ANÁLISE DE FATORES DE RISCO EM MARCENEIROS DURANTE A

UTILIZAÇÃO DA LIXADEIRA DE BANCADA E SERRA CIRCULAR

Resumo: O estudo objetivou detectar e avaliar os fatores de riscos biomecânicos nos membros superiores e tronco de
três marceneiros do sexo masculino, destros, idade média 48,66 anos (± 6,11) utilizando as máquinas: Lixadeira de
Bancada e Serra Circular. Foram avaliados aspectos ambientais de uma marcenaria além de uma análise subjetiva que
verificou o nível de cansaço e dor em uma escala de zero a dez e uma análise postural através dos protocolos RULA e
RARME durante a execução das tarefas: cortar, lixar superfícies e arredondar bordas. Observou-se diversos riscos:
ausência de pausas, descontrole sobre o ritmo de trabalho; as ferramentas exigem posturas extremas e transmitem
vibração; há presença de ruídos e partículas em suspensão e a análise postural demonstrou alto risco nas tarefas
analisadas. Foram sugeridas intervenções incluindo a proposta de uma nova ferramenta para reduzir a exposição aos
riscos ocupacionais.
Palavras Chave: marceneiros, riscos biomecânicos, postura.

Abstract: The purpose of this study was to detect and asses the biomechanical risks in the upper limbs and trunk of
three right handed cabinet-makers, average age 48,66 years old (± 6,11), while using the machines: Wide Belt Sand
Machine and Table Saw. Environmental aspects of a cabinet maker’s workshop were assessed, a subjective analysis
that checked the pain and tiredness in a 0-10 scale was done and a postural analysis with the protocols RULA and
RARME during the execution of the tasks: Cut, Sand Surfaces and Sand Edges was done. Diverse risks were observed:
absence of pauses; lack of control over the work rhythm; the tools demand extreme postures and transmit vibration;
there are, in the workplace, noises and dust; and the postural analysis demonstrated high risk in the analyzed tasks.
Proposals of intervention were done in order to reduce the exposition to the occupational risks.
Keywords: cabinet-makers, biomechanical risks, posture

INTRODUÇÃO
No Brasil, onde o trabalho em marcenarias é
amplamente executado, observa-se que
marceneiros executam atividades variadas e fazem
uso de equipamentos inadequados os que os
deixam expostos a diversos riscos biomecânicos e
acidentes no trabalho.
Além disso, nesse ambiente ocupacional há
exposição a ruídos e partículas em suspensão por
um período prolongado, assim como outros
fatores adversos relacionados ao ambiente como
luminosidade, ventilação e organização das
ferramentas e mobília que afetam diretamente a
produtividade do trabalhador.
Várias das atividades realizadas
marcenarias expõem seus trabalhadores a riscos
biomecânicos, sendo um deles a adoção de
posturas extremas associadas ao uso de força e
movimentos repetitivos que podem levar a lesões
por traumas cumulativos podendo estes ocasionar
os incapacidade funcional dos membros superiores
[1]. Outro risco presente envolve manuseio de
materiais que tem sido comumente associado a
alterações músculo-esqueléticas da coluna lombar
[2].
O manuseio de materiais, emprego de
forças e movimentos repetitivos são freqüentes no
trabalho em marcenarias, sendo estes responsáveis
pelas queixas de dor nos membros superiores e
tronco relatadas pelos trabalhadores da área.
O presente estudo se faz relevante por ser
comum a ocupação de marceneiro no Brasil e por
em este estar exposto a fatores de riscos ambientais e
biomecânicos que são passíveis de intervenções,
melhorando assim sua produtividade e qualidade
de vida.
 Assim, foram avaliados aspectos ambientais
de uma marcenaria além de uma análise subjetiva
que verificou o nível de cansaço e dor e uma
análise postural através dos protocolos RULA e
RARME durante a utilização das máquinas:
Lixadeira de Bancada e Serra Circular.
O estudo objetivou detectar e avaliar os
fatores de riscos biomecânicos nos membros
superiores e tronco de marceneiros.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram observados 3 marceneiros destros, do
sexo masculino, com idade média de 48,66 anos
(± 6,11) e altura média de 1,68 m (±0,15). Os
trabalhadores estão submetidos a uma carga
horária de 10 horas diárias de segunda a sexta
com 1 hora de almoço e 4 horas de trabalho aos
sábados, não havendo pausas (exceto horário de
almoço).
Os marceneiros executam onze tarefas
diversificadas com demanda variável que incluem
a operação de seis diferentes máquinas, além das
atividades de colar, pintar, lixar manualmente,
montar e instalar móveis. Todas as tarefas são
realizadas na posição ortostática e os voluntários
não possuem controle sobre o ritmo de trabalho.
Os critérios de inclusão foram: aceitar
participar do projeto, assinando um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido; estar
trabalhando regularmente na marcenaria escolhida
por mais de seis meses e operar todas as máquinas
presentes no estabelecimento estudado.
Ao observar a marcenaria estudada
constatou-se que as ferramentas e as máquinas
estão organizadas adequadamente pela oficina. O
local é bem iluminado e ventilado, porém possui
grande quantidade de partículas em suspensão
uma vez que quase todas as máquinas têm como
subproduto pó de serra; todos os equipamentos
produzem ruídos contínuos e incômodos. No
ambiente de trabalho não foi encontrada nenhuma
mobília para sentar-se.
Verificou-se que todos os produtos
fabricados na marcenaria passam
obrigatoriamente pela Lixadeira de Bancada e
Serra Circular o que pode ser confirmado através
da quantificação do tempo despendido na
utilização destes, sendo 2 horas e meia e 6 horas
respectivamente. Das onze atividades realizadas
na marcenaria, 30% do tempo total da jornada de
trabalho de cada marceneiro é utilizado operando
as duas máquinas analisadas neste estudo, sendo
20% gasto na Serra Circular e 10% na Lixadeira
de Bancada.
A Lixadeira de Bancada é um equipamento
composto por uma bancada móvel que possui um
puxador em sua margem e uma lixa em forma de
correia que gira continuamente, em alta
velocidade através de duas polias. Essa máquina
permite que se executem duas tarefas distintas:
arredondar bordas, realizada na parte superior da
lixa e lixar superfícies executada na parte inferior.
Nesta última, utiliza-se uma ferramenta
denominada pressionador para empurrar a lixa
contra a madeira e simultaneamente realizam-se
movimentos repetitivos de puxar e empurrar a
bancada móvel sobre a qual está a madeira, de
forma a fazer com que a lixa alcance toda a
superfície da peça (Figura 1).
A Serra Circular é um equipamento
composto por um corredor de segurança
delimitado por duas barras de ferro e por uma
serra que gira automaticamente ao ser ativada. A
tarefa de cortar consiste em empurrar a placa de
madeira ou folhas de fórmica sobre a máquina
contra a serra (Figura 1).
Para avaliar a impressão pessoal de cada
marceneiro em relação ao seu trabalho foi
elaborado um questionário subjetivo em forma de
entrevista o qual analisava o nível de cansaço e
dor (escala de zero a dez) durante a execução das
diversas atividades da marcenaria.
Os protocolos de análise biomecânica
utilizados foram o RULA (método de averiguação
de riscos de disfunções relacionadas ao esforço
repetitivo, com ênfase nos membros superiores) e
o RARME (Roteiro para Avaliação de Riscos
Músculo-Esqueléticos) aplicados no ambiente de
Pressionador
Bancada móvel
Figura 1 – Atividades de arredondar bordas (esquerda), lixar superfícies (centro) e cortar (direita)
RESULTADOS
A partir do questionário subjetivo
constatou-se uma correlação entre os níveis de
cansaço e dor em todas as tarefas realizadas,
sendo que na operação da Lixadeira de Bancada
as médias dos valores obtidos foram 9 e 7
respectivamente e na Serra Circular os valores
foram 6,66 e 5,33 respectivamente.
trabalho a todas as situações analisadas.
O RARME classifica as atividades da
seguinte maneira: 0 a 6 pontos não há presença de
risco; 6,5 a 12 pontos, baixo risco; 12,5 a 18
pontos, médio risco e mais de 18 pontos, atividade
de alto risco.
Já o RULA considera as seguintes
contagens: 1 ou 2 indica postura aceitável; 3 ou 4
é necessário investigação cuidadosa; 5 ou 6 requer
investigação adicional e medidas de controle
podem ser necessárias, e 7 ou mais requer
investigação e medidas de controle
imediatamente.
Corredor de
segurança
Através do RARME observou-se um alto
risco para todas as tarefas analisadas (Figura 2).
Na aplicação do RULA verificaram-se
médias iguais ou maiores que 7 para ambos os
membros em todas as tarefas estudadas, havendo
necessidade de investigação e medidas de controle
imediatas.
 na análise e posterior intervenção. Ele fornece
23,1 20,8

Pontuação no RARME
25 19,1 diferentes níveis de risco para diversas faixas de
20
15 amplitude de movimento. Já o protocolo RARME
10
considera faixas amplas de amplitude de
5
0 movimento e não detalha os movimentos das
Lixar Cortar Arredondar Bordas articulações estudadas fornecendo apenas uma
faixa de risco, porém considera fatores ambientais
Figura 2 – Média das pontuações das atividades além de avaliar a presença de preensão.
com o RARME Todos os métodos de avaliação
(questionário subjetivo, protocolos RULA e
DISCUSSÃO RARME), quando associados, proporcionam uma
visão global da problemática, unindo abordagens
O presente estudo buscou analisar a biomecânicas, ambientais e subjetivas.
exposição a riscos ocupacionais de três A partir dos resultados observou-se que as
trabalhadores de uma determinada marcenaria. três tarefas analisadas (cortar, lixar superfícies e
O questionário subjetivo avaliou arredondar bordas), expõem os trabalhadores a um
principalmente os desconfortos causados após alto risco devido a posturas extremas de tronco,
operarem os equipamentos, assim como os níveis pescoço, ombro, cotovelo, punho e/ou dedos, além
de cansaço e dor após realizarem cada tarefa. de fatores ambientais (ruído, vibração, partículas
A operação de ambas as máquinas em suspensão).
ocasionou altos níveis de cansaço e dor, porém na Avaliando-se os riscos biomecânicos do
Lixadeira de Bancada estes se mostraram maiores, tronco tem-se que a permanência na postura ereta
provavelmente devido a alta demanda cognitiva e durante longos períodos causa uma sobrecarga nos
alta repetitividade de movimentos exigidos pela discos intervertebrais que é agravada durante a
tarefa de lixar superfícies. flexão, lateralização e rotação do tronco [3, 4].
Os protocolos RULA e RARME foram Através de ambos os protocolos, RULA e
escolhidos por englobar principalmente os RARME, foram avaliadas as posturas de risco
aspectos biomecânicos dos membros superiores e para os ombros em que se observou diversas
tronco, além de considerar forças estáticas situações potencialmente lesivas, variando o risco
empregadas e a repetitividade. A necessidade do conforme a atividade. A tarefa de arredondar
emprego de ambos os protocolos deve-se as bordas exige posturas incorretas dos ombros,
diferentes abordagens destes. como braços abduzidos e/ou elevados que podem
O protocolo RULA é mais específico, uma levar a lesões [1]. Quanto aos riscos nas demais
vez que analisa separadamente os membros tarefas, um estudo prospectivo avaliando
superiores detalhando as amplitudes de associações entre tarefas de empurrar e puxar
movimento das articulações do ombro, cotovelo, objetos com sintomas no ombro constatou
punho, tronco e pescoço. A dissociação dos prevalência de dor em trabalhadores que exerciam
membros superiores permite uma maior precisão estas tarefas com objetos pesados [5].
 Com relação à articulação do cotovelo podem ser passivas e ativas, sendo que nestas
constituem-se fatores de risco: flexão ou extensão últimas a atividade proposta seriam alongamentos
sustentadas do antebraço e cruzamento da linha do membro superior feitos na posição sentada.
média ou afastamento lateral do mesmo [6]. Para que as pausas sejam instituídas é necessário
Posturas extremas com ângulo articular próximo à que se altere o ambiente de trabalho acrescentando
amplitude de movimento final acarretam a a ele cadeiras de preferência com encosto;
sobrecarga nos ligamentos, podendo comprimir - deve-se estipular um rodízio de tarefas a cada
vasos sangüíneos e afetar nervos pela tração [7]. duas horas [1];
Diante desses fatores observa-se que este - para reduzir a vibração e melhorar a “pega”
segmento está exposto a diversos riscos em todas algumas modificações podem ser feitas no
as tarefas analisadas. pressionador da lixadeira de bancada, como
As posições extremas do punho como incluir uma abertura no corpo do cabo que deverá
desvio radial, ulnar e flexo-extensão podem levar conter bordas arredondadas e ser revestido com
a inflamações das bainhas dos tendões além de ser um material de borracha semi-rígida, conforme
a variável mais significativa para redução na força visto na Figura 3.
de preensão [1]. Assim, os marceneiros estão
expostos a grandes riscos de acometimentos
músculo-esqueléticos neste segmento durante a
manipulação de ambas as máquinas.
Muitos dos problemas constatados são
passíveis de intervenção o que levariam a
Figura 3 – Pressionador modificado
melhores condições de trabalho, possivelmente
maior produtividade e melhor qualidade de vida.
- pode-se acrescentar um pressionador com
Algumas propostas de intervenção são:
aproximadamente 500g para ser aplicado sobre
- visto que todos os equipamentos de marcenaria
superfícies grosseiras o que reduz a necessidade
expõem seus trabalhadores a ruídos de volume
do emprego de força para abaixar a lixa sobre este
alto e contínuo, além de uma grande quantidade
tipo de superfície. A superfície do pressionador
de pó de serra, faz-se importante o uso de
que fica em contato com a lixa deverá ser de um
protetores auriculares e máscaras protetoras para
material com menor coeficiente de atrito para
as vias aéreas;
diminuir a força horizontal aplicada na atividade;
- ao operar a Serra Circular existe o risco de
- adotar um tablado removível que eleve o
liberar farpas de madeira que podem atingir os
trabalhador na tarefa de arredondar bordas,
olhos do trabalhador, sendo assim, é essencial a
ajustando-o à altura da máquina permitindo que a
utilização de óculos de proteção durante a
madeira lixada fique abaixo da altura do ombro;
atividade de cortar.
- realizar a manutenção periódica do sistema de
- devem-se instituir pausas de 10 a 15 minutos a
deslizamento da bancada móvel mantendo a sua
cada hora, pois o trabalho exige força excessiva,
lubrificação adequada além de emborrachar seu
repetitividade e posturas extremas [1]. Estas
puxador a fim de reduzir a vibração e melhorar a
estabilidade da pega;
- colocar uma superfície antiderrapante no local de
operação da Lixadeira de Bancada e da Serra
Circular para reduzir o esforço ao executar a
tarefa de empurrar, pois a força horizontal
máxima inicial no ato de empurrar é maior num
piso com alto coeficiente de atrito [8].
[3] Padula, R. S. Análise cinesiológica e
biomecanica de atividades de manuseio de carga.
Dissertação de Doutorado. São Carlos: UFSCar,
2006.
[4] Marras, W. S. et al. Biomechanical risk
factors for occupational related low back
disorders. Ergonomics 1995; 38 (2): 377-410.

CONCLUSÃO [5] Hoozemans, M.J.M, et al. Low-back and

shoulder complants amoung workers with pushing
O presente trabalho constatou que as and pulling tasks. Scand J Work Environ Health
atividades de marcenaria são complexas e expõem 2002; 28: 293-303.
seus trabalhadores a diversos riscos. Para as
atividades analisadas observou-se a presença de [6] Mackinnona, S.N. Isometric pull forces in the
riscos biomecânicos para as articulações dos sagittal plane. Applied Ergonomics 1998; 29 (5):
membros superiores e na coluna lombar que se 319-324.
associam às dores relatadas pelos voluntários no
questionário subjetivo, justificando assim que [7] Wells, R., in Ranney D. Dísturbios
estas dores são de origem ocupacional. Osteomusculares Crônicos Relacionados ao
Conclui-se que o estudo cumpriu seu Trabalho. São Paulo: Rocca, 2000.
objetivo de detectar e avaliar os riscos
ocupacionais presentes na marcenaria em questão. [8] Ciriello, V.M. et al. Maximum acceptable
As intervenções propostas são de extrema horizontal and vertical forces of dynamic pushing
relevância para a aplicabilidade prática do estudo on high and low coefficient of friction floors.
devendo ser adotadas da melhor forma possível. International Journal of Industrial Ergonomics
2001; 27 (1): 1-8.
REFERÊNCIAS
e-mail:
[1] Couto, H.A. Ergonomia Aplicada ao cristinaft05@gmail.com
Trabalho: Manual Técnico da Máquina Humana. julianoarcuri@gmail.com
1ª ed. Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995. vanessaokada@gmail.com

[2] Nussbaum, M. A. et al .Motion time, hand

forces, and trunk kinematics when using material
handling manipulators in short-distance transfers
of moderate mass objects. Applied Ergonomics
2000; 31(3): 227-237.