociais, diante das formas cada vez mais
víduo no coletivo, que pressupõe relações de cooperação e amplas e destrutivas de violência. Nessa perspectiva e no
solidariedade, de respeito à alteridade e à liberdade. cenário em que a escola de Educação Básica se insere e
Cuidado, por sua própria natureza, inclui duas signi- em que o professor e o estudante atuam, há que se per-
ficações básicas, intimamente ligadas entre si. A primeira guntar: de que tipo de educação os homens e as mulheres
consiste na atitude de solicitude e de atenção para com o dos próximos 20 anos necessitam, para participarem da
outro. A segunda é de inquietação, sentido de responsabi- construção desse mundo tão diverso? A que trabalho e a
lidade, isto é, de cogitar, pensar, manter atenção, mostrar que cidadania se refere? Em outras palavras, que socieda-
interesse, revelar atitude de desvelo, sem perder a ternura de florescerá? Por isso mesmo, a educação brasileira deve
(Boff, 1999, p. 91), compromisso com a formação do sujeito assumir o desafio de propor uma escola emancipadora e
livre e independente daqueles que o estão gerando como libertadora.
ser humano capaz de conduzir o seu processo formativo,
com autonomia e ética. 2.2. Sistema Nacional de Educação
Cuidado é, pois, um princípio que norteia a atitude, o O Sistema Nacional de Educação é tema que vem sus-
modo prático de realizar-se, de viver e conviver no mun- citando o aprofundamento da compreensão sobre sistema,
do. Por isso, na escola, o processo educativo não comporta no contexto da história da educação, nesta Nação tão di-
uma atitude parcial, fragmentada, recortada da ação huma- versa geográfica, econômica, social e culturalmente. O que
na, baseada somente numa racionalidade estratégico-pro- a proposta de organização do Sistema
cedimental. Inclui ampliação das dimensões constitutivas Nacional de Educação enfrenta é, fundamentalmente,
do trabalhopedagógico,medianteverificaçãodascondições- o desafio de superara fragmentação das políticas públicas e
deaprendizagemapresentadaspeloestudante e busca de a desarticulação institucional dos sistemas de ensino entre
soluções junto à família, aos órgãos do poder público, a si, diante do impacto na estrutura do financiamento, com-
diferentes segmentos da sociedade. Seu horizonte de ação prometendo a conquista da qualidade social das aprendi-
abrange a vida humana em sua globalidade. É essa con- zagens, mediante conquista de uma articulação orgânica.

32
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, de colaboração entre os entes federados, cujos sistemas
em vários momentos, abordaram o tema das diretrizes de ensino gozam de autonomia constitucionalmente reco-
para a Educação Básica. Ambas as questões foram objeto nhecida. Isso pressupõe o estabelecimento de regras de
de análise em interface, durante as diferentes etapas pre- equivalência entre as funções distributiva, supletiva, de re-
paratórias da Conferência Nacional de Educação (CONAE) gulação normativa, de supervisão e avaliação da educação
de2009,uma vez que são temas que se vinculam a um ob- nacional, respeitada a autonomia dos sistemas e valoriza-
jetivo comum: articular e fortalecer o sistema nacional de das as diferenças regionais. Sem essa articulação, o projeto
educação em regime de colaboração. educacional – e, por conseguinte, o projeto nacional – cor-
Para Saviani, o sistema é a unidade de vários elementos re o perigo de comprometer a unidade e a qualidade pre-
intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto tendida, inclusive quanto ao disposto no artigo 22 da LDB:
coerente e operante (2009, p. 38). Caracterizam, portanto, desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
a noção de sistema: a intencionalidade humana; a unidade indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
e variedade dos múltiplos elementos que se articulam; a meios para progredir no trabalho e em estudos posterio-
coerência interna articulada com a externa. res, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o solidariedade humana.
entendimento de que sistema resulta da atividade inten- Mais concretamente, há de se prever que a transição
cional e organicamente concebida, que se justifica pela entre Pré-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no
realização de atividades voltadas para as mesmas finalida- interior de uma mesma instituição, requerendo formas
des ou para a concretização dos mesmos objetivos. de articulação das dimensões orgânica e sequencial entre
Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura fede- os docentes de ambos os segmentos que assegurem às
rativa brasileira, em que convivem sistemas educacionais crianças a continuidade de seus processos peculiares de
autônomos, faz-se necessária a institucionalização de um aprendizagem e desenvolvimento. Quando a transição se
regime de colaboração que dê efetividade ao projeto de dá entre instituições diferentes, essa articulação deve ser
educação nacional. União, Estados, Distrito Federal e Mu- especialmente cuidadosa, garantida por instrumentos de
nicípios, cada qual com suas peculiares competências, são registro – portfólios, relatórios que permitam, aos docentes
chamados a colaborar para transformar a Educação Bási- do Ensino Fundamental de uma outra escola, conhecer os
ca em um conjunto orgânico, sequencial, articulado, assim processos de desenvolvimento e aprendizagem vivencia-
como planejado sistemicamente, que responda às exigên- dos pela criança na Educação Infantil da escola anterior.
cias dos estudantes, de suas aprendizagens nas diversas Mesmo no interior do Ensino Fundamental, há de se cuidar
fases do desenvolvimento físico, intelectual, emocional e da fluência da transição da fase dos anos iniciais para a fase
social. dos anos finais, quando a criança passa a ter diversos do-
Atende-se à dimensão orgânica quando são observa- centes, que conduzem diferentes componentes e ativida-
das as especificidades e as diferenças de cada uma das três des, tornando-se mais complexas a sistemática de estudos
etapas de escolarização da Educação Básica e das fases que e a relação com os professores.
as compõem, sem perda do que lhes é comum: as seme- A transição para o Ensino Médio apresenta contornos
lhanças, as identidades inerentes à condição humana em bastante diferentes dos anteriormente referidos, uma vez
suas determinações históricas e não apenas do ponto de que, ao ingressarem no Ensino Médio, os jovens já trazem
vista da qualidade da sua estrutura e organização. Cada maior experiência com o ambiente escolar e suas rotinas;
etapa do processo de escolarização constitui-se em unida- além disso, a dependência dos adolescentes em relação às
de, que se articula organicamente com as demais de ma- suas famílias é quantitativamente menor e qualitativamen-
neira complexa e intrincada, permanecendo todas elas, em te diferente. Mas, certamente, isso não significa que não
suas diferentes modalidades, individualizadas, ao logo do se criem tensões, que derivam, principalmente, das novas
percurso do escolar, apesar das mudanças por que passam expectativas familiares e sociais que envolvem o jovem. Tais
por força da singularidade de cada uma, bem assim a dos expectativas giram em torno de três variáveis principais
sujeitos que lhes dão vida. conforme o estrato sociocultural em que se produzem: a)
Atende-se à dimensão sequencial quando os proces- os “conflitos da adolescência”; b) a maior ou menor aproxi-
sos educativos acompanham as exigências de aprendi- mação ao mundo do trabalho; c) a crescente aproximação
zagem definidas em cada etapa da trajetória escolar da aos rituais da passagem da Educação Básica para a Educa-
Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e ção Superior.
Médio), até a Educação Superior. São processos educativos Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se
que, embora se constituam em diferentes e insubstituíveis constituir em um processo orgânico, sequencial e articula-
momentos da vida dos estudantes, inscritos em tempos e do, que assegure à criança, ao adolescente, ao jovem e ao
espaços educativos próprios a cada etapa do desenvolvi- adulto de qualquer condição e região do País a formação
mento humano, inscrevem-se em trajetória que deve ser comum para o pleno exercício da cidadania, oferecendo
contínua e progressiva. as condições necessárias para o seu desenvolvimento inte-
A articulação das dimensões orgânica e sequencial gral. Estas são finalidades de todas as etapas constitutivas
das etapas e modalidades da Educação Básica ,e destas da Educação Básica, acrescentando-se os meios para que
com a Educação Superior, implica a ação coordenada e in- possa progredir no mundo do trabalho e acessar a Edu-
tegradora do seu conjunto; o exercício efetivo do regime cação Superior. São referências conceituais e legais, bem

33
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

como desafio para as diferentes instâncias responsáveis No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Edu-
pela concepção, aprovação e execução das políticas cação Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada
educacionais. quanto à quantidade. Depositar atenção central sobre a
2.3. Acesso e permanência para a conquista da qua- quantidade,
lidade social Visando à universalização do acesso à escola, é uma
A qualidade social da educação brasileira é uma con- medida necessária, mas que não assegura a permanência,
quista a ser construída de forma negociada ,pois signifi- essencial para compor a qualidade. Em outras palavras, a
ca algo que se concretizaa partir da qualidade da relação oportunidade de acesso, por si só, é destituída de condi-
entre todos os sujeitos que nela atuam direta e indire- ções suficientes para inserção no mundo do conhecimento.
tamente.4 Significa compreender que a educação é um O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva
processo de socialização da cultura da vida, no qual se ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de quali-
constroem, se mantêm e se transformam conhecimentos dade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto
e valores. Socializar a cultura inclui garantir a presença a qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma
dos sujeitos das aprendizagens na escola. Assim, a quali- vez que requer compromisso com a permanência do es-
dade social da educação escolar supõe a sua permanên- tudante na escola, com sucesso e valorização dos profis-
cia, não só com a redução da evasão, mas também da sionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber
repetência e da distorção idade/ano/série. a qualidade na escola como qualidade social, que se con-
Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, quista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades
como direito público subjetivo, no Seu artigo5º,a LDB – pedagógica e política – abrangem diversos modos avalia-
instituiu medidas que se interpenetram ou complemen- tivos comprometidos com a aprendizagem do estudante,
tam, estabelecendo que, para exigir o cumprimento pelo interpretados como indicações que se interpenetram ao
Estado desse ensino obrigatório, qualquer cidadão, gru- longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como
po de cidadãos, associação comunitária, organização alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes
sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons- construídos histórica e socialmente.
tituída e, ainda, o Ministério Público, podem acionar o O compromisso com a permanência do estudante na
poder público. escola é, portanto, um desafio a ser assumido por todos,
Esta medida se complementa com a obrigatoriedade porque, além das determinações sociopolíticas e culturais,
atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de das diferenças individuais e da organização escolar vigente,
colaboração, e com a assistência da União, de recensear há algo que supera a política Regulador a dos processos
a educacionais: há os fluxos migratórios, além de outras va-
4 A garantia de padrão de qualidade é um dos prin- riáveis que se refletem no processo educativo. Essa é uma
cípios da LDB (inciso IX do artigo 3º). população em variável externa que compromete a gestão macro da edu-
idade escolar para o Ensino Fundamental, e os jovens e cação, em todas as esferas, e, portanto, reforça a premên-
adultos que a ele não tiveram acesso, para que seja efe- cia de se criarem processos gerenciais que proporcionem a
tuada a chamada pública correspondente. efetivação do disposto no artigo 5º e no inciso VIII do arti-
Quanto à família, os pais ou responsáveis são obri- go 12 da LDB, quanto ao direito ao acesso e à permanência
gados a matricular a criança no Ensino Fundamental, a na escola de qualidade.
partir dos6anosdeidade,sendoqueéprevista sanção a es- Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos
ses e/ou ao poder público, caso descumpram essa obri- os sujeitos do processo educativo:
gação de garantia dessa etapa escolar. I – a instituição da Política Nacional de Formação de
Quanto à obrigatoriedade de permanência do estu- Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a fi-
dante na escola, principalmente no Ensino Fundamental, nalidade de organizar, em regime de colaboração entre a
há, na mesma Lei, exigências que se centram nas rela- União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a for-
ções entre a escola, os pais ou responsáveis, e a comuni- mação inicial e continuada dos profissionais do magistério
dade, de tal modo que a escola e os sistemas de ensino para as redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de
tornam-se responsáveis por: 29 de janeiro de 2009);
- zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên- II – ampliação da visão política expressa por meio de
cia à escola; habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade
-articular-se com as famílias e a comunidade, crian- para aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e
do processos de integração da sociedade com a escola; pela estética;
-informar os pais e responsáveis sobre a frequência III – responsabilidade social, princípio educacional que
e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a exe- norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o pro-
cução de sua proposta pedagógica; jeto que definem e assumem como expressão e busca da
-notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz qualidade da escola, fruto do empenho de todos.
competente da Comarca e ao respectivo representan- Construir a qualidade social pressupõe conhecimen-
te do Ministério Público a relação dos estudantes que to dos interesses sociais da comunidade escolar para que
apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta seja possível educar e cuidar mediante interação efetivada
por cento do percentual permitido em lei. entre Princípios e finalidadeseducacionais,objetivos,conhe-
cimentoeconcepçõescurriculares. Isso abarca mais que o

34
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

exercício político-pedagógico que se viabiliza mediante da no projeto político-pedagógico, para além do que fica
atuação de todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou dispostonoincisoIXdoartigo4ºdaLDB: definição de padrões
seja, efetiva-se não apenas mediante participação de to- mínimos de qualidade de ensino, como a variedade e quan-
dos os sujeitos da escola – estudante, professor, técnico, tidade mínimas, por estudante, de insumos indispensáveis
funcionário, coordenador – mas também mediante aqui- ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
sição e utilização adequada dos objetos e espaços (labo- Essa exigência legal traduz a necessidade de se reco-
ratórios, equipamentos, mobiliário, salas-ambiente, biblio- nhecer que a avaliação da Qualidade associa-se à ação pla-
teca, videoteca etc.) requeridos para responder ao projeto nejada, coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que
político-pedagógico pactuado, vinculados às condições/ tais sujeitos tenham clareza quanto:
disponibilidades mínimas para se instaurar a primazia da I – aos princípios e às finalidades da educação, além do
aquisição e do desenvolvimento de hábitos investigatórios reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB
para construção do conhecimento. e/ou outros indicadores, que complementem ou substi-
A escola de qualidade social adota como centralidade tuam estes;
o diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o II – à relevância de um projeto político-pedagógico
que pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais concebido e assumido coletivamente pela comunidade
como: educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a plu-
I – revisão das referências conceituais quanto aos dife- ralidade cultural;
rentes espaços e tempos educativos, abrangendo espaços III – à riqueza da valorização das diferenças manifesta-
sociais na escola e fora dela; das pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversida- IV – aos padrões mínimos de qualidade6 (Custo Aluno
de cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos, Qualidade inicial – CAQi7), que apontam para quanto deve
individuais e coletivos e as várias manifestações de cada ser investido por estudante de cada etapa e modalidade da
comunidade; Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de
III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela qualidade a todos os estudantes.
aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como ins- Para se estabelecer uma educação com um padrão mí-
trumento de contínua progressão dos estudantes; nimo de qualidade, é necessário investimento com valor
IV – inter-relação entre organização do currículo, do calculado a partir das despesas essenciais ao desenvolvi-
trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do profes- mento dos processos e procedimentos formativos, que le-
sor, tendo como foco a aprendizagem do estudante; vem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de
V – preparação dos profissionais da educação, gesto- qualidade social: creches e escolas possuindo condições de
res, professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; infraestrutura e de adequados equipamentos e de acessibi-
VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a in- lidade; professores qualificados com remuneração
fraestrutura entendida como espaço formativo dotado de Adequada e compatível com a de outros profissionais
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e com igual nível de formação, em regime de trabalho de 40
acessibilidade; horas em tempo integral em uma mesma escola; definição
VII – integração dos profissionais da educação, os estu- de uma relação adequada entre o número de estudantes
dantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados por turma e por professor, que assegure aprendizagens
na educação; relevantes; pessoal de apoio técnico e administrativo que
VIII – valorização dos profissionais da educação, com garanta o bom funcionamento da escola.
programa de formação continuada, critérios de acesso,
permanência, remuneração compatível com a jornada de 2.4. Organização curricular: conceito, limites, possibi-
trabalho definida no projeto político-pedagógico; lidades
No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira
IX – realização de parceria com órgãos, tais como os e Candau (2006) apresentam diversas definições atribuídas
de assistência social, desenvolvimento e direitos humanos, a currículo, a partir da concepção de cultura como práti-
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e ca social, ou seja, como algo que, em vez de apresentar
arte, saúde, meio ambiente. significados intrínsecos, como ocorre, por exemplo, com
No documento “Indicadores de Qualidade na Educa- as manifestações artísticas, a cultura expressa significados
ção” (Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um atribuídos a partir da linguagem. Em poucas palavras, essa
caráter dinâmico, porque cada escola tem autonomia para concepção é definida como “experiências escolares que se
refletir, propor e agir na busca da qualidade do seu tra- desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas
balho, de acordo com os contextos socioculturais locais. relações sociais, buscando articular vivências e saberes dos
Segundo o autor, os indicadores de qualidade são sinais alunos com os conhecimentos historicamente acumulados
adotados para que se possa qualificar algo, a partir dos cri- e contribuindo para construir as identidades dos estudan-
térios e das prioridades institucionais. Destaque-se que os tes” (idem, p. 22). Uma vez delimitada a ideia sobre cultura,
referenciais e indicadores de avaliação são componentes os autores definem currículo como: conjunto de práticas
curriculares, porque tê-los em mira facilita a aproximação que proporcionam a produção, a circulação e o consumo
entre a escola que se tem e aquela que se quer, traduzi- de significados no espaço social e que contribuem, inten-

35
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

samente, para a construção de identidades sociais e cul- As fronteiras são demarcadas quando se admite tão
turais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de somente a ideia de currículo formal. Mas as reflexões teó-
grande efeito no processo de construção da identidade ricas sobre currículo têm como referência os princípios
do (a) estudante (p. 27). Currículo refere-se, portanto, a educacionais garantidos à educação formal. Estes estão
criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e orientados pela liberdade de aprender, ensinar,pesquisa-
Silva, 1994). redivulgaracultura,opensamento,aarteeoconhecimento-
5 Atualmente, são referências nacionais para o plane- científico,além do pluralismo de ideias e de concepções
jamento, em todas as instâncias responsáveis pela Educa- pedagógicas, assim como a valorização da experiência ex-
ção Básica, o IDEB, o FUNDEB e o ENEM. traescolar, e a vinculação entre a educação escolar, o traba-
6 Parecer CNE/CEB nº 8/2010 (Aprecia a Indicação lho e as práticas sociais.
CNE/CEB nº 4/2008, que propõe a constituição de uma co- Assim, e tendo como base o teor do artigo 27 da LDB,
missão visando analisar a proposta do Custo Aluno Quali- pode-se entender que o processo didático em que se reali-
dade inicial (CAQi) como política de melhoria da qualidade zam as aprendizagens fundamenta-se na diretriz que assim
do ensino no Brasil). delimita o conhecimento para o conjunto de atividades:
7 O CAQi é resultado de estudo desenvolvido pela Os conteúdos curriculares da Educação Básica obser-
Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com a parti- varão, ainda, as seguintes diretrizes:
cipação de pesquisadores, especialistas, gestores e ativis- I -a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
tas de educação. Sua concepção representa uma mudança cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
na lógica de financiamento educacional, pois se baseia no bem comum e à ordem democrática;
investimento necessário para uma educação de qualidade, II -consideração das condições de escolaridade dos es-
e não nos recursos disponíveis. tudantes em cada estabelecimento;
Nesse sentido, a fonte em que residem os conheci- III - orientação para o trabalho;
mentos escolares são as práticas socialmente construídas. IV -promoção do desporto educacional e apoio às prá-
Segundo os autores, essas práticas se constituem em “âm- ticas desportivas não-formais.
bitos de referência dos currículos” que correspondem: Desse modo, os valores sociais, bem como os direitos e
a) às instituições produtoras do conhecimento científi- deveres dos cidadãos, relacionam-se com o bem comum e
co (universidades e centros de pesquisa); com a ordem democrática. Estes são conceitos que reque-
b) ao mundo do trabalho; rem a atenção da comunidade escolar para efeito de organi-
c) aos desenvolvimentos tecnológicos; zação curricular, cuja discussão tem como alvo e motivação
d) às atividades desportivas e corporais; a temática da construção de identidades sociais e culturais.
e) à produção artística; A problematização sobre essa temática contribui para que
f) ao campo da saúde; se possa compreender, coletivamente, que educação cidadã
g) às formas diversas de exercício da cidadania; consiste na interação entre os sujeitos, preparando-os por
h) aos movimentos sociais. meio das atividades desenvolvidas na escola, individualmen-
Daí entenderem que toda política curricular é uma po- te e em equipe, para se tornarem aptos a contribuir para
lítica cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção e a construção de uma sociedade mais solidária, em que se
produção de saberes: campo conflituoso de produção de exerça a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. Nessa
cultura, de embate entre pessoas concretas, concepções perspectiva, cabe à instituição escolar compreender como o
de conhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e conhecimento é produzido e socialmente valorizado e como
perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se deve ela responder a isso. É nesse sentido que as instâncias
resumem apenas a propostas e práticas enquanto docu- gestoras devem se fortalecer instaurando um processo par-
mentos escritos, mas incluem os processos de planeja- ticipativo organizado formalmente, por meio de colegiados,
mento, vivenciados e reconstruídos em múltiplos espaços da organização estudantil e dos movimentos sociais.
e por múltiplas singularidades no corpo social da educa- A escola de Educação Básica é espaço coletivo de con-
ção. Para Lopes (2004, p. 112), mesmo sendo produções vívio, onde são privilegiadas trocas, acolhimento e acon-
para além das instâncias governamentais, não significa chego para garantir o bem-estar de crianças, adolescentes,
desconsiderar o poder privilegiado que a esfera governa- jovens e adultos, no relacionamento entre si e com as de-
mental possui na produção de sentidos nas políticas, pois mais pessoas. É uma instância em que se aprende a valo-
as práticas e propostas desenvolvidas nas escolas também rizar a riqueza das raízes culturais próprias das diferentes
são produtoras de sentidos para as políticas curriculares. regiões do País que, juntas, formam a Nação. Nela se res-
Os efeitos das políticas curriculares, no contexto da significa e recria a cultura herdada, reconstruindo as iden-
prática, são condicionados por questões institucionais e tidades culturais, em que se aprende a valorizar as raízes
disciplinares que, por sua vez, têm diferentes histórias, próprias das diferentes regiões do País.
concepções pedagógicas e formas de organização, ex- Essa concepção de escola exige a superação do rito esco-
pressas em diferentes publicações. As políticas estão sem- lar, desde a construção do currículo até os critérios que orien-
pre em processo devir-a-ser, sendo múltiplas as leituras tam a organização do trabalho escolar em sua multidimen-
possíveis de serem realizadas por múltiplos leitores, em sionalidade, privilegia trocas, acolhimento e aconchego, para
um constante processo de interpretação das interpreta- garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e adul-
ções. tos, no relacionamento interpessoal entre todas as pessoas.

36
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir do domínio do conhecimento científico: uma das condi-
diferentes papéis, no exercício da sua missão essencial, que ções para o exercício da cidadania. O conhecimento cien-
é a de construir uma cultura de direitos humanos para pre- tífico e as novas tecnologias constituem-se, cada vez mais,
parar cidadãos plenos. A educação destina-se a múltiplos condição para que a pessoa saiba se posicionar frente a
sujeitos e tem como objetivo a troca de saberes8, a sociali- processos e inovações que a afetam.
zação e o confronto do conhecimento, segundo diferentes Não se pode, pois, ignorar que se vive: o avanço do
abordagens, exercidas por pessoas de diferentes condições uso da energia nuclear; da nanotecnologia;9 a conquista da
físicas, sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, produção de alimentos geneticamente modificados; a clo-
crenças, etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, nagem biológica. Nesse contexto, tanto o docente quanto
e da cidade, do campo e de aldeias. Porisso, é preciso fa- o estudante e o gestor requerem uma escola em que a cul-
zer da escola a instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é tura, a arte, a ciência e a tecnologia estejam presentes no
uma opção “transgressora”, porque rompe com a ilusão da cotidiano escolar, desde o início da Educação Básica.
homogeneidade e provoca, quase sempre, uma espécie de Tendo em vista a amplitude do papel sócio educativo
crise de identidade institucional. atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, cabe
A escola é, ainda, espaço em que se abrigam desen- aos sistemas educacionais, em geral, definir o programa
contros de expectativas, mas também acordos solidários, de escolas de tempo parcial diurno (matutino e/ou ves-
norteados por princípios e valores educativos pactuados pertino), tempo parcial noturno e tempo integral (turno
por meio do projeto político-pedagógico concebido se- e contra-turno ou turno único com jornada escolar de 7
gundo as demandas sociais e aprovado pela comunidade horas, no mínimo10, durante todo o período letivo), o que
educativa. requer outra e diversa organização e gestão do trabalho
Por outro lado, enquanto a escola se prende às ca- pedagógico, contemplando as diferentes redes de ensino,
racterísticas de metodologias tradicionais, com relação a partir do pressuposto de que compete a todas elas o de-
ao ensino e à aprendizagem como ações concebidas se- senvolvimento integral de suas demandas, numa tentativa
paradamente, as características de seus estudantes reque- de superação das desigualdades de natureza sociocultural,
rem outros processos e procedimentos, em que aprender, socioeconômica e outras.
ensinar, pesquisar, investigar, avaliar ocorrem de modo Há alguns anos, se tem constatado a necessidade de
indissociável. Os estudantes, entre outras características, a criança, o adolescente e o jovem, particularmente aque-
aprendem a receber informação com rapidez, gostam do les das classes sociais trabalhadoras, permanecerem mais
processo paralelo, de realizar várias tarefas ao mesmo tem- tempo na escola11. Tem-se defendido que o estudante
po, preferem fazer seus gráficos poderia beneficiar-se da ampliação da jornada escolar, no
Antes de ler o texto, enquanto os docentes cre em que espaço único da escola ou diferentes espaços educativos,
acompanham a era digital apenas porque digitam e impri- nosquais a permanência do estudantes e liga tanto à quan-
mem textos, têm e-mail, não percebendo que os estudan- tidade equalidadedotempodiário deescolarização,quantoà
tes nasceram na era digital. diversidade de atividades de aprendizagens.
O conceito de saber é adotado aqui se referindo ao Assim, a qualidade da permanência em tempo integral
conjunto de experiências culturais, senso comum, com- do estudante nesses espaços implica a necessidade da in-
portamentos, valores, atitudes, em outras palavras, todo o corporação efetiva e orgânica no currículo de atividades e
conhecimento adquirido pelo estudante nas suas relações estudos pedagogicamente planejados e acompanhados ao
com a família e com a sociedade em movimento. longo de toda a jornada.
As tecnologias da informação e comunicação consti- No projeto nacional de educação, tanto a escola de
tuem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tec- tempo integral quanto a de tempo parcial, diante da sua
nologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo responsabilidade educativa, social e legal, assumem a
apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer fer- aprendizagem.
ramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins 9 A nanotecnologia é o ramo da ciência que trata de
educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de equipamentos minúsculos para aumentar a capacidade de
forma a possibilitar que a interatividade virtual se desen- armazenamento e processamento de dados dos computa-
volva de modo mais intenso, inclusive na produção de lin- dores, medicamentos mais seguros aos pacientes, mate-
guagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio riais mais leves e mais resistentes do que metais e plásticos,
pedagógico às atividades escolares, deve também garantir economia de energia, proteção ao meio ambiente, menor
acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à uso de matérias primas escassas e várias inovações que
internet aberta às possibilidades da convergência digital. ainda não foram sequer imaginadas.
Essa distância necessita ser superada, mediante apro- 10 Baseia-se esse número de 7 horas no Programa
ximação dos recursos tecnológicos de informação e co- Mais Educação, instituído pelo Decreto nº 7.083/2010, que
municação,estimulandoacriaçãodenovosmétodosdidáti- tem por finalidade contribuir para a melhoria da aprendi-
co-pedagógicos, para que tais recursos e métodos sejam zagem por meio da ampliação do tempo de permanência
inseridos no cotidiano escolar. Isto porque o conhecimento de crianças, adolescentes e jovens matriculados em escola
científico, nos tempos atuais, exige da escola o exercício da pública, mediante oferta de Educação Básica em tempo in-
compreensão, valorização da ciência e da tecnologia desde tegral. É considerada Educação Básica em tempo integral “a
a infância e ao longo de toda a vida, embuscada ampliação jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas

37
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

diárias, durante todo o período letivo, compreendendo o Quanto à concepção e à organização do espaço cur-
tempo total em que o estudante permanece na escola ou ricular e físico, se imbricam e se alargam, por incluir no
em atividades escolares em outros espaços educacionais”. desenvolvimento curricular ambientes físicos, didático-pe-
11 O § 5º do artigo 87 da LDB, que instituiu a já finda dagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas
Década da Educação, prescrevia que seriam “conjugados de aula, incluindo outros espaços da escola e de outras
todos os esforços objetivando a progressão das redes es- instituições escolares, bem como os socioculturais e espor-
colares públicas urbanas de Ensino Fundamental para o tivo-recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região.
regime de escolas de tempo integral”. compreendendo-a Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços
como ação coletiva conectada com a vida, com as necessi- curriculares pressupõe profissionais da educação dispos-
dades, possibilidades e interesses das crianças, dos jovens e tos a reinventar e construir essa escola, numa responsa-
dos adultos. O direito de aprender é, portanto, intrínseco ao bilidadecompartilhadacomasdemaisautoridadesencarre-
direito à dignidade humana, à liberdade, à inserção social, gadasdagestãodosórgãos do poder público, na busca de
ao acesso aos bens sociais, artísticos e culturais, significando parcerias possíveis e necessárias, até porque educar é res-
direito à saúde em todas as suas implicações, ao lazer, ao ponsabilidade da família, do Estado e da sociedade.
esporte, ao respeito, à integração familiar e comunitária. A escola precisa acolher diferentes saberes, diferen-
Conforme o artigo 34 da LDB, o Ensino Fundamental tes manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-
incluirá, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em -se para se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade
de permanência na escola, até que venha a ser ministrado em movimento, no processo tornado possível por meio de
em tempo integral (§ 2º). Essa disposição, obviamente, só relações intersubjetivas, fundamentada no princípio eman-
é factível para os cursos do período diurno, tanto é que o § cipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o
1º ressalva os casos do ensino noturno. papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, funda-
Os cursos em tempo parcial noturno, na sua maioria, mentadas no pressuposto do respeito e da valorização das
são de Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinados, mor- diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e so-
mente, a estudantes trabalhadores, com maior maturidade cioemocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto
e experiência de vida. São poucos, porém, os cursos regu- sociocultural, que dão sentido às ações educativas, enri-
lares noturnos destinados a adolescentes e jovens de 15 a quecendo-as, visando à superação das desigualdades de
18 anos ou pouco mais, os quais são compelidos ao estudo natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas
nesse turno por motivos de defasagem escolar e/ou de ina- dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o alar-
daptação aos métodos adotados e ao convívio com colegas gamento do papel da instituição escolar e dos educadores,
de idades menores. A regra tem sido induzi-los a cursos de adotando medidas proativas e ações preventivas.
EJA, quando o necessário são cursos regulares, com progra- Na organização e gestão do currículo, as abordagens
mas adequados à sua faixaetária, como, aliás, é claramente disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar
prescrito no inciso VI do artigo 4º da LDB: oferta de ensino requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque
noturno regular, adequado às condições do educando. revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagó-
gicas dos educadores e organizam o trabalho do estudante.
2.4.1. Formas para a organização curricular Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde
Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o o planejamento do trabalho pedagógico, a gestão adminis-
conjunto de valores e práticas que proporcionam a pro- trativo-acadêmica, até a organização do tempo e do espaço
dução e a socialização de significados no espaço social e físico e a seleção, disposição e utilização dos equipamentos
que contribuem, intensamente, para a construção de iden- e mobiliário da instituição, ou seja, todo o conjunto das ati-
tidades sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que vidades que se realizam no espaço escolar, em seus diferen-
deve difundir os valores fundamentais do interesse social, tes âmbitos. As abordagens multidisciplinar, pluridisciplinar
dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem e interdisciplinar fundamentam-se nas mesmas bases, que
comum e à ordem democrática, bem como considerar as são as disciplinas, ou seja, o recorte do conhecimento.
condições de escolaridade dos estudantes em cada esta- Para Basarab Nicolescu (2000, p. 17), em seu artigo
belecimento, a orientação para o trabalho, a promoção de “Um novo tipo de conhecimento:
práticas educativas formais e não-formais. transdisciplinaridade”, a disciplinaridade, a pluridisci-
Na Educação Básica, a organização do tempo curricular plinaridade, a transdisciplinaridade e a interdisciplinarida-
deve ser construída em função das peculiaridades de seu de são as quatro flechas de um único e mesmo arco: o do
meio e das características próprias dos seus estudantes, não conhecimento.
se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do
formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado, conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade es-
incluindo não só os componentes curriculares centrais obri- tuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias
gatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais, outras ao mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa
mas, também, conforme cada projeto escolar estabelecer, pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas res-
outros componentes flexíveis e variáveis que possibilitem tringe-se a ela, está a serviço dela.
percursos formativos que atendam aos inúmeros interesses,
necessidades e características dos educandos.

38
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento (Nogueira, 2001, p. 27). Essa orientação deve ser enri-
próprio da disciplina, mas está para além dela. O conhe- quecida, por meio de proposta temática trabalhada trans-
cimento situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e versalmente ou em redes de conhecimento e de aprendiza-
além delas, gem, e se expressa por meio de uma atitude que pressupõe
Tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade planejamento sistemático e integrado e disposição para o
do conhecimento na relação entre a parte e o todo, en- diálogo.
tre o todo e a parte. Adota atitude de abertura sobre as A transversalidade é entendida como uma forma de
culturas do presente e do passado, uma assimilação da organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas,
cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de ar- eixos temáticos são integrados às disciplinas, às áreas di-
ticular diferentes referências de dimensões da pessoa hu- tas convencionais de forma a estarem presentes em todas
mana, de seus direitos, e do mundo é fundamento básico elas. A transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e
da transdisciplinaridade. De acordo com Nicolescu (p. 15), complementam-se; ambas rejeitam a concepção de conhe-
para os adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento cimento que toma a realidade como algo estável, pronto
clássico é o seu campo de aplicação, por isso é comple- e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-pe-
mentar à pesquisa pluri e interdisciplinar. dagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos
A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de objetos de conhecimento.
métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, A transversalidade orienta para a necessidade de se
mas sua finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela instituir, na prática educativa, uma analogia entre apren-
abordagem interdisciplinar ocorre a transversalidade do der conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender
conhecimento constitutivo de diferentes disciplinas, por sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na
meio da ação didático-pedagógica mediada pela pedago- realidade e da realidade). Dentro de uma Compreensão
gia dos projetos temáticos. Estes facilitam a organização interdisciplinar do conhecimento, a transversalidade tem
coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico, embora significado, sendo uma proposta didática que possibilita
sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de modo o tratamento dos conhecimentos escolares de forma inte-
restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinaridade é, grada. Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento
portanto, entendida aqui como abordagem teórico parte do pressuposto de que os sujeitos são agentes da
12 Conforme nota constante do Parecer CNE/CP nº arte de problematizar e interrogar, e buscam procedimen-
11/2009, que apreciou proposta do MEC de experiência tos interdisciplinares capazes de acender a chama do diálo-
curricular inovadora do Ensino Médio, “Quanto ao enten- go entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
dimento do termo ‘disciplina’, este Conselho, pelo Parecer A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem
CNE/CEB nº 38/2006, que tratou da inclusão obrigatória que facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se
da Filosofia e da Sociologia no currículo do Ensino Mé- em caminhos facilitadores da integração do processo for-
dio, já havia assinalado a diversidade de termos correlatos mativo dos estudantes, pois ainda permite a sua participa-
utilizados pela LDB. São empregados, concorrentemente ção na escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vis-
e sem rigor conceitual, os termos disciplina, estudo, co- ta, a interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade
nhecimento, ensino, matéria, conteúdo curricular, compo- ou do trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos,
nente curricular. O referido Parecer havia retomado outro, organizados em redes de conhecimento, contribuem para
o CNE/CEB nº 5/97 (que tratou de Proposta de Regula- que a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes
mentação da Lei nº 9.394/96), que, indiretamente, unifi- de seus direitos e deveres e da possibilidade de se torna-
cou aqueles termos, adotando a expressão componente rem aptos a aprender a criar novos direitos, coletivamente.
curricular. De qualquer forma, esse percurso é promovido a partir da
Considerando outros (Pareceres CNE/CEB nº 16/2001 seleção de temas entre eles o tema dos direitos humanos,
e CNE/CEB nº 22/2003), o Parecer CNE/CEB nº 38/2006 recomendados para serem abordados ao longo do de-
assinalou que não há, na LDB, relação direta entre obriga- senvolvimento de componentes curriculares com os quais
toriedade e formato ou modalidade do componente cur- guardam intensa ou relativa relação temática, em função
ricular (seja chamado de estudo, conhecimento, ensino, de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo
matéria, conteúdo, componente ou disciplina). Ademais, ou pela comunidade educacional, respeitadas as caracterís-
indicou que, quanto ao formato de disciplina, não há sua ticas próprias da etapa da Educação Básica que a justifica.
obrigatoriedade para nenhum componente curricular, seja Conceber a gestão do conhecimento escolar enrique-
da Base Nacional Comum, seja da Parte Diversificada. As cida pela adoção de temas a serem tratados sob a pers-
escolas têm garantida a autonomia quanto à sua concep- pectiva transversal exige da comunidade educativa clareza
ção pedagógica e para a formulação de sua correspon- quanto aos princípios e às finalidades da educação, além
dente proposta curricular, sempre que o interesse do pro- de conhecimento da realidade contextual, em que as esco-
cesso de aprendizagem assim o recomendar, dando-lhe o las, representadas por todos os seus sujeitos e a sociedade,
formato que julgarem compatível com a sua proposta de se acham inseridas.
trabalho”. metodológica em que a ênfase incide sobre o Para isso, o planejamento das ações pedagógicas pac-
trabalho de integração das diferentes áreas do conheci- tuadas de modo sistemático e integrado é pré-requisito
mento, um real trabalho de cooperação e troca, aberto ao indispensável à organicidade, sequencialidade e articula-
diálogo e ao planejamento ção do conjunto das aprendizagens perspectivadas, o que

39
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

requer a participação de todos. Parte-se, pois, do pressu- gem, ou ainda, segundo o mesmo autor, a casa pater-
posto de que, para ser tratada transversalmente, a temática na ou materna, espaço de referência dos filhos, mesmo
atravessa, estabelece elos, enriquece, complementa temas após casados. Admitindo a acepção de matriz como lu-
e/ou atividades tratadas por disciplinas, eixos ou áreas do gar onde algo é concebido, gerado ou criado ou como
conhecimento.14 aquilo que é fonte ou origem, não se admite equivalên-
13 As vigentes Diretrizes Curriculares Nacionais para cia de sentido, menos ainda como desenho simbólico ou
o Ensino Médio (Resolução CNE/CEBnº3/98, fundamenta- instrumental da matriz curricular com o mesmo formato
da no Parecer CNE/CEBnº 15/98), destacam em especial a e emprego atribuído historicamente à grade curricular.
interdisciplinaridade, assumindo o princípio de que “todo A matriz curricular deve, portanto, ser entendida como
conhecimento mantém um diálogo permanente com ou- algo que funciona assegurando movimento, dinamis-
tros conhecimentos”, e que “o ensino deve ir além da des- mo, vida curricular e educacional na sua multidimen-
crição e constituir nos estudantes a capacidade de analisar, sionalidade, de tal modo que os diferentes campos do
explicar, prever e intervir, objetivos que são mais facilmente conhecimento possam se coadunar com o conjunto de
alcançáveis se as disciplinas, integradas em áreas de co- atividades educativas e instigar, estimular o despertar de
nhecimento, puderem contribuir, cada uma com sua espe- necessidades e desejos nos sujeitos que dão vida à es-
cificidade, para o estudo comum de problemas concretos, cola como um todo. A matriz curricular constitui-se no
ou para o desenvolvimento de projetos de investigação e/ espaço em que se delimita o conhecimento e representa,
ou de ação”. Enfatizam que o currículo deve ter tratamen- além de alternativa operacional que subsidia a gestão de
to metodológico que evidencie a interdisciplinaridade e a determinado currículo escolar, subsídio para a gestão da
contextualização. escola (organização do tempo e espaço curricular; dis-
tribuição e controle da carga horária docente) e primei-
14 Para concretização da interdisciplinaridade, as ro passo para a conquista de outra forma de gestão do
atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Mé- conhecimento pelos sujeitos que dão vida ao cotidiano
dio (Resolução CNE/CEB nº 3/98, e Parecer CNE/CEB nº escolar, traduzida como gestão centrada na abordagem
15/98) prescrevem a organização do currículo em áreas de interdisciplinar. Neste sentido, a matriz curricular deve
conhecimento e o uso das várias possibilidades se organizar por “eixos temáticos”, definidos pela unida-
Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à co- de escolar ou pelo sistema educativo.
munidade escolar autonomia para seleção dos temas e del
imitação dos espaços curriculares a eles destinados, bem Para a definição de eixos temáticos norteadores da
como a forma de tratamento que será conferido à transver- organização e desenvolvimento curricular, parte-se do
salidade. Para que seja mim plantadas com sucesso, é fun- entendimento de que o programa de estudo aglutina
damental que as ações interdisciplinares sejam previstas no investigações e pesquisas sob diferentes enfoques. O
projeto político-pedagógico, mediante pacto estabelecido eixo temático organiza a estrutura do trabalho pedagó-
entre os profissionais da educação, responsabilizando-se gico,limitaadispersãotemáticaeforneceocenárionoqual-
pela concepção e implantação do projeto interdisciplinar sãoconstruídososobjetos de estudo. O trabalho com ei-
na escola, planejando, avaliando as etapas programadas e xos temáticos permite a concretização da proposta de
replanejando-as, ou seja, reorientando o trabalho de todos, trabalho pedagógico centrada na visão interdisciplinar,
em estreito laço com as famílias, a comunidade, os órgãos pois facilita a organização dos assuntos, de forma am-
responsáveis pela observância do disposto em lei, princi- pla e abrangente, a problematização e o encadeamento
palmente, no ECA. lógico dos conteúdos e a abordagem selecionada para
Com a implantação e implementação da LDB, a ex- a análise e/ou descrição dos temas. O recurso dos eixos
pressão “matriz” foi adotada formalmente pelos diferentes temáticos pedagógicas de organização, inclusive espa-
sistemas educativos, mas ainda não conseguiu provocar ciais e temporais, e diversificação de programas ou tipos
ampla e aprofundada discussão pela comunidade educa- de estudo disponíveis, estimulando alternativas, de acor-
cional. O que se pode constatar é que a matriz foi enten- do com as características do alunado e as demandas do
dida e assumida carregando as mesmas características da meio social, admitidas as opções feitas pelos próprios
“grade” burocraticamente estabelecida. Em sua história, estudantes.
esta recebeu conceitos a partir dos quais não se pode con- As áreas indicadas são: Linguagens, Códigos e suas
siderar que matriz e grade sejam sinônimas. Mas o que é Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas
matriz? E como deve ser entendida a expressão “curricu- Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.
lar”, se forem consideradas as orientações para a educação Vale lembrar que, diferentemente da maioria das es-
nacional, pelos atos legais e normas vigentes? Se o termo colas e das redes de ensino, o ENEM e o ENCCEJA con-
matriz for concebido tendo como referência o discurso das sideram tais áreas, pois suas provas são concebidas e
ciências econômicas, pode ser apreendida como correlata organizadas de forma interdisciplinar e contextualizada,
de grade. Se for considerada a partir de sua origem etimo- percorrendo transversalmente as áreas de conhecimento
lógica, será entendida como útero (lugar onde o feto se consagradas nas Diretrizes, apenas alterando-as de três
desenvolve), ou seja, lugar onde algo é concebido, gerado para quatro, com o desdobramento da Matemática e das
e/ou criado (como apepitavinda da matriz) ou, segundo Ciências da Natureza.
Antônio Houaiss (2001, p. 1870), aquilo que é fonte ou ori-

40
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Propicia o trabalho em equipe, além de contribuir para I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos;
a superação do isolamento das pessoas e de conteúdos II – uma base nacional comum;
fixos. Os professores com os estudantes têm liberdade de III – uma parte diversificada.
escolher temas, assuntos que desejam estudar, contextua- Entende-se por base nacional comum, na Educação
lizando-os em interface com outros. Básica, os conhecimentos, saberes e valores produzidos
Por rede de aprendizagem entende-se um conjunto culturalmente, expressos nas políticas públicas e que são
de ações didático-pedagógicas, cujo foco incide sobre a gerados nas instituições produtoras do conhecimento
aprendizagem, subsidiada pela consciência de que o pro- científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no desen-
cesso de comunicação entre estudantes e professores é volvimento das linguagens; nas atividades desportivas e
efetivado por meio de práticas e recursos tradicionais e por corporais; na produção artística;
práticas de aprendizagem desenvolvidas em ambiente vir- nas formas diversas de exercício da cidadania; nos mo-
tual. Pressupõe compreender que se trata de aprender em vimentos sociais, definidos no texto dessa Lei, artigos 26 e
rede e não de ensinar na rede, exigindo que o ambiente de 3315, que assim se traduzem:
aprendizagem seja dinamizado e compartilha do porto dos I – na Língua Portuguesa;
os sujeitos do processo educativo. Esses são procedimen- II – na Matemática;
tos que não se confundem. III – no conhecimento do mundo físico, natural, da reali-
Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em dade social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se
ferramenta didático-pedagógica relevante também nos o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena,
programas de formação inicial e continuada de profissio- IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão,
nais da educação. Esta opção requer planejamento siste- incluindo-se a música;
mático integrado, estabelecido entre sistemas educativos V – na Educação Física;
ou conjunto de unidades escolares. Envolve elementos VI – no Ensino Religioso.
constitutivos da gestão e das práticas docentes como in- Tais componentes curriculares são organizados pelos
fraestrutura favorável, prática por projetos, respeito ao sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento,
tempo escolar, avaliação planejada, perfil do professor, disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especifici-
perfil e papel da direção escolar, formação do corpo do- dade dos diferentes campos do conhecimento, por meio
cente, valorização da leitura, atenção individual ao estu- dos quais se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao
dante, atividades complementares e parcerias. Mas inclui exercício da cidadania, em ritmo compatível com as etapas
outros aspectos como interação com as famílias e a co- do desenvolvimento integral do cidadão.
munidade, valorização docente e outras medidas, entre as A parte diversificada enriquece e complementa a base
quais a instituição de plano de carreira, cargos e salários. nacional comum, prevendo o estudo das características re-
As experiências em andamento têm revelado êxitos e gionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
desafios vividos pelas redes na busca da qualidade da edu- comunidade escolar. Perpassa todos os tempos e espaços
cação. Os desafios centram-se, predominantemente, nos curriculares constituintes do Ensino
obstáculos para a gestão participativa, a qualificação dos Fundamental e do Médio, independentemente do ciclo
funcionários, a integração entre instituições escolares de da vida no qual os sujeitos tenham acesso à escola. É or-
diferentes sistemas educativos (estadual e municipal, por ganizada em temas gerais, em forma de áreas do conheci-
exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiência. São mento, disciplinas, eixos temáticos, selecionados pelos sis-
ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de infor- temas educativos e pela unidade escolar, colegiadamente,
mações; a agilidade dos fluxos; os recursos que alimentam para serem desenvolvidos de forma transversal. A base na-
relações e aprendizagens coletivas, orientadas por um pro- cional comum e a parte diversificada não podem se cons-
pósito comum: a garantia do direito de aprender. tituir em dois blocos distintos, com disciplinas específicas
Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas para cada uma dessas partes.
que se referem à multiplicação de aulas de transmissão em A compreensão sobre base nacional comum, nas suas
tempo real por meio de teleaulas, com elevado grau de relações com a parte diversificada, foi objeto de vários pa-
qualidade e amplas possibilidades de acesso, em telessala receres emitidos pelo CNE, cuja síntese se encontra no
ou em qualquer outro lugar, previamente preparado, para Parecer CNE/CEB nº 14/2000, da lavra da conselheira
acesso pelos sujeitos da aprendizagem; aulas simultâneas Edla de Araújo Lira Soares. Após retomar o texto dos arti-
para várias salas (e várias unidades escolares) com um pro- gos 26 e 27 da LDB, a conselheira assim se pronuncia:
fessor principal e professores assistentes locais, combina- (...) a base nacional comum interage com a parte diver-
das com atividades on-line em plataformas digitais; aulas sificada, no âmago do processo de constituição de conheci-
gravadas e acessadas a qualquer tempo e de qualquer mentos e valores das crianças, jovens e adultos, evidencian-
lugar por meio da internet ou da TV digital, tratando de do a importância da participação de todos os segmentos da
conteúdo, compreensão e avaliação dessa compreensão; escola no processo de elaboração da proposta da instituição
e oferta de esclarecimentos de dúvidas em determinados que deve nos termos da lei, utilizar a parte diversificada para
momentos do processo didático-pedagógico. enriquecer e complementar a base nacional comum.
2.4.2. Formação básica comum e parte diversificada 15 Art. 26. Os currículos do Ensino Fundamental e Mé-
A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais dio devem ter uma base nacional comum, a ser comple-
para o Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos: mentada, em cada sistema de ensino e estabelecimento

41
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas carac- da parte diversificada, sem determinar qual deva ser, ca-
terísticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da bendo sua escolha à comunidade escolar, dentro das pos-
economia e da clientela. § 1º Os currículos a que se re- sibilidades da escola, que deve considerar o atendimento
fere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo das características locais, regionais, nacionais e transnacio-
da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento nais, tendo em vista as demandas do mundo do trabalho e
do mundo físico e natural e da realidade social e política, da internacionalização de toda ordem de relações. A língua
especialmente do Brasil. § 2º O ensino da arte constituirá espanhola, no entanto, por força de lei específica (Lei nº
componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da 11.161/2005) passou a ser obrigatoriamente ofertada no
educação básica, de forma a promover o desenvolvimen- Ensino Médio, embora facultativa para o estudante, bem
to cultural dos alunos. § 3º A educação física, integrada à como possibilitada no Ensino Fundamental, do 6º ao 9º
proposta pedagógica da escola, é componente curricular ano. Outras leis específicas, a latere da LDB, determinam
obrigatório da educação básica, sendo sua prática faculta- que sejam incluídos componentes não disciplinares, como
tiva ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou as questões relativas ao meio ambiente, à condição e direi-
superior a seis horas; ; II – maior de trinta anos de idade; to do idoso e ao trânsito.16
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em Correspondendo à base nacional comum, ao longo do
situação similar, estiver obrigado à prática da educação fí- processo básico de escolarização, a criança, o adolescente,
sica; IV – amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de o jovem e o adulto devem ter oportunidade de desenvol-
outubro de 1969; (...) VI – que tenha prole. § 4º O ensino da ver, no mínimo, habilidades segundo as especificidades de
História do Brasil levará em conta as contribuições das dife- cada etapa do desenvolvimento humano, privilegiando-se
rentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, os aspectos intelectuais, afetivos, sociais e políticos que se
especialmente das matrizes indígena, africana e européia.§ desenvolvem de forma entrelaçada, na unidade do proces-
5ºNa parte diversificada do currículo será incluído, obriga- so didático.
toriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo me- Organicamente articuladas, a base comum nacional e a
nos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a parte diversificada são organizadas e geridas de tal modo
cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da que também as tecnologias de informação e comunicação
instituição.§ 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, perpassem transversalmente a proposta curricular desde a
mas não exclusivo, do componente curricular de que trata Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção
o § 2º deste artigo. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de en- aos projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como
sino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, referência geral o compromisso com saberes de dimensão
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à es-
-brasileira e indígena. § 1º O conteúdo programático a que cola conseguir:
se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o
da cultura que caracterizam a formação da população bra- indivíduo, o trabalho, a sociedade e a espécie humana,
sileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o es- seus limites e suas potencialidades, em outras palavras, sua
tudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros identidade terrena;
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo
brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade da Educação Básica, desenvolver o letramento emocional,
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, social e ecológico; o conhecimento científico pertinente
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2º aos diferentes tempos, espaços e sentidos; a compreensão
Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasilei- do significado das ciências, das letras, das artes, do esporte
ra e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no e do lazer;
âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua
de educação artística e de literatura e história brasileiras. história e a quem ela se destina;
(...) Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é IV – viver situações práticas a partir das quais seja
parte integrante da formação básica do cidadão e consti- possível perceber que não há uma única visão de mundo,
tui disciplina dos horários normais das escolas públicas de portanto, um fenômeno, um problema, uma experiência
ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade podem ser descritos e analisados segundo diferentes pers-
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pectivas e correntes de pensamento, que variam no tempo,
proselitismo. no espaço, na intencionalidade;
(...) tanto a base nacional comum quanto a parte diver- V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que
sificada são fundamentais para que o currículo faça sentido estes atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos ado-
como um todo. lescentes e adultos, para que se reconheçam, de um lado, os
16 -A Lei nº 9.795/99, dispõe sobre a Educação Am-
Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino biental, instituindo a política nacional de educação am-
expedir orientações quanto aos estudos e às atividades cor- biental, determinando que a educação ambiental é um
respondentes à parte diversificada do Ensino Fundamental componente essencial e permanente da educação nacio-
e do Médio, de acordo com a legislação vigente. A LDB, nal, devendo estar presente, de forma articulada, em todos
porém, inclui expressamente o estudo de, pelo menos, uma os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter
língua estrangeira moderna como componente necessário formal e não-formal (artigo 2º). Dispõe ainda que a educa-

42
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ção ambiental seja desenvolvida como uma prática educa- gens, na maioria trabalhadores, e, se necessário, sendo al-
tiva integrada, contínua e permanente em todos os níveis e terada a duração do curso, tendo como referência o míni-
modalidades do ensino formal, não devendo ser implanta- mo correspondente à base nacional comum, de modo que
da como disciplina específica (artigo 10). tais cursos não fiquem prejudicados;
-A Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto do VII – do entendimento de que, na proposta curricular,
Idoso, no seu artigo 22 determina que nos currículos míni- as características dos jovens e adultos trabalhadores das
mos dos diversos Níveis de ensino formal serão inseridos turmas do período noturno devem ser consideradas como
conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, ao subsídios importantes para garantir o acesso ao Ensino
respeito e à valorização do idoso, de forma a eliminar o Fundamental e ao Ensino Médio, a permanência e o suces-
preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria. so nas últimas séries, seja em curso de tempo regular, seja
-A Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de Trânsi- em curso na modalidade de Educação de Jovens e Adultos,
to Brasileiro, dispõe que a educação para o trânsito será tendo em vista o direito à frequência a uma escola que lhes
promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus dê uma formação adequada ao desenvolvimento de sua
(sic), por meio de planejamento e ações coordenadas entre cidadania;
os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de VIII – da oferta de atendimento educacional especia-
Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos lizado, complementar ou suplementar à formação dos es-
Municípios, nas respectivas áreas de atuação (artigo 76). tudantes público-alvo da Educação Especial, previsto no
estudantes, de outro, os profissionais da educação e a fa- projeto político-pedagógico da escola.
mília, mas reconhecendo que os recursos midiáticos devem A organização curricular assim concebida supõe ou-
permear todas as atividades de aprendizagem. tra forma de trabalho na escola, que consiste na seleção
Na organização da matriz curricular, serão observados adequada de conteúdos e atividades de aprendizagem, de
os critérios: métodos, procedimentos, técnicas e recursos didático-pe-
I – de organização e programação de todos os tempos dagógicos. A perspectiva da articulação interdisciplinar é
(carga horária) e espaços curriculares (componentes), em voltada para o desenvolvimento não apenas de conheci-
forma de eixos, módulos ou projetos, tanto no que se refe- mentos, mas também de habilidades, valores e práticas.
re à base nacional comum, quanto à parte diversificada17, Considera, ainda, que o avanço da qualidade na edu-
sendo que a definição de tais eixos, módulos ou projetos cação brasileira depende, fundamentalmente, do compro-
deve resultar de amplo e verticalizado debate entre os ato- misso político, dos gestores educacionais das diferentes
res sociais atuantes nas diferentes instâncias educativas; 17 Segundo o artigo 23 da LDB, a Educação Básica po-
II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias derá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
letivos, com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos
recomendada a sua ampliação, na perspectiva do tempo não-seriados, com base na idade, na competência e em ou-
integral, sabendo-se que as atividades escolares devem ser tros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre
programadas articulada e integradamente, a partir da base que o interesse do processo de aprendizagem assim o re-
nacional comum enriquecida e complementada pela parte comendar. instâncias da educação18, do respeito às diver-
diversificada, ambas formando um todo; sidades dos estudantes, da competência dos professores e
III –da interdisciplinaridade e da contextualização ,que demais profissionais da educação, da garantia da autono-
devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a in- mia responsável das instituições escolares na formulação
terlocução entre os diferentes campos do conhecimento e a de seu projeto político-pedagógico que contemple uma
transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas, proposta consistente da organização do trabalho.
bem como o estudo e o desenvolvimento de projetos referi-
dos a temas concretos da realidade dos estudantes; 2.5. Organização da Educação Básica
IV–da destinação de, pelo menos,20%dototaldacar- Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica,
gahorária anual ao conjunto de programas e projetos in- em seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos,
terdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no social e culturalmente, porque aprendem e interagem; são
projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino Cidadãos de direito e deveres em construção; copartí-
Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que cipes do processo de produção de cultura, ciência, esporte
se identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o e arte, compartilhando saberes, ao longo de seu desenvol-
conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos vimento físico, cognitivo,socioafetivo,emocional,tantodo-
devem ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e fle- pontodevistaético,quantopolíticoeestético, na sua relação
xível, em articulação com a comunidade em que a escola com a escola, com a família e com a sociedade em mo-
esteja inserida; vimento. Ao se identificarem esses sujeitos, é importante
V – da abordagem interdisciplinar na organização e considerar os dizeres de Narodowski (1998). Ele entende,
gestão do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido apropriadamente, que a escola convive hoje com estudan-
coletivamente, planejado previamente, de modo integrado tes de uma infância, de uma juventude (des) realizada, que
e pactuado com a comunidade educativa; estão nas ruas, em situação de risco e exploração, e aqueles
VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Funda- de uma infância e juventude (hiper) realizada com pleno
mental e do Médio, da metodologia didático-pedagógica domínio tecnológico da internet, do orkut, dos chats. Não
pertinente às características dos sujeitos das aprendiza- há mais como tratar: os estudantes como se fossem homo-

43
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

gêneos, submissos, sem voz; os pais e a comunidade esco- perspectiva da inclusão social exercitada em compromisso
lar como objetos. Eles são sujeitos plenos de possibilida- com a equidade e a qualidade. É nesse sentido que se deve
des de diálogo, de interlocução e de intervenção. Exige-se, pensar e conceber o projeto político-pedagógico, a relação
portanto, da escola, a busca de um efetivo pacto em torno com a família, o Estado, a escola e tudo o que é nela reali-
do projeto educativo escolar, que considere os sujeitos-es- zado. Sem isso, é difícil consolidar políticas que efetivem o
tudantes jovens, crianças, adultos como parte ativa de seus processo de integração entre as etapas e modalidades da
processos de formação, sem minimizar a importância da Educação Básica e garanta ao estudante o acesso, a inclu-
autoridade adulta. são, a permanência, o sucesso e a conclusão de etapa, e a
Na organização curricular da Educação Básica, devem- continuidade de seus estudos. Diante desse entendimen-
-se observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas, to, a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais Ge-
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas rais para a Educação Básica e a revisão e a atualização das
especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada diretrizes específicas de cada etapa e modalidade devem
etapa é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por ocorrer mediante diálogo vertical e horizontal, de modo
seus objetivos ou por suas diretrizes educacionais, clara- simultâneo e indissociável, para que se possa assegurar a
mente dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamen- necessária coesão dos fundamentos que as norteiam.
tando-se na inseparabilidade dos conceitos referenciais:
cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteadora do 2.5.1. Etapas da Educação Básica
projeto político-pedagógico concebido e executado pela Quanto às etapas correspondentes aos diferentes mo-
comunidade educacional. Mas vão além disso quando, no mentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a
processo educativo, educadores e estudantes se defronta- Educação Básica compreende:
rem com a complexidade e a tensão em que se circunscre- I–a Educação Infantil, que compreende: a Creche, en-
ve o processo no qual se dá a formação do humano em sua globando as diferentes etapas do desenvolvimento da
multidimensionalidade. criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola,
Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus com duração de 2 (dois) anos.
tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
um princípio orientador de toda a ação educativa. É res- duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas
ponsabilidade dos sistemas educativos responderem pela fases: a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos
criação de condições para que crianças, adolescentes, jo- finais;
vens e adultos, com sua diversidade (diferentes condições III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três)
físicas, sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gêne- anos. 19
ro, crenças, classes sociais, contexto sociocultural), tenham Estas etapas e fases têm previsão deidades próprias,
a oportunidade de receber a formação que corresponda à as quais, no entanto, são diversas quando se atenta para
idade própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao alguns pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso
Ensino Fundamental e ao Médio. escolar, repetência, retenção, retorno de quem havia aban-
donado os estudos, estudantes com deficiência, jovens e
Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode corres- adultos sem escolarização ou com esta incompleta, habi-
ponder uma ou mais das modalidades de ensino: Educa- tantes de zonas rurais, indígenas e quilombolas, adoles-
ção Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do centes em regime de acolhimento ou internação, jovens e
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e adultos em situação de privação de liberdade nos estabe-
Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos estabe- lecimentos penais.
lecimentos penais e a educação quilombola.
Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem 2.5.1.1. Educação Infantil
orientações para a elaboração das diretrizes específicas A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimen-
para cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo to integral da criança até 5
como centro e 18 Projeto de Lei de Responsabilidade Edu- (cinco) anos de idade, em seus aspectos físico, afetivo,
cacional – uma proposta aprovada pelos participantes da psicológico, intelectual e social, complementando a ação
Conferência Nacional de Educação (CONAE) – quer criar da família e da comunidade.20
mecanismos para aplicar sanções a governantes – nas três Seus sujeitos situam-se na faixa etária que compreen-
esferas – que não aplicarem corretamente os recursos da de o ciclo de desenvolvimento e de aprendizagem dotada
educação. A chamada Lei de Responsabilidade Educacional de condições específicas, que são singulares a cada tipo de
seguiria os moldes da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas atendimento, com exigências próprias. Tais atendimentos
não se restringiria aos investimentos, incluindo também carregam marcas singulares
metas de acesso e qualidade do ensino. motivação os que antropoculturais, porque as crianças provêm de dife-
justificam a existência da instituição escolar: os estudan- rentes e singulares contextos socioculturais, socioeconômi-
tes em desenvolvimento. Reconhecidos como sujeitos do cos e étnicos. Por isso, os sujeitos do processo educativo
processo de aprendizagens, têm sua identidade cultural e dessa
humana respeitada, desenvolvida nas suas relações com os 19 Do ponto de vista do financiamento, essa categoriza-
demais que compõem o coletivo da unidade escolar, em ção é subdividida conforme artigo 10, daLeinº11.494/2007
elo com outras unidades escolares e com a sociedade, na (FUNDEB), para atender ao critério de distribuição propor-

44
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

cional de recursos dos fundos de manutenção da Educação valorizando a aprendizagem para a conquista da cultura
Básica, estabelecendo as seguintes diferenças entre etapas, da vida, por meio de atividades lúdicas em situações de
modalidades e tipos de estabelecimento de ensino: I. Cre- aprendizagem (jogos e brinquedos), formulando proposta
che; II. Pré-Escola; III. Séries iniciais do Ensino Fundamental pedagógica que considere o currículo como conjunto de
urbano; experiências em que se articulam saberes da experiência e
IV. séries iniciais do Ensino Fundamental rural; V. séries socialização do conhecimento em seu dinamismo, deposi-
finais do Ensino Fundamental urbano; tando ênfase:
VI. séries finais do Ensino Fundamental I – na gestão das emoções;
rural; II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e ali-
VII. Ensino Fundamental em tempo integral; mentares;
VIII. Ensino Médio urbano; III – na vivência de situações destinadas à organização
IX. Ensino Médio rural; dos objetos pessoais e escolares;
X. Ensino Médio em tempo integral; IV – na vivência de situações de preservação dos recur-
XI. Ensino Médio integrado à educação profissional; sos da natureza;
XII. Educação especial; V – no contato com diferentes linguagens representa-
XIII. Educação indígena e quilombola; das, predominantemente, por ícones – e não apenas pelo
XIV. Educação de Jovens e Adultos com avaliação no desenvolvimento da prontidão para a leitura e escrita –,
processo; e como potencialidades indispensáveis à formação do inter-
XV. Educação de Jovens e Adultos integrada à educa- locutor cultural.
ção profissional de nível médio, com avaliação no processo.
20 As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação 2.5.1.2 Ensino Fundamental
Infantil foram revistas e estão atualizadas pela Resolução Na etapa da vida que corresponde ao Ensino Funda-
CNE/CEB nº 5/2009, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº mental21, o estatuto de cidadão vai se definindo gradativa-
20/2009. etapa da Educação Básica devem ter a oportuni- mente conforme o educando vai se assumindo a condição
dade de se sentirem acolhidos, amparados e respeitados de umsujeito de direitos. As crianças, quase sempre, per-
pela escola e pelos profissionais da educação, com base cebem o sentido das transformações corporais e culturais,
nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, di- afetivo-emocionais, sociais, pelas quais passam. Tais trans-
versidade e pluralidade. Deve-se entender, portanto, que, formações requerem-lhes reformulação da autoimagem, a
para as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, independente- que se associa o desenvolvimento cognitivo. Junto a isso,
mente das diferentes condições físicas, sensoriais, mentais, buscam referências para a formação de valores próprios,
linguísticas, étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, re- novas estratégias para lidar com as diferentes exigências
ligiosas, entre outras, no espaço escolar, as relações sociais que lhes são impostas.
e intersubjetivas requerem a atenção intensiva dos profis- 21 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para
sionais da educação, durante o tempo e o momento de de- o Ensino Fundamental são as constantes da Resolução
senvolvimento das atividades que lhes são peculiares: este CNE/CEB nº 2/1998, Fundamentada no Parecer CNE/CE-
é o tempo em que a curiosidade deve ser estimulada, a Bnº4/1998,queestão em processo de revisão e atualização,
partir da brincadeira orientada pelos profissionais da edu- face à experiência acumulada e às alterações na legislação
cação. Os vínculos de família, dos laços de solidariedade que incidiram sobre essa etapa da Educação Básica.
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 3/2005, o En-
social, devem iniciar-se na Pré-Escola e sua intensificação sino Fundamental de 9 (nove) anos tem duas fases com
deve ocorrer ao longo do Ensino Fundamental, etapa em características próprias, chamadas de: anos iniciais, com 5
que se prolonga a infância e se inicia a adolescência. (cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6
Às unidades de Educação Infantil cabe definir, no seu (seis) a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro)
projeto político-pedagógico, com base no que dispõem anos de duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.
os artigos 12 e 13 da LDB e no ECA, os conceitos orien- O Parecer CNE/CEB nº 7/2007 admitiu coexistência do
tadores do processo de desenvolvimento da criança, com Ensino Fundamental de 8
a consciência de que as crianças, em geral, adquirem as (oito) anos, em extinção gradual, com o de 9 (nove),
mesmas formas de comportamento que as pessoas usam que se encontra em processo de implantação e implemen-
e demonstram nas suas relações com elas, para além do tação. Há, nesse caso, que se respeitar o disposto nos Pa-
desenvolvimento da linguagem e do pensamento. receres CNE/CEB nº 6/2005 e nº 18/2005, bem como na
Assim, a gestão da convivência e as situações em que Resolução CNE/CEB nº 3/2005, que formula uma tabela de
se torna necessária a solução de problemas individuais e equivalência da organização e dos planos curriculares do
coletivos pelas crianças devem ser previamente progra- Ensino Fundamental de 8 (oito) e de 9 (nove) anos, a qual
madas, com foco nas motivações estimuladas e orientadas deve ser adotada por todas as escolas.
pelos professores e demais profissionais da educação e ou- O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para
tros de áreas pertinentes, respeitados os limites e as poten- as crianças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia
cialidades de cada criança e os vínculos desta com a família 31 de março do ano em que ocorrer matrícula, conforme
ou com o seu responsável direto. Dizendo de outro modo, estabelecido pelo CNE no Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e
nessa etapa deve-se assumir o cuidado e a educação, Resolução CNE/CEB nº 1/2010.

45
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Segundo o Parecer CNE/CEB nº 4/2008, o antigo ter- V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos la-
ceiro período da Pré-Escola, agora primeiro ano do Ensino ços de solidariedade humana e de respeito recíproco em
Fundamental, não pode se confundir com o anterior pri- que se assenta a vida social.
meiro ano, pois se tornou parte integrante de um ciclo de Como medidas de caráter operacional, impõe-se a
3 (três) anos, que pode ser denominado “ciclo da infância”. adoção:
Conforme o Parecer CNE/CEB nº 6/2005, a ampliação do I – de programa de preparação dos profissionais da
Ensino Fundamental obrigatório a partir dos 6 (seis) anos educação, particularmente dos gestores, técnicos e pro-
de idade requer de todas as escolas e de todos os educa- fessores;
dores compromisso com a elaboração de um novo projeto II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equi-
político-pedagógico, bem como para o consequente redi- pes interdisciplinares e multiprofissionais;
mensionamento da Educação Infantil. III–deprogramasdeincentivoaocompromissodos-
Por outro lado, conforme destaca o Parecer CNE/CEB profissionaisdaeducaçãocomos estudantes e com sua
nº 7/2007: é perfeitamente possível que os sistemas de aprendizagem, de tal modo que se tornem sujeitos nesse
ensino estabeleçam normas para que essas crianças que processo;
só vão completar seis anos depois de iniciar o ano letivo IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a co-
possam continuar frequentando a Pré-Escola para que não munidade, cujas atividades colaborem para a superação
ocorra uma indesejável descontinuidade de atendimento e de conflitos nas escolas, orientados por objetivos claros
desenvolvimento. e tangíveis, além de diferentes estratégias de interven-
O intenso processo de descentralização ocorrido na ção;
última década acentuou, na oferta pública, a cisão en- V–de abertura de escolas além do horário regular
tre anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, levando de aulas, oferecendo aos estudantes local seguro para a
à concentração dos anos iniciais, majoritariamente, nas prática de atividades esportivo-recreativas e sociocultu-
redes municipais, e dos anos finais, nas redes estaduais, rais, além de reforço escolar;
embora haja escolas com oferta completa (anos iniciais e VI – de espaços físicos da escola adequados aos di-
anos finais do ensino fundamental) em escolas mantidas versos ambientes destinados às várias atividades, entre
por redes públicas e privadas. Essa realidade requer es- elas a de experimentação e práticas botânicas;22
pecial atenção dos sistemas estaduais e municipais, que VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários,
devem estabelecer forma de colaboração, visando à oferta nos recursos didático-pedagógicos, nas comunicações e
do Ensino Fundamental e à articulação entre a primeira informações.
fase e a segunda, para evitar obstáculos ao acesso de estu- Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, pal-
dantes que mudem de uma rede para outra para comple- co de interações, e, no particular, é responsabilidade do
tarem escolaridade obrigatória, garantindo a organicidade professor, apoiado pelos demais profissionais da edu-
e totalidade do processo formativo do escolar. cação, criar situações que provoquem nos estudantes
Respeitadas as marcas singulares antropoculturais a necessidade e o desejo de pesquisar e experimentar
que as crianças de diferentes contextos adquirem, os ob- situações de aprendizagem como conquista individual e
jetivos da formação básica, definidos para a Educação coletiva, a partir do contexto particular e local, em elo
Infantil, prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino com o geral e transnacional.
Fundamental, de tal modo que os aspectos físico, afetivo,
psicológico, intelectual e social sejam priorizados na sua 2.5.1.3. Ensino Médio
formação, complementando a ação da família e da comu- Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino
nidade e, ao mesmo tempo, ampliando e intensificando, Médio23, para adolescentes em idade de 15 (quinze) a
gradativamente, o processo educativo com qualidade so- 17 (dezessete), preveem, como preparação para a con-
cial, mediante: clusão do processo formativo da Educação Básica (artigo
I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, 35 da LDB):
tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da I – a consolidação e o aprofundamento dos conheci-
escrita e do cálculo; mentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitan-
II – foco central na alfabetização, ao longo dos três do o prosseguimento de estudos;
primeiros anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB II – a preparação básica para o trabalho, tomado este
nº4/2008,de20defevereiro de2008, da lavra do conselheiro como princípio educativo, e para a cidadania do educan-
Murílio de Avellar Hingel, que apresenta orientação do, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de
sobre os três anos iniciais do Ensino Fundamental de nove enfrentar novas condições de ocupação ou aperfeiçoa-
anos; mento posteriores;
III –a compreensão do ambiente natural e social, do III – o aprimoramento do estudante como um ser de
sistema político, da economia, da tecnologia, das artes e direitos, pessoa humana, incluindo a formação ética e o
da cultura dos direitos humanos e dos valores em que se desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensa-
fundamenta a sociedade; mento crítico;
IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendiza- IV – a compreensão dos fundamentos científicos e
gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e ha- tecnológicos presentes na sociedade contemporânea,
bilidades e a formação de atitudes e valores; relacionando a teoria com a prática.

46
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A formação ética, a autonomia intelectual, o pensa- Na perspectiva de reduzir a distância entre as ativida-
mento crítico que construa sujeitos de direitos devem se des escolares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve
iniciar desde o ingresso do estudante no mundo escolar. ter uma base unitária sobre a qual podem se assentar pos-
Como se sabe,estessão,aumsótempo,princípiosevalore- sibilidades diversas: no trabalho, como preparação geral
sadquiridosduranteaformaçãodapersonalidade ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e
22 Experiências com cultivo de hortaliças, jardinagem na tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; nas
e outras, sob a orientação dos profissionais da educação artes e na cultura, como ampliação da formação cultural.
e apoio de outros, cujo resultado se transforme em be- Assim, o currículo doEnsino Médio deve organizar-se de
nefício da mudança de hábitos dos estudantes que, além modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o
da constituição de atividades alternativas para a oferta de trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o traba-
diferentes opções, possam ser prazerosas. lho como princípio educativo, processualmente conduzido
23 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o desde a Educação Infantil.
Ensino Médio estão expressas na Resolução CNE/CEB nº
3/98, fundamentada no Parecer CNE/CEBnº15/98,atual- 2.5.2. Modalidades da Educação Básica
menteem processo de revisão e atualização, face à expe- Como já referido, na oferta de cada etapa pode corres-
riência acumulada e às alterações na legislação que incidi- ponder uma ou mais modalidades de ensino: Educação de
ram sobre esta etapa da Educação Básica. do indivíduo. É, Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional
entretanto, por meio da convivência familiar, social e esco- e Tecnológica, Educação Básica do Campo, Educação Es-
lar que tais valores são internalizados. Quando o estudante colar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação
chega ao Ensino Médio, os seus hábitos e as suas atitudes a Distância.
crítico-reflexivas e éticas já se acham em fase de confor-
mação. Mesmo assim, a preparação básica para o trabalho 2.5.2.1. Educação de Jovens e Adultos
e a cidadania, e a prontidão para o exercício da autono- 24
mia intelectual são uma conquista paulatina e requerem Art. 208. (...) I – Educação Básica obrigatória e gratuita
a atenção de todas as etapas do processo de formação dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegura-
do indivíduo. Nesse sentido, o Ensino Médio, como etapa da inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não
responsável pela terminalidade do processo formativo da tiveram acesso na idade própria;
Educação Básica, deve se organizar para proporcionar ao (O disposto neste inciso I deverá ser implementado
estudante uma formação com base unitária, no sentido de progressivamente, até 2016, nos termos do Plano Nacional
um método de pensar e compreender as determinações de Educação, com apoio técnico e financeiro da União).
da vida social e produtiva; que articule trabalho, ciência, A instituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA) 25
tecnologia e cultura na perspectiva da emancipação hu- tem sido considerada como instância em que o Brasil pro-
mana. cura saldar uma dívida social que tem para com o cidadão
Na definição e na gestão do currículo, sem dúvida, que não estudou na idade própria. Destina-se, portanto,
inscrevem-se fronteiras de ordem legal e teórico-metodo- aos que se situam na faixa etária superior à considerada
lógica. Sua lógica dirige-se aos jovens não como catego- própria, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e do
rização genérica e abstrata, mas consideradas suas singu- Ensino Médio.
laridades, que se situam num tempo determinado, que, ao
mesmo tempo, é recorte da existência humana e herdeiro A carência escolar de adultos e jovens que ultrapassa-
de arquétipos conformadores da sua singularidade inscrita ram essa idade tem graus variáveis, desde a total falta de
em determinações históricas. Compreensível que é difícil alfabetização, passando pelo analfabetismo funcional, até
que todos os jovens consigam carregar a necessidade e a incompleta escolarização nas etapas do Ensino Funda-
o desejo de assumir todo o programa de Ensino Médio mental e do Médio. Essa defasagem educacional mantém
por inteiro, como se acha organizado. Dessa forma, com- e reforça a exclusão social, privando largas parcelas da po-
preende-se que o conjunto de funções atribuídas ao Ensi- pulação ao direito de participar dos bens culturais, de inte-
no Médio não corresponde à pretensão e às necessidades grar-se na vida produtiva e de exercer sua cidadania. Esse
dos jovens dos dias atuais e às dos próximos anos. Portan- resgate não pode ser tratado emergencialmente, mas, sim,
to, para que se assegure a permanência dos jovens na es- de forma sistemática e continuada, uma vez que jovens e
cola, com proveito, até a conclusão da Educação Básica, os adultos continuam alimentando o contingente com defa-
sistemas educativos devem prever currículos flexíveis, com sagem escolar, seja por não ingressarem na escola, seja por
diferentes alternativas, paraqueosjovenstenhamaopor- dela se evadirem por múltiplas razões.
tunidadedeescolheropercursoformativoquemaisatendaa O inciso I do artigo208daConstituiçãoFederaldetermi-
seus interesses, suas necessidades e suas aspirações. naque o dever do Estado para com a educação será efe-
Deste modo, essa etapa do processo de escolarização tivado mediante a garantia de Ensino Fundamental obri-
se constitui em responsável pela terminalidade do proces- gatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita
so formativo do estudante da Educação Básica24, e, con- para todos os que a ele não tiverem acesso na idade pró-
juntamente, pela preparação básica para o trabalho e para pria. Este mandamento constitucional é reiterado pela LDB,
a cidadania, e pela prontidão para o exercício da autono- no inciso I do seu artigo 4º, sendo que, o artigo 37traduz os
mia intelectual. fundamentos da EJA ao atribuir ao poder público a respon-

47
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sabilidade de estimular e viabilizar o acesso e a permanên- Diretrizes Curriculares Nacionais, a identidade dessa mo-
cia do trabalhador na escola, mediante ações integradas e dalidade de educação e o regime de colaboração entre os
complementares entre si, mediante oferta de cursos gratui- entes federativos.
tos aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os
estudos na idade regular, proporcionando-lhes oportuni- Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para
dades educacionais apropriadas, consideradas as caracte- a inscrição e realização de exames De conclusão doEnsi-
rísticas do alunado, seus interesses, condições de vida e de noFundamentaléde15(quinze)anos completos, e para os
trabalho, mediante cursos e exames. Esta responsabilidade de conclusão do Ensino Médio éade18(dezoito)anos com-
deve ser prevista pelos sistemas educativos e por eles deve pletos. Para a aplicação desses exames, o órgão normativo
ser assumida, no âmbito da atuação de cada sistema, ob- dos sistemas de educação deve manifestar-se previamente,
servado o regime de colaboração e da ação redistributiva, além de acompanhar os seus resultados. A certificação do
definidos legalmente. conhecimento e das experiências avaliados por meio de
Os cursos de EJA devem pautar-se pela flexibilidade, exames para verificação de competências e habilidades é
tanto de currículo quanto de tempo e espaço, para que objeto de diretrizes específicas a serem emitidas pelo ór-
seja: gão normativo competente, tendo em vista a complexida-
I – rompida a simetria com o ensino regular para crian- de, a singularidade e a diversidade contextual dos sujeitos
ças e adolescentes, de modo a permitir percursos indivi- a que se destinam tais exames.27
dualizados e conteúdos significativos para os jovens e
adultos; 2.5.2.2. Educação Especial
II – provido suporte e atenção individual às diferentes A Educação Especial é uma modalidade de ensino
necessidades dos estudantes no processo de aprendiza- transversal a todas etapas e outras modalidades, como
gem, mediante atividades diversificadas; parte integrante da educação regular, devendo ser prevista
III – valorizada a realização de atividades e vivências no projeto político-pedagógico da unidade escolar.28
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras Os sistemas de ensino devem matricular todos os es-
de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; tudantes com deficiência, transtornos globais do desen-
IV – desenvolvida a agregação de competências para volvimento e altas habilidades/superdotação, cabendo às
o trabalho; escolas organizar-se para seu atendimento, garantindo as
V – promovida a motivação e orientação permanente condições para uma educação de qualidade para todos,
dos estudantes, visando à maior participação nas aulas e devendo considerar suas necessidades educacionais espe-
seu melhor aproveitamento e desempenho; cíficas, pautando-se em princípios éticos, políticos e estéti-
VI – realizada sistematicamente a formação continua- cos, para assegurar:
da destinada especificamente aos educadores de jovens e I – a dignidade humana e a observância do direito de
adultos. cada estudante de realizar seus projetos e estudo, de tra-
Na organização curricular dessa modalidade da Edu- balho e de inserção na vida social, com autonomia e inde-
cação Básica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino pendência;
devem oferecer cursos e exames supletivos, que compreen- II–a busca da identidade própria de cada estudante,
derão a base nacional comum do currículo, habilitando ao o reconhecimento e a valorização das diferenças e poten-
prosseguimento de estudos em caráter regular. Entretanto, cialidades, o atendimento às necessidades educacionais
prescreve que, preferencialmente, os jovens e adultos te- no processo de ensino e aprendizagem, como base para a
nham a oportunidade de desenvolver a Educação Profissio- constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimen-
nal articulada com a Educação Básica (§3º do artigo 37 da tos, habilidades e competências;
LDB, incluído pela Lei nº 11.741/2008).26 III – o desenvolvimento para o exercício da cidadania,
25 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a da capacidade de participação social, política e econômica
Educação e Jovens e Adultos estão expressas na Resolução e sua ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres
CNE/CEB nº 1/2000, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº e o usufruto de seus direitos.
11/2000, sendoque o Parecer CNE/CEB nº 6/2010 (ainda
não homologado), visa instituir Diretrizes O atendimento educacional especializado(AEE),previs-
Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos to pelo Decreto nº6.571/2008,
(EJA) nos aspectos relativos à duração dos cursos e idade É parte integrante do processo educacional, sendo que
mínima para ingresso nos cursos de EJA; idade mínima e o sistemas de ensino devem matricular os estudantes com
certificação nos exames de EJA; e Educação de Jovens e deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
Adultos desenvolvida por meio da Educação a Distância. habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino
26 São exemplos desta articulação o Programa Nacio- regular e no atendimento educacional especializado (AEE).
nal de Integração da Educação Profissional com a Educa- O objetivo deste atendimento é identificar habilidades e
ção Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos necessidades dos estudantes, organizar recursos de aces-
– PROEJA (que articula educação profissional com o En- sibilidade e realizar atividades pedagógicas específicas que
sino Fundamental e o médio da EJA) e o Programa Cabe promovam seu acesso ao currículo. Este atendimento não
a cada sistema de ensino definir a estrutura e a duração substitui a escolarização em classe comum e é ofertado no
dos cursos da Educação de Jovens e Adultos, respeitadas as contra-turno da escolarização em salas de recursos multi-

48
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

funcionais da própria escola, de outra escola pública ou em II–formação de professores para o atendimento edu-
centros de AEE da Nacional de Inclusão de Jovens Educa- cacional especializado, bem como para o desenvolvimento
ção, Qualificação e Participação Cidadã – PROJOVEM, para de práticas educacionais inclusivas nas classes comuns de
jovens de 18 a 29 anos (que articula Ensino Fundamental, ensino regular;
qualificação profissional e ações comunitárias). III – acesso igualitário aosbenefíciosdosprogramasso-
27 A União, pelo MEC eINEP, supletivamente e em ciaissuplementaresdisponíveis para o respectivo nível do
regime de colaboração com os Estados, Distrito Fede- ensino regular.
ral e Municípios, vem oferecendo exames supletivos na- A LDB, no artigo 60, prevê que os órgãos normativos
cionais, mediante o Exame Nacional para Certificação de dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracte-
Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), autorizado rização das instituições privadas sem fins lucrativos, espe-
pelo Parecer CNE/CEBnº19/2005.Observa-se que, a partir cializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial,
da aplicação do ENEM em2009, este passou a substituir para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público
o ENCCEJA referente ao Ensino Médio, passando, pois, a e, no seu parágrafo único, estabelece que o poder público
ser aplicado apenas o referente ao fundamental. Tais pro- ampliará o atendimento aos estudantes com necessidades
vas são interdisciplinares e contextualizadas, percorrendo especiais na própria rede pública regular de ensino, inde-
transversalmente quatro áreas de conhecimento – Lingua- pendentemente do apoio às instituições previstas nesse
gens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, e artigo.
suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e O Decreto nº 6.571/2008 dispõe sobre o atendimento
Matemática e suas Tecnologias. educacional especializado, regulamenta o parágrafo único
do artigo 60 da LDB e acrescenta dispositivo ao Decreto nº
28 As atuais Diretrizes Nacionais para a Educação Es- 6.253/2007, prevendo, no âmbito do FUNDEB, a dupla ma-
pecial na Educação Básica são as instituídas pela Resolução trícula dos alunos público-alvo da educação especial, uma
CNE/CEBnº 2/2001, com fundamento no Parecer CNE/CEB no ensino regular da rede pública eoutra no atendimento
17/2001, complementadas pelas Diretrizes Operacionais educacional especializado.
para o Atendimento Educacional Especializado na Educa-
ção Básica, modalidade Educação Especial (Resolução CNE/ 2.5.2.3. Educação Profissional e Tecnológica
CEB nº 4/2009, com fundamento no Parecer CNE/CEB nº A Educação Profissional e Tecnológica (EPT)29, em con-
13/2009), para implementação do Decreto nº 6.571/2008, formidade com o disposto na LDB, com as alterações in-
que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializa- troduzidas pela Lei nº 11.741/2008, no cumprimento dos
do (AEE). rede pública ou de instituições comunitárias, con- objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes
fessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos conveniadas níveis e modalidades de educação e às dimensões do tra-
com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos balho, da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode ser
Estados, Distrito Federal ou dos Municípios. compreendida como uma modalidade na medida em que
Os sistemas e as escolas devem proporcionar condi- possui um modo próprio de fazer educação nos níveis da
ções para que o professor da classe comum possa explo- 29 As atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a
rar e estimular as potencialidades de todos os estudantes, Educação Profissional de Nível Técnico estão instituídas
adotando uma pedagogia dialógica, interativa, interdisci- pela Resolução CNE/CEB nº 4/99, fundamentada no Pare-
plinar e inclusiva e, na interface, o professor do AEE identi- cer CNE/CEB nº 16/99, atualmente em processo de revisão
fique habilidades e necessidades dos estudantes, organize e atualização, face à experiência acumulada e às alterações
e oriente sobre os serviços e recursos pedagógicos e de na legislação que incidiram sobre esta modalidade.
acessibilidade para a participação e aprendizagem dos es- Educação Básica e Superior e em sua articulação com
tudantes. outras modalidades educacionais:
Na organização desta modalidade, os sistemas de ensi- Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial e
no devem observar as seguintes orientações fundamentais: Educação a Distância.
I – o pleno acesso e efetiva participação dos estudantes A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de
no ensino regular; formação inicial e continuada ou qualificação profissional,
II – a oferta do atendimento educacional especializado e nos de Educação Profissional Técnica de nível médio ou,
(AEE); ainda, na Educação Superior, conforme o § 2º do artigo 39
III – a formação de professores para o AEE e para o de- da LDB:
senvolvimento de práticas educacionais inclusivas; A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os se-
IV – a participação da comunidade escolar; guintes cursos:
V – a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e I – de formação inicial e continuada ou qualificação
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos trans- profissional;
portes; II – de Educação Profissional Técnica de nível médio;
VI – a articulação das políticas públicas intersetoriais. III – de Educação Profissional Tecnológica de gradua-
Nesse sentido, os sistemas de ensino assegurarão a ção e pós-graduação.
observância das seguintes orientações fundamentais: A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos
I – métodos, técnicas, recursos educativos e organiza- termos do artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas
ção específicos, para atender às suas necessidades; seguintes formas:

49
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas: cos pertinentes a cada proposta de formação profissional,
II – integrada, na mesma instituição, os eixos tecnológicos facilitam a organização de itinerários
III – concomitante, na mesma ou em distintas institui- formativos, apontando possibilidades de percursos tanto
ções; dentro de um mesmo nível educacional quanto na passa-
IV – subsequente, em cursos destinados a quem já te- gem do nível básico para o superior.
nha concluído o Ensino Médio. Os conhecimentos e habilidades adquiridos tanto nos
As instituições podem oferecer cursos especiais, aber- cursos de educação profissional e tecnológica, como os
tos à comunidade, com matrícula adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem
condicionadaàcapacidadedeaproveitamentoenãone- ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
cessariamenteaoníveldeescolaridade. prosseguimento ou conclusão de estudos.
São formulados para o atendimento de demandas Assegura-se, assim, ao trabalhador jovem e adulto, a
pontuais, específicas de um determinado segmento da po- possibilidade de ter reconhecidos os saberes construídos
pulação ou dos setores produtivos, com período determi- em sua trajetória de vida. Para Moacir Alves Carneiro, a cer-
nado para início e encerramento da oferta, sendo, como tificação pretende valorizar a experiência extraescolar e a
cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação abertura que a Lei dá à Educação
profissional, livres de regulamentação curricular. Profissionalvaidesdeoreconhecimentodovalorigual-
No tocante aos cursos articulados com o Ensino Mé- menteeducativodoqueseaprendeuna escola e no próprio
dio, organizados na forma integrada, o que está propos- ambiente de trabalho, até a possibilidade de saídas e en-
to é um curso único (matrícula única), no qual os diversos tradas intermediárias.
componentes curriculares são abordados de forma que se
explicitem os nexos existentes entre eles, conduzindo os 2.5.2.4. Educação Básica do campo
estudantes à habilitação profissional técnica de nível mé- Nesta modalidade30, a identidade da escola do campo
dio ao mesmo tempo em que concluem a última etapa da é definida pela sua vinculação com as questões inerentes
Educação Básica. à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes
próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza
Os cursos técnicos articulados como Ensino Médio, futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na so-
ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e ciedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos
dupla certificação, podem ocorrer na mesma instituição de que associem as soluções exigidas por essas questões à
ensino, aproveitando-se as oportunidades educacionais qualidade social da vida coletiva no País.
disponíveis; em instituições de ensino distintas, aprovei-
tando-se as oportunidades educacionais disponíveis; ou A educação para a população rural está prevista no ar-
em instituições de ensino distintas, mediante convênios de tigo 28 da LDB, em que ficam definidas, para atendimento à
intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao população rural, adaptações necessárias às peculiaridades
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. da vida rural e de cada região, definindo orientações para
São admitidas, nos cursos de Educação Profissional três aspectos essenciais à organização da ação pedagógica:
Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
etapas que possibilitem uma qualificação profissional in- às reais necessidades e interesses dos estudantes da zona
termediária. rural;
Abrange, também, os cursos conjugados com outras II – organização escolar própria, incluindo adequação
modalidades de ensino, como a do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condi-
Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial e ções climáticas;
a Educação a Distância, e pode ser desenvolvida por dife- III – adequação à natureza do trabalho na zona rural.
rentes estratégias de educação continuada, em instituições As propostas pedagógicas das escolas do campo de-
especializadas ou no ambiente de trabalho. Essa previsão vem contemplar a diversidade do campo em todos os seus
coloca, no escopo dessa modalidade educacional, as pro- aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gêne-
postas de qualificação, capacitação, atualização e especia- ro, geração e etnia. Formas de organização em etodologias
lização profissional, entre outras livres de regulamentação pertinentes à realidade do campo devem, nesse sentido,
curricular, reconhecendo que a EPT pode ocorrer em diver- ter acolhida. Assim, a pedagogia da terra busca um traba-
sos formatos e no próprio local de trabalho. Inclui, nesse lho pedagógico fundamentado no princípio da sustentabi-
sentido, os programas e cursos de Aprendizagem ,previs- lidade, para que se possa assegurar a preservação da vida
tos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) aprovada das futuras gerações.
pelo Decreto-Lei nº 5.452/43, desenvolvidos por entidades Particularmente propícia para esta modalidade, des-
qualificadas e no ambiente de trabalho, através de contrato taca-se a pedagogia da alternância (sistema dual), criada
especial de trabalho. na Alemanha há cerca de 140 anos e, hoje, difundida em
A organização curricular da educação profissional e inúmeros países, inclusive no Brasil, com aplicação, sobre-
tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na identi- tudo, no ensino voltado para a formação profissional e
ficação das tecnologias que se encontram na base de uma tecnológica para o meio rural. Nesta metodologia, o estu-
dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas dante, durante o curso e como parte integrante dele, par-
constituídos. Por considerar os conhecimentos tecnológi- ticipa, concomitante e alternadamente, de dois ambientes/

50
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

situações de aprendizagem: o escolar e o laboral, não se Respectivos projetos pedagógicos e regimentos esco-
configurando o último como estágio, mas, sim, como parte lares com as prerrogativa de: organização das atividades
do currículo do curso. Essa alternância pode ser de dias na escolares, independentes do ano civil, respeitado o fluxo
mesma semana ou de blocos semanais ou, mesmo, men- das atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas; e
sais ao longo do curso. Supõe uma duração diversificada dos períodos escolares, ajustando-a
30 As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica às condições e especificidades próprias de cada comuni-
nas Escolas do Campo estão orientadas pelo Parecer CNE/ dade.
CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB nº 1/2002, e pelo Pa-
recer CNE/CEB nº 3/2008 e Resolução CNE/CEB nº 2/2008. Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por es-
parceria educativa, em que ambas as partes são correspon- cola ou por povo indígena, tendo por base as Diretrizes
sáveis pelo aprendizado e formação do estudante. É bas- Curriculares Nacionais referentes a cada etapa da Educação
tante claro que podem predominar, um ou no outro, opor- Básica; as características próprias das escolas indígenas, em
tunidades diversas de desenvolvimento de competências, respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou
com ênfases ora em conhecimentos, ora em habilidades comunidade; as realidades sociolínguísticas, em cada situa-
profissionais, ora em atitudes, emoções e valores necessá- ção; os conteúdos curriculares especificamente indígenas
rios ao adequado desempenho do estudante. Nesse senti- e os modos próprios de constituição do saber e da cultu-
do, os dois ambientes/situações são intercomplementares. ra indígena; e a participação da respectiva comunidade ou
povo indígena.
2.5.2.5. Educação escolar indígena 31 Esta modalidade tem diretrizes próprias instituídas
A escola desta modalidade tem uma realidade singular, pela Resolução CNE/CEBnº3/99,combase no Parecer CNE/
inscrita em terras e cultura indígenas31 . Requer, portanto, CEBnº14/99,quefixou Diretrizes Nacionais para o Funciona-
pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cul- mento das Escolas Indígenas.
tural de cada povo ou comunidade e formação específica A formação dos professores é específica, desenvolvida
de seu quadro docente, observados os princípios constitu- no âmbito das instituições formadoras de professores, ga-
cionais, a base nacional comum e os princípios que orien- rantido-se aos professores indígenas a sua formação em
tam a Educação Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11 e serviço e, quando for o caso, concomitantemente com a
inciso VIII do artigo 4º da LDB). sua própria escolarização.
Na estruturação e no funcionamento das escolas indí-
genas é reconhecida sua condição de escolas com normas 2.5.2.6. Educação a Distância
e ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural A modalidade Educação a Distância32 caracteriza-se
e bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos po- pela mediação didático-pedagógica nos processos de en-
vos indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversi- sino e aprendizagem que ocorre com a utilização de meios
dade étnica. e tecnologias de informação e comunicação, com estudan-
São elementos básicos para a organização, a estrutura tes e professores desenvolvendo atividades educativas em
e o funcionamento da escola indígena: lugares ou tempos diversos.
I –localização em terras habitadas por comunidades in- O credenciamento para a oferta de cursos e programas
dígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e
Estados ou Municípios contíguos; de Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
II – exclusividade de atendimento a comunidades in- modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de
dígenas; ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas
III – ensino ministrado nas línguas maternas das comu- complementares desses sistemas.
nidades atendidas, como uma das formas de preservação
da realidade sociolinguística de cada povo; 2.5.2.6. Educação Escolar Quilombola
IV– organização escolar própria. A Educação Escolar Quilombola33 é desenvolvida em
Na organização de escola indígena deve ser considera- unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura,
da a participação da comunidade, na definição do modelo requerendo pedagogia própria em respeito à especifici-
de organização e gestão, bem como: dade étnico-cultural de cada comunidade e formação es-
I – suas estruturas sociais; pecífica de seu quadro docente, observados os princípios
II – suas práticas socioculturais e religiosas; constitucionais, a base nacional comum e os princípios que
III – suas formas de produção de conhecimento, pro- orientam a Educação Básica brasileira.
cessos próprios e métodos de ensino-aprendizagem; Na estruturação e no funcionamento das escolas qui-
IV– suas atividades econômicas; lombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua diversida-
V – a necessidade de edificação de escolas que aten- de cultural.
dam aos interesses das comunidades indígenas; 2.6. Elementos constitutivos para a organização das
VI – o uso de materiais didático-pedagógicos produzi- Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação
dos de acordo com o contexto sociocultural de cada povo Básica
indígena. Estas Diretrizes inspiram-se nos princípios constitucio-
As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de nais e na LDB e se operacionalizam sobretudo por meio
acordo com o proposto nos do projeto político-pedagógico e do regimento escolar, do

51
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

sistema de avaliação, da gestão democrática e da orga- O ponto de partida para a conquista da autonomia
nização da escola – na formação inicial e continuada do pela instituição educacional tem por base a construção da
professor, tendo como base os princípios afirmados nos identidade de cada escola, cuja manifestação se expressa
itens anteriores, entre os quais o cuidado e o compromis- no seu projeto pedagógico e no regimento escolar próprio,
so com a educação integral de todos, atendendo-se às enquanto manifestação de seu ideal de educaçãoe que per-
dimensões orgânica, sequencial e articulada da Educação mite uma nova e democrática ordenação pedagógica das
Básica. relações escolares. O projeto político-pedagógico deve,
ALDBestabelececondiçõesparaqueaunidadeescolar- pois, ser assumido pela comunidade educativa, ao mesmo
respondaàobrigatoriedadede garantir acesso à escola e tempo, como sua força indutora do processo participativo
permanência com sucesso. Ela aponta ainda alternativas na instituição e como um dos instrumentos de conciliação
para flexibilizar as condições para que a passagem dos das diferenças, de busca da construção de responsabilida-
estudantes pela escola seja concebida como momento de de compartilhada por todos os membros integrantes da
crescimento, mesmo frente a percursos de aprendizagem comunidade escolar, sujeitos históricos concretos, situados
não lineares. num cenário geopolítico preenchido por situações cotidia-
A isso se associa o entendimento de que a instituição nas desafiantes.
escolar, hoje, dispõe de instrumentos legais e normativos Assim concebido, o processo de formulação do proje-
que lhe permitam exercitar sua autonomia, instituindo as to político-pedagógico tem como referência a democrática
suas próprias regras para mudar, reinventar, no seu pro- ordenação pedagógica das relações escolares, cujo hori-
jeto político-pedagógico e no seu regimento, o currículo, zonte de ação procura abranger a vida humana em sua
a avaliação da aprendizagem, seus procedimentos, para globalidade. Por outro lado, o projeto político-pedagógico
que o grande objetivo seja alcançado: educação para to- é também um documento em que se registra o resultado
dos em todas as etapas e modalidades da Educação Bási- do processo negocial estabelecido por aqueles atores que
ca, com qualidade social. estudam a escola e por ela respondem em parceria (gesto-
32 Esta modalidade está regida pelo Decreto nº res, professores, técnicos e demais funcionários, represen-
5.622/2005, regulamentador do artigo 80 da LDB, que tação estudantil, representação da família e da comunida-
trata da Educação a Distância. No Conselho Nacional de de local). É, portanto, instrumento de previsão e suporte
Educação, a modalidade foi, anteriormente, objeto do para a avaliação das ações educativas programadas para
Parecer CNE/CEB nº 41/2002, de Diretrizes Curriculares a instituição como um todo; referencia e transcende o pla-
Nacionais para a Educação a Distância na Educação de nejamento da gestão e do desenvolvimento escolar, por-
Jovens e Adultos e para a Educação Básica na etapa do que suscita e registra decisões colegiadas que envolvem
Ensino Médio, sendo de notar, porém, que não foi editada a comunidade escolar como um todo, projetando-as para
a Resolução então proposta. 33Não há, ainda, Diretrizes além do período do mandato de cada gestor. Assim, cabe
Curriculares específicas para esta modalidade. à escola, considerada a sua identidade e a de seus sujei-
2.6.1. O projeto político-pedagógico e o regimento tos, articular a formulação do projeto político-pedagógico
escolar com os planos de educação nacional, estadual, municipal,
O projeto político-pedagógico, nomeado na LDB o plano da gestão, o contexto em que a escola se situa e
como proposta ou projeto pedagógico, representa mais as necessidades locais e as de seus estudantes. A organiza-
do que um documento. É um dos meios de viabilizar a ção e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e os
escola democrática e autônoma para todos, com qualida- procedimentos que viabilizam o trabalho de todos aqueles
de social. Autonomia pressupõe liberdade e capacidade que se inscrevem no currículo em movimento expresso no
de decidir a partir de regras relacionais. O exercício da projeto político-pedagógico representam o conjunto de
autonomia administrativa e pedagógica da escola pode elementos que integram o trabalho pedagógico e a gestão
ser traduzido como a capacidade de governar a si mesmo, da escola tendo como fundamento o que dispõem os arti-
por meio de normas próprias. gos 14, 12 e 13, da LDB, respectivamente34 .
A autonomia da escola numa sociedade democráti-
ca é, sobretudo, a possibilidade de ter uma compreen- 34 Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas
são particular das metas da tarefa de educar e cuidar, das da gestão democrática do ensino público na Educação Bá-
relações de interdependência, da possibilidade de fazer sica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
escolhas visando a um trabalho educativo eticamente seguintes princípios: I – participação dos profissionais da
responsável, que devem ser postas em prática nas insti- educação na elaboração do projeto pedagógico da
tuições educacionais, no cumprimento doartigo3ºdaLDB, Na elaboração do projeto político-pedagógico, a con-
em que vários princípios derivam da Constituição Federal. cepção de currículo e de conhecimento escolar deve ser
Essa autonomia tem como suporte a Constituição Fe- enriquecida pela compreensão de como lidar com temas
deral e o disposto no artigo 15 da LDB: significativos que se relacionem com problemas e fatos
Os sistemas de ensino assegurarão às unidades esco- culturais relevantes da realidade em que a escola se ins-
lares públicas de Educação Básica que os integram pro- creve. O conhecimento prévio sobre como funciona o fi-
gressivos graus de autonomia pedagógica e administrati- nanciamento da educação pública, tanto em nível federal
va e de gestão financeira, observadas as normas gerais de quanto em estadual e municipal, pela comunidade educa-
direito financeiro público. tiva, contribui, significativamente, no momento em que se

52
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

estabelecem as prioridades institucionais. A natureza e a co capaz de solucionar todos os problemas da escola, mas
finalidade da unidade escolar, o papel socioeducativo, ar- como instância de construção coletiva, que escola; II – par-
tístico, cultural, ambiental, as questões de gênero, etnia, ticipação das comunidades escolar e local em conselhos
classe social e diversidade cultural que compõem as ações escolares ou equivalentes.
educativas, particularmente a organização e a gestão curri- Art. 12 Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
cular, são os componentes que subsidiam as demais partes normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
integrantes do projeto político-pedagógico. cumbência de: I – elaborar e executar sua proposta peda-
Nele, devem ser previstas as prioridades institucionais gógica;
que a identificam. Além de se observar tais critérios e com- Art. 13 Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da
promisso, deve-se definir o conjunto das ações educativas elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento
próprias das etapas da Educação Básica assumidas pela de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segun-
unidade escolar, de acordo com as especificidades que lhes do a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino.
correspondam, preservando a articulação orgânica daque- respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como
las etapas. cidadãos de direitos à proteção e à participação social, de
Reconhecendo o currículo como coração que faz pul- tal modo que:
sar o trabalho pedagógico na sua multidimensionalidade e I –estimule a leitura atenta da realidade local, regional
dinamicidade, o projeto político-pedagógico deve consti- e mundial, por meio da qual se podem perceber horizon-
tuir-se: tes, tendências e possibilidades de desenvolvimento;
I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos II – preserve a clareza sobre o fazer pedagógico, em
do processo educativo, sua multidimensionalidade, prevendo-se a diversidade de
contextualizado no espaço e no tempo; II – da concep- ritmo de desenvolvimento dos sujeitos das aprendizagens
ção sobre educação, conhecimento, avaliação da aprendi- e caminhos por eles escolhidos;
zagem e mobilidade escolar; III – institua a compreensão dos conflitos, das diver-
III – da definição de qualidade das aprendizagens e, gências e diferenças que demarcam as relações humanas
por consequência, da escola, no contexto das desigualda- e sociais;
des que nela se refletem; IV – esclareça o papel dos gestores da instituição, da
IV – de acompanhamento sistemático dos resultados organização estudantil e dos conselhos: comunitário, de
do processo de avaliação interna e externa (SAEB, Prova classe, de pais e outros;
Brasil, dados estatísticos resultantes das avaliações em V – perceba e interprete o perfil real dos sujeitos –
rede nacional e outras; pesquisas sobre os sujeitos daEdu- crianças, jovens e adultos – que justificam e instituem a
cação Básica),incluindo resultadosque compõemo Índice vidada e na escola, do ponto de vista intelectual, cultural,
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que emocional, afetivo, sócio econômico, como base da refle-
complementem ou substituam os desenvolvidos pelas uni- xão sobre as relações vida-conhecimento-cultura- profes-
dades da federação e outros; sor-estudante e instituição escolar;
V – da implantação dos programas de acompanha- VI – considere como núcleo central das aprendizagens
mento do acesso, de permanência dos estudantes e de su- pelos sujeitos do processo educativo (gestores, professo-
peração da retenção escolar; VI – da explicitação das bases res, técnicos e funcionários, estudantes e famílias) a curio-
que norteiam a organização do trabalho pedagógico tendo sidade e a pesquisa, incluindo, de modo cuidadoso e siste-
como foco os fundamentos da gestão democrática, com- mático, as chamadas referências virtuais de aprendizagem
partilhada e participativa (órgãos colegiados, de represen- que se dão em contextos digitais;
tação estudantil e dos pais). VII – preveja a formação continuada dos gestores e pro-
No projeto político-pedagógico, deve-se conceber a fessores para que estes tenham a oportunidade de se man-
organização do espaço físico da instituição escolar de tal ter atualizados quanto ao campo do conhecimento que lhes
modo que este seja compatível com as características de cabe manejar, trabalhar e quanto à adoção, à opção da me-
seus sujeitos, além da natureza e das finalidades da edu- todologia didático-pedagógica mais própria às aprendiza-
cação, deliberadas e assumidas pela comunidade educa- gens que devem vivenciar e estimular, incluindo aquelas per-
cional. Assim, a despadronização curricular pressupõe a tinentes às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC);
despadronização do espaço físico e dos critérios de orga-
nização da carga horária do professor. A exigência –o rigor VIII – realize encontros pedagógicos periódicos, com
no educar e cuidar – é a chave para a conquista e recupe- tempo e espaço destinados a estudos, debate se troca de
ração dos níveis de qualidade educativa de que as crianças experiências de aprendizagem dos sujeitos do processo
e os jovens necessitam para continuar a estudar em etapas coletivo de gestão e pedagógico pelos gestores, profes-
e níveis superiores, para integrar-se no mundo do trabalho sores e estudantes, para a reorientação de caminhos e es-
em seu direito inalienável de alcançar o lugar de cidadãos tratégias;
responsáveis, formados nos valores democráticos e na cul- IX – defina e justifique, claramente, a opção por um ou
tura do esforço e da solidariedade. outro método de trabalho docente e a compreensão so-
Nessa perspectiva, a comunidade escolar assume o bre a qualidade das aprendizagens como direito social dos
projeto político-pedagógico não como peça constitutiva sujeitos e da escola: qualidade formal e qualidade política
da lógica burocrática, menos ainda como elemento mági- (saber usar a qualidade formal);

53
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

X – traduza, claramente, os critérios orientadores da XII – a organização dos tempos e dos espaços com
distribuição e organização do calendário escolar e da carga ações efetivas de interdisciplinaridade e contextualização
horária destinada à gestão e à docência, de tal modo que dos conhecimentos;
se viabilize a concretização do currículo escolar e, ao mes- XIII – a garantia do acompanhamento da vida escolar
mo tempo, que os profissionais da educação sejam valori- dos estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompa-
zados e estimulados a trabalharem prazerosamente; nhamento do desempenho e integração com a família;
XI – contemple programas e projetos com os quais XIV – a promoção da aprendizagem criativa como pro-
a escola desenvolverá ações inovadoras, cujo foco incida cesso de sistematização dos conhecimentos elaborados,
na prevenção das consequências da incivilidade que vem como caminho pedagógico de superação à mera memo-
ameaçando a saúde e o bem estar, particularmente das ju- rização;
ventudes, assim como na reeducação dos sujeitos vitima- XV – o estímulo da capacidade de aprender do estu-
dos por esse fenômeno psicossocial; dante, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos
XII – avalie as causas da distorção de idade/ano/série, estudantes;
projetando a sua superação, por intermédio da implanta- XVI – a indicação de exames otorrino, laringo, oftálmi-
ção de programas didático-pedagógicos fundamentados co e outros sempre que o estudante manifestar dificuldade
por metodologia específica. de concentração e/ou mudança de comportamento;
Daí a necessidade de se estimularem novas formas de XVII – a oferta contínua de atividades complementares
organização dos componentes curriculares dispondo-os e de reforço da aprendizagem, proporcionando condições
em eixos temáticos, que são considerados eixos fundan- para que o estudante tenha sucesso em seus estudos;
tes, pois conferem relevância ao currículo. Desse modo, no XVIII – a oferta de atividades de estudo com utilização
projeto político-pedagógico, a comunidade educacional de novas tecnologias de comunicação.
deve engendrar o entrelaçamento entre trabalho, ciência, Nesse sentido, o projeto político-pedagógico, conce-
tecnologia, cultura e arte, por meio de atividades próprias bido pela escola e que passa a orientá-la, deve identificar
às características da etapa de desenvolvimento humano do a Educação Básica, simultaneamente, como o conjunto e
escolar a que se destinarem, prevendo: pluralidade de espaços e tempos que favorecem processos
I – as atividades integradoras de iniciação científica e em que a infância e a adolescência se humanizam ou se
no campo artístico-cultural, desde a Educação Infantil; desumanizam, porque se inscrevem numa teia de relações
II – os princípios norteadores da educação nacional, culturais mais amplas e complexas, histórica e socialmente
a metodologia da problematização como instrumento de tecidas. Daí a relevância de se ter, como fundamento desse
incentivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao de- nível da educação, os dois pressupostos: cuidar e educar.
senvolvimento do espírito inventivo, nas práticas didáticas; Este é o foco a ser considerado pelos sistemas educativos,
III – o desenvolvimento de esforços pedagógicos com pelas unidades escolares, pela comunidade educacional,
intenções educativas, comprometidas com a educação ci- em geral, e pelos sujeitos educadores, em particular, na
dadã; elaboração e execução de determinado projeto institucio-
IV – a avaliação do desenvolvimento das aprendiza- nal e regimento escolar.
gens como processo formativo e permanente de reconhe- O regimento escolar trata da natureza e da finalidade
cimento de conhecimentos, habilidades, atitudes, valores da instituição; da relação da gestão democrática com os
e emoções; órgãos colegiados; das atribuições de seus órgãos e sujei-
V – a valorização da leitura em todos os campos do tos; das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios de
conhecimento, desenvolvendo a capacidade de letramento acesso, promoção, e a mobilidade do escolar; e dos direitos
dos estudantes; e deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técni-
VI –o comportamento ético e solidário, como ponto de cos, funcionários, gestores, famílias, representação estu-
partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da dantil e função das suas instâncias colegiadas.
cidadania, para a prática do humanismo contemporâneo, Nessa perspectiva, o regimento, discutido e aprovado
pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identida- pela comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-
de do outro; -se em um dos instrumentos de execução, com transparên-
VII – a articulação entre teoria e prática, vinculando o cia e responsabilidade, do seu projeto político-pedagógi-
trabalho intelectual com atividades práticas experimentais; co. As normas nele definidas servem, portanto, para reger
VIII – a promoção da integração das atividades edu- o trabalho pedagógico e a vida da instituição escolar, em
cativas com o mundo do trabalho, por meio de atividades consonância com o projeto político-pedagógico e com a
práticas e de estágios, estes para os estudantes do Ensino legislação e as normas educacionais.
Médio e da Educação Profissional e Tecnológica;
IX – a utilização de novas mídias e tecnologias educa- 2.6.2. Avaliação
cionais, como processo de dinamização dos ambientes de Do ponto de vista teórico, muitas são as formulações
aprendizagem; que tratam da avaliação. No ambiente educacional, ela
X – a oferta de atividades de estudo com utilização de compreende três dimensões básicas:
novas tecnologias de comunicação. I – avaliação da aprendizagem;
XI – a promoção de atividades sociais que estimulem o II – avaliação institucional interna e externa;
convívio humano e interativo do mundo dos jovens; III – avaliação de redes de Educação Básica.

54
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Nestas Diretrizes, é a concepção de educação que fun- este respeito, é preciso adotar uma estratégia de progres-
damenta as dimensões da avaliação e das estratégias didá- so individual e contínuo que favoreça o crescimento do
tico-pedagógicas a serem utilizadas. Essas três dimensões estudante, preservando a qualidade necessária para a sua
devem estar previstas no projeto político-pedagógico para formação escolar.
nortearem a relação pertinente que estabelece o elo entre
a gestão escolar, o professor, o estudante, o conhecimento 2.6.2.2. Promoção, aceleração de estudos e classifica-
e a sociedade em que a escola se situa. ção
No nível operacional, a avaliação das aprendizagens No Ensino Fundamental e no Médio, a figura da pro-
tem como referência o conjunto de habilidades, conheci- moção e da classificação pode ser adotada em qualquer
mentos, princípios e valores que os sujeitos do processo ano, série ou outra unidade de percurso escolhida, exceto
educativo projetam para si de modo integrado e articulado no primeiro ano do Ensino Fundamental. Essas duas figu-
com aqueles princípios e valores definidos para a Educação ras fundamentam-se na orientação de que a verificação do
Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas. rendimento escolar observará os seguintes critérios:
A avaliação institucional interna, também denominada I–avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
autoavaliação institucional, realiza-se anualmente, conside- estudante,c om prevalência dos aspectos qualitativos sobre
rando as orientações contidas na regulamentação vigente, os quantitativos e dos resultados ao longo do período so-
para revisão do conjunto de objetivos e metas, mediante bre os de eventuais provas finais;
ação dos diversos segmentos da comunidade educativa, II – possibilidade de aceleração de estudos para estu-
o que pressupõe delimitação de indicadores compatíveis dantes com atraso escolar;
com a natureza e a finalidade institucionais, além de clareza III – possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
quanto à qualidade social das aprendizagens e da escola. mediante verificação do aprendizado;
A avaliação institucional externa, promovida pelos ór- IV– aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
gãos superiores dos sistemas educacionais, inclui, entre V – obrigatoriedade de apoio pedagógico destinado
outros instrumentos, pesquisas, provas, tais como as do à recuperação contínua e Concomitante de aprendizagem
SAEB, Prova Brasil, ENEM e outras promovidas por siste- de estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser pre-
mas de ensino de diferentes entes federativos, dados es- visto no regimento escolar.
tatísticos, incluindo os resultados que compõem o Índice A classificação pode resultar da promoção ou da adap-
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que tação, numa perspectiva que respeita e valoriza as diferen-
o complementem ou o substituem, e os decorrentes da ças individuais, ou seja, pressupõe uma outra ideia de tem-
supervisão e verificações in loco. A avaliação de redes de poralização e espacialização, entendida como sequência do
Educação Básica é periódica, feita por órgãos externos às percurso do escolar, já que cada criatura é singular. Tradicio-
escolas e engloba os resultados da avaliação institucional, nalmente, a escola tem tratado o estudante como se todos
que sinalizam para a sociedade se a escola apresenta qua- se desenvolvessem padronizadamente nos mesmos ritmos e
lidade suficiente para continuar funcionando. contextos educativos, semelhantemente ao processo indus-
trial. É como se lhe coubesse produzir cidadãos em série, em
2.6.2.1. Avaliação da aprendizagem linha de montagem. Há de se admitir que a sociedade mu-
No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem, na dou significativamente. A classificação, nos termos regidos
Educação Básica, é norteada pelos artigos 24 e 31, que se pela LDB (inciso II do artigo24),é, pois, uma figura que se dá
complementam. De um lado, o artigo 24, orienta o Ensino em qualquer momento do percurso escolar, exceto no pri-
Fundamental e Médio, definindo que a avaliação será or- meiro ano do Ensino Fundamental, e realiza-se:
ganizada de acordo com regras comuns a essas duas eta-
pas. De outro lado, o artigo 31 trata da Educação Infantil, I – por promoção, para estudantes que cursaram, com
estabelecendo que, nessa etapa, a avaliação será realizada aproveitamento, a unidade de percurso anterior, na própria
mediante acompanhamento e registro do desenvolvimen- escola;
to da criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se II – por transferência, para candidatos procedentes de
tratando de acesso ao Ensino Fundamental. Essa determi- outras escolas;
nação pode ser acolhida para o ciclo da Infância de acordo III – independentemente de escolarização anterior,
com o Parecer CNE/CEBnº4/2008, anterior mentecitado, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
que orienta para não retenção nesse ciclo. desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
O direito à educação constitui grande desafio para a inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula-
escola: requer mais do que o acesso à educação escolar, mentação do respectivo sistema de ensino.
pois determina gratuidade na escola pública, obrigatorie- A organização de turmas seguia o pressuposto de clas-
dade da Pré-Escola ao Ensino Médio, permanência e suces- ses organizadas por série anual.
so, com superação da evasão e retenção, para a conquista Com a implantação da Lei, a concepção ampliou-se,
da qualidade social. O Conselho Nacional de Educação, em uma vez que poderão ser organizadas classes ou turmas,
mais de um parecer em que a avaliação da aprendizagem com estudantes de séries distintas, com níveis equivalentes
escolar é analisada, recomenda, aos sistemas de ensino e de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es-
às escolas públicas e particulares, que o caráter formativo trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares (inci-
deve predominar sobre o quantitativo e classificatório. A so IV do artigo 24 da LDB).

55
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A consciência de que a escola se situa em um determi- de relativa estabilidade. Isso significa que já vem lidando,
nado tempo e espaço impõe-lhe a necessidade de apreen- razoavelmente, com a progressão regular. O desafio que se
der o máximo o estudante: suas circunstâncias, seu perfil, enfrenta incide sobre a progressão parcial, que, se aplica-
suas necessidades. Uma situação cada vez mais presente da a crianças e jovens, requer o redesenho da organização
em nossas escolas é a mobilidade dos estudantes. Quantas das ações pedagógicas. Em outras palavras, a escola deverá
vezes a escola pergunta sobre o que fazer com os estudan- prever para professor e estudante o horário de trabalho e
tes que ela recebe, provenientes de outras instituições, de espaço de atuação que se harmonizeentreestes,respeitada-
outros sistemas de ensino, dentro ou fora do Município ou sascondiçõesdelocomoçãodeambos,lembrando-sedeque
Estado. As análises apresentadas em diferentes fóruns de outro conjunto de recursos didático-pedagógicos precisa
discussão sobre essa matéria vêm mencionando dificulda- ser elaborado e desenvolvido.
des para incluir esse estudante no novo contexto escolar. A LDB, no artigo 24, inciso III, prevê a possibilidade de
A mobilidade escolar ou a conhecida transferência progressão parcial nos estabelecimentos que adotam a
também tem sido objeto de regulamento para o que a LDB progressão regular por série, lembrando que o regimento
dispõe, por meio de instrumentos normativos emitidos pe- escolar pode admiti-la “desde que preservada a sequência
los Conselhos de Educação. Inúmeras vezes, os estudantes do currículo, observadas as normas do respectivo sistema
transferidos têm a sensação de abandono ou descaso, se- de ensino”. A Lei, entretanto, não é impositiva quanto à
melhante ao que costuma ocorrer com estudantes que não adoção de progressão parcial. Caso a instituição escolar
acompanham o ritmo de seus colegas. A LDB estabeleceu, a adote, é pré-requisito que a sequência do currículo seja
no § 1º do artigo 23, que a escola poderá reclassificar os preservada, observadas as normas do respectivo sistema
estudantes, inclusive quando se tratar de transferências en- de ensino, (inciso III do artigo 24), previstas no projeto po-
tre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo lítico-pedagógico e no regimento, cuja aprovação se dá
como base as normas curriculares gerais. mediante participação da comunidade escolar (artigo 13).
De acordo com essas normas, a mobilidade entre tur- Também, no artigo 32, inciso IV, § 2º, quando trata es-
mas, séries, ciclos, módulos ou outra forma de organização, pecificamente do Ensino Fundamental, a LDB refere que os
e escolas ou sistemas, deve ser pensada, prioritariamente, estabelecimentos que utilizam progressão regular por sé-
na dimensão pedagógica: o estudante transferido de um rie podem adotar o regime de progressão continuada, sem
para outro regime diferente deve ser incluído onde houver prejuízo da avaliação do processo ensino-aprendizagem,
compatibilidade com o seu desenvolvimento e com as suas observadas as normas do respectivo sistema de ensino. A
aprendizagens, o que se intitula reclassificação. Nenhum forma de progressão continuada jamais deve ser entendida
estabelecimento de Educação como “promoção automática”, o que supõe tratar o conhe-
Básica, sob nenhum pretexto, pode recusar a matrí- cimento como processo e vivência que não se harmoniza
cula do estudante que a procura. Essa atitude, de caráter com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que
aparentemente apenas administrativo, deve ser entendida o estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo
pedagogicamente como a continuidade dos estudos inicia- contínuo de formação, construindo significados.
dos em outra turma, série, ciclo, módulo ou outra forma, e Uma escola que inclui todos supõe tratar o conheci-
escola ou sistema. mento como processo e, portanto, como uma vivência que
Em seu novo percurso, o estudante transferido deve re- não se harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de
ceber cuidadoso acompanhamento sobre a sua adaptação construção, em que o estudante, enquanto sujeito da ação,
na instituição que o acolhe, em termos de relacionamento está continuamente sendo formado, ou melhor, forman-
com colegas e professores, de preferências, de respostas do-se, construindo significados, a partir das relações dos
aos desafios escolares, indo além de uma simples análise homens entre si e destes com a natureza.
do seu currículo escolar. Nesse sentido, os sistemas educa- Nessa perspectiva, a avaliação requer outra forma de
tivos devem ousar propor a inversão da lógica escolar: ao gestão da escola, de organização curricular, dos materiais
invés de conteúdos disciplinados estanques (substantiva- didáticos, na relação professor-estudante-conhecimen-
dos),devem investirem ações pedagógicas que priorizem to-escola, pois, na medida em que o percurso escolar é
aprendizagens através da operacionalidade de linguagens marcado por diferentes etapas de aprendizagem, a escola
visando à transformação dos conteúdos em modos de precisará, também, organizar espaços e formas diferencia-
pensar, em que o que interessa, fundamentalmente, é o das de atendimento, a fim de evitar que uma defasagem
vivido com outros, aproximando mundo, escola, sociedade, de conhecimentos se transforme numa lacuna permanen-
ciência, tecnologia, trabalho, cultura e vida. te. Esse avanço materializa-se quando a concepção de co-
A possibilidade de aceleração de estudos destina-se a nhecimento e a proposta curricular estão fundamentadas
estudantes com algum atraso escolar, aqueles que, por al- numa epistemologia que considera o conhecimento uma
guma razão, encontram-se em descompasso de idade. As construção sociointerativa que ocorre na escola e em ou-
razões mais indicadas têm sido: ingresso tardio, retenção, tras instituições e espaços sociais. Nesse caso, percebe-se
dificuldades no processo de ensino-aprendizagem ou ou- já existirem múltiplas iniciativas entre professores no senti-
tras. do de articularem os diferentes campos de saber entre si e,
A progressão pode ocorrer segundo dois critérios: re- também, com temas contemporâneos, baseados no princí-
gular ou parcial. A escola brasileira sempre esteve organi- pio da interdisciplinaridade, o que normalmente resulta em
zada para uma ação pedagógica inscrita num panorama mudanças nas práticas avaliativas.

56
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

2.6.3. Gestão democrática e organização da escola Acrescente-se que a obrigatoriedade da gestão de-
Pensar a organização do trabalho pedagógico e a ges- mocrática determinada, em particular, no ensino público
tão da escola, na perspectiva exposta e tendo como fun- (inciso VIII do artigo 3º da LDB), e prevista, em geral, para
damento o que dispõem os artigos 12 e 13 da LDB, pres- todas as instituições de ensino nos artigos 12 e 13, que
supõe conceber a organização e gestão das pessoas, do preveem decisões coletivas, é medida desafiadora, porque
espaço, dos processos, procedimentos que viabilizamos pressupõe a aproximação entre o que o texto da lei esta-
trabalho de todos aqueles que se inscrevem no currículo belece e o que se sabe fazer, no exercício do poder, em
em movimento expresso no projeto político-pedagógico e todos os aspectos. Essa mudança concebida e definida por
nos planos da escola, em que se conformam as condições poucos atinge a todos: desde a família do estudante até
de trabalho definidas pelos órgãos gestores em nível ma- os gestores da escola, chegando aos gestores da educa-
cro. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas ção em nível macro. Assim, este é um aspecto instituidor
comuns e as do seu sistema de ensino, terão, segundo o do desafiante jogo entre teoria e prática, ideal e realidade,
artigo 12, a incumbência de: concepção de currículo e ação didático-pedagógica, ava-
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; liação institucional e avaliação da aprendizagem e todas
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e as exigências que caracterizam esses componentes da vida
financeiros; educacional escolar.
III – assegurar o cumprimento dos anos, dias e horas As decisões colegiadas pressupõem, sobretudo, que
mínimos letivos estabelecidos; todos tenham ideia clara sobre o que seja coletivo e como
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de se move a liberdade de cada sujeito, pois é nesse movi-
cada docente; mento que o profissional pode passar a se perceber como
V – prover meios para a recuperação dos estudantes de um educador que tenta dar conta das temporalidades do
menor rendimento; desenvolvimento humano com suas especificidades e exi-
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, crian- gências. A valorização das diferenças e da pluralidade re-
do processos de integração da sociedade com a escola; presenta a valorização das pessoas. Supõe compreender
VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência que a padronização e a homogeneização que, tradicional-
e o rendimento dos estudantes, bem como sobre a execu- mente, impregnou a organização e a gestão dos processos
ção de sua proposta pedagógica; e procedimentos da escola têm comprometido a conquista
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao das mudanças que os textos legais em referência definem.
juiz competente da Comarca e ao respectivo representante A participação da comunidade escolar na gestão da es-
do Ministério Público a relação dos estudantes menores cola e a observância dos princípios e finalidades da educa-
que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta ção, particularmente o respeito à diversidade e à diferença,
por cento do percentual permitido em lei (inciso incluído são desafios para todos os sujeitos do processo educativo.
pela Lei nº 10.287/2001). Para Moreira e Candau, a escola sempre teve dificuldade
Conscientes da complexidade e da abrangência dessas em lidar com a pluralidade e a diferença. Tende a silen-
tarefas atribuídas às escolas, os responsáveis pela gestão do ciá-las e neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a
ato educativo sentem-se, por um lado, pouco amparados, face uniformidade e a padronização. No entanto, abrir espaços
à desarticulação de programas e projetos destinados à quali- para a diversidade, para a diferença e para o cruzamento
ficação da Educação Básica; por outro, sentem-se desafiados, de culturas constitui o grande desafio que está chamada a
à medida que se tornam conscientes de que também eles se enfrentar (2006,p.103).A escola precisa, assim, “acolher, cri-
inscrevem num espaço em que necessitam preparar-se, con- ticarecolocaremcontatodiferentessaberes,diferentesmani-
tinuadamente, para atuar no mundo escolar e na sociedade. festaçõesculturaisediferentes óticas. A contemporaneidade
Como agentes educacionais, esses sujeitos sabem que o seu requer culturas que se misturem e ressoem mutuamente.
compromisso e o seu sucesso profissional requerem não ape- Requer que a instituição escolar compreenda como o co-
nas condições de trabalho. Exige-lhes formação continuada e nhecimento é socialmente valorizado, como tem sido es-
clareza quanto à concepção de organização da escola: distri- crito de uma dada forma e como pode, então, ser reescrito.
buição da carga horária, remuneração, estratégias claramente Que se modifiquem modificando outras culturas pela con-
definidas para a ação didático-pedagógica coletiva que inclua vivência ressonante, em um processo contínuo, que não
a pesquisa, a criação de novas abordagens e práticas metodo- pare nunca, por não se limitar a um dar ou receber, mas por
lógicas incluindo a produção de recursos didáticos adequa- ser contaminação, ressonância”
dos às condições da escola e da comunidade em que esteja (Pretto, apud Moreira e Candau, 2005, p. 103).
ela inserida, promover os processos de avaliação institucional Na escola, o exercício do pluralismo d ideias e de con-
interna e participar e cooperar com os de avaliação externa e cepções pedagógicas (inciso III do artigo 206 da Consti-
os de redes de Educação Básica. tuição Federal, e inciso III do artigo 3º da LDB), assumi-
Pensar, portanto, a organização, a gestão da escola é do como princípio da educação nacional, deve viabilizar a
entender que esta, enquanto instituição dotada de função constituição de relações que estimulem diferentes mani-
social, é palco de interações em que os seus atores colocam festações culturais e diferentes óticas. Em outras palavras,
o projeto político-pedagógico em ação compartilhada. Nes- a escola deve empenhar-se para se constituir, ao mesmo
se palco está a fonte de diferentes ideias, formuladas pelos tempo, em um espaço da diversidade e da pluralidade, ins-
vários sujeitos que dão vida aos programas educacionais. crita na diversidade em movimento, no processo tornado

57
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta manente. Na instituição escolar, a gestão democrática é
seja a de se fundamentar num outro princípio educativo e aquela que tem, nas instâncias colegiadas, o espaço em
emancipador, assim expresso: liberdade de aprender, ensi- que são tomadas as decisões que orientam o conjunto das
nar, pesquisar e divulgar acultura, o pensamento, a arte e o atividades escolares: aprovam o projeto político-pedagó-
saber (LDB, artigo 3º, inciso II). gico, o regimento escolar, os planos da escola (pedagó-
gicos e administrativos), as regras de convivência. Como
Para Paulo Freire (1984, p. 23), é necessário entender tal, a gestão democrática é entendida como princípio que
a educação não apenas como ensino, não no sentido de orienta os processos e procedimentos
habilitar, de “dar” competência, mas no sentido de humani- Administrativos e pedagógicos, no âmbito da escola e
zar. A pedagogia que trata dos processos de humanização, nas suas relações com os demais órgãos do sistema edu-
a escola, a teoria pedagógica e a pesquisa, nas instâncias cativo de que faz parte.
educativas, devem assumir a educação enquanto proces-
sos temporal, dinâmico e libertador, aqueles em que to- Assim referenciada, a gestão democrática constitui-se
dos desejam se tornar cada vez mais humanos. A escola em instrumento de luta em defesa da horizontalização das
demonstra ter se esquecido disso, tanto nas relações que relações, de vivência e convivência colegiada, superando
exerce com a criança, quanto com a pessoa adolescente, o autoritarismo no planejamento e na organização curri-
jovem e adulta. cular. Pela gestão democrática, educa-se para a conquista
A escola que adota a abordagem interdisciplinar não da cidadania plena, mediante a compreensão do signifi-
está isenta de sublinhar a Importância da relação entre cui- cado social das relações de poder que se reproduzem no
dado e educação, que é a de propor a inversão da preocu- cotidiano da escola, nas relações entre os profissionais
pação com a qualidade do ensino pela preocupação com da educação, o conhecimento, as famílias e os estudan-
a qualidade social das aprendizagens como diretriz articu- tes,bem assim,entre estes e o projeto político-pedagógico,
ladora para as três etapas que compõem a Educação Bási- na sua concepção coletiva que dignifica as pessoas, por
ca. Essa escola deve organizar o trabalho pedagógico, os meio da utilização de um método de trabalho centrado
equipamentos, o mobiliário e as suas instalações de acordo
nos estudos, nas discussões, no diálogo que não apenas
com as condições requeridas pela abordagem que adota.
problematiza, mas, também, propõe, fortalecendo a ação
Desse modo, tanto a organização das equipes de profissio-
conjunta que busca, nos movimentos sociais, elementos
nais da educação quanto a arquitetura física e curricular da
para criar e recriar o trabalho da e na escola, mediante:
escola destinada as crianças da educação infantil deve cor-
responder às suas características físicas e psicossociais. O
I – compreensão da globalidade da pessoa, enquanto
mesmo se aplica aos estudantes das demais etapas da Edu-
ser que aprende, que sonha e ousa, em busca da conquista
cação Básica. Estes cuidados guardam relação de coexis-
de uma convivência social libertadora fundamentada na
tência dos sujeitos entre si, facilitam a gestão das normas
que orientam as práticas docentes instrucionais, atitudinais ética cidadã;
e disciplinares, mas correspondendo à abordagem inter- II – superação dos processos e procedimentos buro-
disciplinar comprometida com a formação cidadã para a cráticos, assumindo com flexibilidade: os planos pedagó-
cultura da vida Compreender e realizar a Educação Básica, gicos, os objetivos institucionais e educacionais, as ativida-
no seu compromisso social de habilitar o estudante para o des de avaliação;
exercício dos diversos direitos significa, portanto, potencia- III – prática em que os sujeitos constitutivos da comu-
lizá-lo para a prática cidadã com plenitude, cujas habilida- nidade educacional discutam a própria prática pedagógica
des se desenvolvem na escola e se realizam na comunida- impregnando-a de entusiasmo e compromisso com a sua
de em que os sujeitos atuam. Essa perspectiva pressupõe própria comunidade, valorizando-a, situando-a no contex-
cumprir e transpor o disposto não apenas nos artigos 12 a to das relações sociais e buscando soluções conjuntas;
15, da LDB, mas significa cumpri-los como política pública IV – construção de relações interpessoais solidárias,
e transpô-los como fundamento político-pedagógico, uma geridas de tal modo que os professores se sintam estimu-
vez que o texto destes artigos deve harmonizar-se com o lados a conhecer melhor os seus pares (colegas de traba-
dos demais textos que regulamentam e orientam a Educa- lho, estudantes, famílias), a expor as suas ideias, a traduzir
ção Básica. O ponto central da Lei, naqueles artigos, incide as suas dificuldades e expectativas pessoais e profissionais;
sobre a obrigatoriedade da participação da comunidade V – instauração de relações entre os estudantes, pro-
escolar e dos profissionais da educação na tomada de de- porcionando-lhes espaços de convivência e situações de
cisões, quanto à elaboração e ao cumprimento do projeto aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se com-
político-pedagógico, com destaque para a gestão demo- preender e se organizar em equipes de estudos e de prá-
crática e para a integração da sociedade com a escola, bem ticas esportivas, artísticas e políticas;
como pelo cuidado com as aprendizagens dos estudantes. VI – presença articuladora e mobilizadora do gestor
A gestão escolar deve promover o “encontro pedago- no cotidiano da instituição e nos espaços com os quais a
gicamente pensado e organizado de gerações, de idades instituição escolar interage, em busca da qualidade social
diferentes” (Arroyo, p. 158), inscritos num contexto diverso das aprendizagens que lhe caiba desenvolver, com trans-
e plural, mas que se pretende uno, em sua singularidade parência e responsabilidade.
própria e inacabada, porque em construção dialética per-

58
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

De todas as mudanças formalizadas com fundamen- saberes específicos de suas áreas de conhecimento e das
to na LDB, uma das exigências, para o exercício da gestão relações entre essas áreas, na perspectiva da complexida-
escolar, consiste na obrigatoriedade de que os candidatos de; conhecer e compreender as etapas de desenvolvimento
a essa função sejam dotados de experiência docente. Isto dos estudantes com os quais está lidando. O professor da
é pré-requisito para o exercício profissional de quaisquer Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamen-
outras funções de magistério, nos termos das normas de tal é, ou deveria ser, um especialista em infância; os profes-
cada sistema de ensino (§ 1º do artigo 67 da LDB). sores dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino
Para que a gestão escolar cumpra o papel que cabe à Médio, conforme vem defendendo Miguel Arroyo (2000)
escola, os gestores devem proceder a uma revisão de sua devem ser especialistas em adolescência e juventude, isto é,
organização administrativo-pedagógica, a partir do tipo de condutores e educadores 35 Art. 67. Os sistemas de ensino
cidadão que se propõe formar, o que exige compromisso promoverão a valorização dos profissionais da educação, asse-
social com a redução das desigualdades entre o ponto de gurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos
partida do estudante e o ponto de chegada a uma socie- de carreira do magistério público: I -ingresso exclusivamente
dade de classes. por concurso público de provas e títulos; II aperfeiçoamento
profissional continuado, inclusive com licenciamento periódi-
2.6.4. O professor e a formação inicial e continuada co remunerado para esse fim; III -piso salarial profissional;
O artigo3ºdaLDB, ao definir os princípios da educação IV -progressão funcional baseada na titulação ou habi-
nacional, prevê a valorização do profissional da educação es- litação, e na avaliação do desempenho; V -período reserva-
colar. Essa expressão estabelece um amálgama entre o edu- do a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga
cador e a educação e os adjetiva, depositando foco na edu- de trabalho; VI -condições adequadas de trabalho. § 1º A
cação. Reafirma a ideia de que não há educação escolar sem experiência docente é pré-requisito para o exercício pro-
escola e nem esta sem aquele. O significado de escola aqui fissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
Traduza noção de que valorizar o profissional da edu- termos das normas de cada sistema de ensino. § 2º Para
cação é valorizar a escola, com qualidade gestorial, educa- os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no § 8º do art.
tiva, social, cultural, ética, estética, ambiental. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de
A leitura dos artigos 6735 e 1336 da mesma Lei permite magistério as exercidas por professores e especialistas em
identificar a necessidade de elo entre o papel do professor, educação no desempenho de atividades educativas, quan-
as exigências indicadas para a sua formação, e o seu fazer do exercidas em estabelecimento de educação básica em
na escola, onde se vê que a valorização profissional e da seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exer-
educação escolar vincula-se à obrigatoriedade da garantia cício da docência, as de direção de unidade escolar e as de
de padrão de qualidade (artigo 4º, inciso IX). Além disso, o coordenação e assessoramento pedagógico.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Bá- 36 Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I -partici-
sica e de Valorização dos Professores da Educação (FUNDEB) par da elaboração da proposta pedagógica do estabeleci-
define critérios para proporcionar aos sistemas educativos e mento de ensino; II -elaborar e cumprir plano de trabalho,
às escolas apoio à valorização dos profissionais da educação. segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de
A Resolução CNE/CEB nº 2/2009, baseada no Parecer CNE/ ensino; III -zelar pela aprendizagem dos estudantes;
CEB nº 9/2009, que trata da carreira docente, é também uma IV -estabelecer estratégias de recuperação para os es-
norma que participa do conjunto de referências focadas na tudantes de menor rendimento; V ministrar os dias letivos
valorização dos profissionais da educação, como medida in- e horas-aula estabelecidos, além de participar integral-
dutora da qualidade do processo educativo. Tanto a valoriza- mente dos períodos dedicados ao planejamento, à avalia-
ção profissional do professor quanto a da educação escolar ção e ao desenvolvimento profissional; VI -colaborar com
são, portanto, exigências de programas de formação inicial as atividades de articulação da escola com as famílias e a
e continuada, no contexto do conjunto de múltiplas atribui- comunidade; VII –valorização do profissional da educação
ções definidas para os sistemas educativos. escolar; VIII -gestão democrática do ensino público, na for-
Para a formação inicial e continuadados docentes, por- ma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX -ga-
tanto, é central levar em conta a relevância dos domínios rantia de padrão de qualidade. (grifo nosso) responsáveis,
indispensáveis ao exercício da docência, conforme dispos- emsentido maisamplo, por essessujeitosepelaqualidadede-
to na Resolução CNE/CP nº 1/2006, que assim se expressa: suarelação como mundo. Tal proposição implica um redi-
I – o conhecimento da escola como organização com- mensionamento dos cursos de licenciaturas e da formação
plexa que tem a função de promover a educação para e na continuada desses profissionais.
cidadania; Sabe-se, no entanto, que a formação inicial e continua-
II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de da do professor tem de ser assumida como compromisso
investigações de interesse da área educacional; integrante do projeto social, político e ético, local e nacio-
III – a participação na gestão de processos educativos e nal, que contribui para a consolidação de uma nação sobe-
na organização e funcionamento de sistemas e instituições rana, democrática, justa, inclusiva e capaz de promover a
de ensino. emancipação dos indivíduos e grupos sociais. Nesse sen-
Além desses domínios, o professor precisa, particular- tido, os sistemas educativos devem instituir orientações a
mente, saber orientar, avaliar e elaborar propostas, isto é, partir das quais se introduza, obrigatoriamente, no projeto
interpretar e reconstruir o conhecimento. Deve transpor os político-pedagógico, previsão:

59
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

I – de consolidação da identidade dos profissionais mento da personalidade do escolar, mas pressupõe che-
da educação, nas suas relações com a instituição escolar e gar aos elementos essenciais do objeto de conhecimento e
com o estudante; suas relações gerais e singulares.
II–de criação de incentivos ao resgate da imagem so- Para atender às orientações contidas neste Parecer, o
cial do professor, assim como da autonomia docente, tanto professor da Educação Básica deverá estar apto para gerir
individual quanto coletiva; as atividades didático-pedagógicas de sua competência se
III–de definição de indicadores de qualidade social da os cursos de formação inicial e continuada de docentes le-
educação escolar, afim de que as agências formadoras de varem em conta que, no exercício da docência, a ação do
profissionais da educação revejam os projetos dos cursos professor é permeada por dimensões não apenas técnicas,
de formação inicial e continuada de docentes, de modo mas também políticas, éticas e estéticas, pois terão de de-
que correspondam às exigências de um projeto de Nação. senvolver habilidades propedêuticas, com fundamento na
Na política de formação de docentes para o Ensino ética da inovação, e de manejar conteúdos e metodologias
Fundamental, as ciências devem, necessária e obrigatoria- que ampliem a visão política para a politicida de das téc-
mente, estar associadas, antes de qualquer tentativa, à dis- nicas e tecnologias, no âmbito de sua atuação cotidiana.
cussão de técnicas, de materiais, de métodos para uma aula Ao selecionar e organizar o conhecimento específico
dinâmica; é preciso, indispensável mesmo, que o professor que o habilite para atuar em uma ou mais etapas da Educa-
se ache repousado no saber de que a pedra fundamental é ção Básica, é fundamental que se considere que o egresso
a curiosidade do ser humano. É ela que faz perguntar, co- dos cursos de formação de professores deverá ter a opor-
nhecer, atuar, mais perguntar, reconhecer (Freire, 1996:96). tunidade de reconhecer o conhecimento
Por outro lado, no conjunto de elementos que contri- (conceitos, teorias, habilidades, procedimentos, valo-
buem para a concepção, elaboração e execução do pro- res) como base para a formação integral do estudante, uma
jeto político-pedagógico pela escola, em que se inscreve vez que esta exige a capacidade para análise, síntese, com-
o desenvolvimento curricular, a capacitação docente é o provação, comparação, valoração, explicação, resolução de
aspecto mais complexo, porque a formação profissional problemas, formulação de hipóteses, elaboração, execução
em educação insere-se no âmbito do desenvolvimento de e avaliação de projetos, entre outras, destinadas à organi-
aprendizagens de ordem pessoal, cultural, social, ambien- zação e realização das atividades de aprendizagens.
tal, política, ética, estética. É na perspectiva exposta que se concebe o trabalho
Assim, hoje, exige-se do professor mais do que um docente na tarefa de cuidar e educar as crianças e jovens
conjunto de habilidades cognitivas, sobretudo se ainda for que, juntos, encontram-se na idade de 0 (zero) a 17 (de-
considerada a lógica própria do mundo digital e das mídias zessete) anos. Assim pensada, a fundamentação da ação
em geral, o que pressupõe aprender a lidar com os nati- docente e dos programas de formação inicial e continua-
vos digitais. Além disso, lhe é exigida, como pré-requisito da dos profissionais da educação instauram-se em meio
para o exercício da docência, a capacidade de trabalhar a processos tensionais de caráter político, social e cultu-
cooperativamente em equipe, e de compreender, interpre- ral que se refletem na eleição de um ou outro método de
tar e aplicar a linguagem e os instrumentos produzidos ao aprendizagem, a partir do qual é justificado determinado
longo da evolução tecnológica, econômica e organizativa. perfil de docente para a Educação Básica.
Isso, sem dúvida, lhe exige utilizar conhecimentos científi-
cos e tecnológicos, em detrimento da sua experiência em Se o projeto político-pedagógico, construído coletiva-
regência, isto é, exige habilidades que o curso que o titu- mente, está assegurado por lei, resultante da mobilização
lou, na sua maioria, não desenvolveu. Desse ponto de vista, de muitos educadores, torna-se necessário dar continui-
o conjunto de atividades docentes vem ampliando o seu dade a essa mobilização no intuito de promover a sua via-
raio de atuação, pois, além do domínio do conhecimento bilização prática pelos docentes. Para tanto, as escolas de
específico, são solicitadas atividades pluridisciplinares que formação dos profissionais da educação, sejam gestores,
antecedem a regência e a sucedem ou a permeiam. As ati- professores ou especialistas, têm um papel importantíssi-
vidades de integração com a comunidade são as que mais mo no sentido de incluir, em seus currículos e programas,
o desafiam. a temática da gestão democrática, dando ênfase à cons-
Historicamente, o docente responsabiliza-se pela esco- trução do projeto pedagógico, mediante trabalho coletivo
lha de determinada lógica didático-pedagógica, ameaçado de que todos os que compõem a comunidade escolar são
pela incerteza quanto àquilo que, no exercício de seu papel responsáveis.
de professor, deve ou não deve saber, pensar e enfrentar,
ou evitar as dificuldades mais frequentes que ocorrem nas Nesse sentido, o professor da Educação Básica é o
suas relações com os seus pares, com os estudantes e com profissional que conhece as Especificidades dos processos
os gestores. Atualmente, mais que antes, ao escolher a me- de desenvolvimento e de aprendizagens, respeita os direi-
todologia que consiste em buscar a compreensão sobre tos dos estudantes e de suas famílias. Para isso, domina o
alógica mental, a partir da qual se identifica a lógica de conhecimento teórico-metodológico e teórico-prático in-
determinada área do conhecimento, o docente haverá de dispensável ao desempenho de suas funções definidas no
definir aquela capaz de desinstalar os sujeitos aprendizes, artigo 13 da LDB, no plano de carreira a que se vincula, no
provocar-lhes curiosidade, despertar-lhes motivos, desejos. regimento da escola, no projeto político-pedagógico em
Esse é um procedimento que contribui para o desenvolvi- sua processualidade.

60
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II – VOTO DA COMISSÃO b. Aprendizagem organizada: É aquela que tem por


À vista do exposto, propõe-se à Câmara de Educação finalidade específica aprender determinados conhecimen-
Básica a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais tos, habilidades e normas de convivência social. Este tipo
Gerais paraa Educação Básica ,na forma deste Parecer e de aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma or-
do Projeto de Resolução em anexo, do qual é parte inte- ganização intencional, planejada e sistemática, as finalida-
grante. des e condições da aprendizagem escolar é tarefa específi-
Brasília, (DF), 7 de abril de 2010. ca do ensino (LIBÂNEO, 1994. Pág. 82).
Esses tipos de aprendizagem tem grande relevância na
assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um conheci-
mento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo mesmo.
DIDÁTICA E ORGANIZAÇÃO DO ENSINO; O processo de assimilação de determinados conheci-
mentos, habilidades, percepção e reflexão é desenvolvido por
meios atitudinais, motivacionais e intelectuais do aluno, sendo
o professor o principal orientador desse processo de assimi-
Didática é considerada como arte e ciência do ensi- lação ativa, é através disso que se pode adquirir um melhor
no, o objetivo deste artigo é analisar o processo didático entendimento, favorecendo um desenvolvimento cognitivo.
educativo e suas contribuições positivas para um melhor Através do ensino podemos compreender o ato de
desempenho no processo de ensino-aprendizagem. Como aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os
arte a didática não objetiva apenas o conhecimento por fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse proces-
conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios prin- so de assimilação de conhecimentos é resultado da reflexão
cípios com a finalidade de desenvolver no individuo as ha- proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
bilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos, mentais que caracterizam o pensamento (Libâneo, 1994). En-
desenvolvendo assim um pensamento independente. tendida como fundamental no processo de ensino a assimi-
Nesse Artigo abordamos esse assunto acerca das vi- lação ativa desenvolve no individuo a capacidade de lógica e
sões de Libâneo (1994), destacando as relações e os pro- raciocínio, facilitando o processo de aprendizagem do aluno.
cessos didáticos de ensino e aprendizagem, o caráter Sempre estamos aprendendo, seja de maneira siste-
educativo e crítico desse processo de ensino, levando em mática ou de forma espontânea, teoricamente podemos
consideração o trabalho docente além da organização da dizer que há dois níveis de aprendizagem humana: o refle-
aula e seus componentes didáticos do processo educacio- xo e o cognitivo. O nível reflexo refere-se às nossas sensa-
nal tais como objetivos, conteúdos, métodos, meios de en- ções pelas quais desenvolvemos processos de observação
sino e avaliação. Concluímos o nosso trabalho ressaltando e percepção das coisas e nossas ações físicas no ambiente.
a importância da didática no processo educativo de ensino Este tipo de aprendizagem é responsável pela formação de
e aprendizagem. hábitos sensório motor (Libâneo, 1994).
O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de deter-
1.0 PROCESSOS DIDÁTICOS BÁSICOS, ENSINO E minados conhecimentos e operações mentais, caracteriza-
APRENDIZAGEM. da pela apreensão consciente, compreensão e generaliza-
A Didática é o principal ramo de estudo da pedagogia, ção das propriedades e relações essenciais da realidade,
pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos pedagó- bem como pela aquisição de modos de ação e aplicação
gicos, investiga os fundamentos, as condições e os modos referentes a essas propriedades e relações (Libâneo, 1994).
de realização da instrução e do ensino, portanto é consi- De acordo com esse contexto podemos despertar uma
derada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no am-
tem como papel principal garantir uma relação didática biente em que estamos.
entre ensino e aprendizagem através da arte de ensinar, Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto
pois ambos fazem parte de um mesmo processo. Segundo pelo contato com as coisas no ambiente, como pelas pa-
Libâneo (1994), o professor tem o dever de planejar, dirigir lavras que designam das coisas e dos fenômenos do am-
e controlar esse processo de ensino, bem como estimular biente. Portanto as palavras são importantes condições de
as atividades e competências próprias do aluno para a sua aprendizagem, pois através delas são formados conceitos
aprendizagem. pelos quais podemos pensar.
A condição do processo de ensino requer uma clara O ensino é o principal meio de progresso intelectual
e segura compreensão do processo de aprendizagem, ou dos alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos
seja, deseja entender como as pessoas aprendem e quais e habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
as condições que influenciam para esse aprendizado. Sen- professor transmite os conteúdos de forma que os alunos
do assim Libâneo (1994) ressalta que podemos distinguir assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvi-
a aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a mento intelectual, reflexivo e crítico.
aprendizagem organizada. Por meio do processo de ensino o professor pode al-
a. Aprendizagem casual: É quase sempre espontâ- cançar seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de
nea, surge naturalmente da interação entre as pessoas ensino está ligada à vida social mais ampla, chamada de
com o ambiente em que vivem, ou seja, através da con- prática social, portanto o papel fundamental do ensino é
vivência social, observação de objetos e acontecimentos. mediar à relação entre indivíduos, escola e sociedade.

61
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1.1 O CARÁTER EDUCATIVO DO PROCESSO DE • Criar as condições e os meios para que os alu-
ENSINO E O ENSINO CRÍTICO. nos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais
De acordo com Libâneo (1994), o processo de ensi- de modo que dominem métodos de estudo e de traba-
no, ao mesmo tempo em que realiza as tarefas da ins- lho intelectual visando a sua autonomia no processo de
trução de crianças e jovens, também é um processo edu- aprendizagem e independência de pensamento;
cacional. • Orientar as tarefas de ensino para objetivo edu-
No desempenho de sua profissão, o professor deve cativo de formação da personalidade, isto é, ajudar os alu-
ter em mente a formação da personalidade dos alunos, nos a escolherem um caminho na vida, a terem atitudes
não apenas no aspecto intelectual, como também nos e convicções que norteiem suas opções diante dos pro-
aspectos morais, afetivos e físicos. Como resultado do blemas e situações da vida real (LIBÂNEO, 1994, Pág. 71).
trabalho escolar, os alunos vão formando o senso de ob- Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é
servação, a capacidade de exame objetivo e crítico de fundamental que o professor tenha clareza das finalida-
fatos e fenômenos da natureza e das relações sociais, des que ele tem em mente, a atividade docente tem a ver
habilidades de expressão verbal e escrita. A unidade ins- diretamente com “para que educar”, pois a educação se
trução-educação se reflete, assim, na formação de ati- realiza numa sociedade que é formada por grupos sociais
tudes e convicções frente à realidade, no transcorrer do que tem uma visão diferente das finalidades educativas.
processo de ensino. Para Libâneo (1994), a didática trata dos objetivos,
O processo de ensino deve estimular o desejo e o condições e meios de realização do processo de ensino, li-
gosto pelo estudo, mostrando assim a importância do gando meios pedagógico-didáticos a objetivos sócio-po-
conhecimento para a vida e o trabalho, (LIBÂNEO, 1994). líticos. Não há técnica pedagógica sem uma concepção
Nesse processo o professor deve criar situações que de homem e de sociedade, sem uma competência técnica
estimule o indivíduo a pensar, analisar e relacionar os para realiza-la educacionalmente, portanto o ensino deve
aspectos estudados com a realidade que vive. Essa reali- ser planejado e ter propósitos claros sobre suas finalida-
zação consciente das tarefas de ensino e aprendizagem des, preparando os alunos para viverem em sociedade.
é uma fonte de convicções, princípios e ações que irão
É papel de o professor planejar a aula, selecionar, or-
relacionar as práticas educativas dos alunos, propondo
ganizar os conteúdos de ensino, programar atividades,
situações reais que faça com que os individuo reflita e
criar condições favoráveis de estudo dentro da sala de
analise de acordo com sua realidade (TAVARES, 2011).
aula, estimular a curiosidade e criatividade dos alunos,
Entretanto o caráter educativo está relacionado aos
ou seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem
objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do pro-
dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da
cesso de ensino. È através desse processo que acontece a
própria aprendizagem.
formação da consciência crítica dos indivíduos, fazendo-
Entretanto é necessário que haja uma interação mú-
-os pensar independentemente, por isso o ensino crítico,
chamado assim por implicar diretamente nos objetivos tua entre docentes e discentes, pois não há ensino se os
sócio-políticos e pedagógicos, também os conteúdos, alunos não desenvolverem suas capacidades e habilida-
métodos escolhidos e organizados mediante determina- des mentais.
da postura frente ao contexto das relações sociais vigen- Podemos dizer que o processo didático se baseia no
tes da prática social, (LIBÂNEO, 1994). conjunto de atividades do professor e dos alunos, sob a
È através desse ensino crítico que os processos men- direção do professor, para que haja uma assimilação ati-
tais são desenvolvidos, formando assim uma atitude in- va de conhecimentos e desenvolvimento das habilidades
telectual. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem dos alunos. Como diz Libâneo (1994), é necessário para o
apenas matérias, e passam então a ser transmitidos pelo planejamento de ensino que o professor compreenda as
professor aos seus alunos formando assim um pensa- relações entre educação escolar, os objetivos pedagógi-
mento independente, para que esses indivíduos bus- cos e tenha um domínio seguro dos conteúdos ao qual
quem resolver os problemas postos pela sociedade de ele leciona, sendo assim capaz de conhecer os programas
uma maneira criativa e reflexiva. oficiais e adequá-los ás necessidades reais da escola e de
seus alunos.
1.2 A DIDÁTICA E O TRABALHO DOCENTE Um professor que aspira ter uma boa didática neces-
Como vimos anteriormente à didática estuda o pro- sita aprender a cada dia como lidar com a subjetividade
cesso de ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, do aluno, sua linguagem, suas percepções e sua prática
conteúdos fazem parte, de modo a criar condições que de ensino. Sem essas condições o professor será incapaz
garantam uma aprendizagem significativa dos alunos. de elaborar problemas, desafios, perguntas relacionadas
Ela ajuda o professor na direção, orientação das tarefas com os conteúdos, pois essas são as condições para que
do ensino e da aprendizagem, dando a ele uma segu- haja uma aprendizagem significativa. No entanto para
rança profissional. Segundo Libâneo (1994), o trabalho que o professor atinja efetivamente seus objetivos, é pre-
docente também chamado de atividade pedagógica tem ciso que ele saiba realizar vários processos didáticos coor-
como objetivos primordiais: denados entre si, tais como o planejamento, a direção do
• Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e ensino da aprendizagem e da avaliação (LIBÂNEO, 1994).
duradouro possível dos conhecimentos científicos;

62
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1.3 A ORGANIZAÇÃO DA AULA E SEUS COMPO- Dentro da organização da aula destacaremos agora
NENTES DIDÁTICOS DO PROCESSO EDUCACIONAL seus Componentes Didáticos, que são também abordados
A aula é a forma predominante pela qual é organizado em alguns trabalhos como elementos estruturantes do en-
o processo de ensino e aprendizagem. É o meio pelo qual sino didático. São eles: os objetivos (gerais e específicos),
o professor transmite aos seus alunos conhecimentos ad- os conteúdos, os métodos, os meios e as avaliações.
quirido no seu processo de formação, experiências de vida,
conteúdos específicos para a superação de dificuldades 1.3.1 OBJETIVOS
e meios para a construção de seu próprio conhecimento, São metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de
nesse sentido sendo protagonista de sua formação huma- diversos meios para se chegar ao esperado. Os objetivos
na e escolar. educacionais expressam propósitos definidos, pois o pro-
É ainda o espaço de interação entre o professor e o fessor quando vai ministrar a aula já vai com os objetivos
indivíduo em formação constituindo um espaço de troca definidos. Eles têm por finalidade, preparar o docente para
mútua. A aula é o ambiente propício para se pensar, criar, determinar o que se requer com o processo de ensino,
desenvolver e aprimorar conhecimentos, habilidades, ati- isto é prepará-lo para estabelecer quais as metas a serem
tudes e conceitos, é também onde surgem os questiona- alcançadas, eles constituem uma ação intencional e siste-
mentos, indagações e respostas, em uma busca ativa pelo mática.
esclarecimento e entendimento acerca desses questiona- Os objetivos são exigências que requerem do profes-
mentos e investigações. sor um posicionamento reflexivo, que o leve a questiona-
Por intermédio de um conjunto de métodos, o educa- mentos sobre a sua própria prática, sobre os conteúdos os
dor busca melhor transmitir os conteúdos, ensinamentos e materiais e os métodos pelos quais as práticas educativas
conhecimentos de uma disciplina, utilizando-se dos recur- se concretizam. Ao elaborar um plano de aula, por exem-
sos disponíveis e das habilidades que possui para infundir plo, o professor deve levar em conta muitos questiona-
no aluno o desejo pelo saber. mentos acerca dos objetivos que aspira, como O que? Para
Deve-se ainda compreender a aula como um conjunto que? Como? E Para quem ensinar?, e isso só irá melhorar
de meios e condições por meio das quais o professor orienta, didaticamente as suas ações no planejamento da aula. 
guia e fornece estímulos ao processo de ensino em função Não há prática educativa sem objetivos; uma vez que
da atividade própria dos alunos, ou seja, da assimilação e estes integram o ponto de partida, as premissas gerais
desenvolvimento de habilidades naturais do aluno na apren- para o processo pedagógico (LIBÂNEO, 1994- pág.122).
dizagem educacional. Sendo a aula um lugar privilegiado da Os objetivos são um guia para orientar a prática educativa
vida pedagógica refere-se às dimensões do processo didáti- sem os quais não haveria uma lógica para orientar o pro-
co preparado pelo professor e por seus alunos. cesso educativo.
Aula é toda situação didática na qual se põem objeti- Para que o processo de ensino-aprendizagem aconte-
vos, conhecimentos, problemas, desafios com fins instruti- ça de modo mais organizado faz-se necessário, classificar
vos e formativos, que incitam as crianças e jovens a apren- os objetivos de acordo com os seus propósitos e abran-
der (LIBÂNEO, 1994- Pág.178). Cada aula é única, pois ela gência, se são mais amplos, denominados objetivos gerais
possui seus próprios objetivos e métodos que devem ir de e se são destinados a determinados fins com relação aos
acordo com a necessidade observada no educando. alunos, chamados de objetivos específicos.
A aula é norteada por uma série de componentes, que a. Objetivos Gerais: exprimem propósitos mais am-
vão conduzir o processo didático facilitando tanto o de- plos acerca do papel da escola e do ensino diante das
senvolvimento das atividades educacionais pelo educador exigências postas pela realidade social e diante do desen-
como a compreensão e entendimento pelos indivíduos em volvimento da personalidade dos alunos (LIBANÊO, 1994-
formação; ela deve, pois, ter uma estruturação e organiza- pág. 121). Por isso ele também afirma que os objetivos
ção, afim de que sejam alcançados os objetivos do ensino. educacionais transcendem o espaço da sala de aula atuan-
Ao preparar uma aula o professor deve estar atento às do na capacitação do indivíduo para as lutas sociais de
quais interesses e necessidades almeja atender, o que pre- transformação da sociedade, e isso fica claro, uma vez que
tende com a aula, quais seus objetivos e o que é de caráter os objetivos têm por fim formar cidadãos que venham a
urgente naquele momento. A organização e estruturação atender os anseios da coletividade.
didática da aula têm por finalidade proporcionar um traba- b. Objetivos Específicos: compreendem as intencio-
lho mais significativo e bem elaborado para a transmissão nalidades específicas para a disciplina, os caminhos tra-
dos conteúdos. O estabelecimento desses caminhos pro- çados para que se possa alcançar o maior entendimento,
porciona ao professor um maior controle do processo e desenvolvimento de habilidades por parte dos alunos que
aos alunos uma orientação mais eficaz, que vá de acordo só se concretizam no decorrer do processo de transmis-
com previsto. são e assimilação dos estudos propostos pelas disciplinas
As indicações das etapas para o desenvolvimento da de ensino e aprendizagem. Expressam as expectativas do
aula, não significa que todas elas devam seguir um crono- professor sobre o que deseja obter dos alunos no decor-
grama rígido (LIBÂNEO, 1994-Pág. 179), pois isso depende rer do processo de ensino. Têm sempre um caráter peda-
dos objetivos, conteúdos da disciplina, recursos disponíveis gógico, porque explicitam a direção a ser estabelecida ao
e das características dos alunos e de cada aluno e situações trabalho escolar, em torno de um programa de formação.
didáticas especificas. (TAVARES, 2001- Pág. 66).

63
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1.3.2 CONTEÚDOS dos conteúdos, visando à assimilação constante pelos alu-


Os conteúdos de ensino são constituídos por um con- nos e o desenvolvimento de suas capacidades e habilida-
junto de conhecimentos. É a forma pela qual, o professor des. É uma ação conjunta em que o educador é o promo-
expõem os saberes de uma disciplina para ser trabalhado tor, que faz questionamentos, propõem problemas, instiga,
por ele e pelos seus alunos. Esses saberes são advindos faz desafios nas atividades e o educando é o receptor ativo
do conjunto social formado pela cultura, a ciência, a téc- e atuante, que através de suas ações responde ao proposto
nica e a arte. Constituem ainda o elemento de mediação produzindo assim conhecimentos. O papel do professor é
no processo de ensino, pois permitem ao discente através levar o aluno a desenvolver sua autonomia de pensamento.
da assimilação o conhecimento histórico, cientifico, cultu-
ral acerca do mundo e possibilitam ainda a construção de 1.3.3 MÉTODOS DE ENSINO
convicções e conceitos. Métodos de ensino são as formas que o professor or-
O professor, na sala de aula, utiliza-se dos conteúdos ganiza as suas atividades de ensino e de seus alunos com
da matéria para ajudar os alunos a desenvolverem com- a finalidade de atingir objetivos do trabalho docente em
petências e habilidades de observar a realidade, perceber relação aos conteúdos específicos que serão aplicados. Os
as propriedades e características do objeto de estudo, métodos de ensino regulam as formas de interação entre
estabelecer relações entre um conhecimento e outro, ad- ensino e aprendizagem, professor e os alunos, na qual os
quirir métodos de raciocínio, capacidade de pensar por si resultados obtidos é assimilação consciente de conheci-
próprios, fazer comparações entre fatos e acontecimentos, mentos e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas
formar conceitos para lidar com eles no dia-a-dia de modo e operativas dos alunos.
que sejam instrumentos mentais para aplicá-los em situa- Segundo Libâneo (1994) a escolha e organização os
ções da vida prática (LIBÂNEO 2001, pág. 09). Neste con- métodos de ensino devem corresponder à necessária uni-
texto pretende-se que os conteúdos aplicados pelo pro- dade objetivos-conteúdos-métodos e formas de organi-
fessor tenham como fundamento não só a transmissão das zação do ensino e as condições concretas das situações
informações de uma disciplina, mas que esses conteúdos didáticas. Os métodos de ensino dependem das ações
apresentem relação com a realidade dos discentes e que imediatas em sala de aula, dos conteúdos específicos, de
sirvam para que os mesmos possam enfrentar os desafios métodos peculiares de cada disciplina e assimilação, além
impostos pela vida cotidiana. Estes devem também pro- disso, esses métodos implica o conhecimento das caracte-
porcionar o desenvolvimento das capacidades intelectuais rísticas dos alunos quanto à capacidade de assimilação de
e cognitivas do aluno, que o levem ao desenvolvimento conteúdos conforme a idade e o nível de desenvolvimento
critico e reflexivo acerca da sociedade que integram. mental e físico e suas características socioculturais e indi-
Os conteúdos de ensino devem ser vistos como uma viduais.
relação entre os seus componentes, matéria, ensino e o co- A relação objetivo-conteúdo-método procuram mos-
nhecimento que cada aluno já traz consigo. Pois não basta trar que essas unidades constituem a linhagem funda-
apenas a seleção e organização lógica dos conteúdos para mental de compreensão do processo didático: os objeti-
transmiti-los. Antes os conteúdos devem incluir elementos vos, explicitando os propósitos pedagógicos intencionais
da vivência prática dos alunos para torná-los mais signifi- e planejados de instrução e educação dos alunos, para a
cativos, mais vivos, mais vitais, de modo que eles possam participação na vida social; os conteúdos, constituindo a
assimilá-los de forma ativa e consciente (LIBÂNEO, 1994 base informativa concreta para alcançar os objetivos e de-
pág. 128). Ao proferir estas palavras, o autor aponta para terminar os métodos; os métodos, formando a totalidade
um elemento de fundamental importância na preparação dos passos, formas didáticas e meios organizativos do en-
da aula, a contextualização dos conteúdos. sino que viabilizam a assimilação dos conteúdos, e assim, o
atingimento dos objetivos.
a. Contextualização dos conteúdos No trabalho docente, os professores selecionam e or-
A contextualização consiste em trazer para dentro da ganizam seus métodos e procedimentos didáticos de acor-
sala de aula questões presentes no dia a dia do aluno e do com cada matéria. Dessa forma destacamos os princi-
que vão contribuir para melhorar o processo de ensino e pais métodos de ensino utilizado pelo professor em sala
aprendizagem do mesmo. Valorizando desta forma o con- de aula: método de exposição pelo professor, método de
texto social em que ele está inserido e proporcionando a trabalho independente, método de elaboração conjunta,
reflexão sobre o meio em que se encontra, levando-o a método de trabalho em grupo. Nestes métodos, os conhe-
agir como construtor e transformador deste. Então, pois, cimentos, habilidades e tarefas são apresentados, expli-
ao selecionar e organizar os conteúdos de ensino de uma cadas e demonstradas pelo professor, além dos trabalhos
aula o professor deve levar em consideração a realidade planejados individuais, a elaboração conjunta de atividades
vivenciada pelos alunos. entre professores e alunos visando à obtenção de novos
conhecimentos e os trabalhos em grupo. Dessa maneira
b. A relação professor-aluno no processo de ensino designamos todos os meios e recursos matérias utilizados
e aprendizagem: pelo professor e pelos alunos para organização e condu-
O professor no processo de ensino é o mediador entre ção metódica do processo de ensino e aprendizagem (LI-
o indivíduo em formação e os conhecimentos prévios de BÂNEO, 1994 Pág. 173).
uma matéria. Tem como função planejar, orientar a direção

64
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

1.3.4 AVALIAÇÃO ESCOLAR minada socialmente, a de introduzir as crianças, jovens e


A avaliação escolar é uma tarefa didática necessá- adultos no mundo da cultura e do trabalho, tal objetivo
ria para o trabalho docente, que deve ser acompanhado não surge espontaneamente na experiência das crian-
passo a passo no processo de ensino e aprendizagem. ças, jovens e adultos, mas supõe as perspectivas traça-
Através da mesma, os resultados vão sendo obtidos no das pela sociedade e controle por parte do professor.
decorrer do trabalho em conjunto entre professores e Por outro lado, a relação pedagógica requer a indepen-
alunos, a fim de constatar progressos, dificuldades e dência entre influências externas e condições internas do
orientá-los em seus trabalhos para as correções neces- aluno, pois nesse contexto o professor deve organizar o
sárias. Libâneo (1994). ensino objetivando o desenvolvimento autônomo e in-
A avaliação escolar é uma tarefa complexa que não dependente do aluno (LIBÂNEO, 1994).
se resume à realização de provas e atribuição de notas,
ela cumpre funções pedagógico-didáticas, de diagnósti- 1.4 A PROFISSÃO DOCENTE E SUA REPERCUSSÃO
co e de controle em relação ao rendimento escolar. SOCIAL
A função pedagógico-didática refere-se ao papel da Segundo Libâneo (1994) o trabalho docente é a par-
avaliação no cumprimento dos objetivos gerais e espe- te integrante do processo educativo mais global pelo
cíficos da educação escolar. Ao comprovar os resultados qual os membros da sociedade são preparados para a
do processo de ensino, evidencia ou não o atendimen- participação da vida social. Com essas palavras Libâneo
to das finalidades sociais do ensino, de preparação dos deixa bem claro o importante e essencial papel do pro-
alunos para enfrentar as exigências da sociedade e in- fessor na inserção e construção social de cada individuo
seri-los ao meio social. Ao mesmo tempo, favorece uma em formação. O educador deve ter como principal e fun-
atitude mais responsável do aluno em relação ao estudo, damental compromisso com a sociedade formar alunos
assumindo-o como um dever social. Já a função de diag- que se tornem cidadãos ativos, críticos, reflexivos e par-
nóstico permite identificar progressos e dificuldades dos ticipativos na vida social.
alunos e a atuação do professor que, por sua vez, deter- O docente no processo de ensino e aprendizagem
minam modificações do processo de ensino para melhor é a ponte de mediação entre o aluno em formação e o
cumprir as exigências dos objetivos. A função do contro- meio social no qual está inserido; uma vez que ele vai
le se refere aos meios e a frequência das verificações e através de instruções, conteúdos e métodos orientar aos
de qualificação dos resultados escolares, possibilitando seus alunos a viver socialmente. Sendo a educação um
o diagnóstico das situações didáticas (LIBÂNEO, 1994). fenômeno social necessário à existência e funcionamen-
No entanto a avaliação na pratica escolar nas escolas to de toda a sociedade, exige-se a todo instante do pro-
tem sido bastante criticada sobre tudo por reduzir-se à fessor as competências técnicas e teóricas para a trans-
sua função de controle, mediante a qual se faz uma clas- missão desses conhecimentos que são essenciais para a
sificação quantitativa dos alunos relativa às notas que manutenção e progresso social.
obtiveram nas provas. Os professores não tem consegui- O processo educacional, notadamente os objetivos,
do usar os procedimentos de avaliação que sem dúvida, conteúdos do ensino e o trabalho do professor são regi-
implicam o levantamento de dados por meio de testes, dos por uma série de exigências da sociedade, ao passo
trabalhos escritos etc. Em relação aos objetivos, funções que a sociedade reclama da educação a adequação de
e papel da avaliação na melhoria das atividades esco- todos os componentes do ensino aos seus anseios e ne-
lares e educativas, tem-se verificado na pratica escolar cessidades. Porém a prática educativa não se restringe as
alguns equívocos. (LIBÂNEO, Pág. 198- 1994). exigências da vida em sociedade, mas também ao pro-
O mais comum é tomar a avaliação unicamente cesso de promover aos indivíduos os saberes e experiên-
como o ato de aplicar provas, atribuir notas e classifi- cias culturais que o tornem aptos a atuar no meio social
car os alunos. O professor reduz a avaliação à cobrança e transformá-lo em função das necessidades econômi-
daquilo que o aluno memorizou e usa a nota somen- cas, sociais e políticas da coletividade (LIBÂNEO, 1994
te como instrumento de controle. Tal ideia é descabi- pág.17). O professor deve formar para a emancipação,
da, primeiro porque a atribuição de notas visa apenas o reflexão, criticidade e atuação social do indivíduo e não
controle formal, com objetivo classificatório e não edu- para a submissão ou o comodismo.
cativo; segundo porque o que importa é o veredito do
professor sobre o grau de adequação e conformidade Fonte:https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pe-
do aluno ao conteúdo que transmite. Outro equívoco é dagogia/processo-didatico-educativo-analise-reflexiva-
utilizar a avaliação como recompensa aos bons alunos -sobre-processo-ensino-aprendizagem.htm
e punição para os desinteressados, além disso, os pro-
fessores confiam demais em seu olho clínico, dispensam
verificações parciais no decorrer das aulas e aqueles que
rejeitam as medidas quantitativas de aprendizagem em
favor de dados qualitativos (LIBÂNEO, 1994).
O entendimento correto da avaliação consiste em
considerar a relação mútua entre os aspectos quantita-
tivos e qualitativos. A escola cumpre uma função deter-

65
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nóstica constitui-se num processo de avançar no desen-


SABERES ESCOLARES, PROCESSOS volvimento e no crescimento da autonomia do educando,
METODOLÓGICOS E AVALIAÇÃO DA sendo capaz de descobrir seu nível de aprendizagem, ad-
APRENDIZAGEM; quirindo consciência das suas limitações e necessidades a
serem avançadas.
Ela tem que ter como finalidade fornecer informações
sobre o processo pedagógico que permitam aos docentes
definir sobre as interferências e as mudanças necessárias
Processos metodológicos serve como referência dos
na face do projeto educativo. Esse que precisa ser definido
segmentos compostos pela metodologia. Ordena assim in-
coletivamente para que possa garantir a aprendizagem do
formações, classifica-os, e também sistematiza-os.
aluno de forma democrática. É essencial perceber o aluno
Quando uma pessoa diz que utilizará determinada me-
como ser social e político que possui a capacidade de pen-
todologia, quer dizer que usará de normas, técnicas e co-
sar criticamente sobre seus atos e dotado de experiências,
nhecimentos definidos, que já foram elaborados e que é de
sujeito de seu próprio desenvolvimento.
conhecimento extensivo.
Também envolve processos determinados, disciplina
Fonte: https://www.infoescola.com/pedagogia/avalia-
específica, maneira e forma de se fazer algo. Também abor-
cao-da-aprendizagem/
da hipóteses.

Fonte; https://www.significadosbr.com.br/metodologia
NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
Atualmente a avaliação da aprendizagem está sendo COMUNICAÇÃO E SUA CONTRIBUIÇÃO COM
voltada para a preparação de exames. Isso acontece por- A PRÁTICA PEDAGÓGICA;
que os sistemas de ensino estão interessados nos percen-
tuais de aprovação e reprovação dos alunos. Com isso, os
procedimentos de avaliação se tornam elementos motiva-
dores em busca de resultados.
Este trabalho foi desenvolvido no sentido de que as no-
A forma como a avaliação da aprendizagem está sen-
vas tecnologias sejam vistas como mais uma ferramenta de
do empregada faz com que os alunos tenham uma atenção
auxilio ao processo de educação, como dinamizadora do
centrada no processo de promoção ao final do ano letivo
processo de ensino e como instigadoras para a melhoria da
e não na aquisição de conhecimentos. Já os professores
aprendizagem. Para tanto, adota-se como objetivo geral:
utilizam as provas como forma de pressionar os alunos a
Refletir sobre o uso das novas tecnologias para a melhoria
alcançar os resultados esperados pela escola.
dos processos de ensino e de aprendizagem. Visto que a
De acordo com Luckesi (1998), a avaliação da aprendi-
simples utilização de um ou outro equipamento tecnológi-
zagem está sendo praticada independente do processo en-
co não pressupõe um trabalho educativo pedagógico.
sino-aprendizagem, pois mais importante do que ser uma
Hoje na chamada sociedade da informação, novas de
oportunidade de aprendizagem significativa, a avaliação
formas de pensar, de agir e de comunicar-se são introduzi-
vem se tornando um instrumento de ameaça.
das como hábitos corriqueiros, são inúmeras as formas de
Na medida em que a avaliação se centra em provas e
adquirir conhecimento, bem como também são diversas as
exames, não há uma melhoria na qualidade da aprendiza-
ferramentas que propiciam essa aquisição, as escolas são
gem. Caso seja necessária a utilização de provas, é preciso
em geral apontadas como uma das principais alternativas
deixar claro que ela é apenas uma formalidade do sistema
para formação e desenvolvimento de cidadãos garnidos
escolar.
de um perfil que conduza com as exigências da sociedade
Uma avaliação que busca a transformação social deve
moderna.
ter como objetivo o avanço e o crescimento do seu edu-
Atualmente são outras as maneiras de compreender,
cando e não estagnar o conhecimento através de práticas
de perceber, de sentir e de aprender, em que a afetividade,
disciplinadoras. Ela consiste em verificar o que o aluno
as relações, a imaginação e os valores não podem deixar de
aprendeu e se os objetivos propostos foram atingidos e
ser considerados. Na sociedade da informação aprende-se
se o programa foi conduzido de forma adequada. Deve re-
a reaprender, a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar, a in-
presentar um instrumento indispensável na verificação do
teragir, a integrar o humano e o tecnológico, a integrar o
aprendizado continuo dos alunos, destacando as dificulda-
individual, o grupal e o social.
des em determina disciplina e direcionando os professores
Enfim, as tecnologias de informação e/ou comunicação
na busca de abordagens que contemplem métodos didáti-
possibilitam ao individuo ter acesso a milhares de informa-
cos adequados para as disciplinas.
ções e complexidades de contextos tanto próximos como
A prática avaliativa tem que centrar-se no diagnóstico
distantes de sua realidade que, num processo educativo,
e não na classificação. A função classificatória é analisar o
pode servir como elemento de aprendizagem, como es-
desempenho do aluno através de notas obtidas, geralmen-
paço de socialização, gerando saberes e conhecimentos
te registrada através de números. Ela retira da prática da
científicos. Portanto, a internet deve ser utilizada como
avaliação tudo o que é construtivo. Por sua vez, a diag-
uma ferramenta de auxilio na aquisição da leitura e da es-

66
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

crita, ferramenta esta que a escola e o professor devem A partir da descoberta da técnica de imprimir, passa-
introduzir na vida escolar do aluno, visto que faz parte do mos por grandes invenções, como os jornais que desde
cotidiano dos mesmos, cabe então a escola e ao professor seu surgimento tem o intuito de levar ao conhecimento
democratizar e orientar os alunos no uso da internet de do público acontecimentos importantes tanto sociais como
modo a conduzi-los ao processo de construção do conhe- políticos. O primeiro jornal publicado no Brasil foi “Gazeta
cimento, possibilitando ao professor ser mediador, isto é, do Rio de Janeiro” e data se de 10 de Setembro de 1808.
acompanhar e sugerir atividades, ajudar a solucionar dúvi- Por volta de 1860 surge um aparelho de comunica-
das e estimular a busca de um novo saber. ção de grande importância também para os dias atuais, o
telefone, que foi inventado pelo italiano Antonio Meucci,
3. I CAPÍTULO este o inventou com o objetivo de comunicar se com sua
3.1 ELEMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A COMUNICA- esposa doente que ficava no andar superior da casa em
ÇÃO HUMANA uma cama, no mesmo ano o italiano tornou pública sua
Desde o primeiro momento em que o homem passou invenção. No Brasil o telefone foi instalado no ano de 1883
a viver em sociedade surgiu à necessidade de se comuni- no Rio de Janeiro.
car uns com os outros, para expressarem seus sentimen- Após o surgimento do jornal e do telefone o homem
tos e até mesmo sua cultura, por muitas vezes também se conseguiu evoluir ainda mais com a invenção do rádio, a pri-
comunicavam no intuito de alertarem para algum perigo meira transmissão é datada de 1900, a partir deste momento
próximo. marca se o inicio de uma forma de transmitir informações numa
Acredita-se que a escrita originou a partir dos dese- velocidade maior, pois as ondas do rádio tinham um alcance
nhos de ideogramas, em que o desenho de uma laranja às pessoas muito superior ao do jornal, essa evolução marca
a representaria, ou o desenhos de duas pernas, poderiam o momento em que as informações passam a cruzar grandes
representar tanto o ato de andar como o de ficar de pé, distâncias geográficas, culturais e até mesmo cronológicas.
com o processo de evolução os símbolos acabaram por se Outro passo importante na evolução dos meios de
tornarem abstratos e evoluiram de forma a não terem ne- informação ocorreu em 1924, com o surgimento da te-
nhuma relação com os caracteres originais. levisão, o que tornou possível unir as técnicas do jornal,
A escrita é um processo simbólico que possibilitou ao como imagens e figuras com a técnica do rádio, a fala, essa
homem expandir suas mensagens para muito além do seu nova invenção possibilitou ver imagens em movimento
próprio tempo e espaço, criando mensagens que se man- juntamente com o áudio, tornando ainda mais atrativo as
teriam inalteradas por séculos e que poderiam ser proferi- informações e notícias antes transmitidas por jornais e rá-
das a quilômetros de distância. O surgimento da escrita é dio, conquistando não só o público adulto, mas também
de grande importância para a história, pois a partir desse as crianças, que agora associavam o som a imagem. A esse
momento que se encontram os primeiros registros de co- respeito o autor Sacristan afirma:
municação, no qual datam acontecimentos considerados Desta maneira, os meios de comunicação de massa, e
importantes para a época vivida, e que seriam passados em especial a televisão, que penetra nos mais recônditos
não só de um individuo para outro, mas de geração em cantos da geografia, oferecem de modo atrativo e ao al-
geração. cance da maioria dos cidadãos uma abundante bagagem
de informações nos mais variados âmbitos da realidade.
3.1.1 AS TECNOLOGIAS DE INFORMÇÃO E COMU- Os fragmentos aparentemente sem conexão e assépticos
NICAÇÃO (TICs) de informação variada, que a criança recebe por meio dos
Com o passar do tempo o homem evoluiu, e procurou poderosos e atrativos meios de comunicação, vão criando,
desenvolver técnicas que facilitasse sua vida em sociedade, de modo sutil e imperceptível para ela, incipientes, mas ar-
e um dos pontos principais para a melhoria da vida em raigadas concepções ideológicas, que utiliza para explicar
grupo é a comunicação, pois é através desta que nos torna- e interpretar a realidade cotidiana e para tomar decisões
mos sujeitos ativos e capazes, nesse processo de evolução quanto a seu modo de intervir e reagir. (1996, p. 25)
muito se inventou e desenvolveu o que nos levou a chegar Após passarmos por toda essa evolução, chegamos
à era da comunicação tecnológica, mas todo esse processo então ao que chamamos de Era da Tecnologia e da Infor-
passou por várias fases e invenções que acabaram se tor- mação, pois é no ano de 1943 que inicia se a era do com-
nando de grande importância para toda sociedade. putador, a princípio era uma máquina gigantesca em que o
Ao longo do século XX, mais precisamente entre os seu principal papel era o de realizar cálculos.
anos de 1940 e 1970, é que se dá o inicio de uma era de Ainda na década de 1940 temos outra importante evo-
desenvolvimento da última geração de avanços tecnoló- lução tecnológica foi à invenção do telefone celular que
gicos. Em que através da técnica de imprimir ilustrações, ocorreu em 1947, embora no Brasil só tenha sido difundida
como desenhos e símbolos se tornam possível transmitir no ano de 1990, a princípio no Rio de janeiro, seguido de-
informações a um determinado grupo de indivíduos, que pois pela cidade de Salvador. Sua principal função desde a
por sua enorme expansão se torna cada vez mais acessível invenção foi tornar fácil à comunicação entre pessoas que
a um maior número de pessoas. Esse novo método de co- se encontravam em lugares diferentes e distantes, tornan-
municação, a escrita em papel, passa a alterar o modo de do assim possível a comunicação com familiares à longa
vida das pessoas, pois tem maior influência sobre o modo distancia e também solucionar alguns problemas sem que
de viver e de pensar de uma sociedade. houvesse a necessidade de ir até o local naquele momento.

67
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Em se tratando de desenvolvimento, ainda em 1971 É importante frisar uma interessante observação feita
o computador passa por uma importante transformação, por Lévy (1999), “a maior parte dos programas computa-
na qual surge o primeiro micro computador, desde então, o cionais desempenham um papel de tecnologia intelectual,
homem não teve mais limites em sua evolução, e a cada dia ou seja, eles reorganizam, de uma forma ou de outra, a
busca inovar, atualmente além de computadores portáteis há visão de mundo de seus usuários e modificam seus reflexos
também computadores de mão, ambos não tem mais somen- mentais”.
te a função de calcular, e sim inúmeras e variadas funções. Desde que nos deparamos com a internet uma série
Junto à evolução dos computadores temos a internet, de funções inauguradas por este advento veio facilitar a
que nem sempre foi como conhecemos hoje, ela foi de- vida das pessoas, não só a comunicação se tornou mais
senvolvida no ano de 1969, com o objetivo de auxiliar os ágil e fácil, como se tornou um meio facilitador das ati-
militares durante o período da Guerra Fria na comunicação vidades realizadas no nosso dia a dia, pois por intermé-
entre as bases militares dos Estados Unidos da América, dio desta tecnologia e possível fazer praticamente tudo
com o fim da guerra o sistema de comunicação tornou se sem que tenhamos a necessidade de sair de casa, como
desnecessário aos militares que decidiram tornar acessível por exemplo, a efetuação de compras, tanto de alimentos,
ao público à invenção. como medicamentos, roupas, calçados, etc. Também po-
Foi a partir do ano de 1971 professores universitários e demos realizar transações bancárias sem ter que ir até o
acadêmicos dos Estados Unidos passaram a fazer uso des- banco, o que é um ato muito importante visto que perante
sa tecnologia para trocar mensagens e pensamentos. E por os perigos de assalto conseguimos realizar funções dentro
fim em 1990 dá se a disseminação e popularização da rede de casa sem que coloquemos nossa própria vida em risco,
de internet, que gradativamente vem evoluindo até os dias e mais interessante ainda é podermos realizar cursos à dis-
atuais, se tornando cada vez mais indispensável para nossa tância, atualmente podemos nos qualificar para o mercado
vida, pois estar conectado à rede mundial de computado- de trabalho, sem que aja a necessidade de termos que nos
res é uma fonte de conhecimento, interatividade e princi- deslocar até um determinado local. Tudo isso que citamos
palmente de informação e comunicação. até agora são apenas algumas das facilidades que a inter-
As tecnologias da informação ou como conhecemos net proporcionou a vida humana, se formos pensarmos na
atualmente as novas tecnologias da informação e comuni- realidade e impossível numerar todos os dispositivos que
cação são o resultado da fusão de três vertentes técnicas: a temos ao nosso alcance graças a este advento tecnológico.
informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas. Elas Atualmente a tecnologia está tão evoluída que o te-
criaram no meio educacional um encantamento em relação lefone celular que antes era usado somente para a comu-
aos conceitos de espaço e distância, como as redes eletrôni- nicação oral, já é usado para enviar mensagens eletrônicas,
cas e o telefone celular, que nos proporcionam ter em nossas tirar fotos, filmar, gravar lembretes, jogar, ouvir músicas e até
mãos o que antes estava a quilômetros de distância. mesmo como despertador, mas não para por aí, nos últimos
O computador interligado a internet extrapolou todos anos, tem ganhado recursos surpreendentes até então não
os limites da evolução tecnológica ocorrida até então, pois disponíveis para aparelhos portáteis, como GPS, videoconfe-
rompeu com as características tradicionais dos meios de rências e instalação de programas variados, que vão desde
comunicação em massa inventados até o presente mo- ler e-book (livro eletrônico) a usar remotamente um compu-
mento, enquanto o rádio, o cinema, a imprensa e a tele- tador qualquer, quando devidamente configurado.
visão são elementos considerados unidirecionais, ou seja, As ferramentas digitais apresentam uma extensa lista
são meios de comunicação em que a mensagem faz um de oportunidades, a sociedade em geral vislumbra um pe-
único percurso, do emissor ao receptor, os sistemas de ríodo onde todos tem acesso por meio da internet à cursos
comunicação que estão interligados à internet propiciam não presenciais, materiais pedagógicos virtuais, acesso a
aos usuários que ambos, emissor e receptor interfiram na boblioteca online, banco de dados compartilhados, intera-
mensagem. ção por teleconferência, blos e grupos de discussão, fato-
Além disso, a rapidez com que a internet foi dissemi- res esse que tornam possível a universalização do ensino
nada pelo mundo é enorme diante das outras tecnologias, superior, que impressíndivelmente um fator de grande im-
pois, o rádio levou 38 (trinta e oito) anos para atingir um portância para o desenvolvimento de qualquer nação.
público de 50 (cinquenta) milhões nos Estados Unidos, o As tecnologias de informação e comunicação tem de-
computador levou 16 (dezesseis) anos, a televisão levou 13 sempenhado um papel importante na comunicação coleti-
(treze) anos e a internet levou apenas 04 (quatro) anos para va, pois através dessa ferramenta a comunicação flui sem
alcançar 50 (cinquenta) milhões de internautas. Essas novas que aja barreira. Segundo Levy (1999), novas maneiras de
tecnologias transformaram a vida e o cotidiano das pes- pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo da
soas, tanto em seu meio de comunicação, como em todos informática.
os campos da sociedade. Como podemos observar o avanço tecnológico se co-
A partir de 1980 o computador passou a funcionar locou presente em todos os campos da vida social, invadin-
como extensão das atividades cognitivas humanas que ati- do a vida do homem no interior de sua casa, na rua onde
vam o pensar, o criar e o memorizar. Segundo Pretto e Cos- mora, e como na educação não poderia ser diferente, inva-
ta Pinto (2006), essas a máquinas não estão mais apenas a diu também as salas de aulas com os alunos, possibilitando
serviço do homem, mas interagindo com ele, formando um que condicionassem o pensar, o agir, o sentir e até mesmo
conjunto pleno de significado. o raciocínio com relação as pessoas.

68
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Em se tratando de comunicação e informação, há uma dizer que a palavra escrita nunca foi tão utilizada. O fato
variedade de informações que o tratamento digital pro- de a internet estar levando as pessoas a lerem e a usarem
porciona, como, imagem, som, movimento, representa- mais a escrita tem desenvolvido nos internautas uma habi-
ções manipuláveis de dados e sistemas (simulações), que lidade no manuseio e na criação de formas específicas de
por sua vez oferecem um quadro de conteúdos que podem lidar com a língua. Comparado com as gerações passadas,
ser objeto de estudos. Todo esse aparato de informação o advento da internet tem possibilitado aos adolescen-
contido na rede estão a serviço da cultura segundo Kalinke: tes o contato com os mais variados gêneros discursivos e
Os avanços tecnológicos estão sendo utilizados pra- manifestações de linguagem, visto que são mais de cinco
ticamente por todos os ramos do conhecimento. As des- milhões de usuários brasileiros navegando, em alta veloci-
cobertas são extremamente rápidas e estão a nossa dis- dade, durante vinte quatro horas por dia. A esse respeito
posição com uma velocidade nunca antes imaginada. A Lévy (1993) ressalta:
internet, os canais de televisão à cabo e aberta, os recursos As ‘chamadas tecnologias da inteligência’, construções
de multimídia estão presentes e disponíveis na sociedade. internalizadas nos espaços da memória das pessoas e que
Em contrapartida, a realidade mundial faz com que nossos foram criadas pelos homens para avançar no conhecimen-
alunos estejam cada vez mais informados, atualizados, e to e aprender mais, vem ressaltando a linguagem oral, a
participantes deste mundo globalizado. (1999, p. 15) escrita e a linguagem digital (dos computadores são exem-
Com toda agilidade que a internet proporciona a co- plos paradigmáticos desse tipo de tecnologia. ( CAMPOS,
municação, esse se tornou o meio mais utilizado e eficaz 2006, p.35)
na transmissão de mensagens. Atraindo pincipalmente os Além disso, a internet oferece livros na rede, downloads
jovens que tem uma enorme necessidade de interagir en- de músicas, permite baixar obras clássicas de literatura e a
tre si, e tudo para eles tem que ser e acontecer de forma troca ‘de experiências entre as pessoas, independente da
rápida, em casa ou em outro local, crianças, jovens e adul- distância em que se encontram. Essa interação proporciona
tos tem utilizado a internet diariamente para se comunicar o aprendizado e o desenvolvimento cultural, social e cogni-
com amigos e familiares, além de realizarem muitas outras tivo. É a comunicação entre os homens que lhes permitem
ações. tornar cidadãos, pois através das várias formas de lingua-
Esse crescente acesso de pessoas à rede mundial de gem o homem consegue se organizar na sociedade.
computadores e o surgimento de vários gêneros digitais Pierre Lévy (1999), em sua obra Cibercultura, afirma
tem possibilitado a criação de uma maneira diferente de que a rede de computadores é um universo que permite as
lidar até mesmo com a escrita e suas normas gráficas. Visto pessoas conectadas construir e partilhar inteligência cole-
que as novas gerações tem pleno acesso á internet não só tiva sem submeter-se a qualquer tipo de restrição político-
em casa ou na escola, mas também devido às Lans houses -ideológico, ou seja, a internet é um agente humanizador
(rede locais onde há vários computadores conectados) que porque democratiza a informação e humanitário porque
permitem a interação de dezenas de pessoas pelo baixo permite a valorização das competências individuais e a de-
custo do serviço e uso dos equipamentos. Tal fato possibi- fesa dos interesses das minorias.
lita que todas as classes possam ter acesso a este meio de Navegar na internet como ferramenta de ensino pode
informação e comunicação. ser um processo de busca de informações que dependen-
A internet veio inaugurar uma forma de comunicação do da situação pode transformar-se em conhecimento, ge-
e de uso da linguagem através do surgimento dos gêne- rando um ambiente interativo de aprendizagem ou pode
ros digitais, nome dado às novas modalidades de gêneros ser um inútil coletor de dados sem a menor relevância que
discursivos surgidos com o advento da internet, os quais não proporciona nenhuma contribuição ao aluno.
possibilitam a comunicação entre duas ou mais pessoas Diante dessa realidade, surgem os desafios da escola,
mediadas pelo computador. As línguas estão em constante na tentativa de responder como ela poderá contribuir para
transformação e, principalmente pelo fato de o homem es- que crianças, jovens e adultos tornem se usuários criati-
tar exposto a inúmeros meios eletrônicos, é que seu modo vos e críticos dessas ferramentas, evitando que se tornem
de viver vem sofrendo diversas transformações, entre elas meros consumidores compulsivos ou até mesmos deposi-
citamos o uso do internetês, que é uma nova modalidade tórios de dados, que não fazem sentido algum. Para tanto
de expressão e linguagem que faz uso de abreviaturas, es- seria preciso estudar, aprender e depois ensinar a história,
trangeirismos, neologismos, siglas, desenhos, ícones, gírias, a criação, a utilização e a avaliação dos equipamentos tec-
símbolos, tudo com o objetivo de transmitir as emoções de nológicos, analisando de forma minuciosa como estas es-
quem fala. Deparamos-nos com uma nova forma de comu- tão presentes na sociedade e qual o impacto e implicações
nicação: a rede ou internet, que associou o desenvolvimen- causados pelas mesmas na sociedade.
to e o conhecimento tecnológico ás diferentes linguagens. Como podemos observar a inserção das TICs na escola
O frequente contato com as diversas formas de textos implica em muitos desafios, primeiro porque temos aque-
em múltiplas semioses tem possibilitado que os próprios les que acreditam que basta utilizarem as tecnologias que
usuários inovem no uso da linguagem, testando novas já temos para efetuar um bom papel na educação, segun-
formas de transcrever e apresentar a língua oral no meio do desafio e muito mais árduo é o fato de que temos que
virtual, dissolvendo as fronteiras que há entre a linguagem aprender a lidar com as novas tecnologias e esse processo
escrita e a oral. Embora para muitas pessoas a linguagem não se detém de nenhuma receita, até mesmo porque in-
esteja sofrendo “deformações” nestes campos, podemos terfere diretamente na política de gestão escolar e em seus

69
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

currículos, o que desafia a escola a pensar e discutir o uso e que possivelmente ocorrerá no decorrer dos próximos
das TICs de forma coletiva, visto que seu principal objetivo anos. Uma mudança acompanhada de ações inovadoras
é o de melhorar, promover e dinamizar a qualidade de en- rompe as barreiras impostas pelo conhecimento já estabe-
sino para que ocorra sempre de forma democrática. lecido e fragmentado, a esse respeito Leite ressalta:
Ao contrário do que grande parte da sociedade pensa, Em muitas inovações que vemos hoje implantadas pe-
os recursos tecnológicos não foram implantados nas esco- los gestores do sistema de educação, as lógicas privilegia-
las para facilitar o trabalho dos educadores, mas para que das envolvem o curto prazo e a massificação, a classificação,
o educando aprendesse a partir da realidade do mundo e a comparação e até mesmo a competição, o individualismo
principalmente para que esse indivíduo consiga então agir e o disciplinamento. Essas lógicas são reguladoras e se sus-
sobre essa realidade, transformando-a e assim transfor- tentam em um sistema regulador. Como dizem Forrestier e
mando a si próprio. Todo e qualquer conhecimento implica Lipovetzki, são lógicas do momento do capitalismo desor-
uma série de ações, e todo indivíduo deve agir sobre o ob- denado, de final de século, que contribuem para construir
jeto do conhecimento para que se torne possível recons- as subjetividades consumistas e midiáticas da “cultura do
truí-lo e até mesmo ressignificá-lo. efêmero” e do “horror econômico”. A educação acrescenta,
É importante frisarmos que desde a década de 1950, então, sua parcela de regulação social aos sistemas. Parcela
teóricos já chamavam atenção para o fato de que os meios essa reproduzida dos paradigmas da regulação econômica,
de informação e comunicação constituíam uma escola onde que, em última análise, serve a exclusão social e, portanto,
seus indivíduos estariam encantados e atraídos em conhe- não serve a educação (2000, p.56).
cer conteúdos diferentes da escola convencional, inicia-se As verdadeiras inovações devem possuir características
nesse momento a análise do efeito da tecnologia sobre a importantes que levem os gestores dos sistemas educacio-
sociedade e a educação, pensando nesses impactos Fried- nais a pensarem e planejarem estratégias que dure um lon-
mann e Pocher (1977) aponta que as tecnologias são mais go prazo, a fuga da rotina e da massificação de respostas
do que meras ferramentas a serviço do ser humano, elas prontas, fazer com que alunos não sejam mais passivos de
modificam o próprio ser, interferindo seu modo de perce- seguir modelos, que se tornem indivíduos atuantes, parti-
ber o mundo, de se expressar sobre ele e de transformá-lo. cipativos e interativos, sobretudo críticos, somente assim
O que se prima é que o uso das TICs em sala de aula faça será capaz de formar cidadãos capazes de agir em uma
desse local um ambiente articulador de inovações e total- sociedade de forma a mudar e transformar aquilo que está
mente democrático, onde professor e aluno promovam imposto ao ser humano. E para que a escola se torne um
ações políticas participativas e inclusivas, transformando o lugar capaz de formar cidadãos com estas características
ensino-aprendizagem de forma a suprir a necessidades de atuantes, é preciso antes de tudo que o professor se tor-
todos os envolvidos a partir da interatividade. ne um educador intelectual, curioso, entusiasmado com as
A passagem de uma sociedade fechada para uma so- possibilidades do ensinar e do aprender, aberto a ouvir e
ciedade aberta impõe aos profissionais da educação desa- aceitar a opinião do outro e também capaz de motivar e
fios, uma tomada de atitude e de coragem, pois trata de dialogar. De acordo com Valente (1999, p. 41):
um tempo em que a sociedade exige dos cidadãos atitudes [...] A implantação de novas ideias depende, funda-
criticas, tomadas de decisões, reflexões sobre o seu próprio mentalmente, das ações do professor e dos alunos. Porém
fazer. As mudanças acontecem a todo o momento e não essas ações, para serem efetivas, devem ser acompanhadas
nenhum tipo de preocupação se os profissionais da educa- de uma maior autonomia para tomar decisões, alterar o
ção querem ou não essas mudanças, ninguém vai questio- currículo, desenvolver propostas de trabalho em equipe e
nar qual é a vontade desses profissionais. A opção é mudar usar novas tecnologias de informação [...].
ou ficar parado no tempo vendo o “bonde” passar. Assim Mudar não é uma tarefa fácil, pois envolve decisão,
Freire (1979) enfatiza: ousadia e, sobretudo coragem, não ter medo de construir
[...] a transição se torna então um tempo de opções. novas metodologias de ensino e fazer uso assim das TICs.
Nutrindo-se de mudanças, a transição é mais que mudan- Trabalhar de forma que o fio condutor da educação seja a
ças. Implica realmente na marcha que faz a sociedade na aprendizagem do aluno, e que este possa ser o protagonis-
procura de novos temas, de novas tarefas ou, mais preci- ta de sua construção, em que o professor se torne seu guia
samente, de sua objetivação. As mudanças se reproduzem e mediador no processo do conhecimento, ensinar não im-
numa mesma unidade de tempo, sem afetá-la profunda- plica em repassar conhecimento, mas um ato que deve ser
mente. É que se verificam dentro do jogo normal, resultan- regido pela curiosidade e vontade de aprender.
te da própria busca de plenitude que fazem esses temas.
(p. 65) 4. II CAPÍTULO
Afinal é extremamente importante à interação do su- 4.1 A ESCOLA E AS TECNOLOGIAS DE INFORMA-
jeito com as pessoas e com o meio, desde o momento de ÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICS)
nosso nascimento passamos a interagir com o meio e com As reflexões em torno do assunto tecnologia e edu-
as pessoas, sendo esta uma relação de aprendizado. A par- cação tomou conta da sociedade há várias décadas, na
tir do conhecimento compartilhado e interativo temos a realidade desde que se notou sua influência na formação
promoção do novo, isto é, precisamos transformar concep- do sujeito contemporâneo, e da necessidade de explorar o
ções teóricas e metodológicas de modo que estas acompa- assunto diante do rápido desenvolvimento nos meios de
nhem toda a evolução tecnológica e cientifica que ocorre informação e comunicação. O mundo atual esta passan-

70
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

do por inúmeras e cada vez mais aceleradas transforma- sociedades com desigualdades sociais como a brasileira,
ções em torno de todos os campos da sociedade, desde o a escola deve passar a ter, também, a função de facilitar o
princípio da civilização o homem esta sempre em busca de acesso das comunidades carentes às novas tecnologias”.
adaptações, mudanças, novos conhecimentos, aliás, fato O uso da informática na educação implica em novas
este implícito em sua constante busca do saber e aprender. formas de comunicar, de pensar, ensinar/aprender, ajuda
A preocupação com o impacto que as mudanças tec- aqueles que estão com a aprendizagem muito aquém da
nológicas podem causar no processo de ensino-aprendi- esperada. A informática na escola não deve ser concebi-
zagem impõe a área da educação a tomada de posição da ou se resumir a disciplina do currículo, e sim deve ser
entre tentar compreender as transformações do mundo, vista e utilizada como um recurso para auxiliar o profes-
produzir o conhecimento pedagógico sobre ele auxiliar o sor na integração dos conteúdos curriculares, sua finali-
homem a ser sujeito da tecnologia, ou simplesmente dar as dade não se encerra nas técnicas de digitações e em con-
costas para a atual realidade da nossa sociedade baseada ceitos básico de funcionamento do computador, a tudo
na informação. (SAMPAIO e LEITE, 2000, op cit SANTOS, um leque de oportunidades que deve ser explorado por
2012, p. 9) aluno e professores. Valente (1999) ressalta duas possi-
Desde a década de 1940, quando se deu inicio as gran- bilidades para se fazer uso do computador, a primeira é
des transformações tecnológicas a sociedade atribuiu a de que o professor deve fazer uso deste para instruir os
escola e as instituições de ensino a responsabilidade de alunos e a segunda possibilidade é que o professor deve
formação da personalidade do individuo, tendo em vista criar condições para que os alunos descreva seus pensa-
a transmissão cultural do conhecimento acumulado his- mentos, reconstrua-os e materialize-os por meio de no-
toricamente. No que se referem à escola as tecnologias vas linguagens, nesse processo o educando é desafiado
sempre estiveram presentes na educação formal, o que faz a transformar as informações em conhecimentos práticos
necessário é o fato de que as instituições de ensino tem o para a vida. Pois como diz Valente:
papel de formar cidadãos críticos e criativos em relação ao [...] a implantação da informática como auxiliar do
uso dessas tecnologias. Para tanto é preciso que as mes- processo de construção do conhecimento implica mu-
mas abandonem a prática instrumental das tecnologias, e danças na escola que vão além da formação do pro-
faça avaliações sobre o trabalho com a inserção das novas fessor. É necessário que todos os segmentos da escola
tecnologias educativas, visto que: – alunos, professores, administradores e comunidades
Dessa forma, temos de avaliar o papel das novas tec- de pais – estejam preparados e suportem as mudanças
nologias aplicadas à educação e pensar que educar utili- educacionais necessárias para a formação de um novo
zando as TICs (e principalmente a internet) é um grande profissional. Nesse sentido, a informática é um dos ele-
desafio que, até o momento, ainda tem sido encarado de mentos que deverão fazer parte da mudança, porém essa
forma superficial, apenas com adaptações e mudanças não mudança é mais profunda do que simplesmente montar
muito significativas. laboratórios de computadores na escola e formar profes-
Sociedade da informação, era da informação, socie- sores para utilização dos mesmos. (1999, p. 4)
dade do conhecimento, era do conhecimento, era digital, Implantar laboratórios de informática nas escolas
sociedade da comunicação e muitos outros termos são não é suficiente para a educação no Brasil de um sal-
utilizados para designar a sociedade atual. Percebe-se que to na qualidade, é necessário que todos os membros do
todos esses termos estão querendo traduzir as caracterís- ambiente escolar inclusive os pais tenham seu papel re-
ticas mais representativas e de comunicação nas relações desenhado.
sociais, culturais e econômicas de nossa época (SANTOS, Atualmente o mundo dispõe de muitas inovações
2012, p. 2). tecnológicas para se utilizar em sala de aula, o que con-
A internet atinge cada vez mais o sistema educacional, diz com uma sociedade pautada na informação e no
a escola, enquanto instituição social é convocada a atender conhecimento, pois através desses meios temos a pos-
de modo satisfatório as exigências da modernidade, seu sibilidade virtual de ter acesso a todo tipo de informa-
papel é propiciar esses conhecimentos e habilidades ne- ção independente do lugar em que nos encontramos e
cessários ao educando para que ele exerça integralmente a do momento, esse desenvolvimento tecnológico trouxe
sua cidadania, construindo assim uma relação do homem enormes benefícios em termos de avanço científico, edu-
com a natureza, é o esforço humano em criar instrumentos cacional, comunicação, lazer, processamento de dados e
que superem as dificuldades das barreiras naturais. As re- conhecimento. Usar tecnologia implica no aumento da
des são utilizadas para romper as barreiras impostas pelas atividade humana em todas as esferas, principalmente na
paredes das escolas, tornando possível ao professor e ao produtiva, pois, “a tecnologia revela o modo de proceder
aluno conhecer e lidar com um mundo diferente a partir do homem para com a natureza, o processo imediato de
de culturas e realidades ainda desconhecidas, a partir de produção de sua vida social e as concepções mentais que
trocas de experiências e de trabalhos colaborativos. delas decorrem” (Marx, 1988, 425).
Em uma sociedade com desigualdade social como a Com toda essa disponibilidades é preciso formar ci-
que vivemos, a escola pública em alguns casos torna-se a dadãos capazes de selecionar o que há de essencial nos
única fonte de acesso às informações e aos recursos tecno- milhões de informações contidas na rede, de forma a en-
lógicos, das crianças de famílias da classe trabalhadora bai- riquecer o conhecimento e as habilidades humanas. Pois
xa. A esse respeito Pretto (1999, 104) vem afirmar que “em segundo Marchessou (1997):

71
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

[...] excesso nas mídias, onde as performances tecno- Podemos considerar que a educação ao longo da vida
lógicas e o consumo de informação submergem, “aneste- será o único meio de evitar a desqualificação profissional
siam” a capacidade de análise dessa informação e de re- e de atender às exigências do mercado de trabalho da
flexão tanto individual quanto social. Saturação e supera- sociedade tecnológica. Assim segundo BELLONI (1999)
bundância ameaçam o navegador da internet que, como op cit CAPELLO (2011), faz-se necessário uma flexibiliza-
certas pesquisas mostram, não tira partido das riquezas de ção forte de recursos, tempos, espaços e tecnologias, que
informação pertinente, não estando formado para ir dire- abrigam à inovação constante, por meio de questiona-
tamente ao essencial. (1997, p. 15) mentos e novas experiências.
Antes de introduzir as novas mídias interativas nas au- Nesse processo colaborativo de interatividade, o edu-
las expositivas é preciso entender suas funcionalidades e cador deve assumir um novo papel no processo educacio-
as consequências de seu uso nas relações sociais, pois so- nal, deixar de lado a postura de provedor de conhecimen-
mente a partir desse momento é possível utilizá-las de for- to e atuar como mediador, até mesmo porque diante dos
ma a transformar as aulas em eventos de discussão onde rápidos avanços em sua área, somente um profissional
ocorra de maneira efetiva à participação de todos os in- pleno e capaz de se ajustar aos avanços tecnológicos so-
divíduos, bem como professores, alunos e pesquisadores, breviverá nesse mercado. É fundamental que o professor
propiciando assim a comunicação que só é possível a partir se torne mediador e principalmente orientador na apren-
do momento que todas as partes se envolvem. dizagem mediada pelas novas tecnologias, pois é seu pa-
Para que os recursos tecnológicos façam parte da vida pel criar novas possibilidades para ensinar e aprender. Se-
escolar é preciso que alunos e professores o utilizem de gundo Moran (2000) o papel do professor é dividido em:
forma correta, e um componente fundamental é a forma- Orientador/mediador intelectual – informa, ajuda a
ção e atualização de professores, de forma que a tecno- escolher as informações mais importantes, trabalha para
logia seja de fato incorporada no currículo escolar, e não que elas sejam significativas para os alunos, permitindo
vista apenas como um acessório ou aparato marginal. É que eles a compreendam, avaliem – conceitual e etica-
preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da educa- mente -, reelaborem-nas e adaptem-nas aos seus contex-
ção de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta tos pessoais. Ajuda a ampliar o grau de o grau de com-
a construção de conteúdos inovadores, que usem todo o preensão de tudo, a integrá-lo em novas sínteses provi-
potencial dessas tecnologias. sórias.
A incorporação das TICs deve ajudar gestores, profes- Orientador/mediador emocional – motiva, incentiva,
sores, alunos, pais e funcionários a transformar a escola em incentiva, estimula, organiza os limites, com equilíbrio,
um lugar democrático e promotor de ações educativas que credibilidade, autenticidade e empatia.
ultrapassem os limites da sala de aula, instigando o edu- Orientador/mediador gerencial e comunicacional –or-
cando a enxergar o mundo muito além dos muros da esco- ganiza grupos, atividades de pesquisa, ritmos, interações.
la, respeitando sempre os pensamentos e ideais do outro. Organiza o processo de avaliação. É a ponte principal en-
O professor deve ser capaz de reconhecer os diferentes tre a instituição, os alunos e os demais grupos envolvidos
modos de pensar e as curiosidades do aluno sem que aja (comunidade). Organiza o equilíbrio entre o planejamen-
a imposição do seu ponto de vista, pois com lembra Freire: to e a criatividade. O professor atual como orientador co-
Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer municacional e tecnológico; ajuda a desenvolver todas as
se poderia falar em respeito do educador ao pensamento formas de expressão, interação, de sinergia, de troca de
diferente do educando se a educação fosse neutra – vale linguagens, conteúdos e tecnologias.
dizer, se não houvesse ideologias, política, classes sociais. Orientador ético – ensina a assumir e vivenciar valores
Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de inadequa- construtivos, individual e socialmente, cada um dos pro-
ções, de “obstáculos epistemológicos” no processo de co- fessores colabora com um pequeno espaço, uma pedra na
nhecimento, que envolve ensinar e aprender. A dimensão construção dinâmica do “mosaico” sensorial-intelectual-
ética se restringiria apenas à competência do educador ou -emocional-ético de cada aluno. Esse vai valorizando con-
da educadora, à sua formação, ao cumprimento de seus tinuamente seu quadro referencial de valores, ideias, ati-
deveres docentes, que se estenderia ao respeito à pessoa tudes, tendo por base alguns eixos fundamentais comuns
humana dos educandos. (2001, p. 38-39) como a liberdade, a cooperação, a integração pessoal. Um
As escolas são locais onde ocorre a emancipação do bom educador faz a diferença. [grifos do autor] (p. 30-31)
estudante, desde cedo já se molda cidadãos conscientes de A educação não pode mais viver sob o modelo antigo,
suas responsabilidades socioambientais, formar-se indiví- sob o risco de virar virtual e invisível para a sociedade, às
duos empreendedores do conhecimento e lapidam-se vo- novas tecnologias devem ser exploradas para servir como
cações. Portanto a necessidade de que os ambientes edu- meios de construção do conhecimento, e não somente
cativos se tornem lugares onde crianças e jovens tenham para a sua difusão. Nos últimos anos a presença dos alu-
habilidades de interferir no conhecimento estabelecido, nos em sala de aula diminuiu consideravelmente, sem fa-
desenvolver novas soluções e aplicá-las de forma respon- lar nas universidades onde alunos viraram atores virtuais,
sável para o bem estar da sociedade. Como Piaget (2002) invisíveis para a estrutura acadêmica, eles tem buscado na
enunciou: “A principal meta da educação é criar homens internet as fontes de conteúdos programáticos das disci-
que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmen- plinas, ignoram a oportunidade de debates e reflexões em
te repetir o que outras gerações já fizeram”. sala de aula.

72
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Diferente de anos atrás, hoje os alunos tem acesso naquele momento eles não faziam sentido a nós, pareciam
muito mais rápido e fácil às informações, esse fator tornou apenas regras a serem decoradas para resolução de exercí-
as aulas expositivas desinteressantes e assim sua presença cios e de avaliações.
se tornou limitada, aos eventos protocolares como: exames Com grande frequência temos ouvido professores re-
e atividades extraclasses. O horizonte de uma criança, de clamarem que seus alunos não sabem escrever, e da parte
um jovem, hoje em dia, ultrapassa claramente o limite físico dos alunos ouvimos, que a escola os leva a escrever sobre
da sua escola, da sua cidade ou de seu país, quer se trate coisas que não tem significado algum para a sua realidade.
do horizonte cultural, social, pessoal ou profissional. Dian- Notemos que atualmente não se trata mais apenas de
te disso é importante lembrarmos que os professores não fazer redações escolares com começo, meio e fim. Com a
nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim. era digital, as crianças estão se tornando especialistas em
Segundo Xavier (2005), as novas gerações tem adqui- lidar com o hipertexto, o sistema informação que inclui tex-
rido o letramento digital antes mesmo de ter se apropria- tos, fotos, áudio e vídeo, com infinitas possibilidades de
do completamente do letramento alfabético ensinado na navegação. No que se refere o hipertexto é preciso que o
escola. Esta intensa utilização do computador para a in- internauta desenvolva habilidades de avaliar criticamente
teração entre pessoas a distancia, tem possibilitado que as informações encontradas e saiba identificar quais são as
crianças e jovens se aperfeiçoem em práticas de leitura e fontes mais confiáveis entre as inúmeras apresentadas. Por
escrita diferentes das formas tradicionais de letramentos e essa razão é importante que o professor tenha conheci-
alfabetizações. Essas inúmeras modificações nas formas e mento sobre o hipertexto e a linguagem utilizada na inter-
possibilidades de utilização da linguagem em geral são re- net, para poder assim melhor orientar seus alunos.
flexos incontestáveis das mudanças tecnológicas que vem Ferreiro (2000) afirma que o laboratório de computa-
ocorrendo no mundo desde que os equipamentos infor- ção na escola possibilita aos jovens o ato de escrever e pu-
máticos e as novas tecnologias de comunicação começa- blicar. Muitas vezes a escrita na escola pode se tornar algo
ram a fazer parte intensamente do cotidiano das pessoas. maçante, visto que na maioria das vezes o único a ler e ter
A aprendizagem intermediada pelo o computador contato com os textos escritos pelos alunos é o professor. O
gera profundas mudanças no processo de produção do fato de se escrever apenas por encomenda na escola, onde
conhecimento, se antes as únicas vias eram de sala de aula, o professor solicita aos alunos a produção de uma redação,
o professor e os livros didáticos, hoje é permitido ao aluno este a faz e aquele corrige isto é algo que se torna para o
navegar por diferentes espaços de informação, que tam- aluno muito sofrido, afinal escrever para quê? Ou melhor,
bém nos possibilita enviar, receber e armazenar informa- para quem? Notemos que falta ao aluno motivação para
ções virtualmente. fazer um bom texto, fazer só porque o professor solicitou
O trabalho educacional a partir da informática tem pa- torna a atividade desagradável e descontextualizada.
pel fundamental na prática pedagógica das escolas, pois A integração da tecnologia de informação e comu-
possibilita a transição de um sistema de ensino fragmenta- nicação na escola favorece em muito a aprendizagem do
do para uma abordagem de conteúdos integrados. Sendo aluno e a aproximação de professores e alunos, pois atra-
possível também o processo de criação, busca, interesse vés deste meio tecnológico ambos tem a possibilidade de
e motivação, através de atividades que exigem planeja- construírem conhecimento através da escrita, reescrita, tro-
mento, tentativas, hipóteses, classificações e motivações, ca de ideias e experiências, o computador se tornou um
impulsionando a aprendizagem por meio da exploração grande aliado na busca do conhecimento, pois se trata de
que estimula a experiência. Segundo Oliveira (2000), os tra- uma ferramenta que auxilia na resolução de problemas e
balhos pedagógicos podem ser coerentes com a visão de até mesmo no desenvolvimento de projetos. As TICs têm
conhecimento que integre o sujeito e objetivo, assim como como característica o fazer e o refazer, transformando o
aprendizagem e ensino. Nessa perspectiva, as tecnologias erro em algo que pode ser refeito e reformulado instan-
tornam-se ferramentas poderosas, capazes de ampliar as taneamente para produzir novos saberes, cada individuo
chances de aprendizagem do aluno. que explora as tecnologias de informação e comunicação
O computador e os demais aparatos tecnológicos são se torna um emissor e receptor de informações, mais es-
vistos como bens necessários dentro dos lares e saber pecificamente leitor, escritor e comunicador, esse emara-
operá-los constitui-se em condição de empregabilidade e nhado de possibilidade ocorre graças ao poder persuasivo
domínio da cultura, é impossível fechar-se a esses aconte- das informações contidas nas TICs que envolve o sujeito
cimentos. incitando-o à leitura e à expressão através da escrita textual
Quem de nós não se lembra dos ditados de palavras e hipertextual.
e das regras gramaticais decoradas sem que soubéssemos A internet proporciona ao professor compreender a
qual seria a situação em que um dia poderíamos usa-las? importância de ser parceiro de seus alunos, navegar jun-
Sem esquecermos também, das variadas datas comemo- to com os alunos apontando possibilidades de percorrer
rativas, fórmulas de matemáticas, química e física, ossos e novos caminhos sem a preocupação de ter experimentado
órgãos do corpo humano e acidentes geográficos, todas as passar por eles algum dia, provocando assim a descoberta
atividades decorativas que fazíamos sem entender qual se- de novos significados, permitindo aos alunos resolverem
ria o significado aquilo poderia ter para nossa vida, muitas problemas ou desenvolverem projetos que tenham sentido
vezes ouvíamos de nossos professores que um dia precisa- para a sua aprendizagem, é nesse processo que a educação
ríamos daquele conhecimento. Mas como incorporá-los se resultaria em um exercício ético-democrático:

73
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer reflexões, aprimorar e transformar ideias e experiências,
se poderia falar em respeito do educador ao pensamento não é preciso que professores se tornem donos da ver-
diferente do educando se a educação fosse neutra – vale dade e do conhecimento, mas sim parceiros de seus
dizer, se não houvesse ideologias, política, classe sociais. alunos, andando juntos em busca de um mesmo pro-
Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de inadequa- pósito o conhecimento e a aprendizagem. Essa atuação
ções, de “obstáculos epistemológicos” no processo de co- leva os profissionais da educação a se desprender do
nhecimento, que envolve ensinar e aprender. A dimensão livro didático, que deixa de ser o guia da prática do
ética se restringiria apenas à competência do educador ou professor e passa a ser mais uma, entre outras, fontes
da educadora, á sua formação, ao cumprimento de seus de informação e de desenvolvimento do trabalho.
deveres docentes, que se estenderia ao respeito à pessoa No momento atual em que a sociedade vive é im-
humana dos educandos. (FREIRE, 2001ª, p. 38-39) prescindível que a educação caminhe no sentido do
O processo de incorporação das tecnologias nas ações conhecimento compartilhado, com liberdade para se
docentes guia professores e alunos para uma educação liber- expressar e se comunicar.
tadora e humanista, na qual homens e mulheres imergem na O professor que caminha de forma a tentar conhe-
construção do conhecimento, se tornando sujeitos da condu- cer o aluno e entendê-lo em sua realidade, é um profis-
ção de sua própria aprendizagem, ou seja, um sujeito partici- sional que podemos considerar ativo, crítico empenha-
pativo e responsável pela sua própria construção, deixando de do no seu papel de ensinar, pois a partir do momento
lado o sujeito passivo para se tornar autônomos e cidadãos que se sente desafiado pelo aluno, este vive uma busca
democráticos do saber, a esse respeito Freire enfatiza que: constante do aprendizado ao ensino.
A educação é uma resposta da finitude da infinitude. A Atualmente o professor não é um mero propagador
educação é possível para o homem, portanto esse é inaca- de conhecimento, mas sim ambos (aluno e professor)
bado. Isso leva a sua perfeição. A educação, portanto, im- são parceiros do ensino-aprendizagem, o professor
plica uma busca realizada por um sujeito que é o homem. tem o papel de planejar a aula de acordo com a ne-
O homem deve ser sujeito de sua própria educação. não cessidade de seus alunos e estes também tem seu pa-
pode ser objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém. pel que é contribuir com aquilo que deseja aprender,
(FREIRE, 1979, p. 27-28) como por exemplo, o tema a ser abordado, no qual se
Uma educação comprometida é aquela que propicia leva em conta dúvidas, curiosidades, indagações, co-
aos seus indivíduos o desenvolvimento e autoformação, nhecimentos prévios, valores, descobertas, interesses.
disponibiliza e oportuniza aos seus indivíduos o papel de O professor é desafiado a conhecer seu aluno, não é
construção de sua própria história, de sua autonomia de mais apenas aprendiz de conteúdo, mas de individuo,
negociar e tomar decisões em defesa de seus direitos e de para que possa respeitar os diferentes estilos e ritmos
sua coletividade, pois é a partir da autonomia que o indivi- de aprendizagem, temos uma situação que não é mais
duo conquista e exerce sua plena cidadania. É importante o professor o único a planejar as aulas para os alunos
frisarmos aqui que a autonomia não é algo que se transmi- executar, e sim ambos trabalham em busca de apren-
te ao aluno, mas que se constrói e conquista conforme sua dizagem, cada atuando segundo o seu papel e nível de
vivencia, cada homem constrói sua autonomia de acordo desenvolvimento.
com as varias decisões tomadas ao decorrer de seu dia e Notemos que é a partir do respeito e da confian-
de sua vida. Freire defende que: “o respeito à autonomia ça que aluno e professor caminharão para uma escola
e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não nova e avançada, onde há preocupação com aquilo que
um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” se é proposto para o aluno ler, pois é através de uma
(1996, p. 66). A autonomia ajuda o homem a se tornar um leitura prazerosa que acontece o despertar para outras
cidadão crítico, libertar-se do comodismo, da passividade, leituras e para uma escrita criativa. Assuntos interessan-
da omissão e da indecisão. tes levam a questionamentos, a participações efetivas,
As TICs também tem papel fundamental no desenvol- espírito cooperativo e solidário em ambiente escolar.
vimento de projetos, pois permite o registro desse proces- A mudança na escola começa a partir de uma mu-
so construtivo, funciona como um recurso que irá diagnos- dança pessoal e profissional, capaz de levantar uma
ticar o nível de desenvolvimento dos alunos, suas dificulda- escola que incentive a imaginação, a leitura prazerosa,
des e capacidades, favorecendo também a identificação e a a escrita criativa, favoreça a iniciativa, a espontaneida-
correção dos erros e a constante reelaboração, sem perder de, o questionamento, que se torne um ambiente onde
aquilo que já foi criado. promova e vivencie a cooperação, o dialogo, a partilha
Uma inovação é como ver algo novo nas coisas às ve- e a solidariedade.
zes conhecidas, deve-se pensar em ações que promovam Enfim para que todo esse leque de oportunidades
novos papéis para a escola, ações em que a utilização das aconteça, seja vivenciado é preciso que professor e alu-
TICs no contexto educacional estabeleça uma rede dialó- no andem juntos, trabalhem num mesmo ritmo de coo-
gica de interação com o intuito de promover a ruptura do peratividade, principalmente falem a mesma língua que
distanciamento entre sujeito-sociedade. é a da era da informação, pois somente trabalhando os
O computador ligado à internet propicia ao professor interesses da juventude será possível um aprendizado
atuar de forma diferente em sala de aula, é possível instigar de forma gratificante e com resultados positivos para
os alunos a desenvolver pesquisas, investigações, críticas, ambos os envolvidos no ensino-aprendizagem.

74
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

4.2 O USO DA INTERNET: UMA METODOLOGIA DI- adaptação a ritmos diferentes, desenvolvimento de novas
NÂMICA DE ENSINO formas de comunicação, aumento do interesse pelo estudo
Segundo o autor José Manuel Mouran (1997), a inter- de línguas, ampliação das conexões linguísticas, geográfi-
net é entre tantos mais um rico recurso para uma meto- cas e interpessoais. Podemos observar que o simples ato
dologia dinâmica de ensino, quando bem explorada nos de introduzir a internet a sua prática cotidiana, permitiu ao
proporciona uma vasta quantidade de ferramentas que po- educando lidar com novos desafios e estimular a prática de
dem enriquecer o processo de ensino aprendizagem, entre trabalho cooperativo.
tantos artifícios, selecionamos os seguintes recursos: o alto Um processo de ensino também muito interessante se
poder de divulgação, pesquisa, comunicação, exploração, quando realizado de forma satisfatória e compromissado é
informação, educativos. o ato de ensinar, aprender e desenvolver a prática pedagó-
O ato de divulgar pode ser ou não institucional, obje- gica por meio da integração das TICs e em especial quando
tivos de trabalho que a escola possui, ou divulgação espe- realizada a integração de conteúdos escolares por meio de
cífica da biblioteca, dos educadores e educandos ou até projetos interdisciplinares, torna o aluno muito mais ativo,
mesmo por grupos que podem divulgar seus trabalhos, aprendendo a fazer, testar e levantar ideias e hipóteses, o
ideias e projetos. Cabe aqui ressaltar que os alunos tem que o torna investigativo e selecionador daquilo que lhe
muito mais prazer em escrever quando sabe que outras é proposto como estudo. Cabe ao professor gerar situa-
pessoas terão acesso ao seu texto, assim é preciso em con- ções instigantes que levem os alunos interagir, trabalhar
versar selecionar assuntos que são de interesse dos edu- em grupo, e consequentemente produzir novos saberes.
candos para que esses possam produzir texto de opinião O ato de associar a utilização das tecnologias à Meto-
que por fim serão publicados na rede social. dologia de Projetos no ambiente escolar favorece o apren-
As pesquisas podem ser realizadas durante as aulas ou dizado, pois a aprendizagem é facilitada quando o aluno
na biblioteca, salas de laboratórios, como sendo atividade participa responsavelmente do seu processo, quando o
livre ou opcional, individual ou em grupo. Vale lembrar que aluno envolve sua inteligência e seus sentimentos, o apren-
o professor nesse momento deve estar atento para orientar der se torna impregnante e durável.
os alunos nas escolhas das informações, ambos trabalhan- A aprendizagem por meio de projetos propõe uma for-
do em conjunto para a escolha de conteúdos significativos, mação de indivíduos com uma visão global da realidade,
que ampliem o grau de compreensão e conhecimento do o que o prepara para a aprendizagem ao longo da vida,
educando, e que estes se tornem capazes de avaliar e ree- visto que, quanto maior o envolvimento do aprendiz com
laborar suas próprias escolhas. o seu processo de aprendizagem, com os objetivos de seu
A comunicação, bem como o correio eletrônico, Web, conhecimento, maiores serão as possibilidades de uma
lista de grupos de discussão são outras formas metodo- aprendizagem significativa, é preciso que o aluno entre
lógicas que podem ser utilizadas pelos educadores. Estas em contato com o meio, isto é, com seu objeto de estudo
novas práticas beneficiam a facilidade para trocas de in- para que faça sentido para sua realidade vivida, não basta
formação por grupos a fins, o professor deve ser capaz de apenas realizar pesquisas bibliográficas, é preciso envolvi-
ajudar seus alunos a criarem seu próprio endereço eletrô- mento. Os projetos constituem uma forma de incentivar
nico e fazer uso deste para armazenar informações e tro- e desenvolver os recursos da inteligência e da sensibilida-
ca-las com outros grupos, o que torna possível também as de, envolvendo o aluno e criando condições para a busca
trocas de experiências, culturas, informações e ideias, este de novos conhecimentos, soluções para problemas e fatos
é um meio bastante eficaz na integração do individuo a que tem algum significado para ele, o que faz desta meto-
sociedade, pois proporciona que este interage em grupo, dologia uma aliada importante no esforço de incorporar as
tornando-o um individuo cooperativo, criativo, critico e TICs. Assim Valente lembra:
responsável, pois ele de forma consciente faz suas próprias No trabalho com projetos há de se ir além da supera-
escolhas e toma suas decisões. ção de desafios, buscando desvelar e formalizar os concei-
A internet é uma excelente fonte Informativa  como tos implícitos no desenvolvimento do trabalho para que se
instrumento para a vida escolar e acadêmica é a maior po- estabeleça o ciclo da produção do conhecimento científico
tencialidade das tecnologias. Porém não se pode limitar que vai tecendo o currículo na ação. (VALENTE, s/d, p.30)
apenas como receptor de informações, mas sim, como um Podemos nesse momento fazer uma breve exposição
distribuidor através da lista de discussão, WWW. sobre os elementos que compõe as tecnologias e que po-
Mouran (1997) contribui em muito com nosso trabalho dem ajudar no ensino aprendizagem quando bem explo-
ao relatar algumas metodologias que desenvolveu em ins- radas pelos protagonistas do sistema educacional. Esses
tituições públicas de ensino. O primeiro passo foi introduzir elementos são: rapidez, recepção individualizada, interati-
a internet para que os educandos conhecessem e aprendes- vidade e participação, hipertextualidade e realidade virtual.
sem a lidar com esta, logo após cadastrou os alunos para Rapidez – a rapidez com que a informação chega até
que tivessem um email pessoal, assim poderiam pesquisar nós é uma das grandes características das TICs, temos
e guardar suas pesquisas, endereços e artigos. Essa ativi- acesso a todos os tipos de informação em tempo quase
dade de integração do individuo com o meio tecnológico que real. Hoje com o uso da internet os jovens são captu-
para que esse fizesse uso dessa ferramenta em benefício a rados pelas múltiplas linguagens e sentido, adquirem habi-
sua aprendizagem, motivou os alunos nas aulas, contribuiu lidades sem o menor auxilio da escola, pois na maioria das
no desenvolvimento da instituição, na flexibilidade mental, vezes a escola ainda esta naquela de preparar seus alunos

75
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

para ler símbolos (palavras e frases) em textos escritos, Como podemos ver o frequente uso das tecnologias
sem considerar imagens e as linguagens dos diferentes desperta a imaginação, investe na afetividade e nas rela-
suportes tecnológicos presentes na atualidade. O que ções como mediação primordial no mundo, sua incorpo-
temos presenciado no ensino são as tecnologias e seus ração no ambiente escolar pode ensinar seus indivíduos
aparatos chegando aos alunos de forma direta sem haja a a respeitar o diferente, a vencer obstáculos, a trabalhar
intervenção de um mediador para prepará-lo a lidar com coletivamente, entre outros aspectos, o que pretendemos
aquele meio e suas abundantes informações. com esse trabalho não é propor uma nova didática, mas
Recepção individualizada - a grande maioria dos do- uma postura que se apoia na inter-relação entre profes-
centes trabalha de forma única, sem consideração aos sor e aluno como sujeitos que se organizam, decidem e
anseios e necessidades individuais dos estudantes, mui- buscam superar obstáculos, tendo em vista conteúdos
tas vezes devido a sala de aula estar cheia o professor curriculares que podem ser intermediados com as tecnolo-
tem dificuldade de aproximar de seus alunos e assim gias, é interessante elencar a utilização destas como molas
realizar um trabalho de acordo com os anseios, possibi- propulsoras na sala de aula, elemento de percepção sobre
lidades e realidades destes. Assim jovens acabam se en- as complexidades do mundo atual e como mediadoras de
volvendo com a tecnologia segundo seu modo de viver processos comunicacionais.
e ver a realidade, utilizando-se das representações pes-
soais e sociais para compor e (re)criar seu próprio valores Fonte:https://monografias.brasilescola.uol.com.br/
e conceitos. educacao/as-tecnologias-informacao-comunicacao-tics-
Interatividade e participação – através das múltiplas -no-contexto-escolar.htm
funcionalidades da internet, sendo os jogos um de seus
componentes, os jovens desenvolvem capacidades como,
construir e intervir na história, escolher os caminhos, crir
e experimentar possibilidades, discutir e compartilhar as CURRÍCULO: PLANEJAMENTO, SELEÇÃO E
descobertas com os amigos, essa estimulação acaba por ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS.
acontecer com uma máquina que estimula seu usuário a
querer participar, a discutir e compartilhar as descobertas
com os amigos. Enquanto a escola por muitas vezes esta
distante do universo de seus alunos, na busca de aten- Essa organização do currículo se tornou necessária por-
der às exigências curriculares, acaba por não incentivar a que, com o surgimento da escolarização em massa, precisou-
autonomia e participação entre os jovens, possibilitando -se de uma padronização do conhecimento a ser ensinado,
ensinamentos e experiências descontextualizadas do uni- ou seja, que as exigências do conteúdo fossem as mesmas. 
verso adolescente. No entanto, o currículo não diz respeito apenas a uma
Hipertextualidade – através de textos virtuais, alunos relação de conteúdos, mas envolve também:
tem que descobrir alternativas que o tornem mais com- “questões de poder, tanto nas relações professor/alu-
petente em suas escolhas e decisões, mesmo que estas no e administrador/professor, quanto em todas as relações
aconteçam por ensaios e erros. O texto virtual permite que permeiam o cotidiano da escola e fora dela, ou seja,
associações, mixagens, e faz com que o usuário tenha envolve relações de classes sociais (classe dominante/clas-
diferentes opções de escolha, seja sujeito em busca da se dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero, não
complexidade de informações/caminhos que, na maioria se restringindo a uma questão de conteúdos”. (HORNBURG
dos processo escolares, não é usual, pois os currículos es- e SILVA, 2007, p.1)
colares não dão conta, por exemplo, de situações vividas Veiga (2002) complementa
pelos jovens em contato com outros jovens em situações “Currículo é uma construção social do conhecimento,
do dia a dia de incertezas, acertos, erros, medos, entre pressupondo a sistematização dos meios para que esta
outros aspectos. A educação por hipertextos possibilita construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos
ao estudante ações de decisão, visto que este é respon- historicamente produzidos e as formas de assimilá-los,
sável pela seleção e produção de caminhos e informa- portanto, produção, transmissão e assimilação são proces-
ções. sos que compõem uma metodologia de construção cole-
Realidade virtual – o individuo interage com a rea- tiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propria-
lidade das imagens, criando elementos próprios para mente dito.” (VEIGA, 2002, p.7)
entender a situação virtual. A realidade virtual prazerosa Assim, isso implica que essa organização – feita prin-
tem um pequeno lugar pedagógico, principalmente nos cipalmente no projeto-político-pedagógico de cada esco-
primeiros anos escolares, com a fantasia das histórias la – deve levar em conta alguns princípios básicos da sua
contadas, no entanto, na continuidade da vida escolar construção. Entre eles o fato de, como já dito, o processo
trabalha-se mais textos formais, distantes das emoções, de desenvolvimento do currículo ter sido cultural e, portan-
dos desejos e do conhecimento informal do cotidiano to, não neutro. Sempre visa privilegiar determinada cultura
dos alunos. Entendemos que o prazer da aprendizagem e, por isso, há a necessidade de uma criteriosa análise e
pode ser obtido através de componentes que respondam reflexão, por parte dos sujeitos em interação, no caso as
aos anseios imaginários dos estudantes e propiciem a autoridades escolares e os docentes com o mesmo objeti-
eles vivências significativas e criativas. vo, baseando-se em referenciais teóricos.

76
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O currículo não é estático, pelo contrário, ele foi e


continua sendo construído. A reflexão sobre isso é impor- PLANEJAMENTO: A REALIDADE ESCOLAR; O
tante, porque, conforme Veiga (2002, p. 7) afirma, “a análise PLANEJAMENTO E O PROJETO PEDAGÓGICO
e a compreensão do processo de produção do conheci- DA ESCOLA;
mento escolar ampliam a compreensão sobre as questões
curriculares”.
Hoje em dia, a organização do currículo escolar se dá
de forma fragmentada e hierárquica, ou seja, cada disci- O planejamento escolar é feito para o ano inteiro e
plina é ensinada separadamente e as que são consideradas acontece antes do início das aulas. Nesse período, as es-
de maior importância em detrimento de outras recebem colas agendam uma semana pedagógica(que pode durar
mais tempo para serem explanadas no contexto escolar. de 3 a 5 dias), durante a qual se discute o que acontecerá
Vários autores apontam para a possibilidade de o nos próximos 200 dias letivos, e revisam o Projeto Político-
currículo não ser organizado baseando-se em conteúdos -Pedagógico (PPP), o documento que define a identidade
isolados, pois vivemos em um mundo complexo, que não da escola e indica os caminhos para o ensino de qualidade.
pode ser completamente explicado por um único ângulo, “O planejamento nasce a partir do estabelecimento de
mas a partir de uma visão multifacetada, construída pelas metas e de objetivos que a escola deseja alcançar. Ele é um
visões das diversas áreas do conhecimento. A organização momento importantíssimo para a construção de conhecimen-
do currículo deve procurar viabilizar uma maior interdisci- to sobre gestão e didática, articulação com a comunidade,
plinaridade, contextualização e transdisciplinaridade; asse- constituição de uma equipe colaborativa e qualificação das
gurando a livre comunicação entre todas as áreas. ações”, diz Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR.
A organização do currículo escolar de forma hierárqui- Essa atividade é assegurada pela Lei de Diretrizes e Ba-
ca e fragmentada precisa ser revista, pois vivemos em um ses da Educação (LDB), de 1996, que garante que todos
mundo complexo que não pode ser completamente expli- os profissionais que trabalham em uma escola tenham um
cado por uma única área do conhecimento. tempo reservado para planejar a rotina.
Visto que o currículo é uma questão tão importante no No entanto, não é só porque está na lei que ele deve
aspecto escolar, este passou então a ser visto “como um ser cumprido. O planejamento é indispensável para a ges-
campo profissional de estudos e pesquisas” (HORNBURG tão do tempo, de materiais, de pessoas e de espaço, por-
e SILVA, 2007, p.1). Por isso, surgiram muitas teorias curri- que, ao colocar tudo o que a escola realizará ao longo do
culares. ano na ponta do lápis, é possível ter uma ideia do cenário
Correia e Dias (1998, p. 115) mostram que apesar de e alocar os recursos de acordo com as necessidades dos
essas teorias não serem perspectivas acabadas, “elas con- períodos do ano.
vertem-se em marcos orientadores das concepções sobre O que acontece na reunião de planejamento?
a realidade que abarcam, e passam a ser formas, ainda que Abaixo, fizemos uma lista do que deve ser considerado
indiretas, de abordar os problemas práticos da educação.” durante a elaboração do planejamento anual da escola.
Citando diversos autores com teorias curriculares dis- • Recepção dos professores novatos
tintas, Correia e Dias nos fornecem uma visão mais ampla • Troca de experiências entre os professores e ges-
dos papéis que o currículo ou curriculum pode abarcar: tores
“a teoria técnica do curriculum expressa o curricu- • Apresentação e análise dos resultados do ano an-
lum como um plano estruturado de aprendizagem cen- terior
trado nos conteúdos ou nos alunos ou ainda nos objetivos • Estabelecimento de metas e objetivos
previamente formulados, com vista a um dado resultado • Apresentação do calendário escolar, de acordo
ou produto (Pacheco, 1996). De acordo com a primeira com o disponibilizado pela Secretaria de Educação
perspectiva, o curriculum centra-se nos conteúdos como • Revisão do Projeto Político-Pedagógico e criação
produtos do saber culto e elaborado sob a formalização de planos de ação
de diferentes disciplinas. Mas o curriculum pode também • Definição da grade horária das disciplinas
expressar-se, de acordo com as concepções de curricu- • Divisão das turmas
lum propostas por Gimeno Sacristán (1991), através das • Organização das salas e dos materiais
experiências e dos interesses dos alunos, sendo entendido • Recepção dos alunos
como um meio de promoção da sua autorrealização. E, por • Planejamento pedagógico, levando em considera-
último, o curriculum pode ser entendido como um plano ção a avaliação do ano anterior e a distribuição dos conteú-
de orientação tecnológica que se prende com aquilo que dos de ensino e aprendizagem
deve ser ensinado e como deve ser, em ordem a um má- Como é possível ver, o planejamento do ano não co-
ximo de eficiência. Neste sentido, o professor é um mero meça da estaca zero. O trabalho já se inicia no ano ante-
“operário curricular” que tem a tarefa de executar um pla- rior, quando a equipe escolar realiza a avaliação do último
no.” (CORREIA e DIAS, 1998, p. 115). plano. Na semana pedagógica, trabalha-se em cima dos
resultados obtidos e com a troca de experiência sobre as
Fonte:https://educador.brasilescola.uol.com.br/orien- turmas entre os docentes, visando sempre melhorar o que
tacao-escolar/curriculo-no-contexto-escolar.htm tem sido feito.

77
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

É claro que as pautas das reuniões de planejamento nirão as normas da gestão democrática do ensino público
podem mudar, a depender de seu objetivo. Em um encon- na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades
tro sobre diagnóstico, por exemplo, não se discutirá ques- e conforme os seguintes princípios: 
tões como a organização da sala de aula, mas sim sobre a I - participação dos profissionais da educação na ela-
forma de descobrir os saberes das crianças. «A pauta do boração do projeto pedagógico da escola; 
planejamento depende sempre de quem está participando II - participação das comunidades escolar e local em
da reunião», diz Maura. conselhos escolares ou equivalentes. 
Ao longo dos meses, é importante acompanhar se as A revisão do projeto pedagógico da escola deve ser rea-
ações previstas no planejamento têm sido implantadas e se lizada anualmente, se a comunidade escolar assim definir. 
as estratégias estão dando certo. Essa avaliação pode ocor-
rer a cada bimestre ou trimestre ou, ainda, semestralmente. Fonte; https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/
Nessa altura, algumas perguntas são essenciais: tudo o que artigos/idiomas/projeto-pedagogico-da-escola/10505
estava programado deu certo? Por que tal atividade deu
errado? Como podemos melhorar para os próximos me-
ses? Com as respostas dessas perguntas em mãos, inicia-se
o replanejamento. LEI Nº 9.394/96 – LEI DE DIRETRIZES E BASE
DA EDUCAÇÃO NACIONAL;
Quem participa?
Todo mundo participa da elaboração do planejamen-
to porque ele influencia a escola inteira. Portanto, devem
comparecer aos encontros os gestores, os professores e os LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996.
funcionários. Os membros da equipe discutirão o funcio-
namento da instituição como um todo e também as fun- Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
ções pelas quais são responsáveis. Isso significa que todos
devem pensar juntos sobre qual é a missão e os objetivos O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
da escola, por exemplo. Mas, quando a pauta for planeja- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
mento de uma disciplina específica, apenas os professores
e o coordenador pedagógico se ocuparão da tarefa. Essa TÍTULO I
prática garante a construção de uma gestão democrática e Da Educação
participativa.
Art. 1º A educação abrange os processos formativos
Fonte: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/161/o- que se desenvolvem na vida familiar, na convivência huma-
-que-e-planejamento na, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
O projeto pedagógico da escola é capaz de auxiliar na manifestações culturais.
definição de suas metas e gerenciamento de suas ações § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
para todo o ano letivo. Segundo Vasconcellos (1995), o senvolve, predominantemente, por meio do ensino, em
projeto pedagógico é um instrumento teórico-metodoló- instituições próprias.
gico que visa ajudar a enfrentar os desafios do cotidiano § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
da escola, só que de uma forma refletida, consciente, siste- do trabalho e à prática social.
matizada, orgânica e, o que é essencial, participativa.
E uma metodologia de trabalho que possibilita resig- TÍTULO II
nificar a ação de todos os agentes da instituição (p. 143). Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
O projeto torna-se pedagógico quando compreende
as concepções de educação e de mundo que a escola vai Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspi-
elaborar, sistematizar e socializar. Faz parte do “ser”, da rada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidarie-
“identidade” das escolas. Para a elaboração de um projeto dade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento
pedagógico na escola é necessário que ele contenha al- do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
guns dados como: sua qualificação para o trabalho.
- Missão; Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin-
- Clientela;  tes princípios:
- Dados sobre a aprendizagem;  I - igualdade de condições para o acesso e permanên-
- Relação com as famílias;  cia na escola;
- Recursos; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
- Diretrizes pedagógicas;  a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
- Plano de ação.  III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
E mais que haja a participação de todos os membros IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
da escola incluindo a comunidade ao seu redor. O artigo 14 V - coexistência de instituições públicas e privadas de
da LDBEN 9394/96 diz: Art. 14; os sistemas de ensino defi- ensino;

78
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direi-
tos oficiais; to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de
VII - valorização do profissional da educação escolar; cidadãos, associação comunitária, organização sindical, en-
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma tidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda,
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.
IX - garantia de padrão de qualidade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
X - valorização da experiência extra-escolar; § 1o O poder público, na esfera de sua competência fe-
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e derativa, deverá: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
as práticas sociais. I - recensear anualmente as crianças e adolescentes
XII - consideração com a diversidade étnico-racial. (In- em idade escolar, bem como os jovens e adultos que não
cluído pela Lei nº 12.796, de 2013) concluíram a educação básica; (Redação dada pela Lei nº
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem 12.796, de 2013)
ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018) II - fazer-lhes a chamada pública;
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüên-
TÍTULO III cia à escola.
Do Direito à Educação e do Dever de Educar § 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Públi-
co assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obri-
Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi- gatório, nos termos deste artigo, contemplando em segui-
ca será efetivado mediante a garantia de: da os demais níveis e modalidades de ensino, conforme as
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua- prioridades constitucionais e legais.
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da se- § 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste
guinte forma: (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário,
a) pré-escola; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal,
b) ensino fundamental; (Incluído pela Lei nº 12.796, de sendo gratuita e de rito sumário a ação judicial correspon-
2013) dente.
c) ensino médio; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) § 4º Comprovada a negligência da autoridade compe-
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin- tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório,
co) anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.
2013) § 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade
III - atendimento educacional especializado gratuito de ensino, o Poder Público criará formas alternativas de
aos educandos com deficiência, transtornos globais do de- acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemen-
senvolvimento e altas habilidades ou superdotação, trans- te da escolarização anterior.
versal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferen- Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrí-
cialmente na rede regular de ensino; (Redação dada pela cula das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro)
Lei nº 12.796, de 2013) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as
e médio para todos os que não os concluíram na idade seguintes condições:
própria; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) I - cumprimento das normas gerais da educação nacio-
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesqui- nal e do respectivo sistema de ensino;
sa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; II - autorização de funcionamento e avaliação de quali-
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às dade pelo Poder Público;
condições do educando; III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o
VII - oferta de educação escolar regular para jovens e previsto no art. 213 da Constituição Federal.
adultos, com características e modalidades adequadas às
suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos TÍTULO IV
que forem trabalhadores as condições de acesso e perma- Da Organização da Educação Nacional
nência na escola;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
educação básica, por meio de programas suplementares de nicípios organizarão, em regime de colaboração, os respec-
material didático-escolar, transporte, alimentação e assis- tivos sistemas de ensino.
tência à saúde; (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional
IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defini- de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
dos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo relação às demais instâncias educacionais.
de ensino-aprendizagem. § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi-
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de zação nos termos desta Lei.
ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda Art. 9º A União incumbir-se-á de: (Regulamento)
criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colabo-
idade. (Incluído pela Lei nº 11.700, de 2008). ração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

79
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti- IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e


tuições oficiais do sistema federal de ensino e o dos Terri- avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educa-
tórios; ção superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino;
III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, V - baixar normas complementares para o seu sistema
ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimen- de ensino;
to de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistri- prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem,
butiva e supletiva; respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o pela Lei nº 12.061, de 2009)
Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino estadual. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos míni- Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
mos, de modo a assegurar formação básica comum; competências referentes aos Estados e aos Municípios.
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
para identificação, cadastramento e atendimento, na edu- tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os
cação básica e na educação superior, de alunos com altas às políticas e planos educacionais da União e dos Estados;
habilidades ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
de 2015) III - baixar normas complementares para o seu sistema
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a de ensino;
educação; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabeleci-
 VI - assegurar processo nacional de avaliação do ren- mentos do seu sistema de ensino;
dimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es-
em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida
a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do a atuação em outros níveis de ensino somente quando es-
ensino; tiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação de competência e com recursos acima dos percentuais mí-
e pós-graduação; nimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção
 VIII - assegurar processo nacional de avaliação das e desenvolvimento do ensino.
instituições de educação superior, com a cooperação dos VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de municipal. (Incluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003)
ensino; Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda,
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de edu- com ele um sistema único de educação básica.
cação superior e os estabelecimentos do seu sistema de Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
ensino. (Vide Lei nº 10.870, de 2004) normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a in-
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho Na- cumbência de:
cional de Educação, com funções normativas e de supervi- I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
são e atividade permanente, criado por lei. II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e
§ 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a financeiros;
IX, a União terá acesso a todos os dados e informações III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-
necessários de todos os estabelecimentos e órgãos edu- -aula estabelecidas;
cacionais. IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de
§ 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão cada docente;
ser delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que V - prover meios para a recuperação dos alunos de me-
mantenham instituições de educação superior. nor rendimento;
Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: VI - articular-se com as famílias e a comunidade, crian-
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e institui- do processos de integração da sociedade com a escola;
ções oficiais dos seus sistemas de ensino; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a fre-
na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegu- quência e rendimento dos alunos, bem como sobre a exe-
rar a distribuição proporcional das responsabilidades, de cução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada
acordo com a população a ser atendida e os recursos finan- pela Lei nº 12.013, de 2009)
ceiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao
Público; juiz competente da Comarca e ao respectivo representante
III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, do Ministério Público a relação dos alunos que apresen-
em consonância com as diretrizes e planos nacionais de tem quantidade de faltas acima de cinqüenta por cento do
educação, integrando e coordenando as suas ações e as percentual permitido em lei. (Incluído pela Lei nº 10.287,
dos seus Municípios; de 2001)

80
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadra-
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do rão nas seguintes categorias: (Regulamento) (Regulamento)
estabelecimento de ensino; I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a que são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; físicas ou jurídicas de direito privado que não apresentem
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; as características dos incisos abaixo;
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os II - comunitárias, assim entendidas as que são insti-
alunos de menor rendimento; tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, pessoas jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem
além de participar integralmente dos períodos dedicados fins lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento pro- representantes da comunidade; (Redação dada pela Lei nº
fissional; 12.020, de 2009)
VI - colaborar com as atividades de articulação da es- III - confessionais, assim entendidas as que são insti-
cola com as famílias e a comunidade. tuídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da pessoas jurídicas que atendem a orientação confessional e
gestão democrática do ensino público na educação básica, ideologia específicas e ao disposto no inciso anterior;
de acordo com as suas peculiaridades e conforme os se- IV - filantrópicas, na forma da lei.
guintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na ela- TÍTULO V
boração do projeto pedagógico da escola; Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
II - participação das comunidades escolar e local em CAPÍTULO I
conselhos escolares ou equivalentes. Da Composição dos Níveis Escolares
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unida-
des escolares públicas de educação básica que os integram Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
progressivos graus de autonomia pedagógica e adminis- I - educação básica, formada pela educação infantil,
trativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais ensino fundamental e ensino médio;
de direito financeiro público. II - educação superior.
Art. 16. O sistema federal de ensino compreende: (Re-
gulamento) CAPÍTULO II
I - as instituições de ensino mantidas pela União; DA EDUCAÇÃO BÁSICA
II - as instituições de educação superior criadas e man- Seção I
tidas pela iniciativa privada; Das Disposições Gerais
III - os órgãos federais de educação.
Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
Federal compreendem: volver o educando, assegurar-lhe a formação comum in-
I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente, dispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
II - as instituições de educação superior mantidas pelo Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em sé-
Poder Público municipal; ries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular
III - as instituições de ensino fundamental e médio cria- de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na
das e mantidas pela iniciativa privada; idade, na competência e em outros critérios, ou por forma
IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe- diversa de organização, sempre que o interesse do proces-
deral, respectivamente. so de aprendizagem assim o recomendar.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada, quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
integram seu sistema de ensino. situados no País e no exterior, tendo como base as normas
Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem: curriculares gerais.
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculia-
educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; ridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério
II - as instituições de educação infantil criadas e manti- do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o
das pela iniciativa privada; número de horas letivas previsto nesta Lei.
III – os órgãos municipais de educação. Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
classificam-se nas seguintes categorias administrativas: I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
(Regulamento) (Regulamento) horas para o ensino fundamental e para o ensino médio,
I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpora- distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo
das, mantidas e administradas pelo Poder Público; trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames
II - privadas, assim entendidas as mantidas e adminis- finais, quando houver; (Redação dada pela Lei nº 13.415,
tradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. de 2017)

81
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino,
primeira do ensino fundamental, pode ser feita: à vista das condições disponíveis e das características re-
a) por promoção, para alunos que cursaram, com apro- gionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento
veitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; do disposto neste artigo.
b) por transferência, para candidatos procedentes de Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino
outras escolas; fundamental e do ensino médio devem ter base nacional
c) independentemente de escolarização anterior, me- comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de de- e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diver-
senvolvimento e experiência do candidato e permita sua sificada, exigida pelas características regionais e locais da
inscrição na série ou etapa adequada, conforme regula- sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Re-
mentação do respectivo sistema de ensino; dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abran-
regular por série, o regimento escolar pode admitir formas ger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da
de progressão parcial, desde que preservada a seqüência matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e
do currículo, observadas as normas do respectivo sistema da realidade social e política, especialmente do Brasil.
de ensino; § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expres-
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alu- sões regionais, constituirá componente curricular obrigató-
nos de séries distintas, com níveis equivalentes de adian- rio da educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415,
tamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, de 2017)
artes, ou outros componentes curriculares; § 3o A educação física, integrada à proposta pedagógi-
V - a verificação do rendimento escolar observará os ca da escola, é componente curricular obrigatório da edu-
seguintes critérios: cação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Reda-
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do ção dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre seis horas; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
os de eventuais provas finais; II – maior de trinta anos de idade; (Incluído pela Lei nº
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos 10.793, de 1º.12.2003)
com atraso escolar; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me- em situação similar, estiver obrigado à prática da educação
diante verificação do aprendizado; física; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito; IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou-
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre- tubro de 1969; (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo V – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003)
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas institui- VI – que tenha prole. (Incluído pela Lei nº 10.793, de
ções de ensino em seus regimentos; 1º.12.2003)
VI - o controle de freqüência fica a cargo da escola, § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as
conforme o disposto no seu regimento e nas normas do contribuições das diferentes culturas e etnias para a forma-
respectivo sistema de ensino, exigida a freqüência mínima ção do povo brasileiro, especialmente das matrizes indíge-
de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para na, africana e européia.
aprovação; § 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históri- sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada
cos escolares, declarações de conclusão de série e diplo- pela Lei nº 13.415, de 2017)
mas ou certificados de conclusão de cursos, com as espe- § 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são
cificações cabíveis. as linguagens que constituirão o componente curricular de
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o inci- que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº
so I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, 13.278, de 2016)
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo § 7o A integralização curricular poderá incluir, a critério
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cin- dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo
co anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada
partir de 2 de março de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, pela Lei nº 13.415, de 2017)
de 2017) § 8º A exibição de filmes de produção nacional cons-
§ 2o Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de tituirá componente curricular complementar integrado à
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obri-
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI gatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído
do art. 4o. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) pela Lei nº 13.006, de 2014)
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- § 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à pre-
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número de venção de todas as formas de violência contra a criança
alunos e o professor, a carga horária e as condições mate- e o adolescente serão incluídos, como temas transversais,
riais do estabelecimento. nos currículos escolares de que trata o caput deste artigo,

82
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de Seção II


1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), observada Da Educação Infantil
a produção e distribuição de material didático adequa-
do. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educa-
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares ção básica, tem como finalidade o desenvolvimento in-
de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curri- tegral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos
cular dependerá de aprovação do Conselho Nacional físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta- ação da família e da comunidade. (Redação dada pela Lei
do da Educação. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) nº 12.796, de 2013)
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda- Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
mental e de ensino médio, públicos e privados, torna- I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças
-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-bra- de até três anos de idade;
sileira e indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin-
2008). co) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
§ 1 o O conteúdo programático a que se refere este 2013)
artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo
que caracterizam a formação da população brasileira, a com as seguintes regras comuns: (Redação dada pela Lei
partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo nº 12.796, de 2013)
da história da África e dos africanos, a luta dos negros I - avaliação mediante acompanhamento e registro do
e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indí- desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo-
gena brasileira e o negro e o índio na formação da so- ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; (Incluí-
ciedade nacional, resgatando as suas contribuições nas do pela Lei nº 12.796, de 2013)
áreas social, econômica e política, pertinentes à história II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas)
do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias
§ 2 o Os conteúdos referentes à história e cultura de trabalho educacional; (Incluído pela Lei nº 12.796, de
afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão 2013)
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro)
especial nas áreas de educação artística e de literatura horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para
e história brasileiras. (Redação dada pela Lei nº 11.645, a jornada integral; (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
de 2008). IV - controle de frequência pela instituição de edu-
Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação bá- cação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
sica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: (sessenta por cento) do total de horas; (Incluído pela Lei
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse nº 12.796, de 2013)
social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito V - expedição de documentação que permita ates-
ao bem comum e à ordem democrática; tar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
II - consideração das condições de escolaridade dos criança. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013)
alunos em cada estabelecimento;
III - orientação para o trabalho; Seção III
IV - promoção do desporto educacional e apoio às Do Ensino Fundamental
práticas desportivas não-formais.
Art. 28. Na oferta de educação básica para a popu- Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
lação rural, os sistemas de ensino promoverão as adap- ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, inician-
tações necessárias à sua adequação às peculiaridades do-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a for-
da vida rural e de cada região, especialmente: mação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela
I - conteúdos curriculares e metodologias apropria- Lei nº 11.274, de 2006)
das às reais necessidades e interesses dos alunos da I - o desenvolvimento da capacidade de aprender,
zona rural; tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
II - organização escolar própria, incluindo adequa- escrita e do cálculo;
ção do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às II - a compreensão do ambiente natural e social, do
condições climáticas; sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em
III - adequação à natureza do trabalho na zona ru- que se fundamenta a sociedade;
ral. III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
Parágrafo único. O fechamento de escolas do cam- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e ha-
po, indígenas e quilombolas será precedido de mani- bilidades e a formação de atitudes e valores;
festação do órgão normativo do respectivo sistema de IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos la-
ensino, que considerará a justificativa apresentada pela ços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico do im- que se assenta a vida social.
pacto da ação e a manifestação da comunidade escolar. § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
(Incluído pela Lei nº 12.960, de 2014) ensino fundamental em ciclos.

83
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re- IV - a compreensão dos fundamentos científico-tec-


gular por série podem adotar no ensino fundamental o re- nológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria
gime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação com a prática, no ensino de cada disciplina.
do processo de ensino-aprendizagem, observadas as nor- Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defini-
mas do respectivo sistema de ensino. rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio,
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação,
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas nas seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios 13.415, de 2017)
de aprendizagem. I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
§ 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o en- 13.415, de 2017)
sino a distância utilizado como complementação da apren- II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº
dizagem ou em situações emergenciais. 13.415, de 2017)
§ 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obriga- III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído
toriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e pela Lei nº 13.415, de 2017)
dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela
julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adoles- Lei nº 13.415, de 2017)
cente, observada a produção e distribuição de material didá- § 1o A parte diversificada dos currículos de que trata
tico adequado. (Incluído pela Lei nº 11.525, de 2007). o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de-
§ 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e
como tema transversal nos currículos do ensino fundamen- ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, social,
tal. (Incluído pela Lei nº 12.472, de 2011). ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é § 2o A Base Nacional Comum Curricular referente ao
parte integrante da formação básica do cidadão e constitui ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas
disciplina dos horários normais das escolas públicas de en- de educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela
sino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cul- Lei nº 13.415, de 2017)
tural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de pro- § 3o O ensino da língua portuguesa e da matemática
selitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu-
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedi- rada às comunidades indígenas, também, a utilização das
mentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso respectivas línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415,
e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão de 2017)
dos professores. (Incluído pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997) § 4o Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, cons- toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
tituída pelas diferentes denominações religiosas, para a outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
definição dos conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
Lei nº 9.475, de 22.7.1997) oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino.
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala § 5o A carga horária destinada ao cumprimento da Base
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil
permanência na escola. e oitocentas horas do total da carga horária do ensino mé-
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das dio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino. (In-
formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei. cluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressiva- § 6o A União estabelecerá os padrões de desempenho
mente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. esperados para o ensino médio, que serão referência nos
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
Seção IV Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Do Ensino Médio § 7o Os currículos do ensino médio deverão conside-
rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida
com duração mínima de três anos, terá como finalidades: e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so-
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- cioemocionais. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
mentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando § 8o Os conteúdos, as metodologias e as formas de ava-
o prosseguimento de estudos; liação processual e formativa serão organizados nas redes
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas
do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line,
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de de tal forma que ao final do ensino médio o educando de-
ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; monstre: (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da que presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº
autonomia intelectual e do pensamento crítico; 13.415, de 2017)

84
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II - conhecimento das formas contemporâneas de lin- § 8o A oferta de formação técnica e profissional a que
guagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti-
Art. 36. O currículo do ensino médio será composto tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser
pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for- aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa-
mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº
para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en- 13.415, de 2017) 
sino, a saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 9o As instituições de ensino emitirão certificado com
I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino
Lei nº 13.415, de 2017) médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior
II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu-
Lei nº 13.415, de 2017) são do ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação Lei nº 13.415, de 2017)
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 10. Além das formas de organização previstas no art.
IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação 23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e
dada pela Lei nº 13.415, de 2017) adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.
V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
nº 13.415, de 2017) § 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur-
§ 1o A organização das áreas de que trata o caput e das riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão
respectivas competências e habilidades será feita de acor- reconhecer competências e firmar convênios com institui-
do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. ções de educação a distância com notório reconhecimento,
(Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)  mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de pela Lei nº 13.415, de 2017)
2017)  I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415,
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de de 2017)
2017) II - experiência de trabalho supervisionado ou outra
III – (revogado). (Redação dada pela Lei nº 11.684, de experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído
2008) pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 2º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) III - atividades de educação técnica oferecidas em ou-
§ 3o A critério dos sistemas de ensino, poderá ser composto tras instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei
itinerário formativo integrado, que se traduz na composição de nº 13.415, de 2017) 
componentes curriculares da Base Nacional Comum Curricular - IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
BNCC e dos itinerários formativos, considerando os incisos I a V pacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
do caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) V - estudos realizados em instituições de ensino nacio-
§ 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008) nais ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
§ 5o Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade VI - cursos realizados por meio de educação a distância
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do en- ou ucação presencial mediada por tecnologias. (Incluído
sino médio cursar mais um itinerário formativo de que trata pela Lei nº 13.415, de 2017)
o caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 12. As escolas deverão orientar os alunos no proces-
§ 6o A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação
mação com ênfase técnica e profissional considerará: (In- profissional previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415,
cluído pela Lei nº 13.415, de 2017) de 2017)
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo Seção IV-A
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem profis- (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
sional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) 
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
mediários de qualificação para o trabalho, quando a forma- Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do
ção for estruturada e organizada em etapas com terminali- educando, poderá prepará-lo para o exercício de profis-
dade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)  sões técnicas. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 7o A oferta de formações experimentais relacionadas Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e,
ao inciso V do caput, em áreas que não constem do Catá- facultativamente, a habilitação profissional poderão ser de-
logo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua senvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio
continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conse- ou em cooperação com instituições especializadas em edu-
lho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inser- cação profissional. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
ção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível mé-
cinco anos, contados da data de oferta inicial da formação. dio será desenvolvida nas seguintes formas: (Incluído pela
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) Lei nº 11.741, de 2008)

85
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

I - articulada com o ensino médio; (Incluído pela Lei nº § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente
11.741, de 2008) aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os es-
II - subseqüente, em cursos destinados a quem já tenha tudos na idade regular, oportunidades educacionais apro-
concluído o ensino médio. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) priadas, consideradas as características do alunado, seus
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cur-
médio deverá observar: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) sos e exames.
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes cur- § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso
riculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações
de Educação; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) integradas e complementares entre si.
II - as normas complementares dos respectivos siste- § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
mas de ensino; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) preferencialmente, com a educação profissional, na forma
III - as exigências de cada instituição de ensino, nos do regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
termos de seu projeto pedagógico. (Incluído pela Lei nº Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
11.741, de 2008) mes supletivos, que compreenderão a base nacional co-
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível mé- mum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estu-
dio articulada, prevista no inciso I do caput  do art. 36-B dos em caráter regular.
desta Lei, será desenvolvida de forma: (Incluído pela Lei nº § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:
11.741, de 2008) I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con- os maiores de quinze anos;
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado de II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica maiores de dezoito anos.
de nível médio, na mesma instituição de ensino, efetuan- § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
do-se matrícula única para cada aluno; (Incluído pela Lei nº educandos por meios informais serão aferidos e reconhe-
11.741, de 2008) cidos mediante exames.
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensi-
no médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas CAPÍTULO III
distintas para cada curso, e podendo ocorrer: (Incluído pela DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Lei nº 11.741, de 2008) Da Educação Profissional e Tecnológica
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as (Redação dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela Lei
nº 11.741, de 2008) Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cum-
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se primento dos objetivos da educação nacional, integra-se
as oportunidades educacionais disponíveis; (Incluído pela aos diferentes níveis e modalidades de educação e às di-
Lei nº 11.741, de 2008) mensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. (Redação
c) em instituições de ensino distintas, mediante convê- dada pela Lei nº 11.741, de 2008)
nios de intercomplementaridade, visando ao planejamento § 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica
e ao desenvolvimento de projeto pedagógico unificado. poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibi-
(Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) litando a construção de diferentes itinerários formativos,
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação profissio- observadas as normas do respectivo sistema e nível de en-
nal técnica de nível médio, quando registrados, terão valida- sino. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na § 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá
educação superior. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) os seguintes cursos: (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional téc- I – de formação inicial e continuada ou qualificação
nica de nível médio, nas formas articulada concomitante e profissional; (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
subseqüente, quando estruturados e organizados em etapas II – de educação profissional técnica de nível médio;
com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
de qualificação para o trabalho após a conclusão, com apro- III – de educação profissional tecnológica de gradua-
veitamento, de cada etapa que caracterize uma qualificação ção e pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008)
para o trabalho. (Incluído pela Lei nº 11.741, de 2008) § 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que con-
Seção V cerne a objetivos, características e duração, de acordo com
Da Educação de Jovens e Adultos as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Con-
selho Nacional de Educação. (Incluído pela Lei nº 11.741,
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada de 2008)
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de es- Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em
tudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria articulação com o ensino regular ou por diferentes estraté-
e constituirá instrumento para a educação e a aprendiza- gias de educação continuada, em instituições especializa-
gem ao longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, das ou no ambiente de trabalho. (Regulamento) (Regula-
de 2018) mento) (Regulamento)

86
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro- III - de pós-graduação, compreendendo programas de
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfei-
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para çoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em
prosseguimento ou conclusão de estudos. (Redação dada cursos de graduação e que atendam às exigências das ins-
pela Lei nº 11.741, de 2008) tituições de ensino;
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas institui-
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula ções de ensino.
à capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao § 1º. Os resultados do processo seletivo referido no
nível de escolaridade. (Redação dada pela Lei nº 11.741, de inciso II do caput deste artigo serão tornados públicos
2008) pelas instituições de ensino superior, sendo obrigatória a
divulgação da relação nominal dos classificados, a respec-
CAPÍTULO IV tiva ordem de classificação, bem como do cronograma das
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para
preenchimento das vagas constantes do respectivo edital.
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: (Incluído pela Lei nº 11.331, de 2006) (Renumerado do pa-
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do rágrafo único para § 1º pela Lei nº 13.184, de 2015)
espírito científico e do pensamento reflexivo; § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhe- tituições públicas de ensino superior darão prioridade de
cimento, aptos para a inserção em setores profissionais e matrícula ao candidato que comprove ter renda familiar
para a participação no desenvolvimento da sociedade bra- inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor renda fa-
sileira, e colaborar na sua formação contínua; miliar, quando mais de um candidato preencher o critério
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação cien- inicial. (Incluído pela Lei nº 13.184, de 2015)
tífica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia § 3o O processo seletivo referido no inciso II conside-
e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver rará as competências e as habilidades definidas na Base
o entendimento do homem e do meio em que vive; Nacional Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu- 2017)
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da Art. 45. A educação superior será ministrada em ins-
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de pu- tituições de ensino superior, públicas ou privadas, com
blicações ou de outras formas de comunicação; variados graus de abrangência ou especialização. (Regula-
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento mento) (Regulamento)
cultural e profissional e possibilitar a correspondente con- Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
cretização, integrando os conhecimentos que vão sendo bem como o credenciamento de instituições de educação
adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do superior, terão prazos limitados, sendo renovados, periodi-
conhecimento de cada geração; camente, após processo regular de avaliação. (Regulamen-
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- to) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
do presente, em particular os nacionais e regionais, prestar § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
serviços especializados à comunidade e estabelecer com eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere
esta uma relação de reciprocidade; este artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, con-
VII - promover a extensão, aberta à participação da forme o caso, em desativação de cursos e habilitações, em
população, visando à difusão das conquistas e benefícios intervenção na instituição, em suspensão temporária de
resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e prerrogativas da autonomia, ou em descredenciamento.
tecnológica geradas na instituição. (Regulamento) (Regulamento) (Vide Lei nº 10.870, de 2004)
VIII - atuar em favor da universalização e do aprimora- § 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo
mento da educação básica, mediante a formação e a capa- responsável por sua manutenção acompanhará o processo
citação de profissionais, a realização de pesquisas pedagó- de saneamento e fornecerá recursos adicionais, se neces-
gicas e o desenvolvimento de atividades de extensão que sários, para a superação das deficiências.
aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº § 3o No caso de instituição privada, além das sanções
13.174, de 2015) previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação
Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em
cursos e programas: (Regulamento) suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de
I - cursos seqüenciais por campo de saber, de dife- cursos. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)
rentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que § 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante
atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de procedimento específico e com aquiescência da institui-
ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou ção de ensino, com vistas a resguardar os interesses dos
equivalente; (Redação dada pela Lei nº 11.632, de 2007). estudantes, comutar as penalidades previstas nos §§ 1oe
II - de graduação, abertos a candidatos que tenham 3o deste artigo por outras medidas, desde que adequadas
concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido para superação das deficiências e irregularidades constata-
classificados em processo seletivo; das. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017)

87
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- c) a identificação dos docentes que ministrarão as au-
deral deverão adotar os critérios definidos pela União para las em cada curso, as disciplinas que efetivamente minis-
autorização de funcionamento de curso de graduação em trará naquele curso ou cursos, sua titulação, abrangendo
Medicina. (Incluído pela Lei nº 13.530, de 2017) a qualificação profissional do docente e o tempo de casa
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, in- do docente, de forma total, contínua ou intermitente. (In-
dependente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias cluída pela lei nº 13.168, de 2015)
de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
aos exames finais, quando houver. mento nos estudos, demonstrado por meio de provas e
§ 1o As instituições informarão aos interessados, antes outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados
de cada período letivo, os programas dos cursos e demais por banca examinadora especial, poderão ter abreviada
componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualifi- a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos
cação dos professores, recursos disponíveis e critérios de sistemas de ensino.
avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condi- § 3º É obrigatória a freqüência de alunos e professo-
ções, e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primei- res, salvo nos programas de educação a distância.
ras formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº § 4º As instituições de educação superior oferecerão,
13.168, de 2015) no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
I - em página específica na internet no sítio eletrônico padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o se- obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, ga-
guinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) rantida a necessária previsão orçamentária.
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
como título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº cidos, quando registrados, terão validade nacional como
13.168, de 2015) prova da formação recebida por seu titular.
b) a página principal da instituição de ensino superior, § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades se-
bem como a página da oferta de seus cursos aos ingres- rão por elas próprias registrados, e aqueles conferidos
santes sob a forma de vestibulares, processo seletivo e ou- por instituições não-universitárias serão registrados em
tras com a mesma finalidade, deve conter a ligação desta universidades indicadas pelo Conselho Nacional de Edu-
com a página específica prevista neste inciso; (Incluída pela cação.
lei nº 13.168, de 2015) § 2º Os diplomas de graduação expedidos por uni-
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí- versidades estrangeiras serão revalidados por universida-
tio eletrônico, deve criar página específica para divulgação des públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou
das informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº equivalente, respeitando-se os acordos internacionais de
13.168, de 2015) reciprocidade ou equiparação.
d) a página específica deve conter a data completa de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado ex-
sua última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) pedidos por universidades estrangeiras só poderão ser
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de reconhecidos por universidades que possuam cursos de
ensino superior, por meio de ligação para a página referida pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma área
no inciso I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de conhecimento e em nível equivalente ou superior.
III - em local visível da instituição de ensino superior e Art. 49. As instituições de educação superior aceita-
de fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de rão a transferência de alunos regulares, para cursos afins,
2015) na hipótese de existência de vagas, e mediante processo
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmen- seletivo.
te, de acordo com a duração das disciplinas de cada cur- Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão
so oferecido, observando o seguinte: (Incluído pela lei nº na forma da lei. (Regulamento)
13.168, de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando
a) caso o curso mantenha disciplinas com duração di- da ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas
ferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela de seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem
lei nº 13.168, de 2015) capacidade de cursá-las com proveito, mediante processo
b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do seletivo prévio.
início das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 51. As instituições de educação superior creden-
c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo do- ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios e
cente até o início das aulas, os alunos devem ser comunica- normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em
dos sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) conta os efeitos desses critérios sobre a orientação do en-
V - deve conter as seguintes informações: (Incluído sino médio, articulando-se com os órgãos normativos dos
pela lei nº 13.168, de 2015) sistemas de ensino.
a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição Art. 52. As universidades são instituições pluridisci-
de ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) plinares de formação dos quadros profissionais de nível
b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricu- superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo
lar de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamen-
pela lei nº 13.168, de 2015) to) (Regulamento)

88
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

I - produção intelectual institucionalizada mediante o § 3 o No caso das universidades públicas, os recur-


estudo sistemático dos temas e problemas mais relevan- sos das doações devem ser dirigidos ao caixa único
tes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto da instituição, com destinação garantida às unidades
regional e nacional; a serem beneficiadas. (Incluído pela Lei nº 13.490, de
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titu- 2017)
lação acadêmica de mestrado ou doutorado; Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Pú-
III - um terço do corpo docente em regime de tempo blico gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico
integral. especial para atender às peculiaridades de sua es-
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades trutura, organização e financiamento pelo Poder Pú-
especializadas por campo do saber. (Regulamento) (Regu- blico, assim como dos seus planos de carreira e do
lamento) regime jurídico do seu pessoal. (Regulamento) (Re-
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegura- gulamento)
das às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes § 1º No exercício da sua autonomia, além das atri-
atribuições: buições asseguradas pelo artigo anterior, as universi-
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e dades públicas poderão:
programas de educação superior previstos nesta Lei, obe- I - propor o seu quadro de pessoal docente, técni-
decendo às normas gerais da União e, quando for o caso, co e administrativo, assim como um plano de cargos
do respectivo sistema de ensino; (Regulamento) e salários, atendidas as normas gerais pertinentes e
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, os recursos disponíveis;
observadas as diretrizes gerais pertinentes; II - elaborar o regulamento de seu pessoal em
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- conformidade com as normas gerais concernentes;
quisa científica, produção artística e atividades de exten- III - aprovar e executar planos, programas e pro-
são; jetos de investimentos referentes a obras, serviços e
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- aquisições em geral, de acordo com os recursos alo-
dade institucional e as exigências do seu meio; cados pelo respectivo Poder mantenedor;
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos IV - elaborar seus orçamentos anuais e pluria-
em consonância com as normas gerais atinentes; nuais;
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; V - adotar regime financeiro e contábil que aten-
VII - firmar contratos, acordos e convênios; da às suas peculiaridades de organização e funcio-
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos namento;
de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições VI - realizar operações de crédito ou de financia-
em geral, bem como administrar rendimentos conforme mento, com aprovação do Poder competente, para
dispositivos institucionais; aquisição de bens imóveis, instalações e equipamen-
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- tos;
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respec- VII - efetuar transferências, quitações e tomar ou-
tivos estatutos; tras providências de ordem orçamentária, financeira
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e e patrimonial necessárias ao seu bom desempenho.
cooperação financeira resultante de convênios com enti- § 2º Atribuições de autonomia universitária pode-
dades públicas e privadas. rão ser estendidas a instituições que comprovem alta
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das qualificação para o ensino ou para a pesquisa, com
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e base em avaliação realizada pelo Poder Público.
pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários dis- Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente,
poníveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) em seu Orçamento Geral, recursos suficientes para
I - criação, expansão, modificação e extinção de cur- manutenção e desenvolvimento das instituições de
sos; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) educação superior por ela mantidas.
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada Art. 56. As instituições públicas de educação su-
pela Lei nº 13.490, de 2017) perior obedecerão ao princípio da gestão democrá-
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação tica, assegurada a existência de órgãos colegiados
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) deliberativos, de que participarão os segmentos da
IV - programação das pesquisas e das atividades de comunidade institucional, local e regional.
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes
V - contratação e dispensa de professores; (Redação ocuparão setenta por cento dos assentos em cada ór-
dada pela Lei nº 13.490, de 2017) gão colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei da elaboração e modificações estatutárias e regimen-
nº 13.490, de 2017) tais, bem como da escolha de dirigentes.
§ 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser di- Art. 57. Nas instituições públicas de educação su-
rigidas a setores ou projetos específicos, conforme acor- perior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito
do entre doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº horas semanais de aulas. (Regulamento)
13.490, de 2017)

89
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

CAPÍTULO V Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino


DA EDUCAÇÃO ESPECIAL estabelecerão critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os exclusiva em educação especial, para fins de apoio técni-
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar ofe- co e financeiro pelo Poder Público.
recida preferencialmente na rede regular de ensino, para Parágrafo único. O poder público adotará, como al-
educandos com deficiência, transtornos globais do desen- ternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos
volvimento e altas habilidades ou superdotação. (Redação educandos com deficiência, transtornos globais do de-
dada pela Lei nº 12.796, de 2013) senvolvimento e altas habilidades ou superdotação na
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es- própria rede pública regular de ensino, independente-
pecializado, na escola regular, para atender às peculiarida- mente do apoio às instituições previstas neste artigo. (Re-
des da clientela de educação especial. dação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes,
escolas ou serviços especializados, sempre que, em função TÍTULO VI
das condições específicas dos alunos, não for possível a sua Dos Profissionais da Educação
integração nas classes comuns de ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es-
do  caput deste artigo, tem início na educação infantil e colar básica os que, nela estando em efetivo exercício e
estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do art. tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: (Reda-
4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei. (Redação dada ção dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
pela Lei nº 13.632, de 2018) I – professores habilitados em nível médio ou supe-
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu- rior para a docência na educação infantil e nos ensinos
candos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- fundamental e médio; (Redação dada pela Lei nº 12.014,
mento e altas habilidades ou superdotação: (Redação dada de 2009)
pela Lei nº 12.796, de 2013) II – trabalhadores em educação portadores de diplo-
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e ma de pedagogia, com habilitação em administração, pla-
organização específicos, para atender às suas necessidades; nejamento, supervisão, inspeção e orientação educacio-
II - terminalidade específica para aqueles que não pu- nal, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas
derem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino mesmas áreas; (Redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração III – trabalhadores em educação, portadores de diplo-
para concluir em menor tempo o programa escolar para os ma de curso técnico ou superior em área pedagógica ou
superdotados; afim. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)
III - professores com especialização adequada em nível IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
médio ou superior, para atendimento especializado, bem respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
como professores do ensino regular capacitados para a in- de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
tegração desses educandos nas classes comuns; atestados por titulação específica ou prática de ensino em
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condi- corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva-
ções adequadas para os que não revelarem capacidade mente para atender ao inciso V do caput do art. 36; (In-
de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação cluído pela lei nº 13.415, de 2017)
com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que V - profissionais graduados que tenham feito com-
apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, in- plementação pedagógica, conforme disposto pelo Con-
telectual ou psicomotora; selho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas so- de 2017)
ciais suplementares disponíveis para o respectivo nível do Parágrafo único. A formação dos profissionais da edu-
ensino regular. cação, de modo a atender às especificidades do exercício
Art. 59-A.  O poder público deverá instituir cadastro de suas atividades, bem como aos objetivos das diferen-
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação tes etapas e modalidades da educação básica, terá como
matriculados na educação básica e na educação superior, a fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)
fim de fomentar a execução de políticas públicas destina- I – a presença de sólida formação básica, que propi-
das ao desenvolvimento pleno das potencialidades desse cie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais
alunado. (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) de suas competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. A identificação precoce de alunos com 12.014, de 2009)
altas habilidades ou superdotação, os critérios e procedi- II – a associação entre teorias e práticas, mediante es-
mentos para inclusão no cadastro referido no caput deste tágios supervisionados e capacitação em serviço; (Incluí-
artigo, as entidades responsáveis pelo cadastramento, os do pela Lei nº 12.014, de 2009)
mecanismos de acesso aos dados do cadastro e as políti- III – o aproveitamento da formação e experiências an-
cas de desenvolvimento das potencialidades do alunado teriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
de que trata o caput serão definidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 12.014, de 2009)

90
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu- § 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto
cação básica far-se-á em nível superior, em curso de li- no caput deste artigo os professores das redes públicas
cenciatura plena, admitida, como formação mínima para municipais, estaduais e federal que ingressaram por con-
o exercício do magistério na educação infantil e nos cin- curso público, tenham pelo menos três anos de exercício
co primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida da profissão e não sejam portadores de diploma de gra-
em nível médio, na modalidade normal. (Redação dada duação. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017)
pela lei nº 13.415, de 2017) § 2o As instituições de ensino responsáveis pela ofer-
§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- ta de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini-
nicípios, em regime de colaboração, deverão promover rão critérios adicionais de seleção sempre que acorrerem
a formação inicial, a continuada e a capacitação dos aos certames interessados em número superior ao de
profissionais de magistério. (Incluído pela Lei nº 12.056, vagas disponíveis para os respectivos cursos. (Incluído
de 2009). pela Lei nº 13.478, de 2017)
§ 2º A formação continuada e a capacitação dos § 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem
profissionais de magistério poderão utilizar recursos e definidos em regulamento pelas universidades, terão
tecnologias de educação a distância. (Incluído pela Lei prioridade de ingresso os professores que optarem por
nº 12.056, de 2009). cursos de licenciatura em matemática, física, quími-
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté- ca, biologia e língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº
rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria- 13.478, de 2017)
mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu- Art. 63. Os institutos superiores de educação mante-
cação a distância. (Incluído pela Lei nº 12.056, de 2009). rão: (Regulamento)
§ 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- I - cursos formadores de profissionais para a educa-
nicípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e ção básica, inclusive o curso normal superior, destinado
permanência em cursos de formação de docentes em à formação de docentes para a educação infantil e para
nível superior para atuar na educação básica pública. as primeiras séries do ensino fundamental;
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - programas de formação pedagógica para porta-
§ 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu- dores de diplomas de educação superior que queiram se
nicípios incentivarão a formação de profissionais do ma- dedicar à educação básica;
gistério para atuar na educação básica pública mediante III - programas de educação continuada para os pro-
programa institucional de bolsa de iniciação à docência fissionais de educação dos diversos níveis.
a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, de Art. 64. A formação de profissionais de educação
graduação plena, nas instituições de educação superior. para administração, planejamento, inspeção, supervisão
(Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) e orientação educacional para a educação básica, será
§ 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível
nota mínima em exame nacional aplicado aos concluin- de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, ga-
tes do ensino médio como pré-requisito para o ingresso rantida, nesta formação, a base comum nacional.
em cursos de graduação para formação de docentes, Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
ouvido o Conselho Nacional de Educação - CNE. (Incluí- superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre-
do pela Lei nº 12.796, de 2013) zentas horas.
§ 7o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) Art. 66. A preparação para o exercício do magistério
§ 8o Os currículos dos cursos de formação de docen- superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritaria-
tes terão por referência a Base Nacional Comum Curri- mente em programas de mestrado e doutorado.
cular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) (Vide Lei nº Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por
13.415, de 2017) universidade com curso de doutorado em área afim, po-
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re- derá suprir a exigência de título acadêmico.
fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valori-
conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou supe- zação dos profissionais da educação, assegurando-lhes,
rior, incluindo habilitações tecnológicas. (Incluído pela inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car-
Lei nº 12.796, de 2013) reira do magistério público:
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada I - ingresso exclusivamente por concurso público de
para os profissionais a que se refere o caput, no local de provas e títulos;
trabalho ou em instituições de educação básica e supe- II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclu-
rior, incluindo cursos de educação profissional, cursos sive com licenciamento periódico remunerado para esse
superiores de graduação plena ou tecnológicos e de fim;
pós-graduação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) III - piso salarial profissional;
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públi- IV - progressão funcional baseada na titulação ou
cas de educação básica a cursos superiores de pedago- habilitação, e na avaliação do desempenho;
gia e licenciatura será efetivado por meio de processo V - período reservado a estudos, planejamento e
seletivo diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de avaliação, incluído na carga de trabalho;
2017) VI - condições adequadas de trabalho.

91
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1o A experiência docente é pré-requisito para o exer- I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de
cício profissional de quaisquer outras funções de magis- cada mês, até o vigésimo dia;
tério, nos termos das normas de cada sistema de ensino. II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé-
(Renumerado pela Lei nº 11.301, de 2006) simo dia de cada mês, até o trigésimo dia;
§ 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao
no  § 8o do art. 201 da Constituição Federal, são conside- final de cada mês, até o décimo dia do mês subseqüente.
radas funções de magistério as exercidas por professores § 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor-
e especialistas em educação no desempenho de ativida- reção monetária e à responsabilização civil e criminal das
des educativas, quando exercidas em estabelecimento de autoridades competentes.
educação básica em seus diversos níveis e modalidades, Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de-
incluídas, além do exercício da docência, as de direção de senvolvimento do ensino as despesas realizadas com vis-
unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pe- tas à consecução dos objetivos básicos das instituições
dagógico. (Incluído pela Lei nº 11.301, de 2006) educacionais de todos os níveis, compreendendo as que
§ 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, se destinam a:
ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de con- I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen-
cursos públicos para provimento de cargos dos profissio- te e demais profissionais da educação;
nais da educação. (Incluído pela Lei nº 12.796, de 2013) II - aquisição, manutenção, construção e conservação
de instalações e equipamentos necessários ao ensino;
TÍTULO VII III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados
Dos Recursos financeiros ao ensino;
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e
os originários de: à expansão do ensino;
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, V - realização de atividades-meio necessárias ao fun-
do Distrito Federal e dos Municípios; cionamento dos sistemas de ensino;
II - receita de transferências constitucionais e outras VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas
transferências; públicas e privadas;
III - receita do salário-educação e de outras contribui- VII - amortização e custeio de operações de crédito
ções sociais; destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo;
IV - receita de incentivos fiscais; VIII - aquisição de material didático-escolar e manu-
V - outros recursos previstos em lei. tenção de programas de transporte escolar.
Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e
dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vin- desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com:
te e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas Consti- I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de
tuições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de impostos, ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino,
compreendidas as transferências constitucionais, na manu- que não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua
tenção e desenvolvimento do ensino público. (Vide Medida qualidade ou à sua expansão;
Provisória nº 773, de 2017) (Vigência encerrada) II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida caráter assistencial, desportivo ou cultural;
pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí- III - formação de quadros especiais para a administra-
pios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não será ção pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáti-
considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, cos;
receita do governo que a transferir. IV - programas suplementares de alimentação, assis-
§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de im- tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e
postos mencionadas neste artigo as operações de crédito outras formas de assistência social;
por antecipação de receita orçamentária de impostos. V - obras de infra-estrutura, ainda que realizadas para
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a re- VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educa-
ceita estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quan- ção, quando em desvio de função ou em atividade alheia à
do for o caso, por lei que autorizar a abertura de créditos manutenção e desenvolvimento do ensino.
adicionais, com base no eventual excesso de arrecadação. Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos
e as efetivamente realizadas, que resultem no não atendi- balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a
mento dos percentuais mínimos obrigatórios, serão apu- que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
radas e corrigidas a cada trimestre do exercício financeiro. Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priori-
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do tariamente, na prestação de contas de recursos públicos,
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu- o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
nicípios ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
educação, observados os seguintes prazos: Transitórias e na legislação concernente.

92
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o TÍTULO VIII


Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mí- Das Disposições Gerais
nimo de oportunidades educacionais para o ensino fun-
damental, baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a co-
capaz de assegurar ensino de qualidade. laboração das agências federais de fomento à cultura
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo e de assistência aos índios, desenvolverá programas
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade integrados de ensino e pesquisa, para oferta de edu-
para o ano subseqüente, considerando variações regionais cação escolar bilingüe e intercultural aos povos indí-
no custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino. genas, com os seguintes objetivos:
Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos I - proporcionar aos índios, suas comunidades e
Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamen- povos, a recuperação de suas memórias históricas; a
te, as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização
de qualidade de ensino. de suas línguas e ciências;
§ 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a II - garantir aos índios, suas comunidades e povos,
fórmula de domínio público que inclua a capacidade de o acesso às informações, conhecimentos técnicos e
atendimento e a medida do esforço fiscal do respectivo científicos da sociedade nacional e demais sociedades
Estado, do Distrito Federal ou do Município em favor da indígenas e não-índias.
manutenção e do desenvolvimento do ensino. Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente
§ 2º A capacidade de atendimento de cada governo os sistemas de ensino no provimento da educação in-
será definida pela razão entre os recursos de uso constitu- tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo
cionalmente obrigatório na manutenção e desenvolvimen- programas integrados de ensino e pesquisa.
to do ensino e o custo anual do aluno, relativo ao padrão § 1º Os programas serão planejados com audiência
mínimo de qualidade. das comunidades indígenas.
§ 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e § 2º Os programas a que se refere este artigo, in-
2º, a União poderá fazer a transferência direta de recursos cluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os
a cada estabelecimento de ensino, considerado o número seguintes objetivos:
de alunos que efetivamente freqüentam a escola. I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua
§ 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser materna de cada comunidade indígena;
exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos II - manter programas de formação de pessoal es-
Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino pecializado, destinado à educação escolar nas comu-
de sua responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 nidades indígenas;
e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua III - desenvolver currículos e programas específi-
capacidade de atendimento. cos, neles incluindo os conteúdos culturais correspon-
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no ar- dentes às respectivas comunidades;
tigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento IV - elaborar e publicar sistematicamente material
pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto didático específico e diferenciado.
nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições legais. § 3 o No que se refere à educação superior, sem
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- prejuízo de outras ações, o atendimento aos povos
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, indígenas efetivar-se-á, nas universidades públicas e
confessionais ou filantrópicas que: privadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
resultados, dividendos, bonificações, participações ou par- senvolvimento de programas especiais. (Incluído pela
cela de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto; Lei nº 12.416, de 2011)
II - apliquem seus excedentes financeiros em educação; Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639,
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra de 9.1.2003)
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Po- Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
der Público, no caso de encerramento de suas atividades; novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re- (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
cebidos. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvi-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser mento e a veiculação de programas de ensino a dis-
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na tância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e
forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de de educação continuada. (Regulamento) (Regulamen-
recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares to)
da rede pública de domicílio do educando, ficando o Poder § 1º A educação a distância, organizada com aber-
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão tura e regime especiais, será oferecida por instituições
da sua rede local. especificamente credenciadas pela União.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão § 2º A União regulamentará os requisitos para a
poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclu- realização de exames e registro de diploma relativos a
sive mediante bolsas de estudo. cursos de educação a distância.

93
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de I - (revogado); (Redação dada pela lei nº 12.796, de
programas de educação a distância e a autorização para 2013)
sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de a) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
ensino, podendo haver cooperação e integração entre os 2006)
diferentes sistemas. (Regulamento) b) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento dife- 2006)
renciado, que incluirá: c) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 11.274, de
I - custos de transmissão reduzidos em canais comer- 2006)
ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em ou- II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens
tros meios de comunicação que sejam explorados median- e adultos insuficientemente escolarizados;
te autorização, concessão ou permissão do poder público; III - realizar programas de capacitação para todos os
(Redação dada pela Lei nº 12.603, de 2012) professores em exercício, utilizando também, para isto, os
II - concessão de canais com finalidades exclusivamen- recursos da educação a distância;
te educativas; IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino fun-
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder damental do seu território ao sistema nacional de avaliação
Público, pelos concessionários de canais comerciais. do rendimento escolar.
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou insti- § 4º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de
tuições de ensino experimentais, desde que obedecidas as 2013)
disposições desta Lei. § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
federal sobre a matéria. (Redação dada pela Lei nº 11.788, § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao
de 2008) Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados
 Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei aos seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimen-
nº 11.788, de 2008) to do art. 212 da Constituição Federal e dispositivos legais
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, pertinentes pelos governos beneficiados.
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as nor- Art. 87-A. (VETADO). (Incluído pela lei nº 12.796, de
mas fixadas pelos sistemas de ensino. 2013)
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas res- nicípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
pectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a
acordo com seu rendimento e seu plano de estudos. partir da data de sua publicação. (Regulamento) (Regula-
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação mento)
própria poderá exigir a abertura de concurso público de § 1º As instituições educacionais adaptarão seus esta-
provas e títulos para cargo de docente de instituição públi- tutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas
ca de ensino que estiver sendo ocupado por professor não dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos estabelecidos.
assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do § 2º O prazo para que as universidades cumpram o dis-
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. posto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Art. 86. As instituições de educação superior constituídas Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
como universidades integrar-se-ão, também, na sua condi- nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar
ção de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciên- da publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema
cia e Tecnologia, nos termos da legislação específica. de ensino.
Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o
TÍTULO IX regime anterior e o que se institui nesta Lei serão resol-
Das Disposições Transitórias vidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, mediante
delegação deste, pelos órgãos normativos dos sistemas de
 Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se ensino, preservada a autonomia universitária.
um ano a partir da publicação desta Lei. Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publica- cação.
ção desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Pla- Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,
no Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro
dez anos seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de no-
sobre Educação para Todos. vembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e,
§ 2º (Revogado). (Redação dada pela lei nº 12.796, de ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044,
2013) de 18 de outubro de 1982, e as demais leis e decretos-
§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, su- -lei que as modificaram e quaisquer outras disposições em
pletivamente, a União, devem: (Redação dada pela Lei nº contrário.
11.330, de 2006)

94
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Brasília, 20 de dezembro de 1996; 175º da Indepen- VI - estímulo do Poder Público, através de assistên-
dência e 108º da República. cia jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
Paulo Renato Souza adolescente órfão ou abandonado;
Este texto não substitui o publicado no DOU de VII - programas de prevenção e atendimento espe-
23.12.1996 cializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente
de entorpecentes e drogas afins.
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a
exploração sexual da criança e do adolescente.
LEI Nº 8.069/90 - ESTATUTO DA CRIANÇA E § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na
DO ADOLESCENTE; forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua
efetivação por parte de estrangeiros.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casa-
mento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e quali-
Noções introdutórias e disciplina constitucional ficações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Es- § 7º No atendimento dos direitos da criança e do ado-
tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com lescente levar-se-á em consideração o disposto no art. 204
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta- .
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à § 8º A lei estabelecerá:
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar I - o estatuto da juventude, destinado a regular os
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma direitos dos jovens;
de negligência, discriminação, exploração, violência, II - o plano nacional de juventude, de duração dece-
crueldade e opressão. nal, visando à articulação das várias esferas do poder públi-
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência co para a execução de políticas públicas. 
integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem,
admitida a participação de entidades não governamen- No caput do artigo 227, CF se encontra uma das prin-
tais, mediante políticas específicas e obedecendo aos se- cipais diretrizes do direito da criança e do adolescente que
guintes preceitos: é o princípio da prioridade absoluta. Significa que cada
I - aplicação de percentual dos recursos públicos des- criança e adolescente deve receber tratamento especial do
tinados à saúde na assistência materno-infantil; Estado e ser priorizado em suas políticas públicas, pois são
II - criação de programas de prevenção e atendimen- o futuro do país e as bases de construção da sociedade.
to especializado para as pessoas portadoras de deficiência A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 dispõe sobre o
física, sensorial ou mental, bem como de integração social Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providên-
do adolescente e do jovem portador de deficiência, me- cias, seguindo em seus dispositivos a ideologia do princí-
diante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a pio da absoluta prioridade.
facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a No §1º do artigo 227 aborda-se a questão da assistência à
eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as for- saúde da criança e do adolescente. Do inciso I se depreende a
mas de discriminação. intrínseca relação entre a proteção da criança e do adolescente
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos com a proteção da maternidade e da infância, mencionada no
logradouros e dos edifícios de uso público e de fabrica- artigo 6º, CF. Já do inciso II se depreende a proteção de ou-
ção de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir tro grupo vulnerável, que é a pessoa portadora de deficiência,
acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. valendo lembrar que o Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os se- 2009, que promulga a Convenção Internacional sobre os Di-
guintes aspectos: reitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao assinados em Nova York, em 30 de março de 2007, foi pro-
trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; mulgado após aprovação no Congresso Nacional nos moldes
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhis- da Emenda Constitucional nº 45/2004, tendo força de norma
tas; constitucional e não de lei ordinária. A preocupação com o di-
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e reito da pessoa portadora de deficiência se estende ao §2º do
jovem à escola; artigo 227, CF: “a lei disporá sobre normas de construção dos
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação
atribuição de ato infracional, igualdade na relação pro- de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso
cessual e defesa técnica por profissional habilitado, se- adequado às pessoas portadoras de deficiência”.
gundo dispuser a legislação tutelar específica; A proteção especial que decorre do princípio da prio-
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcio- ridade absoluta está prevista no §3º do artigo 227. Liga-se,
nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em ainda, à proteção especial, a previsão do §4º do artigo 227:
desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medi- “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a explora-
da privativa da liberdade; ção sexual da criança e do adolescente”.

95
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Tendo em vista o direito de toda criança e adolescente em vista que só se costuma colocar o Estado como obser-
de ser criado no seio de uma família, o §5º do artigo 227 da vador da “Doutrina da Proteção Integral”, sendo que isso
Constituição prevê que “a adoção será assistida pelo Poder também compete à família e à sociedade.
Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condi- Nesta frequência, o direito à proteção especial abran-
ções de sua efetivação por parte de estrangeiros”. Neste gerá os seguintes aspectos (art. 227, §3º, CF):
sentido, a Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009, dispõe - A idade mínima de dezesseis anos para admissão ao
sobre a adoção. trabalho, salvo a partir dos quatorze anos, na condição de
A igualdade entre os filhos, quebrando o paradigma da aprendiz (inciso I de acordo com o art. 7º, XXXIII, CF, pós-al-
Constituição anterior e do até então vigente Código Civil teração promovida pela Emenda Constitucional nº 20/98);
de 1916 consta no artigo 227, § 6º, CF: “os filhos, havidos - A garantia de direitos previdenciários e trabalhistas
ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os (inciso II);
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer de- - A garantia de acesso ao trabalhador adolescente e
signações discriminatórias relativas à filiação”. jovem à escola (inciso III);
Quando o artigo 227 dispõe no § 7º que “no atendi- - A garantia de pleno e formal conhecimento da atri-
mento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á buição do ato infracional, igualdade na relação processual
em consideração o disposto no art. 204” tem em vista a e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dis-
adoção de práticas de assistência social, com recursos da puser a legislação tutelar específica (inciso IV);
seguridade social, em prol da criança e do adolescente. - A obediência aos princípios de brevidade, excepcio-
Por seu turno, o artigo 227, § 8º, CF, preconiza: “A lei es- nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em de-
tabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular senvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida
os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, privativa de liberdade (inciso V);
de duração decenal, visando à articulação das várias esferas - O estímulo do Poder Público, através de assistência
do poder público para a execução de políticas públicas”. A jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, institui o Estatu- acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adoles-
to da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os cente órfão ou abandonado (inciso VI);
princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e - Programas de prevenção e atendimento especializa-
o Sistema Nacional de Juventude - SINAJUVE. Mais infor- do à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de
mações sobre a Política mencionada no inciso II e sobre a entorpecentes e drogas afins (inciso VII).
Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude que dire- Prosseguindo, o parágrafo sexto, do art. 227, da Constitui-
cionam a implementação dela podem ser obtidas na rede ção, garante o “Princípio da Igualdade entre os Filhos”, ao dis-
. por que os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou
Aprofundando o tema, a cabeça do art. 227, da Lei Fun- por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
damental, preconiza ser dever da família, da sociedade e quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, Assim, com a Constituição Federal, os filhos não têm
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à ali- mais “valor” para efeito de direitos alimentícios e suces-
mentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cul- sórios. Não se pode falar em um filho receber metade da
tura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência parte que originalmente lhe cabia por ser “bastardo”, en-
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda quanto aquele fruto da sociedade conjugal receber a quan-
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tia integral. Aliás, nem mesmo a expressão “filho bastardo”
crueldade e opressão. pode mais ser utilizada, por representar uma forma de dis-
A leitura do art. 227, caput, da Constituição Federal criminação designatória.
permite concluir que se adotou, neste país, a chamada Também, o art. 229 traz uma “via de mão dupla” entre
“Doutrina da Proteção Integral da Criança”, ao lhe asse- pais e filhos, isto é, os pais têm o dever de assistir, criar e
gurar a absoluta prioridade em políticas públicas, medidas educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de
sociais, decisões judiciais, respeito aos direitos humanos, e ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
observância da dignidade da pessoa humana. Neste sen- Tal dispositivo, inclusive, permite que os filhos peçam alimen-
tido, o parágrafo único, do art. 5º, do “Estatuto da Crian- tos aos pais, e que os pais peçam alimentos aos filhos.
ça e do Adolescente”, prevê que a garantia de priorida- Por fim, há se mencionar o acrescentado parágrafo oi-
de compreende a primazia de receber proteção e socorro tavo (pela Emenda Constitucional nº 65/2010), ao art. 227,
em quaisquer circunstâncias (alínea “a”), a precedência de da Constituição Federal, segundo o qual a lei estabelecerá
atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos
(alínea “b”), a preferência na formulação e na execução das jovens (inciso I), e o plano nacional de juventude, de du-
políticas sociais públicas (alínea “c”), e a destinação privi- ração decenal, visando à articulação das várias esferas do
legiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a poder público para a execução de políticas públicas (inciso
proteção à infância e à juventude (alínea “d”). II). Nada obstante a exigência constitucional desde 2010,
Ademais, a proteção à criança, ao adolescente e ao jo- somente bem recentemente o Estatuto da Juventude foi
vem representa incumbência atribuída não só ao Estado, aprovado (Lei nº 12.852/2013), como visto acima, carecen-
mas também à família e à sociedade. Sendo assim, há se do, ainda, o Plano Nacional de Juventude de maior regula-
prestar bastante atenção nas provas de concurso, tendo mentação infraconstitucional.

96
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Evolução histórica No Brasil, no final do século XIX e início do século XX,


foi instituído no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e
Na Grécia antiga, a criança era colocada numa po- Assistência à Infância, primeiro estabelecimento público
sição de inferioridade, tida como um ser irracional, sem nacional de atendimento a crianças e adolescentes. Em se-
capacidade de tomar qualquer tipo de decisão. Trata-se guida, veio a Lei nº 4.242/1921, que autorizou o governo
de marco da cultura grega, que enxergava apenas pou- a organizar o Serviço de Assistência e Proteção à Infância
cos homens de posses como cidadãos. Estes homens con- Abandonada e Dellinquente. Em 1927 foi aprovado o pri-
centravam para si o pátrio poder, isto é, o poder do pai. meiro Código de Menores. Em 1941, durante o governo
Devido ao pátrio poder, o pai de família concentrava em Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor, cujo
suas mãos plena possibilidade de gerir a vida das crianças fim era dar tratamento penal teoricamente diferenciado
e adolescentes e estes não tinham nenhuma possibilidade aos menores (na prática, eram tratados como criminosos
de participar destas decisões. Na Idade Média se manteve comuns). Em 1964 surge a Política Nacional do Bem-estar
o sistema do “pátrio poder”. As crianças eram submetidas do Menor (Lei nº 4.513/1964), que criou a FUNABEM. Surge
ao absoluto poder do pai e seus destinos seguiam a mes- novo Código de Menores em 1979 (Lei nº 6.697), cujo obje-
ma sorte. to era a proteção e vigilância de crianças e adolescentes em
A partir da Idade Moderna, com o Renascimento e o situação irregular. Na década de 80 começa um movimen-
Iluminismo, as crianças e os adolescentes saíram ligeira- to de reelaboração da concepção de infância e juventude.
mente da margem social. A moral da época passa a im- O destaque repercute na Constituição Federal de 1988 e no
por aos pais o dever de educar seus filhos. Entretanto, a Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, que revo-
educação costumava ser oferecida apenas aos homens. gou o Código de Menores e substituiu a doutrina da situa-
Aqueles que possuíam melhores condições enviavam seus ção irregular pela doutrina da proteção integral
filhos para estudarem nas universidades que começavam
a despontar na Europa, aqueles que possuíam condições Relações jurídicas no direito da criança e do ado-
piores ao menos passavam a ensinar seus ofícios a estes lescente
jovens. Já as meninas permaneciam marginalizadas das
atividades educacionais e profissionalizantes, apenas lhes “As relações jurídicas são formas qualificadas de re-
era ensinado como desempenhar atividades domésticas. lações interpessoais, indicando, assim, a ligação entre
Desde o final da Revolução Francesa e, com destaque, pessoas, em razão de algum objeto, devidamente regu-
a partir da Revolução Industrial, que alterou substancial- lada pelo direito. Desta forma, o Direito da Criança e do
mente os modos e métodos de produção, a criança e o Adolescente, sob o aspecto objetivo e formal, representa
adolescente passam a ocupar papel central na sociedade, a disciplina das relações jurídicas entre Crianças e Adoles-
desempenhando atividades trabalhistas de caráter equiva- centes, de um lado, e de outro, a família, a comunidade,
lente a dos adultos. Foram vítimas de inúmeros acidentes a sociedade e o próprio Estado. [...] Percebemos que a in-
de trabalho, morriam em meio à insalubridade das fábri- tenção dos doutrinadores e do próprio legislador foi, sem-
cas, então movidas predominantemente a carvão. Foi ape- pre, criar uma doutrina da proteção integral não somente
nas com a emergência da Organização Internacional do para a Criança, como, ainda, para o Adolescente, ambos
Trabalho – OIT, em 1919, que aos poucos se consolidou ainda em desenvolvimento, posto que, somente com o tér-
uma consciência a respeito da necessidade de se limitar mino da adolescência é que o menor completará o pro-
a participação das crianças e adolescentes no espaço de cesso de aquisição de mecanismos mentais relacionados
trabalho. Este foi o estopim para o reconhecimento da ao pensamento, percepção, reconhecimento, classificação
condição especial da criança e do adolescente. etc. [...] Com isso, o Estatuto da Criança e do Adolescen-
Internacionalmente, a proteção efetiva da criança e te, sabiamente, se preocupou em envolver não somente a
do adolescente começa a tomar corpo com o reconheci- família, mas, ainda, a comunidade, a sociedade e o próprio
mento internacional dos direitos humanos e a fundação Estado, para que todos, em conjunto, exerçam seus direitos
da UNICEF. A UNICEF, inicialmente conhecida como Fundo e deveres sem oprimir aqueles que, em condição inferior, vi-
Internacional de Emergência das Nações Unidas para as viam a mercê da sociedade. Mas, qual a razão dessa inclusão
Crianças, foi criada em dezembro de 1946 para ajudar as tão abrangente? Pois bem, a intenção do Estatuto da Criança
crianças da Europa vítimas da II Guerra Mundial. No início e do Adolescente foi conferir ao menor, de forma integral,
da década de 50 o seu mandato foi alargado para respon- todas as condições para que o mesmo possa desenvolver-
der às necessidades das crianças e das mães nos países em -se plenamente, evitando-se, com isso, que haja alguma de-
desenvolvimento. Em 1953, torna-se uma agência perma- ficiência em sua formação. Desta forma, a melhor solução
nente das Nações Unidas, e passa a ocupar-se especial- apresentada pelo legislador foi incluir todos os segmentos
mente das crianças dos países mais pobres da África, Ásia, da sociedade, para que ninguém ficasse isento de qualquer
América Latina e Médio Oriente. Passa então a designar-se responsabilidade, uma vez que a doutrina da proteção inte-
Fundo das Nações Unidas para a Infância, mas mantém a gral apresentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescen-
sigla que a tornara conhecida em todo o mundo – UNICEF. te exige a participação de todos, sem qualquer exceção”
Desde então, sobrevieram no âmbito das Nações Unidas . Com efeito, o objeto formal do direito da criança e do ado-
documentos bastante relevantes sobre a condição jurídica lescente é a proteção jurídica especial da criança e do adoles-
peculiar da criança, já estudados neste material. cente. Já o objeto material é a própria criança ou adolescente.

97
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Princípios sequência, jurídico que pretende colocar a pessoa humana


como um sujeito pleno de direitos e obrigações na or-
Não se pode olvidar que os princípios sempre desem- dem internacional e nacional, cujo desrespeito acarreta a
penharam um importante papel social, mas foi somente própria exclusão de sua personalidade.
na atual dogmática jurídica que eles adquiriram normati- Aponta Barroso
vidade. Hoje em dia, os princípios servem para condensar : “o princípio da dignidade da pessoa humana iden-
valores, dar unidade ao sistema e condicionar a atividade tifica um espaço de integridade moral a ser assegurado a
do intérprete. Os princípios são normas jurídicas, não me- todas as pessoas por sua só existência no mundo. É um
ros conteúdos axiológicos, aceitando aplicação autônoma respeito à criação, independente da crença que se professe
. quanto à sua origem. A dignidade relaciona-se tanto com
Em resumo, a teoria dos princípios chega à presente a liberdade e valores do espírito como com as condições
fase do Pós-positivismo com os seguintes resultados já materiais de subsistência”.
consolidados: a passagem dos princípios da especulação O Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Perei-
metafísica e abstrata para o campo concreto e positivo ra, do Tribunal Superior do Trabalho, trouxe interessante
do Direito, com baixíssimo teor de densidade normativa; conceito numa das decisões que relatou: “a dignidade
a transição crucial da ordem jusprivatista (sua antiga in- consiste na percepção intrínseca de cada ser humano a
serção nos Códigos) para a órbita juspublicística (seu in- respeito dos direitos e obrigações, de modo a assegurar,
gresso nas Constituições); a suspensão da distinção clás- sob o foco de condições existenciais mínimas, a participa-
sica entre princípios e normas; o deslocamento dos prin- ção saudável e ativa nos destinos escolhidos, sem que isso
cípios da esfera da jusfilosofia para o domínio da Ciência importe destilação dos valores soberanos da democracia
Jurídica; a proclamação de sua normatividade; a perda de e das liberdades individuais. O processo de valorização
seu caráter de normas programáticas; o reconhecimen- do indivíduo articula a promoção de escolhas, posturas e
to definitivo de sua positividade e concretude por obra sonhos, sem olvidar que o espectro de abrangência das
sobretudo das Constituições; a distinção entre regras e liberdades individuais encontra limitação em outros di-
princípios, como espécies diversificadas do gênero nor- reitos fundamentais, tais como a honra, a vida privada, a
ma, e, finalmente, por expressão máxima de todo esse intimidade, a imagem. Sobreleva registrar que essas ga-
desdobramento doutrinário, o mais significativo de seus rantias, associadas ao princípio da dignidade da pessoa
efeitos: a total hegemonia e preeminência dos princípios humana, subsistem como conquista da humanidade, ra-
. zão pela qual auferiram proteção especial consistente em
No campo do direito da criança e do adolescente, al- indenização por dano moral decorrente de sua violação”
guns princípios assumem destaque, entre eles: .
a) Princípio da prioridade absoluta: previsto nos ar- Para Reale
tigos 227, CF e 4º, ECA preconiza que é dever de todos – , a evolução histórica demonstra o domínio de um
Estado, sociedade, comunidade e família – assegurar com valor sobre o outro, ou seja, a existência de uma ordem
absoluta prioridade direitos fundamentais às crianças e gradativa entre os valores; mas existem os valores funda-
adolescentes. Por isso, estabelece-se com primazia a ado- mentais e os secundários, sendo que o valor fonte é o da
ção de políticas públicas, a destinação de recursos e a pres- pessoa humana. Nesse sentido, são os dizeres de Reale
tação de serviços essenciais àqueles que se encontram na : “partimos dessa ideia, a nosso ver básica, de que a pessoa
faixa etária inferior a 18 anos. humana é o valor-fonte de todos os valores. O homem, como
b) Princípio da proteção integral: previsto no artigo ser natural biopsíquico, é apenas um indivíduo entre outros
1º, ECA estabelece que a proteção da criança e do adoles- indivíduos, um ente animal entre os demais da mesma es-
cente não pode se restringir às situações de irregularidade, pécie. O homem, considerado na sua objetividade espiritual,
o que teria um caráter estigmatizante, mas deve abranger enquanto ser que só realiza no sentido de seu dever ser, é o
todas as situações de vida pelas quais passa a criança e o que chamamos de pessoa. Só o homem possui a dignidade
adolescente, mesmo as regulares. Neste sentido, ao se as- originária de ser enquanto deve ser, pondo-se essencialmen-
segurar direitos na regularidade, evita-se que a criança e o te como razão determinante do processo histórico”.
adolescente caiam em irregularidade. Quando a Constituição Federal assegura a dignidade da
c) Princípio da dignidade da pessoa humana: A dig- pessoa humana como um dos fundamentos da República, faz
nidade da pessoa humana é o valor-base de interpretação emergir uma nova concepção de proteção de cada membro
de qualquer sistema jurídico, internacional ou nacional, do seu povo. Tal ideologia de forte fulcro humanista guia a
que possa se considerar compatível com os valores éticos, afirmação de todos os direitos fundamentais e confere a eles
notadamente da moral, da justiça e da democracia. Pensar posição hierárquica superior às normas organizacionais do Es-
em dignidade da pessoa humana significa, acima de tudo, tado, de modo que é o Estado que está para o povo, devendo
colocar a pessoa humana como centro e norte para qual- garantir a dignidade de seus membros, e não o inverso.
quer processo de interpretação jurídico, seja na elaboração d) Princípio da participação popular: previsto no ar-
da norma, seja na sua aplicação. tigo 227, §§ 3º e 7º e no artigo 204, II, CF, assegura a par-
Sem pretender estabelecer uma definição fechada ou ticipação popular, através de organizações representativas,
plena, é possível conceituar dignidade da pessoa humana na elaboração de políticas públicas direcionadas à infância
como o principal valor do ordenamento ético e, por con- e à juventude.

98
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

e) Princípio da excepcionalidade: previsto no artigo ignorados, como se não existissem, chega-se ao terceiro e
227, §3º, V, CF assegura que quando da imposição de me- mais importante: a interpretação do conceito de autono-
dida privativa de liberdade esta não será imposta a não mia à luz do momento de desenvolvimento em que uma
ser que se trate de um caso excepcional, em que nenhuma determinada criança ou adolescente se encontra.
outra medida sócio-educativa possa ser utilizada. Nesse sentido, diversas características do desenvolvi-
f) Princípio da brevidade: previsto no artigo 227, §3º, mento devem ser levadas em consideração:
V, CF assegura que quando da aplicação de medida privati- 1. Trata-se de um processo que evolui continuamente à
va de liberdade esta não se estenderá no tempo, devendo medida que habilidades se aperfeiçoam, novas capacidades
ser a mais breve possível, perdurando apenas pelo prazo são adquiridas, novas vivências são acumuladas e integradas e,
necessário para a ressocialização do adolescente. No caso, portanto, passível de rápidas e extremas mudanças no tempo;
o ECA limita a aplicação de medidas desta natureza ao pra- 2. A aquisição das competências é progressiva, não se
zo máximo de 3 anos. dá saltos, como se se tratasse de compartimentos estan-
g) Princípio da condição peculiar da pessoa em de- ques, e segue sempre uma ordem preestabelecida, sendo,
senvolvimento: a criança e o adolescente estão em pro- portanto, razoavelmente previsível;
cesso de formação e de transformação física e psíquica, 3. Os tempos e o ritmo em que o desenvolvimento se
logo, possuem uma condição peculiar que deve ser respei- processa são muito individualizados, fazendo com que dois
tada quando da aplicação da lei. indivíduos de uma mesma idade possam estar em momen-
tos diferentes de desenvolvimento;
Autonomia da criança e do adolescente 4. No caso específico da inteligência, o desenvolvimen-
to é extremamente influenciável por fatores extrínsecos ao
Coloca-se o trecho do trabalho de Cláudio Leone indivíduo: as experiências, os estímulos, o ambiente, a edu-
em que reflete sobre a construção da autonomia do in- cação, a cultura, etc., o que também acaba por reforçar sua
fante: evolução extremamente individualizada.
“Conceitualmente, a análise do respeito à autonomia Segundo Piaget, a capacidade de operar o pensamen-
de uma criança ou de um adolescente só tem sentido se for to concreto estendendo-o à compreensão do outro e às
conduzida a partir do conhecimento da evolução de suas possíveis consequências de boa parte dos seus atos se
competências nas diferentes idades. É de conhecimento aperfeiçoa na idade escolar, entre os 6 e os 11 anos de vida.
de todos que a criança nasce totalmente dependente de Este amadurecimento se completa na adolescência, com a
cuidados alheios e que passa por um processo de desen- capacidade crescente de abstração que a criança desenvol-
volvimento progressivo que a leva a alcançar a completa ve nesta fase da existência. Como consequência, é possível
independência na maturidade, o que, nas sociedades mo- admitir que é na segunda fase da adolescência, em geral a
dernas, se situa por volta dos vinte anos de idade. partir dos 15 anos, que o indivíduo atingiria as competên-
Entretanto, para que este processo de análise de sua cias necessárias para o exercício de sua autonomia, com-
autonomia transcorra de maneira isenta, fundamentalmen- petências estas que necessitariam apenas serem lapidadas
te centrado nas peculiaridades do desenvolvimento do ser ao longo das vivências e de uma maior experiência de vida.
humano, o primeiro ponto a ser considerado é a necessida- Entretanto, isto não significa que a autonomia da crian-
de de abdicar de alguns conceitos preestabelecidos, como ça e do adolescente só possa (ou deva) ser respeitada a
é o caso da atitude paternalista. [...] partir desta fase.
O segundo ponto a considerar neste percurso, em ge- Compete ao pediatra e aos demais profissionais de saúde,
ral decorrente do primeiro, é a própria legislação que, mes- utilizando suas competências profissionais, definir já desde os
mo tendo o melhor dos intuitos, praticamente nivela todos primeiros anos de vida em que etapa a criança se encontra
os menores a uma mesma condição: a de incapacidade, ao longo do seu processo evolutivo, tentando diferenciar se
criando a necessidade de se ter figuras aptas a decidir e se está diante de uma tomada de decisão ditada apenas pelo
responder por eles, como se estas figuras fossem sempre e receio do desconhecido, por um capricho ou vontade decor-
inevitavelmente imbuídas das melhores intenções em rela- rente apenas de sua visão egocêntrica, natural em determina-
ção à criança e ao adolescente. das idades, ou se a mesma já é o resultado de uma reflexão
No entender de Kopelman, para que toda esta legisla- mais amadurecida. São estes extremos que dão a entender
ção fosse realmente válida seria necessário definir melhor, a ampla gama de estágios de desenvolvimento, portanto de
de maneira bem precisa, o que se entende por um padrão autonomia, que entre eles podem se apresentar. [...]
mínimo de benefício ou o que é ‘o melhor’ para os interes- Novamente, cabe enfatizar que o risco que se corre ao se
ses da criança ou do adolescente, de modo que a definição utilizar definições bastante precisas como estas é o de acabar
não fique em aberto para a interpretação de quem detém classificando um indivíduo de maneira dicotômica, no caso
o poder de decidir em nome deles. Além disso, estas defi- específico da autonomia, como sendo capaz ou incapaz, de-
nições deveriam estar em constante revisão, para que não sistindo assim de uma possível análise de sua real capacidade.
acabem sendo ultrapassadas, frente à evolução histórico- Consequentemente, a ausência de uma ou de mais das
-social dos fatos que geraram a necessidade de sua criação. características anteriormente citadas não deve ser utilizada
Superados estes dois pontos, que apesar de potencial- para qualificar a criança ou o adolescente como incapaz.
mente limitantes do processo de discussão da autonomia Deve, isto sim, servir de embasamento para que se possa
da criança e do adolescente não podem ser simplesmente tentar entender como suas decisões se originaram.

99
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Em face de situações específicas, individualizadas, tem-se também a positivação da proteção integral, que se
como ocorre no dia-a-dia da prática pediátrica, esta é a opõe à antiga e superada doutrina da situação irregular,
única forma que o profissional tem de realmente respeitar que era prevista no antigo Código de Menores e espe-
a autonomia da criança ou do adolescente. cificava que sua incidência se restringia aos menores em
A interpretação adequada da legislação e o dimensio- situação irregular, apresentando um conjunto de normas
namento correto da decisão dos pais ou responsáveis depen- destinadas ao tratamento e prevenção dessas situações”
derão fundamentalmente deste tipo de análise da autonomia .
da criança ou adolescente. Deste modo, mesmo que resulte Basicamente, tinha-se na doutrina da situação irregu-
em situações de conflito entre as posições, servirá de emba- lar que era necessário disciplinar um estatuto jurídico da
samento para um trabalho, muitas vezes exaustivo, de apre- criança e do adolescente que apenas abordasse situações
sentação, de reflexão e de discussão de argumentos e fatos, em que ele estivesse irregular, seja por uma desproteção,
capaz de conduzir a uma decisão amadurecida e o mais isenta como no caso de abandono, ou pela violação da lei, como
possível, que, respeitando a posição da criança ou do adoles- nos casos de atos infracionais.
cente, poderá efetivamente redundar em seu benefício. Entretanto, o direito evoluiu e passou a contemplar
No leque das diferentes situações da prática pediátrica, uma noção de proteção mais ampla da criança e do ado-
que se estende desde o recém-nascido no limite de viabilidade lescente, que não apenas abordasse situações de irregula-
ao qual se quer prestar cuidados intensivos de validade ques- ridade (embora ainda o fizesse), mas que abrangesse todo
tionável naquelas circunstâncias, passando pelas pesquisas o arcabouço jurídico protetivo da criança e do adolescente.
científicas que envolvem crianças e adolescentes, até a criança Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei,
cujo pátrio poder pertence a pais adolescentes, portanto autô- a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adoles-
nomos nas decisões que lhes dizem respeito, todas estas situa- cente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
ções, onde nem sempre o real interesse que está em jogo é o Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se
da criança, mas sim o dos responsáveis por ela, clarificam que excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e
não há uma única resposta ou solução mágica, perfeita, para a vinte e um anos de idade.
questão da autonomia da criança e do adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta por cate-
Na realidade, o que deve existir é a construção conjun- gorizar separadamente estas duas categorias de menores.
ta de uma verdade para aquele momento, amadurecida no Criança é aquele que tem até 12 anos de idade (na data
crescimento e evolução de todos: juízes e legisladores, pais de aniversário de 12 anos, passa a ser adolescente), ado-
ou responsáveis, médicos e profissionais de saúde e, prin- lescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos (na data de
cipalmente, a criança ou o adolescente, como parte de um aniversário de 18 anos, passa a ser maior). Em situações
processo de interação franco, sincero, isento e realmente excepcionais o ECA se aplica ao maior de 18 anos, até os
participativo que de fato respeite a autonomia, qualquer 21 anos de idade, por exemplo, no caso do menor infrator
que seja o nível de competência que a criança ou o adoles- sujeito a internação em fundação CASA que tenha 17 anos
cente estejam apresentando para tal”. e 11 meses na data do ato infracional poderá ficar detido
até o limite de seus 20 anos e 11 meses (eis que 3 anos é o
Imputabilidade penal tempo máximo de internação).
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os me- direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
nores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu-
especial. rando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as opor-
tunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desen-
O artigo 228, CF dispõe: “são penalmente inimputáveis volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legis- condições de liberdade e de dignidade.
lação especial”. Percebe-se que a normativa não está no Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-
rol de cláusulas pétreas, razão pela qual seria possível uma -se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de
emenda constitucional que alterasse a menoridade penal. nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor,
Inclusive, há projetos de lei neste sentido. religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desen-
volvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente
Comentários à lei social, região e local de moradia ou outra condição que dife-
rencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.
Parte geral O artigo 3º volta-se à concretização dos direitos da
Título I criança e do adolescente. Concretização significa viabiliza-
Das Disposições Preliminares ção prática, consecução real dos fins que a lei descreve.
Como se percebe pela leitura até o momento, o legislador
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à brasileiro preocupou-se em elaborar uma legislação cujo
criança e ao adolescente. objetivo é concretizar estes direitos da criança e do adoles-
O princípio da proteção integral se associa ao princípio cente. Entretanto, a lei é apenas uma carta de intenções. É
da prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA necessário colocar seu conteúdo em prática, porque sozi-
e no artigo 227, CF. “Com a positivação desse princípio nha ela nada faz.

100
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A implementação na prática dos direitos da criança e c) preferência na formulação e na execução das po-
do adolescente depende da adoção de posturas por parte líticas sociais públicas;
de todos aqueles colocados como responsáveis para tanto: d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
Estado, sociedade, comunidade e família. Especificamente áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
no que se refere ao Estado, mostra-se essencial que ele O artigo 4º do ECA colaciona em seu caput teor idên-
desenvolve políticas públicas adequadas em respeito à pe- tico ao do caput do artigo 227, CF, onde se encontra uma
culiar condição do infante. das principais diretrizes do direito da criança e do adoles-
“O Direito da Criança e do Adolescente deve ter con- cente que é o princípio da prioridade absoluta. Significa
dições suficientemente próprias de promoção e concre- que cada criança e adolescente deve receber tratamento
tização de direitos. Para isso deve-se desvencilhar do especial do Estado e ser priorizado em suas políticas pú-
dogmatismo e do mero positivismo jurídico acrítico. O blicas, pois são o futuro do país e as bases de construção
Direito da Criança e do Adolescente enquanto ramo au- da sociedade.
tônomo do direito é responsável por ressignificar a atua- Explica Liberati
ção estatal, principalmente no campo das políticas pú- : “Por absoluta prioridade, devemos entender que a
blicas e impõe corresponsabilidades compartilhadas” criança e o adolescente deverão estar em primeiro lugar na
. escala de preocupação dos governantes; devemos enten-
Vale ressaltar que às crianças e aos adolescentes são der que, primeiro, devem ser atendidas todas as necessida-
garantidos os mesmos direitos fundamentais que aos des das crianças e adolescentes [...]. Por absoluta priorida-
adultos, entretanto, o ECA aprofunda alguns direitos fun- de, entende-se que, na área administrativa, enquanto não
damentais em espécie, abordando-os na vertente da con- existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento
dição especial dos que pertencem a este grupo. preventivo e emergencial às gestantes dignas moradias
As crianças e adolescentes gozam de igualdade de di- e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, construir praças,
reitos em relação às demais pessoas, podendo usufruir de sambódromos monumentos artísticos etc., porque a vida, a
todos eles. O próprio estatuto contempla em seu título II saúde, o lar, a prevenção de doenças são importantes que
os direitos fundamentais da criança e do adolescente, entre as obras de concreto que ficam par a demonstrar o poder
eles incluindo-se: vida, saúde, liberdade, respeito, dignida- do governante”.
de, convivência familiar e comunitária, educação, cultura, O parágrafo único do artigo 4º especifica a abrangência
esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho. da absoluta prioridade, esclarecendo que é necessário con-
Não se trata de rol taxativo de direitos fundamentais ga- ferir atendimento prioritário às crianças e aos adolescentes
rantidos à criança e ao adolescente, eis que ele possui to- diante de situações de perigo e risco (como no salvamento
dos os direitos humanos e fundamentais que as demais em incêndios e enchentes, etc.), bem como nos serviços
pessoas. O título II do ECA tem por objetivo aprofundar públicos em geral (chegada aos hospitais, por exemplo).
especificidades acerca de algumas das categorias de direi- Além disso, devem ser priorizadas políticas públicas que
tos fundamentais assegurados à criança e ao adolescente. favoreçam a criança e o adolescente e também devem ser
Deste artigo 3º do ECA é possível, ainda, extrair o des- reservados recursos próprios prioritariamente a eles.
taque ao princípio da igualdade, no sentido de que há ple- Art. 87. São linhas de ação da política de atendimen-
na igualdade na garantia de direitos entre todas as crian- to:
ças e adolescentes, não sendo permitido qualquer tipo de I - políticas sociais básicas;
discriminação. II - serviços, programas, projetos e benefícios de as-
A leitura dos artigos 4º e 5º, em conjunto com outros sistência social de garantia de proteção social e de preven-
dispositivos do ECA, por sua vez, permite detectar a pre- ção e redução de violações de direitos, seus agravamentos
sença de um tríplice sistema de garantias. ou reincidências;
Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente adota III - serviços especiais de prevenção e atendimento
uma estrutura que contempla três sistemas de garantia – médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tra-
primário, secundário e terciário. tos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
a) Sistema primário – artigos 4º e 87, ECA – aborda po- IV - serviço de identificação e localização de pais,
líticas públicas de atendimento de crianças e adolescentes. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da socieda- V - proteção jurídico-social por entidades de defesa
de em geral e do poder público assegurar, com absoluta dos direitos da criança e do adolescente.
prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à abreviar o período de afastamento do convívio familiar
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à li- e a garantir o efetivo exercício do direito à convivência
berdade e à convivência familiar e comunitária. familiar de crianças e adolescentes;
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreen- VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
de: forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
a) primazia de receber proteção e socorro em quais- convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
quer circunstâncias; de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
b) precedência de atendimento nos serviços públicos específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de
ou de relevância pública; irmãos. 

101
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O artigo 87 descreve linhas de ação na política de sos concretos. Sobre a interpretação, explica Gonçalves
atendimento, que compõem a delimitação do princípio da : “Quando o fato é típico e se enquadra perfeitamente no
prioridade absoluta na vertente da priorização na adoção conceito abstrato da norma, dá-se o fenômeno da subsun-
de políticas públicas e na delimitação de recursos financei- ção. Há casos, no entanto, em que tal enquadramento não
ros para execução de tais políticas. ocorre, não encontrando o juiz nenhuma norma aplicável
b) Sistema secundário – artigos 98 e 101, ECA – abor- à hipótese sub judice. Deve, então, proceder à integração
da as medidas de proteção destinadas à criança e ao ado- normativa, mediante o emprego da analogia, dos costu-
lescente em situação de risco pessoal ou social. mes e dos princípios gerais do direito. [...] Para verificar se
Obs.: as medidas de proteção são estudadas adiante a norma é aplicável ao caso em julgamento (subsunção)
neste material. ou se deve proceder à integração normativa, o juiz procura
c) Sistema terciário – artigo 112, ECA – aborda as descobrir o sentido da norma, interpretando-a. Interpretar
medidas socioeducativas, destinadas à responsabilização é descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica”.
penal do adolescente infrator, isto é, àquele entre 12 e 18 A hermenêutica possui 3 categorias de métodos. Quan-
anos que comete atos infracionais. to às fontes ou origem, a interpretação pode ser autênti-
Obs.: as medidas socioeducativas são estudadas adian- ca ou legislativa, jurisprudencial ou judicial e doutrinária.
te neste material. Quanto aos meios, pode ser gramatical ou literal, exami-
O sistema tríplice deve operar de forma harmônica, nando o texto normativo linguísticamente; lógica ou racio-
com o acionamento gradual de cada um deles. Nas situa- nal, apurando o sentido e a finalidade da norma; sistemáti-
ções em que a criança ou adolescente escape ao sistema ca, analisando a lei de maneira comparativa com outras leis
primário de prevenção, ou seja, nos casos de ineficácia das pertencentes à mesma província do Direito (livro, título, ca-
políticas públicas específicas, deve ser acionado o sistema pítulo, seção, parágrafo); histórica, baseando-se na verifica-
secundário, operado predominantemente pelo Conselho ção dos antecedentes do processo legislativo; sociológica,
Tutelas. Por sua vez, em casos extremos, é necessário partir adaptando o sentido ou finalidade da norma às novas
para a adoção de medidas socioeducativas, operadas pre- exigências sociais (artigo 5°, LINDB). Quanto aos resulta-
dominantemente pelo Ministério Público e pelo Judiciário. dos pode ser declarativa, quando o texto legal correspon-
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de ao pensamento do legislador; extensiva ou ampliativa,
de qualquer forma de negligência, discriminação, ex- quando o alcance da lei é mais amplo que o indicado pelo
ploração, violência, crueldade e opressão, punido na seu texto; e restritiva, na qual se limita o campo de aplica-
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos ção da lei. Nenhum destes métodos se opera isoladamente
seus direitos fundamentais. .
O artigo 5º ressalta o verdadeiro objetivo geral do ECA: O artigo 6º do ECA, tal como o artigo 5º da LINDB, ex-
proteger a criança de qualquer forma de negligência, dis- pressa o método de interpretação sociológico, chamando
criminação, exploração, violência, crueldade e opressão. atenção à interpretação da lei levando em conta os seus
Neste sentido, coloca-se a possibilidade de responsabiliza- fins sociais, as exigências do bem comum, os direitos e de-
ção de todos que atentarem contra esse propósito. A res- veres individuais e coletivos, e vai além: exige que se leve
ponsabilização poderá se dar em qualquer uma das três es- em conta a condição peculiar da criança e do adolescente.
feras, isolada ou cumulativamente: penal, respondendo por Logo, ao se interpretar o ECA não se pode nunca perder de
crimes e contravenções penais todo aquele que praticá-lo vista que o seu objeto material, a criança e o adolescente, é
contra criança e adolescente, bem como respondendo por extremamente peculiar, dotado de especificidades as quais
atos infracionais as crianças e adolescentes que atentarem sempre se deve atentar.
um contra o outro; civil, estabelecendo-se o dever de inde-
nizar por danos causados a crianças e a adolescentes, que Título II
se estende a toda e qualquer pessoa física ou jurídica que Dos Direitos Fundamentais
o faça, inclusive o próprio Estado; e administrativa, impon- Capítulo I
do-se penas disciplinares a funcionários sujeitos a regime Do Direito à Vida e à Saúde
jurídico administrativo em trabalhos privados ou em car-
gos, empregos e funções públicos. Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a prote-
Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta ção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas
os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem sociais públicas que permitam o nascimento e o desen-
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a volvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
condição peculiar da criança e do adolescente como pes- existência.
soas em desenvolvimento. Art. 8º É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
É pacífico que o processo de interpretação hoje faz programas e às políticas de saúde da mulher e de plane-
parte do Direito, principalmente se considerada a cons- jamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada,
tante evolução da sociedade, demandando diariamen- atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério
te por novos modos de aplicação das normas. Como e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no
a sociedade é dinâmica e o Direito existe para servi-la, âmbito do Sistema Único de Saúde.
cabe a ele adequar-se às novas exigências sociais, apli- § 1º O atendimento pré-natal será realizado por profis-
cando-se da maneira mais justa à vasta gama de ca- sionais da atenção primária.

102
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 2º Os profissionais de saúde de referência da ges- I - manter registro das atividades desenvolvidas, atra-
tante garantirão sua vinculação, no último trimestre da vés de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
gestação, ao estabelecimento em que será realizado o II - identificar o recém-nascido mediante o registro
parto, garantido o direito de opção da mulher. de sua impressão plantar e digital e da impressão digital
§ 3º Os serviços de saúde onde o parto for realizado da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nasci- autoridade administrativa competente;
dos alta hospitalar responsável e contrarreferência na III - proceder a exames visando ao diagnóstico e tera-
atenção primária, bem como o acesso a outros serviços pêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nas-
e a grupos de apoio à amamentação. cido, bem como prestar orientação aos pais;
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assis- IV - fornecer declaração de nascimento onde cons-
tência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e tem necessariamente as intercorrências do parto e do de-
pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar senvolvimento do neonato;
as consequências do estado puerperal. V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao
§ 5º A assistência referida no § 4º deste artigo de- neonato a permanência junto à mãe.
verá ser prestada também a gestantes e mães que ma- VI - acompanhar a prática do processo de amamen-
nifestem interesse em entregar seus filhos para adoção, tação, prestando orientações quanto à técnica adequada,
bem como a gestantes e mães que se encontrem em enquanto a mãe permanecer na unidade hospitalar, utili-
situação de privação de liberdade. zando o corpo técnico já existente.
§ 6º A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de
acompanhante de sua preferência durante o período do cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente,
pré-natal, do trabalho de parto e do pós-parto imediato. por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o
§ 7º A gestante deverá receber orientação sobre princípio da equidade no acesso a ações e serviços para
aleitamento materno, alimentação complementar sau- promoção, proteção e recuperação da saúde.
dável e crescimento e desenvolvimento infantil, bem § 1º A criança e o adolescente com deficiência serão
como sobre formas de favorecer a criação de vínculos atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
afetivos e de estimular o desenvolvimento integral da necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação
criança. e reabilitação.
§ 8º A gestante tem direito a acompanhamento sau- § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
dável durante toda a gestação e a parto natural cuida- àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, pró-
doso, estabelecendo-se a aplicação de cesariana e ou- teses e outras tecnologias assistivas relativas ao trata-
tras intervenções cirúrgicas por motivos médicos. mento, habilitação ou reabilitação para crianças e adoles-
§ 9º A atenção primária à saúde fará a busca ativa da centes, de acordo com as linhas de cuidado voltadas às
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas suas necessidades específicas.
de pré-natal, bem como da puérpera que não compare- § 3º Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
cer às consultas pós-parto. frequente de crianças na primeira infância receberão for-
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante mação específica e permanente para a detecção de sinais
e à mulher com filho na primeira infância que se encon- de risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para
trem sob custódia em unidade de privação de liberdade, o acompanhamento que se fizer necessário.
ambiência que atenda às normas sanitárias e assisten- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
ciais do Sistema Único de Saúde para o acolhimento do inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
filho, em articulação com o sistema de ensino compe- cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
tente, visando ao desenvolvimento integral da criança. para a permanência em tempo integral de um dos pais
ou responsável, nos casos de internação de criança ou
Art. 9º O poder público, as instituições e os empre- adolescente.
gadores propiciarão condições adequadas ao aleita- Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de cas-
mento materno, inclusive aos filhos de mães subme- tigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de
tidas a medida privativa de liberdade. maus-tratos contra criança ou adolescente serão obriga-
§ 1º Os profissionais das unidades primárias de toriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respec-
saúde desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou tiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
coletivas, visando ao planejamento, à implementação e § 1º As gestantes ou mães que manifestem interesse
à avaliação de ações de promoção, proteção e apoio em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamen-
ao aleitamento materno e à alimentação complementar te encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da In-
saudável, de forma contínua. fância e da Juventude.
§ 2º Os serviços de unidades de terapia intensiva § 2º Os serviços de saúde em suas diferentes portas de
neonatal deverão dispor de banco de leite humano ou entrada, os serviços de assistência social em seu compo-
unidade de coleta de leite humano. nente especializado, o Centro de Referência Especializado
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de de Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Siste-
atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, ma de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente
são obrigados a: deverão conferir máxima prioridade ao atendimento das

103
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

crianças na faixa etária da primeira infância com suspeita Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabili-
ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu- dade da integridade física, psíquica e moral da criança
lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,
em rede e, se necessário, acompanhamento domiciliar. da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças,
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá pro- dos espaços e objetos pessoais.
gramas de assistência médica e odontológica para a Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da
prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
a população infantil, e campanhas de educação sanitária tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexató-
para pais, educadores e alunos. rio ou constrangedor.
§ 1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos Os direitos ao respeito e à dignidade abrangem a pro-
recomendados pelas autoridades sanitárias. teção da criança e do adolescente em todas facetas de sua
§ 2º O Sistema Único de Saúde promoverá a aten- integridade: física, psíquica e moral.
ção à saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
transversal, integral e intersetorial com as demais linhas educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
de cuidado direcionadas à mulher e à criança. tratamento cruel ou degradante, como formas de corre-
§ 3º A atenção odontológica à criança terá função ção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto,
educativa protetiva e será prestada, inicialmente, antes pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos res-
de o bebê nascer, por meio de aconselhamento pré-natal, ponsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas
e, posteriormente, no sexto e no décimo segundo anos de socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de
vida, com orientações sobre saúde bucal. cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.
§ 4º A criança com necessidade de cuidados odon- Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
tológicos especiais será atendida pelo Sistema Único de I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou pu-
Saúde. nitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
seus primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou
b) lesão;
outro instrumento construído com a finalidade de facilitar
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou for-
a detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento
ma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adoles-
da criança, de risco para o seu desenvolvimento psíquico.
cente que:
a) humilhe; ou
Capítulo II
b) ameace gravemente; ou
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
c) ridicularize.
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada,
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liber- os responsáveis, os agentes públicos executores de medi-
dade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas das socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de
em processo de desenvolvimento e como sujeitos de di- cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los
reitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento
e nas leis. cruel ou degradante como formas de correção, disciplina,
Entre os direitos fundamentais garantidos à criança educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
e ao adolescente que são especificados e aprofundados prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas,
no ECA estão os direitos à liberdade, ao respeito e à dig- que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
nidade. I - encaminhamento a programa oficial ou comunitá-
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguin- rio de proteção à família;
tes aspectos: II - encaminhamento a tratamento psicológico ou
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços psiquiátrico;
comunitários, ressalvadas as restrições legais; III - encaminhamento a cursos ou programas de
II - opinião e expressão; orientação;
III - crença e culto religioso; IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; especializado;
V - participar da vida familiar e comunitária, sem V - advertência.
discriminação; Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo se-
VI - participar da vida política, na forma da lei; rão aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de ou-
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. tras providências legais.
O artigo 16 aborda diversas facetas do direito de li- Os artigos 18-A e 18-B foram incluídos no ECA pela Lei
berdade: locomoção, opinião e expressão, religiosa e po- nº 13.010, de 26 de junho de 2014, que estabelece o direito
lítica. Cria, ainda, duas facetes específicas deste direito: li- da criança e do adolescente de serem educados e cuidados
berdade para brincar e divertir-se e liberdade para buscar sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou de-
refúgio, auxílio e orientação, processos estes essenciais gradante. Também ficou conhecida como “Lei do Menino
para o desenvolvimento do infante. Bernardo” e “Lei da Palmada”.

104
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Em que pesem as aparentes boas intenções da lei no § 5o Será garantida a convivência integral da crian-
sentido de evitar situações extremas como a do menino ça com a mãe adolescente que estiver em acolhimento
Bernardo, assassinado após incontáveis ameaças e agres- institucional.
sões físicas por parte de seus responsáveis, seu conteúdo § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe es-
é bastante criticado. Afinal, é claro que a lei coloca todo e pecializada multidisciplinar.
qualquer tipo de agressão física no mesmo patamar. Con- Como se depreende do artigo 19, a família natural é
siderado o teor da lei, mesmo uma palmada numa criança a regra e a família substituta é a exceção. A criança e o
é proibida. adolescente podem ser inseridos em programa de aco-
Os críticos da “Lei da Palmada” apontam que ela adota lhimento familiar ou institucional, pelo limite temporal de
uma posição extrema e impõe uma indevida intervenção 18 meses, cujo caráter é o de permitir a sua retirada de
do Estado nos ambientes familiares, retirando o poder dis- potencial ou efetiva situação de risco. Durante este pro-
ciplinar garantido aos pais na educação de seus filhos. grama, reavaliado a cada 3 meses, se verificará se é pos-
Os defensores da “Lei da Palmada” utilizam estudos de sível a reinserção no ambiente da família natural (o que
psicólogos e educadores para argumentar que não é ne- é preferencial) ou se é o caso de colocação definitiva em
cessário utilizar qualquer tipo de agressão física, mesmo a família substituta.
mais leve, para educar uma criança. Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste inte-
resse em entregar seu filho para adoção, antes ou logo
Capítulo III após o nascimento, será encaminhada à Justiça da In-
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária fância e da Juventude.
Seção I § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe in-
Disposições Gerais terprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
apresentará relatório à autoridade judiciária, conside-
Quando se aborda o direito à convivência familiar e rando inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional
comunitária no ECA confere-se destaque à distinção entre e puerperal.
família natural e substituta e aos procedimentos que carac- § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária
terizam a inserção e a retirada da criança e do adolescente poderá determinar o encaminhamento da gestante ou
destes ambientes. mãe, mediante sua expressa concordância, à rede pública
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser de saúde e assistência social para atendimento especiali-
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- zado.
mente, em família substituta, assegurada a convivência § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu de- termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará
senvolvimento integral. o prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por
§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido igual período.
em programa de acolhimento familiar ou institucional § 4o Na hipótese de não haver a indicação do ge-
terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 3 (três) nitor e de não existir outro representante da família
meses, devendo a autoridade judiciária competente, com extensa apto a receber a guarda, a autoridade judiciária
base em relatório elaborado por equipe interprofissio- competente deverá decretar a extinção do poder fami-
nal ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada liar e determinar a colocação da criança sob a guarda
pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colo- provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de
cação em família substituta, em quaisquer das modalida- entidade que desenvolva programa de acolhimento fami-
des previstas no art. 28 desta Lei. liar ou institucional.
§ 2o A permanência da criança e do adolescente em § 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe
programa de acolhimento institucional não se prolongará ou de ambos os genitores, se houver pai registral ou pai
por mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada ne- indicado, deve ser manifestada na audiência a que se re-
cessidade que atenda ao seu superior interesse, devida- fere o § 1o do art. 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre
mente fundamentada pela autoridade judiciária. a entrega.
§ 3º A manutenção ou a reintegração de criança ou § 6o (VETADO).
adolescente à sua família terá preferência em relação § 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de
a qualquer outra providência, caso em que será esta in- 15 (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado
cluída em serviços e programas de proteção, apoio e pro- do dia seguinte à data do término do estágio de convi-
moção, nos termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do vência.
caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 § 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - ma-
desta Lei.  nifestada em audiência ou perante a equipe interprofissio-
§ 4º Será garantida a convivência da criança e do nal - da entrega da criança após o nascimento, a criança
adolescente com a mãe ou o pai privado de liberdade, será mantida com os genitores, e será determinado pela
por meio de visitas periódicas promovidas pelo respon- Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento
sável ou, nas hipóteses de acolhimento institucional, pela familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias.
entidade responsável, independentemente de autorização § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o
judicial. nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei.

105
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 10. (VETADO). Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm


O artigo 19-A trata do procedimento aplicável nos direitos iguais e deveres e responsabilidades compar-
casos em que a família biológica pretenda entregar re- tilhados no cuidado e na educação da criança, devendo
cém-nascido para adoção, assegurando-se o acompa- ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas
nhamento por equipe multidisciplinar e também a toma- crenças e culturas, assegurados os direitos da criança esta-
da de providências de busca de pessoa da família extensa belecidos nesta Lei.
apta a assumir o encargo. Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de não constitui motivo suficiente para a perda ou a sus-
acolhimento institucional ou familiar poderão participar pensão do poder familiar.
de programa de apadrinhamento. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e a decretação da medida, a criança ou o adolescente será
proporcionar à criança e ao adolescente vínculos exter- mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigato-
nos à instituição para fins de convivência familiar e riamente ser incluída em serviços e programas oficiais de
comunitária e colaboração com o seu desenvolvimen- proteção, apoio e promoção.
to nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, educacio- §2º A condenação criminal do pai ou da mãe não im-
nal e financeiro. plicará a destituição do poder familiar, exceto na hipótese
§ 2o (VETADO). de condenação por crime doloso, sujeito à pena de re-
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou clusão, contra o próprio filho ou filha.
adolescente a fim de colaborar para o seu desenvolvi- Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
mento. decretadas judicialmente, em procedimento contraditó-
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apa- rio, nos casos previstos na legislação civil, bem como na
drinhado será definido no âmbito de cada programa hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e
de apadrinhamento, com prioridade para crianças ou obrigações a que alude o art. 22. 
adolescentes com remota possibilidade de reinserção O instituto do poder familiar surgiu no direito romano
familiar ou colocação em família adotiva. e era conhecido naquela época como pátrio poder, pois o
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento pai exercia mais poderes sobre os filhos do que a mãe, o
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão que vinha a representar um poder absoluto por parte do
ser executados por órgãos públicos ou por organiza- genitor, inclusive sobre a vida e a morte dos próprios filhos
ções da sociedade civil. .
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinha- O Código Civil de 1916 atribuiu o poder familiar ao pai,
mento, os responsáveis pelo programa e pelos serviços que era considerado o chefe da sociedade conjugal, e a
de acolhimento deverão imediatamente notificar a au- mãe possuía um papel secundário, conforme apontava o
toridade judiciária competente. artigo 380 do Código Civil de 1916 que dizia que “durante
Os programas de apadrinhamento visam permitir a o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo-
convivência comunitária da criança e do adolescente que -o o marido com a colaboração da mulher [...]”.
estão no sistema de adoção, especialmente com relação De acordo com Santos Neto
àqueles que dificilmente sairão dele. : “[...] o exercício da autoridade parental pela mãe era
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do admitido apenas em caráter excepcional. Ao homem era
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos dada, em condições normais, a titularidade exclusiva do
e qualificações, proibidas quaisquer designações dis- direito em pauta. Sua vontade prevalecia e contra ela não
criminatórias relativas à filiação. havia remédio previsto, salvo, é claro, no caso de compor-
O artigo 20 destaca a igualdade entre todos os filhos, tamento abusivo e contrário aos interesses dos menores”.
sejam eles havidos dentro ou fora do casamento, sejam O Código Civil de 2002, por seu turno, seguindo a toa-
eles inseridos em família natural ou substituta. da da Constituição Federal de 1988, trouxe significativas
A disciplina sobre a perda e suspensão do poder de modificações ao instituto em análise, surgindo então o
família no ECA se encontra em dois blocos, o primeiro chamado poder familiar, onde ambos os pais exercem de
do artigo 21 ao 24, que aborda questões materiais, e o forma igualitária o poder sobre os filhos menores, equili-
segundo do artigo 155 a 163, que foca em questões pro- brando dessa forma a relação familiar.
cedimentais: O artigo 1.630 do atual Código Civil, sem definir o po-
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igual- der familiar, dispõe que “os filhos estão sujeitos ao poder
dade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do familiar enquanto menores”, ou seja, enquanto não com-
que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer pletarem dezoito anos ou não alcançarem a maioridade
deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à civil por meio de uma das formas previstas no artigo 5º,
autoridade judiciária competente para a solução da di- parágrafo único e seus incisos, do mesmo diploma legal.
vergência.  No mesmo sentido, o citado artigo 21, ECA.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guar- O poder familiar, conhecido também como autoridade
da e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, parental, é um conjunto de direitos e deveres que são atri-
no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cum- buídos aos pais para que esses administrem de forma legal
prir as determinações judiciais. a pessoa dos filhos e também de seus bens.

106
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

“O poder familiar pode ser definido como um con- Artigo 1.637, CC. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua
junto de direitos e obrigações, quanto às pessoas e bens autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arrui-
do filho menor não emancipado, exercido, em igualda- nando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum
de de condições, por ambos os pais, para que possam parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe
desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes im- pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres,
põe, tendo em vista o interesse e a proteção do filho” até suspendendo o poder familiar, quando convenha.
. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício
Artigo 1.634, CC. Compete aos pais, quanto à pessoa do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por senten-
dos filhos menores: ça irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois
I – dirigir-lhes a criação e educação; anos de prisão.
II – tê-los em sua companhia e guarda; Nestes casos, a suspensão não será definitiva, é apenas
III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para uma sanção imposta pelo Poder Judiciário visando preser-
casarem; var os interesses dos filhos, assim, diante da comprovação
IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento de que os problemas que levaram à suspensão desapare-
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o so- ceram, o poder familiar poderá retornar aos genitores.
brevivo não puder exercer o poder familiar; Assim sendo, os pais podem ser suspensos de exercer
V – representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da os direitos e deveres decorrentes do poder familiar quando
vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que ficar evidenciado perante a autoridade competente o abuso.
forem partes, suprindo-lhes o consentimento; Como visto, existe, também, a probabilidade de se decretar a
VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; suspensão do poder familiar, caso um dos pais seja condena-
VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os do por crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
serviços próprios de sua idade e condição. Há, ainda, as hipóteses de perda ou destituição do po-
Em relação às suas características, o poder familiar é der familiar, que é a sanção mais grave imposta aos pais
indisponível e decorre da paternidade natural ou legal, por que faltarem com os deveres em relação aos filhos:
isso, não há a possibilidade de seu titular o transferir a ter- Artigo 1.638, CC. Perderá por ato judicial o poder fami-
ceiros por iniciativa própria, tampouco existindo a viabilidade liar o pai ou a mãe que:
de ocorrer a sua prescrição pelo desuso. O poder familiar é I – castigar imoderadamente o filho;
indelegável, sendo, em regra, irrenunciável e sempre intrans- II – deixar o filho em abandono;
ferível. Logo, não sendo possível ao titular do poder familiar III – praticar atos contrários à moral e aos bons costu-
abrir mão de seu dever, a renúncia é inviável, existindo ape- mes;
nas uma exceção, qual seja, a decorrente da adoção. IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no ar-
Existe apenas uma exceção, que é o caso do pedido de tigo antecedente.
colocação do menor em família substituta, disponibilizan- Nessa linha de pensamento, os artigos 24 e 22 do Estatu-
do o filho para a adoção, caso em que os direitos e deveres to da Criança e do Adolescente, citados anteriormente, além
decorrentes do poder familiar serão exercidos por novos de preverem a suspensão e destituição do poder familiar, tra-
titulares, ou seja, pelos pais adotivos. zem também os motivos que poderão acarretá-las.
A esse respeito, os direitos e deveres dos pais dispos- São bastante frequentes nos casos de pais que perdem
tos nos artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil regulam, den- o poder familiar os atos de violência e espancamento; as-
tre os deveres e poderes decorrentes do poder familiar, sim como o de abandono, no qual os menores, ao se ve-
também os de ordem pessoal, ou seja, o cuidado existen- rem abandonados, começam a relacionar-se com pessoas
cial do menor, a educação, a correição, e os de ordem ma- delinquentes e usuárias de drogas, que não vão colaborar
terial, que envolvem a administração dos bens dos filhos. em nada com seu desenvolvimento e crescimento. Nessas
Os principais atributos do poder familiar são a guarda, a situações, os detentores do poder familiar podem sofrer a
criação e a educação, que se refletem nos deveres dos pais perda do poder familiar.
para com os filhos; tanto que, não cumprindo algum des- Cabe aqui consignar que, no caso da perda do poder
ses atributos, o detentor do poder poderá sofrer sanções familiar, se no decorrer do tempo o menor não vier a ser
cíveis e até criminais. adotado por outra família e as causas que levaram a perda
O poder familiar, conforme disposição do próprio orde- do poder desaparecerem, os genitores poderão requerer
namento civil, não é um instituto irrevogável e pode ser extin- judicialmente a reintegração do poder familiar, desde que
to, suspenso ou destituído a qualquer tempo. Basicamente, as comprovem realmente que o motivo que os levou a perder
formas de extinção se aplicam quando o exercício do poder esse poder já não existe mais.
familiar não é mais necessário; ao passo que as regras de per- Por seu turno, pelo que se verifica na análise da legis-
da e suspensão constituem casos de privação do exercício do lação, quando o legislador estabeleceu as hipóteses de ex-
poder familiar pelo descumprimento de seus deveres. tinção do poder familiar, em regra, o fez por perceber que a
Sendo assim, o Estado poderá interferir na relação fa- pessoa que a ele se encontrava sujeita adquiriu maturidade
miliar, com o objetivo de resguardar os interesses do me- o suficiente para guiar a sua vida, não havendo razão para
nor, sendo que a lei disciplina os casos em que o titular do que permaneça tal vínculo. Há casos, entretanto, que a vio-
poder familiar ficará privado de exercê-lo, seja de forma lação aos direitos inerentes ao poder familiar tornou irre-
temporária ou até mesmo definitiva. versível o seu restabelecimento, como ocorre na adoção.

107
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Artigo 1.635, CC. Extingue-se o poder familiar: I – pela Seção III


morte dos pais ou do filho; II – pela emancipação, nos ter- Da Família Substituta
mos do artigo 5º, parágrafo único; III – pela maioridade; IV Subseção I
– pela adoção; V – por decisão judicial, na forma do artigo Disposições Gerais
1.638.
A extinção do poder familiar é mais complexa, pois Dos artigos 28 a 32 aborda-se a família substituta, nos
nesta situação os pais, extintos do poder, não poderão seguintes termos:
requerer a reintegração do poder familiar se houve inter- Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
ferência deles para sua extinção. Na maioria dos casos, é mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente
possível identificar facilmente a existência da extinção do da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos
poder familiar, por se tratarem de hipóteses objetivas. desta Lei.
§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescen-
Seção II te será previamente ouvido por equipe interprofissio-
Da Família Natural nal, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de
compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua
Dos artigos 25 a 27 o ECA aborda a família natural, nos opinião devidamente considerada.
seguintes termos: § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade,
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade será necessário seu consentimento, colhido em audiência.
formada pelos pais ou qualquer deles e seus descen- § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o
dentes. grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afe-
Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou tividade, a fim de evitar ou minorar as consequências de-
ampliada aquela que se estende para além da unidade correntes da medida.
pais e filhos ou da unidade do casal, formada por pa- § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob ado-
rentes próximos com os quais a criança ou adolescente ção, tutela ou guarda da mesma família substituta, res-
convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.  salvada a comprovada existência de risco de abuso ou ou-
A família natural é composta por pais e filhos que formam tra situação que justifique plenamente a excepcionalidade
vínculo entre si desde o nascimento, por questão biológica. de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evi-
O conceito de família pode ser visto de uma manei- tar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.
ra mais ampla, o que se denomina família extensa ou am- § 5o A colocação da criança ou adolescente em família
pliada. Por exemplo, avós e tios que sejam muito próximos substituta será precedida de sua preparação gradativa e
e participem diretamente do convívio familiar, formando acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter-
para com a criança e o adolescente vínculos de afinidade profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
e afetividade. preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis
Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão pela execução da política municipal de garantia do direito
ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, à convivência familiar.
no próprio termo de nascimento, por testamento, me- § 6o Em se tratando de criança ou adolescente indíge-
diante escritura ou outro documento público, qualquer na ou proveniente de comunidade remanescente de qui-
que seja a origem da filiação. lombo, é ainda obrigatório:
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o I - que sejam consideradas e respeitadas sua identida-
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se de social e cultural, os seus costumes e tradições, bem
deixar descendentes. como suas instituições, desde que não sejam incompatíveis
Como o artigo 20 estabelece a igualdade entre os filhos com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e
havidos dentro ou fora do casamento, sentido em que se pela Constituição Federal;
compreende que tanto os filhos inseridos no matrimônio II - que a colocação familiar ocorra prioritariamen-
quanto os que não o estão fazem parte da família natural, o te no seio de sua comunidade ou junto a membros da
artigo 26 tece detalhes sobre a possibilidade de reconheci- mesma etnia;
mento do vínculo de filiação, que pode se dar antes mesmo III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão
do nascimento do filho ou extrapolar a sua vida, devendo federal responsável pela política indigenista, no caso de
ser feito em documento público. crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, pe-
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é rante a equipe interprofissional ou multidisciplinar que irá
direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, acompanhar o caso. 
podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta
sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilida-
O direito à filiação é personalíssimo, indisponível e im- de com a natureza da medida ou não ofereça ambiente
prescritível. Mesmo que um filho passe a vida toda ou boa familiar adequado
parte de sua vida sem buscar o seu reconhecimento, ele Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá
não se perde. Logo, a ação de investigação de paternidade transferência da criança ou adolescente a terceiros ou
é imprescritível, pois também o é o vínculo que ela reco- a entidades governamentais ou não-governamentais,
nhece em caso de procedência. sem autorização judicial.

108
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 31. A colocação em família substituta estrangei- § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
ra constitui medida excepcional, somente admissível na cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
modalidade de adoção. receber a criança ou adolescente mediante guarda, obser-
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável vado o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei. 
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar § 3º A União apoiará a implementação de serviços de
o encargo, mediante termo nos autos. acolhimento em família acolhedora como política pú-
Existem três formas de colocação em família substituta: blica, os quais deverão dispor de equipe que organize o
guarda, tutela e adoção. Neste sentido, a criança é retirada acolhimento temporário de crianças e de adolescentes em
da esfera do poder familiar de ambos os pais (o que pode residências de famílias selecionadas, capacitadas e acom-
acontecer na tutela e na adoção), ou então permanece panhadas que não estejam no cadastro de adoção.
vinculado ao poder familiar de ambos genitores enquanto § 4º Poderão ser utilizados recursos federais, esta-
apenas um ou um terceiro exerce a guarda (o que ocorre duais, distritais e municipais para a manutenção dos ser-
apenas na guarda). Trata-se de situação excepcional, eis viços de acolhimento em família acolhedora, facultando-se
que em regra a criança deve permanecer na família natural, o repasse de recursos para a própria família acolhedora.
vinculada ao poder familiar atribuído a ambos os pais. Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
Neste tipo de circunstância, deve-se buscar sempre mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
ouvir a criança ou o adolescente. Caso já possua 12 anos Na definição de Santos Neto
completos, a oitiva é obrigatória. Trata-se de respeito à au- a guarda trata-se de um “direito consistente na posse
tonomia da criança e do adolescente. de menor oponível a terceiros e que acarreta deveres de
Os irmãos devem permanecer unidos em qualquer cir- vigilância em relação a este”.
cunstância, sendo a separação de irmãos medida excep- No entender de Ishida
cional. Por exemplo, se um casal estiver disposto a adotar , a guarda é vinculada ao poder familiar, “todavia, pode
4 filhos e existirem 4 irmãos, será dada prioridade a ele, ocorrer a separação dos dois institutos, por exemplo, com
passando na frente dos demais candidatos à adoção. a separação judicial do marido e da mulher, onde o poder
familiar continua pertencendo aos dois, no entanto um só
Subseção II poderá ficar com a guarda da prole”. ou seja, tanto o pai
Da Guarda como a mãe são detentores do poder familiar mesmo após
a separação, mas nos tipos de guarda comum, apenas um
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência terá a guarda do filho.
material, moral e educacional à criança ou adolescente, Logo, a dissolução do vínculo conjugal não exclui o
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a tercei- poder familiar, mas pode excluir a guarda de um dos pais,
ros, inclusive aos pais. reservando-o apenas o direito de visitas, dependendo da
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, po- modalidade de guarda adotada. Com a dissolução da união
dendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimen- conjugal, hoje se estabeleceu que a prole poderá ficar com
tos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. o genitor que tiver melhor condições de assistir o filho.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos “Mesmo que a mãe seja considerada culpada pela se-
casos de tutela e adoção, para atender a situações pecu- paração, pode o juiz deferir-lhe a guarda dos filhos me-
liares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, nores, se estiver comprovado que o pai, por exemplo, é
podendo ser deferido o direito de representação para a alcoólatra e não tem condições de cuidar bem deles. Não
prática de atos determinados. se indaga, portanto, quem deu causa à separação e quem
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a con- é o cônjuge inocente, mas qual deles revela melhores con-
dição de dependente, para todos os fins e efeitos de direi- dições para exercer a guarda dos filhos menores, cujos
to, inclusive previdenciários. interesses foram colocados em primeiro plano. A solução
§ 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em será, portanto, a mesma se ambos os pais forem culpados
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando pela separação e se a hipótese for de ruptura da vida em
a medida for aplicada em preparação para adoção, o de- comum ou de separação por motivo de doença mental. A
ferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros regra amolda-se ao princípio do melhor interesse da crian-
não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, ça, identificado como direito fundamental na Constituição
assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto Federal (art. 5º, §2º), em razão da ratificação pela Conven-
de regulamentação específica, a pedido do interessado ou ção Internacional sobre os Direitos da Criança – ONU/89”
do Ministério Público.  .
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de as- O juiz antes de decidir o mérito de uma ação de guar-
sistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhi- da, separação ou divórcio, tem que determinar a guarda
mento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente provisória do menor a um dos pais, o qual não se trata de
afastado do convívio familiar. um modelo de guarda, mas de definir uma situação mo-
§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas mentânea em que a prole se encontra. Somente com o jul-
de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento gamento do mérito será estabelecida a guarda definitiva,
institucional, observado, em qualquer caso, o caráter tem- que deverá adotar um dos modelos de guarda permitida
porário e excepcional da medida, nos termos desta Lei. no ordenamento jurídico brasileiro.

109
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A guarda definitiva expressa o modelo de guarda c) Guarda Alternada ou Guarda Partilhada


adotado pelos pais. Porém, mesmo tratando-se de guar- Nesse modelo de guarda, cada um dos genitores terá
da definitiva, tal modelo poderá ser alterado a qualquer a possibilidade de ter sobre sua guarda o menor ou ado-
tempo, pois o que regula o instituto da guarda é o melhor lescente de forma alternada e exclusiva, ou seja, o casal
interesse do menor e, não sendo isso possível, a guarda é determinará o período em que o menor ficará com o pai
passível de modificação. ou com a mãe, existindo dessa forma sempre uma alter-
nância na guarda jurídica do menor. O período em que a
a) Guarda Comum ou Guarda Originária guarda ficará com o pai ou com a mãe na guarda alternada,
A guarda comum ou guarda originária não é uma poderá ser de um dia, uma semana, uma parte da sema-
guarda judicial, existindo quando os genitores possuem na, um mês, um ano, ou até mais, dependendo do acordo
vínculo matrimonial ou vivem em união estável e moram dos genitores, sendo que, ao término desse período, os
juntos com seus filhos, situação na qual exercem plena- papéis se invertem. Os direitos e deveres deste modelo de
mente e simultaneamente todos os poderes inerentes do guarda ficarão sempre com o cônjuge que estiver com a
poder familiar e, consequentemente, a guarda. Não existe guarda do menor, cabendo ao outro os direitos inerentes
a figura do guardião e nem arbitramento judicial sobre a do não guardião, ou seja, o de visita e o de fiscalização
questão. Ambos pais exercem juntos a guarda em pleni- .
tude. d) Guarda Dividida
Na guarda dividida, são os próprios pais que contes-
b) Guarda Unilateral ou Guarda Única tam e procuram novos meios de garantir uma maior parti-
Observando-se sempre o princípio do melhor interes- cipação na vida da prole, pois neste modelo o menor vive
se do menor, a guarda excepcionalmente poderá ser atri- em um lar fixo e determinado e recebe periodicamente a
buída de forma unilateral a uma terceira pessoa quando os visita do pai ou da mãe que não tem a guarda.
genitores não estiverem em condições de exercê-la, pois, Na guarda dividida o filho tem um lar fixo e recebe
conforme determina o artigo 1.583, §1º, do Código Civil, nele a visita de ambos os genitores em tempos diferentes,
“compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só sendo que a guarda é exercida por aquele que estiver com
dos genitores ou a alguém que o substitua”. Neste viés, a criança, o que é diferente da guarda unilateral, pois nela
dispõe o artigo 1.584, §5º, do mesmo diploma legal: “Se o a guarda é de um dos genitores e o infante vai, em dias
juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda determinados, receber a visita do outro não guardião.
do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa que revele
compatibilidade com a natureza da medida, considerados, e) Guarda por Aninhamento ou Nidação
de preferência, o grau de parentesco e as relações de afi- A guarda por aninhamento, conhecida também como
nidade e afetividade”. Vale ressaltar que a guarda unilateral guarda por nidação, ocorre quando a prole possui um lar
também é possível quando nenhum dos pais tem condições fixo e os pais se revezam, mudando-se para a casa do(s)
de exercê-la, por exemplo, atribuindo a guarda aos avós ou filho(s) em períodos alternados de tempo, para conviver e
aos tios. atender as suas necessidades. Basicamente, os pais se reve-
Usualmente, nesse contexto, podemos constatar a zam na residência do filho.
existência da guarda unilateral, que é atribuída somente
a um dos genitores, e da guarda compartilhada, que é f) Guarda Compartilhada
atribuída a ambos, sendo que a previsão das duas moda- Considerando a evolução da família, especialmente a da
lidades de guarda encontra-se no artigo 1.583, da Lei n. mulher na sociedade, bem como o grande número de separa-
11.698/2008, que constitui que “a guarda será unilateral ções ocorridas nos últimos anos, o ordenamento jurídico bus-
ou compartilhada”. ca com o instituto da guarda compartilhada evitar prejuízos
A Lei alterou a redação do artigo 1.583 e passou a ainda maiores aos filhos de casal separado, que, além de não
estabelecer nos incisos do §2º do dispositivo algumas das terem o convívio diário com um dos genitores, têm que viven-
situações que deverão ser consideradas pelo magistrado ciar os problemas conjugais de seus pais e ainda se tornarem,
ao atribuir a guarda a um dos genitores: afeto nas rela- em muitos casos, vítimas da Síndrome da Alienação Parental.
ções com o genitor e com o grupo familiar; saúde e segu- Segundo Akel
rança; e educação. , “a guarda compartilhada surgiu da necessidade de se
Na guarda unilateral atribuída a apenas um dos pais, encontrar uma maneira que fosse capaz de fazer com que
apesar de um dos genitores não ser o guardião, conti- os pais, que não mais convivem, e seus filhos mantivessem
nuam ambos a exercerem a guarda jurídica. A diferença os vínculos afetivos latentes, mesmo após o rompimento”.
é que, em virtude da guarda, o genitor guardião tem o Com esse propósito, a recente Lei nº 11.698/2008 insti-
poder de decisão, enquanto o genitor não guardião tem tuiu expressamente no ordenamento jurídico o instituto da
o poder de fiscalização, podendo contestar a decisão do guarda compartilhada. Embora tenha sido sancionada em
genitor guardião e até mesmo recorrer à justiça, caso en- 13 de junho de 2008 e publicada no Diário Oficial da União
tenda que a decisão tomada não seja a melhor para a em 16 de junho do mesmo ano, por força da vacatio legis
prole, conforme prevê o artigo 1.583, §3º, do Código Civil: instituída no artigo 2º, a lei somente entrou em vigor no
“a guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a de- país 60 (sessenta) dias após a sua publicação, ou seja, em
tenha a supervisionar os interesses dos filhos”. 16 de agosto de 2008 (vide anexo).

110
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A nova lei trás em seu bojo o conceito de guarda com- § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à
partilhada nos seguintes termos: “compreende-se por [...] qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recur-
guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o sos de manutenção da criança ou adolescente na família
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25
vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar desta Lei.
dos filhos comuns”. § 2o É vedada a adoção por procuração. 
Assim, de acordo com o novo diploma legal, pode- § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do
-se verificar que na guarda compartilhada os pais terão os adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológi-
mesmos direitos e deveres com relação ao filho, ou seja, as cos, devem prevalecer os direitos e os interesses do ado-
tarefas serão divididas de forma igualitária, não sobrecar- tando.
regando somente um dos genitores. Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo,
dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a
Subseção III guarda ou tutela dos adotantes.
Da Tutela Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adota-
do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessó-
Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e paren-
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. tes, salvo os impedimentos matrimoniais.
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe § 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do
a prévia decretação da perda ou suspensão do poder outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o
familiar e implica necessariamente o dever de guarda. cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes.
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qual- § 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado,
quer documento autêntico, conforme previsto no pará- seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descen-
grafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro dentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem de
de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias vocação hereditária.
após a abertura da sucessão, ingressar com pedido desti- Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito)
nado ao controle judicial do ato, observando o procedi- anos, independentemente do estado civil.
mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. § 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão ob- adotando.
servados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta § 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os ado-
Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na tantes sejam casados civilmente ou mantenham união es-
disposição de última vontade, se restar comprovado que tável, comprovada a estabilidade da família.
a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos
pessoa em melhores condições de assumi-la. mais velho do que o adotando.
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no § 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os
art. 24. ex-companheiros podem adotar conjuntamente, contanto
A tutela é forma de colocação de criança e adolescente que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde
em família substituta. Pressupõe, ao contrário da guarda, que o estágio de convivência tenha sido iniciado na cons-
a prévia destituição ou suspensão do poder familiar dos tância do período de convivência e que seja comprovada a
pais (família natural). Visa essencialmente a suprir carência existência de vínculos de afinidade e afetividade com aque-
de representação legal, assumindo o tutor tal munus na le não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionali-
ausência dos genitores. Na hipótese de os pais serem fale- dade da concessão.
cidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder fa- § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que de-
miliar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de monstrado efetivo benefício ao adotando, será assegurada
colocação em família substituta, este poderá ser formulado a guarda compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da
diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- Lei no10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
prios requerentes, dispensada a assistência por advogado § 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que,
(art. 166, ECA). Em outras circunstâncias, deve passar pelo após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no
crivo do Judiciário. curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar
Subseção IV reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos
Da Adoção legítimos.
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administra-
A disciplina do ECA a respeito da adoção também se ção e saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador
divide em dois blocos, um voltado a aspectos materiais, adotar o pupilo ou o curatelado.
do artigo 39 ao 52-D, e outro voltado a aspectos procedi- Art. 45. A adoção depende do consentimento dos
mentais, notadamente no que se refere à habilitação para a pais ou do representante legal do adotando.
adoção, do artigo 197-A a 197-D. § 1º O consentimento será dispensado em relação à
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se- criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou
-á segundo o disposto nesta Lei. tenham sido destituídos do poder familiar.

111
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a
de idade, será também necessário o seu consentimento. ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convi- seu armazenamento em microfilme ou por outros meios,
vência com a criança ou adolescente, pelo prazo máxi- garantida a sua conservação para consulta a qualquer tem-
mo de 90 (noventa) dias, observadas a idade da criança po.
ou adolescente e as peculiaridades do caso. § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado adoção em que o adotando for criança ou adolescente
se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do com deficiência ou com doença crônica.
adotante durante tempo suficiente para que seja possível § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de ado-
avaliar a conveniência da constituição do vínculo. ção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única
§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a vez por igual período, mediante decisão fundamentada da
dispensa da realização do estágio de convivência. autoridade judiciária.
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
artigo pode ser prorrogado por até igual período, median- biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao proces-
te decisão fundamentada da autoridade judiciária. so no qual a medida foi aplicada e seus eventuais inciden-
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente tes, após completar 18 (dezoito) anos.
ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência será Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção po-
de, no mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta derá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoi-
e cinco) dias, prorrogável por até igual período, uma única to) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência
vez, mediante decisão fundamentada da autoridade judi- jurídica e psicológica. 
ciária. Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o po-
§ 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, der familiar dos pais naturais. 
deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada co-
mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não marca ou foro regional, um registro de crianças e ado-
o deferimento da adoção à autoridade judiciária. lescentes em condições de serem adotados e outro de
§ 4o O estágio de convivência será acompanhado pela pessoas interessadas na adoção.
equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e § 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia
da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Minis-
responsáveis pela execução da política de garantia do tério Público.
direito à convivência familiar, que apresentarão relatório § 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não
minucioso acerca da conveniência do deferimento da me- satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das
dida. hipóteses previstas no art. 29.
§ 5o O estágio de convivência será cumprido no territó- § 3o A inscrição de postulantes à adoção será prece-
rio nacional, preferencialmente na comarca de residência dida de um período de preparação psicossocial e jurídica,
da criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos res-
do juízo da comarca de residência da criança. ponsáveis pela execução da política municipal de garantia
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sen- do direito à convivência familiar.
tença judicial, que será inscrita no registro civil mediante § 4o Sempre que possível e recomendável, a prepara-
mandado do qual não se fornecerá certidão. ção referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou insti-
como pais, bem como o nome de seus ascendentes. tucional em condições de serem adotados, a ser realizado
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará sob a orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica
o registro original do adotado. da Justiça da Infância e da Juventude, com apoio dos téc-
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser nicos responsáveis pelo programa de acolhimento e pela
lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua execução da política municipal de garantia do direito à
residência. convivência familiar.
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato po- § 5o Serão criados e implementados cadastros esta-
derá constar nas certidões do registro. duais e nacional de crianças e adolescentes em condições
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do ado- de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à
tante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a adoção.
modificação do prenome. § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida residentes fora do País, que somente serão consultados na
pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, obser- inexistência de postulantes nacionais habilitados nos ca-
vado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. dastros mencionados no § 5o deste artigo.
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de
em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-
prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força -lhes a troca de informações e a cooperação mútua, para
retroativa à data do óbito. melhoria do sistema.

112
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil


de 48 (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e com perfil compatível com a criança ou adolescente, após
adolescentes em condições de serem adotados que não consulta aos cadastros mencionados nesta Lei;
tiveram colocação familiar na comarca de origem, e das III - que, em se tratando de adoção de adolescente,
pessoas ou casais que tiveram deferida sua habilitação à este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio
adoção nos cadastros estadual e nacional referidos no § de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a
5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. medida, mediante parecer elaborado por equipe interpro-
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela fissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com desta Lei.
posterior comunicação à Autoridade Central Federal Bra- § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão prefe-
sileira. rência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de criança ou adolescente brasileiro.
de pretendentes habilitados residentes no País com perfil § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria
ou adolescente inscrito nos cadastros existentes, será reali- de adoção internacional. 
zado o encaminhamento da criança ou adolescente à ado- Art. 52. A adoção internacional observará o procedi-
ção internacional. mento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as se-
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interes- guintes adaptações:
sado em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
que possível e recomendável, será colocado sob guarda de criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de
família cadastrada em programa de acolhimento familiar. habilitação à adoção perante a Autoridade Central em maté-
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação cri- ria de adoção internacional no país de acolhida, assim enten-
teriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo dido aquele onde está situada sua residência habitual;
Ministério Público. II - se a Autoridade Central do país de acolhida con-
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor siderar que os solicitantes estão habilitados e aptos para
de candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previa- adotar, emitirá um relatório que contenha informações so-
mente nos termos desta Lei quando: bre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e
II - for formulada por parente com o qual a criança ou médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; aptidão para assumir uma adoção internacional;
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guar- III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
da legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
desde que o lapso de tempo de convivência comprove a Autoridade Central Federal Brasileira;
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja cons- IV - o relatório será instruído com toda a documen-
tatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações tação necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado
previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova
candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, de vigência;
que preenche os requisitos necessários à adoção, confor- V - os documentos em língua estrangeira serão devida-
me previsto nesta Lei.  mente autenticados pela autoridade consular, observados
§ 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas os tratados e convenções internacionais, e acompanhados
interessadas em adotar criança ou adolescente com defi- da respectiva tradução, por tradutor público juramentado;
ciência, com doença crônica ou com necessidades específi- VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exi-
cas de saúde, além de grupo de irmãos. gências e solicitar complementação sobre o estudo psicos-
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na social do postulante estrangeiro à adoção, já realizado no
qual o pretendente possui residência habitual em país-par- país de acolhida;
te da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade
Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Ado- Central Estadual, a compatibilidade da legislação estran-
ção Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 geira com a nacional, além do preenchimento por parte
junho de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte dos postulantes à medida dos requisitos objetivos e sub-
da Convenção. jetivos necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescen- dispõe esta Lei como da legislação do país de acolhida,
te brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar será expedido laudo de habilitação à adoção internacional,
quando restar comprovado: que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano;
I - que a colocação em família adotiva é a solução ade- VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado
quada ao caso concreto; será autorizado a formalizar pedido de adoção perante o
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de Juízo da Infância e da Juventude do local em que se encon-
colocação da criança ou adolescente em família adotiva tra a criança ou adolescente, conforme indicação efetuada
brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da pela Autoridade Central Estadual.

113
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o auto- § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
rizar, admite-se que os pedidos de habilitação à adoção 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarre-
internacional sejam intermediados por organismos creden- tar a suspensão de seu credenciamento.
ciados. § 6o O credenciamento de organismo nacional ou es-
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira trangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
o credenciamento de organismos nacionais e estrangei- internacional terá validade de 2 (dois) anos.
ros encarregados de intermediar pedidos de habilitação à § 7o A renovação do credenciamento poderá ser con-
adoção internacional, com posterior comunicação às Auto- cedida mediante requerimento protocolado na Autoridade
ridades Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores
de imprensa e em sítio próprio da internet. ao término do respectivo prazo de validade.
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de or- § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que con-
ganismos que: cedeu a adoção internacional, não será permitida a
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Con- § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade ju-
venção de Haia e estejam devidamente credenciados pela diciária determinará a expedição de alvará com autoriza-
Autoridade Central do país onde estiverem sediados e no ção de viagem, bem como para obtenção de passaporte,
país de acolhida do adotando para atuar em adoção inter- constando, obrigatoriamente, as características da criança
nacional no Brasil; ou adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais
II - satisfizerem as condições de integridade moral, sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a
competência profissional, experiência e responsabilidade aposição da impressão digital do seu polegar direito, ins-
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central truindo o documento com cópia autenticada da decisão e
Federal Brasileira; certidão de trânsito em julgado.
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
formação e experiência para atuar na área de adoção in- qualquer momento, solicitar informações sobre a situação
ternacional; das crianças e adolescentes adotados.
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamen- § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
to jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Au- credenciados, que sejam considerados abusivos pela Auto-
toridade Central Federal Brasileira. ridade Central Federal Brasileira e que não estejam devida-
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: mente comprovados, é causa de seu descredenciamento.
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condi- § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem
ções e dentro dos limites fixados pelas autoridades compe- ser representados por mais de uma entidade credenciada
tentes do país onde estiverem sediados, do país de acolhi- para atuar na cooperação em adoção internacional.
da e pela Autoridade Central Federal Brasileira; § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domi-
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualifi- ciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
cadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprova- podendo ser renovada.
da formação ou experiência para atuar na área de adoção § 14. É vedado o contato direto de representantes de
internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com di-
Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Bra- rigentes de programas de acolhimento institucional ou fa-
sileira, mediante publicação de portaria do órgão federal miliar, assim como com crianças e adolescentes em condi-
competente; ções de serem adotados, sem a devida autorização judicial.
III - estar submetidos à supervisão das autoridades § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
competentes do país onde estiverem sediados e no país limitar ou suspender a concessão de novos credenciamen-
de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funciona- tos sempre que julgar necessário, mediante ato administra-
mento e situação financeira; tivo fundamentado.
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, descredenciamento, o repasse de recursos provenientes
bem como relatório de acompanhamento das adoções in- de organismos estrangeiros encarregados de intermediar
ternacionais efetuadas no período, cuja cópia será encami- pedidos de adoção internacional a organismos nacio-
nhada ao Departamento de Polícia Federal; nais ou a pessoas físicas.
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Au- Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão
toridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Ado-
Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) lescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo
anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. 
cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cida- Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no ex-
dania do país de acolhida para o adotado; terior em país ratificante da Convenção de Haia, cujo pro-
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os cesso de adoção tenha sido processado em conformidade
adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Bra- com a legislação vigente no país de residência e atendido o
sileira cópia da certidão de registro de nascimento estran- disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da referida Convenção,
geira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam será automaticamente recepcionada com o reingresso
concedidos. no Brasil.

114
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea Para ser candidato a adoção deve ter cumprido uma
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença série de requisitos para se tornar hábil, estes requisitos são
ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. elencados na lei. O primeiro deles é a qualificação comple-
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em ta: da pessoa que deseja adotar ou das pessoas que dese-
país não ratificante da Convenção de Haia, uma vez rein- jam no caso de casais juntamente com os dados familiares,
gressado no Brasil, deverá requerer a homologação da sen- dados que vão completar não só a ficha do casal ou pes-
tença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça.  soa que deseja adotar, mais da família onde o menor vai
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Bra- residir e ter sua formação os documentos pessoais como
sil for o país de acolhida, a decisão da autoridade compe- cópias de certidão de nascimento (quando solteiros), de
tente do país de origem da criança ou do adolescente será certidão de casamento (quando casados), cópias de de-
conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver claração de período de união estável, Cópias de Certidão
processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, de identidade (RG), Comprovante da renda da pessoa ou
que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e casal, comprovante que demostre que as condições vão
determinará as providências necessárias à expedição do suprir a necessidade de se incluir mais um membro naque-
Certificado de Naturalização Provisório. le lar, comprovante de moradia em que prove a pessoa ter
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério sua residência que acolherá o novo integrante.
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela O interessado em adotar deve juntar atestados de
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifesta- saúde física onde a pessoa vai demonstrar ser capaz de
mente contrária à ordem pública ou não atende ao interes- cuidar e garantir uma boa vida para o adotando e atesta-
se superior da criança ou do adolescente. do de saúde mental, comprovando que a pessoa é capaz
§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista legalmente.
no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente Nos aspectos judiciais inerentes ao caso devem ser
requerer o que for de direito para resguardar os interesses da juntados Certidão de antecedentes criminais, que demos-
criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à Au- tra conduta legal do indivíduo perante a sociedade, Cer-
toridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade
tidão negativa de distribuição civil, além da manifestação
Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. 
do M.P (Ministério Público) apresentando quesitos a se-
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil
rem respondidos pela equipe interdisciplinar, designação
for o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida
de audiência para oitiva de testemunhas e requerentes,
no país de origem porque a sua legislação a delega ao país
solicitar juntada de documentos complementares que se-
de acolhida, ou, ainda, na hipótese de, mesmo com deci-
jam necessários. Deve ser obrigatório o estudo psicosso-
são, a criança ou o adolescente ser oriundo de país que
cial onde se testa a capacidade dos indivíduos para se tor-
não tenha aderido à Convenção referida, o processo de
narem pai ou mãe, o de incluir mais um membro junto aos
adoção seguirá as regras da adoção nacional.
A adoção no Código Civil de 1916 era tratada em seu filhos já existente. Os programas de capacitação também
capítulo V. A adoção seguia um critério de ter um filho devem ser aderido a este sistema, levando esclarecimen-
para que a família tivesse sucessão e para configurar a fa- tos aos pretendentes a adoção além, de manter contato
mília da época que só tinha uma configuração costumeira com a criança em regime de acolhimento familiar.
se houvesse pai, mãe e filhos. A idade de 30 (trinta) anos Sendo os adotantes inscritos são chamados por ordem
para que as pessoas pudessem não se arrepender do feito. cronológica de acordo com a habilitação, e que só poderá
Quando se falava do casamento criava-se o critério de que ser dispensada se for pelo melhor interesse do adotando.
tenha se passado 05 (cinco) anos de matrimônio para que Os seguintes princípios e diretrizes devem guiar a de-
o casal possa adotar, pois o ideal era que os filhos fossem cisão pela adoção:
consanguíneos. A adoção poderia se dissolver por vontade - Condição da criança e do adolescente como ser de
das partes. Caso houvessem filhos naturais reconhecidos direitos: As crianças são detentoras de direitos previstos
ou legitimados os filhos adotivos não participavam da su- na lei 8.069/90 e na Constituição Federal de 1988;
cessão além de não se desfazer o vínculo com os parentes - Proteção integral e prioritária: Toda e qualquer nor-
naturais, somente no que dizia respeito ao pátrio poder. ma contida dentro da lei 8.069/90 deve ser voltada a pro-
Houve um grande salto no que concerne a adoção que teção integral dos interesses do menor;
foi a letra trazida pela Constituição Federal de 1988 em seu - Responsabilidade primária e solidaria do poder pú-
artigo 227 e com o ECA, que versa sobre todas as garantias blico: tanto nos casos ressalvados pelo E.C.A (Estatuto da
constitucionais e no que tange a adoção vem dos artigos Criança e do Adolescente) quanto nos casos que a CF/88
39 ao 52-D falando sobre a regularização da adoção e traz (Constituição Federal de 1988) e demais objetos legais es-
como princípio basilar o melhor interesse da criança, além pecíficos, é, dever dos três poderes atuarem no que for
de ter como fundamento o afeto de pai para filho sem que necessário para a proteção do menor;
haja qualquer diferenciação para com os filhos biológicos. - Interesse superior da criança e do adolescente: me-
Ainda no que concerne a adoção, foi criada para dar diante a necessidade da intervenção estatal é necessário
efetividade ao ECA a Lei nº 12.010 de 03 de agosto de 2009, que se dê privilégio ao interesse do que for melhor para a
que tem o intuito de alterar o direito à convivência familiar criança e/ou adolescente. O primeiro interesse a ser obser-
mostrando com clareza como deve ocorrer a adoção. vado é o que trouxer melhor benefício a estes;

115
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

- Privacidade: A promoção dos direitos deve ser sem- Capítulo IV


pre feita respeitando a privação e o direito da imagem, a Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao
sua vida privada e a intimidade; Lazer
- Intervenção precoce: Ao primeiro sinal de perigo e
risco ao menor, o Estado deve intervir para reverter a si- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à edu-
tuação presente; cação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa,
- Intervenção mínima; preparo para o exercício da cidadania e qualificação para
- Proporcionalidade e atualidade: Ser a atitude toma- o trabalho, assegurando-se-lhes:
da de acordo com a proporção de perigo existente no mo- I - igualdade de condições para o acesso e perma-
mento, evitando e revertendo o risco de morte; nência na escola;
- Responsabilidade parental: a intervenção deve ser a II - direito de ser respeitado por seus educadores;
princípio para que os pais tomem responsabilidade sobre III - direito de contestar critérios avaliativos, po-
seus filhos; dendo recorrer às instâncias escolares superiores;
- Prevalência da família: Primeiro se dará a preferência IV - direito de organização e participação em enti-
a família natural para que a criança continue com seus pais dades estudantis;
depois a preferência vai ser da família contínua (família V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
natural a primeira e extensa a segunda), em último caso residência.
a criança/adolescente vai ser direcionada a família subs- Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis
tituta. ter ciência do processo pedagógico, bem como participar
- Obrigatoriedade da informação: respeitando o es- da definição das propostas educacionais.
tágio de desenvolvimento e compreensão da criança ou Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, além de seus pais e responsáveis devem ser adolescente:
informados o motivo em que se dá a intervenção e como I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, in-
esta se processou; clusive para os que a ele não tiveram acesso na idade
- Oitiva obrigatória e participação: a criança ou ado- própria;
lescente separados ou na companhia de seus pais, respon- II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gra-
sáveis ou pessoas por ela indicados; bem como seus pais e tuidade ao ensino médio;
responsáveis, tem o direito de serem ouvidas e sua opinião III - atendimento educacional especializado aos por-
deve ser considerada pelas autoridades do judiciário. tadores de deficiência, preferencialmente na rede regu-
- Afastamento da criança e do adolescente do conví- lar de ensino;
vio familiar: É um processo contencioso que importara aos IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças
pais o direito do contraditório e da ampla defesa, este pro- de zero a cinco anos de idade;
cedimento é de competência do judiciário (procedimento V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
judicial) artigo 28 §§ 1° e 2° do E.C.A; pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade
- Acolhimento familiar: medida de proteção criada de cada um;
para o amparo da criança até que seja resolvida a situação; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
- Guia de acolhimento: será elaborado pelo poder Ju- condições do adolescente trabalhador;
diciário um guia para encaminhar à criança a entidade de VII - atendimento no ensino fundamental, através de
acolhimento (guia deve conter a causa da retirada e per- programas suplementares de material didático-escolar,
manência do menor fora da sua família natural além de transporte, alimentação e assistência à saúde.
todos os dados) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
- Plano individual de atendimento: cada criança vai direito público subjetivo.
ter um plano a ser desenvolvido visando sua adaptação a § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo
nova família; poder público ou sua oferta irregular importa responsa-
- Destituição do poder familiar: Promovida pelo M.P bilidade da autoridade competente.
(Ministério público) sendo para isto necessário prévio avi- § 3º Compete ao poder público recensear os edu-
so a entidade de acolhimento familiar, ou, responsáveis candos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e
pela execução da política municipal de garantia do direito zelar, junto aos pais ou responsável, pela frequência à
a convivência familiar. escola.
- Cadastro de crianças a adolescentes à regime institu- Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de
cional e familiar: é um cadastro para crianças e adolescen- matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de en-
tes que necessitem de acolhimento familiar ou institucio- sino.
nal devido a algum registro de maus tratos. Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
A Lei no 13.509 de 22 de novembro de 2017 surgiu fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos
com o propósito de maximizar a efetividade das disposi- de:
ções do ECA, inclusive no âmbito da adoção, possuindo a I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
peculiaridade de ser mais rigorosa no que tange ao cum- II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão
primento de prazos para maior celeridade do processo. escolar, esgotados os recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência.

116
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, expe- Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é
riências e novas propostas relativas a calendário, seriação, assegurada bolsa de aprendizagem.
currículo, metodologia, didática e avaliação, com vistas Toda criança e adolescente que necessitar receberá fo-
à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino mento para que não se desvincule das atividades de ensi-
fundamental obrigatório. no. Trata-se de incentivo àquele que sem auxílio acabaria
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os va- entrando em situação irregular e trabalhando.
lores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze
social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes anos, são assegurados os direitos trabalhistas e previ-
a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura. denciários.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da Uma vez que o adolescente está autorizado a trabalhar,
União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos mesmo que na condição de menor aprendiz, possui direi-
e espaços para programações culturais, esportivas e de tos trabalhistas e previdenciários.
lazer voltadas para a infância e a juventude. Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é as-
segurado trabalho protegido.
Capítulo V O adolescente que possui deficiência não pode ser expos-
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no to a uma situação de risco em decorrência da atividade laboral.
Trabalho Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em re-
gime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de em entidade governamental ou não-governamental, é ve-
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz.  dado trabalho:
Preconiza o artigo 7º, XXXIII, CF a “proibição de traba- I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de
lho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoi- um dia e as cinco horas do dia seguinte;
to e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, II - perigoso, insalubre ou penoso;
salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. III - realizado em locais prejudiciais à sua formação
Portanto, em decorrência da própria norma constitu- e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
cional, nenhuma criança ou adolescente pode trabalhar an- IV - realizado em horários e locais que não permitam a
tes dos 14 anos de idade. Evidentemente que há algumas frequência à escola.
exceções a esta regra, devidamente fiscalizadas pelo Con- O menor aprendiz está proibido de trabalhar no perío-
selho Tutelar, como é o caso dos artistas mirins. do noturno, em trabalho que o coloque exposto a pericu-
Entre 14 anos e 16 anos de idade somente será possí- losidade (ex.: em andaimes, em áreas com risco de incêndio
vel o trabalho na condição de menor aprendiz, cuja natu- ou choques), insalubridade (ex.: em freezers de frigoríficos,
reza é de ensino técnico-profissional, viabilizando a futura expostos a radiação) ou penosidade (ex.: excesso de força
inserção do adolescente no mercado de trabalho. física exigida).
A partir dos 16 anos, o menor pode trabalhar, mas não Art. 68. O programa social que tenha por base o tra-
no período noturno ou em condições de periculosidade e balho educativo, sob responsabilidade de entidade gover-
insalubridade. namental ou não-governamental sem fins lucrativos, deve-
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é re- rá assegurar ao adolescente que dele participe condições
gulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto de capacitação para o exercício de atividade regular
nesta Lei. remunerada.
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação téc- § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade
nico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao de-
da legislação de educação em vigor. senvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos sobre o aspecto produtivo.
seguintes princípios: § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao en- trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos
sino regular; de seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
II - atividade compatível com o desenvolvimento do Os programas sociais voltados à capacitação dos ado-
adolescente; lescentes devem sempre ter por objetivo educá-lo para
III - horário especial para o exercício das atividades. que ele adquira condições de inserir-se no mercado de
Aquele que trabalha na condição de menor aprendiz trabalho. Deve ser ensinado, logo, dele não se deve cobrar
é obrigado a frequentar a escola, devendo ser facilitadas tanta produtividade, mas sim deve ser avaliado pelo seu
as condições para que o faça, notadamente pelo estabe- aprendizado. O fato do trabalho ser remunerado não des-
lecimento de horário especial de trabalho. Além disso, a virtua este propósito.
atividade laboral deve ser compatível com as atividades de
ensino, até mesmo por se tratar de ensino técnico-profis- Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização
sionalizante. e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspec-
Ex.: um jovem pode trabalhar no período matutino, fre- tos, entre outros:
quentar o SENAI na parte da tarde e ir ao colégio no ensino I - respeito à condição peculiar de pessoa em desen-
médio noturno. volvimento;

117
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II - capacitação profissional adequada ao mercado de Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescen-
trabalho. tes com deficiência terão prioridade de atendimento nas
Com efeito, profissionalização e proteção no traba- ações e políticas públicas de prevenção e proteção.
lho são direitos fundamentais garantidos ao adolescente, Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas
exigindo-se neste campo que sua condição peculiar ine- áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar,
rente ao processo de aprendizado seja respeitada e que o em seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer
trabalho sirva para permitir a sua inserção no mercado de e comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de
trabalho. maus-tratos praticados contra crianças e adolescentes.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela co-
Título III municação de que trata este artigo, as pessoas encarrega-
Da Prevenção das, por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão
Capítulo I ou ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crian-
Disposições Gerais ças e adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o in-
justificado retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. 
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a infor-
ameaça ou violação dos direitos da criança e do ado- mação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e
lescente. produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os de pessoa em desenvolvimento.
Municípios deverão atuar de forma articulada na elabo- Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem
ração de políticas públicas e na execução de ações des- da prevenção especial outras decorrentes dos princípios
tinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamen- por ela adotados.
to cruel ou degradante e difundir formas não violentas Art. 73. A inobservância das normas de prevenção im-
de educação de crianças e de adolescentes, tendo como portará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica,
principais ações: nos termos desta Lei.
I - a promoção de campanhas educativas permanentes
para a divulgação do direito da criança e do adolescente de Capítulo II
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou Da Prevenção Especial
de tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de Seção I
proteção aos direitos humanos; Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões
II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, e Espetáculos
do Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Con-
selho Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e Art. 74. O poder público, através do órgão competente,
do Adolescente e com as entidades não governamentais regulará as diversões e espetáculos públicos, informan-
que atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da do sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
criança e do adolescente; recomendem, locais e horários em que sua apresentação
III - a formação continuada e a capacitação dos profis- se mostre inadequada.
sionais de saúde, educação e assistência social e dos de- Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e es-
mais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa petáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil
dos direitos da criança e do adolescente para o desenvolvi- acesso, à entrada do local de exibição, informação destaca-
mento das competências necessárias à prevenção, à iden- da sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especifi-
tificação de evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento cada no certificado de classificação.
de todas as formas de violência contra a criança e o ado- Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às di-
lescente; versões e espetáculos públicos classificados como ade-
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pa- quados à sua faixa etária.
cífica de conflitos que envolvam violência contra a criança Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
e o adolescente; poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
visem a garantir os direitos da criança e do adolescente, Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exi-
desde a atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e birão, no horário recomendado para o público infanto ju-
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a venil, programas com finalidades educativas, artísticas,
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso culturais e informativas.
de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado
processo educativo; ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para transmissão, apresentação ou exibição.
a articulação de ações e a elaboração de planos de atua- Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcio-
ção conjunta focados nas famílias em situação de violência, nários de empresas que explorem a venda ou aluguel de
com participação de profissionais de saúde, de assistência fitas de programação em vídeo cuidarão para que não
social e de educação e de órgãos de promoção, proteção e haja venda ou locação em desacordo com a classifica-
defesa dos direitos da criança e do adolescente. ção atribuída pelo órgão competente.

118
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deve- § 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais
rão exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da ou responsável, conceder autorização válida por dois
obra e a faixa etária a que se destinam. anos.
Art. 78. As revistas e publicações contendo material Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a
impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes de- autorização é dispensável, se a criança ou adolescen-
verão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a te:
advertência de seu conteúdo. I - estiver acompanhado de ambos os pais ou res-
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as ca- ponsável;
pas que contenham mensagens pornográficas ou obsce- II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado
nas sejam protegidas com embalagem opaca. expressamente pelo outro através de documento com
Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao pú- firma reconhecida.
blico infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fo- Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial,
tografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas al- nenhuma criança ou adolescente nascido em territó-
coólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar rio nacional poderá sair do País em companhia de es-
os valores éticos e sociais da pessoa e da família. trangeiro residente ou domiciliado no exterior.
Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere Parte Especial
ou por casas de jogos, assim entendidas as que realizem Título I
apostas, ainda que eventualmente, cuidarão para que não Da Política de Atendimento
seja permitida a entrada e a permanência de crianças Capítulo I
e adolescentes no local, afixando aviso para orientação Disposições Gerais
do público.
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da
Seção II criança e do adolescente far-se-á através de um conjun-
Dos Produtos e Serviços to articulado de ações governamentais e não-gover-
namentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e
Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adoles- dos municípios.
cente de: Art. 87. São linhas de ação da política de atendi-
I - armas, munições e explosivos; mento:
II - bebidas alcoólicas; I - políticas sociais básicas;
III - produtos cujos componentes possam causar de- II - serviços, programas, projetos e benefícios de
pendência física ou psíquica ainda que por utilização in- assistência social de garantia de proteção social e de
devida; prevenção e redução de violações de direitos, seus agra-
IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aque- vamentos ou reincidências;
les que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de III - serviços especiais de prevenção e atendimento
provocar qualquer dano físico em caso de utilização in- médico e psicossocial às vítimas de negligência, maus-
devida; -tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
V - revistas e publicações a que alude o art. 78; IV - serviço de identificação e localização de pais,
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. responsável, crianças e adolescentes desaparecidos;
Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou ado- V - proteção jurídico-social por entidades de defe-
lescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento sa dos direitos da criança e do adolescente;
congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos VI - políticas e programas destinados a prevenir ou
pais ou responsável. abreviar o período de afastamento do convívio fami-
liar e a garantir o efetivo exercício do direito à convi-
Seção III vência familiar de crianças e adolescentes;
Da Autorização para Viajar VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob
forma de guarda de crianças e adolescentes afastados do
Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora convívio familiar e à adoção, especificamente inter-racial,
da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou de crianças maiores ou de adolescentes, com necessida-
responsável, sem expressa autorização judicial. des específicas de saúde ou com deficiências e de grupos
§ 1º A autorização não será exigida quando: de irmãos.
a) tratar-se de comarca contígua à da residência da Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída I - municipalização do atendimento;
na mesma região metropolitana; II - criação de conselhos municipais, estaduais e
b) a criança estiver acompanhada: nacional dos direitos da criança e do adolescente, ór-
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro gãos deliberativos e controladores das ações em todos
grau, comprovado documentalmente o parentesco; os níveis, assegurada a participação popular paritária por
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo meio de organizações representativas, segundo leis fede-
pai, mãe ou responsável. ral, estaduais e municipais;

119
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

III - criação e manutenção de programas específicos, ça e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições
observada a descentralização político-administrativa; e de suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e mu- Tutelar e à autoridade judiciária.
nicipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos § 2o Os recursos destinados à implementação e ma-
da criança e do adolescente; nutenção dos programas relacionados neste artigo serão
V - integração operacional de órgãos do Judiciário, previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e As- encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
sistência Social, preferencialmente em um mesmo local, Social, dentre outros, observando-se o princípio da priori-
para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles- dade absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo
cente a quem se atribua autoria de ato infracional; caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e
VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, parágrafo único do art. 4o desta Lei.
Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e en- § 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo
carregados da execução das políticas sociais básicas e de Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles-
assistência social, para efeito de agilização do atendimen- cente, no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se
to de crianças e de adolescentes inseridos em programas critérios para renovação da autorização de funcionamento:
de acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei,
rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução bem como às resoluções relativas à modalidade de atendi-
se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em mento prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas Criança e do Adolescente, em todos os níveis; 
no art. 28 desta Lei; II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido,
VII - mobilização da opinião pública para a indispen- atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e
sável participação dos diversos segmentos da sociedade; pela Justiça da Infância e da Juventude; 
VIII - especialização e formação continuada dos pro- III - em se tratando de programas de acolhimento ins-
fissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à titucional ou familiar, serão considerados os índices de su-
primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direi- cesso na reintegração familiar ou de adaptação à família
tos da criança e sobre desenvolvimento infantil; substituta, conforme o caso.
IX - formação profissional com abrangência dos di- Art. 91. As entidades não-governamentais somente
versos direitos da criança e do adolescente que favoreça poderão funcionar depois de registradas no Conselho
a intersetorialidade no atendimento da criança e do ado- Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o
lescente e seu desenvolvimento integral; qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autori-
X - realização e divulgação de pesquisas sobre de- dade judiciária da respectiva localidade.
senvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. § 1o Será negado o registro à entidade que: 
Art. 89. A função de membro do conselho nacional e a) não ofereça instalações físicas em condições ade-
dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da crian- quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e seguran-
ça e do adolescente é considerada de interesse público ça;
relevante e não será remunerada. b) não apresente plano de trabalho compatível com os
princípios desta Lei;
Capítulo II c) esteja irregularmente constituída;
Das Entidades de Atendimento d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas.
Seção I e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e
Disposições Gerais deliberações relativas à modalidade de atendimento pres-
tado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e
Art. 90. As entidades de atendimento são respon- do Adolescente, em todos os níveis.
sáveis pela manutenção das próprias unidades, assim § 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos,
como pelo planejamento e execução de programas de cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
proteção e socioeducativos destinados a crianças e adoles- do Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de
centes, em regime de: sua renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo.
I - orientação e apoio sociofamiliar; Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de
II - apoio socioeducativo em meio aberto; acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os se-
III - colocação familiar; guintes princípios:
IV - acolhimento institucional; I - preservação dos vínculos familiares e promoção
V - prestação de serviços à comunidade; da reintegração familiar;
VI - liberdade assistida; II - integração em família substituta, quando esgo-
VII - semiliberdade; e tados os recursos de manutenção na família natural ou ex-
VIII - internação. tensa;
§ 1o As entidades governamentais e não governamen- III - atendimento personalizado e em pequenos gru-
tais deverão proceder à inscrição de seus programas, es- pos;
pecificando os regimes de atendimento, na forma definida IV - desenvolvimento de atividades em regime de
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Crian- coeducação;

120
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

V - não desmembramento de grupos de irmãos; Art. 94. As entidades que desenvolvem programas
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para de internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; I - observar os direitos e garantias de que são titula-
VII - participação na vida da comunidade local; res os adolescentes;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
IX - participação de pessoas da comunidade no pro- objeto de restrição na decisão de internação;
cesso educativo. III - oferecer atendimento personalizado, em peque-
§ 1o O dirigente de entidade que desenvolve progra- nas unidades e grupos reduzidos;
ma de acolhimento institucional é equiparado ao guardião, IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de
para todos os efeitos de direito.  respeito e dignidade ao adolescente;
§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem pro- V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
gramas de acolhimento familiar ou institucional remeterão preservação dos vínculos familiares;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, VI - comunicar à autoridade judiciária, periodica-
relatório circunstanciado acerca da situação de cada crian- mente, os casos em que se mostre inviável ou impossível
ça ou adolescente acolhido e sua família, para fins da rea- o reatamento dos vínculos familiares;
valiação prevista no § 1o do art. 19 desta Lei.  VII - oferecer instalações físicas em condições ade-
§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes quadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segu-
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a per- rança e os objetos necessários à higiene pessoal;
manente qualificação dos profissionais que atuam direta VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
ou indiretamente em programas de acolhimento institucio- adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
nal e destinados à colocação familiar de crianças e adoles- IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odon-
centes, incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério tológicos e farmacêuticos;
Público e Conselho Tutelar.  X - propiciar escolarização e profissionalização;
§ 4o Salvo determinação em contrário da autorida- XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de
de judiciária competente, as entidades que desenvolvem lazer;
programas de acolhimento familiar ou institucional, se ne- XII - propiciar assistência religiosa àqueles que dese-
cessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos jarem, de acordo com suas crenças;
de assistência social, estimularão o contato da criança ou XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com inter-
disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.  valo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
§ 5o As entidades que desenvolvem programas de aco- autoridade competente;
lhimento familiar ou institucional somente poderão rece- XV - informar, periodicamente, o adolescente inter-
ber recursos públicos se comprovado o atendimento dos nado sobre sua situação processual;
princípios, exigências e finalidades desta Lei.  XVI - comunicar às autoridades competentes todos os
§ 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo casos de adolescentes portadores de moléstias infecto-
dirigente de entidade que desenvolva programas de aco- contagiosas;
lhimento familiar ou institucional é causa de sua destitui- XVII - fornecer comprovante de depósito dos per-
ção, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade tences dos adolescentes;
administrativa, civil e criminal.  XVIII - manter programas destinados ao apoio e
§ 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos acompanhamento de egressos;
em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atua- XIX - providenciar os documentos necessários ao
ção de educadores de referência estáveis e qualitativamente exercício da cidadania àqueles que não os tiverem;
significativos, às rotinas específicas e ao atendimento das ne- XX - manter arquivo de anotações onde constem data
cessidades básicas, incluindo as de afeto como prioritárias.  e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente,
Art. 93. As entidades que mantenham programa de seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade,
acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional acompanhamento da sua formação, relação de seus per-
e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia tences e demais dados que possibilitem sua identifica-
determinação da autoridade competente, fazendo comu- ção e a individualização do atendimento.
nicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz § 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constan-
da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.  tes deste artigo às entidades que mantêm programas de
Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autorida- acolhimento institucional e familiar. 
de judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário § 2º No cumprimento das obrigações a que alude este
com o apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recur-
necessárias para promover a imediata reintegração familiar sos da comunidade.
da criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abri-
não for isso possível ou recomendável, para seu encami- guem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que
nhamento a programa de acolhimento familiar, institucio- em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, pro-
nal ou a família substituta, observado o disposto no § 2o do fissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Con-
art. 101 desta Lei.  selho Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos.

121
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Seção II Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em


Da Fiscalização das Entidades conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aque-
las que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
Art. 95. As entidades governamentais e não-gover- comunitários.
namentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Parágrafo único. São também princípios que regem a
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos aplicação das medidas:
Tutelares. I - condição da criança e do adolescente como sujeitos
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de de direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos di-
contas serão apresentados ao estado ou ao município, reitos previstos nesta e em outras Leis, bem como na Cons-
conforme a origem das dotações orçamentárias. tituição Federal;
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de aten- II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
dimento que descumprirem obrigação constante do art. aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal ser voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de
de seus dirigentes ou prepostos: que crianças e adolescentes são titulares;
I - às entidades governamentais: III - responsabilidade primária e solidária do poder pú-
a) advertência; blico: a plena efetivação dos direitos assegurados a crian-
b) afastamento provisório de seus dirigentes; ças e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Fede-
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; ral, salvo nos casos por esta expressamente ressalvados, é
d) fechamento de unidade ou interdição de pro- de responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas
grama. de governo, sem prejuízo da municipalização do atendi-
II - às entidades não-governamentais: mento e da possibilidade da execução de programas por
a) advertência; entidades não governamentais;
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
públicas; intervenção deve atender prioritariamente aos interesses
c) interdição de unidades ou suspensão de progra- e direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
ma; consideração que for devida a outros interesses legítimos
d) cassação do registro. no âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por concreto;
entidades de atendimento, que coloquem em risco os V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comu- criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
nicado ao Ministério Público ou representado perante intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
autoridade judiciária competente para as providências VI - intervenção precoce: a intervenção das autorida-
cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dissolução des competentes deve ser efetuada logo que a situação de
da entidade.  perigo seja conhecida;
§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as orga- VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exer-
nizações não governamentais responderão pelos danos cida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja
que seus agentes causarem às crianças e aos adolescen- ação seja indispensável à efetiva promoção dos direitos e à
tes, caracterizado o descumprimento dos princípios nor- proteção da criança e do adolescente;
teadores das atividades de proteção específica.  VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção
deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em
Título II que a criança ou o adolescente se encontram no momento
Das Medidas de Proteção em que a decisão é tomada;
Capítulo I IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
Disposições Gerais efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres
para com a criança e o adolescente;
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adoles- X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
cente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos proteção da criança e do adolescente deve ser dada preva-
nesta Lei forem ameaçados ou violados: lência às medidas que os mantenham ou reintegrem na sua
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou respon- promovam a sua integração em família adotiva;
sável; XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adoles-
III - em razão de sua conduta. cente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capaci-
dade de compreensão, seus pais ou responsável devem ser
Capítulo II informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram
Das Medidas Específicas de Proteção a intervenção e da forma como esta se processa;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o ado-
Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão lescente, em separado ou na companhia dos pais, de res-
ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como ponsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus
substituídas a qualquer tempo. pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar

122
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nos atos e na definição da medida de promoção dos direi- § 5o O plano individual será elaborado sob a respon-
tos e de proteção, sendo sua opinião devidamente consi- sabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
derada pela autoridade judiciária competente, observado o atendimento e levará em consideração a opinião da criança
disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no § 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, den- I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
tre outras, as seguintes medidas: II - os compromissos assumidos pelos pais ou respon-
I - encaminhamento aos pais ou responsável, me- sável; e
diante termo de responsabilidade; III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas
II - orientação, apoio e acompanhamento tempo- com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais
rários; ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabele- seja esta vedada por expressa e fundamentada determi-
cimento oficial de ensino fundamental; nação judicial, as providências a serem tomadas para sua
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou co- colocação em família substituta, sob direta supervisão da
munitários de proteção, apoio e promoção da família, da autoridade judiciária.
criança e do adolescente; § 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá
V - requisição de tratamento médico, psicológico no local mais próximo à residência dos pais ou do respon-
ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; sável e, como parte do processo de reintegração familiar,
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário sempre que identificada a necessidade, a família de origem
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxi- será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio
cômanos; e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o con-
VII - acolhimento institucional; tato com a criança ou com o adolescente acolhido.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar,
IX - colocação em família substituta. o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento fa- institucional fará imediata comunicação à autoridade judi-
miliar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis ciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de 5
como forma de transição para reintegração familiar ou, não (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
sendo esta possível, para colocação em família substituta, § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reinte-
não implicando privação de liberdade. gração da criança ou do adolescente à família de origem,
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais após seu encaminhamento a programas oficiais ou comu-
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e nitários de orientação, apoio e promoção social, será envia-
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afasta- do relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
mento da criança ou adolescente do convívio familiar é de conste a descrição pormenorizada das providências toma-
competência exclusiva da autoridade judiciária e importará das e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos
na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem da entidade ou responsáveis pela execução da política mu-
tenha legítimo interesse, de procedimento judicial conten- nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a
cioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou
o exercício do contraditório e da ampla defesa. guarda.
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser enca- § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
minhados às instituições que executam programas de aco- prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
lhimento institucional, governamentais ou não, por meio de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária
uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade judiciá- a realização de estudos complementares ou de outras pro-
ria, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: vidências indispensáveis ao ajuizamento da demanda.
I - sua identificação e a qualificação completa de seus § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca
pais ou de seu responsável, se conhecidos; ou foro regional, um cadastro contendo informações atua-
II - o endereço de residência dos pais ou do responsá- lizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de aco-
vel, com pontos de referência; lhimento familiar e institucional sob sua responsabilidade,
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica
em tê-los sob sua guarda; de cada um, bem como as providências tomadas para sua
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao reintegração familiar ou colocação em família substituta, em
convívio familiar. qualquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
do adolescente, a entidade responsável pelo programa de Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adoles-
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, cente e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada sobre a implementação de políticas públicas que permitam
em contrário de autoridade judiciária competente, caso em reduzir o número de crianças e adolescentes afastados do
que também deverá contemplar sua colocação em família convívio familiar e abreviar o período de permanência em
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. programa de acolhimento.

123
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 102. As medidas de proteção de que trata este O Juiz pode aplicar essas medidas isolada ou cumulati-
Capítulo serão acompanhadas da regularização do regis- vamente. Pode, também, substituir uma medida pela outra
tro civil. a qualquer tempo (art. 99 do ECA). Antes de aplicar qual-
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o as- quer uma dessas medidas, o Juiz deverá ouvir os pais ou
sento de nascimento da criança ou adolescente será feito responsáveis, realizar estudo social do caso e ouvir o MP.
à vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da Essa oitiva do MP é obrigatória, sob pena de nulidade (art.
autoridade judiciária. 204 do ECA). Esse rol do art. 101 é taxativo.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regulariza-
ção de que trata este artigo são isentos de multas, custas e Título III
emolumentos, gozando de absoluta prioridade. Da Prática de Ato Infracional
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será defla- Capítulo I
grado procedimento específico destinado à sua averigua- Disposições Gerais
ção, conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezem-
bro de 1992. Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta des-
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dis- crita como crime ou contravenção penal.
pensável o ajuizamento de ação de investigação de pater- Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores
nidade pelo Ministério Público se, após o não compareci- de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
mento ou a recusa do suposto pai em assumir a paternida- Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser con-
de a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.  siderada a idade do adolescente à data do fato.
§ 5º Os registros e certidões necessários à inclusão, a Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimen- corresponderão as medidas previstas no art. 101.
to são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando
de absoluta prioridade. Capítulo II
§ 6º São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação re- Dos Direitos Individuais
querida do reconhecimento de paternidade no assento de
nascimento e a certidão correspondente. Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
As normas de prevenção do ECA são destinadas a liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
crianças e adolescentes em situação de risco. Existirá situa- ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
ção de risco quando a criança ou o adolescente estiverem competente.
privados de assistência. Essa assistência pode ser material Parágrafo único. O adolescente tem direito à identifi-
(quando não se tem onde dormir, o que comer, vestir etc.), cação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
moral (quando a criança ou o adolescente permanece em informado acerca de seus direitos.
local inadequado, como locais de prática de jogo, prostitui- Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o lo-
ção etc.) ou jurídica (quando não tem quem o represente). cal onde se encontra recolhido serão incontinenti comu-
O menor que pratica ato infracional está em situação nicados à autoridade judiciária competente e à família do
de risco por estar privado de assistência moral. A situação apreendido ou à pessoa por ele indicada.
de risco pode decorrer de ação ou omissão do Poder Pú- Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena
blico; ação ou omissão dos pais ou dos responsáveis; por de responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
conduta própria. Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser de-
O art. 101 do ECA traz um rol das medidas protetivas terminada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
diante da situação de risco. Essas medidas poderão ser aplica- Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e
das tanto para a criança quanto para o adolescente. São elas: basear-se em indícios suficientes de autoria e materia-
- encaminhamento da criança e do adolescente aos lidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
pais ou responsáveis, mediante termo ou responsabilidade; Art. 109. O adolescente civilmente identificado não
- orientação, apoio e acompanhamentos temporários será submetido a identificação compulsória pelos ór-
por pessoa nomeada pelo Juiz; gãos policiais, de proteção e judiciais, salvo para efeito
- matrícula e frequência obrigatória em estabelecimen- de confrontação, havendo dúvida fundada.
to oficial de ensino fundamental (o Juiz determina aos pais O adolescente não é preso, é apreendido.
a obrigação); A internação é a medida mais gravosa para o adoles-
- inclusão em programa comunitário ou oficial de auxí- cente. O ECA permite a internação provisória durante o
lio à família, à criança e ao adolescente; processo. É fixado o prazo máximo de 45 dias. Os funda-
- requisição de tratamento médico, psicológico ou psi- mentos para que o Juiz decrete essa internação provisória
quiátrico em regime hospitalar (internação) ou ambulato- são: indícios suficientes de autoria e materialidade e neces-
rial (consultas periódicas); sidade da medida.
- abrigo em entidade (não se fala em orfanato). A dou- Esse prazo de internação provisória será descontado
trina chama de “Tutela de Estado” quando a criança está na internação definitiva. Em nenhuma hipótese a criança
em abrigo sob a proteção do Estado; poderá ser internada. Criança, que é todo aquele menor
- colocação em família substituta (é utilizada somente de 12 anos, não se sujeita a medida sócio-educativa, mas
em situações muito graves). apenas a medida de proteção.

124
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Capítulo III A internação é uma exceção, existindo hipóteses


Das Garantias Processuais legais para sua aplicação.
A medida de segurança não poderá ser aplica-
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua da ao adolescente, tendo em vista ser medida para
liberdade sem o devido processo legal. maior de idade que apresenta periculosidade. No
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre ou- caso de adolescente doente mental, será aplicada
tras, as seguintes garantias: medida de proteção, podendo ser requisitado trata-
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de mento médico.
ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; O Juiz poderá cumular medidas socioeducati-
II - igualdade na relação processual, podendo con- vas, desde que sejam compatíveis (ex.: prestação de
frontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as serviço à comunidade cumulada com reparação de
provas necessárias à sua defesa; danos). Com exceção da internação, o Juiz poderá
III - defesa técnica por advogado; substituir as medidas socioeducativas de acordo com
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos o caso concreto, visto não haver taxatividade.
necessitados, na forma da lei; Se o Promotor discordar com a medida socioedu-
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autori- cativa aplicada, deverá entrar com recurso de apela-
dade competente; ção. Essa apelação do ECA possui juízo de retratação,
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou ou seja, o Juiz pode voltar atrás na decisão. O Tribu-
responsável em qualquer fase do procedimento. nal competente para julgar essa apelação é o TJ.

Capítulo IV Seção II
Das Medidas Socioeducativas Da Advertência
Seção I
Disposições Gerais Art. 115. A advertência consistirá em admoesta-
ção verbal, que será reduzida a termo e assinada.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a au- Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida só-
toridade competente poderá aplicar ao adolescente as cio-educativa que consiste em uma admoestação
seguintes medidas: verbal que é aplicada pelo Juiz ao adolescente e que
I - advertência; é reduzida a termo. É destinada a atos de menor gra-
II - obrigação de reparar o dano; vidade.
III - prestação de serviços à comunidade; Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar
IV - liberdade assistida; em consideração a prova da materialidade e indícios
V - inserção em regime de semi-liberdade; suficientes de autoria. É a única medida que o Juiz
VI - internação em estabelecimento educacional; poderá aplicar fundamentando-se somente em indí-
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. cios de autoria.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em
conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias Seção III
e a gravidade da infração. Da Obrigação de Reparar o Dano
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado. Art. 116. Em se tratando de ato infracional com
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou defi- reflexos patrimoniais, a autoridade poderá deter-
ciência mental receberão tratamento individual e es- minar, se for o caso, que o adolescente restitua a coi-
pecializado, em local adequado às suas condições. sa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. forma, compense o prejuízo da vítima.
99 e 100. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibi-
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos in- lidade, a medida poderá ser substituída por outra
cisos II a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas adequada.
suficientes da autoria e da materialidade da infração, Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA).
ressalvada a hipótese de remissão, nos termos do art. Há um pressuposto: o ato infracional deve ter cau-
127. sado um dano à vítima. Essa reparação é para a víti-
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada ma que sofreu o dano. É uma medida voltada para o
sempre que houver prova da materialidade e indícios su- adolescente, então deve ser estabelecida de acordo
ficientes da autoria. com a possibilidade de cumprimento pelo adoles-
As medidas socioeducativas dependem de um pro- cente (ex.: devolução da coisa furtada, pequenos ser-
cedimento judicial, só podendo ser aplicadas pelo Juiz. O viços a título de reparação etc.).
ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação A jurisprudência admite que essa reparação de
de medida socioeducativa: dano pode ser aplicada à criança (ex.: devolução da
- capacidade do adolescente para cumprir a medida; coisa furtada).
- circunstâncias e gravidade da infração.

125
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Seção IV - promover socialmente o adolescente, bem como a


Da Prestação de Serviços à Comunidade sua família, inserindo-os em programas sociais. Promover
socialmente é fazer com que o adolescente realize ativida-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste des valorizadas socialmente (teatro, música etc.);
na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por - supervisionar a frequência e o aproveitamento esco-
período não excedente a seis meses, junto a entidades lar do adolescente;
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos - profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n.
congêneres, bem como em programas comunitários ou 20);
governamentais. - apresentar relatório do caso ao Juiz.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme
as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas du- Seção VI
rante jornada máxima de oito horas semanais, aos sába- Do Regime de Semiliberdade
dos, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determi-
trabalho. nado desde o início, ou como forma de transição para o
Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obri- meio aberto, possibilitada a realização de atividades exter-
gado a prestar serviços em benefício da coletividade. São nas, independentemente de autorização judicial.
tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades as- § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissio-
sistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congê- nalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os
neres. recursos existentes na comunidade.
Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo § 2º A medida não comporta prazo determinado
máximo de 6 meses para essa prestação e um máximo de aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à in-
8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabeleci- ternação.
das discricionariamente, desde que não prejudiquem a fre- Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que impor-
ta em privação de liberdade ao adolescente que pratica um
quência ao trabalho e à escola. Deverá ser levada em conta
ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
a aptidão do adolescente para a aplicação da medida.
família e colocado em um estabelecimento apropriado de
semiliberdade, podendo realizar atividades externas (estu-
Seção V
dar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
Da Liberdade Assistida
estabelecimento, não havendo necessidade de autorização
judicial. Pode ser usada tanto como medida principal quan-
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre
to como medida progressiva ou regressiva.
que se afigurar a medida mais adequada para o fim de
A semiliberdade não tem prazo fixado em lei, nem
acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. mínimo nem máximo. A doutrina e a jurisprudência deter-
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para minam a aplicação da medida por analogia dos prazos da
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obri-
entidade ou programa de atendimento. gatoriedade de escolarização e profissionalização na semi-
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo míni- liberdade.
mo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorro-
gada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o Seção VII
orientador, o Ministério Público e o defensor. Da Internação
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a su-
pervisão da autoridade competente, a realização dos se- Art. 121. A internação constitui medida privativa da
guintes encargos, entre outros: liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcio-
I - promover socialmente o adolescente e sua família, nalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, desenvolvimento.
em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência § 1º Será permitida a realização de atividades externas,
social; a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa de-
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento es- terminação judicial em contrário.
colar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; § 2º A medida não comporta prazo determinado, de-
III - diligenciar no sentido da profissionalização do vendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; fundamentada, no máximo a cada seis meses.
IV - apresentar relatório do caso. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de inter-
É a última medida em que o adolescente permanece nação excederá a três anos.
com sua família. O Juiz irá determinar um acompanhamen- § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo ante-
to permanente ao adolescente, designando, para isso, um rior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regi-
orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A me de semiliberdade ou de liberdade assistida.
lei fixa um prazo mínimo de 6 meses para a duração dessa § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos
medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais: de idade.

126
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será prece- Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade físi-
dida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público. ca e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1o pode- adequadas de contenção e segurança.
rá ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida re-
Art. 122. A medida de internação só poderá ser apli- servada para os atos infracionais de natureza grave. O ECA
cada quando: estabelece princípios específicos para a internação, pois é
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante gra- medida de privação de liberdade sempre excepcional.
ve ameaça ou violência a pessoa; A internação deve durar o menor tempo possível (prin-
II - por reiteração no cometimento de outras infra- cípio da brevidade), é uma medida de exceção que só de-
ções graves; verá ser utilizada em último caso (princípio da excepcio-
III - por descumprimento reiterado e injustificável nalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição
da medida anteriormente imposta. peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimen-
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III to. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.
deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, de- O ECA estabelece hipóteses de internação para:
vendo ser decretada judicialmente após o devido processo - prática de ato infracional mediante grave ameaça ou
legal. violência à pessoa;
§ 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, - reiteração de infrações graves;
havendo outra medida adequada. - descumprimento reiterado e injustificado da medi-
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em enti- da anteriormente imposta (é uma hipótese de regressão).
dade exclusiva para adolescentes, em local distinto da- Neste caso, a internação não pode ultrapassar o prazo de
quele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação 3 meses.
por critérios de idade, compleição física e gravidade da Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para in-
infração. ternação é de 3 anos. Por força desse prazo, o ECA poderá
Parágrafo único. Durante o período de internação, in- atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas só-
clusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagó-
cio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.
gicas.
A medida só poderá ser aplicada com o devido pro-
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liber-
cesso legal e em nenhuma hipótese poderá ser aplicada à
dade, entre outros, os seguintes:
criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a libe-
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante
ração será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado
do Ministério Público;
por internação provisória, esses dias serão computados na
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
internação é que, nesta, o adolescente depende de auto-
IV - ser informado de sua situação processual, sempre
que solicitada; rização expressa do juiz para praticar atividades externas,
V - ser tratado com respeito e dignidade; ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
VI - permanecer internado na mesma localidade ou estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou res- O art. 123 dispõe que o local para a internação deve
ponsável; ser distinto do abrigo, devendo-se obedecer a separação
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de reali-
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e as- zação de atividades pedagógicas.
seio pessoal; O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos ado-
X - habitar alojamento em condições adequadas de lescentes:
higiene e salubridade; - entrevista pessoal com o representante do MP;
XI - receber escolarização e profissionalização; - entrevista reservada com seu defensor, dentre outros.
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o funda-
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; mento de segurança e proteção do menor, entretanto, em
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua cren- nenhuma hipótese o menor poderá ficar incomunicável.
ça, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor Capítulo V
de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante Da Remissão
daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os docu- Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial
mentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade. para apuração de ato infracional, o representante do
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. Ministério Público poderá conceder a remissão, como
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender tem- forma de exclusão do processo, atendendo às circuns-
porariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se tâncias e consequências do fato, ao contexto social, bem
existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialida- como à personalidade do adolescente e sua maior ou me-
de aos interesses do adolescente. nor participação no ato infracional.

127
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão um acordo, tendo em vista a lei falar em concessão e, ain-
da remissão pela autoridade judiciária importará na sus- da, pelo fato de não haver nenhum prejuízo para o adoles-
pensão ou extinção do processo. cente, não possuindo a remissão nenhum efeito, podendo
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o ser concedida quantas vezes forem necessárias.
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade,
nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo in- Título IV
cluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável
previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-li-
berdade e a internação. Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou respon-
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão po- sável:
derá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, median- I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou
te pedido expresso do adolescente ou de seu representan- comunitários de proteção, apoio e promoção da família;
te legal, ou do Ministério Público. II - inclusão em programa oficial ou comunitário de au-
Tem por conceito o perdão, a indulgência ao menor. xílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Podem conceder remissão tanto o MP quanto o Juiz. São III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
hipóteses de natureza jurídica diferentes. A remissão ju- IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
dicial é forma de extinção ou de suspensão do processo V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acom-
(portanto, pressupõe o processo em curso). Já a remissão panhar sua frequência e aproveitamento escolar;
ministerial é forma de exclusão do processo (logo, deve VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente
ser concedida antes do processo - administrativamente). a tratamento especializado;
Quando a remissão é concedida pelo MP, segue-se o se- VII - advertência;
guinte procedimento: VIII - perda da guarda;
- o menor é ouvido pelo Promotor que concederá a IX - destituição da tutela;
remissão; X - suspensão ou destituição do poder familiar.
- o Promotor encaminha a remissão para homologação Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas
pelo Juiz; nos incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto
- se o Juiz não aceitar a remissão, deverá remeter para nos arts. 23 e 24.
o Procurador de Justiça, que poderá insistir na remissão Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opres-
ou designar outro representante do MP para apresentar são ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável,
representação contra o menor. Essa remissão concedida a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
pelo MP é causa de exclusão do processo, visto que, ao cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
conceder a remissão, inexiste o processo. Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a
Quando a remissão é concedida pelo Juiz, segue-se o fixação provisória dos alimentos de que necessitem a crian-
seguinte procedimento: ça ou o adolescente dependentes do agressor.
- o Promotor oferece a representação;
- na audiência de apresentação, o menor será ouvido Capítulo I
pelo Juiz, que poderá decidir pela remissão; Disposições Gerais
- o representante do MP deverá, obrigatoriamente, ser
ouvido sobre a possibilidade da remissão antes de ela ser Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e au-
aplicada. A remissão concedida pelo Juiz causa extinção do tônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de
processo. Havendo discordância por parte do MP, este de- zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do ado-
verá ingressar com uma apelação para reformar a decisão lescente, definidos nesta Lei.
do Juiz. Art. 132. Em cada Município e em cada Região Admi-
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência admitem a nistrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um)
cumulação da remissão com uma medida sócio-educativa Conselho Tutelar como órgão integrante da administração
que seja compatível (ex.: reparação do dano, advertência pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos
etc.). Neste caso, a remissão é causa de suspensão do pro- pela população local para mandato de 4 (quatro) anos,
cesso. permitida 1 (uma) recondução, mediante novo processo
O ECA traz quatro requisitos genéricos para a aplicação de escolha. 
da remissão, devendo ficar a critério do membro do MP ou Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
do Juiz a sua concessão. São eles: Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
- circunstâncias e conseqüências do fato; I - reconhecida idoneidade moral;
- contexto social em que o fato foi praticado; II - idade superior a vinte e um anos;
- personalidade do agente; III - residir no município.
- maior ou menor participação no ato infracional.
A remissão, quer concedida pelo MP quer pelo Juiz, Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre
não implica confissão de culpa. Existe uma divergência na o local, dia e horário de funcionamento do Conselho
doutrina em considerar a remissão como um acordo ou Tutelar, inclusive quanto à remuneração dos respectivos
não. A posição majoritária entende que a remissão não é membros, aos quais é assegurado o direito a:

128
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

I - cobertura previdenciária;  Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente po-


II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de derão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de
1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal; quem tenha legítimo interesse.
III - licença-maternidade;
IV - licença-paternidade;  Capítulo III
V - gratificação natalina.  Da Competência
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária munici-
pal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessá- Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de com-
rios ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remunera- petência constante do art. 147.
ção e formação continuada dos conselheiros tutelares.
Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro Capítulo IV
constituirá serviço público relevante e estabelecerá presun- Da Escolha dos Conselheiros
ção de idoneidade moral. 
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do
Capítulo II Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e rea-
Das Atribuições do Conselho lizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscaliza-
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: ção do Ministério Público.
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses § 1o O processo de escolha dos membros do Conse-
previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas lho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
no art. 101, I a VII; nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, apli- mês de outubro do ano subsequente ao da eleição pre-
cando as medidas previstas no art. 129, I a VII; sidencial. 
III - promover a execução de suas decisões, podendo § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia
para tanto: 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. 
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, edu- § 3o No processo de escolha dos membros do Conselho
cação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer
de descumprimento injustificado de suas deliberações. natureza, inclusive brindes de pequeno valor. 
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato
que constitua infração administrativa ou penal contra os Capítulo V
direitos da criança ou adolescente; Dos Impedimentos
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
competência; Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Con-
VI - providenciar a medida estabelecida pela autorida- selho marido e mulher, ascendentes e descendentes,
de judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados, durante o
o adolescente autor de ato infracional; cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou madrasta e en-
VII - expedir notificações; teado.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de Parágrafo único. Estende-se o impedimento do con-
criança ou adolescente quando necessário; selheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração judiciária e ao representante do Ministério Público com
da proposta orçamentária para planos e programas de atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício
atendimento dos direitos da criança e do adolescente; na comarca, foro regional ou distrital.
X - representar, em nome da pessoa e da família, con-
tra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso Título VI
II, da Constituição Federal; Do Acesso à Justiça
XI - representar ao Ministério Público para efeito das Capítulo I
ações de perda ou suspensão do poder familiar, após es- Disposições Gerais
gotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do
adolescente junto à família natural; Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público
profissionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhe- e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
cimento de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, que dela necessitarem, através de defensor público ou ad-
o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do vogado nomeado.
convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Minis- § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
tério Público, prestando-lhe informações sobre os moti- Infância e da Juventude são isentas de custas e emolu-
vos de tal entendimento e as providências tomadas para a mentos, ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.
orientação, o apoio e a promoção social da família. 

129
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão repre- Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os
sentados e os maiores de dezesseis e menores de vinte seguintes princípios inerentes à jurisdição: investidura,
e um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, porque somente exerce jurisdição quem ocupa o cargo de
na forma da legislação civil ou processual. juiz; aderência ao território, posto que juízes somente têm
Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador autoridade no território nacional e nos limites de sua com-
especial à criança ou adolescente, sempre que os interes- petência; indelegabilidade, não podendo o Poder Judiciário
ses destes colidirem com os de seus pais ou responsável, delegar sua competência; inafastabilidade, pois a lei não
ou quando carecer de representação ou assistência legal pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma
ainda que eventual. lesão ou ameaça a direito.
Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, po- Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários
liciais e administrativos que digam respeito a crianças e é possível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, traba-
adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional. lhista e civil (a civil é subsidiária, envolvendo todo direito
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato material que não seja penal ou trabalhista, não somente
não poderá identificar a criança ou adolescente, vedan- questões inerentes ao direito civil); b) quanto ao organismo
do-se fotografia, referência a nome, apelido, filiação, pa- que a exerce – comum (estadual ou federal) ou especial
rentesco, residência e, inclusive, iniciais do nome e sobre- (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hierarquia – su-
nome.  perior e inferior.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdi-
que se refere o artigo anterior somente será deferida pela ção, impedindo que ela seja exercida de maneira caótica,
autoridade judiciária competente, se demonstrado o inte- ela é distribuída entre juízos e foros (órgãos competentes
resse e justificada a finalidade. em localidades determinadas). A esta distribuição das par-
O homem necessita do convívio social, não é um ser celas de jurisdição dá-se o nome de competência.
capaz de viver de maneira autônoma e totalmente des- As tutelas jurisdicionais diferenciadas, por sua vez, são
vinculada dos demais. Neste sentido, a imposição de re- aquelas que apresentam procedimentos diversos do comum.
gramentos e normas permitiu que a sociedade atingisse o Possuem procedimentos ditos especiais, os quais buscam
atual grau de evolução. garantir um processo mais rápido e compatível com as ne-
Obviamente, no ambiente social surgem conflitos de cessidades específicas do direito em discussão. No âmbito
interesses. Afinal, nem sempre os bens e valores existem do direito da criança e do adolescente, tem-se o estabeleci-
em quantidade suficiente para atender a todas as pessoas. mento de uma tutela jurisdicional diferenciada, eis que exis-
Inicialmente, estes conflitos eram solucionados pelos pró- tem inúmeras regras específicas aplicáveis aos processos que
prios envolvidos, na denominada fase da autotutela. envolvem de algum modo criança ou adolescente.
Contudo, a solução possibilidade pela autotutela era A noção de jurisdição inclusiva também se aplica à tu-
bastante insatisfatória e fazia com que prevalecesse a lei tela jurisdicional da criança e do adolescente. Basicamente,
do mais forte. Então, surgiu o Estado apresentando um refere-se à propiciação de uma jurisdição que esteja atenta
melhor sistema para a solução dos conflitos. às peculiaridades das minorias e dos grupos vulneráveis.
O Estado assumiu para si o poder-dever de dizer o No caso, as crianças e adolescentes são considerados um
Direito, de solucionar os conflitos, conhecido como juris- grupo vulnerável devido à condição especial que ocupam.
dição. Assim, o Estado irá elaborar as leis (direito material)
e prever como elas serão aplicadas (direito processual). A Capítulo II
autotutela para a ser punida como regra geral e o Estado Da Justiça da Infância e da Juventude
exerce a heterotutela por meio da atividade jurisdicional. Seção I
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direi- Disposições Gerais
to. Sendo assim, trata-se de atividade estatal exercida por
intermédio de um agente constituído com competência Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
para exercê-la, o juiz. varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua proporcionali-
nem existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas dade por número de habitantes, dotá-las de infra-estrutura
próprias mãos, na denominada autotutela. Com a evolu- e dispor sobre o atendimento, inclusive em plantões.
ção das instituições, o Estado avocou para si o poder-de-
ver de solucionar os litígios, o que é feito pela jurisdição. Seção II
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existin- Do Juiz
do uma separação de funções: o Legislativo regulamenta
normas gerais e abstratas (função legislativa) e o Judiciário Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz
as aplica no caso concreto (função jurisdicional). da Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa fun-
Entretanto, vale destacar que na sociedade contempo- ção, na forma da lei de organização judiciária local.
rânea, devido às inúmeras mazelas que se apresentaram Art. 147. A competência será determinada:
envolvendo o abarrotamento de processos pelo Judiciário, I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
passou-se a incentivar a adoção de métodos de autocom- II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adoles-
posição, como conciliação, mediação e arbitragem. cente, à falta dos pais ou responsável.

130
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a d) casa que explore comercialmente diversões eletrô-
autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as re- nicas;
gras de conexão, continência e prevenção. e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e tele-
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à visão.
autoridade competente da residência dos pais ou respon- II - a participação de criança e adolescente em:
sável, ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a a) espetáculos públicos e seus ensaios;
criança ou adolescente. b) certames de beleza.
§ 3º Em caso de infração cometida através de trans- § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
missão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais judiciária levará em conta, dentre outros fatores:
de uma comarca, será competente, para aplicação da pe- a) os princípios desta Lei;
nalidade, a autoridade judiciária do local da sede estadual b) as peculiaridades locais;
da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas c) a existência de instalações adequadas;
as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. d) o tipo de freqüência habitual ao local;
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é com- e) a adequação do ambiente a eventual participação
petente para: ou freqüência de crianças e adolescentes;
I - conhecer de representações promovidas pelo Minis- f) a natureza do espetáculo.
tério Público, para apuração de ato infracional atribuído a § 2º As medidas adotadas na conformidade deste ar-
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; tigo deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou determinações de caráter geral.
extinção do processo;
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; Seção III
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses Dos Serviços Auxiliares
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao ado-
lescente, observado o disposto no art. 209; Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades sua proposta orçamentária, prever recursos para manuten-
em entidades de atendimento, aplicando as medidas ca- ção de equipe interprofissional, destinada a assessorar a
bíveis; Justiça da Infância e da Juventude.
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
infrações contra norma de proteção à criança ou adoles- atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, for-
cente; necer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente,
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconse-
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. lhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros,
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou ado- tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, as-
lescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a segurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de: Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servi-
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; dores públicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, pela realização dos estudos psicossociais ou de quaisquer
perda ou modificação da tutela ou guarda; outras espécies de avaliações técnicas exigidas por esta Lei
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o ca- ou por determinação judicial, a autoridade judiciária poderá
samento; proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156 da Lei
d) conhecer de pedidos baseados em discordância pa- no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
terna ou materna, em relação ao exercício do poder fami-
liar; Capítulo III
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, Dos Procedimentos
quando faltarem os pais; Seção I
f) designar curador especial em casos de apresentação Disposições Gerais
de queixa ou representação, ou de outros procedimentos
judiciais ou extrajudiciais em que haja interesses de criança Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei apli-
ou adolescente; cam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na
g) conhecer de ações de alimentos; legislação processual pertinente.
h) determinar o cancelamento, a retificação e o supri- § 1o É assegurada, sob pena de responsabilidade, prio-
mento dos registros de nascimento e óbito. ridade absoluta na tramitação dos processos e procedi-
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, mentos previstos nesta Lei, assim como na execução dos
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: atos e diligências judiciais a eles referentes. 
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos
desacompanhado dos pais ou responsável, em: seus procedimentos são contados em dias corridos, ex-
a) estádio, ginásio e campo desportivo; cluído o dia do começo e incluído o dia do vencimento,
b) bailes ou promoções dançantes; vedado o prazo em dobro para a Fazenda Pública e o Mi-
c) boate ou congêneres; nistério Público.

131
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não cor- Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade ju-
responder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, diciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do
a autoridade judiciária poderá investigar os fatos e or- poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamen-
denar de ofício as providências necessárias, ouvido o to definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente con-
Ministério Público. fiado a pessoa idônea, mediante termo de responsabilidade. 
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica § 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária
para o fim de afastamento da criança ou do adolescente de determinará, concomitantemente ao despacho de citação
sua família de origem e em outros procedimentos necessa- e independentemente de requerimento do interessado, a
riamente contenciosos.  realização de estudo social ou perícia por equipe interpro-
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. fissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de
A tutela sócio-individual abrange aspectos do direito uma das causas de suspensão ou destituição do poder fa-
da criança e do adolescente voltado à criança e ao adoles- miliar, ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e
cente individualmente concebidos, isto é, pensados como observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017.
sujeitos de direitos individuais que possam ser por eles § 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades in-
exercidos. dígenas, é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe
A tutela sócio-educativa abrange aspectos do direito interprofissional ou multidisciplinar referida no § 1o des-
da criança e do adolescente voltados às atividades de en- te artigo, de representantes do órgão federal responsável
sino e aprendizagem, tanto no que se refere à educação pela política indigenista, observado o disposto no § 6o do
formal quanto em relação à educação informal. art. 28 desta Lei.
A tutela coletiva volta-se à proteção de direitos difu- Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez
sos e coletivos da criança e do adolescente. Aos direitos dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem
difusos e coletivos são conferidos mecanismos de tutela produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas
específicos para sua proteção, bem como atribuída com- e documentos.
petência para tanto a órgãos determinados que exercerão § 1º A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os
um papel representativo. No Brasil, destacam-se institui- meios para sua realização.
ções como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Sem § 2º O requerido privado de liberdade deverá ser cita-
prejuízo, como visto, há remédios constitucionais que se do pessoalmente.
voltam à proteção de interesses desta categoria, como o § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça
mandado de segurança coletivo e a própria ação popu- houver procurado o citando em seu domicílio ou residência
lar, sem falar na ação civil pública, também mencionada no sem o encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação,
texto constitucional. informar qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qual-
Considerados os diferentes tipos de tutelas inseridas quer vizinho do dia útil em que voltará a fim de efetuar a
no direito da criança e do adolescente, justifica-se a tutela citação, na hora que designar, nos termos do art. 252 e se-
jurisdicional diferenciada, adaptada à condição em desen- guintes da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
volvimento da criança e do adolescente, que deve ser ágil, de Processo Civil).
efetiva, atenta às peculiaridades do caso concreto. § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em
Os procedimentos especiais do ECA se referem a: per- local incerto ou não sabido, serão citados por edital no
da e suspensão de poder familiar, destituição de tutela, co- prazo de 10 (dez) dias, em publicação única, dispensado o
locação em família substituta, apuração de ato infracional envio de ofícios para a localização.
atribuído a adolescente, apuração de irregularidades em Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de
atendimento, apuração de infração administrativa às nor- constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e
mas de proteção da criança e do adolescente e habilitação de sua família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja
em adoção. nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de res-
posta, contando-se o prazo a partir da intimação do despa-
Seção II cho de nomeação.
Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momen-
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão to da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado de-
do poder familiar terá início por provocação do Ministé- fensor.
rio Público ou de quem tenha legítimo interesse. Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária re-
Art. 156. A petição inicial indicará: quisitará de qualquer repartição ou órgão público a apre-
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; sentação de documento que interesse à causa, de ofício
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência ou a requerimento das partes ou do Ministério Público.
do requerente e do requerido, dispensada a qualificação Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
em se tratando de pedido formulado por representante do concluído o estudo social ou a perícia realizada por equi-
Ministério Público; pe interprofissional ou multidisciplinar, a autoridade judi-
III - a exposição sumária do fato e o pedido; ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde (cinco) dias, salvo quando este for o requerente, e decidirá
logo, o rol de testemunhas e documentos. em igual prazo.

132
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requeri- Seção IV


mento das partes ou do Ministério Público, determinará Da Colocação em Família Substituta
a oitiva de testemunhas que comprovem a presença de
uma das causas de suspensão ou destituição do poder Dos artigos 165 a 170 estão descritos procedimentos
familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, adotados na colocação em família substituta:
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24 des- Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos
ta Lei. de colocação em família substituta:
§ 2o (Revogado). I - qualificação completa do requerente e de seu even-
§ 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, tual cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência des-
será obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da te;
criança ou adolescente, respeitado seu estágio de desen- II - indicação de eventual parentesco do requerente e
volvimento e grau de compreensão sobre as implicações de seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adoles-
da medida. cente, especificando se tem ou não parente vivo;
§ 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles fo- III - qualificação completa da criança ou adolescente e
rem identificados e estiverem em local conhecido, ressal- de seus pais, se conhecidos;
vados os casos de não comparecimento perante a Justiça IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento,
quando devidamente citados. anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
§ 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liber- V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou
dade, a autoridade judicial requisitará sua apresentação rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
para a oitiva. Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-
Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judi- -se-ão também os requisitos específicos.
ciária dará vista dos autos ao Ministério Público, por Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido
cinco dias, salvo quando este for o requerente, designan- destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houve-
do, desde logo, audiência de instrução e julgamento. rem aderido expressamente ao pedido de colocação em
§ 1º (Revogado). família substituta, este poderá ser formulado diretamente
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério em cartório, em petição assinada pelos próprios requeren-
Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oral- tes, dispensada a assistência de advogado.
mente o parecer técnico, salvo quando apresentado por § 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz:
escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o I - na presença do Ministério Público, ouvirá as par-
requerido e o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) tes, devidamente assistidas por advogado ou por defensor
minutos cada um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. público, para verificar sua concordância com a adoção, no
§ 3o A decisão será proferida na audiência, podendo prazo máximo de 10 (dez) dias, contado da data do proto-
a autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data colo da petição ou da entrega da criança em juízo, toman-
para sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. do por termo as declarações; e
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder II - declarará a extinção do poder familiar.
familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar
necessidade de nomeação de curador especial em favor será precedido de orientações e esclarecimentos prestados
da criança ou adolescente. pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Ju-
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do pro- ventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevoga-
cedimento será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao bilidade da medida.
juiz, no caso de notória inviabilidade de manutenção do § 3o São garantidos a livre manifestação de vontade
poder familiar, dirigir esforços para preparar a criança ou dos detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das
o adolescente com vistas à colocação em família substi- informações.
tuta. § 4o O consentimento prestado por escrito não terá va-
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou lidade se não for ratificado na audiência a que se refere o
a suspensão do poder familiar será averbada à margem § 1o deste artigo.
do registro de nascimento da criança ou do adolescente. § 5o O consentimento é retratável até a data da reali-
zação da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os
Seção III pais podem exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez)
Da Destituição da Tutela dias, contado da data de prolação da sentença de extinção
do poder familiar.
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o § 6o O consentimento somente terá valor se for dado
procedimento para a remoção de tutor previsto na lei após o nascimento da criança.
processual civil e, no que couber, o disposto na seção an- § 7o A família natural e a família substituta receberão a
terior. devida orientação por intermédio de equipe técnica inter-
A destituição da tutela pode, assim, ser decretada ju- profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
dicialmente, em procedimento contraditório, nos casos preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis
previstos na legislação civil, bem como na hipótese de pela execução da política municipal de garantia do direito
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações. à convivência familiar.

133
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a reque- Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou respon-
rimento das partes ou do Ministério Público, determinará sável, o adolescente será prontamente liberado pela auto-
a realização de estudo social ou, se possível, perícia por ridade policial, sob termo de compromisso e responsabili-
equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de dade de sua apresentação ao representante do Ministério
guarda provisória, bem como, no caso de adoção, sobre o Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro
estágio de convivência. dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda pro- infracional e sua repercussão social, deva o adolescente
visória ou do estágio de convivência, a criança ou o ado- permanecer sob internação para garantia de sua segurança
lescente será entregue ao interessado, mediante termo de pessoal ou manutenção da ordem pública.
responsabilidade. Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade poli-
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pe- cial encaminhará, desde logo, o adolescente ao represen-
ricial, e ouvida, sempre que possível, a criança ou o ado- tante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto
lescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público, de apreensão ou boletim de ocorrência.
pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a au-
em igual prazo. toridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, atendimento, que fará a apresentação ao representante do
a perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressu- Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
posto lógico da medida principal de colocação em família § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
substituta, será observado o procedimento contraditório atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade po-
previsto nas Seções II e III deste Capítulo. licial. À falta de repartição policial especializada, o adoles-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda cente aguardará a apresentação em dependência separada
poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento, da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipó-
observado o disposto no art. 35. tese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade
disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47. policial encaminhará imediatamente ao representante do
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescen- Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim
te sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhi- de ocorrência.
mento familiar será comunicada pela autoridade judiciária Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver
à entidade por este responsável no prazo máximo de 5 indícios de participação de adolescente na prática de ato
(cinco) dias. infracional, a autoridade policial encaminhará ao represen-
tante do Ministério Público relatório das investigações e
Seção V demais documentos.
Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a Ado- Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato
lescente infracional não poderá ser conduzido ou transportado em
compartimento fechado de veículo policial, em condições
Art. 171. O adolescente apreendido por força de or- atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
dem judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.
judiciária. Art. 179. Apresentado o adolescente, o representan-
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de te do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto
ato infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial,
policial competente. devidamente autuados pelo cartório judicial e com infor-
Parágrafo único. Havendo repartição policial especiali- mação sobre os antecedentes do adolescente, procederá
zada para atendimento de adolescente e em se tratando de imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível,
ato infracional praticado em co-autoria com maior, preva- de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
lecerá a atribuição da repartição especializada, que, após as Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o re-
providências necessárias e conforme o caso, encaminhará presentante do Ministério Público notificará os pais ou
o adulto à repartição policial própria. responsável para apresentação do adolescente, podendo
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional co- requisitar o concurso das polícias civil e militar.
metido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo
autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, anterior, o representante do Ministério Público poderá:
parágrafo único, e 107, deverá: I - promover o arquivamento dos autos;
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e II - conceder a remissão;
o adolescente; III - representar à autoridade judiciária para aplicação
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; de medida sócio-educativa.
III - requisitar os exames ou perícias necessários à com- Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou con-
provação da materialidade e autoria da infração. cedida a remissão pelo representante do Ministério Públi-
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, co, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo
a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária
ocorrência circunstanciada. para homologação.

134
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a au- § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medi-
toridade judiciária determinará, conforme o caso, o cum- da de internação ou colocação em regime de semi-liberda-
primento da medida. de, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa não possui advogado constituído, nomeará defensor, de-
dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante des- signando, desde logo, audiência em continuação, podendo
pacho fundamentado, e este oferecerá representação, de- determinar a realização de diligências e estudo do caso.
signará outro membro do Ministério Público para apresen- § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado,
tá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só no prazo de três dias contado da audiência de apresenta-
então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar. ção, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemu-
Ministério Público não promover o arquivamento ou con- nhas arroladas na representação e na defesa prévia, cum-
ceder a remissão, oferecerá representação à autoridade pridas as diligências e juntado o relatório da equipe inter-
judiciária, propondo a instauração de procedimento para profissional, será dada a palavra ao representante do Mi-
aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais nistério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo
adequada. de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez,
§ 1º A representação será oferecida por petição, que a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato decisão.
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, po- Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado,
dendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada não comparecer, injustificadamente à audiência de apre-
pela autoridade judiciária. sentação, a autoridade judiciária designará nova data, de-
§ 2º A representação independe de prova pré-consti- terminando sua condução coercitiva.
tuída da autoria e materialidade. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou sus-
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a con- pensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase
clusão do procedimento, estando o adolescente internado do procedimento, antes da sentença.
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judi- medida, desde que reconheça na sentença:
ciária designará audiência de apresentação do adolescente, I - estar provada a inexistência do fato;
decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção II - não haver prova da existência do fato;
da internação, observado o disposto no art. 108 e pará- III - não constituir o fato ato infracional;
grafo. IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão para o ato infracional.
cientificados do teor da representação, e notificados a Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
comparecer à audiência, acompanhados de advogado. adolescente internado, será imediatamente colocado em
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a liberdade.
autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente. Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade de internação ou regime de semi-liberdade será feita:
judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, deter- I - ao adolescente e ao seu defensor;
minando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresen- II - quando não for encontrado o adolescente, a seus
tação. pais ou responsável, sem prejuízo do defensor.
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada § 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-
a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais -á unicamente na pessoa do defensor.
ou responsável. § 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela au- deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sen-
toridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabele- tença.
cimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as carac- Seção V-A
terísticas definidas no art. 123, o adolescente deverá ser Da Infiltração de Agentes de Polícia para a Investi-
imediatamente transferido para a localidade mais próxima. gação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Criança
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adoles- e de Adolescente
cente aguardará sua remoção em repartição policial, desde
que em seção isolada dos adultos e com instalações apro- Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet
priadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241,
dias, sob pena de responsabilidade. 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A,
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou res- 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
ponsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mes- de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes regras:
mos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado. I – será precedida de autorização judicial devidamente
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limi-
remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, tes da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Minis-
proferindo decisão. tério Público;

135
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Pú- Seção VI


blico ou representação de delegado de polícia e conterá a Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas Atendimento
dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investiga-
das e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais Art. 191. O procedimento de apuração de irregulari-
que permitam a identificação dessas pessoas; dades em entidade governamental e não-governamental
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, terá início mediante portaria da autoridade judiciária ou re-
sem prejuízo de eventuais renovações, desde que o total presentação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar,
não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demons- onde conste, necessariamente, resumo dos fatos.
trada sua efetiva necessidade, a critério da autoridade ju- Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a au-
dicial. toridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público pode- liminarmente o afastamento provisório do dirigente da en-
rão requisitar relatórios parciais da operação de infiltração tidade, mediante decisão fundamentada.
antes do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no
deste artigo. prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo jun-
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste tar documentos e indicar as provas a produzir.
artigo, consideram-se: Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo ne-
I – dados de conexão: informações referentes a hora, cessário, a autoridade judiciária designará audiência de ins-
data, início, término, duração, endereço de Protocolo de trução e julgamento, intimando as partes.
Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
endereço de assinante ou de usuário registrado ou auten- finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
ticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou de-
de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no finitivo de dirigente de entidade governamental, a auto-
momento da conexão. ridade judiciária oficiará à autoridade administrativa ime-
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não diatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
será admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. substituição.
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autorida-
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela de judiciária poderá fixar prazo para a remoção das irregu-
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. laridades verificadas. Satisfeitas as exigências, o processo
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o será extinto, sem julgamento de mérito.
acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Pú- § 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigen-
blico e ao delegado de polícia responsável pela operação, te da entidade ou programa de atendimento.
com o objetivo de garantir o sigilo das investigações.
Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a Seção VII
sua identidade para, por meio da internet, colher indícios Da Apuração de Infração Administrativa às Nor-
de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. mas de Proteção à Criança e ao Adolescente
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, Art. 194. O procedimento para imposição de penali-
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). dade administrativa por infração às normas de proteção
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar à criança e ao adolescente terá início por representação
de observar a estrita finalidade da investigação responderá do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de
pelos excessos praticados. infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário cre-
Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público po- denciado, e assinado por duas testemunhas, se possível.
derão incluir nos bancos de dados próprios, mediante proce- § 1º No procedimento iniciado com o auto de infração,
dimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as infor- poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a
mações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada. natureza e as circunstâncias da infração.
Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata § 2º Sempre que possível, à verificação da infração se-
esta Seção será numerado e tombado em livro específico. guir-se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso con-
Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos ele- trário, dos motivos do retardamento.
trônicos praticados durante a operação deverão ser registra- Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apre-
dos, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Mi- sentação de defesa, contado da data da intimação, que
nistério Público, juntamente com relatório circunstanciado. será feita:
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados cita- I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for la-
dos no caput deste artigo serão reunidos em autos apar- vrado na presença do requerido;
tados e apensados ao processo criminal juntamente com o II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente ha-
inquérito policial, assegurando-se a preservação da identi- bilitado, que entregará cópia do auto ou da representação
dade do agente policial infiltrado e a intimidade das crian- ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certi-
ças e dos adolescentes envolvidos. dão;

136
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

III - por via postal, com aviso de recebimento, se não § 2 o Sempre que possível e recomendável, a eta-
for encontrado o requerido ou seu representante legal; pa obrigatória da preparação referida no § 1o deste
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não artigo incluirá o contato com crianças e adolescen-
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. tes em regime de acolhimento familiar ou institu-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo le- cional, a ser realizado sob orientação, supervisão e
gal, a autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministé- avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e
rio Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo acolhimento familiar e institucional e pela execução
necessário, designará audiência de instrução e julgamento. da política municipal de garantia do direito à convi-
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se- vência familiar.
-ão sucessivamente o Ministério Público e o procurador § 3 o É recomendável que as crianças e os adoles-
do requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, centes acolhidos institucionalmente ou por família
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciá- acolhedora sejam preparados por equipe interpro-
ria, que em seguida proferirá sentença. fissional antes da inclusão em família adotiva.
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da
Seção VIII participação no programa referido no art. 197-C des-
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção ta Lei, a autoridade judiciária, no prazo de 48 (qua-
renta e oito) horas, decidirá acerca das diligências
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no requeridas pelo Ministério Público e determinará a
Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste:  juntada do estudo psicossocial, designando, confor-
I - qualificação completa;  me o caso, audiência de instrução e julgamento.
II - dados familiares; Parágrafo único. Caso não sejam requeridas di-
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou ligências, ou sendo essas indeferidas, a autoridade
casamento, ou declaração relativa ao período de união es- judiciária determinará a juntada do estudo psicosso-
tável; cial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Ca- Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. 
dastro de Pessoas Físicas; Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante
V - comprovante de renda e domicílio; será inscrito nos cadastros referidos no art. 50 des-
VI - atestados de sanidade física e mental; ta Lei, sendo a sua convocação para a adoção feita
VII - certidão de antecedentes criminais; de acordo com ordem cronológica de habilitação e
VIII - certidão negativa de distribuição cível.  conforme a disponibilidade de crianças ou adoles-
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 centes adotáveis.
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério § 1 o A ordem cronológica das habilitações so-
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: mente poderá deixar de ser observada pela autori-
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equi- dade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do
pe interprofissional encarregada de elaborar o estudo téc- art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a me-
nico a que se refere o art. 197-C desta Lei; lhor solução no interesse do adotando.
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 2 o A habilitação à adoção deverá ser renova-
postulantes em juízo e testemunhas; da no mínimo trienalmente mediante avaliação por
III - requerer a juntada de documentos complementares equipe interprofissional.
e a realização de outras diligências que entender necessárias.  § 3 o Quando o adotante candidatar-se a uma
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equi- nova adoção, será dispensável a renovação da ha-
pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da bilitação, bastando a avaliação por equipe interpro-
Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que fissional.
conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o § 4 o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo ha-
preparo dos postulantes para o exercício de uma pater- bilitado, à adoção de crianças ou adolescentes indi-
nidade ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e cados dentro do perfil escolhido, haverá reavaliação
princípios desta Lei. da habilitação concedida.
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em § 5 o A desistência do pretendente em relação à
programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventu- guarda para fins de adoção ou a devolução da crian-
de, preferencialmente com apoio dos técnicos responsá- ça ou do adolescente depois do trânsito em julgado
veis pela execução da política municipal de garantia do di- da sentença de adoção importará na sua exclusão
reito à convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção dos cadastros de adoção.
devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da
Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação habilitação à adoção será de 120 (cento e vinte)
e estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de ado- dias, prorrogável por igual período, mediante deci-
lescentes com deficiência, com doenças crônicas ou com são fundamentada da autoridade judiciária.
necessidades específicas de saúde, e de grupos de irmãos.

137
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Capítulo IV Capítulo V
Dos Recursos Do Ministério Público

Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da In- Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
fância e da Juventude, inclusive os relativos à execução Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
das medidas socioeducativas, adotar-se-á o sistema re- Art. 201. Compete ao Ministério Público:
cursal da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código I - conceder a remissão como forma de exclusão do
de Processo Civil), com as seguintes adaptações: (Reda- processo;
ção dada pela Lei nº 12.594, de 2012) II - promover e acompanhar os procedimentos relati-
I - os recursos serão interpostos independentemen- vos às infrações atribuídas a adolescentes;
te de preparo; III - promover e acompanhar as ações de alimentos e
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de os procedimentos de suspensão e destituição do poder fa-
declaração, o prazo para o Ministério Público e para miliar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guar-
a defesa será sempre de 10 (dez) dias; (Redação dada diães, bem como oficiar em todos os demais procedimen-
pela Lei nº 12.594, de 2012) tos da competência da Justiça da Infância e da Juventude;
III - os recursos terão preferência de julgamento e IV - promover, de ofício ou por solicitação dos inte-
dispensarão revisor; ressados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e
VII - antes de determinar a remessa dos autos à su- a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
perior instância, no caso de apelação, ou do instrumen- administradores de bens de crianças e adolescentes nas hi-
to, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá póteses do art. 98;
despacho fundamentado, mantendo ou reformando a V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para
decisão, no prazo de cinco dias; a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o es- relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
crivão remeterá os autos ou o instrumento à superior no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
instância dentro de vinte e quatro horas, independen- VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
temente de novo pedido do recorrente; se a reformar, instruí-los:
a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da a) expedir notificações para colher depoimentos ou es-
parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de clarecimentos e, em caso de não comparecimento injusti-
cinco dias, contados da intimação. ficado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela polícia
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no civil ou militar;
art. 149 caberá recurso de apelação. b) requisitar informações, exames, perícias e documen-
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz tos de autoridades municipais, estaduais e federais, da ad-
efeito desde logo, embora sujeita a apelação, que será ministração direta ou indireta, bem como promover inspe-
recebida exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se ções e diligências investigatórias;
se tratar de adoção internacional ou se houver perigo c) requisitar informações e documentos a particulares
de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotan- e instituições privadas;
do.  VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências inves-
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qual- tigatórias e determinar a instauração de inquérito policial,
quer dos genitores do poder familiar fica sujeita a ape- para apuração de ilícitos ou infrações às normas de prote-
lação, que deverá ser recebida apenas no efeito devo- ção à infância e à juventude;
lutivo.  VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de ado- legais assegurados às crianças e adolescentes, promoven-
ção e de destituição de poder familiar, em face da rele- do as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
vância das questões, serão processados com priorida- IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e
de absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal,
ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis
oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para afetos à criança e ao adolescente;
julgamento sem revisão e com parecer urgente do Mi- X - representar ao juízo visando à aplicação de penali-
nistério Público. dade por infrações cometidas contra as normas de prote-
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em ção à infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessen- responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
ta) dias, contado da sua conclusão. XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
Parágrafo único. O Ministério Público será intimado atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando
da data do julgamento e poderá na sessão, se entender de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias
necessário, apresentar oralmente seu parecer.  à remoção de irregularidades porventura verificadas;
Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a XII - requisitar força policial, bem como a colaboração
instauração de procedimento para apuração de respon- dos serviços médicos, hospitalares, educacionais e de as-
sabilidades se constatar o descumprimento das provi- sistência social, públicos ou privados, para o desempenho
dências e do prazo previstos nos artigos anteriores. de suas atribuições.

138
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando
cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
esta Lei. autoridade judiciária.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não ex-
cluem outras, desde que compatíveis com a finalidade do Capítulo VII
Ministério Público. Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais,
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercí- Difusos e Coletivos
cio de suas funções, terá livre acesso a todo local onde se
encontre criança ou adolescente. Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações
§ 4º O representante do Ministério Público será res- de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
ponsável pelo uso indevido das informações e documentos criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. ou oferta irregular:
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inci- I - do ensino obrigatório;
so VIII deste artigo, poderá o representante do Ministério II - de atendimento educacional especializado aos por-
Público: tadores de deficiência;
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instau- III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças
rando o competente procedimento, sob sua presidência; de zero a cinco anos de idade;
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autorida- IV - de ensino noturno regular, adequado às condições
de reclamada, em dia, local e horário previamente notifica- do educando;
dos ou acertados; V - de programas suplementares de oferta de material
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos ser- didático-escolar, transporte e assistência à saúde do edu-
viços públicos e de relevância pública afetos à criança e cando do ensino fundamental;
ao adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita VI - de serviço de assistência social visando à proteção
adequação. à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não como ao amparo às crianças e adolescentes que dele ne-
for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na cessitem;
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hi- VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
pótese em que terá vista dos autos depois das partes, po- VIII - de escolarização e profissionalização dos adoles-
dendo juntar documentos e requerer diligências, usando centes privados de liberdade.
os recursos cabíveis. IX - de ações, serviços e programas de orientação,
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qual- apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno
quer caso, será feita pessoalmente. exercício do direito à convivência familiar por crianças e
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público adolescentes.
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício X - de programas de atendimento para a execução das
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado. medidas socioeducativas e aplicação de medidas de prote-
Art. 205. As manifestações processuais do representan- ção. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
te do Ministério Público deverão ser fundamentadas. § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
Capítulo VI coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegi-
Do Advogado dos pela Constituição e pela Lei.
§ 2o A investigação do desaparecimento de crianças
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou res- ou adolescentes será realizada imediatamente após noti-
ponsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse ficação aos órgãos competentes, que deverão comunicar
na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de o fato aos portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e compa-
que trata esta Lei, através de advogado, o qual será inti- nhias de transporte interestaduais e internacionais, forne-
mado para todos os atos, pessoalmente ou por publicação cendo-lhes todos os dados necessários à identificação do
oficial, respeitado o segredo de justiça. desaparecido.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária in- Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão pro-
tegral e gratuita àqueles que dela necessitarem. postas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prá- ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
tica de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Fe-
processado sem defensor. deral e a competência originária dos tribunais superiores.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á no- Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
meado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concor-
constituir outro de sua preferência. rentemente:
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamen- I - o Ministério Público;
to de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear subs- II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Fede-
tituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. ral e os territórios;

139
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

III - as associações legalmente constituídas há pelo Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em jul-
menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais gado da sentença condenatória sem que a associação au-
a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, tora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério
dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
autorização estatutária. Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Mi- ao réu os honorários advocatícios arbitrados na conformi-
nistérios Públicos da União e dos estados na defesa dos dade do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro
interesses e direitos de que cuida esta Lei. de 1973 (Código de Processo Civil), quando reconhecer
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por que a pretensão é manifestamente infundada.
associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti- Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a as-
mado poderá assumir a titularidade ativa. sociação autora e os diretores responsáveis pela propo-
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão to- situra da ação serão solidariamente condenados ao dé-
mar dos interessados compromisso de ajustamento de sua cuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por
conduta às exigências legais, o qual terá eficácia de título perdas e danos.
executivo extrajudicial. Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegi- haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários
dos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações periciais e quaisquer outras despesas.
pertinentes. Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, pres-
normas do Código de Processo Civil. tando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pú- de ação civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
blica ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribui- Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos
ções do poder público, que lesem direito líquido e certo e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam
previsto nesta Lei, caberá ação mandamental, que se rege- ensejar a propositura de ação civil, remeterão peças ao
rá pelas normas da lei do mandado de segurança. Ministério Público para as providências cabíveis.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimen- Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
to de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá poderá requerer às autoridades competentes as certidões
a tutela específica da obrigação ou determinará providên- e informações que julgar necessárias, que serão forneci-
cias que assegurem o resultado prático equivalente ao do das no prazo de quinze dias.
adimplemento. Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e ha- sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
vendo justificado receio de ineficácia do provimento final, pessoa, organismo público ou particular, certidões, in-
é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após jus- formações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o
tificação prévia, citando o réu. qual não poderá ser inferior a dez dias úteis.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas to-
ou na sentença, impor multa diária ao réu, independente- das as diligências, se convencer da inexistência de fun-
mente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível damento para a propositura da ação cível, promoverá o
com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumpri- arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças
mento do preceito. informativas, fazendo-o fundamentadamente.
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de infor-
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida des- mação arquivados serão remetidos, sob pena de se in-
de o dia em que se houver configurado o descumprimento. correr em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo ge- Superior do Ministério Público.
rido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescen- § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promo-
te do respectivo município. ção de arquivamento, em sessão do Conselho Superior
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o do Ministério público, poderão as associações legitima-
trânsito em julgado da decisão serão exigidas através de das apresentar razões escritas ou documentos, que serão
execução promovida pelo Ministério Público, nos mesmos juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de
autos, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. informação.
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o di- § 4º A promoção de arquivamento será submetida a
nheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de cré- exame e deliberação do Conselho Superior do Ministério
dito, em conta com correção monetária. Público, conforme dispuser o seu regimento.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
recursos, para evitar dano irreparável à parte. promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
condenação ao poder público, o juiz determinará a remes- Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber,
sa de peças à autoridade competente, para apuração da as disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se
atribua a ação ou omissão.

140
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Título VII Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado


Dos Crimes e Das Infrações Administrativas nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberda-
Capítulo I de:
Dos Crimes Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Seção I Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade ju-
Disposições Gerais diciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei:
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados Pena - detenção de seis meses a dois anos.
contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de
prejuízo do disposto na legislação penal. quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as judicial, com o fim de colocação em lar substituto:
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao pro- Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
cesso, as pertinentes ao Código de Processo Penal. Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pu-
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pú- pilo a terceiro, mediante paga ou recompensa:
blica incondicionada. Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem ofere-
Seção II ce ou efetiva a paga ou recompensa.
Dos Crimes em Espécie Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato des-
tinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigen- com inobservância das formalidades legais ou com o fito
te de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de de obter lucro:
manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave
à parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta mé- ameaça ou fraude: 
dica, declaração de nascimento, onde constem as intercor- Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena
rências do parto e do desenvolvimento do neonato: correspondente à violência.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de iden- § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
tificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a par-
do parto, bem como deixar de proceder aos exames referi- ticipação de criança ou adolescente nas cenas referidas
dos no art. 10 desta Lei: no caputdeste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
Parágrafo único. Se o crime é culposo: comete o crime:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. I – no exercício de cargo ou função pública ou a pre-
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liber- texto de exercê-la;
dade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabi-
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autorida- tação ou de hospitalidade; ou
de judiciária competente: III – prevalecendo-se de relações de parentesco con-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. sangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de
procede à apreensão sem observância das formalidades quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela,
legais. ou com seu consentimento.
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata co- outro registro que contenha cena de sexo explícito ou por-
municação à autoridade judiciária competente e à família nográfica envolvendo criança ou adolescente:
do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua au- distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
toridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangi- por meio de sistema de informática ou telemático, fotogra-
mento: fia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo ex-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. plícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou ado- § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
lescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da I – assegura os meios ou serviços para o armazena-
apreensão: mento das fotografias, cenas ou imagens de que trata
Pena - detenção de seis meses a dois anos. o caput deste artigo;

141
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente
computadores às fotografias, cenas ou imagens de que tra- ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente
ta o caput deste artigo. arma, munição ou explosivo:
 § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 
1  deste artigo são puníveis quando o responsável legal
o Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar,
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou
de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros
o caput deste artigo.  produtos cujos componentes possam causar dependência
 Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qual- física ou psíquica:
quer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa,
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolven- se o fato não constitui crime mais grave.
do criança ou adolescente: Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fo-
 § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois ter- gos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
ços) se de pequena quantidade o material a que se refere seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qual-
o caput deste artigo. quer dano físico em caso de utilização indevida:
 § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
a finalidade de comunicar às autoridades competentes a Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais
ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: exploração sexual:
 I – agente público no exercício de suas funções; Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da
 II – membro de entidade, legalmente constituída, que perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em
inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da
o processamento e o encaminhamento de notícia dos cri- unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
mes referidos neste parágrafo;
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o ge-
 III – representante legal e funcionários responsáveis de
rente ou o responsável pelo local em que se verifique a
provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede
submissão de criança ou adolescente às práticas referidas
de computadores, até o recebimento do material relativo à
no caputdeste artigo.
notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cas-
ao Poder Judiciário.
sação da licença de localização e de funcionamento do es-
 § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
tabelecimento. 
manter sob sigilo o material ilícito referido.
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de me-
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adoles- nor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal
cente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio ou induzindo-o a praticá-la:
de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: § 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem ven- quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo
de, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou di- da internet.
vulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o § 2o As penas previstas no caput deste artigo são au-
material produzido na forma do caput deste artigo.  mentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
 Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de
por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de 25 de julho de 1990. 
com ela praticar ato libidinoso:
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Capítulo II
 Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: Das Infrações Administrativas
 I – facilita ou induz o acesso à criança de material con-
tendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
com ela praticar ato libidinoso; estabelecimento de atenção à saúde e de ensino funda-
 II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo mental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade
com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográ- competente os casos de que tenha conhecimento, en-
fica ou sexualmente explícita.  volvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
 Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, criança ou adolescente:
a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” com- Pena - multa de três a vinte salários de referência, apli-
preende qualquer situação que envolva criança ou adoles- cando-se o dobro em caso de reincidência.
cente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de en-
ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adoles- tidade de atendimento o exercício dos direitos constantes
cente para fins primordialmente sexuais.  nos incisos II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:

142
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. representações ou espetáculos, sem indicar os limites de
Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autori- idade a que não se recomendem:
zação devida, por qualquer meio de comunicação, nome, Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
ato ou documento de procedimento policial, administra- plicada em caso de reincidência, aplicável, separadamen-
tivo ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se te, à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou
atribua ato infracional: publicidade.
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, es-
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. petáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou de sua classificação:
parcialmente, fotografia de criança ou adolescente en- Pena - multa de vinte a cem salários de referência;
volvido em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária
diga respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, poderá determinar a suspensão da programação da emis-
de forma a permitir sua identificação, direta ou indireta- sora por até dois dias.
mente. Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congê-
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa nere classificado pelo órgão competente como inadequa-
ou emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista do às crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo:
neste artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
apreensão da publicação  reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão
. (Expressão declarada inconstitucional pela ADIN do espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por
869-2). até quinze dias.
Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita
de seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de re- de programação em vídeo, em desacordo com a classifi-
gularizar a guarda, adolescente trazido de outra comarca cação atribuída pelo órgão competente:
para a prestação de serviço doméstico, mesmo que auto- Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
rizado pelos pais ou responsável: caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, minar o fechamento do estabelecimento por até quinze
aplicando-se o dobro em caso de reincidência, indepen- dias.
dentemente das despesas de retorno do adolescente, se Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78
for o caso. e 79 desta Lei:
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os de- Pena - multa de três a vinte salários de referência, du-
veres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela plicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo
ou guarda, bem assim determinação da autoridade judi- de apreensão da revista ou publicação.
ciária ou Conselho Tutelar: Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento
Pena - multa de três a vinte salários de referência, ou o empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. o acesso de criança ou adolescente aos locais de diversão,
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacom- ou sobre sua participação no espetáculo:
panhado dos pais ou responsável, ou sem autorização Pena - multa de três a vinte salários de referência; em
escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pen- caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá deter-
são, motel ou congênere: minar o fechamento do estabelecimento por até quinze
Pena – multa. dias.
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de pro-
de multa, a autoridade judiciária poderá determinar o fe- videnciar a instalação e operacionalização dos cadastros
chamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei:
§ 2º Se comprovada a reincidência em período infe- Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
rior a 30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitiva- (três mil reais).
mente fechado e terá sua licença cassada.  Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autori-
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por dade que deixa de efetuar o cadastramento de crianças
qualquer meio, com inobservância do disposto nos arts. e de adolescentes em condições de serem adotadas, de
83, 84 e 85 desta Lei: pessoas ou casais habilitados à adoção e de crianças e
Pena - multa de três a vinte salários de referência, adolescentes em regime de acolhimento institucional ou
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. familiar.
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espe- Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente
táculo público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de
à entrada do local de exibição, informação destacada so- efetuar imediato encaminhamento à autoridade judiciária
bre a natureza da diversão ou espetáculo e a faixa etária de caso de que tenha conhecimento de mãe ou gestante
especificada no certificado de classificação: interessada em entregar seu filho para adoção:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. (três mil reais).

143
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário I - será considerada isoladamente, não se subme-
de programa oficial ou comunitário destinado à garantia tendo a limite em conjunto com outras deduções do
do direito à convivência familiar que deixa de efetuar a co- imposto; e
municação referida no caput deste artigo.  II - não poderá ser computada como despesa ope-
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no in- racional na apuração do lucro real.
ciso II do art. 81: Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calen-
Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ dário de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação
10.000,00 (dez mil reais); de que trata o inciso II do caput do art. 260 diretamente
Medida Administrativa - interdição do estabelecimento em sua Declaração de Ajuste Anual. 
comercial até o recolhimento da multa aplicada. § 1o A doação de que trata o caput poderá ser de-
duzida até os seguintes percentuais aplicados sobre o
Disposições Finais e Transitórias imposto apurado na declaração:
I - (VETADO);
Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados II - (VETADO); 
da publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dis- III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012.
pondo sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às di- § 2 o A dedução de que trata o caput:
retrizes da política de atendimento fixadas no art. 88 e ao I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do
que estabelece o Título V do Livro II. imposto sobre a renda apurado na declaração de que
Parágrafo único. Compete aos estados e municípios trata o inciso II do caput do art. 260;
promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às II - não se aplica à pessoa física que: 
diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei. a) utilizar o desconto simplificado;
Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos b) apresentar declaração em formulário; ou 
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, c) entregar a declaração fora do prazo;
distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprova- III - só se aplica às doações em espécie; e 
das, sendo essas integralmente deduzidas do imposto de
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou dedu-
renda, obedecidos os seguintes limites: 
ções em vigor.
I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devi-
§ 3 o O pagamento da doação deve ser efetuado até
do apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no
a data de vencimento da primeira quota ou quota única
lucro real; e
do imposto, observadas instruções específicas da Se-
II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apu-
cretaria da Receita Federal do Brasil.
rado pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual,
§ 4o O não pagamento da doação no prazo estabe-
observado o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de
lecido no § 3 o implica a glosa definitiva desta parcela
dezembro de 1997.
§ 1º - (Revogado) de dedução, ficando a pessoa física obrigada ao reco-
§ 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas lhimento da diferença de imposto devido apurado na
com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos legais
e municipais dos direitos da criança e do adolescente, se- previstos na legislação. 
rão consideradas as disposições do Plano Nacional de Pro- § 5 o A pessoa física poderá deduzir do imposto apu-
moção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adoles- rado na Declaração de Ajuste Anual as doações feitas,
centes à Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano no respectivo ano-calendário, aos fundos controlados
Nacional pela Primeira Infância. pelos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles-
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos cente municipais, distrital, estaduais e nacional conco-
direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de mitantemente com a opção de que trata o caput, res-
utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações peitado o limite previsto no inciso II do art. 260.
subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art.
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de 260 poderá ser deduzida:
guarda, de crianças e adolescentes e para programas de I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas
atenção integral à primeira infância em áreas de maior ca- jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e
rência socioeconômica e em situações de calamidade. II - do imposto devido mensalmente e no ajuste
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da anual, para as pessoas jurídicas que apuram o imposto
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a compro- anualmente. 
vação das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada den-
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comar- tro do período a que se refere a apuração do imposto.
ca a forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Muni- Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta
cipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos incen- Lei podem ser efetuadas em espécie ou em bens. 
tivos fiscais referidos neste artigo. Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no devem ser depositadas em conta específica, em institui-
9.249, de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata ção financeira pública, vinculadas aos respectivos fun-
o inciso I do caput:  dos de que trata o art. 260.

144
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração I - o calendário de suas reuniões;


das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem atendimento à criança e ao adolescente;
emitir recibo em favor do doador, assinado por pessoa III - os requisitos para a apresentação de projetos a
competente e pelo presidente do Conselho corresponden- serem beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos
te, especificando: da Criança e do Adolescente nacional, estaduais, distrital
I - número de ordem;  ou municipais;
II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-ca-
e endereço do emitente;  lendário e o valor dos recursos previstos para implementa-
III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ção das ações, por projeto;
do doador; V - o total dos recursos recebidos e a respectiva desti-
IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e nação, por projeto atendido, inclusive com cadastramento
V - ano-calendário a que se refere a doação. na base de dados do Sistema de Informações sobre a In-
§ 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo fância e a Adolescência; e
pode ser emitido anualmente, desde que discrimine os va- VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficia-
lores doados mês a mês.  dos com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais.
conter a identificação dos bens, mediante descrição em Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada
campo próprio ou em relação anexa ao comprovante, in- Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incenti-
formando também se houve avaliação, o nome, CPF ou vos fiscais referidos no art. 260 desta Lei.
CNPJ e endereço dos avaliadores. Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador arts. 260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por
deverá: ação judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante docu- atuar de ofício, a requerimento ou representação de qual-
mentação hábil; quer cidadão.
II - baixar os bens doados na declaração de bens e di- Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presi-
reitos, quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, dência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da
no caso de pessoa jurídica; e Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano,
III - considerar como valor dos bens doados: arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fun-
a) para as pessoas físicas, o valor constante da última dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, dis-
declaração do imposto de renda, desde que não exceda o trital, estaduais e municipais, com a indicação dos respec-
valor de mercado; tivos números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos.
será considerado na determinação do valor dos bens doa- Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil
dos, exceto se o leilão for determinado por autoridade ju- expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto
diciária. nos arts. 260 a 260-K.
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos
260-D e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por da criança e do adolescente, os registros, inscrições e alte-
um prazo de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da rações a que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91
dedução perante a Receita Federal do Brasil. desta Lei serão efetuados perante a autoridade judiciária
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração da comarca a que pertencer a entidade.
das contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Ado- Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar
lescente nacional, estaduais, distrital e municipais devem: aos estados e municípios, e os estados aos municípios, os
I - manter conta bancária específica destinada exclusi- recursos referentes aos programas e atividades previstos
vamente a gerir os recursos do Fundo;  nesta Lei, tão logo estejam criados os conselhos dos direi-
II - manter controle das doações recebidas; e  tos da criança e do adolescente nos seus respectivos níveis.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Fede- Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tute-
ral do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando lares, as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela
os seguintes dados por doador: autoridade judiciária.
a) nome, CNPJ ou CPF; Art. 263. O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
b) valor doado, especificando se a doação foi em espé- 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes al-
cie ou em bens. terações:
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obriga- 1) Art. 121 (...)
ções previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de
do Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público. um terço, se o crime resulta de inobservância de regra téc-
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do nica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais di- prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
vulgarão amplamente à comunidade: consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em

145
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é au-


mentada de um terço, se o crime é praticado contra LEI Nº 10.639/03 – HISTÓRIA E CULTURA
pessoa menor de catorze anos.
AFRO BRASILEIRA E AFRICANA;
2) Art. 129 (...)
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer
qualquer das hipóteses do art. 121, § 4º.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º
do art. 121. LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.
3) Art. 136 (...)
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que
praticado contra pessoa menor de catorze anos. estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
4) Art. 213 (...) incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatorie-
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de cator- dade da temática «História e Cultura Afro-Brasileira», e dá
ze anos: outras providências.
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
5) Art. 214 (...) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de cator- gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
ze anos: Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, pas-
Pena - reclusão de três a nove anos.” sa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de de- «Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino funda-
zembro de 1973, fica acrescido do seguinte item: mental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório
“Art. 102 (...) o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder.” § 1o O conteúdo programático a que se refere
Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África
da União, da administração direta ou indireta, inclu- e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra
sive fundações instituídas e mantidas pelo poder pú- brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
blico federal promoverão edição popular do texto in- resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
tegral deste Estatuto, que será posto à disposição das econômica e política pertinentes à História do Brasil.
escolas e das entidades de atendimento e de defesa § 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-
dos direitos da criança e do adolescente. -Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo
Art. 265-A. O poder público fará periodicamente escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de
ampla divulgação dos direitos da criança e do ado- Literatura e História Brasileiras.
lescente nos meios de comunicação social. § 3o (VETADO)»
Parágrafo único. A divulgação a que se refere o «Art. 79-A. (VETADO)»
caput será veiculada em linguagem clara, compreen- “Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de no-
sível e adequada a crianças e adolescentes, especial- vembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
mente às crianças com idade inferior a 6 (seis) anos. Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias cação.
após sua publicação.
Parágrafo único. Durante o período de vacância Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência
deverão ser promovidas atividades e campanhas de e 115o da República.
divulgação e esclarecimentos acerca do disposto Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de
nesta Lei. 10.1.2003
Art. 267. Revogam-se as Leis nº 4.513, de 1964, e
6.697, de 10 de outubro de 1979 (Código de Meno-
res), e as demais disposições em contrário.

Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Indepen-


dência e 102º da República.

146
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Organização das Nações Unidas para a Educação, a


PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM Ciência e a Cultura – UNESCO/Brasil
DIREITOS HUMANOS - 2007. Vicente Defourny – Representante da UNESCO no
Brasil a.i
Marilza Machado Gomes Regattieri – Coordenadora
Interina de Educação Carlos Alberto dos Santos Vieira –
Plano Nacional de Educação Oficial de Programas
em Direitos Humanos
Plano Nacional de Educação
Secretaria Especial dos Direitos Humanos / Presidência em Direitos Humanos
da República Ministério da Educação
Ministério da Justiça UNESCO Brasil. Comitê Nacional de Educação em Direitos Hu-
manos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos:
© 2007 Presidência da República 2007. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos,
Luiz Inácio Lula da Silva - Presidente da República 2007. 76 p.
José Alencar Gomes da Silva - Vice-Presidente da Re- 1. Direitos Humanos. 2. Educação em Direitos Huma-
pública nos 3. Políticas Públicas

Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SEDH/PR 2ª Tiragem, atualizada


Paulo de Tarso Vannuchi – Secretário Especial Rogério Sot- Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Mi-
tili – Secretário-Adjunto nistério da Justiça
Paulo Brasileiro do Valle Filho – Chefe de Gabinete
Perly Cipriano – Subsecretário de Promoção e Defesa INTRODUÇÃO
dos Direitos Humanos Carmen Silveira de Oliveira – Sub-
secretária de Promoção e Defesa da Criança e do Adoles- A Declaração Universal dos Direitos Humanos da Or-
cente ganização das Nações Unidas (ONU), de 1948, desenca-
Fauze Martins Chequer – Subsecretário de Gestão deou um processo de mudança no comportamento so-
das Políticas de Direitos Humanos Maria de Nazaré Ta- cial e a produção de instrumentos e mecanismos inter-
vares Zenaide – Coordenadora-Geral de Educação em nacionais de direitos humanos que foram incorporados
Direitos Humanos ao ordenamento jurídico dos países signatários2. Esse
Carmelina dos Santos Rosa – Gerente de Projetos processo resultou na base dos atuais sistemas global e
de Cooperação com Organismos Internacionais regionais de proteção dos direitos humanos.
Aida Maria Monteiro Silva e Ricardo Manuel dos Em contraposição, o quadro contemporâneo
Santos Henriques – Coordenação do Comitê Nacional apresenta uma série de aspectos inquietantes no que
de Educação em Direitos Humanos se refere às violações de direitos humanos, tanto no
campo dos direitos civis e políticos, quanto na esfera
Ministério da Educação - MEC dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais.
Fernando Haddad – Ministro da Educação Além do recrudescimento da violência, tem-se obser-
Ricardo Manuel dos Santos Henriques – Secretaria de vado o agravamento na degradação da biosfera, a
Educação Continuada, Alfa- betização e Diversidade – SE- generalização dos conflitos, o crescimento da into-
CAD lerância étnico-racial, religiosa, cultural, geracional,
Nelson Maculan Filho – Secretaria de Ensino Superior territorial, físico-individual, de gênero, de orientação
Francisco das Chagas Fernandes – Secretaria de Edu- sexual, de nacionalidade, de opção política, dentre
cação Básica Cláudia Pereira Dutra – Secretaria de Educa- outras, mesmo em sociedades consideradas historica-
ção Especial mente mais tolerantes, como revelam as barreiras e dis-
Eliezer Moreira Pacheco – Secretaria de Educação Pro- criminações a imigrantes, refugiados e asilados em todo
fissional e Tecnológica o mundo. Há, portanto, um claro descompasso entre
os indiscutí- veis avanços no plano jurídico-institucio-
Ministério da Justiça – MJ nal e a realidade concreta da efetivação dos direitos.
Márcio Thomaz Bastos – Ministro da Justiça O processo de globalização, entendido como novo
Cláudia Maria de Freitas Chagas – Secretaria Nacional e complexo mo- mento das relações entre nações e po-
de Justiça Luiz Fernando Corrêa – Secretaria Nacional de vos, tem resultado na concentração da riqueza, benefi-
Segurança Pública Daniel Krepel Goldberg – Secretaria de ciando apenas um terço da humanidade, em prejuízo,
Direito Econômico espe- cialmente, dos habitantes dos países do Sul, onde
Luiz Armando Badin – Secretaria de Assuntos Legislati- se aprofundam a desigual- dade e a exclusão social, o
vos Pierpaolo Bottini – Secretaria de Reforma do Judiciário que compromete a justiça distributiva e a paz3.
Eduardo Flores Vieira – Defensoria Pública-Geral da União Paradoxalmente, abriram-se novas oportunidades
para o reconheci- mento dos direitos humanos pelos
diversos atores políticos. Esse processo inclui os Estados

147
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Nacionais, nas suas várias instâncias governamentais, as entre seus fundamentos, a dignidade da pessoa huma-
organizações internacionais e as agências transnacio- na e os direitos ampliados da cidadania (civis, políticos,
nais privadas. econômicos, sociais, cultu- rais e ambientais)6.O Brasil
Esse traço conjuntural resulta da conjugação de uma passou a ratificar os mais importantes tratados
série de fato- res, entre os quais cabe destacar: a) o in- internacionais (globais e regionais) de proteção dos
cremento da sensibilidade e da consciência sobre os as- direitos humanos, além de reconhecer a jurisdição da
suntos globais por parte de cidadãos(ãs) comuns; Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Estatuto
b) a institucionalização de um padrão mínimo de do Tribunal Penal Internacional.
comportamento nacio- nal e internacional dos Estados, Novos mecanismos surgiram no cenário nacio-
com mecanismos de monitoramento, pressão e sanção; nal como resultante da mobilização da sociedade civil,
c) a adoção do princípio de empoderamento em bene- impulsionando agendas, programas e pro- jetos que
fício de categorias historicamente vulneráveis (mulhe- buscam materializar a defesa e a promoção dos direi-
res, negros(as), po-vos indígenas, idosos(as), pessoas tos huma- nos, conformando, desse modo, um sistema
com deficiência, grupos raciais e étni- cos, gays, lés- nacional de direitos huma- nos7. As instituições de Es-
bicas, bissexuais, travestis e transexuais, entre outros); tado têm incorporado esse avanço ao criar e for- talecer
d) a reorganização da sociedade civil transnacional, a órgãos específicos em todos os poderes8.
partir da qual redes de ativistas lançam ações coletivas O Estado brasileiro consolidou espaços de partici-
de defesa dos direitos humanos (campa- nhas, informa- pação da sociedade civil organizada na formulação de
ções, alianças, pressões etc.), visando acionar Estados, propostas e diretrizes de políticas públi- cas, por meio
or- ganizações internacionais, corporações econômicas de inúmeras conferências temáticas. Um aspecto rele-
globais e diferentes grupos responsáveis pelas violações vante foi a institucionalização de mecanismos de con-
de direitos. trole social da política pú- blica, pela implementação de
Enquanto esse contexto é marcado pelo colapso das diversos conselhos e outras instâncias.
experiências do socialismo real, pelo fim da Guerra Fria e Entretanto, apesar desses avanços no plano norma-
pela ofensiva do processo da retórica da globalização, os tivo, o contexto nacional tem-se caracterizado por desi-
direitos humanos e a educação em direitos humanos con- gualdades e pela exclusão econômi- ca, social, étnico-
sagraram-se como tema global, reforçado a partir da Con- -racial, cultural e ambiental, decorrente de um modelo
fe- rência Mundial de Viena4. de Estado em que muitas políticas públicas deixam em
Em tempos difíceis e conturbados por inúmeros segundo plano os di- reitos econômicos, sociais, cultu-
conflitos, nada mais urgente e necessário que educar em rais e ambientais.
direitos humanos, tafera indispensá- vel para a defesa, Ainda há muito para ser conquistado em termos de
o respeito, a promoção e a valorização desses direitos. respeito à dignida- de da pessoa humana, sem distinção
Esse é um desafio central da humanidade, que tem de raça, nacionalidade, etnia, gênero, classe social, região,
importância redo- brada em países da América Latina, cultura, religião, orientação sexual, identidade de gê-
caracterizados historicamente pelas violações dos direi- nero, geração e deficiência. Da mesma forma, há muito
tos humanos, expressas pela precariedade e fragilidade a ser feito para efetivar o direito à qualidade de vida, à
do Estado de Direito e por graves e sistemáticas vio- saúde, à educação, à moradia, ao lazer, ao meio ambiente
lações dos direitos bá- sicos de segurança, sobrevivên- saudável, ao saneamento básico, à segurança pú- blica, ao
cia, identidade cultural e bem-estar mínimo de grandes trabalho e às diversidades cultural e religiosa, entre outras.
contingentes populacionais. Uma concepção contemporânea de direitos huma-
No Brasil, como na maioria dos países latino-ameri- nos incorpora os conceitos de cidadania democrática,
canos, a temática dos direitos humanos adquiriu eleva- cidadania ativa e cidadania planetá- ria, por sua vez ins-
da significação histórica, como respos- ta à extensão das piradas em valores humanistas e embasadas nos princí-
formas de violência social e política vivenciadas nas dé- pios da liberdade, da igualdade, da eqüidade e da diver-
cadas de 1960 e 1970. No entanto, persiste no contexto sidade, afirmando sua universalidade, indivisibilidade e
de redemocratização a grave herança das violações roti- interdependência.
neiras nas questões sociais, impondo-se, como impera- O processo de construção da concepção de uma cida-
tivo, romper com a cultura oligárquica que preserva os dania planetária e do exercício da cidadania ativa requer,
pa- drões de reprodução da desigualdade e da violência necessariamente, a formação de cidadãos(ãs) conscientes
institucionalizada. de seus direitos e deveres, protagonistas da materialidade
O debate sobre os direitos humanos e a formação das normas e pactos que os(as) protegem, reconhecendo
para a cidadania vem alcançando mais espaço e rele- o princípio normativo da dignidade humana, englobando
vância no Brasil, a partir dos anos 1980 e 1990, por meio a solidariedade internacional e o compromisso com outros
de proposições da sociedade civil organizada e de ações povos e nações. Além disso, propõe a formação de cada
governamentais no campo das políticas públicas, visan- cidadão(ã) como sujeito de direitos, capaz de exercitar o
do ao fortalecimen- to da democracia5. controle democrático das ações do Estado.
Esse movimento teve como marco expressivo a A democracia, entendida como regime alicerçado na
Constituição Federal de 1988, que formalmente con- soberania popular, na justiça social e no respeito inte-
sagrou o Estado Democrático de Direito e reconheceu, gral aos direitos humanos, é fundamental para o reco-

148
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

nhecimento, a ampliação e a concretização dos direitos. b)-afirmação de valores, atitudes e práticas sociais
Para o exercício da cidadania democrática, a educação, que expressem a cultura dos direitos humanos em todos
como direito de todos e dever do Estado e da família, os espaços da sociedade;
requer a formação dos(as) cidadãos(ãs). c)--formação de uma consciência cidadã capaz de se
A Constituição Federal Brasileira e a Lei de Diretri- fazer presente em níveis cognitivo, social, ético e político;
zes e Bases da Educa- ção Nacional - LDB (Lei Federal d)-desenvolvimento de processos metodológicos
n° 9.394/1996) afirmam o exercício da cida- dania como participativos e de cons- trução coletiva, utilizando lin-
uma das finalidades da educação, ao estabelecer uma guagens e materiais didáticos contextualizados;
prática educativa “inspirada nos princípios de liberdade e)-fortalecimento de práticas individuais e sociais
e nos ideais de solidarieda- de humana, com a finalidade que gerem ações e instrumentos em favor da promo-
do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo ção, da proteção e da defesa dos direitos humanos,
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o bem como da reparação das violações.
trabalho”9.
O Plano Nacional de Educação em Direitos Huma- Sendo a educação um meio privilegiado na pro-
nos (PNEDH), lança- do em 2003, está apoiado em do- moção dos direitos hu- manos, cabe priorizar a forma-
cumentos internacionais e nacionais, de- marcando a ção de agentes públicos e sociais para atuar no campo
inserção do Estado brasileiro na história da afirmação formal e não-formal, abrangendo os sistemas de edu-
dos di- reitos humanos e na Década da Educação em cação, saú- de, comunicação e informação, justiça e
Direitos Humanos, prevista no Programa Mundial de segurança, mídia, entre outros.
Educação em Direitos Humanos (PMEDH) e seu Plano
de Ação10. São objetivos balizadores do PMEDH con- Desse modo, a educação é compreendida como
forme estabele- cido no artigo 2°: a) fortalecer o respei- um direito em si mesmo e um meio indispensável para
to aos direitos humanos e liberda- des fundamentais; b) o acesso a outros direitos. A educação ganha, por-
promover o pleno desenvolvimento da personalida- de tanto, mais importância quando direcionada ao pleno
e dignidade humana; c) fomentar o entendimento, a to- desenvolvimento humano e às suas potencialidades,
lerância, a igual- dade de gênero e a amizade entre as valorizando o respeito aos grupos social- mente ex-
nações, os povos indígenas e grupos raciais, nacionais, cluídos. Essa concepção de educação busca efetivar a
étnicos, religiosos e lingüísticos; d) estimular a participa- cidadania ple- na para a construção de conhecimen-
ção efetiva das pessoas em uma sociedade livre e demo- tos, o desenvolvimento de valores, atitu- des e com-
crática governada pelo Estado de Direito; e) construir, portamentos, além da defesa socioambiental12 e da
promover e manter a paz. justiça social.
Assim, a mobilização global para a educação em di-
reitos humanos está imbricada no conceito de educação Nos termos já firmados no Programa Mundial de
para uma cultura democrática, na compre- ensão dos Educação em Direi- tos Humanos13, a educação con-
contextos nacional e internacional, nos valores da tole- tribui também para:
rância, da soli- dariedade, da justiça social e na susten-
tabilidade, na inclusão e na pluralidade. a) criar uma cultura universal dos direitos
A elaboração e implementação de planos e progra- humanos;
mas nacionais e a criação de comitês estaduais de edu-
cação em direitos humanos se consti- tuem, portanto, b) exercitar o respeito, a tolerância, a pro-
em uma ação global e estratégica do governo brasileiro moção e a valorização das diversidades (étnico-racial,
para efetivar a Década da Educação em Direitos Huma- religiosa, cultural, geracional, territorial, físi- co-indivi-
nos 1995-2004. Da mesma forma, no âmbito regional do dual, de gênero, de orientação sexual, de nacionalida-
MERCOSUL, Países Associados e Chan- celarias, foi criado de, de op- ção política, dentre outras) e a solidarieda-
um Grupo de Trabalho para implementar ações de di- de entre povos e nações;
reitos humanos na esfera da educação e da cultura11.
Os Planos Nacionais e os Comitês Estaduais de Educa- c) assegurar a todas as pessoas o acesso à
ção em Direitos Humanos são dois impor- tantes meca- participação efetiva em uma sociedade livre.
nismos apontados para o processo de implementação A educação em direitos humanos, ao longo de
e monitoramento, de modo a efetivar a centralidade da todo o processo de redemocratização e de fortaleci-
educação em direi- tos humanos enquanto política pú- mento do regime democrático, tem busca- do contri-
blica. buir para dar sustentação às ações de promoção, pro-
A educação em direitos humanos é compreendida teção e defe- sa dos direitos humanos, e de reparação
como um processo sistemático e multidimensional que das violações. A consciência sobre os direitos indivi-
orienta a formação do sujeito de direi- tos, articulando duais, coletivos e difusos tem sido possível devido ao
as seguintes dimensões: con- junto de ações de educação desenvolvidas, nessa
a)-apreensão de conhecimentos historicamente perspectiva, pelos atores sociais e pelos(as) agentes
construídos sobre direi- tos humanos e a sua relação institucionais que incorporaram a promoção dos direi-
com os contextos internacional, nacional e local; tos humanos como princípio e diretriz.

149
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A implementação do Plano Nacional de Educação l) balizar a elaboração, implementação, moni-


em Direitos Humanos visa, sobretudo, difundir a cultura toramento, avaliação e atuali- zação dos Planos de Edu-
de direitos humanos no país. Essa ação prevê a dissemi- cação em Direitos Humanos dos estados e municípios;
nação de valores solidários, cooperativos e de justiça so-
cial, uma vez que o processo de democratização requer m) incentivar formas de acesso às ações de edu-
o fortalecimento da socie- dade civil, a fim de que seja cação em direitos hu- manos a pessoas com deficiência.
capaz de identificar anseios e demandas, transfor- man-
do-as em conquistas que só serão efetivadas, de fato, na Linhas gerais de ação
medida em que forem incorporadas pelo Estado brasi- Desenvolvimento normativo e institucional
leiro como políticas públicas universais.
a) Consolidar o aperfeiçoamento da legisla-
Objetivos gerais ção aplicável à educação em direitos humanos;
São objetivos gerais do PNEDH:
a) destacar o papel estratégico da educação em b) propor diretrizes normativas para a educa-
direitos humanos para o fortalecimento do Estado De- ção em direitos humanos;
mocrático de Direito;
c) apresentar aos órgãos de fomento à pes-
b) enfatizar o papel dos direitos humanos na quisa e pós-graduação pro- posta de reconhecimento
construção de uma soci- edade justa, eqüitativa e de-
mocrática; dos direitos humanos como área de conhecimento
interdisciplinar, tendo, entre outras, a educação em di-
c) encorajar o desenvolvimento de ações de edu- reitos humanos como sub-área;
cação em direitos hu- manos pelo poder público e a so-
ciedade civil por meio de ações conjuntas; d) propor a criação de unidades específicas
e programas interinstitucionais para coordenar e desen-
d) contribuir para a efetivação dos compromissos volver ações de educação em direitos humanos nos di-
internacionais e nacionais com a educação em direitos versos órgãos da administração pública;
humanos;
e) institucionalizar a categoria educação em
e) estimular a cooperação nacional e internacio- direitos humanos no Prê- mio Direitos Humanos do
nal na implementação de ações de educação em direitos governo federal;
humanos;
f) sugerir a inclusão da temática dos direitos
f) propor a transversalidade da educação em di- humanos nos concursos para todos os cargos públicos
reitos humanos nas polí- ticas públicas, estimulando o em âmbito federal, distrital, estadual e municipal;
desenvolvimento institucional e interinstitucional das g) incluir a temática da educação em direitos hu-
ações previstas no PNEDH nos mais diversos setores manos nas conferên- cias nacionais, estaduais e munici-
(educação, saúde, comunicação, cultura, segurança e pais de direitos humanos e das demais políticas públicas;
justiça, esporte e lazer, dentre outros); h) fortalecer o Comitê Nacional de Educação em
Direitos Humanos;
g) avançar nas ações e propostas do Programa i) propor e/ou apoiar a criação e a estruturação dos
Nacional de Direitos Huma- nos (PNDH) no que se refe- Comitês Estadu- ais, Municipais e do Distrito Federal de
re às questões da educação em direitos humanos; Educação em Direitos Humanos.
h) orientar políticas educacionais direciona-
das para a constituição de uma cultura de direitos hu- Produção de informação e conhecimento
manos;
a) Promover a produção e disseminação de dados
i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de e informações so- bre educação em direitos humanos
ações para a elaboração de programas e projetos na por diversos meios, de modo a sensibi- lizar a sociedade
área da educação em direitos humanos; e garantir acessibilidade às pessoas com deficiências14;

j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa b) publicizar os mecanismos de proteção nacio-


voltados para a educa- ção em direitos humanos; nais e internacionais;

k) incentivar a criação e o fortalecimento de c) estimular a realização de estudos e pesquisas


instituições e organiza- ções nacionais, estaduais e mu- para subsidiar a edu- cação em direitos humanos;
nicipais na perspectiva da educação em di- reitos hu-
manos; d) incentivar a sistematização e divulgação de
práticas de educação em direitos humanos.

150
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Realização de parcerias e intercâmbios internacio- c) estabelecer diretrizes curriculares para a


nais formação inicial e conti- nuada de profissionais em edu-
cação em direitos humanos, nos vários ní- veis e moda-
a) Incentivar a realização de eventos e debates lidades de ensino;
sobre educação em direitos humanos;
d) incentivar a interdisciplinaridade e a trans-
b) apoiar e fortalecer ações internacionais de disciplinaridade na edu- cação em direitos humanos;
cooperação em educa- ção em direitos humanos;
e) inserir o tema dos direitos humanos como
c) promover e fortalecer a cooperação e o inter- conteúdo curricular na formação de agentes sociais pú-
câmbio internacional de experiências sobre a elabo- blicos e privados.
ração, implementação e implantação de Planos Naci-
onais de Educação em Direitos Humanos, especialmente Gestão de programas e projetos
em âmbito regional; a) Sugerir a criação de programas e projetos de
educação em direitos humanos em parceria com diferentes ór-
d) apoiar e fortalecer o Grupo de Trabalho em Edu- gãos do Executivo, Legislativo e Judiciário, de modo a fortalecer
cação e Cultura em Direitos Humanos criado pela V Reu- o processo de implementação dos eixos temáticos do PNEDH;
nião de Altas Autoridades Competen- tes em Direitos Hu- b) prever a inclusão, no orçamento da União, do Distri-
manos e Chancelarias do MERCOSUL; to Federal, dos esta- dos e municípios, de dotação orçamen-
tária e financeira específica para a implementação das ações
e) promover o intercâmbio entre redes nacio- de educação em direitos humanos previstas no PNEDH;
nais e internacionais de direitos humanos e educação, c) captar recursos financeiros junto ao setor pri-
a exemplo do Fórum Internacional de Edu- cação em Di- vado e agências de fomento, com vistas à implementa-
reitos Humanos, do Fórum Educacional do MERCOSUL, da ção do PNEDH.
Rede Latino-Americana de Educação em Direitos Huma-
nos, dos Comitês Nacio- nal e Estaduais de Educação em Avaliação e monitoramento
Direitos Humanos, entre outras.
Produção e divulgação de materiais a) Definir estratégias e mecanismos de avaliação
a) Fomentar a produção de publicações sobre e monitoramento da execução física e financeira dos
educação em direitos humanos, subsidiando as áreas do programas, projetos e ações do PNEDH;
PNEDH; b) acompanhar, monitorar e avaliar os progra-
mas, projetos e ações de educação em direitos huma-
b) promover e apoiar a produção de recursos nos, incluindo a execução orçamentária dos mesmos;
pedagógicos especializados e a aquisição de materiais e
equipamentos para a educação em direitos humanos, em c) elaborar anualmente o relatório de implemen-
todos os níveis e modalidades da educação, aces- síveis tação do PNEDH.
para pessoas com deficiência;
I- EDUCAÇÃO BÁSICA
c) incluir a educação em direitos humanos no
Programa Nacional do Livro Didático e outros pro-gra- Concepção e princípios
mas de livro e leitura; A educação em direitos humanos vai além de uma
aprendiza- gem cognitiva, incluindo o desenvolvimento
d) disponibilizar materiais de educação em di- social e emocional de quem se envolve no processo en-
reitos humanos em con- dições de acessibilidade e for- sino- aprendizagem (Programa Mun- dial de Educação
matos adequados para as pessoas com defici- ência, bem em Direitos Humanos – PMEDH/2005). A educação, nes-
como promover o uso da Língua Brasileira de Sinais (LI- se entendimento, deve ocorrer na comunidade escolar
BRAS) em eventos ou divulgação em mídia. em interação com a comunidade local.
Assim, a educação em direitos humanos deve abar-
Formação e capacitação de profissionais car questões concernentes aos campos da educação
a) Promover a formação inicial e continuada dos formal, à escola, aos procedimen- tos pedagógicos, às
profissionais, especi- almente aqueles da área de educação agendas e instrumentos que possibilitem uma ação pe-
e de educadores(as) sociais em direi- tos humanos, con- dagógica conscientizadora e libertadora, voltada para o
templando as áreas do PNEDH; respeito e valo- rização da diversidade, aos conceitos de
sustentabilidade e de formação da cidadania ativa.
b) oportunizar ações de ensino, pesquisa e A universalização da educação básica, com indica-
extensão com foco na edu- cação em direitos humanos, dores precisos de qualidade e de eqüidade, é condição
na formação inicial dos profissionais de edu- cação e de essencial para a disseminação do conhecimento social-
outras áreas; mente produzido e acumulado e para a democratiza-
ção da sociedade.

151
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Não é apenas na escola que se produz e reproduz o e) a educação em direitos humanos deve ser um
conhecimen- to, mas é nela que esse saber aparece sis- dos eixos fundamen- tais da educação básica e per-
tematizado e codificado. Ela é um espaço social privile- mear o currículo, a formação inicial e conti- nuada dos
giado onde se definem a ação institucional pedagógica profissionais da educação, o projeto políticopedagó-
e a prática e vivência dos direitos humanos. Nas socie- gico da es- cola, os materiais didático-pedagógicos, o
da- des contemporâneas, a escola é local de estrutura- modelo de gestão e a avaliação;
ção de concepções de mundo e de consciência social, de f) a prática escolar deve ser orientada para a edu-
circulação e de consolidação de valores, de promoção cação em direitos humanos, assegurando o seu caráter
da diversidade cultural, da formação para a ci- dadania, transversal e a relação dialógica entre os diversos atores
de constituição de sujeitos sociais e de desenvolvimento sociais.
de práticas pedagógicas.
O processo formativo pressupõe o reconhecimen- Ações programáticas
to da pluralidade e da alteridade, condições básicas da 1. Propor a inserção da educação em direitos
liberdade para o exercício da crítica, da criatividade, do humanos nas diretrizes curriculares da educação bási-
debate de idéias e para o reconhecimento, respeito, ca;
promoção e valorização da diversidade.
Para que esse processo ocorra e a escola possa con- 2. integrar os objetivos da educação em di-
tribuir para a edu- cação em direitos humanos, é impor- reitos humanos aos conteú- dos, recursos, metodolo-
tante garantir dignidade, igualdade de oportunidades, gias e formas de avaliação dos sistemas de ensino;
exercício da participação e da autonomia aos membros
da comunidade escolar. 3. estimular junto aos profissionais da edu-
Democratizar as condições de acesso, permanência cação básica, suas entida- des de classe e associações,
e conclusão de todos(as) na educação infantil, ensino a reflexão teórico-metodológica acerca da edu- cação
fundamental e médio, e fomentar a consciência social em direitos humanos;
crítica devem ser princípios norteadores da Educação
Básica. É necessário concentrar esforços, desde a infân- 4. desenvolver uma pedagogia participativa
cia, na formação de cidadãos(ãs), com atenção especial que inclua conhecimen- tos, análises críticas e habili-
às pessoas e segmentos sociais histori- camente excluí- dades para promover os direitos humanos;
dos e discriminados.
A educação em direitos humanos deve ser promo- 5. incentivar a utilização de mecanismos que
vida em três di- mensões: a) conhecimentos e habilida- assegurem o respeito aos direitos humanos e sua prática
des: compreender os direitos humanos e os mecanismos nos sistemas de ensino;
existentes para a sua proteção, assim como incentivar
o exercício de habilidades na vida cotidiana; b) valo- 6. construir parcerias com os diversos mem-
res, ati- tudes e comportamentos: desenvolver valores bros da comunidade esco- lar na implementação da
e fortalecer atitudes e comportamentos que respeitem educação em direitos humanos;
os direitos humanos; c) ações: desen- cadear atividades
para a promoção, defesa e reparação das violações aos 7. tornar a educação em direitos humanos
direitos humanos. um elemento relevante para a vida dos(as) alunos(as)
São princípios norteadores da educação em direitos e dos(as) trabalhadores(as) da educação, envolvendo-
humanos na edu- cação básica: -os(as) em um diálogo sobre maneiras de aplicar os
a) a educação deve ter a função de desenvolver uma direitos humanos em sua prática cotidiana;
cultura de direi- tos humanos em todos os espaços sociais;
b) a escola, como espaço privilegiado para a 8. promover a inserção da educação em di-
construção e consolida- ção da cultura de direitos hu- reitos humanos nos proces- sos de formação inicial e
manos, deve assegurar que os objetivos e as práticas a continuada dos(as) trabalhadores(as) em educa- ção,
serem adotados sejam coerentes com os valores e prin- nas redes de ensino e nas unidades de internação e
cípios da educação em direitos humanos; atendimento de adolescentes em cumprimento de me-
c) a educação em direitos humanos, por seu cará- didas socioeducativas, incluindo, den- tre outros(as),
ter coletivo, demo- crático e participativo, deve ocorrer docentes, não-docentes, gestores (as) e leigos(as);
em espaços marcados pelo entendi- mento mútuo, res-
peito e responsabilidade; 9. fomentar a inclusão, no currículo escolar,
d) a educação em direitos humanos deve estru- das temáticas relativas a gênero, identidade de gênero,
turar-se na diversi- dade cultural e ambiental, garan- raça e etnia, religião, orientação sexual, pes- soas com
tindo a cidadania, o acesso ao ensi- no, permanência e deficiências, entre outros, bem como todas as formas
conclusão, a eqüidade (étnico-racial, religiosa, cul- tural, de discrimi- nação e violações de direitos, asseguran-
territorial, físico-individual, geracional, de gênero, de do a formação continuada dos(as) trabalhadores(as) da
orienta- ção sexual, de opção política, de nacionalidade, educação para lidar criticamente com esses temas;
dentre outras) e a qualidade da educação;

152
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

10. apoiar a implementação de projetos cultu- 25. propor ações fundamentadas em princí-
rais e educativos de enfrentamento a todas as formas de pios de convivência, para que se construa uma escola
discriminação e violações de direitos no ambiente escolar; livre de preconceitos, violência, abuso sexual, intimida-
ção e punição corporal, incluindo procedimentos para a
11. favorecer a inclusão da educação em di- resolução de conflitos e modos de lidar com a violência
reitos humanos nos proje- tos político- pedagógicos e perseguições ou intimida- ções, por meio de proces-
das escolas, adotando as práticas pedagógicas demo- sos participativos e democráticos;
cráticas presentes no cotidiano; 26. apoiar ações de educação em direitos hu-
12. apoiar a implementação de experiências de manos relacionadas ao esporte e lazer, com o objeti-
interação da escola com a comunidade, que contribuam vo de elevar os índices de participação da população,
para a formação da cidadania em uma perspectiva críti- o compromisso com a qualidade e a universalização do
ca dos direitos humanos; acesso às práticas do acervo popular e erudito da cultu-
13. incentivar a elaboração de programas e proje- ra corporal;
tos pedagógicos, em articulação com a rede de assistên- 27. promover pesquisas, em âmbito nacio-
cia e proteção social, tendo em vista prevenir e enfrentar nal, envolvendo as secreta- rias estaduais e municipais de
as diversas formas de violência; educação, os conselhos estaduais, a UNDIME e o CONSED
14. apoiar expressões culturais cidadãs presentes sobre experiências de educação em direitos humanos na
nas artes e nos es- portes, originadas nas diversas forma- edu- cação básica.
ções étnicas de nossa sociedade;
15. favorecer a valorização das expressões cultu- II-EDUCAÇÃO SUPERIOR
rais regionais e locais pelos projetos político-pedagógi- Concepção e princípios
cos das escolas;
16. dar apoio ao desenvolvimento de políticas A Constituição Federal de 1988 definiu a autonomia
públicas destinadas a promover e garantir a educação universitária (didática, científica, administrativa, financei-
em direitos humanos às comunidades quilombolas
ra e patrimonial) como mar- co fundamental pautado no
e aos povos indígenas, bem como às populações das
princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
áreas rurais e ribeirinhas, assegurando condições de en-
extensão.
sino e aprendizagem ade- quadas e específicas aos edu-
O artigo terceiro da Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cadores e educandos;
cação Nacional propõe, como finalidade para a educa-
17. incentivar a organização estudantil por meio
ção superior, a participação no pro- cesso de desenvol-
de grêmios, associa- ções, observatórios, grupos de tra-
vimento a partir da criação e difusão cultural, incentivo
balhos entre outros, como forma de apren- dizagem dos
princípios dos direitos humanos, da ética, da convivência à pesquisa, colaboração na formação contínua de pro-
e da participação democrática na escola e na sociedade; fissionais e divulga- ção dos conhecimentos culturais,
18. estimular o fortalecimento dos Conselhos Es- científicos e técnicos produzidos por meio do ensino e
colares como potenciais agentes promotores da edu- das publicações, mantendo uma relação de serviço e re-
cação em direitos humanos no âmbito da escola; ciprocidade com a sociedade.
19. apoiar a elaboração de programas e projetos de A partir desses marcos legais, as universidades bra-
educação em direitos humanos nas unidades de atendi- sileiras, especial- mente as públicas, em seu papel de
mento e internação de adoles- centes que cumprem medi- instituições sociais irradiadoras de co- nhecimentos e
das socioeducativas, para estes e suas famílias; práticas novas, assumiram o compromisso com a for-
20. promover e garantir a elaboração e a imple- mação crítica, a criação de um pensamento autônomo,
mentação de programas educativos que assegurem, no a descoberta do novo e a mudança histórica.
sistema penitenciário, processos de formação na pers- A conquista do Estado Democrático delineou, para
pectiva crítica dos direitos humanos, com a inclusão de as Instituições de Ensino Superior (IES), a urgência em
atividades profissionalizantes, artísticas, esportivas e de participar da construção de uma cultura de promoção,
lazer para a população prisional; proteção, defesa e reparação dos direitos huma- nos,
21. dar apoio técnico e financeiro às experiências por meio de ações interdisciplinares, com formas dife-
de formação de estudantes como agentes promotores de rentes de re- lacionar as múltiplas áreas do conhecimen-
direitos humanos em uma pers- pectiva crítica; to humano com seus saberes e práticas. Nesse contexto,
22. fomentar a criação de uma área específica de inúmeras iniciativas foram realizadas no Bra- sil, intro-
direitos humanos, com funcionamento integrado, nas duzindo a temática dos direitos humanos nas atividades
bibliotecas públicas; do ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa e
23. propor a edição de textos de referência e bi- extensão, além de iniciativas de caráter cultural.
bliografia comenta- da, revistas, gibis, filmes e outros Tal dimensão torna-se ainda mais necessária se con-
materiais multimídia em educação em direitos humanos; siderarmos o atual contexto de desigualdade e exclusão
24. incentivar estudos e pesquisas sobre as social, mudanças ambientais e agra- vamento da vio-
violações dos direitos hu- manos no sistema de ensino lência, que coloca em risco permanente a vigência dos
e outros temas relevantes para desenvolver uma cultura di- reitos humanos. As instituições de ensino superior
de paz e cidadania; precisam responder a esse cenário, contribuindo não só

153
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

com a sua capacidade crítica, mas tam- bém com uma sociedade, com vistas à difusão de valores democráti-
postura democratizante e emancipadora que sirva de cos e republica- nos, ao fortalecimento da esfera pú-
parâmetro para toda a sociedade. blica e à construção de projetos coletivos;
As atribuições constitucionais da universidade nas j) a educação em direitos humanos deve se
áreas de ensino,pesquisa e extensão delineiam sua constituir em princípio ético-político orientador da formu-
missão de ordem educacional, social e lação e crítica da prática das instituições de ensino superior;
institucional. A produção do conhecimento é o k) as atividades acadêmicas devem se voltar
motor do desenvolvimento científico e tecnológico e para a formação de uma cultura baseada na universa-
de um compromisso com o futuro da sociedade brasi- lidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos
leira, tendo em vista a promoção do desenvolvimento, humanos, como tema transversal e transdisciplinar, de
da justiça soci- al, da democracia, da cidadania e da modo a inspirar a elaboração de programas específicos
paz. e metodologias adequadas nos cursos de graduação e
O Programa Mundial de Educação em Direitos Hu- pós-graduação, entre outros;
manos (ONU, 2005), ao propor a construção de uma l) a construção da indissociabilidade entre
cultura universal de direitos humanos por meio do ensino, pesquisa e ex- tensão deve ser feita articulando
conhecimento, de habilidades e atitudes, aponta para as diferentes áreas do conhecimento, os setores de pes-
as insti- tuições de ensino superior a nobre tarefa de quisa e extensão, os programas de graduação, de pós-
formação de cidadãos(ãs) hábeis para participar de graduação e outros;
uma sociedade livre, democrática e tolerante com as m) o compromisso com a construção de uma
diferenças étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, cultura de respeito aos direitos humanos na relação com
físico-indi- vidual, geracional, de gênero, de orienta- os movimentos e entidades sociais, além de grupos em
ção sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre situação de exclusão ou discriminação;
outras. n) a participação das IES na formação de
No ensino, a educação em direitos humanos pode agentes sociais de educa- ção em direitos humanos e
ser incluída por meio de diferentes modalidades, tais na avaliação do processo de implementação do PNEDH.
como, disciplinas obrigatórias e optativas, linhas de
Ações programáticas
pesquisa e áreas de concentração, transversalização
1. Propor a temática da educação em direitos
no projeto político-pedagógico, entre outros.
humanos para subsidiar as diretrizes curriculares das áreas
Na pesquisa, as demandas de estudos na área dos
de conhecimento das IES;
direitos humanos requerem uma política de incentivo
que institua esse tema como área de conhecimento de
2. divulgar o PNEDH junto à sociedade brasi-
caráter interdisciplinar e transdisciplinar.
leira, envolvendo a par- ticipação efetiva das IES;
Na extensão universitária, a inclusão dos direitos
humanos no Plano Nacional de Extensão Universitária
3. fomentar e apoiar, por meio de editais pú-
enfatizou o compromisso das universi- dades públi- blicos, programas, proje- tos e ações das IES voltados
cas com a promoção dos direitos humanos15. A inser- para a educação em direitos humanos;
ção desse tema em programas e projetos de extensão
pode envolver atividades de capacitação, assessoria e 4. solicitar às agências de fomento a criação
realização de eventos, entre outras, articuladas com as de linhas de apoio à pes- quisa, ao ensino e à extensão
áreas de ensino e pesquisa, contemplando temas di- na área de educação em direitos humanos;
versos.
A contribuição da educação superior na área da 5. promover pesquisas em nível nacional e
educação em direitos humanos implica a consideração estadual com o envolvimento de universidades públicas,
dos seguintes princípios: comunitárias e privadas, levan- tando as ações de ensi-
g) a universidade, como criadora e disseminado- no, pesquisa e extensão em direitos humanos, de modo
ra de conhecimento, é instituição social com vocação a estruturar um cadastro atualizado e interativo.
republicana, diferenciada e autônoma, com- prometi- 6. incentivar a elaboração de metodologias pe-
da com a democracia e a cidadania; dagógicas de caráter transdisciplinar e interdisciplinar
h) os preceitos da igualdade, da liberdade e da para a educação em direitos humanos nas IES;
justiça devem guiar as ações universitárias, de modo 7. estabelecer políticas e parâmetros para a forma-
a garantir a democratização da informação, o acesso ção continuada de professores em educação em direitos
por parte de grupos sociais vulneráveis ou excluídos e humanos, nos vários níveis e modali- dades de ensino;
o compro- misso cívico-ético com a implementação de 8. contribuir para a difusão de uma cultura de di-
políticas públicas voltadas para as necessidades básicas reitos humanos, com atenção para a educação básica e a
desses segmentos; educação não-formal nas suas diferen- tes modalidades,
i) o princípio básico norteador da educação em bem como formar agentes públicos nessa perspectiva,
direitos humanos como prática permanente, contínua envolvendo discentes e docentes da graduação e da
e global, deve estar voltado para a transforma-ção da pós-graduação;

154
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

9. apoiar a criação e o fortalecimento de fó- III-EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL


runs, núcleos, comissões e centros de pesquisa e
extensão destinados à promoção, defesa, proteção Concepção e princípios
e ao estudo dos direitos humanos nas IES; A humanidade vive em permanente processo de re-
10. promover o intercâmbio entre as IES no flexão e aprendi- zado. Esse processo ocorre em todas
plano regional, nacional e internacional para a rea- as dimensões da vida, pois a aquisi- ção e produção de
lização de programas e projetos na área da educa- conhecimento não acontecem somente nas escolas e
ção em direitos humanos; instituições de ensino superior, mas nas moradias e lo-
11. fomentar a articulação entre as IES, as redes cais de trabalho, nas cidades e no campo, nas famílias,
de educação básica e seus órgãos gestores (secreta- nos movimentos sociais, nas associ- ações civis, nas or-
rias estaduais e municipais de educação e se- creta- ganizações não-governamentais e em todas as áreas da
rias municipais de cultura e esporte), para a realização convivência humana.
de programas e projetos de educação em direitos hu-
manos voltados para a formação de educadores e de A educação não-formal em direitos humanos orien-
agentes sociais das áreas de esporte, lazer e cultura; ta-se pelos princí- pios da emancipação e da autonomia.
12. propor a criação de um setor específi- Sua implementação configura um permanente proces-
co de livros e periódicos em direitos humanos no so de sensibilização e formação de consciência crítica,
acervo das bibliotecas das IES; direcionada para o encaminhamento de reivindicações
13. apoiar a criação de linhas editoriais em e a formulação de propostas para as políticas públicas,
direitos humanos junto às IES, que possam contri- podendo ser compreendida como: a) qualificação para
buir para o processo de implementação do PNEDH; o trabalho; b) adoção e exercício de práticas voltadas
14. estimular a inserção da educação em di- para a comunidade; c) aprendizagem política de direitos
reitos humanos nas conferên- cias, congressos, por meio da par- ticipação em grupos sociais; d) edu-
seminários, fóruns e demais eventos no campo da cação realizada nos meios de comunica- ção social; e)
educação superior, especialmente nos debates so- aprendizagem de conteúdos da escolarização formal
bre políticas de ação afirmativa; em mo- dalidades diversificadas; e f) educação para a
15. sugerir a criação de prêmio em educa- vida no sentido de garantir o respeito à dignidade do
ção em direitos humanos no âmbito do MEC, com ser humano.
apoio da SEDH, para estimular as IES a investir em Os espaços das atividades de educação não-formal
programas e projetos sobre esse tema; distribuem-se em inúmeras dimensões, incluindo desde
16. implementar programas e projetos de for- as ações das comunidades, dos movi- mentos e orga-
mação e capacitação sobre educação em direitos nizações sociais, políticas e nãogovernamentais até as
humanos para gestores(as), professores(as), servido- do setor da educação e da cultura. Essas atividades se
res(as), corpo discente das IES e membros da comu- desenvolvem em duas vertentes principais: a construção
nidade local; do conhecimento em educação popular e o processo
17. fomentar e apoiar programas e projetos ar- de participação em ações coletivas, tendo a cidadania
tísticos e culturais na área da educação em direitos demo- crática como foco central.
humanos nas IES; Nesse sentido, movimentos sociais, entidades civis
18. desenvolver políticas estratégicas de e partidos políticos praticam educação nãoformal quan-
ação afirmativa nas IES que possibilitem a inclusão, do estimulam os grupos sociais a refle- tirem sobre as
o acesso e a permanência de pessoas com deficiên- suas próprias condições de vida, os processos históricos
cia e aquelas alvo de discriminação por motivo de em que estão inseridos e o papel que desempenham
gênero, de orientação sexual e religiosa, entre ou- na sociedade contempo- rânea. Muitas práticas educati-
tros e seguimentos geracionais e étnico-raciais; vas não-formais enfatizam a reflexão e o conhecimento
19. estimular nas IES a realização de pro- das pessoas e grupos sobre os direitos civis, políticos,
jetos de educação em direitos humanos sobre a econô- micos, sociais e culturais. Também estimulam os
memória do autoritarismo no Brasil, fomentando a grupos e as comunidades a se organizarem e proporem
pes- quisa, a produção de material didático, a iden- interlocução com as autoridades públicas, principalmen-
tificação e organização de acervos históricos e cen- te no que se refere ao encaminhamento das suas princi-
tros de referências; pais reivindicações e à formulação de propostas para as
20. inserir a temática da história recente políticas públicas.
do autoritarismo no Brasil em editais de incentivo a A sensibilização e conscientização das pessoas contri-
projetos de pesquisa e extensão universitária; buem para que os conflitos interpessoais e cotidianos não
21. propor a criação de um Fundo Nacio- se agravem. Além disso, eleva- se a capacidade de as pes-
nal de Ensino, Pesquisa e Ex- tensão para dar su- soas identificarem as violações dos direitos e exi- girem sua
porte aos projetos na área temática da educação apuração e reparação.
em direitos humanos a serem implementados pelas As experiências educativas não-formais estão sendo
IES. aperfeiçoa- das conforme o contexto histórico e a reali-
dade em que estão inseridas. Resultados mais recentes

155
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

têm sido as alternativas para o avanço da democracia, 6. estabelecer intercâmbio e troca de expe-
a ampliação da participação política e popular e o pro- riências entre agentes gover- namentais e da socieda-
cesso de qualificação dos grupos sociais e comunida- de civil organizada vinculados a programas e projetos
des para intervir na definição de políticas democráticas de educação não-formal, para avaliação de resultados,
e cidadãs. O empoderamento dos grupos sociais exige análise de metodologias e definição de parcerias na
conhecimento experimentado sobre os meca- nismos e área de educação em direitos humanos;
instrumentos de promoção, proteção, defesa e repara- 7. apoiar técnica e financeiramente ativida-
ção dos direitos humanos. des nacionais e internacio- nais de intercâmbio entre
Cabe assinalar um conjunto de princípios que de- as organizações da sociedade civil e do poder público,
vem orientar as li- nhas de ação nessa área temática. A que envolvam a elaboração e execução de projetos e
educação não-formal, nessa perspec- tiva, deve ser vista pesquisas de educação em direitos humanos;
como: 8. incluir a temática da educação em direitos
o) mobilização e organização de processos parti- humanos nos programas de qualificação profissional,
cipativos em defesa dos direitos humanos de grupos em alfabetização de jovens e adultos, extensão rural, edu-
situação de risco e vulnerabilidade social, denúncia das cação social comunitária e de cultura popular, entre
violações e construção de propostas para sua promo- outros;
ção, proteção e reparação; 9. incentivar a promoção de ações de educa-
p) instrumento fundamental para a ação forma- ção em direitos humanos volta- das para comunidades
tiva das organizações populares em direitos humanos; urbanas e rurais, tais como quilombolas, indígenas e
q) processo formativo de lideranças sociais para o ciga- nos, acampados e assentados, migrantes, refugia-
exercício ativo da cidadania; dos, estrangeiros em situação irregular e coletividades
r) promoção do conhecimento sobre direitos hu- atingidas pela construção de barragens, entre outras;
manos; 10. incorporar a temática da educação em
s) instrumento de leitura crítica da realidade local direitos humanos nos pro- gramas de inclusão digital e
e contextual, da vivência pessoal e social, identificando
de educação a distância;
e analisando aspectos e modos de ação para a transfor-
11. fomentar o tratamento dos temas de edu-
mação da sociedade;
cação em direitos huma- nos nas produções artísticas,
t) diálogo entre o saber formal e informal acerca
publicitárias e culturais: artes plásticas e cêni- cas, mú-
dos direitos huma- nos, integrando agentes institucio-
sica, multimídia, vídeo, cinema, literatura, escultura e
nais e sociais;
outros meios artísticos, além dos meios de comunica-
u) articulação de formas educativas diferencia-
ção de massa, com temas locais, regionais e nacionais;
das, envolvendo o con- tato e a participação direta dos
agentes sociais e de grupos populares.
12. apoiar técnica e financeiramente programas
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e projetos da socie- dade civil voltados para a educa-
ção em direitos humanos;
Ações programáticas 13. estimular projetos de educação em direitos
1. Identificar e avaliar as iniciativas de educa- humanos para agentes de esporte, lazer e cultura, in-
ção não-formal em direi- tos humanos, de forma a pro- cluindo projetos de capacitação à distância;
mover sua divulgação e socialização; 14. propor a incorporação da temática da edu-
2. investir na promoção de programas e ini- cação em direitos humanos nos programas e projetos
ciativas de formação e capacitação permanente da po- de esporte, lazer e cultura como instrumentos de in-
pulação sobre a compreensão dos direitos humanos e clusão social, especialmente os esportes vinculados à
suas formas de proteção e efetivação; identidade cultural brasileira e incorporados aos prin-
3. estimular o desenvolvimento de programas cípios e fins da educação nacional.
de formação e capacitação continuada da sociedade ci-
vil, para qualificar sua intervenção de monitoramento e IV-EDUCAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DOS
controle social junto aos órgãos colegiados de promo- SISTEMAS DE JUSTIÇA E SEGURANÇA
ção, defesa e garantia dos direitos humanos em todos
os poderes e esferas administrativas; Concepção e princípios
4. apoiar e promover a capacitação de agen- Os direitos humanos são condições indispensáveis
tes multiplicadores para atuarem em projetos de edu- para a implementação da justiça e da segurança pública
cação em direitos humanos nos processos de alfabeti- em uma sociedade de- mocrática.
zação, educação de jovens e adultos, educação popular, A construção de políticas públicas nas áreas de
orienta- ção de acesso à justiça, atendimento educacio- justiça, segurança e administração penitenciária sob a
nal especializado às pessoas com necessidades educa- ótica dos direitos humanos exige uma abordagem inte-
cionais especiais, entre outros; gradora, intersetorial e transversal com todas as demais
5. promover cursos de educação em direitos hu- políticas públicas voltadas para a melhoria da qualida-
manos para qualificar ser- vidores (as), gestores (as) públi- de de vida e de promoção da igualdade, na perspectiva
cos (as) e defensores (as) de direitos humanos; do fortalecimento do Estado Democrático de Direito.

156
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Para a consolidação desse modelo de Estado é fun- com os valores e princípios dos direitos humanos. A
damental a existên- cia e o funcionamento de sistemas formulação de políticas públicas de segurança e de
de justiça e segurança que promovam os direitos hu- administração da justiça, em uma sociedade demo-
manos e ampliem os espaços da cidadania. No direito crática, requer a formação de agentes policiais, guar-
consti- tucional, a segurança pública, enquanto direito das municipais, bombeiros(as) e de profissionais da
de todos os cidadãos bra- sileiros, somente será efetiva- justiça com base nos princí- pios e valores dos direi-
mente assegurada com a proteção e a promo- ção dos tos humanos, previstos na legislação nacional e nos
direitos humanos. A persistente e alarmante violência dispositivos normativos internacionais firmados pelo
institucional, a exemplo da tortura e do abuso de auto- Brasil.
ridade, corroem a integralidade do sistema de justiça e A educação em direitos humanos constitui um
segurança pública16. instrumento estratégi- co no interior das políticas de
A democratização dos processos de planejamento, segurança e justiça para respaldar a conso- nância
fiscalização e con- trole social das políticas públicas de entre uma cultura de promoção e defesa dos direitos
segurança e justiça exige a participa- ção protagonista humanos e os princípios democráticos.
dos(as) cidadãos(ãs). A consolidação da democracia demanda conhe-
No que se refere à função específica da segurança, cimentos, habilidades e práticas profissionais coe-
a Constituição de 1988 afirma que a segurança pública rentes com os princípios democráticos. O ensino dos
como “dever do Estado, direito e responsabilidade de direitos humanos deve ser operacionalizado nas práti-
todos, é exercida para a preservação da ordem públi- ca cas desses(as) pro- fissionais, que se manifestam nas
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio” (Art. mensagens, atitudes e valores presentes na cultura
144). Define como princípios para o exercício do direito das escolas e academias, nas instituições de seguran-
à justiça, o respeito da lei acima das vontades indivi- ça e justiça e nas relações sociais.
duais, o respeito à dignidade contra todas as formas de O fomento e o subsídio ao processo de formação
tratamento desumano e degradante, a liberdade de cul- dos(as) profissionais da segurança pública na pers-
to, a inviolabilidade da intimidade das pessoas, o asilo, o pectiva dos princípios democráticos, devem garan-
sigilo da correspondência e comunica- ções, a liberdade tir a transversalização de eixos e áreas temáticas
de reunião e associação e o acesso à justiça (Art. 5). dos direitos humanos, con- forme o modelo da Ma-
Para que a democracia seja efetivada, é necessário triz Curricular Nacional de Segurança Pública17.
assegurar a proteção do Estado ao direito à vida e à Essa orientação nacional tem sido de fundamen-
dignidade, sem distinção étnico-racial, religio- sa, cul- tal importância, se considerarmos que os sistemas de
tural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero, justiça e segurança congregam um con- junto diver-
de orientaçãosexual, de opção política, de nacionalida- sificado de categorias profissionais com atribuições,
de, dentre outras, garantindo trata- mento igual para formações e experiências bastante diferenciadas.
todos(as). É o que se espera, portanto, da atuação de Portanto, torna-se necessário desta- car e respeitar
um sistema integrado de justiça e segurança em uma o papel essencial que cada uma dessas categorias
democracia. exerce junto à sociedade, orientando as ações educa-
A aplicação da lei é critério para a efetivação do di- cionais a incluir valores e procedimentos que possi-
reito à justiça e à segurança. O processo de elaboração bilitem tornar seus(suas) agentes em verdadeiros(as)
e aplicação da lei exige coerência com os princípios da promotores(as) de direitos humanos, o que significa
igualdade, da dignidade, do respeito à diversidade, da ir além do papel de defensores(as) desses direitos.
solidariedade e da afirmação da democracia. Para esses(as) profissionais, a educação em direi-
A capacitação de profissionais dos sistemas de justiça tos humanos deve considerar os seguintes princípios:
e segurança é, portanto, estratégica para a consolidação da v) respeito e obediência à lei e aos valores
democracia. Esses sistemas, orientados pela perspectiva da morais que a antecedem e fundamentam, promoven-
promoção e defesa dos direitos humanos, requerem qua- do a dignidade inerente à pessoa humana e res- pei-
lificações diferenciadas, considerando as especificidades tando os direitos humanos;
das categorias profissionais envolvidas. Ademais, devem w) liberdade de exercício de expressão e opi-
ter por base uma le- gislação processual moderna, ágil e nião;
cidadã. x) leitura crítica dos conteúdos e da prática
Assim como a segurança e a justiça, a administração social e institucional dos órgãos do sistema de justiça
penitenciária deve estar fundada nos mecanismos de e segurança;
proteção internacional e nacional de direitos humanos. y) reconhecimento de embates entre para-
No tocante às práticas das instituições dos sistemas digmas, modelos de socieda- de, necessidades indivi-
de justiça e segu- rança, a realidade demonstra o quan- duais e coletivas e diferenças políticas e ideológicas;
to é necessário avançar para que seus(suas) profissio- z) vivência de cooperação e respeito às di-
nais atuem como promotores(as) e defensores(as) dos ferenças sociais e culturais, atendendo com dignida-
direitos humanos e da cidadania. Não é admissível, no de a todos os segmentos sem privilégios;
contexto democrá- tico, tratar dos sistemas de justiça aa) conhecimento acerca da proteção e dos
e segurança sem que os mesmos estejam integrados mecanismos de defesa dos direitos humanos;

157
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

ab) relação de correspondência dos eixos éti- 7. apoiar, incentivar e aprimorar as condições
co, técnico e legal no cur- rículo, coerente com os prin- básicas de infraestrutura e superestrutura para a educa-
cípios dos direitos humanos e do Estado Demo- crático ção em direitos humanos nas áreas de justi- ça, segu-
de Direito; rança pública, defesa, promoção social e administração
ac) uso legal, legítimo, proporcional e pro- penitenci- ária como prioridades governamentais;
gressivo da força, protegen- do e respeitando todos(as) 8. fomentar nos centros de formação, escolas
os(as) cidadãos(ãs); e academias, a criação de centros de referência para a
ad) respeito no trato com as pessoas, movi- produção, difusão e aplicação dos conheci- mentos téc-
mentos e entidades sociais, defendendo e promovendo nicos e científicos que contemplem a promoção e defe-
o direito de todos(as); sa dos direitos humanos;
ae) consolidação de valores baseados em uma 9. construir bancos de dados com informa-
ética solidária e em prin- cípios dos direitos humanos, ções sobre policiais militares e civis, membros do Minis-
que contribuam para uma prática emancipatória dos su- tério Público, da Defensoria Pública, magistrados, agen-
jeitos que atuam nas áreas de justiça e segurança; tes e servidores(as) penitenciários(as), dentre outros,
af) explicitação das contradições e conflitos exis- que passaram por processo de formação em direitos
tentes nos discursos e práticas das categorias profissio- humanos, nas instâncias federal, estadual e municipal,
nais do sistema de segurança e justiça; garantindo o compartilhamento das informações entre
ag) estímulo à configuração de habilidades e atitu- os órgãos;
des coerentes com os princípios dos direitos humanos; 10. fomentar ações educativas que estimu-
ah) promoção da interdisciplinaridade e transdis- lem e incentivem o envolvimento de profissionais dos
ciplinaridade nas ações de formação e capacitação dos sistemas com questões de diversidade e exclusão social,
profissionais da área e de disciplinas espe- cíficas de tais como: luta antimanicomial, combate ao trabalho
educação em direitos humanos; escra- vo e ao trabalho infantil, defesa de direitos de
ai) leitura crítica dos modelos de formação e ação grupos sociais discriminados, como mulheres, povos indí-
genas, gays, lésbicas, transgêneros, transexuais e bissexuais
policial que utili- zam práticas violadoras da dignidade
(GLTTB), negros(as), pessoas com deficiência, idosos(as),
da pessoa humana.
adoles- centes em conflito com a lei, ciganos, refugiados,
asilados, entre outros;
Ações programáticas
11. propor e acompanhar a criação de comis-
1. Apoiar técnica e financeiramente programas e
sões ou núcleos de direi- tos humanos nos sistemas de
projetos de capacitação da sociedade civil em educação
justiça e segurança, que abarquem, entre outras tarefas,
em direitos humanos na área da justiça e segurança;
a educação em direitos humanos;
12. promover a formação em direitos humanos
2. sensibilizar as autoridades, gestores(as) e respon- para profissionais e técnicos(as) envolvidos(as) nas ques-
sáveis pela segu- rança pública para a importância da for- tões relacionadas com refugiados(as), migrantes nacionais,
mação em direitos humanos por parte dos operadores(as) estrangeiros(as) e clandestinos(as), considerando a atenção
e servidores(as) dos sistemas das áreas de justiça, seguran- às diferenças e o respeito aos direitos humanos, indepen-
ça, defesa e promoção social; dente- mente de origem ou nacionalidade;
3. criar e promover programas básicos e conteú- 13. incentivar o desenvolvimento de progra-
dos curriculares obrigatórios, disciplinas e atividades mas e projetos de educa- ção em direitos humanos nas
complementares em direitos hu- manos, nos progra- penitenciárias e demais órgãos do sistema prisional, in-
mas para formação e educação continuada dos pro- clusive nas delegacias e manicômios judiciários;
fissionais de cada sistema, considerando os princípios 14. apoiar e financiar cursos de especialização
da transdisciplinaridade e da interdisciplinaridade, que e pós-graduação stricto sensu para as áreas de justiça,
contemplem, en- tre outros itens, a acessibilidade co- segurança pública, administração penitenciá- ria, pro-
municacional e o conhecimento da Língua Brasileira de moção e defesa social, com transversalidade em direitos
Sinais (LIBRAS); humanos;
4. fortalecer programas e projetos de cursos de 15. sugerir a criação de um fórum permanen-
especialização, atuali- zação e aperfeiçoamento em di- te de avaliação das aca- demias de polícia, escolas do
reitos humanos, dirigidos aos(às) profissio- nais da área; Ministério Público, da Defensoria Pública e Magistratu-
5. estimular as instituições federais dos entes fede- ra e centros de formação de profissionais da execução
rativos para a utiliza- ção das certificações como requisito penal;
para ascensão profissional, a exemplo da Rede Nacional de 16. promover e incentivar a implementação do
Cursos de Especialização em Segurança Pública – RENAESP; Plano de Ações Inte- gradas para Prevenção e Contro-
6. proporcionar condições adequadas para que le da Tortura no Brasil18, por meio de pro- gramas e
as ouvidorias, corregedorias e outros órgãos de controle projetos de capacitação para profissionais do sistema de
social dos sistemas e dos entes federados, transformem- justiça e segurança pública, entidades da sociedade civil
-se em atores pró-ativos na prevenção das viola- ções e membros do comitê na- cional e estaduais de enfren-
de direitos e na função educativa em direitos humanos; tamento à tortura;

158
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

17. produzir e difundir material didático e peda- São espaços de intensos embates políticos e ideo-
gógico sobre a pre- venção e combate à tortura para os lógicos, pela sua alta capacidade de atingir corações e
profissionais e gestores do sistema de justiça e seguran- mentes, construindo e reproduzindo vi- sões de mundo
ça pública e órgãos de controle social; ou podendo consolidar um senso comum que freqüen-
18. incentivar a estruturação e o fortalecimento temente moldam posturas acríticas. Mas pode consti-
de academias peni- tenciárias e programas de formação tuir-se tam- bém, em um espaço estratégico para a
dos profissionais do sistema peniten- ciário, inserindo os construção de uma sociedade fun- dada em uma cultura
direitos humanos como conteúdo curricular; democrática, solidária, baseada nos direitos huma- nos
19. implementar programas e projetos de forma- e na justiça social.
ção continuada na área da educação em direitos huma- A mídia pode tanto cumprir um papel de reprodu-
nos para os profissionais das delegacias especializadas ção ideológica que reforça o modelo de uma sociedade
com a participação da sociedade civil; individualista, não-solidária e não-de- mocrática, quan-
20. estimular a criação e/ou apoiar programas e to exercer um papel fundamental na educação crítica
projetos de educação em direitos humanos para os pro- em direitos humanos, em razão do seu enorme po-
fissionais que atuam com refugiados e asilados; tencial para atingir todos os setores da sociedade com
21. capacitar os profissionais do sistema de segu- linguagens diferentes na divulgação de informa- ções,
rança e justiça em relação à questão social das comuni- na reprodução de valores e na propagação de idéias e
dades rurais e urbanas, especialmente as populações in- saberes.
dígenas, os acampamentos e assentamentos rurais e as A contemporaneidade é caracterizada pela socie-
coletividades sem teto; dade do conhecimento e da comunicação, tornando a
22. incentivar a proposta de programas, projetos mídia um instrumento indispensável para o processo
e ações de capacitação para guardas municipais, garan- educativo. Por meio da mídia são difundidos conteúdos
tindo a inserção dos direitos humanos como conteúdo éticos e valores solidários, que contribuem para pro-
teórico e prático; cessos pedagógicos libertado- res, complementando a
23. sugerir programas, projetos e ações de capaci- educação formal e não-formal.
tação em mediação de conflitos e educação em direitos Especial ênfase deve ser dada ao desenvolvimento
humanos, envolvendo conselhos de segurança pública, de mídias comuni- tárias, que possibilitam a democra-
conselhos de direitos humanos, ouvidorias de polícia, co- tização da informação e do acesso às tecnologias para
missões de gerenciamento de crises, dentre outros; a sua produção, criando instrumentos para serem apro-
24. estimular a produção de material didático em priados pelos setores populares e servir de base a ações
direitos humanos para as áreas da justiça e da segurança educativas capazes de penetrar nas regiões mais longín-
pública; quas dos estados e do país, fortalecen- do a cidadania e
25. promover pesquisas sobre as experiências de os direitos humanos.
educação em direi- tos humanos nas áreas de segurança Pelas características de integração e capacidade de
e justiça; chegar a grandes contingentes de pessoas, a mídia é re-
26. apoiar a valorização dos profissionais de se- conhecida como um patrimônio soci- al, vital para que
gurança e justiça, ga- rantindo condições de trabalho o direito à livre expressão e o acesso à informação se-
adequadas e formação continuada, de modo a contri- jam exercidos. É por isso que as emissoras de televisão
buir para a redução de transtornos psíquicos, prevenin- e de rádio atuam por meio de concessões públicas. A
do violações aos direitos humanos. legislação que orienta a prestação desses serviços res-
salta a necessidade de os instrumentos de comunica-
V-EDUCAÇÃO E MÍDIA ção afirma- rem compromissos previstos na Constitui-
Concepção e princípios] ção Federal, em tratados e con- venções internacionais,
como a cultura de paz, a proteção ao meio ambi- ente, a
Os meios de comunicação são constituídos por um tolerância e o respeito às diferenças de etnia, raça, pes-
conjunto de insti- tuições, aparatos, meios, organismos soas com deficiência, cultura, gênero, orientação sexual,
e mecanismos voltados para a produ- ção, a difusão e política e religiosa, dentre outras. Assim, a mídia deve
a avaliação de informações destinadas a diversos públi- adotar uma postura favorável à não-violência e ao res-
cos. peito aos direitos humanos, não só pela força da lei, mas
Diferentes mídias são por eles empregadas: revistas, também pelo seu engajamento na melhoria da qualida-
jornais, boletins e outras publicações impressas, meios de de vida da população.
audiovisuais, tais como televisão, cine- ma, vídeo, rádio, Para fundamentar a ação dos meios de comunicação
outdoors, mídia computadorizada on-line, mídia intera- na perspectiva da educação em direitos humanos, devem
tiva, dentre outras. Todo esse aparato de comunicação ser considerados como princípios:
tem como objetivo a trans- missão de informação, opi- aj) a liberdade de exercício de expressão e opinião;
nião, publicidade, propaganda e entretenimento. É um ak) o compromisso com a divulgação de conteú-
espaço político, com capacidade de construir opinião dos que valorizem a cidadania, reconheçam as dife-
pública, formar consciências, influir nos comportamen- renças e promovam a diversidade cultural, base para a
tos, valores, crenças e atitudes. construção de uma cultura de paz;

159
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

al) a responsabilidade social das empresas de mí- sobre políticas públicas em desenvolvimento nos âm-
dia pode se expressar, entre outras formas, na promo- bitos municipal, estadual e federal, dentre outros temas;
ção e divulgação da educação em direitos humanos; 9. realizar campanhas para orientar cidadãos(ãs)
am) a apropriação e incorporação crescentes de e entidades a denun- ciar eventuais abusos e violações dos
temas de educação em direitos humanos pelas novas direitos humanos cometidos pela mídia, para que os(as)
tecnologias utilizadas na área da comunica- ção e infor- autores(as) sejam responsabilizados(as) na forma da lei;
mação; 10. incentivar a regulamentação das disposi-
an) a importância da adoção pelos meios de co- ções constitucionais rela- tivas à missão educativa dos
municação, de lingua- gens e posturas que reforcem os veículos de comunicação que operam median- te con-
valores da não-violência e do respeito aos direitos hu- cessão pública;
manos, em uma perspectiva emancipatória. 11. propor às comissões legislativas de direi-
tos humanos a instituição de prêmios de mérito a pes-
Ações programáticas soas e entidades ligadas à comunicação social, que te-
1. Criar mecanismos de incentivo às agências de nham se destacado na área dos direitos humanos;
publicidade para a produção de peças de propaganda 12. apoiar a criação de programas de forma-
adequadas a todos os meios de comuni- cação, que di- ção de profissionais da educação e áreas afins, tendo
fundam valores e princípios relacionados aos direitos como objetivo desenvolver a capacidade de leitura críti-
huma- nos e à construção de uma cultura transforma- ca da mídia na perspectiva dos direitos humanos;
dora nessa área; 13. propor concursos no âmbito nacional e regio-
2. sensibilizar proprietários(as) de agências de nal de ensino, nos níveis fundamental, médio e superior,
publicidade para a pro- dução voluntária de peças de sobre meios de comunicação e di- reitos humanos;
propaganda que visem à realização de campa- nhas de 14. estabelecer parcerias entre a Secretaria Espe-
difusão dos valores e princípios relacionados aos direi- cial dos Direitos Hu- manos e organizações comunitárias e
tos humanos; empresariais, tais como rádios, ca- nais de televisão, bem
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos como organizações da sociedade civil, para a produ- ção e
3. propor às associações de classe e dirigentes difusão de programas, campanhas e projetos de comunica-
de meios de comunica- ção a veiculação gratuita das peças ção na área de direitos humanos, levando em consideração
de propaganda dessas campanhas; o parágrafo 2°. do artigo 53 do Decreto 5.296/2004;
4. garantir mecanismos que assegurem a im- 15. fomentar a criação e a acessibilidade de Ob-
plementação de ações do PNEDH, tais como premiação servatórios Sociais des- tinados a acompanhar a cober-
das melhores campanhas e promoção de in- centivos tura da mídia em direitos humanos;
fiscais, para que órgãos da mídia empresarial possam 16. incentivar pesquisas regulares que possam iden-
aderir às medidas propostas; tificar formas, cir- cunstâncias e características de violações
5. definir parcerias com entidades associativas dos direitos humanos pela mídia;
de empresas da área de mídia, profissionais de comuni- 17. apoiar iniciativas que facilitem a regularização
cação, entidades sindicais e populares para a produção dos meios de co- municação de caráter comunitário,
e divulgação de materiais relacionados aos direitos hu- como estratégia de democratização da informação;
manos; 18. acompanhar a implementação da Portaria n°.
6. propor e estimular, nos meios de comunica- 310, de 28 de junho de 2006, do Ministério das Comuni-
ção, a realização de pro- gramas de entrevistas e debates cações, sobre emprego de legenda ocul- ta, janela com
sobre direitos humanos, que envolvam entidades comuni- intérprete de LIBRAS, dublagem e áudio, descrição de
tárias e populares, levando em consideração as especifici- cenas e imagens na programação regular da televisão,
dades e as linguagens adequadas aos diferentes segmen- de modo a garantir o acesso das pessoas com deficiên-
tos do público de cada região do país; cia auditiva e visual à informação e à co- municação;
7. firmar convênios com gráficas públicas e 19. incentivar professores(as), estudantes de comu-
privadas, além de outras empresas, para produzir edi- nicação social e es- pecialistas em mídia a desenvolver pes-
ções populares de códigos, estatutos e da legis- lação quisas na área de direitos humanos;
em geral, relacionados a direitos, bem como informati- 20. propor ao Conselho Nacional de Educação a
vos (manuais, guias, cartilhas etc.), orientando a popula- inclusão da disciplina “Direitos Humanos e Mídia” nas
ção sobre seus direitos e deveres, com ampla distribui- diretrizes curriculares dos cursos de Co- municação So-
ção gratuita em todo o território nacional, contemplan- cial;
do também nos materiais as necessidades das pessoas 21. sensibilizar diretores(as) de órgãos da mídia
com deficiência; para a inclusão dos princípios fundamentais de direitos
8. propor a criação de bancos de dados sobre humanos em seus manuais de redação e orientações
direitos humanos, com interface no sítio da Secretaria editoriais;
Especial dos Direitos Humanos, com as se- guintes ca- 22. inserir a temática da história recente do au-
racterísticas: a) disponibilização de textos didáticos e le- toritarismo no Brasil em editais de incentivo à produção
gislação pertinente ao tema; b) relação de profissionais de filmes, vídeos, áudios e similares, voltada para a edu-
e defensores(as) de direitos humanos; c) informações cação em direitos humanos;

160
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

23. incentivar e apoiar a produção de filmes e Nacio- nal de Justiça. O Ministério Público, por meio da
material audiovisual sobre a temática dos direitos hu- Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, com re-
manos. presentantes regionais em todos os estados, pas- sou
a desempenhar papel institucional relevante na defesa
NOTAS dos direitos hu- manos, ação que vem sendo incorpo-
1. BRASIL, Plano Nacional de Educação em Di- rada por promotorias em vários esta- dos. A Defensoria
reitos Humanos. Brasília: Comitê Nacional de Educação em Pública, que só recentemente vem conquistando auto-
Direitos Humanos - Secretaria Especial de Direitos Huma- no- mia funcional, é um instrumento capaz de garantir
nos, 2003. o acesso gratuito à justi- ça, embora ainda com quadro
2. São exemplos relevantes as Convenções de restrito de servidores(as).
Genebra; a Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados; 9. BRASIL, Lei Federal nº 9.394/1996 - Lei de Di-
o Pacto dos Direitos Civis e Políticos; o Pacto dos Direi- retrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. Brasília,
tos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção contra http://portal.mec.gov.br.
a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desu- 10. ONU. Diretrizes para a formulação de planos
manas e Degradantes; a Convenção Internacional sobre nacionais de ação para a educação em direitos huma-
a Eliminação de Todas as Formas de Dis- criminação Ra- nos. Qüinquagésima Segunda Sessão da Assembléia
cial; a Convenção sobre a Eliminação de Todas as For- Geral, 20 de outubro de 1997.
mas de Discriminação contra a Mulher; a Convenção dos 11. Como resposta às recomendações do PMEDH,
Direitos da Criança; a Declaração e Programa de Ação ressalta-se a atua- ção das Altas Autoridades de Direitos
de Viena; a Convenção Interamericana para a Eliminação Humanos do MERCOSUL, Países As- sociados e Chance-
de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas larias, que, atendendo às Diretrizes para a Formulação de
Portadoras de Deficiência; Conferência das Nações Uni- Planos Nacionais de Ação em Educação em Direitos Hu-
das sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Eco92; manos, criaram o Grupo de Trabalho Educação e Cultura
Conferência Mundial sobre Desen- volvimento Susten- em Direitos Humanos, com o obje- tivo de “identificar e
tável – Rio+10; entre outras. monitorar as ações implementadas em educação em di-
3. ONU, The Inequality Predicament. Report reitos humanos nos países do MERCOSUL e Associados”.
on the World Social Situation, 2005. 12. Entre várias outras questões significativas, o
4. Declaração e Programa de Ação da Confe- documento final -Plano Internacional de Implemen-
rência Mundial sobre os Direitos Humanos, Viena, 1993. tação das Diretrizes da Década das Nações Unidas da
http://www.planalto.gov.br/sedh, 2006. Educação para o Desenvolvimento Sustentável 1996-
5. Cabe citar como exemplo o Programa Na- 2014, indica que “... o respeito aos direitos humanos
cional de Direitos Huma- nos de 1996 e sua versão re- é condição sine qua non do desenvolvimento susten-
visada e ampliada de 2002, além de diversos programas tável” (publicação em português UNESCO / OREALC,
estaduais e municipais correspondentes. 2005, página 49).
6. Constituição Federal, Código Civil, Código 13. ONU. Revised draft plan of action for the first
de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Pe- phase (2005-2007), 2 March 2005.
nal e legislação complementar. Barueri/SP: Editora Ma- 14. As linhas gerais de ação do PNEDH, deverão
nole, 2003. levar em considera- ção as condições de acessibilidade,
7. O parlamento brasileiro e a sociedade civil conforme o Decreto 5.296/04, Capítulo 3º. Artigo 8º e 9º.
organizada desempe- nharam um papel fundamental 15. Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Uni-
na conquista de mecanismos nacionais de proteção dos versidades Públicas Brasileiras. Plano Nacional de Extensão
direitos humanos, como a legislação contra a discrimi- Universitária. Rio de Janeiro: NAPE/ UERJ, 2001.
nação racial (Lei Federal n°. 7.716/1989 e Lei Federal n°.
9.459/1997), a lei que criminaliza a tortura (Lei Federal Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
n°. 9.455/1997), o Estatuto da Criança e do Adolescen-
te (Lei Federal n°. 8.069/1990), o Estatuto do Idoso (Lei 16. O Comitê Nacional para Prevenção à Tor-
Fede- ral n°. 10.741/2003), a Lei de Acessibilidade (Lei tura no Brasil foi criado por meio do Decreto de 26 de
Federal n°. 10.048/2000 e Lei Federal n° 10.098/2000, junho de 2006, com atribuições específicas para garan-
regulamentadas pelo Decreto n° 5.296/2004), a lei que tir o respeito ao Estado Democrático de Direito.
criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos 17. A Matriz Curricular Nacional elaborada
(Lei Federal n° 9140/1995), entre muitos outros. pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, no âm-
8. No final da década de 1990, foram instituídas bito do Sistema Único de Segurança Pública - SUSP, em
pelo Poder Executivo secretarias e subsecretarias, ouvido- 2003, é um marco institucional na formação de pro-
rias e comissões nas esferas federal, esta- dual e muni- fissionais de segurança pública. Esta matriz serviu de
cipal. No Legislativo, foram constituídas comissões de base para a elaboração da Matriz Curricular Nacional
direitos humanos nas duas Casas do Congresso Nacional e para Formação das Guardas Municipais em 2004 pela
em todas as Assembléias Legislativas, estando presentes, SENASP, com apoio do PNUD/Brasil. Essas duas ações es-
ainda, em inúmeras Câmaras Municipais. No Judiciário, tavam previstas no sentido de fortalecer o Sistema Único
destaca-se a criação de varas especializadas e do Conselho de Segurança Pública.

161
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

18. A Comissão Permanente de Combate Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos


à Tortura foi criada em 2004 para elaborar o Plano de Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP
Ações Integradas para Prevenção e Controle da Tortura Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
no Brasil. Integra a Comissão, a Coordenação de Com- – CONATRAE Comissão Especial de Mortos e Desapareci-
bate à Tortu- ra (2005) e a Ouvidoria, ambas da SEDH. dos Políticos
No momento atual, o plano foi colocado para consulta Comitê de Ajudas Técnicas para Pessoas com Deficiên-
pública na internet (www.planalto.gov.br/sedh) e está cias Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educa-
em fase de implementação por meio de experiências- ção – CNTE Congresso Nacional
-pilotos nos se- guintes estados: Paraíba, Rio Grande do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
Sul, Espírito Santo, Pernambuco, Alagoas, Acre, Minas – CDDPH Conselhos estaduais e municipais de direitos hu-
Gerais e Distrito Federal. manos
Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Di-
I- Parcerias para implementação e monitoramento reitos Difusos – CFDD Conselho Nacional de Combate à
do PNEDH Discriminação – CNCD
Conselho Nacional de Educação – CNE
Academia Nacional de Polícia Conselho Nacional de Política Científica e Tecnoló-
Academias e centros de formação de profissionais gica – CNPq
das áreas de justiça e segurança pública Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Agências de fomento, avaliação e pesquisa Adolescente – CONANDA Conselho Nacional dos Direi-
Agências de fomento internacionais e nacionais (fe- tos da Mulher - CNDM
derais e estaduais) Agências de formação de educadores Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora
Agências de notícias de Deficiência – CONADE Conselho Nacional dos Secretá-
Altas Autoridades em Direitos Humanos, Chancelarias rios Estaduais de Educação – CONSED
do MERCOSUL e Países Associados Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos
Associação dos juízes federais e outras associações contra a Propriedade Intelectual
de profissionais e servi- dores das áreas de justiça e se- Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI
gurança pública Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá-
Arquivos públicos e privados ria – CNPCP
Associação Nacional de Direitos Humanos, Ensino e Conselho Nacional de Segurança Pública – CONASP
Pesquisa - ANDHEP Conselho Nacional de População e Desenvolvimento –
Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Fe- CNPD Conselhos profissionais
derais de Ensino Su- perior - ANDIFES Corregedorias e ouvidorias
Associações e conselhos profissionais Associações civis Defensorias públicas da União e estados
Associações nacionais de pós-graduação Associações Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
comunitárias – DEAMs Delegacias Especializadas de Proteção à Criança
Associações de ONGs e ao Adolescente Departamento Penitenciário Nacional –
Associação Internacional das Cidades Educadoras - DEPEN/MJ
AICE Centros de ensino e academias de polícia Departamento de Polícia Federal – DPF/MJ Departa-
Centros e academias de formação de agentes peni- mento de Polícia Rodoviária Federal – DPRF/MJ
tenciários Centros de referências e apoio a vítimas Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qua-
Centros e institutos de pesquisa lificação – DJTCQ/MJ
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Departamento de Pesquisa, Análise de Informação
Superior – CAPES e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública –
Coordenadoria Nacional para a Integração da Pes- SENASP/MJ
soa Portadora de Defici- ência – CORDE Departamento de Políticas, Programas e Projetos – SE-
Coordenação-Geral de Proteção a Testemunhas Co- NASP/MJ Departamento de Educação de Jovens e Adultos
missão de Anistia – SECAD/MEC Departamento de Educação para Diversida-
Comissão de Direitos Humanos e Legislação Partici- de e Cidadania – SECAD/MEC Departamento de Desenvol-
pativa – Senado Federal vimento e Articulação Institucional – SECAD/MEC Departa-
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câma- mento de Desenvolvimento da Educação Superior – SESU/
ra dos Deputados – CDHM MEC Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais
Comissões de direitos humanos das assembléias legis- – DHS/MRE Departamento de Modernização e Programas
lativas e câmaras municipais da Educação Superior – SESU/MEC Departamento de Polí-
Comissões de direitos humanos dos conselhos federal tica da Educação Superior – SESU/MEC
e regionais de psicologia Comissões de direitos humanos Defensoria Pública da União – DPGU Delegacias re-
das IES gionais do trabalho Empresas de comunicação
Comissão Intersetorial de Enfrentamento ao Abuso e Entidades patronais
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Entidades de direitos humanos e de educação para a
paz Escolas de ensino fundamental e médio

162
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Escolas de formação de promotores e magistrados Es- Organismos internacionais de cooperação (OIT, UNES-
cola Nacional de Administração Pública – ENAP Escola de CO,UNICEF, PNUD, ACNUR, entre outros)
Administração Fazendária – ESAF Escolas de formação de Organismos internacionais de proteção e defesa dos
professores direitos humanos Organizações empresariais
Estudantes das áreas de Educação Básica e Educação Organizações públicas em direitos humanos Órgãos
Superior Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP de segurança pública
Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Órgãos de cumprimento da pena privativa de liber-
Públicas Brasileiras dade Órgãos de fomento à pesquisa
– FORPROEX Órgãos federais e estaduais dos sistemas de justiça e
Fórum de Extensão das Instituições de Ensino Superior segurança pública Ouvidorias nacionais, estaduais e mu-
Brasileiras – FUNADESP nicipais
Fórum de Pós-Graduação e Pesquisa – FORPROP Fó- Presidência da República – PR
runs de entidades de direitos humanos Programas de pós-graduação com áreas de concen-
Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão e Ação tração, linhas e grupos de pesquisa em direitos humanos
Comunitária das Uni- versidades e Instituições de Ensino Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão -
Superior Comunitárias – FOREXT PFDC Procuradorias regionais dos direitos do cidadão
Fórum Educacional do MERCOSUL Fórum Mundial de Professores e pesquisadores das academias de polícias,
Educação escolas de forma- ção de promotores e magistrados
Fórum Nacional de Graduação – FORGRAD Professores universitários, pesquisadores e alunos
Fórum Nacional pela Democratização dos Meios de de mestrado e doutorado Profissionais da educação
Comunicação – FNDC Fórum Nacional de Educação Pro- Profissionais da educação e comunidade Programas
fissional e Tecnológica estaduais de proteção a testemunhas
Fórum Nacional de Ouvidores de Polícia Rede Nacional de Formação Continuada de Professo-
Fóruns nacionais e internacionais de educação e de res da Educação Básica Redes de formação e pesquisa em
educação em direitos humanos direitos humanos
Fórum Social Mundial - FSM Redes de ONGs Redes sociais
Fórum Intergovernamental de Promoção da Igual- Redes nacionais e internacionais de educação em
dade Racial Fundação Nacional do Índio – FUNAI direitos humanos Redes de entidades de comunicação
Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Rede Nacional de Identificação e Localização de Crian-
a Mulher – UNIFEM Governos estaduais e municipais ças e Adolescentes Desaparecidos
Instituições de ensino superior públicas e privadas – IES Secretaria-Geral da Presidência da República – PR Se-
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA Instituto cretarias estaduais de segurança pública Secretarias esta-
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE duais e municipais de educação
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Secretarias, sub-secretarias e coordenações de direitos
– INCRA Lideranças comunitárias humanos dos esta- dos e municípios
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Ministério Secretarias estaduais responsáveis pela administração
Público Federal penitenciária Secretaria de Educação Profissional e Tecno-
Ministérios Públicos Estaduais lógica – SETEC/MEC Secretaria Nacional de Justiça – SNJ/
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à MJ
Fome – MDS Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/
Ministério do Esporte – ME MJ Secretaria de Reforma do Judiciário – SRJ/MJ
Ministério do Trabalho e Emprego – MTE Ministério Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial –
da Saúde – MS SEPPIR/PR Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
Ministério da Cultura – MinC Ministério das Cidades – – SPM/PR Secretaria Nacional de Economia Solidária – SE-
MCid Ministério da Comunicação – MC NAES/MTE
Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT Ministério Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Hu-
das Relações Exteriores – MRE Ministério do Desenvolvi- manos – SPDDH
mento Agrário – MDA Ministério da Defesa – MD Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos da
Ministério do Meio Ambiente – MMA Ministério de Criança e do Adoles- cente – SPDCA
Minas e Energia – MME Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SI-
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – NASE Sistema Nacional de Emprego – SINE
MPOG Ministério da Previdência Social – MPS Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência
Ministério Público da União – MPU – SIPIA Secretaria de Políticas Públicas de Emprego – SPPE/
Movimentos de direitos humanos nacionais e inter- MTE
nacionais Movimentos sociais Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO
Núcleos de estudos e pesquisas em direitos huma- Serviço de Proteção ao Depoente Especial - SPDE Sindica-
nos Ordem dos Advogados do Brasil – OAB tos e centrais sindicais
Organizações não-governamentais – ONGs (inter- Sistemas de ensino públicos e privados Sociedade
nacionais, nacionais, re- gionais, estaduais e municipais) civil organizada Universidade para a Paz – UPAZ/ONU

163
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

II- Documentos para subsidiar programas, pro- Protocolo Facultativo para a Convenção sobre os
jetos e ações na área da educação em direitos hu- Direitos da Criança (2000) Objetivos de Desenvolvimen-
manos to do Milênio (2000)
Plano de Ação de Dakar da Educação para Todos: rea-
a) Âmbito internacional lizando nossos com- promissos coletivos (2000)
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão Década Internacional para uma Cultura da Paz e da
(1789) Carta das Nações Unidas (1945) Não-Violência para as Crianças do Mundo (2001–2010)
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Declaração Mundial da Diversidade Cultural (2001)
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Declaração do México sobre Educação em Direitos
Homem (1948) Humanos (2001)
Convenção Interamericana sobre a Concessão Declaração e Programa de Ação da Conferência
dos Direitos Políticos da Mulher (1948) Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xe-
Convenção Internacional contra a Tortura e Ou- nofobia e Outras Formas de Intolerância (Durban, 2001)
tros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e De- Regras Mínimas das Nações Unidas para a Adminis-
gradantes (1948) tração da Justiça, da Infância e da Juventude
Convenção Relativa à Luta contra a Discriminação Conferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
no Campo do Ensino (1960) Pacto Internacional so- biente e Desenvolvimento – Eco92 Conferência Mundial
bre os Direitos Civis e Políticos (1966) sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10 (2002)
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, So- b) Âmbito nacional
ciais e Culturais (1966) Constituição Federal (1988)
Convenção Internacional sobre a Eliminação de To- Lei Federal n° 7.716/1989 – Define os crimes resul-
das as Formas de Discri- minação Racial (1968) tantes de preconceito de raça ou de cor
Convenção Americana sobre Direitos Humanos Lei Federal n° 8.069/1990 – Estatuto da Criança e
(Pacto de San José, 1969) do Adolescente (ECA) Lei Federal n° 9.394/1996 – Lei de
Congresso Internacional sobre Ensino de Direitos
Diretrizes e Base da Educação Nacional Programa Na-
Humanos (1978)
cional de Direitos Humanos (PNDH) – SEDH/PR (1996 e
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
2002) Lei Federal n° 9.455/1997 – Tipificação do crime
de Discriminação contra as Mulheres (1979)
de tortura
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamen-
Lei Federal n° 9.459/1997 – Tipificação dos crimes
tos Cruéis, Desumanos e Degradantes (1984)
de discriminação com base em etnia, religião e proce-
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Ad-
dência nacional
ministração da Justiça da In- fância e da Juventude
Lei Federal n° 9.474/1997 – Estatuto dos refugiados
(Regras de Beijing ,1985)
Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Lei Federal n° 9.534/1997 – Gratuidade do registro
Direitos Humanos em maté- ria de Direitos Econômicos, civil de nascimento e da certidão de óbito
Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador, 1988) Plano Nacional de Extensão – FORPROEX (1999)
Campanha Mundial para a Publicização da Informa- Decreto nº 3.298/1999 – Regulamenta a Lei Fede-
ção sobre Direitos (1988) Convenção sobre os Direitos ral nº 7.853/1989 – Política Nacional para Integração da
da Criança (1989) Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas
Declaração Mundial e Programa Educação para To- de proteção
dos (1990) Portaria Ministerial MEC nº 319 de 26/2/1999 – Po-
Princípios das Nações Unidas para a Prevenção da lítica de Diretrizes e Nor- mas para o Uso, o Ensino, a
Delinqüência Juvenil. Diretrizes de Riad (1990) Produção e a Difusão do Sistema Braille em todas as
Declaração de Barcelona (1990) modalidades de aplicação, compreendendo especial-
Fórum Internacional da Instrução para a Demo- mente a lín- gua portuguesa, a matemática e outras
cracia (1992) ciências, a música e a informática
Declaração e Programa de Ação da Conferência Programa de Assistência a Vítimas e a Testemunhas
Mundial sobre os Direitos Humanos (1993) Ameaçadas – SEDH/PR (1999) Sistema Nacional de Assis-
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e tência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (2000) Progra-
Erradicar a Violência con- tra a Mulher (l994) ma Direitos Humanos, Direitos de Todos – SEDH/PR (2000)
Quarta Conferência Mundial das Nações Unidas Lei Federal nº 10.098/2000 – Estabelece normas gerais
sobre a Mulher (Beijing, 1995) e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das
Década das Nações Unidas para a Educação em Di- pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade re-
reitos Humanos (1995–2004) duzida, e dá outras providências
Declaração Mundial sobre a Educação Superior no Programa Nacional de Acessibilidade – SEDH/PR
Século XXI: visão e ação (1998) (2000) Serviço de Proteção ao Depoente Especial (2000)
Convenção Interamericana para a Eliminação de Decreto nº 3956/2001 – promulga a Convenção Inte-
Todas as Formas de Dis- criminação contra as Pessoas ramericana para Eliminação de Todas as Formas de Discri-
Portadoras de Deficiência (1999) minação contra Pessoas Portadoras de Deficiência

164
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Lei Federal nº 10.172/2001 – Plano Nacional de Edu- Programa Atendimento Socioeducativo ao Adolescen-
cação – MEC Programa Nacional de Direitos Humanos - te em Conflito com a Lei – SPDDCA/SEDH/PR
SEDH/PR (2002) Programa Nacional de Ações Afirmativas Programa Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de
– SEDH/PR (2002) Crianças e Adoles- centes – SPDDCA/SEDH/PR
Matriz Curricular Nacional para Formação de Profissio- Programas estaduais e municipais de direitos huma-
nais de Segurança Pública - SENASP/MJ (2003) nos Programa Diversidade na Universidade – SESU/MEC
Estatuto do Idoso (2003) Programa Educação Inclusiva - Direito à Diversidade
Mobilização Nacional para o Registro Civil – SPDDH/ – SEPPIR/PR Programa Estratégico de Ações Afirmativas –
SEDH/PR (2003) Programa de Segurança Pública para o SEPPIR/PR
Brasil – SENASP/MJ (2003) Sistema Único de Segurança Programa Proteção da Adoção e Combate ao Se-
Pública – SUSP/MJ (2003) questro Internacional – MJ
Polícia Comunitária – SENASP/MJ (2003) Programa de Apoio para Ouvidorias de Polícia e Po-
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à liciamento Comunitá- rio – SEDH/PR/MJ
Violência – SENASP/MJ (2003) Projetos Municipais de Pre- Rede Nacional de Educação à Distância – SENASP/MJ
venção à Violência – SENASP/MJ (2003) Escolas Itinerantes de Altos Estudos em Segurança Pú-
Programa de Promoção e Defesa dos Direitos da blica – SENASP/MJ (2005) Programa Brasil Alfabetizado –
Criança e do Adolescente MEC
– SPDCA/SEDH/PR Programa Escola que Protege – SESU/MEC
Portaria Ministerial MEC nº 3284 de 7/11/2003 – Re- Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indí-
quisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de de- genas – SESU/MEC
ficiências, para instruir os processos de autoriza- ção e Programa Conexões de Saberes: diálogos entre a
de reconhecimento de cursos e de credenciamento de universidade e as comu- nidades populares – SECAD/
instituições MEC
Portaria nº 98/1993 – Institui o Comitê Nacional de Programa Pró-Eqüidade de Gênero: oportunidades
Educação em Direitos Humanos iguais. Respeito às Di- ferenças – SPM/PR
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – Programa de Ações Integradas e Referenciais de En-
SEDH/PR/MEC (2003) Plano Nacional para a Erradicação do frentamento à Violên- cia Sexual Infanto-Juvenil no Territó-
Trabalho Escravo – SPDDH/SEDH/PR (2003) rio Brasileiro – PAIR – SEDH/PR
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Jornadas Formativas de Direitos Humanos – SENASP/
Relações Étnico-Ra- ciais e para o Ensino de História e Cul- MJ (2004)
tura Afro-Brasileira e Africana (2004) Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência con-
Decreto sobre Acessibilidade nº 5.296/2004 tra a Pessoa Idosa – SPDDH/SEDH/PR (2005)
Lei Federal nº 10.098/2004 – Programa Promoção e Plano de Ações Integradas para Prevenção e Con-
Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SEDH/PR trole da Tortura no Brasil
Brasil sem Homofobia – Programa de Combate à Vio- – SPDDH/SEDH/PR (2005)
lência e à Discrimina- ção contra GLTB e de Promoção da Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – SPM/PR
Cidadania Homossexual – SEDH/PR (2004) (2005) Política Nacional do Esporte – ME (2005)
Plano Nacional para o Registro Civil de Nascimento Sistema Nacional de Cultura – MinC (2005)
– SEDH/PR (2004) Rede Nacional de Cursos de Especialização em Segu-
Plano Presidente Amigo da Criança e do Adolescen- rança Pública – SENASP/ MJ (2005)
te – SEDH/PR (2004) Matriz Curricular em Movimento – SENASP/MJ
Matriz Curricular Nacional para Formação de Guardas (2006) Programa Afroatitude (2005/2006)
Municipais – SENASP/ MJ (2004) Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo –
Programa Mulher e Ciência – SPM/PR (2004) Programa SPDDCA/SEDH/PR (2006)
Brasil Quilombola – SEPPIR/PR (2004) NBR 9050 – Acessibilidade de Edificações, Mobiliário,
Lei Federal nº 10.536/2004 – estabelece a respon- Espaços e Equipa- mentos Urbanos
sabilidade do Estado por mortes e Desaparecimentos NBR 15290 – Acessibilidade em comunicação na tele-
de pessoas que tenham participado, ou te- nham sido visão
acusadas de participação em atividades políticas, no pe- Lei Federal nº 9.140/95 – Comissão Especial de Mor-
ríodo compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 5 tos e Desaparecidos Políticos durante a ditadura militar
de outubro de 1988 (e não mais 1979, como previa a Programa Gênero e Diversidade na Escola – SPM/PR
anterior) Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos
Decreto nº 5.626/2005 – Regulamenta a Lei Federal nº Escolares – SEB/MEC Programa Nacional do Livro Didático
10.436/2002 – Lín- gua Brasileira de Sinais – LIBRAS para o Ensino Médio – SEB/MEC Programa Nacional do Li-
Programa Nacional de Proteção aos Defensores dos vro Didático – PNLD/SEB/MEC
Direitos Humanos (2004) Programa Nacional Biblioteca – SEB/MEC Programa Es-
– SPDDH/SEDH/PR cola Ativa – SEB/MEC
Programa Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e Programa de Gestão de Aprendizagem Escolar – SEB/
do Adolescente – SPDDCA/SEDH/PR MEC Programa do Ensino Médio – SEB/MEC

165
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Programa Ética e Cidadania – SEB/MEC 5ª Conferência Nacional de Assistência Social (2005) 2ª


Programa de Gestão de Aprendizagem Escolar – SEB/ Conferência Nacional das Cidades (2005)
MEC 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador
Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de (2005)
Educação – SEB/MEC Programa de Apoio à Extensão 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Universitária – SESU/MEC Inovação em Saúde (2005) 2ª Conferência Brasileira so-
ProUni - Programa Universidade para Todos – SESU/ bre Arranjos Produtivos Locais (2005)
MEC 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade
Programa de Ações Afirmativas para a População Racial (2005) 2ª Conferência Nacional de Aqüicultura e
Negra nas Instituições Públicas de Educação Superior – Pesca (2006)
SESU/MEC 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da
Programa Incluir – SESU/MEC Educação na Saúde (2006) 4ª Conferência Nacional de
Programa Reconhecer – SECAD/SESU/MEC e DEPEN/MJ Saúde Indígena (2006)
Programa de Educação Tutorial – SESU/MEC 1ª Conferência Nacional dos Povos Indígenas (2006)
Programa Jovens Artistas – SESU/MEC Programa Cul- 2ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio
tura e Cidadania – MinC Ambiente (2006)
Programa Identidade e Diversidade Cultural – MinC 1ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com
Programa Cultura Viva – MinC Deficiência (2006)
Política Nacional do Esporte – ME 2ª Conferência Nacional do Esporte (2006)
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI 1ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Ido-
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD Pro- sa (2006) 1ª Conferência Nacional de Economia Solidária
grama Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego – PNPE (2006)
Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional e
Plano Nacional de Qualificação – PNQ Plano Pluria- Tecnológica (2006)
nual – PPA Conferência Regional das Américas sobre o Plano de
Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Teste- Ação contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e
munhas Ameaçadas – PROVITA Intolerâncias Correlatas – Durban +5 (2006)

III- Conferências nacionais de promoção e defesa IV– Principais comissões, comitês e conselhos gestores
dos direitos humanos e de direitos

Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana
Adolescente (1997, 1999, 2001, 2003, 2005) – CDDPH (1964) Conselhos Estaduais e Municipais de Di-
Conferências Nacionais de Direitos Humanos – Câma- reitos e Defesa
ra dos Deputados/ CDHM (1996, 1997, 1998, 1999, 2000, Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
2001, 2002, 2003, 2005, 2006) – CNPCP (1980) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
1ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (2003) – CNDM (1985)
4ª Conferência Nacional de Assistência Social (2003) Conselho da República – (1990) Conselho de Defesa
12ª Conferência Nacional de Saúde (2003) Nacional – (1991)
1ª Conferência Nacional Infanto-Juvenil do Meio Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Ambiente (2003) 1ª Conferência Nacional de Aqüicultu- Adolescente – CONANDA (1991) Conselho Nacional de
ra e Pesca (2003) Imigração – (1992)
1ª Conferência Nacional das Cidades (2003) Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos
1ª Conferência Nacional de Medicamentos e Assistên- – (1995) Comissão Nacional de População e Desenvolvi-
cia Farmacêutica (2003) mento – CNPD (1995) Conselho Nacional de Política Ener-
1ª Conferência da Terra e da Água: reforma agrária, gética – CNPE (1997)
democracia e desen- volvimento sustentável (2004) Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora
1ª Conferência Brasileira sobre Arranjos Produtivos Lo- de Deficiência – CONADE (1999)
cais (2004) 3ª Conferência Nacional de Saúde Bucal (2004) Conselho Nacional de Combate à Discriminação –
2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e CNCD (2001) Conselho de Governo – (2001)
Inovação em Saúde (2004) 1ª Conferência de Políticas Conselho Nacional de Integração de Políticas de
para as Mulheres (2004) Transporte – CONIT (2001) Conselho Nacional de Pro-
1ª Conferência Nacional do Esporte (2004) moção da Igualdade Racial – CNPIR (2003) Comitê
1ª Conferência Nacional de Juventude (2004) Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH
2ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar (2003) Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Es-
(2004) 1ª Conferência Nacional de Cultura (2005) cravo – CONATRAE (2003) Conselho Nacional de Segu-
6ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e rança Alimentar e Nutricional – CONSEA (2003) Con-
do Adolescente (2005) 2ª Conferência Nacional de Meio selho de Desenvolvimento Econômico e Social – CDES
Ambiente (2005) (2003) Conselho Nacional de Esporte – CNE (2004)

166
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Conselho Nacional das Cidades – ConCidades (2004) EXERCÍCIOS


Conselho Nacional dos Direitos do Idoso – CNDI (2004)
Comitê de Ajudas Técnicas para Pessoas com Deficiên- 1. (FCC/2014 - Prefeitura de Recife/PE - Pro-
cias – CORDE (2006) curador) Nos termos do art. 226 da Constituição
Conselho da Autoridade Central Administração Fe- Federal, “a família, base da sociedade, tem especial
deral contra o Seqüestro Internacional de Crianças proteção do Estado”. Entre os aspectos abrangidos
Conselho Nacional dos Refugiados pelo direito à proteção especial, segundo o texto
Conselho Nacional de Segurança Pública – CONASP constitucional, encontram-se os seguintes:
Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Di- a) garantia de direitos previdenciários e traba-
reitos Difusos – CFDD lhistas; e obediência aos princípios de brevidade,
Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
Contra a Propriedade Intelectual – CNCP pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação
Conselho Nacional Antidrogas – CONAD Conselho Na- de qualquer medida privativa da liberdade.
cional de Defesa Civil – CONDEC Conselho Nacional de Ju- b) garantia de direitos previdenciários e traba-
ventude – CONJUVE Conselho Nacional de Educação – CNE lhistas; e acesso universal à educação infantil, em
Conselho Nacional de Saúde – CNS creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos
Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS Con- de idade.
selho Nacional de Previdência Social – CNPS Conselho Na- c) erradicação do analfabetismo; e estímulo do
cional de Política Cultural – CNPC Conselho Nacional de Poder Público, através de assistência jurídica, in-
Política Agrícola – CNPA Conselho Nacional de Economia centivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao
Solidária – CNES acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Susten- adolescente órfão ou abandonado.
tável – CONDRAF Conselho Nacional de Transparência Pú- d) punição severa ao abuso, à violência e à ex-
blica e Combate à Corrupção – CGU Conselho Nacional de ploração sexual da criança e do adolescente; e ga-
Aqüicultura e Pesca – CONAPE rantia às presidiárias de condições para que possam
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA permanecer com seus filhos durante o período de
Conselho Nacional da Amazônia Legal – CONAMAZ Con- amamentação.
selho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH Conselho Na- e) punição severa ao abuso, à violência e à ex-
cional de Ciência e Tecnologia – CCT ploração sexual da criança e do adolescente; e estí-
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e mulo do Poder Público, através de assistência jurídi-
Tecnológico – CNPq Conselho Nacional de Informática e ca, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei,
Automação – CONIN ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança
Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN Conselho ou adolescente órfão ou abandonado.
Nacional de Turismo – CNT
R: A. O artigo 227, §3º, CF fixa os aspectos que
Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=- abrangem a proteção especial da criança e do ado-
com_docman&view=download&alias=2191-plano-na- lescente: “I - idade mínima de quatorze anos para
cional-pdf&category_slug=dezembro-2009-pdf&Ite- admissão ao trabalho, observado o disposto no art.
mid=30192 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e
trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador
adolescente e jovem à escola; IV - garantia de pleno
e formal conhecimento da atribuição de ato infra-
cional, igualdade na relação processual e defesa téc-
nica por profissional habilitado, segundo dispuser
a legislação tutelar específica; V - obediência aos
princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,
quando da aplicação de qualquer medida privativa
da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, através
de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios,
nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abando-
nado; VII - programas de prevenção e atendimento
especializado à criança, ao adolescente e ao jovem
dependente de entorpecentes e drogas afins”.

167
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

2. (Alternative Concursos/2017 - Prefeitura de Sul 4. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati-


Brasil/SC - Agente Educativo) De acordo com o Estatu- vo) Sobre a prática de ato infracional à luz do Estatuto da
to da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60, é Criança e do Adolescente, é INCORRETO afirmar que a
proibido qualquer trabalho a menores: a) medida socioeducativa de internação pode ser de-
a) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de terminada por descumprimento reiterado e injustificável
aprendiz. da medida anteriormente imposta.
b) De quatorze anos de idade, salvo na condição de b) internação, antes da sentença, poderá ser determi-
aprendiz. nada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
c) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de c) medida socioeducativa de internação não pode-
aprendiz. rá exceder em nenhuma hipótese três anos, liberando-se
d) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição compulsoriamente o menor infrator aos vinte e um anos
de aprendiz. de idade.
e) De dezessete anos de idade, inclusive na condição d) medida socioeducativa de liberdade assistida será
de aprendiz. fixada pelo prazo mínimo de trinta dias, podendo a qual-
quer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por
R: B. Em que pese o teor do art. 64 do ECA, que pode- outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e
ria dar a entender que um menor de 14 anos pode traba- o defensor.
lhar, prevalece o que diz o texto da Constituição Federal: e) remissão não implica necessariamente o reconhe-
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, cimento ou comprovação da responsabilidade, nem pre-
além de outros que visem à melhoria de sua condição so- valece para efeito de antecedentes, podendo incluir even-
cial: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou tualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a internação.
a partir de quatorze anos”. Logo, o menor pode trabalhar
em qualquer serviço, desde que não seja noturno, perigoso R: D. A lei exige como prazo mínimo de medida so-
e insalubre, dos 16 aos 18 anos; e entre 14 e 16 anos ape- cioeducativa o período de 6 meses, conforme art. 118, § 2º,
nas pode trabalhar como aprendiz. ECA, não 30 dias conforme a alternativa “d”, razão pela qual
está incorreta. A alternativa “a” está prevista no art. 122, §
3. (FCC/2016 - AL-MS - Agente de Polícia Legislati- 1º, ECA; a alternativa “b” está prevista no art. 108 do ECA;
vo) Sobre a adoção, nos termos preconizados pelo Estatu- a alternativa “c” está prevista no art. 121, §§ 3º e 5º, ECA; a
to da Criança e do Adolescente, alternativa “e” está prevista no art. 127 ECA.
a) o adotante deve ser, no mínimo, 18 anos mais velho
que o adotando. 5. (COMPERVE/2016 - Câmara de Natal/RN - Guar-
b) é permitida a adoção por procuração. da Legislativo) As crianças e os adolescentes, qualificados
c) se um dos cônjuges adota o filho do outro, mantêm- pelo direito hoje vigente como pessoas em desenvolvimen-
-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge do to, receberam do direito positivo brasileiro, tutela especial
adotante e os respectivos parentes. através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, mais conhe-
d) é vedada a adoção conjunta pelos divorciados, se- cida como Estatuto da Criança e do Adolescente. Seguindo
parados judicialmente e pelos ex-companheiros. as diretrizes traçadas pela Constituição de 1988, o Estatuto
e) o estágio de convivência que precede a adoção não da Criança e do Adolescente trouxe a previsão normativa
poderá, em nenhuma hipótese, ser dispensado pela auto- da absoluta prioridade e de variados direitos fundamentais.
ridade judiciária. Em tal seara, foi determinado que as crianças e os adoles-
centes têm direito,
R: C. Neste sentido, disciplina o art. 41, § 1º, ECA: “Se a) à liberdade, de forma a compreender a liberdade de
um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá-
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o côn- rios, ressalvadas as restrições legais; a liberdade de opinião
juge ou concubino do adotante e os respectivos parentes”. e de expressão; a liberdade de brincar e de praticar espor-
A alternativa “a” está errada porque o adotante deve ser, tes, a liberdade de participar da vida familiar e comunitária;
pelo menos, 16 anos mais velho que o adotado e possuir a liberdade de buscar refúgio, auxílio e orientação, exce-
pelo menos 18 anos (art. 42, § 3º, ECA); a alternativa “b” tuadas dessa tutela a liberdade de crença e culto religioso
está incorreta porque é vedada a adoção por procuração, e de participar da vida política.
pois a adoção é ato personalíssimo (art. 39, § 2º, ECA); a b) ao respeito, consistente na inviolabilidade da sua
alternativa “d” está incorreta porque é possível a adoção integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preser-
conjunta desde que preencha os requisitos de serem casa- vação da imagem, da identidade, da autonomia, de seus
dos civilmente ou mantenham união estável, comprovada valores, ideias e crenças, excluída a tutela dos seus espaços
a estabilidade da família (art. 42, § 1º, ECA); e a alternativa e objetos pessoais.
“e” está incorreta porque pode ser dispensado o estágio de c) de serem educados e cuidados sem o uso de cas-
convivência quando o adotando já estiver sob a tutela ou tigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
guarda do adotante (art. 46, § 1º, ECA). formas de correção, disciplina, educação ou a qualquer

168
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

outro pretexto, por parte dos pais, de integrantes da fa- 7. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) A
mília ampliada, dos responsáveis, dos agentes públicos intenção principal do Estatuto da Criança e do Adolescente
executores de medidas socioeducativas ou por qualquer (Lei nº 8.069/90) é
pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los a) prover uma boa escola para que crianças e adoles-
ou protegê-los. centes possam trabalhar o mais cedo possível.
d) de serem criados e educados no seio de sua famí- b) questionar políticas sociais que venham a proteger
lia biológica, não se admitindo a sua inserção em família quem não merece.
substituta, assegurada a convivência familiar e comuni- c) distribuir renda entre os mais empobrecidos da po-
tária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento pulação.
integral. d) proteger integralmente crianças e adolescentes, ga-
rantindo políticas públicas neste sentido.
R: C. Nestes termos, preconiza o artigo 18-A do ECA: e) proteger crianças e adolescentes da prisão.
“A criança e o adolescente têm o direito de ser educados
e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento R: D. Conforme o artigo 1º do ECA, “esta Lei dispõe
cruel ou degradante, como formas de correção, discipli- sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. O
na, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pe- princípio da proteção integral se associa ao princípio da
los integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, prioridade absoluta, colacionado no artigo 4º do ECA e no
pelos agentes públicos executores de medidas socioe- artigo 227, CF. De uma doutrina da situação irregular, o
ducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar direito evoluiu e passou a contemplar uma noção de prote-
deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los”. A alternativa ção mais ampla da criança e do adolescente, que não ape-
“a” está errada porque o artigo 16 do ECA fixa que o nas abordasse situações de irregularidade (embora ainda
direito à liberdade envolve os seguintes aspectos: “I - ir, o fizesse), mas que abrangesse todo o arcabouço jurídico
vir e estar nos logradouros públicos e espaços comuni- protetivo da criança e do adolescente, que é a doutrina da
tários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e ex- proteção integral.
pressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, prati-
car esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e 8. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen-
comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) O Esta-
política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e tuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º, parágrafo
orientação”. A alternativa “b” está errada porque o arti- único fixa a garantia de prioridade. Assinale a alternativa
go 17 do ECA prevê que “o direito ao respeito consiste CORRETA que compreende uma dessas prioridades:
na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral a) Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
da criança e do adolescente, abrangendo a preservação qualquer forma de negligência, descriminação e explora-
da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ção.
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. A b) É assegurado atendimento integral á saúde da crian-
alternativa “d” está errada porque o artigo 18 do ECA ça e do adolescente por intermédio do sistema único de
assegura que “é direito da criança e do adolescente ser saúde.
criado e educado no seio de sua família e, excepcional- c) Precedência de atendimento, nos serviços públicos
mente, em família substituta, assegurada a convivência ou de relevância pública.
familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu de- d) Manter alojamento conjunto, possibilitando ao neo-
senvolvimento integral”. nato a permanência junto á mãe.

6. (FUNRIO/2016 - IF-PA - Assistente de Alunos) R: C. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei garantia de prioridade compreende: [...] b) precedência de
8.069/90), é considerado criança atendimento nos serviços públicos ou de relevância públi-
a) a pessoa até seis anos incompletos de idade. ca”.
b) a pessoa até oito anos incompletos de idade.
c) a pessoa até 12 anos incompletos de idade. 9. (FUNDAÇÃO CASA - Agente Administrativo - VU-
d) a pessoa até 18 anos incompletos de idade. NESP/2010) Relativamente às Disposições Preliminares do
e) a pessoa até 14 anos incompletos, desde que não Estatuto da Criança e do Adolescente, assinale a alternativa
tenha cometido nenhum crime. correta.
a) Considera-se criança a pessoa com até doze anos
R: C. O Estatuto da Criança e do Adolescente opta completos, e adolescente aquela entre treze e dezoito anos
por categorizar separadamente estas duas categorias de de idade incompletos.
menores. Criança é aquele que tem até 12 anos de idade b) Nos casos em que a lei determinar, deverá ser cons-
(na data de aniversário de 12 anos, passa a ser adoles- tantemente aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescen-
cente), adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos te às pessoas entre dezenove e vinte anos de idade.
(na data de aniversário de 18 anos, passa a ser maior), c) A garantia de prioridade para o adolescente com-
conforme o artigo 2º do ECA. preende a primazia na formulação das políticas sociais pú-
blicas para o lazer.

169
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

d) Na aplicação dessa Lei, deverão ser levados em con- 12. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto -
ta os fins políticos a que ela se destina. FCC/2016) A formação técnico-profissional do adolescen-
e) Destinação privilegiada de recursos públicos nas te NÃO deverá obedecer a
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. a) horário especial, estabelecido em lei.
b) horário especial, de acordo com a atividade.
R: E. Conforme o artigo 4º, parágrafo único, ECA, “a c) peculiaridades do seu desenvolvimento pessoal.
garantia de prioridade compreende: [...] d) destinação pri- d) adequação ao mercado de trabalho.
vilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com e) prevalência das atividades educativas sobre as pro-
a proteção à infância e à juventude”. dutivas.

10. (Prefeitura de Cruzeiro - SP - Auxiliar de Desen- R: A. Dispõe o ECA: “Art. 63. A formação técnico-pro-
volvimento Infantil - Instituto Excelência/2016) Assinale fissional obedecerá aos seguintes princípios: [...] III - horário
a alternativa CORRETA conforme o artigo 15 do ECA: especial para o exercício das atividades”. Especificamente,
a) na dignidade da criança e do adolescente, pondo-os o horário deve ser fixado sem prejudicar a frequência à es-
a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, ater- cola (artigo 67, IV, ECA) e é proibido o trabalho noturno.
rorizante, vexatório ou constrangedor. Entretanto, a lei não fixa com precisão o horário de traba-
b) no direito de ser educados e cuidados sem o uso de lho permitido ao adolescente.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro 13. (IDECAN/2016 - UFPB - Auxiliar em Assuntos
pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, Educacionais) Considerando a prática de ato infracional
pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de por adolescentes e os direitos individuais assegurados,
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarre- nessa situação, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
gada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (ECA), assinale a alternativa correta.
c) no direito à liberdade, ao respeito e à dignidade a) Considera-se ato infracional a conduta descrita como
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento crime e não a estabelecida como contravenção penal.
e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garan- b) O adolescente não pode ser privado de sua liberda-
tidos na Constituição e nas leis. de senão em flagrante de ato infracional ou por ordem es-
d) na inviolabilidade da integridade física, psíquica e crita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preserva- c) O adolescente que comete ato infracional perde o
ção da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, direito à identificação dos responsáveis pela sua apreen-
ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. são, devendo, contudo, ser informado acerca de seus di-
R: D. Dispõe o ECA em seu artigo 15: “A criança e o reitos.
adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à digni- d) O adolescente civilmente identificado será subme-
dade como pessoas humanas em processo de desenvolvi- tido à identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
mento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais proteção e judiciais, independente se para efeito de con-
garantidos na Constituição e nas leis”. frontação em caso de dúvida fundada.

11. (TRT - 1ª REGIÃO - Juiz do Trabalho Substituto R: B. Conforme preconiza o art. 106, “nenhum adoles-
- FCC/2016) Sobre o trabalho da criança e do adolescente, cente será privado de sua liberdade senão em flagrante de
é correto afirmar: ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da
a) É proibido o trabalho de adolescentes em atividades autoridade judiciária competente”.
lúdicas.
b) É proibido para os menores de 16, salvo na condição
de aprendizes.
c) É proibido o trabalho noturno de menores de 16
anos, salvo na condição de aprendizes.
d) É proibido o trabalho de adolescentes em hospitais,
salvo na condição de aprendizes de enfermagem.
e) É proibido o trabalho de crianças em peças teatrais e
atividades cinematográficas.

R: B. Nos termos do artigo 60, ECA, “é proibido qual-


quer trabalho a menores de quatorze anos de idade, sal-
vo na condição de aprendiz”. Aceita-se o trabalho como
aprendiz entre 14 e 16 anos. A partir dos 16 anos, o adoles-
cente pode trabalhar, não necessariamente como aprendiz,
embora a lei fixe outras restrições.

170
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES tamento; preocupa-se em explicar os comportamen-


tos observáveis do educando, desprezando a análise
1. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia de outros aspectos da conduta humana tais como: o
atentamente o texto a seguir. Os processos de ensino raciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a
só podem se realizar a medida que o educando esti- fantasia, entre outros; defende a necessidade de medir,
ver maduro para efetivar determinada aprendizagem; comparar, testar, experimentar e controlar o compor-
a prática escolar não desafia, não amplia, nem instru- tamento e desenvolvimento do educando e sua apren-
mentiza o desenvolvimento do educando, uma vez que dizagem, objetivando com isso, controlar o comporta-
esta se restringe naquilo que o educando já conquistou; mento do educando.
a educação pode apenas aprimorar um pouco aquilo
que o educando é. O texto trata-se de uma: * Disponível em: http://penta2.ufrgs.br/edu/intera/
A) Maturação. cap1-afet-interat-aprend.htm.
B) Experiência ativa.
C) Teoria inativa. RESPOSTA: “D”.
D) Comunicação humana
3. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na
A teoria inativa considera que o meio ou ambiente teoria ambientalista, atribui-se, exclusivamente, ao
pouco pode fazer pelo indivíduo, quando acredita que o ambiente a construção das características humanas,
sujeito nasce pronto, pode-se dizer que a subjetividade privilegiando a experiência como fonte de conheci-
não é inata devido ao fato de que cada pessoa adquire ao mento. Esta teoria preocupa-se em explicar:
longo do seu desenvolvimento, características próprias que A) Práticas pedagógicas espontâneas.
não seria possível nascer com elas. Segundo Torres (2003), B) Os comportamentos observáveis do educan-
a respeito de como as identidades se constroem, precisa- do.
mos levar em conta as condições históricas, sociais e eco- C) A pedagogia do dom.
nômicas em que o indivíduo está inserido, a compreensão D) Processo de construção.
de que a identidade não é preexistente ao homem e que
a analise do “mundo interno” exige o conhecimento do O Ambientalismo, como o próprio nome dá a en-
“mundo externo” que estão em movimento contínuo de tender, valoriza o ambiente no aprendizado humano.
construção e desconstrução. Ou seja, a criança desenvolve suas características em
*Texto adaptado de Marcos P. Silva. Disponível em: função das condições do meio em que vive. Esta vi-
http://marcospsilva7.blogspot.com.br/2008/06/partindo- são considera as estimulações que o meio proporciona
-do-ponto-de-que-teoria-inativa.html como fonte de aprendizado. Para os ambientalistas, o
mais importante são os fatores exógenos, aquilo que
RESPOSTA: “C”. está fora do indivíduo. A criança nasce sem caracte-
rísticas psicológicas, seria como uma massa a ser mo-
2. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Leia, delada, estimulada e corrigida pelo meio em que vive.
atentamente, o texto a seguir. “Desprezar a análise de O papel da escola seria o de estimular a criança com
outros aspectos da conduta humana tais como: o ra- novas aprendizagens. Para os ambientalistas, a criança
ciocínio, o desejo, a imaginação, os sentimentos e a não sabe, é uma folha em branco. O saber está com
fantasia; defende a necessidade de medir, comparar, o(a) professor(a) e, portanto, ele(a) precisa transmitir
testar, experimentar e controlar o comportamento e o conhecimento para a criança, que o recebe de for-
desenvolvimento do educando e sua aprendizagem, ma passiva. De acordo com essa concepção, educar
objetivando com isso, controlar o comportamento do alguém seria moldar o seu comporta- mento, seu ca-
educando”. O texto trata da: ráter, seu conhecimento, dando à criança tudo aquilo
A) Relação homem/mundo. que ela não tem. Dentro da concepção ambientalista,
B) Afetividade e cognição a educação é centrada no(a) professor(a) que, como
C) Interatividade adulto, é visto como o(a) dono(a) da verdade, devendo
D) Teoria ambientalista do desenvolvimento ensinar e estimular as crianças.

A teoria ambientalista busca sua inspiração na filosofia * Referências:


empirista (a experiência como fonte de conhecimento) e LOPES, K. R; MENDES, R. P; FARIA, V. L. B. de. Edu-
positivista (objetividade e neutralidade no conhecimento cação de crianças: Programa de formação de pro-
da realidade humana; o ser humano é entendido como ob- fessores de educação infantil. Coleção PROINFANTIL;
jeto e os fatos sociais como coisas, ou seja, objeto de um (Unidade 1). Brasília: MEC. Secretaria de Educação Bá-
interesse meramente prático). A teoria ambientalista, tam- sica. Secretaria de Educação a Distância, 2005.
bém chamada behaviorista ou comportamentalista, atribui Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arqui-
exclusivamente ao ambiente a constituição das caracte- vos/pdf/Educinf/mod_ii_vol2unid1.pdf
rísticas humanas, privilegiando a experiência como fonte
de conhecimento e de formação de hábitos de compor- RESPOSTA: “B”.

171
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

4. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A Edu- O currículo tem que ser entendido como a cultura real
cação, neste método, é tecida em conjunto por alunos e que surge de uma série de processos, mais que como um ob-
professores, frente aos exercícios da leitura e da escrita jeto delimitado e estático que se pode planejar e depois im-
praticadas exaustivamente nas aulas. Assim, mestres e plantar; aquilo que é, na realidade, a cultura nas salas de aula,
aprendizes atuam juntos na construção do conhecimen- fica configurado em uma série de processos: as decisões pré-
to, assessorados pela incidência da problemática social vias acerca do que se vai fazer no ensino, as tarefas acadêmi-
mais atual e pelo arsenal de saberes já edificados, patri- cas reais que são desenvolvidas, a forma como a vida interna
mônio intransferível do ser humano. O texto se refere a: das salas de aula e os conteúdos de ensino se vinculam com o
A) Teoria do saber. mundo exterior, as relações grupais, o uso e o aproveitamento
B) Teoria do Ler e Saber. de materiais, as práticas de avaliação, etc (Sacristán, J.G., 1995).
C) Teoria da Paradidática.
D) Teoria do Construtivismo. RESPOSTA: “C”.

Para Piaget, a pessoa, a todo o momento interage com 6. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Para ser
a realidade, operando ativamente objetos e pessoas. O considerada como possuidora de certa habilidade, a
conhecimento é construído por informações advindas da criança tem que demonstrar que pode cumprir a tarefa
interação com o ambiente, na medida em que o conheci- sem nenhum tipo de ajuda. Denomina- se essa capaci-
mento não é concebido apenas como sendo descoberto dade de realizar tarefas de forma independentes:
espontaneamente, nem transmitido de forma mecânica A) NDP - Nível de Desenvolvimento Potencial.
pelo meio exterior, mas como resultado de uma interação B) ZDP - Zona de Desenvolvimento Proximal.
na qual o sujeito é sempre um elemento ativo na busca ati- C) PDH - Processo de Desenvolvimento de habilidade.
va de compreender o mundo que o cerca (MOREIRA, 1999). D) NDR - Nível de Desenvolvimento Real.
Entende-se, então, de acordo com essa teoria, que o de-
senvolvimento cognitivo é resultado de situações e expe- Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento es-
tão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida do indiví-
riências desconhecidas advinda da interação com o meio,
duo. Nível de desenvolvimento real: Referente as conquistas
onde o sujeito procura compreender e resolver as interro-
que já estão consolidadas na criança, ela já aprendeu e domi-
gações. Com isso, o aluno exerce um papel ativo e constrói
na. Indica os processos mentais da criança que já se estabe-
seu conhecimento, sob orientação do professor, buscando
leceram. Representa as funções já amadurecidas. Exemplos:
informações, propondo soluções, confrontando-as com as
andar de bicicleta, cortar com tesoura, dominar o teclado.
de seus colegas, defendendo-as e discutindo. Essa teoria
permite utilizar todo o potencial de interação da internet
*Texto adaptado de Raquel D`Ely. Disponível em: https://
para criar um ambiente que gere conhecimento teórico repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/116361/
e prático através da construção gradual do conhecimen- TEORIA%20SOCIO%20INTERACIONISTA.pdf?sequence=1
to por meio de participação ativa. Oferece oportunidade
para reflexão. A construção do conhecimento pelos alunos RESPOSTA: “D”.
é fruto de sua ação, o que faz com que eles se tornem cada
vez mais autônomos intelectualmente. 7. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) É um
tipo de avaliação que tem por função básica a classifi-
*Referências: cação dos alunos, sendo realizada no final de um curso
MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. ou unidade de ensino, classificando os alunos de acor-
São Paulo: Epu, 1999. do com os níveis de aproveitamento previamente esta-
belecidos. O texto acima descreve uma:
RESPOSTA: “D”. A) Avaliação formativa.
B) Avaliação somativa.
5. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A con- C) Avaliação diagnostica.
cepção de organização curricular expressa formas de D) Avaliação personalizada.
concretização das intenções pedagógicas. Com base
nesta temática é FALSO afirmar: Avaliação Somativa: É uma modalidade avaliativa pon-
A) O currículo real acontece dentro da sala de aula com tual que ocorre ao fim de um processo educacional (ano,
professores e alunos a cada dia em decorrência de um pro- semestre, bimestre, ciclo, curso etc.). Atém-se à determina-
jeto pedagógico e dos planos de ensino. ção do grau de domínio de alguns objetivos pré-estabe-
B) Currículo é o conjunto de todas as experiências de co- lecidos propondo-se a realizar um balanço somatório de
nhecimento, proporcionada pela instituição aos educandos. uma ou várias sequencias de um trabalho de formação. É
C) A organização é um currículo a partir da lógica seria- também chamada de avaliação das aprendizagens.
da a analise do progresso dos educandos.
D) O currículo é a ligação entre a cultura e a sociedade *Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedufjf.net/
exterior à escola e à educação; entre o conhecimento e a pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao-somativa/
cultura herdada e a aprendizagem dos alunos; entre a teo-
ria e a pratica possível, dadas determinadas condições RESPOSTA: “B”.

172
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

8. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A res- 10. (SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) Na


peito da Avaliação Formativa, é INCORRETO afirmar: relação profesor-aluno envolve interesses e intenções,
A) A avaliação formativa não tem como objetivo sendo esta interação o expoente das consequências,
classificar ou selecionar. pois a educação é uma das fontes mais importantes do
B) Fundamenta-se nos processos de aprendizagem desenvolvimento comportamental e agregação de va-
em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. lores nos membros da espécie humana.
C) Uma avaliação não precisa conformar-se a ne- Logo, a relação entre professor e aluno depende,
nhum padrão metodológico para ser formativa. fundamentalmente:
D) O sentido e a finalidade da avaliação formativa I. Do clima estabelecido pelo aluno.
deve ser o de conhecer melhor o professor, suas com- II. Da relação empática com seus alunos.
petências e suas técnicas de trabalho. III. Da sua capacidade de ouvir, refletir e discutir.
IV. Da criação das pontes entre seu conhecimento e
Também chamada de avaliação para as aprendiza- os deles.
gens, a avaliação formativa tem seu foco no proces- Assinale a alternativa correta.
so ensino-aprendizagem. Alguns teóricos chegam a A) Somente I, II e III estão corretas.
nomear essa modalidade com o nome de avaliação B) Somente I, II e IV estão corretas
formativa diagnóstica. A avaliação formativa não tem C) Somente II, III e IV estão corretas
finalidade probatória e está incorporada no ato de en- D) Somente I, III e IV estão corretas
sinar, integrada na ação de formação. Alguns autores
consideram que a avaliação formativa englobe as ou- Becker (1997), afirma que na transferência, constituir uma
tras modalidades de avaliação já que ela se dá durante identificação simbólica é uma forma de desenvolver ao adoles-
o processo educacional. Seu caráter é especificamente cente sua posição discursiva. Verificar-se, que o aluno precisa
pedagógico. admitir estar numa relação transferencial com o professor que
não estar ali só para transferir informações, mais para considerar
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedu- cada aluno singularmente. O sujeito do qual ocupa a psicanálise
fjf.net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao- é o sujeito do inconsciente enquanto manifestação única e sin-
-formativa/ gular. Para o aluno ser tomado como sujeito é necessário que
o educador também o seja, que envolva sua prática com aquilo
RESPOSTA: “D”. que lhe é peculiar, o estilo. Logo a relação professor-aluno de-
pende fundamentalmente do clima estabelecido pelo profes-
9.(SEPLAG/MG – PEDAGOGIA – BFC/2013) A ava- sor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de
liação ______________________ é realizada no início do ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da
processo ensino-aprendizagem, com a finalidade de criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.
detectar eventuais dificuldades de aprendizagem
auxiliando o ______________ no planejamento de suas *Referências:
ações. Texto adaptado de Andréia Freitas;
Assinale a alternativa que completa correta e BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da apren-
respectivamente as lacunas. dizagem em J.piaget e Paulo Freire. Rio de Janeiro: DPIA
A) Diagnostica / Professor. Editora Palmarinca, 1997
B) Formativa / Gestor
C) Formativa / Coordenador pedagógico. RESPOSTA: “C”.
D) Somativa / Professor.
11. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA
O conceito de avaliação diagnóstica não recebe - BIORIO/2011) Por gestão participativa entende-se:
uma definição uniforme de todos os especialistas. No I - envolvimento de todos que fazem parte direta
entanto pode-se, de maneira geral, entendê-la como ou indiretamente no processo educacional;
uma ação avaliativa realizada no início de um processo II - compartilhamento na solução de problemas e
de aprendizagem, que tem a função de obter informa- nas tomadas de decisão do diretor escolar;
ções sobre os conhecimentos, aptidões e competências III - implementação, monitoramento e avaliação
dos estudantes com vista à organização dos processos dos resultados;
de ensino e aprendizagem de acordo com as situações IV - estabelecimento de objetivos claros e demo-
identificadas. cráticos;
V - visão de conjunto associada a uma posição hie-
*Disponível em: http://www.portalavaliacao.caedu- rárquica.
fjf.net/pagina-exemplo/tipos-de-avaliacao/avaliacao- Estão corretas as afirmativas:
-diagnostica/ A) I, II e III;
B) I, III e IV;
RESPOSTA: “A”. C) II, III e V;
D) I, IV e V;

173
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

O trabalho escolar é uma ação de caráter coletivo, 13. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
realizado a partir da participação conjunta e integrada GIA - BIORIO/2011) A interação professor-aluno é um
dos membros de todos os segmentos da comunidade es- aspecto fundamental da organização da situação didá-
colar. Portanto, afirmar que sua gestão pressupõe a atua- tica. Segundo Libâneo, podem-se ressaltar dois aspec-
ção participativa representa um pleonasmo de reforço a tos para a realização do trabalho docente:
essa importante dimensão da gestão escolar. Assim, o A) o aspecto social, que se refere à integração de cada
envolvimento de todos os que fazem parte, direta ou in- aluno ao seu meio social e o aspecto atitudinal, que se re-
diretamente, do processo educacional no estabelecimen- fere à aquisição de conhecimentos acadêmicos a serem
to de objetivos, na solução de problemas, na tomada de utilizados na vida pessoal de cada aluno;
decisões, na proposição, implementação, monitoramento B) o aspecto técnico e emocional, que se refere ao de-
e avaliação de planos de ação, visando os melhores re- senvolvimento da autonomia e das qualidades morais e
sultados do processo educacional, é imprescindível para o aspecto intelectual, que se refere a aprendizagem com
o sucesso da gestão escolar participativa (Luck, Freitas, vistas a orientação de trabalhos independente dos alunos;
Girling, Keith, 2002). C) o aspecto psicopedagógico clínico, que diz respeito
ao sujeito aprendente e ao aspecto acadêmico, que diz res-
RESPOSTA: “B”. peito aos objetivos do processo de ensino, a transmissão
de conhecimentos, hábitos e atitudes;
12. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- D) o aspecto cognoscitivo, que diz respeito a formas de
GIA - BIORIO/2011) O FUNDEB – Fundo de Manuten- comunicação dos conteúdos escolares e o aspecto sócio-
ção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valo- emocional, que diz respeito às relações pessoais entre pro-
rização dos Profissionais da Educação é formado: fessor e alunos e às normas disciplinares indispensáveis ao
A) por vínculos financeiros com a esfera Federal, Es- trabalho educativo;
tadual e Municipal de acordo com o censo demográfico;
B) com apoio do Banco do Brasil para a criação de um Podemos ressaltar dois aspectos da interação profes-
fundo de créditos em favor dos Estados e Municípios; sor-aluno no trabalho docente: O aspecto cognoscitivo
C) pelos recursos do Governo Federal, Estadual e Mu- (que diz respeito a formas de comunicação dos conteúdos
nicipal para definir um orçamento exclusivamente para a escolares e às tarefas escolares indicadas pelos alunos) e o
educação; aspecto sócio-emocional (que diz respeito as relações pes-
D) com recursos provenientes das três esferas do go- soais entre o professor e o aluno e as normas disciplinares
verno (Federal, Estadual e Municipal), sendo um fundo indispensáveis ao trabalho docente) afirma Libâneo (1998).
contábil;
*Referências:
O FUNDEB não é considerado Federal, Estadual, nem SOUZA, Verônica Alves de M. A relação professor-alu-
Municipal, por se tratar de um Fundo de natureza contá- no na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ar-
bil, formado com recursos provenientes das três esferas lindo Ramalho nas séries iniciais do Ensino Médio Noturno
de governo (Federal, Estadual e Municipal); pelo fato da no município de Solânea-PB. 2007. 60 f. Monografia (Espe-
arrecadação e distribuição dos recursos que o formam cialização) CFT/UFPB.
serem realizadas pela União e pelos Estados, com a par-
ticipação do Banco do Brasil, como agente financeiro do RESPOSTA: “D”.
Fundo e, por fim, em decorrência dos créditos dos seus
recursos serem realizados automaticamente em favor dos 14. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
Estados e Municípios de forma igualitária, com base no GIA - BIORIO/2011) A escola, por ser uma instituição
nº de alunos. Esses aspectos do FUNDEB o revestem de social com propósito explicitamente educativo, tem o
peculiaridades que transcendem sua simples caracteriza- compromisso de intervir efetivamente para promover o
ção como Federal, Estadual ou Municipal. Assim, depen- desenvolvimento e a socialização de seus alunos. Essa
dendo da ótica que se observa, o Fundo tem seu vínculo função socializadora remete a dois aspectos:
com a esfera Federal (a União participa da composição e A) a intersocialização entre diferentes grupos e a aqui-
distribuição dos recursos), a Estadual (os Estados partici- sição de conhecimentos científicos;
pam da composição, da distribuição, do recebimento e da B) a compreensão do mundo acadêmico e integração
aplicação final dos recursos) e a Municipal (os Municípios entre os sujeitos aprendentes;
participam da composição, do recebimento e da aplica- C) a capacidade de crítica e o desenvolvimento de téc-
ção final dos recursos). nicas;
D) o desenvolvimento individual e o contexto social e
*Disponível em: http://www.londrina.pr.gov.br/index. cultural;
php?option=com_content&view=article&id=734&Itemi-
d=373&fontstyle=f-smaller&limitstart=2 Essa função socializadora remete a dois aspectos: o de-
senvolvimento individual e o contexto social e cultural. É
RESPOSTA: “D”. nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem
como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de

174
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pes- reproduz as relações sociais e de trabalho de forma lúdica
soas um conjunto de saberes e formas de conhecimento e se apropria do mundo em seu processo de construção
que, por sua vez, só é possível graças ao que individual- como sujeito histórico-social. Para a pesquisadora Wajskop
mente se puder incorporar. Não há desenvolvimento in- (2001), a criança que brinca pode adentrar o mundo do
dividual possível à margem da sociedade, da cultura. Os trabalho pela via da representação.
processos de diferenciação na construção de uma identi-
dade pessoa e os processos de socialização que conduzem *Referências:
a padrões de identidade coletiva constituem, na verdade, Texto adaptado de Aline Fernandes Guimarães;
as duas faces de um mesmo processo (PARÂMETROS CUR- WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. 5.ed. São Paulo:
RICULARES NACIONAIS, 1997). Cortez, 2001.

RESPOSTA: “D”. RESPOSTA: “C”.

15. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- 17. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGOGIA


GIA - BIORIO/2011) Uma criança de cinco anos apre- - BIORIO/2011) A concepção sócio-interacionista do de-
senta as seguintes características psicossociais, EXCETO: senvolvimento se apoia na ideia de interação indivíduo-
A) maior estabilidade nas aulas e na escola; -meio e vê a aquisição de conhecimento como um proces-
B) grande capacidade observadora começando a imitar so construído pelo indivíduo durante toda sua vida. Essa
o que foi observado; concepção se diferencia da inatista porque a inatista:
C) interesse por experiências sensórias – motoras, em- A) parte do pressuposto de que os eventos que ocor-
preendendo aquilo que está dentro das suas possibilida- rem após o nascimento não são essenciais para o desen-
des; volvimento, pois o indivíduo já nasce com padrões inatos
D) quando lhe dão os meios necessários, sabe traba- de comportamento;
lhar individualmente; B) assemelha-se à interacionista quando considera que
os dois elementos – o biológico e o social – não podem ser
Segundo Erikson citado por Rocha (2002), a terceira dissociados;
crise do desenvolvimento psicossocial ocorre entre 3 e os C) defende a visão ambientalista da reciprocidade de
6 anos. As crianças aprendem a desenvolver as suas pró- influências entre indivíduo e meio ambiente;
prias atividades, têm prazer quando são bem sucedidas e D) assemelha-se à ambientalista porque a ambienta-
tornam-se determinadas. Se não lhes é permitido desen- lista chama a atenção para a plasticidade do ser humano,
volver as suas próprias iniciativas, podem desenvolver sen- embora ele seja um sujeito passivo;
timentos de culpa por querer ser independentes. Montei-
ro (2005) cita também Santrok que diz: À medida que as A aplicação da concepção inatista na educação gera
crianças em idade pré-escolar enfrentam um mundo social imobilismo e resignação, pois se considera que as diferen-
cada vez mais alargada, aumentam os desafios e neces- ças não são superadas, uma vez que o meio não interfere
sitam de desenvolver comportamentos mais significativos no desenvolvimento da criança. Considera-se também que
para responder a esses desafios. o resultado da aprendizagem é exclusivamente do aluno,
isentando de responsabilidade o professor e a escola.
*Referências:
Texto adaptado de Ângela Maria Semedo Pereira Ta- *Texto adaptado de Alberto Abreu. Disponível em:
vares; http://albertoabreu.wordpress.com/2006/07/18/inatismo/
Rocha, Ana; Fidalgo, Zilda. Psicologia. 12º ano. Lisboa:
Texto editora, 2002. RESPOSTA: “A”.

RESPOSTA: “C”. 18. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-


GIA - BIORIO/2011) A avaliação mediadora exige que
16. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- o professor observe atentamente o movimento de cada
GIA - BIORIO/2011) O brincar fornece à criança a possi- aluno no processo de construção do conhecimento. Tal
bilidade de construir uma identidade autônoma e cria- atitude NÃO exige do professor:
tiva. A criança que brinca entra no mundo do trabalho, A) uma ação direta com o aluno a partir de muitas ta-
da cultura e do afeto pela via da: refas orais e escritas;
A) família; B) interpretar, refletir e investigar teoricamente as so-
B) imaturidade; luções apresentadas pelo aluno, segundo seu estágio de
C) representação e da experimentação; desenvolvimento do pensamento;
D) coerção; C) respeito à subjetividade diante das soluções apre-
sentadas, bem como em razão dos estágios evolutivos;
A importância do brincar para a criança é uma cons- D) atenção às experiências de vida do aluno, no senti-
trução histórica, quando brinca a criança experimenta sen- do de fazê-lo reproduzir a forma correta, repetidas vezes,
sações antes desconhecidas, entra no mundo do adulto, diante do erro;

175
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

A avaliação mediadora propõe um modelo baseado no O princípio democrático da educação para todos só se
dialogo e aproximação do professor com o seu aluno de evidencia nos sistemas educacionais que se especializam em
forma que as práticas de ensino sejam repensadas e mo- todos os alunos, não apenas em alguns deles, os alunos com
dificadas de acordo com a realidade sociocultural de seus deficiência. A inclusão, como consequência de um ensino de
alunos, nesta perspectiva de avaliação o erro é considerado qualidade para todos os alunos provoca e exige da escola
como parte do processo na construção do conhecimento brasileira novos posicionamentos e é um motivo a mais para
e não como algo passível de punição, na visão mediado- que o ensino se modernize e para que os professores aper-
ra o professor é capaz de criar situações desafiadoras que feiçoem as suas práticas. É uma inovação que implica num
tornem capaz a reflexão e ação tornando a aprendizagem esforço de atualização e reestruturação das condições atuais
mais significativa. da maioria de nossas escolas de nível básico. O motivo que
sustenta a luta pela inclusão como uma nova perspectiva para
*Texto adaptado do Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos. as pessoas com deficiência é, sem dúvida, a qualidade de en-
sino nas escolas públicas e privadas, de modo que se tornem
RESPOSTA: “D”. aptas para responder às necessidades de cada um de seus
alunos, de acordo com suas especificidades, sem cair nas teias
19. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- da educação especial e suas modalidades de exclusão.
GIA - BIORIO/2011) Considera-se que o professor adota
uma postura de avaliação mediadora quando: *Texto adaptado de Maria Teresa Eglér Mantoan. Dis-
A) corrige tarefas e provas do aluno para verificar res- ponível em: http://www.pro-inclusao.org.br/textos.html
postas certas e erradas e, a partir daí, tomar decisões;
B) analisa teoricamente as várias manifestações dos RESPOSTA: “C”.
alunos em situações de aprendizagem para acompanhar as
hipóteses que ele vem formulando; 21. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
C) enaltece procedimentos competitivos e classificató- GIA - BIORIO/2011) Para elaborar seu plano anual, a
rios com base em certo / errado; professora do 1º ano do ensino fundamental solicita
D) faz manifestações periódicas quanto ao aproveita- todo o material que registra o desenvolvimento das
mento do aluno, segundo modelo predeterminado; crianças. Esse pedido indica que ela entende os instru-
mentos de observação e registros como fundamentais
O processo de aprendizagem torna-se continuo atra- no ensino infantil e séries iniciais por que:
vés da avaliação mediadora, uma vez que o professor pos- A) contêm as formas de expressão, da capacidade de
sui ferramentas de intervenção adequadas para que os alu- concentração, do envolvimento nas atividades, de satisfa-
nos se apropriem de conhecimentos significativos, sem o ção com a própria produção e com pequenas conquistas
sentimento de obrigação, ou seja, o aprendizado ocorre de de cada criança;
maneira natural com mais facilidade de internalização do B) registram as dificuldades e impedimentos físicos,
conteúdo aplicado em sala de aula. cognitivos e emocionais no processo de aquisição de no-
vos conhecimentos como forma de rotular cada criança;
*Disponível em: http://www.trabalhosfeitos.com/en- C) expressam quem são as crianças com mais facilidade
saios/Avalia%C3%A7%C3%A3º-Mediadora/549901.html e com mais capacidade de entendimento do mundo formal
e informal;
RESPOSTA: “B”. D) representam o cotidiano escolar do trabalho do pro-
fessor e da vida das crianças auxiliando a visão do coletivo
20. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- como forma de realimentação do planejamento, somente,
GIA - BIORIO/2011) Inserida nos programas dos últi- dos objetivos atitudinais;
mos governos, a educação inclusiva tem sido motivo de
controvérsias e procedimentos por vezes radicais das Para que o professor possa propiciar situações de
escolas. aprendizagem, é necessária a observação, pois é muito
Em relação à inclusão, o seguinte compromisso importante o professor observar sempre o seu aluno, pois
deve ser assumido pela escola brasileira: diante dessas observações, pode proporcionar um novo
A) oferecer escola para todos, exceto nos estados que aprendizado. Esse processo avaliativo destina-se ao pro-
não têm competência para assumir o atendimento aos por- fessor ser criativo, e desempenhar papéis onde forneça o
tadores de necessidades especiais; progresso dos alunos, seja por meio de experiências edu-
B) promover somente espaços de inclusão em escolas cativas, que expressem a construção do conhecimento, e
de periferia; avançar no seu desenvolvimento.
C) formar, qualificar profissionais, conscientes de sua
responsabilidade ética frente à inclusão; *Texto adaptado de Maeli Sorato Manarin.
D) abrir vagas em classes regulares nas escolas, mesmo Disponível em: http://www.bib.unesc.net/biblioteca/
que não haja profissional qualificado / especializado; sumario/000041/000041FD.pdf

RESPOSTA: “A”.

176
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

22. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- que avaliar é medir a quantidade de mudanças do com-
GIA - BIORIO/2011) A avaliação escolar tem três tipos portamento e isso se estabelece na chamada “avaliação
de função. A avaliação somativa tem como caracterís- por objetivos”.
ticas, EXCETO:
A) visar a subjetividade face a complexidade das di- *Texto adaptado de Sandra Zákia Lian Souza.
mensões em que ela se realiza;
B) ser realizada ao final do ano ou curso; RESPOSTA: “B”.
C) ter resultados mais gerais como objetivos;
D) visar os resultados pré-estabelecidos; 24. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO-
GIA - BIORIO/2011) Na educação infantil, o atendi-
Avaliação Somativa: Exteriorizada como avaliação final, mento pelos profissionais deve incorporar, de forma
porque acontece no fim de um processo de educação e integrada, o educar e o cuidar, pois tem como carac-
aprendizagem, tem uma função classificatória, em razão de terística geral:
que vão convir a uma classificação do estudante conforme A) salientar a dualidade das intenções do ensino sis-
os níveis de aplicação no fim de uma unidade, de um mó- temático e assistemático como pressuposto de desenvol-
dulo, de uma disciplina, de um semestre, de um ano, de um vimento cognitivo, emocional e afetivo;
curso. A avaliação somativa promove a definição de esco- B) promover situações de interação em que o cuidar
pos, frequentemente se baseia nos conteúdos e procedi- tem uma função básica e única de alicerce para o desen-
mentos de medida, como provas, teste objetivo, disserta- volvimento das capacidades infantis;
ções-argumentativas. Colabora para a avaliação somativa, C) entender o educar como atividade diversa do cui-
tanto a avaliação diagnóstica quanto a avaliação formativa, dar que envolve situações de aprendizagem com inten-
que a avaliação da aprendizagem é um ciclo de interven- cionalidade de espaço e tempo orientada pelos adultos;
ções pedagógicas de um mesmo processo. D) propiciar o desenvolvimento da identidade das
crianças por meio de aprendizagens diversificadas, rea-
*Texto adaptado de Marcondes de Sousa. lizadas com elementos da cultura em situações de inte-
ração.
RESPOSTA: “A”.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de
23. (PREFEITURA DE TERESÓPOLIS/RJ – PEDAGO- consciência, estabelecendo uma visão integrada do de-
GIA - BIORIO/2011) A professora Irene pensa que ava- senvolvimento da criança com base em concepções que
liar significa não só medir mudanças comportamentais, respeitem a diversidade, o momento e a realidade, pecu-
mas também a aprendizagem. Para quantificar os resul- liares à infância. Desta forma, o educador deve estar em
tados, ela está apoiada na racionalidade instrumental permanente estado de observação e vigilância para que
preconizada pela seguinte concepção de avaliação: não transforme as ações em rotinas mecanizadas, guia-
A) interacionista; das por regras. Consciência é a ferramenta de sua prática,
B) positivista; que embasa teoricamente, inova tanto a ação quanto à
C) cognitivista; própria teoria. Cuidar e educar implica reconhecer que o
D) construtivista; desenvolvimento, a construção dos saberes, a constitui-
ção do ser não ocorre em momentos e de maneira com-
Na ótica da teoria Positivista, sob as lentes do empiris- partimentada.
mo, o conhecimento surge a partir das experiências que o
sujeito acumula através dos tempos utilizando-se da ob- *Texto adaptado de Nilza Aparecida Forest e Sílvio
servação seguindo até a obtenção das ideias sistemáticas. Luiz Indrusiak Weiss.
O ambiente torna-se, portanto, o fator determinante da
aprendizagem e não apenas um fator condicionante como, RESPOSTA: “D”.
no máximo, deveria ser.
O sujeito não exerce ação sobre o objeto do conheci- 25. (PREFEITURA DE PATROCÍNIO/MG – PEDAGO-
mento. Ele é considerado como uma “tabula rasa”, todas GIA – FUNDEP/2012) A criança é um sujeito sociocul-
as informações do mundo exterior vão sendo impressas tural e aprende a partir das múltiplas interações que
através dos sentidos. Assim, o conhecimento é o registro estabelece com o meio.
dos fatos, a simples cópia do real. O Positivismo prima pela Analise as seguintes afirmativas sobre o desenvol-
objetividade e concebe a aprendizagem como mudança de vimento infantil.
comportamento, como resultado do treino e da experiên- I. É a partir das relações com o outro que a criança
cia. Segundo Tyler (1949) “a avaliação é um processo desti- vai se apropriando das significações socialmente cons-
nado a verificar o grau em que mudanças comportamentais truídas e assim pode perceber e estruturar a realidade.
estão ocorrendo, a avaliação deve julgar o comportamento II. O adulto tem papel fundamental no desenvolvi-
dos alunos, pois o que se pretende em educação é justa- mento infantil. É ele quem determina o que a criança
mente modificar tais comportamentos”. Nessa perspectiva, deve ou não aprender, limitando seu universo social e
aprender é mudar de comportamento. Subtende-se então protegendo-a inclusive de si mesma.

177
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

III. Estimular a criança a desenvolver a lingua- 27. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA –


gem corporal, musical, plástica, dramaturgia, bem FUNDATEC/2013) Segundo Silva (2010), analise as sen-
como a linguagem escrita e falada nos primeiros tenças abaixo: Os que praticam o bullying mostram-se
anos de vida pode acarretar excesso de estímulo e bastante hábeis em manipular, mentem sem qualquer
inibir a criança. constrangimento e não respeitam hierarquias (1ª par-
A partir dessa análise, pode-se concluir que: te). No recreio, as vítimas de bullying encontram- se
A) apenas a afirmativa I está correta. isoladas do grupo ou perto de algum adulto e mos-
B) apenas a afirmativa II está correta. tram-se tristes, deprimidas ou aflitas (2ª parte). As ví-
C) apenas a afirmativa III está correta. timas provocadoras são aquelas capazes de insuflar em
D) todas as afirmativas estão erradas. seus colegas reações agressivas contra si mesmas (3ª
parte). Quais estão corretas?
A criança aprende a partir das múltiplas intera- A) Apenas a 2ª parte.
ções que estabelecem com o meio sócio cultural. E é B) Apenas a 3ª parte.
participando, ativamente de uma comunidade educa- C) Apenas a 1ª e a 3ª partes.
tiva, que a criança tem oportunidade de estabelecer D) A 1ª, 2ª e a 3ª partes.
inúmeras trocas com as outras crianças, com adultos e
com instrumentos culturais (livros, brinquedos, jogos, Martins (2005) classifica três grandes formas de
objetos) Podemos dizer desta forma que, a criança é bullying. A primeira envolve comportamentos “diretos e
um sujeito sociocultural. físicos”, o que inclui atos como agredir fisicamente, rou-
bar ou estragar objetos alheios, extorquir dinheiro, forçar
*Disponível em: http://www.aquarelakidsjoinville. comportamentos sexuais, obrigar a realização de ativida-
com.br/a-escola des servis, ou a ameaça desses itens. A segunda forma
inclui comportamentos “diretos e verbais”, como insultar,
RESPOSTA: “A”. apelidar, “tirar sarro”, fazer comentários racistas, homofó-
bicos ou que digam respeito a qualquer diferença no outro.
26. (PREFEITURA DE PATROCÍNIO/MG – PE- Por último, há os comportamentos “indiretos” de bullying,
DAGOGIA – FUNDEP/2012) Segundo Piaget, o de- como excluir sistematicamente uma pessoa, fazer fofocas
senvolvimento da criança se processa por meio ou espalhar boatos, ameaçar excluir alguém de um grupo
de uma sequência de estágios. Sobre os estágios para obter algum favorecimento ou, de maneira geral, ma-
do desenvolvimento infantil, assinale a afirmativa nipular a vida social de outrem.
CORRETA.
A) A criança só é promovida de um estágio a outro *Texto adaptado de Priscilla Linhares Albino e Marlos
depois de uma avaliação criteriosa do adulto. Gonçalves Terêncio.
B) Desde o primeiro estágio, a criança já é capaz
de interiorizar suas ações diferenciando objetos de RESPOSTA: “D”.
seus representantes.
C) Os esquemas de ações iniciais, originários dos 28. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA
reflexos e instintos, formam a base para outros mais – FUNDATEC/2013) Conforme Wadsworth, no estágio
complexos. pré-operatório, vários são os tipos de representações
D) No segundo estágio, a capacidade de repre- que têm relevância no desenvolvimento, EXCETO:
sentações é ilimitada, pois a criança já entende o pon- A) a imitação diferida.
to de vista da outra pessoa. B) o jogo simbólico.
C) a abstração reflexiva.
Progressivamente, a criança vai aperfeiçoando tais D) a imagem mental.
movimentos reflexos e adquirindo habilidades e chega
ao final do período sensório-motor já se concebendo Pré-operatório: É nesta fase que surge, na criança, a
dentro de um cosmo “com objetos, tempo, espaço, capacidade de substituir um objeto ou acontecimento
causalidade objetivados e solidários, entre os quais por uma representação (PIAGET e INHELDER, 1982), e esta
situa a si mesma como um objeto específico, agente substituição é possível, conforme PIAGET, graças à função
e paciente dos eventos que nele ocorrem” (Piaget). simbólica. Assim este estágio é também muito conhecido
como o estágio da Inteligência Simbólica. Macedo (1991)
*Disponível em: fundelta.com.br/webroot/doc/ lembra que a atividade sensório-motor não está esquecida
d067829bf9.docx ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois ve-
rifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua apren-
RESPOSTA: “C”. dizagem, permitindo que a mesma explore melhor o am-
biente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimen-
tos e percepções intuitivas. A criança deste estágio:
• É egocêntrica, centrada em si mesma, e não con-
segue se colocar, abstratamente, no lugar do outro.

178
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

• Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma 31. (ALVORADA DO SUL/PR – PEDAGOGIA –
explicação (é fase dos “por quês”). AMEAS/PROSPERITY/2014) Para Libâneo (1994) O
• Já pode agir por simulação, “como se”. planejamento escolar é uma tarefa docente que
• Possui percepção global sem discriminar detalhes. inclui tanto a previsão das atividades em termos
• Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. de organização e coordenação em face dos objeti-
vos propostos, quanto a sua revisão e adequação
*Texto adaptado de Malcon Tafner. Disponível em: no decorrer do processo de ensino. O Planejamen-
http://www.cerebromente.org.br/n08/mente/construtivis- to é:
mo/construtivismo.htm A) A utilização dos conhecimentos acumulados
dos professores pelo seu caráter inovador.
RESPOSTA: “C”. B) É um documento que formula metas, pre-
vê ações, institui procedimentos e instrumentos de
29. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA – ação e propõe esforço coletivo.
FUNDATEC/2013) Segundo Aranha, há um método cuja C) Um processo de racionalização, organização e
ênfase está no reconhecimento de que os sentidos são coordenação da ação docente, articulando a ativida-
a porta para todo conhecimento. Esse método é deno- de escolar e a problemática do contexto social.
minado: D) É uma atividade que não depende de reflexão
A) Intuitivo. acerca das nossas opções e ações, com relação ao
B) Construtivista. rumo que queremos dar ao nosso trabalho.
C) Sintético.
D) Cinestésico. O planejamento escolar é uma tarefa docente
que inclui tanto a previsão das atividades em termos
A ênfase no método estava: [...] no reconhecimento de de organização e coordenação em face dos objeti-
que os sentidos são a porta para todo o conhecimento. Ao vos propostos, quanto a sua revisão e adequação no
contrário da tradição, que valoriza o ensino discursivo, que decorrer do processo de ensino. O planejamento é
atua por raciocínio lógico e, portanto, é abstrato, busca-se um meio para programar as ações docentes, mas é
começar a instrução primária educando a sensibilidade, pela também um momento de pesquisa e reflexão intima-
qual percebemos cores, formas, sons, luz etc. É esta que pre- mente ligado à avaliação.
para e antecipa a intuição intelectual, quando então percebe-
mos as relações (de igualdade, causalidade etc.) entre as coi- *Referência:
sas. Ou seja, rejeitando a educação livresca, a criança deveria LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cor-
aprender a ler o mundo visível, pela observação e percepção tez, 1994 (Coleção magistério 2° grau. Série forma-
das relações entre os fenômenos (ARANHA, 2006). ção do professor).

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “C”.

30. (PREFEITURA DE GRAMADO/RS – PEDAGOGIA – 32. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG


FUNDATEC/2013) _________________________ é um sintoma – PEB I - REIS & REIS/2013) Segundo Barbosa e
frequente em crianças disléxicas e pode ser detectada Horn, no livro “Projetos Pedagógicos na Educação
desde a idade pré-escolar. Infantil, o que tem sido denominada como Crise
Conforme Rotta (2006), a lacuna do trecho acima fica na Escola”:
corretamente preenchida por: A) O fato de grande parte de a população ter tido
A) A disgnosia espacial acesso a escolaridade ao longo do século, porem
B) A hiperatividade essa frequência não ter garantido a aprendizagem;
C) A fobia B) O fato de que apenas 76% da população ter
D) O transtorno hipercinético tido acesso a escolaridade;
C) O fato de que apenas 11% da população ter
Denominam-se disgnosias as alterações das gnosias na tido acesso ao ensino superior;
criança, evitando o uso do termo agnosia, que se refere à per- D) Nenhuma das anteriores.
da da função. A disgnosia decorre do atraso ou da alteração
na integração das percepções – é importante ressaltar que não Podemos pensar no que tem sido denominado
existe perda das funções sensoriais, cognitivas e/ou motoras. como “crise na escola”, o fato de grande parte da po-
pulação ter tido acesso à escolaridade ao longo do
*Referências: século, porém esta frequência não garantiu a apren-
ROTTA, Newra Tellecha, et al. Transtornos da Aprendi- dizagem. Houve ausência de sentido em frequentar
zagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Por- uma instituição com características do início da mo-
to Alegre: Artmed, 2006. dernidade em tempos pós-modernos.

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “A”.

179
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

33. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I 35. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
- REIS & REIS/2013) Com base no Livro “10 Novas Com- REIS & REIS/2013) No tocante a apreciação em artes
petências para ensinar”, de Perrenoud, assinale a alter- visuais, qual das alternativas abaixo se aplicam as
nativa que não faz parte dessas competências: crianças de zero a três anos:
A) Organizar e dirigir situações de aprendizagem; A) Conhecimento da diversidade de produções ar-
B) Trabalhar individualmente com foco na execução laborativa; tísticas, como desenhos, pinturas, esculturas, constru-
C) Participar da administração da escola; ções, fotografias, colagens, ilustrações, cinema etc.;
D) Envolver os alunos em suas aprendizagens e em B) Apreciação das suas produções e das dos outros,
seus trabalhos. por meio da observação e leitura de alguns dos ele-
mentos da linguagem plástica;
As 10 competências são: C) Observação e identificação de imagens diversas;
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; D) Observação dos elementos constituintes da lin-
2. Administrar a progressão das aprendizagens; guagem visual: ponto, linha, forma, cor, volume, con-
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de dife- trastes, luz, texturas.
renciação;
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em A instituição deve organizar sua prática em torno
seu trabalho; da aprendizagem em arte, garantindo oportunidades
5. Trabalhar em Equipe; para que as crianças sejam capazes de: ampliar o co-
6. Participar da administração da escola; nhecimento de mundo que possuem, manipulando
7. Informar e envolver os pais; diferentes objetos e materiais, explorando suas carac-
8. Utilizar novas tecnologias; terísticas, propriedades e possibilidades de manuseio
9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e entrando em contato com formas diversas de expres-
10. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. sões artísticas; utilizar diversos materiais gráficos e
plásticos sobre diferentes superfícies para ampliar suas
RESPOSTA: “B”.
possibilidades de expressão e comunicação.
34. (PREFEITURA DE BOM DESPACHO/MG – PEB I -
*Disponível em: unipvirtual.com.br/material/UNIP/
REIS & REIS/2013) Em crianças de 4 a 6 anos o trabalho
LICENCIATURA/.../mod_15.doc
com a apreciação musical deverá apresentar obras que
despertem o desejo de ouvir e interagir, pois para es-
RESPOSTA: “C”.
sas crianças ouvir é, também, movimentar-se, já que as
crianças percebem e expressam-se globalmente. Nesse
contexto, essas crianças deverão, exceto: 36. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB
A) Escutar obras musicais de diversos gêneros, estilos, I – UNIMONTES/2010) Hoffmann (2002) diferencia
épocas e culturas, da produção musical brasileira e de ou- pesquisar e avaliar ao dizer “enquanto a pesquisa
tros povos e países; tem por objetivo a coleta de informações e a análise
B) Participar em situações que integrem músicas, can- e a compreensão dos dados obtidos, a avaliação está
ções e movimentos corporais; predominantemente a serviço da ação, colocando o
C) Reconhecer elementos musicais básicos: frases, par- conhecimento obtido, pela observação ou investi-
tes, elementos que se repetem etc.; gação, a serviço da melhoria da situação avaliada”.
D) Saber informações sobre as obras ouvidas e sobre Nessa perspectiva, analise as afirmativas abaixo.
seus compositores para iniciar seus conhecimentos sobre a 1. As ações de observar, compreender, explicar
produção musical. não são de avaliá-las.
2. A avaliação está além da investigação e inter-
Considerando a idade das crianças nesta etapa, o de- pretação.
senvolvimento da percepção rítmico-melódica, poderá 3. As mudanças fundamentais na avaliação di-
ser feito de modo indireto, através das canções folclóricas zem respeito à finalidade dos procedimentos ava-
como ponto de partida e posteriormente canções para se- liativos.
rem mimadas, ritmadas que levem a movimentos regulares 4. A maioria das escolas iniciam processos de
corporais e poderão ser criadas também canções simples mudanças delineando, com os professores, princí-
para principiantes. O objetivo principal deve ser de desper- pios norteadores de suas práticas.
tar a sensorialidade musical da criança realizando ativida- São CORRETAS as afirmativas
des que despertem reações afetivas, devendo o professor A) 1 e 2, apenas.
Ter preocupação constante com a formação de hábitos B) 3 e 4, apenas.
auditivos, desenvolvimento da memória musical e da aten- C) 1, 2 e 3, apenas.
ção, condição essa necessária para o desenvolvimento mu- D) 2, 3 e 4, apenas.
sical, mas de suma importância para a educação em geral.
*Texto adaptado de Jane de Oliveira Faria. Alertam os estudos contemporâneos sobre a diferen-
ça entre pesquisar e avaliar em educação. “Pesquisa Ava-
RESPOSTA: “B”. liação” está a serviço da ação, colocando o conhecimento

180
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

obtido, pela observação ou investigação, a serviço da me- 39. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
lhoria da situação avaliada. Coleta de informações, análise – UNIMONTES/2010) De acordo com Luckesi (1999), é
e compreensão dos dados obtidos. importante estar atento à função ontológica (constitu-
tiva) da avaliação da aprendizagem, que é de diagnós-
*Texto adaptado de Vânia P. Oliveira. tico. Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada
de decisão. Articuladas com essa função básica estão,
RESPOSTA: “C”. EXCETO:
A) a função de motivar o crescimento.
37. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I – B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do
UNIMONTES/2010) Para Perrenoud (1999), a avaliação educando quanto da família.
na lógica formativa NÃO deve: C) a função de aprofundamento da aprendizagem.
A) considerar uma pedagogia diferenciada. D) a função de auxiliar a aprendizagem.
B) ser ativa e transmissiva.
C) ser aberta e cooperativa. Segundo Luckesi, a avaliação da aprendizagem deverá ter
D) ser eficiente. como premissa a função ontológica (constitutiva), pois busca
resoluções para as decisões e não um julgamento definitivo.
Avaliação formativa é uma avaliação que apresenta as O ato de avaliar, por sua constituição mesma, não se destina
seguintes características: é um instrumento que permite a a um julgamento “definitivo” sobre alguma coisa, pessoa ou
análise das aprendizagens dos alunos; ele dá condições ao situação, pois não é um ato seletivo. A avaliação se destina ao
avaliador de perceber quais os saberes que realmente os diagnóstico e, por isso mesmo, à inclusão; destina-se a melho-
alunos dominam; os instrumentos utilizados são construídos ria do ciclo da vida. Deste modo, por si, é um ato amoroso. In-
para atender às características citadas anteriores; esses instru- felizmente, por nossas experiências histórico-sóciais e pessoais,
mentos permitem a realização da análise das aprendizagens. temos dificuldades em assim compreendê-la e praticá-la.

*Texto adaptado de Edlene do Socorro Teixeira Rodri- *Referências:


gues. LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. 8 ed.
São Paulo: Cortez, 1998.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “B”.
38. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
– UNIMONTES/2010) O ato de planejar é uma atividade 40. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I
intencional pela qual se projetam fins e se estabelecem – UNIMONTES/2010) Para Freire (1996), saber ensinar
meios para atingi- los. (LUCKESI, 1999) Ao fazer essa não é transferir conhecimento e, sim:
afirmativa, o autor: A) criar as possibilidades para a própria produção ou
A) enfatiza a neutralidade do planejamento. sua construção.
B) reitera que o planejamento tem fim em si mesmo. B) entender que o ensino exige a consciência do fim.
C) lembra a burocratização do planejamento. C) respeitar a autonomia do ser professor.
D) acredita que o planejamento é ideologicamente D) compreender que o ensinar exige o distanciamento
comprometido. da realidade.

O ato de planejar não é um ato simplesmente técnico. Freire considera que: “Ensinar não é transferir conhe-
Assim como também não é um ato exclusivamente políti- cimento, mas criar as possibilidades para a sua produção
co-filosófico. Segundo o autor, esse ato será, sim, ao mes- ou a sua construção” (FREIRE, 1996). Dito de outra forma,
mo tempo político-social, científico e técnico. Não basta o docente deve transmitir o conhecimento buscando pro-
pensar nos meios, nas técnicas e na sofisticação dos recur- porcionar ao discente a compreensão do que foi exposto
sos tecnológicos, afirma o autor. Eles são necessários, mas e, a partir daí, permitir que o mesmo dê um novo sentido,
como meios. Importa que a prática de planejar em todos quer dizer, a ideia é não dar respostas prontas, mas criar
os níveis – educacional, curricular e de ensino -- ultrapasse possibilidades, abrir oportunidades de indagações e suges-
a dimensão técnica, integrando-a numa dimensão político- tões, de raciocínio, de opiniões diversas etc. Jamais impedir
-social. O ato de planejar, assim assumido, deixará de ser as interações, as opiniões, os erros e os acertos, isto é, to-
um simples estruturar de meios e recursos, para tornar-se dos esses elementos permitirão que o aluno alcance o real
o momento de decidir sobre a construção de um futuro. conhecimento e continue a buscá-lo incessantemente de
“O ato de planejar é a atividade intencional pela qual se forma autônoma e prazerosa.
projetam fins e se estabelecem meios para atingi-los. Por
isso, não é neutro, mas ideologicamente comprometido.” *Referências:
* Texto adaptado de Cipriano Carlos Luckesi. Disponível FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes ne-
em http://www.crmariocovas.sp.gov.br/int_a.php?t=014 cessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

RESPOSTA: “D”. RESPOSTA: “A”.

181
CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

41. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I *Referências:


– UNIMONTES/2010) Transformar a experiência educa- LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para
tiva em puro treinamento técnico é amesquinhar o que que? 12. ed. São Paulo : Cortez, 2010.
há de fundamentalmente humano no exercício educati-
vo: o seu caráter formador. (FREIRE, 1996) Consideran- RESPOSTA: “B”.
do o pensamento do autor, marque V para verdadeiro e
F para falso, nas seguintes afirmativas: 43. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB I –
( ) Educar é exercitar o bom senso. UNIMONTES/2010) Para gerir a progressão das apren-
( ) Educar é essencialmente formar. dizagens, não se pode deixar de fazer balanços perió-
( ) Educar relaciona-se à alegria e à esperança. dicos das aquisições dos alunos. (PERRENOUD, 1999)
( ) Educar é estimular a pergunta e sua reflexão crítica. Analisando a citação acima, é CORRETO afirmar que o
A sequência CORRETA é: autor:
A) V, V, V, V. I - considera esses balanços essenciais para funda-
B) F, F, F, F. mentar as decisões do professor quanto à aprendiza-
C) V, F, V, V. gem do aluno.
D) F, V, F, V. II - enfatiza que tais balanços deveriam confirmar e
aprimorar o que o professor já sabe.
Transformar a experiência educativa em puro treina- III - adverte que os balanços dispensam a observa-
mento técnico é amesquinhar o que há de fundamental- ção contínua.
mente humano no exercício educativo: o seu caráter for- IV - pondera que os balanços devem também con-
mador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino tribuir para estratégias de ensino-aprendizagem.
dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral Estão CORRETA(S) a(s) afirmativa(s):
do educando (FREIRE, 1996). A) I e III, apenas.
B) II, apenas.
*Referências: C) I, II e IV, apenas.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes ne- D) II, III e IV, apenas.
cessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Em princípio, a escola é inteiramente organizada para
RESPOSTA: “A”. favorecer a progressão das aprendizagens dos alunos para
os domínios visados ao final de cada ciclo de estudos. Os
42. (PREFEITURA DE MONTES CLAROS/MG – PEB programas são concebidos nessa perspectiva, assim como
I – UNIMONTES/2010) Para Libâneo (1994), as práti- os métodos e os meios de ensino propostos ou impostos
cas educativas podem verdadeiramente determinar as aos professores. Portanto, poder-se-ia dizer que, assumida
ações da escola e seu comprometimento social com a pelo sistema, a progressão não exige nenhuma compe-
transformação. Daí a importância da relação entre en- tência particular dos professores. Em uma cadeia de mon-
sino e aprendizagem no espaço educativo. Com base tagem, se os engenheiros conceberam bem a sucessão
nas ideias do autor, é INCORRETO afirmar que: das tarefas, cada operário contribui para fazer com que o
A) a aprendizagem é uma relação cognitiva entre os produto progrida para seu estado final sem que seja ne-
aprendizes e os objetos de conhecimento. cessária a tomada de decisões estratégicas. A estratégia é
B) a aprendizagem no ambiente escolar é natural e casual. inteiramente incorporada ao dispositivo de produção, e os
C) a assimilação de conhecimentos deriva da reflexão trabalhadores podem limitar-se às suas tarefas, sem tomar
proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas iniciativas intempestivas. Deles se espera uma forma de ha-
ações mentais. bilidade e ajustes marginais dados às operações previstas
D) o ato de aprender é um ato de conhecimento. em razão de pequenas variações dos materiais e das con-
dições de trabalho. Não cabe a eles pensar a totalidade do
O autor coloca que as práticas educativas é que ver- processo. O processo é diferente na escola porque não se
dadeiramente podem determinar as ações da escola e seu podem programar as aprendizagens humanas como a pro-
comprometimento social com a transformação. Afirma que dução de objetos industriais. Não é somente uma questão
a pedagogia investiga estas finalidades da educação na so- de ética. E simplesmente impossível, devido à diversidade
ciedade e a sua inserção na mesma, diz que a Didática é o dos aprendizes e à sua autonomia de sujeitos. Desse modo
principal ramo de estudo da pedagogia para poder estudar todo ensino digno desse nome deveria ser estratégico, ou
melhor os modos e condições de realizarmos o ensino e seja, concebido em uma perspectiva em longo prazo, cada
instrução. A escolarização é o processo principal para ofe- ação sendo decidida em função de sua contribuição alme-
recer a um povo sua real possibilidade de ser livre e buscar jada à progressão ótima das aprendizagens de cada um.
nesta mesma medida participar das lutas democráticas, o
autor endente democracia como um conjunto de conquis- *Disponível em: http://cappf.org.br/tiki-download_
tas de condições sociais, políticas e culturais, pela maioria wiki_attachment.php?attId=231
da população para participar da condução de decisões po-
líticas e sociais (Libâneo, 1994). RESPOSTA: “C”.

182
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Aprendizagem da língua materna: estrutura, uso e funções. ................................................................................................................ 01
Ensino e aprendizagem da gramática normativa......................................................................................................................................... 03
Linguagem: uso, funções, análise; língua oral e escrita. ........................................................................................................................... 12
Variações linguísticas; norma padrão. ............................................................................................................................................................. 13
O texto: tipologia textual; intertextualidade; coesão e coerência textuais; o texto e a prática de análise linguística. .... 15
Leitura e produção de textos. ............................................................................................................................................................................. 42
Literatura brasileira. ................................................................................................................................................................................................ 46
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)..................................................................................................................................................... 51
Base Nacional Comum Curricular....................................................................................................................................................................... 89
Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017...................................................................................................................................................... 89
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O próprio autor admite que não só a criança, mas tam-
APRENDIZAGEM DA LÍNGUA MATERNA: bém o adulto, em diversas condições, pensa por comple-
ESTRUTURA, USO E FUNÇÕES. xos, pois não é possível uma pessoa “transmitir” a outra
uma forma de pensar acabada. É necessário que dados se-
jam fornecidos  para que o interlocutor forme complexos
em torno deles até chegar a um conceito sobre a informa-
FORMAÇÃO DE CONCEITOS NO ENSINO DE LÍN- ção. Isso revela uma atividade complexa que envolve as se-
GUA MATERNA: guintes funções básicas intelectuais: associação, formação
O PRINCÍPIO DA FUNCIONALIDADE de imagens, atenção, inferência e tendência determinante (
existência de uma questão a ser selecionada).
  É um processo mediado, de investimento particular,
Vaima Regina Alves Lemos no qual a palavra (signo) desempenha função diretiva,
  conduzindo as operações mentais e controlando o curso
RESUMO dessas operações:
Este artigo visa a examinar aspectos da perspectiva A formação de conceitos é o resultado de uma ativi-
vygotskiana sobre a formação de conceitos no que tange a dade complexa, em que todas as funções básicas tomam
sua importância para a ação pedagógica no ensino de lín- parte. No entanto, o processo não pode ser reduzido à as-
guas. Propõe-se uma releitura do desafio de ensinar portu- sociação, à atenção, à formação de imagens, à inferência
guês como língua materna a partir de uma experiência vivi- ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis,
da em uma escola pública do município de Cruz Alta-RS, no porém insuficientes sem o uso do signo, como o meio pelo
ano de 2004. O problema didático focalizado foi o ensino do qual conduzimos as nossas operações mentais, controla-
emprego adequado dos principais sinais de pontuação. O tra- mos o seu curso e as canalizamos em direção à solução do
balho busca ainda estabelecer um elo entre a teoria visitada problema que enfrentamos. ( Vygotsky, 1993, p.50 )
e a experiência pedagógica relatada, ou seja, dar conta das Nesse avanço do raciocínio lógico-abstrato constitui-
questões suscitadas em nível teórico-prático. -se um ponto-chave a seqüência “síncrese, análise e sínte-
se”, que é a evolução de um pensamento sincrético (basea-
1. INTRODUÇÃO do em percepções difusas) para um pensamento sintético,
Este artigo começa procedendo a uma sucinta apre- com informações organizadas a partir da análise de certa
sentação da perspectiva vygotskiana sobre a formação de realidade ou características perceptíveis e comprováveis lo-
conceitos, com ênfase na sua importância para a ação pe- gicamente.
dagógica. Na seqüência, apresenta-se uma visão sobre o  Com base nesses estudos de Vygotsky é possível
trabalho de ensino de português como língua materna a confirmar o papel da escola e dos educadores na construção
partir de uma experiência vivida em uma escola pública do do conhecimento. A postura do professor deve ser de
município de Cruz Alta-RS, no ano de 2004. O problema investigador, criando desafios que confrontem a vontade e
didático focalizado foi o ensino do emprego adequado dos o intelecto do aluno com uma necessidade a ser suprida. A
principais sinais de pontuação. O trabalho conclui buscando condução da aula conforme os conhecimentos específicos
estabelecer um elo entre a teoria visitada e a experiência elaborados em cada área de ensino deve proporcionar a
pedagógica relatada, seguido de uma breve síntese final. elaboração de complexos e a construção de conceitos, res-
peitando a essência dessa construção na condição huma-
2. VYGOTSKY E A FORMAÇÃO DE CONCEITOS na. Propiciar as etapas da estruturação do conhecimento é
 Pensar a construção do conhecimento em língua ser coerente com essa condição, garantindo o desenvolvi-
materna, intenção do presente trabalho, implica considerar mento do ser a partir da elaboração de saberes.
como fator determinante de uma reflexão promissora sobre  
esse assunto, os estudos de Vygotsky sobre a formação de 3. O TRABALHO COM LÍNGUA MATERNA
conceitos. Como muitos autores afirmam, cabe à escola, princi-
Em sua obra “Pensamento e Linguagem”(1993), o autor palmente no que tange à língua portuguesa, capacitar o
apresenta registros de pesquisas sobre como se processa a aluno ao domínio da norma padrão. Mas não como uma
formação dos conceitos e as etapas que se antepõem a esta subserviência à língua literária, utilizada por autores famo-
efetivação: o chamado pensamento por complexos. sos do passado; e sim como a habilidade geral que permita
 Esse tipo de pensamento caracteriza a diferença entre ao aluno fazer uso de uma linguagem adequada às dife-
pensamento infantil e adulto e revela um nível em que não rentes circunstâncias do cotidiano. Para isso, o trabalho em
há apenas “impressões subjetivas” (p.53), mas associações sala de aula deve colaborar para que o aluno se torne:
baseadas em relações factuais entre os elementos que fazem Cada vez mais consciente de que a escolha dos ele-
parte de determinada tarefa. Essa etapa de “pensamento mentos da língua  para construir textos não é fortuita, mas
por complexos” é composta por cinco tipos: associativo / regida pela adequação do recurso lingüístico e das instru-
coleções / em cadeia / difuso e pseudoconceito. Cada um ções de sentido que contém aos propósitos dos usuários
deles, mesmo com manifestações diferentes do exercício de da língua em cada situação de comunicação. (Travaglia,
conexões, manifesta a elaboração interna no avanço para a 1997, p. 151 )
construção dos conceitos propriamente ditos.

1
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Para isso é inviável uma proposta que trate apenas de 5. PONTOS DE ENCONTRO
exercícios envolvendo nomenclaturas ou que conduza o pro-  Viver a gramática em aula independe de grandes
cesso através da exposição oral de idéias prontas sobre deter- projetos. Porém é de fundamental importância que o
minado tópico  lingüístico. professor de português seja capaz de reconhecer três
Não seria o caso de descartar o estudo da gramática nas fatores importantes nessa ação pedagógica: a) o processo
aulas de Educação Básica, mas de empregar uma metodolo- intelectual envolvido no ensino-aprendizagem, no caso, a
gia que proporcione o exercício das possibilidades gramaticais formação de conceitos; b) a natureza do tópico lingüístico
através do emprego comparativo, seja a partir da análise do e suas peculiaridades de ensino; e c) a realidade da turma
respeito a determinadas convenções gramaticais ou na ausên- de educandos e todas as características de ação que a va-
cia deles. Atividades dessa natureza remetem o aluno à obser- riação de realidades implica.
vância dos resultados semânticos obtidos através das seleções  Se a atuação pedagógica for capaz de contemplar essa
de uso feitas em dado contexto, o que conduz à compreensão triangulação, é possível proporcionar o avanço no domínio
dos fenômenos envolvidos. da língua-padrão através do exercício de um importante
Gentner & Medina (1998) defendem que mesmo entre aspecto da cognição humana: a formação de conceitos.
adultos existe uma mistura do processamento baseado na  
comparação com o baseado em regras. Afirmam, também 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
que, estando o conhecimento abstrato já constituído, proces-  Capacitar o aluno de Educação Básica a usar com
sos de “alinhamento” são necessários para que aconteça o re- propriedade a língua padrão é uma tarefa escolar e exige
passe desses conhecimentos para novas situações. do professor de Português uma reflexão sobre todos os
Essa é uma postura reflexiva que usa os efeitos da lingua- fatores envolvidos no ensino-aprendizagem. A partir da
gem para a análise de seu registro escrito, impedindo a falta de postura crítica sobre a realidade escolar e lingüística e
compromisso com a busca do padrão sem considerá-lo mera do domínio teórico-prático dos processos intelectuais, é
erudição; mas, sim, domínio social, como também evitando o possível ao profissional do ensino de línguas construir uma
uso exclusivo da nomenclatura, trabalho árduo e  infrutífero. prática reflexiva, tanto para ele como para os alunos, que
  facilitará o aperfeiçoamento da competência comunicativa
4. UMA PRÁTICA DE SALA DE AULA de seus tutorados em um trabalho consciente.
A aplicação profícua em aula da teoria anteriormente ex-  Para isso, o docente encontra em Vygotsky e sua teoria
posta foi comprovada em uma turma composta por 24 alunos, na formação de conceitos um suporte fundamental para
concluintes do Ensino Médio de uma Escola Estadual (EJA) de toda atividade escolar do mesmo gênero daquela  que pu-
Cruz Alta no ano de 2004. demos vivenciar e ora relatamos no presente trabalho.
Tendo sido constatada, através das produções escritas e   
de testemunhos dos alunos, insegurança da turma quanto ao BIBLIOGRAFIA
emprego dos sinais de pontuação, ao usá-los na maioria das  
vezes de forma aleatória, sem nenhuma lógica sintática ou se- GENTNER, Dedre; MEDINA, José. Similarity and deve-
mântica, foi proposto, então, um trabalho em que os alunos lopment os categories , In: Cognition 65. Elsevier Science,
pudessem refletir sobre o efeito produzido na interpretação de 1998.
passagens sem pontuação alguma e a dificuldade de atribuir TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma
sentido à seqüência de termos da oração. proposta para o ensino de gramática no 1o e 2o graus. 2
 Sem dúvida, a atividade é simples. Mas promove um ed. São Paulo: Cortez, 1997.
processo mental ativo, pois instiga o aluno a experimentar e ROCHA, Luiz Carlos .  Gramática nunca mais.Minas
a buscar saídas na solução de um problema de linguagem, Gerais: Editora UFMG, 2002.
percebendo que os sinais de pontuação não são apenas VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo:
convenções sintáticas, mas recursos capazes de colaborar Martins Fontes, 1993.
significativamente para a compreensão das produções escritas.
 Entre as várias situações apresentadas para os alunos
estava a conhecida frase “Um fazendeiro tinha um bezerro e Fonte: http://coral.ufsm.br/lec/02_04/Vaima.htm
a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro.” Não só
na busca da significação dessa frase, mas também diante dos
demais desafios, ilustrou-se, através da oralização dos alunos e
das discussões mantidas com os colegas, o papel interpretativo-
crítico, para o professor, de todo o processo conceitual
teorizado por Vygotsky, por ocasião do acompanhamento dos
alunos no empenho de  solucionar cada questão.
Várias outras atividades foram propostas ao longo do pe-
ríodo, envolvendo inclusive os textos dos próprios alunos, os
quais, depois de um certo período, revelaram melhor desem-
penho nesse tópico lingüístico e, principalmente, maior cons-
ciência das opções feitas durante a produções em sala de aula.
  

2
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
alfabetização, surgiram conceitos, teorias, metodologias etc.
Porém, mesmo com toda evolução, o Brasil e outros países não
ENSINO E APRENDIZAGEM DA GRAMÁTICA desenvolvidos, ainda enfrentam um problema de muita rele-
NORMATIVA. vância: a qualidade da educação básica, especialmente, a dos
anos iniciais do ensino fundamental. São evidências dessa baixa
qualidade os índices de fracasso, reprovação e evasão escolar,
Alfabetização e Letramento1 que nunca deixaram de se perpetuar nestas sociedades.
Este problema tão concreto, historicamente, já foi muito
Visando a compreensão do que é letramento e alfabeti- abordado. Artigos acadêmicos tentaram indicar possíveis cau-
zação, estudos apontam discussões históricas que mostram sas desta baixa qualidade, colocando a “culpa”, às vezes, no mé-
como se desenvolveu o processo de alfabetização no Brasil todo utilizado, no aluno que apresenta muitas dificuldades, na
desde há muito tempo. É a partir da necessidade de alfabeti- má formação do professor, nas condições sociais desfavoráveis
zar “as grandes massas iletradas” que o Estado-Nação passa a ou, ainda, em outras causas diversas. Enfim, foram muitas as
preocupar-se com a preparação de profissionais para atuar na tentativas de superação, embora, nenhuma apresentasse gran-
área educacional. de êxito. Com certeza, esses estudos foram de muita valia, pois
De acordo com Saviani, a necessidade da formação docen- todos os fatores citados caracterizam a qualidade da educação,
te surge desde Comenius, no século XVII. Ele ainda apresenta a logo, a escola não somente influência a sociedade, mas tam-
primeira escola voltada à formação docente em 1684, por São bém é por ela influenciada, ou seja, este conjunto de possíveis
João Batista de La Salle, em Reims. Contudo, a ideia de institu- causas que estão dentro e no entorno da escola, realmente,
cionalizar escolas próprias para a formação do professor, surge afetam o ensino-aprendizagem
da sistematização das ideias liberais em expandir o ensino a Há algumas décadas, a principal causa que apontava para
todas as camadas sociais no século XIX. Essas prioridades, no a baixa qualidade da alfabetização era o ensino fundamentado
entanto sofrem grandes influências e acabam por precarizar-se na Pedagogia Tradicional.
devido às dificuldades encontradas na relação escola-cidadão. Atualmente, entre outros fatores que envolvem um bom
O fracasso que surge na alfabetização desde esse período nos ensino-aprendizagem, as principais causas estão ligadas à per-
atinge até a atualidade exigindo uma atenção especial e solu- da da especificidade da alfabetização, devido à compreensão
ções para um ensino de qualidade. equivocada de novas perspectivas teóricas e suas metodolo-
Portanto é preciso compreender que alfabetização e letra- gias, que foram surgindo em contraposição ao tradicional, e a
mento são práticas distintas, porém, indissociáveis, interdepen- grande abrangência que se tem dado ao termo alfabetização.
dentes e simultâneas. No entanto, a falta de compreensão des- Concordando, com Magda Soares, em seu artigo Letra-
tes termos gera grande confusão em seu uso teórico e prático, mento e Alfabetização: as muitas facetas, a expansão do signi-
levando à perda da especificidade destas. ficado de alfabetização em direção ao conceito de letramento,
Ao refletir sobre essas concepções e em anuência com levou à perda de sua especificidade. [...] no Brasil a discussão do
Soares encontramos uma grande problemática, que acaba re- letramento surge sempre enraizada no conceito de alfabetiza-
fletindo na qualidade da educação brasileira. Muitos profissio- ção, o que tem levado, apesar da diferenciação sempre propos-
nais da educação acabam por mesclar e confundir o significado ta na produção acadêmica, a uma inadequada e inconvenien-
destes dois conceitos, ampliando o conceito de alfabetização, te fusão dos dois processos, com prevalência do conceito de
sobrepondo o de letramento, como se letramento tivesse o letramento, [...] o que tem conduzido a certo apagamento da
mesmo sentido de alfabetização e, assim, não desempenhando alfabetização que, talvez com algum exagero, denomino desin-
um bom trabalho. venção da alfabetização.
Para contribuir para o esclarecimento e mudanças em al- Essa fusão dos dois processos, que leva à chamada “de-
gumas práticas pedagógicas atuais, explicitaremos neste artigo sinvenção da alfabetização”, aliada à interpretação equivocada
os conceitos de Alfabetização e Letramento e a importância da das novas perspectivas teóricas acarretou na prática a negação
sua conciliação para uma prática significativa. de qualquer atividade que visasse à aquisição do sistema alfa-
bético e ortográfico, como o ensino das relações entre letras e
Alfabetização sons, o desenvolvimento da consciência fonológica e o reco-
nhecimento das partes menores das palavras, como as sílabas,
O termo Alfabetização, segundo Soares, etimologicamen- pois eram vistos como tradicionais. Passou-se a acreditar que o
te, significa: levar à aquisição do alfabeto, ou seja, ensinar a ler aluno aprenderia o sistema simplesmente pelo contato com a
e a escrever. Assim, a especificidade da Alfabetização é a aqui- cultura letrada, como se ele pudesse aprender sozinho o códi-
sição do código alfabético e ortográfico, através do desenvol- go, sem ensino explícito e sistemático.
vimento das habilidades de leitura e de escrita. Atualmente, se reconhece a importância de se usar algu-
Na história do Brasil, a alfabetização ganha força, principal- mas práticas da escola tradicional, que são entendidas como as
mente, após a Proclamação da República, com a instituciona- facetas da alfabetização segundo Soares, assim como os equí-
lização da escola e com o intuito de tornar as novas gerações vocos de compreensão do construtivismo foram percebidos e
aptas à nova ordem política e social. A escolarização, mais es- ajustados e muitos aspectos da escola nova tidos como essen-
pecificamente a alfabetização, se tornou instrumento de aqui- ciais. Com tudo isso, não se pode negar uma prática ou outra,
sição de conhecimento, de progresso e modernização do país. só por ela estar fundamentada em uma ou em outra concepção,
Com o passar do tempo muito se desenvolveu no campo da mas, sim, avaliar quais são as suas contribuições e se convêm
1 Texto adaptado de DIOGO, E. M. e GORETTE, M. da S. serem utilizadas para um processo de alfabetização significativa.

3
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Dermeval Saviani, em seu livro Escola e Democracia, Analisando dialeticamente a evolução humana, fica ex-
apresenta que aspectos da escola tradicional são impor- plícito que o homem antes mesmo de aprender à escrita,
tantes para a educação. Com a teoria da curvatura da apreende o mundo a sua volta e faz a leitura crítica desse
vara, ele mostra que para a educação ter mais qualidade, imenso mundo material. Por isso, é incorreto dizer que uma
a “vara” deve permanecer reta, e não curvada para a teoria pessoa é iletrada, mesmo que ela ainda não seja alfabe-
nova, nem para a teoria tradicional, mas sim, alinhada. E tizada, pois ela desde o princípio da vida reflete sobre as
ainda argumenta que uma pedagogia comprometida com coisas. O letramento está intimamente ligado às práticas
a qualidade educacional e voltada para a transformação sociais, exigindo do indivíduo, uma visão do contexto social
social, deve incorporar aspectos positivos e relevantes da em que vive. Isso faz da alfabetização uma prática centrada
pedagogia tradicional e da pedagogia nova, de modo que mais na individualidade de cada um e do letramento uma
o ponto de partida seja a prática social sincrética e o de prática mais ampla e social.
chegada uma prática social transformada. Nesse sentido, destacamos o papel do professor den-
Assim, se faz necessário resgatar a significação verda- tro desse processo. Este profissional deve acreditar e pro-
deira da alfabetização e delinear corretamente o conceito mover a construção de pensamento crítico em si próprio e
de letramento, de forma que eles não se fundam e nem em seus alunos.
se confundam, apesar de, como já foi dito, necessitarem Assim, o letramento se torna uma forma de entender a
acontecer de maneira inter-relacionada. Com uma prática si e aos outros, desenvolvendo a capacidade de questionar
educativa que faça uma aliança entre alfabetização e letra- com fundamento e discernimento, intervindo no mundo e
mento, sem perder a especificidade de cada um dos pro- combatendo situações de opressão.
cessos, sempre fazendo relação entre conteúdo e prática e
que, fundamentalmente, tenha por objetivo a melhor for- Uma aliança entre Alfabetização e Letramento
mação do aluno.
Defendida a especificidade de cada conceito, tem-se
Letramento agora o objetivo de mostrar que se pode chegar à quali-
dade, conciliando ambos os procedimentos e produzindo
uma prática reflexiva de aliança entre os dois processos.
De acordo com Soares, 2003, a palavra letramento é
Partindo das reflexões de Brandão, sobre a metodo-
de uso ainda recente e significa o processo de relação das
logia freiriana de se alfabetizar, é possível compreender a
pessoas com a cultura escrita. Assim, não é correto dizer
importância da indissociabilidade e simultaneidade destes
que uma pessoa é iletrada, pois todas as pessoas estão
dois processos. Em seu método de alfabetização, ele pro-
em contato com o mundo escrito. Mas, se reconhece que
põe que se parta daquilo que é concreto e real para o sujei-
existem diferentes níveis de letramento, que podem variar
to, tornando a aprendizagem significativa, mas utilizando
conforme a realidade cultural. também os mecanismos de alfabetização.
Este termo ganha espaço a partir da constatação de Ele ainda coloca em sua obra Pedagogia da Autono-
uma problemática na educação, pois através de pesquisas, mia, que o sujeito quanto mais amplia sua visão de mundo,
avaliações e análises realizadas, chegou- se à conclusão de mais se liberta da opressão, ou seja, o sujeito letrado que já
que nem sempre o ato de ler e escrever garante que o indi- possui seus conhecimentos prévios, com um determinado
víduo compreenda o que lê e o que escreve. Entretanto, se ponto de vista, quando alfabetizado, pode modificar seus
reconhece que muito mais que isso, é realizar uma leitura pensamentos, ampliando-os de forma que passa a refle-
crítica da realidade, respondendo satisfatoriamente as de- tir criticamente sobre a prática social. Freire acreditava ser
mandas sociais. fundamental que as pessoas compreendam o seu lugar no
Para exemplificar essa situação no país, destaca-se mundo e sua função social nele.
Salla, 2011, que traz o resultado da prova de leitura do PISA O professor, portanto, tem um papel muito importante
de 2009, no qual metade dos avaliados obtiveram no máxi- a realizar, para que esse pensamento crítico se desenvolva
mo nota de proficiência. em seus alunos. Para Freire “[...] percebe-se, assim, a im-
Fica claro que o problema destacado neste resultado portância do papel do educador, o mérito da paz com que
não é apenas o da alfabetização, no que diz respeito ao ler viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não
e escrever, mas a questão aparece quando se exige inter- apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pen-
pretação e raciocínio, ou seja, há uma ausência de letra- sar certo.”
mento na alfabetização das pessoas. É fundamental que o educador esclarecido de uma
Deve-se cuidar para não privilegiar um ou outro pro- realidade de opressão, não torne o processo de ensino
cesso (alfabetização/letramento) e entender que eles são bancário e improdutivo, mas uma educação que desvende
processos diferentes, mas, indissociáveis e simultâneos. o mundo material e liberte as pessoas da opressão, como
Assim, como descreve Soares: Entretanto, o que la- defende Freire. Para isso, as práticas de alfabetização
mentavelmente parece estar ocorrendo atualmente é que e letramento são necessárias, cada uma com suas
a percepção que se começa a ter, de que, se as crianças especificidades, como explicita Tfouni:
estão sendo, de certa forma, letradas na escola, não estão “Enquanto a alfabetização se ocupa da aquisição da
sendo alfabetizadas, parece estar conduzindo à solução de escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letra-
um retorno à alfabetização como processo autônomo, in- mento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de
dependente do letramento e anterior a ele. um sistema escrito por uma sociedade.”

4
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Logo, o letramento vai além do ler e escrever, ele tem ta na escrita, de que nossas salas de aulas são compostas
sua função social, enquanto a alfabetização encarrega-se por uma única variante linguística – a tida como Padrão
em preparar o indivíduo para a leitura e um desenvolvi- – e que as anomalias esporádicas que surgem em alguns
mento maior do letramento do sujeito. Nessa perspectiva, alunos das castas baixas da sociedade, tem que ser concer-
alfabetização e letramento se completam e enriquecem o tada, para não contamina a língua padrão e para que este
desenvolvimento do aluno. indivíduo se integre na sociedade dialetal. Ao nosso enten-
Alfabetizar letrando é uma prática necessária nos dias dimento, essas são provavelmente filhas de outra terrível
atuais, para que se possa atingir a educação de qualidade inverdade a de que a sociedade é igualitária, a existência de
e produzir um ensino, em que os educandos não sejam classes sociais por sua vez é fruto das diferenças de esforço
apenas uma caixa de depósito de conhecimentos, mas que individual de cada um e/ou talvez por obra do acaso.
venham a ser seres pensantes e transformadores da socie- Essas ideias são frutos de uma cultura distorcida, in-
dade. dustrializada, proveniente das castas superiores que che-
ga até nós, embebidas em ideologias de uma continua e
Práticas Pedagógicas que conciliam alfabetização e le- consistente melhora. É bem verdade que as pesquisas em
tramento torno da educação comprovam certa melhora, nos diversos
índices que avaliam nossos alunos, mas ao passo que esta
Um ponto primordial ao se tratar de prática pedagógi- caminha demorara incontáveis gerações para que alcance-
ca é reconhecer que os alunos já possuem conhecimentos mos à educação preconizada por Paulo Freire.
prévios, assim, é importante que os professores façam um São inúmeros os obstáculos para que a educação
diagnóstico do conhecimento de seus alunos, para sabe- abandone seu caráter colonialista e se transforme em um
rem de onde devem partir e planejar suas atividades. instrumento de inserção social, capaz de aplanar a enorme
Partindo da prática social, o conteúdo terá sentido para pirâmide existente em nossa sociedade. Acreditamos que
os alunos, que irão construindo conhecimentos gradativa- um dos mais relevantes obstáculos, para isto, encontra-se
mente e desenvolvendo uma atitude transformadora da na língua.
sociedade, pois ele perceberá que conhecimento científico Essa que em nosso entender é a maior “descoberta”
faz parte da sua vida e pode contribuir para melhorá-la. As do homem, além de ser, indubitavelmente, o pilar que dá
atividades devem promover tanto a alfabetização como o sustentabilidade a sociedade como a conhecemos. A lin-
letramento, de maneira, que o ensino do código alfabético guagem, em seu atual, estágio transpassa a condição ins-
seja conciliado com o seu uso social em diferentes oca- trumental de comunicação entre indivíduos no mesmo
siões. espaço-temporal, possibilitando que indivíduos em épo-
Enfim, o professor alfabetizador deve também utilizar, cas e lugares diferentes dialoguem. Entretanto o mesmo
criar estratégias de ensino de acordo com as características instrumento que une é o que separa. São incontáveis os
de seus alunos, sem esquecer que a educação é um ato
conflitos históricos ocasionados pela intolerância à cultura,
político e deve romper com as situações de opressão que
à religião, à linguagem do outro, o que a nosso ver isso
muitas vezes as pessoas sofrem e nem a percebem.
se configura como uma continuidade do mito da Torre se
Contudo, numa sociedade letrada, o objetivo do en-
Babel.
sino deve ser o de aprimorar a competência e melhorar
Como nos lembra Bagno o preconceito linguístico
o desempenho linguístico do estudante, tendo em vista a
constitui-se em um não aceitar, da variação linguística fala-
integração e a mobilidade sociais dos indivíduos, além de
da pelo outro, ainda na concepção do mesmo autor os cha-
colocar o ensino numa perspectiva produtiva.
mados erros gramaticais não existem nas línguas naturais,
Usos e funções da escrita e leitura2 salvo por patologias de ordem cognitiva. Na concepção de
Xavier (2007), a qual ressaltamos, a noção de correto im-
Os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) afirmam posta pelo ensino tradicional da gramática normativa e o
que a “Língua Portuguesa” é composta por diversas varie- repasse incorreto do léxico pertencente à variação padrão
dades linguísticas. Essas variedades são, frequentemente, da língua originam os preconceitos contra as variedades
estigmatizadas por se levar em conta o relativo valor social não padrão.
que se atribui aos diversos modos de falar: as variantes lin- Em nosso entendimento a escola deveria atuar como
guísticas de menor prestígio social são logo catalogadas de um combatente a este como a muitos outros preconceitos,
“inferiores” ou até mesmo, de “erradas”. mas infelizmente, essas também como foram observadas,
Atualmente, diversos linguistas, ressaltam a importân- tornou-se uma fonte discriminatória das variações não
cia da variação linguística no ensino de língua materna, pois padrão da língua. Bagno nos lembra ainda “a vitória so-
a mesma, além de provar que nossa língua continua viva e bre esse preconceito passa por um estudo mais apropriado
dinâmica, desmistifica o mito da “unidade linguística”. da língua, onde o aluno tenha as outras variedades, mas
Vale lembrar que os PCN, também, incorporam essa vi- sempre tendo como base em sua própria variedade”. Sobre
são de linguagem pautada na variação linguística, deixando esse prisma compreendemos o papel impa desempenhado
claro que para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola pelo pelos PCNs, como um instrumento de prevenção e
precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única combate aos diversos estigmas que circundam a presença
forma “certa” de falar e que esta se reflete de forma perfei- da oralidade dentro das salas de aula. Balizados nisso con-
2 Texto adaptado de SILVA, A. C. da. feccionamos o presente trabalho.

5
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Nosso texto pretende, apoiada na fundamentação teó- Ao dar início ao seu “processo de alfabetização”, o alu-
rica levantada em diversas investigações existentes, ofere- no já é um falante nativo da língua, com um certo leque
cer subsídios para analisarmos à abordagem dos PCNs em de signos, o qual é capaz de interpretar todo o seu campo
relação as variações linguísticas e como esta influência na de interesse, mas em concordância com o que pregam a
aquisição da escrita. maioria dos livros didáticos, estes campos são substituídos,
Sem pretendemos esgotar os desafios e as possibili- por aspectos formais de uma língua ideal, juntamente com
dades envolvidas nas temáticas em pauta, estruturamos apreciação de aspectos mecânicos no ensino da leitura e
o texto de modo a discorremos sobre a sociolinguística escrita, como se todos os alunos obedecessem ao mesmo
e como esta atua dentro da sala de aula, a seguir iremos ritmo, tivessem a mesma motivação e o mesmo foco de
contar de forma breve, a história dos PCNs. Em um terceiro interessem.
plano iremos discursas sobre a aquisição da linguagem es- É fácil perceber que cada indivíduo tem seu ritmo e
crita, a seguir iremos analisar o trato dado pelos PCNs em interesses próprios, principalmente quando trabalhamos
relação a oralidade e como este contribuem para a aquisi- com jovens e adultos, é sensível também que estas caracte-
ção da escrita. rísticas se manifestam de forma mais aberta na linguagem
Sociolinguística de cada um. Foi provavelmente este um dos motivos da
aceitação da sala de aula e de suas relações como um dos
Por se considerar a língua um sistema homogêneo, o objetos de estudo para a sociolinguística, além é claro do
estudo das variações nunca havia despertado o interesse combate e prevenção as diversas formas de preconceitos
dos linguistas. Só em meados da década de 1960, quan- existente em sala de aula e que se origina nas diferentes
do muitos desses cientistas da linguagem perceberam que linguagens que compõem o âmbito escolar.
não era mais possível estudar a língua sem considerar tam- Enfatizando Souza (2008) o qual cita Cagliari, os modos
bém a sociedade em que ela é falada, é que se começou a diferentes de falar acontecem porque a língua portuguesa,
estudar a língua na perspectiva da mudança e da variação como qualquer outra língua, é um fenômeno dinâmico, isto
em termos sociolinguísticos (Bagno, 2007). é, está sempre em evolução. Pelos usos diferenciados ao
Tendo por base, pois, a heterogeneidade, a sociolin-
longo do tempo e nos mais diversos grupos sociais, as lín-
guística de 1960 pode ser vista como uma área que abriu
guas passam a existir como um conjunto de falares diferen-
caminhos para o surgimento de novas correntes de estudo
tes ou dialetos, todos muito semelhantes entre si, porém
e pesquisas que põem em foco, principalmente, o trato do
cada qual apresentando suas peculiaridades com relação a
fenômeno linguístico em sua relação com o contexto social
alguns aspectos linguísticos. Todas as variedades, do ponto
e cultural de produção. Sendo que, pelo crescente interesse
de vista da estrutura linguística, são perfeitas e completas
em estudar a linguagem nesse contexto social, diversos en-
em si. O que as tornam diferentes são os valores sociais
foques se abrigam sob o título de sociolinguística.
que seus membros possuem na sociedade. Ainda segundo
Esta ciência, conforme afirma Mollica (2004), se faz pre-
sente num espaço interdisciplinar em fronteira com a lín- o autor, os dialetos de uma língua, apesar de serem seme-
gua e a sociedade, tendo como foco principal os empregos lhantes entre si, apresentam-se como línguas específicas,
linguísticos concretos, principalmente os de caráter social com sua gramática e usos próprios.
heterogêneo. Assim, tendo em vista que todas as línguas É fácil perceber que em nenhum nicho social a variação
naturais humanas, de modo geral, apresentam um dina- linguística é mais sentida do que na escola. É lá em que
mismo inerente – heterogeneidade -, a está ciência vem está, que deveria ser uma característica positiva, acaba se
considerar para objeto de estudo justamente essa dina- transformando em um obstáculo para a aquisição de uma
micidade da língua, que pressupõe a variação, “entendo-a nova variedade dialetal.
como um princípio geral e universal, passível de ser descri- Em qualquer lugar onde se desenvolva o preconceito
ta e analisada cientificamente” (Mollica, 2004, p. 10). Assim, linguístico, este já causa sequelas enormes, mas é justa-
em linhas gerais, podemos dizer que o objeto de estudo mente na escola, local onde o caráter do indivíduo esta
da sociolinguística é o estudo da língua falada, observada, sendo formado, onde estes estigmas são mais prejudiciais
descrita e analisada em seus contextos reais de uso. à sociedade. Foi pensando nisso que os estudiosos aborda-
ram essa características na confecção dos PCNs.
A sociolinguística em sala de aula
Os PCNs.
À medida que a criança se desenvolve e cria relações
com o meio, modifica seu modo de ver e interagir com o Em função da LDB 9.394/96, o Ministério da Educação
mundo, criando assim sua própria identidade linguística e e Desporto achou por bem elaborar uma série de docu-
cultural. Ao adentrar na escola a criança traz consigo uma mentos orientativos sobre a prática pedagógica, tendo em
gama de informações linguísticas, as quais são, na maioria vista a amplitude do território nacional, as diferenças de
das vezes, desprezadas e/ou taxadas de erradas, em formação do professorado e suas dificuldades de acesso
detrimentos de outras provenientes das castas superiores a conteúdo pedagógicos atualizados. Surgiram, assim, os
da sociedade. O que por sua vez se reflete em uma enorme PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais (também conhe-
dificuldade em apreender a variedade tida como eleita, cidos como RCNs - Referenciais Curriculares Nacionais).
tanto em sua variante escrita, como em sua variante falada.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Entretanto o processo de elaboração dos PCNs iniciou Ainda segundo Bento (2008), aos quatro anos, as crianças
um pouco antes como nos lembra Czapski (1997): O processo já constroem conceptualizações interessantes sobre as rela-
de elaboração dos PCN começou em 1995, sendo que no fim ções entre a linguagem falada e o sistema de escrita.
daquele ano já havia a versão preliminar, que foi apresentada Estas elaborações sucedem-se num percurso constituído
a diferentes instituições e especialistas. Em resposta, o MEC por diversas fases ou níveis e permitem concluir que o proces-
recebeu cerca de 700 pareceres, que foram catalogados por so de aprendizagem não consiste na aquisição de elementos
áreas temáticas e embasaram a revisão do texto. Para com- isolados que depois se reúnem - mas na construção de sis-
pletar, Delegacias do MEC promoveram reuniões com suas temas em que o valor dos elementos se vai redefinindo em
equipes técnicas, o Conselho Federal de Educação organizou função das mudanças estruturais.
debates regionais e algumas universidades se mobilizaram. Nível A - É o nível de conceptualização mais evoluído.
Tudo isso subsidiou a produção da versão final dos PCN para Todas as palavras do texto oral estão representadas no texto
1ª a 4ª série, que foi aprovada pelo Conselho Federal de Edu- escrito. Nesta fase, a criança é capaz de estabelecer uma cor-
cação em 1997. Os PCNs foram transformados num conjunto respondência, termo a termo, entre as unidades vocabulares
de dez livros, cujo lançamento ocorreu em 15 de outubro de do enunciado oral e os segmentos do texto escrito (palavras
1997, Dia do Professor, em Brasília. Depois, professores de gráficas).
todo país passaram a recebê-los em casa. Enquanto isso, o Nível B - Todas as palavras estão escritas, exceto os arti-
MEC iniciou a elaboração dos PCN para 5ª a 8ª série. gos. Para estes, surgem três soluções: O texto escrito é tratado
Assim estes, constituem uma coleção de documentos como se fosse feito em linguagem de telegrama, dos 4 aos 7
onde, além de uma introdução geral: onde foi abordando a anos, aproximadamente, os artigos, preposições, pronomes e
tradição pedagógica brasileira, dados estatísticos sobre po- conjunções são sistematicamente, havendo uma rejeição da
pulação, alunos e professores (dados de 1990), orientações classe das “palavras”.
doutrinárias e metodológicas (o sócio construtivismo, a pos- Nível C - Há correspondência para os substantivos, mas
tura crítico-social de conteúdo, as teorias psicogenéticas) e não para o verbo
conteúdos técnicos sobre planejamento e avaliação. Encon- A escrita não é vista [pela criança] como uma reprodução
tram-se listadas as exigências educacionais previstas pela rigorosa de um texto oral, e sim como a representação de
LDB, a Base Nacional Comum (o currículo disciplinar) e a uti- alguns elementos essenciais do texto oral. Em consequência,
lização da transversalidade (Temas Transversais) como instru- nem tudo está escrito.
mento de trabalho para contextualização dos temas de aula. Nível D - Impossibilidade de estabelecer correspondência
Há, ainda, os objetivos gerais e específicos, além das entre as partes do texto oral e as partes do texto escrito. A
características das áreas do conhecimento componentes da criança não consegue segmentar a frase oralizada. Por isso, as
Base Nacional Comum, a listagem dos Temas Transversais e respostas são diversas e incongruentes. Quando se pergunta
sua operacionalização. à criança onde está escreve uma palavra ou toda a frase, a res-
Os Parâmetros (ou Referenciais) abordam todas as mo- posta é imprevisível: pode estar em qualquer parte do texto
dalidades da Educação Básica no Brasil, além da Educação Es- escrito, em todo ou apenas numa sílaba.
pecial, modalidade educativa que perpassa, de modo trans- Nível E - Também, neste nível, a criança não consegue
versal, todos os níveis de ensino, inclusive o nível superior. segmentar o texto oral, para que possa estabelecer corres-
Ainda segundo Czapski (1997): Os PCN são apresentados pondências com o texto escrito. Porém, enquanto no nível D
não como um currículo, e sim como subsídio para apoiar o se tentava sem êxito essa divisão, agora essa tentativa já não
projeto da escola na elaboração do seu programa curricular. tem lugar. A criança atribui toda a frase a um segmento do
Sua grande novidade está nos Temas Transversais, que in- texto.
cluem o Meio Ambiente. Ou seja, os PCN trazem orientações Nível F - A criança procura no texto escrito apenas os no-
para o ensino das disciplinas que formam a base nacional, e mes, i. é, na interpretação de Emília Ferreiro e Ana Tabaroski, a
mais cinco temas transversais que permeiam todas discipli- escrita serve como objeto substitutivo (função simbólica) dos
nas, para ajudar a escola a cumprir seu papel constitucional objetos.
de fortalecimento da cidadania.

Aquisição da leitura.
Palavras só com dois caracteres, como alguns
artigos, e as ações não são representáveis.
A quase totalidade das crianças que adentram na escola,
ainda não sabem ler, mas já reconhecem uma estreita relação
entre língua falada e escrita, compreendem, mesmo que de
forma “não formal”, que uma é a representação gráfica da Tudo se passa como no desenho. Aí figuram dois “atores”:
outra. Como nos complementa Bento (2008) citando Ferreiro a pessoa que executa a ação e a ação.
e Taberosky pareceu-lhes difícil admitir que a criança - que A análise destes cinco níveis mostra que a criança vai re-
aprende a falar sem ir à escola - não aprendesse nada sobre lacionando a seu modo à fala e a escrita, independentemente
a língua escrita, “[...] até ter seis anos e uma professora à sua de qualquer forma de ensino e que, até chegar ao nível mais
frente.”. Do ponto de vista destas autoras, a criança, como su- elevado, ela não espera “ler” no texto escrito o mesmo que
jeito cognoscente, não poderia ser impermeável ao contato o adulto. Este processo construtivo resulta da atividade da
com a língua escrita e de alguma forma ela haveria de tentar criança (sujeito cognoscitivo) e pressupõe o contato com ma-
apreender esta, relacionando-a com a língua falada. teriais e atividade de leitura/escrita (objeto do conhecimento).

7
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
PCNs e a relação língua falada e escrita. Um aspecto relevante, o qual também salientamos, na produ-
ção dos textos orais, é que, o documento alia o planejamento prévio
Segundo os Paramentos Curriculares Nacionais de Língua da língua oral à escrita – em função da intencionalidade do locutor,
Portuguesa, a língua é fundamental para a participação social das características do receptor, das exigências da situação e dos ob-
efetiva do indivíduo. Por isso, ao repassa-la, a escola tem a jetivos estabelecidos –, o que reforça Magalhães citando Fávero et
responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso ali também prescreveram: “aliar o tratamento da oralidade à escrita”.
aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cida- Na visão dos PCNs, a produção textual Oral seria aquela ati-
dania, direito inalienável de todo cidadão. vidade em que os alunos são orientados tanto para a preparação
No tocante os, PCNs afirmam sobre o trabalho com a prévia – elaboração de quaisquer suportes como cartazes, esque-
modalidade oral, a necessidades de seu uso como base para mas, encenação, memorização de textos – quanto para o uso em
o desenvolvimento das outras modalidades comunicativas e situações reais de interlocução – gêneros por natureza orais como
por conseguinte ampliação das possibilidades discursivas do entrevistas, debates, exposições, teatros, leituras expressivas.
discente. Assim para os PCNs estes exercícios significam colocar os
Ensinar língua oral deve significar para a escola à possi- alunos em situações reais de interlocução, apenas ouvido, ou par-
bilidade de dar acesso a usos da linguagem mais formaliza- ticipando ativamente, com ou sem interferência, o que tende a
dos e convencionais, que exijam controle mais consciente e proporcionar aos alunos conhecimentos teóricos e práticos acer-
voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que ca da produção oral, proporcionando assim o aluno apreender as
o domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania. capacidades comunicativas para uma efetiva participação social.
“Ensinar linguagem oral” não significa trabalhar a capacidade Infelizmente este cuidado especial dado pelos PCNs a pro-
de falar, pois este já é domínio pleno do discente, mas signi- dução oral, não se reflete diretamente em sala de aula, pois um
fica auxiliar o desenvolver do domínio dos tipos discursivos dos mais importantes instrumentos educacionais, o livro didático
que vão apoiar a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa ainda não contempla de forma efetiva esta modalidade, como
e de outras áreas e, por conseguinte serão aplicados na vida nos afirma Magalhães; infelizmente existe divergências entre os
social no sentido mais amplo do termo. estudiosos que avaliam e selecionam os livros que iram integrar o
Como já ressaltamos um aspecto importante presente PNLD (programa nacional do livro didático) e os texto que com-
no documento é que não se pode mais empregar somente põe os PCN, deixando assim lacunas para que os LDs ora con-
o nível mais formal de fala para todas as situações. A escola templem a modalidade oral, ora não.
precisa se livrar da ideia – enfatiza o documento – de que a
fala “correta” é a que se aproxima da escrita. Procedimentos de Revisão Textual e Reescritura
Os Paramentos Curriculares Nacionais propõem duas
modalidades distintas de atividades para se trabalhar à ora- 1. Introdução
lidade são elas a escuta e a produção de textos orais, ambas
indiscutivelmente fundamentais para a aquisição da variante A produção textual quanto a revisão no 1º e 2º ano parecia
escrita e por sua vez capacitar o aluno para enfrentar as diver- um tabu, quanto a questão do processo de alfabetização e letra-
sas demandas sociais de comunicação. A seguir discorrere- mento, nesse período os alunos não caminham no mesmo nível
mos sobre ambas as atividades: de leitura e escrita. Esse tema traz muitas reflexões sobre o que
A Escuta objetiva ampliar o conjunto dos conhecimentos acontece quando a criança está escrevendo e lendo ao mesmo
discursivos, semânticos, pragmáticos e gramaticais envolvidos tempo, adquirindo o processo de decodificação da linguagem.
na construção dos discursos. Além disso dar-se-á ênfase aos O presente artigo pretende analisar a produção e revisão
elementos não-verbais presentes na fala, como gestos ex- textual nas séries iniciais do Ensino Fundamental, pois a produ-
pressões faciais, postura corporal, tons de voz, etc. A utilização ção de textos em sala de aula ganhou papel relevante quando se
dos mecanismos da escrita ficou restrita a suportes, além de trocou a redação, produção realizada pelo aluno (normalmente
serem empregados com o intuito de comparação a respeitos com tema proposto pelo professor), por produção de textos no
dos mecanismos não-verbais da fala. ambiente escolar. Essa troca, ganha considerável importância vis-
Lembramos que a escuta de textos pode ser real ou gra- to a necessidade de tornar o aluno leitor-produtor. Outro fator
vada, de autoria dos alunos (ou não). São relevantes para o em destaque é que durante muito tempo o ensino da produ-
processo de aprendizagem, pois as gravações conferem ao ção textual esteve centrado na instrução de erros ortográficos e
processo de análise um verdadeiro entendimento da relação gramaticais e os textos produzidos pelos alunos era o resultado
oral-escrito, uma vez que se pode transcrever os dados, voltar da assimilação e aplicação do conteúdo gramatical e ortográfico
a trechos que não tenham sido bem compreendidos, dar ên- aprendido em sala de aula.
fase a trechos que mostrem características típicas da fala, etc. Sendo assim, a produção textual é de fundamental impor-
A Produção de Textos Orais privilegiar-se-á a produção tância, pois para escrever bem é necessário conhecer vários gê-
dos diversos gêneros orais presentes no cotidiano, já que para neros textuais, como comentário, notícia, bilhete, artigo e para
o documento o texto, seja este proveniente de qualquer su- escrever um bom texto é indispensável, estar informado sobre o
porte, como a unidade básica do ensino, é relevante lembra- que esta acontecendo no mundo, principalmente através da lei-
mos ainda que na produção oral, não ficara presa a língua em tura que traz informações necessárias para ter um texto completo
sua variante eleita, mas será permitido a comparação entre e para desenvolver comportamentos escritores, onde o proces-
esta variante e as demais, permitindo assim que o aluno am- so de revisão está incluso. E é no desenvolvimento da produção
plie seu léxico e tenha ciência que a variante por ele falada textual que o escritor revisa seu texto continuamente, relendo e
não perde em nada para a tida como eleita. modificando o mesmo quando necessário.

8
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Os objetivos dessa pesquisa são destacar a importân- Tentando chegar ao significado de uma unidade a par-
cia do letramento para quem sabe ler e escrever; mostrar tir de um todo estamos utilizando o processo analítico.
o quanto a leitura é importante no processo de produção Nele é necessária a obtenção de um significado parcial e,
textual; identificar quais as etapas da produção textual; sa- a partir daí, formular hipóteses e tentar confirmá-las. “Essa
ber se o aluno ao fazer a revisão de texto consegue comu- adivinhação do significado fez com que Goodman (1967, p.
nicar bem suas ideias e se ajuste ao gênero. 126 - p. 135) definisse a leitura como um jogo psicolinguís-
A escolha do tema tem como razão fundamental acre- tico de adivinhação”. Porém, não se deve acreditar que a
ditar que é necessário que a aprendizagem da leitura, es- leitura eficiente dependa desse tipo de mecanismo, já que
crita de textos melhorados através da revisão poderá cola- o mau leitor faz uso excessivo de estratégias sintéticas e de
borar com todo o processo educacional que o educando inferências não autorizadas pelo texto.
possa percorrer durante a vida toda.
Desta forma destaca-se a concepção psicogenética, 2.1 Modelos de leitura e processos meta cognitivos
deslocando o eixo de compreensão e interpretação do pro-
cesso pela qual a criança aprende a ler e a escrever. Gough (1972, p. 348), descreve os passos que o leitor
A mesma trouxe uma rigorosa crítica à importância obedece para a realização da leitura, demonstra sua visão
que vinha sendo atribuída ao processo de alfabetização a linear e indutiva: transformação do estímulo visual em uma
ruptura de padrão: “... a concepção psicogenética alterou imagem: identificação letra por letra, da esquerda para a
profundamente a concepção do processo de aquisição da direita e armazenamento em um registro de caracteres; in-
língua escrita, em aspectos fundamentais: a criança, de terpretação das letras em fonemas, armazenada como em
aprendiz dependente de estímulos externos para produzir uma fita a espera da busca lexical; depósito de itens lexicais
respostas que, reforçadas, conduziriam à aquisição da lín- na memória, através de um operador sintático chamado de
gua escrita – concepção básica dos métodos tradicionais “merlin”; e aplicação de regras fonológicas por um “editor”
de alfabetização – passa a sujeito ativo capaz de construir que interpreta a sentença e a transforma em um enunciado
o conhecimento da língua escrita, interagindo com esse fonético.
objeto de conhecimento; os chamados pré-requisitos para No processo de leitura, o professor deve seguir alguns
a aprendizagem da escrita, que caracterizariam a criança procedimentos gerais para ensinar a ler que são indispen-
“pronta” ou “madura” para ser alfabetizada – pressuposto sáveis.
dos métodos tradicionais de alfabetização – são negados Primeiramente, ele deve antecipar o conteúdo, indu-
por uma visão interacionista que rejeita uma ordem hierár- zindo as crianças a olhar as ilustrações, a extensão, a tipo-
quica de habilidades, afirmando que a aprendizagem se da grafia, etc., informações estas, que podem servir para re-
por uma progressiva construção de estruturas cognitivas, presentar o conteúdo que lerão, fazendo com que a criança
na relação da criança com objeto “língua escrita’; As dificul- tenha um esforço mental ativo.
dades da criança, no processo de aprendizagem da língua Outro procedimento interessante é a leitura interativa,
escrita – consideradas “deficiências” ou “disfunções”, na pois ao ler, o texto vai revelando se pouco a pouco. Isso faz
perspectiva dos métodos tradicionais – passam a ser vistos com que o ser humano pense, avalie, critique, formule per-
como “erros construtivos”, resultado de constantes reestru- guntas, sinta emoções, pule parágrafos, etc. Sendo assim, o
turações, no processo de construção do conhecimento da professor que faz interrupções nos momentos adequados,
língua. (SOARES, 2004, p.89). induz o aluno a uma compreensão básica para continuar
Os procedimentos metodológicos para obtenção de tendo interesse na leitura. Curto, 2000, pg. 175, ressalta
dados foram realizados através de pesquisas para colher que enquanto se lê, se constrói significados, se aprende,
as informações contidas em livros, revistas, artigos e ende- se pensa.
reços eletrônicos para os dados bibliográficos. Em seguida, Para isso a recapitulação da leitura, ou seja, recapitular
foi utilizada uma pesquisa de estudo de caso em uma es- o que leu, faz com que o aluno elabore uma representação
cola da Rede Municipal de Anápolis, para coleta de dados global do texto como resultado do que foi lido e do que se
através de aulas ministradas sobre produção e revisão tex- compreendeu.
tual. Essa pesquisa tem o objetivo de confrontar a teoria E por fim, para ampliar a leitura, o professor deve for-
com a prática em relação ao tema em estudo. mular perguntas que estimulem a reflexão e a aprendiza-
gem para melhorar a compreensão.
2. Leitura A leitura é o próprio ato de ver, na sua concretude ou
representado por meio da escrita, do som, da arte, dos
De acordo com Kato (2002, p 61), para os estruturalis- cheiros. A leitura é uma experiência cotidiana e pessoal re-
tas a “leitura é a decodificação sonora da palavra” e o leitor presentativa para cada pessoa. A leitura é única, incapaz de
“é um antecipador da palavra que vai ler”. Os gerativistas ser a do outro. A convergência total neste ponto inexiste, e
afirmam que a leitura “é um ato de construção, em que é aí que se encontra o grande encanto da leitura, recheada
os dados linguísticos são apenas um fator que contribui de tantos outros, mas tão única para um só.
para o significado linguístico”. E a pragmática ressalta que
o autor “está presente na consciência do leitor, este, o lei-
tor, interage com o texto, procura interpretar os objetivos e
propósitos do escritor”.

9
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
3. Letramento A experiência com textos variados e de diferentes gêneros é
fundamental para a constituição do ambiente de letramento. A
O fato de aprender uma língua ultrapassa a simples escolha do material escrito, portanto, deve estar guiada pela ne-
decodificação das letras e abarcar a complexidade das prá- cessidade de iniciar as crianças no contato com os diversos textos
ticas sociais existentes em nossa sociedade, para tanto é e de facilitar a observação de práticas sociais de leitura e escrita nas
necessário recorrer ao conceito de Letramento para com- quais suas diferentes funções e características sejam consideradas.
preender melhor este processo. Nesse sentido, os textos de literatura geral e infantil, jornais, revistas,
Segundo Soares (1998) a palavra letramento é uma textos publicitários etc. são os modelos que se pode oferecer às
tradução para o português da palavra inglesa Literacy crianças para que aprendam sobre a linguagem que se usa para
“condição de ser letrado”, ou literate, que é o adjetivo que escrever.
caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita. As-
sim, letramento é o estado ou condição de quem sabe ler 4. Produção Textual
e escrever, isto é, o estado ou a condição de quem respon-
de adequadamente às intensas demandas sociais pelo uso Produzir textos é um processo que envolve diferentes etapas:
amplo e diferenciado da leitura e da escrita. Ao exercício planejar, escrever, revisar e reescrever. Esses comportamentos escri-
efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se tores são os conteúdos fundamentais da produção escrita e conse-
letramento que implica habilidades várias, tais como: capa- quentemente na revisão textual.
cidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos
– para informar-se, para interagir com outros, para imergir 4.1 Planejar
no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos,
para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, Antes da produção textual, é necessário preparar para escrever,
para apoio à memória, para catarse...; habilidades de in- ou seja, planejar o tema sobre o qual se vai escrever em que virá de-
terpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos, terminada pela atividade escolar que se insere a situação escrita. O
habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que professor, no entanto, se assegurará de ter proposto a seus alunos
modelos adequados que os orientem. Terá explicado, lido, mostra-
marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao
do e comentado textos semelhantes ao que lhes propõe escrever.
escrever, atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita,
Curto, 2000, pg. 148, destaca que é importante o professor,
tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo utili-
...estabelecer claramente a finalidade da escrita: para que se escre-
zar a escrita para encontrar para ou fornecer informações e
ve? E o destinatário: para quem se escreve? E Quais são as carac-
conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferencia-
terísticas do texto trabalhado, onde se recomenda usar textos com
da, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor.
valor social.
(SOARES, 2004: 92).
A identificação das letras, a construção dos significa- 4.2 Escrever
dos, o agrupamento das palavras, a coesão e coerência tex-
tual, tudo isso poderia traduzir o processo de letramento, Sendo assim, em relação a escrita, Anna Camps, 2006, pg. 17,
ou seja, de desenvolvimento da leitura e da escrita dos es- ressalta que: ...mais recente é o interesse da escola pela compreen-
tudantes. Para Smith (1999, p. 113), a ideia de aprender a ler são e a produção de textos não-literários. A linguística textual e as
é, de alguma forma, diferente de ler e, perigosa para aque- tentativas de estabelecer tipologias de textos baseadas em suas ca-
les que enfrentam dificuldades no letramento. Na maioria racterísticas estruturais e linguísticas ofereceram instrumentos para
dos casos, o aprendiz que está “aprendendo a ler” pode se adentrar no ensino de textos de diferentes tipos, especialmente
interpretar o processo como se houvesse um dia mágico dos próprios dos entornos de aprendizagem das matérias do cur-
em sua vida em que eles se tornassem alfabetizado. Como rículo.
se houvesse algum tipo de magia que nos tornássemos lei- Nota-se assim, que o uso de tipologias textuais é fundamental
tores e que antes disso não possuíssemos essa capacidade. para escrever. Isso fará com que o aluno tenha mais embasamento
Durante o processo de letramento, os novos profes- para a elaboração coletiva dos conteúdos dos textos, pois escrever
sores devem ser preparados nas escolas de educação, se- é construir mentalmente o texto, depois elaborar um pré-texto fa-
gundo Smith (1999, p. 138), para que dependam dos pro- zendo e refazendo o mesmo sempre que necessário, para que o
gramas, seja porque não conhecem uma maneira melhor aluno possa identificar suas dúvidas e buscar a ajuda e os recursos
de ensinar, porque as escolas querem um determinado indispensáveis para resolvê-las.
programa ou porque é assim que funcionam as escolas. Outro fator importante é que a construção do texto obedece
Seguindo uma ordem cronológica de aprendizagem, em a um planejamento mental e é orientada pelos objetivos e necessi-
letras, sons, palavras e sentenças, reforça a ideia de separar dades de expressão do autor, para provocar no leitor a interpreta-
pré-requisitos para a alfabetização. Desta forma, supõe- ção desejada. Entretanto, Anna Camps ainda explica sobre o prin-
-se que o simples envolvimento com a linguagem escrita cípio máximo da interpretação do discurso: a alteridade. Assim, de
não seja o suficiente para o desenvolvimento da leitura e acordo com essa característica própria do ser humano de ser outro
da escrita nos aprendizes. Os programas tentam, portanto, e de colocar-se no lugar do outro, de tentar refazer seus percursos
controlar o incontrolável, ou seja, promover uma aprendi- na escrita, e de ser único e dissociável de suas características pró-
zagem em massa, sem conseguir prever e uniformizar o prias de ser vivente é que o texto pode, ou não, fazer sentido e ser
que poderíamos chamar de diversidade de aprendizagem. transformado em informação apreensível, ou armazenável como
conteúdo ou conhecimento.

10
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
4.3 Revisar 5. Revisão Textual

Após a escrita, vem a revisão. Ela não consiste em corrigir Mediante os passos desenvolvidos na produção textual,
apenas erros ortográficos e gramaticais, como se fazia antes, a revisão de texto atua como importante procedimento, no
mas cuidar para que o texto cumpra sua finalidade comunicati- sentido de aprimorar a estética do discurso.
va. “Deve-se olhar para a produção dos estudantes e identificar Um escritor proficiente, no entanto, não faz a revisão só
o que provoca estranhamento no leitor dentro dos usos sociais no fim do trabalho. Durante a escrita, é comum reler o trecho
que ela terá”, explica Fernanda Liberali. já produzido e verificar se ele está adequado aos objetivos e
Talvez, a explicação a seguir seja a mais apropriada para ex- às ideias que tinha intenção de comunicar – só então se pla-
plicar o processo de escrita. De acordo com Koch (2000, p. 20), neja a continuação. E isso é feito por todo escritor profissional.
a atividade de produção textual, pressupõe um sujeito – enti- Estudos assinalam o papel da revisão, apontando que os
dade psico-físico- social – que, em sua relação com o outro(s) bons escritores são precisamente aqueles que revisam e refa-
sujeito(s), constrói o objeto-texto, levando em consideração em zem o texto mais vezes.
seu planejamento todos os fatores acima mencionados, com- A revisão como processo é afinal, um passo fundamen-
binando-os de acordo com suas necessidades e seus objetivos. tal para conseguir de fato uma boa escrita. Nesse sentido, a
O(s) outro(s) sujeito(s) implicado(s) nessa atividade – e no próprio maneira como o professor escreve e revisa no quadro negro,
discurso do parceiro, já que a alteridade é constitutiva da lingua- por exemplo, pode colaborar para que a criança o tome como
gem – pode(m) ou não atribuir sentido ao texto, aceitá-lo como modelo e se familiarize com o procedimento. Sobre o assun-
coeso e/ou coerente, considerá-lo relevante para a situação de to, Mirta Castedo escreve em sua tese de doutorado: Os bons
interlocução e/ou capaz de produzir nela alguma transformação. escritores adultos (...) são pessoas que pensam sobre o que
Sendo assim, a revisão é uma atividade interativa, que faz vão escrever, colocam em palavras e voltam sobre o já pro-
parte do mesmo processo de construção de conhecimento e da duzido para julgar sua adequação. Mas, acima de tudo, não
própria atividade de aprendizagem. A correção inicia antes de realizam as três ações (planejar, escrever e revisar) de maneira
escrever, continua durante o ato da escrita e é completada após sucessiva: vão e voltam de umas a outras, desenvolvendo um
ao revisar. Ela deve ser compartilhada pelo professor, pelo aluno complexo processo de transformação de seus conhecimentos
e pelo grupo de alunos que escreve junto, que discute e melhora em um texto.
o escrito. As estratégias conscientes ou metacognitivas caracteri-
zam o leitor maduro, pois derivam do controle e planejamento
4.4 Reescrever deliberado das atividades que levarão à Especialista Argentina
na Semana de Educação, no SESC Anchieta da capital paulista.
De início, um texto nem sempre fica correto. Então, após a Revista Nova Escola 2008.
avaliação e a correção, deve-se refazer, por várias vezes se for ne-
cessário, até ficar bem, pois em algumas ocasiões esse processo Compreensão
é imprescindível.
A reescrita é uma produção com apoio, uma versão pes- A criança também utiliza esse tipo de estratégia quando
soal de um texto fonte. Sobre isso, o PCN de Língua Portugue- lê e, ao perceber um erro, se autocorrige.
sa (1998, pg. 74-75) mostra algumas importantes colocações: A Para Gibson e Levin (1975), leitura é um processo adap-
constatação das dificuldades inerentes ao ato de escrever textos tativo de metas que o leitor se coloca. Um texto com palavras
– dificuldades decorrentes da exigência de coordenar muitos as- desconhecidas confere uma leitura difícil e se processa pala-
pectos ao mesmo tempo – requer a apresentação de propostas vra por palavra; mas com a utilização do processo de revisão
para os alunos iniciantes que, de certa forma, possam “eliminar” textual o aluno pode melhor compreender como se escreve e
algumas delas, para que se concentrem em outras. É importante o significado do que se escreve.
que essas situações sejam planejadas de tal forma que os alunos O planejamento existe nos processos de leitura e escrita,
apenas se preocupem com as variáveis que o professor priorizou mas na fala ele é muito mais rápido e espontâneo que na es-
por se relacionarem com o desenvolvimento do conteúdo em crita, pois como afirmou Labov (1972), “correções podem ser
questão. Por exemplo: feitas, recomeços, pausas. Na escrita, o planejamento é mais
- Reescrever ou parafrasear bons textos já repertoriados me- demorado, pois só o texto sem remendos e incorreções é que
diante leitura; será registrado no papel”.
- [...] Dar o começo de um texto para os alunos continuarem As crianças precisam se sentir seguras para tentar nova-
(ou o fim, para que escrevam o início e o meio); mente, revivendo a experiência anterior e transformando-a a
- Planejar coletivamente o texto (o enredo da história, por partir de suas tentativas. Neste sentido, afirma Morales (2006,
exemplo) para que depois cada aluno escreva a sua versão (ou p. 56), que o aluno deve sentir-se livre para errar e aprender
que o façam em pares ou trios). com seu erro também na escola. Essa liberdade se traduz na
Sendo assim, a reescrita é fundamental. Ao reescrever há ausência de angústia, de medo de errar. Este tipo de apren-
tempo para pensar nas estruturas sintáticas e modificá-las, se dizagem contribui para o crescimento pessoal, emocional ou
necessário. Há tempo para perceber que outra palavra fica me- cognitivo. É o que podemos chamar de experiência que gera
lhor do que aquela que foi usada. Há tempo para perceber se conhecimento.
o leitor não vai encontrar dificuldades para entender. Há tempo Então, após a avaliação e a correção, deve-se refazer por
para observar se há palavras ou ideias repetidas, pode-se ver a várias vezes se for necessário, até ficar bem, pois em algumas
ortografia. Enfim, a reescrita é crucial na produção de texto. ocasiões esse processo é imprescindível.

11
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
7. Papel do professor nesse processo Observe alguns exemplos:

As crianças que tem interlocutores no processo de produção


e destinatários para os seus textos dedicam tempo a planejar e são
capazes de revisar seus textos globalmente considerando a inten-
ção com que escrevem e o significado com que querem transmitir.
Para isso é necessário haver situações de ensino e aprendizagem
com a ajuda do professor.
Os professores, no entanto, devem construir as concepções
críticas sobre o que se quer analisar diante de um determinado tex-
to com a premissa de não prejudicar ou desestimular aquele aluno Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol.
que, com muito esforço conseguiu por suas palavras no papel.
O professor deve ajudar o aluno a desenvolver o que ele ain-
da não atingiu sozinho. Ângela Freire considera que o professor: É
um mediador que orienta o aprendizado no sentido de adiantar
o desenvolvimento do aluno, tornando-o ideal. O lugar do pro-
fessor é essencial na infância, sua prática não se dá no improviso,
tampouco é um ato inocente. Pelo contrário, tem uma intenciona-
lidade, e, de modo consciente ou inconsciente, explicito ou implíci-
to, é embasada por um corpo teórico metodológico que reflete o
modo de atuação, as crenças, os valores e a maneira de perceber e Placas de trânsito – “proibido andar de bicicleta”
conceber o homem, a sociedade, a educação, a escola, o conheci-
mento, o currículo, o processo ensino e aprendizagem, a avaliação,
o aluno, o professor. A intervenção pedagógica é determinante na
construção de todo e qualquer conhecimento.

LINGUAGEM: USO, FUNÇÕES, ANÁLISE;


LÍNGUA ORAL E ESCRITA.

Símbolo que se coloca na porta para indicar “sanitário


O que é linguagem? É o uso da língua como forma de expres- masculino”.
são e comunicação entre as pessoas. A linguagem não é somente
um conjunto de palavras faladas ou escritas, mas também de ges-
tos e imagens. Afinal, não nos comunicamos apenas pela fala ou
escrita, não é verdade?
Então, a linguagem pode ser verbalizada, e daí vem a analogia
ao verbo. Você já tentou se pronunciar sem utilizar o verbo? Se
não, tente, e verá que é impossível se ter algo fundamentado e
coerente! Assim, a linguagem verbal é a que utiliza palavras quan-
do se fala ou quando se escreve.
A linguagem pode ser não verbal, ao contrário da verbal, não
utiliza vocábulo, palavras para se comunicar. O objetivo, neste caso,
não é de expor verbalmente o que se quer dizer ou o que se está Imagem indicativa de “silêncio”.
pensando, mas se utilizar de outros meios comunicativos, como:
placas, figuras, gestos, objetos, cores, ou seja, dos signos visuais.
Vejamos:
- um texto narrativo, uma carta, o diálogo, uma entrevista, uma
reportagem no jornal escrito ou televisionado, um bilhete? = Lin-
guagem verbal!
Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de futebol,
o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança, o aviso de “não
fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identificação de “feminino” e
“masculino” através de figuras na porta do banheiro, as placas de
trânsito? = Linguagem não verbal!
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao mesmo Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”.
tempo, como nos casos das charges, cartoons e anúncios publici-
tários. Fonte: http://www.brasilescola.com/redacao/linguagem.htm

12
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Variações sociais ou culturais: Estão diretamente ligadas
aos grupos sociais de uma maneira geral e também ao grau
VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS; NORMA de instrução de uma determinada pessoa. Como exemplo, ci-
PADRÃO. tamos as gírias, os jargões e o linguajar caipira.
As gírias pertencem ao vocabulário específico de certos
grupos, como os surfistas, cantores de rap, tatuadores, entre
A linguagem é a característica que nos difere dos de- outros. Os jargões estão relacionados ao profissionalismo,
mais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar caracterizando um linguajar técnico. Representando a classe,
sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião podemos citar os médicos, advogados, profissionais da área
frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano e, so- de informática, dentre outros.
bretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social.
Dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os Vejamos um poema sobre o assunto:
níveis da fala, que são basicamente dois: o nível de formali-
dade e o de informalidade. Vício na fala
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem Para dizerem milho dizem mio
escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo Para melhor dizem mió
geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma ma- Para pior pió
neira que falamos. Este fator foi determinante para a que Para telha dizem teia
a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
Quanto ao nível informal, por sua vez, representa o
Oswald de Andrade
estilo considerado “de menor prestígio”, e isto tem gerado
controvérsias entre os estudos da língua, uma vez que, para
Fonte: http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-
a sociedade, aquela pessoa que fala ou escreve de maneira
-linguisticas.htm
errônea é considerada “inculta”, tornando-se desta forma
um estigma.
Níveis de linguagem
Compondo o quadro do padrão informal da linguagem,
estão as chamadas variedades linguísticas, as quais repre- A língua é um código de que se serve o homem para ela-
sentam as variações de acordo com as condições sociais, cul- borar mensagens, para se comunicar. Existem basicamente
turais, regionais e históricas em que é utilizada. Dentre elas duas modalidades de língua, ou seja, duas línguas funcionais:
destacam-se: 1) a língua funcional de modalidade culta, língua culta ou
língua-padrão, que compreende a língua literária, tem por
Variações históricas: Dado o dinamismo que a língua base a norma culta, forma linguística utilizada pelo segmento
apresenta, a mesma sofre transformações ao longo do tem- mais culto e influente de uma sociedade. Constitui, em suma,
po. Um exemplo bastante representativo é a questão da or- a língua utilizada pelos veículos de comunicação de massa
tografia, se levarmos em consideração a palavra farmácia, (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, painéis, anún-
uma vez que a mesma era grafada com “ph”, contrapon- cios, etc.), cuja função é a de serem aliados da escola, prestan-
do-se à linguagem dos internautas, a qual se fundamenta do serviço à sociedade, colaborando na educação;
pela supressão do vocábulos. Analisemos, pois, o fragmen- 2) a língua funcional de modalidade popular; língua popu-
to exposto: lar ou língua cotidiana, que apresenta gradações as mais diver-
sas, tem o seu limite na gíria e no calão.

Antigamente Norma culta:

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e A norma culta, forma linguística que todo povo civilizado
eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: possui, é a que assegura a unidade da língua nacional. E justa-
completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mes- mente em nome dessa unidade, tão importante do ponto de
mo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a vista político--cultural, que é ensinada nas escolas e difundida
asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.” nas gramáticas. Sendo mais espontânea e criativa, a língua po-
pular afigura-se mais expressiva e dinâmica. Temos, assim, à
Carlos Drummond de Andrade guisa de exemplificação:
Estou preocupado. (norma culta)
Comparando-o à modernidade, percebemos um voca- Tô preocupado. (língua popular)
bulário antiquado. Tô grilado. (gíria, limite da língua popular)

Variações regionais: São os chamados dialetos, que Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua;
são as marcas determinantes referentes a diferentes regiões. urge conhecer a língua popular, captando-lhe a espontanei-
Como exemplo, citamos a palavra mandioca que, em certos dade, expressividade e enorme criatividade, para viver; urge
lugares, recebe outras nomenclaturas, tais como: macaxeira conhecer a língua culta para conviver.
e aipim. Figurando também esta modalidade estão os sota- Podemos, agora, definir gramática: é o estudo das normas
ques, ligados às características orais da linguagem. da língua culta.

13
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O conceito de erro em língua: As formas impeço, despeço e desimpeço, dos verbos impedir,
despedir e desimpedir, respectivamente, são exemplos também de
Em rigor, ninguém comete erro em língua, exceto nos transgressões ou “erros” que se tornaram fatos linguísticos, já que
casos de ortografia. O que normalmente se comete são só correm hoje porque a maioria viu tais verbos como derivados
transgressões da norma culta. De fato, aquele que, num de pedir, que tem início, na sua conjugação, com peço. Tanto bas-
momento íntimo do discurso, diz: “Ninguém deixou ele fa- tou para se arcaizarem as formas então legítimas impido, despido
lar”, não comete propriamente erro; na verdade, transgride e desimpido, que hoje nenhuma pessoa bem-escolarizada tem
a norma culta. coragem de usar.
Um repórter, ao cometer uma transgressão em sua fala, Em vista do exposto, será útil eliminar do vocabulário escolar pa-
transgride tanto quanto um indivíduo que comparece a um lavras como corrigir e correto, quando nos referimos a frases. “Corrija
banquete trajando xortes ou quanto um banhista, numa estas frases” é uma expressão que deve dar lugar a esta, por exemplo:
praia, vestido de fraque e cartola. “Converta estas frases da língua popular para a língua culta”.
Releva considerar, assim, o momento do discurso, que Uma frase correta não é aquela que se contrapõe a uma frase
pode ser íntimo, neutro ou solene. O momento íntimo é o “errada”; é, na verdade, uma frase elaborada conforme as normas
das liberdades da fala. No recesso do lar, na fala entre ami- gramaticais; em suma, conforme a norma culta.
gos, parentes, namorados, etc., portanto, são consideradas
perfeitamente normais construções do tipo: Língua escrita e língua falada. Nível de linguagem:
Eu não vi ela hoje.
Ninguém deixou ele falar. A língua escrita, estática, mais elaborada e menos econômica,
Deixe eu ver isso! não dispõe dos recursos próprios da língua falada.
Eu te amo, sim, mas não abuse! A acentuação (relevo de sílaba ou sílabas), a entoação (me-
Não assisti o filme nem vou assisti-lo. lodia da frase), as pausas (intervalos significativos no decorrer do
Sou teu pai, por isso vou perdoá-lo. discurso), além da possibilidade de gestos, olhares, piscadas, etc.,
fazem da língua falada a modalidade mais expressiva, mais criativa,
Nesse momento, a informalidade prevalece sobre a mais espontânea e natural, estando, por isso mesmo, mais sujeita
norma culta, deixando mais livres os interlocutores. a transformações e a evoluções.
O momento neutro é o do uso da língua-padrão, que Nenhuma, porém, sobrepõe-se a outra em importância. Nas
é a língua da Nação. Como forma de respeito, tomam-se escolas, principalmente, costuma se ensinar a língua falada com
por base aqui as normas estabelecidas na gramática, ou base na língua escrita, considerada superior. Decorrem daí as cor-
seja, a norma culta. Assim, aquelas mesmas construções se reções, as retificações, as emendas, a que os professores sempre
alteram: estão atentos.
Eu não a vi hoje. Ao professor cabe ensinar as duas modalidades, mostrando
Ninguém o deixou falar. as características e as vantagens de uma e outra, sem deixar trans-
Deixe-me ver isso! parecer nenhum caráter de superioridade ou inferioridade, que
Eu te amo, sim, mas não abuses! em verdade inexiste.
Não assisti ao filme nem vou assistir a ele. Isso não implica dizer que se deve admitir tudo na língua fala-
Sou seu pai, por isso vou perdoar-lhe. da. A nenhum povo interessa a multiplicação de línguas. A nenhu-
ma nação convém o surgimento de dialetos, consequência natural
Considera-se momento neutro o utilizado nos veículos do enorme distanciamento entre uma modalidade e outra.
de comunicação de massa (rádio, televisão, jornal, revista, A língua escrita é, foi e sempre será mais bem-elaborada que
etc.). Daí o fato de não se admitirem deslizes ou transgres- a língua falada, porque é a modalidade que mantém a unidade lin-
sões da norma culta na pena ou na boca de jornalistas, guística de um povo, além de ser a que faz o pensamento atraves-
quando no exercício do trabalho, que deve refletir serviço sar o espaço e o tempo. Nenhuma reflexão, nenhuma análise mais
à causa do ensino. detida será possível sem a língua escrita, cujas transformações, por
O momento solene, acessível a poucos, é o da arte isso mesmo, processam-se lentamente e em número considera-
poética, caracterizado por construções de rara beleza. velmente menor, quando cotejada com a modalidade falada.
Vale lembrar, finalmente, que a língua é um costume. Importante é fazer o educando perceber que o nível da lin-
Como tal, qualquer transgressão, ou chamado erro, deixa guagem, a norma linguística, deve variar de acordo com a situação
de sê-lo no exato instante em que a maioria absoluta o co- em que se desenvolve o discurso.
mete, passando, assim, a constituir fato linguístico registro O ambiente sociocultural determina o nível da linguagem a ser
de linguagem definitivamente consagrado pelo uso, ainda empregado. O vocabulário, a sintaxe, a pronúncia e até a entoação
que não tenha amparo gramatical. Exemplos: variam segundo esse nível. Um padre não fala com uma criança
Olha eu aqui! (Substituiu: Olha-me aqui!) como se estivesse em uma missa, assim como uma criança não
Vamos nos reunir. (Substituiu: Vamo-nos reunir.) fala como um adulto. Um engenheiro não usará um mesmo dis-
Não vamos nos dispersar. (Substituiu: Não nos vamos curso, ou um mesmo nível de fala, para colegas e para pedreiros,
dispersar e Não vamos dispersar-nos.) assim como nenhum professor utiliza o mesmo nível de fala no
Tenho que sair daqui depressinha. (Substituiu: Tenho de recesso do lar e na sala de aula.
sair daqui bem depressa.) Existem, portanto, vários níveis de linguagem e, entre esses
O soldado está a postos. (Substituiu: O soldado está no níveis, destacam-se em importância o culto e o cotidiano, a que já
seu posto.) fizemos referência.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
uma argumentação que caracteriza o ponto de vista do au-
tor sobre o assunto em evidência. Nesse tipo de texto a
O TEXTO: TIPOLOGIA TEXTUAL; expressão das ideias, valores, crenças são claras, evidentes,
INTERTEXTUALIDADE; COESÃO E COERÊNCIA pois é um tipo de texto que propõe a reflexão, o debate
TEXTUAIS; O TEXTO E A PRÁTICA DE de ideias. A linguagem explorada é a denotativa, embora o
ANÁLISE LINGUÍSTICA. uso da conotação possa marcar um estilo pessoal. A obje-
tividade é um fator importante, pois dá ao texto um valor
universal, por isso geralmente o enunciador não aparece
TIPOLOGIA TEXTUAL porque o mais importante é o assunto em questão e não
quem fala dele. A ausência do emissor é importante para
Tipo textual é a forma como um texto se apresenta. As que a ideia defendida torne algo partilhado entre muitas
únicas tipologias existentes são: narração, descrição, dis- pessoas, sendo admitido o emprego da 1ª pessoa do plural
sertação ou exposição, informação e injunção. É impor- - nós, pois esse não descaracteriza o discurso dissertativo.
tante que não se confunda tipo textual com gênero textual. - expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
- é um tipo de texto argumentativo.
Texto Narrativo - tipo textual em que se conta fatos - defesa de um argumento: apresentação de uma tese
que ocorreram num determinado tempo e lugar, envolven- que será defendida; desenvolvimento ou argumentação;
do personagens e um narrador. Refere-se a objeto do mun- fechamento;
do real ou fictício. Possui uma relação de anterioridade e - predomínio da linguagem objetiva;
posterioridade. O tempo verbal predominante é o passado. - prevalece a denotação.
- expõe um fato, relaciona mudanças de situação,
aponta antes, durante e depois dos acontecimentos (ge- Texto Argumentativo - esse texto tem a função de
ralmente); persuadir o leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia im-
- é um tipo de texto sequencial; posta pelo texto. É o tipo textual mais presente em ma-
- relato de fatos; nifestos e cartas abertas, e quando também mostra fatos
- presença de narrador, personagens, enredo, cenário, para embasar a argumentação, se torna um texto disserta-
tempo; tivo-argumentativo.
- apresentação de um conflito;
- uso de verbos de ação; Texto Injuntivo/Instrucional - indica como realizar
- geralmente, é mesclada de descrições; uma ação. Também é utilizado para predizer acontecimen-
- o diálogo direto é frequente. tos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e sim-
ples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo
Texto Descritivo - um texto em que se faz um retrato imperativo, porém nota-se também o uso do infinitivo e
por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: Pre-
objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produção visões do tempo, receitas culinárias, manuais, leis, bula de
é o adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abor- remédio, convenções, regras e eventos.
dagem mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou
sentimentos. Não há relação de anterioridade e posterio- Narração
ridade. É fazer uma descrição minuciosa do objeto ou da
personagem a que o texto refere. Nessa espécie textual as A Narração é um tipo de texto que relata uma história
coisas acontecem ao mesmo tempo. real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto
- expõe características dos seres ou das coisas, apre- narrativo apresenta personagens que atuam em um tempo
senta uma visão; e em um espaço, organizados por uma narração feita por
- é um tipo de texto figurativo; um narrador. É uma série de fatos situados em um espa-
- retrato de pessoas, ambientes, objetos; ço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro,
- predomínio de atributos; segundo relações de sequencialidade e causalidade, e não
- uso de verbos de ligação; simultâneos como na descrição. Expressa as relações entre
- frequente emprego de metáforas, comparações e os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre es-
outras figuras de linguagem; ses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm
- tem como resultado a imagem física ou psicológica. essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada),
Texto Dissertativo - a dissertação é um texto que ana- o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e
lisa, interpreta, explica e avalia dados da realidade. Esse com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narra-
tipo textual requer reflexão, pois as opiniões sobre os fatos ção predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de
e a postura crítica em relação ao que se discute têm grande ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem
importância. O texto dissertativo é temático, pois trata de esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de
análises e interpretações; o tempo explorado é o presente ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história
no seu valor atemporal; é constituído por uma introdução que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de en-
onde o assunto a ser discutido é apresentado, seguido por redo.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
As ações contidas no texto narrativo são praticadas Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-
pelas personagens, que são justamente as pessoas en- -se de tal forma, que não é possível compreendê-los iso-
volvidas no episódio que está sendo contado. As persona- ladamente, como simples exemplos de uma narração. Há
gens são identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir
substantivos próprios. coerência e verossimilhança à história narrada. Quanto aos
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mes- elementos da narrativa, esses não estão, obrigatoriamente
mo sem querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  sempre presentes no discurso, exceto as personagens ou o
as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. fato a ser narrado.
O lugar onde ocorre uma ação ou ações  é chamado de
espaço, representado no texto pelos advérbios de lugar. Exemplo:
Além de contar onde, o narrador também pode es-
clarecer “quando” ocorreram as ações da história. Esse Porquinho-da-índia
elemento da narrativa é o tempo, representado no texto
narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente
Quando eu tinha seis anos
pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações
Ganhei um porquinho-da-índía.
no texto narrativo: é ele que indica ao leitor “como” o fato
Que dor de coração me dava
narrado aconteceu.
A história contada, por isso, passa por uma introdução Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), Levava ele pra sala
pelo desenvolvimento do enredo (é a história propria- Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
mente dita, o meio, o “miolo” da narrativa, também cha- Ele não gostava:
mada de trama) e termina com a conclusão da história (é o Queria era estar debaixo do fogão.
final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador,  Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impes- - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira na-
soal (narra em 3ª pessoa: Ele...). morada.
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por ver-
bos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed.
lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.
que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que
fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma Observe que, no texto acima, há um conjunto de trans-
rede: a própria história contada. formações de situação: ganhar um porquinho-da-índia é
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que passar da situação de não ter o animalzinho para a de tê-
conta a história. -lo; levá-lo para a sala ou para outros lugares é passar da
situação de ele estar debaixo do fogão para a de estar em
Elementos Estruturais (I): outros lugares; ele não gostava: “queria era estar debaixo
do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos. caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que
- Personagens: são seres que se movimentam, se re- o menino passava de uma situação de não ser terno com
lacionam e dão lugar à trama que se estabelece na ação. o animalzinho para uma situação de ser; no último verso
Revelam-se por meio de características físicas ou psicológi- tem-se a passagem da situação de não ter namorada para
cas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), com-
a de ter.
plexos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.)
Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande con-
ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o avarento etc.),
junto de mudanças de situação. É isso que define o que se
heróis ou anti-heróis, protagonistas ou antagonistas.
chama o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa
- Narrador: é quem conta a história.
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico. é uma mudança de estado pela ação de alguma persona-
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: gem, é uma transformação de situação. Mesmo que essa
o tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o personagem não apareça no texto, ela está logicamente
tempo interior, subjetivo. implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um
porquinho-da-índia, é porque alguém lhe deu o animalzi-
Elementos Estruturais (II): nho. Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele
em que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a
Personagens - Quem? Protagonista/Antagonista ter o porquinho-da índia) e aquele alguém perde alguma
Acontecimento - O quê? Fato coisa (o porquinho perdia, a cada vez que o menino o le-
Tempo - Quando? Época em que ocorreu o fato vava para outro lugar, o espaço confortável de debaixo do
Espaço - Onde? Lugar onde ocorreu o fato fogão). Assim, temos dois tipos de narrativas: de aquisição
Modo - Como? De que forma ocorreu o fato e de privação.
Causa - Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato
Resultado - previsível ou imprevisível.
Final - Fechado ou Aberto.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Existem três tipos de foco narrativo: “Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre
teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de
- Narrador-personagem: é aquele que conta a his- contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí.
tória na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a
personagem ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado
pessoa. da Lua, na escuridão das noites, na cerração das madru-
- Narrador-observador: é aquele que conta a história gadas...; ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que
como alguém que observa tudo que acontece e transmite ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca
ao leitor, a história é contada em 3ª pessoa. perdeu atalho, nunca desandou cruzada!...
- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o (...)
enredo e as personagens, revelando seus pensamentos e Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento
sentimentos íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas dele. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos
vezes, aparece misturada com pensamentos dos persona- desde muito tempo. (...)
gens (discurso indireto livre). Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório
na matança dos leitões e no tiramento dos assados com
Estrutura: couro.
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
- Apresentação: é a parte do texto em que são apre-
sentados alguns personagens e expostas algumas circuns- - Em 3ª pessoa:
tâncias da história, como o momento e o lugar onde a ação
se desenvolverá. Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia pro- pessoa. Exemplo:
priamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
conduzindo ao clímax. “Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fan-
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge tasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E
seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável. saiu à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, mor-
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas rendo de vergonha da malha de cetim, das asas e das an-
ações dos personagens. tenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa
para disfarçar o sentimento impreciso de ridículo.”
Tipos de Personagens: (Ilka Laurito. Sal do Lírico)

Os personagens têm muita importância na constru- Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história
ção de um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:
principais ou secundários, conforme o papel que desem-
penham no enredo, podem ser apresentados direta ou in- Festa
diretamente.
A apresentação direta acontece quando o personagem Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental
aparece de forma clara no texto, retratando suas caracterís- olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanha-
ticas físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se do de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro
dá quando os personagens aparecem aos poucos e o leitor mais novo, mas ambos com menos de dez anos.
vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas reso-
ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do lutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde
modo como vai fazendo. há seis mesas desertas.
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O
- Em 1ª pessoa: homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guara-
nás e dois pãezinhos.
Personagem Principal: há um “eu” participante que __ Duzentos e vinte.
conta a história e é o protagonista. Exemplo: O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bam- __ Como?
bas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. __ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito
Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vi- mais gostoso.
zinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando O homem olha para os meninos.
para amparar-me, e andava outra vez e estacava.” __ O preço é o mesmo – informa o rapaz.
(Machado de Assis. Dom Casmurro) __ Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhes-
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acre- tra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na
ditar, eu estava lá e vi. Exemplo: vida.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem
em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôn- diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:
dega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos
olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice Frio
se retira.
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene O menino tinha só dez anos.
o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde.
guaraná e morde o primeiro bocado do pão. Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia,
O homem toma a cerveja em pequenos goles, obser- afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos
vando criteriosamente o menino mais velho e o menino bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que per-
mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida. cebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)
Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois me- Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitri-
nes, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e
ninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutí-
esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para
veis, sentados naquela mesa.
nada.
(Wander Piroli)
__ Olho vivo – como dizia Paraná.
Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele
Tipos de Discurso: ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas
esquinas. O seu coraçãozinho se apertava.
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamen- Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mu-
te para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo: lher. Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo
jardim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele se-
Caso de Desquite guiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente
faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na passavam.
boca). Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto (João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço)
casado. Agora com mania de mulher. Todo velho é sem- Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do
-vergonha. personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente re-
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só cente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo:
não me pise, fico uma jararaca.
__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão. A Morte da Porta-Estandarte
__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está
bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de ma- Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços.
mar no primeiro mês. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso
__Você desempregado, quem é que fazia roça? segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse
__ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciên-
Fui jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no cia... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores?
mundo sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não está
dia o hominho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele
está bom? está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do País...
__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende? Abraçá-la no alto de uma colina...
(Aníbal Machado)
__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém
morre só. Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
Sequência Narrativa:
__ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
__ Eu arranjo.
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma
__ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem coordena-se a outra, uma implica a outra, uma subordina-se a
dois cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de me- outra.
lhor. Vai me deixar sem nada? A narrativa típica tem quatro mudanças de situação:
__ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou
potranca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um um dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
prato de comida e roupa lavada. - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma com-
__ Para onde foi a lavadeira? petência para fazer algo);
__ Quem? - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou
__ A mulata. devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
(...) - uma em que se constata que uma transformação se deu e
(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal) em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens
(geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os
maus).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto
pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata narrativo:
a realização de uma mudança é porque ela se verificou, e
ela efetua-se porque quem a realiza pode, sabe, quer ou - Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o
deve fazê-la. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um que aconteceu, quando e onde.
apartamento: quando se assina a escritura, realiza-se o ato - Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos
de compra; para isso, é necessário poder (ter dinheiro) e personagens.
querer ou dever comprar (respectivamente, querer deixar - Desenvolvimento: detalhes do fato.
de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido - Conclusão: consequências do fato.
despejado, por exemplo).
Algumas mudanças são necessárias para que outras se Caracterização Formal:
deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar
um bambu ou outro instrumento para derrubá-la. Para ter Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspec-
um carro, é preciso antes conseguir o dinheiro. to narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetivi-
dade, porquanto a criação e o colorido do contexto estão
Narrativa e Narração em função da individualidade e do estilo do narrador. De-
pendendo do enfoque do redator, a narração terá diver-
Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narrativi- sas abordagens. Assim é de grande importância saber se
dade é um componente narrativo que pode existir em tex- o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No
tos que não são narrações. A narrativa é a transformação primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há
de situações. Por exemplo, quando se diz “Depois da aboli- uma inferência do último através da onipresença e onis-
ção, incentivou-se a imigração de europeus”, temos um tex- ciência.
to dissertativo, que, no entanto, apresenta um componente Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação
narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não dos acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, trans-
incentivo ao incentivo da imigração européia. gredindo o aspecto linear e constituindo o que se deno-
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de mina “flashback”. O narrador que usa essa técnica (carac-
texto, o que é narração? terística comum no cinema moderno) demonstra maior
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três carac- criatividade e originalidade, podendo observar as ações
terísticas: ziguezagueando no tempo e no espaço.
- é um conjunto de transformações de situação (o texto
de Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, Exemplo - Personagens
preenche essa condição);
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
e fatos concretos (o texto “Porquinho-da-índia” preenche Amâncio não viu a mulher chegar.
também esse requisito); - Não quer que se carpa o quintal, moço?
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face
tal que, entre elas, existe sempre uma relação de anterio- escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa
ridade e posterioridade (no texto “Porquinho-da-índia” o do passado, os olhos).”
fato de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debai-
xo do fogão, que por sua vez é anterior ao de o menino (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre:
levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao de o Mercado Aberto, p. 5O)
porquinho-da-índia voltar ao fogão).
Exemplo - Espaço
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sem- Considerarei longamente meu pequeno deserto, a re-
pre pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequên- dondeza escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco
cia linear da temporalidade apareça alterada. Assim, por de algum rio. Não havia, em todo o caso, como negar-lhe
exemplo, no romance machadiano Memórias póstumas de a insipidez.”
Brás Cubas, quando o narrador começa contando sua mor- (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann.
te para em seguida relatar sua vida, a sequência temporal Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da
leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade. Exemplo - Tempo
Resumindo: na narração, as três características expli-
cadas acima (transformação de situações, figuratividade e “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-
relações de anterioridade e posterioridade entre os episó- -se: a mulher lhe pediu que a chamasse cedo.”
dios relatados) devem estar presentes conjuntamente. Um (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
texto que tenha só uma ou duas dessas características não
é uma narração.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Tipologia da Narrativa Ficcional: Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do pro-
fessor da escola que o escritor frequentava. Deve-se notar:
- Romance - que todas as frases expõem ocorrências simultâneas
- Conto (ao mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo
- Crônica que os outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Rai-
- Fábula mundo tinha grande medo ao pai);
- Lenda - por isso, não existe uma ocorrência que possa ser
- Parábola considerada cronologicamente anterior a outra do ponto
- Anedota de vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na
- Poema Épico escola é cronologicamente anterior a retirar-se dela; no ní-
vel do relato, porém, a ordem dessas duas ocorrências é
Tipologia da Narrativa Não-Ficcional: indiferente: o que o escritor quer é explicitar uma caracte-
rística do menino, e não traçar a cronologia de suas ações);
- Memorialismo - ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se),
- Notícias todas elas estão no pretérito imperfeito, que indica conco-
- Relatos mitância em relação a um marco temporal instalado no tex-
- História da Civilização to (no caso, o ano de 1840, em que o escritor frequentava
a escola da rua da Costa) e, portanto, não denota nenhuma
Apresentação da Narrativa: transformação de estado;
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não
- visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em qua- correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológi-
drinhos) e desenhos. ca - poderíamos mesmo colocar o últímo período em pri-
- auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos. meiro lugar e ler o texto do fim para o começo: O mestre
- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas. era mais severo com ele do que conosco. Entrava na escola
depois do pai e retirava-se antes...
Descrição
Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enun-
É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação
ciados pode ser invertida, está-se pensando apenas na
ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares
ordem cronológica, pois, como veremos adiante, a ordem
ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja
em que os elementos são descritos produz determinados
apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em
efeitos de sentido.
imagens. Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma
pessoa ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Quando alteramos a ordem dos enunciados, preci-
Não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista samos fazer certas modificações no texto, pois este con-
do observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa tém anafóricos (palavras que retomam o que foi dito an-
forma, o que será importante ser analisado para um, não será para tes, como ele, os, aquele, etc. ou catafóricos (palavras que
outro. A vivência de quem descreve também influencia na hora de anunciam o que vai ser dito, como este, etc.), que podem
transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto, pes- perder sua função e assim não ser compreendidos. Se to-
soa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento. marmos uma descrição como As flores manifestavam
todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao inver-
Exemplos: termos a ordem das frases, precisamos fazer algumas al-
terações, para que o texto possa ser compreendido: O Sol
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas a fazia as flores brilhar. Elas manifestavam todo o seu
penumbra dos ramos cobria o atalho. esplendor. Como, na versão original, o pronome oblíquo
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, peque- as é um anafórico que retoma flores, se alterarmos a or-
nas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instantes dem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos
já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-la
estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era com o anafórico elas na segunda.
estranho, suave demais, grande demais.” Por todas essas características, diz-se que o fragmento
(extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector) do conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de
texto em que se expõem características de seres concretos
(II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, (pessoas, objetos, situações, etc.) consideradas fora da re-
inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo lação de anterioridade e de posterioridade.
que a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia
com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a Características:
isso grande medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente;
raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava- - Ao fazer a descrição enumeramos características,
-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco. comparações e inúmeros elementos sensoriais;
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. - As personagens podem ser caracterizadas física e psi-
São Paulo, Ática, 1974, págs. 31-32.) cologicamente, ou pelas ações;

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- A descrição pode ser considerada um dos elementos Exemplo:
constitutivos da dissertação e da argumentação;
- É impossível separar narração de descrição; “Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no quei-
mas sim a capacidade de observação que deve revelar xo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco
aquele que a realiza. amolgado no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exem- outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto
plo: “(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais ve- lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não
lha pelo desenvolvimento das proporções. Grande, carnu- tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos
da, sanguínea e fogosa, era um desses exemplares exces- da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras.
sivos do sexo que parecem conformados expressamente Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito
para esposas da multidão (...)” (Raul Pompéia – O Ateneu) despegadas do crânio.”
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, (Eça de Queiroz - O Primo Basílio)
não existe relação de anterioridade e posterioridade entre
seus enunciados. - Emprego de figuras (metáforas, metonímias, compa-
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, rações, sinestesias). Exemplo:
que se usem então as formas nominais, o presente e o pre-
tério imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferên- “Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não
cia aos verbos que indiquem estado ou fenômeno. muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês.
- Todavia deve predominar o emprego das compara- Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade
ções, dos adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido buliçosa e saltitante que lhe dava petulância de rapaz e ca-
ao texto. sava perfeitamente com os olhinhos de azougue.”
(José de Alencar - Senhora)
A característica fundamental de um texto descritivo é
- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo:
essa inexistência de progressão temporal. Pode-se apre-
sentar, numa descrição, até mesmo ação ou movimento,
“Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha,
desde que eles sejam sempre simultâneos, não indicando
e essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois
progressão de uma situação anterior para outra posterior.
você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma esca-
Tanto é que uma das marcas linguísticas da descrição é o
dinha que devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na
predomínio de verbos no presente ou no pretérito imper-
sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde
feito do indicativo: o primeiro expressa concomitância em
saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, de-
relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um pois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e atrás ain-
marco temporal pretérito instalado no texto. da tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...”
Para transformar uma descrição numa narração, (Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
bastaria introduzir um enunciado que indicasse a passa-
gem de um estado anterior para um posterior. No caso do Recursos:
texto II inicial, para transformá-lo em narração, bastaria di-
zer: Reunia a isso grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou- - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações tér-
-se desse medo... micas. Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor
alegre do sol.
Características Linguísticas: - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exa-
tas, concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um
O enunciado narrativo, por ter a representação de um céu sereno, uma pureza de cristal.
acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela tem- - As sensações de movimento e cor embelezam o po-
poralidade, na relação situação inicial e situação final, en- der da natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde
quanto que o enunciado descritivo, não tendo transforma- transparente que deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
ção, é atemporal. - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintá- do texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O
tico-semânticas encontradas no texto que vão facilitar a pessoal, muito crente.
compreensão:
- Predominância de verbos de estado, situação ou in- A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
dicadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados
principalmente no presente e no imperfeito do indicativo Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a
(ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar). passagem são apresentadas como realmente são, concre-
- Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que tamente. Exemplo:
é descrito;
“Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética,
ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabe-
los negros e lisos”.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág.
Exemplo: 497.

“A casa velha era enorme, toda em largura, com porta O poeta descreve-se das características físicas para as
central que se alcançava por três degraus de pedra e quatro características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não
janelas de guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique seria o mesmo, pois as características físicas perderiam
barreado, dentro de uma estrutura de cantos e apoios de ma- qualquer relevo.
deira-de-lei. Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a vi-
Devia ser mais velha que Juiz de Fora, provavelmente sede sualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de
de alguma fazenda que tivesse ficado, capricho da sorte, na um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas característi-
linha de passagem da variante do Caminho Novo que veio cas exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva),
a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre a qual ela ou suas características psicológicas e até emocionais (des-
se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente do crição subjetiva).
alinhamento (...).” Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de ad-
jetivos, também denominado adjetivação. Para facilitar o
(Pedro Nava – Baú de Ossos) aprendizado desta técnica, sugere-se que o concursando,
após escrever seu texto, sublinhe todos os substantivos,
acrescentando antes ou depois deste um adjetivo ou uma
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da locução adjetiva.
emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem
são transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
opinar ou expressar seus sentimentos. Exemplo:
“Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao - Introdução: observações de caráter geral referentes à
homem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como procedência ou localização do objeto descrito.
uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (com-
anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...”
paração com figuras geométricas e com objetos semelhan-
tes); dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro
(“O Ateneu”, Raul Pompéia)
etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso,
cor/brilho, textura.
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a
esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-
sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o
-de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, man-
dando por lei, de sobregoverno.” objeto como um todo.
Descrição de objetos constituídos por várias partes:
(Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas) - Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito.
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos ele- - Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentá-
mentos descritivos: rios das partes que compõem o objeto, associados à expli-
cação de como as partes se agrupam para formar o todo.
Como se disse anteriormente, do ponto de vista da pro- - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um
gressão temporal, a ordem dos enunciados na descrição é in- todo (externamente) - formato, dimensões, material, peso,
diferente, uma vez que eles indicam propriedades ou caracte- textura, cor e brilho.
rísticas que ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é - Conclusão: observações de caráter geral referentes a
indiferente do ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o
de cima para baixo ou vice-versa, do detalhe para o todo ou objeto em sua totalidade.
do todo para o detalhe cria efeitos de sentido distintos.
Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, Descrição de ambientes:
de Bocage: - Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura glo-
Magro, de olhos azuis, carão moreno, bal do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, lumi-
bem servido de pés, meão de altura, nosidade e aroma (se houver).
triste de facha, o mesmo de figura, - Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a
nariz alto no meio, e não pequeno. objetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros,
esculturas ou quaisquer outros objetos.
Incapaz de assistir num só terreno, - Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira
mais propenso ao furor do que à ternura; no ambiente.
bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Descrição de paisagens: Folheto de propaganda de carro
- Introdução: comentário sobre sua localização ou
qualquer outra referência de caráter geral. Conforto interno - É impossível falar de conforto sem
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo (ex- incluir o espaço interno. Os seus interiores são amplos, aco-
plicação do que se vê ao longe). modando tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar condicio-
próximos do observador - explicação detalhada dos ele- nado de elevada capacidade, proporcionando a climatização
mentos que compõem a paisagem, de acordo com deter- perfeita do ambiente.
minada ordem. Porta-malas - O compartimento de bagagens possui ca-
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluin- pacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500
do acerca da impressão que a paisagem causa em quem litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado.
a contempla. Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras,
Descrição de pessoas (I): para evitar a deformação em caso de colisão.
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de
qualquer aspecto de caráter geral. Textos descritivos literários: Na descrição literária pre-
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, domina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de as-
cor da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas). sociações conotativas que podem ser exploradas a partir de
- Desenvolvimento: características psicológicas (perso- descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambien-
nalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, tes; situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos
postura, objetivos). também podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de
caráter geral. Dissertação

A dissertação é uma exposição, discussão ou interpre-


Descrição de pessoas (II):
tação de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar al-
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de
gum tema. Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica,
qualquer aspecto de caráter geral.
raciocínio, clareza, coerência, objetividade na exposição, um
- Desenvolvimento: análise das características físicas,
planejamento de trabalho e uma habilidade de expressão. É
associadas às características psicológicas (1ª parte).
em função da capacidade crítica que se questionam pontos
- Desenvolvimento: análise das características físicas,
da realidade social, histórica e psicológica do mundo e dos
associadas às características psicológicas (2ª parte).
semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu sig-
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de
nificado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição
caráter geral. de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalida-
de de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou
A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. artístico. Exemplo:
É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais
predominam. Porque toda técnica descritiva implica con- Há três métodos pelos quais pode um homem chegar
templação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o a ser primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudên-
redator, ao descrever, precisa possuir certo grau de sensi- cia, como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma
bilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o
interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza terceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção
cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade. da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que
se valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à
não-literária ou literária. Na descrição não-literária, há vontade e às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos
maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a pre- os cargos, conservam-se no poder esses ministros subordi-
cisão vocabular. Por ser objetiva, há predominância da de- nando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal,
notação. por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe
expliquei), garantem-se contra futuras prestações de contas
Textos descritivos não-literários: A descrição técnica e retiram-se da vida pública carregados com os despojos da
é um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usan- nação.
do uma linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é Jonathan Swift. Viagens de Gulliver.
usado para descrever aparelhos, o seu funcionamento, as São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235.
peças que os compõem, para descrever experiências, pro-
cessos, etc. Exemplo: Esse texto explica os três métodos pelos quais um ho-
mem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe
discreto a escolhê-lo entre os que clamam contra a corrup-
ção na corte e justifica esse conselho. Observe-se que:

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realida- - Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
de com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o as-
homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro- sunto do texto. Ex: “A principal característica do déspota
-ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos encontra-se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das
para atingir o poder); normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mu- espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário,
dança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte pois decorre exclusivamente de sua vontade, de seu prazer
no momento em que se tornam primeiros-ministros); e de suas necessidades.”
- a progressão temporal dos enunciados não tem impor- - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos
tância, pois o que importa é a relação de implicação (clamar que compõem o texto.
contra a corrupção da corte implica ser corrupto depois da no- - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se
meação para primeiro-ministro). faz a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entu-
siasmo pelo futebol não é uma prova de alienação?”
Características: - Suspense: alguma informação que faça aumentar a
curiosidade do leitor.
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é te- - Comparação: social e geográfica.
mático; - Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação; distância, velocidade, comunicação, linha de montagem,
- ao contrário do texto narrativo, nele as relações de triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm das realidades que marcaram esses 100 últimos anos, apa-
maior importância - o que importa são suas relações lógicas: rece a verdadeira doença do século...”
analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondên- - Narração: narrar um fato.
cia, implicação, etc.
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial,
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem carac- de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais
terísticas próprias a cada tipo de texto. importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias
  formas:
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento
/ Conclusão. - Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova
com este tipo de abordagem.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a - Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. a idéia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a
Tipos: definição.
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar si-
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discuti- tuações distintas.
dos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que - Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta
olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” pontos favoráveis e desfavoráveis.
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um - Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo ou descrever uma cena.
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que - Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados es-
a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas tatísticos.
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, - Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para
cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população prováveis resultados.
brasileira.” - Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve
- Proposição: o autor explicita seus objetivos. apresentar questionamento e reflexão.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma - Refutação: questiona-se praticamente tudo: concei-
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer tos, valores, juízos.
se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos
Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse mo- porquês de uma determinada situação.
mento! - Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
- Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É - Exemplificação: dar exemplos.
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é
a solução no combate à insegurança.” Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fe-
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. chamento integrado de tudo que se argumentou. Para ela
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas.
1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televiso-
res. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
receptores instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repeti- pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão
doras (que apenas retransmitem sinais recebidos). (...)” de quem lê.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Exemplo: 7º Parágrafo: Conclusão
F. Uma possível solução é apresentada.
Direito de Trabalho G. O texto conclui que desigualdade não se casa com
modernidade.
Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um
novo modelo econômico: o capitalismo, que até o século É bom lembrarmos que é praticamente impossível
XX agia por meio da inclusão de trabalhadores e hoje pas- opinar sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos
sou a agir por meio da exclusão. (A) é um dos recursos que permite uma segurança maior no
A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo momento de dissertar sobre algum assunto. Debater e pes-
o trabalho automático, devido à evolução tecnológica e a quisar são atitudes que favorecem o senso crítico, essencial
necessidade de qualificação cada vez maior, o que provoca no desenvolvimento de um texto dissertativo.
o desemprego. Outro fator que também leva ao desempre-
go de um sem número de trabalhadores é a contenção de Ainda temos:
despesas, de gastos. (B)
Segundo a Constituição, “preocupada” com essa cri- Tema: compreende o assunto proposto para discussão,
se social que provém dessa automatização e qualificação, o assunto que vai ser abordado.
obriga que seja feita uma lei, em que será dada absoluta Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo
garantia aos trabalhadores, de que, mesmo que as empre- discutido.
sas sejam automatizadas, não perderão eles seu mercado Argumentação: é um conjunto de procedimentos lin-
de trabalho. (C) guísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas
Não é uma utopia?! opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É for-
Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na necer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma
colheita da cana de açúcar que devido ao avanço tecnoló- determinada tese.
gico e a lei do governador Geraldo Alkmin, defendendo o Estes assuntos serão vistos com mais afinco posterior-
meio ambiente, proibindo a queima da cana de açúcar para
mente.
a colheita e substituindo-os então pelas máquinas, desem-
prega milhares deles. (D)
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão
cursos de cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não per-
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessi-
derem o mercado de trabalho, aumentando, com isso, a
dade de pleno domínio do assunto e habilidade de argu-
classe de trabalhos informais.
mentação;
Como ficam então aqueles trabalhadores que passa-
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao
ram à vida estudando, se especializando, para se diferen-
ciarem e ainda estão desempregados?, como vimos no úl- tema;
timo concurso da prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”, - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
havia até advogado na fila de inscrição. (E) - impõem-se sempre o raciocínio lógico;
Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos - a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer
têm o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstra-
que almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse ção do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural,
processo de desníveis gritantes e criar soluções eficazes original, nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve
para combater a crise generalizada (F), pois a uma nação ser impessoal (evitar-se o uso da primeira pessoa).
doente, miserável e desigual, não compete a tão sonhada
modernidade. (G) O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apre-
sentar: uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear)
1º Parágrafo – Introdução e uma ou mais frases que explicitem tal ideia.
Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada
A. Tema: Desemprego no Brasil. (ideia central) porque oculta os problemas sociais realmen-
Contextualização: decorrência de um processo histó- te graves. (ideia secundária)”.
rico problemático. Vejamos:
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser comba-
2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento tida urgentemente.

B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser
remetem a uma análise do tema em questão. combatida urgentemente, pois a alta concentração de ele-
C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro mentos tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas,
dado da realidade. sobretudo daquelas que sofrem de problemas respirató-
D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade rios:
de quem propõe soluções.
E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes,
muita gente ao vício. encontra no seu desenvolvimento um segmento causal
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação (fato motivador) e, em outras situações, um segmento indi-
criados pelo homem. cando consequências (fatos decorrentes).
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cida- Exemplos:
des e hoje parece claro que esse problema não pode ser resol-
vido apenas pela polícia. - O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanida-
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atualmente. de que abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a so- em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam.
ciedade brasileira.
- O espírito competitivo foi excessivamente exerci-
O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: do entre nós, de modo que hoje somos obrigados a viver
numa sociedade fria e inamistosa.
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série
de coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de caracterís- Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos mar-
ticas, funções, processos, situações, sempre oferecendo o com- cam temporal e espacialmente a evolução de ideias, pro-
plemente necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. cessos.
Pode-se enumerar, seguindo-se os critérios de importância, pre- Exemplos:
ferência, classificação ou aleatoriamente.
Exemplo: Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma
lenta evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. De-
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por pois deu um significado a cada grunhido. Muito depois,
várias causas: alimentação inadequada, falta de exercícios siste- inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde é que
máticos e demasiada permanência diante de computadores e passou à comunicação de massa.
aparelhos de Televisão.
Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas
úmidos, os solos são profundos. Existe nessas regiões uma
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o
forte decomposição de rochas, isto é, uma forte transfor-
número de emissoras que dedicam parte da sua programação à
mação da rocha em terra pela umidade e calor. Nas regiões
veiculação de programas religiosos de crenças variadas.
temperadas e ainda nas mais frias, a camada do solo é pou-
co profunda. (Melhem Adas)
3-
- A Santa Missa em seu lar.
- Terço Bizantino. Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se
- Despertar da Fé. conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las
- Palavra de Vida. mais compreensíveis.
- Igreja da Graça no Lar. Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue prove-
niente do coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão
4- umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração, todas
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o go- as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigena-
verno brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios do. Na artéria pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais
sociológicos e poluição. escuro e desoxigenado, que o coração remete para os pul-
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar mões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”.
pelos caminhos do crime.
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, por- Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação,
que pode trazer muitas consequências indesejáveis. deve delimitar-se o tema que será desenvolvido e que po-
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua sobrevi- derá ser enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo,
vência no mundo atual e vários são os tipos de lazer. o tema é a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a
- O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em partir das seguintes ideias:
várias categorias.
- A violência contra os povos indígenas é uma constan-
Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através te na história do Brasil.
da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apre- - O surgimento de várias entidades de defesa das po-
senta-lhes a semelhança ou dessemelhança. pulações indígenas.
Exemplo: - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
brasileiro.
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente
sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que
a felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
(Arthur Schopenhauer)

26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e
deve fazer a estruturação do texto. limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
Análise da proposição ou tese: definição do sentido da
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-
-entendidos.
Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvol- Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados es-
vida (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do tex- tatísticos, testemunhos, etc.
to, por isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção
para dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do Conclusão.
desenvolvimento. Contém a proposição do tema, seus limites,
ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser defendida. Observe o texto a seguir, que contém os elementos re-
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão fun- feridos do plano-padrão da argumentação formal.
damentar a ideia principal que pode vir especificada através
da argumentação, de pormenores, da ilustração, da causa e Gramática e desempenho Linguístico
da consequência, das definições, dos dados estatísticos, da
ordenação cronológica, da interrogação e da citação. No de- Pretende-se demonstrar no presente artigo que o es-
senvolvimento são usados tantos parágrafos quantos forem tudo intencional da gramática não traz benefícios signifi-
necessários para a completa exposição da ideia. E esses pará- cativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma
grafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas língua.
acima. Por “estudo intencional da gramática” entende-se o
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora estudo de definições, classificações e nomenclatura; a rea-
deve aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que lização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a
já foi fundamentada durante o desenvolvimento da disser- memorização de regras (de concordância, regência e colo-
tação (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, cação) - para citar algumas áreas. O “desempenho linguís-
o objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese tico”, por outro lado, é expressão técnica definida como
ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no sendo o processo de atualização da competência na pro-
desenvolvimento. dução e interpretação de enunciados; dito de maneira mais
simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições
Texto Argumentativo reais de comunicação.
A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem
Texto Argumentativo é o texto em que defendemos uma
antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgi-
ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por
ram as primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte
todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-
de escrever”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da
-a, creia nela. Num texto argumentativo, distinguem-se três
sua importância para a prática da língua. São da mesma
componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argu-
época também as primeiras críticas, como se pode ler em
mentativas.
Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc. II a.C.: “Raça
de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, es-
Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessa-
riamente polêmica, pois a argumentação implica divergência túpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos
de opinião. poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão,
Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Ar- ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos”.
gumentum, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é Na atualidade, é grande o número de educadores, filó-
“fazer brilhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “ar- logos e linguistas de reconhecido saber que negam a rela-
gúcia”, “arguto”. Os argumentos de um texto são facilmente ção entre o estudo intencional da gramática e a melhora do
localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialis-
Exemplo: o autor é contra a pena de morte (tese). Por que... tas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft
(argumentos). com sus obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção
Estratégias argumentativas são todos os recursos (ver- de língua materna e seu ensino” (L&PM, 1995). Com efeito,
bais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua,
para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi- teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística,
-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc. reúne numa mesma obra convincente fundamentação para
seu combate veemente contra o ensino da gramática em
A Estrutura de um Texto Argumentativo sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:
“Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez
A argumentação Formal abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo
de querer ensinar a língua por definições, classificações,
A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Comu- análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas.
nicação em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada obra, Já seria um grande benefício”.
apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de ar-
gumentação formal:

27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como re-
acima referida suponha-se que se deva recuperar linguisti- cuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor
camente um jovem estudante universitário cujo texto apre- desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria
sente preocupantes problemas de concordância, regência, gramatical. O caminho é seguramente outro.
colocação, ortografia, pontuação, adequação vocabular,
coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, esti- Gilberto Scarton
mando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que
ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:
Que é fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta?
O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia
Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração subor- claramente a tese a ser defendida.
dinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E de- Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se definem
corasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, as expressões “estudo intencional da gramática” e “desempe-
parônimos, de verbos irregulares... e estudasse o plural de nho lingüístico”, citadas na tese.
compostos, todas regras de concordância, regências... os Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e
casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.
todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho - Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumenta-
do jovem estudante na produção de um texto. A melhora ção.
seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena - Quarto parágrafo: argumento de autoridade.
melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de - Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hi-
coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os potética.
mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja - Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatís-
porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanis- ticos.
mos que presidem à construção do texto. - Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.
Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta a
Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é ape-
conclusão.
nas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco
valor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como
A Argumentação Informal
essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino
de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório,
A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já refe-
classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O re-
rida. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
sultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo
- Citação da tese adversária.
40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no
- Argumentos da tese adversária.
vestibular 1996/1, na PUC-RS: nota zero: 10% dos candida- - Introdução da tese a ser defendida.
tos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. - Argumentos da tese a ser defendida.
Ou seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto - Conclusão.
que pode ser considerado bom.
Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lem- Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores
brando que são os gramáticos, os linguistas - como es- Lenz, Promotor de Justiça.
pecialistas das línguas - as pessoas que conhecem mais a
fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos linguís- Considerações sobre justiça e equidade
ticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa
influência do conhecimento teórico da língua sobre o de- Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadê-
sempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os linguis- mico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos
tas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática concretos que são apresentados perante os tribunais, deve nor-
isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e
tese que se vem defendendo. menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar,
Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos
significativa, deveriam os melhores escritores conhecer - à sua apreciação.
teoricamente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, Semelhante entendimento tem sido sistematicamente rei-
não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando es- terado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados sim-
tudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito prova- plesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados
velmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de
Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia en- injustiça ou inadequação à realidade nacional.
tendido; dificilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pes-
que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos soal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos
bons escritores seriam aprovados num teste de Português quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos
à maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os peri-
da língua!). gos da generalização desse entendimento.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;
dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal
contra os princípios da legalidade e da separação de pode- Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita
res, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de de- a tese adversária.
mocracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado. Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita
Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o um argumento da tese adversária “... fulminando ditos dile-
insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista mas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à rea-
português, ao afirmar que: “O magistrado não pode so- lidade nacional”.
brepor os seus próprios juízos de valor aos que estão en- Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se intro-
carnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha duz a tese a ser defendida.
previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que
caso é omisso”. se apresentam os argumentos.
Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que
qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que
popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúci- ficou dito ao longo da argumentação.
da visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa
situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria, Texto Injuntivo/Instrucional
na condição de legislador.
A esta altura, adotando tal entendimento, estaria insti- No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orien-
tucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria tações precisas no sentido de efetuar uma transformação.
mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao É marcado pela presença de tempos e modos verbais que
sabor dos humores e amores do juiz de plantão. apresentam um valor diretivo. Este tipo de texto distingue-
De nada adiantariam as eleições, eis que os represen- -se de uma sequencia narrativa pela ausência de um sujeito
tantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua responsável pelas ações a praticar e pelo caráter diretivo
dos tempos e modos verbais usado e uma sequência des-
maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.
critiva pela transformação desejada.
Desapareceriam também os juízes de conveniência e
Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma
oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na
ordem, dada ao locutor, para executar (ou não executar)
medida em que sempre poderiam ser afastados por uma
tal ou tal ação. As formas verbais específicas destas frases
esfera revisora excepcional.
estão no modo injuntivo e o imperativo é uma das formas
A própria independência do parlamento sucumbiria in-
do injuntivo.
tegralmente frente à possibilidade de inobservância e des-
consideração de suas deliberações. Textos Injuntivo-Instrucionais: Instruções de monta-
Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nos- gem, receitas, horóscopos, provérbios, slogans... são textos
sa civilização. que incitam à ação, impõem regras; textos que fornecem
Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete instruções. São orientados para um comportamento futuro
fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos do destinatário.
demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as
atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como Texto Injuntivo - A necessidade de explicar e orien-
proceder. tar por escrito o modo de realizar determinados procedi-
Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto mentos, manipular instrumentos, desenvolver atividades
dessa concepção. lúdicas e desempenhar algumas funções profissionais, por
Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, exemplo, deu origem aos chamados textos injuntivos, nos
sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio quais prevalece a função apelativa da linguagem, criando-
conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio -se uma relação direta com o receptor. É comum aos textos
in adjecto. dessa natureza o uso dos verbos no imperativo (Abra o ca-
Isto porque, e como magistralmente o salientou o insu- derno de questões) ou no infinitivo (É preciso abrir o cader-
perável Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no no de questões, verificar o número de alternativas...). Não
sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, apresenta caráter coercitivo, haja vista que apenas induz
no sentido mais apertado, mas menos incerto, da confor- o interlocutor a proceder desta ou daquela forma. Assim,
midade com o direito constituído, independentemente da torna-se possível substituir um determinado procedimento
correspondente com a justiça social”. em função de outro, como é o caso do que ocorre com
Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios os ingredientes de uma receita culinária, por exemplo. São
concretos de efetivação da Justiça social compete, funda- exemplos dessa modalidade:
mentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus - A mensagem revelada pela maioria dos livros de au-
membros são indicados diretamente pelo povo. toajuda;
Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, - O discurso manifestado mediante um manual de ins-
adequando o proceder daqueles aos ditames da Constitui- truções;
ção e da Legislação. - As instruções materializadas por meio de uma receita
Luís Alberto Thompson Flores Lenz culinária.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Texto Instrucional - o texto instrucional é um tipo de INTERTEXTUALIDADE
texto injuntivo, didático, que tem por objetivo justamente
apresentar orientações ao receptor para que ele realize deter- A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre
minada atividade. Como as palavras do texto serão transfor- dois textos. Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Men-
madas em ações visando a um objetivo, ou seja, algo deverá des (século XX) faz referência ao texto de Gonçalves Dias (século XIX):
ser concretizado, é de suma importância que nele haja clareza
e objetividade. Dependendo do que se trata, é imprescindível Canção do Exílio  
haver explicações ou enumerações em que estejam elencados
os materiais a serem utilizados, bem como os itens de determi- Minha terra tem palmeiras,
nados objetos que serão manipulados. Por conta dessas carac- Onde canta o Sabiá;
terísticas, é necessário um título objetivo. Quanto à pontuação, As aves, que aqui gorjeiam,
frequentemente empregam-se dois pontos, vírgulas e pontos Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
e vírgulas. É possível separar as orientações por itens ou de
Nossas várzeas têm mais flores,
modo coeso, por meio de períodos. Alguns textos instrucio-
Nossos bosques têm mais vida,
nais possuem subtítulos separando em tópicos as instruções,
Nossa vida mais amores.
basta reparar nas bulas de remédios, manuais de instruções e
receitas. Pelo fato de o espaço destinado aos textos instrucio- Em cismar, sozinho, à noite,
nais geralmente não ser muito extenso, recomenda-se o uso Mais prazer encontro eu lá;
de períodos. Leia os exemplos. Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Texto organizado em itens:
Minha terra tem primores,
Para economizar nas compras Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Quem deseja economizar ao comprar deve: Mais prazer encontro eu lá;
- estabelecer um valor máximo para gastar; Minha terra tem palmeiras,
- escolher previamente aquilo que deseja comprar antes Onde canta o Sabiá.
de ir à loja ou entrar em sites de compra;
- pesquisar os preços em diferentes lojas e sites, se pos- Não permita Deus que eu morra,
sível; Sem que eu volte para lá;
- não se deixar levar completamente pelas sugestões dos Sem que desfrute os primores
vendedores nem pelos apelos das propagandas; Que não encontro por cá;
- optar pela forma de pagamento mais cômoda, sem se Sem qu’inda aviste as palmeiras,
esquecer de que o uso do cartão de crédito exige certa cautela Onde canta o Sabiá.”
e planejamento.
Do mais, é só ir às compras e aproveitar! (Gonçalves Dias)

Texto organizado em períodos: Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia


Para economizar nas compras
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
Para economizar ao comprar, primeiramente estabeleça
são pretos que vivem em torres de ametista,
um valor máximo para gastar e então escolha previamente os sargentos do exército são monistas, cubistas,
aquilo que deseja comprar antes de ir à loja ou entrar em sites os filósofos são polacos vendendo a prestações.
de compra. Se possível, pesquise os preços em diferentes lojas gente não pode dormir
e sites; não se deixe levar completamente pelas sugestões dos com os oradores e os pernilongos.
vendedores nem pelos apelos das propagandas e opte pela Os sururus em família têm por testemunha a
forma de pagamento mais cômoda: não se esqueça de que o                                                        [Gioconda
uso do cartão de crédito exige certa cautela e planejamento. Eu morro sufocado
Do mais, aproveite as compras! em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
Observe que, embora ambos os textos tratem do mes- nossas frutas mais gostosas
mo assunto, o segundo é uma adaptação do primeiro: tanto mas custam cem mil réis a dúzia.
o modo verbal quanto a pontuação sofreram alterações; além
disso, algumas palavras foram omitidas e outras acrescenta- Ai quem me dera chupar uma carambola de 
das. Isso ocorreu para que o aspecto instrucional, conferido                                         [verdade
pelos itens do primeiro exemplo, não se perdesse no segundo e ouvir um sabiá com certidão de idade! 
texto, o qual, sem essas adaptações, passaria a impressão de
ser um mero texto expositivo. (Murilo Mendes)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A Tipos de Intertextualidade
paródia piadista de Murilo Mendes é um exemplo de inter-
textualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como Pode-se destacar sete tipos de intertextualidade:
ponto de partida o texto de Gonçalves Dias. - Epígrafe: constitui uma escrita introdutória.
Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é - Citação: é uma transcrição do texto alheio, marcada por
persistente. Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, aspas.
é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer - Paráfrase: é a reprodução do texto do outro com a pa-
texto que se refere a assuntos abordados em outros textos é lavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor
exemplo de intertextualização. deixa claro sua intenção e a fonte.
A intertextualidade está presente também em outras - Paródia: é uma forma de apropriação que, em lugar de
áreas, como na pintura, veja as várias versões da famosa pintu- endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou aberta-
ra de Leonardo da Vinci, Mona Lisa: mente. Ela perverte o texto anterior, visando a ironia ou a crítica.
Mona Lisa, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503. - Pastiche: uma recorrência a um gênero.
Mona Lisa, Marcel Duchamp, 1919. - Tradução: está no campo da intertextualidade porque im-
Mona Lisa, Fernando Botero, 1978. plica a recriação de um texto.
Mona Lisa, propaganda publicitária. - Referência e alusão.

Para ampliar esse conhecimento, vale trazer um exemplo


de intertextualidade na literatura. Às vezes, a superposição de
um texto sobre outro pode provocar uma certa atualização ou
modernização do primeiro texto. Nota-se isso no livro “Mensa-
gem”, de Fernando Pessoa, que retoma, por exemplo, com seu
poema “O Monstrengo” o episódio do Gigante Adamastor de
“Os Lusíadas” de Camões. Ocorre como que um diálogo entre
os dois textos. Em alguns casos, aproxima-se da paródia (can-
to paralelo), como o poema “Madrigal Melancólico” de Manuel
Pode-se definir então a intertextualidade como sendo a Bandeira, do livro “Ritmo Dissoluto”, que seguramente serviu de
criação de um texto a partir de um outro texto ja existente. inspiração e assim se refletiu no seguinte poema:
Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções di-
ferentes que dependem muito dos textos/contextos em que Assim como Bandeira
ela é inserida.
Evidentemente, o fenômeno da intertextualidade está li- O que amo em ti
gado ao “conhecimento do mundo”, que deve ser comparti- não são esses olhos doces
lhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O delicados
diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não nem esse riso de anjo adolescente.
se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor bar- O que amo em ti
roco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy não é só essa pele acetinada
Sherman, na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Cara- sempre pronta para a carícia renovada
vaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográ- nem esse seio róseo e atrevido
fico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos a desenhar-se sob o tecido.
mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mes-
ma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de O que amo em ti
elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro não é essa pressa louca
e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman de viver cada vão momento
é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um nem a falta de memória para a dor.
tipo de intertextualidade na pintura.
Na publicidade, por exemplo, a que vimos sobre anúncios O que amo em ti
do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a não é apenas essa voz leve
Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era “Mon Bi- que me envolve e me consome
jou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima”. Esse enunciado nem o que deseja todo homem
sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem flor definida e definitiva
macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima a abrir-se como boca ou ferida
(se referindo ao quadro de Da Vinci). Nesse caso pode-se dizer nem mesmo essa juventude assim perdida.
que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o
leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata O que amo em ti
de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc). enigmática e solidária:
Intertextualidade é a relação entre dois textos caracteriza- É a Vida!
da por um citar o outro. (Geraldo Chacon, Meu Caderno de Poesia,
Flâmula, 2004, p. 37)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Madrigal Melancólico Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia
do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre
O que eu adoro em ti para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do
não é a tua beleza. texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi dito.
A beleza, é em nós que ela existe. Temos um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna
A beleza é um conceito. em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” :
E a beleza é triste. Texto Original
Não é triste em si, Minha terra tem palmeiras
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza. Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
(...) Não gorjeiam como lá.
O que eu adoro em tua natureza,
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
Paráfrase
nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me! Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
O que eu adoro em ti, é a vida. Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
(Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
José Olympio, 1980, p. 83) Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
A relação intertextual é estabelecida, por exemplo, no texto de Onde canta o sabiá!
Oswald de Andrade, escrito no século XX, “Meus oito anos”, quan- (Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”)
do este cita o poema , do século XIX, de Casimiro de Abreu, de
mesmo nome. Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”, é mui-
to utilizado como exemplo de paráfrase e de paródia, aqui
Meus oito anos o poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o texto pri-
mitivo conservando suas ideias, não há mudança do senti-
Oh! Que saudade que tenho do principal do texto que é a saudade da terra natal.
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar
Que os anos não trazem mais outros textos, há uma ruptura com as ideologias impos-
Que amor, que sonhos, que flores tas e por isso é objeto de interesse para os estudiosos da
Naquelas tardes fagueiras língua e das artes. Ocorre, aqui, um choque de interpre-
À sombra das bananeiras tação, a voz do texto original é retomada para transfor-
Debaixo dos laranjais! mar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica de suas
(Casimiro de Abreu) verdades incontestadas anteriormente, com esse processo
há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma
“Meus oito anos” busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e
da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo
Oh! Que saudade que tenho
dessa arte, frequentemente os discursos de políticos são
Da aurora da minha vida,
abordados de maneira cômica e contestadora, provocando
Da minha infância querida
risos e também reflexão a respeito da demagogia praticada
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra pela classe dominante. Com o mesmo texto utilizado ante-
Da rua São Antonio riormente, teremos, agora, uma paródia.
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais! Texto Original
Minha terra tem palmeiras
A intertextualidade acontece quando há uma referência explí- Onde canta o sabiá,
cita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com As aves que aqui gorjeiam
outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda Não gorjeiam como lá.
vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade.
Apresenta-se explicitamente quando o autor informa o ob- (Gonçalves Dias, “Canção do exílio”)
jeto de sua citação. Num texto científico, por exemplo, o autor do
texto citado é indicado, já na forma implícita, a indicação é oculta. Paródia
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, um Minha terra tem palmares
saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diálo- onde gorjeia o mar
go entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as os passarinhos daqui
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. Vejamos duas não cantam como os de lá.
das formas: a Paráfrase e a Paródia. (Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”)

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O nome Palmares, escrito com letra minúscula, substitui A remissão a textos e para-textos do circuito cultural
a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social e racial (mídia, propaganda, outdoors, nomes de marcas de produtos
neste texto, Palmares é o quilombo liderado por Zumbi, foi etc.) é especialmente recorrente em autores chamados pós-
dizimado em 1695, há uma inversão do sentido do texto pri- -modernos. Para ilustrar, pode-se mencionar, entre outros es-
mitivo que foi substituído pela crítica à escravidão existente critores brasileiros, Ana Cristina Cesar, poetisa carioca, que usa
no Brasil. e “abusa” da intertextualidade em seus textos, a tal ponto que,
Na literatura relativa à Linguística Textual, é frequente sem a identificação das referências, o poema se torna, constan-
apontar-se como um dos fatores de textualidade a referência temente, ininteligível e chega a ser considerado por algumas
- explícita ou implícita - a outros textos, tomados estes num pessoas como um “amontoado aleatório de enunciados”, sem
sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, ci- coerência e, portanto, desprovido de sentido.
nema - , música, propaganda etc.) A esse “diálogo”entre textos Os teóricos costumam identificar tipos de intertextualida-
dá-se o nome de intertextualidade. de, entre os quais se destacam:
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conhe- - a que se liga ao conteúdo (por exemplo, matérias jorna-
cimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, co- lísticas que se reportam a notícias veiculadas anteriormente na
mum ao produtor e ao receptor de textos. imprensa falada e/ou escrita: textos literários ou não-literários
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito que se referem a temas ou assuntos contidos em outros textos
amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhe- etc.). Podem ser explícitas (citações entre aspas, com ou sem
cimento de remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou indicação da fonte) ou implícitas (paráfrases, paródias etc.);
menos conhecidos, além de exigir do interlocutor a capaci- - a que se associa ao caráter formal, que pode ou não estar
dade de interpretar a função daquela citação ou alusão em ligado à tipologia textual como, por exemplo, textos que “imi-
questão. tam” a linguagem bíblica, jurídica, linguagem de relatório etc.
Entre os variadíssimos tipos de referências, há provérbios, ou que procuram imitar o estilo de um autor, em que comenta
ditos populares, frases bíblicas ou obras / trechos de obras o seriado da TV Globo, baseado no livro de Guimarães Rosa,
constantemente citados, literalmente ou modificados, cujo procurando manter a linguagem e o estilo do escritor);
reconhecimento é facilmente perceptível pelos interlocutores - a que remete a tipos textuais (ou “fatores tipológicos”),
ligados a modelos cognitivos globais, às estruturas e superes-
em geral. Por exemplo, uma revista brasileira adotou o slo-
truturas ou a aspectos formais de caráter linguístico próprios
gan: “Dize-me o que lês e dir-te-ei quem és”. Voltada funda-
de cada tipo de discurso e/ou a cada tipo de texto: tipologias
mentalmente para um público de uma determinada classe
ligadas a estilos de época. Por superestrutura entendem-se, en-
sociocultural, o produtor do mencionado anúncio espera que
tre outras, estruturas argumentativas (Tese anterior), premissas
os leitores reconheçam a frase da Bíblia (“Dize-me com quem
- argumentos (contra-argumentos - síntese), conclusão (nova
andas e dir-te-ei quem és”). Ao adaptar a sentença, a inten-
tese), estruturas narrativas (situação - complicação - ação ou
ção da propaganda é, evidentemente, angariar a confiança do
avaliação – resolução), moral ou estado final etc.;
leitor (e, consequentemente, a credibilidade das informações Um outro aspecto que é mencionado muito superficial-
contidas naquele periódico), pois a Bíblia costuma ser tomada mente é o da intertextualidade linguística. Ela está ligada ao
como um livro de pensamentos e ensinamentos considerados que o linguista romeno, Eugenio Coseriu, chama de formas do
como “verdades” universalmente assentadas e aceitas por di- “discurso repetido”:
versas comunidades. Outro tipo comum de intertextualidade - “textemas” ou “unidades de textos”: provérbios, ditados
é a introdução em textos de provérbios ou ditos populares, populares; citações de vários tipos, consagradas pela tradição
que também inspiram confiança, pois costumam conter men- cultural de uma comunidade etc.;
sagens reconhecidas como verdadeiras. São aproveitados não - “sintagmas estereotipados”: equivalentes a expressões
só em propaganda mas ainda em variados textos orais ou es- idiomáticas;
critos, literários e não-literários. Por exemplo, ao iniciar o poe- - “perífrases léxicas”: unidades multivocabulares, emprega-
ma “Tecendo a manhã”, João Cabral de Melo Neto defende das frequentemente mas ainda não lexicalizadas (ex. “grave-
uma ideia: “Um galo sozinho não tece uma manhã”. Não é ne- mente doente”, “dia útil”, “fazer misérias” etc.).
cessário muito esforço para reconhecer que por detrás dessas
palavras está o ditado “Uma andorinha só não faz verão”. O A intertextualidade tem funções diferentes, dependendo
verso inicial funciona, pois, como uma espécie de “tese”, que o dos textos/contextos em que as referências (linguísticas ou
texto irá tentar comprovar através de argumentação poética. culturais) estão inseridas. Chamo a isso “graus das funções da
intertextualidade”.
Há, no entanto, certos tipos de citações (literais ou cons- Didaticamente pode-se dizer que a referência cultural e/ou
truídas) e de alusões muito sutis que só são compartilhadas linguística pode servir apenas de pretexto, é o caso de “epígra-
por um pequeno número de pessoas. É o caso de referên- fes” longinquamente vinculadas a um trabalho e/ou a um texto.
cias utilizadas em textos científicos ou jornalísticos (Seções de Sem dizer com isso que todas as epígrafes funcionem apenas
Economia, de Informática, por exemplo) e em obras literárias, como pretextos. Em geral, o produtor do texto elege algo per-
prosa ou poesia, que às vezes remetem a uma forma e/ou a tinente e condizente com a temática de que trata. Existam algu-
um conteúdo bastante específico(s), percebido(s) apenas por mas, todavia, que estão ali apenas para mostrar “conhecimen-
um leitor/interlocutor muito bem informado e/ou altamente to” de frases famosas e/ou para servir de “decoração” no texto.
letrado. Na literatura, podem-se citar, entre muitos outros, au- Neste caso, o “intertexto” não tem um papel específico nem na
tores estrangeiros, como James Joyce, T.S. Eliot, Umberto Eco. construção nem na camada semântica do texto.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Outras vezes, o autor parte de uma frase ou de um verso Um texto remete a outro para defender as ideias nele con-
que ocorreu a ele repentinamente (texto “A última crônica”, tidas ou para contestar tais ideias. Assim, para se definir diante
em que o autor confessa estar sem assunto e tem de escre- de determinado assunto, o autor do texto leva em consideração
ver). Afirma então: as ideias de outros “autores” e com eles dialoga no seu texto.
Ainda ressaltando a importância da intertextualidade, re-
“Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu metemos às considerações de Vigner: “Afirma-se aqui a impor-
café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: assim tância do fenômeno da intertextualidade como fator essencial
eu quereria meu último poema.” à legibilidade do texto literário, e, a nosso ver, de todos os ou-
tros textos. O texto não é mais considerado só nas suas relações
Descreve então uma cena passada em um botequim, em com um referente extra-textual, mas primeiro na relação esta-
que um casal comemora modestamente o aniversário da fi- belecida com outros textos”.
lha, com um pedaço de bolo, uma coca cola e três velinhas Como exemplo, temos um texto “Questão da Objetivida-
brancas. O pai parecia satisfeito com o sucesso da celebra- de” e uma crônica de Zuenir Ventura, “Em vez das células, as
ção, até que fica perturbado por ter sido observado, mas aca- cédulas” para concretizar um pouco mais o conceito de inter-
ba por sustentar a satisfação e se abre num sorriso. O autor textualidade.
termina a crônica, parafraseando o verso de Manuel Bandei-
ra: “Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse pura Questão da Objetividade
como esse sorriso”. O verso de Bandeira não pode ser consi-
derado, nessa crônica, um mero pretexto. A intertextualidade As Ciências Humanas invadem hoje todo o nosso espaço
desempenha o papel de conferir uma certa “literariedade” à mental. Até parece que nossa cultura assinou um contrato com
crônica, além de explicar o título e servir de “fecho de ouro” tais disciplinas, estipulando que lhes compete resolver tecnica-
para um texto que se inicia sem um conteúdo previamente mente boa parte dos conflitos gerados pela aceleração das atuais
escolhido. Não é, contudo, imprescindível à compreensão do mudanças sociais. É em nome do conhecimento objetivo que elas
texto. se julgam no direito de explicar os fenômenos humanos e de pro-
por soluções de ordem ética, política, ideológica ou simplesmente
O que parece importante é que não se encare a intertex-
humanitária, sem se darem conta de que, fazendo isso, podem
tualidade apenas como a “identificação” da fonte e, sim, que
facilmente converter-se em “comodidades teóricas” para seus au-
se procure estudá-la como um enriquecimento da leitura e
tores e em “comodidades práticas” para sua clientela. Também
da produção de textos e, sobretudo, que se tente mostrar a
é em nome do rigor científico que tentam construir todo o seu
função da sua presença na construção e no(s) sentido(s) dos
campo teórico do fenômeno humano, mas através da ideia que
textos.
gostariam de ter dele, visto terem renunciado aos seus apelos e
Como afirmam Koch & Travaglia, “todas as questões li-
às suas significações. O equívoco olhar de Narciso, fascinado por
gadas à intertextualidade influenciam tanto o processo de sua própria beleza, estaria substituído por um olhar frio, objeti-
produção como o de compreensão de textos”. vo, escrupuloso, calculista e calculador: e as disciplinas humanas
Considerada por alguns autores como uma das condi- seriam científicas!
ções para a existência de um texto, a intertextualidade se (Introdução às Ciências Humanas. Hilton Japiassu.
destaca por relacionar um texto concreto com a memória São Paulo, Letras e Letras, 1994, pp.89/90)
textual coletiva, a memória de um grupo ou de um indivíduo
específico. Comentário: Neste texto, temos um bom exemplo do que
Trata-se da possibilidade de os textos serem criados a se define como intertextualidade. As relações entre textos, a
partir de outros textos. As obras de caráter científico reme- citação de um texto por outro, enfim, o diálogo entre textos.
tem explicitamente a autores reconhecidos, garantindo, as- Muitas vezes, para entender um texto na sua totalidade, é pre-
sim, a veracidade das afirmações. Nossas conversas são en- ciso conhecer o(s) texto(s) que nele fora(m) citado(s).
trelaçadas de alusões a inúmeras considerações armazena- No trecho, por exemplo, em que se discute o papel das
das em nossas mentes. O jornal está repleto de referências já Ciências Humanas nos tempos atuais e o espaço que estão
supostamente conhecidas pelo leitor. A leitura de um roman- ocupando, é trazido à tona o mito de Narciso. É preciso, en-
ce, de um conto, novela, enfim, de qualquer obra literária, nos tão, dispor do conhecimento de que Narciso, jovem dotado de
aponta para outras obras, muitas vezes de forma implícita. grande beleza, apaixonou-se por sua própria imagem quando
A nossa compreensão de textos (considerados aqui a viu refletida na água de uma fonte onde foi matar a sede.
da forma mais abrangente) muito dependerá da nossa ex- Suas tentativas de alcançar a bela imagem acabaram em de-
periência de vida, das nossas vivências, das nossas leituras. sespero e morte.
Determinadas obras só se revelam através do conhecimento O último parágrafo, em que o mito de Narciso é citado,
de outras. Ao visitar um museu, por exemplo, o nosso co- demonstra que, dado o modo como as Ciências Humanas são
nhecimento prévio muito nos auxilia ao nos depararmos com vistas hoje, até o olhar de Narciso, antes “fascinado por sua
certas obras. própria beleza”, seria substituído por um “olhar frio, objetivo,
A noção de intertextualidade, da presença contínua de escrupuloso, calculista e calculador”, ou seja, o olhar de Narciso
outros textos em determinado texto, nos leva a refletir a res- perderia o seu tom de encantamento para se transformar em
peito da individualidade e da coletividade em termos de cria- algo material, sem sentimentos. A comparação se estende às
ção. Já vimos anteriormente que a citação de outros textos se Ciências Humanas, que, de humanas, nada mais teriam, trans-
faz de forma implícita ou explícita. Mas, com que objetivo? formando-se em disciplinas científicas.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Em vez das células, as cédulas Para perceber as intenções do autor desta crônica, ou
seja, a sua intencionalidade, é preciso que o leitor tenha
Nesses tempos de clonagem, recomenda-se assistir ao conhecimento de fatos atuais, como as referências ao do-
documentário Arquitetura da destruição, de Peter Cohen. A cumentário recém lançado no circuito cinematográfico, à
fantástica história de Dolly, a ovelha, parece saída do filme, ovelha clonada Dolly, aos “laranjas” e “fantasmas”, termos
que conta a aventura demente do nazismo, com seus so- que dizem respeito aos envolvidos em transações econô-
nhos de beleza e suas fantasias genéticas, seus experimen- micas duvidosas. É preciso que conheça também o que foi
tos de eugenia e purificação da raça. o nazismo, a figura de Hitler e sua obsessão pela raça pura,
Os cientistas são engraçados: bons para inventar e pés- e ainda tenha conhecimento da existência do filósofo Niet-
simos para prever. Primeiro, descobrem; depois se assus- zsche e do compositor Wagner.
tam com o risco da descoberta e aí então passam a gritar O vocabulário utilizado aponta para campos semân-
“cuidado, perigo”. Fizeram isso com quase todos os inven- ticos relacionados à clonagem, à raça pura, aos binômios
tos, inclusive com a fissão nuclear, espantando-se quando arte/beleza, arte/destruição, corrupção.
“o átomo para a paz” tornou-se uma mortífera arma de - Clonagem: experimentos, avanços genéticos, ovelhas,
guerra. E estão fazendo o mesmo agora. cientistas, inventos, células, clones replicantes, manipula-
(...) Desde muito tempo se discute o quanto a ciência, ção genética, descoberta.
ao procurar o bem, pode provocar involuntariamente o mal. - Raça Pura: aventura, demente do nazismo, fantasias
O que a Arquitetura da destruição mostra é como a arte e genéticas, experimentos de eugenia, utopia perversa, ma-
a estética são capazes de fazer o mesmo, isto é, como a nipulação genética, imperfeições físicas, eugenia.
beleza pode servir à morte, à crueldade e à destruição. - Arte/Beleza - Arte/Destruição: estética, sonhos de
Hitler julgava-se “o maior ator da Europa” e acredita- beleza, crueldade, tirano artista ditador de gênio, nietzs-
va ser alguma coisa como um “tirano-artista” nietzschiano chiano, wagneriano, grandiosa ópera, diretor, protagonista,
ou um “ditador de gênio” wagneriano. Para ele, “a vida era espetáculos de massa e tochas acesas.
arte,” e o mundo, uma grandiosa ópera da qual era diretor - Corrupção: laranjas, clonagem financeira, cédulas,
e protagonista. fantasmas.
O documentário mostra como os rituais coletivos, os
grandes espetáculos de massa, as tochas acesas (...) tudo Esses campos semânticos se entrecruzam, porque en-
isso constituía um culto estético - ainda que redundante (...) globam referências múltiplas dentro do texto.
E o pior - todo esse aparato era posto a serviço da perver-
sa utopia de Hitler: a manipulação genética, a possibilida- COESÃO E COERÊNCIA
de de purificação racial e de eliminação das imperfeições,
principalmente as físicas. Não importava que os mais ilus- Na construção de um texto, assim como na fala, usamos
tres exemplares nazistas, eles próprios, desmoralizassem o mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão
que pregavam em termos de eugenia. do que é dito, ou lido. Estes mecanismos linguísticos que
O que importava é que as pessoas queriam acreditar estabelecem a coesão e retomada do que foi escrito - ou
na insensatez apesar dos insensatos, como ainda há quem falado - são os referentes textuais, que buscam garantir
continue acreditando. No Brasil, felizmente, Dolly provoca a coesão textual para que haja coerência, não só entre os
mais piada do que ameaça. Já se atribui isso ao fato de que elementos que compõem a oração, como também entre a
a nossa arquitetura da destruição é a corrupção. Somos sequência de orações dentro do texto. Essa coesão tam-
craques mesmo é em clonagem financeira. O que seriam bém pode muitas vezes se dar de modo implícito, baseado
nossos laranjas e fantasmas senão clones e replicantes vir- em conhecimentos anteriores que os participantes do pro-
tuais? Aqui, em vez de células, estamos interessados é em cesso têm com o tema.
manipular cédulas. Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha ima-
(Zuenir Ventura, JB, 1997) ginária - composta de termos e expressões - que une os
diversos elementos do texto e busca estabelecer relações
Comentário: Tendo como ponto de partida a alusão ao de sentido entre eles. Dessa forma, com o emprego de di-
documentário Arquitetura da destruição, o texto mantém ferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substi-
sua unidade de sentido na relação que estabelece com ou- tuição, associação), sejam gramaticais (emprego de prono-
tros textos, com dados da História. mes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases,
Nesta crônica, duas propriedades do texto são facil- orações, períodos, que irão apresentar o contexto – decor-
mente perceptíveis: a intertextualidade e a inserção histó- re daí a coerência textual.
rica. Um texto incoerente é o que carece de sentido ou o
O texto se constrói, à medida que retoma fatos já co- apresenta de forma contraditória. Muitas vezes essa incoe-
nhecidos. Nesse sentido, quanto mais amplo for o repertó- rência é resultado do mau uso dos elementos de coesão
rio do leitor, o seu acervo de conhecimentos, maior será a textual. Na organização de períodos e de parágrafos, um
sua competência para perceber como os textos “dialogam erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
uns com os outros” por meio de referências, alusões e ci- prejudica o entendimento do texto. Construído com os ele-
tações. mentos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enunciado Já os componentes concentram em si a significação.
não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência “Os pronomes pessoais e as desinências verbais indi-
e independência sintática e semântica, recobertos por unida- cam os participantes do ato do discurso. Os pronomes de-
des melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios”. monstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais, bem
Não se deve escrever frases ou textos desconexos – é como os advérbios de tempo, referenciam o momento da
imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as frases enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade
estejam coesas e coerentes formando o texto. Relembre-se ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento
de que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre
(presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns
os elementos que compõem a estrutura textual.
dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo
ano, depois de (futuro).”
Formas de se garantir a coesão entre os elementos
de uma frase ou de um texto:
A coerência de um texto está ligada:
1. Substituição de palavras com o emprego de sinôni- - à sua organização como um todo, em que devem es-
mos - palavras ou expressões do mesmo campo associa- tar assegurados o início, o meio e o fim;
tivo. - à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um texto
2. Nominalização – emprego alternativo entre um ver- técnico, por exemplo, tem a sua coerência fundamentada
bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar em comprovações, apresentação de estatísticas, relato de
/ desgaste / desgastante). experiências; um texto informativo apresenta coerência se
3. Emprego adequado de tempos e modos verbais: trabalhar com linguagem objetiva, denotativa; textos poé-
Embora não gostassem de estudar, participaram da aula. ticos, por outro lado, trabalham com a linguagem figurada,
4. Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre- livre associação de ideias, palavras conotativas.
posições, artigos:
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira, Fontes de pesquisa:
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden- http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/Paacutegina1.html
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
por elas.
– volume único / Samira Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa
5. Uso de hipônimos – relação que se estabelece com
Souza. – 3. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais gené-
rico).
6. Emprego de hiperônimos - relações de um termo de Questões
sentido mais amplo com outros de sentido mais específico.
Por exemplo, felino está numa relação de hiperonímia com * As questões abaixo também envolvem o conteúdo
gato. “Conjunção”. Eu as coloquei neste tópico porque abordam
7. Substitutos universais, como os verbos vicários. - inclusive - coesão e coerência.

* Ajuda da Zê: verbo vicário é aquele que substitui 1-) (SEDUC/AM – ASSISTENTE SOCIAL – FGV/2014) As-
outro já utilizado no período, evitando repetições. Geral- sinale a opção que indica o segmento em que a conjunção
mente é o verbo fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. e tem valor adversativo e não aditivo.
Faço porque preciso. O “faço” foi empregado no lugar de (A) “Em termos de escala, assiduidade e participação
“estudo”, evitando repetição desnecessária. da população na escolha dos governantes,...”.
(B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo-
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de conec- derno e dinâmico, no cotejo com a restrita experiência elei-
tivos, como pronomes, advérbios e expressões adverbiais,
toral anterior”.
conjunções, elipses, entre outros. A elipse justifica-se quan-
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
do, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida
quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri-
é facilmente identificável (Exemplo.: O jovem recolheu-se
cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas forças. O ter- buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades
mo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a de hoje”.
relação entre as duas orações). (D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas
ela na história nacional, inventou o que mais perto se pode
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- chegar de um Estado de Bem-Estar num país de renda mé-
priedade de fazer referência ao contexto situacional ou ao dia”.
próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função de (E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais
progressão textual, dada sua característica: são elementos está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta de
que não significam, apenas indicam, remetem aos compo- políticas públicas social-democratas”.
nentes da situação comunicativa.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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1-) - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
(A) “Em termos de escala, assiduidade e participação bros de todos os níveis hierárquicos da organização, a estru-
= adição tura organizacional, quer ao nível do desenho organizacional,
(B) “... o Brasil de 1985 a 2014 parece outro país, mo- quer ao nível da distribuição de autoridade, responsabilidade
derno e dinâmico”. = adição e tarefas.
(C) “A hipótese de ruptura com o passado se fortalece
quando avaliamos a extensão dos mecanismos de distri- - Definir e dar a conhecer, com a participação de mem-
buição de oportunidades e de mitigação de desigualdades bros de todos os níveis hierárquicos da organização, decisões,
de hoje”. = adição planos, políticas, procedimentos e regras aceites e respeitadas
(D) “A democracia brasileira contemporânea, e apenas por todos os membros da organização.
ela na história nacional”. = adição
(E) “A baixa qualidade dos serviços governamentais - Coordenar, dar apoio e controlar as atividades de todos
está ligada sobretudo à limitação do PIB, e não à falta = os membros da organização.
adversativa (dá para substituirmos por “mas”)
RESPOSTA: “E”. - Efetuar a integração dos diferentes departamentos e
permitir a ajuda e cooperação interdepartamental.

2-) (DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL/ - Desempenhar eficazmente o papel de influência através
DF – ANALISTA DE APOIO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA – da compreensão e atuação em conformidade satisfação das
FGV/2014) A alternativa em que os elementos unidos pela necessidades e sentimentos das pessoas por forma a aumen-
conjunção E não estão em adição, mas sim em oposição, é: tar a sua motivação.
(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e
fazer justiça com as próprias mãos...” Elementos do Processo de Comunicação
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas
instituições:...” Para perceber desenvolver políticas de comunicação efi-
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos cazes é necessário analisar antes cada um dos elementos que
anarquistas e mais nos fascistas italianos...” fazem parte do processo de comunicação. Assim, fazem parte
(D) “...desprezando o passado e a tradição...” do processo de comunicação o emissor, um canal de trans-
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da missão, geralmente influenciado por ruídos, um receptor e
velocidade e do progresso...” ainda o feedback do receptor.

2-) - Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação): re-


(A) “...a disposição do povo de agir por conta própria e presenta quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou seja,
fazer justiça com as próprias mãos”. = adição quem inicia o processo de comunicação. A codificação da
(B) “...como sintoma de descrença nos políticos e nas mensagem pode ser feita transformando o pensamento que
instituições”. = adição se pretende transmitir em palavras, gestos ou símbolos que
(C) “...os nossos mascarados se inspiram menos nos sejam compreensíveis por quem recebe a mensagem.
anarquistas e mais nos fascistas italianos”. = ideia de opo- - Canal de transmissão da mensagem: faz a ligação entre
sição o emissor e o receptor e representa o meio através do qual
(D) “...desprezando o passado e a tradição”. = adição é transmitida a mensagem. Existe uma grande variedade de
(E) “...capaz de exprimir a experiência da violência, da canais de transmissão, cada um deles com vantagens e incon-
velocidade e do progresso”. = adição venientes: destacam-se o ar (no caso do emissor e receptor
RESPOSTA: “C”. estarem frente a frente), o telefone, os meios eletrônicos e in-
formáticos, os memorandos, a rádio, a televisão, entre outros.
- Receptor da mensagem: representa quem recebe e des-
Comunicação codifica a mensagem. Aqui é necessário ter em atenção que
a descodificação da mensagem resulta naquilo que efetiva-
A comunicação constitui uma das ferramentas mais im- mente o emissor pretendia enviar (por exemplo, em diferen-
portantes que os líderes têm à sua disposição para desem- tes culturas, um mesmo gesto pode ter significados diferen-
penhar as suas funções de influência. A sua importância é tes). Podem existir apenas um ou numerosos receptores para
tal que alguns autores a consideram mesmo como o “san- a mesma mensagem.
gue” que dá vida à organização. Esta importância deve-se - Ruídos: representam obstruções mais ou menos inten-
essencialmente ao fato de apenas através de uma comuni- sas ao processo de comunicação e podem ocorrer em qual-
cação efetiva ser possível: quer uma das suas fases. Denominam-se ruídos internos se
ocorrem durante as fases de codificação ou descodificação e
- Estabelecer e dar a conhecer, com a participação de externos se ocorrerem no canal de transmissão. Obviamente
membros de todos os níveis hierárquicos da organização, estes ruídos variam consoante o tipo de canal de transmis-
os objetivos organizacionais por forma a que contemplem, são utilizado e consoante as características do emissor e do(s)
não apenas os interesses da organização, mas também os receptor(es), sendo, por isso, um dos critérios utilizados na
interesses de todos os seus membros. escolha do canal de transmissão quer do tipo de codificação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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- Retro-informação (feedback): representa a resposta do(s) tos a mímica e a entoação, por exemplo, facilitar as retificações
receptor(es) ao emissor da mensagem e pode ser utilizada e explicações adicionais, permitir observar as reações do re-
como uma medida do resultado da comunicação. Pode ou ceptor, e ainda a grande rapidez de transmissão. Contudo, e
não ser transmitida pelo mesmo canal de transmissão. para que estas vantagens sejam aproveitadas é necessário o
Embora os tipos de comunicação sejam inúmeros, podem conhecimento dos temas, a clareza, a presença e naturalidade,
ser agrupados em comunicação verbal e comunicação não a voz agradável e a boa dicção, a linguagem adaptada, a se-
verbal. Como comunicação não verbal podemos considerar os gurança e autodomínio, e ainda a disponibilidade para ouvir.
gestos, os sons, a mímica, a expressão facial, as imagens, entre Como principais desvantagens da comunicação oral des-
outros. É frequentemente utilizada em locais onde o ruído ou tacam-se o fato de ser efêmera, não permitindo qualquer re-
a situação impede a comunicação oral ou escrita como por gistro e, consequentemente, não se adequando a mensagens
exemplo as comunicações entre “dealers” nas bolsas de valo- longas e que exijam análise cuidada por parte do receptor.
res. É também muito utilizada como suporte e apoio à comu-
nicação oral. Gêneros Escritos e Orais
Quanto à comunicação verbal, que inclui a comunicação
escrita e a comunicação oral, por ser a mais utilizada na so- Gêneros textuais são tipos específicos de textos de
ciedade em geral e nas organizações em particular, por ser a qualquer natureza, literários ou não. Modalidades discur-
única que permite a transmissão de ideias complexas e por ser sivas constituem as estruturas e as funções sociais (narra-
um exclusivo da espécie humana, é aquela que mais atenção tivas, discursivas, argumentativas) utilizadas como formas
tem merecido dos investigadores, caracterizando-a e estudan- de organizar a linguagem. Dessa forma, podem ser consi-
do quando e como deve ser utilizada. derados exemplos de gêneros textuais: anúncios, convites,
atas, avisos, programas de auditórios, bulas, cartas, comé-
Comunicação Escrita dias, contos de fadas, crônicas, editoriais, ensaios, entrevis-
tas, contratos, decretos, discursos políticos, histórias, ins-
A comunicação escrita teve o seu auge, e ainda hoje pre- truções de uso, letras de música, leis, mensagens, notícias.
domina, nas organizações burocráticas que seguem os prin- São textos que circulam no mundo, que têm uma função
cípios da Teoria da Burocracia enunciados por Max Weber. A específica, para um público específico e com características
principal característica é o fato do receptor estar ausente tor- próprias. Aliás, essas características peculiares de um gêne-
nando-a, por isso, num monólogo permanente do emissor. ro discursivo nos permitem abordar aspectos da textualida-
Esta característica obriga a alguns cuidados por parte do emis- de, tais como coerência e coesão textuais, impessoalidade,
sor, nomeadamente com o fato de se tornarem impossíveis técnicas de argumentação e outros aspectos pertinentes
ou pelo menos difíceis as retificações e as novas explicações ao gênero em questão.
para melhor compreensão após a sua transmissão. Assim, os Gênero de texto então, refere-se às diferentes formas
principais cuidados a ter para que a mensagem seja perfeita- de expressão textual. Nos estudos da Literatura, temos, por
mente recebida e compreendida pelo(s) receptor(es) são o uso exemplo, poesia, crônicas, contos, prosa, etc.
de caligrafia legível e uniforme (se manuscrita), a apresentação Para a linguística, os gêneros textuais englobam estes
cuidada, a pontuação e ortografia corretas, a organização lógi- e todos os textos produzidos por usuários de uma língua.
ca das ideias, a riqueza vocabular e a correção frásica. O emis- Assim, ao lado da crônica, do conto, vamos também iden-
sor deve ainda possuir um perfeito conhecimento dos temas e tificar a carta pessoal, a conversa telefônica, o email, e tan-
deve tentar prever as reações/feedback à sua mensagem. tos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa
Como principais vantagens da comunicação escrita, pode- sociedade.
mos destacar o fato de ser duradoura e permitir um registro e Quanto à forma ou estrutura das sequências linguís-
de permitir uma maior atenção à organização da mensagem ticas encontradas em cada texto, podemos classificá-los
sendo, por isso, adequada para a transmitir políticas, procedi- dentro dos tipos textuais a partir de suas estruturas e esti-
mentos, normas e regras. Adequa-se também a mensagens los composicionais.
longas e que requeiram uma maior atenção e tempo por par- Domínios sociais de comunicação: Cultura Literária Fic-
te do receptor tais como relatórios e análises diversas. Como cional.
principais desvantagens destacam-se a já referida ausência do Aspectos tipológicos: Narrar.
receptor o que impossibilita o feedback imediato, não permite Capacidade de linguagem dominante: Mimeses de ação
correções ou explicações adicionais e obriga ao uso exclusivo através da criação da intriga no domínio do verossímil.
da linguagem verbal. Exemplo de gêneros orais e escritos: Conto de Fadas, fá-
bula, lenda,narrativa de aventura, narrativa de ficção cien-
Comunicação Oral tífica, narrativa de enigma, narrativa mítica, sketch ou his-
tória engraçada, biografia romanceada, romance, romance
No caso da comunicação oral, a sua principal característica histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivi-
é a presença do receptor (exclui-se, obviamente, a comunica- nha, piada.
ção oral que utilize a televisão, a rádio, ou as gravações). Esta Domínios sociais de comunicação: Documentação e
característica explica diversas das suas principais vantagens, memorização das ações humana.
nomeadamente o fato de permitir o feedback imediato, per- Aspectos tipológicos: Relatar.
mitir a passagem imediata do receptor a emissor e vice-versa, Capacidade de linguagem dominante: Representação
permitir a utilização de comunicação não verbal como os ges- pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo.

38
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Exemplo de gêneros orais e escritos: Relato de expe- Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender
riência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria
anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como apren-
reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, re- demos desde as mais banais informações do dia a dia até
lato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. as teorias científicas, as expressões artísticas e os sistemas
filosóficos mais avançados.
Domínios sociais de comunicação: Discussão de proble- A função informativa da linguagem tem importância
mas sociais controversos. central na vida das pessoas, consideradas individualmente
Aspectos tipológicos: Argumentar. ou como grupo social. Para cada indivíduo, ela permite co-
Capacidade de linguagem dominante: Sustentação, re- nhecer o mundo; para o grupo social, possibilita o acúmulo
futação e negociação de tomadas de posição. de conhecimentos e a transferência de experiências. Por meio
Exemplo de gêneros orais e escritos: Textos de opinião, dessa função, a linguagem modela o intelecto.
diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, É a função informativa que permite a realização do traba-
deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso lho coletivo. Operar bem essa função da linguagem possibili-
de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), ta que cada indivíduo continue sempre a aprender.
resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, A função informativa costuma ser chamada também de
ensaio. função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
que as palavras revelem da maneira mais clara possível as
Domínios sociais de comunicação: Transmissão e cons- coisas ou os eventos a que fazem referência.
trução de saberes.
Aspectos tipológicos: Expor. - A linguagem serve para influenciar e ser influenciado:
Capacidade de linguagem dominante: Apresentação Função Conativa.
textual de diferentes formas dos saberes.
Exemplo de gêneros orais e escritos: Texto expositivo, “Vem pra Caixa você também.”
exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral,
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a au-
palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclo-
mentar o número de correntistas da Caixa Econômica Fede-
pédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de tex-
ral. Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar
tos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico,
esse comportamento, formulou-se um convite com uma lin-
relatório oral de experiência.
guagem bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma
vem, de segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha,
Domínios sociais de comunicação: Instruções e prescri-
forma de terceira pessoa prescrita pela norma culta quando
ções. se usa você.
Aspectos tipológicos: Descrever ações. Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer deter-
Capacidade de linguagem dominante: Regulação mú- minadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sentir de-
tua de comportamentos. terminadas emoções, a ter determinados estados de alma
Exemplo de gêneros orais e escritos: Instruções de mon- (amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer
tagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de que ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções,
uso, comandos diversos, textos prescritivos. paixões. Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra
negro pronunciada em tom desdenhoso aprende a ter sen-
Funções da Linguagem timentos racistas; se a todo momento nos dizem, num tom
pejorativo, “Isso é coisa de mulher”, aprendemos os precon-
Quando se pergunta a alguém para que serve a lingua- ceitos contra a mulher.
gem, a resposta mais comum é que ela serve para comuni- Não se interfere no comportamento das pessoas ape-
car. Isso está correto. No entanto, comunicar não é apenas nas com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos in-
transmitir informações. É também exprimir emoções, dar fluenciam de maneira bastante sutil, com tentações e sedu-
ordens, falar apenas para não haver silêncio. Para que serve ções, como os anúncios publicitários que nos dizem como
a linguagem? seremos bem sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos
- A linguagem serve para informar: Função Referencial. determinadas marcas, se consumirmos certos produtos. Por
outro lado, a provocação e a ameaça expressas pela lingua-
“Estados Unidos invadem o Iraque” gem também servem para fazer fazer.
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cida-
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos so- dãos, que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quan-
bre um acontecimento do mundo. to espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indiví-
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na duos atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar.
memória, transmitimos esses conhecimentos a outras pes- Emprega-se a expressão função conativa da linguagem
soas, ficamos sabendo de experiências bem-sucedidas, so- quando esta é usada para interferir no comportamento das
mos prevenidos contra as tentativas mal sucedidas de fazer pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma su-
alguma coisa. Graças à linguagem, um ser humano recebe gestão. A palavra conativo é proveniente de um verbo latino
de outro conhecimentos, aperfeiçoa-os e transmite-os. (conari) que significa “esforçar-se” (para obter algo).

39
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- A linguagem serve para expressar a subjetividade: Função - A linguagem serve para falar sobre a própria lingua-
Emotiva. gem: Função Metalinguística.

“Eu fico possesso com isso!” Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um
substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usan-
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação com do o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegan-
alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos e ex- te usar palavrões”, não estamos falando de acontecimen-
pressamos nossos sentimentos e nossas emoções. Exprimimos a tos do mundo, mas estamos tecendo comentários sobre a
revolta e a alegria, sussurramos palavras de amor e explodimos própria linguagem. É o que chama função metalinguística.
de raiva, manifestamos desespero, desdém, desprezo, admiração, A atividade metalinguística é inseparável da fala. Falamos
dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para exprimir poder ou para sobre o mundo exterior e o mundo interior e ao mesmo
afirmarmo-nos socialmente. Durante o governo do presidente tempo, fazemos comentários sobre a nossa fala e a dos
Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos certos políticos dizerem outros. Quando afirmamos como diz o outro, estamos co-
“A intenção do Fernando é levar o país à prosperidade” ou “O Fer- mentando o que declaramos: é um modo de esclarecer que
nando tem mudado o país”. Essa maneira informal de se referirem não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial como a
ao presidente era, na verdade, uma maneira de insinuarem intimi- que estamos enunciando; inversamente, podemos usar a
dade com ele e, portanto, de exprimirem a importância que lhes metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo
seria atribuída pela proximidade com o poder. Inúmeras vezes, de dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Paro-
contamos coisas que fizemos para afirmarmo-nos perante o gru- diando o padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica,
po, para mostrar nossa valentia ou nossa erudição, nossa capa- vou dizer que “peixes se pescam, homens é que se não
cidade intelectual ou nossa competência na conquista amorosa. podem pescar”.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz
que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não - A linguagem serve para criar outros universos.
raro inconscientemente.
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a uti-
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala
lização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é,
também do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos
daquele que fala.
mundos, outras realidades. Essa é a grande função da arte:
mostrar que outros modos de ser são possíveis, que outros
- A linguagem serve para criar e manter laços sociais: Função
universos podem existir. O filme de Woody Allen “A rosa
Fática.
púrpura do Cairo” (1985) mostra isso de maneira bem ex-
pressiva. Nele, conta-se a história de uma mulher que, para
__Que calorão, hein?
__Também, tem chovido tão pouco. consolar-se do cotidiano sofrido e dos maus-tratos infligi-
__Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros. dos pelo marido, refugia-se no cinema, assistindo inúmeras
__Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor. vezes a um filme de amor em que a vida é glamorosa, e o
galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai da tela e am-
Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num bos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa outra
elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes em realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o
que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o silêncio amor nunca diminui e assim por diante.
poderia ser constrangedor ou parecer hostil.
Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos - A linguagem serve como fonte de prazer: Função
manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas Poética.
ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se
tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido
conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso, e os sons são formas de tornar a linguagem um lugar de
não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais. prazer. Divertimo-nos com eles. Manipulamos as palavras
Quando encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo bem?”, para delas extrairmos satisfação.
em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”,
bem, se está doente, se está com problemas. diz “Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase sha-
A fórmula é uma maneira de estabelecer um vínculo social. kespeariana “To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emí-
Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre lio de Menezes, quando soube que uma mulher muito gor-
alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol da se sentara no banco de um ônibus e este quebrara, fez
ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas o seguinte trocadilho: “É a primeira vez que vejo um banco
não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois quebrar por excesso de fundos”.
ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo, A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel
sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros. comprido para sentar-se” e “casa bancária”. Também está
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão empregado em dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e
função fática para indicar a utilização da linguagem para “capital”, “dinheiro”.
estabelecer ou manter aberta a comunicação entre um fa-
lante e seu interlocutor.

40
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais,
com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio faciais etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria.
Guimarães: As atitudes e reações dos comunicantes são também
referentes e exercem influência sobre a comunicação
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer Lembramo-nos:
bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor
de consciência e bata em retirada.” - Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no
(Folha de S. Paulo) “eu” do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta
Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamen- função está, por norma, a poesia lírica.
te ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para in- - Função apelativa (imperativa): com este tipo de men-
formar, para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No sagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que este
segundo, para produzir um efeito prazeroso de descoberta de assuma determinado comportamento; há frequente uso
sentidos. Em função estética, o mais importante é como se diz, do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é
pois o sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos frequentemente usada por oradores e agentes de publici-
sons, pela disposição das palavras, etc. dade.
Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de - Função metalinguística: função usada quando a lín-
Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, gua explica a própria linguagem (exemplo: quando, na aná-
/b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos: lise de um texto, investigamos os seus aspectos morfossin-
táticos e/ou semânticos).
E o bosque estala, move-se, estremece... - Função informativa (ou referencial): função usada
Da cavalgada o estrépito que aumenta quando o emissor informa objetivamente o receptor de
Perde-se após no centro da montanha... uma realidade, ou acontecimento.
- Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e
Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos.
textos publicitários (centra-se no canal de comunicação).
- Função poética: embeleza, enriquecendo a mensa-
Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos
gem com figuras de estilo, palavras belas, expressivas, rit-
ocorre no segundo verso, quando se afirma que o barulho dos
mos agradáveis, etc.
cavalos aumenta.
Quando se usam recursos da própria língua para acres-
Também podemos pensar que as primeiras falas cons-
centar sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que
estamos usando a linguagem em sua função poética. cientes da raça humana ocorreu quando os sons emitidos
evoluíram para o que podemos reconhecer como “interjei-
Para melhor compreensão das funções de linguagem, tor- ções”. As primeiras ferramentas da fala humana.
na-se necessário o estudo dos elementos da comunicação.
Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvol- A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo
vido de maneira “sistematizada” (alguém pergunta - alguém que mais profundamente distingue o homem dos outros
espera ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta animais.
em silêncio, etc).
Exemplo: Podemos considerar que o desenvolvimento desta fun-
ção cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a
Elementos da comunicação libertação da mão, que permitiram o aumento do volume
do cérebro, a par do desenvolvimento de órgãos fonadores
- Emissor - emite, codifica a mensagem; e da mímica facial
- Receptor - recebe, decodifica a mensagem;
- Mensagem - conteúdo transmitido pelo emissor; Devido a estas capacidades, para além da linguagem
- Código - conjunto de signos usado na transmissão e re- falada e escrita, o homem, aprendendo pela observação de
cepção da mensagem; animais, desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos sur-
- Referente - contexto relacionado a emissor e receptor; dos em diferentes países, não só para melhorar a comuni-
- Canal - meio pelo qual circula a mensagem. cação entre surdos, mas também para utilizar em situações
Porém, com os estudos recentes dos linguistas, essa teo- especiais, como no teatro e entre navios ou pessoas e não
ria sofreu uma modificação, pois, chegou-se a conclusão que animais que se encontram fora do alcance do ouvido, mas
quando se trata da parole, entende-se que é um veículo de- que se podem observar entre si.
mocrático (observe a função fática), assim, admite-se um novo
formato de locução, ou, interlocução (diálogo interativo):

- locutor - quem fala (e responde);


- locutário - quem ouve e responde;
- interlocução - diálogo

41
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Interpretar / Compreender
LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS. Interpretar significa:
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
- Através do texto, infere-se que...
- É possível deduzir que...
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacio- - O autor permite concluir que...
nadas entre si, formando um todo significativo capaz de - Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
produzir interação comunicativa (capacidade de codificar
e decodificar). Compreender significa
- entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. - o texto diz que...
Em cada uma delas, há uma informação que se liga com - é sugerido pelo autor que...
a anterior e/ou com a posterior, criando condições para a - de acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação...
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interli- - o narrador afirma...
gação dá-se o nome de contexto. O relacionamento entre
as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu Erros de interpretação
contexto original e analisada separadamente, poderá ter
um significado diferente daquele inicial. - Extrapolação (“viagem”) = ocorre quando se sai do con-
texto, acrescentando ideias que não estão no texto, quer por
Intertexto - comumente, os textos apresentam refe- conhecimento prévio do tema quer pela imaginação.
rências diretas ou indiretas a outros autores através de cita- - Redução = é o oposto da extrapolação. Dá-se atenção
ções. Esse tipo de recurso denomina-se intertexto. apenas a um aspecto (esquecendo que um texto é um con-
junto de ideias), o que pode ser insuficiente para o entendi-
mento do tema desenvolvido.
Interpretação de texto - o objetivo da interpretação
- Contradição = às vezes o texto apresenta ideias contrá-
de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir
rias às do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas
daí, localizam-se as ideias secundárias - ou fundamenta-
e, consequentemente, errar a questão.
ções -, as argumentações - ou explicações -, que levam ao
Observação - Muitos pensam que existem a ótica do
esclarecimento das questões apresentadas na prova.
escritor e a ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa
prova de concurso, o que deve ser levado em consideração é
Normalmente, numa prova, o candidato deve:
o que o autor diz e nada mais.
1- Identificar os elementos fundamentais de uma ar- Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que
gumentação, de um processo, de uma época (neste caso, relaciona palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si.
procuram-se os verbos e os advérbios, os quais definem o Em outras palavras, a coesão dá-se quando, através de um
tempo). pronome relativo, uma conjunção (NEXOS), ou um pronome
2- Comparar as relações de semelhança ou de diferen- oblíquo átono, há uma relação correta entre o que se vai dizer
ças entre as situações do texto. e o que já foi dito.
3- Comentar/relacionar o conteúdo apresentado com
uma realidade. Observação – São muitos os erros de coesão no dia a
4- Resumir as ideias centrais e/ou secundárias. dia e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e do
5- Parafrasear = reescrever o texto com outras pala- pronome oblíquo átono. Este depende da regência do verbo;
vras. aquele, do seu antecedente. Não se pode esquecer também
de que os pronomes relativos têm, cada um, valor semântico,
Condições básicas para interpretar por isso a necessidade de adequação ao antecedente.
Os pronomes relativos são muito importantes na inter-
Fazem-se necessários: pretação de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coesão.
- Conhecimento histórico-literário (escolas e gêneros Assim sendo, deve-se levar em consideração que existe um
literários, estrutura do texto), leitura e prática; pronome relativo adequado a cada circunstância, a saber:
- Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do - que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente,
texto) e semântico; mas depende das condições da frase.
- qual (neutro) idem ao anterior.
Observação – na semântica (significado das palavras) - quem (pessoa)
incluem-se: homônimos e parônimos, denotação e conota- - cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois
ção, sinonímia e antonímia, polissemia, figuras de lingua- o objeto possuído.
gem, entre outros. - como (modo)
- Capacidade de observação e de síntese; - onde (lugar)
- Capacidade de raciocínio. - quando (tempo)
- quanto (montante)

42
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Exemplo: Questões
Falou tudo QUANTO queria (correto)
Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria 1-) (SECRETARIA DE ESTADO DA ADMINISTRAÇÃO PÚ-
aparecer o demonstrativo O). BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM ELETRÔ-
NICA – IADES/2014)
Dicas para melhorar a interpretação de textos
Gratuidades
- Leia todo o texto, procurando ter uma visão geral do Crianças com até cinco anos de idade e adultos com
assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos candidatos mais de 65 anos de idade têm acesso livre ao Metrô-DF.
na disputa, portanto, quanto mais informação você absorver Para os menores, é exigida a certidão de nascimento e, para
com a leitura, mais chances terá de resolver as questões. os idosos, a carteira de identidade. Basta apresentar um
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa documento de identificação aos funcionários posicionados
a leitura. no bloqueio de acesso.
- Leia, leia bem, leia profundamente, ou seja, leia o tex- Disponível em: <http://www.metro.df.gov.br/estacoes/
to, pelo menos, duas vezes – ou quantas forem necessárias. gratuidades.html> Acesso em: 3/3/2014, com adaptações.
- Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma
conclusão). Conforme a mensagem do primeiro período do texto,
- Volte ao texto quantas vezes precisar. assinale a alternativa correta.
- Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as (A) Apenas as crianças com até cinco anos de idade
do autor. e os adultos com 65 anos em diante têm acesso livre ao
- Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor Metrô-DF.
compreensão. (B) Apenas as crianças de cinco anos de idade e os
- Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de adultos com mais de 65 anos têm acesso livre ao Metrô-DF.
cada questão. (C) Somente crianças com, no máximo, cinco anos de
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. idade e adultos com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre
- Observe as relações interparágrafos. Um parágrafo ao Metrô-DF.
geralmente mantém com outro uma relação de continua- (D) Somente crianças e adultos, respectivamente, com
ção, conclusão ou falsa oposição. Identifique muito bem cinco anos de idade e com 66 anos em diante, têm acesso
essas relações. livre ao Metrô-DF.
- Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja, (E) Apenas crianças e adultos, respectivamente, com
a ideia mais importante. até cinco anos de idade e com 65 anos em diante, têm
- Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou acesso livre ao Metrô-DF.
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora da
resposta – o que vale não somente para Interpretação de 1-) Dentre as alternativas apresentadas, a única que
Texto, mas para todas as demais questões! condiz com as informações expostas no texto é “Somente
- Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia princi- crianças com, no máximo, cinco anos de idade e adultos
pal, leia com atenção a introdução e/ou a conclusão. com, no mínimo, 66 anos têm acesso livre ao Metrô-DF”.
- Olhe com especial atenção os pronomes relativos, RESPOSTA: “C”.
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, etc., cha-
mados vocábulos relatores, porque remetem a outros vo- 2-) (SUSAM/AM – TÉCNICO (DIREITO) – FGV/2014 -
cábulos do texto. adaptada) “Se alguém que é gay procura Deus e tem boa
vontade, quem sou eu para julgá‐lo?” a declaração do
Fontes de pesquisa: Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à im-
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portu- prensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um
gues/como-interpretar-textos trovão mundo afora. Nela existe mais forma que substância
http://portuguesemfoco.com/pf/09-dicas-para-me- – mas a forma conta”. (...)
lhorar-a-interpretacao-de-textos-em-provas (Axé Silva, O Mundo, setembro 2013)
http://www.portuguesnarede.com/2014/03/dicas-pa-
ra-voce-interpretar-melhor-um.html O texto nos diz que a declaração do Papa ecoou como
http://vestibular.uol.com.br/cursinho/questoes/ques- um trovão mundo afora. Essa comparação traz em si mes-
tao-117-portugues.htm ma dois sentidos, que são
(A) o barulho e a propagação.
(B) a propagação e o perigo.
(C) o perigo e o poder.
(D) o poder e a energia. 
(E)  a energia e o barulho.  

43
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
2-) Ao comparar a declaração do Papa Francisco a um Outra diferença importante é com relação ao trata-
trovão, provavelmente a intenção do autor foi a de mostrar mento do conteúdo: ao passo que, nos textos não literários
o “barulho” que ela causou e sua propagação mundo afora. ( jornalísticos, científicos, históricos, etc.) as palavras servem
Você pode responder à questão por eliminação: a segun- para veicular uma série de informações, o texto literário
da opção das alternativas relaciona-se a “mundo afora”, ou funciona de maneira a chamar a atenção para a própria
seja, que se propaga, espalha. Assim, sobraria apenas a al- língua (FARACO & MOURA, 1999) no sentido de explorar
ternativa A! vários aspectos como a sonoridade, a estrutura sintática e
RESPOSTA: “A”. o sentido das palavras.
Veja abaixo alguns exemplos de expressões na lingua-
3-) (SECRETARIA DE ESTADO DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- gem não literária ou “corriqueira” e um exemplo de uso da
BLICA DO DISTRITO FEDERAL/DF – TÉCNICO EM CONTABI- mesma expressão, porém, de acordo com alguns escritores,
LIDADE – IADES/2014 - adaptada) na linguagem literária:
Concha Acústica
Localizada às margens do Lago Paranoá, no Setor de Linguagem não literária:
Clubes Esportivos Norte (ao lado do Museu de Arte de 1- Anoitece.
Brasília – MAB), está a Concha Acústica do DF. Projetada 2- Teus cabelos loiros brilham.
por Oscar Niemeyer, foi inaugurada oficialmente em 1969 3- Uma nuvem cobriu parte do céu. ...
e doada pela Terracap à Fundação Cultural de Brasília (hoje
Secretaria de Cultura), destinada a espetáculos ao ar livre. Linguagem literária:
Foi o primeiro grande palco da cidade. 1- A mão da noite embrulha os horizontes. (Alvarenga
Disponível em: <http://www.cultura.df.gov.br/nossa- Peixoto)
-cultura/concha- acustica.html>. Acesso em: 21/3/2014, 2- Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam na luz!
com adaptações. (Mário Quintana)
3- um sujo de nuvem emporcalhou o luar em sua nas-
Assinale a alternativa que apresenta uma mensagem cença. (José Cândido de Carvalho)
compatível com o texto.
(A) A Concha Acústica do DF, que foi projetada por Os- Como distinguir, na prática, a linguagem literária da
car Niemeyer, está localizada às margens do Lago Paranoá, não literária?
no Setor de Clubes Esportivos Norte. - A linguagem literária é conotativa, utiliza figuras (pa-
(B) Oscar Niemeyer projetou a Concha Acústica do DF lavras de sentido figurado), em que as palavras adquirem
em 1969. sentidos mais amplos do que geralmente possuem.
(C) Oscar Niemeyer doou a Concha Acústica ao que - Na linguagem literária há uma preocupação com a
hoje é a Secretaria de Cultura do DF. escolha e a disposição das palavras, que acabam dando
(D) A Terracap transformou-se na Secretaria de Cultura vida e beleza a um texto.
do DF. - Na linguagem literária é muito importante a maneira
(E) A Concha Acústica foi o primeiro palco de Brasília. original de apresentar o tema escolhido.
- A linguagem não literária é objetiva, denotativa, preo-
3-) Recorramos ao texto: “Localizada às margens do cupa-se em transmitir o conteúdo, utiliza a palavra em seu
Lago Paranoá, no Setor de Clubes Esportivos Norte (ao sentido próprio, utilitário, sem preocupação artística. Ge-
lado do Museu de Arte de Brasília – MAB), está a Concha ralmente, recorre à ordem direta (sujeito, verbo, comple-
Acústica do DF. Projetada por Oscar Niemeyer”. As infor- mentos).
mações contidas nas demais alternativas são incoerentes
com o texto. Leia com atenção os textos a seguir e compare as lin-
RESPOSTA: “A”. guagens utilizadas neles.

Literários, não literários e mistos Texto A


Amor (ô). [Do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que pre-
Sabemos que a “matéria-prima” da literatura são as pa- dispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma
lavras. No entanto, é necessário fazer uma distinção entre a coisa: amor ao próximo; amor ao patrimônio artístico de
linguagem literária e a linguagem não literária, isto é, aque- sua terra. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser
la que não caracteriza a literatura. a outro ser ou a uma coisa; devoção, culto; adoração: amor
Embora um médico faça suas prescrições em determi- à Pátria; amor a uma causa. 3. Inclinação ditada por laços
nado idioma, as palavras utilizadas por ele não podem ser de família: amor filial; amor conjugal. 4. Inclinação forte por
consideradas literárias porque se tratam de um vocabulário pessoa de outro sexo, geralmente de caráter sexual, mas
especializado e de um contexto de uso específico. Ago- que apresenta grande variedade e comportamentos e rea-
ra, quando analisamos a literatura, vemos que o escritor ções.
dispensa um cuidado diferente com a linguagem escrita, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário
e que os leitores dispensam uma atenção diferenciada ao da Língua Portuguesa, Nova Fronteira.
que foi produzido.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Texto B não foi feito por mim.
Amor é fogo que arde sem se ver; Este açúcar veio
É ferida que dói e não se sente; da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
É um contentamento descontente; dono da mercearia.
é dor que desatina sem doer. Este açúcar veio
Luís de Camões. Lírica, Cultrix. de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
Você deve ter notado que os textos tratam do mesmo e tampouco o fez o dono da usina.
assunto, porém os autores utilizam linguagens diferentes. Este açúcar era cana
No texto A, o autor preocupou-se em definir “amor”, e veio dos canaviais extensos
usando uma linguagem objetiva, científica, sem preocupa- que não nascem por acaso
ção artística. no regaço do vale.
No texto B, o autor trata do mesmo assunto, mas com Em lugares distantes, onde não há hospital
preocupação literária, artística. De fato, o poeta entra no nem escola,
campo subjetivo, com sua maneira própria de se expres- homens que não sabem ler e morrem de fome
sar, utiliza comparações (compara amor com fogo, ferida, aos 27 anos
contentamento e dor) e serve-se ainda de contrastes que plantaram e colheram a cana
acabam dando graça e força expressiva ao poema (conten- que viraria açúcar.
tamento descontente, dor sem doer, ferida que não se sente, Em usinas escuras,
fogo que não se vê). homens de vida amarga
e dura
Questões produziram este açúcar
branco e puro
1-) Leia o trecho do poema abaixo. com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

O Poeta da Roça Fonte: “O açúcar” (Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de


Sou fio das mata, cantô da mão grosa Janeiro, Civilização Brasileira, 1980, pp.227-228)
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro TEXTO II
Só fumo cigarro de paia de mio.
Patativa do Assaré A cana-de-açúcar

Originária da Ásia, a cana-de-açúcar foi introduzida no


A respeito dele, é possível afirmar que Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI. A
região que durante séculos foi a grande produtora de ca-
(A) não pode ser considerado literário, visto que a lin- na-de-açúcar no Brasil é a Zona da Mata nordestina, onde
guagem aí utilizada não está adequada à norma culta formal. os férteis solos de massapé, além da menor distância em
(B) não pode ser considerado literário, pois nele não se relação ao mercado europeu, propiciaram condições favo-
percebe a preservação do patrimônio cultural brasileiro. ráveis a esse cultivo. Atualmente, o maior produtor nacional
(C) não é um texto consagrado pela crítica literária. de cana-de-açúcar é São Paulo, seguido de Pernambuco,
(D) trata-se de um texto literário, porque, no processo Alagoas, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além de produzir
criativo da Literatura, o trabalho com a linguagem pode apa- o açúcar, que em parte é exportado e em parte abastece o
recer de várias formas: cômica, lúdica, erótica, popular etc mercado interno, a cana serve também para a produção de
(E) a pobreza vocabular – palavras erradas – não permite álcool, importante nos dias atuais como fonte de energia
que o consideremos um texto literário. e de bebidas. A imensa expansão dos canaviais no Brasil,
especialmente em São Paulo, está ligada ao uso do álcool
Leia os fragmentos abaixo para responder às questões como combustível.
que seguem:
2-) Para que um texto seja literário:
TEXTO I a) basta somente a correção gramatical; isto é, a expres-
O açúcar são verbal segundo as leis lógicas ou naturais.
O branco açúcar que adoçará meu café b) deve prescindir daquilo que não tenha correspondên-
nesta manhã de Ipanema cia na realidade palpável e externa.
não foi produzido por mim c) deve fugir do inexato, daquilo que confunda a capaci-
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. dade de compreensão do leitor.
Vejo-o puro d) deve assemelhar-se a uma ação de desnudamento. O
e afável ao paladar escritor revela, ao escrever, o mundo, e, em especial, revela o
como beijo de moça, água Homem aos outros homens.
na pele, flor e) deve revelar diretamente as coisas do mundo: senti-
que se dissolve na boca. Mas este açúcar mentos, ideias, ações.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa

3-) Ainda com relação ao textos I e II, assinale a opção  Quinhentismo (1500 – 1601)
incorreta  Barroco (1601 – 1728)
a) No texto I, em lugar de apenas informar sobre o real,  Arcadismo (1768 - 1836)
ou de produzi-lo, a expressão literária é utilizada principal-  Romantismo (1836 – 1881)
mente como um meio de refletir e recriar a realidade.  Realismo e Naturalismo (1881 – 1922)
b) No texto II, de expressão não literária, o autor infor-  Parnasianismo (1882 - 1922)
ma o leitor sobre a origem da cana-de-açúcar, os lugares  Simbolismo (1893 - 1922)
onde é produzida, como teve início seu cultivo no Brasil, etc.  Pré-Modernismo (1902 - 1922)
c) O texto I parte de uma palavra do domínio comum  Modernismo (e suas outras correntes que alcan-
– açúcar – e vai ampliando seu potencial significativo, explo- çam a Literatura contemporânea).
rando recursos formais para estabelecer um paralelo entre o
açúcar – branco, doce, puro – e a vida do trabalhador que o Os Estilos de Época representam o conjunto de pro-
produz – dura, amarga, triste. cedimentos estéticos que caracterizam a produção literá-
d) No texto I, a expressão literária desconstrói hábitos ria de determinado período histórico. São assinalados por
de linguagem, baseando sua recriação no aproveitamento determinada época histórica de acordo com seus valores
de novas formas de dizer. estéticos e ideológicos, criando, assim, uma geração de es-
e) O texto II não é literário porque, diferentemente do
critores e, consequentemente, de obras literárias que apre-
literário, parte de um aspecto da realidade, e não da ima-
sentam características semelhantes.
ginação.
Estilo Individual
GABARITO
O Estilo Individual - ou Estilo Pessoal - designa o modo
1-) D particular utilizado por cada escritor na composição de
suas obras. Representa o conjunto de características esti-
lísticas ou temáticas (na forma ou no conteúdo da cons-
2-) D – Esta alternativa está correta, pois ela remete ao trução poética) incluído numa determinada escola literária,
caráter reflexivo do autor de um texto literário, ao passo de acordo com a época vivida (contexto-histórico) ou até
em que ele revela às pessoas o “seu mundo” de maneira mesmo pelas características que ressaltam em sua obra.
peculiar.
Estilos de Época

3-) E – o texto I também fala da realidade, mas com um Toda a produção literária foi dividida didaticamente em
cunho diferente do texto II. No primeiro há uma colocação “Eras ou Épocas”. Dentro delas, surgem as “Escolas, Movi-
diferenciada por parte do autor em que o objetivo não é mentos ou Correntes”, as quais representam um período
unicamente passar informação, existem outros “motivado- histórico determinado, repleto de escritores e obras, que
res” por trás desta escrita. possuem semelhanças estilísticas e temáticas e compar-
tilham estilos e visão de mundo. Qualquer obra literária
apresenta marcas do contexto em que foi produzida, seja
na esfera social, política, cultural ou ideológica da época
LITERATURA BRASILEIRA. em questão.
Na Literatura de Portugal, as Eras são classificadas em:
Medieval, Clássica e Moderna, sendo que dentro de cada
uma há um conjunto de movimentos literários. Na Era
A Literatura no Brasil nasceu a partir dos primeiros es-
Medieval estão reunidos os movimentos literários do Tro-
critos de viajantes e missionários europeus que documen-
vadorismo (1189) e do Humanismo (1418). Na Clássica se
tavam informações sobre a terra recém-colonizada. Embora
encontram as escolas: Classicismo (1527), Barroco (1580)
esses primeiros escritos não possam ser considerados como
e o Arcadismo (1756). Por fim, na Era Moderna - também
Literatura de fato, por estarem demasiadamente presos à
crônica histórica, são compreendidos como o ponto de par- denominada de Era Romântica - estão os movimentos: Ro-
tida para a formação de nossa identidade literária e cultural. mantismo (1825), Realismo-Naturalismo (1865), Simbolis-
mo (1890) e Modernismo (1915). Por sua vez, a Literatura
Durante muito tempo, toda produção literária esteve Brasileira é formada por duas Eras: Colonial e Nacional. Na
subjugada ao pensamento português. A partir do Roman- Era Colonial estão reunidas as escolas literárias do Qui-
tismo, nossa Literatura se emancipou, alcançou sua autono- nhentismo (1500), Barroco (1601) e Arcadismo (1768). Já na
mia e criou manifestações literárias próprias. Para facilitar Era Nacional estão: o Romantismo (1836), Realismo/Natu-
o estudo de nossa literatura, didaticamente ela foi dividida ralismo/Parnasianismo (1881), Simbolismo (1893), Pré-Mo-
em Escolas Literárias ou Estilos de Época: dernismo (1902) e o Modernismo (1922).

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Periodização da Literatura  Variabilidade: Na linguagem literária, assim como na
língua, ocorrem mudanças culturais que podem ser observadas
A Periodização Literária representa o conjunto de eras e es- no discurso individual e no discurso cultural.
colas literárias, agrupadas sistematicamente de forma a facilitar o A linguagem literária pode ser encontrada na prosa, em nar-
estudo dos escritores e da arte literária. rativas de ficção, na crônica, no conto, na novela, no romance e
Todos os representantes do cenário artístico, brasileiro ou também em verso - no caso dos poemas. Os textos literários não
não, viveram à margem de um determinado tempo, de uma de- possuem compromisso com a transparência e, por esse moti-
terminada época e tiveram o privilégio de vivenciar os aconte- vo, muitas vezes demandam de nós um maior senso estético e
cimentos, os fatos manifestados no plano político, econômico maior capacidade de analisar e interpretar esse tipo de discurso.
e social da época em questão. Em virtude de tais pressupostos, A Literatura se encontra a serviço da arte e faz da criação literária
não seria possível falar do Renascimento sem mencionar a crise um objeto linguístico e estético, ao qual se pode atribuir novos
do feudalismo; fazer referência ao Romantismo sem lembrar a significados construídos a partir de singularidades e perspecti-
Revolução Francesa; mencionar o Realismo sem contextualizar vas, e sua compreensão dependerá de vivências e do repertório
a Revolução Industrial, e assim por diante. Dessa forma, tor- cultural do leitor.
nam-se evidentes as características demarcadas no subjetivismo
dos românticos, na ideologia de cunho social impressa na visão SITES
dos escritores da época realista, etc. Assim, tudo o que se fez foi http://brasilescola.uol.com.br/literatura/linguagem-literaria.htm
genericamente caracterizado como fruto de uma determinada http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/literatura/lingua-
realidade, tanto no que se refere ao plano formal (geralmente gem-literaria.htm
manifestado nas criações poéticas) quanto no que se refere ao
plano das ideias (manifestado nas criações sob a forma de prosa) BARROCO
do discurso em si. Seguindo essa linha de raciocínio, todo esse
cenário serviu tão somente como pano de fundo para que os No Brasil Colonial, a presença dos jesuítas teve grande im-
artistas pudessem expor seus posicionamentos, sua visão ideo- portância no processo de disseminação do cristianismo católi-
lógica acerca da realidade circundante. co no interior da colônia. Não por acaso – visando aperfeiçoar
Cabe ressaltar que, mesmo tendo uma dada época como suas ações missionárias –, os jesuítas trouxeram da Europa as
suporte, cada escritor se fez reconhecido por um estilo próprio, influências estéticas de cunho fortemente religioso que marca-
por uma maneira individual de compor as criações. ram o estilo barroco. Na maioria das vezes, esse tipo de criação
se manifestou na construção de igrejas e imagens religiosas que
SITES tomavam campo nos centros urbanos do país.
http://brasilescola.uol.com.br/literatura/estilos-epoca.htm Chegando ao Brasil, as construções de traço barroco se lan-
http://portugues.uol.com.br/literatura/literatura-no-brasil.html çavam aos olhos de uma população mista formada por alfaiates,
https://www.todamateria.com.br/estilos-de-epoca/ ambulantes, funcionários públicos, indígenas, escravos e vadios.
Essa população, na maioria das vezes, só conseguia compreen-
LINGUAGEM LITERÁRIA der o sentido dos valores religiosos afirmados pela catequese
com a imponência de imagens ricas em que a complexa orna-
Existem, basicamente, dois grandes grupos de texto quando mentação pretendia reafirmar o caráter sagrado dos santos e
o assunto é a linguagem: os textos não literários e os literários. É templos religiosos.
fundamental observar os recursos linguísticos empregados em As obras e construções barrocas eram fabricadas a partir
cada tipo de discurso para classificá-los corretamente. Nos textos do uso de pedra-sabão, barro cozido e madeira policromada
literários existem alguns aspectos que devem ser considerados: ou dourada. Existiu uma visível preocupação em se reproduzir
 Complexidade: é uma das características do discurso movimentos de conteúdo dramático, o uso de linhas curvas, a
literário. A semântica é subvertida, bem como as regras da gra- preferência por construções de porte grandioso e o uso de um
mática normativa. impacto visual capaz de chamar atenção dos apreciadores.
 Multissignificação: diz respeito às variadas interpreta- Passada a fase do Barroco baiano, suntuoso e pesado, o es-
ções que um texto literário permite. A subjetividade e o empre- tilo atingiu no século XVIII a província de Minas Gerais. Dentre os
go de recursos estilísticos são responsáveis por essa variação de principais representantes dessa arte podemos destacar o escul-
sentidos. Cada leitor, de acordo com seu senso estético e reper- tor Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho,
tório cultural, pode fazer uma leitura diferente para um poema, e o pintor Manuel da Costa Ataíde. Ambos viveram o auge do
um conto, uma crônica e demais textos literários. barroco no Brasil, na passagem do século XVIII para o XIX, pro-
 Conotação: O emprego da conotação é uma das prin- movendo um estilo próprio que tendeu a eliminar alguns dos
cipais características do discurso literário, pois ela permite que excessos perceptíveis nas obras que tinham maior aproximação
ideias e associações extrapolem o sentido original da palavra, com o barroco desenvolvido no Velho Mundo.
assumindo um sentido figurado e simbólico. Há o emprego de O valor educativo lançado à arte barroca é percebido na dinâ-
figuras de linguagem e de sintaxe. mica dos elementos trabalhados em suas principais obras. A tensão
 Liberdade na criação: O artista não possui compro- entre o medieval e o renascentista pode ser observada no uso de
misso apenas com o objeto linguístico. A literatura tem um for- imagens austeras combinadas com a sofisticação dos ornamentos.
te apelo estético, e por esse motivo quem escreve utilizando o Paralelamente, os itens acessórios tinham um valor narrativo onde
discurso literário pode se afastar dos padrões convencionais da o observador poderia identificar um santo e sua história através do
língua, inventando novas maneiras de expressão. dragão de São Jorge; ou a chave dos céus carregada por São Pedro.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O aparecimento desses artistas no ambiente colonial indi- Triste Bahia
cava um período de relativa prosperidade material nas cidades
e vilas que se enriqueciam graças aos recursos trazidos pela ex- Triste Bahia!
ploração do ouro, a partir do século XVIII. Em muitos casos, essa ó quão dessemelhante
nova situação fazia com que mulatos e outras figuras marginali- Estás e estou do nosso antigo estado!
zadas do mundo colonial alcançassem prestígio ou um interes- Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
sante meio de sustentação.
A ti tricou-te a máquina mercante,
Gregório de Matos Guerra: “Boca do Inferno” Que em tua larga barra tem entrado,
Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) e mor- A mim foi-me trocando e, tem trocado,
reu em Recife (PE). Estudou no colégio dos jesuítas e formou-se Tanto negócio e tanto negociante.
em Direito em Coimbra (Portugal). Recebeu o apelido de Boca
do Inferno graças a sua irreverente obra satírica, na qual ataca, O poeta lírico
muitas vezes, a sociedade baiana da época. Firmou-se como o
primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lírica, satírica, erótica Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra
e religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto de inúmeras um poeta angustiado em face à vida, à religião e ao amor.
pesquisas, pois Gregório não publicou seus poemas em vida. Por Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma
essa razão, há dúvidas quanto à autenticidade de muitos textos mulher bela que é constantemente comparada aos ele-
que lhe são atribuídos. mentos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo em que
Dono de uma personalidade rebelde, Gregório criticou di- o amor desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado
versos aspectos da sociedade, do governo e da Igreja Católica. pela culpa e pela angústia do pecado.
Por esse motivo, foi perseguido pela Inquisição e condenado ao
degredo em Angola no ano de 1694. À mesma d. Ângela
O poeta religioso
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
A preocupação religiosa do escritor se revela no grande nú-
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
mero de textos que tratam do tema da salvação espiritual do
Em quem, senão em vós, se uniformara:
homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus,
com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
redimir-se.
De verde pé, da rama fluorescente;
Soneto a Nosso Senhor E quem um Anjo vira tão luzente,
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Que por seu Deus o não idolatrara?
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Vos tem a perdoar mais empenhado. Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Se basta a voz irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido: Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Que a mesma culpa que vos há ofendido, Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Vos tem para o perdão lisonjeado. Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Se uma ovelha perdida e já cobrada O poeta erótico


Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história. Também alcunhado de profano, o poeta exalta a sen-
sualidade e a volúpia das amantes que conquistou na Bah-
Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada, ia, além dos escândalos sexuais envolvendo os conventos
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino, da cidade.
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Necessidades Forçosas da Natureza Humana
O poeta satírico
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas Corro por um conchego todo o mapa,
críticas à situação econômica da Bahia - especialmente de O ar da feia me arrebata a capa,
Salvador, chegando a fazer uma crítica ao então governa- O gadanho da limpa até a garupa.
dor da Bahia, Antônio Luís da Câmara Coutinho - além de Busco uma freira, que me desemtupa
suas críticas à Igreja e à religiosidade presente naquele mo- A via, que o desuso às vezes tapa,
mento. Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Que hei de fazer, se sou de boa cepa, (aureas mediocritas), descartando todas as coisas desne-
E na hora de ver repleta a tripa, cessárias e inúteis (inutillia truncat), inclusive na poesia. Por
Darei por quem mo vase toda Europa? isso, a poesia árcade (que se opõe à barroca) buscava uma
Amigo, quem se alimpa da carepa, poesia mais simples, privilegiando o verso, valorizando as
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa, formas fixas, como soneto e odes. A poesia árcade brasilei-
Ou faz da mão sua cachopa. ra também foi influenciada pela poesia clássica. Alegorias
de mitos clássicos eram comuns. A natureza podia ser re-
SITES presentada como alegoria da literatura clássica com ninfas,
http://www.soliteratura.com.br/barroco/barroco05.php elementos da natureza representados por divindades, valo-
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/artes/a-arte- rizando a vida natural.
-barroca-no-brasil.htm Essa ideia de vida natural se relaciona com o ideal do
https://www.todamateria.com.br/barroco/ filósofo francês Rousseau: o mito do homem cordial, na fi-
https://www.todamateria.com.br/gregorio-de-matos/ gura do bom selvagem, que não foi corrompido pelos ví-
cios da cidade.
O ARCADISMO
Os principais autores árcades brasileiros foram:
O Arcadismo no Brasil teve início no ano de 1768, com A) Claudio Manoel da Costa (que escrevia sob o pseu-
a publicação do livro “Obras” de Cláudio Manuel da Costa. dônimo de Glauceste Satúrnio) – conhecido por sua sólida
Nesse período, Portugal explorava suas colônias a fim formação humanista e habilidade poética;
de conseguir suprir seu déficit econômico. A economia B) Basílio da Gama – escritor da pequena epopeia O
brasileira estava voltada para a era do ouro, da mineração Uraguai que canta o heroísmo indígena;
e, portanto, ao estado de Minas Gerais, campo de extração C) Frei Santa Rita Durão – que escreveu O Caramuru,
contínua de minérios. No entanto, os minérios começaram poema indígena voltado ao passado colonial, entrando em
a ficar escassos e os impostos cobrados por Portugal colo- conflito com as ideias do século das luzes (o iluminismo).
nos ficaram exorbitantes.
Surgiu, então, a necessidade de o Brasil buscar uma Havia uma tendência entre os árcades em tratar de as-
forma de se desvincular do seu explorador. Os ideais re- suntos da colônia, do índio, de coisas da terra. Além disso,
volucionários começaram a se desenvolver sob influência o engajamento político dos poetas mineiros fez com que
das Revoluções Industrial e Francesa, ocorridas na Europa, muitos considerassem o arcadismo brasileiro um prenúncio
bem como do exemplo da independência das 13 colônias do nacionalismo romântico, chamando-os de pré-român-
inglesas. ticos.
Enquanto na Europa surgia o trabalho assalariado, o
Brasil ainda vivia o tempo de escravidão. Há um proces- SITES
so de revoltas no Brasil, e durante o período árcade foi a https://www.infoescola.com/literatura/arcadismo-no-
Inconfidência. Os escritores mineiros árcades - Tomás An- -brasil/
tônio, Alvarenga Peixoto e Claudio Manuel da Costa - ti- http://brasilescola.uol.com.br/literatura/arcadismo-
veram participação direta no movimento da Inconfidência -brasil.htm
Mineira. Chegados de Coimbra com ideias enciclopedistas http://arcadismobrasil.blogspot.com.br/2013/10/os-
e influenciados pela independência dos EUA, eles não só se -arcades-e-inconfidencia.html
juntaram aos revoltosos contra a exploração praticada pelo
erário régio, mas também ajudaram a divulgar sonhos de O ROMANTISMO
um Brasil independente e contribuíram para a organização
do grupo inconfidente. Do grupo dos inconfidentes, ape- O século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais,
nas um homem não tinha a mesma formação intelectual políticas e culturais causadas pela Revolução Industrial e
dos demais - o alferes Joaquim José da Silva, o Tiradentes. pela Revolução Francesa (final do séc. XVIII). Do mesmo
A reforma educacional pombalina (de Marquês de modo, a atividade artística se tornou mais complexa e um
Pombal) causa mudanças também no Brasil, as quais per- dos primeiros movimentos que se caracteriza como uma
mitiram a divulgação de ideais iluministas no país. Assim, reação ao Neoclassicismo do séc. XVIII é o Romantismo,
os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade pautaram assim como o Barroco se opôs ao Renascimento. O Roman-
a poesia desse período. tismo expressava a liberdade e a independência, os artistas
A poesia árcade defendia que apenas no campo po- eram fascinados pelo misterioso e sobrenatural, suas obras
dia-se obter a verdadeira felicidade. Essa ideia - segundo revelam uma atmosfera de fantasia e heroísmo, valorizan-
Antônio Candido vem dos sentimentos de frustração que do a emoção e a liberdade de criação.
a burguesia viveu na cidade. A vida natural no campo era No Brasil, o desenvolvimento da prosa romântica é pa-
o ideal da relação humana, o campo era o bem perdido, o ralelo ao desenvolvimento da imprensa no país, que foi in-
cenário idílico. Os árcades propunham uma fuga da cidade troduzida em 1808. A atividade passou a ser desenvolvida
(no termo em latim fugere urbem), para se aproveitar a vida somente com a vinda da Corte portuguesa ao Brasil, em
(carpe diem) vivendo num local aprazível (locus amoenus) 1808, que exigiu o desenvolvimento da colônia para aten-
que era o campo (ambiente bucólico), de maneira simples der ao seu modo de vida.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Com o desenvolvimento da imprensa, criou-se um pú- cidade e a realização do amor e do casamento (que redimia
blico leitor que impulsionou um grande número de publi- as personagens de todo o mal e imoralidade que elas pu-
cações em folhetins, formato que permitiu o surgimento e dessem ter), tal como nos outros tipos de romances român-
desenvolvimento da prosa romântica, que, ao lado da poesia, ticos. Exemplos de romances urbanos: Lucíola, Diva, Senhora,
formaram toda a produção literária romântica. A Viuvinha, todos de José de Alencar; Iaiá Garcia, Helena, A
Mão e a Luva, de Machado de Assis; A Moreninha, de Joaquim
Principais características Manuel de Macedo; e Memórias de um Sargento de Milícias,
de Manuel Antônio de Almeida, que surge trazendo à tona os
O romance romântico, mais do que as poesias, queria costumes da periferia, indo na contramão do retrato de cos-
responder e atender aos questionamentos sobre a identidade tumes da alta sociedade - algo raro neste tipo de romance.
nacional. A prosa romântica tinha o intuito de redescobrir o
Brasil, trazendo à tona e reconhecendo todos os espaços que Romance regionalista
o compunham, não só exaltando uma característica nacional,
como a poesia fazia. Era comum a presença do flashback - Por fim, o romance regionalista, passado em ambiente
uma volta ao passado para explicar um fato do presente. O rural, mostrando costumes, valores e cultura típica de uma
sentimentalismo era mais visível, uma vez que toda prosa ro- região. Trazia um maior conhecimento do Brasil sobre si pró-
mântica tem histórias de amor que tentam quebrar barreiras, prio, uma vez que voltava seu olhar pra regiões diferentes do
terminando no casamento ou na morte (quando o amor não Brasil, mostrando sua diversidade. Neste cenário rural há um
era possível). Essa idealização de um amor que quebra bar- herói do campo, sertanejo, alguém que pertence à sua terra
reiras traz à tona a ideia de que o amor é a única forma das e é o retrato desta. É bravo e honrado, preza a moral e os
personagens se purificarem. costumes de seu ambiente, colocando-se contrário às libera-
O conflito narrativo na prosa romântica também tinha lidades da cidade e dos homens de lá. Exemplos de romances
a idealização de um herói, no entanto, apesar da coragem, regionalistas: Inocência, de Visconde de Taunay; O Tronco do
da postura idealista e do desejo de justiça e moral, este he- Ipê, Til e O Gaúcho, de José de Alencar; A Escrava Isaura, de
rói está inserido no contexto do romance ao qual pertence, Bernardo Guimarães.
podendo também ser uma heroína. O sentimento das per-
sonagens e os conflitos destes são mostrados na prosa e há O Romantismo foi um movimento na arte e na literatura,
também uma ideia muito forte de bem x mal, verdade x men- nos séculos XVIII e XIX em revolta contra o neoclassicismo
tira, moral x imoral. dos séculos anteriores. Foi em parte uma reação à Revolução
Industrial, às normas sociais e políticas aristocráticas da idade
Tipos de romances da iluminação e do científico, racionalização da natureza. O
movimento também colocou grande valor sobre a beleza da
Temos quatro tipos de romances no movimento: o india- natureza e do deserto e muitas vezes expressando um sen-
nista, histórico, regional e urbano. timento de nostalgia de um passado remoto, glorificando o
período medieval e cultura popular.
Romance indianista
Uma das principais características deste movimento é a
Traz à tona a vida, cultura, crença e costumes indígenas. perspectiva individual do mundo (estética centrada no eu-e-
O índio surge como herói, representando o Brasil e os bra- missor). Evidencia-se o mundo interior do artista e os reflexos
sileiros, sendo corajoso, heroico, forte, idealizado. Há uma e emoções desencadeadas pela realidade externa. Essa abor-
valorização da natureza e o espaço onde ocorre a narrativa dagem emocional e individual se traduz em diversas carac-
remete ao natural, à paisagem brasileira. Exemplos de ro- terísticas:
mances indianistas: Iracema, O Guarani e Ubirajara, todos de
José de Alencar. 1. Na linguagem: Predomina a função emotiva (centra-
da no emissor) e às vezes apelativa ou conativa (centrada no
Romance histórico receptor).
2. Dirigismo da obra: O autor projeta na obra o seu gosto
Retrata costumes de uma época passada, muitas vezes e o do leitor, muitas vezes se furtando da análise da realidade.
mistura ficção e realidade. Exemplos de romances históricos: 3. O choque Eu X Mundo: É evidenciado pela visão sub-
As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates, ambos de José jetiva e pessoal da realidade. Esse conflito com o mundo ex-
de Alencar. terior pode resultar em duas posturas distintas: a) A atitude
reformista, típica do Romantismo Social, também marcado
Romance urbano pelo engajamento do poeta que deseja transformar a reali-
dade, através da denúncia das opressões e do humanitaris-
São os mais lidos até hoje. Em sua grande maioria, nar- mo em prol dos oprimidos. b) O escapismo do Romantismo
rava uma história que geralmente ocorria nas capitais, na alta Individualista, em que o eu-poético se fecha em seu próprio
sociedade. Funcionava como crítica aos costumes, mostran- mundo em razão da desilusão com o social, podendo assu-
do a sociedade e os interesses desta em uma determinada mir uma atitude sonhadora, idealizando a realidade, ou uma
época. Os heróis e heroínas faziam ou não parte desta alta atitude fugaz e melancólica, que ressalta a solidão e a morte.
sociedade e tinham que superar várias barreiras para a feli- Gerações Românticas na Poesia

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
1.ª Geração (1836-1850) e da espontaneidade vividas por ele na hora da criação, anulando,
por assim dizer, o perfeccionismo tão exaltado pelos clássicos. Não
Iniciada pela publicação de Suspiros Poéticos e Saudades há retoques após a concepção para não comprometer a autentici-
(obra de temática religiosa e nacionalista), de Gonçalves de Ma- dade e a qualidade do trabalho. Esses artistas vivem em busca de
galhães, esta é a geração nacional-indianista, marcada pela mi- fortes emoções e aventuras na tentativa de colher experiências no-
tificação da natureza (Panteísmo), da pátria (nacionalismo) e do vas e criadoras. Alguns chegam até a se envolver com o alcoolismo
índio (indianismo), símbolo do espírito nacional em oposição à e drogas ou com um sentimento de pessimismo, enquanto outros
herança portuguesa. participam de lutas sociais. O Romantismo marca uma importante
Ocorre no contexto inicial do Romantismo, e apesar de rejei- mudança de postura na arte a proximidade maior entre a vida e a
tar a visão iluminista de homem racional, salientando o homem obra, e entre a obra e a realidade.
emotivo, psicológico e intuitivo, essa geração sofre influência de
Jean-Jacques Rousseau (iluminista), na concepção do mito do SITES
bom selvagem. https://rachacuca.com.br/educacao/literatura/romantismo-
A independência do Brasil (1822) acaba por fortalecer o -no-brasil-prosa/
sentimento nativista. Os principais poetas foram Gonçalves de http://www.portalsaofrancisco.com.br/periodos-literarios/
Magalhães e Gonçalves Dias. romantismo

2.ª Geração (1850-1870)

Também denominada de Mal do século, Ultrarromantismo PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS


ou Byronismo (homenagem ao poeta Lord Byron, da Inglater- (PCNS).
ra), esta geração foi marcada pela desilusão, pelo egocentrismo,
pelo narcisismo, pelo negativismo boêmio e pelo escapismo dos
artistas.
O contexto histórico (frustração das promessas burguesas AO PROFESSOR
revolucionárias) reflete nessa atitude, pois ocasiona a desilusão
em torno das mudanças sociais. Destacam-se os poetas Casimiro O papel fundamental da educação no desenvolvimento das
de Abreu, Álvares de Azevedo e Junqueira Freire. pessoas e das sociedades amplia-se ainda mais no despertar do
novo milênio e aponta para a necessidade de seconstruir uma
3.ª Geração (1870-1881) escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era
marcada pela competição e pela excelência, em que progressos
O seu marco inicial foi a publicação de Espumas Flutuantes, científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas
de Castro Alves. É também conhecida como Geração Condoreira para os jovens que ingressarão no mundo do trabalho. Tal de-
(alusão à altivez do pássaro Condor) ou Hugoana (Influência de manda impõe uma revisão dos currículos, que orientam o tra-
Victor Hugo, escritor francês) e é impregnada pela indignação e balho cotidianamente realizado pelos professores e especialistas
pela crítica social relacionada às lutas abolicionistas. A sua lingua- em educação do nosso país.
gem é declamatória, passional, marcada por hipérboles, metáfo- Assim, é com imensa satisfação que entregamos aos professo-
ras e alegorias. Destacam-se Fagundes Varela, Tobias Barreto e, res das séries finais do ensino fundamental os Parâmetros Curricula-
principalmente, Castro Alves - um dos mais legítimos represen- res Nacionais, com a intenção de ampliar e aprofundar um debate
tantes da atitude condoreira, fundador da poesia social e enga- educacional que envolva escolas, pais, governos e sociedade e dê
jada no Brasil, também conhecido como O poeta dos escravos origem a uma transformação positiva no sistema educativo brasileiro.
- devido ao tratamento crítico dado à causa dos negros escravos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados
O Romantismo é um amplo movimento, e representa, na li- procurando, de um lado, respeitar diversidades regionais, cultu-
teratura e na arte em geral, os anseios da classe burguesa, que, rais, políticas existentes no país e, de outro, considerar a neces-
na época, estava em ascensão. A literatura, portanto, abandona sidade de construir referências nacionais comuns ao processo
a aristocracia para caminhar ao lado do povo, da cultura leiga. Ao educativo em todas as regiões brasileiras. Com isso, pretende-se
Romantismo, cabe a tarefa de criar uma linguagem nova, uma criar condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter
nova visão de mundo, identificada com os padrões simples de acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e
vida da classe média e da burguesia. Enquanto o Classicismo ob- reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania.
servava a realidade objetiva, exterior, e a reproduzia do mesmo Os documentos apresentados são o resultado de um longo
modo, através de um processo mimético, sem deformar a realida- trabalho que contou com a participação de muitos educadores
de, o Romantismo deforma a realidade que, antes de ser exposta, brasileiros e têm a marca de suas experiências e de seus estu-
passa pelo crivo da emoção. A arte romântica inicia uma nova e dos, permitindo assim que fossem produzidos no contexto das
importante etapa na literatura, voltada aos assuntos de seu tempo discussões pedagógicas atuais. Inicialmente foram elaborados
- efervescência social e política, esperança e paixão, luta e revo- documentos, em versões preliminares, para serem analisados
lução - e ao cotidiano do homem burguês do século XIX; retrata e debatidos por professores que atuam em diferentes graus de
uma nova atitude do homem perante si mesmo. O interesse dessa ensino, por especialistas da educação e de outras áreas, além de
nova arte está voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a instituições governamentais e não governamentais. As críticas e
simplicidade, opondo-se, desse modo, à arte clássica que cultivava sugestões apresentadas contribuíram para a elaboração da atual
a razão. A arte, para o romântico, não pode se limitar à imitação, versão, que deverá ser revista periodicamente, com base no
mas ser a expressão direta da emoção, da intuição, da inspiração acompanhamento e na avaliação de sua implementação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Esperamos que os Parâmetros sirvam de apoio às discussões e ao desenvolvimento do projeto educativo de sua escola, à
reflexão sobre a prática pedagógica, ao planejamento de suas aulas, à análise e seleção de materiais didáticos e de recursos tec-
nológicos e, em especial, que possam contribuir para sua formação e atualização profissional.

Paulo Renato Souza


Ministro da Educação e do Desporto
OBJETIVOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
- Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e
sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para
si o mesmo respeito;
• - Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma
de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;
- Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir pro-
gressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país;
- Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos
e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de
etnia ou outras características individuais e sociais;
- Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre
eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;
- Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cog-
nitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no
exercício da cidadania;
• - Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qua-
lidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
- Utilizar as diferentes linguagens verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal como meio para produzir,
- Expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atenden-
do a diferentes intenções e situações de comunicação;
- Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
- Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a
criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

1ª Parte Ensino Fundamental

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
2ª Parte Especificação por ciclos

APRESENTAÇÃO

A finalidade dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa é constituir-se em referência para as discus-
sões curriculares da área – em curso há vários anos em muitos estados e municípios – e contribuir com técnicos e profes-
sores no processo de revisão e elaboração de propostas didáticas.
O presente documento se organiza em duas partes. Na primeira, faz-se a apresentação da área e definem-se as linhas
gerais da proposta. Em sua introdução, analisam se alguns dos principais problemas do ensino da língua e situa-se a pro-
posta em relação ao movimento de reorientação curricular nos últimos anos. Abordam-se, também, a natureza, as carac-
terísticas e a importância da área. Finalmente, indicam-se os objetivos e conteúdos propostos para o ensino fundamental.
Na segunda parte, dedicada ao terceiro e quarto ciclos, caracterizam-se ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa
nestes ciclos, definem-se objetivos e conteúdos, apresentam-se orientações didáticas, especificam-se relações existentes
entre o ensino de Língua Portuguesa e as tecnologias da comunicação e, por fim, propõem-se critérios de avaliação.

Secretaria de Educação Fundamental

APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE
LÍNGUA PORTUGUESA

Introdução

A discussão acerca da necessidade de reorganização do ensino fundamental no Brasil é relativamente antiga, estando
intrinsecamente associada ao processo de universalização da educação básica que se impôs como necessidade política
para as nações do Terceiro Mundo a partir da metade do século XX.
A nova realidade social, conseqüente da industrialização e da urbanização crescentes, da enorme ampliação da utili-
zação da escrita, da expansão dos meios de comunicação eletrônicos e da incorporação de contingentes cada vez maiores
de alunos pela escola regular colocou novas demandas e necessidades, tornando anacrônicos os métodos e conteúdos
tradicionais.
Os índices brasileiros de evasão e de repetência — inaceitáveis mesmo em países muito mais pobres — são a prova
cabal do fracasso escolar.
O ensino de Língua Portuguesa tem sido, desde os anos 70, o centro da discussão acerca da necessidade de melhorar
a qualidade de ensino no país.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O eixo dessa discussão no ensino fundamental cen- ticas de ensino da língua, na direção de orientá-las para
tra-se, principalmente, no domínio da leitura e da escrita a ressignificação da noção de erro, para a admissão das
pelos alunos, responsável pelo fracasso escolar que se ex- variedades linguísticas próprias dos alunos, muitas delas
pressa com clareza nos dois funis em que se concentra a marcadas pelo estigma social, e para a valorização das hi-
maior parte da repetência: na primeira série (ou nas duas póteses linguísticas elaboradas pelos alunos no processo
primeiras) e na quinta série. No primeiro, pela dificuldade de reflexão sobre a linguagem e para o trabalho com textos
de alfabetizar; no segundo, por não se conseguir levar os reais, ao invés de textos especialmente construídos para o
alunos ao uso apropriado de padrões da linguagem escrita, aprendizado da escrita.
condição primordial para que continuem a progredir. O resultado mais imediato desse esforço de revisão foi
Na década de 60 e início da de 70, as propostas de à incorporação dessas ideias por um número significativo
reformulação do ensino de Língua Portuguesa indicavam, de secretarias de educação estaduais e municipais, no esta-
fundamentalmente, mudanças no modo de ensinar, pou- belecimento de novos currículos e na promoção de cursos
co considerando os conteúdos de ensino. Acreditava-se de formação e aperfeiçoamento de professores.
que valorizar a criatividade seria condição suficiente para Pode-se dizer que, apesar de ainda imperar no tecido
desenvolver a eficiência da comunicação e expressão do social uma atitude “corretiva e preconceituosa em relação
aluno. Além disso, tais propostas se restringiam aos setores às formas não canônicas de expressão linguística, as pro-
médios da sociedade, sem se dar conta das consequências postas de transformação do ensino de Língua Portugue-
profundas que a incorporação dos filhos das camadas po- sa consolidaram-se em práticas de ensino em que tanto o
bres implicava. O ensino de Língua Portuguesa orientado ponto de partida quanto o ponto de chegada é o uso da
pela perspectiva gramatical ainda parecia adequado, dado linguagem.
que os alunos que frequentavam a escola falavam uma va- Pode-se dizer que hoje é praticamente consensual que
riedade linguística bastante próxima da chamada variedade as práticas devem partir do uso possível aos alunos para
padrão e traziam representações de mundo e de língua se- permitir a conquista de novas habilidades linguísticas, par-
melhantes às que ofereciam livros e textos didáticos. ticularmente daquelas associadas aos padrões da escrita,
A nova crítica do ensino de Língua Portuguesa, no en- sempre considerando que:
tanto, só se estabeleceria mais consistentemente no início • - A razão de ser das propostas de leitura e escuta é a
dos anos 80, quando as pesquisas produzidas por uma lin- compreensão ativa e não a decodificação e o silêncio;
guística independente da tradição normativa e filológica e • - A razão de ser das propostas de uso da fala e da
os estudos desenvolvidos em variação linguística e psico- escrita é a interlocução efetiva, e não a produção de textos
linguística, entre outras, possibilitaram avanços nas áreas para serem objetos de correção;
de educação e psicologia da aprendizagem, principalmente • - As situações didáticas têm como objetivo levar os
no que se refere à aquisição da escrita. Este novo quadro alunos a pensar sobre a linguagem para poder compreen-
permitiu a emersão de um corpo relativamente coeso de dê-la e utilizá-la apropriadamente às situações e aos pro-
reflexões sobre a finalidade e os conteúdos do ensino de pósitos definidos.
língua materna. Nos dois primeiros ciclos do ensino fundamental, a
Entre as críticas mais frequentes que se faziam ao ensi- prática e a reflexão pedagógica encontram-se relativa-
no tradicional destacavam mente organizadas. Entretanto, nos dois últimos ciclos,
essa prática e reflexão ainda não estão consolidadas. Os
• - A desconsideração da realidade e dos interesses dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa
alunos; configuram-se como síntese do que foi possível aprender e
• - A excessiva escolarização das atividades de leitura e avançar nesta década, em que a democratização das opor-
de produção de texto; tunidades educacionais começa a ser levada em considera-
• - O uso do texto como expediente para ensinar valo- ção em sua dimensão política, também no que diz respeito
res morais e como pretexto para o tratamento de aspectos aos aspectos intraescolares.
gramaticais;
• - A excessiva valorização da gramática normativa e a Ensino e natureza da linguagem
insistência nas regras de exceção, com o consequente pre-
conceito contra as formas de oralidade e as variedades não O domínio da linguagem, como atividade discursiva e
padrão; cognitiva, e o domínio da língua, como sistema simbólico
• - O ensino descontextualizado da metalinguagem, utilizado por uma comunidade linguística, são condições
normalmente associado a exercícios mecânicos de identifi- de possibilidade de plena participação social.
cação de fragmentos linguísticos em frases soltas; Pela linguagem os homens e as mulheres se comu-
• - A apresentação de uma teoria gramatical inconsis- nicam, têm acesso à informação, expressam e defendem
tente uma espécie de gramática tradicional mitigada e fa- pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo,
cilitada. produzem cultura.
Assim, um projeto educativo comprometido com a de-
É neste período que ganha espaço um conjunto de te- mocratização social e cultural atribui à escola a função e
ses que passam a ser incorporadas e admitidas, pelo me- a responsabilidade de contribuir para garantir a todos os
nos em teoria, por instâncias públicas oficiais. A divulgação alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o
dessas teses desencadeou um esforço de revisão das prá- exercício da cidadania.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Essa responsabilidade é tanto maior quanto menor for Discurso e suas condições de produção, gênero e
o grau de letramento das comunidades em que vivem os texto
alunos. Considerando os diferentes níveis de conhecimento
prévio, cabe à escola promover sua ampliação de forma Interagir pela linguagem significa realizar uma atividade
que, progressivamente, durante os oito anos do ensino discursiva: dizer alguma coisa a alguém, de uma determina-
fundamental, cada aluno se torne capaz de interpretar di- da forma, num determinado contexto histórico e em deter-
ferentes textos que circulam socialmente, de assumir a pa- minadas circunstâncias de interlocução. Isso significa que as
lavra e, como cidadão, de produzir textos eficazes nas mais escolhas feitas ao produzir um discurso não são aleatórias —
variadas situações. ainda que possam ser inconscientes —, mas decorrentes das
Linguagem aqui se entende, no fundamental, como condições em que o discurso é realizado. Quer dizer: quando
ação interindividual orientada por uma finalidade específi- um sujeito interage verbalmente com outro, o discurso se or-
ca, um processo de interlocução que se realiza nas práticas ganiza a partir das finalidades e intenções do locutor, dos
sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade,
conhecimentos que acredita que o interlocutor possua sobre
nos distintos momentos de sua história. Os homens e as
o assunto, do que supõe serem suas opiniões e convicções,
mulheres interagem pela linguagem tanto numa conversa
simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de
informal, entre amigos, ou na redação de uma carta pes-
familiaridade que têm da posição social e hierárquica que
soal, quanto na produção de uma crônica, uma novela, um
poema, um relatório profissional. ocupam. Isso tudo determina as escolhas do gênero no qual
Cada uma dessas práticas se diferencia historicamen- o discurso se realizará, dos procedimentos de estruturação
te e dependem das condições da situação comunicativa, e da seleção de recursos linguísticos. É evidente que, num
nestas incluídas as características sociais dos envolvidos na processo de interlocução, isso nem sempre ocorre de forma
interlocução. Hoje, por exemplo, a conversa informal não é deliberada ou de maneira a antecipar-se à elocução.
a que se ouviria há um século, tanto em relação ao assunto Em geral, é durante o processo de produção que as esco-
quanto à forma de dizer, propriamente características espe- lhas são feitas, nem sempre (e nem todas) de maneira cons-
cíficas do momento histórico. Além disso, uma conversa in- ciente.
formal entre economistas pode diferenciar-se daquela que O discurso, quando produzido, manifesta-se linguistica-
ocorre entre professores ou operários de uma construção, mente por meio de textos.
tanto em função do registro e do conhecimento linguístico O produto da atividade discursiva oral ou escrita que for-
quanto em relação ao assunto em pauta. O mesmo se pode ma um todo significativo, qualquer que seja sua extensão, é o
dizer sobre o conteúdo e a forma dos gêneros de texto texto, uma sequência verbal constituída por um conjunto de
escrito. relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerên-
Basta pensar nas diferenças entre uma carta de amor cia. Em outras palavras, um texto só é um texto quando pode
de hoje e de ontem, entre um poema de Camões e um ser compreendido como unidade significativa global.
poema de Drummond, e assim por diante. Caso contrário, não passa de um amontoado aleatório
Em síntese, pela linguagem se expressam ideias, pen- de enunciados.
samentos e intenções, se estabelecem relações interpes- A produção de discursos não acontece no vazio. Ao con-
soais anteriormente inexistentes e se influencia o outro, trário, todo discurso se relaciona, de alguma forma, com os
alterando suas representações da realidade e da sociedade que já foram produzidos. Nesse sentido, os textos, como re-
e o rumo de suas (re)ações. sultantes da atividade discursiva, estão em constante e contí-
Isso aponta para outra dimensão da atividade da lin- nua relação uns com os outros, ainda que, em sua linearidade,
guagem que conserva um vínculo muito estreito com o
isso não se explicite. A esta relação entre o texto produzido
pensamento. Por um lado, se constroem, por meio da lin-
e os outros textos é que se tem chamado intertextualidade.
guagem, quadros de referência culturais – representações,
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero
“teorias” populares, mitos, conhecimento científico, arte,
em função das intenções comunicativas, como parte das
concepções e orientações ideológicas, inclusive preconcei-
tos – pelos quais se interpretam a realidade e as expressões condições de produção dos discursos, as quais geram usos
linguísticas. Por outro lado, como atividade sobre símbolos sociais que os determinam.
e representações, a linguagem torna possível o pensamen- Os gêneros são, portanto, determinados historicamente,
to abstrato, a construção de sistemas descritivos e explica- constituindo formas relativamente estáveis de enunciados,
tivos e a capacidade de alterá-los, reorganizá-los, substituir disponíveis na cultura. São caracterizados por três elementos:
uns por outros. Nesse sentido, a linguagem contém em si a
fonte dialética da tradição e da mudança. - Conteúdo temático: o que é ou pode tornar-se dizível
Nessa perspectiva, língua é um sistema de signos espe- por meio do gênero;
cífico, histórico e social, que possibilita a homens e mulhe- - Construção composicional: estrutura particular dos tex-
res significar o mundo e a sociedade. Aprendê-la é apren- tos pertencentes ao gênero;
der não somente palavras e saber combiná-las em expres- - Estilo: configurações específicas das unidades de lin-
sões complexas, mas apreender pragmaticamente seus guagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do lo-
significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as cutor; conjuntos particulares de sequências que compõem o
pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. texto etc.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
A noção de gênero refere-se, assim, a famílias de textos Isso, por um lado, coloca em evidência as virtualidades
que compartilham características comuns, embora heterogê- das línguas humanas: o fato de que são instrumentos flexí-
neas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo veis que permitem referir o mundo de diferentes formas e
de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por perspectivas; por outro lado, adverte contra uma concep-
exemplo, existindo em número quase ilimitado. ção de língua como sistema homogêneo, dominado ativa e
passivamente por toda a comunidade que o utiliza. Sobre o
Aprender e ensinar Língua Portuguesa na escola desenvolvimento da competência discursiva, deve a esco-
la organizar as atividades curriculares relativas ao ensino-
Variáveis do ensino-aprendizagem -aprendizagem da língua e da linguagem.
A importância e o valor dos usos da linguagem são de-
Pode-se considerar o ensino e a aprendizagem de Língua terminados historicamente segundo as demandas sociais
Portuguesa, como prática pedagógica, resultantes da articu- de cada momento. Atualmente, exigem-se níveis de leitura
lação de três variáveis: e de escrita diferentes dos que satisfizeram as demandas
sociais até a bem pouco tempo e tudo indica que essa exi-
• - O aluno; gência tende a ser crescente.
• - Os conhecimentos com os quais se opera nas práticas A necessidade de atender a essa demanda, obriga à
de linguagem; revisão substantiva dos métodos de ensino e à constituição
• - A mediação do professor. de práticas que possibilitem ao aluno ampliar sua compe-
tência discursiva na interlocução.
O primeiro elemento dessa tríade – o aluno – é o sujeito Nessa perspectiva, não é possível tomar como unida-
da ação de aprender, aquele que age com e sobre o objeto de des básicas do processo de ensino as que decorrem de
conhecimento. O segundo elemento – o objeto de conheci- uma análise de estratos – letras/fonemas, sílabas, palavras,
mento – são os conhecimentos discursivo-textuais e linguís- sintagmas, frases – que, descontextualizados, são normal-
ticos implicados nas práticas sociais de linguagem. O terceiro mente tomados como exemplos de estudo gramatical e
elemento da tríade é a prática educacional do professor e da pouco têm a ver com a competência discursiva. Dentro
escola que organiza a mediação entre sujeito e objeto do co- desse marco, a unidade básica do ensino só pode ser o
nhecimento. texto.
O objeto de ensino e, portanto, de aprendizagem é o Os textos organizam-se sempre dentro de certas res-
conhecimento linguístico e discursivo com o qual o sujeito trições de natureza temática, composicional e estilística,
opera ao participar das práticas sociais mediadas pela lingua- que os caracterizam como pertencentes a este ou aquele
gem. Organizar situações de aprendizado, nessa perspectiva, gênero.
supõe: planejar situações de interação nas quais esses conhe- Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto,
cimentos sejam construídos e/ou tematizados; organizar ati- precisa ser tomada como objeto de ensino.
vidades que procurem recriar na sala de aula situações enun- Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas ativida-
ciativas de outros espaços que não o escolar, considerando-se des de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não
sua especificidade e a inevitável transposição didática que o apenas em função de sua relevância social, mas também
conteúdo sofrerá; saber que a escola é um espaço de intera- pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros
ção social onde práticas sociais de linguagem acontecem e são organizados de diferentes formas.
se circunstanciam, assumindo características bastante especí-
ficas em função de sua finalidade: o ensino. A SELEÇÃO DE TEXTOS
Ao professor cabe planejar, implementar e dirigir as ati-
vidades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e Os gêneros existem em número quase ilimitado, va-
orientar o esforço de ação e reflexão do aluno, procurando riando em função da época (epopéia, cartoon), das culturas
garantir aprendizagem efetiva. Cabe também assumir o papel (haikai, cordel) das finalidades sociais (entreter, informar),
de informante e de interlocutor privilegiado, que tematiza as- de modo que, mesmo que a escola se impusesse a tarefa
pectos prioritários em função das necessidades dos alunos e de tratar de todos, isso não seria possível. Portanto, é pre-
de suas possibilidades de aprendizagem. ciso priorizar os gêneros que merecerão abordagem mais
aprofundada.
CONDIÇÕES PARA O TRATAMENTO DO OBJETO DE Sem negar a importância dos textos que respondem a
ENSINO: O TEXTO COMO UNIDADE E A DIVERSIDADE DE exigências das situações privadas de interlocução, em fun-
GÊNEROS ção dos compromissos de assegurar ao aluno o exercício
pleno da cidadania, é preciso que as situações escolares
Toda educação comprometida com o exercício da cida- de ensino de Língua Portuguesa priorizem os textos que
dania precisa criar condições para que o aluno possa desen- caracterizam os usos públicos da linguagem.
volver sua competência discursiva. Os textos a serem selecionados são aqueles que, por
Um dos aspectos da competência discursiva é o sujeito suas características e usos, podem favorecer a reflexão crí-
ser capaz de utilizar a língua de modo variado, para produzir tica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas
diferentes efeitos de sentido e adequar o texto a diferentes e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos
situações de interlocução oral e escrita. É o que aqui se chama da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participa-
de competência linguística e estilística. ção numa sociedade letrada.

56
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Textos orais A visão do que seja um texto adequado ao leitor inician-
te transbordou os limites da escola e influiu até na produção
Ao ingressarem na escola, os alunos já dispõem de editorial. A possibilidade de se divertir com alguns dos textos
competência discursiva e linguística para comunicar-se em da chamada literatura infantil ou infanto-juvenil, de se comover
interações que envolvem relações sociais de seu dia-a-dia, com eles, de fruí-los esteticamente é limitada. Por trás da boa
inclusive as que se estabelecem em sua vida escolar. Acre- intenção de promover a aproximação entre alunos e textos, há
ditando que a aprendizagem da língua oral, por se dar no um equívoco de origem: tenta-se aproximar os textos simplifi-
espaço doméstico, não é tarefa da escola, as situações de cando-os aos alunos, no lugar de aproximar os alunos a textos
ensino vêm utilizando a modalidade oral da linguagem de qualidade.
unicamente como instrumento para permitir o tratamento Para boa parte das crianças e dos jovens brasileiros, a es-
dos diversos conteúdos. cola é o único espaço que pode proporcionar acesso a textos
Uma rica interação dialogal na sala de aula, dos alunos escritos, textos estes que se converterão, inevitavelmente, em
modelos para a produção.
entre si e entre o professor e os alunos, é uma excelente
Se é de esperar que o escritor iniciante redija seus textos
estratégia de construção do conhecimento, pois permite a
usando como referência estratégias de organização típicas da
troca de informações, o confronto de opiniões, a negocia-
oralidade, a possibilidade de que venha a construir uma repre-
ção dos sentidos, a avaliação dos processos pedagógicos sentação do que seja a escrita só estará colocada se as ativida-
em que estão envolvidos. Mas, se o que se busca é que o des escolares lhe oferecerem uma rica convivência com a diver-
aluno seja um usuário competente da linguagem no exercí- sidade de textos que caracterizam as práticas sociais. É mínima a
cio da cidadania, crer que essa interação dialogal que ocor- possibilidade de que o aluno venha a compreender as especifi-
re durante as aulas dê conta das múltiplas exigências que cidades que a modalidade escrita assume-nos diversos gêneros,
os gêneros do oral colocam, principalmente em instâncias a partir de textos banalizados, que falseiem sua complexidade.
públicas, é um engano. A partir dos critérios propostos na parte introdutória deste
Ainda que o espaço da sala de aula não seja um espaço item, a seleção de textos deve privilegiar textos de gêneros que
privado, é um espaço público diferenciado: não implica, ne- aparecem com maior frequência na realidade social e no univer-
cessariamente, a interação com interlocutores que possam so escolar, tais como notícias, editoriais, cartas argumentativas,
não compartilhar as mesmas referências (valores, conheci- artigos de divulgação científica, verbetes enciclopédicos, contos,
mento de mundo). romances, entre outros.
No entanto, nas inúmeras situações sociais do exercício Vale considerar que a inclusão da heterogeneidade textual
da cidadania que se colocam fora dos muros da escola – não pode ficar refém de uma prática estrangulada na homo-
a busca de serviços, as tarefas profissionais, os encontros geneidade de tratamento didático, que submete a um mesmo
institucionalizados, a defesa de seus direitos e opiniões – roteiro cristalizado de abordagem uma notícia, um artigo de
os alunos serão avaliados (em outros termos, aceitos ou divulgação científica e um poema. A diversidade não deve con-
discriminados) à medida que forem capazes de responder templar apenas a seleção dos textos; deve contemplar, também,
a diferentes exigências de fala e de adequação às caracte- a diversidade que acompanha a recepção a que os diversos tex-
rísticas próprias de diferentes gêneros do oral. Reduzir o tos são submetidos nas práticas sociais de leitura.
tratamento da modalidade oral da linguagem a uma abor- O tratamento didático, portanto, precisa orientar-se de ma-
dagem instrumental é insuficiente, pois, para capacitar os neira heterogênea: a leitura de um artigo de divulgação científi-
alunos a dominarem a fala pública demandada por tais si- ca pressupõe, para muitos leitores, em função de sua finalidade,
tuações. a realização de anotações à margem, a elaboração de esquemas
e de sínteses, práticas ausentes, de modo geral, na leitura de
Dessa forma, cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a
uma notícia ou de um conto.
linguagem oral no planejamento e realização de apresen-
tações públicas: realização de entrevistas, debates, seminá-
A especificidade do texto literário
rios, apresentações teatrais etc. Trata-se de propor situa-
ções didáticas nas quais essas atividades façam sentido de O texto literário constitui uma forma peculiar de represen-
fato, pois é descabido treinar um nível mais formal da fala, tação e estilo em que predominam a força criativa da imagina-
tomado como mais apropriado para todas as situações. ção e a intenção estética. Não é mera fantasia que nada tem a
A aprendizagem de procedimentos apropriados de fala ver com o que se entende por realidade, nem é puro exercício
e de escuta, em contextos públicos, dificilmente ocorrerá se lúdico sobre as formas e sentidos da linguagem e da língua.
a escola não tomar para si a tarefa de promovê-la. Como representação — um modo particular de dar forma
às experiências humanas, o texto literário não está limitado a
Textos escritos critérios de observação fatual (ao que ocorre e ao que se tes-
temunha), nem às categorias e relações que constituem os pa-
Analisando os textos escritos que costumam ser con- drões dos modos de ver a realidade e, menos ainda, às famílias
siderados adequados para os leitores iniciantes, verifica-se de noções/conceitos com que se pretende descrever e explicar
que, na grande maioria, são curtos, às vezes apenas frag- diferentes planos da realidade (o discurso científico). Ele os ul-
mentos de um texto maior – sem unidade semântica e/ou trapassa e transgride para constituir outra mediação de sentidos
estrutural, simplificados, em alguns casos, até o limite da entre o sujeito e o mundo, entre a imagem e o objeto, mediação
indigência. Confunde-se capacidade de interpretar e pro- que autoriza a ficção e a reinterpretação do mundo atual e dos
duzir discurso com capacidade de ler e escrever sozinho. mundos possíveis.

57
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Pensar sobre a literatura a partir dessa relativa autono- Deve-se ter em mente que tal ampliação não pode fi-
mia ante outros modos de apreensão e interpretação do car reduzida apenas ao trabalho sistemático com a maté-
real corresponde a dizer que se está diante de um inusitado ria gramatical. Aprender a pensar e falar sobre a própria
tipo de diálogo, regido por jogos de aproximação e afasta- linguagem, realizar uma atividade de natureza reflexiva,
mento, em que as invenções da linguagem, a instauração uma atividade de análise linguística supõe o planejamen-
de pontos de vista particulares, a expressão da subjetivi- to de situações didáticas que possibilitem a reflexão não
dade podem estar misturadas a citações do cotidiano, a apenas sobre os diferentes recursos expressivos utilizados
referências indiciais e, mesmo, a procedimentos raciona- pelo autor do texto, mas também sobre a forma pela qual
lizantes. Nesse sentido, enraizando-se na imaginação e a seleção de tais recursos reflete as condições de produção
construindo novas hipóteses e metáforas explicativas, o do discurso e as restrições impostas pelo gênero e pelo
texto literário é outra forma/fonte de produção/apreensão suporte. Supõe, também, tomar como objeto de reflexão
de conhecimento. os procedimentos de planejamento, de elaboração e de re-
Do ponto de vista linguístico, o texto literário tam- facção10 dos textos.
bém apresenta características diferenciadas. Embora, em A atividade mais importante, pois, é a de criar situações
muitos casos, os aspectos formais do texto se conformem em que os alunos possam operar sobre a própria lingua-
aos padrões da escrita, sempre a composição verbal e a gem, construindo pouco a pouco, no curso dos vários anos
seleção dos recursos linguísticos obedecem à sensibilida- de escolaridade, paradigmas próprios da fala de sua comu-
de e a preocupações estéticas. Nesse processo construtivo nidade, colocando atenção sobre similaridades, regularida-
original, o texto literário está livre para romper os limites des e diferenças de formas e de usos linguísticos, levantan-
fonológicos, lexicais, sintáticos e semânticos traçados pela do hipóteses sobre as condições contextuais e estruturais
língua: esta se torna matéria-prima (mais que instrumento em que se dão. É, a partir do que os alunos conseguem
de comunicação e expressão) de outro plano semiótico – intuir nesse trabalho epilingüístico11, tanto sobre os textos
na exploração da sonoridade e do ritmo, na criação e re- que produzem como sobre os textos que escutam ou leem,
composição das palavras, na reinvenção e descoberta de que poderão falar e discutir sobre a linguagem, registrando
estruturas sintáticas singulares, na abertura intencional a e organizando essas intuições: uma atividade metalinguís-
múltiplas leituras pela ambiguidade, pela indeterminação e tica , que envolve a descrição dos aspectos observados por
pelo jogo de imagens e figuras. Tudo pode tornar-se fon- meio da categorização e tratamento sistemático dos dife-
te virtual de sentidos, mesmo o espaço gráfico e signos rentes conhecimentos construídos.
não-verbais, como em algumas manifestações da poesia
contemporânea. Reflexão gramatical na prática pedagógica
O tratamento do texto literário oral ou escrito envolve
o exercício de reconhecimento de singularidades e proprie- Na perspectiva de uma didática voltada para a produ-
dades que matizam um tipo particular de uso da lingua- ção e interpretação de textos, a atividade metalinguística
gem. É possível afastar uma série de equívocos que costu- deve ser instrumento de apoio para a discussão dos aspec-
mam estar presentes na escola em relação aos textos literá- tos da língua que o professor seleciona e ordena no curso
rios, ou seja, tomá-los como pretexto para o tratamento de do ensino-aprendizagem.
questões outras (valores morais, tópicos gramaticais) que Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical desar-
não aquelas que contribuem para a formação de leitores ticulado das práticas de linguagem. É o caso, por exemplo,
capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os da gramática que, ensinada de forma descontextualizada,
sentidos, a extensão e a profundidade das construções li- tornou-se emblemática de um conteúdo estritamente es-
terárias. colar, do tipo que só serve para ir bem na prova e passar de
ano – uma prática pedagógica que vai da metalíngua para
A REFLEXÃO SOBRE A LINGUAGEM a língua por meio de exemplificação, exercícios de reco-
nhecimento e memorização de terminologia.
Tomando-se a linguagem como atividade discursiva, Em função disso, dicute-se se há ou não necessida-
o texto como unidade de ensino e a noção de gramática de de ensinar gramática. Mas essa é uma falsa questão:
como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua a questão verdadeira é o que, para que e como ensiná-la.
linguagem, as atividades curriculares em Língua Portugue- Deve-se ter claro, na seleção dos conteúdos de análise
sa correspondem, principalmente, a atividades discursivas: linguística, que a referência não pode ser a gramática tra-
uma prática constante de escuta de textos orais e leitura dicional. A preocupação não é reconstruir com os alunos
de textos escritos e de produção de textos orais e escritos, o quadro descritivo constante dos manuais de gramática
que devem permitir, por meio da análise e reflexão sobre os escolar (por exemplo, o estudo ordenado das classes de
múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de palavras com suas múltiplas subdivisões, a construção de
instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, paradigmas morfológicos, como as conjugações verbais
ampliar sua competência discursiva. estudadas de um fôlego em todas as suas formas tempo-
rais e modais, ou de pontos de gramática, como todas as
regras de concordância, com suas exceções reconhecidas).

58
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
O que deve ser ensinado não responde às imposições tos, velórios etc. No dia-a-dia, contudo, a organização da
de organização clássica de conteúdos na gramática escolar, fala, incluindo a escolha de palavras e a organização sintáti-
mas aos aspectos que precisam ser tematizados em função ca do discurso, segue padrões significativamente diferentes
das necessidades apresentadas pelos alunos nas atividades daqueles que se usam na produção de textos escritos.
de produção, leitura e escuta de textos. Em segundo lugar, está o fato de que, nas sociedades
O modo de ensinar, por sua vez, não reproduz a clássica letradas (aquelas que usam intensamente a escrita), há a
metodologia de definição, classificação e exercitação, mas tendência de tomarem-se as regras estabelecidas para o
corresponde a uma prática que parte da reflexão produzi- sistema de escrita como padrões de correção de todas as
da pelos alunos mediante a utilização de uma terminologia formas linguísticas. Esse fenômeno, que tem na gramática
simples e se aproxima, progressivamente, pela mediação tradicional sua maior expressão, muitas vezes faz com que
do professor, do conhecimento gramatical produzido. se confunda falar apropriadamente à situação com falar se-
Isso implica, muitas vezes, chegar a resultados dife- gundo as regras de “bem dizer e escrever, o que, por sua
rentes daqueles obtidos pela gramática tradicional, cuja vez, faz com que se aceite a ideia despropositada de que
descrição, em muitos aspectos, não corresponde aos usos “ninguém fala corretamente no Brasil” e que se insista em
atuais da linguagem, o que coloca a necessidade de busca ensinar padrões gramaticais anacrônicos e artificiais.
de apoio em outros materiais e fontes. Assim, por exemplo, professores e gramáticos puristas
continuam a exigir que se escreva (e até que se fale no
Implicações da questão da variação linguística para Brasil!):
a prática pedagógica
O livro de que eu gosto não estava na biblioteca,
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocor- Vocês vão assistir a um filme maravilhoso,
rendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre exis- O garoto cujo pai conheci ontem é meu aluno,
tirá, independentemente de qualquer ação normativa. As- Eles se vão lavar / vão lavar-se naquela pia,
sim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falan-
do de uma unidade que se constitui de muitas variedades. quando já se fixou na fala e já se estendeu à escrita, in-
Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas dependentemente de classe social ou grau de formalidade
uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de da situação discursiva, o emprego de:
emprego de palavras, de morfologia e de construções sin- O livro que eu gosto não estava na biblioteca,
táticas, as quais não somente identificam os falantes de co- Vocês vão assistir um filme maravilhoso,
munidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda O garoto que eu conheci ontem o pai é meu aluno,
se multiplicam em uma mesma comunidade de fala. Não Eles vão se lavar na pia.
existem, portanto, variedades fixas: em um mesmo espaço
social convivem mescladas diferentes variedades linguísti- Tomar a língua escrita e o que se tem chamado de lín-
ca, geralmente associadas a diferentes valores sociais. gua padrão como objetos privilegiados de ensino-apren-
Mais ainda, em uma sociedade como a brasileira, mar- dizagem na escola se justifica, na medida em que não faz
cada por intensa movimentação de pessoas e intercâmbio sentido propor aos alunos que aprendam o que já sabem.
cultural constante, o que se identifica é um intenso fenô- Afinal, a aula deve ser o espaço privilegiado de desenvol-
meno de mescla linguística, isto é, em um mesmo espaço vimento de capacidade intelectual e linguística dos alunos,
social convivem mescladas diferentes variedades lingüísti- oferecendo-lhes condições de desenvolvimento de sua
cas, geralmente associadas a diferentes valores sociais. competência discursiva. Isso significa aprender a manipular
O uso de uma ou outra forma de expressão depende, textos escritos variados e adequar o registro oral às situa-
sobretudo, de fatores geográficos, socioeconômicos, de ções interlocutivas, o que, em certas circunstâncias, implica
faixa etária, de gênero (sexo), da relação estabelecida entre usar padrões mais próximos da escrita.
os falantes e do contexto de fala. A imagem de uma língua Contudo, não se pode mais insistir na idéia de que o
única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, modelo de correção estabelecido pela gramática tradicio-
subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, nal seja o nível padrão de língua ou que corresponda à va-
dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia riedade linguística de prestígio. Há, isso sim, muito precon-
sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, ceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e
não se sustenta na análise empírica dos usos da língua. ao estigma associado às variedades não-padrão, conside-
E isso por duas razões básicas. radas inferiores ou erradas pela gramática. Essas diferenças
Em primeiro lugar, está o fato de que ninguém escreve não são imediatamente reconhecidas e, quando são, não
como fala, ainda que em certas circunstâncias se possa falar são objeto de avaliação negativa.
um texto previamente escrito (é o que ocorre, por exemplo, Para cumprir bem a função de ensinar à escrita e a lín-
no caso de uma conferência, de um discurso formal, dos gua padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o de
telejornais) ou mesmo falar tendo por referência padrões que existe uma forma “correta” de falar, o de que a fala de
próprios da escrita, como em uma exposição de um tema uma região é melhor da que a de outras, o de que a fala
para auditório desconhecido, em uma entrevista, em uma correta” é a que se aproxima da língua escrita, o de que
solicitação de serviço junto a pessoas estranhas. Há casos o brasileiro fala mal o português, o de que o português é
ainda em que a fala ganha contornos ritualizados, como uma língua difícil, o de que é preciso “consertar” a fala do
nas cerimônias religiosas, comunicados formais, casamen- aluno para evitar que ele escreva errado.

59
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Essas crenças insustentáveis produziram uma prática Objetivos gerais de Língua Portuguesa para o ensino
de mutilação cultural que, além de desvalorizar a fala que fundamental
identifica o aluno a sua comunidade, como se esta fosse
formada de incapazes, denota desconhecimento de que No processo de ensino-aprendizagem dos diferentes ci-
a escrita de uma língua não corresponde a nenhuma de clos do ensino fundamental, espera-se que o aluno amplie o
suas variedades, por mais prestígio que uma delas possa domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicati-
ter. Ainda se ignora um princípio elementar relativo ao de- vas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem,
senvolvimento da linguagem: o domínio de outras modali- de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da es-
dades de fala e dos padrões de escrita (e mesmo de outras crita, ampliando suas possibilidades de participação social no
línguas) não se faz por substituição, mas por extensão da exercício da cidadania.
competência linguística e pela construção ativa de subsis- Para isso, a escola deverá organizar um conjunto de ativi-
temas gramaticais sobre o sistema já adquirido. dades que, progressivamente, possibilite ao aluno:
No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala
e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar cer- • - Utilizar a linguagem na escuta e produção de textos
to, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, orais e na leitura e produção de textos escritos de modo a
considerando as características e condições do contexto de atender a múltiplas demandas sociais, responder a diferentes
produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, propósitos comunicativos e expressivos, e considerar as dife-
a variedade de língua e o estilo às diferentes situações co- rentes condições de produção do discurso;
municativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala - Utilizar a linguagem para estruturar a experiência e ex-
ou escreve e como fazê-lo; saber que modo de expressão plicar a realidade, operando sobre as representações cons-
é pertinente em função de sua intenção enunciativa – dado truídas em várias áreas do conhecimento:
o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A
questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias * sabendo como proceder para ter acesso, compreender
de uso, de utilização adequada da linguagem. e fazer uso de informações contidas nos textos, reconstruin-
do o modo pelo qual se organizam em sistemas coerentes;
* sendo capaz de operar sobre o conteúdo representa-
LÍNGUA PORTUGUESA E AS DIVERSAS ÁREAS
cional dos textos, identificando aspectos relevantes, organi-
zando notas, elaborando roteiros, resumos, índices, esque-
A língua, sistema de representação do mundo, está
mas etc.;
presente em todas as áreas de conhecimento. A tarefa de
* aumentando e aprofundando seus esquemas cogni-
formar leitores e usuários competentes da escrita não se
tivos pela ampliação do léxico e de suas respectivas redes
restringe, portanto, à área de Língua Portuguesa, já que
semânticas;
todo professor depende da linguagem para desenvolver os - Analisar criticamente os diferentes discursos, inclusive
aspectos conceituais de sua disciplina. o próprio, desenvolvendo a capacidade de avaliação dos tex-
A ideia de que se expressar com propriedade oralmen- tos:
te ou por escrito é “coisa para a aula de Língua Portuguesa”,
enquanto as demais disciplinas se preocupam com o con- * contrapondo sua interpretação da realidade a diferen-
teúdo”, não encontra ressonância nas práticas sociais das tes opiniões;
diversas ciências. Um texto acadêmico, ou mesmo de divul- * inferindo as possíveis intenções do autor marcadas no
gação científica, é produzido com rigor e cuidado, para que texto;
o enunciador possa orientar o mais possível os processos * identificando referências intertextuais presentes no tex-
de leitura do receptor. to;
Não é possível esperar que os textos que subsidiam * percebendo os processos de convencimento utilizados
o trabalho das diversas disciplinas sejam autoexplicativos. para atuar sobre o interlocutor/leitor;
Sua compreensão depende necessariamente do co- * identificando e repensando juízos de valor tanto socioi-
nhecimento prévio que o leitor tiver sobre o tema e da deológicos (preconceituosos ou não) quanto histórico-cultu-
familiaridade que tiver construído com a leitura de textos rais (inclusive estéticos) associados à linguagem e à língua;
do gênero. É tarefa de todo professor, portanto, indepen- * reafirmando sua identidade pessoal e social;
dentemente da área, ensinar, também, os procedimentos
de que o aluno precisa dispor para acessar os conteúdos - Conhecer e valorizar as diferentes variedades do Portu-
da disciplina que estuda. Produzir esquemas, resumos que guês, procurando combater o preconceito linguístico;
orientem o processo de compreensão dos textos, bem • - Reconhecer e valorizar a linguagem de seu grupo so-
como apresentar roteiros que indiquem os objetivos e ex- cial como instrumento adequado e eficiente na comunicação
pectativas que cercam o texto que se espera ver analisado cotidiana, na elaboração artística e mesmo nas interações
ou produzido não pode ser tarefa delegada a outro profes- com pessoas de outros grupos sociais que se expressem por
sor que não o da própria área. meio de outras variedades;
Muito do fracasso dos objetivos relacionados à forma- • - Usar os conhecimentos adquiridos por meio da prá-
ção de leitores e usuários competentes da escrita é atribuí- tica de análise linguística para expandir sua capacidade de
do à omissão da escola e da sociedade diante de questão monitoração das possibilidades de uso da linguagem, am-
tão sensível à cidadania. pliando a capacidade de análise crítica.

60
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Conteúdos do ensino de Língua Portuguesa Em função de tais eixos, os conteúdos propostos neste
documento estão organizados, por um lado, em Prática de
PRINCÍPIOS ORGANIZADORES escuta e de leitura de textos e Prática de produção de tex-
tos orais e escritos, ambas articuladas no eixo USO; e, por
Os sujeitos se apropriam dos conteúdos, transformando- outro, em Prática de análise linguística, organizada no eixo
-os em conhecimento próprio, por meio da ação sobre eles, REFLEXÃO.
mediada pela interação com o outro. Não é diferente no pro-
cesso de aquisição e desenvolvimento da linguagem. É nas prá-
ticas sociais, em situações linguisticamente significativas, que se
dá a expansão da capacidade de uso da linguagem e a cons-
trução ativa de novas capacidades que possibilitam o domínio
cada vez maior de diferentes padrões de fala e de escrita.
Ao tomar a língua materna como objeto de ensino, a di-
mensão de como os sujeitos aprendem e de como os sujeitos
desenvolvem sua competência discursiva não pode ser perdi-
da. O ensino de Língua Portuguesa deve se dar num espaço
em que as práticas de uso da linguagem sejam compreendidas
em sua dimensão histórica e em que a necessidade de análise e
sistematização teórica dos conhecimentos linguísticos decorra Os conteúdos das práticas que constituem o eixo USO
dessas mesmas práticas. dizem respeito aos aspectos que caracterizam o processo
Entretanto, as práticas de linguagem que ocorrem no espa- de interlocução. São eles:
ço escolar diferem das demais porque devem, necessariamen-
te, tomar as dimensões discursiva e pragmática da linguagem 1. Historicidade da linguagem e da língua;
como objeto de reflexão, de maneira explícita e organizada,
de modo a construir, progressivamente, categorias explicativas 2. Constituição do contexto de produção, representa-
de seu funcionamento. Ainda que a reflexão seja constitutiva ções de mundo e interações sociais:
da atividade discursiva, no espaço escolar reveste-se de maior •
importância, pois é na prática de reflexão sobre a língua e a - Sujeito enunciador;
linguagem que pode se dar a construção de instrumentos que • - Interlocutor;
permitirão ao sujeito o desenvolvimento da competência dis- • - Finalidade da interação;
cursiva para falar, escutar, ler e escrever nas diversas situações • - Lugar e momento de produção.
de interação.
Em decorrência disso, os conteúdos de Língua Portuguesa 3. Implicações do contexto de produção na organiza-
articulam-se em torno de dois eixos básicos: o uso da língua ção dos discursos: restrições de conteúdo e forma decor-
oral e escrita, e a reflexão sobre a língua e a linguagem, confor- rentes da escolha dos gêneros e suportes.
me esquema abaixo:
4. Implicações do contexto de produção no processo
de significação:

- Representações dos interlocutores no processo de


construção dos sentidos;
- Articulação entre texto e contexto no processo de
compreensão;
- Relações intertextuais.

Os conteúdos do eixo REFLEXÃO, desenvolvidos sobre


os do eixo USO, referem-se à construção de instrumentos
De maneira mais específica, considerar a articulação dos para análise do funcionamento da linguagem em situações
conteúdos nos eixos citados significa compreender que tanto de interlocução, na escuta, leitura e produção, privilegian-
o ponto de partida como a finalidade do ensino da língua é a do alguns aspectos linguísticos que possam ampliar a com-
produção/recepção de discursos. Quer dizer: as situações di- petência discursiva do sujeito. São estes:
dáticas são organizadas em função da análise que se faz dos 1. Variação lingüística: modalidades, variedades, regis-
produtos obtidos nesse processo e do próprio processo. tros;
Essa análise permite ao professor levantar necessidades, 2. Organização estrutural dos enunciados;
dificuldades e facilidades dos alunos e priorizar os aspectos que 3. Léxico e redes semânticas;
serão abordados. Isso favorece a revisão dos procedimentos e 4. Processos de construção de significação;
dos recursos linguísticos utilizados na produção e a aprendiza- 5. Modos de organização dos discursos.
gem de novos procedimentos/recursos a serem utilizados em
produções futuras.

61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Na segunda parte do documento, que se refere às es- O grau de complexidade do objeto refere-se, funda-
pecificidades de cada ciclo, os conteúdos aqui relacionados mentalmente, à dificuldade posta para o aluno ao se rela-
em torno dos eixos serão distribuídos e expandidos nas cionar com os diversos aspectos do conhecimento discur-
práticas, de modo a possibilitar dois desdobramentos: a ex- sivo e linguístico nas práticas de recepção e produção de
plicitação necessária de sua dimensão procedimental saber linguagem:
fazer e a discretização dos múltiplos aspectos conceituais
envolvidos em cada um deles, em função das necessidades - Determinações do gênero e das condições de produ-
e possibilidades dos alunos no interior de cada ciclo. ção do texto (maior ou menor familiaridade com o interlo-
cutor, maior ou menor distanciamento temporal ou espacial
CRITÉRIOS PARA SEQUENCIAÇÃO do sujeito em relação ao momento e lugar de produção);
DOS CONTEÚDOS - Seleção lexical (maior ou menor presença de vocá-
bulos de uso comum, maior ou menor presença de termos
As práticas de linguagem são uma totalidade; não po- técnicos);
dem, na escola, ser apresentadas de maneira fragmentada, - Organização sintática dos enunciados (tamanho das
sob pena de não se tornarem reconhecíveis e de terem sua frases, ordem dos constituintes, inversão, deslocamento,
aprendizagem inviabilizada. Ainda que didaticamente seja relação de coordenação e subordinação);
necessário realizar recortes e descolamentos para melhor - Temática desenvolvida (relação entre tema e faixa
compreender o funcionamento da linguagem, é fato que a etária, tema e cultura, vulgarização do tema, familiaridade
observação e análise de um aspecto demandam o exercício com o tema);
constante de articulação com os demais aspectos envolvi- - Referencialidade do texto (um diário íntimo de ado-
dos no processo. Ao invés de organizar o ensino em unida- lescente, que manifesta uma percepção da realidade anco-
des formatadas em “texto”, “tópicos de gramática” e “reda- rada no cotidiano, é, frequentemente, mais simples do que
ção”, fechadas em si mesmas de maneira desarticulada, as a definição de um objeto dada por um dicionário);
atividades propostas no ambiente escolar devem considerar - Explicitação das informações (maior ou menor exi-
as especificidades de cada uma das práticas de linguagem
gência de operar com pressuposições e subentendidos);
em função da articulação que estabelecem entre si.
- Recursos figurativos (uso de elementos conotativos,
A seleção de textos para leitura ou escuta oferece mo-
metafóricos, metonímicos, entre outros).
delos para o aluno construir representações cada vez mais
sofisticadas sobre o funcionamento da linguagem (modos
A complexidade de determinado objeto deve ser con-
de garantir a continuidade temática nos diferentes gêneros,
siderada em relação ao sujeito aprendiz e aos conhecimen-
operadores específicos para estabelecer a progressão lógi-
tos por ele já construídos a respeito. Também não é ho-
ca), articulando-se à prática de produção de textos e à de
análise linguística. mogênea: tanto diferentes aspectos de um mesmo objeto
O texto produzido pelo aluno, seja oral ou escrito, per- podem ter graus de complexidade diferenciados para o
mite identificar os recursos linguísticos que ele já domina e sujeito, num único momento do processo de aprendizado,
os que precisa aprender a dominar, indicando quais conteú- quanto um mesmo aspecto pode representar dificuldades
dos precisam ser tematizados, articulando-se às práticas de variadas para um sujeito, em momentos diferentes do pro-
escuta e leitura e de análise linguística. cesso de aprendizado.
Nessa perspectiva, os conteúdos de língua e linguagem O grau de exigência da tarefa refere-se aos conheci-
não são selecionados em função da tradição escolar que mentos de natureza conceitual e procedimental que o su-
predetermina o que deve ser abordado em cada série, mas jeito precisa ativar para resolver o problema proposto pela
em função das necessidades e possibilidades do aluno, de atividade.
modo a permitir que ele, em sucessivas aproximações, se Produzir um texto, por exemplo, implica a realização e
aproprie dos instrumentos que possam ampliar sua capaci- articulação de tarefas diversas: planejar o texto em função
dade de ler, escrever, falar e escutar. dos objetivos colocados, do leitor, das especificidades do
A seleção e priorização deve considerar, pois, dois crité- gênero e do suporte; grafar o texto, articulando conheci-
rios fundamentais: as necessidades dos alunos e suas pos- mentos linguísticos diferenciados (gramaticais, da con-
sibilidades de aprendizagem. Estes, articulados ao projeto venção, de pontuação e paragrafação); revisar o texto. A
educativo da escola – que se diferencia em função das ca- leitura de um texto compreende, por exemplo, pré-leitura,
racterísticas e expectativas específicas de cada comunidade identificação de informações, articulação de informações
escolar, de cada região do país –, devem ser as referências internas e externas ao texto, realização e validação de infe-
fundamentais para o estabelecimento da sequenciarão dos rências e antecipações, apropriação das características do
conteúdos. gênero.
As necessidades dos alunos definem-se a partir dos ob- As possibilidades de aprendizagem dos alunos, articu-
jetivos colocados para o ensino. ladas com o grau de complexidade do objeto e com o grau
As possibilidades de aprendizagem, por sua vez, defi- de exigências da tarefa proposta, determinam graus de au-
nem-se a partir do grau de complexidade do objeto e das tonomia do sujeito diferentes em relação à utilização dos
exigências da tarefa proposta. Ambas – necessidades e diferentes saberes envolvidos nas práticas de linguagem.
possibilidades – são determinadas pelos conhecimentos já Ler um conto policial é uma tarefa que pode apresentar
construídos pelos alunos. graus de dificuldade diversos.

62
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Pode ser mais ou menos complexa tanto com relação
ao tema abordado quanto no que se refere às estratégias
de criação de suspense utilizadas pelo escritor e, ainda, em
relação à estruturação sintática e escolhas lexicais. Alguns
fatores tornam a exposição sobre determinado assunto uma
atividade mais ou menos complexa para o sujeito: a familia-
ridade com o gênero, a maior ou menor intimidade com a
plateia, as exigências de seleção lexical projetadas pelo tema.
As possibilidades de aprendizagem dos alunos colocam
limites claros para o tratamento que dado conteúdo deve
receber. Uma abordagem pode não esgotar as possibilida-
des de exploração do conhecimento priorizado, o que tor-
na possível retomá-lo em diferentes etapas do processo de
aprendizagem a partir de tratamentos diferenciados grau de Conteúdos de Língua Portuguesa e temas transversais
aprofundamento, relações estabelecidas.
No que diz respeito à prática de leitura de texto, por Organizados em torno do eixo USO → REFLEXÃO→
exemplo, a estipulação da leitura de um mesmo gênero por USO e reintroduzidos nas práticas de escuta de textos orais
alunos de diferentes ciclos, ou num mesmo ciclo em diferen- e de leitura de textos escritos, de produção de textos orais
tes momentos, não implica que o texto selecionado deva ser e escritos e de análise linguística, os conteúdos de Língua
o mesmo, ou, no caso de ser o mesmo, que a leitura se dê Portuguesa apresentam estreita relação com os usos efe-
da mesma maneira. tivos da linguagem socialmente construídos nas múltiplas
Uma charge política, por exemplo, supõe conhecimen- práticas discursivas. Isso significa que também são conteú-
to de mundo e experiência político-social que podem não dos da área os modos como, por meio da palavra, a socie-
estar presentes para um aluno de 11 anos. Dessa forma, sua dade vem construindo suas representações a respeito do
leitura pode diferenciar-se tanto da que for realizada por um mundo. Não há como separar o plano do conteúdo, do
aluno de 14 anos quanto da que for feita por um de 17. O plano da expressão.
mesmo raciocínio se aplica a um poema, uma crônica, uma O trabalho desenvolvido a partir dos temas transversais
notícia, uma carta de solicitação ou uma reportagem. (Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Orien-
Nesse sentido, a intervenção do professor e, conse- tação Sexual, Trabalho e Consumo) demanda participação
quentemente os aspectos a serem tematizados, tanto pode- efetiva e responsável dos cidadãos, tanto na capacidade
rão ser diferentes quanto poderão ser os mesmos, tratados de análise crítica e reflexão sobre os valores e concepções
com graus diversos de aprofundamento. veiculados quanto nas possibilidades de participação e de
transformação das questões envolvidas.
No que concerne à prática de produção de texto, apli- Por tratarem de questões sociais contemporâneas, que
ca-se o mesmo raciocínio: a produção de um artigo de opi- tocam profundamente o exercício de cidadania, os temas
nião, por exemplo, pode estar colocada em diferentes ciclos, transversais oferecem inúmeras possibilidades para o uso
ou, ainda em diferentes momentos do mesmo ciclo, pressu- vivo da palavra, permitindo muitas articulações com a área
pondo níveis diferenciados de domínio do gênero. Pode-se de Língua Portuguesa, como:
tanto priorizar aspectos a serem abordados nas diferentes
ocasiões quanto estabelecer graus de aprofundamentos di- - A possibilidade de poder expressar-se autenticamen-
ferentes para os mesmos aspectos nas diferentes situações. te sobre questões efetivas;
A articulação desses fatores – necessidades dos alunos, - A diversidade dos pontos de vista e as formas de
possibilidades de aprendizagem, grau de complexidade do enunciá-los;
objeto e das exigências da tarefa – possibilita o estabeleci- - A convivência com outras posições ideológicas, per-
mento de uma sequenciarão não a partir da apresentação mitindo o exercício democrático;
linear de conhecimentos, mas do tratamento em espiral, se- - Os domínios lexicais articulados às diversas temáticas.
quenciarão que considere a reapresentação de tópicos, na
qual a progressão também se coloque no nível de aprofun- Os temas transversais abrem a possibilidade de um tra-
damento com que tais aspectos serão abordados e no trata- balho integrado de várias áreas.
mento didático que receberão. Não é o caso de, como muitas vezes ocorre em proje-
À escola e ao professor cabe a tarefa de articular tais tos interdisciplinares, atribuir à Língua Portuguesa o valor
fatores, não apenas no sentido de planejar situações didá- meramente instrumental de ler, produzir, revisar e corrigir
ticas de aprendizagem, mas organizar a sequenciarão dos textos, enquanto outras áreas se ocupam do tratamento
conteúdos que for, de um lado, possível a seus alunos e, de dos conteúdos. Adotar tal concepção é postular a neutra-
outro, necessária, em função do projeto educativo escolar. lidade da linguagem, o que é incompatível com os princí-
A organização e sequenciarão dos conteúdos no ensino pios que norteiam estes parâmetros. Um texto produzido é
fundamental deve ser decidida pela escola e pelo professor, sempre produzido a partir de determinado lugar, marcado
considerando o contexto de atuação educativa e os seguin- por suas condições de produção. Não há como separar o
tes aspectos: sujeito, a história e o mundo das práticas de linguagem.

63
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Compreender um texto é buscar as marcas do enunciador pro- Trata-se de um período da vida em que o desenvolvi-
jetadas nesse texto, é reconhecer a maneira singular de como se mento do sujeito é marcado pelo processo de (re)constitui-
constrói uma representação a respeito do mundo e da história, é ção da identidade, para o qual concorrem transformações
relacionar o texto a outros textos que traduzem outras vozes, outros corporais, afetivo-emocionais, cognitivas e socioculturais.
lugares. As transformações corporais, com pequena variação,
Dada a importância da linguagem na mediação do conheci- provocam desajustes na locomoção e coordenação de mo-
mento, é atribuição de todas as áreas, e não só da de Língua Portu- vimentos, demandando adaptações constantes; a sexuali-
guesa, o trabalho com a escrita e a oralidade do aluno no que for dade apresenta sensações, desejos e possibilidades até en-
essencial ao tratamento dos conteúdos. tão não experimentados; há mudanças significativas na for-
Não se trata, tampouco, de supor que qualquer tema possa ma do corpo, no timbre da voz e na postura. Esse processo
receber igual tratamento em Língua Portuguesa. Alguns, em função impõe ao adolescente a necessidade de reformulação de
de sua natureza temática, são mais facilmente incorporáveis ao tra- sua autoimagem, dado que aquela que se havia constituído
balho da área. ao longo da infância está desajustada aos novos esquemas
Os aspectos polêmicos inerentes aos temas sociais, por exem- corporais e às novas relações afetivas, sociais e culturais
plo, abrem possibilidades para o trabalho com a argumentação que passa a estabelecer.
– capacidade relevante para o exercício da cidadania, por meio da As demais transformações, no entanto, variam de cul-
análise das formas de convencimento empregadas nos textos, da tura para cultura, de grupo social para grupo social e de
percepção da orientação argumentativa que sugerem, da identi- sujeito para sujeito.
ficação dos preconceitos que possam veicular no tratamento de A dimensão afetivo-emocional do adolescente im-
questões sociais etc. plica a busca de referências para constituição de valores
Procurando desenvolver no aluno a capacidade de compreen- próprios, as quais possibilitam novas formas de compreen-
der textos orais e escritos e de assumir a palavra, produzindo textos são das experiências por que passa sobretudo daquelas
em situações de participação social, o que se propõe ao ensinar os relacionadas ao desenvolvimento da sexualidade e trazem
diferentes usos da linguagem é o desenvolvimento da capacidade
possibilidades mais assertivas de tomada de decisão acerca
construtiva e transformadora. O exercício do diálogo na explicita-
de seus problemas. Isso se concretiza na busca tanto de
ção, contraposição e argumentação de ideias é fundamental na
ampliação da visão que tem acerca das relações afetivas e
aprendizagem da cooperação e no desenvolvimento de atitudes de
familiares quanto do estabelecimento de novas e diferen-
confiança, de capacidade para interagir e de respeito ao outro. A
tes relações afetivas e sexuais.
aprendizagem desses aspectos precisa, necessariamente, estar in-
A busca de reinterpretação das experiências já vividas
serida em situações reais de intervenção, começando no âmbito da
própria escola. e das que passa a viver a partir da ampliação dos espaços
de convivência e socialização possibilita ao adolescente
LÍNGUA PORTUGUESA NO TERCEIRO E NO QUARTO a ampliação de sua visão de mundo, na qual se incluem
CICLO questões de gênero, etnia, origem e possibilidades sociais
e a rediscussão de valores que, reinterpretados, passam
Ensino e aprendizagem a constituir sua nova identidade. Desse ponto de vista, a
formação do adolescente implica maior autonomia nas to-
Pensar sobre o ensino de Língua Portuguesa no terceiro e no madas de decisão e no desempenho de suas atividades.
quarto ciclo requer a compreensão da adolescência como o período Implica, ainda a partir da nova percepção da realidade, dos
da vida explicitamente marcado por transformações que ocorrem direitos e deveres sociais e da responsabilidade crescente
em várias dimensões: sociocultural, afetivo-emocional, cognitiva e por seus atos, a constituição ou reformulação de valores e
corporal. Requer esforço de articulação dos aspectos envolvidos novos desdobramentos para o exercício da cidadania.
nesse processo, considerando as características do objeto de conhe- Na cultura brasileira, a diferença entre criança e adul-
cimento em questão as práticas sociais da linguagem, em situações to tende a ser profundamente acentuada e reforçada por
didáticas que possam contribuir para a formação do sujeito. instituições legais e sociais. Em geral, parece existir des-
Organizar o aprendizado de Língua Portuguesa nesses ciclos continuidade entre os papéis do adulto e da criança – so-
requer que se reconheçam e se considerem as características pró- bretudo no que se refere à conquista da independência e
prias do aluno adolescente, a especificidade do espaço escolar, no autonomia. A passagem do universo infantil para o adulto
que se refere à possibilidade de constituição de sentidos e referên- costuma gerar conflitos para o adolescente, que está, por
cias nele colocada, e a natureza e peculiaridades da linguagem e de assim dizer, a meio caminho.
suas práticas. Deve-se advertir que tais conflitos, ainda que apresen-
tem características gerais, se manifestam de formas dife-
O ALUNO ADOLESCENTE E O TRABALHO COM A LIN- rentes em função da condição social, uma vez que são dife-
GUAGEM rentes as possibilidades e exigências que se colocam para o
sujeito adolescente. Para significativa parcela da sociedade
Os alunos do terceiro e do quarto ciclo do ensino funda- brasileira, já na adolescência impõe-se a necessidade de
mental, idealmente, apresentam-se na idade entre 11 e 15 anos, trabalhar, seja para assumir objetivamente compromissos e
ainda que, infelizmente, muitas vezes, por causa das dificuldades responsabilidades do mundo adulto, seja para experimen-
que enfrentam na vida e na escola, os estudantes possam ser mais tar a possibilidade de dispor de bens de consumo para os
velhos. Pode-se dizer, de modo geral, que esta fase da educação quais há grande apelo social, por meio da mídia e da divul-
escolar compreende a adolescência e a juventude. gação do modus vivendi da classe média.

64
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
As transformações citadas articulam-se com aquelas rela- A MEDIAÇÃO DO PROFESSOR NO TRABALHO COM
tivas ao desenvolvimento cognitivo. Sob esse aspecto, a ado- A LINGUAGEM
lescência implica a ampliação de formas de raciocínio, organi-
zação e representação de observações e opiniões, bem como Nas situações de ensino de língua, a mediação do pro-
o desenvolvimento da capacidade de investigação, levanta- fessor é fundamental: cabe a ele mostrar ao aluno a im-
mento de hipóteses, abstração, análise e síntese na direção de portância que, no processo de interlocução, a consideração
raciocínio cada vez mais formal, o que traz a possibilidade de real da palavra do outro assume, concorde-se com ela ou
constituição de conceitos mais próximos dos científicos. não. Por um lado, porque as opiniões do outro apresentam
Finalmente, é preciso considerar o fato de que os adoles- possibilidades de análise e reflexão sobre as suas próprias;
centes desenvolvem um tipo de comportamento e um con- por outro lado, porque, ao ter consideração pelo dizer do
junto de valores que atuam como forma de identidade, tanto outro, o que o aluno demonstra é consideração pelo outro.
no que diz respeito ao lugar que ocupam na sociedade e nas A escola deve assumir o compromisso de procurar ga-
relações que estabelecem com o mundo adulto quanto no
rantir que a sala de aula seja um espaço onde cada sujeito
que se refere a sua inclusão no interior de grupos específicos
tenha o direito à palavra reconhecido como legítimo, e essa
de convivência.
palavra encontre ressonância no discurso do outro. Trata-
Esse processo, naturalmente, tem repercussão no tipo de
-se de instaurar um espaço de reflexão em que seja pos-
linguagem por eles usada, com a incorporação e criação de
modismos, vocabulário específico, formas de expressão etc. sibilitado o contato efetivo de diferentes opiniões, onde
São exemplos típicos as falas das tribos grupos de ado- a divergência seja explicitada e o conflito possa emergir;
lescentes formados em função de uma atividade (surfistas, um espaço em que o diferente não seja nem melhor nem
skatistas, funkeiros etc). pior, mas apenas diferente, e que, por isso mesmo, precise
É possível, assim, falar em uma linguagem de adolescen- ser considerado pelas possibilidades de reinterpretação do
tes, se se entender por isso não uma língua diferente, mas sim real que apresenta; um espaço em que seja possível com-
um jargão, um estilo, uma forma de expressão. Tal linguagem preender a diferença como constitutiva dos sujeitos.
é apropriada e explorada pela mídia, como, por exemplo, em A mediação do professor, nesse sentido, cumpre o
propagandas voltadas para jovens, em programas televisivos papel fundamental de organizar ações que possibilitem
específicos, na fala de disc-jóqueis, nos suplementos de jor- aos alunos o contato crítico e reflexivo com o diferente e
nais, revistas e nos textos paradidáticos e de ficção para ado- o desvelamento dos implícitos das práticas de linguagem,
lescentes. inclusive sobre aspectos não percebidos inicialmente pelo
No caso do ensino de Língua Portuguesa, considerar a grupo – intenções, valores, preconceitos que veicula, ex-
condição afetiva, cognitiva e social do adolescente implica co- plicitação de mecanismos de desqualificação de posições
locar a possibilidade de um fazer reflexivo, em que não ape- articulados ao conhecimento dos recursos discursivos e
nas se opera concretamente com a linguagem, mas também linguísticos.
se busca construir um saber sobre a língua e a linguagem e Particularmente, a consideração das especificidades
sobre os modos como as opiniões, valores e saberes são vei- das situações de comunicação os gêneros nos quais os dis-
culados nos discursos orais e escritos. Tal possibilidade ganha cursos se organizarão e as restrições e possibilidades disso
particular importância na medida em que o acesso a textos decorrentes; as finalidades colocadas; os possíveis conhe-
escritos mais complexos, com padrões linguísticos mais dis- cimentos compartilhados e não compartilhados pelos in-
tanciados daqueles da oralidade e com sistemas de referên- terlocutores – coloca-se como aspecto fundamental a ser
cia mais distantes do senso comum e das atividades da vida tematizado, dado que a possibilidade de o sujeito ter seu
diária, impõe a necessidade de percepção da diversidade do
discurso legitimado passa por sua habilidade de organizá-
fenômeno linguístico e dos valores constituídos em torno das
-lo adequadamente.
formas de expressão.
Ao organizar o ensino, é fundamental que o professor
Considerando-se que, para o adolescente, a necessida-
tenha instrumentos para descrever a competência discur-
de fundamental que se coloca é a da reconstituição de sua
identidade na direção da construção de sua autonomia e que, siva de seus alunos, no que diz respeito à escuta, leitura e
para tanto, é indispensável o conhecimento de novas formas produção de textos, de tal forma que não planeje o traba-
de enxergar e interpretar os problemas que enfrenta, o traba- lho em função de um aluno ideal para o ciclo, muitas vezes
lho de reflexão deve permitir-lhe tanto o reconhecimento de padronizado pelos manuais didáticos, sob pena de ensinar
sua linguagem e de seu lugar no mundo quanto à percepção o que os alunos já sabem ou apresentar situações muito
das outras formas de organização do discurso, particularmen- aquém de suas possibilidades e, dessa forma, não contri-
te daquelas manifestas nos textos escritos. Assim como seria buir para o avanço necessário. Nessa perspectiva, pode-se
um equívoco desconsiderar a condição de adolescente, suas dizer que a boa situação de aprendizagem é aquela que
expectativas e interesses, sua forma de expressão, enfim, seu apresenta conteúdos novos ou possibilidades de aprofun-
universo imediato, seria igualmente um grave equívoco enfo- damento de conteúdos já tematizados, estando ancorada
car exclusiva ou privilegiadamente essa condição. É fato que em conteúdos já constituídos. Organizá-la requer que o
há toda uma produção cultural, que vai de músicas a roupas, professor tenha clareza das finalidades colocadas para o
voltada para o público jovem. O papel da escola, no entanto, ensino e dos conhecimentos que precisam ser construídos
diferentemente de outros agentes sociais, é o de permitir que para alcançá-las.
o sujeito supere sua condição imediata.

65
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Nesse processo, ainda que a unidade de trabalho seja o No processo de leitura de textos escritos, espera-se
texto, é necessário que se possa dispor tanto de uma des- que o aluno:
crição dos elementos regulares e constitutivos do gênero
quanto das particularidades do texto selecionado, dado que • - Saiba selecionar textos segundo seu interesse e ne-
a intervenção precisa ser orientada por esses aspectos discre- cessidade;
tizados. A discretização de conteúdos, ainda que possa pro- • - Leia, de maneira autônoma, textos de gêneros e
vocar maior distanciamento entre o aspecto tematizado e a temas com os quais tenha construído familiaridade:
totalidade do texto, possibilita a ampliação e apropriação dos * selecionando procedimentos de leitura adequados
recursos expressivos e dos procedimentos de compreensão,
a diferentes objetivos e interesses, e a características do
interpretação e produção dos textos, bem como de instru-
gênero e suporte;
mentos de análise linguística.
* desenvolvendo sua capacidade de construir um con-
O desenvolvimento da capacidade do adolescente de
análise e investigação, bem como de sua possibilidade de junto de expectativas (pressuposições antecipadoras dos
tratar dados com abstração crescente, permitem ao professor sentidos, da forma e da função do texto), apoiando-se
abordar os conhecimentos linguísticos de forma diferencia- em seus conhecimentos prévios sobre gênero, suporte e
da. Se, nos ciclos anteriores, priorizavam-se as atividades epi- universo temático, bem como sobre saliências textuais re-
linguísticas, havendo desequilíbrio claro entre estas e as me- cursos gráficos, imagens, dados da própria obra (índice,
talinguísticas, nesse momento já pode haver maior equilíbrio: prefácio, etc.);
sem significar abandono das primeiras ou uso exaustivo das * confirmando antecipações e inferências realizadas
segundas, os diversos aspectos do conhecimento linguístico antes e durante a leitura;
podem, principalmente no quarto ciclo, merecer tratamento * articulando o maior número possível de índices tex-
mais aprofundado na direção da construção de novas formas tuais e contextuais na construção do sentido do texto, de
de organizá-lo e representá-lo que impliquem a construção modo a:
de categorias, intuitivas ou não.
A forma de abordagem dos conteúdos não será a mes- a) utilizar inferências pragmáticas para dar sentido a
ma para todos os aspectos: considerando o princípio de que expressões que não pertençam a seu repertório linguís-
a constituição de conceitos acontece num movimento espi- tico ou estejam empregadas de forma não usual em sua
ralado e progressivo, por meio do qual se pretende a aproxi-
linguagem;
mação crescente de conceitos mais complexos ou sofistica-
dos, os aspectos do conhecimento receberão um tratamento
b) extrair informações não explicitadas, apoiando-se
que será tanto mais metalinguístico quando maior o nível de
aprofundamento que exigir e suas características específicas em deduções;
permitirem.
c) estabelecer a progressão temática;
Objetivos de ensino
d) integrar e sintetizar informações, expressando-as
No trabalho com os conteúdos previstos nas diferentes em linguagem própria, oralmente ou por escrito;
práticas, a escola deverá organizar um conjunto de atividades
que possibilitem ao aluno desenvolver o domínio da expres- e) interpretar recursos figurativos tais como: metáfo-
são oral e escrita em situações de uso público da linguagem, ras, metonímias, eufemismos, hipérboles etc.;
levando em conta a situação de produção social e material * delimitando um problema levantado durante a leitu-
do texto (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatá- ra e localizando as fontes de informação pertinentes para
rio(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou intenção resolvê-lo;
do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) - Seja receptivo a textos que rompam com seu univer-
e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a pro- so de expectativas, por meio de leituras desafiadoras para
dução do texto, operando sobre as dimensões pragmática, sua condição atual, apoiando-se em marcas formais do
semântica e gramatical.
próprio texto ou em orientações oferecidas pelo professor;
- Troque impressões com outros leitores a respeito dos
No processo de escuta de textos orais, espera-se que
textos lidos, posicionando-se diante da crítica, tanto a par-
o aluno:
- Amplie, progressivamente, o conjunto de conhecimen- tir do próprio texto como de sua prática enquanto leitor;
tos discursivos, semânticos e gramaticais envolvidos na cons- - Compreenda a leitura em suas diferentes dimensões
trução dos sentidos do texto; o dever de ler, a necessidade de ler e o prazer de ler;
- Reconheça a contribuição complementar dos elemen- - Seja capaz de aderir ou recusar as posições ideológi-
tos não verbais (gestos, expressões faciais, postura corporal); cas que reconheça nos textos que lê.
- Utilize a linguagem escrita, quando for necessário,
como apoio para registro, documentação e análise;
- Amplie a capacidade de reconhecer as intenções do
enunciador, sendo capaz de aderir a ou recusar as posições
ideológicas sustentadas em seu discurso.

66
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
No processo de produção de textos orais, espera-se Conteúdos
que o aluno:
Os conteúdos que serão apresentados para o ensino fun-
- Planeje a fala pública usando a linguagem escrita em damental no terceiro e no quarto ciclo são aqueles conside-
função das exigências da situação e dos objetivos estabe- rados como relevantes para a constituição da proficiência dis-
lecidos; cursiva e linguística do aluno em função tanto dos objetivos
- Considere os papéis assumidos pelos participantes, específicos colocados para os ciclos em questão quanto dos
ajustando o texto à variedade linguística adequada; objetivos gerais apresentados para o ensino fundamental, aos
- Saiba utilizar e valorizar o repertório linguístico de quais aqueles se articulam.
sua comunidade na produção de textos;
- Monitore seu desempenho oral, levando em conta a Em decorrência da compreensão que se tem acerca do
intenção comunicativa e a reação dos interlocutores e re- processo de aprendizagem e constituição de conhecimento e,
formulando o planejamento prévio, quando necessário; sobretudo, da natureza do conhecimento linguístico em ques-
- Considere possíveis efeitos de sentido produzidos tão aqueles com os quais se opera nas práticas de linguagem,
pela utilização de elementos não verbais. os conteúdos serão apresentados numa relação única.
Dessa forma, sua sequenciarão, tanto internamente nos
No processo de produção de textos escritos, espe- ciclos quanto entre estes, deverá orientar-se considerando os
ra-se que o aluno: critérios apresentados neste documento e o projeto educati-
vo da escola.
- Redija diferentes tipos de textos, estruturando-os de Inicialmente serão apresentados os conteúdos concei-
maneira a garantir: tuais e procedimentais referentes a cada uma das Práticas,
todos considerados de fundamental importância para a con-
* A relevância das partes e dos tópicos em relação ao quista dos objetivos propostos. Posteriormente, os conteúdos
tema e propósitos do texto; sobre o desenvolvimento de valores e atitudes, que não de-
* A continuidade temática;
vem ser tratados de maneira isolada por permearem todo o
* A explicitação de informações contextuais ou de pre-
trabalho escolar.
missas indispensáveis à interpretação;
* A explicitação de relações entre expressões mediante
CONCEITOS E PROCEDIMENTOS SUBJACENTES ÀS
recursos linguísticos apropriados (retomadas, anáforas, co-
PRÁTICAS DE LINGUAGEM
nectivos), que possibilitem a recuperação da referência por
parte do destinatário;
Antes de apresentar os conteúdos a serem desenvolvidos
- Realize escolhas de elementos lexicais, sintáticos, fi- nas Práticas de escuta de textos orais e de Leitura de textos
gurativos e ilustrativos, ajustando-as às circunstâncias, for- escritos e Produção de textos orais e escritos, são sugeridos
malidade e propósitos da interação; alguns gêneros como referência básica a partir da qual o tra-
- Utilize com propriedade e desenvoltura os padrões balho com os textos unidade básica de ensino precisará se
da escrita em função das exigências do gênero e das con- organizar, projetando a seleção de conteúdos para a Prática
dições de produção; de análise linguística.
- Analise e revise o próprio texto em função dos obje- A grande diversidade de gêneros, praticamente ilimitada,
tivos estabelecidos, da intenção comunicativa e do leitor a impede que a escola trate todos eles como objeto de ensi-
que se destina, redigindo tantas quantas forem às versões no; assim, uma seleção é necessária. Neste documento, fo-
necessárias para considerar o texto produzido bem escrito. ram priorizados aqueles cujo domínio é fundamental à efetiva
participação social, encontrando-se agrupados, em função de
No processo de análise linguística, espera-se que o sua circulação social, em gêneros literários, de imprensa, pu-
aluno: blicitários, de divulgação científica, comumente presentes no
universo escolar.
- Constitua um conjunto de conhecimentos sobre o No entanto, não se deve considerar a relação apresenta-
funcionamento da linguagem e sobre o sistema linguísticos da como exaustiva.
relevantes para as práticas de escuta, leitura e produção de Ao contrário, em função do projeto da escola, do trabalho
textos; em desenvolvimento e das necessidades específicas do grupo
- Aproprie-se dos instrumentos de natureza procedi- de alunos, outras escolhas poderão ser feitas.
mental e conceitual necessários para a análise e reflexão Ainda que se considere que, no espaço escolar, muitas
linguística (delimitação e identificação de unidades, com- vezes as atividades de produção de textos – orais ou escri-
preensão das elações estabelecidas entre as unidades e das tos – destinam-se a possibilitar que os alunos desenvolvam
funções discursivas associadas a elas no contexto); melhor competência para a recepção, a discrepância entre as
- Seja capaz de verificar as regularidades das diferentes indicações de gêneros apresentadas para a prática de escuta
variedades do Português, reconhecendo os valores sociais e leitura e para a de produção procura levar em conta os usos
nelas implicados e, consequentemente, o preconceito con- sociais mais frequentes dos textos, no que se refere aos gê-
tra as formas populares em oposição às formas dos grupos neros selecionados, pode-se dizer que as pessoas leem muito
socialmente favorecidos. mais do que escrevem, escutam muito mais do que falam.

67
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Prática de escuta de textos orais e leitura de textos escritos

Antes dos conteúdos para as práticas de escuta e leitura de textos, será apresentada a tabela que organiza os gêneros
privilegiados para o trabalho, conforme critérios apresentados anteriormente.

68
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
• - Escuta de textos orais: - Estabelecimento de relações entre os diversos seg-
- Compreensão dos gêneros do oral previstos para os mentos do próprio texto, entre o texto e outros textos di-
ciclos articulando elementos linguísticos a outros de natu- retamente implicados pelo primeiro, a partir de informa-
reza não verbal; ções adicionais oferecidas pelo professor ou consequentes
- Identificação de marcas discursivas para o reconhe- da história de leitura do sujeito;
cimento de intenções, valores, preconceitos veiculados no - Articulação dos enunciados estabelecendo a pro-
discurso; gressão temática, em função das características das se-
- Emprego de estratégias de registro e documentação quências predominantes (narrativa, descritiva, expositiva,
escrita na compreensão de textos orais, quando necessá- argumentativa e conversacional) e de suas especificidades
rio; no interior do gênero;
- Identificação das formas particulares dos gêneros li- - Estabelecimento da progressão temática em função
terários do oral que se distinguem do falar cotidiano. das marcas de segmentação textual, tais como: mudança
de capítulo ou de parágrafo, títulos e subtítulos, para tex-
- Leitura de textos escritos: tos em prosa; colocação em estrofes e versos, para textos
em versos;
- Explicitação de expectativas quanto à forma e ao - Estabelecimento das relações necessárias entre o tex-
conteúdo do texto em função das características do gêne- to e outros textos e recursos de natureza suplementar que
ro, do suporte, do autor etc.; o acompanham (gráficos, tabelas, desenhos, fotos, boxes)
- Seleção de procedimentos de leitura em função dos no processo de compreensão e interpretação do texto;
diferentes objetivos e interesses do sujeito (estudo, for- - Levantamento e análise de indicadores linguísticos
mação pessoal, entretenimento, realização de tarefa) e das e extralinguísticos presentes no texto para identificar as
características do gênero e suporte: várias vozes do discurso e o ponto de vista que determina
o tratamento dado ao conteúdo, com a finalidade de:
* Leitura integral: fazer a leitura sequenciada e exten-
siva de um texto; * Confrontá-lo com o de outros textos;
* Leitura inspecional: utilizar expedientes de escolha * Confrontá-lo com outras opiniões;
de textos para leitura posterior; * Posicionar-se criticamente diante dele;
* Leitura tópica: identificar informações pontuais no
texto, localizar verbetes em um dicionário ou enciclopédia; - Reconhecimento dos diferentes recursos expressivos
* Leitura de revisão: identificar e corrigir, num texto utilizados na produção de um texto e seu papel no estabe-
dado, determinadas inadequações em relação a um pa- lecimento do estilo do próprio texto ou de seu autor.
drão estabelecido;
* Leitura item a item: realizar uma tarefa seguindo co-
mandos que pressupõem uma ordenação necessária;

- Emprego de estratégias não lineares durante o pro-


cessamento de leitura:

* Formular hipóteses a respeito do conteúdo do texto,


antes ou durante a leitura;
* Validar ou reformular as hipóteses levantadas a par-
tir das novas informações obtidas durante o processo da
leitura;
* Avançar ou retroceder durante a leitura em busca de
informações esclarecedoras;
* Construir sínteses parciais de partes do texto para
poder prosseguir na leitura;
* Inferir o sentido de palavras a partir do contexto;
* Consultar outras fontes em busca de informações
complementares (dicionários, enciclopédias, outro leitor);

• - Articulação entre conhecimentos prévios e infor-


mações textuais, inclusive as que dependem de pressu-
posições e inferências (semânticas, pragmáticas) autoriza-
das pelo texto, para dar conta de ambiguidades, ironias
e expressões figuradas, opiniões e valores implícitos, bem
como das intenções do autor;

69
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Prática de produção de textos orais e escritos

Antes dos conteúdos referentes à prática de produção de textos orais e escritos, será apresentada a tabela que orga-
niza os gêneros privilegiados para o trabalho, conforme critérios apresentados anteriormente.

• - Produção de textos orais:

- Planejamento prévio da fala em função da intencionalidade do locutor, das características do receptor, das exigências
da situação e dos objetivos estabelecidos;
- Seleção, adequada ao gênero, de recursos discursivos, semânticos e gramaticais, prosódicos e gestuais;
- Emprego de recursos escritos (gráficos, esquemas, tabelas) como apoio para a manutenção da continuidade da ex-
posição;
- Ajuste da fala em função da reação dos interlocutores, como levar em conta o ponto de vista do outro para acatá-lo,
refutá-lo ou negociá-lo.

70
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- Produção de textos escritos: Prática de análise linguística

- Redação de textos considerando suas condições de - Reconhecimento das características dos diferentes
produção: gêneros de texto, quanto ao conteúdo temático, constru-
ção composicional e ao estilo:
* Finalidade;
* especificidade do gênero; * Reconhecimento do universo discursivo dentro do
* lugares preferenciais de circulação; qual cada texto e gêneros de texto se inserem, consideran-
* interlocutor eleito; do as intenções do enunciador, os interlocutores, os proce-
- Utilização de procedimentos diferenciados para a ela- dimentos narrativos, descritivos, expositivos, argumentati-
boração do texto: vos e conversacionais que privilegiam, e a intertextualidade
(explícita ou não);
* Estabelecimento de tema;
* Levantamento das restrições que diferentes suportes
* Levantamento de ideias e dados;
e espaços de circulação impõem à estruturação de textos;
* Planejamento;
* Análise das seqüências discursivas predominantes
* Rascunho;
(narrativa, descritiva, expositiva, argumentativa e conversa-
* Revisão (com intervenção do professor);
* Versão final; cional) e dos recursos expressivos recorrentes no interior
de cada gênero;
- Utilização de mecanismos discursivos e linguísticos * Reconhecimento das marcas linguísticas específicas
de coerência e coesão textuais, conforme o gênero e os (seleção de processos anafóricos, marcadores temporais,
propósitos do texto, desenvolvendo diferentes critérios: operadores lógicos e argumentativos, esquema dos tem-
pos verbais, dêiticos etc.).
* de manutenção da continuidade do tema e ordena-
ção de suas partes; - Observação da língua em uso de maneira a dar conta
* de seleção apropriada do léxico em função do eixo da variação intrínseca ao processo linguístico, no que diz
temático; respeito:
* de manutenção do paralelismo sintático e/ou semân-
tico; * Aos fatores geográficos (variedades regionais, varie-
* de suficiência (economia) e relevância dos tópicos e dades urbanas e rurais), históricos (linguagem do passado e
informações em relação ao tema e ao ponto de vista assu- do presente), sociológicos (gênero, gerações, classe social),
mido; técnicos (diferentes domínios da ciência e da tecnologia);
* de avaliação da orientação e força dos argumentos; * Às diferenças entre os padrões da linguagem oral e os
* de propriedade dos recursos linguísticos (repetição, padrões da linguagem escrita;
retomadas, anáforas, conectivos) na expressão da relação * À seleção de registros em função da situação interlo-
entre constituintes do texto cutiva (formal e informal);
* Aos diferentes componentes do sistema linguístico
- Utilização de marcas de segmentação em função do em que a variação se manifesta: na fonética (diferentes
projeto textual: pronúncias), no léxico (diferentes empregos de palavras),
na morfologia (variantes e reduções no sistema flexional e
* título e subtítulo;
derivacional), na sintaxe (estruturação das sentenças e con-
* paragrafação;
cordância).
* periodização;
* pontuação (ponto, vírgula, ponto-e-vírgula, dois-
- Comparação dos fenômenos linguísticos observados
-pontos, ponto-de-exclamação, ponto-de-interrogação,
reticências); na fala e na escrita nas diferentes variedades, privilegiando
* outros sinais gráficos (aspas, travessão, parênteses); os seguintes domínios:
* Sistema pronominal (diferentes quadros pronominais
- Utilização de recursos gráficos orientadores da inter- em função do gênero): preenchimento da posição de sujei-
pretação do interlocutor, possíveis aos instrumentos em- to, extensão do emprego dos pronomes tônicos na posição
pregados no registro do texto (lápis, caneta, máquina de de objeto, desaparecimento dos clíticos, emprego dos re-
escrever, computador): flexivos etc.;
* Sistema dos tempos verbais (redução do paradigma
* fonte (tipo de letra, estilo – negrito, itálico –, tamanho no vernáculo) e emprego dos tempos verbais (predominân-
da letra, sublinhado, caixa alta, cor); cia das formas compostas no futuro e no mais que perfeito,
* divisão em colunas; emprego do imperfeito pelo “condicional”, predominância
* caixa de texto; do modo indicativo etc.);
* marcadores de enumeração; * Predominância de verbos de significação mais abran-
• - Utilização dos padrões da escrita em função do pro- gente (ser, ter, estar, ficar, pôr, dar) em vez de verbos com
jeto textual e das condições de produção. significação mais específica;

71
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
* Emprego de elementos dêiticos e de elementos ana- - Descrição de fenômenos linguísticos com os quais os
fóricos sem relação explícita com situações ou expressões alunos tenham operado, por meio de agrupamento, apli-
que permitam identificar a referência; cação de modelos, comparações e análise das formas lin-
* Casos mais gerais de concordância nominal e verbal guísticas, de modo a inventariar elementos de uma mesma
para recuperação da referência e manutenção da coesão; classe de fenômenos e construir paradigmas contrastivos
* Predominância da parataxe e da coordenação sobre em diferentes modalidades de fala e escrita, com base:
as estruturas de subordinação.
* Em propriedades morfológicas (flexão nominal, ver-
- Realização de operações sintáticas que permitam bal; processos derivacionais de prefixação e de sufixação);
analisar as implicações discursivas decorrentes de possíveis * No papel funcional assumido pelos elementos na es-
relações estabelecidas entre forma e sentido, de modo a trutura da sentença ou nos sintagmas constituintes (sujeito,
ampliar os recursos expressivos: predicado, complemento, adjunto, determinante, quantifi-
* Expansão dos sintagmas para expressar sinteticamen- cador);
te elementos dispersos no texto que predicam um mesmo * No significado prototípico dessas classes.
núcleo ou o modificam;
* Integração à sentença mediante nominalizações da - Utilização da intuição sobre unidades linguísticas (pe-
expressão de eventos, resultados de eventos, qualificações ríodos, sentenças, sintagmas) como parte das estratégias
e relações; de solução de problemas de pontuação.
* Reordenação dos constituintes da sentença e do tex-
to para expressar diferentes pontos de vista discursivos, - Utilização das regularidades observadas em paradig-
como a topicalidade, a informação nova, a ênfase; mas morfológicos como parte das estratégias de solução
* Expansão mediante coordenação e subordinação de de problemas de ortografia e de acentuação gráfica.
relações entre sentenças em parataxe (simplesmente colo-
cadas lado a lado na sequência discursiva); VALORES E ATITUDES SUBJACENTES ÀS PRÁTICAS
* Utilização de recursos sintáticos e morfológicos que DE LINGUAGEM
permitam alterar a estrutura da sentença para expressar di-
ferentes pontos de vista discursivos, como, por exemplo, - Valorização das variedades linguísticas que caracteri-
uma diferente topicalidade ou o ocultamento do agente zam a comunidade dos falantes da Língua Portuguesa nas
(construções passivas, utilização do clítico “se” ou verbo na diferentes regiões do país.
terceira pessoa do plural), o efeito do emprego ou não de - Valorização das diferentes opiniões e informações
operadores argumentativos e de modalizadores; veiculadas nos textos orais ou escritas como possibilidades
* Redução do texto (omissões, apagamentos, elipses) diferenciadas de compreensão do mundo.
seja como marca de estilo, seja para diminuir redundâncias - Posicionamento crítico diante de textos, de modo a
ou para evitar recorrências que não tenham caráter funcio- reconhecer a pertinência dos argumentos utilizados, posi-
nal ou não produzam desejados efeitos de sentido. ções ideológicas subjacentes e possíveis conteúdos discri-
minatórios neles veiculados.
- Ampliação do repertório lexical pelo ensino-aprendi- - Interesse, iniciativa e autonomia para ler textos diver-
zagem de novas palavras, de modo a permitir: sos adequados à condição atual do aluno.
- Atitude receptiva diante de leituras desafiadoras e
* Escolha, entre diferentes palavras, daquelas que se- disponibilidade para a ampliação do repertório a partir de
jam mais apropriadas ao que se quer dizer ou em relação experiências com material diversificado e recomendações
de sinonímia no contexto em que se inserem ou mais gené- de terceiros.
ricas/mais específicas (hiperônimos e hipônimos); - Interesse pela leitura e escrita como fontes de infor-
* Escolha mais adequada em relação à modalidade mação, aprendizagem, lazer e arte.
falada ou escrita ou no nível de formalidade e finalidade - Interesse pela literatura, considerando-a forma de ex-
social do texto; pressão da cultura de um povo.
* Organização das palavras em conjuntos estruturados - Interesse por trocar impressões e informações com
em relação a um determinado tema, acontecimento, pro- outros leitores, posicionando-se a respeito dos textos lidos,
cesso, fenômeno ou mesmo objeto, como possíveis ele- fornecendo indicações de leitura e considerando os novos
mentos de um texto; dados recebidos.
* Capacidade de projetar, a partir do elemento lexical - Interesse por frequentar os espaços mediadores de
(sobretudo verbos), a estrutura complexa associada a seu leitura bibliotecas, livrarias, distribuidoras, editoras, bancas
sentido, bem como os traços de sentido que atribuem aos de revistas, lançamentos, exposições, palestras, debates,
elementos (sujeito, complementos) que preencham essa depoimentos de autores –, sabendo orientar-se dentro da
estrutura; especificidade desses espaços e sendo capaz de localizar
* Emprego adequado de palavras limitadas a certas um texto desejado.
condições histórico-sociais (regionalismos, estrangeiris- - Reconhecimento da necessidade de dominar os sa-
mos, arcaísmos, neologismos, jargões, gíria); beres envolvidos nas práticas sociais mediadas pela lingua-
* Elaboração de glossários, identificação de palavras- gem como ferramenta para a continuidade de aprendiza-
-chave, consulta ao dicionário. gem fora da escola.

72
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- Reconhecimento de que o domínio dos usos sociais da No caso de Língua Portuguesa, além dos aspectos já
linguagem oral e escrita pode possibilitar a participação política apontados, são decisivas para a aprendizagem as imagens
e cidadã do sujeito, bem como transformar as condições dessa que os alunos constituem sobre a relação que o professor
participação, conferindo-lhe melhor qualidade. estabelece com a própria linguagem. Por ter experiência
- Reconhecimento de que o domínio da linguagem oral mais ampla com a linguagem, principalmente se for, de
e escrita pode oferecer ao sujeito melhores possibilidades de fato, usuário da escrita, tendo boa relação com a leitura,
acesso ao trabalho. gostando verdadeiramente de escrever, o professor pode
- Reconhecimento da necessidade e importância da língua se constituir em referência para o aluno.
escrita no processo de planejamento prévio de textos orais. Além de ser quem ensina os conteúdos, é quem ensina,
- Preocupação com a qualidade das produções escritas pela maneira como se relaciona com o texto e com o outro,
próprias, tanto no que se refere aos aspectos formais discur- o valor que a linguagem e o outro têm para si.
sivos, textuais, gramaticais, convencionais – quanto à apresen- Para os alunos que provêm de comunidades com pou-
co ou nenhum acesso a materiais de leitura, ou que ofere-
tação estética.
cem poucas possibilidades de participação em atos de lei-
- Valorização da linguagem escrita como instrumento que
tura e escrita junto a adultos experientes, a escola poderá
possibilita o distanciamento do sujeito em relação a ideias e
ser a única referência para a construção de um modelo de
conhecimentos expressos, permitindo formas de reflexão mais
leitor e escritor. Isso só será possível se o professor assu-
aprofundadas. mir sua condição de locutor privilegiado, que se coloca em
disponibilidade para ensinar fazendo. Entretanto, há limites
Tratamento didático dos conteúdos para a atuação do professor.
Muitas das metas colocadas para o ensino não são
Há estreita relação entre o que e como ensinar: determina- possíveis de serem alcançadas em uma única série: não se
dos objetivos só podem ser conquistados se os conteúdos ti- forma um leitor e um escritor em um ano escolar. Assim
verem tratamento didático específico. A questão não é apenas sendo, é necessário dar coerência à ação docente, organi-
qual informação deve ser oferecida, mas, principalmente, que zando os conteúdos e seu tratamento didático ao longo do
tipo de tratamento deve ser dado à informação que se oferece. ensino fundamental, e articulando em torno dos objetivos
A própria definição dos conteúdos já é, em si, uma questão colocados a ação dos diferentes professores que coordena-
didática que tem relação direta com os objetivos colocados. rão o trabalho ao longo da escolaridade.
Os princípios organizadores dos conteúdos de Língua Tal organização exige que a escola tenha claro o que
Portuguesa (USO → REFLEXÃO → USO), além de orientarem pode esperar do aluno em cada momento e quais aspectos
a seleção dos aspectos a serem abordados, definem, também, do conteúdo devem ser privilegiados em cada etapa. En-
a linha geral de tratamento que tais conteúdos receberão, pois sinar supõe, assim, discretizar conteúdos, organizando-os
caracteriza um movimento metodológico de AÇÃO → REFLE- em atividades sequenciadas para trabalhar intensivamen-
XÃO → AÇÃO que incorpora a reflexão às atividades linguísti- te sobre o aspecto selecionado, procurando assegurar sua
cas do aluno, de tal forma que ele venha a ampliar sua compe- aprendizagem. Em Língua Portuguesa, levando em conta
tência discursiva para as práticas de escuta, leitura e produção que o texto, unidade de trabalho, coloca o aluno sempre
de textos. frente a tarefas globais e complexas, para garantir a apro-
Nesse sentido, o professor, ao planejar sua ação, precisa priação efetiva dos múltiplos aspectos envolvidos, é neces-
considerar de que modo às capacidades pretendidas para os sário reintroduzi-los nas práticas de escuta, leitura e pro-
alunos ao final do ensino fundamental são traduzidas em ob- dução.
Além dos novos conteúdos a serem apresentados, a
jetivos no interior do projeto educativo da escola. São essas fi-
frequentação a diferentes textos de diferentes gêneros é
nalidades que devem orientar a seleção dos conteúdos e o tra-
essencial para que o aluno construa os diversos conceitos
tamento didático que estes receberão nas práticas educativas.
e procedimentos envolvidos na recepção e produção de
Considerando que o tratamento didático não é mero
cada um deles. Dessa forma, a reapresentação dos conteú-
coadjuvante no processo de aprendizagem, é preciso avaliar dos é, mais do que inevitável, necessária, e a ela devem
sistematicamente seus efeitos no processo de ensino, verifican- corresponder sucessivos aprofundamentos, tanto no que
do se está contribuindo para as aprendizagens que se espera diz respeito aos gêneros textuais privilegiados quanto aos
alcançar. Por exemplo, o conteúdo selecionado pode ter rece- conteúdos referentes às dimensões discursiva e linguística
bido tratamento didático inadequado e, desse modo, os efeitos que serão objeto de reflexão.
pretendidos podem não ter sido atingidos; a atividade realiza- Essa reapresentação não pode, em hipótese alguma,
da pode ter sido muito interessante, mas não ter permitido a ser sinônimo de redundância.
apropriação do conteúdo e, nesse caso, os resultados podem Porém, esse é um sério risco que se corre quando o
não ser satisfatórios; os conteúdos selecionados podem não trabalho da escola corresponde apenas à soma do trabalho
corresponder às necessidades dos alunos – ou porque se refe- isolado de cada professor e não ao produto da ação cole-
rem a aspectos que já fazem parte de seu repertório, ou porque tiva dos educadores.
pressupõem o domínio de procedimentos ou de outros con- Construir a organização do currículo de Língua Portu-
teúdos que não tenham, ainda, se constituído para o aprendiz guesa na escola, estabelecendo com clareza a tarefa que
–, de modo que a realização das atividades pouco contribuirá cabe a cada professor no interior da série em função das
para o desenvolvimento das capacidades pretendidas. finalidades do ensino, não é tarefa de um único educador.

73
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Daí a importância das condições que a escola propor- - Escuta orientada de textos em situações autênticas de
ciona para o trabalho do professor e da construção coletiva interlocução, simultaneamente ao processo de produção,
do projeto educativo. com apoio de roteiros orientadores para registro de infor-
Muitas das sugestões oferecidas neste documento não mações enunciadas de modo a garantir melhor apreensão
pretendem ser originais; traduzem o esforço de registrar o de aspectos determinados, relativos ao plano temático, aos
que foi possível construir na reflexão didático-pedagógica usos da linguagem característicos do gênero e a suas re-
sobre o trabalho no terceiro e no quarto ciclo. gras de funcionamento. A presença nessas situações per-
Entretanto, sabe-se que muitos de seus pressupostos, mite, conforme o gênero, interessantes articulações com a
quer de natureza didática, quer de natureza linguística, não produção de textos orais, pois o aluno pode intervir com
fizeram parte da formação inicial de muitos docentes. perguntas e colocações.
A formação de professores se coloca, portanto, como - Escuta orientada, parcial ou integral, de textos grava-
necessária para que a efetiva transformação do ensino se dos em situações autênticas de interlocução, também com
realize. Isso implica revisão e atualização dos currículos ofe- a finalidade de focalizar os aspectos mencionados no item
recidos na formação inicial do professor e a implementação anterior. A gravação, pela especificidade do suporte, per-
de programas de formação continuada que cumpram não mite, no processo de análise, que se volte a trechos que
apenas a função de suprir as deficiências da formação ini- tenham dado margem à ambiguidade, tenham apresen-
cial, mas que se constituam em espaços privilegiados de tado problemas para a compreensão etc. Para melhorar a
investigação didática, orientada para a produção de novos qualidade da intervenção do professor na discussão, sem-
materiais, para a análise e reflexão sobre a prática docente, pre que possível, é interessante dispor também de trans-
para a transposição didática dos resultados de pesquisas crições (integrais ou esquemáticas) dos textos gravados, o
realizadas na linguística e na educação em geral. que permite a ele ter clara a progressão temática do texto
A seguir serão apresentados alguns princípios e orien- para resolver dúvidas, antecipar passagens em que a ex-
tações para o trabalho didático com os conteúdos pressão facial se contrapõe ao conteúdo verbal, identificar
trechos em que um interlocutor desqualifica o outro, loca-
Prática de escuta de textos orais e leitura de textos lizar enunciados que se caracterizam como contradições a
escritos argumentos sustentados anteriormente etc.
Escuta de textos orais - Escuta orientada de diferentes textos gravados de um
mesmo gênero, produzidos em circunstâncias diferentes
Ensinar língua oral deve significar para a escola pos-
(debate radiofônico, televisivo, realizado na escola) para
sibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizados e
comparação e levantamento das especificidades que assu-
convencionais, que exijam controle mais consciente e vo-
mem em função dos canais, dos interlocutores etc.
luntário da enunciação, tendo em vista a importância que o
- Escuta orientada de textos produzidos pelos alunos
domínio da palavra pública tem no exercício da cidadania.
de preferência a partir da análise de gravações em vídeo
Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade
ou cassete para a avaliação das atividades desenvolvidas,
de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gê-
neros que apoiam a aprendizagem escolar de Língua buscando discutir tecnicamente os recursos utilizados e os
Portuguesa e de outras áreas (exposição, relatório de efeitos obtidos. Tomar o texto do aluno como objeto de
experiência, entrevista, debate etc.) e, também, os gêneros escuta é fundamental, pois permite a ele o controle cada
da vida pública no sentido mais amplo do termo (debate, vez maior de seu desempenho.
teatro, palestra, entrevista etc.). - Preparação dos alunos para os aspectos temáticos
Já que os alunos têm menos acesso a esses gêneros que estarão envolvidos na escuta de textos. O professor
nos usos espontâneos da linguagem oral, é fundamental pode antecipar algumas informações sobre o tema que
desenvolver, na escola, uma série de atividades de escuta será tratado de modo a constituir um repertório de conhe-
orientada, que possibilitem a eles construir, progressiva- cimentos que contribua para melhor compreensão dos tex-
mente, modelos apropriados ao uso do oral nas circuns- tos e oriente o processo de tomar notas.
tâncias previstas. - Preparação dos alunos para a escuta ativa e crítica
É condição fundamental para que o trabalho possa dos textos por meio do registro de dúvidas a respeito de
ser realizado a constituição de um corpus de textos orais passagens de uma exposição ou palestra, de divergências
correspondentes aos gêneros previstos, a partir dos quais em relação a posições assumidas pelo expositor etc.
as atividades de escuta (e também de produção de textos - Preparação dos alunos quanto a procedimentos de
orais) sejam organizadas, de modo a possibilitar aos alunos participação em função do caráter convencional do gênero:
a construção de referências modelizadoras. Esse corpus numa palestra, considerar os acordos iniciais sobre o re-
pode ser organizado a partir de registros audiovisuais (cas- gulamento de controle de participação do auditório; saber
sete, videocassete) e da promoção de debates, entrevistas, escutar a fala do outro, compreendendo o silêncio como
palestras, leituras dramáticas, saraus literários organizados parte da interação etc.
pela escola ou por outra instituição, que envolvam aspec- - Organização de atividades de escuta de textos que
tos temáticos de projetos em andamento em permitam ensinar a tomar notas durante uma aula, exposi-
Língua Portuguesa ou em outras áreas. ção ou palestra, como recurso possível para a compreensão
Seguem algumas possibilidades de organização de si- e interpretação do texto oral, especialmente nas situações
tuações didáticas de escuta de textos. que envolvam produção simultânea.

74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Leitura de textos escritos Para considerar a diversidade dos gêneros, não igno-
rando a diversidade de recepção que supõem, as ativida-
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um traba- des organizadas para a prática de leitura devem se diferen-
lho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir ciar, sob pena de trabalharem contra a formação de leito-
de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, res. Produzir esquemas e resumos pode ajudar a apreensão
sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. dos tópicos mais importantes quando se trata de textos de
Não se trata de extrair informação, decodificando letra por divulgação científica; no entanto, aplicar tal procedimento
letra, palavra por palavra. a um texto literário é desastroso, pois apagaria o essen-
Trata-se de uma atividade que implica estratégias de cial – o tratamento estilístico que o tema recebeu do autor.
seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais Também não se formará um leitor de textos de imprensa,
não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos do qual se espera, senão uma leitura diária, ao menos uma
que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo leitura regular dos jornais, lendo-se notícias apenas no pri-
tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, meiro bimestre.
avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto su- Além disso, se os sentidos construídos são resultados
posições feitas. da articulação entre as informações do texto e os conheci-
Um leitor competente sabe selecionar, dentre os textos mentos ativados pelo leitor no processo de leitura, o texto
que circulam socialmente, aqueles que podem atender a não está pronto quando escrito: o modo de ler é também
suas necessidades, conseguindo estabelecer as estratégias um modo de produzir sentidos. Assim, a tarefa da escola,
adequadas para abordar tais textos. O leitor competente é nestes ciclos, é, além de expandir os procedimentos bá-
capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que sicos aprendidos nos ciclos anteriores, explorar, principal-
está escrito, elementos implícitos, estabelecendo relações mente no que se refere ao texto literário, a funcionalidade
entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o tex- dos elementos constitutivos da obra e sua relação com seu
to e outros textos já lidos. contexto de criação.
O terceiro e quarto ciclos têm papel decisivo na forma- Tomando como ponto de partida as obras apreciadas
ção de leitores, pois é no interior destes que muitos alu- pelo aluno, a escola deve construir pontes entre textos de
nos ou desistem de ler por não conseguirem responder às entretenimento e textos mais complexos, estabelecendo as
demandas de leitura colocadas pela escola, ou passam a conexões necessárias para ascender a outras formas cultu-
utilizar os procedimentos construídos nos ciclos anteriores rais. Trata-se de uma educação literária, não com a finalida-
para lidar com os desafios postos pela leitura, com autono- de de desenvolver uma historiografia, mas de desenvolver
mia cada vez maior. propostas que relacionem a recepção e a criação literárias
Assumir a tarefa de formar leitores impõe à escola a às formas culturais da sociedade.
responsabilidade de organizar-se em torno de um projeto Para ampliar os modos de ler, o trabalho com a literatu-
educativo comprometido com a intermediação da passa- ra deve permitir que progressivamente ocorra a passagem
gem do leitor de textos facilitados (infantis ou infanto-juve- gradual da leitura esporádica de títulos de um determinado
nis) para o leitor de textos de complexidade real, tal como gênero, época, autor para a leitura mais extensiva, de modo
circulam socialmente na literatura e nos jornais; do leitor que o aluno possa estabelecer vínculos cada vez mais es-
de adaptações ou de fragmentos para o leitor de textos treitos entre o texto e outros textos, construindo referên-
originais e integrais. cias sobre o funcionamento da literatura e entre esta e o
De certa forma, é preciso agir como se o aluno já sou- conjunto cultural; da leitura circunscrita à experiência pos-
besse aquilo que deve aprender. sível ao aluno naquele momento, para a leitura mais histó-
Entre a condição de destinatário de textos escritos e a rica por meio da incorporação de outros elementos, que o
falta de habilidade temporária para ler autonomamente é aluno venha a descobrir ou perceber com a mediação do
que reside a possibilidade de, com a ajuda do professor e professor ou de outro leitor; da leitura mais ingênua que
de outros leitores, desenvolver a competência leitora, pela trate o texto como mera transposição do mundo natural
prática de leitura. Nessas situações, o aluno deve pôr em para a leitura mais cultural e estética, que reconheça o ca-
jogo tudo o que sabe para descobrir o que não sabe. Essa ráter ficcional e a natureza cultural da literatura.
atividade só poderá ocorrer com a intervenção do profes- Formar leitores é algo que requer condições favoráveis,
sor, que deverá colocar-se na situação de principal parceiro, não só em relação aos recursos materiais disponíveis, mas,
favorecendo a circulação de informações. principalmente, em relação ao uso que se faz deles nas prá-
Nessa condição, o professor deve preocupar-se com a ticas de leitura. A seguir encontram-se apresentadas algu-
diversidade das práticas de recepção dos textos: não se lê mas dessas condições.
uma notícia da mesma forma que se consulta um dicioná-
rio; não se lê um romance da mesma forma que se estuda. - A escola deve dispor de uma biblioteca em que sejam
Boa parte dos materiais didáticos disponíveis no mer- colocados à disposição dos alunos, inclusive para emprés-
cado, ainda que venham incluindo textos de diversos gê- timo, textos de gêneros variados, materiais de consulta nas
neros, ignoram a diversidade e submetem todos os textos diversas áreas do conhecimento, almanaques, revistas, en-
a um tratamento uniforme. tre outros.

75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- É desejável que as salas de aula disponham de um tido ao texto: como e por quais pistas linguísticas lhes foi
acervo de livros e de outros materiais de leitura. Mais do possível realizar tais ou quais inferências, antecipar deter-
que a quantidade, nesse caso, o importante é a variedade minados acontecimentos, validar antecipações feitas etc. A
que permitirá a diversificação de situações de leitura por possibilidade de interrogar o texto, a diferenciação entre
parte dos alunos. realidade e ficção, a identificação de elementos que veicu-
- O professor deve organizar momentos de leitura livre lem preconceitos e de recursos persuasivos, a interpretação
em que também ele próprio leia, criando um circuito de de sentido figurado, a inferência sobre a intenção do au-
leitura em que se fala sobre o que se leu, trocam-se suges- tor, são alguns dos aspectos dos conteúdos relacionados à
tões, aprende-se com a experiência do outro. compreensão de textos, para os quais a leitura colaborativa
- O professor deve planejar atividades regulares de lei- tem muito a contribuir. A compreensão crítica depende em
tura, assegurando que tenham a mesma importância dada grande medida desses procedimentos.
às demais.
- Ler por si só já é um trabalho, não é preciso que a Leitura em voz alta pelo professor
cada texto lido se siga um conjunto de tarefas a serem rea-
lizadas. Além das atividades de leitura realizadas pelos alunos
- O professor deve permitir que também os alunos es- e coordenadas pelo professor, há as que podem ser reali-
colham suas leituras. Fora da escola, os leitores escolhem o zadas basicamente pelo professor. É o caso da leitura com-
que leem. É preciso trabalhar o componente livre da leitura, partilhada de livros em capítulos que possibilita ao aluno
caso contrário, ao sair da escola, os livros ficarão para trás. o acesso a textos longos (e às vezes difíceis) que, por sua
- A escola deve organizar-se em torno de uma política qualidade e beleza, podem vir a encantá-lo, mas que, tal-
de formação de leitores, envolvendo toda a comunidade vez, sozinho não o fizesse.
escolar. Mais do que a mobilização para aquisição e pre- A leitura em voz alta feita pelo professor não é prá-
servação do acervo, é fundamental um projeto coerente de tica comum na escola. E, quanto mais avançam as séries,
todo o trabalho escolar em torno da leitura. Todo professor, mais incomum se torna, o que não deveria acontecer, pois,
não apenas o de Língua Portuguesa, é também professor muitas vezes, são os alunos maiores que mais precisam de
de leitura. bons modelos de leitores.
Levando em conta o grau de independência do aluno
para a tarefa, o professor pode selecionar situações didáti- Leitura programada
cas adequadas que permitam ao aluno, ora exercitar-se na
leitura de tipos de texto para os quais já tenha construído A leitura programada é uma situação didática adequa-
uma competência, ora empenhar-se no desenvolvimento da para discutir coletivamente um título considerado difí-
de novas estratégias para poder ler textos menos familia- cil para a condição atual dos alunos, pois permite reduzir
res, o que demandará maior interferência do professor. Tais parte da complexidade da tarefa, compartilhando a res-
atividades podem ocorrer com maior ou menor frequência, ponsabilidade. O professor segmenta a obra em partes em
em função dos objetivos de ensino-aprendizagem. função de algum critério, propondo a leitura sequenciada
A seguir são apresentadas algumas sugestões didáticas de cada uma delas. Os alunos realizam a leitura do trecho
orientadas especificamente para a formação de leitores. combinado, para discuti-lo posteriormente em classe com
• a mediação do professor. Durante a discussão, além da
Leitura autônoma compreensão e análise do trecho lido, que poderá facilitar
a leitura dos trechos seguintes, os alunos podem ser esti-
A leitura autônoma envolve a oportunidade de o aluno mulados a antecipar eventuais rumos que a narrativa possa
poder ler, de preferência silenciosamente, textos para os tomar, criando expectativas para a leitura dos segmentos
quais já tenha desenvolvido uma certa proficiência. Viven- seguintes. Também durante a discussão, o professor pode
ciando situações de leitura com crescente independência introduzir informações a respeito da obra, do contexto em
da mediação do professor, o aluno aumenta a confiança que foi produzida, da articulação que estabelece com ou-
que tem em si como leitor, encorajando-se para aceitar de- tras, dados que possam contribuir para a realização de uma
safios mais complexos. leitura que não se detenha apenas no plano do enunciado,
mas que articule elementos do plano expressivo e estético.
Leitura colaborativa
Leitura de escolha pessoal
A leitura colaborativa é uma atividade em que o pro-
fessor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questio- São situações didáticas, propostas com regularidade,
na os alunos sobre os índices linguísticos que dão susten- adequadas para desenvolver o comportamento do leitor,
tação aos sentidos atribuídos. É uma excelente estratégia ou seja, atitudes e procedimentos que os leitores assíduos
didática para o trabalho de formação de leitores, princi- desenvolvem a partir da prática de leitura: formação de cri-
palmente para o tratamento dos textos que se distanciem térios para selecionar o material a ser lido, rastreamento da
muito do nível de autonomia dos alunos. É particularmente obra de escritores preferidos etc. Neste caso, o objetivo ex-
importante que os alunos envolvidos na atividade possam plícito é a leitura em si, é a criação de oportunidades para
explicitar os procedimentos que utilizam para atribuir sen- a constituição de padrões de gosto pessoal.

76
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Nessas atividades de leitura, pode-se, temporariamen- - Elaboração de roteiros para realização de entrevistas
te, eleger um gênero específico, um determinado autor ou ou encenação de jogos dramáticos improvisados;
um tema de interesse. A partir daí, os alunos escolhem o - Preparação prévia de leitura expressiva de textos dra-
que desejam ler, toma emprestado o livro (do acervo de máticos ou poéticos;
classe ou da biblioteca da escola) para ler em casa e, no dia - Memorização de textos dramáticos ou poéticos a se-
combinado, parte deles relata suas impressões, comenta o rem apresentados publicamente sem apoio escrito.
que gostou ou não, o que pensou, sugere outros títulos do
mesmo autor, tema ou tipo. Ensinar o planejamento simultâneo da produção ou
Dependendo do gênero selecionado, alguns alunos enunciação do texto oral supõe:
podem preparar, com antecedência, a leitura em voz alta
dos textos escolhidos. a) a participação regular do aluno em situações de inter-
locução que contemplem as especificidades dos diferentes
Prática de produção de textos orais e escritos gêneros previstos, tais como:

Produção de textos orais - Discussão improvisada ou planejada sobre tema po-


lêmico;
O texto oral, diferentemente do escrito, uma vez dito - Entrevista com alguém em posição de poder ajudar a
não pode ser retomado ou reconstruído, a não ser em ca- compreender um tema, argumentar a favor ou contra deter-
sos excepcionais de montagens para rádio ou TV. O plane- minada posição;
jamento de um texto oral, ainda que possa se apoiar em - Debate em que se confrontam posições diferentes a
materiais escritos, se dá concomitantemente ao processo respeito de tema polêmico;
de produção: uma correção não pode ser apagada, é sem- - Exposição, em público, de tema preparado previamen-
pre percebida pelo interlocutor. Assim, o controle do texto te, considerando o conhecimento prévio do interlocutor e,
oral só pode ocorrer de duas maneiras: previamente, levan- se em grupo, coordenando a própria fala com a dos colegas;
- Representação de textos teatrais ou de adaptações de
do-se em conta os parâmetros da situação comunicativa
outros gêneros, permitindo explorar, entre outros aspectos,
(o espaço, o tempo, os interlocutores e seu lugar social,
o plano expressivo da própria entoação: tom de voz, ritmo,
os objetivos, o gênero) e, simultaneamente, levando-se em
aceleração, timbre;
conta as reações do interlocutor, ajustando a fala no pró-
- Leitura expressiva ou recitação pública de poemas.
prio momento de produção.
Dessa forma, ensinar a produzir textos orais significa,
b) a análise da atividade discursiva realizada pelos alu-
sobretudo, organizar situações que possibilitem o desen-
nos, tanto a partir de gravações quanto de observações de
volvimento de procedimentos de preparação prévia e mo-
terceiros. Tais situações permitem ao professor e ao aluno
nitoramento simultâneo da fala que: avaliar as facilidades e dificuldades encontradas no processo
a) partam das capacidades comunicativas dos alunos enunciativo, a reação da audiência em função dos efeitos
antes do ensino; pretendidos, entre outros, de modo a instrumentalizar o alu-
b) ofereçam um corpus de textos organizados nos gê- no para melhorar seu desempenho.
neros previstos como referência modelizadora;
c) proponham atividades no interior de um projeto que Produção de textos escritos
deixe claro para o aluno os parâmetros da situação de co-
municação; Ao produzir um texto, o autor precisa coordenar uma
d) isolem os diferentes componentes do gênero a ser série de aspectos: o que dizer, a quem dizer, como dizer. Ao
trabalhado e organizem o ensino dos conteúdos, estabele- escrever profissionalmente, raras vezes o autor realiza tais
cendo progressão coerente; tarefas sozinho. Tão logo tenha colocado no papel o que
e) reintroduzam os componentes trabalhados isola- tem a dizer a seus potenciais leitores, verá seu texto, ainda
damente no interior de novas atividades de produção de em versão preliminar, ser submetido a uma série de profis-
textos orais, o que possibilita avaliar a apropriação dos co- sionais: a leitores críticos, que analisarão relevância e ade-
nhecimentos pelo aluno e as estratégias de ensino. quação; a preparadores de originais, que promoverão even-
tuais ajustes na redação; a revisores, que farão uma varredu-
Possibilitar ao aluno a preparação prévia da enuncia- ra nos originais para localizar e corrigir possíveis deslizes no
ção de textos orais significa ensinar procedimentos que uso da norma; a coordenadores editoriais, que planejarão a
possam ancorar a fala do locutor, orientando-a em função composição final que o texto terá ao ser impresso.
da situação de comunicação e das especificidades do gê- Bem desigual é a tarefa do aprendiz. Espera-se que o
nero, como, por exemplo: aluno coordene sozinho todos esses aspectos. Pensar em
atividades para ensinar a escrever é, inicialmente, identifi-
- Elaboração de esquemas para planejar previamente car os múltiplos aspectos envolvidos na produção de textos,
a exposição; para propor atividades sequenciadas, que reduzam parte da
- Preparação de cartazes ou transparências para asse- complexidade da tarefa no que se refere tanto ao processo
gurar melhor controle da própria fala durante a exposição; de redação quanto ao de refacção.

77
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Atividades de transcrição exigem do aluno que as reali- A refacção na produção de textos
za atenção para garantir a fidelidade do registro e domínio
das convenções gráficas da escrita. O que dizer e o como Na escola, a tarefa de corrigir, em geral, é do professor.
dizer já estão determinados pelo texto original. É ele quem assinala os erros de norma e de estilo, anotan-
Atividades que envolvam reproduções, paráfrases, do, às margens, comentários nem sempre compreendidos
resumos permitem que o aluno fique, em parte, liberado pelos alunos. Mesmo quando se exige releitura, muitos
da tarefa de pensar sobre o que escrever, pois o plano do alunos não identificam seus erros, ou, quando o fazem,
conteúdo já está definido pelo texto modelo. A atividade se concentram em aspectos periféricos, como ortografia e
oferece possibilidades de tratar de aspectos coesivos da acentuação, reproduzindo, muitas vezes, a própria prática
língua, de aspectos do plano da expressão – como dizer. escolar.
As práticas de decalque funcionam quase como mode- Entretanto, a refacção faz parte do processo de escri-
los lacunados: as questões formais já estão em parte defini- ta: durante a elaboração de um texto, se releem trechos
das pelo caráter altamente convencionalizado dos gêneros, para prosseguir a redação, se reformulam passagens. Um
como nos requerimentos ou cartas comerciais. texto pronto será quase sempre produto de sucessivas ver-
Em suas aplicações mais criativas paródias preservam sões. Tais procedimentos devem ser ensinados e podem
boa parte da estrutura formal do texto modelo, permitindo ser aprendidos.
que o aluno se concentre no que tem a dizer. Separar, no tempo, o momento de produção do mo-
Nas atividades de produção que envolvem autoria ou mento de refacção produz efeitos interessantes para o en-
criação, a tarefa do sujeito torna-se mais complexa, porque sino e a aprendizagem de um determinado gênero:
precisa articular ambos os planos: o do conteúdo o que
dizer e o da expressão como dizer. - Permite que o aluno se distancie de seu próprio texto,
de maneira a poder atuar sobre ele criticamente;
- Possibilita que o professor possa elaborar atividades
e exercícios que forneçam os instrumentos linguísticos para
o aluno poder revisar o texto.

Nesta perspectiva, a refacção que se opera não é mera


higienização, mas profunda reestruturação do texto, já que
entre a primeira versão e a definitiva uma série de ativida-
des foi realizada.
Os procedimentos de refacção começam de maneira
externa, pela mediação do professor que elabora os instru-
mentos e organiza as atividades que permitem aos alunos
sair do complexo (o texto), ir ao simples (as questões lin-
guísticas e discursivas que estão sendo estudadas) e retor-
As categorias propostas para ensinar a produzir textos nar ao complexo (o texto). Graças à mediação do professor,
permitem que, de diferentes maneiras, os alunos possam os alunos aprendem não só um conjunto de instrumentos
construir os padrões da escrita, apropriando-se das estru- linguístico-discursivos, como também técnicas de revisão
turas composicionais, do universo temático e estilístico dos (rasurar, substituir, desprezar). Por meio dessas práticas
autores que transcrevem, reproduzem, imitam. É por meio mediadas, os alunos se apropriam, progressivamente, das
da escrita do outro que, durante as práticas de produção, habilidades necessárias à autocorreção.
cada aluno vai desenvolver seu estilo, suas preferências,
tornando suas as palavras do outro. Prática de análise linguística
Não se trata de estabelecer uma progressão linear en-
tre essas categorias didáticas, privilegiando inicialmente a Durante os últimos anos, a crítica ao ensino de Língua
transcrição, depois a reprodução, o decalque e, finalmente, Portuguesa centrado em tópicos de gramática escolar e as
o texto de autoria. É em função do que os alunos precisam alternativas teóricas apresentadas pelos estudos linguís-
aprender que se selecionam as categorias didáticas mais ticos, principalmente no que se refere à consciência dos
adequadas. fenômenos enunciativos e à análise tipológica dos textos,
Para esta análise, o olhar do educador para o texto do permitiram uma visão muito mais funcional da língua, o
aluno precisa deslocar-se da correção para a interpretação; que provocou alterações nas práticas escolares, represen-
do levantamento das faltas cometidas para a apreciação tando, em alguns casos, o abandono do tratamento dos
dos recursos que o aluno já consegue manobrar. aspectos gramaticais e da reflexão sistemática sobre os as-
Entretanto, começa-se e termina-se pela tarefa mais pectos discursivos do funcionamento da linguagem. Para
complexa, o texto de autoria do aluno: para poder mapear ampliar a competência discursiva dos alunos, no entanto, a
o que sabe sobre o gênero que está sendo estudado e o criação de contextos efetivos de uso da linguagem é condi-
que precisa aprender, projetando as ações didáticas neces- ção necessária, porém não suficiente, sobretudo no que se
sárias ou para avaliar os efeitos do trabalho realizado. refere ao domínio pleno da modalidade escrita.

78
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Além da escuta, leitura e produção de textos, parece ser - Exercitação sobre os conteúdos estudados, de modo
necessária a realização tanto de atividades e epilinguísticas, a permitir que o aluno se aproprie efetivamente das desco-
que envolvam manifestações de um trabalho sobre a lín- bertas realizadas;
gua e suas propriedades, como de atividades metalinguís- - Reinvestimento dos diferentes conteúdos exercitados
ticas, que envolvam o trabalho de observação, descrição e em atividades mais complexas, na prática de escuta e de
categorização, por meio do qual se constroem explicações leitura ou na prática de produção de textos orais e escritos.
para os fenômenos linguísticos característicos das práticas
discursivas. A refacção de textos na análise linguística
Por outro lado, não se podem desprezar as possibili-
dades que a reflexão linguística apresenta para o desen- O estudo dos tópicos da gramática escolar não garante
volvimento dos processos mentais do sujeito, por meio da que o aluno possa se apropriar deles na produção de tex-
capacidade de formular explicações para explicitar as regu- tos, ampliando, efetivamente, os instrumentos expressivos
laridades dos dados que se observam a partir do conheci- de que dispõe para produzir textos adequados às finalida-
mento gramatical implícito. des e às especificidades da situação interlocutiva. É impor-
Entretanto, prática de análise linguística não é uma tante reinvestir os conceitos estudados em atividades mais
nova denominação para ensino de gramática. complexas.
Quando se toma o texto como unidade de ensino, os Um dos aspectos fundamentais da prática de análise
aspectos a serem tematizados não se referem somente à lingüística é arefacção dos textos produzidos pelos alunos.
dimensão gramatical. Há conteúdos relacionados às dimen- Tomando como ponto de partida o texto produzido pelo
sões pragmática e semântica da linguagem, que por serem aluno, o professor pode trabalhar tanto os aspectos rela-
inerentes à própria atividade discursiva, precisam, na escola, cionados às características estruturais dos diversos tipos
ser tratados de maneira articulada e simultânea no desen- textuais como também os aspectos gramaticais que pos-
volvimento das práticas de produção e recepção de textos. sam instrumentalizar o aluno no domínio da modalidade
Quando se toma o texto como unidade de ensino, ain- escrita da língua.
da que se considere a dimensão gramatical, não é possível Cabe ao professor desenvolver, na análise das reda-
adotar uma categorização preestabelecida. ções, a sensibilidade para os fatos linguísticos, pergun-
Os textos submetem e às regularidades linguísticas dos tando-se sempre: o que me leva a corrigir esta ou aquela
gêneros em que se organizam e às especificidades de suas forma? O que me leva a sugerir mudanças no texto? Como
condições de produção: isto aponta para a necessidade de fazê-lo sem discriminar a linguagem dos alunos?
priorização de alguns conteúdos e não de outros. Os alu- Sobre que aspecto deve insistir inicialmente? Como le-
nos, por sua vez, ao se relacionarem com este ou aquele var os alunos, a saber, avaliar a adequação do uso de uma
texto, sempre o farão segundo suas possibilidades: isto forma ou de outra?
aponta para a necessidade de trabalhar com alguns desses
conteúdos e não com todos. Os procedimentos a seguir sugerem encaminhamentos
Ao organizar atividades de análise linguística para pos- possíveis para a tarefa.
sibilitar aos alunos a aprendizagem dos conteúdos selecio-
nados, alguns procedimentos metodológicos são funda- - Seleção de um dos textos produzidos pelos alunos,
mentais para o planejamento do ensino: que seja representativo das dificuldades coletivas e apre-
sente possibilidades para discussão dos aspectos prioriza-
- Isolamento, entre os diversos componentes da ex- dos e encaminhamento de soluções.
pressão oral ou escrita, do fato linguístico a ser estudado, - Apresentação do texto para leitura, transcrevendo-o
tomando como ponto de partida as capacidades já domi- na lousa, reproduzindo-o, usando papel, transparências ou
nadas pelos alunos: o ensino deve centrar-se na tarefa de a tela do computador.
instrumentalizar o aluno para o domínio cada vez maior da - Análise e discussão de problemas selecionados. Em
linguagem; função da complexidade da tarefa, não é possível explo-
- Construção de um corpus que leve em conta a rele- rar todos os aspectos a cada vez. Para que o aluno possa
vância, a simplicidade, bem como a quantidade dos dados, aprender com a experiência, é importante selecionar al-
para que o aluno possa perceber o que é regular; guns, propondo questões que orientem o trabalho. A re-
- Análise do corpus, promovendo o agrupamento dos visão exaustiva deve ser reservada para situações em que
dados a partir dos critérios construídos para apontar as re- a produção do texto esteja articulada a algum projeto que
gularidades observadas; implique sua circulação.
- Organização e registro das conclusões a que os alunos - Registro das respostas apresentadas pelos alunos às
tenham chegado; questões propostas e discussão das diferentes possibilida-
- Apresentação da metalinguagem, após diversas expe- des em função de critérios de legitimidade e de eficácia
riências de manipulação e exploração do aspecto seleciona- comunicativa. Nesta etapa é importante assegurar que os
do, o que, além de apresentar a possibilidade de tratamento alunos possam ter acesso a materiais de consulta (dicioná-
mais econômico para os fatos da língua, valida socialmente rios, gramáticas e outros textos), para aprofundamento dos
o conhecimento produzido. Para esta passagem, o profes- temas tratados.
sor precisa possibilitar ao aluno o acesso a diversos textos - Reelaboração do texto, incorporando as alterações
que abordem os conteúdos estudados; propostas.

79
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Nas atividades de refacção de textos, alguns cuidados padrões também são variados e dependem das situações de
são fundamentais: uso). Além disso, os padrões próprios da tradição escrita não
são os mesmos que os padrões de uso oral, ainda que haja
• - A atividade de discussão coletiva de textos produzidos situações de fala orientadas pela escrita.
pelos próprios alunos pressupõe que o professor tenha cons- A discriminação de algumas variedades linguísticas, tra-
tituído vínculos de confiança com o grupo e um ambiente de tadas de modo preconceituoso e anticientífico, expressa os
acolhimento, de maneira a não provocar estigmas e constran- próprios conflitos existentes no interior da sociedade. Por isso
gimentos; mesmo, o preconceito linguístico, como qualquer outro pre-
- Se os objetivos da refacção não envolverem conteú- conceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e
dos ligados a aspectos ortográficos ou morfossintáticos, por deve ser combatido com vigor e energia. É importante que o
exemplo, apresentar, corrigida, a versão para o trabalho, para aluno, ao aprender novas formas linguísticas, particularmente
facilitar a concentração dos alunos nos temas propostos; a escrita e o padrão de oralidade mais formal orientado pela
- Se os objetivos da refacção envolverem conteúdos com tradição gramatical, entenda que todas as variedades linguís-
os quais os alunos tenham pouca familiaridade, assinalar no ticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana.
texto escolhido as passagens problemáticas. Assim, os alunos, Para isso, o estudo da variação cumpre papel fundamental
livres da tarefa de localizar as impropriedades, podem dedi- na formação da consciência linguística e no desenvolvimento
car-se mais intensamente a pensar sobre alternativas para sua da competência discursiva do aluno, devendo estar sistemati-
reformulação; camente presente nas atividades de Língua Portuguesa.
- Se a refacção pretende explorar aspectos morfossintáti- A seguir relacionam-se algumas propostas de atividades
cos, o professor pode, em lugar de apresentar um texto com- que permitem explorar mais intensamente questões de varia-
pleto, selecionar um conjunto de trechos de vários alunos para ção linguística:
desenvolver com mais profundidade o assunto; - Transcrição de textos orais, gravados em vídeo ou cas-
- Quando os alunos já tiverem realizado bom número de sete, para permitir identificação dos recursos linguísticos pró-
práticas de refacção coletiva, o professor pode, gradativamen- prios da fala;
te, ampliar o grau de complexidade da tarefa, propondo sua - Edição de textos orais para apresentação, em gênero da
realização em duplas, em pequenos grupos, encaminhando-se modalidade escrita, para permitir que o aluno possa perceber
para a autocorreção; algumas das diferenças entre a fala e a escrita;
- Ao encaminhar as atividades de refacção, o professor - Análise da força expressiva da linguagem popular na
pode usar o trabalho em duplas ou em pequenos grupos, comunicação cotidiana, na mídia e nas artes, analisando de-
também como forma de organizar atividades em torno de poimentos, filmes, peças de teatro, novelas televisivas, música
dúvidas mais particulares: como em uma oficina, cada grupo popular, romances e poemas;
trabalharia em torno de questões específicas. - Levantamento das marcas de variação linguística ligadas
a gênero, gerações, grupos profissionais, classe social e área
Orientações didáticas específicas para alguns conteú- de conhecimento, por meio da comparação de textos que tra-
dos tem de um mesmo assunto para públicos com características
diferentes:
Variação linguística * elaboração de textos procurando incorporar na redação
traços da linguagem de grupos específicos;
A Língua Portuguesa é uma unidade composta de muitas * estudo de textos em função da área de conhecimento,
variedades. O aluno, ao entrar na escola, já sabe pelo menos identificando jargões próprios da atividade em análise;
uma dessas variedades — aquela que aprendeu pelo fato de * comparação de textos sobre o mesmo tema veiculados
estar inserido em uma comunidade de falantes. Certamente, em diferentes publicações (por exemplo, uma matéria sobre
ele é capaz de perceber que as formas da língua apresentam meio ambiente para uma revista de divulgação científica e ou-
variação e que determinadas expressões ou modos de dizer tra para o suplemento infantil);
podem ser apropriados para certas circunstâncias, mas não * comparação entre textos sobre o mesmo tema, produzi-
para outras. Sabe, por exemplo, que existem formas mais ou dos em épocas diferentes;
menos delicadas de se dirigir a alguém, falas mais cuidadas * comparação de duas traduções de um mesmo texto ori-
e refletidas, falas cerimoniosas. Pode ser que saiba, inclusive, ginal, analisando as escolhas estilísticas feitas pelos tradutores;
que certos falares são discriminados e, eventualmente, até ter * comparação entre um texto original e uma versão adap-
vivido essa experiência. tada do mesmo texto, analisando as mudanças produzidas;
Frente aos fenômenos da variação, não basta somente * comparação de textos de um mesmo autor, produzido
uma mudança de atitudes; a escola precisa cuidar para que em condições diferentes (um artigo para uma revista acadêmi-
não se reproduza em seu espaço a discriminação linguística. ca e outro para uma revista de vulgarização científica);
Desse modo, não pode tratar as variedades linguísticas - Análise de fatos de variação presentes nos textos dos
que mais se afastam dos padrões estabelecidos pela gramá- alunos;
tica tradicional e das formas diferentes daquelas que se fixa- - Análise e discussão de textos de publicidade ou de im-
ram na escrita como se fossem desvios ou incorreções. E não prensa que veiculem qualquer tipo de preconceito linguístico;
apenas por uma questão metodológica: é enorme a gama de - Análise comparativa entre registro da fala ou de escrita
variação e, em função dos usos e das mesclas constantes, não e os preceitos normativos estabelecidos pela gramática tradi-
é tarefa simples dizer qual é a forma padrão (efetivamente, os cional.

80
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Léxico - Identificar e analisar a funcionalidade de empregos
figurados de palavras ou expressões;
O trabalho com o léxico não se reduz a apresentar si- - Identificar os termos-chave de um texto, vinculando-
nônimos de um conjunto de palavras desconhecidas pelo -os a redes semânticas que permitam a produção de es-
aluno. Isolando a palavra e associando-a a outra apresenta- quemas e de resumos.
da como idêntica, acaba-se por tratar a palavra como “por-
tadora de significado absoluto, e não como índice para a Todos esses procedimentos precisam ser incorporados
construção do sentido, já que as propriedades semânticas à produção textual.
das palavras projetam restrições selecionais. Esse trata- A elaboração de paráfrases e de resumos permite a
mento, que privilegia apenas os itens lexicais (substantivos, criação de boas oportunidades para a discussão a respeito
adjetivos, verbos e advérbios), acaba negligenciando todo das escolhas lexicais e de suas implicações semântico-dis-
um outro grupo de palavras com função conectiva, que são cursivas.
responsáveis por estabelecer relações e articulações entre Indiscutivelmente, a prática de refacção mobiliza inten-
as proposições do texto, o que contribui muito pouco para so trabalho com essas questões.
ajudar o aluno na construção dos sentidos. Não se trata de estimular o uso de palavras difíceis ou
Considerando a densidade lexical dos universos espe- raras, mas de apreciar as escolhas em função da situação
cializados, em que a carga de sentidos novos supera a ca- interlocutiva e dos efeitos de sentido que se quer produzir.
pacidade do receptor de processá-los, o domínio de amplo
vocabulário cumpre papel essencial entre as habilidades Ortografia
do leitor proficiente. A escola deve, portanto, organizar si-
tuações didáticas para que o aluno possa aprender novas Infelizmente, a ortografia ainda vem sendo tratada, na
palavras e empregá-las com propriedade. maioria das escolas do ensino fundamental, por meio de
Do que se veio afirmando, é possível depreender um atividades de identificação, correção de palavra errada, se-
princípio orientador: não são apenas as palavras difíceis guidas de cópia e de enfadonhos exercícios de preenchi-
que precisam ser objeto de estudo; a formação de glos-
mento de lacunas.
sários é, apenas, uma das tarefas. É preciso entender, por
Entretanto, é possível desenvolver um trabalho que
um lado, que, ainda que se trate a palavra como unidade,
permita ao aluno descobrir o funcionamento do sistema
muitas vezes ela é um conjunto de unidades menores (radi-
grafo-fonêmico da língua e as convenções ortográficas,
cais, afixos, desinências) que concorrem para a constituição
analisando as relações entre a fala e a escrita, as restrições
do sentido. E, por outro, que, dificilmente, podemos dizer
que o contexto impõe ao emprego das letras, os aspec-
o que uma palavra significa, tomando-a isoladamente: o
tos morfossintáticos, tratando a ortografia como porta de
sentido, em geral, decorre da articulação da palavra com
outras na frase e, por vezes, na relação com o exterior lin- entrada para uma reflexão a respeito da língua, particular-
guístico, em função do contexto situacional. mente, da modalidade escrita.
A seguir são indicadas atividades que podem orien- Para que tal reflexão possa ocorrer, as estratégias de
tar o aluno na construção de relações lexicais, de modo a, ensino devem se articular em torno de dois eixos:
progressivamente, construir um conjunto de estratégias de a) privilégio do que é “regular”, permitindo que, por
manipulação e processamento das palavras: meio da manipulação de um conjunto de palavras, o aluno
- Explorar ativamente um corpus que apresente pala- possa, agrupando-as e classificando-as, inferir as regulari-
vras que tenham o mesmo afixo ou desinência, para deter- dades que caracterizam o emprego de determinada letra;
minar o significado de unidades inferiores à palavra; b) preferência, no tratamento das ocorrências “irregu-
- Aplicar os mecanismos de derivação e construir famí- lares”, dos casos de frequência e maior relevância temática.
lias de palavras; O aprendizado de novas palavras, inclusive de sua for-
- Apresentar textos lacunados para, por meio das pro- ma gráfica, não se esgota nunca.
priedades semânticas e das restrições selecionais, explicitar Assim, mais do que investir em ações intensivas e pon-
a natureza do termo ausente; tuais, é preferível optar por um trabalho regular e freqüen-
- Apresentar um conjunto de hipônimos e pedir ao alu- te, articulado à seleção lexical imposta pelo universo temá-
no para apresentar o hiperônimo correspondente; tico dos textos selecionados.
- Apresentar um conjunto de palavras em que uma não Ainda que o trabalho com as formas regulares e irre-
é hipônimo e pedir que o aluno a exclua, explicitando suas gulares precise ocorrer paralelamente, pois, nos textos li-
razões; dos ou produzidos, são empregados tanto o que é regular
- Inventariar as palavras de determinado campo se- como o que é irregular, é importante dar ênfase à constru-
mântico, presentes em determinado texto, e analisar os ção das regularidades. Afinal, não se aprende a escrever as
efeitos de sentido obtidos com o emprego; palavras uma a uma.
- Inventariar as palavras de determinada variedade ou Portanto, ao realizar atividades de análise e reflexão
registro, presentes em um texto, e analisar os efeitos obti- sobre a língua, os alunos necessitam:
dos com o emprego;
- Identificar, em textos, palavras ou expressões que ins- - Identificar e analisar as interferências da fala na escri-
talam pressuposições e subentendidos e analisar as impli- ta, principalmente em contextos de sílabas que fogem ao
cações discursivas; padrão consoante/vogal;

81
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- Explorar ativamente um corpus de palavras, para ex- São situações em que as atividades de escuta, leitura e
plicitar as regularidades ortográficas no que se refere às produção de textos orais e escritos, bem como as de análi-
regras contextuais; se linguística se inter-relacionam de forma contextualizada,
- Explorar ativamente um corpus de palavras, para des- pois quase sempre envolvem tarefas que articulam essas
cobrir as regularidades de natureza morfossintática, que, diferentes práticas, nas quais faz sentido, por exemplo, ler
por serem recorrentes, apresentam alto grau de generali- para escrever, escrever para ler, decorar para representar
zação. Ao invés de sobrecarregar o aluno com pesada me- ou recitar, escrever para não esquecer, ler em voz alta, falar
talinguagem (radical, vogal temática, desinências, afixos), para analisar depois etc.
deve-se insistir no uso do paradigma morfossintático para Alguns exemplos de projetos: produção de fita casse-
a construção de regularidades ortográficas; te de contos ou poemas lidos para a biblioteca escolar ou
- Apoiar-se no conhecimento morfológico para resol- para outras instituições; produção de vídeos (ou fitas cas-
ver questões de natureza ortográfica; sete) de curiosidades gerais sobre assuntos estudados ou
de interesse; promoção de eventos de leitura numa feira
- Analisar as restrições impostas pelo contexto e, em
cultural ou exposição de trabalhos, coletânea de textos de
caso de dúvida entre as possibilidades de preenchimento,
um mesmo gênero (poemas, contos), livro sobre um tema
adotar procedimentos de consulta.
pesquisado, revista sobre vários temas estudados, mural,
Para descobrir tais regularidades, é preciso deslocar-se
jornal, folheto informativo etc.
do texto, pois é muito difícil construir um inventário signi- Além de oferecerem condições reais para a escuta, lei-
ficativo de palavras a partir do léxico de um texto em par- tura e produção de textos orais e escritos, os projetos car-
ticular e, ainda que fosse possível, o objetivo da proposta regam exigências de grande valor pedagógico, pois:
não é o funcionamento do léxico no texto, mas a própria - Criam a necessidade de ler e analisar grande varieda-
composição gráfica ou morfossintática da palavra. de de textos e suportes do tipo que se vai produzir: como
É sabido que: se organizam, que características possuem ou quais têm
a) a verbalização da regra não assegura o emprego cor- mais qualidade. Trata-se de uma atividade de reflexão so-
reto de palavras a ela relacionadas em textos produzidos; bre aspectos próprios do gênero que será produzido e de
b) o bom desempenho em exercícios especialmente suas relações com o suporte;
elaborados para tratar de questões ortográficas também - Permitem que o aluno aprenda a produzir textos
não é garantia de emprego correto em textos produzidos. escritos mais adequados às condições de produção, pelo
Assim, a construção de regras ou as atividades preparadas exercício que o aluno-escritor realiza para ajustar o texto à
para que o aluno possa se apropriar das regularidades des- imagem que faz do leitor fisicamente ausente;
cobertas não têm um fim em si mesmas. Se o objetivo é - Colocam de maneira mais acentuada a necessidade
que os alunos escrevam com correção nos textos que pro- de refacção e de cuidado com o trabalho, pois, quando há
duzem, é preciso reintroduzir as competências desenvolvi- leitores de fato para a escrita dos alunos, a legibilidade pas-
das no texto. sa a ser objetivo deles também, e não só do professor;
- Permitem interseção entre conteúdos de diferentes
ORGANIZAÇÕES DIDÁTICAS ESPECIAIS áreas e/ou entre estes e o tratamento dos temas transver-
sais nessas áreas.
Projetos
Módulos didáticos
A característica básica de um projeto é que ele tem
um objetivo compartilhado por todos os envolvidos, que Módulos didáticos são sequências de atividades e
exercícios, organizados de maneira gradual para permitir
se expressa num produto final em função do qual todos
que os alunos possam, progressivamente, apropriar-se das
trabalham e que terá, necessariamente, destinação, divul-
características discursivas e linguísticas dos gêneros estu-
gação e circulação social internamente na escola ou fora
dados, ao produzir seus próprios textos.
dela. Além disso, os projetos permitem dispor do tempo
O planejamento dos módulos didáticos parte do diag-
de forma flexível, pois o tempo tem o tamanho necessário nóstico das capacidades iniciais dos alunos, permitindo
para conquistar o objetivo: pode ser de alguns dias ou de identificar quais instrumentos de ensino podem promover
alguns meses. Quando são de longa duração, têm a vanta- a aprendizagem e a superação dos problemas apresenta-
gem adicional de permitir que os alunos se envolvam no dos. Assim, a organização de sequências didáticas exige:
planejamento das atividades, aprendendo a controlar o
tempo, dividir e redimensionar as tarefas, avaliar os resulta- - Elaborar atividades sobre aspectos discursivos e lin-
dos em função do plano inicial. guísticos do gênero priorizado, em função das necessida-
Os projetos favorecem, assim, o necessário compro- des apresentadas pelos alunos;
misso do aluno com sua própria aprendizagem, pois con- - Programar as atividades em módulos que explorem
tribuem muito mais para o engajamento do aluno nas ta- cada um dos aspectos do conteúdo a serem trabalhados,
refas como um todo, do que quando essas são definidas procurando reduzir parte de sua complexidade a cada fase,
apenas pelo professor. considerando as possibilidades de aprendizagem dos alu-
nos;

82
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- Deixar claro para os alunos as finalidades das ativida- O COMPUTADOR
des propostas; O processador de textos
• - Distribuir as atividades de ensino num tempo que
possibilite a aprendizagem; Eliminar, alterar, deslocar palavras, expressões e trechos
• - Planejar atividades em duplas ou em pequenos gru- são tarefas que marcam as sucessivas rescrituras a que um
pos, para permitir que a troca entre os alunos facilite a apro- texto é submetido até a versão final. Tais tarefas encontram
priação dos conteúdos; maior flexibilidade com o uso dos processadores de texto.
- Interagir com os alunos para ajudá-los a superar difi- Retirando de tais tarefas o peso das sucessivas refacções,
culdades; o usuário pode concentrar-se na produção mais elaborada
- Elaborar com os alunos instrumentos de registro e do texto de maneira a atender a seus objetivos, sem o ônus
síntese dos conteúdos aprendidos, que se constituirão em de copiar inúmeras vezes as passagens que deseja manter.
referências para produções futuras; O uso do corretor ortográfico durante o processo de
- Avaliar as transformações produzidas. revisão não libera, como se poderia imaginar, o usuário
das tarefas de pensar acerca das questões ortográficas. Da
Tecnologias da informação e Língua Portuguesa simples identificação de caracteres incorretos, à decisão de
incluir termos não pertencentes ao inventário disponível,
A afirmação de que a imagem substituiria a escrita é cabe ao usuário realizar a escolha, confrontando sua for-
quase lugar-comum. Desde a existência da televisão, afirma- ma com a opção sugerida pelo equipamento. É importante
-se que o número de leitores diminui, à medida que aumen- considerar ainda que há uma série de aspectos da chamada
ta o de espectadores. Recentemente, o desenvolvimento revisão das convenções da escrita que escapam da identi-
tecnológico, que tornou possível aproximar os lugares mais ficação: problemas envolvendo a segmentação de palavras
distantes com o simples apertar de um botão, produziu a cujo resultado produza outras palavras possíveis na língua,
impressão de que a leitura e a escrita estavam com os dias por exemplo, “com seguiu” (para conseguiu); aspectos rela-
contados. tivos à concordância e regência, ao emprego da pontuação
A análise mais rigorosa da questão, na realidade atual, que não dispensam a ação atenta do sujeito.
não coincide com tais previsões, pois a leitura e a escrita Além disso, tais aplicativos possibilitam a obtenção de
continuam muito presentes na sociedade e, em particular, um layout bastante próximo daquele usado nos textos im-
no âmbito do trabalho. Porém, não há como negar que as pressos de circulação social, pois permitem a seleção da
novas tecnologias da informação cumprem cada vez mais fonte, dos caracteres, a distribuição do texto em colunas, a
o papel de mediar o que acontece no mundo, “editando” a inclusão de gráficos e tabelas, a inserção de figuras, mol-
realidade. dura etc. Isso torna possível a publicação de jornais, revis-
A presença crescente dos meios de comunicação na tas, folhetos utilizando-se a editoração eletrônica. Produtos
vida cotidiana coloca, para a sociedade em geral e para a mais bem acabados são, sem dúvida, fonte de satisfação
escola em particular, a tarefa de educar crianças e jovens para seus produtores.
para a recepção dos meios. Para o desenvolvimento de uma Um outro aspecto interessante é a possibilidade de,
ação mais efetiva, é preciso ultrapassar alguns estereótipos estando conectado com alguma rede, poder destinar os
e considerar que: textos produzidos a leitores reais, ou interagir com outros
colegas, também via rede, ampliando as possibilidades de
- A relação dos receptores com os meios não é unilate- interlocução por meio da escrita e permitindo acesso on
ral, mas mediada pela inserção social do sujeito e por suas line ao conhecimento enciclopédico acumulado pela hu-
estruturas cognitivas; manidade.
- A recepção é um processo, não é o ato de usar um Há uma série de softwares disponíveis no mercado,
meio. Inicia-se antes dele, com as expectativas do sujeito, e produzidos com a finalidade de trabalhar aspectos espe-
segue-se a ele, pois incorpora os comentários e discussões a cíficos de Língua Portuguesa. Como qualquer recurso di-
respeito do que foi visto; dático, devem ser analisados com cuidado e selecionados
- O significado de um meio não é único, é produzido em função das necessidades colocadas pelas situações de
pelos diversos receptores. ensino e de aprendizagem.

Não se trata, porém, de tomar os meios como eventuais CD-ROM, multimídia e hipertexto
recursos didáticos para o trabalho pedagógico, mas de con-
siderar as práticas sociais nas quais estejam inseridos para: Por combinarem diferentes linguagens e atividades
multidisciplinares, favorecem a construção de uma repre-
- Conhecer a linguagem vídeo tecnológica própria desse sentação não-linear do conhecimento, permitindo que
meio; cada um, segundo seu ritmo e interesse, possa dirigir sua
- Analisar criticamente os conteúdos das mensagens, aprendizagem: buscando informação complementar, sele-
identificando valores e conotações que veiculam; cionando em um texto uma ligação com outro documento,
- Fortalecer a capacidade crítica dos receptores, avalian- por uma palavra ou expressão ressaltada; buscando repre-
do as mensagens; sentações em outras linguagens imagem, som, animação
- Produzir mensagens próprias, interagindo com os – com as quais pode interagir na construção de uma repre-
meios. sentação mais realista.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
É importante, ainda, no trabalho escolar, analisar criti- - Como ponto de partida para a introdução de um
camente a sedução do meio. tema;
Uma das possibilidades é a produção de CD-ROMs pelos - Como exemplo de aspectos relacionados ao assunto
próprios alunos, que permite revelar e compreender a fun- discutido em classe;
cionalidade de elementos presentes na dinâmica do suporte - Para registro e documentação de projetos desenvol-
para a representação do real: articulação entre a linearidade vidos;
do texto verbal e a possibilidade de abrir janelas, possibilida- - Para que os alunos realizem produções em vídeo: en-
de de introduzir informações suplementares em outras lin- cenações, programas informativos, entrevistas;
guagens (preparação de imagens, de sons, de animação) etc. - Como avaliação, permitindo o exame de exposições
orais;
O RÁDIO - Como suporte da televisão e do cinema:
* gravando programas para utilização em classe;
O rádio, o mais abrangente veículo de comunicação pre- * exibindo filmes de longa-metragem e documentários
sente no cotidiano, abre diversas possibilidades para o tra- relacionados a aspectos do trabalho desenvolvido;
balho com os sons e a palavra falada em Língua Portuguesa: * exibindo filmes baseados em obras literárias lidas
para comparação das diferentes linguagens.
- Estudando a programação das emissoras (AM/FM) e as
marcas que caracterizam a fala dos diversos apresentadores Ensino, aprendizagem e avaliação.
e discjóqueis, por meio de gravações e transcrições; A AVALIAÇÃO NA PRÁTICA EDUCATIVA
- Analisando o radiojornalismo e confrontando-o com
outras mídias; A avaliação deve ser compreendida como conjunto de
- Produzindo programas radiofônicos com os alunos - a ações organizadas com a finalidade de obter informações
Rádio Recreio. sobre o que o aluno aprendeu, de que forma e em quais
condições. Para tanto, é preciso elaborar um conjunto de
A TELEVISÃO procedimentos investigativos que possibilitem o ajuste e a
orientação da intervenção pedagógica para tornar possível
Além das possibilidades de trabalho com a programa- o ensino e a aprendizagem de melhor qualidade.
ção, associadas ao videocassete gravando ou reproduzindo Deve funcionar, por um lado, como instrumento que
um programa específico, a TV pode introduzir ou comple- possibilite ao professor analisar criticamente sua prática
mentar os conteúdos trabalhados por meio do substrato educativa; e, por outro, como instrumento que apresen-
educativo-cultural da programação, como também abrir es- te ao aluno a possibilidade de saber sobre seus avanços,
paço para discutir temas que o veículo projeta para a socie- dificuldades e possibilidades. Nesse sentido, deve ocorrer
dade, desenvolvendo a construção de valores que permitam durante todo o processo de ensino e aprendizagem, e não
recepção mais crítica. apenas em momentos específicos caracterizados como fe-
Algumas propostas para discutir o veículo: chamento de grandes etapas de trabalho.
A avaliação deve ser compreendida como constitutiva
- Análise das transformações sofridas por uma obra lite- da prática educativa, dado que é a análise das informações
rária ao ser adaptada para a TV; obtidas ao longo do processo de aprendizagem – o que os
- Análise das transformações sofridas por um filme pro- alunos sabem e como – que possibilita ao professor a or-
duzido para o cinema, ao ser transmitido na TV; ganização de sua ação de maneira adequada e com melhor
- Identificação de relações de imitação-interpretação-a- qualidade.
dulteração da realidade; Por caracterizar-se como uma resposta à compreen-
- Análise da recepção e efeitos produzidos no receptor. são que o aluno tem sobre os aspectos do conhecimento a
serem trabalhados, é, também, responsiva, atuando como
O VÍDEO elemento balizador das pautas interacionais e das interven-
ções pedagógicas, sendo dialeticamente constitutiva dos
Partindo do que toca os sentidos, a linguagem da TV e sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem.
vídeo responde à sensibilidade dos jovens. Projetando ou- A avaliação precisa acontecer num contexto em que
tras realidades, outros tempos e espaços, no vídeo interagem seja possibilitada ao aluno a reflexão tanto sobre os conhe-
superpostas diversas linguagens: a visual, a falada, a sonora cimentos construídos – o que sabe –, quanto sobre os pro-
e até a escrita, principalmente na legenda de filmes e nas cessos pelos quais isso ocorreu – como conseguiu apren-
traduções de entrevistas. der. Ao identificar o que sabe, o aluno tem a possibilidade
O vídeo possibilita desenvolver múltiplas atitudes recep- de delimitar o que precisa, ainda, aprender. Ao reconhecer
tivas, pois permite que se interrompa a projeção para fazer como conseguiu aprender, o aluno tem a possibilidade de
um comentário; que se volte a fita, após a projeção, para descobrir que podem existir outros modos de aprender,
rever cenas importantes ou difíceis; que se passe quadro a conhecer e de fazer. A apropriação de novos conceitos e
quadro imagens significativas; que se exiba a fita outras vezes procedimentos permite que o aluno possa realizar as ativi-
para apreciar aspectos relacionados à trilha sonora, efeitos dades propostas com maior eficiência e autonomia. Nesse
visuais, diálogos etc. Pode ser usado de muitas formas em sentido, a avaliação precisa ser compreendida como refle-
sala de aula: xiva e autonomizadora.

84
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Ao se avaliar, devem-se buscar informações não ape- Para avaliar, segundo os critérios estabelecidos, é ne-
nas referentes ao tipo de conhecimento que o aluno cons- cessário considerar indicadores bastante precisos que sir-
truiu, mas também e, sobretudo, responder a questões vam para identificar, de fato, as aprendizagens realizadas.
sobre por que os alunos aprenderam o que aprenderam No entanto, é importante não perder de vista que um
naquela situação de aprendizagem, como aprenderam, o progresso relacionado a um critério específico pode mani-
que mais aprenderam e o que deixaram de aprender. Para festar-se de diferentes formas, em diferentes alunos, e que
isso, o professor precisa construir formas de registro qua- uma mesma ação pode, para um aluno, indicar avanço em
litativamente diferentes das que têm sido utilizadas tradi- relação a um critério estabelecido e, para outro, não. Por
cionalmente pela escola, para obter informações relevantes isso, além de necessitarem de indicadores precisos, os cri-
para a organização da ação pedagógica. térios de avaliação devem ser tomados em seu conjunto,
É necessário, também, que o aluno seja informado de considerados de forma contextual e analisados à luz dos
maneira qualitativamente diferente das já usuais sobre o objetivos que realmente orientaram o ensino oferecido aos
que precisa aprender o que precisa saber fazer melhor. alunos.
Assim, as anotações, correções e comentários do pro- É nesse contexto, portanto, que os critérios de avalia-
fessor sobre as produções do aluno devem oferecer indi- ção devem ser compreendidos: por um lado, como apren-
cações claras para que este possa efetivamente melhorar. dizagens indispensáveis ao final de um período. Por ou-
Além disso, para a constituição da autonomia do aluno, tro, como referências que permitem – se comparados aos
coloca-se a necessidade de construção de instrumentos de objetivos do ensino e ao conhecimento prévio com que o
autoavaliação que lhe possibilitem a tomada de consciên- aluno iniciou a aprendizagem – a análise de seus avanços
cia sobre o que sabe, o que deve aprender, o que precisa ao longo do processo, considerando que as manifestações
saber fazer melhor e que favoreçam maior controle da ati- desses avanços não são lineares, nem idênticas, em dife-
vidade, a partir da autoanálise de seu desempenho. rentes sujeitos.
A avaliação não é, portanto, unilateral ou monológica, Finalmente, é necessário considerar que os critérios in-
mas dialógica. Deve realizar-se num espaço em que sejam dicados neste documento são adequados e úteis para ava-
considerados aquele que ensina, aquele que aprende e a
liar a aprendizagem de alunos submetidos a práticas edu-
relação intrínseca que se estabelece entre todos os partici-
cativas orientadas pelos princípios teóricos e metodológi-
pantes do processo de aprendizado.
cos aqui especificados. A adoção destes critérios pressupõe
Portanto, não se aplica apenas ao aluno, considerando
a adoção também dos objetivos propostos nos Parâmetros
unicamente as expectativas de aprendizagem, mas aplica-
Curriculares
-se às condições oferecidas para que isso ocorra: avaliar a
Nacionais e, às adaptações dos objetivos que cada
aprendizagem implica avaliar também o ensino oferecido.
equipe escolar julgar necessárias, precisam corresponder
adaptações dos critérios.
CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Os objetivos do ensino balizam a avaliação. São eles DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DA
que permitem a elaboração de critérios para avaliar a APRENDIZAGEM
aprendizagem dos conteúdos. Critérios claramente defini-
dos e compartilhados permitem tanto ao professor tornar - Demonstrar compreensão de textos orais, nos gêne-
sua prática mais eficiente pela possibilidade de obter indi- ros previstos para o ciclo, por meio de retomada dos tópi-
cadores mais confiáveis sobre o processo de aprendizagem cos do texto.
quanto permitem aos alunos centrar sua atenção nos as-
pectos focalizados, o que, em geral, confere a sua produ- Espera-se que o aluno realize, oralmente ou por es-
ção melhor qualidade. crito, retomadas de textos ouvidos (resumo, por exemplo),
Neste documento, serão apresentados critérios que de forma que sejam preservadas as ideias principais. Nes-
têm como referência os objetivos especificados para o se processo, devem ser considerados possíveis efeitos de
terceiro e quarto ciclos e representam as aprendizagens sentido produzidos por elementos não verbais e que sejam
imprescindíveis ao final desse período, possíveis e desejá- utilizados como apoio, quando for o caso, registros escritos
veis à imensa maioria dos alunos submetidos a um ensino realizados durante a escuta.
como o proposto. Não são, portanto, coincidentes com to-
das as expectativas de aprendizagem. Estas estão expressas - Atribuir sentido a textos orais e escritos, posicionan-
nos objetivos, cuja função é orientar o ensino. do-se criticamente diante deles.
Os critérios de avaliação referem-se ao que é neces-
sário aprender, enquanto os objetivos, ao que é possível Espera-se que o aluno, a partir da identificação do pon-
aprender. Os critérios não podem, de forma alguma, ser to- to de vista que determina o tratamento dado ao conteúdo,
mados como objetivos, pois isso representaria injustificável possa confrontar o texto lido com outros textos e opiniões,
rebaixamento da oferta de ensino e, consequentemente, a posicionando-se criticamente diante dele.
não garantia da conquista das aprendizagens consideradas - Ler de maneira independente textos com os quais te-
essenciais. nha construído familiaridade.

85
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
Espera-se que o aluno leia, sem que precise da ajuda Espera-se que o aluno produza textos considerando as
de terceiros, textos que demandem conhecimentos fami- finalidades estabelecidas, as especificidades do gênero e
liares, tanto no que se refere ao gênero quanto ao tema do suporte, os papéis assumidos pelos interlocutores, os
abordado. conhecimentos presumidos do interlocutor, bem como as
restrições impostas pelos lugares de circulação previstos
- Compreender textos a partir do estabelecimento de para o texto.
relações entre diversos segmentos do próprio texto e entre - Escrever textos coerentes e coesos, observando as
o texto e outros diretamente implicados por ele. restrições impostas pelo gênero.

Espera-se que o aluno, no processo de leitura, consiga Espera-se que o aluno produza textos, procurando ga-
articular informações presentes nos diferentes segmentos rantir: a relevância das informações em relação ao tema
de um texto e estabeleça relações entre o texto e outros e aos propósitos do texto; a continuidade temática; a ex-
aos quais esse primeiro possa se referir, mesmo que indire- plicitação de dados ou premissas indispensáveis à inter-
tamente, ainda que a partir de informações oferecidas pelo pretação; a explicitação de relações entre expressões pela
professor. utilização de recursos linguísticos apropriados (retomadas,
anáforas, conectivos). Espera-se, também, que o aluno sai-
- Selecionar procedimentos de leitura adequados a di- ba avaliar a pertinência da utilização de recursos que não
ferentes objetivos e interesses (estudo, formação pessoal, sejam próprios da modalidade escrita da linguagem, ana-
entretenimento, realização de tarefa) e a características do lisando possíveis efeitos de sentido produzidos por esses
gênero e suporte. recursos.
Espera-se que o aluno seja capaz de ajustar sua leitura - Redigir textos utilizando alguns recursos próprios do
a diferentes objetivos utilizando os procedimentos ade- padrão escrito relativos à paragrafação, pontuação e outros
quados leitura extensiva, inspecional, tópica, de revisão, sinais gráficos, em função do projeto textual.
item a item, consideradas as especificidades do gênero no
qual o texto se organiza e do suporte.
Espera-se que o aluno, ao redigir textos, coerentemen-
te com o projeto textual em desenvolvimento, saiba orga-
- Coordenar estratégias de leitura não-lineares utili-
nizá-los em parágrafos, estruturando adequadamente os
zando procedimentos adequados para resolver dúvidas na
períodos e utilizando recursos do sistema de pontuação e
compreensão e articulando informações textuais com co-
outros sinais gráficos.
nhecimentos prévios.

Espera-se que o aluno, ao realizar uma leitura, utilize - Escrever textos sabendo utilizar os padrões da escrita,
coordenadamente procedimentos necessários para a com- observando regularidades linguísticas e ortográficas.
preensão do texto. Assim, se realizou uma antecipação ou
inferência, é necessário que busque no texto pistas que Espera-se que o aluno empregue adequadamente os
confirmem ou não a antecipação ou inferência realizada. tempos verbais em função de sequências textuais; que es-
Da mesma forma, espera-se que o aluno, a partir da articu- tabeleça as relações lógico-temporais, utilizando adequa-
lação entre seus conhecimentos prévios e as informações damente os conectivos; e que faça a concordância verbal e
textuais, deduza do texto informações implícitas. nominal, inclusive em casos em que haja inversão sintática
ou distanciamento entre sujeito e verbo, desconsiderando-
- Produzir textos orais nos gêneros previstos para o -se os casos de concordância especial. Espera-se que o alu-
ciclo, considerando as especificidades das condições de no produza textos ortograficamente corretos, consideran-
produção. do casos não regulares apenas em palavras de frequência
alta, sabendo utilizar o dicionário e outras fontes impressas
Espera-se que o aluno produza textos orais, planejan- para resolver as dúvidas relacionadas às demais irregulari-
do-os previamente em função dos objetivos estabelecidos, dades.
com apoio da linguagem escrita e de recursos gráficos,
quando for o caso. Nesse processo, espera-se que sejam - Revisar os próprios textos com o objetivo de aprimo-
considerados os seguintes aspectos: as especificidades do rá-los.
gênero, os papéis assumidos pelos interlocutores na situa-
ção comunicativa, possíveis efeitos de sentido produzidos Espera-se que o aluno, tanto durante a produção dos
por elementos não verbais, a utilização da variedade lin- textos quanto após terminá-los, analise-os e revise-os em
guística adequada. Espera-se, ainda, que o aluno consiga função dos objetivos estabelecidos, da intenção comunica-
monitorar seu desempenho durante o processo de produ- tiva, e do leitor a que se destina, redigindo tantas versões
ção, em função da reação dos interlocutores. quantas forem necessárias para considerar o texto bem
escrito. Espera-se que, nesse processo, o aluno incorpore
- Redigir textos na modalidade escrita nos gêneros os conhecimentos discutidos e produzidos na prática de
previstos para o ciclo, considerando as especificidades das análise linguística.
condições de produção.

86
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
- Utilizar os conceitos e procedimentos constituídos na CHARTIER, A. M. e HEBRARD, J. Ler e escrever: entrando
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Espera-se que o aluno opere com os procedimentos Aprender e ensinar com textos dos alunos. São Paulo: Cor-
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gem (elaboração de inventário, classificação, comparação, CHIAPPINI, L. (coord. geral) e CITELLI, A. (coord.).
levantamento de regularidades, organização de registro), Aprender e ensinar com textos não escolares. São Paulo:
bem como utilize os conceitos referentes à delimitação e Cortez, 1997.
identificação de unidades, à compreensão das relações CHIAPPINI, L. (coord. geral); NAGAMINE, H. e MICHE-
estabelecidas entre as unidades e às funções discursivas LETTI, G. (coords.). Aprender e ensinar com textos didáticos
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87
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
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ção das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
no 5.452, de 1o de maio de 1943, e o Decreto-Lei no236, de
28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei no 11.161, de 5 de
agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à Imple-
mentação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Con-


gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
Art. 1o  O art. 24 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
“Art. 24.  ...........................................................  § 4o  Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar
horas para o ensino fundamental e para o ensino médio, outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, preferen-
distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo cialmente o espanhol, de acordo com a disponibilidade de
trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames oferta, locais e horários definidos pelos sistemas de ensino. 
finais, quando houver; § 5o  A carga horária destinada ao cumprimento da
.................................................................................  Base Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a
§ 1º  A carga horária mínima anual de que trata o in- mil e oitocentas horas do total da carga horária do ensino
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progressiva, médio, de acordo com a definição dos sistemas de ensino.  
no ensino médio, para mil e quatrocentas horas, devendo § 6o  A União estabelecerá os padrões de desempenho
os sistemas de ensino oferecer, no prazo máximo de cinco esperados para o ensino médio, que serão referência nos
anos, pelo menos mil horas anuais de carga horária, a partir processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional
de 2 de março de 2017.   Comum Curricular. 
§ 2o  Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de § 7o  Os currículos do ensino médio deverão conside-
educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular, rar a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
adequado às condições do educando, conforme o inciso VI trabalho voltado para a construção de seu projeto de vida
do art. 4o.” (NR)   e para sua formação nos aspectos físicos, cognitivos e so-
Art. 2o  O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de cioemocionais.  
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:   § 8o  Os conteúdos, as metodologias e as formas de
“Art. 26.  ........................................................... avaliação processual e formativa serão organizados nas
.................................................................................  redes de ensino por meio de atividades teóricas e práti-
§ 2o  O ensino da arte, especialmente em suas expres- cas, provas orais e escritas, seminários, projetos e ativida-
sões regionais, constituirá componente curricular obrigató- des on-line, de tal forma que ao final do ensino médio o
rio da educação básica. educando demonstre: 
.................................................................................  I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
§ 5o  No currículo do ensino fundamental, a partir do que presidem a produção moderna; 
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
.................................................................................  guagem.” 
§ 7o  A integralização curricular poderá incluir, a critério Art. 4o  O art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  
os temas transversais de que trata o caput. “Art. 36.  O currículo do ensino médio será composto
..................................................................................  pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerários for-
§ 10.  A inclusão de novos componentes curriculares de mativos, que deverão ser organizados por meio da oferta
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular de- de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância
penderá de aprovação do Conselho Nacional de Educação para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de en-
e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação.” sino, a saber:  
(NR)  I - linguagens e suas tecnologias; 
Art. 3o  A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, II - matemática e suas tecnologias; 
passa a vigorar acrescida do seguinte art. 35-A:   III - ciências da natureza e suas tecnologias;  
“Art. 35-A.  A Base Nacional Comum Curricular defini- IV - ciências humanas e sociais aplicadas; 
rá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, V - formação técnica e profissional.  
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, § 1º  A organização das áreas de que trata o caput e das
nas seguintes áreas do conhecimento:  respectivas competências e habilidades será feita de acor-
I - linguagens e suas tecnologias;  do com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino. 
II - matemática e suas tecnologias;  I - (revogado); 
III - ciências da natureza e suas tecnologias;  II - (revogado);
IV - ciências humanas e sociais aplicadas.   ................................................................................. 
§ 1o  A parte diversificada  dos  currículos  de  que  trata § 3º  A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
o caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, de- composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
verá estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular composição de componentes curriculares da Base Nacio-
e ser articulada a partir do contexto histórico, econômico, nal Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
social, ambiental e cultural.  considerando os incisos I a V do caput.
§ 2o  A Base Nacional Comum Curricular referente ao .................................................................................. 
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas § 5o  Os sistemas de ensino, mediante disponibilida-
de educação física, arte, sociologia e filosofia.  de de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do
§ 3o  O ensino da língua portuguesa e da matemática ensino médio cursar mais um itinerário formativo de que
será obrigatório nos três anos do ensino médio, assegu- trata o caput.  
rada às comunidades indígenas, também, a utilização das § 6o  A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for-
respectivas línguas maternas.    mação com ênfase técnica e profissional considerará: 

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor Art. 6o  O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  
parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumen- “Art. 61.  ...........................................................
tos estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem pro- ................................................................................. 
fissional;  IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
II - a possibilidade de concessão de certificados in- respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos
termediários de qualificação para o trabalho, quando a de áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
formação for estruturada e organizada em etapas com ter- atestados por titulação específica ou prática de ensino em
minalidade.   unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
§ 7o  A oferta de formações experimentais relaciona- corporações privadas em que tenham atuado, exclusiva-
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem do mente para atender ao inciso V do caput do art. 36; 
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para V - profissionais graduados que tenham feito comple-
mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
sua continuidade, do reconhecimento pelo respectivo
Nacional de Educação.
Conselho Estadual de Educação, no prazo de três anos, e
........................................................................” (NR) 
da inserção no Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no
Art. 7o  O art. 62 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de
prazo de cinco anos, contados da data de oferta inicial da
1996, passa a vigorar com as seguintes alterações:  
formação.   “Art. 62.  A formação de docentes para atuar na edu-
§ 8o  A oferta de formação técnica e profissional a que cação básica far-se-á em nível superior, em curso de licen-
se refere o inciso V do caput, realizada na própria insti- ciatura plena, admitida, como formação mínima para o
tuição ou em parceria com outras instituições, deverá ser exercício do magistério na educação infantil e nos cinco
aprovada previamente pelo Conselho Estadual de Educa- primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em ní-
ção, homologada pelo Secretário Estadual de Educação e vel médio, na modalidade normal.
certificada pelos sistemas de ensino.   .................................................................................. 
§ 9o  As instituições de ensino emitirão certificado com § 8º  Os currículos dos cursos de formação de docen-
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino tes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular.”
médio ao prosseguimento dos estudos em nível superior (NR) 
ou em outros cursos ou formações para os quais a conclu- Art. 8o  O art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho
são do ensino médio seja etapa obrigatória.   - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de
§ 10.  Além das formas de organização previstas no art. 1943, passa a vigorar com a seguinte redação: 
23, o ensino médio poderá ser organizado em módulos e “Art. 318.  O professor poderá lecionar em um mesmo
adotar o sistema de créditos com terminalidade específica.  estabelecimento por mais de um turno, desde que não
§ 11.  Para efeito de cumprimento das exigências cur- ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida le-
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão galmente, assegurado e não computado o intervalo para
reconhecer competências e firmar convênios com institui- refeição.” (NR) 
ções de educação a distância com notório reconhecimen- Art. 9o  O caput do art. 10 da Lei no 11.494, de 20 de
to, mediante as seguintes formas de comprovação:   junho de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso
I - demonstração prática;  XVIII:  
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra “Art. 10.  ...........................................................
experiência adquirida fora do ambiente escolar;  ................................................................................. 
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou- XVIII - formação técnica e profissional prevista no inci-
so V do caput do art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro
tras instituições de ensino credenciadas; 
de 1996.
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu-
........................................................................” (NR) 
pacionais; 
Art. 10.  O art. 16 do Decreto-Lei no 236, de 28 de feve-
V - estudos realizados em instituições de ensino na-
reiro de 1967, passa a vigorar com as seguintes alterações: 
cionais ou estrangeiras;  “Art. 16.  ...........................................................
VI - cursos realizados por meio de educação a distân- ................................................................................. 
cia ou educação presencial mediada por tecnologias.   § 2o  Os programas educacionais obrigatórios deverão
§ 12.  As escolas deverão orientar os alunos no proces- ser transmitidos em horários compreendidos entre as sete
so de escolha das áreas de conhecimento ou de atuação e as vinte e uma horas. 
profissional previstas no caput.” (NR)  § 3o  O Ministério da Educação poderá celebrar convê-
Art. 5o  O art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de nios com entidades representativas do setor de radiodifu-
1996, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3o:   são, que visem ao cumprimento do disposto no caput, para
“Art. 44.  ........................................................... a divulgação gratuita dos programas e ações educacionais
..................................................................................  do Ministério da Educação, bem como à definição da forma
§ 3o  O processo seletivo referido no inciso II conside- de distribuição dos programas relativos à educação básica,
rará as competências e as habilidades definidas na Base profissional, tecnológica e superior e a outras matérias de
Nacional Comum Curricular.” (NR)   interesse da educação.  

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa
§ 4o  As inserções previstas no caput destinam-se ex- § 3o  Os recursos transferidos nos termos do caput pode-
clusivamente à veiculação de mensagens do Ministério da rão ser aplicados nas despesas de manutenção e desenvol-
Educação, com caráter de utilidade pública ou de divulga- vimento previstas nos incisos I, II, III, V e VIII do caput do art.
ção de programas e ações educacionais.” (NR)  70 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, das escolas
Art. 11.  O disposto no § 8o do art. 62 da Lei no 9.394, públicas participantes da Política de Fomento.
de 20 de dezembro de 1996, deverá ser implementado no § 4o  Na hipótese de o Distrito Federal ou de o Estado
prazo de dois anos, contado da publicação da Base Nacio- ter, no momento do repasse do apoio financeiro suplementar
nal Comum Curricular.  de que trata o caput, saldo em conta de recursos repassados
Art. 12.  Os sistemas de ensino deverão estabelecer anteriormente, esse montante, a ser verificado no último dia
cronograma de implementação das alterações na Lei no do mês anterior ao do repasse, será subtraído do valor a ser
9.394, de 20 de dezembro de 1996, conforme os arts. 2o, repassado como apoio financeiro suplementar do exercício
3o e 4o desta Lei, no primeiro ano letivo subsequente à data corrente.
de publicação da Base Nacional Comum Curricular, e iniciar § 5o  Serão desconsiderados do desconto previsto no §
o processo de implementação, conforme o referido crono- 4o os recursos referentes ao apoio financeiro suplementar, de
grama, a partir do segundo ano letivo subsequente à data que trata o caput, transferidos nos últimos doze meses.
de homologação da Base Nacional Comum Curricular.   Art. 15.  Os recursos de que trata o parágrafo único do art.
Art. 13.  Fica instituída, no âmbito do Ministério da 13 serão transferidos pelo Ministério da Educação ao Fundo
Educação, a Política de Fomento à Implementação de Esco- Nacional do Desenvolvimento da Educação - FNDE, indepen-
las de Ensino Médio em Tempo Integral. dentemente da celebração de termo específico.   
Parágrafo único.  A Política de Fomento de que trata Art. 16.  Ato do Ministro de Estado da Educação disporá
o caput prevê o repasse de recursos do Ministério da Edu- sobre o acompanhamento da implementação do apoio finan-
cação para os Estados e para o Distrito Federal pelo prazo ceiro suplementar de que trata o parágrafo único do art. 13.
de dez anos por escola, contado da data de início da imple- Art. 17.  A transferência de recursos financeiros prevista
mentação do ensino médio integral na respectiva escola, no parágrafo único do art. 13 será efetivada automaticamen-
te pelo FNDE, dispensada a celebração de convênio, acordo,
de acordo com termo de compromisso a ser formalizado
contrato ou instrumento congênere, mediante depósitos em
entre as partes, que deverá conter, no mínimo:
conta-corrente específica. 
I - identificação e delimitação das ações a serem finan-
Parágrafo único.  O Conselho Deliberativo do FNDE dis-
ciadas;
porá, em ato próprio, sobre condições, critérios operacionais
II - metas quantitativas;
de distribuição, repasse, execução e prestação de contas sim-
III - cronograma de execução físico-financeira;
plificada do apoio financeiro.
IV - previsão de início e fim de execução das ações e da
Art. 18.  Os Estados e o Distrito Federal deverão fornecer,
conclusão das etapas ou fases programadas.  sempre que solicitados, a documentação relativa à execução
Art. 14.  São obrigatórias as transferências de recursos dos recursos recebidos com base no parágrafo único do art.
da União aos Estados e ao Distrito Federal, desde que cum- 13 ao Tribunal de Contas da União, ao FNDE, aos órgãos de
pridos os critérios de elegibilidade estabelecidos nesta Lei controle interno do Poder Executivo federal e aos conselhos
e no regulamento, com a finalidade de prestar apoio fi- de acompanhamento e controle social. 
nanceiro para o atendimento de escolas públicas de ensino Art. 19.  O acompanhamento e o controle social sobre a
médio em tempo integral cadastradas no Censo Escolar da transferência e a aplicação dos recursos repassados com base
Educação Básica, e que:   no parágrafo único do art. 13 serão exercidos no âmbito dos
I - tenham iniciado a oferta de atendimento em tempo Estados e do Distrito Federal pelos respectivos conselhos pre-
integral a partir da vigência desta Lei de acordo com os vistos no art. 24 da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007. 
critérios de elegibilidade no âmbito da Política de Fomento, Parágrafo único.  Os conselhos a que se refere o caput ana-
devendo ser dada prioridade às regiões com menores ín- lisarão as prestações de contas dos recursos repassados no
dices de desenvolvimento humano e com resultados mais âmbito desta Lei, formularão parecer conclusivo acerca da
baixos nos processos nacionais de avaliação do ensino mé- aplicação desses recursos e o encaminharão ao FNDE.
dio; e  Art. 20.   Os recursos financeiros correspondentes ao
II - tenham projeto político-pedagógico que obedeça apoio financeiro de que trata o parágrafo único do art. 13
ao disposto no art. 36 da Lei no 9.394, de 20 dezembro de correrão à conta de dotação consignada nos orçamentos do
1996. FNDE e do Ministério da Educação, observados os limites de
§ 1o  A transferência de recursos de que trata movimentação, de empenho e de pagamento da programa-
o caput será realizada com base no número de matrículas ção orçamentária e financeira anual.
cadastradas pelos Estados e pelo Distrito Federal no Censo Art. 21.  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Escolar da Educação Básica, desde que tenham sido aten- Art. 22.  Fica revogada a Lei no 11.161, de 5 de agosto de 2005.
didos, de forma cumulativa, os requisitos dos incisos I e II Brasília, 16 de fevereiro de 2017; 196o da Independência
do caput. e 129o da República.
§ 2o  A transferência de recursos será realizada anual- MICHEL TEMER
mente, a partir de valor único por aluno, respeitada a dis- José Mendonça Bezerra Filho
ponibilidade orçamentária para atendimento, a ser definida Este texto não substitui o publicado no DOU de 17.2.2017
por ato do Ministro de Estado da Educação.

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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Professor – Língua Portuguesa

ANOTAÇÕES

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Professor – Língua Portuguesa

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