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A evolugao do sistema interamericano de protecao dos direitos humanos: avaliagao critica Antésro Aucusto Cangano TRINDADE PhD. (Cambridge), Professor da Univer- stdade de Brasilia e do Instituto Rio Branco (Itamaraty); Chefo do Departa- mento de Cigncia Politica e Relag6es In- ternacionais da Universidade de Brasilia, Assessor Juridico do Eseritério da ONU em Genebra, Um exame do “impacto” de tratados e instrumentos internacionais nas relagdes interamericanas no campo da protecdo internacional dos direitos humanos poderé trazer-nos revelagdes interessantes. Mesmo se tomarmos como ponto de referéncia inicial a Declaragéo Americana de Direitos Humanos, adotada em abril de 1948, oito meses antes da De- clarag&o Universal de Direitos Humanos (de 10 de dezembro de 1948), constatamos ter sido ela precedida ou acompanhada de instrumentos de contetdo e efeitos juridicos varidveis, geralmente voltados pata determi- Nadas situagdes ou categorias de direitos: 6 o caso de convencées sobre direitos de estrangairos e de cidadaos naturalizados (*), convengédes sobre asilo (?), convenges sobre direitos da mulher (*), da Carta Americana de Garantias Sociais (também de abril de 1948), assim como 6 também o caso de resolugdes adotadas em Conferéncias interamericanas sobre as- pectos distintos da proteg&o dos direitos humanos (*) e declaracées da- quelas Conferéncias contendo alusées & tematica dos direitos humanos (°). (1) Convengéo sobre Direites dos Estrangelros (1802), Convencto sobre o Status de Cidadtos Naturallzados {1908), ‘Convengtio sobre ta ‘Treaties and Con Washington, ‘Sect (2) Convenglo sob do 1048, 50. Sobre erica Latina, of, international Commission of ‘Jutlsts, The Application tx Latin America of International Declarations ‘and Conventlone Relating to Asylum, Genova, IGJ, 1973, pp. 1-84. (3) Gonvengaes_Interamericanas sobre Direltos Politicos @ Civis da Mulner (mala de 1048); cf, OEA, Inter-American Treaties and..., op. eft, pp. 47-48, (A) Eg, a8 resolugbex XXVI! (liberdade do Informagso), XXVII! (direitos da mulher), XLL_(Aigoriminagko racial), LY (carta da mulher © da crlanga), e LVI (questées socials), da Confarénela de Chapultepec (México, 1945); ct. PEDRO PABLO CAMARGO, La Protecclén Juridica. de loa Derechos Humanox "de. la Domocracia’ en América, México, Cla. Ed. Excelsior, 1960, p. 162. Posterlormonte & Doclaragdo Americana de. Diellos Humencs de 1948, cle-se, 0.9. XVII (For ‘do Protagdo doa Direites Humends) da Gonteréncia if Meld, pp. 165-188, (5) Eg. a “declara¢io do México” (1945) refetindo, dentro os direitos humanoa, nildsdes; a “Dociaraclo de Principlos Soclals da América” (contida na Rosolugto Li de Chapultepec de 1948);"e, apés a Declaragio Americana do Dilreltos Humans de 1948, 9 "Declare Glo de Caracas” (1958) sobre fortalecimento dos direitos humanos como melo de tobuslecer as institulgses democrdlicas nos Estados emericanos. Ct. Wd., pp. 161-182 © 185. Re Inf. legisl. Br lia a. 19 n. 73 jan./mar, 1982 107 Temos, assim, nesses passos iais, uma mescla de instrumentos variando desde os obrigatérios aos puramente recomendatérios, em sua maior parte voltados para determinados aspectos da protegdo dos direi- tos individuais no continente americano. Curiosamente, foi uma resalugao de Conferéncia Interamericana, a de Lima de 1938, resolugao hoje con- siderada como um verdadeiro “antecedente proximo” da Declaracéo Ame- ticana de Dire:tos Humanos de uma década apés, que, pela “primeira vez, durante uma conteréncia pan-americana, discute de maneira direta © tema dos direitos humanos, recomendando medidas conjuntas para sua salvaguarda’” (°), ainda que desprovida de efeitos mandatérios. Mesmo tendo em mente o sistema regional da OEA de protegéo dos direitos humanos hoje existente, o objetivo ideal seria naturalmente a ga- rantia dos direitos humanos através de tratados ou convengdes devida- mente ratificados, mas pode bem ocorrer que instrumentos outros que tratados, mais flexiveis e no incorporando obrigagées juridicas stricto sensu, desfrutem da preferéncia de alguns governos em determinadas épocas e regides. O fato de que esta hoje em vigor, em nosso continente, a Convengao Americana sobre Direitos Humanos, nao nos pode fazer esquecer de que o proprio mecanismo regional de protegao dos diretos humanos no continente americano incorporou-se, em suas origens, em instrumentos outros que tratados. € 0 caso da Comissao interamericana de Direitos Humanos, fruto originalmente nao de um tratado, mas de uma resolugao: a Resolucao VIII da Quinta Reuniao de Consulta dos Ministros de Relagées Exteriores (Santiago, 1959), estabelecendo uma Comissao (Estatuto de 1960) de man- dato limitado @ promogao dos direitos humanos, e desfrutando de posigao sul generis dentro do sistema da OEA. Ora, ao criar a Comissdo Intera- mericana de Direitos Humanos, a Reuniao de Consulta, concebida origi- nalmente como érgéo de consulta para “problemas de natureza urgen- te” (') afetando a paz e seguranga continentais, de certo modo ampliava sua competéncia ratione materiae, exercendo, pela primeira vez, desde a adogao da Carta de Bogota, o “poder de institucionalizagdo” (*), reser- vado pela Carta da OEA (artigo 33) 4 Conferéncia Interamericana (°). A prépria Comissao Interamericana de Direitos Humanos, uma vez criada, passou a assumir postura semethante, cedo batendo-se por uma ampliagéo de sua competéncia. Assim, por exemplo, a XIII Reuniao de Consulta de Ministros das Relagdes Exteriores (Punta del Este, 1962), através de outra resolugao — a Resolugao IX —, recomendou ao Conse- lho da OEA a emenda do Estatuto da Comissao Interamericana de Direi- tos Humanos no sentido de ampliar suas atribuigdes e poderes. Foi o (6) DIEGO URIBE VARGAS. Le Derechos Hemanoe ya! Slteme intermarcene, Madtid, Ed. Cultura Hispaniea, 1972, pp. 127-128. Cf. também P. P. CAMARGO, op. ct, p. 100. Grranlges goa? de Cara du OCA taney be wlomen go Proeele Go Buanes Aken do 1967). KAREL VASAK, La Commission Interaméricaine des Drolts de I'Homme, LGDJ, 1968, pp. 38-99. Segundo acusle cascttyo (ation 39 da Carts de OEA. anaror Bs relomes do Prlacola do ‘Aires. do 1967), "a'Contortnla.Interamericana $0 eupremo da OEA. Ela decide « ago Griontsoto gereis a Orpanzecto, determina’ esiuture fungben ds. seus Ofgtos tem ‘acu ara contiderar qualquer assunta’rolativo & convivéncla dos Estados amaricanos, EXstcers Dulgées de acordo com o diaposio nesta Carta e er oulros tratedos Interamaricanca’. ‘ c sez 108 R, int, legisl, Brasilia o. 19 n. 73 jen/mer. 1982 que veio a ocorrer na Il Conferéncia Interamericana Extraordinéria (Rio de Janeiro, 1965), que, pela Resolugao XXII, ampliou os poderes da Co- misséo para inclusive receber petigdes ou comunicagées sobre violagdes de direitos humanos (1). Assim, os poderes da Comissdo passaram a compreender o sistema de relatérios (de tipos distintos, como relatérios de sessées, relatérios anuais e relatérios sobre determinados paises), 0 exame de comunica- Ges, visitas a Estados (com sua aquiescéncia), e preparo de estudos e semindrios. Seus poderes — originalmente limitados — expandiram-se mediante um processo de interpretagao (11). O fato de que seus membros agiram em sua capacidade individual — e nao como representantes das chancelarias de seus paises — certamente favoreceu a interpretacao li- beral e ampla do Estatuto e Regulamento da Comissao ('?). O impacto da atuag&o da Comissdo se tem feito sentir na coleta uso de dados obtidos de governos. Se estes se mostram dispostos a cooperar, a Comissao conduz os seus trabalhos sem publicidade; se se recusam a cooperar, a Comissao decide publicar as informagoes obtidas; 0 risco de assim se exporem tem persuadido alguns governos a coope- rar com a Comisséo de modos diversos, e esta tem logrado obter algum sucesso no ‘evantamento de dados sobre violagées de direitos huma- nos (%). Ainda nos primeiros anos de sua existéncia, ademais, a Comissdo foi mais além, ja como 6rgao de proteg&o dos direitos humanos: no caso da Repiblica Dominicana (1965-1966), a Comissao transformou-se em verdadeiro érgéo de ago, operando continuamente naquele pals por mais de um ano, ultrapassando em muito suas atribuigdes de érgao de observagdo e recomendagdo; tal acdo, sem precedentes, amptiou ainda mais sua competéncia, mediante um processo de interpretagdo liberal e extensiva de seus poderes (artigos 9 e 3 do Regulamento) (**). Assim, a Comissao, a par do s'stema de investigagao in loco de si- tuagdes com o consentimento dos Estados visitados, atuava pela primeira vez, com a extenso de seus poderes em 1965, em uma situagao de guerra civil na Republica Dominicana, por um periodo longo e continuo. Quatro anos apés, durante o conflito armado entre Honduras e El Salvador em 1969, membros da Comiss4o permaneceram naqueles paises por um pe- rfodo de aproximadamente quatro meses (’). Nesse estdgio, no mais (10) fadiclonais da Gomlesto #9 Inoorporaram no novo artigo 9 (bls) de sou Estatuto. (11) ANNA P, SCHREIBER, The Inter-American Commission on Human Rights, Leyden, Sijtnolt, 1970, pp. 87 185, 9 ot. p. 147. 2, UES, Meamo assim tomo» membros de, Comissto sido cuidadotoe no sortdo de no io inctat'cm seus poderes 0 de procader a invesiga;tes sobre viclagbes Se Sireton ‘révia eutotizagto Go Estedo om quenidc), a fim de rho antegonizar governas que, de stariam diepostos ® coopera; Wid, pp. 65-46. 03 9) {14 KAREL VABAK, La Commision iteemdriaie:-.. op, of; op O6:160: ANNA P. SCHREIBER, Te Inter-American Commission. PP. ect: record'so ave inte. da, Comlatio Ja ‘qualquer pats roquerem soit er ‘natoria sbeotutn do smbrot @ consentimento prsvio do Severna om “aventtoy ne ‘Bominionna, cada memsro da Gomieelo agia come a0 retivense, 2 autoridade da Comsat (18) 8, WOOD, “iuman Rape and the intwedmeteay Syetae”, The Pure of the Intrcmatcan 8ysten on), New York, Praeger, 1978, p. 126. R. Inf. legisl, Brasitia o, 19 n. 73 jam./mer, 1982 109

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